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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO ”LATO SENSUS” AVM FACULDADE INTEGRADA A LINGUAGEM NA MÍDIA POPULAR: MEIA HORA E BALANÇO GERAL Por: Bruna G. De Oliveira Carvalho Orientador: Prof. MS. Rodrigo Monteiro Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO ”LATO SENSUS”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A LINGUAGEM NA MÍDIA POPULAR: MEIA HORA E BALANÇO GERAL

Por: Bruna G. De Oliveira Carvalho

Orientador:

Prof. MS. Rodrigo Monteiro

Rio de Janeiro

2013

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO ”LATO SENSUS”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A LINGUAGEM NA MÍDIA POPULAR: MEIA HORA E BALANÇO

GERAL

Apresentação de monografia a AVM

Faculdade Integrada como requisito parcial

para a obtenção do grau de especialista em

Comunicação Empresarial

Por: Bruna G. De Oliveira Carvalho

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, aos meus pais,

minhas irmãs e meu namorado que me

incentivaram durante todo o curso.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus mestres e a

todos os estudantes de Jornalismo.

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RESUMO

Esta monografia tem por finalidade discutir a linguagem usada no jornalismo popular e as principais características desse tipo de jornalismo. Em princípio foi realizada uma busca para explicar como essa mídia surgiu no mundo e quais foram os principais jornais populares brasileiros. A seleção das notícias e a escolha das palavras usadas nas manchetes serão o foco desse estudo. Com esse trabalho vamos mostrar como esse meio serve para informar e entreter a grande massa. Também vamos abordar essa grande aceitação do público a meios sensacionalistas. Como conclusão do trabalho foi feito um estudo de caso a partir da análise de um jornal popular e de um programa jornalístico ambos de classes C, D e E: Meia Hora e Balanço Geral.

Palavras chave: jornalismo popular, Meia Hora, Balanço Geral

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METODOLOGIA

Este trabalho aborda questões relacionadas a linguagem do jornalismo

popular. Para isso, foram usados teóricos que fizeram algumas pesquisas

sobre o assunto, como a autora Márcia Franz Amaral, e teóricos voltados

para a área de língua portuguesa, como o professor Evanildo Bechara.

Para compor a bibliografia também usei artigos publicados na internet

sobre o jornalismo popular, a história desse tipo de jornalismo na televisão e

nos meios impressos, os principais temas abordados neles e textos de

professores de Português.

Esse estudo surgiu a partir de leituras sobre a opinião das pessoas

sobre o jornalismo popular. De um lado temos um telejornal muito criticado,

mas que apresenta bons índices de audiência, do outro temos um jornal que

vende muito e sempre provoca muitos comentários em toda a cidade.

Inicialmente foi feita uma pesquisa sobre a história desses jornais e

suas características que reforçam que esses podem ser classificados

populares e sensacionalistas. Essa pesquisa permitiu que identificássemos

que esse tipo de jornalismo não é algo recente, ele apenas volta com

algumas adaptações a sua época.

A partir desse estudo foi feita uma análise de algumas notícias

veiculadas nesse programa de televisão e qual é o espaço de determinados

assuntos em duas edições escolhidas. No programa Balanço Geral foi

possível identificar muitas características que já estavam presentes nos

primeiros programas desse gênero.

No jornal Meia Hora trabalhamos apenas com a capa, que é a parte

mais interessante do jornal e traz um resumo dos principais assuntos do dia

que serão abordados naquela edição.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I – História dos jornais populares 9

CAPÍTULO II – Linguagem popular 20

CAPÍTULO III – Análise: Meia Hora e Balanço Geral 25

CONCLUSÃO 32

ANEXOS 34

BIBLIOGRAFIA 38

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INTRODUÇÃO

O trabalho tem por finalidade analisar dois grandes jornais populares

que tem grande aceitação das classes mais populares. Em princípio é

necessário identificar como o jornalismo direcionado para o povo teve início e

de fato foi aceito pelos leitores das classes mais populares. A partir disso foi

feita uma análise do formato, dos assuntos mais inseridos nas publicações e

da linguagem utilizada nesses meios.

Primeiro vamos falar sobre o jornal Meia Hora que há anos se mantém

entre os jornais mais vendidos do Rio de Janeiro. O jornal é famoso por suas

capas que sempre possuem manchetes curiosas e criativas. Com sucesso

semelhante ao do jornal vamos falar sobre o programa Balanço Geral que há

anos é o programa de maior audiência da TV Record. Assim como o Meia

Hora, o Balanço Geral é um programa voltado para as classes populares e

que sempre traz matérias curiosas e classificadas por muitos como

sensacionalistas.

Além de analisar a linguagem desses dois meios, também vamos

analisar o conteúdo veiculado. O que se vê em ambos é semelhante. A

exploração de temas polêmicos ou violentos, linguagem informal e o uso de

gírias. O que se vê hoje nas bancas e em alguns programas de televisão são

jornais que relatam acontecimentos já trazendo um pré-julgamento de

determinada situação. Esse construção de maneira opinativa só é percebida

quando analisamos as palavras empregadas.

Esta monografia foi dividida em três capítulos. Primeiramente

buscamos relatar como os jornais populares começaram e quais foram os

primeiros jornais populares brasileiros. O segundo capítulo apresenta uma

análise da linguagem utilizada nos meios populares.

No último capítulo foi feita uma análise dos jornal Meia Hora, que

pertence ao grupo O Dia e do programa Balanço Geral, veiculado na Tv

Record. A análise tem como objetivo mostrar a linguagem utilizada por esses

jornais e os temas mais abordados nesses meios.

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CAPÍTULO I - História dos jornais populares

Em 1830 teve início o folhetim que é considerado o primeiro tipo de

texto direcionado para a massa. O folhetim apresentava textos curtos e

publicações literárias diariamente. O primeiro folhetim foi produzido na

França em 1836 e anos depois o modelo foi usado no Brasil.

No século XIX países como os Estados Unidos e a França já tinham

jornais populares que noticiavam diversos acontecimentos de todo o mundo.

O formato de jornal popular francês ficou conhecido como canards e era

apenas uma página composta por textos e ilustrações.

Os canards mais procurados eram os que relatavam fait divers 1 criminais: crianças martirizadas ou violadas, parricídios, cadáveres cortados em pedaços queimados, enterrados. Assim como eclipses, cometas, grandes catástrofes, temores de terras, inundações, desastres de trem, naufrágios. (SEGUIN, 1959)

O termo canard significa conto absurdo e fato não-verídico. Segundo o

livro Espreme que sai sangue de Danilo Angrimani, os canards faziam

manchetes como: Um crime abominável: Homem de 60 anos cortado em

pedaços e com o subtítulo Enfiado em uma lata e jogado como ração aos

porcos.

No final do século XIX surgiram dois jornais populares nos Estados

Unidos: o New York Journal e o New York World. Esses dois jornais

disputavam o mercado nova-iorquino da época. Para garantir o sucesso dos

jornais seus editores falsificavam entrevistas e inventavam histórias para

compor as matérias dos jornais. As manchetes eram sempre escandalosas

em letras grandes e com cores chamativas. Foi a partir desses dois jornais

que teve início à imprensa amarela. 1 Fait divers é uma expressão de origem francesa que significa fatos diversos. A expressão é usada geralmente em relação a temas que não se encaixam nas editorias do jornal, ou seja, fatos inusitados.

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O New York World era editado pó Joseph Pulitzer, um inovador do jornalismo impresso. Pulitzer foi o primeiro a publicar um jornal em cores, utilizar “olhos” e a descobrir o filão que representavam reportagens em tom sensacional, cruzadas com apelo popular, amplas ilustrações e manchetes de igual tom sensacional. Em 1890, o World já obtinha um lucro líquido de US$ 1,2 milhão. (ANGRIMANI, 1994)

O termo imprensa amarela surgiu nos Estados Unidos a partir desses

dois jornais sensacionalistas concorrentes que utilizavam pôsteres de uma

história em quadrinho em que o personagem principal era um garoto amarelo.

O Yellow Kid, como era conhecido, servia para a divulgação das edições de

domingo desses dois jornais. Assim o termo começou a ser usado para

identificar veículos de comunicação que não tem um trabalho eticamente

sério.

As técnicas que caracterizavam a “imprensa amarela” eram: manchetes escandalosas com corpo tipográfico excessivamente largo, “garrafais”, impressas em preto ou vermelho, espalhando excitação freqüentemente sobre notícias sem importância, com distorções e falsidades sobre os fatos; o uso abusivo de ilustrações muitas delas inadequadas ou inventadas; imposturas e fraudes de vários tipos, com falsas entrevistas e histórias, títulos enganosos, pseudociência; quadrinhos coloridos e artigos superficiais; campanhas contra os abusos sofridos pelas “pessoas comuns”, tornando o repórter um cruzado a serviço do consumidor. (MOTT2, 1938)

Assim, no ano de 1980 surgiu a imprensa amarela nos Estados Unidos

que provavelmente serviu de base para os jornais populares da atualidade

que de certa forma possuem as mesmas características de seus

antecessores. Essa imprensa durou cerca de 10 anos e usava notícias curtas

e um linguajar de fácil compreensão, como vemos nos jornais populares

atuais.

2 MOTT, Frank Luther. History of Newspaper in the United States Though 250 years. Estados Unidos. Apud ANGRIMANI, Danilo.

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No Brasil e em outros países, a imprensa sensacionalista é chamada

de “imprensa marrom”. O termo “imprensa marrom” teve sua origem na

França como imprimeur marrom que quer dizer atividade ilegal, devido aos

primeiros jornais franceses sensacionalistas terem começado a ser

produzidos ilegalmente. Segundo o livro Jornalismo Popular de Márcia Franz

Amaral existe outra explicação para o início do uso dessa expressão no

Brasil:

O jornalista Alberto Dines afirmou em entrevistas que a expressão ficou generalizada a partir do uso no jornal Diário da Noite (RJ) em 1960. Dines, repórter da época, soube que alguém havia se matado por ter sido chantageado por uma revista de escândalos e fez uma manchete mencionando que a imprensa amarela havia levado um cineasta ao suicídio. Calazans Fernandes, chefe de reportagem, teria alterado a manchete: trocou a expressão imprensa amarela por imprensa marrom, relacionando o marrom a “cor de merda”. Desde então, a expressão jornalismo marrom é usada no Brasil para designar jornais e revistas de escândalo. (AMARAL, 2006: 15)

O termo imprensa marrom até hoje é usado no Brasil. O termo ainda

se enquadra aos jornais atuais conhecidos como populares conhecidos por

possuírem as mesmas características dos jornais mais antigos, noticiando

escândalos para garantir seu sucesso dentro do seu público alvo.

O jornal carioca Última Hora foi lançado em junho de 1951 e parou de

circular no ano de 1971. “O Última Hora foi o único jornal brasileiro a ser

publicado simultaneamente em sete cidades: Rio de Janeiro, São Paulo,

Niterói, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Recife 3 .” O jornal foi

conhecido por seu papel no jogo político como explicam ENNE e BARBOSA

(2005):

O Última Hora era, no início dos anos de 1980, um periódico totalmente diferente daquele criado décadas antes por Samuel Wainer, com o intuito de apoiar Getúlio Vargas, por quem também foi apoiado, e que foi conhecido exatamente por seu papel no jogo político e por seu pioneirismo no

3 Acesso ao site: http://arquivoestado.sp.gov.br/uhdigital/sobreoacervo.php em 25/05/2013.

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campo das famosas reformas dos anos 50. No entanto, no início dos anos 1980, trata-se de um jornal em crise, com substancial perda de público e anunciantes, voltado exatamente para as classes mais baixas em termos de estratificação socioeconômica. Seu conteúdo, neste sentido, é predominantemente sensacionalista, com destaque para matérias policiais e fait divers, construídas em tom melodramático e com forte apelo popular, principalmente por carregar marcas da linguagem coloquial e da oralidade. (ENNE e BARBOSA, 2005: 77)

Um dos primeiros jornais populares sensacionalistas e que teve o maior

destaque no Brasil foi o Notícias Populares (NP) que surgiu em outubro de

1963 em São Paulo com uma tiragem de oito mil exemplares. Em princípio

era uma imitação dos modelos sensacionalistas norte-americanos que

noticiam em sua maioria crimes, sexo e escândalos. O jornal foi fundado pelo

romeno Jean Mellé que veio para o Brasil junto com outros refugiados da

Segunda Guerra Mundial com o objetivo de reconstruir sua vida no país.

1.1 O popular invade a TV

Nos Estados Unidos, a espetacularização invadiu o telejornalismo no

final do século passado e teria uma relação com o afastamento do

telejornalismo investigativo, que tem forte tradição na TV americana. De

acordo com Patias (2006), nos debates sobre a exploração da violência na

televisão norte-americana, a explicação mais comum é que “crime vende”.

“Seguindo este raciocínio, quanto mais crimes no noticiário, maior a

audiência, maior o preço do horário para anúncio e maior o retorno em

publicidade”. (PATIAS, 2006, p.2)

No Brasil, um dos pioneiros desse perfil foi o programa da TV Tupi de

São Paulo intitulado Tribunal do Coração, que já encenava histórias pessoais

e casos dos telespectadores, julgados nos moldes de um júri de verdade,

isso no ano de 1954. No ano de 1966, o programa O Homem do sapato

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Branco, criado por Jacinto Figueira Júnior, foi um dos primeiros programas

policiais da televisão e passou por emissoras como a TV Globo e a TV

Record.

A programação desses programas era composta por situações

dramáticas. As matérias mostravam conflitos familiares, pobreza e violência.

Para Goulart (2010), a imprensa considerava este tipo de formato como

“mundo cão”, por conter características apelativas, grosseiras e vulgares.

Esse formato ainda está presente em muitos programas de TV.

No final da década de 70, a TV Tupi passava por uma grande crise

financeira. A programação vespertina era composta por reprises de desenhos

e filmes, o que não atraía anunciantes, nem telespectadores. Para tentar

reverter essa situação, o diretor Wilton Franco criou o programa A Voz do

Povo na TV e conseguiu aumentar a audiência da emissora. A idéia era fazer

um programa de prestação de serviços com a participação de pessoas com

doenças graves, agredidas por policiais ou maltratadas em repartições

públicas.

Na década de 90 houve crescimento de produtos sensacionalistas na

mídia brasileira, em especial na televisão. No dia 20 de maio de 1991,

estreava um novo programa que seguia o modelo conhecido como o “mundo

cão”. O Aqui Agora, apresentado por Gil Gomes, tinha como título “um

telejornal vibrante, que mostrava, na TV, a vida como ela é!”. O objetivo

dessa atração era conquistar a audiência das classes C, D e E. Para isso,

utilizava um conteúdo apelativo, com muitas reportagens sobre criminalidade,

aventura, flagrantes, denúncias e mostrava os policiais em ação.

O marco da década de 1990 foi, sem dúvida, o telejornal “Aqui Agora” (1991-1997), transmitido pelo SBT, que prometia tratar dos interesses do povo e tinha como bordão ser “um telejornal vibrante, que mostra na TV a vida como ela é”. Similar a um programa de mesmo nome veiculado em 1979 na Rede Tupi, o “Aqui Agora” do SBT era composto por reportagens de rua sobre casos policiais, sobrenaturais e direitos do consumidor, com chamadas como Marvada pinga despacha irmão ou Bate coração! A volta do morto-vivo. O programa chegou a mostrar ao vivo, em 1993, um caso de suicídio. Alguns comentaristas deixaram suas marcas, como o pugilista Adilson Maguila ao comentar economia (“O povo não aguenta mais passar fome”) e o

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advogado Celso Russomano (eleito deputado federal por São Paulo), que fazia pessoas enganadas e caloteadas virarem notícias. O programa chegou a ter duas edições em 1992, uma delas após o TJ Brasil, apresentado por Bóris Casoy. (AMARAL, 2006, p.45).

Para Rezende (2000), esse noticiário, além da influência da linguagem

radiofônica, foi um dos percussores do recurso do plano sequência para dar

mais realismo e suspense às histórias que eram narradas. Esse método

ainda é muito utilizado em grande parte dos telejornais populares de hoje.

No ano de 1995, teve início na TV Record o programa Cidade Alerta.

Ele foi exibido em sua primeira fase de 1995 até 2005. Anos depois o

programa voltou a ser exibido. Em 2011 o programa foi apresentado por José

Luiz Datena, que depois foi substituído por William Travassos e por último por

Reinaldo Gottino.

Em 2012 o programa Cidade Alerta voltou a ser exibido e permanece

no ar até hoje. Atualmente, parte do programa é transmitido nacionalmente e

apresentado pelo jornalista Marcelo Rezende que está em São Paulo. Na

última hora do programa começam a ser transmitidas as versões locais (Rio

de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e

Ceará). No Rio de Janeiro o programa foi apresentado inicialmente por Luiz

Bacci, meses depois ele foi substituído por Rogério Forcolen que se mantém

até hoje a frente da atração.

Seguindo o mesmo modelo do Aqui Agora, foi criado o programa Brasil

Urgente, na TV Bandeirantes, que estreou em dezembro de 2001.

Inicialmente esse programa foi apresentado por Roberto Cabrini, que em

2003, passou o comando para José Luiz Datena.

1.2 Meia Hora

No Rio de Janeiro os jornais populares são vendidos a preços variados

de acordo com o seu conteúdo. Com R$ 0,70 o leitor tem acesso a um jornal

compacto que pode ser lido em meia hora – como diz o próprio título do jornal

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compacto mais vendido da cidade – e que contém tudo o que lhe parece

interessante. O jornal Meia Hora de Notícias é um jornal compacto criado

pelo jornal O Dia.

Desde a consagração e admissão da força desses jornais em relação a

outros meios tem sido observada uma tendência de que esses jornais têm

uma grande repercussão. Esses jornais compactos atraem pelo seu formato

que pode ser facilmente lido em qualquer lugar, pelo seu preço, suas

manchetes apelativas e pelo seu fácil acesso. No metrô, no trem, nos sinais

de trânsito e nas bancas eles acompanham os trabalhadores e são lidos

diariamente.

Textos curtos, leves e muita fotografia em uma clara aproximação com o formato da internet. Um produto para o consumo imediato. A evolução do modelo – se comparado com os anos de 1960, por exemplo – é incontestável. Não é mais o “jornal eu sai sangue ao ser espremido”. Mas política, macroeconomia e noticiário internacional continuam fora da pauta cotidiana dos jornais populares. (DINIZ4, 2009)

Segundo essa perspectiva, os jornais populares buscam uma facilidade

de entendimento assim como os conteúdos produzidos na internet, porém a

afirmação de que alguns jornais não seguem os modelos dos anos 60 foge é

contrariada por muitos autores que ainda identificam características dos

jornais que os antecedem.

O Brasil está acompanhando uma tendência mundial de lançar jornais mais compactos no estilo do 20 Minutos e o Metro na Espanha (também editado em outros 16 países), que alcançam mais de três milhões de leitores diariamente. Três novos jornais nesses moldes foram lançados em 2005 e 2006, todos no Rio de Janeiro: o Meia Hora, o Q!, e o Expresso. A diferença dos jornais brasileiros para os espanhóis é que os nossos veículos pretendem alcançar um público mais popular e não são gratuitos. (AMARAL, 2005. 42)

O jornal Meia Hora foi lançado pelo Grupo O Dia em setembro de 2005. O

formato tablóide do jornal traz no mínimo 32 páginas que podem variar entre

4 DINIZ, Lília. No site HTTP://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=533IMQ007 em 2013.

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40 e 44 de acordo com a publicidade do jornal. O investimento feito com sua

criação foi de cerca de cinco milhões e foram criados mais 20 postos de

trabalho para jornalistas. O Meia Hora possui o slogan “Nunca foi tão fácil ler

jornal”, que destaca idéia de que a linguagem usada é de fácil compreensão.

A proposta do jornal – segundo o seu próprio site5 – é publicar notícias

sobre sexo, cidade, polícia, esportes, utilidades públicas, oportunidades e

entretenimento. Suas editorias são: Serviço, Geral, Voz do Povo, Polícia,

Esporte, Saúde, De tudo um pouco, Tecnologia e Mundo. O jornal também

possui páginas destinadas a falar da vida das celebridades e uma página

sobre informações da rádio FM O Dia. Atualmente o jornal é vendido a R$

0,70 e mesmo assim supera as vendas do seu concorrente que mantém o

preço inicial de R$ 0,50.

O Meia Hora já conquistou diversos prêmios promovidos pelo mercado

publicitário. O jornal é um dos cinco jornais mais vendidos no Brasil e um dos

três mais vendidos em bancas com 237.649 exemplares. Outros jornais no

Rio de Janeiro como O Globo, Extra e O Dia têm tiragens de 1.7, 3.2 e 1.9

milhões de leitores respectivamente.

Gigi Carvalho, era a diretora-presidente do grupo O Dia na época em que

o jornal foi lançado. Para ela, o Meia Hora tem um objetivo bem definido

desde sua criação. “Nós já temos um grande jornal com publicação

qualificada e respeitada. Queríamos expandir nossos negócios e

democratizar a informação. A partir desse desejo surgiu o Meia Hora”.

A partir dessa afirmação, podemos entender que O Dia é o veículo de

respeito da empresa e classifica diretamente o Meia Hora como uma

expansão que não necessariamente precisa ter qualificação e respeito no

mercado. O objetivo desse jornal é aumentar o número de leitores e fazer

com que aquela informação do jornal O Dia também seja passada de

maneira mais simples em outro jornal do mesmo grupo.

A expansão de negócios voltados para as classes mais baixas mostra o

desejo de atender o maior número de pessoas assim visar um lucro maior. A

democratização da informação é uma produção de informações direcionadas

as classes C e D em relação ao que o jornal entende como próprio para elas.

5 http://meiahora.terra.com.br/

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O conteúdo dos jornais é semelhante sua diferença é a forma como as

notícias são colocadas.

1.3 Balanço Geral

O programa Balanço Geral Rio de Janeiro estreou na TV Record no ano

de 2004. O primeiro apresentador foi o jornalista Luiz Ribeiro. Inicialmente, o

noticiário era inteiramente destinado à prestação de serviços e factuais do

dia. Seu conteúdo era composto por campanhas governamentais, trânsito,

dicas culturais e notícias do dia. Apesar dos bons índices de audiência o

primeiro apresentando ficou apenas dois anos no comando do programa.

Em 2006, o apresentador Wagner Montes começou a apresentar o

Balanço Geral e se mantém até hoje à frente do programa. A mudança

aconteceu porque a popularidade desse apresentando estava em alta devido

ao seu sucesso comandando o programa Verdade do Povo.

No ano de 2006, quando começou a apresentar o Balanço Geral,

Wagner se candidatou a Deputado Estadual pelo PDT, no Rio de Janeiro, e,

por este motivo, teve que se afastar das telas. Mas, após a eleição, Wagner

retornou e com a popularidade em alta. O então apresentador e deputado se

candidatou novamente em 2010 e foi reeleito. Nesse ano, já pelo partido

PSD, Wagner Montes foi o Deputado Estadual mais bem votado do estado do

Rio de Janeiro, com 528.628 votos.

Após a entrada de Wagner Montes, o Balanço Geral mudou

completamente sua linha editorial e o estilo de suas matérias. O destaque da

atração são as matérias policiais. Além disso, matérias de curiosidades e de

grande apelo popular também passaram a ser veiculadas no noticiário.

O programa Balanço Geral é exibido de segunda à sexta-feira, de

12h00 às 14h45. Ele é o programa ao vivo de maior duração na TV brasileira.

Devido a seu enorme sucesso, passou a ser gerado por parabólica e internet

para o mundo inteiro, além dos mais de 150 países que integram a Record

Internacional.

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O público do noticiário é considerado de classe C. Porém, a emissora

afirma que também atinge as classes A, B, C, D e E. A maior audiência do

Balanço Geral está concentrada na região da Baixada Fluminense, mas

precisamente no município de Duque de Caxias, lugar em que Wagner

Montes nasceu e cresceu.

Com seu modo irreverente, o apresentador chama as matérias de um

jeito inusitado, sempre trazendo uma opinião pessoal ao que será mostrado.

Wagner faz a chamada da matéria e, às vezes, antes mesmo dela ir ao ar, já

expõe seu pensamento diante daquele fato, seja ele policial, humano ou até

mesmo cômico. O apresentador, no entanto, não acha que seu programa é

sensacionalista.

Wagner ataca duramente aos críticos que dizem que seu programa é

sensacionalista. O Balanço Geral é o programa de maior audiência da TV

Record no estado do Rio de Janeiro, segundo o próprio apresentador. Ele diz

que, se o programa fosse ruim, da forma que especialistas em comunicação

dizem, ele não teria um retorno tão positivo como tem.

“Escraaaaaaacha!!!” Este é o jargão sempre dito pelo apresentador

Wagner Montes após uma matéria que noticia a prisão de algum criminoso. A

imagem do preso fica em um telão no estúdio, o apresentador se aproxima,

finge brigar com ele e, em alguns casos, o aconselha, quando esse se mostra

arrependido. Essa já é sua marca registrada, que é conhecida por todo o seu

público no estado do Rio de Janeiro e em diversas outras parte do Brasil e

até do exterior.

Nesse clima de descontração entram as sonorizações no programa.

Quando um criminoso é morto durante um confronto policial, a sonoplastia

sempre coloca o som de um choro de bebê. Já quando aparece uma mulher

sensual, logo vem o som de um assobio. Quando o editor-chefe fala através

do ponto de comunicação do apresentador que o programa está no topo de

audiência, entra uma música e os funcionários que trabalham no estúdio

entram e abraçam o apresentador em sinal de comemoração.

No estúdio sempre há uma grande interação entre apresentador,

produtores e operadores. Wagner Montes dialoga com os profissionais do

estúdio durante o programa, pede a opinião do câmera, faz reclamações com

o editor-chefe e até dança junto aos funcionários presentes no estúdio.

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O noticiário mostrou uma nova forma de apresentar a informação ao

seu telespectador. Com o resgate do Plano Sequência6, um diferencial que o

Balanço Geral apresentou para o seu público, as matérias ficaram mais

movimentadas e dinâmicas.

Dentro do informativo, todos os dias há links7, ou seja, repórteres

entrando ao vivo de qualquer parte do estado para atualizar informações,

noticiar algo novo ou com algum entrevistado a fim de complementar um

assunto veiculado durante o programa. Na maioria das vezes, o próprio

apresentador conversa diretamente com o entrevistado. Os links sempre são

de fatos de grande repercussão, novidades ou de algum tema descontraído,

com a repórter especial Luciana Picorelli.

Como o Balanço Geral tem um formato único de programa, dentro dos

links o apresentador Wagner Montes sempre faz algum tipo de brincadeira

com o repórter ou até mesmo com o entrevistado. Segundo ele, isso é uma

estratégia para desviar a atenção do seu público infantil de notícias

envolvendo violência, por ser um programa que vai ao ar no horário do

almoço.

Dentro do programa existem matérias engraçadas, que são realizadas

pela repórter Luciana Picorelli, que é a responsável pelos momentos de

descontração do programa. Ela faz matérias sobre curiosidades, eventos e

entrevistas com artistas populares. Picorelli também aparece nos links de

sexta-feira. Nesses links a repórter aparece com algum artista famoso ou

aborda algum tema engraçado.

6 Plano sequência é um plano que registra a ação de uma sequência inteira sem cortes. Esse modelo foi usado inicialmente no cinema pelos irmãos Lumière. Essa forma de gravar ganhou força no jornalismo, principalmente em programas policiais. No Balanço Geral, o plano sequência foi adotado para dar movimento as matérias e contar com mais detalhes as notícias apresentadas. 7 Link é o termo técnico que indica entrada ao vivo do repórter, do local onde acontece a notícia.

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CAPÍTULO II – Linguagem popular

A linguagem nos meios de comunicação é construída se pensando no

público consumidor daquele determinado veículo. Essa idéia é defendida pela

autora Márcia Franz Amaral:

“Assim como o adolescente não pode ser tratado como um tolo numa publicação dirigida a ele, o jornal popular também deve ter cuidados para aproximar-se da linguagem do público, sem deixar de tratá-lo como cidadão.” (AMARAL, 2006: 109)

Tanto no jornal Meia Hora como no Balanço Geral é usada uma

linguagem bem popular. No jornal os textos são curtos e bem resumidos. As

notícias também trazem fotos bem grandes. No caso do programa, as

imagens também são bem exploradas. Diferente do jornal, no programa as

matérias são bem longas e com muitos detalhes para que o telespectador

entenda bem a notícia transmitida.

A escolha de uma determinada linguagem constrói um leitor e essa

escolha surge a partir de seu conhecimento cultural que vai promover o

interesse, ou não, por determinado tipo de texto. A idéia dessa construção do

leitor e do autor é exposta por ECO (1980):

Escreve-se pensando em um leitor, assim como o pintor pinta pensando no observador do quadro. Depois de uma pincelada, recua dois ou três passos e estuda o efeito: isto é, olha o quadro como deveria olhá-lo o espectador, ao admirá-lo pendurado na parede, em condições de luz adequada. Quando a obra está sendo feita, o diálogo é duplo. Há o diálogo entre o texto e todos os outros textos escritos antes (só se fazem livros sobre outros livros e em torno de outros livros) e há o diálogo entre o autor e seu leitor modelo. (Eco8, 1980: 22)

Eco afirma que “escrever é construir através do texto, um modelo

específico de leitor”. Assim como explicado pelo autor, em relação aos

8 ECO, Umberto, escritor e crítico e ensaísta italiano. Pós escrito a ‘O nome da rosa’. 2ª edição. Tradução: Leticia Zini Antunes. Rio de Janeiro. Nova fronteira, 1980. P. 21 – 27.

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romances, podemos notar como essa construção ocorre na escrita

jornalística direcionada para o leitor do jornal popular. Esse conceito faz com

que o leitor se identifique de alguma forma com o texto e assim continue esse

tipo de leitura.

Os jornais populares mantêm seus formatos seguindo a proposta de

atender uma população classe C e D buscando seu linguajar e os

acontecimentos do seu cotidiano. A busca por essa identidade maior do leitor

pode ser notada quando os jornais disponibilizam espaços onde o leitor

sugere a pauta ou até mesmo quando ele contribui com a reportagem como é

visto no jornal Meia Hora, por exemplo.

Os jornalistas não podem deixar de considerar o perfil de seus leitores porque há a necessidade de elaborar formas de se direcionar aos setores populares, sob pena de a lógica empresarial encarregar-se sozinha disso. Enquanto as empresas e seus departamentos de marketing desenvolvem cada vez mais técnicas de aproximação do leitor, raras são as reflexões sobre o jornalismo impresso e suas relações com o público. A redação que não elabora estratégias jornalísticas para se aproximar do leitor fica ainda mais refém das fórmulas dos departamentos de marketing. A preocupação com o leitor integra o interesse pelo mercado e pelo jornalismo como negócio, noções com as quais os jornalistas e pesquisadores trabalham com dificuldade. (AMARAL, 2006: 108)

Os desafios da escrita de um jornal compacto são a produção de

informação que pode ser lida rapidamente por um público específico de

maneira que a notícia desperte o interesse daquele leitor e sua linguagem

seja entendida por ele. Diferente de alguns romances onde o texto se

estende e necessita de uma atenção maior do leitor e de um interesse maior

também, tudo em um jornal popular busca a objetividade.

A escrita para ECO pode se diferenciar por um texto que quer produzir

um leitor novo e o texto que procura ir ao encontro dos desejos dos leitores

como eles são. O que ocorre, segundo ele, pode ser uma análise de mercado

que impulsiona determinada escrita e faz com que o autor se adapte aquele

determinado público.

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Na mídia popular ocorrem os dois exemplos, pois existe um público

que a sustenta ao longo dos anos, seja nos programas de televisão ou na

mídia impressa, assim como existe um leitor que tem seu interesse

despertado com as inovações nos meios populares que criam novos leitores

voltando para outros temas e validando novas formas de escrita nos jornais

através do uso de uma linguagem informal composta por gírias e expressões

criadas a partir de processos de formação de palavras.

A língua é um instrumento vivo em constante mudança segundo

BAGNO (2006)9, e por isso permite diversas variações. BAGNO aponta que

ocorrem variações lingüísticas de acordo com fatores como a região e a

classe social de origem dos falantes, e isso não pode ser visto como um erro.

“Tudo o que foge a esse modelo idealizado era – e continua sendo –

considerado erro. Se pensarmos dessa forma, vamos dizer que 99% da

população fala errado a própria língua.”

Esse mesmo pensamento também é discutido pelo gramático

BECHARA (1999):

Também queria acrescentar que, ao lado da correção e da incorreção (e a correção é de cada variante de língua), não faz sentido, a não ser por uma metáfora, dizer “isso está errado em português”. Nunca há um erro no português, haverá sempre um erro na variedade de língua. Uma forma ou construção pode estar errada numa comunidade, mas com certeza é vigente em outra comunidade. (BECHARA, 1999:14)

Para BECHARA10 a língua é como uma roupa existe uma adequada

para cada ocasião e é preciso ser um poliglota da própria língua. Assim, ele

defende que a língua pode variar e que suas variantes devem ser aceitas,

pois apesar de não serem consideradas corretas por alguns permitem a

comunicação.

A linguagem do jornalismo popular traz características próprias que

estão presentes não só pela necessidade de ir ao encontro do leitor, mas

também fazer um registro de um tom informal que ganha espaço no meio

jornalístico. As novas formas de escrita surgem a partir da formação de

9 BAGNO, Marcos em http://www.ceale.fae.ufmg.br/novidades_acao.php?catId=84&txtId=402 acesso 2013. 10 Acesso ao site: http://www.novomilenio.inf.br/idioma/20000704.htm em 2013.

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palavras através da junção de afixos (prefixos e sufixos) e radicais que já

existem na língua.

Os processos de formação de palavras e o uso de gírias são muito

comuns nos textos dos jornais há alguns anos como mostra ALVES (1990):

Nem malufou, nem tancredou: janiou-se (1984), Os jornais nacionais e locais dão-lhes alguns minutos de cobertura e Dukals e Bush se apalhaçam horrendamente (1988), As portas arriadas dos bares não escondiam o burburinho dos freqüentadores que bebemoravam escondidos o dia de voto (1988) e em O Terceiro Mundo está endividado até o pescoço e, ou, entregue a delírios nacionalistóides como no Brasil (1988). (ALVES, 1990: 35-37)

Os trechos acima foram retirados pela autora de notícias do jornal O

Globo e da Folha de S. Paulo. Os neologismos criados através de sufixos

verbais (malufar, malufou), a adição de afixos (apalhaçam), a junção de

radicais (bebe e comemorar) e o sufixo “óide” (que tem valor pejorativo) estão

presentes em muitas mídias e são aceitos por grande parte dos leitores.

Tanto no jornal Meia Hora quanto no Balanço Geral é comum nos

depararmos com neologismos e gírias. No Balanço Geral, especificamente,

temos o jargão criado pelo apresentador que hoje já é usado em todo o

estado do Rio de Janeiro. A palavra “escracha” já faz parte do vocabulário

dos cariocas das classes mais populares.

A escolha de determinadas palavras exprimem uma idéia mais

informal e popular no sentido de algo comum e de fácil entendimento o que

aproxima o jornalista do leitor classe C e D, como ensina AMARAL (2006):

Conhecer a realidade do leitor é uma meta central dos jornais populares, porque no jornal de referência os jornalistas estão ambientados com seu público. Mas conhecer o leitor não significa necessariamente subordinar-se por inteiro aos seus interesses. Assim, fazer um jornalismo popular exige vigilância por parte do profissional que deve pensar sempre em para quem está escrevendo. (AMARAL, 2006: 109)

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No livro Jornalismo Popular, a autora AMARAL afirma que “subestimar

o leitor tem sido a prática de muitos veículos na mídia”. A autora também

reafirma a importância do jornal em se impor frente ao leitor e não apenas ser

definido em função do mercado. A falta de qualidade no uso da língua nas

notícias, assim como a seleção do que é noticiado para o povo são práticas

que demonstram como a mídia subestima seus leitores.

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CAPÍTULO III – Análise: Meia Hora e Balanço Geral

Como já explicamos nos capítulos anteriores, esses dois veículos

possuem algumas semelhanças. Essa semelhanças são nítidas, pois ambos

os produtos são direcionados para o mesmo público. Nesse capítulo vamos

analisar quatro capas do jornal Meia Hora e uma edição do programa

Balanço Geral. Em ambos vamos mostrar como uma notícia triste pode ser

dada com humor e de forma criativa.

No dia 13 de julho de 2013, a capa (ver anexo 1) do jornal Meia Hora

trouxe alguns elementos típicos desse jornal. Sua capa costuma sempre

apresentar três temas centrais para atrair o carioca: o primeiro é a violência,

o segundo é o apelo sexual e o terceiro é o futebol.

O futebol está presente no cotidiano da enorme maioria da população brasileira (...). O futebol transcende classes sociais e diferenças raciais para se fixar como a mais importante manifestação de ser do brasileiro. Como afirmou o antropólogo Roberto da Matta: “O futebol proporciona à sociedade brasileira a experiência da igualdade e da justiça social”. O escritor José Lins do Rego foi mais longe: “O conhecimento do Brasil passa pelo futebol”. (RIBEIRO, 2007: 12)

Nos jornais populares o futebol é mais que uma simples notícia e

recebe o mesmo espaço que acontecimentos de grande repercussão sobre

violência, política, entre outros. A paixão nacional é muito forte no estado que

concentra dois grandes estádios conhecidos em todo o mundo: o Engenhão e

o Maracanã. A popularidade desse esporte e a importância do tema podem

ser comprovadas pela grande quantidade de jornais voltados apenas para

esse assunto e a partir de outros jornais que dedicam uma editoria com

muitas páginas também sobre ele.

Nessa data a manchete “Homem é atingido por ‘vaca perdida’ e vai pro

brejo” traz uma notícia trágica de forma cômica. A manchete se encaixa

totalmente no gênero popular por apresentar um tema de interesse popular

com uma linguagem extremamente informal.

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O apelo sexual nesse jornal costuma ser feito através de fotos. Na

maior parte das capas existe sempre a foto de uma mulher parcialmente

desnuda. Em alguns casos, os assuntos são sérios, mas os jornalistas

sempre escolhem fotos das mulheres na praia ou até mesmo em algum

desfile de escola de samba.

Nessa edição a mulher da capa é a cantora Anitta. O título “A menina

má e o lobo mau” faz referência a música da cantora chamada “Menina má”.

Essas brincadeiras também são muito comuns nesse jornal, esse jornal

sempre procura fazer alusões a músicas, filmes e personagens de desenhos.

Em 18 de junho de 2013 (ver anexo 2), a capa do jornal foi voltada

somente para a violência. A metade superior da página falava sobre a ação

da polícia durante uma passeata no Centro. As palavras escolhidas como

manchete foram: “Tiro! Porrada! Bomba!”. O uso de palavras em caixa alta e

muitas exclamações servem para dar uma entonação mais forte para as

manchetes.

A metade inferior dessa capa era acompanhada da foto de uma

mulher e de um desenho de um pintinho, ironizando o fato de que a

assassina cortou o pênis do marido por ciúmes. “Decepou o pirulito e furou o

maridão todinho”, essa foi a frase usada como manchete desse assassinato.

Mais um vez vemos o uso de palavras informais, conotações, aumentativos e

diminutivos.

O dia 2 de agosto de 2013, teve uma das capas mais típicas do

formato Meia Hora (ver anexo 3). A manchete dessa data foi “Musa padrão

Fifa tá na cadeia”. Apesar da matéria falar de uma modelo que foi presa por

aplicar golpes, a capa trazia a foto da acusada em um ensaio sensual.

Uma forte característica desse jornal é sempre usar expressões, ou

gírias, que estão sendo muito usadas pelo povo. No caso dessa manchete o

“padrão Fifa” foi usado para identificar que uma determinada pessoa, local ou

objeto é muito bom. Essa expressão, que teve início durante as

manifestações populares que tomaram conta do país e exigiam melhores

serviços públicos, já virou uma gíria nacional e está sendo muito usada até

mesmo nas redes sociais.

O futebol mais um vez teve destaque na capa. Dessa vez, a notícia

era a vitória do Botafogo com uma foto dos jogadores em campo. As outras

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partes do jornal foram preenchidas com três matérias de polícia: “Matou –

Mulher dá almoço com veneno para o marido”, “Abelha – Comparsa de Nem

da Rocinha vai para o xadrez” e “Atentado – Afroreggae é novamente alvo de

tiros. Desta vez na Vila Cruzeiro”. Podemos destacar que me todas as

notícias foi escolhida uma a palavra de enfeito (matou e atentado).

A exploração da violência como recurso para garantir a vendagem é uma estratégia facilmente perceptível ao analisarmos estes jornais, inclusive pela própria disposição das primeiras páginas, recheadas de manchetes apelativas (utilizando palavras como morte, assassinato, desova, extermínio, entre outras) e imagens chocantes. (ENNE11, 2004)

O recurso citado por ENNE (2004) é utilizado diariamente nas capas

desses jornais. A mídia popular se aproveita de tais recursos para chamar a

atenção do leitor e despertar sua curiosidade no que está inserido no interior

nos jornais. Nos jornais compactos analisados a temática da violência domina

metade da capa dos jornais através de fotos e pequenas chamadas que

exploram termos apelativos.

Na edição do dia 4 de agosto de 2013, o assunto principal eram dicas

de famosas para lidar com a inveja. As três mulheres escolhidas (Mulher

Melão, Valesca Popozuda e Nicole Bahls) são bem populares e admiradas

por grande parte do público masculino. Para dar mais ênfase de que elas

sabem muito bem lidar com esse tipo de situação as três apareciam

seminuas e em poses provocantes.

A capa dessa data trazia o seguinte texto: “Beijinho no ombro pra

desejar tudo em dobro; Pro recalque passar longe; Xô inimigas! Gatas dão

dicas de como expulsar as invejosas”. Podemos destacar o uso de

diminutivos (beijinho), palavras características da linguagem informal falada

(pro, xô) e gírias (gatas, recalque). Além disso, mais uma vez vemos uma

referencia a uma música popular: “expulsar as invejosas” da cantora Anitta.

O sexo é uma nova marca dos jornais populares. Nos jornais antigos o

tripé composto por futebol e violência era completado pelo fantástico, que

11 ENNE, Ana. Acesso ao site: http://www.uff.br/mestcii/enne1.htm em 19/05/2013.

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aqui foram chamados de temas inusitados. A facilidade de desvendar esses

mistérios que temos hoje através de ferramentas como a internet não era

acessível antigamente e por isso os fatos muitas vezes inventados pelos

jornais antigos ficavam em foco.

Para BUCCI (2008) fotos de mulheres nuas – ou seminuas – sempre

foram usadas para atrair os olhares de quem passa nas bancas:

Nos tempos em que as bancas de revistas tinham alguma importância, e isso já vai longe, quando ainda não havia venda de revistas em supermercados nem a internet, os editores redigiam chamadas de capa com o objetivo de despertar duas pulsões malignas nos passantes: desejo (libido) e medo (aparentado da morte; o medo salva vidas à medida que leva o sujeito a fugir do perigo, mas a morte que desperta medo exerce uma atração irresistível). Quem, desavisado, perambulando pelas cercanias da banca, fosse atingido pela seta das chamadas de capa e experimentasse desejo ou medo comprava a revista. Ainda compra. (BUCCI12, 2008)

Como afirmado pelo autor, as capas procuram despertar alguma

reação no leitor que faça com que o mesmo tenha um interesse e deseje

comprar aquela revista. Nos meios populares a briga pelo leitor move os

editores a uma “competição” por uma capa mais chamativa que faça com que

o leitor opte pelo seu jornal. Assim, vence quem tiver a foto mais sensual de

capa, o termo mais violento na manchete, a foto mais impressionante e as

chamadas mais criativas. E acima de tudo ganha o leitor o veículo que

provocar a sensações mais intensas.

Na capa de 4 de agosto também podemos destacar a grande

quantidade de anúncios (ver anexo 4) e divulgação de promoções realizadas

pelo jornal. Nessa data havia um selo que o leitor deve juntar para adquirir

um relógio.

Para análise do Balanço Geral escolhemos a edição do dia 24 de abril

de 2013. Nesse dia, o programa começou com uma matéria de polícia. O

assunto foi uma operação policial no Morro do Dezoito, em Água Santa, na

12 BUCCI, Eugênio. Mulheres, mulheres peladas. Disponível em: http://www.paginapublica.com/noticias.asp?cd=5634 Acesso em 06/06/2013.

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Zona Norte do Rio de Janeiro. O repórter Ernani Alves acompanhou a polícia

durante toda a ação, correndo sérios riscos.

A matéria teve cinco minutos e quinze segundos de pura ação e com

vários sons de tiros. Tudo isso para explorar aquele fato e impressionar o

telespectador com imagens fortes de tiroteio e correria. Nesse tipo de matéria

é comum o plano sequência. Essa forma de passar a notícia apresenta todo

o acontecimento sem cortes e com a narração do repórter.

No plano sequência o repórter costuma detalhar bem o fato e usa uma

linguagem bem coloquial como se estivesse conversando e contando tudo

naquele momento para o telespectador. O repórter aponta o que deve ser

mostrado e comenta o que está vendo.

A segunda matéria também foi de tema policial. Por mais de dois

minutos foi mostrada uma a ação da polícia onde foi preso um traficante de

drogas que estava com 45 quilos de cocaína dentro de uma mochila para

vendê-la em uma festa. A terceira matéria também foi de polícia. Dessa vez

um repórter mostrou a atuação de traficantes no morro da Pedreira, em Costa

Barros, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

Nessa edição do programa foram ao ar várias matérias de

comunidade, ou seja, que falam sobre os problemas vividos por moradores

nos locais onde moram. Um exemplo foi a matéria de 3min55 que falava

sobre a falta de asfalto no bairro Pacheco, em São Gonçalo, na região

metropolitana do Rio. Moradores indignados reclamaram da ausência do

poder público no bairro. Também no tema comunidade foi mostrado um

barranco que ameaçava desabar em Duque de Caxias, na Baixada

Fluminense.

Percebemos como o programa mescla seus assuntos, usa a estratégia

do ‘Já-já’ para prender a audiência do telespectador e fazer com que ele não

mude de canal. Também vimos como o programa explora o drama vivido

pelas pessoas, no caso, a de uma mulher de mais de 200 quilos que sofre

com o problema de obesidade mórbida. Essa matéria teve 5min20, uma

matéria considerada enorme para um telejornal.

As propagandas sempre são em horários estratégicos e o Portal de

Voz também. O momento da oração sempre vai ao ar no final do programa,

diariamente, como vimos nesta edição. Também no final, o editor-chefe do

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programa exibe as matérias mais “leves” que trazem um alguma notícia de

famosos ou alguma informação curiosa.

Nessa edição do Balanço Geral foram ao ar 15 matérias, quatro links,

uma nota coberta, seis ‘Já-já’, três portal de voz, cinco merchans, dois Loc V,

um momento de oração e dois breaks. Das 15 matérias, dez foram de Polícia,

duas de comunidade e três de drama.

O Balanço Geral é um programa que tem suas próprias

características. Na maioria das vezes as matérias sempre são de mais de

três minutos. A passagem do repórter nunca é parada, ou seja, ele sempre

faz plano sequência. Um fator marcante do noticiário é de o repórter

acompanhar ações policiais de perto, entrando junto com a polícia.

Mostraremos a seguir algumas peculiaridades internas, desde a fase

de edição até a fase final, que apenas o Balanço Geral tem. Sua estrutura é

formada pelos seguintes componentes:

- Abre: É sempre a chamada para uma matéria importante, às vezes

pode ser um vídeo de um crime, uma imagem chocante, um depoimento

forte. Se chama Abre porque sempre vai ao ar no início do programa. É

parecido com o Loc V. O abre geralmente traz uma matéria exclusiva.

- Já, já: O apresentador Wagner Montes chama a matéria, porém, só é

colocada no ar parte dela e, após o corte, o apresentador diz que “Já, já” o

telespectador verá a matéria completa no ar. Na maior parte dos casos, após

o “Já, já” entra um intervalo comercial.

- Portal de Voz: É a interação do telespectador com o programa que

está no ar. O telespectador liga para um número que o apresentador dá no ar

durante o programa e deixa um recado para a produção. No final do

programa é feito um sorteio, que define para quem Wagner Montes vai ligar e

concorrer ao valor de R$ 500,00 (quinhentos reais).

- Merchan: São os merchandisings que aparecem durante o

programa. O merchan sempre é ao vivo. O apresentador Wagner Montes

recebe no estúdio o representante de determinada empresa, que faz a

propaganda de seu produto dentro do programa. Em alguns casos, o próprio

apresentador é quem faz a propaganda.

- Oração: Sempre no final do programa há o “momento de fé”. O

Balanço Geral abre espaço para um Bispo da Igreja Universal do Reino de

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Deus, que faz convites para o telespectador do programa comparecer a um

culto. Ele faz uma oração em prol do público e do apresentador Wagner

Montes.

- Loc V: Dentro do programa Balanço Geral, o Loc V funciona da

seguinte maneira: o apresentador Wagner Montes fala de uma matéria,

começa a narrar a história e, a princípio, a câmera fica nele, depois, imagens

do que ele está narrando começam a ser mostradas para o telespectador.

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CONCLUSÃO

O tema dessa monografia foi escolhido em uma tentativa de analisar

com mais profundidade os dois principais veículos populares do Rio de

Janeiro. O Meia Hora é um dos dez jornais mais vendidos no estado. O

Balanço Geral é o programa de maior audiência da TV Record, garantindo

um alto faturamento para a empresa.

A partir do material analisado podemos concluir que esses produtos

jornalísticos voltados para o povo possuem características semelhantes. Nos

dois produtos notamos o uso da linguagem coloquial abusando do uso de

gírias e outras expressões.

Os recursos visuais também se aproximam. De um lado temos um

jornal que utiliza fotos de mulheres seminuas, palavras agressivas, cores

fortes e fotos chocantes. Do outro lado temos um jornal que também apela

para o uso de imagens fortes, conteúdo sensacionalista e comentários que

aproximam o telespectador do apresentador.

A grande diferença que podemos destacar entre os dois produtos é o

formato. O Meia Hora é um jornal popular compacto cheio de pequenas

notícias que tem como proposta ser lido em trinta minutos. O Balanço Geral é

um programa de televisão extenso com reportagens enormes e com duração

de quase três horas.

O consumidor desse jornal procura humor e se identifica com a opinião

passada por ele. O jornal sempre mostra que está ao lado do povo ao trazer

sempre comentários, condenar criminosos, adjetivar mulheres bonitas e

debochar quando um determinado time de futebol não está bem colocado.

O telespectador do programa estudado também já sabe que

encontrará notícias de drama, de crime e de problemas em serviços públicos.

Esse telespectador também se identifica com o apresentador Wagner Montes

e sabe que ao ligar a televisão terá sempre aquele mesmo formato de

telejornal.

No caso do Meia Hora temos um leitor que é trabalhador e quer estar

informado em pouco tempo enquanto chega ao seu destino, ele está dentro

de um transporte público e só tem aquele momento para a leitura e essa

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precisa ser simples e ao mesmo tempo trazer um pouco de humor para seu

trajeto. Esse humor é algo marcante nesse jornal, muita das vezes antes de

uma capa ser feita é comum ouvir pessoas já especulando em como seria.

No Balanço Geral temos um telespectador que também quer estar

informado, mas esse já dispõe de mais tempo. Esse telespectador é alguém

que não trabalha durante a tarde, ou um mulher que arruma a casa enquanto

escuta a TV, ou uma faxineira durante seu serviço. Esse telespectador tem

um tempo livre, gosta de detalhes e precisa assistir uma matéria maior para

entender melhor o fato.

O que podemos concluir através dessa análise é que apesar da

diferença de tamanho, eles tem muitos pontos em comum e a linguagem de

ambos é idêntica. Essa conclusão reforça a ideia de que o jornalismo popular

continua tendo uma boa aceitação do público, mas os clientes de ambos tem

tempos diferente.

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ANEXOS

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ANEXO 1: Capa do Meia Hora – 13/07/2013

ANEXO 2: Capa do Meia Hora – 18/06/2013

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ANEXO 3: Capa do Meia Hora - 02/08/2013

ANEXO 4: Capa do Meia Hora – 04/08/2013

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ANEXO 5: Espelho do Balanço Geral – 24/04/2013

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

OBRAS CITADAS

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