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Fundação Oswaldo Cruz Instituto Fernandes Figueira Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher ASSOCIAÇÃO ENTRE POLIMORFISMOS GENÉTICOS DO FATOR DE NECROSE TUMORAL E LINFOTOXINA-ALFA E EVOLUÇÃO CLÍNICA EM PACIENTES PEDIÁTRICOS CRITICAMENTE ENFERMOS SOB VENTILAÇÃO MECÂNICA Fernanda de Carvalho Lima Rio de Janeiro Abril de 2010

ECROSE TUMORAL E L -A - teses.icict.fiocruz.brteses.icict.fiocruz.br/pdf/Fernanda_Lima.pdf · Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA). Avanços recentes na biologia

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Fundação Oswaldo Cruz

Instituto Fernandes Figueira

Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher

ASSOCIAÇÃO ENTRE POLIMORFISMOS GENÉTICOS DO FATOR DE

NECROSE TUMORAL E LINFOTOXINA-ALFA E EVOLUÇÃO CLÍNICA

EM PACIENTES PEDIÁTRICOS CRITICAMENTE ENFERMOS SOB

VENTILAÇÃO MECÂNICA

Fernanda de Carvalho Lima

Rio de Janeiro

Abril de 2010

ii 

 

Fundação Oswaldo Cruz

Instituto Fernandes Figueira

Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher

ASSOCIAÇÃO ENTRE POLIMORFISMOS GENÉTICOS DO FATOR DE

NECROSE TUMORAL E LINFOTOXINA-ALFA E EVOLUÇÃO CLÍNICA

EM PACIENTES PEDIÁTRICOS CRITICAMENTE ENFERMOS SOB

VENTILAÇÃO MECÂNICA

Fernanda de Carvalho Lima

Dissertação apresentada à Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde

Orientadora: Maria Ignez Capella Gaspar Elsas, M.D., Ph.D.

Co-orientadora: Zina Maria Almeida de Azevedo, M.D., Ph.D.

Rio de Janeiro

Abril de 2010

iii 

 

Agradecimentos

À Dra. Maria Ignez Elsas, pela orientação, por todo o aprendizado e por contribuir

para o meu crescimento profissional e pessoal.

À Dra. Zina Maria de Azevedo, pelos ensinamentos, paciência, compreensão e,

sobretudo, pelo carinho.

À Daniella Moore, pela inesperada colaboração, suporte e apoio, todos imprescindíveis

e absolutamente essenciais para a realização deste trabalho desde o início.

À Cynthia Cardoso, pela inestimável dedicação, atenção e apoio técnico excepcional.

Ao Dr. Pedro Paulo Elsas, pelas orientações e pela exaustiva revisão desta dissertação.

À Renata Bougleux, pela dedicação e contribuição para a padronização das técnicas de

laboratório, processamento e genotipagem das amostras.

À Roberta Tanabe, pelo suporte, orientações, colaboração e amizade, além de

participação ativa na coleta de amostras para esta dissertação.

Aos residentes e plantonistas da UPG, pela ajuda e dedicação à coleta diária de amostras

para o desenvolvimento desta dissertação.

Aos colegas do Laboratório de Fisiopatologia Humana por me receberem tão bem e

participarem direta e indiretamente deste trabalho: Zilton, Ricardo, Anísia, Mônica,

Dani Massid, Renata e Bianca, em especial, ao Túlio, pela sua incrível gentileza.

Aos colegas de trabalho que indiretamente fizeram parte desta dissertação e me

ajudaram em todos os momentos, especialmente aos amigos Fernanda Lobo e Angelo

Leal, que permitiram a minha dedicação quase exclusiva a esta árdua tarefa.

Aos amigos que, mesmo de longe, fizeram parte destes momentos, compartilhando

angústias e dúvidas, sempre me ajudando e incentivando.

À minha família, pelo carinho, paciência e incentivo, apesar de minha ausência.

Ao meu marido, Daniel, pelo carinho, compreensão, apoio e companheirismo.

iv 

 

Lista de Símbolos e Abreviaturas

µL Microlitro

µM Micromolar

A Adenina

ACCP American College of Chest Physicians

ALT Alanina Aminotransferase

C Citosina

CAAE Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

CARS Síndrome da Resposta Antiinflamatória Compensatória

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CID-10 Código Internacional de Doenças - 10

CIVD Coagulação Intravascular Disseminada

CONEP Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

Curva ROC Receiver-operating characteristic curve

DMOS Disfunção de Múltiplos Órgãos e Sistemas

DNA Ácido Desoxirribonucleico

DP Desvios-Padrão

 

DPOC Doeça Pulmonar Obstrutiva Crônica

ECG Escala de Coma de Glasgow

EDTA Ácido Etilenodiamino-Tetracético

EHW Equilíbrio de Hardy-Weinberg

EUA Estados Unidos da América

FiO2 Fração Inspiratória de Oxigênio

Fiocruz Fundação Oswaldo Cruz

G Guanina

GLM Generalized Linear Model

Modelo Linear Generalizado

h Horas

HCl Ácido Clorídrico

HIV Vírus da Imunodeficiência Humana

HLA ou MHC Antígeno Leucocitário Humano ou

Complexo Principal de Histocompatibilidade

HSP Heat Shock Protein

Proteína de Choque Térmico

IC 95% Intervalos de Confiança 95%

IFF Instituto Fernandes Figueira

vi 

 

IFN-γ Interferon-Gama

IL Interleucina

IL-1ra Antagonistas dos Receptores de Interleucina-1

INR Razão Normalizada Internacional

IOC Instituto Oswaldo Cruz

Kg Quilogramas

L Litros

LIS Lung Injury Score

Escore de Lesão Pulmonar

LPA Lesão Pulmonar Aguda

LPS Lipopolissacarídeo

LRM Logistic Regression Model

Modelo Regressão Logística

LTA ou LT-α ou TNF-β Linfotoxina-Alfa

LTB ou LT-β Linfotoxina-Beta

LT-βR ou LTBR Receptores de Linfotoxina-Beta

LTA Gene responsável pela Linfotoxina-Alfa

MARS Síndrome da Resposta Antiinflamatória Mista

mEq Miliequivalentes

vii 

 

MgCl2 Cloreto de Magnésio

MHC ou HLA Complexo de Histocompatibilidade Principal ou

Antígeno Leucocitário Humano

MIF Fator Inibidor da Migração de Macrófagos

Min Minutos

mL Mililitros

mM Milimolar

mmHg Milimetros de Mercúrio

mRNA Ácido Ribonucleico Mensageiro

NaCl Cloreto de Sódio

NcoI Enzima de Restrição NcoI

NO Óxido Nítrico

OMIN Online Mendelian Inheritance in Man

Base de Dados de Genes Humanos e Fenótipos Genéticos

OMS Organização Mundial de Saúde

OR Odds Ratio

Razão de Chances

oC Graus Celsius

p p-valor

viii 

 

PAF Fator de Ativação Plaquetário

PALS Pediatric Advanced Life Support

Suporte Avançado de Vida Pediátrico

PaO2 Pressão Arterial de Oxigênio

PaCO2 Pressão Arterial de Gás Carbônico

pb Pares de Base

PCR Reação em Cadeia da Polimerase

PCR-RT Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real

PCR-RFLP Reação em Cadeia da Polimerase para Polimorfismos de

Comprimento de Fragmentos de Restrição

PIM Pediatric Index of Mortality

Índice de Mortalidade Pediátrica

POP Procedimento Operacional Padrão

PRISM Pediatric Risk of Mortality

Risco de Mortalidade Pediátrica

RFLP Polimorfismos de Comprimento de Fragmentos de Restrição

RNApol RNA Polimerase

Rpm Rotações por Minuto

rs Reference SNP

Referência de Polimorfismo de Base Única

ix 

 

SCCM Society of Critical Care Medicine

Sociedade de Medicina Intensiva

SDRA Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo

SDS Dodecil Sulfato de Sódio

SEB Stain Extraction Buffer

Seg Segundos

SIDA Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

SIRS Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica

SNP Single Nucleotide Polymorphisms

Polimorfismos de Base Única

SSLP Simple Sequence Lenght Polymorphism

Polimorfismos de Repetições de Sequências Simples

sTNFR Receptores Solúveis do TNF

STR Short Tandem Repeats

Repetições Curtas em Tandem

SUS Sistema Único de Saúde

T Timina

Taq Thermus aquaticus

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

 

TGF-β Fator Transformador de Crescimento

TLR4 Toll-like Receptor 4

Receptor do Tipo Toll 4

TNF ou TNF-α Fator de Necrose Tumoral

TNF Gene responsável pelo Fator de Necrose Tumoral

TNFB1 Alelo LTA +252 G

TNFB2 Alelo LTA +252 A

TNFR1 Receptor de Fator de Necrose Tumoral 1

TNFR2 Receptor de Fator de Necrose Tumoral 2

U Uracila

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UPG Unidade de Pacientes Graves / IFF

UTI Unidade de Terapia Intensiva

UTIP Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica

Val Valina

VNTR Variable Number of Tandem Repeats

Número Variado de Repetições em Tandem

χ2 Teste do Qui-Quadrado de Pearson

xi 

 

Lista de Figuras

Figura 1 O Alvéolo na SDRA -------------------------------------------------- página 23

Figura 2 O Sistema HLA -------------------------------------------------------- página 39

Figura 3 Estudos de associação entre o SNP TNF -308 e choque séptico incluídos na metanálise de Teuffel e colaboradores ------------------------------------------- página 44

Figura 4 Interações entre os genes TNF e LTA ------------------------------- página 46

Figura 5 Posição dos SNPs TNF -308 e LTA +252 ou NcoI --------------- página 47

Figura 6 Frequência de disfunções orgânicas nos pacientes --------------- página 78

Figura 7 Frequência das doenças de base dos pacientes -------------------- página 80

Figura 8 Diagnósticos principais à admissão na UPG ---------------------- página 82

Figura 9 Germes isolados durante a internação dos pacientes ------------- página 82

xii 

 

Lista de Tabelas

Tabela 1 Estudos de associação entre o SNP LTA +252, choque séptico e óbito ------------------------------------------------------------------------------------------------- página 51

Tabela 2 Características demográficas de crianças saudáveis e pacientes internados na UPG/IFF sob ventilação mecânica ------------------------------------------------ página 75

Tabela 3 Frequências de genótipos, alelos, carreadores e haplótipos para SNPs TNF -308 e LTA +252 de crianças saudáveis e pacientes internados na UPG/IFF sob ventilação mecânica -------------------------------------------------------------------- página 77

Tabela 4 Características clínicas de pacientes internados na UPG/IFF sob ventilação mecânica -------------------------------------------------------------------- página 79

Tabela 5 Característica clínicas de pacientes com insuficiência respiratória aguda, sobreviventes e óbitos em SDRA, internados na UPG/IFF sob ventilação mecânica --------------------------------------------------------------------------------------------------- página 85

Tabela 6 Característica clínicas de pacientes com e sem choque séptico, sobreviventes e óbitos em choque séptico, internados na UPG/IFF sob ventilação mecânica --------------------------------------------------------------------------------- página 87

Tabela 7 Característica clínicas de sobreviventes e não-sobreviventes, dentre pacientes internados na UPG/IFF sob ventilação mecânica ----------------------- página 89

Tabela 8 Frequências de genótipos, alelos, carreadores e haplótipos para SNPs TNF -308 e LTA +252 de pacientes com insuficiência respiratória aguda internados na UPG/IFF sob ventilação mecânica --------------------------------------------------- página 91

xiii 

 

Tabela 9 Frequências de genótipos, alelos, carreadores e haplótipos para SNPs TNF -308 e LTA +252 de pacientes internados na UPG/IFF sob ventilação mecânica que evoluíram com e sem choque séptico ------------------------------------------------ página 93

Tabela 10 Frequências de genótipos, alelos, carreadores e haplótipos para SNPs TNF -308 e LTA +252 de pacientes sobreviventes e não-sobreviventes internados na UPG/IFF sob ventilação mecânica --------------------------------------------------- página 95

xiv 

 

Resumo

A sepse é uma síndrome complexa que resulta da resposta imune do hospedeiro

a uma infecção invasiva, sendo a principal causa de internação em unidades de terapia

intensiva pediátrica, podendo evoluir de forma grave, como choque séptico ou

Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA). Avanços recentes na biologia

molecular e estudos genômicos vêm buscando identificar a correlação entre

polimorfismos genéticos de base única (SNPs) em genes reguladores da resposta

inflamatória sistêmica à sepse. Neste estudo, foram avaliados os SNPs na posição -308

do gene do fator de necrose tumoral (TNF -308 G A) e na posição +252 do gene da

linfotoxina alfa (LTA +252 G A) em relação à gravidade de evolução clínica na sepse,

avaliando os desfechos choque séptico, SDRA e óbito. Foram estudados 424 pacientes

pediátricos criticamente enfermos, admitidos na Unidade de Pacientes Graves (UPG) do

Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), que necessitaram suporte ventilatório

invasivo e 553 crianças saudáveis, provenientes dos ambulatórios de puericultura e

cirurgia pediátrica do IFF/Fiocruz, com idade entre 1 mês e 17 anos de vida, masculinos

e femininos. Foram coletados dados demográficos e clínicos dos pacientes e crianças

saudáveis e realizada genotipagem, cujos resultados foram comparados através de

regressão logística, sendo ajustadas co-variáveis. A distribuição da frequência de alelos,

genótipos e haplótipos foi similar em ambos os grupos estudados e os SNPs LTA +252 e

TNF -308 não estavam em desequilíbrio de ligação. Foi observada proteção para o

desenvolvimento de SDRA nos pacientes portadores do genótipo TNF -308 GA, com

risco três vezes menor de evoluir com esta síndrome quando expostos a uma infecção.

Não foi observada associação de nenhum dos genótipos e alelos estudados com sepse,

choque séptico ou óbito. Desta forma, o genótipo TNF -308 GA parece se comportar

como protetor para a evolução de SDRA em pacientes pediátricos criticamente

enfermos com sepse.

Palavras-chave: Polimorfismo, Genético; Fatores de Necrose Tumoral;

Linfotoxina-alfa; Sepse; Choque Séptico; Síndrome do Desconforto Respiratório do

Adulto; Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica.

xv 

 

Abstract

Sepsis is a complex syndrome that results from the immune response of the host

to an infection and is the leading admission cause in pediatric intensive care units.

Sepsis can be presented in different ways and progress to severe forms, as septic shock

and Acute Respiratory Distress Syndrome (ARDS). Recent advances in molecular

biology and genomic studies allowed the identification and correlation between Single

Nucleotide Polymorphisms (SNPs) located in genes that control the systemic

inflammatory response to sepsis. In this study, we evaluated the SNPs in the positions -

308 (G A) of the tumor necrosis factor gene and +252 (G A) of the lymphotoxin-

alpha gene, with respect to the severity of sepsis, evaluating the clinical outcomes septic

shock, ARDS and mortality. We studied 424 critically ill pediatric patients that were

mechanically ventilated and admitted to the intensive care unit of the Fernandes

Figueira Institut (IFF/Fiocruz) and 553 healthy children proceeding from the pediatric

and surgical ambulatories (IFF), with age ranging between 1 month and 17 years old,

males and females. Demographic and clinical data were collected and the molecular

determination of the genotypes was compared through models of logistic regression,

adjusted for confounding variables. The genotypes, alleles and haplotypes frequencies

were similar in both groups and the SNPs LTA +252 e TNF -308 were not in linkage

disequilibrium. It was observed protection for the development of ARDS in carriers of

the genotype TNF -308 GA, with a threefold decreased risk of ARDS development in

septic patients. No association of any genotypes and alleles studied with sepsis, septic

shock or mortality was found. Therefore, the genotype TNF -308 GA seems to behave

as a genetic marker of protection to ARDS development in critically ill pediatric

patients with sepsis.

Key-Words: Polymorphism, Genetic; Tumor Necrosis Factors; Lymphotoxin-alpha;

Sepsis; Shock, Septic; Respiratory Distress Syndrome, Adult; Intensive Care Units,

Pediatric.

xvi 

 

Sumário

Lista de Símbolos e Abreviaturas ----------------------------------------------- Página v

Lista de Figuras ------------------------------------------------------------------- Página xii

Lista de Tabelas ------------------------------------------------------------------- Página xiii

Resumo ----------------------------------------------------------------------------- Página xv

Abstract ----------------------------------------------------------------------------- Página xvi

1. Introdução ---------------------------------------------------------------------- Página 01

2. Quadro Teórico ---------------------------------------------------------------- Página 04

a. Infecção e Sepse em Pediatria -------------------------------------- Página 04

b. Imunofisiopatologia da Sepse --------------------------------------- Página 17

c. Fator de Necrose Tumoral ------------------------------------------- Página 24

d. Linfotoxina-Alfa ------------------------------------------------------ Página 29

e. Biomarcadores em Terapia Intensiva ------------------------------ Página 30

f. Polimorfismo Genético ----------------------------------------------- Página 33

g. Polimorfismos do Fator de Necrose Tumoral - Rosição -308 --- Página 38

h. Polimorfismo da Linfotoxina-alfa - Posição +252---------------- Página 47

3. Hipótese do Estudo ------------------------------------------------------------ Página 53

xvii 

 

4. Objeto de Estudo --------------------------------------------------------------- Página 54

5. Objetivo Geral ------------------------------------------------------------------ Página 55

6. Objetivos Específicos --------------------------------------------------------- Página 56

7. Justificativa --------------------------------------------------------------------- Página 58

8. Metodologia -------------------------------------------------------------------- Página 60

a. Linha de Pesquisa Clínica-------------------------------------------- Página 60

b. Instituições e Setores onde foi realizado o estudo----------------- Página 60

c. Desenho de Estudo ---------------------------------------------------- Página 61

d. População -------------------------------------------------------------- Página 62

e. Classificação de Crianças e Pacientes Incluídos no Estudo ----- Página 63

i. Classificação Demográfica --------------------------------- Página 63

ii. Classificação Clínica dos Pacientes ----------------------- Página 63

f. Análise pelo Comitê de Ética ---------------------------------------- Página 65

g. Coleta e Processamento do Material ------------------------------- Página 66

i. Coleta das Amostras ----------------------------------------- Página 66

1. Grupo de Pacientes ---------------------------------- Página 66

2. Grupo de Crianças Saudáveis -------------------- Página 63

xix 

 

ii. Processamento das Amostras, Extração de DNA e Genotipagem--

------------------------------------------------------------------ Página 67

h. Variáveis Analisadas-------------------------------------------------- Página 68

i. Análise Estatística----------------------------------------------------- Página 70

9. Resultados ---------------------------------------------------------------------- Página 73

Seção 1 – Pacientes e Crianças Saudáveis – Variáveis Demográficas e

Frequências Alélicas, Genotípicas e Haplotípicas ------------------------- Página 73

Seção 2 – Pacientes – Apresentação e Evolução Clínica ----------------- Página 78

Seção 3 – Relação entre SDRA e Marcadores Genéticos ----------------- Página 88

Seção 4 – Relação entre Choque Séptico e Marcadores Genéticos ----- Página 92

Seção 5 – Relação entre Óbito e Marcadores Genéticos ----------------- Página 94

10. Discussão ----------------------------------------------------------------------- Página 96

11. Conclusões -------------------------------------------------------------------- Página 117

12. Perspectivas Futuras --------------------------------------------------------- Página 118

13. Bibliografia -------------------------------------------------------------------- Página 121

14. Anexos ------------------------------------------------------------------------- Página 142

Anexo A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Pacientes -- Página 142

xix 

 

Anexo B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Controles -- Página 144

Anexo C - Folha Diagnóstica SIRS / Sepse ------------------------------ Página 146

Anexo D – Procedimento Operacional Padrão – SNP LTA +252 ----- Página 147

Anexo E – Procedimento Operacional Padrão – SNP TNF -308 ------ Página 153

Anexo F – Tabela com Dados Clínicos dos Pacientes ------------------ Página 161

 

1. Introdução

A terapia intensiva pediátrica tem como um de seus maiores desafios lidar com o

espectro clínico da sepse. A sepse é uma síndrome complexa que resulta da resposta

imune do hospedeiro a uma infecção invasiva. Quando cursa com desarranjo das

funções orgânicas fisiológicas é considerada grave e se há prejuízo na perfusão tecidual,

denomina-se choque séptico. A sepse grave e o choque séptico são indicações comuns

de admissão em unidades de terapia intensiva e algumas das principais causas de

morbidade e mortalidade em pacientes criticamente enfermos (Salluh et al., 2008).

Diferentemente da população adulta, as crianças apresentam poucas comorbidades e

doenças crônicas, de forma que a principal causa de internação em unidades de terapia

intensiva pediátrica é a infecção descontrolada, que pode evoluir para sepse grave e

choque séptico.

Apesar dos recentes progressos nos cuidados intensivos, a sepse grave ainda é

associada a altas taxas de mortalidade, disfunção respiratória e neuromuscular nos

sobreviventes. A dificuldade em sua abordagem relaciona-se a alguns fatores, tais como

variabilidade individual, complexidade da resposta imune, conhecimento insuficiente a

respeito dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos na sepse e ausência de

biomarcadores bem estabelecidos.

A identificação de biomarcadores na sepse é de extrema importância, tendo em

vista que existe correlação direta entre o prognóstico de uma criança com infecção

grave e o tempo decorrido entre o início do quadro e o momento de instituição

terapêutica. Portanto, a necessidade do diagnóstico correto e precoce de sepse, assim

 

como a identificação dos pacientes em risco de evolução desfavorável é crucial (Salluh

et al., 2008).

Avanços recentes na biologia molecular enfatizando genômica vêm permitindo

uma compreensão mais profunda dos processos orgânicos relevantes para a Terapia

Intensiva Pediátrica, tais como sepse, choque séptico, Síndrome do Desconforto

Respiratório Agudo (SDRA) e Síndrome de Disfunção de Múltiplos Órgãos (DMOS).

Com o sequenciamento do genoma humano e o reconhecimento do grau de variação

genética que existe na população, ficou claro que a carga genética de um indivíduo tem

impacto na apresentação da doença, tratamento e evolução clínica (Dahmer et al.,

2005). Este conhecimento estimulou estudos buscando identificar a correlação entre

genes polimórficos de citocinas inflamatórias e sepse.

Alguns polimorfismos de base única de genes reguladores da resposta

inflamatória vêm sendo associados com evolução grave e mortalidade na sepse e choque

séptico em adultos e crianças. Sua genotipagem permite acesso a uma classe de

biomarcadores que, se efetivamente validados, podem ser conhecidos precocemente e

contribuir para o emprego mais racional de alguns recursos terapêuticos que possam

inibir ou estimular a resposta do hospedeiro à infecção e até mesmo antecipar a

necessidade de cuidados intensivos, funcionando como marcadores prognósticos de

evolução desfavorável (Lin Z et al., 2000).

Neste estudo, foi realizada a genotipagem de polimorfismos de base única

relacionados à posição -308 do Fator de Necrose Tumoral (TNF) e à posição +252 da

Linfotoxina-alfa (LTA) em pacientes pediátricos criticamente enfermos submetidos à

ventilação mecânica. Os dados obtidos com a genotipagem foram correlacionados com

 

características demográficas e clínicas, além dos desfechos choque séptico, Síndrome do

Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) e óbito, buscando a identificação de

biomarcadores. Esta genotipagem também foi realizada em um grupo de crianças

saudáveis para conhecimento da freqüência de tais genótipos e alelos em uma população

similar aos pacientes.

 

2. Quadro Teórico

a) Infecção e Sepse em Pediatria

A sepse é a principal causa de óbito em lactentes e crianças, com mais de 42.000

casos de sepse grave anualmente nos Estados Unidos (EUA), chegando a milhões em

todo o mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as quatro doenças

principalmente relacionadas à mortalidade infantil em todo o mundo são: pneumonia

grave (1,9 milhões por ano), diarréia grave (1,6 milhões por ano), malária grave (1,1

milhões de óbitos ao ano) e sarampo grave (550.000 óbitos ao ano), sendo o termo

grave utilizado quando a criança desenvolve acidose ou hipotensão (Watson e Carcillo,

2005).

A incidência de sepse grave em adultos é comparável em diferentes países

(Linde-Zwirble et al., 2004; Annane et al., 2003; Schuerholz e Marx, 2008) e as taxas

de mortalidade associadas à sepse grave e ao choque séptico variam de 25-30% e 40-

70%, respectivamente (Russel JA, 2006). No Brasil, o único estudo publicado (estudo

BASES) mostrou taxa de mortalidade geral em 28-dias foi de 21,8%, porém, em

pacientes com sepse grave e choque séptico, esta taxa aumentou para 47,3% e 52,2%,

respectivamente. Para pacientes brasileiros com SIRS sem infecção, a taxa de

mortalidade foi de 11,3% (Silva et al., 2004).

O comportamento da sepse em crianças mostra uma evolução diferente. Dentre

as crianças diagnosticadas com sepse, 5 a 30% desenvolverão choque séptico. Inúmeros

 

estudos conduzidos em outros países nas décadas de 80 e 90 reportaram taxas de

mortalidade acima de 50% em crianças com choque séptico, entretanto, investigações

mais recentes reportaram mortalidade de aproximadamente 20% em crianças com

choque séptico (Kutko et al., 2003). Houve 4.400 óbitos associados à sepse grave

pediátrica nos EUA em 1995 e a mortalidade hospitalar foi de 10,3%, sendo 7,8% em

crianças previamente saudáveis e 12,8% em crianças com doença de base (Watson e

Carcillo, 2005).

Análises de dados anteriores a 1999 demonstraram que as taxas de sepse grave

estavam aumentando, enquanto a mortalidade hospitalar diminuía. O aumento na

incidência de sepse grave pareceu dever-se ao aumento na viabilidade de prematuros de

extremo baixo peso ao nascer nos EUA e à elevada taxa de sepse neste grupo. Embora a

taxa de mortalidade hospitalar não tenha mudado entre crianças saudáveis, diminuiu em

quase 9% em crianças portadoras de doença crônica (Watson e Carcillo, 2005), o que

pode refletir uma melhora no tratamento destas outras doenças e não necessariamente da

sepse.

Não há dados epidemiológicos atuais publicados a respeito da demanda e do

perfil de internação em unidades de terapia intensiva pediátrica no Brasil. No entanto,

os dados brasileiros em relação à mortalidade corroboram os dados internacionais,

sendo a mortalidade em crianças com choque séptico ainda muito alta, alcançando taxas

de até 40 - 60% em alguns estados do Brasil (Gama et al., 2007). Tanto nos países

industrializados, quanto nos em desenvolvimento, o choque continua sendo o mais

importante fator de risco para mortalidade em crianças sépticas (Watson e Carcillo,

2005).

 

A resposta inflamatória sistêmica secundária à infecção não controlada pode

manifestar-se em uma cascata de gravidade progressiva, que se inicia com SIRS. Esta

resposta inflamatória sistêmica pode ser secundária a qualquer agressão clínica, seja ela

infecção, trauma, pancreatite, queimadura, choque hemorrágico ou isquemia (Bone et

al., 1989).

Em 1989, Bone e colaboradores descreveram a “síndrome séptica”, para

descrever pacientes que apresentavam evidências de resposta sistêmica a uma infecção,

tais como temperatura elevada, taquicardia, taquipnéia, contagem anormal de leucócitos

e evidência de disfunção orgânica. Tais definições foram aperfeiçoadas em 1992, sendo

publicado um consenso para utilização em adultos criticamente enfermos, contendo as

definições de SIRS, sepse, sepse grave e choque séptico (ACCP- American College of

Chest Physicians/SCCM - Society of Critical Care Medicine Consensus Conference,

1992), o qual foi revisado em 2003 (Levy et al., 2003). Estas definições eram

específicas para a população adulta e incluíam valores de frequência cardíaca,

frequência respiratória e pressão sistólica, não podendo ser imediatamente utilizadas

para a população pediátrica (Brilli et al., 2005).

Na tentativa de adaptar tais definições para pediatria, modificações foram

propostas por diferentes autores, incluindo os valores esperados de sinais vitais

conforme as diferentes faixas etárias para a população pediátrica. Enquanto alguns

autores definiram critérios para admissão em ensaios clínicos próprios ao estudo que

estava sendo conduzido, outros modificaram e adaptaram as definições de Bone para

crianças (Hayden et al., 1994; Saez-Llorens et al., 1993; Brilli et al., 2005). Em 2002,

foram publicados os guidelines da ACCM/PALS (Pediatric Advanced Life Support) de

2002, que definiam diferentes tipos de choque conforme a terapêutica instituída, como

 

choque responsivo a líquido e choque refratário a aminas. Tais critérios objetivavam o

reconhecimento precoce do choque e melhora na sobrevida das crianças atendidas nos

serviços de emergência pediátrica (Carcillo et al., 2002).

Entretanto, a utilização inconsistente de critérios de definição de sepse

contribuía para gerar confusão, variabilidade e resultados conflitantes na literatura

(Angus et al., 2001). Portanto, em face da necessidade de uniformizar as definições de

sepse em pediatria, realizou-se uma conferência internacional em 2002, cujos resultados

foram publicados em 2005, em um artigo contendo definições de SIRS, sepse, sepse

grave, choque séptico e disfunções orgânicas que contemplavam as diferentes faixas

etárias (Goldstein et al., 2005). Desde então, esta definição é a mais amplamente

utilizada em ensaios clínicos que incluem pacientes pediátricos sépticos.

Clinicamente, denomina-se SIRS quando há a presença de pelo menos dois dos

seguintes critérios: 1) hiper- ou hipotermia (temperatura central >38,5ºC ou < 36ºC); 2)

taqui- ou bradicardia, conforme média padrão previamente estabelecida para as

diferentes faixas etárias pediátricas; 3) taquipnéia ou necessidade de ventilação

mecânica não relacionados à doença neuromuscular ou anestesia geral; e 4) leucocitose

ou leucopenia, também de acordo com a faixa etária (Goldstein et al., 2005).

É necessária a aferição de temperatura central, ou seja, retal, vesical, oral ou

medida através de cateteres centrais, já que temperaturas timpânicas, axilares ou

cutâneas não são suficientemente acuradas. A presença do critério de temperatura ou

contagem de leucócitos é obrigatória, já que taquicardia e taquipnéia são sinais comuns

presentes em muitas doenças pediátricas, sendo esta uma das principais diferenças entre

os critérios definidos por Goldstein para crianças e os critérios de Bone para adultos.

 

Ainda, o critério pediátrico definiu valores limítrofes para cada sinal e sintoma

conforme a faixa pediátrica, incluindo bradicardia como sinal de SIRS em lactentes

(Goldstein et al., 2005).

Quando a SIRS é secundária a uma infecção, ou seja, presença de um

microorganismo e seus produtos ou invasão de um tecido previamente estéril por

microorganismos, passa a se chamar sepse. No consenso pediátrico de 2002, não é

necessário o isolamento de germe por cultura, histopatologia ou teste da reação em

cadeia da polimerase para o diagnóstico de infecção. Achados positivos em exames

clínicos, radiológicos ou testes laboratoriais suspeitos de infecção podem ser definidos

como tal. Assim, o diagnóstico de sepse é feito quando há SIRS na presença de infecção

suspeita ou comprovada (Goldstein et al., 2005).

Quando a sepse está associada à disfunção orgânica, isto é, disfunção

cardiovascular, respiratória, renal, hepatológica, hematológica ou neurológica, é

chamada sepse grave. A sepse grave tem progressão mais lenta, entre 7-14 dias,

apresentando taxa de mortalidade de 30-70%, dependendo da disfunção orgânica

concomitante (Ulloa e Tracey, 2005). Segundo Goldstein, denomina-se sepse grave a

associação de sepse com SDRA ou sepse na presença de duas outras disfunções

orgânicas, a seguir:

• Disfunção Neurológica Escala de Coma de Glasgow (ECG) menor que 11 ou

diminuição do nível de consciência com queda na ECG em três pontos do valor

basal.

 

• Disfunção Hematológica plaquetopenia menor que 80.000 ou declínio de

50% no maior valor dos últimos três dias para pacientes onco-hematológicos

crônicos, ou presença de INR (Razão Normalizada Internacional) maior que 2.

• Disfunção Renal aumento na creatinina sérica acima de 2 ou acima do dobro

do valor à admissão.

• Disfunção Hepática aumento de bilirrubina acima de 4 (exceto em recém-

natos) ou ALT (Alanina Aminotransferase) acima de duas vezes o valor para

idade.

• Disfunção Respiratória relação PaO2 (pressão arterial de oxigênio) / FiO2

(fração inspirada de oxigênio) abaixo de 300mmHg na ausência de doença

pulmonar crônica ou doença cardíaca cianótica preexistente; aumento na PaCO2

(pressão arterial de gás carbônico) acima de 65 ou 20mmHg acima do valor

basal; necessidade de FiO2 acima de 50% para manter saturação maior que 92%

e necessidade de ventilação mecânica invasiva ou não-invasiva desde que não-

eletiva.

• Disfunção Cardiovascular diagnosticada apenas se a criança mantém sinais de

hipoperfusão orgânica após administração de expansão volêmica acima de

40mL/kg em 1 hora. São sinais de hipoperfusão: diminuição da pressão arterial

abaixo do percentil 5 para idade (hipotensão) ou queda da pressão sistólica

abaixo de 2DP (desvios-padrão) do normal para a idade; necessidade de drogas

vasoativas para manter a pressão; ou dois dos seguintes – acidose metabólica

(excesso de base>5,0mEq/L), lactato arterial acima de duas vezes o valor limite,

oligúria (débito urinário < 0,5mL/kg/h), enchimento capilar periférico

10 

 

prolongado (acima de 5 seg) e diferença entre as temperaturas periférica e

central maior que 3oC (Goldstein et al., 2005).

Quando há acometimento do sistema cardiovascular, apesar de adequada

ressuscitação volêmica, denomina-se choque séptico (Goldstein et al., 2005). Portanto, a

principal diferença entre adultos e crianças é a ausência da necessidade de hipotensão

para o diagnóstico de choque séptico, já que as crianças podem se encontrar claramente

em estado de choque sem a presença de hipotensão arterial sistêmica. Assim, uma vez

caracterizada disfunção cardiovascular na presença de sepse, faz-se o diagnóstico de

choque séptico em crianças.

O choque séptico é uma síndrome altamente letal, que pode culminar em óbito

em 24-48h após seu início e é invariavelmente acompanhado por disfunção

cardiovascular. Em casos de choque séptico em que o estado de choque não é revertido,

há progressão para DMOS, comprometendo muito o prognóstico do paciente.

Após estabelecimento de disfunção orgânica, a taxa de mortalidade de pacientes

pediátricos passa a ser de 54%, sendo esta taxa diretamente relacionada ao número de

órgãos em disfunção (Wilkinson et al., 1986). Outros estudos reportaram taxas de

mortalidade de 46% em disfunção orgânica e sepse e 52% em disfunção orgânica

associada a choque séptico (Wilkinson et al., 1987; Proulx et al., 1996). Estudo mais

recente demonstrou diferença significativa na taxa de mortalidade entre pacientes com e

sem DMOS, sendo 18,6% e 0%, respectivamente (Kutko et al., 2003).

O comprometimento respiratório também aumenta em muito a morbidade de

pacientes pediátricos. A disfunção respiratória que apresenta insuficiência respiratória

por hipoxemia com relação PaO2/FiO2 abaixo de 300mmHg é denominada Lesão

11 

 

Pulmonar Aguda (LPA). Estudo americano recente avaliando pacientes de 1996 a 2005

demonstrou que a mortalidade relacionada à LPA diminuiu ao longo do tempo, de 35%

para 26%, entre 2004 e 2005 (Erickson et al., 2009).

Caso o desconforto respiratório seja de instalação insidiosa e progressiva; haja

aparecimento de infiltrado pulmonar difuso na radiografia de tórax, na ausência de

edema pulmonar de origem cardiogênica; além de hipoxemia progressiva, grave e

refratária à administração suplementar de oxigênio, com relação PaO2/FiO2 abaixo de

200; se estabelece o diagnóstico de SDRA - Síndrome do Desconforto Respiratório

Agudo (Piva e Celiny, 2005).

A SDRA é uma síndrome clínica comum que afeta pacientes clínicos e

cirúrgicos, primeiramente descrita em 1967, em pacientes com desconforto respiratório,

cianose refratária à oxigenioterapia, diminuição da complacência pulmonar e infiltrados

difusos à radiografia de tórax. Estudos iniciais sugeriram que a incidência de SDRA nos

EUA era de 75 para cada 100.000 habitantes. Estudos mais recentes reportaram baixas

incidências de 1,5 a 8,3 por 100.000. Na Escandinávia, a incidência de LPA foi de 17,9

por 100.000 e a de SDRA de 13,5 por 100.000 (Ware e Matthay, 2000).

A LPA e a SDRA ocorrem com menos frequência nas crianças que nos adultos,

sendo a incidência de LPA 2,2 a 12 por 100.000, com mortalidade de 20% em crianças.

Dos pacientes pediátricos que necessitam suporte ventilatório invasivo, 8 a 10%

evoluem com SDRA, tendo mortalidade estimada entre 20 e 75% (Flori et al., 2004).

Pode-se estimar que a cada ano entre 2.500 a 9.000 crianças terão LPA, contribuindo

para 500 a 2.000 óbitos. A mortalidade em crianças com LPA/SDRA variou entre 8 a

27,5% no últimos ensaios clínicos americanos publicados (Randolph et al., 2009). Na

12 

 

Alemanha, estudo em crianças demonstrou prevalência de 5,5 por 100.000 e incidência

de 3,2 por 100.000 casos por ano em crianças entre um mês de vida e dezoito anos de

idade (Bindl et al., 2005). Já estudo multicêntrico chinês publicado recentemente,

realizado em crianças de um mês a quatorze anos de idade, demonstrou que 1,44% das

crianças admitidas em UTIPs desenvolveram SDRA, com taxa de mortalidade elevada

(61%), contabilizando 13,2% dos óbitos nas UTIPs, aumentando em nove vezes o risco

de óbito. Neste estudo, pneumonia (55,2%) e sepse (22,9%) foram os principais fatores

predisponentes para o desenvolvimento de SDRA e 63% dos casos se estabeleceram em

menos de 24h após a admissão (Yu et al., 2009).

Os fatores de risco para o desenvolvimento da SDRA em adultos e crianças são

similares, sendo os principais mecanismos desencadeadores, a pneumonia, a

broncoaspiração e a sepse. Lesões diretas ou indiretas à vasculatura pulmonar e epitélio

alveolar iniciam um processo que se manifesta clinicamente como deficiência aguda na

oxigenação e infiltrados bilaterais na radiografia torácica (Flori et al., 2006).

A SDRA é normalmente progressiva, caracterizada por fases distintas com

manifestações clínicas, histopatológicas e radiológicas diversas. A fase aguda, ou

exsudativa, é manifestada pelo início rápido de insuficiência respiratória em um

paciente com fator de risco para esta condição. Hipoxemia arterial refratária ao

tratamento com oxigênio suplementar é característica. Radiograficamente, os achados

são indistinguíveis daqueles encontrados no edema pulmonar cardiogênico. Infiltrados

pulmonares bilaterais podem ser irregulares e assimétricos, podendo incluir infusões

pleurais. Tomografia computadorizada demonstra edema alveolar, consolidações e

atelectasias ocorrendo principalmente nas zonas pulmonares dependentes, enquanto

outras áreas pulmonares são poupadas. No entanto, mesmo nas áreas tomograficamente

13 

 

livres, lavados bronco-alveolares encontram inflamação substancial. Achados

patológicos incluem dano alveolar difuso, com neutrófilos, macrófagos, eritrócitos,

membranas hialinas e fluido hiper-proteico dentro dos espaços alveolares, além de lesão

capilar e rompimento de seu epitélio (Ware e Matthay, 2000).

Em alguns pacientes, a LPA e a SDRA não se resolvem na fase aguda, podendo

progredir para alveolite fibrosante com hipoxemia persistente, aumento do espaço morto

alveolar e diminuição ainda maior da complacência pulmonar. Hipertensão pulmonar

secundária à obliteração do leito capilar pulmonar pode ser grave e culminar em

insuficiência ventricular direita. Nesta fase, radiografias torácicas demonstram

opacidades lineares, consistentes com a presença de fibrose e tomografias demonstram

opacidades intersticiais difusas.

A fase de recuperação é caracterizada por resolução da hipoxemia, melhora da

complacência pulmonar, normalização dos achados radiológicos e restauração da função

pulmonar, na maioria dos casos (Ware e Matthay, 2000).

Uma das primeiras e mais importantes definições de SDRA foi desenvolvida por

Murray em 1988, denominada LIS (Lung Injury Score – Escore de Lesão Pulmonar).

Esta definição foi proposta para quantificar o dano respiratório através da avaliação de

quatro parâmetros: nível de pressão expiratória final positiva utilizado, relação PaO2 /

FiO2, complacência pulmonar estática e grau de infiltrado pulmonar evidente na

radiografia pulmonar. Embora tenha sido amplamente utilizado, o escore LIS não pode

ser utilizado para predizer desfecho nas primeiras 24-72h após o início da SDRA, tendo

uso clínico limitado (Murray et al., 1988).

14 

 

Em 1994, uma nova definição foi recomendada por Bernard et al. que

reconhecia a variedade da gravidade da lesão pulmonar. Pacientes com hipoxemia

menos grave (PaO2/FiO2 < 300) são denominados portadores de Lesão Pumonar Aguda

(LPA), enquanto aqueles com hipoxemia grave (PaO2/FiO2 < 200) são denominados

portadores de SDRA. Esta nova definição, mais ampla e simples, permite o

reconhecimento precoce de pacientes com lesão pulmonar aguda e pode facilitar a

identificação e introdução de pacientes em ensaios clínicos (Bernard et al., 1994). Em

crianças, os critérios de Murray e de Bernard são também utilizados, não sendo

necessárias adaptações para as diferentes faixas etárias.

A SDRA não é, portanto, uma doença única ou isolada, mas o final comum para

diversas agressões que podem lesar o pulmão, tendo como causa uma agressão local

(pulmonar) ou sistêmica (extra-pulmonar), o que gera lesão alvéolo-capilar terminal e

resulta em grave hipoxemia e infiltrado pulmonar difuso ou edema pulmonar não-

cardiogênico.

Devido às inúmeras possibilidades de evolução desfavorável em um paciente

com infecção, a definição do prognóstico de diversas doenças e tratamentos é parte

importante de seu cuidado. A utilização de marcadores prognósticos que estratifiquem

gravidade e possam identificar um grupo de pacientes de maior gravidade, que se

beneficiem de determinadas terapêuticas específicas, é importante para avaliar a

qualidade do atendimento prestado, comparando-o com o de outras unidades, ou uma

mesma unidade ao longo do tempo, além de melhor orientar a alocação de recursos

disponíveis (Slater et al., 2003).

15 

 

Os escores de gravidade, também chamados de escores prognósticos, são escalas

numéricas constituídas por um grupo de variáveis, que servem para caracterizar a

gravidade dos pacientes de maneira uniforme e objetiva, podendo ser utilizados para

avaliar a performance do cuidado intensivo (Gemke et al., 2002). Os modelos de escore

prognósticos construídos para UTI foram desenvolvidos a partir da identificação de

variáveis relevantes para o risco de morte após uma análise estatística multivariada de

regressão logística. Assim, avaliam o risco da mortalidade, comparando a porcentagem

da mortalidade estimada com a mortalidade realmente observada e são utilizados para

predizer o desfecho em pacientes dentro de uma UTI (Lacroix et al., 2005).

Tais escores não podem ser utilizados como instrumentos para definição de

conduta clínica para cada paciente isoladamente, mas podem ajudar a equipe que assiste

os pacientes na discussão dos prognósticos e de decisões clínicas para melhorar a

alocação de recursos dentro da terapia intensiva (Soares et al., 2004). Ao definir a

gravidade do paciente no momento de entrada na unidade, além de estimar sua

mortalidade, os escores prognósticos também podem servir para classificar os pacientes,

uniformizar as informações, favorecendo a entrada em estudos clínicos e também

propiciando a comparação entre diferentes unidades (Slonim et al., 2006).

O escore Pediatric Risk of Mortality (PRISM) I (Anexo 5), publicado em 1988

por Pollack et al. e amplamente utilizado em unidades de terapia intensiva pediátricas na

última década, foi validado por muitos estudos, sendo apontado como útil e confiável

(Lacroix et al., 2005). Por isso, é ainda o índice mais amplamente conhecido e utilizado

nas UTIP, sendo aplicado em estudos clínicos para avaliação de gravidade de doença

em pacientes pediátricos. O PRISM avalia variáveis clínicas e laboratoriais dos

pacientes nas primeiras 24 horas de sua admissão, devendo ser utilizados os piores

16 

 

valores encontrados neste período. A partir de variáveis como pressão arterial,

freqüência cardíaca e respiratória, reação pupilar, escala de Glasgow, relação

PaO2/FiO2, PaCO2, coagulograma, bilirrubina total, cálcio, potássio, glicemia,

bicarbonato, que são ponderadas após a análise multivariada de regressão logística,

chega-se a um resultado percentual, que codifica o risco de morte de zero a cem por

cento (Gunning et al., 1999).

Já o escore Pediatric Index of Mortality (PIM) foi desenvolvido em 1996 na

Austrália (Shann et al., 1997), com o objetivo de obter um escore mais prático, ou seja,

com um menor número de variáveis e de mais fácil coleta. Pretendia-se também

diminuir o viés de interpretação da qualidade dos cuidados dos resultados, já que os

dados deveriam ser coletados na primeira hora de internação, momento em que a

terapêutica dentro da UTI se inicia (Shann et al., 1997). O PIM 2 (Anexo 6) foi

publicado em 2003 pelo PIM Study Group e é uma versão revisada do PIM que,

comparada à versão original, seria mais bem calibrada, mais segura e com melhor ajuste

em diferentes grupos diagnósticos. É calculado a partir do valor de cada variável desde

o momento do primeiro contato médico-paciente até a primeira hora de chegada à UTI,

tendo como vantagem principal a utilização de poucas variáveis (Slater et al. 2003).

Entretanto, os parâmetros clínicos e laboratoriais incluídos nos escores

pediátricos de avaliação atualmente utilizados podem ser insuficientes para a predição

do prognóstico de pacientes graves. Frente a uma mesma agressão, pacientes pediátricos

apresentam evoluções e desfechos completamente diferentes, portanto a enorme

variabilidade individual tem sido um desafio na terapia intensiva pediátrica. A

construção de ferramentas que auxiliem a identificação de crianças com potencial para

pior desfecho antes que o mesmo ocorra, além de definir as que se beneficiariam da

17 

 

utilização de determinado tratamento, pode ser extremamente importante para o avanço

nos cuidados intensivos em pediatria. Desta forma, muitos estudos vêm se concentrando

na identificação de biomarcadores.

b) Imunofisiopatologia da Sepse

A resposta inflamatória é caracterizada pelo reconhecimento do local de lesão por

células inflamatórias, recrutamento específico de subpopulações de leucócitos para o

tecido, destruição ou contenção do agente invasor, eliminação de restos celulares e

reparo do sítio de lesão com o intuito de reestabelecer a relação normal entre as matrizes

extracelulares, parênquima e estroma (Keane et al., 2000).

As citocinas liberadas produzem três principais efeitos: a) primeiramente, induzem à

produção de proteínas de fase aguda pelo fígado, que podem entre outras coisas

potencializar a ação microbicida do sistema complemento; b) em segundo lugar, podem

induzir febre, contribuindo para restringir a multiplicação dos microorganismos,

reduzindo ao mesmo tempo a atividade espontânea do hospedeiro, levando às mudanças

comportamentais que configuram “sickness syndrome” (letargia, anorexia, sonolência e

dificuldade de concentração); c) as citocinas podem, ainda, induzir à inflamação local,

alterando as propriedades de superfície e a permeabilidade dos vasos sanguíneos,

recrutando fagócitos e linfócitos do endotélio para o sítio de infecção (Oberholzer et al.,

2001).

18 

 

As citocinas produzidas por macrófagos e neutrófilos têm efeitos longos e

contribuem para a defesa do hospedeiro. A elevação da temperatura corporal, por

exemplo, é causada por TNF, IL-1, IL-6 e outras citocinas (Ward et al., 2008). Além

disso, IL-1, IL-6 e TNF induzem os hepatócitos a produzir proteínas de fase aguda. A

proteína C-reativa se liga a alguns lipopolissacarídeos da parede de certas bactérias e

fungos, servindo como opsonina e ativando a cascata de complemento. A presença

destas citocinas também acarreta outras manifestações clínicas da infecção, tais como

extravasamento capilar, vasodilatação e a expressão hepática de heat shock proteins

(HSP) (Ward et al., 2008).

A indução vigorosa do sistema imune inato pode gerar efeitos catastróficos no

paciente com síndrome séptica. Produção exagerada de citocinas pró-inflamatórias e

indução de mediadores mais distais como NO, PAF e prostaglandinas foram implicadas

nas mudanças endoteliais e indução de estado pró-coagulatório, assim como em

hipotensão, prejuízo da perfusão orgânica e morte celular necrótica associada à

Síndrome de Disfunção Orgânica Múltipla (DMOS) (Oberholzer et al., 2001).

Desta forma, o termo SIRS, ou Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica, é

associado com a ativação do sistema imune inato e cascata pró-inflamatória vista

durante a síndrome séptica (Oberholzer et al., 2001). As citocinas pró-inflamatórias e os

mediadores humorais responsáveis pela indução da resposta imune inata e SIRS

também contribuem para o desenvolvimento de efeitos imunes específicos. Em seguida,

o paciente frequentemente entra em um estado imunológico caracterizado por

hiporresponsividade de células-T, anergia e disfunção na apresentação de antígenos,

chamado CARS ou Síndrome da Resposta Antiinflamatória Compensatória (Oberholzer

et al., 2001).

19 

 

A SIRS foi um modelo de inflamação persistente e não-controlada proposto por

Bone e colaboradores para explicar a patogênese da sepse (1996). Acreditava-se que em

resposta a um evento agressivo, como infecção, hemorragia ou trauma, a partir de uma

certa gravidade, o organismo desencadeava uma reação inflamatória capaz de se

amplificar indefinidamente, resultando em um estado séptico que frequentemente

produzia choque séptico, disfunção orgânica múltipla e morte (Bone et al., 1996).

Após o fracasso da utilização de agentes bloqueadores da inflamação em

pacientes sépticos, Bone e colaboradores descreveram a CARS em 1996 com o objetivo

de ajudar a elucidar a imunodepressão cada vez mais descrita na sepse (Ward et al.,

2008). A CARS apresenta um padrão complexo e ainda não claramente definido de

respostas imunológicas à infecção grave.

A principal diferença entre as duas síndromes é: enquanto a SIRS é uma reação

pró-inflamatória, cuja principal função é a destruição de agentes infecciosos através da

ativação do sistema imune, a CARS é uma reação antiinflamatória compensatória, tendo

como principal função a tentativa de restauração da homeostase a partir de um estado

inflamatório (Netea et al., 2003). No entanto, CARS não é simplesmente a

descontinuação da SIRS, podendo as duas existirem concomitantemente ou

separadamente. Os padrões de secreção de citocinas e de respostas celulares são

distintos entre estes estados e podem ter fortes influências nos desfechos clínicos da

sepse (Ward et al., 2008).

O termo CARS usualmente reflete a imunossupressão causada por um insulto

principal, como sepse, queimaduras ou lesão tecidual. Ela reverte muitas das

manifestações do processo inflamatório, sendo caracterizada por alterações clínicas,

20 

 

como diminuição da resposta de hiperssensibilidade tardia, hipotermia, leucopenia,

maior susceptibilidade à infecção e incapacidade de eliminá-la, uma vez estabelecida

(Ward et al., 2008).

A resposta antiinflamatória inclui os seguintes mediadores: IL-4, IL-10, IL-11,

IL-13, TGF-β (Fator transformador de crescimento), receptores solúveis do TNF

(sTNFR) e antagonistas dos receptores de IL-1 (IL-1ra). Tais mediadores têm efeito

importante na função dos monócitos/macrófagos e especialmente no que se refere a sua

atividade de apresentação dos antígenos, além de inibirem as atividades de linfócitos T e

B, incluindo a proliferação de linfócitos T específicos para um antígeno. O resultado é

uma imunossupressão que, algumas vezes, pode ser profunda (Bone et al., 1996).

Pacientes que manifestam um padrão mais heterogêneo de resposta inflamatória

foram denominados portadores de Síndrome da Resposta Anti-Inflamatória Mista, ou

MARS (Oberholzer et al., 2001).

Apesar de alguns autores postularem o padrão multimodal da resposta

inflamatória sistêmica: SIRS inicial, fase intermediária com MARS e CARS no estágio

final, outros discordaram desta definição. Osuchowski e colaboradores estudaram a

evolução da resposta inflamatória sistêmica precoce em modelo murino através da

coleta repetitiva de sangue e dosagem de mediadores inflamatórios. Eles observaram

que ocorreram elevações simultâneas tanto nos mediadores pró- quanto nos

antiinflamatórios, sendo ambos correlacionados com mortalidade em 48h. Estes dados

não sustentam a transição simples entre SIRS e CARS proposta no modelo anterior e

questionam a utilização da simples dosagem de uma citocina pró-inflamatória como

21 

 

biomarcador e classificador do estado inflamatório durante a sepse (Osuchowski et al.,

2006).

O choque séptico é a mais grave consequência patológica induzida por citocinas

após infecção bacteriana. É uma síndrome caracterizada por colapso circulatório,

distúrbios metabólicos e coagulação intravascular disseminada. TNF e IL-1 são os

principais mediadores do choque séptico, embora, INF-γ, IL-12 e IL-18 provavelmente

contribuam significativamente. De fato, níveis séricos de TNF foram preditores de

desfecho grave em alguns estudos sobre infecção bacteriana por gram-negativos

(Oberholzer et al., 2001). No entanto, não apenas citocinas pró-inflamatórias foram

correlacionadas com desfecho grave, mas também mediadores antiinflamatórios, como

IL-10, foram correlacionados com a gravidade de pacientes politraumatizados e risco

aumentado de desenvolver complicações como SDRA e sepse (Oberholzer et al., 2001).

As vias de sinalização alteradas na sepse culminam na lesão tecidual e disfunção

orgânica. A disfunção cardiovascular é caracterizada por choque circulatório e

redistribuição de fluxo sanguíneo, com resistência vascular diminuída, hipovolemia e

diminuição da contratilidade miocárdica associada com níveis aumentados de NO, TNF,

IL-6 e outros mediadores. A disfunção renal pode ser muito grave, contribuindo para a

morbidade e mortalidade da sepse (Russel et al., 2006).

A disfunção respiratória é caracterizada por aumento da permeabilidade

vascular, gerando lesão pulmonar aguda. No pulmão, a barreira alvéolo-capilar é

formada por duas diferentes camadas: o endotélio microvascular e o epitélio alveolar. A

fase aguda da lesão pulmonar aguda (LPA) e da SDRA é caracterizada pelo influxo de

fluidos proteicos para dentro dos alvéolos como consequência de um aumento na

22 

 

permeabilidade da barreira alveolo-capilar. A perda da integridade capilar e lesão dos

pneumócitos tipo II desorganizam o transporte de fluidos epiteliais, prejudicando a

remoção de líquido do espaço alveolar, além de diminuir a produção de surfactante, o

que pode finalmente culminar em fibrose, secundária ao reparo epitelial ineficaz (Ware

e Matthay, 2000).

Estudos clínicos e experimentais demonstraram a ocorrência de lesão mediada

por neutrófilos na LPA e SDRA. Estudos histológicos demonstraram o predomínio de

neutrófilos no edema pulmonar e lavado bronco-alveolar obtidos de pacientes afetados.

Neutrófilos aderem ao endotélio capilar lesado e alcançam o espaço intra-alveolar,

repleto de líquido rico em proteínas. Dentro do espaço aéreo, macrófagos alveolares

secretam: IL-1, IL-6, IL-8 e IL-10, além de TNF, que agem localmente para estimular

quimiotaxia e ativar neutrófilos. Os neutrófilos, por sua vez, podem liberar oxidantes,

proteases, leucotrienos e outras moléculas pró-inflamatórias, como fator ativador de

plaquetas (PAF) (Ware e Matthay, 2000).

Alguns mediadores antiinflamatórios também estão presentes dentro do alvéolo

inflamado, como o IL-1ra, o sTNFR, auto-anticorpos contra IL-8, além de IL-10 e IL-

11. Além disso, o influxo de líquido rico em proteína para dentro do alvéolo culmina em

inativação do surfactante. O fator inibidor de migração do macrófago (MIF) é uma

citocina regulatória produzida na hipófise anterior, entre outros locais e encontrada em

grandes concentrações no lavado bronco-alveolar de pacientes com SDRA. Esta

citocina aumenta a produção de citocinas pró-inflamatórias, como IL-8 e TNF e pode

contrapor-se à inibição da secreção de citocinas induzida pelos glicocorticóides (Ware e

Matthay, 2000). Tais mecanismos possivelmente contribuem para a progressão da

disfunção respiratória rumo à SDRA (Figura 1).

23 

 

Figura 1 – O Alvéolo na SDRA

Retirado de Ware LB, Matthay MA. The acute respiratory syndrome.

N Engl J Med 2000; 342(18): 1334-1349.

Apesar dos progressos das últminas décadas no manuseio clínico do paciente

séptico, que incluem a ressuscitação hídrica adequada, utilização precoce de

antibióticos, otimização do atendimento e da terapia, controle dos níveis de glicemia

sanguínea, uso de proteína C ativada, além de inúmeros ensaios clínicos com drogas

anti-inflamatórias, apenas uma modesta diminuição na mortalidade por sepse foi

observada. A incapacidade destas terapias em aliviar os efeitos devastadores desta

condição indica que a hipótese inicial da fisiopatologia da sepse pode ter sido

erroneamente construída, devendo-se ter cautela nas avaliações de estudos baseados

nesta hipótese (Monneret et al., 2008).

24 

 

Torna-se necessária a correta identificação do paciente que verdadeiramente se

beneficiaria de terapias imunoestimulatórias ou imunodepressoras. De fato, na ausência

de sinais clínicos específicos da condição imune do paciente, é necessário definir os

melhores critérios biológicos para a estratificação dos mesmos, etapa que não foi

realizada na maioria dos ensaios clínicos. Isto permitiria talvez, futuramente, a definição

da ação correta (estimular a imunidade inata e/ou adaptativa, bloquear a apoptose,

restaurar outras funções alteradas), no tempo adequado (precoce ou retardado) e no

paciente correto, conforme características individuais (Monneret et al., 2008). Desta

forma, o maior conhecimento a respeito da fisiopatologia da sepse é necessário não só

para o desenvolvimento de terapias, mas também para identificar em quem e em que

momento estas intervenções serão mais eficazes (Monneret et al., 2008; Seam et al.,

2007).

c) Fator de Necrose Tumoral

O Fator de Necrose Tumoral (TNF ou TNF-α) é um potente mediador da

resposta inflamatória a patógenos e toxinas e é secretado principalmente por macrófagos

e neutrófilos após exposição aos antígenos. É um dos principais mediadores da

imunidade inata e é crucial para a indução da resposta imune local protetora contra

infecções, trauma ou isquemia (Ulloa et al. e Tracey et al., 2005). O TNF é secretado

alguns minutos após a infecção, porém após 3-4h sua produção pára e os níveis séricos

de TNF passam a ser quase indetectáveis (Tracey et al., 1993).

25 

 

O TNF foi descrito como um dos principais mediadores do choque séptico, pois

é encontrado em pacientes e modelos experimentais de choque, além de ser capaz de

disparar todo o espectro de consequências hemodinâmicas, metabólicas e patológicas

relacionadas, como extravasamento capilar, hipotensão, SDRA e DMOS (Ulloa et al.,

2005). Também é considerado um dos mais importantes mediadores dos efeitos

induzidos por endotoxinas, sendo descritas diferenças interindividuais na sua liberação

(Dahmer et al., 2005) .

O TNF age através de dois receptores distintos, os receptores do fator de necrose

tumoral 1 e 2 (TNFR1 e TNFR2), que são expressos separadamente na membrana

celular. Os receptores de TNF solúveis são produzidos por clivagem proteolítica da

forma ligada à célula e têm sua liberação aumentada durante a sepse, provavelmente

agindo como um mecanismo regulador negativo da atividade do TNF (Vincent et al.,

2002).

Quando há bacteremia, esta é acompanhada pela liberação de TNF por

macrófagos no fígado, baço e outros tecidos. A liberação sistêmica de TNF,

especialmente quando concomitante à liberação de IL-1, causa vasodilatação e perda de

volume plasmático, levando ao aumento da permeabilidade vascular, culminando em

choque. O TNF e alguns mediadores inflamatórios também induzem a expressão de

moléculas nas células endoteliais que favorecem um estado pró-coagulante e deflagram

a coagulação sanguínea em pequenos vasos, ocasionando sua oclusão (Oberholzer et al.,

2001). Assim, a coagulação intravascular disseminada (CIVD) deflagrada pelo TNF no

choque séptico leva a depósitos de fibrina em pequenos vasos e consumo maciço de

proteínas da coagulação. Desta forma, a capacidade de coagulação apropriada é perdida

e os depósitos de fibrina na microvasculatura levam à lesão isquêmica de órgãos e

26 

 

tecidos. Esta condição frequentemente culmina em disfunção orgânica, especialmente

nos rins, fígado, coração e pulmões (Oberholzer et al., 2001).

A produção excessiva de TNF pode ser letal por si só, pois se dispersa na

corrente sanguínea, podendo produzir colapso cardiovascular (Ulloa e Tracey, 2005).

Embora correlações tenham sido feitas entre concentrações elevadas de TNF, evolução

grave e resposta inflamatória alterada, a ausência de citocinas detectáveis no plasma não

é um indicativo de falta de expressão. Isto se deve ao fato de que a meia-vida do TNF

injetado em muitos modelos experimentais é extremamente curta, podendo não ser

identificado o pico de secreção, conforme o momento da coleta. O TNF, bem como a

IL-1, pode existir em uma forma asssociada às membranas e sua concentração nos sítios

de infecção ser frequentemente maior que na circulação sistêmica, o que no entanto

provavelmente não acarreta efeitos sistêmicos (Oberholzer et al., 2001).

Em alguns ensaios experimentais, verificou-se que a administração exógena de

grandes quantidades de TNF causa choque, hipotensão, coagulação intravascular

disseminada (CIVD) e a necrose hemorrágica e lesão tecidual características do choque

séptico (Tracey et al., 1986). Já a neutralização de TNF parecia prevenir choque

induzido por bacteremia, mesmo quando as endotoxinas e bactérias ainda persistiam na

circulação (Tracey et al., 1987). Mais tarde, anticorpos neutralizantes anti-TNF

passaram a ser considerados estratégias terapêuticas em diversas doenças, como Artrite

Reumatóide, Doença de Crohn, Espondilite Anquilosante e Psoríase (Feldmann et al.,

2002; Van Assche e Rutgeerts, 2000). Apesar da justificativa fisiopatológica e do

sucesso em outras doenças, a administração de anticorpos anti-TNF não obteve

resultados contundentes na sepse.

27 

 

Inicialmente, anticorpos anti-TNF foram ineficazes ou pioraram o desfecho em

modelo murino de sepse induzida por peritonite (Eskandari et al., 1992; Remick et al.,

1995). No tratamento do choque séptico humano, preparações com anticorpos murinos

monoclonais anti-TNF humanos foram os primeiros agentes anti-TNF a serem testados.

No entanto, após alguns resutados iniciais positivos, um grande ensaio clínico

(NORASEPT II) não demonstrou efeitos benéficos na mortalidade, na duração do

choque ou resolução de disfunção orgânica induzida por sepse, mesmo em um subgrupo

de pacientes que apresentava níveis elevados de TNF no início do estudo (Abraham et

al., 1998 e Vincent et al., 2002).

Em outra abordagem, um fragmento F(ab’) 2 de anticorpo monoclonal murino

(MAK 195F - afelimomab) foi desenvolvido para diminuir a imunogenicidade potencial

dos anticorpos anti-TNF e facilitar a penetração tecidual. Dois ensaios clínicos

multicêntricos, um na Europa e Israel e outro nos EUA e Canadá investigaram seus

efeitos em pacientes sépticos, estratificados de acordo com seus níveis de IL-6 e

randomizados para o recebimento de placebo ou afelimomab por três dias. O estudo

americano demonstrou queda no risco relativo de mortalidade de 10% e efeitos

benéficos na disfunção de órgãos (Vincent et al., 2002). Entretanto, um estudo

multicêntrico atual não reproduziu os mesmos resultados (Rondon e Venkataraman,

2005).

Receptores de TNF também foram usados em terapias anti-TNF. Um ensaio

clínico mostrou diminuição nas taxas de mortalidade de pacientes com sepse grave que

receberam altas doses do receptor TNFR1 solúvel, entretanto outro estudo com maior

número de pacientes não reproduziu tais resultados (Vincent et al., 2002).

28 

 

Assim, foram aventadas algumas explicações para a ineficácia do tratamento

anti-TNF em humanos sépticos. Devido ao pico precoce de TNF e sua diminuição

abrupta diretamente relacionada com o tempo decorrido após a exposição ao agente

agressor, a terapia anti-TNF apresenta uma janela terapêutica limitada para intervenção

clínica em infecção aguda ou trauma, já que é ineficaz quando administrada após a

expressão aguda da citocina (Ulloa e Tracey, 2005). Portanto, o fato da maioria dos

pacientes sépticos registrados em ensaios clínicos grandes anti-TNF ter sido admitida

horas ou dias após o início do insulto pode justificar a falência do tratamento

direcionado a esta citocina.

De fato, o único tratamento imunomodulador que apresentou eficácia na sepse

até o momento foi o uso de Proteína C Ativada, que apresenta tanto propriedades

anticoagulantes como antiinflamatórias. Após um grande ensaio clínico, Bernard e

colaboradores demonstraram mortalidade diminuída em pacientes com sepse grave após

o uso de Proteína C Ativada recombinante humana (Bernard et al., 2001 e Matthay et

al., 2001).

Apesar dos resultados de ensaios clínicos em humanos terem sido frustros, o

TNF ainda é uma das citocinas pró-inflamatórias mais estudadas na sepse. A

identificação de polimorfismos genéticos associados à sua produção pode ajudar a

estratificar subgrupos de pacientes e desta forma permitir a realização de novos estudos

com a terapia anti-TNF que podem ter efeitos diferentes em cada subgrupo.

29 

 

d) Linfotoxina-alfa

A Linfotoxina-α (LTA) e a Linfotoxina-β (LTB) são duas citocinas relacionadas ao

TNF que podem desencadear sinal através dos receptores TNFR I e II, além dos

receptores LT-βR, dependendo de sua composição. Estes sinais têm funções

importantes no desenvolvimento e homeostase do sistema imune (Drustkaya et al.,

2010).

A LTA foi primeiramente caracterizada como um homotrímero (LT-α3), porém

desde então foi descoberta como parte de um heterotrímero ligado à membrana

contendo LT-β, predominantemente como a molécula LT-α1β2, que se liga ao seu

próprio receptor, o receptor LT-β (LTBR). Já a LT-α3 secretada se liga aos receptores

de TNF TNFRI e TNFRII e apresenta muitas das funções do TNF (Hansen et al., 2009).

A criação de camundongos deficientes em LTBR revelou um papel crucial desta

citocina na formação de tecidos linfóides secundários, como o fígado e linfonodos e dos

centros germinativos, onde as células B proliferam e amadurecem após ativação

(Hansen et al., 2009).

Caso produzida em quantidade suficiente, a LTA pode desencadear os mesmos

efeitos sistêmicos descritos anteriormente para o TNF, visto que compartilham um

mesmo receptor.

Entretanto, apesar dos efeitos benéficos das citocinas pró-inflamatórias para

ativação da resposta imune do hospedeiro, vários estudos experimentais demonstraram

que uma produção exacerbada de tais mediadores pode levar a vasodilatação, aumento

30 

 

da permeabilidade vascular, hipotensão, choque, DMOS e óbito, sendo o fenômeno

inicial chamado de SIRS (Netea et al., 2003). Assim, o equilíbrio da resposta

inflamatória passa a exercer papel chave na otimização e funcionalidade da resposta

protetora do hospedeiro.

e) Biomarcadores em Terapia Intensiva

A sepse é um processo altamente heterogêneo em seus fatores desencadeantes e

expressão, sendo o manuseio clínico e seu prognóstico igualmente variáveis. Acontece

através da ativação da resposta imune inata, com mudanças na expressão e atividade de

mediadores endógenos da inflamação, coagulação e metabolismo intermediário.

Portanto, os diversos componentes desta resposta são alvos terapêuticos experimentais

atraentes, podendo representar importantes avanços no tratamento da sepse (Marshall e

Reinhart, 2009).

Mais de 100 moléculas distintas foram propostas como marcadores biológicos úteis

na sepse, porém ainda não se sabe quais destas provêm informações verdadeiramente

úteis, nem como esta utilidade é mais bem estabelecida. Um biomarcador é uma

molécula característica que é objetivamente medida e avaliada como indicador dos

processos biológicos normais, processos patogênicos ou respostas farmacológicas a uma

intervenção terapêutica (Biomarkers Definition Working Group 2001). A identificação

de biomarcadores úteis na sepse representa um importante avanço em pesquisa e sua

utilidade está em sua capacidade de providenciar informações de maneira mais rápida

31 

 

que os dados fisiológicos e exames clínicos de rotina já disponíveis. Esta informação

adicional pode permitir definir a patogênese ou o prognóstico da doença, além de

auxiliar nas decisões terapêuticas (Marshall e Reinhart, 2009).

Biomarcadores podem ser utilizados em diferentes situações: (1) triagem, para

identificar pacientes com risco de pior prognóstico e iniciar tratamento profilático ou

testes diagnósticos; (2) diagnóstico, para permitir decisão terapêutica, de forma mais

acurada, segura e rápida; (3) estratificação de risco, para identificar subgrupos de

pacientes que podem se beneficiar ou ter maior prejuízo com uma intervenção

terapêutica mais direcionada; (4) monitorização, quando seus níveis mudam

dinamicamente conforme a resposta do paciente, ajudando a quantificar a resposta à

intervenção e permitindo titulação de dose ou duração de tratamento e (5) substituição

de alvo terapêutico, caso as mudanças no nível de um biomarcador se correlacionem

consistentemente com desfechos clínicos importantes do paciente, podendo ser utilizado

como medida de desfecho (Marshall e Reinhart, 2009).

Um biomarcador pode ser selecionado através de sua associação biológica com a

doença ou com uma possível intervenção terapêutica. Em pacientes com sepse, por

exemplo, endotoxina circulante pode ser um marcador de infecção por bactérias gram-

negativas e poderia identificar um paciente que se beneficiaria de tratamento com

agente neutralizador da endotoxina. Da mesma forma, o fator de necrose tumoral

circulante ou outra molécula como a IL-6, cuja liberação é induzida por TNF, é

intuitivamente marcador atraente de um paciente que poderia se beneficiar da utilização

de uma terapia anti-TNF (Marshall e Reinhart, 2009).

32 

 

Na sepse, existem biomarcadores já descritos para: (1) Predisposição -

polimorfismos de base única; (2) Infecção - procalcitonina; (3) Resposta ao tratamento -

citocinas, proteína C-reativa - e (4) Disfunção orgânica - lipocalina associada à

gelatinase neutrofílica para insuficiência renal aguda.

Alguns biomarcadores inflamatórios já foram definidos, como a Procalcitonina,

cujos níveis séricos se encontram aumentados em pacientes com infecção e diminuem

em resposta à antibioticoterapia adequada. Até o momento, a procalcitonia é um dos

biomarcadores para sepse com maior especificidade e sensibilidade e ajuda a distinguir

a resposta inflamatória secundária à sepse da inflamação não-infecciosa. Também

apresenta valor preditivo para desfecho, podendo identificar sepse antes mesmo dos

critérios clínicos definidos pela ACCP/SCCM (Schuerholz e Marx, 2008).

Outro biomarcador já descrito na sepse é a Proteína C Reativa, cujos níveis

aumentados proporcionam informação diagnóstica maior que o aumento de temperatura

corporal no diagnóstico de infecção em pacientes criticamente enfermos. No entanto,

revisões sistemáticas recentes sugerem que a procalcitonina é superior à proteína C-

reativa, apresentando maior sensibilidade, maior razão positiva e maior área abaixo da

curva ROC (Simon et al., 2004 e Povoa et al., 2005). Ainda, a procalcitonina foi

superior quando comparada aos níveis séricos de TNF e IL-6 no que diz respeito ao

diagnóstico de choque séptico (Schuerholz e Marx, 2008).

Apesar de resultados positivos de estudos clínicos e experimentais, a maioria das

citocinas utilizadas como biomarcadores falhou em representar avanços para os

intensivistas (Salluh et al., 2008). Hipóteses iniciais que a IL-6 circulante poderia

33 

 

identificar pacientes que se beneficiariam de tratamentos direcionados contra o TNF

foram abandonadas (Panacek et al., 2004 e Marshall e Reinhart, 2009).

Biomarcadores também podem ser identificados através de avaliação molecular,

utilizando abordagens por microarray ou proteômicas, com o objetivo de identificar

quais espécies moleculares são expressas diferencialmente na população de interesse,

ampliando as possibilidades de screening genômico para biomarcadores em potencial.

Polimorfismos em genes da imunidade inata são comuns e resultam em significativa

variabilidade interindividual na resposta a um dado insulto. Desta forma, polimorfismos

genéticos podem representar biomarcadores úteis para triagem de pacientes predispostos

a evoluir de forma grave quando expostos a um insulto infeccioso.

f) Polimorfismo Genético

A maioria das doenças humanas é substancialmente afetada por fatores

genéticos. Até o presente momento, parece claro que a patogênese da maior parte das

doenças resulte de interações complexas entre o genótipo, o meio-ambiente e a natureza

do processo que leva à lesão celular, tecidual, orgânica ou sistêmica.

O genoma humano é composto de cerca de 3 bilhões de pares de base,

compreendendo aproximadamente 30.000 genes (Christie JD, 2008). A informação

proveniente do conhecimento do genoma humano e a biologia molecular

revolucionaram a medicina aumentando o conhecimento de mecanismos

fisiopatológicos de doenças e providenciando novas ferramentas no diagnóstico de

34 

 

doenças secundárias a mutações genéticas, assim como na avaliação do risco genético

(Winning et al., 2006).

Muitos métodos podem ser utilizados para demonstrar o risco genético de infecção.

Estudos familiares tradicionais, com gemelares e adotados fornecem a melhor

evidência, mas são difíceis de realizar. Entretanto, a evidência mais forte para o papel

da genética na infecção em seres humanos vem de um estudo em adotados (Wunderink

et al., 2003). Em 1988, Sorensen e colaboradores demonstraram que a influência

genética no risco de óbito secundário a uma causa infecciosa não é desprezível. Neste

estudo clássico, os autores acompanharam 960 famílias de crianças nascidas entre 1924

e 1926 que foram adotadas no início da infância e compararam o risco de morte precoce

pelas mesmas causas entre filhos e pais biológicos e adotivos. O risco de morte de um

pai biológico antes dos 50 anos resultou em risco relativo de morte nas crianças de 1,98

para causas naturais, 1,19 para câncer, 4,52 para causas cardiovasculares e 5,81 para

infecções. Os autores concluiram que morte prematura em adultos tem um fundo

genético importante, especialmente no que diz respeito às infecções. Este estudo tornou

claro que a evolução clínica de um paciente séptico não é determinada apenas pelas

espécies de patógenos isoladas no sítio de infecção, mas também pela resposta do

hospedeiro (Sorensen et al., 1998; Winning et al., 2006).

De fato, há evidências de que a resposta imune adquirida, tanto celular quanto

humoral, seja sujeita ao controle genético, o que pode explicar a já conhecida

diversidade de manifestações clínicas e desfechos em pacientes criticamente doentes

com a mesma patologia clínica. Portanto, diferenças genéticas entre indivíduos ou

populações podem afetar o prognóstico de sua doença (Vilar et al., 2002).

35 

 

A maior parte do interesse atual em terapia intensiva é nos polimorfismos

relacionados aos genes codificadores de moléculas inflamatórias, já sabidamente

relacionadas à patogênese da SIRS, sepse, sepse grave, choque séptico, LPA e SDRA

(Wunderink et al., 2003).

Algumas mutações do DNA não têm nenhum efeito fenotípico, seja porque a

alteração não modifica a seqüência primária de aminoácidos de um polipeptídio ou

porque a alteração resultante da seqüência de aminoácidos codificada ocorre em uma

região não crítica do polipeptídio. Logo, nem todas as proteínas alteradas trazem

conseqüências clínicas. Pelo contrário, muitas proteínas existem normalmente em duas

ou mais formas estruturalmente distintas, geneticamente diferentes e relativamente

comuns.

Uma mutação é definida como qualquer alteração estrutural permanente do DNA,

isto é, uma alteração na seqüência de nucleotídeos ou arranjo do DNA no genoma. As

mutações são responsáveis por doenças genéticas ou hereditárias e por muitos casos

oncológicos (Thompson & Thompson, 2006).

Polimorfismo genético é um termo relacionado, porém mais amplo, pois indica uma

variação genética estável que é mantida dentro de uma população e não se traduz

necessariamente por diferenças fenotípicas ou por diferenças na sequência de

aminoácidos do produto gênico. Estas variações incluem as que geram os diferentes

alelos que resultam em variantes fenotípicas identificáveis, como também em outras

sem uma expressão fenotípica (Kumar et al., 1999). Um gene polimórfico é aquele no

qual a comparação da sequência de DNA do gene em múltiplos indivíduos apresenta

diferenças em uma frequência maior que 1%, enquanto um gene mutante apresenta

36 

 

diferenças em uma frequência menor que 1%. Os sítios nos quais os genes são

diferentes são chamados polimórficos, podendo existir um ou mais sítios polimórficos

em um mesmo gene. Também podem estar localizados em regiões codificadoras,

envolvidas na regulação da expressão gênica, ou não-codificadoras. Algumas destas

variações podem influenciar o nível ou atividade da proteína resultante, afetando a

função celular (Dahmer et al., 2005). Assim,o polimorfismo genético pode ser definido

como a ocorrência regular em uma população de dois ou mais alelos em uma

localização particular do cromossomo, podendo resultar em uma deficiência na proteína,

uma proteína alterada, uma mudança no nível normal da proteína expressada ou

nenhuma mudança na produção ou expressão protéica. Além disso, muitos destes

polimorfismos podem diretamente causar uma mudança no fenótipo, serem ligados a

um fenótipo em particular ou não apresentarem nenhuma ligação com um fenótipo

específico (Wheeler et al., 2001).

Existem diferentes tipos de polimorfismos: os de base única (SNP – Single

Nucleotide Polymorphism), onde há troca de uma única base nitrogenada por outra

(adenina, timina, guanina e citosina); os de inserção/deleção, nos quais há adição ou

ausência de uma ou mais bases; e os SSLP (Simple Sequence Length Polymorphism),

STR (Short Tandem Repeats) e VNTR (Variable Number Tandem Repeats), nos quais

há repetições de sequências simples ou repetições curtas em Tandem.

O tipo de polimorfismo mais comum é o de base única (SNP), onde há a

substituição de um nucleotídeo por outro, sendo a mais comum a substituição de T por

C (Winning et al., 2006). Os SNPs respondem por aproximadamente 90% da

variabilidade humana, acreditando-se que um SNP ocorra em média a cada 100 a 300

bases. Desta forma, há aproximadamente 10 milhões de variações comuns da classe dos

37 

 

SNPs no genoma humano (Christie et al., 2008). Embora a maioria deles ainda esteja

por ser identificada, caso esta variabilidade realmente ocorra em todo o genoma, é

possível que existam mais de 20 milhões de SNPs no genoma humano.

Quando têm impacto detectável, os SNPs podem alterar a função de um gene de

diversas maneiras. Por exemplo, alterando uma única base, pode haver alteração no

aminoácido codificado e conseqüentemente na proteína, o que pode ou não levar à

alteração na função protéica. Além disso, SNPs também podem ter efeito significativo

sem necessariamente alterar as proteínas. Um SNP que ocorra em uma região promotora

que controla a transcrição pode levar à síntese aumentada ou diminuída daquela

proteína, o que pode culminar em efeitos significativos. Quando a mudança de base não

afeta a composição da proteína, isto é, quando a mudança é conservativa, mantendo-se

um códon que codifica o mesmo aminoácido, o SNP é chamado sinônimo, enquanto os

não-sinônimos são aqueles que alteram a composição da proteína, podendo afetar sua

função e contribuir para doenças genéticas. No entanto, SNPs que em regiões não-

codificantes podem ser funcionais mesmo sem alterar a proteína, já que podem alterar a

taxa de transcrição do gene (Dahmer et al., 2005).

Embora os SNPs ainda estejam sendo mapeados e o impacto funcional da maioria

deles esteja por ser definida, claramente algumas destas substituições são responsáveis

pela vasta maioria dos fenótipos humanos, que abrangem aspectos tão diversos quanto

diferenças na cor do cabelo ou na resposta a medicamentos (Zimmerman et al., 2006).

Qualquer indivíduo apresenta muitos loci gênicos diferentes, sendo um dos

polimorfismos mais extensamente conhecidos os do grupo sanguíneo ABO (o qual não

envolve SNP), que têm sido marcadores genéticos úteis em estudos populacionais de

famílias e em análises de ligação devido a sua classificação imediata em fenótipos

38 

 

distintos, seu modo de herança simples e suas freqüências variadas em diferentes

populações.

Cada indivíduo tem muitos SNPs, que juntos criam uma sequência de DNA única.

Estes polimorfismos são altamente conservados ao longo da evolução e dentro das

populações, sendo, portanto, excelentes marcadores genotípicos tanto para genética

populacional, quanto para terapias individualizadas (Winning et al., 2006).

Atualmente, é muito bem estabelecida a correlação entre polimorfismos nos genes

do Antígeno Leucocitário Humano (HLA) ou Complexo de Histocompatibilidade

Principal (MHC) e susceptibilidade a infecções, incluindo malária, hepatite B e HIV

(Winning et al., 2006). O estudo de outros tipos de polimorfismo genético vem se

desenvolvendo e gerando informações importantes relacionadas à susceptibilidade

genética, portanto individual, para o desenvolvimento de doenças graves tais como

sepse ou SDRA. Cerca de mais de 100 polimorfismos têm sido descritos em genes de

citocinas, podendo contribuir para a intensidade da resposta inflamatória e,

conseqüentemente, para a gravidade da doença (Mira et al., 1999).

g) Polimorfismos do Fator de Necrose Tumoral – Posição -308

O locus gênico responsável pela codificação do TNF se localiza no braço curto do

cromossomo 6, na região de Classe III do MHC ou HLA e já foi bem caracterizado

(Figura 2) (Winning et al., 2006).

39 

 

Figura 2 – O Sistema HLA

 

Retirado de Klein J e Sato A. The HLA system. N Eng J Med 2000; 343 (10): 702-709.

Como o TNF (OMIN 191160) é um dos principais mediadores na fisiopatologia

da sepse, indivíduos com característica genética para ser altamente respondedores para

TNF, o que não é necessariamente atribuível a qualquer SNP específico, podem ser

considerados de maior risco para o desenvolvimento de DMOS e óbito, quando

expostos a infecções mais graves, trauma e outras injúrias que possam evocar resposta

inflamatória sistêmica (Stüber et al., 1996). A determinação genética pode identificar

precocemente certos grupos de pacientes que se beneficiariam de tratamentos

específicos, como por exemplo, terapia anti-TNF para pacientes que produzem altos

níveis de TNF (Vincent et al., 2002).

Vários polimorfismos de base única têm sido identificados na região promotora

do gene codificador do TNF, muitos associados com produção espontânea ou

estimulada de TNF alterada, tanto in vivo, quanto ex vivo (Dahmer et al., 2005). Dentre

estes, um polimorfismo de base única que diretamente afeta a expressão do TNF foi

40 

 

localizado na região promotora do gene TNF, na posição −308 (rs 1800629) (Terry et

al., 2000), isto é, 308 nucleotídeos acima do sítio de início da transcrição do gene. Este

polimorfismo resulta em duas formas alélicas, uma onde a Guanina (G) define o alelo

selvagem TNF1 e outro onde a Adenina (A) define o alelo polimórfico TNF2

(polimorfismo −308 G/A), de acordo com a frequência populacional. Assim, um

indivíduo pode ser homozigoto para o alelo mais comum (TNF -308 GG) ou ser

carreador do alelo raro A, sejam eles homozigotos (TNF -308 AA) ou heterozigotos

(TNF -308 GA).

Uma quantidade significativa de evidência suporta a importância biológica de

polimorfismos na região promotora do gene codificador do TNF. Estudos ex vivo

demonstraram que o alelo raro TNF -308 A é associado com aumento na transcrição

gênica, quando comparado com o alelo selvagem TNF -308 G (Wilson et al., 1997).

Além disso, o alelo A também é associado com aumento na secreção de TNF por

macrófagos após estimulação com lipopolissacarídeos (LPS) ex vivo (Louis et al.,

1998). Vários estudos ex vivo encontraram variação individual consistente na produção

de TNF após uma variedade de estímulos inflamatórios, na presença deste SNP

(Waterer et al., 2005).

O alelo TNF A foi associado com gravidade da apresentação clínica e

mortalidade em uma variedade de doenças infecciosas. Esta associação foi descrita em

Doença de Kawasaki em crianças (Quasney et al., 2001), nas formas graves de malária

cerebral (McGuire et al., 1994), na demência relacionada ao vírus da imunodeficiência

humana (HIV) em adultos (Quasney et al., 2001), em crianças com infecção

41 

 

meningocócica (Nadel et al., 1996), em adultos com pneumonia comunitária (Waterer et

al., 2001) e na leishmaniose mucocutânea (Dahmer et al., 2005).

Este polimorfismo foi o mais extensivamente estudado na sepse, já que o gene

polimórfico poderia resultar em liberação de TNF alterada após exposição aos

patógenos. De fato, homozigotos para o alelo A na posição TNF -308 produzem maiores

quantidades de TNF durante o choque séptico e têm um risco de mortalidade

significativamente maior, quando comparados a pacientes que são homozigotos ou

heterozigotos para o alelo G (Majestschak et al., 1999).

Estudos de associação entre o alelo TNF -308 A e sepse foram realizados em

pacientes clínicos com sepse primária, causada por diferentes agentes, e em pacientes

com sepse secundária, após trauma, queimaduras ou realização de cirurgias eletivas. A

presença do SNP foi correlacionada à susceptibilidade a sepse, aos diferentes espectros

clínicos da sepse e à mortalidade.

Os primeiros estudos publicados apresentavam grupos relativamente pequenos

de pacientes e sugeriram uma associação entre TNF -308 e choque séptico. Em 89

adultos com choque séptico, o risco de morte foi 3,7 vezes maior nos portadores de ao

menos uma cópia do alelo A, após controle para idade e gravidade de doença (Mira et

al., 1999). Alguns estudos posteriores também apresentaram associação positiva entre o

alelo TNF -308 A e óbito (Appoloni et al.,2001 e Nuntayanuwat et al., 1999), além de

associação entre o SNP e piora clínica na sepse, evoluindo para choque séptico (Nakada

et al., 2005 e Dianliang et al., 2003).

Em pacientes vítimas de politraumatismo, a correlação entre o alelo TNF -308 A

e sepse secundária grave e óbito foi positiva em dois estudos (O’Keefe et al., 2002 e

Menges et al.,2008). Em pacientes com sepse secundária à queimadura também houve

42 

 

correlação entre o SNP em questão e sepse grave (Barber et al., 2006), além de

correlação com óbito (Shalhub et al., 2009).

Em crianças, muitos dos estudos publicados são em neonatologia. Hedberg e

colaboradores publicaram estudo em 173 prematuros de muito baixo peso, em que não

encontraram associação do SNP TNF -308 com susceptibilidade a sepse, porém

mortalidade três vezes maior em carreadores A (2004). No entanto, não foi encontrada a

mesma associação em 67 prematuros com sepse neonatal precoce (Schueller et al.,

2006).

Na faixa etária pediátrica excluindo os recém-natos, uma das primeiras

associações entre o polimorfismo do TNF -308 e sepse foi realizada em pacientes com

meningococcemia, por ser uma doença grave, relativamente frequente em pediatria, de

curso fulminante e associada com ativação rápida de inflamação sistêmica. Inicialmente,

foi encontrada associação entre o alelo TNF -308 A e óbito, não apenas nas crianças

homozigotas AA, mas também nas heterozigotas (Nadel et al., 1996). Tais resultados

foram novamente buscados por outros dois autores, porém os mesmos não conseguiram

confirmar esta associação (Read et al., 2000 e Balding et al., 2003). Em 2009, foi

publicado novo estudo de Read e colaboradores, desta vez em uma coorte mais

numerosa, envolvendo 1321 pacientes com meningococcemia comprovada, entre

crianças e adultos, sendo 959 pacientes abaixo de 16 anos. Read observou associação

positiva entre o alelo TNF -308 A e susceptibilidade à doença meningocócica, mas não

encontrou associação com óbito.

Em crianças com sepse secundária a outras causas que não meningococcemia,

existe apenas um estudo publicado, realizado na Turquia em 2006, com 53 pacientes

43 

 

entre 0 e 15 anos. Neste estudo, os pacientes carreadores do alelo TNF -308 A

apresentaram risco 2,42 vezes maior de desenvolvimento de sepse grave e choque

séptico, porém sem associação com óbito (Sipahi et al., 2006).

Apesar de vários resultados positivos descritos, outros estudos não conseguiram

demonstrar associação entre o SNP TNF -308 e susceptibilidade à sepse (Stüber et al.,

1996; Gallagher et al., 2003; Schaaf et al., 2003; Garnacho-Montero et al., 2006) ou

óbito (Jessen et al., 2007; Tang et al., 2000; Gordon et al., 2004), mesmo em grupo de

854 pacientes caucasóides com sepse grave (Watanabe et al., 2009).

Devido aos resultados conflitantes publicados na literatura a respeito da

associação entre o SNP TNF -308 e susceptibilidade a sepse e óbito, recentemente foi

publicada uma metanálise, com o objetivo de esclarecer tais divergências. O artigo

publicado por Teuffel e colaboradores comparou estudos que incluíam pacientes com

sepse primária causada por diferentes agentes etiológicos ou secundária a um evento

inicial, como trauma, queimadura ou cirurgias eletivas (2009). Além disso, também

foram comparadas populações de diferentes faixas etárias, sendo incluídos estudos em

neonatos, crianças e adultos (Figura 3).

Os autores realizaram atribuições de peso para cada estudo conforme critérios de

qualidade estabelecidos e, apesar da dificuldade em comparar resultados de estudos

metodologicamente distintos e com populações diferentes, a metanálise demonstrou

associação entre o alelo TNF -308 A e susceptibilidade à sepse (OR=2,15; p<0.01),

porém ausência de significância estatística para a associação do SNP a óbito (OR=1,48;

p=0.20) (Teuffel et al., 2009).

44 

 

Figura 3 – Estudos de associação entre o SNP TNF -308 e choque séptico

incluídos na metanálise de Teuffel O e colaboradores.

Reproduzido de Teuffel O, Ethier MC, Beyene J, Sung L. Association between tumor necrosis factor-α promoter -308 A/G polymorphism and susceptibility to sepsis and sepsis mortality: a systematic review and meta-analysis. Crit Care Med 2009; 38 (1):276-282.

Alguns estudos avaliaram associação entre polimorfismos e doenças pulmonares,

como a associação entre um polimorfismo na antiquimotripsina-α-1 e Doença Pulmonar

Obstrutiva Crônica (DPOC) (Ishii et al., 2000) e associações entre polimorfismos do

TNF e o desenvolvimento de pneumonite por hipersensibilidade (Schaaf et al., 2001),

sarcoidose (Seitzer et al., 1997), bronquite crônica (Huang et al., 1997) e DPOC (Sakao

et al., 2001). Em conjunto, tais estudos providenciam evidência de predisposição

genética ao desenvolvimento de doença pulmonar. No entanto, Waterer e colaboradores

não encontraram associação entre o SNP TNF -308 e insuficiência respiratória em 280

pacientes com pneumonia comunitária (2001).

45 

 

Estudos publicados na literatura a respeito do papel do TNF na SDRA foram

conflitantes. Alguns estudos correlacionaram os níveis séricos de TNF com o

desenvolvimento e a mortalidade na SDRA (Marks et al., 1990; Poumen et al., 1993;

Meduri et al., 1995), enquanto outros não encontraram associações (Roten et al., 1991;

Donnely et al., 1994). Estas discrepâncias podem estar relacionadas à variação temporal

e regional na liberação de TNF (Gong et al., 2005; Suter et al., 1992; Hyers et al., 1991)

e às diferenças nas técnicas utilizadas para avaliação do TNF (Parsons et al., 1992).

Estudos de associação com polimorfismos também vêm sendo desenvolvidos em

SDRA, especialmente em genes relacionados à transcrição de proteínas associadas à

produção de surfactante (Lin et al., 2000; Gong et al., 2004). Em 2005, Gong e

colaboradores avaliaram a correlação entre a presença de SNPs para TNF -308 e LTA

NcoI em 212 pacientes portadores de SDRA, em um estudo caso-controle americano.

Na análise geral, o alelo TNF -308 A não estava associado com o desenvolvimento de

SDRA, porém após estratificação da população entre lesão pulmonar direta ou indireta,

o alelo TNF -308 A foi associado com menor chance de desenvolvimento de SDRA nos

pacientes com lesão pulmonar direta (OR=0.52; p=0.01). Ainda, o alelo TNF -308 A foi

associado com mortalidade em 60 dias aumentada na SDRA (OR=3.5; p=0.007).

Como o gene TNF se localiza em uma região densamente povoada por genes

envolvendo a resposta inflamatória, incluindo o da LTA e próximos aos loci do HLA,

Kilding e colaboradores em 2004 demonstraram que os polimorfismos nesta região dos

genes apresentam um alto grau de desequilíbrio de ligação. O desequilíbrio de ligação

ocorre quando polimorfismos em um mesmo gene ou ainda em diferentes genes, desde

que localizados em um mesmo cromossomo, são usualmente herdados em conjunto,

resultando em uma associação de um alelo em uma posição com outro alelo específico

46 

 

em um SNP próximo, em uma frequência superior à esperada pelo acaso. Portanto, um

dado polimorfismo pode não estar diretamente causando a secreção aumentada de TNF,

mas ser um marcador para algum outro fator genético proximamente ligado (Dahmer et

al., 2005). Assim, outros polimorfismos em regiões próximas também relacionadas à

resposta inflamatória podem estar em desequilíbrio de ligação, como os loci HLA, os

genes responsáveis pela LT-α e LT-β, o complexo HSP70 e os genes responsáveis pelo

sistema complemento.

A combinação do alelo LTA +252 A com o alelo TNF -308 G é a mais frequente,

já que são estes os alelos mais frequentes em cada posição (Wunderink et al., 2003). Se

um marcador nesta região está associado com doença, este fato pode simplesmente

refletir o efeito de outro marcador, mais importante funcionalmente. Assim, torna-se

imprescindível a análise de desequilíbrio de ligação entre diferentes SNPs, a fim de

evitar conclusões inadvertidas, recomendando-se avaliar SNPs da LTA em conjunto com

SNPs do TNF. A Figura 4 demonstra a proximidade dos genes responsáveis pela

codificação do TNF e da LTA.

Figura 4 – Interações entre os genes TNF e LTA

Retirado de Tsytsykova AV, Rajsbaum R, Falvo JÁ, Ligeiro F, Neely SR, Goldfeld AE. Activation-dependent

intrachromosomal interactions formed by the TNF gene promoter and two distal enhancers. PNAS 2007; 104 (43):

16850-16855.

47 

 

h) Polimorfismos da Linfotoxina-alfa – Posição +252

Próximo ao gene codificador do TNF, localiza-se o gene responsável pelo TNF-β,

atualmente conhecido como Linfotoxina-α (LTA – OMIN 153440). No primeiro íntron

deste gene, o polimorfismo de base única localizado na posição +252 (rs 909253), a

partir do sítio de transcrição da LTA, foi associado com a produção aumentada de TNF.

Este local é também conhecido como LT-α +250 ou alelo TNFB e se localiza 3,2kb

acima do gene codificador do TNF, podendo funcionar como uma região intensificadora

(Figura 5) (Waterer et al., 2005).

Figura 5 – Posição dos SNPs TNF -308 e LTA +252 ou NcoI

Retirado de Schade FU, Stüber F, Börgermann J, Majetschak M. Relation of the bi-allelic NcoI fragment length polymorphism

within the tumor necrosis factor B gene to the development of mediatinitis. Eur J Surg Suppl. 1999; 584: 73-79.

O SNP LTA +252 é um polimorfismo de fragmento de restrição NcoI, e dependendo

da preservação ou não deste sítio de restrição, o alelo é denominado “TNFB1” (LTA

48 

 

+252 G) ou “TNFB2” (LTA +252 A), respectivamente (Wheeler et al., 2001). A

presença de Adenina na posição +252 está associada com um aumento de TNF ex vivo

(Pociot et al., 1993). Assim, variações genéticas nas regiões regulatórias da LTA têm

influência na quantidade de TNF produzida, embora não se saiba quais os mecanismos

envolvidos nesta associação (Dahmer et al.,2005).

Pacientes LTA +252 homozigotos AA expressam maiores quantidades sistêmicas de

TNF durante o choque séptico e têm maior risco de mortalidade quando comparados aos

homozigotos GG ou heterozigotos GA. Assim, apesar de ser o genótipo selvagem, ou

mais frequente, a presença do homozigoto AA está associada a um risco aumentado de

choque séptico e desfecho fatal em adultos (Majestschak et al., 1999 e Stüber et al.,

1996) e em crianças com bacteremia (McArthur et al., 2002).

Os primeiros estudos de associação entre o SNP LTA +252 e sepse descritos foram

realizados em um grupo pequeno de pacientes. Em 1996, Stüber e colaboradores

avaliaram 40 pacientes com choque séptico, demonstrando que o genótipo LTA +252

AA estava associado com um risco substancialmente maior de óbito, sendo o mesmo

resultado encontrado posteriormente em outro estudo (Fang et al.,1999). A associação

entre o SNP LTA +252 e gravidade de sepse, evoluindo para choque séptico, também foi

descrita (Dianliang et al., 2003).

Em unidades de terapia intensiva pós-operatórias ou para tratamento de trauma,

pacientes que desenvolveram sepse secundária e eram homozigotos para A na posição

LTA +252, apresentavam maiores níveis de TNF circulantes, além de maior mortalidade

(Stüber et al., 1996, Stüber et al., 1996 2 e Majetschack et al., 1999). Outros estudos em

unidades intensivas pós-operatórias também apresentaram associação positiva entre

49 

 

SNP LTA +252 e incidência de complicações infecciosas após cirurgias (Kahlke et al.,

2004 e Riese et al., 2003).

Conforme descrito para o gene TNF, muitos dos estudos do gene LTA realizados em

crianças são em neonatologia. Em prematuros e recém-nascidos a termo de alto risco,

um estudo piloto não demonstrou risco de evolução mais grave para os pacientes

portadores do alelo LTA +252 A que apresentaram bacteremia comprovada por culturas

(Weitcamp et al., 2000). Também não foi encontrada associação do mesmo SNP com

sepse neonatal precoce em estudo com 67 prematuros (Schueller et al., 2006).

Em meningococcemia, Balding e colaboradores não encontraram associação

entre SNPs de LTA e choque séptico ou óbito, em 193 crianças entre 2 meses e 15 anos

de idade, na Irlanda (Balding et al., 2003). Recentemente, em estudo multicêntrico

inglês com 1321 pacientes com meningococcemia, dos quais 959 eram menores de 16

anos, Read e colaboradores também não conseguiram encontrar associação entre o alelo

LTA +252 A e susceptibilidade a sepse ou óbito (2009).

Na faixa etária pediátrica, em um dos poucos estudos que não versavam sobre

meningite ou meningocccemia, McArthur e colaboradores demonstraram, em uma

coorte pequena de 34 crianças com bacteremia, a associação entre o alelo A na posição

LTA +252 e níveis séricos de TNF, além de mortalidade maior nos homozigotos AA

(2002).

Apesar de muitos estudos de associação terem encontrado resultados positivos,

muitos outros não foram capazes de demonstrar associação com susceptibilidade à sepse

ou óbito na sepse primária (Nuntayanuwat et al., 1999; Schröder et al., 2000; Schaaf et

al., 2003; Rauschwalbe et al., 2004; Gordon et al., 2004; Garnacho-Montero et al.,

50 

 

2006; Pappachan et al.,, 2009), na sepse secundária em pacientes em pós-operatório

(Calvano et al., 2003; Nakada et al., 2005)

Mais recentemente, Watanabe e colaboradores publicaram estudo multicêntrico

americano com 854 pacientes com sepse grave, em que avaliaram a associação de

diversos SNPs com gravidade de sepse e óbito. Os autores encontraram associação entre

o SNP LTA +252 e sepse grave quando os resultados eram estratificados para gênero e

idade, sendo os mesmos positivos apenas para homens e em pacientes idosos acima de

60 anos (Watanabe et al., 2009).

Devido às contradições encontradas na literatura acerca da associação entre o

SNP LTA +252 e susceptibilidade à sepse e óbito, o grupo de pesquisa do Laboratório

de Fisiopatologia Humana (IFF/Fiocruz) desenvolveu uma revisão sistemática de

estudos publicados na literatura, com o objetivo de realizar uma metanálise e esclarecer

as divergências atualmente encontradas. A tabela abaixo apresenta comparação entre os

estudos incluídos na revisão sistemática, que está sendo submetida a periódico clínico

na área de terapia intensiva (Tabela 1).

Poucos estudos correlacionaram polimorfismos relacionados às citocinas

inflamatórias e lesão pulmonar aguda ou SDRA. Em 2001, foi publicado estudo

americano em 280 pacientes adultos com pneumonia comunitária. A presença do

genótipo +252 LTA AA apresentou risco relativo de 2.48 para o desenvolvimento de

choque séptico (p=0.01). No entanto, quando o desfecho avaliado foi insuficiência

respiratória na ausência de choque, os autores encontraram forte correlação com o

genótipo oposto, já que o genótipo LTA +252 GG foi associado à insuficiência

respiratória do tipo I (p=0.03) (Waterer et al., 2001). Similarmente, no estudo de Gong

em 2005, a presença do genótipo LTA +252 GG foi relacionada à proteção ao

51 

 

desenvolvimento de SDRA (OR: 0.47; p=0.01). No entanto, quando os pacientes foram

estratificados em SDRA secundária à lesão pulmonar e extra-pulmonar, apenas a

associação do genótipo LTA +252 GG e SDRA extra-pulmonar permaneceu

significativa (OR=0.48; p<0.01).

Tabela 1 – Estudos de associação entre o SNP LTA +252, choque séptico e óbito

Estudo Ano País No. de Pacientes Etnia Grau de

Sepse Condição

Clínica No. de

Controles Tipo de Controles

Dianling 2003 China 102 Mongolóides Choque Séptico Pancreatite 116 Pacientes Saudáveis

Fang 1999 Alemanha 93 Caucasóides Sepse Grave Mista 261 Doadores de Sangue

Garnacho-Montero 2006 Espanha 224 ND Misto Mista 101 Doadores de Sangue

Gordon 2004 Inglaterra Austrália 213 Caucasóides Misto Mista 354 Pacientes Saudáveis

Nakada 2005 Japão 86 Mongolóides Sepse Grave Mista 214 Pacientes Saudáveis

Rauschwalbe 2004 Alemanha 79 ND Misto Pós-Operatório 0 ND

Read 2009 Inglaterra 442 ND Sepse Meningococcemia 1280 Doadores de Sangue

Schaaf 2003 Alemanha 51 Caucasóides Sepse Infecção

Pneumocócica

50 Pacientes Saudáveis

Stüber 1995 Alemanha 80 Caucasóides Sepse Grave Mista 153 Doadores de Sangue

Watanabe 2009 EUA 854 Misto Sepse Grave Mista 854 Pacientes Saudáveis

Watanabe 2005 Japão 112 Mongolóides Choque Séptico ND 150 Pacientes Saudáveis

Waterer 2001 Austrália 31 Misto Choque Séptico

Pneumonia Comunitária 0 ND

Balding 2003 Irlanda 193 Misto Sepse Meningococc

emia em Crianças

389 Doadores de Sangue

Calvano 2003 EUA 28 ND Misto Pós-Operatório 0 ND

Kahlke 2004 Alemanha 16 ND Sepse Pós-Operatório 0 ND

Riese 2003 Alemanha 18 ND Sepse Pós-Operatório 0 ND

Schröder 2000 Alemanha 201 ND Sepse Pós-Operatório 0 ND

Flach 1999 Alemanha 10 ND Sepse Trauma 20 Pacientes Saudáveis

Majestschak 1999 Alemanha 53 ND Sepse Trauma 57 Pacientes com trauma e sem complicações

Majestschak 2002 Alemanha 14 ND Sepse Grave Trauma 56 Pacientes sem sepse

Menges 2008 Alemanha 70 ND Sepse Trauma 76 Pacientes Saudáveis

52 

 

Estes estudos têm importantes implicações para as definições clínicas de sepse grave

e SIRS. Tais dados sugerem que a predisposição genética ao choque séptico pode ser

diferente da predisposição a outras manifestações da sepse grave, como hipoxemia e

SDRA (Wunderink et al., 2003). Assim, a sepse grave pode não significar simplesmente

um estágio inicial do choque séptico (Waterer et al., 2005).

Assim, há resultados conflitantes na literatura acerca da associação de

polimorfismos genéticos relacionados à resposta inflamatória sistêmica. Além disso, são

pouquíssimos os estudos encontrados na literatura sobre o tema na população pediátrica.

53 

 

3. Hipótese do Estudo

Os polimorfismos de base única na região promotora do Fator de Necrose

Tumoral localizado na região -308 e no primeiro íntron da Linfotoxina-Alfa localizado

na região +252 estariam relacionados à maior gravidade de doença e pior evolução

clínica em pacientes pediátricos gravemente enfermos.

54 

 

4. Objeto de Estudo

Associação entre polimorfismos genéticos de base única nos genes do Fator de

Necrose Tumoral (TNF) e da Linfotoxina-Alfa (LTA) e evolução clínica em pacientes

pediátricos críticos em ventilação mecânica.

55 

 

5. Objetivo Geral

Avaliar a relação entre polimorfismos genéticos de base única nos genes do

Fator de Necrose Tumoral (TNF) e da Linfotoxina-Alfa (LTA) e a evolução clínica

de pacientes pediátricos criticamente enfermos em ventilação mecânica, em uma

unidade de terapia intensiva pediátrica pública de alta complexidade no Rio de

Janeiro.

56 

 

6. Objetivos Específicos

1. Descrever as características demográficas de crianças saudáveis acompanhadas

pelo setor de puericultura do Instituto Fernandes Figueira / Fiocruz.

2. Descrever as características demográficas e clínicas de pacientes pediátricos

criticamente enfermos em ventilação mecânica com atenção especial à idade,

gênero, cor da pele, tempo de internação na UTI pediátrica, escores de gravidade

à admissão (PIM 2 e PRISM), presença de choque séptico, SDRA e disfunção

orgânica, mortalidade, identificação de agentes etiológicos, causa de admissão e

co-existência de doenças crônicas.

3. Avaliar as frequências genotípicas, alélicas e haplotípicas dos polimorfismos de

base única nos genes responsáveis pela codificação das citocinas inflamatórias

TNF (Posição -308) e Linfotoxina-α (Posição +252) em pacientes pediátricos

criticamente enfermos sob suporte ventilatório.

4. Avaliar as frequências genotípicas, alélicas e haplotípicas dos polimorfismos de

base única nos genes responsáveis pela codificação das citocinas inflamatórias

TNF (Posição -308) e Linfotoxina-α (Posição +252) em crianças saudáveis para

estimar as frequências dos diferentes alelos na população em geral.

57 

 

5. Analisar a possível associação de alelos de TNF e LTA com a ocorrência de

choque séptico no grupo de pacientes.

6. Analisar a possível associação de alelos de TNF e LTA com a ocorrência de

Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) no grupo de pacientes.

7. Analisar a possível associação de alelos de TNF e LTA com a ocorrência de

óbito no grupo de pacientes.

58 

 

7. Justificativa

A intensidade da resposta inflamatória sistêmica contribui significativamente

para a morbidade e mortalidade de pacientes em unidades de terapia intensiva, havendo

um alto nível de variação interindividual na mesma.

Respostas primárias na inflamação são mediadas por citocinas pró-inflamatórias,

como fator de necrose tumoral e interleucina-1. Por outro lado, mediadores

antiinflamatórios induzem um estado de imunossupressão na sepse, que é chamado

imunoparalisia ou anergia. Assim, as respostas pró- e anti- inflamatórias contribuem

para o desfecho de pacientes com inflamação sistêmica e sepse em humanos. Portanto,

todos os genes que codificam proteínas envolvidas na transdução de processos

inflamatórios podem ser responsabilizados pelas diferenças interindividuais na resposta

inflamatória sistêmica a uma agressão (Stüber et al., 2002).

A grande variabilidade na evolução clínica entre os pacientes diagnosticados

com sepse, choque séptico, SDRA ou DMOS gera frustração no cenário de todas as

unidades de terapia intensiva, quando pacientes com mesma idade e comorbidades, sob

a influência de fatores desencadeantes comuns, tratados pela mesma equipe de saúde

com protocolos clínicos similares evoluem de formas distintas, muitas vezes

desfavoravelmente para DMOS e êxito letal (Wheeler et al., 2001).

O estudo dos SNPs TNF -308 e LTA +252 em sepse se justifica pela

possibilidade de identificar um subgrupo de pacientes com evolução clínica distinta

através de um marcador molecular. Desta forma, pode resultar em novos estudos

59 

 

fisiopatológicos, com o objetivo de esclarecer o mecanismo responsável pela associação

de tais genótipos com diferentes desfechos clínicos. O conhecimento da fisiopatologia

baseada em estudos moleculares e imunológicos poderá permitir a estratificação dos

pacientes com potencial de maior gravidade e, portanto, alvo de uma terapêutica mais

específica.

Seria de grande valor socio-econômico identificar, com o auxílio da

genotipagem de polimorfismos em genes relacionados à inflamação, quais populações

de pacientes apresentam um alto risco de desenvolver sepse grave e disfunção orgânica

múltipla após uma situação ou agressão que gere resposta inflamatória sistêmica.

Assim, a associação entre os genótipos estudados e graves desfechos clínicos poderia

resultar em estudos sobre a utilidade da prevenção por meio de campanhas educativas

visando diminuir a exposição infecciosa.

60 

 

8. Metodologia

a) Linha de Pesquisa Clínica

Este estudo é recorte de um projeto maior sobre biomarcadores que vêm sendo

desenvolvido na UPG/IFF desde 2003, intitulado: “Avaliação respiratória, metabólica e

parâmetros inflamatórios em crianças submetidas à ventilação mecânica na Unidade

de Pacientes Graves do IFF-Fiocruz. Desenvolvimento de protocolos clínicos para

evidenciar marcadores prognósticos”, sob a gerência de Dra. Zina Maria Almeida de

Azevedo, coordenadora-médica da UPG/IFF. Este projeto foi atualizado junto ao

Comitê de Ética do Instituto Fernandes Figueira em novembro de 2009 sob o titulo

“Validação de protocolos clínicos para evidenciar marcadores prognósticos para a

rede de assistência ao paciente pediátrico crítico” e aprovado com registro CAAE

0032.0.008.000-09.

b) Instituições e Setores onde foi realizado o estudo:

A Unidade de Pacientes Graves (UPG) do IFF/Fiocruz é uma unidade de terapia

intensiva pediátrica pública, conveniada ao Sistema Único de Saúde (SUS), que possui

capacidade de seis leitos e atende pacientes na faixa etária de um mês a dezessete anos

de vida, portadores das mais variadas patologias clínicas e cirúrgicas. É uma unidade de

terapia intensiva pediátrica de alta complexidade, bem equipada, com média

ocupacional de 190 pacientes ao ano e taxa de mortalidade de 6,8%, comprometida com

ensino e pesquisa. A internação na UPG ocorre a partir da demanda interna dos

61 

 

ambulatórios de pediatria e de especialidades pediátricas, enfermarias de pediatria e

cirurgia, centro cirúrgico, Berçário de Alto Risco e Unidade Intermediária. A demanda

externa é proveniente da rede de assistência do SUS cujos pacientes são referidos pela

central de regulação de vagas ou pela solicitação direta de profissionais de saúde das

unidades públicas ou, em menor proporção, pelas unidades privadas.

O IFF foi a instituição em que foram acompanhados todos os indivíduos estudados,

onde foram coletadas amostras e registrados os dados clínicos dos pacientes e crianças

saudáveis incluídos no estudo. Para os pacientes criticamente enfermos, a origem foi a

UPG. Para as crianças saudáveis, a origem foram os ambulatórios de pediatria,

puericultura e cirurgia pediátrica.

Para estudos de genotipagem e outras análises laboratoriais, amostras coletadas e

processadas no Laboratório de Fisiopatologia Humana (IFF/Fiocruz) foram submetidas

a estudos moleculares no Laboratório de Hanseníase do Instituo Oswaldo Cruz

(IOC/Fiocruz).

c) Desenho de Estudo:

Trata-se de um estudo prospectivo de corte transversal, relativo às frequências de

diferentes alelos identificados por SNPs nas posições -308 do gene do TNF e na posição

+252 do gene da LTA, a partir de uma amostra de conveniência de pacientes internados

na UPG e submetidos à ventilação mecânica. Os dados genotípicos encontrados foram

correlacionados com características demográficas e clínicas dos pacientes e crianças

saudáveis.

62 

 

d) População:

Foram incluídos no estudo pacientes pediátricos criticamente enfermos submetidos à

ventilação mecânica, compreendendo a faixa etária de um mês a adolescentes de até

dezessete anos, recrutados na UPG, de janeiro de 2003 a dezembro de 2009.

O grupo de crianças saudáveis também compreendeu a faixa etária de um mês a

dezessete anos, sendo constituído de crianças provenientes do ambulatório de

puericultura e submetidas a cirurgias eletivas tais como correção de fimose, hérnia

inguinal/umbilical, criptorquidia. Foram excluídos todos os portadores de doenças

crônicas ou em investigação clínica para diagnóstico das mesmas, além de crianças que

eram filhos dos mesmos pais. Esta escolha teve o intuito de conhecer a prevalência de

tais polimorfismos em crianças provenientes de uma amostra similar, isto é,

freqüentadoras do IFF/Fiocruz e evitar confundimento nas frequências genotípicas em

questão.

O cálculo da amostra baseou–se no número de internações/ano da UPG, sendo

considerada também a freqüência do alelo A para o SNP TNF −308 na população

brasileira, que está em torno de 13% (Visentainer et al., 2008) e do alelo A para o SNP

LTA +252, que está em torno de 57,4% (Roxo et al., 2003).

63 

 

e) Classificação de Crianças e Pacientes incluídos no Estudo

i. Classificação Demográfica

As crianças foram classificadas conforme gênero, idade e cor da pele. A idade foi

analisada inicialmente em meses, através de média e mediana, sendo posteriormente

agrupada em faixas etárias, conforme determinação da Organização Mundial de Saúde:

Lactentes (0 a 2 anos), Pré-Escolares (2 a 6 anos), Escolares (6 a 10 anos) e

Adolescentes (a partir de 10 anos).

Foi realizada a classificação da raça das crianças conforme determinação do IBGE

(2008) em Brancos, Pardos, Negros, Amarelos e Índios. Devido à ausência de crianças

indígenas e presença de apenas um paciente no grupo amarelo, as crianças pardas,

negras e amarelas foram analisadas em conjunto, sendo o grupo dividido entre Brancos

e Não-Brancos.

ii. Classificação Clínica dos Pacientes

Procedeu-se a classificação dos pacientes segundo os critérios estabelecidos para

SIRS, Sepse, Sepse Grave e Choque Séptico, de acordo com o Consenso Internacional

Pediátrico de Sepse (Goldstein et al., 2005) – Anexo C, cujos critérios também foram

utilizados para a classificação de disfunção orgânica. O número de disfunções

64 

 

identificadas fundamentou a divisão em faixas conforme o número de órgãos

acometidos (até 2 órgãos e 3 ou mais órgãos).

Os pacientes incluídos no estudo foram ventilados de acordo com a faixa etária e

com a patologia desencadeante da insuficiência respiratória nos seguintes respiradores:

Inter 3, Inter 5, Intermed plus, Bird 8400 STi- volume ventilator, Bird 8400 STi flow

support/pressure control/VAPS e Servo-i.

Em relação à lesão pulmonar, os pacientes foram classificados em LPA e SDRA

conforme o Consenso de SDRA (Bernard et al., 1994), além de analisado o Escore de

Murray (Murray et al., 1988). Aqueles pacientes que preencheram critérios para LPA,

mas se encontravam sob ventilação mecânica foram definidos como suporte, enquanto

os que apresentaram edema pulmonar cardiogênico ou hiperfluxo pulmonar foram

classificados como cardiogênicos, já que apesar de necessitarem ventilação mecânica,

sua condição clínica invalidava a classificação da injúria pulmonar.

O tempo de internação na UPG foi definido em dias, sendo apresentado através de

média e mediana e agrupado em duas diferentes faixas: internação curta (0 a7 dias) e

internação prolongada (acima de 7 dias).

Os escores prognósticos PIM e PRISM foram calculados para a avaliação de

probabilidade de óbito nos pacientes, sendo os resultados categorizados em duas faixas:

de menor gravidade (0 a 15%) e de maior gravidade (acima de 15%).

Os pacientes foram categorizados quanto à presença ou ausência de doenças de base

preexistentes, sendo as mesmas, quando detectadas, agrupadas segundo o sistema

orgânico predominantemente acometido.

65 

 

O diagnóstico primário principal de cada paciente foi classificado segundo o CID-

10, conforme a causa de admissão na UPG/IFF. O tipo de internação também foi

categorizado em origem clínica ou cirúrgica.

Os agentes etiológicos identificados foram descritos como bactérias, vírus, fungos,

parasitas e micobactérias, sendo as bactérias subdivididas em gram-positivas e gram-

negativas.

f) Análise pelo Comitê de Ética

O projeto atual, recorte do projeto principal anteriormente descrito, intitulado:

“Correlação entre polimorfismos genéticos do Fator de Necrose Tumoral e

Linfotoxina-alfa e evolução clínica em pacientes pediátricos sépticos sob ventilação

mecânica” foi submetido novamente ao Comitê de Ética em Pesquisa do IFF/Fiocruz,

sendo aprovado com Registro CAAE: 00710.008.000-09; No da Folha de Rosto:

285276; Registro CEP: 007109; Parecer 071/2009.

As amostras de pacientes ou crianças saudáveis somente foram coletadas após a

obtenção da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

(Anexos A e B) pelos responsáveis pelas crianças e foram aprovados pelo CEP

previamente ao início de sua utilização, quando o projeto principal foi submetido à

avaliação pelo comitê.

Os TCLE foram lidos e explicados com detalhes aos responsáveis pelos

pacientes elegíveis para o estudo e foram elucidadas todas as dúvidas a respeito da

66 

 

pesquisa, bem como disponibilizados contatos telefônicos e eletrônicos do pesquisador

responsável pelo projeto. A aplicação do termo de consentimento foi realizada por

médicos-residentes e plantonistas da UPG treinados para a realização do mesmo. Os

responsáveis que consentiram com a participação do paciente no estudo assinaram o

termo de consentimento em duas vias, ficando uma via em seu poder e a outra anexada

ao protocolo do projeto e foram contactados posteriormente para esclarecimento acerca

dos resultados obtidos.

No grupo controle, como as amostras foram coletadas no mesmo dia das

consultas de puericultura ou pré-operatória para cirurgias eletivas no ambulatório de

cirurgia pediátrica, não foi necessário o comparecimento do paciente ao Instituto

Fernandes Figueira com propósito único de participar da pesquisa clínica.

g) Coleta e Processamento do Material:

i) Coleta das Amostras

1. Grupo de Pacientes

Foram coletados aproximadamente 2,0mL de sangue dos pacientes nas primeiras

24h de admissão na UPG, em tubos contendo EDTA, sendo devidamente etiquetados e

numerados de acordo com o banco de dados especialmente desenvolvido para o projeto.

Em seguida, as amostras foram congeladas a -20º C em freezer no Laboratório Geral do

IFF/Fiocruz. A coleta foi realizada por médicos-residentes e plantonistas da Unidade de

67 

 

Pacientes Graves devidamente treinados para realizar tal tarefa, juntamente com os

exames rotineiramente coletados na admissão de qualquer paciente criticamente

enfermo em uma UTI, não necessitando punção venosa periférica exclusivamente para a

coleta de amostra para o estudo.

Nas crianças que receberam hemotransfusão nos 28 dias que antecederam a

internação na UPG, foram coletadas duas amostras de swab de mucosa oral ou jugal,

também devidamente etiquetadas e numeradas, sendo posteriormente congeladas e

armazenadas a -20oC no freezer do Laboratório Geral do IFF/Fiocruz, a fim de evitar

interferência nos resultados secundária à transfusão de sangue exógeno.

2. Grupo de Crianças Saudáveis

As amostras das crianças saudáveis foram coletadas através de dois swabs de

mucosa oral ou jugal, nos Ambulatórios de Cirurgia Infantil e Puericultura do IFF, pela

equipe de pesquisa da UPG, identificadas e estocadas a -20ºC no freezer do Laboratório

Geral do IFF. Em seguida, as amostras foram etiquetadas e numeradas conforme banco

de dados desenvolvido pela equipe de pesquisa da unidade.

ii) Processamento das Amostras, Extração de DNA e Genotipagem

As amostras de pacientes e crianças saudáveis devidamente etiquetadas e numeradas

foram enviadas para o Laboratório de Fisiopatologia Humana do IFF/Fiocruz, onde foi

realizada a extração do DNA.

68 

 

Os protocolos de extração de DNA de células da mucosa oral coletadas com swab e

a partir de amostras de sangue estão descritos nos Anexos D e E, em formato de

Procedimento Operacional Padrão (POP).

Após processamento e extração, as amostras de DNA foram posteriormente

transferidas para o Laboratório de Hanseníase do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz, onde

foi efetuada a genotipagem do material por um profissional biomédico especialista.

A determinação do SNP LTA +252 foi realizada através da técnica de PCR-RFLP

(Restriction Fragment Lenght Polymorphism) e está descrita no Anexo D, em formato

de POP.

A determinação do SNP TNF -308 foi realizada inicialmente através de PCR-RFLP

e posteriormente pela técnica de Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real

(PCR-RT), ambas descritas no Anexo E, em formato de POP.

h) Variáveis analisadas

Foram avaliadas as seguintes variáveis clínicas e demográficas a partir de revisão de

banco de dados construído no programa Microsoft® Access 2000, versão 9.0.2812:

• Gênero

o Masculino e Feminino

• Cor da Pele

o Brancos e Não-Brancos

• Idade

o Lactentes, Pré-escolares, Escolares e Adolescentes

69 

 

• Tempo de internação na UTI Pediátrica

o Faixas: 0 a 7 dias e acima de 7 dias

• Escores prognósticos PIM II e PRISM I

o Faixas: 0 a 15% e acima de 15%

• Doença de base preexistente

• Tipo de Internação

o Clínica ou Cirúrgica

Diagnóstico primário principal

Gravidade do quadro infeccioso

o Sepse, Sepse Grave e Choque Séptico

Agentes etiológicos isolados

o Bactérias, Vírus, Fungos, Parasitas ou Micobactérias

o Subdivisão em Bactérias Gram-positivas e Gram-negativas

Grau de disfunção de múltiplos órgãos e sistemas (DMOS)

o Faixas: 0 a 2 órgãos ou acima de 3 órgãos acometidos

Classificação da insuficiência respiratória

o LPA ou SDRA

Evolução clínica

o Altas e Óbitos

Foram também analisadas as frequências dos diferentes alelos definidos para os

genes de TNF e LTA com base nos SNPs em TNF -308 e LTA +252.

70 

 

i) Análise Estatística

Todos os dados foram coletados em formulário padronizado e transferidos para

banco de dados desenvolvido para o projeto no Microsoft® Access 2000, versão

9.0.2812. A planilha gerada pelo Access foi formatada para Excell (versão Windows

Vista) e os dados e gráficos foram gerados a partir desta.

Foram calculadas as freqüências genotípicas, alélicas e haplotípicas para LTA +252

e TNF -308 em todas as crianças. Os pacientes portadores do alelo TNF -308 A, além de

analisados individualmente como heterozigotos e homozigotos, também foram

agrupados e analisados em conjunto, sendo denominados carreadores A. Para a LTA

+252, foram agrupados os pacientes portadores do alelo G, sendo analisados como

carreadores G, além de analisados os alelos A e genótipos individualmente.

Foram utilizados como referência para a análise estatística o homozigoto GG

para o TNF -308 e o homozigoto AA para o LTA +252, além dos alelos G para o TNF -

308 e A para a LTA +252, baseados em sua maior frequência em populações e estudos

descritos na literatura.

Para analisar se as frequências genotípicas estabelecidas correspondiam às

esperadas pela Lei de Hardy-Weinberg, foi realizado o Teste χ2 no grupo de crianças

saudáveis e pacientes, sendo consideradas em Equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW) as

populações que apresentaram resultados abaixo de 3,84.

Variáveis quantitativas foram apresentadas como médias aritméticas, desvios-

padrão e medianas. O Teste χ2 foi utilizado para analisar as diferenças nas variáveis

71 

 

demográficas categóricas (idade, gênero e cor da pele) entre as crianças saudáveis e os

pacientes da UPG e para avaliar as variáveis clínicas categóricas (tempo de internação,

escores prognósticos, doença de base, gravidade do quadro infeccioso, grau de lesão

pulmonar, grau de disfunção orgânica e evolução clínica) dentro do grupo de pacientes

da UPG.

Foram realizadas análises estatísticas contemplando genótipos, carreadores,

alelos e haplótipos. A Razão de Chances (OR - Odds Ratio), com Intervalos de

Confiança de 95% (95% IC), foi obtida através dos modelos de regressão logística

GLM e LRM (do inglês “generalized linear model” e “logistic regression model”),

controlando os potenciais fatores de confundimento: cor da pele, idade, gênero e doença

de base.

As freqüências haplotípicas foram estimadas através do método de Máxima

Verossimilhança e comparadas através do mesmo modelo de regressão logística

conduzidos para cada SNP isoladamente.

A presença de um desequilíbrio de ligação foi avaliada através do método

estatístico R2, utilizando freqüências genotípicas de pacientes e crianças saudáveis.

Foram considerados estatisticamente significativos resultados com P-valor <

0.05.

Todos as análises foram realizadas utilizando o programa estatístico R (The R

Foundation for Statistical Computing, versão 2.10.0, 2009 – CRAN Fiocruz/RJ), com

os pacotes “genetics” e “haplo.stats”, com a colaboração da equipe do Laboratório de

Hanseníase do IOC/Fiocruz.

73 

 

9. Resultados

Seção 1 – Pacientes e Crianças Saudáveis – Variáveis Demográficas e Frequências

Alélicas, Genotípicas e Haplotípicas

De Janeiro de 2003 a Dezembro de 2009 foram internados 1342

pacientes na Unidade de Pacientes Graves do IFF/Fiocruz, sendo a média durante este

período de 191,7 pacientes/ano e a taxa de óbitos de 15,5 óbitos/ano. Destes, foram

elegíveis para o estudo apenas pacientes que necessitaram suporte ventilatório invasivo

e cujos responsáveis autorizaram a sua inclusão no projeto de pesquisa. Foram

considerados como perdas 96 pacientes elegíveis que não foram incluídos por

impossibilidade de obtenção da autorização ou que foram incluídos e cujas amostras se

extraviaram ou contaminaram.

Assim, foram incluídos 455 pacientes no estudo, 9 dos quais foram depois

excluídos por apresentarem doenças relacionadas ao sistema imunológico (2 lactentes

expostos ao HIV, 6 portadores de SIDA e 1 pré-escolar com imunodeficiência

congênita). Ainda, observou-se que apenas 22 não apresentavam sepse (11 pacientes

SIRS e 11 não-SIRS/não-sepse), sendo os mesmos excluídos devido ao pequeno grupo

amostral para análise de frequências genotípicas. Desta forma, foram incluídos no

estudo 424 pacientes pediátricos sépticos criticamente enfermos, ventilados

invasivamente.

74 

 

Paralelamente, foram coletadas amostras de 590 crianças saudáveis. Deste

grupo, foram subsequentemente excluídas 37 crianças portadoras de doença de base,

totalizando 553 crianças saudáveis.

Em relação ao gênero, não foi observada diferença estatisticamente significativa

entre o grupo de pacientes e crianças saudáveis, no referente à proporção entre os

gêneros masculino e feminino, nem em relação à classificação por cor da pele (tabela 2).

A mediana de idade dos pacientes avaliados foi de 11 meses, sendo o intervalo

de 1 mês a 16 anos e 4 meses (196 meses). A média de idade foi de 31,7 meses. Após a

estratificação dos pacientes em faixas etárias, observou-se um predomínio importante de

lactentes nos dois grupos. A mediana de idade das crianças saudáveis foi de 8 meses,

sendo o intervalo de 1 a 16 anos e 7 meses (199 meses) e a média de 19,6 meses. Após

análise estatística com o teste χ2, observou-se diferença significativa entre o grupo de

pacientes e crianças saudáveis quanto à distribuição em faixas etárias (p<0.000003)

(tabela 2).

No grupo de crianças saudáveis foram genotipadas 547 amostras a partir de

material obtido por coleta de swab oral e 6 amostras de DNA extraído a partir de

sangue. Destas 553 crianças saudáveis, 548 amostras foram genotipadas para TNF -308

e 238 para LTA +252. A distribuição dos genótipos correspondentes a cada um destes

polimorfismos encontrava-se dentro das freqüências esperadas com base no Equilíbrio

de Hardy-Weinberg. Nas crianças saudáveis, o polimorfismo relacionado à posição TNF

-308 mostrou predominância do genótipo GG (81%). A análise do polimorfismo

relacionado à posição LTA +252 mostrou proporções comparáveis do genótipo AA

(41%) e do genótipo GA (47%) (tabela 3).

75 

 

Tabela 2: Características demográficas de crianças saudáveis e pacientes internados na UPG / IFF sob ventilação mecânica. 

     Características Crianças Saudáveis               n (%) 

Pacientes UPG n (%) 

P‐valor# 

       

Total de Indivíduos  553  424   

Gênero       

        Masculinos  286 (0.52)  229 (0.54) 

        Femininos  267 (0.48)  195 (0.46) 

p = 0.52 

Cor da Pele       

        Brancos  264 (0.48)  210 (0.49) 

        Não‐Brancos  289 (0.52)  214 (0.51) 

p = 0.62 

Idade        

         Lactentes  437 (0.79)  281 (0.66) 

         Pré‐Escolares  77 (0.14)  70 (0.16) 

         Escolares  26 (0.05)  45 (0.11) 

         Adolescentes  13 (0.02)  28 (0.07) 

p < 0,000003 

       #Valor de p associado ao Teste χ2 (Pearson).   

No grupo de pacientes foram genotipadas 153 amostras a partir de material

obtido por coleta de swab oral e 271 amostras a partir de DNA extraído de sangue.

Destes 424 pacientes incluídos no estudo, 410 amostras foram genotipadas para TNF -

308 e 355 foram genotipadas para LTA +252. A distribuição dos genótipos de LTA +252

mostrou estar dentro das freqüências esperadas com base no Equilíbrio de Hardy-

Weinberg. Contudo, isto não foi observado com os genótipos de TNF -308, visto que o

χ2 foi superior a 3,841, não estando esta população em EHW, no referente a este

polimorfismo. Nos pacientes, a análise do polimorfismo relacionado à posição TNF -

76 

 

308 mostrou predomínio do genótipo GG (79%). Já a análise do polimorfismo

relacionado à posição LTA +252 mostrou frequências próximas entre o genótipo AA

(36%) e o genótipo GA (48%) (tabela 3).

Quando comparadas as frequências de genótipos entre o grupo de crianças

saudáveis e o grupo de pacientes, não foi observada diferença estatisticamente

significativa nem para o LTA +252, nem para o TNF -308, como se observa na tabela 3.

Não houve alteração nos resultados quando as análises foram refeitas com ajuste para as

covariáveis de gênero, raça, idade e doença crônica. O padrão de risco para o

desenvolvimento de sepse sugerido pelos genótipos TNF -308 AA e LTA +252 GG não

alcançou significância estatística. A comparação das frequências dos demais genótipos,

alelos, carreadores e haplótipos entre o grupo de pacientes e o de crianças saudáveis está

detalhada na tabela 3.

Foi analisado o Desequilíbrio de Ligação entre LTA +252 e TNF -308 nos

pacientes e nas crianças saudáveis. Para os pacientes, o D’ foi de 0,8006 e o R2 =

0,1282. Já nas crianças saudáveis, o D’ foi de 0,8193 e o R2 =0,1377, o que indica a

ausência de desequilíbrio de ligação entre os SNPs em ambos os grupos.

77 

 

Tabela 3: Frequências de genótipos, alelos, carreadores e haplótipos para SNPs TNF ‐308 e LTA +252 de crianças saudáveis e pacientes internados na UPG/IFF sob ventilação mecânica. 

Genótipo / Alelo Crianças Saudáveis 

n (%) Pacientes UPG 

n (%) OR (IC 95%; p‐valor)  OR (IC 95%; p‐valor)* 

 

TNF ‐308         

GG  443 (0.81)  324 (0.79)  Referência  Referência 

GA  98 (0.18)  76 (0.19)  1.06 (0.76 – 1.48; p = 0.73)  1.12 (0.80 – 1.57; p = 0.49) 

AA  7 (0.01)  10 (0.02)  1.95 (0.74 – 5.19; p = 0.18)  1.84 (0.68 – 4.96; p = 0.23) 

Total#  548  410  p‐global = 0,3847  p‐global = 0,3847 

Alelo A  112 (0.10)  96 (0.12)  1.16 (0.77 – 1.75; p = 0.46)  1.20 (0.80 – 1.82; p = 0.38) 

Alelo G  984 (0.90)  724 (0.88)  Referência  Referência 

Carreador A  

105 (0.19)  86 (0.21)  1.12 (0.81 – 1.54; p = 0.49)  1.17 (0.85 – 1.62; p = 0.33) 

LTA +252         

AA  115 (0.41)  129 (0.36)  Referência  Referência 

GA  134 (0.47)  169 (0.48)  1.12 (0.80 – 1.58; p = 0.50)  1.09 (0.77 – 1.53; p = 0.63) 

GG  34 (0.12)  57 (0.16)  1.49 (0.91 – 2.45; p = 0.11)  1.49 (0.90 – 2.44; p = 0.12) 

Total##  283  355  p‐global = 0,2739  p‐global = 0,2739 

Alelo A  364 (0.64)  427 (0.60)  Referência  Referência 

Alelo G  202 (0.36)  283 (0.40)  1.19 (0.86 – 1.65; p = 0.28)  1.18 (0.85 – 1.64; p = 0.31) 

Carreador G  

168 (0.59)  226 (0.64)  1.20 (0.87 – 1.65; p = 0.27)  1.17 (0.84 – 1.65; p = 0.35) 

Haplótipos         

+252 A / ‐308 A  0,01141  0,01417  0.64 (0.20 – 2.04; p = 0.45)  0.69 (0.21 – 2.25; p = 0.58) 

+252 A / ‐308 G  0,62380  0,58892  Referência  Referência 

+252 G / ‐308 A  0,09106  0,10316  0.69 (0.46 – 1.03; p = 0.07)  0.68 (0.45 – 1.01; p = 0.06) 

+252 G / ‐308 G  0,27373  0,29375  0.87 (0.67 – 1.13; p = 0.29)  0.89 (0.68 – 1.16; p = 0.39) 

         

*OR e p‐valores adjustados para as covariáveis gênero, raça e idade. # 5 Crianças Saudáveis e 14 Pacientes não foram genotipados para TNF ‐308. ## 270 Crianças Saudáveis e 69 Pacientes não foram genotipados para LTA +252. 

78 

 

Seção 2 – Pacientes – Apresentação e Evolução Clínica 

Os 424 pacientes incluídos no estudo apresentavam sepse, sendo que 63%

preencheram os critérios para choque séptico. Em relação à frequência dos vários tipos

de lesão pulmonar, houve predomínio da incidência de lesão pulmonar aguda, seguida

de síndrome do desconforto respiratório agudo. O tempo médio de internação dos

pacientes foi de 14,5 dias, sendo a mediana de 10 dias. Foi observado um predomínio de

tempos de internação maiores que sete dias (tabela 4).

Os escores prognósticos PIM e PRISM foram apresentados em duas faixas de

probabilidade de óbitos: de 0-15% e > 15%, tendo sido observado predomínio da faixa

de 0-15% para ambos os escores prognósticos como apresentado na tabela 4.

Os pacientes com disfunção de múltiplos órgãos e sistemas foram distribuídos de

forma semelhante nas duas faixas agrupadas e o principal órgão em disfunção foi o

aparelho respiratório, seguido do cardiovascular, conforme demonstrado na figura 6.

Em relação ao desfecho clínico, 8% dos pacientes incluídos no estudo evoluíram para o

óbito (tabela 4).

 

Figura 6 – Frequência de disfunções orgânicas nos pacientes incluídos no estudo.

79 

 

Tabela 4: Características clínicas de pacientes internados na UPG/IFF sob ventilação mecânica. 

 Características 

Pacientes  n (%) 

  Total de Indivíduos  424 

  Gravidade da Sepse   

  Sepse  78 (0.19) 

  Sepse Grave  77 (0.18) 

  Choque Séptico  269 (0.63) 

  Lesão Pulmonar   

  Suporte  35 (0.08) 

  LPA  244 (0.57) 

  SDRA  121 (0.28) 

  Cardiogênico  24 (0.07) 

  PIM#   

  0 a 15%  335 (0.84) 

  > 15%  66 (0.16) 

  PRISM##   

  0 a 15%  330 (0.78) 

  > 15%  93 (0.22) 

  Tempo de Internação    

  0 a 7 dias  161 (0.38) 

  > 7 dias  263 (0.62) 

  Faixas de DMOS   

  0 a 2 órgãos  243 (0.57) 

  ≥ 3 órgãos  181 (0.43) 

  Evolução   

  Alta  388 (0.92) 

  Óbito  36 (0.08) 

     # 23 Pacientes não tiveram o escore PIM calculado. ##1 Paciente não teve o escore PRISM calculado. 

80 

 

Dos 424 pacientes incluídos no estudo, 49% eram portadores de doenças

crônicas não relacionadas ao sistema imunológico. Não foi observado predomínio

específico de doenças de base, sendo as categorias mais frequentes, com valores muito

próximos, as afecções do sistema gastrointestinal, as neurológicas e as doenças

genéticas, conforme descreve a figura 7.

Figura 7 – Frequência das doenças de base dos pacientes incluídos no estudo.

 

Os pacientes também foram avaliados quanto à causa de admissão, sendo

divididos entre pacientes clínicos e cirúrgicos. Foram incluídas no grupo cirúrgico todas

as patologias que necessitaram intervenção cirúrgica, apesar de apresentarem

concomitantemente sepse, como apendicite, invaginação intestinal, enterocolite

necrosante; bem como pacientes que se submeteram a cirurgias eletivas e evoluíram

com infecção secundária, como transposição gástrica, abdominoplastia, rebaixamento

de cólon, entre outras. No entanto, apesar do grupo cirúrgico incluir sepse primária e

secundária, ainda assim houve predomínio de internações clínicas (80%), denotando o

perfil de pacientes da unidade como principalmente clínico.

81 

 

As principais causas de internação foram as doenças do sistema respiratório, que

incluíram pneumonia bacteriana, bronquiolite, pneumonia viral, DPOC com agudização

por infecção respiratória aguda, pós-operatório de cirurgias torácicas, como

transposição gástrica, entre outras doenças. No entanto, dentre os pacientes estudados, o

diagnóstico mais frequente foi Pneumonia Comunitária. A figura 8 apresenta as

principais causas de internação dos pacientes incluídos no estudo.

Outras doenças infecciosas compreendiam as sepses de origem não específica,

varicela, artrite piogênica, piodermite, tétano, meningococcemia, febre hemorrágica e

choque devido ao vírus da dengue, entre outras. As doenças gastrointestinais

compreendiam peritonite aguda, apendicite, volvo, invaginação intestinal, obstrução

intestinal aguda, gastroenterites e pós-operatório de cirurgias abdominais. As doenças

neurológicas incluiam as meningites, encefalites, abscessos cerebrais, disfunção de

shunt ventriculo-peritonial e hipertensão intracraniana, entre outras (figura 8).

Foram agrupados no grupo de pacientes onco-hematológicos aqueles em pós-

operatório de tumores neurocirúrgicos, abdominais e de mediastino. As doenças do

sistema cardiovascular compreendiam as miocardites e insuficiências cardíacas

congestivas em portadores de cardiopatias congênitas. Os pacientes com intoxicações

exógenas, síndrome de maus tratos, afogamento, choque secundário a complicações

anestésicas foram agrupados como miscelânia (figura 8).

82 

 

 

Figura 8 – Diagnósticos principais à admissão na UPG

Foram identificadas 32% de culturas positivas para bactérias, sendo metade

gram-positivas e metade gram-negativas. 17% dos pacientes estudados tiveram vírus

isolados. A figura 9 descreve os principais tipos de germe isolados nos pacientes

durante a internação na UPG.

 

Figura 9 – Germes isolados durante a internação dos pacientes incluídos no estudo.

83 

 

A tabela 5 compara os pacientes que não apresentaram SDRA com os que

apresentaram e destes, os que sobreviveram com os que evoluíram para o óbito. Não

houve diferença estatisticamente significativa na distribuição de cor da pele, gênero,

idade e doença de base entre nenhum dos grupos comparados.

Dentre os pacientes que apresentaram SDRA, nenhum apresentou sepse apenas,

já que pela definição do Consenso Internacional de 2005, qualquer paciente que

preencha critérios clínicos para sepse e SDRA já será classificado como sepse grave. Ao

analisar a gravidade da sepse distribuída como sepse grave e choque séptico no grupo

SDRA e no grupo que não apresentou SDRA não houve diferença estatisticamente

significativa, assim como entre sobreviventes e não-sobreviventes com SDRA. No

entanto, o grupo SDRA apresentou mais disfunções orgânicas que o grupo não SDRA

(p=0.00025), sendo o mesmo observado entre os pacientes SDRA que evoluíram para o

óbito quando comparados aos que sobreviveram (p=0.0009) – Tabela 5.

Houve diferença do tempo de internação entre os grupos, sendo mais prolongado

entre os pacientes com SDRA, quando comparado com os que não apresentaram SDRA

(p=0.0029). Entretanto, o tempo de internação dos pacientes com SDRA que evoluíram

para óbito foi mais breve (0 a 7 dias) quando comparado aos sobreviventes

(p=0.00000001) (tabela 5). Em relação à causa de internação, o sistema respiratório

predominou nos pacientes com SDRA, em comparação com os pacientes que não

apresentaram SDRA (p=0.0008).

Ao se avaliar os escores PIM e PRISM dentre os pacientes com SDRA que

evoluíram para o óbito, não houve diferença na distribuição entre as duas faixas de

gravidade estabelecidas para o PIM e para o PRISM. No entanto, houve diferença

84 

 

estatisticamente significativa na distribuição das faixas do escore PIM entre pacientes

com SDRA que sobreviveram e que não sobreviveram (p=0.0019), o que não foi

observado em relação ao escore PRISM (tabela 5).

A tabela 6 compara os pacientes que apresentaram choque séptico com os que

não apresentaram, em relação às características demográficas e clínicas, como também

compara pacientes com choque que evoluíram para o óbito, com os que sobreviveram.

As frequências de cor da pele, gênero, idade e doença crônica não apresentaram

diferenças estatisticamente significativas em nenhuma destas comparações.

Os pacientes com choque séptico apresentaram frequência maior de SDRA do

que os que não apresentaram choque (p< 0.000008), sendo o mesmo observado entre os

pacientes com choque séptico que não sobreviveram. Também houve maior frequência

de disfunções orgânicas no grupo com choque séptico e no grupo de não-sobreviventes

com choque (tabela 6).

A distribuição da probabilidade de óbito nas duas faixas: 0-15% e >15% para os

escores PIM e PRISM foi semelhante no grupo de não sobreviventes. No entanto, esta

distribuição foi diferente entre os sobreviventes e também quando estes foram

comparados aos não sobreviventes, mostrando predominio da distribuição de ambos os

escores na faixa de 0-15% nos sobreviventes, como pode ser observado na tabela 6.

Não houve diferença significativa em relação ao tempo de internação na UTI

Pediátrica entre pacientes com e sem choque, porém 84% dos pacientes com choque

séptico que evoluíram para óbito tiveram tempo de internação menor ou igual a 7 dias

(p<0.0000003).

85 

 

Tabela 5: Características clínicas de pacientes com insuficiência respiratória aguda, sobreviventes e óbitos em SDRA, internados na UPG/IFF sob ventilação mecânica. 

  Desenvolvimento de SDRA  Mortalidade na SDRA 

Características Não‐SDRA 

n (%) 

SDRA 

n (%) 

P‐valor  Sobreviventes 

n (%) 

  Não‐Sobreviventes 

n (%) 

P‐valor#### 

     

Total de Indivíduos  303 (0.71)  121 (0.29) 99 (0.82) 22 (0.18) 

Gravidade da Sepse#     

        Sepse Grave  54 (0.18)  23 (0.19) 22 (0.22) 1 (0.05) 

        Choque Séptico  171 (0.56)  98 (0.81)

p = 0.35 

77 (0.78) 21 (0.95) 

p = 0.11 

DMOS     

        0 a 2 órgãos  191 (0.63)  52 (0.43) 50 (0.51) 2 (0.09) 

       ≥ 3 órgãos  112 (0.37)  69 (0.57)

p = 0,00025 

49 (0.49) 20 (0.91) 

p = 0.00093 

Tempo de Internação     

          0 a 7 dias  129 (0.43)  32 (0.26) 15 (0.15) 17 (0.77) 

          > 7 dias  174 (0.57)  89 (0.74)

p = 0,0029 

84 (0.85) 5 (0.23) 

p = 0.00000001 

Causa de Internação     

       Respiratória  139 (0.46)  78 (0.64) 71(0.72) 7 (0.32) 

       Outros Sistemas  164 (0.54)  43 (0.36)

p = 0,0008 

28 (0.28) 15 (0.68) 

p = 0,000003 

PIM##     

          0 a 15%  ‐  ‐ 75 (0.81) 10 (0.45)  p = 0.0019

         > 15%  ‐  ‐ 

‐ 

18 (0.19)  12 (0.55)   

PRISM###     

          0 a 15%  ‐  ‐ 72 (0.73) 11 (0.50)  p = 0.068

         > 15%  ‐  ‐

‐ 

27 (0.27) 11 (0.50) 

             

# O grupo Não‐SDRA apresentou 78 Pacientes com sepse apenas (26%), porém não demonstrados na tabela para comparação com o grupo SDRA, já que Sepse associado a SDRA já define Sepse Grave. ##17 Pacientes sem SDRA e 6 Pacientes com SDRA não tiveram o escore PIM calculado.    6 Pacientes com SDRA Sobreviventes não tiveram o escore PIM calculado. ###1 Paciente sem SDRA não teve o escore PRISM calculado. ####Valor de p associado ao Teste χ2 (Qui‐Quadrado). 

86 

 

Em relação à existência de uma doença crônica, houve diferença significativa

entre os pacientes que apresentaram choque séptico e os sem choque (45% vs 56%,

respectivamente; p=0.04). No entanto, esta diferença não foi observada com relação ao

desfecho óbito entre os pacientes com choque séptico (tabela 6).

Devido ao fato de ter sido encontrada uma diferença estatísticamente

significativa entre o grupo de pacientes com e sem choque em relação à presença de

doença de base, foi realizada estratificação destes em dois subgrupos para análise

genotípica. Como não houve diferença estatística entre a presença ou ausência de

doença de base no grupo choque e não-choque em relação aos genótipos, alelos,

carreadores e haplótipos, foi apresentada a análise no grupo completo sem estratificação

para doença de base, sendo a mesma apenas utilizada como covariável.

A tabela 7 compara dentre todos os pacientes, aqueles que sobreviveram com os

que não sobreviveram. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os dois

grupos no referente à classificação por cor da pele, gênero e idade e nem quanto à

presença de uma doença crônica . Já a distribuição das categorias de gravidade de sepse

foi significativamente diferente entre os sobreviventes e os não-sobreviventes

(p=0.0045). O mesmo padrão foi observado em relação ao tipo de lesão pulmonar, com

predomínio de SDRA no grupo de não-sobreviventes e de LPA no grupo de

sobreviventes (p=0.000013) - Tabela 7.

 

87 

 

Tabela 6: Características clínicas de pacientes com e sem choque séptico, sobreviventes e óbitos em choque séptico,  internados na UPG/IFF sob ventilação mecânica. 

  Desenvolvimento de Choque  Mortalidade no Choque 

Características Não‐Choque 

n (%) Choque n (%) 

P‐valor  Altas n (%) 

Óbitos n (%) 

P‐valor### 

Total de Indivíduos  155 (0.37)  269 (0.63)    238 (0.88)  31 (0.12)   

Lesão Pulmonar            

           Suporte  19 (0.12)  16 (0.06)  16 (0.07)  0 (0.00) 

           LPA  106 (0.68)  138 (0.51)  132 (0.55)  6 (0.19) 

           SDRA  23 (0.15)  98 (0.36) 

  p < 0.000008 

77 (0.32)  21 (0.68) 

           Cardiogênico  7 (0.05)  17 (0.06)  13 (0.06)  4 (0.13) 

p = 0.00011 

DMOS     

 

     

          0 a 2 órgãos  138 (0.89)  105 (0.39)  101 (0.42)  4 (0.13) 

          ≥ 3 órgãos  17 (0.11)  164 (0.61) p < 0.0000001 

137 (0.58)  27 (0.87) p = 0.0029 

Tempo de Internação             

           0 a 7 dias  55 (0.35)  106 (0.39)  80 (0.34)  26 (0.84) 

           > 7 dias  100 (0.65)  163 (0.61) 

p = 0,49 

158 (0.66)  5 (0.16) 

p < 0,0000003 

Doença de Base             

           Sim  87 (0.56)  122 (0.45)  108 (0.45)  14 (0.45) 

           Não  68 (0.44)  147 (0.55) 

p = 0.04 

130 (0.55)  17 (0.55) 

p = 0.87 

PIM             

           0 a 15%  ‐  ‐  191 (0.85)  17 (0.57) 

           > 15%  ‐  ‐ 

‐ 

34 (0.15)  13 (0.43) 

 p = 0.00047 

 

PRISM             

          0 a 15%  ‐  ‐  187 (0.79)  15 (0.48) 

         > 15%  ‐  ‐ 

‐ 

51 (0.21)  16 (0.52) 

  p = 0.00059 

             # 9 Pacientes sem Choque Séptico e 14 Pacientes com Choque Séptico não tiveram o escore PIM calculado.    1 Paciente com Choque Séptico que não sobreviveu e 13 Pacientes com Choque Séptico que sobreviveram não tiveram o escore PIM calculado. ##1 Paciente sem choque séptico não teve o escore PRISM calculado. ###Valor de p associado ao Teste χ2 (Qui‐Quadrado). 

88 

 

Com relação à disfunção de órgãos, no grupo de não-sobreviventes predominou

o comprometimento de mais de 3 órgãos, enquanto 61% dos sobreviventes

apresentaram comprometimento de até dois órgãos (p=0.000019). Em relação ao tempo

de internação, também houve diferença estatisticamente significativa entre os pacientes

que sobreviveram e não sobreviveram, com predomínio de tempo de internação mais

breve (0 a 7 dias) nos não sobreviventes (p=0.000004) – Tabela 7.

Entre os não-sobreviventes, a frequência de pacientes com escore prognóstico

PIM na faixa de 0 a 15% e na faixa acima de 15% foi similar, sendo o mesmo padrão

observado em relação ao escore PRISM. No entanto, ao comparar o grupo de

sobreviventes com o grupo de não-sobreviventes, foi observada uma diferença

estatisticamente significativa na distribuição das faixas dos escores PIM e PRISM -

Tabela 7.

Seção 3 – Relação entre SDRA e Marcadores Genéticos

Através do modelo GLM utilizando distribuição genotípica foi observada

diferença estatisticamente significativa entre os pacientes com e sem SDRA, quando

analisado o SNP TNF -308 (p-global=0.002626, com e sem correção) – Tabela 8.

89 

 

Tabela 7: Características clínicas de sobreviventes e não‐sobreviventes, dentre pacientes internados na UPG/IFF sob ventilação mecânica. 

       Características Sobreviventes 

n (%) Não‐Sobreviventes 

n (%) P‐valor### 

Total de Indivíduos  388 (0.92)  36 (0.08)   

Gravidade da Sepse       

           Sepse  78 (0.20)  0 (0.00) 

          Sepse Grave  72 (0.19)  5 (0.14) 

          Choque Séptico  238 (0.61)  31 (0.86) 

        p = 0,0045 

Lesão Pulmonar       

           Suporte  34 (0.53)  1 (0.03) 

            LPA  235 (0.53)  9 (0.25) 

            SDRA  99 (0.20)  22 (0.61) 

            Cardiogênico  20 (0.53)  4 (0.11) 

        p =0.000013 

DMOS       

             0 a 2 órgãos  235 (0.61)  8 (0.22) 

             ≥ 3 órgãos  153 (0.39)  28 (0.78) 

p =0.000019 

Tempo de Internação (dias)         

             0 a 7 dias  134 (0.34)  27 (0.75) 

             > 7 dias  254 (0.66)  9 (0.25) 

 p = 0,000004 

PIM#       

             0 a 15%  316 (0.86)  19 (0.54) 

             > 15%  50 (0.14)  16 (0.46) 

 p < 0,000003 

PRISM##       

            0 a 15%  313 (0.81)  17 (0.47) 

            > 15%  74 (0.19)  19 (0.53) 

     p < 0,000008 

       # 22 Sobreviventes e 1 Não‐Sobrevivente não tiveram o escore PIM calculado. ##1 Sobrevivente não teve o escore PRISM calculado. ###Valor de p associado ao Teste χ2 (Qui‐Quadrado).   

90 

 

Foi observada diferença estatisticamente significativa (p=0.023) na frequência

de heterozigotos TNF -308 GA entre os grupos SDRA e não-SDRA, com OR=0.33, o

que sugere um efeito protetor para o genótipo GA, quando comparados com os

homozigotos GG (referência). Ao se corrigir esta análise para gênero, cor da pele, idade

e presença de doença de base, o resultado se manteve estatisticamente significativo (OR

ajustada=0,33; p=0.0024; p-valor global=0.0026). As análises com carreadores do alelo

TNF -308 A foram consistentes com esta interpretação, indicando que ser carreador do

alelo A confere proteção contra o desenvolvimento de SDRA, quando comparado aos

carreadores G, com e sem correção (OR ajustada=0.43; p=0.0076). O padrão de

susceptibilidade para o desenvolvimento de SDRA apresentado pelo genótipo TNF -308

AA não alcançou significância estatística.

Em relação ao SNP LTA +252 não foram observadas diferenças estatisticamente

significativas entre os pacientes que desenvolveram SDRA e os que não desenvolveram

(p-global=0.4438, com e sem correção). A frequência dos genótipos LTA +252 GA e

GG, bem como do alelo G e carreador G não apresentaram diferença estatisticamente

significativa entre os dois grupos (tabela 8).

O haplótipo +252 G/-308 A apresentou um padrão de susceptibilidade ao

desenvolvimento de SDRA (OR ajustada=1.78), porém com um nível de significância

estatística limítrofe (p=0.07) - Tabela 8.

91 

 

Tabela 8: Frequências de genótipos, alelos, carreadores e haplótipos para SNPs TNF ‐308 e LTA +252 de pacientes com insuficiência respiratória aguda internados na UPG/IFF sob ventilação mecânica. 

Desenvolvimento de SDRA 

Genótipo / Alelo Não‐SDRA 

n (%) SDRA n (%) 

OR (IC 95%; p‐valor)    OR (IC 95%; p‐valor)* 

 

TNF ‐308         

GG  223 (0.76)  101 (0.88)  Referência  Referência 

GA  66 (0.22)  10 (0.09)  0.33 (0.16 – 0.68; p = 0.0023)  0.33 (0.16 – 0.68; p = 0.0024) 

AA  6 (0.02)  4 (0.03)  1.47 (0.40 – 5.33; p = 0.56)  1.47 (0.40 – 5.38; p = 0.56) 

Total#  295  115  p‐global = 0,002626  p‐global = 0,002626 

Alelo A  78 (0.13)  18 (0.08)  0.56 (0.26 – 1.19; p = 0.13)  0.56 (0.26 – 1.19; p = 0.13) 

Alelo G  512 (0.87)  212 (0.92)  Referência  Referência 

Carreador A  

72 (0.24)  14 (0.12)  0.43 (0.23 – 0.80; p = 0.0074)  0.43 (0.23 – 0.80; p = 0.0076) 

LTA +252         

AA  87 (0.35)  42 (0.40)  Referência  Referência 

GA  124 (0.50)  45 (0.42)  0.75 (0.45 – 1.24; p = 0.26)  0.75 (0.45 – 1.25; p = 0.27) 

GG  38 (0.15)  19 (0.18)  1.04 (0.53 – 2.01; p = 0.92)  1.05 (0.53 – 2.04; p = 0.89) 

Total##  249  106  p‐global = 0,4438  p‐global = 0,4438 

Alelo A  298 (0.60)  129 (0.61)  Referência  Referência 

Alelo G  200 (0.40)  83 (0.39)  0.96 (0.60 – 1.53; p = 0.86)  0.97 (0.60 – 1.54; p = 0.88) 

Carreador G  

162 (0.65)  64 (0.60)  0.82 (0.51 – 1.31; p = 0.40)  0.82 (0.51 – 1.32; p = 0.41) 

Haplótipos         

+252 A / ‐308 A  0,01471  0,01175  1.32 (0.29 – 5.98; p = 0.72)  1.39 (0.30 – 6.37; p = 0.68) 

+252 A / ‐308 G  0,58625  0,59762  Referência  Referência 

+252 G / ‐308 A  0,11732  0,06738  1.80 (0.96 – 3.38; p = 0.0665)  1.78 (0.95 – 3.33; p = 0.07) 

+252 G / ‐308 G  0,28173  0,32324  0.93 (0.64 – 1.34; p = 0.69)  0.91 (0.62 – 1.34; p = 0.64) 

         

*OR e p‐valores adjustados para as covariáveis gênero, raça, idade e doença de base. # 8 Pacientes sem SDRA e 6 Pacientes com SDRA não foram genotipados para TNF ‐308. ## 54 Pacientes sem SDRA e 17 Pacientes com SDRA não foram genotipados para LTA +252. 

92 

 

Seção 4 – Relação entre Choque Séptico e Marcadores Genéticos

Através do modelo GLM utilizando distribuição genotípica não foram

observadas diferenças estatisticamente significativas entre os pacientes com choque e

sem choque, quando analisado o SNP TNF -308 (p-global=0.07957, com e sem

correção) – Tabela 9.

A frequência de heterozigotos TNF -308 GA foi menor nos pacientes com

choque, apresentando um nível de significância estatística limítrofe (OR

ajustada=0.62;p=0.066), o que sugere um efeito protetor deste genótipo quando

comparado ao genótipo GG (referência). O padrão de proteção para o desenvolvimento

de choque séptico sugerido pelos alelos TNF -308 A e carreadores A não alcançou nível

de significância estatística, assim como o padrão associado ao risco de choque séptico

apresentado pelos homozigotos TNF -308 AA, quando comparados com os alelos G,

carreadores G e homozigotos GG, respectivamente - Tabela 9.

Em relação ao SNP LTA +252 não foram observadas diferenças estatisticamente

significativas entre os pacientes que desenvolveram choque e os que não desenvolveram

choque (p-global=0.7138, com e sem correção). A frequência dos genótipos LTA +252

GA e GG, bem como do alelo G e carreador G não apresentaram diferença

estatisticamente significativa entre os dois grupos (tabela 9).

93 

 

Tabela 9: Frequências de genótipos, alelos, carreadores e haplótipos para SNPs TNF ‐308 e LTA +252 de pacientes internados na UPG/IFF sob ventilação mecânica que evoluiram com e sem choque séptico. 

Desenvolvimento de Choque 

Genótipo / Alelo Não‐Choque 

n (%) Choque   n (%) 

OR (IC 95%; p‐valor)  OR (IC 95%; p‐valor)* 

 

TNF ‐308         

GG  115  209 (0.81)  Referência  Referência 

GA  36 (0.24)  40 (0.16)  0.61 (0.37 – 1.01; p = 0.056)  0.62 (0.37 – 1.03; p = 0.066) 

AA  2 (0.01)  8 (0.03)  2.20 (0.46 – 10.54; p = 0.32)  1.87 (0.38 – 9.06; p = 0.43) 

Total#  153  257  p‐global = 0,07957  p‐global = 0,07957 

Alelo A  40 (0.13)  56 (0.11)  0.81 (0.44 – 1.50; p = 0.51)  0.79 (0.43 – 1.47; p = 0.46) 

Alelo G  266  458 (0.89)  Referência  Referência 

Carreador A  

38 (0.25)  48 (0.19)  0.69 (0.43 – 1.13; p = 0.14)  0.69 (0.42 – 1.12; p = 0.14) 

LTA +252         

AA  43 (0.34)  86 (0.38)  Referência  Referência 

GA  64 (0.50)  105 (0.46)  0.82 (0.51 – 1.33; p = 0.42)  0.86 (0.53 – 1.41; p = 0.56) 

GG  21 (0.16)  36 (0.16)  0.86 (0.45 – 1.64; p = 0.64)  0.91 (0.47 – 1.76; p = 0.78) 

Total##  128  227  p‐global = 0,7138  p‐global = 0,71379 

Alelo A  150  277 (0.61)  Referência  Referência 

Alelo G  106  177 (0.39)  0.90 (0.58 – 1.41; p = 0.65)  0.94 (0.60 – 1.47; p = 0.78) 

Carreador G  

85 (0.66)  141 (0.62)  0.83 (0.53 – 1.31; p = 0.42)  0.88 (0.55 – 1.40; p = 0.58) 

Haplótipos         

+252 A / ‐308 A  0,02142  0,00984  2.22 (0.55 – 8.90; p = 0.26)  2.45 (0.59 – 10.24; p = 0.22) 

+252 A / ‐308 G  0,57034  0,59928  Referência  Referência 

+252 G / ‐308 A  0,10882  0,09986  1.33 (0.80 – 2.21; p = 0.27)  1.34 (0.80 – 2.23; p = 0.27) 

+252 G / ‐308 G  0,29942  0,29102  1.11 (0.77 – 1.59; p = 0.57)  1.05 (0.72 – 1.52; p = 0.81) 

         

*OR e p‐valores adjustados para as covariáveis gênero, raça, idade e doença de base. # 2 Pacientes Sem Choque Séptico e 12 Pacientes com Choque Séptico não foram genotipados para TNF ‐308. ## 27 Pacientes Sem Choque Séptico e 42 Pacientes com Choque Séptico não foram genotipados para LTA +252. 

94 

 

Seção 5 – Relação entre Óbito e Marcadores Genéticos

Apesar do teste global, realizado através do modelo GLM de distribuição

genotípica, demonstrar valor estatísticamente significativo entre as frequências dos

genótipos do SNP TNF -308 nos pacientes que evoluíram para alta e óbito (p-

global=0.04413, com e sem correção – Tabela 10), quando individualmente analisados

os genótipos e alelos, não foi observada associação estatisticamente significativa.

O padrão de proteção para a evolução para o óbito apresentado pelos

heterozigotos TNF -308 GA (OR ajustada=0.26; p=0.07), alelos TNF -308 A e

carreadores A não alcançou significância estatística, quando comparados com

homozigotos GG, alelos G e carreadores G, respectivamente (referências). O padrão de

risco sugerido pelos homozigotos TNF -308 AA, quando comparados com os

homozigotos GG, também não foi estatisticamente significativo (OR ajustada=2.18;

p=0.34) (tabela 10).

Em relação ao SNP LTA +252 foi observada a mesma situação. Apesar de um

teste global apresentar resultado significativo entre os pacientes que sobreviveram e os

que não sobreviveram (p-global=0.02745, com e sem correção), as frequências dos

genótipos e alelos analisados individualmente não apresentaram diferença

estatisticamente significativa entre os dois grupos (tabela 10).

Devido ao número reduzido de pacientes que não sobreviveram, não foi possivel

realizar a análise estatística dos haplótipos, já que os subgrupos representantes de cada

haplótipo apresentaram números amostrais muito pequenos, o que não foi comportado

pelo modelo estatístico utilizado.

95 

 

Tabela 10: Frequências de genótipos, alelos, carreadores e haplótipos para SNPs TNF ‐308 e LTA +252 de pacientes sobreviventes e não‐sobreviventes internados na UPG/IFF sob ventilação mecânica. 

    Genótipo / Alelo             Altas 

n (%) Óbitos    n (%) 

OR (IC 95%; p‐valor)  OR (IC 95%; p‐valor)* 

 

TNF ‐308         

GG  293 (0.78)  31 (0.89)  Referência  Referência 

GA  74 (0.20)  2 (0.06)  0.25 (0.06 – 1.09; p = 0.06)  0.26 (0.06 – 1.10; p = 0.07) 

AA  8 (0.02)  2 (0.06)  2.36 (0.48 – 11.62; p = 0,29)  2.18 (0.44 – 10.88; p = 0,34) 

Total#  375  35  p‐global = 0,04413  p‐global = 0,04413 

Alelo A  90 (0.12)  6 (0.09)  0.69 (0.20 – 2.34; p = 0.55)  0.68 (0.20 – 2.31; p = 0.53) 

Alelo G  660 (0.88)  64 (0.91)  Referência  Referência 

Carreador A  

82 (0.22)  4 (0.11)  0.46 (0.16 – 1.34; p = 0.156)  0.46 (0.16 – 1.34; p = 0.15) 

LTA +252         

AA  116 (0.36)  13 (0.43)  Referência  Referência 

GA  161 (0.50)  8 (0.27)  0.44 (0.18 – 1.10; p = 0.08)  0.46 (0.18 – 1.16; p = 0.10) 

GG  48 (0.15)  9 (0.30)  1.67 (0.67 – 4.17; p = 0.27)  1.78 (0.70 – 4.54; p = 0.22) 

Total##  325  30  p‐global = 0,02745  p‐global = 0,02745 

Alelo A  393 (0.60)  34 (0.57)  Referência  Referência 

Alelo G  257 (0.40)  26 (0.43)  1.17 (0.55 – 2.49; p = 0.68)  1.22 (0.57 – 2.62; p = 0.61) 

Carreador G  

209 (0.64)  17 (0.57)  0.73 (0.34 – 1.55; p = 0.41)  0.76 (0.35 – 1.65; p = 0.48) 

Haplótipos         

+252 A / ‐308 A  0,01612  0,00000  ND  ND 

+252 A / ‐308 G  0,58941  0,57799  ND  ND 

+252 G / ‐308 A  0,10380  0,08920  ND  ND 

+252 G / ‐308 G  0,29068  0,33281  ND  ND 

         

*OR e p‐valores adjustados para as covariáveis gênero, raça, idade e doença de base. # 13 Sobreviventes e 1 Não‐Sobrevivente não foram genotipados para TNF ‐308. ## 63 Sobreviventes e 6 Não‐Sobreviventes não foram genotipados para LTA +252.  ND – Resultado Não‐Disponível.   

96 

 

10. Discussão

O estudo em questão permitiu a observação das frequências genotípicas, alélicas

e haplotípicas de polimorfismos dos genes do TNF na posição -308 e da LTA na posição

+252, em crianças saudáveis e pacientes pediátricos criticamente enfermos, além de

correlação com características demográficas e clínicas dos pacientes.

Com relação ao gênero, não foi observada diferença estatisticamente

significativa entre o grupo de crianças saudáveis e o grupo de pacientes, assim como

entre os pacientes que desenvolveram choque séptico ou SDRA. Muitos autores

também não encontraram diferenças estatisticamente significativas em relação às

características demográficas de pacientes ao correlacionar os SNPs TNF -308 e LTA

+252 com infecção (Azim et al., 2007; Barber et al., 2006; Gordon et al., 2004; Kahlke

et al., 2004; Mira et al., 1999; Nakada et al., 2005; Shallub et al., 2009). No entanto,

estes resultados conflitam com outros dados na literatura que sugerem uma maior

susceptibilidade à sepse para o sexo masculino (Martin et al., 2003), bem como de sepse

e disfunção orgânica após trauma (Oberholzer et al., 2000), além de maior mortalidade

em homens que em mulheres com sepse grave (Adrie et al., 2007). Apesar da relativa

escassez de dados na população pediátrica, Watson e colaboradores demonstraram uma

taxa significativamente mais alta de sepse grave em meninos com menos de dez anos de

idade, que em meninas (2005). Hipotetiza-se que os hormônios sexuais possam exercer

efeitos reguladores potentes em funções imunes variadas, sendo os androgênios

imunossupressores e os estrogênios protetores, em sepse induzida em modelos animais

(Oberholzer et al., 2000). Estudos genéticos também ressaltaram a vulnerabilidade do

97 

 

sexo masculino, como o estudo de Schröder e colaboradores, que observou aumento da

taxa de letalidade estatisticamente significativa em homens homozigotos para o LTA

+252 AA quando comparadas aos outros genótipos (2000) e estudo americano que

mostrou predisposição à sepse grave no SNP LTA +252, modulada pelo gênero e idade

(Watanabe et al., 2010).

Com relação à faixa etária houve diferença estatisticamente significativa entre

crianças saudáveis e pacientes da UPG. O predomínio claro de lactentes (79%) no grupo

de crianças saudáveis pode ser explicado pelo fato de elas terem sido recrutadas, em sua

maioria, do ambulatório de puericultura (93%). Como se sabe, os lactentes constituem a

faixa etária com recomendação de consultas mais freqüentes para acompanhamento de

crescimento e desenvolvimento, com consultas mensais ou a cada dois meses, enquanto

a faixa etária escolar tem a sua recomendação de consulta pediátrica semestral a anual.

É importante ressaltar também que o grupo de adolescentes foi pouco encontrado na

população de crianças saudáveis do ambulatório de pediatria, em virtude do Instituto

Fernandes Figueira dispôr de um ambulatório próprio e especializado para esta faixa

etária, o qual não foi abordado.

O predomínio de lactentes (66%) encontrado no grupo de pacientes é similar ao

padrão descrito na literatura. A idade tem sido descrita como um dos fatores mais

influentes na freqüência de sepse grave nos EUA e outros países, tendo um estudo

evidenciado que a faixa etária de lactentes apresentava um risco 10 vezes maior para

desenvolvimento de sepse grave e choque séptico quando comparada com crianças

maiores (Watson et al., 2005).

98 

 

Com relação à cor da pele, não foi encontrada diferença estatisticamente

significativa entre pacientes e crianças saudáveis, assim como para o desenvolvimento

de choque séptico, SDRA e óbito. Alguns estudos já demonstraram a relação de

diferentes desfechos clínicos com raça, como freqüência maior na incidência de sepse

grave e letalidade secundária à sepse na população negra (Barnato et al., 2008), maior

mortalidade por SDRA em pacientes adultos não-brancos (TenHoor et al., 2001) e em

afro-americanos (Moss et al., 2002). É importante ressaltar que a classificação de raças

utilizadas nos sistemas norte-americano, onde foram conduzidos estes estudos leva em

consideração a ascendência, diferentemente do sistema brasileiro que classifica as

pessoas a partir de sua “aparência”. No Brasil, é possível distinguir duas formas de

classificação: a primeira é um estilo binário ou bipolar, em que há apenas duas

categorias - negros e brancos; enquanto na segunda há um estilo múltiplo, em que há

três categorias - negros, brancos e mulatos. Este é o tipo oficial do censo brasileiro

(IBGE), que solicita que as pessoas se classifiquem como “brancas”, “pretas”, “pardas”,

“amarelas” ou “indígenas” (Fry et al., 2005).

Diversos estudos tentaram caracterizar a ascendência da população brasileira

através de marcadores genéticos. Alves-Silva e colaboradores demonstraram

contribuição genética extremamente alta de ameríndios e africanos no DNAmt de

brasileiros (2000). Já Carvalho-Silva e colaboradores demonstraram que a maioria dos

cromossomos Y de homens brasileiros era de origem européia, com uma baixa

frequência de cromossomos africanos e completa ausência de contribuições ameríndias

(2001). Mais recentemente, Parra e colaboradores publicaram estudo que correlacionava

ancestralidade genômica com a cor da pele, através da utilização de um painel de alelos

específicos. Os autores demonstraram variações e sobreposições importantes entre as

99 

 

categorias brancos, negros e pardos, sugerindo que, no Brasil, a cor da pele,

determinada por avaliação física, não é bom preditor de ancestralidade genômica

(2003).

Uma limitação de muitos estudos genéticos de associação é a composição da

população de pacientes e controles a partir de grupos étnicos diferentes. Atualmente,

sabe-se que a frequência de muitos polimorfismos varia entre diferentes grupos étnicos

e tais comparações só devem ser realizadas dentro de um mesmo grupo (Dahmer et al.,

2005), já que sua frequência pode ser influenciada pela ancestralidade, sendo

encontradas diferenças na distribuição alélica entre populações etnicamente distintas em

diversos estudos (Myles et al., 2008; Mattei et al., 2009; Pemberton et al., 2008;

Ioannidis et al., 2004; Spielman et al., 2007; Goddard et al., 2000; Hoffmann et al.,

2002).

Ao comparar frequências alélicas do TNF -308 entre o Brasil e outros países,

Franceschi e colaboradores encontraram diferenças, sendo o alelo A menos frequente

nas populações asiáticas (2,8%) quando comparado com os estudos brasileiros (13,4%)

(2009). Visentainer e colaboradores encontraram frequências dos genótipos do TNF -

308 muito similares entre a população brasileira e os europeus e caucasóides americanos

(2008). Dentro da população brasileira, Albuquerque e colaboradores compararam a

frequência do SNP TNF -308 entre a população do Rio de Janeiro e índios Terena,

ameríndios localizados na região centro-oeste do Brasil, demonstrando que 100% dos

índios apresentavam o genótipo TNF -308 GG e 0% de alelos A, enquanto entre a

população geral brasileira, a frequência do alelo A foi de 18,9%. No entanto, apesar da

população brasileira ser composta por grupos geneticamente heterogêneos, em estudo

recente não encontrou diferenças nas frequências do SNP TNF -308 entre populações

100 

 

provenientes da região sul e sudeste do país (Visentainer et al., 2008). Assim, apesar da

influência da ancestralidade descrita na frequência dos alelos relacionados às citocinas,

ainda são poucos os dados publicados no Brasil e a correlação entre ancestralidade e

raça neste país é pouco definida.

No presente estudo, os pacientes e crianças saudáveis foram agrupados segundo

a cor da pele, sendo categorizada de forma binária, em “brancos” e “não-brancos”.

Ainda assim, por ser o grupo de “brancos” no Brasil altamente miscigenado e não ter

sido realizado estudo genético para determinação de ascendência, esta categorização

reflete apenas divisão de raça segundo o fenótipo, na população estudada.

Como não foi encontrada diferença estatisticamente significativa com relação às

características demográficas, não foi realizada estratificação dos pacientes segundo as

mesmas. Entretanto, como alguns estudos ressaltam sua importância, as características

demográficas foram mantidas como covariáveis e ajustadas em todas as análises

estatísticas realizadas. No entanto, a utilização destes critérios de correção alterou os

valores de OR minimamente, sugerindo que estas variáveis provavelmente não

constituíram fatores de confundimento na população estudada, através da abordagem

utilizada.

Neste estudo, foram analisadas características clínicas de todos os pacientes

incluídos e avaliados os principais desfechos relacionados à morbidade pela sepse:

choque séptico, SDRA e óbito.

Dos pacientes submetidos à ventilação mecânica incluídos no estudo, 63,4%

apresentaram choque séptico, sendo que destes, 11,5% não sobreviveram. Um estudo de

101 

 

coorte americano realizado em 2003 descreveu uma taxa de mortalidade similar de

13,5% em crianças com choque séptico (Kutko et al., 2003).

A frequência de SDRA na população submetida à ventilação mecânica da

UPG/IFF envolvida neste estudo foi de 28%, o que foi menor do que a encontrada em

um estudo de Flori e colaboradores que mostrou uma incidência de 67% de SDRA

(2005). No entanto, o estudo de Flori avaliou pacientes já com diagnóstico de lesão

pulmonar aguda, sendo este utilizado como critério de inclusão, o que pode justificar

maior incidência de SDRA (Flori et al., 2005).

No grupo de pacientes avaliados, cerca de 99,3% apresentaram disfunção

orgânica, tendo a maior parte dos pacientes apresentado dois órgãos acometidos (35%).

Estes dados são diferentes dos apresentados em estudo americano com pacientes

pediátricos que apresentaram choque séptico, no qual disfunção orgânica estava

presente em 72,9% dos casos, porém estes dados refletem a análise de todos os

pacientes internados naquela UTI (Kutko et al., 2003).

A correlação encontrada entre choque séptico, SDRA e DMOS nas análises de

todos os subgrupos já era esperada, já que o mecanismo fisiopatológico para o

desenvolvimento das três patologias é semelhante, baseado na resposta inflamatória

sistêmica, insulto celular e tecidual. Desta forma, as frequências de SDRA e DMOS

foram maiores nos pacientes com choque séptico, assim como as três patologias foram

maiores nos pacientes que não sobreviveram (tabelas 5, 6 e 7).

Com relação ao tempo de internação, o tempo médio observado nos pacientes da

UPG foi de 14,5 dias, sendo a mediana de 10 dias. Dados similares foram obtidos em

um grande estudo epidemiológico americano, no qual o tempo médio de internação

102 

 

hospitalar de crianças com sepse grave foi de 19 dias, apesar de incluir o tempo de

internação também fora da UTI (Watson et al., 2005). No presente estudo, foi

observado tempo de internação maior do que sete dias em: 62% do total de pacientes,

89% dos pacientes com SDRA e 60,5% dos pacientes com choque séptico. O tempo de

internação mais prolongado nos quadros de SDRA e choque séptico pode ser decorrente

da necessidade de tratamento clinico intensivo prolongado para conter o quadro

inflamatório sistêmico e pulmonar grave. No entanto, é importante ressaltar que, quando

são observados apenas os pacientes que não sobreviveram, percebe-se tempo de

internação mais curto, já que 75% dos pacientes que não sobreviveram faleceram nos

primeiros sete dias, tanto para o grupo geral de pacientes (tabela 7), quanto para os

pacientes com SDRA e choque séptico (tabelas 5 e 6, respectivamente). Este dado

ressalta a importância do tratamento em terapia intensiva, principalmente se instituído a

tempo, além de alertar para a possibilidade de que os pacientes que evoluíram para óbito

em tão pouco tempo de internação na UTI possam ter sido expostos a um insulto inicial

de máxima gravidade ou possam estar chegando muito tardiamente ao serviço.

Com relação a análise dos óbitos, a taxa de mortalidade na população estudada

foi de 8,5%, dado similar ao obtido quando analisados todos os pacientes internados na

UPG/IFF no mesmo período (8,1%). Semelhantemente, um estudo com crianças

americanas que apresentavam sepse grave mostrou mortalidade hospitalar de 10,3%,

sendo 7,8% em crianças previamente saudáveis e 12,8% em crianças com doenças

crônicas (Watson et al., 2005). Angus e colaboradores também reportaram taxa de

mortalidade em unidades de terapia intensiva de 10% em crianças com sepse grave,

refletindo análises de dados coletados em sete estados americanos (2001).

103 

 

A frequência de óbitos nos pacientes com SDRA (18,2%), no entanto, foi menor

do que a publicada na literatura, que aponta mortalidade de 20% em crianças com LPA

e entre 20-75% nas crianças com SDRA (Flori et al., 2004), chegando a alcançar 61%

de óbito em estudo chinês (Yu et al., 2009).

Com relação à disfunção orgânica, 78% dos pacientes que não sobreviveram

apresentaram mais de três órgãos em disfunção (p=0.000019) – Tabela 7. A correlação

entre DMOS e óbito já foi descrita em estudo americano, no qual pacientes

apresentando DMOS tiveram mortalidade siginificativamente mais alta, sendo que

DMOS estava presente em 100% dos pacientes que não sobreviveram e a taxa de

mortalidade para pacientes que apresentaram DMOS secundária ao choque séptico foi

de 18,6%, sendo 0% nos pacientes que não apresentaram DMOS (Kutko et al., 2003).

Por se localizar em um instituto materno-infantil de alta complexidade, sendo

referência municipal e estadual para várias especialidades médicas, como pré-natal de

alto risco fetal, neurologia e pneumonologia infantis, genética, neonatologia, e cirurgia

infantil, os pacientes assistidos na UPG têm perfil de doenças crônicas e complexas

(Penna e Costa, 2009). Portanto, já era esperado o percentual elevado de crianças

portadoras de doenças crônicas na população estudada (49%), apesar de não haver

predomínio de um sistema especificamente acometido. Este mesmo padrão foi descrito

nos EUA, onde 49% das crianças que desenvolveram sepse grave eram portadoras de

alguma doença crônica, sendo mais comuns as doenças pulmonares crônicas, as

cardiopatias congênitas em lactentes, as doenças neuromusculares em pré-escolares e

escolares e neoplasias em adolescentes (Watson et al., 2005). Não houve diferenças no

desfecho óbito entre pacientes com choque em relação à doença de base, o que foi uma

104 

 

surpresa, já que era esperado que pacientes portadores de comorbidades e que já

apresentassem doença crônica tivessem evolução pior que os previamente hígidos.

Dentre os pacientes avaliados, as principais causas de internação foram as

doenças do sistema respiratório (51%) e o diagnóstico mais frequente foi pneumonia

comunitária. Este dado também é similar ao descrito na literatura e o sítio de infecção

varia com a idade, sendo que lactentes tendem a apresentar bacteremia primária,

enquanto quase metade das crianças maiores tem infecção do trato respiratório, sítio

mais frequentemente acometido em crianças (Watson et al., 2005). O predomínio do

sistema respiratório como causa de internação nos pacientes que evoluíram com SDRA

também era esperado (tabela 5), já que a infecção pulmonar contribui para a piora da

inflamação local associada com a sistêmica (Pelosi et al., 2003; Bernard et al., 1994).

Dos pacientes incluídos no presente estudo, 48% tiveram algum germe isolado

durante a internação na UPG, sendo as bactérias as mais frequentemente isoladas (32%).

Este percentual de germes isolados é similar ao publicado na literatura em outros

centros, sendo descritos 55,6% de culturas positivas provenientes de qualquer sítio em

pacientes adultos com pneumonia comunitária em estudo espanhol multicêntrico (Solé-

Violán et al., 2009). Ainda em relação aos agentes infecciosos, 17% dos pacientes

estudados apresentaram infecção viral documentada, o que demonstra uma frequência

alta de infecção viral grave com necessidade de atendimento intensivo em pacientes

pediátricos.

Os polimorfismos relacionados às posições -308 do gene do TNF e +252 do gene

da LTA foram escolhidos em virtude de sua associação descrita por vários estudos que

avaliavam susceptibilidade à sepse, evolução para choque séptico e óbito.

105 

 

Em relação à distribuição do TNF -308, o predomínio em ambos os grupos de

homozigotos GG (aproximadamente 80%) e a presença de muito poucos homozigotos

AA (1 e 2%) entre a população estudada foi similar às frequências descritas na literatura

para a população brasileira (Franceschi et al, 2009; Santos et al, 2002; Visentainer et al.,

2008). Em relação ao SNP LTA +252, não houve predomínio claro de nenhum genótipo,

porém tanto pacientes, quanto crianças saudáveis apresentaram maior quantidade de

heterozigotos LTA +252 GA (48 e 47%, respectivamente) em relação ao homozigoto

AA (36 e 41%). A frequência do alelo A foi similar à descrita na literatura para a

população brasileira (Roxo et al., 2003), sendo mais frequente o alelo A em crianças

saudáveis (64%) e em pacientes (60%).

No grupo de crianças saudáveis, a análise dos genótipos e alelos demonstrou

distribuição de frequências genotípicas e alélicas em EHW, o que afasta possíveis erros

relacionados à genotipagem, permite a verificação da frequência dos genótipos

estudados em população similar aos pacientes envolvidos na análise, além de reafirmar

a qualidade do presente estudo. Um estudo inglês demonstrou que o desvio do EHW em

amostras aleatórias pode ser indicativo de problemas na genotipagem (Hosking et al.,

2004). Erros em dados genotípicos podem acontecer devido a uma variedade de

motivos, como desvios no grupo controle, trocas no manuseio das amostras e problemas

no processo de genotipagem. A presença de erros na genotipagem em dados de

indivíduos não relacionados tem impacto considerável na análise de dados

subsequentes, já que não há como checar consistência Mendeliana em tais dados. Ainda,

pequenos erros, mesmo ao redor de 3%, já podem afetar adversamente as medidas do

EHW (Hosking et al., 2004). Desta forma, é importante que a população estudada se

106 

 

encontre em EHW, principalmente os controles, além da utilização de amostras-padrão

para validação do método de genotipagem utilizado (Pacheco e Moraes, 2009).

A população de pacientes da UPG também se encontrava em EHW para os

genótipos do LTA +252, no entanto, discretamente desequilibrada quando o mesmo teste

foi realizado para o genótipo TNF -308 (χ2= 4,38). Todas as amostras de pacientes e

crianças saudáveis homozigotos TNF -308 AA tiveram a genotipagem repetida e seus

resultados foram confirmados, além de terem sido excluídos todos os indivíduos que

apresentassem parentesco co-sanguíneo. No entanto, o EHW pode ser alterado por

outros fatores. Populações pequenas podem apresentar eventos causais que alterem

radicalmente uma frequência do alelo, assim como populações que contenham

subgrupos cujos membros optem por casar entre si preferencialmente. A violação da

suposição de acasalamento aleatório pode causar grandes desvios da frequência de

indivíduos homozigotos através de três fenômenos distintos: estratificação populacional,

casamento preferencial e consanguinidade. Por outro lado, mudanças na frequência de

alelos devido à mutação, seleção ou migração normalmente ocorrem lentamente e

causam menores e mais delicados desvios do EHW (Thompson & Thompson, 2007).

Portanto, o discreto desequilíbrio apresentado pelo gupo de pacientes em relação ao

TNF -308 pode sugerir associação com doença, relacionada ou não com o alelo em

investigação, diferenças na constituição da população, cruzamentos preferenciais e

outros processos independentes não-detectados.

Os pacientes heterozigotos TNF -308 GA apresentaram uma chance três vezes

menor de desenvolvimento de SDRA, quando comparados aos homozigotos GG

(OR=0.33; p-valor = 0.0024). O mesmo padrão de proteção à SDRA foi observado nos

carreadores TNF -308 A, que apresentaram 2,3 vezes menos chances de evoluir com

107 

 

SDRA, quando comparados com os carreadores G (OR=0.43; p=0.0074). O padrão de

proteção apresentado para o desenvolvimento de SDRA em pacientes com o genótipo

TNF -308 GA foi similar ao sugerido por Gong e colaboradores, único estudo na

literatura que correlacionou este SNP com SDRA (2005). Efeitos deletérios do alelo

TNF -308 A quando em homozigose não foram estatisticamente significativos,

provavelmente pelo reduzido número de pacientes homozigotos AA.

O alelo A do TNF -308 está associado com uma maior produção da citocina

TNF (Dahmer et al., 2005; Terry et al., 2000; Wilson et al., 1997; Louis et al., 1998),

que quando muito aumentada resulta em desequilíbrio e resposta inflamatória sistêmica

exagerada (Ulloa et al., 2005; Dahmer et al., 2005; Tracey et al., 2005). No entanto, a

liberação inicial de TNF em quantidades aumentadas é essencial para uma resposta

imune adequada (Oberholzer et al., 2001). Assim, com base nos resultados encontrados

no presente estudo, o alelo TNF -308 A foi considerado como protetor para o

desenvolvimento de SDRA quando em heterozigose, o que poderia significar que para

que haja um efeito protetor da SDRA seria necessário ter uma produção forte o

suficiente de TNF para conter a infecção, mas não tão forte que causasse injuria

pulmonar grave. Como alguns estudos já demonstraram aumento da produção de TNF

em individuos portadores do alelo A, seria interessante avaliar se existem diferentes

níveis de produção baseados nos genótipos, o que não foi realizado no presente estudo.

Assim, é possivel que o genótipo TNF –308 GA possa estar relacionado com uma

produção intermediária de TNF, o TNF –308 AA com uma produção maior e o TNF –

308 GG com uma produção menor.

Outra possibilidade para justificar a menor frequência de desenvolvimento de

SDRA nos pacientes com genótipo TNF -308 GA pode ser a presença de “vantagem do

108 

 

heterozigoto”. Um exemplo bem conhecido de vantagem do heterozigoto é a resistência

à malária nos heterozigotos para anemia falciforme, que não apresentam doença

falcêmica clínica e suas hemácias são inóspitas para o organismo da malária,

apresentando resistência a esta doença (Alisson e Phil, 1954). Assim, ao longo do

tempo, há aumento na frequência de um alelo mutante, que é extremamente prejudicial

quando em homozigose. A vantagem do heterozigoto também tem sido proposta para

explicar as altas frequências de fibrose cística em populações brancas e da Doença de

Tay-Sachs e outros distúrbios que afetam o metabolismo de esfingolipídeos na

população judaica Ashkenazi (Thompson & Thompson, 2008).

A vantagem do heterozigoto ocorre quando embora certos alelos mutantes sejam

deletérios quando em homozigose, há condições ambientais nas quais os heterozigotos

tenham aptidão aumentada não apenas sobre homozigotos para os alelos mutantes, mas

também para os alelos normais, culminando com seleção positiva dos heterozigotos

(Thompson & Thompson, 2008). Assim, no que diz respeito apenas às doenças, para

mutações e polimorfismos serem preservados no genoma humano, apesar da

predisposição a um desfecho deletério secundário a uma doença, uma vantagem na

sobrevivência a outra doença (outra infecção ou neoplasias, por exemplo) é possível ou

necessária (Waterer et al., 2005). Desta forma, é possivel que os homozigotos AA e GG

estejam relacionados a outros desfechos deletérios que envolvam o paciente

criticamente enfermo que não foram abordados neste estudo. A seleção positiva dos

heterozigotos ainda não causa impacto na distribuição genotipica da população geral, o

que pode ser justificado pela frequência rara do desfecho SDRA e associação do

genótipo GA com outro desfecho deletério mais frequente do que a SDRA.

109 

 

Apesar da associação descrita por Gong e colaboradores entre o

desenvolvimento de SDRA e o SNP LTA +252 (2005), não foi encontrada associação

estatisticamente significativa entre este SNP e SDRA na população estudada.

O haplótipo LTA +252 A/TNF -308 G foi o mais frequente em pacientes com e

sem SDRA, conforme era esperado pela sua maior frequência na população. Houve uma

menor frequência dos haplótipos contendo TNF -308 A, nos pacientes com SDRA

quando comparados aos sem SDRA, sugerindo a proteção conferida pelos carreadores A

descrita anteriormente. No entanto, após realização de regressão logística, não houve

associação estatisticamente significativa entre haplótipos específicos e o

desenvolvimento de SDRA.

Com relação ao desenvolvimento de choque séptico, não foi encontrada

diferença estatisticamente significativa entre os genótipos relacionados ao SNP TNF -

308 e ao SNP LTA +252.

Com relação ao desfecho óbito, o p-valor global demonstrou diferença nas

frequências de genótipos tanto para TNF –308 quanto para LTA +252 entre os pacientes

que sobreviveram e os que não-sobreviveram (p=0.04413). No entanto, quando

analisado cada genótipo individualmente, nenhuma associação estatisticamente

significativa foi encontrada entre dados genotípicos e óbito secundário à sepse na

população estudada. Isto pode ser explicado devido ao pequeno número de pacientes

que não sobreviveram (36/424), existindo necessidade de aumento amostral para

definição correta do padrão sugerido. De fato, um ensaio clínico deveria incluir

aproximadamente 1.500 crianças com choque séptico para apresentar poder suficiente

na detecção de diferenças nas taxas de mortalidade (Burns et al., 2003). Desta forma, a

110 

 

baixa incidência de óbito secundário à sepse pediátrica requer estudos em grandes

populações para determinar associações positivas entre causa e óbito em estudos em

crianças (Watson e Carcillo, 2005).

A análise estatística de associação entre os haplótipos e o desfecho óbito não foi

possível, devido ao número reduzido de pacientes que não sobreviveram. No entanto, ao

observar as frequências descritas, nenhum dos pacientes que não sobreviveram

apresentavam haplótipo LTA +252 A/TNF -308 A, além do haplótipo LTA +252 G/TNF

-308 G ser mais frequente nos pacientes que evoluiram para o óbito do que nos

sobreviventes. Este resultado sugere um padrão de proteção relacionado ao alelo TNF -

308 A, que no entanto não apresentou significância estatística após a regressão logística.

Os principais estudos publicados na literatura para avaliação da função genética

na infecção são estudos de associação, que comparam a incidência de variações

genéticas específicas em uma população com infecção e em uma população controle.

Mais de 80% dos estudos publicados na literatura utiliza desenhos caso-controle

utilizando marcadores genéticos, como SNPs, em genes escolhidos por sua associação

fisiológica e implicação biológica com a doença (genes candidatos) (Pacheco e Moraes,

2009). A evidência de estudos de associação não é tão forte e deve preencher rigorosos

critérios para aceitação. A variação genética deve ser suficientemente comum em uma

porção significativa da população, portanto, a maioria dos estudos de associação

genética examina polimorfismos. Os desfechos também devem ser suficientemente

frequentes e rígidos, a fim de permitir adequadas comparações. É por este motivo que a

maioria dos estudos foca em pneumonia, sepse e meningite, já que estas infecções estão

associadas com as maiores taxas de letalidade (Wunderink et al., 2003).

111 

 

Há várias limitações nos estudos de associação genética entre polimorfismos e

sepse descritos na literatura. Em muitos destes estudos, a frequência do polimorfimo no

grupo de pacientes com sepse é comparada com a frequência do polimorfismo em uma

população controle saudável. Entretanto, o grupo controle pode não ter sido exposto aos

mesmos patógenos aos quais o grupo de pacientes com sepse foi exposto (Dahmer et

al., 2005). Não se pode concluir, a partir de tais comparações, que o grupo que

desenvolveu sepse tem um risco aumentado de sepse, sem que exista um grupo controle

similarmente exposto, escolhido a partir da mesma população-fonte que originou os

casos. Portanto, o grupo controle mais apropriado para comparação de estudos genéticos

de associação com doenças infecciosas seria um grupo de pacientes com infecção

similar que, no entanto, não desenvolveu sepse. Assim, o principal critério que define se

um indivíduo pode ou não ser utilizado como controle é o fato de ser um caso em

potencial (Cardon e Bell, 2001).

Vários problemas metodológicos podem explicar muitas das discrepâncias

encontradas entre os estudos de associação genética, como: poder estatístico limitado,

populações heterogêneas com fatores de confundimento não reconhecidos, definições

inadequadas dos fenótipos, presença de desequilíbrio de ligação e estratificação das

populações (Solé-Violán et al., 2009).

Os resultados divergentes encontrados em estudos de associação genética na

literatura vigente enfatizam a necessidade de estudos futuros com amostra maior,

incluindo múltiplos polimorfismos e melhor desenhados no que diz respeito ao grupo

controle, para identificar corretamente o grau de influência que a variabilidade genética

tem na sepse (Dahmer et al., 2005). Confirmações dos achados dos estudos já

publicados, bem como associações subsequentes com outros polimorfismos genéticos,

112 

 

aguardam estudos populacionais de larga escala para esclarecer as relações entre fatores

genéticos e não-genéticos possivelmente relacionados a tais desfechos (Wunderink et

al., 2003). Conforme descrito por Pacheco e colaboradores, estudos de associação

genética devem apresentar tamanho amostral adequado para alcançar poder suficiente

para a detecção de diferença significativa entre casos e controles, porém ao mesmo

tempo cautelosos para não desperdiçar recursos com estudos superdimensionados

(2009).

O presente estudo incluiu crianças de um único centro, o que talvez crie um viés

na amostra em questão, dificultando a extrapolação dos resultados para outras

populações. No entanto, permitiu a uniformização do cuidado e a utilização de

protocolos clínicos universais e específicos, sendo criteriosamente utilizados consensos

e os padrões atualmente aceitos na literatura para definição de todos os desfechos

utilizados nas correlações com os genótipos estudados. Isto ajuda a minimizar os erros

de classificação demográfica e clínica, diminuindo eventuais fatores de confundimento

no tratamento clínico disponibilizado aos pacientes e assegurando que um paciente

definido como caso realmente apresente o desfecho em questão.

Uma limitação do estudo é a miscigenização da população brasileira, o que

impede a exclusão de fatores de confundimento relacionados à raça, também impedindo

a categorização criteriosa da população em questão. No entanto, como anteriormente

descrito, esta é uma característica da população brasileira, sendo necessários estudos

para determinação da ancestralidade e caracterização adequada dos grupos étnicos, a

fim de diminuir possíveis questionamentos.

A inclusão de pacientes com sepse primária clínica e secundária a cirurgias em

um mesmo grupo, também pode configurar certa limitação na extrapolação dos

113 

 

resultados. No entanto, a sepse que evolui de forma desfavorável, com necessidade de

ventilação mecânica é muito menos frequente em pacientes pediátricos que em adultos,

o que culminaria em diminuição substancial na amostra de pacientes incluídos e poder

estatístico do estudo, caso fosse realizada esta estratificação da população. Isto também

impede que se realizem análises em pequenos subgrupos, como pacientes internados

com pneumonia, meningococcemia e dengue, devido ao reduzido número de pacientes

admitidos com uma mesma doença em um único centro, também resultando em

diminuição do poder estatístico do estudo.

Neste estudo, apenas dois polimorfismos relacionados à produção de citocinas

foram avaliados. A importância funcional de muitos destes polimorfismos ainda está

por ser elucidada e muitos SNPs podem simplesmente representar marcadores

genotípicos para outras variantes genéticas mais funcionalmente relevantes em

desequilíbrio de ligação, o que também é uma limitação do estudo (Solé-Violán et al.,

2009). Ainda, devem ser realizados estudos posteriores para comprovação do efeito

funcional dos SNPs estudados na população pediátrica, através de dosagens sanguíneas

seriadas das citocinas em questão.

Uma limitação de estudos de associação da distribuição de SNPs com evolução

clínica é que na maioria dos casos, investigadores descrevem a associação entre um

polimorfismo específico e susceptibilidade a uma doença ou evolução clínica.

Entretanto, o SNP que está sendo investigado pode não estar envolvido diretamente,

mas estar proximamente ligado a outra variante genética efetivamente causadora da

associação (Dahmer et al., 2005). Além disso, já foi amplamente descrita na literatura a

existência de uma forte associação entre os SNPs TNF -308 G e LTA +252 A, indicando

que tais polimorfismos não devem ser avaliados isolamente (Waterer et al., 2005).

114 

 

Assim, outro ponto positivo de nosso estudo é a avaliação de ambos os SNPs na maior

parte dos pacientes, assim como a análise de haplótipos quando possível, a fim de evitar

possíveis conclusões inadvertidas.

Além do SNP TNF -308, polimorfismos adicionais foram descritos ainda na

região promotora do TNF e também podem influenciar a sua produção, incluindo TNF -

238, TNF -376, TNF -863 e TNF -1031. Em relação ao LTA, recentemente foi descrita

associação entre outro SNP, na posição LTA +80, e susceptibilidade à hanseníase,

especialmente em pacientes jovens (Alcaïs et al., 2007), o que pode sugerir possível

correlação entre este SNP e infecção em crianças, no entanto ainda não avaliados em

sepse. Nenhum estudo de associação genotipou todos os sujeitos para todos os loci

polimórficos ao mesmo tempo. Portanto, alguns destes polimorfismos podem apenas

estar em desequilíbrio de ligação, estando o verdadeiro SNP em um locus diferente

(Waterer et al., 2005). Ainda, a proximidade dos genes TNF e LTA com outros genes do

cromossomo 6, também imunologicamente importantes e localizados em área adjacente,

incluindo os loci HLA, sistema complemento e heat shock protein pode representar um

fator complicador. Assim mesmo analisando os SNPs TNF -308 e LTA +252

simultaneamente, pode ser que nenhum dos dois SNPs seja o verdadeiro causador do

desfecho, mas marcadores de outra variação importante nesta região rica em genes

relacionados à resposta inflamatória sistêmica (Waterer et al., 2003).

Apesar de algumas limitações, o presente estudo tem muitos pontos positivos.

Primeiramente, apesar de não ser uma coorte grande o suficiente para diminuir erros

estatísticos relacionados ao tamanho amostral, esta população é a maior já descrita para

estudos de associação de genótipos apenas em pacientes pediátricos sépticos (Balding et

al., 2003 – 183 crianças com doença meningocócica invasiva; Hedberg et al., 2004 –

115 

 

173 recém-natos com extremo baixo peso com bacteremia; McArthur et al., 2002 – 34

crianças com hemocultura positiva; Schueller et al., 2006 – 67 recém-natos prematuros

com sepse; Sipahi et al., 2006 – 53 crianças com sepse grave e Weitkamp et al., 1999 –

23 recém-natos com bacteremia).

É sabido que o tamanho amostral é fator crucial em estudos de associação, já que

interfere diretamente no poder do teste e nas frequências dos alelos, que podem se

alterar em amostras muito reduzidas (Cardon e Bell, 2001). Assim, apesar de o estudo

em questão ter limitado poder para detectar diferenças estatisticamente significativas

para genótipos de menor frequência e desfechos mais raros, particularmente em

pequenos subgrupos de pacientes, um número substancial de pacientes desenvolveu

choque séptico (269 pacientes, 63%) e SDRA (121 pacientes, 28%). Mesmo levando em

consideração apenas as frequências de pacientes nos subgrupos com desfechos

estudados, ainda assim os números de pacientes analisados foram maiores que as

populações gerais descritas nos estudos que correlacionam SNPs e sepse em pediatria

na literatura.

Além de terem sido utilizados critérios rigorosos para a caracterização

demográfica e clínica da população estudada, foram levados em consideração os

possíveis fatores de confundimento que poderiam alterar o impacto das variantes

genéticas na gravidade e evolução das crianças sépticas em todas as análises estatísticas.

O presente estudo demonstrou associação entre o SNP TNF -308 e SDRA em

pacientes pediátricos criticamente enfermos, porém não foi realizado estudo funcional

para determinar e quantificar a produção de TNF em tais pacientes. Devido à

importância da identificação da associação e comprovação do seu significado funcional,

torna-se imprescindível a correlação do polimorfismo do TNF -308 com a produção do

116 

 

TNF em pacientes pediátricos criticamente enfermos e com SDRA. Assim, estudos

laboratoriais devem ser realizados para definir quais polimorfismos são funcionais e

quais são marcadores de polimorfismos não identificados, com os quais estejam em

desequilíbrio de ligação. Apenas após um núcleo de marcadores genéticos bem

validados com significado funcional comprovado, os clínicos e pacientes passarão a

observar os benefícios dos estudos genéticos que estão sendo desenvolvidos neste

momento (Waterer et al., 2005).

117 

 

11. Conclusões

1. Os resultados aqui apresentados sugerem que o SNP TNF -308 está associado ao

desenvolvimento de SDRA em pacientes pediátricos criticamente enfermos,

sendo que os heterozigotos GA e os carreadores A apresentam risco três vezes

menor de evoluir com SDRA, quando comparados aos homozigotos GG e

carreadores G.

2. Não há associação entre o SNP LTA +252 e o desenvolvimento de sepse, choque

séptico ou SDRA na população de pacientes pediátricos criticamente enfermos

estudada.

3. Não há associação entre o SNP TNF -308 e o desenvolvimento de sepse e

choque séptico na população de pacientes pediátricos criticamente enfermos

estudada.

4. Os SNPs TNF -308 GA e LTA +252 GA parecem também se comportar como

protetor para a evolução para o óbito em pacientes pediátricos criticamente

enfermos, no entanto, por ser este desfecho raro na população estudada, são

necessários estudos confirmatórios em populações maiores.

118 

 

12. Perspectivas Futuras

A predisposição genética desempenha importante papel na definição da resposta

a um estímulo infeccioso e na determinação de um resultado após uma intervenção. A

capacidade em detectar polimorfismo genéticos confiavelmente e rapidamente não está

distante e permitirá o manuseio dos pacientes precocemente, preferivelmente de forma a

prevenir a doença, ao invés de tratar suas sequelas (Marshall et al., 2002). Além disso,

alguns autores sugerem que, futuramente, ensaios clínicos passem a definir populações

de pacientes de acordo com seu perfil de expressão de citocinas (Ulloa e Tracey, 2005)

e a incorporação do risco genético nas recomendações de imunizações passe a ser uma

estratégia clínica lógica (Waterer et al., 2005).

O estudo dos polimorfismos do TNF e LTA pode ser útil em selecionar, para

monitorização de cuidados intensivos ou tratamento profilático, pacientes de risco no

pré-operatório em situações sépticas. Além disso, o genótipo pode ser também utilizado

para selecionar pacientes para ensaios clínicos utilizando terapias anti-TNF. Embora

muitos polimorfismos candidatos tenham sido identificados, os dados atuais são

limitados pelo pequeno número de pacientes que foram estudados e pelos resultados

inconsistentes apresentados por diferentes grupos de pesquisa (Waterer et al., 2005).

Estratégias terapêuticas objetivando a modulação da resposta inflamatória do

hospedeiro necessitam levar em consideração a redundância da resposta inflamatória do

hospedeiro e as respostas heterogêneas entre diferentes indivíduos. Assim, poderá

permitir o uso mais racional de terapias imunomoduladoras, tanto com o objetivo de

aumentar, quanto de inibir a resposta imunoinflamatória específica (Wheeler et al.,

119 

 

2001). Ainda, através da identificação de polimorfismos potencialmente deletérios, a

expressão dos genes envolvidos utilizando terapias gênicas específicas poderá ser

modulada (Marshall et al., 2002).

A terapia gênica representa uma nova abordagem para o tratamento da doença,

envolvendo a substituição ou adição de cópias normais de um gene mutante ou em falta

no tratamento de uma desordem relacionada a um único gene herdado (Wheeler et al.,

2001). Abordagens similares podem ser utilizadas no tratamento da sepse ou outras

doenças associadas com uma resposta inflamatória sistêmica alterada. Por exemplo, a

transferência de IL-10 mediada por adenovírus reduziu a resposta inflamatória em

modelos in vivo de lesão pulmonar aguda (Minter et al., 2000 e 2001). Em um outro

exemplo, a expressão de receptor solúvel para o TNF mediada por adenovírus conferiu a

camundongos proteção contra choque mediado por endotoxinas (Kolls et al., 1994).

Embora protocolos para ensaios clínicos que utilizam terapia gênica em humanos

tenham sido aprovados, muitas mudanças significativas ainda são necessárias para que

esta terapia promissora alcance sucesso (Wheeler et al., 2001).

Levando em consideração a rapidez do desenvolvimento na área de genômica e

os avanços continuados da tecnologia microarray, que possibilita o estudo do genoma,

ao invés de apenas um gene, espera-se que mais polimorfismos sejam descobertos em

um futuro próximo (Wheeler et al., 2001).

Assim, pode-se visualizar como perspectiva futura, a possibilidade de determinar

as crianças com potencial de evoluir de forma desfavorável, intensificando sua

vigilância e assistência primária, abordando-a em um momento inicial de um quadro

infeccioso e referindo-a para uma unidade especializada o mais precocemente possível.

Assim, futuramente, a monitorização molecular de acordo com o perfil da criança

120 

 

admitida na Unidade de Pacientes Graves do IFF-FIOCRUZ poderá ser padronizada,

objetivando a estratificação dos pacientes com potencial de maior gravidade e, portanto,

alvo de uma terapêutica mais específica.

121 

 

13. Bibliografia

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14. Anexos

Anexo A

143 

 

144 

 

Anexo B

145 

 

146 

 

Anexo C

147 

 

Anexo D

148 

 

149 

 

150 

 

151 

 

152 

 

153 

 

Anexo E

154 

 

155 

 

156 

 

157 

 

158 

 

159 

 

160