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ECONOMIA DO COMPORTAMENTO HUMANO TEORIA ECONÔMICA DO CRIME NOTAS DE AULA PROF. GIÁCOMO BALBINOTTO NETO UFRGS

ECONOMIA DO COMPORTAMENTO HUMANO TEORIA … · 16 Emile Durkheim Contrary to current ideas, the criminal no longer seems a totally unsociable being, a sort, of parasitic element,

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ECONOMIA DO COMPORTAMENTO HUMANO TEORIA ECONÔMICA DO CRIME

NOTAS DE AULA

PROF. GIÁCOMO BALBINOTTO NETO

UFRGS

2

A Abordagem Econômica

O ponto central da análise econômica é o indivíduo. Visto que é ele que faz as escolha e quem toma as decisões.

No que se refere a teoria econômica do crime, temos o mesmo princípio, o foco está centrado na decisão individual.

3

A Abordagem Econômica

q

Preços custos

0

Homem sociológico

Homem econômico

4

A Abordagem Econômica do Crime

Tradicionalmente o crime é analisado pela sociologia/criminologia/psicologia:

Origem social do criminoso;

Comportamento desviante ou psicopata do criminoso;

Escolhas limitadas ou não existentes.

A Economia foca seu estudo sobre as escolhas feitas pelos indivíduos.

5

Precursores

Beccaria-Bonesara (1764)

- delitos e penas;

- pena de morte;

- economia do contrabando

Cesare Bonesana

Marchese di

Beccaria, 1738-

1794

Beccaria's famous 1764 treatise on crime argued that the

punishment of criminals should be assessed according to

the amount of damage to "social welfare", measured in

terms of the utilitarian "greatest happiness for the greatest

number" principle. On this criteria, he argued against

capital punishment and ill-treatment of prisoners. Jeremy

Bentham was very much influenced by Beccaria's work

6

Precursores

Beccaria-Bonesara (1764)

Cesare Bonesana

Marchese di

Beccaria, 1738-1794

The true measure of crimes is the harm

done to society .

7

Beccaria-Bonesara (1764)

Qual o objetivo da punição?

Prevent the criminal from doing further injury to society, and to prevent others from committing the like offense.

Condições necessárias?

Proporção entre crimes e punição;

Vantagem da punição imediata;

Certeza é mais importante do que a severidade.

8

Precursores

Adam Smith (1776) foi, provavelmente o primeiro economista a escrever sobre crimes dentro de um contexto de oferta e demanda. Ele observou que os crimes e a demanda por proteção contra eles, eram ambos motivados pela manutenção ou acumulação de ativos.

10

Precursores

Jeremy Bentham (1789)

... The profit of the crime is the force which urges man to

delinquency; the pain of the punishment is the force employed

to restrain him from it. If the first of these forces to be greater,

the crime will be committed; if the second, the crime will not be

committed.

11

Precursores

Jeremy Bentham (1748-1832))

Cálculo hedonístico:

- os atos são decididos com base no prazer por eles proporcionados e na punição decorrente;

- a punição deveria deter os crimes – deve ser relevante para o criminoso.

12

Jeremy Bentham

…for each crime a punishment whose pains would outweigh any possible pleasure to be gained from them and by assuring the certain and swift administration of justice, rational men, deterred by the realization that a net loss will inevitably result from the criminal act, will refrain from breaking the law.

13

Emile Durkheim

O crime é uma parte normal das atividades sociais.

Se todos os membros da sociedade tivessem os mesmos valores os crimes iriam desaparecer.

Anomia – o rompimento da ordem social como o resultado da perda de padrões e valores.

14

Emile Durkheim

It is impossible for offenses against the most fundamental collective sentiments to be tolerated without the disintegration of society, and it is necessary to combat them with the aid of the particularly energetic reaction which attaches to moral rules.

Durkheim (1933, p. 397)

15

Emile Durkheim

Because they are found in the consciousness of every individual, the infraction which has been committed arouses the same indignation in those who witness it or who learn of its existence. Everybody is attacked; consequently, everybody opposes the attack. Not only is the reaction general, but it is collective, which is not the same thing. It is not produced in an isolated manner in each individual, but it is total, unified response, even if it varies according to the case."

Durkhein (1972, p. 127 [excerpt from The Division of

Labor in Society])

16

Emile Durkheim

Contrary to current ideas, the criminal no longer seems

a totally unsociable being, a sort, of parasitic element, a

strange and unassimiable body, introduced into the

midst of society. On the contrary, he plays a definite role

in social life. Crime, for its part, must no longer be

conceived as an evil that cannot be too much

suppressed.

Durkehein (1963, p. 63 [excerpt from The Rules of the

Sociological Method])

17

Emile Durkheim

...We must not say that an action shocks the conscience collective because it is criminal, but rather that it is criminal because it shocks the conscience collective. We do not condemn it because it is a crime, but it is a crime because we condemn it.

Durkheim (1972, p. 123-124 [excerpt from The Division of Labor in Society])

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Emile Durkheim

There is no society that is not confronted with the problem of criminality. Its form changes; the acts thus characterized are not the same everywhere; but, everywhere and always, there have been men who have behaved in such a way as to draw upon themselves penal repression. There is, then, no phenomenon that represents more indisputably all the symptoms of normality, since it appears closely connected with the conditions of all collective life."

Durkhein (1963, p. 62 [excerpt from The Rules of the

Sociological Method])

19

Gabriel Tarde http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/tarde2.html

Argumentou que os criminosos eram pessoas normais que aprendiam que o crime eram uma atividade como outra qualquer, tais como as atividades legais.

http://classiques.uqac.ca/classiques/tarde_gabriel/criminalite_comparee/criminalite_comparee.html

20

Questões Iniciais Sobre a Teoria Econômica do Crime

Qualquer teoria do crime precisa responder duas perguntas:

(i) "Que atos devem ser punidos?" (ii) e "Quanto?" A primeira pergunta busca os critérios que distinguem o

que é um crime, a segunda pede que calibremos as penas. Uma teoria do crime precisa fazer previsões sobre o efeito de políticas penais alternativas sobre o índice de criminalidade e outros valores políticos.

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Questões Iniciais Sobre a Teoria Econômica do Crime

Quem comete um crime e por quê?

O modelo de escolha racional do crime.

Custos do crime: privados e sociais.

Gastos ótimos para controlar o crime.

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A teoria tradicional do direito penal

O direito penal moderno está codificado em estatutos em países que seguem a tradição do common law e do civil law.

Esse conjunto de leis incorpora o que poderíamos chamar de a teoria tradicional crime, de acordo com a qual o direito penal difere do direito civil nas seguintes características:

(i) O criminoso pretendia prejudicar sua vítima, enquanto alguns delitos civis são

acidentais. (ii) O prejuízo causado pelo criminosos é público além de privado. (iii) O autor da ação é o Estado, não um indivíduo privado. (iv) O autor da ação tem padrão de prova mais elevado em um julgamento penal. (v) Se o réu é culpado, ele será punido .

23

A teoria tradicional do direito penal

Uma teoria completa do direito penal precisa explicar por que o direito penal

difere do privado (ou civil) e por que tem aquelas cinco características

específicas.

A teoria também precisa responder as duas perguntas gerais com as quais

abrimos este capítulo.

Ao respondê-las, a linha de raciocínio central da análise econômica se

concentra no bem-estar social. Do mesmo modo, o crime deve ser punido na

medida em que a pena maximiza o bem-estar social.

Essas respostas posicionam a teoria econômica do crime em uma longa

tradição de pensamento utilitário.

24

A teoria tradicional do direito penal

A teoria moral é a do retribucionismo. Dessa perspectiva, a política penal deve fazer o que é certo. E o certo é punir os culpados.

O errado é punir os inocentes.

O tamanho da pena deve ser proporcional à seriedade do crime.

A pena desproporcional é errada.

25

A intenção criminosa

A lei diferencia bastante a lesão acidental da intencional.

O direito da responsabilidade civil trata principalmente dos prejuízos acidentais, enquanto o direito penal trata principalmente dos prejuízos intencionais.

26

A intenção criminosa

Mens rea ("mente culpada", em latim) é o termo técnico jurídico para intenção criminosa.

Para desenvolver a idéia de mens rea,

precisamos delimitar a fronteira entre prejuízos intencionais e acidentais.

Para uma descrição econômica da mens rea, veja Jeffrey S. Parker, The Economics of Mens Rea, 79 VA. L. REV. 741 (1993).

27

A intenção criminosa

Começando na esquerda da escala, o autor da lesão é cuidadoso e sem culpa.

Passando para a direita, seu comportamento se torna negligente, depois imprudente e, finalmente, criminoso.

28

A intenção criminosa: escala de culpabilidade

0 1

cuidadoso (sem culpa)

padrão jurídico

de precaução

Negligente imprudente (responsabilidade)

linha que separa delitos civis dos delitos penais

Intencional cruel (culpa)

29

A intenção criminosa:

escala de culpabilidade

O comportamento cuidadoso é menos culpado do que o

negligente, que é menos culpado do que a lesão

intencional. De acordo com o contínuo, a linha que

separa a culpa da mens rea está entre a imprudência e

a lesão intencional. Quando um ator cruza esse limite,

ele deixa de ser responsável e passa a ser culpado.

30

A intenção criminosa: escala de culpabilidade

Gradações mais detalhadas da intenção criminosa

podem ser relevantes para determinar a pena. Por

exemplo, a lesão intencional de outrem para

conquistar ganhos pessoais não é tão ruim quanto

causar lesão por crueldade e extrair prazer da dor da

vítima. Assim, a avaliação moral do ator segue um

contínua que vai de "sem culpa" no lado bom até

"cruel" no ruim.

31

Prejuízo público e processo público

A segunda característica necessária do crime é a natureza do prejuízo. No direito penal, boa parte do prejuízo é público.

O assassinato, por exemplo, ameaça a paz e segurança da sociedade em geral, fazendo com que outras pessoas que não a vítima temam por suas vidas.

32

Prejuízo público e processo público

A idéia de que os crimes lesam o público tem diversas consequências:

(i) Primeiro, ela justifica a diferença entre autores de ações civis e penais.

Em uma ação civil, o autor da ação é um indivíduo privado, a vítima. No

processo penal, o autor da ação é a sociedade, representada pelo promotor

ou ministério público;

(ii) Segundo, a idéia de que o crime lesa o público implica na possibilidade

de crimes "sem vítimas", como jogo, prostituição e tráfico de drogas. Esses

crimes em geral envolvem transações voluntárias e que beneficiam ambas

as partes. A teoria tradicional do direito penal, no entanto, considera que

essas transações vitimizam a sociedade ao ameaçar a paz e a segurança

sociais.

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Prejuízo público e processo público

(iii) a teoria tradicional do prejuízo público justifica a punição de tentativas de causar prejuízos, mesmo quando não dão certo.

Quando um comportamento potencialmente prejudicial não causa prejuízo real, a lesão da vítima é nulo, então ela não tem causa para uma ação civil.

As tentativas fracassadas de cometer um crime, no entanto, o chamado crime não consumado, inspiram medo e causam outros prejuízos ao público.

A teoria tradicional do direito penal defende que é preciso punir a pessoa que tenta lesar outra e não consegue.

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Padrão de Prova

A quarta característica do crime é o alto padrão de prova imposto à promotoria.

Em casos penais, o promotor deve satisfazer um padrão

de prova mais estrito do que o autor de um caso civil. Em países que seguem a tradição do common law, os

casos civis devem ser provados por preponderância de evidências, ou seja, a narrativa do autor da ação deve ter maior credibilidade do que a do réu. Em ações penais nos mesmos países, o promotor deve provar o caso sem qualquer dúvida.

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Padrão de Prova

A teoria tradicional justifica a imposição desse padrão estrito à promotoria de três modos:

(i) Primeiro, a condenação de um inocente parece pior do que não

condenação de um culpado. O direito penal equilibra os dois tipos de erro (que os estatísticos chamam de Erro Tipo II e Erro Tipo I, respectivamente) em prol do réu.

(ii) Segundo a promotoria pode usar todos os recursos do Estado para tentar vencer o caso. A imposição de um ônus maior à promotoria reduz essa vantagem.

(iii) Terceiro, os cidadãos podem precisar se proteger de promotores exagerados e que buscam vantagens políticas e burocráticas.

36

Punição

Quem comete um crime se expõe ao risco de punição.

A punição pode ter diversas formas: aprisionamento, restrição das atividades por liberdade condicional (hoje conhecida como "liberdade vigiada" pelo direito federal dos EUA) ou multas monetárias. As três (prisão, condicional e multas) são as formas mais comuns de punição. Outras formas, como o trabalho forçado ("serviço comunitário"), ocorrem em algumas jurisdições.

Em outras, o réu ainda enfrenta a possibilidade de ser espancado, mutilado ou executado pelo Estado.

A pena capital é proibida nos países da União Européia, mas ainda persiste em países como a China e foi restaurada em diversos estados americanos depois de sua proibição inicial.

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Punição As penas do direito penal são diferentes das indenizações no direito civil. A indenização no direito civil pretende restaurar o bem-estar da vítima às

custas do autor da lesão. As penas no direito penal pioram a condição do autor da lesão sem

beneficiar a vítima diretamente. Como a motivação é diferente, as questões de indenização e punição em

geral são independentes entre si. Assim, a pena pode ser imposta junto à indenização, como quando uma

ação penal segue o ressarcimento por um delito civil. As penas também podem ser impostas no lugar da indenização, como quando o Estado prende um homem pobre por agressão e a vítima não entra com uma ação civil porque o autor da lesão não poderia indenizá-la.

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Uma teoria econômica do direito do crime e das penas

A teoria tradicional do direito penal oferece motivos para as características do crime e diferencia os processos penais das disputas civis, mas não oferece um modelo preditivo do comportamento criminoso ou propõe um objetivo claro para o direito penal.

A teoria econômica do crime, faz isso e muito mais.

39

Uma teoria econômica do direito do crime e das penas

A maioria dos crimes também é delito civil, o que significa que a maioria dos criminosos está vulnerável a ações civis.

Se as ações civis fizesse com que o autor da lesão

internalize o custo dos crimes, então o direito penal seria desnecessário do ponto de vista econômico.

Por vários motivos, no entanto, as ações civis não

podem internalizar o custo dos crimes. Explicaremos esses motivos para justificar a existência

do direito penal.

40

Uma teoria econômica do direito do crime e das penas

O primeiro motivo tem relação com algumas das limitações inerentes das indenizações.

A indenização é perfeita quando as vítimas são indiferentes em relação aos acidentes, no sentido de não sentirem diferença entre a combinação de lesão e indenização e a ausência de ambas.

41

Uma teoria econômica do direito do crime e das penas

A indenização perfeita internaliza o prejuízo causado pelo autor da lesão.

A indenização perfeita é impossível para a grande maioria das pessoas que perde uma perna ou um filho. Nesses casos, os tribunais concedem indenizações para dissuadir riscos não razoáveis, mas não indenizam o prejuízo real.

42

Uma teoria econômica do direito do crime e das penas

Do mesmo modo, o objetivo da punição do crime é dissuadir prejuízos intencionais, não compensá-los.

Imagine um experimento mental sobre o crime. Quanto

dinheiro seria necessário para que você concordasse em ser espancado com um martelo? A pergunta não faz muito sentido. O conceito de indiferença é difícil de aplicar a crimes como a agressão. Por conseqüência, a legislação relevante não pode ter como objetivo a indenização perfeita das vítimas e a internalização dos custos por parte dos autores da lesão. Em vez de precificar o crime, o objetivo da pena é dissuadi-lo.

43

Uma teoria econômica do direito do crime e das penas

O Estado proíbe que os indivíduos intencionalmente prejudiquem outros indivíduos e utiliza as penas como modo de fazer cumprir a proibição.

Assim, quando a indenização perfeita é impossível, o direito penal é um suplemento necessário ao direito da responsabilidade civil.

44

Uma teoria econômica do direito do crime e das penas

Justificamos o direito penal quando a indenização é imperfeita.

45

Uma teoria econômica do direito do crime e das penas

Os bens que mudam de mãos sem o consentimento das partes (os que são roubados, por exemplo) não têm essa mesma garantia.

Uma mercadoria roubada pode ser mais valiosa para seu proprietário do que para o ladrão. O ladrão não precisa pagar o preço determinado pelo proprietário.

Assim, os remédios jurídicos no direito penal devem, em parte, existirem para proteger e encorajar as trocas voluntárias no mercado.

46

Uma teoria econômica do direito do crime e das penas

Existe um terceiro motivo para suplementar a responsabilidade civil com penas em algumas circunstâncias: as penas frequentemente são necessárias para fins de dissuasão.

Em geral, os ladrões não podem ser dissuadidos pela

exigência de que devolvam a propriedade roubada sempre que forem pegos.

Para dissuadi-los do crime, a lei deve impôr penas

severas o suficiente para que o benefício esperado líquido do crime para o criminoso seja negativo.

47

Uma teoria econômica do direito do crime e das penas

Imagine, por exemplo, que um ladrão está considerando se deve roubar um televisor de $1.000. Imagine que a probabilidade do ladrão ser preso e condenado é igual a 50%.

Imagine também que o direito de propriedade responsabiliza o ladrão, mas que o direito penal não pode puni-lo. O custo esperado do roubo para o criminoso é igual à responsabilidade esperada: 0,5($1.000) = $500.

O benefício para o ladrão é igual a $1.000. Assim, o benefício esperado líquido para o ladrão é igual a $1000 - $500 = $500. Nesse exemplo, a responsabilidade civil sem o uso de penas torna o roubo uma atividade lucrativa.

No exemplo, a dissuasão do ladrão exige o retorno do televisor, ou seu valor de $1.000, somado a uma multa.

48

Uma teoria econômica do direito do crime e das penas

O direito da responsabilidade civil normalmente

tenta internalizar os custos, como o risco de

acidentes.

Depois que os custos são internalizados, os

atores estão livres para agirem como bem

entenderem, desde que paguem o preço por

suas ações.

49

Uma teoria econômica do direito do crime e das penas

A internalização, no entanto, não é o objetivo correto quando a

indenização perfeita é impossível em princípio ou na prática, ou

quando os indivíduos querem que a lei proteja seus direitos em vez

de seus interesses, ou quando erros de execução prejudicam

sistematicamente a responsabilidade civil.

Nesses casos, o objetivo correto da lei é a dissuasão, fazendo com

que os atores não estejam livres para pagar o preço por suas ações

e agirem como bem entenderem. Em vez disso, as penas são

calibradas para dissuadir os atores que preferem realizar o ato

apesar do preço.

50

Uma teoria econômica do direito do crime e das penas

A relação entre a sanção e a psicologia do agente

informa o observador se o objetivo da lei é a

internalização ou a dissuasão.

Quanto mais o comprometimento psicológico do agente

aumenta, maior a sansão necessária para dissuadi-lo.

Quando o objetivo é a dissuasão, penas mais severas

acompanham comprometimentos psicológicos mais

intensos com o ato.

51

Uma teoria econômica do direito do crime e das penas

A dissuasão exige que um ato deliberado seja

punido mais intensamente do que o mesmo ato

quando realizado espontaneamente.

Do mesmo modo, a dissuasão exige uma

punição mais intensa para o crime recorrente

do que para o primeiro delito do réu.

52

"Que atos devem ser punidos?"

Os atos devem ser punidos quando o objetivo é dissuasão, mas precificados quando o objetivo é a internalização.

O objetivo da legislação deve ser a dissuasão quando a indenização perfeita é impossível em princípio ou na prática, quando os indivíduos querem que a lei proteja seus direitos em vez de seus interesses ou quando os erros de execução prejudicam sistematicamente a responsabilidade civil.

Veja Robert Cooter, Prices and Sanctions, 84 COLUM. L. REV. 1523 (1984).

53

Crime Racional

Aqui iremos desenvolver uma teoria preditiva do comportamento criminoso, explicando primeiro como uma pessoa racional e amoral poderia decidir se deve ou não cometer um crime.

Por "pessoa racional e amoral" queremos dizer alguém que determina cuidadosamente os meios de se produzir fins criminosos sem ser limitado pela culpa ou por uma moralidade internalizada.

54

Crime Racional

Os crimes podem ser ordenados por seriedade e as penas por severidade.

As penas mais severas normalmente estão ligadas aos crimes mais

sérios. Representamos esses fatos abaixo Medimos a seriedade do crime no eixo horizontal, enquanto a

severidade da pena é medida no eixo vertical. A curva marcada "pena real" mostra a severidade da pena prescrita

pelo código penal enquanto função da seriedade do delito. A curva da pena tende ao infinito, o que indica que a pena se torna

mais severa à medida que a seriedade do crime aumenta.

55

Crime Racional

A linha de 45º representa uma escala de pena especialmente saliente cujo objetivo é a dissuasão.

Na linha de 45º , a pena é uma multa igual ao valor roubado. Quando a severidade da pena é igual a gravidade do crime, a pena produz uma restituição perfeita.

Assim, a linha de 45º é definida com a linha da “restituição perfeita.

56

Crime Racional

Acima da linha de 45º temos alinha de pena real, representando a escala de penas reais de um sistema jurídico específico. Assim, a pena real para apropriação indébita, por exemplo, de xo é y1.

57

Crime Racional

45º

0 Seriedade do delito ($)

Severidade da

Pena ($) Restituição perfeita

Pena real

xo

x1

58

Crime Racional

As penas para criminosos são probabilísticas. O criminoso pode ou não ser detectado ou apreendido, ou não ser condenado depois de apreendido. O criminoso racional leva a em conta a probabilidade da pena em consideração enquanto completa o ato criminoso incluindo a apropriação indébita.

Podemos dizer que o criminosos racional calcula o valor esperado da apropriação indébita, que é igual ao ganho menos a pena, multiplicada pela probabilidade de ser pego e condenado.

59

Crime Racional

45º

0 Seriedade do delito ($)

Severidade da

Pena ($)

Restituição perfeita

Pena real

xo

x1

Punição (se condenado

60

Crime Racional

No caso abaixo, a pena esperada está abaixo da linha de 45º (linha de restituição perfeita) para apropriações indébitas de seriedade mínima x1 e máxima x2. Neste espaço, o criminoso ganha mais do que espera perder, fazendo com que o crime compense. Em tais circunstâncias um decisor amoral roubaria alguma quantidade de dinheiro.

No gráfico também vemos o nível exato de seriedade do delito mais

lucrativo. O lucro esperado do delito é igual à diferença entre a restituição

perfeita e a pena esperada, representada pela distância vertical entre a linha de restituição perfeita e a curva de pena esperada. A distância vertical é maximizada quando a seriedade do crime é igual a X*. Podemos, então, concluir que o decisor racional roubará o valor X*.

61

Crime Racional

45º

0 Seriedade do delito ($)

Severidade da

Pena ($) Restituição perfeita

X*

x1

Punição (se condenado)

x2 x1

62

Crime Racional

Para o criminoso, o benefício marginal de aumentar a seriedade do crime por um pequeno valor é dado pela inclinação da curva de restituição perfeita, que é 45º.

O custo marginal esperado para o criminoso é igual ao aumento esperado da pena proporcional ao aumento da seriedade do crime por um pequeno valor, dado pela inclinação da linha tangente à curva da pena esperada. Para valores de x abaixo de x*, o benefício marginal é maior do que o custo marginal esperado para o criminoso, fazendo com que este aumente a seriedade do crime.

Quando x é igual a x*, o benefício marginal é igual ao custo marginal, fazendo com que o criminoso maximize seu retorno líquido quando não altera a seriedade de um crime.

63

A Matemática do Crime Racional

max y(x) – p(x) (x) x – indica a seriedade do crime em $; y – indica o retorno do crime para o criminoso em $; O retorno do criminoso é uma função crescente da seriedade do

crime y =y(x); A pena, que pode ser considerada como uma multa pelo

cometimento do crime de seriedade x é dada pela função (x); A probabilidade de ser punido por cometer um crime de seriedade

x é dada pela função p = p(x). A pena esperada é igual ao produto do tamanho da pena e de sua

probabilidade: p(x) (x).

64

A Matemática do Crime Racional

O criminoso racional amoral escolhe a gravidade do crime x a fim de maximizar seu retorno líquido, que é igual ao retorno y(x) menos a pena esperada:

max y(x) – p(x) (x)

65

A Matemática do Crime Racional

O criminoso maximiza o benefício líquido do crime ao roubar até o ponto em que o benefício marginal da quantidade adicional roubada ser igual á pena marginal esperada

custo marginal esperado

da pena para o criminoso

p’ + p ’

benefício marginal

do criminoso

y’

=

66

A Matemática do Crime Racional

A pena marginal esperada possui dois componentes:

(i) a mudança na probabilidade da pena (p’) multiplicada pela multa e

(ii) a mudança na severidade da pena (’) multiplicada pela probabilidade da pena (p).

67

Aplicando o modelo do crime racional à política pública

A idéia de que as pessoas cometem menos um crime quando a pena esperada aumenta pode ser chamada de “primeira lei da dissuasão”.

68

Aplicando o modelo do crime racional à política pública

0 crime

Punição

esperada

xo

eo

Criminalidade agregada

69

Aplicando o modelo do crime racional à política pública

A figura acima representa o fato de que a criminalidade agregada cai à medida que a pena esperada aumenta corresponde á que a curva de demanda dos consumidores declina. A curva representa a demanda por crimes pelos criminosos.

Um aumento na pena esperada provoca uma redução na quantidade de crimes, pois alguns criminosos reduzem o número de crimes que cometem, enquanto indivíduos que se tornariam criminosos em outras situações decidem não cometer crimes.

70

Aplicando o modelo do crime racional à política pública

Quando a oferta do crime é elástica, os formuladores de

políticas públicas podem reduzir o crime

significativamente com aumentos moderados às penas

esperadas.

Quando a oferta é inelástica, as variáveis agregadas no

modelo de crime racional são relativamente menos

importantes do que outras, como o índice de

desemprego, a estrutura da família, o vício em drogas, a

qualidade da educação, etc.

71

Comportamento criminoso e intenção criminosa

O cometimento da maioria dos crimes exige a intenção criminosa. Para cometer um crime, não basta que o indivíduo aja como se tivesse intenção criminosa, é preciso realmente tê-la.

Assim, o direito penal trata dos motivos, não apenas de comportamentos.

72

O Objetivo Econômico do Direito Penal

Segundo Cooter e Ulen (2010, p.489) a análise

econômica do direito penal deve ter um simples

objetivo: o direito penal deve minimizar os

custos sociais do crime, que são iguais à soma

do prejuízo que causam e dos custos da sua

prevenção.

73

O Objetivo Econômico do Direito Penal

As atividades criminosas também desviam o

trabalho dos criminosos das atividades legais

para as ilegais, impondo custos de

oportunidade.

Isto é o que hoje se denomina do problema de

alocação de talentos (allocation of talents).

74

A quantidade ótima de dissuasão do crime e de penas eficientes

A dissuasão socialmente ótima ocorre no ponto em que o custo

social marginal da redução adicional do crime é igual ao benefício

social marginal.

O ponto socialmente ótimo ocorre no nível de dissuasão D*.

Enquanto o custo da dissuasão não é nulo, a quantidade ótima de

crimes é positiva. A dissuasão com custo não nulo impede que uma

sociedade racional elimine completamente a criminalidade. Se os

custos da dissuasão aumentam, a quantidade ótima de crimes

também aumenta. Se, no entanto, o prejuízo líquido da

criminalidade aumenta, a quantidade ótima de crimes diminui.

75

A quantidade ótima de dissuasão do crime e de penas eficientes

0 100% Redução na criminalidade

$

BSM

CSMD

CSM

D* D**

76

A quantidade ótima de dissuasão do crime e de penas eficientes

As penas não existem isoladamente: elas são

parte de uma escala integrada que influencia

seus valores ótimos.

O uso de dissuadores fortes com crimes menos

sérios em geral impede que os mesmos sejam

usados em crimes mais graves.

77

Dissuasão Privada

Indivíduos privado sãos que realizam boa parte da

dissuasão do crime. Contudo, tais cidadãos se

preocupam principalmente com custos e benefícios

privados, que não estão necessariamente alinhados aos

custos e benefícios públicos.

78

Dissuasão Privada: Tipos

Exemplo: a instalação de uma tranca numa porta por indivíduo na

sua casa.

(i) a instalação da tranca tem valor privado para o indivíduo se ela

impedir a invasão da residência, um efeito que pode ser chamado

de dissuasão privada, pois beneficia o investidor privado precavido.

(ii) a instalação da tranca tem valor público para os vizinhos se os

ladrões tenderem a evitar vizinhaças nas quais algumas residências

possue trancas, um efeito que pode ser chamado de dissuasão

pública, pois benefícia o público em geral.

79

Dissuasão Privada: Tipos

(iii) a instalação da tranca têm pouco valor social se

impedir a invasão da casa do indivíduo que a instalou ao

fazer com que o ladrão arrombe a casa de seu vizinho,

um efeito que pode ser chamado de redistribuição do

crime. A redistribuição do crime não produz qualquer

benefício social líquido.

80

Dissuasão Privada: Implicação Normativa

Segundo Cooter e Ulen (2010, p. 494) – o investimento

privado na prevenção do crime geralmente têm três

efeitos: (i) dissuasão privada; (ii) dissuasão pública e

(iii) redistribuição.

O Estado deve encorajar os investimentos privados que

contribuam para a dissuasão pública, não precisa

encorajar aqueles que contribuem para a dissuasão

privada e não deve encorajar aqueles que apenas

redistribuem o crime.

A Teoria Econômica do Crime

82

A economia do crime: origens

Até 1968 a maior parte da pesquisa acadêmica sobre o crime era feita por sociólogos, cuja premissa básica era de que os criminosos eram de algum modo diferentes dos não criminosos, e a maior parte da pesquisa consistia em se buscar modos de encontrar os criminosos diferiam.

Havia também um amplo sentimento de que as

punições não detinham o crime, sendo portanto a política de reabilitação a indicada.

83

A economia do crime: origens

A partir do final da década de 1960 começaram a surgir artigos de economistas que buscavam lidar com o crime.

Gordon Tullock – The welfare costs of tariffs, monopolies and theft (1967)

Thomas Schelling – Economics and Criminal Enterprise (1967)

Gary Becker - Crime and Punishment: An Economic Approach (1968)

Gordon Tullock – Economic Approach to Crime (1968)

84

A economia do crime: origens

O crescente interesse na economia do crime está intimamente ligado aos escritos de professores da escola de direito e economia da Universidade de Chicago [Gary Becker].

85

Gary Becker Nobel de Economia 1992

http://www.nobel.se/economics/laureates/1992/press.html

For having extended the domain of microeconomic analysis to a wide range of human behavior and interaction, including nonmarket behavior.

86

Gary Becker (U. Chicago)

- Teoria Econômica do Crime:

- Crime and Punishment: An Economic Approach (1968)

- Essays in the Economics of Crime and Punishment, (1974).

87

Gary Becker (U. Chicago)

Becker (1968) argumentou que os criminosos não seriam diferentes de

quaisquer outros indivíduos – isto é – eles racionalmente maximizavam seu

próprio bem-estar (utilidade) dada as restrições que enfrentavam (preços,

rendas) no mercado e em qualquer outro lugar. Então, a decisão de se

tornar um criminosos não é em princípio diferente de uma para se tornar

um professor ou economista.

O individuo iria considerar os custos e benefícios de cada alternativa e

tomar sua decisão com base nisto. Se nós desejássemos explicar as

mudanças no comportamento criminal ao longo do tempo ou espaço, nós

deveríamos examinar as mudanças naquelas restrições

88

Gary Becker (U. Chicago) & Prêmio Nobel

The third area where Gary Becker has applied the theory of rational behavior and human capital is "crime and punishment". A criminal, with the exception of a limited number of psychopaths, is assumed to react to different stimuli in a predictable ("rational") way, both with respect to returns and costs, such as in the form of expected punishment. Instead of regarding criminal activity as irrational behavior associated with the specific psychological and social status of an offender, criminality is analyzed as rational behavior under uncertainty. These ideas are set forth, for example, in Becker's essay, Crime and Punishment: An Economic Approach, 1968, and in Essays in the Economics of Crime and Punishment, 1974.

89

A economia do crime e a teoria econômica do comportamento humano

O comportamento criminoso é também um caso de

comportamento humano sob condições de escassez. Os

indivíduos tem desejos que podem ser satisfeitos em

alguma medida cometendo crimes. Cometer crimes,

contudo, implica em incorrer em custos tais como o risco

de ser capturado e punido.

Assim, o comportamento criminoso envolve uma escolha

econômica fundamental e pode, deste modo, ser

analisado usando-se a análise econômica.

90

A economia do crime e a teoria econômica do comportamento humano

A abordagem econômica é aplicável a virtualmente todo o tipo de comportamento humano. Na realidade não há uma teoria econômica distinta do comportamento humano.

Há simplesmente uma teoria econômica do comportamento humano que é capaz de explicar todo o comportamento humano incluindo o comportamento criminoso. Dada natureza do comportamento criminoso, esta é uma importante força da abordagem econômica

91

A economia do crime e a teoria econômica do comportamento humano

A teoria econômica do comportamento humano deveria ser consistente com a amplitude do comportamento criminal e com o fato de que as pessoas não podem ser separadas em distintos grupos, tais como “criminosos” e não criminosos”.

Virtualmente todos nós somos criminosos,

variando principalmente o grau de nossas atividades que envolvem a transgressão de alguma lei.

92

A economia do crime e a teoria econômica do comportamento humano

A teoria econômica identifica o comportamento criminosos como sendo uma reação aos custos e benefícios esperados por um indivíduo.

Os crimes são cometidos devido ao fato de que os benefícios esperados excedem os custos esperados. A política implícita é o de reduzir os benefícios e aumentar os custos esperados.

93

A economia do crime e a teoria econômica do comportamento humano

A teoria do crime nos termos de uma teoria econômica do comportamento criminoso afirma que os criminosos racionais comparam os benefícios do crime com a pena esperada imposta pelo sistema judiciário penal.

Utiliza-se a teoria comportamental para desenvolver

uma teoria econômica da pena ótima, baseados no objetivo de minimizar a soma dos prejuízos sociais causados pelo crime e o custo de dissuadi-lo.

Um dos objetivos da teoria econômica do crime é obter

o nível ótimo de dissuasão e como alocar os recursos de uma sociedade otimamente entre diversas maneiras alternativas de dissuasão do crime

94

A economia do crime e a teoria econômica do comportamento humano

A abordagem econômica do comportamento humano enfatiza as diferenças nas escolhas disponíveis aos indivíduos ao invés das diferenças entre os indivíduos.

A abordagem econômica gera predições testáveis referentes as mudanças nos custos e benefícios esperados pelos indivíduos, gerando assim, predições testáveis em termos de políticas públicas sobre o montante e o tipo de atos criminosos cometidos.

95

A economia do crime e a teoria econômica do comportamento humano

O montante e tipo de atividade criminal cometidos variam entre os indivíduos devido as escolhas disponíveis (custos e benefícios esperados) também variam entre os indivíduos.

O montante e o tipo de ato criminosos cometido por um indivíduo particular varia ao longo do tempo devido ao fato de que os custos e benefícios do indivíduo também variam ao longo do tempo.

96

Gary Becker (1995) e a abordagem econômica do crime

The essence of the economic approach to crime is

amazingly simple. It says that people decide whether to

commit crime by comparing the benefits and costs of

engaging in crime. True, the forces behind individuals’

decisions to commit crimes differ. But I submit that some

general principles apply in trying to understand the

factors that determine whether people engaje in crime.

97

Gary Becker (1968) e a abordagem econômica do crime

Gary Becker (1968), com o artigo seminal Crime and

Punishment: An Economic Approach, impôs um marco à

abordagem sobre os determinantes da criminalidade ao

desenvolver um modelo formal em que o ato criminoso

decorreria de uma avaliação racional em torno dos

benefícios e custos esperados aí envolvidos,

comparados aos resultados da alocação do seu tempo

no mercado de trabalho legal.

98

Gary Becker (1968) e a abordagem econômica do crime

Basicamente, a decisão de cometer ou não o crime resultaria de um processo de maximização de utilidade esperada, em que o indivíduo confrontaria, de um lado, os potenciais ganhos resultantes da ação criminosa, o valor da punição e as probabilidades de detenção e aprisionamento associadas e, de outro, o custo de oportunidade de cometer crime, traduzido pelo salário alternativo no mercado de trabalho.

99

O Modelo Econômico do Crime

O modelo de Gary Becker (rational criminal model - RCM) assume que as escolhas dos criminosos para cometer um crime é um comportamento racional na qual comparam-se os custos e benefícios com o resultado incerto de sucesso ou de ir para a cadeia.

O modelo vê a atividade criminosa como um investimento: leva-se em conta o risco, obtém-se um alto retorno experado.

100

Gary Becker (1995) e a abordagem econômica do crime

E[U] = p U(Y – f) + (1-p) U (Y)

U (•) – e a função utilidade do indivíduo;

p – é a probabilidade subjetiva de ser pego e condenado;

Y - rendimento oriundo do crime;

f - multas e punições caso ele seja pego e condenado.

101

Gary Becker (1995) e a abordagem econômica do crime: Implicações

Indivíduos com altas renda derivadas das atividades

legais tem menor probabilidade de cometer crimes.

Quanto maior a punição, menor é a probabilidade de se

cometer um crime.

Quanto maior a probabilidade dos criminosos serem

pegos, menor a probabilidade deles cometerem crimes.

102

Crime & Punição – Modelo Econômico

Podemos utilizar essa análise para prever a resposta dos criminosos a mudanças aos custos e benefícios marginais.

Um investimento de mais atividades de execução do direito penal aumenta a probabilidade marginal p de punir o criminoso.

Do mesmo modo, o investimento de mais atividades de punição de criminosos, como melhorias ao sistema de coleta de multas, pode aumentar a severidade marginal f .

De acordo, um aumento em p ou f reduzirá a seriedade do crime cometido pelo criminoso racional. O criminoso racional diminui a seriedade de seu crime para compensar o risco maior criado pelo aumento da escala de penas.

103

Gary Becker (1995) e a abordagem econômica do crime: Implicações

As penas para criminosos são probabilísticas.

O criminoso pode não ser detectado ou apreendido, ou não ser condenado depois de apreendido.

O decisor racional leva a probabilidade da pena em consideração enquanto completa a comissão de um crime, incluindo a apropriação indébita.

104

Gary Becker (1995) e a abordagem econômica do crime

Becker (1968) demonstrou, matematicamente, que a

relação entre (p) e (f) é negativa sobre o montante de utilidade esperada, o que significa que acréscimos em p ou mesmo em f podem alterar a utilidade esperada do indivíduo, tornando-a negativa e assim, dissuadindo-o a cometer crimes.

105

Gary Becker (1995) e a abordagem econômica do crime

As políticas públicas para lidar com o crime também

envolvem escolhas econômicas. O crime impõe custos a

sociedade e ela, obviamente, desejará reduzir estes

custos. Contudo, para reduzi-los isto requer outros

custos.

A redução do montante de crime requer gastos no que

se refere ao cumprimento da lei, em programas de

reabilitação ou melhorar as oportunidades legitimas de

trabalho para os indivíduos.

106

Gary Becker (1995) e a abordagem econômica do crime

Eide (1997), depois de analisar 118 estimativas empíricas chegou a um valor médio de –0,7 para p e de – 0,4 para f.

Isto significa que, se o valor de p aumentar em 100%, a criminalidade agregada cairia 70%.

Se por sua vez f aumentar também em 100%, a criminalidade agregada cai 40%.

107

Gary Becker (1995) e a abordagem econômica do crime

Se o individuo têm um comportamento racional: ele irá fazer a escolha com o maior retorno.

Escolhera cometer um crime se:

os retornos esperados > $ custos diretos + custos psicológicos + punição esperada + salários de mercado.

As Contribuições de Gordon Tullock

109

Gordon Tullock (GMU)

The Welfare Costs of Tariffs, Monopolies and

Theft (1967)

An Economic Approach to Crime (1969)

Does Punishment Deter Crime (1974)

The Economics of Crime: Punnisment or I

Oncome Redistribution – Comment (1976)

110

McKenzie & Tullock (1975, p.129 - 145)

To the degree that crime involves benefits and costs, crime can be rational act, and the amount of crime commited can be determined in the same manner as is the amount of any other activity. The only difference may be that the crime involves behaviour that is against the law. The criminal can weigh-off the benefits and costs and can choose that combination that maximizes his own utility, and he will maximize his utility if the commits those crimes for which the additional beneficts exceed the addictional costs.

111

As bases da teoria econômica do crime

1) a base da abordagem econômica do crime é o pressuposto de que as pessoas envolvidas com o sistema legal agem como maximizadores racionais de sua satisfação.

Visto que na maioria das vezes a escolha dos indivíduos envolve incerteza – o resultado de um crime não é dado como certo antecipadamente - a teoria econômica relevante é aquela que analisa as tomadas de decisão em condições de incerteza.

112

As bases da teoria econômica do crime

Quem se comporta como um maximizador racional?

- criminosos;

- assassinos;

- seqüestradores;

- sonegadores;

- motoristas de trânsito;

- ladrões de bancos etc.

113

As bases da teoria econômica do crime

O pressuposto da racionalidade na economia ou quando ela é aplicada ao crime significa apenas que as pessoas agem propositadamente na busca de objetivos autonomamente escolhidos; significa, mais especificamente, que as pessoas preferem mais a menos, das coisas que elas desejam.

114

Comportamento Racional

A racionalidade para Gary Becker (1976, 1993) é um conceito instrumental.

Ele requer, entretanto, a existência de objetivos, embora o economista enquanto cientista social não se pergunte como é que tais objetivos são formados.

Somente os resultados líquidos deste processo é que são relevantes para a economia.

115

Racionalidade

O pressuposto da racionalidade é usada pelos economistas como uma descrição do comportamento humano, e sim como uma maneira de identificar o componente previsível da reação do indivíduo médio que compõe o grupo.

116

Regras legais como preços [cf. Posner (1983,p.75)]

The basic function of law in an economic or wealth maximizing perspective is to alter incentives. An increase in the price of engaging in an illegal activity will induce certain individuals to reduce or eliminate their involvement in such activities, whereas those who continue on are those who benefits continue exceed the higher costs.

117

Os Efeitos da Lei

A punição irá afetar:

Incentivos para o comportamento ilegal;

e.g. elevadas multas de trânsito [por excesso de velocidade tendem a reduzir a velocidade excessiva em estradas].

119

Crime & Punição Modelo Econômico

x é a quantidade de uma atividade ilegal produzida por um indivíduo [estacionar em lugar proibido, assaltar bancos, traficar drogas etc];

C(x) é o custo de produzir tal atividade ilegal;

B(x) é o benefício obtido por cometer a atividade ilegal;

Os ganhos líquidos por praticar uma atividade ilegal são dados por: B(x) - C(x);

120

Crime & Punição Modelo Econômico

Questão:

Qual é a quantidade de x que um indivíduo racional iria praticar?

121

Crime & Punição - Modelo Econômico

x0max B x C x( ) ( ).

Condição de primeira ordem:

B x C x( ) ( ).

Os custos marginais são mais importantes do que o

custo total.

B(x)/B = C(x)/C (x)

122

Crime & Punição - Modelo Econômico

B x C x( ) ( )

B(x)

C(x), baixo CMg

xx*

B(x);

C(x)

0

123

Crime & Punição - Modelo Econômico

B x C x( ) ( )

B(x)

C(x), baixo CMg

xx*

C(x), alto, mas com o

mesmo CMg

Nenhuma mudança no nível de atividade ilegal.

B(x);

C(x)

0

124

Crime & Punição - Modelo Econômico

B x C x( ) ( )

B(x)

C(x), baixo CMg

xx*

B(x);

C(x)

0

125

Crime & Punição - Modelo Econômico

B x C x( ) ( )

B(x)

C(x), baixo CMg

C(x), alto CMg

xx*

Alto custo marginal detêm o crime.

0

B(x);

C(x)

126

Crime & Punição Modelo Econômico

A deteção de um criminoso é um evento incerto;

e - é o esforço policial para detectar um criminiso e prende-lo;

(e) é a probabilidade de detecção de um criminoso;

(e) = 0 se e = 0

(e) a medida em que e .

127

Crime & Punição Modelo Econômico

Dado e [o esforço de detecção dos criminiosos], o problema do criminoso racional é dado por:

x0max B x e C x( ) ( ) ( ).

Benefício Custo

128

Crime & Punição Modelo Econômico

Dado e, o problema do criminoso é dado por:

A condição de primeira ordem é dada por:

x0max B x e C x( ) ( ) ( ).

B x e C x( ) ( ) ( ).

129

Crime & Punição Modelo Econômico

Dado e, o problema do criminoso é dado por:

A condição de primeira ordem:

Baixo e baixo (e) custos marginais baixos. Alto e alto (e) altos custos marginais.

x0max B x e C x( ) ( ) ( ).

B x e C x( ) ( ) ( ).

Custo marginal

Benefício

marginal

130

Crime & Punição - Modelo Econômico

B x e C x( ) ( ) ( )

B(x)

xx*

Um elevado esforço policial detém a criminalidade.

MC ( ) ( )e C xh

MC ( ) ( )e C xl

e el h

B(x);

C(x)

0

131

Crime & Punição Modelo Econômico

Elevadas multas e um significativo esforço policial, ambas, aumentam os custos de produção das atividades ilegais.

Qual é a melhor alternativa para a sociedade? Altas multas ou maior esforço policial?

132

Crime & Punição Modelo Econômico

Qual é a melhor alternativa para a sociedade?

Altas multas ou mais esforço policial?

Esforço policial consome recursos (policiais, delegados, prédios, automóveis, etc); altas penas ou multas não? O melhor é ter altas multas ou penas.

133

Crime & Punição – Modelo Econômico

Exemplo: gastos federais para expandir as forças policiais.

Uma “unidade” de prevenção do crime deveria incluir

policiais, guardas, delegados, investigadores, tecnologias, transporte etc e produzir redução em crimes - Q.

Em teoria, como nós decidimos quanto alocar na prevenção de crimes?

A Economia do Crime: Oferta e Demanda

135

A Economia do Crime: Oferta e Demanda

A teoria econômica do comportamento criminoso é

apresentada aqui explicitamente em termos de uma

análise de oferta e demanda. A hipótese essencial é

que o crime é um produto da escolha de indivíduos

racionais e maximizadores. E isto constitui-se então

numa questão de custos e benefícios relativos.

Os benefícios derivados do crime determinam a

demanda por crimes. Os custos do crime determinam a

oferta de crimes.

136

A Economia do Crime: Demanda

A soma do número de crimes cometidos por cada criminoso informa o total de crimes cometidos em uma sociedade.

Um aumento em p ou f , ou uma redução em y, reduz o número, não a seriedade, dos delitos cometidos por criminosos racionais.

Como um aumento em p ou f reduz o número de crimes cometidos por cada criminoso, o total de crimes cometidos por todos juntos também deve diminuir. A figura abaixo representa o fato, com a criminalidade agregada caindo à medida que a pena esperada aumenta.

137

A Economia do Crime: Demanda

A hipótese de que o número de crimes diminui à medida que a pena esperada aumenta corresponde à de que a curva da procura dos consumidores declina. Na prática, a Figura representa a "procura" pelo crime por parte dos criminosos.

Um aumento na pena esperada causa uma redução na quantidade de crimes, pois alguns criminosos reduzem o número de crimes que cometem, enquanto indivíduos que se tornariam criminosos em outras situações decidem não cometer crime algum.

138

A Economia do Crime: Demanda

A hipótese de que as pessoas procuram menos os bens quando seus preços aumentam tem um título altissonante: "Primeira Lei da Procura".

Do mesmo modo, a idéia de que as pessoas cometem menos um crime quando a pena esperada aumenta pode ser chamada de "Primeira Lei da Dissuasão".

Talvez você acredite que a Primeira Lei da Dissuasão é falsa, pois as pessoas cometem crimes por paixão, irracionalidade ou ignorância, mas estudos estatísticos dão aos economistas bastante confiança na curva da procura e sua inclinação.

139

A Economia do Crime: Demanda por Crimes

Os indivíduos podem derivar vários benefícios quando cometem algum crime, tais como benefícios monetários, aumento do poder de compra ao longo do ciclo de vida, redução no número de horas trabalhadas no mercado legal, bem como benefícios psicológicos.

Mudanças no preço de se cometer um crime (mudanças no custo esperado) iriam causar um movimento ao longo da curva de demanda. Mudanças nos benefícios esperado iriam causar um deslocamento da demanda.

140

A Economia do Crime: Demanda por Crimes

0 Montante de atividade criminosa

Preço da atividade criminosa

141

A Economia do Crime: Demanda

Um criminosos irracional, do ponto de vista econômico, seria um indivíduo que não é influenciado pelos benefícios adicionais e custos sobre suas atividades. Isto equivale a dizer que a pessoa iria cometer o mesmo montante de crime independentemente do se preço.

Montante de atividade criminosa

Preço da atividade criminosa

0

142

A Economia do Crime: Oferta de Crimes

Os custos de se cometer um crime estão por traz da

curva de oferta de crimes. Se os custos esperados de

se cometer um crime forem de um determinado

montante, o crime será cometido somente se os

benefícios excederem os custos naquele montante.

Então, a curva que mostra a relação entre os custos

esperados associados com vários montantes de

crimes é também a curva de oferta de crimes.

143

A Economia do Crime: Oferta de Crimes

A curva de oferta de crimes positivamente inclinada reflete o pressuposto de que, na medida em que um indivíduo comete mais crimes, maiores recursos devem ser alocados a esta atividade, ou em outros termos, os custos de se cometer um segundo crime deve ser maior do que o de se cometer o primeiro e assim por diante.

Assim, crimes adicionais irão ser cometido somente se os benefícios esperados dos crimes adicionais forem maiores do que os benefícios esperados de crimes com menores custos.

144

A Economia do Crime: Oferta de Crimes

Aumentos ou reduções nos custos esperados de se cometer crimes deslocam a curva de oferta de crimes. Se, por exemplo, a sociedade decide alocar maiores recursos para a prevenção de crimes, a probabilidade de captura e condenação iria aumentar para um indivíduo que comete um crime. Isto iria aumentar os custos de se cometer um crime, deslocando a curva de oferta para baixo,de So para S1.

145

A Economia do Crime: Oferta de Crimes

0 Montante de atividade criminosa

Preço da atividade criminosa

So

S1

146

A Economia do Crime: Oferta de Crimes

A pergunta mais interessante não é se os indivíduos cometem menos crimes quando a pena esperada aumenta, mas sim "quanto os índices de criminalidade respondem a aumentos em penas esperadas?“

Em outras palavras, a pergunta interessante trata da elasticidade da oferta do crime.

147

A Economia do Crime: Oferta de Crimes

Quando a oferta do crime é elástica, os formuladores de políticas públicas podem reduzir o crime significativamente com aumentos moderados às penas esperadas.

Quando a oferta é inelástica, no entanto, as

variáveis agregadas no modelo do crime racional são relativamente menos importantes do que outras, como o índice de desemprego, a estrutura da família, o vício em drogas, a qualidade da educação, etc.

148

A Economia do Crime: Oferta de Crimes

0 Montante de atividade criminosa

Preço da atividade criminosa

So

S1

P2

P1

Q0 Q1 Q2

149

A Economia do Crime: Oferta de Crimes

150

A Economia do Crime: Taxa de Crimes de Equilíbrio

O montante de crime determinado numa comunidade é determinada conjuntamente pela demanda de crimes, as quais refletem os benefícios monetários e psicológicos de se praticar um crime e a oferta de crimes, a qual reflete os custos do crime – o potencial de se preso e condenado, bem como outros recurso envolvidos no mesmo.

Tal análise pode ser usada para analisar os efeitos de mudanças nas políticas públicas sobre o montante de atividade criminosa praticada.

151

A Economia do Crime: Taxa de Crimes de Equilíbrio

0 Montante de atividade criminosa

Preço da atividade criminosa

So Do

152

A Economia do Crime: Taxa de Crimes de Equilíbrio

0 Montante de atividade criminosa

Preço da atividade criminosa

So

D1

Do

153

Principais Predições da Teoria Econômica do Crime

1) as punições tem um efeito de impedimento ou intimidação (deterrence effect). A teoria econômica do crime prediz que um aumento nos custos esperados de se cometer um ato criminosos estaria associado com uma redução no montante de crime. Aumentos na certeza e/ou severidade da punição aumentam os custos esperados de se cometer crimes.

Portanto, a teoria econômica do crime prevê que um aumento na certeza ou punição iria estar associada com menores taxas de crime.

154

Principais Predições da Teoria Econômica do Crime

2) o crime é “lucrativo”, pois caso contrário não valeria apena cometê-lo. Se o comportamento criminal for racional, as pessoas iriam continuar a cometer crimes somente se os benefícios em cometê-los excederem os custos.

A difusão do crime e a existência de uma “carreira criminal” indicam que, de acordo com a teoria econômica do crime, o crime, em média é uma atividade lucrativa.

155

Principais Predições da Teoria Econômica do Crime

3) as condições econômicas (tais como níveis de renda, taxa de desemprego, distribuição de renda, etc) constituem-se nos principais determinantes do montante de crime.

Assim, mudanças nas condições referentes aos custos e benefícios afetam as taxas de crimes.

Evidências Empíricas

157

A Teoria Econômica do Crime e a Necessidade de Evidências Empírica

A teoria econômica do crime assume que as pessoas se

comportam como elas agissem racionalmente para

maximizar seus níveis de satisfação.

Com respeito ao comportamento criminosos, isto

significa que as pessoas agem cometendo crimes porque

seus benefícios esperados excedem seus custos - isto –

e - o comportamento criminosos é racional em termos

econômicos.

158

A Teoria Econômica do Crime e a Necessidade de Evidências Empírica

Contudo o comportamento racional não pode ser provado teoricamente. Ela é uma questão empírica.

O fato de se o comportamento criminosos é racional pode ser testado somente comparando-se as edições da teoria econômica do comportamento criminosos com a experiência ou com os fatos sobre o qual se teoriza.

Daí a importância fundamental das evidências empíricas

159

Enrlich (1972)

Tipo de análise: painel. Método: 2SLR e SUR. Período: 1940-1950-1960. País: EUA (estados) Conclusões: os participantes em atividades ilegais respondem aos

incentivos. A taxa de criminalidade está associada com a desigualdade de

renda.

160

Enrlich (1973)

Ehrlich (1973) estendeu a análise de Becker (1968)

para considerar qual deveria ser a alocação ótima do

tempo em torno do mercado criminoso ou legal. Ainda,

o autor investigou os efeitos decorrentes da distribuição

de renda sobre o crime.

Mais especificamente com relação aos crimes contra a

propriedade, ele assinalou que um elemento

determinante seria a oportunidade oferecida pelas

vítimas potenciais.

161

Enrlich (1973)

Ehrlich (1973) adotou como medidas dessa oportunidade oferecida: a) a renda mediana das famílias de determinada comunidade; e b) o percentual de famílias que recebem até o primeiro quartil da renda da comunidade. Utilizando informações do Uniform Crime Report - UCR de 1940, 1950 e 1960, o autor estabelece uma relação positiva significativa entre as medidas de desigualdade enunciadas e vários tipos de crime.

162

Wong (1994)

Tipo de análise: séries de tempo. Método: modelo com defasagens distribuídas com restrição de

parâmetros. Período: 1857-1892. Países: Inglaterra e País de Gales. Conclusões: os participantes em atividades ilegais respondem a

incentivos, principalmente a mudanças nos benefícios legais e ilegais.

A prosperidade econômica reduz as taxa de crime.

163

Wolpin (1978)

Wolpin (1978), não apenas por trabalhar com uma longa série temporal de

dados - que cobre seis tipos diferentes de crime ocorridos na Inglaterra e

no País de Gales, desde 1894 a 1967 -, mas por utilizar seis variáveis

diferentes de dissuasão judicial (o que é extremamente difícil de obter,

mesmo nos países desenvolvidos), que incluem:

(i) (taxa de esclarecimento do crime; (ii) taxa de condenação; (iii) taxa de aprisionamento; (iv) taxa de multa; taxa de reconhecimento; e (v) tempo de sentença média.

164

Wolpin (1978)

Dentre essas variáveis dissuasórias, as que se mostraram mais importantes e estatisticamente significativas foram a taxa de esclarecimento seguida da taxa de aprisionamento.

Surpreendentemente, a variável punição resultou em

estatísticas não significativas em todas as regressões geradas. Quanto aos efeitos decorrentes do desemprego e de maiores proporções de jovens na população, o estudo captou uma relação positivamente significativa, replicando os resultados já encontrados por Ehrlich (1973).

165

Entorf e Spengler (2000)

Entorf e Spengler (2000) fizeram um estudo em painel para a Alemanha, utilizando informações dos estados federativos, para o período 1975-1996. Os autores trabalharam com oito tipos diferentes de crime, entre os quais, crimes contra a pessoa e crimes contra a propriedade.

Como regressores utilizaram além da taxa de

esclarecimento do crime, o Produto Nacional Bruto - PNB per capita (como proxy para a oportunidade de renda ilegal), a diferença do PNB per capita da Alemanha em relação ao estado em questão (como medida de renda no mercado legal) e a taxa de desemprego.

166

Entorf e Spengler (2000)

Os resultados mostraram haver relação negativamente significativa para a variável dissuasória (deterrence), ambigüidade para a variável desemprego e maior robustez para as variáveis renda e renda relativa no que diz respeito aos crimes contra a propriedade, replicando mais uma vez os resultados de Ehrlich (1973).

Evidências Empíricas Sobre os Determinantes da Criminalidade:

O Caso do Brasil

168

Pezzin (1986)

Pezzin (1986), que desenvolveu uma análise em cross-section (com dados de 1983) e outra em séries temporais, para a região metropolitana de São Paulo (com dados compreendidos entre 1970 e 1984).

Ele encontrou uma correlação positiva significativa entre urbanização, pobreza e desemprego em relação a crimes contra o patrimônio. Não houve evidências acerca da correlação entre estas variáveis sociais e demográficas em relação aos crimes contra a pessoa.

169

Sapori e Wanderley (2001)

Sapori e Wanderley (2001) também tentaram evidenciar a relação entre emprego e homicídios nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, e também para roubos no caso de São Paulo.

Os mesmos cruzaram dados provenientes da Pesquisa Mensal de

Emprego - PME/IBGE de 1982 até 1998, com aqueles do Ministério da Saúde.

Segundo os autores: "[...] Não foram encontrados indícios

consistentes de que as variações das taxas de desemprego implicariam variações presentes ou futuras dos índices de violência, inevitavelmente. Os resultados não foram robustos."

170

Andrade e Lisboa (2000)

Andrade e Lisboa (2000), utilizando os dados de

homicídios do Ministério da Saúde (Sistema de

Informações sobre Mortalidade - SIM/Departamento de

Informática do Sistema Único de Saúde - Datasus) para

São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, entre 1991 e

1997, desenvolveram um modelo logit, com base nas

probabilidades de vitimização por idade.

171

Andrade e Lisboa (2000)

A análise dos autores por coortes permitiu-os identificar uma relação negativa estatisticamente significativa entre homicídios e salário real, principalmente para os jovens entre 15 e 19 anos; e uma relação positiva com a desigualdade, para faixas etárias inferiores a 20 anos.

Os autores ainda encontraram um sinal negativo (significativo) entre

desemprego e crime (para jovens), replicando um resultado idêntico ao de Land, Cantor e Russell (1994) para os Estados Unidos.

Por último, a metodologia adotada permitiu encontrar evidências

acerca do efeito da inércia criminal, na medida em que gerações que têm maior incidência de homicídios quando jovens tendem a perpetuar as maiores probabilidades de vitimização pelo resto da vida.

172

Cano e Santos (2001)

Cano e Santos (2001), com base em regressão estimada por OLS [Ordinary Last Square] para o ano de 1991, mostraram evidências acerca de uma correlação positiva entre taxas de urbanização e taxas de homicídios nos estados brasileiros, ao mesmo tempo que não puderam evidenciar a relação destas últimas com a desigualdade de renda (L de Theil) e educação (o componente educativo do Índice de Desenvolvimento Urbano).

173

Evidências Para o Caso Brasileiro

Carrera-Fernandes e Pereira (2002, p. 196) estimam

que o volume de recursos diretamente envolvidos na

ocorrência de crimes no Estado de São Paulo represente

cerca de 5% do seu PIB. Este valor inclui os gastos

públicos com policiamento e segurança e os

investimentos em equipamentos de prevenção ao crime,

mas não inclui os gastos hospitalares com as vítimas e

os custos com segurança privada.

174

Evidências para o Caso Brasileiro

Segundo Araújo Jr. e Fajnzylber (2001, p.334), os custos sociais da criminalidade [definidas aqui como sendo uma violação às normas legalmente estabelecidas) situam-se em torno de 10% do PIB. Tais custos são de três ordens:

1) despesas públicas direta e indiretamente alocadas para a prevenção e o combate ao crime;

2) gastos efetuados pelo setor privado diretamente na aquisição de equipamentos de segurança, além das perdas patrimoniais decorrentes dos atos ilícitos, e

3) custos intangíveis ou valores que deixam de ser recebidos/produzidos pela sociedade em função do medo da violência.

175

Evidências para o Caso Brasileiro

Andrade e Lisboa (2000a) estudaram a economia do crime nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, de 1981 a 1997, constatando, dentre outras coisas, que o aumento do salário real e a queda do desemprego reduzem a taxa de homicídio.

Andrade e Lisboa (2000b) analisaram a violência como causa da mortalidade, e apontaram que – “ para os homens mais jovens o aumento do salário real faz com que estes retornem para as atividades legais, reduzindo a sua participação em atividades ilegais. [...] Os mais velhos, por outro lado, apresentam menor mobilidade entre atividades legais e ilegais”

176

Evidências para o Caso Brasileiro

Araújo Jr. E Fajnzylber (2000,p. 630), analisando o

crime e a economia das microrregiões mineiras,

constataram que os “maiores níveis educacionais

implicam menores taxas de crime contra a pessoa e

maiores taxas de crime contra a propriedade, e a

desigualdade de renda encontra-se associada a maiores

taxas de homicídio e homicídios tentados e menores

taxas de roubo de veículos...”

177

Evidências para o Caso Brasileiro

Pereira e Fernandez (2000, p.898) mostraram que o aumento dos índices de desemprego e de concentração de renda, a redução do rendimento médio do trabalho e a deterioração das performances da polícia e da justiça explicam o crescimento da atividade criminosa nessa região, tanto para os crimes agregados quanto para aqueles específicos de furto e roubo de veículos.

178

Evidências para o Caso Brasileiro

Pereira e Fernandez (2001, p.804) indicaram que, para dados o estado da Bahia, no período 1993-1998, quanto maior for o nível de criminalidade, maior será a probabilidade de aumentos nos índices de crimes, evidenciando uma certa inércia ou efeito multiplicador do nível de atividade criminosa sobre a taxa de variação de seus índices.

179

Evidências para o Caso Brasileiro

Outro resultado importante obtido por Pereira e Fernandez (2001, p.804) foi que os investimentos em educação reduzem a probabilidade de aumentos na criminalidade em geral, mas, embora a educação reduza a criminalidade agregada ela parece não ter efeitos efetivos sobre a modalidade de furto e roubo, a qual é, por outro lado, significativamente sensível ao tamanho da polícia.

180

Evidências para o Caso Brasileiro

Carrera-Fernandes e Lobo (2005) mostraram que o nível de educação, a eficiência da polícia, a concentração de renda, a densidade demográfica, o grau de urbanização, bem como as rendas municipais e do governo são importantes elementos que explicam os índices de atividade criminosa experimentados na Região Metropolitana de Salvador (RMS).

Especificamente, as expansões dos níveis de educação, das rendas dos municípios e do governo municipal e da eficiência da polícia, bem como a redução da concentração de renda e do grau de urbanização, contribuem significativamente para reduzir a atividade criminosa na RMS no período de 1993-1999.

181

Evidências para o Caso Brasileiro

Pery Francisco Assis Shikida (2005) - Este trabalho procurou discutir a teoria econômica do crime a partir de evidências empíricas extraídas de um estudo de caso na Penitenciária Estadual de Piraquara (PR).

Como resultado, confirmou-se a teoria da escolha racional do

agente criminoso, que avalia os custos e benefícios decorrentes de suas atividades ilícitas.

Portanto, o ato de delinqüir trata-se uma decisão individual

tomada racionalmente (com ou sem influências de terceiros), em face da percepção de custos e benefícios, assim como os indivíduos fazem em relação a outras decisões de natureza econômica.

182

Custos do crime para o criminoso

são muito baixos no Brasil

José Pastore et al (1991). Dados da Grande São Paulo, nos anos 1980:

Probabilidade média de ser pego P= 4,48%, isto é, tem uma chance em 22 delitos

Prob. de ser pego, condenado, e cumprir pena, mesmo que parcialmente P=1,85% ou uma chance em 54 delitos relatados

Implicação perversa: Vale a pena praticar crimes no Brasil!

A Teoria Econômica do Crime: Os Modelos de Alocação do Tempo

184

A Teoria Econômica do Crime: Os Modelos de Alocação do Tempo

Modelos de alocação de tempo: Becker (1968), Ehrlich

(1973), Heineke (1978), Ehrich & Brower (1987), Grogger

(1995) - a fim de que o indivíduo maximize sua utilidade, ele

deve decidir como alocar o seu tempo entre atividades legais

e criminosas. Portanto, a função utilidade esperada do

criminoso depende dos ganhos relativos nas atividades legais

e ilegais. [Becker (1968)].

Em termos de política econômica, o objetivo seria encontrar

formas de desincetivar os indivíduos a participar em atividade

criminosas.

185

A Teoria Econômica do Crime: Os Modelos de Alocação do Tempo

Modelos de alocação de tempo – Gary Becker (1968) estabelece que os indivíduos escolhem quanto tempo alocar ao trabalho em uma atividade econômica, seja esta legal ou ilegal, de acordo com suas preferências frente ao risco (neutro ao risco, propenso ao risco ou avesso ao risco).

Ele assume que indivíduo decide cometer um crime se sua utilidade esperada exceder a utilidade que ele poderia obter utilizando seu tempo em outra atividade legal.

186

A Teoria Econômica do Crime: Os Modelos de Alocação do Tempo

Modelos de alocação de tempo – Becker (1968) faz uso de uma curva de perdas sociais para determinar as condições ótimas e o nível resultante de crimes na sociedade bem como os custos sociais decorrentes da criminalidade.

187

Block e Heinecke (1975)

Block e Heinecke (1975) destacaram que uma vez que existem diferenças éticas e psicológicas envolvidas no processo de decisão do indivíduo entre os setores legal e ilegal, o problema da oferta de crimes deveria ser formulado em termos de uma estrutura de preferências multifatorial, que levasse em conta outros aspectos que não apenas a renda.

Eles mostraram que os resultados de Becker e Ehrlich,

acerca das oportunidades de ganho no mercado legal, são válidos apenas se existirem equivalentes monetários das atividades legal e ilegal e se estes forem independentes do nível de riqueza.

188

Zhang (1997)

Zhang (1997), baseado na inspiração teórica de Block e Heinecke (1975) - de que a alocação ótima do tempo do indivíduo dependeria, além dos custos e benefícios alternativos associados aos mercados legais e ilegais, do nível de riqueza do indivíduo -, desenvolveu um modelo formal de modo a incluir entre as variáveis que condicionariam o crime a existência de programas sociais que possibilitariam ao indivíduo acesso a um patamar mínimo de bem-estar.

189

A Teoria Econômica do Crime: Aplicações

A abordagem econômica do crime se baseia na na hipótese de que

criminosos, vitimas e administradores da lei são racionais, isto é, todos eles reagem de modo previsível a mudanças nos custos e benefícios que os afetam. A decisão de praticar um crime não difere em essência da decisão sobre a escolha de um emprego. Um indivíduo se envolve numa atividade criminosa porque obtém um fluxo de benefícios líquidos maior do que conseguiria na utilização legitima de seu tempo e esforço. “As pessoas se convertem em criminosos” diz Becker, “não porque suas motivações básicas diferem das motivações das demais pessoas, mas porque seus custos e benefícios diferem”.

Cento Veljanoski (1994, p. 73)

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Migração

191

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Migração

Modelos de Migração: buscam explicar porque alguns indivíduos migram de atividades legais para ilegais.

A decisão de um indivíduo de participar em uma atividade ilegal somente ocorrerá após ele ter avaliado as várias oportunidades disponíveis nos setores legais e ilegais, escolhendo aquela que maximiza o seu ganho esperado.

192

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Migração

Modelos de Migração: A decisão de um indivíduo migrar de uma atividade legal para uma criminosa será função do diferencial de ganho da atividade legal com relação a atividade legal e dos custos de migração.

193

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Migração

A teoria neoclássica da migração criminal está baseada nos seguintes pressupostos:

- escolha racional por parte dos indivíduos; - maximização da utilidade esperada; - mobilidade dos fatores de produção; - diferenciais de rendimento entre as atividades legais e ilegais; - diferenças nas oportunidades de emprego e renda entre as

atividade legais e ilegais.

194

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Migração

A teoria neoclássica de migração criminal emprega a estrutura teórica do capital humano para analisar o fenômeno da mobilidade criminal e da rotatividade do trabalhador entre as atividades legais e ilegais.

Ela busca demonstrar como os insigths da teoria

do capital humano podem explicar os padrões observados de mobilidade entre as atividades legais e ilegais para um indivíduo durante suas vida.

195

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Migração

A mobilidade do indivíduo pode ser vista pode ser vista como um investimento em capital humano no qual os benefícios são obtidos no futuro e os custos são realizados num determinado período do tempo.

196

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Migração

Há um certo elemento de autoseleção na migração para atividade criminosa porque aqueles que têm maior probabilidade de migrar são aqueles cujos benefícios da migração são também maiores.

197

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Migração

A teoria neoclássica vê a migração dos indivíduos de atividades legais para atividades ilegais como uma forma de investimento em capital humano.

Assim, o estudo das decisões referentes a

migração da atividade legal para a atividade ilegal nada mais é do que a aplicação da teoria do capital humano ao deslocamento dos indivíduos entre estas duas atividades, visando maximizar o seu bem-estar.

198

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Migração

O processo migratório da atividade legal para atividade

ilegal na teoria neoclássica é visto, então, como o

resultado de uma decisão individual feita por indivíduos

racionais que buscam melhorar seu bem-estar movendo-

se de setores onde a recompensa por seu tempo será

maior do que ela recebe na situação de origem, na

medida suficiente para compensar os custos tangíveis e

intangíveis envolvidos em tal mudança.

199

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Migração

A migração das atividades legais par as atividade ilegais na teoria neoclássica é vista como um ato individual, espontâneo e voluntário o qual repousa na comparação entre uma situação presente (mercado legal) e uma situação futura (mercado ilegal) com base nos custos e benefícios.

Assim, os indivíduos migram de atividades legais em situações nas quais é esperado um elevado retorno, após ponderarem todas as alternativas disponíveis.

200

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Migração

As decisões referentes a migração das atividades legais para as atividades ilegais são guiadas pela comparação do valor presente ao longo do ciclo da vida em oportunidades alternativas de emprego em ambos os mercados de trabalho, o legal e o ilegal.

201

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Migração

64 t-j 64 t-j

GL = [(wmi/(1+r) - (wml/(1+r) ] – C t=j t = j Os ganhos líquidos da migração da atividade legal (ml)

para um mercado ilegal (mi) são dados pela diferença entre o valor presente dos rendimentos alternativos menos os custos da migração da atividade legal para atividade ilegal.

Assim, o migra quando os ganhos líquidos são positivos.

202

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Migração

A migração é afetada por quatro fatores principais: (i) o ganho na atividade legal da economia – o qual é função

direta do grau de educação, da experiência dos indivíduos no mercado de trabalho;

(ii) da expectativa de ganho na atividade ilegal; (iii) da probabilidade de sucesso na atividade ilegal, medida pela

eficiência das instituições policial e judicial e (iv) custos pecuniários e não pecuniários de migração para o crime,

relacionados a variáveis socioeconômicas, tais como educação, base moral e costumes familiares.

203

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Migração

As principais conclusões extraídas dos modelos de migração são que os indivíduos tendem a migrar para o crime quanto maior for o diferencial entre os valores presente dos ganhos esperados das atividades legal e ilegal e quanto menor for o custo da migração.

[cf. Carrera-Fernandez & Pereira (2002)]

204

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Migração

Nos modelos de migração variações nas atitudes em relação ao futuro podem ser explicadas por diferenças de percepções em relação ao futuro, assim como por diferentes perspectivas no horizonte de tempo dos agentes.

Portanto, quanto maiores forem as taxas de desconto intertemporal e os horizontes de tempo dos agentes, mais provável será a migração para a criminalidade.

[cf. Carrera-Fernandez & Pereira (2002)]

205

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Migração

Mensagem básica:

A migração das atividades legais para as atividades ilegais ocorre quando há uma boa chance de que os trabalhadores recuperem seus investimento, saindo do local de origem e indo par um novo destino.

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Portfólio

207

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Portfílio

Modelos de Portfólio: Heineke (1978); Beron (1988), Wolpin (1979), Singh (1979) e Brown & Reynolds (1973) - o indivíduo deve escolher como alocar o seu tempo entre atividades legais (sem risco) e criminosas [com risco].

As atividades criminosos proporcional um elevado retorno esperado, mas um elevado risco (prisão). Já as atividades legais proporcionam um baixo retorno mas um risco zero.

208

A Teoria Econômica do Crime: Modelos de Portfílio

0 Risco

Retorno

Esperado U [E(Y), ]

209

Rf

Linha de

oportunidades

Escolha de atividades criminosas

0

Retorno

esperado,Rp

p retorno, do

padrão Desvio

Dada a mesma linha de

oportunidades,

individuo A escolhe a

Atividade de retorno

menor – baixo risco,

Enquanto o individuo B

escolhe

retorno maior –

risco elevado.

UA

RA

A

UB

RB

m

Rm

B

A escolha de dois indivíduos diferentes

A Teoria Econômica do Crime: O Modelo de Agente-Principal

211

A Teoria Econômica do Crime: O Modelo de Agente-Principal

Modelo de Agente-Principal [Akerlof & Yellen

(1994)] – este modelo mostra que a dissuasão

da criminalidade não vem da simples ação

policial, mas sim da presença ativa de

comunidade (cidadãos) para relatar as

ocorrências e a colaborar com as investigações

policiais

A Teoria Econômica do Crime: Modelos comportamentais ou de

interação social

213

A Teoria Econômica do Crime: Modelos comportamentais ou de

interação social

Modelos comportamentais ou de interação social – [Furlong (1987) e Glaeser, Sacerdote e Scheinkman (1986)] - estes modelos admitem que os indivíduos são capazes de transmitir informações sobre a atividade criminosa através de interações sociais.

Tais modelos possibilitam análises mais aprofundadas a cerca dos diferenciais de índices de criminalidade entre regiões.

214

A Teoria Econômica do Crime: Modelos comportamentais ou de

interação social

Furlong (1987) incorpora a idéia de ótimo social no controle da criminalidade, mostrando que que as características do avanço tecnológico utilizado tanto no ato criminoso quanto na prevenção policial.

215

A Teoria Econômica do Crime: Modelos comportamentais ou de

interação social

Glaeser, Sacerdote e Scheinkman (1986) – desenvolveram um modelo no qual a decisão de um agente participar de uma atividade criminosa influencia positivamente a decisão de seus vizinhos ingressarem no crime.

O principal resultado do artigo foi mostrar que o nível de interações sociais é maior quanto menor for a gravidade dos crimes e vice-versa.

216

A Teoria Econômica do Crime: Modelos comportamentais ou de

interação social

Glaeser e Sacerdote (1999) procuram explicar porque as taxas de criminalidade é muito maior nas grandes cidades do que em cidades pequenas ou em áreas rurais.

As evidências empíricas indicaram que 45% daquela relação pode ser explicada pelo fato de que as famílias são muito menos intactas nas cidades; 26% pelo elevados benefícios obtidos nas cidades e 12% pela menor probabilidade de ser preso.

Assim, este estudo corrobora com a hipótese de que brackgraund familiar e a vizinhança podem ter uma importância fundamental no comportamento criminoso

217

Sah (1991) e Posada (1994)

As interações sistêmicas foram introduzidas nos modelos econômicos por Sah (1991) e Posada (1994).

A idéia básica era que índices de criminalidade maiores,

em determinada região, para um determinado dispêndio em segurança pública, levariam à percepção, por parte do ofensor, de haver uma probabilidade menor de aprisionamento.

Nesse caso, o aumento exógeno nos índices de

criminalidade de determinada região só seria revertido por meio de um maior dispêndio de recursos com segurança.

218

Leung (1995)

Vários autores procuraram ainda incorporar a idéia do histórico criminal, condicionando as decisões ótimas do indivíduo a favor do crime, o que explicaria um processo de "inércia criminal" - à medida que o indivíduo opta pela carreira criminal, menores são as probabilidades de ele sair do crime e ajustar-se ao mercado de trabalho legal.

219

Leung (1995)

Segundo Leung (1995), os antecedentes criminais diminuiriam os retornos futuros esperados no mercado legal em decorrência de dois elementos:

(i) o estigma que o indivíduo passa a sofrer da

sociedade (ainda mais se é ex-apenado); e (ii) a depreciação do capital humano condicionada pela

perda natural das habilidades anteriores e pela ausência de investimento em educação e treinamento profissional durante o período em que o mesmo se encontrava alocando seu tempo a atividades criminosas ou encarcerado.

220

A Teoria Econômica do Crime: Aplicações

Severidade das

penas

Nível de

cooperação da

comunidade

Gastos com

monitoramento

Custo

esperado do

crime

Ganhos

esperados por

crime

cometido

Número

de crimes

Evidências Empíricas Sobre os Determinantes da Criminalidade

222

As penas previnem os crimes?

De acordo com a teoria econômica do crime, o aumento da pena esperada diminui a criminalidade, desde que todas as outras variáveis permaneçam constantes.

Mas será que os trabalhos empíricos confirmam essa previsão?

223

As penas previnem os crimes?

A hipótese da dissuasão afirma que o aumento da pena esperada causa uma redução significativa da criminalidade.

Em termos técnicos, a hipótese da dissuasão afirma que a oferta de crimes é elástica em relação à pena. Se isso for verdade, o aumento dos recursos sociais destinados à prisão, condenação e punição de criminosos deveria reduzir os custos sociais dos prejuízos causados pelo crime (a menos, é claro, que a quantidade e tipo de crimes já esteja em seu nível socialmente ótimo).

224

As penas previnem os crimes? Uma hipótese alternativa é que as variações em certeza e

severidade da pena não dissuadem significativamente os criminosos de cometerem crimes.

Em vez disso, o crime seria o resultado de um conjunto

complexo de fatores socioeconômicos ou possivelmente biológicos.

O modo correto de minimizar os custos sociais do crime

seria atacar essas causas fundamentais, por exemplo, destinando recursos à criação de empregos, garantias de renda, atendimento familiar, saúde mental, tratamento para vício em álcool e drogas e outros programas que reduzam as causas sociais, econômicas e biológicas da criminalidade.

225

As penas previnem os crimes?

Apesar do debate público apresentar as duas hipóteses como mutuamente exclusivas, ambas podem estar corretas no sentido de diversas variáveis, incluindo a ausência de penas com alta probabilidade de certeza, causarem o crime.

Se ambas as hipóteses forem verdadeiras, a política pública ótima para redução do crime seria uma mistura de justiça penal e programas socioeconômicos. Examinaremos a literatura relevante sobre ambas as hipóteses e, ao final desta seção, faremos conclusões provisórias sobre os méritos de ambas.

226

As penas previnem os crimes?

Os estudos estatísticos mais comuns sobre dissuasão tentam explicar um tipo específico de crime enquanto função de três tipos de variáveis. As variáveis explanatórias incluem:

(i) primeiro, substitutos para a pena esperada, como a probabilidade de ser preso e condenado e a sentença média para o crime;

(ii) segundo, certas condições do mercado trabalhista usadas para medir o custo de oportunidade do crime, como o índice de desemprego e o nível de renda na jurisdição;

(iii) terceiro, certas variáveis socioeconômicas, como idade média, raça e urbanização da população da jurisdição.

A fonte das estatísticas podem ser uma única jurisdição durante um período de tempo, diversas jurisdições simultaneamente ou uma combinação dos dois tipos.

227

Isaac Ehrlich (1973)

Primeiro, o famoso estudo de Isaac Ehrlich (1973) que utilizou dados sobre roubos em todo os Estados Unidos em 1940, 1950 e 1960 para estimar a hipótese da dissuasão, concluindo que, quando todas as outras variáveis são constantes, quanto maior a probabilidade de condenação por roubo, menor o índice de roubos

228

Alfred Blumstein & Daniel Nagin (1977).

Alfred Blumstein e Daniel Nagin (1977) estudaram a relação entre evasão do alistamento militar e a punição pela evasão nas décadas de 1960 e 1970.

Sua conclusão foi que maiores probabilidades de condenação e maiores níveis de penalização causavam menores índices de evasão.

229

Kenneth Wolpin (1978)

Kenneth Wolpin (1978) utilizou dados em séries de tempo da Inglaterra e do País de Gales durante o período de 1894 a 1967 para testar o efeito dissuasivo nesses países.

Wolpin (1978) descobriu que os índices de criminalidade na Grã-Bretanha eram uma função inversa da probabilidade e severidade das penas.

230

Conselho Nacional de Pesquisa da Academia Nacional de Ciência dos

Estados Unidos (1978)

Em 1978, o Conselho Nacional de Pesquisa da Academia Nacional de Ciência dos Estados Unidos estabeleceu o Painel de Pesquisa sobre Efeitos Dissuasivos e Incapacitantes para avaliar os diversos estudos acadêmicos sobre a dissuasão.

O painel concluiu que "as evidências com

certeza apoiam a proposição de apoiar a dissuasão mais do que apoiam a idéia da ausência de dissuasão.

231

As penas previnem os crimes?

Os estudos que buscam explicar o "índice de criminalidade", uma estatística que agrega diversos fatos diferentes.

Em vez de estudar os índices de criminalidade, outra

abordagem para a mensuração da dissuasão estuda o comportamento de pequenos grupos de pessoas.

Sabemos que uma parcela relativamente pequena da

população comete grande parte dos crimes. Os economistas já tiveram algum sucesso em suas

tentativas de prever quem se tornará um criminoso violento.

232

Ann Witte (1980)

Ann Witte (1980) acompanhou o comportamento pós-libertação de 641 criminosos condenados durante 3 anos. Ela coletou informações sobre se os homens foram presos novamente durante o período (cerca de 80% foram), suas condenações e sentenças anteriores, sua experiência no mercado de trabalho após a libertação e a possibilidade de vício em álcool ou drogas.

Witte (1980)testou a hipótese de que a condenação e o aprisionamento induziriam esses criminosos de alto risco a cometer menos crimes no futuro, concluindo que quanto maior a probabilidade de condenação e aprisionamento, menor a quantidade de prisões subseqüentes por mês de liberdade.

233

Ann Witte (1980)

Além disso, Witte (1980) descobriu que a força do efeito dissuasivo variava entre as diferentes classes de delinquentes potenciais.

Para aqueles envolvidos em crimes sérios, incluindo os violentos, a severidade da pena tinha efeito dissuasivo mais forte do que a certeza. Para aqueles envolvidos em crimes contra a propriedade, a certeza da prisão e condenação tinha efeito dissuasivo mais forte que a severidade da pena. O efeito dissuasivo era menor entre os viciados em drogas. Por último, uma pequena surpresa é que a facilidade de se encontrar empregos subseqüentes não tinha qualquer efeito significativo sobre delitos penais futuros.

234

Charles Murray e Louis Cox, Jr. (1979)

Charles Murray e Louis Cox, Jr. (1979) acompanharam os registros de 317 homens de Chicago com idade média de 16 anos que foram presos pela primeira vez pelo Departamento Carcerário do Estado de Illinois.

Independentemente de sua juventude, esse era um grupo de jovens perigoso: antes de receber sua primeira condenação, a média de prisões anteriores era de 13 por pessoa; enquanto grupo, os jovens foram acusados de 14 homicídios, 23 estupros, mais de 300 agressões, mais de 300 roubos de automóveis, mais de 200 assaltos a mão armada e mais de 700 invasões de domicílio. A sentença média para seus delitos foi de 10 meses.

Murray e Cox (1979) acompanharam os jovens delinquentes por cerca de 18 meses pós-libertação e descobriram que, durante o período, o índice de prisão do grupo caiu em dois terços. Os autores concluíram que o aprisionamento funcionou como dissuasor de crimes futuros para o grupo de alto risco.

Murray e Cox (1979) descobriram que os índices de aprisionamento repetido eram maiores para delinquentes juvenis comparáveis que não haviam sido encarcerados, mas sim colocados em condicional.

235

Condições econômicas e índices de criminalidade

O criminoso racional amoral responde ao custo de oportunidade do crime, então o crescimento das oportunidades de conquista lícita de renda deveria reduzir a criminalidade.

Se o custo de oportunidade tiver um efeito poderoso, uma das melhores políticas para se reduzir a quantidade de crimes cometidos seria melhorar as condições econômicas e sociais .

236

Condições econômicas e índices de criminalidade

É possível que trabalhadores desempregados cometam crimes para adquirir renda ou lidar com a frustração e o tédio, fazendo com que pioras nos índices de desemprego levem a aumentos na quantidade de crimes contra a propriedade.

Mas existe mesmo uma relação clara entre as flutuações cíclicas das condições econômicas e os índices de criminalidade?

237

Condições econômicas e índices de criminalidade

Em uma revisão da literatura em, Thomas Orsagh and Ann Witte (1981) não encontraram evidências de uma relação significativa. O estudo dá seguimento a uma revisão da literatura realizada por Robert Gillespie.

Gillespie encontrou três estudos que indicam uma relação significativa entre crime e desemprego e sete que não indicam tal relação.

238

Condições econômicas e índices de criminalidade

Mais recentemente, Cook e Zarkin (1985) encontraram um pequeno aumento no número de roubos e invasões de domicílio durante recessões recentes, nenhuma correlação entre o ciclo econômico e os homicídios e uma relação contracíclica entre condições econômicas e roubos de automóveis.

Finalmente, Cook e Zarkin (1985) também descobriram

que as tendências de longo prazo da criminalidade são independentes do ciclo econômico. O fato pode ser surpreendente, dada à correlação entre o ciclo econômico e os crimes contra a propriedade menos sérios e a crença geral de que há uma correlação entre crimes contra a propriedade e homicídios

239

Condições econômicas e índices de criminalidade

Os resultados negativos não contradizem a teoria econômica da dissuasão. Nela, o ciclo econômica influencia, além do custo de oportunidade do crime, as oportunidades para o crime em si. As duas influências funcionam em direções contrárias.

À medida que a economia piora, os criminosos têm menos oportunidades para ganhos legítimos, mas também têm menos oportunidades para cometer crimes. Por exemplo, o desemprego cria um motivo para vender cocaína, mas também reduz o número de clientes em potencial

Logo, à medida que a economia melhora, o custo de oportunidade do crime aumenta, mas aumenta também a receita potencial do crime. Ainda há dúvidas sobre qual das forças é mais dominante. No entanto, como já sugerimos, existem evidências isoladas de que o custo de oportunidade do emprego legítimo tem o efeito mais forte, no sentido de haver uma correlação entre a incrível prosperidade econômica americana entre 1991 e 2001 e a queda da criminalidade no mesmo período.

240

Condições econômicas e índices de criminalidade

A breve revisão da literatura pode ser resumida da seguinte maneira:

(i) o aumento na probabilidade de prisão, condenação e punição e o aumento na severidade da pena tem um efeito dissuasivo significativo sobre a população em geral e sobre a pequena parcela da população com maior probabilidade de cometer crimes;

(ii) melhorias gerais na economia podem ter um impacto negativo significativo sobre os índices de criminalidade.

A Teoria Econômica do Crime: Aplicações

A Questão da Pena de Morte

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A Questão da Pena de Morte

Não existe pena maior que morte.

Cooter e Ulen (2010, p.518)

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A Teoria Econômica do Crime: Pena de Morte

Embora o efeito corrente da pena de morte seja relativamente pequeno, visto que ela não é muito usada, do ponto de vista empírico ela é importante, pois para muitos pesquisadores, a crença no efeito dissuasória da pena de morte depende do fato de se a pena de morte realmente detém o cometimento de crimes.

Além disso, ela é questão politicamente controversa.

[cf. Eide, Rubin e Shepherd (2006)]

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A Teoria Econômica do Crime: Pena de Morte

Thorsten Sellin (1967). Capital Punishment

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A Teoria Econômica do Crime: Pena de Morte

- Pena de morte: Enrlich (1975, 1977); Wolpin (1978); Passell & Taylor (1977); Klein, Forst & Filaatov (1978).

Alguns resultados:

Enrlich (1975) - cada execução de um criminoso inibia entre 7 ou 8 assassinatos. Dados para os EUA [1933-1969].

Enrlich (1977) - cada execução de um criminoso inibia entre 20 a 24 assassinatos. Dados para os EUA [1933-1969].

Wolpin (1978) - cada execução de um criminoso inibia 4 homicídios. Dados para o Reino Unido [1928-1968].

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A Teoria Econômica do Crime: Pena de Morte

Ehrlich (1975, 1977) assumiu que um assassino

potencial iria considerar os custos e benefícios na sua

decisão de cometer um crime.

Ele utilizou em seu trabalho certas variáveis econômicas

e sociais para medir os benefícios e os custos, tais como

a taxa de desemprego, a taxa de participação da força

de trabalho, o nível de riqueza, a composição da idade

da população bem como a sua composição racial.

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A Teoria Econômica do Crime: Pena de Morte

Ehrlich (1975, 1977) assumiu que os custos esperados de um

homicídio dependeriam de três variáveis:

(i) a probabilidade de ser preso pelo crime cometido;

(ii) a probabilidade de ser condenado e

(iii) a probabilidade de execução se condenado.

Ele previu uma relação inversa entre cada uma das três

probabilidades e as taxa de homicídio.

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Pena de Morte: Evidências Empíricas

Ehrlich (1975, 1977) usando dados para os EUA para o período 1933-

1969 concluiu que a taxa de homicídios estava negativa e

significativamente correlacionada com cada uma daquelas três

medidas. Ele concluiu que a mais importante medida para deter os

homicídios era a probabilidade de ser preso, a segunda a

probabilidade de ser condenado e em último lugar a probabilidade de

execução.

A mais dramática de suas conclusões foi de que uma execução

adicional por ano resultava em sete ou oito menos homicídios por

ano.

251

Pena de Morte: Evidências Empíricas

Lawrence Katz, Steven D. Levitt e Ellen Shustorovich (2003), não encontraram evidências de efeitos dissuasivos da pena capital.

Na verdade, eles esperavam que nenhum seria

encontrado, pelo simples motivo de que há pouca flutuação no número de execuções de ano para ano, enquanto o número de homicídios por ano é altamente variável.

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Pena de Morte: Evidências Empíricas

Dezhbakhsh e Shepherd (2006), por outro lado, em uma análise de dados em séries de tempo de 1960 a 2000, descobriram uma relação causal negativa estatisticamente significativa entre a pena capital e índice de homicídios.

Na verdade, o efeito dissuasivo encontrado foi bastante grande: 150 menos homicídios por cada execução. Anteriormente, com o uso de um conjunto de dados diferente, Dezhbakhsh, Rubin e Shepherd (2003) também descobriram um efeito dissuasivo, com cada execução dissuadindo a comissão de 18 assassinatos subseqüentes.

253

Pena de Morte: Evidências Empíricas

Mocan e Gittings (2003), utilizando dados em painel mensais divididos por condado relativos ao período entre 1977 e 1997, descobriram que quando levamos comutações, execuções e índices de criminalidade em consideração, cada execução dissuadiu cinco homicídios subseqüentes, enquanto cada comutação causou cinco homicídios subseqüentes.

254

Pena de Morte: Evidências Empíricas

Cass Sunstein e Adrian Vermeule (2005), defenderam que os novos achados sobre os efeitos dissuasivos devem impactar as opiniões sobre a pena de morte.

Mais especificamente, Sustein e Vermeule defendem que se as execuções dissuadem os assassinatos com a força que os três estudos mencionados sugerem, então deixar de impôr a pena capital leva à perda de vidas inocentes, vítimas previsíveis que variam entre 5, 18 e 150 por cada execução não realizada.

255

Pena de Morte: Evidências Empíricas

Essa reação levou John Donohue e Justin Wolfers (2005) a realizarem uma revisão completa da nova literatura sobre o efeito dissuasivo da pena de morte.

Depois de resumirem e criticarem os três estudos discutidos acima, os autores chamam a atenção para dois dados isolados, mas bastante indicativos, sugerindo que não há relação causal entre execuções e o índice de homicídios.

O primeiro é a comparação entre os índices canadenses e americanos. O índice canadense é cerca de um terço do americano, mas flutuou nos últimos cinquenta anos em uma imitação incrível do índice americano, mas o Canadá não executa criminosos desde 1962. A segunda tem a ver com a comparação dos índices de homicídio entre estados com e sem pena de morte. "Seis estados nunca tiveram pena de morte nos períodos de nossa amostra, entre 1960 e 2000. (...) Novamente, nosso achado mais forte é comovimento próximo dos índices de homicídios nos dois grupos de estados."

Donohue e Wolfers concluem que os novos estudos não convencem sobre o efeito

dissuasivo da pena de morte.

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Pena de Morte: Evidências Empíricas

As evidências estatísticas não suportam uma crença inabalável na capacidade das execuções de dissuadir a comissão de homicídios. Talvez nunca seja possível chegar a uma conclusão estatística convincente.[cf. Leamer (1983)]

A diferenciação do efeito da execução em relação a outras

variáveis exige dados de boa qualidade sobre uma grande quantidade de casos, dados esses que podem ser dificílimos de coletar. Além disso, os estados restringem as execuções a um número tão pequeno de assassinos que os estatísticos acabam tendo poucos dados disponíveis para análise. Finalmente, a descoberta recente de uma grande quantidade de casos nos quais a pena de morte foi imposta injustamente a homens inocentes tem um efeito bastante perturbador.

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A Teoria Econômica do Crime: Pena de Morte

Mocan e Gittings (2003, 2006) – corrobora com o efeito dissuasório da pena de morte. O artigo utiliza uma base de dados que consiste de todas as 6,143 sentenças de pena de morte entre 1977 e 1997 nos EUA para investigar o impacto da pena capital sobre o número de homicídios.

Foram controladas varias características dos estados americanos e investigados o impacto da taxa de execução, da taxa de perdão, da taxa de homicídios, de prisão e da pena de morte sobre ao taxa de homicídios.

Os modelos foram estimados de diversas formas, controlando os efeitos fixos dos estados e outras variáveis para dados de painel.

Os resultamos indicaram que cada execução adicional diminuía os homicídios em torno de 5 a 6, enquanto que 3 perdões adicionais geravam entre 1 e 1.5 homicídios adicionais. Estes resultados são robustos as especificações do modelo e a a mensuração das variáveis.

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A Teoria Econômica do Crime: Pena de Morte

Zimmerman (2004)

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A Teoria Econômica do Crime: Pena de Morte

Stolzenberg e D’Alessio (2004) utilizou dados mensais para examinar a relação entre a freqüência das execuções, publicidade em jornais e a incidência de assassinatos em Houston, Texas, nos EUA no período jan/1990 a jan/1994. Eles não encontraram um efeito de dissuasório.

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A Teoria Econômica do Crime: Pena de Morte

Dezhbakhsh et al. (2003) examinaram se existiria um efeito dissuasório da pena de morte usando dados referentes a 3054 municípios americanos no período 1977-1996.

Os resultados indicaram que há um substancial efeito dissuasório tanto no que se refere as sentenças (death row sentences) como com relação as excussões (executions) com relação aos assassinatos.

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A Teoria Econômica do Crime: Pena de Morte

As estimativas de Dezhbakhsh et al. (2003) indicaram que cada execução resulta, em média, em menos 18 assassinatos.

O principal resultado foi de que a pena de morte tem um efeito dissuasório. Além disso, este resultado mostrou-se robusto a várias tipos de análises estatísticas, formas funcionais, dados estaduais e municipais, períodos amostrais etc.

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A Teoria Econômica do Crime: Pena de Morte

Shepherd (2004) examinou os efeitos da pena de morte em cada estado americano. Ele encontrou que, para cada estado que não executou muitas pessoas, há um efeitos de brutalização (brutalization) – cada execução parece levar a um aumento de homicídios.

Contudo, para estados que executam um número suficiente de

indivíduos, há um efeito dissuasório. Visto que os estados que executam um número suficiente tem mais execuções, o efeito liquido é que a nível nacional cada execução reduz os homicídios.

Ele argumenta que estes resultados, em parte explicam das

diferenças entre os resultados de economistas e sociólogos, que tende a examinar somente poucos estados, os quais não executam muitas pessoas.

263

A Teoria Econômica do Crime: Pena de Morte

Ekelund et al (2006) examinou o efeito marginal do efeito

dissuasório da pena de morte. Eles encontraram que a pena de

morte tem um efeito dissuasório, mas que ele somente é

dissuasório para o primeiro homicídio e não para os assassinatos

subseqüentes.

O raciocínio por traz deste resultado é direto: se um criminoso faz

face a pena capital pelo primeiro assassinato, os assassinatos

adicionais não podem aumentar a severidade da punição.

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A Teoria Econômica do Crime: Pena de Morte

Donohue e Wolfers (2005) examinaram criticamente vários artigos sobre a pena de morte, destacando que a mesma é usada de modo muito errático nos EUA para que exista um efeito dissuasório detectável.

Eles sustentam que muitos dos resultados obtidos nos artigos anteriores são espúrios e devidos a uma má especificação econométrica.

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A Teoria Econômica do Crime: Pena de Morte

Dezhbakhsh e Shepherd (2006) examinaram se existiria um efeito dissuasório da pena de morte.

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A Teoria Econômica do Crime: Pena de Morte

A literatura econômica sobre a pena de morte tem-se focado sobre questões empíricas de se as execuções detém os assassinatos.

O debate têm se centrado em questões

estatísticas, tais como as especificações do modelo a ser estimado ou na adequação dos dados.

[cf. Cooter e Ullen (2004, p.501)]

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A Teoria Econômica do Crime: Pena de Morte

Segundo Cooter e Ullen (2004, p.506)] a evidência estatística não sustenta a firma convicção de que as execuções detenham os homicídios.

A separação dos efeitos das execuções das outras variáveis requerem bons dados e um grande número de casos, que muitas vezes são difíceis de obter e coletar.

268

A Teoria Econômica do Crime: Pena de Morte

Segundo Cooter e Ullen (2004, p.506), os estados restringem as execuções a um pequeno grupo de assassinos que os estatísticos ficam com poucos dados para analisar.

Além disso, as recentes descobertas de um grande número de casos nos quais as penas de morte tenham sido impostas de modo errado sobre inocentes tem sido considerada extremamente perturbadora.

269

Sites

http://www.deathpenaltyinfo.org/article.php?did=108

http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=587144

270

A Teoria Econômica do Crime: Aplicações

- Roubos a bancos: Tim Ozenne (1974)

- Controle de Armas: John Lott Jr. (1999). More Guns Less Crime [há edição em português]

273

Artigos

http://www.ufrgs.br/fce/rae/edicoes_anteriores/pdf_edicao36/artigo10.pdf

http://www.cedeplar.ufmg.br/diamantina2000/textos/ARAUJO.PDF

http://www.unb.br/face/eco/cpe/TD/295Jun03ARossi.pdf

http://www.anpec.org.br/encontro2004/artigos/A04A148.pdf

http://www.justica.gov.br/noticias/2003/junho/Criminalidade%20Dados%20Senasp.ppt

274

Outras Referências

Gary Becker, “The Economics of Crime,” Cross Sections, (Fall, 1995) http://www.rich.frb.org/pubs/cross/crime/crime.pdf, Federal Reserve Bank of Richmond.

Gary Becker, The Economic Approach to Human Behavior, University of Chicago Press, 1976 (especially Ch 1 “Introduction to The Economic Approach to Human Behavior” and Chapter 4 “Crime and Punishment: An Economic Approach”).

R. Cooter and T. Ulen, Law and Economics , 4th edition, Pearson Education, 2004.

D. Hellman and Neil Alper, Economics of Crime (Theory and Practice), 5th edition, Pearson Custom Publishing, 2000, p. 1-3.

276

Outras Referências

http://www.ufrgs.br/fce/rae/edicoes_anteriores/pdf_edicao36/artigo10.pdf

http://www.unodc.org/pdf/brazil/pp_6_custos_sociais_pt.pps

http://www.daviddfriedman.com/Academic/Price_Theory/PThy_Chapter_20/PThy_Chapter_20.html

Fim

ECONOMIA DO COMPORTAMENTO HUMANO TEORIA ECONÔMICA DO CRIME

NOTAS DE AULA

Prof. Giácomo Balbinotto Neto (UFRGS)