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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
CURSO DE PEDAGOGIAO Ensino da História no I Grau (II)
Docente: João Maria Valença de Andrade
Discente: Daniella Bezerra
Dossiê: Oficina Pedagógica de Formação de Conceitos
INTRODUÇÃO
Sabendo que a aprendizagem é uma atividade que acontece no meio social na
constante interação com outras pessoas, e que deve ser orientada de modo que venha a
ser transformadora, o professor deve estar atento as diversas maneiras de como seus
alunos aprendem a fim de poder oferecer-lhes situações de aprendizagens que de fato
sejam significativas. Dessa forma, o presente trabalho apresenta o dossiê que foi
construído coletivamente durante a primeira unidade da disciplina O ensino de História
no primeiro grau II, ministrada pelo professor João Maria Valença de Andrade, na qual
foi desenvolvida uma oficina pedagógica com a finalidade de conduzir os alunos na
formação do conceito de ditadura.
Inicialmente faremos uma pequena exposição sobre as etapas da formação do
conceito, segundo a teoria de Galperin, explicando como cada etapa acontece até chegar
a formação do mesmo no campo mental. Em seguida relataremos a primeira aula da
unidade, quando o professor fez o comentário geral sobre os conteúdos a serem
abordados durante o semestre, assim como as explicações de que trabalharíamos em
forma de oficina.
Continuaremos a montagem do dossiê descrevendo como as aulas seguintes
aconteceram, assim como as etapas da formação do conceito foram sendo desenvolvidas
e apreendidas ao longo das atividades e do desenvolvimento da ação coletiva da turma.
Por fim apresentaremos as considerações finais registradas pelo grupo a cerca de
como a oficina contribuiu para que pudéssemos compreender sua pertinência no
desenvolvimento das atividades em nossas futuras salas de aula.
2) DESCRIÇÃO COMENTADA DAS ETAPAS DA OFICINA PEDAGÓGICA
O trabalho com oficinas pedagógicas na sala de aula é uma importante estratégia
pedagógica que visa facilitar a aprendizagem do aluno através de um contexto em que
prevalece a clareza e a diversificação, de modo que o aluno aprenda a partir da sua
capacidade de apropriação dos saberes, desenvolvendo as funções mentais e cognitivas.
Assim, para facilitar a nossa compreensão do que seria uma aprendizagem
através de uma oficina pedagógica, o professor da disciplina Ensino de História no I
Grau (II), João Maria Valença de Andrade, nos conduziu a entender o conceito da
Ditadura civil-militar brasileira, através da vivência de uma oficina durante a primeira
unidade do curso.
Para realizar a oficina o professor indicou para leitura dois textos: Formação de
conceitos segundo a teoria de assimilação de Galperin, de autoria de ISAURO NUÑES
(1998) e Oficina Pedagógica: Recurso mediador da atividade de aprender de
FERREIRA (2001), para servirem como suporte no entendimento das etapas que seriam
desenvolvidas no decorrer das realizações das atividades que foram desenvolvidas na
referida unidade.
O texto de FERREIRA (2001), oferece dados importantes para a realização de uma
oficina, já o texto de NUÑES (1998) trata da formação de conceitos através das teorias
de Vygotsky, Leontiev e Galperin, as quais confirmam que a aprendizagem é uma
atividade social e que acontece através das seguintes etapas:
1. Etapa motivacional;
2. Etapa BOA (Base orientadora da ação);
3. Etapa do plano material ou materializado;
4. Etapa da linguagem externa;
5. Etapa mental.
Etapa motivacional: é fase inicial do processo da formação do conceito. Nessa etapa
não há nenhum tipo de ação, ela prepara os alunos para a assimilação dos novos
conhecimentos.
Etapa BOA (Base orientadora da ação): nessa etapa é oferecida ao aluno as
condições necessárias para que ele possa compreender as estruturas da atividade, assim
sendo, essa etapa deve garantir a compreensão e a motivação do mesmo na construção
do objeto de aprendizagem. Portanto, ela deve seguir a ordem de realização dos
componentes da ação: orientação, execução e controle.
Etapa do plano material ou materializado: essa etapa recebe essa denominação uma
vez que a ação pode ser dos dois tipos, ou seja, no plano material serve de objeto de
estudo o próprio objeto, enquanto, na forma materializada, serve o seu substituto
(NUÑES e PACHECO (1998). É a partir dessa etapa que o aluno dá início a realização
da ação, porém no plano externo, ou seja, ele passa a desenvolver de forma detalhada as
atividades que se configurarão na ação. Aqui ele se relaciona com o objeto de estudo
realizando ações manipulativas, externas, de modo que possa distingui-las e separá-las
com a ajuda de palavras
Etapa da linguagem externa: nessa etapa o que prevalece é o uso da linguagem oral
ou escrita. Não há mais a necessidade do apoio dos objetos reais, o aluno deve externar
a sua compreensão através da oralidade ou da escrita, dando início a conversão da ação
em uma ação teórica, baseada em palavras e conceitos verbais. Assim, o aluno já pode
redefinir sua compreensão dos conceitos e procedimentos nos diferentes domínios. Sem
apoio externo, a ação se transforma e atinge a lógica do conceito.
Etapa mental: é a etapa em que ocorre a transformação da ação externa em ação
interna, configurando-se na etapa final da formação do conceito. Agora o aluno pode
internalizar o conceito do objeto de estudo, o qual passa a ser constituído em unidade de
pensamento oferecendo-lhe condições para resolver a atividade de forma independente.
Considerando a necessidade de descrever as etapas da oficina realizada em nossa
sala de aula e comentá-las achamos por bem dividir essas etapas pelas datas
correspondentes às realizações das atividades da oficina pedagógica.
No dia 25 de fevereiro, ao iniciar as atividades do curso O ensino de História II,
o professor João Valença fez um descrição de como seriam desenvolvidas as atividades
durante o curso, o que poderíamos dizer que foi um resumo do programa do curso. Em
seguida indagou quanto à definição sobre os conceitos de História e de Tempo histórico,
levando em consideração os conhecimentos que tínhamos adquirido no semestre
anterior.
No segundo momento da aula o professor deu inicio a oficina (etapas
motivacional/Base orientadora da ação-BOA) partindo da leitura da historia “Era uma
vez um tirano” de Ana Maria Machado. A história tratava de um governante que não
deixava seus súditos falarem ou agirem conforme as suas vontades, sendo obrigados a
aceitarem tudo o que ele determinasse. Em seguida pediu que a turma formasse grupos e
tentassem elaborar um conceito para a história lida.
Em seguida os grupos expuseram suas conclusões e os conceitos apresentados
foram: imposição, tirania, ditadura, censura, insatisfação, poder, inconseqüência,
preconceito, crueldade, déspota.
Na aula do dia 11 de março, o professor continuou com a atividade das etapas
motivacional e Base orientadora da ação (BOA), fazendo uma retomada das palavras
usadas para definir a história Era uma vez um tirano, em seguida distribuiu com os
grupos um papel e solicitou aos alunos que elaborassem uma “definição” para a palavra
escrita nesse papel, bem como escolhessem um nome para o grupo baseado no assunto
estudado no semestre anterior. A palavra era DITADURA. A definição dada por nosso
grupo foi: DITADURA: ato ou efeito de repressão ao direito de liberdade de uma
população. O nome escolhido para o grupo foi “O tempo não para”.
Após a apresentação das definições escritas pelos grupos, o professor pediu que
um componente de cada grupo elaborasse um cartaz para a aula seguinte com a
definição dada a palavra ditadura, assim como enviassem para ele, via SIGAA, a mesma
definição.
No segundo momento da aula teve inicio a etapa do plano material, através da
apresentação do filme “O que é isso companheiro?”, de Bruno Barreto, produzido no
ano de 1997, o qual trata da Ditadura civil-militar brasileira, mostrando a ação dos
grupos de esquerda, Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8) e Ação
Libertadora Nacional, que no ano de 1969 realizaram o sequestro do embaixador
americano no Brasil, para trocarem pelos companheiros que haviam sido presos por
lutarem pelo fim da ditadura no Brasil.
No dia 18 de março o professor deu continuidade a etapa material/materializada
e avançou para a etapa externa, quando os grupos apresentaram os cartazes com a
definição da palavra ditadura. O professor ressaltou a importância da leitura dos textos
para que não se perdesse o significado da atividade e fez uma abordagem sobre o uso do
cinema no ensino de história, em seguida pediu que os grupos anotassem as
semelhanças e as diferenças nas palavras escritas nas definições expostas nos cartazes.
O nosso grupo fez as seguintes observações:
Semelhanças Diferenças
Regime de governo;
Reprimido/repressão;
População;
Imposição/poder imposto;
Poder centralizado/centralização
Ausência de liberdade.
Censura;
Perseguição política;
Forma autoritária;
Insatisfação.
Após a discussão feita pelos grupos em relação as semelhanças e diferenças
encontradas nos cartazes, o professor entregou um cartão com as propriedades do termo
ditadura, as quais foram:
1. Regime político autoritário;
2. Poder exercido por pessoa ou grupo que exprime toda e qualquer
oposição;
3. Sobreposição do executivo aos demais poderes do estado;
4. Censura, violência política; tortura.
Em seguida pediu que observássemos se as propriedades estavam condensadas
nas palavras semelhantes encontradas nos cartazes. Após as conclusões dos grupos, foi
passada uma atividade para casa: elaborar um cartão com as propriedades da palavra
ditadura. Depois foi solicitado, pelo professor, que procurássemos encontrar as
propriedades da ditadura dentro do objeto materializado, ou seja, no filme O que é isso
companheiro?
O nosso grupo chegou as seguintes relações:
Propriedades Relações
Regime político autoritário. Prisão dos opositores.
Poder exercido por pessoa ou grupo que
exprime toda e qualquer oposição
Cena em que aparecem os manifestantes
da passeata sendo reprimidos pela polícia
militar.
Sobreposição do executivo aos demais
poderes do estado
Censura A não divulgação do assalto ao banco.
Violência política Repressão aos grupos de esquerda; fotos
dos procurados.
Tortura Oswaldo sendo “afogado” para entregar
os companheiros, Paulo amarrado ao pau-
de-arara, nu.
Para finalizar a aula o professor orientou que a culminância da oficina seria no
dia 08 de abril com a apresentação de pôsteres temáticos, os quais teriam os seguintes
temas:
1. Ditadura civil-militar (1964-1985): Aspectos econômicos;
2. Ditadura civil-militar (1964-1985): Aspectos políticos;
3. Ditadura civil-militar (1964-1985): Censura a imprensa e as artes;
4. Ditadura civil-militar (1964-1985): Resistência cultural;
6. Ditadura civil-militar (1964-1985): Grupos a resistência armada;
7. Ditadura civil-militar (1964-1985): A abertura política.
Na aula do dia 25 de março foi dada continuidade a etapa da linguagem externa.
Inicialmente a turma fez a leitura, nos grupos, da música Apesar de você, de Chico
Buarque, gravada no ano de 1970 e em seguida procuraram relacionar as propriedades
dadas na aula anterior para a palavra ditadura, com a letra da música. Após a exposição
das conclusões do grupo foi feita a audição da música para que os alunos pudessem
acrescentar mais alguma relação.
Depois disso o professor colocou no quadro o esquema das etapas da
aprendizagem do conceito defendidas por Galperin para que pudéssemos relacioná-las
com as etapas desenvolvidas na sala de aula, em seguida explicou como o Regime
militar se instalou no Brasil, assim como o contexto em que a música Apesar de você
foi composta e distribuída e as explicações dadas pelo autor aos órgãos repressores.
Ainda continuando com a etapa da linguagem externa foi distribuído algumas
perguntas sobre o regime em estudo, para que os grupos pudessem expor suas
conclusões a cerca do referido regime, as quais foram:
1. Como estaria a sociedade brasileira hoje se não tivesse ocorrido a ditadura civil-
militar?
2. Quais as conseqüências mais marcantes da ditadura civil-militar na sociedade
brasileira atual?
O grupo o Tempo não para ficou com a segunda pergunta e chegou às seguintes
conclusões:
Aumento dos movimentos sociais em busca dos direitos dos cidadãos;
greves; conscientização política; valorização da liberdade de expressão; a
democracia exercida através do voto; crescimento econômico; aumento
do poder de compra; participação feminina no poder.
* Essa atividade teve como objetivo marcar o avanço do conceito do plano material para
o plano mental.
No dia 01 de abril foi concluída a etapa do plano mental, através da leitura e
discussão dos verbetes sobre a palavra ditadura. Foram quatro os verbetes apresentados,
os quais foram retirados dos seguintes dicionários:
Dicionário breve de história, de autoria de Antonia Domingues de
Almeida e outros. Publicado em Lisboa no ano de 1996.
Dicionário de normas, termos e conceitos históricos, de autoria de
Antonio Carlos do Amaral Azevedo, publicado no Rio de Janeiro no ano
de 1999.
Dicionário Houaiss da língua portuguesa, publicado no Rio de Janeiro
no ano de 2001.
Dicionário de política, de autoria de Norberto Bobbio e outros,
publicado em Brasília no ano de 1992.
Para encerrar o assunto o professor deu mais orientações a cerca da
confecção do painel e deixou o restante do horário para que os grupos dessem
continuidade a organização do dossiê e do painel.
3) CONSIDERAÇÕES DO GRUPO
A oficina pedagógica tratou de um conjunto de atividades bastante
pertinentes para que possamos trabalhar a formação de conceitos de uma forma
reflexiva e dinâmica. Compreendendo as suas etapas, desde a situação motivadora,
conhecida como etapa zero, na qual se procura levar em consideração os conhecimentos
prévios dos alunos (incluindo o senso comum) buscando sua preparação para a etapa
seguinte até a etapa mental, na qual a compreensão dos conceitos já está internalizada
de maneira consciente, sendo fruto de ações práticas e utilitárias, por parte dos sujeitos
envolvidos, é que percebemos na estrutura da oficina, sua maior contribuição.
Essas etapas são importantes, na medida em que permitem ao docente em
formação, agir de maneira orientada para que possa alcançar os objetivos propostos pela
oficina. Além disso, a realização dessas atividades tem proporcionado ao longo do seu
desenvolvimento a prática do trabalho cooperativo, proporcionando a troca de
conhecimentos e assumindo também a responsabilidade nas realizações das etapas em
grupo.
É certo que, para se desenvolver a realização de atividades práticas em sala
de aula, as dificuldades são bastantes presentes. É nesse sentido que a estruturação da
oficina para a elaboração de conceitos foi mostrando ao longo das etapas apresentadas
durante as aulas sua contribuição fundamental, que consiste em facilitar a prática do
trabalho docente na proposta a qual foi requerida, assim como no processo de ensino e
de aprendizagem.
Dessa forma, consideramos a oficina pedagógica uma importante ferramenta
para se trabalhar em sala, uma vez que ao levarmos o aluno a praticar o exercício das
trocas de experiências, assim como facilitar o seu processo de desenvolvimento
cognitivo, estamos colaborando para uma aprendizagem significativa e que certamente
o colocará no centro do processo ensino/aprendizagem.
4) APÊNDICE
BIBLIOGRAFIA
O QUE É ISSO, COMPANHEIRO? País: Brasil. Ano: 1997. Produção: LC
Barreto/Equador filmes. Direção: Bruno Barreto. Roteiro: Leopoldo Sedran. Fotografia:
Vantoen Pereira Jr. Musica: Stewart Copeland. Elenco: Fernanda Torres, Pedro
Cardoso, Cláudia Abreu, Luis Fernando Guimarães, Selton Melo. Classificação: 14
anos. Categoria: Policial. Duração: aprox. 113 min.
FERREIRA, Mª Salonilde. Oficina pedagógica: recurso mediador da atividade de
aprender. In RIBEIRO, Márcia M. Gurgel. FERREIRA, Mª Salonilde (orgs). Oficina
pedagógica: uma estratégia de ensino-aprendizagem. Natal: Edufrn, 2001.
NUÑES, Isauro Beltrán; PACHECO, Otimara Gonzalez. Formação de conceitos
segundo a teoria de assimilação de Galperin. Trad. Áurea Maria