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Edição 02 | Abril de 2011

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UFPR fará réplica de Belo Monte sem ter discutido impactos da obra Número de transplantes cai no Paraná Educação especial ainda falha na inclusão de estudantes com deficiência Políticas públicas tentam reverter o quadro de abandono aos moradores de rua em Curitiba Curitiba busca seu espaço no mercado editorial Alunos do Terceirão apostam em trote diferente para descontrair Sinuca levada a sério

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jornal laboratório do curso de jornalismo da ufpr - edição 02 | abril de 2011

Sociedade

pág. 3

Estado assume responsabilida-de da educação especial sem garantir condições nas escolas

cultura

pág. 5

Mercado editorial deCuritiba não tem força paraprojetar novos autores

Co:::unicação

eSporteS

pág. 8

Jogadores profissionais de sinuca mostram que o jogo é mais que entretenimento

Conflito de prioridadesUFPR fará réplica de Belo Monte sem ter

discutido impactos da obra

Page 2: Edição 02 | Abril de 2011

Aurea Gasparin é mãe de Ri-cardo, 28 anos, que tem paralisia cerebral distônica. Seu filho estudou durante dez anos numa escola para crianças com necessidades especiais e, tendo que superar muitas dificul-dades, concluiu até a oitava série do ensino fundamental. Aurea, porém, confessa que preferia que o filho ti-vesse estudado numa escola de en-sino regular e não em uma especia-lizada. “Matriculamos o Ricardo na escola justamente pela convivência, mas na verdade ele só conviveu com crianças especiais como ele”, afirma. “Pra mim, mesmo que aprendesse menos na escola regular, ele estaria mais preparado para o convívio so-cial”.

Apesar do desejo de inclusão social, a opinião de Aurea não é una-nimidade. Para a diretora do Cedae, uma escola especial de Educação Infantil mantida pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Curitiba, Rosane Furta-do Mazepa, quando se trata de inse-rir um aluno especial no contexto da escola normal o assunto é mais deli-cado. “Não é em todos os casos que a inclusão é favorável. Depende do potencial que a criança apresenta”, explica a diretora.

A coordenadora do setor de Le-tras/Libras da Universidade Federal do Paraná, Sueli Fernandes, também alerta para o perigo de generalizar os casos de educação especial. “Há casos e casos, não se pode criar um lócus único de atendimento. Existem crianças que necessitam de apoio in-tenso e contínuo, que ainda não são ofertados no ensino regular”, diz.

Paraná adota uma inclusão cautelosa,

mas legislação e insti-tuições não dão conta

das necessidades

Judy Velasquez

editorial

Dever do Estado

A Educação Especial é contem-plada como um dever do Estado des-de 1996, através da Lei de Diretrizes Nacionais para a Educação. Em 2008, um decreto lançou a política de Edu-cação Inclusiva e criou o Atendimento Educacional Especializado (AEE), um conjunto de atividades pedagógi-cas e didáticas que funcionam como complemento da educação comum. O decreto determina que as crianças com necessidades especiais sejam matriculadas nas classes comuns do ensino público regular, para estimular o convívio social, recebendo nessas instituições o AEE. A política de in-clusão estabelece também a criação de salas de recursos multifuncionais e a adequação das estruturas para acessi-bilidade dos deficientes físicos.

No entanto, o incentivo à inclusão dos alunos com necessidades espe-ciais no ensino regular foi encarada de forma negativa por parte das escolas especializadas como as Apaes, de ini-ciativa privada com fins filantrópicos, que passaram a ser complementares e não mais substitutivas do ensino regular. A situação gerou muita polê-mica no país, pois, já que seriam desti-tuídas de sua função original, algumas escolas e instituições especializadas poderiam ser fechadas. No entanto, segundo a Federação Nacional das Apaes, por enquanto nenhuma escola especializada foi fechada em função da nova legislação.

Incluir, mas sem excluir as insti-tuições especializadas

Ao contrário de outros estados, o Paraná não adotou a política da in-clusão total e imediata. A Secretaria de Educação do Paraná informou que, atualmente, está tramitando no gover-no do estado um processo que propõe transformar as escolas de educação especial em escolas de educação bási-ca na modalidade especial. Para isso, a metodologia e os processos adminis-trativos das escolas especiais vão sofrer

mudanças e elas passarão a ter um papel complementar à educação regular.

Essa modificação de categoria é uma tática para que essas escolas, uma vez adaptadas, possam atuar como um apoio secundário à criança especial. “As escolas especializadas permanecem, mas serão formalizadas”, diz Rosane, a diretora do Cedae. De acordo com ela, o governo do estado mantém convê-nios com as Apaes e ainda oferece sub-sídios a outras organizações de direitos dos deficientes.

A Apae de Curitiba mantém cinco escolas especiais, que atendem gratui-tamente desde a educação básica até a educação profissional. Já atendendo ao processo de inclusão, o Cedae trabalha junto com as creches municipais, atra-vés da matrícula complementar.

Ensino público especial

Mesmo com a manutenção das escolas especiais gratuitas mantidas por organizações como a Apae, a meta do governo é implantar salas de recursos e salas multifuncionais, como definidas pelo MEC, nas escolas públicas do es-tado.

O Colégio Estadual Segismundo Falarz, no Hauer, tem estrutura para fazer o Atendimento Educacional Es-pecializado aos estudantes portadores de necessidades especiais. O espaço usado para esse atendimento é a sala de recurso multifuncional, onde com-putadores, livros didáticos em Braille, jogos de raciocínio e de lógica e outros materiais pedagógicos são usados para estimular o aprendizado de crianças nas mais diversas condições. Os alunos assistem às aulas normais da escola e, no contraturno, têm o acompanhamento da psicopedagoga Jussara Sant’ana de Melo. No período da manhã e da tarde são atendidas 18 crianças e adolescen-tes, que estão entre a 5ª série do Ensino Fundamental e o 3º ano do Ensino Médio. “Os alunos chegam aqui com baixa autoestima, então nós vamos tra-balhando aos poucos, mostrando que eles são capazes”, explica Jussara.

A professora ressalta que a preocu-pação maior é que o aluno apreenda o conteúdo, desobrigando-os de cumprir cronogramas. “Aqui não temos a co-brança do ensino regular. Não conse-guiu hoje? Tentamos de novo amanhã”, diz.

No entanto, esta não é a regra en-tre as escolas públicas de Curitiba. A professora Sueli Fernandes acredita que existem muitos problemas no ser-viço público de educação especial que ainda precisam ser resolvidos. Segun-do ela, há uma carência de formação dos professores. Faltam também polí-ticas intersetoriais que liguem a educa-ção à saúde e a outros aspectos da vida da criança com necessidades especiais. “Queremos a inclusão responsável e não uma inclusão excludente. A in-clusão total é possível, sim, mas não será uma imposição vertical que vai torná-la realidade”, atesta a professora da UFPR:::

Crianças superdotadas tam-bém estão incluídas nas políti-cas da Educação Especial. E elas vivem cercadas de mitos: um deles é o de que tiram nota dez em tudo. A pedagoga especia-lista em superdotação, Mônica Condessa, explica que isso nem sempre acontece. “Muitas vezes, a criança superdotada tem muita dificuldade de se adaptar à esco-la regular. Existem alunos com altas habilidades na área lógico--matemática, por exemplo, que reprovam em matemática na es-cola”, conta.

Segundo Mônica, há uma grande chance de que o tempo na escola regular acabe se tor-nando um tempo perdido para a criança. “O superdotado acaba

Brasil, uma democracia ilusória

O apoio da Universidade Federal do Paraná à constru-ção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte reflete a natureza unilateral das decisões tomadas nas câmaras secretas da alta cúpula universitária. Numa perspectiva mais ampla, anali-sando a construção da usina e o apoio do próprio governo, Belo Monte foi um projeto apresentado, debatido e aprova-do sem qualquer participação popular.

Insistir em modelos antiquados de progresso, que invia-bilizam um equilíbrio entre sustentabilidade e crescimento econômico, contrapõe a política de desenvolvimento sus-tentável defendida pelo governo federal. A obra é avaliada em R$20 milhões e esse valor poderia ser investido em fon-tes alternativas, como energia solar, eólica e biomassa, com impacto ambiental quase inexpressivo em relação à hidroe-letricidade.

Nenhum dos manifestantes é contra o desenvolvimento – nem mesmo os ambientalistas mais radicais. Apoiamos o crescimento e achamos confortável viver no século 21, com interruptores eficazes e geradores de energia que funcio-nam sem cessar. Mas o projeto de Belo Monte suprime di-reitos humanos, desrespeita e desvaloriza os povos indíge-nas e populações tradicionais da Amazônia e se constrói em torno de um capitalismo intolerante, obcecado por lucro. É inaceitável que, mesmo após o relatório de impactos apura-do pelo Ibama, que comprovou as consequências da insta-lação da usina, esse projeto continue. Num país construído como Estado Democrático de Direito, os povos indígenas ainda não têm voz; ativistas e ambientalistas são calados por quem detém o poder econômico e para quem pouco inte-ressa os impactos ambientais ou os direitos humanos, desde que a obra renda lucro.

O projeto de Belo Monte é uma afronta ao desenvol-vimento sustentável e, junto à proposta de renovar e ama-ciar o novo código florestal, caracteriza um retrocesso na política ambiental brasileira. Esses novos planos de desen-volvimento comandados pela bancada ruralista, por gran-des empreiteiras e pelos donos do poder sufocam direitos humanos como um rolo compressor. O Brasil não será um país de todos enquanto os projetos de desenvolvimento não forem efetivamente debatidos em âmbito coletivo. Le-var em conta todos os impactos e considerar as conjunturas de maneira homogênea é primordial para desconstruir o país de poucos.

Número de transplantes cai no Paraná

Recusa das famílias em doar órgãos de paren-tes falecidos ainda é o

maior problema na co-leta para as operações

Lucas Lupatini

O Comunicação é um jornal laboratório produzido por alunos do curso de Jorna-lismo da Universidade Federal do Paraná, nas disciplinas Laboratório de Jornalismo Impresso e Produção e Edição II.

Professor orientador: toni andre scharlau Vieira. (jornalista resPonsáVel – rP/Mt 6680 - rs) editora-chefe: carolina Goetten

secretaria de redação (iMPresso): helen anacleto, PhilliPe trindade e rafael neVes

secretaria de redação (on-line): ana claudia cichon, dalane santos e ViVian faria

chefe de rePortaGeM: Professora rosânGela strinGari

editores: coMPortaMento: olíVia Baldissera e alan Pazian. cultura: luiza Barreto e Maria eduarda siMonard. esPortes: Bruno BaGGio e nílton Kleina. Política: Bruno zerMiani e GuilherMe soBota. sociedade: jéssica Maes e Maria eduarda lass. ufPr: allexandra Monteiro, cássia MarocKi e juliana BluMe. tuBo de ensaio: jéssica Maes e luiza Barreto. fotoGrafia: déBora MülBeier, Mariana cruz, Marina feldMan

caPa: Marcelo salazar/isa, Verena Glass/xinGu ViVo Para seMPre e Bruno aBreu

Projeto Gráfico: juliana KarPinsKi

diaGraMação: luan Galani

diretor de arte: Piercarlo Melatti

relações PúBlicas e diVulGação: luísa Bonin, luciana fonseca e fernanda Passoni

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tiraGeM: 3 mil exemplares iMPressão: Imprensa Universitária da UFPR

expediente

2::: abril de 2011

opinião 3:::abril de 2011

sociedade

Educação especial ainda falhana inclusão de estudantes com deficiência

Aurea e seu filho, Ricardo. “Na escola regular, ele estaria mais preparado para o convívio social”, diz a mãe

Déb

ora

Loru

sso

outras causas além da falta de campa-nhas, como a precariedade das condi-ções oferecidas a grupos designados a percorrer hospitais em busca de doa-dores em potencial. “Em Santa Cata-rina, por exemplo, são realizados mais transplantes do que no Paraná, porque eles têm um sistema de captação de órgãos melhor que o nosso”. O hospi-tal, que realizou 174 transplantes em 2010, está montando uma unidade de transplante de medula óssea. As obras devem ser concluídas até o fim deste ano, possibilitando ao hospital atender a um número ainda maior de pacientes que estão na fila de espera.

Dos 1.410 transplantes realizados no Paraná em 2010, 80% tiveram um receptor paranaense, segundo dados da Sesa. Entretanto, ainda há mais de três mil pessoas que aguardam por um transplante no estado. Mariana diz que é difícil saber exatamente quanto tem-po um paciente tem que esperar por um órgão, pois existem vários fatores a serem analisados quando se trata de uma operação como essa. “A espera varia de acordo com a necessidade do paciente e a gravidade do caso. Além disso, é preciso avaliar, entre outros fatores, a compatibilidade de tipo san-guíneo, se não há nenhuma doença presente no órgão doado e se o tama-nho e o peso do órgão são adequados ao receptor”, exemplifica.

Revertendo o panorama

Entre as ações para fazer o núme-ro de transplantes voltar a crescer no estado, está a criação das Comissões de Procura de Órgãos e Tecidos (Co-pots). Ativas desde dezembro do ano passado, elas buscam por doadores em potencial nos hospitais que têm UTI e serviço de atendimento de urgência.

O ano de 2010 terminou com uma boa notícia para o Brasil: o número de transplantes aumentou. Segundo dados do Ministério da Saúde, foram 21.040 transplantes, um aumento de pouco mais de 5% em relação ao ano anterior. No Paraná, porém, apesar de um aumento gradativo ao longo dos últimos dez anos, 2010 apresentou uma queda de 10% no número de ope-rações em relação a 2009.

A diretora da Secretaria de Saúde do Paraná (Sesa-PR), Schirley Batista Nascimento, explica que a manuten-ção do número de transplantes está vinculada à continuidade das campa-nhas de estímulo à doação. “Na última década foram feitas várias ações para promover a doação de órgãos e teci-dos, como campanhas de conscienti-zação, eventos, palestras em escolas e faculdades, até treino de equipes médi-cas. Isso fez o número de transplantes crescer”, conta. Porém, quando essas ações param, o número de doações volta a cair, o que seria uma das causas para a redução do número de trans-plantes no Paraná. A coordenadora acredita que falta, aqui, criar e fixar a cultura da doação.

A médica responsável pelos trans-plantes de rim do Hospital Pequeno Príncipe, Mariana Munhoz da Cunha, revela que a redução no número de operações também pode estar ligada a

O que é a Educação Especial?Educação especial é o ensino voltado para atender crian-

ças e adolescentes com necessidades especiais divididas em três categorias:

• Deficiênciasintelectuais,físicasesensoriais;• Transtornosglobaisdedesenvolvimento,quealte-

ram o desenvolvimento neuropsicomotor, como autismo e síndrome de Rett;

• Altashabilidades/superdotação,queelevamopo-tencial no aspecto acadêmico, artístico ou motor.

Déb

ora

Loru

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se dispersando em aula, porque aquele assunto ele já sabe. O im-portante é enriquecer o conteú-do para ele”, afirma.

Outro mito que se constrói em torno da criança superdota-da é que ela gosta de ficar sozi-nha. A psicopedagoga ressalta que o superdotado não tem as mesmas conversas e brincadei-ras que os colegas da mesma idade, mas que ele tem neces-sidade de se socializar tanto quanto outras crianças.

Apesar de a Lei prever tam-bém a inclusão escolar dos superdotados, o Instituto de Educação do Paraná é o único colégio público de Curitiba que recebe crianças com esse perfil:::

Desconstruindo o mitodo superdotado

Em 2010, número de transplantes realizados no Paraná sofreu queda de 10% em relação a 2009

Ma

riana

Cru

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“Essas comissões vão atrás de possí-veis doadores nos hospitais, e tem o papel de convencer as famílias de pacientes diagnosticados com mor-te cerebral a doar os órgãos do ente perdido”, explica a coordenadora da Central Estadual de Transplantes da Sesa, Arlene Badoch. A recusa das fa-mílias em doar os órgãos de parentes falecidos ainda é o maior obstáculo na captação. “Apesar de ter caído em 2010, a taxa de 32% de recusa é mui-to alta. Se as famílias liberassem essas doações, muito mais pacientes pode-riam receber um transplante”.

As Copots, que ainda estão em fase final de implantação em algumas regiões, já estão em plena atividade nas cidades de Maringá, Londrina e Cascavel. Já para Curitiba e região metropolitana, ainda não há previsão de funcionamento. Arlene acredita que isso não é motivo para preo-cupação, pois a capital já é a cidade do estado com maior número de doadores por milhão de habitantes. O maior problema é nas cidades do interior, onde os números ainda são pequenos.

Apesar de tudo, o Paraná ainda é referência em transplantes em escala nacional, junto a estados como São Paulo, Santa Catarina e Rio Gran-de do Sul. A coordenadora ressalta que essa projeção poderia ser ainda maior se a doação de órgãos fosse desmistificada. “As pessoas acham que doar órgãos é muito difícil, ou que tem que assinar papelada, mas não é assim. No caso de doação após a morte, basta que o paciente mani-feste ainda em vida esse desejo. E órgãos como rim e fígado, além da medula óssea, podem ser doados por pessoas vivas sem nenhum prejuízo para o doador”, esclarece:::

errataEsclarecemos que, na edição de setembro de 2010 do

Jornal Comunicação, uma foto de um colaborador do Gru-po PoliService ilustrou a matéria “Vigilantes da UFPR se excedem no cumprimento de atividades”. O Grupo, todavia, iniciou sua prestação de serviços na Universidade Federal do Paraná no dia 31 de julho de 2010 e, portanto, isenta-se do in-cidente citado na notícia referente ao episódio ocorrido entre um vigilante e um estudante em 2005.

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Disposição, cuidado e um significado levam um grupo de voluntários a distribuir mais de 200 refeições a catadores de papel e pessoas em situação de rua todas as sextas feiras no centro de Curitiba. O projeto da Comunidade Alcance já possui 2 anos e meio de existência e já distribuiu mais de 14.000 refeições. O grupo busca não só saciar a fome, mas alimentar a alma. Mais do que comida, o que se vê é amor, abraços, compartilhamento de histórias, criação de vínculos, ajuda e acompanhamento. O sopão acontece todas as sextas-feiras a partir das 20h, na esquina das ruas Conselheiro Laurindo e Engenheiro Rebouças:::

abril de 2011 5:::abril de 2011

cultura

Curitiba busca seu espaço nomercado editorial

O Jornal Rascunho, que existe há 11 anos e chega à sua 132ª edição, é produzido em Curitiba. Conceitua-do nas informações sobre a literatura no Brasil, o veículo marca uma con-tradição: enquanto o mais importan-te jornal literário do país é produzido na capital, os escritores daqui têm di-ficuldade para ganhar espaço e mos-trar seu trabalho.

Segundo o editor da revista Arte & Letra, Thiago Tizzot, apesar do crescente número de editoras pelo país, dificilmente um curitibano vê seu material nas prateleiras das livra-rias. Ele conta que é preciso seguir um longo caminho. “Apesar de as lojas ficarem próximas da gente, às vezes na mesma rua, normalmente os escritórios estão em São Paulo”, expõe.

Para que as obras cheguem até as livrarias de grande porte, é necessário tempo e uma editora que realmente se importe em enviar o material do escritor. “Rede de livraria é negócio, e eles estão preocupados com a ven-

Apesar de abrigar escritores de desta-

que nacional, capital paranaense tem difi-culdade em projetar

novos autores

Laís Graf

da” afirma Tizzot. Para ele, não faz sentido colocar nas prateleiras um material pouco conhecido, que só vai ocupar espaço e não trazer lucro. “Esses livros iriam competir com gi-gantes de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo. Na dúvida, o leitor vai escolher uma publicação de uma editora tradicional e com publicações conhecidas”, analisa o editor.

Curitiba tem um grande número de pequenas empresas que se dis-põem a editar o livro, mas que não se comprometem com a divulgação e distribuição. A escritora Bernadete de Lourdes Michelato editou seu tra-balho com um desses grupos, mas os buscou no Rio de Janeiro. “Procurei editoras aqui em Curitiba, só que elas eram mais caras. Como eu mesma estava financiando o material, resol-vi procurar um serviço mais barato”, conta.

A imprensa na divulgação

Porto Alegre é um exemplo de cidade em que o público consome cultura local, principalmente a li-terária. Segundo a editora gaúcha Luciana Thomé, uma das grandes responsáveis pelo consumo de li-teratura é a imprensa. “Na medida do possível, os jornais daqui tentam equilibrar e expor os lançamentos de autores locais”. Ela aponta que nomes já reconhecidos, como Veríssimo e Scliar, ganham mais espaço, mas no-

vos autores conseguem fazer a sua divulgação em eventos como a Feira do Livro de Porto Alegre.

Tizzot concorda que a imprensa tem papel fundamental no lança-mento de um novo autor, mas de-fende os jornalistas. “Uma grande redação recebe dezenas de livros por dia e é humanamente impossível ler todos”, reconhece. Para ele, é impor-tante que a editora se preocupe em fazer um material com uma capa atra-tiva, para se destacar em meio a livros de autores conhecidos:::

Escolarização e inserção no mercado de trabalho

Em atividade desde 2007, o Centro de Convivência abriu a primeira turma de escolariza-ção há apenas um ano. Desde então, a instituição encami-nhou 18 pessoas para cursos profissionalizantes e 12 foram inseridas no mercado de traba-lho.

Os passos dados em rumo à educação ainda são curtos, e os resultados, restritos. “Dos 12 alunos da primeira turma de EJA, apenas um conseguiu certificação de 4ª série. Outra aluna chegou a fazer os testes, mas ficou ‘retida’”, relata a vice--diretora do Centro, Cynthia Etsuko Takahashi Lima.

Além destes programas, o Centro já desenvolveu ativi-dades complementares, como jogos lúdicos, documentários, videoteca e futebol, procuran-do oferecer programas de lazer aos moradores, além da tenta-tiva de ajudá-los a sair das ruas.

Mostrando a cara

As políticas implementadas pelo município de Curitiba se mostram insuficientes em rela-ção à gravidade do problema. Além da pouca abrangência do serviço de escolarização, a estrutura para acolher os mo-radores em situação de rua é consideravelmente menor do que o número de pessoas que se encontram na condição. Segundo informações da pró-pria FAS, o albergue municipal comporta aproximadamente 250 leitos, o que atenderia 9% da população de rua munici-pal.

O Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR) trabalha para que sejam efetivadas as políticas públicas para a reinserção so-cial dos moradores de rua. De acordo com o coordenador do MNPR no Paraná, Leonildo

Atendimento nas casas de apoio me-lhorou nos últimos

anos, mas burocracia e número insuficien-

te de abrigos ainda dificultam a vida

dos desabrigados

André Martins

Aproximadamente 2.770 pes-soas vivem nas ruas de Curitiba, número que representa 0,15% da população da capital. Apesar de aparentemente irrisório, o índice coloca a cidade em segundo lugar na taxa de desabrigados em rela-ção ao total da população. Os da-dos são de uma pesquisa realiza-da em 71 cidades (48 municípios e 23 capitais) em 2007 e 2008, através de uma parceria do Minis-tério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Desde 2009, há uma Política Nacional para a População em Situação de Rua. Instituídas pelo decreto nº 7.053/09, as diretrizes contemplam as ações que devem ser desenvolvidas pelos municí-pios brasileiros em relação aos moradores de rua.

Em Curitiba, a Fundação de Ação Social (FAS) é o órgão res-ponsável pela implementação de ações para a população em situ-ação de rua. Através da Central de Resgate Social, unidade de atendimento da FAS, são ofere-cidos serviços de albergagem, alimentação, exames de saúde e acesso à obtenção de documen-tos. Além disso, a Rede Solidária para o Morador de Rua objetiva a reintegração social dos cidadãos nessa situação. O principal pro-jeto da Rede Solidária é o Centro de Convivência João Durvalino Borba, que oferece oficinas so-cioeducativas e escolarização através do programa de Educação para Jovens e Adultos (EJA).

Monteiro Filho, essas ações de-vem contemplar o acesso à saú-de, à educação, à moradia e ao emprego. “Estes são os únicos caminhos que levam à saída da rua”, defende Monteiro. “Meu trabalho hoje é cobrar para que seja afirmada a Política Nacio-nal, que atende aquilo que o morador de rua precisa.”

Hoje, o MNPR atua através de uma parceria com o Minis-tério Público do Estado do Pa-raná (MP), por intermédio do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça dos Direitos Constitucionais. Este apoio possibilita a infraestru-tura básica para a realização de atividades como o atendi-mento aos moradores e reuni-ões semanais, além de garantir maior visibilidade às ações do grupo.

Monteiro, ele próprio ex--morador de rua, conta que a melhoria do serviço público para a população em situação de rua aconteceu depois que a mídia começou a abordar o assunto. “De dois anos pra cá, quando começamos os nossos fóruns, seminários e fomos para os meios de comunicação, a visibilidade expôs a verdadei-ra situação do município e eles foram obrigados a melhorar várias coisas”, aponta.

Sobre as ações do Centro de Convivência, o coordena-dor se mostra confiante nas ati-vidades futuras. “Eles estavam num momento errado, mas agora, com a criação do estatu-to, que será avaliado pelo MP, vão ser oferecidos mais cursos e oficinas”, opina.

Atualmente, além dos even-tos realizados para debater e explicar à população de rua sobre seus direitos, o MNPR conta com a publicação do pe-riódico mensal “A Laje”. Produ-zido pelos membros do movi-mento, com a ajuda do Núcleo de Comunicação e Educação Popular (NCEP) do curso de Comunicação Social da UFPR,

o jornal tem ajudado o grupo na divulgação de suas ações e a denunciar algumas das práticas do Poder Público.

Esperança, apesar da buro-cracia

O morador de rua Vilmar Ro-drigues, 42 anos, vive há 17 nessa situação. Atualmente, ele utiliza o albergue, o que não acontecia há algum tempo. “Depois que co-meçou a melhorar o atendimento por lá, eu comecei a frequentar. Isso faz uns dois anos”, relata.

Ele está prestes a sair da situa-ção de rua, mas critica a maneira como são conduzidos os procedi-mentos da casa. Segundo Rodri-gues, a demora para obter acesso e, posteriormente, para deixar o

albergue, prejudica aqueles que estão em busca de emprego. “Se você marca uma entrevista, tem que cumprir o horário. Agora, com aquela burocracia, automa-ticamente você já se atrasa. Que-remos sair daquela situação, mas o sistema não ajuda”, disse.

Rodrigues saiu da rua duas vezes, mas voltou, segundo ele, por falta de apoio. “Fala-se mui-to hoje em inclusão social, rein-serção. Mas ainda não tem um lugar pra gente”, reclamou. Para ele, que conseguiu um emprego de jardineiro, esta saída vai ser definitiva. “Me preparei bastante para esse momento. Quero poder dar um bom exemplo. Outros moradores vão pensar: ‘Se o cara conseguiu, eu também consigo’”, acredita:::

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Políticas públicas tentam reverter o quadro de abandono aos moradores de rua em Curitiba

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Pesquisa aponta que Curitiba tem o segundo maior índice de mora-dores de rua, entre 71 municípios. São mais de 2,7 mil desabrigados

Quer ver seu trabalho publicado? Existem alternativas

Apesar de todas as barreiras aos novos escritores, não é im-possível divulgar um trabalho e, pouco a pouco, ficar conhecido.

Uma das alternativas para quem quer se lançar no mercado é fazer uma publicação como a de Bernadete Michelato e correr atrás de pessoas que tenham interesse em comprar o material. Já que veículos grandes não têm tempo de analisar o livro, vale enviar a publicação para sites e blogs de Curitiba, que recebem menos materiais para analisar. Além disso, é possível enviar tex-tos para sites literários como o Recanto das Letras, que têm um grande número de acessos por leitores interessados no assunto.

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Distantes dos grandes centros literários, localizados em São Paulo e Rio de Janeiro, escritores curitiba-nos têm que buscar alternativas para se consolidar no mercado editorial

galeria

Comida para a almaDébora Lorusso e Mariana Cruz

Page 4: Edição 02 | Abril de 2011

UFPR vai construir réplica daUsina de Belo Monte, do Pará

Construção de mo-delo reduzido da

usina na UFPR gera discussões sobre os

impactos da obra

Belo Monte é uma pequena cidade do Pará que fica a 3.084 quilômetros de Curitiba. Nada em comum entre as duas localidades, não fosse o fato de que a usina hi-drelétrica que deve ser construída por lá está sendo representada em uma maquete construída em ple-no Centro Politécnico da UFPR. A discussão sobre a forma como a obra paraense será conduzida já al-cançou a mídia internacional atra-vés da Organização dos Estados Americanos (OEA), e também está presente na Universidade.

O processo de construção da miniusina começou em 2010, quando foi aberta licitação para ar-quitetar uma réplica em miniatura do projeto da Usina de Belo Mon-te. A UFPR, através do Centro de Hidráulica e Hidrologia Parigot de Souza (Cehpar) e do Instituto de Desenvolvimento e Tecnologia (Lactec), venceu a licitação e logo deu início à montagem da usina diminuída, que ocupará o espaço onde se localizavam outros 17 mo-delos – como a usina Ituango, em construção na Colômbia, e a Gibe 3, da Etiópia. Os estudos desse pro-jeto, que é o maior do laboratório paranaense desde a construção do modelo de Itaipu, vão se prologar até maio de 2013, no mínimo.

Assim que souberam do início das obras, alguns alunos já se opu-

Paulo Ferracioli

seram à montagem da estrutura e propõem que a Universidade adote algumas medidas. “A UFPR deveria em primeiro lugar colocar em debate na comunidade acadê-mica o papel dessa usina, antes de apoiar a construção”, argumenta o estudante de História, Alexandre Boing.

Com a intenção de ampliar o debate entre os alunos, a Assem-bleia Nacional dos Estudantes Li-vre (Anel) está planejando reuni-ões e pretende entrar em contato com diversos Centros Acadêmi-cos. “É preciso envolver os alunos nessa questão que repercute den-tro e fora da Universidade”, aponta o aluno de Geografia Marcos Vini-cius da Silva, membro da Anel.

A UFPR não pretende se en-volver nas discussões de ordem política geradas pela obra. “Nossa responsabilidade é só com a parte técnica”, informa o professor Mar-cos Antonio Marino, diretor do Setor de Tecnologia. Os estudantes entendem, porém, que é impossí-vel separar os argumentos políticos dos técnicos no debate. “A partir do momento em que a UFPR cons-trói um modelo como esse, ela está legitimando a construção da usina verdadeira e por isso é necessário pensar a obra por todos os ângulos possíveis”, contesta Boing.

Impacto para a população local

Um aspecto levantado a partir da construção da usina diz respei-to à situação dos índios nativos da região que habitam o local. Devido ao processo de alagamento neces-sário para as obras, o curso do rio será desviado, deixando de passar

por certas áreas. O professor Fabia-ni garante, no entanto, que serão to-madas as medidas necessárias para garantir a permanência das comu-nidades nos seus locais originais. “Nenhuma aldeia indígena será retirada do local para a construção da usina”, garante. “Está incluso no projeto um estudo para criar secas e enchentes artificiais para imitar o ciclo regular das águas do rio que banham essas comunidades”.

Os problemas culturais gerados pela chegada de pessoas estranhas na região também não ficam fora da pauta de discussões. O número de pessoas que chegam ao local para desenvolver os trabalhos é in-tenso e gera a construção de uma infraestrutura adequada para re-ceber esses migrantes. Se por um lado isso estimula a economia da região, desenvolvendo serviços e o comércio, por outro alguns atritos culturais acabam surgindo, devi-do à diferença de costumes entre os habitantes nativos e aqueles que chegaram para trabalhar. “Isso ocorre em qualquer obra pareci-da com essa, não há como evitar”, acredita Fabiani. “Cabe ao governo implantar medidas que possibi-litem um convívio pacífico entre todos”, defende.

Mudanças no ecossistema

Ambientalistas da sociedade civil como um todo têm pressiona-do para que a usina não seja cons-truída. A alteração do ecossistema provocada pelo alagamento de par-te da floresta é vista com ressalvas e também dificulta o trabalho dos responsáveis pelas obras. “Nos dias de hoje, é mais fácil construir uma usina a carvão no meio do Rio de

7:::abril de 2011

comportamento6::: abril de 2011

ufprAlunos do Terceirão apostam em

trote diferente para descontrairMesmo com a pressão do vestibular, alunos

encontram tempo para diversão nas

escolas de Curitiba

Matemática, Física, Quími-ca, História, Geografia, Biologia, Português e Literatura são parte da rotina da maioria dos vesti-bulandos. Mas mesmo em meio à corrida para as provas das uni-versidades, alunos de algumas escolas encontram tempo para a descontração. Em determinados dias, o uniforme é deixado no armário e os estudantes assistem às aulas caracterizados de acordo com um tema preestabelecido: vale arrumar o cabelo de um jei-to inusitado, roubar a roupa do irmão mais velho ou emprestar aquele vestido rodado da mãe. Afinal, quando é Dia de Trote – como a data é carinhosamente chamada pelos estudantes – a única regra é a diversão.

Essa não é tradição muito conhecida, principalmente em Curitiba, mas dois colégios par-ticulares já aderiram à brincadei-ra. No Marista Santa Maria, os trotes acontecem às sextas-feiras, enquanto no Marista Paranaen-se, aos sábados. No Paranaense, o trote existe desde 2008, com o apoio da direção. “É um momen-to de descontração entre os alu-nos, que acontece nas turmas do Terceirão”, explica o coordenador pedagógico do colégio, Marco Antônio Boin.

Todos os temas escolhidos são apresentados à coordenação, para que a imaginação fértil dos adolescentes não se transforme em exagero. Se alguma sugestão é vetada, as turmas logo chegam a um consenso e encontram uma alternativa. Os formandos de 2011 do Paranaense já organiza-ram o dia do pijama, dos emos, dos coloridos, do mendigo, do retrô e nem por isso ficaram sem ideias. Já está agendado o famoso “troca-troca”, em que os meninos se vestem de menina e as garotas

Amanda Ramos

viram garotos. Sugestões como dia da praia, do nerd e dos super heróis estão sendo cogitadas.

Sem divisões

O último ano do Ensino Mé-dio é um rito de passagem para todos os estudantes e, por isso, merece ser diferente. E o trote é uma maneira de tornar estes mo-mentos ainda mais inesquecíveis. A integrante da comissão de for-matura do Marista Paranaense, Letícia Dranka, conta que a esco-lha de um tema, a caracterização e a diversão aos sábados acabam unindo os alunos das diferentes turmas.

No terceiro ano a divisão em tribos típica da escola diminui, e aquelas briguinhas por motivos fúteis se tornam mais raras. Em um dia temático é ainda mais di-fícil alguém conseguir determinar a que grupo cada um pertence. A maioria dos alunos se esforça na

produção do figurino, e mesmo quem não adere à fantasia acaba deixando o uniforme de lado e optando por uma roupa comum. “Geralmente quem não vem ca-racterizado é porque não vai parti-cipar da formatura. Mas tem gente que, mesmo não pagando pela fes-ta, vem caracterizado. Faz parte da brincadeira”, explica Letícia.

O trote ainda diminui a terrí-vel maldição das aulas matutinas: o sono. “É uma motivação para vir aos sábados. Quando a gente chega aqui, parece que valeu a pena. E a turma fica mais acor-dada”, diz Letícia. Todos ficam curiosos para ver o que o amigo está vestindo e ansiosos para exi-birem a produção, que pode levar horas para ficar pronta – algumas meninas acordam mais cedo aos sábados só para se arrumarem adequadamente. As aulas ficam recheadas de piadas e o pátio, na hora do intervalo, vira cenário para sessões de fotografia. De-pois essas fotos irão preencher as apostilas de revisão do Terceirão, o vídeo de formatura e, é claro, a página das redes sociais dos alu-nos.

No final de toda essa diverti-da “bagunça”, o saldo é positivo. Os alunos vão para a aula mais animados, estreitam os laços de amizade com os colegas, di-vertem-se e, inclusive, aliviam o stress com o temido vestibular. “A ideia é justamente essa. Au-mentar a interação entre todos e dar uma quebrada no gelo. Por um momento, por um dia eles esquecem a pressão do vestibu-

lar”, aponta o coordenador Boin. E quando a brincadeira termina, os alunos têm o pique renovado para voltarem a se concentrar com força total.

Professores aprovam o clima de descontração

E com fica o professor no meio de toda a diversão do Dia do Trote? Segundo alguns alu-nos, eles continuam 110% foca-dos. Alguns estudantes até arris-cam dizer que tudo seria ainda mais engraçado se os mestres também estivessem caracteriza-dos, mesmo sabendo que poucos deles fariam isso.

Fantasias à parte, não dá para negar que entrar em uma turma nesses dias é uma experiência diferente. “Não que seja mais di-vertido [dar aulas nesses dias]. É mais relaxante”, afirma o Profes-sor Zaôr Caetano Júnior, que dá aulas de Biologia 2 aos sábados no colégio Marista Paranaense.

Os professores compreen-dem que seus alunos precisam aproveitar esses momentos diver-tidos. O Dia do Trote vai, pouco a pouco, fazendo parte da cultura do Terceirão, e cada nova turma se inspira nas anteriores. “É como se passassem o bastão. Agora é a vez deles aproveitarem”, analisa o professor Antônio Inácio Souza, responsável pelas aulas de Biolo-gia 1.

As fotos são outro obstácu-lo enfrentado pelos professores, que precisam lidar com flashes desde o início das aulas até o úl-

timo sinal tocar. Todo o clima descontraído poderia atrapalhar, mas isso depende da responsa-bilidade de cada estudante e do professor. “O negócio é saber ca-sar esse momento de descontra-ção dos alunos com a aula”, expli-ca Inácio. “Quem presta atenção, faz isso independente de como esteja vestido”, ressalta o profes-sor Zaôr, que se diverte ao ver as alunas com as roupas das mães.

Toda brincadeira tem um preço

Além da diversão, o Dia do Trote tem outra finalidade impor-tante: ajudar a arrecadar fundos. Quando alguém não respeita o tema, precisa pagar para a comis-são uma “multa” que, mais tarde, se transformará em um desconto na última mensalidade da taxa da formatura. No Marista Paranaen-se, a colação e a festa custam em torno de R$490. As multas de R$5 se juntam às rifas e churras-cos organizados pelas turmas de terceirão para diminuir esse valor e dar uma incrementada na festa, e também é um incentivo para que todos participem da brincadeira.

Mas não precisa se deses-perar e assaltar o cofrinho. A comissão programa alguns dias de folga do Dia do Trote. Tudo para evitar que até a diversão se transforme em rotina e que os alunos se cansem de procurar toda semana por uma roupa di-ferente. E também para dar um alívio para aqueles que sempre esquecem qual o tema da vez:::

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No Dia do Trote, estudantes do Terceirão vão às aulas caracterizados. A brincadeira ajuda a descontrair e aliviar a pressão das provas do vestibular

Trote já é tradição Enquanto, em Curitiba, o trote do último ano ainda está

conquistando seu espaço, já existem lugares em que ele está consolidado. Um exemplo é uma escola pública do Rio de Janeiro, o Colégio Pedro II, onde todo ano a nova turma de formandos já sabe que faz parte de seus deveres como vete-ranos criar peças para a escola toda. As brincadeiras aconte-cem em qualquer dia, com o apoio da direção – que auxilia os alunos a conseguirem os materiais necessários. “Os outros alunos não sabiam de nada. A gente escondia para fazer sur-presa”, conta Isabel Britto, formanda do ano passado. Além do esperado Baile de Formatura, a festa à fantasia do Tercei-rão já é tradição entre os alunos do Pedro II.

Janeiro do que uma hidrelétrica em qualquer lugar”, reconhece o professor André Fabiani, respon-sável pela supervisão da cons-trução do modelo reduzido. Ele acredita, porém, que as mudanças inevitáveis no ecossistema devem ser aproveitadas positivamente. O lago artificial que surgirá, por exemplo, pode servir para gerar renda para a população local, atra-vés de atividades como a pesca, abrigo de marinas e turismo. “É esse exatamente o propósito da nossa obra aqui na UFPR: recriar as condições do local e assim con-sertar as possíveis alterações que vierem a ocorrer”, defende Fabia-ni. Para evitar isolamento de es-pécies, foi proposta a construção de uma escada piscícola, que per-mitiria aos peixes subir o leito do rio e procriar como ocorria antes

da chegada da usina.A destinação da energia ge-

rada por Belo Monte é mais um ponto polêmico. As autoridades afirmam que é necessário ar-ranjar outra forma de produção de energia em larga escala para evitar a dependência de Itaipu e de seu regime de chuva. “Quan-do há uma seca no Norte, há um período de chuvas no Sul e Sudeste, o que possibilita que sempre haja produção de ener-gia”, explica Fabiani. Os alunos e ambientalistas que se opõem à obra argumentam que as em-presas mineradoras serão as principais beneficiadas por essa nova energia. “Essa indústria [a mineração], por mais que traga recursos para o país, não fortale-ce o desenvolvimento da região amazônica”, contrapõe Boing:::

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Áreas do Vale do Xingu, que ficarão submersas caso a usina de Belo Monte seja construída. Estudantes e ambientalistas contestam o apoio da UFPR, que não foi debatido coletivamente

Entendendo o CEHPAR O Centro de Hidráulica e Hidrologia Parigot de Souza (CEHPAR) foi inaugura-

do em março de 1959 como um laboratório da UFPR. Em 2000, foi oficializado um acordo que prevê a atuação do órgão em parceria com a Copel e o Instituto de Desen-volvimento e Tecnologia (Lactec), uma instituição privada. Desde a sua fundação, o órgão já criou inúmeras representações de usinas hidrelétricas do Brasil e do mundo, como a Usina Hidrelétrica de Itaipu. Junto com os centros de pesquisa da USP e de FURNAS-RJ está entre os melhores laboratórios de hidráulica do país.

Relatório de Impacto Ambiental O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos

Naturais Renováveis (Ibama) elaborou um estudo dos im-pactos ambientais, positivos e negativos, da Usina de Belo Monte. Confira alguns dos 32 pontos:

• Perdadevegetaçãoedeambientesnaturaiscommudanças na fauna, causada pela instalação da infraestrutura de apoio e obras principais;

• Aumentodapopulaçãoedaocupaçãodesordena-da do solo;

• Aumentodasnecessidadespormercadoriaseser-viços, da oferta de trabalho e maior movimentação da eco-nomia;

• Danosaopatrimônioarqueológico;• Formaçãode poças,mudanças na qualidadedas

águas e criação de ambientes para mosquitos que transmi-tem doenças no trecho de vazão reduzida;

• AlteraçõesnascondiçõesdeacessopeloRioXingudas comunidades Indígenas à Altamira, causadas pelas obras no Sítio Pimental;

• Mudançasnasespéciesdepeixesenotipodepes-ca, causada pela formação dos reservatórios.

Lia

Gued

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Page 5: Edição 02 | Abril de 2011

8::: abril de 2011

esportes

Atletas tentam quebrar imagem de

esporte exclusivo de bares e mostram

que o jogo vai muito além da brincadeira

No bar, na faculdade ou em casa, a sinuca é tratada como esporte para se divertir. Poucos sabem que existe uma federa-ção organizada e torneios fre-quentes. Democrática, a sinuca é aberta para todas as idades e não requer atletas no auge da forma física, mas com disposi-ção e desejo de vitória.

Presidente da Federação Paranaense de Sinuca (FPS), o jogador Julio César Maus ga-rante que o Paraná está bem à frente dos outros estados do país em termos de organiza-ção. “A Federação existe desde 1989. Temos uma boa estrutu-ra, torneios regulares e de várias categorias. Podemos dizer que estamos muito avançados”, or-gulha-se. Maus explica que os jogadores possuem outras pro-fissões e se dedicam ao esporte quando é possível. “O clima nos jogos é de amizade. O objetivo é vencer, mas a confraterniza-ção também é importante. Não existem árbitros, são os pró-prios jogadores que marcam a pontuação dos colegas, quando não estão em jogo. São raras as brigas e discussões”, diz.

No Paraná, o calendário dos torneios é minuciosamente or-ganizado. Existem campeona-tos individuais e em equipes de diversas categorias. Na capital, há seis clubes regulares que par-ticipam das competições. Nos torneios individuais, uma no-vidade deste ano é a categoria Diamante, que contará com os 33 melhores atletas do estado. Além desta, há as tradicionais categorias Ouro, Prata e Bron-ze, com 64 atletas cada.

Felipe Ribeiro

Dificuldades

Maus conta que é o único integrante da federação atu-almente. “Sou eu quem cuida do site, organiza os eventos e verifica se está tudo ocorrendo bem, mas também tenho um emprego paralelo”, esclarece o dirigente.

Um dos atletas regulares é Amaury Brasil, 14 anos, com-petidor do Paranaense Sé-rie Prata. Ele mora em Ponta Grossa e sempre precisa cus-tear suas despesas para jogar em Curitiba. “O clube deveria patrocinar os campeonatos. Eu treino quatro horas diaria-mente, gosto do que faço, mas é difícil me bancar sozinho. Em campeonatos de equipe di-vidimos as despesas, mas ainda assim sai caro”, lamenta.

Outro jo-gador, o en-genheiro civil

Guilher-me Mar-ques, reclama dos custos do equipamento, geral-mente importado. “Temos que comprar nossos próprios tacos, o giz que usamos tam-

bém vem de fora e as bolas uti-lizadas no jogo são diferentes das tradicionais. Todo esse ma-terial custa muito, mas se não o tivermos, o resultado do jogo muda”, afirma.

Benefícios

O estudante de Medicina Veterinária Edi Souza trei-na cinco vezes por semana e disputa campeonatos há três anos. Para ele, é um tempo bem gasto. “A Sinuca é um esporte tranquilo, estimula a inteligência e nos faz criar vín-culos de amizade. É um pas-satempo, mas com certeza um dos melhores esportes para se praticar”, garante Souza.

A mãe de Amaury, Marile-ne Carvalho conta que a sinuca tem ajudado o filho na escola. “No início eu não o deixava participar dos treinamentos, tinha na cabeça apenas essa imagem do bar. Mas as notas na escola começaram a melho-rar, ele aumentou a concentra-ção e ficou mais atento a tudo. A sinuca só trouxe coisas boas para ele, apesar da dificuldade em se manter”, diz.

Para todas as idades

O empresário Dilson Nu-nes, de 69 anos, também com-petiu e conta que a sinuca pode ser jogada por pessoas de todas as idades. No caso dele, ela é até mesmo recomendada pela

medicina. “A sinuca me aju-da a combater o risco

coronariano, que é um problema

nas artérias, me man-

t é m a t i v o

c o m o a t l e t a”,

afirma. A m a u r y

Brasil é justa-mente o oposto:

aos 14 anos, é o mais novo atleta a disputar a Sé-rie Prata e até já desenvolveu seu próprio estilo de jogo. “Aprendo com os mais ve-lhos, mas hoje posso dizer

A sinuca brasileira O termo “sinuca” é popularmente usado em nosso

país, mas normalmente fazemos referência aos vários tipos de “bilhar”, como o “Bola 8”. Praticado por di-versão nos bares, o bilhar é qualquer jogo em que se use tacos e bolas. Já a sinuca em si é o jogo com regras específicas, dimensões exatas e equipamentos próprios.

O regulamento da sinuca brasileira é completamen-te diferente daquele com que estamos acostumados a jogar entre amigos. Dois ou mais jogadores começam usando dez, treze ou dezessete bolas. Uma é a branca, denominada “tacadeira”, além das nove, doze ou dezes-seis coloridas com valores determinados segundo as cores. Há três, seis ou dez vermelhas valendo 1 ponto cada; a amarela vale 2 pontos; a verde, 3 pontos; a mar-rom, 4 pontos; uma azul, 5 pontos; uma rosa, 6 pontos e uma preta, 7 pontos. A quantidade de bolas vermelhas a usar é determinada no regulamento de cada evento.

que tenho a minha própria técnica para enfrentar es-ses adversários”, explica. Ele terminou o campeonato na quarta posição.

Derrubando o precon-ceito

A Federação e os jogado-res de sinuca têm uma bar-reira: a imagem negativa da sinuca na sociedade. Maus conta que essa visão, de cer-ta forma, atrapalha o esporte. “Isso interfere na divulgação, e as pessoas não sabem que aqui fazemos jogos completa-mente diferentes, com outras regras. A primeira coisa que passa na cabeça do cidadão quando se fala em sinuca, in-felizmente, é o ‘buteco’ e a cerveja”, conta.

O veterano Dilson Nunes acredita que a imagem já co-meça a ganhar um parâmetro novo, com o expressivo públi-co que começa a acompanhar os torneios. “Temos nossas profissões paralelas e o pú-blico percebe a concentração dos atletas. Um bom exemplo é a proibição de bebidas alco-ólicas enquanto competimos, o que mantém um alto nível de profissionalismo”, relata o jogador:::

Sinuca levada a sério Anin

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Objetivos A finalidade da partida é encaçapar as bolas da vez e as

coloridas em sequência ordenada crescente. A bola de menor valor em jogo é identificada como “bola da vez” e as demais como “coloridas”.

A partida é encerrada quando:

- é encaçapada a bola 7 quando há vantagem no placar;- restarem em jogo a “tacadeira” e as respectivas bolas, e a

diferença de pontos atingir valores maiores que:

a) 25 pontos, com a bola 5 como a da vez;b) 20 pontos, com a bola 6 como a da vez;c) 7 pontos, com a bola 7 como a da vez;

- um dos jogadores reconhece a derrota na partida. A sinuca vai conquistando seu espaço no cenário esportivo do país. No Paraná, o esporte tem até federação representativa