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    Direito dos Seguros

    Jos Caramelo Gomes

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    Plano

    1. Introduo

    1.1 Definio de Direito dos Seguros

    1.2 Autonomia do Direito dos Seguros

    1.3 Fontes de Direito dos Seguros

    2. O Mercado Interno

    2.1 Direito de estabelecimento e livre prestao de servios

    2.2 O Direito Comunitrio dos seguros

    2.2.1 As Directivas de primeira gerao

    2.2.2 As Directivas de segunda gerao

    2.2.3 As directivas de terceira gerao

    3. O regime jurdico da actividade seguradora

    3.1 As condies de acesso actividade seguradora

    3.1.1 O estabelecimento

    3.1.1.1 Condies formais

    3.1.1.2 Condies substantivas

    3.1.2 A livre prestao de servios

    3.1.2.1 Livre prestao de servios no territrio de outros Estados-membros por empresas

    com sede em Portugal

    3.1.2.2 Livre prestao de servios em Portugal por empresas com sede no territrio de outros

    Estados-membros

    3.2 As condies de exerccio da actividade seguradora

    3.2.1 As garantias financeiras

    3.2.1.1 Provises tcnicas

    3.2.1.2 Margem de solvncia

    3.2.1.3 Fundo de garantia

    3.2.2 A fiscalizao das garantias financeiras

    3.2.3 Ramos de seguro e superviso de contratos e tarifas

    3.2.4 Superviso prudencial da actividade seguradora3.2.5 Sigilo profissional

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    3.2.6 Regime fiscal

    3.2.7 O endividamento das empresas de seguros

    3.2.8 O regime sancionatrio da actividade seguradora

    4. Actividade seguradora e Direito da Concorrncia

    5. Seguros e defesa do consumidor

    6. Do contrato de seguro em geral

    Bibliografia

    Anexo A: Extractos do Cdigo Comercial

    Anexo B: Decreto-lei 94-B/98 (RJAS)

    Anexo C: Decreto-lei 251/97 (Estatuto do ISP)

    Anexo D: Decreto-lei 176/95 (Regras de transparncia)

    Anexo E: Decreto-lei 388/91 (Mediao seguradora)Anexo F: Clusulas Contratuais Gerais

    Anexo G: Decreto-lei 522/85 (Seguro obrigatrio RC automvel)

    Anexo H: Lei 100/97 (Seguro acidentes de trabalho)

    Anexo I: Extractos do Tratado que institui a Comunidade Europeia

    Anexo J: Lei de Defesa da ConcorrnciaAnexo L: Regulamento sobre concentraes

    Anexo M: Princpios gerais da actividade actuarial

    ndice

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    1. Introduo

    O seguro surgiu entre os finais do sculo XIV e princpios do sculo XV,

    como consequncia natural do desenvolvimento da viagens martimas e

    dos riscos que lhes eram inerentes.

    A primeira regulamentao seguradora em Portugal data de 13701, tendo

    como objecto a cobertura de navios de peso bruto superior a 50 toneladas.Nesta poca surgiram regulamentaes idnticas em Frana e em

    Inglaterra.

    Apenas no sculo XVII surgiram novos tipos de seguro, por influncia do

    grande incndio de Londres de 1666, aparecendo o seguro de incndio, a

    que se seguiram, no sculo XVIII, os primeiros seguros de vida.

    A partir do sculo XIX a actividade seguradora desenvolveu-se

    extrordinariamente, aparecendo o seguro agrcola, o seguro de acidentes

    pessoais, o seguro de acidentes de trabalho e o seguro automvel entre

    tantos outros.

    O contrato de seguro precedeu o aparecimento da seguradora, enquanto

    pessoa autnoma diferente do conjunto de indivduos que as constituiam.Com efeito, esta realidade apenas surge nos sculos XVII e XVIII.

    As primeiras regras conformadoras da actividade seguradora em Portugal

    datam do final do sculo XIX e incio do sculo XX, consagrando desde

    1 Paula Maia Fernandes, O novo regime segurador

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    logo alguns dos princpios fundamentais que ainda hoje se encontram

    consagrados, tais como o princpio da tipicidade, da exclusividade e da

    superviso dos poderes pblicos, considerados indispensveis para

    garantia da solidez das instituies seguradoras e da estabilidade do

    sector.

    A primeira sistematizao do regime jurdico da actividade seguradora

    consta do Cdigo Comercial de 1888, nos artigos 425 e sgs, a que seseguiu o Decreto de 21 de Outubro de 1907, sobre o acesso e exerccio da

    actividade seguradora, a Lei 2/71, lei de bases do sector segurador, a Lei

    46/77, lei dos sectores da economia que interditou a actividade

    seguradora iniciativa privada, Lei 11/83 e Decreto-lei 406/83, que

    abriram este sector iniciativa privada, Decreto-lei 102/94 que estebalece

    o regime actual de acesso actividade seguradora e Decreto-lei 176/95,sobre a transparncia da actividade seguradora e o regime jurdico do

    contrato de seguro.

    O actual regime da actividade seguradora em Portugal fortemente

    marcado pela adeso s Comunidades Europeias e pelas consequentes

    obrigaes comunitrias, principalmente no sentido da liberalizao e

    realizao do mercado interno dos servios, capitais e direito de

    estabelecimento.

    O esforo das Comunidades Europeias nesta matria2 desenvolveu-se

    atravs de Directivas, normalmente agrupadas em trs geraes. Atravs

    2 Ver Infra

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    das Directivas de primeira gerao promoveu-se o direito de

    estabelecimento dos operadores econmicos, nas de segunda gerao a

    liberdade de prestao de servios pelos operadores e nas de terceira

    gerao promoveram-se aspectos relativos ao controle prudencial das

    empresas envolvidas na actividade.

    1.1 Definio de Direito dos Seguros

    1.2 Autonomia do Direito dos Seguros

    1.3 Fontes de Direito dos Seguros

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    2.1 Direito de estabelecimento e livre prestao de servios

    O Direito de estabelecimento, artigos 52 a 58 CE, e a livre prestao de

    servios, artigos 59 a 66 CE, pertencem aos fundamentos, ao acervo, da

    Comunidade. Em conjugao com a livre circulao de trabalhadores,

    artigos 48 a 51 CE, asseguram a livre circulao de pessoas singulares e

    colectivas no mercado comum.

    Pelo essencial, o direito de estabelecimento e a livre prestao de servios

    asseguram aos naionais comunitrios o direito de exercer uma profisso

    ou actividade no assalariada no conjunto do territrio comunitrio.

    O Direito de estabelecimento comporta, em todos os Estados-membros, o

    acesso e exerccio de actividades econmicas no assalariadas, incluindo

    o direito de constituio e gesto de empresas ou sociedades, de acordo

    com a legislao relevante do Estado-membro de acolhimento, por parte

    dos nacionais comunitrios artigos 52 a 58 do Tratado CE, nos

    mesmos termos em que essa actividade seja proporcionada aos seus

    nacionais.

    Existem duas modalidades de exerccio deste direito: a transferncia ou

    criao de um centro de actividade principal, direito de estabelecimento a

    ttulo principal e a criao de agncias, sucursais ou filiais, direito de

    estabelecimento a ttulo secundrio.

    O Direito de estabelecimento pode ser exercido por pessoas singulares ou

    colectivas nacionais de um Estado-membro da Comunidade.

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    Se no que respeita s pessoas singulares o critrio apontado no suscita

    quaisquer dificuldades, o mesmo no acontece no que respeita s pessoas

    colectivas.

    O artigo 58 CE determina que um duplo vinculo deve ligar uma pessoa

    colectiva Comunidade Europeia por forma a que ela possa considerar-se

    nacional de um Estado-membro para efeitos de beneficiar do direito de

    estabelecimento previsto no tratado: o ter-se constituido de acordo com alegislao de um Estado-membro e ter a sua sede estatutria ou a sua

    administrao principal ou o seu estabelecimento principal no territrio

    comunitrio.

    A livre prestao de servios na Comunidade Europeia compreende, de

    acordo com a jurisprudncia do Tribunal de Justia3, trs vertentes

    distintas: a possibilidade do prestador de servios exercer a sua actividade

    no Estado-membro onde a prestao dever realizar-se, nas mesmas

    condies em que os naionais desse estado (deslocao do prestador de

    servios), a possibilidade de realizar prestaes de servios em benefcio

    de um sujeito com sede em Estado-membro diverso daquele onde o

    prestador tem a sua sede e sem deslocao do prestador (deslocao da

    prestao) e a possibilidade do prestador receber, na sua sede, o

    beneficirio da prestao (deslocao do beneficirio).

    3 Ac. Manfred Sager, de 25 de Julho de 1991, P. C-76/90, C. 1991, p. I-4221; Ac.

    Luisi e Carbone, de 31 de Janeiro de 1984, P. 286/82 e 26/83, C. 1984, p. 377; Ac.

    Gauchard, de 8 de Dezembro de 1987, P. 20/87, C. 1987, p. 4879, entre outros.

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    A livre prestao de servios abrange qualquer actividade comercial,

    industrial e artesanal, exercidas por pessoas singulares ou colectivas, bem

    como o exerccio de profisses liberais, desde que essa actividade seja

    desempenhada a ttulo oneroso e desde que a situao concreta no seja

    abrangida pela livre circulao de mercadorias, de pessoas ou de capitais,

    relativamente s quais a liberdade de prestao de servios subsidiria.

    2.2 O Direito Comunitrio dos seguros

    A criao de um mercado interno dos seguros uma preocupao antiga

    da Comisso e tem em vista a realizao de um duplo objectivo: a

    possibilidade das companhias de seguros exercerem a sua actividade no

    conjunto da Comunidade sem entraves e a possibilidade dos tomadores

    do seguro escolherem o produto que se mostre mais adequado s suas

    necessidades.

    As medidas comunitrias desenvolveram-se em vrias geraes de

    Directivas, cada uma delas com um objectivo claro e determinado,

    sempre segundo uma aproximao dualista entre ramos vida e no vida4.

    4 A actividade seguradora desenvolve-se em diversas reas designadas por ramos.

    Esta classificao assenta num critrio material que atende ao objecto do contrato ou

    contratos de seguros que viro a ser propostos pelo operador.

    A classificao assenta numa diviso bsica entre ramos vida e no vida. O

    legislador optou por enumerar taxativamente quais os objectos contratuais includos

    numa e noutra categoria considerando-se que integram o ramo vida os contratos e

    operaes que incidam sobre a morte, a vida, sobre a morte e a vida, a vida com

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    2.2.1 As Directivas de primeira gerao

    As directivas de primeira gerao tiveram como objecto conciliar o

    direito de estabelecimento com as necessidades de controle e

    regulamentao tradicionais ao mercado segurador.

    Com efeito, os diversos Estados-membros submetiam, h longo tempo, a

    actividade seguradora a regimes de superviso e controle mais ou menos

    apertados, pelo que a liberalizao no poderia efectuar-se sem que tal

    contra-seguro, a renda, os seguros contra danos corporais, tais como a invalidez por

    acidente ou doena, incapacidade para o trabalho profissional, morte por acidente,

    nupcialidade ou natalidade, seguros ligados a fundos de investimento, quando ligados

    a qualquer um dos seguros anteriores, operaes de capitalizao e de gesto de

    fundos colectivos de reforma, artigo 115 do Decreto-lei 102/94.

    O ramo no vida inclui os contratos de seguro e as operaes que tenham por

    objecto acidentes de trabalho, acidentes pessoais e acidentes de pessoas transportadas,

    doena, veculos terrestres, aeronaves, embarcaes, mercadorias transportadas,

    incndio, raio exploso, tempestades, outros elementos da natureza, energia nuclear,

    aluimento de terras, riscos agricolas, pecurios e roubo, responsabilidade civil de

    veculos terrestres, de aeronaves e de embarcaes, responsabilidade civil geral, riscode crdito insolvncia geral declarada ou presumida, de crdito exportao, de

    vendas a prestaes, de crdito hipotecrio e de crdito agrcola, de cauo directa ou

    indirecta e de perdas pecunirias, tais como emprego, insuficincia de receitas, perda

    de lucro, persistncia de despesas gerais, despesas comerciais imprevisiveis, perda de

    valor venal, perdas de rendas ou de rendimentos, perdas comerciais indirectas, perdas

    pecunirias no comerciais, proteco jurdica e assistncia a pessoas, artigo 114 do

    Decreto-lei 102/94.

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    controle se mantivesse5. Liberalizao deveria significar, antes de mais,

    harmonizao dos procedimentos de controle e superviso prudencial6,

    com um elevado nivel de controle e eliminao de qualquer

    descriminao em razo da nacionalidade.

    As primeiras directivas nesta matria datam de 19737 e visaram a

    realizao do direito de estabelecimento nos ramos no vida.

    No que respeita ao acesso actividade seguradora, estas directivas

    estabeleceram um regime de autorizao pelas autoridades do Estado-

    membro de acolhimento, quer se tratasse de estabelecimento a ttulo

    principal quer de estabelecimento a ttulo secundrio, quer ainda de uma

    extenso territrorial da sua actividade. A autorizao era concedida por

    5 Os regimes nacionais agupavam-se essencialmente em duas grande categorias:

    controle do conjunto da actividade das companhias de seguros ou controle de apenas

    algumas actividades das companhias de seguros.. Em qualquer dos casos, havia ainda

    uma dupla variante: Estados-membros que exerciam esse controle apenas sobre os

    aspectos financeiros da actividade controlada e Estados-membros que exerciam esse

    controlo sobre os aspectos financeiros e sobre os aspectos juridicos da actividade

    controlada.

    6 A superviso prudencial o principal obreiro da realizao do princpio da

    confiana do utente no sistema financeiro, considerado indispensvel para o bom

    funcionamento das instituies abrangidas, designadamente, instituies de crdito e

    seguradoras.

    7 Directiva 73/239/CEE de 24 de Julho de 1973, L 228 p.3 e Directiva 73/240/CEE de

    24 de Julho de 1973, L 228 p.20

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    ramo de actividade e vlida apenas para o territrio do Estado-membro

    concedente, o que em termos prticos determinava a necessidade de

    solicitar tantas autorizaes quantos os Estados-membros em que a

    seguradora desejava instalar-se.

    A autorizao ficava submetida a um conjunto harmonizado de

    condies: a adopo de uma forma societria determinada por cada

    Estado-membro; o cumprimento do princpio da exclusividade; aapresentao de um programa de actividades enunciando a natureza dos

    riscos, as condies gerais e especiais das aplices e as tarifas aplicveis;

    apresentao de garantias de solvncia, nela se incluindo a constituio de

    um fundo de garantia e um conjunto de regras sobre provises e reservas

    tcnicas8.

    Os Estados-membros podiam exigir condies suplementares tais como

    qualificaes especiais dos administradores, aprovao dos estatutos,

    condies imperativas das aplices de seguro e tarifrios entre outras.

    Interdito ficava a possibilidade de exame do processo segundo critrios

    fundados na anlise do mercado, dessa forma se afastando os

    comportamentos proteccionistas dos Estados-membros.

    A deciso sobre a autorizao deveria ser susceptvel de recurso

    jurisdicional.

    8 Provises tcnicas so conjuntos de activos mveis ou imveis, equivalentes e

    congruentes, que constituem patrimnios especiais garantes dos crditos emergentes

    dos contratos de seguro

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    As condies de exerccio da actividade seguradora ficaram submetidas

    superviso do Estado-membro de acolhimento. Este controle, no entanto,

    passou a incidir sobre aspectos harmonizados: situao financeira das

    seguradoras, designadamente, a constituio em cada territrio e

    actividade, de provises tcnicas suficientes representadas por activos

    equivalentes e congruentes e a manuteno de uma margem de solvncia9

    relativa ao conjunto das suas actividades.

    No que respeita ao controle das condies de exerccio aparece uma

    soluo dual, na medida em que se estabelece, no controle da margem de

    solvncia, um sistema de colaborao entre as diversas autoridades de

    superviso, sendo que a autoridade do Estado-membro da sede ficava

    incumbida do controle da margem de solvncia e obrigada a reportar o

    resultado s suas congneres, que por sua vez deveriam informar aautoridade da sede do conjunto de actividades da seguradora no

    respectivo territrio.

    O controle das condies de exerccio passou a incidir tambm sobre a

    gesto da seguradora: fiscalizao anual baseada na contabilidade e

    fiscalizao sobre o conteudo dos contratos e tarifas.

    As directivas previam tambm disposies sancionatrias, tendo em vista

    a revogao da autorizao e a correco de irregularidades, bem como

    9 Veremos adiante em que consiste a margem de solvncia. Adiante-se apenas que a

    margem de solvncia de uma empresa de seguros corresponde, ao seu patrimnio

    livre de toda e qualquer obrigao previsvel e deduzido dos elementos incorpreos.

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    disposies especiais relativas ao estabelecimento de sucursais de

    companhias de seguros com sede em pases terceiros.

    O ramo vida foi objecto de regulamentao comunitria em 197910,

    mediante uma transposio, com as necessrias adaptaes, do regime

    estabelecido para os ramos no vida pelas Directivas de 1973.

    Como novidade surge o princpio da especializao do ramo vida, que

    impe s seguradoras a interdio de acumular a explorao de ramos

    vida e no vida. Esta proibio no teve, no entanto, efeitos retractivos,

    salvaguardando-se os direitos adquiridos, desde que as empresas

    abrangidas mantivessem uma gesto separada para as duas actividades e

    duas margens de solvncia distintas.

    2.2.2 As Directivas de segunda gerao

    As Directivas de segunda gerao tm como objecto a realizao da livre

    prestao de servios na actividade seguradora dentro do mercado

    comum.

    O problema fundamental que se colocava era o de saber se uma

    companhia de seguros poderia exercer a sua actividade no territrio deum Estado-membro sem nele se instalar, a partir do territrio onde os seus

    servios se localizavam, submetida, por isso, legislao do Estado-

    membro onde a sede se encontrava localizada.

    10 Directiva 79/267/CEE de 5 de Maro de 1979, L 63 p. 1

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    A questo principal nesta matria de natureza econmica. Com efeito, a

    disparidade entre o Direito dos Seguros nos diversos Estados-membros,

    na altura, era de molde a criar situaes de desigualdade e,

    consequentemente, distores concorrncia.

    Por este facto, a liberalizao do mercado da prestao de servios de

    seguros foi bem mais complexa que a liberalizao do direito de

    estabelecimento, fundamentalmente pela alegada necessidade deharmonizao prvia das legislaes nacionais em sede de contrato de

    seguro.

    O marco fundamental determinante da liberalizao da actividade

    seguradora nesta matria assenta na jurisprudncia do Tribunal de Justia

    de 4 de Dezembro de 198611.

    Estavam em causa cinco aces por incumprimento e um reenvio

    prejudicial12 onde basicamente se questionava a compatibilidade dos

    11 Ac. Comisso c. Frana, de 4 de Dezembro de 1986, P. 220/83, C. 1986, p. 3663;

    Ac. Comisso c. Dinamarca, de 4 de Dezembro de 1986, P. 252/83, C. 1986, p. 3713;

    Ac. Comisso c. Alemanha, de 4 de Dezembro de 1986, P. 205/84, C. 1986, p. 3755;Ac. Comisso c. Irlanda, de 4 de Dezembro de 1986, P. 206/84, C. 1986, p. 3817; Ac.

    Holanda c. Federatie Nederlandse Vakbeweging, de 4 de Dezembro de 1986, P.

    71/85, C. 1986, p.3855 e Ac Comisso c. Alemanha, de 4 de Dezembro de 1986, P.

    179/85, C. 1986, p. 3879.

    12 Sobre a aco por incumprimento e o reenvio prejudicial, entre outros, Gomes, Jos

    Caramelo & Fernandes, Jos Augusto, Enquadramento Jurdico da Unio Europeia,

    Petrony, Lisboa, 1994; Gomes, Jos Caramelo, A eficcia interna do Direito

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    artigos 59 e 60 CE com a exigncia de estabelecimento imposta s

    companhias de seguros para o exerccio ocasional da sua actividade

    noutro Estado-membro que no o da sua sede.

    O Tribunal de Justia, recordou a sua jurisprudncia relativa s exigncias

    para o exerccio da livre prestao de servios, salientando que a sua

    imposio apenas poderia fundamentar-se em razes imperiosas de

    interesse geral.

    Da anlise efectuada, o Tribunal de Justia concluiu que a actividade

    seguradora constituia um dominio com caractersticas prprias que

    levaram os Estados-membros a legislar de forma imperativa no que

    respeita situao financeira das empresas de seguros e s condies

    contratuais, bem como fiscalizao do seu cumprimento, pelo que

    existiam, nesta rea, razes imperiosas de interesse geral que poderiam

    justificar a limitao liberdade de prestao de servios.

    Perante esta situao, o Tribunal de Justia examinou as Directivas da

    primeira gerao concluindo que o nivel de harmonizao obtido no

    assegurava a equivalncia das condies de exerccio da actividade

    seguradora na Comunidade Europeia por forma a poderem ser suprimidasas restrices estaduais impostas aos prestadores de servios.

    Comunitrio, UCP, Lisboa, 1995 e Gomes, Jos Caramelo, O exerccio da autoridade

    jurisdicional nacional na jurisprudncia do Tribunal de Justia da Comunidade

    Europeia, UCP, 1997.

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    Com efeito, apesar das Directivas conterem disposies detalhadas sobre

    a situao financeira das empresas e o seu controle pelas autoridades do

    Estado-membro da sede, no existiam quaisquer disposies que

    permitissem ao Estado-membro de acolhimento proceder a qualquer

    controle.

    Alm disso, as Directivas em causa no haviam procedido a qualquer

    harmonizao das regras nacionais relativas s provises tcnicas, peloque aos Estados-membros seria licito exigir s seguradoras o respeito

    pelas suas prprias regras nesta matria, da mesma forma que o poderiam

    fazer no tocante s condies contratuais.

    O Tribunal de Justia, verificada que foi a possibilidade de serem

    impostas limitaes, procedeu analise em concreto das diversas

    limitaes. Assim, relativamente autorizao de exerccio, o Tribunal de

    Justia considerou que a soluo, a encarar de iure condendum, passaria

    pela harmonizao de legislaes, por forma a instituir o princpio do

    controle pela autoridade do Estado-membro de origem. Esta soluo

    seria, no entanto, impraticvel data da pronncia, pelo que se teria que

    admitir, transitoriamente, a soluo de autorizao pelo Estado-membro

    de acolhimento, desde que tal regime no constituisse uma soluo

    descriminatria.

    No relativo exigncia de um estabelecimento estvel no Estado-membro

    de acolhimento, o Tribunal considerou que se estaria perante a prpria

    negao da liberdade de prestao de servios e, consequentemente,

    rejeitou-a liminarmente.

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    Estes acrdos estabeleceram um conjunto de princpios que facilitou

    enormemente a tarefa legislativa da Comunidade, que ficou claramente

    dotada de um objectivo: a instaurao de um regime unico de autorizao

    e controle pelo Estado-membro de origem.

    A tramitao subsequente reflectiu a deciso de aproximaes sucessivas

    tomada pela Comunidade: numa primeira fase os princpios aplicar-se-

    iam apenas na actividade seguradora em regime de livre prestao deservios apenas nas reas em que, de acordo com a jurisprudncia do

    TJCE, no se suscitam necessidades de proteco especial nem se coloca

    a necessidade de harmonizar os direitos internos relativos s provises

    tcnicas e s condies contratuais; numa segunda fase alargaria este

    regime a todas as reas da actividade seguradora, mediante uma

    coordenao das diversas legislaes nacionais.

    A harmonizao comunitria de segunda gerao iniciou-se, tal como na

    primeira gerao, pelos ramos no vida com a Directiva 88/357/CEE, de

    22 de Junho de 1988, L 172, p. 1, que fixou as condies de exerccio da

    actividade seguradora nos ramos no vida em livre prestao de servios.

    O exerccio da actividade seguradora em regime de livre prestao deservios foi definido como sendo a cobertura de um risco localizado num

    Estado-membro diferente daquele em que a seguradora tem a sua sede.

    A liberalizao assenta numa classificao dos riscos de acordo com um

    critrio fundado na necessidade de proteco especfica, o que levou

    criao de duas categorias de riscos: os grandes riscos e os riscos de

    massa, os primeiros dispensando uma proteco especfica ao tomador do

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    seguro e os segundos, pelo contrrio, exigindo-a.

    A categoria dos grandes riscos foi definida em termos taxativos e a dos

    riscos de massa em termos residuais. So grandes riscos os riscos de

    transporte, de crdito e cauo, quando tomados no exerccio de uma

    actividade industrial, comercial ou profissional liberal e, bem assim,

    quaisqer outros riscos quando o tomador ultrapasse alguns valores

    numricos determinados pela directiva, em funo do valor do risco, dovolume de negcios ou do pessoal empregado. Todos os riscos que no

    so definidos como grandes riscos so riscos de massa.

    O regime aplicvel aos grandes riscos funda-se no princpio da

    autorizao nica e do controle da actividade da empresa de seguros pelo

    Estado-membro de origem. As seguradoras estabelecidas num Estado-

    membro da Comunidade que desejem desenvolver actividades em regime

    de prestao de servios noutro Estado-membro devem notific-lo

    previamente, podendo iniciar actividades a partir da data da notificao.

    O Estado-membro de acolhimento no pode submeter essa actividade

    obteno de uma autorizao emitida pela sua prpria autoridade.

    As regras aplicveis ao montante das provises tcnicas, a suarepresentao e localizao ficam submetidas ao controle do Estado-

    membro de origem de acordo com o seu direito interno.

    Os Estados-membros de prestao no podem no podem exigir a

    aprovao prvia ou a comunicao sistemtica dos contratos e tarifas que

    a seguradora tenha a inteno de utilizar. Pode, no entanto, exigir

    comunicaes pontuais, sem que tal possa constituir uma condio prvia

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    ao exerccio da actividade, seja a ttulo de estabelecimento seja de livre

    prestao de servios.

    O Estado-membro da prestao mantm poderes alargados de controle

    sobre a prestao de servios no mbito dos seguros de massas. Pode

    submeter o seu exerccio concesso de uma autorizao administrativa e

    pode submeter a sua concesso a um conjunto de condies: a entrega de

    um certificado de solvncia emitido pelo Estado-membro de origem, odepsito de um programa de actividades indicando a natureza dos riscos

    cobertos, bem como a indicao das condies contratuais gerais e

    especiais e tarifas, quando tal exigncia seja igualmente formulada para

    as empresas de seguros com sede naquele territrio.

    O prestador de servios dever constituir provises tcnicas relativas aos

    contratos concludos no mbito da prestao de servios, representando-

    as e localizando-as nos termos das regras do Estado-membro da

    prestao, que pode ainda submeter ao controle o contedo dos

    documentos contratuais, quando as regras do Estado-membro de

    estabelecimento no determinem um nivel de proteco adequada aos

    tomadores do seguro.

    A lei aplicvel ao contrato de seguro foi o objecto de um projecto de

    directiva em discusso a partir de 1979. Esta ideia acabou por ser

    abandonada, face s dificuldades existentes e na segunda directiva

    (Directiva 88/357/CEE) a soluo abordada em termos de Direito

    Internacional Privado, estabelecendo-se algumas regras e critrios tendo

    em vista a determinao da legislao aplicvel ao contrato de seguro.

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    O texto da directiva bastante prudente e comedido nesta matria e a

    distino entre grandes riscos e riscos de massa , neste caso, desttuida

    de consequncias directas.

    Os critrios fundamentais para a determinao da lei aplicvel so o

    domicilio do tomador e o local do risco, em detrimento da lei ddo

    domicilio do segurador ou ainda do foro convencionado.

    Assim, quando o Estado-membro de residncia do tomador coincida com

    o local do risco, a lei aplicvel ser necessariamente a desse estado;

    quando esses locais se encontrem em Estados-membros diferentes,

    incumbe s partes a escolha, de entre os dois, qual o direito aplicvel;

    quando o tomador exera uma actividade industrial, comercial ou liberal e

    o contrato cubra diversos riscos, localizados em diferentes Estados-

    membros, a lei aplicvel ao contrato poder ser escolhida de entre as leis

    dos variados Estados-membros do risco e do Estado-membro da

    residncia do tomador.

    As regras anteriores so excepcionadas quando se verifiquem algumas

    situaes previstas na directiva. Assim, ser aplicvel a lei nacional da

    jurisdio quando esta seja imperativa, bem como ser aplicvel a lei doestado onde o risco est situado, quando essas normas sejam imperativas

    ou quando nesse estado o seguro em causa seja obrigatrio.

    A livre prestao de servios no ramo vida foi estabelecida nos termos da

    Directiva 90/619/CEE de 8 de Novembro de 1990, L 330 p. 50.

    A soluo encontrada foi diferente da utilizada para os ramos no vida,

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    pese embora se prevejam ainda dois regimes distintos. Pelo essencial, o

    critrio objectivo da importncia do risco foi abandonado porque de

    dificil aplicao ao seguro de vida e foi adoptado um novo critrio

    fundado na actividade ou passividade da prestao de servios, consoante

    o contrato de seguro concludo pela iniciativa do segurador ou do

    tomador.

    A ideia subjacente ao critrio de que o tomador que decide tomar umcontrato de seguro fora do territrio do seu Estado-membro age

    voluntariamente e, em conscincia, dispensa a sua proteco.

    Nos termos da directiva existe livre prestao de servios passiva quando

    o tomador do seguro tem a iniciativa de contactar a seguradora, ainda que

    atravs de um intermedirio estabelecido no Estado-membro e mandatado

    expressamente para esse efeito.

    O regime aplicvel ao exercicio da liberdade de prestao de servios

    passiva idntico ao regime estabelecido para os grandes riscos no vida

    enquanto o regime da prestao de servios activa segue as regras

    aplicveis aos riscos de massa dos seguros no vida.

    A segunda directiva contm ainda regras sobre a lei aplicvel ao contrato

    de seguro: na ausncia de estipulao das partes, quando o direito do

    Estado-membro em causa a permita, aplicar-se- o direito d Estado-

    membro de residncia do tomador.

    2.2.3 As directivas de terceira gerao

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    A terceira gerao de directivas comunitrias sobre o mercado interno dos

    seguros assenta em dois documentos principais: a Directiva 92/49/CEE de

    18 de Junho de 1992, L 228, p. 1, ramos no vida e Directiva 92/96/CEE

    de 10 de Novembro de 1998, L 360, p. 1, para o ramo vida.

    Pode ainda incluir-se nesta gerao a Directiva 91/674/CEE, de 19 de

    Dezembro, relativa s contas anuais das empresas de seguros e a

    Directiva 95/26/CEE de 29 de Junho de 1995, relativa supervisoprudenacial e ao reforo dos poderes das autoridades competentes

    especialmente no que respeita troca de informaes relativas s

    empresas supervisionadas.

    A terceira gerao de directivas comunitrias completou o quadro

    legislativo comunitrio necessrio para o estabelecimento do chamado

    passaporte europeu das companhias de seguros.

    O esquema determinado assenta numa coordenao das principais regras

    relativas superviso prudencial e financeira das companhias de seguros,

    tendo em vista a realizao da proteo dos tomadores e a estabilidade

    dos mercados financeiros.

    Com efeito, a actividade de seguro directo passou a estar submetida em

    todo o territrio comunitrio ao regime de autorizao nica, vlida para

    toda a Comunidade, emitida pelo Estado-membro de origem, segundo o

    princpio do home control, e habilitando a empresa a exercer a sua

    actividade, em regime de direito de estabelecimento ou de livre prestao

    de servios, em qualquer Estado-membro.

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    Ao Estado-membro de origem incumbem ainda os poderes de superviso

    e controlo prudencial excepto no que respeita s regras relativas

    comercializao de produtos e s condies contratuais, na parcela de

    actividades da seguradora desenvolvidas ao abrigo do direito de

    estabelecimento ou da livre prestao de servios. Neste caso, os poderes

    de superviso e controlo so exercidos pelo Estado-membro de

    acolhimento.

    A autorizao prvia e a comunicao sistemtica de aplices e tarifas foi

    abolida em termos gerais, subsistindo a ltima apenas para as situaes de

    seguro obrigatrio.

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    3. O regime jurdico da actividade seguradora

    A evoluo recente do regime jurdico da actividade seguradora em

    Portugal passa, necessariamento, pelo Decreto-lei 102/94 de 20 de Abril.

    Este foi o primeiro esforo real de codificao do enquadramento jurdico

    da actividade seguradora, at ento disperso por uma variedade de

    diplomas, alguns deles manifestamente desajustados da realidade.

    Com efeito, o regime anterior ao Decreto-lei 102/94 era essencialmente

    inspirado numa filosofia de interdio do sector segurador iniciativa

    privada, datando dos finais da dcada de 70 e incios da dcada de 80,

    momento histrico em que se presenciou nacionalizao do sector.

    A reabertura do sector iniciativa privada e a reprivatizao das

    empresas, bem como os compromissos decorrentes da adeso

    Comunidade Europeia h muito exigiam a reformulao do regime.

    A alterao assentou em diversos princpios fundamentais: liberalizao

    da actividade, iniciativa privada e respeito pelos compromissos

    comunitrios, procedendo transposio, para direito interno do conjunto

    das directivas de terceira gerao.

    A actividade de seguro directo passou a estar submetida ao regime da

    autorizao nica, aceitando-se a liberdade de estabelecimento e de

    prestao de servios, mas mantendo-se, tal como autorizado pelas

    directivas em causa, um controle do cumprimento das disposies

    nacionais de interesse geral, nomeadamente no que respeitava s

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    condies contratuais e s regras relativas comercializao de produtos.

    A superviso da actividade passou a ser desenvolvida sob um prisma de

    controle prudencial, em que se tem como objectivo principal a

    salvaguarda das garantias de solvabilidade e idoneidade das empresas de

    seguros. Nesta matria em particular desenvolveu-se um regime mais ou

    menos exigente para garante da idoneidade dos detentores de

    participaes qualificadas bem como dos titulares dos rgos sociais dasseguradoras.

    O regime jurdico da actividade seguradora em Portugal assenta hoje no

    Decreto-lei 94-B/98, que revogou referido Decreto-lei 102/9413, bem

    como alguma legislao complementar: Decreto-lei 91/82 de 22 de

    Maro, Decreto-lei 133/86, de 12 de Junho e Decreto-lei 107/88 de 31 de

    Maro.

    A alterao de um regime em to curto espao de tempo pode parecer

    algo desadequada ou at mesmo indesejvel. Esta no , no entanto, a

    situao concreta. O esforo compilador efectuado pelo Decreto-lei

    102/94, porquanto meritrio, mostrou-se insuficiente na medida em que

    deixou de fora diversas matrias: o regime sancionatrio da actividade

    13 O Decreto-lei 102/94 transps para direito interno um conjunto de Directivas da

    chamada terceira gerao, as directivas 92/49/CEE e 92/96/CEE e procedeu

    reformulao dos aspectos legislativos essenciais em matria de acesso e exerccio da

    actividade seguradora e resseguradora, tendo em vista um objectivo fundamental: a

    codificao legislativa.

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    seguradora, regulado pelo Decreto-lei 91/82 e alterado pelo Decreto-lei

    133/86 e pelo Decreto-lei 107/88; e o regime do endividamento das

    empresas seguradoras, datado de 1907 e de 1971.

    Alm disso. o regime jurdico comunitrio relativo actividade

    seguradora foi completado, aps a entrada em vigor do Decreto-lei

    102/94, pela Directiva 95/26/CEE, relativa ao mbito da superviso

    prudencial e ao reforo dos poderes das autoridades competentes,especialmente no que respeita troca de informaes sobre as empresas

    supervisionadas.

    Esta situao levou a que o legislador entendesse necessrio proceder a

    uma reviso geral do regime jurdico da actividade seguradora, revogando

    o Decreto-lei 102/94, o Decreto-lei 91/82 de 22 de Maro, Decreto-lei

    133/86, de 12 de Junho e o Decreto-lei 107/88 de 31 de Maro e

    incluindo no novo diploma, pautado segundo o mesmo objectivo

    compilador e sistemtico, a regulamentao das matrias em falta no

    regime de 1994: o regime sancionatrio, o regime de endividamento e a

    transposio da Directiva 95/26/CEE.

    O regime sancionatrio anterior assentava na legislao de 1907,ligeiramente revista em 1982, pelo Decreto-lei 91/82 de 22 de Maro.

    A filosofia subjacente reviso de 1982 encontrava-se hoje franacamente

    desajustada da realidade, porquanto a situao no momento da sua

    realizao o mercado segurador se caracterizava pela nacionalizao das

    empresas seguradoras e pela proibio da actividade iniciativa privada.

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    A ttulo de exemplo, refira-se que este regime apenas previa trs situaes

    de infraces punveis com multa: a violao ou inobservncia de

    qualquer disposio legal ou regulamentar respeitante ao acesso,

    explorao ou exerccio da actividade seguradora ou resseguradora,

    incumprimento dos prazos ou recusa de envio de documentos a entidades

    oficiais e pblicas e falsidade ou insuficincia dos documentos

    apresentados s mesmas entidades.

    As multas aplicveis variavam entre 25.000 escudos e 10.000.000 de

    escudos, o que equivale a dizer que o regime sancionatrio no era

    minimamente dissuasor, quando se tem em considerao o poder e

    dimenso financeira dos operadores no mercado segurador: recorde-se

    que o capital social de uma seguradora tem como minimo legal valores

    entre o meio milho de contos e os trs milhes de contos e que estesvalores so, na prtica, largamente superados pelas empresas de seguros

    que apresentam capitais sociais bem superiores.

    Por outro lado, no existia, at publicao do Decreto-lei 94-B/98

    qualquer regime sancionatrio da actividade de gesto de fundos de

    penses.

    O novo regime assenta em diversos princpios fundamentais: a

    criminalizao do exerccio no autorzado da actividade de seguro,

    resseguro e gesto de fundos de penses, como meio de salvaguardar

    interesses pblicos gerais, tais como a proteco da poupana, da garantia

    dos riscos e a proteco dos interesses dos segurados e terceiros; criao e

    ajustamento dos tipos de infraces; ajustamento do quadro legal

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    substantivo e processual ao quadro do regime geral do ilcito de mera

    ordenao social e actualizao dos montantes das sanes pecunirias.

    A criminalizao do exerccio no autorizado destas actividades consagra

    um novo tipo de crime punvel com priso at trs anos. As restantes

    infraces ao disposto na legislao sobre a actividade so considerados

    ilcitos de mera ordenao social e graduados em trs categorias, simples,

    graves e muito graves, com penas correspondentes determinadas emrespeito do princpio da proporcionalidade.

    Assim, os limites da coima para uma infrao simples variam entre os 50

    e os 3.000 contos no caso de pessoas singulares e 150 e 15.000 contos no

    caso de pessoas colectivas. As infraces graves apresentam como limites

    150 e 10.000 contos no primeiro caso e 300 e 50.000 contos no segundo

    caso e as infraces muito graves variam entre 300 e 30.000 contos para

    pessoas singulares e 600 e 150.000 contos para as pessoas colectivas.

    O regime sancionatrio completado por um sistema de sanes

    acessrias que pode incluir a interdio, total ou parcial da celebrao de

    contratos de seguros ou a interdio de novas adeses aos fundos de

    penses.

    Ainda como novidade no regime sancionatrio aponta-se a criao de um

    regime especfico de responsabilidade quanto actuao em nome ou por

    conta de outrm, que tem como particularidade principal o facto da

    responsabilidade das pessoas colectivas ou equiparadas no excluir a

    responsabilidade dos agentes ou comparticipantes individuais.

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    O novo regime acentua tambm o controle sobre a titularidade das

    participaes qualificadas que havia sido institudo pelo Decreto-lei

    102/94, tendo em vista a garantia de uma gesto s e prudente14 das

    companhias de seguros e em cumprimento das obrigaes decorrentes das

    Directivas comunitrias entretanto publicadas.

    O sistema assenta no pressuposto (presuno?) de que entidades

    relativamente s quais se verifiquem algumas condies so incapazes degarantir uma gesto s e prudente de uma companhia de seguros.

    Para garantia do normativo institudo um sistema de controle inicial e

    sucessivo dos detentores de participaes em companhias de seguros,

    mediante a no oposio da autoridade de superviso aquisio de

    participaes qualificadas ou ao seu aumento.

    Este sistema completado com o princpio do registo dos acordos

    parassociais relativo ao exerccio do direito de voto.

    O actual regime jurdico dedica tambm uma especial ateno ao

    saneamento financeiro das empresas de seguros em situao financeira

    insuficiente, atribuindo poderes entidade de superviso para intervir

    sempre que considere necessria a normalizao ou recuperao de uma

    empresa de seguros.

    14 O conceito de gesto s e prudente de primordial importncia na superviso da

    actividade seguradora.

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    Ainda em questes realcionadas com esta matria, o regime actual contm

    normas especiais relativas dissoluo judicial, liquidao judicial e

    falncia, remetendo, genericamente, para o Cdigo de Processo Civil e

    para o Cdigo dos Processos Especiais de Recuperao de empresas e

    falncias e estabelecendo alguns poderes em favor do Instituto de Seguros

    de Portugal.

    Finalmente, a ltima inovao do regime actual o tratamento dado aoendividamento das companhias de seguros.

    Esta uma questo particularmente importante, pois que esta actividade

    assenta numa inverso do ciclo produtivo normal: as receitas so geradas

    antes da produo. Ora, uma tal inverso susceptvel de gerar fluxos de

    tesouraria e excedentes significativos, pelo que no facilmente

    concebvel como necessrio o recurso ao endividamento.

    Alm disso, o recurso ao endividamento de curto ou mdio prazo, como

    forma de de acorrer aos custos de explorao indcio de uma situao

    financeira instvel e consequentemente inadmissvel na actividade

    seguradora.

    A soluo encontrada assenta numa filosofia de desgrado relativamente

    ao endividamento da empresa de seguros, que apenas ser admitido a

    ttulo excepcional, como meio de financiamento para aquisio de

    imveis e bens de equipamento indispensveis para a instalao e

    funcionamento da companhia de seguros, ou como meio para fazer face a

    situaes de sinistralidade excepcional, num montante mximo de 10%

    dos capitais prprios e sempre mediante autorizao da entidade de

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    superviso.

    O Decreto-lei 94-B/98 sistematiza-se em sete ttulos: Ttulo I -

    Disposies gerais, Ttulo II - condies de acesso, Ttulo III - condies

    de exerccio, Ttulo IV - disposies aplicveis ao contrato de seguro,

    Ttulo V Endividamento, Ttulo VI - Sanes e Ttulo VII - disposies

    finais e transitrias. Os primeiros quatro ttulos correspondem aos quatro

    primeiros ttulos do Decreto-lei 102/94 e o stimo ttulo corresponde aoquinto e ltimo ttulo do Decreto-lei 102/94. Os actuais ttulos quinto e

    sexto so introduzidos como forma de colmatar a apontada insuficincia

    do regime anterior.

    3.1 As condies de acesso actividade seguradora

    A actividade seguradora uma actividade que estrictamente enquadrada

    por lei, na medida em que uma actividade de natureza puramente

    financeira. Em consequncia, as empresas que a ela se dedicam integram

    o sector no monetrio do sistema financeiro15 e, como tal, so-lhes

    aplicveis as especiais preocupaes que o legislador tem, nos dias que

    correm, sobre a estabilidade do sistema.

    Com efeito, uma economia de mercado assenta em larga medida no

    correcto funcionamento do sistema financeiro que se quer equilibrado,

    estvel e duradouro, por forma a realizar o princpio fundamental da

    confiana do utente no sistema.

    15 Marques, Walter, Moeda e instituies financeiras, ISG, Lisboa, 1991

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    Apenas um sistema financeiro equilibrado, estvel e duradouro consegue

    cumprir a funo que lhe est reservada na economia actual, de regulador

    indirecto da massa monetria disponvel, com todas as implicaes que

    esta funo tem ao nvel da conjuntura econmica.

    A regulamentao do sistema financeiro comporta dois tipos de aces: o

    exerccio da poltica monetria, financeira e cambial, tendo em vista a

    regulamentao do mercado e das operaes tendo em vista a prevenode disrupes de mecanismos e a orientao com a poltica econmica

    global e o exerccio da superviso, tendo em vista a solidez, seriedade e

    estabilidade das instituies.

    Estas so as razes determinantes de um conjunto de princpios

    fundamentais que constituem a base das regulamentaes do sistema

    financeiro em geral e da actividade seguradora em particular: o princpio

    da confiana, o princpio da tipicidade, o principio da exclusividade e o

    principio da superviso prudencial.

    3.1.1 O estabelecimento

    O acesso actividade seguradora, a ttulo de estabelecimento em

    Portugal, encontra-se condicionado a uma autorizao prvia da

    competncia do Ministro das Finanas16. Exceptuam-se desta regra as

    16 Artigos 12, 14, 23 e 34 do Decreto-lei 94-B/98, de ora em diante designado por

    Regime jurdico da actividade seguradora ou, abreviadamente por RJAS. A

    competncia prevista no artigo 12 n 1, bem como a prevista no artigo 34 n 1

    podem ser delegadas, por portaria, no Instituto de Seguros de Portugal.

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    empresas autorizadas a operar noutro Estado-membro da Comunidade

    Europeia e que pretendam instalar uma sucursal em territrio portugus.

    A autorizao concedida nos termos do RJAS vlida para todo o

    territrio da Comunidade Europeia17 e abrange, salvo determinao em

    contrrio, todo um ramo de seguro ou todo um grupo de ramos de

    seguro18.

    A tramitao do processo de autorizao inicia-se com um requerimento

    dirigido ao Ministro das Finanas19 ou ao Instituto de Seguros de Portugal

    (ISP), quando esta competncia lhe tenha sido delegada20.

    A competncia para a anlise do requerimento pertence ao ISP21 que tem

    o poder de solicitar o aperfeioamento de quaisquer irregularidades que

    verifique22

    , bem como de exigir quaisquer elementos ou esclarecimentosadicionais, bem como de proceder a averiguaes que considere

    17 Artigo 10 n 1 do RJAS. Exceptua-se o disposto no artigo 34 n 3, relativamente

    s sucursais de empresas de seguros com sede fora do territrio da Comunidade

    Europeia.

    18 Idem, n 2.

    19 Artigo 14 n 1 RJAS

    20

    21 Artigo 15 n 1 RJAS

    22 Idem, n 2

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    necessrios23, devendo apresentar o seu parecer no prazo de 90 dias a

    contar da data em que o processo se mostre correctamente instrudo24.

    A deciso final dever ser tomada no prazo de seis meses a contar da

    recepo do requerimento ou dos documentos complementares, mas

    nunca, em todo o caso, num prazo superior a doze meses a contar da data

    inicial do pedido. A falta de notificao nestes prazos forma acto tcito de

    indeferimento25

    , para efeitos de recurso nos termos gerais de direito.

    Existe um conjunto de condies que devem ser verificadas para a

    obteno da autorizao de exerccio. Estas condies podem agrupar-se

    em duas grandes categorias: condies formais e condies substantivas.

    As condies formais atendem aos requisitos formais que devero ser

    cumpridos para a obteno da autorizao.

    Nestas se incluem exigncias legais de diversa natureza: forma e

    contedo do processo de autorizao e forma societria do operador.

    As condies substantivas atendem realidade que deve ser

    consubstanciada pelo operador por forma a obter a autorizao de

    funcionamento. Nelas se incluem as exigncias especifcas ao nivel do

    23 Ibidem, n 3

    24 Ibidem, n 4

    25 Artigo 16 RJAS

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    contrato de sociedade, as regras relativas composio da estrutura de

    capital do operador, as regras relativas s garantias financeiras, etc.

    A autorizao susceptvel de caducidade e de revogao, nos termos dos

    artigos 17 e 19 do RJAS, aplicveis generalidade dos operadores ex vii

    dos artigos 23, 38 e 39 do mesmo diploma26.

    3.1.1.1 Condies formais

    Apenas determinados tipos de entidades podem exercer a actividade

    seguradora a ttulo de estabelecimento em Portugal, nos termos do

    princpio da tipicidade previsto no artigo 7 do RJAS.

    Assim, podero ser autorizadas a exercer a actividade seguradora e de

    resseguro as sociedades annimas de seguro, as mtuas de seguros, as

    sucursais das empresas de seguros com sede fora do territrio da

    Comunidade Europeia, as empresas de seguros pblicas ou de capitais

    pblicos criadas nos termos da legislao portuguesa, as empresas de

    seguros que adoptem a forma de sociedade europeia e as sociedades de

    assistncia.

    As sucursais de empresas de seguros com sede no territrio de outroEstado-membro, podem exercer a actividade seguradora em Portugal

    26 O legislador optou por detalhar com rigor todas as regras relativas s sociedades

    annimas de seguros, utilizando depois este regime como subsidirio para as restantes

    formas societrias previstas.

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    desde que para tal estejam autorizadas pela autoridade de superviso do

    Estado-membro de origem.

    O processo de autorizao especfica e prvia deve ser instrudo nos

    termos do artigo14 do RJAS:

    Acta da reunio em que foi deliberada a constituio da sociedade27;

    Projecto do contrato de sociedade ou de estatutos28, com incluso detodas as referncias obrigatrias nos termos do artigo 9, 10, 11, 16,

    272, 275 e 278 do CSC e, bem assim, aquelas impostas pela

    27 Note-se que esta acta no reveste ainda natureza societria. Estamos numa faseprvia constituio da sociedade e a acta em causa reproduzir os resultados da

    reunio do conjunto de indivduos, pessoas singulares ou colectivas, que se pretendem

    associar e constituir uma sociedade annima de seguros.

    Trata-se, nestas circunstncias, de um documento onde constaro necessariamente os

    resultados obtidos na fase da negociao e tem uma natureza ainda prcontratual.

    Sobre as regras de funcionamento de assembleias gerais, ainda que de formas

    associativistas sem personalidade jurdica, ou de reunies prvias ao aparecimento de

    pessoas colectivas, bem como das regras aplicveis ao registo de ocorrncias e

    deliberaes, veja-se Roque Laia, Guia das Assembleias Gerais, 9 edio, ELCLA,

    Porto

    28 O projecto de estatutos dever ter em conta as regras aplicveis do CSC, ex vi do

    artigo 11 n 3 e de toda a legislao aplicvel em especial actividade seguradora,

    designadamente o RJAS.

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    legislao aplicvel actividade seguradora, maxime, o artigo 40 do

    RJAS;

    Identificao dos accionistas iniciais, directos ou por interposta pessoa,

    sejam pessoas singulares ou colectivas, com indicao do montante do

    capital social a subscrever por cada um deles. No caso de pessoas

    singulares dever acrescer o certificado do registo criminal, o mesmo

    se aplicando aos administradores, directores ou gerentes dosparticipantes no capital que sejam pessoas colectivas29;

    29 A exigncia do certificado de registo criminal prende-se com a necessidade de

    garantia, em sede de superviso, de uma gesto so e prudente. Sucede que, nos

    termos do artigo 13 n 2 do RJAS, a autorizao de funcionamento ser negada

    quando os titulares de uma participao qualificada no mostrem aptido para garantir

    uma gesto s e prudente.

    Ora, relativamente aos participantes que sejam pessoas singulares, o artigo 51 do

    RJAS, aplicvel ex vi do artigo 50, estipula a necessidade cumulativa de dois

    requisitos: qualificao adequada e idoneidade. Sucede que o n 2 do mesmo artigo

    determina que est indiciada a falta de idoneidade quando exista condenao por

    roubo, furto, abuso de confiana, infidelidade, emisso de cheque sem proviso, burla,falncia, falsificao, extorso, favorecimento de credores, frustao de crditos,

    usura, corrupo, apropriao ilegtima de bens do sector pblico ou cooperativo,

    administrao danosa em unidade econmica do sector pblico ou do sector

    cooperativo, falsas declaraes, branqueamento de capitais, abuso de informao,

    manipulao do mercado de valores mobilirios ou por qualquer dos crimes previstos

    no CSC, ou exista declarao, por sentena nacional ou estrangeira, de falncia ou

    insolvncia, ou ainda responsabilidade pela falncia de empresas que haja dominado

    ou em que tenha sido administrador director ou gerente, ou ainda quando tenha sido

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    Acta da deliberao de participao do rgo social competente,

    quando pessoa colectiva;

    Declarao que nem os accionistas iniciais nem as sociedades ou

    empresas de que tenham sido administradores ou gerentes foram

    declarados em estado de falncia ou insolvncia, tendo nessas empresas

    sempre exercido uma gestao s e prudente;

    Informaes detalhadas sobre a estrutura do grupo30, quando aplicvel;

    Programa de actividades, que incluir: natureza dos riscos a cobrir, com

    indicao do ramo ou ramos a explorar31, incluindo, quando se trate de

    condenado, em Portugal ou no estrangeiro, pela prtica de infraces s regras legais

    ou regulamentares que regem a actividade seguradora, das instituies de crdito, das

    sociedades financeiras, e do mercado de valores mobilirios.

    Sendo certo que a al. e) do artigo 50 apenas se refere a pessoas singulares, tambm

    verdade que no se vislumbra outra razo para a exigncia estabelecida no artigo 14,

    n1 al e) seno a de considerar estas exigncias extensivas aos administradores,

    directores ou gerentes dos participantes que sejam pessoas colectivas.

    30 Grupo de empresas ou sociedades apenas uma das formas de coligao de

    sociedades previsto no Ttulo VI do CSC, artigo 481 e seguintes. As relaes de

    grupo de sociedades podem ser de domnio total, de grupo paritrio e de

    subordinao.

    31 A actividade seguradora desenvolve-se em diversas reas designadas por ramos.

    Esta classificao assenta num critrio material que atende ao objecto do contrato ou

    contratos de seguros que viro a ser propostos pelo operador.

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    explorar o ramo vida, as bases tcnicas e elementos a utilizar para o

    clculo de tarifas, prestaes contribuies e provises tcnicas,

    princpios orientadores do resseguro, constituio do fundo mnimo de

    garantia, estrutura orgnica, com especificao dos meios tcnicos,

    financeiros, humanos e, quando for caso disso, clnicos e hospitalares,

    A classificao assenta numa diviso bsica entre ramos vida e no vida. Olegislador optou por enumerar taxativamente quais os objectos contratuais includos

    numa e noutra categoria considerando-se que integram o ramo vida os contratos e

    operaes que incidam sobre a morte, a vida, sobre a morte e a vida, a vida com

    contra-seguro, a renda, os seguros contra danos corporais, tais como a invalidez por

    acidente ou doena, incapacidade para o trabalho profissional, morte por acidente,

    nupcialidade ou natalidade, seguros ligados a fundos de investimento, quando ligados

    a qualquer um dos seguros anteriores, operaes de capitalizao e de gesto defundos colectivos de reforma, artigo 124 do RJAS.

    O ramo no vida inclui os contratos de seguro e as operaes que tenham por

    objecto acidentes de trabalho, acidentes pessoais e acidentes de pessoas transportadas,

    doena, veculos terrestres, aeronaves, embarcaes, mercadorias transportadas,

    incndio, raio exploso, tempestades, outros elementos da natureza, energia nuclear,

    aluimento de terras, riscos agricolas, pecurios e roubo, responsabilidade civil de

    veculos terrestres, de aeronaves e de embarcaes, responsabilidade civil geral, risco

    de crdito insolvncia geral declarada ou presumida, de crdito exportao, de

    vendas a prestaes, de crdito hipotecrio e de crdito agrcola, de cauo directa ou

    indirecta e de perdas pecunirias, tais como emprego, insuficincia de receitas, perda

    de lucro, persistncia de despesas gerais, despesas comerciais imprevisiveis, perda de

    valor venal, perdas de rendas ou de rendimentos, perdas comerciais indirectas, perdas

    pecunirias no comerciais, proteco jurdica e assistncia a pessoas, artigo 123 do

    RJAS.

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    previso de despesas de instalao e meios financeiros, conta de

    explorao previsional para os trs primeiros exerccios sociais, previso

    do nmero de trabalhadores e massa salarial, previso de tesouraria,

    previso de meios financeiros para representao das provises tcnicas,

    proviso da margem de solvncia e dos meios financeiros necessrios

    para a sua cobertura, indicao e currculo do acturio32, do jurista e do

    financeiro responsveis pelas partes tcnica, jurdica e financeira do

    processo, parecer do acturio sobre a adequao do tarifrio, das

    provises tcnicas e do resseguro. Quando participem no capital da

    sociedade entidades nacionais de pases no pertencentes Comunidade

    Europeia, acrescem os requisitos, enumerados no n 4 e 5 do artigo 14.

    3.1.1.2 Condies substantivas

    O princpio da exclusividade encontra-se vertido no artigo 8, que

    estabelece a natureza financeira das entidades operando no sector

    segurador e impondo-lhes a exclusividade de objecto social.

    Esta exclusividade implica que s empresas seguradoras apenas lcito

    exercer a actividade de seguro e resseguro, salvo reserva legal de ramos

    ou modalidades e, bem assim, actividades conexas ou complementares daactividade principal, nomeadamente no que respeita a actos e contratos

    relativos a salvados, reedificao e reparao de edifcios, reparao

    32 Acturio o tcnico que elabora, a partir da anlise de probabilidade estatstica da

    incidncia e volume da sinistralidade para cada ramo de seguro, o tarifrio do

    operador.

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    de veculos, a manuteno de postos clnicos, e aplicaes de provises,

    reservas e capitais.

    a) Sociedades annimas de seguros

    As sociedades annimas de seguros so sociedades annimas constitudas

    de acordo com o disposto no Cdigo das Sociedades Comerciais e

    restante legislao complementar, devendo cumprir cumulativamente os

    requisitos previstos no RJAS e demais legislao especial relativa

    actividade seguradora.

    Os requisitos especiais impostos pela legislao relativa actividade

    seguradora so, relativamente sociedade annima de seguros:

    exclusividade do objecto, decorrente do artigo 8 do RJAS;

    referncia inequivoca ao objecto na denominao social, artigo 11 n 2

    ;

    capital social mnimo de 500.000 contos, no caso de pretender explorar

    apenas o ramo de proteco jurdica, doena ou assistncia, 1.500.000

    contos no caso de explorar mais do que um daqueles ramos ou

    qualquer outro ramo ou ramos no vida, 1.500.000 no caso de

    pretender explorar o ramo vida e 3.000.000, no caso de pretender

    explorar cumulativamente ramos vida e no vida, nos termos do artigo

    40 n 1;

    adequao e suficincia dos meios humanos, tcnicos e recursos

    financeiros aos objectivos a atingir e aos ramos de seguro que se

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    pretende explorar;

    localizao em Portugal da administrao central da empresa de

    seguros;

    Inexistncia de entraves resultantes de relaes de proximidade33,

    quando existam, ao exerccio das funes de superviso; e

    33 Relao de proximidade definida, nos termos do n 5 do artigo 3. relao de

    proximidade ou de grupo a situao em que se encontram duas ou mais pessoas

    singulares ou colectivas quando se encontrem ligadas pelo facto de uma deter na

    outra, directamente ou atravs de uma relao de controlo, 20% ou mais dos direitos

    de voto. Relao de proximidade existe ainda quando se verifica uma situao de

    uma relao de controlo, ou seja, uma relao entre uma empresa-me e uma filial,

    ou uma relao da mesma natureza entre uma pessoa singular ou colectiva e uma

    empresa.

    Constitui ainda uma relao de proximidade a situao de duas ou mais pessoas que

    se encontrem ligadas de modo duradouro a uma mesma entidade atravs de uma

    relao de controlo.

    Empresa-me consiste numa das seguintes situaes: ter a maioria dos direitos de voto

    dos accionistas ou scios noutra empresa; ter o direito de designar ou destituir a

    maioria dos membros dos rgos de direco, administrao ou fiscalizao de outra

    empresa; ter o direito de exercer influncia dominante sobre uma empresa de que

    accionista ou scia, por fora de contrato ou estatutos, sempre que a lei a que essa

    empresa est sujeita o permita; ser accionista ou scia de uma empresa cuja maioria

    dos membros do rgo de administrao, direco ou fiscalizao foram, em dois

    exerccios consecutivos, exclusivamente nomeados para o exerccio dos seus direitos

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    Inexistncia de entraves ao exerccio de funes de superviso atravs

    de disposies legislativas ou regulamentares de um pais terceiro a que

    estejam sujeitas uma ou mais pessoas com as quais a empresa tenha

    uma relao de proximidade; e

    obrigatoriedade de titulao nominativa ou registo de portador das

    aces representativas do capital social, artigo 4134.

    de voto; ser accionista ou scia de uma empresa em que controla por si s, na

    sequncia de acordo, a maioria dos direitos de voto.

    34 O artigo 41 limita o preceituado no artigo 300 do CSC. Com efeito, a

    possibilidade de converso aqui prevista deve ser enquadrada dentro da imposio depublicidade. Respeitando-se esta estipulao, nada parece obstar converso de

    ttulos.

    Por outro lado, ressalva-se o disposto no artigo 1 do Decreto-lei 408/82, sobre o

    registo de aces, pois que a possibilidade de registo nele includa, para aces ao

    portador no pode deixar de se considerar afastada pela obrigatoriedade de registo.

    Saliente-se que os tipos aces nas sociedades annimas de seguros so os mesmosque nas sociedades annimas em geral e que nada impede a liberdade de escolha,

    pelos accionistas e fundadores, do tipo legal de ttulo a emitir. As especiais exigncias

    da lei consideram-se cumpridas seja pela emisso de aces nominativas

    (obrigatoriamente registadas) seja pelo registo das aces ao portador (registo

    facultativo, no regime geral).

    A razo de ser desta exigncia de publicidade da participao na sociedade annima

    de seguros prende-se com o estricto enquadramento prudencial deste tipo societrio e

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    A estes requisitos acrescem outros que respeitam aos accionistas da

    sociedade annima de seguros:

    aptido dos accionistas detentores de participaes qualificadas35 para

    garantir uma gesto s e prudente da sociedade, seja directamente seja

    por interposta pessoa;

    com a necessidade, evidenciada pelo legislador, de perfeito conhecimento pblico dos

    titulares de participaes qualificadas em sociedades annimas de seguros.

    35 Participao qualificada , nos termos do artigo 3 n 2, a participao directa ou

    indirecta que represente uma percentagem no inferior a 10% do capital ou dos

    direitos de voto na instituio participada ou que, por qualquer outro motivo,

    possibilite uma influncia significativa na gesto. Consideram-se como equiparados

    aos direitos de voto do participante os votos detidos pelas pessoas ou sociedades

    referidas no n 2 do artigo 447 do CSC, ou seja, os direitos de voto detidos pelo

    conjuge no separado judicialmente, independentemente do regime de bens, pelos

    descendentes de menor idade, ou, em ambos os casos, das pessoas em cujo nome se

    encontrem, quando tenham sido adquiridos por conta do conjuge e dos descendentes

    de menor idade, os direitos de voto a sociedades dem que esses individuos sejam

    scios de responsabilidade ilimitada, exeram a gerncia ou sejam membros dosrgos de fiscalizao ou administrao, ou possuam, isolada ou conjuntamente com

    outras pessoas na mesma situao, metade do capital social ou dos votos a ele

    correspondentes.

    Contam ainda como equiparados a direitos de voto do participante os detidos por

    outras pessoas ou entidades em nome prprio ou alheio mas por conta do participante,

    os detidos por sociedades dominadas pelo participante, os detidos por sociedades que

    se encontrem em relao de grupo com a sociedade participante, os detidos por

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    inexistncia de situaes de falncia ou insolvncia dos accionistas

    iniciais e das empresas ou sociedades cuja gesto ou administrao

    tenham participado, ou de que tenham directores, adminstradores ou

    gerentes.

    Para garantia das regras relativas aos detentores das participaes

    qualificadas em empresas de seguros, o RJAS estabelece nos artigos 43 a

    50 um sistema de controlo.

    Este sistema assenta numa obrigao de comunicao prvia ao Ministro

    das Finanas prevista no artigo 43, aplicvel sempre que algum

    pretenda deter, directa ou indirectamente, ou aumentar, uma participao

    qualificada, de tal modo que a percentagem de direitos de voto ou de

    terceiro com o qual o participante tenha celebrado acordo que o obrigue a adoptar,

    atravs do exerccio concertado dos respectivos direitos de voto uma poltica comum

    em relao gesto da sociedade em causa, os detidos por terceiro por fora de

    acordo celebrado com o particpante ou com uma sociedade por ele dominada ou por

    uma sociedade que se encontre em relao de grupo com a sociedade participante,

    quando nestes acordos se preveja a transferncia provisria desse direito de voto, os

    direitos de voto inerentes a aces do participante dadas como garantia exceptoquando o credor detiver esses direitos e declare que tem a inteno de os exercer, os

    direitos inerentes a aces de que o participante tenha o usufruto, os direitos de voto

    que, por fora de acordo, o participante ou qualquer uma das pessoas ou entidades

    referidas anteriormente tenham o direito de adquirir por sua iniciativa exclusiva e os

    direitos de voto inerentes a aces depositadas junto do participante e que este possa

    exercer como entender na ausncia de instrues especficas dos respectivos

    detentores.

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    capital ultrapasse 20%, 33% ou 50%36. A mesma obrigao de

    comunicao incumbe ao detentor de uma participao qualificada que

    dela se queira desfazer37.

    O Ministro das Finanas poder opor-se ao projecto de aquisio ou

    aumento, caso em que este no poder realizar-se. A sua realizao em

    violao da determinao do Ministro da Finanas implica, para alm de

    outras sanes, a inibio do exerccio dos direitos de voto que seintegrem na participao qualificada38.

    Os trs primeiros exerccios sociais sero acompanhados pelo ISP atravs

    de relatrios anuais circunstanciados sobre a sua execuo. Em

    consequncia de irregularidades detectadas, a autorizao poder ser

    revogada, o mesmo acontecendo quando se verifique alguma das

    circunstncias previstas no artigo 1939.

    A revogao da autorizao da competncia do Ministro das Finanas,

    que a pode delegar no ISP.

    36 Esta obrigao incumbe ao sujeito adquirente e empresa de seguros participada,

    nos termos dos artigo 43 e 49 do RJAS

    37 Artigo 48 RJAS

    38 Artigo 46 RJAS

    39 Artigo 18 n 1 e 2 RJAS

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    Para alm das exigncias relativas ao capital social e s participaes, as

    sociedades annimas de seguros, tal como as mtuas, esto obrigadas

    constituio de uma reserva legal em termos diferentes dos estabelecidos

    no artigo 295 do CSC. Com efeito, o artigo 42 do RJAS estabelece que

    o montante anual a atribuir reserva legal de 10% (e no 5%) at

    concorrncia do capital social (e no a sua quinta parte).

    Ao contrrio do regime geral, as alteraes do contrato de sociedadecarecem, neste caso, da autorizao prvia do Ministro das Finanas,

    directamente ou por delegao no ISP40.

    A composio dos rgos de administrao e fiscalizao das sociedades

    annimas de seguros dever ser comunicada ao ISP41, juntamente com

    com a prova exigida para preenchimento dos requisitos de idoneidade

    estabelecidos no artigo 51.

    A mudana da sede, bem como a abertura de representaes em Portugal

    e os acordos parassociais devero ser notificadas ao ISP42.

    40 Artigo 52 RJAS

    41 Artigo 54 RJAS

    42 Artigos 55, 56 e 57 do RJAS

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    b) Mtuas de seguros

    As mtuas de seguros so sociedades cooperativas de responsabilidade

    limitada que se regem de acordo com o RJAS e subsidiariamente pelo

    Cdigo Cooperativo.

    Isto significa que algumas disposies do CC no lhes ser aplicveis,

    desde logo se apontando a necessidade de constituio por escritura

    pblica.

    As regras relativas ao capital social mnimo, participaes, idoneidade

    dos scios e regime de autorizao so semelhantes s regras aplicveis

    s sociedades annimas de seguros, ressalvando-se o capital social

    mnimo, que neste caso de 750.000 contos.

    As mtuas so constitudas por pessoas singulares ou colectivas que

    exercendo a mesma actividade produtiva ou profissional pretendem

    garantir, segundo a tcnica seguradora, a cobertura dos riscos decorrentes

    do exerccio dessa actividade.

    c) Estabelecimento no territrio de outros Estados-membros de sucursais

    de empresas com sede em Portugal

    As empresas de seguros com sede em Portugal que pretendam estabelecer

    uma sucursal noutro Estado-membro da Comunidade Europeia devero

    apresentar essa inteno ao ISP, especificando qual o Estado-membro, o

    programa de actividades, domiclio no Estado-membro de acolhimento e

    o nome e endereo do mandatrio geral.

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    A partir desta notificao, o ISP comunicar a inteno autoridade

    competente do Estado-membro de acolhimento, ao mesmo tempo

    certificando a existncia de margem de solvncia. Cumprido este

    requisito a seguradora poder, no prazo de dois meses a partir da data da

    recepo da informao nos servios de superviso no Estado-membro de

    acolhimento, iniciar as suas actividades.

    Quando o ISP recuse a comunicao da inteno autoridade desuperviso no Estado-membro de acolhimento, com base nos

    fundamentos apontados no artigo 26 do Decreto-lei 102/94, dvidas

    sobre a adequao das estruturas administrativas da empresa, sobre a sua

    situao financeira ou sobre a idoneidade ou experincia profissionais dos

    dirigentes e do mandatrio geral, os interessados podero interpor recurso

    gracioso para o Ministro das Finanas, admitindo-se recurso contenciosoda deciso deste ltimo nos termos gerais de direito.

    d) Estabelecimento em Portugal de sucursais de empresas com sede no

    territrio de outros Estados-membros

    As empresas seguradoras estabelecidas em qualquer ponto do territrio

    comunitrio podem estabelecer sucursais43

    em Portugal, exercendo o

    43 O conceito de sucursal deve ser entendido, neste diploma, como um conceito

    amplo, que abrange qualquer forma local de representao que traduza uma presena

    permanente, ainda que na sua forma mais simples de uma pessoa independente

    mandatada para agir permenentemente em nome da empresa. Saliente-se que

    representao permanente so aplicveis as normas portuguesas relativas ao registo

    comercial ex vi do artigo 4 do CSC.

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    direito de estabelecimento previsto no tratado que institui a Comunidade

    Europeia.

    O estabelecimento de sucursais est, no entanto, sujeito a alguns

    requisitos.

    As empresas que pretendam exercer em territrio nacional o seu direito

    de estabelecimento devem cumprir as condies de exerccio

    determinadas por lei para as empresas com sede em Portugal, bem como

    devero contribuir, nos termos do artigo 33, para qualquer regime de

    contribuio obrigatria, tal como o Fundo de Actualizao de Penses e

    o Fundo de Garantia Automvel. As condies de exerccio so,

    genericamente, as estabelecidas no RJAS44.

    A realizao do mercado interno de seguros implicou o regime daautorizao nica para o acesso actividade seguradora em todo o

    territrio comunitrio. Assim sendo, reconhecida ao Estado-membro em

    que a empresa estabelecer a sua sede social a competncia para conceder

    a autorizao de exerccio da actividade. Esta autorizao ser vlida em

    toda a Comunidade, seja pela via do estabelecimento a ttulo secundrio

    seja a ttulo de prestao de servios.

    A superviso prudencial das empresas seguradoras ser assegurada pelas

    autoridades do Estado-membro de origem. Esta regra no prejudica, no

    entanto, a competncia da autoridade do Estado de acolhimento no que

    44 As condies de exerccio da actividade seguradora sero analisadas mais adiante

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    respeita garantia da observncia das disposies ancionais de interesse

    geral, tais como as regras relativas coimercializao de produtos e s

    condies contratuais.

    A empresa que pretenda exercer o seu direito de estabelecimento em

    Portugal dever informar a autoridade nacional encarregada da superviso

    no Estado-membro onde tem a sua sede que o pretende fazer. A

    autoridade nacional comunicar ao ISP esta inteno e este, no prazo dedois meses poder informar a autoridade nacional das condies a que

    deve obedecer o exerccio da actividade seguradora por parte dessa

    sucursal. Ainda neste prazo de dois meses, o ISP poder informar a

    empresa que pode comear as suas actividades; a ausncia de

    comunicao neste prazo permite, nos mesmos termos, o incio de

    actividade - artigo 30 e 31 do RJAS.

    e) Estabelecimento em Portugal de sucursais de empresas com sede fora

    do territrio da Comunidade Europeia

    O estabelecimento em Portugal de empresas de seguros com sede fora do

    territrio da Comunidade Europeia est sujeito a um regime de

    autorizao especfica e prvia, nos termos do artigo 34 do RJAS. Estaautorizao da competncia do Ministro das Finanas, susceptvel de

    delegao no ISP e vlida para todo o territrio portugus.

    O processo de autorizao inicia-se com um requerimento que dever ser

    instrudo nos termos do artigo 35. Como maiores diferenas

    relativamente ao requerimento para autorizao especfica e prvia das

    sociedades annimas de seguros salienta-se as declaraes estabelecidas

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    pela alinea i).

    A razo de ser destas declaraes prende-se genericamente com a

    necessidade de assegurar o controlo prudencial tendo em vista as garantir

    a solvabilidade da sucursal.

    Assim, a sucursal nomear um mandatrio geral nos termos do artigo 37.

    Este mandatrio poder ser uma pessoa singular ou colectiva,

    necessariamente constituda segundo a lei portuguesa, ter a sua sede em

    Portugal e ter como objectivo exclusivo a representao em Portugal de

    seguradoras estrangeiras.

    A sucursal dever manter activos disponiveis em Portugal em valor no

    inferior ao fundo minimo de garantia legalmente estabelecido. Este fundo

    de garantia faz parte da sua margem de solvncia45

    e dever ser ocontravalor em escudos de 400.000 Euros, quando a sucursal explore o

    ramo vida e entre 100.000 e 700.000 Euros consoante os ramos no

    vida explorados46. Metade destes valores ser necessariamente

    caucionado ordem do ISP47.

    45 Veremos adiante em que consiste a margem de solvncia. Adiante-se apenas que a

    margem de solvncia de uma empresa de seguros corresponde, nos termos do artigo

    93, ao seu patrimnio livre de toda e qualquer obrigao previsvel e deduzido dos

    elementos incorpreos.

    46 Artigo 102 RJAS

    47 Artigo 104 RJAS

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    A autorizao para alm de poder ser revogada, nos termos do artigo 39,

    caduca nos termos do artigo 17, ex vi do artigo 38, pela renncia e pelo

    no uso.

    3.1.2 A livre prestao de servios

    3.1.2.1 Livre prestao de servios no territrio de outros

    Estados-membros por empresas com sede em Portugal

    As empresas portuguesas que pretendam exercer o seu direito de livre

    prestao de servios no territrio comunitrio devem notificar

    previamente o ISP dessa inteno, artigo 59 do RJAS, informando a

    natureza dos riscos que pretendem assumir.

    A partir desta notificao, o ISP dever enviar s autoridades competentesdo Estado-membro em causa uma declarao certificando que a empresa

    dispe do mnimo da margem de solvncia necessrio imposto pela

    legislao aplicvel, bem como informao sobre os ramos que a empresa

    est admitida a explorar e ainda a natureza dos riscos que a empresa se

    prope assumir.

    A comunicao em causa feita em simultneo autoridade do

    Estado-membro e ao interessado, que pode dar de imediato incio s suas

    actividades, cumpridos que sejam, mutatis mutandis, os requisitos

    necessrios para a livre prestao de servios em Portugal por empresas

    com sede noutro Estado-membro.

    O ISP pode recusar a comunicao quando exista razo para tal, ou seja,

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    quando a empresa no disponha do mnimo de margem de solvcncia

    imposta por lei ou quando se proponha exercer a livre prestao de

    servios numa rea em que no esteja autorizada a exercer a actividade

    seguradora. Da recusa de comunicao cabe recurso gracioso para o

    Ministro das Finanas e do acto confirmativo cabe recurso nos termos

    gerais de direito.

    3.1.2.2 Livre prestao de servios em Portugal por empresas com

    sede no territrio de outros Estados-membros

    As empresas de seguros estabelecidas noutros Estados-membros tm o

    direito de livremente prestar os seus servios no territrio portugus. Este

    direito est, no entanto, submetido ao preenchimento de alguns requisitos.

    Assim, as empresas de seguros devero vincular-se e contribuir

    obrigatoriamente, nas mesmas condies das empresas estabelecidas em

    Portugal, para qualquer regime de contribuio obrigatria destinada

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    constituio do FGA48 (Fundo de Garantia Automvel) e ao FUNDAP49,

    (Fundo de Actualizao de Penses) destinados a assegurar o pagamento

    de indemnizaes aos segurados e aos terceiros lesados - artigo 65 do

    RJAS.

    Quando as empresas pretendam cobrir, em regime de prestao de

    servios, riscos cuja cobertura seja obrigatria, devero nomear um

    representante residente ou estabelecido em Portugal, com poderessuficientes para representar a empresa junto dos sinistrados e junto dos

    tribunais e autoridades portuguesas no que respeita aos pedidos de

    indemnizao - artigo 66.

    48 O FGA um fundo comum a todas as empresas de seguros autorizadas a explorar o

    ramo automvel e tem por objectivo satisfazer as indemnizaes decorrentes de

    acidentes originados por veculos sujeitos ao seguro obrigatrio nos termos do DL

    522/85, que sejam matriculados em Portugal ou fora da CE, que no tenham gabinete

    nacional de seguros ou cujo gabinete no tenha aderido conveno complementar

    entre gabinetes nacionais.

    O FGA gere ainda os sinistros que tenham ocorrido com veculos no identificados

    que provoquem danos corporais, bem como os danos materiais provocados por

    veculos sem seguro vlido.

    49 O FUNDAP um Fundo comum a todas as empresas que explorem o ramo

    acidentes de trabalho, sustentado por uma percentagem cobrada aos segurados do

    ramo e por uma contribuio das prprias seguradoras. Tem como objectivo assegurar

    o pagamento e actualizaes das penses devidas por acidente de trabalho.

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    Este representante dever ainda estar munido de poderes de representao

    junto do ISP, sendo-lhe vedado o exerccio de qualquer actividade de

    seguro directo por conta da empresa representada.

    As empresas que pretendam prestar servios relativos ao seguro

    automvel em Portugal devero ainda tornar-se membros do Gabinete

    Portugus da carta verde - artigo 67.

    3.2 As condies de exerccio da actividade seguradora

    As condies de exerccio da actividade seguradora sistematizam-se em

    trs grandes categorias: as garantias financeiras, superviso de contratos e

    tarifas, superviso e regime fiscal.

    A sistematizao do Decreto-lei 102/94 foi seguida de perto no actual

    RJAS, que inclui ainda no Ttulo III um captulo dedicado ao co-seguro,

    um captulo dedicado transferncia de carteiras e um captulo dedicado

    a regimes especiais. Apesar de includas no mesmo ttulo, estas matrias

    destacam-se, pela natureza do seu contedo, das trs grandes categorias

    das condies de exerccio.

    Os princpios relativos s condies de exerccio da actividade seguradoratm, em geral, uma natureza prudencial50, como prudenciais so tambm

    os princpios actuariais51, ainda que dispersos em termos legislativos.

    50 As normas prudenciais so o instrumento ao dispr da autoridade detentora do

    poder de superviso para a realizao do princpio da confiana do utente no sistema

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    3.2.1 As garantias financeiras

    Tendo em vista a realizao do princpio da confiana, as empresas de

    seguros devem dispor de um conjunto de garantias financeiras que

    assegurem aos utentes do sistema a sua estabilidade financeira. Estas

    financeiro, considerado indispensvel para o bom funcionamento das instituies

    abrangidas, designadamente, instituies de crdito e seguradoras.

    Os meios geralmente ao dispor da superviso prudencial so:

    - Requisitos de acesso actividade, que consubstanciam normalmente um sistema de

    licenciamento, a maioria das vezes casustico.

    - Imposio de sistemas contabilsticos.

    - Imposio de rcios contabilsticos, tendo em vista assegurar uma liquidez mnima

    da instituio, relacionando directamente os volumes das disponibilidades e das

    responsabilidades.

    - Imposio de rcios contabilsticos, tendo em vista assegurar uma relao

    equilibrada entre as aplicaes financeiras e os fundos de reserva e os capitais

    prprios, evitando, atravs deste instrumento, e do anterior a descapitalizao das

    instituies.

    - Formulao de normas relativas ao risco, por forma a evitar que uma mesma

    instituio se torne dependente de grupos ou sectores especficos.

    - Formulao de normas quanto s participaes de capital.

    - Estabelecimento de reservas obrigatrias.

    51 Sobre os princpios actuarias veja-se o anexo M.

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    garantias so as provises tcnicas, a margem de solvncia e o fundo de

    garantia. Para o clculo da margem de solvncia contabiliza-se o fundo de

    garantia.

    3.2.1.1 Provises tcnicas

    As provises tcnicas so conjuntos de activos mveis ou imveis52,

    equivalentes e congruentes53, que constituem patrimnios especiais

    garantes dos crditos emergentes dos contratos de seguro, que gozam

    sobre eles de um previlgio creditrio54.

    Estes activos no podem ser oferecidos em garantia sob qualquer forma

    de qualquer outro crdito, no podendo ser penhorados nem arrestados a

    no ser para garantia dos crditos que sobre eles tm garantia especial55.

    Os activos que integram as provises tcnicas estaro obrigatoriamente

    localizados no territrio da CE, no que respeita s actividades a exercidas

    pelas empresas de seguros com sede em Portugal, no territrio portugus

    52 A natureza e os limites percentuais dos activos que se incluem nas provises

    tcnicas so determinados por portaria do Ministro das Finanas. As seguradoras

    devero, ao constituir as provises tcnicas, atender segurana, rendimento e

    liquidez do activo.

    53 Artigo 88 n 1 RJAS

    54 Idem, n 5

    55 Ibidem, n 3

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    para as actividades nele exercidas pelas sucursais das empresas de

    seguros com sede fora do territrio da CE e no territrio da CE ou no

    Estado no membros em que a actividade seja exercida pelas empresas de

    seguros com sede em Portugal56. Quando os activos representativos das

    provises tcnicas sejam susceptveis de depsito, devero ser

    depositados junto de instituies de crdito em contas prprias57.

    Existem diversos tipos de provises tcnicas enumerados no artigo 70 doRJAS. Esta enumerao no taxativa, porquanto podem ser criadas

    outras provises tcnicas por portaria do Ministro das Finanas.

    So prov