DP_03_MP_PressupostosProcessuais

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O Ministrio Pblico de Moambique Pressupostos processuais

Ribeiro Jos Cuna Outubro de 2009

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ndice geral PginasNotas preliminares .......................................................................................................................... 5 O Ministrio Pblico de Moambique ............................................................................................ 6 Introduo ....................................................................................................................................... 8 1.Definio, natureza, composio e autonomia do Ministrio Pblico......................................... 9 1.1.Definio e natureza do Ministrio Pblico.............................................................................. 9 1.2. Autonomia e composio do Ministrio Pblico ................................................................... 10 2.Atribuies do Ministrio Pblico ............................................................................................. 10 2.1.Da competncia para requisio de esclarecimentos, documentos ou diligncias. ................ 19 2.2.Consideraes sobre as competncias do Ministrio Pblico na jurisdio cvel. ................. 20 3.Representao do Ministrio Pblico ........................................................................................ 22 3.1.Da articulao com o Conselho de Ministros ......................................................................... 23 4.Funcionamento do Ministrio Pblico ....................................................................................... 24 5.rgos do Ministrio Pblico .................................................................................................... 24 5.1.Procuradoria-Geral da Repblica ............................................................................................ 25 5.1.1.Definio e Autonomia ........................................................................................................ 25 5.1.2.Funes e competncias da Procuradoria-Geral da Repblica ............................................ 26 5.1.3.Estrutura e composio da Procuradoria-Geral da Repblica ............................................. 28 5.2.Procurador-Geral da Repblica e Vice-Procurador-Geral da Repblica. ............................... 29 5.2.1.Nomeao e cessao de funes ........................................................................................ 29 5.2.2.Competncias do Procurador-Geral da Repblica e Vice-Procurador-Geral da Repblica. 30 6.Informao anual Assembleia da Repblica ........................................................................... 31 7.Conselho Coordenador da Procuradoria-Geral da Repblica .................................................... 33 7.1.Definio, composio, competncias e funcionamento ........................................................ 33 8.Conselho Tcnico....................................................................................................................... 33 8.1.Definio, composio, competncias e funcionamento ........................................................ 34 9.Conselho Consultivo .................................................................................................................. 35 9.1.Definio, competncias e composio. ................................................................................. 35 10.Aparelho tcnico-administrativo da Procuradoria-Geral da Repblica. .................................. 36 11.Departamentos especializados e direces das reas. .............................................................. 36 12.Secretariado Geral .................................................................................................................... 36 12.1.Natureza, estrutura orgnica e competncias ........................................................................ 36 12.2.Direco do Secretariado Geral e competncias do Secretrio-Geral. ................................. 37 13.Gabinete do Procurador-Geral da Repblica. .......................................................................... 38 14.rgos subordinados ................................................................................................................ 38 14.1.Gabinete Central de Combate Corrupo .......................................................................... 38 14.1.1.Definio, organizao orgnica e competncias do Gabinete Central de Combate Corrupo. ..................................................................................................................................... 39 14.1.2.Gabinete Provincial de Combate Corrupo ................................................................... 42 15.Procuradoria da Provncia e Procuradoria de Distrito ............................................................. 43 15.1.Procuradoria da Provncia ..................................................................................................... 43 15.2.Procuradoria de Distrito ........................................................................................................ 47 2

16.Prerrogativas Especiais dos Procuradores da Repblica no mbito da Reposio da Legalidade. .................................................................................................................................... 50 17.Categorias e carreira da Magistratura do Ministrio Pblico .................................................. 51 18.Gesto e disciplina da magistratura do Ministrio Pblico ..................................................... 51 Conselho Superior da Magistratura do Ministrio Pblico .................................................. 51 Inspeco do Ministrio Pblico ........................................................................................... 53 Concluso ...................................................................................................................................... 54 Legislao ..................................................................................................................................... 56 Outras fontes ................................................................................................................................. 57 Pressupostos processuais .............................................................................................................. 58 Introduo ..................................................................................................................................... 59 1.Pressupostos processuais ........................................................................................................... 60 1.1.Noo ...................................................................................................................................... 60 1.2.Personalidade judiciria .......................................................................................................... 60 1.2.1.Consequncias da falta de personalidade judiciria............................................................. 63 1.3.Capacidade judiciria .............................................................................................................. 63 1.3.1.Consequncias da incapacidade judiciria (no suprida)..................................................... 65 1.4.Legitimidade das partes .......................................................................................................... 65 1.4.1.Litisconsrcio e coligao.................................................................................................... 66 1.4.2.Efeitos da falta de legitimidade............................................................................................ 69 1.5.O interesse processual ............................................................................................................. 69 1.6.Patrocnio judicirio ................................................................................................................ 70 1.7.Competncia ........................................................................................................................... 70 1.7.1.Modalidades da competncia ............................................................................................... 72 1.7.1.Competncia internacional e interna .................................................................................... 72 1.7.1.2.Competncia internacional................................................................................................ 73 a) Princpio da coincidncia ...................................................................................................... 73 b) Princpio da causalidade ....................................................................................................... 74 c) Princpio da reciprocidade .................................................................................................... 75 d) Princpio da necessidade ....................................................................................................... 76 1.7.1.3.Competncia interna ......................................................................................................... 79 a) Competncia em razo da matria ........................................................................................ 80 b) Competncia em razo do valor ............................................................................................ 81 c) Competncia em razo da hierarquia .................................................................................... 82 d) Competncia em razo do territrio ...................................................................................... 85 Valores subjacentes aos critrios da competncia territorial. ............................................... 88 1.7.1.4.Extenso e modificao da competncia .......................................................................... 89 Extenso da competncia ...................................................................................................... 89 Modificao da competncia ................................................................................................ 91 1.7.1.Violao das regras de competncia e seus efeitos. ............................................................. 94 1.7.2.Incompetncia absoluta. Legitimidade e tempo para sua arguio...................................... 94 1.7.3.Efeitos da incompetncia absoluta ....................................................................................... 95 1.7.4.Incompetncia relativa ......................................................................................................... 95 1.7.5.Legitimidade e prazo para sua arguio............................................................................... 95 1.7.6. Efeitos da incompetncia relativa ....................................................................................... 95 Concluso ...................................................................................................................................... 96 3

Bibliografia ................................................................................................................................... 98 Legislao ..................................................................................................................................... 98

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Notas preliminares No processo de formao no Centro de Formao Jurdica e Judiciria (CFJJ) tem sido produzidos textos que, enquanto recursos didcticos, se pretendem possam servir de apoio ao formando relativamente as matrias ministradas, assim como servir de instrumento de trabalho, a par de outros, ao prprio formador. Dentre os textos at que produzidos nessa perspectiva, por solicitao e orientao da Coordenao pedaggica do Centro foram seleccionados dois para contribuio pgina internet do Centro de Formao Jurdica e Judiciria, sendo os referidos textos subordinados aos ttulos O Ministrio Pblico de Moambique e Pressupostos processuais. Como tem sido regra no CFJJ, os textos ora propostos no podem, de modo algum, dar lugar a que os formandos no leiam obras existentes versando sobre a matria, sob pena e risco de terem uma viso limitada em torno da mesma e, por conseguinte, encararem eventuais dificuldades para formar opinies prprias, porventura at divergentes de alguns pontos de vista pessoais do autor dos textos ora propostos. Alis, no processo de formao o formador apenas um facilitador, que contribui para que os formandos atinjam os objectivos da formao, no podendo ser encarado como detentor do saber, de modo que os formandos tm um papel preponderante na sua prpria formao, para o que indispensvel a sua participao activa nas sesses e debate de ideias mediante orientao do formador. Fica, pois, uma recomendao aos formandos para a leitura de obras existentes tratando das matrias objecto dos textos propostos, tanto que tal ajudar-lhes- a ter uma atitude crtica face aos textos acima referidos.

Matola, 09 de Outubro de 2009. Ribeiro Jos Cuna /Procurador da Repblica/

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O Ministrio Pblico de Moambique

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Abreviaturas usadas 1. CRM Constituio da Repblica de Moambique de 2004; 2.lei orgnica - Lei Orgnica do Ministrio Pblico, aprovada pela Lei n.o 22/2007, de 1 de Agosto; 3. Estatuto Estatuto dos magistrados do Ministrio Pblico, aprovado pela Lei n.o 22/2007, de 1 de Agosto; 4.CP Cdigo Penal; 5.CPP Cdigo de processo Penal; 6.DL Decreto-Lei; 7.EAJM Estatuto de Assistncia Jurisdicional aos Menores, aprovado pelo Decreto n.o 417/71, de 29 de Setembro. 8.CPT Cdigo de Processo do Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei n.o 45 497, de 30 de Dezembro de 1963, tornado extensivo a Moambique atravs da Portaria n.o 87/70; 9.CSMMP - Conselho Superior da Magistratura do Ministrio Pblico; 10.GCCC - Gabinete Central de Combate Corrupo.

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Introduo O presente texto tem por objecto abordagem ao Ministrio Pblico de Moambique, um dos principais actores da administrao da justia em Moambique. Com efeito, enquanto magistratura dotada de autonomia, com a particularidade de ser hierarquicamente organizada, o Ministrio Pblico tem um papel a desempenhar na administrao da justia, conferindo assim o legislador funes e competncias prprias. Consideramos ser importante a abordagem sobre o Ministrio Pblico, de forma a registar por escrito, na medida do possvel e porque tal no se revela tarefa fcil, tudo quanto de pertinente e relevante diga respeito a esta magistratura luz da legislao aplicvel, para alm de que a sua abordagem pode contribuir para a sua pretendida cada vez maior divulgao e seu consequente cada vez mais alargado conhecimento, quer por parte do cidado que se beneficia dos seus prstimos nas mais diversas reas, quer por parte de intervenientes diversos na administrao da justia, e mesmo por parte dos futuros profissionais que pretendem abraar a carreira da magistratura, pois esta magistratura em particular ainda carece de quadros, sem obviamente se descurar da qualidade. Assim sendo, na abordagem que nos propomos fazer comearemos desde logo por tratar da definio, natureza, autonomia e composio do Ministrio Pblico, para seguidamente nos ocuparmos das suas atribuies ou competncias. Na sua actuao o Ministrio Pblico representado por Procuradores da Repblica a todos nveis, pelo que nos ocuparemos deste aspecto, do seu funcionamento e rgos de que dotado, designadamente a Procuradoria-Geral da Repblica, o Conselho Coordenador a Procuradoria-Geral da Repblica, o Conselho Tcnico, o Conselho Consultivo, Secretariado Geral, e rgos subordinados, concretamente o Gabinete Central de Combate Corrupo, Procuradoria da Provncia e Procuradoria de Distrito, tratando neste contexto das competncias de cada um destes rgos e dos Procuradores, a todos nveis, e demais pessoal a eles afecto. A gesto e disciplina da magistratura do Ministrio Pblico mostram-se de particular importncia, pelo que trataremos deste aspecto, fazendo particularmente uma abordagem em torno do Conselho Superior da Magistratura do Ministrio Pblico, para naturalmente terminarmos a nossa abordagem com uma concluso.8

1.Definio, natureza, composio e autonomia do Ministrio Pblico 1.1.Definio e natureza do Ministrio Pblico luz da Constituio da Repblica de Moambique em vigor e da lei orgnica do Ministrio Pblico, o Ministrio Pblico define-se com sendo ... uma magistratura hierarquicamente organizada, subordinada ao Procurador-Geral da Repblica (art. 234/1 da CRM e art. 1/1, Lei n. 22/2007, de 1 de Agosto). Decorre das disposies da lei orgnica que os magistrados do Ministrio Pblico, integrando uma magistratura hierarquicamente organizada, subordinam-se aos seus superiores hierrquicos (todos ao Procurador-Geral da Repblica e os de escalo inferior ao respectivo chefe), de quem podem receber directivas, ordens e instrues, de cuja observncia so responsveis, contanto as mesmas sejam legais (arts. 51/1, 52, ns. 1, 2 e 3, e art. 53/1, todos da Lei n. 22/2007, de 1 de Agosto), porquanto embora sejam subordinados e responsveis perante os seus superiores hierrquicos, na sua actuao esto sujeitos a critrios de legalidade, objectividade e iseno (art. 234/2 CRM e art. 2/1, Lei n. 22/2007, de 1 de Agosto), incorrendo no crime de Promoo dolosa do Ministrio Pblico o magistrado que, em violao queles critrios que devem nortear a sua actuao, proceder criminalmente contra determinada pessoa, tendo conhecimento de que as provas so falsas1. Ao magistrado do Ministrio Pblico est assim reservado o direito de no acatar directivas, ordens e instrues manifestamente ilegais, devendo a recusa ser feita por escrito e ser devidamente fundamentada, caso em que o autor da ordem ou instruo poder faz-la cumprir por outro magistrado (art. 53/1, 2 e 4, Lei n. 22/2007, de 1 de Agosto). Em caso de exerccio injustificado ou de m-f da faculdade de recusa por um determinado magistrado, tal procedimento configura infraco disciplinar. A natureza do Ministrio Pblico depreende-se da sua prpria definio constitucional e legal, uma magistratura como tal, com carcter hierrquico do ponto de vista da sua organizao e independente da magistratura judicial, sendo as carreiras das duas magistraturas inter-comunicveis2 (art. 1/1, lei orgnica e art. 50/1 e 2, do Estatuto).1 2

Cfr. artigo 288 do CP. A intercomunicabilidade traduz a possibilidade de determinado magistrado do Ministrio Pblico, durante a sua carreira, querendo passar carreira da magistratura judicial, e vice-versa, devendo em tal caso requerer ingresso na carreira para se pretende mudar. Tal hiptese, diga-se de passagem rara, em

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1.2. Autonomia e composio do Ministrio Pblico O Ministrio Pblico tem autonomia administrativa e funcional, na medida em que possui servios administrativos prprios ao nvel do seu rgo superior, a Procuradoria-Geral da Repblica, cujo garantia de planeamento, orientao, coordenao e execuo compete ao Secretariado-Geral cuja estrutura orgnica comporta reas de apoio actividade do Ministrio Pblico e questes de natureza burocrtica, administrativa, de gesto financeira, do pessoal e patrimonial (art. 2/2 e 3, lei orgnica). Embora a lei no o refira expressamente, a autonomia do Ministrio Pblico reveste tambm natureza financeira e patrimonial, razo porque a estrutura orgnica do Secretariado-Geral compreende reas de apoio de gesto financeira e patrimonial. No que concerne a sua composio, o Ministrio Pblico comporta os seguintes rgos: 1 A prpria magistratura do Ministrio Pblico; 2 A Procuradoria-Geral da Repblica, que o rgo superior da Magistratura do Ministrio Pblico (arts. 8, alnea a) e 10/1, ambos da Lei n. 22/2007, de 1 de Agosto e arts. 235 e 237/1, ambos da CRM); 3O Conselho Superior da Magistratura do MP - o rgo de gesto e disciplina do Ministrio Pblico cuja competncia abrange todo territrio nacional, sendo presidido pelo Procurador-Geral da Repblica (art. 238 da CRM e art. 62/1, Lei n. 22/2007, de 1 de Agosto ); 4Os rgos subordinados (art. 1/2, lei orgnica). 2.Atribuies do Ministrio Pblico Em termos mais simples, por atribuio entende-se como sendo acto de atribuir; prerrogativa; competncia; (DICIONRIO LNGUA PORTUGUESA Dicionrios do Estudante, Empresa Literria FLUMINENSE, Lisboa-Portugal,virtude de algum ao escolher uma das duas carreiras pressuposto que tenha antes reflectido sobre a escolha certa, poder ocorrer quando depois de iniciada a carreira, venha a concluir no ser a carreira que o possa satisfazer profissionalmente, tendo em conta a diferena de funes entre uma e outra magistratura.

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Julho 2004, pgina116), pelo que falar de atribuio o mesmo que falar de competncia ou prerrogativa, de modo que na presente abordagem iremos usar o termo competncia para nos referirmos a atribuio, por ser a expresso de eleio da lei orgnica e do Estatuto. As competncias do Ministrio Pblico esto consagradas na sua lei orgnica, no artigo 4 e respectivas alneas, competindo-lhe assim: Exercer a aco penal (art. 4/1, alnea a), lei orgnica). O Ministrio Pblico o titular da aco penal (art. 5 CPP e art. 1, DL n.o 35.007, de 13.10.1945), atravs dele o Estado, mediante acusao aps ter recolhido as provas necessrias para o efeito em sede de instruo preparatria, leva ao tribunal o agente de determinado crime3 para ser julgado pelo crime cuja prtica ou comparticipao lhe imputada. O agente chamado a responder pelo crime cometido em nome do interesse pblico, independentemente de queixa, denncia ou acusao do ofendido4. Zelar pela observncia da legalidade e fiscalizar o cumprimento das leis e demais normas legais (art. 4/1, alnea b), lei orgnica). O Ministrio Pblico considerado o guardio da legalidade, pois deve velar para que as instituies pblicas e privadas pautem a sua conduta em conformidade com a lei, ou melhor, com o Direito (art. 4/1, alnea b), lei orgnica).

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A prtica de um crime por determinado agente pode ser na forma de autoria, cumplicidade ou encobrimento (artigo 19 CP). 4 Excepes titularidade da aco penal pelo Ministrio Pblico, verificam-se relativamente aos crimes particulares, em que a aco penal depende de acusao particular, a exemplo do crime de ofensas corporais voluntrias simples previsto e punido pelo art. 359, corpo, do CP; do crime de ameaas ao abrigo do art. 379, 2o, 2a parte, do CP; do crime de introduo em casa alheia por fora do artigo 380, 4o, do CP; e dos crimes de difamao e injria, como resulta do disposto no artigo 416, corpo, CP (art. 7, corpo, CPP e art. 3/2, do DL n.o 35.007, de 13.10.1945), e aos crimes semi-pblicos ou semi-particulares, em que a aco penal pblica depende de denncia ou queixa do ofendido, tal como sucede com o crime de ameaas nos termos do art. 379, 2o, 1a parte, do CP; com o crime de furto quando a quantia correspondente ao prejuzo causado no exceda o equivalente a dez salrios mnimos (artigo 430 CP, na redaco dada pela Lei n.o 8/2002, de 5 de Fevereiro) e nos casos previstos pelo artigo 431, 2o, do CP, na redaco dada pela Lei n.o 8/2002, de 5 de Fevereiro; e relativamente aos crimes de burla, burla por defraudao e abuso de confiana, em conformidade com o estabelecido nos artigos 430 e 431, 2o, ambos d CP, na redaco dada pela Lei n.o 8/2002, de 5 de Fevereiro), aplicveis por fora dos artigos 450, nico, 451, 2o e 453, 2o, todos do CP (art. 3/1, do DL n.o 35.007, de 13.10.1945).

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Para o efeito, para alm de actuar no mbito de determinado processo, os Procuradores da Repblica que, a diversos nveis, garantem o funcionamento do Ministrio Pblico, gozam de prerrogativas especiais no mbito da reposio da legalidade para actuarem extra-processualmente, pois quando constatem, oficiosamente ou mediante participao, que determinado agente, entidade, rgo ou instituio pblica ou privada praticou alguma ilegalidade, tendo legitimidade tm competncia para comunicar entidade, rgo ou instituio em causa convidando-o para se conformar com a lei, ficando estes obrigados a informar, no prazo fixado na comunicao, sobre as diligncias realizadas com vista reposio da legalidade, ou ento prestar esclarecimentos que se mostrarem necessrios5 (art. 47/1 e 2, lei orgnica). A comunicao dos Procuradores da Repblica convidando a entidade, rgo ou instituio a fim de se conformar com a lei no revestem natureza de uma deciso de cumprimento obrigatrio, de modo que no procedendo o notificado de acordo com o convite feito, os procuradores recorrem aos tribunais perante os quais requerem a providncia de tutela jurisdicional adequada reposio da legalidade ou interesses violados, pois os tribunais que tm a funo de penalizar as violaes da legalidade (art. 212/2, CRM), para o que as suas decises so de cumprimento obrigatrio para todos os cidados e demais pessoas jurdicas e prevalecem sobre as de outras autoridades, pelo que a entidade que no tenha aceitado o convite do procurador para se conformar com a lei, face ilegalidade por si cometida e constatada, ter de o fazer se vier a ser condenada por sentena judicial, com trnsito em julgado, que tenha dado provimento aco judicial do Ministrio Pblico. Dirigir a instruo preparatria dos processos-crime (art. 4/1, alnea c), lei orgnica, e art. 14, corpo, DL n.o 35.007, de 13.10.1945). Esta competncia do Ministrio Pblico claramente corolrio da sua titularidade da aco penal, pois a deduo de acusao e defesa desta em tribunal pressupe que o Ministrio tenha o domnio do processo e tenham sido recolhidos indcios suficientes para o efeito, devendo serem feitas diligncias pertinentes para o efeito. A instruo preparatria no se destina apenas a recolher elementos que comprovem a culpa do agente, mas tambm aqueles que provem a sua inocncia, se for o caso, portanto, a descoberta da verdade (art. 12, corpo, e 1o, do DL n.oO agente, entidade, rgo ou instituio poder prestar esclarecimentos se considerar que o acto por si praticado no configura qualquer ilegalidade, demonstrando tal facto.5

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35.007, de 13.10.1945), de modo que finda a instruo preparatria o Ministrio Pblico poder acusar ou abster-se de acusar, consoante os elementos recolhidos indiciem suficientemente a culpa ou comprovem inocncia do agente, conforme se alcana das disposies dos artigos 24 e 25, ambos do DL n.o 35.007, de 13.10.1945, e artigo 349 CPP6. Assegurar a defesa jurdica daqueles a quem o Estado deva proteco especial, nomeadamente os menores, os ausentes e os incapazes (art. 4/1, alnea d), lei orgnica). Trata-se duma competncia que est ligada funo, papel do Ministrio enquanto advogado de determinadas entidades e, como tal, prestar-lhes o necessrio patrocnio jurdico e judicirio por dever nos termos da lei represent-las e prestarlhes patrocnio jurdico e judicirio (art. 236 CRM e art. 15/1 CPC).

Participar nas audincias de discusso e julgamento, colaborando no esclarecimento da verdade e enquadramento legal dos factos, podendo para o efeito fazer directamente perguntas e promover a realizao de diligncias que visem a descoberta da verdade material (art. 4/1, alnea e), lei orgnica). Esta competncia tem conexo com a que tambm incumbe ao Ministrio Pblico para exercer a aco penal. Com efeito, perante determinada denncia ou queixa, ou oficiosamente, tratandose de crime pblico, o Ministrio Pblico desencadeia a aco penal, realizando a instruo preparatria directamente ou atravs de rgos auxiliares, as autoridades policiais, mormente a Polcia de Investigao Criminal que se lhe subordina funcionalmente (arts. 1 e 24, nico, do DL n.o 35.042, de 20 de Outubro de 1945) e, terminada a instruo deduz acusao, se for o caso, como alis acima j se referiu. Ora, a misso do Ministrio Pblico no termina com a deduo da acusao, na medida em que j em tribunal deve colaborar para a descoberta da verdade, para o

Os critrios de legalidade, objectividade e iseno a que os magistrados do Ministrio Pblico esto sujeitos no exerccio das suas funes (art. 234/2 da CRM e art. 2/1, lei orgnica), constituem como que garantias dos fins da instruo preparatria.

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que podero requerer que os interrogados esclaream as suas respostas ou que lhes sejam feitas novas perguntas (art. 425, 3o, e art. 429, CPP). Quanto ao enquadramento legal dos factos, o Ministrio Pblico f-lo obviamente na fase de alegaes e discusso dos aspectos jurdicos da causa. Recorrer s instncias superiores das decises nos termos da lei (art. 4/1, alnea f), lei orgnica). Por qualquer razo, diga-se com fundamento, o Ministrio Pblico poder no se conformar com determinada deciso (despacho, sentena ou acrdo) proferida pelo tribunal num certo processo. Em tal caso, compete-lhe interpor recurso para o tribunal superior (art. 678 CPC e art. 645 CPP), contanto se trate de uma deciso que o admita7, sendo que no processo penal poder recorrer mesmo no interesse exclusivo da defesa (art. 680 CPC e art. 647 CPP). Representar e defender junto dos tribunais os bens e interesses do Estado e das autarquias locais, os interesses colectivos e difusos, bem como outros definidos por lei (art. 4/1, alnea g), lei orgnica). A lei confere ao Ministrio Pblico a representao do Estado, das autarquias locais e dos interesses colectivos e difusos, representao que deve ser entendida em termos de patrocnio judicirio (art. 20/1 CPC e art. 109, da Lei n.o 2/97, de 18 de Fevereiro), o que pressupe a prestao de servios de assistncia jurdica e judiciria quelas entidades e, consequentemente, o Ministrio Pblico dever nessa perspectiva representar e defender juntos dos tribunais os bens e interesses de tais entidades. No que toca defesa dos bens e interesses do Estado, bem como aos interesses colectivos e difusos, impe-se uma aluso ao direito de aco popular que, a par do Ministrio Pblico, constitui um mecanismo de defesa de tais interesses por parte de todos cidados, seja pessoalmente, seja atravs de associaes de defesa dos interesses em questo (art. 81/1 e 2, alneas a) a c), da CRM). No exerccio do patrocnio judicirio, o Ministrio Pblico poder representar as entidades e interesses acima referidos, bem como outras entidades, intervindo nos processos a ttulo principal ou acessrio.

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Sobre as decises que no admitem recurso veja-se o artigo 679 do CPC e artigo 646 do CPP.

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Ter interveno principal quando representa o Estado, autarquias locais, incapazes e ausentes, interesses colectivos ou difusos, e quando defender os interesses dos menores (art. 6/1, alneas a) a e), lei orgnica e art. 12/2, do EAJM), podendo quanto s autarquias locais e incapazes e ausentes tambm intervir a ttulo acessrio, quer logo de incio uma vez que as autarquias locais podem constituir advogado prprio e quanto aos incapazes e ausentes podem as respectivos representantes se oporem (art. 6/2, lei orgnica e art. 109, Lei n.o 2/97, de 18 de Fevereiro), quer a posterior quando, aps ter intervindo a ttulo principal a autarquia venha a constituir advogado ou mandatrio prprio, pois neste caso cessa a sua interveno principal e assume interveno acessria (art. 6/2, lei orgnica). Ter ainda interveno acessria fora dos casos previstos no n.o 1, artigo 6, lei orgnica, quando sejam interessados na causa as autarquias locais, outras pessoas colectivas de utilidade pblica, incapazes ou ausentes, ou quando a aco vise a realizao de interesses colectivos ou difusos8, ou seja, o Ministrio Pblico ter interveno acessria no processo quando, tratando-se de uma autarquia local, esta tenha constitudo advogado prprio, como alis j se referiu; tratando-se de outra pessoa colectiva de utilidade pblica, sendo dotadas de personalidade jurdica e judiciria e com autonomia administrativa e patrimonial, tenha constitudo advogado prprio por o diploma que o cria assim o permitir; tratandose incapazes ou ausentes, estes sejam representados pelos respectivos representantes legais; enfim, tratando-se de uma aco que vise a realizao de interesses colectivos ou difusos, a mesma tenha sido instaurada por determinado grupo de cidados, quer pessoalmente quer atravs de uma associao de defesa dos interesses em causa, no exerccio do direito de aco popular. Controlar a legalidade das detenes e a observncia dos respectivos prazos (art. 4/1, alnea h), lei orgnica). A competncia de controlo da legalidade das detenes e a observncia dos respectivos prazos constitui um pormenor da competncia geral de zelar pela observncia da legalidade e fiscalizar o cumprimento das leis e demais normas legais consagrada no artigo art. 4/1, alnea b), da lei orgnica. Com efeito, o controlo da legalidade e a fiscalizao do cumprimento das leis e demais normas legais compreende tambm o controlo da legalidade das detenes e a observncia dos respectivos prazos, na medida em que qualquer deteno sem

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Cfr. artigo 6/3, alnea a), Lei Orgnica.

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observncia ou com violao da legislao aplicvel9, bem assim a manuteno de detidos em determinado estabelecimento prisional ou similar para alm dos prazos legais, constituem uma ilegalidade de cuja observncia ou cumprimento deve o Ministrio Pblico zelar. Promover a representao ou assistncia jurdica do Estado e outras pessoas colectivas de direito pblico, nos processos judiciais movidos em tribunais estrangeiros em que aqueles sejam parte (art. 4/1, alnea i), lei orgnica). A funo do Ministrio Pblico como advogado do Estado e outras pessoas colectivas de direito pblico no se limita ao territrio nacional, deve tambm prestar a estas entidades assistncia jurdica e judiciria tambm no estrangeiro, sempre que as mesmas sejam parte em determinados processos judiciais, devendo realizar oficiosamente as necessrias diligncias para o efeito. Fiscalizar os actos processuais dos rgos da polcia criminal (art. 4/1, alnea j), lei orgnica). Competncia ligada direco da instruo preparatria pelo Ministrio Pblico, porque titular da aco penal, instruo que realiza directamente ou atravs da Polcia de Investigao Criminal, sob sua direco e, consequentemente, subordinao funcional. esta subordinao funcional no mbito da instruo de processos-crime que a lei confere competncia ao Ministrio Pblico para fiscalizar os actos processuais em processos criminais, pois sem descurar da capacidade instrutria da Polcia de Investigao Criminal10, dever legal do Ministrio Pblico dirigir a instruo preparatria, justificando-se assim que tenha competncia para fiscalizar os actos processuais daquela polcia especializada.

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Sobre a priso em flagrante delito e fora de flagrante delito, bem como as formalidades a observar na sua execuo, vejam-se os artigos 287, 291, 293, 296, 299 a 303, todos do CPP, relativamente ao prazo para apresentao dos detidos ou presos ao juiz de instruo criminal para, ao abrigo do artigo 1/2, alnea a), Lei n.o 2/93, de 24 Junho, se pronunciar sobre a legalidade e manuteno ou no das capturas, vejamse os artigos 290 e 311, corpo, ambos do CPP, incorrendo, em princpio, quem infringir tais disposies legais nos crimes de priso ilegal e priso formalmente irregular previstos e punidos pelos artigos 291 e 292, ambos do CP. 10 preciso reconhecer que, apesar das enormes dificuldades com que se tem debatido decorrentes da falta de meios de trabalho, a Polcia de Investigao Criminal tem dado o seu contributo na instruo preparatria dos processos-crime.

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Velar para que a pena de priso determinada na sentena, bem como o respectivo regime de recluso sejam estritamente cumpridos (art. 4/1, alnea k), lei orgnica). Referiu-se acima que, em particular na rea criminal, a face mais visvel e porventura mais sensvel do Ministrio Pblico aos olhos da sociedade, a misso daquele no termina com a deduo da acusao, na fase de julgamento o Ministrio Pblico colabora para o esclarecimento da verdade. No entanto, mesmo depois de realizado o julgamento e, comprovando-se a culpa do ru, proferida sentena condenatria em pena privativa de liberdade, o Ministrio Pblico dever garantir que tal pena a que o ru foi condenado e o respectivo regime sejam rigorosamente cumpridos, o que se revela de particular importncia para no se desvirtuar os fins das penas, que revestem as modalidades de preveno geral, em relao sociedade, e preveno especial, relativamente ao condenado11. Inspeccionar as condies de recluso nos estabelecimentos prisionais e outros similares (art. 4/1, alnea l), lei orgnica). Aspectos ligados ao vesturio e alimentao dos reclusos, higiene, condies sanitrias, assistncia mdica e medicamentosa, assistncia moral e religiosa, so regulados pelo Decreto n.o 26 643, referente a organizao prisional, mas o Ministrio Pblico, enquanto entidade a quem compete zelar pela legalidade, dever inspeccionar as condies de recluso nos estabelecimentos prisionais e outros similares de modo a concorrer para que tais condies de recluso sejam efectivamente asseguradas tendo em ateno a dignidade humana.

As penas tm um fim intimidativo, de modo que o condenado sirva de exemplo para dissuadir as demais pessoas a no prevaricarem criminalmente e o prprio condenado e no reincidir na sua conduta criminosa, sendo proibido usar na execuo das penas quaisquer processos de rigor desumano ou intil. Concomitantemente, as penas tm um fim educativo e de readaptao social (art. 29, corpo e nico, do Decreto n.o 26 643, referente a organizao prisional). Sobre o regime da sua execuo, para alm de outros aspectos, importa referir que a pena de priso por mais de trs meses num primeiro perodo deve ser cumprida numa cadeia central, havendo um perodo de isolamento contnuo de um a trs meses para efeitos de observao do preso e da sua conduta com vista a se reunir elementos para o conhecimento da sua personalidade (artigos 40; 41, corpo e nico; 44, corpo, do Decreto n.o 26 643), e quanto a pena de priso maior, no que se refere tambm ao regime da sua execuo, num perodo inicial cumprida em isolamento contnuo de trs e seis meses para efeitos de observao do preso e da sua conduta com vista a se reunir elementos para o conhecimento da sua personalidade, sendo-lhe dado durante tal perodo trabalho compatvel com a sua capacidade e habilitaes para efeitos de trabalhar na cela (artigos 57; 61 e 63, do Decreto n.o 26 643).

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Fiscalizar a execuo dos contratos de trabalho dos reclusos (art. 4/1, alnea m), lei orgnica). Por fora da lei os reclusos no devem ser improdutivos, so obrigados a trabalhar na medida das suas foras e aptides, devendo o seu trabalho ser produtivo e remunerado, e a respectiva produo destina-se, sempre que possvel, a satisfazer as necessidades econmicas e administrativas do prprio estabelecimento, de outros estabelecimentos ou servios pblicos do Estado ou dos corpos administrativos e, em ltimo caso, destinada venda ao pblico (art. 59, corpo, e 2o, do CP, e arts. 261, 266, 272, todos do Decreto n.o 26 643). Contudo, o aproveitamento do trabalho nunca dever fazer-se de modo a prejudicar a ordem e disciplina internas do estabelecimento e os fins da pena (art. 274, do Decreto n.o 26 643). Para evitar possvel situao de escravido, a lei exige a fixao do mximo de horas de trabalho dos reclusos pelo regulamento da priso, que variar em funo da idade, espcie da pena, perodo da sua execuo e categoria do delinquente, podendo tal mximo ser superior ao dos operrios livres (art. 268, nico, do Decreto n.o 26 643). Para alm de outros, os aspectos acima mencionados esto directa ou indirectamente relacionados com a execuo dos contratos de trabalhos dos reclusos e, obviamente, com vista a que o Ministrio Pblico concorra para o seu cumprimento, a lei confere-lhe competncia para fiscalizar a execuo dos contratos de trabalhos dos reclusos. Dar parecer sobre os pedidos de modificao do regime do cumprimento da pena, bem como da concesso da liberdade condicional (art. 4/1, alnea n), lei orgnica). Aos reclusos condenados a penas privativas de liberdade a mais de seis meses poder ser concedida liberdade condicional, desde que verificados os requisitos legais nos termos do artigo 121 do CP e artigos 390 e seguintes do Decreto n.o 26 643. Para tal, antes de o tribunal conhecer do pedido, o Ministrio Pblico d parecer, para o que o processo lhe deve ser presente com vista. Pronunciar-se sobre a legalidade dos pedidos de concesso da liberdade condicional (art. 4/1, alnea o), lei orgnica).18

Esta competncia no passa, de certo modo, de uma repetio da competncia anteriormente referida, porquanto se o Ministrio Pblico dar parecer sobre a concesso da liberdade condicional, obviamente que no dever descurar do aspecto referente a legalidade de tal pedido em ateno ao regime jurdico aplicvel. Promover a execuo das decises dos tribunais para que tenha legitimidade (art. 4/1, alnea p), lei orgnica). As decises judiciais so de cumprimento obrigatrio, porm pode suceder que determinada pessoa condenada por sentena no d cumprimento mesma, em tal caso quando o Ministrio Pblico tenha legitimidade compete-lhe promover a sua execuo, a exemplo da deciso do tribunal que em processo-crime condene o ru numa pena concreta e em indemnizao numa quantia pecuniria com vista a reparao dos danos sofridos pela vtima e/ou ofendidos (art. 34, 1o, CPP). Em tal hiptese, no pagando o condenado voluntariamente a quantia relativa indemnizao, o Ministrio Pblico tem competncia para promover a execuo da sentena nos termos das disposies do art. 1, n.os. 1, 2, 3 e 4, do Decreto-Lei n.o. 292/74, de 28 de Junho. Controlar e orientar metodologicamente todos os rgos do Estado que tenham competncia legal para proceder a deteno de cidados (art. 4/1, alnea q), lei orgnica). Referimo-nos acima competncia do Ministrio Pblico para controlar a legalidade das detenes e a observncia dos respectivos prazos. Ora, esta competncia consagrada no art. 4/1, alnea h), da lei orgnica, e a competncia para controlar e orientar metodologicamente todos os rgos do Estado que tenham competncia legal para proceder a deteno de cidados, complementam-se entre si, na medida em que no basta fazer o controlo e orientao dos rgos com competncia legal para proceder a deteno de cidados, preciso controlar tambm a legalidade das detenes que tiverem sido efectivamente feitas e a observncia dos respectivos prazos, com vista a avaliar e assegurar que o controlo e a orientao metodolgicos sejam eficazes. 2.1.Da competncia para requisio de esclarecimentos, documentos ou diligncias.

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No exerccio das suas funes o Ministrio Pblico poder necessitar de ter acesso a determinadas informaes, documentos ou precisar que sejam realizadas certas diligncias imprescindveis ao exerccio das suas funes, tal como sucede na rea cvel em que para reagir a determinada aco movida por hiptese contra o Estado, em regra precisa de obter informaes sobre a matria de facto controvertida junto ao rgo do Estado que lida com tal matria12 (art. 486/3 CPC)13; na jurisdio laboral em que nos processos especiais de acidentes de trabalho e doenas profissionais na fase conciliatria do processo o Ministrio Pblico poder precisar, para efeitos de instruo do processo, que se realizem as diligncias indispensveis com vista a identificao e conhecimento dos beneficirios legais dos sinistrados ou doentes e para a obteno das provas de parentesco (art. 98/1, do CPT); na rea criminal em que para efeitos de instruo preparatria de determinado processo podem ser necessrias diligncias, documentos ou esclarecimentos. Nestes casos, usando da competncia conferida pelas disposies do artigo 4, n.o 2, da lei orgnica, o Ministrio Pblico poder fazer a requisio, directamente, a quaisquer rgos do Estado, instituies, empresas, funcionrios, autoridades ou seus agentes, quaisquer esclarecimentos, documentos ou diligncias que se mostrarem pertinentes e indispensveis para o exerccio as funes. Tendo em conta que a parte final do artigo 4, n.o 2, da lei orgnica, ressalva que a requisio deve ser feita nos limites da Constituio da Repblica e demais leis, quando determinada requisio seja susceptvel de pr causa direitos fundamentais dos cidados, a requisio dever ser sancionada por autoridade judicial. A lei orgnica, no seu artigo 48, impe aos rgos e agentes da Administrao Pblica, o dever de prestar a colaborao que lhes for requerida pelo Ministrio Pblico, no exerccio das suas funes, pelo que qualquer requisio de esclarecimentos, documentos ou diligncias que se mostrarem pertinentes e indispensveis, deve merecer, por fora da lei, a necessria colaborao dos rgos e agentes do Estado, porque dever legal. 2.2.Consideraes sobre as competncias do Ministrio Pblico na jurisdio cvel.

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A informao fornecida ao Ministrio Pblico afim de que este elabore a contestao, pelo que interessa ao Ministrio Pblico dados de facto apenas. 13 Redaco introduzida pelo DL n.o 1/2005, de 27 de Dezembro.

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Dentre as competncias acima aludidas, algumas esto ligadas jurisdio civil, designadamente as de assegurar a defesa jurdica daqueles a quem o Estado deva proteco especial, nomeadamente os menores, os ausentes e os incapazes; participar nas audincias de discusso e julgamento, colaborando no esclarecimento da verdade e enquadramento legal dos factos; recorrer s instncias superiores das decises nos termos da lei; representar e defender junto dos tribunais os bens e interesses do Estado e das autarquias locais, os interesses colectivos e difusos, bem como outros definidos por lei; e promover a representao ou assistncia jurdica do Estado e outras pessoas colectivas de direito pblico, nos processos judiciais movidos em tribunais estrangeiros em que aqueles sejam parte (art. 4/1, alneas d), e), f), g) e i), Lei Orgnica). Estas competncias do Ministrio Pblico em concreto traduzem-se na prtica, em processos declarativos, processos executivos e processos especiais, de actos processuais em representao do Estado, autarquias locais ou outras pessoas colectivas de utilidade pblica (mesmo no estrangeiro), incapazes (mormente menores), ausentes e incertos, mediante elaborao de peas processuais tais como petio inicial, contestao, resposta contestao/reconveno e articulados supervenientes, recursos, reclamao contra despacho saneador nos termos pertinentes do cdigo de processo civil, requerimentos, embargos, etc. O Ministrio Pblico pratica actos processuais como o fazem o advogado constitudo ou o advogado oficioso, intervindo no processo no munido de jus impere, mas em p de igualdade com os privados, porquanto estamos no mbito das relaes jurdico-privadas, estando vinculado s regras processuais que vinculam o advogado constitudo e o advogado oficioso, como o caso da obrigatoriedade de observncia do nus de impugnao especificada e a sujeio aos efeitos da revelia, salvo nos casos em que represente incapazes, ausentes e incertos, quanto ao nus de impugnao, ou quando represente o incapaz e a causa estiver no mbito da incapacidade, no caso dos efeitos da revelia (arts. 490/4 e 485, alnea b), ambos do CPC)14. O Ministrio Pblico pode ainda proferir despachos, em forma de promoo, pronunciando-se sobre a m f dos litigantes, porm, apenas nos processos em que data da entrada do novo regime introduzido pelo Decreto-Lei no. 1/2005, de 27 de Dezembro, a citao ainda no tinha sido efectuada ou ordenada15, bem assim ainda poder fazer promoo, sob forma de parecer, pronunciando-se sobre14 15

Redaco dada pelo Decreto-Lei no. 1/2005, de 27 de Dezembro. Vide art. 4 do Decreto-Lei no. 1/2005, de 27 de Dezembro, que introduz alteraes ao cdigo de processo civil.

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qualquer questo que deva ser decidida pelo juiz, desde que este exare antes despacho no sentido de remessa do processo ao Ministrio Pblico para o efeito. Quanto prtica de actos pelo Ministrio Pblico na qualidade de patrono de uma das partes ao processo, poder faz-lo intervindo, quer a ttulo principal quer a ttulo acessrio nos termos do disposto no art. 6, lei orgnica. Ainda tendo em ateno as competncias acima mencionadas, ao Ministrio Pblico cabe participar nas audincias de discusso e julgamento relativas aos processos em que representa uma das partes, mormente o Estado e outras pessoas colectivas pblicas, bem assim recorrer, nos termos da lei, para as instncias superiores das decises judiciais proferidas nos referidos processos quando no se conforme com as mesmas. No que se refere participao nos julgamentos, quando representa uma das partes ou tenha legitimidade para o efeito, obviamente colaborar no enquadramento jurdico dos factos em sede de alegaes de direito perante o juiz, a no ser que as partes tenham acordado em que a discusso do aspecto jurdico da causa se faa por escrito, ou o juiz assim o tenha decidido a requerimento de uma das partes, caso em que o enquadramento jurdico dos factos ser feito por escrito (arts. 653/5 e 65716, ambos do CPC). Enfim, compete ao Ministrio Pblico examinar e dar visto de conta nos processos, nos termos do cdigo das custas judiciais. 3.Representao do Ministrio Pblico O sistema de administrao da justia funciona mediante uma interaco e concurso de aces dos seus actores, nomeadamente os tribunais, o Ministrio Pblico, os advogados e demais rgos. Nos tribunais onde os casos submetidos so julgados e decididos, o Ministrio Pblico faz-se representar a vrios nveis pelos procuradores que exaram despachos ou promoes nos processos e intervm nestes em representao de determinadas entidades a quem o Ministrio Pblico deva prestar patrocnio judicirio ou quando tenham legitimidade prpria17.Redaco dada pelo DL n.o 1/2005, de 27 de Dezembro. A ttulo de exemplo, os procuradores podem intervir nas aces especiais de interdio ou inabilitao por anomalia psquica, surdez-mudez ou cegueira, visto que tem legitimidade para as requerer (art. 141, n.os 1 e 2, e art. 156, ambos do CC).17 16

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Deste modo, nos Plenrios do Tribunal Supremo, do Tribunal Administrativo e no Conselho Constitucional, o Ministrio Pblico representado pelo ProcuradorGeral da Repblica; nas seces do Tribunal Supremo e do Tribunal Administrativo, por Procuradores-Gerais Adjuntos; nos Tribunais Superiores de Recurso, por Sub-Procuradores-Gerais Adjuntos e nos Tribunais de escalo inferior, que podero ser provinciais ou distritais, por Procuradores da Repblica, que sero os das demais categorias inferiores, designadamente Procuradores principais, Procuradores Provinciais e Procuradores distritais (art. 5/1, alneas a), b), c) e d), da lei orgnica, na redaco introduzida pela Lei n.o 8/2009, de 11 de Maro). Estabelece o artigo 5, n.o 2, da lei orgnica, que nos demais casos a representao do Ministrio Pblico faz-se nos termos da lei. Entendemos neste caso que a lei se refere representao do Ministrio Pblico noutros tribunais, pois como se sabe existem os tribunais aduaneiros, os tribunais fiscais e os tribunais laborais18, pelo que nestes casos dever-se- ter em conta as leis orgnicas dos tribunais em causa. 3.1.Da articulao com o Conselho de Ministros O Ministrio Pblico, enquanto advogado do Estado, bvio que tenha de haver uma articulao entre ele e o Conselho de Ministros ou o Governo para melhor tutela dos interesses do Estado. Deste modo, atravs do Ministro da Justia, o Conselho de Ministros pode transmitir ao Procurador-Geral da Repblica orientaes de ordem especfica, em aces no criminais19 em que o Estado seja parte, bem assim pode haver troca de informaes necessrias entre as duas partes (Conselho de Ministros e ProcuradorGeral da Repblica) com vista ao bom exerccio de funes pelo Procurador-Geral da Repblica (art. 7/1, alneas a) e c), lei orgnica).Os tribunais laborais e os tribunais fiscais, os primeiros criados pela Lei n.o 18/92, de 14 de Outubro, ainda no foram instalados e, por conseguinte, no esto em funcionamento. 19 Tendo em conta as disposies do artigo 7/1, alnea a), lei orgnica, que prev a possibilidade de transmisso pelo Conselho de Ministros, atravs do Ministro da Justia, de orientaes especficas ao Procurador-Geral da Repblica nas aces em que o Estado seja interessado, com ressalva de aces criminais, qualquer orientao de ordem especfica que for dada no mbito dum processo criminal ser ilegal, o que se percebe perfeitamente dado o carcter eminentemente indisponvel dos interesses em causa neste tipo de aces.18

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Do mesmo modo, e tambm com o objectivo de permitir uma melhor tutela e defesa dos interesses do Estado nas aces em que este seja interessado, para o Ministrio Pblico poder confessar, transigir ou desistir, dever previamente obter pronunciamento do Conselho de Ministros, atravs do Ministro da Justia, que a ser favorvel confisso, transaco ou desistncia, assim o Ministrio Pblico proceder no processo (art. 7/1, alnea b), lei orgnica). Alis, no seria doutro modo, visto que razovel que em aces no criminais a confisso, transaco ou desistncia dependa do titular dos interesses (disponveis) em causa em determinado processo, no caso em apreo o Estado moambicano, em conformidade com a vontade deste que o Ministrio Pblico, no exerccio da sua funo de seu advogado, deve agir, sem prejuzo de aconselhar o Conselho de Ministros a aceitar a opo ou no pela confisso, transaco ou desistncia, consoante tal seja vantajoso ou no para o Estado. A articulao entre o Conselho de Ministros e o Procurador-Geral da Repblica carece de regulamentao, devendo assim constar de diploma especfico nos termos do artigo art. 7/2, da Lei Orgnica. 4.Funcionamento do Ministrio Pblico O Ministrio Pblico enquanto magistratura com competncias conferidas pela Constituio da Repblica, no seu artigo 236, e pela sua lei orgnica no seu artigo 4, funciona atravs dos Procuradores da Repblica a todos nveis, nomeadamente distrital, provincial, do Tribunal Superior de Recurso e seces e plenrios do Tribunal Supremo e Tribunal Administrativo, e plenrio do Conselho Constitucional (arts. 30/1 e 34, ambos da Lei n. 6/2006, de 2 de Agosto, lei orgnica do Conselho Constitucional). Para o efeito, aos Procuradores da Repblica a vrios nveis so conferidas competncias pela Constituio da Repblica e pela lei orgnica do Ministrio Pblico que lhes permite agir, quer judicial quer extrajudicialmente20 (art. 240/1 CRM e arts. 17, 18, 19, 42, 43, 45 e 46, todos da Lei n. 22/2007, de 1 de Agosto). 5.rgos do Ministrio Pblico

Quanto a aco extra-judicial dos Procuradores da Repblica, tal competncia lhes conferida pelo art. 47, da Lei n. 22/2007, de 1 de Agosto, que consagra Prerrogativas Especiais dos Procuradores da Repblica no mbito da Reposio da Legalidade.

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O Ministrio Pblico tem os seguintes rgos: a Procuradoria-Geral da Repblica, a Procuradoria de Provncia e a Procuradoria de Distrito (art. 8, alneas a), b) e c), da lei orgnica). A estes rgos, h que acrescer outros previstos na lei orgnica, designadamente o Gabinete Central de Combate Corrupo e o Conselho Coordenador da Procuradoria-Geral da Repblica (arts. 21/1 e 22/1, da Lei Orgnica), sendo o primeiro um rgo subordinado ao Procurador-Geral da Repblica, semelhana da Procuradoria de Provncia e da Procuradoria de Distrito, e o segundo um rgo colectivo cuja funo analisar e deliberar sobre questes fundamentais da direco e da actividade, quer do Ministrio Pblico, quer da Procuradoria-Geral da Repblica. 5.1.Procuradoria-Geral da Repblica 5.1.1.Definio e Autonomia A Procuradoria-Geral da Repblica define-se como sendo o rgo superior da magistratura do Ministrio Pblico dirigido pelo respectivo titular ou representante, o Procurador-Geral da Repblica (art. 10/1 e 2, Lei Orgnica). Procuradoria-Geral da Repblica a lei confere autonomia funcional e administrativa, podendo por fora desta autonomia propor ao Conselho de Ministros, atravs do Ministro da Justia, a criao e extino dos seus cargos e servios, bem assim a fixao de vencimentos de seus membros e servidores, organizar os seus servios internos e praticar actos de gesto prpria (art. 11/1, alneas a), b) e c), da lei orgnica). A propsito da autonomia funcional consagrada pela lei, pertinente e poder se questionar se ela no poder ser posta em causa face faculdade legal que o Conselho de Ministros tem para, atravs do Ministro da Justia, transmitir ao Procurador-Geral da Repblica, que quem dirige e representa a ProcuradoriaGeral da Repblica, orientaes especficas em aces no criminais. A resposta a esta indagao seguramente negativa, pois como acima vimos as orientaes susceptveis de serem transmitidas ao Procurador-Geral da Repblica s podero ocorrer nica e exclusivamente em aces no criminais em que o Estado seja interessado, ou seja, em aces em que estejam em causa interesses patrimoniais do Estado de que este pode dispor nos termos da lei, podendo assim o Conselho de Ministros, sobre quem impende a responsabilidade de garantir a defesa e consolidao do domnio pblico do Estado e do patrimnio do Estado21,21

Cfr. Artigo 204/2, alnea a), da CRM.

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transmitir orientaes sobre os termos em que o Ministrio Pblico pode ou deve lidar com determinada aco. No que respeita s vertentes da autonomia da Procuradoria-Geral da Repblica, embora a lei no o refira expressamente, este rgo superior do Ministrio Pblico tem tambm autonomia financeira, na medida em que, atravs do Conselho Coordenador da Procuradoria-Geral da Repblica e do Secretariado Geral, elabora a sua proposta de oramento e faz a gesto dos recursos financeiros que lhe so alocados de forma autnoma (artigo 22/3, al. b), e artigos 34/1, e 37, al. c), todos da lei orgnica), obviamente em ateno aos critrios de uma boa gesto. 5.1.2.Funes e competncias da Procuradoria-Geral da Repblica Nos termos do artigo 15 da lei orgnica do Ministrio Pblico, constituem funes da Procuradoria-Geral da Repblica a representao do Estado junto dos tribunais e a defesa dos interesses que a lei determina, o controlo da legalidade, dos prazos das detenes, a direco da instruo preparatria dos processos-crime, o exerccio da aco penal, o asseguramento da defesa jurdica dos menores, ausentes e incapazes, e a proteco dos interesses colectivos e difusos e demais funes previstas na lei. Nota-se uma coincidncia entre as funes da Procuradoria-Geral da Repblica acima mencionadas e as do Ministrio Pblico consagradas pelo artigo 236 da CRM, excepo da funo da proteco dos interesses colectivos e difusos, que fazendo uma anlise comparativa do artigo 236 da CRM e artigo 15 da lei orgnica, constata-se que esta funo no acometida ao Ministrio Pblico, seno Procuradoria-Geral da Repblica, o que no constitui qualquer problema tendo em conta que este o rgo superior do Ministrio Pblico atravs do qual este funciona junto aos tribunais superiores e junto aos tribunais de escalo inferior atravs da Procuradoria de Provncia e Procuradoria de Distrito. No que se refere s competncias da Procuradoria-Geral da Repblica, cumpre referir: Zelar pela observncia da legalidade nos termos da Constituio e das demais normas legais (art. 12, al. a), lei orgnica) trata-se de uma competncia que confere Procuradoria-Geral da Repblica um papel preponderante na edificao do Estado de Direito onde deve reinar o primado da lei, que deve nortear a aco das instituies pblicas e privadas, dos funcionrios e agentes do Estado e dos cidados;26

Fiscalizar o cumprimento das leis e de outros diplomas legais pelos rgos centrais e locais do Estado, pelas pessoas colectivas de direito pblico e privado, pelos funcionrios e agentes do Estado e pelos cidados (art. 12, al. b), lei orgnica) esta competncia complementa-se que foi anteriormente referida, porquanto fiscalizar a cumprimento das leis e de outros diplomas legais , de certo modo, zelar para que a legalidade seja observada, pois a fiscalizao garante, em princpio, a efectiva observncia da legalidade; Realizar inspeces e sindicncias de controlo do cumprimento da lei, no mbito dos respectivos servios (art. 12, al. c), lei orgnica) esta competncia uma manifestao de autonomia administrativa e funcional da Procuradoria-Geral da Repblica consagrada no artigo 11/1, alneas b) e c), da lei orgnica, de que decorre o poder deste rgo organizar os seus servios internos e praticar actos de gesto prpria, e porque dentro dos prprios servios da Procuradoria-Geral da Repblica deve haver cumprimento da lei, justificado que sejam realizadas inspeces e sindicncias de controlo do seu cumprimento; Emitir pareceres jurdicos nos casos de consulta obrigatria previstos na lei ou por solicitao do Conselho de Ministros (art. 12, al. d), lei orgnica) esta competncia exercida pela Procuradoria-Geral da Repblica atravs do Conselho Tcnico, que nos termos do artigo 24/1, da lei orgnica, um rgo colectivo que tem uma funo de consulta tcnico-jurdica; Colaborar com os rgos de manuteno da segurana, ordem e tranquilidade pblicas, na preveno e combate criminalidade (art. 12, al. e), lei orgnica) uma das funes da Procuradoria-Geral da Repblica o exerccio da aco penal, porm esta s ter lugar quando aces preventivas tenham falhado e, por conseguinte, a ordem jurdico-criminal vigente tenha sido violada. A par da aco repressiva da Procuradoria-Geral da Repblica, que se efectiva mediante o exerccio da aco penal, a lei confere tambm este rgo um papel preventivo, que se traduz na competncia que tem de, em colaborao com os rgos de manuteno da segurana, ordem e tranquilidade pblicas, contribuir em aces de preveno e combate criminalidade, o que pode se efectivar atravs de proposta e discusso de parte a parte de polticas de preveno sobre a matria;

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Emitir pareceres sobre a legalidade dos contratos em que o Estado seja parte, quando exigidos por lei ou solicitados pelo Conselho de Ministros (art. 12, al. f), lei orgnica) esta competncia visa a realizao do papel de advogado do Ministrio Pblico, atravs do seu rgo superior que a Procuradoria-Geral da Repblica. Com efeito, se compete ao Ministrio Pblico a representao e defesa junto dos tribunais dos bens e interesses do Estado, competncia que o Ministrio Pblico exercer atravs do seu representante a nvel superior, a Procuradoria-Geral da Repblica, como resulta do prescrito no artigo 17/3, alnea a), da lei orgnica, e nos tribunais de escalo inferior pelos procuradores a vrios nveis, extrajudicialmente a Procuradoria-Geral da Repblica ter de se assumir consultor jurdico do Estado, designadamente emitindo pareceres sobre a legalidade dos contratos em que este seja parte, para obviar a celebrao de contratos que violam a lei ou de que resulta a no devida tutela dos interesses do prprio Estado; e Participar na realizao de aces conducentes ao desenvolvimento da conscincia jurdica dos cidados, dos funcionrios e agentes do Estado (art. 12, al. g), Lei Orgnica) o cumprimento voluntrio das leis pelos cidados, funcionrios e agentes do Estado, mediante o cumprimento dos deveres que se lhes impe, bem assim o exerccio dos respectivos direitos, com a consequente harmoniosa convivncia social, pressupe em princpio que aqueles tenham a necessria conscincia jurdica, o que seria tambm um contributo importante para a edificao do Estado de Direito. A lei confere assim competncia Procuradoria - Geral da Repblica para contribuir no desenvolvimento da conscincia jurdica das entidades acima mencionadas, o que se pode concretizar atravs da realizao de aces de vria natureza, como pode ser o caso de palestras e produo de panfletos e folhetos sobre questes jurdicas que forem reputadas fundamentais. A par da Procuradoria - Geral da Repblica, atribuda responsabilidade para o desenvolvimento da conscincia jurdica dos cidados, funcionrios e agentes do Estado, aos tribunais, de modo que estes tm tambm uma funo educacional neste aspecto (art. 213 da CRM). 5.1.3.Estrutura e composio da Procuradoria-Geral da Repblica A estrutura da Procuradoria-Geral da Repblica comporta trs rgos, nomeadamente o Conselho Coordenador da Procuradoria-Geral da Repblica, o28

Conselho Tcnico e o Conselho Consultivo, sendo todos colectivos (art. 13, alneas a) a c), Lei Orgnica). Quanto sua composio, a Procuradoria-Geral da Repblica compreende as entidades ou procuradores atravs dos quais ela funciona a vrios nveis, concretamente o Procurador-Geral da Repblica, o Vice-Procurador-Geral da Repblica, os Procuradores-Gerais Adjuntos, os Procuradores Provinciais e Distritais (art. 14, alneas a) a d), Lei Orgnica). 5.2.Procurador-Geral da Repblica e Vice-Procurador-Geral da Repblica. 5.2.1.Nomeao e cessao de funes A Procuradoria - Geral da Repblica, enquanto rgo superior do Ministrio Pblico, deve ter um titular - pessoa fsica - que garanta o exerccio das respectivas funes e competncias, tal titular o Procurador - Geral da Repblica. O Procurador - Geral da Repblica nomeado pelo Presidente da Repblica, sendo para o efeito exigidos pela Constituio e pela lei orgnica como requisitos o grau de licenciatura em Direito; o exerccio por um perodo mnimo de dez anos da actividade profissional na magistratura ou em qualquer outra actividade forense ou de docncia em Direito (art. 16/1, da lei orgnica). O Procurador - Geral da Repblica exerce o cargo por um perodo de cinco anos, e o seu mandato no pode cessar seno por motivo de renncia, exonerao, demisso, aposentao compulsiva em consequncia de processo disciplinar ou criminal e aceitao de lugar incompatvel com o exerccio das suas funes (art. 16/1, alneas a) a e), da lei orgnica e art. 239/1, alneas a) a e), da CRM). Os mesmos requisitos exigidos pela CRM e pela lei para nomeao do Procurador - Geral da Repblica pelo Presidente da Repblica so, igualmente, exigidos para efeitos de nomeao do Vice - Procurador - Geral da Repblica, sendo a durao do mandato tambm de cinco anos e quanto a sua cessao, tambm s pode se verificar nos casos referidos relativamente ao Procurador - Geral da Repblica (art. 16/1, alneas a) a e), art. 18/2, ambos da lei orgnica e art. 239/1, alneas a) a e), da CRM). O vice - Procurador - Geral da Repblica coadjuva e substitui o Procurador - Geral da Repblica nas suas ausncias e impedimentos (art. 18/1, lei orgnica).

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Nomeado pelo Presidente da Repblica, o Procurador - Geral da Repblica responde perante o mais alto magistrado da nao, o Chefe do Estado, que tambm o Presidente da Repblica que, no acto da sua investidura jura, por sua honra, respeitar e fazer respeitar a Constituio e fazer justia a todos cidados22 (art. 16/2, lei orgnica e art. 239/2 CRM). Nos termos da Constituio da Repblica e da lei orgnica, Procurador Geral da Repblica presta informao anual Assembleia da Repblica (art. 239/3 CRM). 5.2.2.Competncias do Procurador-Geral da Repblica e Vice-ProcuradorGeral da Repblica. Desde logo, cumpre referir que a direco e representao da Procuradoria - Geral da Repblica competem ao Procurador - Geral da Repblica (art. 17/1, alnea a), Lei Orgnica). Assim, no exerccio do poder de direco, ao Procurador - Geral da Repblica compete convocar e presidir s sesses dos rgos colectivos que integram a estrutura da Procurador - Geral da Repblica, designadamente o Conselho Coordenador, o Conselho Tcnico e o Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da Repblica; emitir directivas, ordens e instrues por que deve pautar-se a actuao dos magistrados, agentes e oficiais de justia do Ministrio Pblico, no exerccio das suas funes23; propor ao Conselho de Ministros, atravs do Ministro da Justia, medidas legislativas visando a eficcia do funcionamento do Ministrio Pblico ou do mbito da sua actividade especfica; nomear e exonerar o Procurador Provincial-Chefe e Procurador Distrital-Chefe; nomear e exonerar o SecretrioGeral da Procuradoria-Geral da Repblica; nomear, colocar, transferir, promover, exonerar e apreciar o mrito profissional dos funcionrios da carreira de regime geral; e dirigir a actividade das relaes internas e externas da Procuradoria-Geral da Repblica (art. 17/1, alneas b), d), f), h), i), j) e k), lei orgnica). No domnio do poder disciplinar do Procurador - Geral da Repblica, ao abrigo da 2a parte, da alnea j), n.o 1, do artigo 17, lei orgnica, lhe acometida a competncia para exercer a aco disciplinar e praticar, em geral, todos os actos de idntica natureza, relativos aos funcionrios da carreira de regime geral.

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Cfr. artigo 150/2, da CRM. Consequncia da natureza hierrquica da magistratura do Ministrio Pblico. Constituem exemplo do exerccio desta competncia, a emisso de circulares de execuo permanente.

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O Procurador - Geral da Repblica tem um papel a desempenhar com vista ao respeito e conformao das leis e demais actos normativos dos rgos do Estado com a Constituio da Repblica, clareza dos textos legais, bem como para a execuo dos preceitos constitucionais. Neste sentido, compete-lhe nos termos da lei solicitar ao Conselho Constitucional a declarao de inconstitucionalidade e a ilegalidade dos demais actos normativos dos rgos do Estado; alertar Assembleia da Repblica e ao Conselho de Ministros sobre quaisquer obscuridades, deficincias ou contradies dos textos legais; e propor ao Conselho de Ministros, atravs do Ministro da Justia, medidas legislativas tendentes a conferir exequibilidade aos preceitos constitucionais (alneas c), e) e g), do n.o 1, artigo 17, lei orgnica). Como j vimos, uma das funes da Procuradoria-Geral da Repblica a direco da instruo preparatria dos processos-crime, decerto com o objectivo de garantir o bom exerccio desta funo, o legislador conferiu ao Procurador-Geral da Repblica competncia para fiscalizar superiormente a actividade processual dos rgos de polcia criminal (alnea l), n.o 1, artigo 17, lei orgnica). No que toca a actividade processual e forense, o Procurador-Geral da Repblica tem competncia para representar o Ministrio Pblico nos Plenrios do Tribunal Supremo, do Tribunal Administrativo e no Conselho Constitucional, e requerer junto seco do Tribunal Supremo, em segunda instncia, a suspenso da execuo e a anulao de sentenas manifestamente injustas e ilegais (alneas a) e b), n.o 3, artigo 17, lei orgnica, e alneas c) e d), artigo 50, Lei n.o 24/2007, de 20 de Agosto). Relativamente s competncias do Vice-Procurador-Geral da Repblica, incumbelhe coadjuvar e substituir o Procurador-Geral da Repblica nas suas ausncias e impedimentos e superintender os departamentos especializados da ProcuradoriaGeral da Repblica24, podendo exercer todas e quaisquer competncias que lhe forem delegadas pelo Procurador-Geral da Repblica (alneas a) a c), artigo 19, lei orgnica). 6.Informao anual Assembleia da Repblica

Sobre as reas a que os departamentos especializados respeitam, veja-se o artigo 32/1, alneas a) a f), da lei orgnica.

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O controlo da legalidade, a evoluo da criminalidade, medidas de preveno e seu combate, e as reformas que se mostrarem convenientes para uma maior eficcia da justia, a prpria actividade do Ministrio Pblico, enfim, o estado geral da justia, so aspectos sensveis, impondo-se assim e sendo pertinente e justificada a actualizao em torno dos mesmos Assembleia da Repblica, pelo que a Constituio da Repblica e a lei consagraram a prestao de informao anual25 pelo Procurador Geral da Repblica quele rgo de soberania sobre tais aspectos e outros (arts. 16/3 e 20, n.os 1 e 4, alneas a) a e), lei orgnica, e art. 239/3 CRM), pois interessam a toda sociedade, porque como sabido ningum abdica da justia, independentemente do seu estatuto social, grau acadmico ou crena religiosa. O estado geral da justia actualizado anualmente pelo Procurador-Geral da Repblica, a quem o legislador atribuiu a nobre e laboriosa misso de prestar informao anual Assembleia da Repblica, sendo que os aspectos que tal informao deve conter esto previstos no artigo 20, n.os 1 e 4, alneas a) a e), da lei orgnica, designadamente questes relacionadas com o controlo da legalidade, a evoluo da criminalidade, reformas para uma maior eficcia da justia e o estado geral da justia. Outras matrias que devem ser abordadas na informao anual do ProcuradorGeral da Repblica Assembleia a Repblica, concernem a aspectos especficos sobre a organizao interna e evoluo da actividade do Ministrio Pblico, o controlo da legalidade, a evoluo dos ndices de criminalidade, medidas da sua preveno e combate e perspectivas para o melhor desenvolvimento da Procuradoria-Geral da Repblica. Quanto ao momento da prestao da informao anual, ela deve ocorrer na primeira sesso ordinria do ano da Assembleia da Repblica, devendo assim ser depositada neste rgo de soberania at quinze dias antes da sesso plenria marcada para o seu debate (art. 20, n.o 2, 1a parte e n.o 3, da lei orgnica). prestao da informao anual segue-se um perodo de esclarecimentos e debate desta, que se pretende construtivo e contribuir para melhorar a actividade doA elaborao da informao anual exige um trabalho de muito empenho e pacincia, sendo fundamental a compilao e gesto de informao fornecida pelos rgos subordinados, a nvel local, (Procuradorias Provinciais e Distritais, Gabinete Central de Combate Corrupo e Gabinetes Regionais), bem como a informao fornecida a nvel central (Procuradoria-Geral da Repblica), e ainda informao fornecida por determinadas entidades directa ou indirectamente ligadas administrao da justia.25

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Ministrio Pblico, com uma durao no superior a dois dias, sendo o debate encerrado pelo Procurador-Geral da Repblica com comentrios finais (art. 20, n.o 2, 2a parte e n.o 5, da Lei Orgnica). No culminar do debate da informao anual, e dada a relevncia e sensibilidade dos aspectos que devem ser abordados na informao anual do Procurador - Geral da Repblica, em funo da apreciao que fizer desta a Assembleia da Repblica pode adoptar uma moo ou resoluo (art. 20, n.o 6, da lei orgnica). 7.Conselho Coordenador da Procuradoria-Geral da Repblica 7.1.Definio, composio, competncias e funcionamento O Conselho Coordenador da Procuradoria-Geral da Repblica definido com referncia sua natureza de rgo colectivo e funo que exerce, definindo-o assim a lei como sendo o rgo colectivo que tem por funo analisar e deliberar sobre questes fundamentais da direco e da actividade do Ministrio e da Procuradoria-Geral da Repblica26. Dada a sua funo, o Conselho Coordenador o rgo que traa as directrizes do desenvolvimento da actividade do Ministrio Pblico e da Procuradoria-Geral da Repblica e faz o respectivo balano, o que resulta das competncias consagradas pelo artigo 22/3, alneas a) a c), da lei orgnica. A composio do Conselho Coordenador fixada pela lei, compreendendo ao abrigo do artigo 22/2, alneas a) a f), da lei orgnica, o Procurador-Geral da Repblica; o Vice-Procurador-Geral da Repblica; os Procuradores-Gerais Adjuntos; o Secretrio-Geral da Procuradoria-Geral da Repblica; os Procuradores Provinciais-Chefes; e outros magistrados e funcionrios a designar pelo Procurador-Geral da Repblica. O Conselho Coordenador presidido pelo Procurador-Geral da Repblica e rene uma vez por ano em sesso ordinria, podendo reunir extraordinariamente sempre que for convocado pelo seu presidente ou por dois teros dos seus membros. O seu qurum de funcionamento a maioria simples dos seus membros e as suas deliberaes so tomadas por maioria de votos (artigo 17/1, al. b), e artigo 23, n.os 1, 2 e 3, ambos da lei orgnica). 8.Conselho Tcnico26

Cfr. artigo 22/1, Lei n.o 22/2007, de 1 de Agosto.

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8.1.Definio, composio, competncias e funcionamento Como foi referido oportunamente a propsito das competncias da ProcuradoriaGeral da Repblica, uma delas a emisso de pareceres jurdicos e exerce esta funo de consulta tcnico-jurdica atravs do Conselho Tcnico, como se depreende do disposto nas alneas d) e f), artigo 12, e alnea f), do artigo 24/1, ambos da lei orgnica. Deste modo, todas competncias conferidas pela lei a este rgo colectivo de consulta tcnico-jurdica so de natureza consultiva e traduzem-se todas na emisso de pareceres tcnico-jurdicos (art. 25, alneas a) a c), lei orgnica). O Conselho Tcnico composto pelo Procurador-Geral da Repblica; ViceProcurador-Geral da Repblica e Procuradores-Gerais Adjuntos, e embora no faam parte dele podero participar nas suas sesses tcnicos e peritos especializados a convite do Procurador-Geral da Repblica, que o preside (art. 17, al. b) e n.o 2, alneas a), b) e c), e n.o 3 do art. 24, lei orgnica). Podero ser convidados tcnicos e peritos especializados para participar do Conselho Tcnico quando, para efeitos de emisso de determinado parecer, haja necessidade de conhecimentos tcnicos especializados que no sejam do domnio ou no estejam ao alcance dos componentes do Conselho Tcnico, por respeitarem a reas de formao diferentes do Direito. O Conselho Tcnico rene quando convocado pelo seu presidente, o ProcuradorGeral da Repblica, que procede distribuio dos pedidos de parecer, tendo prioridade sobre os demais os solicitados com carcter urgente, sendo que o qurum de seu funcionamento a maioria dos seus membros, e o qurum de deliberao de maioria de votos (art. 26/1 e 2, e art. 27/1 e 2, ambos da lei orgnica). Tendo em conta a natureza hierrquica da organizao da magistratura do Ministrio Pblico de que, para alm da subordinao, decorre a responsabilidade dos magistrados do Ministrio Pblico que consiste em responderem, nos termos da lei pela observncia das directivas, ordens e instrues que recebam dos respectivos superiores hierrquicos27, desde que as mesmas sejam legais, o Procurador-Geral da Repblica a quem todos os magistrados do Ministrio Pblico se subordinam (art. 52/3, da Lei Orgnica), tem a prerrogativa de determinar que a27

Cfr. artigo 52/2, Lei n.o 22/2007, de 1 de Agosto.

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doutrina dos pareceres do Conselho Tcnico seja seguida e sustentada por todos os magistrados e agentes do Ministrio Pblico, ainda que estes tenham eventualmente um entendimento diverso do consagrado pela doutrina em causa (art. 28, 1a parte, da lei orgnica). No entanto, os magistrados e agentes do Ministrio Pblico podero submeter as questes objecto da doutrina cujo seguimento e sustentao tiverem sido determinados, nova apreciao do Conselho Tcnico para sua eventual reviso, podendo consequentemente ser confirmada ou alterada (art. 28, 2a parte, da lei orgnica). Em conformidade com o postulado no artigo 29, da lei orgnica, os pareceres do Conselho Tcnico homologados pelas entidades que os tenham solicitado so publicados no Boletim da Repblica a fim de valerem como orientao oficial, perante os respectivos servios, das matrias que se destinam a esclarecer, sem prejuzo das regras gerais de interpretao fixadas na lei28. 9.Conselho Consultivo 9.1.Definio, competncias e composio. A lei define o Conselho Consultivo como sendo o rgo de consulta do Procurador-Geral da Repblica, tendo por funo analisar e emitir pareceres sobre questes fundamentais relativas ao funcionamento da Procuradoria-Geral da Repblica29. As competncias do Conselho Consultivo depreendem-se da definio legal deste rgo, e tendo em conta a sua funo competir-lhe- emitir pareceres restritos s questes fundamentais relativas ao funcionamento da Procuradoria-Geral da Repblica. Compem o Conselho Consultivo o Procurador-Geral da Repblica, que o preside; o Vice-Procurador-Geral da Repblica; os Procuradores-Gerais Adjuntos; o Secretrio-Geral da Procuradoria-Geral da Repblica; o Chefe de Gabinete do Procurador-Geral da Repblica; os Directores das reas; e magistrados, assessores e funcionrios a designar pelo Procurador-Geral da Repblica (art. 17/1, alnea b) e art. 30/2, alneas a) a g), lei orgnica).

28 29

Sobre a interpretao da lei, veja-se o artigo 9 do CC. Cfr. artigo 30/1, Lei n.o 22/2007, de 1 de Agosto.

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No que se refere ao funcionamento do Conselho Consultivo, o mesmo definido por diploma especfico (art. 30/3, lei orgnica). 10.Aparelho tcnico-administrativo da Procuradoria-Geral da Repblica. Para efeitos de lidar com questes tcnico-administrativas, a Procuradoria-Geral da Repblica possui um aparelho tcnico-administrativo que integrado pelos departamentos especializados; o Secretrio-Geral; o Gabinete do Procurador-Geral da Repblica e as direces da reas (art. 31, alneas a) a d), lei orgnica). 11.Departamentos especializados e direces das reas. Os departamentos especializados da Procuradoria-Geral da Repblica so dirigidos por Procuradores-Gerais Adjuntos, e quanto a sua estrutura correspondem a determinadas reas de jurisdio, designadamente as reas criminal; cvel; famlia e menores; administrativa e laboral (art. 32, n.o 1, alneas a) a e), e n.o 2, lei orgnica). Dada a relevncia do controlo de legalidade para cuja observncia o Ministrio Pblico deve zelar nos termos da lei, esta prev tambm um departamento especializado relativo ao controlo de legalidade (art. 32, alnea f), lei orgnica). Os departamentos especializados da Procuradoria-Geral da Repblica tm competncias prprias que so definidas por diploma especfico, nos termos da legislao aplicvel sobre a organizao do Aparelho do Estado (art. 32/3, lei orgnica). Quanto s direces das reas ou direces administrativas, a respectiva estrutura orgnica, competncias, quadro e carreiras profissionais so fixados por diploma especfico (art. 39, lei orgnica).

12.Secretariado Geral 12.1.Natureza, estrutura orgnica e competncias O Secretariado Geral um rgo que presta essencialmente servios de natureza tcnico-administrativo tendentes a garantir o normal funcionamento da magistratura do Ministrio Pblico, da Procuradoria-Geral da Repblica e rgos36

subordinados, ocupando-se da generalidade dos servios administrativos da Procuradoria-Geral da Repblica. Deste modo, as competncias do Secretariado Geral fazem deste um rgo de suporte e apoio ao funcionamento da magistratura do Ministrio Pblico, da Procuradoria-Geral da Repblica e seus rgos, pelo que por natureza o rgo permanente de concepo, coordenao, execuo e apoio tcnicoadministrativo, que se ocupa da generalidade dos servios administrativos da Procuradoria-Geral da Repblica30. A estrutura orgnica do Secretariado Geral compreende reas relacionadas com a sua funo de apoio e suporte ao Ministrio Pblico e Procuradoria-Geral da Repblica, pois integra uma rea de apoio s actividades tcnico-administrativo de suporte s funes da magistratura do Ministrio Pblico e uma rea de apoio burocrtico, administrativo e de gesto financeira, do pessoal e patrimonial da Procuradoria-Geral da Repblica, sendo a composio e competncias das unidades integrantes de tais reas e outras autnomas fixadas por diploma especfico (art. 34/1 e 2, lei orgnica). Para permitir a materializao da sua funo de suporte e apoio, o Secretariado Geral tem, entre outras, a competncia de planear, orientar, coordenar e assegurar a execuo de todas as actividades da magistratura do Ministrio Pblico e da Procuradoria-Geral da Repblica e a de assegurar o apoio necessrio s actividades dos rgos da Procuradoria-Geral da Repblica no exerccio das suas atribuies (art. 35, alneas a) e b), lei orgnica). 12.2.Direco do Secretariado Geral e competncias do Secretrio-Geral. A direco e orientao do Secretariado Geral incumbem ao Secretrio-Geral, que subordina-se ao Procurador-Geral da Repblica (art. 33/2 e art. 36, lei orgnica). Enquanto entidade que dirige e orienta o Secretariado Geral, ao Secretrio-Geral so conferidas pela lei competncias que visam viabilizar a misso de suporte e apoio daquele rgo permanente, de modo que ao abrigo do artigo art. 37, alneas a), c) e e), da lei orgnica, compete-lhe assegurar a organizao e o funcionamento, de forma permanente e regular, dos servios administrativos da Procuradoria-GeralCfr. artigo 33/1, Lei n.o 22/2007, de 1 de Agosto. Embora a lei refira que o Secretariado Geral um rgo de apoio tcnico-jurdico e tcnico-administrativo, tendo em ateno as suas competncias e as do Secretrio-Geral, que o dirige e orienta, trata-se de um rgo que presta apoio marcadamente de natureza tcnico-administrativa.30

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da Repblica; garantir a administrao dos recursos humanos, materiais e financeiros da Procuradoria-Geral da Repblica; prestar aos rgos da Procuradoria-Geral da Repblica a assistncia de natureza administrativa, indispensvel ao bom exerccio das funes e assegurar a execuo das respectivas deliberaes. 13.Gabinete do Procurador-Geral da Repblica. O Gabinete do Procurador-Geral da Repblica tem por funo apoiar o Procurador-Geral da Repblica no exerccio das suas funes, sendo as suas competncias definidas em diploma especfico, nos termos da legislao aplicvel sobre a organizao do Aparelho do Estado (art. 38/1 e 2, lei orgnica). 14.rgos subordinados A Procuradoria - Geral da Repblica enquanto rgo superior do Ministrio Pblico cuja direco e representao compete ao Procurador - Geral da Repblica, tem rgos subordinados de mbito nacional, provincial e distrital, designadamente o Gabinete Central de Combate Corrupo que de mbito nacional, as Procuradorias provinciais e as Procuradorias distritais, que so de mbito provincial e distrital (artigos 21, 8, alneas b) e c), lei orgnica). 14.1.Gabinete Central de Combate Corrupo A corrupo um tipo de crime que entrava o desenvolvimento socioeconmico de qualquer Estado, pois sendo genericamente definida no sector pblico como o uso da funo pblica para proveito prprio, ou para benefcio de um grupo com quem um determinado indivduo est associado se desvia dos deveres formais de um cargo pblico e prejudicial ao interesse pblico31, tem consequncias profundamente negativas para a sociedade e prejudica o desenvolvimento socioeconmico, visto que produz altos custos sociais, polticos, econmicos e humanos. Ela reduz drasticamente a capacidade de investimento privado e pblico, afecta negativamente as finanas pblicas e os planos de desenvolvimento quer nacionais ou regionais32, pelo que imperiosa a sua preveno e combate.

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Comisso Interministerial da Reforma do Sector Pblico (CIRESP), Estratgia Anti-Corrupo (20062010), aprovada pelo Conselho de Ministros na 8a Sesso Ordinria de 11 de Abril de 2006, Maputo, Abril de 2006, pginas 2 e 6. 32 Idem, pgina 4.

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Dadas as particularidades desta forma de manifestao criminosa, foi criado o GCCC como rgo com competncia especializada, a nvel nacional, na preveno e combate corrupo, sendo um rgo subordinado ao Procurador-Geral da Repblica (art. 21/1 da lei orgnica, e art. 19/1, Lei n.o 6/2004, de 16 de Junho). Portanto, o Ministrio Pblico, enquanto titular da aco penal, competindo-lhe realizar as aces de preveno e combate aos crimes previstos 33 na Lei n.o 6/2004, de 16 de Junho, nomeadamente corrupo passiva para acto ilcito, corrupo passiva para acto lcito, corrupo activa e participao econmica em negcio, tm no GCCC um rgo especializado na matria, visto que a este rgo a quem compete investigar os crimes de corrupo e participao econmica ilcita e actuar na instruo dos respectivos processos34. Nos termos do artigo 21/2, da lei orgnica, o GCCC rege-se por diploma prprio. Deste modo, foi aprovado o Decreto n.o 22/2005, de 22 de Junho que, regulamentando a Lei n.o 6/2004, de 16 de Junho (introduz mecanismos complementares de combate corrupo) consagra a estrutura orgnica e competncias do GCCC. 14.1.1.Definio, organizao orgnica e competncias do Gabinete Central de Combate Corrupo. O GCCC define-se legalmente com referncia sua qualidade de rgo da Procuradoria - Geral da Repblica e sua competncia, como resulta do artigo 8, do Decreto n.o 22/2005, de 22 de Junho, que o define como sendo uma unidade orgnica da Procuradoria - Geral da Repblica a quem compete investigar os crimes de corrupo e participao econmica ilcita e actuar na instruo dos respectivos processos. O GCCC de mbito nacional, pois tem jurisdio em todo o pas, tendo a sua sede na Cidade de Maputo (art. 10/1, do Decreto n.o 22/2005, de 22 de Junho). No que se refere sua organizao orgnica, o GCCC tem uma direco, cartrio, secretaria e colectivo de direco. Ao Director do GCCC, cuja nomeao compete ao Procurador - Geral da Repblica, incumbe dirigir aquela unidade orgnica, e sendo o GCCC um rgo subordinado da Procuradoria - Geral da Repblica, resulta da que o respectivo33 34

Cfr. artigo 16, Lei n.o 6/2004, de 16 de Junho. Cfr. artigo 8, Decreto n.o 22/2005, de 22 de Junho.

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Director subordina-se ao Procurador - Geral da Repblica, perante quem responde (art. 9, n.os 1 e 2, e art. 11/2, ambos do Decreto n.o 22/2005, de 22 de Junho). Para alm de dirigir o GCCC, ao Director compete praticar actos com vista a materializao da misso da instituio, referimo-nos competncia para solicitao s entidades pblicas e privadas de informaes necessrias investigao sobre crimes de corrupo e participao econmica ilcita (art. 11/1, alnea b), Decreto n.o 22/2005, de 22 de Junho). Ao cartrio compete praticar actos de apoio ao trabalho de investigao e instruo realizado por investigadores e magistrados do Ministrio Pblico, visto que tem, entre outras, as competncias de assegurar a prtica dos actos processuais inerentes instruo dos processos-crime e guardar os instrumentos do crime (art. 13/1, alneas a) e b), Decreto n.o 22/2005, de 22 de Junho). A secretaria realiza trabalho de natureza administrativa, concretamente a gesto dos recursos humanos, materiais e financeiros; organizao e gesto do arquivo e entrada e sada de correspondncia (art. 14/1, alneas a), b) e c), Decreto n.o 22/2005, de 22 de Junho). O colectivo de direco um rgo colegial do GCCC cuja composio nos termos do artigo 15/1, alneas a) a e), Decreto n.o 22/2005, de 22 de Junho, abrange todos os actores que devem garantir o funcionamento da instituio, na medida em que so membros o Director; os magistrados do Ministrio Pblico e investigadores, que ao abrigo do art. 12/2, do Decreto n.o 22/2005, de 22 de Junho, se ocupam da actividade de investigao e instruo; o escrivo de direito provincial, que dirige o cartrio nos termos do art. 13/2, Decreto n.o 22/2005, de 22 de Junho); e o chefe da secretaria, que dirige a secretaria nos termos do art. 14/2, Decreto n.o 22/2005, de 22 de Junho. A lei confere a presidncia da sesso do colectivo de direco ao ProcuradorGeral da Repblica quando, por sua iniciativa ou a pedido do director do GCCC, decida reuni-lo (art. 15/2, Decreto n.o 22/2005, de 22 de Junho), e quando o colectivo de direco rena por deciso do director do gabinete, compete a presidncia da sesso ao Director do GCCC, visto que a este compete dirigir as suas