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8/14/2019 Dissertao Parentalidade criana Sistemica
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM PSICOLOGIA
FATORES DE RISCO E DE PROTEO PARA O
DESENVOLVIMENTO DA CRIANA DURANTE A TRANSIO
PARA A PARENTALIDADE
FLORIANPOLIS
2006
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Naiane Carvalho Wendt
FATORES DE RISCO E DE PROTEO PARA O
DESENVOLVIMENTO DA CRIANA DURANTE A TRANSIO
PARA A PARENTALIDADE
Dissertao apresentada como requisitoparcial obteno do grau de Mestre emPsicologia, Programa de Ps-Graduao emPsicologia, Mestrado, Centro de Filosofia eCincias Humanas da Universidade Federal deSanta Catarina.
Orientadora: Prof Dr Maria Aparecida Crepaldi
Florianpolis
2006
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s famlias participantes e s
minhas famlias: de origem,
ampliada e de corao!
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Agradecimentos
A todos aqueles que, direta ou indiretamente, contriburam para a concretizao
deste trabalho, meu sincero e eterno obrigada.
minha Orientadora Professora Doutora Maria Aparecida Crepaldi, pela
confiana, disponibilidade, apoio e abertura ao dilogo e co-construo deste
trabalho, que colaboraram muito para meu crescimento pessoal e profissional.
Aos meus pais, Jos Nuno Amaral Wendt e Marga Regina Carvalho Wendt, e a
minha irm Clarisse Carvalho Wendt, pelo incentivo, carinho, auxlio, pacincia e pelacompreenso durante minha ausncia no decorrer deste trabalho.
A ngela Hering de Queiroz, Fernanda Cascaes Teixeira, Patrcia Mendes da
Silva e Vanessa Silva Cardoso, pela amizade e por tudo o que ela representa para mim.
Ao Marcelo Brugnaro Schultz, pelas palavras confiantes, companhia e carinho,
que tornaram esta caminhada mais suave e alegre.
A Carmen Leontina Ojeda Ocampo Mor, pelo incentivo e afeto ao longo de
todo o caminho compartilhado.
A Denise Duque, Joo David Cavallazzi Mendona e a todos os amigos e
colegas do Familiare, pelas discusses engrandecedoras, apoio, auxlio e amizade.
s amigas e colegas do Grupo de Estudos e Pesquisas Eco-Sistmicas, pelos
encontros alegres e continentes e pelas sbias contribuies.
A Patrcia Hammes, Letcia Macedo Gabarra e demais colegas do Grupo de
Pesquisa sobre Desenvolvimento Infantil, pelas trocas, companhia e auxlio.
A Maria Elisa Lins e Vanessa Peter, pelas generosas contribuies.
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A Marcilda Regina Cunha da Rosa que, carinhosa e prontamente, aceitou
contribuir para enriquecer e traduzir corretamente em palavras o trabalho de leitura,
pesquisa e interpretao dos dados.
Ao Rafael Battanoli Medeiros pelo auxlio na concluso deste trabalho e pelos
momentos divertidos, indispensveis para continuao do mesmo.
Aos Professores e Funcionrios do Programa de Ps-Graduao em Psicologia
da Universidade Federal de Santa Catarina, pela prontido em atender-me sempre.
Coordenadoria e s Agentes de Sade do Posto de Sade do Bairro CrregoGrande, que estiveram sempre dispostas a contribuir para facilitao desta pesquisa.
s Professoras Doutoras Zlia Maria Mendes Biasoli-Alves e Carmen Leontina
Ojeda Ocampo Mor, por aceitarem o convite para participar da banca.
Capes, pelo auxlio financeiro que permitiu a necessria dedicao para a
concluso deste trabalho.
Em especial, agradeo a Deus, pela oportunidade de conviver com todas essas
pessoas e de concretizar meus sonhos, e a todas as famlias que gentilmente aceitaram
dividir comigo parte de sua histria.
Muito obrigada.
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SUMRIOGLOSSRIO ...........................................................................................................................IRESUMO ..............................................................................................................................IIIABSTRACT .......................................................................................................................... IVLISTA DE FIGURAS...........................................................................................................IIILISTA DE TABELAS........................................................................................................... VILISTA DE QUADROS ........................................................................................................VII1. INTRODUO....................................................................................................................12. OBJETIVOS ........................................................................................................................52.1 Objetivo Geral:................................................................................................................................52.2 Objetivos Especficos: ......................................................................................................................53. FUNDAMENTAO TERICA .......................................................................................63.1 A Perspectiva Bioecolgica do Desenvolvimento Humano..............................................................6
3.1.1 Processo..................................................................................................................................... 73.1.2 Pessoa......................................................................................................................................113.1.3 Contexto ..................................................................................................................................123.1.4 Tempo......................................................................................................................................14
3.2 A Perspectiva do Desenvolvimento Familiar................................................................................. 153.2.1 A interdependncia do desenvolvimento infantil e familiar........................................................193.2.2 Estrutura e dinmica da famlia.................................................................................................223.2.3 Transies familiares................................................................................................................27
3.3 Transio para a Parentalidade ....................................................................................................313.4 Fatores de Risco e de Proteo ......................................................................................................444. MTODO...........................................................................................................................544.1 Caracterizao da pesquisa ...........................................................................................................544.2 Local...............................................................................................................................................554.3 Participantes ..................................................................................................................................564.4 Procedimento.................................................................................................................................56
4.4.1 Primeira Etapa: Identificao dos Fatores de Risco e Proteo...................................................574.4.1.1 Instrumentos utilizados na 1 Etapa........................................................................................ 58
4.4.2 Segunda Etapa: Caracterizao das Configuraes Familiares ...... ...... ...... ...... ...... ....... ...... ...... ..614.4.2.1 Instrumentos utilizados na 2 Etapa........................................................................................ 614.5 Anlise dos dados........................................................................................................................... 635. RESULTADOS E DISCUSSO........................................................................................655.1 Contextualizao Exossistema e Macrossistema ........................................................................65
5.1.1 Caracterizao da Populao.....................................................................................................655.2 Contextualizao - Microssistemas................................................................................................69
5.2.1 Caracterizao dos Participantes ...............................................................................................695.2.2 Resultados relativos a cada uma das famlias.............................................................................735.2.3 Resultados relativos ao conjunto das famlias..........................................................................113
6. CONCLUSES................................................................................................................1417. CONSIDERAES METODOLGICAS.....................................................................1468. CONSIDERAES FINAIS...........................................................................................1499. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................15010. ANEXOS ........................................................................................................................15910.1 Anexo 1....................................................................................................................................... 15910.2 Anexo 2....................................................................................................................................... 16010.3 Anexo 3....................................................................................................................................... 16210.4 Anexo 4....................................................................................................................................... 16410.5 Anexo 5....................................................................................................................................... 16510.6 Anexo 6....................................................................................................................................... 16910.7 Anexo 7....................................................................................................................................... 17010.8 Anexo 8....................................................................................................................................... 17210.9 Anexo 9....................................................................................................................................... 174
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I
GLOSSRIO
Adaptao e processo de adaptao: de acordo com Hartmann (1969) apud Fiorini(1999), adaptao refere-se possibilidade de ajustamento interacional em pequenosgrupos, tais como as famlias; e processo de adaptao consiste em pr em tenso orepertrio de recursos dos sujeitos a fim de estabelecer uma relao dinmica e crticacom a realidade.
Ateno primria: conjunto de aes de carter individual e coletivo, situada noprimeiro nvel de ateno do sistema de sade, voltada para a promoo de sade e apreveno de agravos ao tratamento e a reabilitao, ou seja, a busca da modificao decondies de vida para que sejam dignas e adequadas (Czeresnia & Freitas, 2003;Starsfield, 2004).
Ateno secundria: refere-se ao conjunto de estratgias de ao em sade queprivilegiam a preveno, ou seja, a deteco, controle e enfraquecimento dos fatores derisco ou fatores causais de grupos de enfermidades ou de uma enfermidade especfica.Seu foco a doena e os mecanismos para atac-la mediante o impacto sobre os fatoresmais ntimos que a geram ou precipitam (Czeresnia & Freitas, 2003).
Ateno terciria: refere-se ao conjunto de estratgias de ao em sade queprivilegiam a cura e a reabilitao da pessoa enferma (Czeresnia & Freitas, 2003).
Blues: caracteriza o estado de embotamento afetivo ou depressivo manifestado poralgumas mes nas primeiras semanas de vida da criana, decorrente das transformaesfisiolgicas, psicolgicas e sociais do nascimento (Maldonado, 1976).
Desqualificao e desconfirmao: a desqualificao diz respeito invalidao dacomunicao por meio de contradies, incoerncias, mudanas bruscas de assunto,frases incompletas, interpretaes errneas, entre outros, ao passo que a desconfirmaonega a realidade e a existncia do outro ignorando-o completamente (Watzlawick,Beavin & Jackson , 1973).
Diferenciao: refere-se ao grau de maturidade emocional que um indivduo pode
atingir no processo de individuao ao longo do ciclo vital de forma a se tornar adulto epoder emancipar-se, separando-se psicologicamente de sua famlia de origem emantendo, ao mesmo tempo, o sentimento de pertencimento a esta famlia. Assim,individuao e pertencimento, processos aparentemente antagnicos, podem estar juntosnuma relao familiar harmnica (Bowen, 1991).
Interao e Relao: segundo Andolfi (1996, p. 26), a interao necessita da presenafsica dos sujeitos envolvidos, refere-se a uma troca que surge no aqui e agora,enquanto a relao pode ser mantida distncia. De acordo com o autor, a interaoancora-se na subjetividade e na personalidade de quem interage. Na relao, estascaractersticas no so diretamente observveis, pois determinadas caractersticas so
repeties das relaes experimentadas pelo indivduo tendo por base as relaes das
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II
geraes presentes e passadas, mesmo aquelas que no foram reveladas diretamente.Giacometti (1981, p. 187) complementa afirmando que a relao entendida em seusignificado mais profundo como necessidade intrnseca, como esquema de relaointeriorizada, como motivao. Desse modo, as interaes referem-se aos fatos
observveis, e as relaes, a eventos no-observveis (emoes, expectativas,motivaes, etc.).
Lealdades invisveis: implica em interiorizar as expectativas do grupo familiar eassumir uma srie de atitudes passveis de especificaes para cumprir com os mandatosinteriorizados. O no cumprimento das obrigaes de lealdade gera sentimentos deculpa, que, por sua vez, constituem um sistema de foras secundrias reguladoras queintervm na homeostase do sistema familiar (Boszormenyi-Nagy & Spark , 1973;Miermont, 1994).
Paradoxo: refere-se a uma contradio resultante de dedues corretas a partir de
premissas coerentes (Watzlawick, Beavin & Jackson , 1973).
Rapport: consiste em uma estratgia de acolhimento do participante, uma abordageminicial muito utilizada na prtica clnica (Ocampo, Arzeno, Piccolo e Cols., 2001).
Simetria e complementaridade: caracterizam-se como padres comunicacionais. Noprimeiro, os parceiros tendem a engajarem-se em escaladas simtricas ou cismas, nasquais um reflete o comportamento do outro ampliando a fraqueza, competio eagressividade de ambos; no segundo, o comportamento de um casal complementa o dooutro, aumentando a imperatividade de um e a submisso do outro (Watzlawick, Beavin& Jackson , 1973).
Stress: refere-se relao entre sujeito e entorno, tendo-se em conta as caractersticas dosujeito e do ambiente, em que o sujeito avalia o ambiente como ameaador, para o qualno dispe de recursos para manter seu bem-estar. Dentre os processos que mediam ainterao sujeito-ambiente esto a avaliao cognitiva processo de significao no qualo sujeito avalia o grau de importncia de uma situao em relao ao seu bem-estar - e oenfrentamento processo por meio do qual o indivduo maneja as demandas doambiente consideradas como estressantes ou que superam seus prprios recursos(Lazarus & Folkman, 1984).
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III
RESUMO
WENDT, Naiane Carvalho. Fatores de risco e de proteo para o desenvolvimento
da criana durante a transio para a parentalidade. Florianpolis, 2006.Dissertao (Mestrado em Psicologia) Programa de Ps-Graduao em Psicologia,
Universidade Federal de Santa Catarina.
Orientadora: Maria Aparecida Crepaldi
Realizou-se este trabalho com o objetivo de investigar os fatores de risco e de proteopara o desenvolvimento infantil presentes na transio familiar decorrente do nascimentodo primeiro filho. Para tanto, caracterizaram-se a configurao, identificao dos fatoresde risco e de proteo e identificao dos fatores que concorrem para a adaptao ereorganizao familiar durante a transio para a parentalidade em dez famlias cujos
pais viviam juntos e cujas crianas estavam com seis meses de idade. Fundamentou-se apesquisa na Teoria Sistmica, que ancora a Teoria Bioecolgica do DesenvolvimentoHumano e os estudos sobre desenvolvimento familiar. Utilizou-se delineamento quanti-qualitativo e os seguintes instrumentos: Teste de Triagem do Desenvolvimento Denver-II, Inventrio Home para Observao e Medida do Ambiente, Escala de Avaliao doAmbiente (Abipeme), Roteiro de Entrevista para Identificao de Riscos e RecursosBiopsicossociais na Histria de Vida da Criana, Entrevista Semi-estruturada para
Confeco do Genograma Familiar. Analisaram-se os dados quantitativos por meio daestatstica descritiva no-paramtrica e submeteram-se os dados obtidos durante aconfeco do Genograma s anlises grfica, clnica e do discurso. Os resultadosapontaram que todas as famlias possuam fatores de risco e de proteo, sendo estesmanifestados por meio dos atributos pessoais dos bebs, como apatia, timidez,desateno, curiosidade, tendncia para engajar-se em interaes individuais e grupais,
presena ou ausncia de antecedentes mrbidos, simpatia, extroverso, dentre outros. Osfatores familiares manifestaram-se por meio do alto, mdio ou baixo risco nos processosde interao pais-criana, tais como envolvimento materno, responsividade emocional everbal da me, participao paterna nos cuidados e lazer da criana, conflitos familiarese nas variveis contextuais e temporais, como proviso de materiais, organizao do
ambiente, relao trabalho-famlia, classe socioeconmica, freqncia e interrupo deinteraes e eventos vitais. Observou-se que os fatores de risco e de proteo presentestanto nas crianas quanto nas famlias estavam estreitamente relacionados s relaesconjugais parentais e que estas tm o potencial para afetar positiva e negativamente odesenvolvimento da criana e vice-versa.A magnitude e a direo da influncia do bebno relacionamento marital variam de acordo com o ajustamento conjugal anterior que,
por sua vez, prediz a adaptao e a reorganizao familiar aps o nascimento. Da mesmaforma, as famlias de origem influenciam e so influenciadas direta e indiretamente pelonascimento das crianas.
Palavras-Chave: Fatores de risco e de proteo, Desenvolvimento familiar, Transio
para a parentalidade.
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IV
ABSTRACT
WENDT, Naiane Carvalho. Risk and protective factors for development of the child
during the transition for the parenthood. Florianpolis, 2006. Dissertation (Master inPsychology) Program of Post-Graduation in Psychology, Universidade Federal de Santa
Catarina.
Person who orientates: Maria Aparecida Crepaldi
This work was become realized with objective to investigate the factors of risk andprotection for the childish development presents in the decurrent familiar transition of
the birth of the first one son. For in such a way, it was characterized the configuration,identification of the factors of risk and protection and identification of the factors thatconcur for the adaptation and familiar reorganization during the transition for the
parenthood in ten families whose parents lived together and the children had six monthsof age. The research was based on the Systemic Theory that anchors the BioecologyTheory of the Human Development and the studies on familiar development. It was usedquantitative-qualitative delineation and the following instruments: DenverDevelopmental Screening Test, Home Observation for Measurement of theEnvironment,, Scale of Evaluation of the Environment - Abipeme, Script of Interviewfor Identification of Risks and Biopsycossocials Resources in the History of Life ofChild, Interview Half-structuralized for Confection of the Familiar Genogram. The
quantitative data were analyzed by descriptive statistics not-parametric and the datagotten during the confection of the Genogram had been submitted to the analysesgraphical, clinical and of speech. The results had pointed that all families had factors ofrisk and protection, been these disclosed by means of babies personal attributes asapathy, shyness, carelessness, curiosity, trend to engage itself in individual and groupinteractions, presence or absence of morbid antecedents, affection, extroversion,amongst others. The factors familiar had been appeared by means of the high, average orlow risk in the processes of interaction father-child, such as maternal involvement,emotional and verbal responsivity of the mother, paternal participation in the cares andleisure of child, familiar conflicts and in the contextual and secular variable, as provisionof materials, organization of the environment, relation work-family, social-economicclass, frequency and interruption of interactions and vital events. This work analyzedthat factors of risk and protection presents as on children as on families were strongly
joined to the parenthood conjugal relations and these have the potential to affectpositively and negatively the development of the child, and vice versa. The magnitudeand the direction of influence of the baby in the marital relationship varies in accordancewith previous conjugal adjustment that, in turn, predicts the adaptation and thereorganization familiar after the birth. In the same way, the origin families influence ethey are influenced directly and indirectly by the birth of the children.
Key-Words: Factors of risk and protection, Familiar development, Transition forParenthood.
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V
LISTA DE FIGURAS
Figura 1Nmero de ocorrncia dos itens normal, cuidadoe atrasode acordocom as reas desenvolvimentais do Denver II, obtido no ProjetoMulticntrico.
67
Figura 2ndice de risco psicossocial de Rutter (1987) constatado pelo ProjetoMulticntrico em 131 famlias de um Bairro de Florianpolis.
68
Figura 3 Genograma Famlia Bosco Cardoso 0106M 78Figura 4 Genograma Famlia lvares Bellotto 0406M 82Figura 5 Genograma Famlia Barbieri Muller 0506F 86Figura 6 Genograma Famlia Silva Braz 0706F 90
Figura 7 Genograma Famlia Carneiro Nasser 0806M 94Figura 8 Genograma Famlia Mendes Correa 0906F 98Figura 9 Genograma Famlia Souza Pinha 1106M 102Figura 10 Genograma Famlia Zaggo Caldas 1206F 105Figura 11 Genograma Famlia Pereira Cabral 1506M 108Figura 12 Genograma Famlia Sasse Peres 1606M 111
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VI
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Distribuio, de acordo com a idade, do nmero de crianas de um bairrode Florianpolis, que participaram do Projeto Multicntrico.
65
Tabela 2Nmero de famlias pesquisadas pelo Projeto Multicntrico em umBairo de Florianpolis, distribudas de acordo com a classe social.
66
Tabela 3Distribuio de dados relativos s caractersticas familiares,
planejamento e conduo da gestao.113
Tabela 4 Distribuio de dados relativos ao nascimento das crianas. 114
Tabela 5Distribuio dos dados relativos aos resultados dos instrumentosAbipeme, Teste de Denver e Inventrio Home.
115
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VII
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Caractersticas das famlias participantes. 71Quadro 2
Incidncia de fatores de risco e proteo na famlia 0106M,distribudos nos ncleos pessoa, processo, contexto e tempo.
76
Quadro 3Incidncia de fatores de risco e proteo na famlia 0406M,distribudos nos ncleos pessoa, processo, contexto e tempo.
81
Quadro 4Incidncia de fatores de risco e proteo na famlia 0506F,distribudos nos ncleos pessoa, processo, contexto e tempo.
85
Quadro 5Incidncia de fatores de risco e proteo na famlia 0706F,distribudos nos ncleos pessoa, processo, contexto e tempo.
89
Quadro 6Incidncia de fatores de risco e proteo na famlia 0806M,distribudos nos ncleos pessoa, processo, contexto e tempo.
93
Quadro 7 Incidncia de fatores de risco e proteo na famlia 0906F,distribudos nos ncleos pessoa, processo, contexto e tempo.
97
Quadro 8Incidncia de fatores de risco e proteo na famlia 1106M,distribudos nos ncleos pessoa, processo, contexto e tempo.
101
Quadro 9Incidncia de fatores de risco e proteo na famlia 1206F,distribudos nos ncleos pessoa, processo, contexto e tempo.
104
Quadro 10Incidncia de fatores de risco e proteo na famlia 1506M,distribudos nos ncleos pessoa, processo, contexto e tempo.
107
Quadro 11Incidncia de fatores de risco e proteo na famlia 1606M,distribudos nos ncleos pessoa, processo, contexto e tempo.
110
Quadro 12 Apresentao das subcategorias e elementos referentes categoriaestrutura. 116
Quadro 13Apresentao das subcategorias e elementos referentes categoriadinmica.
119
Quadro 14Apresentao das subcategorias gravidez e parto, relacionamento docasal, relacionamento com as famlias de origem, referentes categoria mudana, e seus respectivos elementos.
123
Quadro 15Apresentao das subcategorias comunicao, resoluo de
problemas, diviso de tarefas e trabalho, referentes categoriamudana, e seus respectivos elementos.
132
Quadro 16Apresentao das subcategorias e elementos referentes categoria
planos para o futuro.139
Quadro 17Apresentao das subcategorias e elementos referentes categoriaquestionamentos.
139
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1. INTRODUO
Esta Pesquisa derivou do Projeto Multicntrico denominadoIdentificando fatoresde risco e proteo para o desenvolvimento de crianas de 0 a 36 meses, realizado de
forma integrada entre pesquisadores da Universidade de So Paulo, Campus Ribeiro
Preto (USP/RP) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A participao da
autora no referido Projeto Multicntrico e na Especializao em Terapia Familiar
Sistmica despertaram o interesse para aprofundar o estudo desta temtica relacionando
os fatores de risco e de proteo para o desenvolvimento das crianas ao
desenvolvimento da famlia.Os profissionais de sade, principalmente aqueles que atuam no Programa de
Sade da Famlia (PSF), dentre eles os psiclogos, tm como meta a ateno primria.
Esta prioriza a promoo da sade e a preveno de doenas por meio da vinculao dos
profissionais com as famlias, da potencializao dos recursos familiares e do apoio
necessrio para o desempenho de suas responsabilidades. Para tanto, esses profissionais
utilizam a noo de risco, o que tem proporcionado a identificao do mesmo, bem
como o aproveitamento dos recursos e a adequao destes s necessidades da populao(Santa Maria & Linhares, 2002).
Pesquisas sobre risco para o desenvolvimento passaram a ser realizadas a fim de
verificar os principais fatores que convergem para que uma pessoa apresente dano em
seu desenvolvimento (Rutter, 1987; Haggerty, Sherrod, Garmezy, & Rutter, 1994;
Graminha & Martins, 1997; Puccini, Wechsler, Silva, & Resegue, 1997; Carvalhaes, &
Bencio, 2002). Dentre os principais fatores de risco encontrados na reviso de literatura
realizada por Silva (2003), citam-se a maternidade na adolescncia, a pobreza
econmica, a presena de doena mental crnica em um dos membros da famlia, o
alcoolismo, a drogadio, o abandono e a negligncia dos pais, o desemprego, o
subemprego, o desabrigo, os estigmas social e cultural, a violncia urbana e a familiar, a
criminalidade, o estresse perinatal, a prematuridade, a restrio nutricional, as
separaes prolongadas ou rupturas com pessoas significativas, a inexistncia de vida
familiar compartilhada, a situao de monoparentalidade, os conflitos e a instabilidade
familiar.
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casamento, o nascimento do primeiro filho, a chegada dos irmos, a entrada e sada de
pessoas na famlia, o divrcio, o recasamento, as internaes hospitalares, etc.
Embora explicite a importncia de estudar o desenvolvimento humano durante as
fases de transio familiar, a Perspectiva Bioecolgica no possui um aporte tericoespecfico de cada uma das fases do ciclo vital familiar. A Perspectiva do
Desenvolvimento Familiar apresenta uma estrutura terica e conceitual para o estudo das
famlias em suas diversas etapas do ciclo vital. Esta, por sua vez, vai ao encontro da
Perspectiva Bioecolgica ao considerar que o desenvolvimento individual de cada
membro da famlia est atrelado ao desenvolvimento do grupo familiar como um todo,
sendo o estudo dos perodos de transies, o mais adequado para a compreenso do
modo como a organizao familiar e a realizao das tarefas desenvolvimentais afetam odesenvolvimento individual.
Observa-se, no entanto, que a maioria das pesquisas sobre fatores de risco e
proteo embasada na Perspectiva Ecolgica do Desenvolvimento Humano possui
delineamento quantitativo e visa identificar os fatores que afetam o desenvolvimento de
uma pessoa ao longo do curso de vida individual (Lewis, Dlugokinski, Caputo & Griffin,
1988; Brooks-Gunn, 1996; Halpern, Giugliani, Victora, Barros & Horta, 2000; Rutter &
Sroufe, 2000; Sameroff, 2000).As pesquisas focalizadas nas transies familiares ancoradas na Perspectiva do
Desenvolvimento Familiar, especificamente as que concernem transio para a
parentalidade, possuem delineamento qualitativo e, em sua maioria, tm por objetivo
caracterizar as mudanas ocorridas na famlia durante esse perodo, bem como as
mudanas e participaes de cada cnjuge e da rede de apoio social nesse processo
(Belsky & Russell, 1985; Dessen & Braz, 2000; Menezes, 2001; Bolli, 2002; Castoldi,
2002; Rapoport, 2003).
Recentemente, novas pesquisas, tais como a de Cowan, Cowan, Heming, &
Miller (1991); Bigras & Paquette (2000) e de Cecconello (2003), tm sido
fundamentadas em ambas as perspectivas tericas com o intuito de verificar a
interdependncia entre os fatores de risco e proteo encontrados nas famlias e o
desenvolvimento subseqente das mesmas e de seus membros.
Desse modo, a Perspectiva Ecolgica do Desenvolvimento Humano e a
Perspectiva do Desenvolvimento Familiar formam o contexto terico e metodolgico
para responder seguinte pergunta de pesquisa:
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Quais os fatores de risco e de proteo para o desenvolvimento da
criana presentes na transio familiar decorrente do nascimento
do primeiro filho?
A verificao da questo de pesquisa aqui apresentada relevante
cientificamente, pois, aliada s demais pesquisas sobre desenvolvimento infantil e
familiar que esto sendo realizadas no Brasil, poder fomentar o avano da pesquisa e do
conhecimento na rea de desenvolvimento psicolgico de crianas e de famlias
brasileiras, bem como subsidiar pesquisas futuras e estudos longitudinais.
Por sua vez, a relevncia social deste estudo reside no implemento de aescomunitrias de sade, principalmente de programas de preveno e promoo
vinculados aos Programas de Ateno Bsica, assim como diretrizes de programas
sustentados em polticas pblicas de sade; no subsdio Psicologia Clnica, sobretudo
na rea da terapia familiar; e no incremento de informaes sobre a importncia de
interaes familiares promotoras de sade mental de crianas, que levem em
considerao os fatores sociais, culturais e econmicos das famlias.
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2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral:
Investigar os fatores de risco e de proteo para o desenvolvimento infantil
presentes na transio familiar decorrente do nascimento do primeiro filho.
2.2 Objetivos Especficos:
Caracterizar a configurao das famlias participantes do estudo;
Identificar os fatores de risco e de proteo presentes nas famlias e em suas
respectivas crianas;
Identificar os aspectos que concorrem para a adaptao e reorganizao familiar
durante a transio para a parentalidade.
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3. FUNDAMENTAO TERICA
3.1 A Perspectiva Bioecolgica do Desenvolvimento Humano
A concepo terico-metodolgica que considera que o desenvolvimento se
desenrola em processos de interaes entre o ser humano e seu contexto de vida foi
preconizada por Bronfenbrenner (1986; 1994; 1996; Bronfenbrenner & Ceci, 1994;
Bronfenbrenner & Morris, 1998; Bronfenbrenner & Evans, 2000) como a Perspectiva
Bioecolgica do Desenvolvimento. Bronfenbrenner foi um estudioso contemporneo do
desenvolvimento humano, bastante atuante neste campo de pesquisa, fato que contribuiu
para que sua teoria estivesse em constante reviso e ampliao.
O principal foco das pesquisas de Bronfenbrenner manter-se no modo como
fatores extrafamiliares influenciam o funcionamento intrafamiliar e como este influencia
o desenvolvimento humano, no entanto possvel identificar duas fases distintas nas
obras do autor. A primeira refere-se descrio do Modelo Ecolgico, cuja nfase
atribuda ao papel do ambiente durante o desenvolvimento, sendo dado menor destaque
aos processos individuais (Bronfenbrenner & Morris, 1998). Na segunda, o autor
acrescenta novos conceitos ao modelo original e salienta os processos individuais como
componentes centrais no processo do desenvolvimento e prope uma interao dinmica
entre os conceitos principais do Modelo Ecolgico e os elementos individuais da pessoa
em processo de desenvolvimento, compondo o Modelo Bioecolgico(Bronfenbrenner &
Morris, 1998; Bronfenbrenner & Evans, 2000; Cecconello, 2003).
Na Perspectiva Bioecolgica, Bronfenbrenner e Morris (1998) consideram que o
desenvolvimento ocorre por meio de processos progressivamente mais complexos de
interaes recprocase ativas, desenvolvendo o organismo humano biopsicolgico e as
pessoas, objetos e smbolos no meio imediato. Neste Modelo, o desenvolvimento
humano concebido a partir de quatro ncleos dinmicos e interdependentes: o
Processo, a Pessoa, o Contexto e o Tempo (PPCT) (Bronfenbrenner, 1986; 1994;
Bronfenbrenner & Ceci, 1994; Bronfenbrenner & Morris, 1998; Bronfenbrenner &
Evans, 2000).
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O Modelo PPCT compe o delineamento das pesquisas sobre desenvolvimento
humano ancoradas na Perspectiva Bioecolgica e se constitui um dos pilares terico e
metodolgico da presente pesquisa.
3.1.1 Processo
O processo, na Perspectiva Bioecolgica, o mecanismo central do
desenvolvimento e definido como uma troca de energia entre a pessoa em
desenvolvimento e as pessoas, objetos e smbolos no ambiente externo imediato. Essa
transferncia pode ser em uma ou ambas as direes, separadas ou simultneas
(Bronfenbrenner & Evans, 2000). Os processos que ocorrem constantemente no meioimediato so chamados de processos proximais, e os autores citam como exemplos a
interao realizada entre me-beb, como a alimentao e o conforto do beb; as
atividades e brincadeiras pais-criana e criana-criana; as brincadeiras em grupo ou
solitrias; a leitura; o aprendizado de novas habilidades; o estudo; as atividades
esportivas; a realizao de tarefas complexas; a resoluo de problemas; a aquisio de
novos conhecimentos, entre outros (Bronfenbrenner, 1994; Bronfenbrenner & Morris,
1998; Bronfenbrenner & Evans, 2000).De acordo com Bronfenbrenner e Morris (1998), para que os processos
proximais contribuam efetivamente para o desenvolvimento, necessrio que: a) a
pessoa esteja engajada em uma atividade; b) que a interao acontea regularmente, em
perodos estendidos de tempo; c) que a interao seja progressivamente mais complexa;
d) que exista reciprocidade e afeto nas relaes interpessoais; e e) que as pessoas, os
objetos ou os smbolos com os quais a pessoa interage estimulem a ateno, a
explorao, a manipulao e a imaginao da pessoa em desenvolvimento.
Os processos proximais podem ocorrer em atividades solitrias da pessoa em
desenvolvimento, quando esta interage com objetos e smbolos do meio, ou atividades
com outras pessoas, constituindo os sistemas didicos (quando composto de duas
pessoas), tridicos (composto de trs pessoas) ou polidicos (composto de quatro ou
mais pessoas). As dades constituem as estruturas interpessoais primrias e podem
assumir trs formas funcionais diferentes (Bronfenbrenner, 1996):
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a) Dades observacionais: ocorrem quando um dos participantes presta ateno
cuidadosa e continuada atividade do outro, como, por exemplo, quando uma criana
observa atentamente a me preparar uma refeio.
b) Dades de atividade conjunta: ocorrem quando os participantes se percebemrealizando uma atividade em conjunto, mesmo que no estejam fazendo a mesma coisa.
Por exemplo, enquanto a me prepara a refeio, a criana a ela entrega os ingredientes.
c) Dades primrias: so aquelas que continuam a existir para ambos os participantes
mesmo quando no esto juntos fisicamente. Por estarem ligados por um vnculo
emocional, um aparece nos pensamentos do outro, da mesma forma que um influencia o
comportamento do outro, como ocorre com uma me e uma criana que, quando no
esto juntas, sentem falta uma da outra e imaginam o que a outra est fazendo.De acordo com Bronfenbrenner (1996), as trs formas de dades apresentadas
no so mutuamente exclusivas, podendo ocorrer simultaneamente. As dades
observacionais facilmente evoluem para dades de atividade conjunta, e ambas podem
ocorrer no contexto de uma dade primria. Para o autor, o poder desenvolvimental das
dades est atrelado a trs propriedades: intensidade e grau de reciprocidade; relao
afetiva; e equilbrio de poder presente nas mesmas.
A reciprocidade refere-se capacidade de os membros coordenarem suasatividades um com o outro, o que favorece a aquisio de habilidades interativas e a
noo de interdependncia, estimula os participantes a se engajarem em padres mais
complexos de interao e produz importantes efeitos para o desenvolvimento cognitivo.
Conforme a persistncia das dades, os participantes tendem a desenvolver
sentimentos mais intensos um para com o outro, aumentando assim a relao afetiva
entre eles e desenvolvendo um vnculo emocional, especialmente importante quando
ocorre nas relaes com pessoas fortemente comprometidas com o bem-estar e com o
desenvolvimento da outra pessoa. Quanto mais positivos e mtuos forem os sentimentos,
maior a possibilidade de ocorrncia de processos desenvolvimentais, tal qual um aluno
que aprende significativamente mais com o professor com o qual possui um
relacionamento estreito e positivo.
A terceira propriedade desenvolvimental das dades, o equilbrio de poder, reside
na possibilidade de a pessoa em desenvolvimento adquirir gradualmente crescentes
oportunidades de controlar a situao, o que gera autonomia para a mesma e a capacita a
lidar com relaes de poder diferenciadas.
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Bronfenbrenner (1996) identifica as dades no apenas como contextos de
interaes recprocas, mas como sistemas de desenvolvimento recproco. Para o autor,
sempre que um dos membros passa por um processo de desenvolvimento, o outro
tambm se desenvolve. Porm, a capacidade das dades de atuarem como um contextoefetivo de desenvolvimento varia conforme a presena e participao de outras pessoas,
que podem ser um dos cnjuges, irmos, parentes, vizinhos ou amigos. Por sua vez,
essas pessoas atuam direta ou indiretamente na interao da dade, formando um sistema
polidico que possibilita maior ocorrncia e complexidade dos processos proximais. A
participao indireta de uma terceira pessoa no relacionamento de uma dade
denominada de efeito de segunda ordem (Bronfenbrenner, 1996).
Segundo Bronfenbrenner e Ceci (1994), quanto maior a magnitude dos processosproximais, maior a possibilidade de os mesmos atuarem no desenvolvimento humano
promovendo: percepo e respostas diferenciadas; controle do prprio comportamento;
enfrentamento bem-sucedido do stress; aquisio de conhecimentos e habilidades;
estabilidade e permanncia de relaes mutuamente benficas e gratificantes; e
modificao e construo do prprio ambiente fsico, social e simblico.
De acordo com a natureza dos resultados evolutivos que promovem, os
processos proximais podem ser classificados: a) segundo a competncia, quandopromovem a aquisio de conhecimentos, habilidades e capacidades para conduzir e
direcionar seu prprio comportamento por meio de situaes e domnios
desenvolvimentais (intelectual, fsico, motivacional, socioemocional ou artstico); b)
segundo a disfuno, quando originam manifestaes recorrentes de dificuldades em
manter controle e integrao do comportamento por meio de diferentes situaes e
domnios do desenvolvimento (Bronfenbrenner & Morris, 1998; Bronfenbrenner &
Evans, 2000).
Sob a tica de Bronfenbrenner e Evans (2000), os processos proximais podem
contribuir para a competncia ou disfuncionalidade conforme a exposio aos mesmos,
ou seja, a extenso de contato mantido. A exposio aos processos proximais varia nas
seguintes dimenses: a) durao do contato; b) freqncia com que o mesmo ocorre ao
longo do tempo; c) interrupo, referente regularidade ou freqncia com que a
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interao interrompida; d) timing1da interao; e e) intensidade e vigor do contato.
Quando a exposio ao processo proximal breve e irregular pode originar resultados
evolutivos disruptivos.
Os pais e cuidadores, por manterem contato prolongado e constante com ascrianas, so as principais pessoas engajadas em processos proximais promotores do
desenvolvimento de competncias. Contudo, Cecconello e Koller (2004) salientam que o
nvel de stress proveniente de dificuldades existentes no ambiente pode perturbar e
freqentemente perturba a disponibilidade dos pais ou cuidadores para serem
responsivos s necessidades emocionais da criana. Afirmam ainda os autores que o
baixo nvel de instruo daqueles afeta a capacidade de transmisso de conhecimentos e
desenvolvimento de habilidades importantes na resoluo de problemas. Ambas asdificuldades as provenientes do stress e do baixo nvel de instruo tendem a
prejudicar a qualidade dos processos proximais estabelecidos entre pais e/ou cuidadores
e crianas, podendo gerar disfuno no desenvolvimento das mesmas.
Os processos, para serem efetivos, necessitam ocorrer por perodos
suficientemente prolongados e regulares que permitam um aumento constante de
complexidade, bem como da reciprocidade e apego entre os participantes. Ocorrendo
dessa forma, os processos proximais promovem o desenvolvimento das competncias acada etapa do desenvolvimento e, nas fases iniciais do mesmo, tambm atuam como
fatores de proteo, reduzindo os possveis efeitos negativos do ambiente e adversidades
do ciclo de vida (Bronfenbrenner & Morris, 1998; Silva, 2003).
Recentemente, foi incorporada no Modelo Bioecolgico a dimenso gentica e
hereditria do desenvolvimento humano, pois ela contribui no somente para analisar os
resultados evolutivos, mas tambm para compreender todos os componentes deste
Modelo. Bronfenbrenner e Ceci (1994) consideram que por intermdio dos processos
proximais que os potenciais genticos, a saber, os gentipos, so efetuados no
funcionamento psicolgico da pessoa em desenvolvimento. De acordo com os autores,
os gentipos no se caracterizam como elementos passivos, mas como padres que se
estruturam em interao com o ambiente, desencadeando processos de desenvolvimento.
Polnia, Dessen e Silva (2005) afirmam que a herana gentica no se constitui em algo
1Mantm-se a palavra em ingls que se refere rapidez ou demora em apresentar uma resposta a uma
demanda da pessoa, como, por exemplo, a rapidez da resposta dos pais auxilia o beb a conectar-se com oestado psicolgico momentneo.
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imutvel, mas em tendncias que se integram e interagem com o ambiente, co-
construindo-se recursivamente.
A forma, a fora, o contedo e a direo dos processos proximais produtores do
desenvolvimento variam sistematicamente conforme as caractersticas da pessoa e doambiente imediato ou remoto em que tais processos ocorrem, bem como de acordo
com a natureza dos resultados evolutivos e as continuidades e mudanas sociais que
ocorrem ao longo do tempo, no curso de vida e no perodo histrico durante o qual a
pessoa tem vivido (Bronfenbrenner & Ceci, 1994; Bronfenbrenner & Morris, 1998;
Bronfenbrenner & Evans, 2000).
3.1.2 Pessoa
O segundo ncleo do Modelo Bioecolgico refere-se s caractersticas
socioemocionais, motivacionais e cognitivas da pessoa, as quais so concebidas por
Bronfenbrenner e Morris (1998) como produtoras indiretas e produto do
desenvolvimento, pois, ao mesmo tempo em que influenciam os processos proximais,
so tambm por eles constitudas. Os autores distinguem trs domnios de caractersticas
da pessoa que exercem influncia sobre os processos proximais: disposies, recursos edemandas pessoais.
No primeiro domnio, incluem-se as caractersticas com mais probabilidade de
influenciar o desenvolvimento as disposies comportamentais ativas que podem
acionar e manter os processos proximais ou retardar e, at mesmo, impedir sua
ocorrncia.
As disposies que influenciam positivamente a ocorrncia dos processos
proximais compreendem as caractersticas generativas, que envolvem as orientaesativas, como curiosidade, tendncia para iniciar e engajar-se em atividades individuais
ou com outras pessoas, responsividade iniciativa e auto-eficcia (Bronfenbrenner &
Morris, 1998; Cecconello, 2003). As disposies inibidoras abrangem as caractersticas
disruptivas da pessoa, que representam a dificuldade da mesma em manter o controle
sobre suas emoes e comportamentos, estando, dentre elas, a impulsividade, a
explosividade, a desateno, a agressividade, a apatia, a irresponsabilidade, a
insegurana e a timidez (Bronfenbrenner & Morris, 1998).
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Os recursos, segundo domnio de caractersticas da pessoa que exercem
influncia sobre os processos proximais, se constituem em caractersticas tais como
deficincias ou habilidades psicolgicas que influenciam a capacidade da pessoa para
engajar-se nos processos proximais. As deficincias referem-se s condies quelimitam o funcionamento integral do organismo, como os defeitos genticos, a
prematuridade, as deficincias fsicas, as doenas crnicas severas e o dano cerebral. As
habilidades relacionam-se s capacidades, conhecimentos e experincias que, ao
evolurem ao longo da vida, ampliam os domnios nos quais os processos proximais
podem operar construtivamente (Bronfenbrenner & Morris, 1998).
As demandas pessoais compem o terceiro grupo de caractersticas capazes de
influenciar o processo de desenvolvimento. Estas caractersticas referem-se capacidadeda pessoa de provocar ou impedir a presena, no ambiente, de reaes que favoream ou
inibam a ocorrncia dos processos proximais e o crescimento psicolgico. Estas
caractersticas englobam a aparncia e a personalidade da pessoa. Como exemplos
citam-se os bebs alegres que tendem a chamar mais a ateno dos outros para iniciar
interaes do que os bebs irritados, e as pessoas fisicamente atrativas que despertam
mais interesse nos outros do que as no-atrativas, o mesmo ocorrendo com pessoas
hiperativas ou passivas (Bronfenbrenner & Morris, 1998).Por fim, Bronfenbrenner e Morris (1998) ressaltam que as caractersticas
demogrficas, tais como idade, gnero e etnia, alm de interagirem com as
caractersticas ambientais e os eventos que ocorrem ao longo do tempo, influenciam a
direo e a fora dos processos proximais e, conseqentemente, os resultados evolutivos
que deles decorrem.
3.1.3 Contexto
O terceiro ncleo do Modelo Bioecolgico diz respeito aos contextos de vida da
pessoa. Segundo Bronfenbrenner (1986; 1994; 1996), para compreender o
desenvolvimento humano, necessrio considerar o sistema ecolgico total em que o
crescimento ocorre. Este sistema organizado socialmente por uma srie de subsistemas
sobrepostos que ajudam a amparar e guiar o crescimento humano. Tais subsistemas, por
seu turno, iniciam com o microssistema, seguido, por sua vez, pelo mesossistema,
exossistema e macrossistema.
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No microssistema, que se refere ao meio imediato no qual se encontra a pessoa
em desenvolvimento - como a famlia e a sala de aula - ocorrem as interaes face a
face, com caractersticas fsicas, sociais e simblicas particulares, que promovem ou
inibem um engajamento nas interaes de modo mais direto e atuante. Neste subsistema,operam os processos proximais que produzem e sustentam o desenvolvimento cuja
eficcia depende, dentre outros fatores, do contedo e estrutura do microssistema
(Bronfenbrenner, 1994; 1996 e Bronfenbrenner & Morris, 1998).
O mesosistema compreende as inter-relaes entre dois ou mais ambientes dos
quais a pessoa em desenvolvimento participa de forma ativa e freqente, como das
relaes entre a famlia e a escola, a famlia e a vizinhana, a famlia e o trabalho, entre
outras. O mesossistema considerado um sistema de microssistemas e formado ouampliado medida que a pessoa passa a participar de um novo ambiente
(Bronfenbrenner, 1986; 1994; 1996; Bronfenbrenner & Morris, 1998).
O exossistema compreende as inter-relaes entre dois ou mais ambientes, sendo
que a pessoa em desenvolvimento no participa ativamente de um deles. Porm, neles
ocorrem eventos que indiretamente influenciam e so influenciados por ocorrncias em
ambientes imediatos nos quais a pessoa em desenvolvimento vive. o caso, por
exemplo, das relaes entre a escola e a comunidade, a famlia e o local de trabalho dospais (Bronfenbrenner, 1986; 1994; 1996; Bronfenbrenner & Morris, 1998).
O macrossistema consiste num padro de caractersticas que envolvem os demais
subsistemas por intermdio dos modelos institucionais de cultura, como a economia, os
costumes e crenas, o estilo de vida, a estrutura de oportunidades, os obstculos e opes
no curso da vida e os recursos materiais (Bronfenbrenner, 1994; 1996). Desse modo, a
cultura, os valores e crenas segundo os quais os pais foram educados exercem forte
influncia sobre a maneira como educam seus filhos.
Bronfenbrenner (1996) salienta a importncia de considerar no apenas os
subsistemas e os eventos que neles ocorrem, mas tambm, e principalmente, as
interconexes entre eles. Para o autor, as relaes ocorridas nos subsistemas e entre eles
podem ser mais decisivas para o desenvolvimento humano do que os prprios eventos
que ocorrem nos mesmos. Exemplifica argumentando que a capacidade de uma criana
aprender a ler nas sries iniciais depende tanto do modo como ela ensinada quanto da
existncia e natureza de laos entre a escola e a famlia (Bronfenbrenner, 1996, p.05).
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Alm do exposto, importante considerar que os subsistemas que ajudam a
amparar e a guiar o crescimento humano no so fixos, tampouco estanques ou
mutuamente exclusivos. Da mesma forma, caracterizam-se pela possibilidade simultnea
de ocorrncia e pelo dinamismo ao longo do tempo que, por sua vez, compreende oquarto ncleo da Perspectiva Bioecolgica.
3.1.4 Tempo
O tempo, no Modelo Bioecolgico do desenvolvimento humano, no
considerado apenas como um atributo do crescimento humano idade cronolgica
mas tambm como uma propriedade do meio circundante tanto do ciclo de vida quantoao longo da histria. O tempo se constitui num quinto subsistema, o cronossistema, que
permeia as mudanas e as consistncias no transcurso do desenvolvimento, levando em
considerao a relao dinmica entre as mudanas ao longo do tempo no interior da
pessoa e, tambm, no ambiente. Mudanas no ciclo de vida, na estrutura da famlia, no
status socioeconmico, no trabalho, no local de residncia, entre outras, exemplificam as
mudanas ocorridas no cronossistema. (Bronfenbrenner, 1986; 1994).
Nesta Perspectiva, o tempo analisado em trs nveis: microtempo, mesotempo emacrotempo. O microtempo caracterizado pelas continuidades e descontinuidades dos
episdios contnuos de processos proximais que demarcam a estabilidade ou
instabilidade no ambiente. O mesotempo relativo periodicidade (freqncia e
regularidade) dos processos proximais atravs de intervalos de tempo maiores, como
dias e semanas. O macrotempo refere-se aos eventos mutantes na sociedade e no tempo
histrico, tanto os relativos gerao da qual faz parte a pessoa em desenvolvimento,
quanto os concernentes aos eventos ocorridos atravs das geraes (Bronfenbrenner &
Morris, 1998).
Dessa forma, o Modelo Bioecolgico abarca as continuidades e mudanas que se
operam nos ambientes, nos processos proximais e nas caractersticas biopsicolgicas da
pessoa em desenvolvimento e das geraes que a antecederam. Destaca-se a importncia
de se considerarem as transies ao longo do ciclo de vida ao mesmo tempo como
produto e como produtoras da mudana evolutiva. Na concepo de Bronfenbrenner
(1996, p. 22), as transies ecolgicas so tanto uma conseqncia quanto uma
instigao de processos desenvolvimentais (...) e ocorrem sempre que a posio da
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pessoa no meio ambiente alterada em resultado de uma mudana de papel, ambiente ou
ambos.
Bronfenbrenner (1996) visualiza as transies ecolgicas como momentos ideais
para a ocorrncia de fenmenos desenvolvimentais e para o estudo dos mesmos.Outrossim aponta o casamento, o nascimento do primeiro filho, a chegada dos irmos, a
entrada na creche/escola, as mudanas de casa e de emprego, a entrada e sada de
pessoas na famlia, o divrcio, o recasamento, as internaes hospitalares e a morte
como as principais transies do desenvolvimento. Ao considerar a famlia o principal
lcus de desenvolvimento humano, Bronfenbrenner (1986) considera as transies
familiares as mais importantes, pois, com freqncia, servem como um mpeto direto
para mudana no desenvolvimento por meio de suas influncias sobre os processosfamiliares. Tais transies so especialmente consideradas relevantes para o
desenvolvimento, tanto individual como da famlia, na Perspectiva do Desenvolvimento
Familiar, que contextualiza terica e conceitualmente cada fase de transio familiar.
Em suma, o Modelo Bioecolgico PPCT proposto por Bronfenbrenner
possibilita a visualizao do desenvolvimento humano, com nfase nos aspectos
positivos e saudveis desse processo, e de forma contextualizada atravs do tempo,
tornando-se um referencial para as pesquisas nesta rea. Deste modo, se constitui umaabordagem por meio da qual se pode compreender o desenvolvimento individual e
familiar como produtos e produtores um do outro, sendo que as relaes que se
estabelecem entre cada dade e na famlia como um todo so amplamente consideradas.
3.2 A Perspectiva do Desenvolvimento Familiar
As pesquisas que integram o ciclo de vida da famlia e o desenvolvimentohumano tm constitudo o foco dos estudos da Perspectiva do Desenvolvimento
Familiar. Essa rea da Psicologia estuda a famlia ao longo do ciclo vital familiar,
focalizando as estruturas e dinmicas familiares, bem como as funes e tarefas que as
famlias devem cumprir em cada fase em funo dos perodos especficos de
desenvolvimento enquanto grupo e do desenvolvimento individual de seus membros
(Kreppner, 2000; Kreppner & Von Eye, 1989; Carter & McGoldrick, 1995; Dessen,
1997; Dessen & Lewis, 1998).
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A Perspectiva do Desenvolvimento Familiar assim como a Perspectiva
Bioecolgica deriva da Teoria Sistmica, extensamente aplicada na rea de terapia
familiar (Minuchin, 1982; Andolfi, Angelo, Menghi & Nicolo-Corigliano, 1984; Papp,
1992; Carter & McGoldrick, 1995; Vasconcellos, 2002). A necessidade de adotar umaPerspectiva Eco-Sistmica para a compreenso do desenvolvimento humano e das
interaes familiares passou a ser amplamente difundida a partir do final da dcada de
1970 (Feiring & Lewis, 1978; Belsky & Russel, 1985; Bronfenbrenner, 1986; Minuchin,
1982; Minuchin, 1985; Minuchin, Colapinto & Minuchin, 1999; Dessen, 1992; Dessen
& Lewis, 1998; Cowan & Hetherington, 1991; Kreppner, 2000).
De acordo com Minuchin (1985), a psicologia do desenvolvimento e a terapia
familiar tm muito em comum, pois ambas consideram a famlia como o foco primriona compreenso do comportamento humano e fornecem modos de conceitualizar o
relacionamento entre a famlia e o indivduo. Segundo a autora, alguns princpios da
Teoria Sistmica so particularmente importantes para o estudo do desenvolvimento e
implicam uma mudana na maneira tradicional de pensar o desenvolvimento humano,
estando entre eles:
1. Qualquer sistema um todo organizado, e elementos dentro do sistema so
necessariamente interdependentes. Este princpio considera que dados dos elementoscoletados fora do contexto so fragmentados e invlidos. Contexto, no campo de
pesquisa, refere-se ao potencial que o este tem na significao e sentido dos dados, como
na construo de leituras diferentes e possveis, que dimensionam e resignificam os
mesmos (Mor e Crepaldi, 2004). Feiring e Lewis (1978) e Minuchin (1985) pontuam a
famlia como o contexto mais significativo para compreender o funcionamento humano
e focalizam suas pesquisas nos padres de relacionamento que so desenvolvidos e
mantidos na mesma ao longo do tempo, enquanto Bronfenbrenner (1986) focaliza as
influncias do ambiente externo sobre esses padres. Tais padres regulam o
comportamento e o desenvolvimento dos membros do sistema familiar, de modo que
nenhum deles pode ser compreendido como verdadeiramente independente, mas como
elemento que deve ser visualizado no contexto.
2. Os padres em um sistema so prioritariamente circulares. O modelo de
interao, na viso sistmica, envolve uma espiral recursiva de feedbacks em que cada
elemento influencia e influenciado pelo outro. Sendo assim, a interao entre dois
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elementos na famlia influenciada pela interao envolvendo outros membros
familiares.
3. Os sistemas tm fatores homeostticos que mantm a estabilidade de seus
padres.O comportamento diferente do esperado para os padres familiares corrigidopor meio de feedbacks corretivos que reestabilizam o equilbrio familiar e permitem
constncia das relaes entre os membros e entre os mesmos e o meio. Tais processos
fazem parte da auto-regulao familiar e so, em sua maioria, adaptativos. Quando
aplicado ao sistema familiar, o conceito de homeostase tambm atinge os indivduos.
Isso porque a regulao de determinadas caractersticas individuais como, por
exemplo, a autonomia de uma criana pode ser um fator homeosttico na famlia, e
uma variedade de aes de diferentes pessoas manter essas caractersticas dentro decertos limites que no coloquem o sistema em risco, protegendo-o de mudanas que
possam destruir sua organizao.
4. Evoluo e mudana so inerentes aos sistemas abertos. As famlias
caracterizam-se como sistemas abertos, ou seja, sistemas em constante troca com o meio
circundante, nos quais mudanas e reorganizaes fazem parte do ciclo de vida. Tais
mudanas caracterizam-se como transies de cuja reorganizao todos os membros do
sistema participam, pois a mudana em uma parte do sistema provoca mudanas emtodas as outras partes e no sistema como um todo. Dessa forma, o ciclo de vida
individual e o ciclo de vida familiar se entrecruzam de maneiras complexas.
5. Sistemas complexos so compostos de subsistemas. Segundo Minuchin (1985),
cada indivduo pode ser considerado um subsistema. Entretanto, na terapia familiar,
dedica-se mais ateno a unidades maiores, como ao subsistema parental (pai-me),
subsistema conjugal (marido-mulher que, no caso de divrcio e famlias recasadas, pode
comportar indivduos diferentes do subsistema parental), subsistema fraterno (irmos),
subsistema pais-filhos (pai e filhos ou me e filhos), subsistema masculino, subsistema
feminino, subsistema avs-netos e outros. Conforme Feiring e Lewis (1978),
compreender os subsistemas no o suficiente para compreender o funcionamento do
sistema como um todo, pois a natureza da interao nos subsistemas significativamente
diferente quando os participantes do subsistema esto sozinhos e quando h a presena
de um outro membro da famlia. Dessen (1992) ressalta que as relaes em cada
subsistema so nicas, sendo necessrio comparar os processos pelos quais os padres
relacionais so estabelecidos e modificam-se em cada subsistema.
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6. Os subsistemas inseridos num sistema mais amplo so separados por fronteiras
e as interaes por meio das fronteiras so governadas por regras e padres implcitos.
Os subsistemas so separados metaforicamente por fronteiras, as quais se referem s
regras e ao fluxo de interaes entre os subsistemas na famlia. A interao das pessoascom e entre os subsistemas regulada por padres recorrentes e estveis que so criados
e mantidos por todos os participantes e mudam ao longo do tempo em decorrncia do
desenvolvimento ou de fatores externos. Alm disso, a famlia considerada um sistema
inserido numa rede social mais ampla, a qual pode exercer influncias positivas ou
negativas sobre o funcionamento intrafamiliar (Parke, 1988; Bronfenbrenner, 1996).
Nesta pesquisa, adota-se a concepo de famlia de Andolfi et al (1984, p. 18)
que resume os princpios expostos por Minuchin aqui apresentados afirmando que
a famlia um sistema ativo em constante transformao, que sealtera com o passar do tempo para assegurar a continuidade e ocrescimento psicossocial de seus membros componentes. Esse
processo dual de continuidade e crescimento permite odesenvolvimento da famlia como unidade e, ao mesmo tempo,assegura a diferenciao de seus membros.
A necessidade de diferenciao, entendida como a necessidadede auto-expresso de cada indivduo, funde-se com a necessidade decoeso e manuteno da unidade no grupo com o passar do tempo.
Ao serem transpostos para o campo do desenvolvimento infantil, os seis
princpios enfocados originam diversas mudanas, principalmente no tocante
concepo de desenvolvimento, definies das unidades de anlise, compreenso dos
perodos transicionais, entre outras (Minuchin, 1985).
Desse modo, a concepo de desenvolvimento na Perspectiva Eco-Sistmica
difere da concepo das perspectivas tradicionais ao considerar que o desenvolvimento
um processo que se desenrola ao longo de todo o ciclo vital, no qual nenhum estgio mais crtico ou saliente na produo da mudana desenvolvimental (Hetherington &
Baltes, 1988). Para os autores, durante o desenvolvimento, o indivduo passa por
perodos sensveis nos quais o organismo est particularmente responsivo a certos tipos
de experincia ou nos quais a soluo de um conjunto de tarefas desenvolvimentais
demonstra-se mais apropriada e o auxilia a enfrentar as subseqentes demandas do seu
desenvolvimento.
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De acordo com Parke (1988), nas famlias coexistem mltiplas trajetrias de
desenvolvimento, e estas necessitam ser consideradas conjuntamente para que possam
ser visualizados os caminhos nos quais as mudanas no desenvolvimento infantil afetam
e so afetadas por variaes nas trajetrias desenvolvimentais dos adultos. Para o autor,considerar a famlia enquanto um grupo que se desenvolve simultaneamente requer
focalizar os indivduos dentro do sistema familiar como um todo e reconhecer as inter-
relaes entre as subunidades dentro do sistema familiar, tais como dades e trades.
3.2.1 A interdependncia do desenvolvimento infantil e familiar
O ciclo de vida individual se desdobra dentro do ciclo de vida familiar que, por
sua vez, se configura como o contexto primrio do desenvolvimento humano, sendo este
ltimo concebido como um processo ao longo do ciclo de vida, em constante
interdependncia com as fases e transies vivenciadas pela famlia (Carter &
McGoldrick, 1995).
Lewis e Feiring (1998) ressaltam que estudar a criana e a sua famlia ir alm
do estudo das dades e da relao me-criana. Para os autores, deve-se considerar odesenvolvimento da criana em relao ao contexto social, ou seja, deve-se focalizar a
anlise do sistema e descrever as foras que influenciam e so influenciadas pela
criana. Tal proposio vai ao encontro da concepo de Minuchin (1985), segundo a
qual o indivduo concebido como interdependente ao sistema, ou seja, como parte
contribuinte do sistema que controla seu comportamento, fato que direciona o foco dessa
Perspectiva para o funcionamento interno do sistema e no, para o funcionamento
interno do indivduo.
Tanto a Perspectiva Bioecolgica quanto a do Desenvolvimento Familiar
destacam que a criana, assim como os adultos, so participantes ativos no sistema
familiar e o influenciam direta e indiretamente. Por serem elementos interconectados
dentro de um sistema, os pais afetam diretamente os filhos, estes afetam os pais, e os
pais afetam um ao outro por intermdio de suas interaes diretas. Contudo, consideram-
se como elementos no apenas os indivduos, mas tambm as dades e as unidades
maiores. Neste contexto, o estudo das inter-relaes torna-se mais complexo, pois, por
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exemplo, uma criana pode afetar cada pai separadamente e, da mesma forma, a
interao entre eles (Lewis & Feiring, 1998).
Associado a isso, Feiring e Lewis (1978) afirmam que, nos subsistemas, a
natureza da interao significativamente diferente quando os seus participantes estosozinhos e quando h a presena de uma outra pessoa ou membro da famlia. Em
conformidade com Minuchin (1985), atualmente, se tem acompanhado a mudana dos
estudos das dades me-criana para incluir as dades pai-criana e os irmos, numa
demonstrao das diferenas existentes no funcionamento das distintas dades na
presena e na ausncia de outro membro familiar. Nas famlias, importante considerar
tanto as influncias diretas quanto as indiretas, ou seja, o modo como cada indivduo
influencia um o outro e o modo como influencia os relacionamentos com e entre osdemais membros familiares, principalmente se esse indivduo uma criana que tem de
estabilizar os relacionamentos numa rede de relaes que j existia antes dela.
Os efeitos diretos so definidos como aquelas interaes que representam os
efeitos ou influncias de uma pessoa sobre o comportamento da outra quando ambas
esto engajadas numa interao mtua (Lewis & Feiring, 1998). As influncias diretas
para a criana residem nas interaes diretas das quais a criana participa, podendo ser
uni ou bidirecionadas, ou seja, podendo partir dos pais para a criana ou da criana paraos pais ou, ainda, simultaneamente, dos pais para a criana e da criana para os pais
(Feiring & Lewis, 1978).
Os efeitos indiretos referem-se a duas classes de eventos distintas, os quais so
identificados por Bronfenbrenner (1996) como os efeitos de segunda ordem. Na primeira
classe, os efeitos indiretos so os conjuntos de interaes que afetam uma pessoa, mas
que ocorrem na ausncia desta; por exemplo, a interao entre os pais e os avs da
criana afeta a interao de cada um deles com a criana. A segunda classe refere-se s
interaes entre os membros do sistema que ocorrem na presena da pessoa, ainda que a
interao no a envolva diretamente. Esses efeitos podem resultar da observao da
interao de outras pessoas ou objetos ou, ainda, resultar de informaes recebidas de
outrem sobre atitudes, comportamentos, caractersticas ou aes de uma terceira pessoa.
Desse modo, os pais afetam indiretamente os filhos por meio do impacto de suas
relaes com as mes, do suporte emocional para com elas e da natureza interdependente
dos subsistemas criana-pai e pai-me (Lewis & Feiring, 1998). As mes tambm afetam
indiretamente seus filhos por meio do relacionamento com seus maridos. Um dos efeitos
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indiretos mais importantes no desenvolvimento a interao entre os pais, que
constituda a partir de duas identidades: pai-me e marido-mulher (Feiring & Lewis,
1978). Esses efeitos so discutidos com base na satisfao conjugal e na auto-estima
parental. Do ponto de vista da satisfao conjugal, os casais so mais capazes de seajustarem parentalidade se certas necessidades forem atendidas, em particular, se seus
relacionamentos forem satisfatrios.
A percepo que os indivduos tm de seus relacionamentos e de seus parceiros,
segundo Dessen e Braz (2005), influencia a qualidade e a estabilidade da relao. As
autoras afirmam que a satisfao conjugal est associada ao tipo de apego desenvolvido
em cada um dos cnjuges durante seu desenvolvimento e ao momento do ciclo de vida
no qual a famlia se encontra, sendo o nascimento do primeiro filho um momento dedeclnio na satisfao conjugal. Quanto mais dificuldades o casal tem para se reorganizar
e dividir as tarefas domsticas e de cuidado ao beb, maior a diminuio da satisfao
marital.
Em reviso de literatura, as autoras mencionadas apontam a convergncia de
pesquisas atuais sobre a influncia das relaes conjugais e parentais no
desenvolvimento dos filhos. Os estudos de Dessen e Braz (2005) tm demonstrado que
casamentos nos quais os cnjuges sentem-se satisfeitos esto ligados positivamente sensibilidade parental e os parceiros possuem maior coerncia entre si e com seus filhos,
enquanto a discrdia marital est relacionada a estilos parentais pobres e desfavorveis
s crianas.
Dessen e Braz (2005) afirmam que a literatura recente aponta que uma relao
conjugal conflituosa provoca desequilbrio emocional e irritao nos cnjuges e nestes
como genitores, contribuindo para que sejam menos atenciosos e sensveis com seus
filhos. As autoras indicam, ainda, que os prejuzos para as crianas cujos pais mantm
relaes insatisfatrias advm de efeitos diretos e indiretos e que as crianas tendem a
apresentar problemas fsicos e psicolgicos enquanto os cnjuges tm maior
probabilidade de desenvolverem psicopatologias e doenas fsicas, bem como de se
envolverem em acidentes automobilsticos e cometerem suicdio, homicdio ou atos de
violncia.
Relacionado a isso, Parke (1988) acredita que o estudo do desenvolvimento no
deve limitar-se aos efeitos dos padres de interao somente das dades e aos efeitos
diretos de um indivduo sobre o outro, pois seria inadequado para compreender o
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impacto dos padres de interaes sociais no grupo familiar como um todo. Em
consonncia com o autor, considerar indivduos, dades e trades sozinhos ou em
combinao insuficiente como meio de avaliao dos efeitos das mudanas estressoras
nas famlias, pois as famlias so unidades de mudana ao longo do desenvolvimento ereagem s mudanas como unidades. Embora os indivduos, as dades, as trades e a
famlia possam ser discutidos independentemente, o interjogo entre essas trajetrias
separadas pode produzir um conjunto diverso de efeitos no funcionamento das unidades
em si. O papel dessas unidades de amenizar o impacto das mudanas estressoras variar
como um resultado da interligao entre as trajetrias de desenvolvimento.
Dessen e Silva Neto (2000) corroboram com a premissa apresentada por Parke
(1988) afirmando que, para compreender o desenvolvimento do indivduo em suasdiferentes etapas do ciclo de vida, ao longo de diferentes geraes, necessrio
compreender o desenvolvimento familiar por meio da dinmica e da estrutura da famlia
ao longo do tempo e das transies pelas quais a mesma passa.
3.2.2 Estrutura e dinmica da famlia
De acordo com Kreppner e Von Eye (1989), a formao dos subsistemas, adefinio das fronteiras entre eles e das relaes entre os elementos de um sistema so
abstraes que auxiliam a anlise do complexo fenmeno do desenvolvimento familiar e
das mudanas nos comportamentos dos membros familiares ao longo do ciclo vital.
Essas abstraes referem-se estrutura e dinmica das famlias que, por sua vez,
caracterizam as configuraes familiares.
Nesta pesquisa, adota-se a concepo de estrutura familiar ancorada na proposta
feita por Cerveny e Berthoud (1997; 2002), que consideram como componentes da
estrutura familiar as caractersticas objetivas que permitem dar configurao ao grupo
familiar, tais como nmero de componentes, sexo, idade, religio, moradia, nvel
econmico, profisso, escolaridade, tipo de casamento, tempo de casamento, quem
trabalha, cor, raa, backgroundtnico e cultural.
As caractersticas subjetivas referentes maneira como os membros familiares se
relacionam conferem indcios da dinmica da famlia. Considera-se, nesta pesquisa,
como dinmica familiar a forma como os membros da famlia se relacionam, como
estabelecem e mantm vnculos, como lidam com problemas e conflitos, os rituais que
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cultivam, a qualidade das regras familiares, a definio de sua hierarquia e o
delineamento dos papis assumidos pelos membros da famlia (Cerveny & Berthoud,
2002).
Para Minuchin (1982), um dos principais meios de acesso estrutura e dinmica da famlia a anlise dos subsistemas familiares. Um indivduo pode participar
de diferentes subsistemas nos quais ter diferentes nveis de poder, aprender diferentes
habilidades e manter diferentes relaes complementares. Cada subsistema familiar
realiza e formula funes e demandas especficas de cada um de seus membros, sendo
que o desenvolvimento das competncias pessoais adquiridas em cada um desses
subsistemas depende do grau de autonomia atingido pelos mesmos. De acordo com
Andolfi et al (1984), a capacidade de mudar, participar, deslocar-se, separar-se epertencer a diversos subsistemas permite aos indivduos exercerem funes nicas de
trocar e adquirir outras e, desse modo, expressar aspectos mais diferenciados de si
mesmos.
Os subsistemas, por sua vez, so separados por fronteiras e regras cujas funes
so estabelecer limites prprios e regular as trocas estabelecidas entre eles, o que permite
a manuteno dos mesmos. Quando os limites so suficientemente bem definidos para
permitir contato entre os membros de diferentes subsistemas e o cumprimento de suasfunes sem a interferncia indevida dos outros, considera-se que as fronteiras sejam
ntidas. Quando no existem limites entre os subsistemas, considera-se que as fronteiras
sejam difusas, o que promove um padro de funcionamento emaranhado na famlia.
Quando existem limites excessivos, as fronteiras podem se tornar rgidas, promovendo
um padro de desligamento com o qual os membros dos subsistemas tm pouco ou
nenhum contato (Minuchin, 1982).
Ainda conforme Minuchin (1982), nos subsistemas ou famlias emaranhadas, ou
seja, nas famlias com fronteiras difusas, o comportamento e os sentimentos de um
membro afetam imediatamente os demais, o que pode produzir um aumento exacerbado
do sentimento de pertencimento ao grupo. Esse sentimento, por seu turno, implica uma
significativa renncia explorao da autonomia e domnio de problemas e pode se
transformar em um importante fator de desenvolvimento de sintomas e inibio de
habilidades cognitivo-afetivas.
Por sua vez, nos subsistemas, ou famlias desligadas, cujas fronteiras so rgidas
pode haver um senso distorcido de independncia e carncia de sentimentos de lealdade,
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pertencimento e interdependncia, sendo necessrios nveis elevados de stress para
acionar o apoio dos demais membros.
A funo das fronteiras proteger a diferenciao do sistema e de seus membros,
permitindo, ao mesmo tempo, a aquisio de competncias interpessoais dentro dossubsistemas e em contato com o exterior (Miermont, 1994).
Com a chegada dos filhos, a famlia expande as relaes existentes ou muda a
estrutura interna, possibilitando a formao de novos subsistemas por meio de
relacionamentos didicos e tridicos no interior do sistema familiar (Kreppner & Von
Eye, 1989). Para os autores, o nmero de relacionamentos que podem ser observados o
primeiro aspecto da estrutura familiar a ser considerado. Kreppner e Von Eye (1989)
tambm consideram que o aumento ou diminuio nas possibilidades derelacionamentos caracteriza-se como um ponto importante na descrio das
caractersticas estruturais do sistema.
De acordo com Minuchin (1985), uma famlia pode ter dificuldade de estabilizar
fronteiras firmes entre o subsistema conjugal e suas crianas pequenas ou pode no
responder flexivelmente s mudanas necessrias para crianas mais velhas ou, ainda,
pode ser incapaz de conter o conflito no subsistema apropriado de marido e mulher e
utilizar as crianas em funes mediadoras ou como bodes expiatrios.A recorrncia de algumas formas de relacionamento entre determinados
membros da famlia origina padres transacionais, ou seja, padres de relacionamentos
cristalizados no sistema familiar. Com base na experincia clnica da pesquisadora
autora desta dissertao e nos conceitos de emaranhamento e rigidez de fronteiras
(Minuchin, 1985); de rompimento, superenvolvimento, fuso, diferenciao e
triangulao (Bowen, 1991); de lealdades invisveis (Boszormenyi-Nagy, 2003); e de
comunicao disfuncional, esta definida por Watzlawick, Beavin e Jackson (1973) como
a comunicao permeada de paradoxos, desqualificaes e desconfirmaes do outro,
simetria e complementaridade, se destacam as seguintes definies de padres
transacionais: relacionamento distante; relacionamento conflituoso; relacionamento
vulnervel; rompimento; relacionamento muito estreito ou superenvolvimento;
relacionamento harmnico; relacionamento fundido e conflitual; aliana; triangulao; e
coalizo.
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O relacionamento distante caracteriza a forma de relacionamento encontrada
principalmente nas famlias desligadas, com fronteiras rgidas. O relacionamento entre
os membros caracteriza-se por pouco contato, principalmente de ordem emocional;
O relacionamento conflituoso caracteriza-se pelas relaes nas quais hconstantes atritos que geram muita ansiedade e desavenas no meio familiar, traduzidos
por dificuldades de comunicao, tais como desqualificaes e desconfirmaes do
outro, podendo evoluir para padres de comunicao simtricos capazes de gerar
violncia fsica;
O relacionamento vulnervel caracteriza os relacionamentos nos quais no h
conflito explcito, mas que, entretanto, apresentam risco de haver conflitos em condies
adversas ou fases de transio;O rompimento caracteriza os relacionamentos nos quais a ligao emocional
entre os membros mantida, apesar de no haver contato entre os mesmos.
O relacionamento muito estreito ou superenvolvimento caracteriza os
relacionamentos nos quais h fuso e dependncia emocional entre os membros
familiares, ou seja, caracteriza relacionamentos nos quais no h um nvel de
diferenciao entre os membros que permita a coexistncia entre pertencimento e
separao, predominando a noo de pertencimento.A fuso provm de fronteiras difusas estabelecidas entre si mesmo e os outros e
pode conduzir indiferenciao dos sistemas emocionais, perceptivos e intelectuais e
invaso dos territrios materiais dos diversos membros da famlia. Nessa situao, cada
um passa a pensar e a sentir no lugar do outro, acossando a intimidade com a
transgresso contnua das distncias prximas; isto se acompanha de manifestaes
patolgicas variadas: somatizaes, transtornos do comportamento, das condutas
alimentares, etc. (Miermont, 1994, p. 286).
O processo de separao e individuao requer que a famlia passe por perodos
de desorganizao, confuso e incertezas medida que o equilbrio de um estgio
rompido em preparao para um estgio mais adequado. A desorganizao ser
diretamente proporcional ao significado e objetivo da mudana e conseqente
reestabilizao. Contudo, um novo equilbrio somente poder ser alcanado se a famlia
for capaz de tolerar a diferenciao de seus membros. A indiferenciao do sistema pode
facilmente restringir as capacidades de adaptao diante de stress (Andolfi et al, 1984;
Miermont, 1994).
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O relacionamento harmnicodefine-se como a experincia emocional de unio
entre dois ou mais membros familiares que nutrem sentimentos positivos um para com o
outro e que possuem interesses, atitudes ou valores recprocos. Inclui diferenciao dos
membros entre si e com suas famlias de origem.O relacionamento fundido e conflitualcaracteriza os relacionamentos nos quais
existe estreita dependncia emocional e presena constante de conflitos entre os
membros familiares, no havendo diferenciao entre os mesmos.
Embora o termo aliana suscite interaes positivas, trata-se de uma ligao
baseada nas lealdades invisveis que interferem, tambm, no processo de diferenciao,
porm em menor grau que o superenvolvimento.
A triangulao a configurao emocional de trs pessoas, na qual
a tenso entre duas pessoas membros de um sistema (os pais, porexemplo) atinge um nvel insuportvel e uma terceira pessoa,habitualmente o filho, triangulado para reduzir a tenso no seiodo sistema, at que ela atinja um nvel mais tolervel. O resultadode tal triangulao pode ser o surgimento de coalizes inadequadas(ao interior ou ao exterior da famlia) e de um sintomacomportamental indesejvel na criana (Miermont, 1994, p. 571).
A pessoa triangulada cumpre, desse modo, uma funo perifrica de regulaoda tenso existente entre outras duas e, na ausncia de conflito explcito, encontra-se em
um estado de insegurana e mesmo de sofrimento emocional. Em caso de conflito, o
embarao, ou o sofrimento, desvia-se e transferido para os membros da dade, enquanto
o terceiro v-se aliviado (Miermont, 1994, p. 571).
A coalizode acordo com Miermont (1994, p.144), consiste na aliana de duas
pessoas contra uma terceira; caracteriza-se como uma propriedade especfica das
trades.Apesar de recorrentes, os padres transacionais podem ser modificados ao longo
do tempo, o que ocorre, principalmente, durante as fases de transio pelas quais passa a
famlia. A mudana dos padres transacionais permite a continuidade da famlia e,
reciprocamente, a diferenciao de seus membros.
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3.2.3 Transies familiares
De acordo com Dessen (1992), as transies no desenvolvimento de um membro
familiar constituem-se em desafios para todo o sistema e freqentemente servem comoum impulso direto para mudanas no desenvolvimento. Essas mudanas, por sua vez,
afetam os padres familiares que, recursivamente, influenciam o desenvolvimento dos
membros individuais e da famlia como um todo.
As famlias diferem consideravelmente com referncia s suas capacidades de se
adaptarem s exigncias do desenvolvimento de suas crianas e sua franqueza em
relao a novas solues para continuar a vida familiar. As famlias mostram uma
variedade de meios por intermdio dos quais demonstram ateno s necessidades decada membro, reagem s mudanas de desenvolvimento e regulam o espao nico de
cada indivduo para viver seus prprios interesses (Kreppner, 2000).
A viso temporal da famlia inclui tanto as trajetrias de longa durao quanto os
curtos perodos de transies (Elder, 1991). Segundo o autor, as transies referem-se a
mudanas em estados publicamente reconhecidos ou que possuam algum sentido ou
significado social. Os ritos de passagem asseguram que as transies sejam
publicamente compartilhadas. Todavia, muitos eventos podem ocorrer de forma privadapara preservarem o estado familiar. Ao longo do tempo, algumas das transies privadas
ou secretas podem se tornar conhecidas e modificar o status individual e familiar.
Cowan (1991) sugere que os indivduos esto em transio durante a maior parte
da vida e que as transies, por seu turno, possuem caractersticas gerais aplicveis a
todas as transies ao longo do ciclo vital, desde a infncia at a idade tardia. Nas
transies infantis e adultas, a maior diferena reside no fato de as transies infantis
ocorrerem nos indivduos independente do controle voluntrio dos mesmos, sendo
causadas pela estrutura biolgica e pela organizao psicolgica ou controladas
socialmente, como, por exemplo, o momento de entrar na escola.
O contrrio ocorre nas transies adultas e familiares, nas quais enfatizado
claramente o carter vo