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N.° 243 ALBERTO RODRIGUES MILHÃO 3 DOENÇAS ASSOCIADAS (Observação de alguns casos da 2. a Clinica Medica) TESE OE DOUTORAMENTO APRESENTADA A FACULDADE DE MEDICINA DO PORTO :V;;:{o) :" : .V."' : . p?^/3 P>iP 1926 TIPOGRAFIA CARVALHO R. do Rosário, 192 FORTO

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N.° 2 4 3 ALBERTO RODRIGUES MILHÃO 3

DOENÇAS ASSOCIADAS (Observação de alguns casos da 2. a Clinica Medica)

TESE OE DOUTORAMENTO APRESENTADA A FACULDADE

DE MEDICINA DO PORTO

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1926 T I P O G R A F I A C A R V A L H O

R. do Rosário, 192 FORTO

DOENÇAS ASSOCIADAS (Observação de alguns casos da 2.a Clinica Medica)

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ALBERTO RODRIGUES MILHÃO

DOENÇAS ASSOCIADAS (Observação de alguns casos da 2.a Clinica Medica)

TESE D E DOUTORAMENTO APRESENTADA Á FACULDADE

DE MEDICINA DO PORTO

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1926

T I P O G R A F I A C A R V A L H O

R. do Rosário, 192 PORTO

Faculdade de Medicina do Porto DIRECTOR

Dr. José Alfredo Mendes de Magalhães SECRETÁRIO

Dr. Hernâni Bastos Monteiro

CORPO DOCENTE P r o f e s s o r e s O r d i n á r i o s

Dr João Lopes da Silva Martins Júnior . Higiene Dr. Alberto Pereira Pinto de Aguiar . . Patologia geral Dr. Carlos Aiberto de Lima Patologia cirúrgica Dr. Luis de Freitas Viegas Dermatologia e sifiligrafia Dr- José Alfredo Mendes de Magalhães Terapêutica geral Dr Antonio Joaquim de Souza Jí-mor • ■ Anatomia patológica Dr- Tiago Augusto de Almeida . . . . Clica medica Dr. Joaquim Alberto Pires de Lima... - . Anatomia descritiva Dr. Álvaro Teixeira Bastos Clinica cirúrgica Dr- Antonio de Souza Magalhães Lima- Psiquiatria Dr. Manuel Lourenço Gomes Medicina legal Dr. Abel de Lima Salazar . . . . Histologia e embriologia Dr. Antonio de Almeida Garrett • • ■ . Pediatria Dr. Alfredo da Rocha Pereira . . . Patologia medica Dr- Carlos Faria Moreira Ran alh&o . Bacteriologia e doenças infeciosas Dr- Hernâni Bastos Monteiro Anatomia cirúrgica Dr. Manuel Antonio de Morais Frias . . Clinica abstetrica Vaga Fisiologia geral e especial Vaga Farmacologia Vaga Parasitologia e doenças parasitarias

Professores Jubilados

Dr. Pedro Augusto Dias Dr. Augusto Henrique de Almeida Brandão

h Facaldade não responde pelas doutrinas expendidas na dissertação.

Art. 15. § 2.° do Regulamento Privativo da Faculdade de Me­dicina do Porto, de 3 de Janeiro de 1923.

A sacidosa memoria - de -

Ainha Qcierida ttãe

Não posso ver-vos mais, minha bôa í\ãc, mas a vossa imagem ve~la«hei sempre, emquanto ea viver.

A meu Pai

Grato vos íico pelo muito que me fizesteis.

A meãs irmãos

A minha mulher

Se sou feliz a ti o devo; eis pois que te consagro o maior dos afectos.

A meãs sogros

A meus canhados

A meu tio

JOSÉ LERDEIRA

A meos primos

Ao bom meu Amigo e Colega DR. FERNANDO GILBERTO PEREIRA

Aos meus condiscípulos c em especial aos:

Dr. Isaías Joaquim Vieira de Castro Dr. Francisco Laranja de Castro Bicho Dr. Antonio da Silva Pereira Dr. Américo Maio dos Santos Graça Dr. Jacinto de Souza Dr. Joaquim Pinto Nunes Dr. José Afonso Dias Guimarães Dr. José de Oliveira Faria Dr. Armando de Sá Mascarenhas.

Ao sábio professor e meu ilustre Presidente ' de Tese

Proí. Tiago de Almeida

Ao corpo docente da

Facaldade de Aedicina do Porto

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ho apresentar este meu modesto trabalho ao Ex.mo Jari que me ha-de jalgar, tive em vista tão somente dar cumprimento a ama disposição regulamentar e, já que, a qualquer assunto tinha de destinar algum tempo, procurei escolher tra­balho que me servisse para a vida prática, á qual me destino e na qual quero procurar hon­rar tanto quanto me fôr possivel, a boa tradição desta Faculdade, donde teem saído grandes e afamados clínicos e cirurgiões.

Nesta ordem de ideias procurei coligir uns tantos casos clínicos que me pareceram interes-

santcs sob o ponto de vista prático e que se me depararam na 2.a Clinica Aedica do meu Ex."10 Presidente de Tese, o sábio professor Tiago de Almeida.

fts associações mórbidas, tantas vezes en­contradas na vida clinica, podem embaraçar grandemente am noviço da arte medica, se na ultima parte do seu curso não tiver prestado a sua atenção aquelas associações para, sem diíicuidade maior, poder medicar racionalmente o seu doente, isto é, ponderando a sintomato­logia variada e dando a cada entidade mórbida

o que 9 cada uma compete, medicar o seu doente nas devidas orientações, de modo que não lhe possa causar agravamento de qualquer das suas variadas doenças.

Com esta orientação prática, apresento as paginas que vão seguir-se assim capituladas :

Associações mórbidas e sinergias fun­cionais.

Associações etiológicas em geral e parti­cularmente aos casos apresentados.

Conclusões e apresentação dos doentes. Resta-me agradecer aos Ex.mos Professores que

constituem o douto Conselho Escolsr, todas as atenções que se dignaram prestar«me durante o meu curso, especialisando o meu Ex.m0 Júri e o meu presidente de Tese, o querido e emi­nente Proí. Tiago de Almeida-

Para todos os Assistentes da 2.a Clinica Aedica, o meu tributo de gratidão pelo auxilio que me prestaram.

CAPITULO 1

Rssocioções mórbidas e sinergias funcionais

Diz o prof. Tiago de Almeida «a3 associações mórbidas representam um facto t;1o extremamente frequente, que na categoria de uma lei o podemos considerar». E porque é frequente na clínica encon-trar-se doentes com dois, trôs, quatro e mais pade­cimentos e, pela influencia que necessariamente exerce sobre a terapêutica a instituir, devemos sempre pensar, quando procedemos á analise cli­nica de um doente, por mais restrito que o seu mal se nos afigure, nestas associações, sejam de causas, de lesões ou de síndromas. 2

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A sua importância dia a dia nos aparece bem manifesta na clinica e, a simplicidade dos quadros descritivos das doenças como tipos registados nas patologias interna e externa, transforma-se na pra­tica em complexidade, por vezes cercada de gran­des dificuldades; resolvê-las, destrinçando lesões, separando sintomas, determinando causas, é o prin­cipal trabalho do medico para a organisação da conveniente terapêutica.

Sabe-se do estudo da fisiologia as estreitas rela­ções que no nosso organismo os diferentes órgãos manteem, sendo estas relações de tal maneira inti­mas que, pode dizer-se, não adoece um órgão sem que os outros se queixem.

Esta solidariedade é mantida por três meios : sistema cardio-vascular, sistema nervoso e sistema endocrinico.

São estes três sistemas os encarregados de man­ter a sinergia entre as variadas partes do orga­nismo.

Apresentemos um exemplo : temos uma febre tifóide (doença de localisação sabida e agente co­nhecido) e vamos encontrar lesões do miocárdio,—é o sangue que leva as toxinas e ás vezes o próprio agente microbiano, interessando assim o miocárdio

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e por vezes diferentes partes do organismo ou me­lhor do corpo.

Temos um brightico, cujo mal, no seu periodo agudo determina ás vezes tais perturbações cardía­cas que o clinico não sabe se se trata de um brigh­tico com um síndroma cardíaco, se de um cardiaco com um síndroma renal. Daremos ainda como exem­plo uma criança portadora de lombrigas, com uma enterite ligeira em qualquer parte do intestino e esta parte é o ponto de partida de reflexos que vão excitar o cortex cerebral, produzindo a aparição de um síndroma epiléptico.

No campo da sifilis, muitas vezes, pode dizer-se que irreflectidamente, registamos como um facto banal na evolução da infeção luética, a queda do cabelo; instintivamente, ao fazermos o exame re­gistamos o facto.

Porque cai o cabelo? A sifilis não estava localisada no couro cabe­

ludo nem no corpo pilôso, tanto que o cabelo volta depois do tratamento anti-sifilitico.

Encontramos ás vezes doentes em que o coração está num estado de falência e de astenia notáveis.

Porque é que as doenças infeciosas determinam isto?

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Explicam-se estas perturbações por meio dos órgãos enclocrinieos e nomeadamente, na sífilis, por lesão da tiroide que tem uma grande importância na conservação do cabelo.

Porque é que nas infeções agudas e de entre estas vem em primeiro logar o tifo exantemático, aparece uma notável falência cardíaca?

Por causa da lesão das supra-renais, cuja insu­ficiência por vezes determina uma tal agudesa dos sintomas cardíacos, que põe em cheque a vida do doente.

Ora é esta solidariedade que explica em qual­quer doença as modificações gerais e as modifica­ções localisadas num órgão a distancia; que explica as modificações hepáticas, endocrinicas, nervosas e gerais; que explica a variedade sintomática do qua­dro clinico de uma determinada doença, assim como a variedade de evolução, etc.

Também são estas sinergias que explicam as variadas associações mórbidas que se encontram na clinica.

O valor da associação está, em alguns casos, nas particularidades do terreno sobre o qual a doença se instala e evoluciona ; é assim que a tuberculose pulmonar nos diabéticos se torna especial pela sua

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marcha rápida e inerente ineficácia do tratamento, do mesmo modo que é bem conhecida a frequente e intensa excitação delirante na pneumonia dos alcoólicos.

A associação é ainda por vezes acompanhada de complicações ; e, tanto assim ó que o dotienenterico vê por vezes a declinação da febre interrompida por localisações estreptococicas e o tuberculoso mais agravado no seu estado geral e mais anarqui-zado nos seus pulmões em seguida a um ataque de gripe.

CAPITULO II

Associações etiológicas

Como no 1.° Capitulo deste trabalho fiz menção da3 diversas formas de associações mórbidas, vou pois enumerá-las para melhor desenvolver esta se­gunda parte do meu trabalho, que mais interessa para a conveniente terapêutica a instituir, procu­rando desenvolvê-lo conforme as posses adquiri­das quer pelos meus conhecimentos quer ainda pelo mais que li sobre o assunto.

Assim, ha «associações de sintomas» qualquer que seja a etiologia, não sendo desta espécie de associações que me ocuparei.

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Ha «associações de órgãos lesados», sendo as lesões dependentes de uma mesma etiologia.

São exemplos disto, os casos qie seguem : etio­logia sifilitica com manifestações em variados ór­gãos; individuo que se alcoolisa e em virtude da sua intoxicação faz um mal de Bright e uma cir­rose ; doente que tem uma gripe e em virtude de ela faz uma pericardite e uma pleuresia; localisa-ções tuberculosas no peritoneu e na pleura, sendo a causa a mesma —o bacilo de Koch — ; um caso de pneumococia loealisada no aparelho respiratório e em que se encontram lesões, nas pleuras e nos brôn­quios, podendo mesmo estas repercussões mórbidas serem encontradas mais longe (meninges e perito­neu) etc.

Também não é desta espécie de associações que me interessam neste momento. O que me vai preo­cupar sobretudo, são as — associações etiológicas — pela muita importância que elas teern na clínica. Há-as muito frequentes:

Sífilis mais Blenorragia Sifilis mais tuberculose Clorose mais tuberculose Sezonismo mais tuberculose Sezonismo mais sifilis.

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Ha ainda outras, mas devemos fixar estas, pois se trata de doenças perfeitamente definidas e vul­gares.

Como associações pouco frequentes, apresentarei : Sifilis mais tripanosomiase Sezonismo mais tripanosomiase

» » filariose « » uncinariose ;

sendo esta ultima associação que com mais relativa frequência aparece em indivíduos vindos do Brazil.

As associações mórbidas de etiologias diferentes, classificaram-se antigamente em dois grandes gru­pos: compatíveis e incompatíveis.

As primeiras—compatíveis—chamavam-se assim, aquelas que se julgavam suscetiveis de se desenvol­ver no mesmo organismo sem que a evolução de uma entravasse ou estorvasse a evolução da outra.

As segundas — incompatíveis — chamavam-se assim quando se dava justamente o contrario, isto é, um doente portador de uma doença oferecia resistência á evolução da outra.

Esta incompatibilidade não é real e o que con­vém estudar é a influencia que um determinado padecimento tem na eclosão e evolução de uma outra doença.

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Assim 6 que, antigamente, o cancro e a tuber­culose eiam considerados como doenças incompati-veie, o mesmo sucedendo á sifilis e á tuberculose, mas de facto esta incompatibilidade não existe; por vezes até os dois processos se podem ajudar, assim como também se podem contrariar.

Aqueles que tiveram a curiosidade de ouvir a conferencia que um professor alemão ultimamente realisou na nossa Faculdade, viram que ele expoz uma tentativa de cura da paralisia geral (cuja causa é a sifilis) por meio da inoculação do sezonismo; a segunda doença curaria a primeira — eis aqui uma incompatibilidade de que a terapêutica se serve»

Porem, este entusiasmo pelo novo método tera­pêutico de curar uma doença com outra doença determinando a realisaçilo de variadas e numerosas experiências, tem como resultado a convicção de muitos clínicos que não aceitam nem reconhecem tal incompatibilidade.

E de facto, os trabalhos de vários centros neu­rológicos dizem que as experiências feitas neste sentido estão destinadas a um insucesso.

O conhecimento das doenças associadas tem muita importância por vários motivos:

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Muitas vezes ó uma doença agida que vem des­peitar um processo latente;

Outras vezes sucede que o quadro clinico de uma determinada doença aparece alterado e anormali-sado em virtude de uma outra doença evolucionar concomitantemente no mesmo terreno orgânico, etc.

Assim, no primeiro caso por mim adiante refe­rido, a doente tinha uma — febre tifóide — perfeita­mente diagnosticada com elementos clínicos e labo­ratoriais; porem, a doença mio se extinguia como é de costume e a doente, quando sahiu, apresentava alteraeSes pulmonares qie faz;am pensar n'uma bacilose.

Que relacSes ha entre estas duas doenças? nem n marcha da evolução clinica nem a temperatura sâo proprias da febre tifóide.

Como nílo referisse antecedentes, eis pois um caso que me leva a concluir que a s-ia febre tifóide veio despertar o processo bac :lar que e:tava latente.

Sob o ponto de vista dos cuidados terapêutico?, também é muito importante o conhecimento d'esta associação, pois que os tifosos depois de curados, apenas repierem cu:dados de higiene; comtudo, esta doente, em virtude dos se is sinais pulmonares, exige uma fiscalisaçlo atenta.

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A segunda doente E. S. tinha também uma febre tifóide perfeitamente diagnosticada com elementos clínicos e laboratoriais.

Apresentava como particularidade, apesar da reação de Wassermann ter sido negativa, elementos que nos autorisaram a considerá-la como sifilitica, como — viveza dos reflexos rotulianos e aquilianos, esboço do clonus do pé, 2.° ruido aórtico vibrante assim como o mitral, ganglios múltiplos, referindo E. S. que ha dois anos, a seguir a um incidente sexual, lhe apareceram manchas pelo corpo, cefa-leias, etc., tendo tudo isto desaparecido com o uso do 9.14.

Ha a acrescentar a todo este cortejo sintomático que não põe duvidas sobre o seu padecimento lué­tico, a aparição de lesõe3 cutâneas no decorrer da sua febre tifóide, que não são nada frequentes, no­meadamente no logar em que as encontrei, pois eram nos membros inferiores. É por isso que «quando n'uma febre tifóide, depois de todos os sintomas terem desaparecido, a temperatura se mantém ou aparece um sintoma novo, devemos pesquizar sem­pre com o máximo cuidado a causa que determina esta anomalia clinica.

Como particularidade direi ainda que a doente

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durante a evolução do mal que determinou o seu internamento, não apresentou prostração e fez com uma facilidade notável um eritema, sob a açâo do gelo podendo atribuir-se este ultimo facto a alte­rações vaso-motoras dependentes do padecimento luético.

A doente que constitue o terceiro caso e que ainda se encontra na sala E. S. da 2.a Clinica Me­dica, tem uma associação que como bem pode dizerwse é de uma extrema frequência nas nossas regiões.

Trata-se de uma sifilitica averiguada e de uma tuberculosa averiguada.

E' importante o conhecimento de esta associa* ção por vários motivos :

1.° relação de semelhança clinica entre as duas

doenças, podendo dizer-se que não ha nenhum sin­toma de tuberculose pulmonar que a sífilis não possa simular, pois que, instaladas no mesmo domi cilio—co organismo —vão habitar umas vezes apo­sentos diversos, outras vezes o mesmo aposento; umas vezes vivem paredes«meias, em boas relações de visinhança, outras formam um hibridismo per­feito, não sendo possível isolá-las pelas suas mani­festações.

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2.° relaçlo de prognostico. 3.° relação de tratamento. Pelo que respeita ao prognostico, a nossa doente

é um exemplo que demonstra o impedimento que a sifilis — em determinadas condições —pode opor a evolução da tuberculose.

N'esta associação ha a considerar dois casos: tuberculoso q'ie se sifilisa e neste caso o doente é prejudicado, pois que a sifilis no seu inicio tem uma evolução aguda que infériorisa o organismo e facilita a evolução da tuberculose;

Sifilitico que se tuberculka e então, como a sifi­lis já entrou no seu periodo crónico e tem grande tendência a constituir e3cleroses, a evolução da tu­berculose é notavelmente dificultada.

N'este segundo caso o doente re3iste e fá-lo tanto milhor, quanto milhor a sua sifilis e3tiver tratada.

E' mesmo bastante frequente, e este é o nosso caso, encontrar-se um tuberculoso cavitario que tam bem é sifilitico, resistindo com facilidade á infeção.

As tuberculoses a que os doentes milhor resis­tem, são as fibrosas e alguns tiberculogi3tas pen­sam que todas as tuberculoses fibrosas são devidas á associação da sifilis quer eita seja adquirida ou herdade. Nos casos em que e^ta a330c'açto apareae,

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é difícil senão impossível, marcar no pulmão o que depende da sífilis e o que depende da tuberculose.

O tratamento deve ser feito paralelamente, re-gulando-se a quantidade do medicamento e o período da sua aplicação em face de cada doente.

E' costume dizer-se que os arsenicais e os ioda­dos estão contra-indicados na tuberculose com ten­dência á hemoptise; ora, doentes se encontram com hemoptises, ern que os arseno-benzoes dâo bem; sâo precisamente os sifliticos.

A quarta doente apresenta uma associaçSo extre­mamente frequente : sífilis mais blenorragia. E' averiguadamente uma sifilitica e, torna-se interes-

' sante por ser portadora de duas etiologias bem cons­tatadas por meio da clinica e do laboratório: pes­quisa do gonococo de Neisser positiva e reaçâo de Wassermann fortemente positiva.

E' interessante também pela multiplicidade das localisações luéticas : nefrite, retite violenta, fígado volumoso cuja hipertrofia se deve também fazer depender da sífilis.

Tem ainda perturbações ou sintomas dependentes da sua sifilis como : segundo ruído aórtico vibrante, endurecimento dos ruidos cardíacos; reflexos tendi-nosos exagerados e cefaleias.

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O que fica pois para o gonocóco? fica a vaginite que a doente apresenta.

Pode ainda constatar-se no caso presente, alte­rações reumatismais e endocardicas, mas umas e outras tanto podem depender da sífilis, como do gonocóco.

Ha porem um facto nitidamente dependente da vaginite blenorragica : crises de temperatura com suores, simulando ataques palustres, Mas a sífilis pode simular ataques palustres (assim como a tuber­culose) ! Ha porem um elemento que me leva a fazer depender estas crises da vaginite e ó o facto de elas terem desaparecido desde que a doente limpou a sua vagina por meio de irrigações antiseticas.

Presentemente esta doente faz de vez em quando febriculas dependentes do seu estado geral que nâo é satisfatório.

O quinto caso é um doente portador de varias doenças.

M. S. O. esteve ha cinco ano3 em Angola, onde apanhou o paludismo ; ora, aa infeçóes palustres não são doenças que desapareçam facilmente do orga­nismo e o paludismo da mossa Africa quando é acentuado, oferece uma particular resistência.

Geralmente os doentes vêem da Africa sem sin-

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tomas aparentes de paludismo, mas este revela-se imediatamente quando eles contraem uma outra doença.

Durante muito tempo, considerou-se o sezonismo como uma doença contrariante da tuberculose ; ora isto não é verdade, não pela natureza propria do seu agente (o hematozoario de Laveran), mas pelo facto de inferiorisar o organismo em que se desen­volve (lesões do baço, sangue, etc.), dispondo-o à tuberculose.

Uma vantagem tem o sezonismo : é que, se fôr convenientemente tratado, como é uma doença esclerosante, dificulta a evolução do processo bacilar.

Ha também no doente sinais de hepatisação que, aliados ao facto de os escarros terem revelado a presença do bacilo de Koch, me levam ao diagnos­tico de bacilose (vid. esq.).

Ha anos contrahiu ainda o doente um cancro venéreo, acompanhado na mesma ocasião de uma forte inflamação da boca com disfagia, tudo isto tendo desaparecido com o uso do xarope de Gibeit. Creio, com a reaçâo de Wassermann duvidosa, estal­em presença, alem dos seus mais dois padecimentos de um sifilitico.

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E por ultimo ura facto que nâo ë muito frequente e neste doente associado a um dos seus padecimentos — a tuberculose à gangrena pulmonar — Quais são as tuberculoses que dão esta associação eom mais frequência? São as tuberculoses em que ha dificuldade na eliminação de produtos de fusão, isto é, nas tuberculoses fibrosas, enfisematosas e bron-quiticas.

Dois factos convém fixar : 1." A independência lesionai das duas doenças. 2.° Nem a tuberculose agrava a gangrena nem

a gangrena agrava a tuberculose. Com respeito ao primeiro facto, é frequente en-

contrar-se gangrenosos em cuja expetoração não se encontra o bacilo de Koch e que á autopsia apre­sentam junto dos focos gangrenosos, numa estreita relação anatómica, focos de tuberculose.

Quanto ao segundo facto, diz-se que em geral os doentes morrem de gangrena, sem que a tubercu­lose se exagere.

O que esta associaçSo apresenta de mais interes­sante é a dificuldade do tratamento ; se a gangrena se desenvolve n'um pulmão tuberculisado ou sifili-tico, a aplicação de quaisquer soros anti-gangreno-sos pode benificiar o doente, mas não impede que

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o processo bacilar ou sifilitico evolucionem sem que os soros lhes imprimam a minima modificação be­néfica.

0 diagnostico de gangrena é garantido pelos sintomas seguintes: expetoraçío abundante que foi possível medir-se, havendo dias, após a sua entrada no hospital, em que a quantidade dos produtos expetorados foi de 300-400 gr. tendo-se ultimamente reduzido a 150, 100 e 90 gr.) e fetidez do hálito.

No presente caso a gangrena devia ter começado por uma bronquite fétida, que apenas difere dela quanto á localisaçSo.

O exame radiológico revelou uma zona que dá som baço á percussão e é ahi que o processo gan-grenoso está localisado.

O sétimo e oitavo casos s8o dois doentes que contraíram cada um a sua pneumonia.

N'um, doente internada na sala do Espirito Santo, a sua pneumonia veio despertar n'ela um processo bacilar, pois que tendo feito uma tempe­ratura irregular e também uma crise como é próprio de todos os processos pneumococicos; e, parecendo que tudo acabava, tal nao sucedeu, pois a tosse per­sistiu, oferecendo a doente do mesmo lado aonde teve o processo pncimococico certas alterações suspeitas.

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Assim, na base pulmonar a reabsorção não foi perfeita, não se tendo dado a restauração completa do tecido pulmonar. Independentemente de isto, a doente apresenta sinais na região do vértice que me fazem suspeitar de uma tuberculose em inicio (vid. esq).

Podemos pois pensar que o seu processo pneu-mococíco veio despertar um processo bacilar la­tente.

Quais são pois os elementos que nos permitem fazer o diagnostico de uma tuberculose post-pneu-monica?

Como esta associação é vulgar, convém saber que o doente em regra começa por ser um tuber­culoso ganglionar ou mediastinico.

Os elementos de diagnostico são os antecedentes pessoais (perturbações ganglionares ou mediastini-cas), o facto do processo pneumococico não sé extin­guir por completo, os sinais dos vertices, (é o caso da doente) a presença de uma adenopatia traqueo-bronquica, a chamada febre metã-pneumonica que consiste no aparecimento de febriculas de vez em quando, apesar de a doença já ter acabado.

No outro, doente internado na enfermaria de homens, ó um avariado tendo contraído recente-

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mente o cancro venéreo com reaçSo de Wasser-mann fortemente positiva.

Adoeceu este doente com um padecimento que muito bem se podia atribuir á sifilis; congestão da base pulmonar, constituindo aquilo que os médicos brasileiros chamam — basite,

Poiem, esta—basite—oferecia todas as particu­laridades de uma pneumócoccia : subida brusca da curva térmica, evolução alta e queda brusca em crise.

No entanto, o seu processo não se extinguiu pois que a temperatura não se estabilisou, aparecendo a curva irregularisada; esta ultima circunstancia deve atribuir-se á sifilis, considerando isto como um caso de associação.

CAPITULO III

Conclasão

São quatro os factos que melhor devem chamar a atenção do médico a propósito das doenças asso­l a d a s .

l.° A independência lesionai dos dois processos. 2.° O vã& agravamentovdos dois processos em

relação um ao outro. 3.° A importância que teem para a precisão do

diagnostico, pois que muitas vezes nos aparecem doenças que podem confundir-se.

4." A importância que teem para a terapêutica, pois que pelo facto de um padecimento dominar o quadro clinico, não deve excluir-se do tratamento o outro padecimento que ao primeiro se associou.

CAPITULO IV

Apresentação dos doents

*

Sinais adotados nos esqaemas das observações

(Notação adotada em Clinica Medica para a semiótica do aparelho respiratório).

Inspecção

N." de movimentos respiratórios Mr

Palpação

Vibrações vocais : normais V =

aumentadas V-f diminuídas V—

abolidas V c

Percussão

Sonoridade: normal S =

aumentada S4-S — O U H diminuída

S4-S — O U H

abolida So ou

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Auscultação

Ruídos normais Intensidade: normal R—

Aumentada R-|-Diminuida R— Abolida R o

Ritmo—Inspiração intercisa ? Expiração prolongada —)

Timbre : Respiração rude R ou 5 » vaga Rv » soprada Rs 2 granulosa Rgr

Broncofonia Bref

Kuidos anormais Sarridõs: Sibilantes » » »

» I 1

Ron cantes X X x X X X X X X

Crepitantes • • •

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Observação n.° 1

Doente — P. C. Eibeiro ; Idade, 19 anos; Estado, casada ; Profissão domestica.

Entrou em 14 de Outubro de 1925. Sahiu em 30 de Novembro de 1925. Internada na 2.a Clinica Medica, sala de Jesus,

cama 4. Curada da febre tifóide. Diagnostico — Febre tifóide mais tuberculose

pulmonar.

Sintomatologia Sintomas gerais —Febre elevada 89,8. Astenia

pronunciada. Prostração. Sem cefaleias. Pequenos ganglios inguinais, axilares e cervicais.

Aparelho digestivo — Lingua saburrosa e seca. Obstipação ligeira que tem cedido ao uso de cliste-res. Abdomen timpanisádo, mais na fossa iliaca direita. Gargolejo e dôr á pressão no mesmo lado.

Figado e baço normais.

62

Aparelho cardio — vascular — Pulso elevado (116), pequeno e hipotenso. TM = 9,5 Tm = 6 (na humeral direita ao Pachon) e ligeiramente dicroto.

Sem embriocardia. Ruídos cardíacos duros nos focos da base.

Aparelho respiratório—Tosse ligeira com expe-toração mucosa.

Aparelho genito-urinario — Urinas sem albu­mina. Diurese á volta de um litro.

Sistema nervoso — Ligeiro tremulo palpebral, manual e lingual.

Historia da doença—P. C. R. em fins de Setem­bro de 1925 começou a sentir-se mal disposta, com falta de apetite e astenia. Andou assim uma semana, vindo depois febre que a doente diz ter subido gra­dualmente, sem cefaleias.

Como no dia 11 de Outubro tivesse um epistaxis, resolveu então internar-se no hospital.

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Antecedentes pessoais — Teve em criança uma doença grave e prolongada. Ha 6 meses «anemia» que foi tratada com injeções intravenosas ignorando de quê. Abandonou a profissão de gaspiadeira por ser fraca. Foi menstruada aos 16 anos, tendo por vezes menstruos aproximados.

Antecedentes hereditários — O pai faleceu com tuberculose [pulmonar, cerca dos 40 anos. A mãe, viva, sofre do abdomen e do reumatismo. Nunca teve abortos. Dos irmãos, quatro são vivos e saudá­veis, tendo um falecido em criança. O marido é saudável. A doente nunca teve filhos nem abortos-

Evolução da doença — Em 7-XI-925. Ha dias já que a temperatura subiu (vid. gráfico) encontran-do-se a doente mais prostrada e pálida. Lingua leve­mente saburrosa. Tosse ligeira e menos apetite.

A auscultação do aparelho respiratório revelou os sintomas representados no esquema.

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64

Era 11-XI-92Õ. Menos tosse e mais apetite. Expe-toraçSo viscosa cora pontos purulentos.

Era 28-XI-925. Sera tosse nem expetoração. Bom apetite. Apiretica. Suores noturnos de quando em quandc.

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Analises —Em 16-XI-925. Reação de Widal. — positiva

Tificos a li200 Paratíficos A—negativa Paratificos B—negativa

Em 17-X-925. Reação de Wassermann—Negativa.

Diagnostico—P. C. R. fez uma febre tifóide que nao oferece duvidas; temperatura elevada, prostra­ção, ligeira obstipaçlo. ReaçSo de Widal positiva

65

para os bacilos tificos a Ii200; pnlso ligeiramente dicroto.

A doença começou vagarosamente com falta de apetite e astenia ; desta forma, passou a doente uma semana até que os sintomas se acentuaram sendo internada.

Apresentou esta rapariga ainda uma congestão das bases pulmonares, sobretudo á direita.

Desde o principio da sua doença que o que im­pressionava n'esta doente era o aspeto d'ela, a mar­cha da temperatura e ainda a circumstanc:a de por vezes lhe aparecerem suores noturnos.

A curva térmica, depois de se conservar mais ou menos alta, caiu pode dizer-se em lisis; depois tor­nou a elevar-se, dando-se uma recrudescência qie coincidiu com tosse, expetoraçao muco-pirulenta e alterações estetoscopicas precisamente no pulmão direito (em que a doente fizera uma congestão maia intensa). A doente conseguiu sair sem febre aparen­temente, mas apresentava as alterações pulmonares representadas no esquema.

Comtudo, apesar de não aparecer o bacilo de Koch na expetoraçao, as perturbações pulmonaies sâo de molde a fazer-nos suspeitar que a doente de

5

66

que trato tem o lobo superior do pulmão direito bacilieado.

Eis aqui uma doente que, apesar de ter curado a sua febre tifóide, reclama a sua assistência me­dica intensa em virtude do seu pulmão.

Prognostico — Diz F. J. Collet que «le prognos­tic de la fièvre typhoïde doit donc toujours être réservé». Porem, diz ele ainda, este prognostico modifîcon-ae muito desde que se começou a fazer uso da balneaçáo fria cuja mortalidade se reduziu a 2 ou 3 p- 100.

Atualmente, o prognostico pode considerar-se benigno desde que o diagnostico seja cedo feito, a terapêutica convenientemente aplicada e sobretudo a doente não apareça tarde, isto é, quando nenhuma terapêutica lhe sirva de proveito.

Mas, visto que nesta doente a sua febre tifóide veio despertar um processo bacilar latente, deve reservar-se-lhe o seu prognostico, tanto mais que exigindo a febre tifóide depois de curada cuidados de higiene, os seus sinais pulmonares exigem tam­bém uma certa fiscalisaçSo.

Tratamento—O tratamento da febre tifóide con­siste : No repouso ; alimentação láctea ; gelo no ven­tre ; clisteres frios ; adrenalina nos hipotensos (cinco

67

gotas de manhã e cinco á tarde); urotropina como antisetico urinário ; e óleo canforado como tonicar-diaco, e sero-vacina antitifica de Hoechst, sendo aplicadas á doente duas injeçSes, uma de 0,5 c. c. e outra de 0,7 c. c. Fez também uso de um purgante de óleo de ricino na dose de 16 gr.

Para os seus sintomas pulmonares, linhaça e mostarda no peito ; fez uso ainda de duas hóstias de glicerofosfato de cálcio por dia como reminerali-sante e, para a cura completa, descanço, bom ar e boa alimentação, o que lhe deve ser dificil pois pre­cisa de ganhar todos os dias para o seu sustento.

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Observação n ° 2

Doente E. P. da Silva. Idade 24 anos. Estado — solteira. Profissão — serviçal.

Entrou em 3 de Novembro de 1925. Sahiu em 8 de Dezembro de 1925. Internada na 2.a Clinica Medica, Sala de Jesus,

cama 5. — Curada da febre tifóide. Diagnostico — Febre tifóide mais sífilis.

Sintomatologia Sintomas gerais — Estado geral regular. Febre

elevada (38,9). Boa côr da pele e mucosas. Ligeiros suores noturnos. Ganglios inguinais, uns maiores, outros menores. Algumas cicatrizes escuras nos membros inferiores.

Aparelho digestivo — Apetite reduzido. Lingua saburrosa, branca, pouco húmida. Diarreia (quatro dejeções), de fezes fétidas. Dôr ligeira á pressão,

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gargolejo e timpanismo na fossa iliaca direita. Ce­cum e colono ascendente palpáveis assim como o descendente.

Figado e baço de volumes normais. Aparelho cardio-vascalar — Pulso taquicardico

(100), pequeno e sem dicrotismo. TM = 12. Tm 8. I. 0 = 3 (na humeral direita ao Pachon). Ruidos car­díacos duros, mais o segundo que é vibrante, no foco pulmonar e mitral.

Aparelho respiratório — Sem tosse. Expetoração reduzida. Apresentava na parede anterior do tórax e junto do vértice direito a respiração iude e a expiração prolongada. Na parede posterior do tórax e junto do vértice esquerdo a respiração igualmente rude.

Aparelho genito-uriaario — Urinas reduzidas em volume. Sem albumina.

71

Sistema nervoso —Reflexos rotuliahóVmuitÒ- vi­vos assim como os aquilianos se encontravam mais ou menos vivos. Leve clonus do pé bilateral.

Historia da doença — E. P. S. adoeceu em fins de Setembro com cefaleias violentas de predomínio matinal, fastio e suores noturnos. Andou assim cerca de duas semanas, resolvendo então consultar, De-ram-lhe três injeções de cianêto e no dia 20 de Novembro uma injeção de 914. Como após esta inje­ção tivesse tomado leite, atribuo-lhe as pioras que se seguiram : ficou bastante aflita e no dia seguinte febre, tendo desde então sido menos as cefaleias que até aí. Ao mesmo tempo diarreia fétida (quatro dejeçoes). Como não milhorasse, resolveu inter-nar-se.

Antecedentes pessoais — Tem sido saudável. Ha dois anos, após o desfloramento, apareceu-lhe um corrimento vaginal seguido de uma adenite supu-rada, da qual conserva a cicatriz.

Pouco tempo depois, apareceram-lhe manchas vermelhas pelo corpo e cefaleias que desaparece­ram com tratamento mercurial è 914. Queda de cabelo. Menstruada aos 15 anos; esteve de começo amenorreica, aparecertdo-lhe então varizes nos pés e pernas.

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Antecedentes hereditários — Pai saudável, au­sente ha 14 anos, ignorando o seu destino. A m3e, falecida, sofria do estômago e bexiga; nunca teve abortos.

Dos irmãos, dois são saudáveis e os restantes morreram, sendo três em criança, ignorando com quê; uma irmã falecida aos 13 anos de desastre.

Evolução da doença—Em consequência da apli­cação de gelo no abdomen, a doente apresentou pequenas manchas escuras rodeadas de uma pe­quena faixa de congestão.

Em 9-XI — Cianose da face com pequena mancha escura na bochecha esquerda.

Em 11-XI — Milhorou do abdomen, tornando-se as manchas escuras que tinha de côr rosada.

Em 24-XI—Bom estado geral. Obstipada durante quatro dias, dejetando com óleo de ricino.

No abdomen, apresenta, no logar da3 manchas que tendem a desaparecer, uma descamaçSo.

Analises—Em 8-XI-925. Reação de Widal—Positiva.

Para os tificos '/ÕOO Para tificos A V200 Para tificos B '/200

Em 7-XII-925.

73

Reação de Wassermann—Negativa. Diagnostico — E. P. S. fez também uma febre

tifóide diagnosticada com elementos clínicos e labo­ratórios (reação de Widal positiva a Va» P a r a o s

tificos; mas, o seu quadro clinico veio acompanhado de um facto pouco vulgar : o aparecimento de suo­res. E' que E. S. adoeceu em fins de Setembro com cefeleias, fastio e suores, tendo-lhe aparecido ha dois anos manchas escuras pelo corpo e cefaleias que lhe desapareceram com o 914.

Apesar de a reaçSo de Wassermann ter sido nega-tora, ela tem em si sintomas que nos autorisam a considera-la como sifilitica : cicatrizes escuras pelo corpo, viveza dos reflexos rotulianos e aquilianos, esboço do clonus do pé, 2." ruido aórtico vibrante, e ganglios múltiplos.

Eis pois um caso de associação mórbida :

Sifilis mais febre tifóide.

Prognostico — Pode considerar-se como o ante­rior no que diz respeito á sua febre tifóide e, quanto á sifilis o tratamento lhe fará mais tarde, bom ou mau prognostico.

Tratamento — Da sua febre tifóide o mesmo que

o anterior e da sifilis, sSo tantos os medicamentos que existem no mercado para a combater, que pre­cisando a doente de tratar-se, de qualquer um pode fazer uso, que na enfermaria o instituído foi o ben-zoato de mercúrio (dez injeçoes) e o iodeto de potás­sio na dose de duas colheres de sopa por dia.

Observação n.n 3

Doente. M. J. A. de Freitas. Idade, 23 anos. Es­tado, solteira. Profissão, domestica.

Entrou em 'A8 de Outubro de l92õ. Saiu em 22 de Fevereiro de 1926. Internada na 2.a Clinica Medica, sala Espirito

Santo, cama 8. Resultado — Melhorada. Diagnostico — Sífilis mais tuberculose pulmonar.

Sintomatologia Sintomas gerais—Cicatrises acobreadas nas

pernas. Prurido nos membros inferiores quando sua. Sem temperatura febril. Fadiga fácil. Suores notur-nos. Palidez dos tegumentos e das mucosas. Gan-glios inguinais suspeitos. Menstruações muito desco­radas e pouco abundantes desde ha três anos.

Aparelho digestivo — Diz ter apetite. Língua

76

esbranquiçada. Obstipada desde criança, mas a obs­tipação sendo mais acentuada nos últimos 5 mezes, passando-se ás vezes quatro dias sem dejetar. Fezes em scibalas.

Aparelho respiratório — Tosse frequente com abundante expetoraçao muco-purulenta. O exame do seu aparelho respiratório que ó rico em sintomas, oferecem-no os esquemas abaixo:

Aparelho cardio-vascular — Não se nota o cho­que da ponta. Centro de pulsações visíveis nos qua­tro centímetros internos do 2.° espaço intercostal direito. Neste espaço, junto da linha esternal no-ta-se á palpação as vibrações das sigmoideias aórti­cas— não ha frémito. Euidos mitrais e tricuspidos ensurdecidos. Sopro diastolico curto, mas rude no foco aórtico ; este sopro não parece permanente.

As tensões ao Pachon nas duas humerais foram

77

para a humeral direita TM = 10 Tm = 7 I. O. = 5 para a humeral esquerda TM = 10 Tm = 7 I. 0 . = 4. Pulso (98).

Sistema nervoso — Desigualdade pupilar (a di­reita um pouco menos) Reflexos pupilares iguais.

Reflexos rotulianos vivos assim como os aquilia-nos. Tremulo epileptoide do pé direito e leve esboço do esquerdo. Leve esboço da dança da rótula. Ba-binsky esboçado dos dois lados. Não ha Gordon nem Openheim.

Historia da doença—M. T. Começou a sentir desde ha oito meses, dores na metade direita do tórax e ha cinco meses apareceu-lhe temperatura febril, amorexia, vómitos (durante três meses) tosse com expetoraçâo e suores muito abundantes. Melho­rou da tosse com um xarope que tomou

Tem tido apetite desde ha três meses, e menos suores desde ha dois meses.

Antecedentes pessoais—Fraca desde criança. Furunculose aos nove anos. Reumatismo ha dois anos, que diz a doeute desapareceu com injecções de mercúrio e 914. Menstruada aos 15 anos, sendo as menstruações muito descoradas e pouco abun­dantes desde ha três anos. Teve dois abortos e uma filha que faleceu aos quatro anos com coqueluche.

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Antecedentes hereditários—O pai é um sifili-tico que tem feito tratamento. A mãe faleceu do parto. Teve quatro filhos, dos quais dois faleceram em criança. Dos outros dois, uma irmã teve a va­riola aos quatorze anos, ficando com um joelho anqui-losado, o outro irmão é saudável. A doente ignora se a mãe teve abortos.

Evolução da doença —Em 8-XII"925 — Dores difusas sem localisação. Anorexia. Dores com os movimentos no joelho direito. Dôr á pressão nas bolsas retro-rotulianas e da região da cabeça do pe-roneo.

Em 7-XII-925—Quasi não existem dores à pressão no joelho direito. Obstipação. Cefale'as vesperais. Astenia com cansaço aos menores movimentos. Tosse

3

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79

com expetoração muito abundantes. Aumento dos movimentos respiratórios (34).

Fosseta infra­clavicular retraída. PulsaçSes bem visíveis e palpáveis no 2." espaço intercostal a cerca de õ centímetros de bordo do esterno, O segundo ruido aórtico ouve­se melhor neste ponto que na sede normal. O pulso é de 96 nesta data. Já se não ouve sopro cardíaco algum.

Em 24­XII­925. Tem­se queixado um pouco mais da tosse que tinha diminuído nos dois últimos dias e acusa a existência de dores, embora poueo internas no hemitorax esquerdo.

Em 28­1­926.

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80

'. Analises —:Em [ 30­X­925. Reacção do Wassermann. Fortemente positiva.

H:â Em'6­XI­925. ; : , ; :? ­ . ­ ' ■ s ". ­• Exame radioscopio. Obscurecimento do pulmão direito em toda a al­

tura, não iluminando o seio costo­diafragmatico. Vértice claro.. Retração do hemitòrax direito. Aorta repudiada para a direita. ... 4..J h . Eni 27­X­925; Á ■ V , : ■}. :'> ,.>,;. :.'. *

Exame do escarro : . L U.Û . Presença de bacilos de Koch com preparações

coradas pelo método de Ziehl­Nelsen. Diagnostico — M. I. A. F. Tem uma associação

das mais frequentes : sífilis mais tuberculose pul­

monar. Entrou com suores, palidez, astenia, menstrua­

ções irregulares.

81

Se repararmos na curva da temperatura, verifi-ca-se que está irregularisada e dum modo geral pode dizer-se que todas as associações teem a par­ticularidade de irregularisar a temperatura.

Apresenta a doente pertubações em variados aparelhos. Se atendermos ás alterações pleuro-pul-monares (tosse expetoração e esquema pulmonar) verifica-se que a doente se encontra no 3.° grau da classificação de Turban.

A confirmar a sua tuberculose, temos ainda a positividade da analise dos escarros que revelou numerosos bacilos de Koch.

Como alterações cardio-vasculares : vibração in­tensa das sigmoideias e sopro diastolico no foco aórtico.

Para a sifilis temos: como sinais nervosos: viveza dos reflexos, desigualdade pupilar, Babinsky e dança dá rotula e outros sintomas como: cicatrizes aco­breadas nas pernas, ganglios inguinais e abortos.

Mas nem era preciso tanto, pois que a reacção de Wassermann foi fortemente positiva.

Prognostico —Que influencia tem esta simbiose no prognostico e evolução?

Sob o prognostico dos sifili-tuberculosos deve aceitar-se como verdade a opinião de Landouzy

*

82

quando diz que a pior associação mórbida que co­nhece é a da tuberculose com a sífilis que se inicia ? Deve também ter-se como certo o que Luiz Renon disse nas conferencias realisadas em Paris em 1906, que a tuberculose nos sifilitieos segue sempre uma marcha aguda e fatal?

Na minha humilde opinião creio que não. O pes­simismo de estes autores deve ser motivado pelo facto de terem tido a infelicidade de encontrar doentes cuja tuberculose estava já em estado avan­çado ou seguia uma marcha aguda.

Como já expliquei atraz no prognostico de esta simbiose, dois casos ha a observar : ou é um tuber­culoso que se sifilisa ou um sifilitico que se tuber culisa, encontrando-se a doente nesta segunda hipó­tese.

Diz E. Sergent que « l'avenir du syphilitique que se tuberculise de même que l'avenir du tuburculose qui contracte la syphilis dependent de trois condi­tions essentielles:

1.° As circunstancias etiológicas e patogenicas que envolvem as origens da associação mórbida.

2.° O grau de virulência de cada uma das duas infecções.

3.° A terapêutica posta em pratica, pois, sendo

83

a doente uma sifilitica que se tuberculisou, o seu prognostico, embora aparentemente favorável pela boa aparência que apresenta, e pelo aumento de peso que tem acusado na enfermaria, deve contudo ser reservado pelo estado adiantado das suas lesões pul­monares.

Tratamento — Fez como tratamento e com certo proveito, injeções de benzoato de mercúrio a 0,01 por centímetro cubico e 914. Tintura de beladona na dose de XX gotas por dia. Porção de dionina na dose de 3 colheres de sopa por dia. Alcool canfo­rado em fricções no joelho. Parece que com este tratamento o seu estado geral tem melhorado. Como tratamento geral, boa alimentação boa higiene e bom ar.

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Observação n.° 4

Doente: M. A. Vieira. Idade 23 anos. Estado — solteira. Profissão — domestica.

Entrou em 81 de Julho de 1925. Saiu em 5 de Março de 1926. Internada na 2." Clinica Medica, Sala Espirito

Santo, cama 3. Resultado : mesmo estado. Diagnostico — Sifilis mais gonococcia.

Sintomatologia Sintomas gerais — Apirexia. Suores noturnos.

Ganglios inguinais e axilares. Sem tosse. Expetora-çâo. Cicatrizes escuras nas pernas. Sifilides maculo-papulosas pelo corpo.

Aparelho digestivo—Apetite. Retro-faringe con­gestionada. Dejeções diárias; diz que nao pode de-jetar se as feses forem duras e que ha incontinência se forem moles; tendo ficado assim após uma opera-

86

ção que fez. Supuração retal abundante. Figado aumentado de volume á percussão.

Aparelho respiratório — Sem tosse. Alguma expetoraçao. Encontra-se á auscdtaç3o apenas uma ligeira rudeza respiratória á esquerda.

Aparelho cardio-vascular— Pulso normal, pe­queno. As tensões ao Pachon na humeral direita TM=11. Tm=7,5. I. O.=3. Euidos cardíacos duros e o segundo ruído aórtico vibrante. Ligeiro sopro sistolico nos focos da base.

Aparelho genito-urinario — Urmas com albu­mina. Diurese normal.

Sistema nervoso — Cefaleias vesperais e notur-nas. Reflexos rotulianos e aquilianos muito vivos e mais ou menos exagerado o Romberg.

Historia da doença—M. A. V. Adoeceu ha cerca de mês e meio com dores e tumefaçâo no joelho direito. Pouco depois dores no joelho esquerdo e nas articulações dos pés de ambos os lados. Ha cerca de um mês que tem tido cefaleias vesperais intensas.

Antecedentes pessoais—Ra oito anos teve uma artrite supurada do joelho direito e corrimento va­ginal com disuria. Cefaleias vesperais desde ou ha cerca de oito anos. Ha cerca de ano e meio teve

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uma retite da qual foi operada neste hospital tendo então feito tratamento anti-sifilitico. Queda de ca­belo. Menstruada aoa 16 anos. Ha quatro anos um período de amenorreia que durou dois anos.

Antecedentes hereditários — O pai faleceu de desastre tendo tido durante muitos anos uma ferida numa perna. A mãe faleceu por suicídio; teve um aborto. Tem uma irmã viva e saudável. A mãe vi­veu seis anos com um sifilitico segundo conta a doente por lh'o terem dito.

Evolução da doença.

Em 19-X-925: Edema dos grandes e pequenos lábios. Corri­

mento vaginal. Aperto retal acentuado. Dôr violenta no reto quando dejeta feses duras,

Em 22-X-925 : « Apenas uma gota de pús na vagina. Supuração

retal abundante. O exame do pús vaginal revelou a existência do

gonococo de Neisser. Em 24-X-925: Iniciou as irrigações vaginais de permanganato

de potássio e desde então teve crises febris.

88

Em 5­XII­92Õ : Depois de três injeçoes de benzoato do mercúrio

a 0,01, a doente fez grandes edemas moles dos membros inferiores e das pálpebras, baixa ligeira­

mente a diurese, sente fortes cef&leias e dores vio­

lentas á palpação na regiSo hepática. Essas dores prolongaram­se, mas atenuaram­se com a suspen­

são do benzoato. ■ ■ ­ • Em. 7­X11­925: : Os edemas diminuíram, as cefalelas nSo existem

e as dores á palpação do figado sSo menos intensas se bem que ainda existam ,' . ­

Do que se encontra melhor é da retite quer no que diz respeito ás dores, quer do corrimento.

Em 25­XII­925: ".'■ . ' Dificuldade de movimentos no membro superior

direito. , .. . . . • »■

Analises Analise de urinas — Em 26­X1­925 : Doente M. A. V. Idade 23 anos. Peso, 48,1 Kgr.

Altura, l,51m. Volume 1500 Côr . Amarelo pálido

89

Aspecto Levemente turvo Deposito Pequeno Cheiro Normal Consistência Fluida Reação . Acida Densidade a l5.° 1,0099 Elementos orgânicos 15,045 22,507

» minerais 4,755 7,182 Total das matérias dissolvidas i9,eoo 29,693 Acidez total 0,200 0,399 Ureia 0,005 - 9,907 Acido úrico 0,203 0,303 Acido fosfórico 0,180 0,270 Cloreto de sódio 8,217 4,825 Urobilins 0,070 0,105 Albumina 9,519 14,278 Glucose Nulos Pigmentos biliares Nulos Ácidos biliares Nulos Indican Pouco ab andante

Exame microscópico. Células das vias genito-urinarias; abundantes piocitos; raros cilindros ha-linos.

Coeficiente úrico = 8 (normal 2,9) » ureico. . . =43 ,8 (normal 70,4)

90

Coeficienteurologico relat ivo= 52 (diminuído) Era 18-XII-925: Ureia por litro de sangue 0,758. CONCLUSÕES:

Manifesta albuminaria Hipoazotenia com relativa uricúria Indicanuria. Desnutrição geral. Baixa dos cloretos. Hipofósfaturia.

Era 8-VI1I-925 : Reação Wassermann — fortemente positiva.

Em 8-X-925 : Hematozoario de Laveran —Negativa.

Em 22-X-925 : Gonococo de Neisser—Positivo.

Em 22-XI-925: Prova da hemoclasia digestiva.

Antes da ingestão do leite TM=12 T m = 8 I 0 = 2 . Lencocitos por mm3 16500.

£0 minutos depois do leite TM==ll,5Tm==8I0—2. Lencocitos por mm3 14200.

1 hora depois do leite TM=10,5 Tm=7 I 0 = 1 , 5 . Lencocitos por mm3 18200. Conclusão: levemente positiva.

A numeração dos leucócitos, por causa da imper­feição de técnica empregada, não nos serve para

91

avaliar da lencopoie3e da doente, mantendo no en­

tanto todo o valor para avaliação desta prova. Nota. — As tensões foram medidas ao Pachon na

humeral direita. Prova da glicosuria alimentar—Antes da

prova, não ha vestígios de redução do Fheling. . Em 19.

7 h. redução nitida com deposito pouco abundante, g h. » » » ï menos abundante

que as 7. 9 h. » » » » mais abundante

que ás 7. 10 h. » » » » idêntico ao das

8 horas. H h. » » » !> idêntico ao das

9 horas. H h. » » » f mais intenso que

o das 11 horas. 12 h. redução nitida com o máximo do deposito

da prova. 14 h. » 3 » deposito um pouco me­

nos intenso. 15 h. » » » deposito idêntico ao

das 11 horas. 16 h » » » ■ deposito um pouco me­

nor que o das 12 h.

¥1

Conclusão: Prova de Colrat — posith/a franca com intermitencias na eliminação da glicose.

Diagnostico — M. A. V. é uma sífilitica com elementos clínicos e laboratoriais perfeitamente diagnosticados. Dos elementos clínicos temos : cefa-leias; queda do cabelo, ganglios inguiais e axilares; e cicatrizes escuras nas pernas; sifilides; maculo-papulosas pelo corpo ; fígado aumentado de volume; 2.° ruiclo aórtico vibrante; endurecimento dos ruidos cardíacos ; reflexos tendinosos exagerados. Retite e nefrite. Reaçío Wassermann fortemente positiva.

E ainda uma gonococica com o gonococo de Neis-ser positivo, no pús vaginal e a existência de uma vaginite.

Apresenta crises de tempei atura com suores que da sua gonococcia elevem depender, pois que tendo limpado a sua vagina por meio de irrigações antiseticas, a temperatura baixou, aparecendo-lhe de vez em quando febriculas estas talvez dependen­tes do seu estado geral que não é nada satisfatório.

Prognostico — Das variadas complicações que as suas doenças lhe teem motivado e sobretudo da sifilis, o prognostico de esta doente deve ser reser­vado por o seu estado geral ser precário e os seus emunctorios não funcionarem bem, pois na evolução

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93

da sua doença, tendo feito uso de três injecções de benzoato de mercúrio a 0,01, fez grandes e edemas dos membros inferiores, abaixamento rápido da sua diurese cefaleias e dores violentas á palpação na região hepática.

Tratamento — Fez uso como tratamento antisi-filito do cianeto do mercúrio na dose 0,01 por c. c. do iodeto de potássio ás colheres de sopa e do sul-farsenolna dose de 0,12, 0,18, 0,24 por c. c. e ainda do benzoato cujos resultados não foram satisfatórios para este medicamento, como no prognostico, fiz referencias. Para a sua vaginite. gonococica, fez uso de irrigações vaginais de permanganato de po­tássio, cujas melhoras se fizeram sentir imediata­mente, não só dos seus sintomas vaginais, mas ainda da sua temperatura.

Desde que se encontra na enfermaria, do que tem melhorado muito é da retite quer no que diz respeito á3 dores, quer do corrimento.

Quanto ao regimen, o lácteo e hipoazotado pare-cem-me os melhores por causa da sua nefrite.

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Observação n.° 5

Doente: M. S. Oliveira. Idade 42 anos; Estado — Casado. Profissão — guarda-florestal.

Entrou em 10 de Novembro de 1925. Sahiu em 5 de Janeiro de 1926. Internado na 2.a Clinica Medica, sala de homens

cama 6. Diagnostico — Sifilis mais Tuberculose pulmonar,

Gangrena pulmonar, Paludismo.

Sintomatologia Sintomas gerais — Emagrecimento. Leve palidez

da face. N&o tem suores. Ligeiras temperaturas á tarde.

Aparelho digestivo — Apetite. Digestões normais. Figado e baço de volumes normais.

Aparelho cardio-vascular — Pulso levemente taqui-cardiaco (80). T M = 12,5 Tm = 8. Euidos car­díacos normais.

96

Aparelho respiratório — Tosse seca frequente durante a noite; de dia a tosse é menos seca. Pela manhã a expetoração é muito abundante, quasi em vomica, precisando o doente de se inclinar sobre o lado direito para ela sair facilmente. Nota-se ás ve­zes uma ligeira fetidez do hálito quando tosse.

Historia da doença—M. S. 0 . , ha cerca de 2 anos deitou pela boca durante dois dias um liquido ama­relado, abundante, com tosse. Nos meses seguintes, ficou com tosse e expetoração abundante, de côr amarelada; de vez em quando, curvando-se, o li­quido, côr de gema de ovo, saia em pequenas gol­fadas.

Desde Janeiro de 1925 que a tosse e a expetora­ção aumentaram, ficando de cama até Junho, com fastio e suores. De então para cá, é ao levantar-se

97

que expetora abundantemente, quasi em vómitos pouco expetorando no resto do dia.

Antecedentes pessoais—Sarampo em criança. Aos 12 anos teve uma doença febril, com pontada e golfadas de sangue (pneumonia). <-;

Aos 27 anos, cancre venéreo e uma adenite su­perada á esquerda.

Aos 80 anos, cancro venéreo ná glande, acompa­nhado de inflamação da boca e disfagia, melhorando com o xarope de Gibert.

Ha 5 anos esteve em Angola, contribuindo lá o paludismo.

Antecedentes familiares — O pai faleceu, nao sabendo de que doença. A mãe é saudável; teve 8 filhos, um dos quais faleceu em criança.

Um irmão do doente sofre dos olhos (dacriocis-tite). Tem 4 filhos saudáveis.

finalises

Em 14-XI-925: - Reação de Wassermann — Duvidosa.

Em 19-XI-925: Exame bacteriológico da escarro.

98

Raros bacilos de Koch; alguns pneumobaci-los e cocos brancos.

Em 18-XI-925: Exame radiológico (gabinete de Eletrora-

diumterapia).

i^/í-Zi-ni

Em 12-XII-925": Exame bactereologico do escarro. Revelou numerosos bacilos de Koch.

Diagnostico —M. S. O. é um doente portador de varias doenças. Nos seus antecedentes pessoais conta o doente que esteve em Angola onde apanhou o paludismo.

Teve ha anos um cancro venéreo e nessa mesma ocasião uma forte inflamação da boca com disfagia que demparecju com o uso do xarope de Gibert. Feita a analise do sangue, a reação de Wassermann foi duvidosa. "

99

Mais tarde, apareceu-lhe tosse, expetoração pu­rulenta muito abundante e fastio. Foi possível medir a quantidade dos produtos expetoradós que eram de 300 a 400 gramas por dia (vid. gráfico); ultima­mente esta. quantidade reduziu-se (150, lOO'e 90 gra­mas). Entrou para a enfermaria com temperaturas febris, palidez e hálito fétido. Até aqui, está-se em presença ou na posse segura de três etiologias : se-zonismo, sifilis e gangrena pulmonar.

No presente caso, a gangrena devia ter come--çado por uma bronquite fétida, que apenas difere-dela quanto á localisaçao.

Mas este doente nãó apresenta apenas estes fenó­menos' pulmonares somente; ha também sinais de hepatisaçao que aliados ao facto de os escarros terem revelado a presença de bacilos de Koch nós-levam ao diagnostico de bacilose (vid. esquema pul­monar).

No exame radiológico resultou o seguinte es­quema (vid. exame radiológico).

Na base esquerda ha uma zona que dá som baço á percussão e é aí que o processo gangrenoso está localisado.

Consegue-se portanto aparar neste doente q atro

100

etilogias: sezonismo— sífilis — gangrena pulmonar — e tuberculose pulmonar.

Prognósticos — Apesar de ter saído com bom aspeto, e apesar dos produtos expetorados terem diminuído, o seu prognostico deve ser reservado por dois motivos :

3.° — A sua profissão, pois é guarda-florestal. 2.° — As suas lesôe3 pulmonares que embora não

estejam adiantadas, tem comtudo que submeter-se a um tratamento que com certeza não pode ter pelo motivo de ter de ganhar todos os dias para si e os seu3.

É natural que sendo um sifilitico, venha a melhorar dos seus padeicmentos pulmonares o que não foi fácil observar na enfermaria, pois pouco tratamento anti-sifilitico fez.

Tratamento — Fez a quando da sua entrada inje-çSes de gomenol composto e, pouco tempo depois injeçôes semanais de 914, cuja serie não tomou por completo em virtude de ter pedido alta.

Comtudo, apesar do pouco tratamento instituído, a temperatura tornou-se normal, a expetoraçâo di­minuiu, a diurese tem andando á volta do normal e o seu peso também tem aumentado.

Nome dû inente /ttx<3k~^.ív^.S«^­jS?L.

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Observação n. 6

Doente: A. L. da Silva. Idade, 38 anos; Estado, casado ; Profissão, criado.

Entrou em 7 de Outubro de 1925. Saiu em 8 de Dezembro de 1925. Internado na 2." Clinica Medica, sala de homens,

cama, 12. Resultado — Melhorado. Diagnostico — Sifilis hepática mais paludismo.

Sintomatologia

Sintomas gerais — Emagrecimento (perdeu nove quilos em dois anos). Palidez da face. Mucosas ane-miadas. Astenia. Ganglios inguinais volumosos e indolores.

Aparelho digestivo — Anorexia. Sede. Gengi­vas tumefactas e sangrando com facilidade. Lingua levemente saburrosa. Afrontamento com os alimen-

102

tos. Digestões lentas. Borborismos intestinais. Uma dejeção diarreica de feses duras e secas.

Não tem dores abdominais expontâneas ou á palpação. Abdomen abaulado.

Timpanismo no espaço de Traube. Figado enorme ou aumentado de volume, me­

dindo, a macissez na linha mamilar direita 24 cen­tímetros (Vid. esq.). O baço nao se encontra aumen­tado. ' , '

Aparelho cardio-vascular. — Pulso (7(3), pe­queno. TM. = 18. Tm. 8 t 0 = 6. Ruídos cardíacos atenuados, principalmente na base. Choque da ponta no 4.° espaço intercostal, ao nivel do mamilo. Ru­deza do 1.° ruido mitral.

Aparelho respiratório —mo tosse. A auscul-

103

taçâo do aparelho respiratório, revelou os sinais do esquema.

Fez-se uma punção exploradora no hemitorax direito que foi negativa.

Aparelho genito-urinario.— Urinas sem albu* mina. Diurese á volta do normal.

Sistema nervoso. — Reflexos tendinosos normais. Não apresenta perturbações da sensibilidade.

Historia da doença. —A. L. S. aos 28 anos era soldado da marinha. Esteve alguns meses em Cabo Verde, contraindo ahi a sifilis e o paludismo com acessos febris durando cerca de duas horas.

Ha oito anos teve fortes cefaleias e dores ósseas que milhoraram com xarope de Gibert.

Esteve depois seis anos sem tratamento especi­fico. Desde ha sete anos é empregado na capitania do Porto (serviço de limpêsa). Desde ha dois anos

104

que começou a emagrecer, a perder as forças e a côr e a ter fastio.

As digestões tornaram-se difíceis e ás vezes vo­mitava; sentia calor no ventre e sede. Fez então dois pequenos tratamentos pelo xarope de Gtbert e cianeto de mercúrio sem proveito.

Antecedentes pessoais. — Sarampo em criança. Aos 10 anos uma adenite na virilha esquerda. Aos 22, uma blenorragia que curou. Aos i8anos, cancro venéreo acompanhado de adenite inguinal esquerda supurada ; pouco depois roseola na face, tronco e membros inferiores.

A reaçflo Wa. foi entfio positiva, fazendo injeçóes de cianeto de mercúrio.

Antecedentes hereditários- Os pais já falece­ram, não sabendo de que doença. A esposa teve três filhos e dois abortos; faleceu um dos filhos em 1918 com a gripe. Os outros dois são saudáveis.

Analises Analise de urinas — Em 19-X-925. Doente A. L. S. Idade 38 anos. Pe3o 52 kgr. Al­

tura 1,60.

105

Volume de 24 horas 1300 Côr Amarelo-pálido Aspeto Levemente turvo Deposito Pequeno Cheiro Normal Consistência Fluida Reação Acida Densidade a 15.° 1,0109 Elementos orgânicos 15,285 19,870 Elementos minerais 0,715 8,729 Total das matérias dissolvida 22,000 28,599 Acidez total 0,621 0,807 Ureia 11,832 15,381 Acido úrico 0,336 0,436 Acido fosfórico 0,410 0,533 Cloreto de sódio 4,387 6,703 Urobilins 0,090 0,117 Albumina Vestígios muito leves Glicose Nula Pigmentos biliares Nulos Indicam Pouco abundante

Exame microscópico. Células das vias urinarias; raros leucócitos.

Relações urológicas : Coeficiente úrico 2,8 (normal 2,9/

106

Coeficienie ureico 77,4 » 70,4) Desmineralisação 30,5 Fosfo-urica 3,4

Conclusões; Hiproazoturia com aumento da rela­ção ureica.

Em 10-X-925. Reação de Wassei^mann — fortemente positiva. Em 14-X-925. Analise de sangue.

Hemoglobina 51 % Linfocitos 17,0 % Glóbulos rubros 3:000000 Grandes e médios Glóbulos brancos 9400 Monouucleares 8,0 °/„ Valor globular 0,85 Neutrófilos 73,1 % Relação gl. br. 1 Eosinofilos 1,9 °/0

» gl. rub. 319 Basófilos — Em 30-X-925. Prova do azul de metileno (Yid. gráfico). Em 30-X-925. Prova da glicosuria alimentar — Positiva (duas

horas depois da ingestão do xarope de glucose apa" recou assucar na urina que persistiu até ao fim da prova).

Diagnostico A. L. S. entrou para a enfermaria magro, astenico e pálido. O exame do sangue revê-

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107

lou uma diminuição da percentagem de hemoglo­bina (51 7„) e do numero de glóbulos rubros (8000000). Apresenta-se atualmente apirético, anorexico e de figado volumoso; a despeito do aumento, estefigado está insuficiente.

Como narra na historia da doença, contrahiu ha dez anos em Cabo Verde o sezonismo e, durante a sua estada lá adquiriu ainda a sífilis, seguindo-se ao contagio o aparecimento de roseolas com a rea-ção de Wa. fortemente positiva que a analise reve­lou. Posteriormente tem tido cefaleias, dores ósseas etc., tendo feito o tratamento com sucesso.

Eis pois um doente, ao qual se conseguiu apurar duas etiologias : sifilis mais sezonismo.

Prognostico — Pode considerar-se benigno desde que continue com o tratamento e este tendo de o fazer com cuidado.

Tratamento —Fez na enfermaria uso de inje-ções de cacodilato de sódio, de benzoato de mercú­rio 0,01 por c. c. iodeto de potássio e injecções de mútanol.

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Observação n." 7

Doente : C. C. de Castro. Idade 12 anos. Estado — solteira. Profissão — domestica.

Entrada em 25 de Novembro de 1925. Saída em 18 de Janeiro de 1926. Internada na 2 / Clinica Medica, sala Espirito

Santo, cama 9. Resultado : Curada da pneumonia. Diagnostico — Pneumonia mais Tuberculose pul­

monar.

Sintomatologia Sintomas gerais — Estado de nutrição razoável.

Olhos injetados e brilhantes. Intenso rubor da face á direita. Sensação de calor mais acentuado á tarde. Pele seca e quente embora acusasse ao interroga­tório suores. Cefalalgias. Dores difusas pelo corpo sem localisaçâo precisa e pouco intensas. Tosse ligeira sem expetoraçâo Micropoliadenia generali-

110

eada de ganglios desiguais. Temperatura axilar ele­vada (38,7).

Aparelho digestivo — Apetite conservado. Sede intensa. Lingua humina e muito ligeiramente sabur-rosa. Ventre um pouco abaulado com a parede pouco depressivel á palpação que é indolor qualquer que seja a região palpada. Fígado e baço impalpáveis com as areas de macissez normais. Seis dejeçSes diarreicas por dia de feses fétidas.

Aparelho respiratório — Apresenta no hemito-rax esquerdo a pele descamante por causa de uma

cataplasma sinapisada que lhe colocaram na casa em que vive. Polipneia, com movimentos respirató­rios pouco amplos. M.=42.

* ... . r V /

I l l

Aparelho cardio-vascular — Yulso rítmico, ta* qui-cardico e regularmente amplo. Tensões ao Pachon e na humeral direita TM = 9,5 Tm = 6 j o . = l , 5 . P.=112. Ruidos cardíacos bem batidos. Um pouco de eretismo cardíaco.

Aparelho genito-urinario — Urinas de côr um pouco carregada: amarelo-laranja. Diurese abun­dante (1700 c. c ) . Não ha vestígios de albumina.

Historia da doença—C. C. C. adoeceu quasi de repente, á noite, com dores pelo corpo, cabeça e edemados membros inferiores. Sentiu desde então muita sede, calor e dores de cabeça, desaparecendo dois dias depois de os edemas.

Antecedentes pessoais—Como doenças anterio­res citou uma infeção aguda ha cerca de três anos a seguir á qual esteve durante «muito tempo» inter­nada no hospital da Junta Geral do Distrito.

Passado tempo, teve uma doença dos olhos de que ainda hoje apresenta vestígios: visão insdistinta. com o olho direito; mancha branca da comeia direita sobre a pupila, restos de blefarite. Frequen­temente apresenta feridas pelo corpo e quasi cons­tantemente um corrimento vaginal de que não pre­cisa os carateres.

Antecedentes hereditários—Sobre antecedentes

112

hereditários apenas informou que o pai é forte e saudável, tendo duas irmSs também fortes e já mu­lheres. Da mãe nada informa porque nSo a conheceu. Ao contrário do que informa, apura-se que o pai é fraco e sifilitico.

Evolução da doença-Em 29-XI-925. Pele hú­mida. Suores. Tosse com abundante expetoração muco-purulenta e com um ou outro escarro gelati­noso e róseo.

A~~ Íi-XL njr

0 sopro foi mas nitido nos dois últimos dias e a região em que se ouvia mais extensa. Tem tido su­dação abundante.

113

Em 5-XII-925.

A***

Em 12-XII-9Î6.

K*. st^YE-***

114

Em 18-XII-925.

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Era 31-XII-926.

4**. u-m-<i*~

115

Em 7-1-926. Continua a expetoração, magreza palidez e tosse.

Analises Em 27-X1-925: Exame microscópico do escarro. Esfregaço corado pelo Ziehl-Nelsen. Não se encontram bacilos de Koch. Diplococos

lanceolares, corados de azul intenso, muito abun­dantes.

Esfregaço corado pelo Gram. Numerosos diplococos lanceolares, opostos em

cada grupo pelas extremidades mais grossas, to­mando o Gram e notando-se um ou outro grupo encapsulado.

116

Conclusão : e Presença de muitos numerosos pneumococos no escarro.

Em 12-XII-925: Reação de Wassermann—Negativa.

Radioscopia — Em 8-1-926 : Mancha escura, qua i negra, densa, ocupando

toda a metade superior do pulmão direito. Esta mancha é regularmente limitada por um

bordo inferior curvo de convexidade inferior. Má claridade, como aqui e alem, manchas escu­

ras, densas, pequenas no resto do pulmão direito. Abobada diafragmatica direita alta e pouco

movei. Má iluminação do vértice esquerdo com boa

permeabilidade do resto do pulmão deste lado. Diagnostico — C. C. C. entrou para a enferma­

ria com uma sintomatologia propria de uma pneumo­nia: dores pelo corpo, cefaleias, calor, sede, rubor facial direito, tosse sem expetoração, polipneia e na ocasião da entrada a auscultação do aparelho pul­monar revelou a existência de um foco pneumonico como mostra o esquema.

A confirmar o diagnostico de pneumonia vem o exame do escarro que revelou a presença de nume­rosos pneumococos.

117

A doente fez uma temperatura irregular e tam­bém uma crise como é próprio de todos os proces­sos pneumococicos.

Mas parecendo que tudo acabava bem tal não sucedeu, pois a to3ee persistiu oferecendo a doente no mesmo hemitorax direito certas alterações sus­peitas; não só a reabsorção não foi perfeita não se tendo dado a restauração completa do seu tecido pulmonar como apresenta (vid. esquemas pulmona­res) sinais na região do vértice que fazem suspeitar uma tuberculose em inicio.

O exame radioscopico do seu aparelho pulmonar tudo nos veio revelar. Pode-se pois pensar que o processo pneumococio veio despertar um processo bacilar latente.

A reação de Wassermann foi negativa e a pes­quisa dos bacilos de Koch quer pelo método de Ziehl-Nelsen e Qram foi também negativa.

Prognostico —O seu estado geral que nada tem melhorado, faz com que o prognostico desta doente seja reservado e talvez sem provabilidades de me­lhorar.

Tratamento — Mal entrou, fez uso de cataplas­mas sinapisadas na parte inferior do hemitorax esquerdo. Óleo canforado (2 c. c. + 2 c. c. a 10%)

118

como tonicardiaco. Dionina na dose de 0,04 por dia para calmar a tosse. Enfaixamentos de agua tépida (três por dia). Terpinol + benzoato de sódio na dose de 0,10 cada em hóstias e cacodilato de sódio em injeções como o tónico geral.

Nome do doente JíTTU ' ~/<£i^t. £s~&«-«i» <£t C^U^r^rvò. '

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Observação n "8

Doente. J. A. de Oliveira. Idade 24 anos. Estado — solteiro. Profissão — empregado neste hospital.

Adoeceu era 1 de Dezembro de 1925. Internado na 2." Clinica Medica, sala de cama 15.

Curado da pneumonia. Diagnostico — Pneumococcia mais sifilis.

Sintomatologia

Sintomas gerais — Emagrecimento. Palidez As­tenia. Arrepios. Qanglios inguinais volumosos e indolores. Pontada intensa na axila direita, exage-rando-se com a tosse e a respiração funda. Suores abundantes.

Aparelho respiratório — Ligeira tosse, quasi seca. Pontada intensa na axila direita exagerando-se com a tosse e a respiração funda.

Aparelho cardio-vascular—Pulso regular ligei-

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ramente taquicardico (80). T M=13 Tm 8. Ruidos normais.

Historia da doença—3. A. 0. começou ha cerca de um mês a sentir-se fraco e com dores nos joelhos e pernas. Fez então a aplicação de 20 injeções de cianeto de mercúrio, melhorando de todos estes sintomas.

Não tem tido cefaleias nem acidentes cutaneo-mu-cosos de ordem sifilitica.

Antecedentes pessoais — Aos 18 anos teve palu­dismo ligeiro. Aos 20 anos uma adenite supurada. Varias blenorragias. Ha seis meses, contraiu o can­cro venéreo acompanhado de adenopatias inguinais pouco dolorosas, que não chegaram a supurar. Pouco depois dores intensas nas articulações dos membros. Melhorou em alguns dias do cancro e do reumatismo com injeções de cianeto de mercúrio.

Antecedentes hereditários — O pai é saudável.

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A mãè sofre do ventre; teve 11 filhos e ura nado-morto, tendo falecido seis em criança e os restan­tes sendo saudáveis.

Analises

Em 12-XII-9^5: Reação de Wassermann — Fortemente po­

sitiva. Diagnostico — J. A. 0. é um avariado; contraiu

o canco venéreo recentemente com reação de Was­sermann, fortemente positiva.

Adoeceu bruscamente com um padecimento que muito bem se podia atribuir á sifilis : congestão da base, etc. .

Congestão da base pulmonar, constituindo aquilo que os medicos brasileiros chamam basiíe.

Porem esta basite oferece todas as particulari­dades de uma pneumocóccia: pontada intensa na axila direita, arrepios, subida brusca da curva ter-mica, evoluç-to alta e queda brusca em crise; no entanto o processo não se entingiu pois que a tem­peratura não se normalisou, o que pode atribuir-se á sifilis esta circunstancia.

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" Diagnostico — O prognostico deste doente é benigno.

Tratamento—Fez a revulsão do seu hemitorax direito com cataplasmas de linhaça e mostarda e enfaixamentos húmidos. Óleo canforado (4 c. c. por dia e poçío de stricnina na dose de 2 colheres de sopa por dia.

VISTO PODE IMPRIMIR-SE O PRESIDENTE, O DIRECTOR

Tiago de Almeida Alfredo Magalhães

Bibliografia

Lições da Clinica Medica P" f . Tiago de Almeida

Pathologia infesta Col'Bt

Syphilis et Tuberculose Emile Sergent

Tratamento dos sifilo-tuberculosos. . . Tese de A. F. da Silva

Apontamentos da 2.a clinica Medica.