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Edição atualizada com emendas aprovados pelo Congresso de Refundação do PCML

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Edição atualizada com emendas aprovados pelo Congresso de Refundação do PCML

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ÍNDICE

Apresentação 3

I) Introdução 6

II) Neoliberalismo: a grande ofensiva do imperialismo 7

III) O Brasil e a ofensiva neoliberal do imperialismo 14

IV) A crise “do Movimento Comunista Internacional” 34

V) A crise e a Revolução Comunista no Brasil 38

1. O problema teórico da estratégia 40

A) A contradição fundamental 41

B) O caráter da Revolução 42

C) As forças motrizes da Revolução 44

D) As tarefas principais da Revolução 44

E) O Estado Operário, constituído ou em constituição... 45

F) A aplicação do Programa de Emergência 46

G) A conquista da hegemonia pela Classe Operária 47

2. O problema organizativo prático do Partido 48

VI) O momento político 53

VII) As tarefas imediatas 57

1. Na luta econômica dos trabalhadores 58

2. Na luta político-eleitoral 58

3. Na luta ideológica 58

4. Suas palavras de ordem são... 58

Anexo I - tabelas e gráficos 60

Bibliografia 76

Anexo II - Adendo à análise de conjuntura 82

1. Introdução 82

2. A conjuntura de agravamento da crise no ano de 1998 82

3. O Brasil e o agravamento da crise em 1998 85

4. O Movimento 5 de Julho no ano de 1998 88

SUPLEMENTO

VVVVVoooooz Operáriaz Operáriaz Operáriaz Operáriaz Operária

EDIÇÃO ESPECIAL:

QUE REFUNDAR?

de P. I. Bvila

JAN/FEV/MAR/ 2000

Co-edição:

Jornal INVERTAEditora Nova Victória

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APRESENTAÇÃO“Um homem inteligente certa vez deu-se a pensar que os homens que submergiam na água, se afogavam

simplesmente porque se deixavam levar pela idéia da gravidade. Tão logo retirasse essa idéia da cabeça, conside-rando-a por exemplo como uma idéia nascida da superstição, como uma idéia religiosa, ficaria imune ao perigo deafogar-se. Este homem passou a vida lutando contra a ilusão da gravidade, cujas conseqüências nocivas todas asestatísticas apontavam novas e abundantes provas. Este homem inteligente era o protótipo dos novos filósofosrevolucionários alemães.”

( K. Marx e F. Engels, em “La Ideologia Alemana”, Buenos Aires, Ediciones Pueblos Unidos, 1973, p. 11 e 12 )

A atual luta teórica entre os comunistas revolucio- nários brasileiros, iniciada na década de 60, e

retomada atualmente, com o desaparecimento do cam-po socialista do leste e da URSS, tem parodiado, emgrande escala, a luta teórica travada pelos jovenshegelianos de esquerda, contra o sistema de Hegel,na Alemanha, no século passado (XIX). Em primeirolugar, porque toda a luta se condensa em torno deuma única questão: “Que fazer” para solucionar a cri-se em que está mergulhado o MCB? Situando melhoro problema, talvez fosse mais acertado dizer: “QueRefazer?” Em segundo lugar, porque todas as idéiasrevolucionárias sobre esta questão implicam o conhe-cimento profundo das suas raízes, ou o cerne do pro-blema a ser resolvido. E por último, porque tratando-se de um problema que também se apresenta no pla-no interncional, seria possível solucioná-lo no âmbitonacional?

Muito se tem dito e escrito sobre o tema, tornan-do-o cada vez mais candente para a luta de classes ea revolução no Brasil. A classe operária e as massasexploradas e oprimidas pelo capitalismo clamam poruma solução, mas toda tentativa de solucionar o dile-ma, até agora, somente tem acentuado o quadro decrise do MCB. Cresce o processo de divisão e o caosteórico domina a prática revolucionária, tornando-acada vez mais afastada de um real trabalho revolucio-nário; o sofrimento das massas exploradas parece semsolução e a burguesia tripudia sobre a debilidade des-tes esforços revolucionários, tão abnegados e “idea-listas”, no país.

Mas, qual é a causa de tudo isto? Por que todosos esforços organizativos revolucionários dos maisdistintos agrupamentos, de um momento para o ou-tro, esvaem-se como um castelo de areia, soçobran-do à fadiga e à desilusão com o processo revolucio-nário e o marxismo? Por que o marxismo torna-secada vez mais afastado das massas operárias, enquantoteorias obscurantistas e alienígenas, escritas em lin-

guagem arcaica e incompreensível, são assimiladas pormultidãos de trabalhadores, constituindo verdadeirosexércitos de fanáticos por todo o país? Ao nosso veraí está a raiz do problema a ser respondido e, antesdisso, não se poderá proceder a qualquer esforçorevolucionário e organizativo no Brasil.

Luiz Carlos Prestes, o mais sábio e prático comunis-ta revolucionário brasileiro, após seu desligamento doPartido Comunista, do qual foi o Secretário Geral du-rante mais de 4 décadas seguidas, levantou este proble-ma pela primeira vez, abrindo um caminho para que osrevolucionários brasileiros avançassem na formulação deuma estratégia para a revolução brasileira, que superas-se as limitações e o maniqueísmo do debate até entãodesenvolvido. Ao analisar o processo de luta interna doPartido Comunista, entre 57 e 61, que resultaria na dis-sidência que formaria o PCdoB, afirmava:

“(...) Em 58 fizemos autocrítica por causa do XX Con-gresso e mais uma vez criticamos a prática sem tocar aquestão da estratégia. Nós confundimos a possibilidadeda via pacífica ao socialismo com o caminho pacífico. Ecaímos na passividade. O documento foi criticado e me-lhorado no V Congresso, mas continuou marcado por mui-tas ilusões sobre o capitalismo, refletindo nossaincompreensão total da realidade brasileira. Na ânsia decriticar os erros de esquerda, acabamos caindo, entre 56 e60, em posições liberais e direitistas. Não era novidadepara nós o esquecimento da questão estratégica. Desde 28,nossa estratégia estava errada. Absorvemos as teses do VICongresso da Internacional Comunista sem aplicá-las ànossa realidade. Eram teses para os países coloniais esemicoloniais, muito boas para aqueles países, mas quenão podiam ser aplicadas na América Latina, onde já setinha independência política desde o princípio do séculopassado. Esses erros refletem o nosso atraso cultural. Há60 anos que se estuda marxismo nas universidades. NoBrasil, se o sujeito tem um livro marxista, está arriscado aser preso, torturado e até assassinado. Qual é a causa dis-so? A burguesia industrial brasileira apareceu no fim doséculo, já na época do imperialismo, numa época em que ocapitalismo chegava ao imperialismo. Explicando melhor:a burguesia brasileira nasceu subordinada ao imperialis-mo. Nosso capitalismo é dependente, mas é capitalismo. Enegar o capitalismo é um absurdo. Em 45, há documentosmeus em que me refiro à revolução burguesa no Brasil.Comparávamos a situação do Brasil naquela época aoczarismo na Rússia de 1905. Ora, isso era uma análisecompletamente falsa. A Rússia czarista era uma sociedade

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autocrática. Nós, na verdade, apenas repetíamos as pala-vras de Lênin nas "Duas Táticas da Social-Democracia",que eram justas, mas lá para a Rússia de 1905. Aqui, nãoeram aplicáveis à realidade. Há documentos meus em quedizia ser preciso acabar com a dominação imperialista ecom o latifúndio, a fim de abrir caminho para o capitalis-mo. O problema é que o capitalismo já estava se desenvol-vendo ali, ao nosso lado, sem que víssemos.”

(Dênis de Moraes e Francisco Viana, “Prestes: Lutas eAutocríticas”, Petrópolis, Editora Vozes, 1982, 2º Edi-ção, p. 151 e 152)

Prestes mostrou precisamente que o problemacentral da revolução brasileira não é um problema me-ramente de tática, mas sobretudo, de estratégia. De-riva, por um lado, do atraso cultural do país, que im-pediu o domínio da ciência marxista-leninista pelosrevolucionários; e por outro, do desconhecimento darealidade brasileira, que levou à execução de uma es-tratégia errada para o país. Por isso, as grandes dis-cussões teóricas e filosóficas e novas formulações es-tratégicas, que buscavam contestar num ou noutro as-pecto a estratégia do Partido, sem contestar a suatotalidade, foram refutadas na prática. A grande mai-oria dos agrupamentos da considerada “nova esquer-da”1, saídos das fileiras do Partido para a luta arma-da, nas décadas de 60 e 70, por não efetuarem umaruptura com as suas concepções estratégicas, desem-penharam o papel de ovelhas que se faziam passarpor lobos, foram amplamente utilizados pela burgue-sia e o seu aparelho de repressão. Os setores queficam no Partido tornam-se prisioneiros desta estra-tégia, mesmo depois de seu completo esfacelamento.Assim forma-se um quadro em que —como diziaLenine— “sem teoria revolucionária, não há sequermovimento revolucionário”2, o irritado desconcertoleva ao surgimento de “homens inteligentes”, comoaquele descrito por Marx e Engels no prólogo da Ide-ologia Alemã. Eles pensam que a agressividade daspalavras anula a postura direitista e conservadorajunto às massas; que a violência da ação anula oobjetivo utópico e reacionário e que o idealismomoral anula a inocência, que conduz sempre às ar-madilhas da classe dominante e seus aparelhos re-pressivos e não compreendem que - como diziaPrestes — “não há vento favorável para quem nãosabe a que porto se dirige”3.

(1) SÁ, J. Ferreira e REIS FILHO, D. A. (org.) Imagens da Revolução(documentos políticos das organizações clandestinas de esquerdados anos 1961-1971). Rio de Janeiro, Marco Zero, 1985. p. 7.(2) LENINE, V.I. Que fazer. In: Obras Escolhidas, tomo I. Lisboa/Moscou, Ed. Avante/ Ed. Progresso, 1977. pp. 96-97.(3) PRESTES, L. C. Jornal INVERTA, Rio de Janeiro, nº 9, Março de1993, p. 12.

Vinte anos se passaram e a realidade continua ademonstrar, inequivocamente, que a questão levan-tada por Prestes não é mera superstição, mas umacontradição concreta, a lei da gravidade do movimentorevolucionário brasileiro que não foi solucionada e,até o momento, é a causa principal de seu completoesfacelamento. A cada novo fracionamento dos revo-lucionários, que teimam em desempenhar o papel da-quele “homem inteligente”, o MCB (Movimento Co-munista Brasileiro) é compelido a se posicionar frenteao problema da estratégia. Assim a atual crise doscomunistas no Brasil transformou-se, aparentemente,num beco sem saída: pois sem uma estratégia revolu-cionária não é possível se erguer um movimento re-volucionário e, sobretudo o Partido, e sem a organi-zação dos quadros revolucionários, é impossível o do-mínio da teoria marxista-leninista, a compreensão darealidade brasileira, logo, uma estratégia revolucioná-ria.

Mas não há problema sem solução. E nestas cir-cunstâncias, funciona uma outra lei da “gravidade”, adialética do processo histórico deixada por Marx :

“Uma organização social nunca desaparece antes quese desenvolvam todas as forças produtivas que ela é capazde conter; nunca relações de produção novas e superioresse lhes substituem antes que as condições materiais de exis-tência destas relações se produzam no próprio seio da ve-lha sociedade. É por isso, que a humanidade só levanta osproblemas que é capaz de resolver e assim, numa observa-ção atenta, descobrir-se-á que o próprio problema só sur-giu quando as condições materiais para o resolver já exis-tiam ou estavam, pelo menos, em vias de aparecer.”

(Karl Marx, “Contribuição para a Crítica da Econo-mia Política”, Editorial Estampa, Lisboa, 1977, p. 29)

O novo processo de fracionamento vivido pelo Mo-vimento Comunista Brasileiro, a partir da década de 80e que continua a se desenvolver durante toda a décadade 90, levou ao surgimento de vários agrupamentos re-volucionários e círculos marxistas que passam a efetuaruma espécie de crítica da crítica. Estes tão somente bus-cam contestar os equívocos de estratégia que levaramao esfacelamento do Partido Comunista, mas também,este fenômeno nas organizações constituídas no períodode luta armada. Muitos agrupamentos repetem a experi-ência já percorrida por outros, alguns se pretendem “Par-tidos” ou se rotulam como tal, outros, embora não serotulem, agem como tal. E com isto, surge uma novabase revolucionária, da qual poderá fluir os quadros co-munistas necessários para o trabalho de Refundação doPartido Comunista no Brasil. Mas para que isto tenhauma conseqüência prática é necessário que estes novos

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agrupamentos não se deixem atrair pelo papel daquele“homem inteligente”, constituam um processo comum decrítica e autocrítica, de estudo do marxismo e elabora-ção de uma estratégia revolucionária, e unindo-se numaprática comum, que supere o sectarismo, as jactânciasfilosóficas e o espírito de círculo pelo espírito de Partido.

A nossa Organização é um destes agrupamentosrevolucionários que ao longo de 17 anos tem traba-lhado, incansavelmente, na construção desta nova baserevolucionária Marxista-Leninista, para que se pos-sa Refundar o Partido Comunista. Sua rupturacom as concepções estratégicas da “dita nova esquer-da” se deu na medida em que todos os esforços teó-rico, organizativo e tático, balizadores do processode ruptura dos revolucionários com as concepçõesestratégicas do PCB, na década de 60, passam a sersistematicamente renegadas pelas suas principais li-deranças e formuladores ou propositalmentedistorcidos e “adaptados” às novas circunstâncias po-líticas do país — o retorno à “democracia burguesa”4

— caindo no mais desavergonhado chauvinismo pelorevisionismo e o reformismo (esquerdista e de direi-ta). Identificamos este processo como um novo ca-minho de retorno ao “pântano”* teórico (as concep-

ções estratégicas do PCB), através de um novo ró-tulo: o Partido dos Trabalhadores — PT. Rejeita-mos também o caminho da capitulação seguido poraqueles setores que, sem o menor escrúpulo, pro-moveram cisões em seus agrupamentos eretornaram diretamente ao pântano (o próprioPCB), para ajudar a DNP (Direção Nacional Pro-visória) a conduzi-lo ao liquidacionismo. De certaforma, muitas vezes nos imaginávamos no papeldaquele “homem inteligente”, descrito por Marx eEngels, lutando com as idéias contra a lei da gra-vidade, isto é, tentando “quebrar o fundo da garra-fa” com as idéias, mas a aproximação de nossoagrupamento com Luiz Carlos Prestes viria de-monstrar que a nossa situação era o inverso.

Deste modo, a nossa Organização tem desen-volvido uma experiência inédita dentro do proces-so revolucionário brasileiro: trata-se de uma orga-nização operária, construída por operários, arma-dos com a ciência do proletariado — o Marxismo-Leninismo. Ela ultrapassou as portas do inferno (aluta econômica) e se projetou no céu da luta declasses do proletariado brasileiro e latino-america-no. Adquiriu o respeito, a simpatia e a colaboraçãode vários intelectuais de prestígio e hoje polariza aopinião de parte significativa do movimento revo-lucionário do país. Se a sua experiência se soma àexperiência de outros agrupamentos, mais que seconstituir uma nova base revolucionária, elarefundará, de fato e de direito, o Partido Comu-nista no Brasil. Portanto, é necessário compreen-der que o acúmulo e a experiência isolada, não sãosuficientes para conquistar seu objetivo e, neste sen-tido, tornou-se imprescindível aos comunistas re-volucionários, necessário à revolução e exigido, aolhos vistos, pela classe operária, que a nossa es-tratégia reflita uma proposta mais avançada, parauma reflexão coletiva de todos os agrupamentosrevolucionários dispostos por sua consciência e li-vre vontade a um processo de unidade prática eteórica no Congresso de Refundação do PartidoComunista.

(4) IVAN, P. As razões de nosso desligamento do PCdoB (Ala Verme-lha). In: Organização e Partido, caderno III, Rio de Janeiro, ALP,1983.(*) Refiro-me à fábula do “Tonel vazio”, de Krilov, citada por Lenineno “Que Fazer”: “Pequeno grupo compacto, seguimos por umcaminho escarpado e difícil, de mãos dadas firmemente. Estamosrodeados de inimigos por todos os lados e temos de marchar quasesempre debaixo do seu fogo. Unimo-nos em virtude de uma decisãolivremente tomada, precisamente para lutar contra os inimigos e nãocair no pântano vizinho, cujos habitantes, desde o início, nos censu-ram por nos termos separados num grupo à parte e por termos esco-lhido o caminho da luta e não o da conciliação. E eis que alguns denós começam a gritar: “vamos para o pântano!” E quando procura-mos envergonhá-los replicam : “Que gente tão atrasada sois! Comoé que não tendes vergonha de nos negar a liberdade de vos convidara seguir um caminho melhor!” Oh! sim, senhores, sois livres não sóde nos convidar, mas também de ir para onde melhor vos parecer, atépara o pântano; até pensamos que vosso verdadeiro lugar é precisa-mente o pântano e estamos dispostos a ajudar-vos, na medida dasnossas forças, a mudar-vos para lá. mas nesse caso largai-nos a mão,não vos agarreis a nós e não mancheis a grande palavra liberdade,porque nós também somos “livres” para ir para onde melhor nosparecer, livres para combater não só o pântano como aqueles que sedesviam para o pântano! (ob. cit. p. 86).

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I) INTRODUÇÃO “A luta não é um sonho

e somente sonha com a luta quem luta com um sonho

e já não é sonho é luta !”

(P. Ivan, “Poemas Que Serás também !”)

A contra-revolução burguesa neoliberal proclamou a “morte do comunismo”, o “valor universal da

democracia” e o “fim da história” — e o espectro docomunismo voltou a rondar o mundo capitalista. Noafã do desmoronamento do campo socialista do Les-te Europeu e da URSS, mais uma vez, todas as po-tências imperialistas uniram-se em Santa Aliança paraconjurá-lo: a mídia, seitas eletrônicas e o papa; osgovernantes dos EUA, Alemanha, Japão e ONU; aaristocracia operária, burocratas e os policiais da CIAnorte-americana.

Mas se o comunismo está morto, logo o capitalis-mo é eterno e a humanidade condenada à exploraçãodo homem pelo homem no mundo unipolarhegemonizado pelos EUA, então porque a burguesiadespeja bilhões e bilhões de dólares em propagandacontra o comunismo, bloqueia desumanamente Cubae tenta distorcer ou ocultar a opção pelo socialismode outros países como Vietnã, China e Coréia doNorte? E por que ainda agravou-se, vertiginosamen-te, o crescimento absoluto da fome, do desemprego,da miséria, do caos econômico-financeiro e dos con-flitos bélicos, raciais e étnicos no mundo?

Destes fatos decorrem três conclusões:

1ª) o comunismo está vivo e, mesmo diante daderrota sofrida no Leste Europeu e na ex- URSS,

renasce, a cada dia, mais forte e vigoroso, como mo-vimento teórico, organizativo, prático e revolucioná-rio em contradição diametralmente oposta, antagôni-ca e inconciliável ao capitalismo;

2ª) o capitalismo é que tenta escamotear e fugir aogravamento da crise estrutural e geral , do seu perío-do histórico terminal —o imperialismo— por meio deuma grande ofensiva, que desesperadamente vende aidéia que a “modernidade”, a “globalização” e a “novaordem mundial” - o “neoliberalismo” - superou e le-vou à “morte” o comunismo;

3ª) portanto, apesar da profunda crise que se aba-teu sobre os comunistas, é momento de reunificaremsuas forças, refundarem o Partido Comunista e rea-firmarem, abertamente ao mundo, que seu modo dever, seus fins e tendências, estão mais vivos que nun-ca, opondo um manifesto próprio do partido à lenda damorte do comunismo e à farsa da eternidade neoliberaldo capitalismo.

Com este propósito, os comunistas revolucionári-os de todo o Brasil, reunidos na Congresso deRefundação do Partido Comunista, Marxista-Leninista,, aprovaram estas teses visando contribuircom a luta pela Refundação do Partido Comunista, ecom a luta internacional da classe operária pela liber-tação da exploração e opressão capitalista e imperia-lista.

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II) NEOLIBERALISMO*:A GRANDE OFENSIVADO IMPERIALISMO

A burguesia imperialista, após o desmoronamen- to do campo socialista do Leste Europeu e da

URSS, repete bilhões de vezes que “o comunismomorreu”, que “o valor da democracia é universal” eque é chegado “o fim da história”. Utiliza-se da criseconjuntural que abateu-se sobre o Movimento Co-munista Internacional para impor, como verdade ab-soluta e sem apelo, o seu mundo unipolar e global-mente hegemonizado pelos Estados Unidos. Com isto,pretende escamotear e fugir às violentas manifesta-ções da crise geral e estrutural do sistema capitalista ereordenar o seu domínio, de opressão e exploraçãode classe sobre o proletariado e as massasmiserabilizadas no mundo.

A estratégia da contra-revolução no front ideoló-gico segue à risca o teorema do secretário de impren-sa do partido nazista, Josef Goebbels1 : “repita umamentira mil vezes até que ela se torna uma verdade”.Aproveita-se da desestruturação das forças do co-munismo no mundo para, através de seu falacioso dis-curso neoliberal, de “modernização” e “livre merca-do”, avançar no front econômico, por um lado, elimi-nando as conquistas sociais e históricas da classe ope-rária e massas oprimidas, por outro, devastando asbases estratégicas para independência dos estados na-cionais (econômicas, políticas, militares e ideológicas)tornando-os mínimos frente aos monopólios imperi-

alistas. No front político, apoiada no seu poderiobélico, financeiro e de comunicação, rompe unilate-ralmente o pacto em torno do “Estado do Bem-EstarSocial” com a aristocracia operária, as castas milita-res, os burocratas, intelectuais e os setores naciona-listas de sua classe, iniciado em 1914 e oficialmentecelebrado, na Conferência de Bretton Woods, em1944.2

A burguesia já há mais de um século não consegueesconder sua condição reacionária de existência. As-semelha-se a um velho feiticeiro que, não podendomais controlar as potências que despertou com osseus truques e palavras mágicas, invoca em auxílioseus aprendizes da escola de Chicago, que pensamterem inventado uma “nova fórmula mágica” para sal-var o capitalismo: o “neoliberalismo”. Os aprendizesde feiticeiro não sabem que são vítimas do seu pró-prio ilusionismo, pois, ao condenarem à morte o “Es-tado do Bem-Estar Social”, fecham a única janela dosistema por onde a burguesia conseguiu fugir às pri-meiras manifestações da crise geral do capitalismo,decorrentes da passagem da livre concorrência aoestágio do monopólio e da exportação de capitais, afase imperialista —a corrida colonial e neocolonial, acrise de hegemonia que levou a I Guerra Mundial(1914 a 1917), o crack financeiro de 1929 e a IIGuerra Mundial (1939 a 1944)— e reteve a marchada classe operária no mundo, particularmente no ve-lho continente europeu, para o comunismo nascente.

A teoria de John M. Keynes3 condensou todo oprocesso de luta da burguesia contra as crises cíclicasdo capital. Modificou o caráter e o papel do Estadoburguês, de mero comitê gerenciador dos negóciosda burguesia para o de comitê planejador da produ-ção social e de produtor da demanda efetiva, atravésda intervenção do Estado na produção —em ramos

(*) Doutrina político-econômica que pretende adaptar as idéias doliberalismo clássico as condições do capitalismo contemporâneo(imperialismo). Estruturou-se no final da década de 30, com basenas obras de Walter Lippmann, Jacques Rueffe, Maurice Allair (...),nos anos 50 concentra-se na Universidade de Chicago, nos anos 60 e70 ganha espaço em alternativa ao Keynesianismo, e fica famosacom a polêmica em torno do assessoramento pessoal de MiltonFriedman a Ditadura do General Pinochet, no Chile. Em 1976, olivro “Capitalismo de Liberdade”, de Friedman, é premiado com oNobel, e nos anos 80 e 90 passa a predominar, como principalorientador do Imperialismo; seus principais expoentes hoje são PeterDrucker, Michel Porter, Keiniche Ohmae, John Naibits e outrosconsiderados adeptos da “Escola de Chicago”. No Brasil, a versãoanedótica dos que defendem esta doutrina (atualmente no governoFHC) são os “Chicago boys”. Ver também “Neoliberalismo” e “Escolade Chicago”. In: Dicionário de Economia. S.Paulo, Abril Cultural,1985. pp. 130-131, 147-148 e 297-298.(1) SODRÉ, N. W. História da História Nova. 2ª ed. Petrópolis, Ed.Vozes,1987. p. 22. ____________. “Autópsia do Neoliberalismo”. Jornal Hora doPovo, São Paulo, Caderno Especial, de 3 de fevereiro de 1994.

(2) HOLLAND, S. Revendo Breton Woods. Política e Administração,Rio de Janeiro, 2(4): 4-19,1994. OHMAE, K. O Mundo SemFronteiras. Ed. Makron Books. pp. 11 e 15. DRUCKER, P. As NovasRealidades. S.Paulo, Ed. Pioneira.1989, pp. 35, 49, 63 e 95.(3) KEYNES, J. M. A Teoria Geral do Emprego, Juro e da Moeda -Inflação e deflação. S.Paulo, Nova Cultural, 1985. pp. 29-217.

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estratégicos da economia— para, por um lado, ame-nizar as contradições derivadas da anarquia da pro-dução, já que em escala monopolista leva necessaria-mente à guerra de rapina neocolonial e, por outro,atenuar as contradições decorrentes da Lei Geral daAcumulação Capitalista, na medida em que a acumu-lação e centralização do capital e renda em um pólo(a burguesia) gera, em razão inversamente proporci-onal, um outro pólo (o proletariado), onde se concen-tra o desemprego, o pauperismo e a fome (o fenômenoda superpopulação relativa), impedindo que a deman-da solvente se desenvolva na mesma proporção da pro-dutividade social, logo, gerando as crises de superpro-dução, a guerra civil e barbárie social.

A migração dos capitais financeiros da Europa paraos EUA, no curso de duas grandes guerras mundiais,que se efetuavam sob o paradigma de Carl VonClausewitz4 —“a guerra como um instrumento nacio-nal, racional e política por outros meios”— gestou ascondições subjetivas para o pacto entre as classessociais em torno dos objetivos e esforços de guerra.Isto consolidou a hegemonia da burguesia norte-ame-ricana sobre o conjunto da classe, tornando-a centroda contra-revolução mundial. A fase imperialista, se-gundo V. Ilich Lenine5, se desenvolve sob as condi-ções da acumulação monopolista e do parasitismofinanceiro, multiplica o poder de corrupção da bur-guesia sobre as massas pauperizadas e aprofunda asdiferenciações entre as classes e dentro de uma mes-ma classe social. Portanto, paralelamente à formaçãode uma oligarquia financeira no interior da burguesia,forma-se também, no interior da classe operária, umsetor aristocrático (aburguesado), que torna-se uminstrumento do domínio de classe da burguesia sobreo conjunto das massas trabalhadoras e a base funda-mental para o pacto entre as classes sociais sobre asquais ergue-se o “Estado do Bem-Estar Social”.

A contra-revolução burguesa, a partir dos EUA,antes mesmo do término da II Guerra Mundial e ain-da sob o impacto da grande crise de 1929, já esbo-çava sua reação no esforço de guerra da frente oci-dental. Esta ação dividiu a heróica vitória da URSSsobre as forças principais do nazi-fascismo em todoo velho continente europeu. Logo após, sob o simu-lacro da “Guerra Fria”, apoiada no poder militar, no

(4) CLAUSEWITZ, C. V. Da Guerra. S. Paulo, Liv. Martins Fontes Ed,1979. pp. 8, 87-90 e 737-775.(5) LENINE, V.I. “Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo”. In:Obras Escolhidas. Tomo 1. Lisboa / Moscou, Ed. Avante / Ed.Progresso, 1977. pp. 619, 641-642 e 653-655.

capital financeiro e na aristocracia operária, promo-ve a reestruturação do sistema capitalista mundial.Primeiramente, direciona a maioria dos seus capitaispara o continente europeu, onde a ameaça comunistase tornava mais iminente. Nos países sob seu domíniocolonial ou neocolonial, especialmente na AméricaLatina, Ásia e África, aprofundou a superexploraçãoimperialista para sustentar sua estratégia de reação;onde não conseguiu pacificamente o alinhamento à suanova ordem mundial, dos setores de sua própria clas-se e das classes exploradas, aliou-se às oligarquiasrurais ou setores mais reacionários das classes domi-nantes locais, financiando golpes, ditaduras militarese oligárquicas; onde ocorreu este alinhamento, esta-beleceu-se um curto período de democracia burgue-sa e de relativo desenvolvimento econômico, sob ascondições da parceria ou do convívio entre o capitalimperialista e os capitais nacionais, permitindo o avan-ço do setor da burguesia nacional que floresceu, combase no processo de substituição de importações, noperíodo das duas Grandes Guerras.

A rápida recuperação da Europa e do Japão per-mitiu que a burguesia financeira norte-americanaredirecionasse sua exportação de capitais para as re-giões, que inicialmente havia deixado em segundo pla-no, particularmente aquelas em que conjunturas con-tinentais ou nacionais abriam espaço para o avançogradual da revolução proletária mundial: na Ásia (Chi-na, em 1949 e Vietnã, em 1947); na América Latina(Bolívia e Brasil em 1954, Cuba, em 1953 - 1959) e;na África (Argélia e Angola, em 1962). E neste con-texto, os monopólios europeus e japoneses avança-ram e, sob as novas circunstâncias da “Guerra Fria”—a corrida tecnológica, aeroespacial e bélica— en-tre os EUA e a URSS, remontaram às contradiçõesinterimperialistas em torno da reconversão da tecno-logia de guerra para a produção social e consumo.Este processo acelera o ritmo da recomposição tec-nológica do aparelho produtivo capitalista, altera acomposição orgânica do capital global e desencadeiauma nova crise do capital, que atinge em cheio o cen-tro da contra-revolução burguesa mundial, os EUA.

As guerras pelo controle das reservas de petróleodos povos árabes, no Oriente Médio (Argélia e Iraque,em 1971, 4ª Guerra Árabe-Israelense, em 1972) e acrise energética, em 1973, agravam ainda mais o dé-ficit do balanço de pagamentos global dos EUA , jáde 10 bilhões de dólares, em 1971. A posição unila-teral de desvalorizar o dólar e quebrar sua paridade

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com o ouro, em 15 de agosto de 1971, rompe comas regras do Sistema Financeiro Internacional, ele-vando astronomicamente as taxas de juros (PrimeRate e Libor) para atrair os petrodólares que finan-ciam o seu déficit crescente. Esta manobra inverte ofluxo de capitais, que passam a fluir das periferias parao centro; paralelamente, aumenta escabrosamente asdívidas externas dos países do Terceiro Mundo6, hojeem torno de 1,5 trilhão de dólares, exacerba o fenô-meno das trocas desiguais, levando a economia mun-dial a novo período de depressão e de profunda ins-tabilidade financeira, social e política. Assim, cristali-za-se o esgotamento do modelo de Estado keynesianoe da nova ordem mundial, fixados em Bretton Woods,gestando-se as bases para as teses do Neoliberalismo.

A política neoliberal acelerou a internacionalizaçãoda revolução científico-técnica7, desenvolvida no de-curso da Guerra Fria e da corrida aeroespacial, que oEstado keynesiano preparou. As novas tecnologias emétodos flexíveis de trabalho introduzidos ao proces-so de produção elevaram prodigiosamente a capaci-dade produtiva social e o ritmo de recomposição doaparelho produtivo capitalista. A existência atual de35 mil Empresas Transnacionais (ETN), com maisde 150 mil filiais espalhadas por todos os países, con-figura o novo perfil da grande empresa capitalista8.Elas são a infantaria ligeira do capital e desempenhamo mesmo papel que a grande indústria têxtil desem-penhou para a revolução industrial na Inglaterra (1765-1795). Seus novos métodos “flexíveis” de explora-ção da mais valia (Just-in-time e Kanban), ao inte-grarem a microeletrônica, a robótica e a telemática aoplanejamento, gerenciamento e qualidade do processode produção, pelos sistemas CAD (computação emauxílio ao projeto), CAM (computação em auxílio amanufatura) e CIM (computação integrando a manu-fatura), potencializaram, à escala planetária, as forçasprodutivas (força de trabalho e meios de produção),ultrapassando a “linha de montagem” Fordista eTaylorista. Sua direção empresarial, com base no JetSet Telemático (elite orgânica - apoiada em centro deP&D)9, constitui-se no Estado-Maior da ETN para-lelo e superior aos Estados Nacionais, dado o caráter

multinacional de suas ações e estratégias para o fi-nanciamento, produção e realização de megaprodu-ções. As ETN’s, para funcionarem minimamente, exi-gem cada vez mais novas e superiores relações soci-ais de produção, o processo de globalização da eco-nomia e a nova corrida neocolonial pela formação deblocos continentais —Europa Unificada, NAFTA,“Tigres Asiáticos” e MERCOSUL— que alteram ocaráter do Estado burguês para o de multinacional,complementar e relativamente integrado ao nível con-tinental e com aspirações hegemônicas globais.

Esta nova ofensiva do capital não logrou estabele-cer um novo patamar das relações sociais de produ-ção, ou mesmo reestruturar as relações econômicas,sociais, políticas, ideológicas e militares do capitalis-mo já em franca contradição com o desenvolvimentodas forças produtivas. Por um lado porque, emboratenha levado à desestruturação da URSS, não derro-tou totalmente o Socialismo enquanto sistema social,como demonstra concretamente a existência da Chi-na, Vietnã, Coréia do Norte e Cuba, que desempe-nham papel destacado na resistência e luta contra oimperialismo e na defesa do Socialismo. Além disto,existem outros países que reivindicam a opção socia-lista. Por outro lado porque a nova corrida neocolonialpela formação de blocos econômicos, com alianças ecoalizões flutuantes continentais, aprofunda as con-tradições interiimperialistas, gestando as condiçõesobjetivas e subjetivas para unir o poder dos monopó-lios europeus e asiáticos (Alemanha e Japão) com opoder bélico dos países ex-socialistas (Rússia,Ucrânia, Bielorússia, etc...), indicando a tendência auma brusca passagem da luta pela hegemonia mundi-al do plano econômico-tecnológico, para o planopolítico-militar, como demonstra a tentativa da Euro-pa Unificada em criar uma Aliança Militar indepen-dente da OTAN e o recrudescimento dos conflitosbélicos na Europa do Leste, Oriente Médio, Ásia eÁfrica, neste período.10

Deste modo, a burguesia monopolista norte-ame-ricana é compelida a manter toda a superestrutura for-malizada a partir da Conferência de Bretton Woods,vertebrada pelo capital financeiro norte-americano,e o dólar como moeda-padrão das trocas internacio-nais. O FMI, Banco Mundial, BIRD, OIT, GATT,ONU, OTAN... são instituições que mantêm a

(6) RUZ, Fidel Castro. A Dívida Externa. Porto Alegre, L&PM Editores,1986.(7) SANTOS, T. Revolução Científico-técnica e CapitalismoContemporâneo. Petrópolis, Ed.Vozes, 1983. pp. 33-34 e 116.(8) CAPUTO, O. Economia Mundial e Economia Chilena. Política eAdministração, Rio de Janeiro, 2 (4): 42-43, 1994.(9) DREIFUSS, R. As Transformações Globais: uma visão doHemisfério Sul. PACS, Rio de Janeiro, 1991. pp. 26-29.

(10) VALLADÃO, A. G. A. Ordem Mundial: A “Estratégia da Lagosta”.In: O Mundo Hoje/ 1993 - Anuário Econômico e Geopolítico Mundial.2ª ed., S.Paulo, Ed. Ensaio, 1993. pp. 22-25.

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hegemonia estadunidense e já não regulam, mas em-perram o desenvolvimento mundial, agravando a re-belião das forças produtivas contra as relações soci-ais de produção e, sobretudo, a contradição entre ocapital e trabalho. A formação do G-7, a Rodada Uru-guaia do GATT e o conspícuo Conselho de Seguran-ça da ONU, Fundos de Pensão e outros são artifíci-os, como os programas (Planos) de reestruturaçãodas economias dos países sob o seu domínio imperi-alista, que dão fôlego efêmero ao sistema, mas nãosolucionam a crise que se aprofunda.11

A falência do México, que seguia todo receituárioneoliberal ministrado pelo FMI, revelou abertamenteo brutal descolamento do sistema financeiro mundialde sua base produtiva e, conseqüentemente, a crisede realização e superprodução resultante da altera-ção da composição orgânica do capital, visível na des-proporção entre os departamentos I (meios de pro-dução) e II (bens de consumo) da economia mundial.Além disto, a extraordinária concentração e polariza-ção de capitais no setor financeiro especulativo e noemprego de novas tecnologias (capital constante), emdetrimento do capital variável, isto é, da massa desalários que compõe a demanda solvente (consumoprodutivo e individual), prolongou o tempo de rota-ção do capital global, aprofundou a tendência decres-cente da taxa de lucro e ampliou, extraordinariamen-te, o exército industrial de reserva, particularmente nasua forma estagnada (o desemprego estrutural)12. Ainflação monetária tem levado à crescente guerra co-mercial e industrial, à anarquia da produção e aos ris-cos de um novo crack do sistema financeiro interna-cional, enfim, o retorno da sociedade a um estágio debarbárie social.

A contra-revolução, diante da contínua manifes-tação da crise geral do capitalismo, retoma o front,em uma guerra sem quartéis e definitiva contra ocomunismo para tentar conter a emergente rebe-lião das forças produtivas que se faz visível no ce-nário político internacional. Para isto despeja bi-lhões de dólares no financiamento de grupos terro-ristas, esquadrões da morte, ditaduras oligárquicase seitas eletrônicas; desestrutura governos socia-listas; assassina e mutila milhões de seres humanos,

tentando frear a História e impor ao mundo a suaimagem e semelhança. A burguesia fez ressurgir, emtodo o mundo capitalista, o fantasma doneonazismo e do fascismo; proclamou sua revolu-ção científico-técnica como principal sistema dinâ-mico e motor da História em substituição à luta declasse, e tenta inculcar, através de sua mídia, umalógica de barbárie social, onde banhos de sanguecomo os que ocorreram na guerra do Golfo (1992),Iugoslávia,Tchecoslováquia e toda a região dosBalcãs apresentem-se aos olhos da humanidadecomo um simples jogo de vídeo-game e novo feti-che para o homem, o da desideologização da téc-nica, o “fim da História”.

Mas a burguesia, com a sua contra-revolução,somente acelera ainda mais o seu fim. Por um lado,porque a atual situação de unipolaridade mundial ehegemonismo norte-americano impulsiona a sua crisede hegemonia, tornando-se uma ameaça para toda ahumanidade, uma vez que agrava perigosamente ascontradições da tríade (EUA, CEE e Japão),aprofundando os riscos de uma terceira guerra mun-dial. Por outro, porque a política neoliberal transferea crise dos centros imperialistas e os seus custos paraos países do Terceiro Mundo, fazendo crescer a lutados povos explorados contra o imperialismo. Por úl-timo, porque, mesmo que se consolide um novo reor-denamento mundial, com base na multipolaridade eno modelo neokeynesiano da Europa e Japão, nãopoderá deter a emergente situação de crise revoluci-onária mundial, pois a manifestação da crise geral nes-tes países e continentes indica agudização da contra-dição entre o capital e o trabalho (burguesia versusproletariado), refletida no agravamento da fome, mi-séria, desemprego e na escalada de conflitos bélicos,étnicos e raciais13. A contra-revolução burguesa nãosomente produz as condições mas, sobretudo, impul-siona aqueles que manejarão as armas criadas pelopróprio capital —o proletariado e massas explora-das— a se reerguerem como classe, portanto em par-tido político, fazendo avançar outra vez a RevoluçãoProletária Mundial.

Este movimento do capital trata-se da manifesta-ção da “ Lei Geral da Acumulação Capitalista”, enun-ciada por Marx14, em “O Capital”, que pode ser ob-

(11) RUZ, F.Castro. Mensaje à ECO-92. Republica de Cuba. Rio deJaneiro, 1992. pp. 40-42.(12) OPPL. Teses ao I Encontro Nacional da OPPL. Jornal Inverta,Rio de Janeiro, edição especial, 1993. pp. 2-4. KENNEDY, P. Ascensãoe Queda das Grandes Potências. Rio de Janeiro, Ed. Campus, 1989.pp. 487-513.

(13) ONU. Recolhendo os Dividendos da Paz. In: Relatório doDesenvolvimento Humano. New York, ONU, 1994.(14) MARX, K. O Capital. Livro I, vol.II, Cap. 23. S.Paulo, Ed. NovaCultural, 1985. pp. 187-259.

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servada na concentração de renda dos 20% maisricos países do mundo que saltou, em 30 anos (de1960 a 1990), de 30% para 60% em relação aos20% mais pobres; no paroxismo de uma massa mo-netária em torno de U$ 13 trilhões, dos quais U$ 1,5trilhão corresponde às dívidas externas que circulamnas bolsas de valores do mundo, refletindo a consti-tuição, no interior da classe burguesa, de umapoderosíssima oligarquia financeira internacional, emcontradição diametralmente oposta à classe proletá-ria, onde é crescente a massa de miseráveis, já emtorno de 1,3 bilhão e no número de desempregadose subempregados que dobrou nos últimos cinco anos,passando de 480 para 820 milhões de trabalhadores;na fome de mais de 500 milhões de seres; no analfa-betismo de 1 bilhão, com 300 milhões de criançassem acesso à escola; e na mortalidade infantil de 115para cada 1000 nascidos vivos, sendo que, dos so-breviventes, 14 milhões morrem anualmente antes decompletar 5 anos de idade.15

O proletariado, a classe dos operários modernos,já não é produto somente do desenvolvimento do ca-pital, mas também do seu caráter de classe revolucio-nária, que se firmou no decurso desta época de pas-sagem do capitalismo para o socialismo e de profun-das modificações no sistema imperialista. Com a Re-volução Proletária de 1917, na Rússia, superou a gran-de divisão criada em suas fileiras pela aristocracia ope-rária (a traição da II Internacional, em 1914), tornan-do-se uma força material concreta em expansão. Ocaráter revolucionário e libertador da URSS, na IIGrande Guerra Mundial, constituiu o campo socialis-ta do Leste Europeu, e elevou a luta do proletariado aum plano superior: entre sistemas sociais (socialismoversus capitalismo) pela hegemonia mundial. Com isto,impulsionou as lutas de libertação do jugo colonial eneocolonial dos povos da África, Ásia e América La-tina, mudando a face política mundial, e influencioudecisivamente para que o proletariado nos países cen-trais do imperialismo, mesmo sob a direção da aristo-cracia operária (ou sindicalismo amarelo), arrancasseconquistas trabalhistas e sociais importantes.

O proletariado continua a ser recrutado em todasas camadas sociais. Cresceu de forma absoluta, a umritmo de 43 milhões de trabalhadores anualmente (ín-

dice de 1992)16, gerando uma superpopulação relati-va (Exército Industrial de Reserva) em proporçõesgigantescas. Em 1992, já representava cerca de 45%da população mundial, com 13% na agricultura, 31%na indústria e 56% no setor de serviços; concentra-sebasicamente nas grandes cidades, com mais de ummilhão de habitantes, e representa cerca de 41% dapopulação urbana mundial. A redução dos saláriosreais, pela constante renovação tecnológica, tem in-corporado novos contingentes ao processo de pro-dução, como as mulheres, cuja presença era reduzi-da, e cresceu para mais de 40% sua participação. Oavanço capitalista na agricultura incorporou vastas ca-madas campesinas ao trabalho assalariado; fez cres-cer o fenômeno migratório dos países subdesenvolvi-dos para os desenvolvidos e, entre estes, de um ramopara outro da produção. A privatização de setores deserviços (Educação, Saúde, Transporte, Telecomuni-cações, etc) transforma o caráter desta atividade, tor-nando este contingente de trabalhadores, produtoresdiretos de mais-valia. Paralelamente a todo este pro-cesso, cresceu o fenômeno da economia informal, umaforma contemporânea de acumulação primitiva decapital, que absorve cerca de 32% da força de traba-lho na América Latina, 60 % da África e se alastrapor todo o Leste Europeu, utilizando-se tanto dos mei-os mais avançados (informática), quanto dos mais ar-caicos (monocultura, artesanato etc...), no campo ena cidade.17

As novas tecnologias introduzidas conduziram àrápida substituição do comando pessoal e hierár-quico (diretores, gerentes, mestres, contrames-tres...) do processo de produção por redes infor-matizadas, que chegam a qualquer ponto do plane-ta, a partir do JET SET TELEMÁTICO e dosnovos métodos flexíveis de trabalho, acentuandotendências históricas do desenvolvimento capita-lista18: a substituição do homem pela máquina; ohomem como apêndice da máquina; o caráter en-fadonho do trabalho, que se reduz às operaçõesmais simples; o trabalho do homem suplantado peloda mulher e das crianças; a competição entre ostrabalhadores, acentuada com a formação de umaaristocracia operária. O caráter transnacional daprodução, circulação e realização da mais-valia tor-

(15) RUZ, F.Castro. ob cit. pp. 10-15.(16) OIT. El Trabajo en el Mundo 1994. Informe de Prensa,Genebra,1994 . International Labour Office/ Bureau Internationaldu Travail. Labour Force Main-d’oeuvré, genebra, 1994.

(17) Ver El Trabajo en el Mundo 1994. ob cit e Labour Force Main-d’ouvre, 1994, ob cit.(18) MARX, K. O Capital. ob cit, Livro II, Cap. XIII. pp 7-85. ENGELS,F. A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra. 2ª ed. S.Paulo,Ed. Global, 1988. pp. 17-28 e 157 -207.

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nou o proletariado uma força internacionalizada, jánão mais pelo capital em geral, mas pelo capitalespecífico de uma ETN. O nível de escolaridadecresceu, mas a abrangência deste conhecimentoreduziu-se a pontos específicos da ciência e da téc-nica. Os modernos centros de P&D (pesquisa edesenvolvimento) das ETN’s transformaram o ci-entista, o pesquisador e PHD em escravos assala-riados produtores de mais valia; alteraram o perfilda classe operária tradicional e aprofundaram a di-ferenciação entre o trabalho manual e o trabalhointelectual. Desenvolveram novas categorias pro-fissionais, particularmente a dos tecnólogos, quepassam a ocupar o lugar da antiga aristocracia ope-rária, que se vê compelida à luta anticapitalista. Alémdisto, atribuiu caráter estratégico a antigas ativida-des no modo de produção capitalista, particular-mente na agricultura, acentuando o papel de van-guarda da classe operária tanto nos centros impe-rialistas, como nas periferias.

A desestruturação parcial das forças do comunis-mo, a partir do desaparecimento do campo socialistado Leste Europeu e da URSS, colocou a classe ope-rária na defensiva e levou a contra-revolução bur-guesa a intensificar sua grande ofensiva neoliberal. Estanova conjuntura, de desarticulação internacional daorganização subjetiva do proletariado, tem dificulta-do suas conquistas puramente nacionais, na medidaem que o processo de globalização da economia e deredução do Estado acentuou o caráter internacionalistada classe operária e suas lutas. A burguesia tenta man-ter o seu pacto subjetivo com a aristocracia operá-ria criando mecanismos de cooptação destes seto-res pelo mercado, em substituição ao Estado, taiscomo: a negociação de índices de produtividade(envolvimento negociado, com base nokalmarianismo) e os “modernos Fundos de Pen-são”, que associam a sorte dos aposentados e pen-sionistas ao mercado de capitais.19

Mas a rebelião das forças produtivas materiais jáse manifesta abertamente no ressurgimento da lutaarmada e guerrilheira do Exército Zapatista de Liber-tação Nacional (EZLN), no México, alimentando achama no Peru, Equador, na Bolívia com a Greve

Geral da classe operária , gerando uma crise políticanacional, e na Colômbia, onde as FARC já controlamquase 50% do território nacional, inspiradas na Re-sistência Cubana. Na Europa, a classe operária vol-tou a se manifestar na Itália, Espanha, França e Grécia,inspirada na resistência dos comunistas à contra-re-volução no Leste Europeu e na ex-URSS. Na Coréiado Sul, a luta já é franca e aberta nas vias e praçaspúblicas. Na África, a vitória do CNA levou à derro-ta o regime de opressão e de Apartheid racial e soci-al, reabrindo a esperança do continente para o socia-lismo.

A crise do capitalismo é de caráter estrutural, per-manente e insolúvel, pois resulta da contradição fun-damental do sistema entre o desenvolvimento das for-ças produtivas e as relações sociais de produção, quese manifesta através do caráter socializado da produ-ção em contradição à apropriação privada capitalis-ta, reafirmando a essência e o conteúdo da época his-tórica em curso como de passagem do capitalismo aosocialismo e da classe operária, do papel de classedominada, em classe dominante; encerrando, definiti-vamente, o período histórico do capitalismo e inician-do o período histórico do comunismo.

Neste contexto, a nova ordem mundial, que sereestrutura centrada na unificação continental (Euro-pa Unificada, NAFTA, etc...), com a formação demacromercados, estados transnacionais, competiçãoentre blocos econômicos e a emulação científico-téc-nica, prepara todas as condições objetivas e subjeti-vas para a passagem ao socialismo, no âmbito dosespaços geopolíticos continentais —uma fogueira, ahistoricamente propugnada Revolução Proletária Mun-dial— determinando novas características na luta doproletariado internacional:

a) do caráter estrutural, permanente e insolúvel dacrise nos marcos do próprio sistema, cuja base e di-nâmica derivam da contradição principal entre a apro-priação privada e produção social (capital versus tra-balho), decorre a determinação inexorável do Comu-nismo como objetivo geral e estratégico das lutas pro-letárias, na atualidade;

b) da intensiva privatização dos setores estataisestratégicos, que destrói as ilusões de uma via pa-cífica para o socialismo, e da utilização incontroláveldos meios bélicos e bacteriológicos (a guerra debaixa, média e alta intensidade), pela classe capi-

(19) LIPIETZ, A. Relação Capital-trabalho no limiar do Século XXI.Ensaios FEE, Porto Alegre, 1991. pp 102-130. PASTRÉ, Olivier. ONovo Poder dos Investimentos Institucionais. In: O Mundo Hoje,1993 - Anuário Econômico e Político Mundial. 2ª ed. S.Paulo, Ed.Ensaio, 1993. pp. 447-449.

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talista internacional, para “vencer” as crises cíclicasdo sistema, decorre como determinação inexorávelo papel revolucionário da violência na história, comoparte integrante e inalienável da luta revolucionáriapela autodeterminação e paz mundial;

c) do atual estágio de desenvolvimento, contradi-ção e crise do sistema imperialista entre as forças pro-dutivas materiais —que se realizam integral, comple-

mentar e internacionalmente— e as relações sociaisde produção, que mesmo diante da mídia eletrônica,é incapaz de responder às exigências e necessidadeshistóricas de novas e superiores relações sociais aonível global, interdependente e socializado, decorrecomo determinação essencial e imprescindível à es-tratégia das lutas proletárias, o caráter internacional.

Em síntese, a concentração de todas as forças doproletariado em uma luta revolucionária internacionalpelo socialismo, como único caminho para a autode-terminação e a paz entre os povos.

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III) O BRASIL E AOFENSIVA NEOLIBERALDO IMPERIALISMO

O Brasil, com a grande ofensiva da contra-revo- lução burguesa sobre a Revolução Proletária

Mundial, reafirmou o papel central que desempenha,desde o golpe militar de 1964, na estratégia geopolíticado imperialismo norte-americano para o domínio doCone Sul.1

A importância estratégica desta base continentalpara a hegemonia mundial americana se impôs eco-nomicamente, a partir da grande crise de 1929, acen-tuando-se com a recuperação econômica da Europae Japão, após a II Guerra Mundial, que remontou àscontradições intermonopolistas e interiimperialistas.Militarmente, se firmou na II Guerra Mundial, conso-lidando-se no decurso da “guerra fria”. A posiçãoestratégica do Brasil no continente, por suas caracte-rísticas geográficas naturais, sociais e históricas, ar-rastou suas classes dominantes a um papel destaca-do na região, a exemplo do que já havia, historica-mente, desempenhado durante a “Tríplice Aliança” naGuerra contra o Paraguai2. A transferência da criserevolucionária mundial, dos países imperialistas paraos países da periferia do sistema —Brasil e Bolívia(1954), a Revolução Cubana (1959) e o episódio dosmísseis (1962)— forma as condições objetivas e sub-jetivas para que, com o golpe militar de 1964, reve-lasse abertamente esta condição brasileira de gerdameda política de dominação imperialista no continente;primeiramente, esmagando as forças revolucionáriasno país e, logo em seguida, em toda região: a presen-ça das Forças Armadas brasileiras no esmagamentoda revolta em São Domingos (1965); e na tramagolpista do Chile (1973).

(1) PIRRÓ e LONGO, W. Desenvolvimento científico e tecnológico:Conseqüências Estratégicas e Perspectivas. RJ, Monografia ao Cursode Atualização, Escola Superior de Guerra, 1991.(2) BOUCHEY, L.F; Fontaine, R; Jordan, D; Summer, G. e Tambs, L.Documento de Santa Fé II - A Estratégia Americana. Comitê SantaFé, 1989. CHIAVENATTO, J. J. Genocídio Americano: A Guerra doParaguai. S.Paulo, Ed. Brasiliense, 1979. ALBUQUERQUE, M.M.Pequena História da Formação Social Brasileira. Rio de Janeiro, Ed.Graal, 1981. pp. 402-415. Comentário do autor: O conhecimento daGuerra da Tríplice Aliança ainda é prejudicado pela não publicaçãodo acervo documental; também não se integrou este conflitosulamericano no contexto mais amplo da política mundial, emparticular o dos interesses dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha.

A grande ofensiva neoliberal lançada pela contra-revolução em meados da década de 70, produziu umaviragem de 180 graus na tática do imperialismo paraa região. A via golpista-ditatorial-militar é substituídapela via da legalidade e da legitimidade constitucio-nal, desencadeando um novo ciclo de “democraciaburguesa”. Através do poder dos seus meios de co-municação e do poder de corrupção dos seus mono-pólios, o imperialismo remodela as superestruturas ju-rídicas e políticas dos países da região; elege gover-nos civis pelo voto direto; executa planos de reajus-tes estruturais das economias nacionais (ditados peloFundo Monetário Internacional— FMI), sob a óticada pilhagem neoliberal da privatização e, assim, ex-porta inflação e recessão; importa capitais líquidos;transfere os custos econômicos, sociais e políticos dasua crise geral e socializa os efeitos de sua pilhagemneoliberal, via integração dos mercados, ao nível re-gional, com a formação do MERCOSUL (a décadade 80, para a América Latina, foi considerada peloseconomistas como “a década perdida”)3. Com isto,deu fôlego para que os mecanismos da Dívida Exter-na e da troca desigual continuem a exercer sua funçãode dreno e sangria dos capitais acumulados na regiãopara o centro da contra-revolução, os EUA, susten-tando sua hegemonia mundial e luta para conter aexplosão da crise geral do capital, que se encaminha,a passos largos, para um quadro similar ao de 1929.

As classes dominantes no Brasil, nesta nova con-juntura de grande ofensiva da contra-revolução, sãochamadas a desempenhar, mais uma vez, um desta-cado papel de gerdame da política de domínio impe-rialista, reafirmando a condição de existência do seuser social: subserviência e sócio-menor do imperialis-mo na pilhagem oficial às massas trabalhadoras dopaís e continente. Cumprindo o seu desígnio, a classeburguesa constituiu um modelo de “transição sem trau-mas” —da ditadura militar para a democracia bur-

(3) BANCO MUNDIAL. Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial1990. New York, Oxford University Press, 1990. pp 1-2. BRISSET,Claire. Crescimento das Desigualdades no Norte e no Sul. In: OMundo Hoje 1993. ob cit. pp. 442-444.

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guesa— que ceifou a ascensão do movimento operá-rio e de massas, reiniciado com as lutas econômicasde 1977 e 1978 (as greves no ABC paulista) e, rapi-damente, foram conduzidas ao plano político atravésda campanha pelas “Diretas, já!”, canalizando-o pe-los mecanismos institucionais criados pela ditaduramilitar, o colégio eleitoral, consolidando a transiçãode governo. Assim servindo de exemplo para que acontra-revolução levasse de roldão não somente aque-les países que persistiam em manter a forma de domi-nação anterior, Paraguai, Chile, Haiti, El Salvador,como também o movimento revolucionário que sedesenvolvia em contradição a este quadro: a jovemrevolução nicaragüense, a guerrilha em El Salvador,Guatemala, Colômbia, Peru e Venezuela, criando ascondições subjetivas para isolar e recrudescer o blo-queio econômico, político e militar a Cuba.

Mas a grande ofensiva neoliberal ao plasmar-seno Brasil, através de políticas econômicas que se des-tinam a demolir o “Estado do Bem-Estar Social”, agra-vou ainda mais a crise econômica e financeira acentu-ando as contradições características de seu desen-volvimento histórico, através de novas contradiçõesgeradas no ciclo autoritário imediatamente anterior.Destacam-se, dentro do cenário político atual, as con-tradições entre a política neoliberal de pilhagemlegalista e institucional e a economia informal(narcotráfico)4, forma pela qual setores da burguesiaburlam os mecanismos institucionais e acumulam ca-pitais, sem dividi-los com os seus sócios-maiores im-perialistas. Também se destacam as contradições comas burocracias estatais e castas militares, em grandeparte partidárias de um nacionalismo fascista e pró-imperialista, que sofrem a redução do poder políticoe do sonho bonapartista, na medida em que avança amaterialização do “Estado Mínimo”, norteado pelaconcepção neoliberal de guerra e soberania nacional—onde o poder tecnológico (nuclear, químico e bac-teriológico) se sobrepõe aos exércitos nacionais e ar-mas convencionais, tornando-os obsoletos. E, funda-mentalmente, as contradições entre a política neoliberale as massas exploradas: o campesinato pobre, emacelerada extinção pelo avanço capitalista na agricul-tura através de grandes empresas agro-industriais eda média burguesia agrária financiada pelo capital fi-nanceiro; e principalmente, a classe operária que, di-ante da política de “modernização da economia”,

privatização das empresas estatais de serviços (infra-estrutura, educação e saúde) e o fenômeno da eco-nomia informal, altera o seu perfil tradicional com achegada de novos contingentes às suas fileiras (inclu-sive parte da antiga aristocracia operária) e cresceabsolutamente, constituindo um gigantesco exército in-dustrial de reserva, particularmente, na forma estag-nada (desemprego estrutural), alastrando-se opauperismo, a fome, o flagelo e todas as torturas dotrabalho, que decorrem das características fundamen-tais do desenvolvimento capitalista na região.

As características fundamentais da sociedade bra-sileira derivam das particularidades do seu modo ca-pitalista de produção. Ele se constituiu a partir datransplantação de forças produtivas (força de traba-lho e meios de produção) capitalistas que, historica-mente, subordinaram e impulsionaram a transforma-ção por salto do modo de produção escravista emcapitalista no país; numa lógica de dependência,complementariedade e conformação das relaçõessociais antagônicas de produção ao processo de de-senvolvimento global do capitalismo.

Historicamente, a exploração colonial no Bra-sil, sobre a qual se desenvolve o modo de produ-ção capitalista, distingue-se de todo o processo fun-dado no “Novo Mundo”. A nobreza feudal portu-guesa, diante da reduzida população indígena, doincipiente grau de organização social e do únicomeio de produção pré-existente —a terra— trans-planta forças produtivas e constitui um modo deprodução com base no trabalho escravo, na gran-de propriedade agrária e no monopólio comercialda grande empresa privada capitalista (Companhiadas Índias Ocidentais). Além disto, desenvolve aeconomia, determina suas funções e escolhe os pro-dutos tendo por objetivo final o lucro. Portanto,cria um modo de exploração, controlado por umaburocracia fiscal e repressiva que se diferencia tantodo modo de produção escravista clássico, comodo absolutismo-feudal e ainda, do capitalismo nas-cente na Europa. Deste processo se desenvolvemas características fundamentais da sociedade bra-sileira, que marcam toda sua história: a dependên-cia estrutural da metrópole (o imperialismo), o do-mínio dos monopólios nacionais e estrangeiros edo latifúndio. Inicialmente, converte-se em colôniade acumulação primitiva de capital (século XVI)sob o modo de produção escravista, e continua sub-metida nos dias atuais à exploração neocolonial do

(4) COUFFIGNAL, G. Poderes de Direito e Poderes de Fato naAmérica Latina. In: O Mundo Hoje 1993,ob cit. pp. 431-432.Documento Santa Fé II. ob cit.

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imperialismo —a fase superior do capitalismo—(século XX), através do desenvolvimento capita-lista dependente.5

O Brasil, em pouco menos de 17 décadas (1815a 1995), fez aquilo que o velho continente europeulevou mais de 17 séculos para realizar: saltou deum modo de produção escravista para um modode produção capitalista relativamente avançado,isto é, o estágio monopolista e de exportação decapitais, resguardando-se as características espe-cíficas deste processo, que contraria a maioria dasteses acerca do gradualismo destas transformações.Teoricamente, esta assertiva se sustenta na mesmalógica que preside a tese defendida para a Rússia,por Karl Marx e Friedrich Engels, no prefácio àsegunda edição russa, de 1882, do Manifesto doPartido Comunista, traduzida por G.V. Plekhanov;onde os fundadores do socialismo científico, res-pondendo aos revolucionários russos da época,afirmam:

“A questão agora é: poderá a Obchtchina russa, daforma —se bem que fortemente minada— da primitiva pro-priedade comum do solo, passar diretamente para a formasuperior de propriedade comunitária comunista? Ou, pelocontrário, terá de passar primeiro pelo mesmo processo dedissolução que constitui o desenvolvimento histórico doOcidente?

A única resposta hoje possível para tal questão é esta:se a revolução russa se tornar o sinal de uma revoluçãoproletária no Ocidente, de modo que ambas se completem,a atual propriedade comum russa do solo pode servir deponto de partida de um desenvolvimento comunista.”

Londres, 21 de Janeiro de 1882 (Karl Marx, F. Engels,in “Manifesto do Partido Comunista”, p. 12, Edições Pro-gresso, 1987 impresso na URSS).

Portanto, o desenvolvimento das forças produ-tivas, relações sociais de produção e classes soci-ais do modo de produção capitalista na sociedadebrasileira não resultam de uma contradição funda-mental entre o desenvolvimento das forças produ-tivas capitalistas e as relações sociais de produçãofeudais, que dá origem àquele elemento médio re-volucionário —a classe burguesa nascente— quepara se firmar necessita liquidar o velho modo de

produção, suas classes sociais e contradições declasses. Mas, sobretudo, das contradições entre asrelações de produção da sociedade brasileira e odesenvolvimento global do capitalismo na Europaé que se operam o salto histórico do modo de pro-dução escravista ao capitalista, tomando por basea grande propriedade privada da terra, transfor-mando as relações de produção e conformando asestruturas sociais da sociedade às necessidades deprodução e consumo, da divisão internacional dotrabalho e do padrão de acumulação, ditados pelocentro hegemônico do sistema. Somente nesta ló-gica, pode-se compreender porque a burguesia noBrasil não foi capaz de desempenhar um papel re-volucionário, da mesma forma que desempenhouna queda do feudalismo na Europa e, ainda, por-que as relações de produção semi-feudais foramformas de transição por salto e não gradual, doescravismo ao capitalismo na sociedade brasileira.

O “descobrimento” do Brasil, exploração colonial(1500/1822), Vice-Reino de Portugal (1808), Inde-pendência (1822), fim do tráfico negreiro (1850), aLei Agrária (1853), a passagem do trabalho escravoao trabalho assalariado (1888), e, logo em seguida, aProclamação da República (1889) são transforma-ções sociais que se operam no país e não refletem ograu de antagonismo entre as forças produtivas mate-riais e relações sociais de produção, mas sim as lutasde classes na Europa decorrentes da transição ao ca-pitalismo, acumulação primitiva de capital, revoluçãoindustrial (1760) e revolução política burguesa naFrança (1789); da expansão e consolidação da revo-lução burguesa, a luta pela hegemonia mundial, entreFrança e Inglaterra (1789-1814), a contra-revoluçãoda nobreza feudal (1815-1834) e da grande viragemda burguesia para reação, frente aos primeiros levan-tes operários (1831/1848/1871), a mudança do pa-drão de acumulação de capital, da livre concorrênciaao monopólio e a exportação de capitais — ao impe-rialismo (1876/1914) e da nova corrida colonial, pelodomínio de novos mercados e fontes de matéri-as-primas e intensificação da exploração dosantigos.6

É nesta lógica, que se operam as transforma-ções por saltos no modo de produção e nas rela-ções sociais de produção da sociedade brasileira,

(5) DOWBOR, L. A Formação do Capitalismo Dependente noBrasil. Lisboa, Prelo, 1977. pp. 57-58. GORENDER, J. O Conceitode Modo de Produção e a Pesquisa Histórica. In: Modos deProdução e Realidade Brasileira. Petrópolis, Ed. Vozes, 1980.pp. 43-66. CARDOSO, Ciro Flamarion S. As Concepções acercado ‘Sistema Econômico Mundial’ e do ‘Antigo Sistema Colonial’;a preocupação obsessiva com a ‘Extração de Excedentes’. In:Modos de Produção e Realidade Brasileira. ob cit. pp. 109-132.SODRÉ, N.W. Modos de Produção no Brasil . In: Modos deProdução e Realidade Brasileira. ob cit. pp. 133-156.

(6) MARINI, R.M. Dialéctica da Dependência. Coimbra, Centelha,1976. pp. 10-21.

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até o predomínio das relações capitalistas. As clas-ses sociais dominantes se transformam objetiva-mente de classes senhoriais em classe burguesa eas classes sociais dominadas de escravos, semi-livres e campesinos, em classe proletária, campesinae pequeno-burguesa. Este estigma do desenvolvi-mento capitalista no Brasil, de subserviência às oli-garquias rurais, de dependência ao imperialismo ede domínio dos monopólios nacionais e estrangei-ros e do latifúndio, não resulta de nenhuma causasobrenatural (“a vontade de Deus”), ou da nature-za humana dos colonizadores (“a burrice dos por-tugueses”), ou dos colonizados (“indolência e pre-guiça” dos nativos, “inferioridade racial” e misturade raças, etc), mas da lógica das transformaçõespor saltos do modo de produção, sem que tal pro-cesso derive do grau de desenvolvimento internodas forças produtivas capitalistas e das contradi-ções de classes. Nestas condições, a economiaagro-exportadora, herdada da colônia, torna-se abase principal do desenvolvimento capitalista noBrasil; sua baixa acumulação de capital não de-corre de como os homens produzem, mas paraquem e sob quais condições se produz —a heran-ça colonial de dependência do capital financeiroimperialista e do mercado externo não permitem aconstituição imediata de um mercado interno, logo,a maior parte da mais-valia produzida no país nãose realiza internamente e é acumulada pelo capitalfinanceiro imperialista, impedindo assim, o desen-volvimento autônomo do capital industrial, comer-cial e bancário.7

Naturalmente que os veículos condutores destastransformações foram as lutas de classes internas dasociedade, mas a lógica da transplantação dos meiosde produção e força de trabalho, não permitiam umadinâmica interna autônoma. Embora a luta contra aexploração e opressão colonial unissem os contigentessociais colonizados, os objetivos, que proferiam cadaagrupamento social em suas lutas, os desuniam; asdiferenças históricas e culturais das sociedades dosquais eram transplantados —distintos estágios de de-senvolvimento econômico e social— impediam umaunidade de objetivos estratégicos e até mesmo dosmeios táticos. Os estudos mais rigorosos dos movi-mentos mais significativos deste período —A Confe-

deração dos Tamoios8, Guerra dos Tupinambás, ARepública dos Guaranis, O Quilombo dos Palmares,Canudos, Farrapos, Praieira, Alfaiates9— mostram queos objetivos destes movimentos eram, normalmente,reconstituírem seus modos de vida anterior, portanto,incapazes de se constituírem em luta de classes naci-onal e unitária. Assim, eram facilmente isolados e ani-quilados pelas forças do aparelho repressivo das clas-ses opressoras no país.

A burguesia industrial brasileira, quando surge, omundo já se encontrava dividido pelas burguesias dasgrandes potências imperialistas, em plena fase de ex-portações de capitais. Seu desenvolvimento toma im-pulso interno quando a acumulação de capital, con-centrada nas mãos das oligarquias rurais, a partir daindependência, se amplia com a massa de recursosmonetários originárias do tráfico de escravos, libera-da com o fim desta forma de acumulação (1850). Masesta acumulação primitiva de capital é ainda incipientee exige sua imediata associação ao capital financeiroimperialista. Esta associação se estabelece, primeira-mente, na criação de empresas destinadas à constru-ção da infra-estrutura, à comercialização, financiamen-to e, em última análise, à produção de mercadorias(utensílios domésticos, vestuário, calçado e alimento)necessárias à expansão da economia agro-exporta-dora, que é o principal eixo do desenvolvimento ca-pitalista do país. Assim surge a burguesia industrial,subordinada externamente ao capital financeiro im-perialista e internamente à economia agro-exporta-dora, que se desenvolve como parte do mercado mun-dial capitalista que, de per si,é incapaz de estabelecerum projeto nacional autônomo. Somente com as gran-des depressões e crises do capitalismo, a crise cíclicade 1876, que atinge o setor têxtil na Inglaterra, e a

(8) MAGALHÃES, G. A Confederação dos Tamoios. 3ª ed. Rio deJaneiro, Sec.Est.Cultura, 1994. pp. 75-77. “(...) A formosa Potirapor sua esposa, / Se eu não tivesse por Jupá jurado / A minha viuvezguardar severo, / E sem consorte conservar a filha,/ Enquanto de meupai os frios ossos / Calcados forem pelos pés dos lusos”.“Bem! Exclama o francês, dás-me esperança, / Bem! Meu braçounirei aos vossos braços, / E pela mesma causa lutaremos. / E sevencermos, como espero, oh dita! / De Potira serei fiel esposo!/ Sim,venceremos, por amor lutando, / E esta esperança as forças meredobra.(...) Nossos pais livres foram, e temidos / Dos Aimorés terríveis, que sócomem / Crua carne, e só quente sangue bebem. /“Do que nosservem mão, arcos e flechas, / Se o ferro português impune calca /Nossa terra, e cativa nossos filhos? / “Pai, mulheres, irmãos, filhos eamigos, / Ou são a nossos olhos fulminados, / Ou escravos vão ser dosEmboadas.” (esta passagem ilustra claramente as contradções entreos próprios aborígenes do país: Tamoios e Aymorés, divididos pelocolonizadores português e francês).(9) RUY, Afonso. A Primeira Revolução Social Brasileira (1798). 3ªed. Rio de Janeiro, Laemmert, 1970. pp. 13-15 e 30-39.

(7) FURTADO, C. Formação Econômica do Brasil. 16ª ed. S.Paulo,Comp. Ed. Nac, 1979. pp. 155-173. No capítulo XXVII se encontra aTeoria dos Choques adversos e os enunciados do mecanismo desocialização das perdas. MARINI, R. M. ob cit.

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crise geral do capital de 1929, que abate o setor ca-feeiro no Brasil, passa a se desenvolver e ganha im-portância na sociedade.10

Aproveitando-se das contradições internas dasoligarquias rurais, instauradas com a grande crise docapital na década de 20, usa a luta das camadas mé-dias urbanas contra o domínio oligárquico —o levan-te dos 18 do Forte, em 5 de julho (1922); o levantede 5 de julho, em São Paulo e a Coluna Prestes (1924/27)— para chegar ao poder político estatal. Atravésdo movimento revolucionário de 1930, coopta o se-tor direitista do tenentismo, assume o governo e, ra-pidamente, se concilia com as oligarquias rurais e ocentro imperialista hegemônico. A partir do Estado,firma sua hegemonia sobre o conjunto da sociedade,impulsionada pela crise de 1929 que atinge o setordinâmico da economia do país (o setor cafeeiro), ace-lera a concentração de capitais (o monopólio) e exigea intervenção cada vez maior do Estado na economia(a política de valorização do café: desvalorização cam-bial e formação de estoques), para descarregar oscustos da crise nas camadas médias urbanas e nasmassas exploradas (operariado e campesinato), atra-vés de seu histórico mecanismo de socialização dasperdas (a taxa de câmbio). A luta das camadas médi-as urbanas (Movimento Tenentista, e a Semana deArte Moderna - 1922), ao se fusionar com o movi-mento operário nascente (a greve geral de 1917, afundação do Partido Comunista em 1922) ganha novoconteúdo proletário — Aliança Nacional Libertadora(ANL)— levando o Estado a assumir novas funçõesna mediação dos conflitos sociais: a cooptação e con-trole das massas exploradas, além da historicamenteefetuada fiscalização e repressão.11

Com a ditadura do “Estado Novo” (1937/1945),a burguesia intensifica as medidas econômicas que for-talecem o consumo interno, impulsionam a indústria ecriam a infra-estrutura de base para o pleno desen-volvimento industrial. Para sufocar o avanço revolu-

cionário das camadas médias urbanas e desbaratarsua aliança com o jovem movimento operário, aomesmo tempo que lança mão da mais brutal repres-são contra o levante insurrecional da ANL, de no-vembro de 1935, e persegue implacavelmente seusmembros e o Partido Comunista, afaga o movimentooperário com a instituição do salário mínimo, atrela-o ao Estado através das Leis Trabalhistas (CLT)12,inspirada na “Carta del Lavoro” —o sindicalismocorporativo e fascista de Mussolini— e fortalece omercado interno, criando as condições para aceleraro processo de transferência dos capitais do setor ca-feeiro, em crise, para a indústria e outros ramos daagricultura. Com isto desloca o eixo principal do de-senvolvimento capitalista no Brasil, do setor agro-ex-portador para o industrial, justificando as taxas médi-as de crescimento entre 1920 e 1939: a agricultura deexportação cresceu de 1920 a 1929, 7,5%; entre 1929a 1933, 3,1%; entre 1933 a 1939, 1,2%; enquanto aprodução industrial crescia a 2,8%, 1,3% e 11,3%,respectivamente para iguais períodos.13

Estas mudanças no papel do Estado brasileiroencaixam-se como uma luva na estratégia do novocentro da contra-revolução burguesa mundial (osEUA), que se faz hegemônico com o fim da II GuerraMundial. A burguesia industrial brasileira se beneficialargamente da nova Ordem Mundial instituída emBretton Woods (1944), o “Estado do Bem Estar So-cial”; utiliza-se mais uma vez do movimento antifascista,liderado pelos setores democráticos e o Partido Co-munista e negocia seu apoio aos “aliados”, desvian-do-se do nazi-fascismo e obtendo financiamento parainfra-estrutura básica ao desenvolvimento industrial.O Export-Import Bank14 concede empréstimos de 14milhões de dólares para a formação da Cia. do Valedo Rio Doce (1942), e de 45 milhões de dólares paraa construção da CSN (1946). Com a criação da Hi-drelétrica de São Francisco (1945), a construção dasTrês Marias, Furnas e Petrobrás (1953), forma-se oalicerce para a nova fase de desenvolvimento das forças

(10) MORAES, Dênis e VIANNA, F. ob cit. FURTADO, Celso. ob cit.pp. 106-168. STEIN, Stanley J. Origens e Evolução da IndústriaTéxtil no Brasil - 1850/1950. Rio de Janeiro, Ed. Campus, 1979. pp.22-23. FOOT, F. e LEONARDI, V. História da Indústria e do Trabalhono Brasil. S.Paulo, Ed. Global, 1982. pp. 23-60.(11) PRESTES, Anita L. A Coluna Prestes. S.Paulo, Ed. Brasiliense,1990. pp. 64-65, 80-91 e 103-104. SODRÉ, N.W. Essência doTenentismo. Jornal Inverta, nº 54, de 16 a 30/06/95, p. 12. FURTADO,Celso. ob cit pp. 164 e 165. FAUSTO, Boris. Expansão do Café ePolítica Cafeeira. In: Brasil Republicano - Estrutura do Poder eEconomia (1889-1930). Tomo III, 1º vol. 4ª ed. S.Paulo, Difel, 1985.pp. 195-248.

(12) OLIVEIRA, F. “A Economia Brasileira, Crítica a Razão Dualista”.Seleções CEBRAP, S.Paulo, pp. 1- 31, 2ª ed., 1976. RODRIGUES,J.Albertino. Movimento Sindical e Situação da Classe operária. RevistaDebate e Crítica, S.Paulo, nº 2: pp. 98-111, 1974.(13) VILLANOVA, Annibal e SUZIGAN, W. Política do Governo eCrescimento da Economia Brasileira, 1889-1945. IPEA, Rio deJaneiro,1973. p. 180; citado em Ladislau Dowbor. A Formação doCapitalismo Dependente no Brasil. Lisboa, Prelo, 1977. p. 207.MORAES, D. e VIANNA, F. ob. cit. pp. 61-77. FURTADO, Celso. ob.cit. pp. 199-216.(14) RODRIGUES, J.Honório. Aspirações Nacionais - InterpretaçãoHistórico-Política. 4ª ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1970.pp. 141-153.

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produtivas capitalistas no Brasil, centrada na trans-plantação maciça dos monopólios representativos docapital financeiro imperialista: dos 22 grandes gruposfundados antes da I Guerra Mundial, 6 já eram es-trangeiros; dos 32 fundados entre os anos de 1914 a1929, 25 eram estrangeiros, dos quais 14 eram sub-sidiárias norte-americanas de firmas industriais; dos34 fundadas entre os anos de 1930 a 1945, 32 eramestrangeiras, dos quais 27 eram subsidiárias norte-americanas de firmas industriais; após a II GuerraMundial, dos 98 fundados, todos eram estrangeiros,sendo 90 norte-americanos.15

A incorporação pela burguesia das bandeiras nacio-nalistas e democráticas defendidas pelo movimento re-volucionário —nacionalização do petróleo, mineração,siderurgia— entre 1944 e 1954, período de relativaautonomia nacional (já que a contra-revolução dirige ogrosso de seus capitais para a recuperação da Europa eJapão), desencadeou uma profunda crise desobreacumulação na economia nacional. A incapacida-de de solucionar, revolucionariamente, as contradiçõesherdadas da economia agro-exportadora (a dependên-cia ao imperialismo, o domínio do monopólio e do lati-fúndio), acentuou a não correspondência entre o desen-volvimento das forças produtivas e as relações sociaisde produção, na medida em que a partilha da mais-valiaproduzida internamente, com o imperialismo, não per-mite que o processo de acumulação ou reprodução am-pliada de capital se desenvolva autonomamente e recicleo capital fixo ampliando-o nos ramos dinâmicos da eco-nomia nacional. Assim, o projeto industrial de desenvol-vimento nacional, gestado nesta conjuntura de intensascomoções políticas e sociais (a morte de Getúlio Vargasem 1954), inicia sua ruptura com aquilo que foi concei-tuado pelos intelectuais burgueses no país de nacional-populismo; aprofunda sua associação e dependência aoimperialismo, com o “Plano de Metas” de JK (1955 a1961), e subordina, definitivamente, a economia nacio-nal ao capital financeiro norte-americano16 (Ver Anexo,Quadro I e Gráfico 1).

A contra-revolução burguesa, logo após a recu-peração econômica da Europa, passa a transferircrescentemente seus capitais para o país, visando man-ter o seu domínio imperialista na região e ceifar o mo-vimento revolucionário em ascensão. Isto, aliado àcrescente instalação de subsidiárias dos grandes gru-pos e uniões monopolistas internacionais, particular-mente norte-americanas por sua concentração de ca-pitais e superioridade técnica, rapidamente, conduzi-ria a sociedade para uma nova crise decorrente dapassagem do processo de acumulação interna ao es-tágio monopolista e de exportação de capital. Estedesenvolvimento por saltos das forças produtivas nasociedade alterou o padrão de acumulação de capitalnos setores dinâmicos da economia, desencadeandocontradições profundas com outros setores da eco-nomia e agudizando a luta entre as frações da burgue-sia pela repartição da mais valia, particularmente en-tre os setores associados e os não associados ao im-perialismo (Ver Anexo, Quadro II e Gráfico 4). Estesúltimos setores burgueses, com o desenrolar da luta,convertem-se no ponto de apoio para nova ascensãodo movimento de massas, de corte nacionalista e de-mocrático, que se inicia na década de 50 e culmina nade 60.17

Desta forma, aprofunda-se a contradição entre odesenvolvimento das forças produtivas e as relaçõessociais de produção, exigindo para sua solução no-vas condições de expansão e reprodução do capitalmonopolista —a reciclagem do capital fixo da indús-tria, comércio, finanças, agricultura e nova orientaçãodo Estado, nas relações entre capital e trabalho e obrasde infra-estrutura— dividindo a burguesia em doissetores, a que se apóia no Estado, para manter suaautonomia e monopólio na exploração da força detrabalho e riquezas naturais da nação, e a queaprofunda sua associação com o imperialismo, de-sencadeando uma crise política na sociedade brasi-leira, cujo desfecho foi o golpe militar de 1º de abrilde 1964 e a ditadura, que se seguiu por mais de 25anos no país18.

Através da ditadura militar, a classe dominante noBrasil, mais uma vez, tornou-se o ponto de apoio prin-cipal do imperialismo norte-americano e base estra-

(15) POSSAS, Mario Luiz. Empresas Multinacionais e Industrializa-ção no Brasil. In: Desenvolvimento Capitalista no Brasil. Vol. 2.S.Paulo, Ed. Brasiliense, 1983. pp. 24-25.(16) WEFFORT, Francisco C. O Populismo na Política Brasileira. Riode Janeiro, Paz e Terra, 1978. p. OLIVEIRA, F. ob. cit. pp. 36-39.MANTEGA, Guido e MORAES, Maria. Acumulação Monopolista eCrise no Brasil. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1980. pp. 25-41. IANNI,Otávio. Populismo e Classes Subalternas. Debate e Crítica, S.Paulo, nº1: 7-17, 1973. SERRA, J. Ciclos e Mudanças Estruturais na EconomiaBrasileira do Pós-guerra. In: Desenvolvimento Capitalista no Brasil.Vol. 1. 3ª ed. S.Paulo, Ed. Brasiliense, 1982. pp. 74-75. “(...) a instrução113 (1955) da SUMOC, que permitia às empresas estrangeiras sediadasno país importarem máquinas e equipamentos sem cobertura cambial,sempre que as autoridades governamentais estimassem convenientepara o desenvolvimento do país.”

(17) IANNI, Octávio. ob. cit. pp. 16-17.(18) DREIFUSS, René A. ob. cit. pp. 135-149. ALVES, M.H.Moreira.ob. cit. IANNI, Octávio. O Imperialismo na América Latina. 2ª ed. Riode Janeiro, Civilização Brasileira, 1988. pp. 86-87. MENDONÇA,Sonia R. Estado e Economia no Brasil - Opções de Desenvolvimento.Rio de Janeiro, Graal, 1986. pp. 67-74.

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tégica para a contra-revolução burguesa em todo ocontinente. O Estado ditatorial e repressivo, a propó-sito do combate à subversão comunista, serviu aosmonopólios nacionais e estrangeiros, expandindo oprocesso de monopolização, por toda a economia na-cional, e constituindo um modelo associado de acu-mulação monopolista de capital no país, à custa devultosos empréstimos externos e internos, de alto ris-co; criou mecanismos de cooptação da poupança in-terna —a correção monetária, títulos públicos e ou-tros— que aliados à política de manipulação dos ín-dices inflacionários, reduziu a massa de salários reais,propiciando um brutal processo de superexploraçãodos trabalhadores e um extraordinário processo deacumulação de capitais (o salário mínimo real equiva-le hoje a cerca de 21,97%, do instituído em 1940) .As estatísticas oficiais revelam que, no período deboom da economia nacional, o famoso “milagre eco-nômico brasileiro”, de 1968 a 1973, o PIB (ProdutoInterno Bruto) cresceu em média de 10% a 11% aoano (Ver Anexo, Quadro I e Gráfico 1). A maior par-te desta fabulosa massa de recursos monetários e ri-quezas produzidas foi transferida para os centros im-perialistas e a outra menor serviu de contrapartida doEstado para outra gama de empréstimos do capitalfinanceiro imperialista, promovendo a modernizaçãodo parque industrial brasileiro e da infra-estrutura es-tatal.

Na indústria, o processo de monopolização daeconomia, por meio da associação de capitais, de-senvolveu a crescente “nacionalização” dos mono-pólios internacionais, originando uma série de empre-sas sob o rótulo de “FORD do Brasil”, “FIAT doBrasil” etc.; e a desnacionalização progressiva da bur-guesia nacional desenvolveu paralelamente um setormonopolista composto por grandes grupos de capi-talistas brasileiros, do tipo do sr. Ermírio de Moraes,Matarazzo, Vidigal, Vilares, Ferreira Guedes, RobertoMarinho, Cláudio Bardella e vários outros, principal-mente na indústria de equipamentos, papel, têxtil, ci-mento, construção civil, comércio e finanças, todosno papel de sócios menores do imperialismo. Este pro-cesso de monopolização da indústria, comércio e fi-nanças, sob a hegemonia do capital financeiro imperi-alista, projetou um punhado de trustes associados,que passou a controlar os setores mais dinâmicos daindústria, auferindo lucros espetaculares e ditando opreço do monopólio. Este domínio é de 99,8%, naindústria automobilística; 63,7%, na de autopeças;63,8%, na de bebidas/fumo; 77,9%, na de eletro-ele-

trônica; 100%, na farmacêutica; 59,4%, na de má-quinas/equipamentos; 58,8%, na de material de trans-porte; 74%, plásticos/borracha; 50%, na de comér-cio atacadista; e 61%, na distribuição de derivadosde petróleo.19

Na agricultura, o processo de associação de capi-tais interiorizou o domínio imperialista e integrou o la-tifúndio à economia nacional. A penetração das rela-ções capitalistas no campo, além de conservar o lati-fúndio, ampliou o monopólio da terra, provocando amultiplicação de minifúndios: 10% dos 5.834.779 es-tabelecimentos concentram 78,82% dos 376.286.577hectares de terra, enquanto 90% detém apenas21,18%20. A associação de capitais ergueu grandescomplexos agro-industriais, agropecuários, agroquí-micos e madeireiros; reforçou e sofisticou as formasde exploração no latifúndio, aburguesando-o e tor-nando-o dependente da indústria produtora de trato-res, máquinas agrícolas, adubos, sementes, defensi-vos, fertilizantes, rações e matrizes de animais. A in-trodução de insumos modernos nas culturas para ex-portação, elevou a produção de cana-de-açúcar, sojae laranja, em seu conjunto, de 111,2 milhões de tone-ladas (1975) para 389,1 milhões (1992), cerca de249 % em 17 anos; enquanto a produção, para oconsumo popular, de arroz, feijão, mandioca e milhoaumentou apenas de 35,2 milhões de toneladas (1975)para 65,2 milhões, 85%, no mesmo período21. Alémdisso, financiou a formação de uma média burguesiarural, através de uma máquina de intermediação fi-nanceira estatal, que custa o equivalente à produçãoagrícola líquida do país, de cerca de 15 bilhões dedólares; e assim elimina progressivamente o pequenocampesino e agrava o dramático quadro desubutilização da terra e da mão-de-obra: dos 850 mi-lhões de hectares de terra, pelo menos 400 milhõessão exploráveis sem insumo e somente 50 milhões dehectares são utilizados, ficando cerca de 350 milhõesde hectares subutilizados, enquanto entre 10 a 15 mi-lhões de trabalhadores estão desempregados ousubempregados22.

O Estado brasileiro estendeu sua presença na eco-nomia como produtor direto, estruturando-se numconjunto de empresas típicas da organizaçãomonopolista —com espaços e mercados econômi-

(19) POSSAS, M.Luiz. ob. cit. p. 77.(20)DIEESE. Anuário dos Trabalhadores, 1994. p. 39.(21) IBGE. Anuário Estatístico do Brasil, de 1989 e 1994.(22) DOWBOR, Ladislau. Fome: Alguns Dados Básicos. In: Raízesda Fome. Petrópolis, Ed. Vozes, 1985. pp. 80-86.

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cos exclusivos para suas operações— e passou a res-ponder pela quase totalidade da produção de ener-gia, combustível e insumos básicos, particularmentena mineração, no petróleo, na indústria química epetroquímica, e na siderurgia. Modernizou e amplioua geração de energia, construindo grandes hidrelétri-cas (Tucuruí, Itaipu, Sobradinho, etc.) e iniciando aconstrução de usinas nucleares (Angra I e II); edificouum grande sistema de escoamento da produção, in-terligando todos os centros produtores do país (ro-dovias, ferrovias, portos, aeroportos, gasodutos,oleodutos e silos); constituiu um avançado sistema decomunicações por satélite (Embratel)23, que integratodo o território nacional e, finalmente, desenvolveu aindústria aeroespacial, naval e bélica, tornando-se ex-portador de armas e equipamentos militares (tanques,aeronaves, radares etc.).

O modelo associado de acumulação monopolistade capital transformou radicalmente a sociedade.Nele a indústria subordinou, definitivamente, a agri-cultura e o comércio colocando-os ao seu serviço;multiplicaram-se os grandes centros urbanos quepassaram a concentrar 75% dos 153 milhões dapopulação e centralizar a vida política nacional. Asregiões sul e sudeste, radicando cerca de 80 % daPEA (População Economicamente Ativa) do setorindustrial, comercial e de serviços, dominaram asregiões norte, nordeste e centro-oeste, onde a mo-dernização capitalista da agricultura acentuou a con-centração da propriedade da terra (o latifúndio),expulsou o homem do campo e ampliou o fluxo mi-gratório para as cidades. Enfim, o Brasil passou afigurar entre as 9 maiores economias do mundo,tornando-se a primeira da América Latina, man-tendo um dos potenciais imensuráveis em reservasnaturais estratégicas para toda a humanidade (bio-lógicas, geológicas e hídricas). Em apenas 3 déca-das viu crescer o seu PIB em cerca de 457 % (VerAnexo, Quadro I).

As transformações na composição orgânica docapital global da sociedade brasileira acentuaram adivisão social e técnica do trabalho, dando-lhe no-vos contornos; elevaram espetacularmente a pro-dutividade do trabalho social, gerando um gigan-tesco processo de acumulação e reprodução docapital em escala ampliada (sob as condições do

monopólio). As taxas médias de lucros passaram aoscilar entre 70% e 80% ao ano; as taxas médiasde exploração da mais-valia (trabalho não pago ouexcedente) entre 350% a 700% ao ano, concen-trando uma monstruosa massa de mais-valia nasmão da burguesia monopolista (Ver Anexo, Qua-dro II, Gráficos 2, 3 e 4). Mas na medida em que amagnitude desta acumulação, com suas respecti-vas variações, se multiplicou, multiplicou-se tam-bém o exército de operários incorporados ao pro-cesso de produção e de reserva, cujo crescimentoabsoluto chegou a cerca de 347% entre 1960 e1980; aprofundando sua especialização, alterandoo seu perfil tradicional e o peso da classe explora-da na economia e na sociedade: seja nos diversosramos da produção social; seja no interior de ummesmo ramo de produção. Com isto, o sistema ca-pitalista no Brasil rapidamente se encaminhou parauma crise típica da manifestação da Lei Geral daAcumulação Capitalista, por onde passou a expres-sar a contradição principal da sociedade: a contra-dição entre o capital e o trabalho (Ver Anexo, Qua-dro III e Gráficos 2 e 3).

A crise se inicia em meados da década de 70, coma crise financeira (o abandono da paridade dólar-ouropelos EUA) e energética internacional (aumento dopreço do petróleo). A quebra da paridade dólar-ourogera uma monstruosa onda inflacionária, que é ex-portada para os países endividados, através de brus-cas elevações das taxas de juros praticadas no mer-cado internacional (Prime Rate e Libor). Esta pira-taria financeira aumenta, extraordinariamente, o po-der de sucção das riquezas naturais e da massa demais-valia aqui produzida; seja pelos mecanismos dadívida externa; seja pelas novas condições para em-préstimos (taxas de juros, prazos e garantias); sejaainda pelas trocas desiguais no intercâmbio comerci-al, entre o Brasil e os países imperialistas (importa-ções de mercadorias com igual, ou menor quantida-de, de trabalho social que os produtos exportadospelo Brasil, com preços superiores). Paralelamente, aelevação do preço do barril de petróleo, no mercadointernacional, passa a pressionar a planilha de custosda produção de mercadorias no país.24

A ditadura militar, para manter a margem de lu-cro da burguesia monopolista, o ritmo de acumula-ção e a massa de mais-valia extraída no processo

(23) VIANNA, Gaspar. Privatização das Telecomunicações. Rio deJaneiro, Ed. Notrya, 1993. pp. 58-59 e 179-180. (24) SERRA, José. ob. cit. pp. 94-95.

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de produção, por um lado, intensifica o arrochosalarial, faz declinar relativamente a massa de ca-pital variável (massa salarial ou trabalho pago), nacomposição orgânica do capital global da socieda-de, e eleva absolutamente o número de trabalha-dores incorporados à produção, aumentando ex-tensivamente a taxa de exploração e a massa demais-valia (valor excedente ou trabalho não pago);por outro, passa a dirigir a economia para as ex-portações, subsidiando a agricultura e a indústria,através da constante desvalorização da taxa decâmbio e da moeda nacional . Para financiar os pro-gramas alternativos de energia combustível —oPró-álcool, energia nuclear, exploração de petró-leo em águas profundas—, inunda o mercado detítulos públicos, que aliados as altas taxas de juros,cooptam investimentos internos e externos (fazen-do crescer a dívida pública interna) (Ver Anexo,Gráfico 4).

Mas todo este “esforço” da política econômica daditadura somente postergou a manifestação aberta dacrise por mais 3 anos, 1974 a 1977. Neste curtoperíodo, pouco a pouco, desmorona o sistema, omodelo econômico e o sonho do “milagre”. O cres-cente processo de acumulação, entre 1968 e 1973,ao mesmo tempo que elevava anualmente em 10% oPIB, elevava também, em 4% ao ano, o número detrabalhadores incorporados ao processo produtivo,enquanto a população crescia a um ritmo de 3% aoano (Ver Anexo, Quadro IV). Este processo rapida-mente esgota o exército industrial de reserva, acirra aluta pelo aumento dos salários reais que, aliado à tro-ca desigual, à alta das taxas de juros e do petróleo,faz decrescer a taxa média de lucro25. O declínio dataxa de lucro exige uma produção cada vez mais gi-gantesca (para compensar pela quantidade de massade mais-valia, a redução do lucro por unidade produ-zida), mas a estreiteza do mercado externo, face aomuro do protecionismo econômico e da reserva demercado sob domínio dos países imperialistas, impe-de o crescimento das exportações e, na medida emque o mercado interno (consumo privado) não cons-titui uma demanda efetiva, capaz de solver a oferta demercadorias produzidas, manifesta-se a crise de rea-lização e de superprodução na economia.

Por outro lado, o consumo público, principal sus-tentáculo do processo de acumulação de 1974 a1978, exige a expansão incontrolável da base mone-tária, que agiganta o processo inflacionário, originan-

do a famosa ciranda financeira, para onde acorremos capitais especulativos desviando-se do processoprodutivo, aprofundando ainda mais a crise de reali-zação. Deste modo, a partir de 1979, instaura-se umnovo ciclo recessivo na economia nacional, paralisan-do a indústria e o comércio; cresce a insolvência dosagentes econômicos (a crise da dívida externa e inter-na) e desencadeia-se um novo processo de centrali-zação do capital. Assim, cresce a luta interna da bur-guesia pela repartição da mais-valia, abrindo-se a bre-cha por onde afloram todas as contradições sociais,principalmente a contradição entre o capital e o tra-balho, que desenvolve o elemento revolucionário eexpõe abertamente a crise estrutural do modo de pro-dução capitalista do país: o proletariado.26

Par e passo a esta conjuntura, agrava-se a crisegeral do imperialismo, com a bancarrota do Méxi-co, que traz à tona a crise das dívidas externas dospaíses do Terceiro Mundo e o ascenso da luta re-volucionária na América Central, com a vitória darevolução Sandinista na Nicarágua, e o avanço daguerrilha em El Salvador. E neste contexto deemparedamento do imperialismo, produz-se umaviragem de 180 graus em sua estratégia, doKeynesianismo para o neoliberalismo, instaurandoum longo período em que o capitalismo troca depele, incorporando as novas tecnologias desenvol-vidas pela revolução científico-técnica, preparan-do, assim, as bases para uma nova grande ofensivada contra-revolução burguesa no mundo. No Bra-sil, desta estranha combinação entre as duas crises(nacional e internacional), gesta-se uma situação emque bastou o Banco Mundial vazar os índices reaisde inflação da economia nacional, que eram mani-pulados pelo Ministro Delfim Neto, para que umnovo ascenso do movimento de massas no paísdesestabilizasse, definitivamente, o regime. A lutaeconômica, iniciada com os metalúrgicos do ABCpaulista (as greves de 78/79), se espalha por todoo país e rapidamente, evolui para luta política pelas“Diretas, já!”. Este processo político nacional mudaa correlação de forças no interior da classe bur-guesa e, conseqüentemente, a forma de governoda sua ditadura de classe.27

Com a mudança na forma da ditadura de classeda burguesia, da ditadura militar para a democracia

(25) MARINI, Rui Mauro. ob. cit., pp. 22-23 e 27-29.

(26) SERRA, José. ob. cit., pp.107 e 111.(27) PEREIRA, Raimundo Rodrigues. “Muitos Lulas”, in JornalMovimento, ed. semanal nº 202 — 14 a 20 de maio de 1979, pp. 8, 9e 10, São Paulo.

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burguesa, inspirada nos ventos neoliberais de toda adécada de 80, e a política econômica de ajuste estru-tural da economia nacional (Plano Cruzado, Bresser,Verão, “Brasil-Novo” e o atual “Plano Real”), ditadapelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e execu-tada pelos governos civis pós-ditadura militar (Sarney,Collor-Itamar e agora Fernando Henrique Cardoso),revela-se abertamente a violenta crise estrutural domodo de produção capitalista no país, que somadasàs características históricas do desenvolvimento ca-pitalista no Brasil —a dependência ao imperialismo,o domínio dos monopólios nacionais e estrangeiros edo latifúndio— acentuadas pela política neoliberal,produzem um monstruoso e bestial quadro de desi-gualdades e injustiças sociais.

A concentração de riquezas, no pólo da burguesia,chega ao paroxismo dos 10% mais ricos da populaçãodeter 48,1% da renda nacional bruta (1990)28; o balan-ço dos 200 maiores bancos do país, em 1994, mostraque os 10 maiores detêm cerca de 66,4% do total dosativos destas instituições; os seis maiores bancos priva-dos (Itaú, Bradesco, Unibanco, Real, Nacional,Bamerindus) ficam com 59% do total e os outros 41%,com o Banco do Brasil e Caixa Econômica; a rentabili-dade do setor cresceu variando de 12,8% (nos seismaiores) até 69,5% (Banco Boavista)29. Enquanto isto,no pólo diametralmente oposto ao da burguesia, ao in-vés de se acumular riquezas, se acumulou, na razão in-versamente proporcional, o pauperismo de umasuperpopulação relativa (exército industrial de reserva)de cerca de 43 milhões de indigentes; a ignorância decerca de 30 milhões de analfabetos; o flagelo da morta-lidade infantil, que chega a mais de 300 para cada mil emcertas regiões do país; a brutalização, criminalidade, pros-tituição e a miséria da fome de mais de 67% da popula-ção (cerca de mais de 100 milhões de seres humanos);isto é, todas as torturas decorrentes do trabalho daqueleque produz seu próprio produto como capital.30

A burguesia, como vimos, rapidamente tornou-sea única classe proprietária dos meios de produção,em associação direta ou indireta com o imperialismo,redelineou o seu perfil indicando, com maior preci-são, o seu ser social e papel histórico na sociedade.Herdeira material e cultural das classes senhoriaisescravistas, sua trajetória histórica lhe conduziu sem-pre para um desenvolvimento dependente ou associ-ado ao imperialismo, ao monopólio (da terra e docapital) e a oligarquia. A lógica é simples, a acumula-ção de capital dependente ou associada ao imperia-lismo implica na repartição da mais-valia produzida erealizada (interna ou externamente), portanto, quantomaior acumulação, maior a parte da mais valia quefica nas mãos da burguesia no país, logo sua tendên-cia ao monopólio é inexorável. Da mesma forma, sem-pre que entra em litígio em torno da repartição damais-valia com o imperialismo ou a crise geral do im-perialismo impede o reinvestimento de seus capitaisou empréstimos, impõe-se a necessidade de um fun-do de reserva para sustentar o processo de acumula-ção. Assim, formam-se os grupos oligárquicos regio-nais ou setoriais, desenvolvendo-se uma oligarquia fi-nanceira no país.

As contradições que se cristalizaram no interior daburguesia, após a consolidação do modelo associadode acumulação monopolista de capital, deram origema duas grandes divisões:

1ª) Entre os proprietários de grandes gruposmonopolistas na cidade e no campo e os proprie-tários de médias e pequenas empresas nãomonopolistas (dependentes dos primeiros) — Ossetores monopolistas, hoje, dominam a economia editam o padrão de desenvolvimento nacional. Os se-tores não monopolistas, dada a institucionalização domodelo associado de acumulação monopolista, orasofrem o processo de centralização, do qual muitopoucos fluem para a condição de monopólios, orasofrem com a ameaça da falência e a iminente passa-gem às fileiras do proletariado, buscando sempre umasaída na economia informal. É um segmento explosi-vo, e no seu interior desenvolveu-se um setor capazde chegar aos níveis mais bestiais do processo deacumulação primitiva - seqüestros, recepção de rou-bo, comercialização de drogas, contrabando, segu-rança privada e esquadrão da morte - e sempre pre-disposta a se vender.

2ª) Entre os setores associados ao imperialis-mo e os que são dependentes — A maioria das dis-

(28) DIEESE. ob. cit., p. 36. BANCO MUNDIAL. Tabela 30.Distribuição de renda e PIB estimado do PCI. In: Relatório sobre oDesenvolvimento Mundial 1990 - A Pobreza. Washington, OxfordUniversity Press, 1990.(29) FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS. Ranking FGV de Bancos.Conjuntura Econômica, Rio de Janeiro, 49(6): 25-31, junho/1995.(30) IPEA. O Mapa da Fome: subsídios à formulação de uma políticade segurança alimentar. Documentos de Política nº 14, Rio de Janeiro,março de 1993; O Mapa da Fome II: informação sobre a indigênciapor municípios da federação. Documentos de Política nº 15, Rio deJaneiro, maio de 1993.; O Mapa da Fome III: Indicadores sobre aindigência no Brasil. Documentos de Política nº 17, Rio de Janeiro,agosto de 1993. Sabe-se que o número de indigentes no Brasil é superioraos dados do Mapa da Fome, que tem por base os dados de 1990;segundo o Relatório da CPI da Fome, 67% da população é subnutrida.

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putas pela hegemonia da classe decorre desta divi-são, já que os setores associados representam a oli-garquia financeira internacional e os dependentes, aoligarquia financeira nacional. Há que se destacar, tam-bém, um segmento representante direto dos grandesmonopólios imperialistas (não associados à burguesialocal), que se compõe na maioria de tecnocratas ealtos funcionários do Estado, forjados nos laboratóri-os de Harvard, Chicago e Oxford e são proprietáriosde grupos de consultorias ultra-modernos e escritóri-os de representação dos interesses do imperialismo.

A trajetória histórica da classe dominante brasilei-ra na sociedade mostra bem o seu papel de sóciomenor do capital financeiro imperialista, por conse-guinte, é incapaz de representar os autênticos interes-ses nacionais e todo o seu progresso representarásempre o progresso do domínio imperialista sobre asociedade, bem como o avanço da contra-revoluçãoburguesa no país. Com o seu crescimento, a partir de1964, de forma parasitária e especulativa, passou acentralizar enormes somas que dirigiu muito mais parao controle das atividades econômicas já existentes,do que para ampliação do aparelho produtivo; esten-deu o seu domínio e hegemonia a todos os setores davida social, na cidade e no campo, convertendo-seno principal obstáculo ao progresso social e humanoda sociedade.

A burguesia, através da política neoliberal, temretirado sistematicamente do Estado o papel de vér-tice fundamental da reprodução do capitalmonopolista, pretendendo que ele retorne ao anti-go papel de mero comitê para gerir os seus negó-cios. Com isto, procura deixá-lo no encargo do con-trole social-político, burocrático e repressivo —daassistência social e da formação técnica e ideológi-ca da força de trabalho. Por isto, as medidas depolítica econômica, fiscal, financeira, salarial, ex-terna, de “combate” à inflação —“planos de esta-bilização ou reajustes estruturais da economia”—são traçadas e controladas pelo Fundo MonetárioInternacional (FMI), no espírito da globalização daeconomia; elas funcionam como instrumentos deconcentração de capitais, que fortalecem o podereconômico das oligarquias financeiras (nacional eestrangeira) e perpetuam as relações de explora-ção. Nas áreas de saúde, educação, previdência,segurança e habitação, sua ação condena os tra-balhadores a uma prole miserável, segundo as exi-gências de quantidade e de qualidade do processo

de produção e reprodução do capital mono-polista.31

Mas na medida em que materializa as tesesneoliberais do Estado Mínimo, recicla o aparelho pro-dutivo, de circulação e realização do capital, altera acomposição do capital e intensifica a produtividadesocial do trabalho, subordinada à divisão internacio-nal do trabalho social e técnica (a globalização daeconomia). Em conseqüência, cresce ainda mais a vi-olenta rebelião das forças produtivas materiais contraas relações sociais de produção, ou aquilo que não ésenão a expressão jurídica destas: a propriedade pri-vada capitalista; desencadeando uma crise insolúveldentro do sistema, entre o caráter cada vez mais so-cializado da produção e a apropriação privada capi-talista. Todas as tentativas de superá-la, com a revo-lução incessante nos meios de produção, a destrui-ção violenta de grande parte das forças produtivas jádesenvolvidas, a exploração de novos mercados ou aintensificação da exploração nos antigos, são açõesefêmeras e somente provocam outras crises ainda maisagudas e devastadoras, decorrentes das característi-cas particulares do desenvolvimento capitalista noBrasil.

Em primeiro lugar, porque estas características par-ticulares de que se reveste o desenvolvimento capita-lista no Brasil —a dependência ao imperialismo, odomínio dos monopólios nacionais e estrangeiros edo latifúndio— impedem que a crise seja solucionadada mesma forma que a burguesia a solucionou na Eu-ropa, Estados Unidos e Japão, isto é, através do im-perialismo (conquista de novos mercados), restandouma espécie de subimperialismo, permitido e associ-ado (MERCOSUL). Em segundo lugar, porque o mo-delo associado de acumulação de capital consolida-do tem como parceiro estrutural o Estado e, na medi-da em que a política neoliberal corta este ponto deapoio da economia nacional, retira o amortecedorprincipal da luta de classes interna entre o proletaria-

(31) “A educação é um dos maiores problemas sociais brasileiros.(...)Parte desses problemas é devido à falta de investimentos na área:em 1987, 13,1% do total dos gastos da União foram destinados àeducação; em 1991, esse número caiu para 4,2%. (...)Em 1987, oBrasil ocupava a 63ª posição no ranking mundial dos investimentosno setor (de saúde); gastava US$ 80,8 per capita, equivalentes a4,2% do PIB. Hoje, quando o próprio Ministério da Saúde (MS)define ser de US$ 150 o parâmetro para um atendimento adequado,o gasto é de apenas US$ 21 per capita. Nos últimos quatro anos, osrecursos da Saúde caíram de US$ 12 bilhões, em 1989, para US$ 8,2bilhões, em 1993”. Almanaque Abril - 1994, Editora Abril, São Pau-lo, pp. 153 e 160.

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do e a burguesia, fazendo aflorar a contradição entreo capital e o trabalho e, conseqüentemente, todas asdemais contradições sociais, inclusive no seio da pró-pria burguesia pela partilha da massa de mais-valiaexpropriada dos trabalhadores. Por último, porqueos truques mágicos da burguesia para salvar o siste-ma (neoliberalismo, neo-social ou o que se rotule) re-presentam sempre um ato da mais iníqua crueldade,barbárie social e genocídio contra as massas explora-das no país, e sendo assim são armas que se voltamcontra si mesma. A burguesia produziu acima de tudoo seu próprio coveiro.

Neste ponto, a burguesia no Brasil não se diferen-cia de suas co-irmãs da Europa, EUA ou Japão, poispara existir enquanto classe dominante, necessita pro-duzir um vasto exército de homens que nada possu-em a não ser sua própria força de trabalho, que sevendem a retalho todos os dias e sua condição deexistência somente adquire um aspecto útil para bur-guesia na medida em que valoriza o capital. E, quantomaior a magnitude desta valorização do capital, pro-duzida pelo trabalho do operário, maiores as riquezase o poder concentrado pela burguesia, maior a suacapacidade de aplicar as ciências para desenvolvernovos métodos e técnicas de exploração do trabalhodo proletariado, que na razão direta e inversa a mag-nitude do capital, concentra a miséria, o pauperismo,a ignorância e a brutalização, portanto maior a capa-cidade da burguesia de produzir aqueles que levarãoà sua destruição. A burguesia não produziu apenas asarmas que levarão à sua própria destruição, criou tam-bém os homens que manejarão estas armas: o prole-tariado.

Presente desde o primeiro momento da coloniza-ção, o proletariado constituía uma figura dispersa. Deinício vegetava nas atividades subsidiárias à atividadeprodutiva central da economia colonial, onde se con-centra a força motriz da sociedade: força de trabalhoescrava de índios e negros. Com o fim do tráfico ne-greiro, em 1850, e mais tarde a “abolição da escra-vatura”, em 1888, altera radicalmente a dinâmica desua formação como classe que, de antemão, foge aomodelo clássico da Inglaterra. A mudança das rela-ções de produção, do trabalho escravo para o assa-lariado, altera o eixo inicial do desenvolvimento capi-talista na sociedade, das corporações de ofício e ma-nufaturas para a agricultura; com isto poda o proces-so de evolução da manufatura para organização fabrile, mais tarde, à grande indústria. Na medida em que

supera a contradição entre capitalismo e escravismo,ou semi-feudalismo, impossibilita o surgimento de umcontingente camponês, base sobre a qual a proprie-dade capitalista avançaria arrebatando-lhe os meiosde subsistência, cortando-lhe as relações de proprie-dade direta (individual ou coletiva) com a natureza (aterra), transformando-o em massa cuja única propri-edade de que disporia seria sua própria força de tra-balho.

Nestas condições, a formação do proletariadosofre uma primeira mudança quantitativa e qualitativaem sua composição e eixo de desenvolvimento, dis-tanciando-se ainda mais de seu processo clássico naEuropa. Passa a se constituir como exército ativo, apartir principalmente do contingente de escravos ap-tos ao trabalho assalariado e da massa de imigrantes(da Itália, Espanha, Portugal, Japão...) transplanta-dos ao país, tornando-se preponderantemente agrí-cola. A parte da mão-de-obra escrava, menos aptaao trabalho assalariado, não é incorporada diretamenteao processo produtivo e passa a desempenhar o pa-pel de exército industrial de reserva, gerando um qua-dro de abundância de mão-de-obra, que reduz o va-lor da força de trabalho do proletariado imigrante aum preço vil e semi-servil. Daí o complexo quadrodas relações de exploração, que desfiguram o seu tra-balho assalariado e “livre”, e não permitem a aplica-ção mecânica dos conceitos e categorias sociais domarxismo.32

O proletariado brasileiro não se forma a partir daexpropriação violenta dos meios de subsistência decamponeses. O processo de expropriação, das po-pulações indígenas (interna) e africanas (externa), seefetuou para constituir a força de trabalho escrava. Aparcela da população no país que vive este processo,o “proto-campesinato”*, é numericamenteinexpressiva e a parcela imigrante já vem para o Bra-sil após ter vivido este fenômeno na Europa. Por issoa base principal da qual se desenvolve, passa da con-dição de escravo ou semi-servil para a condição pro-letária; sendo assim, não sofre a supressão da propri-

(32) VINHAS, M. Estudos sobre o Proletariado Brasileiro. Rio deJaneiro, Civilização Brasileira, 1970. pp. 45-49.RODRIGUES, J.Albertino. ob. cit. FOOT, F. e LEONARDI, V. ob. cit.pp. 109-128. BANDEIRA, Moniz; MELO, Clovis e ANDRADE, A.T. OAno Vermelho - A Revolução Russa e seus Reflexos no Brasil. Rio deJaneiro, Civilização Brasileira, 1967. pp. 5-33. IANNI, O. Raças eClasses Sociais no Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira,1972. pp. 16, 20 e 29.(*) Nota: Protocampesinato é uma referência ao conceito de umabase camponesa defendida por Ciro Flamarion Cardoso, comoexistente no país; mais tarde nos fixaremos neste debate.

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edade individual pela propriedade capitalista, nem aviolenta coerção apontada por Marx em “O Capi-tal”, no capítulo dedicado a “Acumulação Primitiva”.Portanto, não há um rebaixamento do seu nível devida , distanciando-se histórica e culturalmente docontingente imigrante, que aporta ao país em buscada posição social perdida no país de origem: a pro-priedade individual sobre os meios de produção, aterra. Engels, em “A Situação da Classe Trabalhado-ra na Inglaterra”, mostra que esta contradição é a baseda sistemática rebelião do proletariado contra o sis-tema de exploração e suas formas de coerção; Marxdemonstra que as “Leis Sanguinárias” dos reis da In-glaterra e França e a “Moderna Teoria da Coloniza-ção”, defendida por E. G. Wakefield —para garantira exploração dos trabalhadores, nas colônias de acu-mulação primitiva do capital, e impedir que retornema seu antigo modo de produção— resultam historica-mente desta contradição.33

As formas coercitivas e características semi-feu-dais de que se reveste o trabalho “livre”, logo após astransformações das relações sociais de produção, doescravismo para o capitalismo, não resultam da mo-dificação do modo de produção do escravismo parao capitalismo, mas sobretudo, da reação da nobrezafeudal portuguesa ao acelerado processo de desinte-gração da ordem feudal na Europa. O mesmo estatu-to que não permite que o cativo recrie o seu modo devida anterior, também não permitia o seu trabalho as-salariado. Este fenômeno, embora tenha servido aopropósito da acumulação primitiva de capital, segun-do os preceitos da “Moderna Teoria da Coloniza-ção”, está mais próximo daquele outro fenômeno ob-servado por Marx, que com a introdução aceleradada tecnologia na indústria têxtil inglesa e seus reflexosno conjunto das relações de produção e trabalho, arevolução tecnológica tanto fez surgir novas categori-as profissionais, como desencadeou o ressurgimentode formas mais atrasadas de relações de produção,principalmente nos setores produtores de matéria-pri-ma, como por exemplo: a produção algodoeira, combase no trabalho escravo, o tráfico negreiro e a cria-ção de escravos, que se desenvolveu nos Estados Uni-dos. (Marx, “O Capital” Livro I, volume II).34

No Brasil, a contradição entre a propriedade indi-vidual e a propriedade capitalista, somente se expressacom maior força após a grande crise do capitalismode 1929. Inicialmente ela se manifesta na populaçãotrabalhadora imigrante. Mas as contradições entre osimigrantes e a massa de escravos, índios emiscigenados incorporados diretamente à produção,se somam ao estratégico papel de exército industrialde reserva, desempenhado pela massa de escravosnão incorporada de imediato ao trabalho assalariado,quebra a resistência da massa imigrante submetendo-a a mais terrível sujeição e exploração semi-servil. Ésomente nas regiões, onde a “divisão do trabalho naagricultura é mais desenvolvida —como diz Lênin—e o processo de transformação se separa, que a pró-pria agricultura torna-se uma indústria”; nestas cir-cunstâncias a cultura de subsistência é mais significa-tiva, se desenvolve para abastecer o mercado internoe constitui uma base camponesa, que passa a viver,mais intensamente, a contradição entre a propriedadeindividual e a propriedade capitalista, a cada crisecíclica da economia agro-exportadora. (Lênin, “O De-senvolvimento Capitalista na Rússia”).35

A massa de escravos (de índios e africanos), quevive este fenômeno durante o período colonial, pelasdistâncias culturais entre seus modos de produção evida anteriores, o comunismo primitivo e a escravi-dão, não se une para lutar conjuntamente contra aclasse opressora. Os que não se deixam escravizarou proletarizar e resistem, como a “Confederação dosTamoios”, “República dos Guaranis”, “Quilombo dosPalmares”, “Canudos”36... são exterminados barba-ramente. Desta maneira a tese levantada por CiroFlamarion, de uma “Brecha Camponesa”, que se fun-damenta na existência de um proto-campesinato, sus-tentada nos trabalhos de Maria Yedda Linhares eFrancisco Carlos Teixeira da Silva, acerca da produ-ção alimentar dos escravos e em Stuart B. Schwartz,que verifica este fenômeno em várias ilhas das Anti-lhas, como resultado das lutas de classes entre os es-cravos e os senhores de escravos, em nada muda atese por nós defendida.37

(33) MARX, Karl. ob. cit. pp. 266, 275 e 295-302. Ver MARX, Karl. OTrabalho Alienado. In: Manuscritos Económicos-Filosóficos. Lisboa,Edições 70, 1989. pp. 157-172. ENGELS, F. ob. cit. pp. 11-28.(34) MARX, Karl. ob. cit. p. 58: “Além disso, quanto à matéria-prima, não há dúvida alguma, por exemplo, de que a marcha aceleradada fiação do algodão promoveu de modo artificial a plantação dealgodão nos Estados Unidos e, com ela, não só o tráfico de escravosafricanos, mas, simultaneamente, fez da criação de negros o principalnegócio dos assim chamados Estados Escravagistas Fronteiriços.

(35) LÉNINE, V.I. O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia - OProcesso de Formação do Mercado Interno para a Grande Indústria.S.Paulo, Nova Cultural, 1985. p. 14.(36) IANNI, O. Raças e Classes Sociais no Brasil. ob. Cit. pp. 246-247. SODRÉ, N. W. Modos de Produção no Brasil. In: Modos deProdução e Realidade Brasileira. Petrópolis, Ed. Vozes, 1980. pp.135-136. CUNHA, Euclides. Os Sertões. S.Paulo, Abril Cultural, 1979.pp. 69-71.(37) CARDOSO, Ciro Flamarion S. Escravo ou Camponês? OProtocampesinato Negro nas Américas. São Paulo, Ed. Brasiliense,1987. pp. 118-119.

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A agricultura de subsistência, realizada pelos es-cravos, se desenvolve na razão direta do crescimentoda produção nas unidades agro-industriais e estrita-mente subordinada a elas. Quando entram em crise ecessa sua atividade, a agricultura de subsistência é le-vada de roldão, já que o agente ativo desta última, oescravo, não é livre para prosseguir autonomamente.Nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país,esta produção, com base no proto-campesinato, so-mente subsiste por um ato de contrição do Senhor deescravo ou por uma fuga de escravos, ainda assim, ainfra-estrutura produtiva não permite esta produçãoisolada. A recente descoberta, em Alagoas, de umQuilombo remanescente desta época mostra que es-tas economias regrediram para formas tribais remon-tando o modo de vida escravo na África. No casodos índios, o exemplo salta aos olhos, basta verificaras condições deploráveis em que se encontram na atu-alidade. Portanto, não há um quadro empírico quesustente a tese de que todas as transformações nomodo de produção da sociedade e de suas classessociais decorram de uma dinâmica interna, que de-termine um processo evolutivo e gradual. Logo a for-mação do proletariado como classe em si, imediata-mente após a abolição, não poderia decorrer destabase proto-camponesa.

O proletariado, com a mudança do modo deprodução da sociedade, do escravismo para o ca-pitalismo agrário, muda pela primeira vez sua basede composição social, deixa de se desenvolver nasmanufaturas e nos núcleos urbanos, para se tornarpredominantemente agrícola. As variadas formas deque se revestem suas relações de trabalho na agri-cultura não permitem inicialmente uma clara dife-renciação entre o trabalhador permanente e o portemporada (que caracterizam na atualidade o mo-derno proletariado agrícola) do trabalhador semi-proletário (proletário-camponês), que trabalha porconta própria ou em regime de parceria, meia outarefa. Este fato criou uma profunda discrepânciaeconômica, política e ideológica com o proletaria-do industrial urbano, que se desenvolvia na manu-fatura. É somente com a crescente acumulação decapital na agricultura e suas respectivas crisescíclicas (as mudanças de culturas da cana-de-açú-car, algodão, borracha, café), que a divisão socialdo trabalho cresce, impulsiona a produção indus-trial urbana e constitui uma dinâmica de transferên-cia da força de trabalho da agricultura para a in-dústria, o comércio e as finanças.

Com a grande crise de 1929 e a mudança doeixo de acumulação da agricultura para a indústria,o fluxo migratório cresce, torna-se a dinâmica prin-cipal de recomposição do proletariado urbano, al-terando-se, mais uma vez, a composição social daclasse e formando-se as condições para industria-lização acelerada e a consolidação do modelo as-sociado de acumulação monopolista de capital nasociedade. A modificação na composição orgânicado capital e, conseqüentemente, na divisão social etécnica do trabalho, leva a que grande parte do pro-letariado agrícola flua para os centros urbanos,acompanhando a polarização de capital na indús-tria de transformação e, novamente, forma-se umextraordinário exército industrial de reserva, que éhabilmente manipulado pela burguesia para subme-ter o proletariado industrial urbano aos ditames dasuperexploração do capital; a outra parte, passa asubsistir no campo da pequena propriedade famili-ar e culturas de subsistência, dissociando-se domoderno proletariado rural e assim desenvolve-seuma massa camponesa semi-proletária, da qual flui-rá o pequeno-burguês e o lumpesinato.

O proletariado urbano torna-se a maioria daclasse, predominando a sua forma clássica, o ope-rariado fabril. Seu crescimento absoluto, nas últi-mas décadas, confirmou o seu papel estratégicocomo produtor direto de mais valia e, com isto,desmentiu todas as teses neoliberais e revisionistasque afirmam que a revolução científico-técnica re-tira da classe operária o papel histórico de van-guarda nas transformações revolucionárias, no ca-pitalismo. Em números absolutos, o contingente dapopulação ocupada se elevou de 53.236.936, em1985, para 62.100.499, em 1990. Com cerca de22,83% na agricultura; 22,70% na indústria;12,84% no comércio; 17,93% na prestação de ser-viços; 3,26% em atividades econômicas; 3,93% nostransportes e comunicações; 8,72% em assistênciasocial; 5,02% na administração pública e 2,76%em outras atividades, revela que o proletariado setornou a maioria da PEA (População Economica-mente Ativa). O seu setor fabril, que trabalha nosramos mais dinâmicos da produção e o caracterizaa moderna existência como classe operária, con-centra-se em estabelecimentos com mais de 500empregados, principalmente nas regiões sul e su-deste, onde reside atualmente mais de 60% da PEA.Elevou-se o seu nível de escolaridade e prepara-ção técnica, cresceu a participação feminina em

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suas fileiras e a sua faixa etária tornou-se predomi-nantemente jovem, de até 36 anos de idade (VerAnexo, Quadro V).

A classe operária tem alterado o perfil tradicio-nal com a incorporação de antigos contingentes queantes subsistiam na esfera da sua reprodução soci-al. A participação das mulheres cresceu de 20,9%para 35,6% (entre 1970 e 1990). Outras categori-as consideradas como serviços —educação, saú-de, etc— com o processo neoliberal deprivatização, passam a se enquadrar naquela defi-nição de Marx38, descrita em “O Capital”, do tra-balho útil, no seu stricto sensu para burguesia:“aquele que diretamente produz mais-valia ou va-loriza o capital, independente se este capital sejauma fábrica de salsichas ou uma fábrica de educa-ção”. Além disto, surgiram novas categorias pro-fissionais, geradas pela utilização de novastecnologias. Estas, por exigirem uma nova qualifi-cação técnica inexistente no mercado de trabalho,como por exemplo os tecnólogos (ligados à pro-dução de software e hardware na informática), ra-pidamente se desenvolvem e passam a ocupar opapel da antiga aristocracia operária. Por último, oproletariado cresceu no mercado informal do tra-balho —que é pouco estudado e equivocadamenteclassificado pelas estatísticas oficiais— sabe-se,contudo, que a participação deste setor no PIB éem torno de 40%39, o que vale dizer que parte sig-nificativa da sua mão-de-obra, regularmente combaixa composição orgânica do capital, é produtoradireta de mais-valia. Do mesmo modo, parte dos

trabalhadores ligados ao comércio, serviços e fi-nanças são classificados como meros circuladoresou realizadores de mais-valia, quando na verdade,muitas atividades poderiam ser classificadas comoprodutoras diretas de mais valia, tais como porexemplo cozinheiros, doceiros, padeiros, etc.

A renovação tecnológica do aparelho produtivocapitalista e os novos métodos flexíveis de trabalho eexploração intensiva da mais-valia, refletidos na atualcomposição do capital, levou também a um decrésci-mo relativo dos postos de trabalho nas fábricas (VerAnexo, Quadro VII), recriando o fenômeno primiti-vo da acumulação de capital, como o trabalho domi-ciliar, que se espalha por todos os setores da econo-mia: indústria, agricultura, comércio e serviços, atra-vés dos meios mais sofisticados como os dainformática, até os meios mais arcaicos como os daprodução agrícola familiar, como demonstrou a proli-feração do minifúndio. Ao mesmo tempo, fez crescero exército industrial de reserva, ou superpopulaçãorelativa, tanto nos setores diretamente ligados à pro-dução, como à circulação e à realização da mais-va-lia. O número oficial de desempregados,subempregados ou sem ocupação definida cresceuassustadoramente. Sabe-se, no entanto, que o mer-cado informal de trabalho avança sobre este setor doproletariado, configurando uma espécie de acumula-ção primitiva de capital, largamente utilizado pelos ca-pitalistas nos momentos de crise cíclica do capital; emuitos que não constam do exército considerado ati-vo (PEA), na verdade compõem aquela camada dasuperpopulação relativa, que Marx classifica comoestagnada, isto é, onde cresce a indigência e mendi-cância, decorrente de sua obsolescência face às no-vas tecnologias40 (Ver Anexo, Quadros IV, V, VI, VIIe VIII e respectivos gráficos).

O proletariado, como vimos, de todas as classesque atualmente se batem contra a burguesia, é a forçamotriz da sociedade e fonte produtora de toda a ri-

(38) MARX, Karl. ob. cit. pp. 105-106.: “Por outro lado, porém, oconceito de trabalho produtivo se estreita. A produção capitalistanão é apenas produção de mercadoria, é essencialmente produçãode mais-valia. O trabalhador produz não para si, mas para o capital.Não basta, portanto, que produza em geral. Ele tem de produzirmais-valia. Apenas é produtivo o trabalhador que produz mais-valiapara o capitalista ou serve à valorização do capital. Se for permitidoescolher um exemplo fora da esfera da produção material, então ummestre-escola é um trabalhador produtivo se ele não apenas trabalharas cabeças das crianças, mas extenuar a si mesmo para enriquecer oempresário. O fato de que este último tenha investido seu capitalnuma fábrica de ensinar, em vez de numa fábrica de salsichas, nãoaltera nada na relação. O conceito de trabalho produtivo, portanto,não encerra de modo algum apenas uma relação entre atividade eefeito útil, entre trabalhador e o produto do trabalho, mas tambémuma relação de produção especificamente social, formadahistoricamente, a qual marca o trabalhador como meio direto devalorização do capital.”(39) ALMANAQUE ABRIL 1995. S. Paulo, Ed. Abril, 1995, p. 136:”Pesquisa feita pelo Sebrae em 1989, com vendedores ambulantes eartesãos em quatro capitais(Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Pauloe Brasília), mostra que 75% deles prestavam serviços a empresas semter registro. Calcula-se que os negócios da economia informal somem40% do PIB”.

(40) MARX, Karl. ob. cit. p. 208. “A terceira categoria dasuperpopulação relativa, a estagnada, constitui parte do exércitoativo de trabalhadores, mas com ocupação completamente irregular.Ela proporciona, assim, ao capital, um reservatório inesgotável deforça de trabalho disponível. Sua condição de vida cai abaixo donível normal médio da classe trabalhadora, e exatamente isso fazdela uma base ampla para certos ramos da exploração do capital. Écaracterizada pelo máximo do tempo de serviço e mínimo de salário.Sob a rubrica de trabalho domiciliar, já tomamos conhecimento desua principal configuração. Ela absorve continuamente osredundantes da grande indústria e da agricultura e notadamentetambém de ramos industriais decadentes. (...) Finalmente, o maisprofundo sedimento da superpopulação relativa habita a esfera dopauperismo.”

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queza material, intelectual e política, ou seja, de todoo progresso social e humano. Mas este papel criadore progressista, sob o modo de produção capitalista,lhe é sistematicamente expropriado pela burguesia econvertido nos meios de sua própria opressão, ex-ploração e miséria. Portanto, seu crescimento, quan-titativo e qualitativo, resulta na sua afirmação comoúnica classe social revolucionária capaz de pôr abai-xo todo o edifício de exploração e opressão, que estáerguido sobre seus ombros e das demais classes ex-ploradas no país.

As camadas médias urbanas que ora se batemcontra a burguesia, pelo caráter utópico e reacio-nário de sua luta, não poderão vencê-la. Estes seg-mentos da pequena burguesia compõem atualmen-te (1990) uma massa de cerca de 14.092.283 pro-dutores por contra própria, espalhados por todo opaís. Com cerca de 9.719.875 nos centros urba-nos e cerca de 4.372.408 no campo41, subdivide-se em diferentes graduações, segundo o ramo deatividade e tipo de propriedade. Sua formação his-tórica deriva dos quatro segmentos básicos da so-ciedade: primeiramente dos servos que aportaramcom os colonizadores para exercerem as ativida-des burocráticas, fiscais e repressivas, constituin-do aquela figura descrita por Stanley J. Stein*, quemediatizava as relações entre os senhores de enge-nho e as instituições financeiras, a burocracia estatal eos grupos do comércio marítimo de importação e ex-portação; em segundo lugar, dos pequenos comerci-antes, artesãos, curandeiros e letrados (médicos, pro-fessores, militares...), que passam a se constituir nosnúcleos urbanos, entreportos e regiões portuárias; docolonato imigrante que produz para o mercado inter-no e, por último, do proletariado agrícola, que se de-senvolve sob o duplo estatuto proletário-camponês.

Nos centros urbanos, o seu desenvolvimento ga-nha impulso, com a chegada da corte portuguesa noBrasil, a abertura dos portos e a passagem da colô-nia brasileira a condição de Vice-Reino de Portugal.É deste setor que partirá as primeiras lutas pela in-dependência, abolição da escravidão e República, par-ticularmente dos intelectuais (Castro Alves, Tiraden-tes, Cipriano Barata). Com o fim do tráfico negreiro eposteriormente da escravidão, o fluxo migratório cres-ce e traz para o Brasil aquele agente social, desenvol-vido pela dissolução do absolutismo feudal, que ocapitalismo usurpou-lhe os meios de subsistência: apropriedade individual da terra, a corporação de ofí-cio e etc. Mas dadas as características naturais ehistóricas da formação sócio-econômica brasileira,passa a subsistir em condições deploráveis de vida, oseu sonho de reconquistar o modo de vida anterior éconstantemente destruído, como em seu país de ori-gem, pela mesma soberba do capital. A sua sobrevi-vência e mobilidade social torna-se, historicamente,marcada pela burla aos mecanismos institucionais: aeconomia informal.42

No campo, somente a partir das crises cíclicas daeconomia agro-exportadora e finalmente com a mu-dança de eixo da acumulação, da agricultura para aindústria, passa a se constituir uma camada híbridaproletária-camponesa, que atualmente gira em tornode 3 milhões de pessoas, em acelerado processo deextinção. Sua presença é mais significativa nas re-giões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, sobrevivendoda propriedade familiar. Das regiões Norte e Nor-deste advém o seu principal fluxo migratório para oscentros urbanos, que faz crescer sua presença nas ati-vidades comerciais, industriais, burocráticas (funcio-nalismo público) e repressivas (militar). Os que ficamnas lavouras para o consumo doméstico, passam aconstituir uma massa de pequenos produtores, em con-dições cada vez mais aviltantes de trabalho e vida.

O proletário-camponês constitui uma massa flu-tuante que, como “Prometeu acorrentado”*, está agri-

(41)IBGE. Anuário Estatístico de 1993.(*) STEIN, Stanley J. ob. cit. pp. 20-22. “Em terceiro lugar, os nexosdas transações comerciais desse complexo agrícola e comercial eramo grande proprietário rural, o comissário da cidade, o exportador e oimportador. O comércio era controlado pelos portugueses e outroscomerciantes estrangeiros que se tornaram, então, intermediáriosentre os grandes proprietários rurais e o mercado exterior. (...) Osgrandes proprietários, isolados em suas plantações, deixavam a ad-ministração de seus recursos financeiros a cargo dos comissários querecebiam, em consignação, as colheitas. A maior parte dos grandesproprietários dependia, inclusive, dos comissários não só para ven-der a sua produção aos exportadores, como também para conseguircréditos, mediante garantia de colheitas futuras. Como resultado des-sas múltiplas responsabilidades, o comissário da cidade apropriava-se de uma parcela dos lucros da monocultura superior a do próprioproprietário. Eram em suas mãos e na de outros membros da comu-nidade mercantil das cidades portuárias que se acumulavam o capi-tal de investimentos. (grifos são nossos)

(42) RUY, Affonso. ob. cit. pp. 83 e 114-119. Nesta mesma obra oautor cita uma quadra de Gregório de Matos, extraída da citação dePedro Calmon, em História da Civilização, p. 123, que reproduzi-mos: “Que os brasileiros são bestas / E estarão trabalhando / Tôdavida para manterem / Maganos de Portugal”(*) Refiro-me à tragédia grega “Prometeu Acorrentado” de Ésquilo:Um deus que é punido por Zeus por ter entregue o fogo da imortali-dade a um humano morto. Prometeu é punido pelos Deuses, sendoacorrentado aos rochedos de frente para o mar e lhe é retidado opoder da imortalidade.Zeus faz uma proposta por um emissário aPrometeu para que ele se arrependesse do erro e pedisse sua clemên-cia. Prometeu responde a Zeus: prefiro mil vezes morrer acorrentado,do que ser imortalmente escravo de Zeus.

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lhoada aos rochedos do modo de produção capita-lista pelas correntes da circulação ou do capital finan-ceiro; a cada crise cíclica da economia agro-exporta-dora vê aquilo que acredita ser o seu modo de vidaanterior recriado e destruído, oscilando entre o serpequeno burguês e o não ser, passando a engrossaras fileiras do proletariado moderno; seja no mercadoformal ou informal. Assim se desenvolve aquela ca-mada social conceituada, no Brasil, de campesinato;por seu duplo estatuto proletário-pequeno burguês,dele fluirá sempre o elemento subversivo, cujos ideaisde ascensão social dentro do capitalismo vão influen-ciar profundamente a luta de classes no campo e nacidade.

Mas o caráter subversivo de suas lutas atuais,como por exemplo os “Sem Terra”, não decorredo caráter revolucionário das mesmas, como ocor-ria com a sua luta pela Independência (1798), pelaRepública (1817), pela Abolição (1840-1888), econtra as oligarquias rurais (1920-30)43; mas pre-cisamente, do caráter reacionário das mesmas; jáque as estruturas econômicas e sociais lhes conde-narão sempre a uma sobrevida residual e comple-mentar à acumulação de capital; por conseguinte,impulsionando suas parcelas mais conscientes parao lado do proletariado, nos momentos decisivos daluta de classes.

O lumpen proletariado, produto das camadasputrefatas da sociedade, notadamente se desenvolveda parte da mão-de-obra escrava, que não se inseriunas relações capitalistas, mesmo nas condições dainformalidade. Mas ao longo do processo histórico,mudou a sua base de desenvolvimento. Hoje fluindoprincipalmente do campesinato em extinção e da par-te estagnada da superpopulação relativa dos centrosurbanos, cresce assustadoramente. Os dados oficiaismostram a existência de 43 milhões de seres huma-nos em condições de indigência, logo não é possívelesconder que neste contingente, milhares sobrevivemda mendicância, das lixeiras, prostituição e demais for-mas bárbaras e subumanas de vida. Sua atitude pe-rante a vida é a sujeição e servilismo em troca de umprato de comida.

O proletariado, ao longo de sua trajetória, se ba-teu brava e heroicamente contra a burguesia e, namedida em que avançaram a industrialização, as rela-

ções de mercado e cresceram as comunicações entreo proletariado no plano nacional e internacional, suasorganizações gremiais, associações mutualistas, co-lônias anarquistas e falanstérios, como descreve JoséNilo Tavares44, em “Marx, o Socialismo e o Brasil”,rapidamente, evoluem para formas superiores, comoa COB—Central Operária Brasileira (ligados dentroda Internacional às posições anarquistas de Labriolae Bakunin). Mais tarde, com o predomínio dos Co-munistas na Internacional e a Revolução Russa de1917, cresce a influência comunista sobre o movi-mento operário no país, como demonstra a GreveGeral realizada em 1917 e a fundação do PC-SBIC—Partido Comunista-Sessão Brasileira da Internaci-onal Comunista— em 1922.

O crescimento organizativo e presença políticana sociedade rapidamente conduziram a luta declasse do proletariado da esfera econômica para aluta pelo poder político. Primeiramente, com a for-mação do Bloco Operário-Camponês e, logo de-pois, com a ANL (Aliança Nacional Libertadora) ea insurreição armada de 1935. Mas todo este pro-cesso é marcado pela passagem do trabalho es-cravo-semi-servil para o trabalho “livre”, sem queresulte de uma contradição interna entre o desen-volvimento das forças produtivas e as relações so-ciais de produção, criando o descompasso entre odesenvolvimento objetivo e subjetivo da classeoperária. Isto se reflete na sua estratégia, ao atre-lar o objetivo da luta revolucionária a uma revolu-ção burguesa, nacional e democrática, contra aquiloque pensa impedir o desenvolvimento capitalista nopaís: o imperialismo e resquícios feudais (agrarismoou latifúndio). Daí resulta a derrota da Insurreiçãode 35 e a ditadura que atrela as organizações sin-dicais nascentes ao Estado, através da Consolida-ção das Leis Trabalhistas inspirada na “Carta delLavoro” (o sindicalismo fascista de Mussolini)45,constituindo a estrutura sindical corporativa e ver-tical, bases sob as quais se ergueu o “Estado doBem-Estar Social” no Brasil, a serviço da contra-revolução burguesa mundial.

(43) ALVES, Mário. Dois Caminhos da Reforma Agrária. In: A Ques-tão Agrária. S. Paulo, Ed. Brasil Debate, 1980. pp. 65-88.

(44) TAVARES, J. Nilo. Marx, o Socialismo e o Brasil. Rio de Janeiro,Civilização Brasileira, 1983. BANDEIRA, Moniz; MELO, C. eANDRADE, A.T. ob. cit. pp. 45-7, 283-284. CARONE, E. O PCB(1922 -1943). Vol. 1. S.Paulo, Difel, 1982. RODRIGUES, Edgar.Alvorada Operária. Rio de Janeiro, Ed. Mundo Livre, 1979. pp. 51-58. RODRIGUES, Leôncio M. Partidos e Sindicatos. S.Paulo, Ed.Ática, 1990. pp. 48-72.(45) TAVARES, J. Nilo. Conciliação e Radicalização Política no Bra-sil. Petrópolis, Ed. Vozes, 1982. pp. 18, 63 e 71.

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O correto posicionamento do proletariado brasi-leiro, no plano internacional, durante a Segunda GuerraMundial —a luta contra o nazi-fascismo— levou aderrota da ditadura do Estado Novo e à eleição de 1senador e 21 deputados comunistas para a Constitu-inte em 1946, que logo é respondido pela burguesiacom a cassação do Partido Comunista e seus repre-sentantes. Mesmo sob implacável perseguição polici-al e o controle burocrático do Estado, a organizaçãosindical cresce, alçando bandeiras nacionalistas e an-tiimperialistas, levanta as massas e arranca posiçõesmais contraditórias da burguesia. Surge o PUA—Pac-to de Unidade e Ação— e logo em seguida a CGT—Comando Geral dos Trabalhadores— desencadean-do um período de grande unidade entre os trabalha-dores urbanos, e de surgimento da organização sindi-cal dos trabalhadores rurais (hoje CONTAG) e domovimento das Ligas Camponesas inspiradas na lutada Associação Fluminense de Trabalhadores, poste-riormente, Federação Fluminense dos Lavradores eFederação das Associações de Lavradores do Esta-do do Rio de Janeiro, que possuíam forte influênciado PCB e que teve como um de seus presidentes ocamarada Manuel Ferreira de Lima, sendo entidadespioneiras na ocupação de terras em todo o Brasil. Astentativas de divisão do movimento operário, por parteda burguesia nacionalista (PTB) e da pequena bur-guesia (PSB), não são capazes de abalar o prestígiodo Partido Comunista junto às massas.46

A força crescente do proletariado obriga a bur-guesia a se posicionar frente à contradição que fun-damenta a luta de classes no período: entre o desen-volvimento capitalista autônomo (independente) ou acapitulação e desenvolvimento associado ao imperia-lismo. A luta pela defesa das riquezas nacionais,estatização do petróleo, comunicações e demais áre-as estratégicas da economia, com a trágica morte deGetúlio Vargas, ganha as massas e revela a essênciado ser social da “burguesia nacional”, servil ao impe-rialismo: “o plano de metas”. Mas a própria lógica dodesenvolvimento do capital, com a industrializaçãocrescente, através da transplantação dos grandes mo-nopólios automobilísticos para o país, e a mudançana composição do capital, desenvolve a aristocraciaoperária, desloca novos contingentes de mão-de-obra,do campo para cidade, e amplia o exército industrialde reserva. Com isto, declina a força do proletariado,

cresce o poder político da contra-revolução e a lutade classes se eleva a um outro patamar: o que condu-ziria ao golpe de 1964.

O golpe militar de 1964 teve por alvo principalquebrar a espinha do movimento sindical e ceifar asforças revolucionárias no país. A maioria dos sindica-tos combativos foram postos sob intervenção, as li-deranças sindicais cassadas, presas e quando não, tor-turadas e assassinadas, substituídas por interventorespelegos e informantes do regime. Por outro lado, aestratégia incorreta do Partido Comunista fez crescero fracionamento da esquerda e desarmou o proletari-ado. Apesar do heroísmo e idealismo moral dos gru-pos que se passaram à luta armada, o improviso eamadorismo isolaram os comunistas. A ditadura, seaproveitando desse fato, passou à repressão em massae o extermínio seletivo dos quadros revolucionários.Os que conseguem escapar ao terror são implacavel-mente perseguidos, controlados e isolados. Segundodados oficiais, cerca de 50 mil foram atingidos pelarepressão, dentre os quais cerca de 400, barbara-mente assassinados nos porões da OBAN, do DOI-CODI e demais aparelhos repressivos.47

A derrota da luta armada e o esfacelamento doPartido Comunista48 abriram espaço para a burgue-sia mudar a composição do movimento operário epopular e articular todo uma rede de agentes, alcagüe-tes e pelegos, que continuam controlando toda a es-trutura sindical e monitorando o movimento popular.Aproveitando-se da divisão do movimento comunis-ta, a burguesia fez florescer uma nova militância soci-al-cristã, a partir da aristocracia operária que,monitorada, é conduzida para bloquear a retomadados sindicatos pelos comunistas. Do mesmo modo,quase todo o processo de reorganização do movi-mento revolucionário, seja dos mais distintos gruposde esquerda e círculos comunistas, pós-luta armada,foi comprometido. Nenhum agrupamento ourearticulação constituída neste processo escapou dainfiltração policial e da ação organizada da repressãono interior da esquerda. Esta situação chegou ao cú-mulo de esfacelar o mais experiente grupo revolucio-nário, comandado por Luiz Carlos Prestes, que diri-

(46) DELGADO, Lucília A. Neves. O Comando Geral dos Trabalha-dores no Brasil (1961-1964). Petrópolis, Ed. Vozes, 1981. pp. 35 e39. TAVARES, J. Nilo. ob. cit., pp. 83 e 85.

(47) PROJETO Brasil Nunca Mais - Perfil dos Atingidos, Tomo III,Petrópolis, Vozes, 1988, pp. 11 e 15.(48) GORENDER, Jacob. Combate nas Trevas - A Esquerda Brasileira:Das Ilusões Perdidas à Luta Armada. 2 ª Ed., S.Paulo, Ed. Ática, 1987, pp.141 e 215. Ver MORAES, Dênis e VIANA, Francisco. ob. cit. pp. 177 e 199;e também REIS FILHO, D. A. e SÁ, Jair Ferreira. ob. cit.

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gia o Partido Comunista.

Desta forma, instaurou-se um período de grandeofensiva da contra-revolução burguesa no país, pe-gando os trabalhadores fragilizados face à destruiçãode sua organização superior, o Partido Comunista e,conseqüentemente, vivendo uma crise de direção re-volucionária. Com o desaparecimento do Campo So-cialista do Leste Europeu e da URSS, esta situaçãotorna-se ainda mais desfavorável para os trabalhado-res. A CUT (Central Única dos Trabalhadores), quesurgiu como alternativa ao sindicalismo reformista eatrelado ao Estado, que inicialmente defendia posi-ções combativas, de desatrelamento e autonomia sin-dical, de luta pelo socialismo e outras bandeiras avan-çadas; refletindo a hegemonia da Igreja no seu interi-or, pouco a pouco, retira a máscara socialista e mos-tra que o seu “novo sindicalismo” não passa de“neopeleguismo” —mais um braço da contra-revo-lução neoliberal no movimento operário. Hoje a CUTdesenvolve, abertamente, um sindicalismo de coope-ração e peleguismo, que substitui a mobilização demassas pelo marketing e pelos meios de comunica-ção burgueses. A filiação à CIOLS49, central sindicalanti-comunista norte-americana, financiada pela CIA,que apoiou o golpe militar no Chile e Brasil e mantémuma política agressiva contra Cuba, mostra claramenteseu comprometimento com o imperialismo. As outrascentrais —CGT (Confederação Geral dos Trabalha-dores), USI (União dos Sindicalistas “Independen-tes”) e FS (Força Sindical)— já nasceram como apên-dice da intervenção declarada do Estado burguês nointerior da classe operária.

Mas a classe operária, mesmo diante da mais com-pleta desarticulação de sua organização subjetiva, temdado demonstrações inequívocas do seu caráter re-volucionário e disposição para mudar esta situaçãodesfavorável. Em vários pontos do país, particular-mente nas regiões Sul e Sudeste, surgem esforçosorganizativos e de lutas, fora da tutela da classe do-minante e da pequena burguesia, se bem que aindaisolados e fortemente minados, são tentativas sériasque ao se unificarem, constituem a base revolucioná-ria sólida, que forja os quadros necessários ao forta-lecimento Partido Comunista, Marxista-Leninista.Além disto, se este processo se combina com a situ-ação objetiva, que impulsiona cada vez mais as mas-

sas proletárias para uma rebelião popular, o resultadoserá imprevisível.

Embora a mídia nazi-fascista tente esconder e osgovernantes se utilizem de todos os mecanismos dosistema, para desviar esta energia revolucionária con-centrada no proletariado, é latente a situação explosi-va em todo o país. Observa-se esta situação na cres-cente violação da propriedade privada burguesa, atra-vés do que se chama roubo, assaltos, seqüestros,ocupações de terras e métodos violentos, com osquais as classes trabalhadores buscam recuperar oque lhe foi expropriado pela burguesia. Se toda estaenergia for organizada e direcionada revolucio-nariamente, subverterá toda a ordem vigente, criandoas condições para uma insurreição.

Por isso, um alarme geral se produz em toda asociedade, a burguesia grita aos quatro cantos que aguerra civil e a barbárie social se instauraram no país;combate sistematicamente a idéia da Greve Geral, poissabe que se ela iniciar nas duas grandes regiões, Sul eSudeste, paralisará todo o país e a colocará de joe-lhos, criando as condições para uma insurreição. Etudo isto por quê? Porque trata-se de combater, porantecipação, a verdadeira guerra civil, aquela que ine-xoravelmente acontecerá, não apenas por instinto oucomo reação natural ao seu processo de exploração,mas comandada pela Vanguarda do Proletariado Re-volucionário, uma força viva e consciente, que plane-jará e comandará a ação unitária do proletariado, nomomento certo, no local certo e com a força certa,para destruir o sistema de opressão e exploração daburguesia.50

A classe burguesa treme de medo com a idéia deuma Revolução Comunista e se acerca de todos oscuidados para que nos momentos de crises, em que arebelião das forças produtivas (particularmente a for-

(50) CASTRO, Pedro. Do Outro Lado da Paz. Cadernos do ICHF, nº12 , Rio de Janeiro, novembro de 1989. O trabalho realizado pelosociólogo, mostra indiscutivelmente uma situação de “guerra civil”nãodeclarada no país: “Entrementes, quaisquer que sejam os critériosutilizados para avaliar o grau de normalidade ou não dessas relações,parece possível afirmar, a julgar pelas ocorrências antes enunciadas,a existência de uma vasta teia de relações com indiscutível caráterviolento na vida brasileira. Em torno de alguns outros indicadoressobre o quadro geral, há também registros significativos da faseestudada. Dom Vicente Scherer, ex-arcebispo de Porto Alegre, emdiscurso naquela cidade, comemorativo da Revolução Francesa,advertia o governo e os detentores do poder econômico e políticono Brasil para que “não permaneçam indiferentes diante dashodiernas massas empobrecidas e marginalizadas”, evitandoassim “iniciativas violentas e nefastas de multidões desesperadase revoltadas”.(p.45)

(49) OPPL, ob. cit. RODRIGUES, Leôncio Martins. ob. cit. pp. 109à 148. Ver também, CUT: Os Militantes e a Ideologia. Rio deJaneiro, Paz e Terra, pp. 108 e119.

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ça de trabalho) contra as relações sociais de produ-ção se tornam mais violenta e aberta, esta rebeliãonão se organize unitariamente, não constitua um planode ação comum e não fixe um objetivo comum para atomada do poder. Por último, que não disponha deuma estratégia revolucionária que seja capaz de con-duzi-la à vitória e derrube o sistema de opressão, que,de posse do poder, os expropriados expropriem osseus expropriadores, libertando todos os exploradose oprimidos do jugo e da opressão capitalista.

No Brasil, o genocídio da colonização e do de-senvolvimento capitalista exterminou quase toda apopulação indígena (estimada em cerca de 5 milhõesde seres humanos, reduzidos hoje a um contingentede menos de 200 mil) e a população de escravos tra-zidos da África, estimada em números absolutos comosuperior a dos nativos. Mas todo este holocausto éjustificado pelas modernas teorias antropológicas ehistóricas da burguesia acerca do etnocentrismo, dahermenêutica ou até mesmo com a cínica tese do pre-ço da civilização.

No decurso de 500 anos de colonização eneocolonialismo, as classes exploradas nestas terrasforam submetidas às mais cruéis atrocidades e sádi-cas selvagerias genocidas pela civilização cristã e emnome da purificação da humanidade. Mas o genocídioneoliberal que se vive na atualidade, tempos em queos “direitos humanos” são tão exaltados pelos arau-tos do “livre mercado” e da “liberdade de exploraçãodo homem pelo homem”, não encontra paralelo emtoda a história da humanidade.

Nunca a frieza de cálculos estatísticos conde-naram tão abertamente cerca de 43 milhões de se-res humanos, uma população equivalente a popu-lação da França, Espanha, Itália, Inglaterra,Holanda, Israel etc, ao extermínio pela indigência,o pauperismo, a morte torturante pela fome, misé-ria, degredo e chacinas em massa, como as daCandelária, Vigário Geral, Carandiru, Santa Elina... As cabeças se curvam, os ouvidos se ensurde-cem, os olhos não vêem, os corações não sentem,a mente não registra e a vozes se calam e emude-cem frente ao holocausto. Assim as classes explo-radas e seu destino-manifesto pelo cutelo do capi-tal já não podem esperar a redenção de um salva-dor, a miraculosidade do seu verdugo ou a miseri-córdia dos cavaleiros do apocalipse. Somente suaparte ativa e rebelada poderá cortar os grilhões queaguilhoam seus punhos e tornozelos, libertá-los dosrochedos da fome, do sol da ignorância que cega,do sal da mendicância que corrói as feridas do cor-po, do frio que açoita a sua alma prostituída e dastrevas das penitenciárias e chacinas sádicas.

O proletariado brasileiro vive a tragédia do Pro-meteu acorrentado e somente se libertará pela suaprópria força e união, pois ao contrário de Prometeunão é nem Deus, nem Homem (nem imortal e nemmortal), para burguesia é capital, seu alimento e con-dição de existência. Assim o proletariado nada temde seu a perder a não ser a morte pela chacinas, asgrades de penitenciárias, a sarjeta e a morte pela fomee pauperismo e sua vitória é certa.

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IV) A CRISE “DO MOVIMENTOCOMUNISTA INTERNACIONAL”

“As revoluções burguesas, como as do século dezoito, avançam rapidamente de sucesso em sucesso; seus efeitosdramáticos excedem uns aos outros; os homens e as coisas se destacam como gemas fulgurantes; o êxtase é estadopermanente da sociedade; mas estas revoluções têm vida curta; logo atingem o auge, e uma longa modorra se apodera dasociedade antes que esta tenha aprendido a assimilar serenamente os resultados de seu período de lutas e embates. Poroutro lado, as revoluções proletárias, como as do século dezenove, se criticam constantemente a si próprias, interrompemcontinuamente seu curso, voltam ao que parecia resolvido para recomeçá-lo outra vez, escarnecem com impiedosaconsciência as deficiências, fraquezas e misérias de seus primeiros esforços , parecem derrubar seu adversário apenaspara que este possa retirar da terra novas forças e erguer-se novamente, agigantado, diante delas, recuam constantemen-te ante a magnitude infinita de seus próprios objetivos até que se cria uma situação que torna impossível qualquerretrocesso e na qual as próprias condições gritam:

Hic Rhodus, hic salta! (Aqui está Rodes, salta aqui!)”

(Marx, Karl, em “O Dezoito Brumário de Luiz Bonaparte”, Obras Escolhidas, Alfa-Ômega, vol. 1, p. 206)

A crise que se abateu sobre o Movimento Comu- nista Internacional não é uma crise do Comu-

nismo, mas uma crise ideológica dos comunistas, de-corrente dos desvios e erros na aplicação da teoriaMarxista-Leninista, pelo PCUS, na construção do Co-munismo e na condução da luta de classes do prole-tariado, no plano internacional. Trata-se de uma crisede direção revolucionária, sobrevinda com adesestruturação do campo socialista do Leste Euro-peu e da URSS e da degenerescência do PCUS, pelainexistência de um novo centro revolucionário inter-nacional capaz de conduzir a luta pela Revolução Pro-letária Mundial diante das novas condições de desen-volvimento da luta de classes, que deixa de se mani-festar entre sistemas sociais (capitalismo versus soci-alismo) pela hegemonia mundial, para se manifestarno interior de um mundo unipolar e hegemonizado peloimperialismo norte-americano.

A crise se manifestou a partir do XX Congressodo PCUS (em 1956), com as denúncias sobre os su-postos erros cometidos por Josef Stalin (culto à per-sonalidade e eliminação da oposição) e a nova orien-tação política traçada por N. Kruschev (para coexis-tência pacífica e competição econômica com o impe-rialismo ou via pacífica para o socialismo), levandodivisão e degenerescência aos Partidos Comunistas,seja pelo reformismo, seja pelo revisionismo. Esta criseaprofunda-se com o XXI e o XXII Congressos doPCUS, através das teses do fim das classes sociaisna URSS, do Estado e do Partido de todo o povo,fazendo emergir com toda a força, nas décadas pos-teriores, todas as contradições e querelas no MCI,que haviam sido suplantadas pela Grande RevoluçãoProletária de Outubro de 1917, na Rússia, e pela gran-diosa vitória da URSS na II Guerra Mundial, até acompleta desagregação e desarticulação das forças

do comunismo, no plano internacional, constituindo oatual quadro de generalizada crise ideológica entre oscomunistas.1

A orientação política que presidiu a participaçãoda URSS na II Guerra Mundial (1941) se, por umlado, fez avançar a revolução proletária mundial, poroutro, constituiu novas contradições que mais tardevão se colocar como grandes obstáculos ao desen-volvimento do socialismo. A mudança de 180 grausna estratégia da III Internacional, de neutralidade naguerra e das frentes populares antiimperialistas de re-sistência ao nazi-fascismo, por meio de alianças táti-cas entre classes e estados nacionais, para a forma-ção de Frentes Únicas antifascismo, leva a um grandeprocesso de crescimento e nacionalização dos PCs,refletindo-se na dissolução do Comintern, em 1943,e no florescimento de estratégias específicas no cami-nho para o socialismo, que, com desfecho da II GuerraMundial consolidaram governos de coalizões nacio-nais, as Democracias Populares, sob a hegemonia doscomunistas, particularmente, nos países do LesteEuropeu, onde os Partidos Comunistas exerceram pa-pel de vanguarda, legitimando-se como representan-tes do povo, na resistência ao nazi-fascismo (o casoda Iugoslávia e da Albânia) ou onde a presença e apoiodo Exército Vermelho aos comunistas se impuseramnas mesas de negociações em Ialta (Polônia,Tchecoslováquia, Romênia, Hungria etc.).

Mas o início da Guerra Fria e a constituição doCominform leva à nova viragem na orientação políti-ca do MCI e acelera o processo de definição dos

(1) BABY, Jean. As Grandes Divergências do Mundo Comunista. S.Paulo, Editora Senzala, p. 43. Ver também, Os Quatros PrimeirosCongressos da Internacional Comunista. Volume I, Portugal, Edi-ções Maria da Fonte. Ver ainda, III Internacional Comunista - Mani-festo, Teses e Resoluções do 3º Congresso. Volume 3, S.Paulo, 1989.

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(2) SPRIANO, Paolo. O Movimento Comunista entre a Guerra eo Pós Guerra: 1938 a 1947. In: História do Marxismo. Volume X,S.Paulo, 1987, pp. 133, 168 e 173. Ver também, OPAT, Jaroslav.Do Antifascimo aos Socialismos Reais. In: História do Marxis-mo. ob. cit. pp. 13, 228, 239 e 243.

países, sob regimes de democracias populares, pelosocialismo, formando o campo socialista e suas pri-meiras seqüelas. A posição da Liga dos Comunistasda Iugoslávia, comandada por Tito, resistiu à orienta-ção de retorno ao modelo da URSS, como uma úni-ca via para o socialismo, sob o comando do PCUS.A morte de Stalin, a subida de Kruschev à SecretariaGeral do PCUS e as novas orientações políticas doseu XX Congresso agravam ainda mais o processode divisão entre PCs (URSS e China), faz crescer orevisionismo e a degenerescência no interior do MCI,abrindo espaço para que a contra-revolução burgue-sa, através dos traidores da II Internacional —osindicalismo amarelo e a social-democracia— voltas-sem a polarizar a direção das lutas econômicas e po-líticas da classe operária e isolassem os comunistas,particularmente na Europa Ocidental. Este processoconteve a expansão da revolução proletária, nos prin-cipais centros do imperialismo, deslocando-a para asperiferias do sistema, onde as condições objetivasinexistiam para a revolução direta ao socialismo, comodemonstraram as guerras de libertação na África, Ásiae América Latina que exigiam um esforço econômicoe militar cada vez mais dispendioso da URSS.2

As teses do XX Congresso do PCUS que deter-minaram um novo conteúdo, a coexistência pacífica,mudou a base da luta de classes entre sistemas (soci-alismo versus capitalismo), do confronto político eviolento pela revolução proletária mundial, para com-petição econômica dentro da esfera de circulação erealização da mais-valia do sistema capitalista. Istopassou a subordinar o desenvolvimento do socialis-mo ao mercado capitalista e, na medida em que seacentuou a crise geral do capital, arrastou as econo-mias socialistas para a crise, particularmente, daPolônia, Iugoslávia e Hungria, abrindo espaço paraque nos países socialistas a contra-revolução alimen-tasse, subterraneamente, o retorno paulatino das re-lações capitalistas. Por outro lado, a corridatecnológica, aeroespacial e bélica, agravou a contra-dição entre produção e consumo, levou à formaçãode um mercado negro e passou a realizar o ciclo dereprodução do capital, corrompendo econômica, po-lítica e ideologicamente os setores mais vacilantes dasociedade (das burocracias estatais e dos PCs), com-pelindo-os à traição e à conspiração aberta para li-quidar a organização subjetiva da classe operária, no

plano internacional. Assim teve curso as várias mani-festações como a de 1956, na Hungria, a de 1968, naTchecoslováquia, e o “Solidariedade” na Polônia, atéque o XXIX Congresso do PCUS, sob a liderançade Gorbachev, aprovasse as orientações políticas decapitulação definitiva do MCI ao imperialismo —aPerestróika e a Glasnost3; cristalizando o quadro atu-al, onde o desaparecimento do campo socialista, adesintegração da URSS e da maior parte dos PCs nomundo, especialmente do PCUS, fizeram emergir aprofunda crise ideológica e de direção revolucionáriado MCI.

A análise comparativa dos índices de crescimentoda ex-URSS e dos países socialistas do Leste Euro-peu demonstram claramente esta tese. A produçãode alimentos e consumo de calorias per capita na ex-URSS, de respectivamente 30,6% e 5,8%, de 80 e88, embora apontassem um declínio relativo, aos de65 a 80, eram absolutamente positivos comparadosao decréscimo de 3,95 do PIB real do Leste Euro-peu, que caiu de 5,3%, entre 65 a 80, para 1,4%,entre os anos 80 e 88. Este fato indica claramente atendência das economias socialistas do Leste Euro-peu em acompanhar o processo de recessão mundialcapitalista, que neste momento registrava uma quedade 0,8% do PIB mundial, comparando-se o cresci-mento de 3,2% de 1980 a 1990 ao crescimento de4,0% de 65 a 80. Além disso, as estatísticas mais som-brias, previam um crescimento de 1,9% para a eco-nomia da ex-URSS, durante o período de 1980 a2.000, reforçando ainda mais nossa tese, visto que arecessão mundial, na década de 80, registrava umcrescimento negativo na atividade industrial e comer-cial, respectivamente, de 0,2% e 2,5%.4

Este processo de inversão total nas relações eco-nômicas e políticas do sistema socialista com o siste-ma capitalista não é algo que se possa compreenderpela consciência que tem de si os que vivem esta tra-gédia. É somente na análise das contradições entre asforças produtivas e as relações sociais de produção,que se pode chegar a uma noção mais precisa. O ca-pitalismo, ao viver a manifestação de sua crise geral,que resultam nas duas Guerras Mundiais (a de 1914a 1917, e a de 1939 a 1944), muda a sua economia

(3) IAKOVLEV, Alexandre. O Que Queremos Fazer da União Soviéti-ca: O Pai da Perestroika se explica. Rio de Janeiro, Civilização Bra-sileira, 1991, pp. 60 e 73; MANDEL, Ernest. Além da Perestroika.VOL I e II, S.Paulo, Busca Vida, 1989; TESES da 19ª ConferênciaNacional do PCUS. Revista Internacional - Problemas da Paz e doSocialismo, S.Paulo. Ano VII, nº 2, Ed. Novos Rumos, abril/junho de1988.(4) BANCO MUNDIAL. Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial1989. Washington, Oxford University Press, 1989. pp. 244-245.

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política, abandona o liberalismo econômico de AdamSmith, que impulsionou a passagem à sua fase superi-or e imperialista, isto é, o capitalismo monopolista ede parasitismo financeiro, e recorre a velhas formula-ções Fisiocratas e Ricardianas, através do LordKeynes. Deste modo, atribui um novo papel ao Esta-do na economia, como produtor direto (da demandaefetiva), constituindo uma nova base para o imperia-lismo — o capitalismo monopolista de Estado. Estanova política econômica, somada ao processo dedestruição de grande parte das forças produtivas de-senvolvidas e o desenvolvimento tecnológico, resul-tantes das duas Guerras Mundiais, abriu espaço pararearticulação das relações de produção, que passa aincorporar inúmeras demandas da classe operária,particularmente nos países principais do sistema. Istolevou a um novo período de acumulação de capital,em escala mundial, e a intervenção do Estado na eco-nomia atenuou as manifestações das crises cíclicas docapital, exigindo uma nova estratégia para a expan-são do sistema socialista, através da luta de classesno plano internacional.

A estratégia formulada pelo MCI, diante destenovo quadro internacional, logo após a II GuerraMundial, retomou a visão particularizada da revolu-ção, na expectativa de uma outra crise revolucionáriamundial. E como as condições objetivas para a revo-lução não se formaram, a tática do MCI se tornoureativa, congelando-se a luta de classes, no sentidomarxista, particularmente nos países centrais do im-perialismo. Isto debilitou a base material e intelectualsobre a qual se desenvolveu o socialismo, e na medi-da em que os países mais atrasados tornam-se “o elomais fraco do sistema”5, esta base material e intelec-tual passa a se debilitar. Os países do Leste Europeu,que vão formar o sistema mundial do socialismo, comexceção da ex-República Democrática da Alemanha,possuem economias pouco desenvolvidas e não pu-deram se socializar plenamente, mantendo relaçõesdiretas com o imperialismo e a porta aberta para areação; os países nacionais libertados na Ásia, Áfricae América Latina também encontravam-se nas mes-mas condições. Assim, a economia soviética tornou-se o centro dinâmico do sistema socialista mundial e,na medida em que se integrou, se subordinou à lógicade desenvolvimento do conjunto dos países que inte-gravam o sistema. É necessário destacar ainda que aexpectativa de um novo confronto com o imperialis-mo, criado pela “guerra-fria”, obrigava a ex-URSS amanter e desenvolver um aparato bélico capaz de dis-

suadir o objetivo da contra-revolução, de destruiçãodo socialismo. Com a nova manifestação da crise geraldo capital, na década de 70, as economias dos paísessocialistas no Leste Europeu, Ásia e África são arrasta-das também para a crise, como podemos demonstrarpela dívida externa da Polônia, Hungria e Iugoslávia; eisto leva a ex-URSS a exaurir, totalmente, sua capacida-de de sustentação econômica do sistema.

O imperialismo, diante da crise, rapidamente pas-sou a se desfazer do “Estado do Bem-Estar Social”;muda sua política econômica imperialista, retornandoà velha política do capitalismo monopolista, sob orótulo de neoliberalismo, e com isto passa a sobrevi-ver na crise cíclica voltando à lógica da concentra-ção, da centralização e do parasitismo financeiro —destruindo parte das forças produtivas desenvolvidas,através de uma série de conflitos localizados e etc...—já que ela não atinge igualmente a todos os setoressociais, porque privilegia os grandes monopólios. Masna sociedade soviética, a crise se desenvolveu inver-samente, nela todos os setores sociais foram atingi-dos: o peso da estrutura militar em seu orçamento con-duziu-a a um desvio de princípio na planificação e nadistribuição equânime dos recursos para toda a soci-edade. E com isto, manifestou-se internamente a ex-plosão conjugada de todas as contradições, cristali-zando-se um desfecho trágico de degenerescênca dasociedade e do Partido, até sua desintegração total.

A experiência socialista na ex-União Soviética co-loca como questão fundamental, para o processo re-volucionário mundial, lições que só o pioneirismo hu-mano é capaz de produzir e que servem de base aoestudo profundo para o soerguimento do MovimentoComunista Internacional, particularmente para os quemantém a luta de resistência nas condições adversasda atualidade, como por exemplo Cuba. A análisesuperficial que atribui a desintegração da URSS, comoproduto de um único fator ou contradição, tais como:a visão centrada no inimigo externo em contradição àluta de classes interna; os que atribuem sua derroca-da à traição de Stalin, Gorbatchov ou a contradiçãodo Socialismo num único país, ou ainda a que vinculatal processo à contradição da Revolução Socialistaem um país, onde as forças produtivas capitalistas nãoestavam desenvolvidas plenamente, não dão conta dacomplexidade do processo. São posições estreitas edogmatizadas, incapazes de uma análise marxista datotalidade dos fatos.

Esta tese é comprovada, empiricamente, ao se re-conhecer que, paralelamente e/ou em contradição a(5) LENINE. V.I. Imperialismo, Fase superior do Capitalismo. ob. cit.

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toda esta crise do MCI, se registraram avanços nosprocessos revolucionários e progressistas do mundo.Neste sentido, cabe destacar que justamente decor-rente das mudanças da orientação política do MCI,no curso da II Guerra Mundial, e da exitosa conjun-tura para o socialismo devido à heróica participaçãodos Comunistas na defesa da humanidade contra onazifascismo, que florescem novas estratégias e ex-periências revolucionárias vitoriosas, como é o casoda China, Coréia, Cuba e Vietnã; bem como, osMovimentos de Libertação Nacional, na África eAmérica Latina - Argélia, Angola, Moçambique,Namíbia, Nicarágua -; todos, processos revolucio-nários apoiados nas tradições de luta e culturais des-tes povos e nações. Emergem, por um lado, em resis-tência à contra-revolução burguesa (a "guerra-fria") esuas contradições interimperialistas que, em todomundo, se segue ao avanço do comunismo no cursoda II Guerra Mundial; por outro, das contradiçõesque derivam da flexibilidade estratégica e tática, asbruscas mudanças na orientação política do MCI, acrise ideológica dos comunistas que lhe é conseqüen-te.

Do ponto de vista puramente teórico, todo o pro-cesso que levou ao fracasso da segunda forma dedesenvolvimento do socialismo decorre, por um lado,da aplicação incorreta do Marxismo-Leninismo. Aciência, ao ser adaptada a um país da periferia dosistema imperialista (teoria do elo mais fraco), tor-nou-se uma formulação mediatizada por esta contra-dição. Ela exigia e continua a exigir uma formulaçãorevolucionária inédita, capaz de dirigi-la a um proces-so permanente de desenvolvimento por saltos (quei-ma de etapas) e, na medida que não ousou, subordi-nou a luta de classes e expansão do sistema às con-junturas de crise revolucionárias do capitalismo, quesó se desenvolveram gradualmente. Daí a aplicaçãodo marxismo tornou-se mecânica e a sua formulaçãoreativa, gerando um resultado inverso ao propugnadopor sua estratégia. Por isso, todas as estratégias quese desenvolveram na URSS após a morte de Lênin,ao longo do tempo, foram encurtando cada vez maisos seus efeitos inversos, ao ponto do ensaio de aber-tura política promovida por Kruschev, em contradi-ção ao período duro de Stalin, levou às ações repres-sivas de 1968 na Tchecoslováquia; o recrudescimen-to de Brejnev levou ao processo de degenerescência

ainda maior do Partido; a Perestróika e Glasnost deGorbatchov, de estratégia para o retorno ao leninismo,levou a desagregação do campo socialista e finalmente,o golpe que se propôs a salvar a URSS, levou ao seudesaparecimento.6

Além dessa contradição visível no desenvolvimentohistórico da crise do MCI, também é importante res-saltar que tanto na América Latina, como no Mundo,os Partidos Comunistas receberam os impactos dacrise e reagiram de modo distinto ao processo. Al-guns Partidos foram fragilizados pela crise, sofrendoprofunda divisão em suas fileiras e perdendo a liga-ção e respeito das massas; em alguns países, os PCsquase desapareceram e em outros mais tiveram quemudar radicalmente sua conduta para resistirem à cri-se . Contudo, hoje no contexto mundial atravessa-seum período de processo de reestruturação, que ca-minha lentamente, mas revigorado pela leitura das ex-periências históricas e ancorado no pensamento mar-xista-leninista e na leitura de pensadores que contri-buem no enriquecimento dos clássicos.

A queda do Campo Socialista do Leste e daURSS e do PCUS abriu uma fase, para todos os co-munistas, de aprendizado das lições da experiênciasoviética e da crise de direção do Movimento Comu-nista Internacional, até que se geste sua superação.Portanto, o momento histórico atual, na luta de clas-ses do proletariado, é um momento especial, que seenquadra perfeitamente naquela brilhante análise,acerca das “Revoluções Proletárias do século XIX”,efetuada por Marx7, em “O Dezoito Brumário de LuizBonaparte”; ela exige dos Comunistas Revolucioná-rios um “voltar ao que parecia resolvido antes”,“recomeçá-lo outra vez”... e que melhor termo pode-ríamos cunhar para definir a tarefa dos comunistasrevolucionários no plano internacional, senão a con-signa da Refundação do Partido Comunista, ou seja,a Internacional Comunista?

A importância histórica da luta pela Refundaçãodo Partido Comunista (no plano internacional) somen-te encontra paralelo durante dois momentos na histó-ria do Movimento Comunista Internacional:

1º) na primeira fase, em que o socialismo científico sefirmou como proposta de direção política revolucioná-ria, no plano teórico e prático, através das formulaçõesde Marx e Engels, com o lançamento do Manifesto doPartido Comunista, em 1847/48 — já se antecipando erespondendo às brutais repressões ao movimento ope-

(6) SHUB, David. Lenin (2) 1917/1924. Madrid, Alianza Ed.,1977. p. 576.(7) MARX, K. O Dezoito Brumário de Luiz Bonaparte. In: ObrasEscolhidas. vol.1. S.Paulo, Ed. Alfa-Ômega. p. 206.

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rário em Paris, Alemanha e Hungria, que se seguiu aoprocesso revolucionário de 1848/50;

2º) na segunda fase, após a derrota relativa do pri-meiro modelo de desenvolvimento socialista (aComuna de Paris, de 18 de março a 28 de maio de1871), com a nova experiência de modelo de desen-volvimento socialista, fundada a partir da RevoluçãoProletária de 1917 na Rússia —dirigida pelosBolcheviques e comandada por Lênin— nos legandoa experiência que se desenrolou ao longo destes 72anos na URSS, e espalhando-se por todo o LesteEuropeu, Ásia, África e América Latina.

Deste modo, a crise do Movimento Comunista In-ternacional impõe, para sua resolução, a reavaliação, aautocrítica e a retificação dos erros e desvios de aplica-ção da teoria revolucionária pelo PCUS. Para isto é ne-cessário a REFUNDAÇÃO do PARTIDO COMU-NISTA, que se firme como dirigente revolucionário doproletariado internacional, a partir da defesa das con-cepções teóricas, estratégicas, táticas e dos meios

organizativos práticos, reunificando os comunistas revo-lucionários, logo o proletariado internacional, atravésde uma nova experiência revolucionária capaz de su-perar, não somente as limitações da experiência soci-alista desenvolvida na URSS, mas sobretudo, o mo-delo de barbárie que a contra-revolução burguesatenta impor ao mundo na cena histórica atual.

A nova correlação de forças no plano internacio-nal, entre o proletariado e a burguesia e dos grupos efrações da classe burguesa dos centros imperialistas,pela hegemonia do sistema, impõe o deslocamentodo centro da revolução mundial, por um período re-lativamente curto, da União Soviética e do Leste Eu-ropeu para as periferias em outros continentes. Nes-se contexto, a América Latina, marcada pela resis-tência heróica da Revolução Cubana à contra-revo-lução imperialista e pelo recrudescimento do domínioda burguesia norte-americana na região, diante daiminente perda de sua hegemonia, dentro da nova“ordem mundial”, tornou-se um novo caldeirão revo-lucionário.

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V) A CRISE E A REVOLUÇÃOCOMUNISTA NO BRASIL

“...sem fé em si mesma, sem fé no povo, resmungando contra os de cima, tremendo diante dos de baixo; ... espavoridadiante da tempestade mundial; nunca com energia, e sempre com plágio; sem iniciativa; ... um velho maldito, condenado,no seu próprio interesse senil, a dirigir os primeiros impulsos de um povo jovem e robusto...”

(K. Marx, “Nova Gazeta Renana”, 1848, ver Literrariches Nachlass, III, p. 212 - in V.I. Lênine, “Obras Escolhidas”,Tomo I, p. 26, Edições Progresso Moscou).

Por mais de 6 décadas, o MCB vinculou a lutapela Revolução Comunista no Brasil a uma estra-

tégia que limitava, a iniciativa e todo o trabalho revo-lucionário a uma luta por uma revolução democráticaburguesa, estabelecendo um papel revolucionário eprogressista à burguesia industrial. Esta estratégia, du-rante os vários períodos de crises revolucionárias queviveu a sociedade brasileira, mostrou claramente aessência do ser social da classe burguesa no país, en-quadrando-se com uma tremenda precisão nas ca-racterísticas do ser social da burguesia alemã, defini-da por Marx, durante a revolução democrática-bur-guesa, de 1848. Portanto, a estratégia da revoluçãobrasileira teve uma função muito mais desestruturadorae deformadora das forças do comunismo, do que umpapel construtivo, organizador e formador das forçasrevolucionárias; vale dizer, do proletariado.

A crise, que se instaurou no Movimento ComunistaBrasileiro, levou ao esfacelamento total do Partido Co-munista. Embora tenha se manifestado, com toda a for-ça, durante a década de 60, se acentuado no início dadécada de 80 e continue na de 90, acompanhando todoo processo de crise que também se desenvolve no Mo-vimento Comunista Internacional. Suas raízes fundamen-tais estão nas bases teóricas, que sedimentaram as for-mulações estratégicas, táticas e organizativas do PartidoComunista no Brasil. Os comunistas brasileiros foramincapazes de se apropriarem corretamente da teoriaMarxista-Leninista e, em conseqüência, não compreen-deram a essência das características fundamentais daformação social brasileira, por conseguinte, aplicaram in-corretamente as teses da Internacional Comunista à rea-lidade brasileira, dando origem à estratégia equivocadaque orientou e formou todo o movimento comunista erevolucionário no país, de 1928 até o presente momen-to, de seu mais completo aniquilamento pelas forças dareação e inimigo de classe.

A assimilação mecânica do Marxismo-Leninismoinfluenciou em todos os sentidos o MCB. Ela se re-

fletiu na tática, na política de organização e de com-posição social do Partido Comunista. As principaisbases de solidez responsáveis pelo seu crescimento eprestígio, durante quase 6 décadas (1922 a 1981),foram por um lado, suas posições internacionais, epor outro, as que resultaram da entrada da maior ex-pressão do movimento revolucionário brasileiro, du-rante as décadas de 20 e 30 e mais tarde, de todo omovimento comunista do país, Luiz Carlos Prestes.Naturalmente que durante estas 6 décadas, todas asdeficiências decorrentes da estratégia se apresenta-ram no seu interior, mas eram eclipsadas constante-mente pela correção de suas posições internacionaise pela força moral e revolucionária do seu SecretárioGeral. As inúmeras cisões iniciam antes mesmo de1928, como se comprova pelo “relatório Canellas”,em 1924, e logo depois com o afastamento de MárioPedrosa e outros, que passam a constituir a Liga dosComunistas Internacionalistas e editam o Jornal “Lutade Classes”, juntamente com Edmundo Moniz (a ci-são Trotskysta). Mas estas seqüelas não eram capa-zes de abalar, radicalmente, a estrutura e o prestígiodo Partido junto às classes trabalhadoras.1

Com a crise que se instaura no MCI, a partir doXX Congresso do PCUS, em 1958, cai o primeiropilar de sustentação política do Partido, “as novasorientações políticas”, no plano internacional, doPCUS, são contestadas, constituindo-se um quadrode enorme divisão dos comunistas, que revela aber-tamente suas deficiências teóricas e o questionamentoda sua estratégia. Esta nova realidade conduz LuizCarlos Prestes a uma profunda reflexão crítica eautocrítica, desencadeia uma intensa luta no interiorda cúpula partidária, que perduraria por mais de umadécada (1968 a 1979): período em que parte do CCé retirada do país, particularmente, Prestes, Aglibertoe outros, “por motivos de segurança”. Quando finda

(1) CARONE, E. ob. cit. p. 30. BANDEIRA, M; MELO, C. e ANDRADE,A. T. ob. cit. p. 407.

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o exílio e retornam ao Brasil, uma nova correlação deforças já se encontra estabelecida, através de umaaliança espúria entre a parte direitista do CC e a parteoportunista das direções intermediárias, alçadas àcondição de “dirigentes nacionais”, durante o exíliode parte de seus membros. A “maioria” direitista isolaa “minoria” revolucionária dentro do CC, convoca umCongresso de cartas marcadas para legitimar a “novadireção nacional” e suas posições de capitulação ecolaboração com a ditadura militar e o governo dosmonopólios do general Figueiredo. Prestes lança en-tão sua histórica “Carta aos Comunistas”, ondeconclama as bases para tomarem o destino do parti-do em suas mãos; mas, sem uma resposta imediata, ovelho dirigente afasta-se do Partido e é acompanha-do por centenas de militantes, dentro e fora do país.Cai, deste modo, o segundo e último pilar de susten-tação da estrutura partidária, abre-se um período degrande degenerescência ideológica entre os comunis-tas, que somada à súbita queda do campo socialistado Leste, a trágica desintegração da URSS e o esfa-celamento do PCUS, cria o espaço para a “maioria”oportunista e direitista do CC, de contrabando, levarà desintegração total do PCB, golpeando todo o mo-vimento revolucionário e operário no país.2

Portanto, a crise que se instaurou no MCB nãoé uma crise do comunismo, mas uma crise dos co-munistas. Decorre, por um lado, da ausência de umaformulação estratégica efetivamente revolucionária,que aponte clara e objetivamente o caminho daRevolução Comunista no Brasil; e por outro, dainexistência de uma experiência organizativa e deluta revolucionária concreta, que atue como forçamoral capaz de conquistar o respeito e o reconhe-cimento da classe operária e demais trabalhadoresno país. As organizações revolucionárias que seformaram, a partir da década de 60 —período deluta armada contra a ditadura militar, instaurada como golpe de 1964— e que desenvolveram a críticateórica e aprofundaram os seus estudos sobre ateoria Marxista-Leninista e a realidade brasileira,não constituíram uma forma organizativa capaz dese impor, como experiência revolucionária concre-ta sobre as demais organizações e, particularmen-te, junto à classe operária; as que se bateram emarmas contra a ditadura militar, foram desbarata-das e barbaramente aniquiladas, revelando sua in-

suficiência teórica e inocência revolucionária; porúltimo, as tendências comunistas que permanece-ram no Partido, até sua desintegração total, torna-ram-se prisioneiras desta herança de deficiênciasdo MCB.

Desta forma, tornou-se uma tarefa imediata paraos comunistas revolucionários no Brasil, a resoluçãoda crise do MCB, cujo cerne reside em dois canden-tes problemas do processo revolucionário brasileiro:a) o problema teórico, que deve ser respondido comuma formulação estratégica para a revolução comu-nista no país; e b) o problema moral, que deve serrespondido com uma experiência organizativa e deluta revolucionária concreta, mesmo dentro do atualquadro totalmente desfavorável para a classe operá-ria e os comunistas revolucionários no país. A contra-dição aparente entre teoria e prática revolucionária,aqui se resolve pela aplicação do materialismodialético, da mesma forma que F. Engels3, no seu li-vro “O Anti-Düring”, solucionou a contradição entreestar aqui e naquele lugar ao mesmo tempo: pelo mo-vimento, pela história, pela prática, e pela ação. Nãose pode negligenciar em uma batalha, entre forças des-proporcionais, a importância da iniciativa de combatepara os que estão em menor número, quem não ousae não se movimenta é um dócil alvo: a morte é certa.

O MCB, ao longo de sua trajetória, acumulou ex-periências importantes e ainda hoje tem desenvolvidonovas formas de existência. Com a pulverização doPC, dezenas de organizações, micro-organizações ecírculos marxistas se proliferam por todo o país. Mui-tos destes agrupamentos têm efetuado uma espéciede crítica da crítica, disseminando o germe revolucio-nário que poderá se constituir nas bases de Refundaçãodo Partido Comunista, a única forma de organizaçãohistoricamente superior da classe revolucionária, oproletariado. Deste processo, que hoje aparentementese desenvolve como “erva daninha”, é que, por con-tradição, se reorganizará o MCB. Os esforços nestesentido já têm conquistado muitos destes agrupamen-

(2) MORAES, Dênis e VIANA, Francisco. ob. cit. PRESTES, Luiz Carlos.Carta aos Comunistas. São Paulo, Alfa-Ômega, 1980. pp.23-24.

(3) ENGELS, F. Anti-Dürhing. Lisboa, Ed. Afrodite, 1977. p. 152.“Nos limites desta ordem de coisas não saímos, por certo, do pensa-mento habitual, metafísico; mas quando consideramos as coisas nomovimento, na mudança, na sua vida, na ação recíproca de umassobre as outras, o caso é muito diferente e, então, caímos nas contra-dições: já a simples mudança mecânica de lugar não pode realizar-se senão porque um corpo, num só e mesmo momento, está numlugar e, ao mesmo tempo, noutro lugar; num só e mesmo lugar e nãoneste lugar. E a posição constante e a solução simultânea desta con-tradição é justamente o movimento”.

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tos e círculos, para uma experiência prática e organi-zativa comum e, na medida em que estas experiênciasconcretas de luta contra o capital e a classe burguesano país vão se desenvolvendo, suas vitórias e fra-cassos as impulsionam para um processo comumde luta de resistência, organização e elaboraçãoteórica, isto é, para a unidade. Assim, estão se for-mando as bases subjetivas da Refundação do Par-tido Comunista no Brasil.

O nosso agrupamento, que postula a Refundaçãodo Partido Comunista, resulta deste novo processovivido pelo Movimento Comunista Brasileiro e, aolongo de seus 17 anos de existência, demonstrou queainda continua a carregar muito desta herança teóri-ca, organizativa e prática desenvolvida pelo ex-Parti-do Comunista. É como diz Marx4, “Os mortos agar-ram-se e oprimem o cérebro dos vivos”. Mas paraefetuar de fato esta ruptura, é necessário entender estaherança no seu cerne, através de um longo processode crítica e autocrítica coletiva, e com isto contribuir,teórica e praticamente, para a Refundação do Parti-do Comunista.

1. O problema teóricoda estratégia

A estratégia para a Revolução Comunista no Bra-sil, não pode decorrer da aplicação mecânica doMarxismo-Leninismo à realidade brasileira. É neces-sário romper com as teses do VI Congresso da Inter-nacional Comunista, a base fundamental da orienta-ção política do antigo PCB, que diversos agrupamen-tos têm adaptado para o momento atual, através daconcepção estratégica que vê nas etapas da revolu-ção comunista no país, uma primeira de caráter po-pular e democrática (Articulação), ou nacional e de-mocrática (MR-8); ou ainda socialista de mercado(PC do B), etc. Estas teses, embora se apresentem

como formulações inéditas e respaldadas na análisede Lênin sobre o imperialismo, logo travestidas deuma revolução antiimperialista, na verdade, escamo-teiam sua base teórica de existência: as teses do VICongresso da Internacional sobre os países coloniaise semicoloniais. Todas caem naquela máxima levan-tada por Prestes: “muito boas para estes países, masinaplicáveis para o Brasil”. Mas estas teses, como jávimos, orientaram todo o processo de luta, organiza-ção e prática revolucionária do PCB e do movimentorevolucionário no país, por mais de 6 décadas. Suaaplicação à realidade brasileira, naturalmente, resultarásempre na tentativa de superar as deficiências da estra-tégia pela tática, dando origem a uma tática esquerdistae outra direitista; os que consideram o problema de seusfracassos nas deficiências organizativas e nas alianças, eos que crêem que este problema deriva do sectarismo eda incapacidade de conquistar a burguesia “nacionalis-ta” para as posições revolucionárias.

A outra fomulação estratégica que se apresentouno MCB, em alternativa às concepções do Partido, éaquela que se fundamenta em uma concepçãosubjetivista da realidade nacional, desenvolvida porCaio Prado Jr.5, em “A Revolução Brasileira”. Ela sesustenta na idéia de que o Brasil já nasceu capitalista,face às suas relações com o capitalismo mercantil, daídecorre a aplicação mecânica das categorias do mar-xismo sobre a formação social brasileira, enquadran-do escravos, servos, camponeses e senhores de ter-ra, nas categorias de classes proletária, burguesa epequeno-burguesa, quando na verdade o modo deprodução capitalista no Brasil somente se estabelece,objetivamente, e ainda em sua forma não clássica, coma passagem do trabalho escravo ao assalariado e, sub-jetivamente, com a proclamação da República e, maistarde, com a revolução de 30. A maioria dos agrupa-mentos que se agarram a esta formulação estratégica,nas décadas de 60 e 70, parodiam em larga escala aluta teórica dos jovens filósofos revolucionários da Ale-manha, do século XIX6, e apesar do profundoheroísmo com que se bateram contra a “lei da gravi-dade”, a partir destas idéias, desempenhamos papéisde “cordeiros que se faziam passar por lobos”.

Vemos, pois, que hoje todas estas idéias foramdesmentidas pela prática. A análise aqui desenvolvi-

(4) MARX, K. O Dezoito Brumário de Luiz Bonaparte. ob. cit. p. 203.“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem comoquerem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sobaquelas com que se defrontam diretamente, ligadas e transmitidaspelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime comoum pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando parecemempenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo quejamais existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionáriaos homens conjuram ansiosamente em seu auxílio os espíritos dopassado, tomando-lhes emprestados os nomes, os gritos de guerra eas roupagens, a fim de apresentar à nova cena da história do mundonesse disfarce tradicional e nessa linguagem emprestada.”

(5) PRADO JUNIOR, Caio. A Revolução Brasileira. 7ª Ed. S.Paulo,Editora Brasiliense, 1977, pp. 39 - 47 , 86 e 87.(6) MARX, K. e Engels F. La ideologia Alemana. Buenos Aires,Ediciones Pueblos Unidos, 1973. pp. 11 e 12.

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da, acerca da realidade brasileira, demonstra, exaus-tivamente, que o desenvolvimento capitalista no Bra-sil somente assume sua forma clássica a partir dosanos 30. É somente a partir daí que o processo deprodução e reprodução do capital desenvolve os ele-mentos clássicos do capitalismo. Mas até mesmo es-tas condições de desenvolvimento derivam e repro-duzem sempre as características fundamentais da so-ciedade, impedindo que a contradição fundamentalda sociedade, entre o capital e o trabalho, se mani-feste na sua forma clássica, mas através das contradi-ções entre a burguesia monopolista (da terra e docapital), que representa o cerne do capitalismo e doimperialismo no país, versus o povo explorado (oproletariado, o proletário-camponês, as camadasmédias urbanas, a pequena-burguesia e os setores daburguesia nacionalista). Esta contradição se expressano campo através da contradição entre a burguesialatifundiária versus o proletariado agrícola, conjunta-mente com o proletário-camponês (os Sem Terra)7 eo campesinato pequeno-burguês; na cidade, ela semanifesta através da contradição entre a burguesiamonopolista versus o proletariado, conjuntamentecom o proletariado-pequeno-burguês e as camadasmédias urbanas.

Decorre deste fenômemo uma interpretação equi-vocada que extrai a conclusão de uma contradiçãoantagônica entre as características fundamentais dodesenvolvimento capitalista no Brasil —a dependên-cia ao imperialismo, o domínio dos monopólios naci-onais e estrangeiros e do latifúndio— e um desenvol-vimento capitalista autônomo concorrencial, tendo porbase a propriedade individual, em constanteflorescimento e ruína. Esta concepção, com a novagrande ofensiva da contra-revolução burguesa mun-dial, o neoliberalismo, vem ganhando espaço outravez entre os círculos revolucionários do país. Mas noBrasil, a lógica do desenvolvimento capitalista residejustamente neste fenômemo, que dado o processohistórico da formação social brasileira, o processo decolonização, acentuou-se em demasia, distanciando-se do processo clássico do capitalismo na Europa.Portanto não se pode concluir por uma etapa de tran-sição, entre capitalismo e socialismo, cujo objetivoseja o desenvolvimento deste capitalismoconcorrencial, através de uma revolução “democráti-ca-burguesa”, mesmo que ela seja maquiada de “so-

cialismo de mercado”, como fazem as teses defendi-das pelo PC do B8, trata-se de socialismo de palavrae capitalismo de fato. Não se pode falar com serie-dade ao se defender uma etapa da revolução brasilei-ra, cujo objetivo seja romper com o imperialismo edesenvolver uma espécie de capitalismo independen-te. Ora, o imperialismo não é um elemento externo,que exerce o domínio político e econômico superpostoa um suposto capitalismo nacional. No Brasil, o im-perialismo constitui parte dinâmica do modelo asso-ciado de acumulação monopolista de capital da soci-edade, tornando-o estruturalmente dependente do im-perialismo. Portanto é impossível uma revoluçãoantiimperialista, sem que ela seja antimonopolista eantilatifundiária, e esta última, sem que ela sejaanticapitalista, logo pelo socialismo.

A) A contradição fundamental — O recentedesenvolvimento capitalista no mundo tenta elevar aum novo plano histórico, tanto do ponto de vista in-ternacional, como e sobretudo, do ponto de vista na-cional, a acumulação e reprodução do capitalmonopolista. A grande ofensiva neoliberal da contra-revolução burguesa não impede o desenvolvimentocapitalista da sociedade, da mesma forma que okeynesianismo não impediu —o Brasil é o país maisindustrializado do Terceiro Mundo— dá-lhe apenasformas determinadas; é pois, sobre a iniciativa do im-perialismo que se dá o processo de industrialização ea constituição do modelo associado de acumulaçãomonopolista de capital no Brasil. Nestas condiçõesobjetivas, o proletário-camponês, para lutar contra ooligarca da terra, é obrigado a lutar também contra aburguesia industrial e comercial. No campo, o oligarcada terra representa a fusão do imperialismo com olatifúndio, os modernos complexos agroindustriais, quí-micos e madeireiros, constituídos pela associação docapital monopolista nacional e estrangeiro.

A viragem de 180 graus na política econômicado imperialismo, do keynesianismo para neolibe-ralismo, levou a burguesia monopolista no país areordenar o modelo associado de acumulaçãomonopolista de capital, segundo as necessidadesda globalização imperialista. O processo de priva-tização tem mudado o papel do Estado na econo-mia, de produtor direto para o de gerente, alteran-do a infra-estrutura econômica e acentuando as

(7) SILVA, Francisco, C.T. A Modernização Autoritária: Do GolpeMilitar à Redemocratização 1964/1984. In: História Geral do Brasil.Rio de Janeiro, Editora Campus, 1990, p. 275.

(8) PCdoB. Programa Socialista para Revolução Brasileira. 1995.OLIVEIRA, Isabel R. Trabalhadores e Política - As Origens do Parti-do dos Trabalhadores. Petrópolis, Vozes, 1988. pp. 135.

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características fundamentais da sociedade. A eco-nomia política do capital tem acirrado todas as con-tradições sociais e revelado, abertamente, todo oconteúdo antioperário, anti-social e antinacional domodelo econômico do sistema capitalista e da po-lítica neoliberal. Revela ainda que o domínio dasoligarquias, nacional e estrangeira, sobre todos osaspectos da vida social, submete, impiedosamente,a esmagadora maioria do povo a uma situação deterrível miséria, absoluta opressão e total falta dedireitos. Em conseqüência disto tudo, os interessesda classe operária e dos trabalhadores em geral secontrapõem radicalmente ao domínio da oligarquiamonopolista e latifundiária e o seu modelo econô-mico, que representam no país o cerne do regimecapitalista e do imperialismo. E diante desta reali-dade objetiva, os traços fundamentais da socieda-de brasileira, a dependência ao imperialismo e odomínio dos monopólios nacionais e estrangeiros edo latifúndio, expressam a contradição entre o povoversus oligarquia financeira —a burguesiamonopolista da terra e do capital— revelando cla-ramente a contradição fundamental da sociedadebrasileira: a contradição entre o proletariado e aburguesia.

B) O caráter da Revolução — A contradiçãofundamental da sociedade brasileira é aquela queopõe o capital ao trabalho. Portanto, o caráter daRevolução é Socialista. O desenvolvimento capi-talista no Brasil condensou, num modelo associa-do de acumulação monopolista de capital, as ca-racterísticas fundamentais da sociedade e este fe-nômeno desfigurou a manifestação da contradiçãofundamental do sistema. Ao contrário da Europa,o processo de monopolização da economia nacio-nal não se desenvolveu da contradição, entre o ca-pital e o trabalho, em um estágio de “livre iniciativaou concorrencial” do sistema. Aqui, este fenômeno—a monopolização da economia— é herdado dascaracterísticas fundamentais da formação colonialbrasileira, historicamente determinada pela parti-cularidade do modo de exploração. As contradi-ções que derivam desta realidade objetiva, as quecontrapõem o povo ao imperialismo e ocampesinato ao latifúndio, não são formas interme-diárias de manifestação da contradição fundamen-tal do sistema. Elas não caracterizam a necessida-de objetiva de uma etapa capitalista, que as supe-re para que a contradição entre o capital e o traba-lho se manifeste, abertamente, em sua forma clás-

sica. Pelo contrário, elas caracterizam as formas maisdesenvolvidas e superiores de manifestação da con-tradição fundamental do sistema capitalista, o estágiomonopolista e de exportação de capitais: a necessi-dade imperialista. E deste modo, somente atribuemum conteúdo mais objetivo ao programa e às tarefashistóricas da Revolução Socialista no Brasil: a supres-são dos monopólios, latifúndios capitalistas e da de-pendência ao imperialismo, pela abolição da proprie-dade privada dos meios de produção e a sua sociali-zação. Logo, seu conteúdo anticapitalista sintetizadono seu caráter socialista, expressa também o conteú-do antiimperialista, antimonopolista e antilatifundiárioe transformará, estas características fundamentais dasociedade, de base objetiva do desenvolvimento ca-pitalista, em base objetiva e ponto de partida para odesenvolvimento socialista e a edificação do comu-nismo no Brasil.

Mas, se por um lado, as condições objetivas pararevolução já estão dadas, por outro, em relação àscondições subjetivas, o mesmo não se pode afirmar.As transformações na ordem jurídica, política e cultu-ral da sociedade, formas ideológicas pelas quais oshomens tomam consciência dos conflitos materiais,expressas claramente na anatomia da sociedade civil,na forma de Estado e organizações sociais, demons-tram a inexistência da organização subjetiva do pro-letariado no país: o Partido Comunista . Este fatorimpede que as condições subjetivas para a revoluçãosocialista no Brasil se desenvolvam numa relação di-retamente proporcional ao das condições objetivas.Trata-se aqui de aplicar a mesma lógica dialética quelevou Lênin a definir a primeira etapa da revoluçãorussa em 1905, resguardando-se as situações e reali-dades históricas distintas, e sobretudo, as conclusões:

“A vontade pode ser única num sentido e não ser únicanoutro. A ausência de unidade nas questões do socialismoe na luta pelo socialismo, não exclui a unidade de vontadenas questões da democracia e na luta pela república. Es-quecer isto, significaria esquecer a diferença lógica e his-tórica entre o caráter da revolução democrática e a socia-lista. Esquecer isto significaria esquecer o caráter darevolução democrática como sendo de todo o povo: se é detodo o povo significa que há ‘unidade de vontade’, exata-mente na medida em que esta revolução satisfaz as necessi-dades e exigências de todo o povo. Para além dos limitesda democracia, nem sequer se põe a questão da unidadede vontade entre o proletariado e a burguesia camponesa.A luta de classe entre eles é inevitável, mas, no terreno darepública democrática esta luta será a luta popular maisprofunda e mais vasta pelo socialismo”.

(V. I. Lênin, “Duas Táticas da Social-Democracia” naRevolução Democrática, “Obras Escolhidas”, Volume I,p. 432, Edições Progresso - Moscou- 1977)

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A ascendente unidade de vontade popular no país,contra o neoliberalismo do governo das oligarquias,que acentua o domínio dos monopólios, do latifúndioe a dependência ao imperialismo, não se manifestaigualmente pelo socialismo. Muitos setores, que hojese confrontam com a burguesia monopolista, aindateimam em desvincular a luta contra a política neoliberalda luta contra o imperialismo e, esta última, da lutacontra o capitalismo e pelo socialismo. Esta condiçãosubjetiva se manifesta nas camadas médias: militares,intelectuais e movimentos da pequena burguesia ur-bana e rural; e, até mesmo, em agrupamentos políti-cos organizados, que até ontem professavam seu cre-do no socialismo. Os setores do proletariado, pre-sentes no Movimento Sindical, e que despertaram parao processo político durante a luta contra a ditaduramilitar, com a crise do MCB, se dividiram: sua maiorparte se posicionou contra o socialismo marxista epelo capitalismo civilizado (uma espécie de social-chauvinismo); a outra menor, mesmo reafirmando suaconvicção pelo socialismo como única solução paraos problemas do povo brasileiro, mantém propostasmarcadas ainda pela visão de um socialismo peque-no-burguês, que ora é reformista, ora é radicalismoartificial.

Do conjunto de indivíduos que compõem as clas-ses sociais da sociedade brasileira atual, menos de15%9 é filiada ou participa de alguma organização so-cial, cultural, de classe ou política. Quase nove déci-mos da população operária e proletarizada está forado alcance das organizações políticas e do controledas instituições governamentais; localizando-se nasperiferias dos grandes centros urbanos, em cortiços,favelas e bairros miseráveis. Sua atual submissão aoestado burguês se dá, particularmente, pelas apare-lhos ideológicos (emissoras de TV’s, rádios, seitas re-ligiosas, a Igreja e as manifestações culturais - espor-te, carnaval, bailes funks etc...) e pelo terror dos apa-relhos repressivos institucionais e clandestinos ( FFAA,aparato policial civil e militar, agências de informa-ções e fundamentalmente os esquadrões da morte,polícia mineira, etc.). Mas o verdadeiro grau de con-trole do Estado burguês sobre esta parcela das clas-ses trabalhadoras não é possível mensurar. Pois, aose julgar pelas tragédias do seu cotidiano de opres-são e exploração, as intempestivas rebeliões (o fe-

chamentos de vias e logradouros públicos, ocupaçõesurbanas e rurais, saques, arrastões, linchamentos, de-predações etc...) e o crescente percentual de absten-ção, votos nulos e brancos, nas eleições, tal controleparece extremamente incapaz de conter seu potencialaltamente explosivo. Este setor do proletariado nãotem uma posição definida contra ou a favor do socia-lismo e oscila, de uma posição para a outra rapida-mente como troca de religião, time de futebol e departido. Suas lutas são intempestivas e imediatas pelasobrevida miserável, indicando também uma cres-cente unidade de vontade contra o capital: a luta contrao desemprego e a fome e pela moradia, em síntese, aluta pelo seu direito à vida.

Na medida em que, a “Lei Geral da AcumulaçãoCapitalista” se manifesta através das crises cíclicas docapital, cada vez mais insanáveis e devastadoras, ascondições objetivas da revolução empurram toda asociedade para uma nova conjuntura de crise revolu-cionária; a luta de classes se aprofunda e arrasta estamassa assalariada e camponesa para mais uma liçãoda história. Diante das profundas e intensas como-ções políticas e sociais, as massas aprenderão, combase em suas próprias experiências práticas, que aúnica solução para a sua mais terrível miséria, cruelexploração e absoluta opressão, no capitalismo, é osocialismo. E somente nestas condições subjetivas aclasse operária, através de sua organização revoluci-onária, o Partido Comunista, poderá então conquis-tar o apoio decisivo da maioria dos trabalhadores paraas posições do socialismo proletário (marxista) e le-var a cabo a Revolução Socialista.

Na esfera internacional, mesmo tendo sido debili-tada a base de apoio para uma revolução socialistano Brasil, com o trágico desaparecimento do camposocialista do Leste Europeu e da URSS, as condi-ções atuais são em escala infinitamente superiores asque preexistiam durante a Revolução Russa de 1917.A unipolaridade mundial e o hegemonismo norte-ame-ricano não passam de “um gigante de pés de bar-ro”10; a existência de China, Vietnã, Coréia do Nortee especialmente Cuba Socialista na América Latinadenunciam esta condição no quadro da correlaçãode forças internacional. O papel destacado de Cubana luta de resistência ao imperialismo norte-america-no e sua grande ofensiva neoliberal impulsiona as con-

(9) PRESTES, Luiz Carlos. Entrevista ao Jornal da Unicamp. Ano I,nº 9. Campinas, maio de 1987. p. 3. Ver também, Tribuna de Minas,de 7 de Julho de 1987 : “Eu tive um dado recente, que, do total daclasse operária brasileira, só são organizados em sindicatos, 10%.”.RODRIGUES, Leôncio M. Partidos e Sindicatos. ob. cit. p. 139.

(10) RUZ , Fidel Castro. “Discurso de Abertura do Forum de S.Paulo”.Jornal Granma Internacional, Havana, ano 28. Edição brasileira—Editora Inverta, nº 32, de 30 de agosto de 1993.

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dições subjetivas para uma revolução continental,como demonstram a situação mexicana e a guerrilhaem Chiapas do EZLN (Exército Zapatista de Liber-tação Nacional), a situação de Peru, e a guerrilha doSendero Luminoso e Túpac Amaru, a situação daVenezuela, da Argentina, da Colômbia onde as FARCavançam a cada dia e da América Central.

C) As forças motrizes da Revolução — Os co-munistas revolucionários devem concentrar o seu tra-balho, prioritariamente, nas forças impulsionadoras darevolução: em primeiro lugar, junto à classe operária,que é a força principal e dirigente da revolução; emsegundo lugar, junto ao proletário-camponês, incluin-do o semiproletariado rural; em terceiro lugar, juntoàs grandes massas de subempregados (priorizando oseu setor flutuante e latente nos grandes centros urba-nos) e, por último, a pequena-burguesia tradicional ecamadas médias urbanas. Muitos setores da burgue-sia não monopolista (médios e pequenos capitalistas)poderão apoiar a revolução socialista, no primeiromomento, devido a seu conteúdo antimonopolista eantilatifundiário, que deve ser ressaltado inicialmente.Mas quando compreenderem e sentirem que se tratado próprio conteúdo anticapitalista, isto é, que os pri-meiros são formas específicas de expressão do se-gundo e que não é possível dissociá-los, este apoio eentusiasmo cessarão e antes mesmo que a revoluçãoseja vitoriosa e se instaure a Ditadura Democráticado Proletariado, o seu ser social falará mais alto epassarão para a contra-revolução, aliando-se à bur-guesia monopolista e ao imperialismo.

No estágio atual do capitalismo no Brasil, em ter-mos objetivos, os operários, os semi-proletários edemais trabalhadores assalariados e proletarizados (oproletário-camponês inclusive) constituem nove dé-cimos, aproximadamente, da população em idade ativano país. E na medida em que comece a lutarunitariamente, mesmo por questões aparentementeeconômicas, como o salário mínimo real, a estabilida-de no emprego para todos os trabalhadores, a redu-ção da jornada de trabalho, possibilitando aumentaro número de trabalhadores empregados ligados dire-ta e indiretamente à produção, ao comércio, às finan-ças e agricultura, a contradição fundamental entre ocapital e o trabalho ficará exposta abertamente. Seesta luta se encaminha para uma Greve Geral11, a clas-se dominante se dividirá e cairá de joelhos, na medida

em que os trabalhadores resistam. Mesmo que elainicie nas regiões Sul e Sudeste, atingirá no mínimocerca de 80% da população trabalhadora do país,podendo se transformar numa greve de massas, cri-ando formas inéditas de organização de baixo paracima e embriões de um possível poder proletário, ins-trumento imprescindível à realização de sua ditadurade classe, juntamente com os seus aliados estratégi-cos. É claro que a Revolução Socialista só se tornarápossível caso a classe operária tenha a hegemoniasobre as massas trabalhadoras e tenha a iniciativa docombate. É claro, também, que o seu plano de com-bate não se reduz a esta forma de luta, mas o queinteressa aqui ressaltar é a importância da iniciativado combate e que as forças revolucionárias consci-entes do seu objetivo e organizadas, segundo um pla-no tático, poderão derrotar, implacavelmente, seu ini-migo de classe. Se a classe operária não estiver fir-memente colocada na direção da revolução, certa-mente será abortada em conseqüência das vacilaçõesdas camadas médias e da pequena-burguesia, quebuscará arrastar o proletário-camponês para a con-tra-revolução ou o reformismo.

D) As tarefas principais da Revolução — Astarefas históricas da revolução socialista proletáriasomente serão realizadas se as forças revolucionári-as, dirigidas pela classe operária, demolirem o Esta-do monopolista burguês. Este Estado é um complexoaparelho burocrático-militar e policial, profundamen-te reacionário e corrupto. É toda uma poderosa es-trutura moldada, minuciosamente, para servir aos in-teresses dos monopólios, do imperialismo e do lati-fúndio. Não é necessário que a revolução tenha cará-ter socialista para destruí-lo. No século passado,Marx12 colocava essa questão. Em uma carta aKulgemann, de 12.4.1871, ele escrevia que a demo-lição do aparelho burocrático-militar “é condição pré-via para uma verdadeira revolução popular...”

* A demolição do Estado monopolista burguêse a edificação do Estado Revolucionário da Dita-dura Democrática do Proletariado.

- Com a demolição do Estado monopolista bur-guês, os trabalhadores assumirão o seu auto-gover-no, através do Estado Operário, emergente com arevolução socialista. Será um Estado Operário Re-

(11) PRESTES, Luis Carlos. Entrevista ao Jornal Tribuna da Impren-sa, Rio de Janeiro, de 29 de dezembro de 1988.

(12) MARX, K. Marx e Engels Cartas - Marx a L. Kugelmann, de 12 deabril de 1871. In: Obras Escolhidas, Volume III, S.Paulo, EditoraAlfa-Ômega, pp. 262 e 263.

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volucionário, construído em armas e de baixo paracima, a partir das lutas de classe do proletariado eseus aliados pela revolução. O seu caráter será soci-alista, pois, através dele, o proletariado exercerá asua Ditadura democrática de classe, o programa detransição do capitalismo ao comunismo. Participarãodo Estado a classe operária, que será a forçahegemônica, e seus aliados fundamentais: o proletá-rio-camponês, as camadas médias assalariadas e apequena burguesia tradicional.

- Determinados setores da burguesia nãomonopolista, que estejam do lado da revolução, po-derão participar do novo Estado socialista, cuja tare-fa principal é dirigir a transição das estruturas econô-micas e sociais do capitalismo para o comunismo. Arevolução não poderá contemporizar ou vacilar nautilização do poder econômico, ideológico, político emilitar, para realizar o programa socialista. O forteapoio popular, que auxiliará a classe operária a der-rotar o poder da burguesia monopolista e latifundiária(que representam conjuntamente o eixo principal docapitalismo brasileiro) e a demolir o Aparelho de Es-tado monopolista burguês, não significa um desvio nocaráter da revolução. Trata-se apenas das particula-ridades do processo revolucionário no Brasil, que in-dica fortemente que o ato de tomada do poder políti-co pelo proletariado se revestirá de característicasinsurrecionais. Além disto, a classe operária exer-cerá com toda força a sua ditadura de classe parafazer valer seus objetivos estratégicos e impor adisciplina necessária à ação objetiva das forças re-volucionárias.

* A Revolução comunista abolirá a proprieda-de privada capitalista e socializará os meios deprodução.

- O primeiro ato da revolução proletária, apósa tomada do poder político e militar em suas mãos,será a supressão da propriedade privada sobre osmonopólios estrangeiros e nacionais (industriais, co-merciais financeiros) e latifúndios, passando-os àcondição de propriedade coletiva sob controle doEstado Operário. Redirecionará a produção agrí-cola para o consumo interno, unificando sua ex-ploração com a da indústria, empregará sua rendanas despesas públicas e eliminará, gradualmente,as desigualdades entre a cidade e o campo. Asmédias e pequenas unidades produtivas serão agru-padas em sistemas de cooperativas sob o controledo Estado Operário, que planificará, integrará e

gerenciará as suas produções, através das formasde auto-governo dos trabalhadores.

* A Revolução Comunista centralizará todo ocrédito em suas mãos, fundindo todas as institui-ções bancárias em um único Banco nacional decapital do Estado e monopólio exclusivo.

* Abolirá todo e qualquer direito à herança eestabelecerá pesados impostos progressivos sobretodas as grandes fortunas, que estejam no país ouno exterior, e sobre as atividades econômicas ca-pitalistas subterrâneas.

* Centralizará, planificará e controlará a pro-dução, os transportes e a distribuição, segundo oplano emergencial de economia de guerra,redirecionando a produção social para atender àsnecessidades imediatas do consumo interno e onecessário intercâmbio comercial externo.

E) O Estado Operário, constituído ou em cons-tituição pela Revolução Socialista proletária, de-senvolverá um Plano Emergencial de economiade guerra que, em linhas gerais, garantirá deimediato:

- O Fim do Desemprego e a abolição do tra-balho das crianças (todos segundo a sua capaci-dade, o seu trabalho)

Incorporação imediata dos trabalhadores no pro-cesso de produção, eliminando o desemprego atra-vés da abolição do trabalho das crianças, da reduçãoda jornada de trabalho, da organização de exércitosindustriais, especialmente para a agricultura, incorpo-rando os trabalhadores Sem Terra e os bóias-frias,tornando o trabalho obrigatório, sob o estatuto daestabilidade no emprego e de um salário real. Alémdisto, o progresso salarial se efetuará pelo regime de“todos segundo seu trabalho e capacidade”.

- Moradia para toda a população urbana erural

Habitações para toda a população (urbana e ru-ral), através da repartição disciplinada das propri-edades habitacionais, expropriadas pelo EstadoOperário, e um plano de construção e desenvolvi-mento urbano e rural para todo o país. Este pro-cesso deve considerar a proximidade do local detrabalho da população.

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- O Fim da Miséria e da Fome

Alimentação básica para toda população, segun-do o estabelecimento de uma cesta básica alimentar,que passará a ser distribuída pelos postos oficiais deabastecimento do Estado Operário, tanto nas cida-des como no campo. O Estado coibirá o mercadonegro, o tráfico e todas as formas de sobrevida daeconomia capitalista. Os grandes supermercados,shoppings e feiras livres serão locais controlados edirigidos pelo Estado; a atividade econômica para osvisitantes, curiosos e contumazes consumidores turis-tas se efetuará numa rede especial, para que deixemaqui suas divisas e sejam revertidas em benefício dostrabalhadores.

- Saúde pública e gratuita para toda popula-ção e velhice segura

A saúde pública e gratuita e a previdência socialserão garantidas para todo o povo e chegarão a to-dos os locais e regiões mais logínquas do país; nãohaverá população sem médico, enfermeiras, auxilia-res, etc. Centros policlínicos e estrutura de emergên-cia serão construídos, seja nas áreas mais populosas,seja nos centros menos densos. Todos os medica-mentos serão gratuitos e produzidos por nossos es-pecialistas, cientistas e homens e mulheres do povo.

- Educação pública gratuita e integral, paratodas as crianças, escolarização de todos os anal-fabetos e Revolução cultural

A Educação será pública, gratuita e obrigatória paratodas as crianças — nova pedagogia centrada naonilateralidade e em relação dialética com o modo deprodução material. Exigirá horário integral e uma redede estabelecimentos de ensino capaz de promover umambiente de socialização de fato de crianças e adul-tos nos valores mais nobres desenvolvidos pela hu-manidade, os valores do trabalho, da ciência, do co-munismo científico e do homem novo. Para as popu-lações adultas serão formadas as brigadas que trava-rão uma decisiva batalha contra a ignorância, o obs-curantismo e todas as formas de opressão do jugocapitalista sobre quase 40 milhões de brasileiros, cri-ando-se as condições da revolução cultural, onde aarte, a literatura nacional e universal serão acessíveisao povo e impulsionadas ao reflorescimento.

- O Internacionalismo Proletário e a Solidari-edade internacional

O Estado Operário estabelecerá os vínculos maissinceros com os Países Socialistas, Nacionais liberta-dos e o proletariado revolucionário e povos oprimi-dos que lutam contra o imperialismo e o capitalismoem todo o mundo, particularmente na América Lati-na. Estes vínculos se estabelecerão em torno da coo-peração mútua econômica, cultural e política, visan-do à reorganização de um sistema internacional econtinental, com bases sólidas no Internacionalismoproletário: a solidariedade e o respeito à soberania,autodeterminação e defesa da paz entre os povos edo socialismo.

F) A aplicação do Programa de Emergência— A execução do Plano de Emergência se efetuarásob um cenário de intensa luta de classes, na sua for-ma mais extrema e violenta: a guerra civil. No planointerno, a contra-revolução burguesa buscará se apoiarnos setores da burguesia não monopolista, da pe-quena burguesia, das camadas médias, para dividir asforças revolucionárias principais (o proletariado, oproletário-camponês e semi-proletariado) e impedirde todos os meios que a Revolução Socialista se con-solide e execute o seu programa. A burguesiamonopolista e latifundiária, a partir do exterior, finan-ciará a contra-revolução interna, criando um exércitode mercenários, ex-torturadores, e toda sorte de trai-dores, vende-pátria, elementos contra-revolucionári-os e ex-colaboradores do antigo regime, para criaruma situação favorável à intervenção direta do impe-rialismo no país. Externamente, o imperialismo efetu-ará um bloqueio total econômico, político e militar parasufocar a Revolução Socialista, podendo evoluir paraum cerco e invasão, em apoio à contra-revolução.*

O Plano Emergencial deve ser executado mesmosob estas circunstâncias. Ele é um instrumento eco-nômico, político e militar, que isolará a burguesiamonopolista e não monopolista, ganhará o apoio dasmassas e evitará que se formalize as forças da contra-revolução, sufocando a guerra civil nos grandes cen-tros urbanos e criando as condições para transformara guerra contra o imperialismo, numa guerra de todoo povo em defesa da Revolução Socialista. Nessascondições, o processo revolucionário consolidará ra-pidamente o novo Estado Operário Revolucionário e

(*) Durante o golpe militar de 1964, os Estados Unidos deram cober-tura aos golpistas, através da operação militar conhecida como BrotherSan: uma frota de marines norte-americanos que aportou no EspíritoSanto. Ver SILVA, Carlos Teixeira F. ob. cit. p. 292; e MONIZ, Bandei-ra. Presença dos Estados Unidos no Brasil. cap. XLVIII. Rio de Janei-ro, Civilização Brasileira, 1978.

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seu programa socialista. Mas isto não significa que acontra-revolução, interna e externa, seja esmagadarapidamente. Com a realização do Plano de Emer-gência, apenas se criam as condições para sedesbaratá-la como força regular capaz de agrupar tro-pas e combater em campo aberto. A ação contra-revolucionária continuará nos centros urbanos, na for-ma clandestina e, principalmente, nas regiões do cam-po e fronteiras, com outros países manobrados peloimperialismo.

É preciso salientar aqui que, embora as forçasmotrizes da revolução comunista no Brasil tenhamum caráter puramente proletário e proletarizado, elanão está tão próxima da sua fase superior, aquela queMarx afirma que se deverá passar da situação de“cada um segundo sua capacidade para cada um se-gundo as suas necessidades”. A Revolução, na ver-dade, se desenvolverá ainda carregando parte da he-rança do regime anterior, portanto deverá cumprir ain-da tarefas democráticas, através ditadura do proleta-riado (democracia proletária), sejam no plano eco-nômico, sejam no plano político, que unidas as tare-fas puramente de caráter socialista, no plano interno eexterno, criarão as condições objetivas e subjetivaspara passagem a sua fase superior, propriamente co-munista: “No lugar da velha sociedade burguesa, comsuas classes e antagonismo de classes, surge uma as-sociação em que o livre desenvolvimento de cada umé a condição para o livre desenvolvimento de todos”.13

G) A conquista da hegemonia pela ClasseOperária — Nas condições brasileiras, o meio fun-damental para que a classe operária conquiste sua he-gemonia é lutando desde agora pelo socialismo. A lutapelo socialismo, quando se efetua dentro de uma de-mocracia burguesa, é, na verdade, a luta direta pelascondições subjetivas para a Revolução. Isto quer di-zer que a luta de classes, no plano econômico, políti-co e ideológico, deve se destinar tanto a organizaçãosubjetiva do proletariado (o seu partido de vanguar-da), quanto à organização, elevação do grau de cons-ciência e intensificação da luta das massas trabalha-doras pelo socialismo. Embora a democracia burguesaatual seja bastante restrita, pois trata-se de uma de-mocracia sob o domínio dos monopólios e do latifún-dio a serviço do imperialismo, ela se institucionalizouatravés de um congresso constituinte e se legitimouatravés de governos eleitos pelo voto direto. E na

medida em que se institucionalizou e se legitimou, di-vidiu as forças democráticas e populares, criou as con-dições para executar a política neoliberal —reformado modelo econômico, que retira o papel estratégicodo Estado na economia— e esvaziou o caráter deruptura da luta por uma democracia popular, trans-formando-a numa luta pela ampliação da democra-cia burguesa atual. Contudo, um governo democráti-co e popular tornará a luta de classes mais aberta eaguda. Isto porque ele tentará uma política de conci-liação com o neoliberalismo, destruindo as ilusões dostrabalhadores com a democracia burguesa, e na me-dida em que não conseguirá resolver a crise do capi-tal, nem o elevado grau de pauperismo das massas,criará as condições favoráveis para que a classe ope-rária se una em torno de um programa socialista, eatraia o conjunto dos trabalhadores para suas posi-ções políticas revolucionárias, coisa que é essencialpara se fazer a Revolução.

Deste modo, a luta pela revolução socialista se de-senrolará em três fases: a primeira, de preparação dasforças de todas as condições subjetivas para revolu-ção socialista, onde se deverá ressaltar taticamenteseu conteúdo antiimperialista, antimonopolista eantilatifundiário na luta contra o neoliberalismo; a se-gunda, de tomada do poder pelo proletariado e seusaliados, onde predominará o conteúdo socialista darevolução e a terceira, de consolidação da Revolu-ção, onde se realiza todo o programa de transiçãosocialista. Ela inicia na luta pelo derrubamento dosgovernos democráticos burgueses neoliberais (o re-gime dos monopólios nacionais e estrangeiros e dolatifúndio) e após a derrota definitiva destes, na lutapela instauração de um Governo Operário Revoluci-onário que nacionalize os monopólios e o latifúndio eexecute o Plano de Emergência socialista. Com a vi-tória da revolução proletária e a demolição do Esta-do monopolista burguês, o Governo Operário Revo-lucionário aprofundará ao nível econômico, social eestatal, o seu caráter socialista e de ditadura de classedo proletariado, através de sua constituição comoEstado Operário e auto-governo dos trabalhadores.A função do Estado Operário e da ditadura de classe doproletariado é executar o Programa Socialista da revo-lução, de transição do capitalismo para o comunismo.Neste período inicial da Revolução Socialista no Brasil,entendemos o conteúdo político da luta antiimperialis-ta, antimonopolista e antilatifundiária, como um vastomovimento operário e popular pelo socialismo, movi-mento este encabeçado pelo Proletariado.(13) MARX, K. O Manifesto do Partido Comunista. ob. cit.

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2. O problema organizativoprático do Partido

Como já buscamos demonstrar inúmeras vezesneste trabalho, o desenvolvimento capitalista no Bra-sil condensou em um modelo associado de acumula-ção monopolista de capital as características funda-mentais da formação social brasileira. Este fenômenoacentuou ainda mais a manifestação da “Lei Geral daAcumulação de Capital”, de Marx14, e concentrou ariqueza e o poder numa ínfima minoria da população,enquanto a esmagadora maioria vive submetida a maisabsoluta miséria, exploração e opressão. Nestas con-dições, os problemas vividos pela maioria dos traba-lhadores são de tal ordem que só acabando com opoder do capital, ou seja, só com o socialismo é pos-sível resolvê-los efetivamente.

A crise do capital, que se instaurou a partir do finalda década de 70, continuou na década de 80 e seagravou no iniciou da de 90, com a intensificação dagrande ofensiva neoliberal do imperialismo, criou to-das as condições objetivas para a Revolução Socia-lista no Brasil. E do mesmo modo que os PartidosComunistas de toda a América Latina, reunidos emHavana em 1975, afirmaram que o capitalismo nãoresolve nenhum problema da América Latina, LuizCarlos Prestes, em 1980, no Brasil, em sua histórica“Carta aos Comunistas” afirmava:

“Nos últimos anos, sob a égide do regime militar, agrande burguesia monopolista, aprofundou todas as ca-racterísticas fundamentais da sociedade brasileira: a de-pendência ao imperialismo, o domínio dos monopólios na-cionais e estrangeiros e do latifúndio, confirmando um qua-dro de crescimento absoluto (...) da miséria dos trabalha-dores, agravando-se as desigualdades sociais e tornando-se ainda mais crítica a situação do campo com as transfor-mações capitalistas ocorridas na agricultura e as modifi-cações introduzidas no sistema latifundiário (...) a prolife-ração dos minifúndios e dos chamados ‘bóias-frias’. Si-multaneamente, cresceu vertiginosamente a criminalidadee a violência nas grandes cidades, agravaram-se proble-mas antigos como o do menor abandonado, do desempre-go, a falta de assistência médica, o analfabetismo e a pros-tituição de menores, isto comprova, mais uma vez, que odesenvolvimento capitalista não é capaz de resolver os pro-blemas do povo e nem sequer de amenizá-los”.

(Prestes, Luiz Carlos, em “Carta aos Comunistas”, SãoPaulo, Alfa-ômega, 1980. pp.23-24)

O grande movimento operário de massas, quemarcou o fim do regime militar e a mudança na formada ditadura de classes da burguesia, da ditadura mili-

tar para a democracia burguesa, fez manifestar comtoda a força a crise econômica no país, a partir dadécada de 80. Todas as peripécias e manobras daburguesia somente a empurram para um beco semsaída. Por um lado, porque agudiza-se a contradiçãoentre o capital e o trabalho que, no estágio monopolistado sistema, exige sempre a saída imperialista; mascomo isto não é possível sem uma guerra de rapina ea burguesia não dispõe de autonomia para tal, a crisefica sem solução dentro do capital. Por isso, todas aspolíticas econômicas neoliberais ou keynesianas, pla-nos de estabilização e demais remendos na Constitui-ção efetuados pelos governos atuais, a exemplo dosgovernos militares, descarregam o ônus da crise nascostas dos trabalhadores, das camadas médias assa-lariadas, da pequena-burguesia e dos setores da bur-guesia não monopolista. E, com isto, agrava-se aindamais a crise financeira, como demonstra o quadrofalimentar das empresas e de instituições financeiras(bancos Econômico, Comercial e Mercantil). A crisede superprodução e de acumulação aprofunda a divi-são da classe dominante e um salve-se quem puderentre as oligarquias no país mostram que os de cimajá não podem viver mais como antes.

Por outro lado, agrava-se também a situação depenúria da classe operária, já por si só miserável, edas massas populares, em virtude do desemprego,da fome, do pauperismo, constituindo-se um quadroem que cerca de 43 milhões de seres humanos vivemsob condições subumanas de indigência e numadesesperadora luta pela sobrevivência. Com isto, in-tensificam-se as ações da massa de famélicos que vi-olam a ordem e a propriedade privada. Trata-se deuma situação de terrível miséria e absoluta opressão,que concentra na classe operária uma grande energiarevolucionária, capaz de se transformar em movimen-tos maciços, como ocorreu durante a campanha pe-las “Diretas Já”, o “Movimento pelo impeachmentde Collor”. É o que sinaliza, claramente, o aumento dossaques e arrastões, rebeliões nas penitenciárias, os se-qüestros, as invasões de terras, quebra-quebras, grevespontuais etc., mostrando que se intensifica a violação dapropriedade privada e da ordem burguesa.

E o que é isto, senão os indícios de uma situa-ção revolucionária? Lênin definiu da seguinte ma-neira a situação revolucionária:

“Quais são, em termos gerais, os sintomas distinti-vos de uma situação revolucionária? Quando não épossível para as classes governantes manterem sua do-(14) MARX, K. O Capital. Ob. cit.

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minação sem nenhuma mudança; quando há uma crise,de uma ou outra forma, entre as ‘classes altas’, umacrise política da classe dominante, que abre uma bre-cha pela qual irrompem o descontentamento e a indig-nação das classes oprimidas. Para que estale a revolu-ção não basta, em geral, que ‘os de baixo não queiram’viver como antes, mas também é necessário que ‘os decima não possam’ viver como até então; quando o sofri-mento e as necessidades das classes oprimidas se torna-rem mais agudos que habitualmente; quando, comoconseqüência das causas mencionadas, há uma consi-derável intensificação das atividades de massas...”.

(V. I. Lênin, “La Bancarrota de la II Internacional”, inObras Escogidas, Buenos Aires, Editorial Cartago, 1973,t. III, p. 232-233)

Mas Lênin acrescentava, também, que uma situa-ção revolucionária se forma independentemente davontade dos grupos, partidos ou mesmo classes - ci-tando Engels - e que por isso:

“uma revolução não se produz em qualquer situação re-volucionária; se produz somente numa situação nas quais astransformações objetivas citadas são acompanhadas por umatransformação subjetiva, como é habilidade de uma classerevolucionária para realizar ações revolucionárias de mas-sas suficientemente fortes para destruir (ou deslocar) o velhogoverno, que jamais, nem sequer nas épocas de crise, ‘cairá’se não o ‘faz cair’.”

(V. I. Lênin, ibdem)

Mas, no caso brasileiro, para que a classe operá-ria transforme todo o seu potencial revolucionário emações concretas, de massas, com força o suficientepara derrubar o velho governo das oligarquias bur-guesas, travestido de neoliberal e moderno, é neces-sário um elevado nível de consciência de classe e deorganização. O que é uma tarefa quase impossível deser realizada a curto prazo, já que a organização su-perior da classe operária, o Partido Comunista, foitragicamente destruída pela reação e o MCB se en-contra fragmentado em dezenas de organizações ecírculos marxistas, muitos totalmente desligados daclasse operária e mergulhados em uma profunda criseideológica.

A crise, como já afirmamos anteriormente, decor-re de dois fatores: da inexistência de uma direção te-órica, que é a estratégia revolucionária, e dainexistência de uma direção prática, ou seja, uma or-ganização de quadros comunistas revolucionários re-conhecida e respeitada pela classe operária. Isto semanifesta tanto na capitulação teórica, como nadegenerescência da prática revolucionária, dos agru-pamentos que compõem o MCB, influenciando todoo movimento operário e popular no país. Isto é com-provado pelo seguinte:

a) pelos agrupamentos que mudaram de posiçãodepois da queda do campo socialista e da URSS ousofreram cisões — PCB, PCdoB, PLP, RPC, MTS,MR-8, CS, CO, PRO, ALP, MTM, MCR;

b) pelos agrupamentos que sofreram dedegenerescência teórica e prática — PCB, RPC,MTS, CLCP, CS, PLP, PCdoB, PRO, MCR;

c) agrupamentos que sofreram mais dedegenerescência teórica que prática — PCdoB,PLP, CO;

d) agrupamentos que sofreram mais dedegenerescência prática que teórica — CLCP,MR-8, CS, MTM, MCR;

e) agrupamentos que se desintegraram totalmente— PCB, RPC, MTS, CLCP;

f) agrupamentos que mudaram de forma — ALP,MR-8, CS, PLP.

Vemos pois, que nenhum agrupamento passa ilesoà crise. O caso do PCB e PCdo B são bastanteilustrativos do processo. Após o desligamento de LuizCarlos Prestes e de centenas de militantes do PCB, oagrupamento que fica com a sigla se divide: sua maiorparte se fusiona a setores da classe dominante e dissi-dentes do PSB, muda o nome do partido para PPS eabandona de vez o marxismo. A parte menor brigapela sigla e, para se manter agrupada, renega o Mar-xismo-Leninismo e o centralismo democrático. A de-ficiência teórica e de quadros os leva a uma políticasuicida, legalista e eleitoreira, para atrair, a qualquerpreço, “aderentes” ao partido. Prestes, diante da fra-gilidade dos quadros que o acompanhara, se recusa aorganizar um partido e passa a defender posições re-volucionárias isoladas, até o final de sua vida. Os agru-pamentos que se formam em oposição à política dePrestes —RPC, MTS, PLP e mesmo o CLCP— sãoincapazes de se firmarem nacionalmente. Parte des-tes se diluem totalmente (RPC, MTS e CLCP) noPT, PDT, PSB, PMDB e PSDB. O caso do PCdoBé o mais flagrante de capitulação, cinismo echauvinismo. Ele, que se reivindicava o cerne dostalinismo no país, em seu último Congresso declarou“que nunca fora stalinista” , que as teses do PartidoÚnico e da Ditadura do Proletariado estão superadase o seu “Programa Socialista” para o Brasil definiucomo “socialista de mercado”.

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Os agrupamentos remanescentes da luta armada,que foram atraídos pelo PT e pretendiam transformá-lo em Partido Revolucionário, em menos de 15 anosdiluíram-se no seu interior e hoje são prisioneiros,política e ideologicamente, do “socialismo petista”,que no fundo não passa da velha corrente chauvinistasocial-democrática, reformista e anti-marxista, queadota a velha estratégia de humanização do capitalis-mo selvagem no país. O MR-8, com sua estratégiadireitista herdada do PCB, após o longo período deulissismo, tornou-se o braço direito do quercismo e,de cisão em cisão, avança para a diluição fisiológicadentro do PMDB. Os agrupamentos que se desiludi-ram com a construção “da sagrada família na famíliaterrena”, através do PT (CS, PRO, CO, etc.), ou quese fundiram no PSTU (CS, PFS — ex-PLP...), assimcomo os que lutam pela sigla PCB, círculos remanes-centes do “prestismo”, apesar da resistência, não fo-mos capazes, até o momento, de nos constituirmosnacionalmente, bem como elaborar um projeto decaráter nacional e obter o reconhecimento e a adesãodas massas.

Hoje, a imensa maioria dos agrupamentos e círcu-los marxistas, que floresceram com o esfacelamentodo PC, são oriundos da pequena-burguesia. Poucassão as organizações ou círculos que forjaram seusquadros a partir da classe operária. Constituiu-se,desta forma, um quadro de militância onde coexistemcerca de 3 gerações de comunistas a influenciar a for-mação de uma 4ª geração de revolucionários, quedespertaram durante a luta pelas liberdades demo-cráticas e o fim da ditadura militar e continuam a des-pertar, no país. A primeira geração é aquela que seformou durante as décadas de 20 e 30, período daconstituição inicial do Partido Comunista, que foi pro-fundamente influenciada pela insurreição armada de1935 e já quase inexistente; a segunda se formou nasdécadas de 40 e 50, período em que o movimentoassume características contraditórias, ora radical, oraconciliadora e a terceira é a que iniciou sua formaçãocom as grandes lutas de massas, regidas pela tese dacoexistência pacífica e da luta armada contra a dita-dura. Nas duas primeiras, a classe operária teve for-te presença. Na última, dada a posição de recuo doPCB frente à luta armada contra a ditadura, o pre-domínio passou a ser exclusivamente da pequena-burguesia.

E o inimigo de classe, diante deste quadro, age nosentido de dificultar, “sabotar” a formação do fator

subjetivo da revolução. Sua tática é apoiar as posi-ções que, abertamente ou por trás de uma terminolo-gia revolucionária, estão a serviço da contra-revolu-ção. A reação estimula todo aquele que, dentro domovimento, defenda seus valores e conceitos burguesesde “democracia ”, “liberdade de escolha”, “socialis-mo de mercado” (...) e distorça os princípios funda-mentais do Marxismo-Leninismo. Seu objetivo prin-cipal é confundir e atrasar a passagem do Proletaria-do de classe em si para classe para si. Ao mesmotempo que procura liquidar ideologicamente o MCB,tenta manter sob controle policial-militar as explosõessociais e esvaziar o potencial revolucionário das mas-sas, estimulando campanhas assistencialistas (Natal“Sem Fome”, fim da violência, pelo emprego, etc.) ea formação de organizações políticas reformistas,como o PDT, PT, PSB e PPS, do tipo social-demo-crata. Esforça-se também para atrair, para essas mes-mas posições, as lideranças sindicais combativas ouaté mesmo organizações comunistas que, com avalia-ções incorretas do processo revolucionário brasileiroe da luta de classes, se introduzem por uma via anti-marxista no interior destes partidos reformistas.

Deste modo, para que as condições subjetivas darevolução se desenvolvam, é necessário elevar o graude consciência e organização do proletariado, comodiz Marx e Engels, no Manifesto do Partido Comu-nista de 1848, “a organização do proletariado em clas-se e, portanto, em Partido político”, coisa que so-mente é possível pela ação revolucionária da sua van-guarda consciente: o Partido Comunista, Marxista-Leninista. Mas, “o que fazer” se o Partido Comunistafoi esfacelado, o MCB está em profundadegenerescência e dividido, e o inimigo de classe,aparentemente, com pleno controle e agindo contraas tentativas de reorganização do Partido? Ao nossover, a resposta para esta pergunta encontra-se na açãorevolucionária e nos esforços, ainda que isolados ebastante fragilizados dos inúmeros círculos ou agru-pamentos que atualmente se formam e tentam fazervaler a máxima de Marx e Engels, no “Manifesto Co-munista” de 1848:

“A organização do proletariado em classe e, portanto,em partido político, é incessantemente destruída pela con-corrência que fazem entre si os próprios operários. Masrenasce sempre e cada vez mais forte, mais poderosa”.

(Marx e Engels, “Manifesto do Partido Comunista”,Editora Alfa-Ômega)

Mas as propostas desses novos agrupamentos sãoainda primárias e impregnadas pela herança de

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equívocos do MCB, sem um plano tático e organizativodefinido e criativo, pregam palavras ocas e levam otrabalho sem conseqüência prática. Nestas condições,o primeiro passo a seguir é, a partir do estudo siste-mático da teoria revolucionária, o Marxismo-Leninismo, aplicá-lo à realidade brasileira e estabele-cer uma estratégia e plano tático de combate e orga-nização e, através do método da luta de classes (aluta teórica, a luta política e a luta econômica), desen-volver uma prática organizativa específica dos comu-nistas revolucionários. Essa luta não é nem artificialnem superficial, trata-se de uma luta de classes nointerior do MCB em defesa do Marxismo-Leninismoe que, na verdade, terá a função de desmascarar, iso-lar e extirpar toda a corja de traidores, policiais,vacilões, corruptos, canalhas e falsos líderes, planta-dos pelo aparelho repressor do inimigo de classe paramonitorar, controlar e desviar o Movimento Comu-nista Brasileiro de seu objetivo revolucionário.

O MCB não se limita somente a esta rede de me-liantes no seu interior, nele estão também todos osquadros que, mesmo diante desta situação adversa,continuam a sonhar com a vitória do socialismo e alibertação de seu povo e lutam por isto. São quadrosrevolucionários que resultam de três gerações de lu-tadores, que condensam nossa história de lutas e con-tinuam a erguer o punho ao alto em defesa dos valo-res mais dignos desenvolvidos pela humanidade: ocomunismo. Deste modo, a refundação do PartidoComunista tem o dever de, por um lado, resgatar ahistória do Movimento Comunista no Brasil, seus mi-litantes revolucionários e personagens heróicos, aexemplo de Luiz Carlos Prestes e, por outro, renun-ciar a toda herança15 reformista, conciliadora e naci-onalista de direita, também presente no movimentocomunista até os dias atuais. Pois, embora a históriado ex-PCB seja marcada pelo mais profundoheroísmo e sacrifícios dos seus quadros, sua estraté-gia equivocada e debilidade teórica e ideológica tam-bém desenvolveu uma herança direitista, de desprezopela mobilização das massas, mandonismo e supres-são da democracia interna, que levou ao afastamentode muitos quadros honestos e heróicos e a inúmerascisões, que facilitaram o seu esfacelamento pelas for-ças da reação.

O Partido Comunista é uma organização revo-lucionária, composta por quadros intimamente li-

gados às massas e reconhecidos pelo seu trabalhojunto às mesmas. A sua lógica de construção e im-plantação obedece sua estratégia revolucionária,previamente estabelecida, que nunca deve ser con-fundida com uma organização de massas ou umaorganização terrorrista. Sua condição de PartidoRevolucionário e de Vanguarda não é algo que de-corra de uma autoproclamação, é, como dizLenine16, “nenhuma organização poderá se consi-derar Partido Revolucionário se as massas não areconhecerem como tal”. Logo a organização quepretenda a refundação do Partido Comunista de-verá ostentar todos os princípios de organizaçãoleninistas, diferenciando-se da sua organização nopassado (PCB), que mais parecia com um movi-mento de massas do que com um partido de qua-dros, propriamente dito.

E quais são os princípios de organização leninistas?Como aplicá-las à situação concreta que vive o Mo-vimento Comunista Brasileiro?

Em primeiro lugar, considerar que o Partido Co-munista é o “Estado Maior da Luta de Classes”. Éuma organização de revolucionários profissionais, quese constrói “de cima para baixo”, a partir dos filhos efilhas mais talentosos e resolutos da classe operária, esomente comporá as suas fileiras os que, tanto teóri-ca quanto praticamente, demonstrem estarem à alturade integrar-se aos seus quadros. A sua linha de cons-trução não obedece aos impulsos emocionais ou aodesconcerto exasperado, que caracterizam as junçõesorgânicas dos agrupamentos da pequena-burguesia,e, muito menos, a demagogia das organizações“obreiristas”, que acreditam que um destacamento devanguarda se constrói “de baixo para cima”.17

Em segundo lugar, que sua linha de construção é

(15) PRESTES, A.Leocádia. A Herança Que Os Comunistas DevemRenunciar. Oitenta, Porto Alegre,4:199 e 223, 1980.

(16) LENINE, V.I. Que Fazer. ob. cit. pp. 138 e 139.“Porque não basta intitular-se ‘vanguarda’, destacamento avançado:é preciso proceder de modo a que todos os outros destacamentos vejame sejam obrigados a reconhecer que marchamos à cabeça.”(17) LENINE, V.I. Desconcerto Exasperado. In: Obras Completas,tomo 12. Buenos Aires, Ed. Cartago. Artigo de abril de 1907, citadopor Luiz Carlos Prestes, em carta de 23/07/1987: “... a idéia deconvocar o Congresso, (cita o documento menchevique) “trará umprincípio de coesão à construção organizativa das massas operáriase fará que se ressalte ante elas os interesses comuns da classe operáriae seus objetivos...”(e continua Lenine):Primeiro, construçãoorganizativa e depois, os objetivos (grifado por Lenine); quer dizer, oprograma e a tática! Não deveríamos raciocinar ao inverso, Cama-radas “literatos e práticos”? Refleti: é possivel unificar a construçãoorganizativa se não se unificou a interpretação dos interesses e osobjetivos de Classe? Refleti e vereis que não é possível.”

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um processo dialético, entre o movimento de organi-zação de "cima para baixo", da vanguarda da classeoperária, e o movimento de "baixo para cima", da lutade classes na esfera econômica que nos vários con-frontos e lutas revela os verdadeiros chefes da classeoperária, por sua especial habilidade no comandodestas lutas; não são ainda revolucionários conscien-tes, mas lideranças empíricas, que somente com oestudo rigoroso do Marxismo-Leninismo e sua orga-nização revolucionária adquirirão a convicção cientí-fica do Comunismo, tornando-se verdadeiros revolu-cionários e quadros comunistas.

Em terceiro lugar, considerar que refundar o Par-tido Comunista não implica na fundação de mais ummovimento, cuja lógica seja atender aos anseios deascensão, na escalada de direção nesta organizaçãopolítica, ou ainda ao oportunismo de constituir umalegenda para utilização e finalidades puramenteeleitoreiras da nova aristocracia operária e da peque-na-burguesia radicalizada. Isto significa fazer um novotipo de organização que, guiando-se pelos princípiosLeninistas de organização estabelecidos na “Carta aum Camarada”18, reafirme a teoria revolucionária —o Marxismo-Leninismo— seus símbolos, fundadorese enriquecedores, Marx, Engels e Lênin, incorpore atradição revolucionária brasileira e seja capaz de diri-gir o processo revolucionário no país contra o impe-rialismo e o capitalismo e pelo socialismo, vitoriosa-mente.

Avaliamos que já é possível aplicar à organizaçãodo Partido os princípios leninistas de organização eesforçar-se para que eles se efetuem plenamente. Istopossibilitará atingir três objetivos básicos: a) uma pre-paração séria e uma educação revolucionária de fatodos operários e intelectuais, que integram o Partido,elevando o seu nível de organização, consciência ecompromisso revolucionário; b) utilização adequadado princípio eletivo para evitar o oportunismo e a in-filtração policial na estrutura interna e c) aproximaçãodos operários da verdadeira atividade revolucionária,estabelecendo nitidamente as fronteiras entre o Parti-do e a classe.

Para isto, é necessário levar a cabo um plano geralorganizativo, que defina claramente as organizações eníveis de militância que compõem o Partido, ou seja,níveis de militância, pelo grau de organização, em ge-ral, e pelo grau de clandestinidade, em particular.

Assim, temos: 1) a organização dos revolucionári-os, a mais restrita, clandestina e profissional possível;e 2) a organização dos operários, o mais ampla e di-versa possível. Obviamente aqueles que tomem parteem uma dessas organizações e se submeta às suasdecisões, será reconhecido como militante do Parti-do. Estes dois níveis de militantes constituem o Parti-do Comunista, claro está que uma comporá o centrodo partido e a outra, o setor intermediário entre o

(18) LENINE, V.I. Carta a um camarada.

Fundadores do Partido Comunista Brasileiro (março de 1922). De pé, da esquerda para a direita: Manuel Cendon,Joaquim Barbosa, Astrogildo Pereira, João da Costa Pimenta, Luís Peres e José Elias da Silva; sentados, da esquerda

para a direita: Hermogênio Silva, Abílio de Nequete e Cristiano Cordeiro. (Cortesia de João da Costa Pimenta).

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partido e a classe. Do resultado do trabalho do Parti-do, em especial, da organização de operários junto àclasse, constituem-se: 3) as organizações operáriasligadas ao partido, mas que não são filiadas ao mes-mo; 4) as organizações operárias não ligadas ao Par-tido, porém subordinadas de fato ao seu controle edireção e, por último; 5) elementos não organizadosda classe operária, que em grande parte também sesubordinam, pelo menos nos casos de grandes mani-festações da luta de classes à direção do Partido. Enestes três últimos setores, defendemos a constitui-ção de outro movimento de caráter revolucionáriotático, que sirva de cobertura para nossa açãoconspirativa, considerando, por um lado, a situaçãoconcreta do nosso movimento e suas potencialidadese, por outro, a situação brasileira atual, a nossa es-tratégia e tática geral aqui definidas.

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VI) O MOMENTO POLÍTICO

O governo “neoliberal” da burguesia monopolista, rapidamente, se deteriora com o recrudescimen-

to da crise econômica. A situação caminha, com “bo-tas de sete léguas”, para um quadro similar ao de 1929.Toma de assalto a cena histórica um período de in-tensas e profundas comoções políticas e sociais, aexemplo do vivenciado durante a década de 30.

O governo de FHC resultou do consenso entre asas oligarquias financeiras, nacionais e estrangeiras,para consolidar a nova estratégia de domínio do im-perialismo norte-americano sobre o Conesul. O ins-trumento deste consenso foi o “Plano Real”, que re-baixou os salários reais, dando curto fôlego à acumu-lação e à concentração que logo passou a se desen-volver pela centralização de capitais nas mãos das oli-garquias financeiras. Isto permitiu que a burguesiamonopolista consolidasse jurídica, política e ideologi-camente uma nova legislação sobre a propriedadeprivada —a reforma constitucional— abocanhando apropriedade estatal (privatizações), remodelando opapel do Estado na economia e esvaziando o seupoder político.

Mas todo este processo começa a ser compro-metido em função do esgotamento do “Plano Real” eda centralização de capital, que impulsiona a luta in-testina entre as oligarquias financeiras nacionais e es-trangeiras, já em aberta peleja dentro do governo pelaposse do patrimônio estatal (pólo petroquímico deCamaçari, projeto SIVAM, etc...), como demonstramas manobras e sucessivos escândalos no sistema fi-nanceiro do país: o caso dos Bancos Econômico, daBA; Comercial, de SP; Lavoura, de Pernambuco eagora do Nacional, de MG e Unibanco. Tudo estárelacionado com os arremates do patrimônio estatal, tantodas fontes de matérias-primas (a posse privada do soloe subsolo), como da exploração das riquezas nelas con-tidas e dos meios para tal (empresas estatais). A luta jácomeçou a fazer “vítimas”, como o chefe do Cerimonialda Presidência, o embaixador Júlio César Gomes dosSantos, o Ministro da Aeronáutica Mauro José Gandrae ameaça perigosamente o Relator do projeto SIVAM,o Senador Gilberto Miranda. Se o incêndio não for apa-gado, poderá chegar ao Presidente.

O governo de FHC é extremamente fraco, suaretumbante vitória no primeiro turno das eleições pre-

sidenciais resulta do sistema eleitoral “viciado” e sobo controle das oligarquias no país. Sua base de sus-tentação no Congresso Nacional reside nestas forçasconservadoras e reacionárias (PFL, PTB, PMDB).O Partido do Presidente é uma amálgama detecnocratas e raposas da corrupção política, que ves-tiram a camisa “neosocial” e servem apenas de ge-rentes ou garotos propaganda —a exemplo de Collore o seu PRN— dos interesses das duas frações daburguesia, que hegemonizam o poder: a burguesia mo-nopolista associada, que representa a oligarquia fi-nanceira imperialista e a burguesia monopolista de-pendente, que representa a oligarquia financeira naci-onal. E na medida em que o governo vá perdendo suapopularidade, não sirvará mais aos objetivos dessasoligarquias, enquanto esta situação não se configurapor inteiro, ele se sustenta, mas logo que não for maiscapaz de convencer as massas e comprometa tudo,cairá em desgraça...reproduzindo a cena que já vi-mos várias vezes.

Por outro lado, já é visível a crescente mudançade atitude das massas para com o governo FHC eo seu neoliberalismo entreguista. Trata-se de umasituação de terrível miséria, absoluta opressão e totalfalta de direitos, que tem levado as massas explo-radas a ações desesperadas, e cada vez mais in-tensivas, a cada nova privatização e ameaça de maisdesemprego, fome e relento (perda da moradia),formando-se um quadro de crescente violação daordem e da propriedade burguesa, de generaliza-ção dos protestos contra o regime — ocupaçõesurbanas e rurais, fechamento de vias públicas, gre-ves e conflitos, que se alastram por todo país. Alémdisto, cresce também a violência com os assaltos,seqüestros, furtos, rebeliões nos presídios e a ma-tança indiscrimida de crianças, jovens e adultos,pelos esquadrões da morte. Numa região da Bai-xada Fluminense (RJ), um homem subiu ao maisalto edifício do centro da cidade e se jogou; antesele gritou para todos que preferia se matar a mor-rer de fome e miséria; triste ironia, o prédio de ondese jogou pertencia a uma rede bancária.

A política econômica neoliberal já revelou o con-teúdo antinacional, antioperário e antipopular do atu-al governo e agora passa a revelar abertamente, tam-bém, seu conteúdo político corrupto, neofascista e

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genocida, como demonstra a existência de 43 milhõesde indigentes, condenados à morte pela fome, o re-lento e as chacinas. O caráter neofascista e genocidado governo de FHC apresenta-se, claramente, na gra-dual substituição, em seus meios de comunicação, dapropaganda das grandes campanhas demagógicasefetuadas pelo “São Betinho” , já em completo des-crédito (Natal “Sem Fome”, “Não violência”, Cam-panha do emprego”, etc.), pelas constantes chacinase cenas de extermínio em massa, com o objetivo desemear o terror e arrefecer a luta do proletariado e damassa de famélicos, contra a propriedade privadaburguesa. O caráter corrupto do governo começa atransparecer, na medida em que se agrava a crise docapital, e a base de sustentação política do governoFHC passa a viver uma luta intestina para determinarquem será penalizado ou beneficiado pelas negocia-tas do governo.

O Plano Real conduziu a economia nacional auma encruzilhada. Desvalorizou em 2.750% a mo-eda nacional, reduzindo em 1/3 sua quantidadecirculante, com a troca de cruzeiro para real. Adesvalorização da moeda rebaixou a massa de sa-lários reais e elevou a taxa de mais-valia e dos lu-cros. A ilusão monetarista criou um surto de con-sumo com base no capital fictício, exigindo que ogoverno elevasse, astronomicamente, a taxa de ju-ros para frear o consumo. Esta elevação dos jurosagravou a concentração de renda nas mãos das oli-garquias financeiras nacionais e estrangeiras, atraiuo capital especulativo e estrangulou o setor produ-tivo, levando-o à recessão (as falências econcordatas multiplicaram-se), à reciclagem tecno-lógica e ao brutal desemprego (somente na GrandeSão Paulo, o exército de reserva flutuante passade 1 milhão de trabalhadores).

A liberação de importados para reciclagemtecnológica da indústria e a ilusão monetarista do reallevou ao consumo das camadas médias do lixo oci-dental, aprofundando a quebra das indústrias nacio-nais voltadas para o consumo (tecidos, autopeças,brinquedos, etc). A manutenção da taxa de lucros en-careceu os preços, comprometeu as exportações efez crescer o déficit da balança comercial. Assim, ex-portou-se capitais líquidos, evaporando as reservascambiais, e o capital especulativo aguarda o sinal ver-melho das reservas, para sair do país levando tudo oque puder. Todo este processo valorizou, artificial-mente, os títulos da dívida pública, tornando-os a

moeda nos leilões de privatização das empresas esta-tais. O governo sacrificou, impiedosamente, a saúdepública, a educação e demais setores voltados para areprodução humana das massas trabalhadoras: comisto conteve o déficit público, “equilibrou as contasdo governo” e financiou a compra das suas estatais;para voltar a encolher seu orçamento, através da re-forma administrativa, dá curso à demissão em massado funcionalismo.

A burguesia tem buscado, desesperadamente, en-contrar meios para neutralizar a previsível explosãoda massas operárias, que poderá desestabilizar o seudomínio de classe. Desde a mudança de sua ditadurade classe, da Ditadura Militar para “Democracia bur-guesa”, prevendo esta possibilidade, escreveu e re-escreve a Constituição, com o objetivo de moldar todaa superestrutura jurídica, política e ideológica do Es-tado aos interesses das oligarquias financeiras nacio-nais e estrangeiras (imperialismo), e impedir que osgrupos mais vacilantes de sua classe, particularmenteseu setor “nacionalista” e a pequena burguesia, umavez chegando ao governo central, inviabilizem o seudomínio de classe. Por isso o regime atual se mantêmtutelado às FFAA através do artigo 142 da Constitui-ção, esvaziou todo poder econômico e político doestado, vendendo todo seu patrimônio estatal, e sub-jugou a soberania nacional por meio de uma lei depatentes, que reconhece a “propriedade intelectual”sobre tecnologias, somente aplicáveis à exploraçãode riquezas minerais e biológicas existentes na Ama-zônia brasileira - o que tornou a nação refém daglobalização imperialista e da sua máquina de guer-ra fascista, pela dependência tecnológica.

O governo neoliberal, gerenciado pelos“tecnocratas” do PSDB, já quase cumpriram suatarefa por inteiro: a reforma constitucional. Mas oque estes “inocentes” não sabem é que cada vezmais caminham para o cadafalso. Sua política,factotum e digna dos “epículos crioulos”, a cadadia faz crescer o mar de contradições e para asquais não há solução a curto prazo. Ao avançar nadestruição da soberania nacional, vendendo o paísaos monopólios imperialistas, dividem as oligarqui-as; ao avançar sobre as conquistas dos trabalha-dores, criam as condições de unidade do exércitode homens que mais nada tem a perder; ao avan-çar na destruição das FFAA, reduzindo-a a umpapel policial, voltam este instrumento de sua do-minação contra si mesmos.

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As velhas oligarquias financeiras sabem que o ca-pitalismo é isto mesmo, nem mais, nem menos: acu-mulação, concentração, centralização e crise. E nes-ta lógica, sobrevivem cada dia, utilizando tudo e to-dos. Não têm autonomia para avançar sobre outrosterritórios e desenvolver uma política imperialista agres-siva. Não têm como evoluir tecnologicamente, dadaa submissão da economia nacional ao imperialismo.Não podem retalhar a sua propriedade, para flores-cer a pequena burguesia, e concentrar capitais pelacentralização novamente. Não podem avançar maisa fronteira agrícola sobre a Amazônia internacio-nalizada e prisioneira do neoliberalismo ecológico,das ONGs imperialistas. Assim, só lhes resta em-purrar com a barriga, extrair o máximo de explora-ção com o mínimo possível, lutar para não perderas posições conquistadas e, se necessário, exter-minar os descontentes e vender a mão para mantertudo como está.

As velhas oligarquias não têm projeto algum, o quefazem é utilizar o carreirismo e o oportunismo dostecnocratas para encher de ilusão o povo e continuaro seu domínio de opressão, exploração e terror, sobo rótulo do neoliberalismo. É como diz aquela propa-ganda: “novas idéias e antigos ideais” (?!). Mas, quan-do a crise do capital impulsiona a luta dos trabalha-dores assalariados contra seu regime de escravidão eopressão, a exemplo da que começa a se manifestarno país, estas velhas oligarquias sempre guardam umcarta na manga do fraque, que tanto pode ser a cabe-ça de um serviçal —o impeachment de Collor e Cia- como a cabeça de todo o povo— o golpe militar de1964 e sua ditadura militar reacionária.

Assim, tudo se encaminha para uma situação al-tamente explosiva, onde bastará uma centelha, paramandar pelos ares todo o poder e estrutura seculardas classes dominantes no país. O ponto forte daburguesia continua sendo a situação de total des-truição da organização subjetiva do proletariado ea impossibilidade de reconstituí-la, de um dia paraa noite. Em primeiro lugar, porque a ditadura mili-tar assassinou a maioria dos quadros revolucioná-rios do país; em segundo lugar, porque o retorno àdemocracia burguesa no país e a derrota da classeoperária, no plano internacional —a queda do cam-po socialista do Leste e da ex-URSS— aprofundoua crise do movimento revolucionário, levando adeserção de muitos setores que renegaram suasidéias — a exemplo da traição do senhor Fernando

Henrique Cardoso e Cia. às suas próprias idéias eao movimento de resistência à ditadura militar.

Mas os revolucionários não devem se desesperardiante deste quadro, a tradição revolucionária brasi-leira mostra que um episódio similar já foi vivenciadono Brasil. O quadro atual relembra, em vários aspec-tos, o período subseqüente a dita “revolução de 1930”,tanto pela situação de crise geral do Capital, comopelo processo vivido pelas forças revolucionárias quecombateram em armas (o “Levante dos 18 do For-te”, o Levante de 1924, em São Paulo, e a “ColunaPrestes”, de 1924 a 1927), contra as oligarquias nadécada de 20. Naquela conjuntura, o setor da jovemoficialidade do Exército dividiu-se: sua maior partecapitulou frente ao poder dos novos oligarcas e secompôs com setor vitorioso da burguesia desenvol-vendo os seus instintos mais direitistas e bestiais (FilintoMüller, uma espécie de Nilton Cerqueira, ex-Secre-tário de Segurança Pública do Rio de Janeiro...) econfigurando um quadro que parecia repetir o reina-do das oligarquias após a Proclamação da República(1889 à 1930); mas a outra parte, comandada porLuíz Carlos Prestes, fiel aos seus princípios, aderiuao comunismo e quando parecia isolada e morta, jáestava com a iniciativa e preparava a insurreição de1935.

A situação atual parece parodiar a década de 30,o grau de adesismo de muitos que se bateram em ar-mas contra a ditadura militar da burguesia, durante asdécadas de 60 e 70, é vergonhoso e ultrajante; capi-tularam frente ao eufemismo do neoliberalismo,atolaram-se até o pescoço no pântano da corrupçãodas oligarquias financeiras e atraiçoam descaradamen-te a luta de nosso povo. O regime escarnece da clas-se operária e tira proveito desta situação dramáticado movimento revolucionário no país, intensificandosua propaganda neoliberal sobre as massas operári-as. Através de sua mídia nazi-fascista e seguindo oteorema de Josef Geobbels —“repita mil vezes amentira até que se torne uma verdade”— vende asidéias da “ morte do comunismo”, do “valor univer-sal” de sua democracia e do “fim da História”; por-tanto restando as massas exploradas e ao proletaria-do a dócil submissão à escravidão capitalista e à ex-ploração do homem pelo homem, em um mundounipolar e hegemonizado pelo imperialismo norte-americano.

Assim, dissemina a ideologia de capitulação esubmissão do proletariado ao seu domínio de clas-

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se da burguesia, levando à deserção dos setoresmais vacilantes do movimento revolucionário nopaís. A classe dominante tenta triturar todos os sím-bolos, bandeiras, lideranças e a tradição revoluci-onária do povo brasileiro. Procura introduzir seusvalores burgueses e estereótipos —como Sr.Fernando Henrique Cardoso e outros tantos— queconfundem as massas operárias e populares, comsua pregação cínica e aberta do caminho da sub-serviência e da conformação oportunista. E assim,desviam a classe operária e massas exploradas daluta revolucionária para a luta eleitoral, cultivandoa ilusão com “o processo eleitoral viciado” e a de-mocracia burguesa.

Mas, as velhas oligarquias burguesas sabem, tam-bém, que sua luta não é somente contra o proletaria-do, ela necessita se resguardar da pequena burguesiae de seu setor nacionalista, hoje profundamenteacachapados pelo agravamento da crise. Sabe tam-bém que eles, dadas as suas condições econômicas,podem se organizar e utilizar-se da crescente indigna-ção das massas exploradas, com o seu sistema, e comisto chegar ao poder político, criando uma situaçãode grande instabilidade, que pode ameaçar o seu do-mínio de classe; logo trabalha, incessantemente, paradividir tanto estes dois segmentos, como a classe ope-rária para evitar esta conjuntura. Assim utiliza-se dooportunismo, do carreirismo e do individualismo dasmesmas para dividi-las. Por isso, o PT, PDT e PSBnão se unem nas eleições burguesas e quando o fa-zem, o processo eleitoral viciado —ontem pelos cur-rais eleitorais, hoje pelos currais eleitorais, pela inter-ferência da mídia, institutos de pesquisas, pelo podereconômico e pela fraude institucionalizada— não per-mite sua vitória e tudo não passa de um grande circoarmado.

As velhas oligarquias burguesas sabem, também,

que isto não pode durar para sempre, sem que sejadescoberto —o caso PROCONSULT estragou a suafarsa democrática no Rio de Janeiro, em 1982— eassim tenta uma outra jogada, num plano superior einédito, na medida em que as massas rejeitaram oparlamentarismo em plesbicito. Isto é, tratam de es-vaziar o poder político do Estado brasileiro, reti-rando-lhe o poder econômico, o poder ideológicoe o poder militar, e subordinando-o ao imperialis-mo, para evitar que um governo da pequena bur-guesia, em aliança com as massas operárias e po-pulares, nada possam fazer contra o seu sistemade exploração, a não ser administrar a situação debarbárie social e gerenciamento de seu negócioespúrio. Portanto, trata de assegurar juridicamentetudo, através de sua reforma constitucional, pre-parando-se para controlar, do Congresso (Senadoe Câmara dos Deputados) e Judiciário e com asFFAA, tudo.

Quanto ao primeiro governo de FHC, as velhasoligarquias burguesas poderiam, utilizar-se de:

a) em primeiro lugar, a saída Collor, retira FHCcom o impeachment, se a crise se tornar incontrolávele ele não puder completar o serviço ou tentar desvi-ar-se dele; seu substituto, o Vice-Presidente MarcoMaciel, tentará completar;

b) em segundo lugar, a saída Sarney, empurrar coma barriga e forçar FHC a completar todo o serviço e,ao mesmo tempo, preparar um outro representantepara eleger por mais 4 ou 5 anos;

c) em terceiro lugar, a saída social-democrata,passando o governo às mãos da pequena burguesiamonitorada;

d) em quarto lugar, a saída golpista, impondo pormais um período, um regime militar no país.

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VII) AS TAREFAS IMEDIATASA classe operária, diante deste quadro, não pode

tecer ilusões com o regime estabelecido, não podeacreditar na possibilidade que, através da via eleito-ral, possa vencer o seu inimigo de classe. Sua lutadeve destinar-se a construir um caminho próprio, atra-vés da construção de um movimento revolucionárioúnico de toda a classe e que reúna em torno de sitodos os trabalhadores e massas exploradas contra aburguesia oligárquica e o imperialismo. Ele buscará,primeiramente, isolar a força principal do inimigo declasse, as oligarquias financeiras que são representa-das pela burguesia associada e a burguesia depen-dente ao imperialismo, para logo em seguida se baterdiretamente pelo poder político, econômico e militarda sociedade e, através de uma luta revolucionária,derrube de fato o poder secular da burguesiaoligárquica e do imperialismo no país.

O golpe principal do movimento se dirigirá contrao governo dos monopólios nacionais e estrangeiros edo latifúndio. Com este objetivo, o movimento se or-ganizará em núcleos nos locais de trabalho e moradia,na juventude, nas FFAA, nos meios culturais e inte-lectuais da sociedade. Os núcleos devem se constitu-írem como Comitês Contra o Neoliberalismo, pormovimento de luta específica e/ou pelo comando uni-ficado destes, segundo a divisão política-administra-tiva do país (distrital, municipal, estadual e nacional).O objetivo desta organização é a partir da reuniãodos comitês, nos diversos níveis, constituir uma ins-tância suprema de todo o movimento de luta contra oneoliberalismo no Brasil, e que poderá ser chamadade: Congresso Contra o Neoliberalismo - CCN.

A luta por um Congresso contra o Neoliberalismonão deve ser compreendida apenas como uma ban-deira de propaganda e agitação política, ou comodesdobramento natural de todas as lutas econômicasda classe operária e massas exploradas, no momentoatual. Ela deve ser compreendida, também, comobandeira que serve aos interesses futuros da luta daclasse operária no Brasil, em sua direção estratégicaao Socialismo. Por um lado, porque seu conteúdo secompõe dos interesses táticos, ou seja, da soluçãodos problemas imediatos dos trabalhadores diante dacrise do capital e as manobras da classe dominante;por outro lado, porque este conteúdo também se com-

põe dos interesses estratégicos da luta da classe ope-rária pelo Socialismo, dada a insustentabilidade pormuito tempo, de uma política econômica alternativaao Neoliberalismo, dentro dos marcos do capitalis-mo atual, no Brasil e no Mundo, sem a mudança radi-cal do modo de produção social existente.

O duplo caráter do conteúdo da luta contra oNeoliberalismo também se reflete na forma de orga-nização geral que propomos para conduzir a luta. Porisso, o Congresso Contra o Neoliberalismo, além deservir como base de estruturação de uma ampla fren-te tática de todas as forças contrárias à política eco-nômica das oligarquias e do imperialismo no país -comunistas, socialistas, trabalhistas, nacionalistas eautênticos liberais -, cria também as condições paraque a classe operária se coloque na vanguarda desteprocesso, através da unidade das várias organizaçõessindicais, populares, partidos e movimentos de esquer-da que atuarão nas várias esferas da Frente, tornan-do-se assim o pólo dinâmico da mesma. Deste modo,não se pode desprezar a força da campanha peloCongresso Contra o Neoliberalismo, tanto no que serefere ao seu conteúdo tático, quanto ao seu conteú-do estratégico.

Objetivo tático imediato da campanha pelo Con-gresso contra o Neoliberalismo, como é sabido, é aacumulação de forças pelo Movimento para derrubaro governo das oligarquias no país. Este é o único meiode defender os trabalhadores e massas exploradas,diante da conjuntura de agravamento da crise do ca-pital e das manobras da classe dominante, para des-carregar os custos da mesma nas costas dos traba-lhadores. Neste sentido, sua escatologia é defensiva,dando lugar a variadas formas de lutas de resistênciada classe operária e massas exploradas contra a ofen-siva das oligarquias no governo. Mas esta escatologiadefensiva, não significa uma postura tática de recuo,seja de nossa militância no movimento de massas, sejadeste último com relação às classes dominantes; pelocontrário, esta postura deve ser justamente o oposto,uma ação ousada e ofensiva.

Do ponto de vista de nossa militância junto àsmassas, nossa postura deve ser tanto de denúncia dasarbitrariedades do regime, mostrando a conexão en-

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tre os problemas vividos pela classe operária e mas-sas exploradas no seu dia-a-dia, nas várias esferas dasociedade e a política neoliberal do governo das oli-garquias; bem como, a propaganda ativa de nossoprograma revolucionário, como solução dos proble-mas colocados pela crise do capital e as manobras daclasse dominante. Ela deve explicar ao proletariado oobjetivo central da luta contra o Neoliberalismo, comoparte integrante da luta pelo Socialismo e que a basedesta conexão indissolúvel é o nosso programa e aforma de organização suprema desta luta: o Congres-so Contra Neoliberalismo. Do ponto de vista da clas-se operária e das massas, a postura deve ser de lutaspontuais de resistência, oferecendo combate em cadafrente de luta que se apresente, isto é, lutas contra aprivatização das estatais e serviços públicos (Educa-ção, Saúde, Previdência, etc); lutas contra o desem-prego e o trabalho infantil; lutas contra o monopólioda terra, a grilagem e a especulação imobiliária; lutascontra a fome, a miséria e o flagelo; lutas contra asdiscriminações da cor, sexo, etnia e crença; lutas con-tra a dominação cultural e a opressão policial, e assimpor diante.

Aqui é importante fazer uma clara diferenciaçãoentre o conteúdo da luta contra o neoliberalismo e asformas de luta com que o proletariado e as massasexploradas poderão desenvolver esta batalha contraas oligarquias no país. Neste sentido, para que nossacampanha seja bem sucedida é necessário que nos-sos militantes tenham muita clareza da diferença dascoisas. A primeira, ou seja, o conteúdo da luta, lhedará condições de argumentação de nossas propos-tas e idéias junto às massas, bem como, porque onosso programa é o mais justo para ela, o que nosajudará a conquistá-la para as posições revolucioná-rias do socialismo proletário. A segunda, nos permiti-rá assumir o comando prático destas lutas, avançan-do para a unificação das mesmas no plano nacional ena direção do golpe principal contra o inimigo de clas-se, ou seja, a derrubada das oligarquias. Assim, têm-se uma linha de massas tanto para se definir o caráterda luta e cada momento, como a forma mais eficaz derealizá-la.

Deve-se iniciar uma campanha de denúncias dasatrocidades do sistema e seu governo neoliberal emtodo o país, unir a esta campanha toda a tradiçãorevolucionária brasileira, particularmente a dos re-volucionários das décadas de 20 e 30, conduzindoa classe operária e massas exploradas para uma

greve geral. Para isso o movimento deve conclamarem seu concurso toda a tradição revolucionária,particularmente daqueles que sustentaram a teseque, mesmo num regime pseudo-democrático épossível a classe operária e as massas exploradasse insurgirem contra seus algozes, como fizeram osrevolucionários do Levante dos "18 do Forte deCopacabana", do Levante de São Paulo, em 1924,da "Coluna Prestes" de 1924 a 1927, e do Levantede 1935, comandado pela ANL". Deve-se levar acabo manifestações, a agitação e propaganda en-tre os trabalhadores, os meios militares, os cam-poneses, os intelectuais e os estudantes; organizarpalestras e atividades que mostrem a realidadegenocida que vive a classe operária e massas ex-ploradas e indicar o caminho da greve geral, dainsurreição e da revolução socialista como únicasaída capaz de solucionar os problemas do povobrasileiro para conquistar a verdadeira independên-cia e a soberania nacional.

Este movimento deve lutar por um programa re-volucionário, com base no Programa de Emergência,de Luiz Carlos Prestes, que una todos os exploradoscontra o capital monopolista e o imperialismo, e re-solva os problemas mais sentidos pelos trabalhado-res: o desemprego, a fome e a falta de moradia. Elepermitirá a construção de um único movimento revo-lucionário, de todas as forças da nação que se opo-nham a esta bestial situação neocolonial criada pelosistema capitalista no país.

Um movimento que incorpore, pela ação, todosos nossos heróis nacionais que tombaram lutandocontra a opressão e a exploração — Sepé Tiaraju,Zumbi dos Palmares, Tiradentes, Felipe dos Santos,Frei Caneca, Antônio Conselheiro, Antônio Cândido,Luiz Carlos Prestes e tantos outros, que pavimenta-ram a nossa história com o seu sangue e trabalho. Eque, por isso, resgate o papel dos setores de tradiçãodemocrática e popular e luta contra o opressão impe-rialista, dentro das FFAA, denunciando a trama im-perialista para destruir esta última

Um movimento revolucionário que se some à lutados revolucionários da América Latina, pela liberta-ção e a integração do nosso continente, dentro datradição de Tupac Amarú, Simon Bolívar, San Martin,Hidalgo, José Martí, Máximo Gomes, ErnestoGuevara e tenha em Cuba uma experiência a ser se-guida e respeitada, somando-se solidariamente na luta

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contra o bloqueio imoral e desumano do imperialismonorte-americano.

A luta principal do movimento é pela derrubadado poder da burguesia oligárquica e do imperialis-mo no país, a nível econômico, político e ideológi-co. Deste modo, desenvolverá lutas que golpeiemas forças da reação em todos os lados: nos lucros;nos juros e na renda da terra. Lutas que isolem aburguesia oligárquica e o imperialismo e derru-bem todos os seus intrumentos de poder, emtodos os cantos: nos movimentos sindical, po-pular, político, cultural, da juventude e no movi-mento militar, negro, de mulheres, indígena, etc.

1. Na luta econômica dostrabalhadores:

a) ao nível do movimento sindical — o fim dodesemprego, salário real para todos os trabalhadores erecuperação das perdas salariais, estabilidade no em-prego, redução da jornada de trabalho, melhores condi-ções de trabalho, alimentação no local de trabalho, apo-sentadoria com 30 anos de serviço, podendo optar porcontinuar na ativa, de acordo com a atividade; igualdadede direitos dos trabalhadores rurais e urbanos;

b) ao nível da organização do movimentosindical — lutar para que se torne uma organiza-ção autonôma frente aos patrões e partidos políti-cos, de luta e união de toda a classe, o mais amplapossível, unindo-as na defesa de suas reivindica-ções econômicas: salariais, promocionais,assistenciais e dê melhores condições de trabalhoe seguridade social para os trabalhadores urbanose rurais, que pratique as formas mais avançadas dedemocracia, que desenvolva a consciência de uni-dade e solidariedade entre todos os trabalhadores.Sua organização atual deve evoluir para uma orga-nização sindical nacional única, subdividida porramo de produção e com base no princípio eletivoda majoritariedade (maioria).

Estas são as concepções fundamentais quenorteiam a ação dos comunistas revolucionários, noMovimento Sindical, que no decurso da luta de clas-ses e da revolução, transforme-se também nas basesde uma nova estrutura de poder da nova sociedade -a Sociedade Socialista.

c) ao nível do movimento popular — lutar paraque os movimentos desenvolvam lutas que avancem aconsciência dos trabalhadores e a unidade com o movi-mento sindical, buscando lutas conjuntas, cultivando asolidariedade entre ambos, desenvolvendo lutas pelasdemandas sociais mais emergentes e sentidas pelo povo,que o levem ao confronto com os poderes estabelecidos(saneamento básico, saúde, educação, transporte, habi-tação, terra, etc.). A sua organização deve ser a maisabrangente possível, desenvolvendo as formas avança-das da democracia direta para se tornar uma nova estru-tura de poder na nova sociedade, a sociedade socialista(o auto-governo dos trabalhadores).

d) na questão da terra, o fundamental é apoiar aluta e propostas mais avançadas no sentido da Naci-onalização da TERRA, dos movimentos e grupos ati-vos dos movimentos camponeses.

e) ao nível da juventude — lutar para construirum movimento autonômo da juventude, que abranjao seu setor estudantil, operário e cultural, desenvol-vendo lutas por suas reivindicações imediatas, taiscomo: escola pública gratuita para todos, passe-livrepara estudantes; que busque formas de organizaçãonos locais de estudo, trabalho e lazer, as mais avan-çadas possíveis, e que cultivem os ideais da rebeldia,do internacionalismo e da solidariedade com os mo-vimentos populares e sindicais.

2. Na luta político-eleitoralBuscar utilizar-se das campanhas e da agitação

política para denunciar o processo eleitoral viciado, asituação de miséria do povo, propagandear o seu Pro-grama Revolucionário e a luta revolucionária diretapelo poder e o socialismo. Deverá comprometer asforças da burguesia nacionalista e da pequena-bur-guesia com o programa revolucionário,. O Movimen-to não apóia nenhum partido político.

3. Na luta ideológicaDesencadear uma intensa campanha pelo resgate

da tradição revolucionária brasileira, pela ótica da re-sistência à opressão e exploração capitalista e impe-rialista, vinculando esta história de lutas do nosso povocom a história da classe operária internacional e, par-ticularmente, com a história de luta da América Lati-na. Esta campanha visa reconstituir os valores cultu-

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rais que caracterizem a brasilidade. Também buscaráconstituir um clima propício à organização revolucio-nária dos trabalhadores no país, tendo-se uma aten-ção especial para o período das décadas de 20 e 30.

4. Suas palavras de ordem são:Abaixo o Governo das oligarquias burguesas!Abaixo o neoliberalismo genocida do imperia-lismo! Contra o Desemprego, a Fome e a faltade moradia! Viva 5 de Julho de 1922, 1924 e1935! Viva Insurreição de 1935! Viva Luiz

Carlos Prestes! Viva o Socialismo!

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Os Comunistas Revolucionários entendem queeste movimento não significa o único caminho nadireção da construção de um partido revolucio-nário, mas representa a posição de um agrupa-mento de camaradas que fazem questão de darsua contribuição ao processo de reorganizaçãodos comunistas que se dividiram ou se dispersa-ram a partir dos desvios e do próprio esfacela-mento do histórico PCB.

Diante do exposto, o Movimento pelaRefundação do Partido Comunista resolveconclamar todos os Comunistas Revolucionários

dispersos ou agrupados, no país ou no exterior, aconstituir núcleos de refundação do Partido Co-munista nos locais de trabalho, moradia, estudo,lazer e cultura, e marchar para a realização doCongresso de Refundação do PC (ML).

Resistir é preciso, Refundar é possível

P. I. Bvila

RJ, 23 novembro de 1995

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ANEXO ITABELAS E GRÁFICOS

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GRÁFICO 7

POPULAÇÃO EM IDADE ATIVA DE 1950 A 1991 (TOTAL, HOMEM E MULHER)EM MILHÕES DE HABITANTES

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GRÁFICO 8

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GRÁFICO 9

POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA EM 1950 E 1990TOTAL, HOMEM E MULHER, EM MILHÕES DE HABITANTES

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ANEXO IIADENDO À ANÁLISEDE CONJUNTURA

1. INTRODUÇÃO

O informe da CN é o resultado de uma análise que tem por base os diversos relatórios dos or-

ganismos dirigentes (de âmbito nacional e regional). ACN procurou estabelecer, neste informe, um quadroobjetivo da situação atual do Movimento e do seutrabalho durante o ano de 1998, relacionando-o comas metas do “Plano de Trabalho” adotado pela I Con-ferência Nacional, de 1998, e a conjuntura vivida nesteperíodo. O informe faz uma avaliação das conquistase derrotas do Movimento, as contradições que impe-dem um melhor desempenho do trabalho revolucio-nário dos militantes e busca caraterizar a natureza dosproblemas e as dificuldades que afligem a todos. Alémdisso, propõe diretrizes gerais para um novo plano detrabalho, tendo em vista o quadro atual e real doMovimento e a conjuntura política nacional e interna-cional. Por último, o informe analisa criticamente odesempenho da CN e propõe a sua renovação deacordo com as normas regimentais do Movimento.

2. A CONJUNTURA DE AGRAVAMENTODA CRISE NO ANO DE 1998

1 - O trabalho do Movimento 5 de Julho noano de 1998 realizou-se numa conjuntura de ex-trema complexidade, tanto no plano internacionalcomo nacional. A conjuntura se caracterizou, porum lado, pelo agravamento da Crise Geral do Ca-pitalismo, constituindo as condições objetivas parao avanço da luta de classe do proletariado e favo-recendo, em linhas gerais, a sua luta revolucioná-ria neste período; mas, por outro lado, se caracte-riza também pela crise na organização subjetiva doproletariado internacional, o que impediu sua lutarevolucionária avançar direto para o Socialismo, re-duzindo-se neste campo a desenvolver os elemen-tos subjetivos de superação de sua crise. Nestestermos, a conjuntura de crise geral do capitalismoem 1998 não significou uma alteração substancial

na correlação de forças entre a burguesia e o pro-letariado, continuando amplamente favorável à pri-meira. Contudo, dialeticamente, desenvolveu oselementos subjetivos de superação da crise na or-ganização subjetiva do proletariado, significandoassim também um ponto de viragem no desenvol-vimento histórico na sua luta de classe.

2 - Os fatos e acontecimentos históricos pre-sentes na conjuntura expressaram, objetivamente, asseguintes tendências:

A) a tendência do agravamento da Crise Ge-ral do capitalismo se sustenta no fato de a criseeconômica e política no Sudeste Asiático, cujo cen-tro dinâmico é o Japão, ter se espalhado para to-dos os países do mundo, como demonstraram abancarrota da Rússia e a queda do crescimentoeconômico do núcleo mais dinâmico do capitalis-mo na Europa, a Europa Unificada; além disso,comprova-se tal fato com a crise no Brasil, a ban-carrota do Equador e a depressão econômica emque mergulhou toda América Latina; da mesma for-ma, também pode-se comprovar esta realidade noprincipal centro dinâmico do capitalismo mundial,os EUA, na queda do ritmo de seu crescimentoeconômico no último semestre do ano. Assim, nãohá dúvidas quanto à verdade histórica desta tese.

B) outra tendência presente nos fatos da atualconjuntura é o comportamento das classes domi-nantes, hegemonizadas pelas oligarquias financei-ras, em se defenderem da crise através da concen-tração de capital e ampliação da taxa de mais-va-lia. Comprova-se este fato pelo ritmo das fusõesentre os grandes monopólios financeiros, comerci-ais e industriais, comunicações e informática, micro-eletrônica, automobilista e petróleo); em conseqü-ência, o crescimento do desemprego, do rebaixa-mento dos salários e a acumulação primitiva (eco-nomia informal).

Resoluções Políticas aprovadas na II Conferência Nacional do M5J,Resoluções Políticas aprovadas na II Conferência Nacional do M5J,Resoluções Políticas aprovadas na II Conferência Nacional do M5J,Resoluções Políticas aprovadas na II Conferência Nacional do M5J,Resoluções Políticas aprovadas na II Conferência Nacional do M5J,pela Rpela Rpela Rpela Rpela Refundação do Pefundação do Pefundação do Pefundação do Pefundação do Pararararartido Comtido Comtido Comtido Comtido Comunistaunistaunistaunistaunista

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C) Também se pode observar a tendência dasmassas exploradas, no geral, e da classe operária, emparticular, a resistirem e lutarem para não se subme-terem às condições impostas pelas oligarquias bur-guesas em todos os países onde a crise se manifes-tou, como se pode comprovar pelas manifestaçõesde rua, marchas, greves, sublevações, convulsõessociais e revoluções durante este período: Chiapasno México; o MRTA no Peru; as FARC-EP na Co-lômbia; Movimento Bolivariano na Venezuela - naAmérica Latina; na Ásia, a luta dos camponeses naTailândia; a luta dos trabalhadores na Coréia do Sul;a sublevação do povo na Indonésia e Malásia etc.; naÁfrica, a revolução vitoriosa de Kabila no Congo-Bel-ga; a luta na Nigéria; no Marrocos e no Oriente Médio,e, finalmente, na Europa e nos EUA, a intensificação daluta da classe operária pela redução da jornada de tra-balho e pelas demais conquistas sociais.

D) Finalmente, acompanhando as mudançasobjetivas, a tendência às mudanças nas superestrutu-ras dos Estados Nacionais e supranacionais do siste-ma capitalista, expressando novas correlações de for-ças entre os segmentos oligárquicos da burguesia, in-dicando uma clara propensão à fissura entre eles e oagravamento da luta pela hegemonia mundial, comodemonstram as mudanças no Japão e na Ásia; a subi-da dos governos sociais-democratas na Europa, e asmudanças na América Latina, a exemplo do Paraguai;finalmente a Guerra no Golfo Pérsico, do imperialis-mo contra o Iraque, e atualmente a Guerra do imperi-alismo contra a Iugoslávia, de desdobramentosimprevisíveis para toda humanidade.

3 - Como se pode constatar, objetivamente, astendências presentes na atual conjuntura de crise ge-ral do capital são tendências que indicam uma grandepropensão à passagem da crise econômico-financei-ra para uma crise política e, consequentemente, auma crise revolucionária nos moldes definidos porEngels, como lembrou Lenin, na Rússia pré-revoluci-onária, ou seja, uma situação revolucionária independeda vontade das classes, segmentos ou partidos, já quea mesma resulta de condições objetivas decorrentesdas transformações na base econômica em contradi-ção à superestrutura da sociedade existente. Pode-secomprovar a natureza desse processo com base nosdois últimos acontecimentos presentes na conjunturade 1998: os desdobramentos políticos da crise na Ásiae Leste Europeu, e na presente conjuntura, como seobserva na atual guerra imperialista contra a Iugoslá-

via e Iraque, e os desdobramentos da crise no Paraguai,onde Brasil e Argentina têm clara participação no pro-cesso.

4 - Outro aspecto que caracteriza a complexi-dade da atual conjuntura constitui-se no fato de queas transformações objetivas que se processam nomundo não são acompanhadas, no mesmo sentido his-tórico, pelas transformações subjetivas, o que indicaque não se produziu uma mudança qualitativa na cor-relação de forças entre o proletariado e a burguesia.A explicação para este fato, que confirma integral-mente a formulação de Lenin, não reside no fato deuma situação revolucionária se desenvolver num mun-do preso ainda às relações de produção feudal, masnas contra-tendências presentes na atual conjunturaherdadas de uma conjuntura anterior. Nesta última,as transformações na base técnica e física da produ-ção capitalista - a revolução científico-técnica -, deri-vadas do período de guerra fria, formaram as condi-ções objetivas para uma nova onda contra-revoluci-onária do capital e que se traduziu no que seconvencionou chamar de Neoliberalismo”.

Foi esta onda contra-revolucionária quedesestabilizou o centro da revolução mundial, histori-camente constituído pela revolução bolchevique emOutubro de 1917, na Rússia: a Ex-URSS. A quedada URSS desencadeou uma profunda crise no mar-xismo e são os reflexos desta crise na organizaçãosubjetiva do proletariado mundial o fator principal queimpediu que as transformações nas condições subje-tivas não correspondessem ao sentido histórico dastransformações objetivas, ou seja, a luta direta pelarevolução socialista.

Em linhas gerais, as contra-tendências presen-tes nos fatos são:

a) inexistência de um centro-revolucionário mun-dial capaz de dirigir teórica e praticamente a luta declasse do proletariado, o suficientemente forte e in-tensa que desloque a classe dominante do poder po-lítico no sentido revolucionário. Isto permitiu que ossegmentos das classes burguesas se lançassem àfrente do proletariado e massas exploradas, cana-lizando suas lutas e revoltas, mantendo o seu do-mínio de classe. Comprova-se este fato pelos des-dobramentos políticos dos países que mergulharamna crise: Indonésia, Coréia, Malásia, Rússia, Bra-sil, Paraguai, Equador etc.;

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b) outra contra-tendência presente na conjuntu-ra é a transformação tecnológica do capitalismo sobo domínio do capital financeiro, aprofundando a dife-renciação entre os segmentos do proletariado, cons-tituindo uma aristocracia operária que perde a identi-dade de classe tomando por referencial a classe bur-guesa, como se pode comprovar pelo comportamen-to dos dirigentes sindicais e a formação dos váriospartidos sociais-democratas no mundo;

c) a contra-tendência decorrente do próprio ci-clo de depressão da economia capitalista, criando umaexpansão gigantesca do Exército de Reserva pelodesemprego, impedindo que a luta de classe do pro-letariado saia do terreno econômico para o terrenopolítico, e, finalmente,

d) a contra-tendência decorrente das estraté-gias de sobrevivência das massas diante da criseque vão desde a corrupção e traição à luta da clas-se até o mercantilismo e submissão absoluta aocapital financeiro.

5 - Nestes termos, a conjuntura atual reflete, porum lado, o sentido histórico das transformações ob-jetivas que decorrem da essência e do conteúdo daépoca histórica atual, de passagem do modo de pro-dução capitalista ao modo de produção socialista, eda classe operária de classe dominada em classe do-minante. E este processo se apresenta em contradi-ção com o atual quadro da correlação de forças noplano internacional, já que este deriva da grande ondacontra-revolucionária burguesa que levou à crise dosocialismo. E nestas circunstâncias, se as condiçõesobjetivas expressas pela crise geral do capital exigemtarefas revolucionárias de caráter socialista, as con-dições subjetivas marcadas pela crise do socialismoimpedem a realização das mesmas, constituindo umaetapa intermediária marcada por formas transitóriasde lutas e conquistas, que não são mais que um prelú-dio da Revolução Socialista. Assim, do conflito entreestas tendências contraditórias na conjuntura, em to-das as partes, paralelamente às soluções políticasencontradas para a crise nos marcos do capitalismo,dialeticamente, surgem os elementos subjetivos quese desenvolvem rapidamente em busca do nexo entreas transformações objetivas e subjetivas, no sentidoda Revolução Socialista, formando-se assim o movi-mento de negação da negação, constituindo uma novacaracterística da conjuntura: a tendência à superaçãoda crise no Marxismo.

a) O primeiro elemento subjetivo presente naconjuntura e impulsionado objetivamente pela crise éa idéia da vitória ideológica do Marxismo Revolucio-nário sobre todas as teorias burguesas. A crise com-provou, concretamente, todos os fundamentos teóri-cos da doutrina de Marx, Engels e Lenin, tais como aLei do Valor, a Lei Geral da Acumulação Capitalista,a Tendência Decrescente da Taxa de Lucro, a Con-centração de Capital como Lei Geral da Acumulaçãona Época do Imperialismo e inclusive o quadro psi-cológico da classe dominante ante a crise, bem comosuas históricas saídas, a destruição de parte das for-ças produtivas desenvolvidas, seja pelo desemprego,seja pela guerra. E desta forma, desnecessário se tor-na comprovar a teoria da Luta de Classes comoMotor da História: a realidade de crise levainexoravelmente a isto.

b) O segundo elemento subjetivo presente naconjuntura é a desmoralização teórica e prática detodos as teorias burguesas, abrindo uma profundafissura em toda sua ideologia. Este fato se comprova,por um lado, pela própria crise geral do sistema capi-talista, já que ela desmente concretamente todas asteorias burguesas sobre a sua superação dentro docapitalismo. A bancarrota do Term Long Bank, queera administrado pelos dois economistas que foramrecentemente premiados com o Nobel de Economia,torna desnecessária outra demonstração. Contudo, oque mais comprova categoricamente este processo éa profunda fissura em toda a ideologia burguesa econtra-revolucionária deste período, o que pode sercomprovado, de forma irrefutável, pelo livro escritopelo mega-especulador George Soros: “O Fim do Ca-pitalismo”. Poder-se-ia citar ainda outros títulos lan-çados pela burguesia que traduzem concretamente averdade desta afirmação, mas acreditamos que sejadesnecessário tal fato.

c) O terceiro elemento subjetivo de caráter re-volucionário presente nesta conjuntura é a tendênciado Marxismo revolucionário, o Marxismo-Leninismo,retomar o seu lugar de teoria revolucionária de pri-meiro plano na luta de classe do proletariado mundi-al. Neste particular, concorrem para tal fato, a des-moralização de todas as teorias e a ideologia burgue-sa, que são apresentadas ao movimento operário eao movimento comunista, visando atrasar a passagemdo proletariado de classe em si em classe para si, ouseja, visando impedir a reconstituição do seu PartidoRevolucionário. Além disso, a própria experiência das

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massas, em suas lutas, levará à rejeição cada vez maiorda ideologia burguesa e à procura de uma correta ori-entação teórica, impulsionando a sucessão dos novosgrupos de vanguarda no comando da luta, com maioraproximação com o Marxismo Revolucionário. Final-mente, a vitória ideológica do Marxismo-Leninismosobre as teorias e a ideologia burguesa exercerá umpapel determinante neste processo, visto que o agra-vamento da crise e da luta de classes realçará cadavez mais a sua atualidade e importância histórica eprática para o proletariado como sua única teoria re-volucionária, capaz de permitir a compreensão da re-alidade histórica e a formulação dos meios detransformá-la no sentido revolucionário do interessede classe.

8) O sentido histórico dos novos elementos sub-jetivos presentes na conjuntura, como resultado dacontradição entre as condições objetivas e as condi-ções subjetivas presentes na mesma, expressa a ten-dência geral à superação da crise no Marxismo, pelaafirmação do Marxismo-Leninismo como única teo-ria revolucionária para a luta de classe do proletaria-do, em conseqüência, a afirmação dos grupos de van-guarda defensores desta teoria como dirigentes da luta,e, por conseguinte, acelerando a reconstituição daorganização subjetiva do proletariado no plano naci-onal e internacional capaz de atingir os objetivos re-volucionários históricos da classe. Assim, o domínioda teoria revolucionária do Marxismo-Leninismo so-bre todas as outras na luta do proletariado conduziráinexoravelmente à reconstituição do movimento re-volucionário.

3. O BRASIL E O AGRAVAMENTODA CRISE EM 1998

9) No que se refere especificamente ao Brasil, aconjuntura de agravamento da crise geral do capita-lismo se manifestou de forma muito concreta, tantono que se refere às transformações objetivas quantoàs subjetivas. Aqui, os pontos de discrepâncias coma lógica geral do processo político mundial residemnas particularidades históricas, tanto do desenvolvi-mento capitalista no país, que lhe confere uma posi-ção determinante na economia continental; quantodo processo revolucionário marcado profundamentepelos 20 anos de ditadura militar do período históricoimediatamente anterior. Estas duas determinações maisgerais das particularidades históricas do país no que

se refere à lógica da conjuntura mundial, ao contráriode produzirem uma contra-tendência, acentuam ain-da mais suas características mais gerais.

A Conjuntura de crise geral do capitalismo noBrasil se agravou ainda mais, porque se combinou coma crise estrutural do país. A crise interna brasileiradecorre da passagem da sua economia ao estágio domonopólio, onde a incidência da lei geral da acumula-ção capitalista e crise de acumulação, que lhe é con-seqüente, somente encontra solução na exportaçãode capitais, ou seja, imperialismo. Mas como histori-camente a classe burguesa no país foi incapaz de rom-per com o monopólio da terra e conseqüentementecom a dependência ao imperialismo, não criou ascondições de mercado interno para um desenvolvi-mento independente, sua industrialização somenteocorre já na época do imperialismo e sob seu domí-nio. Nestes termos, ela é obrigada a dividir sua ex-ploração imperialista sobre os outros povos e naçõesda região “MERCOSUL”, com seu sócios maiores,ou seja, as oligarquias financeiras internacionais, numaespécie de sub-imperialismo, incapaz de superar acrise de acumulação. E na medida em que a lei geralda acumulação incide sobre a sociedade, a tendênciada classe burguesa é sempre a conformaçãomonopolista e oligárquica, pela concentração de ca-pital e a superexploração da classe operária visandoauferir superlucro. As crises cíclicas do capitalismono Brasil ocorreram e ocorrerão, mesmo em momen-tos em que o capitalismo mundial não viva uma crisegeral, como a que vive na atualidade.

Com a mudança da política econômica do im-perialismo, do Keynesianismo para o Neoliberalismo,a crise estrutural no Brasil se agravou ainda mais. Sobo concurso dos vários planos econômicos impostospelo FMI chegou ao paroxismo em todas as suas ca-racterísticas essenciais: o latifúndio, o monopólio e adependência ao imperialismo. E neste contexto abriuuma fissura na conformação monopolista da econo-mia e da oligarquia financeira nacional. A política deprivatização das empresas estatais, e demais estrutu-ras produtivas debilitou o poder de barganha de cer-tos setores, aprofundando sua vulnerabilidade às cri-ses e acarretando um forte movimento de concentra-ção de capitais no setor financeiro, comercial e indus-trial. Paralelamente, as reformas constitucionais e me-didas no terreno fiscal (CPMF e outros impostos),aliadas à retirada das conquistas trabalhistas, amplia-ram a super-exploração da mais-valia, dando curto

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fôlego à acumulação interna. A rápida fluidez destaacumulação através do pagamento da dívida externae interna, remessa de lucros e etc, decorrente da crisenos centros imperialistas, somente foi avolumando aprofundidade da crise interna nacional. Com o PlanoReal, todo este processo chegou ao paroxismo. Ogoverno das oligarquias passou a apoiar toda sua po-lítica de poupança no capital especulativo internacio-nal, atraído por taxas de juros descomunais,privatizações criminosas e uma política monetária sobo regime de Currency Board e sobrevalorização damoeda, que cedo ou tarde permitiria uma ampla es-peculação. Tudo isto desorganizou o que restava daindústria nacional, inundou o Brasil do lixo ocidental,constituindo o caminho da bancarrota do país.

No que se refere à classe operária e às massasexploradas em geral, não há aqui como descrever ascondições subumanas a que são relegadas neste pro-cesso. Se existe catástrofe humanitária mais terrívelque a morte pela fome, miséria e opressão, chacinasem massa, como a que ocorre diuturnamente no Bra-sil, então este lugar é o inferno, e aqui o purgatório,como todo o cenário descrito por Dante. A políticaneoliberal do Governo das oligarquias não teve com-paixão ou piedade com o povo. Ela retirou paulatina-mente todas as suas conquistas sociais, adquiridas àscustas de décadas de lutas e sacrifícios enormes, fa-zendo-o sucumbir na ignorância, miséria e opressão.O governo jogou milhões de trabalhadores no desem-prego e no desespero da fome; entorpeceu a juventu-de de coca e recobriu de violência policial e terror dechacinas as massas. O governo gerou uma política deextermínio científico da população em geral, que seapóia no sucateamento da saúde, na desassistênciade milhões de crianças e aposentados, nas epidemiasde Tuberculose, Dengue, Hanseníase e etc. Com re-lação à população jovem e de meia idade, as chaci-nas indiscriminadas, como as da Candelária, VigárioGeral e tantas outras chegaram ao extremo de mudara composição demográfica nesta faixa etária (o nú-mero de mulheres se ampliou a 9 para cada 1 ho-mem). Ao mesmo passo, aos reclames e lutasreivindicatórias do povo, respondeu com banhos desangue e massacres hediondos, como os de Carandiru,Santa Elina, Eldorado dos Carajás e outros tantos.Assim, a crise geral do capitalismo no país erainexorável, independente da crise geral do sistemamundial, pois se, no conjunto do sistema, os EUA são“a porta de entrada”, o Brasil não é mais que “o quar-to de despejo”.

Contudo há um dado a mais em todo este pro-cesso. Trata-se do papel sujo que o Brasil exerce emtodo o Cone Sul face à importância da sua economiapara o imperialismo: seja com relação ao seu papeldinâmico no MERCOSUL, que lhe conferiu um pa-pel especial nesta conjuntura, visto que sua entradana crise poderia desestabilizar toda a economia docontinente, como demonstram as atuais crises noParaguai e no Equador e, cedo ou tarde, na Argenti-na e Chile; seja porque tal processo acarreta conse-qüências enormes a para luta interimperialista entreEUA, Europa Unificada e Japão, pela hegemonia dosistema mundial.

Neste complexo tabuleiro de xadrez, onde osEUA buscam manter sua hegemonia diante da Euro-pa Unificada e seu Euro, do Japão e seus “Tigres”, oBrasil e o MERCOSUL tornaram-se peças valiosase caras para a idéia da ALCA. Neste sentido, todosos centros imperialistas concorreram para manter ofôlego do Brasil e do MERCOSUL, diante da crise.Contudo, mesmo toda esta ajuda não foi suficientepara conter a crise. Aqui joga papel importante o com-portamento do Governo FHC diante da crise, tendoem vista o processo eleitoral. Ele, desde as eleiçõesmunicipais de 1996, onde o descontentamento popu-lar se apresentou no crescimento da oposição bur-guesa e pequeno-burguesa ao seu governo, passou atrabalhar pela reeleição. É por isso que ao se mani-festar a crise geral do Capitalismo, em outubro de1997, suas medidas de caráter irresponsável, populistae entreguista conduziram a um agravamento maior dasituação. Assim, se reelegeu num dia prometendo es-tabilidade e segurança contra a crise, para no outro,bastar a bancarrota da Rússia, e o país entrar em co-lapso total, levando todas as conseqüências terríveisda mesma para nosso povo. É nestes termos que seexplica porque o Brasil foi capaz de se sustentar di-ante da crise num primeiro momento; porque FHCfoi reeleito; e porque o eufemismo da muralha de pa-pel sobre as reservas em dólares e a estabilidade damoeda do “real” foi tragado pelo tufão da Crise.

A verdade histórica é que a principal fortalezade sustentação de todo o poder das oligarquias, mes-mo nestes períodos de crise, não se encontra em suasmanobras políticas, mas, precisamente, no períodohistórico anterior marcado pela Ditadura Militar, queFHC tanto dizia combater. Neste sentido, é graças aDM que FHC se mantém até o momento no poder. ADM, a serviço das oligarquias burguesas e do impe-

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rialismo, levou ao destroçamento total da organiza-ção subjetiva do proletariado no país, assassinou cen-tenas e torturou milhares de revolucionários em todoo país, proporcionando as condições subjetivas atu-ais que impedem que as lutas do proletariado avan-cem diretamente para o Socialismo. A estas circuns-tâncias históricas se aliaram as que sobrevieram daqueda do Campo Socialista do Leste Europeu e daEx-URSS, acentuando a crise no marxismo e criandoa situação extremamente desfavorável, atualmente, emtermos da correlação de forças para o proletariado eas massas exploradas no país.

Mas o processo deixado pela Ditadura não éalgo tão simples de se analisar, que bastaria no máxi-mo algumas denúncias para se compreender toda suaprofundidade. Na verdade ele foi um processo cienti-ficamente estudado e aplicado contra as forças revo-lucionárias no país. A repressão no Brasil, ao contrá-rio do Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai, assassi-nou com seletividade. Para isto, fez estudo criteriosode todas as contradições nas organizações revolucio-nárias existentes, eliminando apenas as lideranças cujapreparação revolucionária, capacidade de organiza-ção e grau de determinação lhe oferecessem real pe-rigo. Neste contexto, há que dizer que a estratégia doPartido Comunista, herdada da III Internacional, apli-cada de forma reformista e direitista, foi um instru-mento muito útil ao regime, do mesmo modo que asestratégias em oposição a esta, fundamentadas na for-ma de luta, também foram aliadas do trabalho de re-pressão e desmantelamento da organização subjetivados trabalhadores (a primeira desarmava e a segundadesorganizava).

A repressão primeiramente isolou todo o movi-mento revolucionário, depois passou à perseguição eassassinato das principais lideranças revolucionáriasdas organizações que partiram para a resistência ar-mada ao regime. Neste particular trabalhou com efi-cácia, não fez questão de assassinar a todos, depen-dendo do perfil psicológico do indivíduo o liberou paraque funcionasse como bomba relógio dentro das or-ganizações a que se aproximava, criando uma ondade terror pelo horror ao terror, e assim criou elemen-tos de dissuasão dos ardores revolucionários nos jo-vens militantes, esvaziando as organizações. Tambémtrabalhou com a venalidade e o mau caratismo demuitos que estavam na luta revolucionária, tornando-os colaboradores do sistema: o arquétipo CaboAnselmo realmente não se resume apenas a ele, mas

são vários que atuam até hoje, formando uma rede dealcagüetes, que tornaram-se funcionário de fé do sis-tema. E assim mantém até hoje o controle de todas asorganizações.

Mas o regime não ficou apenas nisso. Seu tra-balho de eliminação seletiva não se limitou apenas àsorganizações da luta armada, ele chegou àquelas quese negaram a participar da mesma optando por outrocaminho de resistência ao regime; sejam as que opta-ram por uma posição literária; sejam as que optarampor um trabalho no campo democrático. Assim, emcada Comitê Central; em cada organismo de direçãodestas organizações, tratou de mudar sua composi-ção, elevando aos postos de direção sempre os maiscolaboracionistas, vacilões e charlatões de toda es-pécie. Quando não se processava deste modo, eramos equivocados, os mais inocentes aqueles cujo danoque pudesse causar à luta levasse à desmoralizaçãode todo o processo e o abatimento ideológico, odesbunde. Sem dúvida, é nisso que reside o porquêda crise no Movimento Comunista no Brasil. Contu-do, o maior trabalho da repressão e que aportariapara o futuro não foi apenas a mudança da composi-ção nas direções das organizações revolucionárias,da mesma forma que efetuou, abertamente, nos sindi-catos através de seus interventores e pelegos, pro-cesso do qual despontaram Lula e o “Partido dos Tra-balhadores”; mas sobretudo a quebra da confiançarevolucionária entre os lutadores (caso Cabo Anselmo,na VPR, MR8, ALN, PCdoB...) e a desmoralizaçãodo movimento (o caso Salles no CC do PCB).

Por último, o regime seria ainda mais eficaz etrabalharia todo um processo político de destruição eisolamento dos marxistas-revolucionários e facilitariao caminho reformista e colaboracionista dosarrependidos. Assim criou espaço para o surgimentodo PT, PDT, e a legalização do PCB (atualmente di-vidido em PPS e PCB), PC do B, PSTU, etc.. todostotalmente entregues ao regime e incapazes teórica epraticamente de comandar qualquer processo revo-lucionário no país. O traço principal de todas estasorganizações é o abandono sistemático do Marxis-mo-Leninismo e o desvio parlamentarista e sindicalis-ta, social-democrata. Não passam dentro do sistemada justificativa democrática que ilude as massas como caminho eleitoral e a luta economicista. Nada maischauvinista que ouvir um militante do PSTU afirmarque em “Cuba não há democracia”. Nada mais de-gradante que ouvir um militante do PC do B dizendo

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“que nunca foi Stalinista”, nada mais charlatão queouvir um teórico do PCB afirmar que “a tarefa princi-pal dos comunistas é criar as condições objetivas parao Socialismo” . Nada mais senil que ouvir as balelasdo eurocomunismo do PPS da “Democracia comoValor Universal”!

Assim se explica porque mesmo diante da con-juntura de crise geral do capital se esfregando nasventas de qualquer um que olhe a realidade da vida epara frente, nenhuma destas organizações foi capazde prever e se preparar para exercer uma papel maisdestacado neste processo de crise no Brasil. Aqui oprincipal aliado de FHC não foi com certeza o povotrabalhador e as massas exploradas, estes ficaram sema menor direção diante dos fatos, porque os setoresagraciados pelo regime, gozando de legalidade e po-der econômico não foram capazes de se dirigir aopovo e prepará-lo para atuar nesta crise a seu favor,quer dizer, a favor da Revolução. Neste aspecto, cabedestacar que a única organização revolucionária noBrasil que foi capaz de prever a crise e denunciá-lapara o povo foi a nossa, o M5J. E justamente porisso, se colocou inteiramente em primeiro plano teóri-co na luta do proletariado e das massas exploradasde nosso país. E isto, sem dúvida alguma, cedo outarde, se transformará de vitória teórica em vitóriaprática. Deste modo, se no Brasil os elementos sub-jetivos de superação da crise no marxismo floresce-ram nesta conjuntura, em 1998, estes elementos pas-sam com toda certeza por nosso movimento.

4. O MOVIMENTO 5 DE JULHONO ANO DE 1998

Neste quadro, nosso Movimento viveu e traba-lhou nesta complexa realidade. Por estarmos em co-nexão com a realidade histórica e o Marxismo-Leninismo, fomos capazes de traduzir toda a com-plexidade do momento histórico em teses teóricas eorientações práticas colocando-nos, objetivamente,no primeiro plano da teoria revolucionária para o pro-letariado. Comprova-se tal fato tanto pelas teses de-fendidas por nosso movimento, a partir de 1996, quepreviram a crise geral do sistema capitalista, bem comoas teses definidas em nossa I Conferência Nacional,que com grande precisão anteciparam todas as ten-dências do desenvolvimento histórico da crise. Com-prova também este fato a velocidade com que foramadquiridas nossas publicações referentes tanto ao

Marxismo Revolucionário, como referentes à sua apli-cação teórica no domínio da realidade e da crise, oque se observa na procura espontânea das massaspor nosso Órgão Central nos momentos de agrava-mento da crise. Desta forma a realidade objetiva tra-balhou a nosso favor e nos permitiu esta vitória.

Mas nosso Movimento também, neste ano de1998, se ressentiu profundamente da crise no marxis-mo que atuou como contra-tendência neste momentohistórico, e, em virtude disto, não foi capaz, até omomento, de traduzir esta vitória teórica em realida-de prática no terreno da organização e no terreno docomando prático da luta de classe do proletariado nopaís. As divergências em torno da teoria se refletiramna ausência de unidade ideológica em torno da táticadefinida em nossa I Conferência Nacional, se mani-festando nomeadamente numa crise organizativa emtodo o Movimento. Nela se tornaram visíveis todasas nossas debilidades: a necessidade de quadros pre-parados do ponto de vista teórico e prático para darvazão às demandas organizativas e de direção práticadas massas que o momento exige, bem como as con-dições econômicas necessárias para manter uma es-trutura de quadros profissionais.

Diante desta realidade histórica, cujas razões seencontram tanto na crise no marxismo como nas par-ticularidades históricas do processo revolucionário dopaís, não fomos capazes de cumprir a totalidade denossas tarefas imediatas, sejam as de caráter externo,sejam as de caráter interno, acentuando-se assim acrise organizativa e de identidade ideológica. No en-tanto, isto não significou que nosso Movimento nãotenha avançado em seu trabalho em muitos sentidos,entre os quais os de ordem organizativa e os de or-dem teórica, dando passos decisivos para superaçãode sua crise. Um desses primeiros passos foi a apro-vação das teses sobre a Refundação do Partido Co-munista, tendo por base inicial deste trabalho a defini-ção do centro fundamental da linha de construção doMovimento destinado a refundar o Partido: o Jornal.O segundo passo que deve ser ressaltado é o traba-lho de regularização das publicações do Órgão Cen-tral. Estes dois passos permitiram que todos os Esta-dos, que passaram a se organizar a partir das tarefaspráticas de distribuição e propaganda da literatura,constituíssem o mínimo de estrutura e organização quelhes permitem um funcionamento cada vez mais regu-lar. Estes dois passos também ao se unirem a estaconquista dos Estados, permitiram avançarmos no

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controle das finanças da organização, do ponto devista tanto da arrecadação como dos custosoperacionais exigidos pelo trabalho atual. E estes fa-tores são determinantes para demonstração do nas-cimento de uma nova realidade organizativa existentetambém em nosso Movimento.

Nestas condições, nosso Movimento atravessaum momento extremamente complexo e decisivo paraseu desenvolvimento e afirmação política na luta declasse do proletariado brasileiro. Ele se caracteriza,precisamente, por uma crise de identidade ideológicaentre os vários grupos revolucionários que se uniramno I Congresso da OPPL e o constituíram, como or-ganização política unitária e objetivo tático, para atin-gir os objetivos estratégicos da Refundação do Parti-do Comunista e da Revolução Socialista no Brasil. Acrise vivida pelo Movimento se expressa, precisamen-te, no seu crescimento, na sua organização interna eno trabalho revolucionário junto às massas, levandoao abatimento da militância e a falsas concepções so-bre sua natureza. Muitos camaradas vêem na destrui-ção da velha forma de organização e do espírito decírculo uma prova da inviabilidade de nosso projetorevolucionário centrado no Jornal. Naturalmente seequivocam e se equivocam muito.

Na verdade, as raízes objetivas da crise em nossomovimento repousam em dois processos: por um lado,o processo de transição vivido por todos os agrupa-mentos revolucionários que constituíram o Movimen-to 5 de Julho - a transição das suas estruturas orgâ-nicas anteriores para uma nova estrutura orgânica uni-tária -, o que implica uma brusca alteração de con-cepções e práticas revolucionárias e, por outro lado,da desigualdade entre o ritmo com que se opera oprocesso de transição no Movimento e o ritmo ouvelocidade em que se desenvolve a conjuntura políti-ca nacional e internacional, isto é, a Luta de Classes.Enquanto a transição se desenvolve em progressãoaritmética, a conjuntura se desenvolve em progressãogeométrica.

Teoricamente a questão que se apresenta é aseguinte: as contradições em nosso processo de tran-sição determinam um ritmo de funcionamento do tra-balho coletivo do Movimento incapaz de acompanharo mesmo ritmo com que se processa a Luta de Clas-ses na sociedade e suas conjunturas. E nestas circuns-tâncias, as tarefas revolucionárias exigidas pela Lutade Classes em cada conjuntura vão revelando cada

vez mais as deficiências e contradições em nosso Mo-vimento. E na medida em que o Movimento é incapazde realizar estas tarefas revolucionárias, isto se ex-pressa na forma de uma crise em sua organização eprática revolucionária, abatendo a militância, dandobase a falsas idéias da natureza do processo, resul-tando na crise de identidade ideológica entre os di-versos grupos revolucionários e seus objetivos táti-cos e estratégicos.

Como já havíamos adiantado na análise doMovimento que fundamentou o Plano de Trabalho para1997, as principais questões que nos impediram deatingir plenamente as Metas estabelecidas no Planode Trabalho de 1996 foram identificadas como asseguintes: “contradição entre o prazo fixado para re-alização da 1º Meta e a capacidade efetiva do Movi-mento de realizá-la - um desvio subjetivista no Plano,a substituição da realidade objetiva do Movimentopela vontade da CC, que se expressou no cronogramafixado para realização das tarefas. A fixação docronograma não considerou as contradições na cons-trução de uma nova prática revolucionária - trabalhocoletivo -, a partir da fusão dos grupos, com diferen-tes experiências e culturas revolucionárias. Além dis-so, o peso da conjuntura nacional, dominada peloprocesso eleitoral burguês (as eleições municipais),no realce destas contradições rompendo a correspon-dência entre unidade de pensamento (estabelecida noCongresso) e unidade de ação (construção de umaprática revolucionária comum). Como podemos com-provar nas várias atividades realizadas pelo Movimen-to, foram estas contradições que o imobilizaram e nãopermitiram que ele realizasse suas tarefas básicas”(CC, Plano de Trabalho do Movimento 5 de Julhopara 1997, mimeografado, RJ, 14 de Abril de 1997,pág. 5).

Como se pode comprovar as questões funda-mentais são: a) considerou as contradições na cons-trução de uma nova prática revolucionária - trabalhocoletivo -, a partir da fusão dos grupos, com diferen-tes experiências e culturas; e b) o peso da conjunturanacional,(...), no realce destas contradições rompen-do a correspondência entre unidade de pensamento(estabelecida no Congresso) e unidade de ação (cons-trução de uma prática revolucionária comum). Aquifica muito claro que desde 1997, já havíamos identifi-cado os principais problemas em nosso Movimento eos meios de superá-los, tais como: “Não se deve di-luir a responsabilidade individual de cada militante e,

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particularmente, de cada dirigente, com o processo,apontando as contradições coletivas. Este tipo decomportamento obscurece que o Plano foi elabora-do, aprovado e executado pelo OC e CC e que estessão compostos por dirigentes cuja representatividadeé tão indiscutível, quanto a influência de suas posturassobre cada um dos militantes sob seu comando diretoou indireto. Portanto, é necessário que cada dirigenteou militante de base assuma sua responsabilidade in-dividual dentro do processo e efetue a sua crítica eautocrítica necessária, não de palavras, mas prática.”

É importante notar também que no caminho desuperação destas contradições, fizemos questão deapontar para a nova realidade organizativa que já bro-tava em nosso Movimento, de Estado para Estado, apartir do trabalho tendo por centralidade o OC, comose observa na seguinte passagem desta análise:

“Contudo, nem tudo foi perdido, o Movimento,durante o ano de 1996, avançou bastante em muitosaspectos, entre os quais: infra-estrutura (instalações eequipamentos), capacidade técnica (especializaçãodos quadros) e ampliação do trabalho de distribuiçãoda literatura revolucionária junto às massas, encur-tando o tempo e regularizando esta atividade. E istodeveu-se, em primeiro lugar, pela realização do Lan-çamento das Teses do Movimento, ao esforço doÓrgão Central e da militância do Estado do Rio deJaneiro, na constituição da infra-estrutura, equipamen-tos e fornecimento de quadros especialistas para oaparelho propagandista do Movimento. Isto propi-ciou a mudança da periodicidade do Órgão Oficialdo Movimento de quinzenal para semanal, do aper-feiçoamento de sua forma e abrangência de seu con-teúdo, aproximando-o da realidade dos outros esta-dos, logo tornando-se mais de caráter nacional (nes-te momento o OC era o grupo Executivo do CC e oJornal o Órgão Oficial, porque ainda não havíamosaprovado a estrutura organizativa da Refundação doP.C.). “Esta virada no trabalho do Movimento se fezressentir nos outros estados.(...)” (CC, ob. cit, pág.5)

Além disso a análise de 1997 não se limitou ape-nas a diagnosticar os problemas e apontar soluçõesao nível da militância e ao nível da nova realidadeorganizativa que brotava no movimento, tendo porbase o trabalho em torno do OC e do Jornal. Apósdemonstrar fartamente o desenvolvimento da nova re-alidade organizativa do Movimento nos vários esta-dos e fundamentalmente como ela expressava con-

cretamente o crescimento da influência sobre as mas-sas, fomos além e apontamos as novas contradiçõesque poderiam decorrer deste novo processo, relaci-onando-o à conjuntura nacional e internacional, comose pode observar nesta passagem:

“No entanto, devemos alertar a todos os diri-gentes para o seguinte fato: este avanço poderá acar-retar vários problemas para o Movimento nos váriosestados, a exemplo dos que se manifestam no Rio deJaneiro, na medida em que se aplique a atual política,centrada na 2º Meta (campanha de agitação contra oregime e propaganda das idéias revolucionárias), semque se tenha realizado minimamente a 1º Meta (Lan-çamento do Movimento Nacional - organização einfra-estrutura). A grande contradição que se estabe-lece no Movimento é entre as idéias que propaga e acapacidade organizativa de canalizá-las. Por outraspalavras, queremos dizer que a não correspondênciaentre organização (1º Meta ) e propaganda (2º Meta),reflete-se na maior ou menor capacidade de coorde-nar nossa influência sobre as massas (3º Meta). E queesta contradição impulsiona uma outra, entre a pala-vra e a ação (teoria e prática), que diante da conjun-tura poderá acarretar em perda de quadros menosexperientes, que se deixam levar pela aparência dascoisas e pela doença infantil do comunismo ou aindapelo praticismo. (...) É necessário entender tambémo papel que a atual conjuntura nacional e internacio-nal exerce sobre este fato. A conjuntura internacional,como enunciam nossas “Teses e “Manifesto do 5 deJulho” (lançados em 1996), apresenta indícios de umanova crise revolucionária mundial. O ponto de inflexãopara esta viragem na história se manifestou 4 anosdepois da queda da URSS (Setembro de 1991), atra-vés da guerrilha do EZLN, em Chiapas, no México.Desde então, tornou-se crescente a luta de Resistên-cia dos trabalhadores contra a “nova política econô-mica” do imperialismo, o neoliberalismo. No Brasil, amesma tendência de crescimento das lutas econômi-cas se apresenta. Ela exerce uma forte pressão sobreos militantes menos experientes, que estão com a ta-refa de ligação do OC com as massas operárias. Elessão levados a se envolverem na coordenação diretadessas lutas - seja pelo agravamento de sua própriasituação econômica ou seja pelo entusiasmo e ímpetode luta - desviando-se das tarefas revolucionárias,logo contribuindo para o atraso do cumprimento denossas metas. E quanto maior seja o tempo para oMovimento realizar sua 1º Meta, maior será a mar-gem de manobra das oligarquias, dentro da conjuntu-

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ra; um exemplo disso se observa agora. Após indis-cutível derrota de FHC nas eleições municipais, dian-te do espaço deixado, recompuseram-se do desgas-te eleitoral, reagruparam as forças e passaram a ofen-siva.” (ob.cit. pág.7 e 8)

Por último, fixamos as novas metas para o novoPlano de Trabalho, enfatizando seus fundamentos nasuperação de nossas contradições como se pode con-cluir da introdução que fazemos questão de relembrá-la abaixo:

“Diante do balanço sobre nosso trabalho no anode 1996, concluímos que o nosso trabalho vive umacontradição: a não correspondência entre a capaci-dade de influenciar as massas e a capacidade decanalizá-la organizadamente (3º Meta), isto é, entre apropaganda (2º Meta) e a organização (1º Meta) doMovimento. Como podemos observar, a conjunturaatual apresenta a tendência ao crescimento da luta deresistência dos trabalhadores, na forma econômica,política e ideológica, contra o neoliberalismo. Logo,pode-se concluir daí que esta contradição tende a seagigantar, na proporção em que esta tendência se in-tensifique no Brasil e no Mundo. Isto coloca o Movi-mento diante de um impasse, pois só poderá cami-nhar rumo ao seu objetivo estratégico, na medida emque supere esta contradição. Como ficou patente emnossa avaliação, cumprimos apenas parcialmente asmetas estabelecidas para o Movimento e, mesmo comtodas as manobras do governo das oligarquias, a con-juntura atual não se desviou, no geral, de nossas pre-visões, pelo contrário, as tem confirmado todos osdias, inclusive acelerando o ritmo dos acontecimen-tos, logo a realização destas metas torna-se impres-cindível ao Movimento e assim continua sendo o eixoprincipal de trabalho da militância para o ano de 1997/98. Claro que o planejamento específico de cada es-tado deve partir do que o Movimento já conquistouem cada um deles e, em linhas gerais, deve ser:

A) Lançar o Movimento nacionalmente, no dia5 de Julho de 1998, no Rio de Janeiro e logo depois,nos diversos estados onde reunirmos forças;

B) Desencadear uma campanha de denúnciascontra o regime e de propaganda das idéias revo-lucionárias (Programa de Emergência e literaturarevolucionárias); b) Iniciar a coordenação das lu-tas econômicas, políticas e ideológicas, canalizan-do-as para o programa da Revolução, isolar e gol-

pear o inimigo até a destruição do seu poder;”(ob.cit. pág.9).

Deste modo, a análise que fundamentou o Planode Trabalho de 1997 não somente diagnosticou osprincipais problemas de nosso Movimento, comoapontou os meios de superá-los: trabalhar no sentidoda construção de uma nova forma de organização quesurgia da unificação dos vários grupos e que secondensavam nas metas a serem atingidas no ano de1997/8. A construção de uma organização revolucio-nária cujo desenvolvimento exige a superação da ve-lha forma de organização pela nova; do espírito decírculo pelo o espírito de partido; do espírito federa-tivo e anarquista pelo espírito do centralismo revolu-cionário; do desvio economicista e reformista pelaafirmação do Marxismo-Revolucionário; que retire daliturgia e vacilações a militância e a coloque na inicia-tiva e na luta ativa das massas. E este caminho, comofoi decidido pela I Conferência Nacional do Movi-mento, em 3 de Janeiro de 1998, foi o de firmar, nointerior do movimento, a estrutura organizativa daRefundação do Partido Comunista, como base deautoridade e centralidade da estrutura legal e semilegaldo Movimento. Caminhar para realização do II Con-gresso do 5 de Julho que poderia se converter noCongresso de Refundação do Partido Comunista.

Neste sentido o passo fundamental de nossoMovimento, em sua II Conferência, já não é mais sa-ber que caminho seguir, nem que passos práticos de-veremos dar, mas sobretudo, como dá-los para selevar a cabo, tanto no plano organizativo como noplano do trabalho entre as massas, as tarefas revolu-cionárias que a luta de classes exige na presente con-juntura. Neste sentido, tendo em vista a análise dascontradições entre o trabalho de nosso Movimentoem relação às suas metas e as contradições entre esteprocesso e a conjuntura, deve-se concluir que a ques-tão principal a ser revolvida por nosso movimento é atransição das diversas organizações e círculos de suasestruturas organizativas autônomas e isoladas para umaestrutura organizativa única - produto da soma com-plexa de várias organizações - como principal desafiointerno de nosso trabalho no ano de 1999/2000.Como vimos, a transição é a causa primária de todosos nossos problemas, já que a mesma se presta avalorações distintas sobre nosso projeto revolucio-nário, chegando até mesmo a dar margem a atitudesteóricas e práticas liquidadoras e oportunistas, comodemonstraram, praticamente, as baixas que sofremos

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neste período e, teoricamente, a publicação que fo-mos obrigados a fazer do livro “O Enigma da Esfin-ge” para combater as idéias que se desviam do Mar-xismo Revolucionário (o Marxismo-Leninismo). Alémdisso, a própria realidade objetiva - agravamento dacrise do capital - ao se confirmarem nossas previ-sões da conjuntura nacional e internacional, indicaum maior acirramento de nossas contradições, se nãoformos capazes de solucionar urgente e corretamenteeste dilema. Portanto, nossa principal tarefa no anode 1999 é solucionarmos as contradições decorren-tes do processo de transição, combinando a soluçãoda mesma às tarefas políticas imediatas que a luta declasse do proletariado exige na presente conjuntura.

Sendo assim, o primeiro passo prático de nos-so Movimento é remover tudo aquilo que seja obs-táculo ao seu funcionamento como organizaçãounitária, ideológica e prática. Passo que, do pontode vista ideológico, foi efetuado na II Conferência,devido a toda a campanha e luta ideológica trava-da ao longo deste ano de 1998 internamente emnosso Movimento. Contudo, do ponto de vista prá-tico, tal fato já não é tão fácil, pois exige uma enor-me capacidade de despreendimento e esforço re-volucionário de todos os militantes e, principalmen-te, de seus elementos de direção. Aqui esbarra-senaturalmente com o resultado do todo o processoanterior, onde a prática revolucionária e as contra-dições ideológicas impediram a formação de con-dições concretas para se dar este passo. E aquitoda contradição de nosso Movimento tem por basesua linha de construção a partir de uma estruturamenos rígida - sem o centralismo-democrático -cuja centralidade no OC sempre se efetuou apóslonga luta ideológica contra as “incompreensões,enganos e resistências abertas” ao seu trabalho. Esteprocesso se refletia nos planos de trabalho, quan-do estabelecíamos como meta o “Lançamento Na-cional do Movimento”, objetivo tático que embutiatarefas organizativas, que nunca foram atingidaspelo trabalho do Movimento de acordo com osparâmetros estabelecidos. Neste caso e em muitosque foram se avolumando, a formalidadeorganizativa era a porta de escape de muitos parafugirem às tarefas pré-definidas e se esconderemda responsabilidade política que lhes cabia. O mes-mo processo se efetuou após a adoção do Planode Trabalho de 1997 e idem para o Plano de Tra-balho de 1998. Neste, foi gritante o dano causadopelos que discordaram da tomada de posição so-

bre a estrutura da Refundação, fazendo-os sair dosubterrâneo e vir à luz do dia; bem como os danoscausados pelos que vacilaram quanto à justeza daanálise de nosso Movimento da Conjuntura Naci-onal e Internacional, não trabalhando na divulga-ção de nossas idéias publicadas em Livro. Ambasas posições não contribuíram um milímetro parasairmos do impasse. No caso da primeira, chegouao liquidacionismo.

Assim, o primeiro empecilho para sairmos doprocesso de transição já foi basicamente removidona medida em que o Movimento resolveu se desligardessas posições liquidacionistas e oportunistas. Con-tudo falta remover o empecilho formal e prático quedeu margem a estas contradições, ou seja, as normasorganizativas do M5J e a Meta de lançá-lo nacional-mente. Estas determinações no caminho para nossaestratégia, o Comunismo, expressavam o duplo cará-ter para o Movimento: Meio de Defender os Traba-lhadores contra a grande ofensiva do Capital (objeti-vo tático defensivo) e Meio para Refundar o PartidoComunista (objetivo tático de ataque). O conteúdopolítico e que está em contradição com nossos obje-tivos é que ele pressupõe formal e praticamente, pri-meiro organizar o movimento de baixo para cima, paradepois se construir o movimento de cima para baixo.Assim a linha de construção do movimento, ao con-trário de se apoiar, política, formal e praticamente nonúcleo da Refundação (Comunistas Revolucionários)dentro do Movimento, ou aquilo que entendemoscomo seu ponto de centralidade, o Jornal, se apóianas organizações e lideranças que se agregavam aoMovimento e, neste caso, a centralidade se dilui, aformalidade não ajuda e as tarefas práticas tornam-seirrealizáveis, perdendo o sentido dentro da conjuntu-ra. Um exemplo prático de tal processo se verifica na1ª Meta do Movimento, “Lançar Nacionalmente oM5J”. Como não se reconhecia tal fato formalmente,e a cada ano ele voltava como pré-condição, na prá-tica de meio ele se transformou em fim. Aqui um certodesvio perfeccionista da Direção, no caso o próprioSecretário Geral, é o responsável por tal processo.Com isto a meta tornou-se um objetivo superado eimpossível de ser atingido. Na verdade, sua perma-nência acaba por amortecer a iniciativa do movimen-to, passando a idéia de que ele ainda não existe, quan-do na verdade está atuando e ativo na sociedade e naluta do proletariado. Contudo o mais importante a fo-calizar neste processo é como um objetivo que deveser tático (meio) pode se tornar estratégico (fim).

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Deste modo, a única solução para esta questão seencontra em assumirmos politicamente o modo detransformar formal e praticamente o movimento emmeio para defesa dos trabalhadores e meio de cons-trução da Refundação do Partido, e isto somente épossível:

a) Superando o processo de transição do Mo-vimento através de um salto qualitativo em nossasconsciências e práticas a partir de uma decisão políti-ca nesta Conferência que inverta a lógica de nossalinha de construção e assuma como princípio de nos-so trabalho organizativo o Centralismo-Democráticoe o Internacionalismo Proletário;

b) Assumir que este salto qualitativo significaacelerar a transição em nosso Movimento, assumin-do formalmente o regimento interno e a forma orgâni-ca da Refundação, como base de autoridade e pontode centralidade de todo o trabalho;

c) Assumir que o passo prático e concreto, parao centralismo-democrático pressupõe eleger comoponto de centralidade organizativa do Movimento oJornal como OC;

d) Assumir que isto não implica abrir mão dos com-promissos anteriores com o Movimento, no que se refe-re à sua sustentação financeira e seu trabalho de massas,mas pelo contrário, reafirmá-los e ampliá-los;

e) No que se refere às tarefas políticas do Mo-vimento frente à conjuntura continuam presentes a lutapor um Congresso Nacional Contra o Neoliberalismocomo meio intermediário de resistência das massas acontra-ofensiva burguesa e de luta contra a crise esuas seqüelas para o povo, como já havíamos delibe-rado na I Conferência.

P. I. BvilaRio de Janeiro, dia 31 de Março de 1999.

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