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ECONOMIA CIRCULAR E PROJETOS APOIADOS POR FUNDOS COMUNITÁRIOS
UM CONTRIBUTO PRELIMINAR PARA A FORMULAÇÃO DE UM SISTEMA DE INDICADORES DE CIRCULARIDADE
João Pedro Freire Miguel Dias Tavares
Dissertação
Mestrado em Economia e Gestão Ambiental
Orientado por:
Patrícia Calicchio Berardi
Maria Cristina Guimarães Guerreiro Chaves
Setembro de 2019
ii
Land is a good investment: they ain’t making it no more.
Will Rogers, curiosamente citado em “Economics”, Samuelson, P. e Nordhaus,W
iii
Nota Biográfica:
João Pedro Freire Miguel Tavares, nascido a 6 de fevereiro de 1964, no Porto, licenciou-se em
Engenharia Civil, opção de Hidráulica, em 1993, tendo desempenhado funções de direção de obra
entre 1993 e 1995, na empresa Protágua, Ldª, e posteriormente funções de projetista na empresa
Noráqua Ldª, entre 1995 e 1997, em ambas as atividades trabalhando na área do saneamento básico.
Este foi o mote para a atividade que passou a desenvolver a partir de março de 1997, de Delegado
Regional do Programa Operacional do Ambiente, no âmbito da qual foi responsável pelo
acompanhamento dos trabalhos de construção de infraestruturas de tratamento e abastecimento
de água, recolha e tratamento de águas residuais, e também recolha, separação e tratamento de
resíduos sólido, para além de outros trabalhos na área do ambiente, levados a cabo com
financiamento do FEDER e do Fundo de Coesão, na região Norte, tendo envolvido grandes
transformações que se deram na última década dos anos 1990 e primeira dos anos 2000, também
referidas nesta dissertação.
Desde a extinção do Programa Operacional do ambiente tem continuado a desenvolver atividades
relacionadas com o acompanhamento de projetos apoiados por fundos comunitários,
concretamente o Programa Operacional Regional do Norte, ON2, durante o período do QREN,
e atualmente desempenha funções na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do
Norte no âmbito do Programa Operacional Regional do Norte, NORTE 2020.
Ingressou em 2017 no Mestrado em Economia e Gestão do Ambiente, na Faculdade de Economia
da universidade do Porto, vindo apresentar neste contexto a presente Dissertação com vista à
obtenção do grau de Mestre.
iv
Agradecimentos
Às mulheres… sempre as mulheres.
Em primeiro lugar às minhas professoras: À minha orientadora, Professora Patrícia Berardi pelo
permanente e total apoio, pelas palavras sábias que me encorajaram nos momentos em que tanta
diferença fizeram e pela total disponibilidade que me dispensou neste processo e também à
Professora Cristina Chaves com quem sempre contei ao longo deste curso, pela partilha do seu
saber e pela honra de ser minha co orientadora neste trabalho.
À Rita que me obrigou a ler os livros que me entusiasmaram e sem o encorajamento de quem eu
nunca teria sequer iniciado esta jornada, pelo estímulo, pela compreensão e pelo orgulho sempre
demonstrado. À Estrelinha que sempre me tem guiado e me apoia em tudo o que faço e claro, às
Mafarricas, que demonstraram ter e que me deram o prazer de ter, o orgulho de ser seu colega
universitário nestes dois últimos anos e para cuja educação me fiz desenvolver critérios e obrigações
que viria a aplicar neste trabalho.
v
RESUMO
Que conjunto de indicadores de Economia Circular poderia servir a avaliação e acompanhamento
dos apoios por fundos comunitários? A adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia
tem tido uma grande influência no desenvolvimento do país, por força dos fundos comunitários
que este tem recebido desde que tal ocorreu. Assim as temáticas europeias prioritárias têm-se
refletido no país uma vez que condicionam o destino de aplicação dos fundos, sendo fundamental
para o acompanhamento da sua aplicação, a existência de um sistema de indicadores. Perante a
leitura de alguma da documentação mais recente da Comissão Europeia compreende-se a
importância que tem sido manifestada por parte desta entidade relativamente ao tema da Economia
Circular que se tem desenvolvido por oposição ao modelo designado de linear que, apesar de ter
permitido o grande progresso económico mundial que ocorreu desde a primeira Revolução
Industrial, se tem revelado incompatível com os atuais hábitos de consumo e crescimento da
população mundial. A Economia Circular, envolve um paradigma de relação entre o ser humano,
o planeta e a economia que permite uma convivência harmoniosa destas três entidades, procurando
usar os recursos naturais com respeito e que as práticas humanas possam manter-se, mas de forma
a evitar a depleção, a poluição e os contributos para o efeito de estufa. Sendo os indicadores uma
ferramenta essencial na gestão de fundos comunitários e constatando-se haver alguma falta de
homogeneidade nos sistemas de indicadores de Economia Circular, tomou-se a opção de propor
uma solução introdutória que possa vir a servir como um contributo inicial para a formulação de
um sistema de indicadores no âmbito da Economia Circular com vista à avaliação e monitorização
do Projetos ou Candidaturas no próximo período de programação. Este sistema de indicadores foi
definido com base em critérios de simplicidade com vista a facilitar a sua aplicação, a sua perceção
e a sua aceitação na perspetiva de desempenharem também um papel de comunicação e educação.
PALAVRAS-CHAVE:
Indicadores, Economia Circular, Fundos Comunitários
vi
ABSTRACT
Which set of Circular Economy indicators could be used to assess and monitor support from EU
funds? Portugal's accession to the European Economic Community has had a major influence on
this country’s development, as a result of the EU funds it has received since this occurred. Thus
the priority European themes have been reflected in Portugal as they condition the destination of
the funds application, and the existence of a system of indicators is fundamental to the monitoring
of their application. In reading some of most recent European Commission documentation, it is
easy to understand the importance that has been expressed by this entity in relation to the Circular
Economy theme which has developed as opposed to the so-called linear model which, despite
having allowed the great World economic progress since the First Industrial Revolution, has been
incompatible with the current consumption and growth habits of the world population. The
Circular Economy, involves a paradigm of relationship between the human being, the planet and
the economy that allows a harmonious coexistence of these three entities, seeking to use natural
resources with respect and that human practices can be maintained, but in a way to avoid depletion,
pollution and greenhouse gas contributions. As indicators are an essential tool in the management
of community funds, and noting that there is a lack of homogeneity in Circular Economy indicator
systems, it was decided to propose an introductory solution that could serve as an initial
contribution to the formulation of a system of indicators for the evaluation and monitoring of
Projects or Applications in the next programming period. This indicator system has been defined
on the basis of simplicity criteria in order to facilitate its application, perception and acceptance
with a view to also playing a role of communication and education.
KEY WORDS:
Indicators, Circular Economy, Community Funds
vii
ÍNDICE
1 - INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 1
2 – ECONOMIA CIRCULAR ....................................................................................................... 4
2.1 – Enquadramento e trajetória ................................................................................................... 4
2.2 – Economia Circular, alguns conceitos e definições.............................................................. 7
2.2.1 – Conceitos ............................................................................................................................... 7
2.2.2 - Definições de Economia Circular ..................................................................................... 16
2.3 - A adoção da Economia Circular por parte das autoridades e outras entidades oficiais ............................................................................................................................................................ 18
2.3.1 – A nível da Comissão Europeia ......................................................................................... 18
2.3.2 – Ao nível do estado Português ........................................................................................... 20
3 – FUNDOS COMUNITÁRIOS E A ADOÇÃO DA ECONOMIA CIRCULAR NA EUROPA E EM PORTUGAL .................................................................................................... 23
3.1 - Portugal na Comunidade Económica Europeia – Impacto das Agendas Europeias nas políticas de desenvolvimento e criação de infraestruturas no país........................................... 23
3.2 - Os seis períodos de Programação ........................................................................................ 24
3.3 - O tema da Economia Circular na definição das estratégias europeias para 2030 ......... 30
3.3.1 - EUROPA 2020 - Estratégia para um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo ............................................................................................................................................................ 31
3.3.2 - Roteiro para uma Europa Eficiente na utilização de recursos ..................................... 32
3.3.3 - Para uma economia circular: Programa para acabar com os resíduos na Europa ..... 33
3.3.4 - O Plano de Ação para a Economia Circular ................................................................... 35
3.3.5 – Sobre um quadro de controlo para a Economia Circular............................................. 37
3.3.6. - Sobre a aplicação do Plano de Ação para a Economia Circular .................................. 39
4 - Metodologia: Indicadores de circularidade ............................................................................ 42
4.1 - Construção de indicadores .................................................................................................... 42
4.2 - Análise exploratória de indicadores para uma economia circular ................................... 45
4.2.1. - Sobre sistemas de indicadores existentes ....................................................................... 47
4.2.2 - Sistema de indicadores proposto ...................................................................................... 48
4.2.2.1 Objetivos .............................................................................................................................. 49
4.2.2.2 - Sistematização ................................................................................................................... 50
4.2.2.3 – Apresentação dos indicadores ....................................................................................... 52
5 – CONCLUSÕES ...................................................................................................................... 70
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Esquema referente ao Modelo Linear Clássico ......................................................................... 8
Figura 2 - Extração de Recursos entre 1900 e 2015 .................................................................................. 9
Figura 3- Esquema referente ao Modelo Linear com a introdução das práticas de Reciclagem ....... 10
Figura 4 - Esquema referente à integração das práticas de circularidade .............................................. 11
Figura 5 - Esquema da Economia Circular na sequência dos esquemas anteriores ............................ 12
Figura 6 - Esquema da Economia Circular adotado pela Comissão Europeia .................................... 12
Figura 7 - Esquema da Economia circular, em “Borboleta” .................................................................. 13
Figura 8 - Esquema gráfico do Conceito “Cradle to Cradle” ................................................................. 15
Figura 9 - Mapa resumo dos indicadores propostos ................................................................................ 67
1
1 - INTRODUÇÃO
A adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia foi um importante impulso para
a entrada do tema do Ambiente em Portugal, tendo-se observado no país, no fim dos anos
1990 e início dos anos 2000, a realização de muito avultados investimentos nesta área, com
uma transformação da caraterização geral do país no respeitante às infraestruturas cuja
função estava integrada neste tema, com principal destaque para os sistemas de
abastecimento de água, sistemas de drenagem e tratamento de águas residuais e sistemas de
gestão de resíduos sólidos.
Assistiu-se assim nesse momento a uma muito profunda mudança de paradigmas nestas
áreas, em que foram criados os grandes sistemas de gestão de abastecimento de águas e de
tratamento de águas residuais, que permitiram o controlo qualitativo e quantitativo dos
destinos e das origens, os sistemas de gestão de resíduos, no âmbito dos quais foram
implementadas as instalações necessárias para permitir a triagem e os aterros sanitários no
momento em que as lixeiras do país foram seladas, tendo deixado de haver grandes áreas
com lixo deposto de forma descontrolada, a fermentar a céu aberto, a entrar em combustão
e a criar um sem número de problemas.
Esta transformação resultou da ênfase dada nas agendas mundiais, com o reconhecido
impacto das atividades económicas no ambiente, divulgado em relatórios e em estudos
académicos, mas com efeitos práticos quando as constatações associadas aos problemas
ambientais foram politicamente reconhecidas e vertidas na regulamentação e legislação
europeia, condicionando as temáticas de aplicação dos fundos comunitários.
Se no fim da década de 1990, uma das questões prementes era o destino a dar aos resíduos
no sentido de evitar as consequências da sua deposição desordenada fortemente nefastas
para os ecossistemas e para a saúde humana, no atual momento as preocupações centram-se
na escassez dos recursos naturais durante muito tempo ignorada, recaindo assim muita da
atual atenção na necessidade de minimizar a entropia que existe no circuito das matérias-
primas extraídas da natureza, de onde resulta a necessidade hoje reconhecida pela Comissão
Europeia de criar uma transição para uma Economia Circular (EC) que, conforme se refere
mais adiante se apresenta como um ponto central nas agendas políticas e também nos
documentos orientadores do próximo Quadro Comunitário de Apoio com vista à sua
disseminação e implementação.
2
A gestão dos fundos comunitários tem sempre associados sistemas de indicadores que
permitam, em primeira análise, desenvolver e aplicar critérios de avaliação, desde logo, na
análise de projetos das Candidaturas, mas também indicadores de desempenho que permitam
avaliar e monitorizar, não só a execução dos projetos como dos resultados dos mesmos.
O Objetivo fundamental do presente trabalho consiste em criar um conjunto de indicadores,
com vista a formar, ou contribuir para a formação de um sistema de indicadores destinados
à análise e/ou posterior monitorização do desempenho de projetos candidatados a apoio no
âmbito de fundos geridos pala Comissão Europeia.
Desenvolveu-se assim uma investigação apoiada em três tópicos fundamentais: Economia
Circular, os fundos comunitários e os sistemas de indicadores. A proposta do presente
trabalho é de caráter algo empírico. Não obstante, e apesar de não se afigurar como
puramente científico parece poder, num futuro próximo, vir a ser tema de aplicação prática
com alguma relevância, o que justificou uma análise neste contexto e um trabalho
desenvolvido para o qual se pretende dar um contributo. Nestas condições, foi realizada a
revisão de literatura assente, no que respeita a publicações de caráter científico, no campo
específico da Economia Circular, havendo também lugar a bastante outra literatura de caráter
político, legal e regulamentar.
Foi assim o presente trabalho orientado com base na pergunta: Qual seria o conjunto de
indicadores de Economia Circular a serem contemplados pelas avaliações dos apoios dos
fundos comunitários?
O Objetivo fundamental do presente estudo passou assim também por demonstrar a
importância que pode vir a ter um conjunto de indicadores de Economia Circular e como
construir indicadores que possam, de uma forma simples, tornar a sua quantificação acessível
no sentido de terem uma aplicabilidade prática por parte de qualquer técnico e possam
contribuir para a caraterização de entidades perante o conceito de Economia Circular numa
perspetiva de enquadramento em projetos ou candidaturas a fundos comunitários no período
de programação que se aproxima e no qual é previsível um destaque relevante para o tema
em causa.
Por último, a Dissertação encerra com capítulo de conclusões onde, na sequência dos aspetos
abordados é feita uma referência às limitações encontradas e a possíveis desenvolvimentos
futuros do tema apresentado.
3
O trabalho foi estruturado no sentido de dar consistência ao resultado que se pretendeu
obter.
Foi assim no ponto 2 realizada uma análise sobre o tema da Economia Circular, com base
na sua razão de ser, com referência às suas origens, tendo em consideração as transformações
económicas e sociais mais recentes que o transportaram para o lugar de destaque que hoje
ocupa e apresentou-se um breve perfil do estado da arte atual.
Tendo em conta o objetivo do sistema de indicadores a definir apresentou-se, por um lado,
uma descrição sumária dos principais impactos, ao nível do ambiente, que os fundos
comunitários tiveram em Portugal desde a adesão à Comunidade Europeia e, por outro lado,
procurou-se demonstrar a importância crescente que tem sido dada ao tema da Economia
Circular, principalmente na última década, procurando assim demonstrar o destaque que, no
âmbito da União Europeia, tem sido dado a este tema para justificar a previsão do papel que
o mesmo virá a ter no próximo período de programação.
Dado que todas estas considerações têm por objetivo que o seu resultado seja vertido num
conjunto de indicadores, foi também feita uma abordagem ao tema da construção de
indicadores e bem assim, de um sistema de indicadores, com vista a concluir a estrutura do
resultado que se pretendeu obter, apresentando-se no ultimo capítulo o conjunto de
indicadores selecionados, enquadrando-os nos diferentes temas da Economia Circular,
explicando o papel de cada um e propondo a forma de os quantificar.
4
2 – ECONOMIA CIRCULAR
2.1 – Enquadramento e trajetória
Num momento em que o conceito de Economia Circular começa a fazer sentido para
pessoas que são algo informadas e minimamente interessadas pela questão ambiental, não
será difícil constatar que há muitas outras pessoas que se considera serem razoavelmente
informadas e que, não sabem do que se trata ou, pensam tratar-se de uma forma diferente de
designar as práticas de reciclagem e as que lhe estão inerentes.
Parece assim justificar-se, neste capítulo, indicar discussões atuais, contextualizá-las, e
apresentar conceitos de Economia Circular, e do respetivo estado da arte em Portugal.
Na verdade e apesar de aparentemente, como atrás se refere, o conceito de Economia
Circular não estar ainda devidamente disseminado em Portugal, ele decorre de ideias que já
vêm sendo desenvolvidas há algum tempo e que resultam da consciencialização, por parte
do ser humano, do grande diferencial que se regista entre a velocidade a que os recursos do
planeta são atualmente desmantelados e aquela a que o planeta tem a capacidade de os
regenerar (Behrens et al., 2007, Stahel, 2013), para além de se manifestar como fator indutor
de intensas perturbações nos ecossistemas (Pereira et al., 2009; Sachs, 2015), com os
consequentes desequilíbrios registados, como as alterações climáticas que hoje são visíveis e
sentidas por todos ou a quantidade de espécies que se encontra em extinção, ou mesmo
extinta (Pereira et al., 2009).
Nos últimos anos do Séc. XX e no início do Séc XXI, com a introdução das práticas
domésticas quotidianas de separação de resíduos, com vista à reciclagem, registou-se em
Portugal um aumento da consciencialização pública para a questão ambiental, muito à custa
de um grande esforço de sensibilização trabalhada nos mais diversos meios, principalmente
em escolas e mass media em grande parte, graças à disponibilização de fundos europeus com
este objetivo (REA, 2002).
Esta terá sido uma batalha ganha, atendendo aos níveis de reciclagem atingidos, mas estará a
tornar-se insuficiente (Ghisellini et al., 2016) uma vez que esta prática, tomada como objetivo
final, revela-se obsoleta e associada ao modelo da Economia Linear.
Muito do que são as causas da devastação dos recursos naturais por ação antrópica, parece
estarem relacionadas e concordantes com os princípios da Economia Neoclássica, modelo
5
de crescimento que descreve uma economia na qual habitualmente há apenas dois inputs -
capital e trabalho que geram um output (Williams & McNeill, 2005). Como ingredientes
postreriores ao modelo neoclássico podem apontar-se capital e mudança tecnológica
(Samuelson & Nordhaus, 2010) não considerando no entanto a finitude dos recursos naturais
(Williams & McNeill, 2005), nem a subtração dos mesmos ao Planeta como sendo um custo,
pelo que, para a ciência económica dominante, este aspeto se torna irrelevante, ou mesmo
desprezável, uma vez que nesse contexto a descrição da função de produção obtida
unicamente pelos fatores de produção, trabalho e capital artificial.
Por outras palavras, este desenvolvimento eufórico e selvático, de costas voltadas para o
Ambiente (Contanza, 2003), tem originado problemas relativamente aos quais tem havido,
gradualmente, uma tomada de consciência por parte do ser humano (Ghisellini et al., 2016).
Esta tomada de consciência, inicialmente pouco credibilizada ou associada a ambientalistas
radicais, alargou-se à comunidade científica e tem conduzido a uma tendencial harmonização
entre o Ambiente e a Economia e, perante a constatação de alguns factos inegáveis como as
visíveis alterações climáticas e algumas das suas consequências, tornou-se inevitável ao
discurso dos políticos.
A Economia Circular é um conceito que foi introduzido no Ramo da Economia do
Ambiente no início dos anos 1990 na publicação de Pearce & Turner (1990). Consubstancia
um tema cujas origens remontam aos anos 1970, época em que se deu a primeira crise do
petróleo. Este tema vem sendo desde então abordado por diferentes autores, inicialmente
com outras designações, mas que recebeu um forte impulso com a revolução económica
chinesa no princípio deste milénio (Geng et al., 2012).
Curiosamente, no mesmo período em que se dava esta revolução assistia-se à publicação do
trabalho Ecossystems and Human Well Being - Millenium Ecossistem Assessment (2001),
momento a partir do qual passaria a ser dada uma crescente importância, não só no meio
científico como posteriormente nos meios com capacidade de decisão política, ao valor dos
ecossistemas e dos serviços dos ecossistemas ou, por outras palavras, aos recursos vivos que
o planeta nos proporciona.
Especialmente na segunda década deste século, há uma crescente tomada de consciência
política da importância dos temas que estão associados às práticas da sustentabilidade e, em
particular, de uma Economia Circular (Adams et al, 2017; Ghisellini et al. 2016).
6
Se as origens da preocupação em contemplar o consumo dos recursos naturais na ciência
económica é atribuída a autores como Georgescu-Roegen, Herman Daly, ou Kenneth
Boulding nas décadas 60/70 do Sec. XX (Ghisellini et al. 2016), não deve ser ignorado o bem
mais remoto contributo do economista e médico François Quesnay, um dos fundadores dos
Fisiocratas contemporâneo de Adam Smith (Baumol, 2000), que no século XVIII, publicou
o seu, Tableau Economique (Quadro Económico), no qual apresentou uma discussão sobre a
relação entre a produtividade da terra e a criação de riqueza no qual procurava demonstrar
que numa economia ideal havia um circuito fechado de produção, circulação e distribuição
da riqueza, assentando no princípio de que os excedentes agrícolas eram a principal base da
riqueza na época (GLA, 2003).
Também na referida década de 1970, por iniciativa e solicitação do “Clube de Roma”, foi
produzido por uma equipa de cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT),
liderada por Dennis e Donella Meadows, a elaboração um relatório sobre o consumo dos
recursos do planeta, que receberia o título de “Os Limites do Crescimento” no qual se
concluía que, se a Humanidade continuasse a consumir os recursos naturais ao ritmo a que
tal acontecia à época, por consequência da industrialização, estes recursos se esgotariam em
menos de 100 anos.
Tais reflexões terão sido naturalmente muito mal aceites à data, mas acabaram por ter efeito
disruptivo no pensamento que então vigorava, e a elas não terá sido alheia a criação do
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) (Flipo, 2012; Oliveira, 2012).
Não obstante, o que parece hoje ser o marco histórico que terá agitado as consciências e
levado à tomada de posição por parte de entidades com poder de decisão a nível mundial,
terá sido o designado “Relatório Brundtland” (Oliveira, 2012).
Trata-se de um documento apresentado em 1987 cujo título é na verdade: “Our Common
Future”, desenvolvido por um grupo de investigadores (Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento), por solicitação da Organização das Nações Unidas (ONU),
chefiado por Gro Harlem Brundtland, para estudar a relação entre o modelo de
desenvolvimento adotado pelos países industrializados e a exploração dos recursos naturais.
Este documento propôs uma definição para o Desenvolvimento Sustentável como sendo
“aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as
gerações futuras atenderem às suas necessidades”, e identifica aquelas que ainda hoje são
7
consideradas como as três componentes fundamentais do Desenvolvimento Sustentável,
como sendo a Economia, a Sociedade e o Ambiente.
Constata-se porém que, em termos práticos e reais, a Economia se tem desenvolvido numa
postura autista face às duas outras componentes do que se conclui serem as condições sine
qua non para o Desenvolvimento Sustentável (Costanza, 2003).
A 1 de janeiro de 2016 entrou em vigor a resolução da ONU das Nações Unidas intitulada
“Transformar o nosso mundo: Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável”, constituída
por 17 objetivos, desdobrados em 169 metas, aprovada pelos líderes mundiais, a 25 de
setembro de 2015, numa cimeira memorável na sede da ONU, em Nova Iorque (EUA).
“Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são a nossa visão comum para a
Humanidade e um contrato social entre os líderes mundiais e os povos”, disse o secretário-
geral da ONU, Ban Ki-moon, acrescentando, “São uma lista das coisas a fazer em nome dos
povos e do planeta, e um plano para o sucesso”.
Perante esta contextualização apresenta-se uma síntese sobre os conceitos associados à
Economia Circular.
2.2 – Economia Circular, alguns conceitos e definições
2.2.1 – Conceitos
O Ciclo de Vida
O conceito de ciclo de vida das matérias que parece ainda residir na mente de uma grande
maioria da população, tendo em conta as práticas que se observam no dia-a-dia e que se
revela serem mantidas na atualidade, tem uma estrutura de caráter linear como a que se
apresenta no esquema da figura 1, usualmente designado por take-make-dispose, (Bocken et.
Al, 2015) em que os recursos são extraídos da natureza, processados, transformados em
produtos e bens e após serem consumidos/utilizados têm por destino a deposição em
recetáculos diversos como se esquematiza na figura 1.
8
Figura 1- Esquema referente ao Modelo Linear Clássico
Fonte: Elaboração própria
Ao ritmo a que os recursos naturais estão a ser explorados, no planeta, a sua finitude será,
apesar de contestado por alguns, uma constatação inevitável (Dobbs et al, 2012). É ainda
necessário ter presente que o que se designa de recursos naturais, que o ser humano tem
vindo a subtrair ao planeta e a consumir de forma desmesurada, é o que permite o equilíbrio
de muitos ecossistemas que por sua vez desempenham o papel de assegurar aspetos vitais
para o bem-estar e para a sobrevivência do ser humano (M.A.2009).
Não obstante constata-se a continuação do aumento na exploração de recursos (Circle
Economy, 2018), ilustrada no gráfico reproduzido na figura 2, que representa a extração de
materiais combustíveis fósseis, minérios, minerais e biomassa entre 1900 e 2015, quando a
quantidade total de material atingiu 84,4 Gt. As previsões mostram uma expectativa de
aumento do uso de materiais para valores entre 170 e 184 Gt em 2050 (BAU- Business as
Usual).
O gráfico exprime uma evolução resultante de duas variáveis: o aumento da população, e o
aumento da exploração de recursos por causa do aumento da solicitação originado pelo
aumento do poder de compra decorrente, por sua vez, do crescimento da classe média cujo
consumo tem também aumentado.
9
Figura 2 - Extração de Recursos entre 1900 e 2015
Fonte: Circle Economy, 2018
Tal cenário leva à necessidade de um esforço mais racional de adaptação do ser humano ao
planeta onde vive. O ser humano é, na natureza, a única espécie produtora de resíduos que,
tanto do ponto de vista quantitativo como qualitativo superam o que o planeta, por si, é
capaz de processar. Tal produção revela-se assim uma atitude não natural.
A Reciclagem
Retomando a evolução dos conceitos em análise, na fase final do Séc XX e no início de
século XXI, houve uma alteração de paradigma com a sensibilização política para o problema
ambiental que configurava a produção e deposição muitas vezes descontrolada de resíduos
com consequente preocupação com o destino a dar aos mesmos. Resultou deste contexto
um plano de sensibilização e um conjunto muito alargado de ações com vista à introdução
das práticas de separação doméstica de resíduos tendo por objetivo a sua reciclagem. Foram
assim para tal criadas, em grande escala, infraestruturas destinadas a permitir a reutilização
de alguma da matéria descartada, razão pela qual surge na figura 3, antes do final do processo,
uma seta indicando o regresso de uma parte da matéria ao processo produtivo, mantendo-se
o destino da restante parte, que neste período começava, concretamente com grande
significado em Portugal, a ser consubstanciado por aterros sanitários.
10
Figura 3- Esquema referente ao Modelo Linear com a introdução das práticas de Reciclagem
Fonte: Elaboração Própria
A introdução de uma rede de contentores urbanos, os Ecopontos, para deposição de resíduos
de forma pré triada, a criação de ecocentros, de centrais de triagem, de centrais de
compostagem para resíduos orgânicos, e finalmente a construção de um conjunto de aterros
sanitários pareciam nos primeiros anos do Século XXI ser a solução para os problemas
ambientais na parcela pós consumo.
Na verdade vigorava uma visão redutora do problema, uma vez que os cuidados a ter com o
ambiente pareciam limitar-se à criação de capacidade para evitar a poluição, pelo que o
controlo sobre o destino dos rejeitados parecia resolver a questão ambiental respeitante aos
fluxos de matéria sólida.
Foi nesta sequência, e com a tomada de consciência da necessidade de atender também à
solicitação a que o planeta vem sendo sujeito com a quantidade de matéria nele recolhida e
processada, que surgiu o sentimento de necessidade de aplicação do conceito de Economia
Circular, na perspetiva de criar condições para uma relação sustentável entre o ser humano
e o planeta que habita.
Se a poluição do planeta e a consequente necessidade de criar destinos adequados para os
resíduos eram até então os problemas a resolver, um novo desafio se colocava a partir de
então, com a assunção da tomada de consciência política relativa à finitude dos recursos que
o planeta pode proporcionar., o que levou a uma procura de soluções muito mais abrangentes
do que reciclagem, com vista a evitar a perda de caraterísticas dos materiais e da própria
forma dos objetos. Assim em vez do ciclo da reciclagem passou a considerar-se todo um
outro conjunto de ciclos, como se procura ilustrar na figura 4, com a qual se pretende
11
representar a alteração dos princípios que envolviam a utilização de um agente sumidouro
para materiais ou objetos que deixam de ser considerados como resíduos.
Os diferentes ciclos
Com vista a fazer frente a uma grande exigência de recursos que o mercado solicita e que
provoca, por um lado a escassez e por outro a volatilidade de custos dos recursos em causa,
tendem a aparecer necessidades ilustradas pelas novas setas que surgem na figura 4. Estas
setas pretendem, em primeiro lugar simbolizar a utilização dos produtos em ciclos fechados,
pelo maior período de tempo possível. Quando tal já não é viável, os produtos podem voltar
à indústria ou oficinas para serem reparados ou aproveitados para criar outros produtos. Só
quando nenhuma destas opções é solução se contempla a via da reciclagem, procurando
reduzir ao mínimo, ou mesmo anular, o conceito de resíduo.
Figura 4 - Esquema referente à integração das práticas de circularidade
Fonte: Elaboração Própria
A figura 5 apresenta-se como uma transição gráfica entre o esquema apresentado na figura 4
e o esquema com forma graficamente circular, apresentado na figura 6, que é o apresentado
pela Comissão Europeia (2014), no “Roteiro para uma Europa Eficiente na utilização de
recursos”, referido com maior detalhe mais adiante nesta Dissertação, e que é baseado nas
publicações da Ellen McArthur Foundation.
12
Figura 5 - Esquema da Economia Circular na sequência dos esquemas anteriores
Fonte: Elaboração Própria
Figura 6 - Esquema da Economia Circular adotado pela Comissão Europeia
Fonte: CE (Comissão Europeia, 2014
Os esquemas das figuras 6 e 7 permitem fazer uma leitura muito geral, com referência aos
princípios da Economia Circular. Em particular, a figura 7 apresenta uma imagem, por um
lado mais consistente, na medida em que transmite a existência das diferentes dimensões dos
ciclos, e por outro lado mais abrangente, na medida em que expressa não só os ciclos técnicos
como os ciclos biológicos da matéria.
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Figura 7 - Esquema da Economia circular, em “Borboleta”
Fonte:fundação Ellen MacArthur, 2015
Este esquema permite ter uma melhor noção do conjunto de ideias que estão associadas ao
conceito de EC estruturada em dois ciclos, o técnico e o biológico, tal como propõe o modelo
“Cradle to Cradle” (EPEA, 2019) (do berço ao berço) relativamente ao qual será
posteriormente feita uma referência mais detalhada.
São assim no esquema da figura 7 propostos dois conjuntos de ciclos, um de caráter biológico
e outro com caráter técnico, sendo cada conjunto composto por ciclos de diferentes
dimensões.
À partida os dois conjuntos de ciclos apresentam uma diferença basilar: O Ciclo Biológico
está orientado para o consumo enquanto o Ciclo Técnico está orientado para a utilização.
O ciclo biológico envolve processos mais ligados com o funcionamento biológico, podendo
referir-se a título de exemplo dos ciclos mais curtos, designados de “cascata”, o caso do café
14
(Pauli, 2010): Uma entidade que gere borra de café pode, em vez de a descartar, gerar uma
receita uma vez que com essa borra pode cultivar cogumelos. Findo esse processo, o material
que sobra depois da colheita dos fungos, ricos em proteínas, é uma excelente alimentação
animal. Um modelo de receita, agora transformado num modelo de três receitas, não só deixa
de produzir um resíduo como tem um maior aproveitamento, e evita a depleção de outro
tipo de recursos. Ao passar à alimentação animal entrará num outro ciclo ainda biológico,
mas de dimensão diferente.
A dimensão de cada ciclo é tão maior quanto mais energia consome e quanto mais longo é
o processo pelo qual passa o bem ou produto, ou pelo conjunto de matérias por si
representado, desde que deixa de ser utilizada para um determinado fim até reunir condições
para desempenhar uma nova função.
Convirá aqui relembrar que, tendo presentes os princípios de funcionamento de uma
Economia Circular a primeira premissa (ciclo mais curto) assenta em manter pelo maior
período de tempo possível qualquer produto/bem, ou seja, utilizar toda a sua capacidade de
vida útil, dado que só assim poderá dele ser tirado o máximo valor.
Tendo em conta a natureza e dimensão dos processos, os ciclos técnicos podem receber a
designação de reutilização, remanufactura, recondicionamento ou reciclagem.
Cada vez que um produto passar para um fluxo, ou ciclo de maior dimensão ainda que seja
a simples reparação, há necessidade de introduzir energia e custos associados, ou seja, o bem
passa a perder valor. No caso da reciclagem, isto é mais evidente uma vez que o bem será
desmantelado, passando as suas componentes a ser separadas e reaplicadas, quando possível,
em outras linhas de produção, com perdas de valor associadas, dada a solicitação a nível de
logística e novo esforço a nível de trabalho e energia.
Como facilmente se compreende, esta perspetiva vai na linha oposta à da Obsolescência
Programada que se constata ainda muito presente na sociedade atual.
Cabe aqui ressalvar que o conceito de Economia Circular vai além dos fluxos de materiais,
como descrito neste item. Isto porque é necessário todo um repensar de uso do bem e dos
processos produtivos, não de forma isolada, mas sim em cadeia. Esta questão ficará evidente
nos próximos itens.
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O Conceito “Cradle to Cradle”
Este ponto não ficaria completo sem uma referência ao conceito “Cradle to Cradle”. Um
conceito de design desenvolvido na década de 1990 por Michael Braungart e William
McDonough, assente em inovação, qualidade e bom design com vista ao uso com duração
tendencialmente interminável dos materiais em ciclos, com base nos princípios naturais,
segundo os quais os produtos são criados de forma semelhante ao que se pretende numa
economia circular ideal, proporcionando às empresas a oportunidade de apresentar os seus
produtos não mais como apenas para venda, mas como disponíveis para uso.
Após o uso do produto, os materiais ou componentes são retirados de forma sistemática
como num sistema de montagem para utilização futura, portanto, permanecem em
circulação, podendo assim as empresas tornar-se menos dependentes das flutuações de
preços nos mercados de matérias-primas. Há um melhoramento em todo o ciclo de criação
de valor, não só do ponto de vista da economia como a na própria cadeia de valor
considerada desde as matérias-primas até a “remanufactura” do produto.
O conceito de design “Cradle to Cradle” distingue os ciclos biológico e tecnológico dos
materiais. Os resíduos de um produto antigo tornam-se o “alimento” para um novo produto.
No ciclo biológico, os materiais são devolvidos à biosfera na forma de composto ou outros
nutrientes, a partir dos quais novos materiais podem ser criados. No ciclo técnico, os
materiais que não são usados durante o uso no produto podem ser reprocessados para
permitir que sejam usados em novos produtos (EPEA, 2019).
Figura 8 - Esquema gráfico do Conceito “Cradle to Cradle”
Fonte: EPEA, (2019)
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A Comissão Europeia tem revelado empenho relevante nesta área, como será abordado
adiante e, no seu caso particular, o Estado Português tem também dado crescente atenção e
tem sido prestado um importante contributo nesta área a nível nacional como se refere
adiante também.
Tratando-se de um conceito ao qual recentemente tem sido dada maior e crescente atenção
(Ghisellini et al., 2016), encontrando-se em implementação ou em vias de implementação na
atualidade, é objeto de diferentes interpretações (Kirchherr et al, 2017). Parece assim
justificar-se a apresentação de algumas definições do conceito de Economia Circular.
2.2.2 - Definições de Economia Circular
Perante os conceitos apresentados até aqui faz sentido analisar a definição do conceito de
EC, fazendo-se referências a propostas originárias de diferentes meios.
Como se refere em 2.1.1 e 2.1.2, já não é muito recente a importância da atenção dada a este
conceito no meio científico, o que é percetível em vários autores. Em particular, Kirchherr
et al. (2017) onde são apresentadas e discutidas 114 definições existentes sobre o conceito de
EC, apresentando nas conclusões uma definição que aqui se adaptou com a seguinte
formulação:
- Um sistema económico que substitui o conceito de 'fim da vida' por redução,
através da reutilização, reciclagem e recuperação de materiais em produção,
distribuição e processos de consumo.
Este sistema pode operar em três níveis estabelecidos, sendo estes o nível micro
(produtos, empresas, consumidores), nível meso (parques industriais) e nível
macro (cidade, região, estado e mais), com o objetivo de alcançar o
desenvolvimento sustentável e simultaneamente criar qualidade ambiental,
prosperidade económica e equidade social, para o benefício das gerações atuais e
futuras. Este modelo é posto em prática por modelos de negócio e consumidores
responsáveis.
Ainda que não puramente académico, mas com um alto número de publicações direcionadas
ao tema, a Ellen MacArthur Foundation (2019) indica que “O modelo de economia circular
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sintetiza uma série de importantes escolas de pensamento, incluindo a Economia de
Performance (Stahel, 2008), a filosofia de design “Cradle to Cradle” (Braungart &
McDonough, 2002) a ideia de Biomimética (Benyus, 1997), a Ecologia Industrial (Lifset &
Graedel, 2002), o Capitalismo Natural (Lovins et al., 2010), e a abordagem Blue Economy
(Pauli, 2010). A EC é uma alternativa atraente que busca redefinir a noção de crescimento,
com foco em benefícios para toda a sociedade. Isto envolve dissociar a atividade económica
do consumo de recursos finitos, e eliminar resíduos do sistema como um princípio. Apoiada
por uma transição para fontes de energia renovável, o modelo circular constrói capital
económico, natural e social, baseando-se em três princípios: Eliminar resíduos e poluição por
princípio, Manter produtos e materiais em ciclos de uso e Regenerar os sistemas naturais”
(Ellen MacArthur Foundation, 2019).
A definição apresentada é a proposta pela Fundação Ellen MacArthur (2019), referida no
ponto anterior e estabelecida com a missão de acelerar a transição rumo a uma economia
circular tem-se tornado uma das líderes globais de pensamento, com vista a integrar EC na
agenda de decisores empresariais, políticos e também na academia.
Parece também ser pertinente a apresentação de algumas outras definições tendo-se optado
por apresentar as que são adotadas por entidades com responsabilidade e trabalho
desenvolvido na matéria, nomeadamente ao nível político.
Segundo a Comissão Europeia (2015 b), “numa economia circular, o valor dos produtos e
materiais é mantido durante o maior tempo possível; a produção de resíduos e a utilização
de recursos reduzem-se ao mínimo e, quando os produtos atingem o final da sua vida útil,
os recursos mantêm-se na economia para serem reutilizados e voltarem a gerar valor. Este
modelo pode criar postos de trabalho seguros na Europa, promover inovações que tragam
vantagem concorrencial e propiciar um nível de proteção dos seres humanos e do ambiente
de que a Europa se orgulhe. Poderá igualmente fornecer aos consumidores, produtos mais
duradouros e inovadores que proporcionem poupanças monetárias e melhor qualidade de
vida.”
Segundo o estado Português (PAEC, 2017),” uma Economia Circular é entendida como uma
economia que promove ativamente o uso eficiente e a produtividade dos recursos por ela
dinamizados, através de produtos, processos e modelos de negócio assentes na
desmaterialização, reutilização, reciclagem e recuperação dos materiais. Desta forma,
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procura-se extrair valor económico e utilidade dos materiais, equipamentos e bens pelo maior
tempo possível, em ciclos energizados por fontes renováveis. Os materiais são preservados,
restaurados ou reintroduzidos no sistema de modo cíclico, com vantagens económicas para
fornecedores e utilizadores, e vantagens ambientais decorrentes de menor extração e
importação de matérias-primas, redução na produção de resíduos e redução de emissões
associadas“
Também a Agência Europeia para o Ambiente (European Environmental Agency - EEA)
adota uma definição baseada no Plano de Ação para a Economia Circular da União Europeia,
tendo presentes a bioeconomia e o princípio do duplo ciclo, já referidos no ponto 2.1.2,
(EEA Report, 2016).
Constata-se assim que, apesar de serem inúmeras as definições é possível compreender que
a substância de todas estas definições conduz a um modelo bastante diferente daquele que é
praticado numa economia linear. Faz-se assim um sublinhado nos princípios básicos da
Economia Circular como a promoção da máxima extensão possível do tempo de vida útil
dos produtos / bens, sem entrada de energia para a sua manutenção, seguida de práticas de
reparação, reconstrução, recondicionamento, ciclos mais alargados que envolvem a
introdução de energia que se pretende seja feita com a maior eficiência e quando em nenhum
destes ciclos é viável a reciclagem.
Mais do que promover ciclos sucessivos, a economia circular parte da base de uma
regeneração (ciclo biológico) e restauração (ciclo técnico) dos recursos. Opera com vista à
não geração de resíduos, pela minimização dos impactes ambientais, muito orientada pela
forma como a natureza atua, sem excesso, sem desperdícios, sem resíduos.
2.3 - A adoção da Economia Circular por parte das autoridades e outras entidades
oficiais
2.3.1 – A nível da Comissão Europeia
Não será difícil concluir, perante o até aqui exposto, que uma transição com as caraterísticas
daquela que se afigura necessária, só é possível com o recurso a políticas públicas, não apenas
de cada estado, mas de nível tão abrangente quanto possível, uma vez que se trata de uma
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questão global, na real aceção da palavra, pelo que é importante uma referência à postura das
entidades oficiais
Em ponto subsequente, neste trabalho, far-se-á uma análise da evolução da importância
constatada nas Comunicações e outros documentos da Comissão Europeia, ao longo da
última década, relativamente ao tema da EC. Não obstante, optou-se por referir, perante o
contexto histórico que foi apresentado, alguns aspetos legais e regulamentares, assim como
alguns exemplos da sua aplicação.
Em 2010, a União Europeia (UE) definiu a sua agenda para os 10 anos seguintes, que recebeu
a designação de Estratégia Europa 2020 (Comissão Europeia, 2010), para o crescimento e o
emprego, enfatizando o crescimento inteligente, sustentável e inclusivo como forma de
superar as deficiências estruturais da economia europeia, melhorar a sua competitividade e
produtividade, e apoiar uma economia de mercado social sustentável.
Neste contexto foram definidos cinco objetivos no âmbito do Emprego, Inovação, Energia
e Clima, Educação e Inclusão social, com vista a que cada Estado-membro adotasse objetivos
próprios neste enquadramento.
Em 2011 foi apresentado um “Roteiro para uma Europa Eficiente na utilização de recursos”
(Comissão Europeia, 2011), apresentando a seguinte visão:
“Em 2050, a economia da UE cresceu de uma forma que respeita as limitações de recursos e os limites do
planeta, contribuindo assim para a transformação económica global. A nossa economia é competitiva, inclusiva
e proporciona um elevado nível de vida com impactos ambientais muito menores. Todos os recursos são geridos
de um modo sustentável, desde as matérias-primas até à energia, água, ar, terras e solos. Os marcos
importantes em matéria de alterações climáticas foram atingidos, tendo a biodiversidade e os serviços dos
ecossistemas subjacentes sido protegidos, valorizados e substancialmente reabilitados.”
“Marco importante: Em 2020, os resíduos são geridos como um recurso. Os resíduos produzidos per capita
estão em declínio absoluto. A reutilização e reciclagem de resíduos são opções economicamente atraentes para
os agentes públicos e privados devido a uma recolha seletiva generalizada e ao desenvolvimento de mercados
funcionais de matérias-primas secundárias. São recicladas mais matérias, incluindo matérias com um impacto
significativo no ambiente e matérias-primas de importância crítica. A legislação em matéria de resíduos é
plenamente aplicada. As transferências ilegais de resíduos foram erradicadas. A valorização energética está
limitada a materiais não recicláveis, a deposição em aterro está praticamente eliminada e a reciclagem de alta
qualidade está assegurada.”
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Existe um conjunto de outros documentos abordados com maior detalhe posteriormente,
como referido, no ponto 2.2.2, como a Comunicação da Comissão designada de “Para uma
economia circular: programa para acabar com os resíduos na Europa” (Comissão Europeia,
2014), ou “Fechar o ciclo – plano de ação da UE para a economia circular” (Comissão
Europeia, 2015 a), por um lado com caráter técnico e por outro lado com caráter legal no
sentido de fomentar a transição para uma economia Circular, com propostas legislativas
revistas sobre os resíduos e um plano de ação abrangente que define um mandato concreto
para o período de vigência da presente Comissão. Fica nestes documentos bem patente a
ideia de que a conceção do produto deve ter subjacente, para além dos aspetos funcional e
estético, um design que assegure menor impacte ambiental no processo de produção e
utilização, e o desmantelamento, ou seja, contemplando todo o ciclo de vida do produto,
tendo em vista o destino funcional que as suas componentes irão ter no fim do seu ciclo de
vida.
2.3.2 – Ao nível do estado Português
As políticas que são adotadas pela UE, ora na forma de documentos legais, ora na forma de
documentos técnicos são adotadas pelos Estados-membros da Comunidade. Os atos
legislativos são adotados de acordo com um dos processos legislativos previstos nos Tratados
da UE (ordinário ou especial). Os atos não legislativos não seguem estes processos e podem
ser adotados pelas instituições europeias de acordo com regras específicas (Comissão
Europeia, 2019 b).
Enquanto estado-membro Portugal deverá garantir a articulação e contributo nacional para
as medidas constantes do Plano de Ação para a Economia Circular da União Europeia,
apresentado em 2015.
O Portal ECO.NOMIA
Em 21 outubro 2016 foi apresentado o portal ECO.NOMIA (Min. Ambiente, 2016), como
“uma das componentes do plano de ação do Ministério do Ambiente, assumindo-se como
espaço de partilha de conhecimento e comunicação externa e internacional. Por um lado,
divulgando junto de consumidores e empresas as vantagens e oportunidades de
financiamento e, por outro, lançando um fórum de interação para projetos colaborativos de
Investimento em Economia Circular”.
21
Neste portal é fornecida informação diversa sobre Economia Circular, políticas, exemplos
práticos concretos de implementação de modelos, vias de financiamento, e divulgação de
informação diversa e documentação pertinente.
O Plano de Ação para a Economia Circular (PAEC)
Em 11 de dezembro de 2017, foi publicado no Diário da República Resolução do Conselho
de Ministros n.º 190-A/2017, o “Plano de Ação para a Economia Circular em Portugal”
(PAEC, 2017), onde é definida uma estratégia de transição para uma Economia Circular, e
em cujo texto introdutório se pode ler:
“A economia circular, preconizada no Programa do XXI Governo Constitucional, é um conceito estratégico
que assenta na prevenção, redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia. Substituindo
o conceito de «fim -de -vida» da economia linear por novos fluxos circulares de reutilização, restauração e
renovação, num processo integrado, a economia circular é vista como um elemento-chave para promover a
dissociação entre o crescimento económico e o aumento no consumo de recursos, relação tradicionalmente vista
como inexorável.”
Desde a parte introdutória deste documento há referências à inspiração nos mecanismos dos
ecossistemas naturais e explicação sobre os princípios da economia circular, nomeadamente
uma reorganização do modelo económico, através da coordenação dos sistemas de produção
e consumo em circuitos fechados, mostrando que se trata de uma ação que vai muito para
além das ações de gestão de resíduos, como a reciclagem e visando uma ação mais ampla,
desde o redesenho de processos, produtos e novos modelos de negócio.
Este documento apresenta uma ambição para Portugal em 2050 projetada com impulso no
conhecimento e com o objetivo de alavancar e promover o desenvolvimento dos trabalhos
do Plano de Ação para a Economia Circular (PAEC), que deve ser adotado pelas autoridades
e partes interessadas, assentando na neutralidade carbónica e numa economia eficiente e
produtiva no uso de recursos, neutra em emissões de gases com efeito de estufa e eficaz no
uso de materiais com vista a uma redução significativa da extração e importação de materiais,
redução significativa dos resíduos finais produzidos, melhor gestão e extração de valor dos
recursos em circulação.
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Não deixa porém de manter no horizonte a prosperidade económica inclusiva e resiliente
com desenvolvimento económico transversal a todos os setores da sociedade, tornando-se
progressivamente desacoplado de impactes ambientais e sociais negativos.
Apesar de não ter caráter legal, não poderá deixar de se referir que este documento constitui
já um guia com indicações razoavelmente detalhadas sobre o que se pretende conseguir,
porquê, e como, não só do ponto de vista da abordagem técnica e possíveis estratégias a
adotar, metas e indicadores, mas também fornecendo opções sobre os meios de
financiamento disponíveis, mas também um conjunto de ações entre as quais se contam:
• “Desenhar, Reparar, Reutilizar: uma responsabilidade alargada do produtor
• Incentivar um mercado circular
• Educar para a economia circular
• Alimentar sem sobrar: produção sustentável para um consumo sustentável
• Nova vida aos resíduos!
• Regenerar recursos: água e nutrientes
• Investigar e inovar para uma economia circular”
Torna-se fácil encontrar nos mesmos o esperado reflexo do Pacote de medidas da Comissão
Europeia para uma economia circular.
Consequências Previsíveis
A aplicação das políticas aqui referidas e dos princípios que lhes estão subjacentes poderá ser
colocada em prática se, ao cofinanciamento de projetos com fundos comunitários, estiver
associada a exigência do cumprimento de critérios das entidades beneficiárias. Ora, a
verificação do referido cumprimento exige o recurso a critérios de monitorização, com
indicadores e métricas associadas.
Será assim, nos capítulos seguintes, abordado de forma mais detalhada, o envolvimento da
Comissão Europeia na implementação dos princípios da Economia Circular, assim como das
métricas a usar para a construção de sistemas de indicadores que visem a implementação de
práticas alinhadas com estes princípios.
23
3 – FUNDOS COMUNITÁRIOS E A ADOÇÃO DA ECONOMIA CIRCULAR
NA EUROPA E EM PORTUGAL
3.1 - Portugal na Comunidade Económica Europeia – Impacto das Agendas Europeias nas políticas de desenvolvimento e criação de infraestruturas no país
Pretende-se neste capítulo apresentar um resumo da evolução registada nas políticas da
comunidade europeia em função das agendas definidas e o impacto decorrente das mesmas
no estado Português. Apresentam-se assim nesta descrição, algumas referências mais
detalhadas aos aspetos que se enquadram no campo ambiental, nomeadamente
investimentos realizados desde a adesão de Portugal, uma vez que é este o âmbito em que se
enquadrará também o assunto que é objeto do presente estudo.
O estado Português aderiu a 1 de janeiro de1986 à então Comunidade Económica Europeia.
Passou desde então beneficiar de apoio da Política Regional Europeia, e tem tido pleno
acesso a apoios financeiros criados com o objetivo de suportar o desenvolvimento dos países
e regiões mais desfavorecidos do território europeu (ADC, 2019 a).
Esta política de apoios assentava então fundamentalmente em três Fundos Estruturais: o
Fundo Social Europeu (FSE), destinado a políticas europeias de caráter social e de emprego;
o Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola (FEOGA), vocacionado para as
transformações estruturais que se pretendia fomentar na agricultura europeia; e o Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), destinado a apoiar o desenvolvimento
das regiões mais pobres do espaço europeu (ADC, 2019; Panorama, 2008; Mateus, 2013).
O número de estados-membros que se registava à data, na Comunidade Europeia, passou a
cifrar-se em 12, tendo em conta a adesão da Grécia em 1981 e da Espanha que, tal como
Portugal, aderiu em 1986. Estes alargamentos consubstanciaram a integração, na
Comunidade Económica Europeia, de economias e sociedades consideravelmente menos
desenvolvidas do que as dos então estados membros, o que se refletiu num crescimento
marcante das disparidades regionais. (Panorama, 2008) Foi neste contexto que Jacques
Delors presidente da Comissão Europeia de 1985 a 1994, dinamizou a criação do mercado
interno e a consolidação da coesão económica e social, consagradas no Ato Único Europeu
de 1986, e, mais tarde, a União Económica e Monetária.
Este número de 12 estados-membros passou, desde então, para os atuais 28, tendo entretanto
havido lugar a um conjunto de tratados: O já referido Ato Único Europeu, o Tratado de
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Maastricht e o Tratado de Lisboa. A designação atribuída a esta comunidade foi também
alterada para a atual de “União Europeia” (UE) (Pires, 2017, Mateus, 2013).
3.2 - Os seis períodos de Programação
Portugal esteve envolvido em seis ciclos de programação da Política Regional Europeia, cujo
objetivo era de aproximar os seus padrões de desenvolvimento à média registada no conjunto
do contexto europeu. Foram estes ciclos 1986-1988, Quadro Comunitário de Apoio (QCA)
QCA I (1989-1993), QCA II (1994-1999), QCA III (2000-2006), Quadro de Referência
Estratégica Nacional (QREN) (2007-2013), e o atual Portugal 2020 (2014-2020). Estes
Períodos de Programação têm resultado em fundos estruturais e de coesão que se têm
revelado como um fator muitíssimo privilegiado para a evolução do país nos últimos 22 anos
(ADC, 2019 a).
Primeiro Período de Programação: 1986-1988
No Ato Único Europeu, assinado em 1986, surgiram as bases da atual Politica de Coesão
Europeia, que se pretendia alinhasse as estratégias e os recursos financeiros disponíveis para
os diferentes Fundos Estruturais, com vista a uma maior coesão económica e social entre as
regiões e estados-membros do espaço europeu.
O «Pacote Delors I», que o Conselho Europeu adotou em Março de 1988, deu lugar a um
programa que incluía a reforma da Política Agrícola Comum e o reforço da ação comunitária
nos domínios da política de coesão, da ciência, da tecnologia, do ambiente e da política de
transportes, estando associado a um conjunto de objetivos de promover o desenvolvimento
e o ajustamento estrutural das regiões menos desenvolvidas; Reconverter as regiões
gravemente afetadas pelo declínio industrial; Lutar contra o desemprego de longa duração;
Facilitar a inserção profissional dos jovens; Acelerar a adaptação das estruturas agrícolas e
Promover o desenvolvimento das zonas rurais (Pires, 2017).
Nos primeiros três anos de adesão (1986-1988), os apoios foram concedidos a projetos
individuais apresentados aos três Fundos Estruturais então disponíveis e acima referidos.
Em termos operacionais, porém, a Politica de Coesão Europeia só viria a entrar em vigor em
1989, com um modelo de programação plurianual que permitiria a aprovação e
implementação sucessiva de quadros de apoio estrutural comunitário ate 2020 (Panorama,
2008).
25
O Segundo Período de Programação:
Primeiro Quadro Comunitário de Apoio em Portugal 1989-1993
O Tratado das Comunidades Europeias, aprovado em Maastricht em 7 de Fevereiro de 1992,
juntamente com o Tratado da União Europeia, criou um novo instrumento, o Fundo de
Coesão que viria a ter grande impacto junto do Estado Português. No designado “Pacote
Delors II”, apresentado logo após a assinatura do Tratado de Maastricht, a Comissão
Europeia propôs um programa e um orçamento para “avançar para uma União Económica
e Monetária” que permitirá à Comunidade beneficiar plenamente de um espaço económico
organizado e de uma moeda única.
Com este, o princípio da coesão económica e social ascendeu ao estatuto de grande pilar do
processo de construção europeia, reafirmando-se o compromisso comunitário em promover
um desenvolvimento harmonioso entre as regiões, reduzindo as suas disparidades
económicas e sociais.
A proposta incluía dados sobre o novo Fundo de Coesão, um aumento do orçamento dos
Fundos Estruturais e a simplificação das regras de execução (Panorama, 2008).
O Primeiro Quadro Comunitário de Apoio (QCAI) tinha assim como grandes objetivos, a
convergência real com a Europa (redução dos desníveis de desenvolvimento da economia
portuguesa face à média comunitária) e a coesão económica e social no plano interno
(correção dos desequilíbrios regionais internos).
Este primeiro quadro comunitário foi estruturado em seis eixos prioritários de intervenção:
“A criação de infraestruturas económicas com impacto direto sobre o crescimento
económico equilibrado; O apoio ao investimento produtivo e as infraestruturas diretamente
ligadas a este investimento; o desenvolvimento dos recursos humanos; a promoção da
competitividade da agricultura e desenvolvimento rural; e a reconversão e reestruturação
industriais; e o desenvolvimento das potencialidades de crescimento das regiões e
desenvolvimento local.”
Apesar de se tratar do período de programação em que Portugal recebeu de longe menos
dinheiro europeu ele é ainda hoje associado à política betão dado o extraordinário volume
de obras públicas realizadas, comparativamente às décadas anteriores.
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Também no contexto do QCAI surgiu o primeiro Programa de Desenvolvimento Educativo
em Portugal (PRODEP), destinado à formação de professores à construção de novas escolas.
Refira-se que durante o QCAI foram construídos 662 novos estabelecimentos escolares.
Durante este Período de Programação, foram levadas a cabo algumas intervenções
emblemáticas com impacte muito relevante no país tanto a nível económico como de
melhorias sociais, podendo, a título de exemplo referir-se casos como a criação da
Autoeuropa, em Palmela, os Hospitais distritais de Leiria, Matosinhos e Ponta Delgada, a Via
do Infante, Conclusão da A1 – Autoestrada do Norte, Aeroporto de Ponta Delgada, ou a
Despoluição do Vale do Ave (Pires, 2017, Mateus, 2013, Panorama, 2008).
O Terceiro Período de Programação:
Segundo Quadro Comunitário de Apoio em Portugal - 1994-1999
A estratégia de desenvolvimento que orientou a programação e a aplicação do financiamento
da União Europeia a Portugal entre 1994 e 1999 assentou fundamentalmente na aproximação
à União Europeia e na redução das assimetrias regionais.
Verificava-se então uma conjuntura caraterizada por problemas ao nível dos serviços e
infraestruturas na área do ambiente, tal como na área da saúde e um atraso generalizado no
desenvolvimento das vias de comunicação, não só rodoviária como de telecomunicações.
Também a qualificação dos recursos humanos francamente inferior aos padrões europeus
vigentes, assim como o tecido empresarial, que então se apresentava pouco competitivo. Da
mesma forma, as assimetrias regionais a nível de desenvolvimento social e económico eram
uma das questões de destaque que caraterizavam o país na época (Mateus, 2013).
A principal novidade do Segundo Quadro Comunitário de Apoio (QCA II) terá sido a
inclusão deste novo fundo criado pelo designado Tratado de Maastricht. O Regulamento do
Fundo de Coesão aplicava-se aos países com um Produto Nacional Bruto inferior a 90% da
média comunitária que tivessem um programa de convergência económica que respeitasse
os critérios da União Económica e Monetária e podia financiar até 85 % das despesas
relacionadas com projetos nos domínios do Ambiente e das infraestruturas de Transportes
de valor superior a 10 milhões de ECUS (Pires, 2017, Panorama, 2008).
27
Foi neste contexto, por um lado caraterizado por um conjunto de carências e por outro lado
pela disponibilização de meios financeiros associados a políticas destinadas a combater tais
carências que surgiu um conjunto de intervenções ao nível das infraestruturas e dos
equipamentos largamente conhecidos a nível nacional e mesmo internacional,
significativamente ilustrativos do impacto dos fundos comunitários, especialmente neste
período, com registo de uma grande alteração no panorama geral do país desde a década de
80 do Séc. XX. Foram realizadas grandes obras de infraestruturação do território com
projetos emblemáticos nas áreas cultural, da educação e da saúde, desporto, estradas, água e
saneamento, e também as grandes intervenções ao nível da gestão dos resíduos sólidos como
a eliminação de centenas de lixeiras a céu aberto e foram criadas as primeiras infraestruturas
de recolha seletiva e triagem de resíduos sólidos urbanos com vista à reciclagem.
A importância de algumas das obras levadas a cabo durante este Período de Programação,
parece merecer referência específica neste capítulo dado o caráter ilustrativo que poderão
encerrar, concretamente obras como a Ponte Vasco da Gama em Lisboa, a Modernização da
Linha do Norte para introdução dos comboios pendulares Lisboa-Porto, os Hospitais
distritais de Elvas, Viseu, Barlavento Algarvio, Cova da Beira, Torres Novas e Santa Maria
da Feira, a Introdução do gás natural em Portugal (construção do gasoduto), a Construção
do Museu e Auditório de Serralves, no Porto, a Modernização dos Portos Comerciais de
Leixões, Aveiro, Lisboa, Sines e Setúbal, o Prolongamento da A2 até Grândola, da A3 até
Ponte de Lima, da A4 até Amarante, da A6 até Évora, a ligação à Internet de 1920 escolas, a
construção da Ponte do Freixo no Porto, ou a Ampliação do Aeroporto de Santa Catarina,
no Funchal, são alguns exemplos emblemáticos indissociáveis desta fase de grande evolução
no país (Pires, 2017).
Tendo em conta o assunto em apreço neste estudo, continuará a justificar-se alguma ênfase
no que respeita, em particular, a aspetos ambientais, assim como ao impacto visível na área
do Ambiente, que decorreu da adesão de Portugal à Comunidade Europeia, usando-se, a
título de exemplo, a evolução dos aspetos mais relevantes na zona do Porto.
Será difícil, para quem não o souber, acreditar que, na cidade do Porto, segunda cidade de
Portugal que aderiu à Comunidade Europeia em 1986, os esgotos da cidade do Porto eram
lançados no Rio Douro ou no Oceano Atlântico sem qualquer tipo de tratamento no início
do séc. XXI. Neste momento, a captação de água para o abastecimento da cidade apresentava
problemas de quantidade e qualidade. Os resíduos sólidos indiferenciados eram objeto de
28
um tratamento muito débil e a separação com vista à reciclagem dava ainda os primeiros
passos (REA, 2000).
Neste período de programação, as infraestruturas para gestão do ambiente, a par das
infraestruturas de transportes tiveram, mais uma vez, uma significância de grande destaque
no conjunto das verbas destinadas a investimento, tendo recebido contributos, não só do
FEDER como do Fundo de Coesão. Na área ambiental, foi dada continuidade à criação dos
sistemas multimunicipais e intermunicipais de abastecimento de água, de drenagem e
tratamento de águas residuais. Foi entre 1995 e 2004 que se deu a criação da maioria dos
sistemas de gestão de água no país (Pato, 2011).
Em 2000 entrou em funcionamento a Estação de Tratamento de Aguas Residuais (ETAR)
do Freixo que passaria a tratar os efluentes urbanos da zona oriental do Porto e, em 2003,
entraria em funcionamento a ETAR de Sobreiras. Estas duas infraestruturas passariam a
assegurar a partir de então, o tratamento da maioria dos efluentes urbanos da cidade.
Também no ano de 2000 entraria em funcionamento a Estação de Tratamento de Água de
Lever com a capacidade de produzir água potável para abastecer 1,39 milhões de pessoas
(AdP, 2019).
A transformação ocorrida ao nível dos resíduos sólidos parece merecer a referência a alguns
números registados a nível nacional:
No final de 1996 havia 341 lixeiras, 13 aterros, embora não passassem, na sua maioria, de
locais de deposição de resíduos e 5 estações de compostagem.
Desde então até janeiro de 2002, foram construídas duas incineradoras, ou centrais de
valorização energética, (Lipor no Porto e Valorsul em Lisboa), 37 aterros sanitários e seladas
as lixeiras desativadas, tendo em 28 de Janeiro de 2002, sido noticiado o fim das lixeiras em
Portugal com a inauguração do aterro sanitário de Évora (Público, 2002), (REA,2002).
O Quarto Período de Programação:
Terceiro Quadro Comunitário de Apoio em Portugal - 2000-2006
Em março de 2000, houve um comprometimento por parte dos os líderes europeus no
sentido de a UE se tornar, até 2010, “na economia baseada no conhecimento mais dinâmica
e competitiva do mundo, capaz de garantir um crescimento económico sustentável, com
29
mais e melhores empregos, e com maior coesão social e respeito pelo ambiente”. Este foi
um dos compromissos assumidos no âmbito da “Estratégia de Lisboa”, enquadrada numa
série de outras reformas de caráter sinergético uma vez que as ações de qualquer dos Estados-
Membros, seriam mais eficazes se tomadas em, concertação com outros Estados-Membros
(Kok,2004).
O Quinto Período de Programação:
Quadro de Referencia Estratégica Nacional 2007 – 2013
O período de 2007 - 2013 foi uma fase de Concentração no crescimento e no emprego. Após
a adesão de 10 novos Estados, ocorrida no período anterior, deu-se a maior concentração de
recursos jamais verificada nos Estados-Membros e nas regiões mais pobres. A inclusão de
todas as regiões e uma modificação das prioridades a fim de impulsionar o crescimento, o
emprego e a inovação, são, em síntese, as principais alterações da Política de Coesão da EU
durante o atual período.
Em Portugal, o Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN) assumia assim como
objetivos estratégicos, a qualificação dos portugueses bem como a promoção de níveis
elevados e sustentados de desenvolvimento económico e sociocultural e de qualificação
territorial, associados às prioridades estratégicas de promover a qualificação das pessoas;
promover o crescimento sustentado através do aumento da competitividade; garantir a
coesão social; assegurar a qualificação do território e das cidades e; aumentar a eficiência da
governação.
Ao contrário do que acontecera nos primeiros três QCA, a estrutura operacional do quadro
de intervenção foi desenhada em função de três agendas temáticas: Agenda para o potencial
humano; Agenda para os fatores de competitividade; e Agenda para a valorização do
território. A opção pelas agendas temáticas foi inovadora e visou sobretudo criar novas
racionalidades na seleção dos projetos a financiar pelos Fundos Estruturais. Pretendeu-se
que todos os programas operacionais – quer de âmbito nacional, quer regional – fossem
organizados de acordo com estas três agendas que atravessaram todo o QREN (Mateus,
2013).
30
O Sexto Período de Programação:
Acordo de Parceria 2014 – 2020, Portugal 2020
De todos os Períodos de Programação, desde a adesão de Portugal à Comunidade Europeia,
o mais recente, ainda em vigor, foi o Acordo de Parceria 2014 – 2020, também designado de
Portugal 2020.
As ações levadas a cabo neste Período de Programação surgiram, naturalmente, alinhadas
com a Politica de Coesão Europeia e assim com a Estratégia Europa 2020 – estratégia para
um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo.
A operacionalização desta estratégia foi estruturada a nível da comunidade com um conjunto
de objetivos temáticos e de prioridades de investimento, selecionados por cada Estado-
Membro de acordo com as debilidades estruturais sentidas e de acordo com as respetivas
estratégias de desenvolvimento que, no respeitante a Portugal, resultou no Acordo de
Parceria, designado por Portugal 2020, adotando quatro prioridades de intervenção, na base
das quais todo o texto está organizado, a saber: Competitividade e internacionalização;
Inclusão social e emprego; Capital humano; e Sustentabilidade e eficiência no uso de
recursos.
Para cada uma destas prioridades, foram definidos objetivos e metas, para os quais todos os
programas operacionais devem contribuir e, também para cada uma, foi definido um
Programa Operacional Temático, gerido a nível central, assim como componentes dos
Programas Operacionais Regionais (Pires, 2017).
3.3 - O tema da Economia Circular na definição das estratégias europeias para 2030
Tendo em conta o assunto em estudo, será pertinente um olhar sobre alguns documentos
estratégicos publicados até ao momento pelos organismos com responsabilidade na matéria
ao nível da Comissão Europeia, no sentido de colocar no horizonte deste trabalho as
estratégias vigentes, dado que, os indicadores que se pretende construir devem ser
ferramentas que permitam contribuir para a implementação de tais estratégias.
Procurar-se-á assim, neste ponto, fazer uma primeira ligação entre os dois Após uma
introdução ao tema da Economia Circular fez-se uma abordagem ao que tem vindo a ser o
31
impacto dos fundos europeus na economia portuguesa e, em particular, nos investimentos
realizados em Portugal na área do Ambiente, com consequentes reflexos visíveis nesta área.
Nesta sequência apresentar-se-á um conjunto de comunicações e outros documentos de
trabalho da Comissão Europeia com referências ao tema da Economia Circular, com vista a
ilustrar a crescente evolução da importância manifestada pelo mesmo no decorrer da última
década.
Tendo em conta o tema deste trabalho, importará resumir a informação contida em alguns
dos documentos mais recentes, que espelham as intenções da Comissão Europeia e que,
portanto, deverão integrar a agenda europeia que naturalmente se refletirá nas politicas a
adotar em Portugal neste contexto.
Se houver forma de materializar no tempo a assunção da importância desta temática por
parte da Comissão Europeia, parece poder fazer-se coincidir com a adoção do Plano de Ação
para a Economia Circular (Comissão Europeia, 2015 a), publicado em dezembro de 2015
com o objetivo de desenvolver uma economia neutra em termos de carbono, eficiente em
termos de recursos e competitiva, para além de dar um novo impulso ao emprego, ao
crescimento e ao investimento.
Há no entanto documentos que configuram antecedentes do atrás referido, merecendo
portanto aqui uma observação, uma vez que demonstram, não só o interesse nas matérias
envolvidas, como a preocupação manifestada por parte das entidades europeias.
3.3.1 - EUROPA 2020 - Estratégia para um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo
Em março de 2010 foi publicada a “Estratégia para um crescimento inteligente, sustentável
e inclusivo” (Comissão Europeia, 2010), no âmbito da qual eram apontadas linhas diversas
no sentido de uma “uma economia mais eficaz em termos de recursos, mais ecológica e mais
competitiva”, apelando à utilização eficiente dos recursos com vista a conduzir a UE no
sentido de prosperar num mundo hipocarbónico, com recursos limitados, conseguindo em
simultâneo evitar a degradação ambiental, a perda de biodiversidade e uma utilização
insustentável dos recursos, tendo como pano de fundo a luta contra as alterações climáticas
e assim, uma aceleração no processo de redução das emissões de gases com efeito de estufa,
para além de promover a captura e armazenamento do carbono.
32
Esta estratégia era já definida com consciência da necessidade de envolver todos os sectores
da economia, e não apenas aqueles que produzem mais emissões.
Previa também já, este documento, a procura do recurso a energia limpa e eficiente fazendo
associação entre a utilização de fontes cuja natureza o permita e uma maior independência
energética e solidez da economia.
Previa por outro lado que este desiderato fosse obtido com o recurso a soluções
tecnologicamente inovadoras que permitissem dissociar o crescimento e o consumo de
energia, criando uma economia mais eficiente em termos de utilização dos recursos.
Logo no ano seguinte seria publicado o “Roteiro para uma Europa Eficiente na utilização de
recursos” (Comissão Europeia, 2011), que revelava um espírito completamente alinhado
com a estratégia atrás referida, já numa perspetiva de operacionalização dos caminhos de
ação nela preconizados.
3.3.2 - Roteiro para uma Europa Eficiente na utilização de recursos
Este documento demonstra, na sequência do anteriormente referido, uma progressiva
assunção na tomada de consciência e consequente preocupação relativas à temática da
finitude dos recursos do Planeta, como é compreensível no 1º parágrafo do 1º ponto que
refere: “A Europa usufruiu de muitas décadas de crescimento da riqueza e do bem-estar baseado numa
utilização intensiva dos recursos. Mas atualmente vê-se confrontada com o duplo desafio de estimular o
crescimento necessário para criar emprego e bem-estar para os seus cidadãos e de garantir que a qualidade
desse crescimento conduza a um futuro sustentável.“
Trata-se de um guia com uma abordagem mais concreta e mais voltado para a
operacionalização das políticas. Estando assente nos princípios enunciados no documento
estratégico anteriormente referido, estabelece um conjunto de marcos referenciadores do que
considera ser necessário fazer com vista a crescimento sustentável e eficiente na utilização
dos recursos, apresentando já uma determinada Visão para 2050 na qual refere que “Todos os
recursos são geridos de um modo sustentável, desde as matérias-primas até à energia, água, ar, terras e solos.”
Este documento inclui um capítulo destinado à economia onde são abordados temas como
consumo e produção sustentáveis com mudanças nos padrões de consumo, transformação
dos resíduos em recursos, apoio à investigação e a inovação, ou relações entre a precificação
33
e o ambiente mas, sendo curiosamente e de entre os documentos referidos neste capítulo, o
que primeiro usa o termo Economia Circular, apresenta-o numa parte dedicada ao capital
natural e Serviços Ecossistémicos, no qual são feitas referencias aos recursos mais básicos
do planeta como a água, o ar, os minerais ou a biodiversidade, e onde pode ler-se “A evolução
no sentido de uma verdadeira gestão baseada no consumo e em materiais sustentáveis, ou seja uma «economia
circular» em que os resíduos se transformem em recursos, permitirá uma utilização mais eficiente dos minerais
e metais”.
Será também neste contexto de referir que, apesar de não especificamente no âmbito da
Economia Circular, este documento aborda também a necessidade do estabelecimento de
indicadores e procedimentos orientados para os objetivos de eficiência na utilização dos
recursos constantes na Visão para 2050 em matéria de eficiência na utilização dos recursos.
Consegue perceber-se no tom e nos termos em que estes documentos são redigidos, a
crescente importância que este tema foi assumindo ao longo da última década, não podendo
deixar de se referir, no contexto desta evolução, a Comunicação da Comissão ao Parlamento
Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões
designado de “Para uma economia circular: Programa para acabar com os resíduos na Europa”
(Comissão Europeia, 2014), em que o termo passa de uma referência singular para o título
de um documento.
3.3.3 - Para uma economia circular: Programa para acabar com os resíduos na Europa
“As nossas economias deixam escapar matérias-primas preciosas”. Reproduz a primeira frase que se
pode ler nesta Comunicação.
O programa que é apresentado no contexto desta Comunicação surge também na sequência
da publicação do Programa de Ação em Matéria de Ambiente ou “7º PAA” - Viver bem,
dentro dos limites do nosso planeta, (JOUE,2013) no âmbito do qual a União Europeia concordou
em intensificar os seus esforços para proteger o nosso capital natural, em estimular o
crescimento e a inovação hipocarbónicos e eficientes na utilização dos recursos, e em
proteger a saúde e o bem-estar das pessoas – ao mesmo tempo que respeita os limites naturais
da Terra. Este Programa apresenta-se orientado por uma Visão a longo prazo: “Em 2050,
vivemos bem, dentro dos limites ecológicos do planeta. A nossa prosperidade e a sanidade do nosso ambiente
resultam de uma economia circular inovadora em que nada se desperdiça e em que os recursos naturais são
34
geridos de forma sustentável e a biodiversidade é protegida, valorizada e recuperada de modo reforçar a
resiliência da nossa sociedade. O nosso crescimento hipocarbónico foi há muito dissociado da utilização dos
recursos, marcando o ritmo para uma sociedade global segura e sustentável.”
Voltando ao “Programa para acabar com os resíduos na Europa”, em apreço neste ponto, é
de realçar o seu forte caráter inovador. Se por um lado faz referências ao facto de a indústria
já reconhecer uma justificação económica para os novos paradigmas propostos, adianta
estimativas para melhorias de eficiência na utilização dos recursos com redução das
necessidades de novos materiais em 17 % a 24 % até 2030.
Por outro lado aborda os problemas relacionados com os hábitos comerciais instalados e
assentes na Economia Linear, identificando dificuldades em conseguir confiança e
capacidade para a transição no sentido das soluções da economia circular, originárias não só
na falta de informação e de adesão dos agentes como por oposição do próprio sistema
financeiro.
De qualquer das formas parece ser de reter o facto de, nesse documento, ser já apresentado
um conjunto de conceitos concretos e propostas que são familiares a quem acompanha esta
matéria. São apontadas soluções como a inovação no sentido de eliminar a tendência para a
geração de resíduos desde a conceção dos produtos, e ao longo de toda a cadeia de valor,” a
redução da quantidade de materiais necessários para a prestação de um determinado serviço,
o prolongamento da vida útil dos produtos, a redução da utilização de energia e de materiais
nas fases de produção e utilização, a redução do uso de materiais perigosos ou difíceis de
reciclar em produtos e processos de produção (substituição), a criação de mercados para as
matérias-primas secundárias, a conceção de produtos que sejam mais fáceis de manter,
reparar, modernizar, retransformar ou reciclar (conceção ecológica), o desenvolvimento dos
serviços necessários para os consumidores neste contexto (serviços de
manutenção/reparação e afins); o incentivo e o apoio à redução dos resíduos e à triagem de
alta qualidade por parte dos consumidores.”
Este documento também apresenta pistas relacionadas com abordagem legal à
transformação dos resíduos em recursos como parte do fecho do círculo nos sistemas de
economia circular, fazendo assim alusão à necessidade de simplificar e aplicar melhor a
legislação em matéria de resíduos, o que encerra, ainda hoje, um delicado problema comercial
35
e legal pela dificuldade processual associada a comercializar um produto ou uma matéria que,
legalmente, é considerado com um resíduo.
É também neste documento apresentada a figura 6 referida anteriormente.
No ano seguinte à publicação deste programa seria publicado o segundo, dos documentos
aqui referidos, em que o termo Economia Circular assume um protagonismo indiscutível
dado tratar-se já de um plano de ação destinado ao tema.
3.3.4 - O Plano de Ação para a Economia Circular
O Plano de Ação para a Economia Circular (Comissão Europeia, 2015 a), é um documento
estratégico publicado em dezembro de 2015, cerca de três meses após a aprovação da
resolução A/RES/70/1 “Transformar o nosso mundo: Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável”
na Cimeira da Organização das Nações Unidas a 25 de setembro de 2015.
Apesar de se tratar de uma resolução que extravasa o contexto europeu parece justificar-se
neste ponto uma resumida abordagem para melhor contextualização.
Assim, em relação à Resolução “Transformar o nosso mundo: Agenda 2030 de Desenvolvimento
Sustentável”, esta entraria em vigor em 2016. É constituída por 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas a alcançar até 2030 por todos os 193 países
membros da ONU. Os hoje bem conhecidos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
e as respetivas metas estão interligados e têm caráter global, devendo ser aplicados
universalmente, com partilha da responsabilidade pelo seu alcance por todos os países (ADC,
2019 b).
Quebrando um pouco a sequência cronológica com que os documentos mais relevantes
foram surgindo e dada esta referência pontual a uma Resolução respeitante a um contexto
de outra natureza, faz-se uma breve alusão ao seu impacto no contexto europeu.
Estando o desenvolvimento sustentável na essência do projeto europeu, com o
reconhecimento da importância de abordar conjuntamente as dimensões económica, social
e ambiental, preconizando-se um modelo de desenvolvimento com vista a satisfazer as
necessidades presentes sem comprometer as das gerações futuras, a resposta da UE à
implementação interna da Agenda 2030 foi estruturada em duas linhas fortes:
36
Uma primeira linha orientada para a plena integração dos objetivos de desenvolvimento nas
prioridades da Comissão no quadro das políticas europeias, que seria vertida na Comunicação
“Próximas etapas para um futuro europeu sustentável” (Comissão Europeia, 2016).
Uma segunda linha voltada para uma reflexão a mais longo prazo, com vista a identificar
políticas setoriais para o período pós-2020 com vista ao cumprimento dos ODS.
Neste contexto será consequência natural que os vários instrumentos de financiamento da
UE complementem as políticas e as iniciativas europeias e procurem contribuir para todos
os ODS, o que deverá refletir-se no futuro Quadro Financeiro Plurianual (QFP) com as
preocupações associadas à definição das políticas e a respetiva contribuição do orçamento
da UE, no sentido de apoiar o cumprimento dos objetivos sustentáveis (ADC, 2019 b).
Feita esta contextualização é retomada a referência ao Plano de Ação para a Economia
Circular, no qual a economia circular é reconhecida como agente impulsionador da
competitividade da UE ao proteger as empresas contra a escassez dos recursos e a
volatilidade dos preços, sendo também um contributo fundamental para uma economia
sustentável, eficiente em termos de recursos e competitiva, e uma oportunidade de
transformação da economia europeia com criação de vantagens competitivas, novas e
sustentáveis, registando assim uma crescente materialização da aplicabilidade das orientações
associadas a este novo paradigma.
Este plano de ação estabelece 54 medidas para “fechar” o ciclo de vida dos produtos com
uma abordagem sistematizada e estruturada em quatro temas principais: Em primeiro lugar,
a produção, subestruturada, por um lado, nos aspetos relacionados com a conceção dos
produtos e por outro lado nos processos de produção. Os restantes três temas são o
consumo, a gestão de resíduos e por fim, a transformação dos resíduos em recursos -
mercado das matérias-primas secundárias. Define também cinco domínios prioritários, a
saber, plástico, desperdício alimentar, matérias-primas essenciais, construção e demolição e,
finalmente, biomassa e produtos de base biológica.
Para além de abordar ainda os temas da Inovação, investimento e outras medidas horizontais,
este documento refere no seu último ponto, não menos importante para o tema em análise,
a necessidade de se definir um conjunto de indicadores com vista a controlar os progressos
conseguidos no sentido de uma economia circular.
37
À semelhança do que se pode constatar na leitura dos capítulos anteriores, no que se refere
a temas gerais da sociedade e ao ambiente, em particular em Portugal, pode sentir-se já no
momento atual, o impacto que estas linhas orientadoras têm nas políticas adotadas a nível
nacional, podendo sentir-se a sua atualidade em qualquer atividade industrial ou comercial
que lide com os aspetos atrás referidos bem assim como nas imagens veiculadas pelos media
e pelas forças políticas.
3.3.5 – Sobre um quadro de controlo para a Economia Circular
É nesta sequência incontornável uma referência à Comunicação da Comissão ao Parlamento
Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões -
sobre um quadro de controlo da economia circular (Comissão Europeia, 2018), documento
que acaba por configurar uma charneira entre o presente capítulo deste trabalho e o capítulo
seguinte, em que será abordado o tema dos indicadores.
É proposta no âmbito deste quadro de controlo, a caraterização do estado de implementação
da Economia Circular com base num conjunto de indicadores envolvendo o ciclo de vida
dos produtos e dos materiais, os domínios e setores prioritários e os impactos sobre a
competitividade, a inovação e o emprego, com vista a apoiar o acompanhamento das
principais tendências na transição, para avaliar as medidas adotadas e o grau de eficácia da
participação de cada um dos intervenientes.
A comunicação entre os Estados-Membros e partes interessadas é fundamental para este
quadro sendo os indicadores, também nesta medida, importantes no sentido de ajudar a
identificar, nos Estados-Membros, as melhores práticas que podem ser divulgadas.
Este quadro de controlo, que tem como objetivo medir os progressos realizados no sentido
de uma economia circular, tem também associado o objetivo de constituir uma ferramenta
para acompanhar as principais tendências na transição e para avaliar o grau de eficácia, não
só das medidas em vigor como da participação de todos os intervenientes. Apresenta assim
um conjunto de dez indicadores destinados a fornecer uma ideia geral dos principais pontos
de alavancagem passíveis de aumentar a circularidade da economia da EU.
38
Estes indicadores aparecem agrupados em quatro áreas visivelmente alinhadas com a
estrutura do plano de ação para a economia circular, sendo elas produção e consumo, gestão
de resíduos, matérias-primas e finalmente competitividade e inovação.
Os Indicadores apresentados são os seguintes:
1 - Autossuficiência da UE em matérias-primas – Percentagem de uma seleção de
matérias importantes, incluindo matérias-primas essenciais, utilizadas na EU que são
produzidas no seu território
2 - Contratos públicos ecológicos - Percentagem de contratos públicos na EU que
inclui requisitos ambientais
3 - Geração de resíduos – Geração de resíduos urbanos por habitante; total de
resíduos gerados (excluindo os principais resíduos minerais) por unidade de PIB em
relação ao consumo
4 - Desperdícios alimentares – Quantidade de desperdícios alimentares produzidos
5 - Taxas globais de reciclagem – Taxa de reciclagem de resíduos urbanos e da
globalidade dos resíduos, excetuando os principais resíduos minerais
6 - Taxas de reciclagem de fluxos de resíduos específicos - Taxa de reciclagem de
resíduos de embalagens em geral, de embalagens de madeira, de resíduos de
equipamentos elétricos e eletrónicos, biorresíduos reciclados por habitante e taxa de
valorização de resíduos de construção e demolição.
7 - Contribuição dos materiais reciclados para satisfazer a procura de matérias-
primas – Percentagem da procura global de materiais, suprida por matérias-primas
secundárias – para materiais específicos e no conjunto da economia
8 - Comércio de matérias-primas recicláveis – Importações e exportações de
determinadas matérias-primas recicláveis
9 - Investimento privado, emprego e valor acrescentado bruto – Investimentos
privados, número de pessoas empregadas e valor acrescentado bruto nos setores da
Economia Circular
10 – Patentes – Número de patentes relacionadas com a gestão e reciclagem de
resíduos.
39
Os aspetos respeitantes a cada um dos indicadores apresentam diferentes graus de
maturidade, havendo portanto diferentes níveis de conhecimento e consequente
quantificação, sendo assim, em apenas alguns dos casos, feita uma caraterização com vista à
obtenção de valores de referência, sendo no próprio documento reconhecido que ainda
demorará algum tempo até que os resultados das ações na economia circular sejam
observáveis nas estatísticas, pelo que o estabelecimento de tais valores ajudará a acompanhar
futuros desenvolvimentos e a fundamentar processos de decisão política.
O último e mais recente documento, do conjunto aqui apresentado, publicado no corrente
ano de 2019, é um relatório onde são já apresentados os principais resultados entretanto
obtidos com a aplicação do plano de ação e uma revisão dos desafios futuros que haverá a
enfrentar para modelar a economia com vista a rumar aos objetivos constantes na estratégia
e no plano de ação.
Trata-se do Relatório da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité
Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões - Sobre a aplicação do Plano de Ação
para a Economia Circular (Comissão Europeia, 2019 a).
3.3.6 - Sobre a aplicação do Plano de Ação para a Economia Circular
A referência a este documento é aqui usada em jeito de conclusão deste capítulo e no sentido
de fazer notar o real interesse demonstrado pela Comissão Europeia para que a aplicação da
Economia Circular venha a ser uma realidade, para além do sério empenho por parte das
entidades responsáveis na matéria para que tal venha a acontecer.
Um Relatório de progresso como o que aqui se refere parece constituir a adoção de reais
práticas de monitorização do nível de implementação das práticas associadas à Economia
circular.
O Relatório em apreço apresenta os principais resultados da aplicação do plano de ação
fazendo também uma breve referência aos desafios futuros que será necessário enfrentar
com vista a modelar uma economia não impactante no clima, procurando remover a pressão
sobre os recursos naturais e de água doce e sobre os ecossistemas, mas continuando a criar
uma vantagem competitiva. O tom do parágrafo dedicado aos desafios em aberto é também
40
demonstrativo da intensidade com que o tema é considerado. “A economia circular é já uma
megatendência global irreversível, mas ainda há muito a fazer para expandir a ação a nível da UE e a nível
mundial, fechar totalmente o ciclo e tirar partido da vantagem competitiva que proporciona às empresas da
União. A interação com as partes interessadas indica que é possível investigar domínios não abrangidos pelo
plano de ação, a fim de completar a agenda circular”.
A abordagem de avaliação deste Relatório analisa o progresso registado nos processos de
conceção e produção circulares, com revisão dos requisitos essenciais aplicáveis às
embalagens com o intuito de melhorar a sua conceção do ponto de vista da reutilização e de
uma reciclagem de alta qualidade, assim como adaptação dos processos industriais na
perspetiva do consumo de energia e utilização de materiais, prevenção de resíduos,
reciclagem e redução de produtos químicos perigosos.
Por outro lado é tida em conta a necessidade do papel ativo dos cidadãos pelo que a estratégia
proposta aponta no sentido de aumentar a eficácia do rótulo ecológico da UE, procurando
fornecer aos consumidores informações ambientais exatas, sempre na perspetiva de os
defender, criando assim segurança nos mesmos com vista a promover a sua adesão. Por
outro lado, Para tirar pleno partido das potencialidades das autoridades públicas para
dinamizar mercados de produtos e serviços circulares, a Comissão adotou e reviu critérios
da UE em matéria de contratos públicos ecológicos.
Finalmente a transformação dos resíduos em recursos, com uma referência ao quadro
legislativo revisto no domínio dos resíduos que entrou em vigor em julho de 2018, foi
desenhado com vista a modernizar os sistemas de gestão de resíduos existentes na União e
consolidar o modelo europeu como um dos mais eficazes do mundo.
Este documento envolve ainda aspetos, por um lado de detalhe relativo a algumas fileiras em
particular como os plásticos, ou por outro lado de propostas com vista a promover a
aceleração da transição pela via financeira e das partes interessadas concluindo com uma
reflexão sobre os desafios em aberto.
Pretendeu-se com a referência a este conjunto de documentos mostrar que existe uma
crescente tendência de inevitabilidade de adoção das políticas e práticas associadas ao
conceito da Economia Circular como um novo paradigma de funcionamento da sociedade
tendo no horizonte uma relação mais próxima da realidade do planeta.
41
É também percetível, através da análise do conjunto de documentos que foram referidos, a
consequente necessidade de um sistema de indicadores que permita assegurar, por um lado
a orientação das práticas a adotar e por outro lado, a monitorização da implementação das
políticas no sentido de garantir o contributo para os objetivos definidos neste contexto.
É assim, em consequência desta reflexão, que surge a análise de construção de sistemas de
indicadores que se apresentará no item seguinte.
42
4 – METODOLOGIA: INDICADORES DE CIRCULARIDADE
4.1 - Construção de indicadores
A utilização de indicadores tem vindo a ganhar peso no que se refere à utilização de
metodologias utilizadas para resumir a informação de carácter técnico e científico, uma vez
que permite transmiti-la numa forma sintética, sem no entanto levar à perda da essência dos
dados originais e utilizando apenas as variáveis que melhor servem os objetivos e não todas
as que podem ser medidas ou analisadas. A informação é assim mais facilmente utilizável
pelos decisores que a elas precisem recorrer (Gomes et al., 2000).
Procurando estabelecer um conceito, um indicador é uma unidade métrica ou medida de um
aspeto que se pretende caraterizar no desempenho de um processo, tornando-se assim um
instrumento de apoio à monitorização da eficiência e da eficácia da entidade que gere ou
supervisiona o seu funcionamento (Alegre et al., 2004).
Regra geral, os investigadores consideram que os indicadores constituem parâmetros
quantificados ou qualitativos que servem para transmitir informação relativa à qualidade da
condução de uma determinada proposta face aos respetivos objetivos (avaliação de processo)
ou à sua consecução (avaliação de resultados), desempenhando o papel de sinalizadores da
realidade (Minayo, 2009).
O objetivo dos indicadores é fornecer informações objetivas e fiáveis que permitam
caraterizar o estado de um sistema com vista a esclarecer os gestores do mesmo no sentido
de poderem decidir de forma a alcançar os resultados desejados. Se determinadas condições
forem cumpridas, os indicadores podem ajudar a atingir metas e resultados (Pintér, 2006).
Os indicadores podem servir como ferramentas importantes na comunicação de informação
científica e técnica em formação. Eles também podem facilitar o acesso a esta informação
para diferentes grupos de utilizadores e, ao fazê-lo, transformar a informação em ação. Como
tal, eles podem desempenhar um papel ativo no melhoramento de processos de elaboração
de políticas (Segnestam et al., 2000).
Os Indicadores poderão assim constituir uma ferramenta de síntese, regra geral quantificada,
com caráter simplificativo da informação, que por vezes é complexa, que permite avaliar a
eficiência das organizações ou dos processos e da eficácia no cumprimento dos seus
objetivos.
43
Um indicador tem a vantagem de fornecer informação relevante e ao mesmo tempo simples
sobre determinada realidade. Não deixa porém de representar uma realidade parcial do
funcionamento de um sistema que se pretenda analisar.
Assim, uma caraterização deve ser construída por meio de um conjunto de indicadores, ou
Sistema de Indicadores (SI), que envolva os aspetos e características mais importantes e
significativos para o fim a que se destinam, ou seja, a escolha dos indicadores a utilizar, deve
ser criteriosa com vista a que análise seja bem-sucedida (Alegre et al., 2004).
Se por um lado o recurso a um sistema de indicadores pode permitir simplificar uma
avaliação, que na sua ausência seria mais complexa e subjetiva, a sua utilização não deve ser
encarada de forma simplista. Será assim importante construir um SI que seja coerente e
estruturado a partir de indicadores definidos de forma clara e constituídos por componentes
que permitam a sua interpretação de forma simples com vista a evitar uma avaliação
complexa e subjetiva.
O desenvolvimento de ferramentas de fácil utilização e a utilização de quadros de indicadores
comuns facilitam não só a transformação de dados em informação relevante, mas também a
criação de estratégias para o desenvolvimento de políticas (Segnestam et al., 2000).
Será também importante ter presente que um SI deve configurar uma ferramenta de
informação que permita determinar até que ponto foi ou não atingido um conjunto de
objetivos. Será assim de importância fundamental ter em conta que os indicadores devem ser
concebidos tendo em conta o objeto que com eles se pretende caraterizar (Franceschini et
al., 2007).
Tendo identificado um método para organizar os indicadores, será necessário selecionar os
indicadores adequados para a monitorização que se pretende realizar. São assim apresentadas
algumas considerações que devem ser tidas em conta no processo de seleção de indicadores.
Será prudente definir critérios restritos de seleção com vista a evitar algumas das
consequências indesejáveis que podem decorrer dos aspetos referidos (Segnestam et al.,
2000), por outro lado, os resultados dos indicadores só têm sentido se permitirem medir
adequadamente o progresso em relação às questões identificadas como relevantes (Vilares,
2010).
Devem assim ser tidas em conta as características desejáveis e indesejáveis nos indicadores:
44
Mensurabilidade: Se o indicador é objetivo consubstancia uma métrica, devendo basear-se
em dados disponíveis ou fáceis de conseguir e ser de fácil entendimento pela entidade que
vai quantifica-lo com vista a que esta quantificação traduza o que se pretende conhecer com
o maior rigor possível.
Relevância: Há que selecionar indicadores que permitam medir o progresso em relação a
questões relevantes. Os resultados dos indicadores só têm sentido se permitirem medir
adequadamente o progresso em relação às questões identificadas como relevantes, devendo
estas ser definidas de forma precisa. Por outro lado o indicador deve corresponder a uma
questão específica relativamente à qual se possa ajuizar sobre o caráter positivo, neutro ou
negativo da sua tendência.
Representatividade, Os indicadores selecionados devem adequar-se ao contexto em análise
garantindo a representatividade das condições de desenvolvimento do contexto em que se
aplicam e ter em conta os períodos temporais de monitorização e avaliação.
Sensibilidade à mudança: Os indicadores selecionados devem permitir a monitorização dos
processos de mudança em curso e ser sensíveis a alterações ocorridas no decorrer do
processo em que são utilizados.
Especificidade: Os Indicadores selecionados devem ser definidos de um modo claro e
inequívoco, por forma a garantir a recolha uniforme de dados ao longo do tempo e nas
diferentes unidades espaciais e a evitar interpretações ambíguas.
Relação de conexão: Os indicadores devem ser selecionados de forma a responderem às
necessidades e modos de utilização pelas entidades a quem se destinam. A sua organização
em níveis diferentes deve ter em consideração o grau de conhecimento e especialização
para permitir a sua aplicabilidade no âmbito dos grupos a que se destinam.
Custo associado ao seu desenvolvimento: Deve ter-se em conta ao criar um novo indicador,
que o benefício da sua criação exceda os custos, não só da sua criação, como da recolha
dos respetivos dados.
Também no respeitante aos dados, que por vezes atingem volume elevado, pode conseguir-
se contribuir para evitar estes efeitos indesejáveis se o respetivo levantamento for feito de
forma criteriosa e tendo em conta algumas caraterísticas para os mesmos, passando a
45
sistematizar-se algumas dessas caraterísticas. (Guia Metogológico, 2016; Vilares, 2010;
(Segnestam et al., 2000).
Custos ou outros obstáculos associados à sua recolha: Deve procurar-se utilizar dados cuja
disponibilidade permita uma recolha sistemática com custos razoáveis para a sua colocação
em prática. Deve ter-se em conta ao criar um novo indicador, que o benefício da sua criação
exceda os custos, não só da sua criação, como da recolha dos respetivos dados.
Fiabilidade: Os dados do indicador devem ser coerentes e credíveis, com origem em fontes
fiáveis que utilizem metodologias reconhecidas e transparentes de recolha, processamento
e divulgação.
Disponibilidade: Será importante procurar previamente identificar possíveis riscos futuros
de interrupção de produção de séries temporais e de fornecimento de dados do indicador.
Uma vez estabelecido este conjunto de pressupostos procurar-se-á apresentar uma
metodologia de aplicação dos mesmos na definição de um conjunto de indicadores com
vista a uma aplicação prática como se passará a apresentar no parágrafo seguinte.
4.2 - Análise exploratória de indicadores para uma economia circular
Este estudo tem por base fazer um contributo preliminar para a formulação de um sistema
de indicadores no âmbito da Economia Circular, com vista á avaliação e monitorização de
projetos apoiados por Fundos Comunitários, tratando-se de um estudo exploratório de
caráter qualitativo. Entendeu-se reunir literatura pertinente por meio de pesquisa
bibliográfica de literatura académica e documentação legal e normativa da União Europeia,
com posterior análise e adequação das variáveis referentes aos elementos-chave frente às
demandas exigidas pelos apoios dos fundos comunitários. Com base nessa análise, fez-se a
proposta dos tópicos a serem contemplados na composição de um indicador de EC que
deverá ser adicionado ao conjunto de indicadores usualmente avaliados nos projetos de
apoio.
A pesquisa bibliográfica tem como objetivo central explicar um problema a partir de
referências teóricas publicadas em documentos, por meio da recolha, análise e interpretação
de contribuições teóricas existentes sobre um facto, um assunto ou uma ideia (Cervo &
Bervian, 1983). Através de uma revisão da literatura é possível identificar artigos científicos
46
envolvendo os temas e mesmo indicadores desenvolvidos com o objetivo de avaliar,
melhorar, monitorizar e comunicar o desempenho da EC (Saidani et al., 2018). Por outro
lado será um meio para conduzir ao preenchimento de uma lacuna identificada, analisando
primeiro a literatura atual sobre avaliação da EC e, em seguida, propondo uma estrutura de
referência para as fases de avaliação e monitorização de uma estratégia de EC, assim como
com base em outras metodologias existentes, tendo em conta a sua adequação para avaliar a
circularidade de um sistema (Moraga et al. 2019).
A implementação dos princípios da economia circular é cada vez mais recomendada como
uma solução conveniente para atender aos objetivos do desenvolvimento sustentável
(Saidani et al, 2018).
“A transição para uma economia circular não se limita a determinados materiais ou setores.
É uma mudança que afeta toda a economia e envolve todos os produtos e serviços.
Idealmente, os indicadores devem incidir principalmente sobre as tendências na
preservação do valor económico dos produtos, materiais e recursos, bem como nas
tendências na produção de resíduos” (Comissão Europeia, 2018).
É assim necessária a existência de ferramentas métricas de apoio aos profissionais, decisores
e formuladores de políticas com vista a incrementar as práticas de EC, bem como
monitorizar os efeitos da adoção da EC (Saidani et al., 2018).
A economia circular é um conceito amplo, incluindo assim diversas partes interessadas com
diferentes papéis na economia e na sociedade e, portanto, com objetivos diferentes.
Importa assim identificar diferentes objetivos e planos de ação com eles relacionados tendo
em conta qual das partes interessadas está em causa e por conseguinte qual nível de análise
é apropriado (WBCSD, 2018):
• Macro: este é o nível mais alto onde cidades, países e agências internacionais se encontram
• Meso: representa todas as redes inter-indústrias e inter-firmas
• Micro: este é o nível em que empresas e consumidores estão
• Nano: este é o menor nível de análise possível em que estão os produtos e componentes.
Nem todas as pesquisas e publicações incluem este nível, uma vez que as metas e ações
relacionadas devem ser tomadas pelo nível superior.
47
4.2.1 - Sobre sistemas de indicadores existentes
“Tal como não existe um indicador de «circularidade» mundialmente reconhecido, os
indicadores sólidos e imediatamente disponíveis para descrever as tendências mais relevantes
são escassos. Não seria possível captar adequadamente a complexidade e as múltiplas
dimensões da transição para uma economia circular com um único parâmetro ou índice“
(Comissão Europeia, 2018).
Constata-se na consulta da literatura disponível que apesar do pouco consenso relativo aos
indicadores a usar, existem muitas propostas e muitos indicadores disponíveis. A China foi
o primeiro país a divulgar indicadores de EC a nível nacional, no sentido de permitir viabilizar
informação objetiva e fiável sobre o status da implementação da Economia Circular, no
sentido de este ser reconhecido (Geng et al., 2012).
Existe um largo conjunto de estudos disponíveis, sobre as métricas e sobre a forma como
diferentes entidades privadas ou públicas lidam com as métricas (WBCSD, 2018), adotando
em muitos casos sistemas de medição próprios para cada caso, e também tidos em conta
estudos comparativos de diferentes tipos de métricas apoiadas em índices com maior ou
menor complexidade (Elia et al., 2016), ou numa proposta de criação de um índice para
sistemas de gestão de resíduos, designado de Índice Zero de Resíduos, ou Zero Waste Index
(ZWI) como um indicador para medir o funcionamento de sistemas de gestão de resíduos
(Zaman e Lehmann, 2013).
Esta revisão envolveu ainda artigos, entre os quais uma análise taxonómica de indicadores
(Saidani et al., 2018), ou uma análise do objeto dos indicadores, sobre o que concretamente
medem (Moraga et al., 2019) que de diferentes formas apresentam propostas sobre a forma
de medir, constatando-se que algumas das propostas propõem métodos de alguma
complexidade.
Por outro lado, apesar da grande diversidade registada, as estratégias de EC podem ser
agrupadas de acordo com o tema em que incidem: Preservar funções, produtos,
componentes, materiais ou energia incorporada. Além disso, os indicadores podem
promover uma medição tendo como cenário de referência o da Economia Linear (Moraga
et al., 2019): Neste caso, parece haver o que correntemente se designa de um nivelamento
por baixo, por parte dos autores, porém pode também ser uma tentativa de criar um
48
referencial com caráter mais universal para comparação entre entidades diferentes, o que,
como se verificará adiante não foi a opção adotada no conjunto de indicadores aqui proposto.
4.2.2 - Sistema de indicadores proposto
Tendo em conta que ainda há pouco consenso relativamente ao sistema de indicadores a
utilizar no âmbito da monitorização em Economia Circular ou mesmo sobre a forma de
definir indicadores credíveis, procurou-se dar um contributo, no âmbito específico da análise
dos projetos a cofinanciar com fundos comunitários, para colmatar essa lacuna através de
um conjunto de Indicadores que permita às entidades responsáveis pela definição de critérios
de mérito e de monitorização, desenvolver e selecionar indicadores que permitam a
realização de, em primeira análise, avaliação de mérito com vista a elegibilidade de Projetos
e/ou de beneficiários, do ponto de vista do respetivo contributo, para a transição no sentido
de uma EC.
Prevendo-se que, a breve trecho a implementação mais intensiva dos princípios da EC seja
uma realidade, numa fase em que, por um lado a difusão do conhecimento do assunto junto
do grande público parece ainda carecer de evolução e em que as práticas de EC já
implementadas, numa fase em que não há consenso uniforme relativamente aos indicadores
a utilizar para monitorizar as práticas circulares (WBCSD, 2018; Moraga et al. 2019, Saidani
et al., 2018), parece fazer sentido a utilização de indicadores acima de tudo simples, de fácil
compreensão, de quantificação pouco complexa e que levem a processos de implementação
também simples contribuindo para a disseminação dos conceitos envolvidos.
Não obstante procurou-se que sejam indicadores alinhados, por um lado com as diretrizes
constantes da estratégia europeia segundo os planos de ação para a EC, não só europeu
(Comissão Europeia, 2018)) como Português (PAEC, 2017).
Pretende-se assim trabalhar com um sistema de indicadores que possa constituir um
contributo preliminar com caráter prático à utilização para apoio à gestão de fundos
comunitários no processo de seleção de projetos a financiar no âmbito do próximo Período
de Programação.
O sistema de indicadores está diretamente relacionado com a informação que deles parece
dever constar. A seleção desta informação teve por base documentação, por um lado
49
científica e por outro lado política, com base na informação disponível no presente
momento, relativamente a linhas políticas de orientação divulgadas por parte do Estado
Português e principalmente por parte da Comissão Europeia, com vista a verter as
prioridades aí definidas em indicadores que possam servir de apoio à decisão e bem assim,
posteriormente à monitorização.
4.2.2.1 - Objetivos
Atendendo ao contexto definido para trabalhar o tema dos indicadores e tendo em conta a
multiplicidade de abordagens e sistemas e diferentes que já foram desenvolvidos e se
encontram disponíveis
- a que se trata de uma filosofia que apresenta um caráter disruptivo no que respeita a muitas
práticas do dia-a-dia e da forma como qualquer cidadão olha para o que o rodeia
- a que o mais importante é que haja uma perceção dos objetivos da mudança que se pretende
operar por parte do maior número de pessoas possível
- e finalmente a que apesar das inúmeras abordagens existentes se constata que o conjunto
de assuntos sobre os quais incidem são os mesmos e em número bastante reduzido,
procurou-se acima de tudo, recorrer a um conjunto de indicadores simples, de quantificação
pouco complexa, fáceis de comunicar e fáceis de compreender.
Mais do que assimilar um conceito de economia circular, parece importante comunicar a
importância da adoção de um conjunto de práticas elementares que são necessárias e cuja
assimilação e adoção real à micro ou nano escala, resultarão na transição que se pretende
neste contexto.
Por outro lado, se o principal objetivo da EC é o de preservar, ou mesmo melhorar as
condições do planeta, cuja medição direta terá que incidir nos recursos naturais existentes, a
cada momento, será presumível que as consequências das medidas tomadas não se fazem
sentir com caráter imediato, pelo que parece relevante medir as ações que tendem a mudar o
rumo de ação com vista a um comportamento mais adequado do ser humano perante o
planeta.
50
4.2.2.2 - Sistematização
Constata-se, como atrás referido, haver muitas abordagens (Elia et al., 2016, Zaman e
Lehmann, 2013, Saidani et al., 2018, Moraga et al., 2019), Geng et al., 2012, WBCSD, 2018),
e muitas formas propostas para quantificação da circularidade das organizações, dos modelos
de negócio ou dos próprios produtos, havendo porém aspetos de caráter geral relativamente
aos quais parece poder concluir-se:
– Não há uma uniformização nas muito diversas abordagens analisadas;
– Independentemente da forma de quantificação, os aspetos que se pretende quantificar
são comuns à maior parte dos métodos.
Na sua maioria os métodos têm em conta:
1. Os acontecimentos que motivam o desenvolvimento da EC
- O nível de matérias-primas, ou recursos explorados do planeta (Depleção)
- O nível de poluição que está a ser produzida (Poluição do atmosférica, Poluição da
água, rios, mar e poluição de solos)
- O nível de GEE que estão a ser emitidos (Efeito de Estufa, Aquecimento Global)
2. Os meios propostos no âmbito da EC
- Divulgação, disseminação dos princípios da EC
- Auto avaliação com índices (como a pegada ecológica)
- Uma contabilização analítica das matérias-primas e energia incorporadas nos produtos
- Auto avaliação de desempenho ambiental por via de índices como a pegada ecológica-
Maximização de utilização da energia produzida a partir de meios limpos e renováveis
- Promoção da Eficiência (energética e material)
- Combate à produção de resíduos (no ar, água solos e os direcionados para aterro)
- A reciclagem como o menos nobre dos destinos
- Combate ao desperdício, em particular ao alimentar
- Promoção do destino adequado dos rejeitados para fins de aplicabilidade
51
- Utilização de matérias-primas rejeitadas por outras entidades
- O design do produto com vista à extensão do tempo de vida útil (reparabilidade, utilização
em cascata)
- A inovação (A nível de design e materiais de produtos e de modelos de negócio)
- Promoção da reparabilidade
- Remanufaturação
- Promoção da reforma/renovação de equipamentos (upgrading)
- Partilha de recursos (promoção da “servitização” ou uso do produto como um serviço)
- Parques industriais ecológicos
- Os novos modelos de negócio
- Contratos ecológicos, com vista a promover a assunção das medidas em entidades terceiras
- Fiscalidade verde
3. Consequências diretas na economia
- Mercados novos assentes nos novos modelos de negócio
- Mercados de “segunda mão” promovendo acesso a bens por uma maior gama de pessoas
- Matérias primas mais baratas
- Novos empregos
- Impacto nas contas das organizações por introdução de medidas circulares
Nesta perspetiva propõe-se um conjunto de indicadores, formado pelo menor número
possível, procurando de forma simples abordar a maior parte das questões. O método poderá
em certa medida carecer de rigor, mas pretende ser de fácil e rápida implementação prática,
na maioria dos casos por parte dos técnicos das organizações, sem necessitar do recurso a
consultoria externa para o efeito.
Pretende-se que a utilização dos indicadores seja passível de aplicar a organizações tais como
autarquias, serviços em geral, públicos ou privados e a indústrias.
52
Procura-se que a sua implementação seja de acesso, o mais fácil possível, mas que permita
servir como referência para avaliar, porventura não a circularidade, mas (?)a tendência
circular das organizações, dos negócios ou dos produtos, pretendendo-se que um projeto,
ou uma candidatura a fundos possa ser encarada como um produto.
4.2.2.3 – Apresentação dos indicadores
Apresenta-se neste ponto uma proposta para o conjunto de indicadores através dos quais se
pretende, tendo em conta os princípios da EC, caraterizar de uma forma analítica
simplificativa, a maior ou menor tendência que as entidades manifestam, de se encontrarem
em transição para uma EC.
Estes indicadores foram organizados segundo um conjunto de temas transversais
selecionados, procurando abordar a maior parte, senão a totalidade, dos que constam da
literatura consultada e referida nos capítulos anteriores, temas esses que, tratados porventura
de forma diferente, estão presentes ou subjacentes na maior parte dos casos. Por outro lado,
identificaram-se os indicadores de acordo com um conjunto de aspetos a medir, propostos
por Elia et al., 2016:
- Redução de uso de Recursos naturais á entrada do sistema
- Combate às perdas e ao desperdício
- Promoção da Partilha de fontes renováveis e Recicláveis
- Incremento da Validade durabilidade e intensidade de utilização dos Produtos
- Reduzir os Níveis de emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE)
Considerou-se ainda um último aspeto a medir, que se manifesta importante numa fase de
implementação de uma nova filosofia, consistindo na indução em terceiros do tipo de
práticas em causa.
Tendo ainda em conta a forma como a literatura aborda o tema foi difícil resistir à tentação
de considerar algumas áreas específicas como o combate ao desperdício alimentar, os
plásticos, ou os resíduos de demolição e construção dado o destaque com que são abordados,
não só na literatura científica como política, apesar de representarem setores em particular.
Tomou-se no entanto, para este efeito, a opção de trabalhar apenas indicadores transversais
53
aos setores e, tanto quanto possível ao tipo de organizações, produtos ou projetos a avaliar
que se designam genericamente de entidades.
Dado que se pretende analisar a tendência para a entidade se tornar Circular, os indicadores
utilizados exprimem uma comparação entre o seu desempenho atual e o do seu passado
recente, o que permite, em grande parte dos casos, uma indiferença às unidades de medida
contribuindo assim para a simplicidade da sua aplicação.
Tendo porém em conta o caráter transversal que se pretende conferir a estes indicadores, no
caso em que se trate de uma avaliação de caráter ex-ante, para avaliar a tendência de um
projeto, fará sentido que se substituam os rácios referentes a anos anteriores, por rácios entre
o presente e o previsto, naturalmente justificado, para futuro.
Os indicadores estão distribuídos por um conjunto de 11 temas. Regra geral, associou-se
cada um dos temas a uma parte dos ciclos descritos no ponto …? e ilustrados na figura 7,
fazendo-se a este respeito um breve enquadramento em cada tema.
Tema 1 : Fluxos de Materiais
Tendo em conta que a maior parte das entidades oficiais centra muito o seu estudo na análise
de fluxos de materiais (Geng et al., 2012; Haas et al., 2015; WBCSD, 2018; Comissão
Europeia, 2018; PAEC, 2017), correntemente designado por MFA (Material Flow Analysis)
optou-se por apresentar esse tema em primeiro lugar.
É um tema delicado e abordado com bastante detalhe, não só na documentação científica e
política, como na forma como as entidades responsáveis pelo acompanhamento estatístico
não só a nível nacional (INE, 2019) como europeu (Eurostat, 2019). É um tema sensível na
medida em que trata a entrada no sistema de matéria-prima virgem, ou seja, que foi colhida
do planeta.
Na abordagem aqui apresentada, o tema não é tratado com o detalhe do tipo de materiais ou
da forma como transitam uma vez que, o que se pretende avaliar, é a tendência para caminhar
rumo aos princípios da EC em geral.
Será desejável, numa fase futura em que haja um maior avanço desta matéria, que as entidades
a avaliar tenham um tipo de acreditação que condicionada a uma subscrição numa
54
plataforma, com registo de contabilização analítica de todas as matérias-primas que entram
no processo, com uma estimativa da quantidade de cada uma delas que fica incorporada em
cada produto, possibilitando aos utentes dos produtos, e no apoio à decisão de compras
ecológicas, o conhecimento das matérias neles incorporada através da consulta a tal
plataforma.
A parte do ciclo em que este indicador se enquadra é o da Entrada de materiais no processo
ou, por assim dizer, no grande ciclo.
Indicador 1.1 - Utilização, no processo, de matéria rejeitada por outras entidades
Método de Cálculo : ���
��� onde:
MPR = Matéria-prima com origem em rejeitados por outras entidades (no ano anterior)
TMP = Total de Matéria-prima usada no processo (no ano anterior)
Unidades do indicador: Percentagem %
Este indicador aplica-se a entidades com atividade de produção e parece poder dividir-se
para casos específicos como por exemplo matérias-primas perigosas e não perigosas.
Indicador 1.2 – Recurso a fornecedores circulares
Método de Cálculo : ���
�� onde:
VFC – Valor em compras/adjudicações a fornecedores circulares (no ano anterior)
VT – Valor de compras/adjudicações total (no ano anterior)
Unidades do indicador: Percentagem %
Este indicador pode ser muito relevante para entidades como por exemplo do setor dos
serviços que, no seu funcionamento, utilizam uma quantidade insignificante de material,
podendo através da consideração de indicadores como este, induzir em terceiros a prática
dos princípios de EC. As decisões de compra de uma organização não só afetam a própria
organização, mas também a economia, o meio ambiente e a sociedade (ISO 20400, 2017).
55
A circularidade em terceiros pode ser avaliada com base em outros indicadores presentes
nesta lista, de acordo com a atividade da entidade em causa. Não obstante, os preceitos da
NORMA ISO 20400 sobre compras sustentáveis poderão ser um apoio fundamental de
decisão neste contexto.
Tema 2 : Partilha / “Servitização” (Recusar a aquisição)
São múltiplos os exemplos de serviços de partilha de recursos com que o cidadão comum
lida no dia-a-dia, tais como os transportes públicos os serviços de saúde, ou as lavandarias
self-service. Esta prática pode porém ser adotada em equipamentos de uso diário, como
eletrodomésticos, ou os próprios automóveis que, no modelo atual se encontram, em muitos
casos estacionados na maior parte do dia. Equipamentos a que as pessoas se habituaram a
associar um sentido de posse mas que podem, fabricados em muito menor número, servir
igualmente bem e com menor custo.
Por outro lado são cada vez mais os serviços disponíveis para promover a utilização em
detrimento da compra. É cada vez mais visível a prática de alugueres de longa duração de
automóveis, de serviços de fotocópias em vez da aquisição de fotocopiadores, ou dos tão
famosos serviços de iluminação. Estes serviços apresentam a particularidade de provocar no
fornecedor o desejo de que o produto seja o mais durável possível, para dele poder ser tirado
o maior rendimento, ao contrário do que hoje acontece com a obsolescência programada
dos equipamentos que são objeto de aquisição por parte do utilizador.
Estes princípios podem ser adotados em organizações de escalas diversas, podendo dar-se o
exemplo de partilha de energia ou água em indústrias como acontece em sistemas de simbiose
industrial.
Este tema enquadra-se no mais curto dos ciclos uma vez que diz respeito à otimização da
utilização do produto, não envolvendo qualquer alteração da estrutura do mesmo.
Indicador 2.1 - Parte do Negócio da entidade que se enquadra na filosofia de Aluguer de
Soluções correntemente designado pela sigla PSS (PSS – Product Service System ) ou Sistema de
Produto-Serviço
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Método de Cálculo : ���
�� onde:
PSS = Faturação da entidade com o negócio PSS (no ano anterior)
FT = Faturação total da entidade (no ano anterior)
Unidades do indicador: Percentagem %
Este indicador aplica-se a entidades cujo negócio consiste, no total ou em parte, no aluguer
de soluções e destina-se a avaliar qual a parte do negócio da entidade que se enquadra nessa
área.
Indicador 2.2 - Parte das despesas de investimento da entidade que tem origem no recurso
a soluções alugadas (PSS)
Método de Cálculo : ���
� onde:
PSS = Despesas da entidade com soluções PSS (no ano anterior)
DT = Despesas totais da entidade (no ano anterior)
Unidades do indicador: Percentagem %
Este indicador aplica-se a entidades que recorrem ao aluguer de soluções e destina-se a avaliar
qual a parte das despesas da entidade em causa que se enquadra nessa área.
Indicador 2.3 - Parte das despesas de investimento que tem origem no recurso a soluções
partilhadas
Método de Cálculo : �
� onde:
DP = Despesas da entidade com soluções Partilhadas (no ano anterior)
DT = Despesas totais da entidade (no ano anterior)
Unidades do indicador: Percentagem %
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Este indicador aplica-se a entidades que recorrem a plataformas de partilha ou outras
soluções de partilha e destina-se a avaliar qual a parte das despesas da entidade que se
enquadra nessa área.
Indicador 2.4 – Valor envolvido no recurso a logística reversa.
Este indicador tem por objetivo, por um lado chamar a atenção para as vantagens do uso
desta prática. A sua quantificação adequada exigiria o recurso a informação muito detalhada
sobre os produtos, que não se enquadra na abordagem aqui proposta.
O método da logística reversa consiste em inverter o circuito dos materiais. A título de
exemplo, na abordagem mais simplista, traduz-se na recolha de embalagens vazias por parte
de fornecedores para as utilizar novamente, ou para lhes assegurar um destino adequado.
Método de Cálculo : ��
�� onde:
VR = Valor associado aos materiais objeto de logística reversa (no ano anterior)
VT = Valor total aplicado no mesmo tipo de materiais (no ano anterior)
Unidades do indicador: Percentagem %
Indicador 2.5 - A entidade em causa encontra-se integrada num sistema de simbiose
industrial?
Este indicador tem por objetivo conferir distinção a uma entidade que se enquadre num
parque industrial onde haja simbiose, dada a importância que uma solução destas tem no
contexto da EC. O indicador poderia enquadrar-se em vários temas, tais como o anterior,
uma vez que uma das facilidades de um parque industrial sustentável é, para além da
possibilidade de partilha de soluções, o fornecimento de rejeitados de uma indústria como
matéria-prima para a indústria vizinha.
A este indicador só pode corresponder uma resposta dicotómica: Sim ou Não
58
Tema 3 : Extensão do Ciclo de Vida do Produto
O tema anterior incide no mais curto dos ciclos, não envolvendo qualquer alteração da
estrutura do mesmo. O tema presente mantém o princípio da otimização da utilização do
produto, mas envolve alguma introdução de trocas de energia ou material, na medida em
que, compreendendo a manutenção de um objeto, envolve atividades como reparação ou
atualização / melhoramento (upgrading).
Indicador 3.1 - Equipamentos atualizados ou melhorados (objeto de upgrading)
Método de Cálculo : �
�� onde:
VU - Valor usado com upgrading de equipamentos (no ano anterior)
VT - Valor total gasto em equipamentos, incluindo equipamentos novos, equipamentos
reparados e equipamentos melhorados (upgraded) (no ano anterior)
Unidades do indicador: Percentagem %
Este indicador aplica-se a entidades que funcionam com equipamentos próprios e destina-se
a avaliar qual a parte das despesas da entidade que se destina a melhorar equipamentos
existentes em detrimento da compra de novos equipamentos.
Indicador 3.2 - Parte do Negócio da entidade que se enquadra na filosofia de Reparação de
Equipamentos
Método de Cálculo : ���
�� onde:
FRE = Faturação da entidade com o negócio de Reparação de Equipamentos (no ano
anterior)
FT = Faturação total da entidade (no ano anterior)
Unidades do indicador: Percentagem %
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Este indicador aplica-se a entidades cujo negócio consista, no total ou em parte, na reparação
de equipamentos e destina-se a avaliar qual a parte do negócio da entidade que se enquadra
nessa área.
Indicador 3.3 - Parte das despesas de investimento da entidade que tem origem na reparação
de equipamentos
Método de Cálculo : ��
� onde:
DRE = Despesas da entidade com reparação de equipamentos (no ano anterior)
DT = Despesas totais da entidade (no ano anterior)
Unidades do indicador: Percentagem %
Este indicador aplica-se a entidades que recorrem à reparação de equipamentos e destina-se
a avaliar qual a parte das despesas da entidade em causa que se enquadra nessa área.
Tema 4 : Produtos/Materiais Rejeitados
Enquadram-se neste tema as atividades de recondicionamento, remanufaturação de
produtos, aproveitamento de peças, ou aproveitamento de matéria rejeitada de um
determinado processo por um outro determinado processo que a use como matéria-prima.
Este tema enquadra-se num ciclo mais longo que os anteriores, no qual já houve introdução
de energia e materiais e ainda assim resultou algo que não tem utilização no processo
principal. Envolve portanto produtos que poderão ter uma segunda utilização ou materiais
que podem ser usados num outro processo.
Indicador 4.1 - Rejeitados transacionados para outras indústrias
Método de Cálculo : ��
�� onde:
RR = Receitas obtidas com rejeitados (no ano anterior)
RT = Receitas totais da entidade (no ano anterior)
60
Unidades do indicador: Percentagem %
Este indicador pode aplicar-se a produtos ou a matéria bruta.
Tema 5 : Reciclagem
Este tema enquadra-se no menos nobre dos ciclos aceitáveis em contexto de EC, uma vez
que as matérias são desagregadas para dar origem a outras de natureza menos nobre, ou
igualmente nobre, porém com introdução relevante de energia e, possivelmente, com a
incorporação de outros materiais.
Indicador 5.1 - Rejeitados direcionados para Reciclagem
Método de Cálculo : ��
��� onde:
PR = Peso de material enviado para reciclagem, por fileira (no ano anterior)
PRA = Peso do mesmo material enviado para reciclagem, por fileira (no ano antecedente ao
anterior)
Unidades do indicador: Percentagem %
Neste caso considera-se o peso dos materiais dado que eles serão desmantelados e seguirão
o seu ciclo de acordo com a matéria que os constitui.
Tema 6 : Resíduos
Este é um tema que no contexto desejável da EC não se coloca. Esta não é porém a realidade
que se vive, e os indicadores aqui apresentados foram definidos com o objetivo de terem
uma aplicação real. Não pretendem medir uma situação ideal mas uma tendência de transição.
A utilização destes indicadores tem o objetivo de obrigar a entidade a tomar consciência da
quantidade de resíduos que gera e em que área gera mais resíduos para ficar sensibilizada no
sentido de aí atuar. Por outro lado permitem que um potencial avaliador externo tire
conclusões sobre o desempenho da entidade na perspetiva da EC.
61
Propõe-se, à semelhança do indicador 5.1 um rácio entre os items em causa no ano anterior
e no ano que o antecedeu. E que os três indicadores contemplados neste tema sejam
quantificados em percentagem, no caso das emissões atmosféricas e hídricas, tendo em conta
os parâmetros em que apresentam quantificações mais gravosas.
Indicador 6.1 – Volume de emissões Atmosféricas (tendo em conta a obrigatoriedade de
monitorização e os valores limite previstos no Decreto-Lei n.º 39/2018, de 11 de junho).
Indicador 6.2 – Volume de efluentes Líquidos (Decreto-Lei n.º 198/2008 de 8 de outubro)
Indicador 6.3 – Volume de Resíduos sólidos indiferenciados enviados para valorização
energética ou, na menos desejável das hipóteses, para aterro sanitário.
Tema 7: Água
O tema da água é tratado em ponto separado dos restantes materiais uma vez que se trata de
um elemento que pode constituir uma matéria-prima para integração em produtos, para
simples uso sem prejuízo da sua qualidade, e é um elemento transversal ao uso em processos
de fabrico, serviços e ao próprio uso humano além de ser um elemento vital.
Este tema é assim transversal a quaisquer ciclos, grandes ou pequenos, biológicos ou
técnicos. Os ciclos podem porém ser controlados, evitando o esforço energético e material
para o seu tratamento, se for promovido o encurtamento através do seu uso em cascata
como, por exemplo, uso para rega após pré tratamento ou recurso a aproveitamento de água
pluvial para fins diversos, contribuindo para evitar a sobrecarga de sistemas de drenagem. Os
próprios sistemas parciais de retenção urbana podem contribuir para evitar consumos
desnecessários de água potável e mesmo e para estabilização térmica.
Indicador 7.1 – Quantidade de água adquirida pela entidade
Método de Cálculo : ��
��� onde:
VA = Volume de água adquirido pela entidade no ano anterior
62
VAA = Volume de água adquirido pela entidade no ano antecedente ao anterior
Unidades do indicador: Percentagem %
Este indicador permite avaliar a evolução do consumo de água por parte da entidade em
causa, nomeadamente a introdução de melhoramentos com vista ao aumento da eficiência
no seu consumo.
Esta evolução pode conseguir-se também por via do recurso a sistemas de reaproveitamento
de água ou de aproveitamento de água pluvial.
Tema 8: Energia
A energia é um tema transversal, tal como o da água, e tem sido objeto de discussão alargada
ao nível técnico e científico, como ao nível político. É um tema muito relevante no âmbito
da EC e constante de todas as análises consultadas neste contexto dado que nas condições
desejáveis não deve ser necessário o recurso a material fóssil, ou qualquer outro que,
independentemente da sua origem ser renovável ou não, contribua para o efeito de estufa.
Este tema é, tal como a água, transversal a quaisquer ciclos, grandes ou pequenos, biológicos
ou técnicos. É porém mais difícil controlar o desperdício dado que a maioria dos sistemas
funciona com elevados níveis de perda.
Em todo o caso há aspetos em que a eficiência tem sido desenvolvida, nomeadamente ao
nível dos edifícios. Por outro lado, é também do conhecimento geral a disseminação de
equipamentos para aproveitamento doméstico e /ou industrial, de aproveitamento de energia
solar e eólica para aquecimento de água e para produção de energia elétrica.
Qualquer entidade pode recorrer para diferentes fins como, aquecimento, transportes ou
funcionamento mecânico de equipamentos, a diferentes tipos de energia mais ou menos
poluentes que, no âmbito da EC devem ter diferentes tipos de avaliação. Parece assim ser de
fazer uma análise separada para cada tipo de origem.
63
Indicador 8.1 – Mix energético utilizado pela entidade
Este indicador tem por objetivo avaliar a evolução de cada tipo de fonte energética do mix
energético utilizado pela entidade. Deve incluir todos os recursos energéticos utilizados pela
entidade, nomeadamente para transportes, com vista a permitir caraterizar o peso de cada
origem na atividade da entidade.
Pretende-se que este indicador seja discriminado com diferentes sub indicadores,
independentes, todos calculados pelo mesmo processo.
8.1.1 – Energia com origem em combustíveis fosseis que não gás natural
8.1.2 – Energia com origem em gás natural
8.1.3 – Energia da rede elétrica
8.1.4 – Energias de produção própria não poluente
Método de Cálculo a aplicar a cada sub indicador :
�
�� onde:
QE = Quantidade de energia utilizada pela entidade (no ano anterior)
QTA = Quantidade total de energia utilizada pela entidade (no ano anterior)
Unidades do indicador: Percentagem %
Indicador 8.2 – Quantidade de energia adquirida pela entidade, por tipo de energia.
Este indicador tem por objetivo avaliar o consumo da entidade, por fonte de energia. Aplica-
se a entidades que usem mais do que uma fonte de energia e deve incluir todos os recursos
energéticos utilizados pela entidade, nomeadamente para transportes, com vista a permitir
caraterizar o peso de cada origem na atividade da entidade.
Pretende-se que este indicador seja discriminado com diferentes sub indicadores,
independentes, todos calculados pelo mesmo processo.
8.2.1 – Energia com origem em combustíveis fosseis que não gás natural
8.2.2 – Energia com origem em gás natural
64
8.2.3 – Energia da rede elétrica
8.2.4 – Energias de produção própria não poluente
Método de Cálculo a aplicar a cada sub indicador :
�
�� onde:
QE = Quantidade de energia adquirida pela entidade no ano anterior
QEA = Quantidade de energia adquirida pela entidade no ano antecedente ao anterior
Unidades do indicador: Percentagem %
Indicador 8.3 – Quantidade de energia adquirida pela entidade.
Este indicador aplica-se a entidades que usem uma só fonte de energia com vista a analisar a
sua evolução no melhoramento de eficiência energética
8.3.1 – Energia consumida
Método de Cálculo : �
�� onde:
QT = Quantidade de energia adquirida pela entidade no ano anterior
QTA = Quantidade de energia adquirida pela entidade no ano antecedente ao anterior
Unidades do indicador: Percentagem %
Este indicador permite avaliar a evolução do consumo de energia por parte da entidade em
causa, nomeadamente a introdução de melhoramentos, ora com vista ao aumento da
eficiência no seu consumo, ora com vista a produção própria de energia limpa, que não deve
ser contabilizada na quantidade adquirida.
Esta evolução pode conseguir-se também por via do recurso a melhoramentos, ora em
edifícios, ora em eventuais processos de fabrico, de melhoramentos de eficiência energética
ou por recurso a sistemas de produção de energia através de painéis fotovoltaicos ou de
aquecimento de água e mesmo armazenamento local através de baterias de lítio ou vanádio.
65
Tema 9: Inovação
Trata-se também de um tema que não se enquadra em qualquer ciclo em particular, tendo
caráter transversal, uma vez que qualquer alteração inovadora no sentido de melhoramento
de uma entidade, seja um produto ou uma organização, no sentido de melhor desempenho
no Âmbito da EC é importante.
No quadro de controlo da economia circular proposto pela Comissão Europeia (2018), este
indicador surge avaliado com base em número de patentes. Não obstante, mais uma vez
numa perspetiva de simplificação e não obstante o número de patentes registadas, propõe-
se aqui uma abordagem mais elementar para este tema.
Estes indicadores são de mera quantificação pelo que não tem um cálculo específico
subjacente e em qualquer dos casos as unidades são, simplesmente, unidades.
Indicador 9.1 – Número de produtos alterados ou melhorados no sentido de terem
caraterísticas justificadamente mais circulares, no último ano.
Indicador 9.2 – Número de produtos criados no sentido de terem caraterísticas
justificadamente circulares, no último ano.
Indicador 9.3 – Número de alterações operadas pela entidade no sentido de tornar a o seu
processo de atividade mais circular.
A referência a “mais circular” pressupõe melhorias ao nível dos restantes indicadores
abordados no conjunto aqui proposto.
Tema 10: Avaliação geral da entidade
Este tema tem associado um único indicador. Há diversas abordagens à avaliação da
sustentabilidade das entidades (Elia et al., 2016) com base nos fluxos de materiais, nos fluxos
de energia, no uso da terra, ou no ciclo de vida do produto de entre os quais, o mais popular
será talvez, o da pegada ecológica.
Este indicador terá assim caráter complementar aos restantes e consistirá no resultado do
cálculo da pegada ecológica da entidade (GFN, 2009).
Unidades do indicador: Hectares, Hectares Globais
66
Tema 11: Comunicação
Este último tema não diz respeito em particular apenas à EC, mas à importância da
divulgação do mesmo.
A implementação de um tema desta natureza depende em muito da sensibilização das
entidades envolvidas, mas só com o conhecimento disseminado dos princípios envolvidos e
da sua importância é possível caminhar no sentido da sua implementação.
O conhecimento do conjunto de ações referidas ao longo deste trabalho, direcionadas para
o conjunto de objetivos também referido, que recebe a designação de Economia Circular, é,
independentemente da designação em causa, o mais importante que todos conheçam e acima
de tudo compreendam, para que a sua aplicabilidade seja realizável. Daí ter havido uma
preocupação na simplificação dos indicadores.
O direcionamento de fundos comunitários, tendo em vista contributos para os objetivos
subjacentes aos indicadores apresentados, pode ser uma forma estimulante de promover a
necessária transmissão da informação em causa.
Assim, apesar de se procurar que, na aplicação de cada um dos indicadores propostos, haja
uma componente informativa, parece fazer sentido avaliar se a entidade aplica tempo
destinado a disseminar informação.
Indicador 11.1 – Informação proporcionada
Método de Cálculo : T x P onde:
T = Tempo destinado a formação
P = Nº de pessoas envolvidas
Unidade : Horas / pessoa
Dada a diversidade de informação envolvida na criação deste conjunto de indicadores,
incluindo os aspetos de que resultam e o resultado para que se pretende que contribuam,
optou-se por sistematizar e resumir a informação num mapa que se apresenta na figura 9.
67
Figura 9 - Mapa resumo dos indicadores propostos
Fonte: Elaboração própria
ASPETOS A MEDIR
CÁLCULO Unidades
Fluxos de Materiais
1.1 MPR /TMPMPR = Matéria-prima com origem em rejeitados por outras entidades (no anoanterior) TMP = Total de Matéria-prima usada no processo (no ano anterior)
% x x x
1.2 VFC / VTVFC – Valor em compras/adjudicações a fornecedores circulares (no anoanterior)VT – Valor de compras/adjudicações total (no ano anterior)
% x
Partilha / Servitização (Recusar a aquisição)
2.1 PSS / FTPSS / FTPSS = Faturação da entidade com o negócio PSS (no ano anterior)
FT = Faturação total da entidade (no ano anterior)% x x x x x
2.2 PSS / DTDespesas da entidade com soluções PSS (no ano anterior)
DT = Despesas totais da entidade (no ano anterior)% x x
2.3 DP / DTDP = Despesas da entidade com soluções Partilhadas (no ano anterior)
DT = Despesas totais da entidade (no ano anterior) % x x x x
2.4 VR / VT
VR = Valor associado aos materiais que objeto de logística reversa
(ano anterior)
VT = Valor total aplicado no mesmo tipo de materiais (no ano anterior)% x x
2.5 --------------------------------------- --------------------------------------- S / N x x x
Extensão do Ciclo de Vida do Produto
3.1 VU/VT
VU - Valor usado com upgarding de equipamentos (no ano anterior)
VT - Valor total gasto em equipamentos, incluindo equipamentos novos,
equipamentos reparados e equipamentos melhorados (upgraded)
(no ano anterior)
% x x x x
3.2 FRE / FT
FRE = Faturação da entidade com o negócio de Reparação de Equipamentos
(no ano anterior)
FT = Faturação total da entidade (no ano anterior)% x x x x x
3.3 DRE / DT
DRE = Despesas da entidade com reparação de equipamentos
(no ano anterior)
DT = Despesas totais da entidade (no ano anterior)% x x x x
Produtos/Materiais Rejeitados
4.1 RR / RTRR = Receitas obtidas com rejeitados (no ano anterior)
RT = Receitas totais da entidade (no ano anterior) % x x x
Reciclagem
5.1 PR / PRA
PR = Peso de material enviado para reciclagem, por fileira (no ano anterior)
PRA = Peso do mesmo material enviado para reciclagem, por fileira
(no ano antecedente ao anterior)% X X
Resíduos
6.1
conforme o
tipo de
emissãox
6.2
conforme o
tipo de
poluentex
6.2 Ton x
Água
7.1 VA / VAA
VA = Volume de água adquirido pela entidade (no ano anterior)
VAA = Volume de água adquirido pela entidade
(no ano antecedente ao anterior)% x
Energia
8.1 X8.1.1 tep
8.1.2 tep
8.1.3 tep
8.1.4 tep
8.2 X8.2.1 Tep/m2h
8.2.2 Tep/m2h
8.2.3 Tep/m2h
8.2.4 Tep/m2h
8.3 QE / QEA
QE = Quantidade de energia adquirida pela entidade (no ano anterior)
QEA = Quantidade de energia adquirida pela entidade
(no ano antecedente ao anterior)
Inovação
9.1 Nº de produtos alterados ou melhorados no sentido de terem caraterísticas justificadamente mais circulares, no último ano. Unid X X9.2 Nº de produtos criados no sentido de terem caraterísticas justificadamente circulares, no último ano. Unid X X X X9.3 Nº de alterações operadas pela entidade no sentido de tornar a o seu processo de atividade mais circular Unid X X X X
Avaliação geral da entidade
10 Pegada Ecológica hA
Comunicação
11 T x PT = Tempo destinado a formação
P = Nº de pessoas envolvidas h.H
Efluentes Líquidos, Decreto-Lei n.º 198/2008 de 8 de outubro
Resíduos sólidos indiferenciados enviados para valorização energética ou, na menos desejável das hipóteses, para aterro sanitário.In
duçã
o de
acç
ões
em t
erce
iros
Parte das despesas de investimento da entidade que
tem origem no recurso a soluções alugadas (PSS)
Parte das despesas de investimento que tem origem
no recurso a soluções partilhadas
Equipamentos atualizados ou melhorados
(objeto de upgrading)
TEMA
Parte do Negócio da entidade que se enquadra na
filosofia de Aluguer de Soluções correntemente
designado pela sigla PSS (PSS – Product Service
Redu
zir
os N
ívei
s de
em
issã
o de
Gas
es c
om E
feit
o de
Est
ufa
(GEE
)
Utilização, no processo, de matéria rejeitada por
outras entidades
Recurso a fornecedores circulares
Redu
ção
de u
so d
e Re
curs
os N
atur
ais
á en
trad
a do
sis
tem
a
Com
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a Va
lidad
e du
rabi
lidad
e e
inte
nsid
ade
de u
tiliz
ação
dos
Pro
duto
s
QE = Quantidade de energia adquirida pela entidade (no ano anterior)
QTA = Quantidade de energia adquirida pela entidade
(no ano antecedente ao anterior)
Quantidade de energia adquirida pela entidade.
Mix energético de origem fóssil utilizados pela entidade
QE = Quantidade de energia desta fonte utilizada pela entidade
(no ano anterior)
QTA = Quantidade total de energia utilizada pela entidade
(no ano anterior)
- Energia com origem em combustíveis fosseis
que não gás natural
QE / QTA - Energia com origem em gás natural
- Energia da rede elétrica
- Energias de produção própria não poluente
- Energia com origem em gás natural
- Energia da rede elétrica
- Energias de produção própria não poluente
Informação proporcionada
INDICADOR
Quantidade de energia adquirida pela entidade, por tipo de energia
- Energia com origem em combustíveis fosseis
que não gás natural
QE / QEA
Valor envolvido no recurso a logística reversa.
A entidade em causa encontra-se integrada num
sistema de simbiose industrial?
Parte do Negócio da entidade que se enquadra na
filosofia de Reparação de Equipamentos
Rejeitados transacionados para outras indústrias
Rejeitados direcionados para Reciclagem
Parte das despesas de investimento da entidade que
tem origem na reparação de equipamentos
Quantidade de água adquirida pela entidade
Emissões Atmosféricas, tendo em conta a obrigatoriedade de monitorização e os valores limite previstos no Decreto-Lei n.º 39/2018, de 11 de junho.
70
5 – CONCLUSÕES
Pretendeu-se com este trabalho criar uma estrutura para um conjunto de indicadores de
Economia Circular, com o objetivo prático de poder servir, ou contribuir nesse sentido, para
apoiar um sistema de decisão e monitorização no âmbito da atribuição de apoios
comunitários no próximo período de programação cujo início se avizinha.
Apesar de ainda não amplamente divulgado, o conceito de Economia Circular envolve um
conjunto de princípios trabalhados desde há algumas décadas, inclusivamente não
enquadrados nesta designação, mas cuja importância parece ter entrado, principalmente na
última década, numa rota de crescimento exponencial. Aproxima-se o início de um novo
período de programação de fundos comunitários que, perante a evolução do nível de
importância que o tema tem registado junto das instâncias europeias de decisão, leva a crer
que haverá prioridades de investimento e mesmo objetivos temáticos na área da Economia
Circular.
Tendo em conta o impacto que a orientação temática dos fundos comunitários tem tido em
Portugal será de esperar que se avizinhem grandes alterações no panorama nacional no que
respeita aos aspetos envolvidos neste tema. Adotar assim um conjunto de indicadores que se
procura serem de aplicação simples, mas reunindo condições para avaliar a tendência de
circularidade com aplicabilidade a produtos, organizações ou mesmo regiões, ou seja do nível
nano ao nível macro, apesar de não procurarem um rigor extremo, pode permitir uma
panorâmica geral das regiões, ou mesmo do país, tanto numa abordagem ex-ante como
durante o processo de avaliação dos projetos, acompanhamento dos mesmos e numa
avaliação ex-post.
Concluiu-se, perante a literatura consultada, que, por um lado, os temas tratados neste
contexto são em grande medida comuns a todas as abordagens e que, por outro lado, não
existe um sistema de indicadores que tenha um consenso alargado. Nesse sentido procurou-
se, para o objetivo definido, criar um sistema de indicadores com caráter de grande
simplicidade, com vista a facilitar a sua aplicabilidade, mas que ao mesmo tempo focasse os
aspetos mais relevantes cujo cumprimento permita assegurar que a entidade avaliada
apresenta uma tendência de adaptação a uma Economia Circular.
As principais limitações encontradas consistiram em que a procura exaustiva da simplicidade
na utilização do método poderá levar a algumas restrições tais como, por exemplo, uma
71
avaliação menos justa de entidades que tenham à partida um estado mais evoluído no que
respeita à transição para uma Economia Circular, parecendo sensato, numa posterior
abordagem deste tema a introdução de fatores de correção para compensar tais situações.
Um futuro aprofundamento em futuros estudos poderá incidir no detalhe de alguns dos
indicadores que, com informação, eventualmente estatística e mais avançada, poderá permitir
uma descrição melhor em alguns indicadores, nomeadamente de fluxos de materiais, de
práticas de partilha ou de energia. Por outro lado pode ser estudada a possibilidade de
converter o conjunto dos indicadores referidos em um índice de tendência de adaptação a
uma Economia Circular, passível de resumir ainda mais o caráter da entidade em avaliação.
Finalmente, uma vez que esta metodologia não foi testada em contexto real, esta operação
seria um grande contributo no sentido de lhe garantir consistência.
Há um caminho a percorrer e procurou-se com o trabalho aqui presente contribuir para que
este se desenvolva numa direção favorável. Com a expectativa das ajudas financeiras do
próximo período de programação haverá certamente condições para contribuir no sentido
de uma atitude mais amiga do planeta que em todos se refletirá em melhor saúde e certamente
maior felicidade.
72
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