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É que o amor morreu no Belvedere 1

E QUE O AMOR MORREU NO BELVEDERE

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Poesias ilustradas. Obra concreta da mobilização artística do Universo Humano criado pelo poeta Vitor Corleone Moreira da Silva.

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É que o amor morreu no Belvedere

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É que o amor morreu no Belvedere

Vitor Corleone Moreira da Silva

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À minha alegria e tristeza Ofereço este mimo como forma de agradecer

pelo grande bem que me fizeram todos estes anos, estando comigo em cada momento

os quais bons ou ruins foram todos importantes na presença de vocês!

Ao meu pai que de longe aspira o aroma suave dos meus atos

em prol da humanidade inteira! Aos habitantes do município

de Santa Rita de Caldas/ MG – religiosa Capela de povo acolhedor e simples!

Aos meus amigos que conheci em Lavras/MG em 2006, aos de Oliveira/ MG

e à família.

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O autor

“O que mais aprecio no infinito universo artístico é a capacidade de trabalharmos as variadas expressões culturais como se fossem uma massa sem forma e indefinida, a qual com perfeição ou não modificamos, lapidando seus detalhes como se trabalha a parede de uma construção, a qual deve ser útil, resistente, visível e conveniente, ou como se cria um texto, que deve ser coeso para ser compreendido.

Ao trabalharmos a arte criamos figuras e sons e palavras diversas,

que demonstram em variados estilos o objetivo visado por seu idealizador e apreciado pelo seu público. A arte não encontra limites e se torna infinita. A minha arte é Universo Humano, e aqui está a disposição do amor, da trama, da pessoa comum e do fim do amor, exatamente neste livro.

Nós criamos a arte a todo momento, porém é uma arte sem forma a

qual depende de seu tradutor conceituar o estilo individual do artista, aliado ao estilo que rege a época em que vivemos.

Gosto de criar cenários que se confundem com a vida cotidiana de

cada indivíduo pertencente à sociedade da vida, em outras palavras, falar do sujeito comum e do cenário comum das várias naturezas, aquele “jeitão” de viver de cada um, o que pensam e o que fazem. Observo sempre o indivíduo na sua mais profunda simplicidade ou arrogância, e procuro extrair o que inconscientemente conhecemos do ser humano, mas muitas vezes nem notamos. O desejo humano é algo tão extraordinário que é capaz de modificar o mundo inteiro, uma força insignificante como as gotas de chuva, as quais frágeis têm vontade de suspender as águas dos oceanos com seu mergulho, e às vezes conseguem. O universo humano é extraordinário! Cada indivíduo pensa e constrói seu universo pessoal da maneira que bem entende, todos porém guardam semelhanças, pois cada universo humano, desenhado à maneira de seu idealizador, visa um céu com estrelas e mistérios, e um mundo com realização e felicidade.

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Meus personagens são pessoas comuns embebidas do licor da vida. Não crio super heróis nem fantasmas, apenas sou um espelho de muitos daqueles que um dia lerão as coisas que escrevo.

Não procuro desenvolver a poesia baseado no resultado final, e sim na inspiração que vem às vezes num segundo, numa observação trabalhada ou uma frase que meus pensamentos rabiscam, então transcrevo. Sou um feliz expressador de minhas idéias guardadas, porque não tenho receio algum de debatê-las. Acredito que o homem ao longo de sua vida só se arrepende friamente das coisas que seu coração desejou fazer, porém acovardou-se por algum motivo e não fez, por isso digo a todos que vivam, porque vocês são o máximo da inspiração divina ao criar todos os seres, e amem ou sofram, porque o sentimento é o máximo da inspiração humana em exercitar o esporte da existência – motivação, é o que nos move em direção aos nossos objetivos na vida, a qual curta, deve ser aproveitada em todos os aspectos.

Procurei desenvolver nessa obra, reflexões a respeito do indivíduo humano, em suas aspirações e decepções, mergulhando o mais profundamente possível no universo humano para desvendar o que existe lá, e confesso cabisbaixo que tudo que vi é como eu já havia dito, uma massa sem forma e indefinida, além disso vivi cada personagem como se fosse de fato o real, mas eu fingi apenas, eu usei a máscara da criação. Nós criamos o universo humano a todo momento, só que damos a ele o formato que desejamos. Sendo assim meus personagens terão invariavelmente minhas formas, assim como os seus têm suas formas, diferentes porém relacionáveis com os personagens de qualquer humano, porque nosso modo de pensar em muito se parece, afinal não importa o indivíduo, todos pensam em um universo com um céu, estrelas, e mistério...e um mundo com felicidade e realização.

Agradeço a oportunidade de estar mostrando o meu trabalho,

convicto de que analisarão cada uma de minhas criações e que terão uma opinião a respeito delas, de aprovação ou reprovação, me importo muito com isso. Gosto de ver a arte viva, e isso só se consegue se existir um público.

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Não há artista que se expressa para uma platéia de trigo como o fez o reles gafanhoto naquele meu livro “Quarenta Passos Até o Campo”, e tal artista não há, como se fosse mero gafanhoto no silêncio do campo e na quietude da mata.

A arte deve se manter viva o tempo todo. Um mundo cultural é

um lugar mais feliz. O conhecimento é o supra sumo do progresso vital, e devemos progredir sempre, com vontade, perseverança e idealização...olhos fitos no presente, vivamos a vida...pois a vida é agora, e é preciso viver!”

Vitor Corleone Moreira da Silva

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Índice O barco da vida................................................................................10 É que o amor morreu no Belvedere.........................................13 Cantando ao redor da fogueira.............................................15 Castelo..................................................................................17 Desconhecidos............................................................................19 ........................ Mudanças.......................................................................................21 Patrão, sô sertanejo.......................................................................23 Palavra – ônibus...........................................................................24 Rosas...........................................................................................25 Bem me quer.............................................................................27 Regenerado.................................................................................29_____________ A solidão dos carnavais..............................................................31___________ Gravatas..................................................................................33 .. ...... Pingão......................................................................................35 .. ...... .... Invenção da roda.......................................................................37....... Cinco por um Real....................................................................39 Politicália..............................................................................41 Verso morto.......................................................................43 Atrás das cortinas...........................................................45 Lua...............................................................................47 Sem título...................................................................49 Coração de morena....................................................50 O sereno da Capela...................................................52 Motivação.................................................................54.. ... Pedra branca........................................................................55 Momentos de terror...........................................................56 Lembranças da vida.......................................................57 Exército urbano..................................................................58------ Sem título.......................................................................59 Argumentos...........................................................................61 Pedaço do mundo...................................................................63 Adeus Belvedere..................................................................65 Detalhe esquecido.............................................................67 Sem título...........................................................................68 O dono do amor....................................................................70 Contagem: sereno, suspiro e amor..............................................71 Os mistérios de um copo de pinga............................................................72 Verde e amarelo...................................................................................................73 Faltava você.............................................................................................74 Filho do amor e do ódio.........................................................................75 Quem me dera você..............................................................................76 Cadinho............................................................................................79 Fogo no sertão............................................................................80

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Belo Horizonte... Uma data qualquer sem importância...

2007... Na varanda de um casebre velho...

Sepultamento do amor...

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O barco da vida

Nossa vida é navegar num rio, rema...rema

Sem saber onde iremos chegar, Vendo as flores sob o vento frio Nas margens um jardim de lírio

O sol, as tardes e o luar...rema rema sem parar

As flores são os bons momentos – sentimentos E o vento as decepções

Guardamos lembranças do tempo, lamentos Histórias, poesias, canções (e paixões)

Nós nunca mais passaremos com os nossos remos

Nas mesmas águas do rio Na vida o que nós não vivemos – perdemos

Nos deixa na estrada um vazio

Aquilo que nós não buscamos Um emprego melhor, uma promoção

Aqueles que não ajudamos Belezas que não contemplamos

Por medo, receio, aflição

E as águas descem o rio - estrada Rasgando a floresta e a cidade

Onde os carros se enfileiram e as pessoas se atropelam A esperança é o nosso remo Nosso Deus o nosso leme E a educação o astrolábio

E racha a terra a semear o milho

E cresce a flor e o alecrim do campo Uvas, bananas, limão...um brinde à exportação!

E o sertanejo inspirado colhe o seu sustento Bota a mão na sua viola

Toca um som enquanto canta o sabiá rei do mato

Na terra nasce o fruto porém na terra desaba um barraco E o pobre ficou sem casa enquanto alguns acendem brasa

Pra fazer o seu churrasco

Às vezes as águas do rio ficam turvas

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E no desespero tiramos força pra lutar contra elas O bailar da piracema vem levar os nossos “áis”

E pega a estrada a descobrir a vida

E vê que a vida é sempre a mesma vida Porque o universo humano

Diferente em cada olhar Tem as mesmas semelhanças, tem

Tem um céu de estrela e luz (e mistério) tem E uma terra de prazer e encanto (e realização) também

E como se fosse um rascunho que não será corrigido

Perdemos os entes queridos nos afluentes do rio Nós também iremos partir O nosso destino é remar

O rio ir de encontro ao mar E o barco no além sumir

Não importa, viver é sonhar

E no som da viola fazer serenata pro seu grande amor Vendo o sol raiar bem cedo

Não é só de nostalgia, não é só da alegria que se vive a vida boa Mas também da luta brava

De colher no seu roçado o que antes se plantou E o pai volta à noite pra casa Rever seu moleque levado E beijar seu grande amor

E como se fosse um rascunho que não será corrigido

Rasgamos o verde das matas e o índio olha entristecido O que antes era casa

Do lobo - guará seu parceiro Torna-se agora um cinzeiro Queimado, cortado, perdido

Oh! Clamor das tempestades! Oh! Tormentas do horizonte!

Minha vida é meu barquinho...vou lutar contra vocês Em outubro ou fevereiro, no meu voto ou no meu samba

Cada barco segue um rio

Vai pro norte ou vai pro sul Uns se perdem no caminho obscuro da incerteza

Outros perdem-se na imensidão do oceano do amor Remando vai porém sempre

Seguindo seu rumo

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Oh! Clamor das tempestades! Oh! Tormentas do horizonte!

Minha vida é meu barquinho...vou lutar contra vocês Em outubro ou fevereiro, no meu voto ou no meu samba

No estudo encontra o meio certo

E com força puxa-se o remo, No barco nós nunca esquecemos Da vida o que nós aprendemos

E o barco segue E nós remamos E nós vivemos

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Eu acordei um dia e conversei com a saudade

Rodeado de gente, sentindo sozinho Multidão na rua, passei em silêncio, até os passos

Gritos de vozes distantes chegavam aos meus ouvidos É que meu amor se foi para o Belvedere

As forças do meu corpo se escondem agora

Meu rosto se ergue e a angústia sufoca Minha coragem tem medo da solidão

O tormento que me segue fere minha alma É que meu amor se foi para o Belvedere

Em dia de sol forte sinto frio

E vejo as montanhas como se fossem monstros Não vejo meu rosto no espelho das águas, não

Não ouço mais o canto dos pássaros É que meu amor se foi para o Belvedere

Perdi a noção do tempo conforme passaram os dias

Perdi a noção da realidade e ela me perdeu Em noite estrelada dormi ouvindo o som da chuva forte

Eu acordei um dia e conversei com a saudade É que o amor morreu no Belvedere

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Cantando ao redor da fogueira

Olho os barracos do beco

Enquanto os outros conversam Acendem cigarro, se aquecem com o fogo

Até cantam Poxa! Esses barracos são tão feios Sempre morei aqui e nunca reparei

Cada um tão imperfeito, tijolos quebrados - As pessoas cantando ao redor da fogueira - Eu olhando os barracos, os outros cantando

“Vai vadiar, vai vadiar, vai vadiar...” Às vezes até penso que nossas vidas

São histórias pré – definidas Um CD de mp3 que os deuses estão ouvindo Que não deveríamos ser parte desse quadro

No meio desses barracos tão feios Eu olho as pessoas cantando

Pessoas feias, sem dente, cantando “Vai vadiar, vai vadiar, vai vadiar...”

É assim todos os dias: acordar quatro e meia Ficar ao redor da fogueira

Falando, fumando, até cantando Enquanto alguém faz o café Cinco horas passa o bonde

Hora de ir trabalhar A fogueira fica acesa e o dia amanhece

Os barracos continuam feios E o redor da fogueira fica mudo

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Castelo

Nossa casa ainda é um castelo No meio dos barracos

Lá no alto da favela do Picôto Onde os cupins e as traças são nossos súditos

O passarinho magro que aposa no muro É o bobo da corte

Que de bobo não tem nada Nossos trajes reais nossos farrapos

Mas nossos trajes são de rei Lá no alto da favela

E o manjar de tempero ruim Ainda é o manjar dos reis

Lá no alto da favela do Picôto

Eu sei que a nossa casa ainda é um castelo E a rosa que nasceu no barro da chuva

É um jardim bonito Que a muralha de arame farpado

Protege nosso reino Eu sei que o castelo é no alto

Porque nós somos muito importantes E que a água que escorre na chuva

É uma cachoeira bonita

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Desconhecidos

Quem são aquelas pessoas

Com diversas semelhanças? Quem são aquelas crianças Carregando seu brinquedo? Nas ruas da cidade grande

Misturando diferenças, Cada um com sua crença,

Seus amigos, seus parentes...

Como um vídeo que repete Lá estão eles de novo

Caminhando no meio do povo

Uns se abraçam outros beijam Quem são e o que desejam?

Numa cena repetida No caminho da avenida

De segunda a sexta-feira... Quem são aquelas pessoas

Irrequietas caminhando Armando barracos de lona?

Quem são? O que pensam?

De onde vêm? Pra onde vão?

Enquanto uns apertam as mãos, Um outro acende um cigarro...

Outros passam indiferentes No meio de tanta gente.

Quem são aquelas pessoas

Cheias de olhos e bocas Andando na rua?

Esfarrapado

Caminha um menino, Esfarrapado como seu destino...

Quem são aquelas pessoas Que no Reveilon Confraternizam

E em fevereiro se odeiam? Existem mas são minoria,

Mascaradas Num baile de carnaval

Todos querem coisas boas!

Mesmo um que não tem casa, Tanto o outro que tem tudo... Quem são aquelas pessoas?

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Mudanças

Se antes eu podia tudo Se barreira alguma

Me prendia os passos Se eu era livre

Pra brincar no barro Se eu chorava e tinha consolo

Tinha meus brinquedos Tinha proteção

E fantasias sobre o mundo Tinha o meu super herói E os poderes que ele tem

Ah! Eu tinha sim!

Tinha a força! Tinha o cosmos! Meus parceiros de pelada Que eu jogava lá na rua

Com aquela bola de trapo Tinha tudo e eu sabia Tinha, não tenho mais

Porque a infância foi-se embora

E a sociedade cobra Que se jogue o jogo Com bola decente

Nova! Vistosa! Perfeita! Não há lugar pra bolas de trapo

Só há cobrança e exigência

Seriedade! Sociabilidade!

Metas a serem alcançadas! Regras a serem seguidas!

E quando sobra um tempinho... Uma taça de vinho

Eu tive a alegria da infância

Via o palhaço do circo que era Muito engraçado! E hoje não posso Me sujar de barro

E nem acreditar em herói Apologia à política?

Não...quê isso?

O meu poder é restrito Às regras inabaláveis e

Incompreensíveis de direito: O que quero não posso fazer,

E o que posso não quero, Ou não sobra tempo

O meu jeito de vestir e Comportar também é

regrado Só posso ser criança de novo

Na mesa de um bar Sentado com os outros

Quando o Brasil faz Mais um gol na copa do mundo

E pensar que naquele tempo

Eu era Garrincha, Pelé, Rivelino Alex, Ronaldo e Robinho Hoje sou quem eu sou e

Às vezes gosto Sou fruto do meio em que vivo

Vivo ou morro Mas nós

Não brincamos no barro

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Patrão, sô sertanejo

E vem essas moda de cidade grande invadir a roça Uns tal de inglês, celular e DVD

Vem meu patrão me perguntar agora Se já mexo com o tal computador

Se já comprei meu celular que tira foto Vem falar de lap top, feedback

Patrão, sô sertanejo

E cada vez que vai pra lá é a mesma história Volta cheio dessas coisa na cabeça

Até as modinha que antes era de viola Deu lugar pra esse tal de MP3

O futebol que era na grama Os moleques jogam só no fliperama

A comida de fogão de lenha que era boa Hoje é só no microondas

Vê lá se vou saber dessa internet Se já dou manutenção em vídeo - cassete

E já tem trator melhor do que enxada

Com a antena a imagem fica mais mudada Umas tal de parabólica que nunca vi No calor já tem os ar – condicionado

Vixi! O meu sertão tá tão mudado Onde está o manual que eu não li

Porque cada vez que eu entro no trabalho O apito toca alto lá no alarme

O meu patrão me diz que é tudo charme Botar uns tal de turbo no corcel

Agora é barulheira o tempo inteiro Prefiro o alasão que é mais ligeiro Patrão tem jeito não, sô sertanejo

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Palavra-ônibus

Viver é sonhar Sonhar é não ter Não ter é querer Querer é poder Poder é vigor Vigor é saúde Saúde é viver Viver é gostar Gostar é sentir Sentir é sofrer

Sofrer é aprender Com as coisas da vida

Que se pode ver Não se pode ter

Ter é poder Para magoar Para festejar Para ser feliz

Para entristecer Poder é a força Para prosseguir Para suportar Para consolar

E força é viver

Viver é amar Amar é sofrer Sofrer é sentir Sentir é penar Penar é morrer

Mas morrer não é vida Por isso que a vida Não pára na morte

A vida não pára

O tempo não pára O ônibus pára

Mas volta a correr Correr é vigor Vigor é saúde Saúde é viver

Viver é abraçar

Abraçar é tocar No corpo que é quente Ou lembrança ardente

Viver é lembrar Lembrar, recordar Recordar é viver

Viver é tentar Tentar é lutar Lutar é buscar Buscar é vibrar Vibrar, merecer Merecer é poder

Poder é vigor É força também

Eu sei que a vida Não pára no além E sei que a partida Não parte também

Lá longe se encontra Quem já viveu

Quem não viveu E vai viver

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Rosas

Quem me dera aquelas rosas

Que nasceram no cantinho do quintal Tivessem pés para caminhar

E viessem até aqui Me contar as novidades

Deus conserve aquelas rosas Que jamais verei jamais

Quase um dia eu esmaguei-lhes

Não reguei um só momento Deixei isso a cargo do orvalho Da chuva, da vizinha ao lado Deus conserve aquelas rosas

Que jamais verei jamais

Elas não se tornaram buquê Nem matéria - prima do mel

Cultivado pelas abelhas Nem foram cortejadas por um beija-flor

Pois são rosas bem escondidas No cantinho de um quintal

O perfume eu sei, suave Porém rosa é tudo rosa

Deus conserve aquelas rosas

Que jamais verei jamais

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Bem me quer

Bem me quer te quero bem Muito mais do que podia Se você me quer também Com amor e com magia

Dessa de acender fogueira De levantar poeira, e

Abrir um buraco nas nuvens No meio da chuvarada

Ou um sol de madrugada No quarto, só eu e você

Bem me quer e só, tá bem

Bem não quer a mais ninguém Do jeito que me quer bem

Se não eu não fico bem Quero o riso só pra mim

E seu cheiro bom de sentir Que confunde com carmim Que é suave e doce enfim

Bem me quer te quero bem Se você me quer tão bem

Mesmo se eu fugir pra longe Ficar lá por muitos dias

Se me quer te quero vem Se te quero e quer também

Pra passar por todo mal Bem pior do que passei

Porque às vezes vem alguém Pra roubar o nosso bem

E ele deixa-se levar Vai embora e diz adeus

Diz adeus como quem faz Coisa fútil, sem piedade

Deixa em pedaços alguém Quem? Quem?

Já nem se lembra... Ele perde a importância

E transforma-se em ninguém Já não sente amor porém

Bem te quer, é, ainda

E lembra-se dos momentos E chora ao lembrar de tudo

Bem querer nunca é deixado Se também é um bem querido

Quem não ama nunca tem

Que chorar, não há ninguém Pra ser sua companhia

De noite, de dia, onde for

Bem me quer te quero bem E acredite eu sei que há Medo no meu coração

Mas se quer te quero vem

Bem te quero porque tudo Que você me faz é bom

Se não fosse eu não queria Pois dá medo de sofrer

Mas te quero e quero bem Se você me quer também

Eu não quero mais ninguém Só você que me faz bem

Bem me quer?

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Regenerado

Não choro mais, não durmo Não dou risada pro mundo Nem fico triste por nada

Não alimento-me, não caminho Não tenho medo das sombras Nem coragem pra enfrentar

Não tenho fala Ação alguma nos músculos

Sem consciência, sem liberdade Não estou aprisionado

Não canto, não perdôo nem castigo Não respeito nem desrespeito

Não tenho vontades Sem mais não

Nem mais sim ou Talvez também

Regenerado sem vinho ou champanhe Sem mais nada Nem mais vida

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A solidão dos carnavais

A música tocando alto A avenida lotada de gente

Que pobre ou rica se mistura sem pensar em nada Fantasias coloridas com o sotaque verde e rosa

Quem me dera a mão do tempo não rasgasse o calendário Eu ficaria aqui todo esse tempo, seria minha ideologia

Seguindo essa avenida pra onde todos estão indo Atrás do trio elétrico

Que nem sabe o seu destino, seu rumo, Mas vai...

Quem me dera os carnavais não morressem quarta-feira Para que o som das marchinhas ecoando na mente

Não trouxesse lembranças recentes Dos risos que dei e amores que vi

Da bela dama que não dormiu do meu lado Nem da lua cheia que atiçou minha libido Dos vinhos tomados, das vozes, de tudo

Tudo que vi, e vivi e gostei Tudo que sou e o que posso sonhar

Quem me dera a quarta-feira não levasse os carnavais

Eu poderia prolongar Esses amores que não são meus

Que de amores não tem nada só o encanto e frenesi

Um coração vazio Sem esforços faz desenhos de ilusão

Para colorir as paredes do casebre sem gente Largado no meio do mato

Mas que corajoso segue o ritmo da melodia Antes de raiar o dia

Porque depois só fica o eco desses minutos Na quarta-feira calada e deserta

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Gravatas

Libertem as suas gravatas Da rendição e do legado de extermínio

Que elas não sejam prisioneiras todo o tempo As gravatas querem paz, querem um dia de sossego

Penduradas no varal à sombra

Libertem as suas gravatas Que elas não sejam a corda que sufoca seus pescoços

Que elas não sejam reflexo da vida social regrada e tosca Liberdade às gravatas do Sudão

China, Egito, Itália e Japão Liberdade às gravatas de Oklahoma

Libertem as suas gravatas Libertem as gravatas borboleta

Deixem elas descansar um pouco

Penduradas no varal à sombra Só com a brisa da tarde balançando-as mansamente

As gravatas estão cansadas Sufocadas em nós apertadíssimos Que cobram cada vez mais delas

Mate o rei capitalismo Consumista e escravagista

Libertem as gravatas pois

Já nem sabem o que é a diversão de um final de semana Já não tem tempo para pensar em nada

Se tornaram robôs Marionetes da vida

Libertem as suas gravatas

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Pingão

Vou tomar um pingão Vou morrer de rir

Na cachaça marvada Encontrar minha amada

Perder a razão Voltar a sorrir

Vou tomar um pingão

Essa pinga é um tormento Tentação de sereia

Deixa o cabra de fogo Abre um riso no rosto

Abre um rombo no bolso Põe fogosa a solteira Assanhada a casada

Alegre o caboclo E bonita a que é feia

Sensação de loucura Mas tô sendo sincero

Alegria que dura Que põe fim à amargura Dessa pinga eu espero Vou tomar um pingão

Hoje eu vou tomar uma pinga

Que amargue e faça rir Vale a nossa sul-mineira

Cristalina, amarga e nossa Pra acabar com a tristeza

Da vida, da sorte madrasta Hoje vou tomar um pingão

Vou tomar um pingão

E cair na gandáia Cantar pras estrelas Falar com ninguém Na beirada da sáia

Recitar minha trova

Fazer serenata Me tornar professor Da matéria da vida Da matéria do amor

Serei mais bonito E mais importante

Bem mais do que antes Serei, serei sim

Se não bastar tudo isso

Vou rolar pelo chão Vou tomar um pingão

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Invenção da roda

Está inventada a roda! Agora os carros de pedra

Vão deslizar velozes sobre as pedras. Este é mais um grande passo Pra nós da idade da pedra!

É uma pena que a roda é de pedra! Podia ser de borracha ou madeira

Mas tudo bem! Usemos! Outras inovações virão mais tarde.

Está inventada a roda! No futuro ela será a mãe do progresso!!

Tudo funcionará com rodas: A tampa da garrafa de refrigerante,

Redonda igual a roda! As bolachas serão redondas

Pra homenagear a roda. Os relógios, o apontador, o lápis e a serra - elétrica...

Tudo redondo que nem a roda! Os discos também serão redondos.

Até as teias de aranha e o relógio na parede A roda será moda

Na roupa de modelos bonitas! As munições do revólver, é...

Foguetes, bombas, granadas e rodas: redondos. As rosas, guarda-chuvas, parafusos: redondos.

A roda será mãe da tecnologia! Escrivão!

Escreva aí em sua folha de pedra: Está inventada a roda!

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Cinco por um Real

Essa tal pirataria já virou um caso sério Tem sapato, tem CD, tem Viagra, tem de tudo

Estão clonando até as cores do país do futebol - Cinco por um Real Cinco casas, cinco escolas, cinco empregos, coisa e tal

Por quê acha que sumiram as grandes bandas? É o tal do cinco por um Real, realidade

Tem cigarro, bolsa, blusa, anti-concepccional - Cinco por um Real

Cinco por um Real Cinco shows a menos feitos pelo artista nacional

Cinco por um Real Depois quem é que vai dar crédito ao país do carnaval

Tem carteira, tem boneca e tem rolex suíço

Essa moda pega, veste mais do que o vício...cigarrinho mixuruca Por quê acha que o comércio tá parado?

Se não tá vendendo roupa então por que abrir mais loja? Se ninguém compra sapato então por que abrir mais firma? Quem não culpa o presidente sempre ajunta mais trocados Bem melhor pagar o imposto que ficar bancando o otário

Cinco por um Real Eu não beijo boca louca com batom paraguaio

Cinco por um Real Se o radinho de pilha quebra quem bancou o otário?

O barato que sái caro pro produto Interno Bruto E o pior é que o que compra nem se liga no que falo

E reclama, se a China cresceu doze por cento

E reclama, se a água, a luz tá subindo Cinco por um Real

A maneira mais tranqüila de um Real descer o ralo Cinco por um Real

Se clonarem meu livrinho vê se escreve tudo igual

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Politicália

Essa tal politicália tá ficando Meio “cana”. Esses caras enrolando

Se fazendo de bonzinhôôô! Beijá Criança e limpá boca longe da TV Tão pensando que sou trouxa ou Vocês tão de sacanáááááááge? Quando chega o tempo fazem Meia dúzia de projetôôô e no

Horário da novela tira onda de simpaticôôô É que essa tal politicália tá

Virando é palha-assada Si eu num iscrevenhei direitinho heim

Perdão aí sí num tô iscrevenhando É que num sô bom em iscrevenhá

Minha escola não dá bomba Minha escola é uma bomba

E essa tal politicália...

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Verso morto

Enterra! Porque esse verso tá morto.

Não vai à escola, não namora e não beija...não respira. Pra quê viver com um verso assim em casa?

É somente um verso de enfeite! Não sabe contar piada...

Esse verso nem faz chorar, é um verso sem rumo! Não sabe o que quer da vida.

Esse verso não bebe cerveja, não fuma, não discute futebol, Não sabe fazer uma boa massa de cimento

Esse verso tá brochando ou está mal – acostumado! Esse verso morto só vive assistindo televisão,

Ouvindo música no rádio... Não sabe jogar carteado, vive dormindo.

Tem preguiça de tomar banho. Só tem boa vontade na hora do almoço.

Ouve samba mas não sabe dançar nem cantar. Gosta de festa mas nem se arruma pra acompanhar sua mulher

A poesia! Mulher do verso morto e safado Que caiu na rotina. Verso vagabundo Que não sabe trabalhar de pedreiro.

Acha que há solução em suas palavras Para os problemas da seleção de futebol

Mas não discute futebol Só fala e vai embora e o pior

Só dá palpite errado! Se acha o bom...

Não faz amor com sua esposa (que reclama), Não beija e nem tira casquinha...

Enterra! Porque esse verso tá morto!

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Atrás das cortinas

Por trás das cortinas Um homem chora ao lembrar dos problemas

Olhando no espelho seu rosto pálido de retirante Os fatos da vida passando nos olhos feito filme de terror

O desespero vem ressecar sua boca e Nem saliva resta pra engolir

Por trás das cortinas

Ele se lembra da poesia dos tempos da infância Da distância que seus brinquedos ficaram

O soldadinho de chumbo que se perdeu no rio pra sempre E da bola de couro que já não pode chutar

Já não pode sorrir pois não tem fantasia

Já não vê pôr-do-sol porque a noite é seu dia Rezar? A bíblia ele tem mas não sabe ler nada Já não quer mais sonhar, que a realidade é dura

Olhando a si mesmo no espelho procura O homem que o tempo roubou da existência

Por trás das cortinas ajeita sua roupa

Com o rosto triste e magoado A noite cái e ele olha a janela com o vidro quebrado

Quem dera a brisa que lá fora corre Secasse a lágrima que o rosto tece

Nas curvas pálidas de sua face Levasse pra longe o mal que tem passado

A cultura morrendo pouco a pouco E esse aí é meio herói meio louco

A sustenta nos braços com fibra e paixão A vida é madrasta com certas pessoas

A sociedade só quer coisas boas Pobres mendigos, carentes e cães

Por trás das cortinas

Com fibra e fraqueza ele enxuga seu rosto Com mágoa e tristeza dá as costas pro espelho

Que é o seu herói pois nele vê um homem resistente Engole o cuspe com sabor de angústia

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Endividado, deprimido, aos pedaços Um que não é feliz e não tem alegria alguma

Enche a mão de purpurina E joga no rosto

Como quem leva um soco

As cortinas se abrem E de trás delas surge um palhaço

Pra alegrar seu público

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Lua

Como outrora hoje branca e cheia Vejo a lua alheia colorindo o céu

Com forte luz a qual por volta e meia Ilumina os sonhos que plantei no céu

Como outrora hoje tão formosa

Vejo a lua cheia no esplendor do céu Sua magia a derramar nas rosas

Faz jorrar do espaço lágrimas de mel

Como outrora hoje tão silente Vaga ampla e solta a lua no céu E vai errante e me faz contente

Cultivando os sonhos que plantei no céu

Como outrora hoje tão brilhante Vejo a lua cheia, luz de um branco véu

Eternamente seremos amantes Eu aqui na terra, ela lá no céu

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Sem título

amor Quando é de verdade

Não morre Não se apaga no tempo

Que corre A emoção toma conta do olhar

Se o destino me leva a você

Numa esquina qualquer por aí Numa troca de olhar sem querer

Numa carta que um dia te dei Seu retrato que sempre guardei

Amor quando é de verdade

É mais forte Resiste ao tempo, ao vento

Até à morte Essa vida é um deserto sem flor Minha vida é melhor com você

Com você quando o inverno chegar

Do meu lado Quando amanhecer

Sem você minha vida é sem cor Então vem

Ressuscita esse amor

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Coração de morena

Derramado em lágrimas, Coração de morena pulsa e sonha!

Cada beijo é um novo riso! Cada adeus é um novo choro!

Mas se pudesse...algum dia se livrar de tudo, Rejeitaria a liberdade

Para viver de novo tudo que viveu!

Quando a noite chega e o sol vai embora, Coração de morena dorme, suspira!

Em cada hora um novo viso! Em cada sonho a cor do ouro!

Mas se quisesse...algum dia deixar de sonhar, Sei que a morena morreria Porque o sonho é sua vida!

Quando o bem-te-vi canta – bem cedo –

Coração de morena acorda sorrindo! Cada pulso – um sorriso! Cada riso – um tesouro!

Mas se algum dia...a morena acordar chorando A alvorada surgirá tão triste (eu também)

E meu coração também

Sob seios perfeitos Coração de morena desfruta os momentos!

Cada pulso é como um sino Que anuncia o meu consolo.

Mas se acontece, De a morena resolver partir

Seu coração pulsará distante (do meu) E o meu, vai viver chorando!

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O sereno da Capela

I Cái a noite e o doce orvalho Sobre as flores lá da praça

Que um dia abençoou Alderigi, o Monsenhor

Varre o vento às folhas secas No silêncio da Capela

Toca a brisa aos coqueirais Dorme o povo, dorme em paz

O sereno da Capela Não resfria um coração

II Horas mortas, madrugada Pedra Branca iluminada

Pelo brilho da geada Que esconde o horizonte O silêncio, o frio intenso

Os anjos guardiões Com suas trombetas voejam

Pelo céu e anunciam Que o raiar do dia vem

Já vem vindo o alvorecer

III Vem à noite a romaria Antes do raiar do dia

Vem o dia, acorda o povo E a geada vai secando

É missa! O sino tocando É inverno! O frio corre Blusas, casacos de lã É maio, de festa e afã

Festa da padroeira Santa Rita abençoai

Ao que fica e o que vai Seguindo o mundo afora

Porque o fogo dessa oração Faz brilhar no coração

Um eterno arsenal de paz O sereno da Capela

Não resfria um coração

IV É maio, de festa e afã

Barracas, festeiros, romeiros Paulistas, cariocas, mineiros

Uma fila imensa de fiéis Santa Rita, oh, Capela

A qual é guardada por ela Santa Rita protetora

Guardai o seu povo, guardai

V Como nuvem passageira

Anuncia a voz no canto Fúnebre A despedida

É esse o segredo da vida Viver, viver, descansar

Ecoa pela Capela O eco das vozes que era

Até ontem violão Hoje triste em comoção Como nuvem passageira Da cidade ou do sertão

VI Vai pro campo o sertanejo

Colher o produto do esforço Ao cortejo vão dois moços No banquinho lá da praça Ao redor das moreninhas

Fica em casa a arrumadeira Cái a tarde e o sino toca O comércio vai fechando

O dia vai se acabando A vida vai se passando E o sereno da Capela

Não resfria um coração

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VII

Pôr-do-sol forasteiro Festeja essa tarde conosco

Um brinde de amigos no bar Um beijo de amor em seu lar

O homem e sua amada Adeus pôr-do-sol forasteiro Que vai embora descansar

VIII Estrelas se acendem no céu

A noite a cobrir o dia A última missa acabou

A porta já se fechou A praça de novo deserta A brisa de novo a cair Jorrando o frio intenso Que sacode o cobertor Quando entra na janela

Que uma mão materna fecha Doce, pura, é Santa Rita Pra que o frio do sereno

Fique do lado de fora Até o despertar da aurora

Quando o bem-te-vi cantar E quando a criança acordar

Antes de sair à rua Ao Monsenhor Pede as bençãos

E agradece à padroeira O sereno da Capela

Não resfria um coração

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Motivação

Chegue um dia triste na frente de um espelho

E diga: eu sou lindo Não há nada que eu não consiga fazer

Eu sou importante e capaz O que eu penso é importante para os outros

Volte a dizer: eu sou lindo Eu sou admirado por todo mundo

Por isso às vezes sou criticado, sou lembrado Sou tão importante para o mundo que os

outros Querem que eu veja meus defeitos

Pra ficar melhor ainda Oh! Como eu sou lindo

Sou persistente em relação aos meus sonhos Os meus objetivos

Alcanço a todos, todos...todos Sem a minha existência

O mundo ficaria muito ruim E por isso estou aqui

Pra tornar o mundo bem melhor Diga: eu sou importante Sem dúvida eu sou lindo

Tenho a visão de um líder tenho inteligência E audácia de vencedor

Guarde a imagem desse espelho Olha a vida lá fora

Sacode a poeira e segue em frente Porque a vida é agora

E é preciso viver

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Pedra branca

Quem me dera se eu pudesse oh pedra branca Do meu corpo arrancar forças para ir

Aos teus pés e num impulso escalar-te Mas não tenho forças Eu não tenho forças

Olho sua visão no horizonte imponente entre as rochas

Sinto a brisa gelada que vem de você Sinto o peso dos meus anos que já foram embora

Lembro os dias em que o arfar do peito Era prova indiscutível de vigor

Era o tempo das páginas em branco Hoje todas já escritas envelhecem

Fico por aqui sonhando as coisas não realizadas Quem me dera pedra branca

No seu topo abrir os braços e me sentir O rei do mundo

Mas não há mais páginas para serem escritas

O meu livro está chegando ao fim Quem sabe em vez de ficar só olhando

Minha alma voe pelos ares Quando meu sopro de vida acabar

E contorne-a deslumbrando-se Com a rocha albina que jamais subiu

E uma gota de lágrima irmã das almas Há de molhar o meu livro já fechado

Não estarei mais aqui Quem sabe alguém enxugue a gota

Quem sabe dela surja uma flor Quem me dera a flor ser branca Quem me dera oh pedra albina

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Momentos de terror

O terror de alguns momentos Já rasgou a minha face

Com lágrimas bem afiadas Vi o sol fugir de mim Levando o dia

Deixando apenas a escuridão

Esses momentos fizeram O coração parar de bater,

E os olhos Perderem o sentido da visão

Perdi A capacidade de ter coragem

O dom supremo de sonhar

Momentos tão cruéis Pra quê?

Que levam embora a luz

Dos astros celestes e deixam As queixas tarimbadas

De quem sofre Leva o som do oceano

Leva o vento da montanha Leva a música do campo

O canto do passarinho O gingado da capoeira, leva

Os sorriso das meninas Brincando de ciranda

Faz a flor murchar mais cedo E a invernia desabar Socando meu rosto

Com o vento Gelado, seco...rude

Difícil caminhar Se os pés já não têm força

Os momentos prosseguem

E a luz no fim do túnel Ainda está muito longe

Não sei se vai dar tempo

E minha face costurada

Como o chão rachado e seco Petrifica pouco a pouco

A luz de uma vela

Ilumina minha presença Me dando um certo ar

De importância

Em vão Sou só eu e o meu momento Ruim

Terrorista e sem piedade Batendo

Em quem não tem defesa Porém apanha de pé

Sem cair momento algum

Sucumbindo pouco a pouco Igual ao tronco do ipê

Quando os galhos são Cortado

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Lembranças da vida

Hoje velho lembro o tempo Daquela infância vivida Dos anos da minha vida Das coisas que realizei

Se não vivi todos os amores Saudade, que o peito nega Mas no coração carrega Os amigos que encontrei

Nas caminhadas da luta

Só descansa o que labuta Dia a dia, sol a sol

Vi o inferno do nordeste A seca engolindo o agreste

Nenhum peixe no anzol

Vi a vida na cidade A guerra da sociedade Por um pedaço de pão Vi tristonha a realeza

Pois nada tem mais beleza Que o luar lá do sertão

Na cidade só tristeza

A bruxa era igual à princesa Em vaidade e malvadeza Nesse tempo uma paixão Alojou no meu coração E me trouxe a solidão

Passei por uns anos difíceis

O mundo com medo Dos mísseis

Guardados lá em Moscou Mas também curti as festas

As cantigas nas serestas Conheci um grande amor

Quando me entreguei ao vício

Eu criei um artifício

Pra culpar o desprazer Mas depois eu percebi

Que chorei porque não vivi O que precisava viver

Enchi o peito de vento

Dei vida ao meu sentimento Na trilha do ouro corri

Meu cabelo esbranquiçou Meu vigor se apagou Voltei pra onde nasci

Nas perdas e despedidas Escrevemos nossas vidas Na cidade ou lá no campo

Saudade que o peito carrega Quando lembra não sossega

O homem é refém do encanto

Eu vivi cada momento Não privei meu sentimento

De existir, quem dera eu Fosse forja e fosse espada A ave sem asa quebrada

O lírio nos campos de Deus

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Exército urbano

Nós todos fazemos parte Desse exército urbano

Somos nós que caminhamos pelas calçadas da região central Somos nós que levantamos cedo

Cada um de nós é um integrante desse sistema regrado Dizem que não pensamos Dizem que não vivemos

Nós todos fazemos parte dessa legião de vozes Somos nós que fazemos o café Somos nós que caminhamos

E somos vistos das janelas dos carros Que freiam em cada sinal fechado

Enquanto invadimos o asfalto num balé sem ensaio Porém perfeito e sem atrasos Mas dizem que não pensamos

Dizem que não vivemos Somos somente uma massa

Pelas calçadas da região central Indo e vindo sem destino

Nós somos todos essa legião urbana Vestida ou descamisada, contente ou de cara fechada

Somos nós em cada ônibus No final de cada dia

Nós somos o exército urbano Caminhando pelas ruas

De Segunda a sexta – feira Sempre nas mesmas ruas

Da região central

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Sem título

Amar é Dom que nasce da ternura E não do falso beijo e falso amor

Se não amar transforma-se em loucura E trás ao coração somente dor

E sofre, pois se amou não foi amado

E sonha, se chorou mas fez sorrir Amor é um sentimento partilhado

É dom que Deus nos dá para existir

Não sabe quem engana o quanto pode Magoar

E por o seu veneno em um sorriso

Amor que é de verdade vem, sacode Os nossos corações e o nosso olhar

Amor que é verdadeiro é um paraíso

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Argumentos

Por favor fechem esse livro Porque infelizmente eu não tenho argumentos.

Vocês aí me olhando com essas caras...espantados E eu aqui feito palhaço, mudo!

Eu poderia contar uma piada mas a minha vida já é uma piada! Rá! Rá! Rá!

É verdade, estou falando sério! Já disse pra vocês fecharem o livro,

O quê mais posso fazer se não posso sair daqui e obrigá-los? Eu não tenho argumentos

Para prender vocês nessa leitura chata, E o que tenho a dizer não vai melhorar a vida de vocês em nada.

As minhas palavras eu lanço ao vento

E nem espero que alguém as ouça...pra quê? O que irão ganhar com isso?

Eu nem sei por que existe a palavra... A frase, o verbo, o idioma inteiro...

Se um fala, o outro não ouve E no fim ninguém se entende e acha tudo isso natural.

Estou falando agora sobre nada pra vocês

O tempo todo!!!!!!!!!!!!!!!! Pra falar a verdade não sei porque existe o tempo... Essas regras todas como respirar e piscar os olhos.

Eu devia ter lido o manual de instruções Antes de começar a usar esse produto,

Essa tal de vida. A vida é cheia de regras e fórmulas complicadas demais Sempre acordar, comer, beber, respirar, comprar, pagar...

Ah! Basta! Fechem logo esse livro porque eu já perdi a paciência!

Deve estar passando alguma coisa na T.V.

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Pedaço do mundo

Esse é o pedaço do mundo que eu mais venero

Cada grão de terra do horizonte é lindo

Belos horizontes pros meus olhos tão cheios de problemas

Paro e descanso a olhar a vida

Debaixo da nuvem de fumaça

Olha só essas árvores, que maravilha

Nas ruas a alegria (ou tristeza) das crianças

Tantos Josés com o mesmo sonho – e que sonho

Várias Marias e um só coração

O movimento do rap nos carros que freiam

A marcha sem descanso dos ambulantes que vendem

A cor do grafite, as mensagens deixadas pelos versos urbanos

O prazer de um final de trabalho, o ônibus lotado,

O descanso da casa e o alívio de estar com a família

As cenas que o cotidiano apresenta

Paro e percebo

Esse é o pedaço do mundo que eu mais venero

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Adeus Belvedere

Não posso mais continuar Como fui me enganar desse jeito Como pude deixar meu sujeito

Para cultivar uma aventura

Estou indo embora adeus Vou pra longe e não volto mais

Onde a culpa não me ache E a saudade não se vingue

Não...os carnavais não são eternos Não carrego o nome de amor

Zelo apenas por meu ego Não sei amar só magoar

Aos que magoei peço meu perdão eterno

Que os momentos bons Superem as mágoas na lembrança

As coisas ruins o tempo conserta Eu não continuo seguindo a estrada

Ficarei por aqui vendo vocês se distanciarem Eu vou pra longe e não volto

Eu não continuo

Eu morro no tempo pra sumir da história

Não...os carnavais não são eternos Todos morrem quarta-feira Num arsenal de cinza santa

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Detalhe esquecido

Tudo bem! Eu sei que vocês têm pressa e o horário é curto Eu sei que os carros não param de buzinar em seus ouvidos

O barulho deles me incomoda também às vezes Eu sei que o tempo voa, voa depressa

Eu sei que vocês tem pressa Mas estou ficando esquecido

Vocês passam o tempo todo em volta de mim E nenhum de vocês me repara

Já dizia o Cazuza: “o tempo não pára” E eu compreendo que vocês têm pressa

Mas estou num lugar tão óbvio Vocês vem da Afonso Pena, vão pra Amazonas

Olhando fixos pra lugar nenhum no inconsciente de vocês E nem me reparam

Eu queria ser o centro das atenções Mas vocês é que se tornam para mim o tempo todo

Quando caço alguém que me admire em vão, ninguém me vê Cada semblante revela o que estão pensando

Uma preocupação, uma esperança Trago o nome Independência

Mas ando tão dependente de vocês Eu queria ser o centro das atenções só por um instante

E no entanto sou só o centro dessa praça Modéstia parte: que praça bonita

Vocês concordam comigo?

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Sem título

Hoje não saiu o sol e o dia é triste Porém quem tem que trabalhar vai e trabalha

Mesmo se o tempo é de luto e o clima de chuva O ônibus enche do mesmo jeito

E vai Cidade grande

Quem tem que estudar vai e estuda

Quem vai comprar ou vender Até quem vai roubar

Se ainda bate o tambor no peito alheio Por que não viver

Nada abala a necessidade humana

Nem mesmo um dia nublado A sociedade não pára por nada

Nem mesmo pra ver um coração parar de bater Ou alguém chorar a perda

O altar mórbido da mansão dos mortos a todos espera

Que espere então é o que todos pensam Pois têm que correr de um lado a outro da cidade

Mesmo que sem rumo E sem tempo

De ouvir os clamores De um dia nublado

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O dono do amor

Eu queria ser o dono do amor

Não escravo dessa trama que entristece Essa chama que não queima e adormece

Quando mais nós precisamos de um sorriso

Eu mandava que ninguém mais fosse triste E não mais existiria a tal da dor

Isso sim, se eu fosse o dono do amor Inventava um grande amor pra ser eterno

E que não desgostasse com o passar do tempo

Nem esfriasse o desejo, não brigasse à toa Ficaria guardado em cada momento

Um registro positivo em prol da humanidade

Só de paz, só de riso, só de amor Sem dor, sem sofrer e sem saudade

Eu daria a cada rosa um beija-flor

E ao frio do inverno um casal de amantes Um abraço, um convite, um cobertor Isso sim, se eu fosse o dono do amor

Apagava da história as tristezas de antes

Essas que tenho medo e que são fortes demais A ponto de me roubarem toda a paz

E jorrarem no meu corpo um mar de dor

Eu queria ser o dono do amor, faria Com que a vida fosse bem melhor vivida

E não mais existiria a solidão

Eu queria despertar e ver o dia Levantar a flor que o inverno vê caída

E sem pena deixa ao léo, morrer no chão

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Contagem: sereno, suspiro e amor

Eu olhava pra ela Toda vez que passava naquela rua

E sentia um acréscimo de vitalidade Uma coisa inevitável

Contagem: sereno, suspiro e amor

É como se ela fosse diferente Seu jeito, seu modo de olhar

Contagem: sereno, suspiro e amor

Na rua – tanta coisa pra olhar Lá longe um monte esverdeado

O ar, os desejos do homem, a graminha Juntando o meu instinto super - protetor

Contagem: sereno, suspiro e amor

Começou a ventar quando eu voltava De repente veio a chuva forte

Me abriguei e...quem poderia pensar Que ela se abrigaria comigo

Olha o sorriso dessas pessoas

Olha o risco no horizonte, longe A maneira de pensar

Que guardamos na lembrança E nos nossos costumes

Olha a expressão facial desse montão de gente Contagem: sereno, suspiro e amor

O sereno da chuva passou

O clamor de dezenas de trovões A água correndo na rua

Mas ela ficou...e eu também Contagem: sereno, suspiro e amor

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Os mistérios de um copo de pinga

Lá vou eu com meus problemas Aquela mala sem alça com quem me casei

Aquela praga de emprego, o chefe pão - duro O bar do Mané, a cantina, o açougue

Cobrança, cobrança, água, luz, telefone O carro de luxo que nunca vou ter

Tempo é dinheiro...trabalho, trabalho Folga??? Hoje tem jogo da seleção???

Então garçom? Tráz a minha sul mineira

Se bem que... Pelo menos sou um cara com saúde

Posso ter meus defeitos mas sou bom Posso ter os meus problemas, posso ter

Mas tenho amigos de verdade, é... Garção, outra pinga seu garção

Nãão...na verdade eu sou é o cara!

Ninguém pode comigo Lá em casa quem dá as “orde” sou eu Se não fosse eu o patrão táva perdido

Eu é que devia ser o chefe dele E até que minha patroa lá em casa tá até jeitosinha, sabe

Me manda essa garrafa de pinga aí ô parceiro

O meu carro é uma beleza, não tem igual E eu sou macho! Isso eu falo pra qualquer um

E peito quem tiver que peitar

E eu sou o dono do mundôôô

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Verde e amarelo

Todo dia quando acordo Vejo o sol verde e amarelo Vejo o céu verde e amarelo

E como se não bastasse Vejo o mar verde e amarelo

E quando voa o quero-quero

De um pomar verde e amarelo Canta o som dos quero-queros

No horizonte belo, belo

Pelas ruas, pelas praças Com o olhar verde e amarelo Paro e penso um pensamento

Que me lembra o lero-lero Do que disse que mudava Toda a fome das crianças No país verde e amarelo Se mudava não mudou

O avião verde e amarelo

Corta o céu verde e amarelo Tudo é verde e amarelo E as ondas desse mar E as marcas na areia

Até o canto das sereias As cores do quero-quero Como o horizonte belo

No país verde e amarelo

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Faltava você

Sem você tudo é difícil é tão sem graça Sem estrelas no meu céu sem ter prazer

Cái a noite e no meu quarto perco o sono Depois vem o sol me acorda e vai, por quê?

Sem você tudo é difícil em minha vida amor

Tanta dor tanto pesar tanto sofrer Sem ter você

Fica muito mais difícil de viver

Faltava você Pra que a vida fosse bem melhor do que era

Você é a razão da minha dor da minha espera O som do violão vem relembrar o nosso amor

Não sei

Se eu voltarei a ser feliz Quem dera

Porque a solidão jogou meu sonho às feras Deixou só lembranças

Dentro do coração

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Filho do amor e do ódio

Eu sou o filho do amor e do ódio! Mesmo que no peito o coração não toca...

Mesmo que no corpo o sangue não circula... O olhar não vê e o sabor não há.

Na ilusão trancado, mago do destino

Aprecio as lágrimas nos seus olhares... Se tivesse escamas recortava o rio! Se tivesse asas recortava os ares!

Beberia a dor das lágrimas caídas

Ou então deixava que formassem rios. Eu não viveria os sentimentos frios

Só o que me convém, só o que me faz bem! Mas eu sou o filho do amor e do ódio!

E quem me dera deliciar as chamas do prazer! Sentir na pele as rugas da idade! E se no peito o coração tocasse?

Me sentir com sono quando eu acordasse E a libido humana quando anoitecesse...

Ah! Que maravilha!

E se no meu corpo o sangue circulasse? Se eu tivesse asas pra voar pra longe? Se tivesse escamas pra seguir riachos?

Se tivesse vida pra poder viver?

Eu sou o filho do amor e do ódio Sem vida sem morte sem nada...

A sorte que me detém é o desvario da explosão madrasta, Que se de um lado fez nascer o homem...

Do outro, Não me deu nem água.

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Quem me dera você

Ah quem me dera se fosse Refém de um sentimento doce

As batidas do seu coração Meu olhar ao seu se juntaria

No seu lábio o meu se encantaria Um beijo puro, madrugada fria

Só de amor sem medo, guerra ou solidão

Fugiria contigo pro explendor da selva Te cobria de amor por sobre a verde relva

Te contava histórias para adormecer Eu seria em vida o beija flor real Por você lutava contra todo mal

Eu te dedicava o som de um violão No meu coração morava só você

Ah se fosse meu o vulto dos sussurros Que o suspiro alegre emana do seu ser

Eu diria: vida... Como é bom viver!

Eu seria sempre louco por você Mas a chuva é fria e a madrugada mata

A vida é madrasta e a sorte não há

E se fosse meu o seu sorriso de amor Se me desse o toque de amor do seu corpo

E se admirasse com minha presença Minha sentença eterna seria te amar Nossa vida então seria o mel da flor

Sem a dor do espinho só carinho e ardor Uma chama eterna sempre a se queimar

O fogo dos vulcões que em nossos corações

Queima pelo amor o qual divinamente Sente, tanto o velho quanto o adolescente Quando ama alguém, quando ama alguém

A vida é madrasta e a sorte não há A madrugada é fria e a brisa é gelada

Escondido dela, continuo a viver

Quem me dera você

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Quando o sol acordar me dar um doce beijo Um arsenal de encanto, sonhos e desejo

Ver surgir no toque do meu coração Os risos guardados no tempo tão triste

Que a madrasta vida mata, bate e insiste E deixa marcada em tons de solidão

Quem dera porque eu queria Me livrar da madrugada fria Preencher a vida tão vazia

E aquecer o brilho de um olhar sombrio Com a presença amiga companheira e doce

Meiga, carinhosa, quem me dera fosse Chuva pra molhar a solidão do estio

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Cadinho

Sonhar É ter um barco e não ter velas É ter um carro e não ter rodas

Ter asas e não poder voar Todo sonho é o mel sem a boca

Pra sentir seu gostinho Mas o sonho é razão de viver

Pois quem sonha acende a alma

E luta por seus projetos Um sorriso e nove afetos

Pra somar belezas dez Sonhar é como mergulho

Nas águas do leito dos rios

Debaixo da terra dos pés

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É que o amor morreu no Belvedere

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É que o amor morreu no Belvedere

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Fogo no sertão

Vida vida frágil Ventania corriqueira de um matagal no meio do nada

Que no escuro da noite fica vulnerável Ao uivo dos lobos e onças

Ao poder maléfico do intelecto humano Ao frio, ao frio, a tudo

Vida vida breve Vida breve do sertão

Cirandeiro que toca e faz festa

Catira, modinha sertaneja com aroma do campo Logo trás um cadinho de malícia ao olhar impuro

O ser humano é falho em respeito Sem respeito no sertão

Logo o mato fica seco e a lua se esconde no meio das nuvens Nuvens negras

Continua a festa de viola, de viola e insensatez Lá vem vindo o fogo brando

Fogo brando do sertão

E começa a peleja Pega logo a alabarda pra empalar o outro infeliz

Todo mundo se agita enquanto a catira se transforma em ira, o

[cirandeiro se cala e a música pára e o som dos lobos já não é

[ouvido, um tenta apartar mas não tem jeito agora um morre

Fogo no sertão, luzes acesas Muita gritaria, muita

Quando logo vai e vira, rodopeia no chão de poeira já cambaleando

[olhando em redor só vultos são vistos porque é acertado e a vida é

[tão frágil, vida frágil do sertão porque o sangue foge

Fogo no sertão, no meio do nada Vai pra longe, foge o riso que sorria malicioso

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É que o amor morreu no Belvedere

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Falta o sangue falta a vida Tudo vai se apagando longe vê quem usa capa

Vem vindo

Encruzilhada sem capim que vira inferno ou vira céu e a geada é [gelo eterno, apaga o fogo do sertão,

A geada é gelo eterno, apaga o fogo do sertão

Só que longe os lobos se amontoam Para tramar seu plano sangrento

Cães de olhos vermelhos enviados pelas almas Eles não sentem frio nem medo e seus olhos são de fogo porque os

[olhos de fogo botam fogo no sertão Olhos que são de fogo botam fogo no sertão

Fogo no sertão, cirandeiro não canta

A mancha na terra seca o tempo não apaga, é O som que se acaba logo nunca mais é ouvido

E os lobos iluminam o mato seco...seus olhos incendeiam o [espigão já quase sem vida que lança a fumaça longe ao encontro

[da geada e canta como cisne branco que irá morrer, e sabe

Vida lá do sertão que já acabou Não vai ter saudade que vem bater na porta do coração

É tarde Os lobos no meio do mato queimado

De novo são chamados por seus donos encapuzados Lá no alto da montanha já coberta de geada

Eles carregam a lâmina da morte e são a morte O cirandeiro nunca mais tocará nesse rincão

E a mancha ficará por ali Desviando os passos de quem tem malícia

A malícia do sertão A marca do sangue na terra nunca mais se apaga é

Vida frágil

Vida vida frágil Brisa breve que vem no inverno e lança ao ar as folhas caídas

Gota que cái na terra e resseca ao sol ou ao frio congela Vida vida frágil

Vida frágil do sertão E só,

Já passou em poucos segundos

E se acaba fria vida Num último fôlego

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Na mira de uma arma Na velhice já cansada

Quando um coração se recusa a bater Ou quem sabe

Nas últimas palavras de um poema

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