Documento Preparatório da II Conferência Nacional de Economia Solidária (CONAES)

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    II CONFERNCIA NACIONAL DE ECONOMIA SOLIDRIA - CONAES

    Pelo Direito de Produzir e Viver em Cooperao de Maneira Sustentvel(Documento Base para Etapas Preparatrias)

    INTRODUO

    As conferncias pblicas so momentos privilegiados de participao ativa da sociedadenos debates sobre temas e questes relevantes que dizem respeito sociedade, oferecendosubsdios aos rgos governamentais na formulao e avaliao da execuo de polticas pblicas.

    Trata-se de mais um dos instrumentos da democracia participativa que possibilita a

    participao ativa de milhares de pessoas, desde as etapas preparatrias at a nacional. Nessesentido, as conferncias pblicas possibilitam a expresso direta dos diversos interesses,necessidades, demandas e proposies de diferentes setores ou segmentos organizados dasociedade, alm da representao do poder pblico nas esferas municipal, estadual e federal.

    A partir dessa compreenso, o Conselho Nacional de Economia Solidria convocou a IIConferncia Nacional de Economia Solidria (II CONAES) com os seguintes objetivos:

    I - Realizar um balano sobre os avanos, limites e desafios da Economia Solidria e dasPolticas Pblicas de Economia Solidria no atual contexto socioeconmico, poltico,cultural e ambiental nacional e internacional.

    II - Avanar no reconhecimento do direito a formas de organizao econmica baseadas no

    trabalho associado, na propriedade coletiva, na cooperao, na autogesto, nasustentabilidade e na solidariedade.

    III - Propor prioridades, estratgias e instrumentos efetivos de polticas pblicas eprogramas de economia solidria, com participao e controle social.

    IV - Promover o conhecimento mtuo e a articulao dos Poderes Pblicos, dasorganizaes e sujeitos que constroem a Economia Solidria.

    A II CONAES ocorrer aps quatro anos da realizao da I CONAES, em junho de 2006. um momento propcio para realizar um balano do caminho percorrido, identificar os avanos e

    limites da economia solidria no Brasil e, a partir dos aprendizados, fortalecer e aperfeioar asprioridades, estratgias e instrumentos efetivos de polticas pblicas.

    O tema da II CONAES refere-se a uma questo fundamental para fortalecer e viabilizar aeconomia solidria no Brasil: o direito s formas de organizao econmica baseadas no trabalho associado,na propriedade coletiva, na cooperao e na autogesto, reafirmando a Economia Solidria como estratgia e

    poltica de desenvolvimento.

    Eis o desafio: avanar no reconhecimento do direito a outra economia que conduza a outromodelo de desenvolvimento. Esse direito ser uma conquista dos sujeitos polticos que constroema economia solidria no Brasil e que reivindicam o reconhecimento do Estado brasileiro na formade instrumentos efetivos de polticas pblicas e programas de economia solidria, com

    participao e controle social.

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    Ao tempo em que se realiza essa II CONAES, o Conselho Nacional de Economia Solidriatambm ofereceu s organizaes da sociedade e ao Governo Federal uma proposta de Lei que tempor objetivo implantar a Poltica Nacional de Desenvolvimento da Economia Solidria e a Criaodo Sistema Nacional de Economia Solidria. Nesse sentido, essa Conferncia estar sintonizada

    com esse processo de avano na institucionalizao de polticas pblicas de economia solidria,podendo contribuir com novos subsdios e ampliar a mobilizao poltica a favor desse processo.

    Para orientar e conduzir esse debate em todo o pas, nas conferncias regionais outerritoriais, nas conferncias estaduais e nas conferncias temticas, foi elaborado esse documentobase com o acmulo de debates sobre o tema da II Conferncia e os seus eixos temticos.

    O Eixo Temtico I apresenta uma viso contextualizada da economia solidria no atualmomento que caracterizado por uma crise global ou de mltiplas dimenses. Essa atual crise docapitalismo oferece tambm oportunidades para se avanar na construo de outras formas deorganizao econmica baseadas na cooperao e no trabalho associado. preciso analisar osacmulos e limites da economia solidria e das polticas pblicas de economia solidria como

    estratgia e poltica de desenvolvimento, conforme foi proposto na I Conferncia Nacional.Para que a economia solidria possa ser projetada como essa alternativa ao atual modelo de

    desenvolvimento faz-se necessrio avanar no reconhecimento de novos direitos de cidadania paraas formas de organizao econmica baseadas no trabalho associado, na propriedade coletiva, nacooperao, na autogesto, na sustentabilidade e na solidariedade. Esse o contedo do EixoTemtico II que contm os desafios e as proposies para reconhecimento das formasorganizativas econmicas solidrias, o reconhecimento de direitos sociais do trabalho associado edo direito de acesso s polticas pblicas para o fortalecimento da economia solidria.

    O terceiro eixo temtico aborda os desafios e proposies para a organizao de um SistemaNacional de Economia Solidria, seus objetivos e componentes. Trata-se de um instrumento quevem sendo adotado em vrias polticas pblicas (sade, educao, assistncia social, seguranaalimentar e nutricional). O Sistema possibilita a integrao das polticas de economia solidria nastrs esferas de governo e junto com a sociedade civil, alm de definir os mecanismos einstrumentos de participao e controle social e o Fundo Nacional de Economia Solidria,instrumento fundamental para o financiamento das polticas de economia solidria.

    O presente Documento Base pretende ser um instrumento para o debate, e neste sentidoainda est por ser escrito e confirmado por milhares de pessoas nas conferncias preparatrias etemticas. Para isso, ao final de cada eixo, foram formuladas questes que orientam os debates econtribuies dos participantes. Dessa forma, os contedos dos pargrafos podem e devem sercorrigidos, aperfeioados, suprimidos e outros acrescentados, conforme as regras democrticas departicipao e deliberao nas conferncias.

    O importante que o documento final que ser sistematizado e debatido na etapa nacionalda Conferncia expresse os acmulos daqueles que fazem a economia solidria no Brasil, nas suasdiversas faces e expresses regionais, culturais e populacionais.

    Bem vindos(as) ao debate e feliz Conferncia Nacional de Economia Solidria!

    Comisso Organizadora Nacional

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    EIXO IAvanos, limites e desafios da Economia Solidria no atual contexto socioeconmico,

    poltico, cultural e ambiental nacional e internacional.

    1. Nos ltimos anos, em todas as partes do mundo, ampliou-se a adeso s formas deorganizao econmica baseadas no trabalho associado, na propriedade coletivados meios de produo, na cooperao e na autogesto. Nas reas rurais, asprticas e valores do associativismo e da cooperao vm sendo resgatadas porcomunidades camponesas, de agricultura familiar, de extrativismo e pesca artesanal,e por povos e comunidades tradicionais. Nas reas urbanas, as iniciativaseconmicas solidrias so valorizadas como alternativas de trabalho e gerao derenda no enfrentamento do desemprego e como estratgia de organizaocomunitria de resistncia e conquista de direitos.

    2. A economia solidria tem origens remotas na histria das sociedades humanas Elaest intimamente relacionada luta pela autodeterminao dos povos, aoreconhecimento do conceito de bem-viver, e se expressa cotidianamente nas lutasdos povos e comunidades tradicionais contra a mercantilizao da vida, em favordos bens comuns, da gesto comunitria e da reciprocidade. No mbito darevoluo industrial europia, no incio do sculo XIX, a economia solidria semanifestou nas lutas histricas de trabalhadores(as), materializadas sob a forma decooperativismo e nas diversas modalidades de associativismo, como alternativasautogestionrias de resistncia ao avano avassalador do capitalismo e naconstruo de uma sociedade justa e democrtica. Desde ento, h uma incansvelluta de trabalhadores(as) na conquista de direitos de democratizao dos meios de

    produo, de valorizao do trabalho em detrimento dos interesses de lucratividadedo capital, da justa distribuio das riquezas etc. Embora, durante quase todo oSculo XX, essas formas alternativas solidrias de produo dos meios de vidapermaneceram como que ofuscadas no campo das lutas populares e da resistncia forma predominante de desenvolvimento capitalista, h uma retomada de seucrescimento. A pluralidade de origens e formas de expresso que conformam asbases simblicas e econmicas da economia solidria um dos elementos que adiferencia estruturalmente com relao ao capitalismo, especialmente no atualmomento histrico, pois aponta caminhos para estruturar mudanas paradigmticase civilizatrias nos mbitos econmico, cultural, social e ambiental.

    3. Enquanto modo de produo, a economia solidria apresenta vantagens em relao

    ao capitalismo: a autogesto torna cada trabalhador consciente do seu papel no todoem que atua; a inteligncia coletiva dos trabalhadores est permanentemente aservio do desenvolvimento do Empreendimento Econmico Solidrio, inclusiveporque todos ganhos de produtividade so diretamente apropriados pelos prpriostrabalhadores; h uma necessria vinculao ao territrio em que a atividadeeconmica solidria est inserida, acarretando no respeito s especificidades ecultura regionais e ao meio-ambiente em que est inserida. Na heterogestocapitalista nada disso se aplica: a maioria dos trabalhadores se limita a cumprirtarefas e os ganhos de produtividade so apropriados pelos capitalistas; a relaocom as comunidades em que esto inseridas instrumental e subordina a realidadelocal aos interesses da acumulao do capital.

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    4. Entretanto, apesar de suas vantagens comparativas em relao ao capitalismo, parase tornar efetivamente um modelo de desenvolvimento justo, sustentvel edemocrtico a economia solidria ainda carece de instrumentos pblicos de apoio ereconhecimento, que historicamente os empreendimentos capitalistas tiveram. Sem

    as condies fundamentais de acesso ao financiamento, infra-estrutura, incentivostributrios e fiscais, assistncia tcnica adaptada s suas especificidades e aoconhecimento e tecnologia, os empreendimentos de economia solidria estofragilizados e impossibilitados de manifestar plenamente estas vantagenscomparativas que implicam em perspectivas diferenciadas de desenvolvimento. preciso fortalecer e dar condies, atravs de seu reconhecimento, EconomiaSolidria para que a agenda de desenvolvimento se transforme. Para isso, sernecessrio conquistar mudanas em duas frentes:

    i. O fortalecimento da Economia Solidria pelo aprimoramento dosEmpreedimentos Econmicos Solidrios, pelo fortalecimento da autogesto, pelaintegrao de setores da economia popular, pela construo de redes e

    complexos de produo, comercializao e consumo solidrios em que se tornapossvel a ajuda, a inter-cooperao e o aprendizado mtuo entre osEmpreedimentos Econmicos Solidrios, alm da formao de cooperativas de2 grau para unir as operaes comerciais, financeiras e de inovaotcnolgica, que permitam economias de escala e ganhos de eficincia;

    ii. A luta poltica ideolgica contra o neo-liberalismo e disputa com o capitalismo ofundo pblico e luta pelo direito de viver e trabalhar em formas associativas edemocrticas. A luta na frente externa pode em tese culminar na vitria de um ououtro modo de produo, mas improvvel que este seja o nico desenlacepossvel. Economia Solidria e capitalismo convivem competindo em muitos

    pases h dcadas. Havendo aprofundamento das normas democrticas e doacesso aos Fundos Pblicos, a Economia Solidria tende a conquistar o statusde uma alternativa acessvel a todo cidado enquanto trabalhador, consumidor ecidado. Este deve ser o principal objetivo da luta pois a crise ambientalsobretudo tornar a economia solidria uma das opes que contribuem paragarantir a sustentabilidade vida humana nesta terra.

    1.1 - Um contexto de crise global

    5. O capitalismo um sistema de crises decorrentes das bases estruturais desse modode produo, da sua necessidade permanente de revolucionar as condies deproduo para manter a explorao do trabalho como base da acumulao docapital, ao mesmo tempo em que explora a natureza como fonte inesgotvel derecursos. A continuidade dos processos de acumulao, no capitalismo, depende dapermanente transformao dos espaos da vida social em mercadoria, desde osbens naturais indispensveis vida humana, como a gua, a terra, os alimentos, asade e a cultura, at os espaos subjetivos de relacionamento. Da mesma maneira,as formas associadas, coletivas ou comunitrias so substitudas por formasindividualizadas, impulsionando a concorrncia de todos contra todos pelaapropriao das condies materiais da vida social.

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    6. Desta maneira, a crise econmico-financeira iniciada em 2008 e que ainda se fazsentir em uma boa parte do globo, foi apenas mais um momento de uma crise maior,de modelo civilizacional, que abrange diversas dimenses, desde a esfera daproduo material, a crise econmica propriamente dita, passando pela manuteno

    e reproduo da vida (o desemprego, as condies precarizadas de trabalho, apobreza, a fome, entre outros), at aquele que parece ser um limitador do atualmodelo de desenvolvimento, que a crise ambiental. De fato, mais do que um planode metas de reduo da emisso de Gases de Efeito Estufa, o desafio que se colocapara a humanidade a construo de novos paradigmas e modelos de produo ede consumo que sejam sustentveis, reconhecendo-se os limites naturais e sociaisda busca do crescimento econmico a qualquer custo.

    1.2 - Crise: enfrentamento, desafios e oportunidades

    7. A histria mostra que no capitalismo o enfrentamento das crises econmicasdependem da correlao de foras e do contexto territorial onde ocorrem. Assim,encontramos situaes em que h uma intensificao da destruio por meio deguerras, ocupaes militares que geram o aquecimento da economia ousimplesmente pelo abandono das pessoas prpria sorte para reduzir os custos dereproduo do capital. H formas de enfrentamento que passam por umfortalecimento da atuao do Estado, com sua crescente interveno na economiasalvando empresas, ampliando investimentos ou regulando mercados, pelo menostemporariamente. Esta foi a principal forma adotada pela maioria dos pasesafetados pela recente crise econmica, sobretudo a partir da injeo de liquidez nomercado financeiro, mas sem nenhuma medida mais eficaz de controle sobre omesmo. As crises so tambm oportunidades para a ampliao e diversificao dosinvestimentos e da crescente mercantilizao por meio de medidas como apromoo do consumo de massa e a criao de novos mercados, a exemplo doscrditos de carbono e da reciclagem.

    8. No caso do Brasil, o enfrentamento recente crise econmica est sendofortemente caracterizada pela interveno do Estado, com um volume significativode investimentos em infra-estrutura, com o Plano de Acelerao do Crescimento PAC e com um conjunto de iniciativas para manter aquecido o mercado interno:reduo das taxas de juros, ampliao do crdito e reduo temporria de impostos

    sobre bens de consumo. A poltica de reajuste do salrio mnimo tambm contribuiunessa conjuntura, pois o poder de compra real aumentou em mais de 50% nosltimos 7 anos, favorecendo 26 milhes de trabalhadores assalariados e 18 milhesde aposentados. Com isso foi possvel retomar mais rapidamente a produo,reduzindo o desemprego e elevando a massa salarial.

    9. Algumas polticas sociais tambm foram valorizadas no enfrentamento crise,contrapondo-se ao paradigma neoliberal que incentiva cortes nesses gastos parareequilibrar as finanas pblicas. Ao contrrio dessa viso conservadora, a polticade governo manteve os investimentos na educao; na habitao popular, com aconstruo de um milho de moradias; nos programas de transferncia de renda,como a Bolsa-Famlia que atinge quase 50 milhes de pessoas etc. Todas essas

    podem ser consideradas medidas anticclicas e elas explicam, pelo menos em parte,

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    porque a economia brasileira est reagindo com maior rapidez quando comparada aoutros pases.

    10. Estes avanos articulam melhor o crescimento econmico com a distribuio derenda, o que um alvio para um pas que historicamente vinha naturalizando apobreza. Por outro lado, o crescimento econmico ainda se apia num modelo deproduo alinhado aos interesses do grande capital, como se pode observar porexemplo na poltica de financiamento do BNDES, que hoje est voltadaprioritariamente a grandes empresas nacionais e internacionais e a uma inseroeconmica de grandes empresas brasileiras no contexto internacional; nos avanosdo agronegcio; na utilizao ostensiva de agrotxicos e na liberao detransgnicos; alm de realizao de grandes obras de infra-estrutura que acarretamem impactos ambientais e sociais bastante significativos para as populaesafetadas.

    11. A recente crise econmica apenas parte de uma crise civilizacional muito maior,

    que envolve o prprio modelo de desenvolvimento predominante hoje, sendoportanto necessrio construirmos, um padro alternativo de desenvolvimento quepropicie sustentabilidade ambiental, justia socioeconmica, radicalizao dademocracia em todas as esferas incluindo o mbito econmico e o respeito aosdiferentes recortes de raa, etnia e gnero.

    12. Desta maneira, apesar de alguns avanos quanto a redefinio do papel dosestados nacionais, o enfrentamento da atual crise traz novos desafios eoportunidades ao exigir solues globais, com mudanas profundas no modelo dedesenvolvimento. Nesse sentido, existe a possibilidade de avanar na construo denovos modelos de desenvolvimento que sejam portadores de mudanas profundasna estrutura que orienta as formas de organizao econmica, de relao entre os

    seres humanos e destes com o a natureza. uma oportunidade para afirmar umnovo fundamento tico que estabelea o primado da lgica das necessidadessociais e ambientais sobre o objetivo do crescimento econmico, tal como praticado na economia solidria.

    13. Embora o movimento de Economia Solidria tenha se fortalecido e crescido em nvelnacional e de forma cada vez mais territorializada, necessrio ampliar oenvolvimento de outros segmentos sociais, como os trabalhadores da economiapopular urbana, alm de articular e construir alianas estratgicas com outras forassociais e polticas do campo democrtico e popular, com base em plataformasemancipatrias.

    14. Em novembro de 2008, diversos movimentos sociais apresentaram ao Governobrasileiro um conjunto de propostas concretas para enfrentamento da crise tendo porbase medidas de enfrentamento da crise social cuja superao depende darealizao de um amplo programa econmico com finalidade social - para reduodas desigualdades, ampliando a capacidade de gerao de novas oportunidades detrabalho para a populao. Prope-se tambm a reduo da jornada de trabalho,sem reduo de salrios, como forma de ampliar a quantidade de vagas deemprego.

    15. Alm disto, a pauta dos movimentos sociais para enfrentamento da atual crise inclui,entre outras alternativas, uma forte interveno no sistema financeiro internacional e

    nacional. Alm de maior controle pelo Estado (quando no a prpria estatizao), a

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    nacionalizao dos sistemas financeiros, criao de mecanismos para ademocratizao do sistema financeiro, com maior participao e controle dasociedade. A finalidade coibir a especulao financeira e retomar os investimentosem setores produtivos que ampliem a gerao de empregos, bem como os

    investimentos nas reas sociais vitais para a sociedade.

    1.3 - Acmulos da Economia Solidria como alternativa diante da crise

    16. A economia solidria no deve ser considerada apenas como um conjunto depolticas sociais ou medidas compensatrias aos danos causados pelo capitalismo.Seu desafio o de projetar-se como modelo de desenvolvimento que tem porfundamento um novo modo de produo, comercializao, finanas e consumo queprivilegia a autogesto, a cooperao, o desenvolvimento comunitrio e humano, a

    justia social, a igualdade de gnero, raa, etnia, acesso igualitrio informao, ao

    conhecimento e segurana alimentar, preservao dos recursos naturais pelomanejo sustentvel e responsabilidade com as geraes, presente e futura,construindo uma nova forma de incluso social com a participao de todos (ICONAES, 2006, p. 1). Nesse sentido, as polticas pblicas de economia solidriapodem ser medidas anticclicas efetivas, estruturais e emancipatrias.

    17. A Economia solidria vem acumulando experincias significativas de produo econsumo que adotam os princpios e prticas da sustentabilidade e da solidariedade.No campo, as formas de extrativismo sustentvel e de produo agroecolgicaresgatam e valorizam a cultura dos povos e comunidades tradicionais, da agriculturafamiliar, camponesa e assentados da reforma agrria. Nas cidades, entre outrasiniciativas, as associaes e cooperativas de catadores(as) de materiais reciclveis

    contribuem para manter as cidades limpas e saudveis e para a reduo de outrosdanos ambientais. As empresas recuperadas em regime de autogesto demonstramgarra e capacidade dos trabalhadores(as) para manterem seus postos de trabalho ea coragem para assumirem coletivamente os meios de produo e a gesto doprocesso produtivo. Em todos os casos, os sistemas produtivos sustentveisexperimentados e incentivados na economia solidria apontam para estratgiascriativas de organizao do trabalho e de relao da atividade produtiva com anatureza garantindo a produo de bens e servios para atendimento dasnecessidades da populao.

    18. Alm disso, o consumo tico, consciente e responsvel considera os impactos queso causados na produo de bens e servios sobre a natureza, sobre ostrabalhadores(as) e sobre as comunidades. Ao promover a aproximao e acooperao entre produtores e consumidores, as prticas de comrcio justo esolidrio contribuem para mudanas profundas na cultura contempornea doconsumismo que leva as pessoas a acharem satisfao e significado para as suasvidas atravs do que possuem e utilizam. Da a importncia dessas iniciativas deproduo e consumo solidrios na orientao e promoo de modos de vidasustentveis que podem orientar o futuro da prpria humanidade.

    19. A economia solidria tambm pode ser uma orientao estratgica para mudana nosistema financeiro. Em primeiro lugar, porque o sistema de finanas solidrias no especulativo. Os recursos so investidos para dinamizao das economias locais e

    territoriais, incentivando a produo e o consumo de forma sustentvel. Em

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    segundo, porque autogestionrio: os prprios associados participam da gesto dascooperativas de crdito, dos bancos comunitrios e dos fundos solidrios, garantindoque os recursos sejam direcionados de acordo com suas demandas concretas efinalidades de investimento na produo e no consumo, sendo voltados para o bem

    comum.20. importante considerar que a sustentabilidade econmica do desenvolvimento

    depende da democratizao do acesso aos ativos necessrios para a produo deriquezas, como os meios de produo e os bens naturais. Na economia solidria, agesto dos meios de produo tarefa coletiva, bem como a partilha dos resultadosda atividade econmica, como forma de reduo das disparidades de renda e deriqueza. A propriedade coletiva e social e a gesto compartilhada dos meios deproduo tm implicaes profundas na superao da subalternidade do trabalhoem relao ao capital, possibilitando desenvolver as capacidades detrabalhadores(as) como sujeitos ativos da atividade econmica, promovendo a

    justia social na distribuio de renda. Por isso o trabalho associado possui um

    carter pedaggico profundo, na medida em que promove o reencontro entre ostrabalhadores e os meios de produo, permitindo que o saber dos trabalhadores seexpresse tambm na possibilidade de decidirem sobre o processo de produo e adestinao do produto.

    21. Considerando esses e outros aspectos, a economia solidria poder vir a seconstituir em protagonista de uma proposta efetiva de desenvolvimento sustentvelpara o pas. Para isso faz-se necessrio avanar no reconhecimento do direito sformas de organizao econmica baseadas no trabalho associado, na cooperao,na autogesto e na propriedade coletiva dos meios de produo. As polticaspblicas de economia solidria devem expressar esse direito de cidadania, como

    fruto do processo de fortalecimento da organizao poltica da economia solidria noBrasil.

    1.4 - Avanos e limites das polticas pblicas de economia solidria

    22. A partir dos anos oitenta, a Economia Solidria experimentou um processo deampliao no Brasil, com o surgimento de vrias iniciativas de projetos alternativoscomunitrios, de cooperao agrcola e de recuperao de empresas em regime deautogesto, entre outras. Um salto de qualidade organizativa ocorreu em 2003, coma criao do Frum Brasileiro de Economia Solidria (FBES), resultado das

    articulaes que vinham ocorrendo desde a dcada de 90 e intensificadas nasedies do Frum Social Mundial desde 2001. Desde ento, foram fortalecidas ligase unies de empreendimentos econmicos solidrios e foram criadas novasorganizaes de abrangncia nacional, expressando a grande diversidadeeconmica e cultural alcanada pela economia solidria no Brasil.

    23. Fruto desse processo de mobilizao social e de vrias experincias de polticaspblicas que vinham sendo desenvolvidas em estados e municpios, em 2003 oGoverno Federal criou a Secretaria Nacional de Economia Solidria (SENAES), noMinistrio do Trabalho e Emprego, com o objetivo de promover o fortalecimento e adivulgao da economia solidria, mediante polticas integradas, visando a geraode trabalho e renda, a incluso social e a promoo do desenvolvimento justo esolidrio. A criao da SENAES proporcionou a incluso da economia solidria no

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    Plano Plurianual do Governo Federal (2004/2007 e 2008/2011), por meio doPrograma Economia Solidria em Desenvolvimento, com a destinao de recursospblicos do Oramento Geral da Unio.

    24. A I Conferncia Nacional de Economia Solidria (CONAES) realizada em 2006apontou as estratgias e prioridades de polticas pblicas para o desenvolvimento daeconomia solidria e props a criao de um Sistema Nacional de EconomiaSolidria, amparada em uma Lei de Economia Solidria, garantindo o carterparticipativo e o controle social. No mesmo rumo, com a instalao e funcionamentodo Conselho Nacional de Economia Solidria (CNES) foram fortalecidas as polticaspblicas de economia solidria, conforme o breve resumo apresentado a seguir:

    i. foram implantadas diversas aes de formao, de qualificao social eprofissional, de incubao, de assessoramento tcnico a Redes de Cooperaode EES e de promoo do desenvolvimento local e economia solidria emcomunidades rurais e urbanas. Tambm foram formados gestores

    governamentais de polticas pblicas federais, estaduais e municipais e agentesde desenvolvimento comunitrio. Avanaram tambm os dilogos da economiasolidria com as polticas de educao, sobretudo nos programas de Educaode Jovens e Adultos, de elevao de escolaridade e de educao profissional,alm da ampliao das incubadoras de economia solidria nas universidades ecentros de ensino tecnolgico;

    ii. no fomento produo e comercializao solidrias, foram apoiados centenasde projetos, beneficiando milhares de trabalhadores(as) em processos derecuperao de empresas em regime de autogesto, na criao e fortalecimentode Redes de Cooperao de produo, comercializao e consumo. Ocorreramavanos com a melhoria da produo e organizao da comercializao direta

    de produtos e servios da economia solidria em feiras (locais, regionais,estaduais, nacionais e internacionais), exposies, centrais de comercializao,lojas solidrias etc., alm da formulao de uma base normativa que est emvias de institucionalizao do Sistema Brasileiro de Comrcio Justo e Solidrio;

    iii. no apoio ao desenvolvimento das Finanas Solidrias, destacam-se as iniciativasde apoio aos Bancos Comunitrios de Desenvolvimento que foram disseminadose multiplicados em todo o pas, levando financiamento solidrio a milhares depessoas na promoo do desenvolvimento comunitrio. Da mesma forma, foramexecutadas aes de apoio s organizaes que operam com Fundos RotativosSolidrios para viabilizar aes produtivas associativas e sustentveis. Outros

    avanos so relacionados ao Programa de Microcrdito Produtivo Orientado(PNMPO) que ampliou o apoio s cooperativas de crdito e s demaisorganizaes de microcrdito no Brasil; foi aprovada a nova lei das cooperativasde crdito, facilitando a organizao do setor e seu dilogo com o banco centraldo Brasil. Foi estabelecida parceria entre a SENAES e o banco Central comvistas a reconhecer a importncia e o papel das moedas sociais, entre outrasaes.

    iv. nos aspectos de institucionalizao e reconhecimento da Economia Solidriatambm foram dados passos, com a mobilizao de rgos do governo federal edas organizaes de economia solidria (fruns, redes e unies) paraparticipao ativa nas questes voltadas ao marco jurdico do cooperativismo,

    com proposio de legislao especfica para as Cooperativas de Trabalho, do

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    cooperativismo social e da Lei Geral do Cooperativismo, alm da incluso dascooperativas na parte no tributria do supersimples. Todo esse processo levouao amadurecimento de uma proposta de Lei da Poltica Nacional deDesenvolvimento da Economia Solidria que est em debate na sociedade civil e

    nos rgos governamentais.

    25. Os avanos acima listados somente foram possveis com a criao da SENAES e aampliao das parcerias com organizaes da sociedade civil e rgosgovernamentais. A interlocuo da economia solidria avanou em vrias polticassetoriais, tais como: trabalho e renda, desenvolvimento social, segurana alimentar enutricional, desenvolvimento territorial, sade mental, segurana e cidadania, cultura,polticas para mulheres, igualdade racial, tecnologias sociais, educao de jovens eadultos, ensino tecnolgico, pesca e aqicultura, entre outros.

    26. Ocorreu tambm a expanso de polticas pblicas de economia solidria nos

    governos estaduais e municipais, inclusive com a criao de legislaes e aimplantao de conselhos de gesto. Cabe destacar a formao da Rede deGestores Governamentais de Polticas Pblicas de Economia Solidria e a crescentemobilizao e demanda do movimento em defesa da participao mais ativa dosgovernos para implantao de polticas pblicas de economia solidria.

    27. Apesar destes avanos, as polticas pblicas existentes ainda so limitadas e aqumda necessidade real daqueles e daquelas que fazem a economia solidria no Brasil,o que torna insuficiente o seu reconhecimento pelo Estado na agenda dedesenvolvimento do Pas.

    28. Os programas de ES sofrem com a limitao dos recursos financeiros e de estrutura

    institucional e de pessoal para operacionalizao das aes. Parte desses limitestem relao com a pouca institucionalizao poltica e jurdica da economia solidriae das polticas pblicas para o seu fortalecimento. A implementao dos programase aes seriamente limitada pelas normativas jurdicas e burocrticas e a culturainstitucional que favorece a fragmentao das polticas, o que dificulta o apoiogovernamental no fomento aos empreendimentos de economia solidria e impedeseu acesso ao financiamento pblico.

    29. Os mesmos limites encontram-se no acesso desses EES s comprasgovernamentais, mesmo com alguns avanos conquistados pela agricultura familiar,como no Programa de Aquisio de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional daAlimentao Escolar (PNAE).

    30. Da mesma forma, o acesso dos empreendimentos econmicos solidrios aofinanciamento e ao crdito ainda extremamente limitado e em alguns setoresinexistente, por um lado pela falta de fontes de recursos disponveis e por outro pelanatureza institucional e exigncias do sistema financeiro convencional nocondizentes realidade e necessidades dos empreendimentos.

    31. Em sntese, para a construo de uma estratgia de desenvolvimento sustentvel esolidrio, a necessidade de reconhecimento da economia solidria como direito decidadania e como dever do Estado permanece como o principal desafio a serenfrentado e debatido nesta II Conferncia Nacional.

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    Eixo I - Questes para o debate:

    Desde a I CONAES houve mudanas significativas no contexto mundial e nacional(social, econmico, poltico, ambiental). Como essas mudanas afetaram e afetam a

    economia solidria? Desde a I CONAES, quais foram os avanos e limites na economia solidria nas

    polticas pblicas, no governo, na sociedade em geral e no movimento da economiasolidria? (Considerar a realidade local, estadual e nacional)

    Quais so os desafios e oportunidades da economia solidria na construo de umaestratgia de desenvolvimento sustentvel no atual contexto mundial e nacional?

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    EIXO IIDireito a formas de organizao econmica baseadas no trabalho associado, na

    propriedade coletiva, na cooperao, na autogesto, na sustentabilidade e na

    solidariedade, como modelo de desenvolvimento

    2.1 O direito a outra economia para outro desenvolvimento

    32. As deliberaes da I Conferncia Nacional de Economia Solidria apontaramclaramente para o fato de que a Economia Solidria uma alternativa ao modeloeconmico capitalista, no qual a grande maioria dos trabalhadores no controla nemparticipa da gesto dos meios e recursos para produzir riquezas, e em que umnmero sempre maior deles perde o acesso remunerao e fica excludo daspossibilidades de um consumo que atenda dignamente s suas necessidades comoser humano (I Conaes, Res. 10).

    33. Na construo de uma alternativa de desenvolvimento, a Economia Solidriaorganiza a produo de bens e de servios, a distribuio, o consumo e o crdito,tendo por base os princpios da autogesto, da cooperao e da solidariedade,visando a gesto democrtica, a distribuio eqitativa das riquezas produzidascoletivamente, o desenvolvimento local e territorial integrado e sustentvel, orespeito aos ecossistemas, a valorizao do ser humano e do trabalho e oestabelecimento de relaes igualitrias entre homens e mulheres.

    34. Nesta condio a Economia Solidria afirma a emergncia de um novo sujeito socialcomposto de trabalhadores associados e consumidores conscientes e solidrios,portadores de possibilidades de superao das contradies prprias do capitalismo,

    caracterizando-se, portanto, como um processo revolucionrio (I Conaes, Res. 11).35. Ao reconhecer a existncia deste sujeito social e das potencialidades

    emancipatrias da Economia Solidria , igualmente, necessrio reconhecer novosdireitos de cidadania para estas formas de organizao econmica baseadas notrabalho associado, na propriedade coletiva, na cooperao, na autogesto, nasustentabilidade e na solidariedade, alm de efetivar o acesso aos bens e recursospblicos para seu desenvolvimento, tal qual ocorre com outros segmentos sociais.

    2.2 - O direito s formas organizativas econmicas solidrias

    36. Permanecem inmeras as barreiras que impedem a adequada formalizao dasorganizaes econmicas de cooperao e de trabalho associado. O Sistema deInformaes em Economia Solidria (SIES) identificou que cerca de um tero (1/3)dos empreendimentos econmicos solidrios so informais e apenas 10%conseguem se organizar como cooperativas. Nas reas urbanas, a situao aindamais grave com a informalidade atingindo dois teros (2/3) dessas organizaeseconmicas solidrias.

    37. No coincidncia o fato de que os empreendimentos econmicos solidrios maispobres em geral so informais, tendo enormes dificuldades de acesso s polticaspblicas e ao crdito e de superar as barreiras econmicas e sociais para viabilizar

    essas iniciativas e gerar trabalho digno e renda para seus associados. De fato, as

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    barreiras jurdicas, administrativas e fiscais tornam muito difcil registrar e manteruma cooperativa para quem no pode pagar as despesas que so exigidas, desde oregistro nas juntas comerciais, nas receitas municipais, estaduais e federal e,posteriormente. Trata-se de uma forma de excluso legal que se nutre da excluso

    social e econmica.38. O direito outra economia exige o reconhecimento das formas organizativas de

    cooperao e de trabalho associado. Para isso faz-se necessria uma nova leigeral do cooperativismo que seja orientada para atender as demandas desociedades cooperativas autnticas e alinhadas aos princpios e finalidades originaisdo cooperativismo, garantindo o direito livre representao das cooperativas, areduo do limite mnimo de scios para 7, a tributao diferenciada para aspequenas e mais frgeis cooperativas (anlogo ao super-simples empresarial) e asimplificao dos procedimentos de registro de uma cooperativa.

    39. urgente a aprovao do Projeto de Lei das cooperativas de trabalho que ainda

    so perseguidas e fechadas por aes fiscalizatrias que, apesar de necessriaspara coibir as fraudes, nem sempre diferenciam as falsas cooperativas daquelas queso autnticas. preciso defender o direito de existir dessas cooperativas queviabilizam a realizao de trabalho associado decente. Para isso, o Projeto de Leibusca conceituar e definir no nosso mundo jurdico o que uma legtima cooperativade trabalho, disciplinar como uma cooperativa de trabalho deve funcionar,principalmente fortalecendo seus espaos de deciso democrticas, desburocratizaro funcionamento e facilitar a formalizao de cooperativas de trabalho, diminuindo onumero mnimo para a sua criao para 7 e estabelece um mnimo de direitosconstitucionais que esses tipos de cooperativas devem garantir aos seusassociados. preciso principalmente assegurar a implantao do Programa

    Nacional de Apoio s Cooperativas de Trabalho (PRONACOOP), previsto no Projetode Lei que tramita no Congresso Nacional. O Programa dever contribuir para queas cooperativas de trabalho viabilizem suas atividades com acesso ao crdito, qualificao social e profissional, assessoramento tcnico e organizativo.

    40. Da mesma forma, preciso avanar na legislao das cooperativas sociais,criando mecanismos que permitam e facilitem a formao, o registro e o adequadofuncionamento das cooperativas constitudas por setores da populao em situaode desvantagem, tais como as pessoas que sofrem transtornos mentais, pessoascom deficincia fsica, pessoas que cumprem penas e egressos do sistema prisional,

    jovens em situao de vulnerabilidade, entre outros. preciso garantir tambm queos benefcios de seguridade e proteo social dos integrantes das cooperativas

    sociais sejam preservados pelo menos at que os ganhos do trabalho cooperativosejam suficientes em valor e regularidade para permitir sua dispensa.

    41. O avano recente da economia solidria no Brasil e no mundo tambm tem sidocaracterizada pela capacidade dos trabalhadores(as) na recuperao de empresas(falidas ou em processo falimentar) em regime de autogesto, com base nacooperao e no trabalho associado. No entanto, esse um processo penoso queexige sacrifcios enormes por parte desses trabalhadores e que, no poucas vezes,so perseguidos por rgos de fiscalizao e do poder judicirio. Muitas vezes, afora da justia tem atuado no sentido de retirar e impedir o direito dos trabalhadoresconduzirem de forma autogestionria o processo de recuperao do

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    empreendimento, entregando a gesto da massa falida a novos patres quereproduzem as formas subordinadas de trabalho.

    42. preciso, portanto, que a Lei de Falncias e sua regulamentao sejamaperfeioadas estabelecendo e efetivando a prioridade para que ostrabalhadores(as) e suas organizaes cooperativas atuem nos processos derecuperao das empresas em regime de autogesto. Da mesma forma, precisogarantir o apoio efetivo das polticas pblicas de fomento, assistncia tecnolgica,formao e acesso ao crdito que sejam condizentes com as reais necessidadesdos empreendimentos, reconhecendo a importncia social dessas iniciativas derecuperao de postos de trabalho e de obteno de renda, de forma digna.

    43. Ainda nesse aspecto, preciso reconhecer o direito s formas de organizaodas finanas solidrias, sobretudo dos bancos comunitrios com suas moedassociais locais e dos fundos rotativos solidrios. Essas organizaes, que rompemcom a especulao financeira e promovem o desenvolvimento comunitrio,

    fortalecendo a produo e o consumo de produtos locais, ainda no soreconhecidas e muitas vezes so impedidas de acesso s polticas pblicas paraconstituir os fundos comunitrios necessrios operacionalizao dos serviosfinanceiros que realizam. A ao do Estado no reconhecimento do direito dessasorganizaes deve ser efetivada garantindo tambm a autonomia poltica emetodolgica das mesmas, para que no haja interveno indevida edescaracterizao de seus princpios e prticas de finanas solidrias.

    44. Alm disso, preciso aperfeioar a legislao pertinente s cooperativas de crditopara que as mesmas possam ampliar e potencializar suas capacidades de prestaode servios de poupana e de crdito junto aos territrios urbanos de grandes epequenas cidades e s populaes excludas do acesso ao sistema financeiro

    convencional, como o caso da populao residente em comunidades rurais,ribeirinhos, e outros povos e comunidades tradicionais. Para que as cooperativas decrdito possam cumprir adequadamente suas finalidades sociais e econmicas preciso reduzir as barreiras que ainda impedem o amplo acesso das mesmas aosfundos pblicos.

    45. preciso tambm avanar no reconhecimento do direito s formas econmicasassociativas de povos e comunidades tradicionais. Existe uma grande variedadede formas organizativas comunitrias que precisam ser reconhecidas pelo Estado eapoiadas com acesso s polticas pblicas necessrias ao seu desenvolvimento,considerando e valorizando suas caractersticas culturais e tnicas.

    2.2.1 - Empreendimentos Econmicos Solidrios como novos sujeitos de direito.

    46. As diversas formas de organizao econmica de cooperao e de trabalhoassociado possuem caractersticas comuns de empreendimentos econmicossolidrios. Essas caractersticas precisam ser reconhecidas pelas polticas pblicas,especialmente pela Poltica Nacional de Economia Solidria, independente danatureza jurdica ou da forma societria que assumam (seja de cooperativa, deassociao, de grupo informal que queira se formalizar, entre outras possibilidades).

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    47. Nesse sentido, os Empreendimentos Econmicos Solidrios e seus participantes,enquanto novos sujeitos de direito da Poltica Nacional de Economia Solidria, soaqueles que possuem as seguintes caractersticas:

    i. ser uma organizao coletiva, singular ou complexa, cujos participantes ouscios/as so trabalhadores/as do meio urbano ou rural;

    ii. realizar atividades de natureza econmica, que deve ser a razo primordial daexistncia da organizao;

    iii. ser uma organizao autogestionria, cujos participantes ou scios exeramcoletivamente a gesto das atividades econmicas e a deciso sobre a partilhados seus resultados, atravs da administrao transparente e democrtica,soberania da assemblia e singularidade de voto dos scios cumprindo o seuestatuto ou regimento interno;

    iv. ser uma organizao permanente, considerando tanto os empreendimentos que

    esto em funcionamento quanto aqueles que esto em processo de implantao,desde que o grupo esteja constitudo e as atividades econmicas definidas.

    48. Os princpios norteadores de um empreendimento econmico solidrio representamas bases de um desenvolvimento sustentvel, democrtico, includente e socialmente

    justo e devem ser fomentados pela Poltica Nacional de Economia Solidria. Taisprincpios so os seguintes:

    i. administrao democrtica, soberania da assemblia e singularidade de voto dosscios;

    ii. garantia da adeso livre e voluntria dos seus membros;

    iii. estabelecimento de condies de trabalho descente;

    iv. desenvolvimento das atividades de forma condizente com a preservao do meioambiente;

    v. desenvolvimento das atividades em cooperao com outros grupos eempreendimentos da mesma natureza;

    vi. busca da insero comunitria, com a adoo de prticas democrticas e decidadania;

    vii. prtica de preos justos, sem maximizao de lucros;

    viii. respeito a eqidade de gnero e raa;

    ix. prtica da produo, da comercializao ou da prestao de servio de formacoletiva;

    x. exerccio e demonstrao da transparncia na gesto dos recursos e na justadistribuio dos resultados;

    xi. estmulo participao dos integrantes na formao do capital social doempreendimento

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    49. A Poltica Nacional de Economia Solidria dever assegurar ainda que osempreendimentos econmicos solidrios possam assumir diferentes formassocietrias, inclusive cooperativas sociais, desde que contemplem as caractersticasacima citadas.

    50. fundamental que a Poltica Nacional de Economia Solidria inclua tambm osbeneficirios de programas sociais desenvolvidos no mbito das polticas sociais,com prioridade para aqueles que vivem em situao de vulnerabilidade social, desdeque desejem se organizar em empreendimentos econmicos solidrios.

    2.2.2 - Direitos sociais do trabalho associado

    51. Alm do reconhecimento dos direitos das formas organizativas econmicassolidrias, preciso que haja o reconhecimento e a garantia de direitos dos

    trabalhadores e trabalhadoras que optam pela forma do trabalho associado. Umacondio fundamental para o avano e sucesso da economia solidria no Brasil oreconhecimento da seguridade social (sade, assistncia e previdncia social) comodireito universal que precisa ser assegurado tambm aos participantes dosempreendimentos econmicos solidrios.

    52. A previdncia social avanou desde a Constituio de 1988 com a ampliao dacobertura de seus benefcios a parcelas crescentes da populao, independente daforma de contribuio. Para algumas categorias historicamente excludas do acesso seguridade, como o caso de trabalhadores(as) rurais, donas de casa,empregadas domsticas, pescadores, entre outras, a previdncia social tornou-seum importante instrumento de transferncia de renda, de justia social e de

    dinamizao econmica de comunidades empobrecidas pelo modelo dedesenvolvimento excludente. Ao mesmo tempo, existem foras retrogradas quetentam impor uma lgica empresarial privatista previdncia social, ameaandoesse direito pblico conquistado pela sociedade brasileira.

    53. A previdncia social precisa ser universalizada tambm para os trabalhadores(as)dos empreendimentos econmicos solidrios, assim como foi para os que optampela condio de Micro Empreendedor Individual (MEI). Para tanto preciso quehaja mudana na regulamentao que reconhea a nova categoria de coberturaprevidenciria para o trabalho associado, ou seja, a combinao da situaoindividual com a organizao coletiva associativa, adequando as formas de

    contribuio e de acesso aos benefcios como direito de cidadania.54. Alm da seguridade social, os empreendimentos econmicos solidrios, devem

    tambm ter acesso a benefcios semelhantes ao de seguro desemprego especialque oferecido em situaes especiais, tais como: os perodos de defeso (para aspescadoras e os pescadores artesanais), nas entressafras agrcolas (paracooperativas agroextrativistas) e em outras intempries causadas por fenmenosnaturais, garantindo a sobrevivncia dos trabalhadores(as) e suas famlias.

    55. preciso reconhecer tambm as formas autogestionrias de garantia de direitoscoletivos sociais nas organizaes econmicas solidrias, tais como os fundos queso constitudos em cooperativas autnticas para garantir benefcios sociais aos

    seus associados e familiares: apoio para elevao de escolaridade, sadecomplementar, descanso remunerado, lazer etc. Para que essas prticas

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    autogestionrias de benefcios coletivos possam ser multiplicadas preciso que hajao reconhecimento e o apoio efetivo das polticas pblicas para o fortalecimento dosempreendimentos econmicos solidrios, para que os mesmos possam viabilizarsuas atividades econmicas e superar a condio de pobreza.

    2.3 - O direito de acesso s polticas pblicas para o fortalecimento da economia solidria

    56. A I Conferncia deliberou que a a poltica de Economia Solidria deve ser umapoltica de desenvolvimento sustentvel, de carter perene, com participaodemocrtica comunitria e popular; portanto, no relegada s polticas de corteassistencial ou compensatrio, e sim, integrada a estas, como alavancaemancipatria, tambm, para os atuais beneficirios daquela poltica. (I Conaes,Res. 48)

    57. Para assegurar esta compreenso necessrio implantar imediatamente a PolticaNacional de Economia Solidria em acordo com o ante-projeto de lei discutido edeliberado no mbito do Conselho Nacional de Economia Solidria que dever serencaminhado, em regime de urgncia, pelo poder executivo para debate eaprovao pelo Congresso Nacional.

    2.3.1 Objetivos da Poltica Nacional de Economia Solidria

    58. A Poltica Nacional de Economia Solidria com suas diretrizes, princpios e objetivosdeve se integrar s estratgias gerais de desenvolvimento sustentvel do Pas e aosinvestimentos sociais e de fomento ao desenvolvimento. Sua finalidade apromoo da ES na agenda de desenvolvimento do Pas atravs do reconhecimento

    das atividades econmicas autogestionrias, do incentivo aos empreendimentoseconmicos solidrios, e da criao de novos grupos e sua integrao a redes ecadeias solidrias de produo, comercializao e consumo de bens e servios eassegurar o direito ao trabalho associado.

    59. A Poltica Nacional de Economia Solidria, enquanto parte de uma estratgianacional de desenvolvimento sustentvel, democrtico, includente e socialmente

    justo, deve perseguir os seguintes objetivos:

    i. Contribuir para a concretizao dos preceitos constitucionais que garantem aoscidados e cidads o direito a uma vida digna;

    ii. Fortalecer e estimular a organizao e participao social e poltica da economiasolidria;

    iii. Reconhecer e fomentar as diferentes formas organizativas da economiasolidria;

    iv. Contribuir para a gerao de riqueza, melhoria da qualidade de vida e promooda justia social;

    v. Contribuir para a equidade de gnero, de raa, de etnia e de gerao,propiciando condies concretas para a participao de todos;

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    vi. Democratizar e promover o acesso da economia solidria aos fundos pblicos,aos instrumentos de fomento, aos meios de produo e s tecnologias sociaisnecessrias ao seu desenvolvimento;

    vii. Promover a integrao, interao e intersetorialidade das vrias polticaspblicas que possam fomentar a economia solidria;

    viii. Apoiar aes que aproximem consumidores e produtores, impulsionando nasociedade reflexes e prticas relacionadas ao consumo consciente, inclusiveatravs de campanhas educativas;

    ix. Contribuir para a reduo das desigualdades regionais com polticas dedesenvolvimento territorial sustentvel;

    x. Promover prticas produtivas ambientalmente sustentveis;

    xi. Promover o trabalho descente nos empreendimentos econmicos solidrios.

    xii. Fomentar a articulao em redes entre os grupos de economia solidria.xiii. Propiciar a formao para autogesto, tendo em vista que esta forma de relao

    se diferencia fundamentalmente das relaes que se estabelecem no sistemacapitalista.

    2.3.2 - Os eixos de ao da Poltica Nacional de Economia Solidria

    60. Para avanar na superao dos desafios e na realizao de seus objetivos, aPoltica Nacional de Economia Solidria deve implementar os seguintes eixos de

    aes:i. Acesso a conhecimentos: educao, formao, qualificao, assistncia tcnica,

    apoio pesquisa e ao desenvolvimento e transferncia de tecnologias;

    ii. Acesso a servios de finanas e de crdito; e

    iii. Acesso organizao da produo, ao Comrcio Justo e Solidrio e ao consumoresponsvel.

    Acesso a tecnologia, formao e assistncia tcnica61. A implementao das aes de educao, formao, assistncia tcnica equalificao previstas nesta Poltica Nacional de Economia Solidria incluir aelevao de escolaridade, a formao para a cidadania, para a prtica daautogesto e a qualificao tcnica e tecnolgica para a criao e consolidao deempreendimentos econmicos solidrios.

    62. As aes educativas e de qualificao em economia solidria, visando a formaosistemtica de trabalhadores dos empreendimentos econmicos solidrios bemcomo de formadores e gestores pblicos que atuam na economia solidria, serorealizadas prioritariamente de forma descentralizada, a partir de instituies deensino superior, de entidades da sociedade civil sem fins lucrativos e de governos

    estaduais e municipais.

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    63. A Poltica Nacional de Economia Solidria buscar implantar ncleos e redes deassistncia tcnica e tecnolgica, gerencial, de assessoria e acompanhamento aosempreendimentos econmicos solidrios, utilizando-se de metodologias adequadasa essa realidade, valorizando as pedagogias populares e participativas e os

    contedos apropriados organizao na perspectiva da autogesto, tendo comoprincpio autonomia a partir dos princpios e metodologia da educao popular.

    64. A Poltica Nacional de Economia Solidria desenvolver aes que propiciem apoio pesquisa e ao desenvolvimento e transferncia de tecnologias apropriadas aosempreendimentos econmicos solidrios. Igualmente, a Poltica Nacional deverapoiar a realizao e publicao de estudos e pesquisas sobre reas temticas deinteresse da economia solidria, visando subsidiar a formulao e implementao depolticas pblicas e de marco jurdico para o setor; e realizao de CampanhaNacional de Divulgao com a produo e distribuio de material impresso eaudiovisual para a difuso de conhecimentos sobre a economia solidria.

    Acesso a servios de finanas e de crdito

    65. O acesso a servios de finanas e de crdito da Poltica Nacional de EconomiaSolidria devero necessariamente prever financiamento para capital de giro, custeioe aquisio de bens mveis e imveis destinados consecuo das atividadeseconmicas fomentadas. As instituies autorizadas a operar as linhas de crditoprevistas na Poltica Nacional de Economia Solidria podero realizar operaes decrdito destinadas a empreendimentos econmicos solidrios sem a exigncia degarantias reais, que podero ser substitudas por garantias alternativas, observadas

    as condies estabelecidas em regulamento. As operaes de crdito devero serrealizadas por Bancos Pblicos ou por instituies como cooperativas de crdito,OSCIPs de microcrdito, bancos comunitrios e fundos rotativos.

    66. Dever estar prevista a possibilidade de equalizar taxa de juros nosempreendimentos contratados com recursos do Fundo Nacional de EconomiaSolidria, quando lastrearem dvidas de financiamentos dos empreendimentoseconmicos solidrios. O custo da equalizao nessas operaes dever serassumido pelo Tesouro Nacional. Os critrios para equalizao da taxa de jurosdevero ser definidos em conformidade com as caractersticas dosempreendimentos econmicos solidrios.

    67. A Poltica Nacional de Economia Solidria deve estender aos empreendimentoseconmicos solidrios os benefcios previstos na lei n 9.138, de 29 de novembro de1995 que dispe sobre o crdito rural e autoriza a equalizao de encargosfinanceiros.

    Acesso organizao da produo, ao Comrcio Justo e Solidrio e ao consumo responsvel

    68. A Poltica Nacional de Economia Solidria deve prever aes de fomento aoComrcio Justo e Solidrio e ao consumo responsvel. Para tanto, necessariamente,dever fomentar a criao de espaos de comercializao solidrios, o apoio constituio de redes e cadeias solidrias de produo, de comercializao, delogstica e de consumo solidrios, o assessoramento tcnico contnuo e sistemtico comercializao, a promoo do consumo responsvel e a priorizao de produtos

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    e servios da Economia Solidria nas compras institucionais em todas as esferas.Tais aes devem estar articuladas conforme os princpios, regulao e critriosestabelecidas no Sistema Nacional de Comrcio Justo e Solidrio.

    69. A Poltica Nacional de Economia Solidria assegurar que nas contrataes pblicasda Unio, dos Estados e dos Municpios, ser concedido tratamento diferenciado esimplificado para os empreendimentos econmicos solidrios, objetivando apromoo do desenvolvimento econmico e social no mbito municipal e regional ea ampliao da eficincia das polticas pblicas.

    70. Para assegurar o acesso dos empreendimentos econmicos solidrios s compraspblicas necessrio construir atos normativos que propiciem a utilizao do poderde compra do Estado para fomentar a economia solidria urbana e rural como formade desenvolvimento local e regional, como por exemplo privilegiar a compra deprodutos e servios da economia solidria em licitaes pblicas, transformar o atualPrograma de Aquisio de Alimentos (PAA) em Lei, como aconteceu com o

    Programa Nacional de Alimentao Escolar (PNAE), que hoje garante que 30% daalimentao escolar seja adquirida localmente da Agricultura Familiar, entre outros.

    Acesso s estratgias de integrao econmica internacional

    71. Finalmente, fundamental uma reviso profunda da poltica de Integrao Regionalda Amrica Latina adotada pelo Pas. Ao contrrio de colocar o foco na integraopor meio de grandes empresas nacionais e internacionais, preciso avanar parauma concepo solidria de integrao econmica entre os pases de nossocontinente e de outros continentes, buscando o fortalecimento de laos econmicos,

    polticos e culturais entre empreendimentos de economia solidria e micro epequenas empresas dos vrios pases, apontando para uma rede econmicamundial pautada pelos indicadores, princpios e valores do Comrcio Justo eSolidrio, com respeito aos povos de cada pas, suas culturas, especificidades etrajetrias.

    Articulao com Polticas Sociais

    72. Considerando a contribuio que a economia solidria oferece para a organizao

    social e econmica nas mais variadas situaes de excluso e de vulnerabilidade, fundamental que as polticas sociais do pas incorporem aes de fomento Economia Solidria e se articulem com a Poltica Nacional de Economia Solidaria.Dentre estas polticas sociais, vale destacar em especial as de Segurana Alimentare Nutricional, de Desenvolvimento Social e incluso socio-produtiva, as de Emprego,Trabalho e Renda, as de Agricultura Familiar e Reforma Agrria, as de apoio aosPovos e Comunidades Tradicionais, as de Habitao e as de Sade do Trabalhadore de Sade Mental.

    Eixo II - Questes para o debate:

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    Como o Estado e a sociedade podem reconhecer as formas organizativas econmicassolidrias e os direitos sociais dos cidados e cidads que optam pelo trabalho associadoem cooperao?

    Que polticas pblicas so necessrias para avanar neste reconhecimento e dar conta dasnecessidades e demandas da Economia Solidria?

    Quais devem ser as prioridades e principais estratgias para conquistar estereconhecimento?

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    EIXO IIIA organizao do Sistema Nacional de Economia Solidria

    3.1 - Necessidade de um Sistema Nacional de Economia Solidria73. As deliberaes da I Conferncia Nacional de Economia Solidria j indicavam a

    necessidade da poltica de economia solidria expandir-se e interagir com diferentesrgos do Governo Federal, Estadual e Municipal, articulando os programas e aesem uma estratgia de desenvolvimento endgeno, autogestionrio e solidrio.Igualmente, propunha que na construo e implementao de uma Poltica PblicaNacional de Economia Solidria, deve-se buscar uma ao integrada ecomplementar entre os Entes da Federao, evitando-se a sobreposio deiniciativas e a fragmentao de recursos. Neste sentido, apresentou a proposio decriao de um Sistema Nacional de Economia Solidria. (I Conaes, Resoluo100/1)

    74. A construo de um Sistema Nacional o reflexo do processo de institucionalizaodas polticas de economia solidria: a criao da Secretaria Nacional de EconomiaSolidria; a implantao do Programa Economia Solidria em Desenvolvimento(Plano Plurianual); a realizao das Conferncias; a instalao do ConselhoNacional; a implantao de polticas municipais e estaduais; a instalao deconselhos estaduais e municipais de economia solidria; e a presena da economiasolidria em outras polticas pblicas. No entanto, este processo precisa avanar naperspectiva de sua institucionalizao para melhor organizar a ao pblica comvistas a assegurar de forma articulada e descentralizada a implantao da PolticaNacional de Economia Solidria.

    75. A I Conferncia Nacional de Economia Solidria afirmou a necessidade de criarmecanismos de financiamento e integrao das polticas, como em sua resoluo69, onde props a criao de um Programa Nacional de Economia Solidria(PRONADES) com o objetivo de articular as diferentes aes e programasgovernamentais e prover o financiamento pblico voltado aos empreendimentos deeconomia solidria atravs de um Fundo de vrias fontes e reconhecendo osinstrumentos de finanas solidrias como agentes de financiamento. Neste sentido,um Sistema e um Fundo Nacionais de Economia Solidria devem cumprir este papelpara garantir um efetivo reconhecimento das prticas e iniciativas de economiasolidria como sujeitos econmicos.

    76. Um Sistema Nacional de Polticas Pblicas diz respeito institucionalidade daorganizao e implementao de uma poltica pblica com vistas a garantia dedireitos legalmente constitudos. O Sistema de Polticas Pblicas assegura aexistncia articulada dos seguintes componentes: um marco legal; a definio dediretrizes e conceitos orientadores; as formas de atuao e atribuies dos diversosatores pblicos e sociais; a estrutura administrativa necessria; as formas departicipao e controle social; os mecanismos de financiamento pblico e dehabilitao ao seu acesso. Dessa maneira, permite garantir a integrao,universalizao, descentralizao, intersetorialidade e territorialidade da polticapblica.

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    3.2 - O Sistema Nacional de Economia Solidria e seus objetivos

    77. A trajetria de implantao das polticas pblicas de Economia Solidria comoexpresso da garantia do direito de organizao econmica baseada no trabalho

    associado, na propriedade coletiva, na cooperao e autogesto exige a constituiode um Sistema Nacional de Economia Solidria (SINAES) com os seguintesobjetivos:

    i. formular e implantar a poltica nacional de economia solidria;

    ii. estimular a integrao dos esforos entre os entes federativos e entre governose sociedade civil;

    iii. promover o acompanhamento, o monitoramento e a avaliao permanentes dapoltica de economia solidria.

    78. O Sistema Nacional de Economia Solidria - SINAES dever ser institudo por leifederal e fundamentar-se- nas seguintes diretrizes:

    i. Promoo da garantia do direito ao trabalho associado e das formas coletivas eautogestionrias de organizao econmica;

    ii. Intersetorialidade das polticas, programas e aes governamentais e no-governamentais;

    iii. Descentralizao das aes e articulao, em regime de colaborao, entre asesferas de governo;

    iv. Participao e controle social;

    v. Articulao entre os diversos sistemas de informaes existentes a nvel federal,incluindo o Sistema de Informaes em Economia Solidria, bem como oSistema Nacional de Comrcio Justo e Solidrio visando fortalecer a gesto daspolticas voltadas economia solidria nas diferentes esferas de governo;

    vi. Articulao entre oramento e gesto; e

    vii. Estmulo ao desenvolvimento de pesquisas em temas afins economia solidriae capacitao de recursos humanos para atuao nesta rea.

    3.3 - Componentes do Sistema Nacional de Economia Solidria79. Devem compor o Sistema Nacional de Economia Solidria SINAES: a Conferncia

    Nacional de Economia Solidria; o Conselho Nacional de Economia Solidria;rgos da administrao pblica da Unio, Estados, Distrito Federal e Municpiosresponsveis por polticas de economia solidria; e as organizaes da sociedadecivil que aderirem ao SINAES. O rgo gestor nacional do SINAES deve ser aSecretaria Nacional de Economia Solidria.

    80. Conferncia Nacional de Economia Solidria (CONAES) deve ser uma instnciade ampla participao e consulta popular, envolvendo governo e sociedade civil quedeve ser realizada periodicamente de 4 em 4 anos para avaliar, propor e definir

    diretrizes e prioridades para as polticas pblicas de economia solidria, em especial,

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    a Poltica Nacional de Economia Solidria. A Conferncia Nacional dever serprecedida por conferncias territoriais e estaduais.

    81. Conselho Nacional de Economia Solidria (CNES) deve ser composto de maneiratripartite por representantes de Empreendimentos Econmicos Solidrios,representantes de rgos governamentais e representantes de entidades,organizaes e movimentos sociais. Ter carter consultivo e deliberativo com afinalidade de garantir a articulao e coordenao das polticas e aesdesenvolvidas pelos integrantes do SINAES e deve ter, no mnimo, as seguintesatribuies:

    i. convocar a Conferncia Nacional Economia Solidria, bem como definir seusparmetros de composio, organizao e funcionamento, por meio deregulamento prprio;

    ii. propor ao Poder Executivo Federal, considerando as deliberaes daConferncia Nacional de Economia Solidria, as diretrizes e prioridades daPoltica Nacional de Economia Solidria, incluindo-se requisitos oramentriospara sua consecuo;

    iii. articular, acompanhar e monitorar, em regime de colaborao com os demaisintegrantes do Sistema, a implementao e a convergncia de aes inerentes Poltica Nacional de Economia Solidria;

    iv. definir, em regime, os critrios e procedimentos de adeso ao Sistema Nacionalde Economia Solidria;

    v. instituir mecanismos permanentes de articulao com rgos e entidadescongneres de economia solidria nos Estados, no Distrito Federal e nos

    Municpios, com a finalidade de promover o dilogo e a convergncia das aesque integram o SINAES;

    vi. mobilizar e apoiar entidades da sociedade civil na discusso e na implementaode aes pblicas de economia solidria;

    82. A Secretaria Nacional de Economia Solidria e os demais rgos da administraopblica federal, estadual, distrital e municipal responsveis por desenvolver polticas,programas e aes voltados, total ou parcialmente, economia solidria.

    83. Ainda devem integrar o Sistema Nacional de Economia Solidria as organizaes dasociedade civil e empreendimentos econmicos solidrios que manifestem interessena adeso e que respeitem os critrios, princpios e diretrizes da Poltica e doSistema Nacional de Economia Solidria.

    Sistemas estaduais, distrital, territoriais e municipais

    84. Para garantir a descentralizao do SINAES, o Conselho Nacional e a SecretariaNacional de Economia Solidria devem orientar e apoiar a criao e estruturao desistemas estaduais, distrital, territoriais e municipais de polticas de economiasolidrias por meio de:

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    i. Criao de mecanismos para estmulo e induo, por parte do governo federal,pactuados com os estados e municpios, na realizao de aes que resultem naimplantao de polticas estaduais e municipais de economia solidria com vistasao seu fortalecimento em nvel local;

    ii. Incentivo criao, fortalecimento ou reestruturao dos conselhos de economiasolidria estaduais, distrital e municipais - segundo os mesmos critrios derepresentao do CONAES Nacional, respeitando as especificidades dos entesfederados;

    iii. Incentivo a criao de Fundos estaduais, distrital e municipais e economiasolidria;

    iv. Definio clara das atribuies das vrias esferas de governo, de modo que aadeso s polticas e programas que asseguram a eficincia e efetividade nagarantia dos direitos da economia solidria;

    v. Criao de mecanismos de superviso, controle social, responsabilizaopoltica, civil, administrativa e criminal dos gestores; e

    vi. Identificao e definio das fontes de financiamento para as polticas deeconomia solidria nos oramentos no PPA, LDO, LOAS e outros de todos osentes federativos, incluindo recursos para crdito.

    Articulao territorial das polticas de economia solidria.

    85. urgente a necessidade de potencializar as polticas federais, estaduais emunicipais de economia solidria, fortalecer as atribuies e competncias de cada

    esfera de governo e articular as iniciativas entre os diversos entes federados. Almda implementao descentralizada das polticas federais e das atribuiesespecficas de estados, municpios, cabe impulsionar aes territoriais que envolvamdiferentes municpios, redes sociais territoriais e supramunicipais e consrciospblicos.

    86. Considerando o carter transversal e estruturante da economia solidria fundamental sua incorporao nas polticas dos demais Sistemas Nacionais, emespecial, do Sistema de Polticas Pblicas de Trabalho, Emprego e Renda, doSistema nico de Assistncia Social (SUAS) e do Sistema Nacional de SeguranaAlimentar e Nutricional SISAN. Ao mesmo tempo necessrio criar instncias

    (Cmaras Intersetoriais) de articulao poltica entre as polticas de apoio economia solidria desenvolvidas pelos diversos sistemas e rgos governamentais.

    3.4 - Fundo Nacional de Economia Solidria

    87. Com o objetivo de centralizar e gerenciar os recursos oramentrios para osprogramas estruturados no mbito do Sistema Nacional de Economia Solidria paraimplementar a Poltica Nacional de Economia Solidria dever ser prevista a criaolegal do Fundo Nacional de Economia Solidria FNAES.

    88. Os recursos do FNAES devero ser destinados Poltica Nacional de Economia

    Solidria e ao Sistema Nacional de Economia Solidria. Sua aplicao dever

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    contemplar a descentralizao por meio da transferncia de recursos aos estados,Distrito Federal e municpios, instituies financeiras e entidades da sociedade civilsem fins lucrativos que aderirem ao SINAES. Os recursos do FNAES devero serutilizados para:

    i. Financiamento de assistncia tcnica, formao e qualificao de trabalhadoresde empreendimentos econmicos solidrios;

    ii. Linhas de crdito e financiamento para os empreendimentos econmicossolidrio, inclusive recursos para fundos de aval e equalizao de taxas de juros;

    iii. Recursos para a implantao de infra-estrutura para o desenvolvimento deatividades produtivas por parte dos empreendimentos econmicos solidrios,assim como para lugares de armazenamento e comercializao dos produtos eservios da economia solidria;

    iv. Outros programas, aes e projetos necessrios para o fortalecimento da

    economia solidria.

    89. O FNAES dever ser gerido por um Conselho Gestor institudo no mbito doConselho Nacional de Economia Solidria, que ter carter deliberativo e sercomposto de forma paritria por rgos e entidades do Poder Executivo erepresentantes da sociedade civil.

    90. O rgo de coordenao da Poltica Nacional de Economia Solidria no GovernoFederal, ser responsvel pela gesto operacional do FNAES, viabilizando ocumprimento dos seus objetivos com base nas orientaes do Conselho Gestor doFundo.

    Eixo III - Questes para o debate:

    Como deve ser a Poltica de Economia Solidria em seu territrio?

    Como garantir a integrao e articulao das polticas, programas e aes deEconomia Solidria entre os nveis federal, estadual e municipal?

    Como garantir o controle social das Polticas Pblicas de Economia Solidria e aefetiva participao da sociedade civil em sua implementao e gesto?

    A economia solidria requer polticas pblicas nas diferentes reas, sobretudo

    econmica e social. Deve haver uma rea de coordenao destas diferentespolticas? Qual seria o melhor espao institucional para tal?

    Como garantir uma poltica de financiamento pblico que d condiesestruturais para as prticas e o pleno exerccio da Economia Solidria?

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    ANEXO I

    REGULAMENTO DA IIa CONFERNCIA NACIONAL DE ECONOMIA SOLIDRIA

    CAPITULO IDOS OBJETIVOS

    Art. 1 A 2 Conferncia Nacional de Economia Solidria convocada pela Resoluo n 01, em 30 dedezembro de 2009, ser realizada de 16 a 18 de junho de 2010 e ter por finalidades:I - Realizar um balano sobre os avanos, limites e desafios da Economia Solidria e das Polticas Pblicasde Economia Solidria no atual contexto socioeconmico, poltico, cultural e ambiental nacional einternacional.II - Avanar no reconhecimento do direito a formas de organizao econmica baseadas no trabalhoassociado, na propriedade coletiva, na cooperao, na autogesto, na sustentabilidade e na solidariedade.III - Propor prioridades, estratgias e instrumentos efetivos de polticas pblicas e programas de economiasolidria, com participao e controle social.IV - Promover o conhecimento mtuo e a articulao dos Poderes Pblicos, das organizaes e sujeitos queconstroem a Economia Solidria.

    CAPTULO IIDA REALIZAO

    Art. 2 - A 2 Conferncia Nacional de Economia Solidria, que ser integrada por representantes,democraticamente escolhidos na forma prevista neste Regulamento Geral, tem abrangncia nacional e,conseqentemente, suas anlises, formulaes e proposies tero essa dimenso. 1 - A 2 Conferncia Nacional de Economia Solidria tratar dos temas prioritrios em mbito nacional,considerando os debates e propostas consolidadas nas Conferncias Estaduais. 2 - Todos os (as) participantes com direito a voz e voto presentes 2 Conferncia Nacional de EconomiaSolidria, devem reconhecer a precedncia das questes de mbito nacional e atuar sobre elas, avaliando-as,formulando propostas e deliberando sobre as mesmas.

    Art. 3 - A realizao da 2 Conferncia Nacional de Economia Solidria ser antecedida por etapaspreparatrias.

    Art. 4 - A 2 Conferncia Nacional de Economia Solidria ser realizada conforme Cronograma constanteno Anexo II deste Regulamento Geral. 1 - A no realizao das Conferncias Estaduais, em algumas unidades federadas, no constituirimpedimento realizao da 2 Conferncia Nacional na data prevista. 2 - A 2 Conferncia Nacional ser realizada em Braslia. As demais Conferncias sero realizadas em

    locais e com recursos definidos nas respectivas esferas.

    CAPTULO IIIDO TEMRIO

    Art. 5 - A 2 Conferncia Nacional de Economia Solidria ter como Tema: o direito s formas deorganizao econmica baseadas no trabalho associado, na propriedade coletiva, na cooperao e naautogesto, reafirmando a Economia Solidria como estratgia e poltica de desenvolvimento. 1 - A 2 Conferncia Nacional de Economia Solidria ter como Lema: Pelo direito de produzir e viverem cooperao de maneira sustentvel. 2 - O tema da 2 Conferncia Nacional de Economia Solidria dever ser desenvolvido de modo a articulare integrar as diferentes polticas pblicas que abrangem a economia solidria, garantindo a abordagem a

    partir dos seguintes eixos:

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    I - Balano dos avanos, limites e desafios da Economia Solidria e das Polticas Pblicas de EconomiaSolidria no atual contexto socioeconmico, poltico, cultural e ambiental nacional e internacional.II - Direito a formas de organizao econmica baseadas no trabalho associado, na propriedade coletiva, nacooperao, na autogesto, na sustentabilidade e na solidariedade, como modelo de desenvolvimento.III - Prioridades, estratgias e instrumentos efetivos de atuao e de organizao de Polticas e Programas daEconomia Solidria

    Art. 6 - A Comisso Organizadora Nacional promover a elaborao de um Documento-Base que subsidiaras discusses da 2 Conferncia Nacional de Economia Solidria.Pargrafo nico A Comisso Organizadora Nacional, sistematizar o Relatrio Final e os Anais da 2Conferncia Nacional de Economia Solidria, submetendo-o ao Plenrio do Conselho de EconomiaSolidria, que promover a sua publicao e divulgao e seu encaminhamento a Presidncia da Repblica eao Congresso Nacional.

    Art. 7 - Na 2 Conferncia sero realizadas as seguintes atividades: painis, discusso em grupos temticos eplenrias, podendo haver tambm conferncias e exposies. 1 - Os Painis trataro dos grandes temas da Conferncia e contaro com a participao dos segmentosque compem a II Conferncia. 2 - Os Grupos temticos sero responsveis pela discusso dos temas, aprofundando elementos centraistratados nos Painis. Os trabalhos em grupo contaro com um coordenador e um relator que ser escolhidopelo prprio grupo. A Comisso Organizadora disponibilizar um facilitador ou pessoa de apoio para cadagrupo, junto ao coordenador e relator. 3 - Os grupos temticos sero constitudos por, no mximo, 50 participantes. Por ocasio da inscriodos delegados (as) estes indicaro dois temas de sua preferncia, que servir de base para a formao dosgrupos. 4 - As Plenrias constituiro os momentos socializao do trabalho dos grupos temticos e dasdeliberaes relativas a proposies sobre o Documento-Base, apresentao e deliberao de moes e deoutros encaminhamentos que constaro no Relatrio Final da Conferncia.

    CAPTULO IVDA ORGANIZAO E FUNCIONAMENTO

    Art. 8 - A 2 Conferncia Nacional de Economia Solidria ser presidida pelo Presidente do ConselhoNacional de Economia Solidria e na sua ausncia ou impedimento eventual, pelo Secretrio da SecretariaNacional de Economia Solidria.

    Art. 9 - A coordenao da Conferncia compete Comisso Organizadora Nacional que ter as seguintesatribuies:I - Coordenar, supervisionar, e promover a realizao da 2 Conferncia Nacional de Economia Solidria,atendendo aos aspectos tcnicos, polticos e administrativos;II - Zelar pelo cumprimento deste Regulamento Geral da Conferncia e do regimento da Plenria;

    III - Elaborar a proposta de temrio, programao e metodologia de sistematizao;IV - Promover a elaborao e aprovar a redao final do Documento-Base da ConfernciaV - Mobilizar e articular a participao dos Empreendimentos Econmicos Solidrio, suas organizaes,governos, parlamentares, organizaes da sociedade civil e movimentos sociais.VI - Promover estratgias de captao de recursos e viabilizao da infra-estrutura necessria para arealizao da Conferncia;VII - Elaborar proposta de divulgao e estratgia de comunicao;VIII - Validar as conferncias estaduais e temticas;IX - Organizar as atividades da Conferncia e definir o Regimento de funcionamento da Plenria;X - Designar facilitadores(as) e relatores(as);

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    Art. 10. A Comisso Organizadora Nacional ser formada por Conselheiros do comit Permanente doConselho Nacional de Economia Solidria e por representantes do Poder Pblico Federal, com a seguintecomposio:I - 01 (um) representante do Ministrio do Trabalho e Emprego;II - 01 (um) representante Rede de Gestores de Polticas Pblicas de Economia Solidria;III - 01 (um) representante Frum dos Secretrios Estaduais do Trabalho;IV - 01 (um) representante Critas Brasileira;V - 01 (um) representante Agncia de Desenvolvimento Solidrio da Central nica dos Trabalhadores -ADS/CUTVI - 01 (um) representante Rede Rede de Incubadoras Tecnolgicas de Cooperativas Populares - ITCP'sVII - 01 (um) representante Associao Nacional de Cooperativas de Crdito e Economia Solidria ANCOSOL;

    VIII - 01 (um) representante Unio Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidria -UNICAFES;

    IX - 01 (um) representante Unio e Solidariedade das Cooperativas e Empreendimentos de Economia Socialdo Brasil - UNISOL;X - 01 (um) representante Associao Nacional de Trabalhadores de Empresas de Autogesto - ANTEAG;XI - 03 (trs) representantes Empreendimentos do Frum Brasileiro de Economia Solidria- FBESXII - 01 (um) representante Secretaria Nacional de Economia SolidriaXIII - 01 (um) representante Secretaria Geral da Presidncia da RepblicaXIV - 01 (um) representante Ministrio da FazendaXV - 01 (um) representante Grupo de Trabalho da Amaznia - GTA;XVI - 01 (um) representante Fundao Interuniversitria de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho -UNITRABALHO;

    XVII - 01 (um) representante Articulao do Semirido - ASA;XVIII - 06 (seis) representantes do poder pblico federal, sendo:a) 01 (um) representante Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome MDSb) 01 (um) representante do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio MDAc) 01 (um) representante do Ministrio da Cincia e Tecnologia MCT

    d) 01 (um) representante da Secretaria Especial de Polticas de Promoo da Igualdade Racial SEPPIR;e) 01 (um) representante do Ministrio da Pesca e Aqicultura MPA; ef) 01 (um) representante da Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres SPM.Pargrafo nico - A Comisso Organizadora Nacional da 2 Conferncia Nacional de Economia Solidriacontar com o apoio operacional e a coordenao geral exercida pela Secretaria Nacional de EconomiaSolidria do Ministrio do Trabalho e Emprego.

    Art. 11 Para auxiliar na realizao de suas atribuies a Comisso Organizadora constituir as seguintessub-comisses:I - Sub-comisso ExecutivaII - Sub-comisso de mobilizao, articulao e comunicaoIII - Sub-comisso de finanas e infra-estrutura

    IV - Sub-comisso temtica e de sistematizaoPargrafo nico - A Comisso Organizadora Nacional da 2 Conferncia Nacional de Economia Solidriapoder convidar pessoas a participarem das sub-comisses, contribuindo para a execuo das suasatribuies.

    CAPTULO VDOS PARTICIPANTES

    Art. 12 - A 2 Conferncia Nacional de Economia Solidria, em suas diversas etapas, dever ter aparticipao dos seguintes segmentos:I - Segmento I Representantes do Poder Pblico (Federal, estadual, municipal e Distrito Federal): gestores,administradores pblicos, poder legislativo, poder judicirio;

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    II - Segmento II Organizaes da sociedade civil: entidades de fomento e apoio a economia solidria,outras organizaes da sociedade civil e movimentos sociais e populares; eIII - Segmento III Empreendimentos Econmicos Solidrios e suas organizaes de representao.

    Art. 13 - Na Conferncia Nacional de Economia Solidria os participantes se distribuiro em 2 categorias:I - Delegados(as) com direito a voz e voto;II - Convidados/as com direito a voz e sem direito a voto.Pargrafo nico - Os critrios para escolha dos(as) convidados(as) sero definidos pela ComissoOrganizadora Nacional.

    Art. 14 Sero delegados(as) 2 Conferncia Nacional de Economia Solidria:I - Os(as) participantes eleitos(as) nas Conferncias Estaduais;II Membros do Conselho Nacional de Economia Solidria e outros representantes do Governo Federal eEntidades Nacionais, definidos pela Comisso Organizadora Nacional. 1 A quantidade de delegados (as) por UF est definida no quadro do anexo I. 2 - A cada delegado titular eleito ser escolhido um suplente correspondente, que ser credenciado (a) naausncia do(a) titular. 3 - Para as vagas nacionais dos Segmentos II e III, a Comisso Organizadora dever considerar comocritrio:Organizaes nacionais representativas de segmentos econmicos da economia solidria e de comunidades epovos tradicionais.

    Art. 15 - A representao dos diversos segmentos na 2 Conferncia Nacional de Economia Solidria, deveter a seguinte proporcionalidade:Segmento I 25%Segmento II 25%Segmento III 50%Pargrafo nico A mesma proporcionalidade dever ser observada nas conferncias estaduais, nasconferncias preparatrias territoriais ou regionais e nas conferncias temticas.

    CAPTULO VIDOS RECURSOS FINANCEIROS

    Art. 16 - As despesas com a organizao geral para a realizao da 2 Conferncia Nacional de EconomiaSolidria correro por conta de recursos oramentrios prprios dos rgos pblicos envolvidos naorganizao da Conferncia.Pargrafo nico Para a execuo das atividades da 2 Conferncia sero aceitas doaes de outrasorganizaes pblicas ou privadas desde que comunicadas e validadas pela Comisso Organizadora Nacionalou pela Comisso Organizadora Estadual da respectiva UF onde ocorrer a doao.

    CAPTULO VII

    DAS CONFERNCIAS ESTADUAIS, PREPARATRIAS E TEMATICAS

    SEO IDas Conferncias EstaduaisArt 17 - A realizao das Conferncias Estaduais fator indispensvel para a participao de delegadosestaduais na 2 Conferncia Nacional de Economia Solidria.

    Art 18 Os participantes nas Conferncias Estadual na condio de delegados tero que ser necessariamenteeleitos nas Conferncias Territoriais e ou Regionais.Pargrafo nico: alm da proporcionalidade prevista no Art. 15, as Conferncias Estaduais devemconsiderar, na definio dos (as) delegados (as), a diversidade territorial e ou regional, a diversidade dasatividades econmicas solidrias e das formas de organizao, a diversidade de gnero e das populaes e

    comunidades tradicionais.

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    Art 19 - Para a realizao das Conferncias Estaduais, devero ser constitudas Comisses Organizadorascom a participao de representantes de todos os segmentos, que compem a Conferncia.

    Art 20 A Comisso Organizadora da Conferncia Estadual preferencialmente ser designada pelorespectivo Conselho Estadual de Economia Solidria e na ausncia deste pela Instituio responsvel pelaConvocao da Conferncia em conjunto com o Frum Estadual de Economia Solidria e a SuperintendnciaRegional do Trabalho e Emprego (SRTE).

    Art 21 So atribuies da Comisso Organizadora Estadual:Definir Regimento Estadual contendo os critrios de participao na Conferncia Estadual, para a eleio dedelegados, para a realizao das Conferncias Territoriais ou Regionais de acordo com as peculiaridades doEstado respeitadas as diretrizes e as definies e cronograma deste regulamento, especialmente aquelasrelativas aos participantes e sua proporcionalidade,Escolher, dentre seus membros, sua coordenao;Definir e organizar sub-comisses de trabalho para auxiliar suas atividade;Organizar as atividades e definir regimento da PlenriaSistematizar os Relatrios das Conferncias Territoriais ou Regionais;Enviar lista dos (as) delegados(as) titulares e suplentes para a Coordenao Nacional da Conferncia;Enviar todas as contribuies e decises da Conferncia Estadual quanto ao Documento-Base.Definir e validar a realizao das Conferncias Territoriais ou Regionais Conferncia Estadual.Definir os(as) critrios e proporcionalidade dos participantes da Conferncia Estadual que sero escolhidosnas conferncias territoriais ou regionais, levando em considerao o nmero de votantes naquelasconferncias territoriais ou regionais.

    Art 22 - O Executivo Estadual ter a prerrogativa de convocar a Conferncia Estadual, atravs de atopublicado em Dirio Oficial. 1 - Na existncia do Conselho Estadual de Economia Solidria, que tenha entre suas atribuies aConvocao de Conferncias, cabe ao mesmo faz-lo.

    2 - Se o Executivo e o Conselho Estadual de Economia Solidria no convocarem at o prazoestabelecido, a Superintendncia Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) em conjunto com o FrumEstadual de Economia Solidria e representaes dos demais segmentos, poder convoc-la atravs deveculos de comunicao de ampla divulgao. 3 - A convocao das Conferncias estaduais dever ocorrer de acordo com o Cronograma constante noAnexo II. 4 - Em caso de existncia de dois editais de convocao ser validada a Conferncia cujo edital tenha sidopublicado com data anterior. 5 - Independente de quem far a convocao estadual a Conferncia dever ser Coordenada pela ComissoOrganizadora Estadual conforme previsto no Art. 18.

    Art 23 - As Conferncias Estaduais devem acontecer no perodo previsto no Cronograma constante no

    Anexo II.

    Art 24 As Conferncias E