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COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO – SARAH VARELA TIPOLOGIA TEXTUAL EXERCÍCIOS 1. Internet e a importância da imprensa Este artigo não é sobre a pornografia no mundo virtual nem tampouco sobre os riscos de as redes sociais empobrecerem o relacionamento humano. Trata de um dos aspectos mais festejados da internet: o empowerment (“empoderamento”, fortalecimento) do cidadão proporcionado pela grande rede. É a primeira vez na História em que todos, ou quase todos, podem exercer a sua liberdade de expressão, escrevendo o que quiserem na internet. De forma instantânea, o que cada um publica está virtualmente acessível aos cinco continentes. Tal fato, inimaginável décadas atrás, vem modificando as relações sociais e políticas: diversos governos caíram em virtude da mobilização virtual, notícias antes censuradas são agora publicadas na rede, etc. Há um novo cenário democrático mais aberto, mais participativo,mais livre. O que pode haver de negativo nisso tudo? A facilidade de conexão com outras pessoas tem provocado um novo fenômeno social. Com a internet, não é mais necessário conviver (e conversar) com pessoas que pensam de forma diferente. Com enorme facilidade, posso encontrar indivíduos “iguais” a mim, por mais minoritária que seja a minha posição. O risco está em que é muito fácil aderir ao seu “clube” e, por comodidade, quase sem perceber, ir se encerrando nele. Não é infrequente que dentro dos guetos, físicos ou virtuais, ocorra um processo que desemboca no fanatismo e no extremismo. Em razão da ausência de diálogo entre posições diversas, o ativismo na internet nem sempre tem enriquecido o debate público. O empowerment digital é frequentemente utilizado apenas como um instrumento de pressão, o que é legítimo democraticamente, mas, não raras vezes, cruza a linha, para se configurar como intimidação, o que já não é tão legítimo assim... A internet, como espaço de liberdade, não garante por si só a criação de consensos nem o estabelecimento de uma base comum para

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COMUNICAO E EXPRESSO SARAH VARELA

TIPOLOGIA TEXTUAL

EXERCCIOS

1. Internet e a importncia da imprensa

Este artigo no sobre a pornografia no mundo virtual nem tampouco sobre os riscos de as redes sociais empobrecerem o relacionamento humano. Trata de um dos aspectos mais festejados da internet: o empowerment (empoderamento, fortalecimento) do cidado proporcionado pela grande rede.

a primeira vez na Histria em que todos, ou quase todos, podem exercer a sua liberdade de expresso, escrevendo o que quiserem na internet. De forma instantnea, o que cada um publica est virtualmente acessvel aos cinco continentes. Tal fato, inimaginvel dcadas atrs, vem modificando as relaes sociais e polticas: diversos governos caram em virtude da mobilizao virtual, notcias antes censuradas so agora publicadas na rede, etc. H um novo cenrio democrtico mais aberto, mais participativo,mais livre.

O que pode haver de negativo nisso tudo? A facilidade de conexo com outras pessoas tem provocado um novo fenmeno social. Com a internet, no mais necessrio conviver (e conversar) com pessoas que pensam de forma diferente. Com enorme facilidade, posso encontrar indivduos iguais a mim, por mais minoritria que seja a minha posio.

O risco est em que muito fcil aderir ao seu clube e, por comodidade, quase sem perceber, ir se encerrando nele. No infrequente que dentro dos guetos, fsicos ou virtuais, ocorra um processo que desemboca no fanatismo e no extremismo.

Em razo da ausncia de dilogo entre posies diversas, o ativismo na internet nem sempre tem enriquecido o debate pblico. O empowerment digital frequentemente utilizado apenas como um instrumento de presso, o que legtimo democraticamente, mas, no raras vezes, cruza a linha, para se configurar como intimidao, o que j no to legtimo assim...

A internet, como espao de liberdade, no garante por si s a criao de consensos nem o estabelecimento de uma base comum para o debate.

Evidencia-se, aqui, um ponto importante. A internet no substitui a imprensa. Pelo contrrio, esse fenmeno dos novos guetos pe em destaque o papel da imprensa no jogo democrtico. Ao selecionar o que se publica, ela acaba sendo um importante moderador do debate pblico. Aquilo que muitos poderiam ver como uma limitao o que torna possvel o dilogo, ao criar um espao de discusso num contexto de civilidade democrtica, no qual o outro lado tambm ouvido.

A racionalidade no dialogada estreita, j que todos ns temos muitos condicionantes, que configuram o nosso modo de ver o mundo. Sozinhos, nunca somos totalmente isentos, temos sempre um determinado vis. Numa poca de incertezas sobre o futuro da mdia, a est um dos grandes diferenciais de um jornal em relao ao que simplesmente publicado na rede.

Imprensa e internet no so mundos paralelos: comunicam-se mutuamente, o que benfico a todos. No entanto, seria um empobrecimento democrtico para um pas se a primeira pgina de um jornal fosse simplesmente o reflexo da audincia virtual da noite anterior. Nunca foi to necessria uma ponderao serena e coletiva do que ser manchete no dia seguinte.

O perigo da internet no est propriamente nela. O risco considerarmos que, pelo seu sucesso, todos os outros mbitos devam seguir a sua mesma lgica, predominantemente quantitativa. O mundo contemporneo, cada vez mais intensamente marcado pelo virtual, necessita tambm de outros olhares, de outras cores. A internet, mesmo sendo plural, no tem por que se tornar um monoplio.

(CAVALCANTI, N. da Rocha. Jornal O Estado de S. Paulo, 12/05/14, com adaptaes.)

Pelas caractersticas de organizao do discurso, a respeito do texto pode-se afirmar que se trata de uma:

a) dissertao de carter expositivo, pois explica, reflete e avalia ideias de modo objetivo, com inteno de informar ou esclarecer.

b) narrao, por reportar-se a fatos ocorridos em determinado tempo e lugar, envolvendo personagens, numa relao temporal de anterioridade e posterioridade.

c) dissertao de carter argumentativo, pois faz a defesa de uma tese com base em argumentos, numa progresso lgica de ideias, com o objetivo de persuaso.

d) descrio, por retratar uma realidade do mundo objetivo a partir de caracterizaes, pelo uso expressivo de adjetivos.

e) expresso injuntiva, por indicar como realizar uma ao, utilizando linguagem simples e objetiva, com verbos no modo imperativo.

2. Viva a dona Maria

Pesquisas confirmam que a mulher melhor ao volante que o homem.

Na prxima vez que voc, leitor do sexo masculino, disputar espao com uma mulher no trnsito, pense duas vezes antes de soltar aquela frase machista: Vai pra casa, dona Maria!. A quantidade de pesquisas que atestam a superioridade feminina ao volante impressionante. Pelo menos no que diz respeito capacidade de evitar acidentes. O mais recente desses levantamentos, feito por uma firma paulista especializada em vistoria de automveis acidentados, mostra que as mulheres causam apenas 25% das ocorrncias. E, em geral, as batidas so pequenas. Essas duas razes esto fazendo com que elas sejam contempladas com descontos maiores na hora de fazer o seguro do carro. A mesma pesquisa traa um perfil do motorista ideal: mulher, com mais de 35 anos, casada e me de filhos pequenos. De acordo com um estudo feito pelo professor de estatstica David Duarte Lima, da Universidade de Braslia, a proporo de mortes em decorrncia de acidentes de trnsito de quatro homens para uma mulher. Cerca de 80% das ocorrncias graves so causadas por imprudncia. Incluem-se aqui aquelas prticas execrveis como dirigir embriagado, abusar da velocidade e andar colado ao veculo da frente. Esse o comportamento tpico de homens que comeam a dirigir, afirma o psiclogo Salomo Rabinovich, diretor do Centro de Psicologia Aplicada ao Trnsito, Cepat, de So Paulo. Para a maioria dos marmanjos, o carro uma continuidade de seu prprio ser, uma forma de afirmar a virilidade. Por isso mesmo, as campanhas publicitrias enfatizam tanto o papel do automvel como um instrumento de seduo. Ao pisar fundo, eles se sentem mais potentes, mais desejveis. As mulheres, por seu turno, costumam ter apenas uma viso utilitria do automvel. Isso no impede, no entanto, que elas tambm extravasem suas neuroses ao volante. Em geral, as mulheres so muito fominhas quando esto na direo, admite a piloto de corridas Valria Zoppello. Os especialistas so unnimes em afirmar que elas poderiam evitar os pequenos acidentes se treinassem um aspecto no qual apresentam grande deficincia o reflexo. E se prestassem mais ateno aos trajetos. Muitos dos acidentes envolvendo mulheres acontecem porque as motoristas tentam virar direita ou esquerda repentinamente, sem dar chance ao carro de trs de frear a tempo. Alm disso, elas esto abusando do telefone celular enquanto dirigem o que uma infrao prevista no Cdigo Nacional de Trnsito. Conhecer as caractersticas gerais de homens e mulheres ao volante s tem sentido se um estiver disposto a copiar o que o outro tem de melhor. Do contrrio, a discusso cair no vazio sexista. O piloto Luiz Carreira Junior, colega de competies de Valria Zoppello, quem d a receita. Os homens teriam a ganhar se fossem to prudentes quanto as mulheres. E elas seriam melhores motoristas se fossem mais atentas ao que acontece sua volta, diz ele.

(Disponvel em: http://veja.abril.com.br/101199/p_210.html. Acesso em: 20/04/2014.)

Analise as afirmativas, marque V para as verdadeiras e F para as falsas. ( ) Com relao tipologia textual, esse texto pode ser classificado como narrativo-argumentativo. ( ) O ttulo da reportagem no se refere a uma mulher em especial, mas a todas aquelas que dirigem. ( ) O texto mostra que os homens no demonstram um comportamento machista em relao s mulheres. ( ) Os homens dirigem embriagados, abusam da velocidade e andam colados ao veculo da frente.

3. A complicada arte de ver

Ela entrou, deitou-se no div e disse: Acho que estou ficando louca. Eu fiquei em silncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. Um dos meus prazeres cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentes - uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que j fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impresso de estar vendo a roscea de um vitral de catedral gtica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentes... Agora, tudo o que vejo me causa espanto. Ela se calou, esperando o meu diagnstico. Eu me levantei, fui estante de livros e de l retirei as Odes Elementales, de Pablo Neruda. Procurei a Ode Cebola e lhe disse: Essa perturbao ocular que a acometeu comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual quela que lhe causou assombro: Rosa de gua com escamas de cristal. No, voc no est louca. Voc ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver. William Blake sabia disso e afirmou: A rvore que o sbio v no a mesma rvore que o tolo v. Sei disso por experincia prpria. Quando vejo os ips floridos, sinto-me como Moiss diante da sara ardente: ali est uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ip que florescia frente de sua casa porque ele sujava o cho, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos no viam a beleza. S viam o lixo.

(Rubem Alves. Disponvel em: http://www.releituras.com/i_airon_rubemalves.asp. Acesso em: 05/2014.)

O autor narra os acontecimentos a partir de um ponto de vista, o foco narrativo. Deste modo, correto afirmar que, no texto, observa-se o foco narrativo em _________________, sendo a viso dos fatos ________________. Assinale a alternativa que completa correta e sequencialmente a afirmao anterior. 4. A invocao do passado constitui uma das estratgias mais comuns nas interpretaes do presente. O que inspira tais apelos no apenas a divergncia quanto ao que ocorreu no passado e o que teria sido esse passado, mas tambm a incerteza se o passado de fato passado, morto e enterrado, ou se persiste, mesmo que talvez sob outras formas. Esse problema alimenta discusses de toda espcie - acerca de influncias, responsabilidades e julgamentos, sobre realidades presentes e prioridades futuras.

Pouqussima ateno tem sido dedicada ao papel privilegiado, no meu entender, da cultura na experincia moderna, e quase no se leva em conta o fato de que a extraordinria extenso mundial do imperialismo europeu clssico, do sculo XIX e comeo do XX, ainda lana sombras considerveis sobre nossa prpria poca. Em nossos dias, no existe praticamente nenhum norte-americano, africano, europeu, latino-americano, indiano, caribenho ou australiano - a lista bem grande - que no tenha sido afetado pelos imprios do passado. [] Esse tipo de domnio ou possesso lanou as bases para o que, agora, de fato um mundo inteiramente global. As comunicaes eletrnicas, o alcance mundial do comrcio, da disponibilidade dos recursos, das viagens, das informaes sobre padres climticos e as mudanas ecolgicas unificaram at mesmo os locais mais remotos do mundo. Esse conjunto de padres foi, a meu ver, possibilitado pelo imperialismo.

SAID, Edward. Cultura e Imperialismo. So Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 33-36. [Adaptado]

Identifique abaixo as afirmativas verdadeiras (V) e as falsas (F), conforme o texto 1.

( ) Trata-se de um texto predominantemente narrativo, o que se evidencia pelo uso de tempos verbais passados e pela espacializao do enredo.

( ) O texto traz elementos predominantemente argumentativos, com posicionamentos explcitos do autor em relao ao tema.

( ) Trata-se de um texto descritivo, neutro e relativista, em que predominam exemplos factuais e culturalmente contextualizados.

( ) O texto anacrnico e generalista, no podendo ser tomado como referncia explicativa para a conjuntura moderna.

( ) O uso de adjetivos como pouqussima, privilegiado, extraordinria e considerveis (segundo pargrafo) revela uma atitude avaliativa do autor.