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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
OS PROBLEMAS POSTURAIS DAS AVD’S NA TERCEIRA IDADE – ATUAÇÃO FISIOTERÁPICA PREVENTIVA
Por: Maria do Carmo Boechat Borges
Orientadora
Profª. Maria da Conceição Maggioni Poppe
Vitória - ES
2008
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
OS PROBLEMAS POSTURAIS DAS AVD’S NA TERCEIRA IDADE – ATUAÇÃO FISIOTERÁPICA PREVENTIVA
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Saúde da
Família.
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus e aos meus familiares de modo especial aos meus pais, pela realização deste sonho, e pela compreensão e incentivo.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha família, amigos e a todos os meus professores, que apesar de, muitas vezes, enfrentarem dificuldades, lutam para passar da melhor forma os seus conhecimentos a nós.
5
RESUMO
As mudanças fisiológicas, psicológicas e sociais que ocorrem com o processo de envelhecimento, vão influenciar de maneira decisiva o comportamento da pessoa idosa. Com o declínio gradual das aptidões físicas e o impacto do envelhecimento e das doenças, o idoso tende a alterar seus hábitos de vida e rotinas diárias, substituindo-as gradativamente por atividades e ocupações que demandem menos recursos físicos e até mesmo psíquicos. Os efeitos associados à inatividade e a má adaptabilidade são muito sérios, podendo acarretar uma redução no desempenho físico, na habilidade motora, na capacidade de concentração, de reação e de coordenação, gerando processos de auto-desvalorização, apatia, insegurança, perda da motivação, isolamento social e a solidão. Como objetivos específicos pretendem-se analisar de que modo os problemas posturais das AVD’s influenciam na qualidade de vida das pessoas de terceira idade, como também discutir os possíveis conselhos, apresentando atitudes posturais que contribuem para uma vida saudável dos mesmos.
PALAVRAS-CHAVE: AVD’S, terceira idade, atitudes posturais, fisioterapia
preventiva, PSF.
6
METODOLOGIA
É proposta, então, através do método investigativo, levantar esta
questão: Quais os problemas posturais nas atividades de vida diária que
afetam as pessoas na terceira idade? Para tal a metodologia a ser utilizada é
um levantamento bibliográfico, cujos autores fundamentam teoricamente o
estudo em foco.
Seguindo essa linha de raciocínio, elege-se como objeto de estudo de
que forma o fisioterapeuta pode atuar preventivamente na terceira idade de
modo que os problemas posturais das AVD’s sejam amenizados?
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................... 8
CAPÍTULO I - OS PROBLEMAS DAS AVD’s NA QUALIDADE DE VIDA DAS
PESSOAS DE TERCEIRA IDADE .................................................................... 11
1.1 Qualidade de vida na velhice: um ponto de vista multidimensional .... 12
1.2 Atividades de vida diária na terceira idade ............................................. 15
1.3 Avaliação de vida diária na velhice ......................................................... 20
CAPÍTULO II - ATUAÇÃO FISIOTERÁPICA PREVENTIVA ............................ 24
2.1 Alterações Posturais ................................................................................ 26
2.2 Contribuições Fisioterápicas na Saúde da Família ............................... 29
CAPÍTULO III - O TRABALHO DO FISIOTERAPEUTA NO PSF COMO
CONTRIBUIÇÃO PARA UMA VIDA SAUDÁVEL NA TERCEIRA IDADE ....... 34
3.1 Atitudes Posturais Preventivas no Programa Saúde da Família .......... 39
3.2 Exercícios Posturais Preventivos............................................................ 47
CONCLUSÃO ................................................................................................... 48
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 50
ANEXO ............................................................................................................. 57
8
INTRODUÇÃO
Envelhecer pressupõe mudanças físicas psicológicas e sociais no
indivíduo. Tais alterações podem ser verificadas em idades mais precoces ou
mais avançadas, e, em maior ou menor grau, de acordo com as características
genéticas e o modo de vida de cada um (ZIMERMAN, 2000).
As mudanças fisiológicas, psicológicas e sociais que ocorrem com o
processo de envelhecimento, vão influenciar de maneira decisiva o
comportamento da pessoa idosa. Com o declínio gradual das aptidões físicas e
o impacto do envelhecimento e das doenças, o idoso tende a alterar seus
hábitos de vida e rotinas diárias, substituindo-as gradativamente por atividades
e ocupações que demandem menos recursos físicos e até mesmo psíquicos.
Os efeitos associados à inatividade e a má adaptabilidade são muito sérios,
podendo acarretar uma redução no desempenho físico, na habilidade motora,
na capacidade de concentração, de reação e de coordenação, gerando
processos de auto-desvalorização, apatia, insegurança, perda da motivação,
isolamento social e a solidão (OKUMA, 1998).
Zimermam (2000) ainda relata como mudanças psicológicas do
envelhecimento humano a dificuldade de se adaptar a novos papéis, às
mudanças rápidas (alterações psíquicas que exigem tratamento) e planejar o
futuro; falta de motivação; necessidade de trabalhar as perdas orgânicas,
afetivas e sociais; depressão, hipocondria, somatização, paranóia, suicídio;
baixas auto-imagem e auto-estima.
Desde a década de 50 tem ocorrido o crescimento expressivo da
população idosa também nos países em desenvolvimento. No Brasil, segundo
projeções demográficas, estima-se crescimento de 16 vezes no número de
idosos no período de 1950 a 2020.
9
Por outro lado, ocorre diminuição do envolvimento do número em
atividades físicas vigorosas e moderadas e da vida diária com o aumento
progressivo da idade, levando o decréscimo da capacidade física. Tal fato tem-
se associado com o aumento do risco de doenças crônicas não transmissíveis,
como a hipertensão, diabetes tipo 2, doença coronariana, acidente vascular
cerebral, osteoartrite, problemas respiratórios e desvios posturais.
Sugere-se que a morbimortalidade associada às doenças crônicas
poderia ser reduzida com a prevenção, incluindo mudanças no estilo de vida,
principalmente na dieta e atividade física.
Paffenbarger et al. (apud FEREIRA, 2004) demonstraram que a prática
da atividade física regular reduziu o risco de mortalidade por doença
coronariana e outras causas, aumentando a longevidade. Portanto, a atividade
física tem sido amplamente empregada como estratégia para melhorar a
qualidade de vida do idoso, diminuindo os efeitos deletérios causados pelas
alterações que vêm acompanhadas com o aumento da idade e o contato
social, reduzindo os problemas psicológicos.
É importante ressaltar a inserção do fisioterapeuta como agente
multiplicador de saúde, atuando em interação com uma equipe
multiprofissional e de forma interdisciplinar, nas Unidades Básicas de Saúde
da Família.
Os serviços prestados pelo SUS, muitas vezes é caracterizado como
uma proposta de saúde pobre, para uma população pobre. A inserção do
fisioterapeuta, bem como de outros profissionais da área da saúde nos
programas de saúde, principalmente no PSF, reverterá este conceito
equivocado, pois irá aumentar a eficácia e a resolutividade dos problemas de
saúde, através de uma equipe qualificada e apta para promover saúde.
10
O presente estudo tem por objetivo geral apresentar a atuação
fisioterápica preventiva dos problemas posturais das AVD’s na terceira idade.
Como objetivos específicos pretendem-se analisar de que modo os
problemas posturais das AVD’s influenciam na qualidade de vida das pessoas
de terceira idade, como também discutir os possíveis conselhos, apresentando
atitudes posturais que contribuem para uma vida saudável dos mesmos.
11
CAPÍTULO I
INFLUÊNCIA DOS PROBLEMAS DAS AVD’S NA QUALIDADE DE VIDA DAS PESSOAS DE TERCEIRA
IDADE
Qualidade de vida na velhice são fenômenos que chamam a atenção de
demógrafos, geriatras e gerontólogos sociais. No domínio da pesquisa está
crescendo o interesse pela caracterização das variáveis que determinam uma
boa qualidade de vida na velhice nos domínios físico, social e psicológico, bem
como pela identificação das noções vigentes sobre qual o significado desse
conceito entre a população. No âmbito da intervenção aumenta a consciência
de que é importante identificar e promover condições que permitam a
ocorrência de uma velhice longa e saudável, com uma relação custo-benefício
favorável aos indivíduos e às instituições sociais, num contexto de igualdade
quanto à distribuição de bens e oportunidade sociais.
Quais as condições que determinam uma boa qualidade de vida na
velhice? São elas idênticas para homens e mulheres em todas as idades da
velhice, independentemente do período histórico em que vivam da classe
social a que pertençam das circunstâncias que cercaram sua história pessoal e
de fatores de personalidade? Será que a maior longevidade das mulheres é
acompanhada de condições satisfatórias de vida, ou a feminização da velhice
se faz acompanhar de queda na qualidade de vida, em comparação com fases
precedentes do ciclo vital? Será que as mulheres idosas têm uma qualidade de
vida comparável à dos homens pertencentes à mesma faixa de idade?
Neste texto primeiramente deve-se caracterizar qualidade de vida na
velhice como um fenômeno complexo e sujeito múltiplas influências.
12
1.1 Qualidade de vida na velhice: um ponto de vista multidimensional
Os conceitos estruturais de multidimensionalidade, de avaliação
referenciada a critérios intrapessoais e sócio-normativos, de produto da
interação indivíduo-ambiente e de temporalidade associados à qualidade de
vida na velhice conduziram Lawton à construção de um modelo amplamente
conhecido na literatura gerontológica internacional, contendo quatro dimensões
conceituais: competência comportamental, condições ambientais, qualidade de
vida percebida e bem-estar subjetivo.
A competência comportamental representa a avaliação sócio-normativa
do funcionamento do indivíduo no tocante à saúde, à funcionalidade física, à
cognição, ao comportamento social e à utilização do tempo. É comumente
avaliada em termos do grau de preservação da capacidade para o
desempenho de atividades básicas de vida diária (AVD’s) e de atividades
instrumentais de vida diária (AIVD’s).
M.Baltes e col. (1999, apud NERI, 2001, p. 3) propuseram um modelo
bidimensional com relação ao que a literatura denomina competências de vida
diária, as quais dizem respeito ao manejo das exigências da vida prática, e
assim, são pré-requisitos para a independência e a autonomia.
O primeiro domínio é chamado por eles de competências básicas
(CoBa) e inclui aquelas relativas ao auto-cuidado e ao manejo de atividades
instrumentais rotineiras, automáticas e necessárias à sobrevivência, (por
exemplo utilizar transporte e fazer compras). O segundo domínio é o das
competências expandidas (CoEx) e inclui atividades sociais e de lazer
escolhidas pela pessoa, bem como atividades instrumentais que assegurem o
contato do idoso com o mundo externo e com o self. Sono e descanso são
categorias que se sobrepõem a todas, porque é indicativa de saúde e da
13
funcionalidade física e mental, bem como do conjunto das competências
comportamentais.
A dependência acentuada, associada à impossibilidade de realizar as
atividades básicas de auto-cuidado não é um fato universal na velhice. Ao
contrário, estudos epidemiológicos mostram que apenas 4% dos idosos de
mais de 65 anos apresentam incapacidade acentuada, contra 20% que
apresentam um leve grau de incapacidade. Depois dos 85 anos, a
sensibilidade à incapacidade é cerca de cinco vezes maior do que aos 65
anos, e o percentual de portadores de incapacidade moderada sobe para 46%.
A incapacidade para o desempenho de atividades instrumentais de vida
diária não significa necessariamente impedimento para a continuidade do
funcionamento cognitivo e emocional.
Alem disso, os idosos são capazes de ativar mecanismos de
compensação para enfrentar perdas em funcionalidade, quer lançando mão de
recursos tecnológicos e de apoios sociais e psicológicos quer valendo-se do
controle exercido sobre o comportamento de outras pessoas.
A qualidade de vida na velhice tem relação direta com a existência de
condições ambientais que permitam aos idosos desempenhar comportamentos
biológicos e psicológicos adaptativos. Guardam relação direta com o bem-estar
percebido.
Quando os idosos gozam de independência e autonomia, eles próprios
podem providenciar arranjos para que seu ambiente torne-se mais seguro,
variado e interessante. Se os idosos já não dispõem de possibilidades de
manejo do próprio ambiente físico, é necessário que os membros da família ou
das instituições por eles freqüentadas cuidem desses aspectos. Essas ações
são compatíveis com a criação de ambientes amigáveis, que incluem
instrumentos, equipamentos e adaptações construtivas.
14
A avaliação subjetiva que cada pessoa faz sobre seu funcionamento em
qualquer domínio das competências comportamentais é o conteúdo primário
da qualidade de vida percebida. Ou seja, esta dimensão compreende uma
estrutura interna que corre em paralelo com a competência comportamental.
Porém, enquanto esta é avaliada por critérios objetivos, a qualidade de vida
percebida é por definição um elemento subjetivo. As medidas mais comumente
contempladas pela pesquisa sobre esta dimensão são: saúde percebida,
doenças relatadas, consumo relatado de medicamentos, dor e desconforto
relatados, alterações percebidas na cognição, e auto-eficácia nos domínios
físicos e cognitivos.
O bem-estar psicológico reflete a avaliação pessoal sobre o conjunto e a
dinâmica das relações entre as três áreas precedentes. Isso significa que o
senso de bem-estar psicológico não resulta do simples cômputo das
competências, possibilidades e satisfações. Há três aspectos centrais à
avaliação do bem-estar subjetivo: O primeiro pertence ao âmbito da
experiência privada; o segundo, sua avaliação inclui tanto avaliação global
quanto avaliações referenciadas a domínios tais como saúde física e cognitiva,
sexualidade, relações sociais, relações familiares e espiritualidade; e o terceiro
inclui medidas cognitivas (Ex: satisfação) e emocionais (Ex: afetos positivos e
negativos).
Avaliações dessa natureza dependem do self, cuja continuidade permite
analisar as experiências pessoais numa perspectiva temporal e comparativa. A
continuidade do self é mantida na velhice, mesmo na presença de
dependência. Um aspecto essencial do bem-estar psicológico é, assim, a
capacidade de acomodação às perdas e de assimilação de informações
positivas sobre o self. O senso de auto-eficácia e o senso de agência podem
sofrer alteração quando a fragilidade aumenta e a dependência se faz
presente, mas os idosos preservam a capacidade de desenvolver estratégias
compensatórias de natureza emocional, que lhes permite manter o equilíbrio.
15
Assim como a velhice é uma experiência heterogênea, a qualidade de
vida nesse período da vida é um fenômeno multidimensional e
multideterminado. Dessa forma, seu estudo pede a adoção de critérios
conjuntos de natureza sócio-demográfica, política, médica, epidemiológica,
ecológica e psicológica.
1.2 Atividades de vida diária na terceira idade
Dados de pesquisas mostram que 25% da população idosa mundial é
dependente de outros para realizar suas tarefas cotidianas. Entretanto, a
grande maioria, apesar de apresentar alguma dificuldade na realização dessas
atividades, é independente. Não obstante esses dados continuam a
predominar medidas de avaliação voltadas para a população fisicamente
dependente ou fragilizada, dificultando a análise e compreensão do
desempenho motor e das atividades da vida diária (AVD) da maioria dos
idosos, que não são fisicamente dependentes. Dentre as atividades de vida
diária, consideram-se o caminhar 800 metros, sentar e levantar-se de uma
cadeira e locomover-se pela casa, subir degraus, subir escadas, levantar-se do
solo, habilidades manuais e calçar meias. Os resultados apontaram que os
testes criados nesse estudo têm descrição clara, relacionam-se com AVD e
possui aplicabilidade, o que corrobora a validade de seu conteúdo.
De acordo com Schoueri Júnior, Ramos & Papalão Netto (1994),
tradicionalmente o envelhecimento foi um fenômeno sempre estudado e
analisado como uma característica de países europeus, pois nessas regiões
28% da população apresenta idade superior a 75 anos. A partir da década de
50, no entanto, tem ocorrido um crescimento expressivo da população idosa
nos países de terceiro mundo. Spirduso (1989, apud ANDREOTTI e OKUMA,
1999, p.47) comenta que o século XX foi palco de drásticas mudanças de
demografia relacionadas à idade. Dados apresentados pela autora mostram
16
que, em 1900, somente 4% da população mundial apresentariam idade igual
ou superior a 65 anos. No ano 2000, projetou-se que 15 a 20% da população
pertenceriam a essa categoria. Ressalta-se ainda que a população dos muito
idosos (indivíduos acima dos 85 anos), desde 1940, tem crescido mais de 50%
a cada década (PESCATELLO & Di PIETRO, 1993; SPIRDUSO, 1989,
ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p. 47). Na América Latina, estimou-se que entre
os anos de 1980 e 2000, a população idosa aumentaria em 236% e o Brasil,
em 2025, terá a sexta maior população idosa no mundo (SCHOUERI JÚNIOR
et al., 1994). Segundo Kalache et al. (1987), no Brasil, entre os anos de 1950 e
2025, o aumento da população idosa será da ordem de 15 vezes, enquanto o
da população como um todo será de não mais que cinco vezes no mesmo
período.
Sem dúvida, o aumento da expectativa de vida proporciona às pessoas
um maior período de tempo para sintetizar e culminar a realização de seus
projetos de vida. Porém, para que isso ocorra, é necessário que a velhice seja
vivida com qualidade (OKUMA et al., 1995). Infelizmente, o aumento do
número de idosos na população tem se traduzido em um maior número de
problemas de longa duração, seja em nível pessoal ou social (KALACHE et al.,
1987). Em nível pessoal, Pescatello & Di Pietro (1993, apud ANDREOTTI e
OKUMA, 1999, p. 47) citam que aproximadamente 80% das pessoas acima de
65 anos apresentam ao menos um problema crônico de saúde. Da mesma
forma, Okuma (1997) ressalta que grande porcentagem de pessoas acima de
60 anos tem algum tipo de dificuldade para realizar atividades cotidianas. Em
nível social, Schoueri Júnior et al. (1994) citam que na Inglaterra, 17% de
pessoas com mais de 65 anos utilizam 60% do orçamento do Departamento
Nacional de Saúde e Cuidados Sociais. Em 1980, o gasto “per capita” que
esse departamento teve com indivíduos com mais de 75 anos foi cerca de oito
vezes maior que com a população geral.
Tem sido preocupação dos vários domínios da ciência descobrir as
virtudes da velhice, prolongar a juventude e envelhecer com boa qualidade de
17
vida individual e social. Em decorrência do evidente aumento da população
idosa mundial, identificar as condições que permitem envelhecer bem se torna
tarefa de várias disciplinas no âmbito das ciências biológicas, psicológicas e
sociais (NERI, 1993).
Não é suficiente considerar apenas o aumento da expectativa de vida da
população. É necessário avaliar se os anos adicionais é vida de um indivíduo
serão saudáveis. Segundo Hayflick (1996, apud ANDREOTTI e OKUMA, 1999,
p. 47), o desejo de avaliar as condições na qual o indivíduo vive seu último ano
de vida criou uma variante denominada “expectativa de vida ativa, saudável ou
funcional”. A expectativa de vida ativa termina quando a saúde de uma pessoa
se deteriora a ponto de provocar a perda de sua independência nas atividades
da vida cotidiana, tornando-se dependente de outros ou de algum tipo de
assistência.
Um dos elementos que determinam à expectativa de vida ativa ou
saudável é a independência para realização de AVD. Sem dúvida, na velhice, a
capacidade de realizar AVD pode sofrer alterações (ADRIAN, 1986;
ANIANSSON, RUNDGREN & SPERLING, 1980; GALLAHUE, 1995; MENDES
DE LEON, SEEMAN, BAKER, RICARDSON & TINETTI, 1996; SEEMAN,
BRUCE & MCAVAY, 1996, apud ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p. 47).
Nota-se uma forte tendência é diminuição da atuação do indivíduo no
meio em que vive. Tanto nas ações motoras mais específicas, como nas mais
genéricas pode-se observar um especial comprometimento no comportamento
de parte da população idosa.
Considerando o envelhecimento como um processo multidimensional e
singular, Spirduso (1995, apud ANDREOTTI e OKUMA, 1999) identifica cinco
categorias hierárquicas que detectam os diferentes níveis de capacidade
funcional em idosos:
18
a) fisicamente dependentes: pessoas que não podem executar atividades básicas da vida diária (como vestir-se, tomar banho, comer) e que dependem de outros para suprir as necessidades diárias; b) fisicamente frágeis: indivíduos que conseguem executar atividades básicas da vida diária, mas não todas as atividades instrumentais da vida diária; c) fisicamente independentes: podem realizar todas as atividades básicas e instrumentais da vida diária, mas são geralmente sedentários; d) fisicamente ativos: realizam exercícios regularmente e aparentam ser mais jovens que sua idade cronológica; e) atletas: correspondem a pequena porcentagem da população, pessoas engajadas em atividades competitivas (SPIRDUSO, 1995, apud ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p. 48)
Dados de pesquisa mostram que, com o avanço da idade, há um
aumento progressivo da necessidade de assistência na realização de AVD.
Nos Estados Unidos, 9,3% dos idosos com idades entre 65 e 69 anos
necessitam de algum tipo de assistência para a realização de tais atividades;
um percentual consideravelmente maior, entretanto, é encontrado em
indivíduos entre 75 e 79 anos (18,9%) e indivíduos com mais de 85 anos
(45,4%) (HAVFLICK, 1996, apud ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p. 48). Uma
investigação realizada pelo Nacional Center For Health Statistics, em 1986,
revelou que uma porcentagem substancial da população americana acima de
70 anos tem dificuldade de subir uma escada de 10 degraus, caminhar e
levantar um peso (NICHOLS, HITZELBERGER, SHERMAN & PATTERSON,
1995, apud ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p. 48). Aniansson et al. (1980, apud
ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p. 48), em uma de suas pesquisas, constataram
que idosos possuem velocidade de caminhada inferior àquela recomendada
para que pedestres se utilizem de vias públicas e semáforos com segurança,
além de terem dificuldade para realizar tarefas manuais.
Segundo Adrian (1986, apud ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p. 48), 85%
dos idosos com idade média de 69 anos apresentam algum tipo de problema
para subir degraus de ônibus. Spirduso (1995, apud ANDREOTTI e OKUMA,
1999, p. 48) cita também que alguns tipos de tarefas manuais como abotoar
uma camisa, manipular alfinetes e grampos, discar telefones e utilizar facas
são de difícil realização para idosos.
19
Van Sant (1990, apud ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p. 48) descreve
algumas alterações nos padrões de movimento utilizado no dia-a-dia pelos
idosos, como o caminhar e o levantar-se do solo, com conseqüente dificuldade
de realização. Tradicionalmente, a involução motora decorrente do processo
de envelhecimento, bem como as doenças e disfunções sempre foram vistas
como causa da dificuldade ou incapacidade para realização de AVD em
idosos. Os modelos médicos tradicionais sugerem que são as patologias que
levam, progressivamente, o indivíduo a um prejuízo das funções básicas, é
limitações funcionais e finalmente é incapacidade. Entretanto, evidências
indicam que, nos últimos anos de vida, um estilo de vida fisicamente inativo
também pode ser causa primária da incapacidade para realizar AVD (GRIMBY,
1995, apud ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p. 48). Uma grande variedade de
autores, entre eles, Hombergh, Schouten, Staveren.
Almesvoort & Kok (1995; Pescatello & Di Pietro, 1993 e Spirduso, 1989,
apud ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p. 48), incluem os programas de
atividades físicas como meios efetivos na compressão da morbidade, na
diminuição e prevenção de doenças, na melhora das capacidades físicas e
motoras. Para Shephard (1994, apud ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p.48), a
atividade física regular para idosos tem papel fundamental, na medida em que
prolonga e aumenta a capacidade de trabalho do indivíduo, otimiza a
realização de AVD e previne a incapacidade e a dependência nos últimos anos
de vida.
Apesar de parte dos indivíduos idosos (pelo menos aqueles não
institucionalizados) apresentarem diminuição de desempenho na realização de
atividades motoras do cotidiano, no que se refere é velocidade de execução da
tarefa, ao padrão motor e é freqüência com que são realizadas, ainda
apresentam independência para execução das AVD em geral (SPIRDUSO,
1995, apud ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p. 48). Entretanto, parte
considerável da literatura sobre envelhecimento continua reforçando as perdas
20
dessa fase, e enfatizando a dependência física como uma característica das
pessoas idosas em geral. Como conseqüência, continuam a predominar
propostas de avaliação das AVD voltadas para o idoso fisicamente frágil e
dependente.
1.3 Avaliação de atividade da vida diária na velhice
Se considerar que a maioria dos idosos pertencentes a programas de
educação física são fisicamente independentes e que a prática de atividade
física é um elemento importante na compressão da morbidade, sendo capaz
de modificar a condição de incapacidade para realização de AVD, a criação de
uma bateria de testes de AVD destinada a indivíduos fisicamente ativos e
independentes é de extrema importância.
Ela pode possibilitar a detecção de níveis de capacidade funcional, a
evolução de um nível para outro, a prescrição individualizada de exercícios, o
acompanhamento do desenvolvimento motor, o que indica sua utilização para
avaliação de idosos pertencentes a tais programas.
De acordo com Katz (1983, apud ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p. 49),
a avaliação de AVD na velhice é um assunto que vem sendo estudado desde o
final do século passado. No final dos anos de 1800 e início dos anos de 1900,
na Europa e nos Estados Unidos, informações sobre a capacidade funcional
de idosos foram obtidas através de entrevistas e levantamentos estatísticos,
com o objetivo de detectar enfermidades e doenças que impediam as pessoas
de trabalharem. Durante a década de 40, devido ao aumento da prevalência de
doenças crônicas nos Estados Unidos, a Commission of Chronic Illness
começou a estudar o assunto de maneira mais intensa. Surgiram
classificações de incapacidades e limitações e, um número variado de funções
como locomoção, cuidados de higiene, comunicação, atividades manuais,
21
capacidade de alimentar-se e vestir-se, começou a ser investigadas na
população idosa. Nas últimas décadas, o estudo de metodologias de
mensuração de funções físicas, mentais e sociais expandiu consideravelmente
e uma série de outros instrumentos mais sofisticados foi desenvolvida. Em
1972, Lawton criou um modelo que classificava as AVD por seu nível de
dificuldade: a) atividades básicas da vida diária (relacionadas a ações básicas
do cotidiano e que suprem as necessidades fundamentais); b) atividades
instrumentais da vida diária (tarefas mais complexas, relacionadas é
adaptação do indivíduo no meio ambiente). (KATZ, 1983, apud ANDREOTTI e
OKUMA, 1999, p. 49).
Desde então, vários testes começaram a ser criados, abordando as
atividades realizadas na vida diária, desde as mais simples até as mais
complexas, através da utilização de diferentes tipos de metodologias, como por
exemplo, os testes de desempenho motor ou de auto-percepção.
Segundo Rikli & Jones (1997, ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p. 49),
para a seleção de instrumentos para avaliar o nível de desempenho de AVD
em idosos, deve-se levar em consideração o nível de capacidade funcional
desta população. Infelizmente, a maioria dos testes desenvolvidos para
avaliação de AVD de idosos destina-se às duas primeiras categorias propostas
por Spirduso (1995, ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p. 49), os fisicamente
dependentes e os fisicamente frágeis, que correspondem a apenas 25% da
população idosa mundial. Rikli & Jones (1997) comentam que poucos
instrumentos de pesquisa têm capacidade para classificar diferentes níveis de
função de indivíduos independentes e detectar mudanças ao longo do tempo.
Dentre as baterias de testes encontradas (CLARK, 1989; DENISTON & JETTE
& JETTE, 1980; JEBSEN, TAYLOR, TRIESCHMANN, TROTLER & HOWAR,
1969; JETTE & BRANCH, 1985; KIM & TNAKA, 1995; KLEIN & BELL, 1982;
KURIANKY & GURLAND, 1976; PODSIADLO & RICHARDSON, 1991;
REUBEN, LALIBERTE, HIRIS & MOR, 1990; SARNO, SARNO & LEVITA,
1973; SCHOENING & IVERSEN, 1968; VORRIPS, RAVELLI, DONGELMANS,
22
DEURENBERG & STAVEREN, 1991; WEINER, DUNCAN, CHANDLER &
STUDENSKI, 1992; WILLIANS, HADLER & EARP, 1982, apud ANDREOTTI e
OKUMA, 1999, p. 49), poucas são compostas de atividades mais complexas,
destinadas a indivíduos independentes fisicamente (JEBSEN et al., 1969;
NICHOLS et al., 1995; PODSIADLO & RICHARDSON, 1991; SARNO et al.,
1973; VORRIPS et al., 1991, apud ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p. 49).
Além disso, alguns testes propostos não têm nenhuma relação com
AVD (CLARCK, 1989; JETTE & BRANCH, 1985; KIM & TANAKA, 1995;
WEINER et al., 1992, apud ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p. 49).
Outro ponto de discussão na literatura é o da utilização de testes de
desempenho motor versus testes de auto-percepção. De acordo com Guralnik,
Branch, Cummings & Curb (1989 e SPIDUSO, 1995 apud ANDREOTTI e
OKUMA, 1999, p. 49), os instrumentos de pesquisa que medem desempenho
motor apresentam uma série de vantagens: maior validade e reprodutibilidade,
maior sensibilidade na detecção de mudanças ao longo do tempo, menor
influência da função cognitiva, bem como da cultura, linguagem e educação do
indivíduo. Porém, apresentam algumas desvantagens: consomem mais tempo
de realização que um teste de auto-percepção, necessitam de espaço e
equipamentos especiais, apresentam risco de lesões e podem gerar ansiedade
e medo nos participantes. Ainda, Guralnik et al. (1989, apud ANDREOTTI e
OKUMA, 1999, p. 49) comentam que testes simples podem não refletir o
desempenho em tarefas complexas da vida diária.
Por outro lado, as técnicas de auto-percepção, que consistem em
perguntar aos sujeitos sobre a percepção que têm de suas habilidades e
capacidades para desempenhar AVD, usando-se entrevistas, questionários ou
escalas, têm vantagens relacionadas é fácil administração, é baixíssima
porcentagem de riscos de causar danos ao indivíduo e é predição de índices
de morbidade e mortalidade (SPIRDUSO, 1995, apud ANDREOTTI e OKUMA,
1999, p. 50). No entanto, as técnicas de auto-percepção têm sofrido críticas
23
severas. A validade e reprodutibilidade dos instrumentos podem ser afetadas
devido a vários fatores:
a) as pessoas nem sempre têm avaliações precisas de seus comportamentos; b) pode haver desonestidade por parte de alguns avaliados; c) as respostas podem ser influenciadas por pessoas como amigos, professores, parentes; d) pode haver diminuição da memória; e) as pessoas podem não entender o enunciado das perguntas. (SPIRDUSO, 1995, apud ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p. 50).
Segundo Guralnik et al. (1989, apud ANDREOTTI e OKUMA, 1999, p.
50), a validade dos instrumentos de auto-percepção pode ser comprometida
quando não apresentam definições claras para as atividades, bem como
quando não contemplam as possíveis categorias de resposta. Outrossim, os
indivíduos podem ter dificuldades para avaliar como executam determinada
tarefa. Quanto é reprodutibilidade dos instrumentos, os autores comentam que
entre uma medição e outra, mudanças substanciais têm sido observadas nas
funções e acredita-se que essas alterações não são apenas o resultado de
mudanças reais, mas fruto da irreprodutibilidade das medidas.
Apesar de existir um número considerável de testes que avaliem
atividades do cotidiano, a maioria é de difícil aplicabilidade e/ou são destinados
a populações com sérias doenças ou disfunções. Com base na revisão da
literatura, constata-se que existe necessidade de construção de testes que
mensurem a capacidade de realização de AVD de idosos fisicamente
independentes.
Percebendo essa lacuna é que se entendeu a necessidade de criar uma
bateria de testes que simulassem atividades rotineiramente desempenhadas
por idosos com essas características, de modo a avaliarem o nível de
desempenho quantitativo, detectar mudanças ao longo do tempo e serem
utilizados em diferentes programas.
24
CAPÍTULO II
ATUAÇÃO FISIOTERÁPICA PREVENTIVA
A fragmentação do saber, expressa na forma de atuação dos
profissionais nas suas várias especialidades, tem gerado, apesar de seus
avanços teóricos e metodológicos, limitadas práticas focadas nas ações
curativas e na perspectiva da saúde como ausência de enfermidade. No
entanto a prática da saúde sob o olhar da coletividade com seus diversos
componentes abre a possibilidade de incorporar a doença no próprio conceito
de saúde, à medida que vê a experiência do adoecimento como uma forma de
reestruturação da subjetividade e da relação do sujeito com o mundo.
Assim, olhar o pluralismo da questão da saúde solicita ao profissional
das diversas áreas que contribuem para a saúde, uma mudança de seus
conceitos e ações. Essas mudanças, por sua vez, interferem nas relações
educacionais de formação dos profissionais, revelando a necessidade de
preparo para atender a demanda (BUSS, 1999).
A primeira conferência Pan-Americana sobre Educação em Saúde
Pública no RJ em 1994 propôs o reforço ao espaço transdisciplinar e a idéia
básica da elaboração de processos de formação, capacitação e de ações de
investigação de modo articulado com a sociedade e os serviços de saúde.
Desta forma é mister que a Fisioterapia esteja integrada dentro deste contexto
de mudanças.
Em termos práticos, será preciso promover toda essa saúde planejando-se políticas e concretizando programas e serviços capazes de gerar bem-estar e de evitar riscos, tanto para os indivíduos quanto para os grupos sociais, respeitadas as condições de contexto social e sanitário tanto quanto a autonomia e a
25
capacidade de criação dos sujeitos históricos (COELHO & ALMEIDA FILHO, 2002 p. 330).
A conferência de Alma-Ata (1978) em todos os seus tópicos e em
especial ao priorizar as estratégias de atenção primária a saúde, vem gerando
mudanças na forma de atuar e no desenvolvimento dessas ações para a
população; pois, promovendo um maior envolvimento social, gera uma
percepção diferenciada dos fatos e a constatação da dificuldade das ações de
saúde pública. Isto proporciona o surgimento de novos paradigmas em
diversos campos de atuação na área da saúde, onde também se inclui a
Fisioterapia (ALMEIDA FILHO & PAIM, 1998).
Nesse novo contexto, a Fisioterapia encontra no conceito de saúde
coletiva subsídios para repensar, direcionar e possibilitar ações dentro dessa
nova proposta de visão e ação para saúde, procurando também priorizar o
contexto social e as ações de promoção de saúde e prevenção, tornando-se
mais participativa no cenário das mudanças relativo à saúde da população.
As ações de saúde com cunho social, historicamente são elementos de
transformação do meio e da sociedade (ROSSEM, 1994), pois, as mudanças
ocorridas no cenário social da saúde suscitam novos paradigmas, uma vez
que, a percepção ou o conhecimento do processo saúde Doença são ao
mesmo tempo objetivas e subjetivas pessoais e coletivas universais e culturais
e pensar na saúde apenas sob o aspecto cientifico é olhar e abordar apenas
um aspecto da questão (CONCONE, 2003).
De acordo com Almeida Filho (2000), a saúde é um sistema complexo
de processos adaptativos com distintas fases hierárquicas e o profissional de
saúde deve ser capaz de lidar e intervir neles a fim de contribuir para a
promoção de saúde e o bem-estar social interagindo nas práticas da vida. A
saúde como conceito com os quais trabalham os profissionais de saúde
apresenta dificuldades de definição epistemológica, pela contribuição de
diversos componentes, biológico, psicológico, social, político, econômico,
26
cultural, individual, coletivo – que contribuem com a saúde (COELHO &
ALMEIDA FILHO, 2002).
2.1 Alterações Posturais
Não importa qual a etiologia, mas os problemas posturais se
disseminam pela população em geral, já se manifestando na infância e
adolescência. Os problemas na adolescência se desenvolvem a partir de 10
anos e uma criança sem orientação, pode adquirir vícios posturais,
principalmente no manuseio com materiais escolares, nas atividades do dia-a-
dia e nas aulas de Educação Física praticadas na escola.
A maior parte dos problemas com a postura é resultado de efeitos
acumulados de uma má postura, uma vida estressante, maus posicionamentos
no trabalho, maus hábitos no dormir e levar uma vida sedentária. Pode-se dizer
então, que os desequilíbrios são classificados como mecânicos, emocionais e
orgânicos.
A má postura é um hábito que se adquire na infância, portanto é
fundamental que zele pela saúde do corpo, e através de análises e
observações diárias das posturas possa no dia-a-dia estar orientando e
prevenindo os maus hábitos posturais. Assim, deve-se praticar uma atividade
física, que dê autoconfiança com o corpo, devendo-se proporcionar
conhecimento corporal que, transportados para o dia-a-dia, possam melhor
conviver com as necessidades diárias de uma forma mais saudável, sem
agredi-lo.
O conhecimento do corpo deve iniciar-se na infância, quando a criança
está em fase de desenvolvimento e seu corpo sujeito a transformações, porque
depois, na fase adulta, sem a presença deste conhecimento, as pessoas terão
maior dificuldade de educar posturalmente seu corpo. Atividades domésticas,
digitadores, manicures e outros, são os que mais acarretam alterações
27
posturais, causadas pelo uso repetitivo e inadequado de seus segmentos
corporais.
Imediatamente após a concepção do indivíduo, inúmeras
transformações, sejam elas morfológicas, fisiológicas ou ainda psicológicas,
ocorrem de maneira gradativa e evolutiva. Essas mesmas transformações,
após certa idade, processam-se de forma involutiva, podendo-se apresentar
num indivíduo como alterações extremamente sutis, sem produzir qualquer
incapacidade ou com características extremamente maléficas e profundas,
resultando em uma impotência global.
Guccione (2002), afirma que a postura espelha o indivíduo. Ela pode ser
a exteriorização do bem-estar, da doença, da auto-estima (ou sua ausência),
das vicissitudes da vida ou simplesmente de processos do desenvolvimento ou
do envelhecimento.
Kauffman (2001) conceituou postura como sendo o alinhamento das
partes do corpo entre si em um dado momento. Assim, a postura deve
envolver interações complexas entre os ossos, as articulações, o tecido
conjuntivo, os músculos esqueléticos e o sistema nervoso central e periférico.
O que é preciso entender é que a função estática não é regida por
músculos isolados, mas sim, por um conjunto de músculos que, alguns
estudiosos se referem como “cadeias musculares”. Todo desequilíbrio ou
desarranjos que ocorram nessas cadeias nos levará a um desequilíbrio do
tônus muscular e conseqüentemente a má postura.
Dessa forma, é importante um trabalho corporal de maneira a
desenvolver não só habilidades corporais, mas também, uma educação
postural que oriente os indivíduos para um trabalho corporal consciente e que
ele saiba respeitar seu corpo, não exigindo dele além do necessário,
realizando atividades que ele possa compensar seus esforços e evitar grandes
males para um futuro próximo.
28
Um corpo saudável é responsável pelo bom desempenho de todas as
atividades diárias do ser humano, no entanto, a ausência de saúde leva o ser
humano à um desequilíbrio físico, mental, social e profissional.
É comum observar-se um aumento acentuado na cifose dorsal nos
indivíduos de idade avançada sendo que um conjunto de fatores pode
influenciar para tal acontecimento, como a fraqueza da musculatura
paravertebral, sobretudo da região lombar, associado à redução na capacidade
estabilizadora dos ligamentos anterior e posteriores da coluna vertebral, o que
ocasionariam uma redução na lordose lombar fisiológica, que por sua vez
modificaria a localização do centro de gravidade do corpo humano levando o
indivíduo a buscar um novo posicionamento na postura ereta, com um
aumento da cifose dorsal e na base de sustentação. Kauffman (2001) refere
que o aumento da cifose levaria a uma redução nos movimentos do tronco
para as respostas respiratórias e motoras; encoraja a protração escapular e
pode provocar patologias no ombro. Ressalta também que a retificação da
lombar reduz a extensão tronco/quadril para as passadas da marcha.
A projeção da cabeça acompanharia a cifose aumentada, visando à
manutenção do olhar horizontalizado, entretanto ocasionaria um desvio no
centro de gravidade para frente; o que pode levar a um agravamento da
sensação de tonteira, pois comprometeria a funcionabilidade da artéria basilar.
As escolioses também podem ser constantemente observadas quando
se avalia o idoso, podendo variar suas causas desde modificações no
posicionamento dos pés, no comprimento dos membros, no posicionamento
pélvico, retrações musculares, mal funcionamento da ATM (Articulação
Têmporo-Mandibular), entre outras causas.
Para Verderi (1988) muitos sintomas como dores de cabeça,
formigamento nos braços, dores em certas regiões do corpo, dores abdominais
29
entre outras, tem sua origem nos desequilíbrios posturais. Porém, muitas
pessoas, podem-se dizer a maioria, não possuem essa informação e nem
imaginam que as dores que estão sentindo são conseqüências desses
desequilíbrios.
As alterações posturais podem causar dor e redução do movimento da
coluna vertebral, sobretudo os movimentos sutis de rotação envolvidos no
rolamento segmentar e padrão recíproco normal dos membros na marcha
normal.
Algumas alterações no esqueleto axial também podem ser evidenciadas
podendo estar relacionadas ao desgaste natural, hábitos errôneos,
traumatismos e pstologias no sistema neuromusculoesquelético.
Segundo Kauffman (2001), as alterações posturais dos membros
associadas à idade são: protação ou abdução escapular e que alterariam o
ritmo escapuloumeral normal, provocando afecções dolorosas para o ombro;
rigidez/contraturas à flexão do cotovelo, desvio ulnar do punho e flexão dos
dedos o que reduziria a função de alcançar e da mão; contratura em flexão do
quadril que provocaria a redução da passada, podendo também aumentar o
custo de energia para mobilidade e as necessidades para o controle postural,
sobretudo se a alteração for unilateral; contraturas em flexão do joelho que
reduziria o comprimento da passada e do impulso do quadril; e alterações em
varo/valgo no quadril, joelho, tornozelo, que somada às alterações
provenientes das contraturas em flexão do joelho e quadril, têm-se dor, devido
à deformação mecânica e à tensão nos tecidos musculoesqueléticos.
2.2 Contribuições Fisioterápicas na Saúde da Família
O fisioterapeuta, até pouco tempo atrás apresentava pouco destaque
profissional na atenção primária à saúde. Os currículos dos cursos de
30
fisioterapia existentes no Brasil priorizavam a ação curativa, valorizando pouco
o modelo assistencial vigente, dificultando a inserção do fisioterapeuta na
Saúde Pública. Para atender as novas políticas de saúde, fazem-se
necessárias mudanças na formação destes profissionais, que deve iniciar-se
durante a graduação e manter-se como um processo de educação continuada
após a inserção deste no mercado de trabalho. A formação do fisioterapeuta
atual deve objetivar a capacitação de um profissional capaz de atuar na saúde
nos níveis de promoção, prevenção, preservação e recuperação da saúde do
ser humano.
O conceito de saúde, nas últimas décadas, vem passando por intensas
transformações, principalmente no que diz respeito ao modelo de saúde
adotado, passando de um modelo hospitalocêntrico, curativo e reabilitador,
para um modelo assistencial promotor da saúde, preventivo e principalmente
contando com a participação popular e a interdisciplinaridade dos diferentes
profissionais da saúde. Neste sentido, entende-se saúde não como o avesso
da doença, mas como a busca do equilíbrio do ser humano, devendo, portanto
romper os estreitos limites da assistência curativa (CHAMMÉ, 1988).
Desta forma, a mudança no conceito de saúde configurou-se no país,
aliado com o movimento social pela reforma sanitária, iniciado nas duas
últimas décadas e que vem evidenciando a necessidade de reformulação.
O Programa Saúde da família, criado em 1994, na abordagem de
promoção da Saúde, respeitando as diretrizes do SUS, propõe um modelo de
assistência integral, enfatizando a atenção primária e à promoção da saúde
familiar (COSTA NETO; MENEZES, 2000). Com a implantação do PSF é que
se viu a necessidade e importância da inserção do fisioterapeuta na equipe,
visando maior promoção e prevenção da saúde, melhorando assim a
qualidade de vida.
31
Neste contexto, verifica-se a importância da inserção do profissional
fisioterapeuta como agente multiplicador de saúde, desenvolvendo suas
atividades, em interação com uma equipe multiprofissional e de forma
interdisciplinar, nas Unidades Básicas de Saúde da Família.
Na visão do autor, o Sistema Único de Saúde tem apresentado
resultados positivos nos propósitos de universalização, descentralização e
ampliação de cobertura dos serviços de saúde. Avança com mais dificuldade
na garantia da qualidade, equidade e na resolutividade da assistência
ambulatorial e hospitalar, principalmente, pela falta de profissionais habilitados
a prestar assistência integral de saúde (BADUY e OLIVEIRA, 2001). Assim,
para alcançar os objetivos propostos, torna-se necessário o incentivo à
educação permanente como estratégia na reorganização dos serviços de
saúde; integrando todos os membros envolvidos no processo.
A inserção do fisioterapeuta nos serviços de atenção primária à saúde é
um processo em construção, associado, principalmente a criação da profissão,
rotulando o fisioterapeuta como reabilitador, voltando-se apenas para uma
pequena parte de seu objeto de trabalho, que é tratar a doença e suas
seqüelas. Essa lógica de conceitualização, durante muito tempo, excluiu da
rede básica os serviços de fisioterapia, acarretando uma grande dificuldade de
acesso da população a esse serviço e impedindo o profissional de atuar na
atenção primária (RIBEIRO, 2002).
Uma das principais dificuldades encontradas com respeito da inserção
do fisioterapeuta, não apenas no PSF, mas na saúde Pública, diz respeito à
formação inicial e a criação da profissão, que apresentava um caráter
reabilitador, com atuação na atenção terciária, enraizada devido à grande
demanda inicial por reabilitação, inerente a história da criação do curso.
Para Corrêa et al.(1995), nas últimas duas décadas, estudos estatísticos
demonstram uma mudança importante no quadro de doenças com o aumento
32
na incidência das doenças crônicas e degenerativas; e estas se devem,
principalmente, ao aumento da expectativa média de vida da população.
O envelhecimento da população é um dos maiores desafios das últimas
décadas. Embora a velhice não seja sinônima de doença, com a idade,
aumenta o risco de comprometimento funcional e perda de qualidade de vida.
A avaliação funcional dos idosos, com acompanhamento do profissional
fisioterapeuta, torna-se essencial para estabelecer um diagnóstico, um
prognóstico e um julgamento clínico adequado que subsidiarão as decisões
sobre os tratamentos e cuidados necessários com o idoso (CIANCIARULLO et
al, 2002).
Portanto, a fisioterapia apresenta uma missão primordial, de
cooperação, mediante a nova realidade de saúde que se apresenta, através da
aplicação de meios terapêuticos físicos, na prevenção, eliminação ou melhora
de estados patológicos do homem, na promoção e na educação em saúde.
Sendo assim, o atendimento domiciliar é imprescindível ao trabalho de
atenção primário do profissional fisioterapeuta, pois é quando se depara com a
realidade das pessoas, verificando suas atividades de vida diária, suas
limitações e a partir daí proceder aos encaminhamentos e orientações
pertinentes à cada caso.
Ao considerar as atribuições do fisioterapeuta no PSF e da atenção
primária, como um profissional voltado para a educação, prevenção e
assistência fisioterapêutica coletiva e individual, inserido e trabalhando de
forma interdisciplinar, deve-se observar:
• Participar de equipes multiprofissionais destinadas a planejar, implementar, controlar e executar políticas, programas, cursos, pesquisas ou eventos em Saúde Pública;
• Contribuir no planejamento, investigação e estudos epidemiológicos; • Promover e participar de estudos e pesquisas relacionados à sua
área de atuação; • Integrar os órgãos colegiados de controle social;
33
• Participar de câmaras técnicas de padronização de procedimentos em saúde coletiva;
• Participar de equipes multiprofissionais destinadas ao planejamento, implementação, controle e execução de projetos e programas de ações básicas de saúde;
• Participar do planejamento e execução de treinamentos e reciclagens de recursos humanos em saúde;
• Promover ações terapêuticas preventivas a instalações de processos que levam a incapacidade funcional laborativa;
• Analisar os fatores ambientais, contributivos ao conhecimento de distúrbios funcionais laborativos;
• Desenvolver programas coletivos, contributivos à diminuição dos riscos de acidente de trabalho;
• Integrar a equipe de Vigilância Sanitária; • Cumprir e fazer cumprir a legislação de Vigilância Sanitária; • Encaminhar às autoridades de fiscalização profissional, relatórios
sobre condições e práticas inadequadas à saúde coletiva e/ou impeditivas da boa prática profissional;
• Integrar Comissões Técnicas de regulamentação e procedimentos relativos a qualidade, a eficiência e aos riscos sanitários dos equipamentos de uso em Fisioterapia;
• Verificar as condições técnico-sanitárias das empresas que ofereçam assistência fisioterapêutica a coletividade (REGASSON et al, 2003, p.4-5)
Portanto, a garantia de saúde para todos, preconizada na Constituição
Federal de 1988, está diretamente relacionada à implantação e implementação
do SUS e ao cumprimento de seus princípios e diretrizes por todos
profissionais e órgãos envolvidos. Sendo assim, torna-se evidente a
necessidade do profissional fisioterapeuta para que se possa efetivar um
sistema de saúde universal, eqüitativo, objetivando a promoção da saúde, a
prevenção de doenças, a educação continuada e a participação popular.
Os serviços prestados pelo SUS, muitas vezes é caracterizado como
uma proposta de saúde pobre, para uma população pobre. A inserção do
fisioterapeuta, bem como de outros profissionais da área da saúde nos
programas de saúde, principalmente no PSF, reverterá este conceito
equivocado, pois irá aumentar a eficácia e a resolutividade dos problemas de
saúde, através de uma equipe qualificada e apta para promover saúde.
CAPÍTULO III
34
O TRABALHO DO FISIOTERAPEUTA NO PSF COMO CONTRIBUIÇÃO PARA UMA VIDA SAUDÁVEL NA
TERCEIRA IDADE
O envelhecimento traz, como uma de suas conseqüências, a diminuição
do desempenho motor na realização das atividades da vida diária (AVD), o
que, entretanto, não leva as pessoas a se tornarem, necessariamente,
dependentes de outros. Embora aproximadamente 25% dos idosos cheguem
ao estado de dependência para realizar tarefas cotidianas (SPIRDUSO, 1995,
apud ANDREOTI e OKUMA, 1999, p. 46), o que é uma parcela considerável
da população para trazer problemas para a sociedade, essa situação não se
traduz como a totalidade dos idosos, ou como uma condição que todos terão
quando envelhecerem.
Tem sido preocupação dos vários domínios da ciência descobrir as
virtudes da velhice, prolongar a juventude e envelhecer com boa qualidade de
vida individual e social. Em decorrência do evidente aumento da população
idosa mundial, identificar as condições que permitem envelhecer bem torna-se
tarefa de várias disciplinas no âmbito das ciências biológicas, psicológicas e
sociais Lawton (1991, apud ANDREOTI e OKUMA, 1999, p.47) e Neri (1993).
Não é suficiente considerar apenas o aumento da expectativa de vida da
população. É necessário avaliar se os anos adicionais à vida de um indivíduo
serão saudáveis. Segundo Hayflick (1996), o desejo de avaliar as condições
nas quais o indivíduo vive seus últimos anos de vida criou uma variante
denominada “expectativa de vida ativa, saudável ou funcional”. A expectativa
de vida ativa termina quando a saúde de uma pessoa se deteriora a ponto de
provocar a perda de sua independência nas atividades da vida cotidiana,
tornando- se dependente de outros ou de algum tipo de assistência.
Segundo Adrian (1986, apud ANDREOTI e OKUMA, 1999, p.48), 85%
dos idosos com idade média de 69 anos apresentam algum tipo de problema
35
para subir degraus de ônibus. Spirduso (1995, apud ANDREOTI e OKUMA,
1999, p.49) cita também que alguns tipos de tarefas manuais como abotoar
uma camisa, manipular alfinetes e grampos, discar telefones e utilizar facas
são de difícil realização para idosos. Van Sant (1990, apud ANDREOTI e
OKUMA, 1999, p.49) descreve algumas alterações nos padrões de movimento
utilizados no dia- a- dia pelos idosos, como o caminhar e o levantar- se do solo,
com conseqüente dificuldade de realização.
Tradicionalmente, a involução motora decorrente do processo de
envelhecimento, bem como as doenças e disfunções sempre foram vistas
como causa da dificuldade ou incapacidade para realização de AVD em
idosos. Os modelos médicos tradicionais sugerem que são as patologias que
levam, progressivamente, o indivíduo a um prejuízo das funções básicas, as
limitações funcionais e finalmente à incapacidade. Entretanto, evidências
indicam que, nos últimos anos de vida, um estilo de vida fisicamente inativo
também pode ser causa primária da incapacidade para realizar AVD (GRIMBY,
1995, 1990, apud ANDREOTI e OKUMA, 1999, p.48). Uma grande variedade
de autores, entre eles, Hombergh, Schouten, Staveren, Almesvoort & Kok
(1995, apud ANDREOTI e OKUMA, 1999, p.48), Pescatello & Di Pietro (1993,
apud ANDREOTI e OKUMA, 1999, p.48) e Spirduso (1989, apud ANDREOTI e
OKUMA, 1999, p.48), incluem os programas de atividades físicas como meios
efetivos na compressão da morbidade, na diminuição e prevenção de doenças,
na melhora das capacidades físicas e motoras.
Para Shephard (1994, apud ANDREOTI e OKUMA, 1999, p.48), a
atividade física regular para idosos tem papel fundamental, na medida em que
prolonga e aumenta a capacidade de trabalho do indivíduo, aperfeiçoa a
realização de AVD e previne a incapacidade e a dependência nos últimos anos
de vida.
Desta forma, os mecanismos de controle postural desenvolvem um
papel importante na vida do idoso, regulando toda ação motora e padrão
36
postural desenvolvida em suas AVD, influenciando em sua qualidade de vida e
independência funcional. Pois, apesar de parte dos indivíduos idosos (pelo
menos aqueles não institucionalizados) apresentarem diminuição de
desempenho na realização de atividades motoras do cotidiano, no que se
refere à velocidade de execução da tarefa, ao padrão motor e à freqüência
com que são realizadas, ainda apresentam independência para execução das
AVD em geral (Spirduso, 1995, apud ANDREOTI e OKUMA, 1999, p.48).
Entretanto, parte considerável da literatura sobre envelhecimento continua
reforçando as perdas dessa fase, e enfatizando a dependência física como
uma característica das pessoas idosas em geral. Como conseqüência,
continuam a predominar propostas de avaliação das AVD voltadas para o
idoso fisicamente frágil e dependente.
Na concepção de Freitas et al. (2004, apud PEREIRA, 2006, p.28) o
risco de quedas está acentuado na população após a segunda metade da
sexta década de vida, onde 30% da população apresentam ocorrências de
quedas nos Estados Unidos. As possíveis causas seriam as constantes
oscilações e mudanças no controle postural, particularmente em tarefas na
posição em pé em períodos prolongados, devido ao processo de
envelhecimento inerente do ser humano.
Portanto, para os idosos é de fundamental importância que este
aprenda a perceber melhor o seu corpo e suas funções em relação ao
movimento e à posição estática (ASSIS; ARAÚJO, 2004). Assim, uma boa
percepção corporal através dos receptores sensoriais auxilia na perfeita
percepção do posicionamento corporal em relação ao ambiente e a atividade
desenvolvida.
Com o processo de envelhecimento ocorrem alterações posturais, o
qual pode ser explicado segundo Godoi e Barela (2002, apud PEREIRA, 2006,
p.29), pelos déficits de informações sensoriais (aferentes), por alterações
motoras e por uma alteração da interação entre aferência e eferência nessa
37
faixa etária. Outra explicação para a instabilidade e alteração postural no
idoso, segundo estudos citados por Godoi e Barela (2002, apud PEREIRA,
2006, p.29), é referente ao mecanismo de informações antecipatórias,
conhecido como feedforward, o qual o idoso não é capaz de captar as
informações do ambiente de forma antecipatória, portanto, concluindo que
esse mecanismo nessa população é atrasado.
Mas segundo estudo próprio, Godoi e Barela (2002, apud PEREIRA,
2006, p.29) concluíram que os mecanismos de feedback e feedforward em
idosos durante a manutenção postural, apresentam funcionamentos similares a
de um adulto jovem. No entanto, foi possível concluir que adultos jovens e
idosos se utilizam de estratégias comportamentais diferentes para minimizar as
oscilações corporais durante um evento de instabilidade. A mesma conclusão
é citada por Freitas (2005, apud PEREIRA, 2006, p.29) em seu estudo, onde
cita que adultos jovens e idosos mesmo em situações mais simples se utilizam
de estratégias diferentes para qualquer restrição ou perturbação na postura
ereta quieta. E, conforme Duarte e Zatsiorsky (2002, apud PEREIRA, 2006,
p.29), em um evento de instabilidade há duas estratégias diferentes de manter
o controle postural: a estratégia de quadril e do tornozelo.
Portanto, as alterações causadas pelo processo de envelhecimento e
suas conseqüentes alterações nos sistemas visual, vestibular e proprioceptivo,
pode gerar modificações posturais nesta população, devido à inversão de
seqüências de ativação muscular e deterioração no tempo de reação aos
estímulos. Sendo este problema considerado de saúde pública, pois é um
grande fator de risco de quedas para esta população em suas AVD
(GAUCHARD et al., 2003).
Segundo Sanglard e Pereira (2005) a população idosa mundial cresce
numa proporção de 2,5% ao ano, sendo que cerca de 10% da população
adulta acima dos 75 anos de idade perde a independência em uma ou mais
em suas AVD.
38
Por conseguinte, Amorim et al. (2002, apud PEREIRA, 2006, p.29)
ressalta que a capacidade funcional é definida como uma autonomia física,
traduzindo-se numa independência para a realização das AVD, tais como
atividades de deslocamento, auto-cuidado, ocupacionais e recreativas. Porém
o processo de envelhecimento acarreta uma perda gradual destas funções.
Esta condição é levada em boa parte pelo decréscimo na função dos
órgãos sensitivos, como os sistemas visual, vestibular e proprioceptivo.
Favorecendo no idoso uma má postura, causando dores e aumentando o risco
de quedas (ASSIS; ARAÚJO, 2004). Dificultando as ações do idoso em suas
AVD, que são altamente influenciadas pelas informações sensoriais (BARELA,
2000).
Segundo Kuwano e Silveira (2002) as habilidades que o indivíduo idoso
apresenta em suas AVD é que determinará o grau de sucesso e satisfação
pessoal e adaptação perante a sociedade.
Um dos principais fatores e indicativos para verificar a independência
nas AVD dos idosos é sua capacidade de deambular, pois os idosos
apresentam dificuldades nas atividades que requerem velocidade, equilíbrio e
precisão (SANGLARD; PEREIRA, 2005). Um déficit proprioceptivo associado a
outras alterações fisiológicas provenientes do envelhecimento leva o idoso a
uma dificuldade na marcha, com diminuição na amplitude das passadas,
menor levantamento dos pés e maior alargamento da base entre os mesmos
(BUKSMAN; VILELA, 2004).
Castro et al. (2000) afimam que o melhor padrão de avaliar a marcha é
sua velocidade de execução, sendo que esta fica diminuída a partir da
segunda metade da sexta década de vida, associada a uma redução no
comprimento do passo e da cadência, além de distúrbios da coordenação
entre membros inferiores e superiores.
39
Porém, uma infinidade de posturas pode ser adotada nas realizações
das AVD dos idosos: o andar, o alcance de objetos com as mãos, a
alimentação, a comunicação, ou simplesmente ficar em pé, deitado ou
sentado. Sendo assim, variadas respostas neuromusculares são exigidas para
o equilíbrio da nova postura adotada.
Goulart et al. (2003) analisaram em seu estudo, idosos na postura de
passar de sentado para em pé, alegando que esta é um pré-requisito para as
demais AVD e para uma performance independente do idoso. Concluíram que
entre esta população há uma dificuldade de realizar este movimento primordial
do cotidiano, sendo este um importante preditivo de quedas nesta população,
pois durante sua execução há grandes mudanças de estabilidade exigindo
constantes ajustes posturais. A dificuldade em realizar esta atividade pode
estar relacionada a fatores fisiológicos, como por exemplo: diminuição da
acuidade visual, acuidade proprioceptiva, força muscular e déficit de equilíbrio.
Conclui-se, pois que, em decorrência do envelhecimento e suas
conseqüentes mudanças fisiológicas, o idoso está mais propenso às quedas
nas realizações de suas atividades cotidianas nas mais variadas posturas
adotadas. Essas correspondem por 12% dos óbitos nesta população e
naqueles hospitalizados em decorrência de quedas, o risco de morte no ano
seguinte varia de 15 a 50%. As quedas podem ser consideradas o evento
sinalizador do início da incapacidade funcional dos idosos, tendo como sua
causa, fatores intrínsecos, como os já citados, decorrentes do processo de
envelhecimento, e fatores extrínsecos, relacionados ao risco ambiental
domiciliar (BUKSMAN; VILELA, 2004).
3.1 Atitudes Posturais Preventivas no Programa Saúde da Família
Apesar de receber incentivos para a realização de muitas atividades no
seu dia-a-dia, as tarefas domésticas realizadas pelos idosos, mesmo que vêm
40
contra a inatividade e ao sedentarismo, também podem prejudicar as
articulações e músculos quando realizadas sem observar uma boa posição
corporal (ASSIS; ARAÚJO, 2004).
Outros fatores associados aos maus hábitos posturais nas realizações
das AVD, como os de trabalho e lazer, podem agravar também as sobrecargas
nos sistemas osteomusculoarticular (ROSA; GABAN; PINTO, 2002).
Para Faria et al. (2003) o indivíduo idoso necessita de um bom
desempenho físico-funcional para manter suas AVD. Contudo, levando em
conta as alterações decorrentes do processo de envelhecimento, faz-se
necessário um bom programa de exercícios físicos para restabelecer os fatores
que potencialmente podem levar à disfunção dos sistemas que visam à
manutenção da postura.
Portanto, o fortalecimento dos elementos da aptidão física, como força,
flexibilidade, capacidade cardiorrespiratória, coordenação motora, entre outros,
e um eficiente programa de treinamento funcional, que vise à estimulação dos
órgãos sensoriais, são de extrema importância para a manutenção da postura
consciente no idoso em suas AVD.
Com o crescente aumento na expectativa de vida da população mundial
fazem-se necessárias intervenções para proporcionar aos idosos meios que
possam levá-los à longevidade com maior qualidade de vida e independência
em suas AVD. Ultimamente, observa-se um número crescente de pessoas
acima dos 60 anos praticando exercícios físicos, seja por conta própria ou em
academias, clubes e associações. Segundo Kuwano e Silveira (2002) vários
estudos têm evidenciado os efeitos benéficos dos exercícios físicos
sistematizados na melhoria das capacidades funcionais no desempenho das
AVD da população idosa.
Em estudo realizado por Amorin et al. (2002) concluiu-se que idosos
ativos, os quais praticavam exercícios físicos regulares, apresentavam
41
melhores resultados em comparação com idosos sedentários na sua
capacidade funcional, refletindo no estilo de vida dessa população,
aumentando o grau de autonomia em relação às AVD e em um
envelhecimento mais rico em oportunidades de relações sociais.
Para Schmidt et al. (2003, apud PEREIRA, 2006, p. 35-36) o objetivo
dos exercícios voltados para a postura é oferecer um tratamento através da
reprogramação dos sensores desregulados, colocando-os em ordem e
restabelecendo o equilíbrio postural e o sistema neuro-músculo-esquelético.
A prática de exercícios físicos para idosos deve aprimorar a qualidade
de vida, visando uma manutenção de um estado saudável, evitando um
declínio funcional do organismo e mantendo suas capacidades para as AVD,
contemplando exercícios diretamente relacionados com as modificações mais
importantes que são decorrentes do processo de envelhecimento (KUWANO;
SILVEIRA, 2002).
Gauchard et al. (2003) citam que idosos participantes de programas de
atividade física regular são beneficiados com um envelhecimento saudável.
Vários estudos têm demonstrado que esta população praticante de atividades
físicas experimenta uma melhora da postura, na ação motora e no senso de
equilíbrio, levando a uma diminuição de quedas em suas AVD.
Sendo uma das formas de avaliar a independência das AVD nos idosos,
a marcha é um dos componentes que devem ser enfatizados num programa
de exercícios físicos para esta população. Assim, segundo Buksman e Vilela
(2004) as alterações deste ato motor não são inevitáveis perante a idade,
tendo sido demonstrado que exercícios físicos regulares e estilo de vida com
prática de atividade física resultam em melhora significativa das alterações
decorrentes do processo de envelhecimento.
Um programa de exercícios físicos para idoso deve incluir além de
exercícios para a força muscular, capacidade aeróbica e flexibilidade,
42
exercícios específicos que estimulem os órgãos sensitivos perante a realização
das AVD, tais como: ultrapassagem de obstáculos, aprendizado para levantar-
se do chão no caso de quedas e outras conforme a necessidade do indivíduo
(BUKSMAN; VILELA, 2004).
Segundo Goulart et al. (2003) nas intervenções através de exercícios
físicos na população idosa é necessário dar ênfase nas várias características
do movimento, como nas realizadas nas AVD, mudanças de velocidade,
amplitude, direção e realização dos mesmos em contexto variados.
Segundo Sexton (2005, apud PEREIRA, 2006, p. 38) apenas exercícios
que desenvolvam força e amplitude articular não são decisivos para uma boa
manutenção e desenvolvimento do sistema proprioceptivo, sendo necessária
uma abordagem específica através de exercícios de equilíbrio estático e
dinâmico com ou sem auxílio de equipamentos, como plataformas de
equilíbrio, que devem seguir uma progressão de intensidade conforme a
capacidade do indivíduo a ser treinado.
Faria et al. (2003, apud PEREIRA, 2006, p. 38-39) citam que em
comparação com sessões de treinamento de força, flexibilidade e resistência,
as sessões que continham treino de equilíbrio foram a única capaz de reduzir
significativamente o risco de quedas em idosos, correlacionando as perdas de
funcionalidade nas AVD por esta população com o déficit proprioceptivo
causado pelo envelhecimento.
Gomes, Pereira e Assumpção (2004) demonstram que a prática de
exercícios físicos regulares e sistematizados contribui para o envelhecimento
saudável e o aumento da expectativa de vida. Assim, citam que a prática
regular do Tai Chi Chuan auxilia na qualidade de vida do idoso, melhorando o
equilíbrio por meio de incrementos na organização sensorial, treinamento de
reflexos neuromusculares, diminuição das oscilações e estabilidade postural.
43
Para Gauchard et al. (2003) a manutenção da postura nas AVD
depende da regulação dos mecanismos sensoriais aferentes e da força
muscular, porém, afirma que as informações sensoriais são mais importantes e
têm suas capacidades aumentadas primeiro que a capacidade muscular.
Sendo assim, comparam três grupos de idosos praticantes de atividades
físicas diferentes. O primeiro participou de atividades físicas proprioceptivas,
como Yoga e ginástica suave; o segundo participou de atividades físicas
bioenergéticas, como jogging; e o quarto foi o grupo controle, o qual praticava
caminhada de forma não sistematizada. Os resultados mostraram que em
relação ao equilíbrio postural, o grupo que praticou atividades físicas
proprioceptivas obteve melhoras significativas em relação aos outros grupos
em todos os testes.
Malliou et al. (2004, apud PEREIRA, 2006, p.39) afirmam que os
exercícios de estimulação sensorial devem fazer parte de qualquer programa
de treinamento e não apenas visando à reabilitação após lesões, quando é
mais usado. Os exercícios de equilíbrio estimulam os mecanorreceptores
treinando o SNC (Sistema Nervoso Central) a reconhecer a posição corporal
durante qualquer atividade executada, prevenindo possíveis lesões e quedas
na população idosa.
Desta forma, fica claro que é necessário propiciar a esta população
exercícios físicos que estimulem os órgãos sensitivos, estimulando um estilo
de vida mais saudável, podendo implicar em alterações significativas sobre a
saúde e em suas AVD.
Sendo assim, é por meio dos exercícios físicos, que se consegue
melhorar a postura, o equilíbrio, o ritmo e a coordenação dos gestos e dos
movimentos; aumenta-se a força e a destreza, bem como a capacidade
respiratória; melhora-se a função das vísceras e dos órgãos de sentido; pode-
se tratar e prevenir dores articulares e musculares; contribuindo para a fixação
de cálcio ósseo, diminuindo a incidência de fraturas nas osteoporoses;
44
melhorando a autonomia e a qualidade de vida e "devolvendo" o corpo ao
idoso, para que ele possa conhecê-lo e senti-lo de forma mais saudável.
Conforme Silva (2007) os métodos empregados, tais como RPG
(Reeducação Postural Global), Mézières, GDF (cadeias musculares e
articulares), são procedimentos holísticos que buscam integrar todos os
aspectos anatômicos e funcionais tratando o indivíduo de forma global, e não
agindo apenas sobre patologias isoladas. São utilizadas também técnicas de
psicodrama, com jogos de aquecimento, de integração e socialização,
exercícios de conscientização corporal e de respiração, e ainda exercícios
físicos e posturais, que dão ao idoso um maior equilíbrio, ritmo, proporcionando
gestos e movimentos coordenados que protegem os tecidos do aparelho
musculoesquelético e que tratam (e previnem) doenças que levam a bloqueios
articulares, tais como artroses, bursites, tendinites, que muitas vezes levam a
deformidades e dores incapacitantes. Essas técnicas também harmonizam e
equilibram o tônus muscular, alinhando os eixos articulares e mantendo a boa
função dos órgãos e das vísceras. Os materiais utilizados são bolas de vários
tamanhos e texturas diferentes, bastões de madeira, sacos de areia, escovas,
colher de pau, colchonetes e outros.
A fundamentação teórica deste estudo se apoiou em autores que
realizaram pesquisas sobre os idosos, as doenças crônicas e as incapacidades
relacionadas à perda de independência das atividades da vida diária (AVD).
Sears e Feldman (1981)
estabeleceram que a partir dos 60 anos inicia-se a verdadeira velhice fisiológica do ser humano, com mudanças degenerativas do corpo e uma vulnerabilidade maior a contrair doenças que tendem a se prolongar. Ressaltam os autores, ser esta a fase que caracteriza os períodos de incapacidades e maior probabilidade de morte. Por isso desenvolvimento humano nessa fase é considerado como de alta complexidade (SEARS e FELDMAN, 1981, p.136-137).
45
Okuma (1998, p. 12) destaca que o envelhecer bem e a atividade física
são “conceitos fortemente associados, sendo a velhice a fase na qual se
anuncia uma saudável mudança de hábitos e valores em relação à saúde”. A
autora propõe substituir o uso do paradigma da degeneração que caracteriza a
geriatria tradicional, quando se refere aos idosos como se eles fossem
portadores de algum tipo de deficiência.
Para Moraes e Mont’alvão (2000), a velhice é caracterizada como um
período de lentificação do desenvolvimento humano. Tal processo
desencadeia uma série de efeitos nos diferentes sistemas do organismo,
responsáveis pelo desempenho físico e por alterações fisiológicas.
Moragas (1991, apud GÓIS e VERAS, 2006, p.4), ao tratar da
aposentadoria, coloca a necessidade de desmistificar a importância do
trabalho durante a vida ativa e dignificar socialmente o descanso dos
aposentados, afirmando a validade do ócio em sociedades que idolatram o
trabalho.
No Brasil, são consideradas idosas as pessoas com mais de 60 anos.
Esta idade também é usada como delimitador pela OMS (Organização Mundial
da Saúde), quando divide estatisticamente a população em acima e abaixo de
60 anos (SANTANA, 2001, p. 43). O cenário que aguarda os que entrarão em
idades avançadas no século XXI deverá contar com políticas sociais que dêem
ao idoso condições para desfrutar de uma vida com dignidade.
Com base em todo o estudo apresentado até o presente, constata-se
que a atuação do fisioterapeuta no PSF é de grande importância no
atendimento do idoso. Este é um membro da equipe da saúde com sólida
formação científica, que atua desenvolvendo ações de prevenção, avaliação,
tratamento e reabilitação, utilizando nessas ações, programas de orientações e
promoção da saúde, além de agentes físicos como o movimento, a água, o
calor, o frio e a eletricidade (DELIBERATO, 2002).
46
Barros (2002) na apresentação do livro “O Fisioterapeuta na Saúde da
População” comenta sobre a responsabilidade social do fisioterapeuta, e da
necessidade de, nos tempos atuais, se criar condições necessárias para o
desenvolvimento da saúde, mais que recuperar e curar pessoas. Os
profissionais de saúde precisariam saber mais que curar para transformar a
realidade da saúde da população brasileira. Também se refere da seguinte
maneira ao PSF:
A participação intensa do fisioterapeuta no Programa de Saúde da Família e em programas e ações similares de cuidados primários em saúde é condição fundamental para a concretização das diretrizes de uma assistência à saúde realmente integral, ao contrário do tradicional modelo medicalizado, fragmentado, hospitalocêntrico e baseado na dependência e exclusão social. O fisioterapeuta é peça fundamental para a conquista e desenvolvimento de uma assistência à saúde da população que se baseia na inclusão social, centrada na comunidade e na participação efetiva desta, na conquista da saúde como instrumento através dos quais cidadãos possam realizar suas aspirações e satisfazer suas necessidades, adquirindo a capacidade de mudar seu entorno ou enfrentá-lo (BARROS, 2002, p. 8).
São vários os exemplos em que o fisioterapeuta insere-se na agenda da
saúde pública. Ora por necessidade da população, ora pela luta da classe em
demonstrar sua utilidade, a Fisioterapia vem ao encontro da saúde pública,
com seu potencial não só curativo-reabilitador, como também na prevenção, e
por que não na promoção da saúde, em ações individualizadas ou coletivas.
A prevenção é realizada em grupos, o fisioterapeuta realiza orientações
quanto à postura, preparo para o parto em gestantes, participando também de
programas de hanseníase, prevenção de incapacidade, grupos de lombalgia e
hipertensão (COFFITO, 1999).
A jornada do fisioterapeuta é dividida entre ambulatório e visitas
domiciliares. Além do atendimento individual, atua-se em grupos coletivos de
prevenção nas Unidades de Saúde da Família (COFFITO, 2001).
47
Ao falar da interdisciplinaridade no PSF, defende-se a importância do
fisioterapeuta no PSF; ao refletir que essa atuação deveria incluir a Fisioterapia
comunitária, com uma abordagem mais integral, de promoção de saúde,
trabalhando com a qualidade de vida das pessoas e no internamento domiciliar
em situações especiais (ANDRADE, 2003
3.2. Exercícios Posturais Preventivos
As atividades de vida diária (AVDs) compreendem aquelas atividades
que se referem ao cuidado com o corpo das pessoas (vestir-se, fazer higiene,
alimentar-se), as atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) são as
relacionadas com atividades de cuidado com a casa, familiares dependentes e
administração do ambiente (limpar a casa, cuidar da roupa, da comida, usar
equipamentos domésticos, fazer compras, usar transporte pessoal ou público,
controlar a própria medicação e finanças).
Em 1969, Lawton e Brody elaboraram uma escala para avaliar a AIVD
(atividades instrumentais de vida diária), com oito atividades: uso de telefone,
fazer compras, preparo de refeição, fazer faxina, lavar roupa, usar meio de
transporte, tomar medicações e controle financeiro. Os itens são classificados
quanto à assistência, à qualidade da execução e à iniciativa. Todas estas
“ferramentas” que medem a capacidade funcional auxiliam a classificar e
adequar os processos terapêuticos para os idosos e, também, propor
programas governamentais de apoio ao idoso.
A título de exemplo são apresentadas algumas dicas e conselhos que
contribuem para uma melhor postura, que de forma preventiva, auxilia na
qualidade de vida do idoso (Anexo).
48
CONCLUSÃO
Dados de pesquisas mostram que 25% da população idosa mundial são
dependentes, e que a incapacidade para o desempenho de atividades
instrumentais de vida diária não significa necessariamente impedimento para a
continuidade do funcionamento cognitivo e emocional.
A qualidade de vida na velhice tem relação direta com a existência de
condições ambientais que permitam aos idosos desempenhar comportamentos
biológicos e psicológicos adaptativos. Guardam relação direta com o bem-estar
percebido.
Quando os idosos gozam de independência e autonomia, eles próprios
podem providenciar arranjos para que seu ambiente torne-se mais seguro,
variado e interessante. Se os idosos já não dispõem de possibilidades de
manejo do próprio ambiente físico, é necessário que os membros da família ou
das instituições por eles freqüentadas cuidem desses aspectos. Essas ações
são compatíveis com a criação de ambientes amigáveis, que incluem
instrumentos, equipamentos e adaptações construtivas. O que pode ser
proporcionado pela atuação do fisioterapeuta no PSF.
Tradicionalmente, a involução motora decorrente do processo de
envelhecimento, bem como as doenças e disfunções sempre foram vistas
como causa da dificuldade ou incapacidade para realização de AVD em
idosos.
A capacidade funcional é definida como uma autonomia física,
traduzindo-se numa independência para a realização das AVD, tais como
atividades de deslocamento, auto-cuidado, ocupacionais e recreativas. Porém
o processo de envelhecimento acarreta uma perda gradual destas funções.
49
Sendo assim, uma infinidade de posturas pode ser adotada nas
realizações das AVD dos idosos: o andar, o alcance de objetos com as mãos,
a alimentação, a comunicação, ou simplesmente ficar em pé, deitado ou
sentado. Sendo assim, variadas respostas neuromusculares são exigidas para
o equilíbrio da nova postura adotada.
Por conseguinte, nas intervenções através de exercícios físicos na
população idosa é necessário dar ênfase nas várias características do
movimento, como nas realizadas nas AVD, mudanças de velocidade,
amplitude, direção e realização dos mesmos em contexto variados.
Os métodos empregados, tais como RPG (Reeducação Postural
Global), Mézières, GDF (cadeias musculares e articulares), são procedimentos
holísticos que buscam integrar todos os aspectos anatômicos e funcionais
tratando o indivíduo de forma global, e não agindo apenas sobre patologias
isoladas.
Com base em todo o estudo apresentado até o presente, constatou-se
que a atuação do fisioterapeuta no PSF é de grande importância no
atendimento do idoso. Este é um membro da equipe da saúde com sólida
formação científica, que atua desenvolvendo ações de prevenção, avaliação,
tratamento e reabilitação, utilizando nessas ações, programas de orientações e
promoção da saúde, além de agentes físicos como o movimento, a água, o
calor, o frio e a eletricidade.
A prevenção é realizada em grupos, o fisioterapeuta realiza orientações
quanto à postura, preparo para o parto em gestantes, participando também de
programas de hanseníase, prevenção de incapacidade, grupos de lombalgia e
hipertensão.
50
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1. COMO SENTAR
Sentar sempre em cadeiras duras evitando poltronas macias. O encosto
deve ter uma saliência na região lombar para dar suporte e manter a
LORDOSE LOMBAR na posição correta. Os pés devem se apoiar
completamente no solo ou em um pequeno estrado de 5 a 8 centímetros de
altura. Os quadris devem ser mantidos em 90 graus ou levemente mais
elevados. Evite debruçar-se sobre a mesa e apoie bem os braços mantendo o
cotovelo em 90 graus.
2. COMO FICAR DE PÉ
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Mantenha um estrado ou pequena banqueta de mais ou menos 10
centímetros de altura nos locais que você habitualmente permanece. Coloque
alternadamente um dos pés na banqueta e trabalhe normalmente. Esta
posição diminui a LORDOSE LOMBAR dando uma sensação de bem estar na
coluna. Se não tiver banqueta colocar sempre um dos pés à frente.
3. COMO DORMIR
Se o seu lado direito é o mais doloroso, deite de lado apoiando o lado
direito no colchão e coloque um travesseiro entre os 2 joelhos. O colchão deve
ser semi-rígido, mais para o rígido do que para o mole.
4. COMO PEGAR E CARREGAR UM PESO
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Se o peso estiver a altura das suas mãos, coloque um dos membros à
frente, dobre ambos os joelhos, faça um pelvic tilt pegue o peso e traga-o para
próximo do seu corpo.
Se o peso estiver no solo, você deve agachar-se e dobrar
completamente ambos os joelhos, pegue o peso próximo do seu corpo e fique
de pé esticando ambos os joelhos. Descarregue o peso nos joelhos e não na
coluna.
5. PARA TOSSIR E ESPIRRAR
Se estiver de pé dobre um pouco os joelhos e contraia a musculatura
abdominal (pelvic tilt). Se estiver sentado force a coluna lombar contra o
encosto da cadeira e contraia a musculatura do abdômen.
6. NÃO DOBRAR O TRONCO para frente quando você tem DOR. Dobre os
joelhos para fazer a cama por exemplo.
7. PARA LAVAR ROUPA, coloque o pé sobre uma banqueta e faça o pelvic tilt
com freqüência.
8. PARA DIRIGIR CARRO
Sente o mais próximo possível do volante e desta maneira você estará
mantendo os seus joelhos um pouco mais alto que os quadris. Coloque uma
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almofada atrás da região lombar. Pare o carro a cada 30-40 minutos, desça e
faça vários pelvic tilt.
Para Ferraretto (2007), existem ainda alguns importantes conselhos a
mais para serem seguidos durante as atividades de vida diária.
a) Realizar por alguns minutos ao se deitar e antes de se levantar pela manhã
alguns exercícios da sua preferência incluindo sempre os números 1
(BÁSCULA DA BACIA), 2, 5, 8 e 9.
b) Realize o "Pelvic Tilt" sempre;
c) Se você chegar em casa cansado e com DOR, procure deitar relaxar e
colocar as pernas com os joelhos dobrados sobre uma almofada alta ou sobre
vários travesseiros. Esta posição diminui a LORDOSE LOMBAR e relaxa a
musculatura lombar.
d) Lembre-se que o aumento da LORDOSE LOMBAR é prejudicial. Para as
mulheres os sapatos de salto alto acima de 5 cm aumentam a LORDOSE e
devem ser evitados;
e) Não se descuide da sua DIETA. Mantenha-se dentro do seu PESO IDEAL.
Se for o caso peça o auxilio do seu médico ou de uma nutricionista.
f) Lembre-se que a vida saudável e esportiva é fundamental para evitar a
atrofia muscular. Procure nadar por pelo menos 30 minutos 3 vezes/semana.
Se for em piscina aquecida, melhor, o calor relaxa a musculatura e você
poderá fazer os seus exercícios depois da natação;
g) Andar em parques ou jardins em contato com a natureza usando tênis e
roupas próprias também é insubstituível na vida de cada um de nós. Exerça
esta atividade por pelo menos 3 vezes por semana durante 40 minutos. Se