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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 5665 DISPONIBILIDADE DE DADOS CADASTRAIS EM MUNICÍPIO DE GRANDE PORTE: A SITUAÇÃO DE FEIRA DE SANTANA-BA CAROLINE MARTINS PEREIRA 1 SANDRA MEDEIROS SANTO 2 JUNÍVIO DA SILVA PIMENTEL 3 Resumo: Neste trabalho, realizou-se análise da disponibilização de dados cadastrais nos municípios de grande, com destaque para Feira de Santana, considerado o segundo maior município da Bahia. Os dados cadastrais adquiridos na prefeitura foram: Boletim de Cadastro Imobiliário e planta de quadra. Observou-se que as informações do Boletim são utilizadas exclusivamente para arrecadação de impostos urbanos, já a planta, em ambiente CAD, está subutiliza. Constatou-se que quase a maioria dos municípios baianos é governada com pouca informação espacial, impedindo, assim, ações eficazes e eficientes nas políticas públicas territoriais. Palavras-chave: Dados cadastrais; Feira de Santana; Gestão territorial. Abstract: In this paper, it was analyzed the availability of cadastre data in the large municipalities in Bahia, especially in the city of Feira de Santana, the second largest one in Bahia. The cadastre data obtained at the prefecture were: Property Registration Form and blocks‟ plant. It was observed that the information in the Property Registration Form are used exclusively for storage of urban municipal taxes and the blocks‟ plant, in CAD environment, is underused. It was noticed that almost the majority of the Bahia‟s municipalities is governed with few spatial information, thus preventing effective and efficient actions in the territorial public policies. Key-words: Cadastre data; Feira de Santana; Land Administration. 1 Introdução Os municípios brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são definidos em classes as quais variam segundo o valor absoluto de número de habitantes. Diante dessa classificação, foi realizada uma análise - em valores absolutos e percentuais - sobre o quantitativo de municípios, da Bahia, presentes em cada 1 - Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial da Universidade Estadual de Feira de Santana. E-mail de contato: [email protected] 2 - Docente do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial da Universidade Estadual de Feira de Santana. E-mail de contato: [email protected] 3 - Docente da Universidade do Estado da Bahia, campus VI, Caetité-BA. E-mail de contato: [email protected]

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DISPONIBILIDADE DE DADOS CADASTRAIS EM MUNICÍPIO DE GRANDE PORTE: A SITUAÇÃO DE FEIRA DE SANTANA-BA

CAROLINE MARTINS PEREIRA1 SANDRA MEDEIROS SANTO 2

JUNÍVIO DA SILVA PIMENTEL 3

Resumo: Neste trabalho, realizou-se análise da disponibilização de dados cadastrais nos

municípios de grande, com destaque para Feira de Santana, considerado o segundo maior município da Bahia. Os dados cadastrais adquiridos na prefeitura foram: Boletim de Cadastro Imobiliário e planta de quadra. Observou-se que as informações do Boletim são utilizadas exclusivamente para arrecadação de impostos urbanos, já a planta, em ambiente CAD, está subutiliza. Constatou-se que quase a maioria dos municípios baianos é governada com pouca informação espacial, impedindo, assim, ações eficazes e eficientes nas políticas públicas territoriais. Palavras-chave: Dados cadastrais; Feira de Santana; Gestão territorial.

Abstract: In this paper, it was analyzed the availability of cadastre data in the large municipalities in

Bahia, especially in the city of Feira de Santana, the second largest one in Bahia. The cadastre data obtained at the prefecture were: Property Registration Form and blocks‟ plant. It was observed that the information in the Property Registration Form are used exclusively for storage of urban municipal taxes and the blocks‟ plant, in CAD environment, is underused. It was noticed that almost the majority of the Bahia‟s municipalities is governed with few spatial information, thus preventing effective and efficient actions in the territorial public policies.

Key-words: Cadastre data; Feira de Santana; Land Administration.

1 – Introdução

Os municípios brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), são definidos em classes as quais variam segundo o valor

absoluto de número de habitantes.

Diante dessa classificação, foi realizada uma análise - em valores absolutos e

percentuais - sobre o quantitativo de municípios, da Bahia, presentes em cada

1 - Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial da Universidade Estadual de Feira

de Santana. E-mail de contato: [email protected] 2 - Docente do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial da Universidade Estadual de Feira de

Santana. E-mail de contato: [email protected]

3 - Docente da Universidade do Estado da Bahia, campus VI, Caetité-BA. E-mail de contato: [email protected]

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categoria e o que esses números podem representar no tocante à gestão e

planejamento municipais.

Independente do quantitativo populacional, as prefeituras são responsáveis

pela gestão urbana, e a mesma contempla ações de controle no crescimento

urbano, tributação, controle de trânsito, manutenção de logradouros, coleta de lixo,

obras de infraestrutura, dentre outros.

Para a efetivação das políticas públicas citadas, as prefeituras mantêm

secretarias, tais como: planejamento, administração, obras, meio ambiente e

tributação. Além da necessidade das secretarias para a realização das ações

urbanas, há um elemento primordial para a realização eficaz e eficiente de cada

política pública, são os dados cadastrais. Os quais são baseados em informações

territoriais, geralmente organizadas no setor de cadastro imobiliário, utilizado

comumente só para fins de tributação fiscal.

No intuito de identificar a situação dos dados cadastrais, avaliou-se a

disponibilização dos mesmos nos municípios de grande porte no Estado da Bahia,

porém com ênfase no município de Feira de Santana. Esta investigação teve a

premissa de que a cidade de grande porte tem condições financeiras, tecnológicas e

de corpo técnico para ter, manter, atualizar e disponibilizar dados cadastrais, assim

como utilizá-los na gestão e planejamento territorial.

2 – Discussão

O IBGE (2010) agrupa os municípios brasileiros em pequeno, médio, grande

portes e metrópole, tais classes variam de acordo com a população absoluta:

Pequeno porte 1: População chega até 20.000 habitantes;

Pequeno porte 2: População varia de 20.001 a 50.000 habitantes;

Médio porte: População está entre 50.001 a 100.000 habitantes;

Grande porte: População é de 101.000 até 900.000 habitantes;

Metrópole: Municípios com mais de 900.000 habitantes.

O Estado da Bahia possui 417 municípios e, segundo essa classificação,

88,72% deles são de pequeno porte (1 e 2), 7,19% são municípios de médio porte,

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já 4,07% municípios são de grande porte e 0,02% representa uma única metrópole

presente no estado: Salvador.

Diante do grande contingente de municípios de pequeno porte, achou-se

relevante calcular a distribuição territorial de todas as classes, assim como

percentual proporcional da população para se ter uma melhor configuração do

contexto em que está inserido o estado da Bahia. O Quadro 01, a seguir, mostra os

valores numéricos distribuídos para cada porte municipal.

Quadro 01 - Distribuição dos municípios por porte territorial e proporcionalidade da população. Fonte dos dados: IBGE (2010) – Acessado em maio de 2015.

Organização: PEREIRA, SANTO e PIMENTEL (2015)

Ao analisar o Quadro 01, percebe-se de forma significativa que a quantidade

de municípios de pequeno porte é muito superior em relação às outras categorias,

além de apresentar uma maior extensão territorial, assim como possuir mais que o

dobro da população em comparação com os municípios de grande porte.

Sabe-se que as prefeituras são responsáveis pela gestão e desenvolvimento

da política urbana municipal conforme os artigos 182 e 183 da Constituição Federal

(BRASIL, 1988). A mesma determina que compete aos municípios manter

programas de educação, prestar serviços de atendimento à saúde, promover o

adequado ordenamento territorial, mediante planejamento, e promover a proteção do

patrimônio histórico e cultural local.

Dessa forma, o município tem obrigação de possuir estrutura administrativa

voltada para a prestação de serviços básicos a cidadania e deve fazer

planejamentos para organizar seu território, definir seus programas sociais,

disponibilizar equipamentos e serviços públicos para população, além de ter a

responsabilidade do recolhimento de tributos urbanos, Artigo 32 do Código Tributário

Distribuição territorial

dos municípios

% de

municípios

% em

relação à

distribuição

territorial

População

por

distribuição

territorial

%

proporcional

da

população

Pequeno Porte (1 e 2) 88,72% 81,39% 6.918.160 45,75%

Médio Porte 7,19% 12,63% 2.037.402 13,45%

Grande Porte 4,07% 5,86% 3.267.882 21,60%

Metrópole 0,02% 0,12% 2.902.297 19,20%

Total 100% 100% 15.125.741 100%

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Nacional (BRASIL, 1966). Logo, recai sobre as prefeituras a responsabilidade de

gerir o espaço urbano e conduzir sua administração segundo as leis.

Mas cabe-se a pergunta: Quais são os dados a que as prefeituras recorrem

para gerir e planejar o seu município? Ou melhor, há dados? E se houver, em que

condições estão os mesmos? Quais são as informações em que se baseiam para o

processo de tomada de decisão? É somente por meio de gráficos e tabelas?

Primeiramente, para se atingir o objetivo de gerir e planejar, é necessário

haver conhecimento territorial a respeito da cidade, ou seja, ter ciência de como

estão distribuídos espacialmente os imóveis, equipamentos urbanos e outros

elementos antrópicos e naturais que compõem o município; assim como as

características dos mesmos. Tais dados e informações são conhecidos através da

base cadastral territorial do município, que é um sistema de informações que

identifica a relação entre indivíduo e a propriedade ou domínio sobre o imóvel.

O cadastro territorial municipal deve ser capaz de identificar com

confiabilidade as pessoas ou instituições - que tem direito - e obrigações sobre cada

porção do território. Porém, o chamado cadastro imobiliário tem sido utilizado pelos

municípios brasileiros, historicamente, para fins exclusivamente fiscais. Perde-se,

assim, a oportunidade de utilizar o cadastro territorial (o qual é considerado pela

maioria dos países como um elemento estratégico para a gestão pública e

desenvolvimento econômico) para aplicação importante no apoio à tomada de

decisões e no planejamento da utilização dos recursos públicos, otimizando os

processos envolvidos na gestão.

Segundo Souza (2003), sem cadastro territorial e plantas de valores

atualizados, não apenas a arrecadação com o Imposto Predial e Territorial Urbano

(IPTU) há de ser comprometida, mas também os objetivos ambiciosos em matéria

de planejamento/gestão eficientes e progressistas do município.

Há alguns elementos facilitadores para garantir eficiência e qualidade nos

procedimentos de planejamento territorial de áreas municipais, um destes recursos

tecnológicos é o Sistemas de Informações Geográficas (SIG). Todavia, exige-se

preliminarmente uma cartografia estruturada, ou seja, que a mesma tenha passado

por uma avaliação topológica de ajuste e correção das feições gráficas, por

exemplo.

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Por essa razão, muitas vezes as ações sobre o território não atingem êxito

por dificuldade do conhecimento territorial, por falta de dados ou pela não

implementação dos dados existentes do formato analógico em ambientes digitais e

estruturados em SIG.

Em termos de Bahia, Castro (2009) através de sua dissertação do mestrado

fez um estudo sobre a análise da utilização do geoprocessamento na administração

municipal do estado baiano.

E foi constatado que na Bahia foi implementado o Programa de Administração

Municipal e Desenvolvimento de Infraestrutura Urbana (PRODUR), entre março de

1997 e setembro de 2004, que financiou a produção de bases cartográficas de 31

cidades do interior do estado cuja população urbana fosse superior a 30.000

habitantes, com base nos dados da Contagem Populacional de 1996 do IBGE,

assim como outras cidades consideradas estratégicas para o desenvolvimento do

estado. A Figura 01 representa os municípios contemplados pelo programa.

Figura 01 - Municípios contemplados pelo programa PRODUR. Fonte dos dados: CASTRO (2009) – Acessado em maio de 2015.

Organização: PEREIRA, C. M. (2015)

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Dentro do programa, foram elaborados 78 projetos de cadastro municipal:

sendo 74 de cadastro técnico (coleta de informações sobre os logradouros, imóveis

e atividades econômicas de uma cidade), 02 de cadastro imobiliário (coleta de

informações sobre os imóveis e atividades econômicas de uma cidade) e 02 de

atividades econômicas (coleta de informações sobre as atividades econômicas de

uma cidade). A implantação dos cadastros municipais teve início em 1998 e suas

ações concluídas em 2002.

Dessa forma, foi desenvolvido conjunto de projetos e serviços na área de

mapeamento digital e georreferenciamento. Após a finalização dessa etapa e com

os produtos cartográficos em mãos, deu-se início o treinamento em

geoprocessamento (técnico-conceitual e metodológico) de 62 técnicos, sendo dois

de cada prefeitura. Posteriormente, as prefeituras beneficiárias receberam um

computador, com configuração capaz de processar a base cartográfica recebida, e

uma impressora que permitia a saída de documentos até o formato A3.

Durante a realização do projeto, ainda foi desenvolvido aplicativo para auxiliar

nas necessidades básicas das prefeituras na área de cadastro como o Sistema de

Gerenciamento de Base de Dados Geográficos Municipais – GEOPOLIS.

Logo, o projeto foi concebido para dar suporte às tecnologias de

geoprocessamento nos municípios baianos contemplados com a cartografia da área

urbana. Entretanto, Castro (2009) concluiu que este trabalho não teve a visibilidade

e receptividade devidas junto às prefeituras, apesar do treinamento e equipamentos

de informática disponibilizados.

Dentre os 31 municípios pesquisados por (CASTRO, 2009) apenas Valença

possuía um Núcleo de Geoprocessamento. Barreiras encontrava-se em estruturação

do seu Setor de Cartografia e Geoprocessamento, enquanto Vitória da Conquista e

Bom Jesus da Lapa já possuíam estruturas que, mesmo com a não denominação

específica, podem ser consideradas como tal. Os outros municípios não

conseguiram avançar significativamente neste sentido, e, em muitos não havia, à

época de 2009, nenhum corpo técnico capacitado na área.

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Deste modo, a investigação realizada por Castro (2009) demonstrou que

poucos municípios de fato estavam utilizando sistematicamente, em suas atividades,

o geoprocessamento e a base cartográfica. Percebe-se assim, uma discordância

com os objetivos esperados após a aplicação dos programas e projetos visados por

uma ação de disseminação do geoprocessamento.

Quanto à disponibilização na internet, dos 31 municípios, Castro (2009)

constatou que sete deles não possuíam sequer página oficial na internet no período

da pesquisa. Em muitos casos o site na internet só existia para disponibilização das

contas públicas.

Os técnicos de Valença citaram a publicação da cartografia em ambiente web,

só que no site do Sistema de Informações Geográficas Urbanas do Estado da Bahia

(INFORMS) onde são publicados mapas e demais informações dos municípios em

seu portal. Neste último é permitida a consulta às delimitações de bairros, distritos,

identificação de logradouros e localidades, e edificações de referência (pontos

notáveis), em ambiente web.

As bases cartográficas encontram-se sob domínio da Companhia de

Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER, 2015). Elas são

comercializadas aos interessados mediante dois instrumentos: convênios para as

instituições públicas e contrato com as empresas particulares. A pessoa ou

instituição interessada na aquisição do produto se dirige ao setor responsável da

CONDER/INFORMS e informa a área desejada, preferencialmente em km², ou

obtém ajuda deste setor para defini-la, assim como valores.

Um dos objetivos preconizados, a partir da utilização da tecnologia do

geoprocessamento, é a possibilidade de disseminar informação ao cidadão comum.

Este propósito ficou comprometido, não só pela existência de uma estrutura

centralizada - e para muitos inacessível -, mas também pela falta de mecanismos

eficazes de divulgação das potencialidades do geoprocessamento aos mais variados

públicos.

Diante do contexto exposto, em relação ao cadastro territorial na Bahia até o

ano de 2009, teve-se como objetivo geral da pesquisa, investigar a disponibilização

de dados cadastrais territoriais nos municípios de grande porte. E, constatar se

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houve progressos - após esses 6 anos - quanto à utilização dos dados cadastrais,

ou seja, se ocorreu atualização e disponibilização dos mesmos.

Optou-se pela classe dos municípios de grande porte, uma vez que dos 16

municípios (Feira de Santana, Vitória da Conquista, Camaçari, Itabuna, Juazeiro,

Lauro de Freitas, Ilhéus, Jequié, Teixeira de Freitas, Alagoinhas, Barreiras, Porto

Seguro, Simões Filho, Paulo Afonso, Eunápolis e Santo Antônio de Jesus), 13

(exceto Camaçari, Lauro de Freitas e Paulo Afonso) foram contemplados pelo

programa PRODUR e possuem maiores condições financeiras, tecnológicas e de

equipamentos para terem gerado atualização da base cadastral, assim como

disponibilização. Deu-se ênfase para Feira de Santana, devido ao seu destaque

estadual, sendo o segundo maior município baiano em aspectos populacionais e

econômicos.

3 – Metodologia

A partir da contextualização dos dados cadastrais municipais na Bahia e

ressalvada a justificativa da presente pesquisa, realizou-se como primeira etapa a

busca em sites das prefeituras de todos os municípios de grande porte, para

averiguar se houve amadurecimento e a ampliação no uso dos dados. Diante do

resultado negativo à busca nos sites das prefeituras, iniciou-se o processo de

pesquisa nos sites dos órgãos estaduais.

Na esfera de sites governamentais e prefeituras, percebeu-se que o único site

em que se era abordada a base cadastral foi a CONDER, especificamente no

INFORMS.

No INFORMS na aba „Produtos‟ e no tópico „Cartografia Sistemática‟, há um

item que envolve “Bases Municipais” e no qual é apresentada uma tabela indicando

12 municípios de grande porte, com descrição das seguintes informações: extensão

do arquivo, escala, ano de referência da informação, dentre outras - todas

disponíveis para solicitação na CONDER. Percebe-se que os anos de referência são

dos anos 1990 e início dos 2000, e se não foram continuamente atualizadas nas

respectivas prefeituras, “perderam” parcialmente seu valor.

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Já no tópico de „Dados Cadastrais‟, há item „Planta de Referência Cadastral‟

que abrange um total de 03 municípios de grande porte – alguns em formato digital-

cujos anos de referência são do final dos anos 1980 e começo dos anos 1990.

Ainda no INFORMS, existem outros tópicos como „Redes de Marcos

Geodésicos‟, „Dados Político-administrativos e Unidades Espaciais de Referência‟,

„Dados Socioeconômicos‟ e „Acervo de Imagens‟.

Além da visualização da tabela dos dados disponíveis pelo órgão, tem-se a

possibilidade de consultar alguns mapas interativos de determinados municípios

com dados de logradouros, pontos notáveis e localidades, utilizando como base os

principais elementos do mapa vetorial (sistema viário, rodovias e principais

edificações), ortofotos e imagens georreferenciadas.

Diante da pouca disponibilidade de informações cadastrais na internet sobre

os municípios de grande porte, escolheu-se dentre os mesmos, o segundo maior da

Bahia: Feira de Santana (Figura 02), como área de estudo para detalhamento das

condições em que se encontram os dados cadastrais territoriais.

Atualmente, o município passa por reformas em suas legislações com

elaboração de um novo Plano Diretor, ampliação do perímetro urbano com a criação

de seis bairros e adequações no código de obras e edificações municipal e, ainda,

com vistas para reelaboração da lei de ocupação e uso do solo.

Perante o contexto singular de elaboração de novas legislações - as quais

possuem relação direta com futuras ações no tocante à gestão e planejamento

urbanos - é relevante realizar o diagnóstico dos dados cadastrais; pois não houve

disponibilização dos dados via web, como constatado, mas internamente – nesses

últimos 6 anos – os dados poderiam ter sido atualizados e implementados em

ambiente SIG.

Dessa forma, a aquisição dos dados se procedeu diretamente com o setor

imobiliário da prefeitura municipal de Feira de Santana. No item a seguir são

detalhados os dados cadastrais obtidos, assim como as condições dos mesmos.

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Figura 02 - Mapa de localização do município de Feira de Santana. Fonte dos dados: IBGE (2009) – Acessado em maio de 2015.

Organização: PEREIRA, C. M. (2015)

4 – Resultados Após a visita à prefeitura, foram coletados os seguintes dados:

Formulário de Boletim de Cadastro Imobiliário (BCI);

Planta urbana (vetorizada) planimétrica nível de quadra dos 15 setores

em escala original de 1:7.500 (atualizada em 2008).

Quanto aos dados gráficos, os mesmos estão em ambiente Computer Aided

Design (CAD) formato AutoCad (.dwg) e georreferenciados; entretanto, certas

feições estão em layers errados, há algumas sobreposição/duplicação e erros

topológicos.

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Apesar de estar ocorrendo recadastramento e a Planta de Quadra ser

atualizada, a potencialidade desses dados não é aplicada, uma vez que são para

fins exclusivamente de arrecadação de impostos urbanos.

Quanto ao banco de dados, não chegou a ser adquirido, porém há em

formato Oracle e o mesmo é elemento fundamental no setor de Cadastro, pois é a

base do Sistema Integrado de Administração Tributária (SIAT) – ferramenta

informatizada de tributação fiscal do município.

Quanto à base gráfica, precisa-se, ainda, ser corrigida para se conectar com o

banco de dados descritivos em ambiente SIG e, assim, ser uma fonte para aplicação

das legislações municipais em elaboração, e, posteriormente na gestão e

planejamento territorial do município.

5 – Conclusões Apesar dos suportes e orientações tecnológicas e financeiras, provenientes

do programa PRODUR, o município de grande porte, como Feira de Santana, não

soube usufruir da oportunidade e continuam a subutilizar os dados em ambiente

CAD. Estadualmente, há projetos para levantamentos e elaboração de base

cartográfica, porém devido à escala, não chega a alcançar fins cadastrais.

Dessa forma, sugere-se que onde já existem informações cadastrais, como é

o caso dos municípios que foram contemplados com o PRODUR, faz-se necessária

a atualização dos seus dados (principalmente nos de grande porte onde há um

acelerado crescimento urbano) e no caso onde não há nenhuma informação

cadastral, deve-se realizar consórcio com municípios adjacentes para amenizar os

aspectos financeiros e de equipamentos.

Ao analisar os dados, chegou-se à constatação de que apesar dos seis anos

passados, a configuração - em relação aos municípios de grande porte - não mudou

comparada com a conclusão a que chegou Castro (2009).

E a situação chega a ficar mais crítica ao verificar do Quadro 01, pois se

depreende que há extensa área baiana, com alto contingente populacional sendo

governada por prefeituras com pouca informação territorial ou de forma somente

analógica, sem divulgação à população; alimentando esse sistema “acultural” em

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que os dados cartográficos e cadastrais só proporcionam custos aos cofres públicos.

Os mesmos devem ser vistos como suporte para as ações das prefeituras nas

políticas públicas e territoriais, tornado-as mais eficientes e proporcionando

repercussões positivas não somente na escala local, mas regional e estadual.

Porém, faz-se prudente, antes de tudo, implementar gradativamente a

consciência cultural da relevância do cadastro na gestão e planejamento urbanos,

caso contrário, somente a partir da obrigatoriedade de uma Lei para que seja

verificada concretamente.

Referências Bibliográficas BRASIL. Lei n.º 5.172 de 25 de outubro de 1966. Sistema Tributário Nacional. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5172.htm, acesso em 10 de maio de 2015. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, Centro Gráfico, 1988. CASTRO, Cássio Marcelo S. Análise da utilização do geoprocessamento na administração municipal: alcances e limitações dos programas governamentais de disseminação das geotecnologias. Dissertação de Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana. Salvador: UFBA, 2009. COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO URBANO DO ESTADO DA BAHIA (CONDER). Sistema de Informações Geográficas Urbanas do Estado da Bahia (INFORMS). 2015. http://www.informs.conder.ba.gov.br, acesso em 28 de março de 2015. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍTICA (IBGE). Cidades@. 2010. http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/home.php, acesso em 29 de março de 2015. SOUZA, Marcelo Lopes. Mudar a cidade: uma introdução crítica ao planejamento e à gestão urbana. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.