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ESTADO DE GOIÁS MINISTÉRIO PÚBLICO ________________________________________________________________________ EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR-PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS. RAZÕES N. 102/2010 RECURSO ESPECIAL NA APELAÇÃO CRIMINAL Nº 200903800955 APELANTE : JESUS ROBERTO RODRIGUES E IVONALDO LEITE FERREIRA APELADO : MINISTÉRIO PÚBLICO RELATOR : DES. LUIZ CLÁUDIO VEIGA BRAGA CÂMARA : SEGUNDA CRIMINAL PROCURADOR DE JUSTIÇA: PEDRO TAVARES FILHO Observação quanto ao prazo: A intimação do Ministério Público perfez-se em 06.04.2010. Assim, o prazo de 15 dias iniciou seu curso em 07.04.10 e vencerá em 21.04.10 (FERIADO), devendo ser prorrogado para o primeiro dia útil seguinte – 22.04.2010. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, no exercício das atribuições que lhe são conferidas por lei, nos autos do APELAÇÃO CRIMINAL em que são apelantes JESUS ROBERTO RODRIGUES REZENDE e IVONALDO LEITE FERREIRA, inconformado com o teor do V. Acórdão de fls., por entender que contraria os artigos 33, caput, e 50, §§ 1º e 2º, ambos da Lei 11.343/06, sobre os quais versou, vem, perante Vossa Excelência com o habitual acatamento, com fulcro no Artigo 105, inciso III, alínea "a", da Constituição Federal, na forma dos artigos 26 e FMC 1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR … · 2010-12-13 · PEDRO TAVARES FILHO ... ofereceu denúncia em desfavor de JESUS ROBERTO RODRIGUES ... Reside o inconformismo dos processados

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ESTADO DE GOIÁSMINISTÉRIO PÚBLICO

________________________________________________________________________EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR-PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS.

RAZÕES N. 102/2010RECURSO ESPECIAL NA APELAÇÃO CRIMINAL Nº 200903800955APELANTE : JESUS ROBERTO RODRIGUES E IVONALDO LEITE FERREIRAAPELADO : MINISTÉRIO PÚBLICORELATOR : DES. LUIZ CLÁUDIO VEIGA BRAGACÂMARA : SEGUNDA CRIMINALPROCURADOR DE JUSTIÇA: PEDRO TAVARES FILHO

Observação quanto ao prazo: A intimação do Ministério Público perfez-se em 06.04.2010. Assim, o prazo de 15 dias iniciou seu curso em 07.04.10 e vencerá em 21.04.10 (FERIADO), devendo ser prorrogado para o primeiro dia útil seguinte – 22.04.2010.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, no exercício das atribuições que lhe são conferidas por lei, nos autos do APELAÇÃO CRIMINAL em que são apelantes JESUS ROBERTO RODRIGUES REZENDE e IVONALDO LEITE FERREIRA, inconformado com o teor do V. Acórdão de fls., por entender que contraria os artigos 33, caput, e 50, §§ 1º e 2º, ambos da Lei 11.343/06, sobre os quais versou, vem, perante Vossa Excelência com o habitual acatamento, com fulcro no Artigo 105, inciso III, alínea "a", da Constituição Federal, na forma dos artigos 26 e

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________________________________________________________________________seguintes, da Lei 8038/90, e dos artigos 255 e seguintes do Regimento Interno do Colendo Superior Tribunal de Justiça, interpor o presente RECURSO ESPECIAL, fazendo-o nos termos das razões anexas.

Recebido e processado na forma da lei, requer seja o presente Recurso admitido e encaminhado ao Colendo Superior Tribunal de Justiça.

Goiânia, 12 de março de 2010

PEDRO TAVARES FILHO Procurador de Justiça

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RECURSO ESPECIAL - ESTADO DE GOIÁSBASE LEGAL : Art. 105, III, alínea “a”, CF - Contrariedade aos arts. 33, caput, e 50, §§ 1º e 2º, ambos da Lei 11.343/06.RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICORECORRIDO:JESUS ROBERTO RODRIGUES REZENDE E IVONALDO LEITE FERREIRA

I - DOS FATOS E DO DIREITO

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS ofereceu denúncia em desfavor de JESUS ROBERTO RODRIGUES REZENDE e IVONALDO LEITE FERREIRA, imputando-lhes a autoria das condutas tipificadas nos artigos 33, caput, e 35, caput, da Lei 11.343/06, por terem sido abordados “trazendo consigo” duas porções de cocaína, pesando aproximadamente 19,665g (dezenove gramas, seiscentos e cinquenta e cinco miligramas), e por atuarem, mediante associação, para difusão ilícita de entorpecentes.

Após regular trâmite, sobreveio sentença acatando parcialmente a denúncia para condenar os Recorridos somente no artigo 33, caput, da lei 11.343/06, aplicando, ao primeiro, pena de 2 (dois) anos e 09 (nove) meses de reclusão, em regime inicial fechado, e 250 (duzentos e cinquenta) dias multa e, ao segundo, 06 (seis) anos de reclusão, em regime inicial fechado, e 550 (quinhentos e cinquenta) dias multa.

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Inconformados, os réus interpuseram recurso de apelação pleiteando absolvição por insuficiência de provas, e, alternativamente, a desclassificação da conduta para a tipificada no art. 28, a mitigação da pena aplicada e a isenção da pena patrimonial.

Instada a manifestar-se, a Procuradoria de

Justiça opinou pelo conhecimento e desprovimento do apelo.

Conhecendo do recurso, o Eg. Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, à unanimidade, concedeu-lhe provimento, nos seguintes termos:

APELACAO CRIMINAL. CRIME DE TRAFICO DE ENTORPECENTES. LAUDO DE EXAME TOXICOLÓGICO DEFINITVO. AUSÊNCIA. FALTA DE COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE CRIMINOSA. ABSOLVIÇÃO.I. A atual Lei de Drogas, em seu art. 50, §§ 1º e 2º, dispõe sobre a necessidade de confecção do laudo definitivo, servindo, o primeiro, para justificar a prisão em flagrante delito e o oferecimento da denúncia, e o segundo, prestante à comprovação da materialidade delitiva, para confortar o julgamento de mérito da acusação por fato penalmente relevante, tipificado pela Lei nº 11.343/06, não lhe dispensando a existência para a demonstração do delito do art. 33, da norma penal extravagante.II – É compreensível que, sem a realização do laudo de exame toxicológico definitivo da natureza da droga, não há comprovação efetiva da materialidade do delito de tráfico ilícito de entorpecentes, tipificado pelo art. 33, da Lei nº 11.343/06, pelo que a sentença condenatória editada sem a juntada

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________________________________________________________________________desse documento nos autos, precedentemente à audiência de instrução e julgamento, deve ser reformada, para absolver os processados, com fundamento no art. 386, inciso II, do Código de Processo Penal. APELO PROVIDO.

II. DO CABIMENTO DO RECURSO

É cabível o presente Recurso com base nas alínea "a" do inciso III do artigo 105 da Constituição Federal, senão vejamos:

"Art. 105 - Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:

a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;.

Satisfeitos que se encontram os requisitos genéricos da tempestividade, legitimidade, interesse , adequação, e, ainda, os específicos de última instância e do prequestionamento, resta demonstrar as razões do pedido de reforma.

III - DAS RAZÕES DO PEDIDO DE REFORMA

DA CONTRARIEDADE À LEI FEDERAL

Dispõem os artigos indigitados:

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Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária fará, imediatamente, comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas.

§ 1o Para efeito da lavratura do auto de prisão em

flagrante e estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea.

O V. Acórdão contrariou os artigos indicados ao reconhecer elementos que confirmam a autoria e a materialidade da conduta, mas absolver os recorridos tão somente pela ausência de juntada aos autos do laudo toxicológico definitivo.

Vejam-se os termos do acórdão onde se verifica a ofensa:

Reside o inconformismo dos processados contra a resposta penal desfavorável, que os repreendeu pelo

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________________________________________________________________________delito de tráfico de drogas, tipificado pelo art. 33, caput, da Lei nº 11.343/06 (...).

Segundo narra a peça acusatória, no dia 22 de outubro de 2008, por volta das 23:00 horas, no Posto Trevo, situado na cidade de Uruana, policiais militares faziam patrulhamento de rotina, quando abordaram os processados, que trafegavam em uma motocicleta, marca Honda, CBX-250, placa LWJ 3626, sendo que durante a revista pessoal foram encontradas, com eles, 02 (duas) porções de cocaína,pesando, aproximadamente, 19,655g (dezenove gramas e seiscentos e cinquenta e cinco miligramas), que foram submetidas, unicamente, ao laudo de constatação (fls. 29/30), “a fim de instruir o Auto de Prisão em Flagrante do portador da substância referida” (fl. 30).

No empreendimento de se avaliar a postulação mais abrangente da insurreição defensiva, pertinente à comprovação da materialidade delitiva, como requisito indispensável para os crimes de rastro, como o envolvendo drogas ilícitas, indispensável que a investigação, inquisitiva ou judicial, proceda à realização do exame toxicológico, para apuração, em peça técnica, por peritos, da droga apreendida, identificando-a como substância causadora de dependência física e/ou psíquica, constante do rol daquelas de circulação proibida pela ANVISA, constituindo produto que figura no ato administrativo que preenche a norma penal em branco que contém a Lei n° 11.343/06. (...)A atual Lei de Drogas, em seu art. 50, §§ 1º e 2º, dispõe sobre a necessidade de confecção do laudo de constatação preliminar e do laudo definitivo, servindo, o primeiro, para justificar a prisão em flagrante delito e o oferecimento da denúncia, e o segundo, prestante à comprovação da materialidade delitiva, para confortar o julgamento de mérito da acusação por fato penalmente relevante, tipificado pela Lei nº 11.343/06, não lhe dispensando a

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________________________________________________________________________existência para a demonstração do delito do art. 33, da norma penal extravagante.É de ver-se, a partir da abordagem desses parágrafos, do art. 50, da Lei nº 11.343/06, que a Lei de Tóxicos permite a lavratura do auto de prisão em flagrante e o oferecimento da denúncia sem o laudo pericial definitivo, desde que presente o de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea, mas reafirmando, sem acanhamentos, a necessidade da peça técnica de feição eterna, para concretizar a existência de delito tipificado pela norma penal extravagante.Dessa disposição legislativa, não pode subsistir condenação pelo delito de tráfico de substância entorpecente, tipificado pelo art. 33, da Lei nº 11.343/06, baseada, unicamente, no laudo de constatação prévia, para efeito de comprovação da materialidade delitiva, posto que resulta da necessidade de exames laboratoriais mais aprofundados, aptos a comprovar, ao largo de vacilação, a natureza tóxica da substância apreendida, para que a conduta imputada possa merecer incursão em figura delitiva contida na Lei de Drogas.Ressalte-se que o laudo de constatação é provisório e não tem a função de substituir a prova técnica especializada de forma a gerar a certeza do caráter toxicológico da substância apreendida, atividade reservada ao laudo definitivo, subscrito por perito oficial, que se vale de aparelhamento técnico adequado e utiliza métodos científicos para essa identificação, servindo a demonstrar que a substância pode causar dependência física ou psíquica, incluída no ato administrativo da ANVISA, constituindo o preto da norma penal em branco.(...)É compreensível que, sem a realização do laudo de exame toxicológico definitivo da natureza da droga, não há comprovação efetiva da materialidade do delito de tráfico ilícito de entorpecentes, tipificado pelo art. 33, da Lei nº 11.343/06, pelo que a sentença

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________________________________________________________________________condenatória editada sem a juntada desse documento nos autos, precedentemente à audiência de instrução e julgamento, deve ser reformada, para absolver os processados, com fundamento no art. 386, inciso II, do Código de Processo Penal.Ao cabo do exposto, desacolhendo o pronunciamento ministerial, provejo o apelo.Expeça-se alvará de soltura clausulado.

Como se observa, entende o Tribunal de Justiça que não apresentado o laudo definitivo de identificação da substância entorpecente apreendida em poder do processado, não resulta demonstrada a materialidade do crime de tráfico de drogas, porquanto o laudo de constatação, de feição preliminar, prestar-se-ia somente à lavratura da prisão em flagrante e ao oferecimento da denúncia.

Contudo, ao contrário do que prescreve a decisão recorrida, a exigência do laudo toxicológico definitivo para a comprovação da materialidade do delito é relativa, isto é, havendo outros elementos nos autos suficientes à comprovação desta, não é possível negá-la somente pela ausência de juntada do referido laudo ao feito, mormente quando o exame técnico preliminar, produzido de acordo com as formalidades legais, atesta inequivocamente a natureza e a quantidade da substância entorpecente apreendida, como destacado no aresto impugnado.

Ocorre que, no sistema vigente em nosso ordenamento, de livre convencimento do Juiz, não é possível priorizar qualquer tipo de prova. Desse modo, desde que a fundamentação encontre esteio em elementos instrutórios obtidos por meios lícitos, a materialidade da conduta

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________________________________________________________________________consubstanciada na demonstração da natureza da substância apreendida para a configuração do crime de tráfico pode ser feita também pelo laudo de constatação, vez que igualmente emitido por perito, principalmente se este encontra consonância com as demais provas dos autos, como in casu.

Nesses termos, o juiz singular, amparado pelo exame de constatação preliminar, conjugado aos demais elementos carreados aos autos, reconheceu a materialidade e a autoria do delito em comento, motivo pelo qual imprimiu juízo de condenação aos recorridos, vindo este a ser cassado tão somente pela ausência da juntada do exame definitivo, o que importou na absolvição dos réus.

Ora, absolver os réus apenas pela ausência de juntada de laudo definitivo, desqualificando o exame técnico legalmente produzido e os demais elementos dos autos que atestam a materialidade pela natureza e quantidade da substância apreendida em poder dos recorridos, é providência que foge à razoabilidade.

De fato, não parece lógico, com a devida venia, que seja julgada improcedente a pretensão estatal pela ausência de prova da materialidade, quando, na verdade, há no acórdão impugnado o reconhecimento de que o material apreendido com os recorridos era realmente substância entorpecente.

Nesses termos, em que pese parte da doutrina e da jurisprudência considerar imprescindível a juntada do exame definitivo, o Superior Tribunal de Justiça

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________________________________________________________________________tem relativizado tal entendimento para reconhecer que, havendo nos autos outros elementos que atestem a materialidade do delito, mormente se conjugados ao exame provisório, a juntada do laudo definitivo torna-se prescindível:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO INTERNACIONAL DE ENTORPECENTES(...). AUSÊNCIA DE LAUDO TOXICOLÓGICO. PRESCINDIBILIDADE. CONJUNTO PROBATÓRIO ROBUSTO A COMPROVAR A MATERIALIDADE DO DELITO.(...)O laudo de exame toxicológico definitivo da substância entorpecente não é condição única para basear a condenação se outros dados suficientes, incluindo a vasta prova testemunhal e documental produzidas na instrução criminal, militam no sentido da materialidade do delito.(REsp 1009380/MS, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 12/05/2009, DJe 15/06/2009)

No referido julgado, o Ministro Arnaldo Esteves expõe suas razões citando outro precedente do Superior Tribunal de Justiça:

Na hipótese, o laudo da substância entorpecente não é condição única para basear a condenação se outros dados suficientes, incluindo a vasta prova testemunhal e documental produzida na instrução criminal, convenceram as instâncias ordinárias no sentido da traficância e, em consequência, da materialidade delitiva.

Confira-se o seguinte precedente:

HABEAS CORPUS . MENOR. SEMILIBERDADE. FRAGILIDADE DA PROVA. EXAME. INVIABILIDADE EM SEDE HERÓICA. EXAME TOXICOLÓGICO E LAUDO PERICIAL DA ARMA. PRESCINDIBILIDADE. OUTROS DADOS.O remédio de habeas corpus não se presta ao exame de prova, razão por

que a discussão em torno da fragilidade da prova deve submeter-se a

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________________________________________________________________________procedimento de cognição plena.O exame toxicológico, bem como, o

laudo pericial na arma não se mostram imprescindíveis para o

convencimento condenatório se outros dados informam a verdade

real.Ordem denegada. (HC 40.329/RJ, Rel. Min. JOSÉ ARNALDO DA

FONSECA, Quinta Turma, DJ de 21/3/05)

Com efeito, o Superior Tribunal de Justiça já sufragou esse entendimento em diversas oportunidades:

CRIMINAL. RESP. USO DE ENTORPECENTES. AUSÊNCIA DE EXAME TOXICOLÓGICO DEFINITIVO. IRRELEVÂNCIA. MATERIALIDADE COMPROVADA PELO AUTO DE APREENSÃO E LAUDO DE CONSTATAÇÃO DA SUBSTÂNCIA. RECURSO DESPROVIDO. É imprópria a pretensão de nulidade da sentença apenas em razão da pretensa invalidade do exame toxicológico definitivo, se evidenciado, nos autos, a comprovação da materialidade do delito por meio de laudo provisório de constatação de substância entorpecente, entre outros elementos de convicção, tais como, a própria confissão do réu.Recurso desprovido.(REsp 722552/MG, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 07/03/2006, DJ 27/03/2006 p. 320)

CRIMINAL. HC. ENTORPECENTES. NULIDADE. AUSÊNCIA DE EXAME TOXICOLÓGICO DEFINITIVO. IRRELEVÂNCIA. MATERIALIDADE COMPROVADA PELO AUTO DE APREENSÃO E LAUDO DE CONSTATAÇÃO DA SUBSTÂNCIA. ORDEM DENEGADA.É imprópria a alegação de nulidade em razão da falta do exame toxicológico definitivo, se evidenciado, nos autos, a comprovação da materialidade do delito por meio de laudo provisório de constatação de substância entorpecente.A desconstituição do julgado só é admitida em casos de flagrante e inequívoca ilegalidade, o que não restou evidenciado in casu. Ordem denegada.(HC 19518/MS, Rel. Ministro GILSON DIPP,

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________________________________________________________________________QUINTA TURMA, julgado em 02/04/2002, DJ 20/05/2002 p. 171)

No aresto supra, restou consignado:

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No mesmo caso, o Supremo Tribunal Federal também se manifestou:

EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL, PENAL E PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES (ART. 12 DA LEI N° 6.368, DE 21.10.1976). LAUDO DE EXAME TOXICOLÓGICO.

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________________________________________________________________________"HABEAS CORPUS": PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO, POR FALTA DO LAUDO DEFINITIVO DE PERÍCIA TOXICOLÓGICA. ALEGAÇÃO REPELIDA. 1. Não está reproduzida nestes autos a sentença condenatória. 2. Até a sua prolação, porém, não houve qualquer alegação da defesa do réu, contrária ao laudo do exame de constatação, elaborado por perito nomeado pela autoridade policial, nos termos do artigo 159, § 1º e 2º do C.P.P., combinado com o § 1º do art. 22 da Lei nº 6.368/76. 3. Só na apelação é que argüiu a nulidade do processo, por falta de laudo de perícia toxicológica propriamente dita. E o acórdão estadual, que lhe negou provimento, a esse respeito observou: "Se a defesa não questionou oportunamente a falta do exame definitivo, presume-se que aceitou como autêntico e suficiente para a comprovação da materialidade do delito o Laudo de Constatação acostado ao feito". 4. E não ficou nisso, ao que se colhe dos tópicos reproduzidos: "As provas dos autos são robustas no sentido de que o agente estava transportando substância entorpecente", escondida em veículo por ele dirigido. 5. Por isso mesmo, o aresto do Superior Tribunal de Justiça, denegou a ordem. 6. Enfim, não há constrangimento ilegal decorrente do acórdão do S.T.J., denegatório do "writ" lá impetrado. 7. "H.C." indeferido, por maioria de votos.(HC 82035, Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Primeira Turma, julgado em 04/02/2003, DJ 04-04-2003 PP-00051 EMENT VOL-02105-02 PP-00357) Dessarte, com apoio no entendimento das

Cortes Superiores, incorreta a decisão do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás que absolveu os réus por falta do laudo definitivo, quando o laudo de constatação e os demais FMC

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________________________________________________________________________elementos constantes dos autos atestam a materialidade delitiva.

Por outro lado, ainda que se considere necessária a juntada do laudo definitivo, incorreta se mostra a providência adotada pelo Tribunal de Justiça, qual seja, a absolvição dos recorridos.

Não obstante a ressalva quanto a posição adotada, jamais deveria o Juízo a quo ter absolvido os réus, e sim ter anulado a decisão e determinado a juntada do referido exame, com vista às partes e prolação de nova decisão, como tem entendido em outros casos o Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL PENAL - HABEAS CORPUS - TRÁFICO DE DROGAS - SENTENÇA QUE RECONHECE A MATERIALIDADE DO DELITO COM BASE EM LAUDO PROVISÓRIO - (...) - CONDENAÇÃO QUE EXIGE O LAUDO DEFINITIVO - ORDEM CONCEDIDA PARA ANULAR PARCIALMENTE A SENTENÇA E DETERMINAR A JUNTADA DO LAUDO. DETERMINAÇÃO DE EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ DE SOLTURA, SALVO PRISÃO POR OUTRO MOTIVO.(...) Se a sentença foi proferida sem o laudo definitivo, impõem-se a sua nulidade para que previamente seja juntado o exame toxicológico e dada vista às partes para que sobre ele se manifestem.(HC 118.666/MG, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado em 05/02/2009, DJe 02/03/2009)

HABEAS CORPUS. ECA. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO TRÁFICO DE ENTORPECENTES EM ASSOCIAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE LAUDO TOXICOLÓGICO DEFINITIVO NOS AUTOS. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE DELITIVA. ORDEM CONCEDIDA.

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________________________________________________________________________1. A materialidade do ato infracional de tráfico de entorpecentes deve ser comprovada mediante a juntada aos autos do laudo toxicológico definitivo, o qual não pode ser suprido pelo laudo prévio de constatação de substância entorpecente aliado à confissão do adolescente, sob pena de nulidade absoluta.2. Ordem concedida para anular a sentença que julgou procedente a representação, a fim de que seja realizada prévia instrução probatória, determinando ao paciente que aguarde a conclusão do processo em liberdade assistida.(HC 76.990/RJ, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 10/05/2007, DJ 28/05/2007 p. 381)

RECURSO ESPECIAL. PENAL. ART. 12, CAPUT, DA LEI N.º 6.368/76.AUSÊNCIA DE LAUDO TOXICOLÓGICO DEFINITIVO. NULIDADE ABSOLUTA. JUNTADA AOS AUTOS.Ao se constatar a ausência do laudo definitivo, o feito deve ser anulado para que ocorra a juntada do exame pericial e a devida intimação das partes.2. Recurso provido.(REsp 749.597/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 12/08/2008, DJe 08/09/2008)

ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE. (...). LEGALIDADE. AUSÊNCIA DO LAUDO TOXICOLÓGICO DEFINITIVO. MATERIALIDADE DELITIVA.(...)A ausência do laudo toxicológico definitivo, nos delitos tipificados na lei de entorpecentes, nulifica a sentença condenatória, porque não comprovada a materialidade delitiva (art. 25 da Lei nº 6.368/76 e art. 31, §1º, da Lei nº 10.409/2002) Ordem parcialmente concedida para anular a decisão que julgou procedente a representação oferecida pelo Ministério Público, a fim de que seja procedida prévia instrução probatória com juntada do laudo toxicológico definitivo.(RHC 17.608/RJ,

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________________________________________________________________________Rel. Ministro PAULO MEDINA, SEXTA TURMA, julgado em 27/10/2005, DJ 20/02/2006 p. 362)

Nesse sentido, ao absolver os réus, o aresto recorrido violou os artigos mencionados, merecendo reforma para reconhecer a materialidade delitiva e manter a sentença condenatória ou, não sendo este o entendimento predominante, desconstituir o juízo absolutório, anulando a sentença e determinando a juntada do laudo definitivo para posterior prolação de nova decisão.

V - DO PEDIDO

Pelo exposto, requer o Ministério Público do Estado de Goiás ao Eminente Ministro e à Colenda Turma a que couber o recebimento e o conhecimento do presente Recurso, que o admita, dele conheça e lhe dê provimento para reformar o V. Acórdão recorrido no sentido de reconhecer a materialidade delitiva e manter a sentença condenatória, ou, subsidiariamente, anular a sentença e determinar que outra seja proferida após juntada do laudo definitivo e vista às partes.

Goiânia, 09 de abril de 2010.

PEDRO TAVARES FILHO Procurador de Justiça

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