76

Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do
Page 2: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

Divisão de EducaçãoDiretor

Fernando Antonio Carvalho de Souza

Gerência Executiva de EducaçãoGerente

Luciana Campacci

Gerência de Educação BásicaGerente

Anaide Trevizan

Currículo e Recursos DidáticosSupervisor Técnico Educacional

Christiane Moreira Jorge

Elaboração do ConteúdoAnalistas Técnicos Educacionais

Daniele Gualtieri Rodrigues

Jerry Adriano Villanova Chacon

Márcio Leite Rangon

Coordenação e Revisão Supervisor Técnico Educacional

Christiane Moreira Jorge

Revisão TécnicaAnalistas Técnicos Educacionais

Débora Regina Vogt

Luis Paulo Martins

Revisão OrtográficaAcademia de Revisão

Produção GráficaAnalista de Comunicação Visual

Kamila Sayuri Uchino

Page 3: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

Introdução

Temas abordados pelas propostas de redação do ENEM, desde 1998

Ficha 1 - Ética e Cidadania

Ficha 2 - Ética e Cidadania

Ficha 3 - Ética e Cidadania

Ficha 4 - Sociedade em Rede

Ficha 5 - Direitos da Criança e Adolescente

Ficha 6 - Formas de Violência

Ficha 7 - Diversidade Cultural

Ficha 8 - Indústria Cultural

Ficha 9 - Sustentabilidade

Ficha 10 - Trabalho e Transformação Social

Redações nota 1000! do ENEM

Sumário

4

8

10

18

24

32

36

40

46

50

54

60

66

Page 4: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

4

Introdução

Tendo em vista a necessidade de fornecer aos es-

tudantes da rede escolar SESI-SP um maior emba-

samento para a realização das redações do ENEM,

procurou-se agrupar as temáticas propostas nas

redações articulando-as com os conhecimentos te-

óricos e metodológicos dos componentes curricula-

res do ensino médio. Observando as temáticas pro-

postas ao longo dos anos, percebe-se uma estreita

vinculação das mesmas às temáticas desenvolvidas

pelos componentes curriculares de Filosofia e So-

ciologia, sobretudo no que se refere às argumen-

tações e produções textuais coesas e coerentes,

pautadas sempre em conteúdos, habilidades e com-

petências desenvolvidas essencialmente por estes

dois componentes, por meio de suas expectativas

de ensino e aprendizagem.

O trabalho didático com as expectativas de ensino

e aprendizagem dos componentes curriculares So-

ciologia e Filosofia da rede SESI-SP procuram de-

senvolver habilidades vinculadas ao pensamento

crítico, a lógica, ao poder argumentativo, a constru-

ção de conceitos, leitura de mundo, percepção da

identidade enquanto sujeito histórico e social, entre

outras. Nesse movimento, busca-se promover a au-

tonomia da aprendizagem em cada estudante, o seu

particular aprender a aprender. Além da promoção

do desenvolvimento intelectual, os conteúdos dos

componentes subsidiam a formação ética e cidadã

dos estudantes para a vida em democracia e o res-

peito aos direitos humanos.

Quando se analisa os resultados obtidos pelos es-

tudantes nas redações do ENEM, percebe-se que

existe dificuldades na produção escrita, o que

Page 5: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

5

pode ser causado pela falta de repertório, de do-

mínio conceitual e também de poder argumentati-

vo pelos estudantes.

Esses fatos servem de mote à produção deste

trabalho, que agrupa os temas das redações e os

categorizam em grandes temáticas: Ética e cida-

dania; Direito da criança e do adolescente; Susten-

tabilidade; Formas de violência; Indústria cultural;

Trabalho e transformação social; Diversidade cul-

tural e Sociedade em rede.

Reconhece-se a crescente presença da Filosofia e

da Sociologia nos concursos (ENEM, vestibulares,

etc.). Ao se analisar as redações, por exemplo, do

ENEM, nota-se a presença marcante de temáticas

ora ligadas a problemáticas sociológicas, ora a

problemáticas filosóficas, sendo sempre necessá-

rio o processo de resolução de problemas via ar-

gumentações pautadas na ética e no respeito aos

direitos humanos.

Esse trabalho é fruto da análise das redações das

avaliações do ENEM, de 1998 até 2014, sendo ní-

tidas a presença e a cobrança de habilidades e

competências desenvolvidas pelos componentes

citados. O trabalho Atualidades em debate - Reda-

ções do Enem – Sociologia e Filosofia busca prover

o professor de subsídios didáticos no sentido de

atender às demandas dos estudantes do Sistema

SESI-SP de Ensino em continuar seus estudos em

nível superior e, para tanto, preparar-se bem para

os concursos vestibulares, principalmente o Enem.

Procura-se estimular os estudantes na busca pelo

conhecimento a partir da reflexão sobre a realida-

de, fundamentada no diálogo.

Nas fichas que compõem este material, os con-

teúdos são abordados de forma contextualizada,

buscando promover a construção dos conceitos

de cidadania, criando a oportunidade para que

Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio da rede escolar SESI-SP, GEB/SCRD, 2015.

Apesar de ter havido uma significativa evolução

no desempenho global dos estudantes da rede

SESI-SP nas avaliações do Enem nos últimos anos

– sem dúvida, fruto do esforço e compromisso dos

profissionais envolvidos com este objetivo - ainda

não foi atingido, de forma global, o nível esperado

para que os estudantes da rede possam ingressar

nas universidades públicas do Estado de São Pau-

lo por meio do SISU.

700

600

500

400

300

200

100

0

Histórico Média Geral SESI-SP ENEM 2009-2014

Redação

Méd

ia G

era

l S

ES

I-S

P

20

09

20

10

20

11

20

12

20

13

20

14

619

,11

59

2,6

6

54

9,2

2

571,

1

55

8,0

8

(*) Média sem redação.

(1) No ano de 2009 não houve divulgação das proficiências por

área de conhecimento e redação.

cada indivíduo se desenvolva como sujeito autô-

nomo e intelectualmente independente, por meio

da discussão sadia, sistemática e dialética de teo-

rias e práticas vivenciadas. Busca-se desenvolver

um processo de ensino e aprendizagem estimu-

lante e contextualizado, abordando os conteúdos

também de forma lúdica e procurando promover a

aprendizagem significativa, em que os participan-

tes devem apresentar uma reflexão crítica.

Este trabalho traz fichas com as propostas de re-

dações relacionadas às expectativas de ensino

e aprendizagem de Filosofia e Sociologia, bem

como às temáticas presentes no Movimento do

Aprender, além de um comentário com sugestões

para o trabalho didático com as fichas.

Esta produção envolve a parceria com especialis-

tas em Língua Portuguesa e produção de textos

dissertativo-argumentativos, além dos especia-

listas em Filosofia e Sociologia. Nesse sentido, a

extensão do uso dos fascículos junto aos estudan-

tes pode ocorrer de maneira integrada ao compo-

nente de Língua Portuguesa e outros, mediante as

temáticas e indicações disponíveis nas fichas, con-

forme o planejamento do professor e anuência da

coordenação pedagógica.

Espera-se que este recurso didático contribua

para o processo de ensino e aprendizagem, faci-

litando o trabalho didático dos professores, pro-

movendo a dimensão interdisciplinar, tornando as

abordagens didáticas mais significativas e contex-

tualizadas, levando os estudantes do ensino médio

a atingirem níveis mais elevados nas avaliações

externas e, por conseguinte, a conseguirem seus

objetivos acadêmicos.

Page 6: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

6

AssuntoRedações(ENEM)

SOCIOLOGIAAgrupamento Unidades - MD

FILOSOFIAAgrupamento Unidades - MD

Ética e cidadania

1998 - Viver e aprender

1999 - Cidadania e participação social

2002 – O direito de votar

2006 - O poder de transformação da

leitura

2009 - “Qual o efeito em nós do ‘Eles são

todos corruptos’?”

2012 – O movimento imigratório para o

Brasil no século XXI

2013 – Lei Seca

Unidade 1: As ciências da sociedade.

Unidade 2: Processo de socialização.

Unidade 3: Formas de sociabilidade no

contexto das tecnologias de informação

e comunicação.

Unidade 6: O mundo do trabalho.

Unidade 7: Estratificação social,

desigualdades e violência.

Unidade 9: Transformações sociais.

Unidade 10: Estado e relações de poder.

Unidade 11: Democracia e cidadania.

Unidade: Apêndice

Unidade 12: Indústria cultural.

Unidade 3: Relações de poder e

política.

Unidade 4: Moral, ética e

concepções de virtude.

Unidade 7: Formas de organização

política e teorias do Estado

Moderno.

Unidade 8: Ética religiosa e ética

laica.

Unidade 11: Política contemporânea.

Direito da criança e do adolescente

2000 - Direitos da criança e do

adolescente: como enfrentar esse desafio

nacional

2005 - O trabalho infantil na realidade

brasileira

2014 – Publicidade infantil em questão no

Brasil

Unidade 3: Formas de sociabilidade no

contexto das tecnologias de informação

e comunicação.

Unidade 5: Ideologia.

Unidade 7: Estratificação social,

desigualdades e violência.

Unidade 12: Indústria cultural.

Unidade: Apêndice.

Unidade 4: Moral, ética e

concepções de virtude.

Unidade 12: Diálogos entre a

Filosofia e temas contemporâneos.

Unidade 11: Política contemporânea

Sustentabilidade

2001 - Desenvolvimento e preservação

ambiental: como conciliar interesses em

conflito?

2008 - A máquina de chuva da Amazônia

Unidade 8: Meio ambiente e capitalismo.

Unidade: Apêndice.

Unidade 12: Diálogos entre a

Filosofia e temas contemporâneos.

Trabalho e transformação social

2010 - “O trabalho na construção da dignidade

humana”

Unidade 7: Estratificação social,

desigualdades e violência.

Unidade 6: Trabalho, técnica e

razão instrumental

Page 7: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

7

Formas de violência

2003 - Violência na sociedade brasileira Unidade 4: Cultura.

Unidade 7: Estratificação social,

desigualdade e violência.

Unidade 10: Estado e relações de poder.

Unidade: Apêndice.

Unidade 4: Moral, ética e concepção

de virtude.

Unidade 7: Formas de organização

política e teorias do Estado

Moderno.

Unidade 11: Política contemporânea.

Unidade 12: Diálogos entre Filosofia e

temas contemporâneos.

Indústria cultural

2004 - Como garantir a liberdade de

informação e evitar abusos nos meios de

comunicação?

Unidade 2: Processo de socialização.

Unidade 5: Ideologia.

Unidade 4: Cultura.

Unidade 7: Estratificação social,

desigualdades e violência.

Unidade 11: Democracia e cidadania.

Unidade 12: Indústria cultural.

Unidade: Apêndice.

Unidade 6: Trabalho, técnica e

razão instrumental.

Unidade 9: Arte e indústria cultural

Diversidade cultural

2007 - O desafio de conviver com a diferença Unidade 2: Processo de socialização.

Unidade 4: Cultura.

Unidade 10: Estado e relações de poder.

Unidade 11: Democracia e cidadania.

Unidade: Apêndice.

Unidade 12: Diálogos entre a

Filosofia e temas contemporâneos

Sociedade em rede

2011 - Viver em rede no século XI Unidade 2: Processo de socialização.

Unidade 3: Formas de sociabilidade no

contexto das tecnologias de informação

e comunicação.

Unidade 6: O mundo do trabalho.

Unidade 7: Estratificação social,

desigualdades e violência.

Unidade 12: Indústria cultural.

Unidade: Apêndice

Unidade 3:

Relações de poder e política

Page 8: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

8

Temas Anos

Ética e cidadania1998/1999/2002/2006/

2009/2012/2013

Sociedade em rede 2011

Direitos da criança e adolescente 2000/2005/2014

Formas de violência 2003

Diversidade cultural 2007

Indústria cultural 2004

Sustentabilidade 2001/2008

Trabalho e transformação social 2010

Matriz de Referência para Redação do Enem

Competência 1

Demonstrar domínio da

modalidade escrita formal

da língua portuguesa.

Competência 2

Compreender a proposta

de redação e aplicar

conceitos das várias áreas

de conhecimento para

desenvolver o tema, dentro

dos limites estruturais do texto

dissertativo-argumentativo em

prosa.

Competência 3

Selecionar, relacionar,

organizar e interpretar

informações, fatos, opiniões e

argumentos em defesa de um

ponto de vista.

Competência 4

Demonstrar conhecimento

dos mecanismos linguísticos

necessários para a

construção da argumentação.

Competência 5

Elaborar proposta de

intervenção para o problema

abordado, respeitando os

direitos humanos.

Temas abordados pelas propostas de redação do ENEM, desde 1998.

A REDAÇÃO NO ENEM

A nota da redação do ENEM possui muito peso no exame do Enem. Neste sentido, a re-

dação constitui-se na principal ferramenta de seleção do exame, configurando-se mesmo

como um mecanismo de eliminação neste processo. Os temas cobrados pelas propostas

de redação do Enem, desde 1998, estão sempre vinculados aos conhecimentos teóricos

estudados pelos componentes curriculares Filosofia e Sociologia, contextualizados em

eventos políticos, econômicos, culturais ou sociais da atualidade.

Page 9: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

9

O estudante deve ficar atento a um detalhe fun-

damental no processo de produção da redação

do ENEM, que consiste em apenas se basear nos

textos motivadores e evitar utilizá-los na redação,

nem mesmo como citação. Esse cuidado demons-

tra maior domínio do estudante sobre o tema e

repertório ampliado, bem como as habilidades de

relacionar conteúdos diversos e construir argu-

mentações consistentes.

A proposta de redação solicita que seja produzido

um texto dissertativo-argumentativo em prosa, uti-

lizando-se a norma padrão da língua portuguesa.

Portanto, não convém escrever uma narrativa, um

poema etc., da mesma forma que uma linguagem

informal e gírias devem ser evitadas.

A redação deve considerar o esquema básico dos

textos dissertivo-argumentativo, sendo constituída

de introdução, desenvolvimento e conclusão. Deve

conter uma ideia central cujo argumento deve estar

bem fundamentado, tanto lógica quanto teorica-

mente. A atenção ao tema é muito importante, pois

há muitos candidatos que dissertam sobre o assunto

(mais geral), mas não sobre o tema (delimitação do

assunto). No exemplo dado na ficha 4, o tema cen-

tral é a relação de limites entre público e privado no

contexto atual da sociedade em rede. No entanto,

muitos candidatos se perdem dissertando sobre os

sedutores assuntos Internet ou redes sociais. Isso

caracteriza fuga do tema.

De modo geral, espera-se que o texto apresente,

em seu parágrafo introdutório, um posicionamen-

to do candidato em relação à temática abordada.

Tal posicionamento será desenvolvido em no má-

ximo dois ou três parágrafos, que apresentarão

argumentos e contra-argumentos que fundamen-

tem as discussões sobre o tema, utilizando infor-

mações trazidas tanto dos textos apresentados

na proposta de redação, quanto de seu próprio

repertório. No parágrafo conclusivo, os principais

pontos discutidos devem ser sintetizados e a po-

sição final do estudante deve estar explicitada,

sendo apresentada uma proposta de intervenção

para o problema abordado.

Conforme a proposta de redação, o estudan-

te deve contemplar em seu texto argumentos e

propostas de conscientização social, que contem-

plem os direitos humanos. Portanto, respeitar os

direitos humanos na proposta é condição funda-

mental. Ainda que o estudante desenvolva uma

boa argumentação, lógica e coerente com tema

central, mas, por posições ideológicas próprias,

não contemple os direitos humanos, pode ter a re-

dação zerada pela banca corretora.

Como preparação para a produção de textos no

ENEM, o estudante deve ser orientado a produzir

um esquema ou projeto de texto, para que possa

organizar as informações, elencando quais argu-

mentos serão utilizados e como estes estarão dis-

tribuídos ao longo da redação e, só então, produzir

o rascunho de seu texto. Esta é primeira versão do

texto, que deve ser aprimorado,

Nas aulas de Sociologia e Filosofia, alguns proce-

dimentos podem ser estimulados para auxiliar os

estudantes no desenvolvimento de sua capacida-

de argumentativa, dos quais destacam-se: identi-

ficação da situação-problema; levantamentos dos

conhecimentos prévios sobre o assunto e sobre o

tema; pesquisas para levantar mais informações

sobre o problema e levantamento da argumenta-

ção/soluções para as situações problema, propo-

sição de debates, entre outros.

No 3º ano do ensino médio, a Uni-dade 7 do Movimento do aprender de Língua Portuguesa traz uma uni-dade dedicada ao estudo de textos argumentativos. Nela, por meio do estudo dos gêneros textuais artigo científico e artigo de opinião, são abordadas estratégias argumentati-vas e recursos linguísticos que con-tribuem para o desenvolvimento da argumentação nos textos, como me-canismos de coesão textual.

A plataforma Geekie Lab, que pode ser acessada pelo Portal SESI Edu-cação, também traz duas aulas que também podem auxiliar o estudan-te: “Argumentação” e “Estratégias de convencimento em relação ao público-alvo”.

Indique ao estudante:

Page 10: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

10

Ficha 1 - Ética e Cidadania

PROPOSTA DE REDAÇÃO ENEM – 1998

Tema: Viver e Aprender

O que é o que é

(...)

Viver

e não ter a vergonha de ser feliz

Cantar e cantar e cantar

a beleza de ser um eterno aprendiz

Eu sei

que a vida devia ser bem melhor

e será

Mas isso não impede que eu repita

É bonita, é bonita e é bonita

(...)

Luiz Gonzaga Jr.Redija um texto dissertativo sobre o tema “Viver

e Aprender” no qual você exponha suas ideias

de forma clara, coerente e em conformidade

com a norma culta da língua sem se remeter a

nenhuma expressão do texto motivador “O que

é o que é”. Dê um titulo à sua redação, que de-

verá ser apresentada à tinta e desenvolvida na

folha anexa ao Cartão-Resposta. Você poderá

utilizar a última página deste Caderno de Ques-

tões para rascunho.

Page 11: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

11

Filosofia

1º ano• Interpretar a constituição do homem nas inter-

conexões entre natureza e cultura, analisando

diferentes concepções filosóficas sobre a natu-

reza humana.

2º ano

• Identificar as fontes do conhecimento, discer-

nindo e relacionando conhecimento sensível e in-

teligível, bem como as noções de sujeito e objeto.

3º ano• Conhecer e comparar as teorias modernas do ra-

cionalismo, do empirismo e do criticismo.

Sociologia

1º ano• Problematizar as relações entre indivíduo e so-

ciedade, comparando a influência de diferentes

instituições sociais no processo de socialização.

• Refletir sobre o papel da educação na repro-

dução das regras sociais, na democratização dos

bens culturais e na construção de ferramentas de

análise crítica da sociedade.

2º ano• Comparar formas variadas de organização do tra-

balho, compreendendo a sua diversidade de concep-

ções e funções em diferentes contextos e sociedades.

3º ano• Compreender a cidadania como um conjunto de

deveres e como a garantia plena dos direitos civis,

políticos, sociais e humanos.

• Analisar as relações de poder e as formas de do-

minação presentes em diferentes esferas da vida,

ampliando a noção de poder para além das insti-

tuições políticas e econômicas.

Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SP

Proposta didáticaA letra da música indica a necessidade de, na vida,

ser um eterno aprendiz, ou seja, sugere a necessi-

dade de constante formação do ser humano, sen-

do condição para o desenvolvimento de uma vida

cada vez melhor. Viver e aprender é um desafio

muito presente nas práticas de ensino de Filoso-

fia e Sociologia, pois são constantemente mote às

reflexões e desafios de interpretação da realidade,

do ser humano e da sociedade. O tema proposto

pela redação, ao trazer a composição “O que é o

que é”, de Gonzaguinha, demanda uma análise crí-

tica sobre o sentido da vida, considerando as de-

mandas e pressões sociais (escola, trabalho, etc.)

que nos fazem esquecer o que realmente importa.

O texto de apoio para a produção da redação é de

tom otimista com relação ao ser humano. Nesse

sentido, a reflexão e a argumentação podem pas-

sar pela análise do valor da vida como movimento

de aprendizagem constante, sendo interessante

abordar o aprender a viver como um aprender a

ser, aprender a se relacionar na sociedade de ma-

neira ética, respeitosa e cidadã. Essa abordagem

mais otimista sobre a existência humana sugere o

contraponto com determinada visão pessimista,

tema de polêmicas filosóficas, por exemplo, en-

tre as ideias de Rousseau - que entende o homem

como bom por essência, mas corrompido pela so-

ciedade - ou de Hobbes - que faz a leitura de ser

o “homem o lobo do homem”, procurando sempre

o caminho da violência e da guerra. Nesse sentido,

pode ser trabalhada a música O lobo, da cantora

Pitty, porque se baseia nas ideias de Hobbes sobre

a natureza humana.

Ainda pensando nas questões existenciais, é in-

teressante discutir a responsabilidade em Sartre,

sobretudo a partir do texto O existencialismo é um

humanismo. Fazendo uma incursão pela literatu-

ra clássica, a obra O Pequeno Príncipe, de Saint

Exupéry, com destaque ao diálogo entre o prín-

cipe e a raposa, capítulo XXI, favorece um olhar

mais plástico das ideias existencialistas na famosa

expressão “tu te tornas eternamente responsável

por aquilo que cativas”.

Page 12: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

12

Outro corte interessante a ser feito é no viés da

perspectiva epistemológica do aprender, de ma-

neira mais crítica, colocando em questão o por-

quê se aprende determinadas coisas e não ou-

tras, para quem ou para quê serve determinado

conhecimento, uma vez que, numa perspectiva

sociológica, o processo de aprendizagem não

é neutro e faz parte do processo de socializa-

ção do indivíduo. Cada vez mais a educação é

institucionalizada, com impacto na reprodução

das regras sociais, na democratização dos bens

culturais e na socialização das ferramentas teó-

ricas de análise crítica da sociedade. Cada vez

mais em nossa sociedade da informação, conhe-

cimento é poder.

Por fim, a constituição do sujeito é o exercício de

viver a vida em grande medida determinada e com

escolhas limitadas, o que nega a cidadania, geral-

mente sendo negado até mesmo o próprio exercí-

cio do aprender. Assim, o viver passa a ser com-

preendido repleto de desafios como um estímulo

de luta e sobrevivência.

Professor, a análise da pro-posta de redação sugere a construção de um projeto de vida. Nesse sentido, seria ba-cana trabalhar com os estu-dantes essa dimensão, abrindo uma roda de conversa sobre o que eles pensam sobre isso e o que esperam consoli-dar em suas vidas a curto, médio e longo prazo.

Texto I: Política é cidadania

Mario Sergio Cortella

Educadores insistem em separar termos de significados idênticos

Existe uma tendência a excluir a relação direta

entre política e cidadania, criando uma rejeição

curiosa à política e valorizando cidadania, como se

fossem termos diversos. Há um vínculo inclusive

de natureza semântica entre as duas palavras, que,

objetivamente, significam a mesma coisa.

A noção de política está apoiada num vocábulo

grego, polis (cidade) e cidadania se baseia em um

vocábulo latino correspondente, civitatem. Em-

bora a origem etimológica seja diferente, os dois

termos propõem que se pense na ação da vida em

sociedade (ou seja, em cidade). Isso significa que

não é possível apartar ou separar os conceitos.

Hoje, encontramos uma série de discursos, lemas e

planos pedagógicos e governamentais que falam

em cidadania como se ela fosse uma dimensão su-

perior à política. Muito se diz que a tarefa da es-

cola é a promoção da cidadania, sem interferência

da política. Não se menciona o conceito de políti-

ca, como se ele fosse estranho ao trabalho educa-

cional; com isso, pretende-se dar à cidadania um

ar de ideia nobre, honesta, de valor positivo. Sob

essa ótica, política é sinônimo de sujeira, patifaria,

corrupção. Claro que não é assim.

Ambas as palavras e ações se identificam. É pre-

ciso recusar a recusa do termo política no espaço

educacional! Ainda temos essa rejeição ao concei-

Para Debater

Page 13: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

13

to, como se ele pertencesse a uma área menos sig-

nificativa e menos decente que a cidadania. Ora,

não se deve temer a identidade dos conceitos,

pois só assim é possível construir cidadania, no

sentido político do termo: bem comum, igualdade

social e dignidade coletiva.

Assim, é necessário debater a política e isso é de-

bater a cidadania. Falar em política envolve tam-

bém os partidos, mas não se esgota neles. É toda

e qualquer ação em sociedade, portanto, toda e

qualquer ação em família, em instituições religio-

sas e sociais, no mundo das relações de trabalho.

Num momento em que nosso país caminha para

um revigoramento do processo democrático, não

é aceitável – porque poderá ganhar um ar conser-

vador e até reacionário – admitir que é princípio da

escola "não meter-se em política". Ao contrário, é

porque se meterá em política que a cidadania se

reinventa. Porém, não é tarefa da escola a promo-

ção da política partidária, porque partido ou é uma

questão de foro íntimo ou deve se dar nos seus es-

paços próprios. É imprescindível levar esse tema

para o debate no projeto pedagógico da escola,

sem assumir um viés partidário e sem, porém, in-

visibilizar o conhecimento das múltiplas posturas.

Há uma diferença entre partidarizar e politizar. Mas

a política, no sentido amplo de cuidar da vida cole-

tiva e da sociedade, é sim obrigação escolar e com-

ponente essencial do currículo. Não pode a escola

furtar-se ao mundo da política, porque isso impli-

caria diretamente na impossibilidade da cidadania.

Texto de Mario Sergio Cortella, filósofo e educador.

Disponível em: <http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_revistas/revis-ta_educacao/junho02/panoramica.htm>. Acesso em: 6 maio 2016.

Texto II: Condenado a ser livre

Condenado a ser livre“[...] não encontramos diante de nós valores ou

imposições que nos legitimem o comportamento.

Assim, não temos nem atrás de nós, nem diante

de nós, no domínio luminoso dos valores, justifi-

cações ou desculpas. Estamos sós e sem descul-

pas. É o que traduzirei dizendo que o homem está

condenado a ser livre. Condenado porque não se

criou a si próprio; e, no entanto, livre porque, uma

vez lançado ao mundo, é responsável por tudo

quanto fizer.

(SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Tradução

e notas de Vergílio Ferreira. São Paulo: Nova Cultural, 1978, p. 9.)

Texto III: Trecho de O Pequeno Príncipe – O cativar e se responsabilizar

O Pequeno Príncipe e a Raposa Cap. XXIE foi então que apareceu a raposa:

- Bom dia, disse a raposa.

- Bom dia, respondeu educadamente o pequeno

príncipe, que olhando a sua volta, nada viu.

- Eu estou aqui - disse a voz, debaixo da macieira...

- Quem és tu? - perguntou o principezinho. Tu és

bem bonita ...

- Sou uma raposa - disse a raposa.

- Vem brincar comigo – propôs ele. Estou tão triste...

- Eu não posso brincar contigo - disse a raposa.

Não me cativaram ainda.

- Ah! Desculpe - disse o principezinho.

Mas, após refletir, acrescentou:

- Que quer dizer "cativar"?

- Tu não és daqui - disse a raposa. - Que procuras?

- Procuro os homens - disse o pequeno príncipe.

Que quer dizer "cativar"?

- É algo quase sempre esquecido – disse a raposa.

- Significa “criar laços”...

- (...) se tu me cativas, minha vida será como que

cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que

será diferente dos outros. Os outros passos me fa-

zem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão

para fora da toca, como se fosse música. E depois,

olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? (...) Os cam-

pos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso

é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será

maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo,

que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E

eu amarei o barulho do vento no trigo...

A raposa calou-se e observou por muito tempo

o príncipe:

- Por favor... Cativa-me! - disse ela. (...)

- A gente só conhece bem as coisas que cativou

- disse a raposa. - Os homens não têm mais tem-

po para conhecer coisa alguma. Compram tudo já

pronto nas lojas. Mas, como não existem lojas de

amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu

queres um amigo, cativa-me!

- Que é preciso fazer? - perguntou o pequeno príncipe.

- É preciso ser paciente - respondeu a raposa.

- Tu te sentarás primeiro um pouco longe de

mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto

do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma

fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sen-

tarás mais perto... (...)

Assim o pequeno príncipe cativou a raposa. Mas

quando chegou a hora da partida, a raposa 'disse:

- Ah! Eu vou chorar.

- A culpa é tua, disse o principezinho. - Eu não te que-

Page 14: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

14

ria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

- Quis - disse a raposa.

- Mas tu vais chorar! disse ele.

- Vou - disse a raposa.

- Então, não terás ganhado nada!

- Terei, sim - disse a raposa -, por causa da cor

do trigo.

Depois ela acrescentou:

- Vai rever as rosas. Assim compreenderás que a

tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer

adeus, e eu te farei presente de um segredo.

Foi o principezinho rever as rosas: (...)

E voltou, então, à raposa:

- Adeus... - disse ele..

- Adeus - disse a raposa. - Eis o meu segredo. É

muito simples: só se vê bem com o coração. O es-

sencial é invisível aos olhos.

- O essencial é invisível aos olhos - repetiu o princi-

pezinho, para não se esquecer.

- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez

tua rosa tão importante.

- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... re-

petiu ele, para não se esquecer.

- Os homens esqueceram essa verdade - disse a ra-

posa. - Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas

eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu

és responsável pela rosa...

- Eu sou responsável pela minha rosa... - repetiu o

principezinho, para não se esquecer.

(SAINT- EXUPÉRY, Antoine de. O pequeno príncipe. Rio de

Janeiro: AGIR, 2009, pp.64-72).

Texto IV: Juventude, participação e cidadania: que papo é esse?

Por Regina Novaes1

Juventude, cidadania e participação: que papo

é esse? Pode ser um papo furado, que não leve a

nada. Pode ser que não renda, que seja insuficiente

em termos de contribuição à democracia, de ques-

tionar padrões da cultura brasileira. Se a juventude

repetir apenas uma maneira usual de fazer política,

de disputar espaços, ela não vai mudar nada. Ou

seja, não estamos falando apenas de uma questão

de faixa etária, mas de uma mudança de olhar a so-

ciedade. Se assim for, este papo pode render muito.

Pode render, sim, com muitos desafios. Não é nada

automático, nada mágico. Pode ser um importante

elemento construtor de democracia, de uma socie-

dade mais justa de direitos.

Acho que essa pergunta “que papo é esse?” po-

deria ser substituída “por que onda é essa?”, “que

moda é essa?” Por que está na moda falar em polí-

ticas públicas para a juventude? Por que se inven-

tou agora que a juventude é depositária de todas

as possibilidades? Não é por acaso que hoje, ao

final do século XX e início do século XXI, um novo

ator social [a juventude] aparece na cena pública,

como a questão racial e a das mulheres já apare-

ceram. Por que agora a juventude aparece? Infe-

lizmente, não é por uma coisa boa. Poderia ser por

reconhecimento. Mas não é. A questão da juventu-

de vem para a cena pública quando ela passa a ser

o segmento mais vulnerável frente às mudanças

sociais que acontecem no mundo de hoje.

Quando a gente soma, em especial no Brasil, uma

história de desigualdades sociais e de exclusão

com uma realidade mundial de mudanças de rela-

ções de produção e de exclusão de grupos sociais,

a juventude torna-se o segmento mais atingido.

É por isso que a juventude aparece, atualmente,

como um ator social, enfrentando diversos desa-

fios da sociedade contemporânea.

A grande questão é que o jovem dos dias atu-

ais tem medo de sobrar. A sua inserção produti-

va não está garantida. Vocês poderão dizer que

sempre foi assim. Sempre existiu o jovem pobre e

o jovem rico, o jovem incluído e o excluído. Sim,

isto é verdade. Mas acontece que tínhamos um

sistema de produção que garantia uma reprodu-

ção: o filho do camponês continuaria o trabalho

do pai, da mesma forma que o filho do operário.

Era injusto porque o jovem não tinha possibilida-

de de ascender socialmente, mas havia a possi-

bilidade de pensar o futuro a partir de um lugar

social. Aqueles que estudavam, que passavam no

funil, tinham a garantia que poderiam exercer a

sua profissão ao final dos estudos.

Com a mudança do mundo do trabalho, cada vez

mais restritivo e mutante, os jovens foram e são atin-

gidos. Todos os jovens passaram a ter medo do fu-

turo. Neste cenário, temos que ver todas as diferen-

tes juventudes e suas questões sociais e raciais, suas

questões de gênero e opções/orientações sexuais.

Os mais vulneráveis têm mais medo de sobrar e são

os mais atingidos. Estamos diante de uma geração

que é atingida na possibilidade de pensar o futuro a

partir de mudanças estruturais da sociedade.

Outro ponto importante é o medo de morrer de

1Antropóloga e professora. Ex-secretária-adjunta da Secretaria Nacional de Juventude e ex-presidente do Conselho Nacional de Juventude.

Page 15: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

15

uma maneira prematura e violenta. O jovem de

hoje conhece a morte de pares. Toda idéia de ju-

ventude é que a morte está longe. A vida humana

é como se fosse uma vida de uma planta: nasce,

cresce, desenvolve e morre. É o ciclo da vida. O

que acontece é que a juventude, dos nossos dias,

convive com a morte de seus pares. São seus ir-

mãos, seus primos, seus vizinhos que morrem, na

maioria das vezes, por armas de fogo ou aciden-

tes de trânsito. A questão da violência tem causas

locais e internacionais e há três elementos funda-

mentais que configuram este cenário: a indústria

bélica, o tráfico de drogas e o despreparo das po-

lícias. Hoje nenhum jovem, de uma grande cidade,

como o Rio de Janeiro, seja das camadas popu-

lares ou das classes mais favorecidas, sai para o

lazer noturno sem pensar na hipótese de que ele

não voltará para a casa.

Temos, portanto, marcos geracionais que dizem

respeito à inserção produtiva e ao fato de poder

projetar sua própria vida. Esses marcos exigem

políticas públicas. As políticas surgem no momen-

to em que uma geração tem problemas diferentes

de outras. Trata-se de uma fase da vida que já não

é mais a infância, sob a proteção dos pais, nem

ainda uma nova família. Esse momento de passa-

gem exige direitos universais e direitos específicos

que dizem respeito a esta faixa etária.

As políticas públicas têm que somar estas duas

coisas: os direitos universais (o acesso à educa-

ção, ao trabalho etc.) e os específicos. As políticas

públicas têm que pensar então numa nova interfa-

ce entre escolaridade e preparação para o mundo

do trabalho. O Estado tem que ter o compromisso

de fazer as suas políticas macro, mas tem que fa-

zer isto com a sociedade civil para que cada um

participe, transformando a política de juventude

numa política de Estado, não de Governo. O que

tentamos fazer hoje é colocar duas palavras na

roda: direitos e oportunidades.

Mas para que tudo isto aconteça e para que este

papo seja produtivo e dê resultado positivo, depen-

demos muito da ação de levar para a sociedade a

perspectiva geracional. Uma questão complicada.

Quem entra no movimento feminista milita a vida

inteira como mulher. Não sai deste lugar. Quem en-

tra no movimento racial, passa a vida toda nisso.

A questão da juventude é uma questão marcada

por uma faixa etária específica. Portanto, ela não

pode ser pensada sem levar em conta a relação

intergeracional. Os jovens e os adultos se colocam

em todos os espaços sociais. É preciso que os jo-

vens consigam aprender com os adultos valores

da cidadania que são trazidos pela história social

do país. Os jovens não podem achar que estão co-

meçando do zero. É preciso promover um diálogo

intergeracional, um diálogo que traz valores. Os

jovens têm que escutar os adultos e vice-versa, o

que provocará um aprendizado mútuo. Só sabe o

que é ser jovem hoje quem é jovem. Os adultos de

hoje foram jovens em outro tempo histórico.

Por fim, é necessário também que haja um diálogo

intrageracional. Esse é o maior desafio porque as

tribos existem, os grupos são heterogêneos e têm

objetivos diferentes. Precisamos encontrar o que

une esta geração e a partir daí desenvolver políti-

cas públicas. Claro que as diferenças continuarão

existindo. Os jovens estarão no mesmo jogo dos

adultos (que às vezes não é um jogo muito bom)

se eles se fragmentarem completamente, não per-

ceberem o que há de comum entre eles a partir dos

desafios e dos direitos de sua geração. Estabelecer

os diálogos é difícil. Não é fácil porque muitas vezes

os jovens reproduzem os preconceitos e os ‘faccio-

nalismos’ dos adultos. Esta geração tem uma chance

de inovar na cultura política, inovar a partir de seus

interesses e de uma forma que faça até mesmo que

os adultos aprendam.

Disponível em: <http://revistapontocom.org.br/ed icoes-anterio

res-artigos/juventude-participacao-e-cidadania-que-papo-e-esse>.

Acesso em 9 maio 2016.

Texto V: Trecho do livro III da Política de Aristóteles, que define o que é o cidadão:

Quando se examinam os governos, sua natureza e

seus caracteres distintivos, a primeira questão que

se apresenta, por assim dizer, é perguntar, em se

tratando da cidade, o que é uma cidade. Até agora

ainda não se chegou a um acordo sobre este pon-

to. Pretendem uns que é sempre a cidade que ope-

ra quando existe transação; outros sustentam que

não é a cidade, mas a oligarquia ou o tirano. Aliás

sabemos que toda a atividade do homem político

e do legislador é de uma certa ordem estabelecida

entre os que habitam a cidade.

Mas sendo a cidade algo de complexo assim como

qualquer outro sistema composto de elementos ou

partes, é preciso, evidentemente, procurar antes de

tudo o que é um cidadão. Porque a cidade é uma

multidão de cidadãos, e assim é preciso examinar o

que é um cidadão, e a quem se deve dar este nome.

Nem sempre se está de acordo neste ponto, já que

nem todos concordam, no caso de um mesmo in-

divíduo, que ele seja um cidadão. É possível, com

efeito, que aquele que seja cidadão numa democra-

cia, não seja numa oligarquia.

Page 16: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

16

Ponhamos de lado, pois, os que obtêm este títu-

lo por qualquer outro modo, como, por exemplo,

aqueles a quem concedeu o direito de cidadania,

o Cidadão não é cidadão pelo fato de se ter es-

tabelecido em algum lugar – pois os estrangeiros

e os escravos também são estabelecidos. Não é

cidadão por se poder, juridicamente, levar ou ser

levado ante os mesmos tribunais. Pois isso é o

que acontece aos que se servem de selos para as

relações de comércio. Em vários pontos, mesmo

os estrangeiros estabelecidos não gozam com-

pletamente deste privilégio, mas é preciso que

tenham um fiador e, sob este aspecto, eles só são

membros da comunidade imperfeitamente.

É assim que, só até um certo ponto, e não em

todo sentido, se pode dar o nome de cidadãos

aos filhos que não sejam ainda inscritos nos

registros públicos, devido a sua tenra idade, e

aos velhos, porque estão isentos de qualquer

serviço. Mas é preciso acrescentar que aqueles

não são cidadãos imperfeitamente, e que estes

últimos já ultrapassaram a idade (ou qualquer

outra restrição semelhante). Porque pouco im-

porta, e compreende-se o que eu quero dizer. O

que eu procuro é a ideia absoluta, sem que nada

haja nela a acrescentar ou transformar. Aliás o

mesmo acontece com os que foram marcados

na infância ou condenados ao exílio. As mesmas

dúvidas, as mesmas soluções. Em uma palavra,

cidadão é aquele cuja especial característica é

poder participar da administração da justiça e

de cargos públicos.

(ARISTÓTELES, A Política. Tradução de Nestor Silveira Chaves. São Paulo: Escala, 2006, pp. 75-76)

Texto VI: Como dizia o poeta

Vinícius de Moraes

Quem já passou por essa vida e não viveu

Pode ser mais, mas sabe menos do que eu

Porque a vida só se dá pra quem se deu

Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu

Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter

nada, não

Não há mal pior do que a descrença

Mesmo o amor que não compensa é melhor que

a solidão

Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair

Pra que somar se a gente pode dividir

Eu francamente já não quero nem saber

De quem não vai porque tem medo de sofrer

Ai de quem não rasga o coração, esse não vai

ter perdão

Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter

nada, não

Page 17: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

17

Page 18: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

18

(HENFIL. Fradim. Ed. Codecri, 1997, n. 20)

Ficha 2 – Ética e Cidadania

PROPOSTA DE REDAÇÃO ENEM - 1999

Tema: Cidadania e participação social

Page 19: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

19

Com base na leitura dos quadrinhos e depoi-

mentos, redija um texto em prosa, do tipo dis-

sertativo-argumentativo, sobre o tema: Cidada-

nia e participação social.

Ao desenvolver o tema proposto, procure uti-

lizar os conhecimentos adquiridos ao longo de

sua formação. Depois de selecionar, organizar

e relacionar os argumentos, fatos e opiniões

apresentados em defesa de seu ponto de vista,

elabore uma proposta de ação social.

A redação deverá ser apresentada a tinta na cor

azul ou preta e desenvolvida na folha grampeada

ao Cartão-Resposta. Você poderá utilizar a última

página deste Caderno de Questões para rascunho.

Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SP

Filosofia

1º ano• Relacionar e diferenciar vida pública e vida pri-vada, problematizando a finalidade da política.

• Conhecer teorias políticas da Grécia Antiga e refletir sobre a cidadania grega.

2º ano• Analisar as características da anarquia, da mo-narquia, da aristocracia e da democracia.

Proposta de redação

O encontro “Vem ser cidadão” reuniu 380 jovens

de 13 Estados, em Faxinal do Céu (PR). Eles foram

trocar experiências sobre o chamado protagonis-

mo juvenil. O termo pode até parecer feio, mas

essas duas palavras significam que o jovem não

precisa de adulto para encontrar o seu lugar e a

sua forma de intervir na sociedade. Ele pode ser

protagonista. ([Adaptado de] ”Para quem se re-

volta e quer agir”, Folha de S. Paulo, 16/11/1998).

Depoimentos de jovens participantes do encontro:

· Eu não sinto vergonha de ser brasileiro. Eu sinto

muito orgulho. Mas eu sinto vergonha por existirem

muitas pessoas acomodadas. A realidade está nua e

crua. (...) Tem de parar com o comodismo. Não dá

para passar e ver uma criança na rua e achar que

não é problema seu. (E.M.O.S., 18 anos, Minas Gerais)

· A maior dica é querer fazer. Se você é acomo-

dado, fica esperando cair no colo, não vai acon-

tecer nada. Existe muita coisa para fazer. Mas

primeiro você precisa se interessar. (C.S.Jr., 16

anos, Paraná)

· Ser cidadão não é só conhecer os seus direi-

tos. É participar, ser dinâmico na sua escola, no

seu bairro. (H.A., 19 anos, Amazonas)

(Depoimentos extraídos de “Para quem se revolta e quer agir”,

(Folha de S. Paulo, 16/11/1998)

• Entender-se como responsável pela formulação de um projeto pessoal, enquanto indivíduo e en-quanto membro de uma sociedade.

3º ano• Analisar as características e a importância da democracia no Brasil e refletir sobre o conceito de cidadania.

Sociologia

1º ano• Analisar os campos de investigação e os obje-tos de estudo das Ciências Sociais, diferencian-do o conhecimento científico do senso comum.

• Problematizar as relações entre indivíduo e so-ciedade, comparando a influência de diferentes instituições sociais no processo de socialização.

2º ano• Reconhecer os processos de mudança social, analisando os seus impactos na organização so-cial, econômica e política.

• Analisar diferentes formas de estratificação so-cial, associando-as a elementos como a distribui-ção de poder político, riqueza e prestígio, as rela-ções étnico-raciais e de gênero, e a inserção dos indivíduos no mundo do trabalho.

3º ano• Relacionar a democracia e os canais de participa-ção política com as possibilidades de mudança das relações e das instituições sociais e políticas.

Page 20: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

20

• Compreender a cidadania como um conjunto de deveres e como a garantia plena dos direitos civis, políticos, sociais e humanos.

• Analisar o papel das lutas e dos movimentos so-ciais nos processos de conquista dos direitos de cidadania e de formulação de políticas públicas.

Proposta didáticaEsta proposta de redação traz uma diversidade tex-

tual considerável. Começa com um cartum produzido

por Henfil muito rico para ser explorado com os es-

tudantes, pois mostra o movimento de expansão das

asas da graúna que havia sido julgada limitada e im-

possibilitada de voar. A proposta de fazer análises li-

vres com os estudantes sobre a crítica feita por Henfil

é uma ótima estratégia para pensar o tema proposto.

É possível que, nessa conversa inicial, muitos afirmem

ser a abertura das asas um demonstrativo da força

da juventude, seu poder de voar, de buscar e alcan-

çar seus sonhos, bem como a força negativa muitas

vezes depositada sobre os jovens que os impede de

tomar consciência de sua força e capacidade.

Feche a reflexão apontando o cuidado que é pre-

ciso ter frente a atitudes julgadoras e limitadoras

do outo, afirmando não serem capazes.

Assim é possível fazer a ligação com o que segue

na proposta, destacando o encontro de jovens

ocorrido no Paraná nomeado “Vem ser cidadão”

com o objetivo de ressaltar a importância do pro-

tagonismo juvenil nas tomadas de decisão e nas

escolhas. Todos esses elementos servem ao tema

cidadania e participação social, sendo preciso jus-

tificar e defender essa participação.

Por outro lado, os estudantes podem levantar a

crítica no sentido de que os jovens estão cada vez

mais se omitindo da participação política e social

formal e, portanto, do exercício da cidadania. Nes-

se caso, é interessante construir hipóteses sobre

essa problemática da não participação política dos

jovens, além de propor soluções para tal situação.

Há espaço para descontruir a ideia do senso co-

mum de que a juventude é despolitizada, pois ape-

sar de negar a política, participam cada vez mais

de manifestações, como as ocorridas em 2013. Ao

entrar nessa dimensão, pode-se discutir a filosofia

política e os sistemas de governo, sendo que isso

viabiliza a criação de argumentos válidos para a

ação política numa democracia.

A cidadania – ação cidadã/política - demanda

a consciência dos direitos e deveres e a partici-

pação ativa em todas as questões da sociedade.

Provoque os jovens à reflexão sobre essa partici-

pação na solução dos graves problemas políticos,

sociais, raciais, étnicos, de desemprego e de exclu-

são social que vivenciam e que somente poderão

ser superados com o pleno exercício da cidadania.

Para DebaterTexto I: Henfil

O desenhista, jornalista e escritor Henrique de

Souza Filho, mais conhecido como Henfil, nasceu

em 1944, em Ribeirão das Neves (MG), e cresceu

na periferia de Belo Horizonte, onde fez os pri-

meiros estudos, frequentou um curso supletivo

noturno e um curso superior em sociologia, que

abandonou após alguns meses.

Foi embalador de queijos, contínuo em uma agên-

cia de publicidade e jornalista, até especializar-se,

no início da década de 1960, em ilustração e produ-

ção de histórias em quadrinhos. Em 1964, começou

a trabalhar na revista Alterosa, de Belo Horizonte,

a convite do editor e escritor Robert Dummond. Ali

nasceu originalmente a HQ Os Fradinhos. Em 1965,

passou a produzir caricaturas políticas para o jor-

nal Diário de Minas, e em 1967, criou charges espor-

tivas para o Jornal dos Sports, do Rio de Janeiro.

Colaborou, ainda, para as revistas Visão, Realidade,

Placar e O Cruzeiro. A partir de 1969, passou a co-

laborar para os jornais O Pasquim e Jornal do Bra-

sil, o que tornou seus personagens deste período

bastante populares em todo o país.

Em 1970, lançou a revista Os Fradinhos. Nesse mo-

mento, a produção de histórias em quadrinhos e

cartuns de Henfil já apresentava características es-

pecíficas: um desenho humorístico político, crítico

e satírico, com personagens tipicamente brasilei-

ros. Após uma década de trabalho no Rio de Janei-

ro, Henfil mudou-se para Nova York, onde passou

dois anos em tratamento de saúde e escreveu o

livro Diário de um Cucaracha.

Além das histórias em quadrinhos e cartuns, Henfil

realizou, em co-autoria com Oswaldo Mendes, a

peça de teatro A Revista do Henfil. Além disso,

escreveu, dirigiu e atuou no filme Tanga - Deu no

New York Times e teve, ainda, uma incursão na

televisão com o quadro TV Homem, do programa

TV Mulher (Rede Globo). Como escritor, publicou

sete livros: Hiroshima, meu humor (1976), Diá-

rio de um Cucaracha (1976), Dez em humor (co-

letânea, 1984), Diretas já (1984), Henfil na China

(1980), Fradim de Libertação (1984) e Como se

faz humor político (1984).

Page 21: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

21

O cartunista destacou-se também por seu posicio-

namento político, sobretudo devido ao seu enga-

jamento na resistência à ditadura militar no Brasil,

lutando pela democratização do país, pela anistia

aos presos políticos e pelas Diretas Já.

Henfil morreu, em 1988, aos 43 anos, no Rio de Ja-

neiro. Hemofílico (como seus dois irmãos, o soci-

ólogo Betinho e o músico Francisco Mário), Henfil

contraiu Aids em uma transfusão de sangue, ocor-

rência comum na época, já que havia ainda pouco

conhecimento sobre a doença e a necessidade de

cuidados específicos para preveni-la.

Ao criar personagens típicos brasileiros, como os

Fradinhos, o Capitão Zeferino, a Graúna e o Bode

Orelana, entre outros, Henfil foi responsável pela

renovação do desenho humorístico nacional, as-

sumindo o projeto de “descolonização” em um

momento em que as HQs nacionais tinham seu

desenvolvimento sufocado pela distribuição dos

quadrinhos norte-americanos pelo mundo inteiro.

Disponível em: <http://www.centrocultural.sp.gov.br/gibiteca/henfil.htm>. Acesso em 20 maio 2016.

Texto II: Constituição de 1988

TÍTULO II

DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

CAPÍTULO I

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem dis-

tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no País

a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,

à igualdade, à segurança e à propriedade, nos

termos seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e

obrigações, nos termos desta Constituição;

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de

fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

III - ninguém será submetido a tortura nem a trata-

mento desumano ou degradante;

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo

vedado o anonimato;

V - é assegurado o direito de resposta, proporcio-

nal ao agravo, além da indenização por dano ma-

terial, moral ou à imagem;

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de

crença, sendo assegurado o livre exercício dos

cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a

proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação

de assistência religiosa nas entidades civis e mili-

tares de internação coletiva;

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo

de crença religiosa ou de convicção filosófica ou

política, salvo se as invocar para eximir-se de obri-

gação legal a todos imposta e recusar-se a cum-

prir prestação alternativa, fixada em lei;

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, ar-

tística, científica e de comunicação, independen-

temente de censura ou licença; [...]

CAPÍTULO II

DOS DIREITOS SOCIAIS

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a

alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte,

o lazer, a segurança, a previdência social, a pro-

teção à maternidade e à infância, a assistência

aos desamparados, na forma desta Constituição.

(Redação dada pela Emenda Constitucional nº

90, de 2015)

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e

rurais, além de outros que visem à melhoria de sua

condição social:

I - relação de emprego protegida contra despedi-

da arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei

complementar, que preverá indenização compen-

satória, dentre outros direitos;

II - seguro-desemprego, em caso de desemprego

involuntário;

III - fundo de garantia do tempo de serviço; [...]

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/

constituicaocompilado.htm>. Acesso em 20 maio 2016.

Texto III: Participação política: Partici-pação política e cidadania

Conforme o contexto histórico, social e político, a

expressão “participação política” se presta a inú-

meras interpretações. Se considerarmos apenas as

sociedades ocidentais que consolidaram regimes

democráticos, por si só, o conceito pode ser extre-

mamente abrangente.

A participação política designa uma grande varie-

dade de atividades, como votar, se candidatar a

algum cargo eletivo, apoiar um candidato ou agre-

miação política, contribuir financeiramente para

um partido político, participar de reuniões, mani-

festações ou comícios públicos, proceder à discus-

são de assuntos políticos etc.

Níveis de participação políticaO conceito de participação política tem seu signi-

Page 22: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

22

ficado fortemente vinculado à conquista dos di-

reitos de cidadania. Em particular, à extensão dos

direitos políticos aos cidadãos adultos. Sob essa

perspectiva os estudos de Giacomo Sani (citado

em Bobbio - “Dicionário de Política”) definem três

níveis básicos de participação política.

O primeiro nível de participação pode ser denomi-

nado de presença. Trata-se da forma menos intensa

de participação, pois engloba comportamentos tipi-

camente passivos, como, por exemplo, a participa-

ção em reuniões, ou meramente receptivos, como

a exposição a mensagens e propagandas políticas.

O segundo nível de participação pode ser desig-

nado de ativação. Está relacionada com atividades

voluntárias que os indivíduos desenvolvem dentro

ou fora de uma organização política, podendo

abranger participação em campanhas eleitorais,

propaganda e militância partidária, além de parti-

cipação em manifestações públicas.

O terceiro nível de participação política será re-

presentado pelo termo decisão. Trata-se da situa-

ção em que o indivíduo contribui direta ou indire-

tamente para uma decisão política, elegendo um

representante político (delegação de poderes) ou

se candidatando a um cargo governamental (le-

gislativo ou executivo).

Ideal democráticoTomando por base sociedades contemporâneas

que consolidaram regimes democráticos repre-

sentativos (países da Europa Ocidental, América

do Norte e Japão), o ideal democrático que emer-

giu nessas sociedades supõe cidadãos tendentes

a uma participação política cada vez maior. Con-

tudo, numerosas pesquisas sociológicas na área

apontam que não há correlação entre os três ní-

veis de participação política considerados acima.

Ademais, a participação política envolve apenas

uma parcela mínima dos cidadãos.

A forma mais comum e abrangente de participa-

ção política está relacionada à participação elei-

toral. É um engano, no entanto, supor que haja,

com o passar dos anos, um crescimento ou eleva-

ção dos índices desse tipo de participação.

Mesmo em países de longa tradição democrática,

o ato de abstenção (isto é, quando o cidadão dei-

xa de votar) às vezes atinge índices elevados (os

Estados Unidos são um bom exemplo). Em outros

casos, porém, quando a participação nos proces-

sos eleitorais chega a alcançar altos índices de

participação, isso não se traduz em aumento de

outras formas de participação política (o caso da

Itália é um bom exemplo).

Estruturas políticasA participação política tal como foi conceituada é

estritamente dependente da existência de estru-

turas políticas que sirvam para fornecer oportuni-

dades e incentivos aos cidadãos. Em sistemas de-

mocráticos, as estruturas de participação política

consideradas mais importantes estão relacionadas

com o sufrágio universal (direito de voto) e os

processos eleitorais competitivos em que forças

políticas organizadas, sobretudo partidos políti-

cos, disputam cargos eletivos.

Também é preciso salientar a importância das as-

sociações voluntárias, provenientes de uma socie-

dade civil de tipo pluralista. Essas entidades atuam

como agentes de socialização política, servindo,

portanto, de elo de conexão e recrutamento entre

os cidadãos e as forças políticas organizadas.

Regimes autoritários e participação políticaA inexistência de um regime democrático e, por-

tanto, de estruturas de participação política não

significa a completa anulação das formas de par-

ticipação. O caso do Brasil do período da ditadura

militar é, neste sentido, bastante paradoxal.

A ditadura militar brasileira recorreu à violência

repressiva, impôs severo controle sobre a socie-

dade civil e aboliu todas as formas de oposição

política livre. A ausência de democracia fez, po-

rém, com que surgissem novos canais de parti-

cipação política. Neste aspecto, o movimento

estudantil pode ser considerado o exemplo mais

notável. A juventude universitária brasileira trans-

formou o movimento estudantil no principal ca-

nal de participação política.

Dessa forma, grupos, partidos e organizações po-

líticas clandestinas (na sua maioria adeptos das

ideologias de esquerda) atuaram no âmbito do

movimento estudantil universitário de modo a

exercer um importante papel na resistência à dita-

dura militar e defesa das liberdades democráticas.

Texto de Renato Cancian, cientista social, mestre

em sociologia-política e doutorando em ciências

sociais. É autor do livro “Comissão Justiça e Paz de

São Paulo: Gênese e Atuação Política - 1972-1985”.

Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/disciplinas/socio

logia/participacao-politica-participacao-politica-e-cidadania.

htm>. Acesso em 20 maio 2016.

Page 23: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

23

Texto IV

(...) Estarei fazendo o papel de um sociólogo típico

se começar dizendo que pretendo dividir o con-

ceito de cidadania em três partes. Mas a análise é,

neste caso, ditada mais pela história do que pela

lógica. Chamarei estas três partes, ou elementos,

de civil, política e social. O elemento civil é com-

posto dos direitos necessários à liberdade indivi-

dual - liberdade de ir e vir, liberdade de impren-

sa, pensamento e fé, o direito à propriedade e de

concluir contratos válidos e o direito à justiça. Este

último difere dos outros porque é o direito de de-

fender e afirmar todos os direitos em termos de

igualdade com os outros e pelo devido encami-

nhamento processual. Isto nos mostra que as insti-

tuições mais intimamente associadas com os direi-

tos civis são os tribunais de justiça. Por elemento

político se deve entender o direito de participar no

exercício do poder político, como um membro de

um organismo investido da autoridade política ou

como um eleitor dos membros de tal organismo.

As instituições correspondentes são o parlamento

e conselhos do Governo local. O elemento social

se refere a tudo o que vai desde o direito a um

mínimo de bem-estar econômico e segurança ao

direito de participar, por completo, na herança so-

cial e levar a vida de um ser civilizado de acordo

com os padrões que prevalecem na sociedade. As

instituições mais intimamente ligadas com ele são

o sistema educacional e os serviços sociais.

MARSHALL, T.H. Cidadania, classe social e status.

Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1967, p. 63-64

Page 24: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

24

Ficha 3 – Ética e Cidadania

PROPOSTA DE REDAÇÃO ENEM – 2002

Tema: O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as transformações sociais de que o Brasil necessita?

Para que existam hoje os direitos políticos, o direito de votar e ser votado, de escolher seus governantes e representantes, a sociedade lutou muito.

www.iarabernardi.gov.br. 01/03/02.

Comício pelas Diretas Já, em São Paulo, 1984.

Page 25: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

25

Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SP

Filosofia1º ano• Analisar o conceito de poder e problematizar di-ferentes relações de poder.

• Relacionar e diferenciar vida pública e vida priva-da, problematizando a finalidade da política.

• Conhecer teorias políticas da Grécia Antiga e re-fletir sobre a cidadania grega.

2º ano• Analisar as características da anarquia, da mo-narquia, da aristocracia e da democracia.

3º ano• Compreender e relacionar os conceitos de libe-ralismo e neoliberalismo político.

• Relacionar e discernir socialismo, comunismo e socialdemocracia.

• Relacionar e discernir socialismo, comunismo e socialdemocracia.

• Analisar as características e a importância da demo-cracia no Brasil e refletir sobre o conceito de cidadania.

Sociologia

1º ano• Compreender as condições histórico-sociais de emergência da Sociologia, relacionando o seu de-senvolvimento ao pensamento científico, às revo-luções burguesas e à expansão do capitalismo.

Proposta de redaçãoA política foi inventada pelos humanos como o

modo pelo qual pudessem expressar suas dife-

renças e conflitos sem transformá-los em guerra

total, em uso da força e extermínio recíproco. (…)

A política foi inventada como o modo pelo qual a

sociedade, internamente dividida, discute, delibera

e decide em comum para aprovar ou reiterar ações

que dizem respeito a todos os seus membros.

Marilena Chauí. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994.

A democracia é subversiva. … subversiva no sen-

tido mais radical da palavra.

Em relação à perspectiva política, a razão da pre-

ferência pela democracia reside no fato de ser ela

o principal remédio contra o abuso do poder. Uma

das formas (não a única) é o controle pelo voto

popular que o método democrático permite pôr

em prática. Vox populi vox dei.

Norberto Bobbio. Qual socialismo? Discussão de uma alternati-

va. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. Texto adaptado.

Se você tem mais de 18 anos, vai ter de votar nas

próximas eleições.

Se você tem 16 ou 17 anos, pode votar ou não. O

mundo exige dos jovens que se arrisquem. Que

alucinem. Que se metam onde não são chamados.

Que sejam encrenqueiros e barulhentos. Que, en-

fim, exijam o impossível.

Resta construir o mundo do amanhã. Parte desse

trabalho é votar. Não só cumprir uma obrigação.

Tem de votar com hormônios, com ambição, com

sangue fervendo nas veias. Para impor aos vito-

riosos suas exigências – antes e principalmente

depois das eleições.

André Forastieri. Muito além do voto. Época. 6 de maio de

2002. Texto adaptado.

Considerando a foto e os textos apresentados, re-

dija um texto dissertativo-argumentativo sobre o

tema O direito de votar: como fazer dessa con-

quista um meio para promover as transformações

sociais de que o Brasil necessita?

Ao desenvolver o tema, procure utilizar os conheci-

mentos adquiridos e as reflexões feitas ao longo de

sua formação. Selecione, organize e relacione argu-

mentos, fatos e opiniões, e elabore propostas para

defender seu ponto de vista.

Observações:

Lembre-se de que a situação de produção de seu

texto requer o uso da modalidade escrita culta da

língua portuguesa.

O texto não deve ser escrito em forma de poema

(versos) ou narração.

O texto deverá ter no mínimo 15 (quinze) linhas escritas.

A redação deverá ser apresentada a tinta e de-

senvolvida na folha própria.

O rascunho poderá ser feito na última página

deste Caderno.

Page 26: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

26

apresentar uma proposta de intervenção social

sobre a questão do voto. Os textos de apoio evi-

denciam conceitos fundamentais para a reflexão

acerca do voto. São, pois, a questão da política,

da democracia e a obrigatoriedade do voto. Tra-

ta-se de uma proposta de redação muito rica e

que viabiliza o diálogo entre os componentes

curriculares da área de Ciências Humanas.

O trabalho com essa temática pode ser feito a

partir de um debate em que ajudará no desenvol-

vimento do tema de redação do ENEM, havendo

duas possibilidades básicas de abordagem, ou

seja, concordar com tema ou discordar. Ao con-

cordar, a argumentação deve reforçar a ideia do

voto como uma conquista da população e a ne-

cessidade de educação e da formação da cons-

ciência para que a população valorize a possibili-

dade de escolhas democráticas. Ao discordar, a

argumentação pode passar pela crítica à obriga-

ção do voto, que o transforma de um direito em

dever, sendo algo contrário aos princípios demo-

cráticos de liberdade de escolha. Isso abre mar-

gem ao questionamento, por exemplo, se, de fato,

hoje vivemos em uma democracia.

Outros elementos para fundamentar a reflexão

podem ser encontrados no Movimento do apren-

der de Filosofia, sobretudo nas unidades 3, 7 e 11,

com destaque as análises de forma de governo e

do conceito de democracia direta e participati-

va. Já no Movimento do aprender de Sociologia,

podem ser utilizados os conteúdos e atividades

principalmente das unidades 1 e 2 para o 1º ano;

da unidade 9 para o 2º ano e das unidades 10 e 11

para o 3º ano.

Para debaterTexto I: Voto obrigatório

Escrevendo em 1922, dizia Tavares de Lyra: “Sobre

o voto, temos ensaiado todos os sistemas conheci-

dos, com exceção, apenas, do voto obrigatório, do

votoproporcional e do voto às mulheres.” (LYRA,

Augusto Tavares de. Regime eleitoral, 1821–1921.

In: Modelos alternativos de representação política

no Brasil. Brasília: UnB, 1980.)

Mas ele se equivocava, pois as multas indicadas

pela Lei nº 387, de 1846, para os que faltassem às

reuniões dos colégios eleitorais ou não participas-

sem da escolha de juízes de paz e vereadores indi-

cavam um começo de voto obrigatório no Império.

Em projeto de reforma eleitoral apresentado em

1873, o deputado João Alfredo Corrêa de Oliveira

sugeria, entre outros itens, o voto obrigatório.

A comissão especial designada para dar pare-

cer sobre a proposta afirmou não ser aquele “um

princípio novo na nossa legislação; já existe quan-

to à eleição de vereadores e de juízes de paz e à

eleição secundária, e é apenas aplicado à eleição

primária; já existe quanto ao exercício de cargos

e funções políticas nas juntas e mesas paroquiais,

nos conselhos municipais, nos colégios eleito-

rais, no juizado de paz, nas câmaras municipais,

no júri, e em outras várias instituições de caráter

político ou administrativo. Assim, pois, o projeto

apenas supre, quanto à eleição primária, uma la-

cuna da legislação vigente; destrói simplesmente

uma exceção, cuja existência tem autorizado o

desuso da regra relativamente à eleição munici-

pal e ao exercício dos referidos cargos e funções

• Refletir sobre o papel da educação na repro-dução das regras sociais, na democratização dos bens culturais e na construção de ferramentas de análise crítica da sociedade.

2º ano• Reconhecer os processos de mudança social, analisando os seus impactos na organização so-cial, econômica e política.

3º ano• Analisar as relações de poder e as formas de do-minação presentes em diferentes esferas da vida, ampliando a noção de poder para além das insti-tuições políticas e econômicas.

• Relacionar a democracia e os canais de partici-pação política com as possibilidades de mudança das relações e das instituições sociais e políticas.

• Analisar o desenvolvimento do Estado Moder-no, problematizando diferentes regimes políti-cos, sistemas eleitorais e partidários.

• Compreender os fundamentos teóricos da se-paração dos poderes, relacionando e distinguin-do as funções do executivo, do legislativo e do judiciário em diferentes formas de governo.

• Compreender a cidadania como um conjunto de deveres e como a garantia plena dos direitos civis, políticos, sociais e humanos.

• Analisar o papel das lutas e dos movimentos so-ciais nos processos de conquista dos direitos de cidadania e de formulação de políticas públicas.

Proposta didáticaO tema presente na redação é muito objetivo,

pois deixa claro ao estudante a necessidade de

Page 27: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

27

políticas.” (In: PINTO, Antônio Pereira, org. Refor-

ma eleitoral. Brasília: Unb, 1983. p. 367). O projeto

não foi aprovado.

E o Código de 1932 é que viria trazer, em definiti-

vo, e de modo amplo, a obrigatoriedade de inscri-

ção do eleitor e do voto.

Comentando o fato, afirmou João Cabral que “dis-

cutida preliminarmente a questão da obrigatorie-

dade da inscrição e do voto, e bem ponderadas as

dificuldades práticas, já experimentadas alhures,

particularmente em relação à segunda, resolveu

a subcomissão optar pelos meios indiretos con-

ducentes a tornar efetiva essa obrigatoriedade.”

(CABRAL, João G. da Rocha. Código Eleitoral da

República dos Estados Unidos do Brasil. Rio: Frei-

tas Bastos, 1934, p. 32.)

Estabeleceu, então, o projeto que nenhum cida-

dão, nas condições de ser inscrito eleitor, poderia

ser eleito ou nomeado para exercer qualquer man-

dato político, ofício, emprego ou cargo público, se

não provasse que se achava inscrito.

Quanto ao exercício do voto, só se criariam “na

parte do processo eleitoral, vantagens para os

que provarem com as anotações nos seus títulos,

haverem mais votado nas últimas eleições.” (CA-

BRAL, João G. da Rocha, ob. cit., p. 33.)

O código atual, instituído pela Lei nº 4.737, de 15

de julho de 1965, dispõe, em seu art. 7º, que “o elei-

tor que deixar de votar e não se justificar perante

o juiz eleitoral até sessenta dias após a realização

da eleição incorrerá na multa de três a dez por

cento sobre o salário mínimo da região.”

Essas multas, no entanto, nunca são cobradas pois,

após cada pleito, apressa-se o Congresso a votar

projeto de lei com o perdão aos faltosos.

ReferênciaVOTO obrigatório. In: PORTO, Walter Costa.

Dicionário do voto. Brasília: UnB, 2000. p. 455-456.

Disponível em: <http://www.tse.jus.br/eleitor/glossario/termos/voto-obrigatorio>. Acesso em 20 maio 2016.

Texto II: Filósofo francês defende o voto obrigatório em debate no Senado

A participação dos cidadãos no dia a dia da polí-

tica é tão importante para a democracia que jus-

tifica até mesmo o voto obrigatório. É o que pre-

gou o filósofo francês Francis Wolff na noite de

quarta-feira durante debate sobre o apolitismo, o

primeiro do Fórum Senado Brasil 2012, que prosse-

gue nesta quinta-feira (21).

Wolff acredita que quando a população se distan-

cia da política, de cara abre espaço para a ação de

políticos pouco interessados no bem-estar da co-

munidade. Num horizonte mais longo, essa ausên-

cia de interesse acaba por levar ao autoritarismo,

quando não à instalação de regimes ditatoriais.

O voto obrigatório, ainda que pareça antipático,

e para muitos uma porta aberta à manipulação

de massas desinformadas, instaria os cidadãos ao

seu dever de participar da política, pelo menos

em época de eleições. O filósofo mencionou com

preocupação os números da abstenção registra-

dos nas recentes eleições presidenciais legislati-

vas francesas: 42,7% no primeiro turno e 44% no

segundo turno, sendo cerca de 50% no caso dos

jovens. Naquele país , o voto é facultativo.

Em entrevista ao Jornal do Senado reproduzida

pela Agência Senado, o filósofo citou outros me-

canismos destinados a tornar mais legítimos os re-

sultados eleitorais. A Sérvia, por exemplo, aprovou

recentemente uma lei que anula as eleições quan-

do a porcentagem de votos brancos e nulos atinge

certo patamar.

ConsumismoWolff observou na conferência de quarta que, de-

pois de se tornar sujeito da história em lutas para

derrubar regimes ditatoriais e construir a demo-

cracia, o povo se utiliza da liberdade conquistada

para não se envolver na prática do processo de-

mocrático. É um paradoxo, segundo o estudioso,

que se configura numa atitude apolítica, na sua

opinião extremamente danosa à democracia.

– A conquista da democracia mobiliza toda a sua

energia, mas a posse o aborrece – afirmou o filósofo,

que é professor da Escola Normal Superior de Paris.

Para Francis Wolff, o apolitismo pode se manifes-

tar de diversas formas, desde a abstenção eleito-

ral até o consumismo exacerbado. Curiosamente,

esse desinteresse seria uma consequência do indi-

vidualismo gerado pela liberdade alcançada com

o advento da democracia, o que o distingue do

egoísmo. Ao adquirir mais liberdade, o indivíduo

diminui sua dependência da comunidade, mas o

que é a princípio um benefício gera depois o que

Wolff chama de “efeito colateral”.

Na opinião do filósofo, isso faz com que as pes-

soas se excluam da vida pública considerando a

ampla liberdade de atuação que conquistaram na

vida privada. Mas como “não há vácuos de poder”,

Page 28: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

28

Nas eleições do próximo dia 5 de outubro, 142,8

milhões de brasileiros deverão comparecer às ur-

nas, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Pesquisas de opinião, no entanto, mostram um

elevado índice de rejeição ao voto obrigatório. Um

levantamento do Instituto Datafolha divulgado em

maio deste ano aponta que 61% dos eleitores são

contra a imposição.

Para analistas, permitir que o eleitor decida se quer

ou não votar é um risco para o sistema eleitoral

brasileiro. A obrigatoriedade, argumentam, ainda

é necessária devido ao cenário crítico de compra

e venda de votos e à formação política deficiente

de boa parte da população.

“Nossa democracia é extremamente jovem e foi

pouco testada. O voto facultativo seria o ideal,

porque o eleitor poderia expressar sua real von-

tade, mas ainda não é hora de ele ser implanta-

do”, diz Danilo Barboza, membro do Movimento

Voto Consciente.

O voto compulsório é previsto na Constituição Fe-

deral – a participação é facultativa para analfabe-

tos, idosos com mais de 70 anos de idade e jovens

com 16 e 17 anos.

O sociólogo Eurico Cursino, da UnB, avalia que o

dever de participar das eleições é uma prática pe-

dagógica. Ele argumenta que essa é uma forma

de canalizar conflitos graves ligados às desigual-

dades sociais no país.

“A democracia só se aprende na prática. Tornar o

voto facultativo é como permitir à criança decidir

se quer ir ou não à escola”, afirma. “Não é estranho

que sejam tomadas decisões erradas e que o voto

seja ruim. Mas se as pessoas não sabem votar, elas

têm de aprender.”

Já para os defensores do voto não obrigatório,

participar das eleições é um direito e não um de-

ver. O voto facultativo, dizem, melhora a qualida-

de do pleito, que passa a contar majoritariamente

com eleitores conscientes. E incentiva os partidos

a promover programas eleitorais educativos sobre

a importância do voto.

O sistema voluntário é adotado em quase todo

mundo. O voto é compulsório em apenas 31 países,

incluindo o Brasil. O levantamento é do Instituto

Internacional para Democracia e Assistência Elei-

toral (Idea), que tem sede na Suécia.

De acordo com o órgão, a quantidade de votos

brancos e nulos em países que obrigam o eleitor

a ir às urnas é muito maior. Em Quênia, Dinamar-

ca e Tunísia, onde o voto é facultativo, os índices

de abstenção são inferiores a 1%, enquanto que no

Peru e no Equador, onde os cidadãos são obriga-

dos a votar, a taxa de abstenção é de cerca de 20%.

No Brasil, o índice foi de 8% nas últimas eleições.

“Isso indica que as pessoas só vão às urnas porque

são obrigadas. Muitas não gostariam de expressar

um voto. O cenário com altos índices de absten-

ção é comum aos sistemas eleitorais que adotam

o voto compulsório”, diz à DW Abdurashid Solijo-

nov, do setor de processos eleitorais do Idea.

Na América do Sul, apenas Colômbia, Paraguai,

Suriname e Guiana adotam o voto facultativo. Ao

contrário dos países da América Central, a tradi-

ção sul-americana é a do voto obrigatório. Um es-

tudo da Consultoria Legislativa do Senado Federal

segundo Wolff, os cidadãos entregam seu poder

de decisão a “políticos profissionais”. Sem cobran-

ças, esse grupo fica livre para aprovar ou impor

medidas distanciadas das verdadeiras necessida-

des e desejos dos cidadãos.

BrasilWolff considera o período em que lecionou no

Brasil, entre 1980 e 1984, o mais importante de sua

vida política, quando assistiu a transição do país à

democracia – um processo, a seu ver muito bem-

-sucedido. Segundo ele, a ditadura forçosamente

transforma tudo em política, se apropriando de di-

mensões como amor, esporte e arte para ações a

seu favor, reduzindo a política formal a um “jogo

de fantoches”.

Como exemplo, Wolff lembrou que em 1970, no

auge do regime militar, intelectuais brasileiros

diziam que o Brasil não podia ganhar a Copa do

Mundo, pois o feito daria força à ditadura. Com a

vitória do Brasil, lembrou, parecia “só haver fute-

bol” no país:

– Mas será que não havia algo de político nessa

paixão? – questiona.

Disponível em: <http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2012/06/21/filosofo-frances-defende-o-voto-

obrigatorio-em-debate-no-senado>. Acesso em 20 maio 2016.

Texto III: O voto deveria ser facultativo no Brasil?

Analistas avaliam que corrupção eleitoral e

despreparo da população ainda são obstácu-

los no País, um dos 31 do mundo que susten-

tam a imposição

Page 29: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

29

mostra que países que obrigam o eleitor a votar,

sob pena de sanções, têm um histórico de inter-

venções militares e golpes de Estado, com exce-

ção da Costa Rica.

“Há outras medidas mais eficazes para incentivar

a participação dos cidadãos, como aumentar a sa-

tisfação dos eleitores com os governos, adotar um

sistema eleitoral proporcional e promover debates

públicos”, argumenta o especialista.

Apesar de estar entre uma minoria no cenário

mundial, o Brasil deve manter a política de obri-

gatoriedade do voto, segundo o presidente da

Comissão Eleitoral da OAB do Rio Grande do Sul,

Augusto Mayer. Para o advogado, os elevados ín-

dices de corrupção e cassação de mandatos evi-

denciam que o país ainda não está preparado para

adotar o voto facultativo.

“Isso exige em contrapartida uma extraordinária

valorização do aspecto cidadão. Os eleitores bra-

sileiros não têm um conhecimento mais profundo

sobre os partidos políticos. A cidadania é relacio-

nada apenas com o direito ao voto”, avalia.

Para Mayer, os países que adotam o sistema volun-

tário de participação eleitoral cultivam uma peda-

gogia intensa em torno da valorização do voto, o

que não acontece no Brasil. A votação facultativa

em países democráticos se deve ao alto grau de

politização da sociedade e a uma presença mais

forte da cultura de cidadania. Ele considera Ale-

manha, Canadá, Espanha, Israel, Itália, Portugal,

Japão e Polônia como bons exemplos.

“Esses países usufruem da cláusula de barreira,

norma que restringe o ingresso parlamentar de

partidos que não alcançam um percentual mínimo

de votos”, explica.

Na Alemanha, o alistamento eleitoral é obrigatório,

mas o voto é facultativo. Nas últimas eleições, em

setembro de 2013, cerca de 61,8 milhões de ale-

mães estavam aptos a votar, e o comparecimento

às urnas foi maior do que 70%.

Emendas constitucionais que tratam do tema no

Congresso Nacional são inspiradas no modelo

alemão. Uma das principais propostas sobre a

reforma política, a PEC 352/2013, do deputado

Cândido Vaccarezza (PT-SP), prevê o fim do voto

obrigatório. O texto está parado na Comissão de

Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara

dos Deputados.

Para o professor Aldo Fornazieri, da Escola de

Sociologia e Política de São Paulo, a ingerência

regulatória do Congresso e do Tribunal Superior

Eleitoral nas eleições se converte em medidas que

tentam afastar cada vez mais o eleitor da partici-

pação política.

“Ele é transformado em um cidadão de sofá, um

cidadão passivo. Votar se torna um ato meramen-

te formal”, diz.

Embora faça críticas ao voto obrigatório, o espe-

cialista pondera que, com o voto facultativo, o ín-

dice de participação nas urnas seria muito baixo.

“As instituições carecem de legitimidade, porque,

depois de eleitos, os políticos se isolam da socie-

dade. Eu gostaria que houvesse essa correspon-

dência entre deveres e direitos, mas hoje ela é fal-

sa”, afirma Fornazieri.

Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/politica/o-voto-deveria-ser-facultativo-no-brasil-1293.html>.

Acesso em 20 maio 2016.

Texto IV: Pelo voto obrigatórioRenato Janine Ribeiro

Recentemente, discuti com jovens estudantes,

em Belo Horizonte, o livro que escrevi com Mário

Sérgio Cortella, Política: para não ser idiota. Sabe-

mos que hoje se debate a reforma política. Para

os partidos, a questão principal é como eleger os

deputados. Para os cidadãos, as questões princi-

pais são a da fidelidade partidária, que o Judiciário

acabou impondo, e a do voto obrigatório ou não.

Os jovens a quem falei, tendo na sua maioria en-

tre 17 e 19 anos, racharam pela metade na questão

do voto. Dos dois lados, argumentaram bem. Este

mês, exponho aqui argumentos a favor do voto

obrigatório. Na próxima coluna, defenderei o voto

facultativo; quem quiser, escreva para cá, dizendo

o que pensa a respeito.

Por que o voto, que é direito, seria também obri-

gação? Porque é a principal expressão de uma

sociedade democrática. A democracia é o regime

no qual o cidadão tem mais liberdades. Mas essas

liberdades não caem do céu. São construídas por

nós. “Nós” quer dizer: todos nós. A democracia é o

único regime em que todos são iguais em direitos.

Ou seja, todos os eleitores são considerados adul-

tos, maiores de idade. O poder é conferido pelos

cidadãos. Por isso, a democracia não admite pa ter

na lismo, condescendência, clien te lismo. Cidadão

é quem participa ativamente da construção da ci-

dade - civitas, pólis - isto é, do Estado. É o contrá-

rio do súdito, o subdictus, aquele que está debaixo

Page 30: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

30

sentado. Os políticos não têm interesse em defen-

der os interesses dos não eleitores. Assim, esses

vão ficando cada vez mais excluídos - e, excluídos,

votam ainda menos. É por isso que existe nos EUA

um movimento pelo voto obrigatório: ele levaria a

uma inclusão social maior dos mais pobres.

Vemos, portanto, razões tanto teó ricas quanto

práticas para defender a obrigatoriedade do voto,

por antipática que seja a uma parte da população.

Mas, para equilibrar as coisas, na próxima coluna

vamos ver como se justifica o voto facultativo. Não

é uma questão de certo ou errado. E, como é um

tema candente, vale a pena aprofundar a discussão.

Disponível em: <http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/61/artigo225209-1.asp>. Acesso em 20 maio 2016.

Texto V: Constituição da República Federativa Do Brasil De 1988

CAPÍTULO IV

DOS DIREITOS POLÍTICOS

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrá-

gio universal e pelo voto direto e secreto, com valor

igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

I - plebiscito;

II - referendo;

III - iniciativa popular.

§ 1º O alistamento eleitoral e o voto são:

I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;

II - facultativos para:

a) os analfabetos;

b) os maiores de setenta anos;

c) os maiores de dezesseis e menores de dezoi-

to anos.

§ 2º Não podem alistar-se como eleitores os es-

trangeiros e, durante o período do serviço militar

obrigatório, os conscritos.

§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:

I - a nacionalidade brasileira;

II - o pleno exercício dos direitos políticos;

III - o alistamento eleitoral;

IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;

V - a filiação partidária;

VI - a idade mínima de:

a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presi-

dente da República e Senador;

b) trinta anos para Governador e Vice-Governador

de Estado e do Distrito Federal;

c) vinte e um anos para Deputado Federal, Depu-

tado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e

juiz de paz;

d) dezoito anos para Vereador.

§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos,

cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:

I - cancelamento da naturalização por sentença

transitada em julgado;

II - incapacidade civil absoluta;

III - condenação criminal transitada em julgado,

enquanto durarem seus efeitos;

IV - recusa de cumprir obrigação a todos impos-

ta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º,

VIII;

V - improbidade administrativa, nos termos do art.

37, § 4º.

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral en-

trará em vigor na data de sua publicação, não se

aplicando à eleição que ocorra até um ano da data

de sua vigência.

do dizer alheio. Nas monarquias, despotismos e di-

taduras, há alguém que supostamente protege ou

cuida dos outros. Já os cidadãos, sendo iguais, não

podem ser tutelados. Não podemos ser tratados

como crianças. O chefe de governo não é pai da

pátria nem dos cidadãos.

Assim, na democracia, temos responsabilidade. Se

não quisermos votar por acharmos a política ruim,

corrupta, insatisfatória, estaremos errados. Porque

a quem posso responsabilizar, se a política é má?

Cabe a “nós” mudá-la. Se ela é assim, é porque a

deixamos ser assim. Pode até ser que nossa polí-

tica esteja mal devido a problemas do passado;

mas, mesmo assim, o futuro é nossa responsabili-

dade. Não escolhi o passado político nem pesso-

al, porque não escolhi nascer rico ou pobre, bonito

ou feio; mas depende de mim o que, de agora em

diante, farei com isso. Então, se meu país vai mal,

cabe a nós mudá-lo para melhor. Daí que votar seja

uma obrigação ética. Daí que votar seja apenas um

indicador de uma obrigação ética mais abrangente,

que é de participar da vida pública o mais possível.

Estas são razões fortes pelo voto obrigatório. Em

função delas, pelo menos 20 países obrigam a vo-

tar, entre eles, Austrália, Bélgica, Costa Rica, Itália.

Na maior parte deles, é verdade que não há puni-

ção para quem se abstém. O dever é moral. Mas,

como se vê, não é só no Brasil que há o voto obri-

gatório, e há bons argumentos em seu favor.

Temos também um aspecto prático, pragmático.

Em países onde há forte desigualdade social, como

nos Estados Unidos, o voto facultativo gera um cír-

culo vicioso. Quem não vota - negros, hispânicos,

pobres, semianalfabetos - acaba não sendo repre-

Page 31: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

31

Para saber mais...

Procure na Biblioteca digital do site do Senado Fe-

deral (www.senado.gov.br) o texto Vantagens e

desvantagens do voto obrigatório e do voto facul-

tativo de Paulo Henrique Soares.

Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-para-

discussao/td-6-vantagens-e-desvantagens-do-voto-obrigatorio-e-do-voto-facultativo>

Page 32: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

32

PROPOSTA E REDAÇÃO ENEM – 2011

Tema: Viver em Rede no Século XXI: Os limites entre o público e o privado

Proposta de redaçãoCom base na leitura dos textos motivadores seguin-

tes e nos conhecimentos construídos ao longo de

sua formação, redija texto dissertativo-argumen-

tativo em norma padrão da língua portuguesa

sobre o tema VIVER EM REDE NO SÉCULO XXI:

OS LIMITES ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO,

apresentando proposta de conscientização so-

cial que respeite os direitos humanos. Selecione,

organize e relacione, de forma coerente e coesa,

argumentos e fatos para defesa de seu ponto

de vista.

Liberdade sem fio A ONU acaba de declarar o acesso à rede um

direito fundamental do ser humano – assim

como saúde, moradia e educação. No mundo

todo, pessoas começam a abrir seus sinais

privados de wi-fi, organizações e governos

se mobilizam para expandir a rede para es-

paços públicos e regiões onde ela ainda não

chega, com acesso livre e gratuito.

ROSA, G.; SANTOS, P. Galileu. Nº 240, jul. 2011 (fragmento).

Page 33: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

33

Filosofia1º ano• Relacionar e diferenciar vida pública e vida priva-da, problematizando a finalidade da política.

• Analisar as características dos campos concei-tuais da moral e da ética: liberdade, autonomia, responsabilidade, regras, valores, dentre outros, reconhecendo-os na vida cotidiana.

2º ano• Reconhecer o impacto causado na sociedade pe-las transformações da técnica e problematizar as relações desta com o uso instrumental da razão.

• Analisar as questões dos campos moral e ético e problematizar suas implicações para as deci-sões individuais.

• Entender-se como responsável pela formulação de um projeto pessoal, enquanto indivíduo e en-quanto membro de uma sociedade.

3º ano• Analisar criticamente a ideologia, relacionando os conceitos de cultura de massa, indústria cultu-ral e meios de comunicação de massa.

• Estabelecer relações entre ética e liberdade, re-

conhecendo a ação ética como livre e consciente.

Sociologia

1º ano

Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SP

A internet tem ouvidos e memóriaUma pesquisa da consultoria Forrester Research re-

vela que, nos Estados Unidos, a população já passou

mais tempo conectada à internet do que em frente

à televisão. Os hábitos estão mudando. No Brasil, as

pessoas já gastam cerca de 20% de seu tempo on-li-

ne em redes sociais. A grande maioria dos internau-

tas (72%, de acordo com o Ibope Mídia) pretende

criar, acessar e manter um perfil na rede. “Faz parte

da própria socialização do indivíduo do século XXI

estar numa rede social. Não estar equivale a não ter

uma identidade ou um número de telefone no pas-

sado”, acredita Alessandro Barbosa Lima, CEO da

e.Life, empresa de monitoração e análise de mídias.

As redes sociais são ótimas para disseminar ideias,

tornar alguém popular e também arruinar reputa-

ções. Um dos maiores desafios dos usuários de in-

ternet é saber ponderar o que se publica nela. Es-

pecialistas recomendam que não se deve publicar

o que não se fala em público, pois a internet é um

ambiente social e, ao contrário do que se pensa, a

rede não acoberta anonimato, uma vez que mesmo

quem se esconde atrás de um pseudônimo pode se

rastreado e identificado. Aqueles que, por impulso,

se exaltam e comentem gafes podem pagar caro.

Disponível em: <http://www.terra.com.br>. Acesso em: 30 jun. 2011 (adaptado).

• Problematizar as relações entre indivíduo e so-

ciedade, comparando a influência de diferentes

instituições sociais no processo de socialização.

• Refletir sobre o papel da educação na repro-dução das regras sociais, na democratização dos bens culturais e na construção de ferramentas de análise crítica da sociedade.

• Reconhecer os impactos das novas tecnologias de informação, do desenvolvimento científico e da globalização nas relações sociais.

2º ano• Problematizar a construção das desigualdades sociais, analisando as suas diferentes dimensões nas sociedades contemporâneas.

• Analisar a questão do trabalho nas sociedades capitalistas e problematizar as mudanças recentes advindas do processo de globalização, da flexibi-lização e mobilidade dos mercados de trabalho e do desenvolvimento científico e tecnológico.

• Utilizar métodos e técnicas de pesquisa qualitati-vos e quantitativos para analisar os processos so-ciais, compreendendo o papel da pesquisa empíri-ca no desenvolvimento da investigação científica.

3º ano• Analisar o papel da indústria cultural e dos meios de comunicação de massa na sociedade, proble-matizando a formação e a uniformização de opini-ões, gostos e comportamentos.

• Entender o conceito de alienação e analisar criti-camente o consumismo enquanto produto de uma cultura de massa no contexto do sistema capitalista.

Page 34: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

34

Proposta didáticaOs três textos apresentados como base para a

produção da redação podem ser resumidos em

três verbos: incluir, ponderar e vigiar. Há uma for-

te tendência de inclusão digital no mundo como

o objetivo de conectar o maior número possível

de pessoas, o que suscita a necessidade do cui-

dado de ponderar o que se publica na rede, pois

ao ser publicada a coisa vira pública, “para o bem

e para o mal”. Nesse aspecto, há a sensação de

vigilância constante, característica da socieda-

de de controle já pontuada pelo filósofo Michael

Foucault e por outros.

Percebe-se com isso a riqueza de possibilidades

de debates propiciados pela proposta e a diversas

variáveis argumentativas para serem trabalhadas

com os estudantes. Pode ser feita a relação com o

Movimento do Aprender de Filosofia destacando

as ideias de Hannah Arendt, sobretudo, na ativi-

dade 5 da unidade 3, p. 54, em que se aborda o

termo público como expressão de dois fenômenos

correlatos, sendo o primeiro o que vem a público

como aquilo que pode ser visto e ouvido por to-

dos e tem a maior divulgação possível; o segundo

sentido de público como significação do próprio

mundo. Arendt, ainda, afirma que a noção de pri-

vacidade é fruto da Idade Moderna.

Outra possibilidade é trabalhar o texto A promo-

ção da cultura cibernética de Pierre Lévy, páginas

183 e 184 do mesmo livro, que ajuda a explorar o

conceito de virtual e o impacto da virtualização

na vida social.

O Movimento do aprender de Sociologia traz di-

versos conteúdos e abordagens teórico-metodo-

lógicas referentes ao tema proposto em cada um

dos três anos do ensino médio. Conforme as ex-

pectativas de ensino e aprendizagem de Sociolo-

gia relacionadas na tabela acima, o professor pode

selecionar as unidades respectivas para o trabalho

com todos os seus alunos. Para os estudantes do

primeiro ano, o professor encontra este material

nas unidades 1, 2, 3, 4 e 5, principalmente. Para

os estudantes do segundo ano, este material está

contido, no geral, nas unidades 6, 7, 8 e 9. E para

os estudantes do terceiro ano, este material cons-

ta essencialmente nas unidades 10, 11 e 12. Além

dessas unidades, o professor pode trabalhar a ex-

pectativa sobre metodologia de pesquisa, que se

repete em todos os três anos do ensino médio (ex-

pectativa nº 3 no 1º ano, nº 19 no 2º ano e nº 30 no

3º ano), pois o segundo texto motivador da pro-

posta (A internet tem ouvidos e memória) apre-

senta argumento fundamentado em uma pesquisa

sobre um fato social, o que vem ao encontro da re-

ferida expectativa de ensino e aprendizagem que

busca a compreensão, pelo estudante, do papel da

pesquisa quantitativa e qualitativa na investigação

sociológica. Um exemplo de abordagem para os

estudantes do primeiro ano pode partir da afirma-

ção do CEO da e.Life (do texto A internet tem ou-

vidos e memória) que cita literalmente o processo

de socialização do indivíduo contemporâneo e a

construção social da identidade mediada pelas

redes sociais, ou seja, pelas novas tecnologias de

comunicação e informação. Tal argumento deve

ser analisado a partir do trabalho didático com as

unidades 2 (Processo de socialização) e 3 (Formas

de sociabilidade no contexto das tecnologias de

informação e comunicação).

Para debaterTexto I: A Esfera Pública e a sua Rela-ção com o Homem

Se a esfera pública é o lugar da confluência da

palavra e do agir humano em direção ao consen-

so social é, por conta disso, o lugar onde os ho-

mens revelam a sua singularidade. A condição de

sujeito ativo permite ao homem revelar o que o

torna singular, e isso o leva a inserir-se no mundo.

Esta inserção “é como um segundo nascimento,

no qual confirmamos e assumimos o fato original

e singular do nosso aparecimento físico e origi-

nal. Por isso, pelo fato de ter nascido e chegado

a um mundo já existente, os novos visitantes são

impelidos a agir, a dar respostas ao mundo que aí

está. A revelação da identidade através do discur-

so e o estabelecimento de um novo início através

da ação incidem sobre uma teia já existente. Essa

novidade requer um espaço público onde possa

se efetivar e a singularidade são reveladas apenas

no convívio plural dos homens. Um dos pontos

fundamentais do pensamento de Hannah Arendt

é o fato dos homens, enquanto tais, serem indiví-

duos únicos, capazes de uma ação original. Essa

capacidade criadora é o que Arendt chama de mi-

lagre, ou seja, a manifestação ativa que paralisa o

automatismo que é próprio a tudo o que existe e

tem fim. Tratando-se do mundo dos homens, po-

rém, a ação é a única atividade que pode assegu-

rar continuidade justamente porque ela engendra

originalidade e é começo. O que denota no pen-

samento de Arendt uma metafísica do inaugural,

um início que é contínuo graças ao aparecimento

dos homens no mundo e, em vista disto, capaz de

transcender a finitude.( HANNAH Arendt – Condi-

ção Humana p. 326).

Page 35: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

35

Arendt, desse modo, distingue duas dimensões do

homem inserido na esfera pública política: como

agente ou como ser moral. Primeiro, na condição de

agente, a esfera pública é concebida como a arena

de homens ativos que colocam em cena algo novo. O

princípio é o começo de alguma coisa que é possível

pelo fato da natalidade, e isso motiva e impele os ho-

mens a renovarem e atualizarem o seu nascimento;

do mesmo modo, o que impulsiona os homens a agi-

rem como inovadores é o fato da liberdade daí sua

condição de criador. A ação é a expressão da liber-

dade que os homens experimentam no mundo pú-

blico e coletivo. Neste caso, a ação não depende de

virtudes e de razões morais, mas de uma certa “neu-

tralidade das justificações morais e compreensivas

subscritas” o que permite a articulação entre homens

que não compartilham de uma mesma visão moral

do mundo. O fato do homem ser impelido a atualizar

o seu nascimento, faz dessa esfera o lugar de reve-

lação da singularidade humana, portanto, o lugar da

diversidade de sentimentos, de valores, de cultura, da

moral, que o indivíduo dá visibilidade pública.

O agente arendtiano não é o indivíduo interessa-

do, ele não é movido por interesses particulares, é

um “agente moral” que antes mesmo de expressar

preferências é orientado por razões públicas que

orientam as suas ações. Portanto, estas ações são

pautadas em princípios valorativos. E estes princí-

pios inspiradores da ação são dotados de uma uni-

versalidade que possibilita a movimentação dialó-

gica entre os agentes na direção de acordos e de

consentimentos. Nesta dimensão a esfera pública

é apresentada como fonte geradora de consenso.

Os homens quando agem estão dando início a algo

novo, daí a ação se apresenta como o princípio de

alguma coisa que interrompe o processo ordinário

da vida cotidiana. Nesse caso, a identidade huma-

na entre agir e começo tem a sua explicação no

fato do nascimento do homem. Ele é começo e por

isso pode começar. A palavra princípio, portanto,

envolve no trato arendtiano tanto origem quanto

preceito, e estes significados, no ato da criação,

não estão apenas relacionados, mas, são coexisten-

tes: o princípio (início) da ação conjunta estabelece

os princípios (preceitos) que inspiram os efeitos e

acontecimentos da ação humana futura.

Deparamos também com a pluralidade, que está

expressa no fato da singularidade humana, é a

condição para a existência da realidade dialógica,

e para que esta possa ser efetivada é necessário

um nível de entendimento preliminar sobre as ra-

zões públicas que motivam as ações. A base deste

entendimento exige uma unidade moral, dotada

de uma universalidade que permite que qualquer

indivíduo compreenda as motivações da ação. No

entanto, tal entendimento não se explica por meio

dessa moralidade, mas pelo fato dos homens se-

rem livres para agir, de possuírem igualdade polí-

tica na esfera pública, ou seja, igualdade de ação.

A ação, como expressão da liberdade, só é experi-

mentada pelos homens na vida política. Entretan-

to, para alguns estudiosos, críticos do pensamen-

to de Arendt, a equação da ação e liberdade não

tem fundamento teórico e nem empírico, pois nela

não está explícita nenhuma forma jurídica formal

da qual depende a liberdade. (HANNAH Arendt-

Condição Humana p. 248).

Contudo, o que se verifica na esfera pública aren-

dtiana é uma capacidade dialógica acentuada que

permite aos homens estabelecerem acordos acer-

ca do interesse público.

Texto de Christiane Valladares.

Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/responsabilidade-social/edulegislativa/educacao-legislativa-1/posgraduacao/arquivos/publicacoes/banco-de-monografias/ip-3a-edicao/

ChristianeAparecidaSilvaValladaresIP3ed.pdf>.

Acesso em 20 maio 2016.

Texto II: Cibercultura

Por trás das técnicas agem e reagem ideias, proje-

tos sociais, utopias, interesses econômicos, estra-

tégias de poder, toda a gama dos jogos dos ho-

mens em sociedade. Portanto, qualquer atribuição

de um sentido único à técnica só pode ser dúbia. A

ambivalência ou a multiplicidade das significações

e dos projetos que envolvem as técnicas são parti-

cularmente evidentes no caso do digital. O desen-

volvimento das cibertecnologias é encorajado por

Estados que perseguem a potência, em geral, e a

supremacia militar em particular. É também uma

das grandes questões da competição econômica

mundial entre as firmas gigantes da eletrônica e

do software, entre os grandes conjuntos geopo-

líticos. Mas também responde aos propósitos de

desenvolvedores e usuários que procuram aumen-

tar a autonomia dos indivíduos e multiplicar suas

faculdades cognitivas. Encarna, por fim, o ideal de

cientistas, de artistas, de gerentes ou de ativistas

da rede que desejam melhorar a colaboração entre

as pessoas, que exploram e dão vida a diferentes

formas de inteligência coletiva e distribuída. Esses

projetos heterogêneos diversas vezes entram em

conflito uns com os outros, mas com maior fre-

quência alimentam-se e reforçam-se mutuamente.

LEVY,Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999, p. 27

Page 36: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

36

Ficha 5 – Direitos da Criança e Adolescente

PROPOSTA DE REDAÇÃOENEM - 2014

Tema: Publicidade infantil em questão no Brasil

Proposta de redação A partir da leitura dos textos motivadores seguintes

e com base nos conhecimentos construídos ao lon-

go de sua formação, redija texto dissertativo-argu-

mentativo em norma padrão da língua portuguesa

sobre o tema Publicidade infantil em questão no Brasil, apresentando proposta de intervenção, que

respeite os direitos humanos. Selecione, organize e

relacione, de forma coerente e coesa, argumentos

e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Texto I

A aprovação, em abril de 2014, de uma resolução

que considera abusiva a publicidade infantil, emiti-

da pelo Conselho Nacional de Direitos da Criança e

do Adolescente (Conanda), deu início a um verda-

deiro cabo de guerra envolvendo ONGs de defesa

dos direitos das crianças e setores interessados

na continuidade das propagandas dirigidas a esse

público. Elogiada por pais, ativistas e entidades,

a resolução estabelece como abusiva toda propa-

ganda dirigida à criança que tem “a intenção de

persuadi-la para o consumo de qualquer produto

ou serviço” e que utilize aspectos como desenhos

Page 37: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

37

Texto III

Precisamos preparar a criança, desde pequena,

para receber as informações do mundo exterior,

para compreender o que está por trás da divulga-

ção de produtos. Só assim ela se tornará o con-

sumidor do futuro, aquele capaz de saber o que,

como e por que comprar, ciente de suas reais ne-

cessidades e consciente de suas responsabilida-

des consigo mesma e com o mundo. SILVA, A. M.

D.; VASCONCELOS, L. R. A criança e o marketing:

informações essenciais para proteger as crianças

dos apelos do marketing infantil. São Paulo: Sum-

mus, 2012 (adaptado).

Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SP

Filosofia1º ano

• Relacionar e diferenciar vida pública e vida priva-

da, problematizando a finalidade da política.

• Analisar as características dos campos concei-

tuais da moral e da ética: liberdade, autonomia,

responsabilidade, regras, valores, dentre outros,

reconhecendo-os na vida cotidiana.

2º ano

• Analisar as questões dos campos moral e ético

e problematizar suas implicações para as deci-

sões individuais.

3º ano

• Analisar criticamente a ideologia, relacionando

os conceitos de cultura de massa, indústria cultu-

ral e meios de comunicação de massa.

Sociologia1º ano

• Relacionar os conceitos de cultura e ideologia,

problematizando formas de dominação e de resis-

tência nas sociedades contemporâneas.

• Reconhecer o impacto das novas tecnologias de

informação, do desenvolvimento científico e da

globalização nas relações sociais.

2º ano

• Reconhecer diferentes formas de violência, ana-

lisando o fenômeno a partir dos seus aspectos so-

ciais, econômicos, políticos e culturais.

3º ano

• Entender o conceito de alienação e analisar criti-

camente o consumismo enquanto produto de uma

cultura de massa no contexto do sistema capitalista.

• Analisar o papel da indústria cultural e dos meios

de comunicação de massa na sociedade, proble-

matizando a formação e a uniformização de opini-

ões, gostos e comportamentos.

• Refletir sobre os impactos dos movimentos cultu-

rais e de contestação dos valores hegemônicos na

vida social e política.Fonte: OMS e Conar/2013

animados, bonecos, linguagem infantil, trilhas so-

noras com temas infantis, oferta de prêmios, brin-

des ou artigos colecionáveis que tenham apelo às

crianças. Ainda há dúvidas, porém, sobre como

será a aplicação prática da resolução. E associa-

ções de anunciantes, emissoras, revistas e de em-

presas de licenciamento e fabricantes de produtos

infantis criticam a medida e dizem não reconhecer

a legitimidade constitucional do Conanda para le-

gislar sobre publicidade e para impor a resolução

tanto às famílias quanto ao mercado publicitário.

Além disso, defendem que a autorregulamentação

pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação

Publicitária (Conar) já seria uma forma de contro-

lar e evitar abusos. IDOETA, P. A.; BARBA, M. D. A

publicidade infantil deve ser proibida?

Disponível em: www.bbc.co.uk. Acesso em: 23 maio 2014 (adaptado).

Texto II

Page 38: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

38

Proposta didáticaConforme a tabela de expectativas acima, este tema

pode ser trabalhado com todos os estudantes dos

3 anos do ensino médio. O professor de Sociologia

deve trabalhar os conteúdos e atividades das res-

pectivas unidades do material didático Movimento

do aprender, que são, basicamente, as unidades 3 e

5 para o 1º ano; a unidade 7 para o 2º ano e a unida-

de 12 para o 3º ano. No 1º ano, os estudantes devem

compreender a relação entre cultura e ideologia,

identificando as formas ideológicas de dominação

presentes na cultura, especificamente nos produtos

culturais da cultura de massa destinados às crianças

e jovens, tais como desenhos da TV, personagens,

heróis e sua relação com as mercadorias licenciadas,

roupas, sapatos, mochilas e, é claro, brinquedos. So-

bre isso, pode ser consultado também o Movimento

do aprender de Filosofia, pp. 164-167, pois traz fun-

damentações acerca do conceito de ideologia. O

professor pode solicitar uma pesquisa e produção,

comparando-se os preços de certos produtos licen-

ciados aos preços dos mesmos produtos sem a mar-

ca do personagem da TV (produto cultural). Seria

interessante se fossem, inclusive do mesmo fabri-

cante, ou fabricados com o mesmo material, ou seja,

“isolando-se” apenas a variável “marca”, como por

exemplo: mochila dos Avengers e outra mochila, do

mesmo fabricante, sem nenhum personagem. O re-

sultado das pesquisas pode ser socializado com os

demais estudantes dos outros anos. Para o 2º ano, o

professor deve provocar a reflexão dos estudantes

problematizando a questão da propaganda infantil

enquanto uma forma de violência contra a criança

em detrimento ao direito comercial dos fabricantes

de produtos destinados a esse público. Como ca-

ráter de fundamentação teórica da Cidadania e os

direitos da criança e do adolescente, há uma síntese

no Movimento do aprender de Filosofia, p. 224 que

pode ser usada nesse momento de provocação. O

professor deve solicitar pesquisa sobre o tema, além

de promover aulas sobre o ECA - Estatuto da Criança

e do Adolescente e gerar debates fundamentados,

contrapondo o direito comercial e a lógica econômi-

ca ao direito à proteção e à integridade da criança

e do adolescente. Os estudantes do 3º ano devem

compreender que o consumismo é uma ideologia

alienante, fundamental à manutenção do sistema

capitalista e que encontra nos meios de comunica-

ção de massa os canais ideais na produção de uma

cultura cada vez mais uniformizada e globalizada,

que padroniza gostos e comportamentos a serviço

da maximização global dos lucros e que essa lógi-

ca é aplicada a todos, inclusive às crianças e jovens.

Além de trabalhar os conteúdos e atividades das

unidades, o professor pode solicitar pesquisa sobre

movimentos culturais de contracultura aos valores

hegemônicos do capitalismo. Há movimentos como

o slow food (anti-fast food e sua propaganda, inclu-

sive dos lanches destinados às crianças, com brin-

quedos associados); há o movimento doula, que visa

humanizar o parto e cuidar da mamãe (e da criança)

de forma mais natural possível, utilizando produtos

naturais e avesso aos apelos da publicidade. A pre-

sidenta do Brasil vetou recentemente a propaganda

de leites artificiais, leite e papinhas infantis; são pro-

pagandas destinadas aos pais e não às crianças, mas

já é um bom começo para que se proíba definitiva-

mente e integralmente a publicidade infantil, assim

como ocorre em países que valorizam a infância e a

educação. É interessante que o professor exiba es-

tas propagandas em classe para que pudessem ser

analisadas e, dessa forma, repertoriar os estudantes

nas argumentações que envolvem esta temática.

Para debater

Texto l: Eu, etiqueta

Em minha calça está grudado um nome

que não é meu de batismo ou de cartório,

um nome... estranho.

Meu blusão traz lembrete de bebida

que jamais pus na boca, nesta vida.

Em minha camiseta, a marca de cigarro

que não fumo, até hoje não fumei.

Minhas meias falam de produto

que nunca experimentei

mas são comunicados a meus pés.

Meu tênis é proclama colorido

de alguma coisa não provada

por este provador de longa idade.

Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,

minha gravata e cinto e escova e pente,

meu copo, minha xícara,

minha toalha de banho e sabonete,

meu isso, meu aquilo,

desde a cabeça ao bico dos sapatos,

são mensagens,

letras falantes,

gritos visuais,

ordens de uso, abuso, reincidência,

costume, hábito, premência,

indispensabilidade,

e fazem de mim homem-anúncio itinerante,

escravo da matéria anunciada.

Estou, estou na moda.

É duro andar na moda, ainda que a moda

seja negar minha identidade,

trocá-la por mil, açambarcando

todas as marcas registradas,

todos os logotipos do mercado.

Com que inocência demito-me de ser

eu que antes era e me sabia

Page 39: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

39

tão diverso de outros, tão mim mesmo,

ser pensante, sentinte e solidário

com outros seres diversos e conscientes

de sua humana, invencível condição.

Agora sou anúncio,

ora vulgar ora bizarro,

em língua nacional ou em qualquer língua

(qualquer, principalmente).

E nisto me comparo, tiro glória

de minha anulação.

Não sou - vê lá - anúncio contratado.

Eu é que mimosamente pago

para anunciar, para vender

em bares festas praias pérgulas piscinas,

e bem à vista exibo esta etiqueta

global no corpo que desiste

de ser veste e sandália de uma essência

tão viva, independente,

que moda ou suborno algum a compromete.

Onde terei jogado fora

meu gosto e capacidade de escolher,

minhas idiossincrasias tão pessoais,

tão minhas que no rosto se espelhavam

e cada gesto, cada olhar

cada vinco da roupa

sou gravado de forma universal,

saio da estamparia, não de casa,

da vitrine me tiram, recolocam,

objeto pulsante mas objeto

que se oferece como signo de outros

objetos estáticos, tarifados.

Por me ostentar assim, tão orgulhoso

de ser não eu, mas artigo industrial,

peço que meu nome retifiquem.

Já não me convém o título de homem.

Meu nome novo é coisa.

Eu sou a coisa, coisamente.

ANDRADE, Carlos Drumond de, Obra poética, Volumes 4-6. Lisboa: Publicações Europa-América, 1989.

Texto II: Publicidade infantil: experiên-cias internacionais

O Reino Unido é apontado como país de referência

no tratamento adequado da propaganda infantil,

tanto por entidades que pedem por mais restrições

no mercado do Brasil quanto por profissionais do

mercado da propaganda.

É quase unânime também o entendimento de que

não seria possível simplesmente importar uma ex-

periência bem-sucedida para a realidade brasileira.

Mas conhecer como funciona o controle da publici-

dade em outros países pode ajudar a refletir sobre

essa equação que visa priorizar a proteção aos di-

reitos da crianças e resguardar o direito a informa-

ção e a liberdade de mercado.

A ABA (Associação Brasileira de Anunciantes) e o

Conar (Conselho Nacional de Autorregulamenta-

ção Publicitária) divulgaram em 2013 o estudo “Pu-

blicidade e Criança: Comparativo Global da Legisla-

ção e da Autorregulamentação”.

A pesquisa analisou os mercados de 18 países (Estados

Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espa-

nha, Portugal, Suécia, Noruega, Grécia, Rússia, Canadá,

Chile, Peru, México, Índia, China e Austrália) e também

apurou as normas diretivas da União Europeia.

O estudo concluiu que as regras do Conar sobre pu-

blicidade infantil para produtos e serviços dirigidos a

crianças – atualizadas em 2013 por conta da proibição

do merchandising – só encontram paralelo em norma

legal adotada no Reino Unido e por autorregulamen-

tação no caso do mercado da Austrália.

A pesquisa também aponta um compromisso pú-

blico firmado por 23 grandes empresas do setor de

alimentos e bebidas não-alcoólicas sobre o tema

publicidade e crianças e conclui que o conjunto de

normas legais e voluntárias que vigora no Brasil co-

loca o arcabouço brasileiro no nível do Reino Unido

quanto à proteção dos direitos da criança na expo-

sição à publicidade infantil.

No Reino Unido, vigora um sistema de autorregula-

mentação publicitária diferente, que atua em conso-

nância com uma regulação oficial, da Ofcom (Office

of Communication), a agência reguladora indepen-

dente. E se o anunciante não acatar as recomenda-

ções emitidas pela ASA, o órgão que controla a au-

torregulamentação, o Ofcom e o OFT (Office of Fair

Trading) podem agir contra a empresa.

No Brasil, a autorregulamentação funciona sem

controle do Estado. Mas, para Rafael Sampaio, vi-

ce-presidente da ABA e coordenador da pesquisa,

o sistema é eficiente porque as recomendações do

Conar têm 100% de adesão no mercado. “ O que

funciona no Conar é a adesão maciça da mídia. São

pouquíssimos os casos de descumprimento, episó-

dicos”, atesta Sampaio.

A pesquisa revela que só há casos de proibição da pu-

blicidade infantil em Quebec, uma das dez províncias

do Canadá, e na Suécia, onde o banimento desse tipo

de propaganda vigora na programação da TV aberta.

Outros casos pontuais de restrição legal à propagan-

da infantil pelo mundo também são citados no levan-

tamento. No Chile e no Peru estão proibidos anúncios

de alimentos e bebidas considerados prejudiciais. E

na Grécia há restrições quanto aos anúncios de brin-

quedos, que só podem ser veiculados durante o horá-

rio de programação adulta na TV aberta.

Disponível em: http://comkids.com.br/publicidade-infantil-experiencias-internacionais/ Acesso em: 25.mai.2016

Page 40: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

40

PROPOSTA DE REDAÇÃO DO ENEM - 2003

Tema: A violência na sociedade brasileira: como mudar as re-gras desse jogo?

Ficha 6 – Formas de Violência

Page 41: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

41

defender seu ponto de vista, elaborando propos-

tas para a solução do problema discutido em seu

texto. Suas propostas devem demonstrar respeito

aos direitos humanos.

• Lembre-se de que a situação de produção de

seu texto requer o uso da modalidade escrita

culta da língua portuguesa.

• O texto não deve ser escrito em forma de poe-

ma (versos) ou de narrativa.

• O texto deverá ter no mínimo 15 (quinze) li-

nhas escritas.

• A redação deverá ser apresentada a tinta e de-

senvolvida na folha própria.

• O rascunho poderá ser feito na última folha

deste Caderno.

Filosofia1º ano

•Analisar o conceito de poder e problematizar di-

ferentes relações de poder.

•Analisar as características dos campos concei-

tuais da moral e da ética: liberdade, autonomia,

responsabilidade, regras, valores, dentre outros,

reconhecendo-os na vida cotidiana.

2º ano

•Analisar as questões dos campos moral e ético

Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SP

Ao expor as pessoas a constantes ataques à sua

integridade física e moral, a violência começa a ge-

rar expectativas, a fornecer padrões de respostas.

Episódios truculentos e situações-limite passam a

ser imaginados e repetidos com

o fim de legitimar a ideia de que

só a força resolve conflitos. A

violência torna-se um item obri-

gatório na visão de mundo que

nos é transmitida. O problema,

então, é entender como chega-

mos a esse ponto.

Penso que a questão crucial,

no momento, não é a de saber

o que deu origem ao jogo da

violência, mas a de saber como

parar um jogo que a maioria, co-

agida ou não, começa a querer

continuar jogando.

(Adaptado de Jurandir Costa. O medo social.)

Considerando a leitura do quadro e dos textos, re-

dija um texto dissertativo-argumentativo sobre o

tema: A violência na sociedade brasileira: como

mudar as regras desse jogo?

Instruções:

• Ao desenvolver o tema proposto, procure uti-

lizar os conhecimentos adquiridos e as reflexões

feitas ao longo de sua formação. Selecione, orga-

nize e relacione argumentos, fatos e opiniões para

=

Proposta de redaçãoPara desenvolver o tema da redação, observe o

quadro e leia os textos apresentados a seguir:

Entender a violência, entre outras coisas, como

fruto de nossa horrenda desigualdade social,

não nos leva a desculpar os criminosos, mas po-

deria ajudar a decidir que tipo de investimentos

o Estado deve fazer para enfrentar o problema:

incrementar violência por meio da repressão ou

tomar medidas para sanear alguns problemas

sociais gravíssimos?

(Maria Rita Kehl. Folha de S. Paulo)

Page 42: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

42

e problematizar suas implicações para as deci-

sões individuais.

• Entender-se como responsável pela formulação

de um projeto pessoal, enquanto indivíduo e en-

quanto membro de uma sociedade.

3º ano

• Aprofundar a compreensão da arte como um modo

específico de conhecer e dar sentido ao mundo.

Sociologia1º ano

• Analisar os campos de investigação e os objetos

de estudo das Ciências Sociais, diferenciando o

conhecimento científico do senso comum.

• Refletir sobre o papel da educação na repro-

dução das regras sociais, na democratização dos

bens culturais e na construção de ferramentas de

análise crítica da sociedade.

• Analisar criticamente as relações e conflitos et-

norraciais no Brasil, desconstruindo ideias e con-

ceitos amparados no mito da democracia racial e

as representações negativas sobre culturas e po-

vos africanos, afro-brasileiros e indígenas.

2º ano

• Reconhecer diferentes formas de violência, ana-

lisando o fenômeno a partir dos seus aspectos so-

ciais, econômicos, políticos e culturais.

• Problematizar a construção das desigualdades

sociais, analisando as suas diferentes dimensões

nas sociedades contemporâneas.

• Analisar diferentes formas de estratificação social

associando-as a elementos como a distribuição de

poder político, riqueza e prestígio, as relações et-

norraciais e de gênero e a inserção dos indivíduos

no mundo do trabalho.

3º ano

• Analisar as relações de poder e as formas de do-

minação presentes em diferentes esferas da vida,

ampliando a noção de poder para além das institui-

ções políticas e econômicas.

• Compreender a cidadania como um conjunto de

deveres e como a garantia plena dos direitos civis,

políticos, sociais e humanos.

• Analisar o papel das lutas e dos movimentos so-ciais nos processos de conquista dos direitos de cidadania e de formulação de políticas públicas.

Proposta didáticaO trabalho didático com esta proposta de redação

em Sociologia e Filosofia tem o potencial de pro-

porcionar aos estudantes um rico e significativo

desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e

competências conforme a abordagem didática do

professor. Para todos os anos, o professor pode

seguir a indicação das expectativas do quadro e

utilizar os textos e atividades correspondentes do

material didático Movimento do aprender, confor-

me seu planejamento. Para as turmas de 1º ano,

são as unidades 1, 2 e 4, além do apêndice, utili-

zando-se também da expectativa 3 em Sociologia.

Já em Filosofia, é interessante trabalhar a unida-

de 4 sobre moral, ética e concepção de virtude. O

professor pode propor o levantamento e análise

de dados e conceitos sobre o tema, estabelecer

correlações e então desconstruir impressões dis-

torcidas pelo senso comum, colhidas em roda de

conversa inicial. Pode também contextualizar a re-

lação entre educação e violência, principalmente

juvenil, levantando e cruzando dados demográfi-

cos, regionais, de renda, raça e cor. Como material

complementar, o professor pode utilizar o Mapa

da violência 2012, publicado pela SEPPIR-Secre-

taria de Políticas de Promoção da Igualdade Ra-

cial da Presidência da República, disponível em

<http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2012/mapa2012_cor.pdf>. Para os estudantes do 2º

ano, o professor pode abordar as diferentes for-

mas de violência, concentrar-se na violência física,

especificamente morte violenta e, dentro desta

categoria, os homicídios. A análise dos dados e a

leitura dos textos, principalmente da unidade 7 do

Movimento do aprender, podem auxiliar os estu-

dantes a reconhecer quem são as maiores vítimas

de homicídio no país. O professor pode solicitar

uma produção em grupo sobre esta realidade,

procurando partir do cotidiano, contextualizado

e fundamentado teoricamente. Por trazer poten-

cialmente um forte conteúdo emocional e iden-

titário (pois também são jovens), essa produção

pode ser uma produção artística (pintura, escultu-

ra, dramatização, etc.). O professor pode buscar a

cooperação dos colegas de outros componentes

curriculares, por meio da coordenação pedagógi-

ca, para estender a proposta a um projeto cultural

que envolva uma parcela maior da comunidade

escolar. Para os estudantes do 3º ano, o profes-

sor de sociologia deve trabalhar principalmente as

unidades 10 e 11. Os estudantes devem perceber

que a cidadania não pode florescer onde o direi-

to à própria vida está sendo desrespeitado, e de

forma seletiva. Devem elaborar hipóteses acerca

da ação (ou inação) dos diferentes agentes de po-

Page 43: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

43

der sobre esta realidade, além da intencionalidade des-

tas (in) ações. Além disso, devem conhecer e assumir

postura crítica sobre os diversos movimentos sociais

de luta contra a violência, principalmente a violência

de Estado, que também é seletiva. O professor pode

trabalhar letras de música – com a música – como por

exemplo, “Negro drama”, dos Racionais MC´s, “O amor

venceu a guerra”, de Gog, “País da fome”, de Sabota-

ge, entre outras. Existem ainda diversos movimentos

sociais que operam neste sentido, com bastante mate-

rial de pesquisa e abertos à participação política juve-

nil, como o UNEAFRO, o NEINB, o Instituto Luiz Gama,

entre outros.

Veja mais em <http://www.marciorangon.blogspot.com.br/2014/12/colocando-o-negro-em-seu-devido-lugar.html>.

Na perspectiva filosófica, a temática da violência passa

pelos campos da análise do conceito de poder e suas di-

ferentes relações; pelos debates conceituais da moral e

da ética: liberdade, autonomia, responsabilidade, regras,

valores, dentre outros no cotidiano, pensando a arte como

um modo específico de dar sentido ao mundo.

Para fundamentação e argumentação dos estudantes so-

bre o tema da redação, pode ser explorada a unidade 12

do Movimento do aprender de Filosofia, pois traz discus-

sões pertinentes ao tema quando propõe a reflexão em

torno da ética e superação do racismo; fontes, causas,

formas e manifestações contemporâneas de racismo,

discriminação racial, xenofobia e intolerância conexa.

Grande parte das violências físicas e/ou simbólicas são

causadas pelos preconceitos e pela falta de tolerância.

Sobre a tolerância enquanto argumento de diminuição

das práticas de violência, é interessante trabalhar o texto

Tolerância, p. 241-243, à luz de Habermas. Outro aspecto

que pode ser ampliado na discussão como os estudantes

é a violência por motivos religiosos ou ateísmo, o que é

apresentado na charge da página 244 do Movimento do

aprender de Filosofia.

Após refletir sobre a questão da violência

qual será o gesto concreto disso?

Professor, dialogue com os estudantes e

busque junto com eles identificar situações

de violência que assolam a comunidade es-

colar e seus arredores e a partir das percep-

ções e falas dos estudantes procure elabo-

rar uma campanha de conscientização das

situações de violência e possibilidades de

superação delas.

Para enriquecer a dinâmica peça para

os estudantes trazerem notícias, tre-

chos de filmes, jogos e outros elementos

que apresentem situações de violência.

Como contraponto proponha que os es-

tudantes pesquisem grupos, instituições

das mais variadas matrizes comprome-

tidas com a cultura de paz e contra as

mais diversas formas de violência. Com

todos esses dados as tomadas de ação

serão mais dinâmicas e eficazes.

Page 44: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

44

Para Debater

Texto I: Filosofia e violência

A questão da violência será posta sempre que nos

depararmos com situações-limites, ou, dito ainda,

quando nos sentirmos diretamente atingidos ou

por ela ameaçados. Ela ganha status cinematográ-

fico nos noticiários de TV e somos, queiramos ou

não, por ela persuadidos (diria seduzidos): um mis-

to de temor e curiosidade, à primeira vista inexpli-

cável. O mesmo impulso que prende nossa atenção

diante do noticiário, de outro modo se manifesta

quando ficamos perante a tela, seja do cinema ou

da TV, respiração ofegante, assistindo ao mais ter-

rível filme de terror. Dito de um modo mais simples,

somos, por natureza, seres de violência.

Acidentes, assassinatos, terremotos, enchentes,

tsunamis. A violência, que salta aos nossos olhos,

se alastra por todo o Planeta de modo que, na

maioria das vezes, nos sentimos impotentes dian-

te dela e de sua força avassaladora. Não faltam,

por isso mesmo, interpretações apocalíptico-mi-

lenaristas dando-lhe, muitas vezes, um viés reli-

gioso quando, sabemos nós, ela é humana, dema-

siadamente humana. A ideia de criar, ou forçar,

uma relação direta entre Violência (com maiús-

cula) e Deus, como se aquela fosse fruto da ira

dEste, é veterotestamentária e, por isso mesmo,

superada, de maneira que não encontra respaldo

nos Evangelhos, onde Deus aparece como puro

amor, quando seu próprio Filho nos diz que, “nin-

guém tem amor (agaphn) maior do que aquele

que dá a vida por seus amigos (Jo 15,13). Essa re-

núncia de Deus à violência já havia se dado bem

antes, ao dissuadir Abraão de oferecer o seu fi-

lho Isaac em holocausto, prática bastante comum

nas sociedades arcaicas. Assim, de Deus não vem

a violência: nem como vingança ou castigo, nem

também como aviso de que se está chegando ao

fim de uma era.

A nossa cultura está assentada sobre a violência.

Neste ponto concordam antropólogos, sociólogos

e demais estudiosos das Ciências Humanas. Freud

estudou largamente o assunto em Totem e tabu,

mas foi René Girard em A violência e o sagrado

que aprofundou o tema à exaustão. Toda a Histó-

ria, do princípio ao fim – muito embora o Fim da

História ainda não tenha chegado –, é uma longa

crônica de crimes, assassinatos e todas as formas

de violência. Não há, por assim dizer, um período

em que a Humanidade tenha gozado de uma paz

plena e duradoura. O que acontece, muitas vezes,

é que o crime comum – do homem contra o ho-

mem – nos passa despercebido, não encontrando

destaque na crônica jornalística ou histórica. Se

fizermos uma leitura atenta do livro de Gêneses,

veremos que a primeira cidade, ou civilização, foi

fundada por ninguém menos que Caim (Gn 4, 17),

assassino confesso do seu irmão Abel. Ouve-se,

não raramente, líderes religiosos associarem essa

escalada da violência (irmão que mata irmão, filha

que assassina pai, pais que assassinam filhos) ao

Fim dos Tempos. Para não ser demasiado cruel em

meu julgamento, acredito que esses supostos ex-

pertos nas Sagradas Escrituras são, antes de tudo,

completamente ignorantes no assunto. Ou não

lêem os acontecimentos históricos, ou fazem uma

leitura apocalíptica para chamar à religião as almas

incautas, à custa do medo e do terror religioso. Es-

quecem-se de um detalhe importante: manda a

boa exegese que devemos evitar tomar o texto

bíblico ao pé da letra, especialmente Gêneses, que

está repleto de simbolismos e de mitos arcaicos,

muitos dos quais presentes noutras civilizações,

como a Suméria, para ficar apenas num exemplo.

Há que se combater a violência em todas as suas

formas. Não somente a violência física, aquela que

faz um ser humano lançar-se sobre o seu seme-

lhante, mas, também, a violência institucional, essa

comandada pelo Estado, com a complacência de

toda a sociedade. Desse modo, as gritantes contra-

dições de classes – veja-se, por exemplo, uma pes-

soa enormemente rica e outra extraordinariamente

pobre – emergem como a mais sutil e cruel face da

violência, aparecendo como natural ao nosso pró-

prio ser-no-mundo. Acostumamo-nos a ver pobres

e ricos e nem sequer nos perguntamos pelas causas

reais para tantas e cruéis contradições.

Destarte, para não ficar entregue à violência pura

e simples, ou mesmo para fugir da vendeta (Se

matarem Caim, ele será vingado sete vezes [Gn

4, 15]), o homem criou as Leis. O “Não matar” (Ex

20,13), que depois vai se desdobrar noutras leis de

proteção à vida, é um claro indício de que quere-

mos, pelo menos, renunciar à violência. Essa re-

núncia, no entanto, não se dará de forma definiti-

va, como bem o mostra a própria realidade – que é

violenta, diga-se de passagem –, mas faz parte do

longo processo de hominização da própria Huma-

nidade que se auto-humaniza.

A violência tem feito parte do cotidiano da hu-

manidade desde os seus primórdios e, embora

tenhamos avançado cientifica e tecnologicamen-

te, ainda nos falta muito para uma renúncia de-

Page 45: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

45

finitiva a qualquer ato violento. Não é de se es-

tranhar que o recurso à violência seja constante

entre humanos, e Hobbes tem lá sua porção de

razão ao afirmar que o homem é o lobo do ho-

mem (Homo homini lúpus); ou, noutras palavras,

vivemos numa constante guerra de todos contra

todos (Bellum omnium contra omnes). Essa tese

se contrapõe claramente ao que defendia Jean

Jacques Rousseau, ao afirmar que “o homem é

bom por natureza.” E que “é a sociedade que o

corrompe.” Ora, a Filosofia (e também a Antro-

pologia Cultural) nos mostra que, ao contrário do

que pensava Rousseau, é a sociedade que civiliza

o homem, tornando-o dócil e obediente às leis.

Ou seja, quanto mais me relaciono com outras

pessoas, mais em humano me transformo.

Disponível em: <http://www.metro.org.br/tarzan/filosofia-e-violencia>.

Acesso em 20 maio 2016.

Texto II: A Violência e a Sociologia.

Violência?À primeira vista, a violência parece um conceito fácil

de ser definido e claro, porém, vamos ver que não é

tão simples assim. Primeiro, começamos com a defi-

nição geral. A violência se define como uma ação que

gera, de maneira intencional, dano, ou intimidação

moral, a outro indivíduo ou ser vivo. A violência pode

implicar em um trauma, dano psicológico, ou também

em uma morte. Então, ela tem consequências relati-

vamente diversas, mas todas incidem em traumas.

Existem diferentes tipos: a violência entre pessoas, a

violência de Estado, a violência criminal, a política, a

econômica, a natural ou também a simbólica.

“Violência simbólica”, Pierre BourdieuViolência simbólica? É um conceito desenvolvido

por Pierre Bourdieu, que corresponde ao poder

de impor um processo de submissão pelo qual os

dominados percebem a hierarquia social como

legítima e natural. Por exemplo, as mulheres per-

tencem ao espaço privado (a casa), e os homens,

ao espaço público (o trabalho). Isso é um tipo de

violência simbólica.

Esta característica de violência é visível também

nas mídias e, mais precisamente, nas mensagens

publicitárias. Estas mensagens revelam algumas

imagens legítimas. Por exemplo? As mulheres são

subrepresentadas nas publicidades de produtos

para lavar. As posições de subordinação são distin-

guidas como normais, mas são, cada vez mais, con-

troversas. Estas publicidades espalham mensagens

referentes às desigualdades e relações de força.

Também, nos livros da escola, por exemplo, mui-

tas vezes você pode encontrar historias começan-

do com “Ângela esta cozinhando um bolo e Gui-

lherme irá se deliciar…” Os meninos vão integrar

o fato de que a menina está cozinhando, fazendo

uma coisa de “menina”, e não ao contrário. Cer-

tamente, isto contribui para que seja estabelecida

uma relação de submissão com o sexo feminino.

A violência no BrasilNa América latina, os países que têm o maior pro-

blema da violência são Honduras, Venezuela, Gua-

temala, El Salvador, México e também o Brasil. Na

verdade, a violência no Brasil é um termo eloquen-

te, originado principalmente do tráfico de drogas,

da corrupção, etc. Esta alta no índice de violência

pode ser explicada pela crise econômica, mas não

somente isso. O Brasil é um pais muito desigual

socialmente. Estas desigualdades determinam

o mundo social brasileiro com os “insiders” e os

“outsiders” (H. S. Becker).

Por exemplo, na cidade do Rio de Janeiro, você

pode ver estas desigualdades com os prédios su-

per sofisticados e, ao lado, as favelas. A violência

pode ser o resultado da confrontação destas desi-

gualdades. Então, a violência seria uma correlação

entre as duas esferas da sociedade: os “insiders”

e os “outsiders”. Os indivíduos mais atingidos, em

média, pela criminalidade e violência, são os ho-

mens jovens e pobres. Isso é uma média, a vida

social não é tão simplória.

É importante para um sociólogo ter cuidado com

as figuras estereotipadas e os preconceitos. Esta

violência gera na sociedade brasileira uma cultura

do medo. Os indivíduos integram, desde a socia-

lização primária, numerosas normas sociais relati-

vas às violências. Por exemplo, uma menina sabe

que pode ser perigoso sair sozinha à noite. Você

tem outros exemplos?

Disponível em: <http://www.sociologia.com.br/violencia-e-a-sociologia/>. Acesso em 20 maio 2016.

Page 46: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

46

Ficha 7 – Diversidade Cultural

Page 47: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

47

PROPOSTA DE REDAÇÃO ENEM – 2007

Ninguém = Ninguém(Engenheiros do Hawaii)

Há tantos quadros na parede

há tantas formas de se ver o mesmo quadro

há tanta gente pelas ruas

há tantas ruas e nenhuma é igual a outra

(ninguém = ninguém)

me espanta que tanta gente sinta

(se é que sente) a mesma indiferença

há tantos quadros na parede

há tantas formas de se ver o mesmo quadro

há palavras que nunca são ditas

há muitas vozes repetindo a mesma frase

(ninguém = ninguém)

me espanta que tanta gente minta

(descaradamente) a mesma mentira

todos iguais, todos iguais

mas uns mais iguais que os outros

Tanto faz a cor que se herda

(...)

Todos os homens são iguais

São uns iguais aos outros, são uns iguais aos outros

A cultura adquire formas diversas através do tem-

po e do espaço. Essa diversidade se manifesta na

originalidade e na pluralidade de identidades que

caracterizam os grupos e as sociedades que com-

põem a humanidade. Fonte de intercâmbios, de

inovação e de criatividade, a diversidade cultural

é, para o gênero humano, tão necessária como a

diversidade biológica para a natureza. Nesse sen-

tido, constitui o patrimônio comum da humanida-

de e deve ser reconhecida e consolidada em bene-

fício das gerações presentes e futuras.

UNESCO. Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural.

Todos reconhecem a riqueza da diversidade no

planeta. Mil aromas, cores, sabores, texturas, sons

encantam as pessoas no mundo todo; nem todas,

entretanto, conseguem conviver com as diferenças

individuais e culturais. Nesse sentido, ser diferente já

não parece tão encantador. Considerando a figura e

os textos acima como motivadores, redija um texto

dissertativo-argumentativo a respeito do seguinte

tema. O desafio de se conviver com a diferença

Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar

os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas

ao longo de sua formação. Selecione, organize e

relacione argumentos, fatos e opiniões para de-

fender seu ponto de vista e suas propostas, sem

ferir os direitos humanos.

Tema: O desafio de conviver com a diferença

Uns Iguais Aos Outros (Titãs)

Os homens são todos iguais

(...)

Brancos, pretos e orientais

Todos são filhos de Deus

(...)

Kaiowas contra xavantes

Árabes, turcos e iraquianos

São iguais os seres humanos

São uns iguais aos outros, são uns iguais aos outros

Americanos contra latinos

Já nascem mortos os nordestinos

Os retirantes e os jagunços

O sertão é do tamanho do mundo

Dessa vida nada se leva

Nesse mundo se ajoelha e se reza

Não importa que língua se fala

Aquilo que une é o que separa

Não julgue pra não ser julgado

(...)

Page 48: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

48

Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SPFilosofia1º ano

• Contextualizar o nascimento da filosofia na Grécia

Antiga, compreendendo a especificidade do pensa-

mento filosófico frente ao pensamento mitológico.

• Interpretar a constituição do homem nas inter-

conexões entre natureza e cultura, analisando

diferentes concepções filosóficas sobre a natu-

reza humana.

• Analisar as características dos campos concei-

tuais da moral e da ética: liberdade, autonomia,

responsabilidade, regras, valores, dentre outros,

reconhecendo-os na vida cotidiana.

2º ano

• Identificar as fontes do conhecimento, discernin-

do e relacionando conhecimento sensível e inte-

ligível, bem como as noções de sujeito e objeto.

3º ano

• Refletir, com base no conceito de ética, sobre

a violência e as várias formas de discriminação:

sexismo, racismo, xenofobia, dentre outras.

Sociologia1º ano

• Problematizar as relações entre indivíduo e so-

ciedade, comparando a influência de diferentes

instituições sociais no processo de socialização.

• Interpretar a cultura a partir de perspectivas an-

tropológicas, problematizando conceitos como

diferença, etnocentrismo e relativismo cultural.

• Problematizar as noções de cultura erudita e po-

pular, criticando a hierarquização das manifesta-

ções culturais.

• Analisar criticamente as relações e conflitos ét-

nico-raciais no Brasil, desconstruindo ideias e con-

ceitos amparados no mito da democracia racial e

as representações negativas sobre culturas e po-

vos africanos, afro-brasileiros e indígenas.

2º ano

• Analisar diferentes formas de estratificação so-

cial, associando-as a elementos como a distribui-

ção de poder político, riqueza e prestígio, as rela-

ções étnico-raciais e de gênero, e a inserção dos

indivíduos no mundo do trabalho.

• Problematizar a construção das desigualdades

sociais, analisando as suas diferentes dimensões

nas sociedades contemporâneas.

3º ano

• Analisar as relações de poder e as formas de do-

minação presentes em diferentes esferas da vida,

ampliando a noção de poder para além das insti-

tuições políticas e econômicas.

• Relacionar a política com a vida em comunidade e

com os conflitos e negociações no espaço público.

• Compreender a cidadania como um conjunto de

deveres e como a garantia plena dos direitos civis,

políticos, sociais e humanos.

Proposta didáticaA montagem de imagens na qual está inserido o

nome da prova “Proposta de Redação” traz vá-

rias pessoas de diferentes etnias, idade e origem,

sendo esta parte da coletânea textual. Por meio

dela, é possível deduzir que a proposta de reda-

ção aborda a tolerância para se viver em socieda-

de, além do risco de os preconceitos impedirem

a convivência sadia com a diversidade. Uma boa

estratégia de análise dessa proposta de redação

é encontrar um meio de reproduzir as músicas

das bandas Engenheiros do Hawaii (Ninguém =

Ninguém) e Titãs (Uns Iguais Aos Outros), além

de fazer a leitura atenta de uma parte da Decla-

ração Universal sobre a Diversidade Cultural da

UNESCO, proposta para a dissertação.

Nesse sentido, a troca de impressões sobre a ima-

gem, as músicas e a Declaração ajudará na cons-

trução coletiva da compreensão da proposta de

redação e nas possibilidades de intervenção social

para contribuir com o respeito à diversidade.

Após as trocas coletivas de compreensões dos tex-

tos motivadores da proposta de redação do ENEM

2007, provavelmente parte significativa dos estu-

dantes chegará à ideia de que ser diferente é nor-

mal, e constituirão uma crítica aos tipos de precon-

ceitos que colocam a diversidade como algo ruim.

Como proposta de intervenção social, é interes-

sante pensar projetos concretos e realizáveis ca-

pazes de possibilitar compreensão, o respeito e

a boa convivência entre todas as pessoas como,

por exemplo, a criação de ambientes de diálogo

entre pessoas de religiões diferentes para que

um processo de conhecimento ocorra. Aqui entra

o papel da escola como um bom espaço para o

encontro e a articulação das diversidades, sendo

possível a criação da feira de diversidades cultu-

rais envolvendo toda a comunidade.

Page 49: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

49

Para Debater

Texto I: Multiculturalismo

Diferença, diversidade, pluralismo, hibridismo

– esses são alguns dos termos mais debatidos e

contestados do nosso tempo. Questões de dife-

rença estão no centro mesmo de muitas discus-

sões dentro dos feminismos contemporâneos. No

campo da educação na Grã-Bretanha, questões

de identidade e comunidade continuam a dominar

os debates que cercam o “multiculturalismo” e o

“anti-racismo”. (...) Considero como esses temas

podem nos ajudar a compreender a racialização

do gênero. Independente das vezes que o con-

ceito é exposto como vazio, a “raça” ainda atua

como um marcador aparentemente inerradicável

de diferença social. O que torna possível que essa

categoria atue dessa maneira? Qual é a natureza

das diferenças sociais e culturais, e o que lhes dá

força? Como, então, a diferença “racial” se liga a

diferenças e antagonismos organizados em torno

a outros marcadores como “gênero” e “classe”?

Tais questões são importantes porque podem aju-

dar a explicar o tenaz investimento das pessoas

em noções de identidade, comunidade e tradição.

BRAH, Avtar, Diferença, diversidade, diferenciação, Carto-gra phies of Diaspora: Contesting Indentities. Longon/New

York, Routledge, 1996, capítulo 5, pp.95-127, Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cpa/n26/30396.pdf> acesso em

25.mai.2016

Page 50: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

50

Ficha 8 – Indústria Cultural

PROPOSTA DE REDAÇÃO DO ENEM 2004

Tema: Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação?

Os programas sensacionalistas do rádio e os pro-

gramas policiais de final da tarde em televisão

saciam curiosidades perversas e até mórbidas ti-

rando sua matéria-prima do drama de cidadãos

humildes que aparecem nas delegacias como

suspeitos de pequenos crimes. Ali, são entrevis-

tados por intimidação. As câmeras invadem bar-

racos e cortiços, e gravam sem pedir licença a

estupefação de famílias de baixíssima renda que

não sabem direito o que se passa: um parente é

suspeito de estupro, ou o vizinho acaba de ser

Proposta de redaçãoLeia com atenção os seguintes textos

Proposta de redação do Enem 2004 (Foto: Reprodução/Enem)

=

Page 51: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

51

Incisos do Artigo 5º da Constituição Federal de 1988:

IX – é livre a expressão da atividade intelectual, ar-

tística, científica e de comunicação, independente-

mente de censura ou licença;

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a

honra e a imagem das pessoas, assegurado o direi-

to a indenização pelo dano material ou moral de-

corrente de sua violação.

Com base nas ideias presentes nos textos acima,

redija uma dissertação em prosa sobre o seguinte

tema: Como garantir a liberdade de informação e

evitar abusos nos meios de comunicação?

Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar

os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas

ao longo de sua formação. Selecione, organize e

relacione argumentos, fatos e opiniões para de-

fender seu ponto de vista e suas propostas.

Vista e suas propostas, sem ferir os direitos humanos.

Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SP

preso por tráfico, ou o primo morreu no massacre

de fim de semana no bar da esquina. A polícia

chega atirando; a mídia chega filmando.

Eugênio Bucci. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

Quem fiscaliza [a imprensa]? Trata-se de tema

complexo porque remete para a questão da res-

ponsabilidade não só das empresas de comunica-

ção como também dos jornalistas. Alguns países,

como a Suécia e a Grã-Bretanha, vêm há anos ten-

tando resolver o problema da responsabilidade do

jornalismo por meio de mecanismos que incenti-

vam a autorregulação da mídia.

<http://www.eticanatv.org.br> Acesso em 30/05/2004.

No Brasil, entre outras organizações, existe o Ob-

servatório da Imprensa – entidade civil, não gover-

namental e não partidária –, que pretende acom-

panhar o desempenho da mídia brasileira. Em sua

página eletrônica, lê-se:

Os meios de comunicação de massa são majo-

ritariamente produzidos por empresas privadas

cujas decisões atendem legitimamente aos de-

sígnios de seus acionistas ou representantes. Mas

o produto jornalístico é, inquestionavelmente, um

serviço público, com garantias e privilégios espe-

cíficos previstos na Constituição Federal, o que

pressupõe contrapartidas em deveres e respon-

sabilidades sociais.

<http://www.observatorio.ultimosegundo.ig.com.br> (adaptado) Acesso em 30/05/04.

Filosofia1º ano

• Compreender a importância da linguagem para a

constituição do homem e como veículo da cultura.

• Analisar as características dos campos concei-

tuais da moral e da ética: liberdade, autonomia,

responsabilidade, regras, valores, dentre outros,

reconhecendo-os na vida cotidiana.

2º ano

• Conhecer e utilizar as noções de indução, dedu-

ção, silogismo, argumento, juízo e validade.

• Identificar raciocínios válidos e falácias presentes em

discursos e elaborar opiniões argumentativamente.

3º ano

• Analisar criticamente a ideologia, relacionando

os conceitos de cultura de massa, indústria cultu-

ral e meios de comunicação de massa.

• Estabelecer relações entre ética e liberdade, re-

conhecendo a ação ética como livre e consciente.

Sociologia1º ano

• Refletir sobre o papel da educação na repro-

dução das regras sociais, na democratização dos

bens culturais e na construção de ferramentas de

análise crítica da sociedade.

• Relacionar os conceitos de cultura e ideologia,

problematizando formas de dominação e de resis-

tência nas sociedades contemporâneas.

• Analisar criticamente as relações e conflitos et-

norraciais no Brasil, desconstruindo ideias e con-

ceitos amparados no mito da democracia racial e

as representações negativas sobre culturas e po-

vos africanos, afro-brasileiros e indígenas.

Page 52: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

52

Proposta didáticaEste tema pode ser trabalhado pelo professor de

Sociologia nos três anos do ensino médio, confor-

me tabela com as expectativas relacionadas aci-

ma. Para as turmas do 1º ano, o professor deve tra-

balhar os conteúdos e atividades principalmente

das unidades 2, 4 e 5 do Movimento do aprender.

Para as turmas do 2º ano, o professor deve tra-

balhar basicamente a unidade 7 e, para as turmas

do 3º ano, deve-se trabalhar as unidades 11 e 12.

Em todos os anos, o professor pode trabalhar com

a expectativa de métodos e técnicas de pesquisa

e os seus respectivos conteúdos, que constam no

apêndice do livro didático. No 1º ano, o estudan-

te deve ter uma compreensão crítica de que o ci-

dadão, principalmente o pobre, é também sujeito

de direito à informação e não pode ser alvo dos

abusos dos meios de comunicação. Deve compre-

ender a relação entre cultura e ideologia e reco-

nhecer os meios de comunicação de massa como

instrumentos de dominação e poder, além de arti-

cular formas de resistência a esse domínio cultural

alienante. Deve ainda reconhecer que essa violên-

cia é seletiva e atinge as classes mais baixas da

sociedade, além de identificar elementos culturais

de discriminação e segregação racial ao constatar

que tal violação atinge majoritariamente a popula-

ção de cor negra. Para isso, o professor deve exi-

bir os tais programas (gravados, ou mesmo direta-

mente na TV da escola, “ao vivo”, se o horário das

aulas assim permitir) e desenvolver observações

e registros dirigidos, debates ou outras formas de

sistematização. No 2º ano, os estudantes devem

reconhecer como uma forma de violência a expo-

sição da vida privada (em tom novelesco) de um

indivíduo acusado – mas ainda não julgado – de

forma pública, amplificada midiaticamente pela

TV num programa de grande popularidade. En-

tão, devem relacionar essa violência à situação de

classe das vítimas, problematizando questões do

tipo: se o acusado pertencesse a uma situação de

classe diferente, será que seria tratado da mesma

forma? Por quê? Existem exemplos desse trata-

mento contraditório que podem ilustrar tal situa-

ção? Partindo desses questionamentos, professor

2º ano

• Analisar diferentes formas de estratificação so-

cial, associando-as a elementos como a distribui-

ção de poder político, riqueza e prestígio, as rela-

ções étnico-raciais e de gênero, e a inserção dos

indivíduos no mundo do trabalho.

• Problematizar a construção das desigualdades

sociais, analisando as suas diferentes dimensões

nas sociedades contemporâneas.

• Reconhecer diferentes formas de violência, ana-

lisando o fenômeno a partir dos seus aspectos so-

ciais, econômicos, políticos e culturais.

3º ano

• Analisar o papel da indústria cultural e dos meios

de comunicação de massa na sociedade, proble-

matizando a formação e a uniformização de opini-

ões, gostos e comportamentos.

• Entender o conceito de alienação e analisar criti-

camente o consumismo enquanto produto de uma

cultura de massa no contexto do sistema capitalista.

• Compreender a cidadania como um conjunto de

deveres e como a garantia plena dos direitos ci-

vis, políticos, sociais e humanos.

pode solicitar pesquisas, realizar debates e rodas

de conversa. Nas turmas do 3º ano, os estudantes

devem compreender que a “notícia” é um produto

da indústria cultural, que tem um valor de merca-

do, uma data de validade e precisa ser de grande

penetração e aceitação pelos ávidos “consumido-

res” no mercado da informação. Os estudantes de-

vem compreender que um produto, qualquer que

seja, não pode suplantar os direitos civis do indiví-

duo e que todos são iguais perante a lei. Ou seja,

a liberdade de imprensa não pode se sobrepor às

liberdades individuais. O professor pode solicitar

uma pesquisa aos estudantes sobre os conteúdos

dos jornais e programas jornalísticos com esta

problematização: pode a liberdade de imprensa

suplantar as liberdades individuais?

A Filosofia pode contribuir com a reflexão sobre o

tema a partir da análise dos conceitos de lingua-

gem como forma de comunicação, nesse sentido

podem ser exploradas as estratégias de conven-

cimento e persuasão de que se servem os meios

de comunicação. A unidade 9 do Movimento do

aprender de Filosofia pode ser de grande contri-

buição para o estudo de conceitos como ideologia

e indústria cultural, sendo esses dois elementos

base para o entendimento dos procedimentos de

manipulação das informações.

Para Debater

Texto I: Declaração de direitos do homem e do cidadão – 1789Os representantes do povo francês, reunidos em

Assembléia Nacional, tendo em vista que a igno-

rância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos

Page 53: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

53

do homem são as únicas causas dos males públicos

e da corrupção dos Governos, resolveram declarar

solenemente os direitos naturais, inalienáveis e sa-

grados do homem, a fim de que esta declaração,

sempre presente em todos os membros do corpo

social, lhes lembre permanentemente seus direi-

tos e seus deveres; a fim de que os atos do Poder

Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser a

qualquer momento comparados com a finalidade

de toda a instituição política, sejam por isso mais

respeitados; a fim de que as reivindicações dos ci-

dadãos, doravante fundadas em princípios simples

e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação

da Constituição e à felicidade geral.

Em razão disto, a Assembléia Nacional reconhece

e declara, na presença e sob a égide do Ser Supre-

mo, os seguintes direitos do homem e do cidadão:

Art. 11º. A livre comunicação das ideias e das opi-

niões é um dos mais preciosos direitos do homem.

Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, impri-

mir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos

desta liberdade nos termos previstos na lei.

Disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-à-criação-da-Sociedade-das-Nações-até-1919/declaracao-de-direitos-do-homem-e-do-

cidadao-1789.html> Acesso em: 15.mai.2016

Page 54: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

54

Ficha 9 – Sustentabilidade

Page 55: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

55

PROPOSTA DE REDAÇÃO DO ENEM - 2001

Proposta de redação

à terra. Disso temos certeza. Todas as coisas estão

relacionadas como o sangue que une uma família.

Tudo está associado. O que fere a terra, fere tam-

bém os filhos da terra. O homem não tece a teia da

vida; é antes um de seus fios. O que quer que faça a

essa teia, faz a si próprio. Trecho de uma das várias

versões de carta atribuída ao chefe Seattle, da tribo

Suquamish. A carta teria sido endereçada ao presi-

dente norte-americano, Franklin Pierce, em 1854, a

propósito de uma oferta de compra do território da

tribo feita pelo governo dos Estados Unidos.

(PINSKY, Jaime e outros (Org.). História da América através de textos. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 1991)

Estou indignado com a frase do presidente dos Esta-

dos Unidos, George Bush. “Somos os maiores polui-

dores do mundo, mas se for preciso poluiremos mais

para evitar uma recessão na economia americana”.

R. K., Ourinhos, SP. (Carta enviada à seção Correio da Revista Galileu. Ano 10, junho de 2001).

Com base na leitura dos quadrinhos e dos textos,

redija um texto dissertativo-argumentativo sobre

o tema: Desenvolvimento e preservação ambien-

tal: como conciliar os interesses em conflito?

Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar

os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas

ao longo de sua formação. Selecione, organize e

relacione argumentos, fatos e opiniões para de-

fender o seu ponto de vista, elaborando propos-

tas para a solução do problema discutido em seu

texto. Suas propostas devem demonstrar respeito

aos direitos humanos.

Tema: Desenvolvimento e preservação ambiental: como conciliar interesses em conflito?

nas 22% da cobertura florestal original. A Europa

Ocidental perdeu 99,7% de suas florestas primárias;

a Ásia, 94%; a África, 92%; a Oceania, 78%; a Amé-

rica do Norte, 66%; e a América do Sul, 54%. Cerca

de 45% das florestas tropicais, que cobriam origi-

nalmente 14 milhões de km quadrados (1,4 bilhão

de hectares), desapareceram nas últimas décadas.

No caso da Amazônia Brasileira, o desmatamento

da região, que até 1970 era de apenas 1%, saltou

para quase 15% em 1999. Uma área do tamanho da

França desmatada em apenas 30 anos. Chega.

(Paulo Adário, Coordenador da Campanha da Amazônia do Greenpeace. http://greenpeace.terra.com.br)

Embora os países do Hemisfério Norte possuam

apenas um quinto da população do planeta, eles

detêm quatro quintos dos rendimentos mundiais e

consomem 70% da energia, 75% dos metais e 85%

da produção de madeira mundial. (...)

Conta-se que Mahatma Gandhi, ao ser perguntado

se, depois da independência, a Índia perseguiria

o estilo de vida britânico, teria respondido: “(...) a

Grã-Bretanha precisou de metade dos recursos do

planeta para alcançar sua prosperidade; quantos

planetas não seriam necessários para que um país

como a Índia alcançasse o mesmo patamar?”

A sabedoria de Gandhi indicava que os modelos

de desenvolvimento precisam mudar.

(O planeta é um problema pessoal - Desenvolvimento sustentável. www.wwf.org.br)

De uma coisa temos certeza: a terra não pertence

ao homem branco; o homem branco é que pertence

Proposta de redação do Enem 2001 (Foto: Reprodução/Enem)

Conter a destruição das florestas se tornou uma

prioridade mundial, e não apenas um problema

brasileiro. (...) Restam hoje, em todo o planeta, ape-

Page 56: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

56

Proposta didáticaEsta proposta de redação contém cinco textos.

Nos três iniciais, verifica-se uma relação propor-

cionalmente direta entre o grau de exploração de

recursos naturais e o nível de desenvolvimento

econômico apresentados pelos países e regiões

do mundo. Esses textos apontam para a ideia de

que o planeta pertence ao homem e este pode fa-

zer o que bem quiser com ele em nome da melho-

ria de sua qualidade de vida e conforto. O quarto

texto traz uma ideia exatamente contrária, de que

é o homem que pertence à terra e dela não pode

prescindir, sob pena de sofrer as consequências de

sua ação predatória. Já o último texto da propos-

ta revela, na voz do então principal representante

da sociedade global, o presidente norte-americano

George Bush, a incompatibilidade política entre as

propostas de preservação ambiental e crescimen-

to econômico, além da prevalência do último em

detrimento da primeira em caso de conflito limite.

Ou seja, os três textos iniciais direcionam a reflexão

para a insustentabilidade do modo de produção e o

estilo de vida urbano-industrial moderno. O quarto

texto nos leva a pensar sobre a qualidade do modo

de vida sustentável dos indígenas, ainda considera-

dos por muitos como primitivos e atrasados, além

de provocar a reflexão sobre a (im)possibilidade de

Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SP

Filosofia1º ano

• Analisar as características dos campos conceitu-

ais da moral e da ética: liberdade, autonomia, res-

ponsabilidade, regras, valores, dentre outros, reco-

nhecendo-os na vida cotidiana.

2º ano

• Reconhecer o impacto causado na sociedade pe-

las transformações da técnica e problematizar as

relações desta com o uso instrumental da razão.

3º ano

• Avaliar os mitos do cientificismo e da neutrali-

dade da ciência, desenvolvendo uma perspecti-

va histórica.

Sociologia1º ano

• Refletir sobre o papel da educação na reprodu-

ção das regras sociais, na democratização dos bens

culturais e na construção de ferramentas de análise

crítica da sociedade.

• Reconhecer os impactos das novas tecnologias

de informação, do desenvolvimento científico e da

globalização nas relações sociais.

2º ano

• Analisar a questão do trabalho nas sociedades

capitalistas e problematizar as mudanças recentes

advindas do processo de globalização, da flexibi-

lização e mobilidade dos mercados de trabalho e

do desenvolvimento científico e tecnológico.

• Compreender os desafios ambientais contempo-

râneos, problematizando a relação entre socieda-

de e natureza.

3º ano

• Analisar o papel das lutas e dos movimentos so-

ciais nos processos de conquista dos direitos de

cidadania e de formulação de políticas públicas.

retomarmos esse estilo de vida idílico (e sustentá-

vel) como o ideal para uma nova sociedade pós-in-

dustrial. Já o último texto da sequência sugere que

a preservação ambiental e a exploração capitalista

são incompatíveis. A leitura dos textos deve levar

o estudante à reflexão sobre a relação antagôni-

ca entre a necessidade cada vez mais urgente da

preservação ambiental global – dada pela ameaça

das mudanças climáticas que já se fazem sentir em

todo o planeta, derivada da exploração desmedida

dos recursos naturais - e a impossibilidade dessa

prática dentro do atual sistema econômico e social

hegemônico, o capitalismo.

Cabe uma discussão sobre o papel do capitalismo

no processo de exploração de recursos, por meio

dos seguintes questionamentos:

O fundamento basilar do capitalismo é a explora-

ção dos recursos, naturais e humanos? O capita-

lista busca o lucro; e o lucro vem da exploração

crescente dos recursos, naturais e humanos? Pre-

servação e exploração são, logicamente, concei-

tos antagônicos e excludentes?

Possivelmente as posições dos estudantes po-

dem tangenciar a constatação – corroborada

pela afirmação do texto cinco - que toda eco-

nomia capitalista precisa crescer; se não cresce,

entra em recessão, e isso é considerado insupor-

tável. Ou seja, o movimento histórico do capi-

talismo, no limite, tende a esgotar os recursos

naturais (e humanos) no processo crescente e

ininterrupto de ampliação da exploração desses

recursos, aliado ao proporcional incremento de

produção de resíduos.

Page 57: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

57

A problematização que se coloca é: como cons-

truir um caminho que contemple a preservação

dos recursos naturais sem comprometer o de-

senvolvimento econômico? Como salvar o pla-

neta e ao mesmo tempo ampliar a produção e

o consumo, garantindo a manutenção de nosso

estilo de vida “civilizado”? Será que existe um

caminho do meio, entre o impensável retorno à

vida pré-industrial, selvagem e sem os confortos

da vida moderna, e o iminente colapso ambiental

do planeta, dado pelo esgotamento dos recur-

sos naturais e pela produção descomunal de lixo,

provocados inevitavelmente pelo modelo econô-

mico e social capitalista? É possível preservar, ao

mesmo tempo, o desenvolvimento econômico e

o equilíbrio ecológico? Seria possível conservar

a natureza no capitalismo? Seria possível preser-

var a natureza e o capitalismo?

É oportuno propor aos estudantes uma pesquisa

sobre o significado da evolução histórica da uti-

lização dos termos preservação, conservação e

sustentabilidade, identificando sua relação com a

transformação do próprio capitalismo e do movi-

mento ambientalista.

Para realizar essas abordagens, o professor de

Sociologia pode utilizar diversos textos, imagens

e demais recursos contemplados na unidade 8,

Meio ambiente e capitalismo, do Movimento do

Aprender, que trata justamente dessa temática.

Podem ser utilizados também diversos textos

contidos nos Muitos textos... Tantas palavras. O

volume do primeiro ano traz, entre outros textos,

a Carta do Cacique Seattle em 1885; o volume do

segundo apresenta, entre outros, o texto Entre

o homem e a natureza; traz ainda o interessan-

te texto Entropia: progresso para a destruição!,

que pode ser estudado num movimento interdis-

ciplinar; já no volume do terceiro ano, podemos

encontrar, entre outros, o texto Países tentam

acabar com o comércio de lixo, ou então o texto

A política nacional de resíduos sólidos: a respon-

sabilidade das empresas e a inclusão social.

Em uma perspectiva filosófica, é interessante tra-

zer a Ética como meio de reflexão e defesa do

respeito à vida. Nesse sentido, problematize o que

pode ser entendido como vida. É possível traz

também a discussão sobre as escolhas e ações hu-

manas que vão transformando o meio ambiente

ou o destruindo. O ser humano, em linhas gerais,

ou apoia a natureza e suas criaturas ou subju-

ga tudo que pode dominar. E assim, ele mesmo

se torna o bem ou o mal deste planeta. Também

pode ser trabalhada a bioética como parte da éti-

ca, ramo da filosofia que enfoca as questões refe-

rentes à vida humana (e, portanto, à saúde, o cui-

dado com a natureza). Espera-se que o estudante

possa argumentar no sentido da importância da

conscientização de que o humano faz parte da na-

tureza e não é o dono dela e que, sem ela, ele não

sobrevive. Por isso, sobreviver em harmonia com

os demais seres se torna ação fundamental para a

própria qualidade de vida humana.

Para Debater

Texto I: O que é biodiversidade?

O termo biodiversidade - ou diversidade biológica

- descreve a riqueza e a variedade do mundo na-

tural. As plantas, os animais e os microrganismos

fornecem alimentos, remédios e boa parte da ma-

téria-prima industrial consumida pelo ser humano.

Para entender o que é a biodiversidade, devemos

considerar o termo em dois níveis diferentes: todas

as formas de vida, assim como os genes contidos

em cada indivíduo, e as inter-relações, ou ecossis-

temas, na qual a existência de uma espécie afeta

diretamente muitas outras. A diversidade biológi-

ca está presente em todo lugar: no meio dos de-

sertos, nas tundras congeladas ou nas fontes de

água sulfurosas. A diversidade genética possibili-

tou a adaptação da vida nos mais diversos pontos

do planeta. As plantas, por exemplo, estão na base

dos ecossistemas. Como elas florescem com mais

intensidade nas áreas úmidas e quentes, a maior

diversidade é detectada nos trópicos, como é o

caso da Amazônia e sua excepcional vegetação.

Quantas espécies existem no mundo?Não se sabe quantas espécies vegetais e animais

existem no mundo. As estimativas variam entre

10 e 50 milhões, mas até agora os cientistas clas-

sificaram e deram nome a somente 1,5 milhão de

espécies. Entre os especialistas, o Brasil é consi-

derado o país da “megadiversidade”: aproxima-

damente 20% das espécies conhecidas no mundo

estão aqui. É bastante divulgado, por exemplo, o

potencial terapêutico das plantas da Amazônia.

Quais as principais ameaças à biodiversidade?A poluição, o uso excessivo dos recursos naturais,

a expansão da fronteira agrícola em detrimento

dos habitats naturais, a expansão urbana e indus-

trial, tudo isso está levando muitas espécies vege-

tais e animais à extinção. A cada ano, aproximada-

mente 17 milhões de hectares de floresta tropical

são desmatados. As estimativas sugerem que, se

isso continuar, entre 5% e 10% das espécies que

Page 58: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

58

habitam as florestas tropicais poderão estar ex-

tintas dentro dos próximos 30 anos. A sociedade

moderna - particularmente os países ricos - des-

perdiça grande quantidade de recursos naturais.

A elevada produção e uso de papel, por exemplo,

é uma ameaça constante às florestas. A explora-

ção excessiva de algumas espécies também pode

causar a sua completa extinção. Por causa do uso

medicinal de chifres de rinocerontes em Sumatra

e em Java, por exemplo, o animal foi caçado até o

limiar da extinção.

A poluição é outra grave ameaça à biodiversidade

do planeta. Na Suécia, a poluição e a acidez das

águas impede a sobrevivência de peixes e plantas

em quatro mil lagos do país. A introdução de espé-

cies animais e vegetais em diferentes ecossistemas

também pode ser prejudicial, pois acaba colocan-

do em risco a biodiversidade de toda uma área,

região ou país. Um caso bem conhecido é o da im-

portação do sapo cururu pelo governo da Austrá-

lia, com objetivo de controlar uma peste nas plan-

tações de cana-de-açúcar no nordeste do país. O

animal revelou-se um predador voraz dos répteis

e anfíbios da região, tornando-se um problema a

mais para os produtores, e não uma solução.

Disponível em: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/biodiversidade/>. Acesso em 20/5/2010.

Texto II: Ecocentrismo

[...] Essa nova filosofia ecocêntrica e a conscien-

tização fazem com que o ser humano passe a se

preocupar com suas ações entendendo que ele faz

parte na natureza. Não é o “dono da Natureza”.

Passa a compreender que a Natureza não está ali

para servi-lo, mas para que ele possa sobreviver

em harmonia com os demais seres. Percebendo

isso, o ser humano passou a se preocupar com

suas ações. Passou a ter ações coerentes em rela-

ção à Natureza. Mesmo as suas ações intersociais

passam a ser direcionadas à causa da preservação

da vida global. Então, estará ele desenvolvendo

cada vez mais uma visão “holística” do mundo, ou

seja uma visão global.

Essa nova consciência e visão global trazem a ele

a necessidade de desenvolver uma nova linha de

conduta ética entre ele e a Natureza, formando

uma nova interligação ética: homem-natureza.

Ética Ambiental. Definição: é o estudo da conduta

comportamental do ser humano em relação à na-

tureza, decorrente da conscientização ambiental

e conseqüente compromisso perssonalíssimo pre-

servacionista, tendo como objetivo a conservação

da vida global. Com essa nova ética, diferente da

ética tradicional, vai pautar toda a sua vida e assim

estará ele agindo sempre com um maior compro-

misso ético. Compromisso criado por ele próprio.

Dentro dele. Sem nenhuma lei que não seja a sua

consciência (...).

Texto de Antônio Silveira Ribeiro dos Santos. Juiz de Direito em São Paulo. Disponível em: <http://www.aultimaarcadenoe.com.br/

homem-natureza/>. Acesso em 20/5/2010.

Texto III: A injustiça ecológica

[...] A segunda injustiça, a ecológica está ligada

à primeira (social). A devastação da natureza e

o atual aquecimento global afetam todos os paí-

ses, não respeitando os limites nacionais nem os

níveis de riqueza ou de pobreza. Logicamente, os

ricos têm mais condições de adaptar-se e mitigar

os efeitos danosos das mudanças climáticas. Face

aos eventos extremos, possuem refrigeradores ou

aquecedores e podem criar defesas contra inunda-

ções que assolam regiões inteiras. Mas os pobres

não têm como se defender. Sofrem os danos de

um problema que não criaram. Fred Pierce, autor

de “O terremoto populacional” escreveu no New

Scientist de novembro de 2009: “os 500 milhões

dos mais ricos (7% da população mundial) respon-

dem por 50% das emissões de gases produtores

de aquecimento, enquanto 50% dos pais mais po-

bres (3,4 bilhões da população) são responsáveis

por apenas 7% das emissões”. Esta injustiça ecoló-

gica dificilmente pode ser tornada invisível como

a outra, porque os sinais estão em todas as par-

tes, nem pode ser resolvida só pelos ricos, pois ela

é global e atinge também a eles. A solução deve

nascer da colaboração de todos, de forma dife-

renciada: os ricos, por serem mais responsáveis

no passado e no presente, devem contribuir muito

mais com investimentos e com a transferência de

tecnologias e os pobres têm o direito a um desen-

volvimento ecologicamente sustentável, que os

tire da miséria [...].

Texto de Leonardo Boff, filósofo e teólogo. Disponível em: <http://leonardoboff.com/site/vista/2010/mar12.htm>.

Acesso em 20/5/2010.

Texto IV: Entenda os três pilares da sus-tentabilidade

É comum surgir, de tempos em tempos, novos

paradigmas no mundo corporativo que acabam

alterando significativamente a maneira como as

empresas se posicionam perante seus públicos e

a sociedade em geral.

Houve épocas em que a relação produção ver-

sus tempo era o atributo de destaque entre os

Page 59: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

59

concorrentes. Surgiu, posteriormente, a neces-

sidade de humanização das marcas, dando uma

maior importância à imagem e à relação com

seus consumidores.

De alguns anos para cá, parece que a menina dos

olhos das empresas tem sido a tal da sustentabili-

dade. E, desde então, observa-se o esforço incan-

sável das organizações na promoção de ações e

divulgação dessa poderosa palavra em anúncios,

logomarcas, propagandas e embalagens de todos

os produtos possíveis.

Mas, afinal, o que é sustentabilidade? Você tam-

bém já se viu com essa dúvida? Então confira nos-

so post e entenda exatamente do que se trata esse

tão difundido conceito:

A confusão de conceitosDurante muito tempo se acreditou, erroneamen-

te, que a sustentabilidade estaria diretamente

relacionada ao meio ambiente. Seguindo esse

princípio, as empresas começaram a fomentar

projetos de preservação da flora e da fauna, de

reflorestamento, de proteção a espécies amea-

çadas de extinção, dentre outras ações pontuais

que, por mais que sejam válidas, não represen-

tam, em si, o conceito mais amplo do desenvolvi-

mento sustentável.

Os três pilaresAtualmente, essa ideia é dividida em três princi-

pais pilares: social, econômico e ambiental. Para

se desenvolver de forma sustentável, uma em-

presa deve atuar de forma que esses três pilares

coexistam e interajam entre si de forma plena-

mente harmoniosa.

Vamos então entender um pouco mais de cada um

desses pilares?

SocialTrata-se de todo capital humano que está, direta

ou indiretamente, relacionado às atividades desen-

volvidas por uma empresa. Isso inclui, além de seus

funcionários, seu público-alvo, seus fornecedores, a

comunidade a seu entorno e a sociedade em geral.

Desenvolver ações socialmente sustentáveis vai

muito além de, por exemplo, dar férias e benefí-

cios aos funcionários. Deve-se proporcionar um

ambiente que estimule a criação de relações de

trabalho legítimas e saudáveis, além de favorecer

o desenvolvimento pessoal e coletivo dos direta

ou indiretamente envolvidos.

EconômicoPara que uma empresa seja economicamente sus-

tentável, ela deve ser capaz de produzir, distribuir

e oferecer seus produtos ou serviços de forma que

estabeleça uma relação de competitividade justa

em relação aos demais concorrentes do mercado.

Além disso, seu desenvolvimento econômico não

deve existir às custas de um desequilíbrio nos

ecossistemas a seu redor. Se uma empresa lucra

explorando as más condições de trabalho dos fun-

cionários ou a degradação do meio ambiente da

área à sua volta, por exemplo, ela definitivamente

não está tendo um desenvolvimento econômico

sustentável, já que não existe harmonia nas rela-

ções estabelecidas.

AmbientalPor fim, o desenvolvimento sustentável ambiental-

mente correto se refere a todas as condutas que

possuam, direta ou indiretamente, algum impacto no

meio ambiente, seja a curto, médio ou longo prazos.

É comum vermos empresas adotando medidas mi-

tigatórias, como, por exemplo, promover ações de

plantio de árvores após a emissão de gases polui-

dores, como se uma coisa compensasse a outra.

O desenvolvimento sustentável busca, em primeiro

lugar, minimizar ao máximo os impactos ambien-

tais causados pela produção industrial. Caso não

seja esse o objetivo, provavelmente estaremos fa-

lando muito mais de estratégias de marketing do

que de sustentabilidade de fato.

A parte do todoVale ressaltar, mais uma vez, que a sustentabilida-

de precisa de planejamento, acompanhamento e

avaliação de resultados, pois seus três pilares de-

vem estar alinhados com os objetivos da empre-

sa, não podendo ser definidos com base em ações

pontuais ou simplesmente compensatórias.

O desenvolvimento sustentável é um caminho tri-

lhado diariamente, com respeito mútuo e cons-

ciência de que todas as empresas, comunidades,

pessoas e demais seres são partes integrantes de

um único ecossistema. Assim, para que haja equilí-

brio, é necessário que cada parte leve em conside-

ração o todo, entendendo que é só uma pequena

parte de um universo infinitamente maior, mas que

pode ser afetado por suas ações.

Disponível em: <http://www.teraambiental.com.br/blog-da-tera-ambiental/entenda-os-tres-pilares-da-sustentabilidadee>

acesso em 15.mai.2016

Page 60: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

60

PROPOSTA DE REDAÇÃO DO ENEM - 2010

O Enem 2010, assim como a edição anterior do

exame, teve problemas e precisou ser reaplicado

para alguns alunos. Segundo a gráfica responsá-

vel pela impressão da prova, 33 mil cadernos de

prova de cor amarela estavam com erros de im-

pressão. Destes, 21 mil chegaram aos candidatos.

Com isso, os estudantes prejudicados ganharam o

direito de fazer uma nova prova.

O tema da redação da prova oficial foi “O tra-

balho na construção da dignidade humana”. Nos

textos de apoio, a questão do trabalho escravo

foi tratada, ressaltando que esse tipo de traba-

lho não acabou com a assinatura da Lei Áurea.

Para complementar a apresentação do tema, um

texto apresentou uma previsão de como será o

trabalho no futuro.

A nova prova, aplicada apenas para alguns can-

didatos, teve como proposta de redação o tema

“Ajuda humanitária”. Um dos textos falava sobre

a ajuda às vítimas da chuva no nordeste. Outro

trazia o papel da internet depois do terremoto

Tema: Ajuda humanitária (prova oficial) | O trabalho na constru-ção da dignidade humana” (pro-va reaplicada)

Ficha 10 – Trabalho e Transformação Social

Page 61: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

61

danças que vêm acontecendo há algum tempo: a

busca pela qualidade de vida, a preocupação com

o meio ambiente, e a vontade de nos realizarmos

como pessoas também em nossos trabalhos. “Fa-

lamos tanto em desperdício de recursos naturais e

energia, mas e quanto ao desperdício de talentos?”,

diz o filósofo e ensaísta suíço Alain de Botton em seu

novo livro The Pleasures and Sorrows of works (Os pra-

zeres e as dores do trabalho, ainda inédito no Brasil).

Proposta de redação no Enem 2010 (Foto: Reprodução/Enem)

pastos, produzir carvão para a indústria siderúrgi-

ca, preparar o solo para plantio de sementes, entre

outras atividades agropecuárias, contratam mão

de obra utilizando os contratadores de empreita-

da, os chamados “gatos”. Eles aliciam os trabalha-

dores, servindo de fachada para que os fazendei-

ros não sejam responsabilizados pelo crime.

Trabalho escravo se configura pelo trabalho de-

gradante aliado ao cerceamento da liberdade.

Este segundo fator nem sempre é visível, uma vez

que não mais se utilizam correntes para prender

o homem à terra, mas sim ameaças físicas, terror

psicológico ou mesmo as grandes distâncias que

separam a propriedade da cidade mais próxima.

Disponível em: <http://www.reporterbrasil.org.br> Acesso em: 02 set.2010 (fragmento).

O futuro do trabalho Esqueça os escritórios, os salários fixos e a apo-

sentadoria. Em 2020, você trabalhará em casa, seu

chefe terá menos de 30 anos e será uma mulher.

Felizmente, nunca houve tantas ferramentas dis-

poníveis para mudar o modo como trabalhamos e,

consequentemente, como vivemos. E as transfor-

mações estão acontecendo. A crise despedaçou

companhias gigantes tidas até então como mode-

los de administração. Em vez de grandes conglo-

merados, o futuro será povoado de empresas me-

nores reunidas em torno de projetos em comum.

Os próximos anos também vão consolidar mu-

no Haiti, já que as redes sociais foram importan-

tes formas de comunicação para as vítimas. Para

completar os textos de apoio, a banca colocou um

cartaz de uma campanha de doação às vítimas das

chuvas no Rio de Janeiro.

Proposta de redaçãoCom base na leitura dos seguintes textos motiva-

dores e nos conhecimentos construídos ao longo

de sua formação, redija texto dissertativo-argu-

mentativo em norma culta escrita da língua por-

tuguesa sobre o tema O Trabalho na Construção

da Dignidade Humana, apresentando experiência

ou proposta de ação social, que respeite os direi-

tos humanos. Selecione, organize e relacione, de

forma coerente e coesa, argumentos e fatos para

defesa de seu ponto de vista.

O que é trabalho escravoEscravidão contemporânea é o trabalho degradan-

te que envolve cerceamento da liberdade.

A assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888,

representou o fim do direito de propriedade de

uma pessoa sobre a outra, acabando com a possi-

bilidade de possuir legalmente um escravo no Bra-

sil. No entanto, persistiram situações que mantêm

o trabalhador sem possibilidade de se desligar de

seus patrões. Há fazendeiros que, para realizar

derrubadas de matas nativas para formação de

Expectativas de Ensino e Aprendizagem SESI-SP

Filosofia1º ano• Analisar as características dos campos conceitu-ais da moral e da ética: liberdade, autonomia, res-ponsabilidade, regras, valores, dentre outros, reco-nhecendo-os na vida cotidiana.

Page 62: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

62

Proposta didáticaAs temáticas referentes a trabalho e seus desdo-

bramentos, como trabalho escravo e futuro do

trabalho, propostas pelos textos, são extrema-

2º ano• Reconhecer o impacto causado na sociedade pe-las transformações da técnica e problematizar as relações desta com o uso instrumental da razão.

3º ano• Avaliar os mitos do cientificismo e da neutrali-dade da ciência, desenvolvendo uma perspecti-va histórica.

Sociologia1º ano• Refletir sobre o papel da educação na repro-dução das regras sociais, na democratização dos bens culturais e na construção de ferramentas de análise crítica da sociedade.

• Reconhecer os impactos das novas tecnologias de informação, do desenvolvimento científico e da globalização nas relações sociais.

2º ano• Analisar a questão do trabalho nas sociedades capitalistas e problematizar as mudanças recentes advindas do processo de globalização, da flexibi-lização e mobilidade dos mercados de trabalho e do desenvolvimento científico e tecnológico. • Compreender os desafios ambientais contempo-râneos, problematizando a relação entre socieda-de e natureza.

3º ano• Analisar o papel das lutas e dos movimentos so-ciais nos processos de conquista dos direitos de cidadania e de formulação de políticas públicas.

mente importantes nos estudos sociológicos e

filosóficos, pois se articulam às grandes proble-

máticas sociais e existenciais. A proposta de re-

dação pretende levar à reflexão sobre questões

relativas às formas de apropriação do trabalho.

Enquanto o primeiro texto demonstra a realida-

de da precarização das relações de trabalho – no

caso, a dinâmica do trabalho escravo no Brasil,

que anula o indivíduo e o sujeita à repressão físi-

ca mesmo por parte de seu empregador – o se-

gundo aponta para a possibilidade de um futu-

ro promissor nas relações de trabalho, no qual o

trabalhador é um sujeito autônomo, detentor das

prerrogativas de seu próprio trabalho, pratica-

mente independentes dos determinantes do mer-

cado e de seu empregador. O contraste entre as

ideias de ser forçado a permanecer no trabalho,

do primeiro texto, e trabalhar em casa, do segun-

do texto, revela um evidente antagonismo entre

a dura realidade e a próspera promessa das rela-

ções de trabalho na contemporaneidade. A pro-

posta de redação, portanto, manifesta a intenção

de provocar a reflexão sobre esse antagonismo

para que se desenvolva a argumentação.

Para abordar a temática do trabalho escravo no

Brasil, o professor pode utilizar diversos textos e

demais recursos didáticos, como imagens sobre

trabalho escravo, gráficos e tabelas com os da-

dos atualizados sobre trabalho escravo e trabalho

infantil no Brasil. Além desses recursos, poderá

utilizar os textos da unidade 6, O mundo do tra-

balho, do Movimento do aprender de Sociologia,

principalmente os textos Trabalho infantil (p.132),

Trabalho informal (p.133) e Trabalho informal no

Brasil cai ao menor nível da história (p.133), bem

como o texto Prevenção do trabalho escravo no

Brasil localizado na unidade 6 do Movimento do

aprender de Filosofia (p. 108). O professor pode

se utilizar de vasto material sobre o tema disponí-

vel no site do Senado Federal, no endereço

<http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/trabalho-escravo/trabalho-escravo-atualmente.aspx>.

Para abordar a temática do futuro do trabalho, o

professor pode utilizar textos da mesma unida-

de 6 do Movimento do aprender de Sociologia,

principalmente os textos O ócio pode ser criati-

vo (p.118), Trabalho x emprego (p. 119), Desen-

volvimento histórico do trabalho (p. 120), O pa-

radoxo do trabalho (p. 120), Jornal Unicamp - A

crise do trabalho e do emprego (p. 130), Moven-

do-se no mundo x O mundo que se move (p.131)

e Desemprego - Como sair dessa? (p. 134). Além

desses textos e atividades, o professor pode uti-

lizar trechos de obras de autores contemporâne-

os especializados nesse tema, como O futuro do

trabalho e O ócio criativo, do sociólogo italiano

Domenico de Masi, ou ainda Adeus ao trabalho?,

do sociólogo brasileiro Ricardo Antunes. Muitos

outros autores escrevem sobre este tema, como

o sociólogo francês Alain Touraine, o antropólo-

go norte-americano David Graeber, o sociólogo

polonês Zygmunt Bauman, entre outros.

Cabe ainda considerar as reflexões filosóficas que

perpassam noções sobre o homem como produ-

tor e produto da cultura, sendo que nesse sen-

tido há a influência do trabalho como meio de

transformar a realidade material. Para isso, pode

-se trabalhar com os estudantes o texto Homem

produtor e produto da cultura do Movimento do

Aprender de Filosofia (p. 105).

Page 63: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

63

versos. Em lugar do antigo isolamento de regiões

e nações que se bastavam a si próprias, desen-

volve-se um intercâmbio universal, uma univer-

sal interdependência das nações. E isso se refere

tanto à produção material como à produção in-

telectual. (...) Devido ao rápido aperfeiçoamento

dos instrumentos de produção e ao constante

progresso dos meios de comunicação, a burgue-

sia arrasta para a torrente da civilização mesmo

as nações mais bárbaras.”

(MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Global, 1981. p. 24-25.)

Texto II: AlienaçãoAlienação (lat. alienatio, de alienare: transferir

para outrem; alucinar, perturbar)

1. Estado do indivíduo que não mais se pertence,

que não detém o controle de si mesmo ou que

se vê privado de seus direitos fundamentais, pas-

sando a ser considerado uma coisa.

2. Em Hegel, ação de se tornar outrem, seja se

considerando como coisa, seja se tornando es-

trangeiro a si mesmo.

3. Situação econômica de dependência do prole-

tário relativamente ao capitalista, na qual o ope-

rário vende sua força de trabalho como merca-

doria, tornando-se escravo (Marx). Para Marx, a

propriedade privada, com a divisão do trabalho

que institui, pretende permitir ao homem satis-

-fazer suas necessidades; na realidade, ao sepa-

rá-lo de seu trabalho e ao privá-lo do produto de

seu trabalho, ela o leva a perder a sua essência,

projetando-a em outrem, em Deus. A perda da

essência humana atinge o conjunto do mundo

Ao se discutir o tema trabalho, é importante o

resgate da concepção de Karl Marx e Friedrich

Engels, pois esses autores trazem para o deba-

te as influências do capitalismo no modo de tra-

balho. Com isso, vão denunciar a exploração e a

alienação causadas na relação de poder dos pro-

prietários para com os proletários.

Na perspectiva de provocar os estudantes sobre

a importância ou não do trabalho e sobre os pro-

cessos de alienação, seria enriquecedor abordar o

texto O homem livre sem trabalho, do Movimento

do Aprender de Filosofia (pp. 109 e 110), juntamen-

te com a charge de Frank e Ernest, e a partir das

leituras e análises procurar contextualizar as for-

mas atuais de alienação do trabalho. Isso vai servir

para corroborar a visão crítica do estudante, mas

não perdendo a importância da elaboração de

propostas de intervenção o professor, já que este

pode lançar o desafio aos estudantes para elabo-

rarem maneiras ou reafirmar instrumentos capa-

zes de ressignificar o trabalho como algo positivo.

Nesse ponto, a análise sociológica é de grande im-

portância, pois é uma forma de conhecer os meca-

nismos de intervenção social e de valorização dos

trabalhadores e de suas causas.

O professor pode utilizar ainda diversos textos

dos Muitos textos... Tantas palavras, como por

exemplo, Trabalhadores do Brasil (p. 242 do livro

do 1º ano), Pesquisa mostra o novo perfil do tra-

balhador da indústria (p. 82 do livro do 2º ano),

A aflição de uma vida líquida (p. 18 do livro do 3º

ano.) e Adeus trabalho velho, bem-vindos robôs

(p. 130 do livro do 3º ano).

Há também muitas produções artísticas que sus-

citam o estudo do tema trabalho, por exemplo, o

livro Germinal de Émile Zola. A obra apresenta a

revolta de mineiros na cidade de Montsou con-

tra a situação calamitosa de trabalho e devido a

isso, percebem a necessidade de se organizarem

para sobreviverem. O clássico filme Tempos Mo-

dernos, de Charles Chaplin, é sempre uma ótima

opção para mobilizar o aprender sobre o trabalho

como processo de alienação e exploração, sendo

o oposto do trabalho como realização do sujeito.

Outro filme que pode ser trabalhado é À procura

da felicidade (EUA, 2006). Trata-se da narrativa

de um pai solteiro que busca, por meio da habi-

lidade de vendedor, conseguir um emprego me-

lhor. Nesse processo, ele passa por uma decepção

no estágio em uma grande corretora, não recebe

os salários e, enfrentado vários problemas, aca-

ba sendo despejado e passa a morar com o filho

em abrigos, estações de trem e até mesmo em

banheiros públicos. Mas tudo isso não abala sua

esperança por dias melhores. O filme pode servir

como uma metáfora do contemporâneo.

Para Debater

Texto I: Exploração

Pela exploração do mercado mundial a burguesia

imprime um caráter cosmopolita à produção e ao

consumo em todos os países. Para desespero dos

reacionários, ela retirou à indústria sua base na-

cional. As velhas indústrias nacionais foram des-

truídas e continuam a sê-lo diariamente. (...) Em

lugar das antigas necessidades satisfeitas pelos

produtos nacionais, nascem novas necessidades,

que reclamam para sua satisfação os produtos

das regiões mais longínquas e dos climas mais di-

Page 64: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

64

humano. As alienações religiosas, políticas etc.

são geradas pela alienação econômica. De modo

particular, a alienação política é exercida pelo Es-

tado, instrumento da classe dominante que sub-

mete os trabalhadores a seus interesses. A alie-

nação religiosa é aquela que impede o homem de

reconhecer em si mesmo sua humanidade, pois

ele a projeta para fora de si, num ser que se de-

fine por tudo aquilo que o indivíduo não possui:

Deus; ela revela e esconde a essência do homem,

transportando-a alhures, no mundo invertido da

divindade (Feuerbach).

4. Os termos “alienado” e “alienação” ingressam no

vocabulário filosófico graças a He-gel e a Marx. Se,

em Hegel, a alienação designa o fato de um ser, a

cada etapa de seu devir, aparecer como outro dis-

tinto do que era antes, em Marx, ela significa a “des-

possessão”, segui-da da idéia de escravidão. Assim,

quando dizemos hoje que o trabalho é um instru-

mento de alienação na economia capitalista, esta-

mos re-conhecendo que o operário é despossuldo

do fruto de seu trabalho. Ver fetichismo; reificação.

5. Hoje em dia, podemos falar de outra forma de

alienação: não se trata apenas de uma alienação

do homem na técnica ou pela técnica, nem tam-

pouco somente da alienação do Eu (como acre-

dita Marx), mas de uma alienação em relação ao

próprio mundo: o homem não somente se perde

em sua produção, mas perde seu próprio mundo.

que é ocultado, esterilizado, banalizado e desen-

cantado pela técnica, com tudo o que implica de

sentimento de absurdo, de privação de norma, de

isolamento de si, de falta de comunicação etc.

Alienação. In: JAPIASSÚ. Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.

Texto III: Trabalho humanoO homem se humaniza, não só por que pensa,

mas principalmente por que trabalha. Afirma-se,

inclusive, que não foi o pensamento, mas o traba-

lho que fez o homem. O fato é que o homem vive,

sobrevive e faz o mundo a partir do trabalho. O

progresso da humanidade se deve menos ao pen-

samento que ao trabalho. Foi a ação laboriosa do

homem, ao longo de milhares de anos que gerou

o mundo em que vivemos.

Podemos dizer que só o homem trabalha. As de-

mais espécies realizam atividades próprias da sua

experiência genética ou por que são impelidos a

isso por forças externas à sua vontade.

Só o homem age, intencionalmente, movido pelas

vontades, transformando o meio em que vive, e

beneficiando-se disso. Quando o homem põe uma

semente na terra, espera com isso colher os frutos

e tirar disso algum benefício. Quando um animal,

atrelado a uma carroça, transporta a ração que irá

comer mais tarde, não o faz intencionalmente, nem

porque está com fome, mas porque um homem o

atrelou à carroça. Por mais prenhe de capacidade

de germinação que seja uma semente de milho

à frente de uma galinha, nunca deixará de ser só

mais um grão de milho a ser engolido. Mas para o

homem, mesmo faminto, a semente de milho pode

implicar em várias espigas, graças ao trabalho. O

trabalho, portanto, é um dado cultural, sendo uma

manifestação da própria cultura, mas também um

elemento próprio da espécie humana.

Pelo trabalho o homem pode se desenvolver, re-

criar o mundo, expandir suas potencialidades e ca-

pacidade criativa. Pelo trabalho o homem domina

o mundo e a natureza, libertando-se do medo para

asenhorear-se de tudo que o circunda. A natureza

que era causa de medo, gerando mitos e deuses,

passa a ser só mais um elemento utilizado para ge-

rar aquilo que o homem-trabalhador necessita.

Realizado individualmente, o trabalho potencializa

a capacidade criativa do homem. Quando realiza-

do coletivamente ajuda no processo de desenvol-

vimento social. O trabalho, portanto não deve ser

visto nem transformado em instrumento de tortura

(o tripalium, de onde se origina a palavra, represen-

ta a canga que o escravo carregava no pescoço),

mas como possibilidade de redenção do homem.

No entanto existe uma visão negativa a respei-

to do trabalho. Isso se deve ao fato de, ao lon-

go dos séculos, a sociedade ter se tornado mais

complexa, surgindo a dominação do homem pelo

homem, de uma classe sobre outra. Por ter sur-

gido o acúmulo de excedente e a perspectiva do

lucro. A visão negativa a respeito do trabalho,

portanto, se deve à visão capitalista do trabalho:

em vez de instrumento criativo passou a rotina

reprodutiva; em vez de desenvolver a liberdade

passou a ser instrumento de dominação e até

castigo, quando se é obrigado a fazer o que não

se gosta, por necessidade de sobrevivência; em

vez de progresso de todos passou a ser usado

para enriquecimento de alguns. Em síntese o

trabalho deixa de ser instrumento de realização

humana para ser utilizado como mecanismo de

alienação e de dominação.

CARNEIRO, Neri de Paula, O trabalho, disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/o-trabalho/19331/>

acesso em 25.mai.2016

Page 65: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

65

Texto IV: O trabalho atualmenteCom a chamada terceira revolução industrial,

uma série de inovações tecnológicas são implan-

tadas como o desenvolvimento da robótica, mi-

croeletrônica, automação, além de novas formas

de gerenciamento, que fazem com que o perfil do

mundo do trabalho modifique-se de forma ace-

lerada nos países desenvolvidos, e também nos

países do terceiro mundo, em especial, com o

predomínio do setor de serviços sobre os demais.

Analisando-se os dados da OIT observa-se que

ao invés de o trabalho estar diminuindo, confor-

me afirma a tese do fim da centralidade do tra-

balho, este encontra-se cada vez mais presente

no mundo todo. O número de trabalhadores em

plano mundial está aumentando a olhos vistos, a

redução da jornada de trabalho, se é verdade que

trazendo dados de 100 ou 200 anos são bastante

significativos, o mesmo não se aplica ao final do

século XX e início do século XXI, que de maneira

geral, tem conhecido uma diminuição, mas não

de todo expressiva.

Da mesma forma o volume de trabalho em ho-

ras tem mostrado um aumento expressivo em

diversos países, ao contrário do que seria de se

observar de uma sociedade em que o trabalho

estivesse se tornando irrelevante. Segundo Hus-

son (1999), o volume de trabalho em bilhões de

horas nos EUA passou de 132 em 1960 para 247

em 1996, o mesmo ocorrendo no Japão no mes-

mo período, que de 107 em 1960 passou para 123

bilhões de horas em 1996, e no Grupo dos 6 (G6),

o fenômeno se repete de 431 bilhões de horas em

1960, passou em 1996 para 530 bilhões de horas.

A produtividade do trabalho é outro aspecto de-

cisivo para que possa ser observada uma tendên-

cia positiva de diminuição do trabalho no mundo.

Ainda utilizando-se de trabalho elaborado por

Husson (1999), ao analisar-se dados dos países

capitalistas mais desenvolvidos, verifica-se não

estar ocorrendo na atualidade uma aceleração do

ritmo de crescimento da produtividade, mas, ao

contrário, uma desaceleração. Tomando os dados

da Europa, EUA e dos países do G6, verifica-se

que a produtividade do trabalho teve o seguinte

comportamento nos períodos 1960-1973 e 1983-

1987: nos EUA, diminui de 2,6 para 0,8; no Japão,

de 8,7 caiu para 3,0; na Europa, passa de 5,2 para

2,3 e, finalmente, os países do G6 sofreram uma

diminuição de produtividade do trabalho de 4,7

para 1,8. Esses dados apontam para uma queda

da produtividade do trabalho nas últimas déca-

das e, desta maneira, negam afirmações de que

as inovações tecnológicas em curso estariam

conduzindo a uma expansão brutal da produti-

vidade do trabalho, e em conseqüência, estaria

sendo utilizado cada vez menos trabalho por par-

te do capital para a produção de mercadorias e

serviços. O que leva à conclusão de que a expan-

são das inovações tecnológicas não andaria no

ritmo catastrofista que muitos imaginam. A ima-

gem de uma sociedade em que a produção seja

composta apenas por robôs, sem a participação

da mão humana, como pode ser verificado, está

ainda longe de saltar da ficção para a realidade.

O que se observa na realidade é que as transfor-

mações que estão ocorrendo no mundo do tra-

balho, ao contrário de diminuírem o esforço dos

trabalhadores, está aumentando a precarização

do trabalho em suas mais diversas formas, como

trabalho terceirizado, de tempo parcial, temporá-

rio e informal. O que se conclui é que, no mundo

todo, não está havendo uma diminuição do traba-

lho, mas uma precarização e, em conseqüência,

um aumento da exploração do trabalho, o que

mais o que justifica a luta pela tomada do poder

pela classe trabalhadora.

Por fim, é importante ressaltar que, analisando-se

os dados da OIT extraídos do Panorama Laboral,

estes mostram que, ao contrário do que propug-

nam os defensores da tese do fim da centralidade

do trabalho, o que se está verificando é que não

está ocorrendo o fim do trabalho ou da sua cen-

tralidade no capitalismo contemporâneo. O tra-

balho não se encontra prestes a ser extinto, ma-

nifestando-se ainda central na atualidade, posto

que o capital não conseguiu prescindir do traba-

lho. Mesmo que o capital busque livrar-se do tra-

balho, com o desenvolvimento de uma série de

inovações tecnológicas, ainda necessita nutrir-se

da sua exploração. Foi a este fenômeno que Marx

chamou de “contradição em processo”: os capi-

talistas procuram livrar-se do trabalho vivo, mas

na verdade, o que ocorre é a ampliação da ex-

ploração do trabalho em níveis cada vez maiores.

PRIEB, Sérgio. A classe trabalhadora diante da terceira Revolu ção Industrial. Disponível em: <http://www.unicamp.br/cemarx/

anais_v_coloquio_arquivos/arquivos/comunicacoes/gt4/sessao1/Sergio_Prieb.pdf>. Acesso em: 25 maio 2016. pp. 4-5.

Page 66: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

66

A nota da redação no ENEM conta muito no pro-

cesso de classificação e disputa de vagas nas uni-

versidades. Isso dá um grande peso à redação e

tirar uma nota alta faz toda a diferença, pois se

aumenta, e muito, a chance do sonhado ingresso

no ensino superior.

Após analisar neste caderno as redações e seus

temas e pensar nas possibilidades argumentati-

vas ligadas aos conteúdos trabalhados - sobre-

tudo pela filosofia e pela sociologia -, vamos ver

algumas redações que tiraram nota 1000 em al-

gumas edições do ENEM. Conhecer o que já foi

bem avaliado na redação pode ajudar os estu-

dantes a exercitar a produção de textos na esco-

la, preparando-os para o exame.

Não basta apenas ler as redações, é preciso escre-

ver, ou seja, exercitar a escrita, a partir de todo o

conhecimento apreendido. O ideal é produzir pelo

menos uma redação por semana! Lembrando que

para isso é preciso ter atenção ao enunciado, locali-

zar o tema, pensar bem na tese a ser defendida den-

tro da estrutura dissertativo-argumentativa, com a

presença, no texto, de introdução, desenvolvimento

e conclusão. Tudo isso sempre deve trazer a pro-

posta de intervenção social para resolução de dado

problema, sem jamais ir contra os direitos humanos!

As redações que serão apresentadas em seguida

devem servir de inspiração para as produções dos

estudantes. Busque, juntamente com eles, identi-

Destaca-se da fala de Raphael os seguintes pontos:

• Preparação e muito treino.

• Focar em disciplinas das Ciências Humanas,

sobretudo Filosofia e Sociologia.

• Não se prender apenas nas informações so-

bre atualidades, mas buscar embasamento te-

órico em disciplinas tradicionais para promover

a intertextualidade.

• Trazer novas ideias à banca.

Este caderno se coloca nessa direção, buscando

analisar as redações com o olhar das Ciências

Humanas para potencializar argumentações mais

sólidas e capazes de dialogar com as problemáti-

cas colocadas pelas propostas de redação.

Trazendo mais uma vez a fala de Raphael, vamos

buscar entender na prática a proposta de estru-

turação da redação feita por ele. Veremos a sin-

tonia com o propósito deste material.

Introdução: “Sempre começo fazendo algum pa-

ralelo do tema com história, com um aconteci-

mento que tenha a ver com o assunto. Assim, eu

já insiro o diferencial de cara do texto, indo além

da coletânea.”

Desenvolvimento: “Nos argumentos, coloco bas-

tante teoria e intertextualidade. Aqui entram as

partes de filosofia e sociologia. Ao longo das au-

las, durante o ano, fui fazendo uma lista de fra-

ses legais que eu poderia usar nos contextos de

Redações nota 1000

ficar os movimentos feitos pelos autores das re-

dações nota 1000. Como eles fazem a introdução,

como se dão as ligações entre os parágrafos, quais

teses são apresentadas, como citam autores ou

abordam suas ideias, como desenvolvem os argu-

mentos e propostas de intervenção e, claro, como

usam a norma padrão da língua portuguesa, ainda

que possam ser notadas algumas inadequações.

Ler muito e escrever bastante, por fim, são práti-

cas fundamentais para quem deseja fazer boas re-

dações. Dessa forma, o redator terá mais elemen-

tos para argumentar, não fugir do tema e fazer

reflexões e propostas que ultrapassem o nível do

senso comum sobre as problemáticas propostas.

A dica de Raphael de Souza, estudante que tirou

nota 1000 duas vezes na Redação do ENEM - em

2014 e em 2015 - é muito interessante:

Segundo ele, há algumas estratégias que o fizeram che-

gar tão longe. “Preparação e muito treino são fundamen-

tais”, diz. Além disso, ele procurou estudar mais discipli-

nas de Humanas, como filosofia e sociologia, para sair do

senso comum. “Não me preocupei tanto com atualida-

des. Minha estratégia foi procurar entender teorias novas

e temas de sociologia, que me ajudaram muito a fazer

alguma intertextualidade e a oferecer uma ideia diferente

da coletânea para a banca corretora”, diz Raphael.

Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/vestibular-enem/estudante-tirou-1000-duas-vezes-redacao-dicas-ir-bem-

enem-932702.shtml>. Acesso em: 19 maio 2016

Page 67: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

67

redação, e carregava comigo para ir decorando.

Também é uma boa ideia porque pode deixar o

texto com mais impacto para o leitor.”

Conclusão: “Essa é a parte em que precisa ter

mais cuidado, tem que elaborar bem. Na conclu-

são, sempre retomo a ideia inicial, que completa

o circuito. Para fazer a proposta de intervenção,

obrigatória, é muito importante especificar bem

quem vai fazer o quê: a qual ministério, o governo,

deve se aliar, em que deve investir etc. E é bom

evitar os clichês, para não ficar muito batido.”

Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/vestibular-enem/estudante-tirou-1000-duas-vezes-redacao-dicas-ir-bem-

enem-932702.shtml>. Acesso em: 19 maio 2016

Então não se deve perder tempo! Vamos explorar

as redações iniciando pela do Rapahel, nota 1000

em 2015, cujo tema é “A persistência da violência

contra a mulher na sociedade brasileira”

Em seguida, destacamos algumas referências te-

óricas e terminologias recorrentes da sociologia

e filosofia, utilizadas por Raphael em sua redação

nota 1000!. E logo depois, segue-se outros exem-

plos de redações nota 1000 em outros anos de

aplicação do ENEM.

Equilíbrio AristotélicoAo longo do processo de formação do Estado brasileiro, do século XVI ao XXI, o pensamento machista consolidou-se e permaneceu forte. A

mulher era vista, de maneira mais intensa na tran-sição entre a Idade Moderna e a Contemporânea, como inferior ao homem, tendo seu direito ao voto conquistado apenas na década de 1930, com a chegada da Era Vargas. Com isso, surge a pro-blemática da violência de gênero dessa lógica excludente que persiste intrinsecamente ligada à realidade do país, seja pela insuficiência de leis, seja pela lenta mudança de mentalidade social.

É indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as causas do problema. De acordo com Aristóteles, a política deve ser utilizada de modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. De ma-neira análoga, é possível perceber que, no Brasil, a agressão contra a mulher rompe essa harmonia, haja vista que, embora a Lei Maria da Penha tenha sido um grande progresso em relação à proteção feminina, há brechas que permitem a ocorrência dos crimes, como as muitas vítimas que deixam de efetivar a denúncia por serem intimidadas. Desse modo, evidencia-se a importância do re-forço da prática da regulamentação como forma de combate à problemática.

Outrossim, destaca-se o machismo como impul-sionador da violência contra a mulher. Segundo Durkheim, o fato social é uma maneira coletiva de agir e de pensar, dotada de exterioridade, ge-neralidade e coercitividade. Seguindo essa linha

de pensamento, observa-se que o preconceito de gênero pode ser encaixado na teoria do soció-logo, uma vez que, se uma criança vive em uma família com esse comportamento, tende a adotá--lo também por conta da vivência em grupo. As-sim, o fortalecimento do pensamento da exclusão feminina, transmitido de geração a geração, fun-ciona como forte base dessa forma de agressão, agravando o problema no Brasil.

Entende-se, portanto, que a continuidade da vio-lência contra a mulher na contemporaneidade é fruto da ainda fraca eficácia das leis e da per-manência do machismo como intenso fato social. A fim de atenuar o problema, o Governo Fede-ral deve elaborar um plano de implementação de novas delegacias especializadas nessa forma de agressão, aliado à esfera estadual e municipal do poder, principalmente nas áreas que mais neces-sitem, além de aplicar campanhas de abrangência nacional junto às emissoras abertas de televisão como forma de estímulo à denúncia desses cri-mes. Dessa forma, com base no equilíbrio pro-posto por Aristóteles, esse fato social será gra-dativamente minimizado no país.

Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/vestibular-enem/estudante-tirou-1000-duas-vezes-redacao-dicas-ir-bem-

enem-932702.shtml>. Acesso em: 19 maio 2016

Page 68: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

68

Outras redações nota 1000! de temas/anos diversos do ENEM

As Redações escolhidas aqui são de conhecimen-

to público, fornecidas pelo INEP ou por outras fon-

tes com credibilidade. Nesse sentido, as redações

são reproduzidas de forma direta de acordo com a

produção no dia da prova, sendo mantidas no ori-

ginal, o que faz com que sejam percebidos erros

ortográficos e outros desvios da norma padrão.

ENEM 2002Tema: “O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as trans-formações sociais de que o Brasil necessita?”

A equação da democraciaComícios estudantis. Diretas já! “Caras-pintadas.” O que se percebe de comum nesses movimentos é a maciça participação do público jovem. A luta para adquirir a liberdade e os direitos políticos foi muito bem representada, mas será que acabou? É preciso alertar a sociedade de que somente com o esforço comum e o ímpeto de bravura de nossos jovens poderemos concretizar a conquista alcan-çada, e verdadeiramente promover as transforma-ções sociais de que o país necessita.

O direito de escolher, por eleições diretas, o pró-prio governante representou uma grande vitória no quadro político-social do Brasil. O movimento das Diretas Já foi o primeiro passo, e apesar de não ter alcançado de imediato seu objetivo, conseguiu acender na sociedade uma chama muito forte: a da necessidade de busca pela participação política a reivindicação de melhorias sociais.

Nessa perspectiva, o que se observa é que o voto é um instrumento muito valioso que foi dado ao elei-tor brasileiro. É a nítida certeza de que algo pode ser mudado se as pessoas buscarem sua própria consciência política. Seria, no entanto, utópico pensar em conscientização se antes não for dada ao povo a noção dos seus próprios direitos. É ne-cessário implantar nas instituições educacionais disciplinas que promovam justamente o ensino da cidadania, dos deveres e direitos, e de como lutar, de forma inteligente, por melhores condições so-ciais, políticas, econômicas e até afetivas.

Diante de um povo mais consciente de sua signifi-cância na política nacional, a inércia e a imparcia-lidade da sociedade serão deixadas de lado. Com a promoção de tais mudanças, o povo estará mais alerta para escolher seus candidatos e exigir, tan-to antes quanto depois das eleições, a realização das promessas feitas durante o período eleitoral. A população não fi cará mais míope, e conseguirá enxergar que a luta pelo interesse comum deve su-plementar as vontades pessoais e partidárias, e que a participação popular, no voto e nos projetos, é de extrema necessidade e grandiosa responsabilidade.

O ensino dos direitos políticos, portanto, torna-se uma disciplina indispensável na educação do ci-dadão brasileiro. Educar baseando-se na equação “conteúdo+conscientização” irá, com toda certe-za, promover o enriquecimento do quadro histó-rico nacional. Caso mudanças como essa sejam al-cançadas, e se tornem uma nova conquista, assim como o direito de votar foi, não haverá mais dú-vidas quanto ao voto ser facultativo ou obrigató-rio. Surgirá uma nova perspectiva de prosperidade

dentro da sociedade, a participação será em massa e homogênea, e o povo realmente entenderá o ver-dadeiro significado da palavra democracia.

(Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAABXyYAC/redacoes-nota-10-enem>. Acesso em: 19 maio 2016)

ENEM 2011Tema: “Viver em rede no século XXI: os limi-tes entre o público e o privado”

A internet pode ser considerada uma das maiores conquistas do homem no século XXI, pois torna acessíveis informações de diversas áreas desde a política até a cultura de diferentes povos para toda a população. Além disso, pode ser vista como uma forma de socialização com indivíduos de diferen-tes lugares por meio dos sites de relacionamentos. Porém, sua utilização torna-se perniciosa quando ultrapassa os limites da vida pública e invade o meio privado de uma pessoa.

O acesso à rede traz diversos benefícios à popu-lação, porém muitas pessoas a utilizam como um meio de afetar o respeito e a dignidade de outros indivíduos perante a sociedade. Eles usam os si-tes de relacionamentos, como por exemplo: “Face-book” e “Orkut” e publicam fotos e vídeos os quais comprometem a imagem de alguém.

A utilização imprópria da internet pode até des-qualificar uma pessoa no mercado de trabalho, principalmente aqueles que usam desse meio para sobreviver como alguns atores e cantores. Quando publicado algo de sua vida privada e se a socieda-de julgar errado ou for contrária aos princípios das instituições estabelecidas, degradam sua imagem e, concomitantemente, seu serviço.

Page 69: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

69

Portanto, para que a internet não seja vista como um meio pernicioso para a população é necessária uma conscientização popular sobre sua utilização. Essa ação pode ser por meio de políticas públicas e da própria sociedade como as ONGs. Com isso, o acesso à rede trará somente benefícios, como aconteceu no Oriente Médio durante a Primavera Árabe em que os sites de relacionamentos con-seguiram disseminar ideais revolucionários para a derrubada de vários ditadores.

(Disponível em: <http://www.redacaonotamaxima.com.br/tex-tos-nota1000/redac-jessica-cury.pdf>. Acesso em: 19 maio 2016)

ENEM 2014Tema: “Publicidade infantil em questão no Brasil”

Redação 1O verdadeiro preço de um brinquedoÉ comum vermos comerciais direcionados ao públi-co infantil. Com a existência de personagens famo-sos, músicas para crianças e parques temáticos, a indústria de produtos destinados a essa faixa etária cresce de forma nunca vista antes. No entanto, ten-do em vista a idade desse público, surge a pergunta: as crianças estariam preparadas para o bombardeio de consumo que as propagandas veiculam?

Há quem duvide da capacidade de convencimento dos meios de comunicação. No entanto, tais arti-fícios já foram responsáveis por mudar o curso da História. A imprensa, no século XVIII, disseminou as ideias iluministas e foi uma das causas da queda do absolutismo. Mas não é preciso ir tão longe: no Bra-sil redemocratizado, as propagandas políticas e os debates eleitorais são capazes de definir o resultado de eleições. É impossível negar o impacto provocado por um anúncio ou uma retórica bem estruturada.

O problema surge quando tal discurso é direcio-nado ao público infantil. Comerciais para essa faixa etária seguem um certo padrão: enfeitados por músicas temáticas, as cenas mostram crian-ças, em grupo, utilizando o produto em questão.Tal manobra de “marketing” acaba transmitindo a mensagem de que a aceitação em seu grupo de amigos está condicionada ao fato dela possuir ou não os mesmos brinquedos que seus colegas. Uma estratégia como essa gera um ciclo interminável de consumo que abusa da pouca capacidade de dis-cernimento infantil.

Fica clara, portanto, a necessidade de uma am-pliação da legislação atual a fim de limitar, como já acontece em países como Canadá e Noruega, a propaganda para esse público, visando à proibição de técnicas abusivas e inadequadas. Além disso, é preciso focar na conscientização dessa faixa etá-ria em escolas, com professores que abordem esse assunto de forma compreensível e responsável. Só assim construiremos um sistema que, ao mesmo tempo, consiga vender seus produtos sem obter vantagem abusiva da ingenuidade infantil.

Carlos Eduardo Lopes Marciano, 19 anos (RJ)

Redação 2Quem Sabe o que é Melhor Para Ela?Desde o final de 1991, com a extinção da antiga União Soviética, o capitalismo predomina como sistema econômico. Diante disso, os variados ra-mos industriais pesquisam e desenvolvem novas formas e produtos que atinjam os mais variados nichos de mercado. Esse alcance, contudo, preo-cupa as famílias e o Estado quando se analisa a publicidade voltada às crianças em contraponto à

capacidade de absorção crítica das propagandas por parte desse público-alvo.

Por ser na infância que se apreende maior quanti-dade de informações, a eficiência da divulgação de um bem é maior. O interesse infantil a determinados produtos é aumentado pela afirmação do desejo em meios de comunicação, sobretudo ao se articular ao anúncio algum personagem conhecido. Assim, a ân-sia consumista dos mais jovens é expandida.

Além disso, o nível de criticidade em relação à pro-paganda é extremamente baixo. Isso se deve ao fato de estarem em fase de composição da perso-nalidade, que é pautada nas experiências vividas e, geralmente, espelhada em um grupo de adultos--exemplo. Dessa forma, o jovem fica suscetível a aceitar como positivo quase tudo o que lhe é ofe-recido, sem necessariamente avaliar se é algo real-mente imprescindível.

Com base nisso, o governo federal pode determi-nar um limite, desassociando personagens e figu-ras conhecidas aos comerciais, sejam televisivos, radiofônicos, por meios impressos ou quaisquer outras possibilidades. A família, por outro lado, tem o dever de acompanhar e instruir os mais novos em como administrar seus desejos, viabilizando alguns e proibindo outros.

Nesse sentido, torna-se evidente, portanto, a impor-tância do acessoria parental e organização do Es-tado frente a essa questão. Não se pode atuar com descaso, tampouco ser extremista. A criança sabe o que é melhor para ela? Talvez saiba, talvez não. Até que se descubra (com sua criticidade amadurecida), cabe às entidades superiores auxiliá-la nesse trajeto.

João Pedro Maciel Schlaepfer, 19 anos (RJ)

Page 70: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

70

Redação 3Se o conceito censitário de publicidade entende o uso de recursos estilísticos da linguagem, a exem-plo da metáfora e das frases de efeito, como atra-tivo na vendagem de produtos, a manipulação de instrumentos a serviço da propaganda infantil pro-duz efeitos que dão margem mais visível ao consu-mo desnecessário. Com base nisso, estabelecem--se propostas de debate social acerca do limite de conteúdos designados a comerciais televisivos que se dirigem a tal público.

Faz-se preciso, no entanto, que se ressaltem as intenções das grandes empresas de comércio: o lucro é, sobretudo, ditador das regras morais e de-cisivo na escolha das técnicas publicitárias. Para Marx, por exemplo, o capital influencia, através do acúmulo de riquezas, os padrões que decidem a integração de um indivíduo no meio em que ele se insere — nesse caso, possuir determinados pro-dutos é chave de aceitação social, principalmente entre crianças de cuja inocência se aproveita ao in-ferir importâncias na aquisição.

Em contraposição a esses avanços econômicos e aos interesses dos grandes setores nacionais de mercado infanto-juvenil, os órgãos de ativismo em proteção à criança utilizam-se do Estatuto da Criança e do Adolescente para defender os direitos legítimos da não-ludibriação, detidos por indivídu-os em processo de formação ética. Não obstante, a regulamentação da propaganda tende a equilibrar os ganhos das empresas com o crescente índice de consumo desenfreado.

Cabe, portanto, ao governo, à família e aos de-mais segmentos sociais estimular o senso crítico a partir do debate em escolas e creches, de forma a instruir que as necessidades individuais devem se sobrepor às vontades que se possuem, a fim de coibir o abuso comercial e o superconsumo.

José Querino de Macêdo Neto, 17 anos (AL)

Redação 4Muito se discute acerca dos limites que devem ser impostos à publicidade e propaganda no Brasil – sobretudo em relação ao público infantil. Com o advento do meio técnico-científico informacional, as crianças são inseridas de maneira cada vez mais precoce ao consumismo imposto por uma eco-nomia capitalista globalizada – a qual preconiza flexibilidade de produção, adequando-se às mais diversas demandas. Faz-se necessário, portanto, uma preparação específica voltada para esse jo-vem público, a fim de tornar tal transição saudável e gerar futuros consumidores conscientes.

Um aspecto a ser considerado remete à evolução tecnológica vivenciada nas últimas décadas. Os car-rinhos e bonecas deram lugar aos “smartphones”, videogames e outros aparatos que revolucionaram a infância das atuais gerações. Logo, tornou-se es-sencial a produção de um marketing voltado espe-cialmente para esse consumidor mirim – objetivando cativá-lo por meio de músicas, personagens e outras estratégias persuasivas. Tal fator é corroborado com a criação de programas e até mesmo canais volta-dos para crianças (como Disney, Cartoon Network e Discovery Kids), expandindo o conceito de Indús-tria Cultural (defendido por filósofos como Theodor

Adorno) – o qual aborda o uso dos meios de comuni-cação de massa com fins propagandísticos.

Somado a isso, o impasse entre organizações pro-tetoras dos direitos das crianças e os grandes nú-cleos empresariais fomenta ainda mais essa per-tinente discussão. No Brasil, vigoram os acordos isolados com o Poder Público – sem a existência de leis específicas. Recentemente, a Conanda (Co-missão Nacional de Direitos da Criança e do Ado-lescente) emitiu resolução condenando a publici-dade direcionada ao público infantil, provocando o repúdio de empresários e propagandistas – que não reconhecem autoridade dessa instituição para atuar sobre o mercado. Diante desses posiciona-mentos antagônicos, o debate persiste.

Com o intuito de melhor adequar os “consumido-res do futuro” a essa realidade, e não apenas al-mejar o lucro, é preciso prepará-los para absorver as muitas informações. Isso pode ser obtido por meio de campanhas promovidas pelo Poder Públi-co nas escolas (com atividades lúdicas e conscien-tizadoras) e na mídia (TV, rádio, jornais impressos, internet), bem como a criação de uma legislação específica sobre marketing infantil no Brasil – fisca-lizando empresas (prevenindo possíveis abusos) – além de orientação aos pais para que melhor lidem com o impulso de consumo dos filhos (tornando as crianças conscientes de suas reais necessidades). Dessa forma, os consumidores da próxima geração estarão prontos para cumprirem suas responsabi-lidades quanto cidadãos brasileiros (preocupados também com o próximo) e será promovido o de-senvolvimento da nação.

Juan Costa da Costa, 16 anos (PA)

Page 71: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

71

Redação 5Consumidores do futuroDe acordo com o movimento romântico literário do século XIX, a criança era um ser puro. As ten-dências do Romantismo influenciavam a temática poética brasileira através da idealização da infân-cia. Indo de encontro a essa visão, a sociedade contemporânea, cada vez mais, erradica a pureza dos infantes através da influência cultural consu-mista presente no cotidiano. Nesse contexto, é preciso admitir que a alegação de uma sociedade conscientizada se tornou uma maneira hipócrita de esconder os descaso em relação aos efeitos da publicidade infantil no país.

Em primeiro plano, deve-se notar que o contex-to brasileiro contemporâneo é baseado na lógica capitalista de busca por lucros e de incentivo ao consumo. Esse comportamento ganancioso da ini-ciativa privada é incentivado pelos meios de co-municação, que buscam influenciar as crianças de maneira apelativa no seu dia-a-dia. Além disso, a ausência de leis nacionais acerca dos anúncios in-fantis acaba por proporcionar um âmbito descon-trolado e propício para o consumo. Desse modo, a má atuação do governo em relação à publicida-de infantil resulta em um domínio das influências consumistas sobre a geração de infantes no Brasil.

Por trás dessa lógica existe algo mais grave: a pos-tura passiva dos principais formadores de cons-ciência da população. O contexto brasileiro se caracteriza pela falta de preocupação moral nas instituições de ensino, que focam sua atuação no conteúdo escolar em vez de preparar a geração in-fantil com um método conscientizador e engajado.

Ademais, a família brasileira pouco se preocupa em controlar o fluxo de informações consumistas disponíveis na televisão e internet. Nesse sentido, o despreparo das crianças em relação ao consumo consciente e às suas responsabilidades as tornam alvos fáceis para as aquisições necessárias impos-tas pelos anúncios publicitários.

Torna-se evidente, portanto, que a questão da pu-blicidade infantil exige medidas concretas, e não um belo discurso. É imperioso, nesse sentido, uma postura ativa do governo em relação à regulamen-tação da propaganda infantil, através da criação de leis de combate aos comerciais apelativos para as crianças. Além disso, o Estado deve estimular campanhas de alerta para o consumo moderado. Porém, uma transformação completa deve passar pelo sistema educacional, que em conjunto com o âmbito familiar pode realizar campanhas de cons-cientização por meio de aulas sobre ética e moral. Quem sabe, dessa forma, a sociedade possa tornar a geração infantil uma consumidora consciente do futuro, sem perder a pureza proposta pelo Movi-mento Romântico.

Maria Eduarda de Aquino Correa Ilha, 18 anos (RJ)

Redação 6A publicidade vem sendo valorizada com a cons-tante globalização, onde o marketing se apropria em atingir diferentes parcelas populacionais. A questão da publicidade infantil vem ganhando destaque no cenário mundial, sendo criticadas suas grandes demandas dirigidas à criança, persu-adindo-as em favor do consumismo.

Com a crescente classe média do país, onde mi-lhares de brasileiros são favorecidos pelos créditos governamentais, o consumismo vem afetando toda essa parcela populacional, deixando no passado a falta de eletrodomésticos e a participação social favorecida as elites. Com participação das princi-pais mídias, agrava o abuso do imaginário infantil ao mesmo tempo em que favorece na distinção do benéfico e maléfico ao padrão de vida individual.

É cabível que a anulação da publicidade infantil põe em xeque os ideais democráticos, confrontan-do tanto as famílias como o mercado publicitário, discriminando tal faixa etária ao mesmo tempo prejudicando o mercado consumidor, fator que pode levar a uma crise interna e abdicar do desen-volvimento comercial de um país subdesenvolvido.

Portanto, a busca da comercialização muitas vezes abrange seu favorecimento através do imaginário infantil com os ideais seguidos por seus ídolos. En-tretanto, é de responsabilidade dos pais na cons-cientização do bom e/ou ruim, em conjunto com a escolaridade infantil na abdicação do consumis-mo ao mesmo tempo em que o governo estude medidas preventivas que mudanças ultimamente decorrentes do avanço tecnológico e de inovações ideológicas quanto à forma de aprimorar e pre-parar a criança, desde o busquem o controle da exploração publicitária sem que atrapalhe o andar econômico do país.

Mariana Pereira Pimenta, 17 anos (RJ)

Page 72: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

72

Redação 7Produtos e serviços são necessários a qualquer sociedade. Dentre eles, estão serviços de planos de saúde, financiamento de moradias, compra de roupas e alimentos, entre outros elementos pre-sentes no âmbito social. A publicidade e a propa-ganda exercem papel essencial na divulgação des-ses bens. No entanto, é preciso atenção por parte dos consumidores para analisar e selecionar que tipos de propagandas são fidedignos, e no caso de publicidade direcionada a crianças e adolescentes, essa medida nem sempre é possível.

Em um primeiro plano, é importante constatar que as crianças não possuem capacidade de analisar os prós e contras da compra de um produto. Nes-se sentido, os elementos persuasivos da propa-ganda têm grande influência no pensamento dos indivíduos da Primeira Idade, já que personagens infantis, brinquedos e músicas conhecidas por eles estimulam uma ideia positiva sobre o produto ou serviço anunciado, mas não uma análise do mes-mo. Infere-se, assim, que a utilização desses re-cursos é abusiva, uma vez que vale-se do fato de a criança ser facilmente induzida e do apego às imagens de caráter infantil, considerando apenas o êxito do objetivo da propaganda: persuadir o pos-sível consumidor.

Além disso, observa-se que as ações do Conse-lho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) são importantes, porém insuficientes nes-se quesito. O Conar busca, entre outros aspectos, impedir a veiculação de propagandas enganosas, porém respeita o uso da persuasão. Assim, ao longo dos anos, pode-se perceber que o Conar

não considera o apelo infantil abusivo e permi-tiu a transmissão de propagandas destinadas ao público infantil, já que essas permanecem na mí-dia. Diante desse raciocínio, é possível considerar a resolução do Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) válida e ne-cessária para a contenção dos abusos propagan-dísticos evidenciados.Tendo em vista a realidade abusiva da propaganda infantil, é necessário que o Conar e o Conanda tra-balhem juntos para providenciar uma análise ainda mais criteriosa dos anúncios publicitários dirigidos à primeira infância, a fim de verificar as técnicas de indução utilizadas. Ademais, a família e o sis-tema educacional brasileiro devem proporcionar às crianças uma educação relacionada a questões analíticas e argumentativas para que, já na adoles-cência, possam distinguir de maneira cautelosa as intenções dos órgãos publicitários e a validez das propagandas. Dessa forma, será possível conter os abusos e estabelecer justiça nesse contexto.

Nathalia Cardozo, 19 anos (RJ)

Redação 8A grande preocupação hoje, nas políticas públicas, é propiciar um melhor atendimento integral à criança, principalmente no que se refere ao desenvolvimen-to moral, social, político e cultural enquanto sujeito ativo e participante dos plenos direitos e deveres na sociedade, conforme as normas declaradas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Sabe-se que a educação, tanto nas escolas quan-to no lar, é a melhor opção para se chegar a um objetivo promissor, além de promover o desen-

volvimento integral da criança, porém tal fato tem sofrido nascimento, para receber as informações que há no mundo exterior. Diante disso, as esco-las e os pais devem preocupar-se em desenvolver na criança, o seu lado consumidor, através de situ-ações do dia a dia, auxiliando-a e orientando-a a se tornar um bom consumidor, sendo necessário e importante para se obter uma aprendizagem signi-ficativa da sua realidade.Em relação à publicidade infantil, percebe-se que a tendência das empresas e fabricantes de produ-tos infantis é aumentar seus negócios e divulgar seus produtos infantis tendo como alvo, o universo infantil, o que isso, sobretudo, recai nas responsa-bilidades dos adultos que acabam cedendo-a a ad-quirir, de forma compulsiva, o produto anunciado.No Brasil, a publicidade infantil é comum, princi-palmente em datas comemorativas tais como Dia das Crianças e Natal, porém defende e apoia a le-gislação que controla e evita abusos do setor que realiza tal publicidade.

No entanto, espera-se que a publicidade infantil assuma um caráter educativo, apesar de ser per-suasivo, não afetando os direitos e os deveres da criança, dentro das normas contidas na legislação do país. As escolas e, sobretudo os pais, devem orientar as crianças a tornarem-se bons consu-midores, realizando a escolha certa do produto, conscientes de suas atitudes na sociedade em ad-quirir tal produto a fim de não tornarem-se consu-midoras compulsivas.

Rosely Costa Sousa, 28 anos (MA)

Redações disponíveis em: <http://blogdoenem.com.br/redacao_enem_nota_1000/>.

Acesso em: 19 maio 2016

Page 73: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

73

ENEM 2003Tema: “A violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo?”

As faces da violência no BrasilMuito se tem discutido acerca da violência que afli-ge a sociedade brasileira de um modo geral. Antes vista como característica dos grandes conglome-rados urbanos, hoje ela se faz presente no coti-diano de cada cidadão e se manifesta de diversas formas, desde a física até a moral. Todavia, a socie-dade tem encontrado vários entraves no caminho rumo à solução deste panorama, barreiras estas impostas por um modo de pensar determinista e, muitas vezes, preconceituoso.

De fato, muitos acreditam ser a violência fruto da profunda desigualdade social de nosso país e baseiam seu pensamento em um sofisma simplis-ta, afirmando que o pobre pratica a violência por ser privado do atendimento de suas necessidades mais básicas. Nesse sentido, eles desculpam gran-de parte da sociedade pelo problema e partem de uma premissa, que, se verdadeira, faria de todos os miseráveis brasileiros pessoas violentas em poten-cial. Atrelar a problemática da violência ao estado de pobreza e miséria é dizer que ela é caracterís-tica de uma única fatia da população e negar seu cunho cultural tão profundo.

Verdade é que a violência é tão presente em nosso dia-a-dia que já não apresenta uma face definida, e já não somos capaz de identificá-la tão facilmente. A mídia tem contribuído, nesse sentido, com sua banalização, visto que divulga produções artísticas em geral, nas quais o “bem” vence o “mau” por

meio de batalha física. Vence quem for mais forte fisicamente, aquele que melhor saiba utilizar a for-ça como forma de alcançar a vitória. Deste modo, passamos a ver a violência como forma de resolver conflitos, mesmo que o façamos inconscientemen-te, e passamos a ignorar a importância do diálogo e do debate civilizado.

Pode-se, portanto, afirmar que a solução do pro-blema não é de fácil alcance, visto que envolve questões ideológicas e culturais muito arraigadas no pensamento da sociedade. Contudo, uma me-dida eficiente seria a aplicação de penas mais rí-gidas para quem fizesse uso da violência em qual-quer uma das formas que ela é capaz de assumir, devido ao fato de que a impunidade encoraja, muitas vezes, a prática de atos violentos. Outra solução seria difundir, ainda nas escolas, a impor-tância do diálogo e as implicações da violência, contribuindo para a formação de indivíduos mais conscientes quanto ao assunto.

Tudo isso, no entanto, não será verdadeiramente eficaz enquanto a sociedade encarar a violência com determinismos e preconceitos, mesmo saben-do que é difícil não nos rendermos à facilidade de culpar a pobreza e assumirmos uma visão simplis-ta do assunto, assim como é difícil identificarmos com clareza aquilo que nos leva a agira de forma violenta muitas vezes. Somente se adotarmos uma postura realmente objetiva seremos capazes de encontrar soluções práticas e funcionais. O proble-ma da violência no Brasil se faz ainda mais urgente, pois o capital utilizado em seu combate poderia ser utilizado para suprir as necessidades da população.

Enquanto não conseguirmos resolver este quadro, o país continuará sofrendo com a violência da fome, da miséria, da falta de educação e da insalu-bridade; violências ainda mais marcantes.

ENEM 2007Tema: “O desafio de conviver com a diferença”

Redação 1A Necessidade das Diferenças De acordo com a Teoria da Educação das Espé-cies, o que possibilita a formação do mundo como conhecemos hoje foi a sobrevivência dos mais aptos ao ambiente. A seleção natural se baseia na escolha das características mais úteis. Estas somente se originam a partir das diferenças de-terminadas por mutações em códigos genéticos com o passar do tempo.

Se no âmbito Biológico as variações são impres-cindíveis à vida, no sociológico não é diferente. Uma vez todos iguais, seriamos atingidos pelos mesmos problemas sem perspectiva de resolução, já que todas as idéias seriam semelhantes.

A maioria das pessoas está inserida em um con-texto social. Contudo grandes inovações se fazem a partir do reconhecimento da individualidade de seus integrantes. Assim é de nossa responsabilida-de respeitar nossos semelhantes independentes do sexo, raça, idade, religião, visto que depende-mos mutuamente.

Obviamente nem todas as diferenças são benéfi-cas. Por exemplo, a diferença entre classes sociais não poderia assumir tal demissão. Para somá-la,

Page 74: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

74

necessitamos de uma melhor distribuição de ren-da aliada a oportunidades de trabalho, educação e saúde para todos.

Devemos nos conscientizar que somos todos iguais em espécie mas conviver com as diferenças (por mais difícil que pareça), pois elas nos enrique-cem como pessoas. Nossos esforços devem ser voltados contra discriminações anacrônicas e vis, como o racismo ou perseguições religiosas. Estas não nos levam a lugar algum, apenas nos desquali-ficam como seres humanos.

Redação 2O valor da diferença O desafio de se conviver com a diferença na socieda-de é complicado, mas necessário. Diante da grande pluralidade cultural e étnica que se choca com fre-qüência no mundo globalizado é preciso, além de to-lerância, respeito incondicional aos direitos humanos.

Diariamente, nos deparamos com pessoas das mais variadas culturas, opiniões e classes sociais. Muitas vezes, são nossos vizinhos, colegas e ami-gos. Essa convivência enriquece nossas vidas, pois aprendemos a respeitar o nosso próximo, nos tor-nando pessoas mais fraternas. Porém nem sempre essa relação acontecem facilmente fatos divulga-dos pela mídia nos mostram que, para alguns ain-da, a simples diferença fenotipica gera discrimina-ção e violência, como no caso do brasileiro que foi confundido com um terrorista em Londres. Ele foi brutamente exterminado pela policia inglesa por ter feições diferentes da maioria dos britânicos.

Para o bom funcionamento das sociedades, a dife-rença precisa ser respeitada. Nas relações econômi-cas internacionais, se lida com diferentes culturas

ao menos tempo. Não há espaço para discriminação para quem quer ser competitivo no mercado.

É imprescindível que a convivência com a dife-rença aconteça de maneira saudável. O valor da vida humana independe dos nossos credos ou cor. Além de garantir o convívio entre as pessoas, tole-rar as diferenças nos coloca no caminho da pros-peridade, fortalecendo a esperança de viver num mundo melhor.

ENEM 2004Tema: “Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação?”

Coleira invisívelEm uma época marcada por uma cobertura osten-siva da mídia, não são poucos os casos de abusos, como invasões de privacidade e reportagens ten-denciosas. Diante desse quadro, muitos sugerem um retrocesso perigoso, com mecanismos de con-trole que se remetem a épocas sombrias da história brasileira. Entretanto, essa mesma história mostra que soluções radicais costumam ser perigosas, por isso é preciso ter cuidado com propostas precipi-tadas: nada justifica um cerceamento do trabalho dos meios de comunicação. Nesse contexto, em um palco ocupado por atores que extrapolam em seus papéis e um público acrítico, a solução parece de-pender, em essência, de algo tão simples quanto raro: bom senso. Sem radicalismos.

O caminho para solucionar o conflito enfrenta seu primeiro obstáculo na identificação do problema, afinal é imprecisa a fronteira entre o direito de im-prensa e o direito individual: o que é um “abuso”? Nesse sentido, a solução parece ser uma atuação mais presente, veloz e rigorosa do sistema judiciá-

rio. Com isso, não se impõem restrições prévias a qualquer conteúdo, ao mesmo tempo em que se inibem abusos pela possibilidade concreta de mul-tas. Basta, para isso, reduzir os entraves burocráti-cos no acesso à justiça e na definição de sentenças.

Apesar de eficientes, essas penas rareariam os abusos na imprensa de forma apenas superficial, pois não atacariam causas profundas do problema. Uma análise cuidadosa revela que a má atuação dos veículos de comunicação é fruto de uma crise de valores tanto de profissionais, que, muitas ve-zes, agem sabendo que estão errados, quanto das empresas, que permitem e até estimulam práticas imorais. Nesse contexto, é necessária uma mudan-ça de postura: de um lado, as faculdades de co-municação poderiam dar maior importância à ética no trabalho para formar jornalistas conscientes; de outro, as empresas deveriam fazer valerem seus código de ética, em uma espécie de auto-regula-ção. Nem tudo vale em nome da audiência.

O papel efetivo da justiça e a conduta moral dos profissionais de imprensa, contudo, podem se tor-nar pouco relevantes se a própria sociedade adotar uma postura diferente. O raciocínio é simples: se a sociedade não assistir aos abusos, eles desapare-cerão. É evidente que essa lógica, em certos casos, esbarra em um desejo contemporâneo de assistir a conteúdos “proibidos”, como a intimidade de pessoas famosas. Entretanto, com uma formação humana mais sólida, essa aparente utopia pode ser tornar real. Dessa forma, a liberdade irrestrita de informação seria garantida, e excessos e distor-ções acabariam eliminados pelo próprio mercado.

Assim, é possível imaginar o usufruto da liberda-de de imprensa sem abusos, desde que impere o bom senso no poder público, na mídia e na própria

Page 75: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

75

população. Com isso, os veículos de comunicação podem deixar seus atuais roteiros exagerados no camarim para assumir outro papel: o de “cão-de--guarda” da sociedade. Com critério na divulgação de notícias, denúncias, críticas e análises, esse im-portante agente social pode agir sem estar acor-rentada por mecanismos de censura, sendo “pre-sa” apenas pelo reconhecimento de sua função.

ENEM 2001Tema: “Desenvolvimento e preservação ambien-tal: como conciliar interesses em conflito?”

NeodarwinismoEm prol da sobrevivência, há milhares de anos, a caça e a pesca eram praticadas pelo homem. Hoje, em nome do Neoliberalismo, na atual conjuntura de perda dos sentimentos holísticos, desmatamos e poluímos a natureza na incessante busca do lu-cro, em detrimento do bem-estar da humanidade. Todavia, o homem parece ter esquecido que a na-tureza não é apenas mais um instrumento de al-cance do desenvolvimento, mas a garantia de que é possível alcançá-lo.

Primeiramente, é importante ressaltar o papel do meio-ambiente para o desenvolvimento econô-mico de uma sociedade. É notório que a extração de recursos minerais e de combustíveis fósseis é fundamental para a atração de indústrias e conse-quentemente para a solidez do setor produtivo da economia. No entanto, o uso indiscriminado des-ses bens naturais pela grande maioria das empre-sas não pode mais continuar. Cabe aos governan-tes e à própria população exigirem das mesmas a aplicação de parte do lucro obtido na manutenção de suas áreas de exploração e não permitir o “no-madismo” dessas indústrias.

Nesse sentido, vale lembrar que os poderes político e econômico encontram-se intimamente ligados em uma relação desarmônica, que favorece o capital em detrimento do planeta em que vivemos. De fato, percebe-se que na atual conjuntura excludente, o poder do Estado Mínimo é medido de acordo com sua capacidade de atrair investimentos. Um exem-plo disso é o grande número de incentivos fiscais e leis ambientais brandas adotados pela maioria dos países periféricos buscando atrair as indústrias dos países poluídos centrais. Enquanto isso, a po-pulação permanece alienada e inerte, não exigindo a prática da democracia, que deveria atuar para o povo e não para os macrogrupos neoliberais.

Além disso, cumpre questionar o papel da socie-dade nesse paradoxo desenvolvimento-destruição ambiental. É fato que a maioria da população se mantém à margem das questões ambientais, por absorver, erroneamente, a falácia de que a tecno-logia pode substituir a natureza. Desse modo, os consumidores tecnológicos passam a exigir mais do setor produtivo, que, por sua vez, passa a exau-rir o meio-ambiente. Estabelece-se, assim, um cír-culo vicioso que tem como elo principal um bem finito, que, se quebrado, terá conseqüências des-conhecidas e catastróficas para a humanidade.Torna-se evidente, portanto, que o que vem ocor-rendo na humanidade é apenas uma sucessão de conquistas e avanços na área tecnológica. O real desenvolvimento só será alcançado quando o ho-mem utilizar a natureza de forma responsável e in-teligente. Para tanto, é preciso que sejam criados mecanismos eficazes de fiscalização, sejam eles governamentais ou não. Além disso, deve haver por parte da mídia maior divulgação das questões am-bientais, para que a população possa se mobilizar

e agir exercendo seus direitos. Assim, estaremos de acordo com a teoria da seleção natural, em que o meio seleciona os mais aptos e não o contrário.

ENEM 2010Tema: “O trabalho na construção da dignidade humana”

A dualidade do trabalhoCom o surgimento da burguesia na Idade Média, o trabalho deixou de ser somente relacionado às classes baixas e se tornou parte do cotidiano do in-divíduo que desejava alcançar ascensão social. Isso mostra que trabalhar passou a ser sinônimo de sair de uma vida servil para uma vida independente, de alcançar dignidade.

No entanto, apesar dessa conotação positiva vin-culada ao trabalho, em muitos casos ele pode ser empregado como um meio opressor. No Brasil, a lei Áurea foi assinada em 1888, porém são vários os casos em que proprietários de terras se apro-veitam da situação financeira precária do indivíduo para explorá-lo, pagando-lhe um salário medíocre.

Por isso, cabe ao governo criar órgãos que fiscali-zem melhor as condições que o trabalhador é sub-metido, mesmo quando se trata de trabalho infor-mal. Além disso, a mídia deveria procurar casos em que o trabalhador é explorado e noticiá-los, para que, assim, a população se sensibilize e procure denunciar, aos órgãos governamentais locais, esse tipo de situação degradante.

Com tudo isso, pode-se concluir que há uma duali-dade presente no trabalho: ele é capaz de libertar e oprimir. Então cabe ao governo garantir que essa característica seja somente teórica e, assim, o labor poderá ser um meio de garantir dignidade ao povo.

Page 76: Divisão de Educação Currículo e Recursos Didáticos ... · de ensino e aprendizagem. ... Fonte: Dados das avaliações externas acerca do Ensino Médio forme o planejamento do

76

Você pode continuar

desenvolvendo um

ótimo trabalho. Assim,

manteremos a rede

escolar SESI-SP como

referência em ensino

no estado de São Paulo.

Grande abraço e até

a próxima!

Estou muito feliz em ter chegado até

aqui com você!

Este é meu amigo Ari, que auxiliou os

seus colegas das áreas de Matemática

e Linguagens, juntos estamos ansiosos

pelos bons resultados das próximas

avaliações do ENEM.