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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL “A INFLUÊNCIA DA AFETIVIDADE DO PROFESSOR NA SUPERAÇÃO DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM”. Aluna: Elaine Guarnieri de Medeiros Orientadora: Profª. Maria da Conceição Maggioni Poppe SALVADOR 2008 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Ensino Fundamental I, minha ex-aluna, que me permitiu constatar que sempre estive no caminho certo, quanto ao poder do afeto para

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL

“A INFLUÊNCIA DA AFETIVIDADE DO PROFESSOR NA

SUPERAÇÃO DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM”.

Aluna: Elaine Guarnieri de Medeiros

Orientadora: Profª. Maria da Conceição Maggioni Poppe

SALVADOR

2008

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ELAINE GUARNIERI DE MEDEIROS

PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL

“A INFLUÊNCIA DA AFETIVIDADE DO PROFESSOR NA

SUPERAÇÃO DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM”.

Monografia apresentada para

obtenção do título de especialista,

no curso de Pós-Graduação

“Lato Sensu”

em

Psicopedagogia Institucional.

SALVADOR

2008

AGRADECIMENTOS

Quando nos propusemos a fazer um determinado trabalho pela primei-

ra vez tudo se torna uma dúvida: como, onde, por que, de qual maneira, enfim

tantas outras perguntas passam a fazer parte dos nossos dias e das nossas

noites. Felizmente para a realização deste estudo eu pude contar com uma

pessoa com capacidade e sobrenatural paciência para responder a todas estas

perguntas e muitas outras. Por isso eu gostaria de agradecer em primeiro lugar

a profª. Maria da Conceição Maggioni Poppe. pelo apoio e prestimosa ajuda na

elaboração deste estudo.

Agradeço à minha família que soube compreender a minha ausência

do seu aconchego durante muitas horas para que este trabalho pudesse ser

concluído.

Às professoras do Colégio Seu Amado, minhas grandes companheiras

de trabalho, pela contribuição com suas vivências e experiências em sala de

aula e em especial à professora Raianne Larissa, professora da 1ª série, do

Ensino Fundamental I, minha ex-aluna, que me permitiu constatar que sempre

estive no caminho certo, quanto ao poder do afeto para as conquistas acadê-

micas e superação das dificuldades, pois, via na sua práxis uma repetição de

minha crença, razão pela qual, divido com ela meu sucesso.

A todas as pessoas que de uma forma ou outra contribuíram para a

realização deste trabalho.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os meus alunos que,

durante estes 30 anos de exercício da arte de educar

ensinaram-me que o amor, o respeito à compreensão.

e o carinho são atributos indispensáveis ao ensino- a-

prendizagem.

“De uma maneira geral, os brinquedos documentam como o adul-

to se coloca com relação ao mundo da criança”.

Walter Benjamin

RESUMO

O presente trabalho trata da relevância da afetividade do professor

com o aluno no processo de ensino e aprendizagem, e sua importância para o

crescimento cognitivo, emocional, psicológico do aluno, tendo em vista que a

confiabilidade, a segurança, e o apoio, estabelecidos neste dado momento,

trará reflexos psicológicos significativos e influenciará não só as atitudes do

aluno na sala.

Arriscaríamos a afirmar que uma relação amistosa, pautada na trans-

parência, no amor, no elogio, no estímulo, na observação e respeito às diferen-

ças individuais certamente norteará a conduta do educando na vida pessoal e

social.

Observamos que, muitas das vezes, na sala de aula, alguns professo-

res, ainda têm dado muita ênfase aos conteúdos escolares esquecendo-se de

que, ali estão seres humanos em busca de um espaço ou um olhar que possi-

bilite a construção de uma aprendizagem.

O trabalho trata de uma avaliação diagnóstica, mais especificamente

numa escola de educação fundamental Ι·, por acreditarmos que, este período

da vida escolar, constitui em uma das fases de maior importância na formação

do indivíduo. A análise indaga questões e reflexões sobre o funcionamento da

aprendizagem da instituição, levando em consideração o olhar psicopedagógi-

co e a visão sistêmica.

Palavras-chave: Aprendizagem, Afeto, Respeito às diferenças,

Autonomia, Educação Fundamental e Psicopedagogia

METODOLOGIA

Foi desenvolvida uma pesquisa de campo, com enfoque psicopeda-

gógico, que buscou investigar o significado da afetividade na prática docente

dos professores do ensino fundamental I, e especialmente em determinar como

o afeto está envolvido no processo de ensino-aprendizagem, a partir de relatos

desses professores.

Participaram da pesquisa oito professores de primeira a quarta série

de uma escola particular, com idades que variam de 24 a 40anos.

O método utilizado foi uma entrevista semi-aberta, sendo que os dados

obtidos foram submetidos à análise de conteúdo consoante proposta de Bardin.

A instituição escolhida foi o Colégio Seu Amado, localizado à Rua do Facheiro,

578, distrito de Pilar, no município de Jaguarari/BA.

Os resultados demonstram que todos os professores entrevistados preo-

cupam-se com o lado afetivo de seus alunos, percebendo a afetividade como

um fator fundamental no processo de ensino-aprendizagem, capaz mesmo de

motivar os alunos e promover mudanças de atitudes face aos obstáculos, difi-

culdades de aprendizagem, pois, acreditam em no seu potencial de superação.

SUMÁRIO

RESUMO

METODOLOGIA

INTRODUÇÃO

Capítulo ΙΙΙΙ-A Escola e o desenvolvimento do ser humano.............14

Capítulo ΙΙΙΙΙΙΙΙ- Afetividade do professor em sala de aula ..................20

2.1-A Importância do auto-conceito para o ser humano e a sua Influência

na construção do saber.....................................................................................24

Capítulo ΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙ- A Afetividade no Ambiente Escolar........................27

Capítulo ΙΙΙΙV-A participação da família no processo ensino-

aprendizagem.................................................................................31

Capítulo V- A visão psicanalítica sobre a afetividade

pedagógica.....................................................................................38

5.1- A relevância do olhar do Psicopedagogo Institucional na

Escola.............................................................................................................. 40

Capítulo VΙΙΙΙ- Pesquisa de Campo.................................................47

6.1—Método.....................................................................................................47

6.2- Resultados e Discussão............................................................... .48

Conclusão.......................................................................................50

Referências Bibliográficas.............................................................. 54

ANEXO............................................................................................................ 58

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo refletir sobre a importância de uma

tomada de consciência da importância do estabelecimento de uma relação afe-

tiva entre professor e aluno objetivando possibilitar ao educando, um desenvol-

vimento afetivo sadio, que o leve à construção de uma personalidade autôno-

ma, atuando como sujeito de si mesmo.

No capítulo Ι·, trataremos da escola como um veículo de promoção

das relações afetivas, cognitivas e sociais, observando a relação afetiva entre

professor e aluno, considerando sua importância no processo ensino-

aprendizagem.

No capítulo ΙΙ, abordamos a importância da afetividade como agente

de promoção de uma aprendizagem efetiva e prazerosa, levando em conta que

se não houver uma relação afetiva entre professor e aluno, dificilmente haverá

uma aprendizagem completa e significativa.

O capítulo ΙΙΙ········· trata da afetividade no ambiente escolar e da im-

portância de um olhar atento do professor em reconhecer, em cada aluno, os

talentos, potencialidades, dons e respeito a sua historia individual.

O capítulo ΙV, diz da importância de uma parceria entre escola e famí-

lia visando não somente a aprendizagem acadêmica, mas, uma postura única

em se tratar questões cotidianas. Para a inserção do aluno no mundo é funda-

mental que pais e professores assumam seus papéis em prol do crescimento e

socialização da criança.

O capítulo V aborda a visão psicanalítica sobre a afetividade pedagó-

gica e reflete de que maneira o psicopedagogo institucional, poderá contribuir

para o fortalecimento das relações diárias entre alunos, professores, em prol de

um desenvolvimento do aluno através de uma relação amparada no respeito,

delimitação de limites e um aprendizado eficiente.

O capítulo VΙ dedica-se a refletir e analisar a pesquisa de campo sob

um olhar psicopedagógico na tentativa de demonstrar que nos dias de hoje,

não cabe mais um olhar apenas conteudista, tendo em vista que o educando,

na atualidade, vê-se rodeado de informações e precisa ser estimulado a refletir

o seu papel na sociedade. O ensino-aprendizagem deverá estar alicerçado

numa proposta pedagógica dinâmica, afetiva, crítica capaz de evidenciar a im-

portância de cada um de seus alunos, na construção de um mundo mais justo,

igualitário e feliz.

Capítulo ΙΙΙΙ- A Escola e o desenvolvimento do ser

humano:

A educação tem como objetivo a preparação do educando para o e-

xercício da cidadania; diz-nos a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDBEN 9394/96, Art. 2º, P. 5). Porém, as relações interpessoais na

educação, principalmente a relação professor/aluno, têm produzido indivíduos

com baixa auto-estima, sem consciência de si mesmos e de suas capacidades.

Por isso, é preciso que se reconsiderem algumas posturas adotadas pelo pro-

fessor, bloqueadoras da aprendizagem do aluno.

A escola de hoje tem proporcionado, na maioria das vezes, um ensino

baseado na transmissão-recepção-memorização de conteúdos que não têm

significado nenhum para os alunos.

Os professores esquecem que o estreitamento dos laços afetivos com

e entre os alunos é muito importante, pois dependendo da relação afetiva entre

o professor e os alunos, ocorre um desenvolvimento de sentimentos de inte-

resse com relação à escola e ao ensino.

Segundo Dewey (1978), "Educação é vida", assentando a relação pe-

dagógica, de fato, no solo do caminhar humano, palmilhado de dúvidas e incer-

tezas, emoções e sentimentos. A sala de aula é um espaço de vida, de inter-

comunicação de troca de afeto. Há uma valorização exacerbada do conheci-

mento, e em nome da ciência criam-se imensos castelos de conceitos, tão dis-

tantes das existências, que passam a prescindir dela.

A educação é o amor em forma de arte. “Amor = sentimento que pre-

dispõe alguém a desejar o bem de outrem. Sentimento de dedicação absoluta

de um ser a outro, ou a uma coisa. Afeição, amizade, simpatia. Inclinação se-

xual forte por outra pessoa”. (Dicionário Prático da Língua Portuguesa - Auré-

lio).

Paralelamente aos fatores educacionais, as relações de afetividade

entre o professor e a direção da escola, companheiros de trabalho e com os

alunos são fatores que merecem destaque, pois esses relacionamentos trarão

reflexos psicológicos importantes e influenciarão a atitude e o desempenho pro-

fissional dos professores.

Segundo Kincheloe (1997):

“quando os professores se unem com seus alunos e mem-

bros da comunidade na tentativa de fazer sérias questões sobre o

que é ensinado e o que deveria constituir os objetivos de uma escola,

não somente auto-reflexão crítica é promovida, como os grupos de

tomada de decisão também se tornam uma realidade”.

Todos os processos de aprendizagem têm uma característica comum:

são processos psicológicos internos do aprendiz e, portanto, somente observá-

veis a partir de suas conseqüências. Quem aprende é o aluno; o que o profes-

sor pode fazer é facilitar mais ou menos sua aprendizagem. Como? Criando

determinadas condições favoráveis para que se ponham em marcha os pro-

cessos de aprendizagem adequados (Pozo, 2002).

É evidente que, se o professor não tiver um ambiente emocional ade-

quado para lecionar, com condições favoráveis para o trabalho, o aluno ficará

prejudicado.

A escola tem como função, levar o aluno a adquirir conhecimentos sis-

tematizados, porém levando-se em conta o contexto social de hoje, a escola

acaba assumindo também a responsabilidade de desenvolver habilidades soci-

ais, que antes eram apenas de responsabilidade da família. Fica claro, dessa

forma, que a relação família-escola é importante no desenvolvimento sadio do

indivíduo.

A educação tem como função principal, levar as crianças a desenvol-

verem suas habilidades naturais. Nas primeiras séries do ensino fundamen-

tal, a relação entre professor e aluno, carece de um clima de maior afetivida-

de, visto que, nessa fase de escolaridade, o aluno faz do ambiente escolar

uma extensão do lar, em busca de segurança e afeto. Entretanto, diante dos

problemas enfrentados pelos professores, já na Educação Infantil, fazemos

as seguintes indagações: Como anda a relação professor-aluno, na sala de

aula?

Nós, professores, estamos contribuindo para o desenvolvimento afeti-

vo-sadio de nossos alunos? Uma pedagogia, baseada no afeto, facilitaria o

processo ensino-aprendizagem? Essas indagações nos levam a refletir sobre

a relação afetiva entre professor e aluno, e as implicações desse afeto na a-

prendizagem (Márcio Ferrari, 2004).

Alguns professores acreditam que não dá para ensinar pensando ape-

nas na cabeça do aluno, pois o coração também é importante, no contexto atu-

al, é necessário que a escola procure comprometer-se não apenas com o de-

senvolvimento cognitivo do educando, mas principalmente com seu desenvol-

vimento sócio-emocional (Mello, 2004).

A vida sem os conceitos estipulados pelo homem possibilita que as

pessoas simples desfrutem os saberes, tocando a existência pelos caminhos

do mundo. As crianças vão para a escola como passarinhos, alegres e falantes

e lá encontram um mundo fechado onde predominam conceitos, fórmulas, pro-

vas, e a transmissão fria de verdades incontestáveis. Esses conteúdos científi-

cos que valem por si mesmos apresentam-se como conhecimentos, por isso

devem ser aprendidos, independentemente do interesse dos alunos. Porém, na

prática, os conhecimentos valem se resolverem problemas se forem úteis, se

tiverem sido transformados em conhecimento para o aluno. Em outras pala-

vras, o aluno aprende se a aprendizagem for significativa para ele. Para isso, o

professor deve adotar uma prática humanitária, levando em conta as experiên-

cias cotidianas do aluno, os diálogos travados, estabelecer laços de afetivida-

de, pois, está lidando com pessoas. “Os desejos e sentimentos são manifesta-

ções da vida afetiva – um papel fundamental no processo de desenvolvimento

humano”. Quando nasce uma criança, todo contato estabelecido com as pes-

soas que cuidam dela são feitos via emoção. Entende-se por emoção formas

corporais de expressar o estado de espírito das pessoas, manifestações físi-

cas, alterações orgânicas, como choro, alegria etc. (Wallon, citado por Galvão,

1995).

A razão nasce da emoção e vive de sua morte. Quando a criança nas-

ce, a emoção predomina conforme ela vai desenvolvendo-se, as emoções vão

sendo subordinadas ao controle das funções psíquicas superiores, da razão. E

pelo resto da vida, razão e emoção vão se alternando, numa relação de filiação

e ao mesmo tempo de oposição (Dantas H, 1990).

Piaget (1985) em sua teoria diz que o desenvolvimento da inteligência

é considerado como tendo dois componentes: um afetivo e outro cognitivo. O

desenvolvimento afetivo está em paralelo com o cognitivo e tem uma profunda

influência sobre o desenvolvimento intelectual. A afetividade inclui interesses,

sentimentos, desejos, valores, tendências e emoções em geral.

Na afetividade temos várias dimensões, incluindo os sentimentos sub-

jetivos (amor, raiva, depressão) e os aspectos expressivos (sorrisos, gritos,

lágrimas). Na visão de Piaget, o afeto se desenvolve no mesmo sentido que a

cognição ou inteligência e é responsável pela ativação da atividade intelectual.

Sendo assim, a educação deve criar um ambiente estimulante e feliz, atenden-

do às necessidades afetivas dos alunos, que se tornarão mais satisfeitas con-

sigo mesmo e com os outros, e terão mais facilidade e disposição para apren-

der.

O aluno sente-se amado quando recebe atenção, ouve palavras de es-

tímulo, recebe elogios quando obtém êxito em alguma atividade, demonstra-se

afeição por ele. Amor, felicidade e segurança são os ingredientes que fornecem

um mapa para a orientação dos alunos numa estrada que é bem sinuosa, mas

também muitos quilômetros de belas paisagens.

Educar não é fácil, são muitas as dificuldades e frustrações, porém,

também, êxitos e alegrias. É preciso ter um foco para a questão de educar com

amor. E isso nos leva a um elemento fundamental: os laços afetivos. Os alunos

precisam se desenvolver pelo menos tão aptos à interdependência quanto à

independência. Eles terão que trabalhar em equipes e grupos. Entretanto, o

trabalho com grupos deve ser bem orientado, já que o aluno necessita ser acei-

to pelo grupo e o grupo pode pressioná-lo a tomar atitudes, como, por exemplo,

consumir para adequar-se aos padrões e isso deixará em sua vida um vazio

emocional e talvez espiritual.

As escolas, muitas vezes, não são capazes de fazer tanto pelos alunos

quanto gostariam, ou quanto eles necessitariam, mas equilibrando amor, bom

humor, segurança e laços afetivos, pode auxiliar o jovem no processo de sua

formação integral. Desse modo, os relacionamentos afetivos devem formar a

base da vida escolar e da cooperação. Sem isso, a escola fica apenas com os

conhecimentos e práticas punitivas para controlar os adolescentes. Além disso,

as emoções afetam o que fazemos e o que queremos fazer. Emoções positivas

são essenciais para o desenvolvimento saudável de uma criança/ adolescente.

Entretanto, não se deve confundir uma relação pedagógica baseada no afeto

com permissividade. Firmeza é uma característica que deve estar presente na

relação pedagógica. Ao falar de firmeza, não se faz referência a restrições, e

sim, ao foco e direção, e ao estabelecimento de limites. O aluno precisa ter li-

mites para se sentir seguro. Estabelecer metas e resolver problemas ajuda a

manter os alunos no seu rumo e transforma boas idéias em ações construtivas.

Cabe à escola ajudar os alunos a acreditar em si próprios. O que cada um pen-

sa sobre si mesmo é mais importante do que o que se sabe.

Souza, 2002, diz que:

“Os sentimentos precisam existir no ambiente escolar e são

importantes. Os educadores devem ter o conhecimento de que todos

aprendem melhor quando estão satisfeitos. O aluno que se sente a-

mado, aceito, valorizado e respeitado, "adquire autonomia, confiança e

aprende a amar, desenvolvendo um sentimento de auto-valorização e

importância". A auto-estima é uma coisa que se aprende. Se o aluno

tem uma opinião positiva sobre si mesmo e sobre os outros, terá maio-

res condições para aprender”.

Observa-se que o objetivo principal é evidenciar a afetividade como

pressuposto básico para a aprendizagem e a sua eficácia na prevenção das

dificuldades de aprendizagem. Destacando-se ainda que os educadores, den-

tro de uma visão da Psicologia e da Pedagogia, devem entender tanto da di-

nâmica das relações humanas tanto quanto de conteúdos programáticos e me-

todologias de ensino. Pois, os conflitos na dinâmica afetiva contribuem para a

construção ou sedimentação de diversos problemas psicológicos.

E ainda procurar-se a apresentar uma postura de como o professor

deve agir em sala, trabalhando o desenvolvimento das relações afetivas, as

emoções, a auto-estima do aluno, prevenindo desta forma os principais pro-

blemas emocionais que influenciam a aprendizagem.

Capítulo ΙΙΙΙΙΙΙΙ-. Afetividade do professor em sala de aula

A afetividade é um aspecto importante que deve ser considerado no

processo de aprendizagem.

Na prática pedagógica, podem surgir entre professor e aluno, senti-

mentos de atração ou de repulsão. Essas atitudes sentimentais têm o poder de

influenciar a metodologia com risco de alterá-la, provocando no aluno, rudes

transformações afetivas desfavoráveis ou não ao ensino (Marchand, 1985).

O professor tem um poder que é maior que o do livro, e a sua qualida-

de do diálogo estabelecida com o aluno é importante para uni-los, criando um

laço especial, ou para separá-los, criando obstáculos intransponíveis (Mar-

chand, 1985).

O professor desenvolve muitos conhecimentos que incorporam ao tra-

balhar com um grupo de crianças, como elementos de diferentes domínios de

sua vida. Por meio da observação, o professor pode verificar dados não ape-

nas do aspecto cognitivo - as dificuldades e as possibilidades de cada um -

mas também dos aspectos afetivo e psicomotor. Educar com amor requer do

professor habilidade para lidar com o ser humano e com os seus sentimentos.

Segundo Codo e Gazzotti (2002):

“Lecionar é o melhor trabalho que pode existir, pois é ele quem contro-

la o processo produtivo, tem liberdade de criação e ação, além de ordenar tipos

e seqüência de atividades. É também um trabalho dos mais delicados porque

necessita de um investimento afetivo na relação professor-aluno, principalmen-

te por parte do educador, a afetividade não deve ser esquecida, pois ela é um

fator essencial nesse processo, visto que, funciona como elo de sedução entre

educando e educador.”.

O objetivo do trabalho do educador é a aprendizagem do aluno,

e sabemos que alguns fatores são importantes para que ocorra essa aprendi-

zagem, tais como: conhecimentos e capacidade de transmitir conteúdos, por

parte do educador; capacidade intelectual e vontade de aprender, por parte do

aluno; apoio dos pais nas atividades extraclasse e outros. Portanto, é a afetivi-

dade o grande estimulante na efetivação do conhecimento.

Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de

discriminação. É necessário desmistificar a imagem do professor ou professora

como alguém que tem tudo sob controle e executa conscientemente cada pas-

so do seu trabalho. Assim, na busca de uma educação com amor cabe uma

percepção mais ampla do universo da sala de aula, onde, afinal, se processa a

essência do trabalho docente.

Quando o professor está disposto a ensinar com amor e o aluno a a-

prender, vai se formando uma corrente afetiva que facilita uma troca entre am-

bos, onde a motivação, a boa vontade e o cumprimento dos deveres acabam

deixando de ser tarefas árduas para o aluno. Interesse e disposição para escla-

recer dúvidas e criatividade, funcionam como estímulo para o professor.

Existe um acordo entre professor e aluno, que acaba se transformando

em um jogo sedutor, onde o professor conquista a atenção do aluno e desperta

seu interesse para o conhecimento que pretende abordar. O processo ensino-

aprendizagem ocorre mediante o estabelecimento de vínculos afetivos, ou seja,

uma “sedução”, carregada de energia afetiva que o professor transmite seus

conteúdos escolares e o aluno os apreende. A palavra “seduzir” está definida

como “trazer para o seu lado” significando que o professor precisa fazer um

trabalho de conquista, levando o aluno confiar nele, a acreditar que determina-

do conteúdo lhe será útil. Isto é sedução e afetividade (Codo e Gazzotti, 2002).

Se não houver uma relação afetiva entre professor e aluno, é difícil a-

creditar que o ato de educar tenha sucesso completo. Ou seja, pode até haver

algum tipo de fixação de conteúdo, mas não será uma aprendizagem significa-

tiva, nada que prepare esse indivíduo para uma vida futura deixando, lacunas

no processo de ensino-aprendizagem.

Não existe educação sem amor. “Ama-se na medida em que se busca

comunicação, integração a partir da comunicação com os demais”. O professor

precisa estar aberto ao gosto de querer bem. Isso não quer dizer que o profes-

sor tenha de querer bem a todos os alunos da mesma forma, mas que ele não

deve permitir que sua afetividade interfira no cumprimento do seu dever de e-

ducador. Abertura ao querer bem significa disponibilidade para a alegria, para o

afeto, para o Amor (Freire, 1983).

Na sala de aula deve haver atividades práticas voltadas para o apren-

dizado da convivência (sociabilidade, ética, solidariedade, cidadania), dando

uma assistência ao aluno entendida como o estabelecimento de relações de

qualidade entre educadores e educandos, baseadas na abertura e na recipro-

cidade, de modo a propiciar o desenvolvimento da identidade, da auto-estima,

do auto-conceito, da auto-confiança, da auto-determinação e do projeto de vida

(aprender a ser).

Segundo Perrenoud (1993),

“Na sala de aula precisa haver improvisos, pois a multiplicidade

de interações simultâneas e desconexas, a multidão de pequenas deci-

sões a serem tomadas rapidamente, sem reflexão, conclui-se que "tra-

balhamos com nossas emoções, nossa cultura, nossos gostos e desgos-

tos, nossos preconceitos, nossas angústias e desejos, nossos fantas-

mas de poder ou de imperfeições e, finalmente nossas entranhas".

Esse autor enfatiza que a ação docente é um trabalho com pessoas,

desse modo, o professor precisa desenvolver aptidões para um relacionamento

mais eficiente para com seus alunos. Para tanto, é importante comunicar-se

mais eficazmente, isto é: "como ouvir, como dialogar, como informar, como

avaliar, como dialogar, como disciplinar" (Minicucci, 2002).

A afetividade ou a falta do afeto no processo de aprendizagem definirá

se a sala de aula funcionará como espaço de verdadeira aprendizagem ou co-

mo espaço apenas para passar o tempo e concluir os níveis educacionais.

Segundo Alicia Fernández, psicopedagoga argentina, em entrevista

dada à revista Aprende Brasil (junho/julho 2007, p.14-17), atenta para a neces-

sidade de fazer do afeto uma das ferramentas no ato de educar.

A inclusão ou não do afeto no processo educativo definirá se a sala de

aula funcionará como espaço de verdadeira aprendizagem ou como espaço

apenas para passar o tempo e concluir os níveis educacionais.

Ter boas notas não significa que o aluno aprendeu de forma efetiva,

pois isso só acontece quando o aluno é realmente afetado pela escola que o

leva à transformação pessoal, tornando-o capaz de participar da transformação

do mundo e evoluindo como ser humano.

O papel do professor é fundamental no desenvolvimento do aluno.

Pois, ele é a única pessoa que pode reconhecer esse aluno como ser dotado

de sonhos, desejos e muita vontade de mudar a história de sua existência. Tra-

tar o aluno com amor não significa tratá-lo com beijos, abraços ou procurando

agradá-lo, significa apenas que devemos acordar e tomar atitudes que nos leve

a sair de nossa indiferença, porque essa “indiferença” é justamente a falta de

afetividade. Não podemos mais fazer de conta que não sentimos nada diante

do que acontece a nossa volta, que toda essa violência e falta de objetivos não

nos atinge. A capacidade de sentir nos torna seres privilegiados e com capaci-

dade de transformar o mundo a nossa volta.

Em um ambiente escolar onde a afeto é levado a sério, com certeza

formará indivíduos com condições para lidar com seus sentimentos o que con-

tribuirá para um mundo menos agressivo. Para que isso aconteça, é preciso

que haja uma relação de respeito e cumplicidade entre professor e aluno. E

isso só será possível se houver autoridade por parte do professor. E autoridade

é ter a capacidade de fazer algo, de criar algo. Muitos professores acham que

autoridade deve estar atrelada à obediência. Porém, não. Autoridade está atre-

lada à responsabilidade.

O professor precisa ser responsável. Se conseguir reconhecer a impor-

tância do que pensam seus alunos; se conseguir ouvir um pouco da história de

sua vida, até das dores que trazem de casa, terão autoridade, porque todo ser

humano que se sente escutado e acolhido consegue respeitar regras. Portanto,

afeto e autoridade são palavras que devem estar presentes na relação profes-

sor e aluno.

1.1 – A Importância Do Auto-Conceito Para O Ser Humano E A Sua

Influência Na Construção Do Saber.

É freqüente a utilização indiscriminada dos termos auto-conceito e au-

to-estima em nosso cotidiano. Talvez não seja necessária, nem exista, uma

distinção tão clara de ambos, mas é possível dizer que a palavra estima refere-

se ao grau em que valorizamos algo, portanto, auto-estima é o valor que da-

mos ao que pensamos sobre nós próprios.

Nosso auto-conceito provém da resposta a duas perguntas: “Que tipo

de pessoa eu sou?” e “Que evidências eu tenho disso?” A evidência é o que

sentimos no mundo a nosso redor. É o que vemos, ouvimos, sentimos, cheira-

mos e degustamos sobre nós mesmos.

Então atribuímos significado à evidência sob a forma de atributos, qua-

lidades ou características. A soma de tudo e o significado que atribuímos à so-

ma é o nosso auto-conceito. Indivíduos diferentes referem diferentes atributos à

mesma evidência. Assim sendo, tem tudo a ver com a percepção pessoal deste

processo.

Burns (1986) afirma que:

“um amplo leque de designações (auto-imagem, auto-descrição,

auto-estima etc.) têm sido utilizado para referenciar a imagem que o in-

divíduo tem de si mesmo. Na opinião do autor, porém, tais termos são

designações excessivamente estáticas para uma estrutura dinâmica e

avaliativa do auto-conceito. Este, na sua perspectiva, engloba uma des-

crição individual de si própria (enquanto auto-imagem) e uma dimensão

avaliativa (auto-estima)”.

O auto-conceito é formado a partir das primeiras experiências infantis.

A criança percebe no olhar e na expressão dos pais que está sendo amada e

recebendo atenção, que aqueles que a cercam se preocupam e cuidam amo-

rosamente dela. Sentindo-se “merecedora” de atenções, cresce confiante de

que é amada e de que sua existência é importante para os que a cercam.

Pais e professores funcionam como “espelhos”, devolvendo certas i-

magens à criança. Isto inclui afeto e juízos de valor, demonstrados na interação

com ela. Nesta interação desenvolvemos nossos sentimentos, positiva ou ne-

gativamente, e construímos a auto-imagem. Aqueles que estão sempre opi-

nando a partir de uma perspectiva negativa para a criança, taxando-a de inútil e

incapaz ou usando de zombarias e ironias, contribuem para a formação de uma

imagem “pequena” de seu valor. Se as mesmas relações repetem-se no “grupo

de pares”, na rua e na escola, teremos uma pessoa com auto-conceito baixo e

sentimentos de auto-avaliação prejudicado.

Ao contrário, interações afetuosas e estimulantes com “adultos signifi-

cativos” fazem com que a criança, mesmo não sendo tão bonita e inteligente

como as outras, sinta-se segura e tente usar todo seu potencial para manter

intacto o auto-conceito conquistado. Essa criança pode comportar-se de modo

mais positivo e render mais nos estudos do que outras que não foram devida-

mente valorizadas pela família. Tais comportamentos tendem a se repetir por

toda a vida escolar.

Isto não significa que as pessoas que não recebem este tipo de aten-

ção não possam encontrar, no convívio social, oportunidades de viverem expe-

riências que supram o que lhes faltou anteriormente.

Nem sempre é fácil encontrar a fonte do comprometimento do auto-

conceito das pessoas, pois isso se manifesta nelas de maneira muito diferente.

Elas podem nem se dar conta disso, só sentindo que não estão bem, embora

nem sempre percebam ou consigam expressar isso tão facilmente.

Educadores devem ter seus olhares voltados para este segmento de

alunos que, devido às suas dificuldades para acompanhar o ritmo educacional

considerado normal. O educador, em qualquer nível educacional, deve preocu-

par-se com todos os alunos e possibilitar o desenvolvimento das potencialida-

des de cada um, de acordo com sua própria capacidade.

Ao definir o que seria educar favorecendo a socialização e a concreti-

zação da cidadania do nosso aluno, ficamos com as palavras de Gentili (2002):

“Educar para o exercício da cidadania significa transmitir a to-

dos os direitos que formalmente lhes são reconhecidos. A educa-

ção a partir desse enfoque deveria ser vista como um mecanismo

de difusão, de socialização e de reconhecimento dos direitos ci-

vis, políticos e sociais que definem o campo da cidadania”.

Capítulo ΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙ- A Afetividade no Ambiente Escolar

O grande pilar da educação é a habilidade emocional, portanto, mes-

mo em ambiente escolar, é impossível desenvolver as habilidades cognitivas e

sociais, sem trabalhar a emoção (Chalita, 2004).

As emoções e os sentimentos que compõem o homem são constituí-

dos de um aspecto de importância fundamental na vida psíquica do sujeito,

visto que emoções e sentimentos estão presentes em todas as manifestações

de nossa vida.

O Brasil é um país capitalista e individualista no qual os pais se dedi-

cam quase que inteiramente ao trabalho deixando de lado a família, que é a

base da formação do ser humano, passando esta a ser considerada, quase

que, algo sem importância. A preocupação do coletivo e do individual está fo-

cada nas guerras, na violência predominante na cidade e no campo, na reali-

dade econômica, no progresso tecnológico e também no acúmulo de riquezas,

no exercer várias funções, empregos ou, então, na sobrevivência. Esta reali-

dade está levando a maioria dos pais a esquecerem o sentimento de afetivida-

de entre seus membros. E muitos pais desejam para seus filhos progresso físi-

co e intelectual e uma escola que proporcione bons conteúdos de aprendiza-

gem, acreditando que com isso todos os problemas estarão e serão resolvidos.

Mas, eles esquecem que a educação das emoções não é menos importante

do que a do corpo e mente.

A afetividade prepara as ações do homem, participando ativamente da

percepção que ele tem das situações vividas e do planejamento de suas rea-

ções ao meio (Bock, 1999).

Um dos métodos para se trabalhar a afetividade em sala de aula é cri-

ar vínculos com o aluno. E para fortalecer este vínculo não se pode tratar os

alunos como um único grupo. O professor deve observar em cada educado,

seus talentos, suas potencialidades, seus dons e sua história de vida. Chamar

o aluno pelo nome, mostrar interesse no problema que ele lhe narra, parabeni-

zá-lo pelas respostas dadas, são elos que ligam afetivamente o educador e o

educando. Muitas vezes uma conversa rápida no final da aula ou durante o in-

tervalo do lanche gera um clima amistoso e confiável para ambas as partes.

O professor só terá resultados positivos numa pedagogia voltada à

formação de seres humanos íntegros, talentosos, críticos e conscientes. O pro-

fessor precisa acreditar e ter fé de que pode modificar cada um de seus apren-

dizes em seres humanos melhores, em cidadãos reflexivos e afetivos. E quan-

do o professor não consegue criar laços com seus alunos ocorre um sentimen-

to de perda para ambos. O processo ensino-aprendizagem tem de ser funda-

mentado em doses equilibradas de razão e sensibilidade e ir gradativamente

sendo lapidado (Chalita, 2003).

O trato com os sentimentos pessoais e interpessoais, vistos numa a-

bordagem dos sentimentos humanos de forma sistematizada, é algo premente

em nosso sistema educacional. Assim, uma forma de mudar o perfil de nossa

educação, seria tirar do papel e fazer de fato vigorar a elaboração de um proje-

to educativo. Um projeto elaborado por pais, professores, coordenadores e

gestor, incluindo em seu currículo, não como apêndice, mas como componente

curricular uma “Pedagogia do Afeto”, que construa homens e mulheres capa-

zes não apenas de viver, mas, sobretudo, de entender a vida e participar dela

de forma intensa (Freire, 1983).

Vivemos em um mundo globalizado, em plena Era da Informação e In-

formática, em que os nossos alunos possuem acesso às muitas informações, é

difícil ensinar com amor e afeto, pois se teme não conseguir cativar o aluno

para a aventura dessa troca mágica de ensinamentos que deve ocorrer no am-

biente escolar, dentro de uma sala de aula. O professor precisa usar recursos

para cativar este aluno que o computador, as revistas, os jornais não possuem.

Que somente o ser humano conhece: O afeto, a compreensão... A criança que

desfruta desse processo no ensino aprendizagem passa ver a escola como

algo prazeroso e não obrigatório. Porém o aluno que não faz parte desse pro-

cesso tem chances de ser bem sucedido quanto ao aprendizado dos conteú-

dos, mas o caminho a ser trilhado será mais áspero e menos prazeroso no mé-

todo de ensinar-aprender.

“Há sempre uma circulação de conhecimentos formais e sis-

temáticos, de que os professores são titulares, como também de sabe-

res da vida cotidiana, das formas e conteúdos culturais, de que os alu-

nos são igualmente portadores”.

(Dairell, 1996).

Para Vygotsky ,um dos principais defeitos da psicologia tradicional é a

separação entre os aspectos intelectuais e os volitivos e afetivos. Propõe ser

considerado a unidade entre esses dois processos, explica que a origem do

pensamento é na esfera da motivação, a qual inclui inclinações, necessidades,

interesses, impulsos, afeto e emoção. Nesta esfera estaria a razão última do

pensamento e, assim, uma compreensão completa do pensamento humano só

é possível quando se compreende sua base afetiva volitiva. O distanciamento

do intelecto e do afeto, diz:

Deficiências da psicologia tradicional, uma vez que esta apresen-

ta o processo de pensamento como um fluxo autônomo de ‘pensamentos

que pensam a si próprios’, dissociado da plenitude da vida, das necessi-

dades e dos interesses pessoais, das inclinações e dos impulsos daquele

que pensa” (Vygotsky, 1991).

Existem crianças que encontram dificuldades em seu desenvolvimento

cognitivo e emocional. Apresentam medos e problemas de relacionamento com

adultos e até com outras crianças. Porém, o objetivo da ação da escola não é

resolver dificuldades nesta área, mesmo reconhecendo a importância dos fato-

res emocionais e afetivos na aprendizagem do aluno. A escola tem o objetivo,

aqui na figura do professor, do educador, proporcionar ao seu aluno a aquisi-

ção e reformulação dos conhecimentos elaborados por uma dada sociedade.

A aprendizagem deve ser embasada em um bom relacionamento interpessoal

entre os membros que participam do processo que são: Aluno x Professor. Sa-

bemos que a interação entre professor e aluno é fundamental no processo en-

sino-aprendizagem. E manter este clima afetivo é fundamental. O aluno se sen-

tirá confiante e não temeroso diante o professor. O ensinar para o professor,

não será mais um simples ensinar, mas um envolver-se com o aluno, numa

tarefa de ajudá-lo a melhor aprender. "As emoções são os mecanismos que

desencadeiam os objetivos no mais alto nível do cérebro" (Fialho, 2001).

A maneira como o professor se relaciona com o ambiente social em

que vive e com o ambiente educativo em que trabalha interfere na relação afe-

tiva entre professor e aluno. Surgindo a partir da necessidade do professor co-

nhecer com clareza as diferentes dimensões que caracterizam sua prática a

qual possibilitará de forma positiva que o aluno vá sendo o próprio eixo de sua

formação, mas com a ajuda necessária do educador.

O método tradicional de ensino-aprendizagem se faz presente nas es-

colas até hoje, quando se trata de relação professor-aluno. O autoritarismo em

muitas escolas e professores continua enraizado, pois, para não enfrentar o

“novo” continuam exercendo o papel de transmissores do conhecimento e ten-

do ações impostas com rigidez ou aspereza. O professor não pode ser visto

nem se conformar em ser apenas aquele que prepara provas e que ensina con-

teúdos. Ele tem em suas mãos a função primordial que é educar e aprimorar o

aluno como pessoa humana. Pois, o professor traz consigo uma história de

vida, que foi influenciada pelas suas vivências em família, em sociedade e no

trabalho. Por isso, todo professor deve avaliar-se e prestar atenção naquilo que

pode causar interferência no relacionamento com seus alunos e na maneira

como ele exerce seu papel de educador.

Os professores precisam ser estimulados, a direção, a equipe pedagó-

gica, a família, enfim todas as pessoas que possuem envolvimento direto com

a criança, a desenvolver formas que favoreçam o desenvolvimento integral do

educando, fazendo que o mesmo assuma o seu potencial afetivo e criativo e

que também, possa ampliá-lo, com a finalidade de corrigir suas deficiências de

aprendizagem e para que sua auto-estima possa ser elevada no momento em

que houver valorização do seu potencial e de suas aptidões. Embora o profes-

sor tenha alto nível intelectual e grande conhecimento de sua matéria, a manei-

ra como ele se relaciona com seus alunos será a chave do sucesso da trans-

missão do que ensina (Chalita, 2003).

Capítulo ΙΙΙΙV-A participação da família no processo en-

sino-aprendizagem

A presença de pais e professores na educação de um estudante se faz

necessário, já que eles mesmos não entendem a sua importância e sua função

diante de seus filhos e de seus alunos respectivamente. Os pais estão muito

ausentes por um motivo ou outro e acabam por acreditar que eles aprendem na

escola, pois lá é o lugar de se adquirir conhecimento. Não estão atentos às tra-

jetórias de seus filhos e menos ainda participam de seu aprendizado, se envol-

vem mais com si e com o dia a dia. Não participam do seu desenvolvimento,

estão ausentes às transformações a que eles estão sujeitos, não se relacionam

com seus amigos enfim, não fazem parte do processo aprendizagem de seus

filhos.

Os professores muitas das vezes exercem a função de pais e educa-

dores, tendo que ensinar desde bons modos e respeito até ao conteúdo pro-

gramado. Muitos não estão preparados para exercer este papel e ficam perdi-

dos perante o seu dever de educador, sem falar nos que desistem da profissão,

pois não se acham capazes de “educar” jovem e crianças, o que na verdade

não é exatamente o seu papel. Por estas e outras circunstâncias citadas ao

longo deste trabalho, observa-se que pais e professores precisam dividir res-

ponsabilidades na criação de uma relação de trabalho que abrace a aprendiza-

gem e a socialização da criança. Que devem caminhar juntos para a constru-

ção de uma educação, devem ensinar para também aprender.

Os professores têm enfrentado muitos problemas ao tentar seguir um

caminho junto a seus alunos. As crianças têm entrado nas unidades escolares

muito cedo e isto com certeza têm influência no comportamento que elas vão

ter longe dos pais nos anos iniciais de suas vidas. Este é só o primeiro motivo

de uma lista de vários. Este agente inicial mencionado se dá muitas vezes ao

fato dos pais estarem afogados na correria do dia-a-dia, e acabam tentando

solucionar a sua falta de tempo colocando seus filhos em instituições de ensino

muito cedo.

Daí se principia uma lista de problemas, tanto abrangentes, quanto

particulares, destes alunos. Surge a indisciplina, a falta de interesse e de moti-

vação nas atividades, problemas psicológicos e tantos outros detalhes que

comprometem o seu aprendizado. Muitos não se envolvem socialmente ou até

mesmo agem com violência. Tudo isto se tratando de crianças, e, com essa

base, eles crescem e entram numa fase, considerada por muitos, a fase da

“Aborrecência” ou os adolescentes. Estes jovens também requerem cuidados,

pois estão passando uma fase de transição hormonal que influencia bastante

em seu comportamento.

Desde a forma em que são tratados até a interpretação de suas atitu-

des. (Esta fase começa como uma vontade de descoberta, de conhecer o

mundo de uma forma diferente, deixando de lado brincadeiras infantis e que-

rendo a independência de seus comportamentos e atitudes como diz Içami Ti-

ba, 2006, p.99).

“Também o adolescente, no pós-banho de hormônios, está ávido

por conhecer o mundo. Apesar de já ter muitas noções aprendidas do

que é certo e errado, ao partir para o encontro da sua identidade quer

estabelecer padrões próprios. Por isso, tende a negar os critérios exis-

tentes, transmitidos por educadores, pais e professores...”.

Daí tem que se ter a compreensão necessária para cada comporta-

mento, cada atitude particular levando em consideração que talvez a sua deso-

bediência possa se justificar. Eles se sentem perseguidos, acham sempre que

são donos da razão e assim em diante, querem ser donos de si, e esta fervura

de pensamentos reflete em suas atitudes sociais, aprendizado, comportamento

e enfim, na sua personalidade. Cada um possui uma conduta, tanto crianças

quanto adolescentes, muitos têm explicação, mas mesmo assim não deixa de

ser um problema que deve ser tratado ou até mesmo resolvido.

Esta fase deve ser observada, pois é ai onde se dever ter o posicio-

namento dos pais e dos educadores para lapidar com coerência a personalida-

de destes filhos e também alunos. Estas mudanças de comportamento são psi-

cologicamente explicadas quando se trata da fase chamada puberdade.

Um adolescente com problemas graves não se autonomiza dos pais

isola-se ou conflitua com o grupo de amigos, inquieta-se permanentemente

com a sua identidade. Pode então surgir a depressão que estudos recentes

provam não ser rara e poder provocar dificuldades aos jovens e sua família...

(Revista de ciências de Macaú 2005, pág. 154). Contudo nota-se a particulari-

dade de cada indivíduo, assim de cada aluno e de cada filho, e a forma com

que eles são tratados ou mesmo a educação que eles recebem requer conhe-

cimento de detalhes e aplicações de métodos, tanto familiares quanto escola-

res, é ai que entra a posição dos pais e dos professores perante cada situação.

A Família – as atitudes dos pais perante a educação dos filhos. A família com

certeza possui significante papel diante os filhos, é em casa que eles encon-

tram o apoio, aconchego, carinho e posição de segurança. As crianças sentem-

se amparadas quando estão ao lado dos pais, mas e esses pais será que sa-

bem a importância destes cuidados? São exatamente neste alvo que se princi-

piam diversos problemas e é a partir daí também que se parte a solução, ou ao

menos a tentativa de se obter uma. Os pais acabam se sufocando com a corre-

ria que a vida os coloca, trabalhando muito e pensando somente na situação

financeira de sua família.

Com certeza uma vida confortável também é importante, mas não po-

de ser exclusiva. A ausência da família traz no filho o sentimento de abandono

e não adiantam tentar recompensar esta deficiência com presentes, roupas e

coisas materiais, isto não tem o mesmo valor. Augusto Cury em uma de suas

obras ilustra muito bem este detalhe quando diz: Seus filhos não precisam de

gigantes, precisam de seres humanos. Não precisam de executivos, médicos,

empresários, administradores de empresa, mas de você, do jeito que você é.

Adquira o hábito de abrir o seu coração para os seus filhos e deixá-los registrar

uma imagem excelente de sua personalidade. (Cury 2003, pág. 26)

A criança nos anos iniciais de sua vida se sente dependente da famí-

lia, então é o momento de ensinar e mostrar o prazer em aprender, aproveitar

esta convivência e esta confiança para iniciar o “Aprender a Aprender” desen-

volvendo algo de tamanha importância, e que está ficando perdido. Os pais

amam seus filhos e podem ensinar com amor, carinho e presença que para

eles é o que realmente importa.

Neste momento se ensina o respeito ao conhecimento e desperta

também a vontade de aprender sempre mais.

“Criança precisa de adulto responsável a sua volta”.

(Tiba 2005, pág. 167).

A partir daí é um momento onde o filho exibe o seu querer e cabe aos

pais mostrar o que é permitido e o que não é perante as suas vontades e assim

começa a idéia de ensinar e mostrar a importância de aprender. Tudo isso não

se resume em ensinar, mas levar a criança a praticar o que aprende e mostrar

o valor deste aprendizado. Mas e quanto aos jovens? Os pais também devem

estar presentes? Com certeza, afinal é uma fase de transição, onde se deve

relevar muita coisa e ter sabedoria para agir em diversos tipos de situações.

Aqui ocorre o despertar para o sexo, e a família deve ter diálogo com seus fi-

lhos, mostrar os caminhos que percorrem uma vida sexual ativa. Ensinar sobre

certas doenças, gravidez precoce e principalmente orientar sobre responsabili-

dade. Não só o sexo, mas também o envolvimento com amigos é ponto forte

nesta fase e é um dos principais caminhos a se chegar às drogas. Não que

todos os amigos se envolvam com substâncias químicas, mas algum deles po-

de se submergir. Assim pais devem se relacionar com os amigos de seus filhos

deixá-los à vontade para que estes amigos freqüentem sua casa. Com certeza

cada um é dono dos próprios atos, mas os amigos podem influenciar, e os pais

têm um papel fundamental de orientador, e não de tirano. Proibir tudo só traz

no jovem ainda mais vontade de independência e o torna cada vez mais distan-

te de sua família, e a idéia é exatamente oposta, é aumentar os laços de confi-

ança e convivência entre pais e filhos.

O conceito de que pais são sempre donos da razão leva filhos a procu-

rar conselhos em amigos se distanciando dos adultos, pois sentem que estes

não os entendem, mas na verdade é que muitos acham fácil o simples fato de

que “Na escola eles aprendem” ou “A melhor escola é a vida” além dos que

têm vergonha de falar sobre certos assuntos e acabam deixando pra depois as

conversas que deveriam ter. Contudo nota-se que o aprendizado é constante, e

que se inicia desde pequeno onde os pais também são professores, são edu-

cadores de vida, e eles não percebem. Mandam para aprender na escola, valo-

res que devem ser de berço. Causam nos filhos aversão ao conhecimento e

nem notam que são responsáveis por tudo isto. A eles cabe a educação com-

portamental de seus filhos e ensinar sobre a vida, mostrar caminhos e acom-

panhar a caminhada. Assim são educadores que têm grande poder em desper-

tar em casa a vontade de conhecer e aprender, e aí sim, perante este desejo

em aprender, entra o papel da escola e do professor. Os pais assim possuem

uma contribuição irrelevante, estão semeando o prazer de aprendizado o que

traz no aprendiz a sede de conhecer. O filho se sente seguro e os pais gratifi-

cados pela troca de amor e aprendizado.

Há algum tempo, muitos dos professores não possuíam curso superior

para lecionar em sala de aula, terminavam o Ensino Médio e já iam ser profes-

sores. A nossa realidade é diferente, nos tempos atuais a maioria já passou por

curso superior, ou seja, se preparou. Mas, será que se preparou mesmo? Co-

mo comentado ao longo do texto, muitos pais acham fácil o simples fato de le-

var seus filhos para a escola e deixar que os professores se encarreguem do

conhecimento dos estudantes, afinal lá é o local de aprendizado. A escola é

sim uma unidade de conhecimento, mas não pode ser a única responsável pelo

nivelamento comportamental do aluno. Muitos professores quando se deparam

com a realidade da sala de aula se sentem inseguros, incapazes e alguns até

desistem da profissão. O professor quando um educador convive com todo o

desenvolvimento do aluno, aos que lecionam em séries iniciais participam do

crescimento e desenvolvimento das crianças e aos que trabalham com as sé-

ries finais estão convivendo com o fluente estado de hormônios em que pas-

sam os adolescentes.

O professor é uma fonte de ensino, mas acompanha muitos alunos ao

mesmo tempo, e cada um tem suas particularidades, onde os pais fazem aí a

diferença. Com certeza ser professor não é somente selecionar conteúdos e

aplicá-los, é criar laços com seus educados e se envolver com a profissão, mas

é bem aí onde se encontra outro pormenor. Será que para o professor poder

exercer sua profissão ele precisa educar o aluno antes? Ele precisa ensinar

bons modos e disciplina? São muitos questionamentos em torno dos fazeres

destes profissionais. Aqui defendo a idéia de que a relação de aprendizado

com os pais tem fundamental importância no despertar para o conhecimento.

Ensinando o filho a aprender, ou seja, “Ensinar Aprendendo”. É notável que os

professores possuam importância neste processo de aprendizagem que se ini-

cia desde os primeiros anos de vida e pode perpetuar sempre, pois o conheci-

mento é constante. Mas estes mestres continuam a partir de um passo inicial

que começa em casa com a família, os pais são os responsáveis por este des-

pertar. Os profissionais da educação além de ensinar conteúdos também de-

vem ensinar para a vida, se envolver com a realidade de sua clientela, preci-

sam ser educadores, atuando com amor na profissão, mas não podem desen-

volver sozinhos a construção dos futuros cidadãos, afinal a sociedade precisa

se renovar e ambos precisam entender que fazem parte deste processo.

Segundo Cury (2005, pág.80):

“Prepare seus alunos para explorarem o desconhecido, para

não terem medo de falhar, mas medo de não tentar. Ensine-os a

conquistar experiências (...).”.

Deve haver uma educação para a vida, formar cidadãos de bem, en-

volver escola, conhecimento e família. Talvez fosse a solução de muitos pro-

blemas. Os educadores não podem ter medo dos desafios, eles são mediado-

res de conhecimento, o seu aprendizado também é constante para se prepara-

rem para os desafios. Escola e sociedade: Unindo pais e professores, uma

possível solução. Ao longo deste trabalho é notável que a idéia de educar e

ensinar se resume quase que na mesma coisa, mas também precisa de uma

fusão entre educadores e pais. Necessita de haver esta cooperatividade, a i-

déia de que um ou o outro é o responsável acaba empurrando a situação e a-

diando a tentativa de encontrar uma solução. Criar uma relação entre escola e

família permitiria que houvesse acompanhamento e participação dos pais no

aprendizado e eles com certeza teriam a satisfação de poder ajudar a construir

o caráter de seus filhos, pois querendo ou não boa parte dos anos de nossas

vidas passa-se na escola, ou seja, é um local de aprendizado que planta se-

mentes que duram pra sempre. Ter uma aliança entre pais e professores é al-

tamente produtivo e eficaz. Ambos devem agir em conjunto.

A própria escola tem de mostrar coesão e transparência, trabalhando

em equipe, entre si, e em relação à família de seus alunos. É muito importante

que haja coerência (...) entre o que os pais e a escola fazem na educação de

crianças e adolescentes, principalmente nas questões que podem prejudicar a

construção do cidadão ético, feliz e competente que vai assumir o Brasil que

estamos lhe deixando. (Tiba 2006, pág. 148).

Assim, é compreensível a importância de pais e professores, ambos

ensinam e educam, mas cada um com seu desempenho e juntos formando um

todo onde se divide responsabilidade e se multiplicam soluções. Este pode ser

um recurso para a educação de crianças e jovens.

Capítulo V-A visão psicanalítica sobre a afetividade

pedagógica:

Na visão psicanalítica, o homem não nasce com um eu pronto, porém

constitui-lo-á a partir de si próprio e das suas relações familiares e com a soci-

edade.

A criança quando é muito desejada e amada pelos pais se sente ama-

da e sentirá prazer em si próprio, buscando sempre reconhecimento e afeto.

A atividade psíquica tem início nos pais e pelo seu próprio prazer. O eu

que está sendo constituído, busca compreender, ter acesso ao significado do

que existe e do que ele vivencia. Ele deseja, então, saber.

Os pais que investem o seu afeto na criança servem de ligação entre

seu psiquismo e o meio psíquico que a rodeia, e proporciona a ela uma auto-

estima positiva, que a levará a busca do prazer de ouvir e pensar.

É o professor que exercerá essa função identificatória ao aceitar a cri-

ança como ele é ao valorizá-la e investir nela.

Na escola a criança precisa do amor e do reconhecimento do profes-

sor, precisa encontrar nele o prazer de aprender. Nesta relação professor-

aluno, o desejo de ensinar, e o modo como o professor aceita e reconhece o

aluno como um ser único e singular, também será importante. A criança que

encontra um professor preconceituoso em relação a ela, que a desvaloriza que

não reconhece suas qualidades, e que não investe nela como um ser único e

especial estará concorrendo para que esta criança perca o prazer de pensar e

o desejo de aprender.

Na escola, o professor é fonte privilegiada ao proporcionar prazer ou

sofrimento ao aluno, porém o aluno também pode ser fonte de prazer ou sofri-

mento ao professor. Ao ser reconhecido ou não pelos alunos, sua fonte de pra-

zer reside nas respostas que os alunos dão à sua tarefa de ensiná-los.

O educador deve respeitar e compreender o aluno considerando o re-

ferencial dele, o seu modo de pensar sobre si, sobre os outros e sobre a sua

realidade.

O educador livre de idéias pré-concebidas sobre o aluno pode respei-

tá-lo e investir nele, bem como na sua ação educativa. Desta forma haverá

uma relação professor-aluno genuína, fundamentada na afetividade, na confi-

ança mútua e na sinceridade.

Contudo, só amor não basta. É preciso que, além desta relação pro-

fessor-aluno autêntica e afetiva, haja uma prática pedagógica estabelecida no

respeito, na autoridade humana e no estabelecimento de limites, de modo que

o professor permita o desenvolvimento e o fortalecimento do eu do aluno para

que ele desenvolva auto-estima, confiança, respeito a si e ao outro. O aluno só

pode desenvolver seu eu, só investirá no desejo de aprender, se também o

professor e os pais investirem nele.

A psicanálise estuda a constituição do sujeito do inconsciente, e se as

funções cognitivas crescem, evolui, o sujeito se constitui. Para a psicanálise, a

constituição do sujeito é regida por leis diversas das que regem o desenvolvi-

mento cognitivo. Não há paralelismo entre eles. O eu, sede das funções do ser

humano, ocupa um lugar central, pois ali estão as funções que regulam a rela-

ção de uma pessoa com sua realidade.

Segundo Freud (1973):

“só pode ser pedagogo aquele que se encontra capacitado

para penetrar na alma infantil, e que, nós adultos não compreen-

demos nem a nossa própria infância, como poderemos então com-

preender e educar uma criança que está sob nossa responsabilida-

de? Quando os educadores estiverem familiarizados com a psica-

nálise, e voltarem a ficar de bem com a criança que está dentro de-

les, poderão trabalhar com a energia daquela que está sob seus

cuidados e conduzi-la a um caminho menos conflituoso”.

Um professor psicanaliticamente orientado saberá trabalhar com os

sentimentos de seus alunos e saberá abdicar de sua figura de autoridade, per-

mitindo que seu aluno pense por si, seja crítico e se torne independente. Este

professor saberá organizar o seu saber, porém renunciará ao poder, que o le-

varia a se impor aos alunos.

A visão psicanalítica da educação é uma visão que valoriza o aluno

como ser humano em seus afetos, capaz e livre de construir seu próprio co-

nhecimento através do seu desejo inconsciente.

5.1- A relevância do olhar do Psicopedagogo Institucional na

Escola:

A atividade psicopedagógica vem ganhando um espaço de atuação

significativo ao longo de sua história como uma área que identifica, diagnostica

e intervém no movimento de aprendizagem do homem. Aborda-se o termo mo-

vimento de aprendizagem na Psicopedagogia porque esta área concebe seu

objeto de estudo, que é o aprender, como algo dinâmico no ser humano e nas

suas inter-relações.

Trata-se de uma área do conhecimento interdisciplinar, pois se ocupa

da Pedagogia, da Psicologia, da Neuropsicologia, da Sociologia, da Lingüística

e da Antropologia para ler o fenômeno da aprendizagem.

Barbosa (1998) afirma que:

“embora a Psicopedagogia possua em seu nome os termos

psicologia e pedagogia, seu significado não está relacionado à jun-

ção destas disciplinas, mas está ligado a todas as disciplinas que es-

tudam o processo de aprendizagem”.

A Psicopedagogia, sem pretender ser a solução de todos os proble-

mas, surge como uma área que busca integrar várias disciplinas, com o objeti-

vo de construir um corpo teórico que embase uma atuação eficaz, sem que se

divida o sujeito da aprendizagem em vários compartimentos.

O caráter interdisciplinar da Psicopedagogia coloca-a como um campo

que teoriza contemporaneamente sobre a questão da aprendizagem, efetivan-

do sua prática na relação de aprendizagem e saberes múltiplos.

Não se fundamenta em bagagens conteudístas, mas sim em saberes

que disputam prazer, configurando uma relação positiva com a aquisição de

conhecimentos.

Essa visão propõe um novo posicionamento diante da estruturação da

aprendizagem no contexto escolar. Transpor paradigmas não é tarefa fácil. O

enfrentamento de uma nova situação, de um novo fazer, trás medo e insegu-

rança. Portanto, a práxis na educação, no que se refere ao ensinar e aprender,

não pode se caracterizar por uma atuação com referências em paradigmas

mecanicistas e reducionistas.

A escola de educação de educação fundamental Ι· constitui um mo-

mento de aprendizagem formal e se constroem bases para a formação do indi-

víduo, ou pelo menos, é o que deveria acontecer.

Nesta fase, a criança encontra oportunidade de sistematizar aprendi-

zagens que vão funcionar como alicerces de outras aprendizagens que, não

mais importantes que as primeiras, estruturam o ser humano, dando-lhe um

sentimento de pertença a um grupo social.

Essa etapa é de fundamental importância para a aprendizagem no de-

correr da vida de qualquer indivíduo.

A atuação da psicopedagogia na escola tem o papel de resgatar a res-

ponsabilidade dessa escola, sendo mediadora da integração da criança no

mundo sistematizado, cultural e simbólico.

Há um grande compromisso da psicopedagogia junto às escolas com

a ação preventiva, atuando no assessoramento e planejamento pedagógico,

colaborando com planos educacionais e sanitários. Nessa ação incluem-se di-

agnóstico institucional e propostas de intervenção operacionais.

Segundo Bossa, (2000:85).

“pensar a escola a luz da Psicopedagogia significa analisar um

processo que incluem questões metodológicas, relacionais e sócio-

culturais, englobando ponto de vistas de quem ensina e de quem a-

prende.”

Cabe aqui ressaltar que a avaliação institucional psicopedagógica,

busca a compreensão do funcionamento e das relações com a aprendizagem

da instituição educacional. Quando nos referimos à avaliação psicopedagógica

no âmbito institucional, nos referimos a um instrumento conceitual capaz de

levar o psicopedagogo a construir um olhar e uma escuta diferencial, voltada

para o ensino/aprendizagem que possibilite o conhecimento de sintomas, a

análise dos mesmos e a busca de soluções para os problemas estudados

(Barbosa, 2001:135).

Jorge Visca (1991:32) denomina esse instrumento de Matriz do Pensa-

mento Diagnóstico, sendo que sua prática é orientada por pressupostos que

estabelecem a realização do diagnóstico, apoiando-se em axiomas interacio-

nista, estruturalista e construtivistas.

A Matriz do Pensamento Diagnóstico (Barbosa, 2001:135) se caracte-

riza pelos seguintes aspectos:

- Analise do contexto e leitura do sintoma;

- Explicação de causas que coexistem temporalmente com o sintoma;

- Obstáculos de ordem do conhecimento, de interação, de funciona-

mento e de estrutura;

- Explicação da origem dos sintomas;

- Análise do distanciamento do fenômeno em relação aos parâmetros

considerados aceitáveis;

- Levantamento de hipóteses sobre a configuração futura do fenômeno

atual;

- Indicações e encaminhamentos.

Para que se construa essa matriz, Calberg (1998) apresenta os se-

guintes passos para a prática de uma avaliação diagnóstica institucional.

1. Entrevista para exposição dos motivos: momento de ouvir a queixa

da escola;

2. Enquadramento do Processo Diagnóstico: acerto de como e quan-

do serão feitas as sessões para o processo diagnóstico (dias, horários, prazo e

lugar de atendimento), além de estabelecer o objetivo do processo e como es-

se acontecerá;

3. Observação e análise do sintoma E.O.C.M.E.A. (Entrevista Operati-

va Centrada no Modelo Ensino Aprendizagem): o objetivo desta entrevista é

avaliar e pesquisar a dinâmica (o que o corpo fala) e temática (o que é verbali-

zado) do grupo para se perceber a modalidade de ensino aprendizagem;

4. Organização do primeiro sistema de hipóteses: com a E.O.C.M.E.A.

são levantadas as primeiras hipóteses, e conseqüentemente cria-se o primeiro

sistema de hipóteses;

5. Escolhas de instrumentos de investigação: tais instrumentos não

são fixos, pois variam a cada caso ou situação e devem servir para confirmar

ou não as hipóteses levantadas;

6. Análise dos resultados: análise a partir do Cone invertido, instru-

mento idealizado por Pichon-Riviére, utilizado por Visca (1987) para medir as

mudanças em termos dinâmicos e para avaliar grupos durante a realização de

uma tarefa.

Segundo Barbosa (2001:162-166), o nome Cone Invertido deriva

de sua representação gráfica que indica, segundo Saidon, citado por Baremblitt

(1986), na sua parte superior, os elementos manifestos pelo grupo, em sua par-

te inferior, as fantasias latentes do grupo;

7. Segundo sistema de hipóteses: após a confirmação ou não das pri-

meiras hipóteses, configura-se o segundo sistema de hipóteses, que também

incitará pesquisas;

8. Pesquisa da história: deve-se levar as problemáticas observadas até

este momento e examiná-las de acordo com a história da instituição, o que po-

de conferir importância tanto à questão pedagógica e/ou administrativa. A pes-

quisa da história não se resume ao conhecimento da instituição, de forma ge-

ral, e sim se preocupa em centrar seu levantamento no conhecimento da histó-

ria da problemática, objeto da queixa que originou o diagnóstico, e no conheci-

mento histórico dos fatores causais que foram base das hipóteses anteriormen-

te (Barbosa: 2001:168);

9. Terceiro sistema de hipóteses: após o exame dos objetos de pes-

quisa, as hipóteses serão levantadas novamente. Neste caso, as hipóteses

confirmadas (de acordo com os outros sistemas de hipóteses) ou evidenciadas

(neste terceiro sistema) transformam-se em hipótese diagnóstica, o que evi-

dencia como o sujeito (instituição) está;

10. Devolutiva e Informe Psicopedagógico: mediante as hipóteses le-

vantadas no terceiro sistema, a devolutiva pode ser formatada. Estas que deve-

rão ser apresentadas à instituição em forma de informativo escrito, além da

devolução verbal, que colabora para o esclarecimento de dúvidas. No informe

deve constar o objeto de avaliação, como a instituição foi percebida e as su-

gestões de intervenção.

No caso específico, objeto deste trabalho, ”a influência da afetividade

do professor na superação das dificuldades de aprendizagem”, conforme

informe psicopedagógico, foi possível mostrar ao diretor e à coordenadora pe-

dagógica como estava a aprendizagem da instituição e sugerir propostas de

intervenção para que a aprendizagem progredisse juntamente com seus mem-

bros.

Uma das tarefas árduas é justamente passar tais informações aos

membros responsáveis pela a escola, mostrar qual era o quadro. Entretanto ,

para nossa alegria , pudemos perceber a coesão e a sintonia com que os pro-

fessores trabalhavam.Observamos que a Coordenadora Pedagógica adotava

uma postura bastante democrática e por se tratar de um grupo pequeno de

professoras, todas graduadas e com pós-graduação , a facilidade em receber e

instrumentalizar as informações eram facilmente absorvidas pelo grupo , que

mostrava-se satisfeito com a Instituição, com seu salário e com a maneira em

que as propostas e projetos pedagógicos eram encaminhados.

As professoras desempenhavam sua função com zelo, prazer e solida-

riedade. De forma cooperativa faziam mutirões para o desenvolvimento das

ações pedagógicas e sempre apresentavam sugestões para todos os trabalhos

propostos pela Coordenação Pedagógica.

As conclusões aqui relatadas só foram possíveis graças à avaliação

diagnóstica na instituição; a sua importância não está somente em fotografar a

instituição, mas também levantar outras questões para a reflexão do aprender

e ensinar, que deveriam andar juntos.

É possível haver um trabalho educacional sem a coesão do grupo?

Haverá aprendizagem efetiva sem a unidade escolar?

Por meio deste trabalho, nota-se o quanto à prática e a teoria devem

andar juntas.

Todo trabalho de avaliação psicopedagógica deve ser movido pela ob-

servação e para concluí-lo, não se pode em nenhum momento agregar juízo de

valor. A neutralidade é a grande arma para conclusão de um trabalho como

este. No entanto, não consiste tarefa fácil.

O exercício de observar e não supor, de não agregar conceitos de cer-

to e errado e de aprender a não partir do referencial de si próprio, ajuda a per-

ceber e entender o momento do outro.

Para se chegar a um diagnóstico é crucial entender as relações na ins-

tituição e falar dessas relações sem entender o conceito de grupo não seria

possível, pois para entender este conceito, a visão sistêmica é absolutamente

necessária. Somente por meio dela é que se pode entender o conceito de gru-

po e vice-versa. De acordo com o princípio da globalidade, um dos pressupos-

tos básicos da teoria sistêmica, toda e qualquer parte de um sistema está rela-

cionado de tal modo com as demais partes, que, qualquer mudança em alguma

delas, provocará mudanças nas demais e conseqüentemente no sistema total.

(Polity, 2004:164)

É preciso conceber a realidade como inteira e tratar os problemas indi-

viduais em relação ao contexto em que são produzidos, além de compreender

sua natureza interativa.

Sendo assim, o ensino aprofunda a relação consigo mesmo, com a

família e com a sociedade.

Com a avaliação diagnóstica é possível entender o dinamismo da inte-

ração na instituição, cujas questões de aprendizagem emergem neste dina-

mismo, para impedir que a inércia ocorra ou que se propague entre os indiví-

duos envolvidos, fazendo com que estes desenvolvam a habilidade de como

pensar instigando a capacidade de ensinar dos professores e a capacidade de

aprender dos alunos.

Desta maneira, esta capacidade se transformará em algo cíclico. O

principal papel deste especialista é integrar os agentes da instituição para que

haja desenvolvimento mútuo, proporcionando melhoras no que diz respeito ao

afetivo, cognitivo e social, o que acarretará para o indivíduo um modo melhor

para se viver em sociedade.

Capítulo VΙΙΙΙ- Pesquisa de Campo

O ensino-aprendizagem está relacionado com os processos mais afeti-

vos, especialmente a partir da visão do professor, pois acreditamos que a afeti-

vidade do professor pode contribuir significativamente para aprendizagem dos

alunos, uma vez que esta lhes proporciona um incremento na auto-estima, ao

mesmo tempo em que lhes oferece condições para enfrentar os desafios do

cotidiano. Assim, nosso objetivo foi conhecer as concepções (opiniões, pensa-

mentos e sentimentos) dos professores de primeira a quarta série do ensino

fundamental acerca de sua relação com os alunos, durante o processo de en-

sino-aprendizagem do conteúdo das matérias, especialmente sabendo que es-

ta é uma fase disciplina na qual os alunos estão descobrindo novas aventuras

e já podem apresentar predisposições negativas em relação ao conteúdo.

6.1 – MÉTODO

v Participantes: Foram entrevistados 8 (oito) professoras de uma

escola particular, Colégio Seu Amado, pertencente a uma mineração de cobre,

no município de Jaguararai, Bahia. . As participantes lecionavam em turmas de

primeira à quarta série. do ensino fundamental. Essas professoras têm idade

entre 24 a 40 anos, e estão atuando como professores em média de 1 a 20

anos.

v Instrumentos e Procedimentos: As informações do estudo fo-

ram obtidas através da realização de entrevistas semi-abertas, em hora e local

previamente agendado com os professores e obtidas com auxílio de gravador.

As questões da entrevista abordaram a qualidade da relação professor-aluno,

as percepções dos professores e dos alunos no que se refere ao seu processo

de ensino e aprendizagem, assim como fatores relacionados ao sucesso ou

fracasso escolar. Procedimentos éticos foram adotados.

v Análise das informações: Para a análise das informações opta-

mos pela análise de conteúdo como proposta por Bardin (1996). Esta é “um

conjunto de técnicas de análise das comunicações que, através de procedi-

mentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,

visa obter indicadores (quantitativos ou não) que permitam a indução de co-

nhecimentos relativos às condições de produção e de recepção (variáveis infe-

ridas) destas mensagens”.

6.2 – RESULTADOS E DISCUSSÃO:

Foram analisadas duas questões referentes: a) as percepções dos

professores acerca de suas relações com os alunos e das dificuldades encon-

tradas nas relações com os mesmos; e b) as opiniões dos professores acerca

do papel da afetividade na aprendizagem. Após o término do período de obten-

ção de dados, foi possível constatar que os professores entrevistados conside-

ram a afetividade de suma importância no processo de ensino-aprendizagem,

tendo em vista que professor que não envolve a afetividade em seu trabalho

fica desmotivado e acaba passando isso para o aluno.

Esses professores observaram que o aluno, nos dias de hoje, tem a

escola como sua segunda casa, uma vez os pais precisam submeter-se a

grandes cargas horárias de trabalho para suprir as necessidades da família,

isso gera certa carência de afetividade que esses alunos acabam buscando,

muitas vezes, nos professores. Contudo, apesar de reconhecerem a importân-

cia da existência de sentimentos como afetos, respeito, confiança, entre outros,

os professores não podem permitir que tais sentimentos interfiram no cumpri-

mento ético de seu dever de professor. Cabe lembrar que o professor antes de

tudo é um educador.

Segundo Siqueira (2004):

“o ensino não pode e não deve ser algo estático e unidire-

cional, devemos nos lembrar de que a sala de aula não é apenas um

lugar para transmitir conteúdos teóricos; é, também, local de apren-

dizado de valores e comportamentos, de aquisição de uma mentali-

dade científica lógica e participativa, que poderá possibilitar ao aluno,

bem orientado, interpretar e transformar a sociedade e a natureza em

benefício do bem-estar coletivo e pessoal”.

Professores, comprometidos com a produção do conhecimento em sa-

la de aula, que desenvolvem com seus alunos um vínculo muito estreito de a-

mizade e respeito mútuo pelo saber, são fundamentais. Aqueles que não me-

dem esforços para levar os seus alunos à ação, à reflexão crítica, à curiosida-

de, ao questionamento e à descoberta são essenciais. E ainda aqueles profes-

sores que, ao respeitar no aluno o desenvolvimento que este adquiriu através

de suas experiências de vida (conhecimentos já assimilados), idade e desen-

volvimento mental, são imprescindíveis. Essa parece ser a opinião dos profes-

sores por nós entrevistados. Contudo, cabe se fazer uma ressalva que os de-

poimentos aqui expressos são apenas dos professores que aceitaram partici-

par do estudo; estes podem ser aqueles que consideram a afetividade como

fundamental. Maiores estudos devem ser realizados, pois outros professores

que não aceitaram realizar o estudo podem possuir opiniões divergentes dos

daqui apresentados.

CONCLUSÃO

O diálogo estabelecido entre professor e aluno é fator importante no

processo de aprendizagem, visto que forma elos afetivos que despertam o inte-

resse e a motivação, levando os alunos a executarem suas tarefas com boa

vontade. O ato de educar só terá sucesso se houver uma relação afetiva entre

professor e aluno, caso contrário, a aprendizagem não será significativa e não

preparará o indivíduo para uma vida futura, deixando lacunas no processo en-

sino-aprendizagem. Elemento essencial na efetivação da aprendizagem é uma

auto-estima positiva, pois todo indivíduo precisa sentir-se capaz de pensar e

agir, e ver-se como merecedor de felicidade. A auto-estima é uma necessidade

humana, que contribui essencialmente para o processo vital.

Constatamos ainda que exista algo que impeçam alguns professores,

de colocarem, em sua ação pedagógica, um pouco de afeto, e de acolher os

sentimentos do aluno, de uma forma que leve esse aluno, a sentir que a esco-

la, é realmente uma extensão do lar.

É importante lembrar que o comportamento intelectual é motivado pe-

las implicações afetivas, visto que a afetividade norteia o processo de aprendi-

zagem. Portanto, nosso sistema educacional carece de uma “Pedagogia do

Afeto”, que construa homens e mulheres capazes de viver intensamente.

Esperamos ter contribuído para aqueles que visem uma mudança em

suas atitudes que pretendam facilitar o processo de aquisição do conhecimento

do aluno e de si mesmo.

A capacidade de relacionamento com as pessoas é um ponto crucial

para o bom exercício da profissão de educar. Assim, a escola deve construir

uma relação pedagógica com base na relação interpessoal entre professores e

alunos com base no afeto.

O processo de maturação emocional do ser humano se dá por meio do

aumento da autoconsciência, da aquisição da competência para lidar mais efi-

cientemente com sentimentos aflitivos, a fim de manter o otimismo e a perseve-

rança, apesar das frustrações.

É preciso que os educadores atentem para o horizonte de possibilida-

des que se abre à exploração de novas abordagens educacionais numa pers-

pectiva de educação que leva em conta as emoções.

Precisamos aprender a reconhecer, nomear e avaliar nossas emoções,

para, então, nos capacitarmos a exercitar nossa vontade soberana no desen-

volvimento, no controle e no bom uso dessas emoções.

Em relação à educação, tais habilidades serão um auxílio valioso para

o estabelecimento de relações harmônicas na sala de aula. Quando o profes-

sor se preocupa com seus alunos, sensibiliza-se com os seus problemas deles,

e busca conhecê-los melhor, estará demonstrando que possui laços afetivos

com os mesmos e contribuindo para sua formação integral. Isso não quer dizer

que o conhecimento será deixado de lado. Ao contrário, proporcionando aos

alunos uma maturidade emocional baseada na confiança mútua, o professor

facilitará a construção do conhecimento dos seus discípulos.

‘Conceitos para um bom relacionamento:

§ Aceitação total da outra pessoa;

§ Comprometimento com as atribuições profissionais, sendo uma

pessoa autêntica e sincera;

§ Compreensão empática colocar-se no lugar do outro, temos a

possibilidade de aceitação interna.

Para Crivelaro (2005, pág. 34):

“ser empático não significa resolver o problema do outro,

mas ouvir, compartilhar, dar o ombro amigo...”.

As relações humanas, embora complexas, são peças fundamentais

realização comportamental e profissional de um indivíduo. Desta forma, a aná-

lise dos relacionamentos entre professores envolve e interesses e intenções,

sendo esta interação o expoente das conseqüências, pois a educação é uma

das fontes mais importantes do desenvolvimento comportamental e agregação

de valores nos membros da espécie humana.

Neste sentido, a interação estabelecida caracteriza-se pela sele-

ção de conteúdos, organização, sistematização didática para facilitar o apren-

dizado dos alunos, dinamismo e criatividade, aprendizagem significativa.

Para Celso Antunes (2005):

“é possível afirmar que um trabalho com a aprendi-

zagem significativa é mais eficiente para estimular ao aprendiza-

do do aluno do que um trabalho onde são usados apenas os re-

cursos da aprendizagem mecânica”.

No trabalho do professor em sala, seu relacionamento com os alunos é

expresso pela relação afetiva que ele tem com a sociedade. Apresentando isto,

observa-se a importância da afetividade, desenvolvendo diversos atributos co-

mo confiança, a empatia, o respeito entre professores e alunos, para que se

desenvolva a leitura, a escrita, a reflexão, aprendizagem e a pesquisa autôno-

ma.

Portanto, a afetividade na relação professor aluno depende, fundamen-

talmente, do clima estabelecido pelo professor, da relação empática com seus

alunos, da aceitação incondicional, de sua capacidade de ouvir, refletir e discu-

tir o nível de compreensão dos alunos e da criação das estratégias para a pro-

moção da transferência de seu conhecimento e o deles.

Por fim, o educador deve trabalhar o lado positivo dos alunos, para a

formação de um cidadão consciente de seus deveres e de suas responsabili-

dades sociais, promovendo um ambiente saudável um espaço de felicidade

para o aluno.

Vale muito à pena meditarmos em um poema escrito por Gabriel

da Fonseca que diz assim:

Amor na Educação da Criança

Amor

Educação

E criança

São rimas perfeitas.

Sim,

Pois

Existem no ardor

Da criação

Da dança

De quem as estima,

Sem desfeitas.

Assim, depois,

Amor

Na educação,

Da criança

É o fulgor

No coração

Da perseverança;

É o esplendor

Do clarão

Da confiança;

É o calor

Da combustão

Da esperança!

Gabriel da Fonseca, 2008.

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Fontes.

ANEXO

Entrevista proposta para as professoras de 1ª a 4ª série, do Ensino

Fundamental I, do Colégio Seu Amado:

1. Nome: _______________________________________________

2. Idade: __________ Sexo: ________________________________

3. Formação acadêmica:___________________________________

4. Quais as suas percepções acerca de suas relações com os alunos e das

dificuldades encontradas nas relações com os mesmos?

5. Qual a sua opinião acerca do papel da afetividade na aprendizagem?

6. Há quantos anos é educadora no Ensino Fundamental?

7. No seu entender, como anda a relação professor-aluno, na sala de aula?

8. Os professores têm contribuindo para o desenvolvimento afetivo-sadio de

nossos alunos?

8-Uma pedagogia, baseada no afeto, facilitaria o processo ensino-

aprendizagem?

9- Como você vê as intervenções propostas pelo Psicopedagogo Institucional

na sua escola e de que forma tais procedimentos ajudam no desenvolvimento

de seu trabalho na escola?

_________________________________________

Elaine Guarnieri de Medeiros

Em 09/09/2008