Do Senso Comum Consciencia Filosofica - Demerval Saviani

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  • 8/17/2019 Do Senso Comum Consciencia Filosofica - Demerval Saviani

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    DERMEVAL SAVIANI

    EDUCAÇÃO: DO SENSO COMUMÀ CONSCIÊNCIA FILOSÓFICA

    COLEÇÃO EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA

    11ª Edição 1!!"

    EDITORA AUTORES ASSOCIADOS

     

    Este trabalho reúne estudos redigidos em diferentes oportunidades, obedecendo, porém, a um mesmo propósito:

    evar a prática educativa desenvolvida pêlos educadores brasileiros do nível do senso comum ao nível da consciêncialosófica.

    A introdu!o indica o ponto de convergência do con"unto dos estudos #ue comp$em a obra. %s primeiros te&tosonstituem estudos introdutórios ' (ilosofia da Educa!o. )m segundo con"unto de te&tos refere*se, no geral, aaspectos organiacionais do trabalho pedagógico na área da educa!o+. -or último, s!o apresentados, em ordemonológica, alguns estudos sobre a educa!o brasileira.

    % livro constitui um útil instrumento ao ensino das diferentes disciplinas pedagógicas, em especial das cadeirase ntrodu!o ' Educa!o e Estrutura e (uncionamento do Ensino, podendo também ser incluído na programa!o dorimeiro período letivo da disciplina (ilosofia da Educa!o.

    /E01E2A3 4A2A5 67899, natural de 4anto António de -osse * 40 cursou o primário no ;rupo Escolar de

    ila nvernada, 4!o -aulo * 4- 678

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    sgotada a primeira edi!o, registrei as seguintes considera$es no prefácio ' segunda edi!o:

    ei&ando de lado as aprecia$es positivas, #ue constituíram a #uase totalidade dos comentários #ue chegaram ao meuonhecimento, aproveito o pe#ueno espao deste prefácio para me referir a duas interpreta$es, a meu ver e#uivocadas,e dois leitores: a primeira di respeito a uma suposta leitura de ;ramsciX a segunda, ao problema do método ou dagica. Ambas chegaram ao meu conhecimento informalmente. 4e as tomo em considera!o, é simplesmente por#ueas me oferecem o prete&to para um esclarecimento #ue eventualmente possa ser de interesse de um número maior deitores.

    o primeiro caso trata*se de uma interpreta!o #ue incide sobre o te&to introdutório, #ue recebeu o mesmo título dovro, tomando*o isoladamente e considerando*o como sendo uma leitura de ;ramsci. A esse respeito cumpre esclarecerue de forma alguma se pretendeu, na#uele te&to, apresentar uma leitura de ;ramsci. % ob"etivo do te&to era muitomples e despretensioso. -retendia t!o*somente "ustificar o título dado ao con"unto de ensaios reunidos nesta obra. 4eram feitas diversas cita$es de ;ramsci, isto ocorreu simplesmente por#ue a temática concernente ' rela!o entrenso comum e filosofia é constante e central no pensamento gramsciano. E, ainda #ue eu tenha me preocupado com

    ssa problemática, independentemente da influência do vigoroso pensador italiano, n!o senti necessidade de oroclamar, preferindo, ao contrário, realar a relevYncia do tema, pondo em evidencia #ue tais preocupa$es "á estavamrtemente presentes num autor ho"e considerado clássico.

    Ademais, os leitores familiariados com os meus trabalhos sabem #ue n!o é a erudi!o, isto é, a disseca!o dosscursos anteriormente produidos, a sua marca distintiva. 5!o #ue eu despree a erudi!oX ao contrário, cultivo*a.ubordino*a, porém, ao ob"etivo de dar conta das #uest$es concretas postas pela prática histórica. Entendo, pois, #ue a

    udi!o n!o é o ob"etivo do discurso filosófico, mas um instrumento #ue possibilita a esse discurso constituir*se comolosófico. /aí a minha resistência aos chamados estudos monográficos centrados na obra de determinado pensador. 5ontanto, no caso específico de ;ramsci, a partir dos estudos sistemáticos e relativamente e&austivos #ue fi sobre a obrao pensador italiano, penso estar em condi!o de efetuar uma leitura, talve original, de sua obra, organiando*a emrno da #uest!o da supera!o do senso comum em dire!o ' elabora!o filosófica. 4eria, em suma, uma leitura #uemaria como fio condutor o visceral antielitismo #ue atravessa de ponta a ponta a produ!o intelectual do autor emferência. Entretanto, n!o foi isso o #ue pretendi faer no te&to em pauta. 5!o se trata, pois, aí, de uma leitura deramsci.

    Quanto ' #uest!o do método e da lógica, observo apenas #ue, ao afirmar: +n!o se elabora uma concep!o semétodoX e n!o se atinge a coerência sem lógica+, eu estava, é óbvio, me referindo ' #uest!o da elabora!o de uma

    oncep!o de mundo ade#uada aos interesses populares, como "á havia dei&ado claro nas considera$es anteriores. 5!oe tratava, pois, de elaborar, aí, a referida concep!o e, sim, de indicar a e&igência lógico*metodológica para essaabora!o. Assim como 1ar&, no te&to denominado +1étodo da economia política+, n!o elaborou o materialismostórico 6a crítica da economia política, mas se preocupou em indicar o caminho 6o método para essa elabora!o,sim também, guardadas as devidas propor$es, tal foi a minha preocupa!o no te&to #ue serviu de introdu!o ao livro.

    gualmente é uma leitura ingénua concluir #ue eu, ao mencionar o e&emplo do modo como trabalhei uma #uest!opecífica com os alunos em sala de aula, estivesse acreditando #ue a abordagem dialética da educa!o pudesse segotar no interior da sala de aula e na rela!o interindividual. =om a#uela ilustra!o eu me propunha ao mesmo tempoutiliar um recurso didático #ue facilitasse ao leitor a compreens!o da contradi!o como categoria lógica e, além disso,videnciar #ue, se pretendemos assumir a postura dialética, devemos assumi*la permanentementeX logo, também noterior da sala de aula.

    A rapide com #ue se esgotou a primeira edi!o manteve*se nas subse#Zentes #ue se evidencia pelo fato de #ueúltima edi!o 6a décima se encontra esgotada pB"á há alguns meses. Essa regularidade evidencia #ue o interesse pelaresente obra =ontinua vivo, mantendo*se, em conse#Zência, a atualidade dos estudos nela incluídos neste livro,ortanto, continua sendo um instrumento útil ao ensino das diferentes disciplinas pedagógicas, em geral, e, em especial,as cadeiras de ntrodu!o ' Educa!o e Estrutura e (uncionamento do Ensino podendo, também, ser incluído narograma!o do primeiro período letivo da disciplina (ilosofia da Educa!o.

    o"e, ao ense"o desta 77[ edi!o, as duas leituras e#uivocadas 's #uais me referi no prefacio ' [ edi!o "á caíramo es#uecimento. Em contrapartida, a acolhida dos leitores constitui um estímulo para #ue eu prossiga na tarefa declarecimento de nossa inteligência a fim de tornar mais efica a dura luta #ue travamos para garantir o direito a uma

    duca!o de #ualidade ' popula!o brasileira em seu con"unto.

    C./0i.23 456575i7o d5 1!!'8 D57/56.9 S.6i.i

     

    NTRODUÇÃO

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    %s te&tos reunidos neste volume foram escritos em diferentes oportunidades, n!o tendo sido pensados comoapítulos de um mesmo livro. A maior parte deles foi escrita com finalidade didática, isto é, foram redigidos pararvirem de instrumentos 's aulas por mim ministradas ou constituem transcri$es de palestras por mim proferidas. Unda a finalidade didática a principal ra!o #ue me levou a ceder 's insistentes sugest$es para #ue esses trabalhosssem reunidos num livro ficando, assim, ' disposi!o dos professores para sua utilia!o. 0elutei durante mais de dois

    nos a acatar a idéia de tal publica!o. sto por#ue pensava #ue o seu uso estava estreitamente vinculado ao autor #ue osmpliava e lhes dava dimens$es muito precisas e concretas na atividade em sala de aulaX pensava também #ue, en#uantostrumento de trabalho, o material produido dependia diretamente de seu autor e n!o se tinha garantias de #ue oesmo material, utiliado por a#ueles #ue n!o o produiram, poderia gerar os resultados promissores ent!o obtidos. stoé bom esclarecer * n!o por limita$es dos professores #ue viessem a utiliá*lo, mas por limita$es do próprio materialue eu "ulgava n!o suficientemente elaborado para ser dado a público.

    Entretanto, o fato concreto é #ue tal material "á escapou de meu controle, tendo sido amplamente utiliado por&*alunos e colegas como instrumento de trabalho em sala de aula. Assim, vem sendo reproduido a cada ano de formarecária através de mimeógrafos 6ou outros meios para uso particular dos professores. Alguns dos te&tos foramublicados em revistas #ue, uma ve esgotadas, provocaram também

    7 \

    recurso ao mimeógrafo. A precariedade dessa reprodu!o tem levado os professores a me solicitar a publica!o desseaterial, o #ue fao, finalmente, editando o presente livro.

    Lá #ue os diferentes ensaios a#ui incluídos n!o foram escritos como partes de um mesmo livro, eles guardamerta independência entre si, apresentando, em conse#Zência, algumas inevitáveis e compreensíveis reitera$es. >aisitera$es, dada a finalidade didática da obra, revestem*se de conota!o positiva, uma ve #ue, como afirma ;ramsci,

    a repeti!o é o meio didático mais efica para agir sobre a mentalidade popular+.67

    Apesar da independência referida no parágrafo anterior, os te&tos n!o dei&am de formar um con"unto unitário,ma ve #ue foram elaborados com um propósito comum: elevar a prática educativa desenvolvida pêlos educadoresrasileiros do nível do senso comum ao nível da consciência filosófica. Eis por#ue o presente volume recebe o título deEduca!o: do senso comum ' consciência filosófica+.

    % título supra e&ige algumas observa$es complementares.

    -assar do senso comum ' consciência filosófica significa passar de uma concep!o fragmentária, incoerente,esarticulada, implícita, degradada, mecYnica, passiva e simplista a uma concep!o unitária, coerente, articulada,&plícita, original, intencional, ativa e cultivada.6

    %ra, as notas distintivas do senso comum acima enunciadas s!o intrínsecas ' mentalidade popularX entendido oovo como +o con"unto das classes subalternas e instrumentais de toda forma de sociedade até agora e&istente+.6M Emontrapartida, as características da consciência filosófica constituem e&press!o de hegemonia. =om efeito, a concep!oe mundo hegem]nica é e&atamente a#uela #ue, mercê de sua e&press!o universaliada e seu alto grau de elabora!o,grou obter o consenso das diferentes camadas #ue integram a sociedade, vale dier, logrou converter*se em senso

    omum. U nesta forma, isto é, de modo difuso, #ue a concep!o

    ;0A14=, A. % 1aterialismo istórico, p. F.

    % leitor terá percebido #ue senso comum e consciência filosófica foram caracteriados por conceitos mutuamenteontrapostos, de modo #ue se podem dispor os seguintes pares antin]micos: fragmentárioBunitário, incoerente * coerente,esarticuladoBarticulado, implícitoB e&plícito, degradadoBoriginal, mecYnicoBintencional, passivoBativo,mplistaBcultivado. 62er, a respeito, A.1. =irese, +=onceptions du monde, philosophie spontanée, fol^lore+, inialecti#ues, n. 9*

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    As considera$es supra "á permitem perceber #ue as rela$es entre senso comum e filosofia assumem a forma dema rela!o de hegemonia cu"a plena significa!o radica na estrutura da sociedade em #ue tal rela!o se trava. E numarma!o social como a nossa, marcada pelo antagonismo de classes, as rela$es entre senso comum e filosofia seavam na forma de luta * a luta hegem]nica. 3uta hegem]nica significa precisamente: processo de desarticula!o*articula!o, isto é, trata*se de desarticular dos interesses dominantes.a#ueles elementos #ue est!o articulados em torno

    eles, mas n!o s!o inerentes ' ideologia dominante e rearticulá*los em torno dos interesses populares, dando*lhes aonsistência, a coes!o e a coerência de uma concep!o de mundo elaborada, vale dier, de uma filosofia.

    =onsiderando*se #ue +toda rela!o de hegemonia é necessariamente uma rela!o pedagógica+,6alve se"a por esta recupera!o #ue certos críticos tendem a classificar osi^

    omo idealista.9 \

    do processo de apropria!o do concreto no pensamento. -or outro lado, o processo de conhecimento em seu con"untoum momento do processo concreto 6o real*concreto. -rocesso, por#ue o concreto n!o é o dado 6o empírico mas umatalidade articulada, construída e em constru!o. % concreto é, pois, históricoX ele se dá e se revela na e pela prá&is.

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    ortanto, a lógica dialética n!o tem por ob"eto as leis #ue governam o pensamento en#uanto pensamento. 4eu ob"eto é a&press!o, no pensamento, das leis #ue governam o real. A lógica dialética se caracteria, pois, pela constru!o deategorias saturadas de concreto. -ode, pois, ser denominada a lógica dos conteúdos, por oposi!o ' lógica formal #ue é,omo o nome indica, a lógica das formas.

    A orienta!o metodológica acima indicada pode ser ilustrada através do e&emplo de uma #uest!o lanada porim aos alunos em sala de aula. A #uest!o foi a seguinte: +o educador é agente 6causa ou produto 6efeito da

    duca!o`+. A partir das respostas dos alunos fui desenvolvendo com eles um raciocínio através do #ual e&plorei asossibilidades da lógica formal, mediante o princípio de n!o*contradi!o, conduindo*a até seu limiar, #uando o estourare seus #uadros obrigou a recorrer!o princípio da contradi!o. %ra, o #ue fi n!o foi outra coisa sen!o partir do

    mpírico, analisando diversas situa$es 6a hetero*educa!o, a auto*educa!o, a educa!o da infYncia e da "uventude, aduca!o de adultos, a educa!o permanente, a educa!o dos educandos, a educa!o dos educadores, a educa!o dosducandos*educadores e dos educa*dores*educandos, etc. através de sucessivas abstra$es, isto é, guiando*me pelorincípio de n!o*contradi!o. Assim, e&aminei, primeiro, a afirma!o:+o educador n!o pode ser agente e produto daduca!o+X depois: +o educador n!o pode ser agente e produto da educa!o ao mesmo tempo+, isto é, ele pode ser agenteproduto, n!o, porém, ao mesmo tempoX em seguida: +o educador n!o pode ser agente e produto da educa!o ao mesmompo e sob o mesmo aspecto+, isto é, ele pode ser agente e produto da educa!o ao mesmo tempo, n!o, porém, sob oesmo aspectoX por último, e&aminei a afirma!o:+o educador é agente e produto da educa!o ao mesmo tempo e sob oesmo aspecto+. A aceita!o dessa afirma!o implica o rompimento do princípio de n!o*contradi!o, vale dier, atrapassagem dos #uadros da lógica formal. 1as o #ue isto #uer dier sen!o #ue, através das media$es do empírico e

    o abstrato, nós nos apropriamos, no plano do pensamento, do real*concreto, isto é, o processo educativo en#uanto

    ntese de múltiplas determina$es, processo este #ue constitui o suporte de todo o raciocínio, raciocínio esse #ue, porua ve, se constituiu num dos momentos do próprio processo concreto da educa!o`

    < \

    -ercebe*se com relativa facilidade #ue a passagem do empírico ao concreto corresponde, em termos deoncep!o de mundo, ' passagem do senso comum ' consciência filosófica. =om efeito, o e&ame da #uest!o +oducador é agente ou produto da educa!o`+ foi feito a partir das respostas verbaliadas pêlos alunos o #ue tornouossível efetuar simultaneamente a crítica da concep!o dominante e elaborar o núcleo válido do senso comum. Aítica da concep!o dominante foi feita através da sua e&press!o em diferentes teorias pedagógicas 6diretivismo, n!o*retivismo, educa!o permanente, etc. cu"a presena foi detectada nas respostas dos alunos, as #uais foram referidas '

    ua matri lógica fundamental: o princípio de n!o*contradi!o. A elabora!o do bom*senso foi feita faendo emergir das

    spostas dos alunos a educa!o como fenómeno concreto, vale dier, a prática educativa como totalidade orgYnica #uentetia as múltiplas determina$es características da sociedade #ue historicamente a produ, e cu"a elabora!o noano do pensamento se torna possível por referência a um princípio superior capa de articular forma e conteúdo: o

    rincípio dialético da contradi!o.

    /e tudo o #ue foi dito conclui*se #ue a passagem do senso comum ' consciência filosófica é condi!o necessáriaara situar a educa!o numa perspectiva revolucionária. =om efeito, é esta a única maneira de convertê*la emstrumento #ue possibilite aos membros das camadas populares a passagem da condi!o de +classe em si+ para a

    ondi!o de +classe para si+. %ra, sem a forma!o da consciência de classe n!o e&iste organia!o e sem organia!o!o é possível a transforma!o revolucionária da sociedade.

    =abe frisar, por fim, #ue o reconhecimento da importYncia da educa!o tradu uma posi!o incompatível com aostura elitista. =om efeito, preocupar*se com a educa!o significa preocupar*se com a eleva!o do nível cultural dasassasX significa, em conse#uência, admitir #ue a defesa de privilégios 6essência mesma da postura elitista é umaitude insustentável. sto por#ue a educa!o é uma atividade #ue sup$e a heterogeneidade 6diferena no ponto deartida e a homogeneidade 6igualdade no ponto de chegada. /iante disso, a forma pela #ual a classe dominante, atravése suas elites, impede a eleva!o do nível de consciência das massas é manifestando uma despreocupa!o, um descaso eé mesmo um despreo pela educa!o. -or isso, ;ramsci p]de escrever:

    +5ós n!o podemos afirmarem s! consciência #ue a burguesia faa uso da escola no sentido de sua domina!o deasseX se ela assim o fiesse isso significaria #ue a classe burguesa tem um programa escolar a ser cumprido com

    nergia e perse*

    ? \

    eranaX a escola seria uma escola viva. sso n!o acontece: a burguesia, classe #ue domina o Estado, desinteressa*se dacola, dei&a #ue os burocratas faam dela o #ue #uiserem, dei&a #ue os ministros da Educa!o se"am escolhidos ao

    caso de interesses políticos, de intrigas, de +conchavos+ de partidos e arran"os de gabinetes...+67F

    =ompreende*se ent!o #ue as elites #ue controlam, se"a o aparelho governamental, se"a o aparelho escolar, emspecial as universidades, releguem a educa!o a uma #uest!o #ue di respeito meramente ao senso comum

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    ufemisticamente chamado de bom*senso. =omportam*se como o "esuitismo cu"a preocupa!o, segundo a críticaramsciana, era manter as massas ao nível do sincretismo #ue caracteria o senso comum. Ao "esuitismo, ;ramsciontrap$e o mar&ismo, ao afirmar:

    +A filosofia da prá&is n!o busca manter os +simplórios+ na sua filosofia primitiva do senso comum, mas busca,o contrário, condui*los a uma concep!o de vida superior. 4e ela afirma a e&igência do contato entre os intelectuais es simplórios n!o é para limitar a atividade científica e para manter uma unidade ao nível inferior das massas, masstamente para for"ar um bloco intelectual*moral, #ue torne politicamente possível um progresso intelectual de massa e

    !o apenas de pe#uenos grupos intelectuais.

    U este o momento para se faer ao mesmo tempo um alerta e uma denúncia.

    m alerta '#ueles intelectuais #ue sinceramente buscam articular o melhor de seus esforos com a defesa dos interessesopulares, no sentido de #ue meditem sobre a seguinte #uest!o: até #ue ponto, o fato de n!o darem a devida importYnciaara a educa!o n!o neutralia boa parte de seus esforos, levando*os mesmo a assumirem posi$es #ue,coerentemente com os ob"etivos #ue perseguem, redundam direta ou indiretamente em mecanismos de discrimina!o e

    efesa de privilégios`

    )ma denúncia da#ueles intelectuais #ue, a despeito de assumirem posi$es progressistas nas cátedrasniversitárias, por devotarem manifesto ou velado despreo ' educa!o e por lhe negarem o caráter de ob"eto digno der tratado com a seriedade acometida 's ciências e ' filosofia, participam, reforam e legitimam a grande mistifica!o

    ue vem caracteriando o trato das #uest$es educacionais neste país. 5essa postura elitista, ignoram eles #ue sua própriarática, isto é, a prática #ue

    F. ;0A14=, A. * 3%rdine 5uovo: 7878*78F. pp.

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    aseia essa importYncia concedida ' (ilosofia` >eria ela bases reais ou seria mero fruto da tradi!o` 4erá #ue oducador precisa realmente da filosofia` Que é #ue determina essa necessidade` Em outros termos: #ue é #ue leva oducador a filosofar` Ao colocar essa #uest!o, nós estamos nos interrogando sobre o significado e a fun!o da (ilosofiam si mesma. -oderíamos, pois, e&trapolar o Ymbito do educador e perguntar genericamente: #ue é #ue leva o homem alosofar` =om isto estamos em busca do ponto de partida da filosofia, ou se"a, procuramos determinar a#uilo #uerovoca o surgimento dessa atitu*

    Escrito em 78CM como te&to didático para os alunos da disciplina (ilosofia da Educa!o l, do curso de -edagogia *)=B4- -ublicado na 0evista /Bdoto, nT l, "aneiro de 78Crata*se doroblema como n!o*saber.

    /e acordo com esta acep!o, problema significa tudo a#uilo #ue se desconhece. %u, como diem os dicionários,coisa ine&plicável, incompreensível+ 6cf. =aldas Aulete, /icionário =ontemporYneo da 3íngua -ortuguesa, vol. 2erbete problema, Ed. /elta. 3evada ao e&tremo, tal interpreta!o acaba por identificar o termo problema com mistério,nigma 6o #ue também pode ser comprovado numa consulta aos dicionários. 5o entanto, ainda a#ui, o fato deesconhecermos algo, a circunstYncia de n!o sabermos a resposta a determinada #uest!o, n!o é suficiente para

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    aracteriar o problema. =om efeito, se retomo o diálogo com o meu suposto leitor e lhe pergunto agora: +#uais osomes de cada uma das ilhas #ue comp$em o ar#uipélago das (ilipinas`+ 6cerca de C.7FF ilhas. %u: +Quais os nomese cada uma das lhas 2irgens 6cerca de odavia, este fato, como também aonsciência deste fato, ou mesmo, a aceita!o da e&istência de fen]menos #ue ultrapassam irredutivelmente e de modobsoluto a nossa capacidade de conhecimento, nada disso é suficiente para caracteriar o significado essencial #ue aalavra problema encerra.

    % uso comum do termo, cu"o constitutivo fundamental estamos buscando, registra outros vocábulos tais comobstáculo, dificuldade, dúvida, etc. 5!o é preciso, porém, muita argúcia para se perceber a insuficiência dos mesmos emce do ob"etivo de nossa busca. E&istem muitos obstáculos #ue n!o constituem problema algum. Quanto ao vocábulo

    dificuldade+, é interessante notar as seguintes defini$es de +problema+, encontradas nos dicionários: +coisa de difícil&plica!o+ 6cf. =aldas Aulete, citado e +coisa difícil de e&plicar+ 6cf. (rancisco (ernandes, /Bc. Krás. =ontemporYneo,

    D?C. Lulgamos supérfluo comentar semelhantes defini$es, uma ve #ue as considera$es anteriores "á evidenciaramuficientemente #ue n!o é o grau de dificuldade 6mesmo #ue se"a elevado ao infinito #ue permite considerar algo comoroblemático. -or fim, a dúvida tem, a partir de sua etimologia, o significado de uma dupla possibilidade. mplica, pois,e&istência de duas hipóteses em princípio igualmente válidas, embora mutuamente e&cludentes. %ra, em determinadasrcunstYncias é perfeitamente possível manter as duas hipóteses sem #ue isto represente problema algum. % ceticismo ém e&emplo típico. Gvida cotidiana assim como a história da ciência e da filosofia nos oferecem inúmeras ilustra$es da

    dúvida n!o problemática+. >omemos apenas um e&emplo da e&periência cotidiana: imaginemos dois garotosaminhando em dire!o ' escolaX a cem metros desta, um deles lana ao outro o seguinte desafio:+ duvido #ue você se"aapa de chegar antes de mim+. 5esta frase, ambas as hipóteses, ou se"a, +você é capa+ e +você n!o é capa+ s!oualmente admissíveis, embora mutuamente e&cludentes. Ao dier +duvido+, o

    7 \

    esafiante estava indicando: +n!o nego, em princípio, a sua capacidadeX mas, até #ue você me demonstre o contrário,!o posso tampouco admiti*la+. % desafiado poderá aceitar o desafio e uma das hipóteses será comprovada, dissipando* conse#Zentemente a dúvida. -oderá, contudo, n!o aceitar e a dúvida persistirá sem #ue isto impli#ue problema algum.

    18%8 N5=522id.d5 d5 25 R5=>057.7 . P7o

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    tá vivendo no mundo da +pseudo*concreticidade+. Ele toma como essência a#uilo #ue é apenas fen]meno, isto é,#uilo #ue é apenas manifesta!o da essência. 5o caso #ue estamos

    1A0OA4, L. * ntrodu!o ' (ilosofia, p. .

    %4, . * /ialética do =oncreto, especialmente pp. 8*F.

    7M \

    &aminando, ele toma por problema a#uilo #ue é apenas manifesta!o do problema.

    pós essas considera$es, cabe perguntar agora: #ual é, ent!o, a essência do problema` 5o processo de produ!o de sua

    rópria e&istência o homem se defronta com situa$es ineludíveis, isto é: enfrenta necessidades de cu"a satisfa!oepende a continuidade mesma da e&istência 6n!o confundir e&istência, a#ui empregada, com subsistência no estritontido econ]mico do termo. %ra, este conceito de necessidade é fundamental para se entender o significado essencial

    a palavra problema. >rata*se, pois, de algo muito simples, embora fre#uentemente ignorado. A essência do problema énecessidade. =om isto é possível agora destruir a +pseudo*concreticidade+ e captar a verdadeira +concreticidade+. =omto, o fen]meno pode revelar a essência e n!o apenas ocultá*la. =om isto nós podemos, enfim, recuperar os usosorrentes do termo +problema+, superando as suas insuficiências ao referi*los ' nota essencial #ue lhes impregna deroblematicidade: a necessidade. Assim, uma #uest!o, em si, n!o caracteria o problema, nem mesmo a#uela cu"asposta é desconhecidaX mas uma #uest!o cu"a resposta se desconhece e se necessita conhecerX eis aí um problema.lgo #ue eu n!o sei n!o é problemaX mas #uando eu ignoro alguma coisa #ue eu preciso saber, eis*me, ent!o, diante dem problema. /a mesma forma, um obstáculo #ue é necessário transpor, uma dificuldade #ue precisa ser superada, uma

    úvida #ue n!o pode dei&ar de ser dissipada s!o situa$es #ue se configuram como verdadeiramente problemáticas.A esta altura, é importante evitar uma possível confus!o. 4e consignamos como nota definitória fundamental do

    onceito de problema a necessidade, n!o se creia com isso #ue estamos sub"etiviando o significado do problema. >alonfus!o é possível uma ve #ue o term]metro imediato da no!o de necessidade é a e&periência individual, o #ue podeer oscilar enormemente o conceito de problema em fun!o da diversidade de indivíduos e da multiplicidade dercunstYncias pelas #uais transita diariamente cada indivíduo. /eve*se notar, contudo, #ue o problema, assim comoual#uer outro aspecto da e&istência humana, apresenta um lado sub"etivo e um lado ob"etivo, intimamenteone&ionados numa unidade dialética. =om efeito, o homem constrói a sua e&istência, mas o fa a partir dercunstYncias dadas, ob"etivamente determinadas. Além disso, é, ele próprio, um ser ob"etivo sem o #ue n!o seria real.verdadeira compreens!o do conceito de problema sup$e, como "á foi dito, a necessidade. Esta só pode e&istir se

    cender ao plano consciente, ou se"a, se for sentida pelo homem como tal 6aspecto sub"etivoX há, porém, circunstYnciasoncretas #ue ob"etiviam a necessidade sentida, tornando possível, de um lado, avaliar o seu caráter 

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    al ou suposto 6fictício e, de outro, prover os meios de satisfaê*la. /iríamos, pois, #ue o conceito de problema implicanto a. conscientia!o de uma situa!o de necessidade 6aspecto sub"etivo como uma situa!o conscientiadora daecessidade 6aspecto ob"etivo.

    Essas observa$es foram necessárias a fim de tornar compreensível o uso de e&press$es como +pseudo*oncreticidade+ e, no caso específico, +pseudo*problema+. 5a verdade, se problema é a#uela necessidade #ue cadadivíduo sente, n!o teria sentido falar*se em +pseudo*problema+. % problema e&istiria toda ve #ue cada indivíduo ontisse como tal, n!o importando as circunstYncias de manifesta!o do fen]meno. 4abemos, porém, #ue uma refle&!o

    obre as condi$es ob"etivas em #ue os homens produem a própria e&istência nos permite detectara ocorrência da#uiloue está sendo denominado +pseudo*problema+. A estrutura escolar 6em geral por refle&o da estrutura . social é fértilm e&emplos dessa naturea. 1uitas das #uest$es #ue integram os currículos escolares s!o destituídas de conteúdoroblemático, podendo*se aplicar a elas a#uilo #ue dissemos a propósito dos e&ercícios escolares: +se algum problema ouno tem, n!o se trata aí do desconhecimento das respostas 's #uest$es propostas mas, eventualmente, da necessidadee saber #uais as possíveis conse#Zências #ue lhe poderá acarretar o fato de n!o aplicar os procedimentos transmitidosas aulas+. >oda uma série de mecanismos artificiais é desencadeada como resposta ao caráter artificioso das #uest$esropostas. % referido caráter artificioso configura, evidentemente, o #ue denominamos +pseudo*problema+. )mciocínio e&tremado tornará óbvio o #ue acabamos de dier: suponhamos #ue as C.7FF ilhas do ar#uipélago daslipinas tenham, cada uma, um nome determinado. 4uponhamos, ainda, #ue um professor de ;eografia e&i"a de seusunos o conhecimento de todos esses nomes. %s alunos estar!o, ent!o, diante de um problema: como conseguir a

    prova!o em face dessa e&igência` )ma ve #ue eles n!o necessitam saber os nomes das ilhas 6isso n!o é problema,as precisam ser aprovados, partir!o em busca dos artifícios 6+pseudo*solu$es+ #ue lhes garantam a aprova!o. Está

    berto o caminho para a fraude, para a impostura. =om este fenómeno est!o relacionados os ditos "á generaliados,omo: +os alunos aprendem apesar dos professores+, ou +a única ve #ue a minha educa!o foi interrompida foi #uandotive na escola+ 6Kernard 4ha.69

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    =f. -%4>1A5, 5. E5;A0>5E0, =. * =ontesta!oX 5ora (órmula de Ensino, p. CC. 0ecomendamos a leiturae todo o cap. 2 * Em busca da relevYncia, pp. ?rata*se de

    ma necessidade #ue se imp$e ob"etivamente e é assumida sub"etivamente. % afrontamento, pelo homem, dosroblemas #ue a realidade apresenta, eis aí, o #ue é a filosofia. sto significa, ent!o, #ue a filosofia n!o se caracteria porm conteúdo específico, mas ela é, fundamentalmente, uma atitudeX uma atitude #ue o homem toma perante a realidade.o desafio da realidade, representado pelo problema, o homem responde com a refle&!o.

    NOÇÃO DE REFLE?ÃO

    E #ue significa refle&!o` A palavra nos vem do verbo latino eflectere+ #ue significa +voltar atrás+. U, pois, um*pensar, ou se"a, um pensamento em segundo grau. -oderíamos, pois, dier: se toda refle&!o é pensamento, nem todo

    ensamento é refle&!o. Esta é um pensamento consciente de si mesmo, capa de se avaliar, de verificar o grau dede#ua!o #ue mantém com os dados ob"etivos, de medir*se com o real. -ode aplicar*se 's impress$es e opini$es, aosonhecimentos científicos e técnicos, interrogando*se sobre o seu significado. 0efletir é o ato de retomar, reconsiderars dados disponíveis, revisar, vasculhar numa busca constante de significado. U e&aminar detidamente, prestar aten!o,nalisar com cuidado. E é isto o filosofar.

    Até a#ui a atitude filosófica parece bastante simples, pois uma ve #ue ela é uma refle&!o sobre os problemas ema ve #ue todos e cada homem têm problemas inevitavelmente, segue*se #ue cada homem é naturalmente levado afletir, portanto, a filosofar. A#ui, porém, a coisa comea a se complicar.

    AS E?I-ÊNCIAS DA REFLE?ÃO FILOSÓFICA

    =om efeito, se a filosofia é realmente uma refle&!o sobre os problemas #ue a realidade apresenta, entretanto ela

    !o é #ual#uer tipo de refle&!o. -ara #ue uma refle&!o possa ser ad"etivada de filosófica, é preciso #ue se satisfaa umarie de e&igências #ue vou resumir em apenas três re#uisitos: a radicalidade, o rigor e a

    7?\

    obalidade. Quero dier, em suma, #ue a refle&!o filosófica, para ser tal, deve ser radical, rigorosa e de con"unto.

    R.di=.9: Em primeiro lugar, e&ige*se #ue o problema se"a colocado em termos radicais, entendida a palavradical no seu sentido mais próprio e imediato. Quer dier, é preciso #ue se vá até 's raíes da #uest!o, até seus

    undamentos. Em outras palavras, e&ige*se #ue se opere uma refle&!o em profundidade.

    Ri@o7o2.: Em segundo lugar e como #ue para garantir a primeira e&igência, deve*se proceder com rigor, ou se"a,stematicamente, segundo métodos determinados, colocando*se em #uest!o as conclus$es da sabedoria popular e as

    eneralia$es apressadas #ue a ciência pode ense"ar.

    D5 =o>o: Em terceiro lugar, o problema n!o pode ser e&aminado de modo pardal, mas numa perspectiva deon"unto, relacionando*se o aspecto em #uest!o com os demais aspectos do conte&to em #ue está inserido. U neste pontoue a filosofia se distingue da dência de um modo mais marcante. =om efeito, ao contrário da ciência, a filosofia n!om ob"eto determinadoX ela dirige*se a #ual#uer aspecto da realidade, desde #ue se"a problemáticoX seu campo de a!o éproblema, este"a onde estiver. 1elhor diendo, seu campo de a!o é o problema en#uanto n!o se sabe ainda onde eletáX por isso se di #ue a filosofia é busca. E é nesse sentido também #ue se pode dier #ue a filosofia abre caminho

    ara a ciênciaX através da refle&!o, ela localia o problema tornando possível a sua delimita!o na área de tal ou #ualência #ue pode ent!o analisá*lo e, #uiá, solucioná*lo. Além disso, en#uanto a ciência isola o seu aspecto do conte&too analisa separadamente, a filosofia, embora dirigindo*se 's vees apenas a uma parcela da realidade, insere*a no

    onte&to e a e&amina em fun!o do con"unto.A e&posi!o sumária e isolada de cada um dos itens acima descritos n!o nos deve iludir. 5!o se trata de

    ategorias auto*suficientes #ue se "ustap$em numa somatória suscetível de caracteriar, pelo efeito mágico de suan!o, a refle&!o filosófica. A profundidade 6radicalidade é essencial ' atitude filosófica do mesmo modo #ue a vis!o

    e con"unto. Ambas se relacionam dialeticamente por virtude da íntima cone&!o #ue mantém com o mesmo movimentoetodológico, cu"o rigor 6criticidade garante ao mesmo tempo a radicalidade, a universalidade e a unidade da

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    fle&!o filosófica.6

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    stificado, nessas circunstYncias, o uso da e&press!o +problema filosófico+.

    NOÇÃO DE FILOSOFIA

    Esclarecendo o significado essencial de problemaX e&plicitados a no!o de refle&!o e os re#uisitos fundamentaisara #ue ela se"a ad"etivada de filosófica, podemos, finalmente, conceituar a filosofia como uma 0E(3ERI%0A/=A3, 0;%0%4A E /E =%5L)5>% 4%K0E %4 -0%K3E1A4 Q)E A 0EA3/A/E A-0E4E5>A.

    A partir daí, é fácil concluir a respeito do significado da e&press!o +(ilosofia da Educa!o+. Esta n!o seria outraoisa sen!o uma 0E(3ERI% 60A/=A3, 0;%0%4A E /E =%5L)5>% 4%K0E %4 -0%K3E1A4 Q)E A

    EA3/A/E E/)=A=%5A3 A-0E4E5>A.

    NOÇÃO DO ;FILOSOFIA DE VIDA;

    1as será #ue isso nos di alguma coisa` Quando ouvimos falar em filosofia da educa!o n!o me parece #uecorra em nosso espírito a idéia acima. =om efeito, ouvimos falar em (ilosofia da Educa!o da Escola 5ova, (ilosofiaa Educa!o da Escola >radicional, (ilosofia da Educa!o do ;overno de 4!o -aulo, (ilosofia da Educa!o da gre"aatólica, etc.X e sabemos #ue n!o se trata aí da refle&!o da gre"a =atólica, dos educadores da Escola 5ova ou dooverno de 4!o -aulo sobre os problemas educacionaisX a palavra filosofia refere*se aí ' orienta!o, aos princípios eormas #ue regem a#uelas entidades. >al orienta!o pode ou n!o ser conse#Zência da refle&!o. =om efeito, a nossa a!o

    gue sempre certa orienta!oX a todos momentos estamos faendo escolhas, mas isso n!o significa #ue estamos semprefletindoX a a!o n!o pressup$e necessariamente a refle&!oX podemos agir sem refletir 6embora n!o nos se"a possívelgir sem pensar. 5este caso, nós decidimos, faemos escolhas espontaneamente, seguindo os padr$es, a orienta!o #uepróprio meio nos imp$e. U assim #ue nós escolhemos nossos clubes preferidos, nossas amiadesX é assim #ue os paiscolhem o tipo de escola para os seus filhos, colocando*os em colégio de padres 6ou freiras ou em colégio do EstadoX é

    ssim também #ue certos professores elaboram o programa de suas cadeiras 6vendo o #ue os outros costumamansmitir, transcrevendo os itens do índice de certos livros

    F \

    dáticos, etc.X e é assim, ainda, #ue se fundam certas escolas ou #ue o ;overno toma certas medidas. 5essas situa$esós n!o temos consciência clara, e&plícita do por#uê faemos assim e n!o de outro modo. >udo ocorre normalmente,

    aturalmente, espontaneamente, sem problemas. -roponho #ue se chame a esse tipo de orienta!o +filosofia de vida+.6Codos e cada um de nós temos a nossa +filosofia de vida+. Esta se constitui a partir da família, do ambiente em #ueomos criados.

    NOÇÃO DE ;IDEOLO-IA;

    1as, como "á dissemos, #uando surge o problema, ou se"a, #uando n!o sei #ue rumo tomar e preciso saber,uando n!o sei escolher e preciso saber, aí surge a e&igência do filosofar, aí eu comeo a refletir. Essa refle&!o é abertaXois se eu preciso saber e n!o sei, isto significa #ue eu n!o tenho a respostaX busco uma resposta e, em princípio, elaode ser encontrada em #ual#uer ponto 6daí, a necessidade de uma refle&!o de con"unto. P medida, porém, #ue afle&!o prossegue, as coisas comeam a ficar mais claras e a resposta vai se delineando. Estrutura*se ent!o uma

    rienta!o, princípios s!o estabelecidos, ob"etivos s!o definidos e a a!o toma rumos novos tornando*se compreensível,undamentada, mais coerente. 5ote*se #ue também a#ui se trata de princípios e normas #ue orientam a nossa a!o. 1as#ui nós temos consciência clara, e&plícita do por#uê faemos assim e n!o de outro modo. =ontrapondo*se ' +filosofiae vida+, proponho #ue se chame a esse segundo tipo de orienta!o, +ideologia+.6D %bserve*se, ainda, #ue a op!oeológica pode também se opor ' +filosofia de vida+ 6pense*se no burguês #ue se decida por uma ideologiavolucionária: neste caso, o

    Esta no!o de +filosofia de vida+ corresponde, na terminologia gramsciana, ao conceito de +senso comum+. =f.0A14=, A. * Quaderni del =árcere, especialmente o caderno 7F. 65a tradu!o brasileira, ver, =oncep!o /ialéticaa istorio, em especial a -arte .

    -ara uma discuss!o dos diversos sentidos da palavra +ideologia+, ver, ()0>E0, 0 *Educa!o e 0efle&!o, =ap. 9XAKE3, L. * ídéologiesX /)1%5>, 0 3ês déologiesX e a coletYnea de 3en^, . * Eí =oncepto de deóloga #ue tra,clusive, uma abordagem histórica do problema. 4obre o trabalho de 0 (urter, cit., observe*se #ue ele vale mais pelasdica$es bibliográficas #ue contém do #ue pelas interpreta$es do autor. -ara uma discuss!o sobre as rela$es entreeologia e falsa consciência, ver, ;AKE3, ". * 3a (ausse =ons'ence e 4=A((. A. * istória e 2erdade, pp. l

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    eologia, obtém forte apoio em ;(A14=, A. * =oncep!o /ialética da istória. 62er principalmente, pp. ?7*?M e79*778.

    7 \

    onflito pode acarretar certas incoerências na a!o, determinadas pela superposi!o ora de uma, ora de outra. A#ui se mais necessária ainda a vigilYncia da refle&!o.

    ESBUEMATIAÇÃO DA DIALICA ;AÇÃOPRO,LEMAREFLE?ÃOAÇÃO;

    -odemos, pois, para facilitar a compreens!o, formular o seguinte diagrama:

    7. A!o 6fundada na filosofia de vida suscita

    . -roblema 6e&ige refle&!o: a filosofia #ue leva '

    M. deologia 6conse#Zência da refle&!o #ue acarreta

    9. A!o 6fundada na ideologia.

     5!o se trata, porém, de uma se#Zência lógica ou cronológicaX é uma se#Zência dialética. -ortanto, n!o se age

    rimeiro, depois se reflete, depois se organia a a!o e por fim age*se novamente. >rata*se de um processo em #ue essesomentos se interpenetram, desenrolando o fio da e&istência humana na sua totalidade. E como n!o e&iste refle&!otal, a a!o trará sempre novos problemas #ue estar!o sempre e&igindo a refle&!oX por isso, a filosofia é sempre

    ecessária e a ideologia será sempre parcial, fragmentária e superável.68 Assim, poderíamos continuar o diagramanterior, da seguinte forma:

    9. A!o 6fundada na ideologia suscita

    % 4%K0E %4 -0%K3E1A4 Q)E A 0EA3/A/E E/)=A=%5A3-0E4E5>A.

    -odemos, enfim, responder ' pergunta colocada no início: #ue é #ue leva o educador a filosofar` % #ue leva o

    ducador a filosofar s!o os problemas 6entendido esse termo com o significado #ue lhe foi consignado #ue ele encontrao realiar a tarefa educativa. E como a educa!o visa o homem, é conveniente comear por uma refle&!o sobre aalidade humana, procurando descobrir #uais os aspectos #ue ele comporta, #uais as suas e&igências referindo*asmpre ' situa!o e&istencial concreta do homem brasileiro, pois é aí 6ou pelo menos a partir daí #ue se desenvolverá o

    osso trabalho. Assim, a tarefa da (ilosofia da Educa!o será oferecer aos educadores um método de refle&!o #ue lhesermita encarar os problemas educacionais, penetrando na sua comple&idade e encaminhando a solu!o de #uest$es tais

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    omo: o conflito entre +filosofia de vida+ e +ideologia+ na atividade do educadorX a necessidade da op!o ideológica euas implica$esX o caráter parcial, fragmentário e superável das ideologias e o conflito entre diferentes ideologiasX aossibilidade, legitimidade, valor e limites da educa!oX a rela!o entre meios e fins na educa!o 6como usar meioselhos em fun!o de ob"etivos novos`X a rela!o entre teoria e prática 6como a teoria pode dinamiar ou cristaliar arática educacional`X é possível redefinir ob"etivos para a educa!o brasileira` Quais os condicionamentos da atividadeducacional` Em #ue medida é possível superá*los e em #ue medida é preciso contar com eles`

    % elenco de #uest$es acima mencionado é apenas um e&emplo do caráter problemático da atividade educacional,#ue e&plica a importYncia e a necessidade da refle&!o filosófica para o educador. Além desses, citados ao acaso,uitos outros problemas o educador terá #ue enfrentar. Alguns deles s!o previsíveisX outros ser!o decorrência do

    róprio desenvolvimento da a!o. E se o educador n!o tiver desenvolvido uma capacidade de refletir profundamente,gorosamente e globalmente, suas possibilidades de ê&ito estar!o bastante diminuídas.

    CONCLUSÃO

    Assim encarada, a filosofia da educa!o n!o terá como fun!o fi&ar +a priori+ princípios e ob"etivos para aduca!oX também n!o se reduirá a uma teoria geral da educa!o

    M \

    n#uanto sistematia!o dos seus resultados. 4ua fun!o será acompanhar refle&iva e criticamente a atividadeducacional de modo a e&plicitar os seus fundamentos, esclarecer a tarefa e a contribui!o das diversas disciplinasedagógicas e avaliar o significado das solu$es escolhidas. =om isso, a a!o pedagógica resultará mais coerente, maiscida, mais "ustaX7F mais humana, enfim.

    F. =f. ()0>E0, 0 * Educa!o e 0efle&!o, pp. ?*C.

    9 \

    =A-O>)3% /%4

     FUNÇÃO DO ENSINO DE FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO E DE

    ISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 

    18 =omo se pode ver pela programa!o deste Encontro, o tema central gira em torno do magistério de (ilosofiaa Educa!o e de istória da Educa!o. =omo profissionais #ue atuam nessas áreas, reunimo*nos, pois, para debater oróprio sentido da#uilo #ue estamos faendo.

    -or #ue é importante analisarmos mais profundamente 6e em con"unto o trabalho #ue estamos desenvolvendo noomento atual`

    4e fiermos um levantamento rápido dessas disciplinas do ponto de vista do lugar #ue ocupam na organia!oos cursos, veremos #ue, em rela!o ao curso de -edagogia 6onde s!o obrigatórias, "á #ue figuram no currículo mínimoprovado pelo =(E, veremos #ue há três situa$es básicas com as #uais os professores podem se defrontar.

    =om efeito, temos alguns cursos em #ue istória e (ilosofia da Educa!o constituem uma única disciplinaX háutros, porém, em #ue ambas s!o dadas em separado, permitindo*nos detectaras seguintes situa$es: 7. professores deistória e (ilosofia da Educa!oX . professores de (ilosofia da Educa!oX e M. professores de istória da Educa!o.ra, em cada uma dessas situa$es a organia!o programática da 6ou das disciplina6s vai assumir maties diferentes.

    4e sairmos do curso de -edagogia iremos verificar #ue a disciplina (ilosofia da-alestra proferida no R Encontro da Associa!o de -rofessores )niversitários de (ilosofia e istória da Educa!o,

    aliado de a 9 de "ulho de 78C9, em 4!o -aulo.

    < \

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    duca!o aparece 6se bem #ue n!o em caráter obrigatório com uma certa fre#Zência nos cursos de gradua!o emilosofia, assumindo aí uma conota!o diferente, pois n!o é a mesma coisa lecionar essa disciplina para alunos delosofia e de -edagogia.

    Além disso, a disciplina (ilosofia da Educa!o tem sido colocada ultimamente 6e também a#ui n!o em caráterbrigatório nos cursos de 3icenciatura, assumindo também aí uma conota!o diferente. =om efeito, a referida*sciplina será desenvolvida durante um semestre apenas, para alunos de diferentes cursos: 3etras, ;eografia, istória,

    1atemática, (ísica, =iências 4ociais, -sicologia, etc.

    Quanto ' disciplina istória da Educa!o, esta n!o aparece em outros cursos #ue n!o o de -edagogia, peloenos com uma fre#Zência #ue merea uma men!o especial.

    Em face dessas diferentes situa$es, vamos verificar #ue há um problema comum. E deste problema #ue nósartiremos. á uma tendência a se colocar a ênfase na primeira palavra da locu!o * uma ênfase se"a na filosofia, se"a nastória * e a segunda palavra * a educa!o * aparece como um apêndice, como uma mera conse#Zência. =onstatamos,

    ois, #ue o professor de (ilosofia da Educa!o está preocupado com a +filosofia+X ele está preocupado em +dominar+#uilo #ue se chamaria o campo da (ilosofia, da mesma forma #ue o professor de istória da Educa!o está preocupadom dominar o campo da istória e a Educa!o acaba ficando na penumbra.

    Em conse#Zência desta ênfase na primeira palavra da locu!o, pode*se notar #ue mesmo esta primeira palavra!o é suficientemente caracteriada, #uer dier, en#uanto se está preocupado com a filosofia 6como professor delosofia da Educa!o, en#uanto se está preocupado com a história 6como professor de istória da Educa!o n!o se

    hega a e&plicitar suficientemente o #ue significa (ilosofia e o #ue significa istória. 5esses casos, eu, como professor,ntendo a (ilosofia como alguma coisa "á constituída e #ue é preciso dominar para poder dar conta da minha tarefaXata*se, pois, de alguma coisa #ue está fora de mimX #ual o seu significado, isto é algo #ue n!o surge a mim comoroblemático. A (ilosofia é entendida como tendo, +a priori+, um significado próprio e isto n!o é passível deuestionamento. % #ue se #uestiona é como posso eu dominar o campo #ue a (ilosofia abrange.

    % mesmo se diga em rela!o ' istória. Em face desta situa!o, tanto a (ilosofia como a istória acabam por serncaradas segundo a perspectiva tradicional, sem #ue se"a e&plicitado suficientemente o significado de cada um dessesrmos. Em conse#Zência, o professor acaba se detendo nas abordagens comumente feitas sob

    ? \

    nome de (ilosofia e sob o nome de istória, sem refletir mais profundamente para verificar se a#uilo #ue está

    cebendo o nome de (ilosofia merece precisamente este nome ou n!oX o mesmo se diga em rela!o ' istória * por&emplo: no caso da istória da Educa!o, é possível #ue o professor desenvolva uma programa!o partindo doscontecimentos e se detendo numa história das doutrinas pedagógicas. 5esse caso, o seu problema como professor deistória da Educa!o será como se pode dominar todo o conteúdo das doutrinas pedagógicas #ue foram desenvolvidasravés da istória. =abe, porém, perguntar: o ob"etivo de um curso de istória da Educa!o se esgota na e&posi!o dasoutrinas pedagógicas` %u, em outros termos: a e&posi!o das doutrinas pedagógicas, a mais ampla possível, é #ueermite #ue se atin"a o ob"etivo do ensino de istória da Educa!o` Estamos de tal modo absorvidos pela necessidadee conhecer #uais s!o essas correntes e de transmitir esses conhecimentos para os alunos #ue nós n!o nos indagamos seer istória da Educa!o e se ensinar istória da Educa!o é isto, ou se n!o seria outra coisa.

    %8 A partir da situa!o detectada no tópico anterior, podemos caracteriar as três linhas básicas #ue nos parecemsumir os programas destas duas disciplinas: (ilosofia da Educa!o e istória da Educa!o, se"am elas ministradas

    eparada ou con"untamente. )ma primeira forma de se organiar a programa!o consiste em se filiar a umaeterminada corrente "á constituída, a um pensamento "á elaborado * neste caso, a (ilosofia da Educa!o será ministrada,or e&emplo, na perspectiva do e&istencialismo, ou do pragmatismo, ou dotomismo, etc.

    A segunda forma se caracteria pela postura eclética. Em ve de se filiar a uma corrente, levam*se em contadas as correntesX isto pode ocorrer tanto em sentido diacr]nico como em sentido sincr]nico, ou se"a, tanto na sucess!oonológica das correntes através dos tempos, como na coe&istência de diversas correntes no mesmo tempo * no caso dalosofia da Educa!o constata*se, ent!o, a preocupa!o de se mostrar o pensamento grego, o pensamento medieval, as

    orrentes do pensamento moderno e do pensamento contemporYneo.

    A "ustaposi!o das diferentes correntes constitui o #ue estamos chamando de postura eclética. -or vees, em facea dificuldade de se abranger todas as correntes, tenta*se, pelo menos, e&por as correntes mais pró&imas de nós,aborando*se a programa!o na base da e&posi!o das correntes do pensamento contemporYneo. 5este caso, temos aredominYncia do plano sincr]nicoX a postura eclética, todavia, continua prevalecendo.

    C \

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    o caso da istória da Educa!o, a ênfase na primeira palavra da locu!o acaba por faer predominar 6talve pelo fatoesmo de ser istória a diacronia. Quando se concentra a aten!o nas institui$es educacionais, passa*se, ent!o, emvista essas institui$es desde a antiguidade grega até a época contemporYnea.

    =abe registrar ainda uma terceira forma #ue decorre do dese"o de se escapar 's duas alternativas antesencionadas. 5!o #uerendo se filiar previamente a determinada corrente, e buscando evitar também a postura eclética,guns professores procuram novas saídas, organiando programas, por e&emplo, a partir de temas, na forma deminários, estimulando os alunos a constituírem grupos de estudo por sua própria iniciativa, etc. >ais tentativas, porém,a de regra, resultam inconsistentes e um tanto frustradoras.

    =omo superar o problema` /everíamos optar por uma corrente` E como optar` A op!o vai implicar oonhecimento das diversas alternativas para #ue ela se"a conscienteX empreender*se*á, ent!o, um e&ame sério, profundo,e todas as correntes para #ue se possa optar` Em face dos alunos: coloco*os diretamente dentro da minha op!o ouei&o*os livres para faerem a sua op!o` 5este caso, a tra"etória #ue eu empreendi para chegar ' minha op!o deveriaer com #ue os alunos também a percorressem para faê*los chegar ' sua op!o` =omo, nesse caso, abordar todas as

    orrentes num tempo curto e como escapar ' postura eclética`

    Estamos diante de uma situa!o problemática e #ue "ustifica a coloca!o do tema deste encontro, bem como oma desta palestra.

    A refle&!o desenvolvida até agora em termos de constata!o da situa!o concreta em #ue os professores deistória e (ilosofia da Educa!o est!o, evidenciou #ue em face das locu$es +história da educa!o+ e +filosofia da

    duca!o+, a ênfase era dada na primeira palavra em detrimento da segunda. (ará efeitos desta palestra, proponho #ue seolo#ue a ênfase na segunda palavra e se ve"a até onde se poderá caminhar com esta reviravolta no enfo#ue da6ssciplina6s #ue constitui6em a nossa preocupa!o e a nossa área de atua!o profissional.

    &8 =entremos, pois, a nossa aten!o na educa!o e a partir daí procuremos abordar a (ilosofia e a istória. Ao seropor isto, pode ser lanada uma #uest!o: nós n!o estamos passando de uma hipertrofia a outra` 4e se hipertrofiava arimeira palavra, vamos hipertrofiar a segunda e dei&ar na penumbra a primeira` 5!o estaríamos, neste caso, sendo t!onilaterais #uanto na situa!o antes analisada sendo, em conse#Zência, alvo das mesmas críticas e enredando*nos nosesmos problemas antes levantados`

    D \

    5o entanto, se centrarmos nossa aten!o na Educa!o, ou se"a, na problemática educacional, possivelmenteremos, a partir daí, condi$es para esclarecer o significado da (ilosofia e da istóriaX em conse#Zência, a primeiraalavra da locu!o n!o ficará na penumbra, mas ao contrário, se desvelará e irromperá com toda a fora #ue lhe érópria. E por #ue isto` -or#ue a (ilosofia n!o se e&erce no vaio, da mesma forma #ue a istória n!o se dá embstraioX #uer dier, a (ilosofia é uma atitude #ue se dirige a algo e a istória é uma história concreta, portanto, históriae alguma coisa.

    4e nós nos preocuparmos com a problemática educacional, tentaremos e&aminar a partir daí em #ue a (ilosofiaode a"udar a esclarecer os problemas da educa!o e em #ue a istória pode nos a"udar a entender esta problemáticaducacional #ue nos preocupa. =om efeito, se tomamos, por e&emplo, a (ilosofia, verificamos #ue o seu ob"eto s!o osroblemas #ue surgem na e&istência humana.

    4e estamos preocupados com a (ilosofia da Educa!o, a filosofia só terá sentido na medida em #ue nos permitir&plicitar a problemática educacional. 4e ela ocultar a problemática educacional n!o estará contribuindo para preenchersua própria fun!o e como tal estará se traindo en#uanto filosofia.

    4e voltarmos '#uela atitude inicial * ênfase na primeira palavra * #ue acabava por tornar o seu sentido n!ouficientemente caracteriado, veremos #ue, partindo de um pensamento "á elaborado, n!o estamos desenvolvendo umafle&!o e, como tal, n!o estamos filosofando. %s resultados da refle&!o filosófica n!o s!o a refle&!o filosófica, apesar

    a tendência fre#Zente de se tomar os resultados pelo próprio processo.

    A (ilosofia da Educa!o só poderá prestar um servio ' forma!o dos educadores na medida em #ue contribuirara #ue os educadores adotem esta postura refle&iva para com a problemática educacional. 4e, ao contrário, nós,

    n#uanto educadores, nos limitarmos a tomar conhecimento de determinados resultados a #ue se chegou a partir deeterminadas refle&$es, ent!o n!o estaremos desenvolvendo a refle&!o filosófica propriamente dita, vale dier,taremos abdicando da tarefa própria da filosofia. 3ogo veremos #ue considera$es semelhantes podem ser feitas emla!o ' istória da Educa!o.

    -arece*me, pois, #ue a nossa preocupa!o, en#uanto profissionais ligados ' (ilosofia da Educa!o e ' istória daduca!o, deverá estar concentrada na problemática educacional. 4em isso, estaremos traindo nossa própria atitude

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    losófica ou histórica. U neste sentido #ue poderemos superar a hipertrofia tanto do primeiro

    8 \

    omo do segundo termo, por#ue aí recuperaremos o sentido da locu!o como tal,

    >rata*se, com efeito, de (ilosofia da Educa!o e n!o sn°0 sÐl,

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    e poder, posteriormente, desenvolver um trabalho positivo no sentido de desencadear a atitude filosófica nos alunos.

    % fundamental, portanto, é #ue os alunos assumam essa atitude filosóficaX #ue

    M7 \

    es se"am capaes de refletir sobre os problemas com os #uais eles se defrontam e, no caso da Educa!o, #ue eles se"amapaes de refletir sobre os problemas educacionais.

    5o #ue di respeito ' istória da Educa!o, verifica*se fen]meno semelhante: a istória, por obra da hipertrofiaa primeira palavra da locu!o, acaba por n!o ser compreendida, o seu significado acaba por n!o ser e&plicitadoaramenteX assim, a istória acaba sendo absorvida no sentido tradicional de se#Zência de fatos ou se#Zência de idéias,

    sumindo*se a uma mera cronologia.Ao se reduir a istória a uma se#Zência de fatos ou de idéias, ocorre aí um agravante maior: tais fatos 6ou

    éias acabam por se resumir na#uilo #ue eu chamaria de +fatos de supra*estrutura+, isto é, a#ueles fatos #ue sevidenciam mas #ue n!o e&plicam o processo histórico concreto, sendo, ao contrário, e&plicados pelo processo históricooncreto. Em conse#Zência, o ensino da istória, em lugar de e&plicitar o mencionado processo, apenas e&p$e os fatose supra*estrutura, resultando, daí, o caráter insípido de #ue se reveste esse tipo de ensino. E a istória, ' semelhana dalosofia, acaba por se tornar, também ela, uma disciplina +chata+, uma ve #ue será necessário reter uma série grande

    e fatos 6ou de idéias geralmente desprovidos de sentidoX assim, a memoria!o acaba sendo o recurso de #ue o alunopor vees o professor lana m!o para se situar em face do problema da istória.

    )sando de uma imagem, poderíamos descrever o processo histórico por analogia com o teatro.

    o cenário da istória temos os atores e os autores da istória, do mesmo modo #ue numa pea teatral temos os atoreso autor da pea. % autor n!o apareceX no entanto, a obra é sua e os atores representam a#uele papel #ue lhes foi

    esignado na trama da pea, trama essa #ue é obra do autor da pea. 0ara os e&pectadores, os atores est!o em evidências!o por vees cultuados, surgindo como ídolos. Em contrapartida, os autores est!o ocultos nos bastidores, ficando,eralmente, na penumbra, #uando n!o s!o totalmente es#uecidos.

    5a istoriografia temos, pois, o seguinte fen]meno: os fatos de bastidores #ue s!o os fundamentais, dado #ueos permitiriam compreender o #ue está acontecendo, tais fatos n!o s!o e&plorados suficientemente, en#uanto #ue ostos de supra*estrutura 6ligados ' imagem dos atores s!o mencionados numa se#Zência cronológica sem #ue se entenda

    em por#ue em determinado momento #uem esteve em evidência foi este ator e n!o outro e #ue papel representava esteorX

    M \

    uer dier, #ue foras ele estava representando, foras essas #ue nos permitiriam compreender #ual a matri básicaa#uele momento histórico. /essa forma, a istoriografia tende a se resumir na apresenta!o de uma série de nomes,tos e datas e o recurso para se reter esses dados terá #ue ser a memoria!o mecYnica, uma ve #ue a compreens!o daama da istória se perde.

    %ra, a compreens!o da trama da istória só será garantida se forem levados em conta os +dados de bastidores+,ale dier, se se e&amina a base material da sociedade cu"a história está sendo reconstituída. >al procedimento sup$e umrocesso de investiga!o #ue n!o se limita '#uilo #ue convencionalmente é chamado de istória da Educa!o, masmplica investiga$es de ordem econ]mica, política e social do país em cu"o seio se desenvolve o fen]meno educativo

    ue se #uer compreender, uma ve #ue é esse processo de investiga!o #ue fará emergir a problemática educacionaloncreta.

    5a medida em #ue nós, professores de istória da Educa!o, assumimos essa atitude de investiga!oX na medidam #ue nós, em face dos alunos, estimulamos esta mesma atitude, eis como estaremos contribuindo efetivamente para ovano do campo de conhecimento #ue constitui a istória da Educa!o e, no nosso caso específico, para oesenvolvimento da istória da Educa!o Krasileira.

    '8 Em conclus!o, cabe observar #ue um curso de (ilosofia da Educa!o ou de istória da Educa!o assumiráaracterísticas marcadamente diversas das tradicionais, se nós, en#uanto professores, nos colocarmos na perspectivapresentada neste te&to. >al mudana de perspectiva só será possível, obviamente, se estivermos empenhados emsumir até 's últimas conse#Zências o papel #ue nos cabe na área de (ilosofia da Educa!o eBou istória da Educa!o.

    MM \

     

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    =A-O>)3% >0S4 

    VALORES E O,GETIVOS NA EDUCAÇÃO 

    A refle&!o67 sobre os problemas educacionais inevitavelmente nos levará ' #uest!o dos valores. =om efeito, se

    ses problemas traem a necessidade de uma reformula!o da a!o, torna*se necessário saber o #ue se visa com essa!o, ou se"a, #uais s!o os seus ob"etivos. E determinar ob"etivos implica definir prioridades, decidir sobre o #ue éálido e o #ue n!o é válido. Além disso * todos concordam * a educa!o visa o homemX na verdade, #ue sentido terá aduca!o se ela n!o estiver voltada para a promo!o do homem` )ma vis!o histórica da educa!o mostra como estasteve sempre preocupada em formar determinado tipo de homem. %s tipos variam de acordo com as diferentes&igências das diferentes épocas. 1as a preocupa!o com o homem, esta é uma constante. E a palavra homem significa&atamente a#uele #ue avalia.6 4e o problema dos valores é considerado como uma das #uest$es mais comple&as dalosofia atual, no entanto, todos sabem #u!o trivial é a e&periência da valora!o: a todo momento nós somos su"eitos oustemunhas dessa e&periência. )ma ve #ue a e&periência a&iológica é uma e&periência tipicamente humana, é a partiro conhecimento da realidade hu*

    Escrito em 78C7 para a cadeira de ntrodu!o ' Educa!o do =iclo Kásico da -)=B 4- -ublicado na 0evista /idato,?, 78CC.

    =f. 5ietsche: +A palavra homem significa a#uele #ue avalia: ele #uis denominar*se pelo seu maior descobrimento+.% 2ia"ante e a 4ua 4ombra, apud 4E00W%, Loel * nicia!o ao (ilosofar, p. 7F7.

    M< \

    ana #ue podemos entender o problema dos valores. E como a educa!o se destina 6sen!o de fato, pelo menos dereito ' promo!o do homem, percebe*se "á a condi!o básica para alguém ser educador: ser um profundo conhecedor

    o homem. 1as... #ue é o homem` Evidentemente, a comple&idade da #uest!o n!o nos permite tratá*la e&austivamenteentro dos limites desse te&to. A#ui tentaremos apenas uma apro&ima!o ao tema a fim de estabelecer um ponto deartida necessário ' coloca!o do problema dos valores e ob"etivos na educa!o.

    %bservando o dado*homem, notamos desde logo #ue ele se nos apresenta como um corpo, e por isso, e&istindoum meio #ue se define pelas coordenadas de espao e tempo. Este meio condiciona*o, determina*o em todas as suasanifesta$es. Este caráter de dependência do homem se verifica inicialmente em rela!o ' naturea 6entendemos por

    aturea tudo a#uilo #ue e&iste independentemente da a!o do homem. 4abemos como o homem depende do espaosico, clima, vegeta!o, fauna, solo e subsolo. 1as n!o é só o meio puramente natural #ue condiciona o homem.ambém o meio cultural se imp$e a ele inevitavelmente. Lá ao nascer, além de uma localia!o geográfica mais ouenos favorável, o homem se defronta com uma época de contornos históricos precisos, marcada pelo peso de umaadi!o mais ou menos longa, com uma lingua"a estruturada, costumes e crenas definidos, uma sociedade comstitui$es próprias, uma vida econ]mica peculiar e uma forma de governo ciosa de seus poderes. Este é o #uadro da

    &istência humana. E neste #uadro, o homem é encai&ado * é en#uadrado. % homem é, pois, um ser situado. 4itua!o é,

    om efeito, o termo #ue sintetia tudo #uanto foi dito. E esta é uma condi!o necessária de possibilidade da e&istênciaumana. A vida humana só pode se sustentar e desenvolver a partir de um conte&to determinadoX é daí #ue o homem tiras meios de sua sobrevivência. -or isso ele é levado a valoriar os elementos do meio*ambiente: a água, a terra, a fauna,flora, etc. 6no domínio da naturea e as institui$es, as ciências, as técnicas, etc. 6no domínio da cultura. Antesesmo de se dar conta disso, o homem está e&ercendo a atitude a&iológica perante tudo #ue o cerca. 5a verdade,

    aloriar é n!o ser indiferente.6M Assim, a situa!o comp$e*se de uma multiplicidade de elementos #ue em si mesmos!o valem nem dei&am de valerX simplesmente s!oX est!o aí. Ao se relacionarem com o homem, entretanto, eles passamter significado, passam a valer. sto nos permite entender o valor como uma rela!o de n!o indiferena entre o homemos

    =f. 1%0E5>E, 1. ;arcia * (undamentos de (ilosofia, p. F?.

    M? \ementos com #ue se defronta. A situa!o abre, pois, ao homem um campo imenso de valoresX é o domínio do prático*ilitário. % homem tem necessidades #ue precisam ser satisfeitas e este fato leva ' valoria!o e aos valores.

    1as se o homem n!o fica indiferente 's coisas, isso significa #ue ele n!o é um ser passivo. Ele reage perante atua!o, intervém pessoalmente para aceitar, re"eitar ou transformar. A cultura n!o é outra coisa sen!o, por um lado, a

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    ansforma!o #ue o homem opera sobre o meio e, por outro, os resultados dessa transforma!o. % homem é ent!o capae superar os condicionamentos da situa!oX ele n!o é totalmente determinadoX é um ser aut]nomo, um ser livre. E aberdade abre ao homem um novo campo amplo para a valoria!o e os valores. 4endo a liberdade pessoal etransferível, imp$e*se a#ui o respeito ' pessoa humanaX como eu sou um su"eito capa de tomar posi$es, de avaliar,er op$es e enga"ar*me por elas, assim também a#uele #ue vive ao meu lado, perto ou longe, é igualmente um su"eito"amais um ob"eto. =omo a liberdade é sempre uma liberdade situada, este segundo campo con"uga*se com o primeiro.rata*se de su"eitos concretos #ue n!o s!o indiferentes diante de uma situa!o também concreta. /aí e&ercer o homemm domínio sobre as coisas, subordinando*as aos seus desígnios. Esta rela!o vertical de domina!o "amais poderá,ontudo, ser estendida em sentido horiontal, ou se"a, nas rela$es de homem a homem. % domínio do prático*utilitáriom seus limites no domínio humano, do mesmo modo #ue este tem seus limites na#uele. E, dialeticamente, o domíniorático*utilitário se amplia com a amplia!o da liberdade humana, do mesmo modo #ue o domínio humano se amplia aartir da amplia!o das potencialidades da situa!o.

    % caráter pessoal e intransferível da liberdade n!o significa, entretanto, #ue n!o se"a possível a rela!o horiontale homem a homemX ao contrário. % fato de n!o ser indiferente ' pessoa dos outros, o fato de reconhecer o valor doutro, a sua liberdade, indica #ue o homem é capa de transcender a sua situa!o e as op$es pessoais para se colocar noonto de vista do outro, para se comunicar com o outro, para agir em comum com ele, para ver as coisas ob"etivamente.a#ui se abre ao homem outro campo amplo para a valora!o e os valores. 2er as coisas ob"etivamente significa aceitarvalor da verdade. E esta transcende as pessoas como tais tornando*se fonte de comunica!o e entendimento entre os

    omens. Assim, se a rela!o vertical do homem para com as coisas é uma rela!o de domina!o, a rela!o horiontal doomem para com os outros será uma rela!o de colabora!o. E nessa colabora!o dos homens atuando sobre a situa!o

    se comunicando entre si, descobre*se #ue o domínio doMC \

    rático*utilitário n!o satisfa: +o homem é a#uele animal para o #ual o supérfluo é necessário+.69 E outro campo se abreo homem para a valora!o e os valores: s!o as formas estéticas, a aprecia!o das coisas e das pessoas pelo #ue elas s!om si mesmas, sem outro ob"etivo sen!o o de relacionar*se com elas.

    /o ponto de vista da educa!o o #ue significa, ent!o, promover o homem` 4ignifica tornar o homem cada veais capa de conhecer os elementos de sua situa!o para intervir nela transformando*a no sentido de uma amplia!o daberdade, da comunica!o e colabora!o entre os homens. >rata*se, pois, de uma tarefa #ue deve ser realiada. sto nosermite perceber a fun!o da valora!o e dos valores na vida humana. %s valores indicam as e&pectativas, as aspira$es

    ue caracteriam o homem em seu esforo de transcender*se a si mesmo e ' sua situa!o históricaX como tal, marcam#uilo #ue deve serem contraposi!o '#uilo #ue é. A valora!o é o próprio esforo do homem em transformarei #ue éa#uilo #ue deve ser. Essa distYncia entre o #ue é e o #ue deve ser constitui o próprio espao vital da e&istência humanaXom efeito, a coincidência total entre o ser e o dever ser, bem como a impossibilidade total dessa coincidência seriamualmente fatais para o homem. 2alores e valora!o est!o intimamente relacionadosX sem os valores, a valora!o seria

    estituída de sentidoX mas, em contrapartida, sem a valora!o os valores n!o e&istiriam. /esvincular os valores daalora!o e#uivalerá a transformá*los em ar#uétipos de caráter estático e abstrato, dispostos numa hierar#uiatabelecida +a priori+. % caráter concreto da e&periência a&iológica nos permite substituir o concerto de hierar#uia,

    adicionalmente ligado a uma concep!o rígida e estática, pois, +a sociedade sempre teve interesse em reificar certaserar#uias #ue correspondem mais aos interesses dos seus grupos privilegiados+,6

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    ndicando*nos a#uilo #ue deve ser, os valores nos colocam diante do problema dos ob"etivos. =om efeito, umb"etivo é e&atamente a#uilo #ue ainda n!o foi alcanado, mas #ue deve ser alcanado. A partir da valora!o é possívelefinir ob"etivos para a educa!o. =onsiderando*se #ue a educa!o visa a promo!o do homem, s!o as necessidadesumanas #ue ir!o determinar os ob"etivos educacionais. E essas necessidades devem ser consideradas em concreto, poisa!o educativa será sempre desenvolvida num conte&to e&istencial concreto.

    %s ob"etivos indicam os alvos da a!o. =onstituem, como lembra o nome, a ob"etiva!o da valora!o e dosalores. -oderíamos, pois, dier #ue se a valora!o é o próprio esforo do homem em transformar o #ue é na#uilo #ueeve ser, os ob"etivos sintetiam o esforo do homem em transformar o #ue deve ser na#uilo #ue é. % es#uema seguintecilita a compreens!o do #ue foi dito:

    =omo a defini!o de ob"etivos educacionais depende das prioridades ditadas pela situa!o em #ue se desenvolveprocesso educativo, compreende*se #ue tal defini!o pressup$e uma análise da situa!o em #uest!o.

    5o es#uema, 0ealidade, representa a situa!o original e 0ealidade essa mesma situa!o, porém transformada.emos, pois #ue: realidade7 k realidade, transformada.

    M8 \

    U preciso, ent!o, encarar o problema do ponto de vista da realidade e&istencial concreta do homem brasileiro.ual a situa!o do homem brasileiro` =omo ele valoria os seus elementos` =omo ele se utilia deles` )ma análiseais detida revelará #ue o homem brasileiro, no geral, n!o sabe tirar proveito das possibilidades da situa!o e, por n!o

    abê*lo, fre#uentemente acaba por destruí*las. sto nos revela a necessidade de uma educa!o para a subsistência: éreciso #ue o homem brasileiro aprenda a tirar da situa!o adversa os meios de sobreviver 

    1as como pode o homem utiliar os elementos da situa!o se ele n!o é capa de intervir nela, decidir, enga"ar*seassumir pessoalmente a responsabilidade de suas escolhas` 4abemos #u!o precárias s!o as condi$es de liberdade doomem brasileiro, marcado por uma tradi!o de ine&periência democrática, marginalia!o econ]mica, política,ultural. /aí, a necessidade de uma educa!o para a liberta!o: é preciso saber escolher e ampliar as possibilidades dep!o.

    =omo, porém, intervir na situa!o sem uma consciência das suas possibilidades e dos seus limites` E estaonsciência só se ad#uire através da comunica!o. /aí, o terceiro ob"etivo: educa!o para a comunica!o: é preciso #ue ad#uiram os instrumentos aptos para a comunica!o intersub"etiva.

    ais ob"etivos, contudo, só ser!o atingidos com uma mudana sensível do panorama nacional atual, #uer geral, #uerducacional. /aí, o #uarto ob"etivo: educa!o para a transforma!o.

    Em resumo: a considera!o do problema dos valores em face da realidade e&istencial concreta do homemrasileiro nos permite definir os seguintes ob"etivos gerais para a educa!o brasileira.6D

    7. Educa!o para a subsistênciaX

    . Educa!o para a liberta!oX

    M. Educa!o para a comunica!oX

    9. Educa!o para a transforma!o.

    =omo, porém, realiar esses ob"etivos` =om #ue instrumentos podemos contar` U preciso buscar nas ciênciasementos #ue nos permitam estruturar técnicas ade#uadas para se atingir os ob"etivos propostos.

    Esses ob"etivos s!o discutidos mais amplamente em um te&to inédito denominado +Esboo de formula!o de uma

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    eologia educacional para o Krasil,+

    9F \

     

    =A->)3% Q)A>0% 

    VALORES EM SUPERVISÃO PEDA-Ó-ICA: A,ORDA-EMFILOSÓFICA

     

    nicialmente, gostaríamos de esclarecer #ue o te&to #ue enviei a este 4eminário n!o trata especificamente dala!o entre os valores e a 4upervis!o -edagógica. % título +2alores e %b"etivos em Educa!o+ indica a inten!o detabelecer uma correla!o entre o problema dos valores e o problema dos ob"etivos, tomando*se os valores como base

    ara se compreender e especificar os ob"etivos da educa!o em geral e da educa!o brasileira em particular.

    A finalidade desse te&to é fornecer um referencial teórico suscetível de maior especifica!o, através de debates ee estudos complementares.

    -ara comear, gostaria de dier #ue a e&press!o 2alores (ilosóficos+ decorre de uma distin!o meramentermal, uma ve #ue, na verdade, todos os valores s!o sócio*culturais. 5este caso, o ad"etivo +filosófico+ indica o

    nfo#ue, isto é, indica a atitude segundo a #ual os valores s!o tomados e&plicitamente como ob"etos de refle&!olosófica. E isto ocorre na medida em #ue eles se tornam problemas para o homem, para a cultura humana.

    4e f]ssemos faer um retrospecto da história da filosofia, veríamos #ue desde as primeiras preocupa$eslosóficas os valores estavam presentes. 5o entanto, a filosofia dos valores como uma disciplina específica surgiu aartir do início do século

    97 \

    assado, #uando houve a necessidade de uma refle&!o e&plícita sobre o problema dos valores, dando origem a diferentesorrentes. Essas correntes poderiam ser sintetiadas basicamente em #uatro:

    7. %b"etivismo a&iológico, #ue considera os valores como coisas, como ob"etos e&istentes independentementedo su"eito.

    . -sicologismo a&iológico, #ue considera os valores como algo sub"etivo, ligados, portanto, aos dese"osindividuais.

    M. -oderíamos identificar uma outra corrente, #ue chamaríamos de logicismo a&iológico por#ue considera osvalores como idéias, #uer dier, o valor n!o é algo e&istente, em si e por si, independentemente do su"eito e

    nem algo sub"etivo, isto é, dependente do dese"o psicológico de cada umX e&iste na mente do homem,mente esta #ue transcende os indivíduos empíricos.9. A última corrente, é a #ue chamaríamos de ontologismo a&iológico, #ue tem esse nome por#ue considera os

    valores como entidades ' parteX segundo essa corrente, os valores pertenceriam a um mundo ' parte 6omundo do #ue deve ser, semelhante ao mundo plat]nico, #ue seria distinto do mundo dos ob"etos, domundo das coisas 6o mundo do ser. 5essa esfera, nesse mundo ' parte, é #ue estariam localiados osvalores.

    Essas seriam basicamente as #uatro correntes em #ue poderemos encai&ar as concep$es sobre o problema dosalores, #ue é um problema bastante intrincado na (ilosofia.

    % valor é alguma coisa #ue está presente em nossa vida #uotidiana. =aracteriando os valores a partir daalidade humana, #uis dier #ue os valores n!o e&istem independentemente do homem, só #ue o homem deverá seronsiderado como uma realidade concreta e, en#uanto realidade concreta, ele é uma totalidade #ue n!o pode serduida ao seu aspecto sub"etivo, individual 6#ue deu origem ' corrente do psicologismo a&iológico, nem pode serduido ao aspecto intelectual, como o racionalismo o fe, dando origem ' corrente do logicismo a&iológico.

    >ambém n!o poderíamos considerar, nessa nossa maneira de encarar o problema, os valores como algo #ue

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    rma uma entidade ' parte, por#ue os valores s!o detectados realmente a partir da e&periência humana ou da e&istênciaumana.

    sso n!o implica considerar o problema dos valores de maneira sub"etiva, n!o implica descartar a ob"etividadeos valores e n!o implica, também, considerarmos os valores como coisas.

    U comum dier*se #ue os valores têm e&istência ob"etivaX de tal modo #ue a

    9 \

    escoberta do valor de uma coisa pelo homem n!o cria o valorX ele é, independentemente de o homem o ter, ou n!o,escoberto.

    lustremos a ob"e!o e sua auto*anula!o com o seguinte e&emplo: imaginemos #ue no interior da Ama]nia,nde nenhum homem tenha ido, e&ista algo #ue, pelo fato de ninguém conhecer, n!o foi ainda aproveitado pelo homemXo entanto, segundo o ob"etivismo a&iológico, isso tem valor. % fato de #ue isso se"a descoberto, digamos no caso, nono de FF

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    Esse aspecto vai colocar o problema da liberdade, isto é, a capacidade do homem de enga"ar*se, de aderir, deptar entre alternativas. Essa capacidade vai se e&ercer, tanto sobre a naturea em estado bruto, #uanto sobre a própriaultura, ou se"a, a naturea transformada, e pode também e&ercê*la sobre os homens.

    urge a#ui um problema, #ue é o da rela!o entre os homens. A capacidade do homem intervir em sua situa!o paraansformá*la, na medida em #ue o homem e&iste socialmente, indica #ue os diferentes indivíduos têm essa capacidadeconse#Zentemente, a rela!o vertical de domina!o do homem sobre a naturea pode se estabelecer também no plano

    oriontal.

    A rela!o horiontal, de homem para homem, n!o seria do mesmo tipo da rela!o vertical do homem para com coisas.

    99 \

    Esta rela!o, na medida em #ue implica o reconhecimento da liberdade dos outros, seria de colabora!o e n!o deomina!o.

    4abemos #ue a rela!o de n!o*indiferena #ue o homem estabelece para com as coisas cria e&pectativasX #uerer, as coisas s!o vistas como possibilidades para algo além do #ue elas s!o. /o ponto de vista concreto, esta mesmaitude pode ser e&ercida com rela!o aos outros homens. U necessário, ent!o, e&aminar as condi$es históricas #ueeram origem a uma estrutura social em #ue vigora a domina!o de classe. sto nos levaria a compreendera constitui!oo modo de produ!o capitalista e, a partir daí, impregnar de historicidade a considera!o da problemática dos valores.

    5essa rela!o entre os homens podemos detectar um outro domínio #ue ultrapassa esses dois primeiros: umomínio #ue transcende os outros.

    sso vem colocar em tela o problema da verdade, #ue seria o terceiro domínio de valor.

    s homens acreditam #ue ao faer afirma$es estas valem, n!o somente para si próprios, como também para os outros,anscendem o domínio da concep!o sub"etiva. Estas afirma$es s!o verdadeiras no sentido em #ue e&pressam umaalidade ob"etiva, #ue é comum aos elementos participantes.

    Acontece, porém, #ue a comunica!o dos homens entre si e com as coisas estabelece rela$es #ue se bastam a siesmas. 5!o se trata, pois, de se utiliar um elemento para se chegar a determinado ob"etivo, nem do reconhecimento

    a liberdade, ou da apreens!o da realidade ob"etiva do ponto de vista da veracidade. >rata*se de um significadotrínseco ' própria rela!o 6domínio estético.

    Quanto aos ob"etivos indicados, cabe observar #ue, #uando falo em educa!o para a subsistência #uero meferir ao problema do domínio do prático*utilitário. E&istem necessidades práticas nas #uais a educa!o está envolvidaespera*se #ue ela a"ude a satisfaê*las.

    5o caso brasileiro, chamo isto de Educa!o para a subsistência. -oderíamos substituir subsistência poresenvolvimento. Entretanto, #uando falamos em Educa!o para o /esenvolvimento, aparece a pergunta: de #ueesenvolvimento se trata`

    /iia um grande pedagogo, /ee, #ue a finalidade da Educa!o é o desenvolvimento e a finalidade doesenvolvimento é maior desenvolvimento. /aí ent!o, considerar #ue a Educa!o n!o tem propriamente fim em siesma, mas ob"etivos #ue s!o transformados em meiosX o fio condutor é a ideia do desenvolvimento. Agora, de #ue

    esenvolvimento se trata` 1uitos representantes da Escola 5ova falam em desenvolvimento, mas em desenvolvimentoas potencialidades da criana. Ent!o,

    9< \

    uando se fala em -sicologia do /esenvolvimento, pensa*se nas etapas de evolu!o do ser humano, da infYncia para adolescência, e daí para a idade adulta. )ma outra forma de se encarar esse desenvolvimento seria no sentidocon]mico. Educa!o para o desenvolvimento significaria, nesse caso, colocar a Educa!o a servio doesenvolvimento econ]mico.

    Quando #uestiono a idéia de hierar#uia isto ocorre pelo fato dela se colocar acima, fora, além das situa$esoncretas. A minha proposta de substituí*la por prioridade decorre da considera!o segundo a #ual as prioridades s!otadas pelas situa$es concretas e as situa$es concretas v!o determinar sistemas de valores diferentesX o #ue n!o

    corre com a no!o de hierar#uia, em #ue a escala de valores "á está predeterminada.% segundo ob"etivo, Educa!o para a 3iberta!o, se liga '#uele segundo domínio, o domínio da liberdadeX o

    rceiro, Educa!o para a =omunica!o, decorre do terceiro domínio da verdade e da comunica!o. sso implica umarie de problemas #ue, conse#Zentemente, como educadores, temos #ue dar conta deles. As vees, partimos com toda a

    oa vontade para educar num determinado local e "á estamos marcados por um es#uema de e&pectativas e valores #ue sehocam com as e&pectativas e com os valores da#uelas pessoas com as #uais iremos lidar. E a comunica!o se torna aí

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    raticamente inviável. 5ota*se, ent!o, #ue a comunica!o implica esse esforo de transcendência, capacidade de sair dainha situa!o e de me colocar na situa!o do outro, na perspectiva do outro. mplica, ent!o, uma espécie de inser!o

    ultural em rela!o ao meio no #ual estou trabalhando. sso coloca uma série de problemas bastante comple&os nombito sócio*cultural, #ue est!o ligados, por e&emplo, 's divis$es de classes. 5a medida em #ue pertencemos a umaasse, "á estamos marcados pelas perspectivas, pela vis!o, pela maneira de encarar a realidade #ue essa classe tem, oue interfere no modo como lidamos com outras classes. >endo em vista essas dificuldades, todas ligadas ao Ymbitoócio*cultural, e considerando a necessidade de se efetuar mudanas no conte&to específico do Krasil, é #ue se enfatioum #uarto ob"etivo: Educa!o para a transforma!o.

    A partir desses ob"etivos definidos em nível amplo, acreditamos ser mais fácil analisar ob"etivos específicos e

    ntar indagar o #ue significa educar para a subsistência, para a liberta!o, para a comunica!o, e para a transforma!oo conte&to específico em #ue se desenrola a a!o do supervisor pedagógico.

    9?\

     

    =A-O>)3% =5=% 

    PARA UMA PEDA-O-IA COERENTE E EFICA 

    % ob"etivo deste te&to67 é proporcionar uma vis!o de con"unto da problemática educacional. A educa!o,n#uanto fenómeno, se apresenta como uma comunica!o entre pessoas livres em graus diferentes de matura!oumana, numa situa!o histórica determinada. -or isso se define como papel das institui$es educacionais: +%rdenar estematiar as rela$es homem*meio para criar as condi$es ótimas de desenvolvimento das novas gera$es, cu"a a!oparticipa!o permita a continuidade e a sobrevivência da cultura e, em última instYncia, do próprio homem+.6

    ortanto, o sentido da educa!o, a sua finalidade, é o próprio homem, #uer dier, a sua promo!o.

    % estudo das raíes históricas da educa!o contemporYnea6M mostra a estreita rela!o entre educa!o e aonsciência #ue o homem tem de si mesmo, consciência essa #ue vem evoluindo progressivamente de época para época.efrontamo*nos, ent!o, nós também com o problema da compreens!o do homemX #ue tipo de homem pretendemos nósingir através da educa!o`

    Escrito em 78C7 para uma aula*síntese da cadeira de ntrodu!o ' Educa!o do =iclo Kásico da -)=B40 

    ;%5HA32E4, =arlos 3uís, 1.4. * >ransmiss!o da =ultura 6mimeografado, -)=B40 78C7.

    =f. 0E4 (3%, =. * 0aíes istóricas da Educa!o =ontemporYnea mimeografado, -)=B40 78C7.

    9C \

    5a tentativa de se responder a essa #uest!o, é preciso solicitar a interven!o da (ilosofia.69 Esta é definidaomo uma refle&!o #ue pensa de modo radical e rigoroso os problemas surgidos na educa!o, a partir de umaerspectiva de con"unto. =om efeito, a educa!o tal como foi considerada encontra*se em todas as sociedades: deaneira simples e homogênea, nas comunidades primitivasX de modo comple&o e diversificado, nas sociedades atuais.parece de forma difusa e indiferenciada em todos os setores da sociedade: as pessoas se comunicam tendo em vistab"etivos #ue n!o o de educar e, no entanto, educam e se educam. >rata*se, aí, da educa!o assistemática 6fundada nafilosofia de vida+X ocorre uma atividade educacional, mas ao nível da consciência irrefletida, portanto, n!o*intencional,u se"a, concomitantemente a uma outra atividade, esta sim, desenvolvida de modo intencional. Quando educar passa aer ob"eto e&plicito da aten!o, desenvolvendo*se uma a!o educativa intencional, ent!o tem*se a educa!ostematiada. % #ue determina a passagem da primeira para a segunda forma é o fato da educa!o aparecer ao homemomo problemáticaX ou se"a: #uando educar se apresenta ao homem como algo #ue ele precisa faer e n!o sabe como

    ê*lo. U isto o #ue fa com #ue a educa!o ocupe o primeiro plano na sua consciência, #ue ele, se preocupe com ela eflita sobre ela. Quanto a nós, se pretendemos ser educadores 6especialistas em educa!o é p