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DOSSIÊ DE TOMBAMENTO DO ANTIGO CINE GRAMENSE PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ANTÔNIO DO GRAMA MG Desenvolvido de acordo com as normas do IEPHA-MG 1 para o período de ação e preservação de 16 de abril de 2005 a 15 de abril de 2006. 1 http://www.iepha.mg.gov.br/icms_patr_cultural.htm - Deliberação para Proteção e Modelos ICMS Patrimônio Cultural.

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DOSSIÊ DE TOMBAMENTO DO ANTIGO CINE GRAMENSE PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ANTÔNIO DO GRAMA – MG

Desenvolvido de acordo com as normas do IEPHA-MG

1 para o período

de ação e preservação de 16 de abril de 2005 a 15 de abril de 2006.

1 http://www.iepha.mg.gov.br/icms_patr_cultural.htm - Deliberação para Proteção e Modelos ICMS Patrimônio

Cultural.

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SUMÁRIO

Introdução

Informe histórico e caracterização do município

Informe histórico do bem cultural e contextualização do mesmo

no desenvolvimento do município

Descrição e análise arquitetônica do bem cultural

Delimitação e descrição do perímetro de tombamento

Justificativa da definição do perímetro de tombamento

Delimitação do perímetro de entorno do tombamento

Justificativa da definição do perímetro de entorno de tombamento

Documentação cartográfica

Documentação fotográfica

Laudo de avaliação sobre o estado de conservação

Diretrizes de intervenção sobre o bem tombado

Anexo I – Ficha de Inventário

Anexo II – Documentos legais

Bibliografia

Ficha técnica

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho é parte fundamental do processo de preservação do Patrimônio Cultural da cidade de Santo Antônio do Grama, iniciado em 2005. Tal procedimento objetiva resgatar, reunir e reconhecer os bens que compõem o Patrimônio Cultural do Município, com vistas ao desenvolvimento da identidade local e da cidadania, através do resgate de suas raízes.

Trata-se do dossiê de tombamento do edifício que abrigou o antigo Cine Gramense, reconhecido e identificado como portador de grande valor cultural e afetivo para a memória da comunidade local. Desta maneira, o objetivo maior dessa ação é a sua conservação e preservação, através da garantia das condições de fruição, apreciação, vivência estética e contemplação do mesmo.

A metodologia utilizada na elaboração dos trabalhos consistiu em ampla pesquisa documental, bibliográfica, de campo e, principalmente, da tradição oral local, através de entrevistas com membros da comunidade, como o senhor Cloves Bayão, que coordenou as atividades do Cine Gramense entre 1966 e 1976 e também Rita de Cássia Braga Quintal, Áurea Gomes Leal Lima e Beatriz Vieira Torres, que encenaram peças teatrais no edifício nesta mesma época. A participação do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Santo Antônio do Grama também foi de fundamental importância na medida em que orientou o processo através da indicação de nomes, fontes documentais primárias, entre outros. Além das pesquisas, soma-se ao trabalho os levantamentos arquitetônico, fotográfico, cartográfico e do entorno próximo do bem, inclusive com a definição das diretrizes para futuras intervenções.

Desta forma, ao apresentar-se como uma fundamentação teórica destinada a justificar os motivos do tombamento, o dossiê traz informações que identificam o valor cultural do bem no contexto municipal, definindo ainda os parâmetros para sua preservação efetiva, enquanto patrimônio de interesse coletivo. Além disso, o dossiê de tombamento apresenta-se como uma importante ferramenta no desenvolvimento e na difusão de conhecimento, na medida em que resgata a história e a memória do bem e do lugar, transmitindo um legado às futuras gerações.

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INFORME HISTÓRICO DO MUNICIPIO

No início do século XIX, os muladeiros, boiadeiros, mascates e tropeiros utilizavam a área onde hoje se encontra o município de Santo Antônio do Grama como caminho de ligação entre Abre Campo, Matipó, Manhuaçu e Ponte Nova, Mariana e Rio de Janeiro. Era considerada uma paragem agradável, com natureza menos fechada, possuía água fresca para os viajantes, além de pastagens para os animais. Os viajantes a conheciam pelo nome de paragem da grama.

A região foi ocupada inicialmente por Manoel Felipe da Silva. Ele foi um dos viajantes que utilizavam a área para trafegar entre as cidades naquela época. Decidiu fixar residência no local, onde construiu uma choupana num planalto gramado, que se destacava no meio da mata fechada. Para expandir seus domínios, embrenhou-se na mata e cultivou a terra ao redor. Lançou posse das terras da “Grama”, onde permaneceu e contribuiu para que outros firmassem residência no local. Foi uma posse pacífica, sem oposições de qualquer natureza. Com o passar dos anos, surgiu um núcleo de povoamento, que se tornou uma propriedade agrícola de nome “Grama”, ainda pertencente à Manoel Felipe. Esta propriedade ocupava a margem direita do ribeirão, limitando-se acima pela sesmaria do Emboque e abaixo pelas terras de Antônio Luiz de Freitas.

Manoel escolheu o nome da paragem para sua propriedade, que era conhecida como “Fazenda da Grama”. “A denominação se estendeu a todo o lugar, mesmo fora dos limites da Fazenda. Aos terrenos, ribeirão acima; aos terrenos, ribeirão abaixo; e, ainda, aos terrenos da margem oposta, onde Joaquim José de Santana e outros deveriam fincar posse.”

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Manoel Felipe da Silva era casado com D. Antônia Maria de Jesus e teve muitos filhos. Em 1846 ficou viúvo e sua propriedade foi dividida pela numerosa prole, em inventário procedido na Comarca de Mariana. O município de Santo Antônio do Grama nasceu à sombra desta fazenda com um pouco mais de terras ao redor.

Em 1850, Abre Campo foi elevada à categoria de paróquia, em virtude da lei provincial nº 471, de 1º de junho daquele ano. Devido ao importante acontecimento, foram realizadas imponentes solenidades religiosas, estando presente o bispo D. Antônio Viçoso.

Os habitantes da Grama não mediram esforços para estarem presentes nas solenidades em Abre Campo. A distância entre os povoados era bastante significativa e o percurso cheio de dificuldades. Porém, eles não poderiam perder tamanho acontecimento nas proximidades. Vendo o espetáculo que se realizava em Abre Campo, com muitas pompas e importância, os moradores da Grama idealizaram a construção de uma capela em seu povoado. Aproveitaram a presença do bispo em Abre Campo para pedir permissão para a construção da referida capela. O bispo concedeu após o compromisso que Antônio Luiz de Freitas fez de doar as terras para a nova construção.

Antônio Luiz de Freitas possuía terras vizinhas às de Manoel Felipe da Silva. A sede de sua fazenda localizava-se acima da cachoeira, na atual saída para Rio Casca, se estendia por todos os lados. Seguindo ribeirão acima, fazia divisa com a Fazenda da Grama, onde hoje se encontra a Rua de Baixo com a Praça Padre Antônio Ribeiro Pinto.

As terras doadas para a construção da capela conformavam, aproximadamente, a área onde hoje se encontra a Praça Padre Antônio Ribeiro Pinto e a casa paroquial, ficando limitada por duas supostas linhas, do espigão ao ribeirão, formando um retângulo. A capela foi construída neste local, em pau-a-pique, cercada de esteira de taquara e coberta de sapé.

Não se sabe ao certo o motivo da escolha de Santo Antônio para padroeiro da capela. Existem três suposições. A primeira seria uma homenagem ao bispo D. Antônio Viçoso que deu a

2 DOMINGUES, José Henrique. Memória Histórica de Santo Antônio do Grama. Viçosa, 1997.

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autorização para a construção. A segunda, homenagem a Antônio Luiz de Freitas, doador das terras. E a terceira, e mais provável, é que a licença para a construção da capela foi obtida no dia 13 de junho, justamente o dia do santo.

O nome dado ao novo patrimônio foi Santo Antônio da Grama que, ao longo do tempo, foi mudado para Santo Antônio do Grama.

Sendo assim, 13 de junho de 1850 é considerada a data em que os primórdios de ocupação e povoamento do atual município de Santo Antônio do Grama foram lançados. Antônio Luiz de Freitas é tido como fundador do município por ter doado as terras onde se iniciou o núcleo urbano da cidade.

A primeira missa celebrada na capela de Santo Antônio foi realizada pelo Padre Fortunato de Abreu e Silva. Não são conhecidos mais dados referentes a este dia, nem mesmo a data.

A capela de Santo Antônio ficou filial à de Santana de Jequeri, nos termos em que foi concedida a licença. O motivo mais provável dessa decisão tenha sido a localização geográfica, pois os dois territórios pertenciam à mesma bacia hidrográfica, a do Rio Casca. As missas eram celebradas pelo vigário da capela de Jequeri, que ocorriam de tempos em tempos.

Nas proximidades da capela foram sendo construídas casas, as quais conformavam o início do povoado. Com isso surgiu um pequeno núcleo de habitações que ia crescendo a tal ponto que, em 1851, foi necessária uma derrubada na mata para ampliar a primeira rua do arraial que surgia.

O arraial tornou-se um significativo ponto de comércio para os viajantes que iam a Ponte Nova. Com o passar dos anos as terras doadas por Antônio Luiz de Freitas se tornaram pequenas para o arraial que crescia.

Em 14 de maio de 1858, pela lei provincial nº 867, o povoado foi incorporado ao distrito e freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Casca, também criado na mesma lei. Sendo assim, o território de Santo Antônio do Grama foi desmembrado de Jequeri, e passou a fazer parte do distrito de Bicudos, nome pelo qual era chamado o distrito de Nossa Senhora da Conceição do Casca.

Com a transferência do povoado, era o vigário de Nossa Senhora da Conceição do Casca que celebrava as missas na capela de Santo Antônio. Foi aí que se destacou a figura do Padre Cândido Sinfrônio de Castro como grande benfeitor da população daquele arraial. Além do papel de padre, também exercia funções de médico, já que no Grama ou proximidades não existia um.

Nesta época Joaquim Gonçalves se destacava por um grande domínio das terras ao redor do Grama. De acordo com Domingues

3, ele comprou grande parte das terras pertencentes aos herdeiros

de Manoel Felipe da Silva.

Uma figura que se destacou em 1863 foi Antônio Lourenço de Lima, genro de Manoel Felipe da Silva. Ele doou parte de suas terras para o patrimônio de Santo Antônio, numa área limítrofe ao mesmo, para aumento de seu território.

O restante das terras de Antônio Lourenço de Lima foi vendido por sua viúva a Joaquim Gonçalves Gomes, que o dividiu em duas chácaras, separadas pelo caminho. A chácara da direita foi comprada por Felisberto José Gonçalves e, a da esquerda, para Manoel Cardoso. Esta última é importante porque foi incorporada ao patrimônio de Santo Antônio mais tarde. Era limitada pelo espigão, atrás da capela, caminho e córrego acima (hoje, Córrego dos Salgados), e pelo espigão da divisa com José Joaquim da Conceição.

Para comemorar a nova doação foi erguido o primeiro cruzeiro – feito à foice – no dia de Santa Cruz, ainda em 1863. Este cruzeiro foi implantado no centro da nova gleba. Nesta nova área mais tarde foi construída a Igreja Matriz e a Praça da Matriz.

Em 1868, sob orientação do Padre Cândido Sinfrônio de Castro, foi construída no fundo da quadra uma nova capela, esta sim com estrutura resistente e coberta por telhas. À frente da capela foi implantado um largo que deu origem à Praça da Matriz. Hoje a Igreja Matriz de Santo Antônio localiza-se no mesmo ponto onde existiu esta capela.

3 DOMINGUES, José Henrique. Memória Histórica de Santo Antônio do Grama. Viçosa, 1997.

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Nesta época o povoado se desenvolvia rapidamente, com crescimento da lavoura, da população e do comércio. Este crescimento foi tornando o povoado mais significativo na região, até que, em 20 de julho de 1868, pela Lei nº 1.550, aprovada pela Assembléia Legislativa Provincial e pelo Presidente da Província de Minas Gerais, o arraial foi elevado a Distrito de Paz, sendo desmembrado da freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Casca, e incorporado a Jequeri, no termo de Ponte Nova.

Com a criação do Distrito de Paz o arraial sofreu grande impulso de crescimento. Com isso, o território do patrimônio tornou-se pequeno novamente. Foi quando, ainda em 1868, José Antônio Pereira Salgado doou a chácara à esquerda do caminho para Santo Antônio, que fora adquirida de Manoel Cardoso.

Não é conhecido com precisão, se em 1868 ou 1869, José Fernandes da Silva permutou quatro alqueires de suas terras da Fazenda da Piedade por três alqueires situados na divisa com o patrimônio, pertencentes a José Felipe da Silva, filho de Manoel Felipe da Silva, criador da Fazenda da Grama. As terras adquiridas foram doadas para ampliação da área do arraial. Esta ampliação ocorreu do local onde hoje se encontra a casa paroquial até a porteira de baraúna, na atual saída para Rio Casca, conformando o bairro que sempre foi conhecido como Rua de Baixo.

Antônio Claudiano da Silva, em 1869, promoveu uma lista de subscrição para arrecadar fundos para aquisição de mais terreno para aumento do patrimônio de Santo Antônio. Com o dinheiro arrecadado, comprou três partes das terras que haviam sido de Joaquim José de Santana. A aquisição destas terras foi um marco no sentido de que, pela primeira vez, o terreno de Santo Antônio transpunha a margem esquerda do Córrego Grande, hoje Ribeirão do Grama.

A área adquirida não possuía continuidade no território no que se referia ao terreno onde já se consolidava o arraial. Entre as duas áreas havia terrenos da Fazenda da Grama pertencentes a Joaquim Gonçalves Gomes. Toda a região do patrimônio de Santo Antônio à margem esquerda era conhecida como Palhada.

Pouco tempo depois de Antônio Claudiano ter adquirido e doado as terras para o patrimônio, Joaquim Gonçalves também doou suas terras de permeio, que se estendiam pela margem esquerda do Córrego Grande acima, desde a barra do Córrego dos Salgados até a antiga sede da mesma fazenda. Esta nova área resultou no bairro que é conhecido como Rua de Cima. Uma curiosidade a respeito deste bairro é que ainda existem alguns pés de café remanescentes da antiga fazenda.

Em 1870, Joaquim Gonçalves Gomes vendeu a Manoel Inácio de Souza duas partes de terras para aumento do patrimônio. Esta nova área também se localizava à margem esquerda do Córrego Grande e desde então passou a conformar o bairro Rua da Palhada.

Neste bairro existe um morro que se destaca na paisagem. Não se sabe por qual motivo que, em 1872, foi construída a Igreja de Santa Efigênia. Desde então o morro ficou conhecido como Morro de Santa Efigênia.

A instalação do Distrito de Paz só ocorreu em 1873, data do primeiro livro de notas do cartório do distrito, no qual foram lavradas as primeiras escrituras das transmissões locais. O primeiro escrivão foi de paz foi Carlos José da Silva, que exerceu o cargo até 1910.

Após a instalação do distrito foram nomeadas as primeiras autoridades. José Joaquim da Conceição foi o primeiro Juiz de Paz, tendo como suplentes Manoel Felipe Domingos, Francisco Vieira Frade e Tristão Pereira de Azevedo. O subdelegado de polícia foi Joaquim Gonçalves Gomes, sendo seus suplentes Manoel José de Melo, Caetano José Domingos e Luiz Domingues Gomes.

Ainda em 1873, o distrito recebeu seu primeiro pároco, Padre Paulo Magaldi, que residiu no distrito por dois anos.

Com a criação do distrito o crescimento da localidade se acelerava. Em 1880, após decreto da Assembléia Legislativa Provincial e posterior sanção do Cônego Joaquim de Santana, Vice-Presidente da Província de Minas Gerais, o Distrito de Paz foi elevado a Freguesia do município de Ponte Nova, através da Lei nº 2.657, de 04 de novembro. Sendo assim, o distrito de Jequeri passou a pertencer a Ponte Nova.

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A Lei nº 2.765, de 13 de setembro de 1881 criou a instrução primária na Freguesia de Santo Antônio do Grama. Foi criada a primeira escola primária do município, voltada para as meninas. Dona Joana Batista Dias Simim foi a primeira professora e seu marido, Luiz Antônio Chaves, foi o primeiro professor dos meninos pouco tempo depois.

Pela provisão episcopal de 27 de novembro de 1886, Santo Antônio do Grama foi elevada à categoria de paróquia. O primeiro vigário foi o Padre Cândido Sinfrônio de Castro, vindo de Bicudos, hoje Rio Casca.

Padre Cândido se tornou figura marcante na história de Santo Antônio do Grama pela sua luta e campanha para a construção da Igreja Matriz. Seus esforços obtiveram resultados quando a Assembléia Legislativa do Estado aprovou a construção da Matriz pela Lei nº 3.714, de 13 de agosto de 1889, e foram liberados recursos para a construção da mesma. Porém, já na época de aprovação dos recursos ele havia deixado o distrito, sendo substituído pelo Padre José Pinheiro.

Em 1889, com a extinção do regime monárquico, o distrito de Santo Antônio do Grama deixou de pertencer a Ponte Nova, passando sua administração para o então criado município de Abre Campo, segundo a Lei nº 3.712, de 27 de julho do referido ano.

O decreto federal nº 255, de 28 de novembro de 1890, ratificou esta transferência ao criar a Comarca de Abre Campo e manteve Santo Antônio do Grama como um de seus distritos.

A última grande ampliação da área urbana de Santo Antônio do Grama ocorreu em 1900. Joaquim Gonçalves Gomes ainda possuía o restante das terras localizadas à margem esquerda do Ribeirão do Grama, que era ligada ao restante do patrimônio por uma ponte de madeira, que foi substituída posteriormente por uma de concreto e recebeu a denominação de Ponte Coronel Nicolau. As terras se prolongavam 125 metros em relação à ponte e contornava a base do Morro de Santa Efigênia. À direita encontrava-se o pastinho da fazenda e à esquerda o morro e a Rua da Palhada.

A área da fazenda próxima à ponte era ocupada seguindo os moldes dos logradouros públicos. Joaquim Gonçalves Gomes construiu diversas casas dispostas formando uma espécie de praça, que recebeu o nome de Largo dos Bambus. A partir deste largo começava uma plantação de bambu, que se estendia pelo pastinho.

Com o falecimento de Joaquim Gonçalves Gomes, em 1899, a fazenda foi dividida entre os herdeiros. Francisco Gomes da Silva Júnior, um dos herdeiros, vendeu ao patrimônio a área do pastinho. Com a venda a porteira foi arrancada e a plantação de bambu destruída, cedendo lugar a uma nova rua chamada Rua Nova. Porém, ainda havia a área do Largo dos Bambus que era de domínio particular entre os logradouros públicos. Foi então que o Conselho Distrital procurou os herdeiros José Adrião Gomes e Raimundo Nonato Gomes e propôs a venda da área para o patrimônio. A proposta foi aceita e assim se realizou a última ampliação territorial da localidade. O Largo dos Bambus se transformou em Praça Santa Rita, e é a atual Praça Francisco Luiz Pinto Moreira, onde está localizado o prédio do antigo Cine Gramense. A região do pastinho continua desocupada em grande parte, sendo uma área disponível para ampliação da malha urbana do município.

Nesta época o arraial tinha na agropecuária sua principal fonte geradora de riquezas, além do comércio.

O primeiro jornal do arraial surgiu em 1904 sendo fundado pelo Padre João Batista Coutinho – então vigário da paróquia – e recebeu o título de “São Geraldo Magela”.

O Padre João Batista Coutinho movimentou e marcou a vida religiosa do distrito. Morou em Santo Antônio do Grama entre 1904 e 1913. Criou o Apostolado do Coração de Jesus e o movimento de devoção a São Geraldo Magela. Os retiros vicentinos realizados no Asilo São Vicente de Paulo, também foram criados durante sua gestão.

Nos anos em que o Padre João Batista Coutinho esteve à frente da paróquia, os grandes acontecimentos do arraial foram as festas do Divino e do Rosário, além das comemorações da Semana Santa, de 1910 e 1911, que ficaram marcadas na trajetória de Santo Antônio do Grama.

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O Padre João Coutinho ainda adquiriu as terras da chácara à direita do caminho, que pertenciam a Agostinho Doido. No local construiu a primeira casa com platibanda do arraial. O caminho foi abandonado, tendo prolongamento sem dobrar à esquerda e invadindo terrenos da chácara. O logradouro hoje é conhecido como Rua Padre João Coutinho.

Neste período a antiga Igreja Matriz passou por grandes reformas. Foi nesta época que Dona Maria da Conceição Fonseca angariou fundos para a construção do altar doou a imagem do Sagrado Coração de Jesus à Igreja Matriz. Outro destaque cabe a João Caetano Brandão que pintou e decorou os altares da igreja.

Santo Antônio do Grama possuiu um teatro, construído pelos próprios atores, inaugurado em 1912 e chamado de Teatro Santo Antônio.

A Estrada de Ferro Leopoldina deixou de possuir seu ponto final em Ponte Nova no ano de 1913. Passou a circular mais por dentro da Zona da Mata, servindo Bicudos, Entre-Rios e Caratinga, passando longe de Santo Antônio do Grama.

Este acontecimento foi desastroso para o desenvolvimento do arraial, que desde seus primórdios se sustentava pelo comércio estabelecido com os viajantes.

O segundo jornal do distrito surgiu em 1914, sob o título “Democrata”, sob direção do proprietário José Fausto de Oliveira Dias. Circulou até 1916 quando se transferiu para Ponte Nova com o título de “A Ponte Nova”.

A Primeira Guerra Mundial trouxe uma falsa sensação de que o progresso voltara ao local, pois o comércio teve grande impulso nesta época, devido à fundação de sua linha de tiro. Porém, com o fim da Guerra e a epidemia de 1918, o declínio se evidenciou novamente.

A população começou um movimento para conseguir a transferência do distrito para Rio Casca, que havia se tornado município, desvinculando-se de Ponte Nova, após a chegada da estrada de ferro. Este desejo se devia ao fato de Rio Casca ser mais próxima e ter as estradas de acesso mais transitáveis, além da estação ferroviária. A população via nesta transferência uma grande possibilidade de reerguer o distrito de Santo Antônio do Grama, tanto econômica quanto socialmente.

Os argumentos dos moradores foram ouvidos e, em 1923, o Congresso Mineiro, através do art. 6º, nº XVII, da Lei nº 843, transferiu Santo Antônio do Grama de Abre Campo para o município de Rio Casca.

Esta transferência rendeu duas melhorias consideráveis para o distrito de Santo Antônio do Grama. A primeira foi a iluminação elétrica pública da localidade; e a segunda foi a construção da estrada para automóveis ligando Santo Antônio do Grama ao distrito Sede de Rio Casca, melhorando o acesso e assim, ascendendo os ânimos do comércio deste distrito.

Em 1926, o Padre Antônio Ribeiro Pinto, então vigário do distrito, deu grande apoio para a formação do Congado na localidade. Ainda neste ano tomou a iniciativa de construir uma nova Igreja Matriz.

A benção da fachada principal ocorreu em 1929, realizada pelo Arcebispo D. Helvécio Gomes de Oliveira. Pouco tempo depois a antiga nave central foi demolida para a construção da nova.

No dia 24 de abril de 1938 o Padre Antônio celebrou a primeira missa, com as obras ainda incompletas. A conclusão das mesmas só ocorreu em 1940. A benção da nova matriz ocorreu no dia 15 de dezembro do mesmo ano, e foi realizada pelo Vigário Geral da Arquidiocese, Revmº Mons. Alípio Odier de Oliveira.

Após o término das obras da Igreja Matriz, Padre Antônio Ribeiro Pinto se empenhou na construção de uma nova Capela de Santa Efigênia. A capela original já precisava de reparos quando um raio derrubou a torre. Foi então que o padre decidiu demolir o restante da antiga capela e construir a nova no mesmo local. A benção da nova Capela de Santa Efigênia ocorreu no dia 24 de setembro de 1944.

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Em 13 de junho de 1950 ocorreu uma grande festa de comemoração do centenário do distrito. A iniciativa da solenidade partiu de alguns moradores que escolheram o Padre Antônio Russo, que assumiu a paróquia em 1947, para organizar as solenidades.

Os moradores do distrito começaram a achar que a Prefeitura de Rio Casca não estava atendendo às necessidades de Santo Antônio do Grama. Foi então que surgiu a iniciativa de se emancipar o distrito. Após cinco anos de espera, em 12 de dezembro de 1953, através da Lei nº 1.039, Santo Antônio do Grama foi elevado à categoria de município. O município foi instalado no dia primeiro de janeiro de 1954.

Em dezembro de 1954 a prefeitura autoriza a construção do edifício do Cine Gramense, na Praça Santa Rita, hoje Praça Francisco Luiz Pinto Moreira. A partir de sua construção até o fim da década de 70, o Cine Gramense foi de fundamental importância para a cultura local, sendo utilizado não só como cinema, mas também como teatro e salão de festas, bailes e apresentações em geral.

Em 1955 foram iniciadas as atividades da Igreja Presbiteriana do Brasil em Santo Antônio do Grama. Atualmente existem dois templos: um na Fazenda da Alegria, no Córrego do Taquaral; e outra no distrito Sede.

O Padre Antônio Russo ainda foi responsável pela substituição do cruzeiro de madeira do Morro de Santa Efigênia. O antigo cruzeiro estava apodrecendo e ameaçava ruir. No mesmo local foi instalado um novo cruzeiro, agora em concreto armado, com 33 lâmpadas representando a quantidade de anos que Jesus passou na terra. Conta-se que, ao ser retirado o cruzeiro de madeira, foram encontradas moedas antigas sob sua base, fincadas no chão. O padre mandou recolhê-las e as enterrou em algum lugar no subsolo do Salão Paroquial, numa caixa com os dados da obra. A inauguração e benção do novo cruzeiro ocorreram no dia 07 de abril de 1957.

O Grupo Escolar Mariano Gomes, localizado à Praça Manoel Dias da Fonseca foi construído em 1958. No mesmo ano foram criadas as escolas rurais nas regiões do Córrego dos Salgados e do Córrego dos Frades. Ainda foi construída a ponte em concreto armado sobre o Córrego dos Salgados na Rua Padre João Coutinho.

Em 12 de outubro de 1960 foi inaugurada a Capela de Nossa Senhora Aparecida. Ela foi construída devido a um pedido do Sr. Luiz Domingues, que afirmou ter alcançado uma graça quando, ao descer um morro em seu caminhão, este perdeu os freios. Ao perceber a situação de perigo o Sr. Luiz pediu ajuda a Nossa Senhora Aparecida e esta fez o milagre de fazer os freios funcionarem e tornar possível o retorno ao destino. Ao relatar o fato ao pároco Padre Antônio Russo, o Sr. Luiz Domingues obteve autorização para construir a capela no local onde havia ocorrido o suposto milagre. Desde então a devoção a Nossa Senhora Aparecida só tem aumentado na região e muitos são os relatos de graças alcançadas.

Por volta de 1964 foi construída a Ponte Preta, sobre o Rio Casca, na divisa com Urucânia, localizada na rodovia sentido Jatiboca.

O calçamento urbano começou a ser executado pelas Praças Padre Antônio Ribeiro Pinto e Francisco Luiz Pinto Moreira, em 1967. Na mesma época a administração do município começou a instalar a rede de esgoto na área urbana.

Os calçamentos das ruas Vicente Bretas Cupertino e Padre Cândido foram prolongados por volta de 1974.

Durante a administração de José Flaviano Bayão, o “Minzinho”, entre 1977 e 1982, diversas melhorias foram realizadas no município. Foi construída a rede de esgoto das ruas José Luiz Pinto Moreira e José de Araújo Lima, além do início da Rua Capitão Braga. O passeio da Rua do Cemitério foi calçado, além de parte da Rua Santa Efigênia e o término do calçamento da Rua Padre João Coutinho. A ponte sobre o Ribeirão Santo Antônio na Rua Vicente Bretas Cupertino foi substituída por uma mais larga, batizada como “Ponte Coronel Nicolau Pinto Moreira”. Também foram construídas pontes à Rua Manoel Lancuna e à Rua Padre João Coutinho com Rua Santa Efigênia. Construiu o atual Paço Municipal à Rua Padre João Coutinho. Implantou o ensino de 5ª a 8ª séries em Santo Antônio do Grama.

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Em 1984 a Capela de Nossa Senhora Aparecida foi transferida de local devido à mudança do percurso da estrada do Taquaral. A nova capela foi construída nas proximidades da antiga, sendo esta mantida em meio à mata.

No mesmo período foi criado o ensino de 2º grau no município, além da construção do prédio da Escola “Antônia Zanetti”.

O Monumento em homenagem ao Padre Antônio Ribeiro Pinto foi inaugurado em 20 de agosto de 1989, em reconhecimento à importância do padre para a história o município. Atualmente o Padre Antônio é conhecido na região como milagroso.

No mesmo dia foi inaugurado o jardim da Praça Manoel Dias da Fonseca, que recebeu este nome em homenagem ao professor e político que atuou no município.

Entre 1989 e 1992 foram abertas ruas no Bairro do Rosário, interligação entre o bairro do Pastinho com a Rua Vicente Bretas Cupertino e a Praça Francisco Luiz Pinto Moreira, que também foi construída nesta época. Os calçamentos dos passeios da Avenida Helcy Dutra Miranda e das ruas adjacentes também foram realizados concomitantemente.

O cemitério foi reformado no segundo semestre de 1991, quando foram instaladas passarelas de blocos de concreto. Nesta reforma também foram criados jardins na lateral esquerda da Capela de Santa Efigênia, além da limpeza dos muros do cemitério.

Em 1992 a Prefeitura de Santo Antônio do Grama comprou as terras do “Pastinho” da Paróquia de Santo Antônio do Grama. A área foi desmembrada, constituindo a Rua Santa Efigênia, onde foram construídas casas populares.

O Jornal Pró-Grama surgiu em 1994, após uma iniciativa de alguns estudantes da 8ª série da Escola Estadual “Mariano Gomes” criarem o “Jornal Perereca”. Estes estudantes deram prosseguimento ao projeto do jornal durante o 2º grau que, nesta etapa recebeu o título de “Pró-Grama”. O jornal era uma publicação mensal de apoio à cultura gramense e circulou até 1997 no município.

Entre 1993 e 1996 foram realizadas diversas melhorias na área urbana, sendo uma das mais importantes destinada ao saneamento, que foi a construção da caixa d’água para abastecer o bairro do Rosário. Algumas ruas receberam calçamento e as estradas vicinais do município foram recuperadas e ampliadas. Foi aberta a estrada que liga a região do Córrego dos Salgados à do Córrego dos Frades.

Nos últimos anos o município de Santo Antônio do Grama possui como principal atividade econômica a agropecuária. Na área urbana o setor de serviços é o que concentra a maior parte dos moradores.

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CARACTERIZAÇÃO DO MUNICIPIO

Santo Antônio do Grama está localizado na Zona da Mata de Minas Gerais, na microrregião de Ponte Nova. A cidade possui área de 130,2 km² e está geograficamente localizada nas coordenadas de latitude 20°18’52” S e longitude 42°36’31” O. O acesso ao município pode ser feito através da BR-262, até o trevo de Rio Casca, onde há o acesso à rodovia MG-329 e também pela BR-040, seguindo pela estrada de Ouro Preto e passando por Ponte Nova. Santo Antônio do Grama encontra-se a 210 km de Belo Horizonte e distante 920 km da capital federal. Os municípios limítrofes são Rio Casca, Urucânia, Jequeri e Abre Campo.

Localização da Microrregião de Ponte Nova no Estado de Minas Gerais Fonte: www.ibge.gov.br

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Municípios da Microrregião de Ponte Nova Fonte: www.ibge.gov.br

Santo Antônio do Grama possui um relevo acidentado (topografia 5% plana, 50% ondulada e 45% montanhosa). A altitude no ponto central da cidade é de 420m, mas no município encontramos pontos com até 849m de altitude. A cidade está localizada na Bacia Hidrográfica do Rio Doce e tem como principais rios o Ribeirão Santo Antônio e o Córrego do Taquaral. A temperatura média é de 21,1°C, variando entre 15,4°C e 27,6°C em média durante o ano

4.

De acordo com o censo do ano de 2000, feito pelo IBGE, Itabirinha possui 4376 habitantes, sendo 3238 na área urbana e 1138 na área rural. A população é formada por 2184 homens e 2192 mulheres. A área urbana da cidade abriga 464 domicílios, enquanto a área rural possui estimadamente 267 edificações.

Santo Antônio do Grama possui apenas o distrito sede. Além deste temos apenas algumas comunidades rurais, sendo elas a Baú (19 famílias), Boas Vista (32 famílias), Taquaral/Maias (45 famílias), Monsenhor Salgado (48 famílias) e Val Paraíso (41 famílias).

4 Informações coletadas no site www.almg.gov.br

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INFORME HISTÓRICO DO BEM CULTURAL

De acordo com José Henrique Domingues5 a arte cinematográfica foi introduzida em Santo

Antônio do Grama aproximadamente em 1948, levada por Francisco Coutinho. As projeções eram realizadas em uma casa situada ao lado do atual prédio da Prefeitura Municipal e nessa época ainda eram limitadas ao cinema mudo.

Foi Luiz Domingues, o Luiz da Luz, quem introduziu o cinema falado na cidade. O salão onde eram ele passava seus filmes possuía apenas 16 cadeiras, tendo o restante do público que assistir de pé àquelas novidades que eram projetadas por sua máquina de 16mm. Situado na Praça Manoel Dias da Fonseca, o local onde ocorriam as sessões era conhecido como Salão Canela Roxa. Segundo Marcílio Medeiros

6, este curioso nome foi dado a ele devido às falhas que possuía no piso.

Como lá ocorriam também festas e bailes, era comum algum dançarino mais distraído voltar para casa com a canela roxa, por ter caído em um destes buracos.

Foto do antigo Salão Canela Roxa, onde hoje há um lote vago Fonte: acervo do Jornal Pro-Grama

A procura, no entanto, era muito grande e as pessoas já se acostumavam a levar seus assentos para o salão para não ter de ficar de pé. Foi então que três moradores da cidade, Nilo Moreira Brandão, João de Souza Brandão (Joanito) e José de Alencar Bayão (Sr. Juquinha)

5 DOMINGUES, José Henrique. Memória Histórica de Santo Antônio do Grama. Viçosa, 1997.

6 Marcílio Oliveira Medeiros tem 26 anos e é natural de Santo Antônio do Grama. Atualmente é graduando do curso de

Turismo, na Universidade Federal de Minas Gerais e trabalha como voluntário junto ao Conselho Municipal de Patrimônio Cultural.

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resolveram criar uma sociedade e presentear a cidade com um verdadeiro cinema. O terreno, localizado na então Praça Santa Rita era onde havia morado a família do padeiro Onozor Garcia e Bernardete de Lourdes, a Dona Pêta e foi adquirido por Glicério Pinto Moreira e doado à Fundação Cine Gramense.

Em 3 de dezembro de 1954, a Prefeitura Municipal emitiu o seguinte alvará:

“O intendente Municipal de Santo Antônio do Grama, usando das atribuições que lhe são conferidas, resolve conceder à Empresa Cine Gramense LTDA, licença para construir na Praça Santa Rita, no terreno vago situado entre os prédios de Raimundo Henrique da Silva e Horácio Ferreira Salgado, medindo 9,90 metros de frente, concessão feita por alvará expedido pela Prefeitura de Rio Casca em 1953.

A Empresa e o Construtor sujeitarão aos dispositivos do Código de Obras, quanto à construção, que serão observadas com a fiscalização desta Prefeitura.

Dado e passado na Secretaria da Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Grama, aos 27 de fevereiro de 1954.

Eu, Maria Gomes Leal, auxiliar da Secretaria da Prefeitura, o escrevi.

a) Carlos Brandão – Intendente Municipal”7

Foi então formada uma comissão para a construção do cinema, liderada por Nilo Moreira Brandão, constituída pelos três sócios do Cine Gramense e por Luiz Domingues.

O cinema foi construído na então Praça Santa Rita, que hoje leva o nome de Praça Francisco Luiz Pinto Moreira. Nessa época o local, antigo Largo dos Bambus, ainda não possuía a conformação de uma praça, mas sim de um largo, sem nenhum equipamento, apenas com vegetação. Não foi possível precisar quando a praça foi construída e se a sua mudança de nome coincidiu com este fato, porém, a partir do depoimento dos moradores sabe-se que durante todo o período de funcionamento do cinema o largo, ou praça, ainda era desprovido de pavimentação.

Não foi possível encontrar nenhum registro da data de inauguração do cinema, assim como de qual teria sido o filme de estréia. As pessoas entrevistadas, senhor Cloves Bayão, D. Wânia Lopes de Oliveira, D. Rita de Cássia Braga Quintal e D. Áurea Gomes Leal Lima, lembram-se muito bem desse dia, da festa e do grande acontecimento que foi para a cidade a inauguração do cinema. A população estava em peso no largo em frente ao edifício e a comemoração foi bastante animada. O fato que era realizado ali, em si, e o que aquilo representava para a cultura da cidade, foi bem mais marcante que o próprio filme exibido, que neste dia teve um papel secundário. Daí o motivo da lembrança da festa e do esquecimento do filme que foi ali exibido, uma prova da grande importância que o cinema teve para a cultura em Santo Antônio do Grama. Importante principalmente no sentido de ser um ponto de encontro, de lazer e de entretenimento para a população, seja com a exibição de filmes, seja em apresentações de peças de teatro locais, seja em bailes de carnaval ou formatura. Durante seu período de funcionamento, o Cine Gramense foi o ponto de convergência das manifestações culturais realizadas no município.

Nesta primeira fase o cinema teve como operador de máquina Lourenço de Paula Braga e funcionou até o início da década de 60, quando foi desativado, ficando alguns anos sem funcionar. Isto até que um grupo formado em 1966, liderado por Cloves Bayão e formado também por José Salgado e Helcy Dutra Miranda resolveu reativar o cinema. Porém, os proprietários não tinham interesse em alugar o prédio e o equipamento e propuseram a venda destes. Sem condições de bancar todo aquele custo de 2.500.000 cruzeiros eles buscaram outros interessados em reabrir o edifício para a exibição de filmes até que conseguiram unir um grupo de 25 sócios, incluindo os proprietários anteriores, e colocaram em prática aquele desejo. A venda do Cine Gramense dividida em 25 partes iguais de CR$ 100.000,00 (cem mil cruzeiros) foi realizada no dia 5 de março de 1966. Cada um dos 25 sócios recebeu um recibo que atestava o valor pago pela sua parte da sociedade assinado por José Salgado, Helcy Dutra Miranda e Cloves Bayão. Porém a transferência oficial da propriedade foi sempre adiada e até hoje o imóvel encontra-se legalmente em nome apenas dos três antigos proprietários.

7 Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Grama: Alvará de Licença para Construção de um Cinema na Praça Santa Rita, 3

de dezembro de 1954.

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Os vinte e cinco sócios do Cine Gramense foram: Cloves Bayão, Júlio Eustáquio Pinto Moreira, Antônio Russo Palardo, Francisco Moreira Salgado, Francisco Moreira Leite, José de Araújo Lima, Manoel Gonçalves Leal, José Salgado, João Pinto Moreira, João de Souza Brandão, Olívio Leão, José de Alencar Bayão, Pe. Antônio Russo, Nilo Moreira Brandão, José Neves Sant’Ana, Ewaldo Bayão, Antônio Pinto Moreira Barros, José Salgado Bayão, Afrânio Pinto Moreira, José Fábio Lana Moreira, Antônio Facundo, José de Paula Portes, Glicério Pinto Moreira, Ilídio Moreira Salgado e Helcy Dutra Miranda.

Cloves Bayão assumiu então a coordenação do cinema e passou a ser ele mesmo o operador de máquina. Os demais sócios tinham total confiança nele e como a sociedade não visava o lucro, todo o (pouco) dinheiro que o cinema rendia era investido no próprio. Nesta nova fase o primeiro filme exibido foi “O Último dos Moicanos”, ainda em 1966. Cloves Bayão conta que além da já tradicional sirene que avisava a população que se aproximava o início do filme e que podia ser ouvida em toda a cidade, ele introduziu um prefixo e um jogo de luz para avisar as pessoas que já estavam no interior do edifício para se prepararem para o início da exibição. A música utilizada no prefixo era o tema do filme “O Dólar Furado” e logo após o fim da canção eram acesas as luzes amarelas, depois as azuis e finalmente as vermelhas, quando todos se calavam para assistir ao filme. Cartazes e faixas eram espalhados pela cidade anunciando o título e as datas dos filmes a serem exibidos.

Rascunho de Cloves Bayão para produção de cartaz Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca, fevereiro de 2006

Cloves Bayão afirma que raramente se tinha algum lucro e que era comum eles terem que colocar mais dinheiro para que prosseguissem com as projeções. Certa época ele decidiu fechar novamente o cinema por falta de recursos, mas houve uma intervenção da prefeitura que começou a pagar por 50% do aluguel dos filmes e o cinema ainda funcionou durante algum tempo. Porém, com a chegada da televisão e a sua popularização a situação foi ficando cada vez mais complicada até que no ano de 1976 o Cine Gramense acabou fechando de vez as suas portas.

Porém, o fato de ter cessado a projeção de filmes ainda não significava o fim dos eventos no Cine Gramense. Isto porque durante seu funcionamento ele não se restringia apenas à exibição de filmes. Eram lá que ocorriam as apresentações do grupo de teatro da cidade, cujo coordenador era o Padre Antônio Russo. As peças eram normalmente encenadas nas férias escolares, quando as

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alunas que estudavam em colégios internos voltavam para a cidade. Uma das principais atrizes desta época era Rita Braga

8 que foi protagonista de diversas peças. Ela conta que o sucesso das peças era

tão grande que o grupo já chegou a se apresentar nas cidades vizinhas de Jequeri e Urucânia. Beatriz Viera Torres (nascida em 15 de abril de 1955) participou ainda muito nova de uma das peças onde Rita Braga fazia o papel principal. Ela conta algumas curiosidades a respeito do cinema, como o mezanino que era o lugar onde se “escondiam” os namorados e a vez em que um bêbado brigou com um cartaz na frente do cinema, onde um homem fazia “cara de mau”. Outra figura importante no teatro de Santo Antônio do Grama foi Wânia Lopes de Oliveira que em setembro de 1972 dirigiu e exibiu no Cine Gramense a peça “A Empregada Doméstica”.

Dona Wânia afirma que a ida ao cinema era um grande evento, como um baile de gala, onde os homens iam de terno e gravata e as mulheres com seus vestidos rodados. Rita Braga diz que antes das sessões a Praça ficava lotada, era o principal ponto de encontro da cidade e que após a última sessão de domingo, às 20:00hs, a cidade toda adormecia em silêncio.

Os bailes de carnaval também eram muito disputados no Cine Gramense. Cloves Bayão explica que a preparação para os bailes era trabalhosa e era preciso desparafusar todas as cadeiras que ficavam presas ao chão. A população comparecia em peso e os bailes tinham a participação de toda a família. Além do carnaval eram realizados ali também bailes de formatura e cerimônias de entrega de diplomas. Estes eventos ainda perduraram no edifício até o início dos anos 90.

Aos poucos, no entanto, os eventos foram diminuindo até que o prédio acabou ficando fechado e sem uso algum. As cadeiras foram retiradas e vendidas, algumas para o cinema de São Pedro dos Ferros e outras para a Prefeitura Municipal e hoje se encontram no Posto de Saúde de Santo Antônio do Grama. O jornal Pro-Grama no ano de 1995 exibiu uma reportagem onde denunciava o estado de abandono do edifício:

“Com a introdução do Cinema Falado em nosso município pelo sr. Luiz da Luz, num salão que continha apenas 16 cadeiras, foi construído o Cine Gramense por uma comissão liderada por Nilo Moreira Brandão. Tornou-se uma sociedade entre João de Souza Brandão, José Alencar Bayão e Nilo Moreira Brandão. Depois, esta firma foi fracionada numa sociedade de 25 sócios.

Hoje, o prédio do Cine Gramense encontra-se em total estado de abandono. Há quem diga que ele está ameaçado de desmoronar, com a ação do tempo e o descuido a que é submetido.

Deve-se pensar que, com o fim do Cine Gramense, vai também uma boa parte de nossa história. É preciso haver uma mobilização, principalmente dos proprietários do prédio, para decidir o seu futuro. O Cine Gramense tem um amplo espaço interno e pode ser aproveitado de várias formas: como salão de dança e espetáculos, reuniões importantes e até mesmo como teatro ou novamente como cinema, pois é uma maneira de resgatarmos nossa cultura, que vem-se perdendo ao longo dos anos.

Uma prova de que o gramense gosta de espetáculos é o I FINAL DE SEMANA CULTURAL, que apresentou um Recital e uma peça teatral, muito bem dirigidos e apresentados, por professores e alunos da Escola Ione Moreira Couto Brandão, que chamou a atenção de um bom público, lotando o Centro Comunitário.

O Cine Gramense pode ser muito útil ao município. Não podemos nos afrouxar e deixar que o tempo destrua parte do nosso passado e intimide um possível futuro.”

9

Após esta denúncia houve uma reforma geral no edifício em 1996, porém o prédio continuou sem uso, tendo abrigado apenas durante pouco tempo uma academia de ginástica. Em 2000 ele passou a abrigar um bar e algumas mudanças foram feitas internamente com a construção de alguns cômodos. A parte próxima ao palco era utilizada como depósito.

8 Rita de Cássia Braga Quintal nasceu em 30 de outubro de 1946 e reside até hoje em Santo Antônio do Grama, onde é

comerciante. 9 Cine Gramense: sinônimo de abandono. Jornal Pro-Grama, p.3. Santo Antônio do Grama, fevereiro de 1995.

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Fachada do Cine Gramense em 1995 e após a reforma, em 1996 Fonte: acervo do jornal Pro-Grama

O bar lá funcionou até o ano de 2005, quando em 28 de fevereiro uma grande enchente tomou conta da cidade. O prédio do Cine Gramense foi completamente tomado pela água que deixou marcadas as paredes até a altura de 50 centímetros. Desde então o edifício foi novamente abandonado e encontra-se hoje em um estado deplorável para aquele que foi, como dito, o ponto de convergência das manifestações culturais em Santo Antônio do Grama.

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DESCRIÇÃO DETALHADA E ANÁLISE ARQUITETÔNICA DO BEM

O edifício do antigo Cine Gramense está situado na Praça Francisco Luiz Pinto Moreira e seu lote se limita com o Ribeirão Santo Antônio. A praça, em formato triangular, abriga uma marquise que gera um espaço coberto servido por um bar e um “trailer” de lanches, para o que deveria ser o terminal rodoviário da cidade

10. Acima desta marquise há ainda uma cobertura destinada a abrigar

shows e eventos. A praça possui ainda canteiros gramados rodeados por assentos onde estão distribuídas sete árvores de médio porte e ainda uma de pequeno porte. As ruas são pavimentadas com paralelepípedos e a calçada é cimentada. Uma das arestas da praça é a continuação da Rua Vicente Bretãs Cupertino, que é a entrada da cidade para quem chega pela MG 329, vindo de Ponte Nova e segue, passando pela ponte sobre o Ribeirão Santo Antônio até a Praça da Matriz.

É justamente vindo nessa direção que ao passar pela Praça notamos claramente a presença do edifício em questão que, localizado praticamente centralizado no quarteirão, ganha destaque em uma quadra de casas térreas por seu pé-direito duplo que lhe confere uma altimetria levemente superior em relação a seus vizinhos. Sua fachada frontal é a única que é vista a partir da Praça, uma vez que as edificações, todas elas implantadas no alinhamento frontal dos lotes, possuem apenas mínimos afastamentos laterais, quando os tem. A fachada posterior, por sua vez, é encoberta pela grande vegetação que acompanha as margens do ribeirão que limita o lote ao fundo.

A construção possui partido retangular ocupando o máximo possível do lote onde se insere e retrata muito bem a maneira de se fazer arquitetura da época (década de 1950) e do local (pequena cidade do interior): simples, clara, funcional e objetiva. A única área descoberta do lote é junto à fachada esquerda, formando um corredor de cerca de um metro de largura até chegar ao pequeno volume do banheiro ao fundo. Este volume, mais baixo que o restante do prédio, é o único apêndice do edifício, formado por um grande bloco construído em alvenaria estrutural com camadas duplas de tijolos coberto pelo telhado de telhas francesas com quatro águas e cumeeira perpendicular à rua. O arremate na fachada frontal é feito pelo coroamento em platibandas escalonadas que formam uma espécie de frontão. Nas outras fachadas o coroamento é em beiral simples, com caibro corrido sem pintura.

A fachada frontal do edifício já recebeu diversas cores diferentes. De acordo com Dona Wânia Lopes de Oliveira, que mora em frente ao cinema, ele inicialmente era pintado na cor creme, mas também já teve pinturas nas cores pêssego e lilás, até ser pintado em 1996 de verde, como está até hoje. O verde domina a fachada revestida de argamassa e é contrastado com o amarelo da base chapiscada do edifício. O mesmo amarelo é encontrado na moldura dos vãos, no brasão central em alto-relevo e na platibanda/frontão com seus frisos horizontais, todos estes elementos em argamassa. O acesso ao edifício é feito através de um grande vão central fechado por uma grade metálica de enrolar pintada de azul, mesma cor das grades das aberturas circulares do primeiro pavimento. Acima da verga do portão há ainda uma estreita abertura retangular que, assim como as duas aberturas circulares, não contém nenhum tipo de vedação. Já as janelas do mezanino possuem verga reta, as já citadas molduras em argamassa e são fechadas por janelas basculantes metálicas preenchidas com vidro dispostas horizontalmente. Estas mesmas esquadrias se repetem nas aberturas das fachadas laterais, com vidros do tipo mini-boreal pintados evitando-se, assim, a entrada da iluminação natural que poderia prejudicar a projeção dos filmes. Essas fachadas são pintadas na cor creme. O acesso ao corredor junto à fachada lateral esquerda é feito pela fachada frontal a partir de um portão metálico, que encontra-se completamente enferrujado e sem pintura. A fachada lateral direita está disposta no alinhamento do lote.

10

O equipamento foi construído na praça no intuito de atender à função de terminal rodoviário, porém nunca foi utilizado para

este fim.

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Adentrando ao imóvel temos uma grande sala limitada por uma parede à esquerda alinhada ao vão de entrada. Nesta sala temos um balcão construído em alvenaria no centro, que é posterior ao ano 2000, quando o local passou a funcionar como bar. Além do balcão, outra intervenção aparentemente desta época é a série de vigotas metálicas triangulares dispostas paralelamente à fachada frontal e que se apóiam na parede lateral direita e na parede central que divide o salão do bar e os demais cômodos, construídos também quando desta intervenção. É fácil notar até onde ia o hall de entrada e onde começava o salão do cinema pela marca da alvenaria retirada que ainda se faz presente no piso. O piso dos dois cômodos também é diferenciado: ladrilhos hexagonais vermelhos no hall e cimentado “vermelhão” com tacos no salão. Este piso do salão é bastante peculiar, pois os tacos são dispostos um a um enfileirados e distantes entre si. O taco, apesar de conferir um ritmo interessante ao salão nos dias de baile, tem esta disposição por uma questão funcional, sendo o local para se aparafusar as cadeiras e fixá-las no piso. Ao fim do salão do bar foi construída uma parede de 1,70m de altura de onde é possível observar o restante do grande salão do cinema e o palco ao fundo.

Voltando à entrada principal e acessando o vão à esquerda entramos no que era a antiga sala de projeção. Nela temos duas aberturas circulares, sendo uma voltada para a fachada frontal e a outra voltada para a fachada lateral esquerda. O piso cimentado possui um recorte onde há ladrilhos hexagonais vermelhos, como os do hall de entrada. O recorte dos ladrilhos acusa a posição da antiga escada de acesso à sala, que estava elevada cerca de 60 centímetros em relação ao salão. Como o mezanino que ficava acima deste espaço foi retirado, não há qualquer fechamento acima das paredes do cômodo.

A partir deste cômodo foi feita uma abertura de acesso, antes inexistente, que leva aos outros dois novos cômodos dispostos em linha. Em todos eles já observamos o piso em cimento vermelho com os tacos. No primeiro deles, que aparenta ter sido usado como dormitório durante o funcionamento do bar, temos uma janela que se abre para o corredor externo junto à fachada lateral esquerda. A esquadria original de madeira foi retirada e substituída por uma esquadria em veneziana metálica, porém a bandeira em madeira foi mantida, mesmo sendo de tamanho diferente da nova esquadria, revelando como seria a antiga, pintada na cor azul. O cômodo possui forro tabuado de madeira sem pintura. O mesmo material é empregado no forro do último cômodo, com formato em “L” que gera um “dente” no salão principal do bar. Aparentemente ele se destinava à cozinha do estabelecimento, pois abriga uma pia e possui uma porta que dá acesso ao bar. Uma porta metálica dá acesso ao corredor externo e assim como no cômodo anterior, apenas a bandeira em madeira da esquadria original é mantida acima desta, colocada posteriormente. Segundo Cloves Bayão, responsável pelo cinema entre 1966 e 1976, esta porta dava acesso a um banheiro construído entre a fachada e o alinhamento do lote à esquerda. Ele não soube dizer a data da construção e nem da demolição do banheiro, mas afirma que o mesmo não fazia parte do projeto original do edifício, que previa apenas uma instalação sanitária ao final do corredor externo e com acesso à esquerda do palco, este ainda existente.

Uma abertura liga a cozinha ao restante do salão do cinema, utilizado como depósito. O piso, em cimento queimado com tacos enfileirados, é o mesmo em todo o salão, assim como o forro de tabuado tipo lambri. O forro existente, sem pintura, foi colocado em substituição ao original na reforma feita em 1996. As réguas que foram aproveitadas do forro original estão pintadas de azul e concentradas junto à entrada, acima de onde estaria o mezanino. É importante salientar que originalmente existiam apenas as paredes que separavam o salão do hall de entrada e sala de projeção e destas entre si. Acima do hall e da projeção ficava o mezanino, que era acessado por escada paralela à fachada lateral direita. O mezanino e a escada foram retirados quando o edifício passou a abrigar o bar. No alto das paredes laterais temos de cada lado quatro janelas em esquadria metálica tipo veneziana assentadas horizontalmente e com os vidros pintados. Há também algumas saliências que abrigavam as lâmpadas coloridas que iluminavam o salão. As paredes são pintadas na cor verde até a altura de 2,60m (dois metros e sessenta centímetros) e a partir daí até o teto de branco.

Ao fim do salão temos o palco elevado a 80 centímetros do piso. O acesso é feito por escada em alvenaria na sua lateral esquerda. As laterais do palco são fechadas da vista do público por alvenarias que avançam até 1,40m (um metro e quarenta centímetros) perpendicularmente às paredes laterais. Era ali que ficavam os cenários a serem usados e os camarins improvisados durante

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as peças apresentadas. Seu piso é feito em tabuado de madeira e o forro, que provavelmente era também de lambri de madeira, já não mais existe, ficando o telhado, de telhas francesas e estrutura de madeira, aparentes. A alvenaria é revestida de argamassa e pintada de branco do piso ao teto. Apenas um rodapé azul de madeira com cerca de 10 centímetros de altura contorna o perímetro do palco.

Junto à escada de acesso ao palco, ainda no nível do salão, encontramos a porta de acesso ao banheiro, ainda original, formada por duas folhas em madeira pintadas de azul. Passando pela porta entramos em um pequeno corredor coberto por telhas de fibrocimento aparentes que nos liga a outra porta onde ficam as instalações sanitárias, 30 centímetros acima do nível do salão. Tanto o corredor quanto o banheiro têm piso cimentado e o teto do banheiro é em laje, onde se apóia a caixa d’água. O banheiro possui uma pequena janela basculante em esquadria metálica que se abre para o fundo do lote.

Bastante deteriorada, encontra-se no palco um último exemplar do jogo de cadeiras utilizadas no cinema, confeccionadas em madeira, elas eram interligadas de 4 em 4 e possuíam assentos retráteis. Também é possível encontrar outras várias, estas em ótimo estado de conservação, no posto de saúde da cidade, localizado na mesma praça do cinema. Outro bem importantíssimo e ainda preservado é o livro de propriedade de Cloves Bayão, usado pelo mesmo para controle das atividades no cinema entre 1970 e 1976. O livro apresenta o nome de todos os 25 associados do Cine Gramense e toda a movimentação financeira deste período, incluindo os títulos do filmes exibidos e a arrecadação e despesas com cada um.

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DELIMITAÇÃO E DESCRIÇÃO DO PERÍMETRO DE TOMBAMENTO

O perímetro de tombamento do edifício do antigo Cine Gramense coincide com os limites do lote urbano onde ele se insere. Ele está representado por uma poligonal de seis vértices que tem início no ponto P1, resultado do cruzamento entre as linhas que definem o limite frontal do lote voltado para a Praça Francisco Luiz Pinto Moreira e seu limite lateral direito; a partir deste ponto, a linha poligonal segue acompanhando o alinhamento da fachada frontal do edifício no sentido horário por 9,90m (nove metros e noventa centímetros) até passar pelo portão de acesso ao corredor descoberto e alcançar o ponto P2, representado pelo encontro do eixo do muro de divisa do lote junto a seu vizinho à esquerda com a linha de sua fachada frontal; a partir daí a linha poligonal segue este eixo de divisa, perpendicular ao alinhamento da fachada frontal por 21,90m (vinte e um metros e noventa centímetros) até encontrar o ponto P3, localizado na junção da linha do eixo do muro de divisa lateral esquerda com a parede perpendicular do banheiro que gera um pequeno dente no lote; a linha poligonal segue a 90 graus à esquerda por 30cm (trinta centímetros) até atingir o ponto P4, localizado no encontro dos eixos desta parede transversal do banheiro com a parede que divide o lote vizinho à esquerda e o banheiro. Então segue a poligonal em sentido horário por 10,20m (dez metros e vinte centímetros) até o ponto P5, representado pelo encontro do limite lateral esquerdo do lote com seu limite posterior; daí então a poligonal segue o alinhamento da fachada de fundos da construção até o ponto P6, representado pelo encontro da fachada de fundos do lote com sua fachada lateral direita; deste ponto a poligonal finalmente se fecha acompanhando a linha que segue pela fachada lateral direita por 24,90m (vinte e quatro metros e noventa centímetros) em sentido horário até atingir o ponto P1 definindo assim o Perímetro de Tombamento do edifício do Antigo Cine Gramense.

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Santo Antônio do Grama. Antigo Cine Gramense. Perímetro de Tombamento. Escala 1:125.

Fevereiro de 2006. Elaboração: Bruno Berg Camisasca.

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JUSTIFICATIVA DA DEFINIÇÃO DO PERÍMETRO DE TOMBAMENTO

O perímetro de tombamento do bem é determinado por sua inserção em um lote urbano dentro de uma malha bem delimitada. Como se trata de um bem isolado e por não haver elementos externos ao lote integrados a este que justifiquem sua inclusão não há motivos para extrapolar este perímetro.

Outro fator determinante desta resolução diz respeito a uma relativa rigidez de intervenções que o edifício ou coisa tombada deve respeitar. Chegou-se à conclusão que esta série de restrições impossibilitaria a prática correta do tombamento integral, se estas medidas excedessem os limites do lote onde se insere o bem. Afirmando o intuito que a resolução do tombamento seja validada, fica assim justificada a definição do perímetro de tombamento.

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DELIMITAÇÃO E DESCRIÇÃO DO PERÍMETRO DE ENTORNO DE TOMBAMENTO

A poligonal de Perímetro de Entorno de Tombamento tem início por PE1, localizado no encontro do eixo da Rua Santa Ephigênia com o prolongamento da linha de divisa lateral direita do lote situado à esquina da Praça Francisco Luiz Pinto Moreira com Rua Santa Ephigênia; segue então a poligonal pelo eixo da Rua Santa Ephigênia, no sentido horário, até o ponto PE2 localizado exatamente no encontro do eixo da Rua Vicente Bretãs Cupertino com o eixo da Rua Santa Ephigênia; a partir daí a poligonal segue em sentido horário pelo eixo da Rua Vicente Bretas Cupertino em direção à ponte sobre o Ribeirão Santo Antônio do Grama onde está o ponto PE3, no encontro dos eixos da Rua Vicente Bretãs Cupertino e do Ribeirão Santo Antônio do Grama; a linha poligonal segue então pelo eixo do Ribeirão Santo Antônio do Grama em sentido horário até encontrar o ponto PE4, localizado no prolongamento do eixo de divisa lateral direita entre o lote localizado na esquina da Praça Francisco Luiz Pinto Moreira com a Rua Santa Ephigênia. Daí a poligonal de Entorno de Tombamento segue em sentido horário pela divisa lateral direita (e seus prolongamentos) do lote situado à esquina da Praça Francisco Luiz Pinto Moreira com Rua Santa Ephigênia até atingir o ponto PE1, fechando assim a área de entorno de tombamento do Edifício do Antigo Cine Gramense.

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Santo Antônio do Grama. Antigo Cine Gramense. Perímetro de Entorno de Tombamento. Escala 1:1250.

Fevereiro de 2006. Elaboração: Bruno Berg Camisasca.

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JUSTIFICATIVA DA DEFINIÇÃO DO PERÍMETRO DE ENTORNO DE TOMBAMENTO

O perímetro de entorno de tombamento do antigo Cine Gramense engloba o quarteirão onde o imóvel está inserido e a Praça Francisco Luiz Pinto Moreira, localizada exatamente em frente e busca garantir não só a ambiência gerada por essa implantação, como também as boas condições de apreciação e fruição do bem.

A inclusão de todo o quarteirão se faz necessária como garantia da manutenção de destaque do bem em relação a seus vizinhos e a sua rápida identificação em meio às demais edificações.

Já a inclusão de toda a Praça Francisco Luiz Pinto Moreira busca garantir visadas para o edifício de vários ângulos, integrando-o à mesma. Tal fato justifica-se ainda pela importância exercida por ela como local de encontro e sociabilidade urbana, principalmente quando considerada a perspectiva de dar ao bem novo uso, voltado para a cultura. Neste contexto, a Praça poderá servir como local de apoio aos eventos realizados no bem, visto que ela possui, inclusive espaço para shows e apresentações. Tudo isso facilita também a identificação do bem no cenário urbano, já que a Praça Francisco Luiz Pinto Moreira está localizada junto à Rua Vicente Bretas Cupertino, principal acesso da cidade para quem chega por Ponte Nova, de maneira que ao adentrar à Praça o antigo Cinema se apresenta como ponto central da paisagem que se abre (ver foto abaixo).

Vista da Praça Francisco Luiz Pinto Moreira chegando pela Rua Vicente Bretãs Cupertino. Santo Antônio do Grama

Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca. Fevereiro de 2006

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Dossiê de Tombamento

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DOCUMENTAÇÃO CARTOGRÁFICA

Localização da Microrregião de Ponte Nova no Estado de Minas Gerais Fonte: www.ibge.gov.br

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SANTO ANTÔNIO DO GRAMA MINAS GERAIS BRASIL MARÇO DE 2006 29

Municípios da Microrregião de Ponte Nova Fonte: www.ibge.gov.br

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Dossiê de Tombamento

SANTO ANTÔNIO DO GRAMA MINAS GERAIS BRASIL MARÇO DE 2006 30

Santo Antônio do Grama. Antigo Cine Gramense. Planta do primeiro pavimento. Escala 1:125. Fevereiro de 2006. Elaboração: Bruno Berg Camisasca.

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SANTO ANTÔNIO DO GRAMA MINAS GERAIS BRASIL MARÇO DE 2006 31

Santo Antônio do Grama. Antigo Cine Gramense. Fachada Frontal. Escala 1:100. Fevereiro de 2006. Elaboração: Bruno Berg Camisasca.

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Dossiê de Tombamento

SANTO ANTÔNIO DO GRAMA MINAS GERAIS BRASIL MARÇO DE 2006 32

Santo Antônio do Grama. Antigo Cine Gramense. Planta de Cobertura. Escala 1:125.

Fevereiro de 2006. Elaboração: Bruno Berg Camisasca.

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Dossiê de Tombamento

SANTO ANTÔNIO DO GRAMA MINAS GERAIS BRASIL MARÇO DE 2006 33

Santo Antônio do Grama. Antigo Cine Gramense. Perímetro de Tombamento. Escala 1:125.

Fevereiro de 2006. Elaboração: Bruno Berg Camisasca.

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Dossiê de Tombamento

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Santo Antônio do Grama. Antigo Cine Gramense. Perímetro de Entorno de Tombamento. Escala 1:1250.

Fevereiro de 2006. Elaboração: Bruno Berg Camisasca.

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SANTO ANTÔNIO DO GRAMA MINAS GERAIS BRASIL MARÇO DE 2006 35

DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA

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01

Antigo Cine Gramense Vista da Praça Francisco Luiz Pinto Moreira

chegando pela Rua Vicente Bretas Cupertino. Santo Antônio do Grama.

Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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02

Antigo Cine Gramense Fachada frontal. Santo Antônio do Grama.

Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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03

Antigo Cine Gramense Vista parcial da fachada lateral esquerda. Santo

Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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04

Antigo Cine Gramense Esquina entre a Praça Francisco Luiz Pinto Moreira e

a Rua Santa Ephigênia. Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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09

Antigo Cine Gramense Vista do corredor externo localizado no limite da lateral esquerda do edifício. Santo Antônio do

Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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10

Antigo Cine Gramense Vista do salão do bar a partir da entrada. Santo

Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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05

Antigo Cine Gramense Detalhe do brasão e da platibanda. Santo Antônio do

Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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06

Antigo Cine Gramense Abertura circular vazada da fachada frontal. Santo

Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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07

Antigo Cine Gramense Abertura do mezanino na fachada frontal. Santo

Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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Antigo Cine Gramense Portão principal de acesso. Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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15

Antigo Cine Gramense Vista do salão principal a partir da saída do segundo

cômodo. Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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16

Antigo Cine Gramense Vista interna a partir do palco. Santo Antônio do

Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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11

Antigo Cine Gramense Antiga sala de projeção. Santo Antônio do Grama.

Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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Antigo Cine Gramense Vista do primeiro cômodo construído ao lado da sala

de projeção. Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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13

Antigo Cine Gramense Vista do segundo cômodo. Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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Antigo Cine Gramense Vista do segundo cômodo. Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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21

Antigo Cine Gramense Piso em ladrilho hexagonal do hall de entrada. Santo

Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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22

Antigo Cine Gramense Forro tabuado lambri original (pintado) e mais recente

(natural). Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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17

Antigo Cine Gramense Alçapão no palco. Santo Antônio do Grama.

Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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18

Antigo Cine Gramense Entrada para corredor de acesso ao banheiro. Santo

Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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19

Antigo Cine Gramense Corredor de acesso ao banheiro localizado junto à

lateral esquerda do palco. Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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20

Antigo Cine Gramense Piso cimentado com tacos enfileirados. Santo Antônio

do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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SANTO ANTÔNIO DO GRAMA MINAS GERAIS BRASIL MARÇO DE 2006 39

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27

Antigo Cine Gramense Abertura circular vazada da sala de projeção para

fachada frontal. Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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28

Antigo Cine Gramense Saliência para colocação de iluminação. Santo

Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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23

Antigo Cine Gramense Forro tabuado no segundo cômodo. Santo Antônio

do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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24

Antigo Cine Gramense Esquadria metálica com bandeira fixa original. Santo

Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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25

Antigo Cine Gramense Porta metálica com bandeira fixa original. Santo

Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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Antigo Cine Gramense Esquadria alta da fachada lateral direita com vidros

pintados. Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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29

Antigo Cine Gramense Último jogo de cadeiras restante no edifício. Santo

Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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Antigo Cine Gramense Cadeiras originais do cinema utilizadas no posto de

saúde. Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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31

Antigo Cine Gramense Cloves Bayão mostra as lâmpadas utilizadas no

Antigo Cine Gramense. Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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32

Antigo Cine Gramense Livro de controle financeiro 1970-1976 do Cine Gramense pertencente a Cloves Bayão. Santo

Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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LAUDO DE AVALIAÇÃO SOBRE ESTADO DE CONSERVAÇÃO

RESPONSÁVEL TÉCNICO: Bruno Berg Camisasca

ASS: PROFISSÃO: arquiteto urbanista CREA MG: 089331 DATA: Março/2006 BEM TOMBADO EM::documentação anexa DOSSIÊ ENVIADO AO IEPHA EM: Abril/2006 ENDEREÇO: Praça Francisco Luiz Pinto Moreira, 45, Santo Antônio do Grama, MG

HÁ OBRA DE RESTAURAÇÃO EM ANDAMENTO? SIM ■ NÃO

HÁ PROJETO APROVADO POR LEI DE INCENTIVO À CULTURA? SIM ■ NÃO

EM CASO POSITIVO: LEI FEDERAL LEI ESTADUAL OUTRA COLABORAÇÃO/ACOMPANHAMENTO: Marcílio Oliveira Medeiros

ESTRUTURA ESTADO DE CONSERVAÇÃO

BOM REGULAR RUIM, NECESSITANDO INTERVENÇÃO

PAREDE DUPLA DE TIJOLOS MACIÇOS – ALVENARIA ESTRUTURAL

99% - 1%

DANOS VERIFICADOS A alvenaria estrutural, apesar do péssimo estado do edifício encontra-se em perfeito estado, não apresentando nenhum problema evidente. Apenas um pequeno trecho na antiga sala de projeção necessita ser refeito, pois a camada interna de tijolos junto ao vão da fachada frontal foi retirada e substituída por uma viga em concreto.

COBERTURA

ESTADO DE CONSERVAÇÃO

BOM REGULAR RUIM, NECESSITANDO INTERVENÇÃO

ESTRUTURA DO TELHADO (MADEIRA)

- 100% -

TELHADO (TELHA FRANCESA) - - 100%

TELHADO (TELHA FIBROCIMENTO) - - 100%

COROAMENTO (PLATIBANDA/FRONTÃO) - 100% -

DANOS VERIFICADOS A estrutura do telhado aparentemente não apresenta graves problemas, porém as peças, em grande parte substituídas na reforma de 1996 já apresentam as marcas do abandono e da exposição às águas pluviais, devido às telhas quebradas. Além do grande número de telhas quebradas e corridas, há também várias telhas faltantes. No coroamento da fachada, o único problema identificado é a presença de manchas escuras na pintura devido à ação de intempéries.

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ALVENARIAS

ESTADO DE CONSERVAÇÃO

BOM REGULAR RUIM, NECESSITANDO INTERVENÇÃO

TIJOLO 79% 20% 1%

DANOS VERIFICADOS A alvenaria estrutural, que percorre o perímetro do edifício encontra-se em perfeito estado, não apresentando nenhum problema evidente. Apenas um pequeno trecho na antiga sala de projeção necessita ser refeito, pois a camada interna de tijolos junto ao vão da fachada frontal foi retirada e substituída por uma viga em concreto. As alvenarias internas também não apresenta problemas graves, apenas alguns trechos mais desgastados por estarem expostos, sem nenhum tipo de revestimento.

REVESTIMENTO

ESTADO DE CONSERVAÇÃO

BOM REGULAR RUIM, NECESSITANDO INTERVENÇÃO

REBOCO - 30% 70%

PINTURA (A ÓLEO, À BASE DE ÁGUA) - - 100%

DANOS VERIFICADOS O reboco apresenta diversas falhas, sobretudo junto aos vãos. Além disso, a base está toda comprometida por ter ficado exposta à da água na enchente que tomou o edifício em 2005. A pintura de todo o edifício encontra-se em estado de conservação ruim. São encontrados problemas de descolamento da pintura, pintura gasta e exposição à água internamente devido à telhas e vidros quebrados.

VÃOS E VEDAÇÕES

ESTADO DE CONSERVAÇÃO

BOM REGULAR RUIM, NECESSITANDO INTERVENÇÃO

PORTAS - - 100%

JANELAS - - 100%

DANOS VERIFICADOS A grade de ferro da entrada encontra-se enferrujada tornando bastante difícil sua abertura. As portas de madeiras estão ressecadas e com a pintura gasta. As esquadrias metálicas apresentam ferrugem, vários vidros estão quebrados e os que estão inteiros apresentam pintura bastante gasta.

PISOS ESTADO DE CONSERVAÇÃO

BOM REGULAR RUIM, NECESSITANDO INTERVENÇÃO

CIMENTADO - - 100%

LADRILHO HEXAGONAL - 100% -

MADEIRA - - 100%

DANOS VERIFICADOS O piso de madeira do palco está completamente desgastado e apodrecido devido à exposição às intempéries. O piso cimentado ainda encontra-se tomado por barro e terra, resultado da enchente que tomou conta do edifício em 2005, impossibilitando uma análise mais detalhada do mesmo. Os trechos onde foi possível observar apresentam-se bastante desgastado. Os tacos assentados junto ao piso cimentado encontram-se bastante deteriorados. O piso em ladrilho hexagonal vermelho aparentemente não apresenta graves problemas, necessitando apenas de uma limpeza mais pesada.

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FORROS

ESTADO DE CONSERVAÇÃO

BOM REGULAR RUIM, NECESSITANDO INTERVENÇÃO

MADEIRA - - 100%

DANOS VERIFICADOS Forro em péssimo estado com vários trechos soltos ou desabando. Peças apodrecidas devido ao alto índice de goteiras no telhado, levando o forro a uma exposição direta às intempéries.

AGENCIAMENTO EXTERNO

ESTADO DE CONSERVAÇÃO

BOM REGULAR RUIM, NECESSITANDO INTERVENÇÃO

MURO - 100% -

PORTÃO LATERAL - - 100%

CORREDOR EXTERNO - - 100%

DANOS VERIFICADOS O muro externo apresenta apenas manchas na pintura, estando em estado regular. O portão de acesso lateral está enferrujado e amassado, não sendo possível utilizá-lo. O corredor lateral acusa as marcas do abandono do edifício estando tomado por vegetação e sujeira, mesmo tendo o piso cimentado.

INSTALAÇÕES

ESTADO DE CONSERVAÇÃO

BOM REGULAR RUIM, NECESSITANDO INTERVENÇÃO

INSTALAÇÃO ELÉTRICA - - 100%

INSTALAÇÃO HIDRÁULICA - - 100%

DANOS VERIFICADOS Instalações elétricas precárias. Fiação aparente para se adaptar ao uso do bar, tomadas penduradas, fios soltos e sem proteção. Instalação hidráulica também precária, com tubulação aparente adaptada para chuveiro. Não foi possível identificar vazamentos pois o prédio encontra-se sem abastecimento de água.

EXISTÊNCIA DE INSTALAÇÕES DE

SEGURANÇA

ESTADO DE CONSERVAÇÃO

BOM REGULAR RUIM, NECESSITANDO INTERVENÇÃO

INSTALAÇÃO DE PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIO

SIM X NÃO

- - -

SISTEMA DE SEGURANÇA

SIM X NÃO

- - -

USOS

Usado durante muito tempo como cinema e salão de bailes, onde há um grande número de pessoas transitando no edifício, este uso poderia justificar o desgaste do piso cimentado. Porém, o péssimo estado de conservação do edifício deve-se a seu total abandono após a enchente de fevereiro de 2005. A tentativa de adaptação do prédio ao uso de bar também contribuiu, e muito, para sua fragilização e deterioramento. Isto porque as reformas, feitas de maneira incompleta e sem o devido cuidado deixam à mostra e desprotegidas partes do edifício, como as paredes rasgadas de onde foi retirado o mezanino e sua estrutura ou o piso sem revestimento onde antes ficava a alvenaria que dividia o hall do salão principal.

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FOTOGRAFIAS

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01

Antigo Cine Gramense Trecho que teve a parte interna dos tijolos retirada

na sala de projeção. Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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02

Antigo Cine Gramense Telhas quebradas. Santo Antônio do Grama.

Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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03

Antigo Cine Gramense Marcas da ação das chuvas na parede do palco.

Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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04

Antigo Cine Gramense Telha de fibrocimento quebrada no corredor de acesso ao banheiro. Santo Antônio do Grama.

Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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05

Antigo Cine Gramense Falha no reboco junto ao portão de acesso na

fachada frontal. Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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06

Antigo Cine Gramense Destruição do reboco junto à porta de entrada para o

corredor de acesso ao banheiro. Santo Antônio do Grama.

Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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07

Antigo Cine Gramense Manchas da ação do tempo no muro de divisa.

Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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08

Antigo Cine Gramense Trecho da parede onde era fixado o mezanino. Santo

Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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09

Antigo Cine Gramense Faixa de piso correspondente à parede de divisão

entre salão e hall. Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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Antigo Cine Gramense Piso bruto onde havia piso elevado na sala de

projeção. Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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11

Antigo Cine Gramense Marca na base da parede referente ao nível de água que atingiu a enchente de 2005. Santo Antônio do

Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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12

Antigo Cine Gramense Situação do salão principal e palco. Santo Antônio do

Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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Antigo Cine Gramense Porta de acesso à sala de projeção solta. Santo

Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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Antigo Cine Gramense Pintura dos vidros destruída e vidros faltantes nas

janelas. Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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Antigo Cine Gramense Detalhe da porta de enrolar totalmente enferrujada.

Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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Antigo Cine Gramense Detalhe do piso cimentado – desgaste é maior junto

aos tacos. Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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17

Antigo Cine Gramense Manchas no piso e na parede denunciam a alta

exposição às intempéries. Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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18

Antigo Cine Gramense Piso do palco deteriorado pela ação das chuvas.

Santo Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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19

Antigo Cine Gramense Forro tabuado com peças soltas. Santo Antônio do

Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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Antigo Cine Gramense Detalhe do forro tabuado e as peças soltas. Santo

Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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Antigo Cine Gramense Tomada pendurada por fiação aparente. Santo

Antônio do Grama. Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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Antigo Cine Gramense Fiação e encanamento aparentes no corredor de acesso ao banheiro. Santo Antônio do Grama.

Fotógrafo: Bruno Berg Camisasca – Fevereiro/2006

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CONCLUSÃO

BEM CULTURAL

ESTADO DE CONSERVAÇÃO

BOM REGULAR RUIM, NECESSITANDO INTERVENÇÃO

PRÉDIO DO ANTIGO CINE GRAMENSE 5% 10% 85%

O edifício do antigo Cine Gramense encontra-se em péssimo estado de conservação, necessitando urgentemente de reforma em todos os seus elementos. Pelo seu estado, não seria exagero dizer quer devemos o fato de ele ainda estar de pé ao belíssimo trabalho feito em sua construção no que diz respeito às alvenarias estruturais perimetrais, que até os dias de hoje não apresentaram absolutamente nenhum problema. O estado a atual do edifício deve-se a três fatores, principalmente: o primeiro é a ação natural do tempo e o descaso dos proprietários após o fechamento do cinema (este fator é até compreensível, uma vez que tínhamos 25 associados e o cinema não possuía fins lucrativos); o segundo é a série de intervenções agressivas e o mal uso de seu espaço desde que este passou a ser utilizado como bar no ano 2000; o terceiro é a terrível enchente que tomou toda a cidade em fevereiro de 2005 e o posterior abandono do prédio que se manteve fechado e até a data de elaboração deste dossiê era um retrato claro do caos e destruição que tomou conta de Santo Antônio do Grama nesse fatídico dia.

Belo Horizonte, 24 de março de 2006.

______________________________________________

Bruno Berg Camisasca Arquiteto Urbanista – CREA-MG 089331

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DIRETRIZES DE INTERVENÇÃO PARA O BEM TOMBADO

O edifício em questão possui grande valor simbólico-afetivo junto à população gramense e é de extrema importância para a memória cultural do município. Nesse sentido é recomendado que o edifício passe a abrigar usos que incentivem a produção cultural na cidade e no bem, resgatando o forte sentimento que o prédio do antigo Cine Gramense remete. Obviamente este tipo de intervenção deve ser feita a partir de acordo entre a Prefeitura Municipal, por meio do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, e seus proprietários, já que se trata de um imóvel particular.

Em função de seu precário estado de conservação, o edifício necessita de um abrangente projeto de restauro que contemple todos os seus aspectos construtivos. A necessidade de tal medida revela-se urgente, sob pena do agravamento dos problemas observados e a conseqüente potencialização dos riscos apresentados.

É aconselhável que tal reforma seja feita já visando o novo uso que terá o bem e que seja contratado profissional habilitado para o referido restauro e o projeto de adaptação do edifício, ficando a cargo deste as decisões de soluções projetuais. Recomenda-se, no entanto, a eliminação das alvenarias internas executadas ao longo dos últimos anos pra se resgatar a configuração de todo o salão principal do edifício. É importante frisar que toda e qualquer intervenção que venha a ser feita, deverá deixar a marca de seu tempo e ser diferenciada dos originais, para evitar falsificações históricas. Porém não devem também ser evidenciadas, pois não devem chamar mais atenção que a substância autêntica. Deverão ser acordados entre o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural e os proprietários a aprovação de quaisquer intervenções que por ventura venham a ser efetuadas, podendo o supracitado Conselho contratar, por meio da Prefeitura Municipal, técnicos que possam avaliar a necessidade, o teor, a quantidade e a qualidade das intervenções propostas.

O Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, através da Prefeitura Municipal, deve contratar anualmente um técnico especialista (arquiteto ou restaurador) para avaliar o estado de conservação do Bem Cultural tombado. O profissional contratado deverá emitir um Laudo Técnico sobre o estado de conservação.

Para que a preservação do bem em questão seja efetiva, é necessário que, dentro do perímetro de entorno de tombamento, os seguintes itens sejam observados:

Qualquer intervenção a ser realizada dentro do perímetro de entorno de tombamento deverá passar por aprovação no Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, que não poderá permitir ações que prejudiquem a boa visualização, identificação e fruição do bem;

O gabarito das edificações do entorno não deverá ultrapassar um pavimento (aproximadamente 3m), garantindo-se assim, a preservação das diversas visadas do edifício e a sua posição de destaque na paisagem local;

O perímetro de entorno de tombamento deverá garantir a boa ambiência ao bem. Dessa forma não será permitida a construção de elementos que desviem a percepção volumétrica do mesmo. As árvores da Praça Francisco Luiz Pinto Moreira devem ser mantidas podadas e equipamentos urbanos que porventura venham a ser colocados, como bancos, postes luminosos, fontes, esculturas, monumentos ou placas comemorativas deverão passar por estudo técnico adequado e aprovação do projeto pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural;

As intervenções efetuadas na Praça Francisco Luiz Pinto Moreira deverão sempre buscar aprimorar sua integração com o bem tombado. No caso de reforma ou de

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serem refeitas a edificação e a marquise para shows existente na Praça, estes deverão sempre buscar liberar as visadas da Praça para o edifício e nunca poderão encobrir estas visadas mais do que a situação atual;

É recomendada a relocação do trailer de lanches existente na Praça, a fim de se liberar a visada do edifício para quem chega a partir da Rua Vicente Bretas Cupertino;

As cores utilizadas não devem se sobressair em relação ao conjunto, mantendo a harmonia urbana;

Os usos dos atuais locais deverão preferencialmente corresponder aos mesmos encontrados atualmente, em função da manutenção do cenário encontrado na época de realização deste dossiê. Se alterados, devem ser observadas as diretrizes acima e acompanhados pelo Conselho Municipal de Patrimônio;

Placas indicativas sobre o Conjunto devem ser inseridas nas principais ruas que envolvem o entorno do Bem, informando sobre sua localização, história, importância para a cidade e sua nova condição de bem tombado.

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ANEXO I – FICHA DE INVENTÁRIO

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ANEXO II – DOCUMENTOS LEGAIS

Parecer sobre o tombamento elaborado por membro do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural

Parecer sobre o tombamento elaborado pelo profissional responsável pela elaboração do dossiê

Cópia da Ata de reunião do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural aprovando perímetros, diretrizes e tombamento provisório

Notificação aos proprietários dos bens informando o tombamento

Recibos de Notificação

Edital de Tombamento Provisório

Cópia da Ata de reunião do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural aprovando tombamento definitivo

Cópia do decreto do executivo tombando o bem cultural

Cópia da inscrição do bem cultural no Livro de Tombo Municipal

Cópia da divulgação do Decreto de Tombamento do bem

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PARECER TÉCNICO PARA O TOMBAMENTO DO ANTIGO CINE GRAMENSE

O edifício do antigo Cine Gramense é um claro exemplo da arquitetura do cotidiano feita no interior do Estado em meados do século XX. Suas características construtivas e arquitetônicas são simples, claras e objetivas. O edifício preza pela funcionalidade e ganha destaque naturalmente num quarteirão de casas térreas por seu pé-direito duplo. Ele representa então uma maneira de se fazer arquitetura de seu lugar (pequena cidade do interior) e sua época (meados do século XX) bem clara.

Porém, o grande charme do edifício, o que faz ele realmente se destacar frente aos demais edifícios da cidade é o seu caráter simbólico e afetivo para a população do município. O carinho que os moradores de Santo Antônio do Grama demonstram pelo Cine Gramense vai muito além de suas rígidas paredes duplas de tijolos maciços ou de seu coroamento na fachada frontal numa platibanda que parece tentar fazer as vezes de frontão. É o carinho por quem foi durante quase trinta anos o grande movimentador cultural da cidade. Mais do que exibir filmes, o Cine Gramense era o ponto de convergência das manifestações culturais em Santo Antônio do Grama. Uma lembrança ainda viva para cada um que compareceu às suas sessões de Tarzan, filmes de faroeste, de terror, amor ou religiosos, às peças do grupo de teatro da cidade, aos bailes e apresentações que ali também aconteciam.

O edifício do Cine Gramense é a memória de um tempo onde a cultura gramense se fazia movimentada e ativa, nos dias de hoje em que ela anda quase adormecida. A recuperação do bem em questão exercendo atividades culturais na cidade pode significar mais do que a revitalização e tombamento de um edifício, mas o renascimento de uma cultura local que pode trazer para uma nova geração a mesma alegria que levou para aqueles que agora carregam na memória as estórias vividas no saudoso Cine Gramense.

Belo Horizonte, 24 de março de 2006.

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Bruno Berg Camisasca Arquiteto Urbanista – CREA-MG 089331

ANTIGO CINE GRAMENSE

Dossiê de Tombamento

SANTO ANTÔNIO DO GRAMA MINAS GERAIS BRASIL MARÇO DE 2006 54

BIBLIOGRAFIA

Cine Gramense: sinônimo de abandono. Jornal Pro-Grama, p.3. Santo Antônio do Grama, fevereiro de 1995.

Diretrizes para a proteção do Patrimônio Cultural de Minas Gerais. Belo Horizonte: Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA/MG.

DOMINGUES, José Henrique. Memória Histórica de Santo Antônio do Grama. Viçosa, 1997.

Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Grama: Alvará de Licença para Construção de um Cinema na Praça Santa Rita, 3 de dezembro de 1954.

www.almg.gov.br

www.der.mg.gov.br

www.descubraminas.com.br

www.ibge.gov.br

Fontes orais:

Áurea Gomes Leal Lima

Cloves bayão

Marcílio Oliveira Medeiros

Maria Beatriz Vieira Torres

Rita de Cássia Braga Quintal

Wânia Lopes de Oliveira

ANTIGO CINE GRAMENSE

Dossiê de Tombamento

SANTO ANTÔNIO DO GRAMA MINAS GERAIS BRASIL MARÇO DE 2006 55

FICHA TÉCNICA

Equipe responsável pela realização do dossiê:

ARO Arquitetos Associados Ltda CREA MG 28.859

CNPJ 04.544.819/0001-70 Inscrição Municipal 167.155.001-0

Av. Portugal, 2.085/loja 14, Pampulha, Belo Horizonte - MG, CEP 31.555-000

TeleFax (31) 3491.1118/9157.9071 e-mail [email protected]

Levantamento e elaboração Bruno Berg Camisasca Arquiteto Urbanista CREA-MG 089331

Revisão histórica Letícia Martins Historiadora RG. M-6.081.185

Colaboração/Agradecimentos Equipe Técnica da Prefeitura Municipal do município de Santo Antônio do Grama

Conselho Municipal do Patrimônio Cultural do município de Santo Antônio do Grama

Apoio Ana Paula Costa Arquiteta Urbanista CREA-MG 80.093

Branca Perocco Arquiteta Urbanista CREA-MG 79.329

Jusyanna de Souza e Silva Arquiteta Urbanista CREA-MG 04002266

Viviane Braga Arquiteta Urbanista RG. MG-11.448.275

Orientação e revisão Andrea Zerbetto Arquiteta Urbanista CREA-MG 69.616

Coordenação Geral Rodrigo Torres Arquiteto Urbanista CREA-MG 75.598

Belo Horizonte, 24 de março de 2006.

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Bruno Berg Camisasca Arquiteto Urbanista – CREA-MG 0501257

Responsável pelo levantamento e a elaboração

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Letícia Martins Historiadora

Responsável pela revisão histórica

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Andréa Zerbetto Arquiteta Urbanista – CREA-MG 69.616

Responsável pela orientação e a revisão geral