Ler e escrever blogs literários:

A narrativa hipertextual na configuração da webliteratura

Universidade Federal do ParáMestrado em Letras – Estudos Literários

Mestranda: Jéssica SouzaOrientadora.: Prof.a Dr.a Lília Chaves

O blog é considerado um gênero textual discursivo propício à

manifestação de gêneros literários, tendo como referência

definições recorrentes em Marcuschi (2010), para quem os blogs

representam formatos comunicativos com propósitos específicos

que se manifestam no ambiente virtual de comunicação;

Blogs literários são aqui considerados como os que se dedicam a

discutir, resenhar, transcrever, criticar ou simplesmente

experimentar a criação literária com todas as possibilidades

que o ato de escrever agrega e cumpre quando associado aos

recursos do hipertexto e às potencialidades do ciberespaço.

Como tudo começou

Experiência com o blog

Repórter de Sandálias;

Potencial da Internet para a

manifestação do discurso literário

por meio desse formato;

Tendências da Literatura na

contemporaneidade, quando esta

se torna webliteratura;

Interesse em verificar, caracterizar e descrever as formas de

expressão da webliteratura a partir do gênero blog.

MetodologiaTrês momentos:

Teórico

-Abordagem de conceitos de teoria literária;

Teórico e aplicativo

-Opção do recorte de abordagem pela blogosfera;

Análise descritiva

-Seleção de blogs a serem analisados: 6 blogs, 3 grupos, 2 blogs

em cada grupo;

-Definição da perspectiva a ser analisada no que diz respeito à

webliteratura em cada grupo e em cada blog;

-Realização de entrevistas com os blogueiros ou coleta de

informações na web;

-Observação e aplicação dos conceitos nos blogs selecionados.

Conceitos e Autores

Literatura e gêneros literários:- Jonathan Culler- Antoine Compagnon- Mikhail Bakhtin

Narrativa e Literariedade:- Roland Barthes - Romam Jakobson

Contemporaneidade:- David Harvey- Zigmunt Bauman

Ciberespaço:- Pierre Lévy- André Lemos

Gêneros textuais digitais:- A. L. Marcuschi

Mídia e Mediação:- Jesus Martín-Barbero- Garcia Canclini- Duarte Rodrigues- Manuel Castells

Hipertexto e Interatividade:- Pollyana Ferrari- Lúcia Santaella

Autor , Leitor e Crítico:- Michel Foucault- Roger Chartier

Ficção e Realidade:- Umberto Eco

Público e Privado:- Denise Schittine- Jonh B. Thompson

Estrutura

Capítulo 1 – O homem e a escrita

1.1 Linguagem, literatura e literariedade

1.2 Gêneros literários: a produção narrativa e suas formas

discursivas

1.3 Romance-folhetim: um exemplo de um novo modo de

narrar condicionado por novo suporte

1.4 Da cultura do impresso à tela do computador: a

constituição da narrativa contemporânea

Avançar

Entendo por literatura não um corpo ou uma sequência de obras,

nem mesmo um setor de comércio ou de ensino, mas o grafo

complexo das pegadas de uma prática: a prática de escrever. Nela,

viso, portanto, essencialmente, o texto, isto é, o tecido dos

significantes que constitui a obra, porque o texto é o próprio aflorar

da língua, e porque é no interior da língua que a língua deve ser

combatida, desviada: não pela mensagem de que ela é o

instrumento, mas pelo jogo das palavras de que ela é o teatro. Posso,

portanto dizer, indiferentemente: literatura, escritura ou texto

(BARTHES, 1992, pp. 16-17). Voltar

Capítulo 2 – A escrita e suporte digital

2.1 A comunicação mediada por computador e a cultura do

ciberespaço

2.2 Gêneros textuais digitais: o caso dos weblogs

2.3 A blogosfera: estrutura e organização

2.3.1 Hipertextualidade

2.3.2 Multimidialidade

2.3.3 Interatividade

Avançar

Gêneros textuais digitais:

Manifestam-se exclusivamente em ambientes virtuais;

Suscitam modalidades discursivas que nascem da operação de softwares e hardwares;

Utilizam recursos de hipertexto e interatividade;

Estão relacionados com a liberdade de expressão;

Transmutam gêneros tradicionais pré-existentes;

Favorecem formas contemporâneas do texto literário;

Favorecem leitura e escrita ativas.

Weblogs

Têm a web como suporte; Circulam por meio de softwares

digitais online; São essencialmente

hipertextuais e interativos; Apresentam linguagem

informal e espontânea, marcada por explorações criativas e engenhosas;

Têm como base o diário íntimo; Exploram o hibridismo de

linguagens; Favorecem o envolvimento de

múltiplos participantes no processo comunicativo de escrileitura.

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Capítulo 3 – O homem, a escrita, o suporte digital e a

configuração da webliteratura nos blogs selecionados

3.1 Literatura em bytes nos blogs Portal Literal e

O Caderno de Saramago

3.2 O papel do autor, do leitor e do crítico nas

comunidades interpretativas do blog Todoprosa

3.3 Representações contemporâneas na produção narrativa

do blog Bêbado Gonzo

3.4 Escrita íntima e experimentação literária em

Absinto-me só e Vago

A análise leva em conta três grupos de blogs:

1. Blogs de autoria de escritores profissionais:- O Caderno de Saramago- Portal Literal

2. Blogs de jornalistas, professores de Letras ou críticos literários:

- Todoprosa- Bêbado Gonzo

3. Blogs de escritores amadores:- Absinto-me só- Vago

Análise

Operacionalização

3.1.1 Portal Literal

3.1.1 O Caderno de Saramago

3.2 Todoprosa

3.3 Bêbado Gonzo

3.4.1 Absinto-me só

3.4.1 Vago

Categorias da prática literária na web:

1. Disponibilizante;

2. Informativa;

3. Experimental.

Categorias da narrativa hipertextual na blogofesra:

a. Narrativa de Fluxo Contínuo;

b. Narrativa da Memória ou da Indexação.

Portal Literal

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Literatura tradicional transportada para a web:

- Blog como forma de registro;

- Do papel para a tela, da tela para o papel;

- Link como elemento chave para percurso na “obra”;

- Quem é o autor?

- Blogueiro: ser constituído por bytes.

O Caderno de Saramago

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Crítica autorizada realizada em novo suporte:

- Papel do autor, do leitor e do crítico de literatura na

blogosfera;

- Seção Começos Inesquecíveis;

- Interatividade como elemento chave para um processo

de recepção produtiva.

Todoprosa

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Literatura contemporânea:

- Sentido de fragmentação e desestruturação (tempo,

espaço, narrador, personagem);

- Intertextualidade (jornal, cinema, quadrinhos, etc.);

- Tema principal é a violência;

- Tratada com humor e subjetividade;

- Metaficção;

- Embaralhamento entre o real e a ficção.

Bêbado Gonzo

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Literatura amadora:

- Busca de visibilidade e interatividade mediante a escrita

literária na web/blogosfera;

- Intimidade exposta (blog como diário íntimo);

- Escrita como válvula de escape = autoexpressão;

- Escrita autobiográfica, autoficção ≈ romance

autobiográfico;

- Diluição das fronteiras entre público e privado;

Absinto-me só

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Entrevista Gabriela Dornelas – Absinto-me só (Realizada via e-mail em 5 set. 2011)

Se você tivesse que definir a sua escrita, diria que é literária, confessional ou autobiográfica? Na sua opinião, qual a relação que há entre blog e literatura?

Pode ser um pouco de tudo? Ainda acho que é mais literária. Pois há muita glamourização tanto da parte biográfica quanto da confessional. Se eu fosse contar da minha vida ou confessar dores sem a parte literária seria trash demais! Hahaha (Comecei a escrever após uma tentativa de estupro aos 16 que me deixou em coma por um mês, com várias fraturas e me fez precisar de algumas plásticas). Tiro o foco dos textos totalmente disso. Mas pra mim ainda é tudo em torno disso. Então, sim, é literária.

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Literatura experimental:

- Hibridismo de linguagens e gêneros;

- Foge do emprego das estruturas convencionais da

linguagem;

- Linguagem informal e espontânea.

Vago

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Concluimos que:

- A escrita, na web, por meio do gênero blog e do hipertexto,

produz uma linguagem própria;

- A webliteratura é presente e real na blogosfera;

- O blog pode ser caracterizado gênero discursivo na medida

em que permite a manifestação de diversos gêneros literários

(ou não) – dentre eles a narrativa – que se desenvolvem

baseados em condições determinadas;

- Blogs são formatos propícios para a produção e circulação

da escrita no meio social na modalidade webliteratura.

Conclusão

- Eles modificam as formas de interação escritor/obra,

escritor/leitor e leitor/obra;

- Na blogosfera, é possível encontrar um outro literário que, ao

mesmo tempo, se aproxima e se distancia nos moldes pré-definidos

pelo cânone no sentido em que, nela, pode manifestar-se tanto a

literatura consagrada, baseada na norma culta e dos grandes nomes

de escritores reconhecidos internacionalmente, quanto uma

literatura amadora, baseada no sentido de experimentação de

escritores anônimos;

- Os blogs tendem a uma literatura universal na medida em que

permite qualquer cidadão do mundo digital lançar-se na rede como

um literato ou, como leitor, identificar-se com as diversas

narrativas dos blogueiros;

- Cada vez mais, na contemporaneidade, encontraremos literatura

nos formatos possibilitados pela cultura digital.

(Antoine de Saint-Exupery - O Pequeno Príncipe)

“Para todo fim, um recomeço”