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Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva Publicação periódica quadrimestral de informação geral e médica • Director: Isabelle Cremers • www.sped.pt N.º28 • Janeiro/Abril 2010 Doença Celíaca com Elevação das Enzimas Hepáticas Hemorragia Digestiva Alta por Metástases Gástricas de Linfoma Testicular IV Reunião Ibérica de Enteroscopia XXIV Reunião Anual do NGHD VIII Reunião Ibérica de Cápsula Endoscópica

Doença Celíaca com Elevação Hemorragia Digestiva … · Hemorragia Digestiva Alta ... escolha da hemorragia digestiva de causa ... do tubo digestivo. endospia e o-duas V m a-m

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S o c i e d a d e P o r t u g u e s a d e E n d o s c o p i a D i g e s t i v a

P u b l i c a ç ã o p e r i ó d i c a q u a d r i m e s t r a l d e i n f o r m a ç ã o g e r a l e m é d i c a • D i r e c t o r : I s a b e l l e C r e m e r s • w w w. s p e d . p t

N . º 2 8 • J a n e i r o / A b r i l 2 0 1 0

Doença Celíaca com Elevação das Enzimas Hepáticas

Hemorragia Digestiva Alta por Metástases Gástricas de Linfoma Testicular

IV Reunião Ibérica de Enteroscopia

XXIV Reunião Anual do NGHD

VIII Reunião Ibérica de Cápsula Endoscópica

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n . º 2 0 • S e t e m b r o / N o v e m b r o 2 0 0 7

Em mais um número do ENDO-News dado à estampa destaca--se o Editorial da autoria do

Coordenador da Comissão do Rastreio do Cancro Colo-Rectal da Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva. Aí se traça um panorama geral da doença no

nosso país e da forma como tem evoluí-do nos últimos anos. É longa a tradição da Sociedade Portuguesa de Endoscopia Di-gestiva na luta contra o cancro do cólon e recto, sendo uma das suas “bandeiras” mais importantes, reafirmando-se nesse texto não só o empenho em manter essa linha orientadora, mas também aquele que é o entendimento da Sociedade so-

bre a forma de prevenir esta doença.O Serviço de Gastrenterologia do Hospi-tal de Faro foi, neste número, o respon-sável pela produção do artigo de revisão, caso clínico e instantâneo endoscópico. A escolha da hemorragia digestiva de causa

obscura como tema de revisão atesta a importância que o tema assume no âmbito da medicina hospitalar.Por fim, referência a três reportagens so-bre três reuniões científicas que decorre-ram com grande sucesso e que atestam a vitalidade da Gastrenterologia nacional.

Pedro N. Figueiredo

Sumário

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Ficha TécnicaENDOnews Publicação periódica quadrimestral de informação geral e médica • N.º28 • Janeiro/Abril 2010. Director Isabelle Cremers. Editor Pedro Figueiredo. Editores adjuntos Cristina Chagas, Fernando Pereira. Colaboradores Anabela Pinto, Carlos Canhota, Eduardo Mendes, Fausto Pontes, J. E. Pina Cabral, José Manuel Soares, Leopoldo Matos, Pedro Amaro. Colaboram neste número A. Dias Pereira; Ana Lúcia Sousa, André Ramos, Bruno Peixe, Diamantino Sousa, Francisco Velasco, Horácio Guerreiro, José Manuel Soares, José Pedrosa, Mário Dinis Ribeiro, Miguel Mascarenhas Saraiva, Pedro Pimentel-Nunes, Rolando Pinho. Depósito Legal 179043/02. Registo ERC 125319. Propriedade Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva. Imagem, Produção e Edição VFBM - Comunicação, Lda. • Edifício Lisboa Oriente Office • Avenida Infante D. Henrique, 333-H, 4º sala 45 • 1800-282 Lisboa • Tel: 218 532 916 • Fax: 218 532 918 • E-mail: [email protected]. Pré-impressão e Impressão Focom XXI • Rio Maior. Tiragem 10.000 exemplares

Capa:“Hemorragias por varizes do recto”, da autoria de: Ana Caldeira, Tristan J., Banhudo A.Serviço de Gastrenterologia do Hospital Amato Lusitano – Castelo Branco2º Prémio de Fotografia Endoscópica – SPED 2008

Nota do Editor

EDITORIALCancro do cólon e recto. Onde estamos em 2010?

O CANTO DO INVESTIGADOREstudo Multicêntrico Português de Reprodutibilidade e Validade da Endoscopia com Alta Resolução e NBI (AR-NBI) na Identificação de Lesões Gástricas Precursoras de Adenocarcinoma Gástrico

CASO CLÍNICODoença Celíaca com Elevação das Enzimas Hepáticas

TEMA DE REVISãOInvestigar a Hemorragia Digestiva de Causa Obscura: Videocápsula Endoscópica ou Enteroscopia de Duplo Balão?

INSTANTÂNEO ENDOSCÓPICOHemorragia Digestiva Alta por Metástases Gástricas de Linfoma Testicular

REPORTAGEMIV Reunião Ibérica de Enteroscopia

NÓS Lá FORA

REPORTAGEMXXIV Reunião Anual do NGHD25.º Aniversário do NGHD

REPORTAGEMVIII Reunião Ibérica de Cápsula Endoscópica

AGENDA

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n . º 2 8 • J a n e i r o / A b r i l 2 0 0 8

Caso clínico

Doente de 28 anos, sexo femini-

no, raça caucasiana, referenciada

à consulta de Gastrenterologia

em Fevereiro de 2007 por apre-

sentar diarreia crónica.

A doente referia aumento do

número de dejecções desde há

1 ano, referindo 4 a 5 dejecções

por dia, diurnas e nocturnas, de

fezes sobrenadantes, sem san-

gue, muco ou pus. Referia ainda,

concomitantemente, dor recor-

rente, transitória (2 a 3 vezes

por mês), localizada à fossa ilíaca

e flanco esquerdos, tipo cólica,

sem irradiação e sem factores

de alívio ou agravamento, sem

vómitos e sem modificação do

trânsito. Negava tenesmo, fal-

sas vontades e proctalgia. Refe-

riu também emagrecimento de

6 Kg neste período (12,5% do

peso corporal), sem anorexia.

Negava febre, icterícia, prurido

ou colúria. Negava artralgias, le-

sões dermatológicas ou oculares

Doença Celíaca com Elevação das Enzimas Hepáticas

Ana Lúcia Sousa, Bruno Peixe, André Ramos, Diamantino Sousa, Horácio Guerreiro

Serviço de Gastrenterologia, Hospital de Faro, E.P.E.

e sintomas cardio-respiratórios.

Estava medicada com anticon-

ceptivos orais, negando outras

medicações, incluindo produtos

naturais.

Dos antecedentes pessoais re-

feria cesariana por distocia do

colo do útero, em Outubro de

2005, apresentando hemoglobi-

na de 8,2 g/dl, pelo que fez trans-

fusão (1 unidade de concentrado

eritrocitário).

Ao exame objectivo, apresenta-

va pele e mucosas descoradas,

razoável estado de nutrição e

parâmetros vitais normais. O

abdómen era simétrico, plano,

mole, depressível, indolor à

palpação e sem massas ou orga-

nomegalias. O restante exame

objectivo sem alterações.

Da avaliação analítica inicial

(Quadro 1), salientava-se: ane-

mia microcítica hipocrómica

com 10,8 g/dL de hemoglobina,

siderémia 10 ug/dl e ferritina 4

ng/ml; anticorpo antitransgluta-

minase tecidual (Ac tTG) supe-

rior a 300 U/ml; TGO 109 UI/L,

TGP 195 UI/L.

Considerando a hipótese da do-

ença celíaca efectuou-se endos-

copia digestiva alta (EDA). Esta

mostrou, na segunda porção do

duodeno, uma mucosa nodular,

que se biopsou (Figura 1). A his-

tologia revelou mucosa duodenal

com atrofia total das vilosidades,

hiperplasia das criptas, aumento

de células inflamatórias na lâmina

própria e de linfócitos intraepite-

liais, alterações compatíveis com

doença celíaca (Figura 2).

Os anticorpos ANA, ASMA,

ANCA e AMA, e as serologias

dos vírus das hepatites B e C, fo-

ram negativos. A electroforese

das proteínas séricas e a imuno-

electroforese eram negativos.

Com o diagnóstico de doença

celíaca, a doente foi referencia-

da à consulta de Nutrição Clíni-

ca e iniciou dieta sem glúten. Na

mesma altura suspendeu-se os

contraceptivos orais.

Nos primeiros quatro meses de

dieta sem glúten, houve ganho

ponderal de 3 Kg, a diarreia ce-

deu, verificou-se normalização

da hemoglobina (13,4g/dl), o tí-

tulo do Ac tTG desceu de forma

considerável (17,80 U/L), mas a

descida dos valores das transami-

nases foi apenas discreta (TGO

92U/L e TGP 180U/L). Nesta al-

tura, a doente referia alteração

do padrão da dor, tornando-se

tipo moinha, constante nos qua-

drantes esquerdos do abdómen

e com alívio parcial com as de-

jecções. Realizou colonoscopia

que foi normal.

Aos seis meses de vigilância,

apesar da confirmação do cum-

primento de dieta sem glúten,

observou-se nova elevação das

transaminases, bem como do Ac

tTG. Efectuada nova EDA para

avaliação da evolução histológi-

ca, que mostrou persistência da

atrofia vilositária e infiltrado in-

flamatório crónico na superfície

epitelial. Solicitou-se videocáp-

sula endoscópica que mostrou

atrofia das vilosidades e padrão

em mosaico no duodeno e jeju-

no proximal (Figura 3). Realizou

tomografia computorizada do ab-

dómen e da pélvis que foi normal.

Durante o período de seguimen-

to, a destacar a oscilação dos va-

lores das transaminases (valores

máximos de TGO 110U/L e TGP

287U/L) e do Ac tTG (Gráfico 1).

Optou-se por realizar biopsia he-

pática que mostrou tecido hepá-

tico de arquitectura geral conser-

vada, espaços porta com fibrose

e infiltrado inflamatório ligeiro a

moderado predominantemente

por células mononucleadas com

alguns plasmócitos, sugerindo he-

patite crónica ligeira a moderada

e fibrose ligeira.

A repetição das serologias virais

e da auto-imunidade manteve-se

negativa.

Aos 30 meses de follow-up, face à

ausência de resposta histológica

e também à elevação das tran-

saminases, iniciou-se terapêutica

com prednisolona (1 mg/kg/dia).

À 4ª semana de corticoterapia

houve normalização dos valores

das transaminases. Introduziu-se

Figura 1. EDA – Aspecto nodular da mucosa do

intestino delgado9

n . º 2 8 • J a n e i r o / A b r i l 2 0 0 8

Caso Clínico

então azatioprina (2 mg/kg/dia)

e iniciou-se redução da dose de

prednisolona. Actualmente, aos

36 meses de follow-up, a doente

encontra-se clinicamente sem

queixas e com transaminases

normais, em tratamento com

azatioprina e prednisolona.

Discussão e conclusão:

A doença celíaca é um distúrbio

que é simultaneamente uma do-

ença auto-imune e uma intole-

rância alimentar (1). Trata-se de

uma síndrome caracterizada por

inflamação crónica do intestino

delgado, que resulta na atrofia

das vilosidades, malabsorção,

com sintomas intestinais que

podem incluir diarreia, dor ou

distensão abdominal, e uma va-

riedade de manifestações clínicas

atípicas, nomeadamente défice de

ferro, osteoporose, baixa estatu-

ra e infertilidade. Caracteristica-

mente, existe melhoria clínica e

histológica com a introdução de

dieta sem glúten (1,2,3).

A doença celíaca frequente-

mente ocasiona manifestações

extra-intestinais. Um dos órgãos

afectados é o fígado, com aumen-

to das enzimas hepáticas, sendo

habitualmente os valores da TGP

ligeiramente superiores aos valo-

res da TGO, tal como ocorre na

nossa doente (4); a causa da ele-

vação das transaminases poderá

ser multifactorial mas permanece

desconhecida. Quando diagnosti-

cada a doença celíaca, observa-se

a alteração da bioquímica hepá-

tica em até 40% dos casos; pode

ocorrer doença hepática avança-

da, mas habitualmente com nor-

malização após dieta sem glúten,

o que não aconteceu na nossa

doente (5, 6, 7, 8). Vários estudos

demonstraram a associação da

doença celíaca com hepatopatias

crónicas, sendo mais frequente

a hepatite reactiva, mas também

outras de natureza auto-imune

(Cirrose Biliar Primária, Hepatite

Auto-imune e Colangite Esclero-

sante Primária) (9,10,11). Em alguns

pacientes com doença celíaca

os sintomas persistem após a

dieta sem glúten, sendo uma

das razões a interferência com

doenças auto-imunes. No nosso

caso, estas foram excluídas pela

negatividade persistente dos au-

to-anticorpos e pela normalidade

da imuno-electroforese.

Após a confirmação do cum-

primento de dieta sem glúten,

quando os sintomas são recor-

rentes, é importante excluir diag-

nósticos alternativos (doença de

Crohn ou colite colagenosa) ou

a presença de uma complicação,

carcinoma ou linfoma intestinal e

doença refractária (12).

Nesta paciente, a histologia, a

imagiologia e a endoscopia in-

cluindo a videocápsula endos-

cópica, permitem-nos excluir

complicações neoplásicas e ou-

tros diagnósticos diferenciais. A

presença de atrofia das vilosida-

des e as alterações serológicas e

bioquímicas apontam para uma

Figura 2. Biopsia da mucosa intestinal compatível com doença celíaca – perda total das vilosidades, hiperplasia

das criptas e

aumento de células inflamatórias (à direita ampliação 40x e à esquerda ampliação 100x)

Figura 3. Videocápsula – atrofia das vilosidades intestinai

s e padrão em mosaico

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IntroduçãoA hemorragia digestiva de causa obscura (HDO) é definida como hemorragia do tubo digestivo que persiste ou recorre sem uma etiologia evidente, após en-doscopia digestiva alta (EDA) e colonoscopia normais. A HDO pode ser oculta, se se manifestar por pesquisa de sangue oculto positiva nas fezes e/ou anemia ferropénica, ou evidente, se existirem perdas hemáticas vi-síveis (1). A HDO corresponde a 3-5% dos casos de hemorragia digestiva. O intestino delgado é o segmento implicado na maior parte dos casos de HDO, geral-mente devido a angiodisplasia (70-80%) ou tumor (5-10%) (2), mas esta também pode ter ori-gem no aparelho digestivo alto, ou no cólon, não identificada pelos exames endoscópicos prévios, seja por lesões que ver-dadeiramente não foram detec-tadas ou então porque sangram intermitentemente, dificultando a sua valorização. Desta forma, atingir um diagnóstico definitivo obriga, por vezes, à realização e repetição de vários exames en-doscópicos e de outros estudos de imagem. Além do custo dos exames, deve-se considerar que a ausência de etiologia para a he-morragia impede a instituição de terapêutica dirigida, implicando, não raras vezes, múltiplas trans-fusões sanguíneas e internamen-

tos recorrentes (3). Outro dado preocupante é o tem-po médio estimado de dois anos (variando de um mês a oito anos) para efectuar o diagnóstico dife-rencial do doente com HDO (4,5).Deste modo, a introdução da vi-deocápsula endoscópica (VCE) e da enteroscopia de duplo balão (EDB) representou um enorme avanço na investigação etiológica da HDO, uma vez que a capaci-dade de visualizar todo o intesti-no delgado aumentou de forma drástica, tornando estas duas técnicas os exames de referên-cia para estudar esse segmento do tubo digestivo.

Videocápsula endoscópicaA VCE é um dispositivo que mede 22x11 mm e capta foto-grafias a uma frequência de duas frames por segundo, por um período de oito horas. As ima-gens são transmitidas para um videogravador externo ligado a sensores abdominais e posterior-mente são “descarregadas” para um computador, onde podem ser observadas e interpretadas. Existem outras variantes técnicas adaptadas para a visualização do cólon e do esófago.A VCE permite a avaliação não invasiva de todo o intestino del-gado em 79 a 90% dos casos, com rentabilidade diagnóstica na HDO que varia dos 38 aos 83% (6,7). Também noutras situa-

ções, como na doença celíaca e na doença inflamatória intesti-nal, a VCE se revela de grande utilidade, pois permite definir a gravidade e topografia das lesões.Nos últimos anos, a VCE mos-trou ser superior aos outros mé-todos anteriormente disponíveis na avaliação da HDO, caracteri-zando-se por um elevado valor preditivo negativo. Vários estu-dos revelaram que os achados

da VCE conduzem a uma inter-venção endoscópica ou cirúrgica, ou uma alteração na abordagem clínica ao doente em 37 a 87% dos casos (7,8).Assim, em 2003, a FDA (Food and Drug Administration), baseada na análise de 32 estudos totalizando 691 pacientes que compararam a VCE com os restantes exames em uso corrente para avaliação do intestino delgado (trânsito

Investigar a Hemorragia Digestiva de Causa Obscura: Videocápsula Endoscópica ou Enteroscopia de Duplo Balão?Bruno Peixe, Ana Lúcia Sousa, André Ramos, Horácio GuerreiroServiço de Gastrenterologia, Hospital de Faro, EPE

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Tema de Revisão

intestinal, “push”-enteroscopia, TC abdominal, cintigrafia e en-teroscopia intra-operatória), a qual evidenciou acuidade diag-nóstica de 71 vs 41%, respecti-vamente, estabeleceu que a VCE seria o método diagnóstico de primeira linha para a avaliação e detecção de patologia do intes-tino delgado (9,10).No entanto, é importante saber-mos que a rentabilidade diagnós-tica da VCE pode ser influenciada por vários factores: há uma maior probabilidade de encontrar acha-dos positivos em doentes com hemoglobina inferior a 10 g/dl, um período longo de perdas he-máticas (> seis meses), mais do que um episódio de hemorragia, HDO evidente comparada com a oculta (60 vs 46%) e a realiza-ção da VCE num período de duas semanas após o episódio hemor-rágico (91 vs 34%) (11,14).

A VCE também comporta algu-mas limitações, que incluem a incapacidade de colher amostras para histologia e para controlar os seus movimentos no tubo digestivo, a impossibilidade de efectuar actos terapêuticos, uma elevada taxa de achados inciden-tais e uma taxa relativamente ele-vada de falsos negativos. A VCE também pode complicar-se com a sua retenção em 1 a 13% dos doentes, devendo por isso ser evitada naqueles com suspeita de obstrução ou estenose (15,16).

Enteroscopia de duplo balãoActualmente, existem dois siste-mas de enteroscopia assistida por balões: a enteroscopia de duplo balão (EDB) e a enteroscopia de balão único. Esta última é mais recente e, por isso, não existem muitos dados disponíveis acer-ca do seu papel na investigação da HDO, de modo que a nossa discussão se vai centrar na expe-riência publicada da EDB.

A EDB foi introduzida, em 2003 no Japão, por Yamamoto e cola-boradores e baseia-se na combi-nação de um enteroscópio e de um overtube, cada um com um balão na sua extremidade. Insu-flando e desinsuflando os balões de forma alternada e efectuando repetidamente movimentos de “push and pull” consegue-se pro-gredir no intestino delgado. Esta técnica permite uma maior entu-bação do intestino delgado (240 a 360 cm por via anterógrada) em comparação com a enteroscopia de pulsão (90 a 150 cm).A EDB pode ser efectuada por via anterógrada (oral) ou retró-grada (anal) e, com a combinação destas duas abordagens, conse-gue-se uma avaliação completa do intestino delgado em 86% dos procedimentos (17).

A EDB permite todo o tipo de intervenções terapêuticas endoscópicas, nomeadamente a hemostase, a polipectomia e

a dilatação pneumática, o que representa uma vantagem im-portante em relação à VCE. No entanto, a EDB é relativamente invasiva, é um procedimento longo e tem complicações as-sociadas, como a pancreatite e perfuração. A taxa de complica-ções para exames de diagnóstico é de cerca de 1% mas pode ir até 4%, quando efectuados procedi-mentos terapêuticos (18). Existem dados já reportados que mostram que a acuidade diag-nóstica da EDB na HDO pode ir até 63% (19).

Assim, a questão que se coloca ao clínico é qual a abordagem a adop-tar num doente com HDO, após uma EDA e colonoscopia normais: qual o exame que se segue? VCE ou EDB? Estas técnicas devem ser consideradas concorrentes entre si ou complementares?

DiscussãoVários trabalhos em diferentes centros compararam a acuidade diagnóstica entre VCE e EDB e demonstraram que são seme-lhantes, apesar de os estudos publicados apresentarem me-todologias de análise diferen-tes. Uma desvantagem da VCE é a sua incapacidade para obter amostras para histologias ou pra-ticar actos terapêuticos, tarefas que podem ser complementadas pela EDB. Mas dada a rentabili-dade diagnóstica semelhante das

duas técnicas, qual destas deve ser usada em primeiro lugar? A VCE é segura, minimamente in-vasiva e geralmente é efectuada em regime ambulatório. A EDB consome mais tempo e recur-sos humanos, requer sedação, é mais incómoda e invasiva para o doente e tem complicações mais graves do que a VCE. Se atentarmos à taxa de falsos negativos destas duas técnicas, ambas deixam lesões por iden-tificar (18).

Estudos em doentes com HDO demonstraram que em 5% dos doentes existem lesões detec-tadas na EDB que não o são na VCE (20-22). Outros estudos evidenciaram também que, em 19% dos doentes, tumores de pequenas dimensões no intestino delgado não identificados na VCE foram-no na EDB. Assim, num doente com elevada suspeição de uma lesão no intestino delgado, uma VCE normal não impede que se considere a realização de EDB.Também se aplica o mesmo ris-co de falsos negativos à EDB. Os mesmos estudos indicam que a VCE identificou lesões que não foram observadas na EDB, em 25% dos doentes. Esta situação poder-se-á tornar mais frequente quando a EDB não consegue a avaliação total do intestino del-gado. A percentagem de casos em que todo o intestino delgado é investigado na EDB não está

Investigar a Hemorragia Digestiva de Causa Obscura: Videocápsula Endoscópica ou Enteroscopia de Duplo Balão?Bruno Peixe, Ana Lúcia Sousa, André Ramos, Horácio GuerreiroServiço de Gastrenterologia, Hospital de Faro, EPE

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António Dias PereiraVice-presidente da Sociedade Portuguesa

de Endoscopia Digestiva

doentes com cancro colo-rectal foi traçada a meta de se atingir um valor de 55% em 2010. Ve-rifica-se que os dados do ROR Sul referem uma sobrevivência de 53% em 2005 em comparação com a taxa de 46,3% em 1998 referente a todo o país.A avaliação externa a que a exe-cução do PNS foi recentemente submetido considera não ser provável que se alcancem, até ao final da sua execução, as metas estabelecidas para o cancro do cólon e recto.O Plano Nacional de Prevenção e Controlo das Doenças Onco-lógicas 2007/2010 (PNPCDO) comprometeu-se a programar e implementar em todo o país programas de rastreio organiza-dos de elevada qualidade, tendo em conta os princípios gerais que respeitam as actividades de ras-treio oncológico, para os cancros do colo do útero, da mama e do cólon e recto. Com base na reco-mendação do Conselho da União Europeia (2003/878/CE), o PNP-CDO assumiu a recomendação do Plano Oncológico Nacional 2001-2005, definindo como po-pulação alvo para o rastreio do cancro colo-rectal os indivíduos

entre os 50 e 74 anos de idade e como método a pesquisa de sangue oculto. Na altura da sua elaboração foi considerado que o Rastreio do cancro colo-rectal estava em fase avançada de pla-neamento na ARS Centro e de-finiu como meta a existência de pelo menos um centro de saúde com um programa de rastreio em execução no final de 2009.Actualmente, existem vários Pro-gramas de Rastreio de CCR em execução em Portugal. Incluem o Programa-Piloto da ARS Centro, recentemente iniciado, que utili-za a pesquisa de sangue oculto nas fezes; o do Serviço de Gas-trenterologia do Instituto Por-tuguês de Oncologia de Lisboa cujo objectivo é a comparação da eficácia da pesquisa de sangue oculto e da fibrosigmoidoscopia; os Programas de Rastreio do Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar de Gaia e da Unidade de Rastreio de Cancro Colo-Rectal/Serviço de Gastren-terologia do Hospital de Guima-rães de base endoscópica; e o projecto-piloto implementado e financiado pela SPED (que inclui 8 centros) de rastreio com base na fibrosigmoidoscopia.

Contudo, se é importante sa-bermos onde estamos em ter-mos da prevenção do cancro do cólon e recto – e tanto quanto é possível saber estamos muito atrasados na prevenção de uma doença cuja incidência e morta-lidade não param de crescer – torna-se muito mais importante, mesmo decisivo, definirmos para onde queremos ir. A SPED tem defendido e conti-nua a defender, com base na evi-dência científica publicada, numa perspectiva da diminuição da inci-dência do cancro do cólon e rec-to, o rastreio realizado através da fibrosigmoidoscopia. Neste con-texto, manterá o seu Projecto- -Piloto de Rastreio como forma de demonstrar, na população portuguesa, a sua eficácia.Contudo, considera também que não há já lugar para mais Programas-Piloto de Rastreio. Existe, neste momento, um nú-mero suficiente de projectos capaz de responder às questões que têm estado no centro da discussão deste tema no nos-so país, nomeadamente a sua exequibilidade e o método mais adequado para a sua realização.Consideramos que neste mo-mento apenas existe uma atitude responsável face ao problema do cancro do cólon e recto. Uma confluência dos poderes políticos, das estruturas de saúde, das so-ciedades científicas e da sociedade civil no objectivo imediato do ras-treio de base populacional do can-cro do cólon e recto em Portugal. No que nos diz respeito, estamos completamente disponíveis para participar na sua implementação.

O presente ano é marcado pela conclusão do

Plano Nacional de Saúde (PNS) 2004-2010 e do Plano Nacional de Prevenção e Controlo das Doenças Oncológicas 2007-2010. O Plano Nacional de Saúde ele-geu como marcadores de eficá-cia, no que concerne ao cancro do cólon e recto (CCR), a taxa de rastreio na população alvo, a mortalidade na população abai-xo dos 65 anos e a sobrevivência aos cinco anos. Em relação ao rastreio do CCR, para a qual estabeleceu a meta de 60%, não existem dados disponí-veis que permitam a sua avaliação.Em relação à mortalidade abaixo dos 65 anos, que era de 8 por 100.000 no início do Programa, traçou-se a meta da sua redução para 6 no final da sua execução. Os dados referentes a 2008 mostram que ela foi de 7,7, com uma evolução que não aponta para uma descida consistente ao longo dos anos. Em relação à sobrevivência aos 5 anos dos

Cancro do cólon e recto. Onde estamos em 2010?

Editorial

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n . º 2 8 • J a n e i r o / A b r i l 2 0 1 0

interno do Serviço de Gastrenterologia do IPO-Porto, que procura averiguar a reprodu-tibilidade dos diferentes padrões mucosos e vasculares obtidos por AR-NBI e estabelecer a validade de alguns destes achados no diag-nóstico de metaplasia intestinal e de displasia gástrica. Um objectivo secundário será avaliar

se a EDA com AR-NBI pode também predi-zer a ausência ou não de infecção por HP.Este estudo é de carácter multicêntrico e im-plica a participação de várias instituições, no-meadamente o Serviço de Gastrenterologia do IPO-Porto, o Serviço de Gastrenterologia do Hospital de Braga e ainda os Serviços de Anatomia Patológica dos mesmos Hospitais.Para tentar responder a estas questões vai- -se efectuar gravação em vídeo da EDA com AR-NBI de uma série de doentes consecu-tivos, uma parte significativa dos quais refe-renciados por lesões com eventual displasia gástrica, efectuando-se biopsias seriadas em todos os doentes. Um dos investigadores vai

O Canto do Investigador

Estudo Multicêntrico Português de Reprodutibilidade e Validade da Endoscopia com Alta Resolução e NBI (AR-NBI) na Identificação de Lesões Gástricas Precursoras de Adenocarcinoma Gástrico

A endoscopia com alta reso-lução e narrow-band imaging (AR-NBI) pode ser potencial-

mente útil no diagnóstico e terapêutica de várias patologias gastrointestinais. A nível gástrico, alguns estudos sugerem que esta técnica endoscópica pode substituir a cro-

moendoscopia, com melhor identificação do padrão mucoso e vascular, permitindo o diagnóstico de patologias como gastrite com infecção por Helicobacter pylori (HP), meta-plasia intestinal e displasia gástrica. Contudo, a verdade é que até à data não existe nenhu-ma classificação consensual para a identifica-ção deste tipo de lesões. Para além disso, a reprodutibilidade destas poucas classifica-ções existentes nunca foi realizada e, portan-to, desta forma permanece por esclarecer se de facto esta nova técnica endoscópica será útil na detecção destas lesões.Está a decorrer neste momento um estudo coordenado pelo Dr. Pedro Pimentel Nunes,

seleccionar bons segmentos de vídeo que representem da melhor maneira as áreas sujeitas a biopsia. Numa segunda fase três observadores independentes irão avaliar os vídeos realizados, tendo em conta uma gre-lha pré-concebida com diversos parâmetros referentes ao padrão mucoso e vascular.

O presente trabalho foi premiado com a Bolsa de Investigação da Sociedade Portu-guesa de Endoscopia Digestiva e espera-se que alguns resultados preliminares sejam apresentados no próximo Congresso Na-cional de Gastrenterologia, Endoscopia Di-gestiva e Hepatologia. Os resultados deste estudo podem sugerir que a EDA com AR-NBI pode representar um método diagnóstico importante na de-tecção precoce destas lesões e um auxílio em determinados procedimentos terapêuti-cos como na delimitação das lesões na reali-zação da mucosectomia endoscópica.

Pedro Pimentel-Nunes; Mário Dinis-Ribeiro

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Caso clínicoDoente de 28 anos, sexo femini-no, raça caucasiana, referenciada à consulta de Gastrenterologia em Fevereiro de 2007 por apre-sentar diarreia crónica. A doente referia aumento do número de dejecções desde há 1 ano, referindo 4 a 5 dejecções por dia, diurnas e nocturnas, de fezes sobrenadantes, sem san-gue, muco ou pus. Referia ainda, concomitantemente, dor recor-rente, transitória (2 a 3 vezes por mês), localizada à fossa ilíaca e flanco esquerdos, tipo cólica, sem irradiação e sem factores de alívio ou agravamento, sem vómitos e sem modificação do trânsito. Negava tenesmo, fal-sas vontades e proctalgia. Refe-riu também emagrecimento de 6 Kg neste período (12,5% do peso corporal), sem anorexia. Negava febre, icterícia, prurido ou colúria. Negava artralgias, le-sões dermatológicas ou oculares

Doença Celíaca com Elevação das Enzimas HepáticasAna Lúcia Sousa, Bruno Peixe, André Ramos, Diamantino Sousa, Horácio Guerreiro

Serviço de Gastrenterologia, Hospital de Faro, E.P.E.

e sintomas cardio-respiratórios. Estava medicada com anticon-ceptivos orais, negando outras medicações, incluindo produtos naturais. Dos antecedentes pessoais re-feria cesariana por distocia do colo do útero, em Outubro de 2005, apresentando hemoglobi-na de 8,2 g/dl, pelo que fez trans-fusão (1 unidade de concentrado eritrocitário).Ao exame objectivo, apresenta-va pele e mucosas descoradas, razoável estado de nutrição e parâmetros vitais normais. O abdómen era simétrico, plano, mole, depressível, indolor à palpação e sem massas ou orga-nomegalias. O restante exame objectivo sem alterações. Da avaliação analítica inicial (Quadro 1), salientava-se: ane-mia microcítica hipocrómica com 10,8 g/dL de hemoglobina, siderémia 10 ug/dl e ferritina 4 ng/ml; anticorpo antitransgluta-

minase tecidual (Ac tTG) supe-rior a 300 U/ml; TGO 109 UI/L, TGP 195 UI/L. Considerando a hipótese da doen- ça celíaca efectuou-se endos-copia digestiva alta (EDA). Esta mostrou, na segunda porção do duodeno, uma mucosa nodular, que se biopsou (Figura 1). A his-tologia revelou mucosa duodenal com atrofia total das vilosidades, hiperplasia das criptas, aumento de células inflamatórias na lâmina própria e de linfócitos intraepite-liais, alterações compatíveis com doença celíaca (Figura 2).Os anticorpos ANA, ASMA, ANCA e AMA, e as serologias dos vírus das hepatites B e C, fo-ram negativos. A electroforese das proteínas séricas e a imuno-electroforese eram negativos.Com o diagnóstico de doença celíaca, a doente foi referencia-da à consulta de Nutrição Clíni-ca e iniciou dieta sem glúten. Na mesma altura suspenderam-se os contraceptivos orais. Nos primeiros quatro meses de dieta sem glúten, houve ganho ponderal de 3 Kg, a diarreia cedeu, verificou-se normaliza-ção da hemoglobina (13,4g/dl), o título do Ac tTG desceu de forma considerável (17,80 U/L), mas a descida dos valores das transaminases foi apenas discre-ta (TGO 92U/L e TGP 180U/L). Nesta altura, a doente referia alteração do padrão da dor, tornando-se tipo moinha, cons-tante nos quadrantes esquerdos do abdómen e com alívio parcial com as dejecções. Realizou co-

lonoscopia que foi normal. Aos seis meses de vigilância, apesar da confirmação do cum-primento de dieta sem glúten, observou-se nova elevação das transaminases, bem como do Ac tTG. Efectuada nova EDA para avaliação da evolução histo-lógica, que mostrou persistência da atrofia vilositária e infiltrado inflamatório crónico na superfície epitelial. Solicitou-se videocáp-sula endoscópica que mostrou atrofia das vilosidades e padrão em mosaico no duodeno e jeju-no proximal (Figura 3). Realizou tomografia computorizada do ab-dómen e da pélvis que foi normal.Durante o período de seguimen-to, a destacar a oscilação dos va-lores das transaminases (valores máximos de TGO 110U/L e TGP 287U/L) e do Ac tTG (Gráfico 1). Optou-se por realizar biópsia he-pática que mostrou tecido hepá-tico de arquitectura geral conser-vada, espaços porta com fibrose e infiltrado inflamatório ligeiro a moderado predominantemente por células mononucleadas com alguns plasmócitos, sugerindo he-patite crónica ligeira a moderada e fibrose ligeira. A repetição das serologias virais e da auto-imunidade manteve-se negativa. Aos 30 meses de follow-up, face à ausência de resposta histológica e também à elevação das tran-saminases, iniciou-se terapêutica com prednisolona (1 mg/kg/dia). À 4ª semana de corticoterapia houve normalização dos valores das transaminases. Introduziu-se

Figura 1. EDA – Aspecto nodular da mucosa do intestino delgado

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Caso Clínico

então azatioprina (2 mg/kg/dia) e iniciou-se redução da dose de prednisolona. Actualmente, aos 36 meses de follow-up, a doente encontra-se clinicamente sem queixas e com transaminases normais, em tratamento com azatioprina e prednisolona.

Discussão e conclusão: A doença celíaca é um distúrbio que é simultaneamente uma do-ença auto-imune e uma intole-rância alimentar (1). Trata-se de uma síndrome caracterizada por inflamação crónica do intestino delgado, que resulta na atrofia das vilosidades, malabsorção, com sintomas intestinais que podem incluir diarreia, dor ou distensão abdominal, e uma va-riedade de manifestações clínicas atípicas, nomeadamente défice de ferro, osteoporose, baixa estatu-ra e infertilidade. Caracteristica-mente, existe melhoria clínica e histológica com a introdução de dieta sem glúten (1-3).A doença celíaca frequente-mente ocasiona manifestações extra-intestinais. Um dos órgãos afectados é o fígado, com aumen-to das enzimas hepáticas, sendo habitualmente os valores da TGP ligeiramente superiores aos valo-res da TGO, tal como ocorre na nossa doente (4); a causa da ele-vação das transaminases poderá ser multifactorial mas permanece desconhecida. Quando diagnosti-cada a doença celíaca, observa-se a alteração da bioquímica hepá-tica em até 40% dos casos; pode ocorrer doença hepática avan-

çada, mas habitualmente com normalização após dieta sem glúten, o que não aconteceu na nossa doente (5-8). Vários estudos demonstraram a associação da doença celíaca com hepatopatias

crónicas, sendo mais frequente a hepatite reactiva, mas também outras de natureza auto-imune (Cirrose Biliar Primária, He-patite Auto-imune e Colangite Esclerosante Primária) (9-11). Em alguns pacientes com doença ce-

líaca os sintomas persistem após a dieta sem glúten, sendo uma das razões a interferência com doenças auto-imunes. No nosso caso, estas foram excluídas pela negatividade persistente dos au-

to-anticorpos e pela normalidade da imuno-electroforese.Após a confirmação do cum-primento de dieta sem glúten, quando os sintomas são recor-rentes, é importante excluir diag-nósticos alternativos (doença de

Crohn ou colite colagenosa) ou a presença de uma complicação, carcinoma ou linfoma intestinal e doença refractária (12). Nesta paciente, a histologia, a imagiologia e a endoscopia in-

cluindo a videocápsula endos-cópica, permitem-nos excluir complicações neoplásicas e ou-tros diagnósticos diferenciais. A presença de atrofia das vilosida-des e as alterações serológicas e bioquímicas apontam para uma

Figura 2. Biopsia da mucosa intestinal compatível com doença celíaca – perda total das vilosidades, hiperplasia das criptas e aumento de células inflamatórias (à direita ampliação 40x e à esquerda ampliação 100x)

Figura 3. Videocápsula – atrofia das vilosidades intestinais e padrão em mosaico

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doença celíaca refractária. Este diagnóstico clínico é raro, dado que a doença refractária corres-ponde a 1% de todos os pacien-tes com doença celíaca clinica-mente evidente (13, 14).A admissibilidade do não cumpri-mento estrito da dieta deve ser sempre equacionada, quando a resposta clínica não é completa ou quando há recaída dos sin-tomas. No nosso caso, aparen-temente há uma boa adesão às orientações dietéticas, pelo que a falta de resposta é compatível com o diagnóstico de doença re-fractária. Esta hipótese é corro-borada pela resposta aos corticói-des, a qual se verifica geralmente nesta situação (15). A normalização das transaminases após corticote-rapia, só por si, não nos permite saber se resulta da remissão da doença celíaca ou de outra doen-ça hepática concomitante respon-dedora aos corticóides.

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Eritrócitos (N: 3,80-4,80x1012/L) 5,14

Hemoglobina (N: 12-150 g/L) 108

Hematócrito (N: 0,36-0,46 L/L) 0,35

VGM (N: 83-101 fL) 68,4

CHCM (N: 315-345 g/L) 306,0

Reticulócitos (N: 50-100x109/L) 26,8

Leucócitos (N: 4,0-10,0x109/L) 7,1

Plaquetas (N: 150-400x109/L) 316

Ferro (N: 40-145 µg/dL) 10

Ferritina (N: 15-160 ng/mL) 4

Ácido fólico (N: 3-17 ng/mL) 8

Vitamina B12 (193-982 pg/ml) 853

TGO (N: 5-34 UI/L) 109

TGP (N < 55 UI/L) 195

LDH (N: 125-243 UI/L) 381

Gama-GT (N: 9-36 UI/L) 21

Fosfatase Alcalina (N: 98-279 UI/L) 151

Bilirrubina total (N: 0,20-1,20 mg/dL) 0,4

BUN (N: 7,0-16,7 mg/dl) 8,0

Creatinina (N: 0,6-1,1 mg/dl) 0,7

Potássio (N: 3,3-5,1 mmol/L) 4,6

Cálcio (N: 8,4-10,2 mg/dL) 9,7

Albumina (N: 3,5-5,0 g/dl) 4,2

Proteínas totais (N: 6,4-8,3 g/dl) 8,3

PCR (N < 5 U/L) <5

Colesterol total (N < 200 mg/dl) 170

Triglicéridos (N < 150 mg/dl) 79

Ac tTG (N < 15 U/mL) >300

Quadro 1 - Avaliação laboratorial na admissão

Gráfico 1. Evolução laboratorial das transaminases e do Ac tTG. A linha ponteada a vermelho representa o início da corticoterapia

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IntroduçãoA hemorragia digestiva de causa obscura (HDO) é definida como hemorragia do tubo digestivo que persiste ou recorre sem uma etiologia evidente, após en-doscopia digestiva alta (EDA) e colonoscopia normais. A HDO pode ser oculta, se se manifestar por pesquisa de sangue oculto positiva nas fezes e/ou anemia ferropénica, ou evidente, se exis-tirem perdas hemáticas visíveis (1). A HDO corresponde a 3-5% dos casos de hemorragia digestiva. O intestino delgado é o segmento implicado na maior parte dos ca-sos de hemorragia digestiva de causa obscura, geralmente devi-do a angiodisplasia (70-80%) ou tumor (5-10%) (2), mas esta tam-bém pode ter origem no apare-lho digestivo alto, ou no cólon, não identificada pelos exames endoscópicos prévios, seja por lesões que verdadeiramente não foram detectadas ou então por-que sangram intermitentemente, dificultando a sua valorização. Desta forma, atingir um diagnós-tico definitivo obriga, por vezes, à realização e repetição de vários exames endoscópicos e de ou-tros estudos de imagem. Além do custo dos exames, deve-se con-siderar que a ausência de etiolo-gia para a hemorragia impede a instituição de terapêutica dirigi-da, implicando, não raras vezes, múltiplas transfusões sanguíneas

e internamentos recorrentes (3). Outro dado preocupante é o tem-po médio estimado de dois anos (variando de um mês a oito anos) para efectuar o diagnóstico dife-rencial do doente com HDO (4,5).Deste modo, a introdução da vi-deocápsula endoscópica (VCE) e da enteroscopia de duplo balão (EDB) representou um enorme avanço na investigação etiológica da HDO, uma vez que a capaci-dade de visualizar todo o intesti-no delgado aumentou de forma drástica, tornando estas duas técnicas os exames de referên-cia para estudar esse segmento do tubo digestivo.

Videocápsula endoscópicaA VCE é um dispositivo que mede 22x11 mm e capta foto-grafias a uma frequência de duas frames por segundo, por um período de oito horas. As ima-gens são transmitidas para um videogravador externo ligado a sensores abdominais e posterior-mente são “descarregadas” para um computador, onde podem ser observadas e interpretadas. Existem outras variantes técnicas adaptadas para a visualização do cólon e do esófago.A VCE permite a avaliação não invasiva de todo o intestino del-gado em 79 a 90% dos casos, com rentabilidade diagnóstica na HDO que varia dos 38 aos 83% (6,7). Também noutras situa-

ções, como na doença celíaca e na doença inflamatória intesti-nal, a VCE se revela de grande utilidade, pois permite definir a gravidade e topografia das lesões.Nos últimos anos, a VCE mos-trou ser superior aos outros mé-todos anteriormente disponíveis na avaliação da HDO, caracteri-zando-se por um elevado valor preditivo negativo. Vários estu-dos revelaram que os achados

da VCE conduzem a uma inter-venção endoscópica ou cirúrgica, ou uma alteração na abordagem clínica ao doente em 37 a 87% dos casos (7,8).Assim, em 2003, a FDA (Food and Drug Administration), baseada na análise de 32 estudos totalizando 691 pacientes que compararam a VCE com os restantes exames em uso corrente para avaliação do intestino delgado (trânsito

Investigar a Hemorragia Digestiva de Causa Obscura: Videocápsula Endoscópica ou Enteroscopia de Duplo Balão?Bruno Peixe, Ana Lúcia Sousa, André Ramos, Horácio Guerreiro

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Tema de Revisão

intestinal, “push”-enteroscopia, TC abdominal, cintigrafia e en-teroscopia intra-operatória), a qual evidenciou acuidade diag-nóstica de 71 vs 41%, respecti-vamente, estabeleceu que a VCE seria o método diagnóstico de primeira linha para a avaliação e detecção de patologia do intes-tino delgado (9,10).No entanto, é importante saber-mos que a rentabilidade diagnós-tica da VCE pode ser influenciada por vários factores: há uma maior probabilidade de encontrar acha-dos positivos em doentes com hemoglobina inferior a 10 g/dl, um período longo de perdas he-máticas (> seis meses), mais do que um episódio de hemorragia, HDO evidente comparada com a oculta (60 vs 46%) e a realiza-ção da VCE num período de duas semanas após o episódio hemor-rágico (91 vs 34%) (11,14). A VCE também comporta algu-mas limitações, que incluem a incapacidade de colher amostras para histologia e para controlar os seus movimentos no tubo digestivo, a impossibilidade de efectuar actos terapêuticos, uma elevada taxa de achados inciden-tais e uma taxa relativamente ele-vada de falsos negativos. A VCE também pode complicar-se com a sua retenção em 1 a 13% dos doentes, devendo por isso ser evitada naqueles com suspeita de obstrução ou estenose (15,16).

Enteroscopia de duplo balãoActualmente, existem dois siste-mas de enteroscopia assistida por balões: a enteroscopia de duplo balão (EDB) e a enteroscopia de balão único. Esta última é mais recente e, por isso, não existem muitos dados disponíveis acer-ca do seu papel na investigação da HDO, de modo que a nossa discussão se vai centrar na expe-riência publicada da EDB.A EDB foi introduzida, em 2003 no Japão, por Yamamoto e cola-boradores e baseia-se na combi-nação de um enteroscópio e de um overtube, cada um com um balão na sua extremidade. Insu-flando e desinsuflando os balões de forma alternada e efectuando repetidamente movimentos de “push and pull” consegue-se pro-gredir no intestino delgado. Esta técnica permite uma maior entu-bação do intestino delgado (240 a 360 cm por via anterógrada) em comparação com a enteroscopia de pulsão (90 a 150 cm).A EDB pode ser efectuada por via anterógrada (oral) ou retró-grada (anal) e, com a combinação destas duas abordagens, conse-gue-se uma avaliação completa do intestino delgado em 86% dos procedimentos (17). A EDB permite todo o tipo de intervenções terapêuticas endoscópicas, nomeadamente a hemostase, a polipectomia e

a dilatação pneumática, o que representa uma vantagem im-portante em relação à VCE. No entanto, a EDB é relativamente invasiva, é um procedimento longo e tem complicações as-sociadas, como a pancreatite e perfuração. A taxa de complica-ções para exames de diagnóstico é de cerca de 1% mas pode ir até 4%, quando efectuados procedi-mentos terapêuticos (18). Existem dados já reportados que mostram que a acuidade diag-nóstica da EDB na HDO pode ir até 63% (19).Assim, a questão que se coloca ao clínico é qual a abordagem a adop-tar num doente com HDO, após uma EDA e colonoscopia normais: qual o exame que se segue? VCE ou EDB? Estas técnicas devem ser consideradas concorrentes entre si ou complementares?

DiscussãoVários trabalhos em diferentes centros compararam a acuidade diagnóstica entre VCE e EDB e demonstraram que são seme-lhantes, apesar de os estudos publicados apresentarem me-todologias de análise diferen-tes. Uma desvantagem da VCE é a sua incapacidade para obter amostras para histologias ou pra-ticar actos terapêuticos, tarefas que podem ser complementadas pela EDB. Mas dada a rentabili-dade diagnóstica semelhante das

duas técnicas, qual destas deve ser usada em primeiro lugar? A VCE é segura, minimamente in-vasiva e geralmente é efectuada em regime ambulatório. A EDB consome mais tempo e recur-sos humanos, requer sedação, é mais incómoda e invasiva para o doente e tem complicações mais graves do que a VCE. Se atentarmos à taxa de falsos negativos destas duas técnicas, ambas deixam lesões por iden-tificar (18). Estudos em doentes com HDO demonstraram que em 5% dos doentes existem lesões detec-tadas na EDB que não o são na VCE (20-22). Outros estudos evidenciaram também que, em 19% dos doentes, tumores de pequenas dimensões no intestino delgado não identificados na VCE foram-no na EDB. Assim, num doente com elevada suspeição de uma lesão no intestino delgado, uma VCE normal não impede que se considere a realização de EDB.Também se aplica o mesmo ris-co de falsos negativos à EDB. Os mesmos estudos indicam que a VCE identificou lesões que não foram observadas na EDB, em 25% dos doentes. Esta situação poder-se-á tornar mais frequente quando a EDB não consegue a avaliação total do intestino del-gado. A percentagem de casos em que todo o intestino delgado é investigado na EDB não está

Investigar a Hemorragia Digestiva de Causa Obscura: Videocápsula Endoscópica ou Enteroscopia de Duplo Balão?Bruno Peixe, Ana Lúcia Sousa, André Ramos, Horácio Guerreiro

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bem estabelecida na literatura. Dados publicados apontam que esse número se situa entre 40 a 70% (18), deixando uma percenta-gem importante de doentes com um estudo incompleto do delga-do, quando a EDB é o exame de primeira escolha. Nos países oci-dentais essa percentagem ainda é inferior em relação aos núme-ros reportados do Japão, o que implica que o número de falsos negativos possa ser mais elevado. Arakawa et al. Concluíram, num estudo de 74 doentes com HDO, que tanto a VCE como a EDB são métodos complementares: a VCE por ser menos invasiva deve ser realizada inicialmente seguida pela EDB quando, após o diag-nóstico da VCE, há possibilidade de intervenção terapêutica (23). O uso da EDB somente nos pa-cientes com achados positivos na VCE foi demonstrado em 60 pacientes, nos quais foram en-contradas lesões em 75% dos casos e realizada terapêutica em 57%, havendo uma redu-ção significativa quer na taxa de hemorragia recorrente (80%) quer na necessidade de transfu-são sanguínea (17% vs 57%) (24). De facto, o conceito de realizar primeiro a VCE como método de seleccionar os doentes para a EDB já foi estudado e demons-trado que tem “rentabilidade”. Assim, a EDB seria efectuada se fosse necessária a colheita de material para histologia ou para terapêutica endoscópica, se tecnicamente possível (27,29,30). No entanto, nos doentes com HDO evidente maciça podemos considerar a realização da EDB como exame de primeira linha, para não adiar uma possível te-rapêutica endoscópica (31).Duas meta-análises analisaram a VCE e a EDB: Chen e colabo-radores analisaram oito estudos prospectivos e demonstraram que quando utilizada somente a via oral na EDB, a VCE teve maior taxa diagnóstica, porém quando

utilizadas as duas abordagens (oral e anal), a taxa diagnóstica da EDB foi maior (25). Por outro lado, a meta-análise publicada por Pasha et al., em 2008, envolvendo 11 estudos comparativos, confir-mou que ambas a VCE e EDB fo-ram semelhantes no diagnóstico e complementaram-se, concluin-do que dever-se-á utilizar a VCE inicialmente, por ser não invasiva, ter maior tolerância e capacidade de visualização de todo o intes-tino delgado e para determinar a via de abordagem da EDB (26). Realmente, a VCE pode indicar qual a abordagem mais apropria-da para a EDB num determinado doente – oral ou anal. Estudos indicam que lesões observadas nos primeiros 75% de tempo de trânsito da VCE têm um va-lor preditivo positivo de 95% de serem identificadas na EDB por abordagem oral. Da mesma for-ma, lesões identificadas nos últi-mos 25% de tempo de trânsito da VCE têm um valor preditivo positivo de 95% de serem encon-tradas na EDB por via anal (27). Um estudo multicêntrico de Itá-lia, publicado em 2009 e envol-vendo 193 pacientes, observou que a VCE e EDB têm boa con-cordância diagnóstica para lesões vasculares e inflamatórias, mas não para pólipos e neoplasias. Acresce que a EDB esclareceu a causa da hemorragia em dois terços dos doentes que apresen-tavam sangue no lúmen durante o tempo de estudo da VCE (28).Uma outra questão que se coloca na prática clínica é a dos doen-tes com HDO e que têm VCE normal. Parece ser consensual que doentes com HDO oculta e com VCE normal possam ser abordados de forma conserva-dora, sem a realização de novos exames (32): poder-se-á adoptar uma estratégia de vigilância clíni-ca, suspender AINE se for o caso e fazer suplementos de ferro ou transfusões, se necessário. Um exame por VCE normal associa-

-se a um prognóstico favorável em doentes com HDO, com taxas de recidiva que vão dos 0 aos 17%, em seguimentos até três anos (18). Em doentes sem hemor-ragia recorrente e com VCE nor-mal em que se conseguiu a visua-lização total do intestino delgado a EDB pode não ser necessária, com excepção de doentes com elevada suspeição clínica de pato-logia do intestino delgado.

Recomenda-se, assim, a VCE como o método preferencial na abordagem da HDO, baseado na sua segurança, tolerância e capacidade de avaliar todo o in-testino delgado. A EDB deve ser realizada naqueles em que a VCE evidenciou um achado que ne-cessita de avaliação endoscópica (diagnóstica ou terapêutica) ou então naqueles com hemorragia evidente, acompanhada de insta-bilidade hemodinâmica, embora nestes casos se devam conside-rar métodos alternativos, como a arteriografia. A via de aborda-

gem para a EDB, anterógrada ou retrógrada, deve ser guiada pela informação fornecida pela VCE.

ConclusãoApesar de todos os recursos diagnósticos actuais, o estudo etiológico da HDO permanece um desafio.A capacidade de avaliação do intestino delgado aumentou de forma considerável com a

VCE e a EDB. Estes dois pro-cedimentos devem ser conside-rados como complementares. Na suspeita de hemorragia com sede no intestino delgado, a VCE deve ser usada para a tentativa de diagnóstico inicial e, se ne-cessário, efectuar a EDB para colher amostras ou efectuar técnicas endoscópicas, quando exequível. Em alguns doentes com VCE normal é lícito ter uma abordagem conservadora, ape-nas com terapêutica de suporte, posto que a técnica endoscópica poderá não conduzir a benefício

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clínico. Excepção à abordagem da VCE seguida de EDB, poderá ser a HDO evidente maciça, em que a EDB pode ser usada como exame de primeira linha.

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Introdução As metástases para o tubo digestivo podem surgir por invasão directa a partir de órgãos adjacentes, por disseminação hematogénea ou linfática. Cerca de 20% de todos os do-entes com tumores extra-intestinais apre-sentam metástases para o tubo digestivo. No entanto, em apenas 2% destes são ob-servadas metástases gástricas. As metástases para o estômago têm habitualmente origem em tumores da mama, pulmão ou melanoma. Assim, a metastização gástrica com origem em tumores do testículo constitui um evento de grande raridade.

Caso clínico Os autores apresentam o caso de um homem de 59 anos, sem patologia prévia conhecida, internado no serviço de Urologia por aumen-to progressivo do volume testicular à direita, com cerca de um mês de evolução, acompa-nhado de dor, tendo sido considerada a hipó-tese diagnóstica de hidrocelo infectado. Vinte e quatro horas após o internamento, iniciou melenas, que não se acompanharam de outra sintomatologia, nomeadamente hemateme-ses ou dor abdominal, mantendo parâmetros vitais estáveis e hemoglobina de 81 g/L. Foi solicitado apoio ao serviço de Gastrentero-logia para observar o doente. Foi efectuada

videoendoscopia digestiva alta que mostrou 12 úlceras gigantes em vulcão, dispersas pelo corpo e fundo gástricos, sem estigmas de hemorragia – efectuaram-se biópsias. O exa-me histológico revelou infiltração gástrica por linfoma B difuso de células grandes. Os restantes exames complementares efectu-ados objectivaram metástases pulmonares. O doente foi submetido a orquidectomia in-guinal direita, cuja análise anátomo-patológica também revelou tratar-se de Linfoma B difuso de células grandes. Foi iniciada quimioterapia e, passado um mês, o doente apresentou novo episódio de he-morragia digestiva alta. O exame endoscópico mostrou as mesmas lesões, mas com coágu-los escuros. Verificou-se resolução espon-tânea da hemorragia. O doente permanece em programa protocolado de quimioterapia, sem novos episódios de hemorragia digestiva.

DiscussãoO linfoma não-Hodgkin testicular represen-ta cerca de 2% de todos os linfomas não- -Hodgkin e 9% das neoplasias do testículo. Tem uma elevada mortalidade, com sobrevida estimada entre 12 e 24 meses, sendo mais frequente em homens com mais de 60 anos. A metastização dá-se preferencialmente para o sistema nervoso central, testículo contra-

-lateral, pele, anel de Waldeyer e pulmão. São conhecidos poucos casos de metastização gástrica de tumor primário testicular, refor-çando o interesse do caso apresentado.A hemorragia digestiva alta, como forma de apresentação clínica de metástases gástricas, é pouco frequente e as suas características endoscópicas não são suficientes para deter-minar a origem do tumor primário. De facto, a sua aparência é bastante variável, podendo simular o aspecto de tumores do estroma. A úlcera em vulcão é a forma mais comumente observada, como no nosso caso. As metásta-ses gástricas podem surgir mais precocemen-te do que o tumor primário e, por esse moti-vo, ser confundidas com a neoplasia primária. Os exames histológico e imuno-histoquímico realizados por um anatomopatologista expe-riente são, portanto, indispensáveis. A quimioterapia pode reduzir o número e dimensão das metástases gástricas mas esta terapêutica pode estar associada a complica-ções como perfuração e hemorragia diges-tiva, facto ocorrido no caso descrito. Não existem dados suficientes na literatura, que suportem a eficácia do tratamento endoscó-pico na hemorragia digestiva por metástases gástricas. No caso de perda crónica, a qui-mioembolização e a gastrectomia podem ser opções a considerar.

Instantâneo Endoscópico

Hemorragia Digestiva Alta por Metástases Gástricas de Linfoma TesticularAndré Ramos, Ana Lúcia Sousa, Bruno Peixe, Francisco Velasco, Horácio Guerreiro

Serviço de Gastrenterologia, Hospital de Faro, EPE

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No passado dia 15 de Janeiro de 2010 teve lugar a

IV Reunião Ibérica de Enterosco-pia, no Instituto CUF no Porto. A reunião é organizada alterna-damente em Portugal e Espanha e pretende juntar colegas com interesse na patologia do intesti-no delgado que se dedicam a esta técnica. A primeira reunião teve lugar em 2007, na cidade de Múr-cia; a segunda, em 2008 em Coim-bra; no ano passado em Sevilha; e este ano foi organizada pelo Prof. Dr. Miguel Mascarenhas Saraiva, Dr. Rolando Pinho e Dr. José Soares, na cidade do Porto.Pela primeira vez, a reunião foi organizada em articulação com a Reunião Ibérica de Cápsula Endoscópica, que se realizou no dia seguinte, no Hospital Pedro Hispano em Matosinhos (próxi-mo ao Instituto CUF). Esta ar-ticulação pretendeu reunir um maior número de colegas com interesse no estudo do intestino delgado e permitir que os parti-cipantes pudessem participar em ambas as reuniões ou inscrever- -se em apenas uma delas. Con-seguiu-se, desta forma, atingir o maior número de participantes alguma vez conseguido nestas reuniões, que se traduziu pela lotação constante da sala.

O programa da reunião incluiu uma mesa-redonda sobre Avan-ços Tecnológicos em Enterosco-pia, uma sessão de Comunicações Orais e uma sessão destinada a apresentação de Casos Clínicos.A mesa-redonda sobre Avanços Tecnológicos em Enteroscopia pretendeu debater os avanços recentes nas tecnologias dispo-níveis para o estudo do intestino delgado:• A primeira intervenção foi

sobre a Enteroscopia com Sistema de Duplo-Balão. Foi apresentada pelo Dr. Enrique Perez-Cuadrado, do Hospital Morales Meseguer - Múrcia, um dos colegas pioneiros e com maior experiência no uso desta técnica. Esta forma de enteroscopia foi desen-volvida pelo Dr. Hironori Ya-mamoto em 2001, tendo-se rapidamente generalizado o seu uso desde então. Como complemento da enterosco-pia por cápsula, revolucionou rapidamente a abordagem da patologia do intestino delga-do, permitindo o acesso diag-nóstico e terapêutico a esta parte até então inacessível do intestino delgado;

• A segunda intervenção foi so-bre a Enteroscopia com Siste-ma de Mono-Balão. Foi apre-

sentada pelo Dr. Josep Llach do Hospital Cliníc de Barce-lona. Trata-se de uma técnica que surgiu alguns anos após a técnica de enteroscopia de duplo balão, que também se difundiu rapidamente já que os enteroscópios usam vi-deoprocessadores da marca existente em muitos centros de endoscopia, o que dimi-nuiu drasticamente os custos de aquisição;

• A terceira intervenção tratou da enteroscopia com o Sis-tema NaviAid, apresentada pelo Dr. Samuel Adler, do Bikur Holim Hospital, Jeru-salem, Israel. É uma técnica de enteroscopia assistida por balão, diferente das duas an-teriores. Resulta da aplicação de um sobretubo com um

balão na extremidade distal. O sobretubo tem um canal na parede no qual passa uma cânula com outro balão na sua extremidade distal. Esse balão é introduzido através do ca-nal para o intestino delgado à frente do enteroscópio e serve como uma ancoragem para a progressão do en-teroscópio. Uma vantagem

deste sistema é a capacidade de aplicação em qualquer en-teroscópio ou colonoscópio pediátrico. Esta técnica ainda é pouco difundida;

• A mesa-redonda encerrou com a intervenção sobre Enteroscopia com o Siste-ma Espiral, apresentada pelo Dr. Rolando Pinho – Mano-pH, Porto. É um sistema de enteroscopia recente, muito diferente dos anteriores, já que não é assistido por qual-quer balão. Poucos centros praticam ainda esta técnica. Está a ser utilizada em Por-tugal desde 2009, no Porto. Usa também um sobretubo, no qual avança o enteroscó-pio. Na superfície externa do sobretubo existe uma espiral que, através de movimentos

IV Reunião Ibérica de Enteroscopia

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de rotação aplicados ao so-bretubo, resulta no preguea-mento do intestino delgado, o que possibilita o avanço do enteroscópio. Este sobretubo possibilita também a utilização de enteroscópios de qualquer marca ou mesmo de colonos-cópios pediátricos. Outra das vantagens é a de não neces-sitar de qualquer bomba de insuflação, ao contrário dos sistemas anteriores.

A reunião continuou com uma sessão de apresentação de Co-municações Livres e finalizou com uma sessão de apresenta-ção de Casos Clínicos. Destaca- -se uma comunicação apresen-tada pelo Dr. Vicent Pons, de Valência, que apresentou um protótipo de enteroscopia, de-nominado “endoworm”, que introduz um novo conceito de progressão no intestino delgado.Destaca-se a elevada participa-ção dos centros portugueses na apresentação de comunicações livres e de casos clínicos, subs-tancialmente superior à de anos anteriores. Contou-se com a participação dos serviços de Gas-trenterologia dos seguintes cen-tros nacionais: Hospitais da Uni-versidade de Coimbra (Coimbra), IPO de Lisboa, Hospital de São Sebastião (Santa Maria da Feira), Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia (Vila Nova de Gaia), Ma-nopH (Porto) e Centro Hospital do Alto Ave (Guimarães).As apresentações foram ampla-mente discutidas e comentadas pelos moderadores e pelos vários participantes na reunião, permi-tindo a partilha de experiências entre os vários centros.

Rolando Pinho

Miguel Mascarenhas Saraiva

O júri do Prémio “Nós Lá Fora”, constituído pelo Editor do ENDOnews, Professor Pedro Figueiredo, e pelos Editores Adjuntos, Drs. Cristina Chagas e Fernando Pereira, decidiu atribuir o prémio ao trabalho:

Third-generation cholecystectomy by natural orifices: transgastric and transvesical combined approach (with video).Rolanda C, Lima E, Pêgo JM, Henriques-Coelho T, Silva D, Moreira I, Macedo G, Carvalho JL, Correia-Pinto J.Gastrointest Endosc. 2007 Jan;65(1):111-7

Nós Lá Fora

1. Critériosdeadmissão1.1. Serão admitidos a concurso

os artigos originais publicados sob a forma de “full-paper” em revistas internacionais durante o ano de 2008.

1.2. A Endoscopia Digestiva deverá ser o objecto da investigação publicada ou estar incluída na metodologia.

1.3. É obrigatória a formalização da candida-tura pelo primeiro autor, que para tal deverá dar conhecimento da publicação concorrente à Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva através de carta ou por via electrónica.

2. Critérios de atribuição do prémio2.1. O prémio será atribuído ao artigo que

alcançar maior pontuação obtida através da seguinte fórmula: factor de impacto + (0,5 x número de citações) (a data a considerar será aquela em que os autores formaliza-rem o pedido de admissão a concurso).

2.2. Em caso de igualdade na pontuação, o prémio será repartido igualmente pelos trabalhos vencedores.

3. Júri3.1. O júri será constituído pelo editor e

editores adjuntos da revista ENDOnews.

4. Periodicidade,divulgaçãoevalordoprémio

4.1. O prémio será atribuído anualmente, sendo consideradas as candidaturas formalizadas entre 1 de Janeiro e 31 de Dezembro.

4.2. A sua divulgação ocorrerá no primeiro número da revista ENDOnews do ano seguinte àquele a que o prémio se reporta.

4.3. A lista das publicações admitidas a concurso e respectiva classificação será comunicada aos autores concorrentes.

4.4 O valor do prémio será de 1.000 euros.

A Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva pretende, com a instituição deste prémio, contribuir para um incremento do número de trabalhos de investigação nacionais publicados em revistas internacionais

indexadas

REGULAMENTO

Prémio “Nós Lá Fora”

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XXIV Reunião Anual do NGHD25.º Aniversário do NGHD

Realizou-se no Fun-chal, nos dias 13 e 14 de Novembro

passado, a XXIV Reunião Anual do Núcleo de Gastrenterologia dos Hospitais Distritais (NGHD). A organização da Reunião esteve a cargo do Serviço de Gastrente-rologia do Centro Hospitalar do Funchal (Director: Dr. Ricardo Teixeira). A escolha do programa científico recaiu este ano nos te-mas relacionados com “Álcool e Fígado”. Em simultâneo decorre-ram várias iniciativas relacionadas com a comemoração do 25.º Ani-versário da fundação do NGHD. A habitual hospitalidade dos colegas do Hospital do Funchal e da população madeirense po-tenciaram uma reunião profícua e amplamente participativa. As óptimas condições que foram colocadas à nossa disposição para a realização da reunião, apesar das dificuldades que os tempos actuais nos reservam, aliadas às belezas naturais que a ilha da Madeira nos proporciona criaram toda a envolvência, que contribuíram para o sucesso que reconhecidamente se obteve. O início do Programa Científico foi antecedido pela Cerimónia de Abertura, na qual, para além do Presidente do NGHD e do presidente da Comissão Orga-nizadora, estiveram presentes os presidentes da SPG, SPED e APEF. Em representação das autoridades Regionais estiveram também presentes o Secretário Regional dos Assuntos Sociais, o Presidente do Instituto da Admi-nistração da Saúde, o Presidente do Conselho Médico da Madeira da OM e o Presidente do C. A.

do Serviço de Saúde RAM. Do programa científico destaca-vam-se duas conferências intitu-ladas: “Aspectos Epidemiológi-cos e Culturais do Alcoolismo”, pelo Dr. Emanuel Alves, presi-dida pelo Dr. António Curado e “Prevenção e Tratamento do Alcoolismo” efectuada pelo Dr. Guilherme Ponce e presidida pelo Dr. Ricardo Teixeira. O excelente relacionamento do

NGHD com l’Association Na-tionale des Hépato-Gastentéro-logues des Hôpitaux généraux de France (ANGH), permitiu ainda a realização de uma ter-ceira conferência presidida pela Dra. Isabelle Cremers intitulada "Pronostic d'une hépatite al-coolique aigue: résultats d'une étude réalisée dans les centres hospitaliers généraux français" e concretizada pela Dra. Isabel-le Rosa do Centre Hospitalier Intercomunal de Créteil.Do programa científico faziam ainda parte duas mesas-redondas, a primeira sobre o tema “Álcool e Fígado”, presidida pelo Dr. José Cotter, tendo sido abordados os

temas: Metabolismo, Anatomia Patológica, Hepatite Alcoólica, Cirrose Hepática e Carcinoma Hepatocelular e a segunda subor-dinada ao tema “Complicações da Cirrose” presidida pelo Dr. Venâncio Mendes, no âmbito da qual os temas versados foram: Ascite e Peritonite Bacteriana, Encefalopatia Hepática, Síndrome Hepatorrenal e ainda Varizes e Gastropatia Hipertensiva.

Um dos pontos altos do pro-grama científico foi a realização do “Workshop”: A actividade endoscópica dos Hospitais do NGHD (estudo BDNGHD) que decorreu com a presidência do Dr. Carlos Carvalheira. Com base nos registos endoscópicos da Base de Dados do NGHD foi possível apresentar e discutir três estudos: • Análise da prática geral da En-

doscopia Digestiva Alta – Dr. Paulo Caldeira;

• Análise da prática geral da Endoscopia Digestiva Baixa – Dra. Isabelle Cremers;

• Análise do doente com He-morragia Digestiva Alta – Dr. José Pedrosa.

A aplicação a que nos referimos foi instalada em 1996 na grande maioria dos Hospitais que na época eram classificados como Distritais e que possuíam Servi-ços de Gastrenterologia (o que correspondeu a 33 Hospitais). Foi possível recolher e proceder ao tratamento dos respectivos dados em 18 desses Hospitais. Foram analisados mais de meio milhão de registos de exames endoscópicos correspondendo a 275.199 Endoscopias Altas e a 237.341 Colonoscopias. A Direc-ção do NGHD tem já em fase final a realização de oito estudos com base neste património, três dos quais foram nesta ocasião apresentados e discutidos.Tal como o “Workshop” referi-do, relacionado com a actividade da Gastrenterologia Nacional nos últimos anos e integrada na Sessão Comemorativa do 25.º Aniversá-rio do NGHD, realizou-se mesa- -redonda com o título “A impor-

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tância das Sociedades Científicas no Desenvolvimento da Gastren-terologia Nacional”, tendo sido presidida pelo Dr. Castel-Branco Silveira, primeiro presidente do NGHD. Os presidentes da SPG, SPED, APEF e NGHD, tiveram oportunidade de traçar o per-curso e relatar as actividades nos últimos anos das Sociedades Cien-tíficas a que presidem e da sua im-portância no desenvolvimento da Gastrenterologia.A Sessão Comemorativa do 25.º Aniversário teve lugar na manhã do primeiro dia de trabalhos do NGHD e incluiu também um dis-curso do Presidente do NGHD em exercício e a apresentação

de um vídeo com entrevistas aos elementos que constituíram a co-missão instaladora “ad hoc” para a fundação do NGHD. Os vinte e cinco anos de existência do NGHD ficaram assinalados tam-bém com a edição e distribuição do livro comemorativo do 25.º Aniversário intitulado “NGHD – 25 ANOS DE VIAGEM”. Esta e outras iniciativas podem ser

avaliadas no “website” www.nghd.pt. Com prefácio do actual Presidente da Direcção, o livro,

nos seus vários capítulos, traça o percurso da associação desde a sua criação até à actualidade com descrição detalhada de todas as suas actividades.A publicação teve a colaboração de alguns sócios que desem-penharam cargos de relevo no historial da Gastrenterologia Na-cional, em geral, e do Núcleo de Gastrenterologia, em particular, devendo ser destacadas as par-ticipações do principal ideólogo do NGHD e do seu primeiro Presidente, respectivamente os Drs. Vasco Trancoso e Castel- -Branco da Silveira.Como já é habitual, houve tam-bém sessões clínicas de Comu-nicações Livres, Casos Clínicos e Iconografia Endoscópica que atestaram a pujança e o desen-volvimento que o NGHD atingiu nos últimos anos, traduzida no elevado número de comunica-ções recebidas, que ultrapassa-ram largamente a possibilidade de apresentação em Sessões Plenárias, tendo sido necessário pela primeira vez no historial do NGHD recorrer a apresentações

sobre a forma de “posters”. Também como sinal desse desen-volvimento deve ser salientada a

admissão na Assembleia-Geral de onze novos sócios, ultrapassan-do-se assim pela primeira vez a fasquia das duas centenas os só-cios do NGHD. A Assembleia-Geral ficou ainda marcada pela aprovação por unanimidade e aclamação da proposta da Direc-ção para sócios honorários dos Drs. Vasco Trancoso e Castel- -Branco da Silveira, primeiro Pre-sidente da Direcção do NGHD entre 1986 e 1989. Do programa científico constou ainda a realização de um simpó-sio satélite subordinado ao tema “Perturbações Funcionais do Aparelho Digestivo Baixo”, da responsabilidade do Dr. Antó-nio Curado.A XXIV Reunião do NGHD terminaria com o Jantar de En-cerramento e em simultâneo comemorativo do 25.º Aniver-sário. Nesta ocasião solene, mas também de companheirismo e camaradagem, foi entregue a medalha comemorativa dos 25 Anos do NGHD aos onze só-cios fundadores e também aos ex-presidentes. Foram também

divulgados e entregues os pré-mios para as melhores comuni-cações que foram atribuídos pelo júri da seguinte forma:

Prémio Melhor Caso Clínico“Utilidade da ecoendoscopia no diagnóstico de NMPI”.Autores: Caldeira A, Pereira B, Pereira E, Sousa R, Tristan J, Gon-çalves R, Banhudo A. – Serviço de Gastrenterologia Hospital Amato Lusitano (Castelo Branco).

Prémio Melhor Documentação Audiovisual1.º Prémio: “Pesquisa de sangue oculto nas fezes surpreendente”.Autores: Araújo R, Machado J, Castanheira A, Cancela F, Peixo-to P, Ministro P, Silva A. – Serviço de Gastrenterologia Hospital de São Teotónio (Viseu).Menção Honrosa: “Dilatação pneumática da ampola de Váter após esfincterotomia larga na re-moção de cálculos da via biliar”. Autores: Lopes L, Ramada J, Car-rasquinho J. – Serviço de Gastren-terologia do Hospital de Santa Luzia (Viana do Castelo).

Prémio Melhor Comunicação Livre“Estudo prospectivo da acuidade da ecografia hidrocólica na detec-ção de lesões cólicas”.Autores: Caldeira A, Pereira B, Pereira E, Sousa R, Tristan J, Gon-çalves R, Banhudo A. – Serviço de Gastrenterologia Hospital Amato Lusitano (Castelo Branco).

José PedrosaPresidente do NGHD

Director Serviço de GastrenterologiaC.H. Tâmega e Sousa

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VIII Reunião Ibérica de Cápsula Endoscópica

Cerca de 150 gastrenterologis-tas portugueses e espanhóis que se dedicam ao estudo e

investigação da endoscopia por cápsula esti-veram, no dia 16 de Janeiro, no auditório do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, na VIII Reunião Ibérica de Cápsula Endoscópica, organizada pelo Serviço de Gastrenterologia do Hospital Pedro Hispano.Foram apresentados e discutidos 34 traba-lhos, tradutores da vivência actual e diária das principais Unidades de Gastrenterologia da Península Ibérica, com a utilização da en-doscopia por cápsula. A maioria dos trabalhos reportou-se à utilização desta técnica no es-tudo do intestino delgado, embora também tenham sido apresentados resultados de uti-lização na avaliação do esófago e do cólon. Foram proferidas três conferências sobre o estado da arte no que se refere à utilização da cápsula endoscópica no intestino delgado, no esófago, e no cólon, por alguns dos mais eminentes investigadores mundiais nesta área. O Prof. Marco Penazio (Itália), já nosso com-panheiro habitual nas Reuniões Ibéricas, com a clareza e elegância habitual, fez o ponto da situação da investigação mais relevante de endoscopia por cápsula do intestino delgado no último ano. O Prof. Juan Manuel Herrerias (Espanha), fundador destas jornadas, expôs o que hoje se sabe da utilização desta técnica na avaliação do esófago, nomadamente no estudo da hipertensão portal e do Esófago de Barrett. O Prof. Sam Adler (Israel) mostrou de forma brilhante o actual “know how” da endoscopia por cápsula no cólon, revelando (quiçá em primeira mão…) os promissores

resultados que poderão validar a utilidade desta técnica num futuro próximo.A mesa-redonda sobre as “Inovações na en-doscopia por cápsula” permitiu apresentar os resultados preliminares da investigação básica sobre a tecnologia da Endoscopia por cápsula na Península Ibérica.Referimos, designadamente, à investigação que o Serviço de Gastrenterologia do Hospital Pedro Hispano desenvolve em parceria com o IETTA e o Departamento de Electrónica, Te-lecomunicações e Informática da Universidade de Aveiro, juntamente com o Departamento de Ciência de Computadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, no sentido de desenvolver ferramentas que permitam a leitura e a análise automática da imagem, uti-lizando novos paradigmas da comunicação em rede, como o sistema “GRID”. Também de Espanha (Valencia e Pamplona) foram apresentados dois estudos. Um, ava-liando se o número de imagens adquiridas influi na acuidade do diagnóstico. Outro, apresentando as bases para possível utiliza-ção da endoscopia por cápsula para estudo da motilidade intestinal.Tratou-se, em súmula, de um dia bem pas-sado, onde se começou por discutir o que se fez, se analisou como se faz, e se tentou adivinhar como se poderá vir a fazer. O dia terminou com uma agradável confrater-nização em ambiente relaxado que permitiu estreitar ainda mais os laços de interesse pro-fissional e amizade que cada vez mais unem os que, querendo estar em diálogo pela ciência, não descuram o diálogo com os outros.

José Manuel Soares

Agenda

DDW 2010Data: 1 a 5 de MaioLocal: Nova Orleães, EUAMais informações: www.ddw.org

I Congresso Ibérico de ColoproctologiaData: 5 a 7 de MaioLocal: Nova Badajoz, EspanhaMais informações: www.spcoloprocto.org

Curso Básico de Gastrenterologia, Hepatologia e Nutrição PediátricaData: 14 a 16 de MaioLocal: Lisboa, Sede da SPG/SPED/APEFMais informações: www.spg.pt | www.sped.pt | www.apef.com.pt

5º Serão de Gastrenterologia: Cólon e RectoData: 17 de MaioLocal: Lisboa, Sede da SPG/SPED/APEFMais informações: www.spg.pt | www.sped.pt | www.apef.com.pt

XXX Congresso Nacional de Gastrenterologia, Endoscopia Digestiva e HepatologiaData: 9 a 12 de JunhoLocal: Vilamoura, Centro Congressos Tivoli MarinotelMais informações: www.spg.pt | www.sped.pt | www.apef.com.pt

Curso de Anatomia PatológicaData: 27 de Setembro a 1 de OutubroLocal: Lisboa, Sede da SPG/SPED/APEFMais informações: www.spg.pt | www.sped.pt | www.apef.com.pt

AASLD - Liver Meeting 2010Data: 29 de Outubro a 2 de NovembroLocal: Boston, EUAMais informações: www.aasld.org

ACG 2010Data: 15 a 20 de OutubroLocal: San Antonio, EUAMais informações: www.gi.org

18th UEGWData: 23 a 27 de OutubroLocal: Barcelona, EspanhaMais informações: http://uegw10.uegf.org/

23º Curso de Doenças HepatobiliaresData: 19 a 20 de NovembroLocal: CoimbraMais informações: www.spg.pt | www.sped.pt | www.apef.com.pt