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Divisão de EducaçãoDiretor
Fernando Antonio Carvalho de Souza
Gerência Executiva de EducaçãoGerente
Luciana Campacci
Gerência de Educação BásicaGerente
Anaide Trevizan
Currículo e Recursos DidáticosSupervisor Técnico Educacional
Christiane Moreira Jorge
Elaboração do ConteúdoAnalistas Técnicos Educacionais
Daniele Gualtieri Rodrigues
Jerry Adriano Villanova Chacon
Márcio Leite Rangon
Coordenação e Revisão Supervisor Técnico Educacional
Christiane Moreira Jorge
Revisão TécnicaAnalistas Técnicos Educacionais
Débora Regina Vogt
Luis Paulo Martins
Revisão OrtográficaAcademia de Revisão
Produção GráficaAnalista de Comunicação Visual
Kamila Sayuri Uchino
Introdução
Temas abordados pelas propostas de redação do ENEM, desde 1998
Ficha 1 - Ética e Cidadania
Ficha 2 - Ética e Cidadania
Ficha 3 - Ética e Cidadania
Ficha 4 - Sociedade em Rede
Ficha 5 - Direitos da Criança e Adolescente
Ficha 6 - Formas de Violência
Ficha 7 - Diversidade Cultural
Ficha 8 - Indústria Cultural
Ficha 9 - Sustentabilidade
Ficha 10 - Trabalho e Transformação Social
Redações nota 1000! do ENEM
Sumário
4
8
10
18
24
32
36
40
46
50
54
60
66
4
Introdução
Tendo em vista a necessidade de fornecer aos es-
tudantes da rede escolar SESI-SP um maior emba-
samento para a realização das redações do ENEM,
procurou-se agrupar as temáticas propostas nas
redações articulando-as com os conhecimentos te-
óricos e metodológicos dos componentes curricula-
res do ensino médio. Observando as temáticas pro-
postas ao longo dos anos, percebe-se uma estreita
vinculação das mesmas às temáticas desenvolvidas
pelos componentes curriculares de Filosofia e So-
ciologia, sobretudo no que se refere às argumen-
tações e produções textuais coesas e coerentes,
pautadas sempre em conteúdos, habilidades e com-
petências desenvolvidas essencialmente por estes
dois componentes, por meio de suas expectativas
de ensino e aprendizagem.
O trabalho didático com as expectativas de ensino
e aprendizagem dos componentes curriculares So-
ciologia e Filosofia da rede SESI-SP procuram de-
senvolver habilidades vinculadas ao pensamento
crítico, a lógica, ao poder argumentativo, a constru-
ção de conceitos, leitura de mundo, percepção da
identidade enquanto sujeito histórico e social, entre
outras. Nesse movimento, busca-se promover a au-
tonomia da aprendizagem em cada estudante, o seu
particular aprender a aprender. Além da promoção
do desenvolvimento intelectual, os conteúdos dos
componentes subsidiam a formação ética e cidadã
dos estudantes para a vida em democracia e o res-
peito aos direitos humanos.
Quando se analisa os resultados obtidos pelos es-
tudantes nas redações do ENEM, percebe-se que
existe dificuldades na produção escrita, o que
5
pode ser causado pela falta de repertório, de do-
mínio conceitual e também de poder argumentati-
vo pelos estudantes.
Esses fatos servem de mote à produção deste
trabalho, que agrupa os temas das redações e os
categorizam em grandes temáticas: Ética e cida-
dania; Direito da criança e do adolescente; Susten-
tabilidade; Formas de violência; Indústria cultural;
Trabalho e transformação social; Diversidade cul-
tural e Sociedade em rede.
Reconhece-se a crescente presença da Filosofia e
da Sociologia nos concursos (ENEM, vestibulares,
etc.). Ao se analisar as redações, por exemplo, do
ENEM, nota-se a presença marcante de temáticas
ora ligadas a problemáticas sociológicas, ora a
problemáticas filosóficas, sendo sempre necessá-
rio o processo de resolução de problemas via ar-
gumentações pautadas na ética e no respeito aos
direitos humanos.
Esse trabalho é fruto da análise das redações das
avaliações do ENEM, de 1998 até 2014, sendo ní-
tidas a presença e a cobrança de habilidades e
competências desenvolvidas pelos componentes
citados. O trabalho Atualidades em debate - Reda-
ções do Enem – Sociologia e Filosofia busca prover
o professor de subsídios didáticos no sentido de
atender às demandas dos estudantes do Sistema
SESI-SP de Ensino em continuar seus estudos em
nível superior e, para tanto, preparar-se bem para
os concursos vestibulares, principalmente o Enem.
Procura-se estimular os estudantes na busca pelo
conhecimento a partir da reflexão sobre a realida-
de, fundamentada no diálogo.
Nas fichas que compõem este material, os con-
teúdos são abordados de forma contextualizada,
buscando promover a construção dos conceitos
de cidadania, criando a oportunidade para que
Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio da rede escolar SESI-SP, GEB/SCRD, 2015.
Apesar de ter havido uma significativa evolução
no desempenho global dos estudantes da rede
SESI-SP nas avaliações do Enem nos últimos anos
– sem dúvida, fruto do esforço e compromisso dos
profissionais envolvidos com este objetivo - ainda
não foi atingido, de forma global, o nível esperado
para que os estudantes da rede possam ingressar
nas universidades públicas do Estado de São Pau-
lo por meio do SISU.
700
600
500
400
300
200
100
0
Histórico Média Geral SESI-SP ENEM 2009-2014
Redação
Méd
ia G
era
l S
ES
I-S
P
20
09
20
10
20
11
20
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20
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20
14
619
,11
59
2,6
6
54
9,2
2
571,
1
55
8,0
8
(*) Média sem redação.
(1) No ano de 2009 não houve divulgação das proficiências por
área de conhecimento e redação.
cada indivíduo se desenvolva como sujeito autô-
nomo e intelectualmente independente, por meio
da discussão sadia, sistemática e dialética de teo-
rias e práticas vivenciadas. Busca-se desenvolver
um processo de ensino e aprendizagem estimu-
lante e contextualizado, abordando os conteúdos
também de forma lúdica e procurando promover a
aprendizagem significativa, em que os participan-
tes devem apresentar uma reflexão crítica.
Este trabalho traz fichas com as propostas de re-
dações relacionadas às expectativas de ensino
e aprendizagem de Filosofia e Sociologia, bem
como às temáticas presentes no Movimento do
Aprender, além de um comentário com sugestões
para o trabalho didático com as fichas.
Esta produção envolve a parceria com especialis-
tas em Língua Portuguesa e produção de textos
dissertativo-argumentativos, além dos especia-
listas em Filosofia e Sociologia. Nesse sentido, a
extensão do uso dos fascículos junto aos estudan-
tes pode ocorrer de maneira integrada ao compo-
nente de Língua Portuguesa e outros, mediante as
temáticas e indicações disponíveis nas fichas, con-
forme o planejamento do professor e anuência da
coordenação pedagógica.
Espera-se que este recurso didático contribua
para o processo de ensino e aprendizagem, faci-
litando o trabalho didático dos professores, pro-
movendo a dimensão interdisciplinar, tornando as
abordagens didáticas mais significativas e contex-
tualizadas, levando os estudantes do ensino médio
a atingirem níveis mais elevados nas avaliações
externas e, por conseguinte, a conseguirem seus
objetivos acadêmicos.
6
AssuntoRedações(ENEM)
SOCIOLOGIAAgrupamento Unidades - MD
FILOSOFIAAgrupamento Unidades - MD
Ética e cidadania
1998 - Viver e aprender
1999 - Cidadania e participação social
2002 – O direito de votar
2006 - O poder de transformação da
leitura
2009 - “Qual o efeito em nós do ‘Eles são
todos corruptos’?”
2012 – O movimento imigratório para o
Brasil no século XXI
2013 – Lei Seca
Unidade 1: As ciências da sociedade.
Unidade 2: Processo de socialização.
Unidade 3: Formas de sociabilidade no
contexto das tecnologias de informação
e comunicação.
Unidade 6: O mundo do trabalho.
Unidade 7: Estratificação social,
desigualdades e violência.
Unidade 9: Transformações sociais.
Unidade 10: Estado e relações de poder.
Unidade 11: Democracia e cidadania.
Unidade: Apêndice
Unidade 12: Indústria cultural.
Unidade 3: Relações de poder e
política.
Unidade 4: Moral, ética e
concepções de virtude.
Unidade 7: Formas de organização
política e teorias do Estado
Moderno.
Unidade 8: Ética religiosa e ética
laica.
Unidade 11: Política contemporânea.
Direito da criança e do adolescente
2000 - Direitos da criança e do
adolescente: como enfrentar esse desafio
nacional
2005 - O trabalho infantil na realidade
brasileira
2014 – Publicidade infantil em questão no
Brasil
Unidade 3: Formas de sociabilidade no
contexto das tecnologias de informação
e comunicação.
Unidade 5: Ideologia.
Unidade 7: Estratificação social,
desigualdades e violência.
Unidade 12: Indústria cultural.
Unidade: Apêndice.
Unidade 4: Moral, ética e
concepções de virtude.
Unidade 12: Diálogos entre a
Filosofia e temas contemporâneos.
Unidade 11: Política contemporânea
Sustentabilidade
2001 - Desenvolvimento e preservação
ambiental: como conciliar interesses em
conflito?
2008 - A máquina de chuva da Amazônia
Unidade 8: Meio ambiente e capitalismo.
Unidade: Apêndice.
Unidade 12: Diálogos entre a
Filosofia e temas contemporâneos.
Trabalho e transformação social
2010 - “O trabalho na construção da dignidade
humana”
Unidade 7: Estratificação social,
desigualdades e violência.
Unidade 6: Trabalho, técnica e
razão instrumental
7
Formas de violência
2003 - Violência na sociedade brasileira Unidade 4: Cultura.
Unidade 7: Estratificação social,
desigualdade e violência.
Unidade 10: Estado e relações de poder.
Unidade: Apêndice.
Unidade 4: Moral, ética e concepção
de virtude.
Unidade 7: Formas de organização
política e teorias do Estado
Moderno.
Unidade 11: Política contemporânea.
Unidade 12: Diálogos entre Filosofia e
temas contemporâneos.
Indústria cultural
2004 - Como garantir a liberdade de
informação e evitar abusos nos meios de
comunicação?
Unidade 2: Processo de socialização.
Unidade 5: Ideologia.
Unidade 4: Cultura.
Unidade 7: Estratificação social,
desigualdades e violência.
Unidade 11: Democracia e cidadania.
Unidade 12: Indústria cultural.
Unidade: Apêndice.
Unidade 6: Trabalho, técnica e
razão instrumental.
Unidade 9: Arte e indústria cultural
Diversidade cultural
2007 - O desafio de conviver com a diferença Unidade 2: Processo de socialização.
Unidade 4: Cultura.
Unidade 10: Estado e relações de poder.
Unidade 11: Democracia e cidadania.
Unidade: Apêndice.
Unidade 12: Diálogos entre a
Filosofia e temas contemporâneos
Sociedade em rede
2011 - Viver em rede no século XI Unidade 2: Processo de socialização.
Unidade 3: Formas de sociabilidade no
contexto das tecnologias de informação
e comunicação.
Unidade 6: O mundo do trabalho.
Unidade 7: Estratificação social,
desigualdades e violência.
Unidade 12: Indústria cultural.
Unidade: Apêndice
Unidade 3:
Relações de poder e política
8
Temas Anos
Ética e cidadania1998/1999/2002/2006/
2009/2012/2013
Sociedade em rede 2011
Direitos da criança e adolescente 2000/2005/2014
Formas de violência 2003
Diversidade cultural 2007
Indústria cultural 2004
Sustentabilidade 2001/2008
Trabalho e transformação social 2010
Matriz de Referência para Redação do Enem
Competência 1
Demonstrar domínio da
modalidade escrita formal
da língua portuguesa.
Competência 2
Compreender a proposta
de redação e aplicar
conceitos das várias áreas
de conhecimento para
desenvolver o tema, dentro
dos limites estruturais do texto
dissertativo-argumentativo em
prosa.
Competência 3
Selecionar, relacionar,
organizar e interpretar
informações, fatos, opiniões e
argumentos em defesa de um
ponto de vista.
Competência 4
Demonstrar conhecimento
dos mecanismos linguísticos
necessários para a
construção da argumentação.
Competência 5
Elaborar proposta de
intervenção para o problema
abordado, respeitando os
direitos humanos.
Temas abordados pelas propostas de redação do ENEM, desde 1998.
A REDAÇÃO NO ENEM
A nota da redação do ENEM possui muito peso no exame do Enem. Neste sentido, a re-
dação constitui-se na principal ferramenta de seleção do exame, configurando-se mesmo
como um mecanismo de eliminação neste processo. Os temas cobrados pelas propostas
de redação do Enem, desde 1998, estão sempre vinculados aos conhecimentos teóricos
estudados pelos componentes curriculares Filosofia e Sociologia, contextualizados em
eventos políticos, econômicos, culturais ou sociais da atualidade.
9
O estudante deve ficar atento a um detalhe fun-
damental no processo de produção da redação
do ENEM, que consiste em apenas se basear nos
textos motivadores e evitar utilizá-los na redação,
nem mesmo como citação. Esse cuidado demons-
tra maior domínio do estudante sobre o tema e
repertório ampliado, bem como as habilidades de
relacionar conteúdos diversos e construir argu-
mentações consistentes.
A proposta de redação solicita que seja produzido
um texto dissertativo-argumentativo em prosa, uti-
lizando-se a norma padrão da língua portuguesa.
Portanto, não convém escrever uma narrativa, um
poema etc., da mesma forma que uma linguagem
informal e gírias devem ser evitadas.
A redação deve considerar o esquema básico dos
textos dissertivo-argumentativo, sendo constituída
de introdução, desenvolvimento e conclusão. Deve
conter uma ideia central cujo argumento deve estar
bem fundamentado, tanto lógica quanto teorica-
mente. A atenção ao tema é muito importante, pois
há muitos candidatos que dissertam sobre o assunto
(mais geral), mas não sobre o tema (delimitação do
assunto). No exemplo dado na ficha 4, o tema cen-
tral é a relação de limites entre público e privado no
contexto atual da sociedade em rede. No entanto,
muitos candidatos se perdem dissertando sobre os
sedutores assuntos Internet ou redes sociais. Isso
caracteriza fuga do tema.
De modo geral, espera-se que o texto apresente,
em seu parágrafo introdutório, um posicionamen-
to do candidato em relação à temática abordada.
Tal posicionamento será desenvolvido em no má-
ximo dois ou três parágrafos, que apresentarão
argumentos e contra-argumentos que fundamen-
tem as discussões sobre o tema, utilizando infor-
mações trazidas tanto dos textos apresentados
na proposta de redação, quanto de seu próprio
repertório. No parágrafo conclusivo, os principais
pontos discutidos devem ser sintetizados e a po-
sição final do estudante deve estar explicitada,
sendo apresentada uma proposta de intervenção
para o problema abordado.
Conforme a proposta de redação, o estudan-
te deve contemplar em seu texto argumentos e
propostas de conscientização social, que contem-
plem os direitos humanos. Portanto, respeitar os
direitos humanos na proposta é condição funda-
mental. Ainda que o estudante desenvolva uma
boa argumentação, lógica e coerente com tema
central, mas, por posições ideológicas próprias,
não contemple os direitos humanos, pode ter a re-
dação zerada pela banca corretora.
Como preparação para a produção de textos no
ENEM, o estudante deve ser orientado a produzir
um esquema ou projeto de texto, para que possa
organizar as informações, elencando quais argu-
mentos serão utilizados e como estes estarão dis-
tribuídos ao longo da redação e, só então, produzir
o rascunho de seu texto. Esta é primeira versão do
texto, que deve ser aprimorado,
Nas aulas de Sociologia e Filosofia, alguns proce-
dimentos podem ser estimulados para auxiliar os
estudantes no desenvolvimento de sua capacida-
de argumentativa, dos quais destacam-se: identi-
ficação da situação-problema; levantamentos dos
conhecimentos prévios sobre o assunto e sobre o
tema; pesquisas para levantar mais informações
sobre o problema e levantamento da argumenta-
ção/soluções para as situações problema, propo-
sição de debates, entre outros.
No 3º ano do ensino médio, a Uni-dade 7 do Movimento do aprender de Língua Portuguesa traz uma uni-dade dedicada ao estudo de textos argumentativos. Nela, por meio do estudo dos gêneros textuais artigo científico e artigo de opinião, são abordadas estratégias argumentati-vas e recursos linguísticos que con-tribuem para o desenvolvimento da argumentação nos textos, como me-canismos de coesão textual.
A plataforma Geekie Lab, que pode ser acessada pelo Portal SESI Edu-cação, também traz duas aulas que também podem auxiliar o estudan-te: “Argumentação” e “Estratégias de convencimento em relação ao público-alvo”.
Indique ao estudante:
10
Ficha 1 - Ética e Cidadania
PROPOSTA DE REDAÇÃO ENEM – 1998
Tema: Viver e Aprender
O que é o que é
(...)
Viver
e não ter a vergonha de ser feliz
Cantar e cantar e cantar
a beleza de ser um eterno aprendiz
Eu sei
que a vida devia ser bem melhor
e será
Mas isso não impede que eu repita
É bonita, é bonita e é bonita
(...)
Luiz Gonzaga Jr.Redija um texto dissertativo sobre o tema “Viver
e Aprender” no qual você exponha suas ideias
de forma clara, coerente e em conformidade
com a norma culta da língua sem se remeter a
nenhuma expressão do texto motivador “O que
é o que é”. Dê um titulo à sua redação, que de-
verá ser apresentada à tinta e desenvolvida na
folha anexa ao Cartão-Resposta. Você poderá
utilizar a última página deste Caderno de Ques-
tões para rascunho.
11
Filosofia
1º ano• Interpretar a constituição do homem nas inter-
conexões entre natureza e cultura, analisando
diferentes concepções filosóficas sobre a natu-
reza humana.
2º ano
• Identificar as fontes do conhecimento, discer-
nindo e relacionando conhecimento sensível e in-
teligível, bem como as noções de sujeito e objeto.
3º ano• Conhecer e comparar as teorias modernas do ra-
cionalismo, do empirismo e do criticismo.
Sociologia
1º ano• Problematizar as relações entre indivíduo e so-
ciedade, comparando a influência de diferentes
instituições sociais no processo de socialização.
• Refletir sobre o papel da educação na repro-
dução das regras sociais, na democratização dos
bens culturais e na construção de ferramentas de
análise crítica da sociedade.
2º ano• Comparar formas variadas de organização do tra-
balho, compreendendo a sua diversidade de concep-
ções e funções em diferentes contextos e sociedades.
3º ano• Compreender a cidadania como um conjunto de
deveres e como a garantia plena dos direitos civis,
políticos, sociais e humanos.
• Analisar as relações de poder e as formas de do-
minação presentes em diferentes esferas da vida,
ampliando a noção de poder para além das insti-
tuições políticas e econômicas.
Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SP
Proposta didáticaA letra da música indica a necessidade de, na vida,
ser um eterno aprendiz, ou seja, sugere a necessi-
dade de constante formação do ser humano, sen-
do condição para o desenvolvimento de uma vida
cada vez melhor. Viver e aprender é um desafio
muito presente nas práticas de ensino de Filoso-
fia e Sociologia, pois são constantemente mote às
reflexões e desafios de interpretação da realidade,
do ser humano e da sociedade. O tema proposto
pela redação, ao trazer a composição “O que é o
que é”, de Gonzaguinha, demanda uma análise crí-
tica sobre o sentido da vida, considerando as de-
mandas e pressões sociais (escola, trabalho, etc.)
que nos fazem esquecer o que realmente importa.
O texto de apoio para a produção da redação é de
tom otimista com relação ao ser humano. Nesse
sentido, a reflexão e a argumentação podem pas-
sar pela análise do valor da vida como movimento
de aprendizagem constante, sendo interessante
abordar o aprender a viver como um aprender a
ser, aprender a se relacionar na sociedade de ma-
neira ética, respeitosa e cidadã. Essa abordagem
mais otimista sobre a existência humana sugere o
contraponto com determinada visão pessimista,
tema de polêmicas filosóficas, por exemplo, en-
tre as ideias de Rousseau - que entende o homem
como bom por essência, mas corrompido pela so-
ciedade - ou de Hobbes - que faz a leitura de ser
o “homem o lobo do homem”, procurando sempre
o caminho da violência e da guerra. Nesse sentido,
pode ser trabalhada a música O lobo, da cantora
Pitty, porque se baseia nas ideias de Hobbes sobre
a natureza humana.
Ainda pensando nas questões existenciais, é in-
teressante discutir a responsabilidade em Sartre,
sobretudo a partir do texto O existencialismo é um
humanismo. Fazendo uma incursão pela literatu-
ra clássica, a obra O Pequeno Príncipe, de Saint
Exupéry, com destaque ao diálogo entre o prín-
cipe e a raposa, capítulo XXI, favorece um olhar
mais plástico das ideias existencialistas na famosa
expressão “tu te tornas eternamente responsável
por aquilo que cativas”.
12
Outro corte interessante a ser feito é no viés da
perspectiva epistemológica do aprender, de ma-
neira mais crítica, colocando em questão o por-
quê se aprende determinadas coisas e não ou-
tras, para quem ou para quê serve determinado
conhecimento, uma vez que, numa perspectiva
sociológica, o processo de aprendizagem não
é neutro e faz parte do processo de socializa-
ção do indivíduo. Cada vez mais a educação é
institucionalizada, com impacto na reprodução
das regras sociais, na democratização dos bens
culturais e na socialização das ferramentas teó-
ricas de análise crítica da sociedade. Cada vez
mais em nossa sociedade da informação, conhe-
cimento é poder.
Por fim, a constituição do sujeito é o exercício de
viver a vida em grande medida determinada e com
escolhas limitadas, o que nega a cidadania, geral-
mente sendo negado até mesmo o próprio exercí-
cio do aprender. Assim, o viver passa a ser com-
preendido repleto de desafios como um estímulo
de luta e sobrevivência.
Professor, a análise da pro-posta de redação sugere a construção de um projeto de vida. Nesse sentido, seria ba-cana trabalhar com os estu-dantes essa dimensão, abrindo uma roda de conversa sobre o que eles pensam sobre isso e o que esperam consoli-dar em suas vidas a curto, médio e longo prazo.
Texto I: Política é cidadania
Mario Sergio Cortella
Educadores insistem em separar termos de significados idênticos
Existe uma tendência a excluir a relação direta
entre política e cidadania, criando uma rejeição
curiosa à política e valorizando cidadania, como se
fossem termos diversos. Há um vínculo inclusive
de natureza semântica entre as duas palavras, que,
objetivamente, significam a mesma coisa.
A noção de política está apoiada num vocábulo
grego, polis (cidade) e cidadania se baseia em um
vocábulo latino correspondente, civitatem. Em-
bora a origem etimológica seja diferente, os dois
termos propõem que se pense na ação da vida em
sociedade (ou seja, em cidade). Isso significa que
não é possível apartar ou separar os conceitos.
Hoje, encontramos uma série de discursos, lemas e
planos pedagógicos e governamentais que falam
em cidadania como se ela fosse uma dimensão su-
perior à política. Muito se diz que a tarefa da es-
cola é a promoção da cidadania, sem interferência
da política. Não se menciona o conceito de políti-
ca, como se ele fosse estranho ao trabalho educa-
cional; com isso, pretende-se dar à cidadania um
ar de ideia nobre, honesta, de valor positivo. Sob
essa ótica, política é sinônimo de sujeira, patifaria,
corrupção. Claro que não é assim.
Ambas as palavras e ações se identificam. É pre-
ciso recusar a recusa do termo política no espaço
educacional! Ainda temos essa rejeição ao concei-
Para Debater
13
to, como se ele pertencesse a uma área menos sig-
nificativa e menos decente que a cidadania. Ora,
não se deve temer a identidade dos conceitos,
pois só assim é possível construir cidadania, no
sentido político do termo: bem comum, igualdade
social e dignidade coletiva.
Assim, é necessário debater a política e isso é de-
bater a cidadania. Falar em política envolve tam-
bém os partidos, mas não se esgota neles. É toda
e qualquer ação em sociedade, portanto, toda e
qualquer ação em família, em instituições religio-
sas e sociais, no mundo das relações de trabalho.
Num momento em que nosso país caminha para
um revigoramento do processo democrático, não
é aceitável – porque poderá ganhar um ar conser-
vador e até reacionário – admitir que é princípio da
escola "não meter-se em política". Ao contrário, é
porque se meterá em política que a cidadania se
reinventa. Porém, não é tarefa da escola a promo-
ção da política partidária, porque partido ou é uma
questão de foro íntimo ou deve se dar nos seus es-
paços próprios. É imprescindível levar esse tema
para o debate no projeto pedagógico da escola,
sem assumir um viés partidário e sem, porém, in-
visibilizar o conhecimento das múltiplas posturas.
Há uma diferença entre partidarizar e politizar. Mas
a política, no sentido amplo de cuidar da vida cole-
tiva e da sociedade, é sim obrigação escolar e com-
ponente essencial do currículo. Não pode a escola
furtar-se ao mundo da política, porque isso impli-
caria diretamente na impossibilidade da cidadania.
Texto de Mario Sergio Cortella, filósofo e educador.
Disponível em: <http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_revistas/revis-ta_educacao/junho02/panoramica.htm>. Acesso em: 6 maio 2016.
Texto II: Condenado a ser livre
Condenado a ser livre“[...] não encontramos diante de nós valores ou
imposições que nos legitimem o comportamento.
Assim, não temos nem atrás de nós, nem diante
de nós, no domínio luminoso dos valores, justifi-
cações ou desculpas. Estamos sós e sem descul-
pas. É o que traduzirei dizendo que o homem está
condenado a ser livre. Condenado porque não se
criou a si próprio; e, no entanto, livre porque, uma
vez lançado ao mundo, é responsável por tudo
quanto fizer.
(SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Tradução
e notas de Vergílio Ferreira. São Paulo: Nova Cultural, 1978, p. 9.)
Texto III: Trecho de O Pequeno Príncipe – O cativar e se responsabilizar
O Pequeno Príncipe e a Raposa Cap. XXIE foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu educadamente o pequeno
príncipe, que olhando a sua volta, nada viu.
- Eu estou aqui - disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? - perguntou o principezinho. Tu és
bem bonita ...
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Vem brincar comigo – propôs ele. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo - disse a raposa.
Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpe - disse o principezinho.
Mas, após refletir, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui - disse a raposa. - Que procuras?
- Procuro os homens - disse o pequeno príncipe.
Que quer dizer "cativar"?
- É algo quase sempre esquecido – disse a raposa.
- Significa “criar laços”...
- (...) se tu me cativas, minha vida será como que
cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que
será diferente dos outros. Os outros passos me fa-
zem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão
para fora da toca, como se fosse música. E depois,
olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? (...) Os cam-
pos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso
é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será
maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo,
que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E
eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e observou por muito tempo
o príncipe:
- Por favor... Cativa-me! - disse ela. (...)
- A gente só conhece bem as coisas que cativou
- disse a raposa. - Os homens não têm mais tem-
po para conhecer coisa alguma. Compram tudo já
pronto nas lojas. Mas, como não existem lojas de
amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu
queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? - perguntou o pequeno príncipe.
- É preciso ser paciente - respondeu a raposa.
- Tu te sentarás primeiro um pouco longe de
mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto
do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma
fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sen-
tarás mais perto... (...)
Assim o pequeno príncipe cativou a raposa. Mas
quando chegou a hora da partida, a raposa 'disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho. - Eu não te que-
14
ria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis - disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse ele.
- Vou - disse a raposa.
- Então, não terás ganhado nada!
- Terei, sim - disse a raposa -, por causa da cor
do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Assim compreenderás que a
tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer
adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas: (...)
E voltou, então, à raposa:
- Adeus... - disse ele..
- Adeus - disse a raposa. - Eis o meu segredo. É
muito simples: só se vê bem com o coração. O es-
sencial é invisível aos olhos.
- O essencial é invisível aos olhos - repetiu o princi-
pezinho, para não se esquecer.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez
tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... re-
petiu ele, para não se esquecer.
- Os homens esqueceram essa verdade - disse a ra-
posa. - Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas
eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu
és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... - repetiu o
principezinho, para não se esquecer.
(SAINT- EXUPÉRY, Antoine de. O pequeno príncipe. Rio de
Janeiro: AGIR, 2009, pp.64-72).
Texto IV: Juventude, participação e cidadania: que papo é esse?
Por Regina Novaes1
Juventude, cidadania e participação: que papo
é esse? Pode ser um papo furado, que não leve a
nada. Pode ser que não renda, que seja insuficiente
em termos de contribuição à democracia, de ques-
tionar padrões da cultura brasileira. Se a juventude
repetir apenas uma maneira usual de fazer política,
de disputar espaços, ela não vai mudar nada. Ou
seja, não estamos falando apenas de uma questão
de faixa etária, mas de uma mudança de olhar a so-
ciedade. Se assim for, este papo pode render muito.
Pode render, sim, com muitos desafios. Não é nada
automático, nada mágico. Pode ser um importante
elemento construtor de democracia, de uma socie-
dade mais justa de direitos.
Acho que essa pergunta “que papo é esse?” po-
deria ser substituída “por que onda é essa?”, “que
moda é essa?” Por que está na moda falar em polí-
ticas públicas para a juventude? Por que se inven-
tou agora que a juventude é depositária de todas
as possibilidades? Não é por acaso que hoje, ao
final do século XX e início do século XXI, um novo
ator social [a juventude] aparece na cena pública,
como a questão racial e a das mulheres já apare-
ceram. Por que agora a juventude aparece? Infe-
lizmente, não é por uma coisa boa. Poderia ser por
reconhecimento. Mas não é. A questão da juventu-
de vem para a cena pública quando ela passa a ser
o segmento mais vulnerável frente às mudanças
sociais que acontecem no mundo de hoje.
Quando a gente soma, em especial no Brasil, uma
história de desigualdades sociais e de exclusão
com uma realidade mundial de mudanças de rela-
ções de produção e de exclusão de grupos sociais,
a juventude torna-se o segmento mais atingido.
É por isso que a juventude aparece, atualmente,
como um ator social, enfrentando diversos desa-
fios da sociedade contemporânea.
A grande questão é que o jovem dos dias atu-
ais tem medo de sobrar. A sua inserção produti-
va não está garantida. Vocês poderão dizer que
sempre foi assim. Sempre existiu o jovem pobre e
o jovem rico, o jovem incluído e o excluído. Sim,
isto é verdade. Mas acontece que tínhamos um
sistema de produção que garantia uma reprodu-
ção: o filho do camponês continuaria o trabalho
do pai, da mesma forma que o filho do operário.
Era injusto porque o jovem não tinha possibilida-
de de ascender socialmente, mas havia a possi-
bilidade de pensar o futuro a partir de um lugar
social. Aqueles que estudavam, que passavam no
funil, tinham a garantia que poderiam exercer a
sua profissão ao final dos estudos.
Com a mudança do mundo do trabalho, cada vez
mais restritivo e mutante, os jovens foram e são atin-
gidos. Todos os jovens passaram a ter medo do fu-
turo. Neste cenário, temos que ver todas as diferen-
tes juventudes e suas questões sociais e raciais, suas
questões de gênero e opções/orientações sexuais.
Os mais vulneráveis têm mais medo de sobrar e são
os mais atingidos. Estamos diante de uma geração
que é atingida na possibilidade de pensar o futuro a
partir de mudanças estruturais da sociedade.
Outro ponto importante é o medo de morrer de
1Antropóloga e professora. Ex-secretária-adjunta da Secretaria Nacional de Juventude e ex-presidente do Conselho Nacional de Juventude.
15
uma maneira prematura e violenta. O jovem de
hoje conhece a morte de pares. Toda idéia de ju-
ventude é que a morte está longe. A vida humana
é como se fosse uma vida de uma planta: nasce,
cresce, desenvolve e morre. É o ciclo da vida. O
que acontece é que a juventude, dos nossos dias,
convive com a morte de seus pares. São seus ir-
mãos, seus primos, seus vizinhos que morrem, na
maioria das vezes, por armas de fogo ou aciden-
tes de trânsito. A questão da violência tem causas
locais e internacionais e há três elementos funda-
mentais que configuram este cenário: a indústria
bélica, o tráfico de drogas e o despreparo das po-
lícias. Hoje nenhum jovem, de uma grande cidade,
como o Rio de Janeiro, seja das camadas popu-
lares ou das classes mais favorecidas, sai para o
lazer noturno sem pensar na hipótese de que ele
não voltará para a casa.
Temos, portanto, marcos geracionais que dizem
respeito à inserção produtiva e ao fato de poder
projetar sua própria vida. Esses marcos exigem
políticas públicas. As políticas surgem no momen-
to em que uma geração tem problemas diferentes
de outras. Trata-se de uma fase da vida que já não
é mais a infância, sob a proteção dos pais, nem
ainda uma nova família. Esse momento de passa-
gem exige direitos universais e direitos específicos
que dizem respeito a esta faixa etária.
As políticas públicas têm que somar estas duas
coisas: os direitos universais (o acesso à educa-
ção, ao trabalho etc.) e os específicos. As políticas
públicas têm que pensar então numa nova interfa-
ce entre escolaridade e preparação para o mundo
do trabalho. O Estado tem que ter o compromisso
de fazer as suas políticas macro, mas tem que fa-
zer isto com a sociedade civil para que cada um
participe, transformando a política de juventude
numa política de Estado, não de Governo. O que
tentamos fazer hoje é colocar duas palavras na
roda: direitos e oportunidades.
Mas para que tudo isto aconteça e para que este
papo seja produtivo e dê resultado positivo, depen-
demos muito da ação de levar para a sociedade a
perspectiva geracional. Uma questão complicada.
Quem entra no movimento feminista milita a vida
inteira como mulher. Não sai deste lugar. Quem en-
tra no movimento racial, passa a vida toda nisso.
A questão da juventude é uma questão marcada
por uma faixa etária específica. Portanto, ela não
pode ser pensada sem levar em conta a relação
intergeracional. Os jovens e os adultos se colocam
em todos os espaços sociais. É preciso que os jo-
vens consigam aprender com os adultos valores
da cidadania que são trazidos pela história social
do país. Os jovens não podem achar que estão co-
meçando do zero. É preciso promover um diálogo
intergeracional, um diálogo que traz valores. Os
jovens têm que escutar os adultos e vice-versa, o
que provocará um aprendizado mútuo. Só sabe o
que é ser jovem hoje quem é jovem. Os adultos de
hoje foram jovens em outro tempo histórico.
Por fim, é necessário também que haja um diálogo
intrageracional. Esse é o maior desafio porque as
tribos existem, os grupos são heterogêneos e têm
objetivos diferentes. Precisamos encontrar o que
une esta geração e a partir daí desenvolver políti-
cas públicas. Claro que as diferenças continuarão
existindo. Os jovens estarão no mesmo jogo dos
adultos (que às vezes não é um jogo muito bom)
se eles se fragmentarem completamente, não per-
ceberem o que há de comum entre eles a partir dos
desafios e dos direitos de sua geração. Estabelecer
os diálogos é difícil. Não é fácil porque muitas vezes
os jovens reproduzem os preconceitos e os ‘faccio-
nalismos’ dos adultos. Esta geração tem uma chance
de inovar na cultura política, inovar a partir de seus
interesses e de uma forma que faça até mesmo que
os adultos aprendam.
Disponível em: <http://revistapontocom.org.br/ed icoes-anterio
res-artigos/juventude-participacao-e-cidadania-que-papo-e-esse>.
Acesso em 9 maio 2016.
Texto V: Trecho do livro III da Política de Aristóteles, que define o que é o cidadão:
Quando se examinam os governos, sua natureza e
seus caracteres distintivos, a primeira questão que
se apresenta, por assim dizer, é perguntar, em se
tratando da cidade, o que é uma cidade. Até agora
ainda não se chegou a um acordo sobre este pon-
to. Pretendem uns que é sempre a cidade que ope-
ra quando existe transação; outros sustentam que
não é a cidade, mas a oligarquia ou o tirano. Aliás
sabemos que toda a atividade do homem político
e do legislador é de uma certa ordem estabelecida
entre os que habitam a cidade.
Mas sendo a cidade algo de complexo assim como
qualquer outro sistema composto de elementos ou
partes, é preciso, evidentemente, procurar antes de
tudo o que é um cidadão. Porque a cidade é uma
multidão de cidadãos, e assim é preciso examinar o
que é um cidadão, e a quem se deve dar este nome.
Nem sempre se está de acordo neste ponto, já que
nem todos concordam, no caso de um mesmo in-
divíduo, que ele seja um cidadão. É possível, com
efeito, que aquele que seja cidadão numa democra-
cia, não seja numa oligarquia.
16
Ponhamos de lado, pois, os que obtêm este títu-
lo por qualquer outro modo, como, por exemplo,
aqueles a quem concedeu o direito de cidadania,
o Cidadão não é cidadão pelo fato de se ter es-
tabelecido em algum lugar – pois os estrangeiros
e os escravos também são estabelecidos. Não é
cidadão por se poder, juridicamente, levar ou ser
levado ante os mesmos tribunais. Pois isso é o
que acontece aos que se servem de selos para as
relações de comércio. Em vários pontos, mesmo
os estrangeiros estabelecidos não gozam com-
pletamente deste privilégio, mas é preciso que
tenham um fiador e, sob este aspecto, eles só são
membros da comunidade imperfeitamente.
É assim que, só até um certo ponto, e não em
todo sentido, se pode dar o nome de cidadãos
aos filhos que não sejam ainda inscritos nos
registros públicos, devido a sua tenra idade, e
aos velhos, porque estão isentos de qualquer
serviço. Mas é preciso acrescentar que aqueles
não são cidadãos imperfeitamente, e que estes
últimos já ultrapassaram a idade (ou qualquer
outra restrição semelhante). Porque pouco im-
porta, e compreende-se o que eu quero dizer. O
que eu procuro é a ideia absoluta, sem que nada
haja nela a acrescentar ou transformar. Aliás o
mesmo acontece com os que foram marcados
na infância ou condenados ao exílio. As mesmas
dúvidas, as mesmas soluções. Em uma palavra,
cidadão é aquele cuja especial característica é
poder participar da administração da justiça e
de cargos públicos.
(ARISTÓTELES, A Política. Tradução de Nestor Silveira Chaves. São Paulo: Escala, 2006, pp. 75-76)
Texto VI: Como dizia o poeta
Vinícius de Moraes
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter
nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que
a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai
ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter
nada, não
17
18
(HENFIL. Fradim. Ed. Codecri, 1997, n. 20)
Ficha 2 – Ética e Cidadania
PROPOSTA DE REDAÇÃO ENEM - 1999
Tema: Cidadania e participação social
19
Com base na leitura dos quadrinhos e depoi-
mentos, redija um texto em prosa, do tipo dis-
sertativo-argumentativo, sobre o tema: Cidada-
nia e participação social.
Ao desenvolver o tema proposto, procure uti-
lizar os conhecimentos adquiridos ao longo de
sua formação. Depois de selecionar, organizar
e relacionar os argumentos, fatos e opiniões
apresentados em defesa de seu ponto de vista,
elabore uma proposta de ação social.
A redação deverá ser apresentada a tinta na cor
azul ou preta e desenvolvida na folha grampeada
ao Cartão-Resposta. Você poderá utilizar a última
página deste Caderno de Questões para rascunho.
Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SP
Filosofia
1º ano• Relacionar e diferenciar vida pública e vida pri-vada, problematizando a finalidade da política.
• Conhecer teorias políticas da Grécia Antiga e refletir sobre a cidadania grega.
2º ano• Analisar as características da anarquia, da mo-narquia, da aristocracia e da democracia.
Proposta de redação
O encontro “Vem ser cidadão” reuniu 380 jovens
de 13 Estados, em Faxinal do Céu (PR). Eles foram
trocar experiências sobre o chamado protagonis-
mo juvenil. O termo pode até parecer feio, mas
essas duas palavras significam que o jovem não
precisa de adulto para encontrar o seu lugar e a
sua forma de intervir na sociedade. Ele pode ser
protagonista. ([Adaptado de] ”Para quem se re-
volta e quer agir”, Folha de S. Paulo, 16/11/1998).
Depoimentos de jovens participantes do encontro:
· Eu não sinto vergonha de ser brasileiro. Eu sinto
muito orgulho. Mas eu sinto vergonha por existirem
muitas pessoas acomodadas. A realidade está nua e
crua. (...) Tem de parar com o comodismo. Não dá
para passar e ver uma criança na rua e achar que
não é problema seu. (E.M.O.S., 18 anos, Minas Gerais)
· A maior dica é querer fazer. Se você é acomo-
dado, fica esperando cair no colo, não vai acon-
tecer nada. Existe muita coisa para fazer. Mas
primeiro você precisa se interessar. (C.S.Jr., 16
anos, Paraná)
· Ser cidadão não é só conhecer os seus direi-
tos. É participar, ser dinâmico na sua escola, no
seu bairro. (H.A., 19 anos, Amazonas)
(Depoimentos extraídos de “Para quem se revolta e quer agir”,
(Folha de S. Paulo, 16/11/1998)
• Entender-se como responsável pela formulação de um projeto pessoal, enquanto indivíduo e en-quanto membro de uma sociedade.
3º ano• Analisar as características e a importância da democracia no Brasil e refletir sobre o conceito de cidadania.
Sociologia
1º ano• Analisar os campos de investigação e os obje-tos de estudo das Ciências Sociais, diferencian-do o conhecimento científico do senso comum.
• Problematizar as relações entre indivíduo e so-ciedade, comparando a influência de diferentes instituições sociais no processo de socialização.
2º ano• Reconhecer os processos de mudança social, analisando os seus impactos na organização so-cial, econômica e política.
• Analisar diferentes formas de estratificação so-cial, associando-as a elementos como a distribui-ção de poder político, riqueza e prestígio, as rela-ções étnico-raciais e de gênero, e a inserção dos indivíduos no mundo do trabalho.
3º ano• Relacionar a democracia e os canais de participa-ção política com as possibilidades de mudança das relações e das instituições sociais e políticas.
20
• Compreender a cidadania como um conjunto de deveres e como a garantia plena dos direitos civis, políticos, sociais e humanos.
• Analisar o papel das lutas e dos movimentos so-ciais nos processos de conquista dos direitos de cidadania e de formulação de políticas públicas.
Proposta didáticaEsta proposta de redação traz uma diversidade tex-
tual considerável. Começa com um cartum produzido
por Henfil muito rico para ser explorado com os es-
tudantes, pois mostra o movimento de expansão das
asas da graúna que havia sido julgada limitada e im-
possibilitada de voar. A proposta de fazer análises li-
vres com os estudantes sobre a crítica feita por Henfil
é uma ótima estratégia para pensar o tema proposto.
É possível que, nessa conversa inicial, muitos afirmem
ser a abertura das asas um demonstrativo da força
da juventude, seu poder de voar, de buscar e alcan-
çar seus sonhos, bem como a força negativa muitas
vezes depositada sobre os jovens que os impede de
tomar consciência de sua força e capacidade.
Feche a reflexão apontando o cuidado que é pre-
ciso ter frente a atitudes julgadoras e limitadoras
do outo, afirmando não serem capazes.
Assim é possível fazer a ligação com o que segue
na proposta, destacando o encontro de jovens
ocorrido no Paraná nomeado “Vem ser cidadão”
com o objetivo de ressaltar a importância do pro-
tagonismo juvenil nas tomadas de decisão e nas
escolhas. Todos esses elementos servem ao tema
cidadania e participação social, sendo preciso jus-
tificar e defender essa participação.
Por outro lado, os estudantes podem levantar a
crítica no sentido de que os jovens estão cada vez
mais se omitindo da participação política e social
formal e, portanto, do exercício da cidadania. Nes-
se caso, é interessante construir hipóteses sobre
essa problemática da não participação política dos
jovens, além de propor soluções para tal situação.
Há espaço para descontruir a ideia do senso co-
mum de que a juventude é despolitizada, pois ape-
sar de negar a política, participam cada vez mais
de manifestações, como as ocorridas em 2013. Ao
entrar nessa dimensão, pode-se discutir a filosofia
política e os sistemas de governo, sendo que isso
viabiliza a criação de argumentos válidos para a
ação política numa democracia.
A cidadania – ação cidadã/política - demanda
a consciência dos direitos e deveres e a partici-
pação ativa em todas as questões da sociedade.
Provoque os jovens à reflexão sobre essa partici-
pação na solução dos graves problemas políticos,
sociais, raciais, étnicos, de desemprego e de exclu-
são social que vivenciam e que somente poderão
ser superados com o pleno exercício da cidadania.
Para DebaterTexto I: Henfil
O desenhista, jornalista e escritor Henrique de
Souza Filho, mais conhecido como Henfil, nasceu
em 1944, em Ribeirão das Neves (MG), e cresceu
na periferia de Belo Horizonte, onde fez os pri-
meiros estudos, frequentou um curso supletivo
noturno e um curso superior em sociologia, que
abandonou após alguns meses.
Foi embalador de queijos, contínuo em uma agên-
cia de publicidade e jornalista, até especializar-se,
no início da década de 1960, em ilustração e produ-
ção de histórias em quadrinhos. Em 1964, começou
a trabalhar na revista Alterosa, de Belo Horizonte,
a convite do editor e escritor Robert Dummond. Ali
nasceu originalmente a HQ Os Fradinhos. Em 1965,
passou a produzir caricaturas políticas para o jor-
nal Diário de Minas, e em 1967, criou charges espor-
tivas para o Jornal dos Sports, do Rio de Janeiro.
Colaborou, ainda, para as revistas Visão, Realidade,
Placar e O Cruzeiro. A partir de 1969, passou a co-
laborar para os jornais O Pasquim e Jornal do Bra-
sil, o que tornou seus personagens deste período
bastante populares em todo o país.
Em 1970, lançou a revista Os Fradinhos. Nesse mo-
mento, a produção de histórias em quadrinhos e
cartuns de Henfil já apresentava características es-
pecíficas: um desenho humorístico político, crítico
e satírico, com personagens tipicamente brasilei-
ros. Após uma década de trabalho no Rio de Janei-
ro, Henfil mudou-se para Nova York, onde passou
dois anos em tratamento de saúde e escreveu o
livro Diário de um Cucaracha.
Além das histórias em quadrinhos e cartuns, Henfil
realizou, em co-autoria com Oswaldo Mendes, a
peça de teatro A Revista do Henfil. Além disso,
escreveu, dirigiu e atuou no filme Tanga - Deu no
New York Times e teve, ainda, uma incursão na
televisão com o quadro TV Homem, do programa
TV Mulher (Rede Globo). Como escritor, publicou
sete livros: Hiroshima, meu humor (1976), Diá-
rio de um Cucaracha (1976), Dez em humor (co-
letânea, 1984), Diretas já (1984), Henfil na China
(1980), Fradim de Libertação (1984) e Como se
faz humor político (1984).
21
O cartunista destacou-se também por seu posicio-
namento político, sobretudo devido ao seu enga-
jamento na resistência à ditadura militar no Brasil,
lutando pela democratização do país, pela anistia
aos presos políticos e pelas Diretas Já.
Henfil morreu, em 1988, aos 43 anos, no Rio de Ja-
neiro. Hemofílico (como seus dois irmãos, o soci-
ólogo Betinho e o músico Francisco Mário), Henfil
contraiu Aids em uma transfusão de sangue, ocor-
rência comum na época, já que havia ainda pouco
conhecimento sobre a doença e a necessidade de
cuidados específicos para preveni-la.
Ao criar personagens típicos brasileiros, como os
Fradinhos, o Capitão Zeferino, a Graúna e o Bode
Orelana, entre outros, Henfil foi responsável pela
renovação do desenho humorístico nacional, as-
sumindo o projeto de “descolonização” em um
momento em que as HQs nacionais tinham seu
desenvolvimento sufocado pela distribuição dos
quadrinhos norte-americanos pelo mundo inteiro.
Disponível em: <http://www.centrocultural.sp.gov.br/gibiteca/henfil.htm>. Acesso em 20 maio 2016.
Texto II: Constituição de 1988
TÍTULO II
DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem dis-
tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e
obrigações, nos termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a trata-
mento desumano ou degradante;
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo
vedado o anonimato;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcio-
nal ao agravo, além da indenização por dano ma-
terial, moral ou à imagem;
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de
crença, sendo assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a
proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação
de assistência religiosa nas entidades civis e mili-
tares de internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo
de crença religiosa ou de convicção filosófica ou
política, salvo se as invocar para eximir-se de obri-
gação legal a todos imposta e recusar-se a cum-
prir prestação alternativa, fixada em lei;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, ar-
tística, científica e de comunicação, independen-
temente de censura ou licença; [...]
CAPÍTULO II
DOS DIREITOS SOCIAIS
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a
alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte,
o lazer, a segurança, a previdência social, a pro-
teção à maternidade e à infância, a assistência
aos desamparados, na forma desta Constituição.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº
90, de 2015)
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e
rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
I - relação de emprego protegida contra despedi-
da arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei
complementar, que preverá indenização compen-
satória, dentre outros direitos;
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego
involuntário;
III - fundo de garantia do tempo de serviço; [...]
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicaocompilado.htm>. Acesso em 20 maio 2016.
Texto III: Participação política: Partici-pação política e cidadania
Conforme o contexto histórico, social e político, a
expressão “participação política” se presta a inú-
meras interpretações. Se considerarmos apenas as
sociedades ocidentais que consolidaram regimes
democráticos, por si só, o conceito pode ser extre-
mamente abrangente.
A participação política designa uma grande varie-
dade de atividades, como votar, se candidatar a
algum cargo eletivo, apoiar um candidato ou agre-
miação política, contribuir financeiramente para
um partido político, participar de reuniões, mani-
festações ou comícios públicos, proceder à discus-
são de assuntos políticos etc.
Níveis de participação políticaO conceito de participação política tem seu signi-
22
ficado fortemente vinculado à conquista dos di-
reitos de cidadania. Em particular, à extensão dos
direitos políticos aos cidadãos adultos. Sob essa
perspectiva os estudos de Giacomo Sani (citado
em Bobbio - “Dicionário de Política”) definem três
níveis básicos de participação política.
O primeiro nível de participação pode ser denomi-
nado de presença. Trata-se da forma menos intensa
de participação, pois engloba comportamentos tipi-
camente passivos, como, por exemplo, a participa-
ção em reuniões, ou meramente receptivos, como
a exposição a mensagens e propagandas políticas.
O segundo nível de participação pode ser desig-
nado de ativação. Está relacionada com atividades
voluntárias que os indivíduos desenvolvem dentro
ou fora de uma organização política, podendo
abranger participação em campanhas eleitorais,
propaganda e militância partidária, além de parti-
cipação em manifestações públicas.
O terceiro nível de participação política será re-
presentado pelo termo decisão. Trata-se da situa-
ção em que o indivíduo contribui direta ou indire-
tamente para uma decisão política, elegendo um
representante político (delegação de poderes) ou
se candidatando a um cargo governamental (le-
gislativo ou executivo).
Ideal democráticoTomando por base sociedades contemporâneas
que consolidaram regimes democráticos repre-
sentativos (países da Europa Ocidental, América
do Norte e Japão), o ideal democrático que emer-
giu nessas sociedades supõe cidadãos tendentes
a uma participação política cada vez maior. Con-
tudo, numerosas pesquisas sociológicas na área
apontam que não há correlação entre os três ní-
veis de participação política considerados acima.
Ademais, a participação política envolve apenas
uma parcela mínima dos cidadãos.
A forma mais comum e abrangente de participa-
ção política está relacionada à participação elei-
toral. É um engano, no entanto, supor que haja,
com o passar dos anos, um crescimento ou eleva-
ção dos índices desse tipo de participação.
Mesmo em países de longa tradição democrática,
o ato de abstenção (isto é, quando o cidadão dei-
xa de votar) às vezes atinge índices elevados (os
Estados Unidos são um bom exemplo). Em outros
casos, porém, quando a participação nos proces-
sos eleitorais chega a alcançar altos índices de
participação, isso não se traduz em aumento de
outras formas de participação política (o caso da
Itália é um bom exemplo).
Estruturas políticasA participação política tal como foi conceituada é
estritamente dependente da existência de estru-
turas políticas que sirvam para fornecer oportuni-
dades e incentivos aos cidadãos. Em sistemas de-
mocráticos, as estruturas de participação política
consideradas mais importantes estão relacionadas
com o sufrágio universal (direito de voto) e os
processos eleitorais competitivos em que forças
políticas organizadas, sobretudo partidos políti-
cos, disputam cargos eletivos.
Também é preciso salientar a importância das as-
sociações voluntárias, provenientes de uma socie-
dade civil de tipo pluralista. Essas entidades atuam
como agentes de socialização política, servindo,
portanto, de elo de conexão e recrutamento entre
os cidadãos e as forças políticas organizadas.
Regimes autoritários e participação políticaA inexistência de um regime democrático e, por-
tanto, de estruturas de participação política não
significa a completa anulação das formas de par-
ticipação. O caso do Brasil do período da ditadura
militar é, neste sentido, bastante paradoxal.
A ditadura militar brasileira recorreu à violência
repressiva, impôs severo controle sobre a socie-
dade civil e aboliu todas as formas de oposição
política livre. A ausência de democracia fez, po-
rém, com que surgissem novos canais de parti-
cipação política. Neste aspecto, o movimento
estudantil pode ser considerado o exemplo mais
notável. A juventude universitária brasileira trans-
formou o movimento estudantil no principal ca-
nal de participação política.
Dessa forma, grupos, partidos e organizações po-
líticas clandestinas (na sua maioria adeptos das
ideologias de esquerda) atuaram no âmbito do
movimento estudantil universitário de modo a
exercer um importante papel na resistência à dita-
dura militar e defesa das liberdades democráticas.
Texto de Renato Cancian, cientista social, mestre
em sociologia-política e doutorando em ciências
sociais. É autor do livro “Comissão Justiça e Paz de
São Paulo: Gênese e Atuação Política - 1972-1985”.
Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/disciplinas/socio
logia/participacao-politica-participacao-politica-e-cidadania.
htm>. Acesso em 20 maio 2016.
23
Texto IV
(...) Estarei fazendo o papel de um sociólogo típico
se começar dizendo que pretendo dividir o con-
ceito de cidadania em três partes. Mas a análise é,
neste caso, ditada mais pela história do que pela
lógica. Chamarei estas três partes, ou elementos,
de civil, política e social. O elemento civil é com-
posto dos direitos necessários à liberdade indivi-
dual - liberdade de ir e vir, liberdade de impren-
sa, pensamento e fé, o direito à propriedade e de
concluir contratos válidos e o direito à justiça. Este
último difere dos outros porque é o direito de de-
fender e afirmar todos os direitos em termos de
igualdade com os outros e pelo devido encami-
nhamento processual. Isto nos mostra que as insti-
tuições mais intimamente associadas com os direi-
tos civis são os tribunais de justiça. Por elemento
político se deve entender o direito de participar no
exercício do poder político, como um membro de
um organismo investido da autoridade política ou
como um eleitor dos membros de tal organismo.
As instituições correspondentes são o parlamento
e conselhos do Governo local. O elemento social
se refere a tudo o que vai desde o direito a um
mínimo de bem-estar econômico e segurança ao
direito de participar, por completo, na herança so-
cial e levar a vida de um ser civilizado de acordo
com os padrões que prevalecem na sociedade. As
instituições mais intimamente ligadas com ele são
o sistema educacional e os serviços sociais.
MARSHALL, T.H. Cidadania, classe social e status.
Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1967, p. 63-64
24
Ficha 3 – Ética e Cidadania
PROPOSTA DE REDAÇÃO ENEM – 2002
Tema: O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as transformações sociais de que o Brasil necessita?
Para que existam hoje os direitos políticos, o direito de votar e ser votado, de escolher seus governantes e representantes, a sociedade lutou muito.
www.iarabernardi.gov.br. 01/03/02.
Comício pelas Diretas Já, em São Paulo, 1984.
25
Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SP
Filosofia1º ano• Analisar o conceito de poder e problematizar di-ferentes relações de poder.
• Relacionar e diferenciar vida pública e vida priva-da, problematizando a finalidade da política.
• Conhecer teorias políticas da Grécia Antiga e re-fletir sobre a cidadania grega.
2º ano• Analisar as características da anarquia, da mo-narquia, da aristocracia e da democracia.
3º ano• Compreender e relacionar os conceitos de libe-ralismo e neoliberalismo político.
• Relacionar e discernir socialismo, comunismo e socialdemocracia.
• Relacionar e discernir socialismo, comunismo e socialdemocracia.
• Analisar as características e a importância da demo-cracia no Brasil e refletir sobre o conceito de cidadania.
Sociologia
1º ano• Compreender as condições histórico-sociais de emergência da Sociologia, relacionando o seu de-senvolvimento ao pensamento científico, às revo-luções burguesas e à expansão do capitalismo.
Proposta de redaçãoA política foi inventada pelos humanos como o
modo pelo qual pudessem expressar suas dife-
renças e conflitos sem transformá-los em guerra
total, em uso da força e extermínio recíproco. (…)
A política foi inventada como o modo pelo qual a
sociedade, internamente dividida, discute, delibera
e decide em comum para aprovar ou reiterar ações
que dizem respeito a todos os seus membros.
Marilena Chauí. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994.
A democracia é subversiva. … subversiva no sen-
tido mais radical da palavra.
Em relação à perspectiva política, a razão da pre-
ferência pela democracia reside no fato de ser ela
o principal remédio contra o abuso do poder. Uma
das formas (não a única) é o controle pelo voto
popular que o método democrático permite pôr
em prática. Vox populi vox dei.
Norberto Bobbio. Qual socialismo? Discussão de uma alternati-
va. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. Texto adaptado.
Se você tem mais de 18 anos, vai ter de votar nas
próximas eleições.
Se você tem 16 ou 17 anos, pode votar ou não. O
mundo exige dos jovens que se arrisquem. Que
alucinem. Que se metam onde não são chamados.
Que sejam encrenqueiros e barulhentos. Que, en-
fim, exijam o impossível.
Resta construir o mundo do amanhã. Parte desse
trabalho é votar. Não só cumprir uma obrigação.
Tem de votar com hormônios, com ambição, com
sangue fervendo nas veias. Para impor aos vito-
riosos suas exigências – antes e principalmente
depois das eleições.
André Forastieri. Muito além do voto. Época. 6 de maio de
2002. Texto adaptado.
Considerando a foto e os textos apresentados, re-
dija um texto dissertativo-argumentativo sobre o
tema O direito de votar: como fazer dessa con-
quista um meio para promover as transformações
sociais de que o Brasil necessita?
Ao desenvolver o tema, procure utilizar os conheci-
mentos adquiridos e as reflexões feitas ao longo de
sua formação. Selecione, organize e relacione argu-
mentos, fatos e opiniões, e elabore propostas para
defender seu ponto de vista.
Observações:
Lembre-se de que a situação de produção de seu
texto requer o uso da modalidade escrita culta da
língua portuguesa.
O texto não deve ser escrito em forma de poema
(versos) ou narração.
O texto deverá ter no mínimo 15 (quinze) linhas escritas.
A redação deverá ser apresentada a tinta e de-
senvolvida na folha própria.
O rascunho poderá ser feito na última página
deste Caderno.
26
apresentar uma proposta de intervenção social
sobre a questão do voto. Os textos de apoio evi-
denciam conceitos fundamentais para a reflexão
acerca do voto. São, pois, a questão da política,
da democracia e a obrigatoriedade do voto. Tra-
ta-se de uma proposta de redação muito rica e
que viabiliza o diálogo entre os componentes
curriculares da área de Ciências Humanas.
O trabalho com essa temática pode ser feito a
partir de um debate em que ajudará no desenvol-
vimento do tema de redação do ENEM, havendo
duas possibilidades básicas de abordagem, ou
seja, concordar com tema ou discordar. Ao con-
cordar, a argumentação deve reforçar a ideia do
voto como uma conquista da população e a ne-
cessidade de educação e da formação da cons-
ciência para que a população valorize a possibili-
dade de escolhas democráticas. Ao discordar, a
argumentação pode passar pela crítica à obriga-
ção do voto, que o transforma de um direito em
dever, sendo algo contrário aos princípios demo-
cráticos de liberdade de escolha. Isso abre mar-
gem ao questionamento, por exemplo, se, de fato,
hoje vivemos em uma democracia.
Outros elementos para fundamentar a reflexão
podem ser encontrados no Movimento do apren-
der de Filosofia, sobretudo nas unidades 3, 7 e 11,
com destaque as análises de forma de governo e
do conceito de democracia direta e participati-
va. Já no Movimento do aprender de Sociologia,
podem ser utilizados os conteúdos e atividades
principalmente das unidades 1 e 2 para o 1º ano;
da unidade 9 para o 2º ano e das unidades 10 e 11
para o 3º ano.
Para debaterTexto I: Voto obrigatório
Escrevendo em 1922, dizia Tavares de Lyra: “Sobre
o voto, temos ensaiado todos os sistemas conheci-
dos, com exceção, apenas, do voto obrigatório, do
votoproporcional e do voto às mulheres.” (LYRA,
Augusto Tavares de. Regime eleitoral, 1821–1921.
In: Modelos alternativos de representação política
no Brasil. Brasília: UnB, 1980.)
Mas ele se equivocava, pois as multas indicadas
pela Lei nº 387, de 1846, para os que faltassem às
reuniões dos colégios eleitorais ou não participas-
sem da escolha de juízes de paz e vereadores indi-
cavam um começo de voto obrigatório no Império.
Em projeto de reforma eleitoral apresentado em
1873, o deputado João Alfredo Corrêa de Oliveira
sugeria, entre outros itens, o voto obrigatório.
A comissão especial designada para dar pare-
cer sobre a proposta afirmou não ser aquele “um
princípio novo na nossa legislação; já existe quan-
to à eleição de vereadores e de juízes de paz e à
eleição secundária, e é apenas aplicado à eleição
primária; já existe quanto ao exercício de cargos
e funções políticas nas juntas e mesas paroquiais,
nos conselhos municipais, nos colégios eleito-
rais, no juizado de paz, nas câmaras municipais,
no júri, e em outras várias instituições de caráter
político ou administrativo. Assim, pois, o projeto
apenas supre, quanto à eleição primária, uma la-
cuna da legislação vigente; destrói simplesmente
uma exceção, cuja existência tem autorizado o
desuso da regra relativamente à eleição munici-
pal e ao exercício dos referidos cargos e funções
• Refletir sobre o papel da educação na repro-dução das regras sociais, na democratização dos bens culturais e na construção de ferramentas de análise crítica da sociedade.
2º ano• Reconhecer os processos de mudança social, analisando os seus impactos na organização so-cial, econômica e política.
3º ano• Analisar as relações de poder e as formas de do-minação presentes em diferentes esferas da vida, ampliando a noção de poder para além das insti-tuições políticas e econômicas.
• Relacionar a democracia e os canais de partici-pação política com as possibilidades de mudança das relações e das instituições sociais e políticas.
• Analisar o desenvolvimento do Estado Moder-no, problematizando diferentes regimes políti-cos, sistemas eleitorais e partidários.
• Compreender os fundamentos teóricos da se-paração dos poderes, relacionando e distinguin-do as funções do executivo, do legislativo e do judiciário em diferentes formas de governo.
• Compreender a cidadania como um conjunto de deveres e como a garantia plena dos direitos civis, políticos, sociais e humanos.
• Analisar o papel das lutas e dos movimentos so-ciais nos processos de conquista dos direitos de cidadania e de formulação de políticas públicas.
Proposta didáticaO tema presente na redação é muito objetivo,
pois deixa claro ao estudante a necessidade de
27
políticas.” (In: PINTO, Antônio Pereira, org. Refor-
ma eleitoral. Brasília: Unb, 1983. p. 367). O projeto
não foi aprovado.
E o Código de 1932 é que viria trazer, em definiti-
vo, e de modo amplo, a obrigatoriedade de inscri-
ção do eleitor e do voto.
Comentando o fato, afirmou João Cabral que “dis-
cutida preliminarmente a questão da obrigatorie-
dade da inscrição e do voto, e bem ponderadas as
dificuldades práticas, já experimentadas alhures,
particularmente em relação à segunda, resolveu
a subcomissão optar pelos meios indiretos con-
ducentes a tornar efetiva essa obrigatoriedade.”
(CABRAL, João G. da Rocha. Código Eleitoral da
República dos Estados Unidos do Brasil. Rio: Frei-
tas Bastos, 1934, p. 32.)
Estabeleceu, então, o projeto que nenhum cida-
dão, nas condições de ser inscrito eleitor, poderia
ser eleito ou nomeado para exercer qualquer man-
dato político, ofício, emprego ou cargo público, se
não provasse que se achava inscrito.
Quanto ao exercício do voto, só se criariam “na
parte do processo eleitoral, vantagens para os
que provarem com as anotações nos seus títulos,
haverem mais votado nas últimas eleições.” (CA-
BRAL, João G. da Rocha, ob. cit., p. 33.)
O código atual, instituído pela Lei nº 4.737, de 15
de julho de 1965, dispõe, em seu art. 7º, que “o elei-
tor que deixar de votar e não se justificar perante
o juiz eleitoral até sessenta dias após a realização
da eleição incorrerá na multa de três a dez por
cento sobre o salário mínimo da região.”
Essas multas, no entanto, nunca são cobradas pois,
após cada pleito, apressa-se o Congresso a votar
projeto de lei com o perdão aos faltosos.
ReferênciaVOTO obrigatório. In: PORTO, Walter Costa.
Dicionário do voto. Brasília: UnB, 2000. p. 455-456.
Disponível em: <http://www.tse.jus.br/eleitor/glossario/termos/voto-obrigatorio>. Acesso em 20 maio 2016.
Texto II: Filósofo francês defende o voto obrigatório em debate no Senado
A participação dos cidadãos no dia a dia da polí-
tica é tão importante para a democracia que jus-
tifica até mesmo o voto obrigatório. É o que pre-
gou o filósofo francês Francis Wolff na noite de
quarta-feira durante debate sobre o apolitismo, o
primeiro do Fórum Senado Brasil 2012, que prosse-
gue nesta quinta-feira (21).
Wolff acredita que quando a população se distan-
cia da política, de cara abre espaço para a ação de
políticos pouco interessados no bem-estar da co-
munidade. Num horizonte mais longo, essa ausên-
cia de interesse acaba por levar ao autoritarismo,
quando não à instalação de regimes ditatoriais.
O voto obrigatório, ainda que pareça antipático,
e para muitos uma porta aberta à manipulação
de massas desinformadas, instaria os cidadãos ao
seu dever de participar da política, pelo menos
em época de eleições. O filósofo mencionou com
preocupação os números da abstenção registra-
dos nas recentes eleições presidenciais legislati-
vas francesas: 42,7% no primeiro turno e 44% no
segundo turno, sendo cerca de 50% no caso dos
jovens. Naquele país , o voto é facultativo.
Em entrevista ao Jornal do Senado reproduzida
pela Agência Senado, o filósofo citou outros me-
canismos destinados a tornar mais legítimos os re-
sultados eleitorais. A Sérvia, por exemplo, aprovou
recentemente uma lei que anula as eleições quan-
do a porcentagem de votos brancos e nulos atinge
certo patamar.
ConsumismoWolff observou na conferência de quarta que, de-
pois de se tornar sujeito da história em lutas para
derrubar regimes ditatoriais e construir a demo-
cracia, o povo se utiliza da liberdade conquistada
para não se envolver na prática do processo de-
mocrático. É um paradoxo, segundo o estudioso,
que se configura numa atitude apolítica, na sua
opinião extremamente danosa à democracia.
– A conquista da democracia mobiliza toda a sua
energia, mas a posse o aborrece – afirmou o filósofo,
que é professor da Escola Normal Superior de Paris.
Para Francis Wolff, o apolitismo pode se manifes-
tar de diversas formas, desde a abstenção eleito-
ral até o consumismo exacerbado. Curiosamente,
esse desinteresse seria uma consequência do indi-
vidualismo gerado pela liberdade alcançada com
o advento da democracia, o que o distingue do
egoísmo. Ao adquirir mais liberdade, o indivíduo
diminui sua dependência da comunidade, mas o
que é a princípio um benefício gera depois o que
Wolff chama de “efeito colateral”.
Na opinião do filósofo, isso faz com que as pes-
soas se excluam da vida pública considerando a
ampla liberdade de atuação que conquistaram na
vida privada. Mas como “não há vácuos de poder”,
28
Nas eleições do próximo dia 5 de outubro, 142,8
milhões de brasileiros deverão comparecer às ur-
nas, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Pesquisas de opinião, no entanto, mostram um
elevado índice de rejeição ao voto obrigatório. Um
levantamento do Instituto Datafolha divulgado em
maio deste ano aponta que 61% dos eleitores são
contra a imposição.
Para analistas, permitir que o eleitor decida se quer
ou não votar é um risco para o sistema eleitoral
brasileiro. A obrigatoriedade, argumentam, ainda
é necessária devido ao cenário crítico de compra
e venda de votos e à formação política deficiente
de boa parte da população.
“Nossa democracia é extremamente jovem e foi
pouco testada. O voto facultativo seria o ideal,
porque o eleitor poderia expressar sua real von-
tade, mas ainda não é hora de ele ser implanta-
do”, diz Danilo Barboza, membro do Movimento
Voto Consciente.
O voto compulsório é previsto na Constituição Fe-
deral – a participação é facultativa para analfabe-
tos, idosos com mais de 70 anos de idade e jovens
com 16 e 17 anos.
O sociólogo Eurico Cursino, da UnB, avalia que o
dever de participar das eleições é uma prática pe-
dagógica. Ele argumenta que essa é uma forma
de canalizar conflitos graves ligados às desigual-
dades sociais no país.
“A democracia só se aprende na prática. Tornar o
voto facultativo é como permitir à criança decidir
se quer ir ou não à escola”, afirma. “Não é estranho
que sejam tomadas decisões erradas e que o voto
seja ruim. Mas se as pessoas não sabem votar, elas
têm de aprender.”
Já para os defensores do voto não obrigatório,
participar das eleições é um direito e não um de-
ver. O voto facultativo, dizem, melhora a qualida-
de do pleito, que passa a contar majoritariamente
com eleitores conscientes. E incentiva os partidos
a promover programas eleitorais educativos sobre
a importância do voto.
O sistema voluntário é adotado em quase todo
mundo. O voto é compulsório em apenas 31 países,
incluindo o Brasil. O levantamento é do Instituto
Internacional para Democracia e Assistência Elei-
toral (Idea), que tem sede na Suécia.
De acordo com o órgão, a quantidade de votos
brancos e nulos em países que obrigam o eleitor
a ir às urnas é muito maior. Em Quênia, Dinamar-
ca e Tunísia, onde o voto é facultativo, os índices
de abstenção são inferiores a 1%, enquanto que no
Peru e no Equador, onde os cidadãos são obriga-
dos a votar, a taxa de abstenção é de cerca de 20%.
No Brasil, o índice foi de 8% nas últimas eleições.
“Isso indica que as pessoas só vão às urnas porque
são obrigadas. Muitas não gostariam de expressar
um voto. O cenário com altos índices de absten-
ção é comum aos sistemas eleitorais que adotam
o voto compulsório”, diz à DW Abdurashid Solijo-
nov, do setor de processos eleitorais do Idea.
Na América do Sul, apenas Colômbia, Paraguai,
Suriname e Guiana adotam o voto facultativo. Ao
contrário dos países da América Central, a tradi-
ção sul-americana é a do voto obrigatório. Um es-
tudo da Consultoria Legislativa do Senado Federal
segundo Wolff, os cidadãos entregam seu poder
de decisão a “políticos profissionais”. Sem cobran-
ças, esse grupo fica livre para aprovar ou impor
medidas distanciadas das verdadeiras necessida-
des e desejos dos cidadãos.
BrasilWolff considera o período em que lecionou no
Brasil, entre 1980 e 1984, o mais importante de sua
vida política, quando assistiu a transição do país à
democracia – um processo, a seu ver muito bem-
-sucedido. Segundo ele, a ditadura forçosamente
transforma tudo em política, se apropriando de di-
mensões como amor, esporte e arte para ações a
seu favor, reduzindo a política formal a um “jogo
de fantoches”.
Como exemplo, Wolff lembrou que em 1970, no
auge do regime militar, intelectuais brasileiros
diziam que o Brasil não podia ganhar a Copa do
Mundo, pois o feito daria força à ditadura. Com a
vitória do Brasil, lembrou, parecia “só haver fute-
bol” no país:
– Mas será que não havia algo de político nessa
paixão? – questiona.
Disponível em: <http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2012/06/21/filosofo-frances-defende-o-voto-
obrigatorio-em-debate-no-senado>. Acesso em 20 maio 2016.
Texto III: O voto deveria ser facultativo no Brasil?
Analistas avaliam que corrupção eleitoral e
despreparo da população ainda são obstácu-
los no País, um dos 31 do mundo que susten-
tam a imposição
29
mostra que países que obrigam o eleitor a votar,
sob pena de sanções, têm um histórico de inter-
venções militares e golpes de Estado, com exce-
ção da Costa Rica.
“Há outras medidas mais eficazes para incentivar
a participação dos cidadãos, como aumentar a sa-
tisfação dos eleitores com os governos, adotar um
sistema eleitoral proporcional e promover debates
públicos”, argumenta o especialista.
Apesar de estar entre uma minoria no cenário
mundial, o Brasil deve manter a política de obri-
gatoriedade do voto, segundo o presidente da
Comissão Eleitoral da OAB do Rio Grande do Sul,
Augusto Mayer. Para o advogado, os elevados ín-
dices de corrupção e cassação de mandatos evi-
denciam que o país ainda não está preparado para
adotar o voto facultativo.
“Isso exige em contrapartida uma extraordinária
valorização do aspecto cidadão. Os eleitores bra-
sileiros não têm um conhecimento mais profundo
sobre os partidos políticos. A cidadania é relacio-
nada apenas com o direito ao voto”, avalia.
Para Mayer, os países que adotam o sistema volun-
tário de participação eleitoral cultivam uma peda-
gogia intensa em torno da valorização do voto, o
que não acontece no Brasil. A votação facultativa
em países democráticos se deve ao alto grau de
politização da sociedade e a uma presença mais
forte da cultura de cidadania. Ele considera Ale-
manha, Canadá, Espanha, Israel, Itália, Portugal,
Japão e Polônia como bons exemplos.
“Esses países usufruem da cláusula de barreira,
norma que restringe o ingresso parlamentar de
partidos que não alcançam um percentual mínimo
de votos”, explica.
Na Alemanha, o alistamento eleitoral é obrigatório,
mas o voto é facultativo. Nas últimas eleições, em
setembro de 2013, cerca de 61,8 milhões de ale-
mães estavam aptos a votar, e o comparecimento
às urnas foi maior do que 70%.
Emendas constitucionais que tratam do tema no
Congresso Nacional são inspiradas no modelo
alemão. Uma das principais propostas sobre a
reforma política, a PEC 352/2013, do deputado
Cândido Vaccarezza (PT-SP), prevê o fim do voto
obrigatório. O texto está parado na Comissão de
Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara
dos Deputados.
Para o professor Aldo Fornazieri, da Escola de
Sociologia e Política de São Paulo, a ingerência
regulatória do Congresso e do Tribunal Superior
Eleitoral nas eleições se converte em medidas que
tentam afastar cada vez mais o eleitor da partici-
pação política.
“Ele é transformado em um cidadão de sofá, um
cidadão passivo. Votar se torna um ato meramen-
te formal”, diz.
Embora faça críticas ao voto obrigatório, o espe-
cialista pondera que, com o voto facultativo, o ín-
dice de participação nas urnas seria muito baixo.
“As instituições carecem de legitimidade, porque,
depois de eleitos, os políticos se isolam da socie-
dade. Eu gostaria que houvesse essa correspon-
dência entre deveres e direitos, mas hoje ela é fal-
sa”, afirma Fornazieri.
Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/politica/o-voto-deveria-ser-facultativo-no-brasil-1293.html>.
Acesso em 20 maio 2016.
Texto IV: Pelo voto obrigatórioRenato Janine Ribeiro
Recentemente, discuti com jovens estudantes,
em Belo Horizonte, o livro que escrevi com Mário
Sérgio Cortella, Política: para não ser idiota. Sabe-
mos que hoje se debate a reforma política. Para
os partidos, a questão principal é como eleger os
deputados. Para os cidadãos, as questões princi-
pais são a da fidelidade partidária, que o Judiciário
acabou impondo, e a do voto obrigatório ou não.
Os jovens a quem falei, tendo na sua maioria en-
tre 17 e 19 anos, racharam pela metade na questão
do voto. Dos dois lados, argumentaram bem. Este
mês, exponho aqui argumentos a favor do voto
obrigatório. Na próxima coluna, defenderei o voto
facultativo; quem quiser, escreva para cá, dizendo
o que pensa a respeito.
Por que o voto, que é direito, seria também obri-
gação? Porque é a principal expressão de uma
sociedade democrática. A democracia é o regime
no qual o cidadão tem mais liberdades. Mas essas
liberdades não caem do céu. São construídas por
nós. “Nós” quer dizer: todos nós. A democracia é o
único regime em que todos são iguais em direitos.
Ou seja, todos os eleitores são considerados adul-
tos, maiores de idade. O poder é conferido pelos
cidadãos. Por isso, a democracia não admite pa ter
na lismo, condescendência, clien te lismo. Cidadão
é quem participa ativamente da construção da ci-
dade - civitas, pólis - isto é, do Estado. É o contrá-
rio do súdito, o subdictus, aquele que está debaixo
30
sentado. Os políticos não têm interesse em defen-
der os interesses dos não eleitores. Assim, esses
vão ficando cada vez mais excluídos - e, excluídos,
votam ainda menos. É por isso que existe nos EUA
um movimento pelo voto obrigatório: ele levaria a
uma inclusão social maior dos mais pobres.
Vemos, portanto, razões tanto teó ricas quanto
práticas para defender a obrigatoriedade do voto,
por antipática que seja a uma parte da população.
Mas, para equilibrar as coisas, na próxima coluna
vamos ver como se justifica o voto facultativo. Não
é uma questão de certo ou errado. E, como é um
tema candente, vale a pena aprofundar a discussão.
Disponível em: <http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/61/artigo225209-1.asp>. Acesso em 20 maio 2016.
Texto V: Constituição da República Federativa Do Brasil De 1988
CAPÍTULO IV
DOS DIREITOS POLÍTICOS
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrá-
gio universal e pelo voto direto e secreto, com valor
igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.
§ 1º O alistamento eleitoral e o voto são:
I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II - facultativos para:
a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoi-
to anos.
§ 2º Não podem alistar-se como eleitores os es-
trangeiros e, durante o período do serviço militar
obrigatório, os conscritos.
§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária;
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presi-
dente da República e Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador
de Estado e do Distrito Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Depu-
tado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e
juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador.
§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos,
cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença
transitada em julgado;
II - incapacidade civil absoluta;
III - condenação criminal transitada em julgado,
enquanto durarem seus efeitos;
IV - recusa de cumprir obrigação a todos impos-
ta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º,
VIII;
V - improbidade administrativa, nos termos do art.
37, § 4º.
Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral en-
trará em vigor na data de sua publicação, não se
aplicando à eleição que ocorra até um ano da data
de sua vigência.
do dizer alheio. Nas monarquias, despotismos e di-
taduras, há alguém que supostamente protege ou
cuida dos outros. Já os cidadãos, sendo iguais, não
podem ser tutelados. Não podemos ser tratados
como crianças. O chefe de governo não é pai da
pátria nem dos cidadãos.
Assim, na democracia, temos responsabilidade. Se
não quisermos votar por acharmos a política ruim,
corrupta, insatisfatória, estaremos errados. Porque
a quem posso responsabilizar, se a política é má?
Cabe a “nós” mudá-la. Se ela é assim, é porque a
deixamos ser assim. Pode até ser que nossa polí-
tica esteja mal devido a problemas do passado;
mas, mesmo assim, o futuro é nossa responsabili-
dade. Não escolhi o passado político nem pesso-
al, porque não escolhi nascer rico ou pobre, bonito
ou feio; mas depende de mim o que, de agora em
diante, farei com isso. Então, se meu país vai mal,
cabe a nós mudá-lo para melhor. Daí que votar seja
uma obrigação ética. Daí que votar seja apenas um
indicador de uma obrigação ética mais abrangente,
que é de participar da vida pública o mais possível.
Estas são razões fortes pelo voto obrigatório. Em
função delas, pelo menos 20 países obrigam a vo-
tar, entre eles, Austrália, Bélgica, Costa Rica, Itália.
Na maior parte deles, é verdade que não há puni-
ção para quem se abstém. O dever é moral. Mas,
como se vê, não é só no Brasil que há o voto obri-
gatório, e há bons argumentos em seu favor.
Temos também um aspecto prático, pragmático.
Em países onde há forte desigualdade social, como
nos Estados Unidos, o voto facultativo gera um cír-
culo vicioso. Quem não vota - negros, hispânicos,
pobres, semianalfabetos - acaba não sendo repre-
31
Para saber mais...
Procure na Biblioteca digital do site do Senado Fe-
deral (www.senado.gov.br) o texto Vantagens e
desvantagens do voto obrigatório e do voto facul-
tativo de Paulo Henrique Soares.
Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-para-
discussao/td-6-vantagens-e-desvantagens-do-voto-obrigatorio-e-do-voto-facultativo>
32
PROPOSTA E REDAÇÃO ENEM – 2011
Tema: Viver em Rede no Século XXI: Os limites entre o público e o privado
Proposta de redaçãoCom base na leitura dos textos motivadores seguin-
tes e nos conhecimentos construídos ao longo de
sua formação, redija texto dissertativo-argumen-
tativo em norma padrão da língua portuguesa
sobre o tema VIVER EM REDE NO SÉCULO XXI:
OS LIMITES ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO,
apresentando proposta de conscientização so-
cial que respeite os direitos humanos. Selecione,
organize e relacione, de forma coerente e coesa,
argumentos e fatos para defesa de seu ponto
de vista.
Liberdade sem fio A ONU acaba de declarar o acesso à rede um
direito fundamental do ser humano – assim
como saúde, moradia e educação. No mundo
todo, pessoas começam a abrir seus sinais
privados de wi-fi, organizações e governos
se mobilizam para expandir a rede para es-
paços públicos e regiões onde ela ainda não
chega, com acesso livre e gratuito.
ROSA, G.; SANTOS, P. Galileu. Nº 240, jul. 2011 (fragmento).
33
Filosofia1º ano• Relacionar e diferenciar vida pública e vida priva-da, problematizando a finalidade da política.
• Analisar as características dos campos concei-tuais da moral e da ética: liberdade, autonomia, responsabilidade, regras, valores, dentre outros, reconhecendo-os na vida cotidiana.
2º ano• Reconhecer o impacto causado na sociedade pe-las transformações da técnica e problematizar as relações desta com o uso instrumental da razão.
• Analisar as questões dos campos moral e ético e problematizar suas implicações para as deci-sões individuais.
• Entender-se como responsável pela formulação de um projeto pessoal, enquanto indivíduo e en-quanto membro de uma sociedade.
3º ano• Analisar criticamente a ideologia, relacionando os conceitos de cultura de massa, indústria cultu-ral e meios de comunicação de massa.
• Estabelecer relações entre ética e liberdade, re-
conhecendo a ação ética como livre e consciente.
Sociologia
1º ano
Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SP
A internet tem ouvidos e memóriaUma pesquisa da consultoria Forrester Research re-
vela que, nos Estados Unidos, a população já passou
mais tempo conectada à internet do que em frente
à televisão. Os hábitos estão mudando. No Brasil, as
pessoas já gastam cerca de 20% de seu tempo on-li-
ne em redes sociais. A grande maioria dos internau-
tas (72%, de acordo com o Ibope Mídia) pretende
criar, acessar e manter um perfil na rede. “Faz parte
da própria socialização do indivíduo do século XXI
estar numa rede social. Não estar equivale a não ter
uma identidade ou um número de telefone no pas-
sado”, acredita Alessandro Barbosa Lima, CEO da
e.Life, empresa de monitoração e análise de mídias.
As redes sociais são ótimas para disseminar ideias,
tornar alguém popular e também arruinar reputa-
ções. Um dos maiores desafios dos usuários de in-
ternet é saber ponderar o que se publica nela. Es-
pecialistas recomendam que não se deve publicar
o que não se fala em público, pois a internet é um
ambiente social e, ao contrário do que se pensa, a
rede não acoberta anonimato, uma vez que mesmo
quem se esconde atrás de um pseudônimo pode se
rastreado e identificado. Aqueles que, por impulso,
se exaltam e comentem gafes podem pagar caro.
Disponível em: <http://www.terra.com.br>. Acesso em: 30 jun. 2011 (adaptado).
• Problematizar as relações entre indivíduo e so-
ciedade, comparando a influência de diferentes
instituições sociais no processo de socialização.
• Refletir sobre o papel da educação na repro-dução das regras sociais, na democratização dos bens culturais e na construção de ferramentas de análise crítica da sociedade.
• Reconhecer os impactos das novas tecnologias de informação, do desenvolvimento científico e da globalização nas relações sociais.
2º ano• Problematizar a construção das desigualdades sociais, analisando as suas diferentes dimensões nas sociedades contemporâneas.
• Analisar a questão do trabalho nas sociedades capitalistas e problematizar as mudanças recentes advindas do processo de globalização, da flexibi-lização e mobilidade dos mercados de trabalho e do desenvolvimento científico e tecnológico.
• Utilizar métodos e técnicas de pesquisa qualitati-vos e quantitativos para analisar os processos so-ciais, compreendendo o papel da pesquisa empíri-ca no desenvolvimento da investigação científica.
3º ano• Analisar o papel da indústria cultural e dos meios de comunicação de massa na sociedade, proble-matizando a formação e a uniformização de opini-ões, gostos e comportamentos.
• Entender o conceito de alienação e analisar criti-camente o consumismo enquanto produto de uma cultura de massa no contexto do sistema capitalista.
34
Proposta didáticaOs três textos apresentados como base para a
produção da redação podem ser resumidos em
três verbos: incluir, ponderar e vigiar. Há uma for-
te tendência de inclusão digital no mundo como
o objetivo de conectar o maior número possível
de pessoas, o que suscita a necessidade do cui-
dado de ponderar o que se publica na rede, pois
ao ser publicada a coisa vira pública, “para o bem
e para o mal”. Nesse aspecto, há a sensação de
vigilância constante, característica da socieda-
de de controle já pontuada pelo filósofo Michael
Foucault e por outros.
Percebe-se com isso a riqueza de possibilidades
de debates propiciados pela proposta e a diversas
variáveis argumentativas para serem trabalhadas
com os estudantes. Pode ser feita a relação com o
Movimento do Aprender de Filosofia destacando
as ideias de Hannah Arendt, sobretudo, na ativi-
dade 5 da unidade 3, p. 54, em que se aborda o
termo público como expressão de dois fenômenos
correlatos, sendo o primeiro o que vem a público
como aquilo que pode ser visto e ouvido por to-
dos e tem a maior divulgação possível; o segundo
sentido de público como significação do próprio
mundo. Arendt, ainda, afirma que a noção de pri-
vacidade é fruto da Idade Moderna.
Outra possibilidade é trabalhar o texto A promo-
ção da cultura cibernética de Pierre Lévy, páginas
183 e 184 do mesmo livro, que ajuda a explorar o
conceito de virtual e o impacto da virtualização
na vida social.
O Movimento do aprender de Sociologia traz di-
versos conteúdos e abordagens teórico-metodo-
lógicas referentes ao tema proposto em cada um
dos três anos do ensino médio. Conforme as ex-
pectativas de ensino e aprendizagem de Sociolo-
gia relacionadas na tabela acima, o professor pode
selecionar as unidades respectivas para o trabalho
com todos os seus alunos. Para os estudantes do
primeiro ano, o professor encontra este material
nas unidades 1, 2, 3, 4 e 5, principalmente. Para
os estudantes do segundo ano, este material está
contido, no geral, nas unidades 6, 7, 8 e 9. E para
os estudantes do terceiro ano, este material cons-
ta essencialmente nas unidades 10, 11 e 12. Além
dessas unidades, o professor pode trabalhar a ex-
pectativa sobre metodologia de pesquisa, que se
repete em todos os três anos do ensino médio (ex-
pectativa nº 3 no 1º ano, nº 19 no 2º ano e nº 30 no
3º ano), pois o segundo texto motivador da pro-
posta (A internet tem ouvidos e memória) apre-
senta argumento fundamentado em uma pesquisa
sobre um fato social, o que vem ao encontro da re-
ferida expectativa de ensino e aprendizagem que
busca a compreensão, pelo estudante, do papel da
pesquisa quantitativa e qualitativa na investigação
sociológica. Um exemplo de abordagem para os
estudantes do primeiro ano pode partir da afirma-
ção do CEO da e.Life (do texto A internet tem ou-
vidos e memória) que cita literalmente o processo
de socialização do indivíduo contemporâneo e a
construção social da identidade mediada pelas
redes sociais, ou seja, pelas novas tecnologias de
comunicação e informação. Tal argumento deve
ser analisado a partir do trabalho didático com as
unidades 2 (Processo de socialização) e 3 (Formas
de sociabilidade no contexto das tecnologias de
informação e comunicação).
Para debaterTexto I: A Esfera Pública e a sua Rela-ção com o Homem
Se a esfera pública é o lugar da confluência da
palavra e do agir humano em direção ao consen-
so social é, por conta disso, o lugar onde os ho-
mens revelam a sua singularidade. A condição de
sujeito ativo permite ao homem revelar o que o
torna singular, e isso o leva a inserir-se no mundo.
Esta inserção “é como um segundo nascimento,
no qual confirmamos e assumimos o fato original
e singular do nosso aparecimento físico e origi-
nal. Por isso, pelo fato de ter nascido e chegado
a um mundo já existente, os novos visitantes são
impelidos a agir, a dar respostas ao mundo que aí
está. A revelação da identidade através do discur-
so e o estabelecimento de um novo início através
da ação incidem sobre uma teia já existente. Essa
novidade requer um espaço público onde possa
se efetivar e a singularidade são reveladas apenas
no convívio plural dos homens. Um dos pontos
fundamentais do pensamento de Hannah Arendt
é o fato dos homens, enquanto tais, serem indiví-
duos únicos, capazes de uma ação original. Essa
capacidade criadora é o que Arendt chama de mi-
lagre, ou seja, a manifestação ativa que paralisa o
automatismo que é próprio a tudo o que existe e
tem fim. Tratando-se do mundo dos homens, po-
rém, a ação é a única atividade que pode assegu-
rar continuidade justamente porque ela engendra
originalidade e é começo. O que denota no pen-
samento de Arendt uma metafísica do inaugural,
um início que é contínuo graças ao aparecimento
dos homens no mundo e, em vista disto, capaz de
transcender a finitude.( HANNAH Arendt – Condi-
ção Humana p. 326).
35
Arendt, desse modo, distingue duas dimensões do
homem inserido na esfera pública política: como
agente ou como ser moral. Primeiro, na condição de
agente, a esfera pública é concebida como a arena
de homens ativos que colocam em cena algo novo. O
princípio é o começo de alguma coisa que é possível
pelo fato da natalidade, e isso motiva e impele os ho-
mens a renovarem e atualizarem o seu nascimento;
do mesmo modo, o que impulsiona os homens a agi-
rem como inovadores é o fato da liberdade daí sua
condição de criador. A ação é a expressão da liber-
dade que os homens experimentam no mundo pú-
blico e coletivo. Neste caso, a ação não depende de
virtudes e de razões morais, mas de uma certa “neu-
tralidade das justificações morais e compreensivas
subscritas” o que permite a articulação entre homens
que não compartilham de uma mesma visão moral
do mundo. O fato do homem ser impelido a atualizar
o seu nascimento, faz dessa esfera o lugar de reve-
lação da singularidade humana, portanto, o lugar da
diversidade de sentimentos, de valores, de cultura, da
moral, que o indivíduo dá visibilidade pública.
O agente arendtiano não é o indivíduo interessa-
do, ele não é movido por interesses particulares, é
um “agente moral” que antes mesmo de expressar
preferências é orientado por razões públicas que
orientam as suas ações. Portanto, estas ações são
pautadas em princípios valorativos. E estes princí-
pios inspiradores da ação são dotados de uma uni-
versalidade que possibilita a movimentação dialó-
gica entre os agentes na direção de acordos e de
consentimentos. Nesta dimensão a esfera pública
é apresentada como fonte geradora de consenso.
Os homens quando agem estão dando início a algo
novo, daí a ação se apresenta como o princípio de
alguma coisa que interrompe o processo ordinário
da vida cotidiana. Nesse caso, a identidade huma-
na entre agir e começo tem a sua explicação no
fato do nascimento do homem. Ele é começo e por
isso pode começar. A palavra princípio, portanto,
envolve no trato arendtiano tanto origem quanto
preceito, e estes significados, no ato da criação,
não estão apenas relacionados, mas, são coexisten-
tes: o princípio (início) da ação conjunta estabelece
os princípios (preceitos) que inspiram os efeitos e
acontecimentos da ação humana futura.
Deparamos também com a pluralidade, que está
expressa no fato da singularidade humana, é a
condição para a existência da realidade dialógica,
e para que esta possa ser efetivada é necessário
um nível de entendimento preliminar sobre as ra-
zões públicas que motivam as ações. A base deste
entendimento exige uma unidade moral, dotada
de uma universalidade que permite que qualquer
indivíduo compreenda as motivações da ação. No
entanto, tal entendimento não se explica por meio
dessa moralidade, mas pelo fato dos homens se-
rem livres para agir, de possuírem igualdade polí-
tica na esfera pública, ou seja, igualdade de ação.
A ação, como expressão da liberdade, só é experi-
mentada pelos homens na vida política. Entretan-
to, para alguns estudiosos, críticos do pensamen-
to de Arendt, a equação da ação e liberdade não
tem fundamento teórico e nem empírico, pois nela
não está explícita nenhuma forma jurídica formal
da qual depende a liberdade. (HANNAH Arendt-
Condição Humana p. 248).
Contudo, o que se verifica na esfera pública aren-
dtiana é uma capacidade dialógica acentuada que
permite aos homens estabelecerem acordos acer-
ca do interesse público.
Texto de Christiane Valladares.
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/responsabilidade-social/edulegislativa/educacao-legislativa-1/posgraduacao/arquivos/publicacoes/banco-de-monografias/ip-3a-edicao/
ChristianeAparecidaSilvaValladaresIP3ed.pdf>.
Acesso em 20 maio 2016.
Texto II: Cibercultura
Por trás das técnicas agem e reagem ideias, proje-
tos sociais, utopias, interesses econômicos, estra-
tégias de poder, toda a gama dos jogos dos ho-
mens em sociedade. Portanto, qualquer atribuição
de um sentido único à técnica só pode ser dúbia. A
ambivalência ou a multiplicidade das significações
e dos projetos que envolvem as técnicas são parti-
cularmente evidentes no caso do digital. O desen-
volvimento das cibertecnologias é encorajado por
Estados que perseguem a potência, em geral, e a
supremacia militar em particular. É também uma
das grandes questões da competição econômica
mundial entre as firmas gigantes da eletrônica e
do software, entre os grandes conjuntos geopo-
líticos. Mas também responde aos propósitos de
desenvolvedores e usuários que procuram aumen-
tar a autonomia dos indivíduos e multiplicar suas
faculdades cognitivas. Encarna, por fim, o ideal de
cientistas, de artistas, de gerentes ou de ativistas
da rede que desejam melhorar a colaboração entre
as pessoas, que exploram e dão vida a diferentes
formas de inteligência coletiva e distribuída. Esses
projetos heterogêneos diversas vezes entram em
conflito uns com os outros, mas com maior fre-
quência alimentam-se e reforçam-se mutuamente.
LEVY,Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999, p. 27
36
Ficha 5 – Direitos da Criança e Adolescente
PROPOSTA DE REDAÇÃOENEM - 2014
Tema: Publicidade infantil em questão no Brasil
Proposta de redação A partir da leitura dos textos motivadores seguintes
e com base nos conhecimentos construídos ao lon-
go de sua formação, redija texto dissertativo-argu-
mentativo em norma padrão da língua portuguesa
sobre o tema Publicidade infantil em questão no Brasil, apresentando proposta de intervenção, que
respeite os direitos humanos. Selecione, organize e
relacione, de forma coerente e coesa, argumentos
e fatos para defesa de seu ponto de vista.
Texto I
A aprovação, em abril de 2014, de uma resolução
que considera abusiva a publicidade infantil, emiti-
da pelo Conselho Nacional de Direitos da Criança e
do Adolescente (Conanda), deu início a um verda-
deiro cabo de guerra envolvendo ONGs de defesa
dos direitos das crianças e setores interessados
na continuidade das propagandas dirigidas a esse
público. Elogiada por pais, ativistas e entidades,
a resolução estabelece como abusiva toda propa-
ganda dirigida à criança que tem “a intenção de
persuadi-la para o consumo de qualquer produto
ou serviço” e que utilize aspectos como desenhos
37
Texto III
Precisamos preparar a criança, desde pequena,
para receber as informações do mundo exterior,
para compreender o que está por trás da divulga-
ção de produtos. Só assim ela se tornará o con-
sumidor do futuro, aquele capaz de saber o que,
como e por que comprar, ciente de suas reais ne-
cessidades e consciente de suas responsabilida-
des consigo mesma e com o mundo. SILVA, A. M.
D.; VASCONCELOS, L. R. A criança e o marketing:
informações essenciais para proteger as crianças
dos apelos do marketing infantil. São Paulo: Sum-
mus, 2012 (adaptado).
Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SP
Filosofia1º ano
• Relacionar e diferenciar vida pública e vida priva-
da, problematizando a finalidade da política.
• Analisar as características dos campos concei-
tuais da moral e da ética: liberdade, autonomia,
responsabilidade, regras, valores, dentre outros,
reconhecendo-os na vida cotidiana.
2º ano
• Analisar as questões dos campos moral e ético
e problematizar suas implicações para as deci-
sões individuais.
3º ano
• Analisar criticamente a ideologia, relacionando
os conceitos de cultura de massa, indústria cultu-
ral e meios de comunicação de massa.
Sociologia1º ano
• Relacionar os conceitos de cultura e ideologia,
problematizando formas de dominação e de resis-
tência nas sociedades contemporâneas.
• Reconhecer o impacto das novas tecnologias de
informação, do desenvolvimento científico e da
globalização nas relações sociais.
2º ano
• Reconhecer diferentes formas de violência, ana-
lisando o fenômeno a partir dos seus aspectos so-
ciais, econômicos, políticos e culturais.
3º ano
• Entender o conceito de alienação e analisar criti-
camente o consumismo enquanto produto de uma
cultura de massa no contexto do sistema capitalista.
• Analisar o papel da indústria cultural e dos meios
de comunicação de massa na sociedade, proble-
matizando a formação e a uniformização de opini-
ões, gostos e comportamentos.
• Refletir sobre os impactos dos movimentos cultu-
rais e de contestação dos valores hegemônicos na
vida social e política.Fonte: OMS e Conar/2013
animados, bonecos, linguagem infantil, trilhas so-
noras com temas infantis, oferta de prêmios, brin-
des ou artigos colecionáveis que tenham apelo às
crianças. Ainda há dúvidas, porém, sobre como
será a aplicação prática da resolução. E associa-
ções de anunciantes, emissoras, revistas e de em-
presas de licenciamento e fabricantes de produtos
infantis criticam a medida e dizem não reconhecer
a legitimidade constitucional do Conanda para le-
gislar sobre publicidade e para impor a resolução
tanto às famílias quanto ao mercado publicitário.
Além disso, defendem que a autorregulamentação
pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação
Publicitária (Conar) já seria uma forma de contro-
lar e evitar abusos. IDOETA, P. A.; BARBA, M. D. A
publicidade infantil deve ser proibida?
Disponível em: www.bbc.co.uk. Acesso em: 23 maio 2014 (adaptado).
Texto II
38
Proposta didáticaConforme a tabela de expectativas acima, este tema
pode ser trabalhado com todos os estudantes dos
3 anos do ensino médio. O professor de Sociologia
deve trabalhar os conteúdos e atividades das res-
pectivas unidades do material didático Movimento
do aprender, que são, basicamente, as unidades 3 e
5 para o 1º ano; a unidade 7 para o 2º ano e a unida-
de 12 para o 3º ano. No 1º ano, os estudantes devem
compreender a relação entre cultura e ideologia,
identificando as formas ideológicas de dominação
presentes na cultura, especificamente nos produtos
culturais da cultura de massa destinados às crianças
e jovens, tais como desenhos da TV, personagens,
heróis e sua relação com as mercadorias licenciadas,
roupas, sapatos, mochilas e, é claro, brinquedos. So-
bre isso, pode ser consultado também o Movimento
do aprender de Filosofia, pp. 164-167, pois traz fun-
damentações acerca do conceito de ideologia. O
professor pode solicitar uma pesquisa e produção,
comparando-se os preços de certos produtos licen-
ciados aos preços dos mesmos produtos sem a mar-
ca do personagem da TV (produto cultural). Seria
interessante se fossem, inclusive do mesmo fabri-
cante, ou fabricados com o mesmo material, ou seja,
“isolando-se” apenas a variável “marca”, como por
exemplo: mochila dos Avengers e outra mochila, do
mesmo fabricante, sem nenhum personagem. O re-
sultado das pesquisas pode ser socializado com os
demais estudantes dos outros anos. Para o 2º ano, o
professor deve provocar a reflexão dos estudantes
problematizando a questão da propaganda infantil
enquanto uma forma de violência contra a criança
em detrimento ao direito comercial dos fabricantes
de produtos destinados a esse público. Como ca-
ráter de fundamentação teórica da Cidadania e os
direitos da criança e do adolescente, há uma síntese
no Movimento do aprender de Filosofia, p. 224 que
pode ser usada nesse momento de provocação. O
professor deve solicitar pesquisa sobre o tema, além
de promover aulas sobre o ECA - Estatuto da Criança
e do Adolescente e gerar debates fundamentados,
contrapondo o direito comercial e a lógica econômi-
ca ao direito à proteção e à integridade da criança
e do adolescente. Os estudantes do 3º ano devem
compreender que o consumismo é uma ideologia
alienante, fundamental à manutenção do sistema
capitalista e que encontra nos meios de comunica-
ção de massa os canais ideais na produção de uma
cultura cada vez mais uniformizada e globalizada,
que padroniza gostos e comportamentos a serviço
da maximização global dos lucros e que essa lógi-
ca é aplicada a todos, inclusive às crianças e jovens.
Além de trabalhar os conteúdos e atividades das
unidades, o professor pode solicitar pesquisa sobre
movimentos culturais de contracultura aos valores
hegemônicos do capitalismo. Há movimentos como
o slow food (anti-fast food e sua propaganda, inclu-
sive dos lanches destinados às crianças, com brin-
quedos associados); há o movimento doula, que visa
humanizar o parto e cuidar da mamãe (e da criança)
de forma mais natural possível, utilizando produtos
naturais e avesso aos apelos da publicidade. A pre-
sidenta do Brasil vetou recentemente a propaganda
de leites artificiais, leite e papinhas infantis; são pro-
pagandas destinadas aos pais e não às crianças, mas
já é um bom começo para que se proíba definitiva-
mente e integralmente a publicidade infantil, assim
como ocorre em países que valorizam a infância e a
educação. É interessante que o professor exiba es-
tas propagandas em classe para que pudessem ser
analisadas e, dessa forma, repertoriar os estudantes
nas argumentações que envolvem esta temática.
Para debater
Texto l: Eu, etiqueta
Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
39
tão diverso de outros, tão mim mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comparo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam
e cada gesto, cada olhar
cada vinco da roupa
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrine me tiram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
ANDRADE, Carlos Drumond de, Obra poética, Volumes 4-6. Lisboa: Publicações Europa-América, 1989.
Texto II: Publicidade infantil: experiên-cias internacionais
O Reino Unido é apontado como país de referência
no tratamento adequado da propaganda infantil,
tanto por entidades que pedem por mais restrições
no mercado do Brasil quanto por profissionais do
mercado da propaganda.
É quase unânime também o entendimento de que
não seria possível simplesmente importar uma ex-
periência bem-sucedida para a realidade brasileira.
Mas conhecer como funciona o controle da publici-
dade em outros países pode ajudar a refletir sobre
essa equação que visa priorizar a proteção aos di-
reitos da crianças e resguardar o direito a informa-
ção e a liberdade de mercado.
A ABA (Associação Brasileira de Anunciantes) e o
Conar (Conselho Nacional de Autorregulamenta-
ção Publicitária) divulgaram em 2013 o estudo “Pu-
blicidade e Criança: Comparativo Global da Legisla-
ção e da Autorregulamentação”.
A pesquisa analisou os mercados de 18 países (Estados
Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espa-
nha, Portugal, Suécia, Noruega, Grécia, Rússia, Canadá,
Chile, Peru, México, Índia, China e Austrália) e também
apurou as normas diretivas da União Europeia.
O estudo concluiu que as regras do Conar sobre pu-
blicidade infantil para produtos e serviços dirigidos a
crianças – atualizadas em 2013 por conta da proibição
do merchandising – só encontram paralelo em norma
legal adotada no Reino Unido e por autorregulamen-
tação no caso do mercado da Austrália.
A pesquisa também aponta um compromisso pú-
blico firmado por 23 grandes empresas do setor de
alimentos e bebidas não-alcoólicas sobre o tema
publicidade e crianças e conclui que o conjunto de
normas legais e voluntárias que vigora no Brasil co-
loca o arcabouço brasileiro no nível do Reino Unido
quanto à proteção dos direitos da criança na expo-
sição à publicidade infantil.
No Reino Unido, vigora um sistema de autorregula-
mentação publicitária diferente, que atua em conso-
nância com uma regulação oficial, da Ofcom (Office
of Communication), a agência reguladora indepen-
dente. E se o anunciante não acatar as recomenda-
ções emitidas pela ASA, o órgão que controla a au-
torregulamentação, o Ofcom e o OFT (Office of Fair
Trading) podem agir contra a empresa.
No Brasil, a autorregulamentação funciona sem
controle do Estado. Mas, para Rafael Sampaio, vi-
ce-presidente da ABA e coordenador da pesquisa,
o sistema é eficiente porque as recomendações do
Conar têm 100% de adesão no mercado. “ O que
funciona no Conar é a adesão maciça da mídia. São
pouquíssimos os casos de descumprimento, episó-
dicos”, atesta Sampaio.
A pesquisa revela que só há casos de proibição da pu-
blicidade infantil em Quebec, uma das dez províncias
do Canadá, e na Suécia, onde o banimento desse tipo
de propaganda vigora na programação da TV aberta.
Outros casos pontuais de restrição legal à propagan-
da infantil pelo mundo também são citados no levan-
tamento. No Chile e no Peru estão proibidos anúncios
de alimentos e bebidas considerados prejudiciais. E
na Grécia há restrições quanto aos anúncios de brin-
quedos, que só podem ser veiculados durante o horá-
rio de programação adulta na TV aberta.
Disponível em: http://comkids.com.br/publicidade-infantil-experiencias-internacionais/ Acesso em: 25.mai.2016
40
PROPOSTA DE REDAÇÃO DO ENEM - 2003
Tema: A violência na sociedade brasileira: como mudar as re-gras desse jogo?
Ficha 6 – Formas de Violência
41
defender seu ponto de vista, elaborando propos-
tas para a solução do problema discutido em seu
texto. Suas propostas devem demonstrar respeito
aos direitos humanos.
• Lembre-se de que a situação de produção de
seu texto requer o uso da modalidade escrita
culta da língua portuguesa.
• O texto não deve ser escrito em forma de poe-
ma (versos) ou de narrativa.
• O texto deverá ter no mínimo 15 (quinze) li-
nhas escritas.
• A redação deverá ser apresentada a tinta e de-
senvolvida na folha própria.
• O rascunho poderá ser feito na última folha
deste Caderno.
Filosofia1º ano
•Analisar o conceito de poder e problematizar di-
ferentes relações de poder.
•Analisar as características dos campos concei-
tuais da moral e da ética: liberdade, autonomia,
responsabilidade, regras, valores, dentre outros,
reconhecendo-os na vida cotidiana.
2º ano
•Analisar as questões dos campos moral e ético
Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SP
Ao expor as pessoas a constantes ataques à sua
integridade física e moral, a violência começa a ge-
rar expectativas, a fornecer padrões de respostas.
Episódios truculentos e situações-limite passam a
ser imaginados e repetidos com
o fim de legitimar a ideia de que
só a força resolve conflitos. A
violência torna-se um item obri-
gatório na visão de mundo que
nos é transmitida. O problema,
então, é entender como chega-
mos a esse ponto.
Penso que a questão crucial,
no momento, não é a de saber
o que deu origem ao jogo da
violência, mas a de saber como
parar um jogo que a maioria, co-
agida ou não, começa a querer
continuar jogando.
(Adaptado de Jurandir Costa. O medo social.)
Considerando a leitura do quadro e dos textos, re-
dija um texto dissertativo-argumentativo sobre o
tema: A violência na sociedade brasileira: como
mudar as regras desse jogo?
Instruções:
• Ao desenvolver o tema proposto, procure uti-
lizar os conhecimentos adquiridos e as reflexões
feitas ao longo de sua formação. Selecione, orga-
nize e relacione argumentos, fatos e opiniões para
=
Proposta de redaçãoPara desenvolver o tema da redação, observe o
quadro e leia os textos apresentados a seguir:
Entender a violência, entre outras coisas, como
fruto de nossa horrenda desigualdade social,
não nos leva a desculpar os criminosos, mas po-
deria ajudar a decidir que tipo de investimentos
o Estado deve fazer para enfrentar o problema:
incrementar violência por meio da repressão ou
tomar medidas para sanear alguns problemas
sociais gravíssimos?
(Maria Rita Kehl. Folha de S. Paulo)
42
e problematizar suas implicações para as deci-
sões individuais.
• Entender-se como responsável pela formulação
de um projeto pessoal, enquanto indivíduo e en-
quanto membro de uma sociedade.
3º ano
• Aprofundar a compreensão da arte como um modo
específico de conhecer e dar sentido ao mundo.
Sociologia1º ano
• Analisar os campos de investigação e os objetos
de estudo das Ciências Sociais, diferenciando o
conhecimento científico do senso comum.
• Refletir sobre o papel da educação na repro-
dução das regras sociais, na democratização dos
bens culturais e na construção de ferramentas de
análise crítica da sociedade.
• Analisar criticamente as relações e conflitos et-
norraciais no Brasil, desconstruindo ideias e con-
ceitos amparados no mito da democracia racial e
as representações negativas sobre culturas e po-
vos africanos, afro-brasileiros e indígenas.
2º ano
• Reconhecer diferentes formas de violência, ana-
lisando o fenômeno a partir dos seus aspectos so-
ciais, econômicos, políticos e culturais.
• Problematizar a construção das desigualdades
sociais, analisando as suas diferentes dimensões
nas sociedades contemporâneas.
• Analisar diferentes formas de estratificação social
associando-as a elementos como a distribuição de
poder político, riqueza e prestígio, as relações et-
norraciais e de gênero e a inserção dos indivíduos
no mundo do trabalho.
3º ano
• Analisar as relações de poder e as formas de do-
minação presentes em diferentes esferas da vida,
ampliando a noção de poder para além das institui-
ções políticas e econômicas.
• Compreender a cidadania como um conjunto de
deveres e como a garantia plena dos direitos civis,
políticos, sociais e humanos.
• Analisar o papel das lutas e dos movimentos so-ciais nos processos de conquista dos direitos de cidadania e de formulação de políticas públicas.
Proposta didáticaO trabalho didático com esta proposta de redação
em Sociologia e Filosofia tem o potencial de pro-
porcionar aos estudantes um rico e significativo
desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e
competências conforme a abordagem didática do
professor. Para todos os anos, o professor pode
seguir a indicação das expectativas do quadro e
utilizar os textos e atividades correspondentes do
material didático Movimento do aprender, confor-
me seu planejamento. Para as turmas de 1º ano,
são as unidades 1, 2 e 4, além do apêndice, utili-
zando-se também da expectativa 3 em Sociologia.
Já em Filosofia, é interessante trabalhar a unida-
de 4 sobre moral, ética e concepção de virtude. O
professor pode propor o levantamento e análise
de dados e conceitos sobre o tema, estabelecer
correlações e então desconstruir impressões dis-
torcidas pelo senso comum, colhidas em roda de
conversa inicial. Pode também contextualizar a re-
lação entre educação e violência, principalmente
juvenil, levantando e cruzando dados demográfi-
cos, regionais, de renda, raça e cor. Como material
complementar, o professor pode utilizar o Mapa
da violência 2012, publicado pela SEPPIR-Secre-
taria de Políticas de Promoção da Igualdade Ra-
cial da Presidência da República, disponível em
<http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2012/mapa2012_cor.pdf>. Para os estudantes do 2º
ano, o professor pode abordar as diferentes for-
mas de violência, concentrar-se na violência física,
especificamente morte violenta e, dentro desta
categoria, os homicídios. A análise dos dados e a
leitura dos textos, principalmente da unidade 7 do
Movimento do aprender, podem auxiliar os estu-
dantes a reconhecer quem são as maiores vítimas
de homicídio no país. O professor pode solicitar
uma produção em grupo sobre esta realidade,
procurando partir do cotidiano, contextualizado
e fundamentado teoricamente. Por trazer poten-
cialmente um forte conteúdo emocional e iden-
titário (pois também são jovens), essa produção
pode ser uma produção artística (pintura, escultu-
ra, dramatização, etc.). O professor pode buscar a
cooperação dos colegas de outros componentes
curriculares, por meio da coordenação pedagógi-
ca, para estender a proposta a um projeto cultural
que envolva uma parcela maior da comunidade
escolar. Para os estudantes do 3º ano, o profes-
sor de sociologia deve trabalhar principalmente as
unidades 10 e 11. Os estudantes devem perceber
que a cidadania não pode florescer onde o direi-
to à própria vida está sendo desrespeitado, e de
forma seletiva. Devem elaborar hipóteses acerca
da ação (ou inação) dos diferentes agentes de po-
43
der sobre esta realidade, além da intencionalidade des-
tas (in) ações. Além disso, devem conhecer e assumir
postura crítica sobre os diversos movimentos sociais
de luta contra a violência, principalmente a violência
de Estado, que também é seletiva. O professor pode
trabalhar letras de música – com a música – como por
exemplo, “Negro drama”, dos Racionais MC´s, “O amor
venceu a guerra”, de Gog, “País da fome”, de Sabota-
ge, entre outras. Existem ainda diversos movimentos
sociais que operam neste sentido, com bastante mate-
rial de pesquisa e abertos à participação política juve-
nil, como o UNEAFRO, o NEINB, o Instituto Luiz Gama,
entre outros.
Veja mais em <http://www.marciorangon.blogspot.com.br/2014/12/colocando-o-negro-em-seu-devido-lugar.html>.
Na perspectiva filosófica, a temática da violência passa
pelos campos da análise do conceito de poder e suas di-
ferentes relações; pelos debates conceituais da moral e
da ética: liberdade, autonomia, responsabilidade, regras,
valores, dentre outros no cotidiano, pensando a arte como
um modo específico de dar sentido ao mundo.
Para fundamentação e argumentação dos estudantes so-
bre o tema da redação, pode ser explorada a unidade 12
do Movimento do aprender de Filosofia, pois traz discus-
sões pertinentes ao tema quando propõe a reflexão em
torno da ética e superação do racismo; fontes, causas,
formas e manifestações contemporâneas de racismo,
discriminação racial, xenofobia e intolerância conexa.
Grande parte das violências físicas e/ou simbólicas são
causadas pelos preconceitos e pela falta de tolerância.
Sobre a tolerância enquanto argumento de diminuição
das práticas de violência, é interessante trabalhar o texto
Tolerância, p. 241-243, à luz de Habermas. Outro aspecto
que pode ser ampliado na discussão como os estudantes
é a violência por motivos religiosos ou ateísmo, o que é
apresentado na charge da página 244 do Movimento do
aprender de Filosofia.
Após refletir sobre a questão da violência
qual será o gesto concreto disso?
Professor, dialogue com os estudantes e
busque junto com eles identificar situações
de violência que assolam a comunidade es-
colar e seus arredores e a partir das percep-
ções e falas dos estudantes procure elabo-
rar uma campanha de conscientização das
situações de violência e possibilidades de
superação delas.
Para enriquecer a dinâmica peça para
os estudantes trazerem notícias, tre-
chos de filmes, jogos e outros elementos
que apresentem situações de violência.
Como contraponto proponha que os es-
tudantes pesquisem grupos, instituições
das mais variadas matrizes comprome-
tidas com a cultura de paz e contra as
mais diversas formas de violência. Com
todos esses dados as tomadas de ação
serão mais dinâmicas e eficazes.
44
Para Debater
Texto I: Filosofia e violência
A questão da violência será posta sempre que nos
depararmos com situações-limites, ou, dito ainda,
quando nos sentirmos diretamente atingidos ou
por ela ameaçados. Ela ganha status cinematográ-
fico nos noticiários de TV e somos, queiramos ou
não, por ela persuadidos (diria seduzidos): um mis-
to de temor e curiosidade, à primeira vista inexpli-
cável. O mesmo impulso que prende nossa atenção
diante do noticiário, de outro modo se manifesta
quando ficamos perante a tela, seja do cinema ou
da TV, respiração ofegante, assistindo ao mais ter-
rível filme de terror. Dito de um modo mais simples,
somos, por natureza, seres de violência.
Acidentes, assassinatos, terremotos, enchentes,
tsunamis. A violência, que salta aos nossos olhos,
se alastra por todo o Planeta de modo que, na
maioria das vezes, nos sentimos impotentes dian-
te dela e de sua força avassaladora. Não faltam,
por isso mesmo, interpretações apocalíptico-mi-
lenaristas dando-lhe, muitas vezes, um viés reli-
gioso quando, sabemos nós, ela é humana, dema-
siadamente humana. A ideia de criar, ou forçar,
uma relação direta entre Violência (com maiús-
cula) e Deus, como se aquela fosse fruto da ira
dEste, é veterotestamentária e, por isso mesmo,
superada, de maneira que não encontra respaldo
nos Evangelhos, onde Deus aparece como puro
amor, quando seu próprio Filho nos diz que, “nin-
guém tem amor (agaphn) maior do que aquele
que dá a vida por seus amigos (Jo 15,13). Essa re-
núncia de Deus à violência já havia se dado bem
antes, ao dissuadir Abraão de oferecer o seu fi-
lho Isaac em holocausto, prática bastante comum
nas sociedades arcaicas. Assim, de Deus não vem
a violência: nem como vingança ou castigo, nem
também como aviso de que se está chegando ao
fim de uma era.
A nossa cultura está assentada sobre a violência.
Neste ponto concordam antropólogos, sociólogos
e demais estudiosos das Ciências Humanas. Freud
estudou largamente o assunto em Totem e tabu,
mas foi René Girard em A violência e o sagrado
que aprofundou o tema à exaustão. Toda a Histó-
ria, do princípio ao fim – muito embora o Fim da
História ainda não tenha chegado –, é uma longa
crônica de crimes, assassinatos e todas as formas
de violência. Não há, por assim dizer, um período
em que a Humanidade tenha gozado de uma paz
plena e duradoura. O que acontece, muitas vezes,
é que o crime comum – do homem contra o ho-
mem – nos passa despercebido, não encontrando
destaque na crônica jornalística ou histórica. Se
fizermos uma leitura atenta do livro de Gêneses,
veremos que a primeira cidade, ou civilização, foi
fundada por ninguém menos que Caim (Gn 4, 17),
assassino confesso do seu irmão Abel. Ouve-se,
não raramente, líderes religiosos associarem essa
escalada da violência (irmão que mata irmão, filha
que assassina pai, pais que assassinam filhos) ao
Fim dos Tempos. Para não ser demasiado cruel em
meu julgamento, acredito que esses supostos ex-
pertos nas Sagradas Escrituras são, antes de tudo,
completamente ignorantes no assunto. Ou não
lêem os acontecimentos históricos, ou fazem uma
leitura apocalíptica para chamar à religião as almas
incautas, à custa do medo e do terror religioso. Es-
quecem-se de um detalhe importante: manda a
boa exegese que devemos evitar tomar o texto
bíblico ao pé da letra, especialmente Gêneses, que
está repleto de simbolismos e de mitos arcaicos,
muitos dos quais presentes noutras civilizações,
como a Suméria, para ficar apenas num exemplo.
Há que se combater a violência em todas as suas
formas. Não somente a violência física, aquela que
faz um ser humano lançar-se sobre o seu seme-
lhante, mas, também, a violência institucional, essa
comandada pelo Estado, com a complacência de
toda a sociedade. Desse modo, as gritantes contra-
dições de classes – veja-se, por exemplo, uma pes-
soa enormemente rica e outra extraordinariamente
pobre – emergem como a mais sutil e cruel face da
violência, aparecendo como natural ao nosso pró-
prio ser-no-mundo. Acostumamo-nos a ver pobres
e ricos e nem sequer nos perguntamos pelas causas
reais para tantas e cruéis contradições.
Destarte, para não ficar entregue à violência pura
e simples, ou mesmo para fugir da vendeta (Se
matarem Caim, ele será vingado sete vezes [Gn
4, 15]), o homem criou as Leis. O “Não matar” (Ex
20,13), que depois vai se desdobrar noutras leis de
proteção à vida, é um claro indício de que quere-
mos, pelo menos, renunciar à violência. Essa re-
núncia, no entanto, não se dará de forma definiti-
va, como bem o mostra a própria realidade – que é
violenta, diga-se de passagem –, mas faz parte do
longo processo de hominização da própria Huma-
nidade que se auto-humaniza.
A violência tem feito parte do cotidiano da hu-
manidade desde os seus primórdios e, embora
tenhamos avançado cientifica e tecnologicamen-
te, ainda nos falta muito para uma renúncia de-
45
finitiva a qualquer ato violento. Não é de se es-
tranhar que o recurso à violência seja constante
entre humanos, e Hobbes tem lá sua porção de
razão ao afirmar que o homem é o lobo do ho-
mem (Homo homini lúpus); ou, noutras palavras,
vivemos numa constante guerra de todos contra
todos (Bellum omnium contra omnes). Essa tese
se contrapõe claramente ao que defendia Jean
Jacques Rousseau, ao afirmar que “o homem é
bom por natureza.” E que “é a sociedade que o
corrompe.” Ora, a Filosofia (e também a Antro-
pologia Cultural) nos mostra que, ao contrário do
que pensava Rousseau, é a sociedade que civiliza
o homem, tornando-o dócil e obediente às leis.
Ou seja, quanto mais me relaciono com outras
pessoas, mais em humano me transformo.
Disponível em: <http://www.metro.org.br/tarzan/filosofia-e-violencia>.
Acesso em 20 maio 2016.
Texto II: A Violência e a Sociologia.
Violência?À primeira vista, a violência parece um conceito fácil
de ser definido e claro, porém, vamos ver que não é
tão simples assim. Primeiro, começamos com a defi-
nição geral. A violência se define como uma ação que
gera, de maneira intencional, dano, ou intimidação
moral, a outro indivíduo ou ser vivo. A violência pode
implicar em um trauma, dano psicológico, ou também
em uma morte. Então, ela tem consequências relati-
vamente diversas, mas todas incidem em traumas.
Existem diferentes tipos: a violência entre pessoas, a
violência de Estado, a violência criminal, a política, a
econômica, a natural ou também a simbólica.
“Violência simbólica”, Pierre BourdieuViolência simbólica? É um conceito desenvolvido
por Pierre Bourdieu, que corresponde ao poder
de impor um processo de submissão pelo qual os
dominados percebem a hierarquia social como
legítima e natural. Por exemplo, as mulheres per-
tencem ao espaço privado (a casa), e os homens,
ao espaço público (o trabalho). Isso é um tipo de
violência simbólica.
Esta característica de violência é visível também
nas mídias e, mais precisamente, nas mensagens
publicitárias. Estas mensagens revelam algumas
imagens legítimas. Por exemplo? As mulheres são
subrepresentadas nas publicidades de produtos
para lavar. As posições de subordinação são distin-
guidas como normais, mas são, cada vez mais, con-
troversas. Estas publicidades espalham mensagens
referentes às desigualdades e relações de força.
Também, nos livros da escola, por exemplo, mui-
tas vezes você pode encontrar historias começan-
do com “Ângela esta cozinhando um bolo e Gui-
lherme irá se deliciar…” Os meninos vão integrar
o fato de que a menina está cozinhando, fazendo
uma coisa de “menina”, e não ao contrário. Cer-
tamente, isto contribui para que seja estabelecida
uma relação de submissão com o sexo feminino.
A violência no BrasilNa América latina, os países que têm o maior pro-
blema da violência são Honduras, Venezuela, Gua-
temala, El Salvador, México e também o Brasil. Na
verdade, a violência no Brasil é um termo eloquen-
te, originado principalmente do tráfico de drogas,
da corrupção, etc. Esta alta no índice de violência
pode ser explicada pela crise econômica, mas não
somente isso. O Brasil é um pais muito desigual
socialmente. Estas desigualdades determinam
o mundo social brasileiro com os “insiders” e os
“outsiders” (H. S. Becker).
Por exemplo, na cidade do Rio de Janeiro, você
pode ver estas desigualdades com os prédios su-
per sofisticados e, ao lado, as favelas. A violência
pode ser o resultado da confrontação destas desi-
gualdades. Então, a violência seria uma correlação
entre as duas esferas da sociedade: os “insiders”
e os “outsiders”. Os indivíduos mais atingidos, em
média, pela criminalidade e violência, são os ho-
mens jovens e pobres. Isso é uma média, a vida
social não é tão simplória.
É importante para um sociólogo ter cuidado com
as figuras estereotipadas e os preconceitos. Esta
violência gera na sociedade brasileira uma cultura
do medo. Os indivíduos integram, desde a socia-
lização primária, numerosas normas sociais relati-
vas às violências. Por exemplo, uma menina sabe
que pode ser perigoso sair sozinha à noite. Você
tem outros exemplos?
Disponível em: <http://www.sociologia.com.br/violencia-e-a-sociologia/>. Acesso em 20 maio 2016.
46
Ficha 7 – Diversidade Cultural
47
PROPOSTA DE REDAÇÃO ENEM – 2007
Ninguém = Ninguém(Engenheiros do Hawaii)
Há tantos quadros na parede
há tantas formas de se ver o mesmo quadro
há tanta gente pelas ruas
há tantas ruas e nenhuma é igual a outra
(ninguém = ninguém)
me espanta que tanta gente sinta
(se é que sente) a mesma indiferença
há tantos quadros na parede
há tantas formas de se ver o mesmo quadro
há palavras que nunca são ditas
há muitas vozes repetindo a mesma frase
(ninguém = ninguém)
me espanta que tanta gente minta
(descaradamente) a mesma mentira
todos iguais, todos iguais
mas uns mais iguais que os outros
Tanto faz a cor que se herda
(...)
Todos os homens são iguais
São uns iguais aos outros, são uns iguais aos outros
A cultura adquire formas diversas através do tem-
po e do espaço. Essa diversidade se manifesta na
originalidade e na pluralidade de identidades que
caracterizam os grupos e as sociedades que com-
põem a humanidade. Fonte de intercâmbios, de
inovação e de criatividade, a diversidade cultural
é, para o gênero humano, tão necessária como a
diversidade biológica para a natureza. Nesse sen-
tido, constitui o patrimônio comum da humanida-
de e deve ser reconhecida e consolidada em bene-
fício das gerações presentes e futuras.
UNESCO. Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural.
Todos reconhecem a riqueza da diversidade no
planeta. Mil aromas, cores, sabores, texturas, sons
encantam as pessoas no mundo todo; nem todas,
entretanto, conseguem conviver com as diferenças
individuais e culturais. Nesse sentido, ser diferente já
não parece tão encantador. Considerando a figura e
os textos acima como motivadores, redija um texto
dissertativo-argumentativo a respeito do seguinte
tema. O desafio de se conviver com a diferença
Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar
os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas
ao longo de sua formação. Selecione, organize e
relacione argumentos, fatos e opiniões para de-
fender seu ponto de vista e suas propostas, sem
ferir os direitos humanos.
Tema: O desafio de conviver com a diferença
Uns Iguais Aos Outros (Titãs)
Os homens são todos iguais
(...)
Brancos, pretos e orientais
Todos são filhos de Deus
(...)
Kaiowas contra xavantes
Árabes, turcos e iraquianos
São iguais os seres humanos
São uns iguais aos outros, são uns iguais aos outros
Americanos contra latinos
Já nascem mortos os nordestinos
Os retirantes e os jagunços
O sertão é do tamanho do mundo
Dessa vida nada se leva
Nesse mundo se ajoelha e se reza
Não importa que língua se fala
Aquilo que une é o que separa
Não julgue pra não ser julgado
(...)
48
Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SPFilosofia1º ano
• Contextualizar o nascimento da filosofia na Grécia
Antiga, compreendendo a especificidade do pensa-
mento filosófico frente ao pensamento mitológico.
• Interpretar a constituição do homem nas inter-
conexões entre natureza e cultura, analisando
diferentes concepções filosóficas sobre a natu-
reza humana.
• Analisar as características dos campos concei-
tuais da moral e da ética: liberdade, autonomia,
responsabilidade, regras, valores, dentre outros,
reconhecendo-os na vida cotidiana.
2º ano
• Identificar as fontes do conhecimento, discernin-
do e relacionando conhecimento sensível e inte-
ligível, bem como as noções de sujeito e objeto.
3º ano
• Refletir, com base no conceito de ética, sobre
a violência e as várias formas de discriminação:
sexismo, racismo, xenofobia, dentre outras.
Sociologia1º ano
• Problematizar as relações entre indivíduo e so-
ciedade, comparando a influência de diferentes
instituições sociais no processo de socialização.
• Interpretar a cultura a partir de perspectivas an-
tropológicas, problematizando conceitos como
diferença, etnocentrismo e relativismo cultural.
• Problematizar as noções de cultura erudita e po-
pular, criticando a hierarquização das manifesta-
ções culturais.
• Analisar criticamente as relações e conflitos ét-
nico-raciais no Brasil, desconstruindo ideias e con-
ceitos amparados no mito da democracia racial e
as representações negativas sobre culturas e po-
vos africanos, afro-brasileiros e indígenas.
2º ano
• Analisar diferentes formas de estratificação so-
cial, associando-as a elementos como a distribui-
ção de poder político, riqueza e prestígio, as rela-
ções étnico-raciais e de gênero, e a inserção dos
indivíduos no mundo do trabalho.
• Problematizar a construção das desigualdades
sociais, analisando as suas diferentes dimensões
nas sociedades contemporâneas.
3º ano
• Analisar as relações de poder e as formas de do-
minação presentes em diferentes esferas da vida,
ampliando a noção de poder para além das insti-
tuições políticas e econômicas.
• Relacionar a política com a vida em comunidade e
com os conflitos e negociações no espaço público.
• Compreender a cidadania como um conjunto de
deveres e como a garantia plena dos direitos civis,
políticos, sociais e humanos.
Proposta didáticaA montagem de imagens na qual está inserido o
nome da prova “Proposta de Redação” traz vá-
rias pessoas de diferentes etnias, idade e origem,
sendo esta parte da coletânea textual. Por meio
dela, é possível deduzir que a proposta de reda-
ção aborda a tolerância para se viver em socieda-
de, além do risco de os preconceitos impedirem
a convivência sadia com a diversidade. Uma boa
estratégia de análise dessa proposta de redação
é encontrar um meio de reproduzir as músicas
das bandas Engenheiros do Hawaii (Ninguém =
Ninguém) e Titãs (Uns Iguais Aos Outros), além
de fazer a leitura atenta de uma parte da Decla-
ração Universal sobre a Diversidade Cultural da
UNESCO, proposta para a dissertação.
Nesse sentido, a troca de impressões sobre a ima-
gem, as músicas e a Declaração ajudará na cons-
trução coletiva da compreensão da proposta de
redação e nas possibilidades de intervenção social
para contribuir com o respeito à diversidade.
Após as trocas coletivas de compreensões dos tex-
tos motivadores da proposta de redação do ENEM
2007, provavelmente parte significativa dos estu-
dantes chegará à ideia de que ser diferente é nor-
mal, e constituirão uma crítica aos tipos de precon-
ceitos que colocam a diversidade como algo ruim.
Como proposta de intervenção social, é interes-
sante pensar projetos concretos e realizáveis ca-
pazes de possibilitar compreensão, o respeito e
a boa convivência entre todas as pessoas como,
por exemplo, a criação de ambientes de diálogo
entre pessoas de religiões diferentes para que
um processo de conhecimento ocorra. Aqui entra
o papel da escola como um bom espaço para o
encontro e a articulação das diversidades, sendo
possível a criação da feira de diversidades cultu-
rais envolvendo toda a comunidade.
49
Para Debater
Texto I: Multiculturalismo
Diferença, diversidade, pluralismo, hibridismo
– esses são alguns dos termos mais debatidos e
contestados do nosso tempo. Questões de dife-
rença estão no centro mesmo de muitas discus-
sões dentro dos feminismos contemporâneos. No
campo da educação na Grã-Bretanha, questões
de identidade e comunidade continuam a dominar
os debates que cercam o “multiculturalismo” e o
“anti-racismo”. (...) Considero como esses temas
podem nos ajudar a compreender a racialização
do gênero. Independente das vezes que o con-
ceito é exposto como vazio, a “raça” ainda atua
como um marcador aparentemente inerradicável
de diferença social. O que torna possível que essa
categoria atue dessa maneira? Qual é a natureza
das diferenças sociais e culturais, e o que lhes dá
força? Como, então, a diferença “racial” se liga a
diferenças e antagonismos organizados em torno
a outros marcadores como “gênero” e “classe”?
Tais questões são importantes porque podem aju-
dar a explicar o tenaz investimento das pessoas
em noções de identidade, comunidade e tradição.
BRAH, Avtar, Diferença, diversidade, diferenciação, Carto-gra phies of Diaspora: Contesting Indentities. Longon/New
York, Routledge, 1996, capítulo 5, pp.95-127, Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cpa/n26/30396.pdf> acesso em
25.mai.2016
50
Ficha 8 – Indústria Cultural
PROPOSTA DE REDAÇÃO DO ENEM 2004
Tema: Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação?
Os programas sensacionalistas do rádio e os pro-
gramas policiais de final da tarde em televisão
saciam curiosidades perversas e até mórbidas ti-
rando sua matéria-prima do drama de cidadãos
humildes que aparecem nas delegacias como
suspeitos de pequenos crimes. Ali, são entrevis-
tados por intimidação. As câmeras invadem bar-
racos e cortiços, e gravam sem pedir licença a
estupefação de famílias de baixíssima renda que
não sabem direito o que se passa: um parente é
suspeito de estupro, ou o vizinho acaba de ser
Proposta de redaçãoLeia com atenção os seguintes textos
Proposta de redação do Enem 2004 (Foto: Reprodução/Enem)
=
51
Incisos do Artigo 5º da Constituição Federal de 1988:
IX – é livre a expressão da atividade intelectual, ar-
tística, científica e de comunicação, independente-
mente de censura ou licença;
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a
honra e a imagem das pessoas, assegurado o direi-
to a indenização pelo dano material ou moral de-
corrente de sua violação.
Com base nas ideias presentes nos textos acima,
redija uma dissertação em prosa sobre o seguinte
tema: Como garantir a liberdade de informação e
evitar abusos nos meios de comunicação?
Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar
os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas
ao longo de sua formação. Selecione, organize e
relacione argumentos, fatos e opiniões para de-
fender seu ponto de vista e suas propostas.
Vista e suas propostas, sem ferir os direitos humanos.
Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SP
preso por tráfico, ou o primo morreu no massacre
de fim de semana no bar da esquina. A polícia
chega atirando; a mídia chega filmando.
Eugênio Bucci. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
Quem fiscaliza [a imprensa]? Trata-se de tema
complexo porque remete para a questão da res-
ponsabilidade não só das empresas de comunica-
ção como também dos jornalistas. Alguns países,
como a Suécia e a Grã-Bretanha, vêm há anos ten-
tando resolver o problema da responsabilidade do
jornalismo por meio de mecanismos que incenti-
vam a autorregulação da mídia.
<http://www.eticanatv.org.br> Acesso em 30/05/2004.
No Brasil, entre outras organizações, existe o Ob-
servatório da Imprensa – entidade civil, não gover-
namental e não partidária –, que pretende acom-
panhar o desempenho da mídia brasileira. Em sua
página eletrônica, lê-se:
Os meios de comunicação de massa são majo-
ritariamente produzidos por empresas privadas
cujas decisões atendem legitimamente aos de-
sígnios de seus acionistas ou representantes. Mas
o produto jornalístico é, inquestionavelmente, um
serviço público, com garantias e privilégios espe-
cíficos previstos na Constituição Federal, o que
pressupõe contrapartidas em deveres e respon-
sabilidades sociais.
<http://www.observatorio.ultimosegundo.ig.com.br> (adaptado) Acesso em 30/05/04.
Filosofia1º ano
• Compreender a importância da linguagem para a
constituição do homem e como veículo da cultura.
• Analisar as características dos campos concei-
tuais da moral e da ética: liberdade, autonomia,
responsabilidade, regras, valores, dentre outros,
reconhecendo-os na vida cotidiana.
2º ano
• Conhecer e utilizar as noções de indução, dedu-
ção, silogismo, argumento, juízo e validade.
• Identificar raciocínios válidos e falácias presentes em
discursos e elaborar opiniões argumentativamente.
3º ano
• Analisar criticamente a ideologia, relacionando
os conceitos de cultura de massa, indústria cultu-
ral e meios de comunicação de massa.
• Estabelecer relações entre ética e liberdade, re-
conhecendo a ação ética como livre e consciente.
Sociologia1º ano
• Refletir sobre o papel da educação na repro-
dução das regras sociais, na democratização dos
bens culturais e na construção de ferramentas de
análise crítica da sociedade.
• Relacionar os conceitos de cultura e ideologia,
problematizando formas de dominação e de resis-
tência nas sociedades contemporâneas.
• Analisar criticamente as relações e conflitos et-
norraciais no Brasil, desconstruindo ideias e con-
ceitos amparados no mito da democracia racial e
as representações negativas sobre culturas e po-
vos africanos, afro-brasileiros e indígenas.
52
Proposta didáticaEste tema pode ser trabalhado pelo professor de
Sociologia nos três anos do ensino médio, confor-
me tabela com as expectativas relacionadas aci-
ma. Para as turmas do 1º ano, o professor deve tra-
balhar os conteúdos e atividades principalmente
das unidades 2, 4 e 5 do Movimento do aprender.
Para as turmas do 2º ano, o professor deve tra-
balhar basicamente a unidade 7 e, para as turmas
do 3º ano, deve-se trabalhar as unidades 11 e 12.
Em todos os anos, o professor pode trabalhar com
a expectativa de métodos e técnicas de pesquisa
e os seus respectivos conteúdos, que constam no
apêndice do livro didático. No 1º ano, o estudan-
te deve ter uma compreensão crítica de que o ci-
dadão, principalmente o pobre, é também sujeito
de direito à informação e não pode ser alvo dos
abusos dos meios de comunicação. Deve compre-
ender a relação entre cultura e ideologia e reco-
nhecer os meios de comunicação de massa como
instrumentos de dominação e poder, além de arti-
cular formas de resistência a esse domínio cultural
alienante. Deve ainda reconhecer que essa violên-
cia é seletiva e atinge as classes mais baixas da
sociedade, além de identificar elementos culturais
de discriminação e segregação racial ao constatar
que tal violação atinge majoritariamente a popula-
ção de cor negra. Para isso, o professor deve exi-
bir os tais programas (gravados, ou mesmo direta-
mente na TV da escola, “ao vivo”, se o horário das
aulas assim permitir) e desenvolver observações
e registros dirigidos, debates ou outras formas de
sistematização. No 2º ano, os estudantes devem
reconhecer como uma forma de violência a expo-
sição da vida privada (em tom novelesco) de um
indivíduo acusado – mas ainda não julgado – de
forma pública, amplificada midiaticamente pela
TV num programa de grande popularidade. En-
tão, devem relacionar essa violência à situação de
classe das vítimas, problematizando questões do
tipo: se o acusado pertencesse a uma situação de
classe diferente, será que seria tratado da mesma
forma? Por quê? Existem exemplos desse trata-
mento contraditório que podem ilustrar tal situa-
ção? Partindo desses questionamentos, professor
2º ano
• Analisar diferentes formas de estratificação so-
cial, associando-as a elementos como a distribui-
ção de poder político, riqueza e prestígio, as rela-
ções étnico-raciais e de gênero, e a inserção dos
indivíduos no mundo do trabalho.
• Problematizar a construção das desigualdades
sociais, analisando as suas diferentes dimensões
nas sociedades contemporâneas.
• Reconhecer diferentes formas de violência, ana-
lisando o fenômeno a partir dos seus aspectos so-
ciais, econômicos, políticos e culturais.
3º ano
• Analisar o papel da indústria cultural e dos meios
de comunicação de massa na sociedade, proble-
matizando a formação e a uniformização de opini-
ões, gostos e comportamentos.
• Entender o conceito de alienação e analisar criti-
camente o consumismo enquanto produto de uma
cultura de massa no contexto do sistema capitalista.
• Compreender a cidadania como um conjunto de
deveres e como a garantia plena dos direitos ci-
vis, políticos, sociais e humanos.
pode solicitar pesquisas, realizar debates e rodas
de conversa. Nas turmas do 3º ano, os estudantes
devem compreender que a “notícia” é um produto
da indústria cultural, que tem um valor de merca-
do, uma data de validade e precisa ser de grande
penetração e aceitação pelos ávidos “consumido-
res” no mercado da informação. Os estudantes de-
vem compreender que um produto, qualquer que
seja, não pode suplantar os direitos civis do indiví-
duo e que todos são iguais perante a lei. Ou seja,
a liberdade de imprensa não pode se sobrepor às
liberdades individuais. O professor pode solicitar
uma pesquisa aos estudantes sobre os conteúdos
dos jornais e programas jornalísticos com esta
problematização: pode a liberdade de imprensa
suplantar as liberdades individuais?
A Filosofia pode contribuir com a reflexão sobre o
tema a partir da análise dos conceitos de lingua-
gem como forma de comunicação, nesse sentido
podem ser exploradas as estratégias de conven-
cimento e persuasão de que se servem os meios
de comunicação. A unidade 9 do Movimento do
aprender de Filosofia pode ser de grande contri-
buição para o estudo de conceitos como ideologia
e indústria cultural, sendo esses dois elementos
base para o entendimento dos procedimentos de
manipulação das informações.
Para Debater
Texto I: Declaração de direitos do homem e do cidadão – 1789Os representantes do povo francês, reunidos em
Assembléia Nacional, tendo em vista que a igno-
rância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos
53
do homem são as únicas causas dos males públicos
e da corrupção dos Governos, resolveram declarar
solenemente os direitos naturais, inalienáveis e sa-
grados do homem, a fim de que esta declaração,
sempre presente em todos os membros do corpo
social, lhes lembre permanentemente seus direi-
tos e seus deveres; a fim de que os atos do Poder
Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser a
qualquer momento comparados com a finalidade
de toda a instituição política, sejam por isso mais
respeitados; a fim de que as reivindicações dos ci-
dadãos, doravante fundadas em princípios simples
e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação
da Constituição e à felicidade geral.
Em razão disto, a Assembléia Nacional reconhece
e declara, na presença e sob a égide do Ser Supre-
mo, os seguintes direitos do homem e do cidadão:
Art. 11º. A livre comunicação das ideias e das opi-
niões é um dos mais preciosos direitos do homem.
Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, impri-
mir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos
desta liberdade nos termos previstos na lei.
Disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-à-criação-da-Sociedade-das-Nações-até-1919/declaracao-de-direitos-do-homem-e-do-
cidadao-1789.html> Acesso em: 15.mai.2016
54
Ficha 9 – Sustentabilidade
55
PROPOSTA DE REDAÇÃO DO ENEM - 2001
Proposta de redação
à terra. Disso temos certeza. Todas as coisas estão
relacionadas como o sangue que une uma família.
Tudo está associado. O que fere a terra, fere tam-
bém os filhos da terra. O homem não tece a teia da
vida; é antes um de seus fios. O que quer que faça a
essa teia, faz a si próprio. Trecho de uma das várias
versões de carta atribuída ao chefe Seattle, da tribo
Suquamish. A carta teria sido endereçada ao presi-
dente norte-americano, Franklin Pierce, em 1854, a
propósito de uma oferta de compra do território da
tribo feita pelo governo dos Estados Unidos.
(PINSKY, Jaime e outros (Org.). História da América através de textos. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 1991)
Estou indignado com a frase do presidente dos Esta-
dos Unidos, George Bush. “Somos os maiores polui-
dores do mundo, mas se for preciso poluiremos mais
para evitar uma recessão na economia americana”.
R. K., Ourinhos, SP. (Carta enviada à seção Correio da Revista Galileu. Ano 10, junho de 2001).
Com base na leitura dos quadrinhos e dos textos,
redija um texto dissertativo-argumentativo sobre
o tema: Desenvolvimento e preservação ambien-
tal: como conciliar os interesses em conflito?
Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar
os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas
ao longo de sua formação. Selecione, organize e
relacione argumentos, fatos e opiniões para de-
fender o seu ponto de vista, elaborando propos-
tas para a solução do problema discutido em seu
texto. Suas propostas devem demonstrar respeito
aos direitos humanos.
Tema: Desenvolvimento e preservação ambiental: como conciliar interesses em conflito?
nas 22% da cobertura florestal original. A Europa
Ocidental perdeu 99,7% de suas florestas primárias;
a Ásia, 94%; a África, 92%; a Oceania, 78%; a Amé-
rica do Norte, 66%; e a América do Sul, 54%. Cerca
de 45% das florestas tropicais, que cobriam origi-
nalmente 14 milhões de km quadrados (1,4 bilhão
de hectares), desapareceram nas últimas décadas.
No caso da Amazônia Brasileira, o desmatamento
da região, que até 1970 era de apenas 1%, saltou
para quase 15% em 1999. Uma área do tamanho da
França desmatada em apenas 30 anos. Chega.
(Paulo Adário, Coordenador da Campanha da Amazônia do Greenpeace. http://greenpeace.terra.com.br)
Embora os países do Hemisfério Norte possuam
apenas um quinto da população do planeta, eles
detêm quatro quintos dos rendimentos mundiais e
consomem 70% da energia, 75% dos metais e 85%
da produção de madeira mundial. (...)
Conta-se que Mahatma Gandhi, ao ser perguntado
se, depois da independência, a Índia perseguiria
o estilo de vida britânico, teria respondido: “(...) a
Grã-Bretanha precisou de metade dos recursos do
planeta para alcançar sua prosperidade; quantos
planetas não seriam necessários para que um país
como a Índia alcançasse o mesmo patamar?”
A sabedoria de Gandhi indicava que os modelos
de desenvolvimento precisam mudar.
(O planeta é um problema pessoal - Desenvolvimento sustentável. www.wwf.org.br)
De uma coisa temos certeza: a terra não pertence
ao homem branco; o homem branco é que pertence
Proposta de redação do Enem 2001 (Foto: Reprodução/Enem)
Conter a destruição das florestas se tornou uma
prioridade mundial, e não apenas um problema
brasileiro. (...) Restam hoje, em todo o planeta, ape-
56
Proposta didáticaEsta proposta de redação contém cinco textos.
Nos três iniciais, verifica-se uma relação propor-
cionalmente direta entre o grau de exploração de
recursos naturais e o nível de desenvolvimento
econômico apresentados pelos países e regiões
do mundo. Esses textos apontam para a ideia de
que o planeta pertence ao homem e este pode fa-
zer o que bem quiser com ele em nome da melho-
ria de sua qualidade de vida e conforto. O quarto
texto traz uma ideia exatamente contrária, de que
é o homem que pertence à terra e dela não pode
prescindir, sob pena de sofrer as consequências de
sua ação predatória. Já o último texto da propos-
ta revela, na voz do então principal representante
da sociedade global, o presidente norte-americano
George Bush, a incompatibilidade política entre as
propostas de preservação ambiental e crescimen-
to econômico, além da prevalência do último em
detrimento da primeira em caso de conflito limite.
Ou seja, os três textos iniciais direcionam a reflexão
para a insustentabilidade do modo de produção e o
estilo de vida urbano-industrial moderno. O quarto
texto nos leva a pensar sobre a qualidade do modo
de vida sustentável dos indígenas, ainda considera-
dos por muitos como primitivos e atrasados, além
de provocar a reflexão sobre a (im)possibilidade de
Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SP
Filosofia1º ano
• Analisar as características dos campos conceitu-
ais da moral e da ética: liberdade, autonomia, res-
ponsabilidade, regras, valores, dentre outros, reco-
nhecendo-os na vida cotidiana.
2º ano
• Reconhecer o impacto causado na sociedade pe-
las transformações da técnica e problematizar as
relações desta com o uso instrumental da razão.
3º ano
• Avaliar os mitos do cientificismo e da neutrali-
dade da ciência, desenvolvendo uma perspecti-
va histórica.
Sociologia1º ano
• Refletir sobre o papel da educação na reprodu-
ção das regras sociais, na democratização dos bens
culturais e na construção de ferramentas de análise
crítica da sociedade.
• Reconhecer os impactos das novas tecnologias
de informação, do desenvolvimento científico e da
globalização nas relações sociais.
2º ano
• Analisar a questão do trabalho nas sociedades
capitalistas e problematizar as mudanças recentes
advindas do processo de globalização, da flexibi-
lização e mobilidade dos mercados de trabalho e
do desenvolvimento científico e tecnológico.
• Compreender os desafios ambientais contempo-
râneos, problematizando a relação entre socieda-
de e natureza.
3º ano
• Analisar o papel das lutas e dos movimentos so-
ciais nos processos de conquista dos direitos de
cidadania e de formulação de políticas públicas.
retomarmos esse estilo de vida idílico (e sustentá-
vel) como o ideal para uma nova sociedade pós-in-
dustrial. Já o último texto da sequência sugere que
a preservação ambiental e a exploração capitalista
são incompatíveis. A leitura dos textos deve levar
o estudante à reflexão sobre a relação antagôni-
ca entre a necessidade cada vez mais urgente da
preservação ambiental global – dada pela ameaça
das mudanças climáticas que já se fazem sentir em
todo o planeta, derivada da exploração desmedida
dos recursos naturais - e a impossibilidade dessa
prática dentro do atual sistema econômico e social
hegemônico, o capitalismo.
Cabe uma discussão sobre o papel do capitalismo
no processo de exploração de recursos, por meio
dos seguintes questionamentos:
O fundamento basilar do capitalismo é a explora-
ção dos recursos, naturais e humanos? O capita-
lista busca o lucro; e o lucro vem da exploração
crescente dos recursos, naturais e humanos? Pre-
servação e exploração são, logicamente, concei-
tos antagônicos e excludentes?
Possivelmente as posições dos estudantes po-
dem tangenciar a constatação – corroborada
pela afirmação do texto cinco - que toda eco-
nomia capitalista precisa crescer; se não cresce,
entra em recessão, e isso é considerado insupor-
tável. Ou seja, o movimento histórico do capi-
talismo, no limite, tende a esgotar os recursos
naturais (e humanos) no processo crescente e
ininterrupto de ampliação da exploração desses
recursos, aliado ao proporcional incremento de
produção de resíduos.
57
A problematização que se coloca é: como cons-
truir um caminho que contemple a preservação
dos recursos naturais sem comprometer o de-
senvolvimento econômico? Como salvar o pla-
neta e ao mesmo tempo ampliar a produção e
o consumo, garantindo a manutenção de nosso
estilo de vida “civilizado”? Será que existe um
caminho do meio, entre o impensável retorno à
vida pré-industrial, selvagem e sem os confortos
da vida moderna, e o iminente colapso ambiental
do planeta, dado pelo esgotamento dos recur-
sos naturais e pela produção descomunal de lixo,
provocados inevitavelmente pelo modelo econô-
mico e social capitalista? É possível preservar, ao
mesmo tempo, o desenvolvimento econômico e
o equilíbrio ecológico? Seria possível conservar
a natureza no capitalismo? Seria possível preser-
var a natureza e o capitalismo?
É oportuno propor aos estudantes uma pesquisa
sobre o significado da evolução histórica da uti-
lização dos termos preservação, conservação e
sustentabilidade, identificando sua relação com a
transformação do próprio capitalismo e do movi-
mento ambientalista.
Para realizar essas abordagens, o professor de
Sociologia pode utilizar diversos textos, imagens
e demais recursos contemplados na unidade 8,
Meio ambiente e capitalismo, do Movimento do
Aprender, que trata justamente dessa temática.
Podem ser utilizados também diversos textos
contidos nos Muitos textos... Tantas palavras. O
volume do primeiro ano traz, entre outros textos,
a Carta do Cacique Seattle em 1885; o volume do
segundo apresenta, entre outros, o texto Entre
o homem e a natureza; traz ainda o interessan-
te texto Entropia: progresso para a destruição!,
que pode ser estudado num movimento interdis-
ciplinar; já no volume do terceiro ano, podemos
encontrar, entre outros, o texto Países tentam
acabar com o comércio de lixo, ou então o texto
A política nacional de resíduos sólidos: a respon-
sabilidade das empresas e a inclusão social.
Em uma perspectiva filosófica, é interessante tra-
zer a Ética como meio de reflexão e defesa do
respeito à vida. Nesse sentido, problematize o que
pode ser entendido como vida. É possível traz
também a discussão sobre as escolhas e ações hu-
manas que vão transformando o meio ambiente
ou o destruindo. O ser humano, em linhas gerais,
ou apoia a natureza e suas criaturas ou subju-
ga tudo que pode dominar. E assim, ele mesmo
se torna o bem ou o mal deste planeta. Também
pode ser trabalhada a bioética como parte da éti-
ca, ramo da filosofia que enfoca as questões refe-
rentes à vida humana (e, portanto, à saúde, o cui-
dado com a natureza). Espera-se que o estudante
possa argumentar no sentido da importância da
conscientização de que o humano faz parte da na-
tureza e não é o dono dela e que, sem ela, ele não
sobrevive. Por isso, sobreviver em harmonia com
os demais seres se torna ação fundamental para a
própria qualidade de vida humana.
Para Debater
Texto I: O que é biodiversidade?
O termo biodiversidade - ou diversidade biológica
- descreve a riqueza e a variedade do mundo na-
tural. As plantas, os animais e os microrganismos
fornecem alimentos, remédios e boa parte da ma-
téria-prima industrial consumida pelo ser humano.
Para entender o que é a biodiversidade, devemos
considerar o termo em dois níveis diferentes: todas
as formas de vida, assim como os genes contidos
em cada indivíduo, e as inter-relações, ou ecossis-
temas, na qual a existência de uma espécie afeta
diretamente muitas outras. A diversidade biológi-
ca está presente em todo lugar: no meio dos de-
sertos, nas tundras congeladas ou nas fontes de
água sulfurosas. A diversidade genética possibili-
tou a adaptação da vida nos mais diversos pontos
do planeta. As plantas, por exemplo, estão na base
dos ecossistemas. Como elas florescem com mais
intensidade nas áreas úmidas e quentes, a maior
diversidade é detectada nos trópicos, como é o
caso da Amazônia e sua excepcional vegetação.
Quantas espécies existem no mundo?Não se sabe quantas espécies vegetais e animais
existem no mundo. As estimativas variam entre
10 e 50 milhões, mas até agora os cientistas clas-
sificaram e deram nome a somente 1,5 milhão de
espécies. Entre os especialistas, o Brasil é consi-
derado o país da “megadiversidade”: aproxima-
damente 20% das espécies conhecidas no mundo
estão aqui. É bastante divulgado, por exemplo, o
potencial terapêutico das plantas da Amazônia.
Quais as principais ameaças à biodiversidade?A poluição, o uso excessivo dos recursos naturais,
a expansão da fronteira agrícola em detrimento
dos habitats naturais, a expansão urbana e indus-
trial, tudo isso está levando muitas espécies vege-
tais e animais à extinção. A cada ano, aproximada-
mente 17 milhões de hectares de floresta tropical
são desmatados. As estimativas sugerem que, se
isso continuar, entre 5% e 10% das espécies que
58
habitam as florestas tropicais poderão estar ex-
tintas dentro dos próximos 30 anos. A sociedade
moderna - particularmente os países ricos - des-
perdiça grande quantidade de recursos naturais.
A elevada produção e uso de papel, por exemplo,
é uma ameaça constante às florestas. A explora-
ção excessiva de algumas espécies também pode
causar a sua completa extinção. Por causa do uso
medicinal de chifres de rinocerontes em Sumatra
e em Java, por exemplo, o animal foi caçado até o
limiar da extinção.
A poluição é outra grave ameaça à biodiversidade
do planeta. Na Suécia, a poluição e a acidez das
águas impede a sobrevivência de peixes e plantas
em quatro mil lagos do país. A introdução de espé-
cies animais e vegetais em diferentes ecossistemas
também pode ser prejudicial, pois acaba colocan-
do em risco a biodiversidade de toda uma área,
região ou país. Um caso bem conhecido é o da im-
portação do sapo cururu pelo governo da Austrá-
lia, com objetivo de controlar uma peste nas plan-
tações de cana-de-açúcar no nordeste do país. O
animal revelou-se um predador voraz dos répteis
e anfíbios da região, tornando-se um problema a
mais para os produtores, e não uma solução.
Disponível em: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/biodiversidade/>. Acesso em 20/5/2010.
Texto II: Ecocentrismo
[...] Essa nova filosofia ecocêntrica e a conscien-
tização fazem com que o ser humano passe a se
preocupar com suas ações entendendo que ele faz
parte na natureza. Não é o “dono da Natureza”.
Passa a compreender que a Natureza não está ali
para servi-lo, mas para que ele possa sobreviver
em harmonia com os demais seres. Percebendo
isso, o ser humano passou a se preocupar com
suas ações. Passou a ter ações coerentes em rela-
ção à Natureza. Mesmo as suas ações intersociais
passam a ser direcionadas à causa da preservação
da vida global. Então, estará ele desenvolvendo
cada vez mais uma visão “holística” do mundo, ou
seja uma visão global.
Essa nova consciência e visão global trazem a ele
a necessidade de desenvolver uma nova linha de
conduta ética entre ele e a Natureza, formando
uma nova interligação ética: homem-natureza.
Ética Ambiental. Definição: é o estudo da conduta
comportamental do ser humano em relação à na-
tureza, decorrente da conscientização ambiental
e conseqüente compromisso perssonalíssimo pre-
servacionista, tendo como objetivo a conservação
da vida global. Com essa nova ética, diferente da
ética tradicional, vai pautar toda a sua vida e assim
estará ele agindo sempre com um maior compro-
misso ético. Compromisso criado por ele próprio.
Dentro dele. Sem nenhuma lei que não seja a sua
consciência (...).
Texto de Antônio Silveira Ribeiro dos Santos. Juiz de Direito em São Paulo. Disponível em: <http://www.aultimaarcadenoe.com.br/
homem-natureza/>. Acesso em 20/5/2010.
Texto III: A injustiça ecológica
[...] A segunda injustiça, a ecológica está ligada
à primeira (social). A devastação da natureza e
o atual aquecimento global afetam todos os paí-
ses, não respeitando os limites nacionais nem os
níveis de riqueza ou de pobreza. Logicamente, os
ricos têm mais condições de adaptar-se e mitigar
os efeitos danosos das mudanças climáticas. Face
aos eventos extremos, possuem refrigeradores ou
aquecedores e podem criar defesas contra inunda-
ções que assolam regiões inteiras. Mas os pobres
não têm como se defender. Sofrem os danos de
um problema que não criaram. Fred Pierce, autor
de “O terremoto populacional” escreveu no New
Scientist de novembro de 2009: “os 500 milhões
dos mais ricos (7% da população mundial) respon-
dem por 50% das emissões de gases produtores
de aquecimento, enquanto 50% dos pais mais po-
bres (3,4 bilhões da população) são responsáveis
por apenas 7% das emissões”. Esta injustiça ecoló-
gica dificilmente pode ser tornada invisível como
a outra, porque os sinais estão em todas as par-
tes, nem pode ser resolvida só pelos ricos, pois ela
é global e atinge também a eles. A solução deve
nascer da colaboração de todos, de forma dife-
renciada: os ricos, por serem mais responsáveis
no passado e no presente, devem contribuir muito
mais com investimentos e com a transferência de
tecnologias e os pobres têm o direito a um desen-
volvimento ecologicamente sustentável, que os
tire da miséria [...].
Texto de Leonardo Boff, filósofo e teólogo. Disponível em: <http://leonardoboff.com/site/vista/2010/mar12.htm>.
Acesso em 20/5/2010.
Texto IV: Entenda os três pilares da sus-tentabilidade
É comum surgir, de tempos em tempos, novos
paradigmas no mundo corporativo que acabam
alterando significativamente a maneira como as
empresas se posicionam perante seus públicos e
a sociedade em geral.
Houve épocas em que a relação produção ver-
sus tempo era o atributo de destaque entre os
59
concorrentes. Surgiu, posteriormente, a neces-
sidade de humanização das marcas, dando uma
maior importância à imagem e à relação com
seus consumidores.
De alguns anos para cá, parece que a menina dos
olhos das empresas tem sido a tal da sustentabili-
dade. E, desde então, observa-se o esforço incan-
sável das organizações na promoção de ações e
divulgação dessa poderosa palavra em anúncios,
logomarcas, propagandas e embalagens de todos
os produtos possíveis.
Mas, afinal, o que é sustentabilidade? Você tam-
bém já se viu com essa dúvida? Então confira nos-
so post e entenda exatamente do que se trata esse
tão difundido conceito:
A confusão de conceitosDurante muito tempo se acreditou, erroneamen-
te, que a sustentabilidade estaria diretamente
relacionada ao meio ambiente. Seguindo esse
princípio, as empresas começaram a fomentar
projetos de preservação da flora e da fauna, de
reflorestamento, de proteção a espécies amea-
çadas de extinção, dentre outras ações pontuais
que, por mais que sejam válidas, não represen-
tam, em si, o conceito mais amplo do desenvolvi-
mento sustentável.
Os três pilaresAtualmente, essa ideia é dividida em três princi-
pais pilares: social, econômico e ambiental. Para
se desenvolver de forma sustentável, uma em-
presa deve atuar de forma que esses três pilares
coexistam e interajam entre si de forma plena-
mente harmoniosa.
Vamos então entender um pouco mais de cada um
desses pilares?
SocialTrata-se de todo capital humano que está, direta
ou indiretamente, relacionado às atividades desen-
volvidas por uma empresa. Isso inclui, além de seus
funcionários, seu público-alvo, seus fornecedores, a
comunidade a seu entorno e a sociedade em geral.
Desenvolver ações socialmente sustentáveis vai
muito além de, por exemplo, dar férias e benefí-
cios aos funcionários. Deve-se proporcionar um
ambiente que estimule a criação de relações de
trabalho legítimas e saudáveis, além de favorecer
o desenvolvimento pessoal e coletivo dos direta
ou indiretamente envolvidos.
EconômicoPara que uma empresa seja economicamente sus-
tentável, ela deve ser capaz de produzir, distribuir
e oferecer seus produtos ou serviços de forma que
estabeleça uma relação de competitividade justa
em relação aos demais concorrentes do mercado.
Além disso, seu desenvolvimento econômico não
deve existir às custas de um desequilíbrio nos
ecossistemas a seu redor. Se uma empresa lucra
explorando as más condições de trabalho dos fun-
cionários ou a degradação do meio ambiente da
área à sua volta, por exemplo, ela definitivamente
não está tendo um desenvolvimento econômico
sustentável, já que não existe harmonia nas rela-
ções estabelecidas.
AmbientalPor fim, o desenvolvimento sustentável ambiental-
mente correto se refere a todas as condutas que
possuam, direta ou indiretamente, algum impacto no
meio ambiente, seja a curto, médio ou longo prazos.
É comum vermos empresas adotando medidas mi-
tigatórias, como, por exemplo, promover ações de
plantio de árvores após a emissão de gases polui-
dores, como se uma coisa compensasse a outra.
O desenvolvimento sustentável busca, em primeiro
lugar, minimizar ao máximo os impactos ambien-
tais causados pela produção industrial. Caso não
seja esse o objetivo, provavelmente estaremos fa-
lando muito mais de estratégias de marketing do
que de sustentabilidade de fato.
A parte do todoVale ressaltar, mais uma vez, que a sustentabilida-
de precisa de planejamento, acompanhamento e
avaliação de resultados, pois seus três pilares de-
vem estar alinhados com os objetivos da empre-
sa, não podendo ser definidos com base em ações
pontuais ou simplesmente compensatórias.
O desenvolvimento sustentável é um caminho tri-
lhado diariamente, com respeito mútuo e cons-
ciência de que todas as empresas, comunidades,
pessoas e demais seres são partes integrantes de
um único ecossistema. Assim, para que haja equilí-
brio, é necessário que cada parte leve em conside-
ração o todo, entendendo que é só uma pequena
parte de um universo infinitamente maior, mas que
pode ser afetado por suas ações.
Disponível em: <http://www.teraambiental.com.br/blog-da-tera-ambiental/entenda-os-tres-pilares-da-sustentabilidadee>
acesso em 15.mai.2016
60
PROPOSTA DE REDAÇÃO DO ENEM - 2010
O Enem 2010, assim como a edição anterior do
exame, teve problemas e precisou ser reaplicado
para alguns alunos. Segundo a gráfica responsá-
vel pela impressão da prova, 33 mil cadernos de
prova de cor amarela estavam com erros de im-
pressão. Destes, 21 mil chegaram aos candidatos.
Com isso, os estudantes prejudicados ganharam o
direito de fazer uma nova prova.
O tema da redação da prova oficial foi “O tra-
balho na construção da dignidade humana”. Nos
textos de apoio, a questão do trabalho escravo
foi tratada, ressaltando que esse tipo de traba-
lho não acabou com a assinatura da Lei Áurea.
Para complementar a apresentação do tema, um
texto apresentou uma previsão de como será o
trabalho no futuro.
A nova prova, aplicada apenas para alguns can-
didatos, teve como proposta de redação o tema
“Ajuda humanitária”. Um dos textos falava sobre
a ajuda às vítimas da chuva no nordeste. Outro
trazia o papel da internet depois do terremoto
Tema: Ajuda humanitária (prova oficial) | O trabalho na constru-ção da dignidade humana” (pro-va reaplicada)
Ficha 10 – Trabalho e Transformação Social
61
danças que vêm acontecendo há algum tempo: a
busca pela qualidade de vida, a preocupação com
o meio ambiente, e a vontade de nos realizarmos
como pessoas também em nossos trabalhos. “Fa-
lamos tanto em desperdício de recursos naturais e
energia, mas e quanto ao desperdício de talentos?”,
diz o filósofo e ensaísta suíço Alain de Botton em seu
novo livro The Pleasures and Sorrows of works (Os pra-
zeres e as dores do trabalho, ainda inédito no Brasil).
Proposta de redação no Enem 2010 (Foto: Reprodução/Enem)
pastos, produzir carvão para a indústria siderúrgi-
ca, preparar o solo para plantio de sementes, entre
outras atividades agropecuárias, contratam mão
de obra utilizando os contratadores de empreita-
da, os chamados “gatos”. Eles aliciam os trabalha-
dores, servindo de fachada para que os fazendei-
ros não sejam responsabilizados pelo crime.
Trabalho escravo se configura pelo trabalho de-
gradante aliado ao cerceamento da liberdade.
Este segundo fator nem sempre é visível, uma vez
que não mais se utilizam correntes para prender
o homem à terra, mas sim ameaças físicas, terror
psicológico ou mesmo as grandes distâncias que
separam a propriedade da cidade mais próxima.
Disponível em: <http://www.reporterbrasil.org.br> Acesso em: 02 set.2010 (fragmento).
O futuro do trabalho Esqueça os escritórios, os salários fixos e a apo-
sentadoria. Em 2020, você trabalhará em casa, seu
chefe terá menos de 30 anos e será uma mulher.
Felizmente, nunca houve tantas ferramentas dis-
poníveis para mudar o modo como trabalhamos e,
consequentemente, como vivemos. E as transfor-
mações estão acontecendo. A crise despedaçou
companhias gigantes tidas até então como mode-
los de administração. Em vez de grandes conglo-
merados, o futuro será povoado de empresas me-
nores reunidas em torno de projetos em comum.
Os próximos anos também vão consolidar mu-
no Haiti, já que as redes sociais foram importan-
tes formas de comunicação para as vítimas. Para
completar os textos de apoio, a banca colocou um
cartaz de uma campanha de doação às vítimas das
chuvas no Rio de Janeiro.
Proposta de redaçãoCom base na leitura dos seguintes textos motiva-
dores e nos conhecimentos construídos ao longo
de sua formação, redija texto dissertativo-argu-
mentativo em norma culta escrita da língua por-
tuguesa sobre o tema O Trabalho na Construção
da Dignidade Humana, apresentando experiência
ou proposta de ação social, que respeite os direi-
tos humanos. Selecione, organize e relacione, de
forma coerente e coesa, argumentos e fatos para
defesa de seu ponto de vista.
O que é trabalho escravoEscravidão contemporânea é o trabalho degradan-
te que envolve cerceamento da liberdade.
A assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888,
representou o fim do direito de propriedade de
uma pessoa sobre a outra, acabando com a possi-
bilidade de possuir legalmente um escravo no Bra-
sil. No entanto, persistiram situações que mantêm
o trabalhador sem possibilidade de se desligar de
seus patrões. Há fazendeiros que, para realizar
derrubadas de matas nativas para formação de
Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SP
Filosofia1º ano• Analisar as características dos campos conceitu-ais da moral e da ética: liberdade, autonomia, res-ponsabilidade, regras, valores, dentre outros, reco-nhecendo-os na vida cotidiana.
62
Proposta didáticaAs temáticas referentes a trabalho e seus desdo-
bramentos, como trabalho escravo e futuro do
trabalho, propostas pelos textos, são extrema-
2º ano• Reconhecer o impacto causado na sociedade pe-las transformações da técnica e problematizar as relações desta com o uso instrumental da razão.
3º ano• Avaliar os mitos do cientificismo e da neutrali-dade da ciência, desenvolvendo uma perspecti-va histórica.
Sociologia1º ano• Refletir sobre o papel da educação na repro-dução das regras sociais, na democratização dos bens culturais e na construção de ferramentas de análise crítica da sociedade.
• Reconhecer os impactos das novas tecnologias de informação, do desenvolvimento científico e da globalização nas relações sociais.
2º ano• Analisar a questão do trabalho nas sociedades capitalistas e problematizar as mudanças recentes advindas do processo de globalização, da flexibi-lização e mobilidade dos mercados de trabalho e do desenvolvimento científico e tecnológico. • Compreender os desafios ambientais contempo-râneos, problematizando a relação entre socieda-de e natureza.
3º ano• Analisar o papel das lutas e dos movimentos so-ciais nos processos de conquista dos direitos de cidadania e de formulação de políticas públicas.
mente importantes nos estudos sociológicos e
filosóficos, pois se articulam às grandes proble-
máticas sociais e existenciais. A proposta de re-
dação pretende levar à reflexão sobre questões
relativas às formas de apropriação do trabalho.
Enquanto o primeiro texto demonstra a realida-
de da precarização das relações de trabalho – no
caso, a dinâmica do trabalho escravo no Brasil,
que anula o indivíduo e o sujeita à repressão físi-
ca mesmo por parte de seu empregador – o se-
gundo aponta para a possibilidade de um futu-
ro promissor nas relações de trabalho, no qual o
trabalhador é um sujeito autônomo, detentor das
prerrogativas de seu próprio trabalho, pratica-
mente independentes dos determinantes do mer-
cado e de seu empregador. O contraste entre as
ideias de ser forçado a permanecer no trabalho,
do primeiro texto, e trabalhar em casa, do segun-
do texto, revela um evidente antagonismo entre
a dura realidade e a próspera promessa das rela-
ções de trabalho na contemporaneidade. A pro-
posta de redação, portanto, manifesta a intenção
de provocar a reflexão sobre esse antagonismo
para que se desenvolva a argumentação.
Para abordar a temática do trabalho escravo no
Brasil, o professor pode utilizar diversos textos e
demais recursos didáticos, como imagens sobre
trabalho escravo, gráficos e tabelas com os da-
dos atualizados sobre trabalho escravo e trabalho
infantil no Brasil. Além desses recursos, poderá
utilizar os textos da unidade 6, O mundo do tra-
balho, do Movimento do aprender de Sociologia,
principalmente os textos Trabalho infantil (p.132),
Trabalho informal (p.133) e Trabalho informal no
Brasil cai ao menor nível da história (p.133), bem
como o texto Prevenção do trabalho escravo no
Brasil localizado na unidade 6 do Movimento do
aprender de Filosofia (p. 108). O professor pode
se utilizar de vasto material sobre o tema disponí-
vel no site do Senado Federal, no endereço
<http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/trabalho-escravo/trabalho-escravo-atualmente.aspx>.
Para abordar a temática do futuro do trabalho, o
professor pode utilizar textos da mesma unida-
de 6 do Movimento do aprender de Sociologia,
principalmente os textos O ócio pode ser criati-
vo (p.118), Trabalho x emprego (p. 119), Desen-
volvimento histórico do trabalho (p. 120), O pa-
radoxo do trabalho (p. 120), Jornal Unicamp - A
crise do trabalho e do emprego (p. 130), Moven-
do-se no mundo x O mundo que se move (p.131)
e Desemprego - Como sair dessa? (p. 134). Além
desses textos e atividades, o professor pode uti-
lizar trechos de obras de autores contemporâne-
os especializados nesse tema, como O futuro do
trabalho e O ócio criativo, do sociólogo italiano
Domenico de Masi, ou ainda Adeus ao trabalho?,
do sociólogo brasileiro Ricardo Antunes. Muitos
outros autores escrevem sobre este tema, como
o sociólogo francês Alain Touraine, o antropólo-
go norte-americano David Graeber, o sociólogo
polonês Zygmunt Bauman, entre outros.
Cabe ainda considerar as reflexões filosóficas que
perpassam noções sobre o homem como produ-
tor e produto da cultura, sendo que nesse sen-
tido há a influência do trabalho como meio de
transformar a realidade material. Para isso, pode
-se trabalhar com os estudantes o texto Homem
produtor e produto da cultura do Movimento do
Aprender de Filosofia (p. 105).
63
versos. Em lugar do antigo isolamento de regiões
e nações que se bastavam a si próprias, desen-
volve-se um intercâmbio universal, uma univer-
sal interdependência das nações. E isso se refere
tanto à produção material como à produção in-
telectual. (...) Devido ao rápido aperfeiçoamento
dos instrumentos de produção e ao constante
progresso dos meios de comunicação, a burgue-
sia arrasta para a torrente da civilização mesmo
as nações mais bárbaras.”
(MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Global, 1981. p. 24-25.)
Texto II: AlienaçãoAlienação (lat. alienatio, de alienare: transferir
para outrem; alucinar, perturbar)
1. Estado do indivíduo que não mais se pertence,
que não detém o controle de si mesmo ou que
se vê privado de seus direitos fundamentais, pas-
sando a ser considerado uma coisa.
2. Em Hegel, ação de se tornar outrem, seja se
considerando como coisa, seja se tornando es-
trangeiro a si mesmo.
3. Situação econômica de dependência do prole-
tário relativamente ao capitalista, na qual o ope-
rário vende sua força de trabalho como merca-
doria, tornando-se escravo (Marx). Para Marx, a
propriedade privada, com a divisão do trabalho
que institui, pretende permitir ao homem satis-
-fazer suas necessidades; na realidade, ao sepa-
rá-lo de seu trabalho e ao privá-lo do produto de
seu trabalho, ela o leva a perder a sua essência,
projetando-a em outrem, em Deus. A perda da
essência humana atinge o conjunto do mundo
Ao se discutir o tema trabalho, é importante o
resgate da concepção de Karl Marx e Friedrich
Engels, pois esses autores trazem para o deba-
te as influências do capitalismo no modo de tra-
balho. Com isso, vão denunciar a exploração e a
alienação causadas na relação de poder dos pro-
prietários para com os proletários.
Na perspectiva de provocar os estudantes sobre
a importância ou não do trabalho e sobre os pro-
cessos de alienação, seria enriquecedor abordar o
texto O homem livre sem trabalho, do Movimento
do Aprender de Filosofia (pp. 109 e 110), juntamen-
te com a charge de Frank e Ernest, e a partir das
leituras e análises procurar contextualizar as for-
mas atuais de alienação do trabalho. Isso vai servir
para corroborar a visão crítica do estudante, mas
não perdendo a importância da elaboração de
propostas de intervenção o professor, já que este
pode lançar o desafio aos estudantes para elabo-
rarem maneiras ou reafirmar instrumentos capa-
zes de ressignificar o trabalho como algo positivo.
Nesse ponto, a análise sociológica é de grande im-
portância, pois é uma forma de conhecer os meca-
nismos de intervenção social e de valorização dos
trabalhadores e de suas causas.
O professor pode utilizar ainda diversos textos
dos Muitos textos... Tantas palavras, como por
exemplo, Trabalhadores do Brasil (p. 242 do livro
do 1º ano), Pesquisa mostra o novo perfil do tra-
balhador da indústria (p. 82 do livro do 2º ano),
A aflição de uma vida líquida (p. 18 do livro do 3º
ano.) e Adeus trabalho velho, bem-vindos robôs
(p. 130 do livro do 3º ano).
Há também muitas produções artísticas que sus-
citam o estudo do tema trabalho, por exemplo, o
livro Germinal de Émile Zola. A obra apresenta a
revolta de mineiros na cidade de Montsou con-
tra a situação calamitosa de trabalho e devido a
isso, percebem a necessidade de se organizarem
para sobreviverem. O clássico filme Tempos Mo-
dernos, de Charles Chaplin, é sempre uma ótima
opção para mobilizar o aprender sobre o trabalho
como processo de alienação e exploração, sendo
o oposto do trabalho como realização do sujeito.
Outro filme que pode ser trabalhado é À procura
da felicidade (EUA, 2006). Trata-se da narrativa
de um pai solteiro que busca, por meio da habi-
lidade de vendedor, conseguir um emprego me-
lhor. Nesse processo, ele passa por uma decepção
no estágio em uma grande corretora, não recebe
os salários e, enfrentado vários problemas, aca-
ba sendo despejado e passa a morar com o filho
em abrigos, estações de trem e até mesmo em
banheiros públicos. Mas tudo isso não abala sua
esperança por dias melhores. O filme pode servir
como uma metáfora do contemporâneo.
Para Debater
Texto I: Exploração
Pela exploração do mercado mundial a burguesia
imprime um caráter cosmopolita à produção e ao
consumo em todos os países. Para desespero dos
reacionários, ela retirou à indústria sua base na-
cional. As velhas indústrias nacionais foram des-
truídas e continuam a sê-lo diariamente. (...) Em
lugar das antigas necessidades satisfeitas pelos
produtos nacionais, nascem novas necessidades,
que reclamam para sua satisfação os produtos
das regiões mais longínquas e dos climas mais di-
64
humano. As alienações religiosas, políticas etc.
são geradas pela alienação econômica. De modo
particular, a alienação política é exercida pelo Es-
tado, instrumento da classe dominante que sub-
mete os trabalhadores a seus interesses. A alie-
nação religiosa é aquela que impede o homem de
reconhecer em si mesmo sua humanidade, pois
ele a projeta para fora de si, num ser que se de-
fine por tudo aquilo que o indivíduo não possui:
Deus; ela revela e esconde a essência do homem,
transportando-a alhures, no mundo invertido da
divindade (Feuerbach).
4. Os termos “alienado” e “alienação” ingressam no
vocabulário filosófico graças a He-gel e a Marx. Se,
em Hegel, a alienação designa o fato de um ser, a
cada etapa de seu devir, aparecer como outro dis-
tinto do que era antes, em Marx, ela significa a “des-
possessão”, segui-da da idéia de escravidão. Assim,
quando dizemos hoje que o trabalho é um instru-
mento de alienação na economia capitalista, esta-
mos re-conhecendo que o operário é despossuldo
do fruto de seu trabalho. Ver fetichismo; reificação.
5. Hoje em dia, podemos falar de outra forma de
alienação: não se trata apenas de uma alienação
do homem na técnica ou pela técnica, nem tam-
pouco somente da alienação do Eu (como acre-
dita Marx), mas de uma alienação em relação ao
próprio mundo: o homem não somente se perde
em sua produção, mas perde seu próprio mundo.
que é ocultado, esterilizado, banalizado e desen-
cantado pela técnica, com tudo o que implica de
sentimento de absurdo, de privação de norma, de
isolamento de si, de falta de comunicação etc.
Alienação. In: JAPIASSÚ. Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
Texto III: Trabalho humanoO homem se humaniza, não só por que pensa,
mas principalmente por que trabalha. Afirma-se,
inclusive, que não foi o pensamento, mas o traba-
lho que fez o homem. O fato é que o homem vive,
sobrevive e faz o mundo a partir do trabalho. O
progresso da humanidade se deve menos ao pen-
samento que ao trabalho. Foi a ação laboriosa do
homem, ao longo de milhares de anos que gerou
o mundo em que vivemos.
Podemos dizer que só o homem trabalha. As de-
mais espécies realizam atividades próprias da sua
experiência genética ou por que são impelidos a
isso por forças externas à sua vontade.
Só o homem age, intencionalmente, movido pelas
vontades, transformando o meio em que vive, e
beneficiando-se disso. Quando o homem põe uma
semente na terra, espera com isso colher os frutos
e tirar disso algum benefício. Quando um animal,
atrelado a uma carroça, transporta a ração que irá
comer mais tarde, não o faz intencionalmente, nem
porque está com fome, mas porque um homem o
atrelou à carroça. Por mais prenhe de capacidade
de germinação que seja uma semente de milho
à frente de uma galinha, nunca deixará de ser só
mais um grão de milho a ser engolido. Mas para o
homem, mesmo faminto, a semente de milho pode
implicar em várias espigas, graças ao trabalho. O
trabalho, portanto, é um dado cultural, sendo uma
manifestação da própria cultura, mas também um
elemento próprio da espécie humana.
Pelo trabalho o homem pode se desenvolver, re-
criar o mundo, expandir suas potencialidades e ca-
pacidade criativa. Pelo trabalho o homem domina
o mundo e a natureza, libertando-se do medo para
asenhorear-se de tudo que o circunda. A natureza
que era causa de medo, gerando mitos e deuses,
passa a ser só mais um elemento utilizado para ge-
rar aquilo que o homem-trabalhador necessita.
Realizado individualmente, o trabalho potencializa
a capacidade criativa do homem. Quando realiza-
do coletivamente ajuda no processo de desenvol-
vimento social. O trabalho, portanto não deve ser
visto nem transformado em instrumento de tortura
(o tripalium, de onde se origina a palavra, represen-
ta a canga que o escravo carregava no pescoço),
mas como possibilidade de redenção do homem.
No entanto existe uma visão negativa a respei-
to do trabalho. Isso se deve ao fato de, ao lon-
go dos séculos, a sociedade ter se tornado mais
complexa, surgindo a dominação do homem pelo
homem, de uma classe sobre outra. Por ter sur-
gido o acúmulo de excedente e a perspectiva do
lucro. A visão negativa a respeito do trabalho,
portanto, se deve à visão capitalista do trabalho:
em vez de instrumento criativo passou a rotina
reprodutiva; em vez de desenvolver a liberdade
passou a ser instrumento de dominação e até
castigo, quando se é obrigado a fazer o que não
se gosta, por necessidade de sobrevivência; em
vez de progresso de todos passou a ser usado
para enriquecimento de alguns. Em síntese o
trabalho deixa de ser instrumento de realização
humana para ser utilizado como mecanismo de
alienação e de dominação.
CARNEIRO, Neri de Paula, O trabalho, disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/o-trabalho/19331/>
acesso em 25.mai.2016
65
Texto IV: O trabalho atualmenteCom a chamada terceira revolução industrial,
uma série de inovações tecnológicas são implan-
tadas como o desenvolvimento da robótica, mi-
croeletrônica, automação, além de novas formas
de gerenciamento, que fazem com que o perfil do
mundo do trabalho modifique-se de forma ace-
lerada nos países desenvolvidos, e também nos
países do terceiro mundo, em especial, com o
predomínio do setor de serviços sobre os demais.
Analisando-se os dados da OIT observa-se que
ao invés de o trabalho estar diminuindo, confor-
me afirma a tese do fim da centralidade do tra-
balho, este encontra-se cada vez mais presente
no mundo todo. O número de trabalhadores em
plano mundial está aumentando a olhos vistos, a
redução da jornada de trabalho, se é verdade que
trazendo dados de 100 ou 200 anos são bastante
significativos, o mesmo não se aplica ao final do
século XX e início do século XXI, que de maneira
geral, tem conhecido uma diminuição, mas não
de todo expressiva.
Da mesma forma o volume de trabalho em ho-
ras tem mostrado um aumento expressivo em
diversos países, ao contrário do que seria de se
observar de uma sociedade em que o trabalho
estivesse se tornando irrelevante. Segundo Hus-
son (1999), o volume de trabalho em bilhões de
horas nos EUA passou de 132 em 1960 para 247
em 1996, o mesmo ocorrendo no Japão no mes-
mo período, que de 107 em 1960 passou para 123
bilhões de horas em 1996, e no Grupo dos 6 (G6),
o fenômeno se repete de 431 bilhões de horas em
1960, passou em 1996 para 530 bilhões de horas.
A produtividade do trabalho é outro aspecto de-
cisivo para que possa ser observada uma tendên-
cia positiva de diminuição do trabalho no mundo.
Ainda utilizando-se de trabalho elaborado por
Husson (1999), ao analisar-se dados dos países
capitalistas mais desenvolvidos, verifica-se não
estar ocorrendo na atualidade uma aceleração do
ritmo de crescimento da produtividade, mas, ao
contrário, uma desaceleração. Tomando os dados
da Europa, EUA e dos países do G6, verifica-se
que a produtividade do trabalho teve o seguinte
comportamento nos períodos 1960-1973 e 1983-
1987: nos EUA, diminui de 2,6 para 0,8; no Japão,
de 8,7 caiu para 3,0; na Europa, passa de 5,2 para
2,3 e, finalmente, os países do G6 sofreram uma
diminuição de produtividade do trabalho de 4,7
para 1,8. Esses dados apontam para uma queda
da produtividade do trabalho nas últimas déca-
das e, desta maneira, negam afirmações de que
as inovações tecnológicas em curso estariam
conduzindo a uma expansão brutal da produti-
vidade do trabalho, e em conseqüência, estaria
sendo utilizado cada vez menos trabalho por par-
te do capital para a produção de mercadorias e
serviços. O que leva à conclusão de que a expan-
são das inovações tecnológicas não andaria no
ritmo catastrofista que muitos imaginam. A ima-
gem de uma sociedade em que a produção seja
composta apenas por robôs, sem a participação
da mão humana, como pode ser verificado, está
ainda longe de saltar da ficção para a realidade.
O que se observa na realidade é que as transfor-
mações que estão ocorrendo no mundo do tra-
balho, ao contrário de diminuírem o esforço dos
trabalhadores, está aumentando a precarização
do trabalho em suas mais diversas formas, como
trabalho terceirizado, de tempo parcial, temporá-
rio e informal. O que se conclui é que, no mundo
todo, não está havendo uma diminuição do traba-
lho, mas uma precarização e, em conseqüência,
um aumento da exploração do trabalho, o que
mais o que justifica a luta pela tomada do poder
pela classe trabalhadora.
Por fim, é importante ressaltar que, analisando-se
os dados da OIT extraídos do Panorama Laboral,
estes mostram que, ao contrário do que propug-
nam os defensores da tese do fim da centralidade
do trabalho, o que se está verificando é que não
está ocorrendo o fim do trabalho ou da sua cen-
tralidade no capitalismo contemporâneo. O tra-
balho não se encontra prestes a ser extinto, ma-
nifestando-se ainda central na atualidade, posto
que o capital não conseguiu prescindir do traba-
lho. Mesmo que o capital busque livrar-se do tra-
balho, com o desenvolvimento de uma série de
inovações tecnológicas, ainda necessita nutrir-se
da sua exploração. Foi a este fenômeno que Marx
chamou de “contradição em processo”: os capi-
talistas procuram livrar-se do trabalho vivo, mas
na verdade, o que ocorre é a ampliação da ex-
ploração do trabalho em níveis cada vez maiores.
PRIEB, Sérgio. A classe trabalhadora diante da terceira Revolu ção Industrial. Disponível em: <http://www.unicamp.br/cemarx/
anais_v_coloquio_arquivos/arquivos/comunicacoes/gt4/sessao1/Sergio_Prieb.pdf>. Acesso em: 25 maio 2016. pp. 4-5.
66
A nota da redação no ENEM conta muito no pro-
cesso de classificação e disputa de vagas nas uni-
versidades. Isso dá um grande peso à redação e
tirar uma nota alta faz toda a diferença, pois se
aumenta, e muito, a chance do sonhado ingresso
no ensino superior.
Após analisar neste caderno as redações e seus
temas e pensar nas possibilidades argumentati-
vas ligadas aos conteúdos trabalhados - sobre-
tudo pela filosofia e pela sociologia -, vamos ver
algumas redações que tiraram nota 1000 em al-
gumas edições do ENEM. Conhecer o que já foi
bem avaliado na redação pode ajudar os estu-
dantes a exercitar a produção de textos na esco-
la, preparando-os para o exame.
Não basta apenas ler as redações, é preciso escre-
ver, ou seja, exercitar a escrita, a partir de todo o
conhecimento apreendido. O ideal é produzir pelo
menos uma redação por semana! Lembrando que
para isso é preciso ter atenção ao enunciado, locali-
zar o tema, pensar bem na tese a ser defendida den-
tro da estrutura dissertativo-argumentativa, com a
presença, no texto, de introdução, desenvolvimento
e conclusão. Tudo isso sempre deve trazer a pro-
posta de intervenção social para resolução de dado
problema, sem jamais ir contra os direitos humanos!
As redações que serão apresentadas em seguida
devem servir de inspiração para as produções dos
estudantes. Busque, juntamente com eles, identi-
Destaca-se da fala de Raphael os seguintes pontos:
• Preparação e muito treino.
• Focar em disciplinas das Ciências Humanas,
sobretudo Filosofia e Sociologia.
• Não se prender apenas nas informações so-
bre atualidades, mas buscar embasamento te-
órico em disciplinas tradicionais para promover
a intertextualidade.
• Trazer novas ideias à banca.
Este caderno se coloca nessa direção, buscando
analisar as redações com o olhar das Ciências
Humanas para potencializar argumentações mais
sólidas e capazes de dialogar com as problemáti-
cas colocadas pelas propostas de redação.
Trazendo mais uma vez a fala de Raphael, vamos
buscar entender na prática a proposta de estru-
turação da redação feita por ele. Veremos a sin-
tonia com o propósito deste material.
Introdução: “Sempre começo fazendo algum pa-
ralelo do tema com história, com um aconteci-
mento que tenha a ver com o assunto. Assim, eu
já insiro o diferencial de cara do texto, indo além
da coletânea.”
Desenvolvimento: “Nos argumentos, coloco bas-
tante teoria e intertextualidade. Aqui entram as
partes de filosofia e sociologia. Ao longo das au-
las, durante o ano, fui fazendo uma lista de fra-
ses legais que eu poderia usar nos contextos de
Redações nota 1000
ficar os movimentos feitos pelos autores das re-
dações nota 1000. Como eles fazem a introdução,
como se dão as ligações entre os parágrafos, quais
teses são apresentadas, como citam autores ou
abordam suas ideias, como desenvolvem os argu-
mentos e propostas de intervenção e, claro, como
usam a norma padrão da língua portuguesa, ainda
que possam ser notadas algumas inadequações.
Ler muito e escrever bastante, por fim, são práti-
cas fundamentais para quem deseja fazer boas re-
dações. Dessa forma, o redator terá mais elemen-
tos para argumentar, não fugir do tema e fazer
reflexões e propostas que ultrapassem o nível do
senso comum sobre as problemáticas propostas.
A dica de Raphael de Souza, estudante que tirou
nota 1000 duas vezes na Redação do ENEM - em
2014 e em 2015 - é muito interessante:
Segundo ele, há algumas estratégias que o fizeram che-
gar tão longe. “Preparação e muito treino são fundamen-
tais”, diz. Além disso, ele procurou estudar mais discipli-
nas de Humanas, como filosofia e sociologia, para sair do
senso comum. “Não me preocupei tanto com atualida-
des. Minha estratégia foi procurar entender teorias novas
e temas de sociologia, que me ajudaram muito a fazer
alguma intertextualidade e a oferecer uma ideia diferente
da coletânea para a banca corretora”, diz Raphael.
Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/vestibular-enem/estudante-tirou-1000-duas-vezes-redacao-dicas-ir-bem-
enem-932702.shtml>. Acesso em: 19 maio 2016
67
redação, e carregava comigo para ir decorando.
Também é uma boa ideia porque pode deixar o
texto com mais impacto para o leitor.”
Conclusão: “Essa é a parte em que precisa ter
mais cuidado, tem que elaborar bem. Na conclu-
são, sempre retomo a ideia inicial, que completa
o circuito. Para fazer a proposta de intervenção,
obrigatória, é muito importante especificar bem
quem vai fazer o quê: a qual ministério, o governo,
deve se aliar, em que deve investir etc. E é bom
evitar os clichês, para não ficar muito batido.”
Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/vestibular-enem/estudante-tirou-1000-duas-vezes-redacao-dicas-ir-bem-
enem-932702.shtml>. Acesso em: 19 maio 2016
Então não se deve perder tempo! Vamos explorar
as redações iniciando pela do Rapahel, nota 1000
em 2015, cujo tema é “A persistência da violência
contra a mulher na sociedade brasileira”
Em seguida, destacamos algumas referências te-
óricas e terminologias recorrentes da sociologia
e filosofia, utilizadas por Raphael em sua redação
nota 1000!. E logo depois, segue-se outros exem-
plos de redações nota 1000 em outros anos de
aplicação do ENEM.
Equilíbrio AristotélicoAo longo do processo de formação do Estado brasileiro, do século XVI ao XXI, o pensamento machista consolidou-se e permaneceu forte. A
mulher era vista, de maneira mais intensa na tran-sição entre a Idade Moderna e a Contemporânea, como inferior ao homem, tendo seu direito ao voto conquistado apenas na década de 1930, com a chegada da Era Vargas. Com isso, surge a pro-blemática da violência de gênero dessa lógica excludente que persiste intrinsecamente ligada à realidade do país, seja pela insuficiência de leis, seja pela lenta mudança de mentalidade social.
É indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as causas do problema. De acordo com Aristóteles, a política deve ser utilizada de modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. De ma-neira análoga, é possível perceber que, no Brasil, a agressão contra a mulher rompe essa harmonia, haja vista que, embora a Lei Maria da Penha tenha sido um grande progresso em relação à proteção feminina, há brechas que permitem a ocorrência dos crimes, como as muitas vítimas que deixam de efetivar a denúncia por serem intimidadas. Desse modo, evidencia-se a importância do re-forço da prática da regulamentação como forma de combate à problemática.
Outrossim, destaca-se o machismo como impul-sionador da violência contra a mulher. Segundo Durkheim, o fato social é uma maneira coletiva de agir e de pensar, dotada de exterioridade, ge-neralidade e coercitividade. Seguindo essa linha
de pensamento, observa-se que o preconceito de gênero pode ser encaixado na teoria do soció-logo, uma vez que, se uma criança vive em uma família com esse comportamento, tende a adotá--lo também por conta da vivência em grupo. As-sim, o fortalecimento do pensamento da exclusão feminina, transmitido de geração a geração, fun-ciona como forte base dessa forma de agressão, agravando o problema no Brasil.
Entende-se, portanto, que a continuidade da vio-lência contra a mulher na contemporaneidade é fruto da ainda fraca eficácia das leis e da per-manência do machismo como intenso fato social. A fim de atenuar o problema, o Governo Fede-ral deve elaborar um plano de implementação de novas delegacias especializadas nessa forma de agressão, aliado à esfera estadual e municipal do poder, principalmente nas áreas que mais neces-sitem, além de aplicar campanhas de abrangência nacional junto às emissoras abertas de televisão como forma de estímulo à denúncia desses cri-mes. Dessa forma, com base no equilíbrio pro-posto por Aristóteles, esse fato social será gra-dativamente minimizado no país.
Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/vestibular-enem/estudante-tirou-1000-duas-vezes-redacao-dicas-ir-bem-
enem-932702.shtml>. Acesso em: 19 maio 2016
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Outras redações nota 1000! de temas/anos diversos do ENEM
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to público, fornecidas pelo INEP ou por outras fon-
tes com credibilidade. Nesse sentido, as redações
são reproduzidas de forma direta de acordo com a
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ENEM 2002Tema: “O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as trans-formações sociais de que o Brasil necessita?”
A equação da democraciaComícios estudantis. Diretas já! “Caras-pintadas.” O que se percebe de comum nesses movimentos é a maciça participação do público jovem. A luta para adquirir a liberdade e os direitos políticos foi muito bem representada, mas será que acabou? É preciso alertar a sociedade de que somente com o esforço comum e o ímpeto de bravura de nossos jovens poderemos concretizar a conquista alcan-çada, e verdadeiramente promover as transforma-ções sociais de que o país necessita.
O direito de escolher, por eleições diretas, o pró-prio governante representou uma grande vitória no quadro político-social do Brasil. O movimento das Diretas Já foi o primeiro passo, e apesar de não ter alcançado de imediato seu objetivo, conseguiu acender na sociedade uma chama muito forte: a da necessidade de busca pela participação política a reivindicação de melhorias sociais.
Nessa perspectiva, o que se observa é que o voto é um instrumento muito valioso que foi dado ao elei-tor brasileiro. É a nítida certeza de que algo pode ser mudado se as pessoas buscarem sua própria consciência política. Seria, no entanto, utópico pensar em conscientização se antes não for dada ao povo a noção dos seus próprios direitos. É ne-cessário implantar nas instituições educacionais disciplinas que promovam justamente o ensino da cidadania, dos deveres e direitos, e de como lutar, de forma inteligente, por melhores condições so-ciais, políticas, econômicas e até afetivas.
Diante de um povo mais consciente de sua signifi-cância na política nacional, a inércia e a imparcia-lidade da sociedade serão deixadas de lado. Com a promoção de tais mudanças, o povo estará mais alerta para escolher seus candidatos e exigir, tan-to antes quanto depois das eleições, a realização das promessas feitas durante o período eleitoral. A população não fi cará mais míope, e conseguirá enxergar que a luta pelo interesse comum deve su-plementar as vontades pessoais e partidárias, e que a participação popular, no voto e nos projetos, é de extrema necessidade e grandiosa responsabilidade.
O ensino dos direitos políticos, portanto, torna-se uma disciplina indispensável na educação do ci-dadão brasileiro. Educar baseando-se na equação “conteúdo+conscientização” irá, com toda certe-za, promover o enriquecimento do quadro histó-rico nacional. Caso mudanças como essa sejam al-cançadas, e se tornem uma nova conquista, assim como o direito de votar foi, não haverá mais dú-vidas quanto ao voto ser facultativo ou obrigató-rio. Surgirá uma nova perspectiva de prosperidade
dentro da sociedade, a participação será em massa e homogênea, e o povo realmente entenderá o ver-dadeiro significado da palavra democracia.
(Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAABXyYAC/redacoes-nota-10-enem>. Acesso em: 19 maio 2016)
ENEM 2011Tema: “Viver em rede no século XXI: os limi-tes entre o público e o privado”
A internet pode ser considerada uma das maiores conquistas do homem no século XXI, pois torna acessíveis informações de diversas áreas desde a política até a cultura de diferentes povos para toda a população. Além disso, pode ser vista como uma forma de socialização com indivíduos de diferen-tes lugares por meio dos sites de relacionamentos. Porém, sua utilização torna-se perniciosa quando ultrapassa os limites da vida pública e invade o meio privado de uma pessoa.
O acesso à rede traz diversos benefícios à popu-lação, porém muitas pessoas a utilizam como um meio de afetar o respeito e a dignidade de outros indivíduos perante a sociedade. Eles usam os si-tes de relacionamentos, como por exemplo: “Face-book” e “Orkut” e publicam fotos e vídeos os quais comprometem a imagem de alguém.
A utilização imprópria da internet pode até des-qualificar uma pessoa no mercado de trabalho, principalmente aqueles que usam desse meio para sobreviver como alguns atores e cantores. Quando publicado algo de sua vida privada e se a socieda-de julgar errado ou for contrária aos princípios das instituições estabelecidas, degradam sua imagem e, concomitantemente, seu serviço.
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Portanto, para que a internet não seja vista como um meio pernicioso para a população é necessária uma conscientização popular sobre sua utilização. Essa ação pode ser por meio de políticas públicas e da própria sociedade como as ONGs. Com isso, o acesso à rede trará somente benefícios, como aconteceu no Oriente Médio durante a Primavera Árabe em que os sites de relacionamentos con-seguiram disseminar ideais revolucionários para a derrubada de vários ditadores.
(Disponível em: <http://www.redacaonotamaxima.com.br/tex-tos-nota1000/redac-jessica-cury.pdf>. Acesso em: 19 maio 2016)
ENEM 2014Tema: “Publicidade infantil em questão no Brasil”
Redação 1O verdadeiro preço de um brinquedoÉ comum vermos comerciais direcionados ao públi-co infantil. Com a existência de personagens famo-sos, músicas para crianças e parques temáticos, a indústria de produtos destinados a essa faixa etária cresce de forma nunca vista antes. No entanto, ten-do em vista a idade desse público, surge a pergunta: as crianças estariam preparadas para o bombardeio de consumo que as propagandas veiculam?
Há quem duvide da capacidade de convencimento dos meios de comunicação. No entanto, tais arti-fícios já foram responsáveis por mudar o curso da História. A imprensa, no século XVIII, disseminou as ideias iluministas e foi uma das causas da queda do absolutismo. Mas não é preciso ir tão longe: no Bra-sil redemocratizado, as propagandas políticas e os debates eleitorais são capazes de definir o resultado de eleições. É impossível negar o impacto provocado por um anúncio ou uma retórica bem estruturada.
O problema surge quando tal discurso é direcio-nado ao público infantil. Comerciais para essa faixa etária seguem um certo padrão: enfeitados por músicas temáticas, as cenas mostram crian-ças, em grupo, utilizando o produto em questão.Tal manobra de “marketing” acaba transmitindo a mensagem de que a aceitação em seu grupo de amigos está condicionada ao fato dela possuir ou não os mesmos brinquedos que seus colegas. Uma estratégia como essa gera um ciclo interminável de consumo que abusa da pouca capacidade de dis-cernimento infantil.
Fica clara, portanto, a necessidade de uma am-pliação da legislação atual a fim de limitar, como já acontece em países como Canadá e Noruega, a propaganda para esse público, visando à proibição de técnicas abusivas e inadequadas. Além disso, é preciso focar na conscientização dessa faixa etá-ria em escolas, com professores que abordem esse assunto de forma compreensível e responsável. Só assim construiremos um sistema que, ao mesmo tempo, consiga vender seus produtos sem obter vantagem abusiva da ingenuidade infantil.
Carlos Eduardo Lopes Marciano, 19 anos (RJ)
Redação 2Quem Sabe o que é Melhor Para Ela?Desde o final de 1991, com a extinção da antiga União Soviética, o capitalismo predomina como sistema econômico. Diante disso, os variados ra-mos industriais pesquisam e desenvolvem novas formas e produtos que atinjam os mais variados nichos de mercado. Esse alcance, contudo, preo-cupa as famílias e o Estado quando se analisa a publicidade voltada às crianças em contraponto à
capacidade de absorção crítica das propagandas por parte desse público-alvo.
Por ser na infância que se apreende maior quanti-dade de informações, a eficiência da divulgação de um bem é maior. O interesse infantil a determinados produtos é aumentado pela afirmação do desejo em meios de comunicação, sobretudo ao se articular ao anúncio algum personagem conhecido. Assim, a ân-sia consumista dos mais jovens é expandida.
Além disso, o nível de criticidade em relação à pro-paganda é extremamente baixo. Isso se deve ao fato de estarem em fase de composição da perso-nalidade, que é pautada nas experiências vividas e, geralmente, espelhada em um grupo de adultos--exemplo. Dessa forma, o jovem fica suscetível a aceitar como positivo quase tudo o que lhe é ofe-recido, sem necessariamente avaliar se é algo real-mente imprescindível.
Com base nisso, o governo federal pode determi-nar um limite, desassociando personagens e figu-ras conhecidas aos comerciais, sejam televisivos, radiofônicos, por meios impressos ou quaisquer outras possibilidades. A família, por outro lado, tem o dever de acompanhar e instruir os mais novos em como administrar seus desejos, viabilizando alguns e proibindo outros.
Nesse sentido, torna-se evidente, portanto, a impor-tância do acessoria parental e organização do Es-tado frente a essa questão. Não se pode atuar com descaso, tampouco ser extremista. A criança sabe o que é melhor para ela? Talvez saiba, talvez não. Até que se descubra (com sua criticidade amadurecida), cabe às entidades superiores auxiliá-la nesse trajeto.
João Pedro Maciel Schlaepfer, 19 anos (RJ)
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Redação 3Se o conceito censitário de publicidade entende o uso de recursos estilísticos da linguagem, a exem-plo da metáfora e das frases de efeito, como atra-tivo na vendagem de produtos, a manipulação de instrumentos a serviço da propaganda infantil pro-duz efeitos que dão margem mais visível ao consu-mo desnecessário. Com base nisso, estabelecem--se propostas de debate social acerca do limite de conteúdos designados a comerciais televisivos que se dirigem a tal público.
Faz-se preciso, no entanto, que se ressaltem as intenções das grandes empresas de comércio: o lucro é, sobretudo, ditador das regras morais e de-cisivo na escolha das técnicas publicitárias. Para Marx, por exemplo, o capital influencia, através do acúmulo de riquezas, os padrões que decidem a integração de um indivíduo no meio em que ele se insere — nesse caso, possuir determinados pro-dutos é chave de aceitação social, principalmente entre crianças de cuja inocência se aproveita ao in-ferir importâncias na aquisição.
Em contraposição a esses avanços econômicos e aos interesses dos grandes setores nacionais de mercado infanto-juvenil, os órgãos de ativismo em proteção à criança utilizam-se do Estatuto da Criança e do Adolescente para defender os direitos legítimos da não-ludibriação, detidos por indivídu-os em processo de formação ética. Não obstante, a regulamentação da propaganda tende a equilibrar os ganhos das empresas com o crescente índice de consumo desenfreado.
Cabe, portanto, ao governo, à família e aos de-mais segmentos sociais estimular o senso crítico a partir do debate em escolas e creches, de forma a instruir que as necessidades individuais devem se sobrepor às vontades que se possuem, a fim de coibir o abuso comercial e o superconsumo.
José Querino de Macêdo Neto, 17 anos (AL)
Redação 4Muito se discute acerca dos limites que devem ser impostos à publicidade e propaganda no Brasil – sobretudo em relação ao público infantil. Com o advento do meio técnico-científico informacional, as crianças são inseridas de maneira cada vez mais precoce ao consumismo imposto por uma eco-nomia capitalista globalizada – a qual preconiza flexibilidade de produção, adequando-se às mais diversas demandas. Faz-se necessário, portanto, uma preparação específica voltada para esse jo-vem público, a fim de tornar tal transição saudável e gerar futuros consumidores conscientes.
Um aspecto a ser considerado remete à evolução tecnológica vivenciada nas últimas décadas. Os car-rinhos e bonecas deram lugar aos “smartphones”, videogames e outros aparatos que revolucionaram a infância das atuais gerações. Logo, tornou-se es-sencial a produção de um marketing voltado espe-cialmente para esse consumidor mirim – objetivando cativá-lo por meio de músicas, personagens e outras estratégias persuasivas. Tal fator é corroborado com a criação de programas e até mesmo canais volta-dos para crianças (como Disney, Cartoon Network e Discovery Kids), expandindo o conceito de Indús-tria Cultural (defendido por filósofos como Theodor
Adorno) – o qual aborda o uso dos meios de comuni-cação de massa com fins propagandísticos.
Somado a isso, o impasse entre organizações pro-tetoras dos direitos das crianças e os grandes nú-cleos empresariais fomenta ainda mais essa per-tinente discussão. No Brasil, vigoram os acordos isolados com o Poder Público – sem a existência de leis específicas. Recentemente, a Conanda (Co-missão Nacional de Direitos da Criança e do Ado-lescente) emitiu resolução condenando a publici-dade direcionada ao público infantil, provocando o repúdio de empresários e propagandistas – que não reconhecem autoridade dessa instituição para atuar sobre o mercado. Diante desses posiciona-mentos antagônicos, o debate persiste.
Com o intuito de melhor adequar os “consumido-res do futuro” a essa realidade, e não apenas al-mejar o lucro, é preciso prepará-los para absorver as muitas informações. Isso pode ser obtido por meio de campanhas promovidas pelo Poder Públi-co nas escolas (com atividades lúdicas e conscien-tizadoras) e na mídia (TV, rádio, jornais impressos, internet), bem como a criação de uma legislação específica sobre marketing infantil no Brasil – fisca-lizando empresas (prevenindo possíveis abusos) – além de orientação aos pais para que melhor lidem com o impulso de consumo dos filhos (tornando as crianças conscientes de suas reais necessidades). Dessa forma, os consumidores da próxima geração estarão prontos para cumprirem suas responsabi-lidades quanto cidadãos brasileiros (preocupados também com o próximo) e será promovido o de-senvolvimento da nação.
Juan Costa da Costa, 16 anos (PA)
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Redação 5Consumidores do futuroDe acordo com o movimento romântico literário do século XIX, a criança era um ser puro. As ten-dências do Romantismo influenciavam a temática poética brasileira através da idealização da infân-cia. Indo de encontro a essa visão, a sociedade contemporânea, cada vez mais, erradica a pureza dos infantes através da influência cultural consu-mista presente no cotidiano. Nesse contexto, é preciso admitir que a alegação de uma sociedade conscientizada se tornou uma maneira hipócrita de esconder os descaso em relação aos efeitos da publicidade infantil no país.
Em primeiro plano, deve-se notar que o contex-to brasileiro contemporâneo é baseado na lógica capitalista de busca por lucros e de incentivo ao consumo. Esse comportamento ganancioso da ini-ciativa privada é incentivado pelos meios de co-municação, que buscam influenciar as crianças de maneira apelativa no seu dia-a-dia. Além disso, a ausência de leis nacionais acerca dos anúncios in-fantis acaba por proporcionar um âmbito descon-trolado e propício para o consumo. Desse modo, a má atuação do governo em relação à publicida-de infantil resulta em um domínio das influências consumistas sobre a geração de infantes no Brasil.
Por trás dessa lógica existe algo mais grave: a pos-tura passiva dos principais formadores de cons-ciência da população. O contexto brasileiro se caracteriza pela falta de preocupação moral nas instituições de ensino, que focam sua atuação no conteúdo escolar em vez de preparar a geração in-fantil com um método conscientizador e engajado.
Ademais, a família brasileira pouco se preocupa em controlar o fluxo de informações consumistas disponíveis na televisão e internet. Nesse sentido, o despreparo das crianças em relação ao consumo consciente e às suas responsabilidades as tornam alvos fáceis para as aquisições necessárias impos-tas pelos anúncios publicitários.
Torna-se evidente, portanto, que a questão da pu-blicidade infantil exige medidas concretas, e não um belo discurso. É imperioso, nesse sentido, uma postura ativa do governo em relação à regulamen-tação da propaganda infantil, através da criação de leis de combate aos comerciais apelativos para as crianças. Além disso, o Estado deve estimular campanhas de alerta para o consumo moderado. Porém, uma transformação completa deve passar pelo sistema educacional, que em conjunto com o âmbito familiar pode realizar campanhas de cons-cientização por meio de aulas sobre ética e moral. Quem sabe, dessa forma, a sociedade possa tornar a geração infantil uma consumidora consciente do futuro, sem perder a pureza proposta pelo Movi-mento Romântico.
Maria Eduarda de Aquino Correa Ilha, 18 anos (RJ)
Redação 6A publicidade vem sendo valorizada com a cons-tante globalização, onde o marketing se apropria em atingir diferentes parcelas populacionais. A questão da publicidade infantil vem ganhando destaque no cenário mundial, sendo criticadas suas grandes demandas dirigidas à criança, persu-adindo-as em favor do consumismo.
Com a crescente classe média do país, onde mi-lhares de brasileiros são favorecidos pelos créditos governamentais, o consumismo vem afetando toda essa parcela populacional, deixando no passado a falta de eletrodomésticos e a participação social favorecida as elites. Com participação das princi-pais mídias, agrava o abuso do imaginário infantil ao mesmo tempo em que favorece na distinção do benéfico e maléfico ao padrão de vida individual.
É cabível que a anulação da publicidade infantil põe em xeque os ideais democráticos, confrontan-do tanto as famílias como o mercado publicitário, discriminando tal faixa etária ao mesmo tempo prejudicando o mercado consumidor, fator que pode levar a uma crise interna e abdicar do desen-volvimento comercial de um país subdesenvolvido.
Portanto, a busca da comercialização muitas vezes abrange seu favorecimento através do imaginário infantil com os ideais seguidos por seus ídolos. En-tretanto, é de responsabilidade dos pais na cons-cientização do bom e/ou ruim, em conjunto com a escolaridade infantil na abdicação do consumis-mo ao mesmo tempo em que o governo estude medidas preventivas que mudanças ultimamente decorrentes do avanço tecnológico e de inovações ideológicas quanto à forma de aprimorar e pre-parar a criança, desde o busquem o controle da exploração publicitária sem que atrapalhe o andar econômico do país.
Mariana Pereira Pimenta, 17 anos (RJ)
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Redação 7Produtos e serviços são necessários a qualquer sociedade. Dentre eles, estão serviços de planos de saúde, financiamento de moradias, compra de roupas e alimentos, entre outros elementos pre-sentes no âmbito social. A publicidade e a propa-ganda exercem papel essencial na divulgação des-ses bens. No entanto, é preciso atenção por parte dos consumidores para analisar e selecionar que tipos de propagandas são fidedignos, e no caso de publicidade direcionada a crianças e adolescentes, essa medida nem sempre é possível.
Em um primeiro plano, é importante constatar que as crianças não possuem capacidade de analisar os prós e contras da compra de um produto. Nes-se sentido, os elementos persuasivos da propa-ganda têm grande influência no pensamento dos indivíduos da Primeira Idade, já que personagens infantis, brinquedos e músicas conhecidas por eles estimulam uma ideia positiva sobre o produto ou serviço anunciado, mas não uma análise do mes-mo. Infere-se, assim, que a utilização desses re-cursos é abusiva, uma vez que vale-se do fato de a criança ser facilmente induzida e do apego às imagens de caráter infantil, considerando apenas o êxito do objetivo da propaganda: persuadir o pos-sível consumidor.
Além disso, observa-se que as ações do Conse-lho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) são importantes, porém insuficientes nes-se quesito. O Conar busca, entre outros aspectos, impedir a veiculação de propagandas enganosas, porém respeita o uso da persuasão. Assim, ao longo dos anos, pode-se perceber que o Conar
não considera o apelo infantil abusivo e permi-tiu a transmissão de propagandas destinadas ao público infantil, já que essas permanecem na mí-dia. Diante desse raciocínio, é possível considerar a resolução do Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) válida e ne-cessária para a contenção dos abusos propagan-dísticos evidenciados.Tendo em vista a realidade abusiva da propaganda infantil, é necessário que o Conar e o Conanda tra-balhem juntos para providenciar uma análise ainda mais criteriosa dos anúncios publicitários dirigidos à primeira infância, a fim de verificar as técnicas de indução utilizadas. Ademais, a família e o sis-tema educacional brasileiro devem proporcionar às crianças uma educação relacionada a questões analíticas e argumentativas para que, já na adoles-cência, possam distinguir de maneira cautelosa as intenções dos órgãos publicitários e a validez das propagandas. Dessa forma, será possível conter os abusos e estabelecer justiça nesse contexto.
Nathalia Cardozo, 19 anos (RJ)
Redação 8A grande preocupação hoje, nas políticas públicas, é propiciar um melhor atendimento integral à criança, principalmente no que se refere ao desenvolvimen-to moral, social, político e cultural enquanto sujeito ativo e participante dos plenos direitos e deveres na sociedade, conforme as normas declaradas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Sabe-se que a educação, tanto nas escolas quan-to no lar, é a melhor opção para se chegar a um objetivo promissor, além de promover o desen-
volvimento integral da criança, porém tal fato tem sofrido nascimento, para receber as informações que há no mundo exterior. Diante disso, as esco-las e os pais devem preocupar-se em desenvolver na criança, o seu lado consumidor, através de situ-ações do dia a dia, auxiliando-a e orientando-a a se tornar um bom consumidor, sendo necessário e importante para se obter uma aprendizagem signi-ficativa da sua realidade.Em relação à publicidade infantil, percebe-se que a tendência das empresas e fabricantes de produ-tos infantis é aumentar seus negócios e divulgar seus produtos infantis tendo como alvo, o universo infantil, o que isso, sobretudo, recai nas responsa-bilidades dos adultos que acabam cedendo-a a ad-quirir, de forma compulsiva, o produto anunciado.No Brasil, a publicidade infantil é comum, princi-palmente em datas comemorativas tais como Dia das Crianças e Natal, porém defende e apoia a le-gislação que controla e evita abusos do setor que realiza tal publicidade.
No entanto, espera-se que a publicidade infantil assuma um caráter educativo, apesar de ser per-suasivo, não afetando os direitos e os deveres da criança, dentro das normas contidas na legislação do país. As escolas e, sobretudo os pais, devem orientar as crianças a tornarem-se bons consu-midores, realizando a escolha certa do produto, conscientes de suas atitudes na sociedade em ad-quirir tal produto a fim de não tornarem-se consu-midoras compulsivas.
Rosely Costa Sousa, 28 anos (MA)
Redações disponíveis em: <http://blogdoenem.com.br/redacao_enem_nota_1000/>.
Acesso em: 19 maio 2016
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ENEM 2003Tema: “A violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo?”
As faces da violência no BrasilMuito se tem discutido acerca da violência que afli-ge a sociedade brasileira de um modo geral. Antes vista como característica dos grandes conglome-rados urbanos, hoje ela se faz presente no coti-diano de cada cidadão e se manifesta de diversas formas, desde a física até a moral. Todavia, a socie-dade tem encontrado vários entraves no caminho rumo à solução deste panorama, barreiras estas impostas por um modo de pensar determinista e, muitas vezes, preconceituoso.
De fato, muitos acreditam ser a violência fruto da profunda desigualdade social de nosso país e baseiam seu pensamento em um sofisma simplis-ta, afirmando que o pobre pratica a violência por ser privado do atendimento de suas necessidades mais básicas. Nesse sentido, eles desculpam gran-de parte da sociedade pelo problema e partem de uma premissa, que, se verdadeira, faria de todos os miseráveis brasileiros pessoas violentas em poten-cial. Atrelar a problemática da violência ao estado de pobreza e miséria é dizer que ela é caracterís-tica de uma única fatia da população e negar seu cunho cultural tão profundo.
Verdade é que a violência é tão presente em nosso dia-a-dia que já não apresenta uma face definida, e já não somos capaz de identificá-la tão facilmente. A mídia tem contribuído, nesse sentido, com sua banalização, visto que divulga produções artísticas em geral, nas quais o “bem” vence o “mau” por
meio de batalha física. Vence quem for mais forte fisicamente, aquele que melhor saiba utilizar a for-ça como forma de alcançar a vitória. Deste modo, passamos a ver a violência como forma de resolver conflitos, mesmo que o façamos inconscientemen-te, e passamos a ignorar a importância do diálogo e do debate civilizado.
Pode-se, portanto, afirmar que a solução do pro-blema não é de fácil alcance, visto que envolve questões ideológicas e culturais muito arraigadas no pensamento da sociedade. Contudo, uma me-dida eficiente seria a aplicação de penas mais rí-gidas para quem fizesse uso da violência em qual-quer uma das formas que ela é capaz de assumir, devido ao fato de que a impunidade encoraja, muitas vezes, a prática de atos violentos. Outra solução seria difundir, ainda nas escolas, a impor-tância do diálogo e as implicações da violência, contribuindo para a formação de indivíduos mais conscientes quanto ao assunto.
Tudo isso, no entanto, não será verdadeiramente eficaz enquanto a sociedade encarar a violência com determinismos e preconceitos, mesmo saben-do que é difícil não nos rendermos à facilidade de culpar a pobreza e assumirmos uma visão simplis-ta do assunto, assim como é difícil identificarmos com clareza aquilo que nos leva a agira de forma violenta muitas vezes. Somente se adotarmos uma postura realmente objetiva seremos capazes de encontrar soluções práticas e funcionais. O proble-ma da violência no Brasil se faz ainda mais urgente, pois o capital utilizado em seu combate poderia ser utilizado para suprir as necessidades da população.
Enquanto não conseguirmos resolver este quadro, o país continuará sofrendo com a violência da fome, da miséria, da falta de educação e da insalu-bridade; violências ainda mais marcantes.
ENEM 2007Tema: “O desafio de conviver com a diferença”
Redação 1A Necessidade das Diferenças De acordo com a Teoria da Educação das Espé-cies, o que possibilita a formação do mundo como conhecemos hoje foi a sobrevivência dos mais aptos ao ambiente. A seleção natural se baseia na escolha das características mais úteis. Estas somente se originam a partir das diferenças de-terminadas por mutações em códigos genéticos com o passar do tempo.
Se no âmbito Biológico as variações são impres-cindíveis à vida, no sociológico não é diferente. Uma vez todos iguais, seriamos atingidos pelos mesmos problemas sem perspectiva de resolução, já que todas as idéias seriam semelhantes.
A maioria das pessoas está inserida em um con-texto social. Contudo grandes inovações se fazem a partir do reconhecimento da individualidade de seus integrantes. Assim é de nossa responsabilida-de respeitar nossos semelhantes independentes do sexo, raça, idade, religião, visto que depende-mos mutuamente.
Obviamente nem todas as diferenças são benéfi-cas. Por exemplo, a diferença entre classes sociais não poderia assumir tal demissão. Para somá-la,
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necessitamos de uma melhor distribuição de ren-da aliada a oportunidades de trabalho, educação e saúde para todos.
Devemos nos conscientizar que somos todos iguais em espécie mas conviver com as diferenças (por mais difícil que pareça), pois elas nos enrique-cem como pessoas. Nossos esforços devem ser voltados contra discriminações anacrônicas e vis, como o racismo ou perseguições religiosas. Estas não nos levam a lugar algum, apenas nos desquali-ficam como seres humanos.
Redação 2O valor da diferença O desafio de se conviver com a diferença na socieda-de é complicado, mas necessário. Diante da grande pluralidade cultural e étnica que se choca com fre-qüência no mundo globalizado é preciso, além de to-lerância, respeito incondicional aos direitos humanos.
Diariamente, nos deparamos com pessoas das mais variadas culturas, opiniões e classes sociais. Muitas vezes, são nossos vizinhos, colegas e ami-gos. Essa convivência enriquece nossas vidas, pois aprendemos a respeitar o nosso próximo, nos tor-nando pessoas mais fraternas. Porém nem sempre essa relação acontecem facilmente fatos divulga-dos pela mídia nos mostram que, para alguns ain-da, a simples diferença fenotipica gera discrimina-ção e violência, como no caso do brasileiro que foi confundido com um terrorista em Londres. Ele foi brutamente exterminado pela policia inglesa por ter feições diferentes da maioria dos britânicos.
Para o bom funcionamento das sociedades, a dife-rença precisa ser respeitada. Nas relações econômi-cas internacionais, se lida com diferentes culturas
ao menos tempo. Não há espaço para discriminação para quem quer ser competitivo no mercado.
É imprescindível que a convivência com a dife-rença aconteça de maneira saudável. O valor da vida humana independe dos nossos credos ou cor. Além de garantir o convívio entre as pessoas, tole-rar as diferenças nos coloca no caminho da pros-peridade, fortalecendo a esperança de viver num mundo melhor.
ENEM 2004Tema: “Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação?”
Coleira invisívelEm uma época marcada por uma cobertura osten-siva da mídia, não são poucos os casos de abusos, como invasões de privacidade e reportagens ten-denciosas. Diante desse quadro, muitos sugerem um retrocesso perigoso, com mecanismos de con-trole que se remetem a épocas sombrias da história brasileira. Entretanto, essa mesma história mostra que soluções radicais costumam ser perigosas, por isso é preciso ter cuidado com propostas precipi-tadas: nada justifica um cerceamento do trabalho dos meios de comunicação. Nesse contexto, em um palco ocupado por atores que extrapolam em seus papéis e um público acrítico, a solução parece de-pender, em essência, de algo tão simples quanto raro: bom senso. Sem radicalismos.
O caminho para solucionar o conflito enfrenta seu primeiro obstáculo na identificação do problema, afinal é imprecisa a fronteira entre o direito de im-prensa e o direito individual: o que é um “abuso”? Nesse sentido, a solução parece ser uma atuação mais presente, veloz e rigorosa do sistema judiciá-
rio. Com isso, não se impõem restrições prévias a qualquer conteúdo, ao mesmo tempo em que se inibem abusos pela possibilidade concreta de mul-tas. Basta, para isso, reduzir os entraves burocráti-cos no acesso à justiça e na definição de sentenças.
Apesar de eficientes, essas penas rareariam os abusos na imprensa de forma apenas superficial, pois não atacariam causas profundas do problema. Uma análise cuidadosa revela que a má atuação dos veículos de comunicação é fruto de uma crise de valores tanto de profissionais, que, muitas ve-zes, agem sabendo que estão errados, quanto das empresas, que permitem e até estimulam práticas imorais. Nesse contexto, é necessária uma mudan-ça de postura: de um lado, as faculdades de co-municação poderiam dar maior importância à ética no trabalho para formar jornalistas conscientes; de outro, as empresas deveriam fazer valerem seus código de ética, em uma espécie de auto-regula-ção. Nem tudo vale em nome da audiência.
O papel efetivo da justiça e a conduta moral dos profissionais de imprensa, contudo, podem se tor-nar pouco relevantes se a própria sociedade adotar uma postura diferente. O raciocínio é simples: se a sociedade não assistir aos abusos, eles desapare-cerão. É evidente que essa lógica, em certos casos, esbarra em um desejo contemporâneo de assistir a conteúdos “proibidos”, como a intimidade de pessoas famosas. Entretanto, com uma formação humana mais sólida, essa aparente utopia pode ser tornar real. Dessa forma, a liberdade irrestrita de informação seria garantida, e excessos e distor-ções acabariam eliminados pelo próprio mercado.
Assim, é possível imaginar o usufruto da liberda-de de imprensa sem abusos, desde que impere o bom senso no poder público, na mídia e na própria
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população. Com isso, os veículos de comunicação podem deixar seus atuais roteiros exagerados no camarim para assumir outro papel: o de “cão-de--guarda” da sociedade. Com critério na divulgação de notícias, denúncias, críticas e análises, esse im-portante agente social pode agir sem estar acor-rentada por mecanismos de censura, sendo “pre-sa” apenas pelo reconhecimento de sua função.
ENEM 2001Tema: “Desenvolvimento e preservação ambien-tal: como conciliar interesses em conflito?”
NeodarwinismoEm prol da sobrevivência, há milhares de anos, a caça e a pesca eram praticadas pelo homem. Hoje, em nome do Neoliberalismo, na atual conjuntura de perda dos sentimentos holísticos, desmatamos e poluímos a natureza na incessante busca do lu-cro, em detrimento do bem-estar da humanidade. Todavia, o homem parece ter esquecido que a na-tureza não é apenas mais um instrumento de al-cance do desenvolvimento, mas a garantia de que é possível alcançá-lo.
Primeiramente, é importante ressaltar o papel do meio-ambiente para o desenvolvimento econô-mico de uma sociedade. É notório que a extração de recursos minerais e de combustíveis fósseis é fundamental para a atração de indústrias e conse-quentemente para a solidez do setor produtivo da economia. No entanto, o uso indiscriminado des-ses bens naturais pela grande maioria das empre-sas não pode mais continuar. Cabe aos governan-tes e à própria população exigirem das mesmas a aplicação de parte do lucro obtido na manutenção de suas áreas de exploração e não permitir o “no-madismo” dessas indústrias.
Nesse sentido, vale lembrar que os poderes político e econômico encontram-se intimamente ligados em uma relação desarmônica, que favorece o capital em detrimento do planeta em que vivemos. De fato, percebe-se que na atual conjuntura excludente, o poder do Estado Mínimo é medido de acordo com sua capacidade de atrair investimentos. Um exem-plo disso é o grande número de incentivos fiscais e leis ambientais brandas adotados pela maioria dos países periféricos buscando atrair as indústrias dos países poluídos centrais. Enquanto isso, a po-pulação permanece alienada e inerte, não exigindo a prática da democracia, que deveria atuar para o povo e não para os macrogrupos neoliberais.
Além disso, cumpre questionar o papel da socie-dade nesse paradoxo desenvolvimento-destruição ambiental. É fato que a maioria da população se mantém à margem das questões ambientais, por absorver, erroneamente, a falácia de que a tecno-logia pode substituir a natureza. Desse modo, os consumidores tecnológicos passam a exigir mais do setor produtivo, que, por sua vez, passa a exau-rir o meio-ambiente. Estabelece-se, assim, um cír-culo vicioso que tem como elo principal um bem finito, que, se quebrado, terá conseqüências des-conhecidas e catastróficas para a humanidade.Torna-se evidente, portanto, que o que vem ocor-rendo na humanidade é apenas uma sucessão de conquistas e avanços na área tecnológica. O real desenvolvimento só será alcançado quando o ho-mem utilizar a natureza de forma responsável e in-teligente. Para tanto, é preciso que sejam criados mecanismos eficazes de fiscalização, sejam eles governamentais ou não. Além disso, deve haver por parte da mídia maior divulgação das questões am-bientais, para que a população possa se mobilizar
e agir exercendo seus direitos. Assim, estaremos de acordo com a teoria da seleção natural, em que o meio seleciona os mais aptos e não o contrário.
ENEM 2010Tema: “O trabalho na construção da dignidade humana”
A dualidade do trabalhoCom o surgimento da burguesia na Idade Média, o trabalho deixou de ser somente relacionado às classes baixas e se tornou parte do cotidiano do in-divíduo que desejava alcançar ascensão social. Isso mostra que trabalhar passou a ser sinônimo de sair de uma vida servil para uma vida independente, de alcançar dignidade.
No entanto, apesar dessa conotação positiva vin-culada ao trabalho, em muitos casos ele pode ser empregado como um meio opressor. No Brasil, a lei Áurea foi assinada em 1888, porém são vários os casos em que proprietários de terras se apro-veitam da situação financeira precária do indivíduo para explorá-lo, pagando-lhe um salário medíocre.
Por isso, cabe ao governo criar órgãos que fiscali-zem melhor as condições que o trabalhador é sub-metido, mesmo quando se trata de trabalho infor-mal. Além disso, a mídia deveria procurar casos em que o trabalhador é explorado e noticiá-los, para que, assim, a população se sensibilize e procure denunciar, aos órgãos governamentais locais, esse tipo de situação degradante.
Com tudo isso, pode-se concluir que há uma duali-dade presente no trabalho: ele é capaz de libertar e oprimir. Então cabe ao governo garantir que essa característica seja somente teórica e, assim, o labor poderá ser um meio de garantir dignidade ao povo.
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Você pode continuar
desenvolvendo um
ótimo trabalho. Assim,
manteremos a rede
escolar SESI-SP como
referência em ensino
no estado de São Paulo.
Grande abraço e até
a próxima!
Estou muito feliz em ter chegado até
aqui com você!
Este é meu amigo Ari, que auxiliou os
seus colegas das áreas de Matemática
e Linguagens, juntos estamos ansiosos
pelos bons resultados das próximas
avaliações do ENEM.