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V CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO CARIBE APARECIDA, 13-31 DE MAIO DE 2007 DOCUMENTO FINAL

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DOCUMENTO FINAL da V CONFERÊNCIA GERALDO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO e DO CARIBEAparecida , 13-31 de maio de 2007

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V CONFERÊNCIA GERALDO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO CARIBE

APARECIDA, 13-31 DE MAIO DE 2007DOCUMENTO FINAL

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SIGLAS

AA ApostolicamActuositatemAG AdGentesCIC CatecismodaIgrejaCatólicaCDSI CompêndiodaDoutrinaSocialdaIgrejaCDC CódigodeDireitoCanônicoChD DecretoChristusDominusChL ChristifidelesLaiciDCE DeusCaritasestDl DiscursoInauguraldeS.S.BentoXVInaVConferência GeraldoEpiscopadoLatino-americano.DP DocumentodePueblaDV DeiVerbumEAm ExortaçãoApostólicaEcclesiainAmérica.ECE ExCordeEcclesiaeEMCC InstruçãoErgaMigrantesCaritasChristiEN EvangeliiNuntiandiEV EvangeliumVitaeFC FamiliarisConsortioFR FidesetRatioGE GravissimumEducationisGS GaudiumetSpesHV HumanaevitaeIM DecretoInterMirificaLÊ LaboremExercensLG LumenGentiumNAe DeclaraciónNostraAetateNMI NovomillenioineunteOT OptatamTotiusPC PerfectaeCaritatisPDV PastoresDaboVobisPG Pastoresgregis

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� CELAM

PP PopulorumProgressioPO PresbyterorumOrdinisRM RedemptorisMissioRVM RosariumVirginisMariaeSC SacrosanctumConciliumSCa SacramentumcaritatisSD DocumentodeSantoDomingoSRS SollicitudoReiSocialisTMA TertiomillenioadvenienteUR UnitatisRedintegratioUUS UtunumsintVC Vitaconsecrata

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CartadeS.S.BentoXVIaosirmãosnoEpiscopadodaAméricaLatinaeCaribe

Em13demaiopassado,aospésdaSantíssimaVirgemNos-saSenhoraAparecida,noBrasil,inaugureicomgrandealegriaaVConferênciaGeraldoEpiscopadoLatino-americanoedoCa-ribe.

Conservovivaagratarecordaçãodesseencontro,noqualestiveunidoavocêsnomesmoafetoporseusqueridospovosenamesmasolicitudeporajudá-losaseremdiscípulosemissio-náriosdeJesusCristo,paraquenEletenhamvida.

Aomesmotempoqueexpressomeureconhecimentopeloamor a Cristo e à Igreja, e pelo espírito de comunhão que ca-racterizouaConferênciaGeral,autorizoapublicaçãodoDocu-mentoConclusivo,pedindoaoSenhorque,emcomunhãocomaSantaSéecomodevidorespeitopelaresponsabilidadedecadaBispoemsuaprópriaIgrejalocal,elesejaluzealentoparaumricotrabalhopastoraleevangelizadornosanosvindouros.

Neste documento há numerosas e oportunas indicaçõespastorais, motivadas por ricas reflexões à luz da fé e do atualcontextosocial.Entreoutras,licomparticularapreçoaspalavrasqueexortamadarprioridadeàEucaristiaeàsantificaçãodoDiadoSenhornosprogramaspastorais(cf.n.251-252),assimcomoasqueexpressamodesejodereforçaraformaçãocristãdosfiéis,emgeral,edosagentesdepastoral,emparticular.Nestesentido,paramimfoimotivodealegriaconhecerodesejoderealizaruma“MissãoContinental”queasConferênciasEpiscopaisecadadio-

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cesesãochamadasaestudarearealizar,convocandoparaissotodasasforçasvivas,demodoque,caminhandoapartirdeCris-to,busque-sesuaface(cf.Novo millenio ineunte,29).

AomesmotempoemqueinvocoaproteçãodaSantíssimaVirgememsuainvocaçãodeAparecida,PatronadoBrasil,etam-bémemsuaadvocaçãodeNossaSenhoradeGuadalupe,PatronadaAméricaeEstreladaEvangelização,comafetoinvocosobrevocêsaBênçãoApostólica.

Vaticano,29dejunhode2007,solenidadedossantosApós-tolosPedroePaulo.

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Introdução

1.ComaluzdoSenhorressuscitadoecomaforçadoEspí-ritoSanto,nósosbisposdaAméricanosreunimosemApare-cida,Brasil,paracelebraraVConferênciaGeraldoEpiscopadoLatino-AmericanoedoCaribe.Fizemosissocomopastoresquequerem seguir estimulando a ação evangelizadora da Igreja,chamada a fazer de todos os seus membros discípulos e mis-sionáriosdeCristo,Caminho,VerdadeeVida,paraquenossospovostenhamvidanEle.Fazemosissoemcomunhãocomto-dasasIgrejas locaispresentesnaAmérica.Maria,MãedeJe-susCristoedeseusdiscípulos,temestadomuitopertodenós,tem-nos acolhido, tem cuidado de nós e de nossos trabalhos,amparando-nos,comoaJoãoDiegoeanossospovos,nadobradeseumanto,sobsuamaternalproteção.Temospedidoaela,comomãe,perfeitadiscípulaepedagogadaevangelização,quenosensineaserfilhosemseuFilhoeafazeroqueElenosdisser(cf.Jo2,5).

2.ComalegriaestivemosreunidoscomoSucessordePe-dro,CabeçadoColégioEpiscopal.SuaSantidadeBentoXVIcon-firmou-nosnoprimadodaféemDeus,desuaverdadeeamor,para o bem das pessoas e dos povos. Agradecemos a todos osseus ensinamentos, que foram iluminação e guia seguro paranossostrabalhos,especialmenteseuDiscursoinaugural.Alem-brançaagradecidadosúltimosPapas,eemespecialdoseuricoMagistérioquetemestadotambémpresenteemnossostraba-lhos,mereceespecialmemóriaegratidão.

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3.Sentimo-nosacompanhadospelaoraçãodenossopovocatólico, representado visivelmente pela companhia do PastoredosfiéisdaIgrejadeDeusemAparecida,epelamultidãodeperegrinosdetodooBrasiledeoutrospaísesdaAméricaaoSan-tuário,quenosedificarameevangelizaram.Nacomunhãodossantos, tivemospresentes todosaquelesquenosantecederamcomodiscípulosemissionáriosnavinhadoSenhoreespecial-menteanossossantoslatino-americanos,entreelesSantoTorí-biodeMogrovejo,patronodoEpiscopadolatino-americano.

4.OEvangelhochegouanossasterrasemmeioaumdra-máticoedesigualencontrodepovoseculturas.As“sementesdoVerbo”1presentesnasculturasautóctones,facilitaramanossosirmãos indígenas encontrarem no Evangelho respostas vitaisàs suas aspirações mais profundas: “Cristo era o Salvador queesperavamsilenciosamente”.2AvisitaçãodeNossaSenhoradeGuadalupefoiacontecimentodecisivoparaoanúncioereconhe-cimentodeseuFilho,pedagogiae sinalde inculturaçãoda fé,manifestaçãoerenovadoímpetomissionáriodepropagaçãodoEvangelho.3

5.Desdeaprimeiraevangelizaçãoatéostemposrecentes,aIgrejatemexperimentadoluzesesombras.4Elaescreveupági-nasdenossahistóriacomgrandesabedoriaesantidade.Sofreutambémtemposdifíceis,tantoportorturaseperseguiçõescomopelasdebilidades,compromissosmundanoseincoerências,emoutraspalavras,pelopecadodeseusfilhos,quedesfiguraramanovidadedoEvangelho,aluminosidadedaverdadeeaprática

1Cf.Puebla,401.2BentoXVI,DiscursoInauguraldaVConferência,Aparecida,n.1.SerácitadocomoDI.3Cf.SD15.4BentoXVI,AudiênciaGeral,quarta-feira23demaiode2007.“Certamentequeare-

cordaçãodeumpassadogloriosonãopodeignorarassombrasqueacompanharamaobradeevangelizaçãodocontinente latino-americano:nãoépossívelesquecerossofrimentoseasinjustiçasqueinfligiramoscolonizadoresàspopulaçõesindígenas,pisoteadasemseusdireitoshumanosfundamentais.Mas,aobrigatóriamençãodessescrimesinjustificáveis–jácondenadospormissionárioscomoBartolomeudelasCasaseporteólogoscomoFranciscodeVitória,daUniversidadedeSalamanca–nãodeveimpedirdereconhecercomgratidãoaadmirávelobrarealizadapelagraçadivinaentreessaspopulaçõesaolongodestesséculos”.

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11VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

dajustiçaedacaridade.Noentanto,omaisdecisivonaIgrejaésempreaaçãosantadeseuSenhor.

6.Porisso,diantedetudodamosgraçasaDeuseolouvamosportudooquenostemsidodado.AcolhemostodaarealidadedoContinentecomodom:abelezaefecundidadedesuasterras,ariquezadehumanidadequeseexpressanaspessoas,famílias,povoseculturasdoContinente.SobretudonostemsidodadoJesusCristo,aplenitudedarevelaçãodeDeus,umtesouroin-calculável,a“pérolapreciosa”(cf.Mt13,45-46),oVerbodeDeusfeitocarne,Caminho,VerdadeeVidadoshomensedasmulhe-res,aosquaisabreumdestinodeplenajustiçaefelicidade.EleéoúnicoLibertadoreSalvadorque,comsuamorteeressurreição,rompeuascadeiasopressivasdopecadoedamorte,revelandooamormisericordiosodoPaieavocação,dignidadeedestinodapessoahumana.

7.Asmaiores riquezasdenossospovossãoa fénoDeusamoreatradiçãocatólicanavidaenacultura.Manifesta-senafémadurademuitosbatizadosenapiedadepopularqueexpres-sa“oamoraCristosofredor,oDeusdacompaixão,doperdãoedareconciliação(...),oamoraoSenhorpresentenaEucaristia(...),–oDeuspróximodospobresedosquesofrem,–aprofun-dadevoçãoàSantíssimaVirgemdeGuadalupe,deAparecidaoudosdiversostítulosnacionaiselocais”.5 Expressa-setambémnacaridadequeemqualquerlugaranimagestos,obrasecaminhosdesolidariedadeparacomosmaisnecessitadosedesamparados.Estápresentetambémnaconsciênciadadignidadedapessoa,nasabedoriadiantedavida,napaixãopelajustiça,naesperan-çacontratodaesperançaenaalegriadeviverquemoveocora-çãodenossospovos,aindaqueemcondiçõesmuitodifíceis.Asraízescatólicaspermanecemnasuaarte, linguagem,tradiçõeseestilodevida,aomesmotempodramáticoefestivo,enoen-frentamentodarealidade.Porisso,oSantoPadrenosresponsa-

5 DI1.

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bilizouaindamais,comoIgreja,na“grandetarefadeprotegerealimentarafédopovodeDeus”.6

8.Odomdatradiçãocatólicaéumcimentofundamentaldeidentidade,originalidadeeunidadedaAméricaLatinaedoCari-be:umarealidadehistórico-cultural,marcadapeloEvangelhodeCristo,realidadenaqualégrandeopecado–abandonodeDeus,comportamentosviciosos,opressão,violência,ingratidõesemi-sérias–porém,ondeébemmaioragraçadavitóriapascal.Nos-saIgrejagoza,nãoobstanteasdebilidadesemisériashumanas,dealtoíndicedeconfiançaedecredibilidadeporpartedopovo.AIgrejaémoradadepovosirmãosecasadospobres.

9.AVConferênciadoEpiscopadoLatino-americanoeCari-benhoénovopassonocaminhodaIgreja,especialmenteapar-tirdoConcílioEcumênicoVaticanoII.Eladácontinuidadee,aomesmotempo,recapitulaocaminhodefidelidade,renovaçãoeevangelizaçãodaIgrejalatino-americanaaoserviçodeseuspo-vos,queseexpressouoportunamentenasConferênciasGeraisanteriores do Episcopado (Rio, 1955; Medellín, 1968; Puebla,1979; Santo Domingo, 1992). Em todas elas reconhecemos aaçãodoEspírito.TambémnoslembramosdaAssembléiaEspe-cialdoSínododosBisposparaaAmérica(1997).

10.EstaVConferênciasepropõe“agrandetarefadeprote-gerealimentarafédopovodeDeuserecordartambémaosfiéisdesteContinenteque,emvirtudedeseubatismo,sãochamadosaserdiscípulosemissionáriosdeJesusCristo”.7 Comdesafioseexigências,abre-seapassagemparaumnovoperíododahis-tória,caracterizadopeladesordemgeneralizadaquesepropagapornovasturbulênciassociaisepolíticas,peladifusãodeumaculturadistanteehostilàtradiçãocristãepelaemergênciadevariadasofertasreligiosasquetratamderesponder,àsuama-neira,àsededeDeusquenossospovosmanifestam.

6 Ibid.3.

7 Ibid.3.

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13VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

11.AIgrejaéchamadaarepensarprofundamenteeare-lançarcomfidelidadeeaudáciasuamissãonasnovascircuns-tâncias latino-americanas e mundiais. Ela não pode fechar-sefrente àqueles que só vêem confusão, perigos e ameaças ouàquelesquepretendemcobriravariedadeecomplexidadedassituações com uma capa de ideologias gastas ou de agressõesirresponsáveis. Trata-se de confirmar, renovar e revitalizar anovidade do Evangelho arraigada em nossa história, a partirde um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, quedespertediscípulosemissionários.Issonãodependetantodegrandes programas e estruturas, mas de homens e mulheresnovosqueencarnemessatradiçãoenovidade,comodiscípulosdeJesusCristoemissionáriosdeseuReino,protagonistasdeumavidanovaparaumaAméricaLatinaquedesejareconhecer-secomaluzeaforçadoEspírito.

12.Nãoresistiriaaosembatesdotempoumafécatólicare-duzida a uma bagagem, a um elenco de algumas normas e deproibições,apráticasdedevoçãofragmentadas,aadesõessele-tivaseparciaisdasverdadesdafé,aumaparticipaçãoocasionalemalgunssacramentos,àrepetiçãodeprincípiosdoutrinais,amoralismosbrandosoucrispadosquenãoconvertemavidadosbatizados.Nossamaiorameaça“éomedíocrepragmatismodavidacotidianadaIgreja,noqual,aparentemente,tudoprocedecomnormalidade,masnaverdadeafévaisedesgastandoede-generandoemmesquinhez”.8Atodosnostocarecomeçarapar-tirdeCristo,9 reconhecendoque“nãosecomeçaasercristãoporumadecisãoéticaouumagrandeidéia,maspeloencontrocomumacontecimento,comumaPessoa,quedáumnovohorizonteàvidae,comisso,umaorientaçãodecisiva”.10

8 RATZINGER,J.Situação atual da fé e da teologia.ConferênciapronunciadanoEncontro

dePresidentesdeComissõesEpiscopaisdaAméricaLatinaparaadoutrinadafé,celebradoemGuadalajara,México,1996.PublicadoemL’Osservatore Romano,em1ºdenovembrode1996.

9 Cf.NMI28-29.

10 DCE1.

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13.NaAméricaLatinaenoCaribe,quandomuitosdenos-sospovossepreparamparacelebrarobi-centenáriodesuainde-pendência,encontramo-nosdiantedodesafioderevitalizarnos-somododesercatólicoenossasopçõespessoaispeloSenhor,paraqueafécristãseenraízemaisprofundamentenocoraçãodaspessoasedospovoslatino-americanoscomoacontecimen-tofundanteeencontrovivificantecomCristo.Elesemanifestacomonovidadedevidaemissãoemtodasasdimensõesdaexis-tênciapessoalesocial.Issorequer,apartirdenossaidentidadecatólica,umaevangelizaçãomuitomaismissionária,emdiálogocomtodososcristãoseaserviçodetodososhomens.Docontrá-rio,“oricotesourodoContinenteAmericano...seupatrimôniomaisvalioso:afénoDeusdeamor...”11 correoriscodeseguirdesgastando-seediluindo-sedemaneiracrescenteemdiversossetoresdapopulação.Hojesepropõeescolherentrecaminhosqueconduzemàvidaoucaminhosqueconduzemàmorte(cf.Dt30,15).CaminhosdemortesãoosquelevamadilapidarosbensquerecebemosdeDeusatravésdaquelesquenosprecederamnafé.SãocaminhosquetraçamumaculturasemDeusesemseusmandamentosou inclusive contra Deus,animadapelos ídolosdopoder,dariquezaedoprazerefêmero,aqualterminasendoumaculturacontraoserhumanoecontraobemdospovoslati-no-americanos.Caminhosdevidaverdadeiraeplenaparatodos,caminhosdevidaeterna,sãoaquelesabertospelaféquecondu-zemà“plenitudedevidaqueCristonostrouxe:comestavidadivinatambémsedesenvolveemplenitudeaexistênciahuma-na,emsuadimensãopessoal,familiar,socialecultural”.12EssaéavidaqueDeusnospartilhaporseuamorgratuito,porque“éoamorquedáavida”.13EssescaminhosfrutificamnosdonsdeverdadeeamorquenosforamdadosemCristo,nacomunhãodosdiscípulosemissionáriosdoSenhor,paraqueaAméricaLa-

11 BentoXVI,HomilianaEucaristiadeinauguraçãodaVConferênciaGeraldoEpiscopa-

doLatino-americano,13demaiode2007,Aparecida,Brasil.12

DI4.13

BentoXVI,HomilianaEucaristiadeinauguraçãodaVConferênciaGeraldoEpiscopa-doLatino-americano,13demaiode2007,Aparecida,Brasil.

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tinaeoCaribesejamefetivamenteumcontinentenoqualafé,aesperançaeoamorrenovemavidadaspessoasetransformemasculturasdospovos.

14.OSenhornosdiz:“Nãotenhammedo”(Mt28,5).ComoàsmulheresnamanhãdaRessurreiçãoelenosrepete:“Porquebuscamentreosmortosaquelequeestávivo?”(Lc24,5).Ossi-naisdavitóriadeCristoressuscitadonosestimulamenquantosuplicamosagraçadaconversãoemantemosvivaaesperançaquenãoengana.Oquenosdefinenãosãoascircunstânciasdra-máticasdavida,nemosdesafiosdasociedadeouastarefasquedevemosempreender,masacimadetudooamorrecebidodoPaigraçasaJesusCristopelaunçãodoEspíritoSanto.Essapriorida-defundamentaléaquetempresididotodososnossostrabalhos,queoferecemosaDeus,ànossaIgreja,aonossopovo,acadaumdos latino-americanos, enquanto elevamos ao Espírito Santonossaconfiantesúplicapararedescobrirabelezaealegriadesercristãos.Aquiestáodesafiofundamentalqueafrontamos:mos-traracapacidadedaIgrejaparapromovereformardiscípulosemissionáriosquerespondamàvocaçãorecebidaecomuniquemportodaparte,transbordandodegratidãoealegria,odomdoencontrocomJesusCristo.Nãotemosoutrotesouroanãosereste.NãotemosoutrafelicidadenemoutraprioridadesenãoadesermosinstrumentosdoEspíritodeDeusnaIgreja,paraqueJesus Cristo seja encontrado, seguido, amado, adorado, anun-ciadoecomunicadoatodos,nãoobstantetodasasdificuldadeseresistências.Esteéomelhorserviço–oseuserviço!–queaIgrejadeveofereceràspessoasenações.14

15.Nestahoraemquerenovamosaesperança,queremosfazernossasaspalavrasdeSS.BentoXVInoiníciodeseuPon-tificado,fazendoecoaseupredecessor,oServodeDeus,JoãoPaulo II, e proclamá-las para toda a América Latina: Não te-mam!Abram,abramdeparemparasportasaCristo!...Quem

14 Cf.EN1.

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deixaCristoentrarnãoperdenada,nada–absolutamentenada–doquefazavidalivre,belaegrande.Não!Sócomestaamiza-deabrem-seasportasdavida.Sócomestaamizadeabrem-serealmenteasgrandespotencialidadesdacondiçãohumana.Sócom esta amizade experimentamos o que é belo e o que nosliberta...NãotenhammedodeCristo!Elenãotiranadaedátudo.QuemsedáaEle,recebecemporum.Sim,abram,abramde par em par as portas a Cristo e encontrarão a verdadeiravida.15

16.“EstaVConferênciaGeralsecelebraemcontinuidadecomasoutrasquatroqueaprecederamnoRiodeJaneiro,Me-dellín,PueblaeSantoDomingo.Comomesmoespíritoqueasanimou,ospastoresqueremdaragoranovoimpulsoàevangeli-zação,afimdequeestespovossigamcrescendoeamadurecendoem sua fé, para serem luz do mundo e testemunhas de JesusCristocomaprópriavida”.16 ComopastoresdaIgreja,estamosconscientesdeque,“depoisdaIVConferênciaGeral,emSantoDomingo, muitas coisas mudaram na sociedade. A Igreja, queparticipadosgozoseesperanças,dastristezasealegriasdeseusfilhos,quercaminharaoseuladonesteperíododetantosdesa-fios,parainfundir-lhessempreesperançaeconsolo”.17

17.Nossaalegria,portanto,baseia-senoamordoPai,naparticipaçãonomistériopascaldeJesusCristoque,peloEspí-ritoSanto,nosfazpassardamorteparaavida,datristezaparaaalegria,doabsurdoparaosentidoprofundodaexistência,dodesalento para a esperança que não engana. Esta alegria nãoé sentimento artificialmente provocado nem estado de ânimopassageiro.OamordoPainos foi reveladoemCristoquenosconvidouaentraremseureino.Elenosensinouaorardizendo“Abba,Pai”(Rm8,15;cf.Mt6,9).

15Cf.BentoXVI,HomilianosoleneiníciodoMinistérioPetrinodoBispodeRoma,24deabrilde2005.

16 DI2.

17 Ibid.

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18.ConheceraJesusCristopelaféénossaalegria;segui-loéumagraça,etransmitirestetesouroaosdemaiséumatarefaqueoSenhornosconfiouaonoschamarenosescolher.ComosolhosiluminadospelaluzdeJesusCristoressuscitado,podemosequeremoscontemplaromundo,ahistória,osnossospovosdaAméricaLatinaedoCaribe,ecadaumdeseushabitantes.

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PrIMEIrAPArtE

AVIdAdEnoSSoSPoVoSHoJE

19.EmcontinuidadecomasConferênciasGeraisanterio-resdoEpiscopadoLatino-americano,estedocumentofazusodométodo“ver,julgareagir”.EstemétodoimplicaemcontemplaraDeuscomosolhosda féatravésdesuaPalavrareveladaeocontatovivificadordosSacramentos,afimdeque,navidacoti-diana,vejamosarealidadequenoscircundaàluzdesuaprovi-dênciaeajulguemossegundoJesusCristo,Caminho,VerdadeeVida,eatuemosapartirdaIgreja,CorpoMísticodeCristoeSacramento universal de salvação, na propagação do Reino deDeus,quesesemeianestaterraequefrutificaplenamentenoCéu. Muitas vozes, vindas de todo o Continente, ofereceramcontribuições e sugestões nesse sentido, afirmando que estemétodo tem colaborado para que vivamos mais intensamentenossavocaçãoemissãonaIgreja:temenriquecidonossotraba-lhoteológicoepastorale,emgeral,tem-nosmotivadoaassu-mirnossasresponsabilidadesdiantedassituaçõesconcretasdenossocontinente.Estemétodonospermitearticular,demodosistemático,aperspectivacristãdeverarealidade;aassunçãode

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critériosqueprovêmdaféedarazãoparaseudiscernimentoevalorizaçãocomsentidocrítico;e,emconseqüência,aprojeçãodoagircomodiscípulosmissionáriosdeJesusCristo.Aadesãocrente,alegreeconfianteemDeusPai,FilhoeEspíritoSantoeainserçãoeclesial,sãopressupostosindispensáveisquegarantemaeficáciadestemétodo.18

18Cf.CELAM,SíntesedascontribuiçõesrecebidasparaaVConferênciaGeraldoEpisco-padoLatino-americano,34-35.

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20. Nossa reflexão a respeito do caminho das Igrejas daAméricaLatinaedoCaribetemlugaremmeioa luzesesom-brasdenossotempo.Afligem-nos,masnãonosconfundem,asgrandesmudançasqueexperimentamos.Temosrecebidodonsincalculáveis,quenosajudamaolhararealidadecomodiscípu-losmissionáriosdeJesusCristo.

21.ApresençacotidianaecheiadeesperançadeincontáveisperegrinosnoslembraosprimeirosseguidoresdeJesusCristoqueforamaoJordão,ondeJoãobatizava,comaesperançadeencontraroMessias(cf.Mc1,5).ElessesentiramatraídospelasabedoriadaspalavrasdeJesus,pelabondadedeseutratoepelopoderde seus milagres. Epelo assombro inusitadoqueapes-soadeJesusdespertava,acolheramodomdaféevieramaserdiscípulosdeJesus.Aosairdastrevasedassombrasdemorte(cf.Lc1,79),avidadelesadquiriuplenitudeextraordinária:adehaversidoenriquecidacomodomdoPai.ViveramahistóriadeseupovoedeseutempoepassarampeloscaminhosdoImpérioRomano,semesqueceroencontromais importanteedecisivodesuavidaqueoshaviapreenchidodeluz,forçaeesperança:oencontrocomJesus,suarocha,suapaz,suavida.

22.Assimocorretambémanósolhararealidadedenos-sospovosedenossaIgreja,comseusvalores,suaslimitações,

CapítuloI

oSdISCÍPuLoSMISSIonÁrIoS

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suasangústiaseesperanças.Enquantosofremosenosalegra-mos,permanecemosnoamordeCristo,vendonossomundoeprocurandodiscernirseuscaminhoscomaalegreesperançaeaindizívelgratidãodecreremJesusCristo.EleéoFilhodeDeusverdadeiro, o único Salvador da humanidade. A importânciaúnica e insubstituível de Cristo para nós, para a humanidade,consisteemqueCristoéoCaminho,aVerdadeeaVida.“SenãoconhecemosaDeusemCristoecomCristo,todaarealidadesetornaumenigmaindecifrável;nãohácaminhoe,nãohavendocaminho,nãohávidanemverdade”.19Noclimaculturalrelati-vistaquenoscircundasefazsempremaisimportanteeurgenteenraizarefazeramadureceremtodoocorpoeclesialacertezadequeCristo,oDeusderostohumano,énossoverdadeiroeúnicosalvador.

1.1.Açãodegraçasadeus

23. Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,quenosabençooucomtodasortedebênçãosnapessoadeCristo(cf.Ef1,3).ODeusdaAliança,ricoemmisericórdia,nosamouprimeiro; imerecidamente amou a cada um de nós; por isso obendizemos,animadospeloEspíritoSanto,Espíritovivificador,almaevidada Igreja.Ele,que foiderramadoemnossoscora-ções,gemeeintercedepornósecomseusdonsnosfortaleceemnossocaminhodediscípulosemissionários.

24. Bendizemos a Deus com ânimo agradecido, porquenoschamouparasermosinstrumentosdeseureinodeamorevida,dejustiçaepaz,peloqualtantossesacrificaram.Elemes-monosencomendouaobradesuasmãosparaquecuidemosdelaeacoloquemosaserviçodetodos.AgradecemosaDeusporquenosfazcolaboradoresseusparaquesejamossolidárioscomsuacriaçãopelaqualsomosresponsáveis.BendizemosaDeusquenosdeuanaturezacriadaqueéseuprimeirolivro,

19 Cf.DI3.

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paraquepossamosconheceraEleevivernelacomoemnossacasa.

25.DamosgraçasaDeusquenosdeuodomdapalavra,comaqualpodemoscomunicar-noscomElepormeiodeseuFilho,queésuaPalavra(cf.Jo1,1),eentrenós.DamosgraçasaElequeporseugrandeamorfalaanóscomoaamigos(cf.Jo15,14-15).BendizemosaDeusquesenosdánacelebraçãodafé,especial-mentenaEucaristia,pãodevidaeterna.AaçãodegraçasaDeuspelosnumerososeadmiráveisdonsquenosoutorgouculminacomacelebraçãocentraldaIgreja,queéaEucaristia,alimentosubstancialdosdiscípulosemissionários.TambémpeloSacra-mento do Perdão que Cristo nos alcançou na cruz. LouvamosaoSenhorJesuspelopresentedesuaMãeSantíssima,MãedeDeuseMãedaIgrejanaAméricaLatinaenoCaribe,estreladaevangelizaçãorenovada,primeiradiscípulaegrandemissionáriadenossospovos.

26.IluminadospeloCristo,osofrimento,ainjustiçaeacruznosdesafiamavivercomoIgrejasamaritana(cf.Lc10,25-37),recordandoque“aevangelizaçãovaiunidasempreàpromoçãohumanaeàautênticalibertaçãocristã”.20DamosgraçasaDeusenosalegramospela fé, solidariedadeealegria característicasdenossospovos,transmitidasaolongodotempopelasavóseavôs,asmãesepais,oscatequistas,osrezadoresetantaspes-soasanônimas,cujacaridademantémvivaaesperançaemmeioàsinjustiçaseadversidades.

27.ABíbliamostrareiteradamenteque,quandoDeuscriouomundocomsuaPalavra,expressousatisfação,dizendoqueera“bom”(Gn1,21),equandocriouoserhumano,homememu-lher,disseque“eramuitobom”(Gn1,31).OmundocriadoporDeusébelo.Procedemosdeumdesígniodivinodesabedoriaeamor.Mas,atravésdopecadoessabelezaorigináriafoideson-radaeessabondadeferida.Deus,pornossoSenhorJesusCris-

20 DI3.

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24 CELAM

to emseu mistério pascal, recriouohomemfazendo-o filhoedando-lheagarantiadenovoscéusedeumanovaterra(cf.Ap21,1).LevamosaimagemdoprimeiroAdão,massomoschama-dostambém,desdeoprincípio,aproduzira imagemdeJesusCristo,novoAdão(cf.1Cor15,45).Acriação levaamarcadoCriadoredesejaserlibertadae“participardagloriosaliberdadedosfilhosdeDeus”(Rm8,21).

1.2.AalegriadeserdiscípulosemissionáriosdeJesusCristo

28. Neste encontro, queremos expressar a alegria de ser-mosdiscípulosdoSenhoredetermossidoenviadoscomote-sourodoEvangelho.Sercristãonãoéumacarga,masumdom:DeusPainosabençoouemJesusCristoseuFilho,Salvadordomundo.

29. Desejamos que a alegria que recebemos no encontrocomJesusCristo,aquemreconhecemoscomooFilhodeDeusencarnadoeredentor,chegueatodososhomensemulheresfe-ridospelasadversidades;desejamosqueaalegriadaboanovadoReinodeDeus,deJesusCristovencedordopecadoedamorte,chegueatodosquantosjazemàbeiradocaminho,pedindoes-molaecompaixão(cf.Lc10,29-37;18,25-43).Aalegriadodis-cípuloéantídotofrenteaummundoatemorizadopelofuturoeoprimidopelaviolênciaepeloódio.Aalegriadodiscípulonãoé um sentimento de bem-estar egoísta, mas uma certeza quebrotadafé,queserenaocoraçãoecapacitaparaanunciaraboanovadoamordeDeus.ConheceraJesuséomelhorpresentequequalquerpessoapodereceber;tê-loencontradofoiomelhorqueocorreuemnossasvidas,efazê-loconhecidocomnossapa-lavraeobrasénossaalegria.

1.3.AmissãodaIgrejaéevangelizar

30. A história da humanidade, história que Deus nuncaabandona, transcorre sob seu olhar compassivo. Deus amou

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25VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

tantonossomundoquenosdeuoseuFilho.EleanunciaaboanovadoReinoaospobreseaospecadores.Porisso,nós,comodiscípulosemissionáriosdeJesus,queremosedevemosprocla-maroEvangelho,queéopróprioCristo.AnunciamosanossospovosqueDeusnosama,quesuaexistêncianãoéameaçaparaohomem,queEleestápertocomopodersalvadorelibertadordeseuReino,queElenosacompanhanatribulação,quealentaincessantementenossaesperançaemmeioatodasasprovas.Oscristãos somos portadores de boas novas para a humanidade,nãoprofetasdedesventuras.

31.AIgrejadevecumprirsuamissãoseguindoospassosdeJesuseadotandosuasatitudes(cf.Mt9,35-36).Ele,sendooSe-nhor,sefezservidoreobedienteatéàmortedecruz(cf.Fl2,8);sendorico,escolheuserpobrepornós(cf.2Cor8,9),ensinando-nosocaminhodenossavocaçãodediscípulosemissionários.NoEvangelhoaprendemosasublimeliçãodeserpobresseguindoaJesuspobre(cf.Lc6,20;9,58),eadeanunciaroEvangelhodapazsembolsaoualforje,semcolocarnossaconfiançanodinhei-ronemnopoderdestemundo(cf.Lc10,4ss).NagenerosidadedosmissionáriossemanifestaagenerosidadedeDeus,nagra-tuidadedosapóstolosapareceagratuidadedoEvangelho.

32.NorostodeJesusCristo,mortoeressuscitado,maltra-tadopornossospecadoseglorificadopeloPai,nesserostodoenteeglorioso,21comoolhardafépodemosverorostohumilhadodetantoshomensemulheresdenossospovose,aomesmotempo,suavocaçãoàliberdadedosfilhosdeDeus,àplenarealizaçãodesuadignidadepessoaleàfraternidadeentretodos.AIgrejaestáaserviçodetodosossereshumanos,filhosefilhasdeDeus.

21 Cf.NMI25e28.

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2.1Arealidadequenosdesafiacomodiscípulosemissionários

33.OspovosdaAméricaLatinaedoCaribevivemhojeumarealidademarcadaporgrandesmudançasqueafetamprofunda-mentesuasvidas.ComodiscípulosdeJesusCristo,sentimo-nosdesafiadosadiscerniros“sinaisdostempos”,àluzdoEspíritoSanto,paranoscolocaraserviçodoReino,anunciadoporJesus,queveioparaquetodostenhamvidae“paraqueatenhamemplenitude”(Jo10,10).

34.Anovidadedessasmudanças,diferentementedoocor-ridoemoutrasépocas,équeelastêmalcanceglobalque,comdi-ferençasematizes,afetamomundointeiro.Habitualmentesãocaracterizadascomoofenômenodaglobalização.Umfatorde-terminantedessasmudançaséaciênciaeatecnologia,comsuacapacidadedemanipulargeneticamenteaprópriavidadosseresvivos,ecomsuacapacidadedecriarumarededecomunicaçõesdealcancemundial,tantopúblicacomoprivada,parainteragirem tempo real, ou seja, com simultaneidade, não obstante asdistânciasgeográficas.Comosecostumadizer,ahistóriaseace-leroueasprópriasmudançassetornamvertiginosas,vistoquesecomunicacomgrandevelocidadeatodososcantosdoplaneta.

CapítuloII

oLHArdoSdISCÍPuLoSMISSIonÁrIoSSoBrEArEALIdAdE

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2� CELAM

35. Essa nova escala mundial do fenômeno humano trazconseqüênciasemtodososcamposdeatividadedavidasocial,impactandoacultura,aeconomia,apolítica,asciências,aedu-cação, o esporte, as artes e também, naturalmente, a religião.Interessa-nos, comopastores da Igreja, saber comoesse fenô-menoafetaavidadenossospovoseosentidoreligiosoeéticodenossosirmãosquebuscaminfatigavelmenteorostodeDeus,eque,noentanto,devemfazê-loagoradesafiadospornovaslin-guagensdodomíniotécnico,quenemsemprerevelam,masquetambémocultamosentidodivinodavidahumanaredimidaemCristo.SemumaclarapercepçãodomistériodeDeus,torna-seopacotambémodesígnioamorosoepaternaldeumavidadignaparatodosossereshumanos.

36.Nessenovocontextosocial,arealidadeparaoserhu-manosetornoucadavezmaissembrilhoecomplexa.Issoquerdizerquequalquerpessoaindividualnecessitasempremaisin-formação,sedesejaexercersobrearealidadeosenhorioaque,por vocação, está chamada. Isso nos tem ensinado a olhar arealidadecommaishumildade,sabendoqueelaémaioremaiscomplexa que as simplificações com que costumávamos vê-laempassadoaindanãomuitodistanteeque,emmuitoscasos,introduziram conflitos na sociedade, deixando muitas feridasqueaindanãochegaramacicatrizar.Tambémsetornoudifícilperceberaunidadedetodososfragmentosdispersosqueresul-tamdainformaçãoquereunimos.Éfreqüentequealgunsquei-ram olhar a realidade unilateralmente a partir da informaçãoeconômica,outrosapartirdainformaçãopolíticaoucientífica,outrosapartirdoentretenimentooudoespetáculo.Noentan-to,nenhumdessescritériosparciaisconseguepropor-nosumsignificadocoerenteparatudooqueexiste.Quandoaspessoaspercebem essa fragmentação e limitação, costumam sentir-sefrustradas, ansiosas, angustiadas. A realidade social parecemuitograndeparaumaconsciênciaque, levandoemconside-raçãosuafaltadesabere informação,facilmentesecrêinsig-nificante,semingerênciaalgumanosacontecimentos,mesmo

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29VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

quando soma sua voz a outras vozes que procuram ajudar-sereciprocamente.

37.Essaéarazãopelaqualmuitosestudiososdenossaépo-casustentamquearealidadetraz inseparavelmenteumacrisedosentido.Elesnãosereferemaosmúltiplossentidosparciaisque cada um pode encontrar nas ações cotidianas que realiza,masaosentidoquedáunidadeatudooqueexisteenossucedenaexperiência,equeoscristãoschamamdesentidoreligioso.Habitualmente,estesentidosecolocaànossadisposiçãoatra-vésdenossastradiçõesculturaisquerepresentamahipótesederealidadecomquecadaserhumanopodeolharomundoemquevive. Em nossa cultura latino-americana e caribenha conhece-mosopapeltãonobreeorientadorqueareligiosidadepopulardesempenha,especialmenteadevoçãomariana,quecontribuiuparanostornarmaisconscientesdenossacomumcondiçãodefilhosdeDeusedenossacomumdignidadeperanteseusolhos,nãoobstanteasdiferençassociais,étnicasoudequalqueroutrotipo.

38.Noentanto,devemosadmitirqueessapreciosatradiçãocomeçaadiluir-se.Amaioriadosmeiosdecomunicaçãodemas-sanosapresentamagoranovas imagens,atrativase cheiasdefantasia.Aindaquetodossaibamqueelasnãopodemmostrarosentidounitáriodetodososfatoresdarealidade,oferecemaomenosoconsolodesertransmitidasemtemporeal,aovivoediretamente,comatualidade.Longedepreencherovazioprodu-zidoemnossaconsciênciapelafaltadeumsentidounitáriodavida,emmuitasocasiõesainformaçãotransmitidapelosmeiossónosdistrai.Afaltadeinformaçãosóseresolvecommaisin-formação,retro-alimentandoaansiedadedequempercebequeestáemummundoopacoequenãocompreende.

39.Essefenômenotalvezexpliqueumdosfatosmaisdes-concertanteseoriginaisquevivemosnopresente.Nossastradi-çõesculturaisjánãosetransmitemdeumageraçãoàoutracomamesmafluidezquenopassado.Issoafeta,inclusive,essenú-

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cleomaisprofundodecadacultura,constituídopelaexperiênciareligiosa,quesetornaagoraigualmentedifícildesertransmiti-doatravésdaeducaçãoedabelezadasexpressõesculturais,al-cançandoinclusiveaprópriafamíliaque,comolugardodiálogoedasolidariedadeinter-geracional,haviasidoumdosveículosmaisimportantesdatransmissãodafé.Osmeiosdecomunica-ção invadiramtodososespaçosetodasasconversas, introdu-zindo-setambémnaintimidadedolar.Aoladodasabedoriadastradições, localizam-seagora,emcompetição,ainformaçãodeúltimominuto,adistração,oentretenimento,as imagensdosvencedoresquesouberamusaraseufavorasferramentastec-nológicaseasexpectativasdeprestígioeestimasocial.Issofazcomqueaspessoasbusquemdenodadamenteumaexperiênciadesentidoquepreenchaasexigênciasdesuavocação,aliondenuncapoderãoencontrá-la.

40. Entre os pressupostos que enfraquecem e menospre-zamavidafamiliar,encontramosaideologiadegênero,segundoaqualcadaumpodeescolhersuaorientaçãosexual,semlevaremconsideraçãoasdiferençasdadaspelanaturezahumana.Issotemprovocadomodificaçõeslegaisqueferemgravementeadig-nidadedomatrimônio,orespeitoaodireitoàvidaeaidentidadedafamília.22

41. Por essa razão, os cristãos precisam recomeçar a par-tirdeCristo,apartirdacontemplaçãodequemnosrevelouemseumistérioaplenitudedocumprimentodavocaçãohumanaedeseusentido.Necessitamosfazer-nosdiscípulosdóceis,paraaprendermos dEle, em seu seguimento, a dignidade e a pleni-tudedavida.Enecessitamos,aomesmotempo,queozelomis-sionárionosconsumaparalevaraocoraçãodaculturadenossotempoaquelesentidounitárioecompletodavidahumanaque

22Cf.CongregaçãoparaaDoutrinadaFé,Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a cola-boração do homem e da mulher na Igreja e no mundo,n,2,31demaiode2004,quecitaoPon-tifícioConselhoparaaFamília,Família, matrimônio e “uniões de fato”,n.8,21denovembrode2000.

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nemaciência,nemapolítica,nemaeconomianemosmeiosde comunicação poderão proporcionar-lhe. Em Cristo Palavra,SabedoriadeDeus(cf.1Cor1,30),aculturapodevoltaraencon-trarseucentroesuaprofundidade,apartirdeondeépossívelolhararealidadenoconjuntodetodosseusfatores,discernindo-osàluzdoEvangelhoedandoacadaumseulugaresuadimen-sãoadequada.

42.ComonosdisseoPapaemseudiscursoinaugural:“sóquemreconheceaDeus,conhecearealidadeepoderesponderaelademodoadequadoerealmentehumano”.23Asociedadequecoordena suas atividades só mediante múltiplas informações,acreditaquepodeagirdefatocomoseDeusnãoexistisse.Masaeficáciadosprocedimentosconseguidamedianteainformação,aindaquecomastecnologiasmaisdesenvolvidas,nãoconseguesatisfazerodesejodedignidade inscritonomaisprofundodavocaçãohumana.Porisso,nãobastasuporqueameradiversida-dedepontosdevista,deopçõese,finalmente,deinformações,quecostumareceberonomedeplurioumulticulturalidade,re-solveráaausênciadeumsignificadounitáriopara tudooqueexiste.Apessoahumanaé,emsuaprópriaessência,olugardanatureza para onde converge a variedade dos significados emumaúnicavocaçãodesentido.Aspessoasnãoseassustamcomadiversidade.Oquedefatoasassustaénãoconseguiremreuniroconjuntodetodosessessignificadosdarealidadeemumacom-preensão unitária que lhes permita exercer sua liberdade comdiscernimento e responsabilidade. A pessoa sempre procura averdadedeseuser,vistoqueéestaverdadequeiluminaareali-dadedetalmodoquepossanelasedesenvolvercomliberdadeealegria,comprazereesperança.

2.1.1 Situação sócio-cultural

43.Portanto,arealidadesocialqueemsuadinâmicaatualdescrevemoscomapalavraglobalização,antesquequalquerou-

23DI3.

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tradimensão,impactaanossaculturaeomodocomonosinse-rimosenosapropriamosdela.Avariedadeeriquezadascultu-raslatino-americanas,desdeasmaisorigináriasatéaquelasquecomapassagemdahistóriaeamestiçagemdeseuspovosforamsesedimentandonasnações,nas famílias,nosgrupossociais,nasinstituiçõeseducativasenaconvivênciacívica,constituiumdadobastanteevidenteparanósequevalorizamoscomorique-zasingular.Oquehojeemdiaestáemjogonãoéadiversidadequeosmeiosdecomunicaçãosãocapazesdeindividualizarere-gistrar.Oqueninguémesqueceé,pelocontrário,apossibilida-dedequeessadiversidadepossaconvergiremumasínteseque,envolvendoavariedadedesentidos,sejacapazdeprojetá-laemumdestinohistóricocomum.Nisso resideovalor incompará-veldoânimomarianodenossareligiosidadepopularque,sobdistintosnomes,temsidocapazdefundirasdiversashistóriaslatino-americanasemumahistória compartilhada:aquelaqueconduzaCristo,Senhordavida,emquemserealizaamaisaltadignidadedenossavocaçãohumana.

44.Vivemosumamudançadeépoca,eseunívelmaispro-fundoéocultural.Dissolve-seaconcepçãointegraldoserhu-mano,suarelaçãocomomundoecomDeus;“aquiestápreci-samente o grande erro das tendências dominantes do últimoséculo...QuemexcluiDeusdeseuhorizonte,falsificaoconceitodarealidadeesópodeterminaremcaminhosequivocadosecomreceitasdestrutivas.24Surgehoje,comgrandeforça,umasobre-valorizaçãodasubjetividadeindividual.Independentementedesuaforma,aliberdadeeadignidadedapessoasãoreconhecidas.Oindividualismoenfraqueceosvínculoscomunitáriosepropõeumaradicaltransformaçãodotempoedoespaço,dandopapelprimordial à imaginação. Os fenômenos sociais, econômicos etecnológicos estão na base da profunda vivência do tempo, oqual se concebe fixado no próprio presente, trazendo concep-çõesdeinconsistênciaeinstabilidade.Deixa-sedeladoapreo-

24Ibid.

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cupaçãopelobemcomumparadar lugaràrealizaçãoimediatadosdesejosdos indivíduos,à criação de novosemuitasvezesarbitrários direitos individuais, aos problemas da sexualidade,dafamília,dasenfermidadesedamorte.

45.Aciênciaea técnicaquandocolocadasexclusivamen-teaserviçodomercado,comoscritériosúnicosdaeficácia,darentabilidadeedofuncional,criamumanovavisãodarealidade.Autilizaçãodosmeiosdecomunicaçãodemassaestáintrodu-zindo na sociedade um sentido estético, uma visão a respeitodafelicidade,umapercepçãodarealidadeeatéumalinguagem,quequeremimpor-secomoautênticacultura.Dessemodo,ter-mina-sepordestruiroquedeverdadeiramentehumanohánosprocessos de construção cultural, que nascem do intercâmbiopessoalecoletivo.

46.Verifica-se,emnívelmassivo,umaespéciedenovaco-lonizaçãoculturalpelaimposiçãodeculturasartificiais,despre-zandoasculturaslocaisecomtendênciasaimporumaculturahomogeneizadaemtodosossetores.Essaculturasecaracterizapelaauto-referênciadoindivíduo,queconduzàindiferençapelooutro,dequemnãonecessitaeporquemnãosesenterespon-sável.Prefere-seviverodia-a-dia,semprogramasalongoprazonemapegospessoais,familiaresecomunitários.Asrelaçõeshu-manasestãosendoconsideradasobjetosdeconsumo,conduzin-doarelaçõesafetivassemcompromissoresponsáveledefinitivo.

47. Também se verifica uma tendência para a afirmaçãoexasperada de direitos individuais e subjetivos. Essa busca épragmáticaeimediatista,sempreocupaçãocomcritérioséticos.Aafirmaçãodosdireitosindividuaisesubjetivos,semumesfor-çosemelhanteparagarantirosdireitossociaisculturaisesolidá-rios,resultaemprejuízodadignidadedetodos,especialmentedaquelesquesãomaispobresevulneráveis.

48.NestahoradaAméricaLatinaedoCaribe,éimperati-votomarconsciênciadasituaçãoprecáriaqueafetaadignidade

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de muitas mulheres. Algumas, desde crianças e adolescentes,sãosubmetidasamúltiplasformasdeviolênciadentroeforadecasa:tráfico,violação,escravizaçãoeassédiosexual;desigualda-desnaesferadotrabalho,dapolíticaedaeconomia;exploraçãopublicitária por parte de muitos meios de comunicação socialqueastratamcomoobjetodelucro.

49.Asmudançasculturaismodificaramospapéistradi-cionaisdehomensemulheres,queprocuramdesenvolverno-vasatitudeseestilosdesuasrespectivasidentidades,poten-cializandotodasassuasdimensõeshumanasnaconvivênciacotidiana,nafamíliaenasociedade,àsvezesporviasequivo-cadas.

50. A avidez do mercado descontrola o desejo de crian-ças, jovens e adultos. A publicidade conduz ilusoriamente amundosdistantesemaravilhosos,ondetododesejopodesersatisfeitopelosprodutosquetêmcarátereficaz,efêmeroeatémessiânico.Legitima-sequeosdesejossetornemfelicidade.Comosósenecessitadoimediato,afelicidadesepretendeal-cançaratravésdobem-estareconômicoedasatisfaçãohedo-nista.

51.Asnovasgeraçõessãoasmaisafetadasporessaculturadoconsumoemsuasaspiraçõespessoaisprofundas.Crescemna lógicado individualismopragmáticoenarcisista,quedes-pertanelasmundosimagináriosespeciaisdeliberdadeeigual-dade.Afirmamopresenteporqueopassadoperdeurelevânciadiantedetantasexclusõessociais,políticaseeconômicas.Paraelasofuturoéincerto.Assimmesmo,participamdalógicadavida como espetáculo, considerando o corpo como ponto dereferência de sua realidade presente. Têm nova atração pelassensaçõesecrescemnagrandemaioriasemreferênciaaosva-loreseinstânciasreligiosas.Emmeioàrealidadedemudançacultural, emergem novos sujeitos, com novos estilos de vida,maneirasdepensar,desentir,deperceberecomnovasformasdeserelacionar.Sãoprodutoreseatoresdanovacultura.

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52. Entre os aspectos positivos dessa mudança culturalapareceovalorfundamentaldapessoa,desuaconsciênciaeex-periência,abuscadosentidodavidaedatranscendência.Paradarrespostaàbuscamaisprofundadosignificadodavida,ofra-cassodasideologiasdominantespermitiuqueasimplicidadeeoreconhecimentodofracoedopequenonaexistênciasurgissemcomovalor,comgrandecapacidadeepotencialquenãopodemserdesvalorizados.Essaênfasenaapreciaçãodapessoaabreno-voshorizontes,ondea tradiçãocristãadquire renovadovalor,sobretudo quando a pessoa se reconhece no Verbo encarnadoquenasceemumestábuloeassumeumacondiçãohumilde,depobre.

53.Anecessidadedeconstruiroprópriodestinoeodese-jodeencontrarrazõesparaaexistênciapodemcolocaremmo-vimentoodesejodeseencontrarcomoutrosecompartilharovivido,comomaneiradedarasiumaresposta.Trata-sedeumaafirmação da liberdade pessoal e, por isso, da necessidade dequestionaremprofundidadeasprópriasconvicçõeseopções.

54. Porém, junto com a ênfase na responsabilidade indi-vidualemmeioasociedadesquepromovemoacessoaosbensatravésdosmeios,paradoxalmente,senegaàsgrandesmaioriasoacessoaosmesmosbensqueconstituemelementosbásicoseessenciaisparaviveremcomopessoas.

55.Aênfasenaexperiênciapessoalenovivencialnoslevaaconsiderarotestemunhocomocomponentechavenavivênciadafé.Osfatossãovalorizadosquandosãosignificativosparaapessoa.Nalinguagemtestemunhalpodemosencontrarumpon-todecontatocomaspessoasquecompõemasociedadeedelasentresi.

56.Poroutro lado,ariquezaeadiversidadeculturaldospovosdaAméricaLatinaedoCaribesetornamevidentes.Exis-tememnossaregiãodiversasculturasindígenas,afro-america-nas,mestiças,camponesas,urbanasesuburbanas.Asculturas

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indígenassecaracterizamsobretudoporseuapegoprofundoàterra,pelavidacomunitáriaeporumacertaprocuradeDeus.Os afro-americanos se caracterizam, entre outros elementos,pelaexpressividadecorporal,oenraizamentofamiliareosen-tidodeDeus.Aculturacamponesaserelacionaaocicloagrá-rio.Aculturamestiça,queéamaisextensaentremuitospovosdaregião,tembuscadoemmeioàscontradiçõessintetizaraolongo da história essas múltiplas fontes culturais originárias,facilitandoodiálogodasrespectivascosmovisõesepermitindosuaconvergênciaemumahistóriacompartilhada.Aessacom-plexidadecultural sedeveriaacrescentar tambémade tantosimigranteseuropeusqueseestabeleceramnospaísesdenossaregião.

57.Essasculturascoexistememcondiçõesdesiguais coma chamada cultura globalizada. Elas exigem reconhecimento eoferecemvaloresqueconstituemumarespostaaosanti-valoresda cultura que se impõem através dos meios de comunicaçãode massas: comunitarismo, valorização da família, abertura àtranscendênciaesolidariedade.Essasculturassãodinâmicaseestãoeminteraçãopermanenteentresiecomasdiferentespro-postasculturais.

58. A cultura urbana é híbrida, dinâmica e mutável, poisamalgamamúltiplasformas,valoreseestilosdevidaeafetato-dasascoletividades.Aculturasuburbanaéfrutodegrandesmi-graçõesdepopulação,emsuamaioriapobre,queseestabeleceuaoredordascidadesnoscinturõesdemiséria.Nessasculturasosproblemasdeidentidadeepertença,relação,espaçovitalelarsãocadavezmaiscomplexos.

59. Existem também comunidades de migrantes que dei-xaramasculturasetradiçõestrazidasdesuasterrasdeorigem,sejamcristãsoudeoutrasreligiões.Porsuavez,essadiversida-de inclui comunidadesquese foramformandocomachegadadediferentesdenominaçõescristãseoutrosgruposreligiosos.Assumiradiversidadecultural,queéimperativodomomento,

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envolvesuperarosdiscursosquepretendemuniformizaracul-tura,comenfoquesbaseadosemmodelosúnicos.

2.1.2 Situação econômica

60.OPapa,emseuDiscurso Inaugural,vêaglobalizaçãocomoumfenômeno“derelaçõesdenívelplanetário”,conside-rando-o“umaconquistadafamíliahumana”,porquefavoreceoacessoanovastecnologias,mercadosefinanças.Asaltastaxasdecrescimentodenossaeconomiaregionale,particularmente,seudesenvolvimentourbano,nãoseriampossíveissemaaber-turaaocomérciointernacional,semacessoàstecnologiasdeúl-timageração,semaparticipaçãodenossoscientistasetécnicosnodesenvolvimentointernacionaldoconhecimentoesemoaltoinvestimentoregistradonosmeioseletrônicosdecomunicação.Tudoissolevatambémconsigoosurgimentodeumaclassemé-diatecnologicamenteletrada.Aomesmotempo,aglobalizaçãose manifesta como a profunda aspiração do gênero humano àunidade.Nãoobstanteessesavanços,oPapatambémassinalaque a globalização “comporta o risco dos grandes monopóliosedeconverterolucroemvalorsupremo”.Porisso,BentoXVIenfatizaque“comoemtodososcamposdaatividadehumana,aglobalizaçãodevereger-setambémpelaética,colocandotudoaserviçodapessoahumana,criadaàimagemesemelhançadeDeus”.25

61. A globalização é um fenômeno complexo que possuidiversas dimensões (econômicas, políticas, culturais, comu-nicacionais,etc).Parasua justavalorização,énecessáriaumacompreensãoanalíticaediferenciadaquepermitadetectartan-to seus aspectos positivos quanto os negativos. Lamentavel-mente,a facemaisdifundidaedeêxitodaglobalizaçãoésuadimensão econômica, que se sobrepõe e condiciona as outrasdimensões da vida humana. Na globalização, a dinâmica domercadoabsolutizacomfacilidadeaeficáciaeaprodutividade

25DI2.

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comovalores reguladoresde todasas relaçõeshumanas.Essecaráterpeculiar fazdaglobalizaçãoumprocessopromotordeiniqüidadeseinjustiçasmúltiplas.Aglobalização,talcomoestáconfiguradaatualmente,nãoécapazdeinterpretarereagiremfunçãodevaloresobjetivosqueseencontramalémdomercadoequeconstituemomaisimportantedavidahumana:averda-de,a justiça,oamor,emuitoespecialmenteadignidadeeosdireitos de todos, inclusive daqueles que vivem à margem doprópriomercado.

62. Conduzida por uma tendência que privilegia o lucroe estimula a concorrência, a globalização segue uma dinâmi-cadeconcentraçãodepoderederiquezaemmãosdepoucos.Concentraçãonãosódosrecursosfísicosemonetários,masso-bretudodainformaçãoedosrecursoshumanos,oqueproduzaexclusãodetodosaquelesnãosuficientementecapacitadoseinformados,aumentandoasdesigualdadesquemarcamtriste-mentenossocontinenteequemantêmnapobrezaumamulti-dãodepessoas.Oqueexistehojeéapobrezadeconhecimentoedousoeacessoanovastecnologias.Porisso,énecessárioqueos empresários assumam sua responsabilidade de criar maisfontes de trabalho e de investir na superação dessa nova po-breza.

63.Nãosepodenegarqueopredomíniodessatendêncianãoeliminaapossibilidadedeseformarempequenasemédiasempresas. Elas se associam ao dinamismo exportador da eco-nomia, prestam-lhe serviços colaterais ou aproveitam nichosespecíficosdomercadointerno.Noentanto,suafragilidadeeco-nômicaefinanceiraeapequenaescalaemquesedesenvolvem,as tornamextremamentevulneráveis frenteàs taxasde juros,aoriscodocâmbio,aoscustosprevisíveiseàvariaçãonospreçosdeseusinsumos.Adebilidadedessasempresasseassociaàpre-cariedadedoempregoqueestãoemcondiçõesdeoferecer.Semuma política de proteção específica dos Estados frente a elas,corre-seoriscodequeaseconomiasdeescaladosgrandescon-

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sórciostermineporse imporcomoúnicaformadeterminantedodinamismoeconômico.

64.Porisso,frenteaessaformadeglobalização,sentimosfortechamadoparapromoverumaglobalizaçãodiferente,queesteja marcada pela solidariedade, pela justiça e pelo respeitoaos direitos humanos, fazendoda América LatinaedoCaribenãosóoContinentedaesperança,mastambémoContinentedoamor,comopropôsSS.BentoXVInoDiscursoInauguraldestaConferência.

65.Issonosdeverialevaracontemplarosrostosdaquelesquesofrem.Entreeles,estãoascomunidadesindígenaseafro-americanasque,emmuitasocasiões,nãosãotratadascomdig-nidadeeigualdadedecondições;muitasmulheressãoexcluídas,emrazãodeseusexo,raçaousituaçãosócio-econômica;jovensquerecebemumaeducaçãodebaixaqualidadeenãotêmopor-tunidadesdeprogrediremseusestudosnemdeentrarnomer-cadodetrabalhoparasedesenvolvereconstituirumafamília;muitospobres,desempregados,migrantes,deslocados,agricul-toressemterra,aquelesqueprocuramsobrevivernaeconomiainformal;meninosemeninassubmetidosàprostituiçãoinfantil,ligadamuitasvezesaoturismosexual;tambémascriançasvíti-masdoaborto.Milhõesdepessoasefamíliasvivemnamisériaeinclusivepassamfome.Preocupam-nostambémosdependen-tesdasdrogas,aspessoascomlimitaçõesfísicas,osportadoresevítimasdeenfermidadesgravescomoamalária,atuberculoseeHIV–AIDS,quesofremasolidãoesevêemexcluídosdaconvi-vênciafamiliaresocial.Nãoesquecemostambémosseqüestra-doseosquesãovítimasdaviolência,doterrorismo,deconflitosarmadoseda insegurançanacidade.Tambémosanciãosque,além de se sentirem excluídos do sistema produtivo, vêem-semuitasvezesrecusadosporsuafamíliacomopessoas incômo-daseinúteis.Sentimosasdores,enfim,dasituaçãodesumanaemqueviveagrandemaioriadospresos,quetambémnecessi-tamdenossapresençasolidáriaedenossaajudafraterna.Uma

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globalizaçãosemsolidariedadeafetanegativamenteossetoresmaispobres.Jánãosetratasimplesmentedofenômenodaex-ploraçãoeopressão,masdealgonovo:aexclusãosocial.Comelaapertençaàsociedadenaqualseviveficaafetadanaraiz,poisjánãoestáabaixo,naperiferiaousempoder,masestáfora.Osexcluídosnãosãosomente“explorados”,mas“supérfluos”e“descartáveis”.

66.Asinstituiçõesfinanceiraseasempresastransnacionaissefortalecemaopontodesubordinaraseconomiaslocais,sobre-tudodebilitandoosEstados,queaparecemcadavezmaisimpo-tentesparalevaradianteprojetosdedesenvolvimentoaserviçodesuaspopulações,especialmentequandose tratade investi-mentos de longo prazo e sem retorno imediato. As indústriasextrativistasinternacionaiseaagroindústria,muitasvezes,nãorespeitamosdireitoseconômicos,sociais,culturaiseambientaisdas populações locais e não assumem suas responsabilidades.Commuitafreqüênciamsesubordinaapreservaçãodanature-zaaodesenvolvimentoeconômico,comdanosàbiodiversidade,comoesgotamentodasreservasdeáguaedeoutrosrecursosnaturais,comacontaminaçãodoareamudançaclimática.Aspossibilidadeseeventuaisproblemasdaproduçãodeagrocom-bustíveisdevemserestudadas,detalmaneiraqueprevaleçaovalordapessoahumanaedesuasnecessidadesdesobrevivên-cia.AAméricaLatinapossuiosaqüíferosmaisabundantesdoplaneta, junto com grandes extensões de território selvagem,quesãopulmõesdahumanidade.Assimsedãogratuitamenteaomundoserviçosambientaisquenãosãoreconhecidosecono-micamente.Aregiãosevêafetadapeloaquecimentodaterraeamudançaclimáticaprovocadaprincipalmentepeloestilodevidanãosustentáveldospaísesindustrializados.

67. A globalização tem celebrado freqüentes Tratados deLivre Comércio entre países com economias assimétricas, quenemsemprebeneficiamospaísesmaispobres.Aomesmotem-po,pressiona-seaospaísesdaregiãocomexigênciasdesmedidas

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emmatériadepropriedadeintelectual,atalpontoqueseper-mitemdireitosdepatentesobreavidaemtodasassuasformas.Alémdisso,autilizaçãodeorganismosgeneticamentemanipu-lados tem mostrado quê nem sempre a globalização contribuiparaocombatecontraafome,nemparaodesenvolvimentoru-ralsustentável.

68.Aindaquesetenhaprogredidomuitíssimonocontro-ledainflaçãoenaestabilidademacro-econômicadospaísesdaregião, muitos governos se encontram severamente limitadosparaofinanciamentodeseuorçamentopúblicopeloselevadosserviçosdadívidaexterna26einterna,enquanto,poroutrolado,nãocontamcomsistemastributáriosverdadeiramenteeficien-tes,progressivoseeqüitativos.

69.Aatualconcentraçãoderendaeriquezaaconteceprin-cipalmentepelosmecanismosdosistemafinanceiro.Aliberda-deconcedidaaosinvestimentosfinanceirosfavorecemocapitalespeculativo,quenãotemincentivosparafazerinvestimentosprodutivosdelongoprazo,masbuscaolucroimediatonosne-gócios com títulos públicos, moedas e derivados. No entanto,segundoaDoutrinaSocialdaIgreja,“oobjetodaeconomiaéaformaçãodariquezaeseuincrementoprogressivo,emtermosnãosóquantitativos,masqualitativos:tudoémoralmentecor-retoseestáorientadoparaodesenvolvimentoglobalesolidáriodohomemedasociedadenaqualviveetrabalha.Odesenvol-vimento, na verdade, não se pode reduzir a mero processo deacumulaçãodebenseserviços.Aocontrário,apuraacumulação,aindaqueparaobemcomum,nãoécondiçãosuficienteparaarealizaçãodeumaautênticafelicidadehumana”.27Aempresaéchamadaaprestarumacontribuiçãomaiornasociedade,assu-mindoachamadaresponsabilidadesocial-empresarial,apartirdessaperspectiva.

26Cf.TMA51;BentoXVI,CartaàChancelerdaRepúblicaFederaldaAlemanha,ÂngelaMerkel,12dedezembrode2006.

27CompêndiodaDoutrinaSocialdaIgreja,334.

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70.Étambémalarmanteoníveldecorrupçãonasecono-mias,envolvendotantoosetorpúblicoquantoosetorprivado,ao que se soma notável falta de transparência e prestação decontasàcidadania.Emmuitasocasiões,acorrupçãoestávincu-ladaaoflagelodonarcotráficooudonarconegócio,eporoutroladovemdestruindootecidosocialeeconômicoemregiõesin-teiras.

71.Apopulaçãoeconomicamenteativadaregiãoéafetadapelosubemprego(42%)epelodesemprego(9%),equaseameta-deestáempregadanotrabalhoinformal.Otrabalhoformal,porsuavez,sevêsubmetidoàprecariedadedascondiçõesdeem-pregoeàpressãoconstantedasubcontratação,quetrazconsigosaláriosmaisbaixose faltadeproteçãonaáreadaseguridadesocial,nãopermitindoamuitosodesenvolvimentodeumavidadigna.Nessecontexto,ossindicatosperdemapossibilidadededefenderosdireitosdostrabalhadores.Poroutrolado,épossí-veldestacarfenômenospositivosecriativosparaenfrentartalsituaçãoporpartedosafetados,quevêmestimulandodiversasexperiências,comoporexemplomicro-finanças,economialocalesolidáriaecomérciojusto.

72.Oshomensdocampo,emsuamaioria,sofremporcau-sadapobreza,agravadapornãoteremacessoà terraprópria.No entanto, existem grandes latifúndios em mãos de poucos.Emalgunspaíses,essasituaçãotemlevadoapopulaçãoaexigirumaReformaAgrária,estandoatentosaosmalesquelhespo-democasionarosTratadosdeLivreComércio,amanipulaçãodadrogaeoutrosfatores.

73.Umdosfenômenosmaisimportantesemnossospaíseséoprocessodemobilidadehumana,emsuaduplaexpressãodemigraçãoeitinerância,emquemilhõesdepessoasmigramousevêemforçadasamigrardentroeforadeseusrespectivospaíses.Ascausassãodiversaseestãorelacionadascomasituaçãoeco-nômica,aviolênciaemsuasdiversasformas,apobrezaqueafetaas pessoas e a falta de oportunidades para a pesquisa e o de-

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senvolvimentoprofissional.Emmuitoscasos,asconseqüênciassãodeenormegravidadeemnívelpessoal,familiarecultural.Aperdadocapitalhumanodemilhõesdepessoas,deprofissionaisqualificados,depesquisadoreseamplossetorescamponeses,vainosempobrecendocadavezmais.Aexploraçãodotrabalhoche-ga,emalgunscasos,agerarcondiçõesdeverdadeiraescravidão.Acontecetambémumvergonhosotráficodepessoas,queincluiaprostituição,inclusivedemenores.Mereceespecialmençãoasituaçãodosrefugiados,quequestionaacapacidadedeacolhidadasociedadeedasigrejas.Poroutrolado,noentanto,aremessadedivisasdosemigradosaseuspaísesdeorigemsetemtorna-doumaimportantee,àsvezes,insubstituívelfontederecursosparadiversospaísesdaregião,ajudandoobem-estareamobili-dadesocialascendentedaquelesqueconseguemparticiparcomêxitonesseprocesso.

2.1.3 Dimensão sócio-política

74.Constatamosumcertoprogressodemocráticoquesedemonstra em diversos processos eleitorais. No entanto, ve-moscompreocupaçãooaceleradoavançodediversasformasde regressão autoritária por via democrática que, em certasocasiões, resultam em regimes de corte neo-populista. Issoindicaquenãobastaumademocraciapuramenteformal,fun-dadaemprocedimentoseleitoraishonestos,masqueéneces-sáriaumademocraciaparticipativaebaseadanapromoçãoerespeito dos direitos humanos. Uma democracia sem valorescomoosmencionadostorna-sefacilmenteditaduraeterminatraindoopovo.

75. Com a presença da Sociedade Civil assumindo umaatitudemaisprotagonistaeairrupçãodenovosatoressociaiscomoosindígenas,osafro-americanos,asmulheres,osprofis-sionais,umaextensaclassemédiaeossetoresmarginalizadosorganizados,vemsefortalecendoademocraciaparticipativae estão se criando maiores espaços de participação política.Esses grupos estão tomando consciência do poder que têm

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nas mãos e da possibilidade de gerarem mudanças impor-tantesparaaconquistadepolíticaspúblicasmaisjustas,querevertam sua situação de exclusão. Nesse plano, percebe-setambémumacrescenteinfluênciadeorganismosdasNaçõesUnidasedeOrganizaçõesNão-Governamentaisdecaráterin-ternacional,quenemsempreajustamsuasrecomendaçõesacritérioséticos.Nãofaltamtambématuaçõesqueradicalizamasposições,fomentamaconflitividadeeapolarizaçãoextre-mase colocamessepotenciala serviçode interessesalheiosaosseus,oqueaofinalpodefrustrarereverternegativamentesuasesperanças.

76.DepoisdeumaépocadeenfraquecimentodosEstadosdevidoàaplicaçãodeajustesestruturaisnaeconomia,por re-comendação de organismos financeiros internacionais, vê-seatualmentecombonsolhosumesforçodosEstadosemdefinireaplicarpolíticaspúblicasnoscamposdasaúde,educação,segu-ridadealimentar,previdênciasocial,acessoàterraeàmoradia,promoçãoeficazdaeconomiaparaacriaçãodeempregoseleisquefavorecemasorganizaçõessolidárias.Tudoissomostraquenãopodeexistirdemocraciaverdadeiraeestávelsemjustiçaso-cial,semdivisãorealdepoderesesemavigênciadoEstadodedireito.28

77. Cabe assinalar, como grande fator negativo em boapartedaregião,orecrudescimentodacorrupçãonasociedadeenoEstado,envolvendoospodereslegislativoseexecutivosemtodososníveis,alcançandotambémosistema judiciárioque,muitasvezes,inclinaseujuízoafavordospoderososegeraim-punidade,oquecolocaemsérioriscoacredibilidadedasinsti-tuiçõespúblicaseaumentaadesconfiançadopovo,fenômenoqueseuneaumprofundodesprezopelalegalidade.Emamplossetores da população, e especialmente entre os jovens, cresceodesencantopelapolíticaeparticularmentepelademocracia,

28 Cf.EAm56.

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poisaspromessasdeumavidamelhoremaisjustanãosecum-priramousecumpriramsópelametade.Nessesentido,esque-ce-sedequeademocraciaeaparticipaçãopolíticasãofrutodaformaçãoquesefazrealidadesomentequandooscidadãossãoconscientes de seus direitos fundamentais e de seus deverescorrespondentes.

78.AvidasocialemconvivênciaharmônicaepacíficaestásedeteriorandogravementeemmuitospaísesdaAméricaLa-tina e do Caribe pelo crescimento da violência, que se mani-festaemroubos,assaltos,seqüestros,eoqueémaisgrave,emassassinatos que a cada dia destroem mais vidas humanas eenchemdedorasfamíliaseasociedadeinteira.Aviolênciasereveste de várias formas e tem diversos agentes: o crime or-ganizadoeonarcotráfico,gruposparamilitares,violênciaco-mumsobretudonaperiferiadasgrandescidades,violênciadegruposjuvenisecrescenteviolênciaintra-familiar.Suascausassãomúltiplas:aidolatriadodinheiro,oavançodeumaideolo-giaindividualistaeutilitarista,afaltaderespeitopeladignida-dedecadapessoa,adeterioraçãodotecidosocial,acorrupçãoinclusivenasforçasdaordemeafaltadepolíticaspúblicasdeeqüidadesocial.

79. Alguns parlamentos ou assembléias legislativas apro-vamleisinjustascontraosdireitoshumanoseavontadepopu-lar,precisamentepornãoestarempertodeseusrepresentados,nemsaberemescutaredialogarcomoscidadãos,mastambémporignorância,porfaltadeacompanhamentoeporquemuitoscidadãosabdicamdeseudeverdeparticiparnavidapública.

80.Emalgunspaísestemaumentadoarepressão,aviola-çãodosdireitoshumanos,inclusiveodireitoàliberdadereligio-sa,aliberdadedeexpressãoealiberdadedeensino,assimcomoodesprezoàobjeçãodeconsciência.

81.Aindaquealgunspaísestenhamconseguidoacordosdepazsuperandodessaformaconflitosantigos,emoutrosconti-

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nuaalutaarmadacomtodasassuasseqüelas(mortesviolentas,violaçõesdosDireitosHumanos,ameaças, criançasnaguerra,seqüestrosetc.),semquesepossampreversoluçõesacurtopra-zo.A influênciadonarconegócionessesgruposdificultaaindamaisaspossíveissoluções.

82.NaAméricaLatinaenoCaribevê-se combonsolhosuma crescente vontade de integração regional mediante acor-dos multilaterais, envolvendo crescente número de países quegeramsuasprópriasregrasnocampodocomércio,dosserviçosedaspatentes.Àorigemcomumunem-seacultura,alínguaeareligião,quepodemcontribuirparaqueaintegraçãonãosejasódemercados,masdeinstituiçõescivisesobretudodepessoas.Tambémépositivaaglobalizaçãodajustiça,nocampodosdirei-toshumanosedoscrimescontraahumanidade,quepermitiráatodosviverprogressivamentesobnormasiguaischamadasaprotegersuadignidade,suaintegridadeesuavida.

2.1.4 Biodiversidade, ecologia, Amazônia e Antártida

83.AAméricaLatinaéoContinentequepossuiumadasmaioresbiodiversidadesdoplanetaeumaricasócio-diversida-de,representadaporseuspovoseculturas.Estespossuemgran-deacervodeconhecimentostradicionaissobreautilizaçãodosrecursosnaturais,assimcomosobreovalormedicinaldeplan-taseoutrosorganismosvivos,muitosdosquaisformamabasedesuaeconomia.Taisconhecimentossãoatualmenteobjetodeapropriaçãointelectualilícita,sendopatenteadosporindústriasfarmacêuticas e de biogenética, gerando vulnerabilidade dosagricultoresesuasfamíliasquedependemdessesrecursosparasuasobrevivência.

84.Nasdecisõessobreasriquezasdabiodiversidadeedanatureza,aspopulaçõestradicionaistêmsidopraticamenteex-cluídas. A natureza foi e continua sendo agredida. A terra foidepredada.Aságuasestãosendotratadascomosefossemmer-cadorianegociávelpelasempresas,alémdeteremsidotransfor-

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madas num bem disputado pelas grandes potências. ExemplomuitoimportantenessasituaçãoéaAmazônia.29

85.Emseudiscursoaosjovens,noEstádiodoPacaembu,emSãoPaulo,oPapaBentoXVIchamouaatençãosobrea“de-vastaçãoambientaldaAmazôniaeasameaçasàdignidadehu-manadeseuspovos”30epediuaos jovens“ummaiorcompro-missonosmaisdiversosespaçosdeação”.31

86.Acrescenteagressãoaomeio-ambientepodeservirdepretexto para propostas de internacionalização da Amazônia,quesóservemaosinteresseseconômicosdascorporaçõesinter-nacionais.Asociedadepanamazõnicaépluriétnica,pluricultu-raleplurirreligiosa.Nela,cadavezmais,seintensificaadisputapelaocupaçãodoterritório.Aspopulaçõestradicionaisdaregiãoquerem que seus territórios sejam reconhecidos e legalizados.

87.Alémdisso,constatamosoretrocessodasgeleirasemtodoomundo:odegelodoÁrtico,cujoimpactojáestáseven-donafloraefaunadesseecossistema;tambémoaquecimentoglobal se faz sentir no estrondoso crepitar dos blocos de geloárticoquereduzemacoberturaglacialdoContinenteequere-gula o clima do mundo. Profeticamente, há 20 anos, desde afronteiradasAméricas,JoãoPauloIIassinalou:“DesdeoConeSuldoContinenteAmericanoefrenteaosilimitadosespaçosdaAntártida,lançoumchamadoatodososresponsáveisdenossoplanetaparaprotegereconservaranaturezacriadaporDeus:nãopermitamosquenossomundosejaumaterracadavezmaisdegradadaedegradante”.32

29AAmazôniapan-americanaocupaumaáreade7,01milhõesdequilômetrosquadra-dos e corresponde a 5% da superfície da terra, 40% da América do Sul. Contém 20% dadisponibilidade mundial de água doce não congelada. Abriga 34% das reservas mundiaisdeflorestasegigantescareservademinerais.Suadiversidadebiológicadeeco-sistemaséamaisricadoplaneta.Nessaregiãoseencontramcercade30%detodasasespéciesdafaunaefloradomundo.

30BentoXVI,Mensagem aos jovens no Pacaembu2;Brasil,10demaiode2007.31Ibid.32JoãoPauloII,Homilia na Celebração da Palavra para os fiéis da Zona Austral do Chile 7;

PuntaArenas,4deabrilde1987.

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2.1.5 Presença dos povos indígenas e afro-americanos na Igreja

88. Os indígenas constituem a população mais antiga doContinente.Estãonaraizprimeiradaidentidadelatino-ameri-canaecaribenha.Osafro-americanosconstituemoutraraizquefoiarrancadadaÁfricaetrazidaparacácomogenteescravizada.AterceiraraizéapopulaçãopobrequemigroudaEuropaapar-tirdoséculoXVI,embuscademelhorescondiçõesdevida,eograndefluxodeimigrantesdetodoomundoapartirdemeadosdoséculoXIX.Detodosessesgruposedesuascorrespondentesculturasseformouamestiçagemqueéabasesocialeculturaldenossospovoslatino-americanosecaribenhos,comojáoreco-nheceuaIIIConferênciaGeraldoEpiscopadoLatino-americanocelebradaemPuebla,México.33

89. Os indígenas e afro-americanos são, sobretudo, “ou-tros”diferentesqueexigemrespeitoereconhecimento.Asocie-dadetendeamenosprezá-los,desconhecendooporquêdesuasdiferenças.Suasituaçãosocialestámarcadapelaexclusãoepelapobreza. A Igreja acompanha os indígenas e afro-americanosnaslutasporseuslegítimosdireitos.

90.Hoje,ospovos indígenaseafrosestãoameaçadosemsua existência física, cultural e espiritual; em seus modos devida;emsuasidentidades;emsuadiversidade;emseusterritó-rioseprojetos.Algumascomunidadesindígenasseencontramforadesuasterrasporqueestasforaminvadidasedegradadas,ou não têm terras suficientes para desenvolver suas culturas.Sofremgravesataquesàsuaidentidadeesobrevivência,poisaglobalizaçãoeconômicaeculturalcolocaemperigosuaprópriaexistênciacomopovodiferentes.Suaprogressivatransformaçãoculturalprovocaorápidodesaparecimentodealgumaslínguaseculturas.Amigração,forçadapelapobreza,estáinfluindopro-fundamentenamudançadecostumes,derelacionamentosein-clusivedereligião.

33 DP307,409.

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91.Osindígenaseafro-americanosemergemagoranaso-ciedade e na Igreja. Este é um “kairós” para aprofundar o en-controdaIgrejacomessessetoreshumanosquereivindicamoreconhecimentoplenodeseusdireitos individuaise coletivos,seremlevadosemconsideraçãonacatolicidadecomsuacosmo-visão,seusvaloresesuasidentidadesparticulares,paraviveremumnovoPentecosteseclesial.

92.Já,emSantoDomingo,ospastoresreconhecíamosque“ospovosindígenascultivamvaloreshumanosdegrandesignifi-cado”;34valoresque“aIgrejadefende...diantedaforçadominado-radasestruturasdepecadomanifestasnasociedademoderna”;35“sãopossuidoresdeinumeráveisriquezasculturais,queestãonabasedenossaidentidadeatual”;36e,apartirdaperspectivadafé,“essesvaloreseconvicçõessãofrutode‘sementesdoVerbo’,quejáestavampresenteseoperavamemseusantepassados”.37

93.Entreelespodemosassinalar:“aberturaàaçãodeDeuspelosfrutosdaterra,ocarátersagradodavidahumana,avalori-zaçãodafamília,osentidodesolidariedadeeaco-responsabilida-denotrabalhocomum,aimportânciadocultual,acrençaemumavidaultra-terrena”.38Atualmente,opovotemenriquecidoam-plamenteessesvaloresatravésdaevangelizaçãoeostemdesen-volvidoemmúltiplasformasdeautênticareligiosidadepopular.

94.ComoIgrejaqueassumeacausadospobres,estimula-mosaparticipaçãodosindígenaseafro-americanosnavidaecle-sial.Vemoscomesperançaoprocessodeinculturaçãodiscerni-doàluzdomagistério.ÉprioritáriofazertraduçõescatólicasdaBíbliaedostextoslitúrgicosnosidiomasdessespovos.Neces-sita-se,igualmente,promovermaisasvocaçõeseosministériosordenadosprocedentesdessasculturas.

34 SD245.

35 Ibid.243.

36 MensagemdaIVConferênciaaosPovosdaAméricaLatinaedoCaribe,38.

37 SD245.

38 Ibid.17.

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95.Nossoserviçopastoralàvidaplenadospovos indíge-nasexigequeanunciemosJesusCristoeaBoaNovadoReinodeDeus,denunciemosassituaçõesdepecado,asestruturasdemorte,aviolênciaeas injustiçasinternaseexternasefomen-temosodiálogointercultural,interreligiosoeecumênico.JesusCristoéaplenitudedarevelaçãoparatodosospovoseocen-trofundamentaldereferênciaparadiscernirosvaloreseasdefi-ciênciasde todasas culturas, incluindoas indígenas.Por isso,omaiortesouroquepodemosofereceraeleséquecheguemaoencontrocomJesusCristoressuscitado,nossoSalvador.Osin-dígenasquejáreceberamoEvangelho,comodiscípulosemissio-náriosdeJesusCristo,sãochamadosavivercomimensaalegriasuarealidadecristã,aexplicararazãodesuaféemmeioasuascomunidadeseacolaborarativamenteparaquenenhumpovoindígenadaAméricaLatinareneguesuafécristã,masaocon-trário,sintamqueemCristoencontramosentidoplenodesuaexistência.

96. A história dos afro-americanos tem sido atravessadaporumaexclusãosocial,econômica,políticaesobretudoracial,ondeaidentidadeétnicaéfatordesubordinaçãosocial.Atual-mente,sãodiscriminadosnainserçãodotrabalho,naqualidadeeconteúdodaformaçãoescolar,nasrelaçõescotidianase,alémdisso, existe um processo de ocultamento sistemático de seusvalores,história,culturaeexpressõesreligiosas.Permanece,emalgunscasos,umamentalidadeeumcertoolhardemenorres-peitoemrelaçãoaosindígenaseafro-americanos.Dessemodo,descolonizarasmentes,oconhecimento,recuperaramemóriahistórica, fortalecer os espaços e relacionamentos inter-cultu-rais,sãocondiçõesparaaafirmaçãodaplenacidadaniadessespovos.

97.Arealidadelatino-americanacontacomcomunidadesafro-americanas muito vivas que participam ativa e criativa-mente na construção deste continente. Os movimentos pelarecuperaçãodas identidades,dosdireitosdoscidadãosecon-

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traoracismoeosgruposalternativosdeeconomiassolidárias,fazemdasmulheresehomensnegrossujeitosconstrutoresdesuahistóriaedeumanovahistóriaquesevaidesenhandonaatualidade latino-americana e caribenha. Essa nova realidadese baseia em relações inter-culturais onde a diversidade nãosignifica ameaça, não justifica hierarquias de um poder sobreoutros,massimdiálogoapartirdevisõesculturaisdiferentes,de celebração, de inter-relacionamento e de reavivamento daesperança.

2.2SituaçãodenossaIgrejanestahorahistóricadedesafios

98.AIgrejaCatólicanaAméricaLatinaenoCaribe,apesardasdeficiênciaseambigüidadesdealgunsdeseusmembros,temdadotestemunhodeCristo,anunciadoseuEvangelhoeofereci-doseuserviçodecaridadeprincipalmenteaosmaispobres,noesforçoporpromoversuadignidadeetambémnoempenhodepromoçãohumananoscamposdasaúde,daeconomiasolidária,daeducação,dotrabalho,doacessoàterra,dacultura,dahabi-taçãoeassistência,entreoutros.Comsuavoz,unidaàdeoutrasinstituições nacionais e mundiais, tem ajudado a dar orienta-ções prudentes e a promover a justiça, os direitos humanos eareconciliaçãodospovos.IssotempermitidoqueaIgrejasejareconhecidasocialmenteemmuitasocasiõescomoinstânciadeconfiançaecredibilidade.Seuempenhoafavordosmaispobresesualutapeladignidadedecadaserhumanotemocasionado,emmuitoscasos,aperseguiçãoeinclusiveamortedealgunsdeseusmembros,osquaisconsideramostestemunhasdafé.Que-remosrecordarotestemunhovalentedenossossantosesantas,e aqueles que, inclusive sem terem sido canonizados, viveramcomradicalidadeoEvangelhoeofereceramsuavidaporCristo,pelaIgrejaeporseupovo.

99.OsesforçospastoraisorientadosparaoencontrocomJesus Cristo vivo deram e continuam dando frutos. Entre ou-tros,destacamososseguintes:

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a) Devidoàanimaçãobíblicadapastoral,aumentaoconhe-cimentodaPalavradeDeusedoamorporela.GraçasàassimilaçãodoMagistériodaIgrejaeàformaçãomelhordegenerososcatequistas,arenovaçãodaCatequesetemproduzido fecundos resultados em todo o Continente,chegandoinclusiveapaísesdaAméricadoNorte,EuropaeÁsia,paraondemuitoslatino-americanosecaribenhostêmemigrado.

b) ArenovaçãolitúrgicaacentuouadimensãocelebrativaefestivadafécristãcentradanomistériopascaldeCristoSalvador,emparticularnaEucaristia.Crescemasmani-festações da religiosidade popular, especialmente a pie-dadeeucarísticaeadevoçãomariana.Esforçostêmsidorealizadosparainculturaraliturgianospovosindígenase afro-americanos. Estão sendo superados os riscos dereduzir a Igreja a sujeito político, com melhor discerni-mento dos impactos sedutores das ideologias. Têm-sefortalecidoaresponsabilidadeeavigilânciacomrelaçãoàsverdadesdaFé,ganhandoemprofundidadeesereni-dadedecomunhão.

c) Nosso povo tem grande estima pelos sacerdotes. Reco-nhece a santidade de muitos deles, como também seutestemunhodevida,seutrabalhomissionárioesuacria-tividadepastoral,particularmentedaquelesqueestãoemlugaresdistantesouemcontextosdemaiordificuldade.MuitasdenossasIgrejascontamcomumapastoralsacer-dotalecomexperiênciasconcretasdevidaemcomumedeumaretribuiçãodocleromaisjusta.EmalgumasIgre-jasdesenvolve-seodiaconatopermanente.Contamtam-bém com ministérios confiados aos leigos e outros ser-viços pastorais, como ministros da Palavra, animadoresdeassembléiaedepequenascomunidades,entreelasascomunidades eclesiais de base, os movimentos eclesiaiseumgrandenúmerodepastoraisespecíficas.Grandees-forçosefazparaaformaçãoemnossosSeminários,nas

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casasde formaçãoparaavidaconsagradaenasescolasparaodiaconatopermanente.Ésignificativootestemu-nho da vida consagrada, sua participação na ação pas-toralesuapresençaemsituaçõesdepobreza,deriscoede fronteira. Estimula a esperança o incremento de vo-caçõesparaavidacontemplativamasculinae feminina.

d) Ressalta-se a abnegada entrega de tantos missionáriosemissionáriasque,atéodiadehoje, têmdesenvolvidovaliosa obra evangelizadora e de promoção humana emtodososnossospovos,commultiplicidadedeobraseser-viços. Desse modo se reconhece o trabalho de numero-sossacerdotes,consagradaseconsagrados,leigoseleigasque,apartirdonossoContinente,participamdamissãoad gentes.

e) Crescemosesforçosderenovaçãopastoralnasparóquias,favorecendooencontrocomCristovivo,mediantediver-sosmétodosdenovaevangelizaçãoquesetransformamemcomunidadedecomunidadesevangelizadasemissio-nárias. Contata-se em alguns lugares um florescimentodecomunidadeseclesiaisdebase,segundoocritériodasConferências Gerais anteriores, em comunhão com osBisposefiéisaoMagistériodaIgreja.39Valoriza-seapre-sençaeocrescimentodosmovimentoseclesiaisenovascomunidadesquedifundemsuariquezacarismática,edu-cativa e evangelizadora. Tem-se tomado consciência daimportânciadapastoralFamiliar,daInfânciaeJuvenil.

f) A Doutrina Social da Igreja constitui uma riqueza sempreço,quetemanimadootestemunhoeaaçãosolidáriadosleigose leigas,queseinteressamcadavezmaisporsuaformaçãoteológicacomoverdadeirosmissionáriosdacaridade,eseesforçamportransformardemaneiraefeti-vaomundosegundoCristo.Hoje,inumeráveisiniciativas

39 Cf.Puebla,261,617,638,731e940;SantoDomingo,62.

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leigasnoâmbitosocial,cultural,econômicoepolíticodei-xam-seinspirarpelosprincípiospermanentes,peloscri-tériosdejuízoepelasdiretrizesdeaçãoprovenientesdaDoutrinaSocialdaIgreja.Valoriza-seodesenvolvimentoquetemtidoaPastoralSocial, comotambémaaçãodaCáritasemseusváriosníveis,eariquezadovoluntaria-donosmaisdiversosapostoladoscomincidênciasocial.Tem-sedesenvolvidoapastoraldacomunicaçãosocial,emaisdoquenuncaaIgrejatemcontadocommaismeiosdecomunicaçãoparaaevangelizaçãodacultura,resistin-doemparteaoutrosgruposreligiososqueganhamcons-tantementeadeptosusandocomperspicáciaorádioeatelevisão.Temosrádios,televisão,cinema,jornais,inter-net,páginasdewebeaRIIALquenosenchemdeespe-rança.

g) Adiversificaçãodaorganizaçãoeclesial,comacriaçãodemuitascomunidades,novasjurisdiçõeseorganismospas-torais,permitiuquemuitasIgrejaslocaisavançassemnaestruturaçãodeumaPastoralOrgânica,paraservirme-lhoràsnecessidadesdosfiéis.Nãocomamesmainten-sidadeemtodasasIgrejas,tem-sedesenvolvidoodiálo-goecumênico.Tambémodiálogointerreligioso,quandosegueasnormasdoMagistério,podeenriquecerospar-ticipantes em diversos encontros.40 Em outros lugares,têm-secriadoescolasdeecumenismooudecolaboraçãoecumênicaemassuntossociaiseoutras iniciativas.Ma-nifesta-se, como reação ao materialismo, uma busca deespiritualidade,deoraçãoedemísticaqueexpressafomeesededeDeus.Poroutrolado,avalorizaçãodaéticaéumsinaldos temposque indicaanecessidadedesuperarohedonismo,acorrupçãoeovaziodosvalores.Alegra-nos,alémdisso,oprofundosentimentodesolidariedadeque

40 Cf.CongregaçãoparaaDoutrinadaFé,artigodecomentárioàNotificaçãoapropósito

dolivrodoPe.JacquesDupuis“Hacia uma teologia del pluralismo religioso”,12demarçode2001.

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caracterizanossospovoseapráticadecompartilharedeajudamútua.

100.Apesardosaspectospositivosquenosalegramnaes-perança,observamossombras,entreasquaismencionamosasseguintes:

a) ParaaIgrejaCatólica,aAméricaLatinaeoCaribesãodegrandeimportância,porseudinamismoeclesial,porsuacriatividade e porque 43% de todos os seus fiéis vivemnesseslocais;noentanto,observamosqueocrescimen-topercentualdaIgrejanãosegueomesmoritmoqueocrescimentopopulacional.Namédia,oaumentodoclero,esobretudodasreligiosas,distancia-secadavezmaisdocrescimentopopulacionalemnossaregião.41

b) Lamentamos, seja algumas tentativas de voltar a umcerto tipo de eclesiologia e espiritualidade contrárias àrenovação do Concílio Vaticano II,42seja algumas leitu-ras e aplicações reducionistas da renovação conciliar;lamentamos a ausência de uma autêntica obediência edo exercício evangélico da autoridade, das infidelida-des à doutrina, à moral e à comunhão, nossas débeisvivências da opção preferencial pelos pobres, não pou-cas recaídas secularizantesnavidaconsagrada influen-ciada por uma antropologia meramente sociológicae não evangélica. Tal como manifestou o Santo Padreno Discurso Inaugural de nossa Conferência: “perce-be-se um certo enfraquecimento da vida cristã no conjun-to da sociedade e da própria pertença à Igreja Católica”.43

c) Constatamosoescassoacompanhamentodadoaosfiéisleigosemsuastarefasdeserviçoàsociedade,particular-

41Enquantonoperíodo1974a2004apopulaçãolatino-americanacresceuquase80%,ossacerdotescresceram44,1%easreligiosassó8%.Cf.AnnuariumStatisticumEcclesiae.

42Cf.BentoXVI, “DiscursoaosCardeais,Arcebispos,BisposePreladossuperioresdaCúriaRomana”,quinta-feira,22dedezembrode2005.

43DI2.

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mentequandoassumemresponsabilidadesnasdiversasestruturasdeordemtemporal.Percebemosumaevangeli-zaçãocompoucoardoresemnovosmétodoseexpressões,umaênfasenoritualismosemoconvenientecaminhodeformação,descuidandooutrastarefaspastorais.Deigualforma,preocupa-nosumaespiritualidadeindividualista.Verificamos,dessemodo,umamentalidaderelativistanoético e no religioso, a falta de aplicação criativa do ricopatrimônioquecontémaDoutrinaSocialdaIgrejae,emcertasocasiões,umacompreensãolimitadadocaráterse-cularqueconstituiaidentidadeprópriaeespecíficadosfiéisleigos.

d)Naevangelização,nacatequesee,emgeral,napastoral,persistemtambémlinguagenspoucosignificativasparaaculturaatualeemparticularparaosjovens.Muitasvezesas linguagens utilizadas parecem não levar em conside-raçãoamutaçãodoscódigosexistencialmenterelevantesnas sociedades influenciadas pela pós-modernidade emarcadasporamplopluralismosocialecultural.Asmu-dançasculturaisdificultamatransmissãodaFéporparteda família e da sociedade. Frente a isso, não se vê umapresençaimportantedaIgrejanageraçãodecultura,demodoespecialnomundouniversitárioenosmeiosdeco-municaçãosocial.

e)Onúmeroinsuficientedesacerdotesesuanãoeqüitativadistribuição impossibilitam que muitíssimas comunida-despossamparticiparregularmentenacelebraçãodaEu-caristia.RecordandoqueaEucaristiafazIgreja,preocupa-nosasituaçãodemilharesdessascomunidadesprivadasdaEucaristiadominicalporlongosperíodosdetempo.Aissoseacrescentaarelativaescassezdevocaçõesaomi-nistério e à vida consagrada. Falta espírito missionárioemmembrosdoclero, inclusiveemsuaformação.Mui-toscatólicosvivememorremsemassistênciadaIgreja,àqualpertencempelobatismo.Enfrentam-sedificulda-

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desparaassumirasustentaçãoeconômicadasestruturaspastorais. Falta solidariedade na comunhão de bens nointeriordasigrejaslocaiseentreelas.Emmuitasdasnos-sasIgrejaslocaisnãoseassumesuficientementeapasto-ralpenitenciária,nemapastoraldemenoresinfratoreseemsituaçõesderisco.Éinsuficienteoacompanhamentopastoral para os migrantes e itinerantes. Alguns movi-mentoseclesiaisnemsempreseintegramadequadamen-tenapastoralparoquialediocesana;porsuavez,algumasestruturaseclesiaisnãosãosuficientementeabertasparaacolhê-los.

f) Nas últimas décadas, vemos com preocupação, por umlado,quenumerosaspessoasperdemosentidotranscen-dentaldesuasvidaseabandonamaspráticasreligiosas;e,poroutrolado,quesignificativonúmerodecatólicosestãoabandonandoaIgrejaparaentraremoutrosgruposreligiosos.Aindaqueestesejaumproblemarealemto-dosospaíseslatino-americanosecaribenhos,nãoexistehomogeneidadenoqueserefereasuasdimensõesesuadiversidade.

g)Dentrodonovopluralismoreligiosoemnossocontinen-te, não se tem diferenciado suficientemente os cristãosquepertencemaoutrasigrejasoucomunidadeseclesiais,tantoporsuadoutrinacomoporsuasatitudes,dosquefazempartedagrandediversidadedegruposcristãos(in-clusivepseudo-cristãos)quesetêminstaladoentrenós.Issoporquenãoéadequadoenglobaratodosemumasócategoria de análise. Muitas vezes não é fácil o diálogoecumênicocomgruposcristãosqueatacamaIgrejaCató-licacominsistência.

h) Reconhecemos que, ocasionalmente, alguns católicos setêm afastado do Evangelho, o qual requer um estilo devidamaissimples,austeroesolidário,maisfielàverdadeeàcaridade,comotambémnostemfaltadovalentia,per-sistênciaedocilidadeàgraçadeprosseguir,fielà Igreja

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de sempre, a renovação iniciada pelo Concílio VaticanoII, impulsionadapelasConferênciasGeraisanteriores,epara assegurar o rosto latino-americano e caribenho denossa Igreja. Reconhecemo-nos como comunidade depobrespecadores,mendicantesdamisericórdiadeDeus,congregada, reconciliada, unida e enviada pela força daRessurreição de seu Filho e pela graça de conversão doEspíritoSanto.

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SEGundAPArtE

AVIdAdEJESuSCrIStonoSdISCÍPuLoSMISSIonÁrIoS

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101.Nestemomento,comincertezasnocoração,pergun-tamos com Tomé: “Como vamos saber o caminho?” (Jo 14,5).Jesusnosrespondecomumapropostaprovocadora:“EusouoCaminho,aVerdadeeaVida”(Jo14,6).Eleéoverdadeiroca-minhoparaoPai,oqualtantoamouaomundoque lhedeuoseuFilhoúnico,paraquetodoaquelequenelecrertenhaavidaeterna(cf.Jo3,16).Estaéavidaeterna:“queteconheçamati,oúnicoDeusverdadeiro,eaJesusCristoteuenviado”(Jo17,3).AféemJesuscomooFilhodoPaiéaportadeentradaparaaVida.ComodiscípulosdeJesus,confessamosnossafécomaspalavrasde Pedro: “Tuas palavras dão Vida eterna” (Jo 6,68). “Tu és oMessias,oFilhodoDeusvivo”(Mt16,16).

102.JesuséoFilhodeDeus,aPalavrafeitacarne(cf.Jo1,14),verdadeiroDeuseverdadeirohomem,provadoamordeDeusaoshomens.Suavidaéumaentregaradicaldesimesmoafavordetodasaspessoas,consumadadefinitivamenteemsuamorte e ressurreição. Por ser o Cordeiro de Deus, Ele é o Sal-vador.Suapaixão,morteeressurreiçãopossibilitaasuperação

CapítuloIII

AALEGrIAdESErdISCÍPuLoSMISSIonÁrIoSPArAAnunCIAroEVAnGELHodEJESuSCrISto

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dopecadoeavidanovaparatodaahumanidade.NEle,oPaisefazpresente,porquequemconheceoFilhoconheceoPai(cf.Jo14,7).

103.ComodiscípulosdeJesusreconhecemosqueEleéoprimeiroemaiorevangelizadorenviadoporDeus(cf.Lc4,44)eaomesmotempooEvangelhodeDeus(cf.Rm1,3).Cremoseanunciamos“aboanovadeJesus,Messias,FilhodeDeus”(Mc1,1).ComofilhosobedientesàvozdoPai,queremosescutaraJesus (cf. Lc 9,35) porque Ele é o único Mestre (cf. Mt 23,8).Comoseusdiscípulos, sabemosquesuaspalavrassãoEspíritoeVida(cf.Jo6,63.68).Comaalegriadafé,somosmissionáriosparaproclamaroEvangelhodeJesusCristoe,nEle,aboanovadadignidadehumana,davida,dafamília,dotrabalho,daciên-ciaedasolidariedadecomacriação.

3.1.Aboanovadadignidadehumana

104.BendizemosaDeuspeladignidadedapessoahumana,criadaàsuaimagemesemelhança.Elenoscrioulivresenosfezsujeitosdedireitosedeveresemmeioàcriação.AgradecemosaEleter-nosassociadoaoaperfeiçoamentodomundo,dando-nosinteligênciaecapacidadeparaamar;elheagradecemosadigni-dade,querecebemostambémcomotarefaquedevemosprote-ger,cultivarepromover.BendizemosaDeuspelodomdaféquenospermiteviveremaliançacomEleatéomomentodecom-partilharavidaeterna.BendizemosaDeuspornosfazersuasfilhas e filhos em Cristo, por nos haver redimido com o preçodeseusangueepelorelacionamentopermanentequeestabelececonosco,queéfontedenossadignidadeabsoluta,inegociáveleinviolável.SeopecadodeteriorouaimagemdeDeusnohomemeferiusuacondição,aboanova,queéCristo,oredimiueores-tabeleceunagraça(cf.Rm5,12-21).

105.LouvamosaDeuspeloshomensemulheresdaAmé-ricaLatinaedoCaribeque,movidosporsuafé,têmtrabalhadoincansavelmente na defesa da dignidade da pessoa humana,

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especialmentedospobresemarginalizados.Emseutestemu-nho,levadoatéàentregatotal,resplandeceadignidadedoserhumano.

3.2Aboanovadavida

106.LouvamosaDeuspelodommaravilhosodavidaeporaquelesqueahonrameadignificamaocolocá-laaserviçodosdemais;peloespíritoalegredenossospovosqueamamamúsi-ca,adança,apoesia,aarte,oesporteecultivamumafirmees-perançaemmeioaproblemaselutas.LouvamosaDeusporque,sendonóspecadores,Elenosmostrouseuamorreconciliando-nosconsigopelamortedeseuFilhonacruz.LouvamosaDeusporqueElecontinuaderramandoseuamoremnóspeloEspíritoSantoenosalimentandocomaEucaristia,pãodavida(cf.Jo6,35).AEncíclica“EvangelhodaVida”,deJoãoPauloII,iluminaograndevalordavidahumana,daqualdevemoscuidarepelaqualcontinuamentedevemoslouvaraDeus.

107.BendizemosaoPaipelodomdeseuFilhoJesusCristo,“rosto humano de Deus e rosto divino do homem”.44 “Na rea-lidade,tãosóomistériodoVerboencarnadoexplicaverdadei-ramenteomistériodohomem.Cristo,naprópriarevelaçãodomistériodoPaiedeseuamor,manifestaplenamenteohomemaoprópriohomemelhedescobresuaaltíssimavocação”.45

108.BendizemosaoPaiporque,mesmoentredificuldadese incertezas,todohomemabertosinceramenteàverdadeeaobemcomumpodechegaradescobrir,naleinaturalescritaemseucoração(cf.Rm2,14-15),ovalorsagradodavidahumanadesdeseuinícioatéseufimnatural,eafirmarodireitodecadaserhumanodeverrespeitadototalmenteesteseubemprimá-rio.“Aconvivênciahumanaeaprópriacomunidadepolítica”46sefundamentanoreconhecimentodessedireito.

44 BentoXVI,OraçãopelaVConferência.

45GS22.46EV2.

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109.Diantedeumavidasemsentido,Jesusnos revelaavidaíntimadeDeusemseumistériomaiselevado,acomunhãotrinitária.ÉtaloamordeDeus,quefazdohomem,peregrinonestemundo,suamorada:“Viremosaeleeviveremosnele”(Jo14,23).DiantedodesesperodeummundosemDeus,quesóvênamorteofinaldefinitivodaexistência,Jesusnosofereceares-surreiçãoeavidaeternanaqualDeusserátudoemtodos(cf.1Cor15,28).Dianteda idolatriadosbensterrenos,Jesusapre-sentaavidaemDeuscomovalorsupremo:“Dequevalealguémganharomundoeperderaprópriavida?”(Mc8,36).47

110. Diante do subjetivismo hedonista, Jesus propõeentregar a vida para ganhá-la, porque “quem aprecia sua vidaterrena, a perderá” (Jo 12,25). É próprio do discípulo de Je-susgastaravidacomosaldaterraeluzdomundo.Diantedoindividualismo,Jesusconvocaaviverecaminharjuntos.Avidacristãsóseaprofundaesedesenvolvenacomunhãofraterna.Jesusnosdiz: “UméoseuMestre,e todosvocêssão irmãos”(Mt23,8).Diantedadespersonalização,Jesusajudaaconstruiridentidadesintegradas.

111. A própria vocação, a própria liberdade e a própriaoriginalidadesãodonsdeDeusparaaplenitudeeoserviçoaomundo.

112.Diantedaexclusão,Jesusdefendeosdireitosdosfra-coseavidadignadetodoserhumano.DeseuMestre,odiscípu-lotemaprendidoalutarcontratodaformadedesprezodavidaedeexploraçãodapessoahumana.48SóoSenhoréautoredonodavida.Oserhumano,suaimagemvivente,ésempresagrado,desdeasuaconcepçãoatéasuamortenatural,emtodasascir-cunstânciase condiçõesdesuavida.Diantedasestruturasdemorte,Jesusfazpresenteavidaplena.“Euvimparadarvidaaoshomenseparaqueatenhamemplenitude”(Jo10,10).Porisso,

47 Cf.EN8.

48Cf.BentoXVI,MensagemparaaQuaresma,2007.

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curaosenfermos,expulsaosdemôniosecomprometeosdiscí-pulosnapromoçãodadignidadehumanaederelacionamentossociaisfundadosnajustiça.

113.Diantedanaturezaameaçada,Jesus,queconheciaocuidadodoPaipelascriaturasqueElealimentaeembeleza(cfLc12,28),convoca-nosacuidardaterraparaqueelaofereçaabrigoesustentoatodososhomens(cf.Gn1,29;2,15).

3.3Aboanovadafamília

114.ProclamamoscomalegriaovalordafamílianaAmé-ricaLatinaenoCaribe.OPapaBentoXVIafirmaqueafamília,“patrimônio da humanidade, constitui um dos tesouros maisimportantesdospovoslatino-americanosecaribenhos.Elatemsidoeéescoladafé,palestradevaloreshumanosecívicos,laremqueavidahumananasceeseacolhegenerosaeresponsavel-mente...A famíliaé insubstituívelparaaserenidadepessoaleparaaeducaçãodeseusfilhos”.49

115.AgradecemosaCristoquenosrevelaque“Deuséamoreviveemsimesmoummistériopessoaldeamor”50e,optandoporviveremfamíliaemmeioanós,aelevaàdignidadede‘IgrejaDoméstica’.

116. Bendizemos a Deus por haver criado o ser humano,homememulher,aindaquehojesequeiraconfundirestaver-dade: “CriouDeusossereshumanosàsua imagem;à imagemdeDeusoscriou,homememulheroscriou”(Gn1,27).Pertenceànaturezahumanaqueohomemeamulherbusquemumnooutrosuareciprocidadeecomplementaridade.51

117.OfatodesermosamadosporDeusenche-nosdeale-gria.Oamorhumanoencontrasuaplenitudequandoparticipa

49DI5.50Cf.FC11.51Cf.CongregaçãoparaaDoutrinadaFé,Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a colabo-

ração do homem e da mulher na Igreja e no mundo,31demaiode2004.

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doamordivino,doamordeJesusqueseentregasolidariamentepornósemseuamorplenoatéofim(cf.Jo13,1;15,9).Oamorconjugaléadoaçãorecíprocaentreumhomemeumamulher,osesposos:éfieleexclusivoatéàmorteefecundo,abertoàvidaeàeducaçãodosfilhos,assemelhando-seaoamorfecundodaSan-tíssimaTrindade.52OamorconjugaléassumidonoSacramentodoMatrimônioparasignificarauniãodeCristocomsuaIgreja.Porisso,nagraçadeJesusCristoencontrasuapurificação,ali-mentoeplenitude(Ef5,23-33).

118.Noseiodeumafamília,apessoadescobreosmotivoseocaminhoparapertenceràfamíliadeDeus.Delarecebemosavidaqueéaprimeiraexperiênciadoamoredafé.Ograndete-sourodaeducaçãodosfilhosnaféconsistenaexperiênciadeumavidafamiliarquerecebeafé,aconserva,acelebra,atransmiteedátestemunhodela.Ospaisdevemtomarnovaconsciênciadesuaalegreeirrenunciávelresponsabilidadenaformaçãointegraldosfilhos.

119.Deusamanossasfamílias,apesardetantasferidasedivisões. A presença invocada de Cristo através da oração emfamília nos ajuda a superar os problemas, a curar as feridas eabrecaminhosdeesperança.Muitosvaziosdelarpodemserate-nuadosatravésdeserviçosprestadospelacomunidadeeclesial,famíliadefamílias.

3.4Aboanovadaatividadehumana

3.4.1 O trabalho

120. Louvamos a Deus porque na beleza da criação, queé obra de suas mãos, resplandece o sentido do trabalho comoparticipaçãonasua tarefa criadorae comoserviçoaos irmãoseirmãs.Jesus,ocarpinteiro(cf.Mc6,3),dignificouotrabalhoeotrabalhadorerecordaqueotrabalhonãoémeroapêndice

52HV9.

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davida,masque“constituiumadimensãofundamentaldaexis-tênciadohomemnaterra”,53pelaqualohomemeamulherserealizamcomosereshumanos.54Otrabalhogaranteadignidadeealiberdadedohomem,eéprovavelmente“achaveessencialdetoda‘aquestãosocial’”.55

121.DamosgraçasaDeusporquesuapalavranosensinaque,apesardocansaçoquemuitasvezesacompanhaotrabalho,ocristãosabequeeste,unidoàoração,servenãosóparaopro-gressoterreno,mastambémparaasantificaçãopessoaleacons-truçãodoReinodeDeus.56Odesemprego,ainjustaremunera-çãopelotrabalhoeoviversemquerertrabalharsãocontráriosaodesígniodeDeus.Odiscípuloeomissionário,respondendoaessedesígnio,promovemadignidadedotrabalhadoredotraba-lho,ojustoreconhecimentodeseusdireitosedeseusdeveres,desenvolvemaculturadotrabalhoedenunciamtodainjustiça.Asalvaguardadodomingo,comodiadedescanso,defamíliaedecultoaoSenhor,garanteoequilíbrioentretrabalhoerepouso.Cabe à comunidade criar estruturas que ofereçam trabalho àspessoasdeficientes,segundosuaspossibilidades.57

122.LouvamosaDeuspelostalentos,estudoedecisãodeho-mensemulheresparapromoveriniciativaseprojetosgeradoresdetrabalhoeprodução,queelevamacondiçãohumanaeobem-estardasociedade.Aatividadeempresarialéboaenecessáriaquandorespeitaadignidadedotrabalhador,ocuidadodomeio-ambienteeseorientaparaobemcomum.Perverte-sequando,buscandosóolucro,atentacontraosdireitosdostrabalhadoreseajustiça.

3.4.2 A ciência e a tecnologia

123.LouvamosaDeusporaquelesquecultivamasciênciaseatecnologia,oferecendoimensaquantidadedebensevalores

53LE4.54Cf.LE9.55Cf.Ibid.3.56Cf.Ibid.27;2Ts3,10.57Ibid.22.

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culturaisquetêmcontribuído,entreoutrascoisas,paraprolon-garaexpectativadevidaesuaqualidade.Noentanto,aciênciaeatecnologianãotêmasrespostasàsgrandesinterrogaçõesdavidahumana. A resposta últimaàsquestões fundamentaisdohomemsópodevirdeumarazãoeéticaintegrais, iluminadaspelarevelaçãodeDeus.Quandoaverdade,obemeabelezaseseparam;quandoapessoahumanaesuasexigênciasfundamen-taisnãoconstituemocritérioético,aciênciaeatecnologiavol-tam-secontraohomemqueascriou.

124. Hoje em dia as fronteiras traçadas entre as ciênciassedesvanecem.Comestemododecompreenderodiálogo,su-gere-seaidéiadequenenhumconhecimentoécompletamenteautônomo. Esta situação abre um terreno de oportunidades àteologiaparainteragircomasciênciassociais.

3.5.Aboanovadodestinouniversaldosbensedaecologia

125.JuntocomospovosorigináriosdaAmérica,louvamosaoSenhorquecriououniversocomoespaçoparaavidaeaconvi-vênciadetodososseusfilhosefilhaseno-losdeixoucomosinaldesuabondadeedesuabeleza.AcriaçãotambémémanifestaçãodoamorprovidentedeDeus;foi-nosentregueparaquecuidemosdelaeatransformemosemfontedevidadignaparatodos.Ain-daquehojesetenhageneralizadomaiorvalorizaçãodanature-za,percebemosclaramentedequantasmaneirasohomemamea-çae inclusivedestrói seu ‘hábitat’. “Nossa irmãamãeterra”58énossacasacomumeolugardaaliançadeDeuscomossereshumanosecomtodaacriação.DesatenderasmútuasrelaçõeseoequilíbrioqueopróprioDeusestabeleceuentreasrealidadescriadas,éumaofensaaoCriador,umatentadocontraabiodi-versidadee,definitivamente,contraavida.Odiscípulomissio-nário,aquemDeusconfiouacriação,devecontemplá-la,cuidardelaeutilizá-la,respeitandosempreaordemdadapeloCriador.

58FranciscodeAssis,Cântico das Criaturas9.

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�9VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

126. A melhor forma de respeitar a natureza é promoverumaecologiahumanaabertaàtranscendênciaque,respeitandoapessoaeafamília,osambienteseascidades,segueaindicaçãopaulinaderecapitularascoisasemCristoedelouvarcomEleaoPai(cf.1Cor3,21-23).OSenhorentregouomundoparatodos,paraosdasgeraçõespresentesefuturas.Odestinouniversaldosbensexigeasolidariedadecomasgeraçõespresenteseasfutu-ras.Vistoqueosrecursossãocadavezmaislimitados,seuusodeveestarreguladosegundoumprincípiodejustiçadistributi-va,respeitandoodesenvolvimentosustentável.

3.�oContinentedaesperançaedoamor

127.ComodiscípulosemissionáriosagradecemosaDeusporqueamaioriadoslatino-americanosecaribenhosestãoba-tizados.AprovidênciadeDeusnosconfiouopreciosopatrimô-niodepertenceràIgrejapelodomdobatismoquenostemfeitomembrosdoCorpodeCristo,povodeDeusperegrinoemterrasamericanashámaisdequinhentosanos.Alentanossaesperançaamultidãodenossascrianças,osideaisdenossosjovenseohe-roísmodemuitasdenossasfamíliasque,apesardascrescentesdificuldades,seguemsendofiéisaoamor.AgradecemosaDeusareligiosidadedenossospovosqueresplandecenadevoçãoaoCristosofredoreàsuaMãebendita,naveneraçãoaosSantoscomsuasfestaspatronais,noamoraoPapaeaosdemaispastores,noamoràIgrejauniversalcomograndefamíliadeDeusquenuncapodenemdevedeixarseusprópriosfilhosasósounamiséria.59

128.ReconhecemosodomdavitalidadedaIgrejaquepe-regrinanaAméricaLatinaenoCaribe,suaopçãopelospobres,suasparóquias, suascomunidades, suasassociações, seusmo-vimentoseclesiais,novascomunidadeseseusmúltiplosservi-çossociaiseeducativos.LouvamosaoSenhorporterfeitodestecontinenteumespaçodecomunhãoecomunicaçãodepovose

59DI1.

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70 CELAM

culturas indígenas.Tambémagradecemosoprotagonismoquevãoadquirindosetoresqueforamdeslocados:mulheres,indíge-nas,afro-americanos,homensdocampoehabitantesdeáreasmarginaisdasgrandescidades.Todaavidadenossospovosfun-dadaemCristoeredimidaporEle,podeolharparaofuturocomesperançaealegria,acolhendoochamadodoPapaBentoXVI:“SódaEucaristiabrotaráacivilizaçãodoamorquetransformaráaAméricalatinaeoCaribeparaque,alémdeseroContinentedaesperança,sejatambémoContinentedoamor!”60

60DI4.

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4.1ChamadosaoseguimentodeJesusCristo

129.Porassimdizer,DeusPaisaidesiparanoschamaraparticipardesuavidaedesuaglória.MedianteIsrael,povoquefezseu,Deusnosrevelaseuprojetodevida.CadavezqueIsraelprocurouenecessitoudeseuDeus,sobretudonasdesgraçasna-cionais,tevesingularexperiênciadecomunhãocomEle,queofaziapartícipedesuaverdade,suavidaesuasantidade.Porisso,nãodemorouemtestemunharqueseuDeus–diferentementedosídolos–éo“Deusvivo”(Dt5,26)queolibertadosopresso-res(cf.Ex3,7-10),queperdoaincansavelmente(cf.Ex34,6;Eclo2,11)equerestituiasalvaçãoperdidaquandoopovo,envolvido“nasredesdamorte”(Sl116,3),suplicanteaElesedirige(Cf.Is38,16).DesteDeus–queéseuPai–Jesusafirmaráque“nãoéumDeusdemortos,masdevivos”(Mc12,27).

130.Nestesúltimostempos,ElenostemfaladopormeiodeseuFilhoJesus(Hb1,1ss),comquemchegaaplenitudedostempos(cf.Gl4,4).Deus,queéSantoenosama,noschamapormeiodeJesusasermossantos(cf.Ef1,4-5).

131.OchamadoqueJesusMestrefaz,implicaumagran-denovidade.Naantiguidade,osmestresconvidavamseusdis-

CapítuloIV

AVoCAçãodoSdISCÍPuLoSMISSIonÁrIoSÀSAntIdAdE

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72 CELAM

cípulos a se vincular com algo transcendente e os mestres daLeipropunhamaadesãoàLeideMoisés.JesusconvidaanosencontrarcomEleeaquenosvinculemosestreitamenteaEle,porqueéafontedavida(cf.Jo15,1-5)esóEletempalavrasdevidaeterna(cf.Jo6,68).NaconvivênciacotidianacomJesusenaconfrontaçãocomosseguidoresdeoutrosmestres,osdiscí-pulos logo descobrem duas coisas bem originais no relaciona-mentocomJesus.Porumlado,nãoforamelesqueescolheramseumestre,foiCristoquemosescolheu.Eporoutrolado,elesnãoforamconvocadosparaalgo(purificar-se,aprenderaLei...),masparaAlguém,escolhidosparasevincularemintimamenteàPessoadele(cf.Mc1,17;2,14).Jesusosescolheupara“queesti-vessemcomEleeparaenviá-losapregar”(Mc3,14),paraqueoseguissemcomafinalidadede“serdEle”efazerparte“dosseus”eparticipardesuamissão.Odiscípuloexperimentaqueavincu-laçãoíntimacomJesusnogrupodosseuséparticipaçãodaVidasaídadasentranhasdoPai,éformar-separaassumirseuestilodevidaesuasmotivações(cf.Lc6,40b),corrersuamesmasorteeassumirsuamissãodefazernovastodasascoisas.

132.ComaparáboladaVideiraedosRamos(cf.Jo15,1-8),JesusrevelaotipodevínculoqueEleofereceequeesperadosseus.Nãoquerumvínculocomo“servos”(cf.Jo8,33-36),porque“oservonãoconheceoqueseusenhorfaz”(Jo15,15).Oservonãotementradanacasadeseuamo,muitomenosemsuavida.JesusquerqueseudiscípulosevinculeaElecomo“ami-go”ecomo“irmão”.O“amigo”ingressaemsuaVida,fazendo-aprópria.OamigoescutaaJesus,conheceaoPaiefazfluirsuaVida(JesusCristo)naprópriaexistência(cf.Jo15,14),marcan-doorelacionamentocomtodos(cf.Jo15,12).O“irmão”deJe-sus(cf.Jo20,17)participadavidadoRessuscitado,FilhodoPaicelestial,porqueJesuseseudiscípulocompartilhamamesmavidaqueprocededoPai:opróprioJesus,pornatureza (cf.Jo5,26;10,30)eodiscípuloporparticipação(cf.Jo10,10).Aconse-qüênciaimediatadessetipodevínculoéacondiçãodeirmãosqueosmembrosdesuacomunidadeadquirem.

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133.Jesusfazdosdiscípulosseusfamiliares,porquecom-partilhacomelesamesmavidaqueprocededoPaielhespede,comodiscípulos,umauniãoíntimacomEle,obediênciaàPalavradoPai,paraproduziremfrutosdeamoremabundância.DestaformaotestemunhaSãoJoãonoprólogodeseuEvangelho:“Atodosaquelesquecrêememseunome,deu-lhesacapacidadedeseremfilhosdeDeus”,esãofilhosdeDeusque“nãonascemporviadegeraçãohumana,nemporqueohomemodeseje,massimnascemdeDeus”(Jo1,12-13).

134. Como discípulos e missionários, somos chamados aintensificarnossarespostadeféeanunciarqueCristoredimiutodosospecadosemalesdahumanidade,“noaspectomaispa-radoxaldeseumistério,ahoradacruz.OgritodeJesus:“Deus,meu,Deusmeu,porquemeabandonaste?”(Mc15,34)nãore-velaaangústiadeumdesesperado,masaoraçãodoFilhoqueofereceasuavidaaoPainoamorparaasalvaçãodetodos”.61

135. A resposta a seu chamado exige entrar na dinâmicadoBomSamaritano(cf.Lc10,29-37),quenosdáoimperativodenosfazerpróximos,especialmentecomquemsofre,egerarumasociedadesemexcluídos,seguindoapráticadeJesusquecomecompublicanosepecadores(cf.Lc5,29-32),queacolheospequenoseascrianças(cf.Mc10,13-16),quecuraosleprosos(cf.Mc1,40-45),queperdoaelibertaamulherpecadora(cf.Lc7,36-49;Jo8,1-11),quefalacomaSamaritana(cf.Jo4,1-26).

4.2ParecidoscomoMestre

136.AadmiraçãopelapessoadeJesus,seuchamadoeseuolhardeamordespertamumarespostaconscienteelivredesdeomaisíntimodocoraçãododiscípulo,umaadesãoatodaasuapessoaaosaberqueCristoochamapelonome(cf.Jo10,3).Éum“sim”quecomprometeradicalmentealiberdadedodiscípuloaseentregaraJesus,Caminho,VerdadeeVida(cf.Jo14,6).É

61NMI,25-26.

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umarespostadeamoraquemoamouprimeiro“atéoextremo”(cf.Jo13,1).ArespostadodiscípuloamadurecenesteamordeJesus:“Euteseguireiporondequerquevás”(Lc9,57).

137.OEspíritoSanto,queoPainospresenteia,identifica-noscomJesus-Caminho,abrindo-nosaseumistériodesalvaçãoparaquesejamosfilhosseuseirmãosunsdosoutros;identifi-ca-noscomJesus-Verdade,ensinando-nosarenunciaranossasmentiraseambiçõespessoais;enosidentificacomJesus-Vida,permitindo-nosabraçarseuplanodeamorenosentregarparaqueoutros“tenhamvidanEle”.

138.ParaficarverdadeiramenteparecidocomoMestre,énecessárioassumiracentralidadedoMandamentodoamor,queElequischamarseuenovo:“Amem-seunsaosoutros,comoeuosamei”(Jo15,12).Esteamor,comamedidadeJesus,comto-taldomdesi,alémdeserodiferencialdecadacristão,nãopodedeixardeseracaracterísticadesuaIgreja,comunidadediscípuladeCristo,cujotestemunhodecaridadefraternaseráoprimeiroeprincipalanúncio:“Todosreconhecerãoquesoismeusdiscípu-los”(Jo13,35).

139.NoseguimentodeJesusCristo,aprendemoseprati-camosasbem-aventurançasdoReino,oestilodevidadopró-prio Jesus: seu amor e obediência filial ao Pai, sua compaixãoentranhávelfrenteàdorhumana,suaproximidadeaospobreseaospequenos,suafidelidadeàmissãoencomendada,seuamorserviçalatéàdoaçãodesuavida.Hoje,contemplamosaJesusCristotalcomoosEvangelhosnostransmitemparaconhecer-mosoqueElefezeparadiscernirmosoquenósdevemosfazernasatuaiscircunstâncias.

140. Identificar-se com Jesus Cristo é também compar-tilhar seu destino: “Onde eu estiver, aí estará também o meuservo” (Jo12,26).OcristãoviveomesmodestinodoSenhor,inclusiveatéacruz:“Sealguémquervirapósmim,negue-seasimesmo,carregueasuacruzemesiga”(Mc8,34).Estimula-nos

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otestemunhodetantosmissionáriosemártiresdeontemedehojeemnossospovosquetêmchegadoacompartilharacruzdeCristoatéàentregadaprópriavida.

141.AVirgemMariaéaimagemesplêndidadaconforma-çãoaoprojetotrinitárioquesecumpreemCristo.DesdeasuaConcepçãoImaculadaatésuaAssunção,recorda-nosqueabele-zadoserhumanoestátodanovínculodoamorcomaTrindade,equeaplenitudedenossa liberdadeestánarespostapositivaquelhedamos.

142.NaAméricaLatinaenoCaribe,inumeráveiscristãosprocurambuscarasemelhançadoSenhoraoencontrá-lonaes-cutaorantedaPalavra,noreceberseuperdãonoSacramentodaReconciliação,esuavidanacelebraçãodaEucaristiaedosde-maissacramentos,naentregasolidáriaaosirmãosmaisneces-sitadosenavidademuitascomunidadesquereconhecemcomalegriaoSenhoremmeioaeles.

4.3EnviadosaanunciaroEvangelhodoreinodavida

143. Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus,compalavraseaçõesecomsuamorteeressurreição,inauguranomeiodenósoReinodevidadoPai,quealcançarásuapleni-tudeláondenãohaverámais“nemmorte,nemluto,nempran-to,nemdor,porquetudooqueéantigoterádesaparecido”(Ap21,4).Durantesuavidaecomsuamortenacruz,Jesusperma-necefielaseuPaieàsuavontade(cf.Lc22,42).Duranteomi-nistériodele,osdiscípulosnãoforamcapazesdecompreenderqueosentidodesuavidaselavaosentidodesuamorte.Muitomenos podiam compreender que, segundo o desígnio do Pai,a morte do Filho era fonte de vida fecunda para todos (cf. Jo12,23-24). O mistério pascal de Jesus é o ato de obediência eamoraoPaiedeentregaportodosseusirmãos.Comesseato,oMessiasdoaplenamenteaquelavidaqueoferecianoscaminhosealdeiasdaPalestina.Porseusacrifíciovoluntário,oCordeirodeDeusoferecesuavidanasmãosdoPai(cf.Lc23,46),queofaz

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salvação“paranós”(1Cor1,30).Pelomistériopascal,oPaiselaanovaaliançaegeraumnovopovoquetemporfundamentoseuamorgratuitodePaiquesalva.

144.Aochamarosseusparaqueosigam,Jesuslhesdáumamissão muito precisa: anunciar o evangelho do Reino a todasasnações(cf.Mt28,19;Lc24,46-48).Porisso,tododiscípuloémissionário,poisJesusofazpartícipedesuamissão,aomesmotempoqueovinculaaElecomoamigoeirmão.Dessamaneira,comoEleétestemunhadomistériodoPai,assimosdiscípulossãotestemunhasdamorteeressurreiçãodoSenhoratéqueEleretorne.Cumpriressamissãonãoétarefaopcional,masparteintegrante da identidade cristã, porque é a extensão testemu-nhaldavocaçãomesma.

145.QuandocrescenocristãoaconsciênciadepertenceraCristo,emrazãodagratuidadeealegriaqueproduz,crescetambém o ímpeto de comunicar a todos o dom desse encon-tro.Amissãonãose limitaaumprogramaouprojeto,masécompartilharaexperiênciadoacontecimentodoencontrocomCristo,testemunhá-loeanunciá-lodepessoaapessoa,deco-munidadeacomunidadeedaIgrejaatodososconfinsdomun-do(cf.At1,8).

146.BentoXVInosrecordaque“odiscípulo,fundamenta-doassimnarochadaPalavradeDeus,sente-semotivadoalevaraBoaNovadasalvaçãoaseusirmãos.Discipuladoemissãosãocomoasduasfacesdamesmamoeda:quandoodiscípuloestáapaixonadoporCristo,nãopodedeixardeanunciaraomundoquesóElenossalva(cf.At4,12).Defato,odiscípulosabequesemCristonãoháluz,nãoháesperança,nãoháamor,nãoháfuturo”.62Essaéatarefaessencialdaevangelização,queincluiaopçãopreferencialpelospobres,apromoçãohumanaintegraleaautênticalibertaçãocristã.

62DI3.

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147.Jesussaiuaoencontrodepessoasemsituaçõesmui-todiferentes:homensemulheres,pobrese ricos, judeusees-trangeiros,justosepecadores...convidando-osasegui-lo.Hoje,continuaconvidandoaencontrarnEleoamordoPai.Por issomesmo,odiscípulomissionáriohádeserumhomemouumamulherquetornavisíveloamormisericordiosodoPai,especial-menteparacomospobresepecadores.

148. Ao participar dessa missão, o discípulo caminhaparaasantidade.Vivê-lanamissãooconduzaocoraçãodomundo. Por isso, a santidade não é fuga para o intimismoou para o individualismo religioso, tampouco abandono darealidadeurgentedosgrandesproblemaseconômicos,sociaise políticos da América Latina e do mundo, e muito menosfuga da realidade para um mundo exclusivamente espiri-tual.63

4.4AnimadospeloEspíritoSanto

149.Nocomeçodesuavidapública,depoisdeseubatis-mo,JesusfoiconduzidopeloEspíritoSantoaodesertoparaseprepararparaasuamissão(cf.Mc1,12-13)e,atravésdaoraçãoedo jejum,discerniuavontadedoPaievenceuastentaçõesdeseguiroutroscaminhos.EssemesmoEspíritoacompanhouJesusdurantetodasuavida(cf.At10,38).Umavezressusci-tado, Ele comunicou seu Espírito vivificador aos seus (cf. At2,33).

150.ApartirdePentecostes,aIgrejaexperimentadeime-diatofecundasirrupçõesdoEspírito,vitalidadedivinaqueseex-pressaemdiversosdonsecarismas(cf.1Cor12,1-11)evariadosofíciosqueedificamaIgrejaeservemàevangelização(cf.1Cor12,28-29). Através desses dons, a Igreja propaga o ministériosalvífico do Senhor até que Ele de novo se manifeste no finaldostempos(cf.1Cor1,6-7).OEspíritonaIgrejaforjamissioná-

63 Cf.DI3.

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riosdecididosevalentescomoPedro(cf.At4,13)ePaulo(cf.At13,9),indicaoslugaresquedevemserevangelizadoseescolheaquelesquedevemfazê-lo(cf.At13,2).

151. A Igreja, enquanto marcada e selada “com EspíritoSanto e fogo” (Mt 3,11), continua a obra do Messias, abrindoparaocrenteasportasdasalvação(cf.1Cor6,11).Paulooafir-ma deste modo: “São vocês uma carta de Cristo redigida pornossoministérioeescritanãocomtinta,mascomoEspíritodoDeusvivo”(2Cor3,3).OmesmoeúnicoEspíritoguiaefortaleceaIgrejanoanúnciodaPalavra,nacelebraçãodaféenoserviçodacaridade,atéqueoCorpodeCristoalcanceaestaturadesuaCabeça(cf.Ef4,15-16).Dessemodo,pelapresençaeficazdeseuEspírito,Deusasseguraatéàparusiasuapropostadevidaparahomensemulheresdetodosostemposelugares,impulsionan-doatransformaçãodahistóriaeseusdinamismos.Portanto,oSenhorcontinuaderramandohojeasuaVidapelotrabalhodaIgrejaque,com“aforçadoEspíritoSantoenviadodocéu”(1Pd1,12),continuaamissãoqueJesusCristorecebeudeseuPai(cf.Jo20,21).

152.JesusnostransmitiuaspalavrasdeseuPaieéoEs-píritoquemrecordaàIgrejaaspalavrasdeCristo(cf.Jo14,26).Desdeoprincípio,osdiscípuloshaviamsidoformadosporJesusnoEspíritoSanto(cf.At1,2);é,naIgreja,oMestreinteriorqueconduz ao conhecimento da verdade total, formando discípu-losemissionários.EssaéarazãopelaqualosseguidoresdeJe-susdevemdeixar-seguiarconstantementepeloEspírito(cf.Gl5,25),etornarapaixãopeloPaiepeloReinosuaprópriapaixão:anunciaraBoaNovaaospobres,curarosenfermos,consolarostristes,libertaroscativoseanunciaratodosoanodagraçadoSenhor(cf.Lc4,18-19).

153.EssarealidadesefazpresenteemnossavidaporobradoEspíritoSanto,oqualtambémnosiluminaevivificaatravésdossacramentos.EmvirtudedoBatismoedaConfirmação,so-moschamadosaserdiscípulosmissionáriosdeJesusCristoe

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entramosnacomunhãotrinitárianaIgreja.EstatemseupontoaltonaEucaristia,queéprincípioeprojetodamissãodocristão.“Assim,pois,aSantíssimaEucaristiaconduzainiciaçãocristãàsuaplenitudeeécomoocentroefimdetodaavidasacramen-tal”.64

64 SC17.

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5.1Chamadosaviveremcomunhão

154. Jesus, no início de seu ministério, escolhe os dozeparaviveremcomunhãocomEle(cf.Mc3,14).Parafavoreceracomunhãoeavaliaramissão,Jesus lhespede:“Venhamsóvocês a um lugar desabitado, para descansar um pouco” (Mc6,31-32).Emoutrasoportunidades,JesusseencontrarácomelesparalhesexplicaromistériodoReino(cf.Mc4,11.33-34).Jesus age da mesma forma com o grupo dos setenta e doisdiscípulos (cf.Lc10,17-20).Aoqueparece,oencontroa sósindicaqueJesusquerfalar-lhesaocoração(cf.Os2,14).Tam-bémhojeoencontrodosdiscípuloscomJesusnaintimidadeéindispensávelparaalimentaravidacomunitáriaeaatividademissionária.

155.OsdiscípulosdeJesussãochamadosaviveremcomu-nhãocomoPai(1Jo1,3)ecomseuFilhomortoeressuscitado,na“comunhãonoEspíritoSanto”(1Cor13,13).OmistériodaTrindadeéafonte,omodeloeametadomistériodaIgreja:“umpovoreunidopelaunidadedoPai,doFilhoedoEspírito”,cha-madoemCristo “como sacramento ousinal e instrumentodaíntimauniãocomDeusedaunidadedetodoogênerohuma-

CapítuloV

ACoMunHãodoSdISCÍPuLoSMISSIonÁrIoSnAIGrEJA

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�2 CELAM

no”.65AcomunhãodosfiéisedasIgrejaslocaisdoPovodeDeussesustentanacomunhãocomaTrindade.

156. A vocação ao discipulado missionário é con-vocaçãoàcomunhãoemsuaIgreja.Nãohádiscipuladosemcomunhão.Diantedatentação,muitopresentenaculturaatual,desercris-tãos sem Igreja e das novas buscas espirituais individualistas,afirmamosqueaféemJesusCristonoschegouatravésdaco-munidadeeclesialeela“nosdáumafamília,afamíliauniversalde Deus na Igreja Católica. A fé nos liberta do isolamento doeu, porque nos conduz à comunhão”.66 Isso significa que umadimensãoconstitutivadoacontecimentocristãoéofatodeper-tenceraumacomunidadeconcretanaqualpodemosviverumaexperiênciapermanentedediscipuladoedecomunhãocomossucessoresdosApóstolosecomoPapa.

157.Aoreceberaféeobatismo,oscristãosacolhemaaçãodo Espírito Santo que leva a confessar a Jesus como Filho deDeusea chamarDeus “Abba”.TodososbatizadosebatizadasdaAméricaLatinaedoCaribe, “atravésdosacerdóciocomumdo Povo de Deus”,67 somos chamados a viver e a transmitir acomunhãocomaTrindade,pois“aevangelizaçãoéumchamadoàparticipaçãodacomunhãotrinitária”.68

158.Igualàsprimeirascomunidadesdecristãos,hojenosreunimosassiduamentepara“escutaroensinamentodosapós-tolos,viverunidosetomarpartenopartirdopãoenasorações”(At2,42).AcomunhãodaIgrejasenutrecomoPãodaPalavradeDeusecomoPãodoCorpodeCristo.AEucaristia,partici-pação de todos no mesmo Pão de Vida e no mesmo Cálice deSalvação,nosfazmembrosdomesmoCorpo(cf.1Cor10,17).Elaéafonteeopontomaisaltodavidacristã,69suaexpressão

65 LG1.

66DI3.67Ibid.5.68DP218.69Cf.LG11.

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maisperfeitaeoalimentodavidaemcomunhão.NaEucaristia,nutrem-seasnovasrelaçõesevangélicasquesurgemdofatodesermosfilhosefilhasdoPaieirmãoseirmãsemCristo.AIgrejaqueacelebraé“casaeescoladecomunhão”70,ondeosdiscípuloscompartilhamamesmafé,esperançaeamoraserviçodamissãoevangelizadora.

159. A Igreja, como “comunidade de amor”71 é chamadaa refletir a glória do amor de Deus, que é comunhão, e assimatrairaspessoaseospovosparaCristo.NoexercíciodaunidadedesejadaporJesus,oshomensemulheresdenossotemposesentemconvocadoserecorremàformosaaventuradafé.“Quetambémelesvivamunidosanósparaqueomundocreia” (Jo17,21).AIgrejacresce,nãoporproselitismomas“por ‘atração’:comoCristo ‘atrai tudoparasi’ coma forçadoseuamor”.72AIgreja“atrai”quandoviveemcomunhão,poisosdiscípulosdeJesusserãoreconhecidosseamaremunsaosoutroscomoElenosamou(cf.Rm12,4-13;Jo13,34).

160.AIgrejaperegrinaviveantecipadamenteabelezadoamorqueserealizaránofinaldostemposnaperfeitacomunhãocomDeusecomoshomens.73Suariquezaconsisteemviver,jánestetempo,a“comunhãodossantos”,ouseja,acomunhãonosbensdivinosentre todososmembrosda Igreja,emparticularentre os que peregrinam e os que já gozam da glória.74 Cons-tatamosqueemnossaIgrejaexistemnumerososcatólicosqueexpressamsuaféesuapertençadeformaesporádica,especial-menteatravésdapiedadeaJesusCristo,àVirgemesuadevoçãoaossantos.Convidamosessesaaprofundaremsuaféepartici-paremmaisplenamentenavidadaIgrejarecordando-lhesque,

70NMI43.71DCE19.72BentoXVI,HomilianaEucaristiadeinauguraçãodaVConferênciaGeraldoEpiscopa-

doLatino-americano,13demaiode2007,Aparecida,Brasil.73Cf.ibid.74Cf.LG49.

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“emvirtudedobatismo,sãochamadosaserdiscípulosemissio-náriosdeJesusCristo”.75

161.AIgrejaécomunhãonoamor.Estaésuaessênciaeosinalatravésdoqualéchamadaaserreconhecidacomoseguido-radeCristoeservidoradahumanidade.Onovomandamentoéoqueuneosdiscípulosentresi,reconhecendo-secomoirmãoseirmãs,obedientesaomesmoMestre,membrosunidosàmesmaCabeçae,porisso,chamadosacuidaremunsdosoutros(1Cor13;Cl3,12-14).

162.Adiversidadedecarismas,ministérioseserviços,abreohorizonteparaoexercíciocotidianodacomunhãoatravésdaqualosdonsdoEspíritosãocolocadosàdisposiçãodosdemaisparaquecirculeacaridade(cf.1Cor12,4-12).Defato,cadaba-tizadoéportadordedonsquedevedesenvolveremunidadeecomplementaridadecomosdonsdosoutros,afimde formaroúnicoCorpodeCristo,entregueparaavidadomundo.Ore-conhecimentopráticodaunidadeorgânicaedadiversidadedefunções assegurará maior vitalidade missionária e será sinal einstrumentodereconciliaçãoepazparanossospovos.Cadaco-munidadeéchamadaadescobrireintegrarostalentosescondi-dosesilenciososqueoEspíritopresenteiaaosfiéis.

163.NopovodeDeus,“acomunhãoeamissãoestãopro-fundamente unidas entre si... A comunhão é missionária e amissãoéparaacomunhão”.76NasIgrejasparticulares,todososmembrosdopovodeDeus,segundosuasvocaçõesespecíficas,somosconvocadosàsantidadenacomunhãoenamissão.

5.2Lugareseclesiaisparaacomunhão

5.2.1 A diocese, lugar privilegiado da comunhão

164.Avidaemcomunidadeéessencialàvocaçãocristã.Odiscipuladoeamissãosempresupõemapertençaaumacomu-

75DI3.76ChL32.

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�5VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

nidade.Deusnãoquissalvar-nosisoladamente,masformandoum Povo.77 Este é um aspecto que distingue a experiência davocaçãocristãdeumsimplessentimentoreligioso individual.Porisso,aexperiênciadeféésemprevividaemumaIgrejaPar-ticular.

165.ReunidaealimentadapelaPalavraepelaEucaristia,aIgrejaCatólicaexisteesemanifestaemcadaIgrejaparticular,em comunhão com o Bispo de Roma.78 Esta é, como afirma oConcílio,“umaporçãodopovodeDeusconfiadaaumbispoparaqueaapascentecomseupresbitério”.79

166.AIgrejaparticularétotalmenteIgreja,masnãoétodaaIgreja.ÉarealizaçãoconcretadomistériodaIgrejaUniversalemdeterminadolugaretempo.Paraisso,eladeveestaremco-munhãocomasoutrasIgrejasparticularesesobopastoreiosu-premodoPapa,BispodeRoma,quepresideatodasasIgrejas.

167.OamadurecimentonoseguimentodeJesuseapai-xãoporanunciá-lo requeremquea Igrejaparticularse renoveconstantementeemsuavidaeardormissionário.Sóassimpodeser,paratodososbatizados,casaeescoladecomunhão,depar-ticipação e solidariedade. Em sua realidade social concreta, odiscípulotemaexperiênciadoencontrocomJesusCristovivo,amadurecesuavocaçãocristã,descobreariquezaeagraçadesermissionárioeanunciaaPalavracomalegria.

168. A Diocese, em todas as suas comunidades e estru-turas,échamadaaser“comunidademissionária”.80CadaDio-cese necessita fortalecer sua consciência missionária, saindoaoencontrodosqueaindanãocrêememCristonoespaçodeseu próprio território e responder adequadamente aos gran-des problemas da sociedade na qual está inserida. Mas tam-

77LG9.78ChL85.79ChD11.80Cf.ChL32.

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�� CELAM

bém,comespíritomaterno,échamadaasairembuscadeto-dososbatizadosquenãoparticipamnavidadascomunidadescristãs.

169.ADiocese,presididapeloBispo,éoprimeiroespaçodacomunhãoedamissão.Eledeveestimulareconduzirumaaçãopastoralorgânicarenovadaevigorosa,demaneiraqueavarieda-dedecarismas,ministérios,serviçoseorganizaçõesseorientemnomesmoprojetomissionárioparacomunicarvidanopróprioterritório. Esse projeto, que surge de um caminho de variadaparticipação, torna possível a pastoral orgânica, capaz de darrespostaaosnovosdesafios.Porqueumprojetosóéeficientesecadacomunidadecristã,cadaparóquia,cadacomunidadeedu-cativa,cadacomunidadedevidaconsagrada,cadaassociaçãooumovimentoecadapequenacomunidadeseinseremativamen-tenapastoralorgânicadecadadiocese.CadaumaéchamadaaevangelizardemodoharmônicoeintegradonoprojetopastoraldaDiocese.

5.2.2 A paróquia, comunidade de comunidades

170.Entreascomunidadeseclesiais,nasquaisvivemeseformamosdiscípulosemissionáriosdeJesusCristo,sobressaemasParóquias.SãocélulasvivasdaIgreja81eolugarprivilegiadonoqualamaioriadosfiéistemumaexperiênciaconcretadeCris-toeacomunhãoeclesial.82Sãochamadasasercasaseescolasdecomunhão.UmdosmaioresdesejosquesetêmexpressadonasIgrejasdaAméricaLatinaedoCaribe,motivandoapreparaçãodaVConferênciaGeral,éodeumavalenteaçãorenovadoradasParóquias,afimdequesejamdeverdade“espaçosdainiciaçãocristã,daeducaçãoecelebraçãodafé,abertasàdiversidadedecarismas,serviçoseministérios,organizadasdemodocomuni-tárioeresponsável,integradorasdemovimentosdeapostoladojáexistentes,atentasàdiversidadeculturaldeseushabitantes,

81AA10;SD55.82EAm41.

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�7VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

abertasaosprojetospastoraisesupra-paroquiaiseàsrealidadescircundantes”.83

171.Todososmembrosdacomunidadeparoquialsãores-ponsáveispelaevangelizaçãodoshomensemulheresemcadaambiente.OEspíritoSanto,queatuaemJesusCristo,étambémenviadoatodosenquantomembrosdacomunidade,porquesuaaçãonãoselimitaaoâmbitoindividual.Atarefamissionáriaseabresempreàscomunidades,assimcomoocorreuemPentecos-tes(cf.At2,1-13).

172.Arenovaçãodasparóquiasnoiníciodoterceiromilê-nioexigeareformulaçãodesuasestruturas,paraquesejaumarede de comunidades e grupos, capazes de se articular conse-guindoqueseusmembrossesintamrealmentediscípulosemis-sionáriosdeJesusCristoemcomunhão.Apartirdaparóquia,énecessárioanunciaroqueJesusCristo“fezeensinou”(At1,1)enquantoesteveentrenós.SuapessoaesuaobrasãoaboanovadesalvaçãoanunciadapelosministrosetestemunhasdaPalavraqueoEspíritodespertaeinspira.ApalavraacolhidaésalvíficaereveladoradomistériodeDeusedesuavontade.TodaparóquiaéchamadaaseroespaçoondeserecebeeseacolheaPalavra,ondesecelebraeseexpressanaadoraçãodoCorpodeCristo,eassiméafontedinâmicadodiscipuladomissionário.Suapró-pria renovação exige que se deixe iluminar de novo e semprepelaPalavravivaeeficaz.

173.AVConferênciaGeraléumaoportunidadeparaquetodasasnossasparóquiassetornemmissionárias.Onúmerodecatólicosquechegamànossacelebraçãodominicalélimitado;éimensoonúmerodosdistanciados,assimcomoonúmeroda-quelesquenãoconhecemaCristo.Arenovaçãomissionáriadasparóquiasseimpõe,tantonaevangelizaçãodasgrandescidadescomodomundoruraldenossoContinente,queestáexigindodenósimaginaçãoecriatividadeparachegaràsmultidõesquede-

83Ibid.

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�� CELAM

sejamoEvangelhodeJesusCristo.Particularmentenomundourbano,éurgenteacriaçãodenovasestruturaspastorais,vistoquemuitasdelasnasceramemoutrasépocaspararesponderàsnecessidadesdoâmbitorural.

174. Os melhores esforços das paróquias neste início doterceiro milênio devem estar na convocação e na formação deleigos missionários. Só através da multiplicação deles podere-moschegararesponderàsexigênciasmissionáriasdomomentoatual.Tambéméimportanterecordarqueocampoespecíficodaatividadeevangelizadoraleigaéocomplexomundodotrabalho,dacultura,dasciênciasedasartes,dapolítica,dosmeiosdeco-municaçãoedaeconomia,assimcomoasesferasdafamília,daeducação,davidaprofissional,sobretudonoscontextosondeaIgrejasefazpresentesomenteporeles84.

175.Seguindooexemplodaprimeiracomunidadecristã(cfAt2,46-47),acomunidadeparoquialsereúneparapartiropãodaPalavraedaEucaristiaeperseverarnacatequese,navidasa-cramentalenapráticadacaridade85.Nacelebraçãoeucarística,elarenovasuavidaemCristo.AEucaristia,naqualsefortaleceacomunidadedosdiscípulos,éparaaParóquiaumaescoladevidacristã.Nela,juntamentecomaadoraçãoeucarísticaecomaprá-ticadosacramentodareconciliaçãoparacomungardignamente,seusmembrossãopreparadosparadarfrutospermanentesdecaridade,reconciliaçãoejustiçaparaavidadomundo.

a) A Eucaristia, fonte e ponto alto da vida cristã, faz comque nossas paróquias sejam sempre comunidades euca-rísticas que vivemsacramentalmente oencontro comoCristoSalvador.Elastambémcelebramcomalegria:

b) Nobatismo:aincorporaçãodeumnovomembroaCristoeaseucorpoqueéaIgreja.

84LG31.33;GS43;AA2.85BentoXVI,AudiênciaGeral,ViagemApostólicaaoBrasil,23demaiode2007.

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�9VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

c) NaConfirmação:aperfeiçãodocaráterbatismaleofor-talecimentodapertençaeclesialedamaturidadeapostó-lica.

d) Na Penitência ou Reconciliação: a conversão que todosnecessitamosparacombateropecadoquenosfazincoe-rentescomoscompromissosbatismais.

e) NaUnçãodosEnfermos;osentidoevangélicodosmem-brosdacomunidade,seriamenteenfermosouemperigodemorte.

f) NosacramentodaOrdem:odomdoministérioapostó-licoquecontinuasendoexercidonaIgrejaparaoserviçopastoralatodososfiéis.

g) NoMatrimônio:oamorentreocasalquecomograçadeDeusgerminaecresceatéamaturidade,tornandoefetivanavidacotidianaadoaçãototalquemutuamentefizeramaosecasar.

176.AEucaristia,sinaldaunidadecomtodos,queprolon-gaefazpresenteomistériodoFilhodeDeusfeitohomem(cf.Fl2,6-8),nospropõeaexigênciadeumaevangelizaçãointegral.Aimensamaioriadoscatólicosdenossocontinentevivesobofla-gelodapobreza.Estatemdiversasexpressões:econômica,físi-ca,espiritual,moraletc.SeJesusveioparaquetodostenhamosvidaemabundância,aparóquiatemamaravilhosaocasiãoderesponderàsgrandesnecessidadesdenossospovos.Paraisso,temqueseguirocaminhodeJesusechegaraseraboasamari-tanacomoEle.Cadaparóquiadevechegaraconcretizaremsi-naissolidáriosseucompromissosocialnosdiversosmeiosemquesemove,comtoda“aimaginaçãodacaridade”.86Nãopodeseralheiaaosgrandessofrimentosqueamaioriadenossagenteviveequecommuitafreqüênciasãopobrezasescondidas.Todaautênticamissãounificaapreocupaçãopeladimensãotranscen-

86NMI50.

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90 CELAM

dentedoserhumanoeportodasassuasnecessidadesconcretas,paraquetodosalcancemaplenitudequeJesusCristooferece.

177.BentoXVInosrecordaque“oamoràEucaristialevatambémaapreciarcadavezmaisoSacramentodaReconcilia-ção”.87Vivemosnumaculturamarcadapor forte relativismoeperdadosentidodopecadoquenoslevaaesqueceranecessi-dade do sacramento da Reconciliação para nos aproximarmosdignamenteafimderecebermosaEucaristia.Comopastores,somoschamadosafomentaraconfissãofreqüente.Convidamosnossos presbíteros a dedicar tempo suficiente para oferecer osacramento da reconciliação com zelo pastoral e entranhas demisericórdia,apreparardignamenteoslugaresdacelebração,demaneiraquesejamexpressãodosignificadodestesacramento.Igualmente,pedimosanossosfiéisquevalorizemessepresentemaravilhosodeDeuseseaproximemdelepararenovaragraçabatismaleviver,commaiorautenticidade,ochamadodeJesusaseremseusdiscípulosemissionários.Nós,bisposepresbíteros,ministrosdareconciliação,somoschamadosaviver,demaneiraparticular,naintimidadecomoMestre.Somosconscientesdenossafraquezaedanecessidadedesermospurificadospelagra-çadosacramento,quesenosofereceparanos identificarmos,cadavezmais,comCristo,BomPastoremissionáriodoPai.Si-multaneamente,complenadisponibilidade,temosaalegriadeserministrosdareconciliação,etambémnóstemosdenosapro-ximarfreqüentemente,emcaminhopenitencial,doSacramentodaReconciliação.

5.2.3 Comunidades Eclesiais de Base e Pequenas Comunidades

178.NaexperiênciaeclesialdealgumasIgrejasdaAméricaLatinaedoCaribe,asComunidadesEclesiaisdeBasetêmsidoescolasquetêmajudadoaformarcristãoscomprometidoscomsuafé,discípulosemissionáriosdoSenhor,comootestemunhaaentregagenerosa,atéderramarosangue,demuitosdeseus

87SC20.

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91VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

membros.Elasabraçamaexperiênciadasprimeirascomunida-des,comoestãodescritasnosAtosdosApóstolos(At2,42-47).Medellín reconheceu nelas uma célula inicial de estruturaçãoeclesialefocodeféeevangelização.88Pueblaconstatouqueaspequenascomunidades,sobretudoascomunidadeseclesiaisdebase,permitiramaopovochegaraumconhecimentomaiordaPalavradeDeus,aocompromissosocialemnomedoEvangelho,aosurgimentodenovosserviçosleigoseàeducaçãodafédosadultos;89noentanto,tambémconstatou“quenãotêmfaltadomembrosdecomunidadeoucomunidadesinteirasque,atraídaspor instituições puramente leigas ou radicalizadas ideologica-mente,foramperdendoosentidoeclesial”.90

179. As comunidades eclesiais de base, no seguimentomissionáriodeJesus,têmaPalavradeDeuscomofontedesuaespiritualidadeeaorientaçãodeseuspastorescomoguiaqueassegura a comunhão eclesial. Demonstram seu compromissoevangelizadoremissionárioentreosmaissimpleseafastados,esãoexpressãovisíveldaopçãopreferencialpelospobres.Sãofonte e semente de variados serviços e ministérios a favor davidanasociedadeenaIgreja.Mantendo-seemcomunhãocomseu bispo e inserindo-se no projeto de pastoral diocesana, asCEBsseconvertememsinaldevitalidadenaIgrejaparticular.Atuando dessa forma, juntamente com os grupos paroquiais,associaçõesemovimentoseclesiais,podemcontribuirpararevi-talizarasparóquias,fazendodelasumacomunidadedecomuni-dades.Emseuesforçodecorresponderaosdesafiosdostemposatuais,ascomunidadeseclesiaisdebaseterãoocuidadodenãoalterarotesouropreciosodaTradiçãoedoMagistériodaIgreja.

180.Comorespostaàsexigênciasdaevangelização, juntocom as comunidades eclesiais de base, existem outras formasválidasdepequenascomunidades,inclusiveredesdecomunida-

88Cf.Medellín15.89Cf.Puebla629.90Ibid.630.

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des,demovimentos,gruposdevida,deoraçãoedereflexãodapalavradeDeus.TodasascomunidadesegruposeclesiaisdarãofrutonamedidaemqueaEucaristiaforocentrodesuavidaeaPalavradeDeusforofaroldeseucaminhoedesuaatuaçãonaúnicaIgrejadeCristo.

5.2.4 As Conferências Episcopais e a comunhão entre as Igrejas

181.Osbispos,alémdoserviçoàcomunhãoqueprestamemsuas Igrejasparticulares, exercemesteofício juntocomasoutrasIgrejasdiocesanas.Dessemodo,realizamemanifestamovínculodecomunhãoqueasuneentresi.Estaexperiênciadeco-munhãoepiscopal,sobretudoapósoConcílioVaticanoII,deveser entendidacomoencontrocom oCristovivo,presente nosirmãos que estão reunidos em seu nome.91 Para crescer nessafraternidadeenaco-responsabilidadepastoral,osbisposdevemcultivaraespiritualidadedacomunhão,afimdeacrescentarosvínculosdecolegialidadequeosunemaosdemaisbisposdesuaprópriaConferência,e tambématodooColégioEpiscopaleàIgrejadeRoma,presididapelosucessordePedro:cum Petro et sub Petro.92NaConferênciaEpiscopal,osbisposencontramseuespaçodediscernimentosolidáriosobreosgrandesproblemasdasociedadeedaIgreja,eoestímuloparaoferecerorientaçõespastoraisqueanimemosmembrosdoPovodeDeusaassumi-remcomfidelidadeedecisãosuavocaçãodeserdiscípulosmis-sionários.

182.OPovodeDeusseconstróicomocomunhãodeIgrejasparticulares,eatravésdelascomointercâmbioentreasculturas.Nessemarco,osbisposeasIgrejaslocaisexpressamsuasolici-tudeparacomtodasasIgrejas,especialmenteparacomasmaispróximas, reunidas nas províncias eclesiásticas, nas conferên-ciasregionaiseemoutrasformasdeassociaçãointerdiocesananointeriordecadaNaçãoouentrepaísesdamesmaRegiãoou

91Cf.EAm37.92Cf.JoãoPauloII,Apostolos suos.

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93VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

Continente.Essasváriasformasdecomunhãoestimulamcomvigor as “relações de irmandade entre as dioceses e as paró-quias”93efomentam“maiorcooperaçãoentreasIgrejasirmãs”.94

183.OCELAMéumorganismoeclesialdefraternaajudaepiscopal,cujapreocupaçãofundamentalécolaborarparaaevan-gelizaçãodoContinente.Aolongodeseus50anos,temofereci-doserviçosmuitoimportantesàsConferênciasEpiscopaiseàsnossasIgrejasparticulares,entreosquaisdestacamosasConfe-rênciasGerais,osEncontrosRegionais,osSemináriosdeestudo,emseusdiversosorganismoseinstituições.OresultadodetodoesseesforçoéumasentidafraternidadeentreosbisposdoCon-tinenteeumareflexãoteológicaeumalinguagempastoralco-munsquefavorecemacomunhãoeointercâmbioentreasIgrejas.

5.3.discípulosmissionárioscomvocaçõesespecíficas

184.AcondiçãododiscípulobrotadeJesusCristocomodesuafonte,pelaféepelobatismo,ecrescenaIgreja,comunidadeondetodososseusmembrosadquiremigualdignidadeepartici-pamdediversosministériosecarismas.Dessemodo,realiza-senaIgrejaaformaprópriaeespecíficadeviverasantidadebatis-malaserviçodoReinodeDeus.

185.Nofielcumprimentodesuavocaçãobatismal,odis-cípulodevelevaremconsideraçãoosdesafiosqueomundodehojeapresentaàIgrejadeJesus,entreoutros:oêxododefiéisparaseitaseoutrosgruposreligiosos;ascorrentesculturaiscon-tráriasaCristoeàIgreja;adesmotivaçãodesacerdotesfrenteaovastotrabalhopastoral;aescassezdesacerdotesemmuitoslugares;amudançadeparadigmasculturais;ofenômenodaglo-balizaçãoeasecularização;osgravesproblemasdeviolência,po-brezaeinjustiça;acrescenteculturadamortequeafetaavidaemtodasassuasformas.

93Ibid.33.94Ibid.74.

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5.3.1 Os bispos, discípulos missionários de Jesus Sumo Sacerdote

186. Os bispos, como sucessores dos apóstolos, juntocom o Sumo Pontífice e sob sua autoridade,95 com fé e espe-rançaaceitamosavocaçãodeserviraoPovodeDeus,confor-meocoraçãodeCristoBomPastor.Juntocomtodososfiéiseemvirtudedobatismosomos,antesdemaisnada,discípulosemembrosdoPovodeDeus.Comotodososbatizadose,juntocomeles,queremosseguiraJesus,Mestredevidaeverdade,nacomunhãodaIgreja.ComoPastores,servidoresdoEvangelho,somosconscientesdetermossidochamadosaviveroamoraJesusCristoeàIgrejanaintimidadedaoraçãoedadoaçãodenósmesmosaosirmãoseirmãs,aquempresidimosnacarida-de.ÉcomodissesantoAgostinho:comvocêssoucristão,paravocêssoubispo.

187.OSenhornoschamaapromoverportodososmeiosacaridadeeasantidadedosfiéis. Empenhamo-nosparaqueopovodeDeuscresçanagraçamedianteossacramentospre-sididospornósmesmosepelosdemaisministrosordenados.Somos chamados a ser mestres da fé e, portanto, a anunciara Boa Nova, que é fonte de esperança para todos, e a velar epromover com solicitude e coragem a fé católica. Em virtudedaíntimafraternidadequeprovémdosacramentodaOrdem,temosodeverdecultivardemaneiraespecialosvínculosquenosunemanossospresbíterosediáconos.ServimosaCristoeàIgrejamedianteodiscernimentodavontadedoPai,pararefle-tiroSenhoremnossomododepensar,desentir,defalaredesecomportaremmeioaoshomens.Emsíntese,osbispostêmde ser testemunhas próximas e alegres de Jesus Cristo, BomPastor(cf.Jo10,1-18).

188.Osbispos,comopastoreseguiasespirituaisdasco-munidadesanósencomendadas,somoschamadosa“fazerda

95Cf.ChD2.

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95VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

Igrejaumacasaeescoladecomunhão”.96Comoanimadoresdacomunhão, temos a missão de acolher, discernir e animar ca-rismas,ministérioseserviçosnaIgreja.Comopaisecentrodeunidade,nosesforçamosporapresentaraomundoorostodeumaIgrejanaqualtodossesintamacolhidoscomoemsuapró-priacasa.ParatodooPovodeDeus,emespecialparaospres-bíteros,procuramosserpais,amigoseirmãos,sempreabertosaodiálogo.

189.Paracrescernessasatitudes,osbisposprecisamospro-curarauniãoconstantecomoSenhor,cultivaraespiritualidadedacomunhãocomtodososquecrêememCristoepromoverosvínculosdecolegialidadequeosunemaoColégioEpiscopal,par-ticularmentecomsuaCabeça,oBispodeRoma.NãopodemosesquecerqueobispoéprincípioeconstrutordaunidadedesuaIgrejaparticularesantificadordeseupovo,testemunhadeespe-rançaepaidosfiéis,especialmentedospobres,equesuaprinci-paltarefaésermestresdafé,anunciadoresdaPalavradeDeusedaadministraçãodossacramentos,comoservidoresdagrei.

190.TodooPovodeDeusdeveagradeceraosBisposeméri-tosquecomopastorestêmentreguesuavidaaserviçodoReinodeDeus,sendodiscípulosemissionários.Aelesacolhemoscomcarinho e aproveitamos sua vasta experiência apostólica queaindapodeproduzirmuitosfrutos.Elesmantêmprofundosvín-culoscomasdiocesesquelhesforamconfiadaseàsquaisestãounidosporsuacaridadeesuaoração.

5.3.2 Os presbíteros, discípulos missionários de Jesus Bom Pastor

5.3.2.1 Identidade e missão dos presbíteros

191. Valorizamos e agradecemos com alegria porque naimensa maioria os presbíteros vivem seu ministério com fide-lidadeesãomodeloparaosdemais,quereservamtempoparasuaformaçãopermanente,porquecultivamumavidaespiritual

96NMI43.

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9� CELAM

queincentivaosdemaispresbíteros,centradaqueestánaescutadaPalavradeDeusenacelebraçãodiáriadaEucaristia:“MinhaMissa é minha vida e minha vida é uma Missa prolongada!”97AgradecemostambémàquelesqueforamenviadosaoutrasIgre-jasmotivadosporautênticosentidomissionário.

192.Umolharaonossomomentoatualnosmostrasitua-çõesqueafetamedesafiamavidaeoministériodenossospres-bíteros.Entreoutrascoisas,aidentidadeteológicadoministériopresbiteral,suainserçãonaculturaatualesituaçõesqueincidemsobreaexistênciadeles.

193.Oprimeirodesafiotemrelaçãocomaidentidadeteo-lógicadoministériopresbiteral.OConcílioVaticanoIIestabele-ceosacerdócioministerialaserviçodosacerdóciocomumdosfiéis, e cada um, ainda que de maneira qualitativamente dife-rente, participa do único sacerdócio de Cristo.98 Cristo, SumoeEternoSacerdote,nosremiuenospartilhousuavidadivina.NEle,somostodosfilhosdomesmoPaie irmãosentrenós.Osacerdotenãopodecairnatentaçãodeseconsiderarsomentemero delegado ou apenas representante da comunidade, massimumdomparaela,pelaunçãodoEspíritoeporsuaespecialuniãocomCristo.“TodoSumoSacerdoteétomadodentreosho-mensecolocadoparaintervirafavordoshomensemtudooqueserefereaoserviçodeDeus”(Hb5,1).

194. O segundo desafio se refere ao ministério do pres-bíteroinseridonaculturaatual.Opresbíteroéchamadoaco-nhecê-la para semear nela a semente do Evangelho, ou seja,paraqueamensagemdeJesuschegueaserumainterpelaçãoválida, compreensível, cheia de esperança e relevante para avida do homem e da mulher de hoje, especialmente para osjovens.Essedesafioincluianecessidadedepotencializarade-quadamenteaformaçãoinicialepermanentedospresbíteros,

97HURTADO,Alberto.Um fuego que enciende otros fuegos,pp.69-70.98Cf.LG10.

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97VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

em suas quatro dimensões: humana, espiritual, intelectual epastoral.99

195.Oterceirodesafioserefereaosaspectosvitaiseafeti-vos,aocelibatoeaumavidaespiritualintensafundadanaca-ridadepastoral,quesenutrenaexperiênciapessoalcomDeusenacomunhãocomosirmãos;tambémaocultivoderelaçõesfraternascomoBispo,comosdemaispresbíterosdadioceseecomosleigos.Paraqueoministériodopresbíterosejacoerenteetestemunhal,eledeveamarerealizarsuatarefapastoralemcomunhãocomobispoecomosdemaispresbíterosdadiocese.OministériosacerdotalquebrotadaOrdemSagradatem“radi-cal formacomunitária”esópodedesenvolver-secomo“tarefacoletiva”.100Osacerdotedeveserhomemdeoração,maduroemsuaopçãodevidaporDeus,fazerusodosmeiosdeperseveran-ça,comooSacramentodaConfissão,dadevoçãoàSantíssimaVirgem,damortificaçãoedaentregaapaixonadaporsuamissãopastoral.

196. Em particular, o presbítero é convidado a valorizarcomodomdeDeusocelibato,quelhepossibilitaespecialconfi-guraçãocomoestilodevidadopróprioCristoeofazsinaldesuacaridadepastoralnaentregaaDeuseaoshomenscomocoraçãoplenoeindivisível.“Naverdade,estaopçãodosacerdoteéumaexpressãosingulardaentregaqueoconfiguracomCristoedaentregadesimesmopeloReinodeDeus”.101Ocelibatosolicitaassumircommaturidadeaprópriaafetividadeesexualidade,vi-vendo-ascomserenidadeealegrianocaminhocomunitário.102

197. Outros desafios são de caráter estrutural, como porexemplo a existência de paróquias muito grandes, que dificul-tamoexercíciodeumapastoraladequada:paróquiasmuitopo-bresque fazemcomqueospastoressedediquemaoutras ta-

99Cf.PDV72.100Ibid.17.101SCa24.102Cf.PDV44.

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refasparapoderemsubsistir;paróquiassituadasemregiõesdeextremaviolênciaeinsegurança,eafaltaemádistribuiçãodepresbíterosnasIgrejasdoContinente.

198.Opresbítero,àimagemdoBomPastor,échamadoaserhomemdemisericórdiaecompaixão,próximoaseupovoeservidordetodos,particularmentedosquesofremgrandesne-cessidades.Acaridadepastoral,fontedaespiritualidadesacer-dotal,animaeunificasuavidaeministério.Conscientedesuaslimitações,elevalorizaapastoralorgânicaeseinserecomgostoemseupresbitério.

199. O Povo de Deus sente a necessidade de presbíteros-discípulos:quetenhamprofundaexperiênciadeDeus,configu-rados com o coração do Bom Pastor, dóceis às orientações doEspírito,quesenutramdaPalavradeDeus,daEucaristiaedaoração;depresbíteros-missionários:movidospelacaridadepas-toralqueosleveacuidardorebanhoaelesconfiadoeaprocurarosmaisdistantes,pregandoaPalavradeDeus,sempreempro-fundacomunhãocomseuBispo,comospresbíteros,diáconos,religiosos,religiosaseleigos;depresbíteros-servidoresdavida:queestejamatentosàsnecessidadesdosmaispobres,compro-metidos na defesa dos direitos dos mais fracos, e promotoresda cultura da solidariedade. Também de presbíteros cheios demisericórdia,disponíveisparaadministrarosacramentodare-conciliação.

200. Tudo isso exige que as Dioceses e as ConferênciasEpiscopaisdesenvolvamumapastoralpresbiteralqueprivilegieaespiritualidadeespecíficaeaformaçãopermanenteeintegraldossacerdotes.AExortaçãoApostólicaPastores Dabo Vobisen-fatiza que: “A formação permanente, precisamente porque é“permanente”, deve acompanhar os sacerdotes sempre, isto é,emqualquerperíodoesituaçãodesuavida,assimcomonosdi-versoscargosderesponsabilidadeeclesialquesejamconfiadosaeles;tudoissolevandoemconsideração,naturalmente,aspos-sibilidadesecaracterísticasprópriasdaidade,condiçõesdevida

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etarefasconfiadas”.103Levandoemconsideraçãoonúmerodepresbíterosqueabandonaramoministério,cadaIgrejaparticu-larprocureestabelecercomelesrelaçõesdefraternidadeemú-tuacolaboraçãoconformeasnormasprescritaspelaIgreja.

5.3.2.2 Os párocos, animadores de uma comunidade de discípulos missionários

201.Arenovaçãodaparóquiaexigeatitudesnovasdospá-rocosedossacerdotesqueestãoaserviçodela.Aprimeiraexi-gênciaéqueopárocosejaautênticodiscípulodeJesusCristo,porquesóumsacerdoteapaixonadopeloSenhorpoderenovarumaparóquia.Mas,aomesmotempo,deveserardorosomissio-nárioqueviveoconstantedesejodebuscarosafastadosenãosecontentacomasimplesadministração.

202.Mas,semdúvida,nãobastaaentregagenerosadosa-cerdote e das comunidades de religiosos. Requer-se que todososleigossesintamco-responsáveisnaformaçãodosdiscípulosenamissão.Issosupõequeospárocossejampromotoreseani-madoresdadiversidademissionáriaequedediquemtempoge-nerosamenteaosacramentodareconciliação.Umaparóquiare-novadamultiplicaaspessoasquerealizamserviçoseacrescentaosministérios.Igualmente,nessecampo,serequerimaginaçãoparaencontrarrespostaaosmuitosesempremutáveisdesafiosquearealidadecoloca,exigindonovosserviçoseministérios.Aintegraçãodetodoselesnaunidadedeumúnicoprojetoevange-lizadoréessencialparaassegurarumacomunhãomissionária.

203. Uma paróquia, comunidade de discípulos missioná-rios,requerorganismosquesuperemqualquertipodeburocra-cia.OsConselhosPastoraisParoquiaisterãodeestarformadospor discípulos missionários constantemente preocupados emchegar a todos. O Conselho de Assuntos Econômicos junto atodaacomunidadeparoquial,trabalharáparaobterosrecursos

103PDV76.

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necessários,demaneiraqueamissãoavanceesefaçarealidadeemtodososambientes.Estesetodososorganismosprecisamestaranimadosporumaespiritualidadedecomunhãomissioná-ria:“Semestecaminhoespiritual,depoucoserviriamosinstru-mentosexternosdacomunhão.Maisdoquemodosdeexpres-sãoecrescimento,essesinstrumentossetornariammeiossemalma,máscarasdecomunhão”.104

204. Dentro do território paroquial, a família cristã é aprimeiraemaisbásicacomunidadeeclesial.Nelasevivemesetransmitemosvaloresfundamentaisdavidacristã.Elasechama“IgrejaDoméstica”.105Aí,ospaisdesempenhamopapeldepri-meirostransmissoresdaféaseusfilhos,ensinando-lhesatravésdoexemploedapalavra,aseremverdadeirosdiscípulosmissio-nários.Aomesmotempo,quandoessaexperiênciadediscipula-domissionárioéautêntica,“umafamíliasefazevangelizadorademuitasoutrasfamíliasedoambienteemqueelavive”.106Issoagenavidadiária“dentroeatravésdosatos,dasdificuldades,dos acontecimentos da existência de cada dia”.107 O Espírito,quefaztudonovo,atuainclusivedentrodesituaçõesirregula-res,nasquaisserealizaumprocessodetransmissãodafé,mastemos de reconhecer que, nas atuais circunstâncias, às vezesesseprocessoseencontracommuitasdificuldades.Nãosepro-põequeaParóquiacheguesóasujeitosafastados,masàvidadetodasasfamílias,parafortalecernelasadimensãomissionária.

5.3.3 Os diáconos permanentes, discípulos missionários de Jesus Servidor

205.AlgunsdiscípulosemissionáriosdoSenhorsãochama-dosaserviràIgrejacomodiáconospermanentes,fortalecidos,emsuamaioria,peladuplasacramentalidadedomatrimônioedaOrdem.SãoordenadosparaoserviçodaPalavra,dacaridade

104NMI43.105LG11.106FC52;CCE1655-1658,2204-2206,2685.107FC51.

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edaliturgia,especialmenteparaossacramentosdoBatismoedoMatrimônio;tambémparaacompanharaformaçãodenovascomunidadeseclesiais,especialmentenasfronteirasgeográficaseculturais,ondeordinariamentenãochegaaaçãoevangelizado-radaIgreja.

206. Cada diácono permanente deve cultivar esmerada-mentesua inserçãonocorpodiaconal,emfielcomunhãocomseubispoeemestreitaunidadecomospresbíteroseosdemaismembrosdopovodeDeus.Quandoestãoaserviçodeumapa-róquia,énecessárioqueosdiáconosepresbíterosprocuremodiálogoetrabalhememcomunhão.

207.Elesdevemreceberadequadaformaçãohumana,es-piritual, doutrinal e pastoral com programas adequados quelevem em consideração – no caso dos que estão casados – aesposaeafamília.Suaformaçãooshabilitaráaexercerseumi-nistériocomfrutonoscamposdaevangelização,davidadascomunidades,daliturgiaedaaçãosocial,especialmentecomosmaisnecessitados,dandoassimtestemunhodeCristoser-vidoraoladodosenfermos,dosquesofrem,dosmigranteserefugiados,dosexcluídosedasvítimasdaviolênciaeencarce-rados.

208.AVConferênciaesperadosdiáconosumtestemunhoevangélicoeimpulsomissionárioparaquesejamapóstolosemsuasfamílias,emseustrabalhos,emsuascomunidadesenasno-vasfronteirasdamissão.Nãoénecessáriocriarnoscandidatosaodiaconatoexpectativaspermanentesquesuperemanaturezaprópriaquecorrespondeaograudodiaconato.

5.3.4 Os fiéis leigos e leigas, discípulos e missionários de Jesus, Luz do Mundo

209.Osfiéisleigossão“oscristãosqueestãoincorporadosaCristopelobatismo,queformamopovodeDeuseparticipamdasfunçõesdeCristo:sacerdote,profetaerei.Realizam,segun-dosuacondição,amissãodetodoopovocristãonaIgrejaeno

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mundo”108.São“homensdaIgrejanocoraçãodomundo,eho-mensdomundonocoraçãodaIgreja”.109

210.Suamissãoprópriaeespecíficaserealizanomundo,detalmodoque,comseutestemunhoesuaatividade,contri-buam para a transformação das realidades e para a criação deestruturasjustassegundooscritériosdoEvangelho.“Oespaçoprópriodesuaatividadeevangelizadoraéomundovastoecom-plexodapolítica,darealidadesocialedaeconomia,comotam-bémdacultura,dasciênciasedasartes,davidainternacional,dos ‘mass media’, e outras realidades abertas à evangelização,comooamor,afamília,aeducaçãodascriançaseadolescentes,otrabalhoprofissionaleosofrimento”.110Alémdisso,elestêmodeverdefazercrívelaféqueprofessam,mostrandoautenticida-deecoerênciaemsuaconduta.

211.Osleigostambémsãochamadosaparticiparnaaçãopas-toraldaIgreja,primeirocomotestemunhodevidae,emsegundolugar,comaçõesnocampodaevangelização,davidalitúrgicaeoutrasformasdeapostolado,segundoasnecessidadeslocaissobaguiadeseuspastores.Estesestarãodispostosaabrirparaelesespaçosdeparticipaçãoeconfiar-lhesministérioseresponsabi-lidadesemumaIgrejaondetodosvivamdemaneiraresponsávelseucompromissocristão.Aoscatequistas,ministrosdaPalavrae animadores de comunidades que cumprem magnífica tarefadentrodaIgreja,111osreconhecemoseanimamosacontinuaremo compromisso que adquiriram no batismo e na confirmação.

212.Paracumprirsuamissãocomresponsabilidadepessoal,osleigosnecessitamdesólidaformaçãodoutrinal,pastoral,es-piritualeadequadoacompanhamentoparadaremtestemunhodeCristoedosvaloresdoReinonoâmbitodavidasocial,econô-mica,políticaecultural.

108Cf.LG31.109DP786.110EN70.111Cf.LG31.33;GS43;AA2.

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213.Hoje,todaaIgrejanaAméricaLatinaenoCaribeque-remcolocar-seemestadodemissão.AevangelizaçãodoConti-nente,dizia-nosopapaJoãoPauloII,nãopoderealizar-sehojesem a colaboração dos fiéis leigos.112 Hão de ser parte ativa ecriativanaelaboraçãoeexecuçãodeprojetospastoraisafavordacomunidade. Issoexige,dapartedospastores,maioraber-turadementalidadeparaqueentendameacolhamo“ser”eo“fazer”doleigonaIgreja,queporseubatismoesuaconfirmaçãoédiscípuloemissionáriodeJesusCristo.Emoutraspalavras,énecessárioqueoleigosejalevadoemconsideraçãocomespíritodecomunhãoeparticipação113.

214.Nessecontexto,éumsinaldeesperançao fortaleci-mento de várias associações leigas, movimentos apostólicoseclesiaisecaminhosdeformaçãocristã,comunidadeseclesiaisenovascomunidades,quedevemserapoiadospelospastores.Estes ajudam muitos batizados e muitos grupos missionáriosa assumir com maior responsabilidade sua identidade cristã ecolaborarmaisativamentenamissãoevangelizadora.Nasúlti-masdécadas,váriasassociaçõesemovimentosapostólicos lei-gosdesenvolveramforteprotagonismo.Porisso,umadequadodiscernimento,incentivo,coordenaçãoeconduçãopastoral,so-bretudodapartedossucessoresdosApóstolos,contribuiráparaordenaressedomparaaedificaçãodaúnicaIgreja114.

215.ReconhecemosovaloreaeficáciadosConselhosparo-quiais,Conselhosdiocesanosenacionaisdefiéisleigos,porqueincentivamacomunhãoeaparticipaçãonaIgrejaesuapresen-çaativanomundo.Aconstruçãodacidadania,nosentidomaisamplo,eaconstruçãodeeclesialidadenosleigos,éumsóeúnicomovimento.

112Cf.EAm44.113Cf.PG11.114Cf.BentoXVI,HomilianaCelebraçãodasprimeirasvésperasnaVigíliadePen-

tecostes. Encontro com os movimentos e novas comunidades eclesiais, 3 de junho de2006.

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5.3.5 Os consagrados e consagradas, discípulos missionários de Jesus Testemunha do Pai

216.AvidaconsagradaéumdomdoPai,pormeiodoEspí-rito,àsuaIgreja,115econstituielementodecisivoparasuamis-são.116 Expressa-se na vida monástica, contemplativa e ativa,nos institutosseculares,naquelesquese inseremnassocieda-desdevidaapostólicaeoutrasnovasformas.ÉumcaminhodeespecialseguimentodeCristo,paradedicar-seaElecomcoraçãoindivisoecolocar-se,comoEle,aserviçodeDeusedahumani-dade,assumindoaformadevidaqueCristoescolheuparaviraestemundo:vidavirginal,pobreeobediente.117

217.EmcomunhãocomosPastores,osconsagradosecon-sagradassãochamadosafazerdeseuslugaresdepresença,desuavidafraternaemcomunhãoedesuasobras,lugaresdeanúncioexplícitodoEvangelho,principalmenteaosmaispobres,comotemsidoemnossocontinentedesdeoiníciodaevangelização.Desse modo, segundo seus carismas fundacionais, colaboramcom a gestação de uma nova geração de cristãos discípulos emissionáriosedeumasociedadeondeserespeitea justiçaeadignidadedapessoahumana.

218.Apartirdoseuser,avidaconsagradaéchamadaaserespecialistaemcomunhão,nointeriortantodaIgrejaquantodasociedade.Avidaemissãodosconsagradosdevemestarin-seridasnaIgrejaparticulareemcomunhãocomoBispo.Paraisso, é necessário criar meios comuns e iniciativas de colabo-raçãoquelevemaumconhecimentoevalorizaçãomútuoseaumcompartilhardamissãocomtodososchamadosaseguiraJesus.

219.Numcontinenteondesemanifestamsérias tendên-ciasdesecularização,tambémnavidaconsagrada,osreligiosos

115VC1.116Ibid.3.117Ibid.14,16e18.

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105VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

sãochamadosadartestemunhodaabsolutaprimaziadeDeusedeseuReino.AvidaconsagradaseconverteemtestemunhadoDeusdavidaemumarealidadequerelativizaseuvalor(obe-diência),étestemunhadeliberdadefrenteaomercadoeàsrique-zasquevalorizamaspessoaspeloter(pobreza),eétestemunhadeumaentreganoamorradicalelivreaDeuseàhumanidadefrenteàerotizaçãoebanalizaçãodasrelações(castidade).

220.NaatualidadedaAméricaLatinaedoCaribe,avidaconsagrada é chamada a ser uma vida discipular, apaixonadaporJesus-caminhoaoPaimisericordioso,eporisso,decaráterprofundamente místico e comunitário. É chamada a ser umavidamissionária,apaixonadapeloanúnciodeJesus-verdadedoPai,porissomesmoradicalmenteprofética,capazdemostraràluzdeCristoassombrasdomundoatualeoscaminhosdeumavidanova,paraoqueserequerumprofetismoqueaspireatéàentregadavidaemcontinuidadecomatradiçãodesantidadeemartíriodetantasetantosconsagradosaolongodahistóriadoContinente. E, a serviço do mundo, uma vida apaixonada porJesus-vida do Pai, que se faz presente nos mais pequeninos enosúltimos,aquemserveapartirdoprópriocarismaeespiri-tualidade.

221.Demaneiraespecial,aAméricaLatinaeoCaribene-cessitam da vida contemplativa, testemunha de que somenteDeusbastaparapreencheravidadesentidoedealegria.“Emum mundo que continua perdendo o sentido do divino, dian-te da supervalorização do material, vocês, queridas religiosas,comprometidasdesdeseusclaustrosaseremtestemunhasdosvalorespelosquaisvivem,sejamtestemunhasdoSenhorparaomundodehoje,infundamcomsuaoraçãoumnovosoprodevidanaIgrejaenohomematual”.118

118JoãoPauloII,DiscursoàsReligiosasdeClausuranacatedraldeGuadalajara,México,30dejaneirode1979.

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222.OEspíritoSantocontinuadespertandonovasformasdevidaconsagradanasIgrejas,asquaisprecisamseracolhidaseacompanhadasemseucrescimentoedesenvolvimentonointe-riordasIgrejaslocais.OBispoprecisausardiscernimentosérioeponderadosobreseusentido,necessidadeeautenticidade.OsPastoresvalorizamcomoinestimáveldomavirgindadeconsa-grada,daquelesqueseentregamaCristoeàsuaIgrejacomge-nerosidadeecoraçãoindiviso,esepropõemvelarporsuaforma-çãoinicialepermanente.

223. As Confederações de Institutos Seculares (CISAL) ede religiosas e religiosos (CLAR) e as Conferências Nacionaissãoestruturasdeserviçoeanimaçãoque,emautênticacomu-nhãocomosPastoresesobsuaorientação,emdiálogofecun-doeamistoso,119estãoconvocadasaestimularseusmembrosarealizaremamissãocomodiscípulosemissionáriosaserviçodoReinodeDeus.120

224.Ospovoslatino-americanosecaribenhosesperammui-todavidaconsagrada,especialmentedotestemunhoecontribui-çãodasreligiosascontemplativasedevidaapostólicaque,juntoaosdemaisirmãosreligiosos,membrosdeInstitutosSeculareseSociedadesdeVidaApostólica,mostramorostomaternodaIgre-ja.Seudesejodeescuta,acolhidaeserviço,eseutestemunhodosvaloresalternativosdoReino,mostramqueumanovasociedadelatino-americanaecaribenha,fundadaemCristo,épossível.121

5.4osquedeixaramaIgrejaparaseuniraoutrosgruposreligiosos

225.Segundonossaexperiênciapastoral,muitasvezes,apessoasinceraquesaidenossaIgrejanãoofazpeloqueosgru-pos“nãocatólicos”crêem,masfundamentalmenteporcausadecomoelesvivem;nãoporrazõesdoutrinais,masvivenciais;não

119Cf.PC23;CIC708.120Cf.VC50-53.121Cf.DI5.

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107VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

por motivos estritamente dogmáticos, mas pastorais; não porproblemas teológicos, mas metodológicos de nossa Igreja. Es-peramencontrarrespostasasuasinquietações.Procuram,nãosemsériosperigos,responderaalgumasaspiraçõesque,quemsabe,nãotêmencontrado,comodeveriaser,naIgreja.

226.EmnossaIgrejatemosdereforçarquatroeixos:

a) A experiência religiosa.EmnossaIgrejadevemosofereceratodososnossosfiéisum“encontropessoalcomJesusCristo”,umaexperiênciareligiosaprofundaeintensa,umanúncioquerigmáticoeotestemunhopessoaldosevange-lizadores,queleveaumaconversãopessoaleaumamu-dançadevidaintegral.

b) A vivência comunitária. Nossos fiéis procuram comuni-dadescristãs,ondesejamacolhidosfraternalmenteesesintamvalorizados,visíveiseeclesialmente incluídos.Énecessárioquenossosfiéissesintamrealmentemembrosdeumacomunidadeeclesialeco-responsáveisemseude-senvolvimento.Issopermitirámaiorcompromissoeen-tregaemepelaIgreja.

c) A formação bíblico-doutrinal. Junto a uma forte expe-riênciareligiosaeumadestacadaconvivênciacomunitá-ria,nossosfiéisprecisamaprofundaroconhecimentodaPalavradeDeuseosconteúdosdafé,vistoqueestaéaúnica maneira de amadurecer sua experiência religiosa.Nessecaminho,acentuadamentevivencialecomunitário,aformaçãodoutrinalnãoseexperimentacomoconheci-mentoteóricoefrio,mascomoferramentafundamentalenecessárianocrescimentoespiritual,pessoalecomuni-tário.

d) O compromisso missionário de toda a comunidade.Elasaiaoencontrodosafastados, interessa-seporsuasituação,afimdereencantá-loscomaIgrejaeconvidá-losaretorna-remparaela.

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5.5diálogoecumênicoeinterreligioso

5.5.1 Diálogo ecumênico para que o mundo creia

227. A compreensão e a prática da eclesiologia de comu-nhãonosconduzaodiálogoecumênico.ArelaçãocomosirmãoseirmãsbatizadosdeoutrasIgrejasecomunidadeseclesiaiséumcaminho irrenunciável para o discípulo e missionário,122 poisa faltadeunidaderepresentaumescândalo,umpecadoeumatrasodocumprimentododesejodeCristo:“Quetodossejamum,comotu,Pai,estásemmimeeuemti.Eparaquetambémelesestejamemnós,afimdequeomundoacreditequetumeenviaste”(Jo17,21).

228. O ecumenismo não se justifica por uma exigênciasimplesmentesociológicamasevangélica,trinitáriaebatismal:“expressaacomunhãoreal,aindaqueimperfeita”quejáexisteentre“osqueforamregeneradospelobatismo”eotestemunhoconcretodefraternidade.123OMagistérioinsistenocarátertri-nitárioebatismaldoesforçoecumênico,ondeodiálogoemergecomoatitudeespiritualeprática,emumcaminhodeconversãoereconciliação.Sóassimchegará“odiaemquepoderemosce-lebrar, junto com todos os que crêem em Cristo, a divina Eu-caristia”.124 Uma via fecunda para avançar para a comunhão érecuperaremnossascomunidadesosentidodocompromissodoBatismo.

229.Hojesefaznecessárioreabilitaraautênticaapologé-ticaquefaziamospaisdaIgrejacomoexplicaçãodafé.Aapo-logéticanãotemporquesernegativaoumeramentedefensivaper se.Implica,naverdade,acapacidadededizeroqueestáemnossas mentes e corações de forma clara e convincente, comodisseSãoPaulo,“fazendoaverdadenacaridade”(Ef4,15).MaisdoquenuncaosdiscípulosemissionáriosdeCristodehojene-

122Cf.UUS3.123

Ibid.96.124

SC56.

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cessitamdeumaapologéticarenovadaparaquetodospossamtervidanEle.

230.Àsvezesesquecemosqueaunidadeé,antesdetudo,umdomdoEspíritoSanto,eoramospoucoporessaintenção.“Estaconversãodocoraçãoeestasantidadedevida,juntamentecomasoraçõesparticularesepúblicaspelaunidadedoscristãos,hãodeseconsiderarcomoaalmadetodoomovimentoecumê-nicoecomrazãopodechamar-seecumenismoespiritual”.125

231.FazmaisdequarentaanosqueoConcílioVaticanoIIreconheceuaaçãodoEspíritoSantonomovimentopelaunida-dedoscristãos.Desdeentão,temoscolhidomuitosfrutos.Nes-tecampo,necessitamosdemaisagentesdediálogoemaisbemqualificados.ÉbomtornarmaisconhecidasasdeclaraçõesqueaprópriaIgrejaCatólicatemsubscritonocampodoecumenis-modesdeoConcílio.Osdiálogosbilateraisemultilateraistêmproduzidobonsfrutos.TambéméoportunoestudaroDiretório ecumênico e suas indicaçõesemrelaçãoà catequese,à liturgia,à formação presbiteral e à pastoral.126 A mobilidade humana,característicadomundoatual,podeserocasiãopropíciaparaodiálogoecumênicodavida.127

232. Em nosso contexto, o surgimento de novos gruposreligiosos,alémdatendênciaaconfundiroecumenismocomodiálogointerreligioso,temcausadoobstáculosnaconquistademaioresfrutosnodiálogoecumênico.Porissomesmo,incenti-vamososministrosordenados,aosleigoseàvidaconsagradaaparticiparemdeorganismosecumênicoscomcuidadosaprepa-raçãoeesmeradoseguimentodospastores,erealizaremaçõesconjuntasnosdiversoscamposdavidaeclesial,pastoralesocial.Na verdade, o contato ecumênico favorece a estima recíproca,

125UR8.126Cf.PontifícioConselhoparaaPromoçãodaUnidadedosCristãos.A dimensão ecumê-

nica na formação dos que trabalham no ministério pastoral,n.3-5.127Cf.PontifícioConselhoparaaPastoraldosImigranteseItinerantes.InstruçãoErga

migrantes caritas Christi,56-58.

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convocaàescutacomumdapalavradeDeusechamaàconver-sãoaquelesquesedeclaramdiscípulosemissionáriosdeJesusCristo.Esperamosqueapromoçãodaunidadedoscristãos,as-sumidapelasConferênciasEpiscopais,seconsolideefrutifiquesobaluzdoEspíritoSanto.

233.Nestanovaetapaevangelizadora,queremosqueodiá-logoeacooperaçãoecumênicaseencaminhemparadespertarnovasformasdediscipuladoemissãoemcomunhão.Cabeob-servarque,ondeseestabeleceodiálogo,diminuioproselitismo,crescemoconhecimentorecíprocoeorespeito,eseabrempos-sibilidadesdetestemunhocomum.

234. Como resposta generosa à oração do Senhor “paraque todos sejam um” (Jo 17,21), os Papas nos têm incentiva-doaavançarpacientementenocaminhodaunidade.JoãoPauloIInosexorta:“Nocorajosocaminhoparaaunidade,aclarezaeprudênciadafénosconduzemaevitarofalsoirenismoeode-sinteressepelasnormasdaIgreja.Inversamente,amesmacla-rezaeamesmaprudêncianosrecomendamevitaraindiferençanabuscadaunidadee,maisainda,aposiçãopré-concebidaouoderrotismoquetendeavertudocomonegativo”128.BentoXVIabriuseupontificadodizendo:“Nãobastamasmanifestaçõesdebonssentimentos.Fazemfaltagestosconcretosquepenetremnos espíritos e sacudam as consciências, impulsionando cadaumàconversãointerior,queéofundamentodetodoprogressonocaminhodoecumenismo”.129

5.5.2 Relação com o judaísmo e diálogo interreligioso

235.Reconhecemoscomgratidãooslaçosquenosrelacio-namcomopovojudeu,quenosunenafénoúnicoDeusesuapalavrareveladanoAntigoTestamento.130Sãonossos“irmãos

128UUS79.129BentoXVI,Primeiramensagemnofinaldacelebraçãoeucarísticacomoscardeais

eleitoresnaCapelaSistina,quarta-feira,20deabrilde2005.130Cf.NAe4.

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maiores”nafédeAbraão,IsaaceJacó.Dóiemnósahistóriadedesencontrosqueelestêmsofrido,tambémemnossospaíses.Sãomuitasascausascomunsquenaatualidadeexigemmaiorcolaboraçãoerespeitomútuo.

236.PelosoprodoEspíritoSantoeoutrosmeiosconheci-dosdeDeus,agraçadeCristopodealcançaratodososqueEleredimiu,paraalémdacomunidadeeclesial,porémdemodosdi-ferentes131.ExplicitarepromoverestasalvaçãojáoperantenomundoéumadastarefasdaIgrejacomrespeitoàspalavrasdoSenhor:“Sejamminhastestemunhasatéosextremosdaterra”(At1,8).

237.Odiálogointerreligioso,emespecialcomasreligiõesmonoteístas, fundamenta-se justamente na missão que Cris-tonosconfiou,solicitandoasábiaarticulaçãoentreoanúncioe o diálogo como elementos constitutivos da evangelização.132Comtalatitude,aIgreja,“sacramentouniversaldesalvação”,133refletealuzdeCristoque“iluminaatodohomem”(Jo1,9).ApresençadaIgrejaentreasreligiõesnãocristãséfeitadeempe-nho,discernimentoetestemunho,apoiadosnafé,esperançaecaridadeteologais.134

238.Mesmoquandoosubjetivismoea identidadepoucodefinidadecertaspropostasdificultamoscontatos,issonãonospermiteabandonarocompromissoeagraçadodiálogo.135Emlugardedesistir,énecessárioinvestirnoconhecimentodasre-ligiões, no discernimento teológico-pastoral e na formação deagentes competentes para o diálogo interreligioso, atendendoàsdiferentesvisõesreligiosaspresentesnasculturasdenossocontinente.Odiálogointerreligiosonãosignificaquesedeixede

131Cf.PontifícioConselhoparaoDiálogoInter-religiosoeCongregaçãoparaaEvangeli-zaçãodosPovos,Diálogo e Anúncio,1991,29.

132Cf.NMI55.133LG1.134Cf.PontifícioConselhoparaoDiálogoInter-religiosoeCongregaçãoparaaEvangeli-

zaçãodosPovos,Diálogo e Anúncio,1991,40.135Ibid.89.

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112 CELAM

anunciaraBoaNovadeJesusCristoaospovosnãocristãos,mascommansidãoerespeitoporsuasconvicçõesreligiosas.

239.Odiálogointerreligioso,alémdeseucaráterteológi-co, temsignificadoespecialnaconstruçãodanovahumanida-de: abre caminhos inéditos de testemunho cristão, promove aliberdadeedignidadedospovos,estimulaacolaboraçãoparaobemcomum,superaaviolênciamotivadaporatitudesreligiosasfundamentalistas,educaparaapazeparaaconvivênciacidadã;éumcampodebem-aventurançasquesãoassumidaspelaDou-trinaSocialdaIgreja.

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�.1umaespiritualidadetrinitáriadoencontrocomJesusCristo

240.UmaautênticapropostadeencontrocomJesusCris-todeveestabelecer-sesobreosólidofundamentodaTrindade-Amor.AexperiênciadeumDeusunoetrino,queéunidadeecomunhãoinseparável,permite-nossuperaroegoísmoparanosencontrarmosplenamentenoserviçoparacomooutro.Aexpe-riênciabatismaléopontodeiníciodetodaespiritualidadecristãquesefundanaTrindade.

241.ÉDeusPaiquemnosatraipormeiodaentregaeuca-rísticadeseuFilho(cf.Jo6,44),domdeamorcomoqualsaiuaoencontrodeseusfilhos,paraque,renovadospelaforçadoEspírito,possamoschamá-lodePai:“Quandochegouapleni-tude dos tempos, Deus enviou seu próprio Filho, nascido deuma mulher, nascido sob o domínio da lei, para nos libertardodomíniodaleiefazercomquerecebêssemosacondiçãodefilhosadotivosdeDeus.Eporquejásomosfilhos,DeusenviouoEspíritodeseuFilhoanossoscorações,eoEspíritoclama:Abbá! Pai!” (Gl 4,4-5). Trata-se de uma nova criação, onde oamor do Pai, do Filho e do Espírito Santo renova a vida dascriaturas.

CapítuloVI

oCAMInHodEForMAçãodoSdISCÍPuLoSMISSIonÁrIoS

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114 CELAM

242.Nahistóriadoamortrinitário,JesusdeNazaré,ho-mem como nós e Deus conosco, morto e ressuscitado, nos édadocomoCaminho,VerdadeeVida.NoencontrodefécomoinauditorealismodesuaEncarnação,podemosouvir,vercomnossosolhos,contemplaretocarcomnossasmãosaPalavradevida(cf.1Jo1,1),experimentamosque“opróprioDeusvaiatrásdaovelhaperdida,ahumanidadedoenteeextraviada.QuandoemsuasparábolasJesusfaladopastorquevaiatrásdaovelhadesgarrada,damulherqueprocuraadracma,dopaiquesaiaoencontrodeseufilhopródigoeoabraça,nãosetratasódemeraspalavras, mas da explicação de seu próprio ser e agir”.136 Essaprovadefinitivadeamortemocaráterdeumesvaziamentoradi-cal(kénosis),porqueCristo“sehumilhouasimesmofazendo-seobedienteatéàmorteemortedecruz”(Fl2,8).

6.1.1 O encontro com Jesus Cristo

243.OacontecimentodeCristoé,portanto,oiníciodessesujeitonovoquesurgenahistóriaeaquemchamamosdiscípu-lo:“Nãosecomeçaasercristãoporumadecisãoéticaouumagrandeidéia,masatravésdoencontrocomumacontecimento,comumaPessoa,quedáumnovohorizonteàvidae,comisso,umaorientaçãodecisiva”.137Issoéjustamenteoque,comapre-sentaçõesdiferentes,todososevangelhosnostêmconservadocomosendooiníciodocristianismo:umencontrodefécomapessoadeJesus(cf.Jo1,35-39).

244.Apróprianaturezadocristianismoconsiste,portanto,emreconhecerapresençadeJesusCristoesegui-lo.Essafoiamaravilhosaexperiênciadaquelesprimeirosdiscípulosque,en-contrandoJesus,ficaramfascinadosecheiosdeassombrofrenteàexcepcionalidadedequemlhesfalava,diantedamaneiracomoostratava,coincidindocomafomeesededevidaquehaviaemseuscorações.OevangelistaJoãonosdeixouplasmadooimpac-

136 DCE12.

137 Ibid.1.

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115VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

toqueapessoadeJesusproduziunosprimeirosdiscípulosqueoencontraram,JoãoeAndré.Tudocomeçacomumapergunta:“Oqueprocuram?”(Jo1,38).Aessaperguntaseguiuoconviteaviverumaexperiência:“Venhameverão”(Jo1,39).Essanar-ração permanecerá na história como síntese única do métodocristão.

245.Nohojedonossocontinentelatino-americano,levan-ta-seamesmaperguntacheiadeexpectativa:“Mestre,ondevi-ves?”(Jo1,38),ondeteencontramosdemaneiraadequadapara“abrirumautênticoprocessodeconversão,comunhãoesolida-riedade?”138 Quaissãoos lugares,aspessoas,osdonsquenosfalamdeti,quenoscolocamemcomunhãocontigoenospermi-temserdiscípulosemissionáriosteus?

6.1.2 Lugares de encontro com Jesus Cristo

246.OencontrocomCristo,graçasàaçãoinvisíveldoEs-píritoSanto,realiza-senaférecebidaevividanaIgreja.ComaspalavrasdopapaBentoXVI,repetimoscomcerteza:“AIgrejaénossacasa!Estaénossacasa!NaIgrejaCatólicatemostudooqueébom,tudooqueémotivodesegurançaedeconsolo!QuemaceitaaCristo:Caminho,VerdadeeVida,emsuatotalidade,temgarantidaapazeafelicidade,nestaenaoutravida!”139

247.EncontramosJesusnaSagradaEscritura,lidanaIgre-ja.ASagradaEscritura,“PalavradeDeusescritaporinspiraçãodoEspíritoSanto”,140 é,comaTradição,fontedevidaparaaIgre-jaealmadesuaaçãoevangelizadora.DesconheceraEscrituraédesconhecerJesusCristoerenunciaraanunciá-lo.DaíoconvitedeBentoXVI:“AoiniciaranovaetapaqueaIgrejamissionáriadaAméricaLatinaedoCaribesedispõeaempreender,apartirdestaVConferênciaemAparecida,écondiçãoindispensávelo

138 EAm8.

139BentoXVI,DiscursonofinaldosantoRosárionoSantuáriodeNossaSenhoraApa-recida,12demaiode2007.

140 DV9.

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11� CELAM

conhecimentoprofundoevivencialdaPalavradeDeus,Porisso,énecessárioeducaropovonaleituraenameditaçãodaPalavra:queelaseconvertaemseualimentoparaque,porexperiênciaprópria,vejamqueaspalavrasdeJesussãoespíritoevida(cf.Jo6,63).Docontrário,comovãoanunciarumamensagemcujoconteúdo e espírito não conhecem profundamente? É precisofundamentar nosso compromisso missionário e toda a nossavidanarochadaPalavradeDeus”.141

248.Faz-se,pois,necessárioproporaosfiéisaPalavradeDeuscomodomdoPaiparaoencontrocomJesusCristovivo,caminhode“autênticaconversãoederenovadacomunhãoeso-lidariedade”.142 Essa proposta será mediação de encontro comoSenhorseforapresentadaaPalavrarevelada,contidanaEs-critura, como fonte de evangelização. Os discípulos de Jesusdesejam alimentar-se com o Pão da Palavra: querem chegar àinterpretaçãoadequadados textosbíblicos,empregá-loscomomediação de diálogo com Jesus Cristo, e a que sejam alma daprópriaevangelizaçãoedoanúnciodeJesusatodos.Porisso,aimportânciadeuma“pastoralbíblica”,entendidacomoanima-çãobíblicadapastoral,quesejaescoladeinterpretaçãoouco-nhecimentodaPalavra,decomunhãocomJesusouoraçãocomaPalavra,edeevangelizaçãoinculturadaoudeproclamaçãodaPalavra.Issoexige,dapartedosbispos,presbíteros,diáconoseministrosleigosdaPalavra,umaaproximaçãoàSagradaEscritu-raquenãosejasóintelectualeinstrumental,mascomcoração“famintodeouviraPalavradoSenhor”(Am8,11).

249. Entre as muitas formas de se aproximar da SagradaEscrituraexisteumaprivilegiadaàqual todossomosconvida-dos:aLectio divinaouexercíciodeleituraorantedaSagradaEs-critura.Essaleituraorante,bempraticada,conduzaoencontrocomJesus-Mestre,aoconhecimentodomistériodeJesus-Mes-sias,àcomunhãocomJesus-FilhodeDeuseaotestemunhode

141DI3.142EAm12.

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117VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

Jesus-Senhordouniverso.Comseusquatromomentos(leitura,meditação, oração, contemplação), a leitura orante favorece oencontropessoalcomJesusCristosemelhanteaomododetan-tospersonagensdoevangelho:Nicodemosesuaânsiadevidaeterna(cf.Jo3,1-21),aSamaritanaeseudesejodecultoverda-deiro(cf.Jo4,1-42),ocegodenascimentoeseudesejodeluzinterior(cf.Jo9),Zaqueuesuavontadedeserdiferente(cf.Lc19,1-10)...Todoseles,graçasaesseencontro,foramiluminadoserecriadosporqueseabriramàexperiênciadamisericórdiadoPaiqueseofereceporsuaPalavradeverdadeevida.NãoabriramocoraçãoparaalgodoMessias,masaopróprioMessias,cami-nhodecrescimentona“maturidadeconformeasuaplenitude”(Ef4,13),processodediscipulado,decomunhãocomosirmãosedecompromissocomasociedade.

250. Encontramos Jesus Cristo, de modo admirável, naSagrada Liturgia. Ao vivê-la, celebrando o mistério pascal, osdiscípulosdeCristopenetrammaisnosmistériosdoReinoeex-pressamdemodosacramentalsuavocaçãodediscípulosemis-sionários.AConstituiçãosobreaSagradaLiturgiadoVaticanoIInosmostrao lugarea funçãoda liturgianoseguimentodeCristo,naaçãomissionáriadoscristãos,navidanovaemCristoenavidadenossospovosnEle.143

251.AEucaristiaéolugarprivilegiadodoencontrododis-cípulocomJesusCristo.ComesteSacramento,JesusnosatraiparasienosfazentraremseudinamismoemrelaçãoaDeuseaopróximo.Existeestreitovínculoentreastrêsdimensõesdavocaçãocristã:crer,celebrareviveromistériodeJesusCristo,detalmodoqueaexistênciacristãadquiraverdadeiramentefor-ma eucarística. Em cada Eucaristia, os cristãos celebram e as-sumemomistériopascal,participandonEle.Portanto,osfiéisdevemviversuafénacentralidadedomistériopascaldeCristoatravésdaEucaristia,demaneiraquetodaasuavidasejacada

143Cf.SC7.

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11� CELAM

vezmaisvidaeucarística.AEucaristia,fonteinesgotáveldavo-caçãocristãé,aomesmotempo,fonteinextinguíveldoimpulsomissionário.Aí,oEspíritoSantofortaleceaidentidadedodiscí-puloedespertaneleadecididavontadedeanunciarcomaudáciaaosdemaisoquetemescutadoevivido.

252. Entende-se, assim, a grande importância do precei-todominicalde“viversegundoodomingo”,comonecessidadeinteriordocristão,dafamíliacristã,dacomunidadeparoquial.Semumaparticipaçãoativanacelebraçãoeucarísticadominicalenasfestasdepreceito,nãoexistiráumdiscípulomissionáriomaduro.CadagrandereformanaIgrejaestávinculadaaoredes-cobrimentodafénaEucaristia.144Porcausadisso,éimportantepromovera “pastoraldodomingo”edaraela “prioridadenosprogramaspastorais”,145paranovoimpulsonaevangelizaçãodopovodeDeusnoContinentelatino-americano.

253.Comprofundoafetopastoral,queremosdizeràsmi-lharesdecomunidadescomseusmilhõesdemembros,quenãotêmaoportunidadedeparticipardaEucaristiadominical,quetambémelaspodemedevemviver“segundoodomingo”.Podemalimentarseujáadmirávelespíritomissionárioparticipandoda“celebraçãodominicaldaPalavra”,quefazpresenteoMistérioPascalnoamorquecongrega(cf.1Jo3,14),naPalavraacolhi-da(cf.Jo5,24-25)enaoraçãocomunitária(cf.Mt18,20).Semdúvida,osfiéisdevemdesejaraparticipaçãoplenanaEucaristiadominical,pelaqual tambémosmotivamosaorarpelasvoca-çõessacerdotais.

254. O sacramento da reconciliação é o lugar onde o pe-cador experimenta de maneira singular o encontro com JesusCristo,quesecompadecedenósenosdáodomdeseuperdãomisericordioso,nosfazsentirqueoamorémaisfortequeope-cadocometido,noslibertadetudooquenosimpededeperma-

144Cf.Ibid.6.145DI4.

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119VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

neceremseuamor,enosdevolveaalegriaeoentusiasmodeanunciá-loaosdemaisdecoraçãoabertoegeneroso.

255.Aoraçãopessoalecomunitáriaéolugarondeodiscí-pulo,alimentadopelaPalavraepelaEucaristia,cultivaumare-laçãodeprofundaamizadecomJesusCristoeprocuraassumiravontadedoPai.Aoraçãodiáriaésinaldoprimadodagraçanocaminhododiscípulomissionário.Porisso,“énecessárioapren-deraorar,voltandosempreaaprenderessaartedoslábiosdoMestre”.146

256.Jesusestápresenteemmeioaumacomunidadevivanaféenoamorfraterno.AíElecumpresuapromessa:“Ondeestãodoisoutrêsreunidosemmeunome,aíestoueunomeiodeles”(Mt18,20).EleestáemtodososdiscípulosqueprocuramfazersuaaexistênciadeJesus,eviversuaprópriavidaescon-didanavidadeCristo(cf.Cl3,3).ElesexperimentamaforçadaressurreiçãodeCristoatéseidentificarprofundamentecomEle:“Jánãovivoeu,maséCristoqueviveemmim”(Gl2,20).Cris-tomesmoestánosPastores,queorepresentam(cf.Mt10,40;Lc10,16).“OsBispostêmsucedido,porinstituiçãodivina,aosApóstolos,comoPastoresda Igreja,demodoquequemoses-cuta,escutaaCristo,equemosdespreza,desprezaaCristoeaquemoenviou” (LumenGentium,20).Estánaquelesquedãotestemunho de luta pela justiça, pela paz e pelo bem comum,algumasvezeschegandoaentregaraprópriavidaemtodososacontecimentosdavidadenossospovos,quenosconvidamaprocurarummundomaisjustoemaisfraterno,emtodarealida-dehumana,cujoslimitesàsvezescausamdorenosagoniam.

257. Também o encontramos de modo especial nos po-bres, aflitos e enfermos (cf. Mt 25,37-40), que exigem nossocompromissoenosdãotestemunhodefé,paciêncianosofri-mento e constante luta para continuar vivendo. Quantas ve-zesospobreseosquesofremnosevangelizamrealmente!No

146NMI33.

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reconhecimentodessapresençaeproximidadeenadefesadosdireitosdosexcluídosencontra-seafidelidadeda IgrejaaJe-susCristo.147OencontrocomJesusCristoatravésdospobreséumadimensãoconstitutivadenossaféemJesusCristo.DacontemplaçãodorostosofredordeCristoneles148edoencontrocomElenosaflitosemarginalizados,cujaimensadignidadeElemesmonosrevela,surgenossaopçãoporeles.AmesmauniãoaJesusCristoéaquenosfazamigosdospobresesolidárioscomseudestino.

6.1.3 A piedade popular como lugar de encontro com Jesus Cristo

258. O Santo Padre destacou a “rica e profunda religiosi-dadepopular,naqualapareceaalmadospovoslatino-america-nos”,eaapresentoucomo“opreciosotesourodaIgrejaCatólicana América Latina”.149 Convidou a promovê-la e a protegê-la.Essamaneiradeexpressaraféestápresentedediversasformasemtodosossetoressociais,emumamultidãoquemerecenos-sorespeitoecarinho,porquesuapiedade“refleteumasededeDeus que somente os pobres e simples podem conhecer”.150 A“religião dopovo latino-americanoéexpressãoda fécatólica.Éumcatolicismopopular”,151profundamenteinculturado,quecontémadimensãomaisvaliosadaculturalatino-americana.

259.Entreasexpressõesdessaespiritualidadecontam-se:asfestaspatronais,asnovenas,osrosáriosevia-sacras,aspro-cissões,asdançaseoscânticosdofolclorereligioso,ocarinhoaossantoseaosanjos,aspromessas,asoraçõesemfamília.Des-tacamosasperegrinaçõesondeépossívelreconheceroPovodeDeusacaminho.Aíocristãocelebraaalegriadesesentirimersoemmeioatantosirmãos,caminhandojuntosparaDeusqueosespera.OpróprioCristosefazperegrinoecaminharessuscitado

147Ibid.49.148Cf.Ibid25.149DI1.150EN48.151DP444.

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121VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

entreospobres.Adecisãodecaminharemdireçãoaosantuáriojáéumaconfissãodefé,ocaminharéumverdadeirocantodeesperançaeachegadaéumencontrodeamor.Oolhardopere-grinosedepositasobreumaimagemquesimbolizaaternuraeaproximidadedeDeus.Oamorsedetém,contemplaomistério,desfrutadeleemsilêncio.Tambémsecomove,derramandotodoopesodesuadoredeseussonhos.Asúplicasincera,quefluiconfiante,éamelhorexpressãodeumcoraçãoquerenunciouàauto-suficiência,reconhecendoquesozinhonadapode.Umbre-veinstantecondensaumavivaexperiênciaespiritual.152

260.Aí,operegrinoviveaexperiênciadeummistérioqueo supera, não só da transcendência de Deus, mas também daIgreja,quetranscendesuafamíliaeseubairro.Nossantuários,muitosperegrinostomamdecisõesquemarcamsuasvidas.Asparedesdossantuárioscontêmmuitashistóriasdeconversão,deperdãoededonsrecebidosquemilhõespoderiamcontar.

261.Apiedadepopularpenetradelicadamenteaexistênciapessoaldecadafiele,aindaquesevivaemumamultidão,nãoéuma“espiritualidadedemassas”.Nosdiferentesmomentosdalutacotidiana,muitosrecorremaalgumpequenosinaldoamordeDeus:umcrucifixo,umrosário,umavelaqueseacendeparaacompanharumfilhoemsuaenfermidade,umPaiNossorecita-doentrelágrimas,umolharentranhávelaumaimagemqueri-dadeMaria,umsorrisodirigidoaoCéuemmeioaumaalegriasingela.

262.Éverdadequea féqueseencarnounaculturapodeseraprofundadaepenetrarcadavezmaisnaformadeviverdenossospovos.Masissosópodeacontecersevalorizarmosposi-tivamenteoqueoEspíritoSantojásemeou.Apiedadepopularé “imprescindívelpontodepartidaparaconseguirquea fédo

152“ElSantuario,presenciayprofeciadelDiosvivo”,L’Osservatore,Ed.emespanhol,22,de28demaiode1999.

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povoamadureçaesefaçamaisfecunda”.153Porisso,odiscípulomissionárioprecisaser “sensívelaela, saberpercebersuasdi-mensõesinterioreseseusvaloresinegáveis”.154Quandoafirma-mosqueénecessárioevangelizá-laoupurificá-la,nãoqueremosdizer que esteja privada de riqueza evangélica. Simplesmentedesejamosquetodososmembrosdopovofiel,reconhecendootestemunhodeMariaetambémdossantos,procuremimitá-loscadadiamais.AssimprocurarãocontatomaisdiretocomaBí-bliaemaiorparticipaçãonossacramentos,chegarãoadesfrutardacelebraçãodominicaldaEucaristiaeviverãoaindamelhoroserviçodoamorsolidário.Poressecaminhoserápossívelapro-veitaraindamaisoricopotencialdesantidadee justiçasocialqueamísticapopularencerra.

263. Não podemos desvalorizar a espiritualidade popularou considerá-la como modo secundário da vida cristã, porqueseriaesqueceroprimadodaaçãodoEspíritoeainiciativagra-tuitadoamordeDeus.Apiedadepopularcontémeexpressaumintensosentidodatranscendência,umacapacidadeespontâneadeseapoiaremDeuseumaverdadeiraexperiênciadeamorteo-logal.Étambémumaexpressãodesabedoriasobrenatural,por-queasabedoriadoamornãodependediretamentedailustraçãodamente,masdaaçãointernadagraça.Porisso,achamamosdeespiritualidadepopular.Ouseja,umaespiritualidadecristãque, sendoum encontropessoal com oSenhor, integramuitoocorpóreo,osensível,osimbólicoeasnecessidadesmaiscon-cretasdaspessoas.Éumaespiritualidadeencarnadanaculturadossimples,quenemporissoémenosespiritual,masqueoédeoutramaneira.

264. A piedade popular é uma maneira legítima de viverafé,ummododesesentirpartedaIgrejaeumaformadesermissionários,ondeserecolhemasmaisprofundasvibraçõesda

153CongregaçãoparaoCultoDivinoeaDisciplinadosSacramentos,Diretório sobre a piedade popular e a Liturgia,n.64.

154 EN48.

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123VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

AméricaLatina.Épartedeuma“originalidadehistóricacultu-ral”155dospobresdesteContinente,efrutode“umasínteseen-treasculturaseafécristã”.156Noambientedesecularizaçãoquevivemnossospovos,continuasendoumapoderosaconfissãodoDeusvivoqueatuanahistóriaeumcanaldetransmissãodafé.Ocaminharjuntosparaossantuárioseoparticiparemoutrasmanifestaçõesdapiedadepopular,levandotambémosfilhosouconvidandoaoutraspessoas,éemsimesmoumgestoevangeli-zadorpeloqualopovocristãoevangelizaasimesmoecumpreavocaçãomissionáriadaIgreja.

265. Nossos povos se identificam particularmente com oCristosofredor,olham-no,beijam-nooutocamseuspésmachu-cados,comosedissessem:Esteé“oquemeamoueseentregoupormim”(Gl2,20).Muitosdelesgolpeados,ignorados,despo-jados,nãoabaixamosbraços.Comsuareligiosidadecaracterís-tica seagarramno imensoamorqueDeus temporelesequelhesrecordapermanentementesuaprópriadignidade.TambémencontramaternuraeoamordeDeusnorostodeMaria.NelavêemrefletidaamensagemessencialdoEvangelho.NossaMãequerida, desde o santuário de Guadalupe, faz sentir a seus fi-lhosmenoresqueelesestãonadobradeseumanto.Agora,des-deAparecida,convida-osalançarasredesaomundo,paratirardoanonimatoaquelesqueestãosubmersosnoesquecimentoeaproximá-losdaluzdafé.Ela,reunindoosfilhos,integranossospovosaoredordeJesusCristo.

6.1.4 Maria, discípula e missionária

266.Amáximarealizaçãodaexistênciacristãcomoumvi-vertrinitáriode“filhosnoFilho”nosédadanaVirgemMariaque, através de sua fé (cf. Lc 1,45) e obediência à vontade deDeus(cf.Lc1,38),assimcomoporsuaconstantemeditaçãodaPalavraedasaçõesdeJesus(cf.Lc2,19.51),éadiscípulamais

155DP448.156DI1.

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perfeitadoSenhor.157InterlocutoradoPaiemseuprojetodeen-viarseuVerboaomundoparaasalvaçãohumana,comsuaféMariachegaaseroprimeiromembrodacomunidadedoscrentesemCristo,etambémsefazcolaboradoranorenascimentoespiri-tualdosdiscípulos.Suafigurademulher livree forte,emergedoEvangelhoconscientementeorientadaparaoverdadeirose-guimentodeCristo.Elaviveucompletamentetodaaperegrina-çãodafécomomãedeCristoedepoisdosdiscípulos,semestarlivredaincompreensãoedabuscaconstantedoprojetodoPai.Alcançou,dessaforma,ofatodeestaraopédacruzemcomu-nhãoprofunda,paraentrarplenamentenomistériodaAliança.

267.Comela,providencialmenteunidaàplenitudedostem-pos(cf.Gl4,4),chegaacumprimentoaesperançadospobreseodesejodesalvação.AVirgemdeNazaréteveumamissãoúnicanahistóriadasalvação,concebendo,educandoeacompanhan-doseuFilhoatéseusacrifíciodefinitivo.Doaltodacruz,JesusCristoconfiouaseusdiscípulos,representadosporJoão,odomdamaternidadedeMaria,quebrotadiretamentedahorapascaldeCristo:“Edessemomentoemdiante,odiscípuloarecebeuemsuacasa”(Jo19,27).PerseverandojuntoaosapóstolosàesperadoEspírito(cf.At1,13-14),elacooperoucomonascimentodaIgrejamissionária,imprimindo-lheumselomarianoqueaiden-tificaprofundamente.Comomãedetantos,fortaleceosvínculosfraternosentretodos,estimulaareconciliaçãoeoperdãoeajudaosdiscípulosdeJesusCristoaseexperimentaremcomofamília,afamíliadeDeus.EmMaria,encontramo-noscomCristo,comoPaiecomoEspíritoSanto,edamesmaformacomosirmãos.

268.Comonafamíliahumana,aIgreja-famíliaégeradaaoredordeumamãe,queconfere“alma”eternuraàconvivênciafamiliar.158Maria,MãedaIgreja,alémdemodeloeparadigmadahumanidade,éartíficedecomunhão.Umdoseventosfundamen-taisdaIgrejaéquandoo“sim”brotoudeMaria.Elaatraimulti-

157Cf.LG53.158Cf.DP295.

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125VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

dõesàcomunhãocomJesusesuaIgreja,comoexperimentamosmuitasvezesnossantuáriosmarianos.Porisso,comoaVirgemMaria,aIgrejaémãe.EstavisãomarianadaIgrejaéomelhorremédioparaumaIgrejameramentefuncionalouburocrática.

269.Mariaéagrandemissionária,continuadoradamissãodeseuFilhoeformadorademissionários.Ela,damesmaformacomodeuàluzoSalvadordomundo,trouxeoEvangelhoànossaAmérica.NoacontecimentoemGuadalupe,presidiu,juntocomohumildeJoãoDiego,oPentecostesquenosabriuaosdonsdoEspírito.Apartirdessemomento,sãoincontáveisascomunida-desqueencontraramnelaainspiraçãomaispróximaparaapren-deremcomoserdiscípulosemissionáriosdeJesus.Comalegriaconstatamosqueelatemfeitopartedocaminhardecadaumdenossospovos,entrandoprofundamentenotecidodesuahistóriaeacolhendoasaçõesmaisnobresesignificativasdesuagente.OsdiversostítuloseossantuáriosespalhadosportodooContinen-tetestemunhamapresençapróximadeMariaàspessoas,eaomesmotempomanifestamaféeaconfiançaqueosdevotossen-temporela.Elapertenceaeleseelesasentemcomomãeeirmã.

270.Hoje,quandoemnossocontinentelatino-americanoecaribenhosequerenfatizarodiscipuladoeamissão,éelaquembrilhadiantedenossosolhoscomo imagemacabadaefidelís-simadoseguimentodeCristo.EstaéahoradaseguidoramaisradicaldeCristo,deseumagistériodiscipularemissionárioaoqualnosenviaoPapaBentoXVI:“MariaSantíssima,aVirgempuraesemmancha,éparanósescoladefédestinadaanoscon-duzireanosfortalecernocaminhoqueconduzaoencontrocomoCriadordocéuedaterra.OPapaveioaAparecidacomvivaalegriaparanosdizeremprimeirolugar:PermaneçamnaescoladeMaria.Inspirem-seemseusensinamentos.Procuremacolhereguardardentrodocoraçãoasluzesqueela,pormandatodivi-no,enviaavocêsapartirdoalto”.159

159BentoXVI,DiscursonofinaldoSantoRosárionoSantuáriodeNossaSenhoraApa-recida,12demaiode2007.

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271.Ela,que“conservavatodasestasrecordaçõeseasme-ditavanocoração”(Lc2,19;cf.2,51),ensina-nosoprimadodaescutadaPalavranavidadodiscípuloemissionário.OMagni-ficat “estáinteiramentetecidopelosfiosdaSagradaEscritura,osfiostomadosdaPalavradeDeus.Assim,revela-sequenelaaPalavradeDeusseencontradeverdadeemsuacasa,deondesaieentracomnaturalidade.ElafalaepensacomaPalavradeDeus;aPalavradeDeussefazasuapalavraesuapalavranascedaPalavradeDeus.Alémdisso,assimserevelaqueseuspensa-mentosestãoemsintoniacomospensamentosdeDeus,queseuquereréumquererjuntocomDeus.Estandointimamentepe-netradapelaPalavradeDeus,ElapodechegarasermãedaPala-vraencarnada”.160EssafamiliaridadecomomistériodeJesuséfacilitadapelarezadoRosário,onde:“opovocristãoaprendedeMariaacontemplarabelezadorostodeCristoeaexperimentaraprofundidadedeseuamor.MedianteoRosário,ocristãoob-témabundantesgraças,comorecebendo-asdasprópriasmãosdamãedoRedentor”.161

272.Comosolhospostosemseusfilhoseemsuasneces-sidades,comoemCanádaGaliléia,Mariaajudaamantervivasasatitudesdeatenção,deserviço,deentregaedegratuidadeque devem distinguir os discípulos de seu Filho. Indica, alémdo mais, qual é a pedagogia para que os pobres, em cada co-munidadecristã,“sintam-secomoemcasa”.162Criacomunhãoe educa para um estilo de vida compartilhada e solidária, emfraternidade,naatençãoeacolhidadooutro,especialmenteseépobreounecessitado.Emnossascomunidades,suafortepre-sençatemenriquecidoecontinuaráenriquecendoadimensãomaternadaIgrejaesuaatitudeacolhedora,queaconverteem“casaeescoladacomunhão”163eemespaçoespiritualquepre-paraparaamissão.

160DCE41.161RVM1.162NMI50.163Ibid.43.

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6.1.5 Os apóstolos e os santos

273.TambémosapóstolosdeJesuseossantosmarcaramaespiritualidadeeoestilodevidadenossasIgrejas.SuasvidassãolugaresprivilegiadosdeencontrocomJesusCristo.Seutes-temunho se mantém vigente e seus ensinamentos inspiram osereaçãodas comunidadescristãsdoContinente.Entreeles,Pedrooapóstolo,aquemJesusconfiouamissãodeconfirmarafédeseusirmãos(cf.Lc22,31-32),osajudaaestreitarovíncu-lodecomunhãocomoPapa,seusucessor,eabuscaremJesusas palavras de vida eterna. Paulo, o evangelizador incansável,lhes indicouocaminhodaaudáciamissionáriaeavontadedeseaproximardecadarealidadeculturalcomaBoaNovadasal-vação.João,odiscípuloamadodoSenhor,lhesrevelouaforçatransformadoradomandamentonovoeafecundidadedeper-maneceremseuamor.

274.NossospovosnutremcarinhoeespecialdevoçãoporJosé,esposodeMaria,homem justo,fielegenerosoquesabeperder-separaseacharnomistériodoFilho.SãoJosé,osilen-ciosomestre,fascina,atraieensina,nãocompalavrasmascomo resplandecente testemunho de suas virtudes e de sua firmesimplicidade.

275. Nossas comunidades levam o selo dos apóstolos e,alémdisso,reconhecemotestemunhocristãodetantoshomensemulheresqueespalharamemnossageografiaassementesdoEvangelho, vivendo valentemente sua fé, inclusive derraman-doseusanguecomomártires.Seuexemplodevidaesantidadeconstituiumpresentepreciosoparaocaminhocristãodos la-tino-americanose,simultaneamente,umestímulopara imitarsuasvirtudesnasnovasexpressõesculturaisdahistória.ComapaixãodeseuamoraJesusCristo, forammembrosativosemissionáriosemsuacomunidadeeclesial.Comvalentia,perse-veraramnapromoçãodosdireitosdaspessoas,foramperspica-zesnodiscernimentocríticodarealidadeàluzdoensinosocialdaIgrejaecríveispelotestemunhocoerentedesuasvidas.Nós,

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cristãosdehoje,acolhemossuaherançaenossentimoschama-dosacontinuarcomrenovadoardorapostólicoemissionáriooestiloevangélicodevidaquenostransmitiram.

�.2oprocessodeformaçãodosdiscípulosmissionários

276. A vocação e o compromisso de ser hoje discípulos emissionáriosdeJesusCristonaAméricaLatinaenoCaribe,re-queremclaraedecididaopçãopelaformaçãodosmembrosdenossas comunidades, a favor de todos os batizados, qualquerquesejaafunçãoquedesenvolvemnaIgreja.OlhamosparaJe-sus,oMestrequeformoupessoalmenteaseusapóstolosedis-cípulos.Cristonosdáométodo:“Venhamevejam”(Jo1,39).“EusouoCaminho,aVerdadeeaVida”(Jo14,6).ComElepode-mosdesenvolveraspotencialidadesquehánaspessoaseformardiscípulosmissionários.Comperseverantepaciênciaesabedo-ria,Jesusconvidouatodosparaqueoseguissem.Àquelesqueaceitaramsegui-lo,osintroduziunomistériodoReinodeDeus,edepoisdesuamorteeressurreiçãoosenviouapregaraBoaNovanaforçadoEspírito.Seuestilosetornaemblemáticoparaos formadoreseadquireespecial relevânciaquandopensamosnapacientetarefa formativaquea Igrejadeveempreendernonovocontextosócio-culturaldaAméricaLatina.

277. O caminho de formação do seguidor de Jesus lançasuasraízesnanaturezadinâmicadapessoaenoconvitepessoaldeJesusCristo,quechamaosseuspelonomeeestesoseguemporquelheconhecemavoz.OSenhordespertavaasaspiraçõesprofundas de seus discípulos e os atraía a si, maravilhados. Oseguimentoéfrutodeumafascinaçãoquerespondeaodesejoderealizaçãohumana,aodesejodevidaplena.Odiscípuloéal-guémapaixonadoporCristo,aquemreconhececomoomestrequeoconduzeacompanha.

6.2.1 Aspectos do processo

278.Noprocessodeformaçãodediscípulosmissionários,destacamoscincoaspectosfundamentaisqueaparecemdema-

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neira diversa em cada etapa do caminho, mas que se comple-mentamintimamenteesealimentamentresi:

a) O Encontro com Jesus Cristo:Aquelesqueserãoseusdiscí-pulosjáobuscam(cf.Jo1,38),maséoSenhorquemoschama:“Segue-me”(Mc1,14;Mt9,9).Énecessáriodesco-brirosentidomaisprofundodabusca,assimcomoéne-cessáriopropiciaroencontrocomCristoquedáorigemàiniciaçãocristã.Esseencontrodeverenovar-seconstante-mentepelotestemunhopessoal,peloanúnciodoquerigmaepelaaçãomissionáriadacomunidade.Oquerigmanãoésomenteumaetapa,masofiocondutordeumprocessoqueculminanamaturidadedodiscípulodeJesusCristo.Semoquerigma,osdemaisaspectosdesseprocessoestãocondenadosàesterilidade,semcoraçõesverdadeiramenteconvertidosaoSenhor.Sóapartirdoquerigmaaconteceapossibilidadedeumainiciaçãocristãverdadeira.Porisso,aIgrejaprecisatê-lopresenteemtodasassuasações.

b) A Conversão:Éa resposta inicialdequemescutouoSe-nhorcomadmiração,crênElepelaaçãodoEspírito,de-cideserseuamigoeirapósEle,mudandosuaformadepensaredeviver,aceitandoacruzdeCristo,conscientedequemorrerparaopecadoéalcançaravida.NoBatis-moenosacramentodaReconciliaçãoseatualizaparanósaredençãodeCristo.

c) O Discipulado: A pessoa amadurece constantemente noconhecimento, amor e seguimento de Jesus Mestre, seaprofundanomistériodesuapessoa,deseuexemploedesuadoutrina.Paraessepassosãodefundamentalimpor-tânciaacatequesepermanenteeavidasacramental,quefortalecem a conversão inicial e permitem que os discí-pulosmissionáriospossamperseverarnavidacristãenamissãoemmeioaomundoqueosdesafia.

d) A Comunhão:Nãopodeexistirvidacristãforadacomu-nidade: nas famílias, nas paróquias, nas comunidades

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devidaconsagrada,nascomunidadesdebase,nasou-tras pequenas comunidades e movimentos. Como osprimeiros cristãos, que se reuniam em comunidade, odiscípuloparticipanavidadaIgrejaenoencontrocomosirmãos,vivendooamordeCristonavidafraternaso-lidária.Étambémacompanhadoeestimuladopelaco-munidadeeporseuspastoresparaamadurecernavidadoEspírito.

e) A Missão:Odiscípulo,àmedidaqueconheceeamaoseuSenhor,experimentaanecessidadedecompartilharcomoutrosasuaalegriadeserenviado,deiraomundoparaanunciarJesusCristo,mortoeressuscitado,etornarrea-lidadeoamoreoserviçonapessoadosmaisnecessitados,emumapalavra,aconstruiroReinodeDeus.Amissãoéinseparáveldodiscipulado,oqualnãodeveserentendidocomoetapaposterioràformação,aindaqueestasejarea-lizadadediversasmaneirasdeacordocomaprópriavo-caçãoecomomomentodamaturidadehumanaecristãemqueseencontreapessoa.

6.2.2 Critérios gerais

6.2.2.1 Uma formação integral, querigmática e permanente

279. Missão principal da formação é ajudar os membrosda Igreja a se encontrar sempre com Cristo, e assim reconhe-cer,acolher,interiorizaredesenvolveraexperiênciaeosvaloresqueconstituemaprópriaidentidadeemissãocristãnomundo.Por isso, a formação obedece a um processo integral, ou seja,compreendeváriasdimensões,todasharmonizadasentresiemunidadevital.Nabasedessasdimensõesestáaforçadoanún-cio querigmático. O poder do Espírito e da Palavra contagia aspessoaseas levaaescutarJesusCristo,a crernEle comoseuSalvador,areconhecê-locomoquemdáplenosignificadoasuasvidaseaseguirseuspassos.OanúnciosefundamentanofatodapresençadeCristoRessuscitadohojenaIgreja,eéfatorim-prescindíveldoprocessodeformaçãodediscípulosemissioná-

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rios.Aomesmotempo,aformaçãoépermanenteedinâmica,deacordocomodesenvolvimentodaspessoasecomoserviçoquesãochamadasaprestar,emmeioàsexigênciasdahistória.

6.2.2.2 Uma formação atenta a dimensões diversas

280.Aformaçãoabrangediversasdimensõesquedeverãointegrar-seharmonicamenteaolongodetodooprocessodefor-mação.Trata-sedadimensãohumanacomunitária, espiritual,intelectual,comunitáriaepastoral-missionária.

a) A Dimensão Humana e Comunitária.Tendeaacompanharprocessos de formação que levem a pessoa a assumir aprópriahistóriaeacurá-la,comoobjetivodesetornarcapaz de viver como cristão em um mundo plural, comequilíbrio,fortaleza,serenidadeeliberdadeinterior.Tra-ta-sededesenvolverpersonalidadesqueamadureçamemcontatocomarealidadeeabertasaoMistério.

b) A Dimensão Espiritual:Éadimensãoformativaquefun-daosercristãonaexperiênciadeDeusmanifestadoemJesusequeoconduzpeloEspíritoatravésdoscaminhosdeprofundoamadurecimento.Pormeiodosdiversosca-rismas,apessoasefundamentanocaminhodavidaedoserviço proposto por Cristo, com estilo pessoal. AssimcomoaVirgemMaria,essadimensãopermiteaocristãoaderirdecoraçãoepelaféaoscaminhosalegres,lumino-sos,dolorososegloriososdeseuMestreeSenhor.

c) A Dimensão Intelectual:OencontrocomCristo,Palavrafei-tacarne,potencializaodinamismodarazãoqueprocuraosignificadodarealidadeeseabreparaoMistério.Elaseexpressaemumareflexãoséria,postadiariamenteemdiaatravésdoestudoque,comaluzdafé,abreainteligênciaparaaverdade.Tambémcapacitaparaodiscernimento,o juízo crítico e o diálogo sobre a realidade e a cultura.Assegurademaneiraespecialoconhecimentobíblico-teo-lógicoedasciênciashumanasparaadquiriranecessária

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competênciaemvistadosserviçoseclesiaisqueserequei-rameparaaadequadapresençanavidasecular.

d) A dimensão Pastoral e Missionária:UmautênticocaminhocristãopreenchedealegriaeesperançaocoraçãoelevaocristãoaanunciarCristodemaneiraconstantenaprópriavidaeambiente.Projetaparaamissãodeformardiscípu-losmissionáriosparaoserviçoaomundo.Habilitaapro-porprojetoseestilosdevidacristãatraentes,cominter-vençõesorgânicasedecolaboraçãofraternacomtodososmembrosdacomunidade.Contribuiparaintegrarevange-lizaçãoepedagogia,comunicandovidaeoferecendoitine-ráriospastoraisdeacordocomamaturidadecristã,aidadeeoutrascondiçõesprópriasdaspessoasoudosgrupos.In-centivaaresponsabilidadedosleigosnomundoparacons-truiroReinodeDeus.DespertaconstanteinquietudepelosdistanciadosepelosqueignoramoSenhoremsuasvidas.

6.2.2.3 Uma formação respeitosa dos processos

281.ChegaràalturadavidanovaemCristo,identificando-seprofundamentecomEle164 esuamissão,éumcaminholongoquerequeritineráriosdiversificados,respeitososdosprocessospessoais e dos ritmos comunitários, contínuos e graduais. Nadiocese,oeixocentraldeveráserumprojetoorgânicodeforma-ção, aprovado pelo Bispo e elaborado com os organismos dio-cesanoscompetentes,levandoemconsideraçãotodasasforçasvivasdaIgrejaparticular:associações,serviçosemovimentos,comunidades religiosas, pequenas comunidades, comissões depastoral social e diversos organismos eclesiais que ofereçam avisãodeconjuntoeaconvergênciadasdiversasiniciativas.Re-querem-se também equipes de formação convenientementepreparadasqueasseguremaeficáciadopróprioprocessoequeacompanhem as pessoas com pedagogias dinâmicas, ativas eabertas.Apresençaecontribuiçãodeleigoseleigasnasequipes

164 CfEN19.

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deformaçãotrazumariquezaoriginal,pois,apartirdesuasex-periênciasecompetências,elesoferecemcritérios,conteúdosetestemunhosvaliososparaaquelesqueestãoseformando.

6.2.2.4 Uma formação que contempla o acompanhamento dos discípulos

282. Cada setor do Povo de Deus pede que a pessoa sejaacompanhadaeformadadeacordocomapeculiarvocaçãoemi-nistérioparaoqualtenhasidochamada:obispoéoprincípiodaunidadenadiocesemedianteoseutrípliceministériodeensinar,santificaregovernar;ospresbíteroscooperamcomoministériodobispo,nocuidadodopovodeDeusquelhesfoiconfiado;osdiáconospermanentesnoserviçovivificante,humildeeperseve-rantecomoajudavaliosaparaosbisposepresbíteros;osconsa-gradoseconsagradasnoseguimentoradicaldoMestre;osleigose leigascumpremsuaresponsabilidadeevangelizadoracolabo-randonaformaçãodecomunidadescristãsenaconstruçãodoReinodeDeusnomundo.Requer-se,portanto,capacitaraque-lesquepossamacompanharespiritualepastoralmenteaoutros.

283. Destacamos que a formação dos leigos e leigas devecontribuir, antes de mais nada, para sua atuação como discí-pulos missionários no mundo, na perspectiva do diálogo e datransformaçãodasociedade.Éurgenteumaformaçãoespecíficaparaquepossamterincidênciasignificativanosdiferentescam-pos,sobretudo“novastomundodapolítica,darealidadesocialedaeconomia,comotambémdacultura,dasciênciasedasartes,davidainternacional,dosmeiosdecomunicaçãoedeoutrasrea-lidadesabertasàevangelização”.165

6.2.2.5 Uma formação na espiritualidade da ação missionária

284.Énecessárioformarosdiscípulosnumaespiritualida-dedaaçãomissionária,quesebaseianadocilidadeaoimpulsodo Espírito, à sua potência de vida que mobiliza e transfigura

165 EN70.

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todas as dimensões da existência. Não é uma experiência queselimitaaosespaçosprivadosdadevoção,masqueprocurape-netrá-loscompletamentecomseufogoesuavida.Odiscípuloemissionário,movidopeloestímuloeardorqueprovêmdoEspí-rito,aprendeaexpressá-lonotrabalho,nodiálogo,noserviçoenamissãocotidiana.

285.QuandooimpulsodoEspíritoimpregnaemotivato-dasasáreasdaexistência,entãopenetratambémeconfiguraavocaçãoespecíficadecadapessoa.Assimseformaesedesen-volveaespiritualidadeprópriadepresbíteros,dereligiososere-ligiosas,depaisdefamília,deempresários,decatequistasetc.Cadaumadasvocaçõestemummodoconcretoediferentedeviveraespiritualidade,quedáprofundidadeeentusiasmoparaoexercícioconcretodesuastarefas.Dessaforma,avidanoEs-píritonãonosfechaemintimidadecômodaefechada,massimnostornapessoasgenerosasecriativas,felizesnoanúncioenoserviçomissionário.Torna-noscomprometidoscomosreclamosda realidade e capazes de encontrar nela profundo significadoemtudooquenoscabefazerpelaIgrejaepelomundo.

�.3Iniciaçãoàvidacristãecatequesepermanente

6.3.1 Iniciação à vida cristã

286.SãomuitososcristãosquenãoparticipamnaEucaris-tia dominical nem recebem com regularidade os sacramentos,nemseinseremativamentenacomunidadeeclesial.Semesque-ceraimportânciadafamílianainiciaçãocristã,essefenômenonosdesafiaprofundamenteaimaginareorganizarnovasformasdenosaproximardelesparaajudá-losavalorizarosentidodavidasacramental,daparticipaçãocomunitáriaedocompromissocidadão.Temosaltaporcentagemdecatólicossemaconsciênciadesuamissãodesersalefermentonomundo,comidentidadecristãfracaevulnerável.

287. Isso constitui grande desafio que questiona a fundoa maneira como estamos educando na fé e como estamos ali-

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mentando a experiência cristã; desafio que devemos encararcomdecisão,coragemecriatividade,vistoqueemmuitaspar-tesa iniciaçãocristãtemsidopobreoufragmentada.Ouedu-camosna fé, colocandoas pessoas realmente emcontatocomJesusCristoeconvidando-asparaseguí-lo,ounãocumpriremosnossa missão evangelizadora. Impõe-se a tarefa irrenunciávelde oferecer modalidade de iniciação cristã, que além de mar-caroquê,tambémdêelementosparaoquem,ocomoeoondese realiza. Dessa forma, assumiremos o desafio de uma novaevangelização, à qual temos sido reiteradamente convocados.

288.Ainiciaçãocristã,queincluioquerigma,éamaneirapráticadecolocaralguémemcontatocomJesusCristoeiniciá-lonodiscipulado.Dá-nos,também,aoportunidadedefortaleceraunidadedostrêssacramentosdainiciação,eaprofundaroricosentidodeles.Ainiciaçãocristã,propriamentefalando,refere-seàprimeirainiciaçãonosmistériosdafé,sejanaformadocate-cumenatobatismalparaosnãobatizados,sejanaformadoca-tecumenatopós-batismalparaosbatizadosnãosuficientementecatequisados. Esse catecumenato está intimamente unido aossacramentosdainiciação:batismo,confirmaçãoeeucaristia,ce-lebradossolenementenaVigíliaPascal.Teríamosquedistingui-la,portanto,deoutrosprocessoscatequéticoseformativosquepodemterainiciaçãocristãcomobase.

6.3.2 Propostas para a iniciação cristã

289.Sentimosaurgênciadedesenvolveremnossascomu-nidadesumprocessodeiniciaçãonavidacristãquecomecepeloquerigmaeque,guiadopelaPalavradeDeus,conduzaaumen-contropessoal,cadavezmaior,comJesusCristo,perfeitoDeuseperfeitohomem,166experimentadocomoplenitudedahuma-nidadeequeleveàconversão,aoseguimentoemumacomuni-dadeeclesialeaumamadurecimentodefénapráticadossacra-mentos,doserviçoedamissão.

166 Cf.SímboloQuicumque:DS76.

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290.Recordamosqueocaminhodeformaçãodocristão,natradiçãomaisantigadaIgreja,“tevesemprecaráterdeexperiên-cia,naqualeradeterminanteoencontrovivoepersuasivocomCristo, anunciado por autênticas testemunhas”.167 Trata-se deumaexperiênciaqueintroduzocristãonumaprofundaefelizcelebraçãodossacramentos,comtodaariquezadeseussinais.Desse modo, a vida vem se transformando progressivamentepelossantosmistériosquesecelebram,capacitandoocristãoatransformaromundo.Issoéoquesechama“catequesemista-gógica”.

291. Ser discípulo é dom destinado a crescer. A iniciaçãocristã dá a possibilidade de uma aprendizagem gradual no co-nhecimento,noamorenoseguimentodeCristo.Dessaforma,elaforjaaidentidadecristãcomasconvicçõesfundamentaiseacompanhaabuscadosentidodavida.Énecessárioassumiradinâmicacatequéticadainiciaçãocristã.Umacomunidadequeassumeainiciaçãocristãrenovasuavidacomunitáriaedespertaseucarátermissionário.Issorequernovasatitudespastoraisporpartedosbispos,presbíteros,diáconos,pessoasconsagradaseagentesdepastoral.

292.Comocaracterísticasdodiscípulo,indicadaspelaini-ciaçãocristã,destacamos:queeletenhacomocentroapessoadeJesusCristo,nossoSalvadoreplenitudedenossahumanidade,fonte de toda maturidade humana e cristã; que tenha espíri-todeoração,sejaamantedaPalavra,pratiqueaconfissãofre-qüenteeparticipedaEucaristia;queseinsiracordialmentenacomunidadeeclesialesocial,sejasolidárionoamorefervorosomissionário.

293.Aparóquiaprecisaserolugarondeseassegureaini-ciaçãocristãeterácomotarefasirrenunciáveis:iniciarnavidacristãosadultosbatizadosenãosuficientementeevangelizados;educarnaféascriançasbatizadasemumprocessoqueasleve

167 SC64.

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a completar sua iniciação cristã; iniciar os não batizados que,havendoescutadooquerigma,queremabraçarafé.Nessatarefa,oestudoeaassimilaçãodoRitualdeIniciaçãoCristãdeAdultoséreferêncianecessáriaeapoioseguro.

294.Assumiressainiciaçãocristãexigenãosóumareno-vação de modalidade catequética da paróquia. Propomos queoprocessocatequéticodeformaçãoadotadopelaIgrejaparaainiciaçãocristãsejaassumidoemtodooContinentecomoama-neira ordinária e indispensável de introdução na vida cristã ecomoacatequesebásicaefundamental.Depois,viráacatequesepermanentequecontinuaoprocessodeamadurecimentodafé;nelasedeveincorporarodiscernimentovocacionaleailumina-çãoparaprojetospessoaisdevida.

6.3.3 Catequese permanente

295.Quantoàsituaçãoatualdacatequese,éevidentequetemhavidograndeprogresso.Temcrescidootempoquesede-dica à preparação para os sacramentos. Tem-se tomado maiorconsciênciadesuanecessidade,tantonasfamíliascomoentreos pastores. Compreende-se que ela é imprescindível em todaformaçãocristã.Têm-seconstituídoordinariamentecomissõesdiocesanaseparoquiaisdecatequese.Éadmirávelograndenú-merodepessoasquesesentemchamadasasefazercatequistas,comgrandeentrega.Aelas,estaAssembléiamanifestasinceroreconhecimento.

296.Noentanto,apesardaboavontade,aformaçãoteoló-gicaepedagógicadoscatequistasnãocostumaseradesejável.Osmateriaise subsídiossãocomfreqüênciamuitovariadosenãoseintegramemumapastoraldeconjunto;enemsempresãoportadoresdemétodospedagógicosatualizados.Osserviçosca-tequéticosdasparóquiasfreqüentementecarecemdecolabora-çãopróximadasfamílias.Ospárocosedemaisresponsáveisnãoassumem com maior empenho a função que lhes correspondecomoprimeiroscatequistas.

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297.OsdesafiosqueapresentaasituaçãodasociedadenaAmérica latina e no Caribe requerem identidade católica maispessoal e fundamentada. O fortalecimento dessa identidadepassaporumacatequeseadequadaquepromovaadesãopessoalecomunitáriaaCristo,sobretudonosmaisfracosnafé.168Éta-refa que cabe a toda a comunidade de discípulos, mas de ma-neiraespecialanósque,comobispos,fomoschamadosaserviràIgreja,pastoreando-a,conduzindo-aaoencontrocomJesuseensinando-lheavivertudooqueElenostemmandado(cf.Mt28,19-20).

298.Acatequesenãodevesersóocasional,reduzidaamo-mentospréviosaossacramentosouàiniciaçãocristã,massim“itineráriocatequéticopermanente”.169Porisso,competeacadaIgrejaparticular,comaajudadasConferênciasEpiscopais,esta-belecerumprocessocatequéticoorgânicoeprogressivoqueseestenda por toda a vida, desde a infância até à terceira idade,levando em consideração que o Diretório Geral de Catequeseconsideraacatequesecomadultoscomoaformafundamentaldaeducaçãonafé.ParaqueemverdadeopovoconheçaCristoafundoeosigafielmente,deveserconduzidoespecialmentenaleituraemeditaçãodaPalavradeDeus,queéoprimeirofunda-mentodeumacatequesepermanente.170

299.Acatequesenãopodeselimitaraumaformaçãome-ramente doutrinal, mas precisa ser uma verdadeira escola deformação integral. Portanto, é necessário cultivar a amizadecom Cristo na oração, o apreço pela celebração litúrgica, a ex-periênciacomunitária,ocompromissoapostólicomedianteumpermanenteserviçoaosdemais.Paraisso,seriamúteisalgunssubsídioscatequéticoselaboradosapartirdoCatecismo da Igreja CatólicaedoCompêndio da Doutrina Social da Igreja,estabelecen-docursoseescolasdeformaçãopermanenteaoscatequistas.

168 Cf.BentoXVI,DiscursonoEncontrocomosBisposdoBrasil,11demaiode2007.

169 DI3.

170 Ibid.

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300.Deve-sedarcatequeseapropriadaqueacompanheaféjápresentenareligiosidadepopular.Maneiraconcretapodeseraofertadeumprocessodeiniciaçãocristãcomvisitasàsfamílias,ondenãosósecomuniquemaelasosconteúdosdafé,masquetambémasconduzaàpráticadaoraçãofamiliar,àleituraorantedaPalavradeDeuseaodesenvolvimentodasvirtudes evangélicas, que as consolidem cada vez mais comoIgrejas domésticas. Para esse crescimento na fé, também éconveniente aproveitar pedagogicamente o potencial edu-cativopresentenapiedadepopularmariana.Trata-sedeumcaminhoeducativoque,cultivandooamorpessoalàVirgem,verdadeira“educadoranafé”171 quenoslevaanosassemelharcadavezmaisaJesusCristo,provoqueaapropriaçãoprogres-sivadesuasatitudes.

�.4Lugaresdeformaçãoparaosdiscípulosmissionários

301.Aseguir,consideraremosbrevementealguns lugaresdeformaçãodediscípulosmissionários.

6.4.1 A Família, primeira escola da fé

302.Afamília,“patrimôniodahumanidade”,constituiumdostesourosmaisvaliososdospovoslatino-americanos.Elatemsidoeéolugareescoladecomunhão,fontedevaloreshumanosecívicos,larondeavidahumananasceeseacolhegenerosaeresponsavelmente.Paraqueafamíliaseja“escoladefé”epossaajudarospaisaseremosprimeiroscatequistasdeseusfilhos,apastoralfamiliardeveoferecerespaçosdeformação,materiaiscatequéticos,momentoscelebrativos,quelhespermitamcum-prirsuamissãoeducativa.Afamíliaéchamadaaintroduzirosfilhosnocaminhodainiciaçãocristã.Afamília,pequenaIgreja,deveser,juntocomaParóquia,oprimeirolugarparaainiciaçãocristãdascrianças.172 Elaofereceaosfilhosumsentidocristão

171DP290.172

SC19.

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deexistênciaeosacompanhanaelaboraçãodeseuprojetodevida,comodiscípulosmissionários.

303.Alémdisso,édeverdospais,especialmenteatravésdeseuexemplodevida,aeducaçãodosfilhosparaoamorcomodomdesimesmoseaajudaqueelesprestamparadescobrirsuavocação de serviço, seja na vida leiga como na vida consagra-da.Dessemodo,aformaçãodosfilhoscomodiscípulosdeJesusCristoserealizanasexperiênciasdavidadiárianaprópriafa-mília.Osfilhostêmodireitodepodercontarcomopaieamãeparaquecuidemdeleseosacompanhematéaplenitudedevida.A “catequese familiar”, implementada de diversas maneiras,tem-sereveladocomoajudaproveitosaàunidadedasfamílias,oferecendo,alémdisso,possibilidadeeficientedeformarospaisdefamília,osjovenseascrianças,paraquesejamtestemunhasfirmesdaféemsuasrespectivascomunidades.

6.4.2 As Paróquias

304.AdimensãocomunitáriaéintrínsecaaomistérioeàrealidadedaIgrejaquedeverefletiraSantíssimaTrindade.Essadimensãoespecialtemsidovividadediversasmaneirasaolongodosséculos.AIgrejaécomunhão.AsParóquiassãocélulasvi-vasdaIgreja173elugaresprivilegiadosemqueamaioriadosfiéistemumaexperiênciaconcretadeCristoedesuaIgreja.174 Encer-raminesgotávelriquezacomunitáriaporquenelasseencontraimensavariedadedesituações,idadesetarefas.Sobretudohoje,quandoascrisesdavidafamiliarafetaatantascriançasejovens,asParóquiasoferecemespaçocomunitárioparaseformarnaféecrescercomunitariamente.

305.Portanto,deve-secultivaraformaçãocomunitáriaes-pecialmentenaparóquia.Comdiversascelebraçõeseiniciativas,principalmente com a Eucaristia dominical, que é “momentoprivilegiadodoencontrodascomunidadescomoSenhorressus-

173 AA10;SD55.

174 EAm41.

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141VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

citado”,175 osfiéisdevemexperimentaraparóquiacomofamílianaféenacaridade,ondemutuamenteseacompanhemeseaju-demnoseguimentodeCristo.

306. Se queremos que as paróquias sejam centros de ir-radiação missionária em seus próprios territórios, elas devemsertambémlugaresdeformaçãopermanente.Issoexigequeseorganizemnelasváriasinstânciasformativasqueasseguremoacompanhamentoeoamadurecimentodetodososagentespas-toraisedos leigos inseridosnomundo.Asparóquiasvizinhastambémpodemuniresforçosnessesentido,semdesperdiçarasofertasformativasdaDioceseedaConferênciaEpiscopal.

6.4.3 Pequenas comunidades eclesiais

307.Constata-sequenosúltimosanosestácrescendoaes-piritualidade de comunhão e que, com diversas metodologias,nãopoucosesforçostêmsidofeitosparalevarosleigosasein-tegrarnaspequenascomunidadeseclesiais,quevãomostrandofrutosabundantes.NaspequenascomunidadeseclesiaistemosummeioprivilegiadoparaaNovaEvangelizaçãoeparachegaraqueosbatizadosvivamcomoautênticosdiscípulosemissioná-riosdeCristo.

308.SãoelasumambientepropícioparaescutaraPalavradeDeus,paraviverafraternidade,paraanimarnaoração,paraaprofundarprocessosdeformaçãonaféeparafortaleceroexi-gentecompromissodeserapóstolosnasociedadedehoje.Sãolugaresdeexperiênciacristãeevangelizaçãoque,emmeioàsi-tuaçãoculturalquenosafeta,secularizadaehostilàIgreja,sefazemmuitomaisnecessários.

309. Se desejamos pequenas comunidades vivas e dinâ-micas, é necessário despertar nelas uma espiritualidade sóli-da, baseada na Palavra de Deus, que as mantenham em plenacomunhãodevidae ideaiscoma Igreja locale,emparticular,

175 DI4.

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comacomunidadeparoquial.Poroutrolado,conformeháanosestamospropondonaAméricaLatina,aparóquiachegaráaser“comunidadedecomunidades”.176

310. Destacamos que é preciso reanimar os processos deformaçãodepequenascomunidadesnoContinente,poisnelastemosumafonteseguradevocaçõesaosacerdócio,àvidareli-giosaeàvidaleigacomespecialdedicaçãoaoapostolado.Atra-vés das pequenas comunidades, também se poderia conseguirchegaraosafastados,aosindiferenteseaosquealimentamdes-contentamentoouressentimentosemrelaçãoàIgreja.

6.4.4 Os movimentos eclesiais e novas comunidades

311.OsnovosmovimentosecomunidadessãoumdomdoEspíritoSantoparaaIgreja.Neles,osfiéisencontramapossibi-lidadedeseformarcristãmente,crescerecomprometer-seapos-tolicamenteatéserverdadeirosdiscípulosmissionários.Assimexercitamodireitonaturalebatismaldelivreassociação,comoindicou o Concílio vaticano II177 e o confirma o Código de Di-reitoCanônico.Seriaconvenienteincentivaralgunsmovimen-toseassociaçõesquemostramhojecertocansaçooufraquezaeconvidá-losarenovarseucarismaoriginal,quenãodeixadeenriqueceradiversidadecomqueoEspíritosemanifestaeatuanopovocristão.

312.Osmovimentosenovascomunidadesconstituemva-liosacontribuiçãonarealizaçãodaIgrejaParticular.Porsuapró-prianatureza,expressamadimensãocarismáticadaIgreja:“NaIgrejanãohácontrasteoucontraposiçãoentreadimensãoins-titucionaleadimensãocarismática,daqualosmovimentossãoexpressãosignificativa,porqueambossãoigualmenteessenciaisparaaconstituiçãodivinadoPovodeDeus”.178 NavidaeaçãoevangelizadoradaIgreja,constatamosquenomundomoderno

176Cf.SD58.177AA18ss.178

BentoXVI,Discurso,24demarçode2007.

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143VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

devemos responder a novas situações e necessidades da vidacristã.Nessecontexto,tambémosmovimentosenovascomuni-dadessãoumaoportunidadeparaquemuitaspessoasafastadaspossamterumaexperiênciadeencontrovitalcomJesusCristo,eassimrecuperarsuaidentidadebatismalesuaativaparticipa-çãonavidadaIgreja.179 Neles“podemosveramultiformepre-sençaeaçãosantificadoradoEspírito”.180

313.Paraaproveitarmelhoroscarismaseserviçosdosmo-vimentoseclesiaisnocampodaformaçãodosleigos,desejamosrespeitarseuscarismasesuaoriginalidade,procurandoqueseintegremmaisplenamentenaestruturaorigináriaqueacontecena diocese. Ao mesmo tempo, é necessário que a comunidadediocesanaacolhaariquezaespiritualeapostólicadosmovimen-tos.Éverdadequeosmovimentosdevemmantersuaespecifi-cidade,masdentrodeumaprofundaunidadecomaIgrejapar-ticular,nãosódefémasdeação.Quantomaissemultiplicarariquezadoscarismas,maisosbisposserãochamadosaexercerodiscernimentoespiritualparafavoreceranecessáriaintegra-çãodosmovimentosnavidadiocesana,apreciandoariquezadesuaexperiênciacomunitária,formativaemissionária.ConvêmdarespecialacolhidaevalorizaçãoaosmovimentoseclesiaisquejápassarampeloreconhecimentoediscernimentodaSantaSé,consideradoscomodonsebensparaaIgrejauniversal.

6.4.5 Os Seminários e Casas de formação religiosa

314.Noqueserefereàformaçãodosdiscípulosemissio-nários de Cristo, ocupa lugar particular a pastoral vocacional,que acompanha cuidadosamente todos os que o Senhor cha-ma a servir à Igreja no sacerdócio, na vida consagrada ou noestado de leigo. A pastoral vocacional, que é responsabilidadede todoopovodeDeus, começana famíliae continuanaco-munidadecristã,devedirigir-seàscriançaseespecialmenteaos

179 Cf.DI4.

180 Cf.Ibid.5.

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jovensparaajudá-losadescobrirosentidodavidaeoprojetoqueDeustemparacadaum,acompanhando-osemseuprocessodediscernimento.Plenamenteintegradanoâmbitodapastoralordinária,apastoralvocacionaléfrutodeumasólidapastoraldeconjunto,nasfamílias,naparóquia,nasescolascatólicasenasdemaisinstituiçõeseclesiais.Énecessáriointensificardedi-versasmaneirasaoraçãopelasvocações,comaqualtambémsecontribuiparacriarmaiorsensibilidadeereceptividadediantedochamadodoSenhor;assimcomopromoverecoordenardi-versasiniciativasvocacionais.181AsvocaçõessãodomdeDeus;portanto,emcadadiocese,nãodevemfaltaroraçõesespeciaisao“Donodamesse”.

315. Diante da escassez de pessoas que respondam à vo-caçãoaosacerdócioeàvidaconsagradanaAméricaLatinaenoCaribe,éurgentededicarcuidadoespecialàpromoçãovocacio-nal,cultivandoosambientesondenascemasvocaçõesaosacer-dócioeàvidaconsagrada,comacertezadequeJesuscontinuachamandodiscípulosemissionáriosparaestarcomEleeparaenviá-losapregaroReinodeDeus.EstaVConferênciafazumchamadourgenteatodososcristãos,especialmenteaosjovens,paraqueestejamabertosaumapossívelchamadadeDeusaosa-cerdócioouàvidaconsagrada;recordaqueoSenhordaráagraçanecessáriapara respondercomdecisãoegenerosidade,apesardosproblemasgeradosporumaculturasecularizada,centraliza-danoconsumismoenoprazer.Convidamosasfamíliasareco-nheceremabênçãodeterumfilhochamadoporDeusparaessaconsagraçãoeapoiaremsuadecisãoeseucaminhoderespostavocacional. Aos sacerdotes, os estimulamos a dar testemunhodevida feliz,alegre,entusiásticaedesantidadenoserviçodoSenhor.

316. Sem dúvida, os seminários e as casas de formaçãoconstituemespaçoprivilegiado–escolaecasa–paraaforma-

181Cf.PDV41;EAm40.

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145VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

çãodediscípulosemissionários.Otempodaprimeiraformaçãoéumaetapaondeosfuturospresbíteroscompartilhamavida,aexemplodacomunidadeapostólicaaoredordoCristoRessus-citado:oramjuntos,celebramamesmaliturgiaqueculminanaEucaristia,apartirdaPalavradeDeusrecebemosensinamentosque vão iluminando sua mente e modelando seu coração parao exercício da caridade fraterna e da justiça, prestam serviçospastoraisperiodicamenteadiversascomunidades,preparando-seassimparaviverumasólidaespiritualidadedecomunhãocomCristoPastoredocilidadeàaçãodoEspíritoSanto,converten-do-seemsinalpessoaleatrativodeCristonomundo,segundoocaminhodesantidadeprópriodoministériosacerdotal.182

317.ReconhecemosoesforçodosformadoresdosSeminá-rios.Seutestemunhoepreparaçãosãodecisivosparaoacom-panhamentodosseminaristasparaumamadurecimentoafetivoqueosfaçaaptosparaabraçarocelibatoecapazesdeviveremcomunhãocomseusirmãosnavocaçãosacerdotal;nessesenti-do,oscursosdeformadoresquesetêmimplementadosãomeioeficazdeajudaàsuamissão.183

318.Arealidadeatualexigedenósmaioratençãoaospro-jetos de formação dos Seminários, pois os jovens são vítimasda influêncianegativadaculturapós-moderna,especialmentedosmeiosdecomunicação,trazendoconsigoafragmentaçãodapersonalidade,aincapacidadedeassumircompromissosdefini-tivos,aausênciadematuridadehumana,oenfraquecimentodaidentidadeespiritual,entreoutros,quedificultamoprocessodeformaçãodeautênticosdiscípulosemissionários.Porisso,an-tesdoingressonoSeminário,énecessárioqueosformadorese

182Cf.PDV60;OT4;CongregaçãoparaoClero,Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros,n.4.

183Aesserespeito,ospadressinodaisexortavamosBispos“adestinarparaessatare-faseussacerdotesmaisaptos,depoisdeprepará-losmedianteformaçãoespecíficaqueoscapaciteparamissãotãodelicada”.EAm40;CongregaçãoparaaEducaçãoCatólica,Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis,31-36;ID.,Diretrizes sobre a preparação dos formadores nos Seminários,n.65-71;OT5.

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responsáveis façam esmerada seleção dos candidatos que leveemconsideraçãooequilíbriopsicológicodepersonalidadesadia,motivaçãogenuínadeamoraCristo,àIgreja,eaomesmotempocapacidadeintelectualadequadaàsexigênciasdoministérionotempoatual.184

319.ÉnecessárioumprojetoformativodoSeminárioqueofereça aos seminaristas um verdadeiro processo integral: hu-mano,espiritual,intelectualepastoral,centradoemJesusCris-toBomPastor.Éfundamentalque,duranteosanosdeforma-ção, os seminaristas sejam autênticos discípulos, chegando arealizarverdadeiroencontropessoalcomJesusCristonaoraçãocomaPalavra,paraqueestabeleçamcomElerelaçõesdeami-zade e amor, assegurando um autêntico processo de iniciaçãoespiritual,especialmentenoPeríodoPropedêutico.Aespiritua-lidadequesepromovedeveráresponderàidentidadedaprópriavocação,sejadiocesanaoureligiosa.185

320.Aolongodaformação,procurar-se-ádesenvolveramorternoefilialaMaria,demaneiraquecadaformandochegueatercomelafamiliaridadeespontâneaea“acolhaemcasa”comoodiscípuloamado.Elaofereceráaossacerdotesforçaeesperan-çanosmomentosdifíceiseosestimularáaserincessantementediscípulosmissionáriosparaoPovodeDeus.

321.Especialatençãosedeveráprestaraoprocessodefor-maçãohumanaparaamaturidade,detalmaneiraqueavoca-çãoaosacerdócioministerialdoscandidatoschegueaserparacadaumdelesumprojetodevidaestáveledefinitivo,emmeioaumaculturaqueexaltaodescartáveleoprovisório.Diga-seomesmodaeducaçãoparaoamadurecimentodaafetividadeeda

184Cf.C.I.C.,can.241,I:CongregaçãoparaaEducaçãoCatólica,Instrução sobre os crité-rios de discernimento vocacional em relação às pessoas de tendências homossexuais antes de sua admissão no Seminário e nas Ordens sagradas.

185Cf.Congregação paraaEducaçãoCatólica, Carta circular sobre alguns aspectos mais urgentes da formação espiritual nos seminários, 6 de janeiro de 1980, p. 23; ID., O PeríodoPropedêutico,1ºdemaiode1998,p.14.

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147VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

sexualidade.Estadevelevaracompreendermelhorosignifica-doevangélicodocelibatoconsagradocomovalorqueassemelhaa Jesus Cristo, portanto, como estado de amor, fruto do dompreciosodagraçadivina,segundooexemplodadoaçãonupcialdoFilhodeDeus;aacolhê-locomotalcomfirmedecisão,commagnanimidadeedetodoocoração,eavivê-locomserenidadeefielperseverança,comadevidaascesenocaminhopessoalecomunitário,comoentregaaDeuseaosdemaiscomocoraçãoplenoeindiviso.186

322.Emtodooprocessodeformação,oambientedoSe-minário e da pedagogia formativa deverão cuidar do clima desã liberdadeede responsabilidadepessoal, evitandocriaram-bientesartificiaisouitineráriosimpostos.Aopçãodocandidatopela vida e ministério sacerdotal deve amadurecer e apoiar-seemmotivaçõesverdadeiraseautênticas,livresepessoais.Aissose orienta a disciplina nas casas de formação. As experiênciaspastorais,discernidaseacompanhadasnoprocessoformativo,sãosumamenteimportantesparaconfirmaraautenticidadedasmotivaçõesnocandidatoeajudá-loaassumiroministériocomoverdadeiroegenerososerviço,noqualosereoagir,pessoacon-sagradaeministério,sãorealidadesinseparáveis.

323.Aomesmotempo,oSemináriodeveráoferecerforma-çãointelectualsériaeprofunda,nocampodafilosofia,dasciên-cias humanas, e especialmente da teologia e da missiologia, afimdequeofuturosacerdoteaprendaaanunciaraféemtodaasuaintegridade,fielaoMagistériodaIgreja,comatençãocríticaatentoaocontextoculturaldenossotempoeàsgrandescorren-tesdepensamentoedecondutaquedeveráevangelizar.Simul-taneamentesedeveráreforçaroestudodaPalavradeDeusnocurrículo acadêmico nos diversos campos de formação, procu-randoqueaPalavradivinanãosereduzasomenteanoções,mas

186Cf.PO16;OT4;PDV50;CongregaçãoparaoClero,Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros,n.5;CongregaçãoparaaEducaçãoCatólica,Orientações para a educação no celibato,n.31,Roma,1974.

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queemverdadesejaespíritoevidaqueilumineealimentetodaaexistência.Portanto,seránecessáriocontaremcadasemináriocomnúmerosuficientedeprofessoresbempreparados.187

324. É indispensável confirmar que os candidatos sejamcapazesdeassumirasexigênciasdavidacomunitária,oqueim-plicadiálogo,capacidadedeserviço,humildade,valorizaçãodoscarismasalheios,disposiçãoparasedeixarinterpelarpelosou-tros,obediênciaaobispoeaberturaparacresceremcomunhãomissionária com os presbíteros, diáconos, religiosos e leigos,servindoàunidadenadiversidade.AIgrejanecessitadesacer-doteseconsagradosquenuncapercamaconsciênciadeseremdiscípulosemcomunhão.

325.Osjovensprovenientesdefamíliaspobresoudegru-posindígenas,requeremformaçãoinculturada,ouseja,devemreceber a adequada formação teológica e espiritual para seufuturoministério,semque issofaçaperdersuasraízese,des-saforma,possamserevangelizadorespróximosaseuspovoseculturas.188

326. É oportuno indicar a complementaridade entre aformação iniciadanoSeminárioeoprocessodeformaçãoqueabrangeasdiversasetapasdevidadopresbítero.Énecessáriodespertaraconsciênciadequeaformaçãosóterminacomamor-te.Aformaçãopermanente“éumdeverprincipalmenteparaossacerdotesjovenseprecisateraquelafreqüênciaeprogramaçãodeencontrosque,simultaneamente,prolongamaseriedadeeasolidezdaformaçãorecebidanoseminário,levemprogressiva-mente os jovens presbíteros a compreender e viver a singularriquezado“dom”deDeus–osacerdócio–eadesenvolversuaspotencialidadeseaptidõesministeriais,tambémmedianteumainserçãocadavezmaisconvictaeresponsávelnopresbitérioe,portanto,nacomunhãoenaco-responsabilidadecomtodosos

187Cf.CongregaçãoparaaEducaçãoCatólica,Ratio fundamentalis,n.32e36-37.188Cf.EAm40;RM54;PDV32;CongregaçãoparaoClero,Diretório,n.15.

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149VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

irmãos”.189Emrelaçãoaisso,requerem-seprojetosdiocesanosbemarticuladoseconstantementeavaliados.

327.Ascasaseoscentrosde formaçãodaVidaReligiosasãotambémespaçosprivilegiadosdediscipuladoedeformaçãodosmissionáriosemissionárias,segundoocarismaprópriodecadainstitutoreligioso.

6.4.6 A Educação Católica

328.AAméricaLatinaeoCaribevivemumaparticularede-licadaemergênciaeducativa.Naverdade,asnovasformasedu-cacionaisdenossocontinente,impulsionadasparaseadaptaràsnovasexigênciasquesevãocriandocomamudançaglobal,apa-recemcentradasprioritariamentenaaquisiçãodeconhecimen-tosehabilidadesedenotamclaroreducionismoantropológico,vistoqueconcebemaeducaçãopreponderantementeemfunçãodaprodução,dacompetitividadeedomercado.Poroutrolado,comfreqüência,elaspropiciamainclusãodefatorescontráriosàvida,àfamíliaeaumasadiasexualidade.Dessaforma,nãomani-festamosmelhoresvaloresdosjovensnemseuespíritoreligioso;menosaindalhesensinamoscaminhosparasuperaraviolênciae seaproximarda felicidade,nemosajudama levarumavidasóbriaeadquirirasatitudes,virtudesecostumesquetornariamestávelolarquevenhamaestabelecer,equeosconverteriamemconstrutoressolidáriosdapazedofuturodasociedade.190

329.Diantedessasituação,fortalecendoaestreitacolabo-raçãocomospaisdefamíliaepensandoemumaeducaçãodequalidade à que têm direito, sem distinção, todos os alunos ealunasdenossospovos,énecessárioinsistirnoautênticofimdetodaescola.Échamadaasetransformar,antesdemaisnada,emlugarprivilegiadodeformaçãoepromoçãointegral,mediantea

189PDV76.190FC36-38;JoãoPauloII,CartaàsFamílias,13,2defevereirode1994;PontifícioCon-

selhoparaaFamília,Carta dos direitos da família,Art.5c,22deoutubrode1983;PontifícioConselhoparaaFamília,Sexualidade humana, verdade e significado.Orientações educativas em família,8dedezembrode1995.

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assimilaçãosistemáticaecríticadacultura, fatoqueconseguemedianteumencontrovivoevitalcomopatrimôniocultural.Issosupõequetalencontroserealizenaescolaemformadeela-boração, ou seja, confrontando e inserindo os valores perenesno contexto atual. Na realidade, a cultura, para ser educativa,deveinserir-senosproblemasdotemponoqualsedesenvolveavidadojovem.Dessamaneira,asdiferentesdisciplinasprecisamapresentarnãosóumsaberporadquirir,masvaloresporassi-milareverdadespordescobrir.

330.Constituiresponsabilidadeestritadaescola,enquantoinstituição educativa, destacar a dimensão ética e religiosa dacultura,precisamentecomoobjetivodeativarodinamismoes-piritualdosujeitoeajudá-loaalcançaraliberdadeéticaquepres-supõeeaperfeiçoaapsicológica.Masnãosedáliberdadeética,anãosernaconfrontaçãocomosvaloresabsolutosdosquaisdependemosentidoeovalordavidadoserhumano.Inclusi-venoâmbitodaeducação,manifesta-seatendênciaaassumirarealidadecomoparâmetrodosvalores,correndodessaformao perigo de responder a aspirações secundárias e superficiais,eperderdevistaasexigênciasmaisprofundasdomundocon-temporâneo(E.C.30).Aeducaçãohumanizaepersonalizaoserhumanoquandoconseguequeestedesenvolvaplenamenteseupensamentoesualiberdade,fazendo-ofrutificaremhábitosdecompreensãoeeminiciativasdecomunhãocomatotalidadedaordemreal.Dessamaneira,oserhumanohumanizaseumundo,produzcultura,transformaasociedadeeconstróiahistória.191

6.4.6.1 Os centros educativos católicos

331. A missão primária da Igreja é anunciar o Evangelhodemaneiratalquegarantaarelaçãoentreaféeavidatantonapessoa individual como no contexto sócio-cultural em que aspessoasvivem,atuameserelacionamentresi.Assim,aIgreja“procuratransformar,medianteaforçadoEvangelho,oscrité-

191DP1025.

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151VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

riosdejuízo,osvaloresdeterminantes,ospontosdeinteresse,aslinhasdepensamento,asfontesinspiradoraseosmodelosdevidadahumanidadequeestãoemcontrastecomaPalavradeDeuseodesígniodesalvação”.192

332.Portanto,quandofalamosdeeducaçãocristã,enten-demosqueomestreeducaparaumprojetodeserhumanoemquehabiteJesusCristocomopodertransformadordesuavidanova. Existem muitos aspectos nos quais se educa e entre osquaisconstaoprojetoeducativo.Existemmuitosvalores,masestesvaloresnuncaestãosozinhos,sempreformamumacons-telação ordenada, explícita ou implicitamente. Se a ordenaçãotemaCristocomofundamentoefim,entãoessaeducaçãoestárecapitulandotudoemCristoeéverdadeiraeducaçãocristã;senão,podefalardeCristo,mascorreoperigodenãosercristã.193

333.Dessemodoseproduzumacompenetraçãoentreosdois aspectos. Quer dizer, não se concebe a possibilidade deanunciar o Evangelho sem que este ilumine, infunda alento eesperançaeinspiresoluçõesadequadasaosproblemasdaexis-tência;muitomenosquesepossapensaremverdadeiraeplenapromoçãodoserhumanosemabri-loaDeuseanunciar-lheJe-susCristo.194

334.AIgrejaéchamadaapromoveremsuasescolasumaeducação centrada na pessoa humana que é capaz de viver nacomunidadeoferecendoaestaobemqueaIgrejapossui.Diantedofatodequemuitosseencontramexcluídos,aIgrejadeveráestimularumaeducaçãodequalidadeparatodos,formalenão-formal,especialmenteparaosmaispobres.Educaçãoqueofere-çaàscrianças,aosjovenseaosadultosoencontrocomosvalo-resculturaisdoprópriopaís,descobrindoouintegrandonelesa dimensão religiosa e transcendente. Para isso, necessitamos

192EN19.193SD265.194Cf.Iuvenum Patris.CartaApostólicadeJoãoPauloIInocentenáriodamortedeSão

JoãoBosco,10.

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deumapastoraldaeducaçãoquesejadinâmicaeacompanheosprocessoseducativos,quesejavozquelegitimeesalvaguardealiberdadedeeducaçãodiantedoEstadoeodireitoaumaeduca-çãodequalidadeparaosmaisdespossuídos.

335. Desse modo, estamos em condições de afirmar que,noprojetoeducativodaescolacatólica,Cristo,oHomemper-feito,éofundamentoemquemtodososvaloreshumanosen-contram sua plena realização e, a partir daí, sua unidade. Elerevelaepromoveosentidonovodaexistênciaeatransforma,capacitandoohomemeamulheraviveremdemaneiradivina,ouseja,parapensar,querereagirsegundooEvangelho,fazendodasbem-aventurançasanormadesuasvidas.Precisamentepelareferênciaexplícitaecompartilhadaportodososmembrosdacomunidadeescolar,avisãocristã–aindaqueemgraudiverso,erespeitandoaliberdadedeconsciênciaereligiosadosnãocris-tãospresentesnela–aeducaçãoé“católica”,poisosprincípiosevangélicosseconvertemparaelaemnormaseducativas,moti-vaçõesinteriorese,aomesmotempo,emmetasfinais.Esseéocaráterespecificamentecatólicodaeducação.JesusCristo,pois,elevaeenobreceapessoahumana,dávaloràsuaexistênciaeconstituioperfeitoexemplodevida.Éamelhornotícia,propos-tapeloscentrosdeformaçãocatólicaaosjovens.195

336.Portanto,ametaqueaescolacatólicasepropõecomrelaçãoàscriançasejovens,éadeconduziraoencontrocomJe-susCristovivo,FilhodoPai,irmãoeamigo,MestreePastormi-sericordioso,esperança,caminho,verdadeevida,edessaformaàvivênciadaaliançacomDeusecomoshomens.Aescolaofazcolaborandonaconstruçãodapersonalidadedosalunos,tendoCristocomoreferêncianoplanodamentalidadeedavida.Talreferência,aosefazerprogressivamenteexplícitaeinterioriza-da,ajudaráaverahistóriacomoCristoavê,ajulgaravidacomoEleofaz,aescolhereamarcomoEle,acultivaraesperançacomo

195CongregaçãoparaaEducaçãoCatólica,A Escola Católica,n.34.

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ElenosensinaeavivernEleacomunhãocomoPaieoEspíritoSanto.Pelafecundidademisteriosadessareferência,apessoaseconstróinaunidadeexistencial, istoé, assumesuas responsa-bilidadeseprocuraosignificadoúltimodesuavida.SituadanaIgreja,comunidadedecristãos,elaconseguecomliberdadeviverintensamenteafé,anunciá-laecelebrá-lacomalegrianarealida-dedecadadia.Comoconseqüência,amadurecemeparecemco-naturaisasatitudeshumanasquelevamaseabrirsinceramenteàverdade,arespeitareamarasoutraspessoas,aexpressarsuapróprialiberdadenadoaçãodesienoserviçoaosdemaisparaatransformaçãodasociedade.

337.AEscolacatólicaéchamadaaumaprofundarenova-ção.Devemosresgatara identidadecatólicadenossoscentroseducativospormeiodeumimpulsomissionáriocorajosoeau-daz,demodoquechegueaserumaopçãoproféticaplasmadaemumapastoraldaeducaçãoparticipativa.Taisprojetosdevempromoveraformaçãointegraldapessoa,tendoseufundamentoemCristo,comidentidadeeclesialecultural,ecomexcelênciaacadêmica.Alémdisso,hádegerarsolidariedadeecaridadeparacomosmaispobres.Oacompanhamentodosprocessoseduca-tivos,aparticipaçãodospaisdefamílianelesea formaçãodedocentes,sãotarefasprioritáriasdapastoraleducativa.

338.Propõe-sequenasinstituiçõescatólicasaeducaçãonafé seja integral e transversal em todo o currículo, levando emconsideraçãooprocessodeformaçãoparaencontraraCristoeparavivercomodiscípulosemissionárioseinserindonelaverda-deirosprocessosdeiniciaçãocristã.Aomesmotempo,recomen-da-sequeacomunidadeeducativa(diretores,mestres,pessoaladministrativo,alunos,paisdefamíliaetc.),enquantoautênticacomunidadeeclesialecentrodeevangelização,assumaseupapeldeformadoradediscípulosemissionáriosemtodososseuses-tratos.Que,apartirdaí,emcomunhãocomacomunidadecristãqueésuamatriz,promovaumserviçopastoralnosetoremqueseinsere,especialmentedosjovens,dafamília,dacatequesee

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154 CELAM

dapromoçãohumanadosmaispobres.Essesobjetivossãoes-senciaisnosprocessosdeadmissãodealunos,emsuasfamíliasenacontrataçãodosdocentes.

339.UmprincípioirrenunciávelparaaIgrejaéaliberdadedeensino.Oamploexercíciododireitoàeducaçãoreivindicaporsua vez, como condição para sua autêntica realização, a plenaliberdadequedevegozartodapessoaparaescolheraeducaçãodeseusfilhosqueconsideremaisadequadaaosvaloresqueelesmaisestimamequeconsideramindispensáveis.Pelofatodeha-verdadoavidaaosfilhos,ospaisassumiramaresponsabilidadedeofereceraelescondiçõesfavoráveisparaseucrescimentoeasériaobrigaçãodeeducá-los.Asociedadeprecisareconhecê-loscomoosprimeiroseprincipaiseducadores.Odeverdaeduca-çãofamiliar,comoprimeiraescoladevirtudessociais,édetantatranscendênciaque,quandofalta,dificilmentepodesersuprida.Esseprincípioéirrenunciável.196

340.Essedireitointransferível,queimplicaumaobrigaçãoequeexpressaaliberdadedafamílianaesferadaeducação,porseusignificadoealcance,precisaserdecididamentegarantidopeloEs-tado.Poressarazão,opoderpúblico,aquemcompeteaproteçãoeadefesadasliberdadesdoscidadãos,atendendoàjustiçadistribu-tiva,devedistribuirasajudaspúblicas–queprovêmdosimpostosdetodososcidadãos–detalmaneiraqueatotalidadedospais,in-dependentedesuacondiçãosocial,possamescolher,segundosuaconsciência,emmeioaumapluralidadedeprojetoseducativos,asescolasadequadasparaseusfilhos.Esseéovalorfundamentaleanaturezajurídicaquefundamentaasubvençãoescolar.Portanto,anenhumsetoreducacional,nemsequeraopróprioEstado,sepodeoutorgarafaculdadedesereservaroprivilégioeaexclusividadedaeducaçãodosmaispobres,semcomissoinfringirimportantesdireitos.Dessemodo,promovem-sedireitosnaturaisdapessoahu-mana,daconvivênciapacíficadoscidadãosedoprogressodetodos.

196PontifícioConselhoparaaFamília,Carta dos direitos da família,Art.3c,22deoutubrode1983.

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6.4.6.2 As universidades e centros superiores de educação católica

341.Segundosuapróprianatureza,aUniversidadeCatólicaprestaimportanteajudaàIgrejaemsuamissãoevangelizadora.Trata-sedevitaltestemunhodeordeminstitucionalsobreCris-toesuamensagem,tãonecessárioeimportanteparaasculturasimpregnadaspelosecularismo.Asatividadesfundamentaisdeumauniversidadecatólicadeverãovincular-seeharmonizar-secomamissãoevangelizadoradaIgreja.Elasserealizamatravésdeumapesquisarealizadaàluzdamensagemcristã,quecolo-queosnovosdescobrimentoshumanosaserviçodaspessoasedasociedade.Dessaformaofereceumaformaçãodadaemcon-textodefé,quepreparepessoascapazesdejuízoracionalecríti-co,conscientesdadignidadetranscendentaldapessoahumana.Issoimplicaumaformaçãoprofissionalquecompreendaosvalo-reséticoseadimensãodeserviçoàspessoaseàsociedade;odiá-logocomacultura,quefavoreçamelhorcompreensãoetrans-missãodafé;eapesquisateológicaqueajudeaféaexpressar-seemlinguagemsignificativaparaestestempos.Porquecadavezmais consciente de sua missão salvífica neste mundo, a Igrejaquersentiressescentrosbempróximosaelamesma,edesejatê-lospresenteseoperantesnadifusãodamensagemautênticadeCristo.197

342.Asuniversidadescatólicas,porconseguinte,terãoquedesenvolvercomfidelidadesuaespecificidadecristã,vistoquepossuemresponsabilidadesevangélicasqueinstituiçõesdeou-trotiponãoestãoobrigadasarealizar.Entreelasseencontra,sobretudo,odiálogoféerazão,féecultura,eaformaçãodepro-fessores, alunos e pessoal administrativo através da DoutrinaSocialeMoraldaIgreja,paraquesejamcapazesdecompromis-sosolidáriocomadignidadehumana,deseremsolidárioscomacomunidadeedemostraremprofeticamenteanovidadequerepresentaocristianismonavidadassociedadeslatino-ameri-

197ECE49.

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canas e caribenhas. Para isso, é indispensável que se cuide doperfilhumano,acadêmicoecristãodosquesãoosprincipaisres-ponsáveispelapesquisaedocência.

343.Énecessáriaumapastoraluniversitáriaqueacompa-nheavidaeocaminhardetodososmembrosdacomunidadeuniversitária,promovendoumencontropessoalecomprometi-docomJesusCristoemúltiplasiniciativassolidáriasemissio-nárias.Tambémsedeveprocurarumapresençapróximaedialo-gantecommembrosdeoutrasuniversidadespúblicasecentrosdeestudo.

344.Nasúltimasdécadas,observamosnaAméricaLatinaenoCaribeosurgimentodediversos InstitutosdeTeologiaePastoralorientadosparaaformaçãoeatualizaçãodeagentesdepastoral.Nessecaminho,tem-seconseguidocriarespaçosdediá-logo,discussãoebuscaderespostasadequadasaosenormesde-safiosenfrentadospelaevangelizaçãonoContinente.Aomesmotempo,temsidopossível formar inumeráveis líderesaserviçodasIgrejasparticulares.

345.Convidamosavalorizararicareflexãopós-conciliardaIgrejapresentenaAméricaLatinaenoCaribe,assimcomoare-flexãofilosófica,teológicaepastoraldenossasIgrejasedeseuscentrosdeformaçãoepesquisa,afimdefortalecernossapró-priaidentidade,desenvolveracriatividadepastoralepotencia-lizaroqueénosso.Énecessáriofomentaroestudoeapesquisateológicaepastoralfrenteaosdesafiosdanovarealidadesocial,plural,diferenciadaeglobalizada,procurandonovas respostasque dêem sustentação à fé e à experiência do discipulado dosagentes de pastoral. Sugerimos também maior utilização dosserviçosqueoferecemosinstitutosdeformaçãoteológicapas-toralexistentes,promovendoodiálogoentreelesedestinandomaisrecursoseesforçosconjuntosnaformaçãodeleigoseleigas.

346.EstaVConferênciaagradeceoinestimávelserviçoquediversasinstituiçõesdeeducaçãocatólicaprestamnapromoção

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humanaenaevangelizaçãodasnovasgerações,comosuacon-tribuiçãoparaaculturadenossospovos,eincentivaasdioceses,congregações religiosas e organizações de leigos católicos quemantêmescolas,universidades,institutosdeeducaçãosuperiore de capacitação não formal, a prosseguirem incansavelmenteemsuaabnegadaeinsubstituívelmissãoapostólica.

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tErCEIrAPArtE

AVIdAdEJESuSCrIStoPArAnoSSoSPoVoS

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347.“AIgrejaperegrinaémissionáriapornatureza,porquetemsuaorigemnamissãodoFilhoedoEspíritoSanto,segundoodesígniodoPai”.198Porisso,oimpulsomissionárioéfrutone-cessárioàvidaqueaTrindadecomunicaaosdiscípulos.

7.1ViverecomunicaravidanovaemCristoanossospovos

348.AgrandenovidadequeaIgrejaanunciaaomundoéque Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, a Palavra e aVida,veioaomundoparanosfazer“participantesdanaturezadivina”(2Pd1,4),paraqueparticipemosdesuaprópriavida.ÉavidatrinitáriadoPai,doFilhoedoEspíritoSanto,avidaeter-na.SuamissãoémanifestaroimensoamordoPai,oqualquerquesejamosseusfilhos.OanúnciodoquerigmaconvidaatomarconsciênciadesseamorvivificadordeDeusquenoséoferecidoemCristomortoeressuscitado.Issoéoqueporprimeironeces-sitamosanunciaretambémescutar,porqueagraçatemprima-doabsolutonavidacristãeemtodaaatividadeevangelizadoradaIgreja:“PelagraçadeDeussouoquesou”(1Cor15,10).

198AG2.

CapítuloVII

AMISSãodoSdISCÍPuLoSASErVIçodAVIdAPLEnA

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349.OchamadodeJesusnoEspíritoeoanúnciodaIgrejaapelam sempre à nossa acolhida, que a fé nos confia. “Aqueleque crê em mim tem a vida eterna”. O batismo não só purifi-cadospecados.Fazrenascerobatizado,conferindo-lheavidanovaemCristo,queoincorporaàcomunidadedosdiscípulosemissionáriosdeCristo,àIgreja,eofazfilhodeDeus,elheper-mitereconheceraCristocomoPrimogênitoeCabeçadetodaahumanidade.Serirmãosimplicaviverfraternalmenteesempreatentosàsnecessidadesdosmaisfracos.

350. Nossos povos não querem andar pelas sombras damorte. Têm sede de vida e felicidade em Cristo. Buscam-nocomo fonte de vida. Desejam essa vida nova em Deus, para aqualodiscípulodoSenhornascepelobatismoerenascepelosa-cramentodareconciliação.Procuramessavidaquesefortalece,quandoéconfirmadapeloEspíritodeJesusequandoodiscípulorenova,emcadacelebraçãoeucarística,suaaliançadeamoremCristo,comoPaiecomosirmãos.AcolhendoaPalavradevidaeternaealimentadospeloPãodescidodocéu,querviverapleni-tudedoamoreconduzirtodosaoencontrocomAquelequeéoCaminho,aVerdadeeaVida.

351.Noentanto,noexercíciodenossaliberdade,àsvezesrecusamosessavidanova(cf.Jo5,40)ounãoperseveramosnocaminho(cf.Hb3,12-14).Comopecado,optamosporumca-minhodemorte.Porisso,oanúnciodeJesussempreconvocaàconversão,quenosfazparticipardotriunfodoRessuscitadoeiniciaumcaminhodetransformação.

352. Dos que vivem em Cristo se espera um testemunhomuito crível de santidade e compromisso. Desejando e procu-randoessasantidadenãovivemosmenos,esimmelhor,porque,quandoDeuspedemais,éporqueestáoferecendomuitomais:“NãotenhammedodeCristo!Elenãotiranadaedátudo!”199

199BentoXVI,HomilianainauguraçãodoPontificado,24deabrilde2005.

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7.1.1 Jesus a serviço da vida

353.Jesus,oBomPastor,quercomunicar-nosasuavidaecolocar-seaserviçodavida.Vemoscomoeleseaproximadocegonocaminho(cf.Mc10,46-52),quandodignificaasamaritana(cf.Jo4,7-26),quandocuraosenfermos(cf.Mt11,2-6),quandoali-mentaopovofaminto(cf.Mc6,30-44),quandolibertaosende-moninhados(cf.Mc5,1-20).EmseuReinodevida,Jesusincluiatodos:comeebebecomospecadores(cf.Mc2,16),semseim-portarqueotratemcomocomilãoebêbado(cf.Mt11,19);tocacomasmãososleprosos(cf.Lc5,13),deixaqueumaprostitutalheunjaospés(cf.Lc7,36-50)e,denoite,recebeNicodemosparaconvidá-loanascerdenovo(cf.Jo3,1-15).Igualmente,convidaseusdiscípulosàreconciliação(cf.Mt5,24),aoamorpelosinimi-gos(cf.Mt5,44)eaoptarempelosmaispobres(cf.Lc14,15-24).

354.EmsuaPalavraeemtodosossacramentos,Jesusnosofereceumalimentoparaocaminho.AEucaristiaéocentrovitaldouniverso,capazdesaciarafomedevidaefelicidade:“Aquelequesealimentademim,viverápormim”(Jo6,57).Nesseban-quetefelizparticipamosdavidaeternae,assim,nossaexistên-ciacotidianaseconverteemMissaprolongada.Porém,todososdonsdeDeusrequeremdisposiçãoadequadaparaquepossamproduzirfrutosdemudança.Especialmente,exigemdenósespí-ritocomunitário,queabramososolhosparareconhecê-loeser-vi-lonosmaispobres:“NomaishumildeencontramosopróprioJesus”.200Porisso,SãoJoãoCrisóstomoexortava:“QuerememverdadehonrarocorpodeCristo?Nãoconsintamqueestejanu.Nãoohonremnotemplocommantosdesedaenquantoforaodeixampassarfrioenudez”.201

7.1.2 Várias dimensões da vida em Cristo

355.JesusCristoéaplenitudequeelevaacondiçãohuma-naàcondiçãodivinaparasuaglória:“Euvimparadarvidaaos

200DCE15.201SãoJoãoCrisóstomo,Homilias sobre São Mateus,L,3-4:PG58,508-509.

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homenseparaqueatenhamemplenitude”(Jo10,10).Suaami-zadenãonosexigequerenunciemosanossosdesejosdepleni-tudevital,porqueEleamanossafelicidadetambémnestaterra.DizoSenhorqueEletudocriou“paraquedetudodesfrutemos”(1Tm6,17).

356.AvidanovadeJesusCristoatingeoserhumanoporinteiroedesenvolveemplenitudeaexistênciahumana“emsuadimensão pessoal, familiar, social e cultural”.202 Para isso, fazfaltaentraremprocessodemudançaquetransfigureosváriosaspectos da própria vida. Só assim será possível perceber queJesusCristoénossosalvadoremtodosossentidosdapalavra.SóassimmanifestaremosqueavidaemCristocura,fortaleceehumaniza.Porque“EleéoVivente,quecaminhaanossolado,manifestando-nos o sentido dos acontecimentos, da dor e damorte,daalegriaedafesta”.203AvidaemCristoincluiaalegriadecomerjuntos,oentusiasmoparaprogredir,ogostodetraba-lharedeaprender,aalegriadeserviraquemnecessitedenós,ocontatocomanatureza,oentusiasmodosprojetoscomunitá-rios,oprazerdeumasexualidadevividasegundooEvangelho,etodasascoisascomasquaisoPainospresenteiacomosinaisdeseusinceroamor.PodemosencontraroSenhoremmeioàsalegriasdenossalimitadaexistênciae,dessaforma,brotaumagratidãosincera.

357. Mas o consumismo hedonista e individualista, quecolocaavidahumanaemfunçãodeumprazerimediatoesemlimites, obscurece o sentido da vida e a degrada. A vitalidadequeCristooferecenosconvidaaampliarnossoshorizonteseareconhecerqueabraçandoacruzcotidianaentramosnasdimen-sõesmaisprofundasdaexistência.OSenhor,quenosconvidaavalorizarascoisaseaprogredir,tambémnosprevinesobreaob-sessãoporacumular:“Nãoamontoemtesourosnestaterra”(Mt6,19).“Dequeserveaohomemganharomundo,masperdera

202 DI4.

203Ibid.

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1�5VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

própriavida?”(Mt16,26).JesusCristonosoferecemuito,inclu-sivemuitomaisdoqueesperamos.ÀSamaritana,eledámaisdoqueaáguadopoço.Àmultidãofamintaeleoferecemaisdoqueoalíviodafome.Entrega-seasimesmocomoavidaemabun-dância.AvidanovaemCristoéparticipaçãonavidadeamordoDeusUnoeTrino.Começanobatismoechegaàsuaplenitudenaressurreiçãofinal.

7.1.3 A serviço da vida plena para todos

358.Porém,ascondiçõesdevidademuitosabandonados,excluídoseignoradosemsuamisériaedor,contradizemaesseprojetodoPaiedesafiamoscristãosamaiorcompromissoafa-vordaculturadavida.OReinodevidaqueCristoveiotrazeréincompatívelcomessassituaçõesdesumanas.Sepretendemosfecharosolhosdiantedessasrealidades,nãosomosdefensoresdavidadoReinoenossituamosnocaminhodamorte:“Nóssabemosquepassamosdamorteparaavidaporqueamamosos irmãos. Aquele que não ama, permanece na morte” (1 Jo3,14). É necessário sublinhar “a inseparável relação entre oamoraDeuseoamoraopróximo”,204que“convidatodosasu-primirasgravesdesigualdadessociaiseasenormesdiferençasno acesso aos bens”.205 Tanto a preocupação por desenvolverestruturasmais justascomoportransmitirosvaloressociaisdoEvangelho,situam-senestecontextodeserviçofraternoàvidadigna.

359.Descobrimos,dessaforma,umaprofundaleidareali-dade:avidasósedesenvolveplenamentenacomunhãofraternae justa. Porque “Deus em Cristo não redime só a pessoa indi-vidual, mas também as relações sociais entres os seres huma-nos”.206Diantedediversassituaçõesquemanifestamarupturaentreirmãos,compele-nosqueafécatólicadenossospovosla-tino-americanosecaribenhossemanifesteemvidamaisdigna

204DCE16.205DI4.206CDSI52.

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paratodos.OricomagistériosocialdaIgrejanosindicaquenãopodemosconceberumaofertadevidaemCristosemumdina-mismodelibertaçãointegral,dehumanização,dereconciliaçãoedeinserçãosocial.

7.1.4 Uma missão para comunicar vida

360.Avidaseacrescentadando-a,eseenfraquecenoisola-mentoenacomodidade.Defato,osquemaisdesfrutamdavidasãoosquedeixamdamargemasegurançaeseapaixonampelamissãodecomunicarvidaaosdemais.OEvangelhonosajudaadescobrirqueocuidadoenfermiçodaprópriavidadepõecontraaqualidadehumanaecristãdessamesmavida.Vive-semuitomelhor quando temos liberdade interior para doá-la: “Quemapreciasuavidaterrena,aperderá”(Jo12,25).Aquidescobri-mos outra profunda lei da realidade: “Que a vida se alcança eamadureceàmedidaqueéentregueparadarvidaaosoutros.Issoé,definitivamente,amissão.

361. O projeto de Jesus é instaurar o Reino de seu Pai.Porisso,pedeaseusdiscípulos:“Proclamemqueestáchegan-do o Reino dos céus!” (Mt 10,7). Trata-se do Reino da vida.PorqueapropostadeJesusCristoanossospovos,oconteúdofundamentaldessamissão,éaofertadevidaplenaparatodos.Por isso, a doutrina, as normas, as orientações éticas e todaa atividade missionária das Igrejas, deve deixar transpareceressaatrativaofertadevidamaisdigna,emCristo,paracadahomemeparacadamulherdaAméricaLatinaedoCaribe.

362.AssumimosocompromissodeumagrandemissãoemtodooContinente,quedenósexigiráaprofundareenriquecertodasasrazõesemotivaçõesquepermitamconvertercadacris-tão em discípulo missionário. Necessitamos desenvolver a di-mensãomissionáriadavidadeCristo.AIgrejanecessitadefortecomoçãoqueaimpeçadeseinstalarnacomodidade,noestan-camentoenaindiferença,àmargemdosofrimentodospobresdo Continente. Necessitamos que cada comunidade cristã se

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1�7VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

transformenumpoderosocentrodeirradiaçãodavidaemCris-to.EsperamosemnovoPentecostesquenoslivredocansaço,dadesilusão, da acomodação ao ambiente; esperamos uma vindadoEspíritoquerenovenossaalegriaenossaesperança.Porisso,éimperiosoassegurarcalorososespaçosdeoraçãocomunitáriaquealimentemofogodeumardorincontidoetornempossívelumatraentetestemunhodeunidade“paraqueomundocreia”(Jo17,21).

363. A força desse anúncio de vida será fecundo se o fi-zermoscomestiloadequado,comasatitudesdoMestre,ten-dosempreaEucaristia comofontee cumede todaatividademissionária. Invocamos o Espírito Santo para podermos darotestemunhodeproximidadequeentranhaproximidadeafe-tuosa, escuta, humildade, solidariedade, compaixão, diálogo,reconciliação, compromisso com a justiça social e capacidadedecompartilhar,comoJesusofez.Elecontinuaconvocando,continua convidando, continua oferecendo incessantementevidadignaeplenapara todos.Nóssomosagora,naAméricaLatinaenoCaribe,seusdiscípulosediscípulas,chamadosana-vegarmaradentroparaumapescaabundante.Trata-sedesairdenossaconsciênciaisoladaedenoslançarmos,comousadiaeconfiança(parrésia),àmissãodetodaaIgreja.

364. Fixamos o olhar em Maria e reconhecemos nela aimagemperfeitadadiscípulamissionária.Elanosexortaafa-zeroqueJesusnosdiz(cf.Jo2,5)paraqueElepossaderramarsuavidanaAméricaLatinaenoCaribe.Juntocomela,quere-mos estar atentos uma vez mais à escuta do Mestre, e ao re-dordela,voltarmosarecebercomestremecimentoomandatomissionáriodeseuFilho:“Vão e façam discípulos todos os povos”(Mt28,19).EscutamosJesuscomocomunidadedediscípulosmissionários que experimentaram o encontro vivo com Ele equeremoscompartilhartodososdiascomosdemaisessaale-griaincomparável.

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7.2Conversãopastoralerenovaçãomissionáriadascomunidades

365.Estafirmedecisãomissionáriadeveimpregnarto-dasasestruturaseclesiaisetodososplanospastoraisdedio-ceses, paróquias, comunidades religiosas, movimentos e dequalquer instituição da Igreja. Nenhuma comunidade deveisentar-sedeentrardecididamente,comtodasasforças,nosprocessosconstantesderenovaçãomissionáriaedeabando-narasultrapassadasestruturasquejánãofavoreçamatrans-missãodafé.

366.Aconversãopessoaldespertaacapacidadedesubme-tertudoaoserviçodainstauraçãodoReinodavida.Osbispos,presbíteros,diáconospermanentes,consagradoseconsagradas,leigoseleigas,sãochamadosaassumiratitudedepermanenteconversãopastoral,queimplicaescutarcomatençãoediscernir“oqueoEspíritoestádizendoàsIgrejas”(Ap2,29)atravésdossinaisdostemposemqueDeussemanifesta.

367.ApastoraldaIgrejanãopodeprescindirdocontextohistóricoondevivemseusmembros.Suavidaaconteceemcon-textossócio-culturaisbemconcretos.Essastransformaçõesso-ciaiseculturaisrepresentamnaturalmentenovosdesafiosparaaIgrejaemsuamissãodeconstruiroReinodeDeus.Daínasce,nafidelidadeaoEspíritoSantoqueaconduz,anecessidadedeumarenovaçãoeclesialqueimplicareformasespirituais,pasto-raisetambéminstitucionais.

368.Aconversãodospastores leva-nostambémaviverepromover uma espiritualidade de comunhão e participação,“propondo-acomoprincípioeducativoemtodososlugaresondeseformaohomemeocristão,ondeseeducamosministrosdoaltar, as pessoas consagradas e os agentes pastorais, onde seconstroemasfamíliaseascomunidades”.207Aconversãopasto-ralrequerqueascomunidadeseclesiaissejamcomunidadesde

207NMI43.

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discípulosmissionáriosaoredordeJesusCristo,MestreePas-tor.Daínasceaatitudedeabertura,diálogoedisponibilidadepara promover a co-responsabilidade e participação efetiva detodososfiéisnavidadascomunidadescristãs.Hoje,maisdoquenunca,otestemunhodecomunhãoeclesialedesantidadesãoumaurgênciapastoral.Aprogramaçãopastoralhádeseinspirarnomandamentonovodoamor(cfJo13,35).208

369. Encontramos o modelo paradigmático dessa reno-vação comunitária nas primitivas comunidades cristãs (cf. At2,42-47),quesouberambuscarnovas formasparaevangelizardeacordocomasculturaseascircunstâncias.Aomesmotem-po,motiva-nosaeclesiologiadecomunhãodoConcílioVaticanoII,ocaminhosinodalnopós-concílioeasConferênciasGeraisanterioresdoEpiscopadoLatino-americanoedoCaribe.ComoJesusnosgarante,nãoesqueçamosque“ondeestiveremdoisoutrês reunidosemmeunome,aí estareieunomeiodeles” (Mt18,20).

370. A conversão pastoral de nossas comunidades exigequeseváalémdeumapastoraldemeraconservaçãoparaumapastoral decididamente missionária. Assim será possível que“o único programa do Evangelho continue introduzindo-se nahistóriadecadacomunidadeeclesial”209comnovoardormissio-nário,fazendocomqueaIgrejasemanifestecomomãequevaiaoencontro,umacasaacolhedora,umaescolapermanentedecomunhãomissionária.

371.OprojetopastoraldaDiocese,caminhodepastoralor-gânica,deveserrespostaconscienteeeficazparaatenderàsexi-gênciasdomundodehojecom“indicaçõesprogramáticascon-cretas,objetivosemétodosdetrabalho,formaçãoevalorizaçãodosagenteseaprocuradosmeiosnecessáriosquepermitamqueoanúnciodeCristochegueàspessoas,modeleascomunidades

208Cf.NMI20.209Ibid.12.

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e incidaprofundamentenasociedadeenaculturamedianteotestemunhodosvaloresevangélicos”.210Osleigosdevempartici-pardodiscernimento,datomadadedecisões,doplanejamentoedaexecução.211Esseprojetodiocesanoexigeacompanhamentoconstanteporpartedobispo,dossacerdotesedosagentespas-torais,comatitudeflexívelquelhespermitamanter-seatentosàsexigênciasdarealidadesempremutável.

372.Levandoemconsideraçãoasdimensõesdenossaspa-róquias, é aconselhável a setorização em unidades territoriaismenores,comequipesprópriasdeanimaçãoecoordenaçãoquepermitammaiorproximidadecomaspessoasegruposquevi-vemnaregião.Érecomendávelqueosagentesmissionáriospro-movamacriaçãodecomunidadesdefamíliasquefomentemacolocaçãoemcomumdesuafécristãedasrespostasaosproble-mas.Reconhecemoscomofenômenoimportantedenossotem-pooaparecimentoedifusãodediversasformasdevoluntariadomissionário que se ocupam de uma pluralidade de serviços. AIgrejaapóiaasredeseprogramasdevoluntariadonacionalein-ternacional,quesurgiramemmuitospaíses,naesferadasorga-nizaçõesdasociedadecivil,paraobemdosmaispobresdenossocontinente,àluzdosprincípiosdedignidade,subsidiariedadeesolidariedade,emconformidadecomaDoutrinaSocialdaIgre-ja.Nãosetratasódeestratégiasparaprocurarêxitospastorais,masdafidelidadenaimitaçãodoMestre,semprepróximo,aces-sível, disponível a todos, desejoso de comunicar vida em cadaregiãodaterra.

7.3.nossocompromissocomamissão ad gentes

373.ConscienteseagradecidosporqueoPaiamoutantoaomundoqueenviouseuFilhoparasalvá-lo(cf.Jo3,16),quere-mossercontinuadoresdesuamissão,vistoqueessaéarazãodeserdaIgrejaequedefinesuaidentidademaisprofunda.

210Ibid.29.211CfChL51.

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171VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

374.Comodiscípulosmissionários,queremosqueainfluên-ciadeCristochegueatéaosconfinsdaterra.Descobrimosapre-sença do Espírito Santo em terras de missão mediante sinais:

a) ApresençadosvaloresdoReinodeDeusnasculturas,re-criando-asapartirdedentroparatransformarassitua-çõesanti-evangélicas.

b) Os esforços de homens e mulheres que encontram emsuascrençasreligiosasoimpulsoparaseucompromissohistórico.

c) Onascimentodacomunidadeeclesial.

d) OtestemunhodepessoasecomunidadesqueanunciamJesusCristocomasantidadedesuasvidas.

375.SuaSantidadeBentoXVIconfirmouqueamissãoad gentesseabreanovasdimensões:“OcampodaMissãoad gentessetemampliadonotavelmenteenãoépossíveldefini-lobaseando-seapenasemconsideraçõesgeográficasoujurídicas.Naverdade,osverdadeirosdestinatáriosdaatividademissionáriadopovodeDeusnãosãosóospovosnãocristãosedasterrasdistantes,mastambémoscampossócio-culturais,esobretudooscorações”.212

376.Aomesmotempo,omundoesperadenossaIgrejala-tino-americanaecaribenhaumcompromissomaissignificativocomamissãouniversalemtodososContinentes.Paranãocair-mosnaarmadilhadenosfecharemnósmesmos,devemosfor-mar-noscomodiscípulosmissionáriossemfronteiras,dispostosair“àoutramargem”,àquelaondeCristoaindanãoéreconheci-docomoDeuseSenhor,eaIgrejanãoestápresente.213

377. Os discípulos, que por essência são também missio-náriosemvirtudedoBatismoedaConfirmação,nosformamos

212 BentoXVI,DiscursoaosmembrosdoConselhoSuperiordasPontifíciasObrasMis-

sionárias,5demaiode2007.213

Cf.AG6.

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172 CELAM

comcoraçãouniversal,abertoa todasasculturasea todasasverdades,cultivandonossacapacidadedecontatohumanoediá-logo.Estamosdispostos,comacoragemqueoEspíritonosdá,aanunciarCristo,ondenãoéaceito,comnossavida,comnossaação,comnossaprofissãodeféecomsuaPalavra.Osemigrantessãoigualmentediscípulosemissionários,esãochamadosasernovasementedeevangelização,aexemplodetantosemigrantesemissionáriosquetrouxeramafécristãànossaAmérica.

378.QueremosestimularasIgrejaslocaisaqueapóiemeorganizemoscentrosmissionáriosnacionaiseatuememestrei-ta colaboraçãocomasPontifíciasObrasMissionáriaseoutrasinstâncias eclesiais cooperantes, cuja importância e dinamis-moparaaanimaçãoeacooperaçãomissionáriareconhecemose agradecemos de coração. Por ocasião dos cinqüenta anos daencíclica Fidei Donum, agradecemos a Deus os missionários emissionáriasquevieramaoContinenteeaquelesquehojeestãopresentes nele, dando testemunho do espírito missionário desuasIgrejaslocaisaoseremenviadosporelas.

379.NossodesejoéqueestaVConferênciasejaestímuloparaquemuitosdiscípulosdenossasIgrejasvãoeevangelizemna“outramargem”.Afésefortalecequandoétransmitidaeéprecisoqueemnossocontinenteentremosemnovaprimaveradamissãoad gentes.SomosIgrejaspobres,mas“devemosdarapartirdenossapobrezaeapartirdaalegriadenossafé”,214 eissosemdescarregarsobrealgunspoucosenviadosocompromissoqueédetodaacomunidadecristã.Nossacapacidadedecompar-tilharnossosdonsespirituais,humanosemateriaiscomoutrasIgrejas,confirmaráaautenticidadedenossanovaaberturamis-sionária.Porisso,estimulamosaparticipaçãonacelebraçãodoscongressosmissionários.

214DP368.

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380.AmissãodoanúnciodaBoaNovadeJesusCristotemdestinação universal. Seu mandato de caridade alcança todasasdimensõesdaexistência,todasaspessoas,todososambien-tesdaconvivênciaetodosospovos.Nadadohumanopodelheparecer estranho. A Igreja sabe, por revelação de Deus e pelaexperiênciahumanadafé,queJesusCristoéarespostatotal,superabundante e satisfatória às perguntas humanas sobre averdade,osentidodavidaedarealidade,afelicidade,ajustiçaeabeleza.Sãoasinquietaçõesqueestãoarraigadasnocoraçãodetodapessoaequepulsamnomaishumanodaculturadospovos.Porisso,todosinalautênticodeverdade,bemebelezanaaven-turahumanavemdeDeuseclamaporDeus.

381. Procurando trazer para perto a vida de Jesus Cristocomorespostaaosdesejosdenossospovos,destacamosaseguiralgunsgrandescampos,prioridadesetarefasparaamissãodosdiscípulosdeJesusCristonohojedaAméricaLatinaedoCaribe.

�.1reinodedeus,justiçasocialecaridadecristã

382. “Oprazosecumpriu.OReinodeDeusestáchegan-do.Convertam-seecreiamnoEvangelho”(Mc1,15).Avozdo

CapítuloVIII

rEInodEdEuSEProMoçãodAdIGnIdAdEHuMAnA

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174 CELAM

Senhor continua a nos chamar como discípulos missionáriosenosdesafiaaorientartodaanossavidaapartirdarealidadetransformadoradoReinodeDeusquesefazpresenteemJesus.Acolhemoscommuitaalegriaessaboanotícia.DeusamoréPaidetodososhomensemulheresdetodosospovoseraças.JesusCristoéoReinodeDeusqueprocurademonstrartodaasuaforçatransformadoraemnossaIgrejaeemnossassociedades.NEle,Deusnosescolheuparaquesejamosseusfilhoscomamesmaorigemedestino,comamesmadignidade,comosmesmosdi-reitosedeveresvividosnomandamentosupremodoamor.OEspíritocolocouessegermedoReinoemnossoBatismoeofazcrescerpelagraçadaconversãopermanentegraçasàPalavradeDeuseaossacramentos.

383.SãosinaisevidentesdapresençadeDeus:avivênciapessoal e comunitária das bem-aventuranças, a evangelizaçãodospobres,oconhecimentoecumprimentodavontadedoPai,omartíriopelafé,oacessodetodosaosbensdacriação,oper-dãomútuo,sinceroefraterno,aceitandoerespeitandoariquezadapluralidadeealutaparanãosucumbiràtentaçãoenãoserescravosdomal.

384.OfatodeserdiscípulosemissionáriosdeJesusCris-toparaquenossospovostenhamvidanEle,leva-nosaassumirevangelicamente,eapartirdaperspectivadoReino,astarefasprioritáriasquecontribuemparaadignificaçãodoserhumanoeatrabalharjuntocomosdemaiscidadãoseinstituiçõesparaobemdoserhumano.Oamordemisericórdiaparacomtodososquevêemvulneradasuavidaemqualquerdesuasdimensões,comobemnosmostraoSenhoremtodososseusgestosdemi-sericórdia, requer que socorramos as necessidades urgentes,aomesmotempoquecolaboremoscomoutrosorganismosouinstituiçõesparaorganizarestruturasmaisjustasnosâmbitosnacionaiseinternacionais.Éurgentecriarestruturasquecon-solidemumaordemsocial,econômicaepolíticanaqualnãohajainiqüidade e onde haja possibilidades para todos. Igualmente,

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175VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

requerem-se novas estruturas que promovam uma autênticaconvivência humana, que impeçam a prepotência de alguns equefacilitemodiálogoconstrutivoparaosnecessáriosconsen-sossociais.

385.Amisericórdiasempreseránecessária,masnãodevecontribuirparacriarcírculosviciososquesejamfuncionaisparaumsistemaeconômicoiníquo.Requer-sequeasobrasdemise-ricórdiasejamacompanhadaspelabuscadeverdadeirajustiçasocial,queváelevandooníveldevidadoscidadãos,promoven-do-oscomosujeitosdeseuprópriodesenvolvimento.EmsuaEncíclicaDeus Caritas est,oPapaBentoXVItratoucomclare-zainspiradoraacomplexarelaçãoentrejustiçaecaridade.Aínosdisseque“aordemjustadasociedadeedoEstadoétarefaprincipaldapolítica”enãodaIgreja.Masa Igreja“nãopodenemdevecolocar-seàmargemnalutapelajustiça”.215Elaco-laborapurificandoarazãodetodososelementosqueofuscameimpedemarealizaçãodeumalibertaçãointegral.TambémétarefadaIgrejaajudarcomapregação,acatequese,adenúnciaeotestemunhodoamoredajustiça,paraquesedespertemnasociedade as forças espirituais necessárias e se desenvolvamosvaloressociais.Sóassimasestruturasserãorealmentemaisjustas,poderãosermaiseficazesesustentar-senotempo.Semvaloresnãoháfuturo,enãohaveráestruturassalvadoras,vis-toquenelassempresubjazafragilidadehumana.

386.AIgrejatemcomomissãoprópriaeespecíficacomu-nicar a vida de Jesus Cristo a todas as pessoas, anunciando aPalavra,administrandoossacramentosepraticandoacaridade.Éoportunorecordarqueoamorsemostramaisnasobrasdoquenaspalavras,eissovaletambémparanossaspalavrasnestaVConferência.“NemtodoaquelequedizSenhor,Senhor...”(cf.Mt7,21).OsdiscípulosmissionáriosdeJesusCristotemosata-refaprioritáriadedartestemunhodoamoraDeuseaopróximo

215DCE28.

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17� CELAM

comobrasconcretas.DiziaSantoAlbertoHurtado:“Emnossasobras,nossopovosabequecompreendemossuador”.

�.2Adignidadehumana

387. A cultura atual tende a propor estilos de ser e vivercontráriosànaturezaedignidadedoserhumano.Oimpactodo-minantedosídolosdopoder,dariquezaedoprazerefêmerosetransformaram, acima do valor da pessoa, em norma máximadefuncionamentoeemcritériodecisivonaorganizaçãosocial.Diantedessarealidade,anunciamos,umavezmais,ovalorsu-premodecadahomemedecadamulher.Naverdade,oCriador,aocolocaraserviçodoserhumanotudooquefoicriado,mani-festaadignidadedapessoahumanaeconvidaarespeitá-la(cf.Gn1,26-30).

388.Proclamamosquetodoserhumanoexistepuraesim-plesmentepeloamordeDeusqueocriou,epeloamordeDeusqueoconservaemcadainstante.Acriaçãodohomemedamu-lheràsuaimagemesemelhançaéumacontecimentodivinodevida,esuafonteéoamorfieldoSenhor.Porconseguinte,sóoSenhoréoautoreodonodavida,eoserhumano,suaimagemvivente, é sempre sagrado, desde sua concepção, em todas asetapasdaexistência,atésuamortenaturaledepoisdamorte.Oolharcristãosobreoserhumanopermiteperceberseuvalorque transcende todo o universo: “Deus nos mostrou de modoinsuperávelcomoamacadahomem,ecomissolheconfereumadignidadeinfinita”.216

389. Nossa missão, para que nossos povos tenham vidanEle,manifestanossaconvicçãodequeosentido,afecundidadeeadignidadedavidahumanaseencontranoDeusvivoreveladoemJesus.ÉurgenteatarefadeentregaranossospovosavidaplenaefelizqueJesusnostraz,paraquecadapessoahumanavivadeacordocomadignidadequeDeuslhedeu.Fazemosisso

216JoãoPauloII,Mensagem aos deficientes, Ângelus,16denovembrode1980.

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177VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

comaconsciênciadequeessadignidadealcançarásuaplenitudequandoDeusfortudoemtodos.EleéoSenhordavidaedahis-tória,vencedordomistériodomaleacontecimentosalvíficoquenosfazcapazesdeemitirumjuízoverdadeirosobrearealidade,quesalvaguardeadignidadedaspessoasedospovos.

390.NossafidelidadeaoEvangelhoexigequeproclamemosaverdadesobreoserhumanoesobreadignidadedetodapes-soahumana,emtodososespaçospúblicoseprivadosdomundodehojeeapartirdetodasasinstânciasdavidaedamissãodaIgreja.

�.3Aopçãopreferencialpelospobreseexcluídos

391.Dentrodessaamplapreocupaçãopeladignidadehu-mana, situa-se nossa angústia pelos milhões de latino-ameri-canose latino-americanasquenãopodem levarumavidaquecorrespondaaessadignidade.AopçãopreferencialpelospobreséumadaspeculiaridadesquemarcaafisionomiadaIgrejalati-no-americanaecaribenha.Defato,JoãoPauloII,dirigindo-seanossocontinente,sustentouque“converter-seaoEvangelho,paraopovocristãoquevivenaAmérica,significarevisartodososambientesedimensõesdesuavida,especialmentetudooquepertenceàordemsocialeàobtençãodobemcomum”.217

392.Nossaféproclamaque“JesusCristoéorostohumanodeDeuseorostodivinodohomem”.218Porisso,“aopçãopre-ferencialpelospobresestá implícitana fécristológicanaqueleDeusquesefezpobrepornós,paranosenriquecercomsuapo-breza”.219EssaopçãonascedenossaféemJesusCristo,oDeusfeitohomem,quesefeznossoirmão(cf.Hb2,11-12).Opção,noentanto,nãoexclusiva,nemexcludente.

217EAm27.218Ibid.67.219DI3.

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17� CELAM

393.Seessaopçãoestáimplícitanafécristológica,oscris-tãos,comodiscípulosemissionários,sãochamadosacontem-plar,nosrostossofredoresdenossosirmãos,orostodeCristoque nos chama a servi-lo neles: “Os rostos sofredores dos po-bressãorostossofredoresdeCristo”.220ElesdesafiamonúcleodotrabalhodaIgreja,dapastoraledenossasatitudescristãs.TudooquetenharelaçãocomCristotemrelaçãocomospobres,e tudo o que está relacionado com os pobres clama por JesusCristo: “Tudo quanto vocês fizeram a um destes meus irmãosmenores,ofizeramamim”(Mt25,40).JoãoPauloIIdestacouqueestetextobíblico“iluminaomistériodeCristo”.221PorqueemCristoograndesefezpequeno,ofortesefezfraco,oricosefezpobre.

394.DenossaféemCristonascetambémasolidariedadecomoatitudepermanentedeencontro,irmandadeeserviço.Elahádesemanifestaremopçõesegestosvisíveis,principalmentenadefesadavidaedosdireitosdosmaisvulneráveiseexcluídos,enopermanenteacompanhamentoemseusesforçosporseremsujeitosdemudançaedetransformaçãodesuasituação.Oser-viçodecaridadedaIgrejaentreospobres“éumcampodeativi-dadequecaracterizademaneiradecisivaavidacristã,oestiloeclesialeaprogramaçãopastoral”.222

395.OSantoPadrenosrecordaqueaIgrejaestáconvocadaaser“advogadadajustiçaedefensoradospobres”223diantedas“intoleráveis desigualdades sociais e econômicas”,224 que “cla-mam ao céu”.225 Temos muito que oferecer, visto que “não hádúvidadequeaDoutrinaSocialdaIgrejaécapazdedespertaresperançaemmeioàssituaçõesmaisdifíceis,porque,senãoháesperançaparaospobres,nãohaveráparaninguém,nemsequer

220SD178.221NMI49.222Ibid.223DI4.224TMA51.225EAm56a.

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179VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

para os chamados ricos”.226 A opção preferencial pelos pobresexige que prestemos especial atenção aos profissionais católi-cosquesãoresponsáveispelasfinançasdasnações,aosquefo-mentamoemprego,aospolíticosquedevemcriarascondiçõesparaodesenvolvimentoeconômicodospaíses,afimdelhesdarorientaçõeséticascoerentescomsuafé.

396.Comprometemo-nosatrabalharparaqueanossaIgre-ja Latino-americana e Caribenha continue sendo, com maiorafinco,companheiradecaminhodenossosirmãosmaispobres,inclusiveatéomartírio.HojequeremosratificarepotencializaraopçãopreferencialpelospobresfeitanasConferênciasanterio-res.227Quesejapreferencialimplicaquedevaatravessartodasasnossasestruturaseprioridadespastorais.AIgrejalatino-ameri-canaéchamadaasersacramentodeamor,solidariedadeejusti-çaentrenossospovos.

397. Nesta época, costuma acontecer que defendemos deformademasiadanossosespaçosdeprivacidadee lazer,enosdeixamos contagiar facilmente pelo consumismo individualis-ta.Porisso,nossaopçãopelospobrescorreoriscodeficaremplanoteóricooumeramenteemotivo,semverdadeiraincidênciaemnossoscomportamentoseemnossasdecisões.Énecessáriaumaatitudepermanentequesemanifesteemopçõesegestosconcretos,228eevitetodaatitudepaternalista.Solicita-sededi-carmostempoaospobres,prestaraelesamávelatenção,escutá-loscominteresse,acompanhá-losnosmomentosdifíceis,esco-lhê-losparacompartilharhoras,semanasouanosdenossavida,eprocurando,apartirdeles,a transformaçãodesuasituação.NãopodemosesquecerqueopróprioJesuspropôsissocomseumododeagirecomsuaspalavras:“Quandoderesumbanquete,convidaospobres,osinválidos,oscoxoseoscegos”(Lc14,13).

226 PG67.

227Medellin14,4-11;DP1134-1165;SD178-181.228DCE28.31.

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1�0 CELAM

398. Só a proximidade que nos faz amigos nos permiteapreciarprofundamenteosvaloresdospobresdehoje,seusle-gítimosdesejoseseumodoprópriodeviverafé.Aopçãopelospobresdeveconduzir-nosàamizadecomospobres.Diaadiaospobresse fazemsujeitosdaevangelizaçãoedapromoçãohu-manaintegral:educamseusfilhosnafé,vivemconstantesoli-dariedadeentreparentesevizinhos,procuramconstantementeaDeusedãovidaaoperegrinardaIgreja.ÀluzdoEvangelhoreconhecemos sua imensa dignidade e seu valor sagrado aosolhosdeCristo,pobrecomoeleseexcluídocomoeles.Apartirdessa experiência cristã, compartilharemos com eles a defesadeseusdireitos.

�.4umarenovadapastoralsocialparaapromoçãohumanaintegral

399.Assumindocomnovaforçaessaopçãopelospobres,manifestamosquetodoprocessoevangelizadorenvolveapro-moçãohumanaeaautênticalibertação“semaqualnãoépossí-velumaordemjustanasociedade”.229Entendemos,alémdisso,queaverdadeirapromoçãohumananãopode reduzir-seaas-pectosparticulares:“Deveserintegral,istoé,promovertodososhomenseohomemtodo”,230apartirdavidanovaemCristoquetransformaapessoadetalmaneiraque“afazsujeitodeseupró-prio desenvolvimento”.231 Para a Igreja, o serviço da caridade,assimcomooanúnciodaPalavraeacelebraçãodossacramen-tos,“éexpressãoirrenunciáveldaprópriaessência”.232

400. Portanto, a partir de nossa condição de discípulos emissionários,queremosestimularoEvangelhodavidaedasoli-dariedadeemnossosplanospastorais,àluzdaDoutrinaSocialdaIgreja.Alémdisso,promovercaminhoseclesiaismaisefeti-vos, comapreparação e compromisso dos leigospara intervir

229DI3.230GS76.231PP15.232DCE25.

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1�1VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

nosassuntossociais.AspalavrasdeJoãoPauloIInosenchemdeesperança:“Aindaqueimperfeitoeprovisório,nadadoquesepossarealizarmedianteoesforçosolidáriodetodoseagraçadivinaemdadomomentodahistória,parafazermaishumanaavidadoshomens,nadaseperderáouseráinútil”.233

401. As Conferências Episcopais e as igrejas locais têm amissão de promover renovados esforços para fortalecer umaPastoralSocialestruturada,orgânicae integralque, comaas-sistência e a promoção humana,234 se faça presente nas novasrealidadesdeexclusãoemarginalizaçãoemquevivemosgruposmais vulneráveis, onde a vida está mais ameaçada. No centrodesseagirestácadapessoa,queéacolhidaeservidacomcordia-lidadecristã.Nessaatividadeafavordavidadenossospovos,aIgrejacatólicaapóiaacolaboraçãomútuacomoutrascomuni-dadescristãs.

402. A globalização faz emergir, em nossos povos, novosrostospobres.ComespecialatençãoeemcontinuidadecomasConferênciasGeraisanteriores,fixamosnossoolharnosrostosdos novos excluídos: os migrantes, as vítimas da violência, osdeslocadoserefugiados,asvítimasdotráficodepessoasese-qüestros,osdesaparecidos,osenfermosdeHIVedeenfermida-desendêmicas,ostóxico-dependentes,idosos,meninosemeni-nasquesãovítimasdaprostituição,pornografiaeviolênciaoudotrabalhoinfantil,mulheresmaltratadas,vítimasdaexclusãoedotráficoparaaexploraçãosexual,pessoascomcapacidadesdiferentes, grandes grupos de desempregados/as, os excluídospeloanalfabetismotecnológico,aspessoasquevivemnaruadasgrandes cidades, os indígenas e afro-americanos, agricultoressemterraeosmineiros.AIgreja,comsuaPastoralSocial,devedaracolhidaeacompanharessaspessoasexcluídasnasrespec-tivasesferas.

233SRS47.234EA58.

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1�2 CELAM

403. Nessa tarefa e com criatividade pastoral, devem-seelaborar ações concretas que tenham incidência nos Estadosparaaaprovaçãodepolíticassociaiseeconômicasqueatendamàsváriasnecessidadesdapopulaçãoequeconduzamparaumdesenvolvimentosustentável.Comajudadediferentes instân-ciaseorganizações,aIgrejapodefazerpermanenteleituracristãeaproximaçãopastoralà realidadedenossocontinente,apro-veitando o rico patrimônio da Doutrina Social da Igreja. Des-samaneira,teráelementosconcretosparaexigirdosquetêmaresponsabilidadedeelaborareaprovaraspolíticasqueafetamnossospovos,queofaçamapartirdeumaperspectivaética,so-lidáriaeautenticamentehumanista.Nesseaspecto,osleigoseasleigasexercempapelfundamental,assumindotarefasperti-nentesnasociedade.

404.Encorajamososempresáriosquedirigemasgrandesemédiasempresaseosmicroempresários,osagenteseconômicosdagestãoprodutivaecomercial,tantodaordemprivadaquantocomunitária,porseremcriadoresderiquezaemnossasnações,quandoseesforçamparagerarempregodigno,facilitarademo-cracia e promover a aspiração a uma sociedade mais justa e auma convivência cidadã com bem-estar e em paz. Igualmenteanimamososquenãoinvestemseucapitalemaçõesespecula-tivasmasemcriarfontesdetrabalho,preocupando-secomostrabalhadores,considerando-os‘aeleseasuasfamílias’amaiorriquezadaempresa,que,comocristãos,vivemmodestamenteporteremfeitodaausteridadeumvalorinestimável,quecola-boramcomosgovernosnapreocupaçãoeconquistadobemco-mumeseprodigalizamemobrasdesolidariedadeemisericórdia.

405.Porfim,nãopodemosesquecerqueamaiorpobrezaéadenãoreconhecerapresençadomistériodeDeusedeseuamor na vida do homem, amor que é o único que verdadeira-mentesalvae liberta.Naverdade,“quemexcluiaDeusdeseuhorizontefalsificaoconceitoderealidade,econsequentemen-te só pode terminar em caminhos equivocados e com receitas

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1�3VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

destrutivas.235AverdadedessaafirmaçãopareceevidentediantedofracassodetodosossistemasquecolocamDeusentreparên-tesis.

�.5Globalizaçãodasolidariedadeejustiçainternacional

406.AIgrejanaAméricaLatinaenoCaribesentequetemumaresponsabilidadeemformarcristãosesensibilizá-losares-peito das grandes questões da justiça internacional. Por isso,tantoospastorescomoosconstrutoresdasociedadetêmqueestaratentosaosdebatesenormasinternacionaissobreamaté-ria.Issoéespecialmenteimportanteparaosleigosqueassumemresponsabilidadespúblicas,solidárioscomavidadospovos.Porisso,propomososeguinte:

a) Apoiaraparticipaçãodasociedadecivilparaare-orienta-çãoeconseqüentereabilitaçãoéticadapolítica.Porisso,sãomuitoimportantesosespaçosdeparticipaçãodaso-ciedadecivilparaavigênciadademocracia,umaverda-deiraeconomiasolidáriaeumdesenvolvimentointegral,solidárioesustentável.

b) Formarnaéticacristãqueestabelececomodesafioacon-quista do bem comum a criação de oportunidades paratodos,a lutacontraacorrupção,avigênciadosdireitosdotrabalhoesindicais;énecessáriocolocarcomopriori-dadeacriaçãodeoportunidadeseconômicasparasetoresdapopulaçãotradicionalmentemarginalizados,comoasmulhereseosjovens,apartirdoreconhecimentodesuadignidade.Porisso,énecessáriotrabalharporumacultu-radaresponsabilidadeemtodonívelqueenvolvapessoas,empresas,governoseoprópriosistemainternacional.

c) Trabalharpelobemcomumglobalépromoverumajustaregulaçãodaeconomia,dasfinançasedocomérciomun-

235DI3.

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1�4 CELAM

dial.Éurgenteprosseguirnodesendividamentoexternopara favorecer os investimentos em desenvolvimentoe gasto social,236 prever normas globais para prevenir econtrolarosmovimentosespeculativosdecapitais,paraapromoçãodeumcomérciojustoeadiminuiçãodasbar-reirasprotecionistasdospoderosos,paraassegurarpreçosadequadosdasmatériasprimasqueospaísesempobreci-dosproduzemedenormasjustasparaatraireregularosinvestimentoseserviços,entreoutros.

d) ExaminaratentamenteosTratadosinter-governamentaiseoutrasnegociaçõesarespeitodolivrecomércio.AIgrejadopaíslatino-americanoenvolvido,àluzdeumbalançodetodososfatoresqueestãoemjogo,precisaencontraros caminhos mais eficazes para alertar os responsáveispolíticoseaopiniãopúblicaarespeitodaseventuaiscon-seqüências negativas que podem afetar os setores maisdesprotegidosevulneráveisdapopulação.

e) Chamar todos os homens e mulheres de boa vontade acolocarempráticaprincípiosfundamentaiscomoobemcomum(acasaédetodos),asubsidiariedade,asolidarie-dadeintergerencialeintragerencial.

�.�rostossofredoresquedoememnós

8.6.1 Pessoas que vivem na rua nas grandes cidades

407.Nasgrandescidadesécadavezmaioronúmerodaspessoasquevivemnarua.RequeremdaIgrejacuidadoespecial,atençãoetrabalhodepromoçãohumana,detalmodoqueen-quanto se proporciona a elas ajuda no necessário para a vida,quetambémsejamincluídasemprojetosdeparticipaçãoepro-moçãonosquaiselasprópriassejamsujeitosdesuare-inserçãosocial.

236TMA51,SD197.

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408.Queremoschamaraatençãodosgovernoslocaisena-cionaisparaqueelaborempolíticasquefavoreçamaatençãoaessessereshumanos,eatendamigualmenteàscausasquepro-duzemesseflageloqueafetamilhõesdepessoasemtodaanossaAméricaLatinaenoCaribe.

409. A opção preferencial pelos pobres nos impulsiona,comodiscípulosemissionáriosdeJesus,aprocurarcaminhosnovosecriativosafimderesponderaoutrosefeitosdapobreza.Asituaçãoprecáriaeaviolência familiarcomfreqüênciaobri-gammuitosmeninosemeninasaprocuraremrecursoseconô-micosnaruaparasuasobrevivênciapessoalefamiliar,expondo-setambémagravesriscosmoraisehumanos.

410.ÉdeversocialdoEstadocriarumapolítica inclusivadaspessoasdarua.Nuncaseaceitarácomosoluçãoaestagraveproblemáticasocialaviolênciaeinclusiveoassassinatodosme-ninosejovensdarua,comolamentavelmentetemsucedidoemalgunspaísesdenossocontinente.

8.6.2 Migrantes

411.Éexpressãodecaridade,tambémeclesial,oacompa-nhamentopastoraldosmigrantes.Hámilhõesdepessoasquepordiferentesmotivosestãoemconstantemobilidade.NaAmé-ricaLatinaeCaribeosemigrantes,deslocadoserefugiados,so-bretudoporcausaseconômicas,políticasedeviolência,consti-tuemfatonovoedramático.

412. A Igreja, como Mãe, deve sentir-se como Igreja semfronteiras,Igrejafamiliar,atentaaofenômenocrescentedamo-bilidadehumanaemseusdiversossetores.Consideraindispen-sávelodesenvolvimentodeumamentalidadeeespiritualidadeaserviçopastoraldosirmãosemmobilidade,estabelecendoestru-turasnacionaisediocesanasapropriadas,quefacilitemoencon-trodoestrangeirocomaIgrejaparticulardeacolhida.AsConfe-rênciasEpiscopaiseasDiocesesdevemassumirprofeticamenteestapastoralespecíficacomadinâmicadeunircritérioseações

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quefavoreçamumapermanenteatençãotambémaosmigran-tes,quedevemchegarasertambémdiscípulosemissionários.

413.ParaconseguiresseobjetivosefaznecessárioreforçarodiálogoeacooperaçãodesaídaeacolhidaentreasIgrejas,afimdedaratençãohumanitáriaepastoralaosquesemobilizaram,apoiando-osemsuareligiosidadeevalorizandosuasexpressõesculturaisemtudooqueserefiraaoEvangelho.ÉnecessárioquenosSeminárioseCasasdeformaçãosetomeconsciênciasobrearealidadedamobilidadehumana,paralhedarrespostapasto-ral.Tambémserequerapreparaçãodeleigosquecomsentidocristão,profissionalismoecapacidadedecompreensão,possamacompanharosquechegam,comotambémàsfamíliasqueelesdeixamnoslugaresdesaída.237Cremosque“arealidadedasmi-graçõesnãodevenuncaservistasócomoproblema,mastam-bémesobretudocomogranderecursoparaocaminhodahuma-nidade”.238

414.EntreastarefasdaIgrejaafavordosmigrantesestáindubitavelmenteadenúnciaproféticadosatropelosquesofremfreqüentemente,comotambémoesforçoporincidir,juntoaosorganismos da sociedade civil, nos governos dos países, paraconseguirumapolíticamigratóriaqueleveemconsideraçãoosdireitosdaspessoasemmobilidade.Deveterpresentetambémosdeslocadospelaviolência.Nospaísesaçoitadospelaviolênciaserequeraaçãopastoralparaacompanharasvítimaseoferecer-lhesacolhidaecapacitá-losaquepossamviverdeseutrabalho.Aomesmotempo,deveráaprofundarseuesforçopastoraleteo-lógicoparapromoverumacidadaniauniversalnaqualnãohajadistinçãodepessoas.

415.Osmigrantesdevemseracompanhadospastoralmen-teporsuasIgrejasdeorigemeestimuladosasefazerdiscípulosemissionáriosnasterrasecomunidadesqueosacolhem,com-

237Cf.EMCC,70,71e86-88.238BentoXVI,Alocução,Ângelus,14dejaneirode2007.

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partilhandocomelesasriquezasdesuaféedesuastradiçõesreligiosas.Osmigrantesquepartemdenossascomunidadespo-demoferecervaliosacontribuiçãomissionáriaàscomunidadesqueosacolhem.

416.Asgenerosasremessasenviadaspelosimigranteslati-no-americanosapartirdosEstadosUnidos,Canadá,paíseseu-ropeuseoutros,evidenciasuacapacidadedesacrifícioeamorsolidário a favor das próprias famílias e pátrias de origem. É,geralmente,ajudadospobresparaospobres.

8.6.3 Enfermos

417. A Igreja tem feito opção pela vida. Esta nos projetanecessariamenteparaasperiferiasmaisprofundasdaexistên-cia:onascereomorrer,acriançaeoidoso,osadioeoenfermo.SantoIrineunosdizque“aglóriadeDeuséohomemvivente”,inclusiveofraco,orecém-concebido,oenvelhecidopelosanoseoenfermo.CristoenviouseusapóstolosapregaroReinodeDeuseacurarosenfermos,verdadeirascatedraisdoencontrocomoSenhorJesus.

418.Desdeoiníciodaevangelização,esseduplomandatosetemcumprido.Ocombateàenfermidadetemcomofinalida-deconseguiraharmoniafísica,psíquica,socialeespiritualparaocumprimentodamissãorecebida.APastoraldaSaúdeéares-postaàsgrandesinterrogaçõesdavida,comoosofrimentoeamorte,àluzdamorteeressurreiçãodoSenhor.

419.Asaúdeéumtemaquemovegrandes interessesnomundo,masnãoproporcionamumafinalidadequeatranscen-da.Naculturaatualamortenãocabee,diantedesuarealidade,trata-sedeocultá-la.Abrindo-aparaasuadimensãoespiritualetranscendente,aPastoraldaSaúdesetransformanoanúncioda morte e ressurreição do Senhor, única e verdadeira saúde.ElaunificanaeconomiasacramentaldeCristooamordemui-tos“bonssamaritanos”,presbíteros,diáconos,religiosas,leigoseprofissionaisdasaúde.As32.116instituiçõescatólicasdedi-

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cadasàPastoraldaSaúdenaAméricaLatinarepresentamumrecursoquesedeveaproveitarparaaevangelização.

420.AmaternidadedaIgrejasemanifestanasvisitasaosenfermosnoscentrosdesaúde,nacompanhiasilenciosaaoen-fermo,nocarinhosotrato,nadelicadaatençãoàsnecessidadesdaenfermidade,atravésdosprofissionaisevoluntáriosdiscípu-losdoSenhor.Elaabrigacomsuaternura,fortaleceocoraçãoe,nocasodomoribundo,acompanha-onotrânsitodefinitivo.OenfermorecebecomamoraPalavra,operdão,oSacramentodaUnçãoeosgestosdecaridadedosirmãos.OsofrimentohumanoéumaexperiênciaespecialdacruzedaressurreiçãodoSenhor.

421.Deve-se,portanto,estimularnasIgrejasparticularesa Pastoral da Saúde que inclua diferentes campos de atenção.ConsideramosdegrandeprioridadefomentarumapastoralcompessoasquevivemcomoHIVAids,emseuamplocontextoeemseus significados pastorais: que promova o acompanhamentocompreensivo,misericordiosoeadefesadosdireitosdaspessoasinfectadas;queimplementeainformação,promovaaeducaçãoeaprevenção,comcritérioséticos,principalmenteentreasnovasgerações,paraquedesperteaconsciênciadetodosparaconterapandemia.ApartirdestaVConferênciapedimosaosgovernosoacessogratuitoeuniversalaosmedicamentosparaaAidseadosesoportunas.

8.6.4 Dependentes de drogas

422.Oproblemadadrogaécomomanchadeóleoquein-vadetudo.Nãoreconhecefronteiras,nemgeográficas,nemhu-manas.Atacaigualmenteapaísesricosepobres,acrianças,jo-vens,adultoseidosos,ahomensemulheres.AIgrejanãopodepermanecerindiferentediantedesseflageloqueestádestruindoahumanidade,especialmenteasnovasgerações.Suatarefasedirige em três direções: prevenção, acompanhamento e apoiodaspolíticasgovernamentaisparareprimiressapandemia.Naprevenção, insiste na educação nos valores que devem condu-

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zirasnovasgerações,especialmenteovalordavidaedoamor,aprópriaresponsabilidadeeadignidadehumanadosfilhosdeDeus.Noacompanhamento,aIgrejaestáaoladododependenteparaajudá-loarecuperarsuadignidadeevenceressaenfermi-dade.Noapoioàerradicaçãodadroga,nãodeixadedenunciaracriminalidadesemnomedosnarcotraficantesquecomerciali-zamcomtantasvidashumanas,tendocomoobjetivoolucroeaforçaemsuasmaisbaixasexpressões.

423.NaAméricaLatinaenoCaribe,aIgrejadevepromoverlutafrontalcontraoconsumoetráficodedrogas,insistindonovalordaaçãopreventivaereeducativa,assimcomoapoiandoosgovernoseentidadescivisquetrabalhamnestesentido,exortan-dooEstadoemsuaresponsabilidadedecombateronarcotráficoeprevenirousodetodotipodedroga.Aciênciatemindicadoareligiosidadecomofatordeproteçãoerecuperaçãoimportanteparaousuáriodedrogas.

424. Denunciamos que a comercialização da droga setornoualgocotidianoemalgunsdenossospaíses,devidoaosenormes interesses econômicos ao redor dela. Conseqüênciadissoéograndenúmerodepessoas,emsuamaioriacriançase jovens, que agora se encontram escravizados e vivendo emsituaçõesmuitoprecárias,querecorremàdrogaparaacalmarsua fome ou para escapar da cruel e desesperadora realidadeemquevivem.239

425.ÉresponsabilidadedoEstadocombater,comfirmezaecombaselegal,acomercializaçãoindiscriminadadadrogaeoseuconsumoilegal.Lamentavelmente,acorrupçãotambémsefazpresentenessaesfera,eaquelesquedeveriamestarnadefesa

239“OBrasilpossuiumaestatística,dasmaisrelevantes,noqueserefereàdependênciaquímicadedrogas.EaAméricaLatinanãoficaatrás.Porisso,digoaosquecomercializamadrogaquepensemnomalqueestãoprovocandoaumamultidãodejovenseadultosdetodosossetoresdasociedade:Deusvaipedircontaavocês.Adignidadehumananãopodeserpisoteadadessamaneira.OmalprovocadorecebeamesmareprovaçãodadaporJesusaosqueescandalizavamospequeninos,ospreferidosdoSenhor(cf.Mt18,7-10).BentoXVI,DiscursonaFazendadaEsperança,12demaiode2007.

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deumavidamaisdigna,àsvezes fazemuso ilegítimodesuasfunçõesparasebeneficiareconomicamente.

426.Estimulamostodososesforçosqueserealizamapar-tirdoEstado,dasociedadeciviledasIgrejasemacompanhares-saspessoas.AIgrejaCatólicatemmuitasobrasquerespondemaessaproblemáticaapartirdonossoserdiscípulosemissioná-rios de Jesus, embora ainda não de maneira suficiente diantedamagnitudedoproblema;sãoexperiênciasquereconciliamosdependentescomaterra,comotrabalho,comafamíliaecomDeus.Merecemespecialatenção,nessesentido,asComunida-desterapêuticas,porsuavisãohumanísticaetranscendentedapessoa.

8.6.5 Detidos em prisões

427.Umarealidadequegolpeiaatodosossetoresdapopu-lação,masprincipalmenteomaispobre,éaviolência,produtodasinjustiçaseoutrosmalesquedurantelongosanosvêmsen-dosemeadonascomunidades.Issoinduzacriminalidademaior,e por conseguinte a que sejam muitas as pessoas que devemcumprirpenasemrecintospenitenciáriosdesumanos,caracte-rizadospelocomérciodearmas,drogas,aglomeração,torturas,ausênciadeprogramasdereabilitação,crimeorganizadoqueim-pedeumprocessodereeducaçãoedeinserçãonavidaprodutivadasociedade.Nomomentoatual,lamentavelmenteoscárceressãocomfreqüênciaescolasparaaprenderadelinqüir.

428.ÉnecessárioqueosEstadosconsideremcomserieda-deeverdadeasituaçãodosistemadejustiçaearealidadecarce-rária.Énecessáriamaioragilidadenosprocedimentosjudiciais,atençãopersonalizadadopessoalcivilemilitarque,emcondi-çõesmuitodifíceis,trabalhanosrecintospenitenciários,eore-forçodaformaçãoéticaedosvalorescorrespondentes.

429.AIgrejaagradeceaoscapelãesevoluntáriosque,comgrande entrega pastoral, trabalham nos recintos carcerários.Contudo,deve-sefortalecerapastoralpenitenciária,ondesein-

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cluaatarefadeevangelizaçãoepromoçãohumanaporpartedoscapelãesedovoluntariadocarcerário.TêmprioridadeasequipesdeDireitosHumanosquegarantemodevidoprocessoaospriva-dosdeliberdadeeumaatençãomuitopróximaasuasfamílias.

430.Recomenda-seàsConferênciasEpiscopaiseDiocesesfomentarascomissõesdepastoralpenitenciária,quesensibili-zemasociedadesobreagraveproblemáticacarcerária,estimu-lemprocessosdereconciliaçãodentrodorecintopenitenciárioeincidamnaspolíticaslocaisenacionaisnoqueserefereàsegu-rançacidadãeàproblemáticapenitenciária.

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431. Não podemos deter-nos aqui para analisar todas asquestõesqueintegramaatividadepastoraldaIgreja,nempode-mosproporprojetosacabadosoulinhasdeaçãoexaustivas.Sónosdeteremosamencionaralgumasquestõesquealcançaramparticular relevâncianosúltimostempos,paraque,posterior-mente, as Conferências Episcopais e outros organismos locaisavancememconsideraçõesmaisamplas,concretaseadaptadasàsnecessidadesdopróprioterritório.

9.1omatrimônioeafamília

432.Afamíliaéumdostesourosmaisimportantesdospo-voslatino-americanosecaribenhoseépatrimôniodahumani-dadeinteira.Emnossospaíses,parteimportantedapopulaçãoestáafetadapordifíceiscondiçõesdevidaqueameaçamdireta-menteainstituiçãofamiliar.EmnossacondiçãodediscípulosemissionáriosdeJesusCristo,somoschamadosatrabalharparaquetalsituaçãosejatransformadaeafamíliaassumaseuseresuamissão240noâmbitodasociedadeedaIgreja.241

240JoãoPauloII,IIEncontromundialcomasfamíliasnoRiodeJaneiro,4deoutubrode1997,n.4.

241JoãoPauloII,DiscursoporocasiãodoprimeiroencontromundialdasFamílias,nn.2e7,Roma,8deoutubrode1994;Segundoencontromundialdasfamílias,RiodeJaneiro,3deoutubrode1997;FC17,22denovembrode1981;BentoXVI.Família, sé lo que eres!Valência,8dejunhode2006.

CapítuloIX

FAMÍLIA,PESSoASEVIdA

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433.Afamíliacristãestáfundadanosacramentodomatri-mônioentreumhomemeumamulher,sinaldoamordeDeuspelahumanidadeedaentregadeCristoporsuaesposa,aIgreja.Apartirdessaaliançasemanifestamapaternidadeeamaterni-dade,afiliaçãoeafraternidade,eocompromissodosdoisporumasociedademelhor.

434.Cremosque“afamíliaéimagemdeDeusqueemseumistériomaisíntimonãoéumasolidão,masumafamília”.242NacomunhãodeamordastrêsPessoasdivinas,nossasfamíliastêmsuaorigem,seumodeloperfeito,suamotivaçãomaisbelaeseuúltimodestino.

435.Vistoqueafamíliaéovalormaisqueridopornossospovos,cremosquesedeveassumirapreocupaçãoporelacomoumdoseixostransversaisdetodaaçãoevangelizadoradaIgreja.Emtodadioceseserequerumapastoralfamiliar“intensaevigo-rosa”243paraproclamaroevangelhodafamília,promoveracul-turadavida,etrabalharparaqueosdireitosdasfamíliassejamreconhecidoserespeitados.

436.Esperamosqueoslegisladores,governanteseprofis-sionaisdasaúde,conscientesdadignidadedavidahumanaedofundamentodafamíliaemnossospovos,adefendameprote-jamdoscrimesabomináveisdoabortoedaeutanásia:essaésuaresponsabilidade.Porisso,diantedeleisedisposiçõesgoverna-mentaisquesãoinjustasàluzdaféedarazão,deve-sefavoreceraobjeçãodeconsciência.Devemosater-nosà“coerênciaeucarís-tica”,istoé,serconscientesdequenãopodemreceberasagradacomunhãoeaomesmotempoagircomatosoupalavrascontraosmandamentos,emparticularquandosepropiciaoaborto,aeutanásiaeoutrosgravesdelitoscontraavidaeafamília.Essaresponsabilidadepesademaneiraparticularsobreoslegislado-res,governanteseosprofissionaisdasaúde.244

242DP582.243DI5.244Cf.SCa83;EV73,74e89.

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437.Paratutelareapoiarafamília,apastoralfamiliarpodeestimular,entreoutras,asseguintesações:

a) Comprometer de maneira integral e orgânica as outraspastorais, os movimentos e associações matrimoniais efamiliaresafavordasfamílias.

b) Estimularprojetosquepromovamfamíliasevangelizadaseevangelizadoras.

c) Renovarapreparaçãoremotaepróximaparaosacramen-todomatrimônioedavidafamiliarcomitineráriospeda-gógicosdefé245.

d) Promover,emdiálogocomosgovernoseasociedade,po-líticaseleisafavordavida,domatrimônioedafamília246.

e) Estimularepromoveraeducaçãointegraldosmembrosda família, especialmente daqueles membros da famíliaqueestãoemsituaçõesdifíceis,incluindoadimensãodoamoredasexualidade247.

f) Estimularcentrosparoquiaisediocesanoscomumapas-toraldeatençãointegralàfamília,especialmenteaquelasqueestãoemsituaçõesdifíceis:mãesadolescentesesol-teiras,viúvaseviúvos,pessoasdaterceiraidade,criançasabandonadasetc.

g) Estabelecerprogramasdeformação,atençãoeacompanha-mentoparaapaternidadeeamaternidaderesponsáveis.

h) Estudarascausasdascrisesfamiliaresparaencará-lasemtodososseusfatores.

i) Continuaroferecendoformaçãopermanente,doutrinalepedagógica,paraosagentesdepastoralfamiliar.

245Cf.PontifícioConselhoparaaFamília, Preparação para o Sacramento do Matrimônio,19.13demaiode1996;FC66.

246Cf.PontifícioConselhoparaaFamília,A Carta dos direitos da família,22deoutubrode1983.247Cf.DI5.

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j) Acompanharcomcuidado,prudênciaeamorcompassivo,seguindoasorientaçõesdoMagistério248,oscasaisquevi-vememsituaçãoirregular,tendopresentequeaosdivor-ciadosenovamentecasadosnãolhesépermitidocomun-gar.249Requerem-semediaçõesparaqueamensagemdesalvaçãochegueatodos.Éurgenteestimularaçõesecle-siais,comtrabalhointerdisciplinardeteologiaeciênciashumanas,queilumineapastoraleapreparaçãodeagentesespecializados para o acompanhamento desses irmãos.

k) Diante das petições de nulidade matrimonial, há de seprocurarqueosTribunaiseclesiásticossejamacessíveisetenhamatuaçãocorretaerápida.250

l) Ajudaracriarpossibilidadesparaqueosmeninosemeni-nasórfãoseabandonadosconsigam,pelacaridadecristã,condiçõesdeacolhidaeadoçãoepossamviveremfamília.

m)Organizarcasasdeacolhidaeumacompanhamentoes-pecíficoparasocorrercomcompaixãoesolidariedadeàsmeninaseadolescentesgrávidas,àsmães“solteiras”,aoslaresincompletos.

n) Ter presente que a Palavra de Deus, tanto no AntigoquantonoNovoTestamento,nospedeatençãoespecialparacomasviúvas.Procuraramaneiradereceberemelasumapastoralqueasajudeaenfrentartalsituação,muitasvezesdedesamparoesolidão.

9.2Ascrianças

438.Ainfância,hojeemdia,deveserdestinatáriadeumaaçãoprioritáriadaIgreja,dafamíliaedasinstituiçõesdoEstado,tantopelaspossibilidadesqueoferececomopelavulnerabilida-

248FC84;SCa29.249FC77.250Cf.SC29.

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deaqueseencontraexposta.Ascriançassãodomesinaldapre-sençadeDeusemnossomundoporsuacapacidadedeaceitarcomsimplicidadeamensagemevangélica.Jesusasacolheucomespecialternura(cf.Mt19,14),eapresentouacapacidadequeelastêmparaacolheroEvangelhocomomodelosparaentrarnoReinodeDeus(cf.Mc10,14;Mt18,3).

439. Vemos com dor a situação de pobreza, de violênciaintra-familiar(sobretudoemfamíliasirregularesoudesintegra-das), de abuso sexual, pela qual passa bom número de nossascrianças: os setores de infância trabalhadora, crianças de rua,criançasportadorasdeHIV,órfãos,meninossoldados,ecriançasenganadaseexpostasàpornografiaeprostituiçãoforçada,tantovirtualquantoreal.Sobretudo,aprimeirainfância(0a6anos)requer cuidado e atenção especiais. Não se pode permanecerindiferentediantedosofrimentodetantascriançasinocentes.

440.Poroutrolado,ainfância,sendoaprimeiraetapadavida do recém-nascido, constitui ocasião maravilhosa para atransmissãodafé.Vemoscomgratidãoavaliosaaçãodetantasinstituiçõesaserviçodainfância.

441.Aesse respeito,propomosalgumasorientaçõespas-torais:

a) Inspirar-senaatitudedeJesusparacomascrianças,derespeitoeacolhidacomoosprediletosdoReino,atenden-doàsuaformaçãointegral.Deimportânciaparatodaasuavidaéoexemplodeoraçãodeseuspaiseavós,quetêmamissãodeensinaraseusfilhosenetosasprimeirasorações.

b) Estabelecer,ondenãoexista,oDepartamentoouSeçãodaInfância,paradesenvolveraçõespontuaiseorgânicasafavordosmeninosemeninas.

c) PromoverprocessosdereconhecimentodainfânciacomosetordecisivodeespecialcuidadoporpartedaIgreja,daSociedadeedoEstado.

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d) Tutelaradignidadeeosdireitosnaturaisinalienáveisdosmeninosedasmeninas,semprejuízodoslegítimosdirei-tosdospais.Velarparaqueascriançasrecebamaeduca-çãoadequadaàsuafaixaetárianoâmbitodasolidarieda-de,daafetividadeedasexualidadehumana.

e) Apoiarasexperiênciaspastoraisdeatençãoàprimeirain-fância.

f) Estudareconsideraraspedagogiasadequadasparaaedu-caçãonafédascrianças,especialmenteemtudooqueserelacionaàiniciaçãocristã,privilegiandoomomentodaprimeiracomunhão.

g) Valorizaracapacidademissionáriadosmeninosedasme-ninas,quenãosóevangelizamseuspróprioscompanhei-ros,masquetambémpodemserevangelizadoresdeseusprópriospais.

h) Promoveredifundirprocessospermanentesdepesquisasobreainfância,quefaçamsustentáveltantooreconhe-cimentodeseucuidado,comoasiniciativasafavordade-fesaedesuapromoçãointegral.

i) FomentarainstituiçãodaInfânciaMissionária.

9.3osadolescentesejovens

442.Mereceespecialatençãoaetapadaadolescência.Osadolescentesnãosãocriançasnemsãojovens.Estãonaidadedaprocuradesuaprópriaidentidade,deindependênciafrenteaospais, de descoberta do grupo. Nessa idade, facilmente podemservítimasdefalsos líderesconstituindogrupos.Énecessárioestimularapastoraldosadolescentes,comsuasprópriascarac-terísticas,quegarantasuaperseverançaeocrescimentonafé.OadolescenteprocuraumaexperiênciadeamizadecomJesus.

443.OsjovenseadolescentesconstituemagrandemaioriadapopulaçãodaAméricaLatinaedoCaribe.Representamenor-

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mepotencialparaopresenteeofuturodaIgrejaedenossospo-vos,comodiscípulosemissionáriosdoSenhorJesus.OsjovenssãosensíveisadescobrirsuavocaçãoaseramigosediscípulosdeCristo.Sãochamadosaser“sentinelasdamanhã”,251compro-metendo-senarenovaçãodomundoàluzdoPlanodeDeus.Nãotememosacrifícionemaentregadaprópriavida,massimumavidasemsentido.Porsuagenerosidade,sãochamadosaserviraseusirmãos,especialmenteaosmaisnecessitados,comtodooseutempoevida.Têmcapacidadeparaseoporàsfalsasilusõesdefelicidadeeaosparaísosenganososdasdrogas,doprazer,doálcoolede todasas formasde violência.Emsuaprocura pelosentidodavida,sãocapazesesensíveisparadescobrirochama-doparticularqueoSenhorJesuslhesfaz.Comodiscípulosmis-sionários,asnovasgeraçõessãochamadasatransmitiraseusirmãosjovens,semdistinçãoalguma,acorrentedevidaquepro-cededeCristoeacompartilhá-laemcomunidade,construindoaIgrejaeasociedade.

444.Poroutrolado,constatamoscompreocupaçãoqueinu-meráveisjovensdonossocontinentepassamporsituaçõesqueosafetamsignificativamente:assequelasdapobreza,quelimi-tamocrescimentoharmônicodesuasvidasegeramexclusão;asocialização,cujatransmissãodevaloresjánãoaconteceprima-riamentenasinstituiçõestradicionais,masemnovosambientesnãoisentosdefortecargadealienação;esuapermeabilidadeàsformasnovasdeexpressõesculturais,produtodaglobalização,queafetasuaprópriaidentidadepessoalesocial.Sãopresafá-cildasnovaspropostasreligiosasepseudo-religiosas.Ascrises,pelasquaispassaafamíliahojeemdia,produznelesprofundascarênciasafetivaseconflitosemocionais.

445.Sãomuitoafetadosporumaeducaçãodebaixaquali-dade,queosdeixaabaixodosníveisnecessáriosdecompetiti-vidade,somando-seaosenfoquesantropológicosreducionistas,

251JoãoPauloII,MensagemparaaXVIIIJornadaMundialdaJuventude,Toronto,28dejulhode2002,n.6.

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que limitamseushorizontesdevidaedificultamatomadadedecisõesduradouras.Vê-seausênciadejovensnaesferapolíti-cadevidoàdesconfiançaquegeramassituaçõesdecorrupção,o desprestígio dos políticos e a procura de interesses pessoaisfrenteaobemcomum.Constatam-secompreocupaçãosuicídiosde jovens.Outrosnãotêmpossibilidadesdeestudaroutraba-lharemuitosdeixamseuspaísespornãoencontrarfuturoneles,dandoassimaofenômenodamobilidadehumanaedamigraçãoumrostojuvenil.Preocupatambémousoindiscriminadoeabu-sivoquemuitosjovensfazemdacomunicaçãovirtual.

446.Diantedessesdesafioseameaçassugerimosalgumaslinhasdeação:

a) Renovar,emestreitauniãocomafamília,demaneiraefi-cazerealista,aopçãopreferencialpelosjovens,emcon-tinuidadecomasConferênciasGeraisanteriores,dandonovoimpulsoàPastoraldaJuventudenascomunidadeseclesiais(dioceses,paróquias,movimentosetc).

b) Estimular os Movimentos eclesiais que têm pedagogiaorientadaàevangelizaçãodosjovenseconvidá-losacolo-carmaisgenerosamentesuasriquezascarismáticas,edu-cativasemissionáriasaserviçodasIgrejaslocais.

c) ProporaosjovensoencontrocomJesusCristovivoeseuseguimentonaIgreja,àluzdoPlanodeDeus,quelhesga-rantaarealizaçãoplenadesuadignidadedeserhumano,que os estimule a formar sua personalidade e lhes pro-ponha uma opção vocacional específica: o sacerdócio, avidaconsagradaouomatrimônio.Duranteoprocessodeacompanhamentovocacional,iráaospoucosintroduzin-dogradualmenteosjovensnaoraçãopessoalenaLectio Divina,nafreqüênciaaossacramentosdaEucaristiaedaReconciliação,dadireçãoespiritualedoapostolado.

d) PrivilegiarnaPastoraldaJuventudeprocessosdeeduca-çãoeamadurecimentonafécomorespostadesentidoe

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orientaçãodavida,egarantiadecompromissomissioná-rio. De maneira especial, buscar-se-á implementar umacatequese atrativa para os jovens que os introduza noconhecimentodomistériodeCristo,buscandomostraraelesabelezadaEucaristiadominicalqueosleveadesco-brirnelaCristovivoeomistériofascinantedaIgreja.

e) APastoraldaJuventudeajudaráosjovensaseformardemaneiragradual,paraaaçãosocialepolíticaeamudan-ça de estruturas, conforme a Doutrina Social da Igreja,fazendo própria a opção preferencial e evangélica pelospobresenecessitados.

f) Urgiracapacitaçãodosjovensparaquetenhamoportuni-dadesnomundodotrabalho,eevitarquecaiamnadrogaenaviolência.

g) Nasmetodologiaspastorais,procurarmaiorsintoniaen-treomundoadultoeomundojovenil.

h) Assegurar a participação dos jovens em peregrinações,nasJornadasnacionaisemundiaisdaJuventude,comadevidapreparaçãoespiritualemissionáriaeacompanhiadeseuspastores.

9.4obem-estardosidosos

447. O acontecimento da apresentação no templo (cf. Lc2,41-50)coloca-nosdiantedoencontrodasgerações:ascriançaseosanciãos.Acriançaquesurgeparaavida,assumindoecum-prindoaLei,eosanciãos,queafestejamcomaalegriadoEs-píritoSanto.Criançaseanciãosconstróemofuturodospovos.Ascriançasporquelevarãoadianteahistória,osanciãosporquetransmitemaexperiênciaeasabedoriadesuasvidas.

448. O respeito e gratidão dos anciãos deve ser testemu-nhadoemprimeirolugarporsuaprópriafamília.APalavradeDeusnosdesafiademuitasmaneirasarespeitarevalorizaros

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maisidososeanciãos.Convida-nos,inclusive,aaprenderdelescomgratidãoeacompanhá-losemsuasolidãoe fragilidade.AfrasedeJesus:“pobres,vocêssempreterão,epoderãosocorrê-los quando quiserem” (Mc 14,7) pode muito bem entender-sedeles,porquefazempartedecadafamília,povoenação.Noen-tanto,muitasvezes,sãoesquecidosoudescuidadospelasocie-dadeeatémesmoporseusprópriosfamiliares.

449.Muitosdenossosidososgastaramavidapelobemdesua família e da comunidade, a partir de seu lugar e vocação.Muitos,porseutestemunhoeobras,sãoverdadeirosdiscípulosmissionários de Jesus. Merecem ser reconhecidos como filhosefilhasdeDeus,chamadosacompartilharaplenitudedoamoreaseremqueridosemparticularpelacruzdesuasdoenças,dacapacidade diminuída ou da solidão. A família não deve olharsóasdificuldadesquetrazaconvivênciacomelesouoterqueatendê-los. A sociedade não pode considerá-los como peso oucarga.Élamentávelqueemalgunspaísesnãohajapolíticasso-ciaisqueseocupemsuficientementedosidososjáaposentados,pensionistas, enfermos ou abandonados. Portanto, exortamosacriaçãodepolíticassociaisjustasesolidárias,queatendamaestasnecessidades.

450.AIgrejasente-secomprometidaaprocuraraatençãohumanaintegralatodasaspessoasidosas,tambémajudando-asaviveroseguimentodeCristoemsuaatualcondição,eincor-porando-asoquantopossívelàmissãoevangelizadora.Porisso,enquantoagradeceotrabalhoquejávemrealizandoreligiosas,religiosos e voluntários, a Igreja quer renovar suas estruturaspastoraiseprepararaindamaisagentes,afimdeampliaressevaliososerviçodeamor.

9.5Adignidadeeparticipaçãodasmulheres

451.Aantropologiacristãressaltaaigualidentidadeentrehomem e mulher em razão de terem sido criados à imagem esemelhançadeDeus.OmistériodaTrindadenosconvidaaviver

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umacomunidadedeiguaisnadiferença.Emépocademarcadomachismo,apráticadeJesusfoidecisivaparasignificaradigni-dadedamulheredeseuvalorindiscutível:faloucomelas(cfJo4,27),tevesingularmisericórdiacomaspecadoras(cf.Lc7,36-50;Jo8,11),curou-as(cf.Mc5,25-34),reivindicouadignidadedelas(cfJo8,1-11),escolheu-ascomoprimeirastestemunhasdesuaressurreição(cf.Mt28,9-10)eincorporoumulheresaogrupodepessoasquelheerammaispróximas(cf.Lc8,1-3).AfiguradeMaria,discípulaporexcelênciaentrediscípulos,éfundamentalnarecuperaçãodaidentidadedamulheredeseuvalornaIgreja.OcantodoMagnificatmostraMariacomomulhercapazdesecomprometercomsuarealidadeediantedelatervozprofética.

452.Arelaçãoentreamulhereohomemédereciprocidadeecolaboraçãomútua.Trata-sedeharmonizar,complementaretrabalhar somandoesforços.Amulheré co-responsável, juntocomohomem,pelopresenteefuturodenossasociedadehumana.

453.Lamentamosqueinumeráveismulheresdetodacon-dição não sejam valorizadas em sua dignidade, estejam comfreqüência sozinhas e abandonadas, não se reconheçam nelassuficientementeoabnegadosacrifício,inclusiveaheróicagene-rosidadenocuidadoeeducaçãodosfilhosenatransmissãodafénafamília.Muitomenossevalorizanemsepromoveadequada-mentesuaindispensávelepeculiarparticipaçãonaconstruçãode uma vida social mais humana e na edificação da Igreja. Aomesmotempo,suaurgentedignificaçãoeparticipaçãosãodis-torcidasporcorrentesideológicasmarcadascomoseloculturaldassociedadesdeconsumoedoespetáculo,quesãocapazesdesubmeterasmulheresanovasformasdeescravidão.NaAméricaLatinaenoCaribeénecessáriosuperaramentalidademachistaqueignoraanovidadedocristianismo,ondesereconheceeseproclama a “igual dignidade e responsabilidade da mulher emrelaçãoaohomem”.252

252DI5.

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204 CELAM

454.NestahoradaAméricaLatinaedoCaribe,éurgenteescutaroclamor,muitasvezessilenciado,demulheresquesãosubmetidasamuitasformasdeexclusãoedeviolênciaemtodasassuasformaseemtodasasetapasdesuasvidas.Entreelas,as mulheres pobres, indígenas e afro-americanas têm sofridoduplamarginalização.Éurgentequetodasasmulherespossamparticiparplenamentenavidaeclesial,familiar,cultural,socialeeconômica,criandoespaçoseestruturasquefavoreçammaiorinclusão.

455. As mulheres constituem, geralmente, a maioria denossascomunidades.Sãoasprimeirastransmissorasdaféeco-laboradorasdospastores,osquaisdevematendê-las,valorizá-laserespeitá-las.

456. É urgente valorizar a maternidade como missão ex-celentedasmulheres.Issonãoseopõeaseudesenvolvimentoprofissionaleaoexercíciodetodasassuasdimensões,oqueper-miteserfiéisaoplanooriginaldeDeusquedáaocasalhumano,de forma conjunta, a missão de melhorar a terra. A mulher éinsubstituívelnolar,naeducaçãodosfilhosenatransmissãodafé.Masissonãoexcluianecessidadedesuaparticipaçãoativanaconstruçãodasociedade.Paraisso,énecessáriopropiciarumaformaçãointegraldemaneiraqueasmulherespossamcumprirsuamissãonafamíliaenasociedade.

457.AsabedoriadoplanodeDeusexigequefavoreçamosodesenvolvimentodesuaidentidadefemininaemreciprocidadeecomplementaridadecomaidentidadedohomem.Porisso,aIgrejaéchamadaacompartilhar,orientareacompanharproje-tosdepromoçãodamulhercomorganismossociaisjáexistentes,reconhecendooministérioessencialeespiritualqueamulherlevaemsuasentranhas: receberavida,acolhê-la,alimentá-la,dá-laàluz,sustentá-la,acompanhá-laedesenvolverseusermu-lher,criandoespaçoshabitáveisdecomunidadeecomunhão.Amaternidadenãoéumarealidadeexclusivamentebiológica,masse expressa de diversas maneiras. A vocação materna se cum-

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preatravésdemuitas formasdeamor,compreensãoeserviçoaos demais. A dimensão maternal também se concretiza, porexemplo,naadoçãodecrianças,oferecendo-lhesproteçãoelar.OcompromissodaIgrejanessaesferaééticoeprofundamenteevangélico.

458.Propomosalgumasaçõespastorais:

a) Impulsionar a organização da pastoral de maneira queajudeadescobriredesenvolveremcadamulherenosâm-bitoseclesiaisesociaiso“gêniofeminino”253epromovaomaisamploprotagonismodasmulheres.

b) GarantiraefetivapresençadamulhernosministériosquenaIgrejasãoconfiadosaosleigos,comotambémnasins-tânciasdeplanejamentoedecisãopastorais,valorizandosuacontribuição.

c) Acompanharasassociaçõesfemininasquelutamparasu-perarsituaçõesdifíceis,devulnerabilidadeoudeexclusão.

d) Promoverodiálogocomautoridadesparaaelaboraçãodeprogramas,leisepolíticaspúblicasquepermitamharmo-nizaravidadetrabalhodamulhercomseusdeveresdemãedefamília.

9.�Aresponsabilidadedohomemepaidefamília

459.Ohomem,apartirdesuaespecificidade,échamadopeloDeusdavidaaocuparlugaroriginalenecessárionacons-trução da sociedade, na geração da cultura e na realização dahistória.ProfundamentemotivadospelabelarealidadedoamorquetemsuafonteemJesusCristo,ohomemsesentefortemen-teconvidadoaformarumafamília.Aí,naessencialdisposiçãodereciprocidadeecomplementaridade,vivemevalorizam,paraaplenitudedesuavida,aativaeinsubstituívelriquezadacon-

253JoãoPauloII,Carta às mulheres,29dejunhode1995,n.11.

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tribuiçãodamulher,que lhespermitereconhecermaisnitida-mentesuaprópriaidentidade.

460.Enquantobatizado,ohomemdevesentir-seenviadopelaIgrejaatodososcamposdeatividadequeconstituemsuavocaçãoemissão,paradartestemunhocomodiscípuloemissio-náriodeJesusCristonafamília.Noentanto,emnãopoucosca-sos,desafortunadamente,terminarenunciandoaessarespon-sabilidadeedelegando-aàsmulheresouesposas.

461.Tradicionalmente,devemosreconhecerqueumapor-centagem significativa deles, na América Latina e Caribe, semantémàmargemdaIgrejaedocompromissoquenelasãocha-madosarealizar.Dessemodo,vãoseafastandodeJesusCristo,davidaplenaquetantodesejameprocuram.Essacondiçãodedistânciaou indiferençaporpartedoshomens,quequestionafortemente o estilo de nossa pastoral convencional, contribuiparaquevácrescendoaseparaçãoentreféecultura,agradualperdadoque interiormenteéessencialedoadordesentido,afragilidadepararesolveradequadamenteconflitosefrustrações,a fraqueza para resistir ao embate e seduções de uma culturaconsumista, frívola e competitiva etc. Tudo isso os faz vulne-ráveis diante da proposta de estilos de vida que, propondo-secomoatrativos,terminamsendodesumanizadores.Emnúmerocadavezmaisfreqüentedeles,vaiseabrindopassagemàtenta-çãodecederàviolência,infidelidade,abusodepoder,dependên-ciadedrogas,alcoolismo,machismo,corrupçãoeabandonodeseupapeldepais.

462. Por outro lado, grande porcentagem de homens sesentemcobradosnafamília,notrabalhoenasociedade.Caren-tesdemaiorcompreensão,acolhidaeafetodapartedosseus,deseremvalorizadosdeacordocomoquecontribuírammate-rialmente,esemespaçosvitaisondecompartilharseussenti-mentos mais profundos com toda a liberdade, são expostos aumasituaçãodeprofundainsatisfaçãoqueosdeixaàmercêdopoderdesintegradordaculturaatual.Diantedessasituação,e

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207VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

emconsideraçãoàsconseqüênciasqueissotudotrazparaavidamatrimonialeparaosfilhos,torna-senecessárioestimularemtodas as nossas Igrejas Particulares especial atenção pastoralparaopaidefamília.

463.Propõem-sealgumasaçõespastorais:

a) Revisarosconteúdosdasdiversascatequesespreparató-riasaossacramentos,comoasatividadesemovimentoseclesiaisrelacionadoscomapastoralfamiliar,parafavo-receroanúncioeareflexãosobreavocaçãoqueohomeméchamadoevivernomatrimônio,nafamília,naIgrejaenasociedade.

b) Aprofundar,nasinstânciaspastoraispertinentes,opapelespecíficoquecabeaohomemnaconstruçãodafamíliaenquantoIgrejaDoméstica,especialmentecomodiscípu-loemissionárioevangelizadordeseular.

c) Promoveremtodososcamposdaeducaçãocatólicaedapastoral de jovens, o anúncio e o desenvolvimento dosvalores e atitudes que facilitem aos jovens e às jovensproduzirem competências que lhes permitam favoreceropapeldehomemnavidamatrimonial,noexercíciodapaternidadeenaeducaçãodeseusfilhosnafé.

d) Desenvolver,nasuniversidadescatólicas,àluzdaantropo-logiaedamoralcristã,apesquisaeareflexãonecessáriasque permitam conhecer a situação atual do mundo doshomens,asconseqüênciasdoimpactodosatuaismodelosculturaisemsuaidentidadeemissão,epistasquepossamcolaborarnoprojetodeorientaçõespastoraisarespeito.

e) Denunciaramentalidadeneoliberalquenãovênopaidefamíliamaisdoqueum instrumentodeproduçãoega-nância,relegando-oinclusivenafamíliaaopapeldemeroprovedor.Acrescentepráticadepolíticaspúblicaseini-ciativasprivadasdepromoverinclusiveodomingocomo

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diadetrabalho,éumamedidaprofundamentedestrutivadafamíliaedospais.

f) Favorecernavidada Igrejaaativaparticipaçãodosho-mens,gerandoepromovendoespaçoseserviçosnoscam-posassinalados.

9.7Aculturadavida:suaproclamaçãoesuadefesa

464.Oserhumano,criadoàimagemesemelhançadeDeus,tambémpossuialtíssimadignidadequenãopodemospisotearequesomosconvocadosarespeitarepromover.Avidaépresen-tegratuitodeDeus,dometarefaquedevemoscuidardesdeaconcepção, em todas as suas etapas, até à morte natural, semrelativismos.

465.Aglobalizaçãoinfluinasciênciaseemseusmétodos,prescindindodosprocedimentoséticos.DiscípulosdeJesus,te-mosquelevaroEvangelhoaograndecenáriodelas,promoverodiálogoentreciênciaefée,nessecontexto,apresentaradefesadavida.Essediálogodeveserrealizadopelaéticaeemcasoses-peciaisporumabioéticabemfundamentada.Abioéticatrabalhacomessabaseepistemológica,demaneirainterdisciplinar,ondecadaciênciacontribuicomsuasconclusões.

466.Nãopodemosescapardessedesafiodediálogoentreafé,arazãoeasciências.Nossaprioridadepelavidaepelafamí-lia,carregadasdeproblemáticasquesãodebatidasnasquestõeséticasenabioética,nosurgeailuminá-lascomoEvangelhoeoMagistériodaIgreja.254

467.Assistimoshojeanovosdesafiosquenospedemservozdosquenãotêmvoz.Acriançaqueestácrescendonoseiomaternoeaspessoasqueseencontramnoocasodesuasvidas,sãoexigênciadevidadignaquegritaaocéuequenãopodedei-

254Cf.JoãoPauloII.FR,14desetembrode1998.

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xardenosestremecer.Aliberalizaçãoebanalizaçãodaspráticasabortivassãocrimesabomináveis,comotambémaeutanásia,amanipulaçãogenéticaeembrionária,ensaiosmédicoscontráriosàética,penademorteetantasoutrasmaneirasdeatentarcon-traadignidadeeavidadoserhumano.Sequisermossustentarumfundamentosólidoeinviolávelparaosdireitoshumanos,éindispensávelreconhecerqueavidahumanadeveserdefendidasempre,desdeomomentodafecundação.Deoutramaneira,ascircunstânciaseconveniênciasdospoderosossempreencontra-rãodesculpasparamaltrataraspessoas.255

468.Osdesejosdevida,paz,fraternidadeefelicidadenãoencontramrespostaemmeioaosídolosdolucroedaeficácia,dainsensibilidadefrenteaosofrimentoalheio,aosataquesàvidaintra-uterina, à mortalidade infantil, à deterioração de algunshospitaiseatodasasmodalidadesdeviolênciacontracrianças,jovens,homensemulheres.Issosublinhaaimportânciadalutapelavidaepeladignidadee integridadedapessoahumana.Adefesafundamentaldadignidadeedessesvalorescomeçanafa-mília.

469. A fim de que os discípulos e missionários louvem aDeus,dandograçaspelavidaeservindoaela,propomosasse-guintesações:

a) Continuarapromoção,nasConferênciasEpiscopaisenasdioceses,decursossobrefamíliaequestõeséticasparaosBisposeparaosagentesdepastoraisquepossamajudarafundamentarcomsolidezosdiálogosarespeitodospro-blemasesituaçõesparticularessobreavida.

b) Procurar que presbíteros, diáconos, religiosos e leigosbusquemestudosuniversitáriosdemoralfamiliar,ques-tõeséticase,quandosejapossível,cursosmaisespeciali-zadosdebioética.256

255Cf.EV.256Cf.PontifícioConselhoparaaFamília,“Família e questões éticas”,2006.

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c) Promoverfóruns,painéis,semináriosecongressosquees-tudem,reflitameanalisemtemasconcretosdaatualidadesobreavidaemsuasdiversasmanifestaçõesesobretudonoserhumano,especialmentenoqueserefereaorespei-topelavidadesdeaconcepçãoatésuamortenatural.

d) Pedir às universidades católicas que organizem progra-masdebioéticaacessíveisatodosetomemposiçãopúbli-cadiantedosgrandestemasdabioética.

e) CriarnasConferênciasEpiscopaisumcomitêdeéticaebioética,compessoaspreparadasnotema,quegarantamfidelidadee respeitoàdoutrinadoMagistérioda Igrejasobreavida,paraquesejaainstânciaquepesquise,estu-de,discutaeatualizeacomunidadenomomentoemqueodebatepúblicosejanecessário.Essecomitêenfrentaráasrealidadesqueseapresentaremnalocalidade,nopaísounomundo,paradefenderepromoveravidanomo-mentooportuno.

f) Ofereceraosmatrimôniosprogramasdeformaçãoempa-ternidaderesponsávelesobreousodosmétodosnaturaisderegulaçãodanatalidade,comopedagogiaexigentedevidaeamor.257

g) Apoiareacompanharpastoralmenteecomespecialternu-raesolidariedadeasmulheresquedecidiramnãoabortar,eacolhercommisericórdiaaquelasqueabortaram,paraajudá-las a curar suas graves feridas e convidá-las a serdefensorasdavida.Oabortofazduasvítimas:porcertoacriança,mastambémamãe.

h) Promoveraformaçãoeaçãodeleigoscompetentes,ani-má-losaorganizar-separadefenderavidaeafamília,eestimulá-losaparticiparemorganismosnacionaise in-ternacionais.

257Cf.EV97,HV10.

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i) Assegurarqueaobjeçãodeconsciênciaseincorporenaslegislaçõesecuidarquesejarespeitadapelasadministra-çõespúblicas.

9.�ocuidadocomomeio-ambiente

470.ComodiscípulosdeJesus,sentimo-nosconvidadosadargraçaspelodomdacriação,reflexodasabedoriaebelezadoLógoscriador.NodesígniomaravilhosodeDeus,ohomemeamulhersãoconvocadosaviveremcomunhãocomEle,emcomunhãoentresiecomtodaacriação.ODeusdavidaen-comendouaoserhumanosuaobracriadoraparaque“aculti-vasseeaguardasse”(Gn2,15).Jesusconheciabemapreocu-paçãodoPaipelascriaturasqueElealimenta(cf.Lc12,24)eembeleza(cf.Lc12,27).Eenquantoandavapeloscaminhosdesuaterra,nãosósedetinhaacontemplaraformosuradana-tureza, mas também convidava seus discípulos a reconheceramensagemescondidanascoisas(cf.Lc12,24-27;Jo4,35).AscriaturasdoPaidãoglória“comsuaexistênciamesma”,258epor issooserhumanodevefazerusodelascomcuidadoedelicadeza.259

471.AAméricaLatinaeoCaribeestãoseconscientizandodanaturezacomoherançagratuitaquerecebemosparaproteger,comoespaçopreciosodaconvivênciahumanaecomoresponsa-bilidadecuidadosadosenhoriodohomemparaobemdetodos.Essaherançamuitasvezessemanifestafrágileindefesadiantedospodereseconômicosetecnológicos.Porisso,comoprofetasdavida,queremosinsistirque,nasintervençõessobreosrecur-sosnaturais,nãopredominemosinteressesdegruposeconômi-cosquearrasamirracionalmenteasfontesdevida,emprejuízodenaçõesinteirasedaprópriahumanidade.Asgeraçõesquenossucederãotêmdireitoareceberummundohabitávelenãoumplaneta com ar contaminado. Felizmente, em algumas escolas

258CCE2416.259Cf.CCE2418.

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católicascomeçou-seaintroduzirentreasdisciplinasumaedu-caçãoparaaresponsabilidadeecológica.

472.AIgrejaagradeceatodososqueseocupamcomadefe-sadavidaedoambiente.Énecessáriodarespecialimportânciaàmaisgravedestruiçãoemcursodaecologiahumana.260AIgrejaestá próxima aos homens do campo que, com amor generoso,trabalham duramente a terra para tirar, à vezes em condiçõesextremamentedifíceis,osustentoparasuasfamíliaselevarosfrutosdaterraatodos.Valorizaespecialmenteosindígenasporseurespeitoànaturezaepeloamoràmãeterracomofontedealimento,casacomumealtardapartilhahumana.

473.AriquezanaturaldaAméricaLatinaedoCaribeex-perimentahojeumaexploraçãoirracionalquevaideixandoumrastrodedilapidação,inclusivedemorteportodaanossaregião.Em todo esse processo, tem enorme responsabilidade o atualmodeloeconômico,queprivilegiaodesmedidoafãpelariqueza,acimadavidadaspessoasedospovosedorespeitoracionalpelanatureza.Adevastaçãodenossasflorestasedabiodiversidademedianteumaatitudepredatóriaeegoísta,envolvearesponsa-bilidademoraldosqueapromovem,porquecolocaemperigoavidademilhõesdepessoas,emespecialdohábitatdoscampo-neseseindígenas,quesãoexpulsosparaasterrasimprodutivaseparaasgrandescidadesparaviveremamontoadosnoscintu-rõesdemiséria.Nossaregiãotemnecessidadedeprogrediremseudesenvolvimentoagro-industrialparavalorizarasriquezasdesuasterrasesuascapacidadeshumanasaserviçodobem-co-mum.Porém,nãopodemosdeixardemencionarosproblemasque uma industrialização selvagem e descontrolada causa emnossascidadesenocampo,equevaicontaminandooambientecomtodotipodedejetosorgânicosequímicos.Damesmaformaéprecisoalertararespeitodasindústriasextrativasderecursosque,quandoprocedemdemaneiraacontrolareneutralizarseus

260JoãoPauloII,Centesimus annus,n.38.

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efeitosdanosossobreoambientecircundante,produzemaeli-minaçãodasflorestas,acontaminaçãodaáguaetransformamasregiõesexploradasemimensosdesertos.

474.Diantedessasituação,oferecemosalgumaspropostaseorientações:

a) Evangelizarnossospovosparaquedescubramodomdacriação,sabendocontemplá-laecuidardelacomocasadetodososseresvivosematrizdavidadoplaneta,afimdeexercitaremresponsavelmenteosenhoriohumanosobreaterraesobreosrecursos,paraquepossamrendertodososseusfrutoscomdestinaçãouniversal,educandoparaumestilodevidadesobriedadeeausteridadesolidárias.

b)Aprofundarapresençapastoralnaspopulaçõesmaisfrá-geis e ameaçadas pelo desenvolvimento predatório, eapoiá-lasemseusesforçosparaconseguireqüitativadis-tribuiçãodaterra,daáguaedosespaçosurbanos.

c) Procurar um modelo de desenvolvimento alternativo,261integral e solidário, baseado em uma ética que inclua aresponsabilidade por uma autêntica ecologia natural ehumana,quesefundamentanoevangelhodajustiça,dasolidariedadeedodestinouniversaldosbens,equesupe-realógicautilitaristaeindividualista,quenãosubmeteospodereseconômicosetecnológicosacritérioséticos.Portanto,estimularnossoshomensdocampoaseorga-nizaremdetalmaneiraquepossamconseguirsua justareivindicação.

d) Empenhar nossos esforços na promulgação de políticaspúblicaseparticipaçõescidadãsquegarantamaproteção,conservaçãoerestauraçãodanatureza.

261PP20, “(Overdadeirodesenvolvimento)éapassagem,para todose cadaum,dascondiçõesdevidamenoshumanasacondiçõesdevidamaishumanas”.

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e) Determinarmedidasdemonitoramentoecontrolesocialsobreaaplicaçãodospadrõesambientaisinternacionaisnospaíses.

475.CriarnasAméricasconsciênciasobreaimportânciadaAmazôniaparatodaahumanidade.EstabelecerentreasIgrejaslocaisdediversospaísessul-americanos,queestãonabaciaama-zônica,umapastoraldeconjuntocomprioridadesdiferenciadasparacriarummodelodedesenvolvimentoqueprivilegieospo-bresesirvaaobemcomum.Apoiar,comosrecursoshumanosefinanceirosnecessários,a IgrejaquevivenaAmazônia,paraquecontinueproclamandooevangelhodavidaedesenvolvaseutrabalhopastoralnaformaçãodeleigosesacerdotesatravésdeseminários,cursos,intercâmbios,visitasàscomunidadesema-terialeducativo.

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10.1Aculturaesuaevangelização

476.Acultura,emsuacompreensãomaisextensa,repre-sentaomodoparticularcomqueoshomenseospovoscultivamsuarelaçãocomanaturezaecomseusirmãos,consigomesmosecomDeus,afimdeconseguirumaexistênciaplenamentehu-mana.262Enquantotal,aculturaépatrimôniocomumdospovosetambémdaAméricaLatinaedoCaribe.

477.AVConferênciaemAparecidaolhapositivamenteecomverdadeiraempatiaasdiferentesformasdeculturapresen-tesemnossocontinente.Afésóéadequadamenteprofessada,entendidaevivida,quandopenetraprofundamentenosubstra-toculturaldeumpovo.263Dessemodoaparecetodaaimportân-ciadaculturaparaaevangelização,poisasalvaçãotrazidaporJesusCristodeveserluzeforçaparatodososanseios,paraassituaçõesalegresousofridaseparaasquestõespresentesnasrespectivasculturasdospovos.Oencontrodafécomasculturasaspurifica,permitequedesenvolvamsuasvirtualidades,enri-

262Cf.GS53.263Cf.JoãoPauloII,DiscursoaosparticipantesdoCongressoMundialdoMovimento

GeraldeAçãoCultural,16dejaneirode1982.

CapítuloXnoSSoSPoVoSEACuLturA

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quece-as,poistodaselasprocuramemúltimainstânciaaverda-de,queéCristo(Jo14,6).

478.ComoSantoPadre,damosgraçaspelofatodequeaIgreja,“ajudandoosfiéiscristãosaviveremsuafécomalegriaecoerência”,temsido,aolongodesuahistórianestecontinente,criadoraeanimadoradecultura:“AféemDeustemanimadoavidaeaculturadestespovosdurantesmaisdecincoséculos”.Essa realidade foi expressa “na arte, na música, na literatu-ra, e sobretudonas tradições religiosas e na idiossincrasia desuasgentes,unidaspelamesmahistóriaepelomesmocredo,eformandograndesintonianadiversidadedeculturasede lín-guas!”264

479. Com a inculturação da fé, a Igreja se enriquece comnovasexpressõesevalores,manifestandoecelebrandocadavezmelhoromistériodeCristo,conseguindounirmaisafécomavidaeassimcontribuindoparaumacatolicidademaisplena,nãosógeográfica,mastambémcultural.Noentanto,essepatrimô-nioculturallatino-americanoecaribenhosevêconfrontadocoma cultura atual, que apresenta luzes e sombras. Devemos con-siderá-lacomempatiaparaentendê-la,mastambémcomumaposturacríticaparadescobriroquenelaéfrutodalimitaçãohu-manaedopecado.Elaapresentamuitasesucessivasmudanças,provocadaspornovosconhecimentosedescobrimentosdaciên-ciaedatécnica.Assimsedesvaneceaimagemúnicadomundoqueofereciaorientaçãoparaavidacotidiana.Recai,portanto,sobreoindivíduotodaaresponsabilidadedeconstruirsuaper-sonalidade e plasmar sua identidade social. Assim temos, porumlado,aemergênciadasubjetividade,orespeitoàdignidadeeàliberdadedecadaum,semdúvidaumaimportanteconquistadahumanidade.Poroutrolado,essemesmopluralismodeor-demculturalereligiosa,propagadofortementeporumaculturaglobalizada,acabaporerigiroindividualismocomocaracterísti-

264DI1.

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217VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

cadominantedaatualsociedade,responsávelpelorelativismoéticoepelacrisedafamília.

480.Muitoscatólicosseencontramdesorientadosfrenteaessamudançacultural.CompeteàIgrejadenunciarclaramente“estesmodelosantropológicosincompatíveiscomanaturezaedignidadedohomem”.265Énecessárioapresentarapessoahu-manacomoocentrodetodaavidasocialecultural,resultan-donela:adignidadedeserimagemesemelhançadeDeuseavocação de ser filhos no Filho, chamados a compartilhar suavidaportodaaeternidade.AfécristãnosmostraJesusCris-tocomoaverdadeúltimadoserhumano,266omodelonoqualoserhumanoserealizaemtodooseuesplendorontológicoeexistencial.Anunciá-lointegralmenteemnossosdiasexigeco-ragemeespíritoprofético.NeutralizaraculturademortecomaculturacristãdasolidariedadeéimperativoquedizrespeitoatodosnósequefoiobjetivoconstantedoensinosocialdaIgre-ja. No entanto, o anúncio do Evangelho não pode prescindirdaculturaatual.Estadeveserconhecida,avaliadaeemcertosentidoassumidapelaIgreja,comlinguagemcompreendidapornossoscontemporâneos.Somenteassimafécristãpoderáapa-recercomorealidadepertinenteesignificativadesalvação.Masessamesmafédeverágerarmodelosculturaisalternativosparaasociedadeatual.Oscristãos,comostalentosquereceberam,talentosapropriadosdeverãosercriativosemseuscamposdeatuação:omundodacultura,dapolítica,daopiniãopública,daarteedaciência.

10.2Aeducaçãocomobempúblico

481. Anteriormente nos referimos à educação católica,mas,comopastores,nãopodemosignoraramissãodoEstadonocampoeducativo,velandodemodoparticularpelaeducaçãodascriançasejovens.Taiscentroseducativosnãodeveriamigno-

265BentoXVI,DiscursoaoCorpoDiplomático,8dejaneirode2007.266GS22.

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rarqueaaberturaàtranscendênciaéumadimensãodavidahu-mana, e por isso a formação integral das pessoas reivindica ainclusãodeconteúdosreligiosos.

482.AIgrejacrêque“ascriançaseosadolescentestêmodireito de ser estimulados a apreciar com reta consciência osvaloresmorais,prestandoaessesvaloressuaadesãopessoal,etambémdeserestimuladosaconhecereamarmaisaDeus.AIgrejaroga,pois,encarecidamenteatodososquegovernamospovos,ouqueestãoà frentedaeducação,aprocuraremqueajuventudenuncasevejaprivadadessesagradodireito”.267

483. Diante das dificuldades que encontramos em váriospaísesaesserespeito,queremosempenhar-nosnaformaçãoreli-giosadosfiéisqueassistemàsescolaspúblicasdegestãoestatal,procurandoacompanhá-lostambématravésdeoutrasinstânciasformativasemnossasparóquiasedioceses.Aomesmotempo,agradecemosadedicaçãodosprofessoresdereligiãonasescolaspúblicaseosanimamosnessatarefa.Eosestimulamosapromo-verem uma capacitação doutrinal e pedagógica. Agradecemostambémàquelesque,pelaoraçãoepelavidacomunitária,sees-forçamparaseremtestemunhasdeféecoerêncianessasescolas.

10.3PastoraldaComunicaçãoSocial

484.Arevoluçãotecnológicaeosprocessosdeglobalizaçãoformatam o mundo atual como grande cultura midiática. Issoimplica uma capacidade para reconhecer as novas linguagens,que podem favorecer maior humanização global. Essas novaslinguagensconfiguramumelementoarticuladordasmudançasnasociedade.

485.“Emnossoséculotãoinfluenciadopelosmeiosdeco-municaçãosocial,oprimeiroanúncio,acatequeseouoposterioraprofundamentodafénãopodemprescindirdessesmeios”.“Co-

267GE1.

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219VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

locadosaserviçodoEvangelho,elesoferecemapossibilidadededifundirquasesemlimitesocampodeaudiênciadaPalavradeDeus,fazendochegaraBoaNovaamilhõesdepessoas.AIgrejasesentiriaculpadadiantedeDeussenãoempregasseessespo-derososmeios,quea inteligênciahumanaaperfeiçoacadavezmais.Comeles,aIgreja‘proclamaapartirdostelhados’(cf.Mt10,27;Lc12,3)amensagemdaqualédepositária.Neles,encon-traumaversãomodernaeeficazdo‘púlpito’.Graçasaeles,podefalaràsmultidões”.268

486.Afimdeformardiscípulosemissionáriosnessecam-po,nós,bisposreunidosnaVConferência,comprometemo-nosaacompanharoscomunicadores,procurando:

a) Conhecerevalorizarestanovaculturadacomunicação.

b) Promoveraformaçãoprofissionalnaculturadacomuni-caçãodetodososagentesecristãos.

c) Formarcomunicadoresprofissionaiscompetentesecom-prometidoscomosvaloreshumanosecristãosnatrans-formaçãoevangélicadasociedade,comparticularatençãoaosproprietários,diretores,programadores,jornalistaselocutores.

d) Apoiareotimizar,porpartedaIgreja,acriaçãodemeiosdecomunicaçãosocialpróprios,tantonossetorestelevi-sivosederádio,comonossitesdeInternetenosmeiosimpressos;

e) Estarpresentenosmeiosdecomunicaçãodemassa:im-prensa,rádioeTV,cinemadigital,sitesdeInternet, fó-runsetantosoutrossistemasparaintroduzirnelesomis-tériodeCristo.

f) Educarnaformaçãocríticaquantoaousodosmeiosdecomunicaçãoapartirdaprimeiraidade.

268EN45.

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220 CELAM

g) Animarasiniciativasexistentesouaseremcriadasnestecampo,comespíritodecomunhão.

h) Suscitar leisparapromovernovaculturaqueprotejaascrianças, os jovens e as pessoas mais vulneráveis, paraqueacomunicaçãonãotransgridaosvalorese,aocontrá-rio,criemcritériosválidosdediscernimento.269

i) Desenvolverumapolíticadecomunicaçãocapazdeaju-dartantoaspastoraisdecomunicaçãocomoosmeiosdecomunicaçãodeinspiraçãocatólicaaencontrarseulugarnamissãoevangelizadoradaIgreja.

487.AInternet,vistadentrodopanoramadacomunicaçãosocial,deveserentendidanalinhajáproclamadanoConcílioVa-ticanoIIcomoumadas“maravilhosasinvençõesdatécnica”.270“ParaaIgreja,onovomundodoespaçocibernéticoéumaexor-taçãoàgrandeaventuradautilizaçãodeseupotencialparapro-clamaramensagemevangélica.Estedesafioestánocentrodoquesignifica,noiníciodomilênio,seguiromandatodoSenhorpara“avançar”:Duc in altum!(Lc5,4)”.271

488.“AIgrejaseaproximadestenovomeiocomrealismoeconfiança.Comoosoutrosinstrumentosdecomunicação,esteéummeioenãoumfimemsimesmo.AInternetpodeofere-cer magníficas oportunidades de evangelização, se usada comcompetênciaeclaraconsciênciadesuas forçase fraquezas”.272

489.Osmeiosdecomunicação,emgeral,nãosubstituemasrelaçõespessoaisnemavidacomunitária.Noentanto,ossitespodemreforçareestimularointercâmbiodeexperiênciasein-formaçõesqueintensifiquemapráticareligiosaatravésdeacom-panhamentoseorientações.Tambémnafamíliaospaisdevem

269 Cf. Pontifício Conselho para a Família, Carta dos direitos da família, Art. 5f, 22 deoutubrode1983.

270Inter Mirifica,n.1.271 João Paulo II, Mensagem para a 36ª Jornada Mundial das Comunicações Sociais,

Internet: um novo fórum para a proclamação do Evangelho,n.2,12demaiode2002.272Ibid.3

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221VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

alertarosfilhosparaousoconscientedosconteúdosdisponíveisnaInternet,paralhescomplementaraformaçãoeducacionalemoral.

490.Vistoqueaexclusãodigitaléevidente,asparóquias,comunidades,centrosculturaiseinstituiçõeseducacionaiscató-licaspoderiamserestimuladorasdacriaçãodepontosderedeedesalasdigitaisparapromoverainclusão,desenvolvendonovasiniciativaseaproveitando,comolharpositivo,asquejáexistem.NaAméricaLatinaenoCaribeexistemrevistas, jornais,sites,portaiseserviçoson linedeconteúdosinformativoseformati-vos,alémdeorientaçõesreligiosasesociaisdiversas,taiscomo“sacerdote”, “orientador espiritual”, “orientador vocacional”,“professor”,“médico”,entreoutros.Existeminumeráveisesco-las e instituições católicas que oferecem cursos à distância deteologiaeculturabíblica.

10.4novosareópagosecentrosdedecisão

491. Queremos felicitar e incentivar a tantos discípulos emissionáriosdeJesusCristoque,comsuapresençaéticacoeren-te, continuamsemeandoosvaloresevangélicosnosambientesondetradicionalmentesefazculturaenosnovosareópagos:omundodascomunicações,aconstruçãodapaz,odesenvolvimen-toealibertaçãodospovos,sobretudodasminorias,apromoçãodamulheredascrianças,aecologiaeaproteçãodanatureza.E“ovastíssimoareópagodacultura,daexperimentaçãocientífica,das relações internacionais”.273 Evangelizar a cultura, longe deabandonaraopçãopreferencialpelospobresepelocompromis-socomarealidade,nascedoamorapaixonadoporCristo,queacompanhaoPovodeDeusnamissãodeinculturaroEvangelhonahistória,ardenteeinfatigávelemsuacaridadesamaritana.

492. Tarefa de grande importância é a formação de pen-sadoresepessoasqueestejamnosníveisdedecisão.Paraisso,

273RM37.

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devemos empregar esforço e criatividade na evangelização deempresários, políticos e formadores de opinião no mundo dotrabalho,dirigentessindicais,cooperativosecomunitários.

493.Naculturaatual,surgemnovoscamposmissionáriosepastoraisqueseabrem.Umdelesé,semdúvida,apastoraldoturismo274edoentretenimento,quetemcampoimensoderea-lizaçãonosclubes,nosesportes,nocinema,centroscomerciaiseoutrasopçõesquediariamentechamamaatençãoepedemparaserevangelizados.

494.Diantedafalsavisão, tãodifundidaemnossosdias,deumaincompatibilidadeentreféeciência,aIgrejaproclamaqueafénãoéirracional.“Féerazãosãoduasasaspelasquaisoespíritohumanoseelevanacontemplaçãodaverdade”.275Porisso,valorizamosa tantoshomensemulheresde fée ciência,queaprenderamavernabelezadanaturezaossinaisdoMisté-rio,doamoredabondadedeDeus,esãosinaisluminososqueajudamacompreenderqueolivrodanaturezaedaSagradaEs-criturafalamdomesmoVerboquesefezcarne.

495.Queremosvalorizarsempremaisosespaçosdediálo-goentreféeciência,inclusivenosmeiosdecomunicação.Umaformadefazê-loéatravésdadifusãodareflexãoedaobradosgrandespensadorescatólicos,especialmentedoséculoXX,comoreferênciasparaajustacompreensãodaciência.

496.DeusnãoésóasumaVerdade.EleétambémasumaBondadeeasupremaBeleza.Porisso,“asociedadetemneces-sidadedeartistas,damesmaformaquenecessitadecientistas,técnicos, trabalhadores, especialistas, testemunhas da fé, pro-fessores,paisemães,quegarantamocrescimentodapessoaeoprogressodacomunidade,atravésdaquelaformasublimedeartequeéa“artedeeducar”.276

274Cf.“Orientações para a Pastoral do Turismo”, L’Osservatore Romano,Ed.Italiana,Supl.,n.157,12dejulhode2001.

275FRPreâmbulo.276JoãoPauloII,Carta aos artistas,n.4,4deabrilde1999.

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223VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

497.Énecessáriocomunicarosvaloresevangélicosdema-neirapositivaepropositiva.Sãomuitososquesedizemdescon-tentes, não tanto com o conteúdo da doutrina da Igreja, mascom a forma como é apresentada. Para isso, na elaboração denossosplanospastoraisqueremos:

a) Favoreceraformaçãodeumlaicatocapazdeatuarcomoverdadeirosujeitoeclesialecompetenteinterlocutoren-treaIgrejaeasociedade,eentreasociedadeeaIgreja.

b) Otimizarousodosmeiosdecomunicaçãocatólicos, fa-zendo-osmaisatuanteseeficazes,sejaparaacomunica-çãodafé,sejaparaodiálogoentreaIgrejaeasociedade.

c) Atuarcomosartistas,esportistas,profissionaisdamoda,jornalistas,comunicadoreseapresentadores,assimcomocomosprodutoresdeinformaçãonosmeiosdecomuni-cação,comosintelectuais,professores,líderescomunitá-riosereligiosos.

d) Resgataropapeldosacerdotecomoformadordeopinião.

498.AproveitandoasexperiênciasdosCentrosdeFéeCul-turaouCentrosCulturaisCatólicos,trataremosdecriaroudi-namizarosgruposdediálogoentreaIgrejaeosformadoresdeopinião dos diversos campos. Convocamos nossas Universida-desCatólicasparaquesejamcadavezmaislugardeproduçãoeirradiaçãododiálogoentreféerazãoedopensamentocatólico.

499.Cabe tambémàs IgrejasdaAméricaLatinaedoCa-ribecriaroportunidadesparaautilizaçãodaartenacatequesedecrianças,adolescenteseadultos,assimcomonasdiferentespastoraisdaIgreja.ÉnecessáriotambémqueasaçõesdaIgrejanessecamposejamacompanhadaspelomelhoramentotécnicoeprofissionalexigidopelaprópriaexpressãoartística.Poroutrolado,étambémnecessáriaaformaçãodeumaconsciênciacríticaquepermitajulgarcomcritériosobjetivosaqualidadeartísticadoquerealizamos.

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500.Éfundamentalqueascelebraçõeslitúrgicasincorpo-rem em suas manifestações elementos artísticos que possamtransformareprepararaassembléiaparaoencontrocomCristo.Avalorizaçãodosespaçosdeculturaexistentes,ondeseincluemosprópriostemplos,étarefaessencialparaaevangelizaçãopelacultura. Nessa linha, também se deve incentivar a criação decentrosculturaiscatólicos,necessáriosespecialmentenasáreasmaiscarentes,ondeoacessoàculturaémaisurgenteereivindi-camelhorarosentidodohumano.

10.5discípulosemissionáriosnavidapública

501.OsdiscípulosemissionáriosdeCristodevemilumi-nar com a luz do Evangelho todos os âmbitos da vida social.A opção preferencial pelos pobres, de raiz evangélica, exigeatenção pastoral voltada aos construtores da sociedade.277 Semuitasdasestruturasatuaisgerampobreza,emparteédevi-doàfaltadefidelidadeacompromissosevangélicosdemuitoscristãoscomespeciaisresponsabilidadespolíticas,econômicaseculturais.

502.Arealidadeatualdenossocontinentemanifestaqueexiste“umanotávelausência,noâmbitopolítico,comunicativoeuniversitário,devozeseiniciativasdelíderescatólicosdefortepersonalidadeedevocaçãoabnegadaquesejamcoerentescomsuasconvicçõeséticasereligiosas”.278

503.Entreossinaisdepreocupação,destaca-se,comodasmaisrelevantesaconcepçãoquesetemformadodoserhumano,homememulher.Agressõesàvida,emtodasassuasinstâncias,emespecialcontraosmaisinocentesedesvalidos,pobrezaagu-daeexclusãosocial,corrupçãoerelativismoético,entreoutrosaspectos, têmcomoreferênciaumserhumano,naprática, fe-chadoaDeuseaooutro.

277Cf.EV5.278DI4.

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225VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

504.Tantoumantigolaicismoexacerbado,comoumrela-tivismoéticoquesepropõecomofundamentodademocracia,animamfortespoderesquepretendemrefutartodapresençaecontribuiçãodaIgrejanavidapúblicadasnaçõeseapressionamparaqueseretireparaostemploseparaseusserviços“religio-sos”.Conscientedadistinçãoentrecomunidadepolíticaecomu-nidadereligiosa,basedesadialaicidade,aIgrejanãodeixarádese preocupar pelo bem comum dos povos e, em especial, peladefesadeprincípioséticosnãonegociáveisporqueestãoarrai-gadosnanaturezahumana.

505.Osleigosdenossocontinente,conscientesdesuacha-mada à santidade em virtude de sua vocação batismal, são osquetêmdeatuaràmaneirade fermentonamassaparacons-truirumacidadetemporalqueestejadeacordocomoprojetodeDeus.Acoerênciaentreféevidanoâmbitopolítico,econômicoesocialexigeaformaçãodaconsciência,quesetraduznoconhe-cimentodaDoutrinaSocialdaIgreja.Paraadequadaformaçãosobreela,serádemuitautilidadeoCompêndiodaDoutrinaSo-cialdaIgreja.AVConferênciasecomprometealevaracaboumacatequesesocial incisiva,porque“avidacristãnãoseexpressasomente nas virtudes pessoais, mas também nas virtudes so-ciaisepolíticas”.279

506.OdiscípuloemissionáriodeCristoqueseempenhanosâmbitosdapolítica,daeconomiaenoscentrosdedecisõessofre a influência de uma cultura freqüentemente dominadapelomaterialismo,pelosinteressesegoístaseporumaconcep-çãodohomemcontráriaàvisãocristã.Porisso,éimprescindívelque o discípulo se fundamente no seguimento do Senhor quelheconcedeaforçanecessária,nãosóparanãosucumbirdiantedasinsídiasdomaterialismoedoegoísmo,masparaconstruiraoredordeleumconsensomoralsobreosvaloresfundamentaisquetornampossívelaconstruçãodeumasociedadejusta.

279DI3.

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22� CELAM

507.Pensemosemquãonecessáriaéa integridademoralnospolíticos.Muitosdospaíseslatino-americanosecaribenhos,mastambémemoutroscontinentes,vivemnamiséria,porpro-blemasendêmicosdecorrupção.Quantadisciplinadeintegrida-demoralnecessitamos,entendendoessadisciplinanosentidocristãodoauto-domínioparafazerobem,paraserservidordaverdadeedodesenvolvimentodenossastarefassemnosdeixarcorromperporfavores,interessesevantagens.Énecessáriamui-taforçaemuitaperseverançaparaconservarahonestidadequedevesurgirdeumanovaeducaçãoquerompaocírculoviciosodacorrupçãoimperante.Realmentenecessitamosdemuitoesforçoparaavançarnacriaçãodeumaverdadeirariquezamoralquenospermitaprevernossoprópriofuturo.

508.OsbisposreunidosnaVConferênciaqueremosacom-panharosconstrutoresdasociedade,vistoqueéavocaçãofun-damentaldaIgrejanestesetorformarasconsciências,seradvo-gadadajustiçaedaverdadeeeducarnasvirtudesindividuaisepolíticas.280 Queremos chamar ao sentido de responsabilidadedos leigos para que estejam presentes na vida pública, e maisconcretamente “na formação dos consensos necessários e naoposiçãocontraainjustiça”.281

10.�APastoralurbana

509. O cristão de hoje não se encontra mais na primeiralinhadaproduçãocultural,masrecebesuainfluênciaeseusim-pactos.Asgrandescidadessão laboratóriosdessaculturacon-temporâneacomplexaeplural.

510.Acidadeseconverteunolugarprópriodasnovascul-turasquesevãogestandoeseimpondo,comnovalinguagemenovasimbologia.Essamentalidadeurbanaseestendetambémaoprópriomundorural.Definitivamente,acidadeprocurahar-

280Cf.DI4.281DI4.

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227VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

monizaranecessidadedodesenvolvimentocomodesenvolvi-mento das necessidades, fracassando freqüentemente nessepropósito.

511.Nomundourbano,acontecemcomplexastransforma-çõessócio-econômicas,culturais,políticasereligiosasquefazemimpactoemtodasasdimensõesdavida.Écompostodecidadessatélitesebairrosperiféricos.

512.Nacidade,convivemdiferentescategoriassociais,taiscomo as elites econômicas, sociais e políticas, a classe médiacomseusdiferentesníveis,eagrandemultidãodospobres.Nelacoexistem binômios que a desafiam cotidianamente: tradição-modernidade; globalidade-particularidade; inclusão-exclusão;personalização-despersonalização; linguagem secular-lingua-gemreligiosa;homogeneidade-pluralidade,culturaurbana-plu-riculturalismo.

513.AIgrejaemseuinícioseformounasgrandescidadesdeseutempoeseserviudelasparasepropagar.Porisso,podemosrealizarcomalegriaecoragemaevangelizaçãodacidadeatual.Diantedanovarealidadedacidade,novasexperiênciasserea-lizamnaIgreja,taiscomoarenovaçãodasparóquias,setoriza-ção,novosministérios,novasassociações,grupos,comunidadesemovimentos.Massepercebematitudesdemedoemrelaçãoàpastoralurbana;tendênciasasefecharnosmétodosantigoseatomaratitudededefesadiantedanovacultura,comsentimen-tosdeimpotênciadiantedasgrandesdificuldadesdascidades.

514.AfénosensinaqueDeusvivenacidade,emmeioasuas alegrias, desejos e esperanças, com também em meio asuasdoresesofrimentos.Assombrasquemarcamocotidianodas cidades, como exemplo a violência, pobreza, individualis-moeexclusão,nãonospodemimpedirquebusquemosecon-templemosoDeusdavidatambémnosambientesurbanos.Ascidadessãolugaresdeliberdadeeoportunidade.Nelas,aspes-soastêmapossibilidadedeconhecermaispessoas,interagire

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convivercomelas.Nascidadesépossívelexperimentarvíncu-losdefraternidade,solidariedadeeuniversalidade.Nelas,oserhumanoéconstantementechamadoacaminharsempremaisaoencontrodooutro,convivercomodiferente,aceitá-loeseraceitoporele.

515.OprojetodeDeusé“aCidadeSanta,anovaJerusa-lém”,quedescedocéu,dejuntoaDeus,“vestidacomonoivaqueseadornaparaseuesposo”,queé“atendaqueDeusinstalouen-treoshomens.Acamparácomeles;elesserãoseupovoeopró-prioDeusestarácomeles.Enxugaráaslágrimasdeseusolhos,enãohaverámorte,nemluto,nempranto,nemdor,porquetudooqueéantigoterádesaparecido”(Ap21,2-4).Esseprojetoemsuaplenitudeéfuturo,masjáestáserealizandoemJesusCris-to,“oAlfaeoÔmega,oPrincípioeoFim”(Ap21,6),quenosdiz:“Eufaçonovastodasascoisas”(Ap21,5).

516.AIgrejaestáaserviçodarealizaçãodessaCidadeSan-ta,medianteaproclamaçãoeavivênciadaPalavra,acelebraçãodaLiturgia,acomunhãofraternaeoserviço,especialmenteaosmaispobreseaosquemaissofrem,edessaformavaitransfor-mandoemCristo,comofermentodoReino,acidadeatual.

517. Reconhecendo e agradecendo o trabalho renovadorque já se realiza em muitos centros urbanos, a V Conferênciapropõeerecomendaumanovapastoralurbanaque:

a) Respondaaosgrandesdesafiosdacrescenteurbanização.

b) Sejacapazdeatenderàsvariadasecomplexascategoriassociais, econômicas, políticas e culturais: pobres, classemédiaeelites.

c) Desenvolva uma espiritualidade da gratidão, da mise-ricórdia, da solidariedade fraterna, atitudes própriasde quem ama desinteressadamente e sem pedir recom-pensa.

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d) Abra-se a novas experiências, estilos e linguagens quepossamencarnaroEvangelhonacidade.

e) Transformeasparóquiascadavezmaisemcomunidadesdecomunidades.

f) Apostemaisintensamentenaexperiênciadecomunida-des ambientais, integradas em nível supra-paroquial ediocesano.

g) Integreoselementosprópriosdavidacristã:aPalavra,aLiturgia,acomunhãofraternaeoserviço,especialmenteaosquesofrempobrezaeconômicaenovasformasdepo-breza.

h) DifundaaPalavradeDeus,anuncie-acomalegriaeousa-diaerealizeaformaçãodosleigosdetalmodoquepos-samresponderàsgrandesperguntaseaspiraçõesdehojeeinserir-senosdiversosambientes,estruturasecentrosdedecisãodavidaurbana.

i) Fomenteapastoraldaacolhidaaosquechegamàcidadeeaosquejávivemnela,passandodeumpassivoesperaraumativobuscarechegaraosqueestãolongecomnovasestratégias, tais como visitas às casas, o uso dos novosmeiosdecomunicaçãosocialeaconstanteproximidadeaoqueconstituiparacadapessoaoseudia-a-dia.

j) Ofereçaatençãoespecialaomundodosofrimentourba-no,istoé,quecuidedoscaídosaolongodocaminhoeaosqueseencontramnoshospitais,encarcerados,excluídos,dependentesdasdrogas,habitantesdasnovasperiferias,nasnovasurbanizaçõesedasfamíliasque,desintegradas,convivemdefato.

k) ProcureapresençadaIgreja,pormeiodenovasparóquiasecapelas,comunidadescristãsecentrosdepastoral,nasnovas concentrações humanas que crescem acelerada-mentenasperiferiasurbanasdasgrandescidadesdevidoàsmigraçõesinternasesituaçõesdeexclusão.

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518.Paraqueoshabitantesdoscentrosurbanosedesuasperiferias,cristãosounãocristãos,possamencontraremCristoaplenitudedevida,sentimosaurgênciadequeosagentesdepastoral,enquantodiscípulosemissionários,seesforcemparadesenvolver:

a) Umestilopastoraladequadoàrealidadeurbanacomaten-çãoespecialàlinguagem,àsestruturasepráticaspasto-rais,assimcomoaoshorários.

b) Umplanodepastoralorgânicoearticuladoqueseinte-greemprojetocomumàsparóquias,comunidadesdevidaconsagrada, pequenas comunidades, movimentos e ins-tituiçõesque incidemnacidade,equeseuobjetivosejachegaraoconjuntodacidade.Noscasosdegrandescida-des onde existem várias Dioceses, faz-se necessário umplanointer-diocesano.

c) Umasetorizaçãodasparóquiasemunidadesmenoresquepermitamaproximidadeeumserviçomaiseficaz.

d) UmprocessodeiniciaçãocristãedeformaçãopermanentequeretroalimenteafédosdiscípulosdoSenhorintegran-do o conhecimento, o sentimento e o comportamento.

e) Serviçosdeatenção,acolhidapessoal,direçãoespiritualedosacramentodareconciliação,respondendoàsolidão,àsgrandesferidaspsicológicasquemuitossofremnascida-des,levandoemconsideraçãoasrelaçõesinter-pessoais.

f) Umaatençãoespecializadaaosleigosemsuasdiferentescategorias:profissionais,empresariaisetrabalhadores.

g) Processosgraduaisdeformaçãocristãcomarealizaçãodegrandes eventos de multidões, que mobilizem a cidade,quefaçamsentirqueacidadeéumconjunto,éumtodo,quesaibamresponderàafetividadedeseuscidadãoseemlinguagemsimbólicasaibamtransmitiroEvangelhoato-dasaspessoasquevivemnacidade.

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h) Estratégiasparachegaraoslugaresfechadosdascidadescomo aglomerados de casas, condomínios, prédios resi-denciaisoulugaresassimchamadoscortiçosefavelas.

i) ApresençaproféticaquesaibalevantaravozemrelaçãoaquestõesdevaloreseprincípiosdoReinodeDeus,aindaque contradiga a todas as opiniões, provoque ataques esófiquenoanúncio.Istoé,quesejafaroldeluz,cidadecolocadanoaltoparailuminar.

j) Maiorpresençanoscentrosdedecisãodacidade,tantonas estruturas administrativas como nas organizaçõescomunitárias,profissionaisedetodotipodeassociaçãopara velar pelo bem comum e promover os valores doReino.

k) Aformaçãoeacompanhamentodeleigoseleigasque,in-fluindo nos centros de opinião, se organizem entre si epossamserassessoresparatodaaaçãosocial.

l) Umapastoralqueleveemconsideraçãoabelezanoanún-ciodaPalavraenasdiversasiniciativas,ajudandoades-cobrirabelezaplenaqueéDeus.

m)Serviços especiais que respondam às diferentes ativida-desprópriasdacidade:trabalho,descanso,esportes,tu-rismo,arteetc.

n) Umadescentralizaçãodosserviçoseclesiaisdemodoquesejammuitomaisosagentesdepastoralqueseintegremaestamissão,levandoemconsideraçãoascategoriaspro-fissionais.

o) Umaformaçãopastoraldosfuturospresbíteroseagentesdepastoralcapazderesponderaosnovosdesafiosdacul-turaurbana.

519.Noentanto,tudooquefoiditoanteriormentenãotiraaimportânciadeumarenovadapastoralruralquefortaleçaos

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habitantesdocampoeseudesenvolvimentoeconômicoesocial,resistindoàsmigrações.Deve-seanunciaraelesaBoaNovaparaqueenriqueçamsuasprópriasculturaseasrelaçõescomunitá-riasesociais.

10.7Aserviçodaunidadeefraternidadedenossospovos

520. Na nova situação cultural afirmamos que o projetodoReinoestápresenteeépossível,eporissoaspiramosaumaAmérica Latina e Caribenha unida, reconciliada e integrada.Estacasacomuméhabitadaporumacomplexamestiçagemeumapluralidadeétnicaecultural,“naqualoEvangelhosetemtransformado(...)noelementochavedeumasíntesedinâmicaque,comcoresdiversassegundoasnações,expressadetodasasformasaidentidadedospovoslatino-americanos”.282

521.OsdesafiosqueenfrentamoshojenaAméricaLatinae no mundo têm uma característica peculiar. Eles não afetama todos os nossos povos de maneira similar, mas, para seremenfrentados, requerem compreensão global e ação conjunta.Cremosque“umfatorquepodecontribuirnotavelmenteparasuperarosurgentesproblemasquehojeafetamestecontinenteéaintegraçãolatino-americana”.283

522.Porumlado,vai-seconfigurandoumarealidadeglo-bal que torna possível novos modos de conhecer, aprender ecomunicar-se,quenoscolocaemcontatodiáriocomadiver-sidadedenossomundoecriapossibilidadesparaumauniãoesolidariedademaisestreitasemníveis regionaiseemnívelmundial.Poroutrolado,geram-senovasformasdeempobre-cimento,exclusãoeinjustiça.OContinentedaesperançadeveconseguir sua integração sobre os fundamentos da vida, doamoredapaz.

282BentoXVI,AudiênciaGeral,ViagemApostólicaaoBrasil,23demaiode2007.283SD15.

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233VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

523. Reconhecemos uma profunda vocação à unidade no“coração”decadahomem,porteremtodosamesmaorigemePai,porlevarememsiaimagemesemelhançadopróprioDeusemsuacomunhãotrinitária(cf.Gn1,26).AIgrejasereconhecenosensinosdoConcílioVaticanoIIcomo“sacramentodeuni-dadedogênerohumano”,conscientedavitóriapascaldeCristo,masvivendonomundoqueaindaestásobopoderdopecado,com sua seqüela de contradições, dominações e morte. A par-tirdessaleituracristãdahistória,percebe-seaambigüidadedoatualprocessodeglobalização.

524.AIgrejadeDeusnaAméricalatinaenoCaribeésacra-mentodecomunhãodeseuspovos.Émoradadeseuspovos;écasadospobresdeDeus.Convocaecongregatodosemseumis-tériodecomunhão,semdiscriminaçõesnemexclusõespormo-tivosdesexo,raça,condiçãosocialepertençanacional.QuantomaisaIgrejareflete,viveecomunicaessedomdeinauditauni-dade,queencontranacomunhãotrinitáriaasuafonte,modeloedestino,torna-semaissignificativoeincisivoseuoperarcomosujeito de reconciliação e comunhão na vida de nossos povos.MariaSantíssimaéapresençamaternaindispensáveledecisivanagestaçãodeumpovodefilhoseirmãos,dediscípulosemis-sionáriosdeseuFilho.

525.Adignidadedenosreconhecercomofamíliade lati-no-americanos e caribenhos implica uma experiência singulardeproximidade,fraternidadeesolidariedade.Nãosomosmerocontinente,apenasumfatogeográficocommosaicoininteligí-veldeconteúdos.Muitomenossomosumasomadepovosedeetniasquesejustapõem.Unaeplural,aAméricaLatinaéacasacomum,agrandepátriadeirmãose–comoafirmouS.S.JoãoPauloIIemSantoDomingo284–“dealgunspovosaquemames-mageografia,afécristã,alínguaeaculturauniramdefinitiva-mentenocaminhodahistória”.É,pois,umaunidadequeestá

284JoãoPauloII,DiscursoinauguralnaIVConferênciaGeraldoEpiscopadoLatino-ame-ricano,12deoutubrode1992.

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muitolongedesereduzirauniformidade,masqueseenriquececommuitasdiversidadeslocais,nacionaiseculturais.

526.AIIIConferênciaGeraldoEpiscopadoLatino-ameri-cano já propunha “retomar com renovado vigor a evangeliza-çãodaculturadenossospovosedosdiversosgruposétnicos”paraque “a féevangélica, comobasedecomunhão, seprojeteemformasdeintegraçãojustanosrespectivosquadrosdeumanacionalidade,deumagrandepátrialatino-americana(...)”.285AIVConferênciaemSantoDomingovoltavaapropor“operma-nenterejuvenescimentodoidealdenossospróceressobreaPá-triaGrande”.AVConferênciaemAparecidaexpressasuafirmevontadedeprosseguirnessecompromisso.

527.Nãohá,certamente,outraregiãoquecontecomtantosfatoresdeunidadecomoaAméricaLatina–dosquaisavigênciadatradiçãocatólicaéocimentofundamentaldesuaconstrução–mastrata-sedeunidadeesparsa,porqueatravessadaporpro-fundasdominaçõesecontradições,eéincapazdeincorporaremsi“todosossangues”edesuperarabrechadeestridentesdesi-gualdades e marginalizações. Nossa pátria é grande, mas serárealmente“grande”quandooforparatodos,commaiorjustiça.Naverdade,éumacontradiçãodolorosaqueoContinentecomomaiornúmerodecatólicossejatambémodemaioriniqüidadesocial.

528. Nos últimos 20 anos apreciamos os avanços signifi-cativos e promissores nos processos e sistemas de integraçãode nossos países. As relações comerciais e políticas se têm in-tensificado.ÉnovaacomunicaçãoesolidariedademaisestreitaentreoBrasileospaíseshispano-americanoseoscaribenhos.Noentanto,hágravesbloqueiosquetravamessesprocessos.Éfrágileambíguaameraintegraçãocomercial.Tambéméfrágileambíguaquandoessaintegraçãosereduzaquestãodecúpulaspolíticaseeconômicasenãosefundamentanavidaenapartici-

285DP428.

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paçãodospovos.Osatrasosnaintegraçãotendemaaprofundarapobrezaeasdesigualdades,enquantoasredesdenarcotráficose integram além das fronteiras. Embora a linguagem políticasejaabundantesobreaintegração,adialéticadacontraposiçãopareceprevalecersobreodinamismodasolidariedadeeamiza-de.Aunidadenãoseconstróipelacontraposiçãoainimigosco-muns,maspelarealizaçãodeumaidentidadecomum.

10.�Aintegraçãodosindígenaseafro-americanos

529.ComodiscípulosdeJesusCristo, encarnadonavidadetodosospovos,descobrimosereconhecemosapartirdaféas“sementesdoVerbo”286presentesnastradiçõeseculturasdospovosindígenasdaAméricaLatina.Delesvalorizamosseupro-fundoapreçocomunitáriopelavida,presenteemtodaacriação,naexistênciacotidianaenamilenáriaexperiênciareligiosa,quedinamizasuasculturas,equechegaàsuaplenitudenarevelaçãodoverdadeirorostodeDeusporJesusCristo.

530. Como discípulos e missionários a serviço da vida,acompanhamosospovos indígenaseorigináriosno fortaleci-mentodesuasidentidadeseorganizaçõespróprias,nadefesadoterritórionaeducaçãointerculturalbilíngüeenadefesadeseusdireitos.Comprometemo-nostambémacriarconsciênciana sociedade a respeito da realidade indígena e seus valores,através dos meios de comunicação social e outros espaços deopinião.ApartirdosprincípiosdoEvangelho,apoiamosade-núnciadeatitudescontráriasàvidaplenaemnossospovosdeorigemenoscomprometemosaprosseguirnaobradeevange-lizaçãodosindígenas,assimcomoaprocurarasaprendizagenseducativasedetrabalhocomastransformaçõesculturaisqueissoimplica.

531. A Igreja estará atenta frente às tentativas de desar-raigarafécatólicadascomunidadesindígenas;comissoelasfi-

286Cf.SD245.

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cariamemsituaçãoindefesaeconfusafrenteaosembatesdasideologiasedealgunsgruposalienantes,eissoatentariacontraobemdasmesmascomunidades.

532.OseguimentodeJesusnoContinentepassatambémpeloreconhecimentodosafro-americanoscomodesafioquenosinterpelaparaviveroverdadeiroamoraDeuseaopróximo.Serdiscípulosemissionáriossignificaassumiraatitudedecompai-xãoecuidadodoPai,quesemanifestamnaaçãolibertadoradeJesus.“AIgrejadefendeosautênticosvaloresculturaisdetodosos povos, especialmente dos oprimidos, indefesos e margina-lizados,diantedaforçaavassaladoradasestruturasdepecadomanifestasnasociedademoderna”.287Conhecerosvalorescul-turais,ahistóriaeastradiçõesdosafro-americanos,entraremdiálogofraternoerespeitosocomeles,éumpassoimportantenamissãoevangelizadoradaIgreja.Quenosacompanheaíotes-temunhodeSãoPedroClaver.

533.Porisso,aIgrejadenunciaapráticadadiscriminaçãoedoracismoemsuasdiferentesexpressões,poisofendenomaisprofundoadignidadehumanacriadaà“imagemesemelhançadeDeus”.Preocupa-nosquepoucosafro-americanoscheguemàeducaçãosuperior,semaqualsetornamaisdifícilseuacessoàsesferasdedecisãonasociedade.Emsuamissãodeadvogadadajustiçaedospobres,aIgrejasefazsolidáriaaosafro-americanosnasreivindicaçõespeladefesadeseusterritórios,naafirmaçãodeseusdireitos,nacidadania,nosprojetosprópriosdedesen-volvimentoeconsciênciadenegritude.AIgrejaapóiaodiálogoentreculturanegraefécristãesuaslutaspelajustiçasocial,ein-centivaaparticipaçãoativadosafro-americanosnasaçõespas-toraisdenossasIgrejasedoCELAM.AIgreja,comsuapregação,vidasacramentalepastoral,precisaráajudarparaqueasferidasculturaisinjustamentesofridasnahistóriadosafro-americanos,nãoabsorvam,nemparalisemapartirdoseuinterior,odina-

287 SD243.

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mismodesuapersonalidadehumana,desuaidentidadeétnica,desuamemóriacultural,deseudesenvolvimentosocialnosno-voscenáriosqueseapresentam.

10.9Caminhosdereconciliaçãoesolidariedade

534.AIgrejaprecisaanimarcadapovoaconstruiremsuapátriaumacasadeirmãosondetodostenhammoradiaparavi-vereconvivercomdignidade.Essavocaçãorequeraalegriadequererserefazerumanação,umprojetohistóricoqueinspirevidaemcomum.AIgrejaprecisaeducareconduzircadavezmaisàreconciliaçãocomDeusecomosirmãos.Precisasomarenãodividir.Importacicatrizarasferidas,evitarmaniqueísmos,pe-rigosasexasperaçõesepolarizações.Osdinamismosdeintegra-çãodigna,justaeeqüitativanointeriordecadaumdospaísesfavoreceaintegraçãoregionale,aomesmotempo,éincentivadaporela.

535.Énecessárioeducarefavorecernossospovosemtodososgestos,obrasecaminhosdereconciliaçãoeamizadesocial,decooperaçãoe integração.AcomunhãoalcançadanosanguereconciliadordeCristonosdáaforçaparasermosconstrutoresdepontes,anunciadoresdaverdade,bálsamosparaasferidas.Areconciliaçãoestánocoraçãodavidacristã.Éiniciativaprópriade Deus em busca de nossa amizade, que comporta consigo anecessária reconciliação com o irmão. Trata-se de uma recon-ciliaçãodaqualnecessitamosnosdiversosâmbitoseemtodoseentretodosospaíses.EssareconciliaçãofraternapressupõeareconciliaçãocomDeus, fonteúnicadegraçaedeperdão,quealcançasuaexpressãoerealizaçãonosacramentodapenitênciaqueDeusnosconcedeatravésdaIgreja.

536.Nocoraçãoenavidadenossospovospulsaumfor-tesentidodeesperança,nãoobstanteascondiçõesdevidaqueparecemofuscar todaesperança.Estaseexperimentaeseali-mentanopresente,graçasaosdonsesinaisdevidanovaquesecompartilha;compromete-senaconstruçãodeumfuturode

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maiordignidadeejustiçaeaspira“osnovoscéuseanovaterra”queDeusnosprometeuemsuamoradaeterna.

537.AAméricaLatinaeoCaribenãodevemsersóoConti-nentedaesperança.Alémdisso,devemtambémabrircaminhosparaacivilizaçãodoamor.AssimseexpressouoPapaBentoXVInosantuáriomarianodeAparecida:288paraquenossacasaco-mumsejaumcontinentedaesperança,doamor,davidaedapazháqueir,comobonssamaritanos,aoencontrodasnecessidadesdospobresedosquesofremecriar“asestruturasjustasquesãoumacondiçãosemaqualnãoépossívelumaordemjustanaso-ciedade...”Essasestruturas,continuaoPapa,“nãonascemnemfuncionamsemumconsensomoraldasociedadesobreosvaloresfundamentaisesobreanecessidadedeviverestesvalorescomasnecessáriasrenúncias,inclusivecontraointeressepessoal”,e“ondeDeusestáausente(...)estesvaloresnãosemostramcomtodaasuaforçanemseproduzumconsensosobreeles”.289Essasestruturasjustasnascemefuncionamquandoasociedadeper-cebequeohomemeamulher,criadosàimagemesemelhançadeDeus,possuemumadignidade inviolável,aserviçodaqualterãodeconcebereatuarosvaloresfundamentaisqueregemaconvivênciahumana.Esseconsensomoralemudançadeestru-turassãoimportantesparadiminuiradolorosainiqüidadequehojeexisteemnossocontinente,entreoutrascoisasatravésdepolíticaspúblicasegastossociaisbemorientados,assimcomodocontroledelucrosdesproporcionaisdegrandesempresas.AIgrejaestimulaepropiciaoexercíciodeuma“imaginaçãodaca-ridade”quepermitasoluçõeseficazes.

538.Todasasautênticastransformaçõesfráguamesefor-jamnocoraçãodaspessoaseseirradiamemtodasasdimensõesdesuaexistênciaeconvivência.Nãohánovasestruturassenãoháhomensnovosemulheresnovasquemobilizemefaçamcon-vergirnospovosideaisepoderosasenergiasmoraisereligiosas.

288DI4.289Ibid.

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Formandodiscípulosemissionários,aIgrejadárespostaaessaexigência.

539.AIgrejaestimulaefavoreceareconstruçãodapessoaedeseusvínculosdepertençaeconvivência,apartirdeumdina-mismodeamizade,gratuidadeecomunhão.Dessemodo,neu-tralizam-seosprocessosdedesintegraçãoeatomizaçãosociais.Paraisso,énecessárioaplicaroprincípiodasubsidiariedadeemtodososníveiseestruturasdaorganizaçãosocial.Naverdade,oEstadoeomercadonãosatisfazemnempodemsatisfazeratodasasnecessidadeshumanas.Cabe,portanto,apreciarees-timular os voluntariados sociais, as diversas formas de livreauto-organizaçãoeparticipaçãopopulareseasobrascaritativas,educativas, hospitalares, de cooperação no trabalho e outraspromovidaspelaIgreja,querespondemadequadamenteaessasnecessidades.

540.OsdiscípulosemissionáriosdeCristopromovemumaculturadocompartilharemtodososníveis,emcontraposiçãoàculturadominantedeacumulaçãoegoísta,assumindocomse-riedadeavirtudedapobrezacomoestilodevidasóbrioparairaoencontroeajudarasnecessidadesdosirmãosquevivemnaindigência.

541.CompetetambémàIgrejacolaborarnaconsolidaçãodasfrágeisdemocracias,nopositivoprocessodedemocratizaçãonaAméricaLatinaenoCaribe,aindaqueexistamatualmentegravesdesafioseameaçasdedesviosautoritários.Urgeeducarparaapaz,darseriedadeecredibilidadeàcontinuidadedenos-sasinstituiçõescivis,defenderepromoverosdireitoshumanos,protegeremespeciala liberdadereligiosaecooperarparades-pertarosmaioresconsensosnacionais.

542.Apazéumbemvalioso,masprecárioquetodosdeve-mosproteger,educarepromoveremnossocontinente.Comosabemos,apaznãosereduzàausênciadeguerras,nemàex-clusãodearmasnuclearesemnossoespaçocomum,conquistas

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aliássignificativas;masdevemospromovera geraçãodeuma“culturadepaz”quesejafrutodeumdesenvolvimentosusten-tável,eqüitativoerespeitosodacriação(“odesenvolvimentoéonovonomedapaz”,diziaPauloVI)equenospermitaenfren-tarconjuntamenteosataquesdonarcotráficoedoconsumodedrogas,doterrorismoedasmuitasformasdeviolênciaquehojeimperamemnossasociedade.AIgreja,sacramentodereconci-liaçãoepaz,desejaqueosdiscípulosemissionáriosdeCristo,aímesmoondeseencontrem,sejamtambém“construtoresdepaz” entre os povos e nações de nosso Continente. A Igreja échamadaaserescolapermanentedeverdadeejustiça,deperdãoereconciliaçãoparaconstruirumapazautêntica.

543.Umaautênticaevangelizaçãodenossospovosenvolveassumirplenamentearadicalidadedoamorcristão,quesecon-cretizanoseguimentodeCristonaCruz;nopadecerporCristopor causa da justiça; no perdão e no amor aos inimigos. Esseamorsuperaoamorhumanoeparticipadoamordivino,únicoeixoculturalcapazdeconstruirumaculturadavida.NoDeusTrindadeadiversidadedePessoasnãogeraviolênciaeconflito;aocontrário,éafontemesmadoamoredavida.Umaevange-lizaçãoquecolocaaRedençãonocentro,nascidadeumamorcrucificado,écapazdepurificarasestruturasdasociedadevio-lentaegerarnovasestruturas.Aradicalidadedaviolênciasóseresolvecomaradicalidadedoamorredentor.Evangelizarsobreo amor de plena doação, como solução ao conflito, deve ser oeixocultural“radical”deumanovasociedade.SóassimoConti-nentedaesperançapodechegaratornar-severdadeiramenteoContinentedoamor.

544.ReafirmamosaimportânciadoCELAMereconhece-mosque temsidouma instânciaproféticaparaaunidadedospovoslatino-americanosecaribenhos,etemdemonstradoavia-bilidadedesuacooperaçãoesolidariedadeapartirdacomunhãoeclesial.PorissonoscomprometemosacontinuarfortalecendoseuserviçonacolaboraçãocolegialdosBisposenocaminhode

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realizaçãoda identidadeeclesial latino-americanaecaribenha.ConvidamososEpiscopadosdepaísesenvolvidosnosdiferentessistemasdeintegraçãosub-regionais,inclusiveosdaBaciaAma-zônica,aestreitarvínculosdereflexãoecooperação.TambémestimulamosquecontinueofortalecimentodevínculosparaarelaçãoentreoEpiscopado latino-americanoeosEpiscopadosdos Estados Unidos e Canadá à luz da Exortação Apostólica“Ecclesia in América”, como também com os Episcopados eu-ropeus.

545.Conscientesdequeamissãoevangelizadoranãopodeestarseparadadasolidariedadecomospobresesuapromoçãointegral,esabendoqueexistemcomunidadeseclesiaisqueca-recemdosmeiosnecessários,éimperativoajudá-las,imitandoasprimeirascomunidadescristãs,paraqueverdadeiramentesesintamamadas.Éurgente,portanto,acriaçãodeumfundodesolidariedadeentreasIgrejasdaAméricaLatinaedoCaribequeestejaaserviçodasiniciativaspastoraispróprias.

546.Aoenfrentartãogravesdesafios,aspalavrasdoSantoPadrenosincentivam:“Nãohádúvidadequeascondiçõesparaestabelecerumapazverdadeirasãoarestauraçãodajustiça,dareconciliaçãoedoperdão.Dessaconscientizaçãonasceavonta-dedetransformartambémasestruturas injustasparaestabe-lecer o respeito pela dignidade do homem, criado à imagem esemelhançadeDeus...Comotiveaocasiãodeafirmar,aIgrejanãotemcomotarefaprópriaempreenderumabatalhapolítica,noentanto,tambémnãopodenemdeveficaràmargemdalutapelajustiça”.290

290SC89.

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547.“PareceubemaoEspíritoSantoeanós...”(At15,28).A experiência da comunidade apostólica primitiva mostra aprópria natureza da Igreja enquanto mistério de comunhãocomCristonoEspíritoSanto.S.S.BentoXVInos indicoueste“método”originalemsuahomiliaemAparecida.AoconcluiraVConferênciaGeraldoEpiscopadoLatino-AmericanoedoCa-ribe,constatamos,pelagraçadeDeus,queé issooquetemosexperimentado.Em19jornadasdeintensaoração,intercâmbiosereflexão,dedicaçãoecansaço,nossasolicitudepastoraltomouformanodocumentofinal,que foiadquirindocadavezmaiordensidadeematuridade.OEspíritodeDeusfoinosconduzindo,suavemasfirmemente,paraameta.

548.EstaVConferência,recordandoomandatodeirefa-zerdiscípulos(cf.Mt28,20),desejadespertaraIgrejanaAméri-caLatinaenoCaribeparaumgrandeimpulsomissionário.Nãopodemosdeixardeaproveitarestahoradegraça.Necessitamosde um novo Pentecostes! Necessitamos sair ao encontro daspessoas,dasfamílias,dascomunidadesedospovosparalhesco-municarecompartilharodomdoencontrocomCristo,quetempreenchidonossasvidasde“sentido”,deverdadeedeamor,dealegriaedeesperança!Nãopodemosficartranqüilosemesperapassivaemnossostemplos,maséurgenteiremtodasasdireçõesparaproclamarqueomaleamortenãotêmaúltimapalavra,queoamorémaisforte,quefomoslibertosesalvospelavitóriapascaldoSenhordahistória,queElenosconvocaemIgreja,e

ConCLuSão

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quermultiplicaronúmerodeseusdiscípulosnaconstruçãodoseuReinoemnossoContinente!Somostestemunhasemissio-nários:nasgrandescidadesenoscampos,nasmontanhaseflo-restasdenossaAmérica,emtodososambientesdaconvivênciasocial,nosmaisdiversos“areópagos”davidapúblicadasnações,nassituaçõesextremasdaexistência,assumindoad gentesnos-sasolicitudepelamissãouniversaldaIgreja.

549.ParanosconverteremumaIgrejacheiade ímpetoeaudácia evangelizadora, temos que ser de novo evangelizadosefiéisdiscípulos.ConscientesdenossaresponsabilidadepelosbatizadosquedeixaramessagraçadeparticipaçãonomistériopascaledeincorporaçãonoCorpodeCristosobumacapadeindiferençaeesquecimento,énecessáriocuidardotesourodareligiosidadepopulardenossospovos,paraquenelaresplande-çacadavezmais “apérolapreciosa”queéJesusCristo,e sejasemprenovamenteevangelizadanafédaIgrejaeporsuavidasacramental.Éprecisofortalecerafé“paraencararsériosdesa-fios,poisestãoemjogoodesenvolvimentoharmônicodasocie-dadeeaidentidadecatólicadeseuspovos”.291Nãotemosdedarnada como pressuposto e descontado. Todos os batizados sãochamadosa“recomeçarapartirdeCristo”,areconhecereseguirsuaPresençacomamesmarealidadeenovidade,omesmopo-derdeafeto,persuasãoeesperança,queteveseuencontrocomosprimeirosdiscípulosnasmargensdoJordãohá2000anos,ecomos“JoãoDiego”doNovoMundo.Sógraçasaesseencontroe seguimento, que se converte em familiaridade e comunhão,transbordantedegratidãoealegria,somosresgatadosdenos-saconsciência isoladaesaímosparacomunicara todosavidaverdadeira,afelicidadeeaesperançaquenostemsidodadaaexperimentareanosalegrar.

550.ÉopróprioPapaBentoXVIquemnosconvidaa“umamissãoevangelizadoraqueconvoquetodasasforçasvivasdes-

291 DI1.

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245VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

te imensorebanho”queéopovodeDeusnaAméricaLatinae no Caribe: “sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos que sedoam,muitasvezescomimensasdificuldades,paraadifusãodaverdadeevangélica”.Éumafãeanúnciomissionáriosqueprecisam passar de pessoa a pessoa, de casa em casa, de co-munidadeacomunidade.“Nesseesforçoevangelizador–pros-segueoSantoPadre–acomunidadeeclesialsedestacapelasiniciativas pastorais, ao enviar, sobretudo entre as casas dasperiferiasurbanasedointerior,seusmissionários,leigosere-ligiosos, procurando dialogar com todos em espírito de com-preensãoededelicadacaridade”.EssamissãoevangelizadoraabraçacomoamordeDeusatodoseespecialmenteaospobreseaosquesofrem.Porisso,nãosepodeseparardasolidarieda-de com os necessitados e da sua promoção humana integral:“Mas,seaspessoasencontradasestãoemsituaçãodepobreza–diz-nosaindaoPapa–énecessárioajudá-las,comofaziamasprimeirascomunidadescristãs,praticandoasolidariedade,paraquesesintamamadasdeverdade.Opovopobredaspe-riferiasurbanasoudocamponecessitamsentiraproximidadedaIgreja,sejanosocorrodesuasnecessidadesmaisurgentes,comotambémnadefesadeseusdireitosenapromoçãocomumdeumasociedadefundamentadanajustiçaenapaz.Ospobressão os destinatários privilegiados do Evangelho, e um Bispo,modelado segundo a imagem do Bom Pastor, deve estar par-ticularmenteatentoparaoferecerodivinobálsamodafé,semdescuidaro‘pãomaterial’”.

551.Essedespertarmissionário,naformadeMissãoCon-tinental,cujaslinhasfundamentaisforamexaminadaspornos-saConferênciaequeesperamossejamportadorasdesuarique-zadeensinamentos,orientaçõeseprioridades,seráaindamaisconcretamenteconsideradoduranteapróximaAssembléiaPle-náriadoCELAMemHavana.ExigiráadecididacolaboraçãodasConferênciasEpiscopaisedecadadioceseemparticular.Procu-rarácolocaraIgrejaemestadopermanentedemissão.Levemosnossosnaviosmaradentro,comopoderososoprodoEspírito

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Santo,semmedodastormentas,segurosdequeaProvidênciadeDeusnosproporcionarágrandessurpresas.

552.Recobremos,portanto,o “fervorespiritual”.Conser-vemos a doce e confortadora alegria de evangelizar, inclusivequando é necessário semear entre lágrimas. Façamo-lo, comoJoãoBatista, comoPedroePaulo, comoosdemaisApóstolos,como essa multidão de admiráveis evangelizadores que se su-cederamaolongodahistóriadaIgreja,façamostudoissocomímpetointeriorqueninguémenadasejacapazdeextinguir.Sejaessaamaioralegriadenossasvidasdedicadas.Eoxaláomundoatual–queoprocuraàsvezescomangústia,àsvezescomespe-rança–possaassimreceberaBoaNova,nãoatravésdeevange-lizadorestristesedesalentados, impacientesouansiosos,masatravésdeministrosdoEvangelho,cujavidairradiaofervordequemrecebeu,antesdetudoemsimesmos,aalegriadeCristoeaceitamconsagrarsuavidaàtarefadeanunciaroReinodeDeusedeimplantaraIgrejanomundo”.292Recuperemosovaloreaaudáciaapostólicos.

553. Ajude-nos a companhia sempre próxima, cheia decompreensãoeternura,deMariaSantíssima.Queelanosmos-treofrutobenditodeseuventreenosensinearespondercomofezelanomistériodaanunciaçãoeencarnação.Quenosensineasairdenósmesmosnocaminhodesacrifício,deamoreser-viço,comofeznavisitaàsuaprimaIsabel,paraque,peregrinosacaminho,cantemosasmaravilhasqueDeustemfeitoemnós,conformeasuapromessa.

554.GuiadosporMaria,fixamososolhosemJesusCristo,autoreconsumadorda fé,edizemosaElecomoSucessordePedro:

“Fica conosco, pois cai a tarde e o dia já declina” (Lc 24,29).

292 EN80.

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Fica conosco, Senhor, acompanha-nos, ainda que nem sempre tenhamos sabido reconhecer-te.

Fica conosco, porque ao redor de nós as sombras vão se tornando mais densas, e tu és a Luz; em nossos corações se insinua a desespe-rança, e tu os fazes arder com a certeza da Páscoa. Estamos cansados do caminho, mas tu nos confortas na fração do pão para anunciar a nossos irmãos que na verdade tu ressuscitaste e que nos deste a mis-são de ser testemunhas de tua ressurreição.

Fica conosco, Senhor, quando ao redor de nossa fé católi-ca surgem as névoas da dúvida, do cansaço ou da dificuldade: tu, que és a própria Verdade como revelador do Pai, ilumina nossas mentes com tua Palavra; ajuda-nos a sentir a beleza de crer em ti.

Fica em nossas famílias, ilumina-as em suas dúvidas, sustenta-as em suas dificuldades, consola-as em seus sofrimentos e no cansaço de cada dia, quando ao redor delas se acumulam sombras que amea-çam sua unidade e sua natureza. Tu que és a Vida, fica em nossos lares, para que continuem sendo ninhos onde nasça a vida humana abundante e generosamente, onde se acolha, se ame, se respeite a vida desde a sua concepção até seu término natural.

Fica, Senhor, com aqueles que em nossas sociedade são os mais vulneráveis; fica com os pobres e humildes, com os indígenas e afro-americanos, que nem sempre encontram espaços e apoio para expres-sar a riqueza de sua cultura e a sabedoria de sua identidade. Fica, Se-nhor, com nossas crianças e com nossos jovens, que são a esperança e a riqueza do nosso Continente, protege-os de tantas armadilhas que atentam contra sua inocência e contra suas legítimas esperanças. Ó Bom Pastor, fica com nossos anciãos e com nossos enfermos! Fortalece a todos em sua fé para que sejam teus discípulos e missionários!293

293 DI6.

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SAntAMISSAdEInAuGurAçãodAVConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdodAAMÉrICALAtInAEdoCArIBE,nAPrAçAEMFrEntEAoSAntuÁrIodEAPArECIdA–HoMILIA(13demaiode2007)

Veneráveis Irmãos no Episcopado, queridos sacerdotes evóstodos,irmãseirmãosnoSenhor!

Nãoexistempalavrasparaexprimiraalegriadeencontrar-Me convosco para celebrar esta solene Eucaristia, por ocasiãodaaberturadaQuintaConferênciaGeraldoEpiscopadoLatino-americanoedoCaribe.Atodossaúdocommuitacordialidade,demodoparticularaoArcebispodeAparecida,DomRaymundoDamascenoAssis,agradecendoaspalavrasquemeforamdiri-gidasemnomedetodaaassembléia,eosCardeaisPresidentesdestaConferênciaGeral.SaúdocomdeferênciaasAutoridadescivisemilitaresquenoshonramcomasuapresença.DesteSan-tuárioestendoomeupensamento, commuitoafetoeoração,atodosaquelesquesenosunemespiritualmentenestedia,demodoespecialàscomunidadesdevidaconsagrada,aos jovensengajadosemmovimentoseassociações,àsfamílias,bemcomoaosenfermoseaosanciãos.Atodosquerodizer: “GraçaepazdapartedeDeus,nossoPai,edapartedoSenhorJesusCristo”(1Cor1,13).

ConsideroumdomespecialdaProvidênciaqueestaSantaMissa seja celebrada neste tempo e neste lugar. O tempo é o li-

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túrgico do sexto Domingo de Páscoa: está próxima a festa dePentecostes,eaIgrejaéconvidadaaintensificarainvocaçãoaoEspíritoSanto.OlugaréoSantuárionacionaldeNossaSenhoraAparecida, coração mariano do Brasil: Maria nos acolhe nesteCenáculoe,comoMãeeMestra,nosajudaaelevaraDeusumapreceunânimeeconfiante.EstacelebraçãolitúrgicaconstituiofundamentomaissólidodaVConferência,porquepõenasuabaseaoraçãoeaEucaristia,Sacramentum caritatis.Comefeito,sóacaridade de Cristo,emanadapeloEspíritoSanto,podefazerdestareuniãoumautênticoacontecimentoeclesial,ummomen-todegraçaparaesteContinenteeparaomundointeiro.Estatarde terei a possibilidade de entrar no mérito dos conteúdossugeridospelotemadavossaConferência.Demosagoraespaçoà Palavra de Deus, que com alegria acolhemos, com o coraçãoabertoedócil,aexemplodeMaria,NossaSenhoradaConceição,afimdeque,pelopoderdoEspíritoSanto,Cristopossanova-mente“fazer-secarne”nohojedanossahistória.

Aprimeira leitura,tiradadosAtos dos Apóstolos,refere-seao assim chamado “Concílio de Jerusalém”, que considerou aquestão se aos pagãos convertidos ao cristianismo dever-se-iaimporaobservânciadaleimosaica.Otexto,deixandodeladoadiscussãosobre“osApóstoloseosanciãos”(15,4-21),trans-creve a decisão final, que vem posta por escrito numa carta econfiadaadoisdelegados,afimdequesejaentregueàcomuni-dadedeAntioquia(vv.22-29).EstapáginadosAtosnosémuitoapropriada, por termos vindo aqui para uma reunião eclesial.Fala-nos do sentido do discernimento comunitário em tornodos grandes problemas que a Igreja encontra ao longo do seucaminhoequevemaseresclarecidospelos“Apóstolos”epelos“anciãos”comaluzdoEspíritoSanto,oqual,comonosnarraoEvangelhodehoje, lembraoensinamentodeJesusCristo (cf.Jo 14,26) ajudando assim a comunidade cristã a caminhar nacaridade em busca da verdade plena (cf. Jo 16,13). Os chefesdaIgrejadiscutemesedefrontam,sempre,porém,ematitudedereligiosaescutadaPalavradeCristonoEspíritoSanto.Por

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isso,nofinalpodemafirmar:“PareceubemaoEspíritoSantoeanós...”(At15,28).

Esteéo“método”comoqualnósagimosnaIgreja,tantonaspequenascomonasgrandesassembléias.Nãoéumasimplesquestãodeprocedimento;éoresultadodamesmanaturezadaIgreja,mistériodecomunhãocomCristonoEspíritoSanto.NocasodasConferênciasGeraisdoEpiscopadoLatino-americanoeCaribenho,aprimeira,realizadanoRiodeJaneiroem1955,recorreuaumaCartaespecialenviadapeloPapaPioXII,deve-neradamemória;nasoutras,atéaatual,foioBispodeRomaquese dirigiu à sede da reunião continental para presidir as fasesiniciais.Comdevotoreconhecimentodirigimosonossopensa-mentoaosServosdeDeusPauloVIeJoãoPauloIIque,nasCon-ferênciasdeMedellín,PueblaeSantoDomingo,testemunharamaproximidadedaIgrejauniversalnasIgrejasqueestãonaAmé-ricaLatinaequeconstituem,emproporção,amaiorpartedaComunidadecatólica.

“Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós...”EstaéaIgreja:nós,acomunidadedefiéis,oPovodeDeus,comosseusPastorescha-madosafazerdeguiadocaminho;juntoscomoEspírito Santo,EspíritodoPaimandadoemnomedoFilhoJesus,EspíritodA-quelequeé“maior”detodosequenosfoidadomedianteCristo,que se fez “menor” por nossa causa. Espírito Paráclito, Ad-vo-catus,DefensoreConsolador.ElenosfazvivernapresençadeDeus,naescutadasuaPalavra,livresdeinquietaçãoedetemor,tendo no coração a paz que Jesus nos deixou e que o mundonãopodedar(cf.Jo14,26-27).OEspíritoacompanhaaIgrejanolongocaminhoqueseestendeentreaprimeiraeasegundavindadeCristo:“Vou, e volto a vós” (Jo14,28),disseJesusaosApóstolos.Entrea “ida”ea “volta”deCristoestáo tempodaIgreja,queéoseuCorpo,estãoessesdoismilanostranscorri-dosatéagora;estãotambémestespoucomaisdecincoséculosemqueaIgrejafez-seperegrinanasAméricas,difundindonosfiéisavidadeCristoatravésdosSacramentoselançandonestas

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terrasaboasementedoEvangelho,querendeutrinta,sessentaeatémesmoocemporum.Tempo da Igreja, tempo do Espírito Santo:EleéoMestrequeformaos discípulos:fá-losenamorar-sedeJesus;educa-osparaqueescutemasuaPalavra,afimdequecontemplem a sua face; conforma-os à sua humanidade bem-aventurada,pobreemespírito,aflita,mansa,sedentadejustiça,misericordiosa,puradecoração,pacífica,perseguidaporcausadajustiça(cf.Mt5,3-10).Destemodo,graças à ação do Espírito Santo, Jesus torna-se a “Via” na qual caminha o discípulo. “Se al-guém me ama, observará a minha palavra”,dizJesusnoiníciodotrechoevangélicodehoje.“A palavra que tendes ouvido não é mi-nha, mas sim do Pai que me enviou” (Jo 14,23-24). Como JesustransmiteaspalavrasdoPai,assimoEspíritorecordaàIgrejaaspalavrasdeCristo(cf.Jo14,26).EcomooamorpeloPailevavaJesus a alimentar-se da sua vontade, assim o nosso amor porJesussedemonstranaobediênciapelassuaspalavras.Afideli-dadedeJesusàvontadedoPaipodetransmitir-seaosdiscípulosgraçasaoEspíritoSanto,quederramaoamordeDeusnosseuscorações(cf.Rm5,5).

ONovoTestamentoapresenta-nosaCristo comomissioná-rio do Pai.EspecialmentenoEvangelhodeSãoJoão,JesusfaladesitantasvezesapropósitodoPaiqueOenviouaomundo.Damesmaforma,tambémnotextodehoje.Jesusdiz:“A palavra que tendes ouvido não é minha, mas sim do Pai que me enviou”(Jo14,24). Neste momento, queridos amigos, somos convidadosafixarnossoolharnele,porqueamissãodaIgrejasubsisteso-menteemquantoprolongaçãodaqueladeCristo:“Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós”(Jo20,21).Oevangelistapõeemrelevo,inclusivedeformaplástica,queestaconsignaçãoacontece no Espírito Santo: “Soprou sobre eles dizendo: ‘Recebei o Espírito Santo...’“(Jo20,22).Amissão de Cristorealizou-seno amor.EleacendeunomundoofogodacaridadedeDeus(cf.Lc12,49). É o amor que dá a vida: por isso a Igreja é convidada adifundirnomundoacaridadedeCristo,porqueoshomenseospovos“tenham a vida e a tenham em abundância”(Jo10,10).Avós

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também,querepresentaisaIgrejanaAméricaLatina,tenhoaalegriadeentregardenovoidealmenteaminhaEncíclicaDeus caritas est,comaqualquisindicaratodosoqueéessencialnamensagemcristã.AIgrejasesentediscípula e missionária desse Amor: missionáriasomenteenquantodiscípula,istoé,capazdedeixar-sesempreatrair,comrenovadoenlevo,porDeusquenosamouenosamaporprimeiro(1Jo4,10).AIgrejanãofazprose-litismo.Elacrescemuitomaispor “atração”:comoCristo“atraitodosasi”comaforçadoseuamor,queculminounosacrifíciodaCruz,assimaIgrejacumpreasuamissãonamedidaemque,associadaaCristo,cumpreasuaobraconformando-seemespí-ritoeconcretamentecomacaridadedoseuSenhor.

Queridosirmãoseirmãs.Esteéoricotesourodocontinen-teLatino-americano;esteéseupatrimôniomaisvalioso:a fé em Deus Amor,que revelouseurostoemJesusCristo.VóscredesnoDeusAmor:esta é vossa força que vence o mundo, a alegria que nada e nem ninguém vos poderá arrebatar, a paz que Cristo conquis-tou para vós com sua Cruz!Esta é a fé que fez da América Latina o“Continente da Esperança”.Nãoéumaideologiapolítica,nemummovimentosocial,nemtampoucoumsistemaeconômico;éaféemDeusAmor,encarnado,mortoeressuscitadoemJesusCris-to,oautênticofundamentodestaesperançaqueproduziufrutostãomagníficosdesdeaprimeiraevangelizaçãoatéhoje.AssimoatestaasériedeSantoseBeatosqueoEspíritosuscitouaolongoeaolargodesteContinente.OPapaJoãoPauloIIvosconvocouparaumanova evangelização, evós respondestesa seuchama-docomgenerosidadeeocompromissoquevoscaracterizam.Euvosconfirmoe,compalavrasdestaVConferência,vosdigo:sede discípulos fiéis, para serdes missionários valentes e eficazes.1

1Queridoshermanosyhermanas.ÉsteeselricotesorodelcontinenteLatinoamericano;ésteessupatrimoniomásvalioso:la fe en Dios Amor,querevelósurostroenJesucristo.Vo-sotroscreéisenelDiosAmor:éstaesvuestrafuerzaquevencealmundo,laalegríaquenadaninadieospodráarrebatar,¡lapazqueCristoconquistóparavosotrosconsuCruz!Ésta es la fe que hizo de Latinoamérica el “Continente de la Esperanza”.Noesunaideologíapolítica,niunmovimientosocial,comotampocounsistemaeconómico;eslafeenDiosAmor,encarnado,muertoyresucitadoenJesucristo,elauténticofundamentodeestaesperanzaqueprodujo

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Asegunda leituranosapresentouagrandiosavisãodaJerusalém celeste.Éumaimagemdeesplêndidabeleza,equenãoésimplesmentedecorativa,senãoquetodocontribuinaperfeitaharmoniadacidadesanta.EscreveovidenteJoãoqueela“des-cia do céu, enviada por Deus trazendo a glória de Deus”(Ap 21,10).PorémaglóriadeDeuséoAmor;portantoaJerusalémceles-teéíconedaIgrejainteira,santaegloriosa,semmanchanemruga(cf. Ef 5,27),iluminadanocentroeemtodasaspartespelapresença de Deus-Caridade. É chamada “noiva”, “a esposa doCordeiro”(Ap20,9),porquenelaserealizaafiguranupcialqueencontramosdesdeoprincípioatéofimnarevelaçãobíblica.ACidade-EsposaépátriadaplenacomunhãodeDeuscomosho-mens;elanãonecessitadetemploalgumnemdenenhumafonteexternadeluz,porqueapresençaDeusedoCordeiroéimanenteeailuminadesdedentro.2

Esteíconeestupendotemumvalorescatológico:expressaomistériodebelezaquejáconstituiaformadaIgreja,aindaquenãotenha alcançadosuaplenitude.Éametadenossaperegrina-ção,apátriaquenosesperaepelaqualsuspiramos.Vê-lacomosolhosdafé,contemplá-laedesejá-la,nãodevesermotivodeevasãodarealidadehistóricaemqueviveaIgrejacompartilhan-doasalegriaseasesperanças,asdoreseasangústiasdahumani-dadecontemporânea,especialmentedosmaispobresedosque

frutostanmagníficosdesdelaprimeraevangelizaciónhastahoy.AsíloatestigualaseriedeSantosyBeatosqueelEspíritususcitóalolargoyanchodeesteContinente.ElPapaJuanPabloIIosconvocóparaunanueva evangelización,yvosotrosrespondisteisasullamadoconlagenerosidadyelcompromisoqueoscaracterizan.Yoosloconfirmoy,conpalabrasdeestaQuintaConferencia,osdigo:sed discípulos fieles, para ser misioneros valientes y eficaces.

2LasegundaLecturanoshapresentadolagrandiosavisiónde laJerusalén celeste.Esunaimagendeespléndidabelleza,enlaquenadaessimplementedecorativo,sinoquetodocontribuyealaperfectaarmoníadelaCiudadsanta.EscribeelvidenteJuanqueésta“ba-jaba del cielo, enviada por Dios trayendo la gloria de Dios” (Ap21,10).Pero lagloriadeDioseselAmor;portantolaJerusaléncelesteesiconodelaIglesiaentera,santaygloriosa,sinmanchaniarruga(cf.Ef 5,27),iluminadaenelcentroyentodaspartesporlapresenciadeDios-Caridad.Esllamada“novia”,“laesposadelCordero”(Ap20,9),porqueenellaserealizalafiguranupcialqueencontramosdesdeelprincipiohastaelfinenlarevelaciónbíblica.LaCiudad-Esposa es patria de la plena comunión de Dios con los hombres; ella no necesitatemploalgunoniningunafuenteexternadeluz,porquelapresenciadeDiosydelCorderoesinmanenteylailuminadesdedentro.

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sofrem(cf.Gaudium et spes,1).SeabelezadaJerusalémcelesteéaglóriadeDeus,ouseja,seuamor,éprecisamenteesomentenacaridadequepodemosnosaproximardelae,decertomodo,habitarnela.QuemamaoSenhorJesuseobservasuapalavraexperimentajánestemundoamisteriosapresençadeDeusUnoeTrino,comotemosescutadonoEvangelho:“viremos e faremos nele nossa morada”(Jo14,23).Porisso,todocristãoéchamadoaserpedravivadestamaravilhosa“moradadeDeuscomosho-mens”.Quemagnificavocação!3

UmaIgrejainteiramenteanimadaemobilizadapelaca-ridadedeCristo,Cordeiro imoladoporamor,éa imagemhis-tórica da Jerusalém celeste, antecipação da cidade santa, res-plandecentedaglóriadeDeus.Elaemanauma força missionária irresistível, que é a força da santidade. A Virgem Maria alcanceparaaAméricaLatinaeoCaribeserabundantementerevestidadaforçadoalto(cf.Lc24,49)parairradiarnoContinenteeemtodoomundoasantidadedeCristo.Aelesejadadaglória,comoPaieoEspíritoSanto,nosséculosdosséculos.Amém.

3Esteiconoestupendotieneunvalorescatológico:expresaelmisteriodebellezaqueyaconstituyelaformadelaIglesia,aunqueaún no haya alcanzadosuplenitud.Eslametadenuestraperegrinación,lapatriaquenosesperayporlacualsuspiramos.Verlaconlosojosdelafe,contemplarlaydesearla,nodebesermotivodeevasióndelarealidadhistóricaenquevivelaIglesiacompartiendolasalegríasylasesperanzas,losdoloresylasangustiasdelahu-manidadcontemporánea,especialmentedelosmáspobresydelosquesufren(cf.Gaudium et spes,1).SilabellezadelaJerusaléncelesteeslagloriadeDios,osea,suamor,esprecisa-menteysolamenteenlacaridadcómopodemosacercarnosaellay,enciertomodo,habitarenella.QuienamaalSeñorJesúsyobservasupalabraexperimentayaenestemundolamis-teriosapresenciadeDiosUnoyTrino,comohemosescuchadoenelEvangelio:“Vendremos a él y haremos morada en él”(Jn14,23).Poreso,todocristianoestállamadoaserpiedravivadeestamaravillosa“moradadeDiosconloshombres”.¡Quémagníficavocación!

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orAçãodoSAntoroSÁrIoEEnControCoMoSSACErdotES,oSrELIGIoSoS,ASrELIGIoSAS,oSSEMInArIStASEoSdIÁConoSnABASÍLICAdoSAntuÁrIodEAPArECIdA–dISCurSo(12maiode2007)

SenhoresCardeais,

VeneradosIrmãosnoEpiscopadoePresbiterado,

Amadosreligiososetodosvósque, impelidospelavozdeJesusCristo,Oseguistesporamor!

Estimadosseminaristas,quevosestaispreparandoparaoministériosacerdotal!

QueridosrepresentantesdosMovimentoseclesiais,etodosvósleigosquelevaisaforçadoEvangelhoaomundodotrabalhoedacultura,noseiodasfamílias,bemcomoàsvossasparóquias!

1. Como os Apóstolos, juntamente com Maria, “subiramparaasaladecima”eali“unidospelomesmosentimento,en-tregavam-se assiduamente à oração” (At 1,13-14), assim tam-bémhojenosreunimosaquinoSantuáriodeNossaSenhoradaConceiçãoAparecida,queéparanósnestahora“asaladecima”,ondeMaria,MãedoSenhor,seencontranomeiodenós.Hojeéelaqueorientaanossameditação;elanosensinaarezar.ÉelaquenosmostraomodocomoabrirnossasmenteseosnossoscoraçõesaopoderdoEspíritoSanto,quevemparasertransmi-tidoaomundointeiro.

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Acabamosderecitarorosário.Atravésdosseusciclosme-ditativos,oDivinoConsoladorquernosintroduzirnoconheci-mentodeumCristoquebrotadafontelímpidadotextoevan-gélico.Porsuavez,aIgrejadoterceiromilêniosepropõedaraoscristãosacapacidadede“conhecerem-compalavrasdeSãoPau-lo-omistériodeDeus,istoéCristo,noqualestãoescondidostodosostesourosdasabedoriaedaciência”(Col2,2-3).MariaSantíssima,aVirgempuraesemmancha,éparanósescoladefédestinadaaconduzir-noseafortalecer-nosnocaminhoquelevaaoencontrocomoCriadordocéuedaterra.OPapaveioàApa-recidacomvivaalegriaparavosdizerprimeiramente:“Perma-neceinaescoladeMaria”.Inspirai-vosnosseusensinamentos,procuraiacolhereguardardentrodocoraçãoas luzesqueela,pormandatodivino,vosenvialádoalto.

ComoébomestarmosaquireunidosemnomedeCristo,nafé,nafraternidade,naalegria,napaz,“na oração com Maria, a Mãe de Jesus” (At 1,14). Como é bom, queridos Presbíteros,Diáconos,ConsagradoseConsagradas,SeminaristaseFamíliasCristãs,estarmosaquinoSantuárioNacionaldeNossaSenhoradaConceiçãoAparecida,queéMoradadeDeus,CasadeMariaeCasadeIrmãosequenessesdiassetransformatambémemSededaVConferênciaEpiscopalLatino-AmericanaeCaribenha.ComoébomestarmosaquinestaBasílicaMarianaparaonde,nestetempo,convergemosolhareseasesperançasdomundocristão,demodoespecialdaAméricaLatinaedoCaribe!

2.Sinto-memuitofelizemestaraquiconvosco,emvossomeio!OPapavosama!OPapavossaúdaafetuosamente!Rezaporvós!EsuplicaaoSenhorasmaispreciosasbênçãosparaosMovimentos,Associaçõeseasnovasrealidadeseclesiais,expres-sãovivadaperenejuventudedaIgreja!Quesejaismuitoaben-çoados!AquivaiminhasaudaçãomuitoafetuosaavósFamíliasaquicongregadasequerepresentaistodasascaríssimasFamí-liasCristãspresentesnomundointeiro.Alegro-medemodoes-pecialíssimoconvoscoevosenvioomeuabraçodepaz.

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Agradeço a acolhida e a hospitalidade do povo brasileiro.Desdequeaquichegueifuirecebidocommuitocarinho!Asvá-riasmanifestaçõesdeapreçoesaudaçõesdemonstramoquantovós quereis bem, estimais e respeitais o Sucessor do ApóstoloPedro.Meupredecessor,oServodeDeusPapaJoãoPauloIIre-feriu-seváriasvezesàvossasimpatiaeespíritodeacolhidafra-terna.Eletinhatodarazão!

3. Saúdoaosestimadospadres,aquipresentes,pensoeoroportodosossacerdotesespalhadospelomundointeiro,demodoparticularpelosdaAméricaLatinaedoCaribe,nelesincluindoosquesãofidei donum.Quantosdesafios,quantassituaçõesdifí-ceisenfrentais,quantagenerosidade,quantadoação,sacrifícioserenúncias!Afidelidadenoexercíciodoministérioenavidadeoração,abuscadasantidade,aentregatotalaDeusaserviçodosirmãoseirmãs,gastandovossasvidaseenergias,promovendoajustiça,afraternidade,asolidariedade,apartilha,-tudoissofalafortementeaomeucoraçãodePastor.OtestemunhodeumsacerdóciobemvividodignificaaIgreja,suscitaadmiraçãonosfiéis, é fonte de bênçãos para a Comunidade, é a melhor pro-moção vocacional, é o mais autêntico convite para que outrosjovenstambémrespondampositivamenteaosapelosdoSenhor.ÉaverdadeiracolaboraçãoparaaconstruçãodoReinodeDeus!

Agradeço-vossinceramenteevosexortoaquecontinueisa viver de modo digno a vocação que recebestes. Que o ardormissionário,queavibraçãoporumaevangelizaçãosempremaisatualizada,queoespíritoapostólicoautênticoeozelopelasal-masestejampresentesemvossasvidas!Omeuafeto,oraçõeseagradecimentosvaitambémaossacerdotesidososeenfermos.AvossaconformaçãoaoCristoSofredoreRessuscitadoéomaisfecundoapostolado!Muitoobrigado!

4. Queridos Diáconos e Seminaristas, a vós também queocupais um lugar especial no coração do Papa, uma saudaçãomuitofraternaecordial.Ajovialidade,oentusiasmo,oidealis-mo,oânimoemenfrentarcomaudáciaosnovosdesafios, re-

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novamadisponibilidadedoPovodeDeus,tornamosfiéismaisdinâmicosefazemaComunidadeCristãcrescer,progredir,sermaisconfiante,felizeotimista.Agradeçootestemunhoqueofe-receis,colaborandocomosvossosBisposnostrabalhospasto-raisdasdioceses.TenhaissemprediantedosolhosafiguradeJesus,oBomPastor,que“veionãoparaserservido,masparaserviredarsuavidapararesgataramultidão”(Mt20,28).SedecomoosprimeirosdiáconosdaIgreja:homensdeboareputação,cheiosdoEspíritoSanto,desabedoriaedefé(cf.At6,3-5).Evós,Seminaristas,daigraçasaDeuspelachamadaqueelevosfaz.Lembrai-vosqueoSeminárioéo“berçodavossavocaçãoe palco da primeira experiência de comunhão” (Diretório para o Ministério e Vida dos Presbíteros,32).Rezoparaquesejais,seDeusquiser,sacerdotessantos,fiéisefelizesemserviraIgreja!

5. Detenhomeuolhareatençãoagorasobrevós,estimadosConsagradoseConsagradas,aquireunidosnoSantuáriodaMãe,RainhaePadroeiradoPovoBrasileiro,etambémespalhadosportodasaspartesdomundo.

Vós,religiososereligiosas,soisumadádiva,umpresente,um dom divino que a Igreja recebeu do seu Senhor. AgradeçoaDeusavossavidaeotestemunhoquedaisaomundodeumamor fiel a Deus e aos irmãos. Esse amor sem reservas, total,definitivo, incondicionaleapaixonadoseexpressanosilêncio,nacontemplação,naoraçãoenasatividadesmaisdiversasquerealizais,emvossasfamíliasreligiosas,emfavordahumanida-deeprincipalmentedosmaispobreseabandonados.IssotudosuscitanocoraçãodosjovensodesejodeseguirmaisdepertoeradicalmenteoCristoSenhoreofereceravidaparatestemunharaoshomensemulheresdonossotempoqueDeuséAmorequevaleapenadeixar-secativarefascinarparadedicar-seexclusiva-menteaEle(cf.Exort.ap.Vita Consecrata,15).

A vida religiosa no Brasil sempre foi marcante e teve umpapeldedestaquenaobradaevangelização,desdeosprimórdiosdacolonização.Ontemainda,tiveagrandesatisfaçãodepresidir

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2�1VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

aCelebraçãoEucarísticanaqualfoicanonizadoSantoAntôniodeSant’AnnaGalvão,presbíteroereligiosofranciscano,primei-rosantonascidonoBrasil.Aoseulado,umoutrotestemunhoadmiráveldeconsagradaéSantaPaulina,fundadoradasIrmã-zinhasdaImaculadaConceição.Teriamuitosoutrosexemplosparacitar.Quetodoselesvossirvamdeestímuloparaviverdesumaconsagraçãototal.Deusvosabençoe!

6.Hoje,navésperadaaberturadaVConferênciaGeraldosBisposdaAméricaLatinaedoCaribe,quetereioprazerdepre-sidir,sintoodesejodedizer-vosatodosvóscomoéimportanteosentidodenossapertençaàIgreja,quefazcresceroscristãoseamudureceremcomoirmãos,filhosdeummesmoDeusePai.QueridoshomensemulheresdaAméricaLatina,seiquetendesumagrandesededeDeus.SeiqueseguisaqueleJesus,quedisse:“NinguémvaiaoPaisenãopormim”(Jo 14,6).PorissooPapaquerdizeratodosvós:A Igreja é nossa casa!Esta é nossa casa! NaIgrejaCatólicatemostudooqueébom,tudooqueémotivodesegurançaedeconsolo!QuemaceitaaCristo:“Caminho,Verda-deeVida”,emsuatotalidade,temgarantiadepazeafelicidade,nestaenaoutravida!Porisso,oPapaveioaquipararezarecon-fessarcomtodosvós:vale a pena ser fiéis,vale a pena perseverar na própria fé!Masacoerêncianafénecessitatambémdeumasó-lidaformaçãodoutrinaleespiritual,contribuindoassimparaaconstruçãodeumasociedademaisjusta,maishumanaecristã.OCatecismodaIgrejaCatólica,inclusiveemsuaversãomaisre-duzida,publicadacomotítulodeCompêndio,ajudaráaterno-çõesclarassobrenossafé.Vamospedir,desdeagora,queavindadoEspíritoSantosejapara todoscomoumnovoPentecostes,afimdeiluminarcomaluzdoaltonossoscoraçõesenossafé.1

1Hoy,envísperasdelaaperturadelaVConferenciaGeneraldelosObisposdeAméricaLatinaydelCaribe,quetendréelgustodepresidir,sientoeldeseodedecirosatodosvoso-troscuánimportanteeselsentidodenuestrapertenenciaalaIglesia,quehacealoscristia-noscrecerymadurarcomohermanos,hijosdeunmismoDiosyPadre.QueridoshombresymujeresdeAméricaLatina,séquetenéisunagranseddeDios.SéqueseguísaAquelJesús,quedijo“NadievaalPadresinopormí”(Jn14,6).PoresoelPapaquieredecirosatodos:¡La Iglesia es nuestra Casa!¡Esta es nuestra Casa!¡EnlaIglesiaCatólicatenemostodoloquees

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7. Écomgrandeesperançaquemedirijoatodosvós,quese encontram dentro desta majestosa Basílica, ou que partici-paramdoladodefora,doSantoRosário,paraconvidá-losasetornaremprofundamentemissionárioseparalevaraBoaNovadoEvangelhoportodosospontoscardeaisdaAméricaLatinaedomundo.

VamospediràMãedeDeus,NossaSenhoradaConceiçãoAparecida,quezelepelavidadetodososcristãos.Ela,queéaEs-treladaEvangelização,guienossospassosnocaminhodoReinocelestial:

“Mãe nossa, protegei a família brasileira e latino-americana!

Amparai,sobovossomantoprotetor,osfilhosdessaPátriaqueridaquenosacolhe,

Vós,quesoisaAdvogadajuntoaovossoFilhoJesus,daiaopovobrasileiropazconstanteeprosperidadecompleta,

Concedeiaosnossosirmãosdetodaageografialatino-ame-ricanaumverdadeiroardormissionárioirradiadordeféedees-perança,

FazeiqueovossoclamordeFátimapelaconversãodospe-cadores,sejarealidade,etransformeavidadanossasociedade,

E vós que, do Santuário de Guadalupe, intercedeis pelopovodoContinentedaesperança,abençoaiassuasterraseosseuslares,

Amém”

bueno,todoloqueesmotivodeseguridadydeconsuelo!¡QuienaceptaaCristo:“Camino,VerdadyVida”,ensutotalidad,tienegarantizadalapazylafelicidad,enestayenlaotravida!Poreso,elPapavinoaquípararezaryconfesarcontodosvosotros: ¡vale la pena ser fieles, vale la pena perseverar en la propia fe!Perolacoherenciaenlafenecesitatambiénunasólidaformacióndoctrinalyespiritual,contribuyendoasíalaconstruccióndeunasociedadmásjusta,máshumanaycristiana.ElCatecismodelaIglesiaCatólica,inclusoensuversiónmásreducida,publicadaconeltítulodeCompendio,ayudaráatenernocionesclarassobrenuestrafe.Vamosapedir,yadesdeahora,quelavenidadelEspírituSantoseaparatodoscomo un nuevo Pentecostés, a fin de iluminar con la luz de lo Alto nuestros corazones ynuestrafe.

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orAçãodorEGInACoELI-SAudAção(13dEMAIodE2007)

CaríssimosIrmãoseIrmãs:

SaúdocommuitoafetoatodosvósqueviestesdosquatrocantosdoBrasil,daAméricaLatinaedoCaribe,bemcomoaosquemeescutampelaRádiooupelaTelevisão.Duranteacele-braçãodaSantaMissa,invoqueioEspíritoSantopedindopelosfrutosdaVConferênciaGeraldoEpiscopadoLatino-AmericanoedoCaribeque,dentrodepouco,tereiaocasiãodeinaugurar.Peçoa todosquerezempelos frutosdestagrandeassembléia,queabredeesperançaofuturodafamílialatino-americana.SoisosprotagonistasdodestinodasvossasNações.QueDeusvosabençoeevosacompanhe!

SaúdocomafetoosGruposeComunidadesdelínguaespa-nholaaquipresentes,bemcomoatodososquedesdeaEspanhaeaAméricaLatinaseunemespiritualmenteaestacelebração.QueaVirgemMariavosajudeamantervivaachamadafé,oamoreaconcórdia,paraquemedianteotestemunhodevossavidaeafidelidadeàvossavocaçãodebatizadossejaisluzeespe-rançadahumanidade.PeçamostambémparaqueacelebraçãodestaVConferênciaGeraldoEpiscopadoLatino-americanoedoCaribeproduzaabundantesfrutosdeautênticarenovaçãoespi-ritualedeincansávelevangelização.QueDeusvosabençoe!1

1SaludoconafectoalosGruposyComunidadesdelenguaespañolaaquípresentes,asícomoatodoslosquedesdeEspañayLatinoaméricaseunenespiritualmenteaestacelebra-

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Eucalorosamentecumprimentotodososgruposdelínguainglesahoje.AsfamíliaspermanecemnocoraçãodamissãodeevangelizaçãodaIgreja,porqueénolarquenossavidadefééexpressaesenutreprimeiramente.Pais,vocêssãoastestemu-nhasprimeirasparaseusfilhosdasverdadesevaloresdenossafé: rezem com e pelos seus filhos, ensine-os pelo seu exemplodefidelidadeealegria.Defato,tododiscípulo,estimuladopelapalavraefortalecidopelossacramentos,échamadoàmissão.Éumdeverqueninguémdevaretrair-se,porquenadaémaisboni-todoqueconhecerCristoefazê-loconhecidoporoutros.PossaNossa Senhora de Guadalupe ser seu modelo e guiá-los. Deusabençoevocêstodos!2

Caras famílias e grupos de língua francesa, eu vos saúdocomtodoocoração,avósqueviveissobreocontinentesul-ame-ricano,sobretudonoHaiti,naGuianafrancesaenasAntilhas.Possaisvósedificar,comtodos,umasociedadesempremaisso-lidária e fraternal, com o objetivo de fazer com que os jovensdescubramagrandezadosvaloresfamiliares.3

Ocorre hoje o nonagésimo aniversário das Aparições deNossaSenhoraemFátima.Comoseuveementeapeloàconver-sãoeàpenitênciaé,semdúvida,amaisproféticadasapariçõesmodernas.VamospediràMãedaIgreja,elaqueconheceosso-

ción.QuelaVirgenMaríaosayudeamantenervivalallamadelafe,elamorylaconcordia,paraquemedianteeltestimoniodevuestraviday lafidelidadavuestravocacióndebau-tizados seáis luz y esperanza de la humanidad. Pidamos también para que la celebracióndeestaQuintaConferenciaGeneraldelEpiscopadoLatinoamericanoydelCaribeproduzcaabundantesfrutosdeauténticarenovaciónespiritualydeincansableevangelización.¡QueDiososbendiga!

2IwarmlygreetalltheEnglish-speakinggroupspresenttoday.FamiliesstandattheheartoftheChurch’smissionofevangelization,foritisinthehomethatourlifeoffaithisfirstexpressedandnurtured. Parents,youare theprimarywitnesses toyourchildrenofthetruthsandvaluesofourfaith:praywithandforyourchildren;teachthembyyourexampleoffidelityandjoy!Indeed,everydisciple,spurredonbywordandstrengthenedbysacrament,iscalledtomission.Itisadutyfromwhichno-oneshouldshyaway,fornothingismorebeautifulthantoknowChristandtomakehimknowntoothers!MayOurLadyofGuadalupebeyourmodelandguide.GodBlessyouall!

3Chèresfamillesetgroupesdelanguefrançaise,jevoussaluedetoutcœur,vousquivivezsurleContinentsud-américain,notammentenHaïti,enGuyanefrançaiseetdanslesAntilles.Puissiez-vousédifier,avectous,unesociététoujoursplussolidaireetplusfraternel-le,aveclesoucidefairedécouvrirauxjeuneslagrandeurdesvaleursfamiliales.

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2�5VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

frimentoseasesperançasdahumanidade,queprotejanossoslaresenossascomunidades.

Demodoespeciallheconfiamosaquelespovosenaçõesquetêmparticularnecessidade,eofazemosnacertezadequenãodesprezaráassúplicasquecomfilialdevoçãolhedirigimos.Pen-soespecialmentenaquelesirmãoseirmãsquepadecemafomee,por isso,desejorecordara “A Marcha contra a fome”promo-vidapeloProgramaAlimentarMundial,organismodasNaçõesUnidasencarregadodaajudaalimentar.Estainiciativaacontecehojeemnumerosascidadesdomundo,entreasquaisaquinoBrasil,emRibeirãoPreto.

Nossasprecesvãodirigidastambémàcomunidadeafro-brasileiraquecomemoranestedomingoaaboliçãodaescravatu-ranoBrasil.Possaessarecordaçãoestimularaconsciênciaevan-gelizadoradestarealidadesócio-culturaldegrandeimportâncianaTerradaSantaCruz.

Dirijo igualmente minha cordial saudação, juntamentecomosmeussincerosagradecimentos,atodososGruposeAs-sociaçõesqueaquiseencontram.QueDeusvosrecompenseemantenhafirmesnafé.

Aclamemoscomalegriaoiníciodanossasalvação.

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SESSãoInAuGurALdoStrABALHoSdAVConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdodAAMÉrICALAtInAEdoCArIBE,nASALAdEConFErÊnCIAdoSAntuÁrIodEAPArECIdA–dISCurSo(13dEMAIodE2007)

Queridos IrmãosnoEpiscopado,amadossacerdotes, reli-giosos,religiosaseleigos.Queridosobservadoresdeoutrascon-fissõesreligiosas:

ÉmotivodegrandealegriaestarhojeaquiconvoscoparainauguraraVConferênciaGeraldoEpiscopadoLatino-Ameri-cano e do Caribe, que se celebra junto ao Santuário de NossaSenhoraAparecida,PadroeiradoBrasil.Queroqueminhaspri-meiraspalavrassejamdeaçãodegraçasedelouvoraDeuspelograndedomdafécristãaospovosdesteContinente.

1.AfécristãnaAméricaLatina

AféemDeusanimouavidaeaculturadestespovosduran-temaisdecincoséculos.Doencontrodessafécomasetniasori-gináriasnasceuaricaculturacristãdestecontinenteexpressadanaarte,namúsica,naliteraturae,sobretudo,nastradiçõesre-ligiosasenaidiossincrasiadeseuspovos,unidasaumamesmahistóriaeummesmocredo,eformandoumagrandesintonianadiversidadedeculturasedelínguas.Naatualidade,essamesmafédeveenfrentarsériosdesafios,poisestãoemjogoodesenvol-vimentoharmônicodasociedadeeaidentidadecatólicadeseus

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povos.Arespeitodisso,aVConferênciaGeralvairefletirsobreestasituaçãoparaajudarosfiéiscristãosaviveremsuafécomalegriaecoerência,atomarconsciênciadeserdiscípulosemis-sionáriosdeCristo,enviadosporeleaomundoparaanunciaredartestemunhodenossaféeamor.

Mas,quesignificouaaceitaçãodafécristãparaospovosdaAméricaLatinaedoCaribe?Paraeles,significouconhecereacolherCristo,oDeusdesconhecidoqueseusantepassados,semsaber,buscavamemsuasricastradiçõesreligiosas.CristoeraoSalvadorqueansiavamsilenciosamente.Significoutam-bémterrecebido,comaságuasdobatismo,avidadivinaqueos tornou filhos de Deus por adoção; ter recebido também oEspíritoSantoqueveioparafecundarsuasculturas,purifican-do-asedesenvolvendoosnumerososgermensesementesqueoVerboencarnadohaviapostonelas,orientado-asassimpeloscaminhosdoEvangelho.Comefeito,oanúnciodeJesusedeseuEvangelhonãosupôs,emnenhummomento,umaaliena-çãodasculturaspré-colombianas,nemfoiuma imposiçãodeumaculturaestranha.Asautênticasculturasnãoestãofecha-dasemsimesmasnempetrificadasemumdeterminadopontodahistória,masestãoabertas,maisainda,buscamoencontrocomoutrasculturas,esperamalcançarauniversalidadenoen-controenodiálogocomoutras formasdevidaecomosele-mentosquepossam levaraumanovasíntesenaqual se res-peitesempreadiversidadedasexpressõesedesuarealizaçãoculturalconcreta.

Emúltima instância, sóaverdadeunificae suaprovaéoamor.PorissoCristo,sendorealmenteoLogosencarnado,“oamoratéoextremo”,nãoéalheioaculturaalgumanemanenhumapessoa;pelocontrário,arespostaansiadanocora-çãodasculturaséoquelhesdásuaidentidadeúltima,unindoa humanidade e respeitando por sua vez a riqueza das di-versidades, abrindo todos ao crescimento na verdadeirahumanização, no autêntico progresso. O Verbo de Deus, fa-

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zendo-se carne em Jesus Cristo, tornou-se também históriaecultura.

Autopiadevoltaradarvidaàsreligiõespré-colombianas,separando-asdeCristoedaIgrejauniversal,nãoseriaumpro-gresso, mas um retrocesso. Na realidade, seria uma involuçãoparaummomentohistóricoancoradonopassado.

Asabedoriadospovosorigináriososlevoufelizmenteafor-marumasínteseentresuasculturaseafécristãqueosmissio-nárioslhesofereciam.Daínasceuaricaeprofundareligiosidadepopular,naqualapareceaalmadospovoslatino-americanos:

• OamoraCristosofredor,oDeusdacompaixão,doper-dãoedareconciliação;oDeusquenosamouatéentregar-sepornós;

• OamoraoSenhorpresentenaEucaristia,oDeusencar-nado,mortoeressuscitadoparaserPãodaVida;

• ODeuspróximodospobresedosquesofrem;

• AprofundadevoçãoaNossaSenhoradeGuadalupe,deAparecidaoudasdiversasinvocaçõesnacionaise locais.Quando a Virgem de Guadalupe apareceu ao índio SãoJuanDiego,disse-lheestassignificativaspalavras: “Nãoestoueuaquiquesoutuamãe?Nãoestássobminhapro-teção?Nãosoueuafontedetuaalegria?Nãoestássobmeumanto,nocruzardemeusbraços?”(Nican Mopohua,nn.118-119).

Estareligiosidadeseexpressatambémnadevoçãoaossan-toscomsuasfestaspatronais,noamoraopapaeaosdemaispas-tores,noamoràIgrejauniversalcomograndefamíliadeDeusquenuncapodenemdevedeixarasósounamisériaseuspró-priosfilhos.TudoissoformaograndemosaicodareligiosidadepopularqueéopreciosotesourodaIgrejaCatólicanaAméricaLatina,equeeladeveproteger,promovere,noquefornecessá-rio,tambémpurificar.

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2.ContinuidadecomasoutrasConferências

EstaVConferênciaGeralsecelebraemcontinuidadecomasoutrasquatroqueaprecederamnoRiodeJaneiro,Medellín,PueblaeSantoDomingo.Comomesmoespíritoqueasanimou,ospastoresqueremdaragoraumnovoimpulsoàevangelização,afimdequeestespovoscontinuemcrescendoeamadurecendoemsuafé,paraserluzdomundoetestemunhasdeJesusCristocomaprópriavida.

DepoisdaIVConferênciaGeral,emSantoDomingo,muitascoisasmudaramnasociedade.AIgreja,queparticipadosgozoseesperanças,daspenasealegriasdeseusfilhos,quercaminharaseuladonesteperíododetantosdesafios,parainfundir-lhessempreesperançaeconsolo(cf.Gaudium et spes,1).

Nomundodehojesedáofenômenodaglobalizaçãocomoumconjuntoderelaçõesnoâmbitomundial.Aindaqueemcertosaspectoséumaconquistadagrandefamíliahumanaeumsinaldesuaprofundaaspiraçãoàunidade,contudocomportatambémamarcadosgrandesmonopóliosedeconverterolucroemvalorsupremo.Comoemtodososcamposdaatividadehumana,aglo-balizaçãodevereger-setambémpelaética,pondotudoaoservi-çodapessoahumana,criadaàimagemesemelhançadeDeus.

NaAméricaLatinaenoCaribe,assimcomoemoutrasreli-giões,evoluiu-separaademocracia,aindaquehajamotivosdepreocupaçãoanteformasdegovernoautoritáriasousujeitasacertas ideologias que eram consideradas superadas, e que nãocorrespondem à visão cristã do homem e da sociedade, comonosensinaaDoutrinaSocialdaIgreja.Poroutraparte,aecono-mialiberaldealgunspaíseslatino-americanosdeveterpresenteaeqüidade,poiscontinuamaumentandoossetoressociaisquese vêem provados cada vez mais por uma enorme pobreza ouinclusiveespoliadosdosprópriosbensnaturais.

NasComunidadeseclesiaisdaAméricaLatinaénotávelamaturidadenafédemuitosleigoseleigasativoseentreguesao

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Senhor,juntocomapresençademuitosabnegadoscatequistas,detantosjovens,denovosmovimentoseclesiaisederecentesInstitutos de vida consagrada. Demonstram-se fundamentaismuitas obras católicas educativas, assistenciais e hospitalares.Percebe-se, contudo, um certo enfraquecimento da vida cristãnoconjuntodasociedadeedaprópriapertençaà IgrejaCató-lica,devidoaosecularismo,aohedonismo,aoindiferentismoeaoproselitismodenumerosasseitas,dereligiõesanimistasedenovasexpressõespseudo-religiosas.

Tudoissoconfiguraumasituaçãonovaqueseráanalisadaaqui,emAparecida.Anteanovaencruzilhada,osfiéisesperamdestaVConferênciaumarenovaçãoerevitalizaçãodesuaféemCristo,nossoúnicoMestreeSalvador,quenosrevelouaexpe-riênciaúnicadoAmorinfinitodeDeusPaiaoshomens.Destafontepoderãosurgirnovoscaminhoseprojetospastoraiscria-tivos,queinfundamumafirmeesperançaparaviverdemaneiraresponsávelegozosaaféeirradiá-laassimnopróprioambiente.

3.discípulosemissionários

EstaConferênciaGeraltemcomotema:“Discípulosemis-sionáriosdeJesusCristo,paraquenossospovosneletenhamvida-EusouoCaminho,aVerdadeeaVida”(Jo14,6).

AIgrejatemagrandetarefadecustodiarealimentarafédoPovodeDeus,erecordartambémaosfiéisdesteContinenteque,emvirtudedeseubatismo,estãochamadosaserdiscípu-losemissionáriosdeJesusCristo.Issolevaasegui-lo,viveremintimidadecomele,imitarseuexemploedartestemunho.TodobatizadorecebedeCristo,comoosapóstolos,omandatodamis-são:“IdeportodoomundoeproclamaiaBoaNovaatodacria-tura.Quemcrereforbatizado,serásalvo”(Mc16,15).PoisserdiscípulosemissionáriosdeJesusCristoebuscaravida“nele”supõeestarprofundamenteenraizadosnele.

OquenosdáCristorealmente?Porquequeremosserdiscí-pulosdeCristo?Porqueesperamosencontrarnacomunhãocom

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eleavida,averdadeiravidadignadestenome,eporissoque-remosdá-loaconheceraosdemais,comunicar-lhesodomqueencontramosnele.Masissoéassim?EstamosrealmentecertosdequeCristoéocaminho,averdadeeavida?

AnteaprioridadedaféemCristoedavida“nele”,formula-danotítulodestaVConferência,poderiasurgirtambémoutraquestão:Estaprioridade,nãopoderiaseracasoumafugaparaointimismo,paraoindividualismoreligioso,umabandonodarealidadeurgentedosgrandesproblemaseconômicos,sociaisepolíticosdaAméricaLatinaedomundo,eumafugadarealidadeparaummundoespiritual?

Comoprimeiropasso,podemosresponderaestaperguntacomoutra:Oqueéesta“realidade”?Oqueéoreal?São“realida-de”sóosbensmateriais,osproblemassociais,econômicosepo-líticos?Aquiestáprecisamenteograndeerrodastendênciasdo-minantesnoúltimoséculo,errodestrutivo,comodemonstramosresultadostantodossistemasmarxistascomoinclusivedoscapitalistas.Falsificamoconceitoderealidadecomaamputaçãoda realidade fundante, e por isso decisiva, que é Deus. QuemexcluiDeusdeseuhorizontefalsificaoconceitode“realidade”e,emconseqüência,sópodeterminaremcaminhosequivocadosecomreceitasdestrutivas.

A primeira afirmação fundamental é, pois, a seguinte: SóquemreconheceDeus,conhecearealidadeepoderesponderaela de modo adequado e realmente humano. A verdade dessateseéevidenteanteofracassodetodosossistemasquecolocamDeusentreparêntesis.

Massurgeimediatamenteoutrapergunta:QuemconheceDeus? Como podemos conhecê-lo? Não podemos entrar aquiemumcomplexodebatesobreestaquestãofundamental.Paraocristão,onúcleodarespostaésimples:SóDeusconheceDeus,sóseuFilho,queéDeusdeDeus,Deusverdadeiro,oconhece.Eele,“queestánoseiodoPai,orevelou”(Jo1,18).Daíaimportân-

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ciaúnicaeinsubstituíveldeCristoparanós,paraahumanidade.SenãoconhecemosDeusemCristoecomCristo,todaarealida-deseconverteemumenigmaindecifrável;nãohácaminhoeaonãohavercaminho,nãohávidanemverdade.

Deuséarealidadefundante,nãoumDeussópensadoouhipotético,masoDeusderostohumano;éoDeus-conosco,oDeusdoamoratéàcruz.Quandoodiscípulochegaàcompre-ensãodesteamordeCristo“atéoextremo”,nãopodedeixarderesponderaesteamorsenãoécomumamorsemelhante:«Euteseguireiporondequerquefores”(Lc9,57).

Ainda podemos fazer outra pergunta: O que nos dá a fénesseDeus?Aprimeirarespostaé:dá-nosumafamília,afamí-liauniversaldeDeusnaIgrejaCatólica.Afénoslibertadoiso-lamentodoeu,porquenos levaà comunhão:oencontrocomDeusé,emsimesmoecomotal,encontrocomosirmãos,umatodeconvocação,deunificação,deresponsabilidadeparacomooutroeparacomosdemais.Nestesentido,aopçãopreferen-cialpelospobresestáimplícitanafécristológicanaqueleDeusquesefezpobrepornós,paraenriquecer-noscomsuapobreza(cf.2Cor8,9).

Mas antes de falar do que comporta o realismo da fé noDeus feito homem, temos de aprofundar na pergunta: comoconhecerrealmenteCristoparapodersegui-loevivercomele,paraencontraravidaneleeparacomunicarestavidaaosoutros,àsociedadeeaomundo?Antesdetudo,Cristosedáaconheceranósemsuapessoa,emsuavidaeemsuadoutrinapormeiodaPalavradeDeus.AoiniciaranovaetapaqueaIgrejamissio-náriadaAméricaLatinaedoCaribesedispõeaempreender,apartirdestaVConferênciaGeralemAparecida,écondição in-dispensáveloconhecimentoprofundodaPalavradeDeus.Porisso,éprecisoeducaropovonaleituraemeditaçãodaPalavradeDeus:queelaseconvertaemseualimentoparaque,porprópriaexperiência,vejamqueaspalavrasdeJesussãoespíritoevida(cf.Jo 6,63).Docontrário,comovãoanunciarumamensagem

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cujoconteúdoeespíritonãoconhecemafundo?Temosquefun-damentarnossocompromissomissionárioetodanossavidanarochadaPalavradeDeus.Paraisso,animoospastoresaesfor-çar-seemdá-laaconhecer.

UmgrandemeioparaintroduziroPovodeDeusnomisté-riodeCristoéacatequese.NelasetransmitedeformasimplesesubstancialamensagemdeCristo.Convirá,portanto,intensifi-caracatequeseeaformaçãonafé,tantodascriançascomodosjovenseadultos.AreflexãomaduradafééluzparaocaminhodavidaeforçaparasertestemunhasdeCristo.Paraissosedis-põedeinstrumentosmuitovaliososcomooCatecismodaIgrejaCatólicaesuaversãomaisbreve,oCompêndiodoCatecismodaIgrejaCatólica.

Nestecampo,nãosedevelimitarsóàshomilias,conferên-cias,cursosdebíbliaouteologia,maséprecisorecorrertambémaosmeiosdecomunicação:imprensa,rádioetelevisão,sitesdaInternet,forosetantosoutrossistemasparacomunicareficaz-menteamensagemdeCristoaumgrandenúmerodepessoas.

NesteesforçoporconheceramensagemdeCristoetorná-laguiadaprópriavida,éprecisorecordarqueaevangelizaçãoestevesempreunidaàpromoçãohumanaeàautênticaliberta-ção cristã. “Amor a Deus e amor ao próximo se fundem entresi: no mais humilde encontramos o próprio Jesus e em JesusencontramosDeus”(Deus caritas est,15).Porisso,serátambémnecessáriaumacatequesesocialeumaadequada formaçãonadoutrinasocialdaIgreja,sendomuitoútilparaissoo“Compên-diodaDoutrinaSocialdaIgreja”.Avidacristãnãoseexpressasomente nas virtudes pessoais, mas também nas virtudes so-ciaisepolíticas.

O discípulo, fundamentado assim na rocha da Palavra deDeus,sente-se impulsionadoa levaraBoaNovadasalvaçãoaseus irmãos: Discipulado e missão são como os dois lados deumamesmamoeda:quandoodiscípuloestáenamoradodeCris-

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to,nãopodedeixardeanunciaraomundoquesóelenossalva(cf.Atos4,12).Comefeito,odiscípulosabequesemCristonãoháluz,nãoháesperança,nãoháamor,nãoháfuturo.

4.“Paraqueneletenhamvida”

Ospovoslatino-americanosecaribenhostêmdireitoaumavidaplena,própriadosfilhosdeDeus,comcondiçõesmaishu-manas:livresdasameaçasdafomeedetodaformadeviolência.Paraestespovos,seuspastoresdevemfomentarumaculturadavidaquepermita,comodiziameupredecessorPauloVI,“passardamisériaàpossedonecessário,àaquisiçãodacultura...àco-operaçãonobemcomum...atéoreconhecimento,porpartedohomem,dosvaloressupremosedeDeus,quedeleséafonteeofim”(Populorum progressio,21).

Nestecontexto,é-megratorecordaraEncíclica“Populorum progressio”,cujo40ºaniversáriorecordamosnesteano.Estedo-cumentopontifícioevidenciaqueodesenvolvimentoautênticodeveserintegral,ouseja,orientadoàpromoçãodetodooho-memedetodososhomens(cf.n.14),econvidatodosasupri-miremasgravesdesigualdadessociaiseasenormesdiferençasnoacessoaosbens.Estespovosanseiam,sobretudo,àplenitudedevidaqueCristonostrouxe:“Euvimparaquetenhamvidaeatenhamemabundância”(Jo10,10).Comestavidasedesenvol-vetambémemplenitudeaexistênciahumana,emsuadimensãopessoal,familiar,socialecultural.

Paraformarodiscípuloesustentaromissionárioemsuagrandetarefa,aIgrejalhesoferece,alémdoPãodaPalavra,oPãodaEucaristia.Arespeitodisso,inspira-noseiluminaapáginadoevangelhosobreosdiscípulosdeEmaús.Quandoestessesen-tamàmesaerecebemdeJesusCristoopãoabençoadoepartido,seusolhosseabrem,descobremorostodoRessuscitado,sentememseucoraçãoqueéverdadetudooqueeledisseefez,equejácomeçouaredençãodomundo.CadadomingoecadaEucaristiaéumencontropessoalcomCristo.AoescutaraPalavradivina,o

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coraçãoardeporqueéelequemaexplicaeproclama.QuandonaEucaristiaseparteopão,éaeleaquemserecebepessoalmente.AEucaristiaéoalimentoindispensávelparaavidadodiscípuloemissionáriodeCristo.

A Missa Dominical, centro da vida cristã

Daí a necessidade de dar prioridade, nos programas pas-torais,àvalorizaçãodaMissadominical.Temosdemotivaroscristãos para que participem dela ativamente e, se é possível,melhoraindacomafamília.Aassistênciadospaiscomseusfi-lhosàcelebraçãoeucarísticadominicaléumapedagogiaeficazparacomunicaraféeumestreitovínculoquemantémaunida-deentreeles.Odomingosignificou,aolongodavidadaIgreja,o momento privilegiado do encontro das comunidades com oSenhorressuscitado.

Énecessárioqueoscristãosexperimentemquenãoseguemumpersonagemdahistóriapassada,senãooCristovivo,presen-tenohojeenoagoradesuasvidas.EleéoViventequecaminhaaonossolado,descobrindo-nososentidodosacontecimentos,dadoredamorte,daalegriaedafesta,entrandoemnossasca-sasepermanecendonelas,alimentando-noscomoPãoquedáavida.AEucaristiadeveserocentrodavidacristã.

OencontrocomCristonaEucaristiasuscitaocompromissodaevangelizaçãoeoimpulsoàsolidariedade;despertanocris-tãoofortedesejodeanunciaroEvangelhoetestemunhá-lonasociedadeparaqueelasejamaisjustaehumana.DaEucaristiabrotouaolongodosséculosumimensocaudaldecaridade,departicipaçãonasdificuldadesdosoutros,deamoredejustiça.SódaEucaristiabrotaráacivilizaçãodoamor,quetransformaráaAméricaLatinaeoCaribeparaque,alémdeserocontinentedaEsperança,sejatambémocontinentedoAmor!

Os problemas sociais e políticos

ChegadosaestepontopodemosnosperguntarcomopodeaIgrejacontribuirparaasoluçãodosurgentesproblemassociais

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epolíticos,eresponderaograndedesafiodapobrezaedami-séria?OsproblemasdaAméricalatinaedoCaribe,assimcomodomundodehoje,sãomúltiplosecomplexos,enãopodemserenfrentadoscomprogramasgerais.Contudo,aquestãofunda-mentalsobreomodocomoaIgreja,iluminadapelaféemCris-to,devareagirdiantedessesdesafios,concerneatodos.Nestecontexto é inevitável falar do problema das estruturas, sobre-tudodasquecriam injustiça.Naverdade,asestruturas justassãoumacondiçãosemaqualnãoépossívelumaordemjustanasociedade.Mas,comonascem?Comofuncionam?

Tantoocapitalismocomoomarxismoprometeramencon-trarocaminhoparaacriaçãodeestruturasjustaseafirmaramqueestas,umavezestabelecidas,funcionariamporsimesmas;afirmaram que não só não haviam tido a necessidade de umaprecedentemoralidadeindividual,maselasfomentariamamo-ralidadecomum.Eestapromessaideológicasedemonstrouqueéfalsa.Osfatosocolocammanifesto.Osistemamarxista,ondegovernou,nãosódeixouumatristeherançadedestruiçõeseco-nômicaseecológicas,mastambémumadolorosadestruiçãodoespírito. E o mesmo vemos também no ocidente, onde cresceconstantementeadistânciaentrepobresericoseseproduzumainquietantedegradaçãodadignidadepessoalcomadroga,oál-cooleassutismiragensdefelicidade.

Asestruturasjustassão,comodisse,umacondiçãoindis-pensávelparaumasociedadejusta,masnãonascemnemfun-cionamsemumconsensomoraldasociedadesobreosvaloresfundamentaisesobreanecessidadedeviverestesvalorescomasnecessáriasrenúncias,inclusiveointeressepessoal.

OndeDeusestáausente–oDeusdorostohumanodeJe-susCristo–estesvaloresnãosemostramcomtodasuaforça,nemseproduzumconsensosobreeles.Nãoquerodizerqueosnãocrentesnãopossamviverumamoralidadeelevadaeexem-plar;digosomentequeumasociedadenaqualDeusestáausentenãoencontraoconsensonecessáriosobreosvaloresmoraisea

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forçaparaviversegundoapautadestesvalores,mesmocontraosprópriosinteresses.

Poroutrolado,asestruturasjustashãodeserbuscadaseelaboradasàluzdosvaloresfundamentais,comtodooempenhodarazãopolítica,econômicaesocial.Sãoumaquestãodareta ratioenãoprovémdeideologiasnemdepromessas.Certamenteexisteumtesourodeexperiênciaspolíticasedeconhecimentossobre os problemas sociais e econômicos, que evidenciam ele-mentosfundamentaisdeumestadojustoeoscaminhosquesetemdeevitar.Masemsituaçõesculturaisepolíticasdiversas,eemtransformaçãoprogressivadastecnologiasedarealidadehis-tóricamundial,háquesebuscar,demaneiraracional,asrespos-tasadequadasedeve-secriar–comoscompromissosindispen-sáveis–oconsensosobreasestruturasquehãodeseestabelecer.

Este trabalho político não é competência imediata daIgreja.Orespeitodeumasãlaicidade–atémesmocomaplu-ralidade das posições políticas – é essencial na tradição cristãautêntica.SeaIgrejacomeçasseasetransformardiretamenteemsujeitopolítico,não fariamaispelospobresepela justiça,masfariamenos,porqueperderiasuaindependênciaesuaau-toridade moral, identificando-se com uma única via política ecomposiçõesparciaisopináveis.AIgrejaéadvogadadajustiçaedospobres,precisamenteaonãoidentificar-secomospolíticosnemcomosinteressesdepartido.Sósendoindependentepodeensinarosgrandescritérioseosvalores irrevogáveis,orientaras consciências e oferecer uma opção de vida que vai além doâmbitopolítico.Formarasconsciências,seradvogadadajusti-çaedaverdade,educarnasvirtudesindividuaisepolíticas,éavocaçãofundamentaldaIgrejanestesetor.Eosleigoscatólicosdevemserconscientesdesuaresponsabilidadenavidapública;devemestarpresentesnaformaçãodosconsensosnecessáriosenaoposiçãocontraasinjustiças.

Asestruturasjustasjamaisserãocompletasdemododefi-nitivo;pelaconstanteevoluçãodahistória,hãodesersempre

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renovadaseatualizadas;hãodeestaranimadassempreporum“ethos”políticoehumano,porcujapresençaeeficiênciasehádetrabalharsempre.Comoutraspalavras,apresençadeDeus,aamizadecomoFilhodeDeusencarnado,aluzdesuaPalavra,sãosemprecondiçõesfundamentaisparaapresençaeeficiênciadajustiçaedoamoremnossassociedades.

Portratar-sedeumContinentedebatizados,convémpre-encheranotávelausência,noâmbitopolítico, comunicativoeuniversitário,devozeseiniciativasdelíderescatólicosdefortepersonalidadeedevocaçãoabnegada,quesejamcoerentescomsuasconvicçõeséticasereligiosa.Osmovimentoseclesiaistêmaquiumamplocampopararecordaraosleigossuaresponsabi-lidadeesuamissãodelevaraluzdoEvangelhoàvidapública,cultural,econômicaepolítica.

5.outroscamposprioritários

ParalevaracaboarenovaçãodaIgrejaavósconfiadanestasterras,eugostariadefixaraatençãoconvoscosobrealgunscam-posqueconsideroprioritáriosnestanovaetapa.

A família

Afamília,“patrimôniodahumanidade”,constituiumdostesourosmaisimportantesdospovoslatino-americanos.Elafoieéescoladafé,palestradevaloreshumanosecívicos,laremqueavidahumananasceeéacolhidagenerosaeresponsavelmente.Noentanto,naatualidadesofresituaçõesprovocadaspelosecu-larismoepelorelativismoético,pelosdiversosfluxosmigrató-riosinternoseexternos,pelapobreza,pelainstabilidadesocialeporlegislaçõesciviscontráriasaomatrimônioque,aofavorecerosanticoncepcionaiseoaborto,ameaçamofuturodospovos.

EmalgumasfamíliasdaAméricaLatina,persisteainda,in-felizmente, uma mentalidade machista, ignorando a novidadedo cristianismo que reconhece e proclama a igual dignidade eresponsabilidadedamulhercomrelaçãoaohomem.

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Afamíliaéinsubstituívelparaaserenidadepessoaleparaaeducaçãodosfilhos.Asmãesquequeremdedicar-seplenamenteàeducaçãodeseusfilhoseaoserviçoda famíliadevemterascondiçõesnecessáriasparapoderfazê-lo,eparaissotêmdireitodecontarcomoapoiodoEstado.Defato,opapeldamãeéfun-damentalparaofuturodasociedade.

Opai,porsuaparte,temodeverdeserverdadeiramentepai,queexerce sua indispensável responsabilidade e colabora-çãonaeducaçãodeseusfilhos.Osfilhos,paraseucrescimentointegral,têmodireitodepodercontarcomopaiecomamãe,paraquecuidemdeleseosacompanhemrumoàplenitudedesuavida.Énecessária,pois,umapastoralfamiliarintensaevi-gorosa.É indispensável tambémpromoverpolíticas familiaresautênticasquerespondamaosdireitosdafamíliacomosujeitosocialimprescindível.Afamíliafazpartedobemdospovosedahumanidadeinteira.

Os sacerdotes

Os primeiros promotores do discipulado e da missão sãoaquelesqueforamchamados“paraestarcomJesuseserenvia-dosapregar”(cf.Mc3,14),ouseja,ossacerdotes.ElesdevemreceberdemodopreferencialaatençãoeocuidadopaternodosseusBispos,poissãoosprimeirosagentesdeumaautênticare-novaçãodavidacristãnopovodeDeus.Aelesquerodirigirumapalavradeafetopaternodesejando“queoSenhorsejapartedasuaherançaedoseucálice”(cf.Sl16,5).SeosacerdotefizerdeDeusofundamentoeocentrodesuavida,entãoexperimentaráaalegriaeafecundidadedasuavocação.Osacerdotedeveserantesde tudo um“homem de Deus” (1Tim6,11);umhomemqueconheceaDeus“emprimeiramão”,quecultivaumaprofun-daamizadepessoalcomJesus,quecompartilhaos“sentimentosdeJesus”(cf.Fil2,5).SomenteassimosacerdoteserácapazdelevarDeus–oDeusencarnadoemJesusCristo–aoshomens,edeserrepresentantedoseuamor.Paracumprirasuaaltíssimamissãodevepossuirumasólidaestruturaespiritualevivertoda

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2�1VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

aexistênciaanimadopelafé,aesperançaeacaridade.Temdeser,comoJesus,umhomemqueprocure,atravésdaoração,orostoeavontadedeDeus,cultivandoigualmentesuaprepara-çãoculturaleintelectual.

QueridossacerdotesdesteContinenteequantosque,comomissionários,neleviestesatrabalhar:oPapaacompanhavossaatividadepastoraledesejaqueestejaisrepletosdeconsolaçõesedeesperança,erezaporvós.

Religiosos, religiosas e consagrados

Querodirigir-metambémaosreligiosos,àsreligiosaseaosleigoseleigasconsagrados.Asociedadelatino-americanaeca-ribenhatemnecessidadedovossotestemunho:emummundoque tantas vezes busca, sobretudo, o bem-estar, a riqueza e oprazercomofinalidadedavida,equeexaltaaliberdadeprescin-dindodaverdadedohomemcriadoporDeus,vóssoistestemu-nhasdequeexisteoutraformadevivercomsentido;lembraiaosvossosirmãoseirmãsqueoReinodeDeuschegou;queajustiçaeaverdadesãopossíveissenosabrimosàpresençaamorosadeDeusnossoPai,deCristonossoirmãoeSenhor,doEspíritoSan-tonossoConsolador.Comgenerosidadeeatéaoheroísmo,con-tinuaitrabalhandoparaquenasociedadereineoamor,ajustiça,a bondade, o serviço, a solidariedade conforme o carisma dosvossosfundadores.Abraçaicomprofundaalegriavossaconsa-gração,queéinstrumentodesantificaçãoparavósederedençãoparavossosirmãos.

AIgrejadaAméricaLatinavosagradecepelograndetraba-lhoquevindesrealizandoaolongodosséculospeloEvangelhodeCristoafavordevossos irmãos,principalmentepelosmaispobresemarginalizados.Convidoatodosparaquecolaboremsemprecomosbispos,trabalhandounidosaelesquesãoosres-ponsáveispelapastoral.Exorto-vostambémaumaobediênciasinceraàautoridadedaIgreja.Nãotenhamoutroidealquenãosejaasantidadeconformeosensinamentosdevossosfundadores.

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Os leigos

Nesta hora em que a Igreja deste Continente se entregaplenamente à sua vocação missionária, lembro aos leigos quesãotambémIgreja,assembléiaconvocadaporCristoparalevarseutestemunhoaomundointeiro.Todososhomensemulheresbatizadosdevemtomarconsciênciadequeforamconfiguradoscom Cristo Sacerdote, Profeta e Pastor, através do sacerdóciocomum do Povo de Deus. Devem sentir-se co-responsáveis naconstruçãodasociedadesegundooscritériosdoEvangelho,comentusiasmoeaudácia,emcomunhãocomosseusPastores.

Sãomuitososfiéisquepertencemamovimentoseclesiais,nosquaispodemosverossinaisdamultiformepresençaeaçãosantificadoradoEspíritoSantona Igrejaenasociedadeatual.ElessãochamadosparalevaraomundootestemunhodeJesusCristoeserfermentodoamordeDeusnasociedade.

Os jovens e a pastoral vocacional

NaAméricaLatinaamaioriadapopulaçãoestáformadaporjovens.Aesterespeito,devemosrecordar-lhesquesuavocaçãoéseramigosdeCristo,discípulos,sentinelasdoamanhã,comocostumavadizeromeupredecessorJoãoPauloII.Osjovensnãotememosacrifício,mas,sim,umavidasemsentido.Sãosensí-veisàchamadadeCristoqueosconvidaasegui-lo.Podemres-ponder a essa chamada como sacerdotes, como consagrados econsagradas,ouaindacomopaisemãesdefamília,dedicadostotalmenteaserviraosseusirmãoscomtodooseutempo,suacapacidadedeentregaecomavidainteira.Osjovensencaramaexistênciacomoumaconstantedescoberta,nãoselimitandoàsmodasetendênciascomuns,indomaisalémcomumacurio-sidaderadicalacercadosentidodavida,edeDeusPai-CriadoreDeus-FilhoRedentornoseiodafamíliahumana.ElesdevemsecomprometerporumaconstanterenovaçãodomundoàluzdeDeus.Maisainda:cabe-lhesatarefadeopor-seàsfáceisilusõesda felicidade imediata e dos paraísos enganosos da droga, doprazer,doálcool,juntocomtodasasformasdeviolência.

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2�3VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

�.“Ficaconosco”

OstrabalhosdestaVConferêncianoslevamafazernossaasúplicadosdiscípulosdeEmaús:“Ficaconosco,poisjáétardeeanoitevemchegando”(Lc24,29).

Ficai conosco, Senhor, acompanhai-nos, ainda que nemsempretenhamossabidoreconhecer-vos.Ficaiconosco,porqueassombrasvãosetornandodensasaonossoredor,evóssoisaLuz; em nossos corações se insinua a desesperança, e vós nosfazeisardercomacertezadaPáscoa.Estamoscansadosdocami-nho,masvósnosconfortaisnafraçãodopãoparaanunciaraosnossosirmãosquenaverdadevósressuscitastesenosdestesamissãodesertestemunhasdavossaressurreição.

Ficaiconosco,Senhor,quandoaoredordanossafécatólicasurgemasnévoasdadúvida,docansaçooudadificuldade;vós,quesoisaprópriaVerdadecomoreveladordoPai,iluminainos-sasmentescomavossaPalavra;ajudai-nosasentirabelezadecreremvós.

Ficaiemnossasfamílias,iluminai-asemsuasdúvidas,sus-tentai-asemsuasdificuldades,consolai-asemseussofrimentosenafadigadecadadia,quandoaoredordelasseacumulamsom-brasqueameaçamsuaunidadeesuanatureza.VósquesoisaVida, permanecei em nossos lares, para que continuem sendoninhosondenasçaavidahumanaabundanteegenerosamente,ondeseacolha,seame,serespeiteavidadesdeasuaconcepçãoatéoseutérminonatural.

Ficai, Senhor, com aqueles que em nossas sociedade sãomaisvulneráveis;ficaicomospobres,comosindígenasecomosafro-americanos,quenemsempreencontraramespaçoseapoioparaexpressarariquezadesuaculturaeasabedoriadesuaiden-tidade.Ficai,Senhor,comnossascriançasecomnossosjovens,quesãoaesperançaeariquezadenossoContinente;protegei-osdetantasinsídiasqueatentamcontraasuainocênciaecontrasuas legítimasesperanças.ÓbomPastor,ficaicomnossosan-

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ciãosecomnossosdoentes.Fortaleceitodosemsuafé,paraquesejamvossosdiscípulosemissionários!

Conclusão

Aoconcluirminhapermanênciaentrevós,desejoinvocaraproteçãodaMãedeDeuseMãedaIgrejasobrevossaspessoasesobretodaaAméricaLatinaeoCaribe.Implorodeformaespe-cialaNossaSenhora–sobainvocaçãodeGuadalupe,PadroeiradaAmérica,edeAparecida,PadroeiradoBrasil–quevosacom-panheemvossabelaeexigente tarefapastoral.AelaconfiooPovodeDeusnestaetapadoterceiromilêniocristão.AelapeçotambémqueguieostrabalhosereflexõesdestaConferênciaGe-ral,equeabençoecomabundantesdonsosqueridospovosdestecontinente.

Antes de voltar para Roma quero deixar à V ConferênciaGeral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe uma lem-brançaquepossaacompanhá-laeinspirá-la.Relaciona-seàma-ravilhosaetípicaarte,provenientedopovocuzquenhodoPeru.NelaestárepresentadooSenhor,poucoantesdesubiraocéu,dandoaosqueoseguiamamissãodefazerdiscípulostodosospovos.AsimagensevocamaestreitarelaçãodeJesusCristocomseusdiscípulosemissionáriosparaavidadomundo.OúltimoquadrorepresentaSãoJoãoDiego,evangelizandocomaimagemdaVirgemMaria,comseutípicotrajeecomaBíblianamão.AhistóriadaIgrejanosensinaqueaverdadedoevangelho,quan-doassumidacomsuabelezaecomosnossosolhoseacolhidacomfépelainteligênciaecoração,nosajudamacontemplarasdimensõesdomistérioqueprovocamnossaadmiraçãoenossaadesão.

Despeço-mecordialmentedetodosvóscomestafirmees-perançanoSenhor.

Muitoobrigado.

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ÍndICEAnALÍtICo

Acompanhamento 79, 100c, 100e,212,282,306,317,337,394,411,421,422,437g,437j,437m,446c,489,518k

Acompanhar200,205,261,280a,282,397,402,413,414,426,437j,448,457,458c,469g,483,486,508

Acontecimento 4, 13, 145, 156, 243,269,388,389,447,156,243,269,388,389,447

Afetividade196,321,441d,518g

Afro-descendente 56, 65, 75, 88, 89,91,94,96,97,99b,128,402,454,529,532,533,

Alegria 2, 7, 14, 16, 17, 26, 28, 29,42,101,103,114,117,128,145,167, 175a, 177, 196, 254, 261,270, 278e, 280d, 315, 336, 356,362,364,379,382,478,513,514,517h,534,548,549,552

América Latina 8, 11, 13, 15, 18, 20,25,33,48,56,64,66,78,82,83,95, 98, 100a, 105, 114, 128, 142,148,157,170,178,213,220,221,247,258,276,297,309,315,328,344,345,361,363,364,381,406,408,411,419,423,443,453,454,461,471,473,476,490,499,520,521,524,525,527,529,537,541,545,548,550

Amizade15,255,299,319,355,398,442,528,535,539

Amor2,7,61,64,99a,117,118,127,128,133,138,139,141,143,146,

158, 159, 160, 161, 175g, 177,186,210,219,259,262,271,275,278c, 278d, 278e, 291, 292, 300,303,318,319,320,321,350,353,358,368,382,384,385,386,388,396, 416, 422, 433, 437e, 437j,449,450,457,459,469f,472,491,522,537,543,548,553

AmordeDeus6,7,13,14,17,22,25,27, 29, 35, 102, 106, 107, 109,115,125,134,136,137,143,147,149,241,242,253,254,256,261,263,265,273,348,356,357,388,405,419,420,434,494,532,543,548,550

Antropologia100b,451,463d

Aparecida1,3,7,247,265,270,477,526,537,547

Apóstolos31,156,158,178,186,208,214,256,267,273,275,276,308,417,552

Ardor100c,167,201,275,284,362,370

Arte 7, 35, 106, 174, 210, 255, 283,478,480,496,499,518m

Ascese321

Associação 128, 169, 179, 182, 214,281,311,437a,458c,513,518j

Audácia11,251,273,549,552

Batismo10,100e,127,149,153,157,160, 175b, 184, 186, 205, 209,211, 213, 228, 278b, 288, 349,350,357,377,382

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2�� CELAM

Batizado 7, 12, 127, 157, 162, 167,168,186,214,227,276,288,293,307,349,460,549

Bem comum 44, 69, 122, 239, 256,391, 404, 406b, 406c, 406e, 445,473,475,504,518j

Bemestar29,50,73,122,404

Bemterreno,109

Biodiversidade66,83,84,125,473

Bispo 1, 9, 99e, 165, 166, 169, 177,179,181,182,186,187,188,189,190,195,199,206,218,222,248,256,281,282,291,297,313,324,366, 371, 469a, 486, 508, 544,550

Busca 47, 52, 56, 88, 99g, 156, 168,234, 266, 278a, 291, 344, 371,385,442,443

Caminho1,6,7,9,13,19,20,21,22,23, 29, 44, 101, 118, 119, 136,137, 143, 149, 169, 176, 177,180, 196, 203, 216, 220, 226c,227, 228, 234, 239, 242, 246,248, 249, 259, 262, 270, 273,275, 276, 278, 280b, 280d, 281,300, 302, 315, 316, 321, 328,336, 344, 350, 351, 353, 354,358, 369, 371, 396, 400, 405,406d, 409, 413, 470, 517j, 525,534,535,537,544,553,554

Caribe1,8,13,18,20,25,33,48,56,64,78,82,98,100a,105,114,128,142,157,170,178,213,220,221,247,276,297,315,328,344,345,361,363,364,369,376,381,406,408,411,423,443,453,454,461,471,473,476,490,499,524,537,541,545,547,548,550

Caridade5,7,26,98,99f,100h,138,151,162,175,176,186,187,190,195,196,198,199,205,229,237,305,316,337,380,382,385,386,394,399,411,420,437l,491,537,550

Carisma/s,220,311,327

Catequese99a,100d,175,231,278c,286,290,294,295,297,298,299,300, 303, 338, 385, 446d, 463a,485,499,505

Celebração25,67,100e,142,151,170,173,175,191,252,253,262,290,299,350,379,399,516

Celibato195,196,317,321

Cidadão77,79,97,286,340,384,385,518g

Cidade58,78,126,128,173,473,505,509,510,511,512,513,514,515,516,517d,517i,517k,518b,518e,518g,518h,518i,518j,518m,548

Ciência34,35,41,45,103,123,124,174, 210, 280c, 283, 323, 423,437j,465,466,479,480,494,495

Colegialidade181,189

Competência39,62,280c,281,463c,488

Compromisso 5, 46, 85, 175d, 176,178, 179, 211, 226b, 226d, 228,238,247,249,257,276,286,299,308,318,342,352,358,362,363,373, 374b, 376, 379, 400, 433,446d,457,461,491,501,526

Comunhão 1, 3, 13, 99b, 99e, 100b,100e, 109, 110, 128, 129, 153,154,155,156,157,158,159,160,161,162,163,164,165,166,167,169,170,172,179,181,182,183,186,188,189,195,199,202,203,206,213,215,217,218,223,227,228,233,240,245,248,249,266,268, 272, 273, 278d, 302, 304,307,309,316,317,324,326,330,336,338,359,368,369

Comunicação38,39,41,45,48,57,60,99f,100d,128,174,318,445,484,485,486a,486b,486d,486e,486f,486h, 486i, 487, 488, 489, 495,497b,497c,517i,528,530

Comunidade 59, 65, 90, 95, 97, 99e,99g, 100e, 100h, 108, 121, 128,132,138,142,145,150,159,162,

Page 284: Documento de Aparecida (em português)

2�7VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

164, 170, 171, 172, 175, 175a,175e,178,179,180,184,188,193,202, 207, 208, 211, 213, 226d,228,252,253,256,266,269,272,275, 276, 278a, 278d, 280d, 281,289,291,303,305,309,310,311,312,313,316,334,335,336,338,342,343,365,368,370,371,372,374d, 415, 426, 427, 443, 449,451, 455, 457, 469e, 475, 490,496, 504, 513, 517e, 517f, 518b,531,547,548,550

Comunidadecristã158,168,169,175,226b, 272, 273, 282, 314, 338,362, 368, 369, 379, 401, 517k,545,550

Comunidade de discípulos 201, 203,278d,297,349,364

Comunidade eclesial 99c, 99e, 100g,119,156,170,178,179,180,204,205, 214, 226b, 227, 236, 275,286,289,292,307,338,368,370,374c,446a,545

Conferência Episcopal 181, 183, 200,232,298,306,401,412,430,431,469a,469e,551

ConferênciaGeral1,9,10,16,19,88,99e, 100b, 100h, 170, 173, 183,208,247,315,346,369,379,386,396, 402, 421, 446a, 477, 486,505,508,517,526,547,548

Confiança,8,31,98,269,363,488

Confirmação153,175c,211,213,288,377

Continente 6, 10, 13, 19, 62, 64, 83,87, 88, 97, 99a, 99d, 100g, 127,128,173,176,182,183,197,213,217,219,220,238,245,252,264,269,270,273,294,310,328,344,362,372,376,378,379,391,403,410,444,477,478,502,505,521,522,525,527,532,537,542,543,548,554

Continuidade 9, 16, 19, 220, 402,446a,541

Conversão14,100h,175d,226a,228,230,232,234,245,248,260,278b,278c,289,351,366,368,382

ConversãoPastoral365,366,368,370

Crescimento 60, 78, 99e, 100a, 203,222, 226c, 249, 300, 339, 442,444,496

Crianças 50, 65, 81, 127, 135, 210,293,302,303,304,314,334,336,402,409,410,417,422,424,437f,437l,438,439,447,457,467,468,469g, 481, 482, 486h, 491, 499,554

Criatividade99c,100a,173,287,345,403,492

Crise37,304,437h,444,479

Critério 19, 36, 45, 47, 75, 99e, 99f,123,210,279,281,331,387,412,421,474c,486h,499

Cultura4,6,7,8,10,13,22,35,37,39,41,43,45,46,51,52,56,57,58,59,61,82,96,98,99f,100d,121,156,174,177,185,192,194,199,210,258,262,263,280c,283,315,318,321,329,330,341,342,346,358, 371, 380, 387, 406b, 419,435,459,461,462,464,476,477,478, 479, 480, 484, 486a, 486h,490,491,493,498,500,506,509,512, 513, 518o, 525, 526, 533,540,542,543,554

Deficiência95,98

Democracia74,75,76,77,404,406a,504,541

Desenvolvimento 60, 66, 67, 69, 71,73,99f,126,222,226b,279,300,385, 395, 399, 403, 406a, 406c,412, 456, 457, 463c, 473, 474b,474c, 475, 491, 507, 510, 519,533,542,549

Desigualdade/Iniqüidade 48, 61, 62,358,384,395,527,528,537

Despersonalização110,512

Page 285: Documento de Aparecida (em português)

2�� CELAM

Deus-Pai28,129,241

Diálogo13,39,56,95,97,99g,100g,124,188,206,223,227,228,231,232,233,235,237,238,239,248,280c, 283,, 284, 324, 344, 341,342,344,345,363,368,377,384,413, 437d, 458d, 465, 466, 469a,495,497b,498,532,533

Dignidade6,7,32,37,40,41,42,44,47,48,61,65,78,82,98,104,115,120,121,122,184,239,257,265,372,382,388,389,390,391,398,406b, 441d, 422, 451, 453, 467,468,479,480,525,534,536,537,546

Dignidade, humana 43, 85, 103, 104,105,112,217,341,342,380,387,389,391,422,436,446c,533

Dinamismo63,100a,151,251,280c,330,359,378,528,533,534,539

Diocese164,168,169,182,190,195,200,281,282,306,313,314,346,365, 371, 412, 430, 435, 446a,469a,483,518b,551

Direitos Humanos 64, 74, 79, 80, 81,82,98,429,467,541

Discernimento19,42,99b,181,187,214, 222, 237, 238, 275, 280c,294,313,314,371,486h

Discípulo/missionário1,3,10,11,13,14,19,20,23,25,28,30,31,33,95,101,121,125,127,129,134,144,146,147,152,153,154,156,160,164,170,172,177,178,181,184,186,190,191,201,203,204,205,209,213,216,217,223,227,229,232,233,240,245,250,252,255,262,269,270,271,276,278,278c, 279, 280d, 283, 284, 301,302,307,311,314,315,316,318,320,338,349,362,364,368,374,376,377,382,384,386,393,400,409,412,415,426,432,443,449,460, 463b, 469, 486, 491, 501,506,518,524,530,532,538,540,542,548,554

Discípulo 1, 21, 28, 29, 33, 41, 101,103,110,112,131,132,133,136,138,143,144,146,148,152,154,155,158,159,161,167,175,184,185,186,199,201,202,243,244,248,250,251,255,256,266,267,272, 273, 277, 278a, 278d, 278e,282,284,291,292,297,303,319,320,324,347,350,353,361,363,377,379,381,420,443,451,465,470,518d,529,548,549

Discriminação533

Diversidade42,43,56,59,83,90,97,100f, 100g, 125, 162, 170, 202,311,324,478,522,525,543

Docilidade100h,284,316

Eclesial19,22,91,94,99c,99e,99g,100a,100e,100g,119,128,156,164,170,175c, 178, 179, 180, 183, 200, 204,205, 214, 226b, 227, 232, 236, 275,280c, 281, 286, 289, 292, 307, 311,313, 314, 337, 338, 365, 367, 368,370,374c,378,394,400,411,437j,446a, 446b, 454, 458a, 463a, 497a,518k,518n,544,545,550

Ecologia,83,125,126,472,474c,491

Economia, 35, 41, 48, 60, 63, 65, 66,67,69,70,71,76,83,97,98,174,210,283,406a,406c,419,506

Ecumenismo99g,228,230,231,232,234

Educação35,39,65,76,98,114,117,118,170,174,178,210,298,303,321,328,329,330,331,332,334,335,337,338,339,340,341,346,421, 422, 437e, 441d, 441f, 445,446d, 453, 456, 463c, 471, 481,482,507,530,533

Educador300,339

Encontro 4, 91, 99g, 168, 183, 226d,270, 278d, 326, 329, 334, 370,394,412,447,477,514,537,540

EncontrocomJesusCristo11,12,13,14, 21, 28, 29, 95, 99, 99e, 145,147, 154, 167, 175a, 181, 226a,

Page 286: Documento de Aparecida (em português)

2�9VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

240,241,242,243,246,248,249,250,251,257,258,259,263,270,273, 278a, 280c, 289, 290, 297,305,312,319,336,343,350,364,417,446c,500,548,549

Episcopado 1, 3, 9, 19, 88, 369, 526,544,547

Época34,37,44,76,173,397,451

Equipe281,372,429

EscolaCatólica335,336,337

Escritura–Bíblia,27,94,262

Escutar, 79, 103, 158, 279, 308, 348,366,397,454

Esperança7,13,14,15,16,17,21,22,26,30,42,64,75,94,97,99c,99f,106,119,127,128,146,158,186,187, 189, 237, 259, 267, 280d,320,333,336,362,395,514,522,536,543,548,549,554

EspíritoSanto1,14,19,23,33,100h,106,137,149,151,152,153,155,157,171,222,230,231,232,236,241,246,247,251,262,267,311,336,347,348,363,367,374,447,547,551

Espiritualidade 99g, 100b, 100c, 179,181,189,198,200,203,220,240,259,261,263,273,284,285,307,309,316,319,368,412,517

Estado 63, 66, 76, 77, 80, 334, 340,385,403,410,423,425,426,428,438,441c,481,539

Estrutura11,92,95,100c,100e,112,121,168,172,173,210,223,358,365,384,385,396,412,446,450,454, 501, 517h, 518a, 518j, 532,537,538,539,543,546

Eucaristia7,25,99b,100e,106,128,142, 153, 158, 165, 175, 175a,176,177,180,191,199,228,251,252,253,255,262,286,288,292,305,316,354,363,446c,446d

Evangelho 4, 5, 8, 11, 28, 30, 31, 41,95,98,100h,101,103,106,133,

139,143,144,173,178,186,194,210,217,243,249,265,266,269,275,331,333,335,356,358,360,370,382,390,391,398,400,413,435, 438, 465, 466, 474c, 475,480, 485, 491, 501, 517d, 518g,520,530,550,552

Evangelização 1, 5, 9, 13, 16, 25, 26,93,99e,99f,100c,100d,146,150,157,171,173,176,178,180,183,207,210,211,213,217,237,248,252, 280d, 283, 287, 307, 308,338,344,346,377,383,398,418,419, 446b, 476, 477, 488, 492,500,513,526,530,543

Experiência 37, 39, 52, 55, 118, 129,145,156,164,167,170,178,181,190, 195, 199, 204, 225, 226a,226c, 240, 244, 247, 249, 259,260, 263, 279, 280b, 284, 290,304,308,312,313,380,398,420,442,447,517f,525,529,547

Família39,40,44,49,57,60,65,93,100d, 103, 114, 115, 118, 119,121,126,127,156,174,204,207,210,252,259,260,267,268,285,286,302,303,305,314,328,329,337,338,340,426,429,431,432,433, 434, 435, 436, 437, 437d,437e, 437f, 437l, 438, 444, 446a,448, 449, 453, 456, 458d, 459,462, 463a, 463b, 463e, 466, 468,469a,469h,479,489,525

Fé2,4,7,10,12,13,16,18,19,21,25,26,29,32,39,55,92,95,98,99b,100d,101,103,104,105,114,118,134,151,156,157,158,159,160,164,170,178,184,186,187,189,204,210,226c,229,234,235,237,242,243,246,251,252,256,257,258,259,262,264,265,266,269,270,273,275,280b,280c,287,288,289,293,294,297,298,300,302,303,304,305,308,313,323,331,336,338,341,342,345,349,359,365,372,377,379,380,383,392,393,394,395,398,415,436,437c,440,441f,442,446d,453,455,456,461,463c,465,466,477,478,479,

Page 287: Documento de Aparecida (em português)

290 CELAM

480,483,485,494,495,496,497b,498,505,514,518d,525,526,529,531,533,549,550,554

Fécatólica12,187,258,359,531,554

Fé, cristã 13, 95, 99b, 264, 372, 377,480,525,533

Felicidade6,45,50,69,246,328,350,354,355,380,443,468,549

Fidelidade 9, 11, 139, 181, 191, 257,342,367,372,390,469e,501

Filho 1, 19, 22, 25, 28, 29, 30, 100h,101,102,103,106,107,130,132,134,143,155,157,176,241,242,249,261,267,269,315,321,336,347,348,349,373

Filosofia323

Formação 69, 77, 96, 99a, 99c, 99f,100e, 118, 174, 191, 194, 200,202, 205, 207, 212, 214, 222,226c, 231, 238, 276, 278, 278e,279, 280, 280a, 281, 282, 283,284,295,296,299,301,303,305,306,308,310,313,314,316,318,319,320,321,322,323,325,326,327,329,335,337,338,341,342,344, 345, 371, 413, 428, 437g,437i, 441a, 456, 469f, 469h, 475,481, 483, 486b, 486f, 489, 492,497a, 499, 505, 508, 517h, 518d,518g,518k,518o

Formaçãocentrosde327,335,345

Fraternidade,32,181,183,187,200,228,272,308,433,468,514,520,525

Gênero40,60,155,523

Globalização 34, 43, 60, 61, 62, 64,65,67,82,90,185,402,406,444,465,484,523

Governo68,404,406b,408,414,421,423,437d

Grupo43,59,75,78,81,88,97,99f,100f, 100g, 172, 179, 180, 185,214, 225, 232, 280d, 325, 372,401,402,471,498,513,526,531

Habilidades328

Hedonismo99g

Humildade36,324,363

Identidade 8, 13, 40, 49, 58, 88, 90,91, 92, 96, 97, 100c, 110, 144,191,192,193,214,238,251,279,286,291,297,312,318,319,337,345,373,442,444,451,457,459,463d, 479, 520, 528, 530, 533,544,549,554

Identidadecristã144,214,286,291

Identidadeeclesial337,544

Idolatria78,109

Impulso 16, 208, 251, 252, 284, 285,337,347,374b,446a,548

Inculturação/Inculturar, 4, 94, 99b,479,491

Indígenas4,56,65,75,88,89,90,91,92,94,95,96,99b,128,325,402,454,472,473,529,530,531,554

Individualismo44,51,110,148,479,514

Injustiça,26,121,185,522

Inserção, 19, 96, 192, 206, 326, 359,407,427

Inspiração247,269,486i

IntegraçãoLatino-Americana521

Intelectual67,83,194,248,280,280c,318,319,323

Interdisciplinar465

Interpretação248

Itinerário31,100c,214,240,255,277,280d,281,290,298,322,437c

Jesus Cristo / Cristo1,4,6,7,8,10,11,12,13,14,15,16,17,18,19,20,21,22,23,25,26,27,28,29,30,32,33,35,41,43,95,98,99,99b,99e,99f,101,103,104,107,110,115,117,119,126,127,128,129,131,132,134,136,138,139,

Page 288: Documento de Aparecida (em português)

291VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

140,141,143,145,146,151,152,153,155,156,158,159,160,161,162,167,168,170,171,172,173,175, 175a, 175b, 176, 177, 180,181,184,185,186,187,189,193,196,201,207,209,211,213,216,220,222,224,226a,227,228,229,232,236,237,238,240,242,243,244,246,247,248,249,250,251,254,255,256,257,258,259,265,266,267,270,271,273,275,276,277,278a,278b,278d,278e,279,280b, 280c, 280d, 281, 287, 288,289,290,291,292,297,298,299,300,303,304,305,307,312,314,316,318,319,321,332,333,335,336,337,341,343,347,348,349,350,351,352,354,355,356,357,358,359,361,362,368,371,374,374d,376,377,380,381,382,384,386,392,393,394,398,399,417,419, 432, 433, 443, 446c, 446d,450,459,460,461,477,479,480,486e,491,500,501,506,515,516,518,523,529,535,540,542,543,547,548,552,549,554

Jovens50,65,77,85,100d,127,194,303,304,314,315,318,325,326,328, 334, 335, 336, 338, 406b,410,422,424,442,443,444,445,446a, 446b, 446c, 446d, 446e,446f,446h,463c,468,481,486h,554

Latino-americano, povo 13, 88, 114,224,258,302,359,432,520,544

Latino-americano 1, 3, 9, 14, 19, 88,99a, 100f, 100h, 127, 245, 252,270, 275, 369, 391, 406d, 416,479,507,525,526,544,547

Leigos 99c, 99d, 99f, 100c, 174, 195,199, 202, 209, 211, 212, 213,215, 232, 248, 280d, 281, 282,283,306,307,313,324,345,346,366,371,400,403,406,413,419,458b, 469b, 469h, 475, 505, 508,517h,518f,518k,550

Liberdade 27, 32, 42, 44, 51, 53, 69,80,111,120,136,141,219,239,280a, 322, 330, 334, 335, 336,

339,340,351,360,429,462,479,514,541

Libertação26,146,359,385,399,491

Linguagem 7, 35, 45, 55, 100d, 183,341, 480, 484, 510, 512, 517d,518,528

Maria1,141,261,262,265,266,267,268,269,270,271,272,274,280b,320,364,451,524,553,554

Matrimônio 40, 117, 175g, 205, 432,433,437c,437d,446,463a,469f

Maturidade175c,175g,196,249,278,280d,292,317,318,321,547

Mentalidade96,100c,213,336,412,453,463e,510

Mercado 45, 50, 60, 61, 63, 65, 82,219,328,539

Mestre103,110,112,131,136,138,152,161,177,186,187,245,249,255, 274, 276, 277, 278c, 280b,282,332,336,363,364,368,372

Método19,99e,100c,244,276,296,371,465,469f,513,547

Metodologia307,446g

Migrantes 56, 59, 65, 88, 100e, 207,377,402,411,412,414,415,416

Ministério 94, 99c, 100e, 143, 150,151,154,162,169,170,175f,179,184,188,191,192,193,194,195,198,200,202,207,211,282,316,318,322,325,457,458b,513

Missão 11, 13, 19, 30, 31, 99d, 131,139, 144, 145, 146, 148, 151,153,154,158,163,164,169,176,188,191,195,202,203,208,209,210,212,213,214,216,218,223,233,237,267,269,270,272,273,278c, 278e, 279, 280d, 281, 284,286,287,289,302,317,331,338,341,346,347,348,360,361,362,363,367,373,374,375,376,379,380,381,386,389,390,401,418,432, 440, 441a, 441f, 444, 450,456, 460, 463d, 481, 486i, 491,

Page 289: Documento de Aparecida (em português)

292 CELAM

518n, 532, 533, 545, 548, 550,551,554

MissãoContinental551

Missionário1,3,4,10,11,13,14,19,20,23,25,28,30,31,33,41,95,99c,99d,99f,100e,101,103,121,125,127,129,134,140,144,147,150,152,153,154,156,160,167,169,170,172,174,177,178,179,181,184,186,190,191,199,201,203,204,205,208,209,213,214,216, 217, 223, 226d, 227, 229,232,240,245,247,250,251,252,253,255,262,264,269,270,271,275, 276, 278, 278c, 279, 280d,283,284,285,291,292,301,302,307,311,314,315,316,318,320,327,337,338,347,349,362,364,368,370,372,374,376,377,378,379,382,384,386,393,400,409,412, 415, 426, 432, 443, 446d,449, 460, 463b, 469, 486, 491,493,501,506,518,524,530,532,538,540,542,548,550,551,554,

Mistériopascal17,27,99b,143,250,251,253,549

Modelo 59, 155, 191, 268, 331, 369,434, 438, 436d, 473, 474c, 475,480,524

Morte6,13,17,21,29,31,44,81,95,98,102,106,109,112,117,129,143, 144, 175e, 185, 242, 276,326,350,351,356,358,388,418,419, 464, 469c, 473, 480, 515,523,548

Movimento 53, 97, 99c, 99e, 100e,128,169,170,179,180,214,215,230, 231, 278d, 281, 311, 312,313,365,406c,437a,446a,446b,463a,513,518b

Mudançadeépoca44

Mulher6,11,14,27,29,32,48,49,65,75, 97, 105, 116, 117, 120, 122,128,135,147,151,159,171,194,241,242,266,275,335,353,361,374b, 382, 387, 388, 402, 406b,

406e, 422, 433, 451, 452, 453,454, 455, 456, 457, 458a, 458b,458d, 459, 460, 468, 469g, 470,491,494,503,537,538

Mundo16,18,22,27,28,29,30,31,34,37, 38, 44, 50, 51, 66, 87, 88, 99f,100d,101,104,109,110,111,126,145, 146, 148, 159, 162, 173, 174,175, 185, 188, 209, 210, 215, 216,220, 221, 227, 231, 236, 256, 265,266, 269, 278c, 278e, 279, 280a,280d,282,283,285,286,290,306,312, 316, 330, 341, 348, 357, 362,371, 373, 376, 390, 419, 438, 443,446f, 446g, 463d, 469e, 471, 479,480, 484, 487, 491, 492, 510, 511,517j,521,522,523,549,552,441a,441b,441d,441f,441g,442

Núcleo39,393

Objetivo61,338,371,413,480,499,518b,

Olhar 30, 32, 33, 96, 136, 192, 259,261,364,388,402,490

Opção100b,128,146,179,196,257,276,322,337,391,392,393,395,396,397,398,399,409,417,437l,446a,446c,446e,491,501

Opção pelos pobres 128, 397, 398,399

Originalidade8,111,264,313

Pai6,7,14,17,19,21,23,28,32,100b,101,102,103,107,108,113,126,129,131,132,133,134,137,139,143,144,147,149,151,152,155,158,177,187,193,216,220,227,241,248,249,255,258,266,267,336,347,348,350,351,356,358,361,373,382,383,395,470,478,523,532,246,550,554

Palavra 19, 21, 25, 27, 41, 102, 131,133,142,146,151,152,165,167,172,175,205,211,235,242,247,248,249,253,255,266,271,279,280c, 292, 319, 323, 348, 350,354,377,382,386,399,420,516,517g,518l,554

Page 290: Documento de Aparecida (em português)

293VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

Palavra de Deus 99a, 121, 158, 178,179, 180, 189, 191, 199, 226c,232,247,248,271,289,298,300,308, 309, 316, 323, 331, 437n,448,485,517h

Paróquia99e,128,169,170,172,173,174,175,175a,176,179,182,197,201,202,203,204,206,278d,293,294,296,302,304,305,306,309,314, 365, 372, 437f, 446a, 483,490,513,517e,517k,518b,518c

Pastoral19,95,99a,99c,99d,99e,99f,175f,177,179,181,183,185,194,195, 196, 197, 198, 199, 200, 207,211, 212, 214, 225, 231, 232, 238,248,252,253,280,280d,291,296,313, 314, 319, 334, 337, 338, 344,345, 365, 366, 367, 368, 370, 371,393, 394, 399, 403, 411, 412, 413,414, 418, 419, 421, 429, 430, 431,437f, ,437j,437n,442,458a,461,462,474b,475,484,493,501,517i,517k,518,518a,518b,518i,518n,518o,519,533,547

PastoraldaInfância,99e

PastoraldaJuventude99e,463c,446a,446d

PastoralEducativa337

Pastoral Familiar 99e, 302, 435, 437,437i,463a

PastoralOrgânica99g,169,198,371,401

PastoralSocial99f,281,399,401,402

PastoralUniversitária343

PastoralUrbana509,513,517

PastoralVocacional314

Pecado5,6,8,27,29,92,95,102,104,175d, 177, 227, 254, 278b, 351,479,523,532

Pedagogia 4, 272, 280d, 322, 446b,469f

Pentecostes91,150,171,269,362,548

Peregrino109,127,259,260

Pessoa 29, 36, 42, 44, 52, 118, 126,131, 136, 145, 172, 277, 278c,278e, 280b, 322, 331, 337, 339,359,380,399,496,517i,539,550

Pessoa de Jesus Cristo 23, 136, 243,244,292

Pessoahumana6,42,60,66,104,105,112,123,217,334,335,340,341,387,389,390,468,480

Plano 137, 365, 400, 443, 446c, 456,457,497,517b

Pluralidade340,372,520

Pluralismo cultural e religioso 100d,100g,479

Pobreza 62, 72, 73, 89, 90, 99c, 176,185,219,379,392,405,409,439,444, 501, 503, 514, 517g, 528,540,550

Política36,48,51,63,75,76,77,78,96,212,403, 408,410,411,414,422, 430, 437d, 446e, 449, 458d,486i,504,463e,474d,511,517b,528,537

Povo2,4,6,8,9,13,16,21,33,43,56,74,77,83,85,88,90,92,93,95,96, 98, 99b, 114, 125, 128, 129,143,155,159,164,178,189,198,209,224,235,238,239,247,258,262,264,271,298,302,311,325,353,364,375,380,382,389,391,406,432,447,448,473,476,477,478,482,491,504,515,520,524,525,528,529,530,532,534,538,542,544,548,549,550

PovodeDeus7,10,127,155,157,163,165,181,182,186,187,188,190,199,206,209,252,259,282,312,314,320,375,491,550

Povosnossos1,3,7,10,13,14,18,19,22,25,26,30,32,35,88,99c,99d,99g,106,127,128,140,162,176,250,256,262,264,265,269,274,329,346,347,348,350,359,361,381,384,386,389,396,401,402,

Page 291: Documento de Aparecida (em português)

294 CELAM

403,435,436,443,474a,476,520,521,524,526,535,536,543,549

Presbitério165,198,326

Presença21,65,75,88,99c,99e,100d,119,151,215,217,237,244,257,269, 272, 279, 280c, 281, 312,343, 374, 383, 405, 438, 458b,474b, 491, 504, 517k, 518i, 518j,524,549

Processo 45, 61, 69, 73, 74, 94, 96,204, 245, 249, 276, 278, 278a,279,281,288,289,293,294,298,300,314,319,334,337,338,356,365, 399, 427, 429, 430, 441c,446c, 446d, 473, 484, 518d, 523,528,539,541

Processo de formação 276, 278, 279,280, 280a, 308, 310, 318, 319,321,322,326,338,518g

Profeta30,209,471

Programa11,46,145,207,252,370,372,427,437g,458d,469d,469f

Projeto 66, 90, 122, 141, 145, 153,169,170,179,202,213,266,280d,281,314,318,319,326,332,335,337,340,356,361,371,407,431,437b, 457, 505, 515, 518b, 533,534

Projetodevida129,294,302,321

ProjetodoPai,266,358

ProjetodoReino,520

Promoção humana 26, 98, 99d, 146,338,346,399,401,429,550

Protagonismo128,214,458a

Proximidade139,257,259,363,398,517i,518c

Qualidade65,96,123,329,334,360,445,499

Querigmático226a

Reconciliação 7, 98, 142, 162, 175,175d, 177, 199, 202, 228, 254,267, 278b, 350, 353, 359, 363,

430, 446c, 518e, 524, 534, 535,542,546

Reino 11, 17, 30, 33, 139, 144, 152,154,190,212,219,224,250,358,361, 383, 384, 441a, 516, 518j,520,548

Reino de Deus 19, 29, 95, 121, 184,196, 223, 276, 278e, 280d, 282,315, 367, 374a, 380, 382, 417,438,518i,552

Reinodevida24,143,353,358,361,366

Relação 44, 58, 104, 131, 132, 193,227,235,255,331,358,385,452,476,518i,544

ReligiosidadePopular37,43,93,99b,258,300,549

Renovação 9, 99a, 99b, 99e, 100b,100h, 172, 173, 201, 294, 337,365,367,369,443,513

Respeito44,64,74,89,96,233,238,258, 441a, 448, 469c, 469e, 472,473,479,546

Rosto22,32,35,65,100h,107,188,224,257,265,271,392,393,402,407,445,529

Sacramento 19, 25, 117, 142, 155,175f,177,187,195,199,202,237,251,254,278b,350,396,420,433,437c,518e,523,424,535,542

Sagrado 93, 108, 112, 195, 388, 398,482

Salvação19,129,134,137,143,146,151,158,172,236,237,266,267,273,331,437j,477,480

Santidade5,99c,129,148,163,184,187,220,230,262,275,315,316,352,368,374d,505

Santo1,3,7,9,14,17,19,23,33,98,100h, 106, 127, 130, 137, 149,151,152,153,155,157,160,171,222,230,231,232,236,241,246,260,251,259,262,267,273,290,

Page 292: Documento de Aparecida (em português)

295VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

311,336,347,348,363,367,374,395,447,547,551

Santuário3,259,260,264,265,268,269,537

Seguimento 41, 129, 139, 147, 167,179,216,232,250,266,270,276,277, 278c, 282, 287, 289, 291,305, 371, 446c, 450, 506, 532,543,549

Seminário 99c, 183, 314, 316, 317,318, 319, 322, 323, 326, 413,469c,475

Ser humano 13, 27, 36, 37, 44, 98,105,108,112,116,141,176,330,332,333,356,384,387,388,390,446c, 464, 467, 469c, 470, 480,503,514

Serviço9,13,14,24,32,33,45,60,63,66,68,69,75,82,95,98,99c,99d,100c,106,111,119,120,128,151,158,162,169,170,175f,178,179,181, 183, 184, 188, 190, 193, 201,202, 205, 206, 216, 220, 223, 224,240, 262, 272, 278e, 279, 280b,280c,280d,281,282,284,285,289,296, 299, 303, 313, 315, 316, 322,324, 336, 338, 341, 344, 345, 346,347, 353, 358, 366, 372, 387, 394,399,406c,412,440,446b,450,457,463f,473,485,490,504,516,517g,518c,518e,518m,518n,520,530,537,544,545,553

Sexualidade 44, 196, 321, 328, 356,437e,441d

Sinal 4, 14, 125, 155, 161, 162, 176,179,196,214,255,261,290,316,356,374,380,433,438,536

Sinaldostempos,33,99g,366

Sociedadecivil75,372,406a,414,426

Solidariedade 7, 26, 39, 57, 64, 65,93,99g,100e,103,126,167,199,245,248,337,363,372,394,396,398,400,404,406e,437m,441d,469g, 474c, 480, 514, 517c, 522,525,528,534,544,545,550

Subjetividade44,479

Tarefa7,10,14,100c,104,120,144,146,171,189,195,197,200,236,276,285,287,293,297,304,337,381,384,385,386,403,414,464,483,492,500,507,546,552

Técnica45,479,487

Tecnologia34,42,60,62,123

Teologia124,323,344,437j,490

Testemunho16,55,98,99c,99f,105,138,140,144,172,187,189,207,208,210,211,212,219,221,224,226,228,233,236,237,239,249,256,257,262,273,274,275,278a,281,290,303,315,317,341,352,362, 363, 368, 371, 374d, 378,385,386,449,451,460,483,496,532548,554

Trabalho 19, 48, 62, 65, 71, 93, 98,99c,103,120,121,122,174,185,210,284,371,402,404,407,414,426, 437j, 446f, 450, 475, 492,517,518m,539

Transcendência52,57,126,260,263,339,481

Transformação44,90,151,210,283,336,351,394,397,486c

Trindade117,141,155,157,240,304,347,451,543

Unidade8,36,37,60,155,159,162,176,188,189,202,206,227,230,231,232,234,240,279,282,288,303,313,324,335,336,362,520,523,524,525,527,528,544,554

Universidade343,346

UniversidadeCatólica341,342,463d,469d,498

Urbano60,173,474b,511,514,517,517j,518

Valor22,43,51,52,57,58,61,66,74,91,92,93,95,96,99g,106,108,109,114,123,204,212,215,219,221,224,262,279,302,321,328,329,330,331,332,334,335,339,340,341,358,371,374,385,387,388,398,404,422,423,428,435,

Page 293: Documento de Aparecida (em português)

29� CELAM

444, 451, 463c, 468, 479, 482,486c, 486h, 491, 497, 506, 518i,518j,530,532,537,552,

Verdade1,2,5,6,13,19,22,42,61,100h, 101, 108, 116, 123, 129,136,137,152,186,220,229,242,246,249,276,280c,336,350,380,390,428,477,480,494,496,507,508,535,542,548,550,554

Vida consagrada/contemplativa 99c,100b, 100e, 169, 216, 218, 219,220, 221, 222, 224, 232, 278d,314,315,446c,518b

Vida cristã 100b, 110, 158, 168, 175,175a,204,263,278c,278d,280d,286,289,293,294,312,314,348,394,505,517g,535

Vidadigna35,71,112,125,358,359,361,363,425,467

VidaemCristo,13,128,175,229,250,281,348,349,355,356,357,359,361,362,399

Vidanova11,220,250,281,332,348,349,350,351,356,357,399,536

Vidasocial35,78,212,453,480,501,480,501

VidaTrinitária347,348

Vida,estilode7,51,58,66,100h,131,139, 196, 272, 273, 280d, 387,461,474a,540

Vida,sentidoda38,52,143,291,314,380,443

Violência, 8, 29, 48, 65, 73, 78, 95,185,197,207,239,328,402,409,410,411,414,427,439,443,446f,454,461,468,514,542,543

Vocação6,14,19,31,32,36,39,41,42,43, 107, 111, 129, 144, 156, 164,167, 181, 185, 186, 250, 251, 264,276,278e,282,285,303,315,317,319,321,443,449,457,460,463a,480,502,505,508,523,534

Vulnerabilidade83,438,458c

Page 294: Documento de Aparecida (em português)

ÍndICEGErAL

5 SIGLAS7 CartadeSS.BentoXVI9 INTRODUçãO

19 Primeira Partea vida de nossos Povos hoje

21 i. os discípulos missionários22 1.1.AçãodegraçasaDeus24 1.2.AalegriadeserdiscípulosemissionáriosdeJesusCristo24 1.3.AmissãodaIgrejaéevangelizar

27 ii. olhar dos discípulos missionários sobre a realidade27 2.1 Arealidadequenosdesafiacomodiscípulosemissionários31 2.1.1 Situaçãosócio-cultural37 2.1.2 Situaçãoeconômica43 2.1.3 Dimensãosócio-política46 2.1.4 Biodiversidade,ecologia,AmazôniaeAntártida48 2.1.5 Presençadospovosindígenaseafro-americanosnaIgreja51 2.2SituaçãodenossaIgrejanestahorahistóricadedesafios

59 segunda Partea vida de jesus cristo

nos discíPulos missionários

61 iii. a alegria de sermos discípulos missionários para anunciar o evangelho de jesus cristo

62 3.1.Aboanovadadignidadehumana63 3.2Aboanovadavida65 3.3Aboanovadafamília66 3.4Aboanovadaatividadehumana66 3.4.1 Otrabalho67 3.4.2 Aciênciaeatecnologia

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29� CELAM

68 3.5. Aboanovadodestinouniversaldosbensedaecologia69 3.6. OContinentedaesperançaedoamor

71 iv. a vocação dos discípulos missionários à santidade71 4.1ChamadosaoseguimentodeJesusCristo73 4.2ParecidoscomoMestre75 4.3EnviadosaanunciaroEvangelhodoReinodavida77 4.4AnimadospeloEspíritoSanto

81 v. a comunhão dos discípulos missionários na igreja81 5.1Chamadosaviveremcomunhão84 5.2Lugareseclesiaisparaacomunhão84 5.2.1 Adiocese,lugarprivilegiadodacomunhão86 5.2.2 Aparóquia,comunidadedecomunidades90 5.2.3 ComunidadesEclesiaisdeBaseePequenasComunidades92 5.2.4 AsConferênciasEpiscopais eacomunhãoentreasIgrejas93 5.3.Discípulosmissionárioscomvocaçõesespecíficas94 5.3.1Osbispos,discípulosmissionários deJesusSumoSacerdote95 5.3.2 Ospresbíteros,discípulosmissionários deJesusBomPastor95 5.3.2.1Identidadeemissãodospresbíteros99 5.3.2.2Ospárocos,animadoresdeumacomunidade dediscípulosmissionários100 5.3.3 Osdiáconospermanentes,discípulosdeJesusServidor101 5.3.4 Osfiéisleigoseleigas,discípulosemissionáriosdeJesus LuzdoMundo104 5.3.5 Osconsagradoseconsagradas, discípulosmissionáriosdeJesusTestemunhadoPai106 5.4 OsquedeixaramaIgrejaparaseuniraoutrosgruposreligiosos108 5.5 Diálogoecumênicoeinterreligioso108 5.5.1 Diálogoecumênicoparaqueomundocreia108 5.5.2 Relaçãocomojudaísmoediálogointerreligioso

113 vi. o caminho de formação dos discípulos missionários113 6.1UmaespiritualidadetrinitáriadoencontrocomJesusCristo114 6.1.1 OencontrocomJesusCristo115 6.1.2 LugaresdeencontrocomJesusCristo120 6.1.3 Apiedadepopularcomolugardeencontro comJesusCristo123 6.1.4 Maria,discípulaemissionária127 6.1.5 Osapóstoloseossantos

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299VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

128 6.2. Oprocessodeformaçãodosdiscípulosmissionários128 6.2.1 Aspectosdoprocesso130 6.2.2 Critériosgerais130 6.2.2.1Umaformaçãointegral, querigmáticaepermanente131 6.2.2.2Umaformaçãoatentaadimensõesdiversas132 6.2.2.3Umaformaçãorespeitosadosprocessos133 6.2.2.4Umaformaçãoquecontempla oacompanhamentodosdiscípulos133 6.2.2.5Umaformaçãonaespiritualidade daaçãomissionária134 6.3Iniciaçãoàvidacristãecatequesepermanente134 6.3.1Iniciaçãoàvidacristã135 6.3.2Propostaparaainiciaçãocristã137 6.3.3Catequesepermanente139 6.4Lugaresdeformaçãoparaosdiscípulosmissionários139 6.4.1AFamília,primeiraescoladafé140 6.4.2AsParóquias141 6.4.3Pequenascomunidadeseclesiais142 6.4.4 Osmovimentoseclesiaisenovascomunidades143 6.4.5OsSeminárioseCasasdeformaçãoreligiosa149 6.4.6AEducaçãoCatólica150 6.4.6.1Oscentroseducativoscatólicos155 6.4.6.2Asuniversidadesecentrossuperiores deeducaçãocatólica

159 terceira Partea vida de jesus cristo

Para nossos Povos

161 vii. a missão dos discípulos a serviço da vida plena161 7.1ViverecomunicaravidanovaemCristoanossospovos163 7.1.1 Jesusaserviçodavida163 7.1.2 VáriasdimensõesdavidaemCristo165 7.1.3 Aserviçodavidaplenaparatodos166 7.1.4 Umamissãoparacomunicarvida168 7.2Conversãopastoralerenovaçãomissionáriadascomunidades170 7.3.Nossocompromissocomamissão ad gentes

173 viii. reino de deus e promoção da dignidade humana173 8.1ReinodeDeus,justiçasocialecaridadecristã176 8.2Adignidadehumana177 8.3Aopçãopreferencialpelospobreseexcluídos180 8.4Umarenovadapastoralsocialparaapromoçãohumanaintegral

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300 CELAM

183 8.5Globalizaçãodasolidariedadeejustiçainternacional184 8.6Rostossofredoresquedoememnós184 8.6.1Pessoasquevivemnaruanasgrandescidades185 8.6.2 Migrantes187 8.6.3 Enfermos188 8.6.4 Dependentesdedrogas190 8.6.5 Detidosemprisões

193 ix. Família, pessoas e vida193 9.1Omatrimônioeafamília196 9.2Ascrianças198 9.3Osadolescentesejovens201 9.4Obem-estardosidosos202 9.5Adignidadeeparticipaçãodasmulheres205 9.6Aresponsabilidadedohomemepaidefamília207 9.7Aculturadavida:suaproclamaçãoesuadefesa211 9.8Ocuidadocomomeio-ambiente

215 x. nossos povos e nossa cultura215 10.1Aculturaesuaevangelização217 10.2Aeducaçãocomobempúblico218 10.3PastoraldaComunicaçãoSocial221 10.4Novosareópagosecentrosdedecisão224 10.5Discípulosemissionáriosnavidapública226 10.6APastoralUrbana232 10.7Aserviçodaunidadeefraternidadedenossospovos235 10.8Aintegraçãodosindígenaseafro-americanos237 10.9Caminhosdereconciliaçãoesolidariedade

243 conclusão249 santa missa de inauguração da v conferência geral do episcopado da américa latina e do caribe, na praça em frente ao santuário de aparecida – homilia (13 de maio de 2007)

255 oração do santo rosário e encontro com os sacerdotes, os religiosos, as religiosas, os seminaristas e os diáconos na basílica do santuário de aparecida – discurso (12 maio de 2007)

263 oração do regina coeli - saudação (13 de maio de 2007)

267 sessão inaugural dos trabalhos da v conferência geral do episcopado da américa latina e do caribe, na sala de conferência do santuário de aparecida – discurso (13 de maio de 2007)267 1. Afécristãnaaméricalatina

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301VConFErÊnCIAGErALdoEPISCoPAdoLAtIno-AMErICAnoEdoCArIBE-APArECIdA-doCuMEntoFInAL

270 2. ContinuidadecomasoutrasConferências271 3. Discípulosemissionários275 4. “Paraqueneletenhamvida”276 AMissaDominical,centrodavidacristã276 Osproblemassociaisepolíticos279 5. Outroscamposprioritários279 Afamília280 Ossacerdotes281 Religiosos,religiosaseconsagrados282 Osleigos282 Osjovenseapastoralvocacional283 6. “Ficaconosco”284 Conclusão

285 índice analítico