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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA Psicopedagogia e Arte Educação no processo de Ensino Aprendizagem Por: Adriana Barbosa da Silva Orientadora Profª. Solange Monteiro Rio de Janeiro 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Psicopedagogia e Arte Educação

no processo de Ensino Aprendizagem

Por: Adriana Barbosa da Silva

Orientadora

Profª. Solange Monteiro

Rio de Janeiro

2014

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Psicopedagogia e Arte Educação

no processo de Ensino Aprendizagem

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Psicopedagogia.

Por: Adriana Barbosa da Silva.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus queridos mestres, por toda

dedicação e persistência num ensino

de qualidade e por não desistirem. A

vocês todo meu respeito, reverência e

gratidão. Aos queridos alunos que me

ensinaram tanto nesses 25 anos de

magistério.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a minha mãe Iza

Bergiante da Motta, luz do meu caminho,

que fez sua parte de forma singela para

melhorar o mundo, dando amor e

educação a uma criança e acreditando

em seu potencial. Que eu consiga

multiplicar esse amor e zelo para mais e

mais crianças do mundo.

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RESUMO

A pesquisa tem por base provar que o surgimento da psicopedagogia, no cenário da educação brasileira veio somar com o que acreditamos seja uma

das formas de transformar a educação no cotidiano da sala de aula. Aliada a

educação através da arte e do lúdico, é forma concreta que surge para auxiliar

a comunidade escolar nesse momento de transição onde a educação brasileira

está num impasse entre um modelo de ensino retrógrado que massifica e

desprepara e uma forma alternativa que proporciona aos estudantes a

expressão de seu ser integral, o estímulo de seu potencial criativo e

transformador da sociedade em pleno exercício de sua cidadania. Nos

capítulos que se seguem abordaremos um breve panorama das polêmicas da

educação em crise entre os objetivos e o que de fato alcança. O fato

contraditório em que nossas escolas tentam preparar seus alunos apenas para

o vestibular pensando num mercado de trabalho que já mudou. Apresentamos

as diferenças e semelhanças entre as escolas públicas e particulares e como a

gestão compartilhada é diferencial nas escolas bem sucedidas. Como forma de

comprovar a teoria, relatamos experiências de educadores como Anton

Makarenko, Alexander Neill, Anísio Teixeira e Paulo Freire, que pensaram

formas alternativas ao formato de educação vigente em suas épocas, sendo

apresentado um histórico breve sobre seus trabalhos. Procuramos demonstrar

através desse histórico, como nosso ensino mudou pouco desde o inicio do

século XX, pois as idéias desses pensadores ainda em pleno século XXI são

consideradas de vanguarda. No último capitulo apresentamos relato pessoal de

25 anos de magistério, de experiência tanto em escolas públicas como

particulares. E concluímos que chegamos ao limite. Já está na hora da escola

mudar. E mudamos na vivencia do dia a dia em sala de aula. A mudança é

realizada com pequenas ações de cada educador. E essa ação é cada vez

mais auxiliada por novos estudos e práticas como a psicopedagogia.

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METODOLOGIA

Através de pesquisa de práticas pedagógicas do século XX até o nosso

século XXI, percebemos a grande diferença que há em escolas com sistemas

rígidos que priorizam o conteúdo e escolas que priorizam o humano, dando

oportunidade ao aluno de participar ludicamente de seu próprio processo de

aprendizagem. Em comparação, percebemos tanto em escolas públicas como

em escolas particulares do Brasil, a grande mudança que há quando o aluno é

valorizado e estimulado a pensar, refletir, criar, explorando todas suas

possibilidades.

A questão chave da pesquisa é: Como a arte aliada a psicopedagogia

pode ajudar no processo de ensino aprendizagem tanto em escolas públicas

como em escolas particulares? Através de exemplos práticos, buscamos provar

que esta integração auxilia alunos em seu processo de aprendizagem.

Pesquisando educadores brasileiros que foram pioneiros em quebrar

com o sistema de simples decoreba e iniciaram uma reflexão para uma

educação mais democrática e participativa como Anísio Teixeira, Augusto

Rodrigues, Paulo Freire.

Pesquisando escolas onde a valorização das artes colabora para o

aproveitamento geral até em termos de disciplina. Para dar maior veracidade

ao tema, relatamos artigo sobre a escola pública Orchard Gardens em Boston

EUA, que contratou professores de arte para diminuir a violência na escola. E

para fundamentar a teoria de que as artes embelezam e valorizam o ambiente

escolar colaborando para a organização dos alunos, apresentamos a Teoria

das Janelas Partidas, modelo norte-americano de política de segurança pública

no enfrentamento e combate ao crime, tendo como visão fundamental que a

desordem é fator de elevação dos índices da criminalidade.

Dentre as escolas que tentaram um modelo diferente do conteudista

apresento Summerhill, escola fundada por Alexander S. NEILL, no inicio do

século XX, na Inglaterra, onde a freqüência era voluntária e na qual a criança

escolhia o que aprender. E a experiência de Anton Makarenko que além de

outros métodos ensinava música e teatro para jovens infratores num

reformatório da Rússia de 1917, conseguindo excelentes resultados.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPITULO 1 - A POLÊMICA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA 10

CAPÍTULO 2 - COMO A ARTE UNIDA COM A PSICOPEDAGOGIA 19

AUXILIA NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM?

CAPÍTULO 3 - NA GANGORRA DA TRANSIÇÃO EDUCACIONAL 33

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

ÍNDICE 46

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INTRODUÇÃO

A presente pesquisa é continuação mais aprimorada de minha

monografia da graduação em Educação Artística licenciatura em Artes Visuais.

Busquei a psicopedagogia, para somar com o que acredito seja uma das

formas de transformar a educação no dia a dia da sala de aula. A

psicopedagogia vem complementar a visão da educação através da arte, que

defende um ensino de forma lúdica e prazerosa. O ensinar a gostar de

aprender primeiro, a amar o conhecimento e vislumbrar todas as possibilidades

que se abrem quando o acessamos. Não é utopia, algo que ainda está por se

concretizar. É experiência já vivida e teorias já comprovadas com a ação em

sala de aula.

No primeiro capitulo abordaremos um breve panorama das polêmicas

da educação brasileira que passa por uma crise entre a teoria e a prática, entre

os objetivos e o que de fato alcança. O fato contraditório em que nossas

escolas tentam preparar seus alunos para o vestibular pensando num mercado

de trabalho, mas que na verdade desprepara. Nosso sistema sendo

conteudista, não dá valor a criação, a iniciativa, a auto expressão. E o mercado

de trabalho atual, exige profissionais criativos e com iniciativa. Como formar

profissionais criativos, se o nosso sistema educacional ainda é rígido e

massificado?

Abordaremos também as diferenças e semelhanças entre as escolas

públicas e particulares e como a psicopedagogia entrando em cena auxilia para

amenizar esses conflitos nessa era de transição.

No segundo capitulo veremos como a arte na educação unida com a

psicopedagogia ajuda no processo ensino aprendizagem. A educação através

da arte é uma forma de ensinar o aluno através do lúdico. Sai da fórmula

conteudista e prioriza a criatividade e a expansão de possibilidades. A

psicopedagogia investiga as dificuldades dessa aprendizagem e cria maneiras

de como ajudar esse aluno no processo colaborando para a educação de um

ser humano mais integral e que participa do processo não apenas recebe

informações de forma passiva.

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Estudaremos sobre os pioneiros da arte educação em nosso país,

como Augusto Rodrigues com o movimento das Escolinhas de Arte do Brasil. E

o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932, movimento da escola

nova com Anísio Teixeira. E como esses dois movimentos ajudaram na criação

de leis para a obrigatoriedade do ensino de artes nas escolas.

Abordaremos também as escolas que valorizaram e valorizam a arte

na educação e que apesar de toda a crise, deram certo no sentido de formar

pessoas pensantes, críticas, politizadas, e agentes transformadores da

sociedade, capazes de escolher o próprio caminho dentro da busca humana do

que é felicidade.

Enfim no capítulo terceiro daremos um depoimento das experiências

pessoais em 25 anos de magistério na arte educação em escolas públicas e

particulares.

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CAPÍTULO I

A POLÊMICA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

1.1 Ênfase no mercado de trabalho

Estamos em um momento de impasse na educação brasileira, por

um lado temos uma escola conteudista, que tem por objetivo apenas

passar conteúdos massificantes exigidos pelos padrões estabelecidos por

uma lei ultrapassada. Por outro lado temos um movimento progressista de

escola de vanguarda desde meados do século XX. O curioso é que já

estamos no século XXI e pouca coisa mudou. Ao contrário estamos

atravessando um momento de caos total.

Temos um histórico de fracassos escolares tanto nas escolas

públicas como nas particulares. Percebemos uma grande inadequação da

finalidade com o resultado real. O grande objetivo da escola conteudista é

treinar e condicionar o aluno para passar no vestibular, ingressar para a

universidade e consequentemente formar para o mercado de trabalho. Em

plano geral a escola brasileira parece estar completamente perdida, pois

esse mercado de trabalho para o qual o aluno ainda é condicionado, já

mudou faz alguns anos, evidenciando cada vez mais que a escola conteudista

está obsoleta.

O mercado mudou e a escola continua a condicionar para as

exigências de um mercado de décadas atrás. O século XXI é mais

informatizado, temos acesso à informações e pesquisas em curto espaço

de tempo, nos chamados hipertextos na internet. Mas as escolas continuam

com os mesmos padrões e o jovem já entra para o mercado completamente

despreparado e defasado. Do ponto de vista do educador as faculdades de

licenciatura formam professores cada vez menos preparados. Uma bola de

neve em total descontrole.

Segundo matéria da Revista VEJA (Ed. Abril), em 19 de outubro de

1994, até a década de 1990, o perfil do profissional exigido pelas empresas era

o de um funcionário que sabia toda sua rotina, se vestia adequadamente, era

pontual, assíduo e cumpria rigorosamente todas as regras estabelecidas na

organização. Ou seja, um robô perfeitamente adequado e coerente aos

padrões ensinados na escola conteudista.

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A tecnologia trouxe a possibilidade de diminuir distancias e dos custos

serem reduzidos, possibilitou também o melhoramento de processos e

substituiu o homem em tarefas repetitivas, maquinais e pesadas, aumentando

consideravelmente a produtividade.

O mercado de trabalho começou a exigir características que não

aprendemos em nenhuma instituição de ensino formal, como escola ou

faculdade. Qualidades como trabalhar bem em equipe, ser proativo, ou seja

saber lidar com as situações difíceis de forma positiva. Ser otimista, conseguir

vender suas idéias, ser flexível, saber lidar com as críticas, e ter iniciativa

construtiva.

As empresas estão exigindo um nível cada vez maior de qualificação

aos seus candidatos. E ainda exigindo criatividade, visão ampla, organização.

Tudo isso são características essencias num mercado cada vez mais

competitivo e dinâmico.

No mercado de trabalho atual as empresas avaliam num processo

seletivo as seguintes opções:

1. Apresentação pessoal.

2. Proatividade (iniciativa para solucionar dificuldades)

3. Autoconfiança (segurança na expressão de idéias);

4. Criatividade e flexibilidade (adaptar-se às situações);

5. Bom relacionamento interpessoal (interagir, conviver)

6. Espírito de equipe (compartilhar e cooperar).

Na era da informação, do conhecimento e da globalização, o mundo dos negócios vem impondo soluções ágeis e efetivas com o menor custo possível. A concorrência está cada dia mais afiada, de modo que é preciso criar e propor novas alternativas constantemente, pois só assim será possível superar as expectativas dos clientes. Deve-se abrir espaço para a criatividade com qualidade, simultaneamente, desenvolver e cultivar a ética e a responsabilidade social, deixando de lado posturas empresariais passivas e conservadoras. “Isso faz com que as mudanças no mercado de trabalho também sejam grandes: o mercado fica mais seletivo e as chances se restringem aos profissionais aptos a atender às exigências e às transformações pelas quais passam as empresas. (TREVISAN, entrevista CIEE em 18.04.2001)

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Segundo pesquisa do educador português Carlos Fontes (2008), o

drama do fracasso escolar é recente e foi a partir dos anos sessenta que

encontramos suas primeiras manifestações. Começou-se a exigir que as

escolas encontrassem formas de garantir o sucesso escolar de seus alunos. O

que era um problema individual tornou-se um problema da sociedade. Antes

culpava-se o indivíduo pela preguiça, falta de interesse e capacidade. Mas

estas explicações deixaram de ser aceitas como explicações para o abandono

de milhares de alunos todos os anos do sistema escolar. Portanto esta culpa

passou a ser assumida como fracasso também de toda a comunidade escolar.

O sistema de ensino que não foi capaz de os estimular e motivar para

que tivessem exito. Por isso atualmente o problema educacional é exatamente

identificar as causas deste fracasso escolar. A medida que seguem as

pesquisas a lista não pára de crescer. Todavia três manifestações deste

insucesso estão no topo desta lista. São eles:

-Abandono da escola antes do fim do ensino obrigatório.

-Reprovações sucessivas que dão lugar a grandes desníveis entre a idade

cronológica do aluno e o nível escolar;

-A passagem dos alunos para tipos de ensino menos exigentes, que conduzem

a aprendizagens profissionais imediatas, apenas técnicos, mas os afasta do

ingresso no ensino superior. Esta listagem, pesquisada por Luísa Morgado

(Doutora em psicologia do desenvolvimento) poderia ser indefinidamente

prosseguida. (Morgado,1998, p67.)

Percebemos nas escolas apenas conteudistas existe um movimento

de retração, onde tolher se contrapõe ao movimento atual mundial que é

expandir. Se o ser humano é um ser em expansão onde busca-se utilizar a

maior parte de sua capacidade cerebral, o papel do educador é dar

ferramentas para este expandir seu potencial criativo e de adaptação. Dentro

deste pensamento a grande contradição das escolas atuais conteudistas é

limitar ou mesmo eliminar a arte do curriculo escolar. Melhor seria se além

da disciplina Educação Artística onde o aluno aprende a matéria propriamente

dita como história da arte, desenho entre outros, a dinâmica da arte

educação fosse integrada com todas as disciplinas como forma de promover

a criatividade e a flexibilidade do aluno.

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E a psicopedagogia incluída nas escolas como forma de investigar,

orientar, transformar e atualizar o processo de ensino aprendizagem. Desta

forma estaríamos um pouco mais próximos deste novo perfil do mercado de

trabalho. Mas será mesmo que todo o ensino das escolas deve estar ocupado

apenas em formar produtos para o mercado de trabalho? Uma coisa já

descobrimos: Não podemos continuar a formar indivíduos do século XXI, com

currículos antigos, conteúdos defasados e metodologia do século XIX e XX.

Precisamos renovar, readaptar e buscar novas formas. Para isto temos várias

experiencias edificantes de pensadores através destes últimos séculos.

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1.2 Escolas públicas e particulares semelhanças e diferenças

Em relação as diferenças, segundo informações do portal MEC, dados

da UNESCO (2009), os maiores problemas da escola pública são a evasão

escolar e o abandono, não só de alunos mas também de professores que estão

sempre em alta rotatividade. Tenta-se justificar essa evasão culpando-se a falta

de verba e os governantes que apenas prometem melhorias nas eleições mas

depois de eleitos, esquecem e as melhorias nunca chegam. As escolas

públicas principalmente de periferia e difíceis acessos não tem assistência e a

falta de professores já é rotina. Coloca-se a culpa também na aprovação

automática como causa do desempenho baixo dos alunos.

As escolas particulares já têm mais recursos financeiros e seus

professores são mais bem pagos. Além de terem suportes de laboratórios e

bibliotecas. Contudo este quadro faz parte da realidade das grandes escolas

particulares, que ainda hoje estão em poder da igreja católica, tem tradição e

ainda recebem alunos de alto poder aquisitivo. A maioria das escolas

particulares são escolas de classe média, que lutam para se manter mesmo

com altos níveis de inadimplência. E muitas vezes não tem os recursos que as

próprias escolas públicas têm.

Segundo pesquisa de Pedro Demo, Pós-Doutorado, University of

Califórnia, Los Angeles e professor Titular da UnB, a distancia entre escolas

particulares e escolas públicas no Brasil é grande em favor principalmente da

escola particular. Mas esta também está em crise, pois seu desempenho vem

caindo nos últimos anos. Esta queda é maior por incrível que pareça nas

regiões mais desenvolvidas. A justificativa para este fato talvez seja o

“instrucionismo”, palavra que Demo usa e diz ser comum nos dois sistemas.

Pois tanto a escola particular como a pública tem a mesma política

educacional.

A diferença principal é que a escola particular é gerida pela iniciativa

privada e existe a pressão dos pais dos alunos e a pressão do mercado e seu

desempenho acaba sendo mais elevado. Outro fator é a valorização do

professor, e o investimento permanente em sua formação.

Entre as semelhanças, segundo análise dos dados do Saeb, Sistema

de avaliação da Educação Básica (2005), que foram publicados pelo Instituto

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Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o Inep (2007),

quando comparamos as escolas básicas tanto públicas como particulares, os

dados sugerem que as duas passam pela mesma confusão educacional. A

escola particular tinha o desempenho superior ao desempenho da escola

pública, o que era de se esperar pelos fatores mais favoráveis como pressão

contra greves, a gestão privada orientada para o mercado, trato com alunos

mais ricos, a presença sistemática do professor.

Todavia com base nas pesquisas do Saeb, Sistema de Avaliação da

Educação Básica, podemos perceber segundo Pedro Demo (2006) que nos

dois sistemas as atividades principais são “dar aula e prova” num sistema

reprodutivo de apenas imitação e cópia. Outro agravante na escola particular é

o fato de achar que a quantidade se sobrepõem a qualidade. Que o

cumprimento rigoroso dos 200 dias letivos é positivo, acreditando que a

solução pode estar no aumento da quantidade de aulas. Segundo Demo

(2006), a escola deveria colocar aula e prova no seu devido lugar e readequar

o ambiente de aprendizagem escolar pois em 2005 a escola particular teve

desempenho inferior ao da escola pública especialmente em regiões

socioeconomicamente superiores.

Outra questão, segundo Demo (2006), é que na escola particular, mais

do que na escola pública, a preparação para o vestibular é dominante nas

aulas, principalmente no ensino médio, o que agrava este processo de simples

imitação de instrução. Tendência que está vinculada ao mercado de trabalho e

tem como ícone a “apostila pronta”. Com efeito “em nosso país ainda não se

distingue aula de aprendizado”. É um dogma docente que “aprender é igual a

escutar aula.”(Demo, 2006).

Segundo reportagem de Daniela Arai para a folha de São Paulo (2012),

comparando dados do Censo Escolar de 2011 por tipo de escola, escolas

particulares que tem mensalidades até R$500,00 tem menos estrutura e são

menos equipadas que as escolas públicas. O Censo 2011 mostra que desde os

anos 80 a rede pública vem melhorando estruturalmente mas que a grande

diferença em comparação com a escola particular ainda é a presença

obrigatória do professor.” Porém a rede pública federal é exceção. São como

“ilhas de excelência” mantidas pelo governo federal. Essas escolas tem

processos seletivos bastante disputados e acabam ficando com os melhores

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alunos. Isso faz com que a pontuação deles esteja próxima da média dos

países desenvolvidos.

1.3 A psicopedagogia entra em cena

Diante do aumento do fracasso escolar, as escolas ficaram cada vez

mais preocupadas com o baixo desempenho acadêmico dos alunos que

apresentavam desinteresse e dificuldades de aprendizagem. Diante deste

quadro, não sabiam e ainda não sabem como agir com seus alunos que não

aprendem de acordo com seu sistema e método. As práticas que davam

suporte anteriormente não dão mais vazão para a superação dos problemas de

aprendizagem que vão surgindo: TDAH, hiperatividade, dislexia, discalculia etc.

Antes alunos que não se enquadravam eram encaminhados para os

médicos, psicólogos ou outros de áreas afins. O médico tratava com remédios

e muitas vezes esse aluno não necessitava de remédios que eram e ainda são

dados para curarem um efeito, quando não se investigou a fundo a causa.

Quando encaminhado para o psicólogo, o aluno era submetido a vários testes

com o propósito de encontrar defeitos como retardo mental, imaturidade para a

aprendizagem escolar, ou diferentes distúrbios para justificar a causa da não

aprendizagem. Ao serem constatados desempenhos abaixo do considerado

normal para sua idade, procurava-se recuperá-lo através de treinos

condicionados. A criança com inteligência abaixo do padrão era encaminhada

para a classe de deficientes mentais.

Esses meios de encaminhamento ao médico ou o psicólogo são

eficazes quando investigadas as causas. Na realidade faltava um profissional

que fosse a ponte entre a escola, a família e esses outros profissionais.

Foi na metade do séc. XX na Europa e Estados Unidos, que cresceu o

número de escolas particulares e de ensino especializado para crianças que

eram consideradas de aprendizagem lenta. De acordo com Bossa (2000) os

primeiros Centros Psicopedagógicos foram fundados nos anos 40, na França,

buscando unir os conhecimentos da psicologia e da pedagogia para ajudar

crianças com dificuldades comportamentais. Queriam readaptar a criança

através de acompanhamento psicopedagógico, para melhorar sua convivência

social tanto na família como na escola.

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Segundo pesquisa de Nutti (2008), da UNICEP São Carlos, sobre os

livro de Beatriz Scoz, Psicopedagogia e realidade escolar (1994), até o inicio

dos anos 60, esses centros psicopedagógicos se expandiram com sucesso,

principalmente pelo trabalho de equipe formada por médicos, psicólogos,

psicanalistas, pedagogos e outros profissionais da área de saúde e educação.

Fazia-se um diagnóstico das dificuldades do aluno, com base nas reclamações

dos professores e pais. Mas no final dos anos 60, essa maneira apenas clínica

começou a ser questionada pelos educadores que acreditavam que esse

processo rotulava os alunos e não analisava seu contexto sócio educacional.

E é no ano de 1967 quando o trabalho de dois pesquisadores, Vasques e Oury,

é publicado na França que as coisas começam a mudar. Esses pesquisadores

afirmam que a medição, observação e testagem dos alunos individualmente

fora do contexto de sua atuação na escola é abstrato e poderia comprometer

sua formação. E a partir dessa posição se propõe um trabalho institucional

onde tentariam integrar alunos e professores.

Esta nova visão da Psicopedagogia defendia que a concepção de

“fracasso ou insucesso escolar” precisava ser analisada, segundo Peres

(1998,p.42). Não sendo mais possível indicar apenas como causa as

desordens orgânicas destes indivíduos. Estas novas idéias despertaram o

interesse dos educadores de países com alto índice de fracasso escolar como

os da América Latina, que a muito buscavam novas alternativas. Dentre esses

países destacou-se a Argentina onde a Psicopedagogia hoje em dia, é uma

carreira profissional e os centros pedagógicos são vinculados as escolas

públicas, além de existirem diversas clínicas ligados a previdência social

valorizando o acompanhamento psicopedagógico como procedimento rotineiro

nesse país.

Este movimento da Psicopedagogia na Argentina influenciou também o

vizinho Brasil, quer seja pela aproximação geográfica ou pelo acesso mais fácil

a literatura. Os primeiros passos para sistematizarmos nossa teoria própria da

psicopedagogia encontra registros bibliográficos nos trabalhos de autores

argentinos como Sara Pain, Jorge Visca e Alícia Fernandez.

No Brasil assim como na Argentina, o fracasso escolar é preocupação

e vem mobilizando a muito os educadores que buscam novas alternativas.

Portanto em suas pesquisas Nádia Bossa afirma que a literatura francesa

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sobre a psicopedagogia, influenciou a Argentina que por sua vez influenciou o

Brasil. (Bossa , 2007, p.39).

Portanto, influenciados por experiências bem sucedidas em outros

países, surgiram as primeiras iniciativas de ação psicopedagógicas no Brasil,

foi nesse momento que foi criada a “Associação Brasileira de Psicopedagogia”

em 1988. Percebemos então, que é uma área relativamente nova em nosso

país.

No Brasil tivemos contato com as idéias de psicopedagogia na década

de 70, porém tivemos o movimento da Escola Nova na década de 20, que foi

um movimento importantíssimo que lançou um novo olhar sobre a educação

em nosso país, que estimulava mudanças como o atendimento integral do

aluno. Esses novos ideais da Escola Nova colaboraram bastante na aceitação

das teorias psicopedagógicas mais tarde.

Desde então o conceito de psicopedagogia foi evoluindo. Segundo

Amorim (2011), quando surgiu teve uma visão apenas patológica das

dificuldades de aprendizagem influenciada pelos médicos, sendo seu objetivo a

reeducação da criança. Mas felizmente avançou e seu objetivo passou a ser a

investigação mais completa dessas dificuldades integralmente com a criança, a

escola e a família. Seu objetivo é facilitar a construção da aprendizagem, e

clarear os obstáculos que possam vir a impedir essa construção.

Estamos a mais de um século nesta transição. Tentando através de

vastas pesquisas e estudos encontrar uma forma de melhorar o ensino

aprendizagem, para formar um indivíduo integral e único. Completo e que

colabora para a construção de uma humanidade melhor. A psicopedagogia

entra em cena para contribuir com este intuito, favorecendo o desenvolvimento

do potencial humano na construção do saber.

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CAPÍTULO II - COMO A ARTE UNIDA COM A

PSICOPEDAGOGIA AUXILIA NO PROCESSO

ENSINO APRENDIZAGEM?

Nossa abordagem nessa pesquisa não é falar da arte educação e o

ensino da arte propriamente dito. Teríamos que falar sobre o currículo da arte

nas escolas. Contudo precisamos interligar a educação através da arte com a

psicopedagogia e como uma complementa a outra. Nessa abordagem,

denominamos educação através da arte, toda forma de ensino aprendizagem

através do lúdico. A criança aprende de forma criativa, construindo o

conhecimento. Atiçamos a curiosidade para que investigue e chegue às suas

próprias conclusões. Muitas vezes chegam até a conclusões que vão além do

conteúdo da atividade em questão. Esse conteúdo é investigado, esmiuçado,

descoberto e não simplesmente jogado goela abaixo. Usamos a arte em todas

as matérias. E cada matéria tem seu encanto e forma de descobrir o mundo.

Na matemática, através de jogos criativos, no português através da literatura,

poesia, nas ciências através de brincadeiras e invenções, na história quando

dramatizamos os fatos e na geografia quando vivenciamos distancias,

construímos mapas e gráficos. Nós experimentamos o conhecimento,

aprendemos através da experiência. Não que todo o conteúdo seja dado dessa

forma. Mas sempre na medida do possível experimentamos com nossas

crianças a construção desse conhecimento.

Quando ouvimos falar sobre a psicopedagogia pela primeira vez,

fizemos logo a ligação com a arte na educação que já era prática há anos em

sala de aula. A psicopedagogia vem acrescentar com a investigação, a parte

científica e técnica de como ajudar crianças com dificuldades de aprendizagem.

Essa união é fantástica. Na psicopedagogia usam-se vários jogos lúdicos para

estimular a aprendizagem e a arte na educação já fazia isso na construção do

conhecimento. Acreditamos que essa união tem muito a acrescentar nas

escolas. Sendo uma contribuição para diminuirmos a contradição da educação

tanto na escola pública como na escola particular em nosso país.

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Ao longo de dez anos dando aulas em escolas e complementando em

aulas particulares para crianças de diferentes idades e tipos de dificuldades,

percebemos como uma intervenção psicopedagógica através da arte pode

ajudar. Percebemos o quanto ensinar de forma criativa deixa o aluno mais a

vontade e com maior disposição para aprender. E trabalhando como professora

de artes visuais e também como professora primária sempre fizemos a ligação

entre o conhecimento científico dos currículos escolares com a arte.

A pós graduação em psicopedagogia transformou e ampliou nossa

forma de ver o mundo. Quando aprendemos sobre distúrbios, transtornos e

dificuldades de aprendizagem que uma pessoa pode apresentar. Suas causas

neurológicas, emocionais, genéticas ou ambientais. Deu-nos uma

compreensão maior e reforçou a crença de que o professor precisa ver cada

aluno como único e não apenas uma máquina que absorve conteúdos jogados.

Deu-nos uma visão mais clara, e aprendemos a ser mais pacientes e

tolerantes, tentando compreender que o aluno que não consegue aprender

pode estar com graves dificuldades. O ideal seria se em cada escola, o

professor tivesse apoio de uma equipe especializada como psicopedagogo,

fonoaudiólogo, psicomotricista e psicólogo, para auxiliá-lo e orientá-lo. Muitas

vezes numa turma super lotada o professor não consegue sozinho.

A intervenção psicopedagógica investiga principalmente essas

dificuldades e encontra meios de auxiliar esse aluno a vencer, amenizar e

conviver com elas. E com intervenções através do lúdico, usando a arte para

aprender conhecimentos do mundo prazerosamente. Cada pessoa traz

conhecimentos, interesses, dons. O psicopedagogo investiga quem é essa

pessoa, o que já traz e quais seus centros de interesses. Conhecendo essa

pessoa integralmente pode elaborar um plano de ação flexível. Pode utilizar

diversas técnicas entre elas a arte que suaviza o processo e efetivamente já

comprovado, realmente ensina.

Essa visão de ensinar de forma prazerosa e não massificada devemos

aos pensadores e professores pioneiros que através de seus estudos e

experiência trouxeram para nós essa nova abordagem do ensino

aprendizagem. Apenas nos perguntamos por que um assunto que já é

estudado e comprovado a mais de um século e bastante batido, ainda é tão

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pouco experimentado na maioria das escolas brasileiras que persistem em

modelos antigos de educação já defasados e atrasados.

2.1 Pioneiros da arte educação no Brasil

No século XX, no inicio da década de 20, surgiram vários movimentos

de vanguarda no Brasil e no mundo. Jovens de famílias ricas que viajam para

estudar no exterior, trazem idéias novas influenciadas por mudanças políticas,

econômicas e sociais. Um grupo de jovens intelectuais, artista plásticos,

escritores e poetas criou a semana de arte moderna de 1922 e isso

desencadeou outros movimentos que culminaram no Manifesto dos Pioneiros

da Educação Nova de 1932. Segundo Cortez (1993), este manifesto pretendia

interferir na organização da educação brasileira que estava nas mãos de uma

elite religiosa e classes dominantes e foi assinado por Anísio Teixeira entre

outros intelectuais da época.

O Manifesto foi lançado em um momento de reorganização política,

resultado da revolução de 30. Esse documento tornou-se ponto marcante no

projeto de renovação educacional do nosso país. Deixava às claras a falta de

organização das escolas na época e propunha que o estado organizasse um

plano geral de educação defendendo a bandeira de uma escola pública , laica,

gratuita e obrigatória. Esse movimento é claro, foi alvo da crítica ferrenha da

classe dominante e da Igreja católica que naquela época era forte concorrente

do estado no controle da educação da população, e ainda tinha o controle de

grande parcela das escolas privadas.

Segundo Cortez (1993), a “pedagogia nova”, foi disseminada a partir

dos anos 50 e 60 com as escolas experimentais e sua ênfase era a expressão

individual e subjetiva nas atividades dando valor aos aspectos afetivos. A

espontaneidade do aluno seus interesses e seu processo de aprendizagem

caracterizam essa pedagogia nova que era fundamentada na psicologia e na

biologia.

Anísio Teixeira assinou o manifesto e foi um dos principais do

movimento escolanovista. Estudou no exterior nos Estados Unidos, na

Universidade de Columbia. Lá conviveu com o pedagogo John Dewey e

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conheceu suas idéias. Foi nomeado em 1931, secretário do Rio de Janeiro e

criou a rede municipal de ensino que ia da escola primária a universidade.

O Brasil nesta época não tinha intelectuais preparados para criarem um

programa ou idéias próprias, um sistema puramente brasileiro e Dewey deu a

base, quando defendia o respeito as características individuais das pessoas

tornando-as parte integrante da sociedade. O sujeito com liberdade dá maior

contribuição ao coletivo. Anísio Teixeira foi um dos seus maiores seguidores.

Para ele a função da escola era a reconstrução social, colaborando sempre

com a reflexão e transformação social frente a dinâmica de uma sociedade

democrática.

No Brasil do século XX, diferentes autores marcaram também os

trabalhos dos professores de Arte. Além de John Dewey, firmando a tendência

da escola nova tivemos também a contribuição de Herbert Read da Inglaterra.

Herbert Read com a publicação de seu livro, Educação pela Arte, contribuiu

bastante para a promoção do ensino das artes nas escolas. E influenciado por

esse movimento gerado por Herbert Read, Augusto Rodrigues criou a

Escolinha de Arte do Brasil no Rio de Janeiro em 1948. Cortez,(1993).

A pesquisadora Mara Lúcia Martins, em periódico publicado na

fundação CECIERJ, diz que o artista plástico Augusto Rodrigues nasceu em

Recife em 1913. Em 1935 mudou-se para o Rio de Janeiro e ficou conhecido

principalmente como ilustrador. Mas sua maior obra aconteceu em 1948 junto

com outros companheiros, ele fundou a Escolinha de Artes do Brasil (EAB) na

antiga Biblioteca Castro Alves. A escolinha era na época um local onde

freqüentavam crianças de todos os tipos, principalmente as especiais, que lá

podiam desenhar, cantar ou desafinar, brincar e ser elas mesmas. Augusto

Rodrigues quando criança, não gostava muito de ir para a escola, sua alma de

artista livre percebia as coisas a sua volta de forma diferente. Não se adaptava

as regras rígidas das escolas tradicionais e se recusava a entrar numa fôrma.

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A minha primeira escola foi uma experiência muito triste porque não só eu me via impossibilitado de me movimentar, de falar, de viver, como também olhava as outras crianças impedidas igualmente de se expressarem. A escola era sombria, era triste, a professora também era sombria, e eu sentia uma preocupação, uma tensão dessa professora de imprimir nas crianças coisas que não tinham nenhum sentido para elas. Nós teríamos que aprender o que interessava a ela ensinar e teríamos que abdicar aquilo que era fundamental para nós, que era brincar. (AUGUSTO RODRIGUES. 1991) Em Recife, onde nasci e passei a infância, a escola era um suplício. Metiam à força na cabeça dos meninos tudo o que eles não queriam nem estavam interessados em aprender. E nunca me adaptei. Acabei sendo expulso. Detesto, até hoje, a escola repressiva. (...) A escola não coube em mim. (ZOLADZ, 1990, p.54)

A escolinha recebeu apoio de Anísio Teixeira e Helena Antipoff,

criadora da Sociedade Pestalozzi, onde Augusto Rodrigues também

trabalhava como professor. Dizia que aprendeu ali que atividade artística podia

ser motivo para estudo, registro e debates. Helena Antipoff convidou Augusto

para lecionar em sua fundação porque acreditava na educação pela arte

como expressão criativa e livre, e como forma de educação por excelência.

Além de convenio com a sociedade Pestalozzi, a escolinha tinha

convenio também com a APAE. A EAB sempre tentou inovar a concepção do

ensino das artes. Seu perfil foi durante anos, uma escola que além de trabalhar

com crianças, formava arte educadores num curso intensivo de arte

educação que durava um ano. Neste curso os professores experimentavam

todas as expressões artísticas como artes plásticas, música, teatro, dança,

além de valorizar muito o ensino de artistas autodidatas, a arte popular das

várias regiões do Brasil e o folclore.

A Escolinha de Artes do Brasil gerou um movimento tal que

influenciou na regulamentação do ensino de artes nas escolas particulares e

públicas. E tornou-se nos anos 70, 80 e 90, um importante centro de formação

de profissionais da área, no Brasil e América Latina.

Acompanhando as novas tendências da pedagogia escolanovista em

nosso país, surge também nos anos sessenta a pedagogia libertária de Paulo

Freire. Um trabalho tão importante e revolucionário pois tentava diminuir os

altos índices de analfabetismo no Brasil. Paulo Freire criou um método de

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alfabetização de adultos que partia de suas próprias vivencias no cotidiano.

Esse método valorizava o diálogo professor–aluno ou educador-educando e

visava a consciência crítica, política, social. Formando o cidadão integral com

autonomia e idéias próprias. Esse método é considerado ainda nos dias de

hoje como Pedagogia Libertadora.

Em artigo de Márcio Ferrari, da revista escola, editora abril (2012),

vimos que Paulo Freire nasceu em 1921 e faleceu em 1997. Um dos seus

maiores objetivos era a conscientização do aluno, do seu auto valor para a

transformação da sociedade. Em seu livro pedagogia do Oprimido, Freire

defende a grande parcela desfavorecida e em seu método tenta levá-la a

compreender sua situação de opressão e agir em favor de sua própria

liberdade. Grande parte de sua obra se baseia nesse princípio.

Propõe uma prática no dia a dia da sala de aula que desenvolve o

pensamento crítico do aluno. Condenava o ensino das escolas das classes

dominantes ou escolas “burguesas” que qualificava como escolas bancárias.

Segundo Paulo Freire, o saber era apenas visto como doação dos que

se julgam seus donos, e a escola tratava seus alunos apenas como

receptáculos passivos e o professor age como dono desse conhecimento que

apenas deposita na cabeça do aluno. Considerava por isso, a escola da época

“alienante”, que matava em seus alunos curiosidade, seu espírito investigador,

e sua criatividade e iniciativa. Dizia que enquanto a escola conservadora

tentava acomodar seus alunos no modelo existente, sua pedagogia do

oprimido tentava inquietá-los.

Paulo Freire foi um grande exemplo para nós professores, viveu com

coerência com aquilo que acreditava. Ensinou através de seu próprio exemplo.

Lutou, batalhou por uma educação que tinha a função de libertar e não

aprisionar o ser humano e o oprimir. Viveu até seus últimos dias lutando por

esse ideal evidentemente possível de se concretizar. E nos deixou seus livros.

Quem sabe um dia conseguimos aplicar suas idéias, de 50 anos atrás, mas

que ainda são tão atuais e ainda de vanguarda.

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2.2 Escolas que valorizam a educação através do lúdico

2.2.1- A Colonia Gorki de Anton Makarenko

Tomei contato a primeira vez com as idéias para uma educação

diferente do modelo que conhecia até então, na escola normal no Instituto de

Educação do Rio de Janeiro. Conheci através do livro Poema Pedagógico, o

educador Anton Semyonovich Makarenko. Era um pedagogo ucraniano e que

no inicio do século XX, em 1917, época da revolução russa, foi diretor de uma

escola para jovens infratores.

Segundo pesquisa de sua biografia realizada por Cecília da Silveira

Luedemann em 1994, em dissertação de mestrado, e publicada em 2002,

Anton Makarenko nasceu na Ucrania em 1888 e faleceu em 1939, com apenas

51 anos de ataque cardíaco. Se especializou em trabalhar com menores

infratores, principalmente os menores abandonados que viviam nas ruas e

estavam ligados a diversos tipos de crimes precocemente. Makarenko era

diretor geral da Colonia Gorki, escola especializada em recuperar esses jovens.

Incluo aqui a Colonia Gorki como escola que valoriza o lúdico, porque já em

1917, Makarenko já pensava na educação através do teatro.

Na época, inspirados pelos ideais da revolução russa, os intelectuais

começaram também a repensar a educação daquele país. O modelo vigente

era o das elites aristocráticas que já não dava certo. Segundo Leudemann,

(2002), a formação de Makarenko foi resultado de sua experiencia com as

diferenças sociais da época, de sua infancia e adolescencia numa familia que

vivia com dificuldades financeiras, mas principalmente de suas leituras de

obras de grandes autores russos e ucranianos nas áreas de politica, educação

e cultura. Mas destaca como principais influencias Vladimir Ilich Ulianov – Lênin

e Máximo Gorki.

O romantismo ativo de Gorki e o intelecto organizador de Lênin foram as concepções mais marcantes da formação de Makarenko. Gorki mostra para Anton a importância da arte, da estética e da ética na construção de uma nova sociedade. E Lênin orienta toda sua ação política.(LEUDEMANN 2002, P.22)

O que mais chamou a atenção foi que considerava o teatro como poderoso

meio de educação e defendia a educação do coletivo.

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Quando o coletivo da Colônia Gorki já estava estável com seus alunos

em crescente recuperação, Makarenko propôs aos alunos que formassem um

grupo de teatro para apresentar peças aos habitantes das cidades vizinhas,

como difusão da cultura. Aqueles jovens que antes viviam do crime, se

transformaram em atores, cenógrafos, costureiros, carpinteiros do teatro da

Colônia. Todos os domingos, durante meses do ano, seus alunos

apresentavam peças de teatro para um público bastante receptivo. Os

espetáculos eram sempre renovados e se inspiravam em obras clássicas do

teatro russo ou eram peças escritas pelo próprio Makarenko em suas horas

livres.

Os jovens da Colonia Gorki eram rebeldes, mas com firmeza,

disciplina, equilibrados com afeto, compreensão e valorização, Makarenko

conseguiu altos índices de melhora. Os jovens além de seguirem as regras do

coletivo, também eram ouvidos em reuniões e votações, isso os valorizava e os

deixavam mais abertos ao método educacional de Makarenko. Os pais dos

alunos também podiam participar das atividades, pois entendia-se como

coletivo toda a comunidade escolar, unindo escola e família para o bem

comum.( Luedemann, 2002).

A escola como coletividade é uma das mais importantes reinvenções

do século XX, no campo da sociologia da educação. E isso devemos a Anton

Makarenko. Em sua carreira profissional, Makarenko registrava todas suas

experiências, erros e acertos e a partir disso escreveu seus livros, nos

deixando uma trajetória que deu certo, para seguirmos se essa for nossa

vontade.

O que mais encantou em Makarenko, foi a constatação de que ele foi

um dos primeiros pedagogos que usaram a arte como instrumento de uma

educação mais lúdica, não deixando de exercer a disciplina e dar uma base

firme, sólida e digna aos seus alunos. Makarenko além de pedagogo, professor

e autor de peças teatrais, era um poeta. E ensinou seus alunos a enxergarem o

mundo através da poesia mesmo com todas as dificuldades da época.

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2.2.2 - A Escola Summerhill de Alexander Neill

Dentre as escolas que iam para o outro extremo da educação

conservadora da época, e dita como escola democrática, talvez a mais antiga

que ainda está em funcionamento seja Summerhill na Inglaterra. Segundo

Veloso,(2005), foi fundada em 1921 por Alexander Sutherland Neill. Summerhill

é uma escola privada e não recebe verba pública por isso não é obrigada a

seguir as regras do governo.

Uma das principais influencias de Alexander Neill foi o educador

britânico, Homer Land. Ele era também um grande admirador de Wilhelm Reich

e dedicado estudante da teoria de Freud. Acreditava que a felicidade é

fundamental para o desenvolvimento da criança e que tem origem na liberdade

de ser. Defendia que as escolas tradicionais tolhem, privando seus alunos

dessa liberdade e que a conseqüência disso são crianças infelizes e

reprimidas, o que origina a maioria dos distúrbios psicológicos na vida adulta.

Defendia que os jovens devem aprender em um ambiente de liberdade mas

também de responsabilidade, sabendo lidar com as conseqüências de seus

atos. Influenciado pelo pós guerra, dizia que a humanidade estava doente, e

essa doença era efeito do tratamento repressivo que recebiam quando

crianças em um sistema patriarcal.

Para resumir, meu ponto de vista é que a educação sem liberdade resulta numa vida que não é integralmente vivida. Tal educação ignora quase inteiramente as emoções da vida, e porque essas emoções são dinâmicas, a falta de oportunidade de expressão deve resultar, e resulta, em insignificância, em fealdade, em hostilidade. Apenas a cabeça é instruída. Se as emoções tivessem livre expansão, o intelecto saberia cuidar de si próprio. (NEILL, 1967, P.93)

Em Summerhill, as crianças participam de assembléias onde tem o

direito de voto na mesma cota que todos da comunidade escolar, sejam

professores, funcionários, diretores. Não tem a obrigação de estar nas salas de

aula e assistem as aulas que preferirem. Essa experiencia segundo Neill,

demonstra que sem a obrigação imposta, os alunos orientam seu interesse

próprio pela sua aprendizagem.

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Adultos e crianças tem direitos iguais. E frisa a diferença entre

liberdade e licenciosidade. Todos são livres mas isso não quer dizer que não

há limites. Não existe licença para interferir no espaço do outro, e não existe o

direito de atrapalhar as atividades coletivas. A liberdade existe em relação as

escolhas em relação a si mesmo e ao próprio processo, assumindo claro as

conseqüências dessas escolhas. Excesso de liberdade leva a licenciosidade. E

Neill buscava o equilíbrio. Criticava também a escola conservadora em priorizar

apenas o lado racional e sufocar o lado emocional das pessoas. Por isso em

sua escola Summerhill, estimulava e dava grande importância ao teatro, a

dança, as artes visuais. As matérias convencionais, português, matemática,

historia, geografia e outras, existem, mas tem tanta importância quanto as

artísticas.

Hoje em dia, Summerhill tem como diretora a filha de Neill, Zoe

Readhead. Recebe alunos de vários países, com um quantitativo de mais ou

menos 90 alunos. Segundo Zoe,(2006), Summerhill continua concretizando o

sonho de seu pai que preferia que a escola formasse um gari feliz a um

primeiro ministro neurótico.

Quando eles deixam a escola, nossos ex-estudantes são muito diferentes. Muitos deles vão trabalhar em coisas que mantenham seu nível de liberdade e o próprio caminho. Nós temos artistas, médicos, advogados, professores de todos os níveis, carpinteiros, pesquisadores, músicos, chefes de cozinha, atores, jardineiros, fazendeiros, jornalistas e apresentadores, diretores de cinema, técnicos, fotógrafos, bailarinos, programadores de computador, escritores, ilustradores e especializados em cuidar de deficientes. Temos ainda empresários fantásticos – isso resulta, talvez, da criatividade desenvolvida pela escola como um bem e um talento para se relacionar com as pessoas (READHEAD, 2006, p.107). (Tradução de Antonio Elísio Garcia Sobreira).

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2.2.3 Outros exemplos de escolas democráticas

Segundo Ludwig (1998), hoje em dia existem outras escolas

democráticas no mundo como as bem sucedidas Sudbury Valley Schooll,

Labany Free School, Play Mountain Place, nos Estados Unidos. Na Austrália, a

Currambena PrimarySchooll desde 1969. Cerca de 500 escolas são

identificadas atualmente como escolas democráticas em países como EUA,

Austrália, Canadá, Dinamarca, Finlândia, Holanda, Israel, África do Sul,

Inglaterra, Japão, Nova Zelândia, Rússia, Portugal , e também em nosso país

Brasil. Em Portugal temos a famosa escola da Ponte, na época em que foi

dirigida por José Pacheco.

E no Brasil duas escolas públicas que basearam-se nos projetos da

Escola da Ponte como a Escola Municipal Desembargador Amorim Lima em

São Paulo. E em Ibiúna o Centro Integrado Municipal de Educação Básica, que

se baseia nos princípios de autonomia, democracia e bem comum.

No Brasil temos ainda dentre as escolas particulares, a Edem que foi

inspirada pelos ideais de Summerill na década de 70, mas que hoje em dia

tenta equilibrar os excessos de liberdade, e ainda dá muita importância as artes

em seu currículo. Temos também o CEAT, Centro Educacional Anísio Teixeira.

Desde o ano de 1993 anualmente acontece a Conferencia

Internacional de Educação Democrática, (International Democratic Education

Conference – IDEC). A cada ano acontece em um país diferente. Em 2007,

aconteceu no Brasil, no estado de São Paulo. Foi organizado pela Politéia ,

laboratório de pesquisas da Unicamp e a faculdade de Educação da USP. Foi

um evento paralelo ao Fórum Mundial de Educação do Alto Tietê. Cerca de

170 pessoas participaram de 65 organizações de 13 países. E nas atividades

abertas participaram cerca de 800 pessoas, segundo dados recolhidos no

Informativo da Politéia Unicamp/revista).

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2.3 - Diferencial de escolas atuais que buscam novos caminhos

Estamos longe da perfeição, mas já podemos perceber algumas

melhoras. Entre os extremos do conservadorismo que prioriza o racional, e as

escolas alternativas que priorizam o emocional, tentamos encontrar o equilíbrio.

Mas percebemos segundo estudos, o diferencial em escolas atualmente que se

destacam positivamente no Brasil, como escolas que tem a experiência da

prática da Gestão Compartilhada.

Segundo informações, (retiradas do site portal MEC, 05/2009), e dados

da UNESCO que investe na realização de pesquisas sobre as práticas da vida

escolar, a escola tem em seu projeto político pedagógico a sua identidade.E a

construção desse projeto deve ser um processo de partilha de toda

comunidade escolar. Isso implica em sempre rever o papel da direção, a forma

como atua no dia a dia, definindo prioridades, na condição de liderança

pedagógica. Estar avaliando os programas e ações, organização e participação

nas atividades. Investir na formação dos funcionários e valorizar os resultados

alcançados pela equipe e alunos.

Percebe-se o diferencial que essas escolas que são tanto públicas

como particulares, são organizadas, e compartilham a construção das regras,

normas e o cuidado com o espaço escolar e o bem público. As reuniões e

assembléias para discussões de assuntos relevantes ao coletivo fazem parte

da estratégia educativa, onde se aprende na vivencia pacífica. Essas

experiências tem por base o diálogo e implementação de projetos que visam

trabalhar valores como a solidariedade, e proteção no campo dos

relacionamentos e atitudes. Há investimento em espaços de socialização e

todas as ações visam a valorização do indivíduo.

Percebe-se também como diferencial dessas escolas, a busca de

parcerias entre escola e comunidade. Esse fato é um dos fatores principais da

diminuição da violência, depredação e furtos no ambiente escolar. Esse

exercício permite a inclusão, trazendo a comunidade do entorno também como

parceira no processo educativo e é prática inovadora, pois abre a possibilidade

dos indivíduos se sentirem parte da construção e desenvolvimento do

conhecimento valorizando suas raízes e história.

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Segundo reportagem de Manoela Frade, no Portal MEC,(2008), na

opinião da diretora da escola pública Classe 314 Sul, no Distrito Federal,

Sandra de Melo, um dos principais motivos do IDEB (Índice de

desenvolvimento da educação básica) de sua escola estar alto, foi o

envolvimento de toda comunidade escolar no processo de aprendizagem. A

escola Classe 314 Sul, obteve seis pontos no IDEB, nota esta que o MEC

deseja alcançar como meta no Brasil até 2022.

O Distrito Federal teve como meta a partir do ano 2008, a gestão

compartilhada , no projeto de lei para 620 escolas da rede pública. A escolha

do diretor pelo voto de toda a comunidade escolar marca o inicio da mudança

de tentar elevar a qualidade na gestão escolar. E o cumprimento das metas

depende a permanência no cargo da direção.

Segundo reportagem do Jornal O Globo em 02/05/2013), uma escola

pública nos EUA contratou professores de artes para diminuir a violência na

escola. O colégio público Orchard Gardens, em Massachusetts, Boston, estava

entre os cinco piores do estado. Cercado por alunos indisciplinados e pelo

aumento da violência nas salas de aula, o diretor resolveu tomar como medida

demitir os seguranças e investir em professores de artes como música, artes

visuais, teatro e dança. Todos acharam loucura a primeira vista, mas em três

anos os resultados começaram a aparecer. Houve um salto de qualidade no

aprendizado dos alunos e diminuição significativa da violência.

Não há um único jeito de se fazer uma tarefa. E a arte te ajuda a compreender isso. Se você levar isso a sério, o mesmo acontecerá na parte acadêmica e em outras áreas. Eles precisam mais do que um teste preparatório e mais do que simplesmente responder de um jeito uma questão. – BOTT, Andrew, 2013, à rede de TV NBC .

Andrew Bott, é o sexto diretor a dirigir a unidade em menos de sete

anos. E ao assumir a direção em 2010, chegou a ouvir de seus colegas que

aquela escola era considerada como “destruidora de carreiras”. A escola foi

construída em 2003 para ser referencia das artes mas nunca tinha alcançado

o objetivo. O estúdio de dança era utilizado como depósito e os instrumentos

de orquestra estavam guardados intactos.

A violência era tanta que os alunos eram proibidos de levar mochilas

para a escola para reduzir o número de armas em sala de aula. Dos 800 alunos

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da escola, cerca de 56% são descendentes de latinos e os outros 42% são

considerados negros. Mas com a substituição de seguranças por professores

de arte, as paredes dos corredores viraram muros de exposições, do estúdio

de dança foram retirados os entulhos, e a orquestra voltou a funcionar.

Segundo o diretor, o contato com as artes motivou os alunos a terem “espírito

empreendedor”.

Essa transformação que ocorreu nesta escola é perfeitamente

compreensível quando analisamos a teoria das Janelas Partidas, modelo norte

americano de política de segurança pública no enfrentamento ao crime, que

tem como base a teoria de que a desordem de um ambiente é fator de

elevação dos índices de criminalidade. Segundo artigo publicado no site

Conteúdo Jurídico em maio de 2011, a Teoria das janelas partidas surgiu a

partir de um estudo realizado pelo cientista político James Wilson e o psicólogo

criminologista George Kelling. Os dois são pesquisadores da Universidade de

Haward, e publicaram os resultados desse estudo, na revista The Atlantic

Monthly em 1982. O principal objetivo desse estudo foi demonstrar a relação

entre a desordem e a criminalidade. Em síntese expressa que quando um

ambiente já está deteriorado e mal cuidado a tendência das pessoas é o

descaso e continuar desvalorizando e vandalizando o ambiente. Mas quando o

ambiente está harmônico e arrumado a tendência é mantê-lo da mesma forma.

Mas mesmo em um ambiente harmônico, se apenas um pequeno ato

de quebrar uma janela não for questionado, discutido e imediatamente

consertado, isso induzirá as pessoas a acreditarem que ninguém se importa

com aquele local e a desordem retorna como antes.

Por isso que é perfeitamente compreensível que no Colégio Estadual

Orchard Gardens, o ambiente escolar sendo organizado, limpo e com os

trabalhos dos alunos valorizados nas exposições em suas paredes, induziu a

comunidade escolar a continuar cuidando do espaço. O aluno se sente parte

do coletivo e também responsável pelo ambiente harmonioso. A arte neste

caso serviu para valorizar seu trabalho, valorizar sua contribuição para a

harmonia daquele ambiente para o uso de todo o coletivo.

É evidente a semelhança com escolas públicas do Brasil.

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CAPÍTULO III - NA GANGORRA

DA TRANSIÇÃO EDUCACIONAL

3.1 Uma experiência pessoal com vários tipos de educação

Quando era criança queria ser muitas coisas, mas a maioria delas

tinha algo em comum, todas tinham a ver com artes e invenções. Queria ser

cientista, artista e escritora. Dentro da lógica de criança, isso parecia ser

perfeitamente possível.

Estudei em escola pública em plena ditadura e não me adaptei ao

sistema. Já havia aprendido que mesmo como criança, merecia ser respeitada.

Queria ser ouvida e tinha gana de aprender sobre o mundo em que vivia.

Talvez por isso compreenda profundamente meus alunos quando não

suportam ir à escola e fazer deveres de casa mecânicos aparentemente sem

propósito nenhum.

Ao final do antigo ginásio, fiz um teste vocacional numa instituição de

respeito. Foram dias de testes dos mais variados. Ao final veio o resultado.

Tinha vocação para as artes e para a educação. O laudo técnico veio com uma

nota do psicólogo que dizia que embora tivesse vocação para as artes, que

investisse mais na educação pois as artes não eram valorizadas no nosso país.

Foi- me indicado fazer o curso de formação de professores e achei muita graça

da observação do psicólogo, pois sabia que o salário dos professores era

baixíssimo. Tinha vocação justamente para duas profissões que não eram

valorizadas em nosso país. Mas minha mãe, também professora, me incentivou

a fazer o concurso para o Instituto de Educação do Rio de Janeiro, ainda era

uma escola pública considerada de qualidade e já sairia com uma profissão.

O curso normal foi uma das maiores e melhores experiências que tive

na minha vida. Lá aprendi muito, mas não na sala de aula. Fui do grêmio

estudantil e aprendi a organizar e planejar eventos como festivais de música e

saraus de poesias. A me expressar em reuniões com diretores, professores,

pais e até jornalistas. A liderar passeatas organizando trajetórias pelas ruas da

Tijuca e Centro da cidade. Fiz cursos extras de poesia, teatro e dança. E fazia

o máximo para não faltar as aulas de arte e filosofia, pois eram as que mais me

interessavam. Mesmo assim passei muito bem nas matérias, e aprendia muito

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com os professores principalmente fora da sala de aula, nas assembléias do

sindicato que sempre ia.

Era um momento pós ditadura militar, quando a política fervilhava e a

juventude era atuante lutando por liberdade. Eram os anos de 1986, 1987 e

1988.

Foi no Instituto de Educação que minha paixão pela educação

começou. Aproveitei ao máximo tudo que pude. Haviam muitos alunos que

corriam atrás. Porém percebia que a grande maioria dos colegas não queria

estar ali, alguns estavam só para sair com uma profissão e ter um dinheirinho

imediato, outros sem a menor vocação não tinham estímulo para nada e

passavam raspando.

A sala de aula muitas vezes era estafante, massificante e nem sempre

satisfazia o que precisávamos aprender. Havia muitos professores excelentes,

verdadeiros exemplos. Outros cansados, passavam toda sua frustração de

salários baixos e pouco reconhecimento. Era desmotivante. Eu sabia o que me

esperava lá fora. Mas tinha esperanças de encontrar alternativas.

Em 1990 prestei vestibular para Universidade Federal. Tive que fazer

um cursinho pré vestibular pois o normal não havia me preparado para tal

competição. No cursinho aprendi o que não havia aprendido em três anos de

escola normal. Embora fosse bastante conteudista, havia professores que

sabiam ensinar, e ensinavam de tal maneira cativante com toda força de sua

vocação que aprendi a gostar até de matérias como física, química,

matemática e biologia que nada tinham a ver com a minha área. Percebi que

cada matéria tinha o seu encantamento. Então se conseguisse passar para os

meus alunos esse encantamento por descobrir as coisas do mundo, suavizaria

a avalanche de conteúdos.

Graças aos meus professores que estimularam em mim o prazer de

estudar mesmo num pré vestibular, consegui passar com boa colocação para

educação artística, licenciatura em artes cênicas na UNIRIO. Mas entrei com

tanta expectativa na universidade que me decepcionei e um ano depois

tranquei a matrícula para fazer o curso de especialização em arte educação da

Escolinha de Arte do Brasil, o CIAE. Percebi que lá aprendia muito mais que na

universidade, pois aprendia na prática. Foi um ano maravilhoso conheci um

pouco de tudo, principalmente do universo da arte popular e seus artistas

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autodidatas. Lá conheci Augusto Rodrigues, que ia todo o ano conversar com

as novas turmas e compartilhar a história da Escolinha e seus ideais. Foi uma

sorte muito grande conhecer esse mestre educador naquele ano, pois dois

anos depois, em 1993 ele veio a falecer. Logo depois fui convidada a ministrar

aulas para crianças na própria escolinha e ensinar bonecos de espuma no

curso intensivo de arte educação para adultos (CIAE).

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3.2 Passagem por escolas alternativas e escolas tradicionais

Logo que me formei no normal, fui trabalhar numa creche filantrópica

para crianças carentes. Paralelamente, era voluntária numa escola embaixo da

ponte chamada “Escola Informal Tia Aparecida”, em uma comunidade que

construiu barracos irregulares embaixo do viaduto da Praça da Bandeira. Uma

das moradoras criou uma creche para as crianças não ficarem nas ruas.

Logo depois, recebi uma proposta de estagiar numa escola alternativa,

uma colega disse que era uma escola diferente.

O método mais trabalhado era o Montessoriano. As prateleiras ao

alcance das crianças, rodinhas para reuniões, tudo era combinado antes e as

crianças não eram obrigadas a ficarem em sala de aula, tendo passe livre pela

escola. Não haviam atitudes autoritárias, tudo era conversado e combinado

antes.

Mas como nada é perfeito, para algumas regras da escola, percebia

um grande problema principalmente em longo prazo. Aos adultos era proibido

dizer a palavra “não”, em vez de castigo usava-se eufemismos como “colocar

para pensar”. Cada ação com a criança era explicada em mínimos detalhes.

Confesso que era exaustivo. Era o outro extremo de tudo que tinha visto.

Após esta experiência, fui trabalhar no Centro Educacional Anísio

Teixeira (CEAT) também considerado uma escola alternativa. A diferença era o

espaço amplo com uma área verde grande. Cada turma tinha uma sala dividida

com banheiro e varanda grande aberta na frente. Dava para ver que era uma

escola que valorizava o brincar. O professor tinha uma certa liberdade ao

planejar as atividades que na maior parte das vezes partia sempre de algo que

a criança trazia. A equipe de arte era excelente com professor de música,

teatro e dança. Todas as atividades eram planejadas com atenção sempre

visando o desenvolvimento e bem estar da criança. Em 1990 o CEAT já

trabalhava com inclusão e tive oportunidade de aprender a lidar com uma

criança autista. Aprendi muito.

Em 1991 tive minha primeira turma em uma escola tradicional. Era uma

turma de integral de crianças de 6 a 12 anos, que permaneciam o dia inteiro na

escola, estudavam à tarde e ficavam comigo na parte da manhã. Essa

experiência foi riquíssima, pois tínhamos 2 horas para estudo dirigido onde

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fazíamos os deveres de casa. Nesse momento separava os grupos nas séries

respectivas e ia de mesa em mesa tirar dúvidas. Tínhamos bastante material

para pesquisas. Isso me deu uma grande experiência em todas as séries do

antigo primário de uma vez. Trabalhei no integral durante seis anos.

Lecionando também em turmas da 1ª série e jardim III no outro período, e mais

tarde lecionei educação artística para todas as séries da educação infantil e

antigo primário.

Mas o trabalho no integral me deu vasta experiência e muito prazer.

Mesmo sendo uma escola tradicional tinha liberdade de planejar as atividades

para a garotada. Faziam clubinhos, cabanas, inventavam jogos de sucatas e

tudo quanto era material que encontravam podia virar brincadeiras como

pneus, baús e barris. Dava bastante liberdade para as brincadeiras. Em

momentos de crises, sentávamos e fazíamos as regras do grupo. Escrevíamos

numa cartolina os direitos e deveres do grupo. As crianças tinham estimulo de

serem elas mesmas, de serem ouvidas e por esse mesmo motivo produziam

muito. Fazíamos uma exposição por semana e os corredores do colégio não

davam vazão para tanta produção criativa.

O que mais me encantou nessa experiência foram as possibilidades

que tínhamos mesmo dentro de uma escola tradicional.

Paralelamente a essa escola tradicional, comecei a trabalhar no Núcleo

de Arte da Urca em 1995. Comecei como professora de turma com crianças de

quatro anos. Mas dois meses depois a Diretora me convidou para dar aula de

informática educativa para crianças de 3 à 6 anos. Na época a informática

começava nas escolas de educação infantil. Eu não sabia nada e fui fazer um

curso pago pela Nau no projeto horizonte da IBM e outro curso particular de

Windows e outras ferramentas. Sabia então o básico para começar a dar aula

para crianças. Falei para a diretora que não sabia nada de informática, e ela

me respondeu que não queria uma técnica e sim uma arte educadora, o que

era uma grande diferença. Logo no começo tentei adaptar o universo frio das

máquinas para o universo lúdico da criança. A máquina já é algo que atiça a

curiosidade de como funciona por dentro. Idealizei e fiz um computador

gigante feito em madeira e espuma que ficava na frente da porta da sala que

era coberta com uma cortina azul com estrelas. A criança falava uma senha

que podia ser uma palavra qualquer e entrava na sala agachada, passando

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por dentro do computador. Lá dentro colocava música clássica baixinho bem

ao fundo. Os três computadores que tínhamos eram personalizados com

nomes: ZIM , ZAPE e ZUM, de uma história que havia criado: “Os

computadores comedores de idéias”. Haviam também o boneco da inteligência

e o boneco humanóide. As crianças desenhavam livremente, faziam jogos de

diferenciação, quebra cabeça que inventávamos, jogo dos sete erros com os

próprios desenhos. Evitávamos joguinhos eletrônicos tipo vídeo game que

eram apenas mecânicos. Já que a intenção era que o computador fosse

mais uma ferramenta lúdica para trabalhar a psicomotricidade e dar asas a

imaginação.

Mais tarde comecei a ministrar também aulas de literatura. O nome

dado por nós professores era Biblioteca Animada pois era uma aula pra

estimular o gosto pela leitura, onde as crianças ouviam histórias e

manipulavam livros que ficavam em um baú ou numa maleta mágica. Por isso

as crianças maiores deram o nome da aula de contos mágicos. A cada ano

tínhamos um projeto diferente. Começamos trabalhando com os mitos de

Hércules e as crianças adoravam pois era como se fosse a continuação do

filme da Disney. Ao final fizemos um livro com seus desenhos de todo o ano.

Depois passamos a trabalhar com as histórias de Monteiro Lobato, depois

com contos de fadas, e assim por diante.

O Núcleo de Arte da Urca é até agora uma das escolas mais

verdadeiras por onde passei. Começou como uma escola de arte para crianças

onde uma de suas fundadoras foi Lúcia Coelho (prêmio Molière de teatro de

bonecos), depois Celinéia Paradela deu continuidade ao projeto transformando

a NAU numa escola de Educação Infantil. A equipe costuma se reunir toda

semana para planejar as atividades uns dando idéias para os outros , assim a

NAU convive como uma família. Lá o brincar é mais importante, a

aprendizagem se dá como conseqüência da liberdade que a criança tem de

se expressar de diversas formas. Tudo é feito para a criança se sentir bem,

feliz e à vontade como se estivesse em casa. Por estar em uma casa

adaptada para ser escola, a NAU acaba tendo essa característica, como se

fosse uma continuação da casa da gente. Não é a toa que ex alunos sempre a

visitam com saudade reconhecendo cada canto da casa. Depois de oito anos,

de 1995 à 2003, optei por sair da NAU, foi como se saísse da casa de uma

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mãe, foi dolorosa a separação mas precisava sair e ver mais o que o mundo

tinha a oferecer.

Em 1997 tive a oportunidade de trabalhar em um colégio religioso

bastante conhecido por sua rigidez e alto índice de aprovação no vestibular.

Passei por uma avaliação e não foi fácil a minha entrada. Fiquei um bom tempo

estagiando com a professora que entraria de licença. Ela me ensinou muito.

Depois de alguns meses assumi as turmas. Eram cerca de 650 alunos

divididos em 11 turmas de 1ª à 4 ª séries do antigo sistema primário.

Era diferente de tudo o que eu já havia feito na vida. A escola não era

apenas tradicional como era rigorosíssima com os alunos. Na aula de

informática eles se soltavam. Não havia aula de artes no colégio. Orientada

pela antiga professora eu trabalhava com animações feitas no paint e salvas

no media player. Na época não tínhamos tantos recursos como hoje.

Trabalhávamos também com literatura, com recriações de contos de fadas e

ficções científicas. Fazíamos também pesquisas pela internet e apresentações

de matérias respectivas no power point. Na verdade tudo muito técnico,

apenas em alguns momentos dando espaço pra imaginação nas histórias e

animações inventadas. Precisava aplicar prova para as turmas desde a 1ª

série. E os alunos sentiam uma certa pressão e eu também com turmas que

chegavam a 35 alunos por vez distribuídos numa sala gigante com 23

computadores.

No final do ano ganhei alguns lembrancinhas e junto veio uma cartinha

de um aluno. Nela ele agradecia as aulas e comentava que tinha gostado do

meu “jeito de ser”. Corri para as folhas das turmas que tinha o retrato de cada

criança pra ver o rostinho, pra ver se eu lembrava dele. Felizmente lembrei.

Lembrei só que ele sorria e mais nada. E lastimei por não ter conhecido mais

aquelas crianças que passaram pela minha vida. Eu não tive tempo de

conhecê-las, mesmo trabalhando com elas durante um ano inteiro. Então

mesmo sendo convidada para continuar no colégio optei por sair, pois embora

fosse uma escola de grande porte que pagava muito bem, o maior pagamento

que um professor de vocação pode ter, que é aprender também com o aluno,

eu não tive. Não tive tempo...Nesse dia chorei. Felizmente ainda tinha a NAU.

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3.3 - Experiência em Órgão de Cultura do Rio de Janeiro

A partir de 2003 optei por sair de sala de aula. Fiquei nesse tempo

trabalhando em seminários de capacitação para professores na prefeitura do

Rio, e no Projeto Itinerante de Cultura para escolas da zona Oeste onde

trabalhávamos com as diversas linguagens artísticas com alunos e pais de

alunos, com o objetivo de trazer mais os pais para a escola e os conquistar

como parceiros na educação de seus filhos. Essas atividades eram realizadas

aos sábados nas próprias escolas públicas. E também trabalhava com

ONGS em capacitação de professores em creches comunitárias.

Em 2008 fui convidada para um cargo de nomeação em um órgão

público ligado à cultura do Estado do Rio de Janeiro, no Programa Cultura,

Educação e Cidadania. O objetivo era criar núcleos de cultura em 400 escolas

da rede estadual de 2008 à 2010. Esses núcleos seriam uma parceria da

secretaria de cultura com a secretaria de educação, e teriam como um dos

objetivos diminuir a evasão escolar. Pensei que poderia atingir muitas

crianças e jovens com esse projeto e começar a realizar um sonho, que

muitos acham ingenuidade, de uma escola pública de qualidade. Trabalhei

intensivamente. Tudo o que precisasse fazer para que saísse do papel e fosse

para a prática, faria.

Fazia orçamentos e mais orçamentos extensivamente trabalhosos.

Ligava para diversos artistas e profissionais para enviarem seus projetos.

Comparecia a infindáveis reuniões, e elaborávamos os critérios para as

primeiras escolas escolhidas. Era exigência do governo que as primeiras

escolas fossem as que tinham baixo IDEB (Índice de Desenvolvimento da

Educação Básica).

Nos primeiros meses eram apenas duas pessoas, eu e minha

coordenadora. Mais tarde foram chegando para ajudar pessoas maravilhosas

que pareciam ter o mesmo sonho. Visitamos diversas escolas para fazer o

perfil cultural de cada uma. Vimos as dificuldades dos diretores em conviver

em comunidades reféns do tráfico ou da milícia. Vimos muitas escolas que

persistem e realizam mesmo com poucos recursos. Nós tínhamos a faca e o

queijo na mão mas não tínhamos ordem para começar. É curiosa a máquina

do governo, o setor administrativo pressiona para os técnicos trabalharem ,

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mas os dois se esbarram com a burocracia. A burocracia é a grande inimiga do

fazer acontecer. E me dei conta que eu estava em uma máquina viciosa,

enferrujada que não funcionava. Eram preciso litros de óleo ou então trocar

toda a máquina por uma nova. Isso me deu um grande sentimento de

frustração. E ali lembrei da Escolinha de Arte, da NAU e das ONGS e lembrei

que não precisava estar na máquina do governo para fazer alguma coisa. Já

fazia a minha parte do meu jeito, com pequenas ações em sala de aula. O

trabalho é grande , parece impossível mas cada um fazendo sua parte com

pequenas ações, conseguimos superar as dificuldades na educação desta era

de transição.

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CONCLUSÃO

Em pleno século XXI, na era da informação e globalização ainda

encontramos um sistema de ensino atrasado, ainda do inicio do século

passado, que dá importância apenas aos conhecimentos científicos, não se

importando com a educação integral do indivíduo com características próprias

e com conhecimentos que já traz de sua cultura local.

A maioria das escolas não procura conhecer o estudante. Não leva

em conta a bagagem cultural e social que já traz. O aluno, mesmo na

educação infantil, tem uma vida fora da escola, que é desconsiderada. É

tratado como um saco vazio pronto para ser preenchido de conhecimentos que

muitas vezes não tem a ver com sua realidade. Esse choque cultural, causa

um grande desconforto na educação de nosso país, e por isso estamos numa

era de caos, de transição onde há um embate entre os que teimam com o

sistema que joga e impõe seus conteúdos “científicos e técnicos”, e os que

procuram alternativas que compartilham e enriquecem as experiências.

O papel da escola no século XXI é promover aos estudantes o

conhecimento de como conviverem na sociedade democrática, como serem

cidadãos atuantes e conscientes de seu papel na sociedade, seja ele de um

gari ao presidente da república. Cada papel tem sua importância. Não estamos

mais na era industrial do fim do século XIX, onde era preciso condicionar robôs

não pensantes.

Está na hora da escola mudar! E nesta pesquisa fica claro que essa

mudança já começou desde o inicio do século XX. Que encontramos no

passado muitos pensadores que já faziam os primeiros movimentos de

vanguarda educacional. É claro que na tentativa de equilibrar os lados da

balança algumas dessas tentativas foram para o extremo oposto também

cometendo excessos. Mas tudo é questão de ajuste.

Temos a educação através da arte e do lúdico que aliada a

psicopedagogia tenta ajustar esse impasse. A psicopedagogia surge para

amenizar os efeitos dessa educação retrógrada, onde nossas crianças destes

novos tempos encontram muitas dificuldades em se adaptarem aos conteúdos

escolares.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

A POLÊMICA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA 10

1.1 Ênfase no mercado de trabalho 10

1.2 Escolas Públicas e particulares semelhanças e diferenças 14

1.3 A psicopedagogia entra em cena 16

CAPÍTULO II

COMO A ARTE UNIDA COM A PSICOPEDAGOGIA AUXILIA

NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM? 19

2.1 Pioneiros da arte educação no Brasil 21

2.2 Escolas que valorizam a educação através da arte 25

2.2.1 A Colônia Gorki de Anton Makarenko 25

2.2.2 A Escola Summerhill de Alexander Neill 27

2.2.3 Outros exemplos de escolas democráticas 29

2.3 Diferencial de escolas atuais que buscam novos caminhos 30

CAPÍTULO III

NA GANGORRA DA TRANSIÇÃO EDUCACIONAL 33

3.1 Uma experiência pessoal com vários tipos de educação 33

3.2 Passagem por escolas alternativas e tradicionais 36

3.3 Experiência em Órgão de Cultura do Rio de Janeiro 40

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CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

ÍNDICE 46