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INSTITUTO HOMEOPÁTICO JACQUELINE PEKER CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ACUPUNTURA VETERINÁRIA DOENÇAS ARTICULARES DEGENERATIVAS E TENDINITES EM EQUINOS PELA MTC LILIA VALENTE SOARES CAMPINAS 2014

DOENÇAS ARTICULARES DEGENERATIVAS E · PDF fileO tratamento convencional para fase aguda e crônica é baseado na aplicação de duchas frias e gelo, pomadas anti-inflamatórias e

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INSTITUTO HOMEOPÁTICO JACQUELINE PEKER

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ACUPUNTURA VETERINÁRIA

DOENÇAS ARTICULARES DEGENERATIVAS E TENDINITES EM EQUINOS

PELA MTC

LILIA VALENTE SOARES

CAMPINAS

2014

DOENÇAS ARTICULARES DEGENERATIVAS E TENDINITES EM EQUINOS

PELA MTC

LILIA VALENTE SOARES

Monografia apresentada ao Instituto Homeopático Jacqueline

Pecker, como parte integrante do Curso de Especialização em

Acupuntura Veterinária.

Orientador: Profa. Cecília Maria Rodrigues Tavares

CAMPINAS

2014

“I am the master of my fate

I am the captain of my soul. “

William Ernest Henley

SOARES, LILIA. Doenças articulares degenerativas e tendinites em equinos pela MTC

Campinas, 2014, no de páginas.Trabalho de conclusão do Curso de Especialização em

Acupuntura Veterinária –Instituto Homeopático Jacqueline Peker, Campinas – SP

RESUMO

Para os cavalos de esporte as patologias mais comuns são as tendinites/desmites e as doenças

articulares degenerativas devido ao grande esforço e estresse, conformação e idade. As

aritulaçõe estão diretamente relacionadas aos tendões e ligamentos e ambos estão direcionados a

movimentação do animal, caso alguma dessas estruturas falhe, ocorrem as patologias. A

avalição clínica é de extrema importância assim como o diagnóstico antecipado dessas

patologias. O presente trabalho tem como finalidade analisar a relação entre essas patologias

diante dos 5 movimentos, Zang-Fu e substâncias vitais para o entendimento de como essa

relação simultânea ocorre.

Palavras chaves: tendinites, desmites, doenças articulares degenerativas, equinos e acupuntura.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Ilustração das articulações distais de MTs de equinos (DYCE, 2004). ..................... 10

Figura 2: Ilustração dos tendões, músculos e ligamentos dos MTs de equinos (DYCE, 2004). 12

Figura 3: Ciclo dos 5 movimento (XIE, 2007). ....................................................................... 13

Figura 4: Ciclos Sheng e Ko (CAIN, 2003). ........................................................................... 14

Figura 5: Ciclo Cheng (ciclo de opressão) (XIE, 2007). .......................................................... 15

Figura 6: Ciclo Ru (ciclo de insulto) (XIE, 2007). .................................................................. 16

Figura 7: Correspondência dos Cinco Movimentos com Zang-Fu (YAMAMURA, 2001). ...... 17

Figura 8: Diagrama dos fluídos corporais no metabolismo (XIE, 2007). ................................. 22

Figura 9: Analogia dentro dos cinco movimento (cookin pot) (WYNN, 2003). ....................... 24

SUMÁRIO

1-) INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8

2-) PATOLOGIAS SEGUNDO A MEDICINA CONVENCIONAL ....................... 9

2.1-) Doença articular degenerativa ..................................................................................................... 9

2.2-) Tendinite e desmite ..................................................................................................................... 11

3-) OS 5 ELEMENTOS/MOVIMENTOS NA MEDICINA TRADICIONAL

CHINESA .................................................................................................................. 12

3.1-) Ciclos fisiológicos ........................................................................................................................ 14

3.2-) Ciclos patológicos/desequilíbrios ................................................................................................ 15

4-) ZANG-FU ............................................................................................................ 16

5) ELEMENTO ÁGUA E OS ZANG-FU PARA AS DOENÇAS ARTICULARES

DEGENERATIVAS .................................................................................................. 18

6-) ELEMENTO MADEIRA E OS ZANG-FU PARA AS TENDINITES E

DESMITES ............................................................................................................... 19

7-) AS SUBSTÂNCIAS VITAIS ............................................................................... 20

7.1-) Qi ................................................................................................................................................ 20

7.2-) Jing ............................................................................................................................................. 20

7.3-) Xue .............................................................................................................................................. 21

7.4-) Jin Ye .......................................................................................................................................... 21

8-) RELAÇÃO ENTRE ELEMENTO ÁGUA E MADEIRA .................................. 23

8.1-) Análise dentro da teoria dos 5 elementos ................................................................................... 23

9-) PONTOS PARA TRATAMENTO ..................................................................... 24

9.1-) Deficiência do Yin do Rim .......................................................................................................... 24

9.2-) Deficiência de Jing do Rim ......................................................................................................... 24

9.3-) Deficiência de Yang do Rim ....................................................................................................... 25

9.4-) Deficiência de Qi do Rim:........................................................................................................... 25

9.5-) Deficiência de Xue e Yin do Fígado............................................................................................ 26

10-) CONCLUSÃO ................................................................................................... 27

11-) REFERÊNCIAS ................................................................................................ 28

1-) Introdução

Para os cavalos de esporte as patologias mais comuns são as doenças articulares

degenerativas e as tendinites/desmites, principalmente devido ao grande esforço que exercem

durante a vida.Por isso é de extrema importância entender todo o mecanismo de progressão

dessas doenças.

É muito comum que as duas patologias estejam envolvidas em um mesmo animal,

devido a ligação e mecanismo de ação que as articulações, tendões e ligamentos possuem entre

si. Essas estruturas atuam concomitantemente para que o animal possa se locomover, ou seja,

são estruturas de extrema importância para o desenvolvimento esportivo do animal.

Quando quaisquer umas dessas estruturas são afetas, ocorre um desequilíbrio local e

generalizado do animal, resultando no que chamamos de claudicação. Com isso temos uma

queda de performance que muitas vezes é de difícil recuperação justamente pelo trabalho

conjunto das articulações, tendões e ligamentos.

Devido à complexidade dessas patologias, a falta de atualização dos tratamentos

alopáticos ou até mesmo sub-diagnóstico das patologias, temos de acabar retirando esses

animais do esporte antes da hora. Muitas vezes o tratamento só é realizado quando ocorre a

sintomatologia clínica.

Portando através da medicina chinesa, podemos manter esses animais em estado de

equilíbrio por mais tempo, sabendo que o nível de estresse é elevado e o diagnóstico precoce

das doenças articulares degenerativas, tendinites e desmites é de extrema importância para o

progresso dentro do esporte.

2-) Patologias segundo a medicina convencional

2.1-) Doença articular degenerativa

As articulações realizam a junção de um ou mais ossos e os músculos esqueléticos se

inserem por meio de seus tendões. A casuística de artropatias é mais frequente nas articulações

móveis (diartrodiais) as quais possuem uma cavidade articular repleta de líquido sinovial e que

possibilitam maior mobilidade do membro (FEITOSA, 2004).

Todos os componentes articulares são constituídos por tecido conjuntivo, sendo as

principais: cartilagem, epífises ósseas, cápsula articular, membrana sinovial e líquido sinovial.

A cartilagem articular é formada por colágeno e proteoglicanos.As superfícies lisas da

cartilagem permite deslizamento para diminuir atrito e suportar pressões. Além disso, há

presença de condrócitos responsáveis pela síntese dos componentes da matriz (colágeno,

proteoglicanos, glicoproteínas, condrocectinas, colagenase e proteinases) (FEITOSA, 2004;

CARON, 2003).

O líquido sinovial é produzido pelos sinovióctiso. Ele é responsável pela nutrição dessa

cartilagem já que a vascularização é precária.. A camada mais externa da cápsula articular é

vascular e possui tecido conjuntivo frouxo, chamada de membrana sinovial. Sua função está

relacionada com a estabilidade articular, sede dos receptores de sensibilidade, diálise do líquido

sinovial, produção de nutrientes, barreira de filtração, trocas entre cavidade articular e os

tecidos, e regeneração tecidual (CARON, 2003).

A doença articular degenerativa (DAD) é uma patologia complexa não inflamatória que

envolve as articulações móveis. Ela afeta estruturas articulares (osso, cartilagem articular,

líquido sinovial) e peri articulares ( tecidos moles – tendões , ligamentos e músculos) (CARON,

2003; GAUGHAN, 2009; SCHMITZ, 2010).

A DAD é classificada em primária quando sua origem é desconhecida e secundária

quando há fatores predisponentes a ocorrência de defeitos de conformação e infecção articular

(SCHMITZ et al., 2010). Considerando as estruturas envolvidas, a patogênese propõe três

classificações. DAD tipo I, associada à sinovites e capsulites DAD tipo II, secundária a fraturas,

injúrias no osso subcondral, artrite infecciosa e lesões ligamentares e, DAD tipo III onde se

observa erosão não progressiva da cartilagem articular, sem falar na parte genética quando se

trata dos equinos (VEIGA, 2006).

De acordo com CARON (2003) a etiopatogenia da DAD não está totalmente

esclarecida. Acredita-se que propriedades biomecânicas anormais da cartilagem articular,

alterações físicas no osso subcondral associadas a deficiente absorção de impactos decorrente ao

adelgaçamento da cartilagem articular e traumas repetitivos.

Na DAD podemos ter acometimento de todas as estruturas dependendo do grau e

evolução da patologia. Um dos principais componentes é colágeno que está presente na

cartilagem articular juntamente com uma parte de água e proteoglicanos. Os colágenos tipo II

são os mais abundantes e são produzidos pelos condrócitos ao passo que uma significante

degradação e resíntese ocorre durante o crescimento e desenvolvimento, porém isso é limitado

quando o animal está na fase adulta (SMITH, 2003).

O diagnóstico baseia-se nas manifestações clínicas, testes de flexão articular, bloqueios

anestésicos locais, RX e ultra-sonografia, artroscopia, análise do líquido sinovial, ressonância

magnética (CARON, 2003; FEITOSA, 2004; THOMASSIAN, 2005).

Já o tratamento dentro da medicina convencional é realizado através infiltrações

articulares com anti-inflamatórioa, analgésicos, ácido hialurônico, IRAP, fisioterapia e

acupuntura. A administração de suplementos via oral ainda é controversa (ADAM, 2008;

GAUGHAN 2009).

Figura 1: Ilustração das articulações distais de MTs de equinos (DYCE, 2004).

2.2-) Tendinite e desmite

Os tendões e ligamentos são estruturas localizadas na região distal dos membros com

função de sustentar cargas e tensões elevadas. Dessa forma o animal pode se movimentar com

maior velocidade. Sãocompostos por tecido conjuntivo denso cuja unidade básica são as fibras

colágenas associadas com proteínas estruturais (elastina e glicosaminoglicanos) que fazem parte

da matriz extracelular. Os fibroblastos ou tenócitos secretam as fibras colágenas e controlam a

produção e a manutenção da matrizextracelular (FEITOSA, 2004; SMITH, 2003).

A unidade estrutural das fibras colágenas apresentam ondulações o que podem ser

influenciadas pela idade e atividade física das estruturas tendíneas. As ondulações menores

podem estar presentes nos tecidos lesados ou imaturos (FEITOSA, 2004).

O endotendão é uma estrutura de suma importância, pois é a região onde estão presentes

os escassos vasos sanguíneos e linfáticos de pequenos calibre, além dos plexos nervosos.

A bainha tendínea possui membrana sinovial e líquido sinovial que permite a nutrição

tendínea e ligamentar (FEITOSA, 2003).

Segundo THOMASSIAN (2005) as patologias de tecidos moles ocorrem devido ao

trauma por hiperextensão produzindo lesões microscópicas ou por ação traumática aguda onde a

lesão é macroscópica com ferimento e descontinuidade da estrutura tecidual.

Já SMITH (2003) também menciona a influência mecânicaporém descreve vários outros

mecanismos, por exemplo, hipertermia induzida pelo exercício que hipoteticamente causaria

alterações no metabolismo dos tenócitos, baixa perfusão vascular principalmente nas regiões

distais dos membros e ainda a presença de enzimas proteolíticas devido ao desequilíbrio entre a

síntese e a degradação extracelular. Ainda faz uma correlação entre a idade dos animais, a

intensidade/velocidade do exercício e tipo de solo em que é realizado o condicionamento físico

desses indivíduos.

O diagnóstico baseia-se nos sinais clínico, RX para diferenciar lesões nos sesamoides,

ultra-sonografia, tenograma e termografia (THOMASSIAN, 2005).

O tratamento convencional para fase aguda e crônica é baseado na aplicação de duchas

frias e gelo, pomadas anti-inflamatórias e analgésicas para massagem local. Para a via sistêmica

são utilizadas fenilbutazona e corticosteroides (dexametazona). Para a melhor recuperação

tecidual também são recomendadas as técnicas fisioterápicas (THOMASSIAN, 2005).Ainda

existem tratamentos com células tronco, IRAP, PRP, fisioterapia e acupuntura (SLACK, 2008).

Figura 2: Ilustração dos tendões, músculos e ligamentos dos MTs de equinos

(DYCE, 2004).

3-) Os 5 elementos/movimentos na medicina tradicional chinesa

Os 5 elementos são conhecidos como Wu Xing, cinco atividades ou cinco princípios

dentro da natureza: metal, água, madeira, fogo e terra. São eles os responsáveis pela natureza

dos Zang-Fu (vísceras e órgão) e pela relação entre eles, corpo do animal e ambiente. Além

disso, cada elemento/movimento está associado a uma característica: um cheiro, um sabor, um

clima, uma cor, uma parte do corpo, uma emoção, uma função física, dentre outros. Cada

elemento está interligado um ao outro para formar um ciclo harmonioso (HIRSCH, 1999; XIE,

2007).

Essa técnica é destinada principalmente para manter a harmonia/equilíbrio do corpo

através de seu ambiente por meio do diagnóstico, tratamento e prognóstico. Dessa forma é

possível promover desenvolvimento, manutenção e/ou restabelcimento da ordem intrínseca de

cada organismo (GAMA, 2012).

Figura 3: Ciclo dos 5 movimento (XIE, 2007).

3.1-) Ciclos fisiológicos

Os movimentos possuem ciclos fisiológicos, os quais são basicamente o cicloSheng -

Geração e o cicloKo- Controle (SCHOEN, 2001; XIE, 2007).

O ciclo Sheng é de criação ou produção, ou seja, a relação entre os elementos é de mãe e

filho: a madeira promove o fogo, fogo promove a terra, terra promove o metal, metal promove a

água e água promove a madeira (XIE, 2007).

Já no ciclo Koé de controle, ondea relação é de avó e neto, onde o elemento avó

controla diretamente o elemento neto, ou seja: madeira controla terra, terra controla água, água

controla o fogo, fogo controla o metal e metal controla a madeira. É nesse ciclo que o equilíbrio

é assegurado (MACIOCIA, 2001; SCHOEN, 2001; XIE, 2007).

São esses dois ciclos que vão manter o organismo em equilíbrio, onde formam um

sistema “feed-back” para que o funcionamento de tudo ocorra da maneira mais correta possível.

Esse dois ciclos também permite que todos os elementos se conectem, ou seja, é formada uma

rede em que todos os elementos atuam sobre todos (XIE, 2007).

Na teoria, o fluxo de energia dentro do ciclo de criação/Sheng flui do Yang para Yang,

ou seja, estomago – intestino grosso – bexiga – vesícula biliar – intestino delgado, e de Yin para

Yin, baço/pâncreas – pulmão – rim – fígado – coração. Enquanto no ciclo de controle/Ko o

fluxo de Qi vai fluir de Yang para Yin e Yin para Yang, ou seja, estomago controla rim,

baço/pâncreas – bexiga - intestino grosso - fígado, pulmão - vesícula biliar, bexiga - coração,

rim - intestino delgado, vesícula biliar - baço/pâncreas, fígado – estomago, coração – pulmão e

estomago – pulmão (CAIN, 2003).

Figura 4: Ciclos Sheng e Ko (CAIN, 2003).

3.2-) Ciclos patológicos/desequilíbrios

Como na medicina ocidental também existe os ciclos patológico, que ocorrem quando

temos o estado de desequilíbrio dentro de um elemento e ocorre a manifestação dos Zang-Fu e

os tecidos relacionados com a disfunção. Esse processo é gerado cada vez que existe um estado

de alteração (estado e deficiência) entre os ciclos fisiológicos (XIE, 2007).

Os estados patológicos podem ocorrem quando o elemento mãe afeta o elemento filho.

Nesse caso o ciclo será afetado no mesmo sentido que o cicloSheng, onde o órgão mãe afetado

transfere o problema para o órgão do elemento filho. O segundo estado é gerado pelo

desequilíbrio do órgão filho que consome o órgão do elemento mãe (MACIOCIA, 2001; XIE,

2007).

O ciclo Cheng(ciclo de opressão) segue o mesmo sentido do ciclo Ko, cada elemento

em excesso acaba por exercer uma demasiada contenção: elemento avó por excesso consome

excessivamente o elemento neto (XIE, 2007).

E por último o ciclo Ru (ciclo de insulto) que também segue o mesmo sentido do ciclo

Ko, porém em condições de deficiência e gera um ciclo reverso: o elemento neto é que irá

controlar o elemento avó (YAMAMURA, 2001).

Figura 5: Ciclo Cheng (ciclo de opressão) (XIE, 2007).

Figura 6: Ciclo Ru (ciclo de insulto) (XIE, 2007).

4-)Zang-Fu

Zang-Fu é o termo geral dado aos órgãos/vísceras internas do corpo. A denominação de

Zang para a medicina chinesa são os órgãos sólidos e Fu são os órgãos ocos (vísceras) ou

tubulares (XIE, 2007).

Os órgãos Zang são de natureza Yin ou interior, já os órgãos Fu de natureza Yang ou

exterior. Ambos trabalham em conjunto e sincronia, mesmo tendo anatomia e funcionalidade

distintas uns dos outros. São conhecidos popularmente como marido e mulher, devido a relação

simultânea existente para o funcionamento do organismo como um todo (XIE, 2007).

Enquanto os Zang são estruturas geradoras e transformadoras de energia e de Shen

(consciência) com função de estocar as substâncias vitais como Qi, sangue e fluídos corpóreos a

fim de promover o dinamismo físico, visceral e mental, com a manifestação da energia interior.

Fazem parte dos órgão: Pulmão (Fei), Rim (Shen), Fígado (Gan), Coração (Xin) e

Baço/Pancreas (Pi) (XIE, 2007; YAMAMURA, 2001).

Os Fu primeiramente recebem, digerem e assimilam os alimentos/líquidos externos para

transportar e excretar o lixo residual do organismo.Além disso são envolvidas/englobadas por

um elemento altamente energético (Yang do Yang), o Sanjiao (Triplo Aquecedor) que tem a

finalidade de promover a atividade de todos os órgãos internos. Fazem parte das vísceras:

Intestino grosso (Da Chang), Bexiga (Pangguang), Vesícula biliar (Dan), Intestino delgado

(Xiao Chang) e Estômago (Wei) (XIE, 2007; YAMAMURA, 2001).

As alterações de energia dos Zang-Fu para mais ou para menos promovem sequelas no

devida sequencia: energia mental (Shen), coloração da tez, manifestação funcional dos órgão e

vísceras e por último alterações orgânicas nas estruturas corporais. Isso caracteriza o estado de

desenvolvimento patológico, ou seja, através da medicina chinesa é possível diagnosticar uma

patologia em suspenso antes mesmo da manifestação clínica, ou seja, exteriorização do

problema/desequilíbrio interno (YAMAMURA, 2001).

Figura 7: Correspondência dos Cinco Movimentos com Zang-Fu (YAMAMURA,

2001).

5) Elemento água e os Zang-Fu para as doenças articulares degenerativas

O elemento água representa os fenômenos naturais caracterizados por retração,

profundidade, frio, declínio, queda e eliminação. É o ponto de chegada da transmutação dos

movimentos (YAMAMURA, 2001).

É nesse elemento que reside os rins (Shen) que controlam o nível de água do organismo

e a bexiga (Pangguang) que armazena e elimina o excesso. Todos os fluídos corporais residem

nos rins, eles são o celeiro da energia vital (HIRSCH, 1999).

São os rins governam a água e produz a medula, controla os ossos/articulações e

armazena a essência-Jing(base de todo Yin e Yang do corpo), são a raiz do Qipré-celestial,

manifesta-se nos cabelos, abrir-se nos ouvidos, controla os orifícios inferiores e abriga a força

de vontade. A essência consiste na parte congênita e adquirida (alimentos), as duas caminham

juntas e uma depende da outra para a funcionalidade do organismo. Os rins transformam e

transportam os fluidos corporais, onde o Qi dos rins regula a passagem dos líquidos e qualquer

problema resulta em distúrbio, como por exemplo, o edema (XIE, 2007).

A essência/Jingsão estocadas pelos rins o quais vão produzir a medula, preenchendo os

ossos e dando suporte para o crescimentos dos mesmos. Quando temos a condição perfeita de

essência os ossos crescem naturalmente fortes e saudáveis, ao contrário da condição de

deficiência temos a condição de fraqueza dos ossos (MACIOCIA, 2001; XIE, 2007).

Ao contrário dos rins, a bexiga possui função somente de estocar e excretar os fluídos

impuros, a urina A atividade Yang dos rins é a responsável pela produção desse fluído e

qualquer deficiência nessa parte pode causar incontinência, dor ao urinar e até mesmo sangue na

urina(SCHOEN, 2001; XIE, 2007).

Portanto as deficiência de Qi do rim levam a problemas articulares (artrites,artroses –

síndrome Bi), fraqueza e dor a parte lombar ou membros pélvicos. Além disso, quando falamos

do Jing/essência a sua deficiência gera retardo e deficiente crescimento, problemas ortopédicos,

perda da vitalidade, envelhecimento precoce já que para a medicina ocidental ela pode ser

comparada com a herança genética (DNA, RNA) (MACIOCIA, 2001; XIE, 2007).

6-) Elemento madeira e os Zang-Fu para as tendinites e desmites

O elemento madeira representa o aspecto de crescimento, florescimento, movimento e

síntese. É o ponto onde a energia vital sobe, procura abrir caminho igualmente como uma árvore

(HIRSCH, 1999; YAMAMURA, 2001).

Nesse elemento fazem parte o fígado (Gan) que estoca o sangue, mantém o fluxo de Qi

e controla os músculos e tendões, manifesta-se nas unhas/cascos e abriga a alma etérea. A

vesícula biliar (Dan) que descende o Qi auxiliando na digestão e a capacidade de tomar

decisões. Para os cavalos a vesícula biliar não está presente, porém ainda existe vestígio do

ducto biliar (XIE, 2007).

Os tendões/ligamentos dependem da nutrição/hidratação sanguínea garantindo o

movimento e agilidade das articulações. Quando não há esse mecanismo em equilíbrio, as

tendinites e desmites aparecem. O mesmo mecanismo de hidratação e nutrição serve para as

unhas/cascos, seu crescimento depende do nível e qualidade de irrigação local (MACIOCIA,

2001; XIE 2007).

Essa irrigação/volume sanguíneo varia de acordo com o nível das atividades físicas e

repouso realizado pelo animal. O corpo é inteligente, ele encaminha sangue para a região mais

necessitada, portanto se o fígado possuir uma quantidade adequada de sangue para o organismo

dificilmente ele entrará em fadiga, ao contrário na deficiência de sangue o corpo se sente

cansado e exausto (MACIOCIA, 2001; XIE, 2007).

O fígado pode ser comparado a um general, ele é quem dá ordens e distribui/coordena o

fluxo de Qi para todos os órgãos. O processo patológico do fígado ocorre pela estagnação de Qi,

que acarretará na alteração da digestão do baço e estômago, das atividades vitais e do portão das

águas (edema/ascite) (XIE, 2007).

7-) As substâncias vitais

Cada substância possui uma função dentro do organismo, São elas as essenciais para a

manutenção de um uma vida norma, portanto qualquer alteração gera desequilíbrio. Dentro da

Medicina Chinesa chamamos essas substâncias de tesouros, pois são essências para o controle

das atividades fisiológicas dos Zang-Fu (MACIOCIA, 2001; XIE, 2007).

A maioria das substâncias (Xue, Qi, fluídos corporais) são originadas pelo Jing

(essência) que é a origem pré-natal e pós-natal de todo organismo. O Shen é responsável pela

mente e pelo organismo como um todo (XIE, 2007).

7.1-)Qi

É o Qi que fornece a vida e existe em duas condições: Qisubtâncial e funcional. O

substâncial é a base para o Qi funcional, enquanto o funcional pode ser comparado às atividades

fisiológicas dos Zang-Fu (XIE, 2007).

A deficiência de Qi do Rim pode gerar as artrites (síndrome Bi), dor e fraqueza dos

membros e da coluna (MACIOCIA, 2001; XIE, 2007).

7.2-)Jing

Jing significa essência pré-natal (Jing congênito) ou pós-natal. O pré-natal é estocado no

Rim durante a vida e é utilizado todos os dias, ele nunca é excessivo e deve ser conservado, pois

naturalmente com a idade. Já o pós-natal é extraído dos alimentos e bebidas (MACIOCIA,

2001; XIE, 2007).

A deficiência de Jing talvez seja uma das principais colaboradoras das doenças

articulares degenerativas (DAD), já que é essa substância corresponde ao crescimento e

desenvolvimento do animal desde o nascimento e o também é responsável pela herança genética

(pai e mãe) (MACIOCIA, 2001; XIE, 2007).

7.3-)Xue

É descrito como um líquido vermelho que corre nas veias e que lubrifica todo o

organismo e todos os órgãos do Zang-Fu. As fontes de nutrição do Xue são: alimentos, essência,

fluídos corporais (Jin Ye) e YingQi (originado do GuQi) que flui pelos vasos (MACIOCIA,

2001; XIE, 2007).

O Fígado estoca e reajusta o volume de Xue, e promove o fluxo de Qi. Caso alguma

dessas funções esteja alterada pode ocorrer estagnação de Xue do Fígado, deixando a nutrição

dos músculos, tendões e ligamentos deficiente e dificultando a movimentação (MACIOCIA,

2001; XIE 2007).

7.4-) Jin Ye

É o nome dado para todos os fluídos corporais seja, lágrima, urina, suor, saliva, suco

gástrico, líquido sinovial, descarga nasal. A fonte desses fluídos é originada através dos

alimentos e bebidas ingeridos pelos animais. Além disso, ele é dividido em duas partes: Jin-

fluído (aquece, umidifica e nutrem os músculos, tendões e pele) e Ye-líquido (distribuído pela

circulação para os Zang-Fu, osso, medula, cérebro, articulações e os fortalece e nutre) (XIE,

2007).

Figura 8: Diagrama dos fluídos corporais no metabolismo (XIE, 2007).

8-) Relação entre elemento água e madeira

8.1-)Análise dentro da teoria dos 5 elementos

A deficiência da essência do Rim ou Yin do Rim é semelhante ao suprimento

inadequado do elemento madeira (deficiência de Yin do Fígado), onde o organismo não possui

fonte de Jing e Qi suficientes para manter o equilíbrio. Dessa forma o Rim não recebe

suprimento sanguíneo vindo do Baço (Terra) consequentemente consome a Madeira na tentativa

de reestabelecer a funcionalidade (MACIOCIA, 2001; WYNN, 2003).

A Bexiga também não recebe a quantidade de Yang suficiente para poder realizar a

função de filtrar, absorver e excretar os fluídos puros e impuros. Dessa forma,os declínios do Qi

do Rim e do Yang previnem que o Yin do Rim fique acumulado, podendo condensar, umidificar

e refrescas o Jiao superior (WYNN, 2003; XIE, 2007).

Esse tipo de deficiência produz sinais de calor, porém um calor vazio, o que acaba por

secar os líquidos corpóreos e o sangue. Também é possível que a deficiência de Xue (sangue)

do Fígado seja originada pela deficiência do Yin do Rim, o que é muito preocupante quando se

trata de animais idosos (WYNN, 2003).

Já o Fígado e a Vesícula Biliar são responsáveis pelo movimento. O Fígado utiliza a

fonte de Qi estocada pelos Rins para que ocorra locomoção. A manifestação da deficiência da

Vesícula Biliar geralmente é caracterizada pelas paralisias, ou seja, estagnação de Qi. Essa

estagnação também é responsável pelas claudicações sem causas aparentes, assim como

distúrbios de ansiedade, irritabilidade, depressão, disfagia, e tensão (WYNN, 2003; XIE, 2007).

A estagnação de Qi do Fígado também gera deficiência de Xue (sangue), assim como a

deficiência de Yin do Rim e de Jing (essência). Outros sinais dessa deficiência de Xue são os

espasmos musculares, dor e tendinite/desmites. Os tendões e ligamentos tendem a “secar” com

esses dois tipos de deficiência de Yin e de Xue (WYNN, 2003).

Figura 9: Analogia dentro dos cinco movimento (cookinpot) (WYNN, 2003).

9-) Pontos para tratamento

9.1-) Deficiência do Yin do Rim

Pode ocorrer devido a infecções prolongadas, trauma, atividade sexual intensa. Deve-se

tonificar o Yin do Rim (R3, R6, B23, BP6).

R3 ( Tai Xi) - tonifica Rim, ponto Terra (ponto riacho)

R6 (Zhao Hai) - tonifica Yin do Rim, ponto de confluência para o Yin-qiao

B23 (ShenShu) - tonifica Rim, ponto de associação shu-dorsal do Rim

BP6 ( San Yin Jiao) - tônico de Yin e Xue

(MACIOCIA, 2001; SCHOEN, 2006; XIE, 2007; XUE, 2011).

Fórmula Fitoterápica: Liu Wei Di Huang Wan(XIE, 2007).

9.2-) Deficiência de Jing do Rim

Geralmente originada pela herança genética/constituição fraca. Deve-se tonificar o Jing

do Rim (R1, R3, R7, B23, B20, E36, BP6).

R1 (Yuan Quan) - ponto tonifica Qi do Rim, ponto Madeira (ponto poço)

R3 ( Tai Xi) - tonifica Rim, ponto Terra (ponto riacho)

R7 (Fu Liu) - ponto mãe para deficiências, ponto Metal (ponto poço)

B20 (PiShu) - ponto de associação para Baço/Pâncreas

B23 (ShenShu) - tonifica Rim, ponto de associação shu-dorsal do Rim

BP6 ( San Yin Jiao) - tônico de Yin e Xue

E36 (Hou San Li) -tonifica o WeiQi, ponto Terra (ponto mar)

(MACIOCIA, 2001; SCHOEN, 2006; XIE, 2007; XUE, 2011).

FórmulaFitoterápica: Sheng Jing San (XIE, 2008).

9.3-) Deficiência de Yang do Rim

Pode estar associado com doenças prolongadas, trabalho prolongado e estresse,

constituição fraca e idade contribuem para essa deficiência. Deve-se tonificar o Yang do Rim

(BaiHui, VG4, VG20, VG14, VC6, VC4).

VC4 (Guan Yuan) - ponto alarme para Intestino Delgado, ponto de tonificação geral de

Qiou Yang

VC6 (Qi Hai) - mar de Qi, ponto de tonificação geral de Qi ou Yang

VG14 ( Da Zhui) – elimina calor

VG20 (BaiHui) – ponto dos cem encontros, deficiência de Yang

(MACIOCIA, 2001; SCHOEN, 2006; XIE, 2007; XUE, 2011).

Fórmula Fitoterápica: ShenQiWan (Jin Gui ShenQiWan) (XIE, 2008).

9.4-) Deficiência de Qi do Rim:

Pode estar associado com doenças prolongadas, trabalho prolongado e estresse,

constituição fraca e idade, Deve-se tonificar o Qi do Rim e consolidar o Rim (VC4, VC6, B23,

BP6, Ba Jiao, Yan Chi).

VC4 (Guan Yuan) - ponto alarme para Intestino Delgado, ponto de tonificação geral de

Qi ou Yang

V6 (Qi Hai) - mar de Qi, ponto de tonificação geral de Qi ou Yang

B23 (ShenShu) - tonifica Rim, ponto de associação shu-dorsal do Rim

BP6 (San Yin Jiao) -tônico de Yin e Xue

Ba Jiao

Yan Chi

(MACIOCIA, 2001; SCHOEN, 2006; XIE, 2007; XUE, 2011).

FórmulaFitoterápica:Ren Shen GeJie San e Jin SuoGu Jing Wan (XIE, 2008).

9.5-) Deficiência de Xue e Yin do Fígado

Pode ser originada pela deficiência do Estômago/ Baço-Pâncreas que não direciona Qi

suficiente ou deficiência do Rim que não umidifica o Fígado. Deve-se umidificar Yin do Fígado

(F3, B18, B23, R3, BP6) e tonificar Xue do Fígado (B18, BP10, B17, BP6).

F3 (Tai Chong) – ponto fonte, estagnação do Qi do Figado, ponto Terra (ponto riacho)

R3 (Tai Xi) - tonifica Rim, ponto Terra (ponto riacho)

B17 (Ge Shu) - ponto de influência para Xue

B18 (GanShu) – ponto de associação shu-dorsal para Fígado

B23 (ShenShu) - tonifica Rim, ponto de associação shu-dorsal do Rim

BP6 (San Yin Jiao) - tônico de Yin e Xue

BP10 (Xue Hai) - mar de Xue, esfria, nutre e revigora o sangue

(MACIOCIA, 2001; SCHOEN, 2006; XIE, 2007; XUE, 2011).

Fórmula Fitoterápica: Si Wu Tang e Liu Wei Di Huang Wan(XIE, 2007).

10-) Conclusão

O presente trabalho permite concluir que às duas patologias (tendinites/desmites e

doenças articulares degenerativas) estão diretamente envolvidas diante da Medicina Tradicional

Chinesa.

Os músculos e tendões são de extrema importância para a movimentação do animal e

consequentemente das articulações. Sem o funcionamento correto dessas estruturas surgem as

patologias. Consequentemente a falha em uma parte do organismo acarreta em falhas

secundárias.

A acupuntura tem cada vez mais se mostrada mais eficaz dentro da medicina veterinária

e quando falamos dos animais de esporte (equinos) se torna mais importante ainda devido as

exigências aos quais são submetidos. Portanto devemos analisar cada animal como um todo e

não focar somente na sintomatologia clínica.

11-)Referências

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edição, p 548-549, Willey-Blackwell 2008.

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GAMA, E.J.D. Os 5 Movimentos – Acupuntura na Prática Clínica Veterinária, 1

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MACIOCIA, G. Los fundamentos de la Medicina Chinesa, Edição Espanhola, 2001.

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SCHOEN, A.M. Acupuntura Veterinária da Arte Antiga a Medicina Moderna. 2

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VEIGA, A.C.R. Estudo retrospectivo de casuística, abrangendo metodologia

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XIE, H; PREAST, V. Tradicional Chinese Veterinary Medicine: Fundamental

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