Do crescimento forçado a crise da divida cap. 16

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  • 5/10/2018 Do crescimento for ado a crise da divida cap. 16

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    16D O l CRESCIMENT 'O F ORGAD 0' ACRISE DA Dfvmx

    Os anos 70 foram urn periodc conrurbado do ponte de vista economi-co. No infcio, ocorreu urn cheque do petroleo, com elevacac substancial dospreens do elernento fundamental da matriz energetics mundial, e tambernfoi.rompido 0 acordo internacional firmado ainda durante a Segunda GuerraMundial que procurava estabilizar as taxas de cambio internacional. A maiorparte do rnundo reagin de maneira recessive a esse quadro, Procuraremosaqui accmpanhar como 0Brasil se porrou diante dessas mudaneas interne-cionais, A reacao brasileira f0 1 configurada pelo II Plano Nacional de De-senvolvimento que acabou dando nome ao periodo que vai de 1974, depoisdo chamado milagre economico, ate a final da decada, As consequenciasd '" b d 1'" ,.. . 1. essa opcao -.em como .as novas a teracoes no cenano mtemaciona nofinal da decada (novo cheque do petroleo, alteracao substancial da polfticaeconornica norte-americana" moratoria mexicana) rnarcaram 0 inicio dadecada seguinte, periodo de recessao na economia brasileira ern. funcao ciareacao a charnada crise da dfvida exrerna.

    16.1 II PLANO, NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO (IIPND)

    o rapido crescirnentoeconornico 31'0 tango do Milagre, com a ocupa-I c ; ; a o de toda capacidade ociesa (0 que caracteriza uma situacao de pleno

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    DO CHE$CIMENTO FORGIillO A C:illSE DA OiVllJA 415

    ernprego), Ievou ao aparecimento de alguns desequilfbrios, que gerariampressoes inflacionarias I~ problemas nabalanca comercial, A aceleracao in-flacionaria na segunda metade dos anos 7'0 pode set vista na Tabela 16.1,onde se observa 'que a infla~ao passou do patamar dos 15% a.a., no final doMilagre, para 0 patamar dog,400;0 a.a., em mead os da decada,-

    Tabela 16.1

    ~J3I ; 'It,,6'. 41,)

    A manutencao do ciclo expansiomsta, em fins de 1973, dependeriacada vez rnais die urna situacao extema favoravel. Esta situacao, porern, foirompida pela crise mternacional desencadeada pelo primeiro cheque dopetroleo ern 1973, quando os paises mernbros cia OPEP quadruplicaram 0 >pre~o do barril de petroleo.o balance de pagamentos apresentou deficits no saldo de transacoescorrentes (Tabela 16.2)., provocados nao so pelo aumento do valor das im-portacoes de petroleo, mas tambern em funcao dos bens de capital e insurnosbasicos, necessaries paramanter 0 nrvel deproducao corrente do rnilagreeconerrtico, Esse deficit nao foi totalrnente roberto pelaentrada de recur-sos. Jevando a uma queima de reservas, 0 que revelava 0 elevado grau devuhierabilidade externo da economia brasileira,

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    416 ABORDAGEM Hts~r6mc.~DA ECONOMU\ BR.. .4 .S1L.EIRi \

    ';J~~l~

    lQ.I281~'1~

    Internamenre, E ll siruaca:o politica aparecia como uma complkacao adi-donal: .a crise mostraeaos Iimitespolfticos do modelo do Milagre, Em SlUOde mudan

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    D O C RE ScrN tE NTO F QR C;;AD O A CRISE D A D T v lD .A ._ 41.7

    crise do petroleo), enquante houvessefinanciarnento externo abun-dante. Supunha-se aqui que a crise era passageira e de pequenasdirnensoes.

    o ana de 1974 iniciou-se com 0 Mlnistro Mario Henrique Simonsensinalizando a O P 9 8 ! O pete ajustamento, buscando 0 controle cia demandapelo controle da liquidez, Entretarrto, essa politica.nso pode ser levada adian-te, devido, entre outras pressoes, a crise flnanceira detonada ( l e m a quebra doBanco Halles, levando a urna grande procura pela assistencia a liquldez.

    Em termos poltticosobservava-se, nesse ano, urn questionamento aber-to do Movirnento Democratico Brasileiro (MOB) a polftica do regime mili-tar, sendo que as insatisfacces com 0 regime se fizeram sentir na derroraeleitoral da Alianca Renovadora Nacional - partido governista (ARENA)nas eleicees para 0 Congresso _Nacional. Esse foi 0 memento em que 0 go-verno abandonou de vez as tentativas de center adernanda, e fez a op~aopela continuidade do processo d.e 'desenvolvimento. Lancou-se 0 II PND (I!Plano Naeional de. Desenvoleimento).: em, fins de 1974, como urna alterna-tiva a dicotomia de ajustamento ou financiamento, colocando-o como limaestrategia de financiamenm.masprcmovendo-se urn ajuste na estrutu..rade oferta de longo prazo, sirnultaneamente a manutencao do cresci-mento economico. Assim, rnantinha a economia funcionando ern ritmo demarcha forcada."

    Essa alteraeao ria estrutura de oferta signlficava alterar a estruturaprodutiva brasileira de modo que, a longo prazo, diminufsse a necessidadede importacoes e fertalecesse a capacidade de exportar de nossa econornia .Assim, quando essa reesrrumracao estivesse completada, os problemas daBalanca de Transa~5es Correntes estaria superado ..Enquanto isso nao fos-se alcaneado, era necessario 0 financfsmcnto do desequilfbrfo externo de-corrente do creseimento econornico e da elise do petroleo POf meio de em-prestirnos extemos,

    A meta do II PND era manter 0 creseimento economlco em lorna de10;0,a.a., com crescimento industrial em to:rno de 12% a.a. Percebe-se, pelaTabela 16.3) que essas metas naio conseguiram ser cumpridas, porem man-

    1_ Na epoea, havia urnaobn:ga~o constitucional de todo novo governo lanear urn.pfano nacio-nm de deserwolvsnentc, 0 segundo plano lam;,adQ pelo gQernroGeisel acaba send'o o maisconheeido desres planes pois representou uma opi:jaQ de poli'tica ecoDDmica ..Sobre 0 PN"De o 11PND verrespectivamente Gremaud & . Pires (1999 a) e (1999 b).2. A expressao a economiu br'(EHeim em mQirdm f l 3n; . ada . e 0rerna de uma das principalsreferenda'S bihliograficas sobre os ternas do presente capitulo, Seus antares &5.ooot6:nioBarros de C:asrro e Francisen Pires; de Souza (1985),

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    418 A.BORDAGHI HlST6R]C\ DA ECONOl\HA .BFLi\SI l .EIHi\

    teve-se elevado 0 crescimento econornico, apesar die em nfveismais baixosque os anos anteriores.

    t9'7~ 1 2 4 11977 : 1 . , 1 119y,s fi,ll

    o plano significou uma alteracao complete nas prioridades da indus-trinlizaceo brasileira do pericdo anterior (Milagre): deurn padraobaseadcno crescimento do setor de bens de consume duraveis com alta concentra-~.aode renda, a econornia deveria passar a crescer com base no setor produ-tor de meios die producao - hens de capital e insurnos basicos,

    As expeetativas otunistas para 0 setor de hens de capital esperavam areducso na participacao das importacoes no setor de 52% para 400) ' 0 , alernde gerar excedente cxportavel em torno de US$ 200 milhoes. Quanto aosinsumos, previa-se aurnentar a producao de aco de 7 milhdes de toneladasern 74 para 18milhoes em 80 (tercciro estagio do setor sidenirgico), triplicara producae de aluminio, aurnentar a producao de zinco de 15 mil toneladaspara 100mil.grande ampliacao na producao de rninerio de ferro, pOrrmetado Projeto Carajas, e varias outras ..Quanta ao setor energetico, esperava-sealterar 0 padrao e dirninuir as necessidades de irnportacao, pelo aumentoda capacidade hidroeletrica, destacando-se 0 projeto Itaipu, aumentar aproducao de carvao em Santa Catarina, dorar a pals de energia nuclear,p"ela Nuclebras, ampliar a prospeccao de petroleo, basicarnente no Nordes-te o Previa-se rambem Ulna mudanca no sistema de transporte, com maioresincentives para ferrovias e hidrovias,

    A logica do modele esrava em que, conforme as ernpresas estatais avan-cassem, seus projetos de investirnento no setor de insumos gerariam de-manda derivada que estimularia 0 serer privado a investir no sezor de bensde capital. Alern da garantia de demand-a, varios incenrivos forarn dados ao

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    D O CR ES CIM E NTO FO R(l!;.D O A CR IS E D A nt\ '1IV t 419

    secor privado pelo Conselho de Desenvolvirnento Economico ceDE), princi-pal 6rgaol de implementacso do plano. Entre os incentives, destacavam-se:o credito do IPl sobre a compra de eqniparnentos, a posaibilidade de depre-cia.~aoacelerada, H I isencao do imposto de importacao, formas rnais au rnenosexplfcitas de reserva de mercado para novos empreendimentos (pOI exem-plo, a Lei da Informatica): gar anti a de politica de precos compatfvel com asprioridades da poliuca industrial ete,

    Assim, SJeas taxas de crescimenro no perfodo foram menores que aolongo do 'Milagre, por outre lado, ocorreramprofundas rnudancas estrum-rais na economia. A industria. em sua toralidade cresceu 35% entre os anos1974/79. Os principals setores foramo metalurgico, que cresceu 45~'0,dematerial eletrico, 491 J J ( D . de papel e papelao, 50'%" e quirnico, 48%. 0 setortextil cresceu 26%~ eo de alimentos 18~}o.0 setor de material de-transporteecresceu 28%. Observa-se, ncvamenrc, urn redireciorramento na atividadeindustrial, agora para 0setor de insumos e de maquinas e equiparnentos ..

    Dais problemas centrals para a execucao do planoerarn as questcesdo apoio politico e do finandarnento do processo ..Nesse sentido, percebe-seo iselarnento do Estado, que se transformou em rEstado ..empr'esario"eeentrou 0 plano em si, tendo como agente central das transformacfies asernpresas estatais,A sustentacao polftica do plano ~ baseada na chamada aliance de 1974,que se consclidariano pacote de abril de 1977J - assentou-se no capitalfinanceiro nacional, nasernpreiteiras e em oligarquias arcaicas (forras po-lfticas tradicionais), E interessante observer que estas iiltimas forcas sem-pre venderam 0 apoio politico em troca de fund os, e agora participavarn don PND, que atendia a! uma pressao pela modernizacao das regioes nao in-dustrializadas, mediante a deseentralizaeao espaetal dosprojetosde investlmento. Por exernplo:a maier sidenirgica seria construida emItaqui (IVL\); a prospeccae de petroleo passaria .para a plataforma litoraneado Noroeste; soda de eloro em Alagoas; petroquimtca na Bahia e no RioGrande do SuI;; fertilizaates pota ssicosem Sergipe; fosfato em Minas Ge-rais; carvao 'em Santa Catarina, e assim por diante,

    Dessa forma, 0 Estado procurava garantir 0 suporte ao Plano,equacionando deste modo a questao politica; restava ainda a questao dofinanciamento, Nesse sentido, e interessante separar a analise do financia-.mento das empresas estatais e do setor privado envolvido no projeto. Quan-

    3 Alterou a representatividade do Congresso em favor dos Bsrados menores do Nordeste,onde a Arena CMia,09aReno~.adora Nactonal), partido do goveroo, dominava.

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    420 ABORDAGEM HlST6RICA DA ECONOM{A BRJlSlLEIR..i\

    to a s ernpresasestatais, verificou-se a restricao do acesso destas ao creditointerne e uma polftica decontencac tarifaria, que visavam center as pres-soes inflacionarias e forca-las ao endividamento externo. Essa busca de re-curses externos tambem serviria para cobrir 0 "hiato de, divisas" existentena execucao do plano. Iniciou-se com 1:$,SO0 processo de estarizaeao dadivida externa. J3 . 0' setor privado fnl fmanciado basicarnerrte com credi-tos subsidiados de agendas ofidais, entre as quais ganhou destaque 0BNDES,que teve seu funding praticarncnte duplicado, corn a transferencia para ested os re Cl1 .fS O Sdo PIS-,Pa.sep, antes adrninistrados pe la CEE

    A dfvida externa cresceu rapldamente no periodo, USS 15 bilhoes 'entre74/77 e rnais US$ 17 bilhoes em 78/79. Nos dois primeiros anos, a entradade recursos serviu para cobrir lOS deflcits em transacoes correntes, mas J a apartir de 1976 0 < pals voltou a acurnular reservas, A facilidade d~' obtencaode reCUfSOS externos esra relacionada ao proeesso de reeielagem dospetrodolares, isto e , aos superavits dos paises cia OPEPque, sem oporm-nidades de aplicacao intema, retomavarn 310 sistema financeiro intemacio-nal, Como a demanda de credito nos paises desenvolvidos estava retrafda,os pafses em desenvolvirnento voltararn a ser vistos como clientes preferen-CI3]S,

    Apesar da arnpla liquidez internacional e da serie de estfmulos dadosao setor privado para captar recursos externos, tais como diferencialdetaxas de Juras e rnecanismos que possibilitavam 0 hedge cambial (CircularnQ230 e Resolucao n!!432, que perrnitiam aos agentes privados transferir 0endividamenro extemo ao Banco . Central, por meta dos depositos em eru-zeiros junto a este), 0 que cornpoe a segunda parte da explicacao do proces-S'O de estatizacao da dfvida externa, as estatais constitufram-se nos princi-pais tomadores. 0 < setor prfvado envolvido na captacao fe-lo basicamcnte'pormcvimenros especulativos: captar no exteriore aplicar ern titulos piibli-cos com garantia de liquidez, dada a "carta de recornpra" e sem risco deperda cambial, com a possibilidadc de hedge, que se tornaram fonte adicio-nal de especulacao."

    Para realizer 0 ]IPNlD,0 Estado foi assumindo urn passive, para man-ter 0 crescimento economioo e 0 funcionamenro da economia. Dados osnfveis extrernamente baixos das taxas de juros intemacionais, 0 Estado eracapaz de pagar os juros, mas correndo 0 risco de que qualquer alreracaonaestrutura das taxas de juros poderia inviabilizar as condicoes de pagarnen-to, principalmente tendo-se em vista a caracterfstica flutuante das taxas de

    4. \h Box 16.L

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    DO CRlESC lh1E !i o" "TOORc ;ADO A CruSE DA DivIDA 4 .21

    Juras dos ernprestimos, A deterioracao cia capacidade de financiamento doEstado, que soeializou todos os custos no periodc do II PND (com grandeaurnento nos ga.stos,. sern criar rnecanismos adequados de financiamenro),constituir-se-ia no grande problema enfrentado posterior-mente pela eco-nomia brasileira.

    Box 16.1

    ~[f)r real (Qpgrn~ 001J1 e O ' :'f,e~-QmOFlet3n,a a 1 JlQS t enm i - -;gpef~es. ti se a is e Jmarureinis {kt~'emD)j

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    422 _A.HORD_itGEJM HfSrOUCA DA ECONO]l .UA 'BRA.$U.E1PJ \

    16.2 A IiETE,RODOXIADELFINIANA

    A siruacao brasileira no final da decada de 70 e no inicio da de gO era. . .a seguinte:L profundas transformacees no cenario .internacional, trazendo atona ncvamente a vulnerabilidade da eccnomia brasileira aos

    condicionantes extemos, Em 1979, ocorreu 0 segundo cheque dopetroleo e a reversao nas condicoes de financiamento internacio-nal, com at elevacao cia taxa de juros internacional, em urn mo-mente em que 0 endividamento externo brasileiro era crescente.Nesse ano, 0$, juros lfquidos da dfvida externa ja cerrespondiam a2B% do 'valor das expcrtacoes, e 0 pais apresentou urn deficit emtransacoes correntesda ordern de US$ 10,8 bilhoes, que foi apenasparcialmente coberto pela entrada de capitals de. US.$ 7,7 bilhoes,oeasionando uma qneirna de reservas de US$; 2,2 bilhoes, Pode-seconsiderar 1979 0 ana doinfcio da crise cambial;

    n. em nivel interne, ja se fazia.sentir a deterioracao da siruacao fiscaldo. Estado, (om: (a) reducfio lila carga tributaria bruta; (b) au-mento no volume d e e trans ferenc ias, com destaque para lO S jurossobre a dtvida interna; (c) as:estatais erarn feces de deficits, devidoao enorrne passive financeiro e aos conrroles tarifarios; Cd) 0 Or-camento Monetario, ccntarninado pOT varias operacoes fiscais, apre-sentava profundos d e .G cits, decorrentes principalmente das opera-t;5escreditildas do governo, com a fenomeno do spmad negative;

    m, 0 0 desequilfbrio externo, os cheques de oferta (petroleo e cornporia-mento insatisfatorio da agricultura naquele ano) e os deficits pti-blicos geravam pressoes in flacion arias, que tendiam a propagar-sedevido aos rnecanisrnos de indexacao da econornia. Com Isso, ainflacao em 1979 salton para a'S 7?O/O a.a., com t endenc ia acele-ra cionista;

    IV . esse periodo e ainda marc-ado pela mudanca de governo, passa-gem de Geisel para Figueiredo" que deveria aprofundar a aberturapolfrica, com anistia aos exilados, maier liberdade sindical, refer-rna partidariaetc.

    ,0 governo Figueiredo iniciou-se corn Mario Henrique Simonsen nocomando central cia economia .. 0 diagnostico basico, tanto para 0desequilfbrio externo como para a aceleracao mflacionaria, era 0 excessode demanda intema, materializada no deficit publico. A politica economica

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    DO CRESClME1\ilO FORC;WO A CI-UShDADivIDA 423

    procurou cenrrar-se no eontrole da dernanda agregada. A persistencia dacrise levava ao aprofundamento da terapia, cammhando-se para um vcho-que ortcdoxc", sern que se vislumbrasse eficacia no tratamento, corn ainoperanoa dos instrurnentos de polftica economica tradicionais, A arne a-c;ade profunda queda da atividade economica levou it grande reacao politi-ca e a substituicao do rninistro em. agosto de 1979.

    o Minisrro DeIfim Netto assumiu a Seplan (Secretaria do Planciamen-to) COTIl urn discursc desenvolvimentisra e de. combate a inflacao com cres-eimento economico, procurando reeditar 0 rnilagre econornico.

    A principals rnedidas adotadas forarn:1. 0 controle sobre as, taxas de juros;n. a expansao do credito para a agricultura, com vista em expectati-

    vas de uma supersafra para 1980) Ie contencac des precos des ali-mentes;

    iii, a criacao da Secretaria Especial das Empresas Esta.tafs(Sest), para controlar as empresas estatais e a aceleracao dosreajustes das tarifas (reeditando 3 ! inflacao corretiva do Paeg), paramelhorar a siruacao das ernpresas;

    IV, a elirninacao de alguns incentives fiscais as exportacoes, do depo-sito previo sobre as importacees, e a revogaeao da Lei do SimilarNaclonal, visando controlar Q comercio exrerno por meioda politi-ca cambial e tarifaria;

    v 0 estfrnulo a captacao externa, reduzindo a custo do dinheiro ex-terno via dirninuicao dOB< impostos sobre a rernessa de juros;

    VI. amaxidesvalorizaeao de 300/0 do cruzeiro em dezernbro de 1979;vii, a prefixacao da correcao monetaria e cambial ern 50% e 45%l, res-

    pectivamente, para 0 ano de 198Q, visando cornbater a inflacso. com um golp e P sic o 16,gico ..

    viii" a aprovacac cia nova lei salarial em novembro (Lei nil 6.7Q8), queinstituia a semestralidade dos reajusres salariais, bern como rea-justes diferenciados POf faixas de salaries ..

    Os resultados obtidos por esse conjunto de medidas, em 1980,. foram:a) a aceleracao inflacionriria para os 1100% a.a., em funcao do au-

    m en to dos p re< ;:ospublicos, da sernestralidade sa larial e da maxi -desvalorizacao cambial, que aumenrou a custo dos produtos im-portados;

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    424 ABORDAGE :M HHSTORICA DA ECONOM1A BF~~S lLEIR . ' ;

    b) 0 recrudescimento da maior crise economiea intemacional no pas -guerra, em funcao da segunda crise do petrolco 00 preco do barrilelevou-se de 15 para 35 dolares), e da elevacao das taxas de jurosinternacionais, em funcao do aumento das taxas de jurcs nos Es-tados Unidos. Alem disso, as politicas adotadas pelas autoridadesmostraram-se ineficazes ern funcao da aceleracao inflacionaria,Esses fatos sornados provocararn a detcrioracao das contas exter-nas, arnpliando a dfvida externa levando a rnaior perda de reser-vas;

    c) a acentuacao do. processo especulativo, que ocorreupor duas ra-zoes ..Em primeirc lugar, devido a maxidesvalorizacao cambial, querompeu uma regra que atravessou intaeta mills de urns de c-ada - adas minidesvalorizacoes, Em segundo lugar; a prefixacao provo-cou grande perda nos ativos financeiros, 0 que levan a urna fugadesses ativos, earn profunda retracao do sistema finaneeiro naque-le ana, direcionando os recursos para a espcculacao com estoques(principalmente anteeipacfio de importacoes).

    ~A CRISE DA DIVIDA EXTERNAA piora na situ~\,ao cambial levou a governo, ja em 1980, a reverter apolitiea econcrnlca e a adotar uma polftica ortodoxa, denominada ~~ajus-

    tamento volunt'ariol", pois ainda nao recorreria ao FMI e a renegociacaocia dfvida (que ocorreria rnais tarde). 0 diagnosrico permaneceu sendo 0tradicional excesso de demanda intema,

    As dificuldades crescentes para a renovacao dos emprestimos exter-nos, juntarnente com seu encarecimento, fizeram com que a pohtica inter-na se paurasse pela reducae da necessidade de divisas, por rneio do controleda absorcao intema." 0 sucesso dessa estrategia dependia do tarnanho darecessao resultante e/nu do sucesso na reorientacac dos fatores produtivospara a atividade exportadora, corn 0 qual se poderia fazer 0 ajusre commenor perda de produte.

    Urn primeiro ponto a. sec analisado e 0 proprio diagnostice. A existen-cia de desequilfbrio externo nao significa necessariamente que urnpais es-teja vivendo acima de seus limites (excesso de demanda), mas pode ser de-

    5. Ver dados sobre 0 setor exrerno no Capitulo 10.

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    DO CRESCU il" E J'N " 'T OFORGADO A CruSE DA ON 1DA 425

    correncia de urn processo de endi ...idamento externo que corneca a ser co-brado, ou de uma brusca elevacao das taxas de juros internacionais, associa-da com uma deterioracao dos terrnos de troca, Esse parece ser 0 caso doBrasil, que se havia endividado no penedo anterior com base em urn siste-ma de taxas de juros flutuantes. Quando e SS3 S se elevaram, a si tuarc;ao deendividamento, que parecia estar sob contra le, mostrou-se insustentavel.

    Urri'ponto central nessa mudanca de cenario e a t alteracao na politicaeconornica norte-americana. A partir de 1979, Q FED adotou lima politicamonetaria restririva, visando center a tendencia de desvalorizadio do d61arque severificava desde a adocao do cambio fluruante em 1973,. Para tal,restringiu 0 credito e dificultou 0 financiamento do Tesouro arnericano,tentando forcer 0 ajustamento da econornia. Quando. Reagan assumiu apresidencia americana em 19.80, e adotou a politica do "'supply s ideecononncs", ou "rengcncmtcs", a situacao fiscal do governo deteriorou-seainda rnais (ver Box 16.2.). Ao ter que financiar-se no mercado em umasituacao de aperto creditfcio, e[f!VOU violentamenre as taxas de juros, quetransformou os EUA no grande absorvedor da liquidez mundial."

    Box 16.2

    6. \o'er Baer (1993).

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    42,6 AIlORDAGEN[ H1STORKA DA ECONOMIA BR< \ S I LE IRA

    Nesse contexte die taxas de juros mais elevadas e maior dificuldade deobter recursos, isto e y rolar os passives acurnulados, rnuitos paises em de-senvclvimento se viram

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    DO CRESC IMENTO YOR

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    428 ABORm\GE~..HIs'r6Rlc,\ DA ECONO_I"lIA BRl i . . S ILEIRA

    pelo sucesso do II PND" que permitiu amplo processo de substituicao deImportacoes e criou setores com eompetitividade externa, para elevar asexportacoes, efiminando 0 "deaequilfbrto congenito" do Balance dePagarnerrtos brasileiro - a tendencia a deficits decorrentes da expansao eco-nornica,o lado problematico do ajustamento era 0 equacionamento das con-tas internas, que nao se resolveria com a geracao de superavits externos, Adificuldade basica esrava ern que as obrigacoes ds dfvida externa nao esta-yam distribuidas entre os setores da economia em proporcao a importanciadesses setores, Assim, 0 onus da dfvida recaia de forma rnais violenta sobrealguns setores, que precisavam realizar urn esforco de poupanca para ad-quirir as divisas e remere-las ao exterior. Esse e 0 problema interne doajuste externo ..

    No caso brasileiro, 8 0 0 m da divida era do setor publico, devido ao pro-cesso de estarlzacao (socializacao) da dfvida exrerna, enquanto a maiorparte da geracfic do superavit se dava no setor privado. Para 0 governoadquirrr as drvisas ele deveria ou gerar urn superavit fiscal cornpatfvel corna transferencia externa, ou emitir rnoeda, au entao endividar-se interna-mente. A prirneira alternativa era inviavel, pais a situacao fiscal do sererpublico ja se vinha deteriorando desde 0IIPND, sendo agravada pela polfti-ca de aiustamento exrerno, per varias razoes:

    1. a politics cambial agressiva e as maxidesvalorizacoes aumenta-vam Q custo interne do service da dfvid extern a..Ern alguns pai-scs, como < 0 Chile.onde O r setor exportador e propriedade do Estado(no caso, 0 cobre), as desvalorizacoes cambiais acabavarn tendourn resultadc positive para as financas piiblicas:

    11 . a recessao dirninuia a base tributavel, com efeito negative sobre aarrecadacao;

    m.a transferencia de recursos produtives para as atividades de expor-ta~a'o' signiflcava uma remincia fiscal, devido aos incentives dados.::10 sctor, e umaumento nos gastos, devido aos subsidios;

    IV - as taxas de jura'S intemas elevadas, para corner a demanda agre-gada, encareciarn a rolagern da dfvida interna;

    v; a aceleracao inflacionaria diminufa a arrecadacao (conhecido comoEfelto Olivera-Tanzi).

    A segunda alternativa mostrava-se incompatfvel com a polftica de con-trole ciaabsorcso lnterna, manutencao de taxas de jUIOS elevadas e tentati-va de contrcle inflacionario. Aunica alternativa era represcntada pelo

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    DO CRE;SCU4ENTO FOPilC;iillO A CRJSF DA Df\; '1DA 42'9

    endividamento interne, por rneio da colocacao de titulos publicos, que sefazia em condicoes cada vez rnais precarias: maiores [uros e menores pra-zes, Esse processo que significava a transformacao da divida enemaem divida intern a aoelerou a detertoracao das contas publicas e ani-pliou 0 grau de indexacao da econornia em funcao das condicoes interuasde negociacao desta dfvida interna. Esses problemas estao na raiz des pro-blemas que seriarn .enfrentados no segundo .lustro cia decada,

    Urn ultimo ponte a t ser destacado e que este processo de ajustamerrtoextern se deu em UTIl contexte de abertura polftica con) amplcs quesrio-namenros sabre a conducao da politica econornica pelo governo. Esse fatomanifestou-se na derrota do partido do govern_o nos principals estados, naeleicao para govern adores em 1982. A aceitacac de 0 pais assumir todo 0peso do ajustamento era cada vez mais criticada, e ganhavarn curse ideiascomo a moratoria da dfvida externa, 0 ajustsmento sern sacrificar 0 cresci-mento, entre ourras,

    Todo esse questionamento ganhou forca no contexte d ie mudanca degovemo em 1984 e 0movimento das "Diretas Ja". Assim, apesar de se refoonseguidc '0 ajustamento exrerno, 0 modele adotado era cada vez marsquestionado por grande parte cia populacao, que tinha 0 desemprego comoameaca Iatente. A intla~aQ mostrava-se reniterrte a politicas ortodoxas, evarias vozes defendiarn formas alternatives de combate a inflacao. En fi rn ,foi nesse clima que terminou 0 regime rnilitar e se iniciou a Nova Republi-ca, com a esperance de . fazer as ajustamentos, sern irnpor sacriffeios apopulacao.

    Ajuste na estrurura de oferta.' Ajtls~am,e1rltovohJnt~hio~

    'Estadc-empresario.. Estarlzacao c i a : dfvida externa.. Hererodoxia delfiniana' Cheque do petrol eo

    .. Ciranda financeira Curva de Lafer

    ~, IIPND

    .. Crise da dfvida externa

    .. Descenualizacao espaeial

    .. Desequilfbrio congenito do Balance dePagarnentos

    .. Dicotomia ajusramento x financiarnen-to

    .. Efeito Olivera Tanzi

    .. Maxidesvalorizacao

    .. Prefixacao das correcces moneta-ria e cambial

    .. Problema interne do aiuste exter-.no

    .. R ee iclagem de petrodolares

    .. Secretaria Especial das ErnpresasEstatais

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    S ete rnbro negro.' Supply side economics

    Transformacao da dfvida extema eminterna

    Ql. Explique 0 1 II PND em termos de projeto de desenvolvimento, demons-trando a forma como foi financiado.

    Q2. Faca urn breve cornentar'o sobre a situacao da econornia brasileira emundial no mlcio da decada de 80.Q3. Quais as principals medidas adotadas pelo ministro Delfirn Netto a partir

    de agosto de 1979'7Q4. "Os superavits dabalanca comercial nos arras 1983-19B4 podem serexplicados pela retracao da demand a interns. ~l Cornente,

    QS., Relacione 0 ajussamento externo brasileiro com a deterioracao das CODc'tas publicas nacionais nos anos 80.

    Tl. Ate que ponte 0 II PND foi uma esrrategia ousada de crescirnento e deresposta a crise internacional, ou foi urna estrategia irresponsavel me-til/ada por causas pollticas. 0 II PND pode ser visto como a continuida-de do processo de substituicao c i irnportacoes?