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editorial

EXPEDIENTE

DIRETORIAPRESIDENTE: PAULO ALBERTO RISSO DE SOUZAVICE-PRESIDENTES: CÉLIO VIEIRA QUINTÃOCARLOS JOSÉ RIBEIRO DE CASTRO______________________________________________________________________________________________TESOUREIROS: ANDRÉ DE OLIVEIRA NUNES LEITEADRIANA PATRÍCIO DOS SANTOSSECRETÁRIOS: JOSÉ DE SOUZA MACHADOROBERTO BARBOSA DE CARVALHO______________________________________________________________________________________________CONSELHO FISCAL:JOSÉ THADEU MACHADO COBUCCIJOSÉ BRIGAGÃO DE CARVALHOSÓTER EUGÊNIO RABELLO______________________________________________________________________________________________

D E P A R T A M E N T O SDIRETOR ADMINISTRATIVO FINANCEIRO: JOSÉ AÍLSON BARBOSA;TELEFONE: (31) 2129-6003 E-MAIL: J O S E A I L S O N@R E C I V I L .C O M.B RDIRETOR JURÍDICO: CLAUDINEI TURATTI ;TELEFONE: (31) 2129-6005 - E-MAIL: N E I@ R E C I V I L.C O M.B R ,C O M I S S A O G E S T O R A @ R E C I V I L . C O M . B RPLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E PROGRAMAS SOCIAIS: MARIACECÍLIA DUARTE; TELEFONE: (31) 2129-6008 - E-MAIL:M C E C I L I A @ R E C I V I L . C O M . B RGERENTE ADMINISTRATIVO DA CÂMARA DE COMPENSAÇÃO:REGINALDO RODRIGUES; TELEFONE: (31) 2129-6017 - E-MAIL:R E G I N A L D O @ R E C I V I L . C O M . B RCOORDENADOR DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO: HELMARSANTOS FARIA; TELEFONE: (31) 2129-6015 - E-MAIL: [email protected]

______________________________________________________________________________________________DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃOJORNALISTA RESPONSÁVEL: ALEXANDRE LACERDA NASCIMENTO;TELEFONES: (31) 2129-6000/ (11) 9614-8254; E-MAIL:A L E X L A C E R D A @ H O T M A I L . C O MREPÓRTAGENS: ALEXANDRE LACERDA NASCIMENTO; TELEFONES: (31)2129-6000/ (11) 9614-8254; E-MAIL: A L E X L A C E R D A @H O T M A I L .C O MMELINA REBUZZI - TELEFONES: (31) 2129-6031/ (31) 8484-8691; E-MAIL: M E L I N A@R E C I V I L .C O M.B RRENATA DANTAS - TELEFONES: (31) 2129-6031; E-MAIL:R E N A T A @ R E C I V I L . C O M . B RCOLABORADORA: LUANA ROBERTA GONÇALVESCAPA E PROJETO GRÁFICO: DEMETRIUS BRASILFONE : (55.11) 7861-2943 - ID 55*80*16807 NEXTELE - M A I L : D E M E T R I U S B R A S I L @ G M A I L . C O M______________________________________________________________________________________________COORDENAÇÃO EDITORIAL: ALEXANDRE LACERDA NASCIMENTO______________________________________________________________________________________________FOTOGRAFIA: ODILON LAGE; MELINA REBUZZI; JAIR JÚNIOR;RENATA DANTASCOLABORADORA: LUANA ROBERTA GONÇALVES______________________________________________________________________________________________IMPRESSÃO E FOTOLITO: JS GRÁFICA, EDITORA E ENCADERNADORATELE FAX: (11) 4044-4495; E- M A I L: JS@JSGRAF ICA.C O M.B R; SITE:W W W . J S G R A F I C A . C O M . B R

R E C I V I L / M GSINDICATO DOS OFICIAIS DE REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS

NATURAIS DO ESTADO DE MINAS GERAIS.AN O XI – Nº. 18 – FEVEREIRO/2008.

32 PÁGINAS - TIRAGEM: 4.000 EXEMPLARESSEDE: AV. RAJA GABAGLIA, 1666 - 5° ANDAR; LUXEMBURGO - CEP: 30350-540BELO HORIZONTE – MG. TELEFONE: (31) 2129-6000 - FAX: (31) 2129-6006HOME PAGE: WWW.RECIVIL.COM.BR- E-MAIL: [email protected]

REVISTA RECIVIL/MG É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL. AS OPINIÕESEMITIDAS EM ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE INTEIRARESPONSABILIDADE DOS SEUS AUTORES E NÃO REFLETEM,NECESSARIAMENTE, A POSIÇÃO DA DIRETORIA. AS MATÉRIAS AQUIVEICULADAS PODEM SER REPRODUZIDAS MEDIANTE EXPRESSAAUTORIZAÇÃO DOS EDITORES, COM A INDICAÇÃO DA FONTE.

Aperfeiçoando conhecimentosCaros amigos, como de costume volto a ocupar

este nobre espaço da Revista do Recivil para medirigir a todos vocês. Neste mês, quando iniciamosnosso trabalho e realizamos o planejamento paraeste ano de 2008, nada mais empolgante paraalguém que preside uma entidade forte como a nossado que sentir dia a dia o envolvimento e participaçãode mais e mais colegas no trabalho e a definição dofuturo e dos caminhos de nosso Sindicato.

Cito este aspecto para tratar desta nossa novarevista que traz a participação de nossos nobrescolegas, que escreveram artigos especialmente paraa nossa edição. A conquista pelo nosso periódicodo identificados ISSN, vem estimulando o envio deartigos, colaborações ee s t u d o s p a r a oaperfeiçoamento dosregistradores civis doEstado de Minas Gerais.

Este vem sendo,desde o início de nossaluta, uma das nossasmaiores bandeiras: levari n f o r m a ç ã o ,conhecimento prático ejurídico para nossosc o l e g a s , q u e s eencontram em regiõesdistantes e de difícilacesso, onde muitasvezes a internet falha, aenergia elétrica ainda éi n e f i c i e n t e e a scondições de vida sãoduras.

Um exemplo recentedesta realidade brasileirap u d e v e r a o v i v orecentemente quandoestive na ilha de Marajó,no estado do Pará, porocasião do lançamentofeito pelo presidente Lulado plano nacional decombate ao sub-registro.Os moradores dasc i d a d e s e

comunidades ao redor de Breves, município no qualo programa foi lançado, comemoravam com faixas ecartazes a chegada da luz. Não creio que esta nãoseja também a realidade dos pequenos municípios ealguns distritos espalhados pela nossa imensa Gerais.

Por fim colegas, acredito que esta iniciativa debuscar o conhecimento e a disseminação da práticajurídica, tema central de nossa revista e daparticipação dos nossos colaboradores, contribuade mane i r a con tunden te pa r a o ma io rdesenvolvimento de nossa classe.

A todos, um forte abraço.Um abraçoPaulo Risso

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3n.º 18 - fevereiro de 2008www.recivil.com.br

fale com o recivil

Desde a edição do mês de julho de 2007 o Sindicato dos Oficiais de Registro Civil das Pessoas Naturais de Minas Gerais abriu um canalde comunicação com seus associados. Mensalmente, o Recivil publicará cartas, comentários e ações realizadas pelos cartórios de todoo Estado. Participe, dê sua opinião e contribua para fortalecer o debate em torno dos assuntos de interesse de toda a classe.

Espaço Aberto com o SindicatoCartas

Sou Tabeliã Substituta do 1º ServiçoNotarial da Comarca de Cabo Verde-MG. Admiromuito a pessoa do Sr. Paulo Risso. Sempre que tenhooportunidade participo dos encontros que ele fazaqui na nossa região. Já participei de encontrorealizado na Cidade de Guaxupé-MG, juntamentecom minha colega do Registro Civil daqui de CaboVerde, Sra. Magda; participei também do últimocongresso, estou sempre me inteirando. Ficoindignada com as autoridades que vão contra a PEC471/2005. Depois dos concursos verifica-se a cadadia a quantidade de desistências que estãoocorrendo. Peço sempre em minhas orações queDeus possa iluminar nossas autoridades para queeles decidam o que for melhor e não prejudiquemos menos favorecidos; que eles possam verificarmelhor essas renúncias para não prejudicarem osque já estão e com certeza precisam da serventia.Gostaria muito que a PEC fosse aprovada, porquetenho certeza que não vou prejudicar ninguém, nãoestou tirando ninguém de nenhum cargo.

Regina de Souza Madeira

Paulo Risso,Gostaria de parabenizá-lo pela sua nota enviada ao Correio Braziliense,

pois sabemos que existem pessoas que ignoram totalmente ou simplesmenteprocuram fazê-lo, esquecendo e muito bem lembrado por você, a necessidade dereparação de injustiça. Veja o meu caso: em março de 2008 completo 33 anos deCartório. Amanha como ficará a minha situação? São 33 anos de dedicação totale ainda sou obrigada a ler declarações de indivíduos que representam a nossaclasse dizer que somos incompetentes porque não possuímos curso de direito. Aincompetência vem através destes indivíduos que se dizem representantes, e nemsequer possuem capacidade, dignidade, respeito e senso de justiça para tal.

Êda Lúcia RodriguesCongonhas - Minas Gerais

Erramos:O telefone correto do diretor regional, Wender Vilhena Cruz, responsável

pela Diretoria 24, é: (37) 3541-3485.

Sr. Paulo Risso,Quero parabenizá-lo pelo brilhante trabalho e pela luta a favor da PEC, e

desejar a você e a toda equipe do Recivil muita força e sucesso.Maria Cleide de Mello Silva

Casamento comunitário é realizado em AraçaíCartório de Registro Civil do município

participou do casamento, que oficializou aunião de oito casais, no dia 8 de dezembro

No dia 8 de dezembro de 2007, foirealizado um casamento comunitário emAraçaí, região central de Minas Gerais, queuniu oito casais carentes do município.

O evento foi realizado pelo Cartório deRegistro Civil do município, pela Pastoral daFamília e pela Igreja Católica, e contou com a

participação da Oficiala Zélia Maria de SouzaSantana, do juiz de paz Geraldo Rolando Dias,do padre Nilton Pereira Alpes, das irmãs daparóquia e do prefeito Daniel Valadares Cunha.

A Oficiala agradeceu o apoio dado pelacoordenadora de Planejamento Estratégico eProjetos Sociais do Recivil, Maria CecíliaDuarte, durante a 17ª Etapa da Caravana daAssistência Social, que aconteceu no dia 6 dedezembro de 2007, em Paraopeba, quando Zélia

esteve presente, e participou da ação social.Este foi o primeiro casamento comunitário

realizado no município. A Oficiala disse que temo interesse de receber a equipe do Recivil durantealguma etapa do Projeto Caravana da AssistênciaSocial. “Pretendemos pedir às assistentes sociaisdo município que entrem em contato com a Sedesepara agendarmos uma etapa da Caravana aqui emAraçaí, e fornecer segundas vias das certidões eoutros documentos às pessoas”, disse.

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anotações

País poderá ter cadastro nacional de homônimosO Projeto de Lei 2255/07, da deputada Sueli Vidigal (PDT-

ES), cria o Cadastro Nacional de Homônimos, no qual aspessoas físicas serão incluídas com todos seus dados equalificações. De acordo com a autora, as pessoas podempassar por situações difíceis e constrangedoras em decorrênciade atos praticados por pessoas que têm nome igual ao seu.

O cadastro poderá ser acessado por órgãos públicos e porpessoas jurídicas de direito público ou privado previamentecadastradas. As informações disponíveis nesse cadastro serão

sigilosas, de acesso restrito a agentes cadastrados e àquelesautorizados para o trato dessas informações.

As pessoas que necessitarem provar sua condição poderãorequerer certidões negativas com todos os seus dados ao órgãoresponsável pelo cadastro.

TramitaçãoA proposta, que tramita em caráter conclusivo, será analisada

pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.Fonte: Agência Câmara

Projeto dispensa Ministério Público de habilitar casamentoDe autoria do deputado Décio Lima (PT-SC), o Projeto de

Lei 1735/07 dispensa a participação do Ministério Público nosprocessos de habilitação de casamento. Segundo Décio Lima,a medida tem por objetivo tornar o processo mais rápido.

Pelo Código Civil (Lei 10.406/02), para casarem-se os noivosdevem comprovar em cartório que não têm impedimentos legaisao matrimônio. De acordo com o autor do projeto, depois depublicar o resultado do processo, o oficial tem de enviar toda adocumentação ao Ministério Publico, que deverá emitir parecerfavorável ao casamento. Só então o juiz poderá homologar o

processo de habilitação, caso não haja empecilhos.Na opinião do deputado, dada a complexidade e o rigor do

processo, a participação do Ministério Público é dispensável.Tramitação

O projeto tramita em conjunto com o PL 420/07, que extinguea necessidade de afixação de edital de proclamas e sua publicaçãoem processos de habilitação de casamento. Ambos serão analisadosem caráter conclusivo pelas comissões de Seguridade Social eFamília; e Constituição e Justiça e de Cidadania.

Fonte: Agência Câmara

Suspenso Concurso para cartórios em Minas GeraisA Conselheira Andréa Pachá, em decisão liminar nesta

quinta-feira (31/01), mandou suspender os editais 2 e 3/2007referentes ao ingresso e remoção nos serviços notariais e deregistro do Estado de Minas Gerais, até que sejam revistos oscritérios de avaliação. Os requerentes alegam irregularidadesnas normas dos editais, como falta de previsão de contagem detempo de atividade para o concurso de remoção, inscrição docandidato em apenas uma serventia, além da falta depublicação da data de vacância ou criação das serventias. Paraa conselheira, o edital contraria princípios administrativos.

Matéria idêntica já foi objeto de decisão de mérito, nojulgamento do Pedido de Providência nº. 20070000009030. "Élamentável que mesmo após o julgamento de demanda idêntica,

oriunda do mesmo Tribunal, não se tenha tido o cuidado deatender aos ditames constitucionais reconhecidos pelo Plenáriodeste Conselho, ocasionando o ajuizamento de inúmerosprocedimentos idênticos e congestionando a pauta de um órgãoque deve se ocupar do controle e fiscalização de todo oJudiciário Nacional", escreveu a conselheira em seu despacho.

Com a decisão, o concurso fica suspenso até que o Tribu-nal de Justiça de Minas Gerais regularize o edital, fixando ocritério da classificação geral e possibilitando a inscrição únicado candidato para todas as serventias.

O Tribunal e o presidente da comissão do concurso têmprazo de 15 dias para prestarem informações e defesa.

Fonte: CNJ

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5n.º 18 - fevereiro de 2008www.recivil.com.br

anotações

Procedimentos para corrigir registros civis poderão mudarA Câmara examina modificações no processo de correção

de erros em registros civis. O Projeto de Lei 1801/07, dodeputado Cláudio Magrão (PPS-SP), prevê que o própriooficial de registro poderá corrigir o erro evidente em certidõese outros documentos em qualquer momento. A correção poderáser feita também por requerimento assinado pelo interessado,seu representante legal ou procurador.

De acordo com a proposta, junto com o requerimento pararetificação, deverão ser apresentados documentos quecomprovem o erro. Em caso de dúvida ou a pedido do interessado,o oficial deverá encaminhar os autos ao juiz, para decisão emcinco dias, depois de ouvido o Ministério Público.

Troca de nomeCaso seja verificado o erro evidente de qualquer natureza,

o oficial de registro fará a averbação da retificação à margemdo registro, mencionando o número do protocolo, a data dasentença e seu trânsito em julgado. Se o juiz achar que sãonecessárias mais explicações, mandará distribuir os autos aum dos cartórios da circunscrição. Nesse caso, a retificaçãoserá feita com assistência de advogado.

A alteração posterior de nome só poderá ser feita após audiênciado Ministério Público. A troca de nome só pode ser feita se houvermotivo justificado e como procedimento de exceção. A troca serápublicada na imprensa oficial e o mandado arquivado.

Lei atualAtualmente, a correção de erros evidentes nos documentos

de registro civil só é feita depois que o pedido assinado pelointeressado é recebido, protocolado, autuado, remetido aoMinistério Público e ao juiz togado da circunscrição. A correçãoé feita no próprio cartório onde se encontrar o documento.

Na avaliação de Cláudio Magrão, o procedimento atualpoderia ser alterado para facilitar a retificação de documentosque contenham erros evidentes, comprováveis por outrosdocumentos. Para o deputado, "a finalidade dos registrospúblicos é a garantia de autenticidade dos assentamentos, jáque o registro espelha a realidade".

TramitaçãoO projeto será analisado em caráter conclusivo pela

Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.Fonte: Agência Câmara

Cônjuge com separação de bens pode ser excluído de herançaA Câmara analisa o Projeto de Lei 1792/07, do deputado

Max Rosenmann (PMDB-PR), que exclui o cônjuge sobreviventeda condição de herdeiro necessário, se casado com o falecidono regime de separação de bens, obrigatório ou convencional.Os herdeiros necessários (incluindo os descendentes do falecido)são aqueles que não podem ser afastados da herança.

Para o deputado, o texto atual do Código Civil (Lei 10.406/02) permite a interpretação de que a concorrência sucessória(divisão da herança entre descendentes e cônjuges; ou entreascendentes e cônjuges) ocorre mesmo quando o regimeescolhido pelo casal é o de separação de bens. O deputadoafirma que, com isso, estaria se extinguindo o referido re-gime, pois um dos pressupostos da separação de bens é o daincomunicabilidade de patrimônio.

Litígios na JustiçaNa opinião do deputado, da forma como está redigido o

texto, o risco de interpretação equivocada "pode gerar

incontáveis litígios, sobrecarregando ainda mais o Judiciário".O autor também considera que a redação atual retira do

casal a liberdade de escolher livremente a respeito da divisãoe partilha dos bens. "A permanecer o texto, o princípio daliberdade consagrado na Constituição Federal e o que veda oenriquecimento sem causa estariam esvaziados nos casos decasamentos em segundas núpcias", completa Rosenmann.

O deputado ressalta que a alteração do Código Civilmantém o instituto da concorrência sucessória para aquelescasos em que ele realmente deve ser aplicado e preserva"inafastáveis interesses familiares na hipótese em que um doscônjuges pretenda preservar seu patrimônio".

TramitaçãoO projeto tramita em caráter conclusivo e será analisado

pelas comissões de Seguridade Social e Família; e deConstituição e Justiça e de Cidadania.

Fonte: Agência Câmara

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entrevista

“Digo sempre quea união não se fazcom pensamento

único” Para o presidente da Serjus-Anoreg/MG

(Associação dos Serventuários de Justiça doEstado de Minas Gerais) , as entidadesrepresentativas dos notários e registradoresdevem sempre manter um diálogo entre os

seus dir igentes. “Quando se conversafraternalmente, de forma franca e direta, oresultado é o entendimento e quem tem maisa ganhar com isso é toda a categoria”. Nessaentrevista à Revista do Recivil, Roberto Dias

de Andrade fala sobre as ações que estãosendo desenvolvidas pela Associação, osmaiores desafios dos notários e registradorese como a un ião das en t idades podecontribuir para a melhoria da classe.

Revista do Recivil - Como surgiu a Serjus-Anoreg/MG equais os seus objetivos?Roberto Dias de Andrade - A Ser jus é a mais an t iga dasentidades representativas dos notários e registradores mineiros,com 72 anos de fundação . In ic ia lmente e la reun ia tan toassociados da Justiça de Primeira Instância quanto do Extraju-dicial. Com a Constituição de 1988, os associados pertencentesà P r ime i ra In s t ânc ia busca ram a r ep re sen tação c l a s s i s t aprópria e a Ser jus passou a representar exclusivamente osnotários e os registradores, consolidando-se assim a sua posiçãode destaque na defesa dos interesses e dos direitos da categoria.

Hoje possui serviços reconhecidamente como de grandeprestígio, como a assessoria jurídica consultiva, site na internetatualizado diariamente, entre outros.

Revista do Recivil - Quais são as principais ações queestão sendo desenvolvidas pela Associação?Roberto Dias de Andrade - Agora vivemos um novo e importantemomento nesta história de sucesso da nossa Associação, uma vezque ela passou a atuar de forma integrada com a Anoreg-MG. Temoscomo foco, nessa integração, a amplificação das ações da Serjus,uma vez que esta união nos assegura posição de destaque nos cenáriosem que são debatidos temas vitais para a nossa atividade funcional.

Hoje se discute no Conselho Nacional de Justiça, nos TribunaisSuperiores, no Congresso Nacional e no âmbito do próprio Executivouma série de projetos e propostas que vão interferir e muito nas nossasvidas, nas nossas funções. Daí a necessidade de buscarmos presençanestes segmentos, com atuação direta na defesa da nossa categoria.

Revista do Recivil - Quais são os grandes desafios dosnotários e registradores atualmente?Rober to D ia s de Andrade - P rec i samos avança r namodernização de nossas serventias, precisamos nos equiparmelhor tecnicamente e também prepararmos adequadamenteos nossos funcionários. A qualidade dos serviços que prestamosaos cidadãos precisa estar à frente de tudo.

Somente com serviços de qualidade vamos avançar emoutras frentes, na busca pela delegação de novos serviços,ampliando as nossas atividades.

É preciso que, a lém da segurança jur íd ica , tambémsejamos protagonistas da modernização da economia do país,e imprimir maior celeridade no atendimento das demandasque nos chegam a todo instante. Temos a profunda convicçãode que os cartórios podem e vão se transformar em sinônimode eficiência, na prestação de serviços qualificados.

Os resultados extremamente positivos que temos tidocom a implantação dos feitos da Lei Federal 11.441/07, quepossibilita que inventários, partilhas e separações e divórciosconsensuais sejam realizados em cartórios, demonstram queestamos cada vez mais preparados para estes novos desafios.

Revista do Recivil - Como tem sido articulada a união en-tre as entidades?Roberto Dias de Andrade - Da forma mais simples possível, comintenso diálogo entre os seus dirigentes. Quando se conversafraternalmente, de forma franca e direta, o resultado é o entendimentoe quem tem mais a ganhar com isso é toda a categoria.

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7n.º 18 - fevereiro de 2008www.recivil.com.br

entrevista

Existe por parte do Sinoreg, do Recivil, da Anoreg, e de todasas demais entidades mineiras de representação da categoria umfirme propósito de caminharmos juntos, de lutarmos pelo objetivomaior de todos nós que é o pleno atendimento das aspirações dosregistradores e notários mineiros. É por isso que estou plenamentecerto de que teremos grandes conquistas a comemorar.

A força dessa união das nossas entidades se fez presente, porexemplo, na realização do IX Congresso Brasileiro de Direito Notariale de Registro e do II Congresso Estadual dos Registradores Civis deMinas Gerais, em novembro do ano passado. Foi um evento histórico,comandado pela Anoreg-BR e pelo Recivil, com intensa participaçãode toda a categoria e de nossas entidades representativas.

Um bom exemplo de como a união pode gerar bons frutos.

Revista do Recivil – Para o senhor, quais foram os momentosimportantes para a categoria e a atuação de suas lideranças?Rober to Dias de Andrade - Pos so des taca r vá r ios ou t rosmomentos importantes, capitaneados por nossas entidades declasse, cujas lideranças já cravaram importantes vitórias quemerecem o devido destaque. O presidente do Recivil, PauloRisso, que atuou decisivamente na aprovação da lei que criouo fundo de compensação do registro civil. Ele permite que osca r tó r io s de Reg i s t ro C iv i l em Minas t enham cond içõesmínimas de manutenção e, assim, assegurando a necessáriaprestação desse serviço a milhões de mineiros.

O Sinoreg, à época sob o comando do Dr. Eugênio KleinDutra e do Dr, João Marques de Vasconcellos, também marca asua presença com importantes conquistas, como a derrubada daaposentadoria compulsória que nos era imposta. Hoje tendo à frenteo colega Célio Mazoni, o Sinoreg também mostra total disposiçãode trabalhar de forma integrada com todas as entidades. Contamos,ainda, com a imprescindível part icipação do presidente daANOREG-BR, Rogério Bacel lar , que colocou notár ios eregis t radores do Brasi l na mesa de discussão de assuntospertinentes e vitais para toda a classe. Graças a este trabalho daAnoreg-BR em Brasília não ficamos mais a reboque das decisõesque nos interessam e sim participamos ativamente delas.

Digo sempre que a união não se faz com pensamentoúnico. Podemos divergir, debater e discutir as várias idéias epropostas, mas precisamos construir também o consenso e, apartir dele, trabalharmos unidos por nossos projetos e ideais.

Revista do Recivil - Ciclicamente vemos na imprensaquestionamentos sobre a importância da atividade notarial e deregistros no Brasil. Como o senhor analisa estes questionamentos?Roberto Dias de Andrade - Lamentavelmente são questionamentos

fundamentados na absoluta falta de informação, irresponsáveismesmo. Todos nós sabemos da segurança jurídica que os atosnotariais e de registros proporcionam ao cidadão brasileiro, naproteção adequada de sua propriedade, na preservação dosdireitos e garantias de suas famílias, no necessário resguardodas transações comerciais de suas empresas.

É um serviço que já existia na história antiga, atravessouos séculos e se mostra importante para a vida das populações detodos os pa í ses do mundo. Es tamos fa lando de pa íses dedemocrá t icos como a F rança, Es tados Unidos , Ing la te r ra ,Alemanha e vários outros. Existem diferenças entre eles, mas oprincípio é sempre o mesmo: a proteção dos direitos do cidadão.

Pode-se questionar se ele deve ser estatal ou privado, como éo caso do Brasil; pode-se questionar quem deve ser o responsávelpelas delegações e fiscalização do sistema; mas tachá-losimplesmente de inútil à vida moderna é um ato, creio eu, de má-fé,ou de total desinformação, desconhecimento, ou ignorância mesmo.

No entanto, precisamos ter em mente que a qualidade,a ag i l i dade e a p re s t eza de nos sos se rv i ços são peçasfundamentais para dissipar por completo com estas dúvidas.O trabalho sério dos notários e registradores é a melhor repostaa quem questiona a importância da nossa atividade.

Revista do Recivil - Como o senhor avalia o trabalho so-cial realizado pelo Recivil?Roberto Dias de Andrade - Impor tant í ss imo para todos osmineiros, principalmente para aqueles mais carentes. O Recivil,sob a presidência do Paulo Risso, está atuando decisivamente paraacabar com o sub-registro no estado. Uma preocupação constantedos organismos brasileiros e internacionais de desenvolvimentohumano, que têm em Minas, através da atuação do Recivil, umexemplo de como esta questão pode ser resolvida a contento,preservando-se as delegações e competências dos registradores civis.

Revista do Recivil - O senhor acha que a classe deveriater candidaturas próprias a Assembléia e a Câmara Federal?Roberto Dias de Andrade - Em todas as democracias do mundo ascasas legislativas são compostas por representantes dos vários segmentosda sociedade. Aqui no Brasil mesmo temos bancadas que se formam deacordo com objetivos específicos das áreas que os deputadosrepresentam, como da saúde, da agricultura entre outras. Os cartoráriosdo Brasil no passado tiveram uma representação política importante,hoje praticamente inexistente. Para termos novamente esta representaçãopolítica, mais ampla, é preciso voltar ao ponto principal desta entrevistaque é a união de forças. Juntos e unidos podemos realizar importantesprojetos, conquistando importantes vitórias.

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Cartório é orgulho da Família Nogueira

belo horizonte 110 anos

Localizado no distrito Parque Industrial, em Contagem, serventia preza peloaperfeiçoamento dos serviços prestados desde 1956 à população local

O município de Contagem, em MinasGera is , se desenvolveu rapidamente nosúlt imos 50 anos e junto com ele cresceutambém o Cartório Nogueira, orgulho dafamília que carrega o mesmo nome. Localizadono distrito Parque Industrial, o cartório deregistro civil e notas foi instalado pelo Sr.Waldemar Nogueira Coelho e anos depoispassou para as mãos do f i lho, Sebas t iãoAntônio Nogueira, respectivamente, avô e paido atual Oficial, Nilo Carvalho Nogueira. Afamília trabalha arduamente desde 1956 peloaperfeiçoamento dos serviços prestados pelas e r v e n t i a e s e o r g u l h a d o r e s p e i t o d acomunidade pelo cartório.

N i lo de Ca rva lho Nogue i r a a s sumiui n t e r i n a m e n t e o c a r t ó r i o e m 1 9 9 5 ,permanecendo assim até 2002, quando prestouo concurso e foi aprovado, assumindo suatitularidade. Hoje o cartório Nogueiraatende em média 900 pessoas pordia. O movimento nas filas eguichês é cons tante .S ã o 1 2 p o n t o s

para atendimento de autenticação ereconhecimento de firma, dois pontosdestinados a mensalistas, quatro pararegistro civil, cinco para procurações,três para escrituras e um para divórcio.

A c o m u n i d a d e c o n s t r u i u u m arelação de confiança com o cartório,como afirma o Oficial. “Ás vezes aspessoas da comunidade nos procurampara pedir informações sobre coisasdiversas que nem têm ligação com on o s s o c a r t ó r i o . J á a c o n t e c e u d erecebermos pessoas nos pedindo paraanalisar uma escritura de imóvel e verse estava tudo correto. Isso só é possívelpela tradição e respeito conquistadospelo cartório Nogueira”.

O Oficial dedica esta confiança aoempenho de funcionários que trabalham

na serventia a três ou até quatrodécadas, como é o caso do Sr.

Newton Jo sé de Ba r ro sNeto e Getúlio Próton

Xavier. Ambos já

Nilo de Carvalho Nogueiratrabalha no cartório desde

1995 e, em 2002, assumiu, porconcurso público a

titularidade da serventia

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9n.º 18 - fevereiro de 2008www.recivil.com.br

belo horizonte 110 anos

História do distrito Parque IndustrialContagem está situada na região central de Minas Gerais, a

apenas 21 quilômetros de Belo Horizonte. Efetivamente instaladaem 1º de junho de 1912, como município autônomo, Contagemteve vida efêmera - apenas 27 anos - já que o Decreto-Lei de 1938retira sua autonomia, sendo ainda anexada ao município de Betim,permanecendo nesta situação por 10 anos. Em 1948, emancipa-se definitivamente, amparada pela Lei nº 336, de 27 de dezembro,ficando seu território constituído da sede municipal.

Foi através do Decreto-Lei nº 770, de 20 de março de 1941,do governador Israel Pinheiro, que uma área de 270 hectarespertencentes ao fazendeiro Avelino Camargos (da famíliaCamargos), tornou-se o Parque Industrial. Criada em 1941, aCidade Industrial (então denominada Distrito Industrial de BH)foi criada por iniciativa do governo estadual.

O planejamento urbanístico ganhou um traçado hexagonal efoi inspirado no Distrito Industrial de Canberra, na Austrália.Mas, devido à crise dos anos de guerra, a Cidade Industrial só foiinaugurada em 1946. O Governador Benedito Valadarespromoveu uma verdadeira campanha de promoção e atração deindústrias, na qual empenhou-se pessoalmente, convocandoindustriais para que se instalassem na Cidade Industrial.

Em 1948, a Cidade Industrial foi incorporada a Contagem,passando a se constituir em um distrito, hoje chamado DistritoIndustrial Cel. Juventino Dias. Nas décadas de 50 e 60 aconteceu aimplantação significativa da indústria têxtil, iniciando a substituiçãodas importações que começava a ocorrer no país. A década de 70trouxe uma fase de expansão e consolidação do distrito. 71% dasunidades industriais foram ali instaladas após 1970.

Público sendo atendido de forma rápida e ágil nos pontos deatendimentos específicos instituídos pelo Cartório Nogueira

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estão aposentados, mas continuam a se dedicar aotrabalho diário na serventia.

O Cartório Nogueira está informatizado desde 1997 egarante assim agilidade e qualidade nos atendimentos dapopulação local de aproximadamente 300 mil habitantes.“Nós fomos um dos primeiros cartórios a se informatizar,isso garante qualidade nos nossos serviços”, declarou Nilo.

A serventia conta hoje com o trabalho de mais de 40f u n c i o n á r i o s . D e a c o r d o c o m o O f i c i a l , e s t e sfuncionários são treinados internamente, no dia a dia,para exercer um atendimento de qualidade. Para Nilo, oatendimento deve ser o mais personalizado possível.Pensando nisso reservou um espaço amplo para arealização de casamentos e divórcios. “Com este espaçoreservado as pessoas se sentem mais a vontade”,completou Nilo.

Segurança é fundamental no Cartório NogueiraNilo de Carvalho Nogueira disse que a segurança

nos atos praticados pela serventia é essencial para oexercício prestado pelo cartório. Pensando nisso, oOficial realiza todos os atos usando o papel de segurança,inclusive para reconhecimento de firma e autenticação.“O uso do papel de segurança já nos protegeu de algumasfraudes em documentos”, explica.

De acordo com o Oficial, a serventia gasta em média,por mês, duas mil e 500 folhas de papel de segurança. “Éum custo que vale a pena. Pago um pouco menos de vintecentavos por folha e posso ficar tranqüilo”, defendeu.

O c a r t ó r i o N o g u e i r a r e a l i z a p o r m ê saproximadamente 160 casamentos, 300 registros denascimento, 80 óbitos, 160 escrituras, 600 procuraçõese 1200 segundas-vias.

Sebastião Antônio Nogueira e Waldemar Nogueira Coelho, pioneiros administradores docartório Nogueira, localizado no município de Contagem

Serventia possui espaços destinados para todosos diversos serviços prestados

Serventia possui espaços destinados para todosos diversos serviços prestados

Serventia possui espaços destinados para todosos diversos serviços prestados

Sebastião Antônio Nogueira e Waldemar NogueiraCoelho, pioneiros administradores do cartório

Nogueira, localizado no município de Contagem

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11n.º 18 - fevereiro de 2008www.recivil.com.br

Governo do Estado combateráfalta de registro de nascimentoO programa 162 do Plano Plurianual de Ação Governamental para o quadriênio 2008-2011 prevê a aplicação de R$ 100 mil por ano destinados a execução das campanhas

Os pedidos feitos pelo Recivil na Assembléia Legislativa deMinas Gerais (ALMG), durante a audiência pública realizada emnovembro de 2007, para que comunidades tradicionais do Estadotenham acesso à documentação civil básica foram atendidos. Nodia 17 de janeiro, foi publicada no Diário Oficial do Estado –“Minas Gerais” - a Lei nº 17.347, de 16 de janeiro de 2008, quedispõe sobre o Plano Plurianual de Ação Governamental para oquadriênio 2008-2011 - PPAG 2008-2011.

O Programa 162 visa a garantia do acesso às certidões de registrocivil e à documentação civil básica, fundamentalmente para apopulação em situação de pobreza ou componente de comunidadestradicionais, como quilombolas, indígenas e ciganos.

O pedido foi aceito depois que o Recivil fez a redaçãomanuscrita da emenda e a entregou aos membros da Comissãode Participação Popular.

Em 2007, o Recivil trabalhou na emissão de 30.390documentos para a população carente de Minas Gerais, en-

tre registros de nascimento, segundas vias de certidões,carteira de identidade, CPF, t í tulo de eleitor e outros.Moradores de 162 comunidades tradicionais, sobretudoquilombolas, indígenas e ciganos, foram beneficiados comas ações realizadas pelo Recivil. Somente na Reserva IndígenaXacriabá, em São João das Missões, no Norte do Estado, maisde 800 registros tardios foram executados.

Segundo relatór io do IBGE ( Ins t i tuto Brasi le i ro deGeografia e Estatística), divulgado em 2007 e referente aoano de 2006, o índice de crianças não registradas no prazolegal - 90 dias - no Estado de Minas Gerais é de 16,3%, o quecorresponde a 43.852 crianças não registradas pelos pais eque oficialmente não existem.

Com este programa aprovado, o Recivil agora vai traçarplanos e metas e organizar ações para ser o responsável pelascampanhas que possibi l i tarão o acesso dos povos dascomunidades tradicionais à documentação civil básica.

cidadania

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Incentivo para erradicar o sub-registro no Brasil

Direitos fundamentais do homem são aqueles imprescindíveisà p r ó p r i a e x i s t ê n c i a d a p e s s o a h u m a n a , a o s e u p l e n odesenvolvimento. São considerados fundamentais porque sem elesa pessoa humana não consegue existir ou não é capaz de sedesenvolver e de participar plenamente da vida. Todos os sereshumanos devem ter assegurados, desde o nascimento, as condiçõesmínimas necessárias para se tornarem úteis à humanidade, comotambém devem ter a possibilidade de receber os benefícios que avida em sociedade pode proporcionar.

Constitucionalmente, o Registro de Nascimento é um direitofundamental do homem. É também o primeiro passo para que orecém nato possa vir a “existir” como “cidadão”.

Com o advindo da Lei Federal nº 9.534/97 que estabelece agratuidade universal para os registros de nascimento e óbito, dandonova redação ao art. 30 da Lei 6.015/73, que dispõe sobre osregistros públicos, a Associação dos Notários e Registradores doBrasil - Anoreg-BR celebrou um protocolo de intenções com oMinistério da Saúde no intuito de proporcionar o registro denascimento nas maternidades, para que todas as crianças ali recém-nato pudessem ter acesso ao registro de nascimento.

O Ministério da Saúde, considerando a necessidade de complementaras medidas já adotadas pelo referido Ministério, no sentido de aprimorara assistência ao recém-nato e de adotar medidas destinadas a asseguraras informações relacionadas ao atendimento neonatal, instituiu a Portarianº 938 em 20 de maio de 2002, estabelecendo:

Art. 1º - Incluir, na Tabela de Procedimentos Especiais do SIH/SUS, o código 99.085.01-1, incentivo ao Registro Civil de Nascimento.

Art. 2º - Estabelecer que o Incentivo de que trata o artigo 1ºdesta Portaria será pago aos Hospitais integrantes do SIH/SUS quepropiciarem o registro de nascimento, antes da alta hospitalar.

Parágrafo único – O pagamento do incentivo está vinculado às

informações sobre o Registro Civil do recém-nato, a serempreenchidas na AIH do parto.

Acontece que vemos que muitas maternidades não têmconhecimento deste incentivo, e em via de conseqüência não adotameste procedimento. A falta de parceria com os Cartórios de RegistrosCivis e incentivos aos pais são fatores que também não potencializamtal incentivo, o que vem contradizer o objetivo da Portaria 938instituída para ajudar a acabar com o sub-registro no Brasil.

Para entendermos melhor a situação, analisemos:De acordo com a referida Portaria, os hospitais e maternidades, bem

como outros estabelecimentos de saúde, deveriam encaminhar aosCartórios de Registro Civil, mais próximos, os pais e/ou responsáveis,pelo recém-nato, devidamente munidos da DN (declaração de NascidosVivos), para que seja registrado a criança. O Cartório informaria aoHospital em questão os dados do registro (Livro, Folha, Termo, data doregistro, razão Social do Cartório e o numero da DN). No Hospital ououtro estabelecimento de saúde, o gestor, ao informar os dados da AIH(Autorização de Internação Hospitalar) junto ao SIH/SUS (Sistema deInternação Hospitalar/ Serviço Único de Saúde) informará também osdados fornecidos pelo Cartório. Assim o Hospital, ou outroestabelecimento de saúde, receberá um numerário como incentivo.

Salientamos que para que o estabelecimento de saúde possa recebereste incentivo, torna-se necessário que o registro de nascimento seja efetivadoantes da liberação (alta) do recém-nato, além de ser integrante do SIH/SUS.

Foi determinado pela Portaria 938, em seu art. 7º, que talprocedimento fosse incluído na relação de procedimentosestratégicos do SUS e financiado com recursos do Fundo de AçõesEstratégicas e Compensação – FAEC.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASLei nº 9.534 de 10 de dezembro de 1997 -Portaria nº 938 de 20 demaio de 2002 – Ministério da Saúde – Gov. Federal

por: Salvador Tadeu Vieira É OFICIAL DO CARTÓRIO DE REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS DE PIRAPORA-MG,CONSELHEIRO DA COMISSÃO GESTORA DO RECOMPE/RECIVIL – SINDICATO DOS OFICIAIS DO REGISTRO CIVIL DE MINAS GERAIS E DA

CÂMARA DE DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS, DIRETOR REGIONAL DO RECIVIL – SINDICATO DOS OFICIAIS DO REGISTRO CIVIL DE MINAS

GERAIS E CONSELHEIRO FISCAL – SUPLENTE – DA ASSOCIAÇÃO DOS SERVENTUÁRIOS DA JUSTIÇA DE MINAS GERAIS - SERJUS

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13n.º 18 - fevereiro de 2008www.recivil.com.br

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Regime de Bens no Casamento

O casamento estabelece uma comunhão plena de vida entre oscônjuges, com igualdade de direitos e deveres, produzindo váriasconseqüências no ambiente social, pessoal e patrimonial entre oscônjuges e filhos. A primeira cria-se a família matrimonial, com ocasamento, estabelecendo o vínculo de afinidades entre cada cônjugee os parentes do outro. A segunda, de ordem pessoal, estabelece orol de direitos e deveres dos cônjuges e para com seus filhos. E aúltima, se refere aos efeitos econômicos do casamento, iniciadopelo regime de bens, que se inicia quando da data da celebração docasamento. Art. 1565 do Código Civil: Pelo casamento, homem em u l h e r a s s u m e m m u t u a m e n t e a c o n d i ç ã o d e c o n s o r t e s ,companheiros e responsáveis pelos encargos da família.

Celebrado o casamento civil os bens pertencentes a cada um doscônjuges e os adquiridos por eles na constância do casamento sãosubmetidos a um regime patrimonial de bens, escolhido pelo casalantes da realização do casamento.

No passado, quando os pretendentes não se manifestavam suaopção pelo regime de bens no casamento, nossa legislação ofereciao regime da comunhão de bens, que unia todos os bens presentes efuturos, havidos antes ou durante o casamento.

À luz da Lei 6.515/77, Lei do Divórcio, o regime de bens legalpassou a ser o da comunhão parcia l de bens, podendo serestabelecido outro pelos contraentes através do pacto antenupcial,lavrado por escritura pública. Também o art. 1639 do Código Civildiz que: É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento,estipular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver.

Pelo CC 1916, o regime de bens no casamento era imutável e jáo Código Civil vigente diz que é admissível alteração do regime debens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambosos cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas eressalvados os direitos de terceiros (§ 2º, art. 1639, CC).

O Regime Legal.O regime legal hoje aplicado é o da Comunhão Parcial de Bens,

estabelecido pela Lei 6.515/77 e mantido pelo novo Código Civilem seu art. 1640, estabelecendo que não havendo convenção, ousendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre oscônjuges, o regime da comunhão parcial.

Neste regime, os bens adquiridos antes do casamento, cada cônjugeconserva em seu próprio nome os bens existentes antes do casamento;e os adquiridos na constância do casamento, os bens ficam pertencendoao casal, em comum entre os dois, com exceção de herança e doações.

por: Eduarda Souza Lage é Oficiala Substituta do Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturaisdo distrito sede da Comarca de Pirapora – MG e bacharel em Administração de Empresas

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No caso de falecimento de um dos cônjuges, é obrigatória apartilha para verificar a distribuição dos bens, dentro da forma emque foram adquiridos e, passando para o cônjuge sobrevivente eaos herdeiros, de conformidade à data de aquisição dos mesmos.

Os art. 1659 e 1660 do CC dispõe sobre os que excluem e osque entram na comunhão parcial de bens.

O Regime da Comunhão Universal de Bens.Até o advento da Lei do Divórcio este era o regime legal e hoje

é estabelecido por opões dos contraentes através de escriturapública de pacto antenupcial. Parágrafo único do art. 1640 do CC:Poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar porqualquer dos regimes que este código regula. Quanto à forma,reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial, fazendo-se opacto antenupcial por escritura pública, nas demais escolhas.

Este regime importa a comunicação de todos os bens presentes efuturos dos cônjuges e sua dívidas passivas (art. 1667, CC). Os bensadquiridos antes e durante o casamento ficam pertencendo ao casal, comexceção dos legados, doações e heranças, deste que gravados com acláusula de incomunicabilidade. Os bens incomunicáveis estão expressosno art. 1668 do Código Civil. A incomunicabilidade constitui exceção,

pois a regra geral é a comunicabilidade entre os cônjuges de todos osbens, principais e acessórios, tendo os mesmos a propriedade de todas ascoisas móveis e imóveis, atribuídas a cada um a metade de todos os bens.

No caso de falecimento de um dos cônjuges é obrigatória apar t i lha de todos os bens , a t r ibu indo metade ao cônjugesobrevivente e a metade aos herdeiros necessários.

O Regime de Separação de Bens.O art. 1687 do CC diz que, estipulada a separação de bens,

estes permanecerão sob a administração exclusiva de cada um doscônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real.Aí está se falando de Separação Convencional, por decisão doscontraentes e que deverá ser feita por escritura pública de pactoantenupcial. Os bens existentes antes do casamento e os adquiridosna constância do casamento ficam pertencendo individualmente acada um dos cônjuges.

Já a Separação Legal de Bens, aquela imposta por Lei, onde noar t . 1641 do CC dec la ra as c i rcuns tânc ias que levarão à

obrigatoriedade da separação de bens, como aquelas de alguém secasar sem a observância das causas suspensivas, instituídas peloart. 1523 do CC. Neste caso os bens adquiridos na vigência docasamento ficam em comum, conforme expressão da Súmula 377do STF, que determina que “No regime da separação legal de bens,comunicam-se os adquiridos na constância do casamento”.

O Regime de Participação Final nos Aquestos.O art. 1672 do CC traz que neste regime, cada cônjuge possui

patrimônio próprio, e lhe cabe, à época da dissolução da sociedadeconjugal, direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a títulooneroso, na constância do casamento.

Na doutrina, a comunicabilidade ou não dos aquestos éextramente acirrada. Existe uma corrente na qual os bens não secomunicam, já a segunda corrente atesta que só se comunicam osbens adquiridos a título oneroso, na constância do casamento edesde que fruto do esforço comum. Ainda sob a ótica desta segundacorrente a comunicação dos aquestos ou aplicação da Súmula 377do STF exige prova de esforço comum como reiteradamente temexigido o próprio STJ.

Consequentemente, havendo controvérsia, por exigir prova do

esforço comum que não será presumido e exigirá a produção deprova do fato, o cônjuge que quiser reivindicar o seu direito aosaquestos, deverá fazer a reivindicação nas vias ordinárias,descabendo a discussão em inventário causa mortis ou em execuçãode partilha decorrente de dissolução de sociedade conjugal. É dese aplicar, como regra, a Lei que impõe o regime da separaçãolegal. A comunicação será excepcional desde que feita a prova doesforço comum na aquisição do patrimônio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASLegislação Brasileira. Código Civil, Código Civil de 1916,

Súmulas do STF e STJ. Antonio Carlos Figueiredo – Organizador.São Paulo. Primeira Impressão – 2003

O Registro Civil – Maria Cândida Baptista Faggion – 3ª Edição– Editora Água Branca – 2003

Direito de Família – Prof. Juliana Gontijo – 1999Direito Civil Brasileiro – Maria Helena Diniz – 5º volume –

Direito de Família – Editora Saraiva - 2003

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O Poder Delegante das atividades notariais ede registro e a criação de cartórios extrajudiciaispor lei. Uma análise sobre o PLC 007/2005por: Hercules Alexandre da Costa Benício - Professor da Faculdade de Direito da Universidadede Brasíl ia, Titular do 3.º Ofício de Registro Civil , Títulos e Documentos do Distri to Fed-eral, ex-Procurador da Fazenda Nacional

Em artigo intitulado de “007 e o recado de Zapatero: Novasregras não beneficiam notários que trabalham sério” (In: BoletimEletrônico Irib — Instituto de Registro Imobiliário do Brasil /AnoregSP — Associação de Notários e Registradores de SãoPaulo. Edição nº 1.564, de 25 de fevereiro de 2005. Disponibilidadee acesso: <http://www.irib.org.br>), o respeitável autor Dr. LuísPaulo Aliende Ribeiro defende a inconveniência de proposiçãolegislativa, em tramitação no Senado Federal, que visa a regulamentaro art. 236 da Constituição Federal, dispondo, dentre outros temas,sobre outorga da delegação pelo Poder Executivo para o exercício deatividade notarial e de registro, bem como sobre a necessidade de leipara a criação, alteração e extinção dos cartórios extrajudiciais.

Sustenta o eminente magistrado que, caso o projeto venha a seraprovado, restará ferido, “de forma insustentável, o sistemaconstitucional vigente, representando retrocesso inadmissível em todoum processo que, iniciado a partir da verdadeira revoluçãoinstitucional dos serviços notariais de registros implantada com avigência da Constituição Federal de 1988, vem se consolidando deforma integrada coma as regras expressas na Lei nº 8.935/94,atualmente coerentes com o regramento constitucional.” Com relaçãoà competência do Poder Executivo para a outorga das delegações,argumenta que o PLC 007/2005 “busca embaralhar entre os trêsPoderes parcelas incindíveis da atuação hoje exercida pelo Judiciário(...). O efeito disso seria o de tornar inócua a atuação fiscalizadorado Judiciário, em detrimento da seriedade institucional dos serviçosnotariais e de registros.” Com bastante percuciência, avalia que talfato implica a reabertura da discussão quanto à autoridade competente

para a aplicação da pena de perda da delegação, tendo em vista quea cessação do vínculo do delegado com o Estado deveria se dar porato da autoridade competente para a outorga.

Nada obstante os judiciosos argumentos expendidos pelo ilustrearticulista, queremos crer que a aprovação do referido projeto de leinão implica, necessariamente, retrocesso institucional. Entendemos queé dada hora de o legislador estabelecer, de forma razoável,regulamentação acerca do Poder Delegante e da necessidade (ou não)de lei para criação de serventias extrajudiciais. A esse propósito, emtexto intitulado “A necessidade de lei para a criação de cartóriosextrajudiciais” (In: Revista de Direito Imobiliário, nº 56, ano 27,janeiro-junho de 2004, pp. 233-540), concluímos que a falta de nitidezcom que a matéria — concernente à delegação das atividades notariaise de registro — está tratada na Constituição Federal (e, de resto, naincompleta Lei nº 8.935/94) é um dado inafastável. Esboçamos, ainda,na ocasião, o entendimento de que, considerando a natureza jurídicada serventia extrajudicial (órgão/plexo de competências), bem como arelevância e a seriedade do tema referente à delimitação decircunscrições registrais, mostra-se prudente e recomendável quecartórios sejam criados, (des)acumulados ou (des)anexados por lei.

O fato é que a doutrina brasileira a respeito do regime jurídico dosnotários e registradores revela-se bastante incipiente, tendo recebido maioratenção a partir da promulgação da atual Carta da República. Por seu turno,a consulta à jurisprudência, muito embora seja útil pela riqueza dos casos deespécie ventilados, não oferece subsídios definitivos para a sistematização econciliação dos elementos de direito público e de direito privado que seapresentam simultaneamente nos temas relacionados aos ofícios extrajudiciais.

1 FREDERICO MARQUES (ENSAIO SOBRE A JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA. SÃO PAULO: SARAIVA, 1959, PP. 96-97), RESGATANDO O CONCEITO TRIPARTIDO DE MONTESQUIEU, CRITICA A TEORIA ESPOSADA POR FAZZALARI,MENCIONANDO QUE, IN VERBIS: “AS FUNÇÕES ESTATAIS SÃO TRÊS (...). JÁ DEMONSTRAMOS QUE A TODOS OS ÓRGÃOS ESTATAIS ENCONTRAM-S E ATRIBUÍDAS FUNÇÕES DE OUTROS PODERES, O QUE CONSTITUI A CLASSE DAS

DENOMINADAS FUNÇÕES ANÔMALAS, ENTRE AS QUAIS, PRECISAMENTE, SE INSCREVE A ‘JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA’. A FUNÇÃO ANÔMALA, QUALQUER QUE ELA SEJA, NÃO É FUNÇÃO ‘PER SÈ STANTE’, E SIM, VARIANTE DE UMA DAS TRÊS

ATIVIDADES FUNDAMENTAIS DO ESTADO, QUE SE AMOLDA E SE ADAPTA A ALGUMAS PECULIARIDADES DO ÓRGÃO A QUE, DE MANEIRA ANORMAL, É ATRIBUÍDA”.2 EM TRADUÇÃO LIVRE, PODE-SE LER QUE: “O ESTADO CONTEMPORÂNEO VEM SE APROPRIANDO E SE APROPRIA, CADA DIA MAIS, DE NOVAS COMPETÊNCIAS. NÃO É SÓ ISSO, MAS A COMPETÊNCIA QUE SE TENTAVA, NO PASSADO,FORÇOSAMENTE, ENQUADRAR NO ESQUEMA DAS TRÊS FUNÇÕES ESTATAIS [LEGISLAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E JURISDIÇÃO] REVELOU-SE, AO FIM, UMA CATEGORIA AUTÔNOMA (SEMPRE NO SENTIDO DE QUE ESTA CATEGORIA REAGISSE

CONTRA AQUELE FORÇAR E IMPUSESSE, AO INVÉS, A AFIRMAÇÃO DE SUA NATUREZA DISTINTA). DENOMINA-SE ESSA CATEGORIA DE ‘JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA’, QUE, SITUADA ENTRE A JURISDIÇÃO E A ADMINISTRAÇÃO, ASSEMELHA-SE, ANTES, E DEVE SER CONSIDERADA, COMO UMA FUNÇÃO DO ESTADO, DISTINTA DA JURISDIÇÃO (AO CONTRÁRIO DO QUE, EQUIVOCADAMENTE, SUGERE O SEU NOME) E DA ADMINISTRAÇÃO”.

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É neste contexto de inovações legislativas e divergênciasdoutrinária e jurisprudencial, a respeito dos serviços notariais ede registro, que delinearemos alguns supostos que devem nortearuma compreensão mais sistêmica a respeito do regime jurídicodestes serviços públicos, na tentativa de explicitar a que PoderDelegante se refere o caput do art. 236 da Constituição Federal.

Assim sendo, a presente análise tem por objetivo perquirir a que Poderda República as atividades notariais e de registro se aproximam: Judiciárioou Executivo? Antes de respostas prontas e acabadas, estimulamos o leitor arefletir sobre alguns temas indispensáveis à descoberta da solução razoável.

Jurisdição Voluntária: função judiciária ou administrativa?Primeiramente, torna-se conveniente, em apertada síntese, estabelecer

a natureza da prestação dos serviços notariais e de registro. Trata-se deserviços públicos, dotados da fé pública da qual o Estado é titular, exercido,por delegação, em caráter privado, por particulares aprovados em concursopúblico (art. 236 da Constituição Federal). Na definição do art. 1º da Lei n.º8.935/94, são os serviços “de organização técnica e administrativadestinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dosatos jurídicos”. O tabelião, ou notário, e o oficial de registro, ou registrador,nos termos do art. 3º da citada Lei, “são profissionais do direito, dotados defé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro”.Têm eles seus serviços fiscalizados pelo Poder Judiciário (art. 236, §1º) esão remunerados por meio de emolumentos a serem pagos pelos interessadosnos atos notariais ou de registro, conforme Tabela de Emolumentosestabelecidos em lei (art. 236, §2º).

Muito embora poucos conheçam as funções estatais delegadas aostitulares de serviços notariais e de registro, a gama de atribuições quecompete aos cartórios extrajudiciais é responsável pela prevenção delitígios que, caso não fossem evitados, poderiam inviabilizar ainda maiso já problemático acesso à Justiça. A função notarial e registral é,essencialmente, um mister de prudência, justamente por esse sentidocautelar que a rege. E não se pode negar que a forma autônoma e pacíficade solução dos conflitos é preferível à óptica heterônoma do litígio judicial.

Sintomática é a percepção de que, em certos casos, o cidadãodeve ser liberado da tutela judiciária e procurar o meio mais práticoe rápido de, na ausência de conflito, consolidar o negócio jurídico

ou alterar a situação de seu estado civil. Nessa ordem de idéias éque se situa a inovação trazida pela Lei nº 11.441/07, que dispensaa intervenção estatal (ou seja, prescinde da homologação judicial)nos casos de separação e divórcio consensuais e inventários emque não estejam envolvidos interesses de incapazes.

Com relação à natureza administrativa da jurisdição voluntária, valemencionar que o processualista italiano Elio FAZZALARI, ao tratar dasfunções do Estado, não confunde jurisdição contenciosa com a jurisdiçãovoluntária, mas se opõe ao entendimento de que esta se identifique comuma atividade estatal de caráter meramente administrativo. ParaFAZZALARI, a jurisdição voluntária, como atividade estatal, constituicategoria autônoma, figurando como “un genus per sè stante” no quadrodas funções do Estado1. Vejamos breve trecho da lição do professor daFaculdade de Direito de Roma (Istituzioni di Diritto Processuale. —Terza edizione — Verona: CEDAM-Padova, 1983, p. 6), in verbis:

“Lo Stato contemporaneo si è arrogato e si arroga, ogni giornodi più, nuovi compiti. Non solo, ma i compiti che si tentava, inpassato, di forzare negli schemi di uma delle tre funzioni[legislazione, amministrazione e giurisdizione] hanno, infine,rivelato la loro fisionomia autonoma (sempre nel senso che laloro disciplina positiva reagisce contro quella forzatura e impone,piuttosto, di affermare la distinzione). Si pensi alla così detta‘giurisdizione volontaria’, che, palleggiata fra la giurisdizione el’amministrazione, sembra, invece, doversi considerare come unafunzione dello Stato, distinta e dalla ‘giurisdizione’ (verso cui lasospingeva l’equivoco nome) e dell’amministrazione”2.

Por mais que, no Brasil, não tenham prosperado as idéias deFAZZALARI, sua teoria é digna de registro, uma vez que evidencia arelevância que possui o tema referente à jurisdição voluntária,atribuição que, muito embora, não raras vezes, seja exercida pelo PoderJudiciário, deveria ser conferida às atividades notariais e de registro3.

Diferenças entre os serviços notariais e de registroDificultando, ainda mais, definições apriorísticas a respeito da

competência do Poder Judiciário ou do Executivo para outorgar adelegação dos serviços notariais e de registro, vale ressaltar que háfundamentais diferenças entre tais atividades, conforme se demonstrará.

3 FRANCISCO MARTINEZ SEGOVIA (FUNCIÓN NOTARIAL: ESTADO DE LA DOCTRINA ACTUAL Y ENSAYO CONCEPTUAL. PARANÁ (ENTRE RÍOS — REPÚBLICA ARGENTINA): DELTA, 1997, PP. 58-59) RELATA QUE O PRIMEIRO CONGRESSO

INTERNACIONAL DO NOTARIADO LATINO, OCORRIDO EM BUENOS AIRES, EM 1948, DECLAROU QUE É DE SUA ASPIRAÇÃO QUE TODOS OS ATOS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA, NO SENTIDO DADO A ESSA EXPRESSÃO NOS PAÍSES DE LÍNGUA ESPANHOLA

(CUJA FUNÇÃO É CONSIDERADA ADMINISTRATIVA E NÃO, PROPRIAMENTE, JUDICIAL), SEJAM ATRIBUÍDOS, EXCLUSIVAMENTE, À COMPETÊNCIA NOTARIAL. TAMBÉM, NO QUARTO CONGRESSO, OCORRIDO EM 1956 NO RIO DE JANEIRO, INSISTIU-SE NAQUELA DECLARAÇÃO, CHEGANDO A SALIENTAR, NO 4º PONTO DO TEMA III, A COMPETÊNCIA FUNCIONAL DA INTERVENÇÃO DO NOTÁRIO LATINO NOS TESTAMENTOS E SUCESSÕES, EM TRADUÇÃO LIVRE, NESTES TERMOS: “QUE A CONSTATAÇÃO

DA TRANSMISSÃO DE BENS CAUSA MORTIS É FUNÇÃO NOTARIAL ESPECÍFICA E COMO CONSEQÜÊNCIA FORMULA O DESEJO DE QUE AS SUCESSÕES SE RADIQUEM ANTE O NOTÁRIO, QUE TERÁ ATRIBUIÇÃO NAS MESMAS ATÉ LOGRAR TODOS OS SEUS

EFEITOS JURÍDICOS; EM TODOS OS CASOS EM QUE, POR SURGIR CONTROVÉRSIAS, SE RECORRA À VIA JUDICIAL, DEPOIS DE RESOLVIDOS, RETORNARÃO AO NOTÁRIO, PARA A REALIZAÇÃO DAS DEMAIS FASES DA TRANSMISSÃO”.4 O CONSTITUINTE JOSÉ PAULO BISOL, NO SEU ENCAMINHAMENTO FAVORÁVEL À PROPOSIÇÃO DE MÁRIO COVAS, ASSEVEROU O SEGUINTE, IN VERBIS: “SR. PRESIDENTE, SRAS E SRS CONSTITUINTES, ESTAMOS DIANTE DE UM PROBLEMA QUE PODE,AB INITIO, DAR IDÉIA DE MESQUINHEZ, DE INSIGNIFICÂNCIA. NA VERDADE, É RELEVANTE, DO PONTO DE VISTA DA INTELIGÊNCIA DO TEXTO QUE ESTAMOS PRODUZINDO E NO SENTIDO DOS SERVIÇOS NOTARIAIS, A RESPEITO DOS QUAIS ESTAMOS

TRATANDO. (...) EM CONSTITUIÇÕES ANTERIORES, ANDAMOS ACRESCENTANDO, AO LADO DOS REGISTROS PÚBLICOS, AS JUNTAS COMERCIAIS. MAS SOMENTE EM 1977, NO PERÍODO AUTORITÁRIO, É QUE APARECEU A PALAVRA TABELIONATO. EHAVIA UM SENTIDO DE LUTA, PORQUE LEGISLAR SOBRE O DIREITO REGISTRÁRIO É LEGISLAR SOBRE MATÉRIA. O TEMA É SUBSTANTIVO, E LEGISLAR SOBRE SERVIÇOS É LEGISLAR SOBRE DISCIPLINA DO TRABALHO. (...) ACONTECE QUE TEMOS – DESCULPEM

A SINCERIDADE COM QUE VOU FAZER ESTA AFIRMAÇÃO – UM COLÉGIO NOTARIAL, UM COLÉGIO REGISTRAL, ISTO É, UMA CORPORAÇÃO NACIONAL QUE ABRANGE TODO O PAÍS. ESTE COLÉGIO, ENQUANTO CORPORAÇÃO EM LUTA DE INTERESSES,ESTÁ EVIDENTEMENTE PREOCUPADO EM FEDERALIZAR, INCLUSIVE, A DISCIPLINA DE TRABALHO DOS CARTÓRIOS. ISSO LHE DARIA UNIDADE E FORÇA CAPAZES DE INTERFERIR EM TODO O PROCESSO NORMATIVO, EM TODO O PROCESSO LEGISLATIVO

SOBRE CARTÓRIOS. O MAL QUE ADVIRÁ DAÍ É INCALCULÁVEL, PORQUE UM PEQUENINO CARTÓRIO, LÁ NO FIM DO RIO GRANDE DO SUL, NO PONTO EXTREMO SUL DO BRASIL, O CHUÍ, PARA ORGANIZAR E DISCIPLINAR SEUS SERVIÇOS DEPENDERÁ

DA LEGISLAÇÃO DO CONGRESSO NACIONAL. UM ABSURDO. MAIS: O SISTEMA DE RELAÇÕES DOS CARTÓRIOS SUPÕE, ONTOLOGICAMENTE, UMA ANTEVISÃO DOS PROBLEMAS QUE OS CARTÓRIOS PRECISAM ATENDER. ESTES PROBLEMAS TERÃO DE

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Indaga-se, só para argumentar: não se poderia cogitar de os serviçosregistrais, por – supostamente – estarem mais afetos a atos técnico-administrativos, serem delegados pelo Poder Executivo, e de os serviçosnotariais serem delegados pelo Poder Judiciário? Vejamos.

As atividades notariais e registrárias não se confundem. Tal comoexplicita o art. 5º da Lei nº 8.935/94, os titulares de serviços notariaise de registro são os: I – tabeliães de notas; II – tabeliães e oficiais deregistro de contratos marítimos; III – tabeliães de protesto de títulos;IV – oficiais de registro de imóveis; V – oficiais de registro de títulose documentos e civis das pessoas jurídicas; e VI – oficiais de registrocivis das pessoas naturais e de interdições e tutelas.

Para evidenciar a delicadeza do tema, vale ressaltar que háentendimento no sentido de que o legislador deveria ter tratado osoficiais de protesto de títulos como verdadeiros “registradores” (enão propriamente como tabeliães). O protesto de um título aproxima-se mais ao registro de documento com subseqüente intimação/notificação (publicidade) da dívida. Não é por outro motivo que,dispondo em “ato falho”, a Lei nº 9.492/97, muito embora se refiraconstantemente à figura do “tabelião de protesto”, determina, noparágrafo único do art. 9º, que “qualquer irregularidade formalobservada pelo tabelião obstará o registro do protesto”.

Por outro lado, conforme mencionado no voto do eminente Min.Ilmar Galvão, quando do julgamento da ADInMC 2.415/SP, ao transcreverpassagem da petição do Colégio Notarial (figurante como amicus curiae),resta demonstrado que, in verbis: “a atividade do tabelião de protesto deletras e títulos não é, porém, uma atividade de registro; ela não retrata,pura e simplesmente, uma realidade já existente, como é próprio aos atosregistrais, mas, pelo contrário, perfaz a criação de algo novo, uminstrumento, a partir da consecução de um ato jurídico ‘stricto sensu’ denatureza notarial, considerado o adjetivo em sentido amplo.”

Para SAVRANSKY (Funcion y responsabilidad notarial. BuenosAires: Abeledo-Perrot, 1962, pp. 70-71), a função de legitimar e darpublicidade é própria dos registradores, ao passo que notários(tabeliães) são responsáveis pela assessoria e, posterior, legitimação,autenticidade e formalização dos atos jurídicos. Por seu turno,VIEGAS DE LIMA (Temas Registrários. Porto Alegre: Sergio AntonioFabris Editor, 1998, pp. 100-102), mencionando escólio de Wilson

de Souza Campos Batalha e demonstrando a complexidade da matéria,faz interessante distinção entre a eficácia declaratória e constitutivade atos típicos do Registro Civil, in verbis: “Dos Registros Públicosdisciplinados pela Lei sob comentário, o registro civil das pessoasnaturais (físicas) não é, em regra, essencial à constituição da situaçãojurídica, do status civitatis et familiae. O registro de nascimento eda morte tem meramente o aspecto de publicidade. O registro dasemancipações, por escritura pública, bem como o das opções denacionalidade é indispensável para aquisição de oponibilidade ergaomnes. O registro das sentenças que deferirem a legitimação adotiva,que decretarem a interdição ou declararem a ausência tem efeitoconstitutivo complementar do efeito constitutivo da própria sentençacom trânsito em julgado, de que representa o derradeiro ato doprocedimento executório. (...) Seu caráter de inovação no mundojurídico impõe as formalidades registrárias para que tal inovação setorne conhecida de terceiros, posto que (sic), face às complexidadesda vida moderna, já não é bastante a publicidade peculiar aos atosprocessuais, impondo-se a publicidade maior que do registro decorre.Quanto às formalidades preliminares do matrimônio, assumem feiçãode formas habilitantes, credenciando os nubentes, preenchidos osrequisitos de publicidade, à celebração do casamento. Celebradoeste, o respectivo assento adquire o aspecto de formalidadeconstitutiva, complementando o novo status familiae.”

Um outro ponto que merece análise, concernente à competênciafederal ou estadual para a regulação das atividades notariais e registrais,é o fato de a Constituição Federal de 1988 não ter reservado para aUnião, de maneira explícita, a competência privativa para legislar sobreos serviços notariais. Com efeito, o inc. XXV, do art. 22, de nossa atualCarta Política faz menção apenas aos “registros públicos”; ao passo quea Constituição de 1967, em seu art. 8º, inc. XVII, alínea “e” (com redaçãodada pela EC nº 7 de 1977), estabelecia que competia à União legislarsobre “registros públicos, juntas comerciais e tabelionatos”. Ademais, o§ 1º do art. 236 da Constituição de 1988 — diferentemente do quedispõe o § 2º do mesmo artigo (que faz referência a uma “lei federal aestabelecer normas gerais sobre emolumentos”) — não determina se a“lei que regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil ecriminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e

SER LEVANTADOS PELO JUIZ COMPETENTE, E REMETIDOS AO CONGRESSO NACIONAL, PARA QUE ESTE LEGISLE SOBRE UM ASSUNTO QUE NÃO LHE DIZ RESPEITO E PARA O QUAL NÃO ESTÁ PREPARADO.” POR SEU TURNO, MANIFESTANDO-SE

CONTRARIAMENTE AO PROPOSTO POR MÁRIO COVAS, O CONSTITUINTE GASTONE RIGHI (PTB-SP) PONDEROU QUE, NO BRASIL, DIREITO CIVIL, HERANÇA, TRANSMISSÃO, LOCAÇÃO E ONERAÇÃO DE BENS SÃO MATÉRIAS DE COMPETÊNCIA DA

UNIÃO. POR MEIO DOS ATOS NOTARIAIS, É QUE SE PRATICAM OS ATOS JURÍDICOS RELATIVOS A DIREITOS REAIS, DIREITOS SUCESSÓRIOS, EMANCIPAÇÕES, PACTOS ANTENUPCIAIS ETC.; OU SEJA, NOS TERMOS DA LEI FEDERAL, AS ESCRITURAS SÃO

LAVRADAS EM TABELIONATOS. GASTONE RIGHI ARGUMENTOU QUE CONCORDAVA COM O FATO DE QUE A EXPRESSÃO “SERVIÇO NOTARIAL” NÃO ERA A MAIS APROPRIADA; MAS TAL PROBLEMA PODERIA SER CORRIGIDO COM UMA EMENDA DE REDAÇÃO,ENCONTRANDO-SE UM SINÔNIMO PARA A PALAVRA. NA VERDADE, INSISTIU O CONSTITUINTE PETEBISTA, O QUE PRETENDE O TEXTO BÁSICO — QUE CONTÉM A EXPRESSÃO “E SERVIÇOS NOTARIAIS” — É QUE CAIBA À UNIÃO LEGISLAR SOBRE AS ATIVIDADES

NOTARIAIS, SOBRE A FORMA DOS ATOS PÚBLICOS, SOBRE OS DOCUMENTOS PÚBLICOS, E ESSES DOCUMENTOS E ATOS TÊM DE RESPEITAR OS MESMOS REQUISITOS DE NORTE A SUL DO BRASIL.5 MUITO EMBORA PREDOMINE, NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO, LAMENTÁVEL AUSÊNCIA DE NORMAS RELATIVAS AOS ATOS NOTARIAIS, COM A EMENDA Nº 7 DE 1977, FICOU CONSTITUCIONALMENTE DETERMINADO QUE

COMPETE À UNIÃO LEGISLAR SOBRE “TABELIONATOS”. APENAS SOB A ÉGIDE DA CONSTITUIÇÃO DE 1967, FOI EDITADA LEI QUE DISPÕE SOBRE OS REQUISITOS PARA A LAVRATURA DE ESCRITURAS PÚBLICAS. COM EFEITO, ATÉ 1985(COM A PUBLICAÇÃO DA LEI Nº 7.433, DE 18 DE DEZEMBRO), VIGIAM NORMAS DAS ORDENAÇÕES FILIPINAS DE 1603. HOJE, NADA OBSTANTE O INC. XXV DO ART. 22 DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 SÓ MENCIONAR A COMPETÊNCIA

PRIVATIVA DA UNIÃO PARA LEGISLAR SOBRE “REGISTROS PÚBLICOS”, ENTENDE-SE QUE O SENTIDO E ALCANCE DESSE SINTAGMA NOMINAL ENGLOBAM A COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA LEGISLAR SOBRE “NOTAS E PROTESTOS”.6 CFR. ALMEIDA JÚNIOR (ÓRGÃOS DA FÉ PÚBLICA. — 2ª EDIÇÃO — SÃO PAULO: SARAIVA, 1963, P. 171).7 CFR. BRANDELLI (TEORIA GERAL DO DIREITO NOTARIAL. PORTO ALEGRE: LIVRARIA DO ADVOGADO, 1998, P. 40).8 NA REALIDADE, CONSIDERANDO AS LEIS JAPONESAS, PARA QUE UMA PESSOA ESTEJA QUALIFICADA A ATUAR COMO JUIZ, FISCAL OU ADVOGADO, DEVE SER APROVADO NO EXAME DA NATIONAL BAR (UMA ESPÉCIE DE CONSELHO QUE CONGREGA

OS JURISTAS JAPONESES), QUE É UMAS DAS MAIS DIFÍCEIS PROVAS. ALÉM DISSO, O PRETENDENTE DEVE COMPLETAR UM ANO E MEIO DE CURSO DE TREINAMENTO COMO ESTUDANTE DE DIREITO E, FINALMENTE, SER APROVADO EM UM SEGUNDO EXAME.

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definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário” será decompetência privativa da União ou concorrente com os Estados.

Tal indefinição de nossa Lei Maior fez com que Antônio AlbergariaPEREIRA (A constituição coragem e o notariado brasileiro. São Paulo:Edição privativa do autor, 1989, pp. 50-53) concluísse que cada Estadofosse legislar sobre serviços notariais, dispondo até mesmo sobre os requisitosdas escrituras públicas. Sustentava o experiente notário paulista, in verbis:

“No que tange aos serviços notariais, entendemos quecada Estado da Federação tem ampliada sua competência paralegislar, não só sobre a forma da execução como também sobrea substância de tais serviços. No tocante à substância dosserviços de registros públicos, a União reservou para si acompetência privativa de legislar sobre eles (art. 22, XXV). Jácom referência aos serviços notariais, que na Constituiçãoanterior a União tinha competência privativa para legislar sobreeles (art. 8º, XVII, letra e da Emenda Constitucional nº 7 de1977) abdica dessa competência na atual, e a conclusão que seimpõe é que tal competência foi transferida para os Estados.(...) O Estado, segundo o § 1º do art. 25 [‘são reservadas aosEstados as competências que não lhes sejam vedadas por estaConstituição’], só sofre restrição na sua competência para seorganizar, através de sua Constituição e de suas leis, naquiloque lhe for vedado pela Constituição Federal. Não encontramos,na atual Constituição, nenhum dispositivo que proíba cadaEstado de legislar sobre assuntos notariais e muito menos noque se refere ao exercício de tais serviços. (...) Nas atividadesnotariais, até hoje, predominou uma verdadeira anomia. Aausência de preceitos legais nesse assunto é chocante.”

Antônio Albergaria PEREIRA fundamenta o tratamento desigualda competênc ia en t re se rv iços no ta r ia i s e reg i s t ra i s pe ladessemelhança de natureza entre essas distintas categorias deatividades. Vejamos as reflexões do ilustre notarialista (AntônioAlbergaria PEREIRA, 1989, pp. 64-65), in verbis:

“Os serviços notariais, pela sua natureza e pelo mecanismo epeculiaridades do seu exercício, não são do interesse do PoderPúblico em exercê-los. Só o particular pode exercê-los bem e comeficiência. Segundo o nosso entendimento, é mais fácil extinguir os

serviços notariais do que serem eles exercidos diretamente peloPoder Público. Já os serviços de registro, civil ou imobiliário, podemser exercidos pelo Poder Público, notadamente com odesenvolvimento da informática. Tais serviços relacionam-se com aestrutura do Poder Público. A propriedade imobiliária e o elementosociológico da nação: o povo. Todos os serviços de registros públicossão de interesse direto da nação. A propriedade imobiliária, atravésdo seu cadastramento. O povo, sob estes aspectos: nascimento,casamento e morte. O casamento é um instituto que afeta a família,que é a célula primeira da estrutura social maior: a nação. O PoderPúblico não os exercendo, mas face ao seu interesse pelos mesmos,subvenciona o particular, quando o cartório não propicie rendasuficiente para sua manutenção. A oficialização dos cartórios doRegistro Civil seria até uma medida acolhida pela maioria doscartorários que exercem suas atividades em caráter privado. Aoficialização dos cartórios de registros imobiliários é um assuntoque se torna polêmico e nós, com este trabalho, não pretendemospolemizar. Devemos, contudo, registrar esta realidade: os atos quese incluem nos serviços de registros públicos, obrigatoriamente,devem ser praticados pelo particular que deles necessita, numadeterminada e exclusiva serventia. O particular que pratica essesatos, pratica-os sob uma forma coativa. Pratica-os, como tambémpaga impostos. O mesmo não ocorre com os atos notariais. Pela suanatureza privada, o interessado tem uma gama imensa depossibilidades de praticá-los onde desejar e pela forma que melhoratenda aos seus interesses.”

Quanto às diferenças entre as atribuições de notários e registradores,vale a pena reproduzir breve lição de Ricardo Dip, na obra NALINI etal. (Registros públicos e segurança jurídica. Porto Alegre: SergioAntonio Fabris Editor, 1998, p. 95), quando assinala que, in verbis:

“É certo que tanto o registro imobiliário, quanto otabelionato de notas estão destinados à segurança jurídica,m a s n ã o d o m e s m o m o d o . O n o t á r i o d i r i g e - s epredominantemente a real izar a segurança dinâmica[conjunto de medidas jurídicas destinadas a protegersituações em vias de constituição, modificação, ou extinção];o registrador, a segurança estática [conjunto de medidas

CERCA DE 73% (SETENTA E TRÊS POR CENTO) DOS NOTÁRIOS JAPONESES SÃO EX-JUÍZES E FISCAIS PÚBLICOS E O RESTANTE É CONSTITUÍDO POR DIRETORES DO DEPARTAMENTO DE ASSUNTOS LEGAIS DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. NORMALMENTE,SÃO NOMEADOS QUANDO COMPLETAM, APROXIMADAMENTE, SESSENTA ANOS DE IDADE (LOGO APÓS TEREM SERVIDO COMO JUÍZES, FISCAIS PÚBLICOS OU DIRETORES) E CONTINUAM EXERCENDO AS ATIVIDADES NOTARIAIS ATÉ OS SETENTA ANOS.9 SEGUNDO OVÍDIO BAPTISTA DA SILVA (O NOTARIADO BRASILEIRO PERANTE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL. IN: REVISTA DE DIREITO IMOBILIÁRIO, Nº 48, ANO 23, JANEIRO-JUNHO DE 2000, PP. 81-84), O NOTARIADO BRASILEIRO, DISCIPLINADO ATÉ ENTÃO

(EM MEADOS DO SÉC. XIX) PELAS ORDENAÇÕES FILIPINAS, PASSOU, COM O DECRETO DE 02.10.1851, QUE DISPÔS SOBRE O REGULAMENTO GERAL DAS CORREIÇÕES, A SER FISCALIZADO PELO PODER JUDICIÁRIO, ASSUMINDO O CARÁTER DE UM SERVIÇO AUXILIAR,EMBORA SUAS FUNÇÕES NADA TENHAM EM COMUM COM AS ATRIBUIÇÕES PECULIARES A ESSE PODER. A SUBORDINAÇÃO DA INSTITUIÇÃO NOTARIAL AO PODER JUDICIÁRIO É UMA NOTA PECULIAR DO NOTARIADO BRASILEIRO QUE, EM VIRTUDE DE CIRCUNSTÂNCIAS

HISTÓRICAS E POLÍTICAS, DISTANCIOU-SE ATÉ MESMO DO INFLUENTE REGIME JURÍDICO PORTUGUÊS, CUJO NOTARIADO ESTÁ LIGADO, AO CONTRÁRIO DO NOSSO, NÃO AO PODER JUDICIÁRIO, MAS AO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA.10 COMO SE SABE, É INEGÁVEL A INFLUÊNCIA PORTUGUESA NO NOTARIADO BRASILEIRO, DESDE AS GRANDES NAVEGAÇÕES E DESCOBERTA DO BRASIL. PUGLIESE (DIREITO NOTARIAL BRASILEIRO. SÃO PAULO: LIVRARIA E EDITORA UNIVERSITÁRIA DE DIREITO,1989, P. 27), AO MENCIONAR ESTUDO DE MARIA CRISTINA COSTA SALLES SOBRE AS ORIGENS DO NOTARIADO NA AMÉRICA (IN: REVISTA NOTARIAL BRASILEIRA Nº 1/1974), HISTORIA QUE, IN VERBIS: “FORAM TRÊS OS MARCOS DAS CONQUISTAS EUROPÉIAS:A ESPADA DO CONQUISTADOR, A CRUZ DA RELIGIÃO E A PENA DO TABELIÃO. A POSSE DA TERRA ERA REGISTRADA, COMO MANDAVAM AS LEIS, POR MEIO DE UM REQUERIMENTO, ATRAVÉS DO QUAL O EXPEDICIONÁRIO PERGUNTAVA EM VOZ ALTA SE HAVIA ALGUÉM

QUE RECLAMASSE OS DIREITOS POSSESSÓRIOS DA TERRA. ASSIM, RECLAMAVA PARA PORTUGAL OU ESPANHA A POSSE DA TERRA. ATRAVÉS DO REGISTRO, O TABELIÃO FIRMAVA OFICIALMENTE O QUE A HISTÓRIA A PARTIR DE ENTÃO CONCRETIZARIA. (...) O TABELIÃO

REGISTRAVA TAMBÉM A FUNDAÇÃO DE CIDADES, OS DESEMBARQUES E CONQUISTAS NA COLÔNIA, DECLARANDO QUE O COLONIZADOR TOMAVA POSSE EM NOME DO MONARCA”. A ESSE PROPÓSITO, UM PITORESCO DADO DE ORDEM HISTÓRICA É O FATO DE QUE

O ESCRIVÃO (OU CONTADOR) PERO VAZ DE CAMINHA, CONHECIDO E RENOMADO POR TER SIDO O REDATOR DA CARTA QUE DESCREVE O ALVORECER DA NAÇÃO BRASILEIRA, NÃO ERA PROPRIAMENTE O TABELIÃO DESIGNADO PELO MONARCA D. MANOEL “O

VENTUROSO”. SEGUNDO NARRA EDUARDO BUENO (A VIAGEM DO DESCOBRIMENTO: A VERDADEIRA HISTÓRIA DA EXPEDIÇÃO DE CABRAL. COLEÇÃO TERRA BRASILIS, VOLUME 1. RIO DE JANEIRO: OBJETIVA, 1998, P. 40), IN VERBIS: “OUTRO PERSONAGEM

DE GRANDE IMPORTÂNCIA A BORDO ERA O ESCRIVÃO E NOTÁRIO AFONSO FURTADO, RESPONSÁVEL PELOS INTERESSES DO REI E, CONTABILISTA E DESPENSEIRO, ATÉ A MÍNIMA GOTA DE ÁGUA, PELOS VÍVERES GUARDADOS COMO UM TESOURO PELOS SOLDADOS.

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jurídicas apropositadas a conservar situações estabelecidas];o n o t á r i o , e x p r e s s a n d o u m d ic tum [ n a r r a ç ã o o urepresentação documental de um actum, que consiste naação documentadora de um fato jurídico lato sensu] —i.e., conformando e preconstituindo prova –, é, porém eantes de tudo, um conselheiro das partes, cujo actum buscaexprimir como representação de uma verdade e para aprevenção de litígios; de que segue sua livre eleição peloscontratantes, porque o notário é partícipe da elaboraçãoconsensual do direito; diversamente, o registrador nãoexercita a função prudencial de acautelar o actum, masapenas a de publicar o dictum, o que torna despicienda aliberdade de sua escolha pelas partes: o registrador nãoconfigura a determinação negocial.”

Corroborando, de certa forma, com o entendimento de AntônioAlbergaria PEREIRA, pode-se verificar que, na fase de elaboraçãoda Constituição Federal (ex vi do contido no Diário da AssembléiaNacional Constituinte do dia 8 de março de 1988, às fls. 8106-7),os constituintes enfrentaram a matéria sob apreço. Trata-se doRequerimento de Destaque nº 2.128, da lavra do constituinte MárioCovas, para a votação em separado da expressão “e serviçosnotariais”, contida no texto básico do projeto constituinte e quefaria parte do inc. XXV, do art. 22, da Constituição Federal de1988 (que trata da competência privativa da União para legislarsobre registros públicos). Por maioria de votos, a referida expressãofoi rejeitada e não está contida em nossa Lei Maior.

O líder Mário Covas (PMDB-SP) requereu o destaque para votaçãoem separado, a fim de que o texto constitucional ficasse restrito a“registros públicos” e não figurasse, dentre os temas de competêncialegiferante privativa da União, a expressão “e serviços notariais”. Oencaminhamento da votação foi procedido pelo constituinte JoséPaulo Bisol (PMDB-RS) que argumentou que os serviços notariaistêm a ver com organização judiciária. Nossa tradição é de que aUnião legisla sobre direito material, sobre o direito registrário, masnão sobre os serviços, sobre a disciplina do trabalho. Essa competênciaé transferida aos Estados, para que a organização dos trabalhoscartoriais atenda às singularidades, às peculiaridades de cada Estado4.

Como se pode notar, na Assembléia Nacional Constituinte, tratou-se não propriamente da competência para o estabelecimento dosrequisitos de uma escritura pública (que, como sabemos, é decompetência da União Federal), mas sim da inconveniência do vocábulo“serviço” (na expressão “e serviços notariais”), uma vez que tal palavradiz respeito às atribuições e operacionalidade do cartório, que devemser estabelecidas pelos Estados-membros. Nosso entendimento é o deque, nada obstante o debate travado no processo constituinte, pelofato de uma escritura pública ter validade em todo o território nacional,bem como nos consulados e embaixadas brasileiras no estrangeiro, acompetência para fixar seus requisitos, para sua lavratura, deve ser daUnião Federal, tal como vem ocorrendo5.

Direito Estrangeiro e a competência do Poder ExecutivoPor imperativo de brevidade, verificaremos no presente item,

laconicamente, que, no Direito Estrangeiro, predomina a vinculaçãode notários e registradores ao Poder Executivo.

Em Portugal, as atividades notariais e registrais estão ligadas ao PoderExecutivo. Os notários franceses são nomeados pelo Primeiro Cônsul.

No notariado judicial alemão (adotado em Baden-Württemberg, porexemplo), os titulares das serventias pertencem à magistratura e a noção detabelionato identifica-se a um órgão estatal. O Estado imputa ao notáriofunções públicas (como lavratura de testamentos, execuções de sentenças eo registro de propriedade), podendo o tabelião, em todos os casos, invocaras prerrogativas dos juízes. São nomeados pelo Ministério da Justiça, bemcomo pagos pelo Estado, independentemente da atividade realizada.

Quanto ao notariado espanhol, as disposições dispersas nos diferentesordenamentos anteriores a 1862 foram então, naquele ano (no dia 28 demaio), consolidadas em uma lei orgânica, que em seu art. 1º já expressavaque “El notário es un funcionario público autorizado para dar fe conformea las leyes, de los contratos y demás actos extrajudiciales”. Segundoassinala SAVRANSKY (Funcion y responsabilidad notarial. Buenos Aires:Abeledo-Perrot, 1962, p. 87), as reformas operadas na referida leiespanhola e em seu decreto regulamentador foram transitórias e sereferiram a tópicos incidentais, pelo que o regime primitivo, instauradopela Lei de 1862, subsiste. Assim, neste país, os notários são agentespúblicos (que conferem autenticidade e força probatória às declarações

‘TODOS OS MANTIMENTOS DO NAVIO SÃO DISTRIBUÍDOS À SUA VISTA E ELE FAZ ASSENTO DE TUDO, AINDA QUE SEJA UM QUARTILHO DE ÁGUA. TEM AS CHAVES DAS ESCOTILHAS DO NAVIO; E MESMO QUANDO O CAPITÃO QUER IR ABAIXO AO PORÃO, É MISTER

QUE O ESCRIVÃO O ACOMPANHE SEMPRE, E DE OUTRA SORTE NÃO PODERIA LÁ IR, NÃO OBSTANTE A REPRESENTAR NO NAVIO A EL-REI’, ESCREVEU PYRARD DE LAVAL, REFERINDO-SE, ANOS MAIS TARDE, ÀS FUNÇÕES DO NOTÁRIO”. ADEMAIS, REVELA, NA MESMA

OBRA, BUENO (PP. 114-115), QUE, IN VERBIS: “CAMINHA NÃO ERA O ESCRIVÃO OFICIAL DA VIAGEM DE CABRAL – CARGO OCUPADO POR GONÇALO GIL BARBOSA. ELE [CAMINHA] FORA ESCALADO PARA SER O CONTADOR DA FEITORIA DE CALICUTE.”11 POR OUTRO LADO, SUSTENTA O NOTARIALISTA MELO JÚNIOR (A INSTITUIÇÃO NOTARIAL: NO DIREITO COMPARADO E NO DIREITO BRASILEIRO. FORTALEZA: CASA JOSÉ DE ALENCAR/UFC, 1998, PP. 205-206) QUE, “EM VERDADE, AS

DISPOSIÇÕES DE VENDAS E COMPRAS DE OFÍCIOS DE JUSTIÇA NÃO EXISTIAM. A MANEIRA DE ACESSO AOS CARGOS, UMA VEZ QUE SE EXIGIAM FIANÇAS, É QUE PODERIA INSINUAR, A ALGUÉM MENOS INFORMADO DAS CONDIÇÕES SOCIAIS E HISTÓRICAS

DE PORTUGAL MEDIEVO, QUE ASSIM ACONTECIA. TODAS AS ‘LOTAÇÕES’, VAMOS ASSIM DIZER, ERAM PRECEDIDAS DO ATENDIMENTO DE CRITÉRIOS ADMINISTRATIVOS RÍGIDOS, QUE RECLAMAVAM LICENÇA ESPECIAL, DA AUTORIDADE JUDICIÁRIA

OU MINISTERIAL (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA), NUM GENUÍNO EXERCÍCIO DE ATO ADMINISTRATIVO VINCULADO”. TANTO ISSO É VERDADE QUE HAVIA, NO LIVRO II DAS ORDENAÇÕES FILIPINAS (TÍTULO XLVI – QUE AS PESSOAS, QUE TÊM PODER

DE DAR OFÍCIOS, OS NÃO VENDAM, NEM LEVEM DINHEIRO POR NADA), DISPOSITIVO NESTES TERMOS, IN VERBIS: “NENHUMA PESSOA, DE QUALQUER ESTADO, PREEMINÊNCIA, SORTE E CONDIÇÃO QUE SEJA, QUE PODER TENHA PARA DAR, E EM QUALQUER

MANEIRA QUE SEJA, PROVER QUAISQUER OFÍCIOS, QUE À NOSSA FAZENDA, OU JUSTIÇA TOQUEM, NÃO VENDA, NEM MANDE VENDER NENHUNS DOS DITOS OFÍCIOS, NEM LEVE DINHEIRO ALGUM POR OS DAR. NEM ASSIM MESMO, DE JULGADOR

DE ÓRFÃOS, E ESCRIVANINHAS DÊLES, E ESCRIVANINHAS DAS CÂMARAS E DE ALMOTACERIA, A QUAISQUER OUTROS, DE QUALQUER QUALIDADE QUE POSSAM SER, DA GOVERNANÇA E REGIMENTO DAS CIDADES, VILAS, OU LUGARES. E ISSO MESMO

PESSOA ALGUMA OS NÃO COMPRE, PÔSTO QUE VENDIDOS LHE SEJAM, SOB PENA DE QUEM OS COMPRAR, OU DER DINHEIRO POR ÊLES, PERDER O TAL OFÍCIO PARA QUEM O ACUSAR, E MAIS TÔDA A SUA FAZENDA, METADE PARA QUEM O ACUSAR,E A OUTRA PARA NOSSA CÂMARA. E ALÉM DISSO FICARÁ A DADA DE OFÍCIO DEVOLVIDA A NÓS, PARA DAÍ POR DIANTE SER DADO POR NÓS. E AQUÊLE, QUE O VENDEU, OU LEVOU DINHEIRO POR O DAR, NUNCA O MAIS PODERÁ DAR. E AO QUE

O TAL OFÍCIO, OU OFÍCIOS COMPRAR, LHE PODERÃO SER DEMANDADOS EM TÔDA A SUA VIDA, E A DITA PENA SEM SE PODER AJUDAR DA PRESCRIÇÃO EM TEMPO ALGUM.” (VIDE ALMEIDA, VOLUME II, 1960, PP. 162-163, QUE RELATA QUE,APESAR DO EXPOSTO SOBRE A PROIBIÇÃO DA VENALIDADE DOS OFÍCIOS, ERA COMUM FALAR-SE EM “PROPRIEDADE” DE CARGO PÚBLICO, NUM SENTIDO QUE HOJE SERIA INACEITÁVEL).

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de vontade no instrumento público) e profissionais do direito (queassessoram e aconselham os interessados). O ministro da justiça é onotário supremo do Estado e, como tal, autentica os atos do rei e dafamília real6. O notário desfruta de plenas autonomia e independênciafuncional, e sua organização hierárquica depende diretamente doMinistério da Justiça e da Direção Geral dos Registros e do Notariado7.

No Japão, o notário é um agente público nomeado pelo Ministério daJustiça e desempenha funções afetas ao Departamento de Assuntos Legais,para o qual é designado. Segundo a Lei Notarial Japonesa, o Ministro daJustiça pode nomear um cidadão como notário sempre que reúna asseguintes condições: a) estar qualificado para desempenhar função dejuiz, fiscal ou advogado militante8; b) ser considerado pelo Comitê Notarialcomo pessoa detentora de amplo conhecimento jurídico e experiênciaprofissional; e c) ter nacionalidade japonesa, mais de vinte anos de idade,completado um programa de treinamento para notários (de não menosdo que seis meses) e obter êxito em exame de idoneidade moral.

Os tabelionatos chineses passaram a desenvolver sua atividadesegundo as leis de mercado, responsabilizando-se pelos atospraticados, bem como submetendo-se à autoridade da AssociaçãoNotarial Chinesa e à fiscalização do Ministério da Justiça.

Como exceção (vocacionada a confirmar a regra), no Uruguai, paraser tabelião, basta ter o título universitário específico e alguns outrosrequisitos, como idade mínima, idoneidade moral e capacidade física.Satisfazendo tais exigências, o pretendente a notário poderá apresentar-se à Suprema Corte de Justiça para receber sua inscrição.

Idiossincrasias da evolução do notariado brasileiroEnquanto o notariado dos países de língua espanhola na América

Latina desenvolveu-se de forma independente, seguindo modeloadotado na Espanha; conforme ensinamentos de Ovídio Baptistada SILVA9, no Brasil, a partir de meados do século XIX, a instituiçãoperdeu a independência histórica que marcara seu nascimento,para tornar-se um serviço subordinado ao Poder Judiciário.

Ainda, segundo leciona Ovídio A. Baptista da SILVA (2000, p. 81), oregime de tabelionatos brasileiros, como se pode depreender dedisposições constantes em codificações portuguesas (iniciadas em 1446,com as Ordenações Afonsinas), especialmente nas Ordenações Filipinas

(de 1603)10, “era o de uma instituição de natureza privada, obtida porconcessão do monarca a quem era devido o pagamento periódico de umtributo”. Com efeito, o § 15 do Título XLV (Em que maneira os senhoresde terras usarão da jurisdição, que por el-Rei lhes fôr dada) do Livro IIdas Ordenações Filipinas dispõe que a delegação das atividades notariaise registrais, desde há muito, competia exclusivamente ao Rei, in verbis:

“15. Criar de novo Tabeliados a Nós sòmente pertence, enão a outrem; portanto defendemos, que pessoa alguma, dequalquer dignidade, estado e condição que seja, não faça denovo Tabelião algum, assim das Notas, como do Judicial, naterra, ou terras que de Nós tiver. E o que o contrário o fizer,por êsse mesmo feito, seja privado para sempre de todo o poder,e privilégio, que tiver, de pôr, ou apresentar os Tabeliães. E oque aceitar e servir o tal Ofício de novo criado, haverá pena defalsário.” (vide ALMEIDA, Ordenações Filipinas. Ordenaçõese leis do Reino de Portugal recopiladas por mandato d’elRei D. Filipe, o Primeiro. Texto com introdução, breves notase remissões redigidas por Fernando H. Mendes de Almeida.Volume II. São Paulo: Saraiva, 1960, p. 148)

Por outro lado, Décio Antônio ERPEN (A responsabilidade civil, penale administrativa dos notários e registradores. In: Boletim do ColégioNotarial do Brasil — Seção Rio Grande do Sul, Edição nº 01, 1999, p. 2)sustenta que os serviços notariais e registrais não decorrem propriamentede delegação; seriam, antes, instituições da comunidade, pré-jurídicas,advindas não de ato administrativo, ou da vontade política do governante,mas sim de um fenômeno sociojurídico, institucionalizado pelaconvivência, objetivando a segurança nas relações dos indivíduos, emsociedade. Em decorrência da nítida autonomia que possuem, enquadrar-se-iam tais serviços extrajudiciais, dentro do sistema, como instituiçõesautárquicas, similares à Ordem dos Advogados do Brasil ou ao MinistérioPúblico. No caso do credenciamento dos notários e registradores, oeminente jurista gaúcho sustenta que há uma relação sui generis, quenão se constitui nem em delegação, nem em concessão, nem empermissão. O vínculo, pelas características da instituição de comunidade,refoge a todos os padrões. “Os atos praticados pelos Notários eRegistradores são, tipicamente, de direito material, de cidadania e nãoadministrativos. Já os atos de ingresso ou de disciplina, estes sim, são

12 RELAÇÃO É A ANTIGA DENOMINAÇÃO DADA AOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA DE SEGUNDA INSTÂNCIA. A CASA DA SUPLICAÇÃO ERA O MAIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA NA ÉPOCA DAS ORDENAÇÕES LUSITANAS (AFONSINAS DE 1446,MANUELINAS DE 1521 E FIL IP INAS DE 1603).13 O CONSTITUCIONALISTA MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO (COMENTÁRIOS À CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988. VOLUME 2. — 2ª ED. ATUALIZADA E REFORMULADA. — SÃO PAULO: SARAIVA, 1999, P. 303), AO TECER COMENTÁRIOS

SOBRE O ART. 236 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988, LECIONA QUE, IN VERBIS: “ESTE PRECEITO VEIO DETER A TENDÊNCIA À ‘OFICIALIZAÇÃO’ (OU SEJA, ESTATIZAÇÃO) DOS SERVIÇOS CARTORIAIS. POR FORÇA DA NORMA EM EXAME, OS CARTÓRIOS DE NOTAS

E DE REGISTROS HÃO DE SER PRESERVADOS DESSA ‘OFICIALIZAÇÃO’. É ÓBVIO QUAIS SÃO OS INTERESSADOS NESSA PROIBIÇÃO...” POR SEU TURNO, O PROFESSOR ORLANDO SOARES (COMENTÁRIOS À CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.— 11ª ED. REVISTA E ATUALIZADA — RIO DE JANEIRO: FORENSE, 2002, P. 757), AO COMENTAR O MESMO DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL, ASSEVERA QUE, IN VERBIS: “O ART. 236 REPRESENTOU UM RETROCESSO ELITISTA, FONTE DE ODIOSOS PRIVILÉGIOS

REINÓIS, ENSEJANDO A CONCESSÃO DE VERDADEIRAS DONATARIAS FEUDAIS, TÍPICAS DA ERA COLONIAL, EM DETRIMENTO DOS INTERESSES COLETIVOS, NA ESFERA DA ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA, OU SEJA, A PRIVATIZAÇÃO DOS SERVIÇOS NOTARIAIS”.14 EM TEXTO PUBLICADO NO ANO 1971, COTRIM NETO (ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DO NOTARIADO NA REPÚBLICA FEDERAL DA ALEMANHA (UM ESTUDO DA SOLUÇÃO DE PROBLEMAS INSOLÚVEIS NO BRASIL). IN: REVISTA DE

INFORMAÇÃO LEGISLATIVA, ANO VIII, N. 31, JULHO-SETEMBRO 1971, P. 34), AO ANALISAR HISTORICAMENTE AS ATRIBUIÇÕES DO FORO EXTRAJUDICIAL, CHAMAVA A ATENÇÃO PARA O FATO DE QUE OS TABELIÃES E REGISTRADORES

NÃO DEVERIAM MAIS ESTAR SITUADOS NA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL E HIERÁRQUICA DO PODER JUDICIÁRIO, NOS SEGUINTES TERMOS, IN VERBIS: “DESDE A CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS, FATO HISTÓRICO QUE TEVE

INÍCIO DE DESENCADEAMENTO PELA ÉPOCA DO RENASCIMENTO, ATÉ O SÉCULO XIX, ERA MUITO SIMPLES A ESTRUTURA DO ESTADO; COMO OBSERVOU O EMINENTE ADMINISTRATIVISTA ALEMÃO ERNST FORSTHOFF – EM SEU ‘LEHRBUCH

DES VERWALTUNGSRECHTS” (9ª ED. C. H. BECK’SCHE, BERLIM, 1966) – AINDA NÃO OCORRERA OU APENAS SE INICIARA A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, E O HOMEM VIVIA PERTO DE SUAS FONTES DE SUBSISTÊNCIA (OS CAMPOS DE

PASTAGEM E DE LAVOURA, OS PONTOS DE ÁGUA, OS LOCAIS DE EXERCÍCIO PROFISSIONAL ETC.), DONDE RESULTAVA QUE POUCO LHE OCORRIA SOCORRER-SE DO ESTADO, QUE SÓ LHE APARECIA AOS OLHOS NAS PESSOAS DO HOMEM

D’ARMAS OU DO COBRADOR DE IMPOSTOS. POR ENTÃO, E SOBRETUDO NOS PAÍSES DE GRANDE TERRITÓRIO, COMO O BRASIL, SERIA NATURAL QUE CERTOS SERVIÇOS PÚBLICOS – OS REGISTROS DE IMÓVEIS, OS REGISTROS CIVIS (QUANDO

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administrativos porque vinculam o Notário ou Registrador ao PoderPúblico. Mas só na unção e disciplina. Não na essência da atividade.”

A tese de Décio Antônio ERPEN parece encontrar fundamento no §20 do Título LXXVIII (Dos tabeliães das notas) do Livro I das OrdenaçõesFilipinas, mostrando que a fé pública, historicamente, é algo oriundonão propriamente do Estado, mas, antes, da honorabilidade que certaspessoas possuem em sua comunidade e por esta reconhecidas, in verbis:

“E em cada Aldeia que tiver vizinhos, e estiver afastada da Cidade,ou Vila uma légua, haja uma pessoa apta para fazer os testamentosaos moradores da dita Aldeia, que estiverem doentes em cama. Esendo feitos segundo forma de nossas Ordenações, ser-lhes-á dadafé e autoridade, como que foram feitos por Tabelião de Notas. E osOficiais da Câmara poderão escolher a tal pessoa morador da ditaAldeia, e servirá o dito Ofício em sua vida, e dar-lhe-ão juramentoescrito, ao pé do qual deixará feito o seu sinal público. E seráobrigado ter um caderno bem cosido, em que escreva os ditostestamentos, quando lhos mandarem fazer nas Notas. E cometendonêles qualquer êrro, incorrerá nas penas, em que incorrera o Tabeliãopúblico, que o tal êrro ou falsidade cometer. E não tolhemos, queos moradores dessa Aldeia possam fazer os testamentos, pôsto quedoentes estejam, com os Tabeliães da Cidade, ou Vila, comoquiserem, segundo forma de nossas Ordenações.” (a fonte dessedispositivo está, segundo ALMEIDA, no Volume I, 1957, p. 421, o§ 36 do Título LIX do Livro I das Ordenações Manuelinas)

Prevalece, de qualquer forma, em nossa doutrina e sistemalegal, o entendimento de que o desempenho das atividades notariaise de registro decorre, sim, da delegação do Poder do Estado.

João Figueiredo FERREIRA (Para onde vão os cartórios? In: Revista deDireito Imobiliário, nº 48, ano 23, janeiro-junho de 2000, p. 131) nosensina que a história do notariado brasileiro registra, até fins do século XIX,a possibilidade legal da venda do então denominado cartório, que era umbem econômico11. Na primeira metade do século XX, passou a constituirpresente oferecido pelo detentor do poder para contemplar os amigos, oucooptar os inimigos. Entretanto, desde meados do referido século XX, amaioria dos Códigos de Organização Judiciária instituiu a necessidade deaprovação em concurso público para o exercício da função notarial, mesmoporque o titular da função passava a ser um servidor da justiça.

No que tange à evolução do notariado no direito luso-brasileiro, oconstitucionalista Pinto FERREIRA (Comentários à ConstituiçãoBrasileira. 7º Volume. São Paulo: Saraiva, 1995, pp. 467-469) assinalaa existência histórica de três etapas, conforme expomos a seguir.

O primeiro período foi aquele em que o titular do ofício de justiçaera o proprietário (muito embora o escrivão não pudesse vender,renunciar nem transpassar o ofício sem licença especial do Rei),prolongando-se o direito costumeiro de sucessão dos cartórios. O tabeliãorecebia a serventia a título de doação, era vitalício e não poderia serafastado senão por meio de sentença judicial confirmada pela Relação12.

Na segunda etapa, aboliu-se toda vinculação do direito de propriedade àsserventias, com a Lei de 11 de outubro de 1827, que “determina a fôrma porque devem ser providos os officios de Justiça e Fazenda”. Com a edição destalei, ficou determinado que, in verbis: “Art. 1º Nenhum officio de Justiça, ouFazenda, seja qual for a sua qualidade, e denominação, será conferido a títulode propriedade. Art. 2º Todos os officios de Justiça, ou Fazenda, serãoconferidos, por títulos de serventias vitalicias, ás pessoas, que para elles tenhama necessaria idoneidade, e que os sirvam pessoalmente; salvo o accesso regular,que lhes competir por escala nas repartições, em que o houver”.

O terceiro período caracteriza-se pela constitucionalização davitaliciedade dos aludidos titulares, consagrada pela Constituiçãode 1946 que, em seu art. 187, determinou serem “vitalícios somenteos magistrados, os ministros do Tribunal de Contas, os titulares deofício de justiça e os professores catedráticos”.

A Constituição de 1988, por seu art. 236 e parágrafos, bem comopela exceção d ispos ta no ar t . 32 do Ato das Dispos içõesConstitucionais Transitórias, evidencia, com ares desburocratizantes,o caráter eminentemente privado em que devem se desenvolver osserviços notariais e de registro13. Ademais, a previsão constitucionalrevela e induz grande repercussão ao tirar as instituições notarial eregistral do obscurantismo que as envolvia, tornando-as maisconhecidas e dando notícia de sua importância social e jurídica.

Desvinculação das atividades notariais e de registro doPoder Judiciário

No que tange ao fato de a disposição constitucional reguladora dasatividades notariais e de registro (art. 236 da CF de 1988) situar-se,

NÃO EXERCIDOS, ESTES, PELA IGREJA) E OS OFÍCIOS NOTARIAIS – FOSSEM ASSUMIDOS POR PESSOAS DA JUSTIÇA QUE, FALANDO EM NOME DO REI, ERAM SEMPRE ACOLHIDAS COM MAIS SIMPATIA QUE OS AGENTES DE SEGURANÇA

OU OS PUBLICANOS [COBRADORES]. OCORREU QUE O ESTADO TEVE MULTIPLICADOS OS SEUS ENCARGOS: HOUVE MISTER ESPECIALIZAR SERVIÇOS E CARGOS. E ENTÃO, NOS PAÍSES ADIANTADOS, O NOTARIADO E O REGISTRO PÚBLICO

DESVINCULARAM-SE DA ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA, QUE TAMBÉM SE TORNOU ASSAZ COMPLEXA, PELA MULTIPLICAÇÃO DE SEUS ÓRGÃOS. NÃO FOI SEM RAZÃO QUE O PROFESSOR AMARAL SANTOS [IN: ‘PRIMEIRAS LINHAS DE DIREITO

PROCESSUAL CIVIL’, PP. 159/165] ESCREVEU, A PROPÓSITO: ‘A DOUTRINA CONTEMPORÂNEA DOMINANTE EXCLUI DO QUADRO DOS AUXILIARES DA JUSTIÇA TODOS AQUÊLES QUE EXERÇAM ATIVIDADES QUE NÃO SEJAM INERENTES

ÀS QUE SE REALIZAM NO PROCESSO. ASSIM, COMO TAIS NÃO SE CLASSIFICAM OS ÓRGÃOS DO FORO EXTRAJUDICIAL, OS QUAIS, SEM EMBARGO DE SEREM INVESTIDOS DE FÉ PÚBLICA, COMO O SÃO OS DO FORO JUDICIAL, NÃO REALIZAM

ATIVIDADES PROCESSUAIS, MAS SIM ATIVIDADES OUTRAS CONCERNENTES À TUTELA ADMINISTRATIVA DE INTERESSES PRIVADOS’”.15 ASSIM DISPÕE O ART. 28 DA LEI Nº 8.935, DE 18 DE NOVEMBRO DE 1994, IN VERBIS: “OS NOTÁRIOS E OFICIAIS DE REGISTRO GOZAM DE INDEPENDÊNCIA NO EXERCÍCIO DE SUAS ATRIBUIÇÕES, TÊM DIREITO À PERCEPÇÃO

DOS EMOLUMENTOS INTEGRAIS PELOS ATOS PRATICADOS NA SERVENTIA E SÓ PERDERÃO A DELEGAÇÃO NAS HIPÓTESES PREVISTAS EM LEI.” POR SEU TURNO, REZA O ART. 21 DA MESMA LEI QUE, IN VERBIS: “O GERENCIAMENTO

ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO DOS SERVIÇOS NOTARIAIS E DE REGISTRO É DA RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DO RESPECTIVO TITULAR, INCLUSIVE NO QUE DIZ RESPEITO ÀS DESPESAS DE CUSTEIO, INVESTIMENTO E PESSOAL, CABENDO-LHE ESTABELECER NORMAS, CONDIÇÕES E OBRIGAÇÕES RELATIVAS À ATRIBUIÇÃO DE FUNÇÕES E DE REMUNERAÇÃO DE SEUS PREPOSTOS DE MODO A OBTER A MELHOR QUALIDADE NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS”.16 CF. LEI Nº 8.935, DE 18 DE NOVEMBRO DE 1994, ART. 1º.17 ATÉ HOJE, A RECEITA FEDERAL CLASSIFICA TITULARES DE SERVENTIAS EXTRAJUDICIAIS, GENERICAMENTE, COMO SERVENTUÁRIOS DA JUSTIÇA. VIDE INSTRUÇÃO NORMATIVA RF 15/2001 QUE IMPÕE O RECOLHIMENTO MENSAL

DE CARNÊ-LEÃO AOS MENCIONADOS SERVENTUÁRIOS DA JUSTIÇA.18 CORROBORANDO COM ESTA VINCULAÇÃO DOS SERVIÇOS NOTARIAIS E DE REGISTRO AO PODER JUDICIÁRIO, CUMPRE SALIENTAR QUE, SOB A ÉGIDE DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1967, FOI PUBLICADA A LEI Nº 5.621, DE

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topograficamente, em localidade afastada das Seções referentes àorganização do Poder Judiciário (arts. 92 a 126), representou superaçãoao entendimento de que tais atividades constituiriam meros serviçosauxiliares subordinados, hierarquicamente, às autoridades judiciais. Osserviços notariais e de registro não compõem a estrutura orgânica doPoder Judiciário e seus titulares (notários e registradores) gozam deindependência no desempenho de suas atribuições.

O primeiro alerta ensejador desta nítida separação entre PoderJudiciário e “serviços notariais e de registro” apareceu com apublicação, no Diário da Justiça de 14 de julho de 1986, das sugestõesexpendidas pelo Supremo Tribunal Federal à presidência da ComissãoProvisór ia de Es tudos Const i tucionais , sobre o t ra tamentoconstitucional do Poder Judiciário a ser dado pela AssembléiaNacional Constituinte que seria instalada. Naquela oportunidade, oMin. José Carlos Moreira Alves, à época presidente do SupremoTribunal, encaminhou ao Professor Afonso Arinos de Melo Franco,presidente da referida comissão provisória, a Exposição de Motivos eas inovações sugeridas pela Corte, expressando que, in verbis:

“Entendeu o Tribunal de ficar apenas no estrito âmbitodo Poder Judiciár io, dados os termos em que foramsolicitadas as sugestões.

Deixou, por isso mesmo, de fazê-las com relação ainstituições vinculadas ao Poder Executivo, embora comprestação de serviços junto ao Poder Judiciário, como, porexemplo, o Ministério Público, a Assistência Judiciária, achamada ‘Polícia Judiciária’, os órgãos destinados a tratamentodo problema carcerário ou penitenciário, ou, ainda, derecuperação e amparo de menores infratores ou abandonados.E mesmo com referência a serventias extrajudiciais”.

Como bem percebe Décio Antônio ERPEN (Da responsabilidade civile do limite de idade para aposentadoria compulsória dos notários eregistradores. In: Revista de Direito Imobiliário, nº 47, ano 22, julho-dezembro de 1999-B, pp. 103-104), as sugestões do Supremo TribunalFederal evidenciam que os juristas, quando enfrentaram o tema na fasepré-constituinte, já anteviram que os serviços notariais e de registro nãointegravam o Poder Judiciário, como, de resto, não sugeriram odeslocamento para outro Poder. Tampouco inseriram tal atividade como

serviço autônomo ou auxiliar junto ao Judiciário. Conclui o jurista gaúchoque a subtração de tal atividade ao Poder Judiciário, sem o deslocamentopara outro poder, dá a clara idéia de que passaram os Serviços Notariaise Registrais a ser tratados como Instituições da Comunidade, e nãomais como órgãos do Poder, em qualquer de suas modalidades. A omissão,pois, de sua existência, em qualquer órgão da Administração Pública,não constitui desaviso do Constituinte; mas, antes, consciente e oportunoposicionamento científico, consagrando a autonomia da atividade14.

A independência funcional dos titulares dos serviços notariais eregistrais, após o advento da Constituição Federal de 1988 e da Lei 8.935/94 (especialmente em seu art. 28), resta sobejamente evidenciada15.

Abordando sobre o tema da independência do registrador, Ricardo DIP(Registro de Imóveis e notas: responsabilidade civil e disciplinar. SãoPaulo: Editora RT, 1997, pp. 48-49) leciona que “o registrador não é meroexecutor de ordens superiores concretas a respeito de um registro; é, ao invés,o juiz de sua efetivação”. Por seu turno, José Renato NALINI, na mesma obra(pp. 82-89), deixa claro que registrador e notário exercem função pública,mas sem estarem ligados ao Estado por uma relação hierárquica propriamentedita, in verbis (p. 86): “Ora, o delegado não tem subordinação hierárquicaem relação ao Estado. Exerce as suas funções com liberdade e autonomia”. E,ao comparar a atividade notarial e registral com a de magistrado, assinala que,in verbis (p. 89): “não é verdade que o delegado seja desprovido dediscricionariedade. Dentre os operadores jurídicos, é ele um dos maiscategorizados, incumbindo-lhe uma tarefa bastante aproximada à do juiz.Pois, em sendo notário, comete-lhe, dentre outras, a função de aconselharjuridicamente as partes, encontrando no sistema a mais adequada forma deoperacionalizar suas necessidades. A qualificação dos títulos, conferida aoregistrador, não prescinde do exercício de autoridade jurídica, exingindo-se-lhe trabalho interpretativo em tudo semelhante ao do julgador quando fazincidir a vontade da lei ao caso concreto.”

De qualquer forma, nada obstante o inovador regramento, emnível consti tucional, dos serviços notariais e de registro, aConstituição Federal deixou, para a legislação ordinária e para osintérpretes, difíceis questões a respeito do regime jurídico aplicávela tabeliães e registradores titulares de serventias não-oficializadas.

Vale ressaltar que, recentemente, o Provimento-Geral daCorregedoria da Justiça do Distrito Federal, reforçando, de certa

4 DE NOVEMBRO DE 1970, DISPONDO, NO SEU ART. 6º, INC. IV, QUE, “RESPEITADA A LEGISLAÇÃO FEDERAL, A ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA COMPREENDE: ORGANIZAÇÃO, CLASSIFICAÇÃO, DISCIPLINA E ATRIBUIÇÕES DOS SERVIÇOS

AUXILIARES DA JUSTIÇA, INCLUSIVE TABELIONATOS E OFÍCIOS DE REGISTROS PÚBLICOS” (G.N.). VALE FRISAR QUE A REFERIDA LEI Nº 5.621/70 REGULAMENTAVA O § 5º DO ART. 144, DA CONSTITUIÇÃO DE 1967 (COM A REDAÇÃO

DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 1, DE 1969), QUE DISPUNHA O SEGUINTE, IN VERBIS: “CABE AO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DISPOR, EM RESOLUÇÃO, PELA MAIORIA ABSOLUTA DE SEUS MEMBROS, SÔBRE A DIVISÃO E A

ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIAS, CUJA ALTERAÇÃO SÒMENTE PODERÁ SER FEITA DE CINCO EM CINCO ANOS.” ADEMAIS, REZA O CAPUT DO ART. 2º DA LEI Nº 6.015/73 (LEI DE REGISTROS PÚBLICOS) QUE, IN VERBIS: “OS REGISTROS

INDICADOS NO § 1º DO ARTIGO ANTERIOR [REGISTRO CIVIL DE PESSOAS NATURAIS; DE PESSOAS JURÍDICAS; DE TÍTULOS E DOCUMENTOS E DE IMÓVEIS] FICAM A CARGO DOS SERVENTUÁRIOS PRIVATIVOS NOMEADOS DE ACORDO COM

O ESTABELECIDO NA LEI DE ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA E JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS E NAS RESOLUÇÕES SOBRE A DIVISÃO E ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA DOS ESTADOS (...)”.19 É INTERESSANTE NOTAR QUE, DURANTE A ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE DE 1987-1988, VÁRIAS FORAM AS PROPOSIÇÕES (EMENDAS PARLAMENTARES) QUE SUGERIAM A INCLUSÃO DA MATÉRIA CONCERNENTE AOS OFÍCIOS REGISTRAIS E TABELIONATOS NO CAPÍTULO

DO PODER JUDICIÁRIO (À GUISA DE EXEMPLIFICAÇÃO, MENCIONAM-SE O ANTEPROJETO E EMENDAS DA SUBCOMISSÃO DO PODER JUDICIÁRIO E DO MINISTÉRIO PÚBLICO DA COMISSÃO DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES E SISTEMA DE GOVERNO; BEM COMO EMENDAS AO ANTEPROJETO

DE CONSTITUIÇÃO NA COMISSÃO DE SISTEMATIZAÇÃO). COMO TIVEMOS OPORTUNIDADE DE VERIFICAR, TAIS EMENDAS NÃO PROSPERARAM, RESTANDO, PORTANTO, NÍTIDA A SEPARAÇÃO ENTRE ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO E AS SERVENTIAS REGISTRAIS E NOTARIAIS.20 A ESSE RESPEITO, CFR. TEODORO DA SILVA, CADERNO 1 (APONTAMENTOS DE DIREITO E PRÁTICA NOTARIAL. CADERNO 1 (SERVENTIAS JUDICIAIS E EXTRAJUDICIAIS) E CADERNO 2 (A ATIVIDADE NOTARIAL, O LIVRO DE

NOTAS E O PROVIMENTO Nº 54/78 CSM-MG). BELO HORIZONTE: SÉRJUS, 1999, PP.7-11).21 ENTENDENDO QUE, MESMO COM O VETO AO ART. 2º DA LEI Nº 8.935/94, A COMPETÊNCIA PARA OUTORGA E DECLARAÇÃO DE EXTINÇÃO DE DELEGAÇÃO DOS SERVIÇOS EXTRAJUDICIAIS É DO PODER JUDICIÁRIO DOS RESPECTIVOS ESTADOS-MEMBROS

E DO DISTRITO FEDERAL, CONFIRA, POR EXEMPLO, OS JULGAMENTOS DO ROMS 8.086/MG (REL. MIN. FERNANDO GONÇALVES, 6ª TURMA DO STJ), PUBLICADO NO DJ DE 04.10.1999; ROMS 10.292/SC (REL. MIN. FERNANDO GONÇALVES,6ª TURMA DO STJ), PUBLICADO NO DJ DE 1º.08.2000; ROMS 10.780/SC (REL. MIN. HAMILTON CARVALHIDO, 3ª SEÇÃO DO STJ), PUBLICADO NO DJ DE 18.09.2000, ROMS 10.947/SC (REL. MIN. FÉLIX FISCHER, 5ª TURMA DO STJ),

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forma, a desvinculação entre o Poder Judiciário e os serviçosnotariais e registrais, passou a dispor em seu art. 228 que, in verbis:

“Art. 228. Os notários e registradores deverão utilizarelementos de segurança nos documentos expedidos.

Parágrafo único. É vedada a utilização do nome ousímbolo do Poder Judiciário.”

Não se desconhece, por outro lado, que a Emenda Constitucional nº45 de 08 de dezembro de 2004, ao criar o Conselho Nacional de Justiça,estabeleceu, no inc. III do §4º do art. 103-B, que compete ao referidoConselho, dentre outras atribuições, receber e conhecer das reclamaçõescontra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviçosauxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registroque atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízoda competência disciplinar e correicional dos tribunais (...).” Alguns, maisapressados, podem concluir que, a partir da EC nº45/04, os serviços notariaise de registro, por terem recebido referência no Capítulo III (DO PODERJUDICIÁRIO) da Constituição Federal, compõem a estrutura organizacionaljudiciária. Ousamos divergir desse posicionamento, o constituinte derivadoapenas reforçou situação que já consta no §1º do art. 236 da mesmaConstituição de 1988, no sentido de que compete ao Poder Judiciário afiscalização dos atos notariais e de registro. Ora, o Conselho Nacional deJustiça, recém-criado, fiscaliza a atuação das Corregedoriais locais. Assimsendo, nada obstante saibamos a quem se confere a prerrogativa fiscalizadorados ofícios extrajudiciais, subsiste a necessidade de se regular a quemcompete a outorga da delegação de tais ofícios.

A competência para outorga da delegaçãoComo visto, a Constituição Federal, em seu art. 236, caput, dispõe que

as atividades notariais e de registro serão exercidas em caráter privado, pordelegação do Poder Público. Uma primeira indagação advinda destedispositivo constitucional é a que, considerando a teoria da tripartição dosPoderes (art. 2º da Constituição Federal), busca saber se a outorga dadelegação dos serviços notariais e registrais deve ser procedida pelo PoderExecutivo ou pelo Judiciário. A resposta a este questionamento implica,necessariamente, a tomada de posição quanto à natureza (executiva oujudiciária) dos serviços notariais e registrais, legalmente definidos comosendo “os de organização técnica e administrativa destinados a garantir

a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos”16.Tradicionalmente, no Brasi l , as serventias extrajudiciais

compunham a categoria dos chamados “serviços auxiliares da Justiça”e os titulares de tais ofícios eram classificados como serventuários dajustiça17. Desde a implantação da República, a criação e a distribuiçãoterritorial de tais serventias vinham (e vêm) sendo reguladas nas leisou códigos de organização judiciária dos respectivos Estados-membrose do Distrito Federal18. Os tabelionatos e ofícios registrais eramtratados e considerados como verdadeiros órgãos do Poder Judiciário.

Com o advento da Constituição de 1988, promoveu-se uma explícitamudança neste panorama. A disciplina referente aos serviços em tela nãoestá contida no Capítulo III (Do Poder Judiciário — constante do TítuloIV — Da Organização Dos Poderes), mas sim inserida no Título IX (DasDisposições Constitucionais Gerais, art. 236) e no Ato das DisposiçõesConstitucionais Transitórias (art. 32)19. Como decorrência deste novocontexto, os notários e registradores deixaram de ser enquadrados noâmbito dos serventuários da justiça ou dos serviços auxiliares da justiça20.

Por seu turno, o projeto 16/94, que deu origem à Lei nº 8.935/94(regulamentadora do art. 236 da Constituição Federal), recebeu vetopresidencial ao texto de seu art. 2º, que dispunha o seguinte, in verbis: “Osserviços notariais e de registro são exercidos, em caráter privado, pordelegação do Poder Judiciário do Estado-Membro e do Distrito Federal”.Acresce que o mencionado veto não foi rejeitado pelo Congresso Nacional,pelo que não há qualquer norma disposta no art. 2º da Lei nº 8.935/94.

O veto ao art. 2º da Lei nº 8.935/94 e a suposta competênciadelegante do Poder Executivo

Segundo CENEVIVA (Lei dos notários e dos registradorescomentada (Lei nº 8.935/94). — 3ª ed. rev., ampl. e atual. — SãoPaulo: Saraiva, 2000, pp. 27-28), o veto ao art. 2º do PL 16/94corrigiu, convenientemente, a suposta impropriedade contida no textoaprovado no Parlamento Nacional. Segundo o referido doutrinador,o texto magno alude à delegação do Poder Público, cabendo aoPoder Judiciário fiscalizar, mas não delegar. “A Carta, ao tornarexpresso que a competência do Poder Judiciário é para a fiscalização— não acrescentando qualquer outra, que, aliás, também é estranhaaos demais dispositivos constitucionais —, estabeleceu a fronteira

PUBLICADO NO DJ DE 25.10.2000; ROMS 10.647/SC (REL. MIN. VICENTE LEAL, 6ª TURMA DO STJ), PUBLICADO NO DJ DE 1º.08.2000; ROMS 10.286/SP (REL. MIN. VICENTE LEAL, 6ª TURMA DO STJ), PUBLICADO NO DJ DE 28.10.2002E EDROMS 11.912/GO (REL. MIN. FÉLIX FISCHER, 5ª TURMA DO STJ), PUBLICADO NO DJ DE 25.02.2002. FRISE-SE, TODAVIA, QUE, MUITO EMBORA O ART. 15 DA LEI Nº 8.935/94 DISPONHA QUE OS CONCURSOS PARA NOTÁRIOS E

REGISTRADORES SERÃO REALIZADOS PELO PODER JUDICIÁRIO, O § 2º DO ART. 39, DO MESMO ESTATUTO LEGAL, APENAS FAZ MENÇÃO DE QUE, “EXTINTA A DELEGAÇÃO A NOTÁRIO OU OFICIAL DE REGISTRO, A AUTORIDADE COMPETENTE DECLARARÁ VAGO

O RESPECTIVO SERVIÇO, DESIGNARÁ O SUBSTITUTO MAIS ANTIGO PARA RESPONDER PELO EXPEDIENTE E ABRIRÁ CONCURSO”, NÃO EXPLICITANDO SE TAL AUTORIDADE COMPETENTE É O GOVERNADOR DO ESTADO (OU O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, NO CASO

DO DISTRITO FEDERAL) OU, ENTÃO, O PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADUAL OU DISTRITAL. NÃO SE PODE DEIXAR DE MENCIONAR QUE, NO ROMS 8.301/PB (REL. MIN. WILLIAM PATTERSON, 6ª TURMA DO STJ), PUBLICADO NO DJDE 20.10.1997, O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ABONOU A IDÉIA, HOJE JÁ SUPERADA, DE QUE ATOS QUE IMPORTASSEM EM PERDA DE DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E DE REGISTRO COMPETIRIAM AO PODER EXECUTIVO. REFORMOU-SE, ASSIM,NO JULGAMENTO DESTE ROMS 8.301, ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA QUE DECRETARA O AFASTAMENTO DE OFICIAL DE REGISTRO DE IMÓVEIS, UMA VEZ QUE, PARA EFEITO DE PERDA DA DELEGAÇÃO, NA HIPÓTESE, NÃO HOUVERA DECISÃO

JUDICIAL TRANSITADA EM JULGADO, TAMPOUCO RESOLUÇÃO ADMINISTRATIVA EXPEDIDA PELO PODER DELEGANTE (QUE, NO ENTENDER À ÉPOCA UNÂNIME DA SEXTA TURMA DO STJ, SERIA, SEM DÚVIDA, O PODER EXECUTIVO).22 RELEVA MENCIONAR QUE, NA EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS DE TAL EMENDA, JUSTIFICA-SE QUE “A DIMENSÃO CONTINENTAL DO BRASIL IMPÕE, EM REGRA, QUE SEJAM BUSCADAS RESPOSTAS DIFERENCIADAS PARA AS QUESTÕES DE SUAS

DIVERSAS REGIÕES. RESPEITANDO-SE AS NORMAS GERAIS, HÁ QUE SE ENCONTRAR SOLUÇÕES QUE COMPORTEM AS NECESSIDADES E AS REALIDADES DOS DIVERSOS AGLOMERADOS SOCIAIS DAS MAIS DISTINTAS REGIÕES BRASILEIRAS.E UM DOS PONTOS QUE SE DEVE SEMPRE TER EM MENTE, É A REALIDADE SOCIOECONÔMICA DOS ESTADOS-MEMBROS. DAÍ SER IMPRESCINDÍVEL QUE SE DEIXE A CADA ESTADO A COMPETÊNCIA DE DIZER ONDE E COMO DEVEM INSTALAR

OS SEUS SERVIÇOS NOTARIAIS E DE REGISTRO. EVIDENTEMENTE QUE, EM ASSIM SENDO, SERÁ FORTALECIDA A FEDERAÇÃO BRASILEIRA, UMA VEZ QUE ESTAR-SE-Á RESPEITANDO A AUTONOMIA DOS ESTADOS, OS QUAIS BUSCARÃO

SOLUÇÕES QUE ATENDAM AS SUAS REAIS NECESSIDADES, LEVANDO SEMPRE EM CONSIDERAÇÃO AS SUAS PRÓPRIAS PECULIARIDADES.” RELEVA CONSIDERAR QUE A REFERIDA PEC 357/96 FOI ARQUIVADA, EM VIRTUDE DO FIM DA

LEGISLATURA SEM A ULTIMAÇÃO DA DELIBERAÇÃO, NOS TERMOS DO ART. 105 DO REGIMENTO INTERNO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS.

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para a intervenção da Magistratura nos serviços notariais e de registro,acrescida da verificação disciplinar que dela decorre.”

Outro ponto a ser ressaltado, além do veto presidencial ao art. 2º da Leinº 8.935/94 (fato esse que, a princípio, indiciaria a competência do PoderExecutivo para outorgar delegação dos serviços notariais e de registro), é oargumento histórico de que, tradicionalmente, no Brasil, as delegações vinhamsendo, antes do advento da Lei nº 8.935/94, implementadas pelos respectivoschefes do Poder Executivo Estatal. Veja-se como exemplo o que determinava oart. 6º do antigo Decreto que, em âmbito nacional, reorganizou os registrospúblicos instituídos pelo Código Civil (Decreto nº 4.827, de 7 de fevereiro de1924), in verbis: “Os registros enumerados no art. 1º desta lei ficarão a cargode officiaes privativos e vitalicios, providos no Distrito Federal, pelo Presidenteda Republica, mediante concurso, e nos Estados, na forma estabelecida pelasrespectivas leis de organização judiciária, (...)”. Por seu turno, dispunha o art.1º do referido Decreto, in verbis: “Os registros publicos instituidos peloCodigo Civil, para a authenticidade, segurança e validade dos actos juridicosou tão sómente para os effeitos com relação a terceiros, comprehendem: I – oregistro civil das pessoas naturaes; II – o registro civil das pessoas juridicas; III– o registro de titulos e documentos; IV – o registro de immoveis; V – oregistro da propriedade litteraria, scientifica e artistica.”

Ademais, tramita no Supremo Tribunal Federal, desde 15 de março de2000, a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2168/SC, proposta peloConselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, impugnando aconstitucionalidade da Lei Complementar nº 183, de 24 de setembro de1999, do Estado de Santa Catarina, que, dentre outros dispositivos,determina que a outorga de delegação e as declarações de vacânciados serviços notariais e de registro devem ser procedidas peloGovernador do Estado (Lei Complementar Estadual nº 183/99, arts. 1ºe 4º, § 2º). Vale dizer que a referida lei estadual está em vigor, sendo que,no Estado de Santa Catarina, é o Governador a autoridade competente paraoutorgar delegação dos serviços notariais e de registro. O pedido liminar naADIn 2168 ainda não foi apreciado, a relatoria que foi incumbência doentão Min. Néri da Silveira passou para o Min. Gilmar Ferreira Mendes.

Reforçando este entendimento tendente a conferir ao Poder Executivoa competência para outorgar a delegação das atividades notariais eregistrais, COTRIM NETO (Organização jurídica do notariado naRepública Federal da Alemanha (um estudo da solução de problemasinsolúveis no Brasil). In: Revista de Informação Legislativa, ano VIII,n. 31, julho-setembro 1971, p. 35) sustenta que, in verbis:

“os órgãos do fôro extrajudicial, sobretudo notários outabeliães e oficiais de registros públicos, não têm por que manternenhuma relação organizacional e hierárquica com o PoderJudiciário, como já não a têm os membros do Ministério Públicoe do ‘Barreau’ [advocacia]. Não obstante, desde que as funçõesque desempenham os cargos que ocupam, têm mais íntimorelacionamento com os órgãos da Administração Estatal que osdos advogados, e são de tão imediato interêsse administrativo

quanto os do Ministério Público, ainda que preservada certaautonomia no governo de sua corporação, os notários (e apenasdêsses aqui devemos nos ocupar, e não dos registradorespúblicos) só deverão vincular-se com o Poder Executivo. Issonão prejudicará, todavia, que entidades ou órgãos do Judiciárioexerçam determinadas supervisões técnicas do desempenhoprofissional dos notários, tal como é ordinário na Alemanha”.

Nada obstante o veto presidencial e os argumentos de respeitáveisdoutrinadores, o fato é que o Superior Tribunal de Justiça vem entendendoque, se a competência para a declaração de vacância da delegação,designação de substituto e abertura de concurso é atribuída ao PoderJudiciário pela Lei nº 8.935/94 (em seus arts. 15 e 39, § 2º), pode-se inferir,por interpretação sistemática e por imperativo lógico, a atribuição doJudiciário para outorgar as delegações dos serviços notariais e de registro21.

Assim sendo, temos que o entendimento jurisprudencial hojepredominante é no sentido de que cabe ao Poder Judiciário, e nãopropriamente ao Executivo, a competência para outorgar a delegação dosserviços notariais e de registro. Neste aspecto, reputamos razoável etecnicamente admissível o posicionamento de nossa Suprema Corte, umavez que, levando-se em consideração o plexo de competências conferidasao Judiciário, tanto na Constituição quanto na Lei nº 8.935/94, relativamenteà fiscalização dos referidos serviços delegados, a fortiori, pode-se admitir aatribuição deste Poder para a outorga da delegação dos serviços ora referidos.

Sobre a atribuição do Poder Executivo, não prevaleceu,jurisprudencialmente, malgrado a eminência de sua fonte, a ponderaçãodeduzida por BANDEIRA DE MELLO (A competência para criação e extinçãode serviços notariais e de registros para delegação para provimento dessesserviços. In: Revista de Direito Imobiliário, nº 47, ano 22, julho-dezembrode 1999, pp. 203-206), no sentido de que a Lei nº 8.935/94 tenha enumeradoà exaustão os poderes que compete ao Judiciário, máxime no que toca afiscalização dos tabelionatos e serviços registrais. Para este autor, em nãotendo a lei nem a Constituição declinado o poder de delegação, tal omissãolegislativa representaria um silêncio eloqüente tendente a induzir a conclusãode que a delegação deva ser outorgada pelo Poder Executivo. Contudo,acreditamos que as hipóteses legislativas de interferência judiciária nosmencionados serviços delegados não encerram numerus clausus.

Ademais, não prosperou o argumento do eminente administrativistaao sustentar que “os ditos serviços nada têm a ver com a natureza dasfunções próprias do Judiciário. (...) A missão típica do Judiciário é, quandosuscitado, dirimir controvérsias com força de coisa julgada, nada tendo aver, pois, com a criação ou supressão de unidades administrativas, isto é,de centros subjetivados de poderes públicos não legislativos nemjurisdicionais e também não integrados na intimidade de seu aparelho”(BANDEIRA DE MELLO, 1999, pp. 203-206).

Argumenta-se que, embora a administração não seja sua atividade-fim, ao Poder Judiciário compete o exercício de vários atos administrativos,tais como: a realização de concursos públicos, de licitações e processos

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administrativos de seu interesse específico, a expedição de atos normativos(resoluções, portarias e provimentos), a jurisdição voluntária etc. E mais,se considerarmos que as serventias notariais e de registro são serviçosauxiliares da Justiça, uma vez que visam à prevenção de conflitos e cujosagentes públicos servem de consultores jurídicos aos cidadãos, sintomáticaserá a conclusão de que competirá, nos termos do art. 96 da ConstituiçãoFederal e em conformidade com a jurisprudência do Supremo TribunalFederal, ao Judiciário a organização, criação e extinção de tais serviços.

A bem da verdade, por mais que achemos razoável a delegação dosserviços notariais e de registro se dar pelo Poder Executivo, não vemosqualquer pecha no fato de, em tese, o poder delegante ser também opoder fiscalizador das atividades notariais e de registro. A competênciado Poder Judiciário para a delegação dos serviços cartorários advém,segundo entendimento jurisprudencial, da maior proximidade que asatividades notariais e de registro guardam com a função jurisdicional(tanto é que a disciplina básica das serventias extrajudiciais insere-seno âmbito da competência para dispor sobre organização judiciária);qualificando-se aquelas como serviços de organização técnico-administrativa e sendo categorizadas, até mesmo, como espécie dejurisdição voluntária. Ademais, há serviços públicos concedidos peloPoder Executivo, cujos concessionários são fiscalizados por órgãos eagências integrantes ou vinculados à estrutura deste mesmo Poder. Ofato é que, caso haja abuso do poder fiscalizador (que é uma funçãoadministrativa — desempenhada, no caso de notários e registradores,pelo Poder Judiciário), o delegado poderá, conforme disposto no inc.XXXV do art. 5º da Constituição Federal, ingressar com ação no PoderJudiciário, para obter pronunciamento judicial a esse respeito. Nãohá, pois, que se alegar impedimento apriorístico de fiscalização aoPoder Público que delega uma dada atividade.

Mostramos, assim, que o debate sobre o poder delegante dos serviços notariaise de registro está indefinido. O PL 007/2005 busca a conduzir interpretaçãorazoável nos Tribunais, nada obstante a tendência jurisprudencial em conferir aoJudiciário a competência para outorga da delegação de serviços notariais e deregistro. Discute-se, com a proposição que se encontra no Senado Federal, qualé o melhor modelo que deverá conduzir os intérpretes da Constituição Federal.

Assim sendo, oportuna é tramitação do referido projeto de lei nº 007 de 2005,sob a relatoria do Sen. Demóstenes Torres (originariamente, PL 6827/02 e depois PL160 do Dep. Inocêncio Oliveira) que intenta criar um art. 2A e seu parágrafo único,para a Lei 8.935/94, determinando que “a criação, acumulação ou anexação,desacumulação ou desanexação e a extinção de serviços ou serventias notariais ede registro, bem como as normas para realização dos concursos públicos deprovimento da delegação, far-se-ão mediante Lei dos Estados e do Distrito Federal”.

Além disso, buscando corrigir a interpretação de que a criação deum serviço notarial e de registro prescinde de lei, tramitou, noparlamento nacional, a Proposta de Emenda Constitucional nº 357/96(de autoria do Dep. Nicias Ribeiro e outros). Essa PEC visa modificar aredação do § 3º, do art. 236, da Constituição Federal, passando a

dispor que a “Lei Estadual disciplinará a criação, o funcionamento e alocalização dos serviços notariais e de registros, dependendo o ingressonaquelas atividades de concurso público de provas e títulos, não sepermitindo que qualquer serventia fique vaga ou ocupada interinamente,sem abertura de concurso de provimento, por mais de seis meses.”22

Não se pode ignorar que o tema referente à competência para adelegação é deveras polêmico, sendo que, como visto, em certos Estados(como é o caso de Santa Catarina), há lei estabelecendo a competênciados governadores para a outorga da delegação dos serviços notariais ede registro. No Distrito Federal, por seu turno, a Lei Distrital nº 3.595/05, publicada no DODF de 02 de maio de 2005 (fls. 4-6), cujaconstitucionalidade será analisada na ADIn 3498, dispõe em seu art.1º que, in verbis: “A outorga da delegação do exercício da atividadenotarial e de registro é ato privativo do Governador do Distrito Federal.”

Segundo a interpretação da advogada Patrícia MACHADO (Os cartórios eo advento da Constituição Federal de 1988. In: Revista da Justiça Federal doPiauí, v. 1, n. 2, jan./jul. 2001, p. 117), no Piauí, por sua Constituição Estadual(art. 75, §2º, inc. II, alínea “a”), compete privativamente ao governador deflagrarprocesso legislativo tendente a criar ou extinguir os serviços notariais e registrais.Além disso, cumpre salientar que o posicionamento de BRANDELLI (Teoriageral do direito notarial. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998, pp. 57 e64) é no sentido de que ao Poder Executivo é que cabe delegar os mencionadosserviços e, citando Antonio Albergaria PEREIRA (In: Comentários à Lei nº8935/94, Bauru: Edipro, 1995, p. 21), aduz que “atribuir a delegação dosserviços notariais e registrais ao Poder Judiciário seria diminuir a ação doPoder Executivo, a quem compete organizar a administração públicanomeando ou delegando atribuições e serviços de interesse público. O PoderConstituinte só atribuiu ao Poder Judiciário o direito de fiscalizar os atospraticados por notários e registradores e não delegar esses serviços”.

Por mais que a jurisprudência já tenha – à míngua de norma explícita –tentado definir os contornos da matéria, o debate doutrinário persiste: asatividades notariais e de registro, no quadro tripartite das funções estatais,aproximar-se-iam mais ao aparato judiciário (como talvez suponham escriturase registros relativos a Direito de Família – casamentos, emancipações,interdições, tutelas – e de Sucessões) ou ao aparato executivo (como sugeremos registros civis de pessoas naturais e jurídicas e registros imobiliários)? Édada a hora de o Parlamento Nacional se pronunciar a respeito.

Sem querermos concluir, de forma apodítica, se os notários e registradores,na condição de agentes públicos delegados, aproximam-se mais de servidorespúblicos ou de profissionais liberais prestadores de serviços públicos delegadosou, então, se exercem atividades mais afetas ao Poder Judiciário ou ao PoderExecutivo, moveu-nos tão-somente o modesto intuito de, por algum modo,contribuirmos para o incitamento a que outrem, após nós, venha a erguermais solidamente a pretendida doutrina (eventualmente, bem diferente dessa),dentro da qual o legislador possa situar as funções notariais e registrais, emlugar bem definido que lhe pertence no quadro das profissões jurídicas e dasmodernas organizações estatais.

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institucional

Cartórios de Registro Civil com anexo deNotas poderão ter acesso a novos serviçosProjeto que permite a comunicação da venda de veículos ao Detran diretamentepelos tabelionatos de notas foi apresentado em Belo Horizonte

Os Cartórios de Registro Civil e Tabelionato de Notas de MinasGerais poderão contar com um novo serviço em suas serventias. Nodia 23 de janeiro, foi apresentado em Belo Horizonte, na sede daAnoreg-MG/Serjus, o Comven, Comunicação de Venda em Tempo Real.

O evento contou com a presença de cerca de 70 pessoas, entreelas o presidente do Recivil, Paulo Risso; o presidente da Anoreg-BR, Rogério Bacellar; o presidente em exercício da Serjus, CarlosAlberto Fagundes Amaral; a presidente do Instituto de Registradoresde Títulos e Documentos e Civil das Pessoas Jurídicas de MinasGerais, Vanuza Arruda e o diretor de Certificação Digital daAnoreg-BR, Mauricio Leonardo.

O Comven é o documento legal da comunicação de venda doveículo emitido em tempo real. De acordo com o CTB (Código deTransito Brasileiro) artigo 134, comunicar a venda de um veículo éuma obrigação legal do proprietário vendedor. Dessa forma, ovendedor tem que comunicar a venda do veículo ao Detran, em até30 dias após a venda do veículo.

O diretor da Autenticis, empresa que desenvolveu o Comven, JoséJoaquim Martins Neto, explicou o funcionamento do projeto. Segundo

ele, através do acesso online, em tempo real e utilizando a certificaçãodigital, o vendedor do carro vai até um cartório de notas que optou porfazer parte do Comven e solicita a comunicação da venda do veículoao Denatran. O cartório transmite o ato de reconhecimento de firmade venda do veículo ao Denatran e recebe de volta um comprovante.Com isso, o cartório entrega ao vendedor do veículo uma escrituradeclaratória, contendo a informação de que o cidadão comunicou avenda do carro e está quite com esta obrigação.

O serviço custará R$ 53,16. Uma parte desse valor será repassadapara a Febranor/Anoreg-BR, outra para o cartório de notas e outraparcela para o cartório de títulos e documentos, que também receberáa informação da venda do veículo para efeito de registro.

De acordo com o presidente da Autenticis, Márcio Lieberman, o Denatranpossui cerca de 46 milhões de veículos em seus dados, e são feitas 14 milhõesde transações por ano. Segundo ele, o projeto do Comven foi apresentado aopresidente da Anoreg-BR, Rogério Bacellar, que aprovou a idéia.

“Esse projeto caiu do céu para nós. É um projeto novo que vamoscomeçar a praticar a partir de agora. A Anoreg sempre estevepreocupada com as perdas de serviços que os notários e registradores

O presidente do Recivil, Paulo Risso, participou da apresentação donovo serviço que estará disponível para os tabelionatos de notas

O presidente do Recivil, Paulo Risso, participou da apresentação donovo serviço que estará disponível para os tabelionatos de notas

O presidente do Recivil, Paulo Risso, participou da apresentação donovo serviço que estará disponível para os tabelionatos de notas

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institucional

vêm tendo ao longo dos anos (...). Essa idéia abre portas pararealizarmos outros serviços com o Denatran”, disse Rogério Bacellar.

José Joaquim falou também sobre as vantagens do projeto. “OComven é uma aliança inédita entre a Febranor, Denatran e aAutenticis, que permite atender a legislação com agilidade esegurança total. São diversos serviços para os cartórios, como agarantia do aumento de receita, aumento do número de clientesem busca do atendimento da legislação, aumento da gama deserviços oferecidos pelo cartório, possibilidade de realizar inúmerastransações em um único dia, entre outras. Para o cidadão osbenefícios também são muitos, como o atendimento à legislaçãoem vigor sem burocracia, a isenção do vendedor da responsabilidadedas in f rações comet idas pelo comprador , a e l iminação danecessidade de fazer a comunicação de venda do veículo posteriornos postos do Detran, e outras também”, explicou.

O serviço é facultativo, e para aderir basta ter acesso à internet eadquirir o kit Comven, que contém o certificado digital Anoreg-BR, omaterial de comunicação para ser afixado nos cartórios, o treinamentocompleto do cartório e o cd de treinamento e o serviço de suporte.

Para a Oficiala do 2º Tabelionato de Notas de Diamantina, CarlaAraújo Moreira, o projeto vai enriquecer muito a prestação dos serviços.“Ao mesmo tempo vai trazer uma maior segurança para os vendedoresde veículos, que vão poder fazer a comunicação isentando de qualquerresponsabilidade sobre a transferência daquele veiculo”, explicou.

“É de suma importância, magnífico, é a modernidade a serviço

da população”, disse o Oficial Substituto do 2º Registro de Títulose Documentos de Belo Horizonte, Humberto Gomes do Amaral.

O serviço estará disponível ao público a partir do dia 18 defevereiro. As adesões já podem ser feitas. Mais informações sobre oprojeto e como fazer as adesões podem ser obtidas através do sitehttp://www.comven.com.br/pub/ ou pelo telefone (31) 3957-0008.

O diretor da Autenticis, José Joaquim Martins Neto,explicou o funcionamento e as vantagens do Comven

Novo serviço trará muitas vantagenspara as serventias e para os cidadãos

Oficiais de cartórios acompanharamatentamente as explicações sobre o

funcionamento do Comven

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regionais

“A compensação dagratuidade foi uma lutaque o Recivil conquistou”A partir desta edição, a Revista do Recivil começa a desvendaras 66 Diretorias Regionais do Sindicato. Conheça a diretoraregional e a região de Unaí, 1ª diretoria regional do Recivil.

Em 2007 foi nomeada diretora regional da microrregião 1, e nesta entrevista falasobre como recebeu a indicação para ser diretora regional, e também sobre a visãoque ela tem do Sindicato.

Revista do Recivil – Como a senhora recebeu a indicaçãopara tornar-se diretora regional do Sindicato?Magda Alice da Silva - Apesar da responsabilidade a mais, mesenti lisonjeada pela confiança.

Revista do Recivil – Quais as principais dificuldades queos cartórios de sua região enfrentam?Magda Alice da Silva - As principais dif iculdades que elesenfrentam são principalmente receita pequena e despesas grandes.

Revista do Recivil – Qual a sua avaliação sobre a atualadministração do Sindicato?Magda Alice da Silva - Eficiente, não tenho nada a criticar.

Revista do Recivil – Na sua opinião, quais foram asprincipais conquistas do Recivil para a classe?Magda Alice da Silva - Acho a compensação da gratuidade foiuma luta que o Recivil conquistou depois de muitos anos. Se nãofosse o Recivil a forma não seria como é hoje. Além disso, oRecivi l es tá conseguindo most rar o seu valor , que não éreconhecido nem pela população.

Revista do Recivil – Quais as principais iniciativas que asenhora pretende propor ao Sindicato para melhorar o trabalhodos cartórios de sua região?Magda Alice da Silva - Incentivar a população através da mídiapara que vejam a importância do Registro Civil em todos os atos

relativos na integração da sociedade, como registrar os filhos assimque nascerem, regularizar o estado civil, o que é bem pouco poraqui devido à cultura da região.

Revista do Recivil – Qual avaliação que a senhora faz arespeito do funcionamento do mecanismo de ressarcimentodos atos gratuitos aos cartórios mineiros?Magda Alice da Silva - Satisfatório.

Revista do Recivil – Em sua opinião, como devem serincentivados o aprimoramento e a modernização das serventiasno Estado de Minas Gerais?Magda Alice da Silva - Da forma que o Recivil já o faz, atravésdas informações mensais de sua revista mostrando a forma detrabalho das serventias maiores do estado.

Revista do Recivil – Qual a sua avaliação sobre os projetossociais implantados pelo Recivil no Estado de Minas Gerais?Magda Alice da Silva - Por onde passou acredito que foi essencialpara a população que talvez nunca teria existido legalmentedocumentada.

Revista do Recivil – Em sua avaliação, o que deve serfeito para se combater o sub-registro no estado de Minas Gerais?Magda Alice da Silva - Usar a imprensa sempre que possível, o poderpúblico através do serviço social das prefeituras, hospitais, e nosmunicípios menores e até a Igreja em relação à realização de batismos.

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regionais

Perfil daregião

A r e g i o n a l é c o m p o s t a p o r o i t omunicípios: Dom Bosco, Bonfinópolis deMinas, Nata lândia , Uruana de Minas ,Arinos, Buritis, Cabeceira Grande e Unaí.São 30 cartórios localizados na região,dentre cartórios de registro e tabelionatode notas.

D a d o s p u b l i c a d o s n o A t l a s d oDesenvo lv imento Humano no Bras i l ,baseados nas informações dos CensosDemográficos de 1991 e de 2000 do IBGE,mostram que a população é estimada em131 .112 pe s soa s . O mun ic íp io ma i spopuloso da região é Unaí , com umapopulação rural de 14.484 pessoas e ur-bana com 55.549 pessoas, totalizando maisde 70 mil pessoas que moram na cidade. Ar e g i o n a l p o s s u i u m a á r e a t o t a l d e27.383,810 km².

O loca l des taca - se pe la p roduçãoagropecuária, apresentando resultadosexpressivos em alguns produtos e sendoresponsável por boa parte da produção do

Estado. Os principais produtos da regiãosão o arroz, feijão, algodão, milho,rebanho bovino e produção de leite.

Observa -se que a economia dar e g i ã o e s t á l i g a d a d i r e t a m e n t e àprodução agropecuária, pois além dageração de renda, o setor empregaaproximadamente 55% da populaçãoeconomicamente ativa.

Em re l ação ao IDH ( índ ice deDesenvolvimento Humano criado noinício da década de 90 para o Programa

d a s N a ç õ e s U n i d a s p a r a oDesenvolvimento), a região apresentav a l o r e s p r ó x i m o s d o s q u e s ã oconsiderados altos. O IDH acima de0,800 representa alto desenvolvimentohumano, enquanto que abaixo de 0,500representa ba ixo desenvolv imentohumano.

Em 2000, somente o município deUnaí apresentava valores superiores aosresultados do Brasil (0,769) e de MinasGerais (0,766).

Diretora Regional: Magda Aliceda SilvaMunicípios: 8 – Dom Bosco,Bonfinópolis de Minas,Natalândia, Uruana de Mi-nas, Arinos, Buritis, CabeceiraGrande e Unaí

Cartórios: 30População: 131.112 mil habitantesEndereço da Sede da Regional:Rua José do Patrocínio Nº: 675,Centro - CEP: 38610000Telefone: 38-3676-9464Email: [email protected]

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Presidente do Recivil respondeImprensa que acusa CartóriosUtilidade e finalidade dos cartórios foram questionadas pela imprensa nos últimos meses.Recivil, entidades representativas e Oficiais responderam as afirmações e estão atentos àspublicações para que todas possam ser esclarecidas.

Nos últimos dois meses, os Registradores e Notários foramsurpreendidos por uma seqüência de matérias depreciativaspublicadas em jornais estaduais e nacionais. As matérias, na suagrande maioria sem embasamento, receberam respostas públicas doSindicato dos Oficiais de Registro Civil das Pessoas Naturais do Estadode Minas Gerais, Recivil, e de outras entidades representativas daclasse, como a Anoreg-BR.

No dia 26 de janeiro último, o jornal mineiro “Hoje em Dia”publicou artigo intitulado “Cartórios para que?”, onde o autorcomparava os serviços prestados pelas serventias com velharias epamonhas. Indignado com a matéria, o presidente do Recivil, PauloRisso, respondeu prontamente convidando o jornalista, que tambémé um advogado de renome, a conhecer a realidade do RegistradorCivil e Notário mineiro e assim poder analisar melhor. A respostado Presidente foi publicada no mesmo jornal no dia 5 de fevereiro.

“Neste momento cabe a nós registradores e notários, não abriga, mas a humildade de convidar estas seletas pessoas aconhecerem a nossa realidade. Deixo aqui, em público, o meuconvite ao ilustre jornalista e advogado, autor do artigo, que comcerteza escreveu esta coluna acreditando na veracidade dasinformações por ele obtidas e que como todo bom jornalista nãose recusará a conhecer o outro lado da história”, encerrava aresposta do presidente.

Poucos dias depois da veiculação da matéria pelo “Hoje em Dia”,outro jornal mineiro, o “Super”, publicou coluna do DeputadoEstadual de MG Délio Malheiros, figura conhecida e respeitada noEstado, intitulada “Para que servem os Cartórios?”. Na coluna oDeputado defendia a transferência dos serviços prestados pelasserventias a órgãos públicos, como prefeituras e até Exército. Aresposta ao nobre Deputado foi enviada pelo Oficial de RegistroCivil e Notas do município de Contagem, Nilo de Carvalho Nogueira.Na resposta o Oficial afirmou que “os serviços notariais e de registrotêm finalidades muito mais sérias, são serviços instituídos, mantidose fiscalizados pelo Estado, no sentido amplo do termo, que visam agarantia e a manutenção da paz social.”

Em meio a estas publicações, veículos de outros Estados como“O Globo” , “Cor re io Braz ie l iense” e a té a rev i s ta “Veja”bombardearam os Registradores e Notários com as expressões“lobby dos cartórios” e “Trem da Alegria dos Cartórios”.

O Presidente do Recivil está atento às veiculações e com muitatranqüilidade vem tentando responder e esclarecer uma a uma.

“Nós, oficiais, devemos ficar atentos e sempre que possívelresponder às acusações descabidas que nos fazem. O Sindicatoestá aberto para receber cartas, notas, respostas. Precisamos nosunir e mostrar que nosso trabalho é sim sério, necessário eresponsável”, declarou Paulo Risso.

institucional

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31n.º 18 - fevereiro de 2008www.recivil.com.br

O que explicam as muitas renúncias dosempossados em MG?

Nos últimos dias temos visto as várias manifestações contra aPEC 47l que trata da efetivação de notários e registradores investidosna função até l994. Estão chamando a PEC de “Trem da alegria” eoutros adjetivos mais, em reportagens anteriores falaram em “feudoshereditários”.

É espantoso que só agora, quase 20 anos depois de promulgadaa Constituição, é que os nobres deputados e demais autoridades sepreocupam com a questão. A Constituição já determinava concur-sos. Em 1994 veio à Lei 8.935 e os deputados e autoridadescontinuaram inertes. E agora, decorridos quase 20 da Constituição,quase 13 anos da Lei 8.935 é que se preocupam.

Mas nem é a avalanche de reportagens contra a PEC 471 quedeixa indignada a classe de cartorários. É a injustiça e a condiçãode desigualdade com que os cartorários são tratados. No concurso,por exemplo, os advogados podem contar como títulos o exercícioda advocacia, e os cartorários não podem contar como títulos os

anos trabalhados; e a Lei é clara, notários e registradores sãoprofissionais do Direito (tem que ser bacharel), e está impedido deexercer a advocacia. Diante disso, um notário ou registrador quetenha, por exemplo, 20 anos de exercício na função, que na provade conhecimentos empata com um advogado que têm 10 anos deexercício da advocacia, o notário perde a vaga para o advogado.

Isso nos mostra que os nobres deputados e autoridades do País,não são contra a PEC 47l, são contra notários e registradores(pessoas idôneas e trabalhadoras, que já enfrentaram gratuidadesimpostas) que já estão trabalhando na função há 20, 30 anos.

Não contar pontos por tempo de serviço na função de notário eregistrador, e contar pontos para advogados, é injusto e ilegal fereo princípio da igualdade e da isonomia, garantidos por Lei.

A reportagem do Correio Brasiliense chama os cartórios de verdadeiras“minas de ouro”. Se assim o fosse, o que explicam as muitas renúnciasdos empossados nos últimos concursos de Minas Gerais?

por: Neide Terezinha Silvério de Lima é Oficiala do registro Civil do Distrito de Santa Rita daEstrela - Comarca de Estrela do Sul - MG

Novo site do Recivil está no arDesde o início do mês de janeiro, está no ar o novo site do

Recivil. Com um design simples e leve, o Recivil buscou construirum site fácil de usar, com um visual atraente e que possibilitaaos usuários encontrar facilmente as informações desejadas.

O site possui agora um espaço destinado às últimas novidadesque acontecem no mundo da informática. Para ter acesso, bastaclicar no link "TI (informática)", localizado à esquerda do site, eacessar diversos artigos.

Há também um novo espaço reservado para nossos parceiros.São empresas de informática, livros e telefonia celular que játrabalham com o Sindicato e que poderão oferecer os melhoresserviços e produtos. Sua empresa também pode fazer parte donosso site. Entre em contato conosco.

Novas mudanças ainda estão sendo feitas, e, em breve, todoo site estará reformulado. Dê sua opinião ou sugestão através doe-mail: [email protected], ou do telefone (31) 2129-6000.

opinião/institucional

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Casamento Civil completa 118 anos deexistência no BrasilNos últimos 10 anos celebrações civis aumentaram 21%. Segundo Estatísticas doIBGE do ano passado aumento anual de celebrações no Brasil foi de 6,5%

nacional

Há 118 anos, como uma das principaisc o n s e q ü ê n c i a s d a P r o c l a m a ç ã o d aRepública, que propiciou a separação en-tre Estado e Igreja Católica, o Decreto 181,de autoria de Ruy Barbosa, e promulgadono dia 24.01.1890 instituía o casamentocivil no Brasil, como o único ato válidopara a celebração de matrimônios.

Por este decreto, que causou alvoroço en-tre a população católica, principalmente nosmeios rurais, instituiu-se o casamento civil,negando-se efeitos civis ao matrimôniorealizado perante a Igreja, ou seja, em faceda Lei, o mero casamento religioso passou agerar apenas concubinato. A partir do regimerepublicano, o catolicismo deixou de ser are l i g ião o f i c i a l e com i s to to rnou - senecessário mencionar o casamento civil comoo vínculo constituinte da família brasileira.

Desde então, o casamento civil passou afazer parte da vida da população brasileira ehoje em dia, ao contrário do que muitos

imaginam, seu crescimento é vertiginoso, anoapós ano. Visto como um contrato dereconhecimento civil entre duas pessoas, compapel fundamental na formação da instituiçãosocial maior, a Família, para a grande maioriados brasileiros, o casamento civil é a melhorescolha no momento do pacto nupcial.

De acordo com as E s t a t í s t i ca s doRegistro Civil de 2006, divulgadas no finaldo ano passado pelo Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE), o número decasamentos regis t rados no Bras i l vemaumentando. Nos últimos 10 anos, houveum crescimento de cerca de 21%. De 2005para 2006, o aumento de casamentosregistrados no Brasil foi de 6,5%.

Como é feito?O casamento civil, bem como o registro

civil de casamento religioso, é precedido deprocesso de habilitação, no qual os interessados,apresentando os documentos exigidos pela leicivil, requerem ao Oficial de Registro Civil das

Pessoas Naturais da circunscrição de residênciade um dos nubentes, que lhes expeça certificadode habilitação para o casamento.

Documentos necessáriosO r e q u e r i m e n t o d e h a b i l i t a ç ã o é

firmado por ambos os nubentes, de própriopunho ou por procurador , e deve serinstruído por certidão de nascimento oudocumento equivalente; declaração de duastestemunhas maiores, parentes ou não, queatestem conhecê-los e afirmem não existirimped imen to que o s i n iba de ca sa r ;declaração do estado civil, do domicílio eda residência atual dos contraentes e de seuspais , se conhecidos; e , se for o caso,autorização por escrito das pessoas sob cujadependência legal estiver ou ato judicial quea supra, cert idão de óbito do cônjugefalecido, certidão de sentença declaratóriade nulidade ou de anulação de casamento,t ransi tada em julgado, ou cer t idão doregistro da sentença de divórcio.

JS