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Chernobyl – O maior acidente nuclear da história

Dossiê Chernobyl

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Chernobyl – O maior acidente nuclear da história

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SumárioChernobyl.....................................................................................................................................3

Radioatividade.............................................................................................................................3

A usina..........................................................................................................................................3

O acidente....................................................................................................................................4

Primeiras ações contra a radiação...............................................................................................6

25 anos depois.............................................................................................................................7

Mitos e fatos................................................................................................................................9

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Chernobyl

A cidade de Chernobyl – seu nome significa grama negra – fica ao norte da Ucrânia,

na divisa com a Bielorrússia, sobre o rio Pripyat. Na época da construção, toda a região

estava integrada à União Soviética. A central nuclear foi construída a vinte quilômetros da

cidade de Chernobyl e a cem da capital da Ucrânia, Kiev. Um complexo que abrigou os

trabalhadores ficava a quatro quilômetros da cidade de Pripyat. Lá quarenta e cinco mil

pessoas estavam abrigadas no momento do acidente.

Radioatividade

A radioatividade foi descoberta em 1896, quando o cientista francês Henri

Becquerel guardou uma amostra de óxido de urânio junto a placas fotográficas. Essas

placas foram escurecidas pela atividade do urânio, mesmo estando cobertas por um

material opaco para proteção. Com isso ele percebeu que estava sendo emitida alguma

radiação pelo urânio, que atravessava o material de proteção. Essa radiação foi estudada

em seguida pelos cientistas e prêmios Nobel Marie Curie e Rutherford. Que descobriram

novos elementos radioativos e outros tipos de radiação. A partir desses estudos descobriu-

se que a radiação é produzida pelo decaimento nuclear, onde o núcleo do átomo sofre uma

decomposição parcial – também conhecida como fissão nuclear.

A criação de todos os elementos químicos, exceto o hidrogênio, é realizada pelo

mudança no núcleo do átomo. Pela fragmentação, chamada de fissão, ou pela junção de

núcleos para formar um núcleo maior conhecida como fusão nuclear.

Diariamente estamos expostos a radiação. Os tipos mais fracos, e , sãoα β

absorvidos e neutralizados pela pele, sendo menos nocivos que a radiação . Esse últimoγ

tipo pode atravessar corpos e edifícios, ionizando moléculas que estão na sua trajetória. As

proteínas e o DNA são danificados por essa radiação e perde sua função, gerando doenças

como o câncer. A radiação pode ainda ser usada para curar doenças.

A usina

A construção da usina começou em 1970 e em 1983 foi inaugurado o quarto

reator. No momento do acidente estavam sendo construídos mais dois reatores que

tiveram suas obras paralisadas três anos após o acidente e em 12 de dezembro de 2000 o

complexo foi fechado definitivamente.

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A usina era formada por reatores dos tipos RBMK – Reator nuclear arrefecido por

água moderado a grafite – e PRW – Reator de água pressurizada – que podiam produzir

1000 megawatts de energia elétrica. Esse último modelo é usado em Angra e precisa ser

construído próximo a reservatórios de água, por isso as usinas são localizadas próximas a

rios ou mares de onde é retirada a água para resfriamento, método criticado por

ambientalistas, pois aumenta a temperatura da água, afetando os ecossistemas da região.

As quatro unidades de Chernobyl eram do tipo RBMK e a planta da usina era

considerada um modelo dentro da União soviética, que tinha planos de extensão.

Esse tipo de reator utiliza urânio-235 como combustível. A reação nuclear de um

grama desse elemento produz aproximadamente 82000000 kJ de energia, valor mais de

um milhão de vezes maior que o produzido pela queima de um grama de metano – gás

usado em algumas termelétricas. Para produzir essa energia os átomos são bombardeados

por nêutrons e quebram-se como esferas de vidro, formando núcleos menores que geram

novos elementos como o bário e o criptônio. Quando esse núcleo é quebrado ele libera

elétrons que passam a atingir novos núcleos, gerando uma reação em cadeia. Nos reatores

usados em Chernobyl essa reação em cadeia era moderada pela utilização de grafite,

reduzindo a velocidade dos nêutrons e permitindo o controle da reação.

Essa reação é altamente exotérmica, produzindo uma temperatura extremamente

elevada, podendo fundir as paredes do reator, que são produzidas com tijolos especiais e

espessas paredes de cimento e chumbo, com mais de um metro de espessura.

O urânio-235 representa apenas 0,7 % das reservas, para se obter energia o urânio

deve ser enriquecido. Esse processo eleva a quantidade de urânio-235 para 3% – nível

usado nos reatores nucleares – e é realizado pela centrifugação de compostos de urânio,

mas esse processo também pode ser usado para gerar material para a produção de

bombas atômicas. Por isso o Irã vem sofrendo retaliações constantes a cada vez que

anuncia o desenvolvimento dessa tecnologia ou a criação de novas usinas de

enriquecimento.

O acidente

Na noite de 25 de abril de 1986 os cientistas que trabalhavam na usina decidiram

realizar um teste para verificar se as turbinas da usina seriam capazes de produzir energia

suficiente para manter as bombas de refrigeração funcionando mesmo com uma queda de

energia, até que os geradores a diesel pudessem entrar em operação. Esse procedimento

manteria o reator resfriado, evitando uma explosão pelo aumento da temperatura.

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Durante a execução desse teste ocorreram inúmeras falhas que proporcionaram a

explosão do reator.

Para evitar que o teste fosse cancelado, os cientistas burlaram uma séria de

medidas de segurança. O sistema de segurança foi desligado e o reator teve sua capacidade

reduzida para apenas vinte e cinco por cento, um procedimento que não é sugerido por

medidas de segurança. Por razões desconhecidas houve uma queda de potência para

menos de um por cento. Então essa potência teve de ser aumentada lentamente. Mas trinta

segundos após o início do aumento a potência cresceu repentinamente e de forma

inesperada. O desligamento de emergência do reator que cessaria a reação em cadeia

falhou.

Em frações de segundo o nível da potência e de temperatura subiu de forma

descontrolada e o reator explodiu. A tampa de vedação, que pesava mil toneladas foi

arrancada e a temperatura de mais de 2000°C derreteu as hastes de controle, onde estava

armazenado o grafite para controle da reação, que acabou entrando em combustão e em

seguida começou a ser liberado para a atmosfera os materiais radioativos provenientes da

fissão realizada pelo reator. A explosão teve força superior a quatrocentas vezes as

bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki.

Não existe uma causa clara para o acidente, mas acredita-se que a combinação de

erros humanos e tecnológicos foram cruciais. O teste aconteceu sob pressão, pois havia

sido interrompido por nove horas e precisava voltar a fornecer energia para a capital,

Kiev. Falhas técnicas na produção do reator também são apontadas como causa do

acidente. As hastes de controle para reduzir a fissão podem provocar efeito contrário

quando inseridas muito rapidamente, o que pode ter ocorrido em Chernobyl. E um

acidente anterior na Lituânia em 1983, teve causas parecidas, mas que não foram

relatadas para Chernobyl.

Para conter o incêndio os bombeiros jogaram água de resfriamento no núcleo do

reator por dez horas,sem resultado satisfatório. Então durante o período de 27 de abril até

5 de maio, trinta helicópteros sobrevoaram a área despejando um total de duas mil e

quatrocentas toneladas de chumbo e mil e oitocentas toneladas de areia para tentar abafar

o fogo e absorver a radiação.

Com essa medida eles acabaram provocando efeito contrário, pois mantiveram

material acumulado sob a camada de areia e chumbo e o calor aumentou novamente.

Somente após 6 de maio o fogo foi controlado com nitrogênio.

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Não houve apenas uma causa para o acidente. Os principais motivos são as falhas

no projeto técnico na construção dos reatores RBMK, além de falhas humanas no

manuseio em suas hastes de controle, o que levou a complicações no nível de calor gerado

pelo dispositivo. As altíssimas temperaturas destruíram o reator 4, ocasionando o maior

acidente nuclear da história.

O resultado imediato foi a morte de 31 pessoas: uma durante a explosão, uma de

trombose coronária, uma terceira de queimaduras térmicas e 28  de intoxicação aguda por

radiação. Mas os problemas continuaram, atingindo cerca de 1 mil trabalhadores de

emergência da área do reator no primeiro dia após o acidente. Durante o primeiro ano

pós-acidente, cerca de 200 mil trabalhadores das operações de emergência e recuperação

foram expostos à alta radiação

Reator 4 da usina nuclear de Chernobyl. (Fonte da imagem: Carl Montgomery)

Primeiras ações contra a radiação

Até o dia 5 de maio de 1986, o governo soviético despejou, com a ajuda de

helicópteros, 2,4 mil toneladas de chumbo e 1,8 toneladas de areia para tentar abafar de

vez o fogo do reator 4 de Chernobyl e também absorver a radioatividade, evitando que ela

se espalhasse ainda mais. Em 6 de maio, a emissão radioativa e o fogo foram controlados.

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Chernobyl é um assentamento da cidade de Pripyat e a área de isolamento na

região, que a princípio era de 2.800 km², chegou a 4.300 km². Os 45 mil habitantes da

cidade foram removidos logo após o acidente e, ao todo, 210 mil pessoas foram levadas

para locais menos contaminados. O governo socialista tratou os atingidos com iodo e,

ainda em 1986, um “sarcófago” foi concluído em torno do reator destruído para absorver o

restante da radiação da usina.

Além da Bielorrússia, país que faz fronteira com a Ucrânia, nos anos seguintes, a

nuvem de radiação pode ser notada em outros países da Europa e de outros continentes.

Índices de radiação foram detectados nos seguintes países: Suécia, Escandinávia, Países

Baixos, Bélgica, Reino Unido, Eslováquia, Romênia, Bulgária, Grécia, Turquia e Polônia.

25 anos depois

Passado um quarto de século desde o acidente, Pripyat e Chernobyl se tornaram

cidades-fantasma de aspecto apocalíptico.

Em declaração à agência de notícias AFP, o professor de biologia Tim Mousseau, da

Universidade da Carolina do Sul, EUA, afirmou que a região de Chernobyl ainda representa

uma ameaça para a natureza. Mousseau é estudioso dos efeitos do acidente para a

biodiversidade local e publicou ano passado um censo sobre da vida selvagem na região.

De acordo com o professor, há hoje menos animais e espécies do que o esperado

no entorno de Chernobyl, tanto no número de mamíferos quanto no de insetos. Além

disso, em fevereiro de 2011 foram registrados 550 pássaros e 48 espécies de oito locais

diferentes. Os animais tiveram seus cérebros medidos e as aves que habitavam locais de

alta radiação tinham cérebros 5% menores do que as que viviam em locais com menor

índice radioativo.

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Cidade de Pripyat, com a usina de Chernobyl ao fundo: visual apocalíptico. (Fonte da imagem: Jason Minshull)

Nos últimos 25 anos, milhares de pessoas desenvolveram câncer em decorrência

da alta exposição à radiação emitida pela usina. As Nações Unidas apontam, em relatório

publicado em 2002, para 4 mil casos de câncer de tireóide em pessoas que eram crianças e

adolescentes na época do acidente, número que deve dobrar nas próximas décadas.

É consenso que pelo menos 1,8 mil crianças e adolescentes, habitantes das áreas de

maior contaminação na Bielorrússia, desenvolveram câncer de tireóide. A doença,

contudo, é tratável e, de acordo com um relatório da NucNet (uma agência de comunicação

especializada em notícias e relatórios sobre energia nuclear), a taxa de sobrevivência de

portadores da doença no país é de 99%.

Em 2005, um relatório publicado pelo Chernobyl Forum, escrito por mais de cem

especialistas de países como Rússia, Ucrânia e Bielorrússia, ligados à Organização Mundial

de Saúde e ao Banco Mundial, entre outras organizações, afirmaram que 4 mil pessoas

podem morrer prematuramente devido à exposição radioativa.

Há um movimento para a construção de um abrigo em torno da usina de

Chernobyl, para isolá-la, que deve custar cerca de 1,6 bilhão de euros, aproximadamente

3,7 bilhões de reais.

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Mitos e fatos

Como se pode ver, a energia nuclear é um assunto muito controverso ainda nos

dias de hoje. Há uma série de informações que circulam por aí, alguns dados são mitos,

outros são fatos.

Um dos grandes mitos que envolvem a energia nuclear é a de que ela é totalmente

limpa. Se ela não emite tanto gás carbônico quanto energias advindas de fontes fósseis, o

resultado que advém de sua produção pode ser bastante danoso. Há casos de praias de

Angra contaminadas por dejetos das usinas, bem como suspeitas de contrabando de lixo

radioativo europeu para países africanos, em especial a Somália.

Outro mito é de que as usinas podem explodir tal qual as armas nucleares. Isso é

impossível, afinal, as bombas têm reação nuclear feitas de modo descontrolado. Já em

usinas, a reação é controlada, o que torna impossível que ela exploda igual a, por exemplo,

as bombas despejadas pelos Estados Unidos sobre o Japão durante a Segunda Guerra

Mundial.

Muito se fala sobre a energia nuclear ser mais barata que outras fontes de baixo-

carbono, porém, isso também é mito. Segundo Chris Goodall, especialista na questão

climática e colunista do jornal britânico The Guardian, o maior problema de projetos de

energia nuclear é a imprevisibilidade dos custos. Ele cita como exemplos a usina em uma

ilha a oeste da Finlândia e projetos nos EUA que foram recuados devido às polpudas somas

necessárias para desenvolvimento.

Uma verdade sobre energia nuclear é que pessoas infectadas por radiação podem

contaminar outras. A contaminação pode ocorrer por contato com a pele ou secreção

(saliva, suor, fezes e urina) de alguém já infectado. Esse, inclusive, foi um dos grandes

problemas enfrentados por sobreviventes de Chernobyl, segundo Pavel Vdovichenko.

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