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DUE. O Direito da União Europeia é fonte muito importante do direito português (7/6, 8/4 CRP e declaração política no Tratado de Lisboa – que diz que prevalece sobre o direito dos Estados-membros). A sua base é um conjunto de tratados internacionais, o último dos quais assinado em Lisboa em 2007. Lisboa não regula nada de substantivo, apenas revê outros tratados. O Tratado da União Europeia e o Tratado de Funcionamento da União Europeia foram revistos por Lisboa. O TFUE é o antigo Tratado CEE. Há quem fale em “direito comunitário”. Hoje fala-se em direito da União Europeia. Antes de Lisboa havia União e CEE, com os seus respectivos tratados. Hoje deixou de fazer sentido falar em direito comunitário. A CECA já morreu; a CEE foi absorvida pela EU; a EURATOM (disciplina o uso da energia atómica para fins pacíficos e industriais) subsiste, sendo que Portugal é membro. Aí há direito comunitário. Mas falamos, referindo-nos ao conjunto do sector normativo, em “direito da União Europeia”. Porquê “direito constitucional e administrativo da EU? Não há Constituição europeia, porque não há um povo europeu. O que há é, à moda alemã, um conjunto de princípios constitucionais fundamentais, que Lisboa ergueu à categoria de valores, que são a base ontológica da EU e do seu sistema jurídico (G. Canotilho). É uma constituição material. Canotilho até já vê alguns traços de Estado na União. Vai mais longe que FQ. A CRP, entende FQ, não obriga a feitura de referendo a tratados internacionais. Direito administrativo da EU porque vamos estudar a origem, desenvolvimento e extinção de direito na EU. História da União. Se não tivesse havido IIª Guerra Mundial provavelmente não haveria União. São os 60 milhões de mortos que fazem os Estados renunciar a parte da sua soberania. A integração europeia terá qualquer coisa como vinte e oito séculos. A palavra “Europa” foi primeiramente utilizada no séc.VIII a. C., por um grego. A ideia foi reformada por Sócrates. Proferiu a frase: “não sou ateniense nem grego, mas um cidadão do Mundo”. Os filósofos gregos tinham a ideia de que havia algo mais, para além do seu espaço geográfico. Esta percepção foi reforçada pela mitologia. Há duas lendas: para uns, a Europa era uma jovem fenícia, filha do rei de Tiro, raptada por Zeus. A lenda é tão séria que no

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DUE. O Direito da União Europeia é fonte muito importante do direito português (7/6, 8/4 CRP e declaração política no Tratado de Lisboa – que diz que prevalece sobre o direito dos Estados-membros). A sua base é um conjunto de tratados internacionais, o último dos quais assinado em Lisboa em 2007. Lisboa não regula nada de substantivo, apenas revê outros tratados. O Tratado da União Europeia e o Tratado de Funcionamento da União Europeia foram revistos por Lisboa. O TFUE é o antigo Tratado CEE.Há quem fale em “direito comunitário”. Hoje fala-se em direito da União Europeia. Antes de Lisboa havia União e CEE, com os seus respectivos tratados. Hoje deixou de fazer sentido falar em direito comunitário. A CECA já morreu; a CEE foi absorvida pela EU; a EURATOM (disciplina o uso da energia atómica para fins pacíficos e industriais) subsiste, sendo que Portugal é membro. Aí há direito comunitário. Mas falamos, referindo-nos ao conjunto do sector normativo, em “direito da União Europeia”.Porquê “direito constitucional e administrativo da EU? Não há Constituição europeia, porque não há um povo europeu. O que há é, à moda alemã, um conjunto de princípios constitucionais fundamentais, que Lisboa ergueu à categoria de valores, que são a base ontológica da EU e do seu sistema jurídico (G. Canotilho). É uma constituição material. Canotilho até já vê alguns traços de Estado na União. Vai mais longe que FQ. A CRP, entende FQ, não obriga a feitura de referendo a tratados internacionais.Direito administrativo da EU porque vamos estudar a origem, desenvolvimento e extinção de direito na EU.História da União. Se não tivesse havido IIª Guerra Mundial provavelmente não haveria União. São os 60 milhões de mortos que fazem os Estados renunciar a parte da sua soberania. A integração europeia terá qualquer coisa como vinte e oito séculos. A palavra “Europa” foi primeiramente utilizada no séc.VIII a. C., por um grego. A ideia foi reformada por Sócrates. Proferiu a frase: “não sou ateniense nem grego, mas um cidadão do Mundo”. Os filósofos gregos tinham a ideia de que havia algo mais, para além do seu espaço geográfico. Esta percepção foi reforçada pela mitologia. Há duas lendas: para uns, a Europa era uma jovem fenícia, filha do rei de Tiro, raptada por Zeus. A lenda é tão séria que no Museu del Prado há um quadro holandês que se chama “Rapto da Europa”. Outra consta da Bíblia: os três filhos de Noé teriam herdado três partes do Mundo: Ásia, África e Europa, sendo que esta ocupava já a Finlândia e o Japão. Eis a Europa geográfica e mitológica. À geografia foi dada, por Carlos Magno (séc. XII a. C.), a Respublica Christiana. Carlos Magno teria sido o primeiro teorizador da Europa política, com base na cristandade. Dante reconhecê-lo-ia (Tratado sobre a Monarquia).Há um período de afirmação da soberania do Estado. Há cismas e reformas religiosas. Há conflitos económicos. Em 1760, foi apresentado por Rousseau um projecto de paz perpétua. Em 1785, Kant também defende uma confederação de Estados. Bentham (1843) também teria um plano similar. No séc. XIX, dá-se o Congresso de Viena e a Conferência de Berlim. Dividiu-se África, com regra e esquadro, em vários Estados, em vez de considerarem as tribos, o que provocou conflitos. As cinco potências da época (Reino Unido, França, Áustria, Rússia e Prússia) criaram a Santa Aliança.Temos, pois, uma Europa que vai sobrevivendo a vários sobressaltos. Mas também faltava uma cultura europeia. Para esse património contribuíram decisivamente os Descobrimentos portugueses e espanhóis. Todas as línguas europeias chamam ao chá “tea” ou “tê”; em português é “chá” (japonês). A tempura vem de tempero. O botão vem de botan. O pão-de-ló deu pandelo. Sacerdote é padre em japonês; arigato, obrigado. O encontro de culturas foi promovido pelos descobridores.

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No séc. XX, o empolamento da soberania (jus belli, entre as faculdades) levou à Iª Guerra, tal como o livre cambismo económico exagerado na época do Estado polícia, passivo, que só observava. Portugal participou nela, sofrendo ameaças não concretizadas sobre as colónias. Foi o único país que no séc. XX não teve qualquer conflito generalizado no seu território europeu.Depois da Iª Guerra, viu-se que era necessário limitar o ius belli. O federalismo europeu é defendido já nos anos vinte (em 1927 já se falava em “Estados Unidos da Europa”). O memorando de Briand (Primeiro-ministro francês que assinara, em 1923, o Pacto Briand-Kellog, que consagrava a proibição do uso da força) veio, em 1929-30, dizer que tínhamos de evitar uma segunda grande guerra. Em 1929-32 assiste-se à Grande Depressão. Quando há uma crise económica é muito difícil haver solidariedade e união. A crise de 1929-30 gera reacções nacionalistas repudiando o federalismo de Briand. Hitler é eleito em 1933 (Deutschland uber alles). Ocupou a Áustria. De 1939-45 há conflito, que se torna Mundial em 1941, com a intervenção do Japão em Pearl Harbor.A depressão provoca nacionalismos porque não há o que quer que seja acima do Estado a que este se possa agarrar. Hoje não há nacionalismos porque há União Europeia. Não há candidatos a fuhrer ou a duce, nem ideias individualistas. Há uma reacção solidária e não individual. A viragem da guerra acontece no dia D, com o desembarque americano na Normandia. Houve 2 Holocaustos: o de Hitler e o de Estaline. Não morreram mais às mãos de Hitler do que às mãos dos soviéticos. Os vencedores estavam tão destruídos como os vencidos.Terminada a IIª Guerra Mundial, fazem-se juramentos de que o Mundo não poderia voltar à guerra. No plano internacional, traduziu-se isto num movimento que levou à fundação das Nações Unidas. No campo europeu, surge esta ideia reforçadamente. Sentiu-se a necessidade de união. Churchill propôs a constituição dos Estados Unidos da Europa, associação de Estados com um poder acima de si, que os não deixasse à solta. O seu discurso fez com que se reunisse em Haia, em 1942, o Congresso Federal, que retomou e ampliou a sua proposta. Estavam dispostos a ceder parcelas de soberania para que houvesse controlo do ius belli. Em 1947, os EUA propõem o Plano Marshall: os EUA, vencedores da guerra, averbavam os Estados europeus, em dinheiro e linhas de crédito, para a reconstrução do Velho Continente. No plano económico e social, não houve vencedores. As moedas não tinham grande valor. Trocavam-se bens por bens. A Europa estava dizimada. O Plano foi aproveitado. Para os EUA era conveniente que o mundo livre europeu crescesse. Mas também tinham interesse próprio: se a Europa recuperasse, voltaria a poder comprar bens americanos. O Plano Marshall foi aceite por toda a Europa. 30 dias depois, a Rússia percebeu que havia no plano uma componente militar, recusando-o. Dá-se a primeira manifestação da guerra-fria. A Europa ocidental juntar-se-ia na Organização Europeia para a Cooperação Económica, para gerir o plano Marshall. A Europa de leste, por sua vez, criaria o COMECON. Trata-se de uma cisão económica, a que se seguiu uma cisão militar. Os ocidentais criaram a NATO; os comunistas o Pacto de Varsóvia. A NATO previu um prazo para a sua vigência; Varsóvia era indefinido. De resto, eram muito similares.Varsóvia terminou em 1991, com a desintegração da URSS. A NATO tornou-se numa organização de defesa colectiva (já era), que também intervém no plano social, económico, etc. A Rússia é hoje parceira da NATO e alguns antigos Estados soviéticos são membros.Na sequência do movimento integracionista, o Reino Unido surge preocupado. Primeiro, entendiam os constitucionalistas britânicos que o direito constitucional

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britânico impedia a existência de poderes superiores à Coroa. Segundo, o Reino Unido estava a criar a Commonwealth. Sabota o movimento. Cria o Conselho da Europa, para que desvia a componente política e dos direitos do homem. Criado o Conselho da Europa – a que Portugal aderiria em 1976 –, a integração europeia ficou ferida.Em 9 de Maio de 1950, o MNE francês (Schumann) propôs à Alemanha a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Foi porque a Alemanha e a França estiveram uma contra a outra que houve duas guerras: era preciso criar uma autoridade supranacional que controlasse a produção de carvão e aço. A Alemanha e a França eram os grandes produtores, ficando assim do mesmo lado. O aço alimentava a indústria bélica, evitando-se assim mais uma dissensão entre franceses e alemães. Os países do BENELUX juntaram-se-lhes. Impulsionados pelo sucesso, regressam à componente política. Em 1952, tenta-se criar uma Comunidade Europeia para a Defesa, pensando-se em forças armadas conjuntas. Não entrou em vigor porque a Assembleia Nacional francesa recusou ratificar, já que a França tinha dois votos a menos do que a Alemanha. Se tivesse visto a luz do dia, em 1953 já haveria integração militar. Hoje ainda não há.Fracassou, igualmente, a Comunidade Política Europeia, que também ainda não existe. Voltou-se para o campo económico: em Março de 1957 são assinados os tratados de Roma. Criam a Comunidade Europeia para a Energia Atómica, ou EURATOM, e a Comunidade Económica Europeia. Em 1957 havia, pois, uma comunidade para o carvão e para o aço, uma para a energia atómica e uma para a restante economia. São as três comunidades. Entram em vigor no dia 1 de Janeiro de 1958. Estes tratados mantêm-se até ao Acto Único Europeu, de Dezembro de 1985 (já com 10 membros).O raciocínio prendia-se com a circunstância de ser, com 12 membros, difícil observar a regra da unanimidade para as deliberações. Igualmente, os 12 dividir-se-iam se não se avançasse para um mercado único. Prevê-se um tal mercado para 1993. Na cimeira de Dezembro de 1991, o Tratado de Maastricht vem fixar o mercado interno para 1 de Janeiro de 1993 e que era necessário que a integração passasse a ser cultural, social e política. Consagrou também novos princípios: protecção do consumidor, educação, rede europeia de transportes, turismo, etc). Ele é redigido, em 1992, por Portugal, que na altura presidia ao Conselho Europeu. Fausto de Quadros teve papel preponderante nessa redacção. Alargou-se a integração económica ao nível social, cultural e humanista. A Maastricht seguiu-se Amesterdão, que cria o espaço de liberdade, segurança e justiça (primeiramente gerido por António Vitorino, à época Comissário Europeu). Começa a integração política. O Parlamento Europeu é eleito em 1979 e passa a co-legislar. Nice, em 2000, vem prever o alargamento aos Estados de leste, que queriam entrar. Em poucos anos duplicar-se-ia o número de membros.Em 1999/2002 atinge-se a união económica e monetária: uma Europa, do ponto de vista económico, quase federal (uma só moeda, um só espaço, parcas portagens, liberdade de circulação de pessoas, etc.). A federação económica está quase acabada. Surge a ideia infeliz do Tratado que Aprova uma Constituição para a Europa. A razão era o facto de a falta de união política comprometer a união monetária. Fracassou o tratado constitucional perante os referendos francês e holandês. Transforma-se em Tratado da União Europeia e Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia. Parte da representação externa passaria a ser regida de forma intergovernamental. A Irlanda, depois de um referendo negativo, viria a ratificar.Portugal já ratificou. A nossa CRP nunca viu com bons olhos o referendo. Não o impõe para tratados internacionais. Não impondo, e dizendo o Tratado de Lisboa que entra em vigor após ratificação segundo as normas constitucionais, não é necessário. Juridicamente não era necessário.

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O Tratado de Lisboa aumentou substancialmente o âmbito dos anteriores. Se Nice permitia alargar até 27, Lisboa escancarou a porta. Croácia e Macedónia, Turquia e Ucrânia seguem-se. Economia de mercado, direitos fundamentais e liberdade política são os requisitos de entrada. A Turquia é membro da NATO e do Conselho da Europa. Mas ainda não respeita os direitos humanos. A Turquia tem parte do Chipre (um Estado-membro) ocupada militarmente. Só se aceite por unanimidade dos Estados-membros pode um Estado aderir.Não ficou em Lisboa, apesar de ter estado nos trabalhos preparatórios, uma política comum de segurança nas fronteiras (para que se não confunda a entrada de emigrantes com a entrada de más pessoas) e contra o terrorismo, medidas necessária para enfrentar a globalização, política comum de defesa e consequências para o desrespeito pelas normas do Eurogrupo.O conceito de União Europeia é hoje mais claro. Antes de Lisboa, discutia-se se tinha personalidade jurídica. Ela está hoje consagrada. A ideia de União Europeia aparece em 1972. Está ligada à dimensão política do projecto europeu. Foi durante muitos anos abandonada. Quando já se estava a caminho do mercado comum, a ideia renasce. Há um célebre tratado, o projecto Spinelli, para uma constituição da União. O conceito só surge no TUE. Dá-se a fusão de um projecto sobre a união económica e monetária com um projecto de união política. Contudo, não coincide com a ideia de federação ou união política.Existem três Comunidades (CEE, CECA e EURATOM). Um A. francês dizia que não houvera a preocupação com a energia do presente (petróleo), apenas com a do passado (carvão) e do futuro (atómica). Essas comunidades vieram a constituir o primeiro pilar, o comunitário. O segundo pilar era o da política externa e de defesa comum (PESC). O terceiro pilar era o da cooperação judiciária penal no espaço jurídico europeu. Estes dois pilares eram intergovernamentais. Estava-se mais próximo de uma organização internacional clássica do que de uma de integração.Esta estrutura era dual: os pilares comunitários e os que não eram. O peso do Conselho Europeu pilares intergovernamentais era maior. Também havia maiorias de aprovação diferentes: unanimidade (intergovernamental) nuns, maioria qualificada noutros (supranacional). Eram lógicas diversas. O pilar político não estava ao mesmo nível que o económico. Apesar desta dualidade, havia aspectos comuns. Um quadro institucional e ôrganico comum, desde logo. Os órgãos eram os mesmos nos três pilares, tal como eram nas três comunidades (se bem que com competências e procedimentos diferentes). Similitude de órgãos e de titulares.Os pilares evoluíram. O terceiro pilar, muito intergovernamental, foi-se comunitarizando. No que toca ao terceiro pilar, a evolução foi de extensão das competências do Tribunal de Justiça, para aí ficarem. Quanto ao segundo, não foi assim. Manteve-se intergovernamental. Houve ajustamentos, é certo. No pilar político também. Mas mantém-se a ideia de unanimidade e de peso do Conselho Europeu. Materialmente nada mudou.Antes de Lisboa, discutia-se a natureza da EU: teria ou não personalidade internacional? Enquanto as Comunidades tinham, dizia-se que a União não tinha (Fausto de Quadros já entendia, na altura, que tinha). Com Lisboa, o Tratado CECA já tinha caducado; o EURATOM mantinha-se (há uma ressalva no protocolo adicional que fala nele). Formalmente, deixa-se de falar em pilares. O terceiro tinha-se vindo a esvaziar para o primeiro. O segundo mantinha-se materialmente. A CEE também deixou de ter autonomia e, consequentemente, personalidade, já que a União lhe sucedeu nessa qualidade. A EURATOM mantém a sua personalidade.

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A dualidade mantém-se. O primeiro pilar estava regulado no Tratado CEE e os segundo e terceiro no Tratado EU. Com Lisboa, tratado que reviu os restantes, mantém-se o TUE e extingue-se o antigo Tratado CEE, passando a vigorar o TFUE. Há, ainda, dualidade.O que ficou? Muitos aspectos gerais, comuns a toda a União; aspectos do 2º pilar (PESC) que não cabiam no TFUE. A personalidade jurídica é inequívoca. Mas já era antes. A EU tinha capacidade para celebrar tratados internacionais. Só tem capacidade quem tem personalidade. Só tem órgãos que tem personalidade jurídica. Os AA. recalcitrantes diziam que a EU era representante das Comunidades. Mas até para representar é necessária personalidade. Ademais, a jurisprudência internacional tem presumido a personalidade jurídica internacional das organizações internacionais. Não se percebe por que inflectir o critério. Lisboa apenas vem consagrar uma realidade já existente.A EU é um ente jurídico, com objectivos, valores, princípios e órgãos. Tem (13º) um quadro institucional único: PE, Comissão, Conselho, Conselho Europeu, TJUE, BCE e TContas (instituições); Comité Económico e Social (órgão); agências reguladoras europeias.Esta dicotomia entre órgãos e instituições foi muito criticada. Nos direitos alemão e português não faz sentido falar em instituições como órgãos. Instituição não é um conceito jurídico. FQ entende que a tradução é infeliz. Mas falaremos nos dois termos, já que constam do Tratado.O PE é o órgão representativo, com legitimidade democrática; o Conselho Europeu é órgão de cúpula, tendo mais poderes na PESC (é órgão político, tendo como membros os chefes de Estado ou de Governo); o Conselho reúne ao nível ministerial.A EU admite a hipótese da cooperação reforçada. Em certos casos, é possível que alguns Estados queiram avançar mais do que outros nas ideias de integração. Compatibilizou-se o vector aprofundamento e o vector alargamento. Há AA. que distinguem as situações transitórias criadas pela adesão de novos Estados (não se trata de cooperação reforçada) e de Europa à la carte (também não é) - Estados que não querem entrar nesses estágios de integração, como o Reino Unido, que não aderiu ao Euro. Nenhuma delas se confunde com a cooperação reforçada. Hoje, a matéria está no 20º e 46º TUE e 326º TFUE. Neste ponto, as ideias fundamentais são: a cooperação reforçada visa favorecer a realização dos objectivos da EU e salvaguarda o processo de integração. Não pode haver cooperação reforçada contrária a isso: são avanços provocados, e não recuos. É decisão (20/2) de último recurso, tomada pelo Conselho. Tem que visar a integração. Do ponto de vista procedimental, exige um mínimo de Estados e tem de permitir que os Estados, mal possam, adiram a esse estágio de cooperação (328º). Há, permanentemente um convite para aderir ao grupo que avançou. Os Estados que querem instituir a cooperação reforçada dirigem pedido ao Conselho. O Alto Representante emite um parecer; o pedido é transmitido ao PE. O Conselho delibera por unanimidade. Fora da política externa, a autorização é concedida pelo Conselho, mas mediante proposta da Comissão e aprovação do PE.Há uma série de disposições que permite regular a questão da deliberação, já que há Estados que votariam sem a questão lhes dizer respeito. O 46º prevê a cooperação estruturada. É para o domínio militar. Trata-se de uma tendência que já vem de Nice. Cria-se agora um mecanismo parecido para o domínio militar. Permite a adesão posterior de outros Estados, está aberto a todos. Mas tem outras exigências, dada a matéria.Valores e princípios. Há dois problemas. O Manual estrutura tudo como princípios: mas o TUE distingue os dois. Alguns dos princípios são hoje valores. Ademais, muitas das disposições citadas já não são as mesmas.

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O artigo 2º é o que consagra os valores. O princípio democrático e o da não discriminação são hoje valores. Do princípio democrático FQ retira a paz, liberdade, respeito pelo Estado de Direito e direitos humanos. A ideia de paz remonta aos primeiros dias do projecto europeu. A democracia é interna à EU e deve ser social, cultural, económica. É verdade que o PE tem legitimidade directa; mas o Conselho Europeu inclui os chefes de Estado ou de Governo, que têm legitimidade. A Comissão não tem legitimidade democrática; mas tem-na indirectamente, já que responde perante o PE e é por ele designada. O défice democrático alterou-se. Também, o PE tem vindo a ganhar peso, já que deixou de ter apenas poderes de consulta para ter consulta obrigatória, alguns vetos, paridade com o Conselho Europeu nas decisões.Para além disto, o princípio democrático significa liberdade e respeito pelos direitos fundamentais. A ideia de respeito pelos direitos fundamentais atravessa toda a construção europeia.A democracia económica e social já vinha do Plano Schuman e é aprofundada na Carta. A ideia de democracia enquanto liberdade aflora, hoje, nos valores consagrados no Tratado de Lisboa. Outro vector do princípio democrático é o respeito pelos direitos fundamentais. Esteve sempre presente na comunidade. A protecção surge por via pretoriana (jurisprudência do Tribunal de Justiça). O Tribunal cultivava duas linhas de protecção, que vieram a ser positivadas em Maastricht. A Carta aprofundou esta protecção.Outra ideia que decorre do princípio democrático é a de Estado de Direito. Um acórdão considerou que a EU tinha uma constituição material e que era uma comunidade de Direito.Outro princípio que também é valor é o da não discriminação enquanto corolário da vertente negativa do princípio da igualdade. Este princípio tem por vezes um reverso: o princípio da discriminação inversa (discriminar nacionais em relação a estrangeiros).Princípios (3º). O princípio da integração tem que ver com o facto de a EU ser organização internacional de integração, com pendor supra-nacional. As soberanias limitam-se em função da integração de uma entidade supra-nacional. É uma soberania partilhada. Deste princípio decorre o princípio da uniformidade na aplicação do Direito na EU, que tem como corolário o problema das questões prejudiciais suscitadas junto do TJ, e o princípio da efectividade do Direito da União Europeia, que tem como corolários o primado do Direito da EU e o princípio do efeito directo. O princípio da integração consta do 1/1 do TUE e dos pontos 1 e 13 do Preâmbulo.Tem, contudo, como contraponto o princípio do respeito pela identidade nacional dos Estados-membros, que surge com Amesterdão (“a Europa não se fará contra os Estados”, Jean Monet dixit). A pluralidade é política, jurídica e cultural. Os Estados têm, ainda, a Kompetenz Kompetenz. Os Estados continuam a decidir por unanimidade as revisões dos tratados e têm direito de recesso (abandonar a União). A identidade política manifesta-se desta forma.Também se deve respeitar a identidade jurídica. Há já grandes núcleos de matérias que estão comunitarizados. Mas há matérias em que não há harmonização, sobretudo porque na Europa há diferentes famílias jurídicas. A aprovação de um código civil europeu tem tido dificuldades em achar fundamentação, entendendo a maioria dos AA. Que não pode ser imposto, só consentido. O respeito pelos Direitos nacionais tem sido objecto de algumas decisões e pareceres do Tribunal Constitucional alemão. Veio dizer que a Alemanha garante um nível elevado de protecção dos direitos fundamentais, que não poderia ser diminuído por aplicação do Direito comunitário (não há primado sobre o direito constitucional, diz o TC alemão: era um problema de limite do primado).

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A base jurídica é o 4º TUE e o ponto 7 do Protocolo sobre a Subsidiariedade (anexo ao tratado). A dinâmica integração/autonomia jurídica levanta o problema da existência de dois modelos opostos: o modelo federalista (execução do Direito da União feita pela União, modelo de administração directa, existente nos EUA) e o modelo alemão (o direito federal é administrado pelos Estados, lógica de administração indirecta). Na União prima a administração indirecta com laivos de directa.Princípio do respeito pela diversidade cultural dos povos europeus. Não há um povo europeu, há povos. Por isso não há poder constituinte nem constituição. A cidadania europeia é complementar da cidadania nacional. Inexiste uma sociedade europeia, quer de um ponto de vista sociológico, quer no sentido de uma opinião pública europeia.Princípio da subsidiariedade. Significa que só deve ser feito pelos órgãos comunitários o que não puder se feito pelos Estados. Surge com Maastricht e é desenvolvido por protocolos adicionais. Hoje, aflora no 2/2 e 3/3 TUE.Um dos problemas é o da preempção (occupation of the field). A EU pode criar normas no âmbito das suas atribuições (umas exclusivas da EU, outras concorrenciais). Nas concorrenciais pode colocar-se uma questão: a partir do momento em que, em 2008, se disse que Portugal não era capaz de regular uma dada matéria, a EU regulou, chamando-a a si e tornando-a exclusiva, dada a prevalência do Direito “federal” sobre o dos Estados “federados”.Hoje a questão está semi-resolvida. A subsidiariedade aplica-se também nestes casos, com o dever de a União revogar as normas para que o Estado possa voltar a emitir normação. Ademais, só está comunitarizada a matéria expressamente regulada, e não qualquer uma que mereça referência pontual (só as partes de um dado tema que estejam expressamente reguladas, não todo o tema).Princípio da proporcionalidade. Está ligado com o anterior. Só se aplica o da subsidiariedade às situações de competência concorrencial; o da proporcionalidade aplica-se também nas zonas de competência exclusiva. Se for possível regular a matéria através de directiva (dá mais liberdade aos Estados), em vez de regulamentos, a União tem de regular por directiva.Princípio da solidariedade. Existe um interesse comum da comunidade. Os valores dão União são o corolário deste princípio.Princípio da lealdade. Tem de haver lealdade entre os Estados-membros e a EU (comportamento amigo). Fausto de Quadros distingue a vertente negativa (proibição de comportamentos que ponham em causa os objectivos da EU) da positiva (ajudar ou não obstaculizar esses objectivos). Está consagrado no 4/3 e tem como corolário o princípio da boa fé.Princípio do gradualismo. A EU fez-se de acordo com o método funcional (Schuman). Foi avançando por sectores, em pequenos passos. Isto levou a diferentes fases da construção europeia. No Tratado Constitucional a ideia era abandonar o gradualismo e fazer tudo de uma vez. Com Lisboa volta-se à ideia de pequenos avanços.Princípio do respeito pelo adquirido comunitário. Por um lado, quem vai aderir tem de se sujeitar ao adquirido; por outro, quando houver cooperação reforçada e os demais quiserem aceder a esse estágio, terão de o respeitar. Isto mantém-se com Lisboa. O retrocesso seria ou não imposto pelo adquirido, em certos casos? Alguns AA. (Cruz Vilaça) chegaram a defender que era um limite à revisão constitucional. Mas deixou de ser, já que Lisboa proíbe retrocesso.Princípio da integração diferenciada. Tem a ver com o que foi dito acerca da cooperação reforçada.Princípio do equilíbrio institucional. É a ideia de separação de poderes. Tem uma vertente de separação horizontal de poderes (a clássica) e uma vertente vertical (entre a

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União e os Estados-membros). Na horizontal é fácil separar. Na União, o poder legislativo tem de ser partilhado, porque tem de reflectir a legitimidade da integração (Conselho Europeu) e a legitimidade democrática (Parlamento Europeu). O Conselho representa o poder dos Estados; parece poder ser equiparado ao Senado norte-americano. O PE corresponde à Câmara de Representantes, se bem que estes não reflectem proporcionalmente  os Estados. O Senado norte-americano tem dois senadores para cada Estado. Com Lisboa aumentou-se a igualdade, já que desaparecem as ponderações no voto em Conselho (cada Estado tem um voto). Mas terão de se atingir maiorias populacionais, o que é diferente do que se passa nos EUA.O poder executivo também não é detido por um só órgão. Em princípio ele cabe aos Estados. A parte que fica na comunidade cabe à Comissão Europeia, mas também em parte ao Conselho. Não há um recorte como no sistema clássico.O poder jurisdicional é o mais claramente desenhado: reside no TJ. Num caso o TJ disse que a adesão das comunidades ao Conselho da Europa subordinaria o TJ ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, afectando o equilíbrio institucional.Princípio da transparência. Aparece na Declaração 17 do Tratado de Maastricht. Há um Código de Conduta aplicável ao Conselho e à Comissão. Hoje está na Carta, inserido em protocolo anexo ao tratado (11/2, 13/2, 2ª parte).Princípio da economia social de mercado. Vem na esteira da Constituição alemã. Aparece no 3/3: a União tem um programa ideológico em matéria económica. Não é puramente neoliberal, mas garante a economia de mercado.Cidadania europeia. Está consagrada nos tratados. Foi introduzida em 1992 (Maastricht). Está hoje nos 19º e ss. do TFUE. É complementar da cidadania nacional. É-se cidadão europeu porque se é cidadão de um Estado-membro.Há várias formas de a encarar. Jónatas Machado funde a matéria da cidadania com a dos direitos fundamentais. Não é uma boa opção, já que está autonomizada (embora alguns direitos aqui previstos sejam desenvolvidos na Carta): uma coisa são os direitos reconhecidos aos cidadãos europeus, outro são os direitos reconhecidos a qualquer que entre em contacto com as instituições europeias. São matérias distintas, não susceptíveis de tratamento unitário. Entre os princípios constitucionais da UE existe hoje o da protecção do património cultural dos Estados-membros (é objecto, com Lisboa, de referência autónoma).Alargamento. O perímetro subjectivo da UE começou por ser composto por seis Estados-membros (França, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo). Foi assim em 1951 e manteve-se com os Tratados de Roma. Em 1961, a Irlanda, Dinamarca e Reino Unido solicitaram a adesão à CEE. O general de Gaulle, Presidente francês, duvida publicamente da vontade política do Reino Unido aderir às Comunidades. A resposta foi a suspensão do processo. Só em 1967 é que voltam a solicitar a adesão. Em 1972 aderem. Com o primeiro alargamento passam a Nove.Em 1975, a Grécia pede para aderir; em 1977, Portugal e Espanha (Março, Julho). Em 1981 entre a Grécia (segundo alargamento, Dez). Em 1986, Portugal e Espanha (terceiro alargamento, Europa dos Doze – as doze estrelas que constam da bandeira).Em 1987, a Turquia pede; em 1989 a Áustria, Chipre e Malta. Em 1991, a Suécia. Em 1992, a Noruega volta a pedir, agora com a Finlândia. Em 1994, Hungria e Polónia. Em 28 de Novembro de 1994, o eleitorado finlandês volta a rejeitar, em referendo, a adesão. Dá-se, em 1995, o quarto alargamento: Áustria, Finlândia e Suécia (Quinze). Nesse ano, Roménia, Eslováquia, Letónia, Estónia, Lituânia e Bulgária pedem. Em 1996, República Checa e Eslovénia. Em 1998, toma-se a decisão de integrar estes 10 países. Culminaria na adesão de 1 de Maio de 2004: de quinze para Vinte e Cinco. Em 2007, passar-se-ia de vinte e cinco para Vinte e Sete, com a adesão da Bulgária e Roménia.

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Houve alargamentos indirectos: Alemanha de Leste, ilhas ligadas à França). Também um encolhimento (Gronelândia)Cidadania europeia. Há uma série de direitos, consagrados na Parte II (15º e ss.) do TFUE, que sucede ao TCEE. A cidadania europeia é complementar da nacional, porque há “povos europeus”. A cidadania europeia não é originária. Contudo, a UE fixa alguns requisitos que limitam a discricionariedade dos Estados na definição dos critérios para aquisição de nacionalidade. O 20º diz que é cidadão da UE qualquer que tenha nacionalidade de um Estado-membro. Procede ao elenco dos direitos relativos à cidadania europeia. Há direitos atribuídos a todas as pessoas que tratam com a UE. Mas não são direitos de cidadania. Esses são os de circular e permanecer livremente no território dos Estados-membros (a)), eleger e ser eleito (b)), recorrer aos serviços de representação diplomática de um Estado-membro em países em que o seu Estado não assegura protecção diplomática (c)), direito de dirigir petições ao PE, recorrer ao Provedor de Justiça, direito de iniciativa legislativa.Alguns direitos enumerados pela doutrina (proibição de discriminação, direito à boa administração, etc.) não são verdadeiramente matéria de cidadania. Serão direitos fundamentais, princípios gerais. O caso da boa administração aplica-se a todas as pessoas que contactem com as instituições europeias, mesmo que não sejam cidadãos (tal como, p. ex., o direito de acesso aos documentos).Direito de livre circulação. Podem circular por todo o espaço Schengen. O acordo salvaguarda também a abrangência a alguns Estados não comunitários. Até 3 meses, pode-se circular e permanecer em qualquer Estado-membro, sem qualquer formalidade. O problema da residência é também direito de cidadania, mas não é sem qualquer formalidade. Por mais de 3 meses já é necessário o registo (a ratio é impedir o congestionamento dos serviços dos Estados-membros (hospitais, etc.)), mediante prova de capacidade económica. Os filhos têm o direito a permanecer no território dos Estados-membros, para continuar a escolaridade, p. ex. Pode-se exercer actividade assalariada noutro Estado-membro. É decorrência, também, do direito de livre exercício de actividade profissional. Os cidadãos europeus que residem mais do que cinco anos adquirem automaticamente direito de habitação permanente e não condicionado. A entrada de cidadãos de Estados terceiros só é conexa com a questão da cidadania se se tratar de reunião ou reconciliação familiar.Direito de eleger e ser eleito (para eleição do PE e dos municípios no Estado-membro de residência). É matéria desenvolvida, para além dos 20º - 22º TFUE, pelos 39 e 40º da Carta dos Direitos Fundamentais. É concretização do princípio democrático. Prevê-se a existência de princípios comuns para o sufrágio universal e directo. Contudo, não existe ainda um processo eleitoral uniformizado.A CRP (15º) prevê norma que contraria os tratados. Fala numa ideia de reciprocidade. Mas o Direito da UE diz que se o outro Estado-membro não der, nós temos de dar à mesma, sob pena de incumprimento.A questão das eleições municipais está tratada no 22º e é desenvolvida pelo 40º. Há derrogações: se o Estado-membro tiver um número de residentes não nacionais superior a 20% do total (caso do Luxemburgo, p. ex.). O 15º CRP faz também depender este direito de uma reserva de reciprocidade. Mas não é conforme ao DUE.Protecção diplomática e consular (20/1/c) e 23º). Não é matéria já concretizada em regulamento ou directiva. Mas rege já como princípio geral.O direito de iniciativa legislativa dos cidadãos surge no 11/4 TUE. Um milhão de cidadãos nacionais dos Estados-membros pode desencadear o procedimento legislativo. O 24º TFUE prevê apenas que se deve regulamentar este direito de iniciativa (p. ex.,

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prevendo um número mínimo de Estados-membros de que devam provir esses cidadãos, para garantir que é mesmo europeia). É direito novo, surge com Lisboa.Petições e queixas. São direitos de participação política e administrativa. Fausto de Quadros diz que só se fala de direitos e não de deveres. Fala numa extensão subjectiva e de uma extensão material dos direitos de cidadania. O direito de circulação e residência pode ser estendido a familiares que não sejam cidadãos europeus (subjectiva). O direito de petição e o direito de queixa são, em princípio, de cidadania; contudo, em certos casos são atribuídos a todos os residentes (FQ chama-lhe extensão material; L. Freitas entende que só faz sentido falar de extensão porque são expressamente previstos como direitos de cidadania).É possível que as instituições aprofundem os direitos de cidadania e criem direitos novos, mediante iniciativa legislativa (extensão material).Protecção dos direitos fundamentais. A preocupação inicial não era a protecção dos direitos. A preocupação era económica. Havia, contudo, liberdades consagradas, de que faziam parte direitos fundamentais. Esperava-se que a parte económica fosse complementada com a parte política. Mas, com a criação do Conselho da Europa, deslocou-se o pilar político para outra esfera.Contudo, à medida que a administração europeia se começa a complexificar, volta-se ao problema. O grande motor passou a ser a jurisprudência. A construção dos direitos fundamentais é pretoriana. Há uma série de acórdãos que marcaram este processo. Num caso de 1969 não se pôs em causa a conformidade da prática com os direitos fundamentais. Mas é a primeira vez que é considerado que a CEE respeita os direitos fundamentais.O caso Internationalles HandelsGesellschaft (1970) é o primeiro vector claro da protecção: a CEE protege os direitos fundamentais tal como eles estão consagrados nas constituições dos Estados-membros. O caso Nold (1974) e Rutili (1975) vêm dizer que a UE protege os direitos fundamentais tal como estão consagrados na CEDH. São duas linhas de protecção. As Comunidades não aderiram, contudo, à CEDH, o que levanta dificuldades.A UE tentou aderir. Mas a adesão a uma organização internacional depende de parecer favorável do TJ. Este deu parecer negativo à adesão ao Conselho da Europa: para aderir, a UE teria de ter competência em matéria de direitos fundamentais; a adesão punha em causa o princípio do equilíbrio institucional. Lisboa prevê, hoje, a adesão. Contudo, não há grande relevo da não adesão: foi recebida a jurisprudência. Os acórdãos na UE vinculam todos os tribunais (precedente, mas o TJ não fica ele próprio vinculado), ao contrário do que acontece em muitos Estados-membros. Alguns AA. vieram questionar a construção dos direitos fundamentais: teria servido apenas para alargar o âmbito da competência da UE e não tanto para proteger direitos.O acórdão Wachauff diz que a protecção dos direitos fundamentais se faz tendo em conta aqueles dois vectores.Depois desta evolução, Maastricht vem positivar esta matéria, em termos próximos do que resultava da jurisprudência: é o actual 6º/3 TUE (Lisboa). Consagra aquela dualidade: tradição constitucional dos Estados-membros e CEDH). O 7º consagra uma garantia política do respeito pelos direitos fundamentais.

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Tratado Spinelli. Spinelli era deputado europeu independente na lista italiana do Partido Comunista. Era federalista. Apresentou um projecto de revisão que o PE aprovou em 14 de Fevereiro de 1984, que retomava os planos anteriores da vertente federalista. Tratou-se de um tratado aprovado pelo PE e não feito pelos Estados. Spinelli criou um tratado que criaria uma UE de cariz federal e conseguiu uma maioria na câmara. Tinha uma cláusula que dizia que se fosse ratificado por 4/5 dos Estados-membros, o Conselho deliberaria o que fazer. Só entraria em vigor (automaticamente) com todas as ratificações. Obteve algumas. Mas com a lentidão da ratificação do tratado chegou-se à aprovação, em Dezembro de 1985, do Acto Único Europeu, que criou os mecanismos necessários para o mercado único (que chegaria em 1/1/93).Princípios constitucionais. Gomes Canotilho, FQ e M. R. Sousa aceitam que há princípios constitucionais no DUE. Os outros AA. dizem que não, porque não há constituição formal. FQ entende que não há constituição formal na UE. Mas existe uma constituição material: conteúdo que tem um simile com as constituições dos Estados-membros (regras que atribuem competências à UE, uma certa separação de poderes, fixação de direitos, garantia da legalidade comunitária e dos direitos dos cidadãos, com acesso directo à jurisdição comunitária). Os AA. britânicos falam numa constituição material; os alemães falam em princípios constitucionais. São princípios básicos que têm força de Constituição, mesmo não havendo uma. O TJ já reconheceu. Começou cedo a falar nos tratados como constituição material.Valores. Os valores e princípios constitucionais eram extraídos pela doutrina. Hoje, o 2º TUE diz expressamente quais são os valores. Há muitas Constituições que não assumem que na sua ordem jurídica primam os valores (realidade axiológica que prevalece sobre a própria Constituição). A CRP também não o faz. O Documento Penélope dizia que a UE passaria a ser uma comunidade de valores morais e espirituais. Esta expressão não ficou no TUE. Mas ficou a referência aos valores. Por definição, são os pilares máximos da UE. Alguns princípios constitucionais foram, até, elevados a valores.Nos princípios constitucionais destacam-se dois. No plano Schumann e nos tratados está pensada uma dialéctica entre a vertente integração e a identidade nacional dos Estados-membros. Consta dos tratados a obrigação de a UE ajudar os Estados-membros a manter a sua identididade nacional, respeitar a sua cultura, história, fronteiras, etc. O princípio da subsidiariedade diz que a UE só vem assumir a arrumação da casa quando o Estado não o consiga fazer. Mas quem deve defender a identidade nacional são, essencialmente, os Estados. Monet dizia que a Europa não se faria sem os Estados e muito menos contra eles.Economia social de mercado. Foi inspirada na economia social de mercado alemã, que permitiu aos germânicos reerguer-se após a IIª Guerra. Hoje é o 3/3 TUE que assume por escrito que é o sistema social da UE. Já não é um valor apenas achado pelos Autores.Trata-se de economia não planificada. Mas não é economia de mercado selvagem. É social. Significa economia ao serviço da pessoa humana, dos direitos sociais, e não tendo-os como objecto. É economia de concorrência fortemente controlada. Passou a ser o sistema económico e social, mais do que valor ou princípio constitucional. É um sistema de equilíbriosCidadania. Até Lisboa, o conceito de democracia na UE era a democracia representativa, com apogeu no PE. Agora, na cidadania, incluíram-se dois traços que são de democracia participativa. Por um lado, o direito de iniciativa popular: 1M de cidadãos de vários Estados-membros podem dirigir iniciativa popular à Comissão, não estando definido se a Comissão tem de dar seguimento ao pedido. Se 1M de cidadãos representar vários Estados-membros, FQ entende que será difícil não dar seguimento. O

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PE tem 3 grandes partidos: PPE, PSE e Liberais. Esses não deverão agarrar na iniciativa. Mas as franjas agarrarão na bandeira, fazendo pressão sobre a Comissão. Contudo, ainda não se verificou qualquer caso.O 20/2/d), 3ª parte, e o 24º/3 TFUE dizem que qualquer cidadão pode dirigir a qualquer órgão da UE uma petição, com direito a resposta rápida e na própria língua. Todas as línguas oficiais são línguas da UE. Há um projecto para limitar essas línguas oficiais, dados os custos de tradução, às línguas nacionais de Estados com 30M pelo menos (francês, italiano, alemão, espanhol, inglês e polaco). FQ entende que deveria triunfar o princípio de que, num mundo global, deve pesar também na União o peso da língua a nível mundial, o que permitiria incluir o Português (falado por 220 milhões).Os outros direitos de cidadania beneficiam largamente Portugal. A livre circulação beneficia Estados de emigração, como é o nosso. Nos dias de hoje, está a aumentar de novo. Os emigrantes são cidadãos europeus. O direito de eleger e ser eleito em sufrágios municipais não constava da CRP. Mas a França e o Luxemburgo já previam antes de isso ser possível pela cidadania europeia. Quando a CRP veio dizer que os cidadãos europeus não portugueses podem votar e ser eleitos, veio fazer algo que certos países já haviam feito.No quadro da cidadania, qualquer cidadão europeu tem protecção diplomática e consular em países nos quais o seu Estado não tenha representação. Portugal tem cerca de 80 embaixadas, cobrindo cerca de 95 países. E os restantes? Nesses, os portugueses podem recorrer à protecção diplomática de outro Estado-membro.Protecção dos direitos fundamentais. É um dos valores do 2º. Lisboa inclui nos Tratados a Carta dos Direitos Fundamentais. Desde o início das Comunidades se referem os direitos económicos, as quatro liberdades. Será o TJ, com base no espírito e letra dos tratados, quem constrói a primeira teoria acerca da protecção dos direitos fundamentais. O caso básico é o Wachauff. Os três vectores cuja soma constitui a protecção dos direitos fundamentais são o direito internacional dos direitos do Homem (Declaração de 1948, Pacto de 1966); Convenção Europeia dos Direitos do Homem; tradição constitucional dos Estados-membros.Depois de uma primeira fase em que as Constituições não estavam preparadas para aceitar um poder que lhes fosse superior, passou a haver cruzamento entre o direito comunitário e os ordenamentos nacionais. As tradições constitucionais vigorariam como princípios gerais de direito comunitário que não estavam escritos.Houve um primeiro esforço jurisprudencial para afirmar a existência de direitos fundamentais na UE provindos de convenções internacionais sobre direitos do Homem e das Constituições (acompanhado pela jurisprudência constitucional dos Estados-membros, nomeadamente alemã e italiana). O TJ começou a afirmar o primado do DUE sobre os direitos nacionais. Colocados perante essa questão, os tribunais constitucionais italiano e alemão obstaram uma reserva: daí nunca poderia advir prejuízo ou dano para os direitos fundamentais. A norma comunitário menos favorável não primaria. O TJ aceitou. Os tribunais constitucionais passam a aceitar há um acervo de direitos fundamentais nas Comunidades.O grande salto dá-se com o TUE de Maastricht (1992). Abandonou-se a integração meramente económica, porque se estabeleceu quem em 1999/2002 se atingiria a integração económica e monetária total, cabendo alargá-la a outras áreas (social, cultural, etc.). O TUE dedica-se, pois, aos direitos fundamentais. O artigo F/2 consagrava a doutrina do caso Wachauff: os direitos fundamentais eram princípios gerais de direito comunitário. Com Amesterdão, o F/2 é antecipado pelo 6/1: a UE assenta no princípio do respeito pelos direitos fundamentais. O nº 2 veio dizer que eles eram os consagrados nos Tratados e nas Constituições dos Estados-membros. O 1º

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parágrafo do 49º consagra os critérios de Copenhaga (para os novos Estados de leste poderem aderir): qualquer Estado novo tem de respeitar os direitos fundamentais, economia de mercado e democracia política e parlamentar. Os Estados de leste tinham de destruir a sua estrutura comunista. Os direitos fundamentais são um dos filtros à adesão (tem excluído, p. ex., a adesão da Turquia). O 7º TUE também sofreu alteração com Amesterdão. Previu-se que o Conselho poderia aplicar sanções políticas aos Estados-membros que violassem reiterada e gravemente os direitos fundamentais. Foi proposta de três Estados, entre os quais Portugal, pela mão de André Gonçalves Pereira. Sanções políticas como privação de direito de voto no Conselho. Também na comunidade económica europeia se previa esta sanção (309º TCE).Direitos sociais. O 4º do Preâmbulo de Amesterdão vem dizer que a União absorve os direitos sociais fundamentais previstos na Carta do Conselho da Europa. Aprofundou os direitos fundamentais e alargou os direitos sociais.O espaço de liberdade, segurança e justiça foi criado por Amesterdão. A esse propósito surgiu o EUROJUST. Pretende-se combater a criminalidade na UE de forma concertada e cooperante. Há um mandato de detenção europeu, facilidades na transferência de prisioneiros, com grande celeridade.A expressão de ELSJ é feliz: não há uma sem as outras. Liberdade de circulação, mas com segurança; segurança sem abater totalmente as liberdades. É liberdade para o bem, não para o crime. Daí as reservas de ordem pública, saúde pública e segurança pública. Quem criou este pelouro foi o comissário António Vitorino, gerindo-o pela primeira vez. Amesterdão vem conciliar os três factores. É o grande tratado em termos de direitos fundamentais. Nice introduziu alguns aperfeiçoamentos. Em primeiro lugar, o 7º Amesterdão permite sanções por violação grave ou persistente. Nice vem dizer que o risco de violação grave já permite sanções (se bem que mais suaves: recomendações ao Estado-membro para que corrija o comportamento). As sanções políticas mantêm-se para as violações graves. Em segundo, o 181-A do TCE dizia que a política da Comunidade no domínio externo contribuiria para o objectivo de melhorar a democracia e o respeito pelos direitos fundamentais. As Comunidades já o faziam. Criticava-se que as Comunidades ingerissem nos assuntos internos (mas quem não quisesse a ajuda das Comunidades não a pedisse, não se sujeitando às contrapartidas).O Tratado de Lisboa apela a valores (2º). Os direitos fundamentais são sobrevalorizados, perpassam ao longo dos valores (democracia, liberdade, respeito pela dignidade humana, respeito pelos direitos do Homem). A dignidade humana é o expoente máximo dos valores. São valores comuns aos Estados-membros. O 3º diz que se estendem às relações externas da UE. Tem de os fazer triunfar, nunca abdicando deles. Não pode manter relações meramente económicas. A UE tem respeitado; alguns Estados-membros é que não. Não se pede à UE que corte relações com Estados que não são democráticos, já que pode, até, ajudar. Mas pode-se pedir que oriente as relações de forma a fazer prevalecer esses valores.Lisboa integra nos Tratados a Carta dos Direitos Fundamentais. A UE passa a ter um catálogo de direitos fundamentais. Já era tempo. Em segundo lugar, continua o 6º a apelar para a tradição constitucional dos Estados-membros, como princípios gerais. Lisboa tem vários artigos que destacam alguns direitos de modo especial. P. ex.: direitos de minorias étnica e sociais (2º); igualdade de género (3/2 TUE); direitos da criança (3/3 TUE); direito ao ambiente e ao desenvolvimento sustentável (11 TFUE); direito dos consumidores (11 TFUE); direito de igrejas, associações, comunidades religiosas, associações filosóficas, etc., a autonomia.

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No ELSJ, Lisboa trouxe de novo a insistência no respeito pelos direitos fundamentais na condução do ELSJ. Isto surgiu com a questão de Guantánamo presente na opinião pública internacional. A democracia tem as suas regras. Impede que se responda a não democratas com as mesmas armas com que nos atingiram. Vem-se dizer que é preciso assegurar os direitos fundamentais e o equilíbrio entre as tendências libertárias e securitárias.O 7º, que permite sanções políticas, vem agora dizer que o Estado sancionado pode recorrer para o TJ (169º TFUE).Carta dos Direitos Fundamentais. Era o corolário da circunstância de a UE ter deixado de ser só económica. Em 2000 estava terminada. Não foi um tratado internacional. Convocou-se uma convenção (bebendo na tradição norte-americana e francesa), composta por quatro tipos de representantes: representantes dos chefes de Estado e de Governo; dos Parlamentos nacionais; do PE; da Comissão Europeia. Eram, ao todo, 62 membros. A discussão pública foi colocada na Internet, tendo sido levadas em conta várias sugestões de aperfeiçoamento.É uma proclamação do Conselho, PE e Comissão. Não é um tratado internacional. Assim, não teve de ser ratificada. Os Estados-membros participaram na sua feitura e, nessa sede, deram o seu apoio. Foi aprovada na cidade de Nice e incorporada no Tratado Constitucional. O texto original sofreu algumas alterações em 2000: insistia-se que a UE não tinha criado novas competências (o que imporia a ratificação); passou-se a falar em direitos e princípios. A pedido do Reino Unido, ficaram anexos à Carta as anotações. O Presídio que encabeçou a convenção foi fazendo apontamentos, que o Reino Unido entendem serem úteis para a interpretação.Quando fracassou o Tratado Constitucional, o Reino Unido apontou como causa a inclusão da Carta no texto do tratado. Entende que alguns direitos são muito onerosos. Ademais, sustentou que alguns não fazem sentido porque a sua ordem jurídica já os previa. Tanto insistiu que, com Lisboa, se colocou a Carta numa declaração anexa, onde se diz que ela é parte integrante do tratado.FQ entende que é o texto mais avançado em termos de direitos fundamentais: aprofunda os clássicos e consagra novos. Agrupa direitos por categorias (6): dignidade, liberdade, igualdade, solidariedade, cidadania e justiça. Mesmo assim, vem dizer que respeita os direitos provindos do DIP, CEDH e dos direitos constitucionais. Diz que se limita a codificá-los, aperfeiçoando-os. O Preâmbulo e o 7º da Carta dizem que ela se aplica a todos os que estão sob a jurisdição dos Estados-membros e não só aos cidadãos europeus. Não tem apenas 500 milhões de destinatários. FQ entende que para direitos fundamentais não pode haver falta de dinheiro. Quando os Estados cortam nos direitos fundamentais têm de cortar paralelamente nos seus excessos (proporcionalidade nos cortes). Os direitos fundamentais fazem parte do progresso económico, social e cultural dos povos europeus.A Carta junta num só texto direitos civis, políticos, sociais, culturais e económicos. As Constituições separam-nos e subvalorizam os últimos. Também no direito internacional: a ONU não celebrou senão dois pactos, um sobre direitos civis e políticos e outro sobre direitos sociais e económicos, e para entrar em vigor apenas dez anos depois. Com a Carta vem-se consagrar, pela primeira vez, as cinco categorias de direitos num só texto.Conteúdo. A Carta quis dar aos cidadãos europeus um texto actual. Vai buscar alguns direitos das Constituições e da CEDH, reformulando-os, ou cria direitos novos. O 1º diz que a dignidade do ser humano é inviolável. O 2º estabelece o direito à vida e a proibição total da penal de morte. O 3º estabelece direito à integridade física e mental do ser humano, o que engloba manipulações genéticas. O 4º estabelece direito à liberdade e segurança. O 8º consagra o direito à protecção dos dados pessoais. O direito

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de contrair casamento e constituir família está também previsto. Vigora subsidiariedade: são os direitos nacionais que dizem o que é casamento e família. Os pais têm liberdade de educar os filhos consoante a sua cultura. O 15º reconhece o direito de escolher livremente a profissão. O 17º fala em justa indemnização no caso de expropriação: valor de mercado do bem expropriado. 20º, 21º e 23º proíbem todas as formas de discriminação, em razão da nacionalidade, género, credo, etc. O 24º consagra o direito das crianças ao bem-estar. O 25º determina que aos idosos é reconhecido o direito a uma existência condigna e independente. A protecção dos deficientes está também prevista: direito à autonomia, integração e participação na vida económica e social. O 37º consagra o direito de todos poderem conciliar a vida pessoal com a profissional e a igualdade entre homens e mulheres na maternidade.É reconhecido o direito ao ambiente. Mas ambiente conjugado com o princípio do desenvolvimento sustentável. Não é o “ambiente” em que não há lugar a construções ou transportes; mas também não é “construções, construções, construções”. É possível haver urbanização e desenvolvimento com equilíbrio. O 41º consagra um direito à boa administração: soluções boas, baratas e adequadas. A Carta aparece em 2000. Surge como documento jurídico. Coloca-se o problema da sua vinculatividade. Alguns Estados-membros entendem que a Comissão tem sempre de fundamentar as suas propostas com o preceituado da Carta. Alguns tribunais constitucionais tornaram a Carta ponto de referência, incluindo o nosso.Interpretação e aplicação da Carta. Os destinatários (51º) são os órgãos, organismos e instituições da EU e Estados-membros, quando apliquem o DUE. Quando uma pessoa invoca o direito da Carta perante os tribunais dos Estados-membros, tem de demonstrar que no caso o Estado tinha de aplicar o DUE. Não quer dizer que nunca se pode invocar a Carta. Se o Estado aplicar ao cidadão normas de direito da concorrência, p. ex., ou quando uma norma nacional transpõe uma directiva da EU, pode-se impugnar. Se for uma relação puramente de direito nacional, pode-se apenas recorrer à CEDH. É um travão à aplicabilidade da Carta.Alguns destes direitos não são direitos, mas princípios. Os direitos são faculdades, são reclamáveis. Os princípios são tolerados, e não faculdades de exigir comportamentos. O Reino Unido resolveu pedir que alguns direitos sociais não fossem consagrados. O Reino Unido já sabia que os não cumpriria: são muitos caros. Alguns direitos sociais passaram, pois, a princípios.A quem se aplica a Carta? Parecia que os direitos de cidadania (35º e ss.) só se aplicavam aos cidadãos da União, a não ser que o artigo dissesse o contrário. No direito de eleger e ser eleito, só se fala dos “cidadãos da EU” e não dos seus familiares. Já no direito de livre circulação e permanência, fala-se de estrangeiros. O direito de acesso a documentos também. Tem de se ver quais os direitos que assistem estritamente aos cidadãos europeus.O 52/1 é importado da Constituição alemão e encontra-se no 18/2 CRP. É a garantia do conteúdo essencial do direito. Mesmo quando o direito seja limitado, há violação quando se atinge o seu conteúdo essencial. A substância do direito fica afectada como se ele tivesse sido retirado.A Carta aparece acompanhada de anotações, que o Reino Unido pediu que fossem publicadas com a Carta. Não são direito obrigatório. São elementos que ajudam a interpretar o conteúdo dos preceitos. É com recurso a elas que se sabe que a Carta não toma posição sobre aborto, família, etc. O 54º consagra o nível mais alto de protecção na Carta. Se houver um direito que seja melhor protegido por outra fonte, a própria Carta diz que não se aplica o seu regime.

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Há, na CRP, um direito que não está na Carta: proibição de lock out. António Vitorino até foi confrontado pelos partidos da esquerda. Disse que em 36 anos nunca houvera lock out; ademais, referiu que o 53º sempre remeteria para a CRP.O Reino Unido e a Polónia têm cláusulas de opting out. Têm um Protocolo em que dizem que não aplicam a Carta. O Reino Unido é muitas vezes vencido na feitura dos actos de direito derivado, mas não deixa de ser o primeiro a cumprir. Participa activamente, perde muitas eleições, mas tem o nível mais alto de aplicação do DUE. Veio dizer que há direitos que já consagra ou que são muito caros. Ademais, o Reino Unido é muito reticente em relação à integração. A Polónia invocou os direitos de família consagrados na Carta. Entendeu que a Carta não proibia o aborto, o que não aceita.Desde Maastricht que a Irlanda conseguiu integrar um protocolo anexo, relativo ao 40/3/8 da Constituição irlandesa: o artigo que proíbe o aborto. Conseguiu que a sua proibição fosse respeitada.Lisboa vem permitir expressamente que a EU adira à CEDH. É uma questão muito discutida. Entendia-se que o DUE estava enfraquecido por não ter um catálogo de direitos fundamentais: deveria aderir. Hoje, Lisboa prevê expressamente. Mas qual a utilidade no dia de hoje? A CEDH até protege menos… Não é contrário ao princípio da uniformidade injectar no DUE (baseado na soberania dos Estados) direito internacional? Na Carta, há acesso directo ao TJ; na CEDH tem de se preencher os meios de recurso interno. Esta questão foi discutida antes. O TJ sempre entendeu que sem preceito escrito a adesão não se poderia verificar, já que a EU não tinha competência autónoma. Alguma doutrina dizia (FQ incluído) que se deveria comunitarizar a CEDH sempre que suprisse lacunas da Carta. O TJ aplicaria a CEDH para integrar lacunas. FQ entende hoje que a EU deve aderir.Primeiro, um cidadão queixa-se ao TEDH de que o seu Estado violou a CEDH ao aplicar DUE. Nesse caso, a EU tem de ser parte no processo. Para que o seja, tem de aderir. A EU tem de ser parte na CEDH para poder ser demandada, de forma a poder defender o seu acto.Segundo, o 263º TFUE diz em que casos se pode recorrer de actos da EU para o TJ. Mas a legitimidade dos cidadãos é menor do que a dos Estados-membros e órgãos comunitários. Pode acontecer que um acto tenha de ser impugnado perante o TEDH, quando igual direito não pode ser impugnado perante o TJ, porque a legitimidade não é plenaA adesão vai ser muito difícil. Todos os Estados-membros da CEDH teriam de ratificar o protocolo de adesão da EU. O Conselho Europeu teria de aprovar por unanimidade. O tratado de adesão da EU à CEDH teria de ser ratificado pelos Estados-membros e pelos Estados parte na CEDH.A EU não “adere” à CEDH, como diz o 6/2. Não adere por força do tratado. O adére francês tem sentido futuro. Traduziu-se por “adere”, que não tem aquele sentido. A Espanha tentou, durante a sua presidência, que se procedesse à adesão – sem sucesso.A EU tem de se poder defender quando seja dirigida queixa ao TEDH com fundamento na circunstância de um acto de um Estado-membro violar a Convenção, quando aplica direito comunitário. É a primeira razão.O artigo 263º restringe a legitimidade para recorrer ao TH. Está previsto o alargamento da legitimidade aos cidadãos. Enquanto isso não acontece, é legítimo conceder a possibilidade aos cidadãos de sindicar junto do TEDJ actos dos órgãos comunitários que violem a CEDH. Como os direitos da CEDH estarão em princípio na Carta, é melhor isso do que nada. Prevê-se criar um tribunal especial só para conhecer questões de direitos fundamentais. Esta é a segunda razão.

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A terceira é a seguinte. Não faz sentido na EU exigir-se a exaustão dos meios internos. Não liga com o espírito das garantias da União. Não há exigência de exaustão dos meios internos. A CEDH impõe. Fazê-lo seria um rebaixamento do nível de protecção. Mas é contornável. O 263º permite a impugnação mas não prevê os recursos de direito interno. O DUE pode não ter mais meios a esgotar. FQ junta-se hoje à maioria dos AA. Na prática não funciona o obstáculo da exaustão dos meios internos.Poderá surgir o direito europeu dos direitos fundamentais? Na doutrina estrangeira, há quem seja contra a Carta, porque alegam a existência de duas velocidades na Europa. “Mas se há duas classes, que os ricos queiram continuar ricos e que ajudam os pobres a chegar a ricos. Um país só será rico se tiver gente rica a pagar impostos de gente rica. Os países ricos não devem ter complexos por ser ricos. Se há duas classes, não combatamos a primeira” – Fausto de Quadros.Há uma possível incongruência entre a Carta e as Constituições. A própria Carta diz que se deve aplicar a Constituição quando esta seja mais favorável. Não há incongruência. Todavia, um Prof. alemão pesquisou várias Constituições e descobriu que não há nenhuma que proteja direitos melhor do que a Carta.Garantia judicial da Carta. Pode-se fazer uma de duas coisas: se a violação dos direitos fundamentais partir de um órgão da EU, tem-se acesso ao recurso de anulação do 273º. Se houver da parte de um Estado-membro, recorre-se para os seus tribunais. Tem de se demonstrar que a violação, sendo questão de DUE, é sindicável pelos tribunais nacionais.Deveres? A grande crítica que se faz à Carta é que para os Estados-membros com democracias mais recentes, mais frágeis, não há deveres previstos na Carta. No Preâmbulo diz-se que todos os direitos têm, como contrapartida, um dever. É preciso, também, que ao direito seja dado um conteúdo. Não se pode ter o direito ao trabalho sem o dever de trabalhar.Outros dizem que os direitos da Carta são caros. Mas há um princípio de proporcionalidade. O Estado tem de ponderar como há de limitar gastos noutros campos, para que os direitos não deixem de ser pagos. É um princípio de bom senso. Ex.: 70M€, o montante dos gastos com TGV previstos para este ano, são o valor que se prevê poupar com o congelamento das pensões. Os dirigentes europeus e nacionais têm um mandato temporalmente limitado, não têm mandato para legislar para daqui a décadas. O TUE fala na necessidade de observar deveres para com os vindouros.União Europeia. Tem personalidade jurídica, expressa no Tratado. FQ entendia que já tinha (tinha poder de celebrar acordos internacionais). Tem os seus objectivos. Eram muito mais pormenorizados com Nice.Atribuições. Na linguagem do Tratado, são “competências”. A pessoa colectiva tem atribuições, os órgãos têm competências. Mais uma vez traduziu-se a “competência” francesa. Antes de Lisboa, o sistema de atribuições previa as exclusivas da EU (tinham passado dos Estados-membros para ela), onde os Estados-membros tinham perdido soberania. Eram criadas pelo TJ, não estavam nos tratados. Paralelamente, previam-se as concorrentes ou partilhadas, em que os Estados-membros tinham a primazia da prossecução. Só se não conseguissem é que a EU substituiria os Estados, por incapacidade ou insuficiência destes. A soberania dos Estados não se conhece em abstracto. Não há linha rígida que separe a integração da soberania. Se os Estados-membros prosseguem as atribuições, são eles que, segundo os seus critérios nacionais, tomam conta delas. Se não foram capazes, a EU invade a esfera. Se, p. ex., a Suécia e Holanda têm uma linha de soberania X, outros países, menos capazes, terão linha de soberania X – 2. Também matérias não reguladas pelos tratados são exclusivas dos Estados-membros (direito da família, p. ex.).

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Com Lisboa isto mudou. O 2º TFUE elenca as novas categorias de atribuições da EU. Há atribuições exclusivas, ainda: só compete à EU prosseguir. O 3º diz quais são as exclusivas, o que é uma novidade. Aí absorveu a jurisprudência do TJ. Os Estados perderam, nessa matéria, soberania. A existência de atribuições exclusivas não significa que não fiquem para os Estados pontos de regulamentação. O 4º fala nas atribuições concorrentes ou partilhadas. Não se elencam todas, só as mais importantes (os Estados ainda têm primazia nas matérias mais importantes). Só se não forem capazes é que a EU intervém. O critério é o da subsidiariedade. As atribuições, embora da EU, são prosseguidas primeiramente pelos Estados. É uma visão descentralizadora.Lisboa cria, no 6º, as chamadas atribuições de coordenação e complemento (a EU apoia os Estados-membros na feitura de certas coisas, já que nessas áreas dificilmente fariam bem sozinhos). Passou a haver uma competência exclusiva dos Estados-membros. O 4/2 TUE diz que a “segurança nacional” é da exclusiva competência de cada Estado. Se Portugal não se armar, apesar de todo o protesto que isto levanta, não será a EU quem vai providenciar a defesa, já que não tem política comum de defesa e segurança. Passou a haver, escondida no TUE, uma atribuição exclusiva dos Estados.Dentro das atribuições exclusivas, o 3/2 TFUE vem dizer que, na medida em que se tornam competências exclusivas, isso se reflecte externamente. Perdendo os Estados competência dentro da EU, perdem também competência para celebrar convenções internacionais nessa matéria. O TJ já vinha estabelecendo este princípio. Lisboa veio consagrá-lo. Não faria sentido que dentro da EU os Estados perdessem a competência e depois viessem celebrar tratados nessas matérias: paralelismo entre atribuições internas e externas.Nas atribuições concorrentes ou partilhadas, a energia e a política espacial são novas. A EU continua dependente do petróleo. Espera alcançar até 2050 o aprovisionamento de energia com independência (auto-suficiência). A energia passou a estar contemplada, mas com objectivos apenas para 2050. A matéria espacial é também partilhada. A EU quer participar activamente na descoberta espacial.Subsidiariedade. O princípio da subsidiariedade passou a estar escrito no 3-B do Tratado de Maastricht. Hoje está no TFUE e no 5/3 TUE. É questão muito importante. Foi incluída na CRP como princípio constitucional.Tem-se escrito muito sobre a matéria. Maastricht foi aprovado em 1991. Um tratado é aprovado nas suas linhas gerais, sendo que vem a ser concretizado nos meses seguintes. Em 1 de Janeiro de 1992, Portugal assumiu a presidência rotativa da EU. Portugal teve de redigir Maastricht. FQ era o único jurista na comissão de assessoria a Cavaco Silva. Tratou pelo telefone com os assessores de Helmut Kohl e de Margareth Tatcher. Orientou a questão da subsidiariedade.Subsidiariedade é descentralização. Mas o Estado português é centralizado. Pedimos à EU que faça uma coisa que nós não fazemos. A subsidiariedade só se aplica às atribuições concorrentes. A EU intervém apenas se e na medida em que os objectivos não consigam ser alcançados pelos Estados-membros. Prevalece para prossecução dos fins consagrados no Tratado de Lisboa a competência dos Estados, ao nível central, regional e local. Se o Estado não fizer bem, a EU entra em acção. Os consumidores saem beneficiados. Exige-se qualidade. Se o Estado é medíocre, a EU intervém, para garantir a qualidade. A filosofia é de aumento da qualidade dentro dos Estados para que a EU não tenha de intervir.Quanto à parte final do artigo, levanta-se uma questão: basta que um ou dois Estados-membros não consigam para que a EU se substitua aos 27? Não. A filosofia é primeiro ajudar os que ficam para trás a apanhar o ritmo. É preciso que a insuficiência se situe a um nível geral (entre 12 e 15 Estados).

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Se os Estados perdem a intervenção numa dada matéria, perdem para sempre? Compara-se com a preempção no sistema norte-americano. Não há subsidiariedade. Há um poder do Congresso que leva a que a União absorva algumas atribuições dos Estados, precludindo para sempre a atribuição aos Estados. É a chamada preempção. Na EU não é assim. Subsidiariedade não é preempção. Os Estados podem recuperar as suas atribuições: a subsidiariedade não é irreversível. É aqui que se trava a batalha da soberania. Se os Estados quiserem mantê-la, devem ser capazes de cumprir.A subsidiariedade é um princípio descentralizador. Cria um risco. Temos centralização interna a descentralização externa. O nível central do Estado afoga-se: tem muito para fazer internamente e terá de trabalhar muito para não perder atribuições para a EU. Tem de assegurar a centralização administrativa e as ambições comunitárias de descentralização.Este preceito é complementado pelo Protocolo sobre a subsidiariedade e a proporcionalidade e pelo Protocolo sobre o controlo da subsidiariedade pelos Parlamentos nacionais. É à EU que cabe o ónus de demonstrar que a atribuição está a ser mal prosseguida pelos Estados. A subsidiariedade é sindicável pelos cidadãos. Se um acto for praticado pela EU sem que esta tenha demonstrado a insuficiência, pode ser impugnado no TJ.Há um outro sentido de subsidiariedade: respeito pela história, cultura, tradições e princípios dos Estados-membros. Esta referência desapareceu com Lisboa, já que se entende que faz parte do respeito pela identidade nacional. Há que, depressa, fazer bem o trabalho de casa para dispensar a intervenção da EU. Se queremos continuar soberanos, temos de cumprir as nossas obrigações. A intervenção da EU nos Estados-membros está (5 TUE) limitada pelo princípio da atribuição (especialidade). A EU só tem atribuições nas matérias que os Estados-membros lhe atribuíram nos tratados. Está limitada, também, pelo princípio da subsidiariedade e pelo princípio da proporcionalidade (5/3): quando intervém por insuficiência dos Estados, o conteúdo e forma da acção da EU não devem exceder o necessário para atingir os objectivos dos tratados. A intervenção da EU verifica-se, pois, residualmente.Lisboa veio dizer que os Parlamentos nacionais passam a controlar a subsidiariedade. É bom que sejam associados ao controlo. Mas está tudo por definir. Como controlam? Como se manifestam? Qual o número de Parlamentos necessário? Em resumo, o que se diz é que cada acto leva uma “ficha” de subsidiariedade. É preciso que em cada acto se prove que os Estados não poderiam intervir. Em cada momento, testa-se para saber se estão reunidas as condições para intervenção da EU. Uma vez por ano, a Comissão Europeia tem de apresentar um relatório sobre como está a aplicar a subsidiariedade. Ademais, como já vimos, pode-se impugnar junto do TJ se se considerar que a ficha não justifica a intervenção.FQ entende que se terá de fazer uma escolha em Portugal, dada a incoerência entre o que praticamos aqui e o que desejamos externamente quanto à descentralização.Órgãos da EU. Os tratados costumam distinguir instituições, órgãos e organismos. FQ critica essa distinção. Só órgãos são verdadeiros centros de imputação de direitos e deveres. Mas os tratados sempre distinguiram. Desde Lisboa, aditam-se os organismos.As instituições são os órgãos mais importantes. Têm competência para aprovar actos jurídicos vinculativos. O 13º TUE estabelece que são instituições o PE, o Conselho, a Comissão Europeia, o TJUE, o BCE e o Tribunal de Contas. É enumeração taxativa. Tem um aditamento: Conselho e BCE, que eram apenas órgãos.Órgãos serão os que não estejam no 13º. Os organismos são os criados por acto das instituições da EU. Podem ter as designações mais variadas (agência, observatório, instituto, etc.). Têm personalidade jurídica. Não se encontram previstos nos tratados.

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Conselho Europeu. O Conselho Europeu está regulado no 15º TUE, 235º-236º TFUE e na Declaração nº 6 Anexa a Lisboa. O Regulamento Interno do Conselho Europeu foi aprovado pela Decisão do Conselho Europeu 2009/882/EU, de 1/12/09. O Conselho Europeu passa a ter o estatuto de instituição com Lisboa. Põe-se termo a discussão doutrinária sobre a autonomia face ao Conselho. Alguns AA. Entendiam que o Conselho Europeu era uma formação do Conselho. FQ sempre entendeu que se tratava de órgãos distintos.Composição (15/2 TUE). É composto pelos chefes de Estado e de Governo dos Estados-membros, pelo seu Presidente e pelo Presidente da Comissão Europeia. O Presidente do Conselho Europeu é figura criada por Lisboa. Atendendo ao sistema de governo de cada Estado-membro, o seu representante será o chefe de Estado ou o chefe de Governo. Portugal é representado pelo Primeiro-Ministro, a França pelo Presidente. Até Lisboa, participavam no Conselho Europeu, não sendo membros, os MNE dos Estados-membros e um membro da Comissão. Lisboa veio determinar que os membros do Conselho Europeu podem decidir que Ministros assistam à reunião. A sua participação deixa de estar prevista nos tratados, passando a depender de decisão. O Alto Representante da EU para Política Externa e de Segurança, novidade de Lisboa, vice-presidente da Comissão, integra também as reuniões.Funcionamento. Reúne-se duas vezes por semana. Mas o Presidente pode convocar reuniões extraordinárias. Reúne em Bruxelas, podendo, excepcionalmente, reunir em outro local, por decisão do Presidente do Conselho, mediante acordo dos membros do Conselho de Assuntos Permanentes ou do Conselho de Assuntos Gerais.Competência (15/1). O Conselho Europeu dá à EU os impulsos necessários ao seu desenvolvimento. É o órgão político por excelência da União. É uma definição semelhante à que resultava das disposições anteriores. Com duas diferenças. Acrescenta-se que define as prioridades políticas (antes eram as “orientações”). Consagra-se algo que já sucedia na prática. Por ser órgão político, o 15/1 diz também que o Conselho Europeu não exerce função legislativa. Temos de consultar também o 209º TFUE. Os tratados definem o que é um acto legislativo pelo não pelo seu conteúdo, mas em função do procedimento de aprovação. Os actos jurídicos aprovados por processo legislativo são actos legislativos. Ou estamos perante processo legislativo ordinário (289/1) –adopção de regulamento, directiva ou decisão pelo PE sob proposta da Comissão, com a participação do Conselho; ou perante procedimento legislativo especial (289/2). Todos os actos jurídicos que venham a ser aprovados mas não de acordo com um deste processos não são actos legislativos. É assim que devemos entender o 15/1. Porque encontramos muitas disposições que cometem competência ao CE para aprovar actos jurídicos. Mas não são legislativos.O CE pode aprovar decisões sobre a composição do PE (14/2 TUE); ao abrigo do 22/1/2º parágrafo; decisões em matéria de política externa e de segurança comum (26/1 e 48/3/6 TUE); conclusões sobre orientações gerais de política económica dos Estados-membros (121/2 TUE). No âmbito desta competência, foram também concedidos ao CE poderes de conformação das outras instituições. O CE passa a intervir na composição do PE (14/2 TUE); na nomeação da Comissão (17/7 TUE); nomeação do ARPESC (18/1); decisões relativas à formação do Conselho e sistema de presidências rotativas do Conselho (236/a) e b) TFUE); nomeação dos membros da Comissão Executiva do BCE (283/2 TFUE). Só não intervém no âmbito do TJUE e do TdC. É também o CE que tem competência para verificar violações graves e persistentes dos valores do 2º TUE por parte de um Estado-membro (7/2 TUE). Caso conclua pela existência de tal violação, esse Estado-membro pode ser objecto de sanções (7º).

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Tem também palavra decisiva nas cláusulas passerelle. Algumas disposições dos tratados permitem que, por decisão do CE, ou mediante autorização do CE ao Conselho, uma deliberação que deva ser tomada pelo Conselho em unanimidade possa ser aprovada no Conselho por maioria qualificada. São algo que permite flexibilização sem revisão dos tratados (31/3 e 48/7 TUE).O CE passa também a ter intervenção decisiva no processo de revisão ordinário e no processo de revisão simplificado dos tratados (48/3 e 48/6 TUE). Cabe-lhe ainda definir e executar a PESC (24/1 TUE). Pronuncia-se por consenso, salvo disposição em contrário dos tratados (15/4 TUE). Até Lisboa, era sempre por consenso. Veio-se admitir que se pronuncie por unanimidade, maioria qualificada e maioria simples. Para saber, é necessário analisar as várias disposições do TUE e TFUE. O CE delibera por unanimidade nos termos do 7/2, 14/2/2º parágrafo, 22/1/2º parágrafo e 24/1 TUE. Por maioria simples nos termos do 235/3 TFUE, 48/3/2ª parte TUE. Por maioria qualificada nos termos do 236º/a e b) e 238/2 TFUE, 17/7 e 18/1 TUE.Sendo que o CE vota, o Presidente da Comissão e o Presidente do CE não participam na votação. Apenas intervêm os chefes de Estado ou de Governo, o que reforça a sua natureza intergovernamental, com legitimidade estadual.Votação. Está prevista no 235º TFUE. Prevê-se que a abstenção não obsta à adopção de actos que prescrevam a unanimidade. Permite-se que um dos membros represente por delegação um dos outros.Designação e competência do Presidente. É uma novidade de Lisboa. Até aqui, era exercida rotativamente. O Estado-membro que detinha a presidência do Conselho presidia ao CE. Lisboa cria o Presidente do CE. O PCE é eleito pelo CE mediante maioria qualificada, para um mandato de dois anos e meio, renovável por uma vez (15/5 TUE). Pode pôr termo indicando uma causa de impedimento. Hoje é Herman Van Rompuy.O 15/6, in fine, prevê que o PCE não pode exercer qualquer mandato nacional. Nada é dito quanto a incompatibilidade com outro mandato europeu. Há quem diga que se trata de um lapso. Há quem diga que se quis deixar em aberto a assimilação da PCE com a ARPESC ou Presidência da Comissão.O PCE não é Presidente da UE. As competências exclusivas da UE são também exercidas pela Comissão Europeia. Não existe acumulação de funções que justifique a designação do PCE como Presidente da UE. As suas competências estão no 15/6 TUE. Dinamiza a política interna da EU, que pressupõe articulação com o Presidente da Comissão e com o Presidente do Conselho na sua formação “assuntos gerais”. Tem também funções em termos de política externa. Cabe-lhe assegurar a representação externa da EU no âmbito da PESC, sem prejuízo do ARPESC. O PCE preside aos trabalhos do CE e dinamiza-os. Actua para facilitar consensos no Conselho Europeu.Evolução histórica. O CE não se encontrava previsto nos tratados institutivos. A partir da década de 60, os chefes de Estado e de Governo das Comunidades começaram a reunir-se com regularidade para discutir a integração europeia, entre outros temas. Na Cimeira de Paris, de 1974, decidiu-se institucionalizar essas reuniões para discussão da integração europeia e cooperação política entre os Estados-membros. Previa-se que participavam também os MNE. O CE é formalmente consagrado com a revisão do Acto Único Europeu. Em termos de competência, mantém-se. Mas, contrariamente à prática anterior, o CE reuniria também o Presidente da Comissão. Maastricht atribui ao CE o impulso da União. Com Lisboa, torna-se numa das sete instituições da União.Parlamento Europeu. Relevam os artigos 14º TUE, 223º-234º TFUE, Protocolo 36, relativo às disposições transitórias, que foi alterado pelo Protocolo que Altera o Protocolo Relativo às Disposições Transitórias (apenas quanto à disposição sobre o PE)

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– sendo que este não está ainda em vigor, já que ainda não foi ratificado por todos –, Declarações 4, 5 e 57 e ainda o Regulamento Interno do PE.Estatuto. É instituição da União (13/1). Sempre foi considerado assim.Composição. 14/2: é composto por representantes dos cidadãos da EU. O seu número não pode ultrapassar os 750 mais Presidente do PE. Lisboa introduziu alteração. Antes dizia-se que se tratava de representantes dos “povos” dos Estados. Agora fala-se em “cidadãos europeus”. O Reino Unido solicitou uma declaração anexa a Lisboa, a declaração 64 do Reino Unido, que diz que este Estado regista que o artigo não tem por base alterar a maneira como são designados os deputados europeus.A limitação numérica foi a forma encontrada para conseguir o acordo da Itália em relação a Lisboa. A Itália entendia que tinha direito a mais um deputado. Contudo, desejava-se apenas 750. Não se quis admitir o número de 751. Assim, esta formulação resolveu. As declarações 4, 5 e 57 dizem que o número adicional será entregue à Itália. A distribuição deveria atender à população dos Estados. A Itália, onde há grande emigração, veio dizer que o que era relevante não era a população de Itália, mas os cidadãos italianos, mesmo que vivessem noutro Estado-membro. Portugal também beneficiou deste argumento.750 + PPE não é o número actual. Nos termos do 14/3, os membros são eleitos por sufrágio universal para mandato de 5 anos. O mandato actual (2009-2014) iniciou-se antes da entrada em vigor de Lisboa. Há, hoje, 736.O Protocolo relativo às disposições transitórias previa que se alterasse a composição antes da eleição de 2009. É pelo facto de Lisboa só ter entrado em vigor depois que existe o Protocolo que altera o protocolo. Assim, os Estados-membros que com Lisboa terão direito a mais deputados poderão designar mais deputados até ao final deste mandato. Isso pressupõe que a designação seja feita tendo em conta os resultados eleitorais ou convocando novas eleições. Não é preocupação em Portugal, que até vai ter menos deputados.Funcionamento. 229º TFUE: o PE realiza sessão anual, reunindo por direito próprio na segunda terça-feira de Março e pode reunir-se em período extraordinário de sessões, a pedido da maioria dos membros que o compõem, do Conselho ou da Comissão. O Protocolo 6, relativo às sedes das instituições, diz que o PE tem sede em Estrasburgo, onde se reúnem as suas doze sessões plenárias mensais; as comissões do PE reúnem em Bruxelas. Os serviços permanecem no Luxemburgo.Em todo o direito positivo português vigente, os centros de imputação de situações jurídicas das pessoas colectivas são órgãos. No DUE surge a palavra “instituições”. Os franceses falam em instituições e órgãos. Os alemães falam em órgãos. FQ, desde 1972, protesta em relação ao termo “instituições”. A tradução dos tratados é feita pelos serviços da Comissão e do Conselho, mas é revista pelos MNE. Maastricht apareceu mal traduzido para alemã, mas Kohl impôs melhor tradução. FQ ainda requereu ao Primeiro-Ministro Santana Lopes que não permitisse aquela tradução, mas sem sucesso. FQ fala em “órgãos”. No tratado, há órgãos que são aceites como tal e órgãos mais importantes que são tratados como instituições. Têm um regime especial em relação aos demais.PE (cont.). É o único parlamento eleito directamente pelos cidadãos do espaço que representa. Representa os povos dos Estados-membros. É eleito pelos cidadãos europeus e por aqueles a quem é estendido o direito de voto. O sistema de eleição não é uniforme. Há um sistema proporcional (Portugal); misto (Alemanha); uninominal (Reino Unido). A alteração do sistema eleitoral terá de ser votada por unanimidade.O PE representa os povos dos Estados-membros. Não é legítimo pedir aos deputados europeus eleitos pelo círculo português que votem de acordo com o interesse do Estado

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português. Eles votam de acordo com o interesse do povo português. O Estado português tem delegados no Conselho. É aí que se defende o interesse do Estado português. O PE defende os interesses dos povos europeus. Cumprem o seu dever quando votam daquela maneira. O Comissário defende o interesse geral ou comum da União, tendo de votar contra o interesse do seu Estado quando incompatível. Um Comissário até viaja com passaporte da EU, e não com o do seu Estado.Participação portuguesa no PE. O PE não tem bancada nacionais, mas famílias políticas. Há sete grupos políticos. O Partido Popular Europeu (que agrupa os democratas-cristãos ou sociais-cristãos), em maioria relativa – 265 dos 758. O Grupo Socialista (SID), com 184. Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa, com 94. Verdes, com 55. Conservadores e Reformistas Europeus (eurocépticos), com 35; Grupo Europeu de Democracia e Liberdade, fortemente eurocéptico, com 39. Não inscritos são 28. O CDS foi inicialmente para o PPE. O PPE não defende o federalismo, mas não o exclui. Com Manuel Monteiro, que excluía, foi expulso do PPE. O PS está desde sempre com o SID. O PSD não podia ir para o PPE porque já lá estava o CDS; não podia ir para o SID por causa do PS. Foi para os Liberais. O Partido Comunista foi para um grupo que já não existe (desde a queda do Muro). PCP e BE foram para a esquerda unitária europeia. O PSD acabou por ser admitido no PPE, voltando a ser admitido o CDS, já que, com Paulo Portas, abriu de novo a porta ao federalismo.Na EU não se forma governos minoritários. O PPE não vota sozinho. Concilia-se com o SID e com os Liberais nas questões importantes. Também não têm a presidência do PE pelos cinco anos. O PPE reparte o mandato com o 2º classificado. Nos dois últimos anos e meio será um socialista a presidir. Portugal nunca teve um presidente do PE. Espanha teve 3 (com apoio de todos os deputados europeus espanhóis). Mário Soares foi eleito deputado europeu depois de ter sido PR. Concorreu a Presidente do PE. PPE e SID concordaram que dividiram a presidência no tempo. O socialista seria Mário Soares. Contudo, este queria os cinco anos. Forçou uma eleição no primeiro mandato, o que fez cessar o acordo com o PPE. Este virou-se para os Liberais, com o mesmo acordo. Soares teve uma votação muito modesta. Perguntaram-lhe o que achava do discurso de Nicole Fontaine, a presidente eleita. Respondeu que tinha sido um discurso de “uma dona de casa”. Uns anos depois, Soares viu-se envolvido num negócio de marfim com Angola. Fontaine solidarizou-se com Soares.O PE reúne-se muito por comissões parlamentares e só uma sessão por mês em plenário. Os assuntos são tratados por especialistas na matéria. A produção do PE é de qualidade, já que para plenário ficam só as grandes questões.Competência. O PE tem competência legislativa, orçamental, política e em matéria de relações externas.Legislativa. Tem poder de iniciativa legislativa indirecta, no processo legislativo ordinário e especial. O 225º e 241º TFUE determinam que quem tem o poder de iniciativa legislativa directa é, em regra, a Comissão. A Comissão inicia o processo e executa o que for aprovado. O PE não tem iniciativa, mas pode provocar a apresentação de uma proposta por parte da Comissão. Se esta não quiser dar seguimento tem de fundamentar.Processo legislativo ordinário. Está nos 289º e 294º TFUE. É o anterior processo de co-decisão: PE e Conselho legislam em conjunto. Foi criado em Maastricht (1992). Lisboa criou quarenta novos casos de co-decisão. O Conselho tem fama de défice democrático: não foi eleito, diz-se. Mas os Governos resultam dos Parlamentos. Os membros são governantes nacionais. O poder de co-decisão chama-se agora processo legislativo ordinário. Antes de Lisboa, não estavam em pé de igualdade: o PE tinham

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mais o poder de impedir e o Conselho o de decidir. Com Lisboa, co-legislam e têm igual poder de decisão.Processo legislativo especial (289/2 TFUE). Aqui, quem legisla continua a ser o Conselho, mas, antes legislava sob parecer vinculativo do PE. Hoje, mediante aprovação prévia do PE. Há desequilíbrio a favor do Conselho.Competência orçamental. O PE tem, historicamente, matérias muito importantes neste domínio. Foi alargado em 1970 pelo Tratado do Luxemburgo e em 1975 pelo Tratado de Bruxelas, havendo, aí, substituição da contribuição dos Estados-membros por recursos próprios. O próprio procedimento orçamental foi regulado por acordos intergovernamentais.Havia um ante-projecto de orçamento elaborado pela Comissão, projecto final pelo Conselho e aprovação pelo PE. Se se tratasse de despesas não obrigatórias, a palavra única cabia ao PE (decidia totalmente). Havia quem falasse, aí, em competência legiferante do PE. Mas só dentro da taxa máxima de aumento: limite legal (272/9 TFUE). Podia rejeitar o orçamento em bloco (aconteceu em 1980 e 1985), caso em que o Conselho tinha de apresentar novo projecto. O PE fiscalizava, igualmente, a execução orçamental, aprovando a Conta. O TdC também fiscalizava.Hodiernamente, convém ler o 312º e 314º TFUE. Há novidade: é estabelecido um quadro financeiro plurianual (cinco anos). O orçamento da EU tem de o respeitar. A adopção do quadro financeiro resulta de uma deliberação do Conselho, por unanimidade, após aprovação pelo PE, mediante maioria. É aprovado em sede de processo legislativo especial (não há co-decisão). Há quem diga que é falso processo legislativo especial, já que, na prática, há intervenção similar dos dois órgãos.O 314º estabelece o processo legislativo para adopção do OUE especificamente. O PE e o Conselho, nos termos de um processo legislativo especial, elaboram o OUE. FQ defende que se trata de falso processo legislativo especial. A proposta mantém-se na Comissão. O Conselho adopta a sua posição e transmite-a ao PE. Este (314/4) pode aprovar o OUE; se não tiver deliberado, considera-se que foi adoptado (nestes casos apenas, o processo legislativo é especial, porque o PE não intervém); ou (c)), o PE pretende alterações, sendo o projecto transmitido ao Conselho e à Comissão.Se (314/6), no prazo de 21 dias, o comité de conciliação chegar a projecto consensual, o PE e o Conselho devem aprovar. Se não deliberarem, ele considera-se aprovado. Aqui é processo legislativo ordinário.Pode haver divergências. Se for rejeitado, a Comissão tem de apresentar novo projecto de Orçamento. Pode haver divergências entre os órgãos. O PE pode, deliberando, confirmar todas as alterações e, nesse caso, ele considera-se definitivamente adoptado. Adopta sozinho.Execução do OUE. 317º e ss. TFUE, em especial 322/1/a): PE e Conselho devem adoptar por regulamento as regras financeiras relativas à execução. O PE tem grande peso na aprovação (havendo mesmo casos em que aprova sozinho), mas também na execução e aprovação da Conta (quitação).Competência em matéria política (ou controlo e fiscalização). O PE exerce um controlo específico sobre a Comissão, aquilo a que FQ chama “controlo político directo”. É ele que designa a Comissão (17º TUE). Esta matéria tem um reverso. Também tem o poder de a destituir através de uma moção de censura. Discute-se, a este propósito, o seguinte: a Comissão, com Lisboa, tem um vice-presidente, o ARPESC, nomeado pelo Conselho. É um elemento atípico. Um dos elementos que não é eleito pelo PE. Quid juris se houver moção de censura? Há quem diga que ele se mantém (M. Rangel Mesquita). FQ entende que não: o Conselho terá de indicar um

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novo ARPESC, que até pode ser a mesma pessoa. A moção de censura está no 234º TFUE (2/3 dos votos expressos).O PE exerce muitos outros mecanismos de controlo político. Elege o Provedor de Justiça europeu, órgão de controlo. Indirectamente, exerce este poder de controlo. Também, 228/2, alguns juízes do TJUE.Ademais, existe um direito de petição ao PE por parte dos cidadãos europeus. Permite controlar outros órgãos. Também se prevê a apresentação de relatórios e prestação de informações ao PE pelos seguintes órgãos: Conselho, Comissão, BCE, TdC (28º TFUE), ARPESC (36º TUE). Os relatórios escritos são forma mais intensa de prestar informações. Pode ainda acontecer que existe um dever de os órgãos serem interpelados e responderem a perguntas; no limite, a comissões parlamentares de inquérito temporárias (226º TFUE). Por último é possível que o PE tenha iniciativa junto do TJ para impugnar certos actos (controlo jurisdicional aberto pelo PE).

Prática. Artigo 48º do TUE. Está estabelecido um procedimento específico para a revisão dos tratados. Lisboa foi revisão do TUE (que começou com Maastricht, continuando com Amesterdão e Nice). O Tratado CEE. Desde o início das comunidades, havia os tratados de Roma (CEE e EURATOM) e CECA (caducou após 50 anos). Os outros mantiveram-se. Houve acordos de fusão; Acto Único Europeu (1989); Maastricht, Amesterdão e Nice; actos de adesão dos sucessivos alargamentos. O Tratado CEE é extinto, sendo substituído pelo TFUE. A EURATOM mantém-se, com algumas alterações por protocolo anexo a Lisboa.Houve diversas revisões dos tratados. A  regra é unanimidade. Em princípio, está afastada a possibilidade da CVDTE (69º) de algumas partes alterarem entre si. Tem de haver uniformidade, só é possível modificar a totalidade. Há, contudo, excepções.O artigo 48º sofre modificações com Lisboa. Passa a haver três processos de revisão (havia só um, o unitário). Há o ordinário, o simplificado e o ultra-simplificado (apesar de inominado este último). O 48/1 diz que pode haver qualquer destes processos.Ordinário. O Governo de qualquer Estado, o Parlamento Europeu ou a Comissão podem submeter ao Conselho projectos de revisão dos tratados. Os projectos são enviados pelo Conselho ao Conselho Europeu, notificado o Parlamento Europeu. Na União há vários órgãos: o Conselho Europeu, com grande papel, o Conselho, a Comissão, o Parlamento Europeu e o Tribunal de Justiça são as instituições. O Conselho reúne a nível ministerial, podendo haver conselhos especializados (ECOFIN, p. ex.). Mas pode reunir ao nível dos chefes de Estado ou de Governo. Pode, igualmente, reunir ao nível dos embaixadores permanentes. O Conselho Europeu, por seu lado, assemelha-se ao Conselho na formação mais alta: mas inclui o Presidente da Comissão.Existe uma presidência do Conselho (estável); o Conselho Europeu tem presidência rotativa, existindo ainda o Alto Representante para a Política Externa e Segurança Comum, vice-presidente da Comissão, que tem assento no Conselho. A liderança tem sido da presidência rotativa com o Presidente da Comissão.O Conselho representa a legitimidade intergovernamental. Sendo a União uma organização internacional de integração, tem um pendor intergovernamental. O Parlamento Europeu representa a legitimidade democrática. A Comissão representa a lógica de integração (pendor de integração). Ainda há um comissário para cada Estado-membro, mas este não é representado por aquele: representa, sim, o interesse supranacional.

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A jurisprudência do TJ é vinculativa para todos os tribunais para decisões futuras. Pode, contudo, ser revista num caso idêntico.Quando existiam as Comunidades, cada uma tinha personalidade jurídica. A União aparece porque com Maastricht surge o pilar político. Na ideia inicial, havia a vontade de criar uma estrutura política. Não avançou: a Comunidade Europeia de Defesa foi objecto de chumbo pela França e constantemente boicotada pelo Reino Unido (que tinha já a Commonwealth).Cria-se, com impulso do Reino Unido, o Conselho da Europa (para a parte política). Anos depois, na Cimeira de Paris, surge o pilar político com a figura do Conselho Europeu. Este, pela natureza dos seus membros, tem cariz político.Maastricht cria o pilar político e a PESC: Política Externa e de Segurança Comum. Enquanto que o pilar comunitário estava muito mais avançado, nos outros pilares a evolução era vacilante. A Comissão tinha muito menos poderes nos pilares intergovernamentais. Havia desigualdades, assimetrias.Com o tratado de fusão de 1965, fundem-se alguns órgãos, passando a ser comuns às várias comunidades. Há um quadro institucional único, mas com graus de intervenção muito diferenciados. O pilar de segurança a assuntos internos comunitariza-se, torna-se de integração. A PESC, matéria sensível, não avança.Em Lisboa decide-se fundir os pilares. O Tratado CEE passa a TFUE, desaparecendo a CJAE. A PESC desaparece formalmente. Mas em termos práticos mantém-se. Materialmente continua a constar do TUE. Há uma séria de normas específicas para a PESC. Contudo, desapareceu a dualidade que existia entre os actos da PESC e os da CEE.E a personalidade jurídica? Quando é criada a União, discutia-se a sua personalidade jurídica. A maioria da doutrina dizia que não tinha. Alguns AA. (incluindo Fausto de Quadros e Lourenço de Freitas) discordavam. Tinha capacidade, pelo que tinha personalidade. Poderia celebrar acordos internacionais. A tendência da jurisprudência internacional é na presumir a personalidade jurídica internacional das organizações internacionais. De todo o modo, a questão está hoje resolvida pelo 47º TUE. É a União que tem personalidade jurídica. Com a excepção da EURATOM, as comunidades perderam-na.Como vimos, há três procedimentos de recurso. Um aditamento de Lisboa diz que os projectos podem ir no sentido de alterar o grau de integração (para mais ou para menos). Houve discussão sobre o âmbito de aplicação do princípio do adquirido comunitário: entendia-se que havia um ponto de não retrocesso em relação à integração. Aplicar-se-ia aos tratados? Havia, até, quem falasse no adquirido como um limite material de revisão. Hoje, esse princípio parece ter desaparecido. Pode-se, na revisão dos tratados, devolver competências aos Estados. Coisa diferente é o problema das integrações diferenciadas. Permite-se a cooperação reforçada: alguns Estados podem avançar mais, mediante requisitos formais, materiais e procedimentais.Outra coisa ainda são as cláusulas de opting out (para o Euro e espaço Schengen, p. ex.). Aqui, os Estados que não avançam não avançam porque não querem.O Presidente do Conselho Europeu convoca uma convenção, método que tinha sido pensado para o Tratado Constitucional. Aí tentava-se replicar o modelo da convenção norte-americana de Filadélfia, que adoptou a versão final da Constituição dos EUA. Faz-se apelo a uma legitimidade democrática directa de um “poder constituinte europeu”. Assim, nas revisões ordinárias dos tratados (48/3), reúne-se uma convenção. Esta faz recomendações para a conferência de representantes dos Estados-membros (48/3, parte final). Estes decidirão de comum acordo as alterações a introduzir no

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tratado, que só entram em vigor após ratificação em todos os Estados-membros, de acordo com as suas Constituições. Nos EUA, 2/3 dos Estados é número suficiente.Prevê-se uma válvula de escape. Se, decorridos dois anos sobre o processo, 4/5 tiverem ratificado e um ou mais Estados tiverem tido problemas, dificuldades nessa ratificação, o Conselho Europeu deve tentar resolver o problema, procurando um consenso. Lisboa só passou porque foram dadas as garantias necessárias à República Checa e Polónia de que a Carta não levaria à retribuição dos bens nacionalizados sem compensação.Processo de revisão simplificado. Tem diferença quanto ao âmbito: só pode incidir sobre as políticas e acções internas da EU. A aprovação cabe ao Conselho Europeu, após consulta do PE e Comissão Europeia. É o antigo processo antigo. O processo ordinário é que é novo. Esta decisão não pode aumentar as competências da EU.Processo simplificado (48/7). M. Luísa Duarte e M. Rangel Mesquita entendem que não se trata de processo de revisão. L. Freitas sustenta que já eram, mas não tinham o nome. Hoje têm. Trata-se de um caso -  novo – em que, por decisão de apenas um órgão, e sem ratificação, os tratados são revistos. Neste ponto específico, o Conselho Europeu pode fazê-lo sem que os Estados ratifiquem.Também em matéria de actos adoptados de acordo com processo legislativo especial, o Conselho Europeu pode vir decidir que passa a ser por processo legislativo ordinário (actuação conjunta do PE e do Conselho Europeu).Há uma salvaguarda: estas revisões são comunicadas ao PE. Se houver oposição dentro de seis meses, ele não entra em vigor. Estas decisões são tomadas por unanimidade. Basta um voto contra para impedir a decisão. Mas o Conselho Europeu já não é um órgão da EU, formalmente.O 49º também é importante: prende-se com a adesão à EU. Têm de ser tidos em conta para a adesão os critérios de legitimidade aprovados pelo Conselho Europeu. O acordo chegado entre o Estado aderente e os Estados-membros é ratificado por todos estes. A adesão tem  de ser aceite por todos. São os critérios de Copenhaga que presidem à decisão.Pode haver modificação dos tratados também por força da adesão de um novo Estado (modificação subjectiva). O 49º regula esta questão: qualquer Estado europeu que respeite os valores do 2º e os queira promover pode aderir à UE. Os critérios de elegibilidade são os de Copenhaga. Sem um parecer totalmente favorável do PE, o Estado não pode aderir. É modificação subjectiva no sentido de alargamento.O recesso é modificação subjectiva no sentido de restrição. A notificação é feita ao Conselho Europeu. Nunca houve recesso de Estados. De territórios já houve (Gronelândia). Quanto ao procedimento de recesso, regem o 49º e 50º.Caso 1. A cidadã turca tinha direito a manter-se em França, independentemente do divórcio, porque os filhos têm direito a manter-se (é uma Directiva de 2004). Os filhos têm direito a manter-se e à educação no território, independentemente de serem franceses.O direito de queixa ao Provedor de Justiça consta do 24º TFUE. Apesar de estar previsto para a cidadania, abrange qualquer pessoa que contacte com as instituições da UE. A questão do direito de iniciativa legislativa é que já só cabe aos cidadãos (11/4 TUE). Havia 1M de assinaturas, mas de imigrantes na UE. O 11 restringe o seu âmbito aos cidadãos da UE.O 51º da Carta determina que as suas disposições têm por destinatários as instituições, órgãos e organismos da UE e os Estados-membros, mas apenas quando apliquem DUE. Ter-se-ia de verificar se o Estado francês estava a aplicar direito francês ou da UE. Parece que se tratava de um regime jurídico comunitarizado. Não se pode invocar a Carta quando o Estado viola um direito à luz do direito interno. A UE não é uma federação.

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Para haver processo por incumprimento, tem de se estar perante normas imperativas. Será a Carta vinculativa? Os instrumentos jurídicos não vinculativos não servem de parâmetro para controlo jurídico. Mas com Lisboa a Carta passou a ser integrada num anexo ao tratado, pelo que ganhou a força das restantes normas.Se não for uma questão de aplicação de direito interno, o que se pode é pedir o controlo político (7º TUE), em casos excepcionalmente graves.O artigo 4/1 TUE vem dizer que as competências que não sejam atribuídas à EU pertencem aos Estados-membros. A EU rege-se pelo princípio da competência por atribuição, vigora especialidade (48/2 TUE). A EU não tem fins gerais, não se pode atribuir competências. Quando o Tribunal Constitucional alemão se pronunciou sobre Lisboa, disse que um dos limites era não atribuir à EU a Kompetenz Kompetenz. As transferências de soberania não são definitivas.O próprio 48/2 TUE diz que os projectos de revisão dos tratados podem ir no sentido de aumentar as competências atribuídas à EU. Mas também reduzir. Não é definitivo.Nas competências da EU encontramos vários tipos. O 2º e 3º TFUE esclarecem o que são competências exclusivas; o 4º o que são as partilhadas. O 5º e 6º falam de competências de iniciativa ou de coordenação.A competência exclusiva (2/1) resulta dos próprios tratados. FQ diz que existem competências exclusivas e políticas exclusivas da comunidade – que não são competências exclusivas. São áreas em que já só a EU pode praticar actos. Mas tornaram-se comunitarizadas pelo exercício (e não originariamente). Assim, são um misto de exclusivas e partilhadas. A execução de uma política na área exclusiva da EU pode cabe aos Estados-membros (2/1 TFUE). A EU tem um modelo de administração ambivalente. O facto de a competência ser exclusiva não significa que a sua execução tenha de ser comunitária. O 3º elenca as áreas da competência exclusiva. O 3/2 vem consagrar a jurisprudência AETR: se a EU tivesse competência exclusiva ao nível interno, devia-se presumir que, à luz da teoria dos poderes implícitos, também teria ao nível externo.A subsidiariedade não tem papel nas competências originariamente exclusivas. No máximo, poderá levar a que, na revisão de um tratado, se possa considerar que passou a ser dos Estados-membros a competência. Não há transferências definitivas. Mas tirando esse nível quase-constituinte, não há que fazer juízo de subsidiariedade. Todavia, cabe sempre fazer um juízo de proporcionalidade. Pode-se perguntar à EU porque optou por actuar sob a forma de regulamento quando podia ter actuado sob a forma de directiva (deixando maior liberdade aos Estados-membros). Para fazer juízo de proporcionalidade, é verdade, cabe ajuizar a capacidade dos Estados-membros, porque se estes não forem capazes, a intervenção preenche o requisito da necessidade. Mas não se trata de um juízo de subsidiariedade stricto sensu.Nas competências partilhadas, os Estados-membros podem exercer se a EU não exerce. Se exercer, não podem exercer, por força do primado. Não ficou consagrado em Lisboa, contudo. Passa-se o que os americanos chamam preempção ou occupation of the field. Esta vai, até, mais longe. É uma actuação global: toda a matéria ficaria comunitarizada. Não se poderia actuar naquele âmbito (e não, apenas, contrariar o acto em causa). Os Estados-membros podem voltar a exercer se a EU decidir deixar de exercer a competência. Há uma declaração anexa que vem dizer que para isso é preciso que a EU revogue formalmente o acto (Declaração 18). Antigamente, havia a dúvida sobre como se invertia a preempção. Hoje, está consagrada a necessidade de revogação. O Conselho pode solicitar à Comissão que apresente proposta com vista à revogação de actos administrativos.

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Como é que a EU decide se legisla? 5/3 TUE: em virtude do princípio da subsidiariedade, a EU intervém apenas se e na medida em que os objectivos da acção considerada não possam ser suficientemente alcançados pelo Estado-membro. Não há liberdade. Tem de se fazer juízo de subsidiariedade. Há um protocolo relativo à aplicação do princípio da subsidiariedade: o Protocolo 2. Os projectos de acto legislativo são fundamentados relativamente ao princípio da subsidiariedade e proporcionalidade. Devem incluir uma ficha com elementos que permitam apreciar a observância desses princípios. O 4º do Protocolo consagra a necessidade de enviar os projectos de acto legislativo aos Parlamentos nacionais e ao PE. O controlo da subsidiariedade é feito nos Parlamentos nacionais. O 7º diz que os vários órgãos têm em conta os pareceres fundamentados emitidos pelos Parlamentos nacionais.Para além deste controlo prévio pelos Parlamentos, há também um controlo jurisdicional (8º do Protocolo 2). Os Estados-membros têm legitimidade para iniciar essa acção junto do TJ. A escolha não é, pois, livre.A subsidiariedade tem papel nas partilhadas. Se houver exercício de determinada competência pela EU ela pode-se tornar exclusiva. FQ não gosta do termo preempção, porque está próximo da ideia da occupation of the field, inexistente na EU. Não se trata de comunitarizar todo o sector normativo, mas de actos e normas individuais.Existem domínios que o 4º/2 TFUE comete à competência partilhada, mas através de tipicidade exemplificativa. O 4/3 e 4 estabelecem excepções à ideia da aplicação do primado (M. Luísa Duarte; contra: L. Freitas). Há dois domínios: investigação e desenvolvimento tecnológico e do espaço. O exercício da competência pela EU não impede os Estados de exercerem a sua. Também (nº 4) quanto à cooperação para o desenvolvimento e ajuda humanitária é assim. L. Freitas sustenta que nas competências do 6º nunca há concorrência: há uma parte que é da EU e outros que é dos Estados. São competências autónomas.A EU dispõe também de competências implícitas. Um acórdão veio dizer que sempre que uma competência for instrumental para prosseguir outra, ela está atribuída. Pode, pois, haver competências implícitas de competências exclusivas e implícitas de competências partilhadas.Não se deve confundir com o 352º TFUE. O que aí está em causa não são competências implícitas. A doutrina diz que se trata de uma clausulada de novos poderes, ao invés de competências implícitas (como chegou a defender M. Luísa Duarte). O que está em causa não é uma nova atribuição. A competência já existe. O que falta é uma norma, p. ex., que diga como ela é exercida. Boa parte do TFUE é temática (competência a competência), de desenvolvimento das competências. Quando se desenvolve diz-se como elas são exercidas. Pode acontecer que a competência exista mas não esteja especificado no tratado o tipo de procedimento a desenvolver. O 352º está aí para isso. Nas implícitas o poder nunca está previsto, muito menos o procedimento. Para o procedimento da implícita aplica-se o artigo relativo à competência em relação à qual ela é implícita.Caso 2. A questão aduaneira (3/1/a) é de competência exclusiva. É inequívoco que a EU pode legislar. A questão que se coloca é se foi respeitado o princípio da proporcionalidade (seria necessário o regulamento?). Dificilmente se defenderia que não. Quanto à questão da importação de gás natural, dado ser matéria de energia (4/2/i)), a matéria é partilhada. Assim, não só se levanta a questão da proporcionalidade como a da subsidiariedade. É duvidoso que tivesse de haver regulamento, poderia bastar a directiva (poderia, pois, haver violação do princípio da proporcionalidade). O Parlamento alemão poderia levantar a questão da proporcionalidade e da subsidiariedade. Se quisesse colocar ao TJ (8/2), teria de ser o Estado alemão.

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Admitindo que a iniciativa tinha sido da Comissão, teria de emitir parecer e especificar porque achava que não violava o princípio da subsidiariedade, de acordo com o Protocolo para o Exercício da Subsidiariedade (artigos 6º e 7º) e com o Protocolo Relativo ao Papel dos Parlamentos Nacionais (art.º 3º).Sendo a competência partilhada, será que o Parlamento poderia legislar? O 2/2 TFUE, desde logo, diz que os Estados só podem voltar a exercer a competência na medida em que a EU tenha decidido deixar de exercer a sua. A Declaração 10 densifica: isso acontece quando a EU revoga (através de um acto com a mesma forma).Caso 3. O 4/2 é exemplificativo. Existem, também, competências implícitas. A EU já regulou a matéria dos contratos públicos, p. ex. Entendeu-se que, para salvaguardar a livre prestação de serviços no mercado interno, era necessário um regime de contratos públicos ao nível comunitário. Poderia o código civil ou de procedimento administrativo chegar lá pela competência implícita? L. Freitas admite que se considere que toda a matéria do direito civil é instrumental em relação a certas atribuições da EU. Se o procedimento administrativo for para aplicar quando os Estados-membros executem o direito comunitário, L. Freitas entende que faz sentido. O 197º fala da cooperação administrativa. Em princípio, a EU só pode apoiar ou complementar em relação ao procedimento administrativo (6/g) TFUE). Mas poderia entender-se como instrumental em relação a certas garantias dos particulares, revelando-se como competência implícita. Mas só poderia legislar sobre as grandes linhas (e não descer ao pormenor, violando a subsidiariedade). A matéria da execução (4/3 TUE) compete, em geral, aos Estados-membros.Caso 4. Tratava-se de uma matéria subsumível no 4/4 TFUE (ajuda ao desenvolvimento e ajuda humanitária). Não há preempção nesses casos. Pode legislar mas não preclude a actuação dos Estados. Levanta-se outra questão: poderia ser confiada a execução do regulamento àquele organismo europeu? A regra geral é de execução pelos Estado (4/3 TUE). Mas em certas circunstâncias, pode ser confiada à Comissão ou, até, se estiver previsto no regulamento, a um organismo a criar (291/2 TFUE – quando sejam necessárias condições uniformes de execução dos actos juridicamente vinculativos da União). Quanto à possibilidade de criação de organismo e execução por este, não prevista, tem-se entendido que é possível, tendo de se verificar a condição do 291/2 e que os poderes não fossem discricionários (não pode haver margem de livre decisão).Não se confunde competências exclusivas com “políticas exclusivas das Comunidades”. Aquelas são as do 3º (união aduaneira, política monetária, etc.). Mas a Política Agrícola Comum é política exclusiva da Comunidade. Os Estados-membros não têm quase intervenção nessas sede. É competência partilhada que se tornou exclusiva pelo exercício. O 3º não exclui que haja competências que se tenham tornado exclusivas pelo exercício, por força do primado. Não significa que no dia seguinte a EU não possa devolver aos Estados-membros a competência, não pela revisão dos tratados, mas pela revogação.