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9 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO JULIANA ESPINDOLA VIEIRA DRENAGEM PERCUTÂNEA GUIADA POR ULTRASSOM EM ABSCESSO E CISTO PROSTÁTICO REVISÃO DE LITERATURA NITERÓI 2011

DRENAGEM PERCUTÂNEA GUIADA POR …...exame ultrassonográfico em tempo real, no qual a agulha é direcionada diretamente para o alvo evitando, assim, atingir estruturas não desejadas

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO

JULIANA ESPINDOLA VIEIRA

DRENAGEM PERCUTÂNEA GUIADA POR ULTRASSOM

EM ABSCESSO E CISTO PROSTÁTICO

REVISÃO DE LITERATURA

NITERÓI

2011

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JULIANA ESPINDOLA VIEIRA

DRENAGEM PERCUTÂNEA GUIADA POR ULTRASSOM

EM ABSCESSO E CISTO PROSTÁTICO

REVISÃO DE LITERATURA

NITERÓI-RJ

2011

Monografia apresentada à Universidade

Federal Rural Do Semi-Àrido

(UFERSA), como exigência final para

obtenção do título de especialização em

Clínica Médica de Pequenos Animais.

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AGRADECIMENTOS

A minha família pelo amor, confiança e esforço durante o trajeto de minha profissão.

A minha orientadora Dra Carla Moura, por ter aceitado a me orientar, pela ajuda durante a

realização deste trabalho.

Aos Amigos conquistados durante o curso Equalis, principalmente as minhas amigas

Carolina, Elaine e Camila pela paciência e ajuda.

Aos meus colegas de trabalho pela consideração no decorrer da monografia, pela ajuda

prestada quando eu não podia comparecer no trabalho.

Em fim agradeço a todos os presentes em minha vida pelo apóio, ajuda e compreensão.

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RESUMO

A glândula prostática é fonte comum de moléstias significativas no cão, entre

elas podemos encontrar o abscesso prostático que é um acúmulo focal de pus no

interior da próstata em resultado de um quadro infeccioso grave e não

controlado e os cistos que normalmente apresentam conteúdo não séptico e que

podem haver abscedação dos mesmos. Vários esquemas empíricos de

antibioterapia tem sido utilizados, porém frequentemente não tem apresentado

resultados satisfatórios devido à dificuldade das drogas alcançarem

concentrações terapêuticas no tecido. Esta, talvez seja a principal razão para a

variedade de técnicas cirúrgicas e não cirúrgicas existentes para remover ou

drenar os abscessos e cistos prostáticos como, por exemplo, a drenagem

percutânea guiada por ultrassonografia. Este trabalho foi uma revisão de

literatura sobre drenagem percutânea de abscessos e cistos prostáticos.

Unitermos: Abscesso Prostático, Cisto Prostático e Drenagem Percutânea

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ABSTRACT

The prostate gland is a common source of significant diseases in dogs, among

them we find the prostatic abscess is a focal accumulation of pus within the

prostate as a result of a serious infectious and non-controlled and the cysts

usually contain content that is not Blackwater, which may abscessation be the

same. Several empirical antibiotic regimens have been used, where a lot of times

has not given satisfactory results due to the difficulty of the drug to achieve

therapeutic concentrations in tissue. This is perhaps the main reason for the

variety of surgical and non surgical techniques exist to remove or drain the

prostatic abscesses and cysts such as percutaneous drainage guided by

ultrasound. This work will be performed a literature review of percutaneous

drainag of prostatic abscesses and cysts.

Keywords: Prostate abscess and cyst drainage and percutaneous

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Anatomia da próstata do cão.................................................................... 11

Figura 02 Ultrassonografia da próstata..................................................................... 15

Figura 03 Posicionamento do transdutor................................................................... 21

Figura 04 Corte sagital da estrutura cística antes da drenagem................................. 25

Figura 05 Evolução do procedimento de drenagem ecoguiada de cisto prostático...... 25

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 09

2 REVISÃO LITERATURA.............................................................................................. 11

2.1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA PROSTATA............................................................. 11

2.2 MOLÉSTIAS PROSTÁTICAS........................................................................................ 13

2.2.1 Abscesso Prostático....................................................................................................... 13

2.2.2 Cisto Prostático............................................................................................................ 16

2.2.2.1 Cisto Prostático ou de Retenção................................................................................. 16

2.2.2.2 Cisto Paraprostático.................................................................................................... 17

2.2.2.3 Tratamento de Cisto Prostático................................................................................... 18

2.3 MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO................................................................................... 19

2.3.1 Toque Retal................................................................................................................... 19

2.3.2 Ultrassonografia........................................................................................................... 20

2.3.3 Punção Aspirativa por Agulha Fina......................................................................... 23

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 26

REFÊNCIAS..................................................................................................................... 27

ANEXO A......................................................................................................................... 32

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1 INTRODUÇÃO

A próstata canina é um órgão ovóide, bilobulado, simétrico e produtor de secreções

endócrinas e exócrinas (SOUZA; MARTINS, 2005). Ela é encontrada em todos os

mamíferos, mas possui maior importância clínica no homem e no cão devido à quantidade de

afecções que acometem estas espécies.

As moléstias prostáticas são comuns em cães idosos e podem se manifestar no que se

denomina síndrome prostática, e os sinais clínicos mais comuns incluem: disúria, gotejamento

de sangue pelo pênis acompanhado ou não de micção, hematúria e infecções urinárias não

responsivas ao tratamento médico, tenesmo, fezes secas ou moles com formato laminar e

dificuldade de locomoção (JOHNSTON et al., 2000). Outros sinais menos específicos e

característicos de infecções agudas, tais como hipertermia, letargia e vômito, também podem

estar presentes.

Os abscessos prostáticos são lesões esféricas repletas de exsudado purulento,

incluídas em uma cápsula espessa. Variam em tamanho e número. Podem ser secundários a

prostatite (APPARÍCIO et al., 2006, MUSSEL et al., 2010). Eles são resultados de infecção

bacteriana ascendente que ultrapassam os mecanismos de defesa da uretra e colonizam o

parênquima prostático. Já os cistos prostáticos podem ser caracterizados como cisto de

retenção, que ocupa o parênquima e é causado pelo acúmulo de secreções prostáticas dentro

do órgão como resultado de obstruções dos ductos (JOHNSTON et al., 2001). Os cistos

prostáticos são cavidades não-sépticas, preenchidos por fluido não purulento (HEDLUND,

2002).

O toque retal deve ser o primeiro exame a ser realizado, pois permite ao Médico

Veterinário decidir que exames ou procedimentos adicionais se seguirão, como por exemplo,

a ultrassonografia, radiografia, punção aspirativa por agulha fina e cirurgia.

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Vários esquemas empíricos de antibioticoterapia tem sido utilizados; onde muitas

vezes não tem apresentado resultados satisfatórios devido à dificuldade das drogas em

alcançar concentrações terapêuticas no tecido. Esta, talvez seja a principal razão para a

variedade de técnicas cirúrgicas e não cirúrgicas existentes para remover ou drenar os

abscessos e os cistos prostáticos.

A drenagem percutânea de abscessos e cistos prostáticos é um procedimento simples

rápido e eficaz como mencionado na literatura médica e pode ser guiada com auxílio do

exame ultrassonográfico em tempo real, no qual a agulha é direcionada diretamente para o

alvo evitando, assim, atingir estruturas não desejadas ou estruturas vitais como grandes vasos

e com a prática, o controle do transdutor e da agulha é facilmente realizado. Erros nos

procedimentos são raros, mas podem ocorrer falhas representadas por moderada hemorragia e

vazamento de conteúdo séptico (BOLAND et al., 2003).

Este trabalho teve como principal objetivo realizar uma revisão de literatura sobre a

drenagem percutânea de abscessos e cistos prostáticos.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA PRÓSTATA

A próstata canina é um órgão ovóide, bilobado, simétrico, produtor de secreções

endócrinas e exócrinas. Está situada no espaço retroperitoneal, caudalmente à bexiga,

ventralmente ao reto, dorsalmente à sínfise púbica e à parede abdominal ventral (Figura 1).

Não se tem medidas consideráveis como normais para a próstata, pois vão depender do peso,

raça e idade do animal (SOUZA; MARTINS, 2005).

Figura 1. Anatomia da próstata no cão (SOUZA; MARTINS, 2005).

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A superfície crânio-dorsal da próstata é recoberta pelo peritôneo que ventralmente é

envolvida por tecido adiposo, e, dorsalmente, é fixada ao reto por tecido fibroso. Essa

superfície circunda todo colo vesical e a uretra proximal, também denominada uretra

prostática. Os ductos prostáticos penetram na uretra ao longo de toda a sua circunferência e o

posicionamento da uretra dentro da glândula prostática é dorsal (JOHNSTON et al., 2001).

A artéria prostática, originária da artéria pudenda interna, as veias: prostática e uretral,

são os principais vasos sanguíneos responsáveis pela irrigação do órgão (JOHNSTON et al.,

2001, SMITH, 2008). Quanto à inervação da próstata, esta é feita pelo nervo hipogástrico

(controle simpático), promovendo a ejeção do fluido prostático e pelo nervo pélvico (controle

parassimpático), que aumenta a secreção do fluido (SMITH, 2008).

Como referido anteriormente, a próstata é um órgão bilobado graças à presença de

septo fibroso medial bastante proeminente que separa a próstata em dois lobos, o esquerdo e o

direito (JOHNSTON et al., 2001).

A sua principal função é produzir fluído prostático que auxilia no suporte e transporte

dos espermatozóides durante a ejaculação (SMITH, 2008).

Nas células epiteliais prostáticas, a testosterona (produzida nos testículos pelas células

de Leydig) é convertida pela enzima 5α-reductase num metabólito muito mais ativo, a DHT

(dihidrotestosterona), que regula o crescimento/desenvolvimento e a função secretora deste

órgão. A próstata é, deste modo, um órgão androgênio-dependente (JOHNSTON et al., 2000;

JOHNSTON et al., 2001).

Assim, os processos secretórios da próstata dependem da testosterona; quando falta

esse hormônio, a glândula regride (JUNQUEIRA;CARNEIRO, 2004).

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2.2 MOLÉSTIAS PROSTÁTICAS

As moléstias prostáticas são frequentemente encontradas na clínica dos animais de

companhia, especialmente nos cães. As alterações da próstata mais comuns são a hiperplasia

benigna da próstata (HBP), a prostatite, os cistos prostáticos e paraprostáticos, os abscessos e

as neoplasias da próstata (SMITH, 2008). Animais com prostatopatias são mais sujeitos à

infecção bacteriana (CARVALHO, 2005).

As manifestações clínicas dessas doenças são muito semelhantes, uma vez que todas

causam vários graus de aumento ou inflamação prostática (BRAZÃO, 2009).

2.2.1. Abscesso Prostático

Os abscessos prostáticos são lesões esféricas repletas de exsudado purulento, incluídas

em uma cápsula espessa. Variam em tamanho e número. Podem ser secundários a prostatite

(APPARÍCIO et al., 2006; MUSSEL et al., 2010).

A prostatite é a inflamação da glândula prostática. Esta pode ser secundária à cistite

recidivante, HBP, neoplasias prostáticas e podem se desenvolver em cães orquiectomizados

ou não (JOHNSTON et al., 2001).

Em geral, a próstata está protegida contra infecções por seus mecanismos de defesas

naturais representados pela IgA e IgB e remoção bacteriana pela micção frequente

(CARVALHO, 2005).

Em um trabalho realizado por Souto (2009) que tinha como objetivo chamar atenção

para episódios de cistite bacteriana recidivante, encontrou um caso de prostatite multifocal

crônica ao realizar o exame histopatológico da próstata.

Os abscessos são resultados de infecção bacteriana ascendente que ultrapassam os

mecanismos de defesa da uretra e colonizam o parênquima prostático (BASINGER;

LUTHER, 1993, BARSANTI; FINCO, 1992), levando a formação de microabscessos no

parênquima, os quais se fundem formando abscessos maiores, ou ainda, como resultado da

contaminação de cistos de retenção, paraprostáticos ou metaplásticos (APPARÍCIO, 2006).

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Os abscessos são revelados pela ultrassonografia por imagem hipoecogênica difusa ou

focal. Ele causa uma imagem da glândula de margem interna irregular, cavidade lobulada e

lúmen ocasionalmente septado (CARVALHO, 2004). O diagnóstico é confirmado pela

aspiração do exsudato supurativo da próstata (WHITE, 2000).

Segundo Borges et al. (2007), com o advento da terapêutica antibiótica de largo

espectro os abscessos prostáticos tornaram-se raros na prática clínica humana diária não

ultrapassando 0,5% das infecções prostáticas. O seu diagnóstico clínico é difícil dada a

sintomatologia se sobrepor a outras patologias mais comuns como a prostatite (aguda ou

crônica) ou mesmo a HBP. Deve ser considerado em portadores de doença crônica ou

imunodeprimidos com evolução clínica desfavorável e é facilmente confirmado por ecografia

(transretal ou suprapúbica).

Na medicina veterinária, vários esquemas empíricos de antibioticoterapia têm sido

utilizados; onde muita das vezes não tem apresentado resultados satisfatórios devido à

dificuldade das drogas em alcançar concentrações terapêuticas no tecido. Talvez, esta seja a

principal razão para a variedade de técnicas cirúrgicas e não cirúrgicas existentes para

remover ou drenar os abscessos, como por exemplo, a marsupialização, ressecção local,

prostatectomia subtotal e o uso do dreno de penrose (HEDLUND, 2002), e não cirúrgicas

como a drenagem percutânea guiada por ultrassonografia (FROES et al., 2003). No entanto, o

cuidado pós-operatório intensivo, as complicações de longo prazo, bem como as recidivas

associadas a esses procedimentos, inspiraram o desenvolvimento de uma nova técnica

cirúrgica utilizando o omento (APPARÍCIO et al., 2006).

Hedlund (2002) citou que a dificuldade no tratamento está na diferença de pH do

sangue, do interstício prostático e na lipossolubilidade do medicamento, e que os antibióticos

como sulfa/trimetoprim, cloranfenicol, enrofloxacina e clindamicina apresentam boa

penetração na próstata, portanto o uso do antibiótico deve ser sistemático e baseado na cultura

e antibiograma. Os principais microorganismos envolvidos são: Escherichia coli,

Staphylococcus spp. e Proteus spp. (BASINGER, LUTHER, 1993). Já Carvalho (2004), cita

que além destas bactérias podemos encontrar: Streptococcus spp, Pseudomonas spp.,

Klebsiella spp. e Mycoplasma.

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Figura 02-Ultrassonografia prostática. Nota-se a presença de pequenos abscessos junto

Com o Cisto prostático (DOMINGUES, 2009).

Brazão (2009) citou que os abscessos podem ser de grande dimensão e afetar a

capacidade de micção e de defecação. A febre, letargia e a hematúria são os sinais clínicos

mais freqüentes. Estes abscessos podem por em risco a vida do animal, pois podem originar

sepse, endotoxemia e peritonite localizada (MEMON, 2007), ou muitas das vezes os

abscessos prostáticos podem apresentar-se como uma afecção assintomática e resultar apenas

em infecções urinárias recorrentes (BRAZÃO, 2009).

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2.2.2 Cistos Prostáticos

2.2.2.1 Cisto prostático ou de retenção

Inicialmente as alterações císticas são apenas histológicas. No entanto, quando os

cistos começam a aumentar, começam a comunicarem-se uns com os outros até que se tornan-

se evidentes macroscopicamente, altura em que se designam como cistos prostáticos (SMITH,

2008).

Cistos prostáticos caracterizam-se por lesões cavitárias com conteúdo anecóico,

circundado por uma fina parede hiperecóica com reforço acústico distal contendo fluído claro

e séptico em seu interior (LADDS, 1993; JOHNSTON et al., 2000), porém, Carvalho (2004),

relatou, que metade dos cistos encontrados acidentalmente estavam contaminados. Três tipos

principais podem ser observados: cistos de retenção ou cistos verdadeiros, relacionados à

obstrução de ductos excretores; cistos paraprostáticos, que se localizam fora do parênquima

glandular; e cistos associados à hiperplasia, geralmente numerosos, pequenos e contidos na

estrutura glandular, sendo os de maior ocorrência (LADDS, 1993; JOHNSTON et al., 2000).

A patogenia dos cistos prostáticos ainda não é conhecida (PARRY, 2007), mas pensa-se que

os cistos de retenção são resultado da formação de lesões cavitárias no interior do parênquima

prostático (resultantes da obstrução dos canalículos) que ficam cheias de fluido (SMITH,

2008).

Os cistos prostáticos são, normalmente, achados acidentais durante o exame

ultrassonográfico e são muitas vezes assintomáticos ou apresentam sinais clínicos associados

à HBP concomitante (MEMON, 2007), apresentando, corrimento uretral, hematúria, tenesmo,

dor no abdome caudal e disúria (JOHNSTON et al., 2000).

Carvalho (2004) citou que um cisto mesmo sendo solitário pode se tornar tão grande, e

se tornar capaz de obstruir os ureteres e causar hidronefrose. Um estudo em seres humanos

mostrou que lesões císticas prostáticas estavam associadas com hipertrofia prostática benigna,

inflamação (abscessos) variações anatômicas (persistência do ducto de Müller), variando em

tamanho de 2 a 30 mm. O tamanho dos cistos aumenta com a gravidade da hipertrofia

prostática benigna.

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2.2.2.2 Cisto paraprostático

Os cistos paraprostáticos Geralmente apresentam um fluido estéril, amarelado a

serossanguinolento, com mínima evidência de inflamação (KEALLY; McALLISTER, 2005).

Ocasionalmente, um ou mais cistos são detectados adjacentemente à próstata, e

aderidos a esta glândula por um pedículo, ou por aderências. O cisto também pode estar

intimamente associado à parede dorsal da bexiga e ele pode, ou não, comunicar-se com a

uretra. Cistos paraprostáticos são diferentes dos múltiplos cistos intraprostáticos de pequenas

dimensões (ETTINGER; FELDMAN; 1997; NYLAND; MATTOON, 2005).

Carvalho (2004) relatou, que os cistos paraprostáticos podem ocorrer nos ductos de

Müller remanescentes e que podem aparecer em decorrência do extravazamento de um cisto

prostático de retenção, situação na qual será evidenciada hiperplasia postática benigna.

Durante o desenvolvimento, o utrículo prostático é a estrutura bicorne com pedículo que

se abre na parede dorsal da uretra, no interior da glândula prostática. Normalmente, a estrutura

degenera dentro da glândula prostática, à medida que o feto vai desenvolvendo os traços

masculinos. Com um cisto se originando do utrículo prostático, seu ponto inicial deve situar-se na

linha media dorsal da glândula prostática. A própria glândula prostática deve estar normal para a

idade do cão. O epitélio que reveste o cisto deve ser do tipo colunar simples. Pode haver evidência

de hermafroditismo ou pseudo-hermafroditismo. Um utrículo prostático cístico freqüentemente se

comunica com a uretra. São raros os casos comprovados de utrículo prostático (ETTINGER;

FELDMAN, 1997; NELSON; COUTO, 2006).

No caso de grandes cistos, os sinais clínicos podem estar relacionados à

intromissão/invasão sobre a uretra ou cólon, resultando, respectivamente, em disúria ou tenesmo.

Também foi observada incontinência urinária, geralmente em associação com a hiperdistensão da

bexiga e obstrução uretral parcial. Se o cisto é suficientemente grande poderá ser observada

distensão abdominal (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

Cistos paraprostáticos são visualizados como estruturas grandes, anecóicas, bem

margeadas e preenchidas com líquido no abdome caudal. Esse líquido pode conter material

ecogênico que se move quando agitado. A parede pode ter espessura variável e septos podem

dividir a estrutura. (NELSON; COUTO, 2006).

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A mineralização, da parede causa sombreamento acústico. O sinal de “dupla bexiga”, no qual

parece haver duas bexigas urinárias presentes além da glândula prostática, pode ser

visualizado por radiografia (CARVALHO, 2004)

A diferença entre a bexiga e o cisto pode ser identificada pelo esvaziamento da bexiga e

pela introdução rápida de salina no interior do lúmen desse órgão. A salina será visualizada como

um redemoinho na bexiga. O cisto pode estar preso à próstata por um pedículo (KEALLY; Mc

ALLISTER, 2005; NYLAND; MATTON, 2005).

2.2.2.3 Tratamento de Cistos Prostáticos

A abordagem terapêutica dos cistos prostáticos de moderada a grande dimensão é

tradicionalmente cirúrgica, incluindo a drenagem, o debridamento cirúrgico, omentalização, a

marsupialização e a colocação de drenos cirúrgicos (SMITH, 2008). A castração também está

recomendada para prevenir a recidiva dos cistos (HEUTER, 2008). A omentalização

prostática consiste na colocação de omento no interior das lesões da próstata. O omento tem

propriedades angiogênicas e fagocíticas. O omento também colabora na drenagem das

secreções remanescentes, na drenagem linfática e minimiza o aparecimento de adesões pós-

cirúrgicas. A omentalização é o tratamento de eleição para resolução das lesões cavitárias

(APPARÍCIO et al., 2006). O posicionamento adequado do omento é extremamente

importante na prevenção de recidivas. Hoje em dia, a marsupialização é raramente realizada

pelos riscos que lhe estão inerentes. A prostatectomia parcial apenas é realizada quando os

animais se encontram numa situação estável. Pode ser uma opção nos casos de abscessos,

cistos, trauma localizado, em HBP não responsiva à orquiectomia ou nos animais com

neoplasia (FREITAG et al., 2007).

Na maioria dos casos estas abordagens são efetivas, mas as complicações são bastante

frequentes (SMITH, 2008).

Técnicas mais recentes, como a drenagem ecoguiada começam a aparecer. As

principais vantagens da drenagem ecoguiada, são: menor morbidade, menores custos e

recuperação mais rápida comparando com a cirurgia.

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No entanto, há o risco de propagação de bactérias pela agulha (SMITH, 2008), já que, como

referido anteriormente, 42% dos cistos são sépticos (BLACK et al., 1998). Outro

inconveniente desta técnica é a possibilidade de serem necessárias várias intervenções

(drenagens) até à resolução completa do problema, sendo os casos de recidiva frequentes.

Adicionalmente, a orquiectomia está recomendada para a redução do volume prostático

(SMITH, 2008).

2.3 MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO

O Médico Veterinário perante um doente com sintomas (dor) ou sinais sugestivos de

afecção prostática deverá como mínimo indispensável, colher uma história pregressa

completa, proceder ao exame físico completo e executar o toque retal (DOMINGUES, 2009).

O toque retal deve ser o primeiro exame a ser realizado, pois permite ao Médico

Veterinário decidir que exames ou procedimentos adicionais se seguirão (SMITH, 2008).

2.3.1 Toque Retal

O toque retal, que consiste na palpação da próstata por via transretal, é o melhor

método para avaliação física da próstata e é o mais acessível, de mais fácil e rápida execução

(SMITH, 2008).

A próstata é facilmente encontrada quando uma das mãos é usada para palpar o

abdome caudal e empurrar o colo da bexiga e a próstata e direção ao canal pélvico.

Simultaneamente com o dedo indicador da outra mão, realiza-se o exame digital da porção

dorso caudal da próstata (DOMINGUES, 2009).

A próstata deve ser avaliada quanto ao seu tamanho, forma, simetria e evidência de

dor. A próstata normal é lisa e simétrica não apresentando qualquer sinal de dor ao toque retal

(SMITH, 2008).

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Na prostatite encontramos uma próstata aumentada de volume, dolorida e assimétrica,

já nos abscessos e cistos prostáticos podemos encontrar áreas flutuantes (MELO, 2008).

Na HPB percebe-se a próstata aumentada de volume simetricamente, com consistência

macia, superfície regular, móvel e indolor. Na neoplasia prostática encontramos a glândula

prostática assimétrica, firme, dolorosa podendo demonstrar irregularidade nodular

(HEDLUND, 2002).

2.3.2 Ultrassonografia

O exame ultrassonográfico da próstata é um procedimento cada vez mais comum na

clínica médica canina, não somente no diagnóstico dos distúrbios reprodutivos do macho, mas

também quando o paciente apresenta sinais clínicos relacionado a doenças do trato urinário

inferior (hematúria), descarga uretral, doença sistêmica, desordens do trato gastrointestinal

(tenesmo), doenças locomotoras e infertilidade. O aumento da próstata ou sua anormalidade

encontrada em exames físicos de rotina podem justificar exames adicionais, mesmo sem

sinais clínicos correspondentes. (MARGARIDA et al., 2005).

O exame ultrassonográfico da próstata permite uma avaliação anatômica, do

parênquima do órgão e de estruturas adjacentes, como os linfonodos ilíacos (CRUZEIRO;

SILVA, 2008).

A imagem ultrassonográfica da próstata não garante, por si, a capacidade de

diferenciar condições neoplásicas de inflamatórias. O papel da ultrassonografia na doença

reprodutiva consiste, portanto, em aumentar a acurácia e a acuidade de detectar anormalidades

anatômicas, com capacidade subsequente de guiar procedimentos de intervenção para a coleta

de amostras teciduais para um diagnóstico mais preciso e definitivo. A ultrassonografia

intervencionista é um método de diagnóstico auxiliar ou terapêutico, no qual o equipamento

ultrassonográfico é utilizado como guia em tempo real para a introdução de instrumentos

como agulhas e cateteres no interior dos tecidos (procedimento ecodirigido) (NYLAND;

MATTON, 2005).

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O animal deve ser posicionado em decúbito dorsal (figura 3). Deve ser realizada a

tricotomia da região abdominal e feita a aplicação de gel próprio. A ultrassonografia é

realizada transabdominalmente. Se o animal estiver com a vesícula urinária repleta, a próstata

se localizará totalmente intra-abdominal (CARVALHO, 2004).

Transdutores de frequência devem ser utilizados sempre que possível; são comuns as

unidades de 3,5 a 10MHz. A imagem das estruturas dentro da zona focal do transdutor é

importante para obtenção de uma resolução ótima, indiferente da freqüência utilizada. O

transdutor é posicionado no abdômen caudoventral, em um dos lados do pênis ou prepúcio,

cranialmente ao púbis. A identificação da bexiga urinária seguida pelo direcionamento caudal

do plano de varredura é necessária. Uma vez identificada, a glândula prostática deve ser

varrida cuidadosamente nos planos longitudinal e transversal. Um plano (frontal) pode ser

necessário para avaliá-la, caso essa esteja na entrada da pelve (SOUZA; MARTINS, 2005).

Figura 3. Posicionamento do transdutor (3,5 e 5,0 mHz) para a realização do exame

ultrassonográfico da próstata – região inguinal (SOUZA ; MARTINS 2005).

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Durante o exame ultrassonográfico a próstata apresenta estrutura sólida, homogênea e

delimitada por uma linha correspondente à cápsula fibrosa que a envolve. Sua ecotextura

assemelha-se ao baço e possui forma bilobulada que é reconhecida pelo plano transversal. A

uretra prostática aparece como estrutura arredondada, hipoecóica a anecóica na porção central

dorsal da próstata (RUEL et al., 1998).

O auxílio do ultrassom como forma de diagnóstico facilitou a observação de

patologias prostáticas. Na imagem de uma próstata com hiperplasia benigna frequentemente a

próstata está aumentada, esse aumento pode ser ou não simétrico, liso ou nodular, distorcendo

a margem glandular. Esse aumento difuso pode causar a perda da aparência bilobular normal

da próstata. Em uma inflamação ou uma infecção da próstata pode haver aumento simétrico

ou assimétrico dependendo se a doença é focal, multifocal ou difusa. O aspecto global do

parênquima normalmente é heterogêneo, padrão misto com ecogenicidade variável. Áreas

focais ou multifocais com hipoecogenicidade ou hiperecogenicidade mal margeadas podem

estar presentes. Pode haver cistos com tamanhos variados ou estruturas semelhantes a cistos,

tais como abscessos. A cápsula da glândula normalmente está intacta e é raro encontrar algo

mais que linfadenopatia moderada somente com inflamação. Uma inflamação difusa pode

raramente aparecer homogênea e estar tanto hiperecóica como hipoecóica. Nesse caso, o

aspecto ultrassonográfico da prostatite bacteriana pode ser similar ao da hiperplasia benigna.

Isso ressalta que um diagnóstico definitivo deve ser feito por aspiração para cultura e análises

de sensibilidade e por biopsia .Uma imagem que mostre uma neoplasia prostática tem como

características a glândula aumentada, com formato irregular e ecotextura heterogênea. Focos

hiperecóicos podem estar dispersos ao longo do parênquima ou restritos a uma área focal.

Podem estar presentes focos hiperecóicos com sombra acústica representando mineralização,

lesões cavitárias, semelhantes a cistos, variando em tamanho, formato e número (NYLAN,

MATTON, 2005; BASTOS, MACHADO, 2008).

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2.3.3 Punção Aspirativa por Agulha Fina

A punção aspirativa por agulha fina (PAAF) pode ser usada para colher o fluido,

células prostáticas para citologia e microbiologia, bem como para drenar abscessos e fluidos

de estruturas císticas intra ou paraprostáticas (BRAZÃO, 2009).

Em um trabalho realizado por Melo, 2008,foi observado que a ultrassonografia

colaborou significativamente para a realização da punção aspirativa da próstata por permitir,

além da avaliação da glândula, a determinação do local da punção, como verificado por

Nyland; Matton (2005) e Di Santis et al (2004), tornando a colheita do material mais eficaz e

segura. Provavelmente, sem o auxílio do exame ultrassonográfico, não seria possível a

realização da punção aspirativa da mesma maneira citada acima.

A punção aspirativa com agulha fina foi possível de ser realizada em todos os animais

e permitiu a colheita de material para avaliação das características celulares e de seus

elementos como também verificado por Zohil; Castellano (1994).

Os pacientes com abscessos e cistos selecionados, são aqueles que as lesões císticas ou

cavitárias são maiores que 1,5 cm de diâmetro e que não responderam satisfatoriamente à

terapia médica (COLLADO et al., 1999).

A drenagem percutânea das lesões císticas e/ou cavitárias prostáticas ou

paraprostáticas guiadas por ultra-sonografia é um procedimento simples, rápido e eficaz como

mencionado na literatura médica (BUSSADORI et al., 1999). Os transdutores micro convexos

de 5,0 e 7,5 MHz, do tipo não setorial, são os mais indicados para esse procedimento, pois

oferecem imagens com melhor qualidade (NYLAND, MATOON; 2005). Algumas regras

antes e durante o procedimento devem ser obedecidas, como a antibioticoterapia prévia, a

assepsia cirúrgica local e a seleção adequada do paciente (FROES et al., 2003).

O animal deve estar sob efeito de anestesia, permanecendo imóvel para que não ocorra

movimentação durante a punção. Recomenda-se que todo o conteúdo da lesão seja aspirado

para que não ocorra extravasamento do material para a cavidade abdominal. Se o material

aspirado for muito viscoso, deve-se infundir solução fisiológica 0,9% aquecida, para

fluidificar o conteúdo e facilitar a sua drenagem. Nesses casos a solução fisiológica também

tem a função de lavar a cavitação.

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Para o sucesso da terapia proposta é necessária que a drenagem seja realizada pelo

menos duas vezes em momentos distintos, preferencialmente com intervalos quinzenais

(KULIGOWSKA; KELLER; PERRUCCI, 1995).

Em um trabalho realizado por Froes et al., (2003) , que tinham como objetivo avaliar a

eficiência da drenagem percutânea como alternativa terapêutica de caráter não cirúrgico,

observou que, todos os 15 animais tratados precisaram de uma segunda punção para resolução

total das lesões, entretanto, logo após a primeira drenagem todos os animais apresentaram

melhora clinica evidente; resultado este encontrado tanto para Provenza; Pinto (2008) e

Borges et al., (2007). E as lesões estavam pelo menos 50% menores do que no exame anterior

à drenagem.

A punção permite identificar se o material retirado é séptico ou não, tendo a

possibilidade de identificar o microorganismo para seu melhor tratamento. Em trabalho

realizado por Margarida et al., (2005), foi encontrado na cultura após a punção do fluido

Enterobacter sp. Pseudomonas sp. A punção permite também a descompressão do

parênquima prostático, melhorando a perfusão local e consequentemente melhorando o

influxo de antibiótico no local (COLLADO et al., 1999).

Para diminuir a produção de hormônio testosterona, e conseqüentemente o volume da

glândula, otimizando o tratamento, a terapia de drenagem deve ser acompanhada pela

orquiectomia (BARSANTI ; FINCO, 1992).

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Figura 4-Corte sagital da estrutura cística, antes da drenagem medindo 12,84 cm. Figura 5 (a

e b)-Evolução do procedimento de drenagem ecoguiada de cisto prostático, nota-se

esvaziamento progressivo do fluido (MARGARIDA et al., 2005).

Figura 4 Figura 5 (a e b)

As complicações desta manobra são raras e sua eficácia já foi comprovada tanto para o

homem quanto para animais. As falhas podem ser representadas por moderada hemorragia e

vazamento de conteúdo séptico (FROES et al.,2003).

Benoist et al., (2002) relatam a que no homem pode ocorrer à formação de abscessos

complexos, fístulas intestinais intercomunicantes, peritonite difusa, presença de tecido

necrótico.

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a revisão de literatura, conclui-se que se deve suspeitar de prostatopatia em

animais com infecção urinária recidivante. E que a antibioticoterapia é feita de forma

empírica até a realização de cultura e antibiograma, para confirmação ou não do antibiótico a

ser administrado.

A drenagem percutânea de cistos e abscessos, guiada por ultra-sonografia é um

método de diagnóstico auxiliar ou terapêutico, rápido, fácil, seguro e eficiente, já consolidado

na medicina humana, que raramente apresenta complicações. O menor custo á torna uma

alternativa economicamente viável. Tal fator deve ser levado em consideração quando o

proprietário não pode arcar com os custos do procedimento cirúrgico, inviabilizando assim o

tratamento do animal. O acompanhamento por ultrassonografia da drenagem permite

acompanhar o esvaziamento do cisto ou abscesso e ter certeza da retirada da maior quantidade

de material possível.

Com a drenagem de abscesso prostático torna-se possível, identificar através de

cultura e antibiograma qual microorganismo envolvido e qual antibiótico este é sensível além

de retirar o foco infeccioso.

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ANEXO A

Tabela 1– Características farmacológicas de alguns antibióticos

__________________________________________________________________________

Antibiótico Ácido/Básico Lipossolubilidade pKa Difusão na próstata

___________________________________________________________________________

.

Eritromicina Base Sim 8,8 Boa

Oleandomicina Base Sim 8,5 Boa

Polimixina B Base Não 8,0-9,0 Má

Kanamicina Base Não 7,2 Má

Gentamicina Base Não 7,9-8,2 Má

Trimetropim Base Sim 7,3 Boa

Clindamicina Base Sim 7,6 Boa

Lincomicina Base Parciavelmente 7,6 Má

Norfloxacina Base Sim Alto Boa

Ácido Nalidíxico Ácido Sim 6,7 Má

Enrofloxacina Ácido Sim Anfotérico Boa

Ciprofloxacina Ácido Sim Anfotérico Boa

Penicilina G Ácido Não 2,7 Má

Ampicilina Ácido Não 2,5 Má

Cefalotina Ácido Não 2,5 Má

Sulfisoxazole Ácido Sim Baixo Má

Sulfametoxazole Ácido Sim Baixo Má

Oxitetraciclina Anfotérico Não 3,5-7,6-9,2 Má

Tetraciclina HCl Anfotérico Sim 3,3-7,2-9,7 Boa

Cloranfenicol Não Aplicável Sim Não Aplicável Boa

Adaptado de Feldman & Nelson (2004b). Prostatitis In E. Feldman & R. Nelson (Eds.)

Canine and Feline Endocrinology and Reproduction (pp. 977-986). St Louis, Missouri:

Elsevier Saunders.