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O Novo Sistema Nacional de Compras Públicas José Filipe Abecasis [email protected] Editorial José Filipe Abecasis Contratação Electrónica, Plataformas Electrónicas e uma Figura Conexa que o nosso Legislador teima em “esconder”, o Registo Nacional de Fornecedores - A Contratação Electrónica no DL nº 37/2007, de 19 de Fevereiro Manuel Lopes Rocha Sistema Nacional de Compras Públicas - Princípios Orientadores Diogo Duarte Campos Agência Nacional de Compras Públicas, EPE - Contratação Centralizada de Bens e Serviços e no Âmbito do PVE Rita Gama Abreu O Contrato de Mandato Administrativo José Filipe Abecasis Victor Palla Lisboa, C. 1955 Prova Gelatina e Prata 38 x 58 cm Obra da Colecção da Fundação PLMJ EDITORIAL Um dos elementos centrais do programa do Governo – e das expectativas que em seu torno se geraram na sociedade portuguesa – consiste no processo de reforma da Administração Pública. Essa reforma visa dotar a Administração de maior eficácia, qualificando os seus recursos humanos, técnicos e procedimentais. Pretende-se, desse modo, racionalizar a gestão; alcançar uma redução significativa da quantidade de recursos absorvidos; simplificar as regras procedimentais a observar; facilitar o acesso dos cidadãos à máquina administrativa. Numa palavra, realizar o objectivo “menos estado, melhor Estado”, reduzindo a presença e o peso do estado sobre a economia, libertando-a de peias burocráticas e aliviando-a de encargos de manutenção da Administração, para que possa crescer. Nessa linha, o Governo aprovou e tem em execução o Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado (PRACE), ao abrigo do qual vem sendo definida uma nova organização para a generalidade dos organismos da Administração Pública. É este o âmbito em que se insere o Decreto-Lei n.º 37/2007, de 19 de Fevereiro, recentemente publicado. Assim, com o intuito de racionalizar a gestão do vasto universo que são as compras públicas, evitando desperdícios e aproveitando as vantagens decorrentes da maior dimensão das compras, por um lado, e do acréscimo de concorrência, por outro lado, dada a garantia de maior presença da oferta de bens e serviços decorrente do facto de se realizarem menos procedimentos concursais e de maiores dimensões, o diploma legal que esta News-Lextter analisa veio instituir o Sistema Nacional de Compras Públicas (SNCP). O SNCP é gerido pela Agência Nacional de Compras Públicas, EPE (ANCP), também criada pelo mesmo Decreto-Lei nº. 37/2007 de 19 de Fevereiro, a qual intervém a nível central, articulando-se com as Unidades Ministeriais de Compras que, como o nome indica, asseguram o relacionamento entre a ANCP e cada um dos departamentos ministeriais. De salientar, como o próprio preâmbulo do diploma em causa expressamente refere, que esta instituição do SNCP ou a criação da ANCP não são, nem pretendem ser, a nova regulamentação da contratação pública, que se prevê para breve (já circula um projecto do futuro Código dos Contratos Públicos, mas ainda se desconhece quando ocorrerá a sua aprovação final e entrada em vigor). Pelo contrário, trata-se de peças independentes, que começarão a funcionar de imediato, no actual quadro legislativo aplicável à contratação pública. Um outro aspecto a reter é o de que, apesar de inserido no âmbito da execução do PRACE, este SNCP não se esgota no serviço à administração directa do Estado e aos institutos públicos. Antes, encontra-se aberto à adesão de entidades pertencentes às administrações autónomas, bem como ao sector empresarial público. Como nota final urge referir que, sem prejuízo de o Decreto-Lei n.º 37/2007, de 19 de Fevereiro, ter criado a ANCP e de esta entidade dever iniciar o seu funcionamento desde a entrada em vigor daquele diploma, a consagração da contratação centralizada está ainda dependente da aprovação, publicação e entrada em vigor de portarias e do próprio regulamento de funcionamento do SNCP, que o Decreto- Lei n.º 37/2007, de 19 de Fevereiro, prevê que venham a ser aprovados no prazo de 90 dias. Passemos, então, ao comentário de alguns dos aspectos mais relevantes deste diploma. 12 de Abril de 2007

EDITORIAL · Compras Públicas (SNCP). O SNCP é gerido pela Agência Nacional de Compras Públicas, EPE (ANCP), também criada pelo mesmo Decreto-Lei nº. 37/2007 de 19 de Fevereiro,

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O Novo Sistema Nacional de Compras Públicas

José Filipe [email protected]

EditorialJosé Filipe Abecasis

Contratação Electrónica, PlataformasElectrónicas e uma Figura Conexa que onosso Legislador teima em “esconder”, oRegisto Nacional de Fornecedores - AContratação Electrónica no DL nº 37/2007,de 19 de FevereiroManuel Lopes Rocha

Sistema Nacional de Compras Públicas -Princípios OrientadoresDiogo Duarte Campos

Agência Nacional de Compras Públicas,EPE - Contratação Centralizada de Bens eServiços e no Âmbito do PVERita Gama Abreu

O Contrato de Mandato AdministrativoJosé Filipe Abecasis

Victor PallaLisboa, C. 1955

Prova Gelatina e Prata38 x 58 cm

Obra da Colecção da Fundação PLMJ

EDITORIAL

Um dos elementos centrais do programa do Governo – e dasexpectativas que em seu torno se geraram na sociedadeportuguesa – consiste no processo de reforma da AdministraçãoPública.

Essa reforma visa dotar a Administração de maior eficácia,qualificando os seus recursos humanos, técnicos eprocedimentais. Pretende-se, desse modo, racionalizar a gestão;alcançar uma redução significativa da quantidade de recursosabsorvidos; simplificar as regras procedimentais a observar;facilitar o acesso dos cidadãos à máquina administrativa. Numapalavra, realizar o objectivo “menos estado, melhor Estado”,reduzindo a presença e o peso do estado sobre a economia,libertando-a de peias burocráticas e aliviando-a de encargosde manutenção da Administração, para que possa crescer.

Nessa linha, o Governo aprovou e tem em execução o Programade Reestruturação da Administração Central do Estado (PRACE),ao abrigo do qual vem sendo definida uma nova organizaçãopara a generalidade dos organismos da Administração Pública.

É este o âmbito em que se insere o Decreto-Lei n.º 37/2007,de 19 de Fevereiro, recentemente publicado.

Assim, com o intuito de racionalizar a gestão do vasto universoque são as compras públicas, evitando desperdícios eaproveitando as vantagens decorrentes da maior dimensão dascompras, por um lado, e do acréscimo de concorrência, poroutro lado, dada a garantia de maior presença da oferta debens e serviços decorrente do facto de se realizarem menos

procedimentos concursais e de maiores dimensões, o diploma legalque esta News-Lextter analisa veio instituir o Sistema Nacional deCompras Públicas (SNCP).

O SNCP é gerido pela Agência Nacional de Compras Públicas, EPE(ANCP), também criada pelo mesmo Decreto-Lei nº. 37/2007 de 19de Fevereiro, a qual intervém a nível central, articulando-se com asUnidades Ministeriais de Compras que, como o nome indica,asseguram o relacionamento entre a ANCP e cada um dosdepartamentos ministeriais.

De salientar, como o próprio preâmbulo do diploma em causaexpressamente refere, que esta instituição do SNCP ou a criação daANCP não são, nem pretendem ser, a nova regulamentação dacontratação pública, que se prevê para breve (já circula um projectodo futuro Código dos Contratos Públicos, mas ainda se desconhecequando ocorrerá a sua aprovação final e entrada em vigor). Pelocontrário, trata-se de peças independentes, que começarão a funcionarde imediato, no actual quadro legislativo aplicável à contrataçãopública.

Um outro aspecto a reter é o de que, apesar de inserido no âmbitoda execução do PRACE, este SNCP não se esgota no serviço àadministração directa do Estado e aos institutos públicos. Antes,encontra-se aberto à adesão de entidades pertencentes àsadministrações autónomas, bem como ao sector empresarial público.

Como nota final urge referir que, sem prejuízo de o Decreto-Lei n.º37/2007, de 19 de Fevereiro, ter criado a ANCP e de esta entidadedever iniciar o seu funcionamento desde a entrada em vigor daquelediploma, a consagração da contratação centralizada está aindadependente da aprovação, publicação e entrada em vigor de portariase do próprio regulamento de funcionamento do SNCP, que o Decreto-Lei n.º 37/2007, de 19 de Fevereiro, prevê que venham a seraprovados no prazo de 90 dias.

Passemos, então, ao comentário de alguns dos aspectos maisrelevantes deste diploma.

12 de Abril de 2007

CONTRATAÇÃO ELECTRÓNICA, PLATAFORMAS ELECTRÓNICAS E UMA FIGURA CONEXA QUE O NOSSO LEGISLADOR TEIMA EM“ESCONDER”, O REGISTO NACIONAL DE FORNECEDORES

A CONTRATAÇÃO ELECTRÓNICA NO DL Nº37/2007, DE 19 DE FEVEREIRO

Manuel Lopes [email protected]

O recente diploma legal que cria a Agência Nacional deCompras Públicas, E.P.E., contém algumas referências àutilização de meios electrónicos nas compras públicas, umaeventual antecipação/adequação a um tema que promete vira ter grande desenvolvimento nos tempos mais próximos,sobretudo pela eminente aprovação do denominado Códigoda Contratação Pública dos Contratos Públicos (CCP). Esteúltimo documento, que circula já no denominado processolegislativo governamental, constituirá um compêndio servindo,também, para reunir legislação dispersa no âmbito da adopção,na nossa ordem jurídica, da Directiva 2004/ 18/CE doParlamento Europeu e do Conselho, de 31 de Março de 2004,relativa à coordenação dos processos de adjudicação doscontratos de empreitada de obras públicas, dos contratospúblicos de fornecimento e dos contratos públicos de serviços.

As referências à “contratação pública electrónica” no DLn.º37/2007, são meramente indicativas, de princípio,programáticas, não constituem um quadro regulador. Assim,no artº 1º, sob a epígrafe Criação, objecto e estatutos, define-se o objecto da ANCP, misturando-se objectivos com métodos,para se induzir à utilização, pela ANCP, de “meios tecnológicosde suporte”.

Este mesmo diploma cria, ainda, a figura do Sistema Nacionalde Compras Públicas (SNCP) que integra a referida ANCP,as unidades ministeriais de compras (UMC) e, ainda, entidadescompradoras vinculadas e entidades compradoras voluntárias.Ora, no artº 4º, em sede de princípios orientadores do referidoSNCP comina-se a adopção de ferramentas de compraselectrónicas com funcionalidades de catálogos electrónicose de encomenda automatizada (alínea d) e a adopção depráticas aquisitivas por via electrónica baseadas na acção denegociadores e especialistas de elevada qualificação técnica,com vista à redução de custos para a Administração Pública( alínea e).

O que nos dizem estas duas alíneas é que este sistema deveadoptar ferramentas de meios electrónicos, indo ao pontode pormenorizar a figura dos catálogos electrónicos, do qualse recorda aquele utilizado pela Direcção-Geral do Património,além de se aludir a uma figura - encomenda automatizada- cuja autonomização no texto legal não parece justificar-se.Também não é fácil definir-se o que serão “negociadores eespecialistas de elevada qualificação técnica”. Quando olegislador emprega estas “classificações”, estes conceitosquase “morais”, causa óbvias dificuldades ao intérprete. Por

outro lado, esta remissão para as práticas aquisitivas com negociadores,compreende, parece-nos, uma figura prevista no artº 33º da directivaa que aludimos, os Sistemas de aquisição dinâmicos. Contudo, não élíquido que o nosso legislador a venha a incorporar no texto final dalei (CCP) ao contrário do que fizeram os seus congéneres franceses eitaliano, quanto à transposição do mesmo parâmetro jus comunitário.Mas é admissível incluir nesta ideia das práticas aquisitivas, por meioselectrónicos, figuras como o leilão electrónico ou, até, o diálogoconcorrencial.

No fundo, estamos em presença da importação, pelo Estado, de formas,já testadas no sector privado, de “comércio electrónico”. Por isso sealude, a este respeito ao fenómeno da “privatização” da contrataçãopública, sendo certo que estas facetas da desmaterialização incidirãosobretudo na “fase administrativa” da contratação pública, aquela quea doutrina italiana denomina de evidenza pública.

Dito isto há três aspectos decisivos, no que tange à contratação públicaelectrónica, neste complexo de regras que começa a tomar forma, eque cumpre sublinhar. Desde logo, saber até que ponto o futuro CCPincorpora as normas (e a experiência) do DL n.º104/2002, de 12 deAbril, de 27 de Setembro, a primeira lei-quadro da contratação públicaelectrónica que permitiu as experiências-piloto nesta área. Na verdade,a última versão do anteprojecto de CCP a que tivemos acesso ficavaaquém, em muitos aspectos, das possibilidades de utilização de meioselectrónicos que aquele diploma permitia. Como, também, não era talanteprojecto completamente claro na incorporação da experiência dasplataformas electrónicas que vão ser, obviamente, o meio privilegiadoa que as entidades adjudicantes vão lançar mão nos concursos públicosdesmaterializados.

Do mesmo modo, será necessário uma lei que regule alguns aspectosda utilização das plataformas electrónicas, maxime aqueles serviçosoferecidos por empresas privadas que vão ser o parceiro da entidadeadjudicante, um seu colaborador, desempenhando um papelsubordinado, outro aspecto da chamada “privatização funcional”.Pensemos, desde logo, na importante questão da segurança,absolutamente nuclear nesta sede. Como e quem a define? A queparâmetros recorrer?

Finalmente, a todo este conjunto de normas “principais” e “auxiliares”que começam a desenhar o edifício da lei da contratação pública,continua a faltar o desenvolvimento de uma figura de transcendenteimportância nestes processos de agilização, desmaterialização eaumento de transparência da contratação pública que é o RegistoNacional de Fornecedores. Com efeito, este é considerado um “ProjectoEstruturante” no Programa Nacional de Compras Electrónicas queconsta da Resolução do Conselho de Ministros n.º11/2003, de 12.8.2003.Todavia, e sem que se encontre explicação para o facto, é um tópicototalmente ausente dos trabalhos preparatórios do futuro CCP.

SISTEMA NACIONAL DE COMPRAS PÚBLICASPRINCÍPIOS ORIENTADORES

A aquisição de bens e serviços pelos Estados é uma dasmatérias que mais tem reclamado a atenção dos juristas quera nível nacional quer a nível comunitário. Com efeito, porum lado há uma imperiosa necessidade de racionalizaçãoda actividade do Estado, no sentido de uma maiorempresarialização da escolha pública, absorvendo quer asmelhores práticas do sector privado quer as ferramentaspróprias do mundo contemporâneo. Porém, por outro, verifica-se que o mercado dos contratos públicos é um palco essencialda realização das atribuições próprias de um Estado, seja noâmbito social seja no âmbito ambiental. Se a estes doisplanos, potencialmente conflituantes, se juntar a necessidadede as soluções encontradas serem compatíveis com todas asnormas comunitárias - desde logo, as decorrentes dos Tratados(v.g. não discriminação, protecção da concorrência, liberdadede circulação de mercadorias e de prestação de serviços) -facilmente se percepciona a dificuldade e actualidade dotema em questão.

Esse jogo de interesses encontra reflexo no artigo 4º doDecreto-Lei n.º 37/2007, de 19 de Fevereiro (“DL 37/2007”),onde se encontram listados os princípios pelos quais o (novo)Sistema Nacional de Compras Públicas (“SNCP”) deveráorientar-se.

O mais inovador destes parece-nos ser o da “segregação dasfunções de contratação e de compras e pagamentos” previstona alínea a) do referido artigo. Com efeito, doravante, haveráuma entidade a quem competirá a decisão de compra, ficandoresponsável pelo pagamento, e uma outra, a Agência Nacionalde Compras Públicas (“ANCP”), a quem competirá encontrarno mercado o respectivo bem ou serviço, seja mediante acelebração de contratos quadro ou outros contratosadministrativos seja mediante a adjudicação de propostasem representação das entidades adjudicantes.

Um segundo princípio, previsto na alínea b) do artigo emreferência, parece pretender promover maior racionalidadee ordem nas compras públicas ao privilegiar a “celebraçãode acordos quadro ou outros contratos públicos de modogradual, incremental e faseado por grupos de categorias deobras, bens móveis e serviços”.

Já os princípios plasmados nas alíneas c) e g) - que impõem,respectivamente, que o SNCP (i) proporcione “igualdade deacesso dos interessados aos procedimentos de formação deacordos quadros ou outros contratos administrativos” e a (ii)

“promoção da concorrência e da diversidade de fornecedores” –quando interpretados de forma conjugada, parecem querer indiciar(se necessário era) que a ANCP, apesar de ser uma entidade públicaempresarial, deverá respeitar as regras próprias da contratação pública,designadamente o Decreto-Lei n.º 197/99, de 8 de Junho, que defineo regime jurídico das despesas públicas e da contratação públicarelativas à locação e aquisição de bens e serviços.

Noutra vertente, confirma-se a aposta, pelo menos na letra da lei, nautilização das novas tecnologias no âmbito da contratação pública.Assim, de acordo com as alíneas d) e e) do citado artigo 4.º, o SNCPdeverá adoptar “ferramentas de compras electrónicas comfuncionalidades de catálogos electrónicos e de encomendaautomatizada”, bem como adoptar “práticas aquisitivas por viaelectrónica baseadas na acção de negociadores e especialistas deelevada qualificação técnica, com vista à redução de custos para aAdministração Pública”. Embora a utilização das novas tecnologiasno âmbito da contratação pública seja já uma realidade (veja-seregime de aquisição de bens por via electrónica por parte dosorganismos públicos aprovado pelo Decreto-Lei n.º 104/2002, de 12de Abril), a verdade é que nos parece que a cabal concretizaçãodeste princípio apenas será possível após a transposição, com aaprovação do novo Código dos Contratatos Públicos, da Directivan.º 2004/18, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 31 de Março,que virá introduzir novos procedimentos no âmbito do sistemadinâmico para compras de uso corrente e dos leilões electrónicos.

Finalmente, regista-se a consagração, na alínea f) do artigo em apreço,de preocupações ambientais, apontando-se no sentido da “adopçãode práticas e preferência pela aquisição dos bens e serviços quepromovam a protecção do ambiente”. Como antes se referiu, oscontratos públicos são, devido ao seu valor económico, um campoprivilegiado para os Estados imporem a adopção de medidas depromoção de interesses públicos, privilegiando a contratação ecológicaou impondo considerações sociais.

Sem prejuízo de já hoje se admitir a consideração de questõesambientais no âmbito da contratação pública, seja na definição doobjecto do contrato seja na selecção dos candidatos ou na adjudicaçãodos contratos, a verdade é que a ausência de normas específicas tem,senão impedido, pelo menos dificultado, que tal ocorra com maisfrequência. Sucede que também aqui nos parece que, apenas apósa aprovação do Código dos Contratatros Públicos, tal princípio serámaterialmente executado. Com efeito, perscrutando o projecto hojeconhecido facilmente se conclui pela existência de múltiplas normasquer permissivas quer impositivas que darão uma segurança jurídicaacrescida às entidades adjudicantes.

À guisa de conclusão poderá dizer-se que, embora os princípiosplasmados no DL n.º 37/2007 sejam de aplicabilidade imediata, ofacto de esse mesmo diploma não consubstanciar nenhuma reformada contratação pública, implicará que o seu real alcance apenaspossa ser aferido à luz do Código dos Contratatos Públicos.

Diogo Duarte [email protected]

AGÊNCIA NACIONAL DE COMPRAS PÚBLICAS, EPECONTRATAÇÃO CENTRALIZADA DE BENS E SERVIÇOS E NO ÂMBITO DO PVE

O Decreto-Lei n.º 37/2007, de 19 de Fevereiro, veio criar eaprovar os estatutos da Agência Nacional de ComprasPúblicas, EPE (ANCP).

A criação da ANCP visa, essencialmente, promover a eficiênciae racionalização dos processos de compras públicas e,consequentemente, a geração de poupanças estruturais parao Estado no âmbito desses processos aquisitivos.

Com vista à prossecução desses fins, a ANCP funcionará,em articulação com as Unidades Ministeriais de Compras(UMC) e com os serviços da administração directa do Estadoe os institutos públicos, como a entidade gestora do SistemaNacional de Compras Públicas (SNCP) - sob a fisionomia decentral de compras -, e como a entidade gestora do Parquede Veículos do Estado.

Enquanto central de compras, a ANCP procederá à contrataçãocentralizada de bens e serviços, assumindo o papel deentidade adjudicante: (i) na celebração de acordos-quadroou de outros contratos públicos, que tenham por objectoobras, bens móveis ou serviços destinados aos serviços daadministração directa do Estado e aos institutos públicos (eainda às entidades da administração autónoma e do sectorempresarial do Estado que, voluntariamente, venham a aderira essa contratação); e na (ii) adjudicação de propostas relativasa obras, a bens móveis e a serviços, em representação dasentidades referidas em (i) e cujos contratos devam sercelebrados directamente por estas.

De salientar, no entanto, que a citada intervenção da ANCPpoderá vir a ser repartida com as UMC por categorias deobras, bens e serviços a definir por portaria do membro doGoverno responsável pela área das finanças e por portariados membros do Governo responsáveis pelas áreas dasfinanças e do sector.

Por outro lado, com excepção da contratação dos bens eserviços a que seja aplicável legislação especial – como éo caso, por exemplo, da aquisição de material e equipamentosmilitares e serviços associados -, o n.º 4 do artigo 5.º doDecreto-Lei n.º 37/2007, de 19 de Fevereiro, estabelece quea contratação centralizada de bens e serviços, nos termosreferidos em (i) e (ii) supra, é obrigatória para os serviços daadministração directa do Estado e para os institutos públicos,sendo-lhes proibida a adopção de procedimentos tendentesà contratação directa de obras, de bens móveis e de serviços

abrangidos pelas categorias referidas no n.º 3 do mesmo artigo, salvoautorização prévia expressa do membro do Governo responsávelpela área das finanças, precedida de proposta fundamentada daentidade compradora interessada.

Os contratos relativos a obras, bens e serviços que venham a sercelebrados em violação do disposto no referido n.º 4 do artigo 5.ºdo Decreto-Lei n.º 37/2007, de 19 de Fevereiro, são nulos, semprejuízo da responsabilidade disciplinar, civil e financeira que aocaso couber, nos termos gerais do direito (cfr. n.º 6 do artigo 5.º).

Por outro lado, a ANCP funcionará ainda enquanto entidade gestorado Parque de Veículos do Estado (PVE), cabendo-lhe, em exclusividade,a aquisição centralizada de bens e serviços para o PVE.

Sem prejuízo do recurso às modalidades referidas em (i) e (ii) supra,a ANCP poderá, em nome próprio, proceder à aquisição dos bense serviços adequados à satisfação das necessidades do PVE e, deseguida, proceder à respectiva disponibilização aos serviços e entidadesutilizadores, nos termos e nas condições que vierem a ser definidosem contrato a celebrar com o Estado, representado pelos respectivosserviços da administração directa ou pelos institutos públicos.

Importa igualmente salientar que a centralização da contratação noâmbito do PVE não é aplicável aos veículos que, no momento daentrada em vigor do Decreto-Lei n.º 37/2007, de 19 de Fevereiro, jáse encontrem afectos aos respectivos serviços ou entidades utilizadoras,salvo acordo em contrário entre a ANCP e os respectivos serviços ouentidades utilizadores. Os contratos respeitantes a veículos do PVEvigentes à data de entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 37/2007, de19 de Fevereiro, manter-se-ão vigentes até ao seu termo, só podendoser prorrogados os respectivos prazos de duração ou ser renegociados,se as alterações introduzidas forem mais vantajosas para os interessesdo Estado.

De notar ainda que o regime jurídico respeitante à aquisição, onerosae gratuita, afectação, reafectação, abate e alienação de veículos, bemcomo à organização e utilização do PVE é estabelecido em diplomapróprio, devendo, no entanto, a aquisição onerosa de direitos sobreveículos a integrar no PVE e dos respectivos serviços de manutenção,assistência e reparação ser efectuada por contratação centralizadapromovida pela ANCP.

Com as devidas adaptações, é aplicável à aquisição centralizada debens e serviços para o PVE o disposto nos n.ºs 6 e 7 do artigo 5.º doDecreto-Lei n.º 37/2007, de 19 de Fevereiro, i.e. com excepção dacontratação dos bens e serviços a que seja aplicável legislaçãoespecial, serão nulos os contratos relativos a bens e serviços para oPVE que sejam celebrados em violação do n.º 4 do artigo 5.º domesmo diploma legal, sem prejuízo da responsabilidade disciplinar,civil e financeira que ao caso couber, nos termos gerais do direito.

Rita Gama [email protected]

O CONTRATO DE MANDATO ADMINISTRATIVO

Neste artigo vamos deter-nos um pouco na consideração dosmodos de relacionamento entre a Agência Nacional deCompras Públicas (ANCP) e as entidades integradas noSistema Nacional de Compras Públicas (SNCP).

Como já referimos anteriormente, o SNCP, além de integrarobrigatoriamente os serviços da administração directa doEstado e os institutos públicos, também está aberto à integraçãovoluntária das entidades das administrações autónomas e dosector empresarial público. Esta integração voluntária é feitamediante a celebração de contrato de adesão ao SNCP, entrea entidade em causa e a ANCP.

Por seu turno, no que respeita à delimitação do âmbito dosserviços de carácter obrigatório, para as entidades vinculadasao SNCP, o nº. 3 do artigo 5º do Decreto-Lei n.º 37/2007 de19 de Fevereiro estipula que seja definido por portaria doMinistro das Finanças, relativamente ao âmbito de intervençãoexclusiva da ANCP, e por portarias conjuntas do Ministrodas Finanças e de cada um dos titulares das demais pastas,relativamente aos âmbitos de actuação de cada uma dasUnidades Ministeriais de Compras (UMC).

Temos, pois, um universo de entidades vinculadas ao SNCP,cuja vinculação respeita ao conjunto de categorias de objectoscontratuais (obras, bens e serviços) que as supra referidasportarias ministeriais definirão como atribuição obrigatóriada ANCP ou das UMC. Aquele universo e este conjuntodelimitam o âmbito da vinculação ao SNCP.

Em contraponto, temos o universo de entidades que sóvoluntariamente integram o SNCP e todos os demais objectoscontratuais, que não se inserem nas categorias definidascomo atribuição legal do SNCP. Este é o campo de intervençãodo SNCP, mais ou menos vasto, não decorrente directamenteda lei, mas dependente da vontade das partes intervenientes.

No âmbito da vinculação ao SNCP, seja por se tratar deentidades da administração directa do estado (caso em quetodas se integram numa mesma pessoa jurídica – o Estado),seja por se tratar de uma representação legalmente imposta(o conjunto definido de categorias de objectos contratuaise os institutos públicos que sejam dotados de personalidade

jurídica), a tramitação procedimental da escolha da propostaadjudicatária e a celebração do contrato (seja um contrato quadroou de outro tipo) em nome e/ou no interesse de outrém não suscitaquestões de maior.

Com efeito, em tais casos, ou não há uma diferenciação depersonalidade jurídica entre o contratante e o interessado ou o títulode representação é a própria lei.

Já no âmbito da utilização voluntária do SNCP a questão do títulode representação não fica resolvida apenas pela lei. Aqui estamos afalar de entidades que não pertencem à pessoa jurídica Estado e quecom ela se relacionam de modo muito mais ténue, bem como detipos contratuais que a lei não impõe que sejam tratados por meiodo SNCP.

Por isso, o artigo 7.º do diploma em referência vem permitir que arepresentação, neste âmbito da utilização voluntária do SNCP, sejaassegurada mediante o título do contrato de mandato administrativo.Nestes casos, a competência para assegurar a representação, noâmbito do SNCP, é atribuída à ANCP.

Assim, o contrato de mandato administrativo será o instrumento quetitulará a representação, pela ANCP, das entidades não vinculadasao SNCP (ou que, sendo entidades vinculadas, pretendam contratarfora do âmbito material da sua vinculação), para efeitos da tramitaçãoprocedimental da escolha do co-contratante, da adjudicação daproposta seleccionada e/ou da celebração do contrato de obra oude aquisição de bens ou serviços.

Este contrato também definirá os termos e condições do relacionamentocontratual das partes, designadamente no que respeita à produção,na esfera jurídica da entidade interessada, dos efeitos pretendidospela actuação da ANCP, como sejam os de aquisição dos bens ouserviços em causa ou a constituição da obrigação de contratar ou osurgimento da obrigação de pagar o correspondente preço.

Duas conclusões resultam, imediatamente, deste quadro: (1) a figurado contrato de mandato administrativo revelar-se-á, certamente,indispensável para permitir que o SNCP atinja a plenitude das suaspotencialidades, v.g. por abranger todo o universo das contrataçõesde aquisição de bens ou serviços feitas por autarquias locais; (2) noscasos de contratação ao abrigo destes contratos de mandatoadministrativo, é fundamental que os agentes económicosintervenientes se inteirem, além da documentação concursalpropriamente dita, dos termos e condições desse mandato, já quedos mesmos dependerá, em larga medida, a perfeição e eficácia darelação contratual que desejam estabelecer.

José Filipe [email protected]

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9.00 - Recepção e entrega de documentação

9.30 - Abertura do Fórum (Maria Castelos, PLMJ)

9.45 - O impacto da transposição da DMIF na intermediação

financeira em Portugal (Sónia Teixeira da Mota, PLMJ)

10.30 - Coffee Break

10.45 - Implementing MiFID: UK experience on MiFID main challenges

for financial intermediaries (Dermot Turing, Clifford Chance LLP)

12.00 - Debate (Jorge Brito Pereira, PLMJ)

13.00 - Almoço

15.00 - Abertura Workshop DMIF

15.15 - Best execution e conflitos de interesses (António Rocha Alves, PLMJ)

15.45 - Debate

16.00 - Coffee Break

16.15 - Categorização de clientes e as suas implicações nas normas de

conduta (Magda Viçoso, PLMJ)

16.45 - Debate

17.00 - Encerramento do Fórum (Maria Castelos, PLMJ)

A aproximação da transposição da DMIF impõe umaampla discussão sobre o seu impacto na intermediaçãofinanceira em Portugal. Instituições de crédito, empresasde investimento e demais intermediários financeirosterão de se adaptar ao novo regime até Novembro de2007.

A PLMJ, procurando contribuir para esta discussão,organiza, no próximo dia 20 de Abril de 2007, umFórum dirigido àquelas entidades que inclui umareflexão geral sobre as principais implicações da DMIF,seguida de painéis de debate alargado sobre algunsdos tópicos mais relevantes.

Este Fórum contará ainda com a participação daClifford Chance LLP - Sociedade de Advogadosenvolvida no Projecto MiFID Connect - que nos traráa experiência colhida no Reino Unido em áreas comrelevância para a intermediação financeira em Portugal.

20 de AbrilAuditório PLMJ - Av. da Liberdade, 224 - Lisboa

Directiva dos Mercados deInstrumentos Financeiros (DMIF)