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HISTÓRIAS DA TRADIÇÃO ORAL PROGRAMA DE RÁDIO COERÊNCIA TEXTUAL : O FINAL DA HISTÓRIA COERÊNCIA TEXTUAL: O MEIO DA HISTÓRIA DISCURSO DIRETO CENÁRIO CRIAÇÃO DE CENA MOVIMENTADA CRIAÇÃO DE PERSONAGEM PONTO DE VISTA SELEÇÃO DE FATOS SEQÜÊNCIA E EXPANSÃO DE IDÉIAS NARRATIVA ABSURDA CONTOS MARAVILHOSOS EDUCAÇÃO E CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL 7

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HISTÓRIAS DA TRADIÇÃO ORAL�

PROGRAMA DE RÁDIO�

COERÊNCIA TEXTUAL:O FINAL DA HISTÓRIA

�COERÊNCIA TEXTUAL: O MEIO DA HISTÓRIA

�DISCURSO DIRETO

�CENÁRIO�

CRIAÇÃO DE CENA MOVIMENTADA�

CRIAÇÃO DE PERSONAGEM�

PONTO DE VISTA�

SELEÇÃO DE FATOS�

SEQÜÊNCIA E EXPANSÃO DE IDÉIAS�

NARRATIVA ABSURDA�

CONTOS MARAVILHOSOS

EDUCAÇÃOE CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL

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EDUCAÇÃOE CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL

7ORGANIZAÇÃO CURRICULAR PARA AS

UNIDADES DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIADA FEBEM/SP

MÓDULO DE ATIVIDADES ESCOLARES

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Secretaria de Estado da EducaçãoPraça da República, 53 Centro01045-903 São Paulo SPTelefone: (11) 3218-2000www.educacao.sp.gov.br

Governador do Estado de São PauloGeraldo AlckminSecretário de Estado da EducaçãoGabriel ChalitaSecretário AdjuntoPaulo Alexandre Pereira BarbosaChefe de GabineteMariléa Nunes ViannaCoordenadora de Estudos e Normas PedagógicasSonia Maria SilvaCoordenadoria de Ensino da Região Metropolitana da Grande São PauloAparecida Edna de MatosCoordenadoria de Ensino do InteriorElcio Antonio Selmi

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EDUCAÇÃOE CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL

7

Autoria

SECRETARIA DEESTADO DA EDUCAÇÃO

Realização

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CENPEC - CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EMEDUCAÇÃO, CULTURA E AÇÃO COMUNITÁRIAR. Dante Carraro 68 Pinheiros05422-060 São Paulo SPhttp://www.cenpec.org.br

Diretora presidenteMaria Alice SetubalCoordenação geralMaria do Carmo Brant de Carvalho

Coordenação do Projeto (Equipe Currículo & Escola)Maria Silvia Bonini Tararam (Coord.)e-mail: [email protected] José Reginato RibeiroMarilda F. Ribeiro de MoraesAutoria do módulo ContoAmérica dos Anjos Costa MarinhoJorge Miguel MarinhoMaria Alice Mendes de Oliveira ArmelinEquipe técnicaAmérica A.C.MarinhoElizabeth BarolliMarlene C. AlexandroffRonilde Rocha MachadoAssessoriaIsa Maria F. R. GuaráYara SayãoEdição de TextoTina Amado

A equipe agradece a contribuição dos educadores daFEBEM/SP, participantes dos encontros de discussãoque subsidiaram a produção deste material entreoutubro de 2000 e fevereiro de 2001

Edição de ArteEva Paraguassú de Arruda CâmaraJosé Ramos NétoCamilo de Arruda Câmara RamosIlustraçãoLuiz Maia

São Paulo, 2003

Coleção Educação e Cidadania, módulo 7Material produzido no âmbito do projetoElaboração e Implementação de Proposta Pedagógica para Adolescentes emSituação de Conflito com a Lei, desenvolvido pelo CENPEC paraa FEBEM/SP – Fundação para o Bem-Estar do Menor do Estado de São Paulo eSEE/SP - Secretaria de Estado da Educação

Conto / Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e AçãoComunitária – CENPEC – São Paulo; CENPEC; FEBEM, SEE/SP; 2003.Coleção Educaçãoe Cidadania.

Módulo de oficinas culturais 7Ilustr.; 10 fichasISBN: 85-85786-29-9

Educação e Cidadania: proposta pedagógica 1. Educação, ponte para omundo 2. Família e relações sociais 3. Justiça e cidadania 4. Saúde,uma questão de cidadania 5. O trabalho em nossas vidas 6. Artesvisuais e cênicas 7. Conto 8.Correspondência 9. Educação ambiental:problemas globais, ações locais 10. Hora de se mexer 11. Jogos davida 12. Jornal 13. Música e movimento 14. Poesia 15. Ponto deencontro I. Título II. CENPEC III. FEBEM

CDD-370.11

Wagner Mendes Soares CRB-8 – 038/2002

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SUMÁRIO

Introdução 6

Oficina 1 Histórias da tradição oral 12

Oficina 2 Programa de rádio 13

Oficina 3 Coerência textual: o final da história 13

Oficina 4 Coerência textual: o meio da história 14

Oficina 5 Discurso direto 15

Oficina 6 Cenário 16

Oficina 7 Criação de cena movimentada 16

Oficina 8 Criação de personagem 17

Oficina 9 Ponto de vista 17

Oficina 10 Seleção de fatos 18

Oficina 11 Seqüência e expansão de idéias 18

Oficina 12 Narrativa absurda 19

Oficina 13 Contos maravilhosos 20

Referências bibliográficas 21

Sugestões para o acervo da Unidade 21Fichas 23

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6EDUCAÇÃO E CIDADANIA

INTRODUÇÃOOs seres humanos sentem uma profundanecessidade de representar sua experiêncianeste mundo através da escrita. Necessitamostornar nossas verdades bonitas. Com pictografiasrudimentares, os homens das cavernasescreveram sua história nas paredes de pedra desuas “casas”. (...) Escrever permite transformaro caos em algo bonito. (...) Escrevemos porquequeremos entender nossas vidas.

Lucy McCormick Calkins

A arte é material privilegiado para atenderessa urgência de expressão a que a epígrafealude. No caso dos jovens a quem estematerial se destina, em situação de riscosocial, a necessidade de expressarem seusdesejos, emoções, sonhos, incertezas,angústias, esperanças é ainda mais premente.A expressão escrita envolve, seduz e comoveoutras pessoas, sem que o autor se exponhadiretamente – pois no mundo da ficção épossível lidar com os conflitos de umamaneira lúdica e simbólica, num felizcasamento de realidade e fantasia.

Nestas oficinas, os jovens vão ler, contar,recontar e criar histórias da tradição oral,fábulas e outros gêneros da narrativa, parase apropriarem dos recursos que as tornaminteressantes. Vão também produzir edivulgar narrativas escritas, capazes deenredar os leitores.

Essas produções serão organizadas emcoletâneas que comporão um acervo daprópria oficina ou da biblioteca da Instituição.Além disso, podem ser expostas em painéis oumurais, ao longo dos corredores. Publicaresses textos, organizar uma cerimônia delançamento da coletânea, é da maiorimportância, pois faz com que a produçãotenha uma finalidade real: alguém mais, alémde você e dos próprios colegas da oficina, vailer o que eles produziram. Saber que essaprodução terá diferentes leitores dá averdadeira dimensão da escrita: dizer algopara alguém que não está presente e que,eventualmente, desconhece uma série deinformações contextuais.

Apresente as oficinas a eles, lembrando queas narrativas estão bem próximas da vivênciacotidiana das pessoas, pelas novelas, filmes,relatos familiares, gibis... Diga que o quetorna uma história interessante é apossibilidade de nos espelharmos nela, deaprendermos com ela, de nos emocionarmosou até de nos aliviarmos por não ter deenfrentar a situação narrada.

Para que o leitor possa ser envolvido pelanarrativa, é preciso que ele “participe” dosfatos que estão sendo narrados, “viva” o queos personagens estão vivendo, “veja” ocenário como se estivesse diante de si. Umanarração não deve apenas mostrar o queacontece, mas prender a atenção do leitor, aocontar os fatos.

Mesmo que a situação contada não sejaverdadeira, é preciso fazer acreditar que elapoderia ser, que aqueles personagenspoderiam ser nossos amigos (ou nósmesmos). Ainda que esses personagens nãosejam seres humanos, eles devem serpersonificados como seres humanos, comseus sonhos, fraquezas, qualidades e defeitos,para que o leitor possa se identificar ouconfrontar com eles.

Proponha aos jovens que participem dessasoficinas como artesãos que aprendem umofício. Explique que o artesão produz peçasque, de início, são rudimentares, mas quevão-se aprimorando e, às vezes, transformam-se em obras de arte. Mostre que é possívelpassar de artífice a artista – mas, para isso, énecessário trabalhar intensamente: ler eescrever.

Organização deste móduloEste fascículo contém orientações e sugestõesde procedimento para o desenvolvimento de13 oficinas. Cada uma é apresentada em trêspartes: Aquecimento, Atividade (diferentesetapas) e Fechamento. Contém também areprodução de todas as fichas para alunos, aofinal deste fascículo.

O material do aluno participante é compostode 10 fichas, numeradas conforme a oficina(em alguns casos, uma mesma folha traz, na

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7CONTO

frente e no verso, fichas para duas oficinas).Na verdade, são 9 fichas para as oficinas deConto mais a ficha “zero”, com orientaçõespara uso do dicionário e para o trabalho emgrupo, que também integra outros módulos deoficinas. Leia com eles essa ficha sempre quehouver um número razoável de participantesnovos, pedindo que façam as atividades aípropostas.

É claro que as sugestões de oficinas destemódulo podem ser enriquecidas ou adaptadasàs necessidades de cada grupo. Leia todas aspropostas previamente, para poder seprogramar e fazer as adaptações que julgarnecessárias. Providencie também, junto àcoordenação, os materiais de que precisará;são listados no começo de cada oficina. Odisquete que integra este módulo trazarquivos para impressão das fichas.

O trabalho com a leituraÀs vezes acredito que os bons leitores sãocisnes ainda mais negros e singulares que osbons autores. (...) Ler, além do mais, é umaatividade posterior à de escrever; é maisresignada, mais atenciosa, mais intelectual.

Jorge Luís Borges

Ler é mais do que decodificar, é atribuirsentido ao texto, indo além do que estáescrito, relacionando-o com outros textos ecom as experiências vividas; é adivinhar o quevem a seguir e o que está nas entrelinhas.Quanto mais lemos, melhores leitores nostornamos. As habilidades de leitura só seadquirem com a própria experiência daleitura e com a mediação de um leitor maisexperiente, que, como Paulo Freire dizia, nosdá o testemunho da sua leitura.

Por isso, em todas as oficinas, você que temmais experiência de leitura do que os jovensparticipantes lerá o texto para eles, não sóporque muitos terão dificuldades em fazer aleitura sozinhos, como também para que vocêpossa, já enquanto lê, ir mobilizando nos(as)jovens participantes, por meio dequestionamentos e comentários, os processoscognitivos que farão deles(as) bons leitores,atentos e críticos.

Embora deixemos a seu critério dosar essasintervenções, apresentamos, neste tópico, àguisa de sugestão, alguns tipos de estímulo ouquestões que podem propiciar a eles umaleitura mais aprofundada:

� faça um breve levantamento dosconhecimentos prévios dos participantessobre o assunto (Você já ouviu falar emMonteiro Lobato?) e peça que antecipem oque o texto trará (O que você acha que vaiacontecer agora? Como ele vai reagir?);

� estimule-os a relacionar seusconhecimentos prévios com o que o textotraz, a compreender o que não estáexplícito no texto, a ler nas entrelinhas(Por que você acha que o autor disse isso?O que ele quis dizer com...?);

� proponha aos participantes avaliar tantoos recursos de organização textual elingüísticos utilizados pelo autor comosituações ou fatos narrados (Você achoubom ele escrever a história com o pontode vista na 3a pessoa, ou teria sidomelhor se um personagem a contasse?Essa gíria ficou bem aqui? Por quê? O quevocê faria no lugar de fulano?);

� incentive-os a exercitar o raciocíniológico, a coerência, questionando-os sobreo que aconteceria se determinado fatofosse alterado (E se Fulano tivesse agidoassim? O que mudaria na história seBeltrano tivesse respondido isso...? Comoficaria o ritmo se o narrador tivesse usadouma linguagem mais culta?);

� desafie os adolescentes a ir além do texto,relacionando sua temática com idéiasafins (O futebol é uma paixão dobrasileiro: que outras paixões temos?);

� abra espaço para que todos possammanifestar suas opiniões, emoções,preferências, seja em relação a situaçõesreferidas nos textos lidos, seja no que dizrespeito às escolhas feitas pelo autor(Como você se sentiu quando o homemofereceu dinheiro ao menino? Vocêsprefeririam que o autor tivessecontinuado a história, em vez de pararaqui?).

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8EDUCAÇÃO E CIDADANIA

A produção de textosA gente escreve para ser amado, para atrair,para encantar.

Mário de Andrade

Narrar é o ato de contar a vida e contar a vidafaz parte da própria natureza dos homens.E, segundo Jorge Luís Borges, o público temfome de narrativa, tanto que a procura natelevisão, nos livros e no cinema. Acreditamosque os jovens participantes das oficinas têmmuito o que contar e também têm fome de seramados, de atrair e de encantar.

Por isso, essas oficinas têm propostasdiversificadas, para que os jovens,experimentando, percebam que há váriasmaneiras de narrar. Para que conheçamdiferentes organizações narrativas, além daleitura e discussão de textos leves, curtos, deboa qualidade e de diferentes gêneros (contosde tradição oral – de fada e de medo –, dehumor, de situações do cotidiano, fábula, deamor), sugerem-se atividades de criação depersonagem (Um homem de consciência); deexpansão de idéias (Dick Parker); dealteração do ponto de vista do narrador(Gaetaninho); de caracterização do cenário (apartir da reprodução de uma pintura deMonet); de ampliação de histórias, comcriação de início, meio e final (Que rua éessa, Cão! Cão! Cão!, No país do futebol) ; deorganização de seqüência e ampliação (O leãoe o ratinho); lúdicas, como a criação de umtexto absurdo (Disparate); de recontagem (Ocauso do meu pai), de dramatização (Negóciode menino com menina) e de criação a partirde um roteiro (Rapunzel).

Muitas das propostas poderão parecer difíceispara os jovens, mas é preciso não desanimare continuar tentando, pois é fazendo que elesvão aprender. Nesse sentido, importa maisvalorizar o processo e cada uma das pequenasconquistas do que o produto. Só assim vocêconseguirá desinibi-los e ajudá-los aultrapassar seus limites.

Ao escrever, é importante perceberem que,quando o texto se destina a um outro leitor,precisa estar claro e atingir o objetivo a que

se propõe: agradar, convencer, divertir,emocionar... Até um escritor experientereescreve seu texto inúmeras vezes antes depublicá-lo, à medida que, relendo o texto,descobre falhas; às vezes, pede a outraspessoas que leiam o que escreveu e fazmodificações com base em suas sugestões.

Para ajudá-los, acompanhe de perto aprodução dos textos, oferecendo informaçõese sugestões; criticando com delicadeza,agrupando os participantes de modo que elespossam se auxiliar mutuamente; ajustando asatividades ao tempo disponível. E, sempre queo tempo permitir, revise o texto com eles, pormeio da reescrita coletiva. O texto final,copiado (digitado, se a Unidade possuircomputador), irá compor o livro, junto com asdemais histórias.

Orientação para reescritacoletiva de textosTranscreva na lousa o texto já corrigido(sem problemas de ortografia, concordância,conjugação verbal etc.).

Leia-o com a turma e consulte o autor, paraverificar se as idéias básicas estão certas.

Com a colaboração de todos, separe umparágrafo para cada idéia, verificando seestão claros e coerentes.

Em seguida, tendo o cuidado de nãodescaracterizar o texto do autor:

� faça perguntas como O quê?, Quem?,Quando?, Onde?, para completarinformações e Por quê? e Como?, paraexpandir as idéias do texto;

� verifique se há palavras, idéias ouexpressões que se repetem; discuta sefazem falta e elimine-as se foremredundantes;

� acrescente, se necessário, palavras dotipo: e, mas, contudo, portanto(conjunções); estes, aqueles, quem, que,eles, tudo (pronomes); quando, enquanto,logo (advérbios), para dar coesão ao texto;

� observe se os tempos verbais estãoadequados e combinam entre si (“quandoeles chegaram, os outros já tinham saído”,

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9CONTO

“ela costumava ir a pé, mas nesse diaresolveu ir de ônibus”).

� elimine as idéias contraditórias;

� ajude-os a pontuar e paragrafarcorretamente, com especial atenção parao diálogo: uso de dois pontos e travessãoou aspas para indicar falas depersonagens.

Finalmente, discuta com eles as modificaçõesfeitas, reescreva-o na lousa com a classe,incorporando as informações colhidas ediscutidas, e proponha que comparem o textoreescrito com o original.

Organização de coletâneaspara divulgaçãoO ponto culminante das oficinas é o dadivulgação ou exposição dos textos dos jovens– o que pode ser feito no corredor ou pátio dainstituição. Mas, sempre que possível,organize coletâneas de contos e disponha-asao alcance dos demais internos. Só assim sepreservará a função social da escrita e asoficinas terão sentido.

A coletânea deverá conter textos de todos osparticipantes e textos feitos em grupo. Elespróprios podem escolher aqueles de quemais gostam, revisando-os e reescrevendo-ospara a divulgação. Se tiverem acesso acomputadores, poderão digitar e imprimirseus textos, utilizando os recursos que essatecnologia oferece: corretor ortográfico,diferentes possibilidades de diagramaçãoetc.

Combine com eles o formato final dacoletânea: como será diagramada, como seráa capa etc. Providencie os recursos materiaisnecessários. Oriente-os para fazer adivulgação e, finalmente, um lançamentofestivo, num dia de visita. O importante é nãodeixar de publicá-la.

VALORIZE O PORTFÓLIOIndependentemente das diferentes possibilidades dedivulgação, todas as produções dos jovens devemser guardadas nos seus portfólios.

Elementos da narrativaO objetivo primordial dessas oficinas é que osjovens possam-se deleitar com a leitura detextos literários de boa qualidade, tendoacesso a outras formas de ver o mundo e,ao mesmo tempo, ensaiar as suas própriasproduções. Assim, elas não têm a pretensãode aprofundar questões teóricas, já que otempo destinado a elas não o permitiria.Porém, oferecemos a você algumasinformações sobre os elementos da narrativa,que podem ajudá-lo a orientar os jovens.

O NARRADOR E O PONTO DE VISTA. Onarrador é quem nos conta uma história.É por meio da visão dele que a narrativanos é transmitida. Basicamente, este pode-se colocar em duas posições ou situações:contar a história como personagem,portanto em primeira pessoa, ou situar-sefora da história, contando-a como quemnos transmite algo que observa a distância,isto é, em terceira pessoa.

Se, por um lado, o foco narrativo deprimeira pessoa restringe essa visãopanorâmica dos fatos, por estar preso aosolhos e à personalidade de um únicopersonagem, por outro, ganha em emoção.Já na terceira pessoa, o narrador podejogar com o fato de ser um espectadorprivilegiado, que tudo vê e que, por vezes,sabe até os segredos, emoções esentimentos mais íntimos e inconfessos deseus personagens, transitando assim dacondição de simples observador à denarrador onisciente.

INTRIGA. Numa narrativa a intriga (ação)compreende tudo o que acontece nahistória: os fatos e atos envolvendo ospersonagens. As ações de uma narrativase organizam pelo enredo, isto é, de umaseqüência e encadeamento que podemacompanhar a ordem cronológica dosacontecimentos ou alterar essa ordem poruma questão de expressividade, pararessaltar algum aspecto da história.

Nas narrativas tradicionais, apresentam-se inicialmente os personagens, o espaço

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10EDUCAÇÃO E CIDADANIA

ou cenário e o tempo – Introdução ouApresentação inicial. A ação se desenrola–Desenvolvimento – até o surgimento deum fato que desequilibra a ordemestabelecida – Conflito. Esse confrontochega a um ponto máximo de tensão –Clímax; a partir daí, os fatos evoluem parauma solução – Desfecho.

ESPAÇO. Os personagens movimentam-sedentro de um certo espaço e este podemuitas vezes auxiliar em suacaracterização, na medida em que permitetransmitir determinadas idéias ao leitorcom maior intensidade. Às vezes, porém, oespaço assume apenas um caráterdecorativo, tornando-se não mais que umcenário, pano de fundo sobre o qual sedesenrolam as ações.

TEMPO. Numa narrativa, o tempo pode serentendido de duas formas: tempo-época etempo-duração. O tempo-época indica omomento histórico dos acontecimentosnarrados. Em alguns textos, esse tempohistórico pode vir claramente mencionadoou estar implícito na caracterização dospersonagens e do espaço. O tempo-duração é o que transcorre do começo aofim da história narrada (horas, dias,meses, anos etc.).

Quanto à organização da ação narrativa,isto é, à seqüência em que se apresentamos fatos, esta pode ser cronológica linearou não-linear. Na primeira, os fatos sãonarrados na ordem de sua ocorrência; nasegunda, há uma interrupção da sucessãolinear, para serem contados fatos dopassado, em uma retrospectiva ou flash-back. É possível também incluir aantecipação de um fato futuro, conhecidopelo narrador, mas não pelos personagens.

Nos romances psicológicos, onde a ação émuito mais interna do que externa, umaoutra ordem temporal se impõe: a dasimultaneidade, em que prevalece aassociação livre de idéias: presente,passado e futuro se misturam num mesmoplano como se tudo fosse presente.

PERSONAGENS. Os personagens são peças-

chave dentro da narrativa. É com eles queocorrem os fatos, é por seus dramas,experiências, paixões, sofrimentos evitórias que se provoca a empatia doleitor. Personagens são geralmentedefinidos por meio de suas ações, isto é,mostram-se enquanto agem, ou por suaqualificação, quando o narrador descreveseu modo físico, psicológico e social de ser.

Em sua construção, os personagenspodem ser simples, lineares, formados decaracterísticas bem definidas, que tendem arevelá-los como protótipos: do bem, do mal,da esperteza, da ingenuidade. Ou, então, sãocomplexos, imprevisíveis, cheios de conflitose até contraditórios em suas atitudes.

Podem ter papel determinante nodesenvolvimento do enredo — serão,então, protagonistas (personagensprincipais) ou podem ser coadjuvantesnesse processo (personagens secundários).Em muitas histórias, há personagens,secundários ou não, que se contrapõem aopersonagem principal: são os antagonistas.

FALA DOS PERSONAGENS. Para representaro que os personagens dizem emdeterminadas situações, o narrador lançamão basicamente de dois processos: odiscurso direto e o discurso indireto. Noprimeiro, através de marcas como verbosde elocução (ou verbos de dizer: falar,responder, retrucar, dizer, exclamar,perguntar etc.) dois pontos, travessões ouaspas, o narrador mostra diretamente asfalas dos personagens; no segundo, é onarrador quem nos conta o que foi dito.

Há ainda um recurso da prosa maismoderna: o discurso indireto livre, quandoo narrador reproduz a fala do personagemsem nenhuma indicação. As reflexões dopersonagem e a fala do narradormisturam-se no mesmo discurso —apenas o contexto nos esclarece o quepertence a um ou a outro.

É importante que você tenha em mente todosesses aspectos, pois, em algumas dasoficinas, serão trabalhados um ou maiselementos da narrativa.

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11CONTO

O trabalho com os jovens não-alfabetizadosProvavelmente você terá na sala jovens comdiferentes experiências em leitura e escrita;muitos sequer conhecerão as letras e o que aescrita representa. Mas isso não deve serimpedimento para sua participação nasatividades propostas nas oficinas. Ao contrário– embora saibamos que o tempo de participaçãodesses jovens em uma oficina não é suficientepara fazer com eles um trabalho consistentede alfabetização –, é possível aproximá-losum pouco mais do mundo da escrita.

Participar das atividades propostas para asdiversas oficinas e módulos e entrar emcontato com diferentes tipos de texto escritopermitem que o sujeito internalize asdiferentes formas de organização textual edescubra o que a escrita representa e comose organiza. Quando você (ou um colegaalfabetizado) lê para o aluno, ele também setorna leitor, porque atribui sentido ao textolido. Quando você (ou um colega alfabetizado)registra as idéias do aluno não-alfabetizado emum texto coletivo, ele também é autor do texto.

À medida que ele participa dessas atividades,vai internalizando o discurso escrito,reconhecendo letras, relacionando-as aossons. Internalizar o discurso escrito significair conhecendo e sabendo utilizar diferentesorganizações textuais, recursos expressivos esinais gráficos convencionais para que o textoproduzido cumpra sua função. Por exemplo,um texto narrativo de ficção, além de serclaro, coerente e coeso, deve prender aatenção do leitor. Para que isso ocorra,algumas vezes são precisos pequenos ajustesnas propostas, mas sobretudo um trabalhomuito grande de cooperação.

Por exemplo, um leitor mais experiente,educador ou colega, ajuda o aprendiz aprogredir na leitura e na escrita, dando-lheseu testemunho de leitura, apontando ondeestá lendo. Os menos experientes podem ditaro que têm a dizer para que outros escrevam,registrar como souberem (inclusive por meiode desenho) e ter uma participação oral maisativa. O importante é que as atividades

permitam a inclusão de todos e contribuampara a superação das dificuldades de cadaum. Além disso, você pode:

� dispor materiais de leitura ao alcance detodos;

� ler sempre os textos para eles – não sãoapenas os que não sabem, que gostam deouvir alguém ler;

� preparar-se antes para a leitura,demonstrando prazer nela e, se o textopermitir, fazer suspense, desafiá-los aadivinhar o que virá depois;

� escrever na lousa ou em um cartaz o títulodo texto lido e os nomes dos personagens,se houver;

� de vez em quando, pedir que reproduzam oque você tiver lido, através de desenho ouescrita, como souberem;

� comentar livros ou outros textos que vocêtenha lido e achado interessantes;

� aproveitar o trabalho com os textos quepermitem memorização (poesias,parlendas, adivinhas) e incentivar osalunos que ainda não lêem a fazer “leiturade memória” – sabendo o texto de cor,fazem de conta que estão lendo;

� propor que façam a leitura de imagens esinais em jornais, revistas, textosilustrados, perguntando o que acham queestá escrito aí (exercitando a antecipação);

� procurar ler o que os alunos rabiscam outentam escrever, indagando o que queriamescrever e traduzindo para a escritaconvencional, sem apagar o que o alunofez (deixar as duas formas juntas);

� sempre que possível, fazer produçãocoletiva de textos: enquanto eles criam otexto, você vai escrevendo na lousa ou empapel pardo. Reproduza esses textos paraque possam colá-los no caderno ouorganizar em forma de coletânea.

Elogie todas as tentativas que fizerem.Comemore com eles cada progresso, nãopermita que se acomodem ou desistam.Impulsione-os sempre para vôos maiores efaça com que sintam que você está com eles.

Bom trabalho!

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12EDUCAÇÃO E CIDADANIA

OFICINA 1HISTÓRIAS DATRADIÇÃO ORALMaterial necessário: ficha 1; dicionários; papel(ou cadernos), lápis, borracha, caneta; se possível,almofadas para sentar-se no chão.As histórias da tradição oral, crônicas, contos –incluindo os de fada – são motivo de prazer paratodas as pessoas; ao mesmo tempo que ampliam avisão de mundo, representando simbolicamenteproblemas humanos, fornecem um modelo deorganização do texto escrito.Todo mundo gosta de ouvir e contar histórias e osjovens com quem você vai trabalhar não sãoexceção. Com esta oficina, queremos resgatar ashistórias de tradição oral, que fazem parte dorepertório dos participantes.AquecimentoConverse com eles, explicando o que é tradiçãooral. Fale sobre as histórias, idéias eacontecimentos que os mais velhos contam para osmais jovens, mostre que é assim que muitosaspectos da cultura de um povo são transmitidos,de uma geração a outra. Em geral, essas históriastêm muito de fantasioso e, às vezes, um mesmofato tem muitas versões pois, como diz o ditado,quem conta um conto, aumenta um ponto.Proponha que eles sentem no chão ou emalmofadas, como se estivessem em volta de umafogueira. Peça que imaginem o fogo, o silêncio e operfume de uma noite ao ar livre – quem sabe nomeio do mato –, procurando lembrar-se dehistórias que ouviram da família ou de amigos.Atividade1a etapaPara incentivá-los, apresente a história O causo domeu pai, contada por Henrique Duarte Macari, naficha 1. Antes da leitura, pergunte se o título dápistas a respeito do que vão ler. Se necessário,esclareça que o nome “causo”, justamente, éaplicado a histórias que têm uma grande carga defantasia e, no caso desta, tanto pode ser um relato

vivenciado pelo pai do autor quanto simplesmenteum fato vivido por outros e contado por essemesmo pai. Conte, também, que o autor é aluno deuma escola municipal de São Paulo e escreveu este“causo” durante o desenvolvimento de um projetoparecido com este, intitulado Causos de medo.2a etapaA seguir, leia com eles o texto, interrompendo comquestões que criem um clima de suspense. Porexemplo, após o trecho que diz: “De repente, elachegou, linda, perfumada, sentou-se na mesa aolado dele.”, cabe uma pequena interrupção e apergunta: E agora? Será que ela vai dar bola pra ele?Eles vão acabar namorando? Ou ainda, no trecho:“Já estava na rua do cemitério, quando ela pediu praparar o carro, bem na frente do portão de entrada.”,você pode perguntar: Por que vocês acham que elapediu para ele parar ali? E agora, o que vai acontecer?Terminada a leitura, estimule-os a comentar o textolivremente, do que gostaram ou não, se ficaramimpressionados, se acham que essa históriarealmente aconteceu ou se é só imaginação etc.3a etapaProponha, então, que aqueles que conhecemalguma história desse gênero contem para osdemais. Seria interessante você também contaruma, como forma de incentivá-los.Se houver tempo, vocês podem escolher a melhorhistória do dia. Uma vez feita a votação, soliciteque o autor da “preferida do dia” reconte ahistória, de forma que todos possam tirar dúvidas ememorizá-la. Em seguida, proponha que seja feito,coletivamente, o registro escrito do texto.Vá para a lousa e, à medida que eles forem ditandoa história, discuta com eles a melhor forma de relataros fatos ouvidos, de modo a garantir a fidelidadeao conto original e prender a atenção do leitor.FechamentoSeria interessante que o texto final fosse copiadopor um dos participantes, para compor umacoletânea de contos, junto com as históriasproduzidas nas demais oficinas.Se houver possibilidade e você dispuser de umgravador, as histórias podem ser gravadas. Assim,a turma disporá de uma coletânea oral.

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13CONTO

OFICINA 2PROGRAMA DE RÁDIO:DRAMATIZAÇÃO DETEXTOMaterial necessário: ficha 2; dicionários; folhas depapel (ou cadernos), lápis, borracha, caneta; sepossível, gravador e fita; caixa de papelão grande,tesoura e tintas; ou lençol ou cortina, paraimprovisar “rádio antigo”.Nesta oficina os jovens vão ler e dramatizar umtexto. A dramatização é um eficiente recurso para oexercício da leitura, levando-se em conta queexerce no leitor um forte apelo à busca daexpressividade da linguagem.AquecimentoAntes de distribuir a ficha 2 aos participantes, leiao título e pergunte de que eles imaginam que ahistória trata. Veja se alguém conhece o autor (IvanÂngelo), se já leram algum texto dele.Atividade1a etapaEntregue a ficha e leia o texto junto com eles –especialmente se houver jovens não-alfabetizadosou com dificuldades em leitura – e, ao longo daleitura, vá questionando-os sobre o que acham quevai acontecer. Em seguida, abra espaço paracomentários e volte ao texto se houver dúvidas. Seriainteressante discutir o que entendem por “águia daBolsa”, lembrando que a expressão dá uma pistasobre a profissão do pai, que provavelmente trabalhana Bolsa de Valores, “acostumado a encorajar osmais hesitantes...”. Estimule-os com perguntassobre o que acham da atitude dos personagens – ofato de o pai achar que pode comprar tudo, arecusa do menino em se deixar seduzir pela oferta–, se gostaram do encaminhamento da história, dofinal, se fariam diferente.2a etapaProponha aos jovens a criação de um programa derádio, um radioteatro, como se chamavaantigamente. Conte que, quando não havia

televisão, as novelas de rádio e o radioteatro faziamum grande sucesso e que grandes nomes do teatroe da televisão de hoje (autores e atores) começaramsuas carreiras no rádio.Para fazer o radioteatro, eles terão de ler o texto(ou decorá-lo) com bastante expressividade. Alémdisso, deverão fazer algumas pequenas adaptações,para tirar a fala do narrador e fazer os ouvintesentenderem a história tal como ela foi concebida.Sugira que enriqueçam o programa com o recursoda sonoplastia (sons, ruídos, música de fundo) e acriação de propagandas musicadas (jingles) para ointervalo. Ajude-os com sugestões e elogie todas astentativas.FechamentoPronto o programa, cada grupo apresenta suanarração. Depois, todos escolhem a melhor, queserá reapresentada para gravação – se dispuseremde um gravador. Também podem construir umrádio de papelão, parecido com o da ilustração daficha. Ou podem apresentar o programaescondidos atrás de uma mesa ou de uma cortina.Combine com a coordenação da Unidade umaforma de apresentarem o radioteatro para osdemais internos e funcionários ou organize umaapresentação num dia de visita. Temos certeza deque será o maior sucesso.

OFICINA 3COERÊNCIA TEXTUAL:O FINAL DA HISTÓRIAMaterial necessário: ficha 3; dicionários; folhas depapel (ou cadernos), lápis, borracha, caneta.Nesta oficina e nas duas seguintes, os jovens vãoescrever partes de uma história. Acreditamos queisso os auxilia a ganhar desenvoltura na escrita e ase exercitar na percepção da coerência textual.AquecimentoConverse com eles sobre as dificuldades de umapessoa que vai para um país estrangeiro semconhecer a língua desse lugar. Diga que irão leruma história que trata de uma situação como essa.

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Atividade1a etapaDistribua a ficha 3 e leia o texto junto com eles –especialmente se houver jovens não-alfabetizadosou com dificuldades em leitura – e, ao longo daleitura, vá questionando-os sobre o que acham quevai acontecer. Em seguida, abra espaço paracomentários e volte ao texto se houver dúvidas.Estimule-os com perguntas sobre o que acham daatitude dos franceses, o que fariam se estivessemno lugar do turista e o que imaginam que eledeveria fazer, se não tivesse encontrado o casal deamigos.2a etapaLeia com eles as orientações para a atividade queconstam da ficha e esclareça as dúvidas queporventura existirem. Antes de escreverem, discutacom eles as propostas de final, para verificar se sãocoerentes e se causam surpresa nos leitores, como ooriginal (reproduzido abaixo) – volte ao texto, senecessário.FechamentoQuando os textos estiverem prontos, ajude-os arevisá-los e, se sobrar tempo, faça a reescritacoletiva de um dos textos.Agora leia o final do texto original para quepossam compará-lo com os seus:“O brasileiro não deixou por menos. Deu umagargalhada e explicou: ‘A tabuleta que você copiounão era indicadora do nome da rua e sim desteaviso: É proibido urinar aqui’.”

OFICINA 4COERÊNCIA TEXTUAL:O MEIO DA HISTÓRIAMaterial necessário: ficha 4 (verso da ficha 3);dicionários; papel, lápis, borracha, caneta.AquecimentoRelembre a oficina anterior, verifique se algum dosque dela participaram está presente, pedindo-lheque conte o que fizeram (tiveram de inventar o fim

de uma história). Converse sobre como um mal-entendido pode provocar uma situação difícil paraas pessoas. Diga que irão ler uma história que falade uma situação como essa, mas que nela falta umaparte – e eles é que vão inventar esse pedaço (omeio da história).Atividade1a etapaPergunte se conhecem Millôr Fernandes. Digaque é um grande humorista e cartunista brasileiroe que já colaborou, e colabora ainda, com diversosjornais e revistas.Distribua a ficha 3 (ou peça aos que já a têm daoficina anterior, que a retomem) e leia o texto queestá no verso dela até o final, junto com eles. Emseguida, abra espaço para comentários e volte aotexto, se houver dúvidas. Estimule-os comperguntas sobre o que acham da atitude dos doispersonagens, o que fariam se estivessem no lugardeles e o que acham que o cachorro fez paraprovocar esse constrangimento entre os amigos.2a etapaLeia com eles a proposta da ficha e peça-lhes que,antes de escrever, levantem hipóteses sobre asatividades do cão no interior da casa. Chame suaatenção para o aspecto da coerência, por exemplo:não pode acontecer nada de muito grave, senão osamigos não continuariam conversando; eles nãofalam no cachorro, pois isso estragaria a surpresado final do conto. Proponha então que escrevam erevisem a história seguindo as orientações da ficha.Passeie entre as mesas, sugerindo, orientando,incentivando.FechamentoQuando os textos estiverem prontos, sugira avoluntários que leiam seus textos para os colegas e,finalmente, leia você o trecho da história que foisuprimida, para que comparem com os seus:

“(...) o barulho na cozinha demonstrava queele tinha quebrado alguma coisa. O dono dacasa encompridou um pouco as orelhas, oamigo visitante fez um ar de que a coisa nãoera com ele. ‘E você, casou também?’ O cãopassou pela sala, o tempo passou pela conversa,o cão entrou pelo quarto e novo barulho de

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15CONTO

coisa quebrada. Houve um sorriso amarelo porparte do dono da casa, mas perfeita indiferençapor parte do visitante. ‘Quem morreudefinitivamente foi o tio... Você se lembradele?’ ‘Lembro, ora, era o que mais... não?’ Ocão saltou sobre um móvel, derrubou o abajur,logo trepou com as patas sujas no sofá (otempo passando) e deixou lá marcas digitais desua animalidade.”

Os que quiserem podem passar suas histórias alimpo e expô-las nos painéis ou cedê-las para oacervo. Lembre-se: todas as produções dos jovensdevem ser assinadas e guardadas em seus portfólios.

OFICINA 5DISCURSO DIRETO:PONTUAÇÃO DODIÁLOGOMaterial necessário: ficha 5; dicionários; papel,lápis, borracha, caneta.Esta oficina vai divertir os jovens e fazê-losperceber que todo mundo na vida pode fazer papelde bobo e que isso não tem nada de mais – rir dasnossas próprias fraquezas é um exercício saudávele um antídoto contra a violência. Além disso, vãoaprender sobre a pontuação do diálogo.AquecimentoPergunte a eles se já deram algum fora na vida, sejá fizeram papel de bobo. Diga-lhes que issoacontece com todo mundo. Tem gente que admiteque errou ou se atrapalhou, mas tem gente que ficacom tanta vergonha que torna a situação ainda pior.Atividade1a etapaDistribua a ficha 4 e leia o texto junto com eles –especialmente se houver jovens não-alfabetizadosou com dificuldades em leitura – e, ao longo daleitura, vá questionando-os sobre o que acham quevai acontecer. Em seguida, abra espaço paracomentários e volte ao texto se houver dúvidas.Estimule-os com perguntas sobre o que acham da

atitude do personagem e o que fariam seestivessem no seu lugar.2a etapaDiscuta a necessidade de indicar (marcar) quemfala quando se escreve. Quando falamos comalguém, à nossa frente, vemos quem está falando.Já na escrita, é preciso “avisar” ao leitor quem estáfalando naquele momento (se o narrador ou umpersonagem): isso é feito por meio da pontuação.Proponha uma leitura dramatizada do texto, quepode ajudar os jovens a compreender a pontuação.Na verdade, um jogo dramático:� escolha alguns jovens para fazer a leitura (um

para cada personagem e um para narrador);� improvise um objeto para servir de

“microfone”;� sem que os demais ouçam, combine com eles

que, cada vez que um personagem falar, o“microfone” passa para as mãos de quemrepresenta esse personagem. (Cuidado! Omicrofone não pode passar às mãos donarrador!)

� proponha que todos acompanhem a leitura etentem descobrir qual marca, no texto,corresponde à mudança de mãos do“microfone”.

Após a leitura, verifique se descobriram. Se não,chame a atenção para a marca de fala dopersonagem: explique que o travessão indica a falado personagem e as entradas do narradorexplicando as falas do personagem.3a etapaA seguir, conte a eles um fato acontecido com você oucom algum conhecido que seja semelhante à históriaque vocês leram e incentive-os a fazer o mesmo.Proponha, então, que escrevam uma história comose tivesse acontecido com eles. Explique o que éum narrador em primeira pessoa, dando exemplos:“Certa vez, me aconteceu....”; “Uma tarde, euvinha pela rua quando...”. Lembre ainda quedevem tomar cuidado com a pontuação do diálogo.FechamentoLeia os textos e ajude-os a revisá-los. Oriente-os parapassá-los a limpo para montar uma pequena coletânea,que pode se chamar O grande fora ou O mico.

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OFICINA 6CENÁRIOMaterial necessário: ficha 6 (verso da ficha 5);papel, lápis, borracha, caneta; aparelho de som,CD com música suave.AquecimentoSe possível, toque uma música suave de fundo ediga aos jovens que hoje irão viajar para um lugardistante no tempo e no espaço. Um lugar diferentede tudo que estão acostumados a ver.Atividade1a etapaApresente a ficha 6 (ou peça aos que já têm a ficha5, que a retomem) e peça que observem bem agravura. Estimule-os a falar sobre as cores, ostraços, mas vá conduzindo a discussão para adescrição do cenário: Onde eles imaginam que ficaesse lugar? O que há aí? Peça para descreverem ascores, as pessoas...Peça, depois, que fechem os olhos e se imaginemnesse lugar. Vá fazendo as perguntas que estão naficha, mas diga que não precisam responder emvoz alta, é simplesmente para imaginar. Imaginevocê também.Agora, comentem o que imaginaram. Isso vaiajudá-los a organizar melhor a narrativa. Proponhaa escrita do texto, seguindo o roteiro da ficha.2a etapaComo nas oficinas anteriores, ajude-os comsugestões e informações, durante a escrita dostextos. Coordene a troca de textos para leitura erevisão pelo autor.FechamentoFaça a revisão final e peça-lhes que passem alimpo. Organize um painel, com uma cópia dagravura no centro e os textos em volta, e exponhano pátio ou corredor. Lembre-os de guardar umacópia passada a limpo em seus portfólios, juntocom a ficha.

OFICINA 7CRIAÇÃO DE CENAMOVIMENTADAMaterial necessário: ficha 7; dicionários; papel,lápis, borracha, caneta.AquecimentoPergunte aos jovens se torcem para algum time eincentive-os a falar de suas preferências, mantendoum clima de respeito. Comente com eles a paixãodo brasileiro pelo futebol, como as pessoas fazem omaior sacrifício para não perder um jogoimportante de campeonato e como chegam àloucura em final de Copa do Mundo. Diga queirão ler um texto sobre esse assunto.Atividade1a etapaDistribua a ficha 7, com o texto No país do futebol.Leia o texto para eles com bastante expressividade,estimulando-os a fazer antecipações sobre o quevai acontecer, questões sobre o vocabulário einferências sobre as razões de determinadaspassagens do texto. Por exemplo: Por que vocêsacham que as pessoas vão assistir ao jogo na portadas lojas? Por que será que o gerente escolheujustamente aquele aparelho de televisão paravender? Você acha que existe um televisor com umbotão de controle de emoção? Em que anoaconteceu a história narrada? (essa inferência podeser feita, por meio do parágrafo 17, que diz queJuvenal não via os amigos desde a copa de 78,portanto pressupõe-se que seja a copa de 82).Ao final da leitura, eles certamente terão muito oque comentar e talvez queiram reler algunstrechos: dê-lhes tempo para isso.2a etapaEm seguida, reforce a proposta feita na ficha, deprodução do final da história, e sugira que a leiampara os demais.FechamentoAjude a revisar os textos e oriente-os a passar alimpo para publicação.

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OFICINA 8CRIAÇÃO DEPERSONAGEMMaterial necessário: ficha 8; dicionários; papel,lápis, borracha, caneta.AquecimentoPergunte aos jovens se já ouviram falar de MonteiroLobato, autor das aventuras no Sítio do PicapauAmarelo, que fizeram sucesso na televisão. Digaque, além das histórias infantis, Lobato escreveutextos para adultos, tão bons quanto os infantis.Antes de distribuir as fichas, leia o título dahistória e pergunte se imaginam do que trata.Atividade1a etapaDistribua aos jovens a ficha 8. Leia o texto comeles. Durante a leitura, esclareça as dúvidas devocabulário (provavelmente, eles estranharão apalavra deperecimento, que é o ato de alguma coisair-se acabando aos poucos), e, ao mesmo tempo, vápropondo questões que os levem a antecipar o quevai acontecer no texto, a depreender o que o autorquis dizer nas entrelinhas, a criticar as ações dopersonagem ou os recursos textuais de que o autorlançou mão, a extrapolar o texto, discutindo, porexemplo, o que leva os habitantes a abandonarcidades pequenas como Itaoca. Enfim, ajude-os amergulhar no texto e colocar em jogo todos osprocessos cognitivos mobilizados pela leitura.2a etapaAgora, oriente-os a fazer as atividades propostas naficha, esclarecendo dúvidas, fazendo sugestões. Osalunos não-alfabetizados ou com muita dificuldadeem escrita podem fazer a atividade oralmente,dramatizando o encontro dos dois personagens.FechamentoProntos os textos, peça-lhes que leiam para osdemais. Faça a revisão final, antes de eles passarema limpo para a publicação. Se o Jornal Mural jáestiver montado, procure garantir espaço para umou mais textos.

OFICINA 9PONTO DE VISTAMaterial necessário: ficha 9; dicionários; papel,lápis, borracha, caneta.O trabalho desta oficina é de recontagem dahistória (de Gaetaninho) com alteração de ponto devista, isto é, os jovens vão contar os fatos vistos porum dos personagens: será uma narrativa com focoem 1a pessoa. Além disso, eles vão aprender umpouco mais sobre os elementos da narrativa.AquecimentoDiga a eles que o conto de hoje é sobre um meninopobre, filho de imigrantes italianos, que viveu noinício do século passado, no Brás. Avise-os paraprestar atenção na forma como o autor conta ahistória: como se fossem cenas de um filme.Atividade1a etapaDistribua a ficha 9. Leia o texto para eles, comexpressividade, interrompendo a cada bloco oucena para que façam comentários, antecipações, oumanifestem suas emoções, seguindo as orientaçõesda Introdução. Vá esclarecendo dúvidas sobre otexto ou vocabulário.2a etapaAgora, leia a análise do conto, que está no verso daficha 8, e a proposta de atividade, ajudando-os acompreender o que se pede.Supervisione a organização dos grupos (trios), aescrita do texto e a primeira revisão, feita com basenas sugestões dos colegas.FechamentoFaça a revisão final e peça-lhes que passem a limpopara publicação, guardando sua produção noportfólio, junto com a ficha.

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OFICINA 10SELEÇÃO DE FATOSMaterial necessário: ficha 10; dicionários; papel,lápis, borracha, caneta; lápis ou canetas coloridas.Esta oficina propõe uma atividade de expansão dasidéias para enriquecimento da narrativa.AquecimentoIndague dos jovens se eles gostam de histórias oufilmes de suspense. Conte que, embora o Brasilnão tenha uma tradição de romances policiais oude suspense, teve dois grandes escritores nessaárea, que viveram na primeira metade do séculoXX: Medeiros de Albuquerque e JerônimoMonteiro. Este último é o autor do conto do qualeles irão ler um trecho hoje.Jerônimo Monteiro nasceu em São Paulo, em1908. Aos 10 anos de idade, precisou deixar aescola para ajudar os pais; aos 14, entrou comocontínuo na Estrada de Ferro Sorocabana, e látrabalhou durante 18 anos. Foi então que começoua se interessar pela leitura de autores comoMachado de Assis, Eça de Queirós e MonteiroLobato.Em 1937, deu uma virada em sua vida: entrounuma empresa de publicidade como redator.Inspirando-se na literatura policial americana,criou o detetive Dick Peter para divulgar umadeterminada marca de café. Dick Peter fez tantosucesso que saiu da publicidade para tornar-se umpersonagem autônomo, com histórias publicadasregularmente na imprensa e, mais tarde, chegandoa ter um programa especial no rádio (Para gostar deler v.12, 1992, p.57).Atividade1a etapaDistribua a ficha 10 aos participantes. Após aleitura dos dois trechos aí transcritos, faça com osgrupos uma análise mostrando o que diferenciaum texto do outro. Em seguida, os grupos tratarãode expandir o outro texto proposto no verso da ficha.Circule entre os grupos, oferecendo ajuda esugestões.

FechamentoQuando os textos estiverem prontos, peça-lhes queos leiam para os demais, ouçam as sugestões e asincorporem ao texto, se desejarem. Revise asproduções e, depois de passadas a limpo (eilustradas), encaminhe para publicação.

OFICINA 11SEQÜÊNCIA EEXPANSÃO DE IDÉIAS:FÁBULAMaterial necessário: ficha 11 (verso da ficha 10);dicionários; papel, lápis, borracha, caneta.Nossa proposta é que nesta oficina os jovensconheçam uma fábula e trabalhem tanto com aseqüência lógica como com a expansão de idéias nanarrativa.AquecimentoExplique a eles que vão ler uma fábula. Diga que afábula surgiu no Oriente, mas foi Esopo, umescravo grego que viveu na antigüidade, quem lhedeu as características atuais. Ele escrevia históriasem que os personagens eram animais, com afinalidade de ensinar os homens a agir comsabedoria. Mais tarde, outros escritores gostaramde recorrer às fábulas para criticar – como otambém escravo da Roma antiga Fedro – e paraeducar – como La Fontaine, poeta francês doséculo XVII.Atividade1a etapaDistribua a ficha 11 ou peça aos que já têm a ficha10 que retomem o verso. Leia com eles os trechosda fábula e as orientações que se seguem.Organize-os em dois ou três grupos(heterogêneos, para que os que sabem possamajudar os que não sabem) e peça-lhes quecoloquem os trechos numa seqüência lógica.Depois, cada grupo apresenta sua organização eexplica as razões da escolha, se necessário. Emboraa ordem correta da fábula original tenha a

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seqüência de parágrafos 3, 4, 2, 7, 1, 6 e 5, pode serque algum grupo argumente em defesa de outralógica. Cabe a você e ao restante da turma ouvir comrespeito e contra-argumentar, se necessário.Faça então com eles uma nova leitura da fábula járeorganizada e discuta o tema – a questão darelatividade da força física e da solidariedade, sema qual tanto o mais fraco quanto o mais forteteriam sucumbido.2a etapaEm seguida, os grupos vão procurar ampliar ahistória, enriquecendo os fatos apresentados oucriando outros. Como sempre, acompanhe deperto a produção, fazendo sugestões, resolvendopendências, orientando. Caso considere necessário,leia com eles as recomendações para o trabalho emgrupo, na ficha Zero.FechamentoProntos os textos, peça que cada grupo leia o seupara o restante da turma. Abra espaço paracomentários e sugira que passem a limpo parapublicação – não esquecendo de guardar uma cópiade sua produção no portfólio, junto com a ficha.

TORNAR PÚBLICOÉ FUNDAMENTAL

Entendemos por publicação o ato de tornar o textopúblico, seja em coletâneas que ficarão no acervoda Instituição, seja em painéis expostos noscorredores ou pátio etc. O importante é que os textosnão fiquem circunscritos aos participantes da oficina.

OFICINA 12NARRATIVA ABSURDAMaterial necessário: ficha 11 (verso da ficha 10);folhas emendadas de papel pardo, pincel atômico,fita crepe.AquecimentoDiga aos jovens que hoje irão fazer umabrincadeira que, talvez, alguns deles já conheçam,mas que é muito interessante: chama-se Disparate.

Explique que o disparate consiste na escrita derespostas a uma série de perguntas feitas pelocoordenador que, juntas, comporão uma história,que pode se tornar absurda e engraçada.Atividade1a etapaEmende duas ou três folhas de papel pardo eprovidencie um pincel atômico. Dobre-as comouma sanfona, no sentido vertical. Organize osjovens sentados em torno de uma mesa. Diga quevocê fará uma pergunta a cada um e somenteaquele deverá responder, por escrito, na folhadobrada (sem dizê-la em voz alta). Em seguida,ele deve dobrar a folha, ocultando o que estáescrito, e passar ao colega que estiver a sua direita.2a etapaComece a perguntar, fazendo uma pequenaintrodução. “Imaginem que (invente um nome,pode ser Josias) está num lugar”:

1. Que lugar é esse? Descreva-o bem.2. Em que época/quando?3. Quem é Josias? O que ele está fazendo?4. Como ele foi parar aí?5. Quem ele encontrou?6. O que Josias disse?7. O que o(a) outro(a) respondeu?8. O que eles fizeram?9. Por quê?10.O que aconteceu em seguida?11.E depois?12.Como as coisas se resolveram?13.Como tudo terminou?14.E como Josias acabou ficando?

Dependendo do número de participantes, você podeacrescentar ou excluir perguntas ou, ainda, fazerduas ou mais rodadas (adaptado de Azevedo, 2000).FechamentoEm seguida, desdobre o papel e prenda-o naparede, com fita crepe, para que todos possam ler ese divertir com a história absurda que surgiu.E lembre-os de que as instruções para abrincadeira estão na mesma ficha 11.

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OFICINA 13CONTOSMARAVILHOSOSMaterial necessário: ficha 12; dicionários; papel,lápis, borracha, lápis ou canetas coloridas.Nesta oficina, vamos trabalhar com a narrativatradicional – o conto maravilhoso – e seuselementos básicos.AquecimentoConverse com eles sobre os contos de fada.Pergunte quais conhecem, de qual mais gostam ediga-lhes que até hoje é o gênero de narrativa maispopular, tanto entre crianças como entre adultos:prova disso é o sucesso das novelas de televisão edos filmes, que continuam a seguir o mesmo roteirodessas histórias maravilhosas. Por tudo isso, eles irãoler, apreciar e analisar um conto de fadas – quetambém é uma linda história de amor: Rapunzel.Atividade1a etapaNão distribua logo as fichas aos jovens. Peça quese sentem no chão, a sua volta, e comece a leitura

do conto num tom de voz bem suave, de modo acriar um clima de magia. Leia com emoção,fazendo pausas para deixá-los saborear cadamomento da história. Procure, também, ativartodos os processos cognitivos próprios da leitura,por meio de questões como as sugeridas naintrodução deste fascículo.2a etapaApós os comentários, distribua a ficha 12 eproponha que leiam a história, individualmente ouem duplas, para que possam se deleitar novamentecom as passagens de que mais gostaram. Abra espaçopara novos comentários, se desejarem se manifestar.3a etapaEm seguida, leia com eles o roteiro, no verso daficha, fazendo com que o relacionem à história.Proponha, então, a criação da narrativa ambientadanos tempos de hoje.Como sempre, ajude-os com incentivo e sugestões.FechamentoAssim que tiverem feito a primeira revisão,incorporando as sugestões dos colegas, faça arevisão final, peça-lhes que passem a limpo e asilustrem para a coletânea. E guardem suasproduções ou cópias no portfólio, junto coma ficha.

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21CONTO

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Todos os textos de terceiros são aqui reproduzidos com a expressa autorização de seus autores ou de seus representanteslegais.O Cenpec e os autores deste módulo agradecem a gentil cessão de direito de uso dos textos de Carlos Eduardo Novaes,Companhia das Letrinhas, Ivan Ângelo, Jerônimo Monteiro, Millôr Fernandes e Ricardo Azevedo.O texto de Yone Quartim (p.29) foi reproduzido sem má-fé ou intenção de ofender os direitos da autora, que não pôde serlocalizada.

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FICHA 0CONTO

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

DICIONÁRIO: orientações para usoEsta ficha mostra como está organizada essa grande lista de palavras que é o dicionário.Dicionário é o livro que registra um conjunto de palavras organizadas alfabeticamente.A ordem alfabética é usada para organizar listas de todos os tipos, dicionários,enciclopédias, catálogos e outros.O dicionário da língua portuguesa, além de mostrar como são escritas as palavras, trazseu significado e algumas informações gramaticais.Para consultar o dicionário, o principal é conhecer bem o alfabeto.� Para treinar um pouco, complete as seqüências abaixo com as letras que estão

faltando:F , , , , , L S, , , , , ZL , , , , , Q B, , , , , GN, , , , , S A, , , , , F

� Escreva as palavras abaixo em ordem alfabética:CAVALINHO, VAGALUME, ESTRELA, TERRA____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

NOITE, BRINQUEDO, FADA, SONHO, CORAÇÃO____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Como as palavras acima não começam com a mesma letra, para pô-las em ordemalfabética você precisou prestar atenção só à primeira letra de cada uma. Noentanto, é claro que muitas palavras começam com a mesma letra. Para pôr emordem palavras com a mesma letra inicial, é preciso observar as letras restantes.Observe as palavras abaixo:

GOIABA, GIRAFA, GARRAFA, GRADE, GELÉIATodas começam com a mesma letra. Portanto, temos de ordená-las prestandoatenção nas segundas letras. Faça um círculo em torno da segunda letra de cadapalavra.

� Experimente colocá-las agora em ordem alfabética.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Ordene agora estas palavras guiando-se pela segunda letra:BRINQUEDO, BARULHO, BOLINHO, BEIJU____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

CAFÉ, CHAVE, CLARA, CORRIDA____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

TAMBÉM, TUIM, TORRE, TRAVE, TESOURA____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

NOME DATA

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� Faça um círculo em volta da terceira letra de cada palavra:FAÇANHA, FADIGA , FAÍSCA, FARAÓ, FATIGAR

� Agora ponha-as em ordem, reparando na ordem alfabética da terceira letra.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Faça o mesmo para as seguintes listas de palavras:PEREGRINO, PENETRAR, PESADO, PEQUENO, PELÚCIA____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

RECUPERAR, RENDOSO, REFLEXO, RELÂMPAGO, RETRATO____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Muitos trabalhos que você está fazendo nestasoficinas são propostos para ser realizados em grupo.Isso porque acreditamos que as pessoas aprendemumas com as outras e que todas podem sedesenvolver muito mais, quando têm oportunidadede confrontar suas idéias com as dos colegas.Entretanto, isso só acontece se todos participaremigualmente de todas as atividades e disserem o quepensam realmente, se todos se esforçarem.Quando há um trabalho para ser feito em grupo, denada adianta dividi-lo e distribuir um pedaço paracada um, porque assim cada participante ficasomente com a visão da sua parte e perde a visãodo todo. Pior ainda é quando só um ou doistrabalham (porque o grupo acha que são maisinteligentes, ou mais estudiosos) e os outros ficam

olhando, sem coragem ou com preguiça departicipar. Além disso, não seria justo: os que nãoparticipam deixam de aprender.Mesmo não sabendo direito como é para fazer, épreciso tentar. É assim que a gente aprende. Asatividades propostas podem ser realizadas por todosos alunos, especialmente se uns ajudarem osoutros. Quando um colega não sabe, a gente devedar dicas, fazer junto, mas não fazer por ele.Quando a gente faz pelo outro, a gente não ajuda,atrapalha, impede o outro de aprender. Às vezes, hácolegas que acham que não sabem (porque nuncatentaram), mas eles podem se surpreender edescobrir que têm muito o que ensinar para ogrupo. Não deixe que o outro faça por você: exijaseu direito de participar.

ORIENTAÇÕES PARA O TRABALHO EM GRUPOS

DicasVocê já sabe que, para achar uma palavra no dicionário, não basta prestar atenção só naprimeira letra: é preciso olhar também para as outras. Agora veja mais uma dica.Procure no dicionário a palavra CONVENCIDA. Encontrou? Não? Então, procureCONVENCIDO. Encontrou, não é? Então, tente FAMOSO e FAMOSA. Qual das duas vocêencontrou? Sabe por quê? Quando as palavras têm o mesmo sentido no masculino e nofeminino, o dicionário só registra o masculino.Outra dica: procure no dicionário a palavra AFLITOS. Não encontrou, não é? Mas encontrouAFLITO, não? O dicionário registra as palavras no singular.Finalmente a última dica, por enquanto. Procure no dicionário as palavras: OLHOU, CAÍA,FUJAM. Não achou nenhuma, não é?Agora procure: OLHAR, CAIR e FUGIR. Entendeu? Isso mesmo: é que os dicionários nãotrazem os verbos conjugados, mas apenas no infinitivo (o nome do verbo).Com essas dicas, você já pode encontrar quase tudo no dicionário.

FICHA 0 VERSOCONTO

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NOME DATA

Oficina 1 Histórias da tradição oralO CAUSO DO MEU PAI

Henrique Duarte MacariNuma daquelas noites de lua cheia aconteceu

um “causo” muito estranho com meu pai, masisso faz muitos anos e eu nem tinha nascido. Voucontar tudo do jeito que me contaram.

Meu pai era solteiro, gostava muito de passearno carro que tinha naquela época.

Ele conheceu Angélica num desses passeios.Ia tomar suco numa lanchonete, perto do HortoFlorestal, e quando estava passando bem na en-trada, reparou em uma moça que estava saindode lá, toda de branco, muito bonita. Ele até deuuma paquerada nela, mas seguiu e parou na lan-chonete para tomar um suco.

Estava quente, já passava das onze da noite,mas para uma sexta-feira, a noite estava só co-meçando.

De repente, ela chegou, linda, perfumada, sen-tou-se na mesa ao lado dele. Não teve jeito, eleficou olhando para ela. Como era bonita! Pareciaque tinha um brilho especial! Ela tomou água, selevantou, saiu e ele logo foi atrás dela, pois queriaconhecê-la.

Angélica foi andando de volta para o Horto,meu pai parou o carro perto dela e perguntou seela queria uma carona. Ela nem respondeu, masele insistiu. Ela falou que não podia, mas ele foidizendo que uma moça tão linda não devia andarsozinha àquela hora da noite e ela concordou. Eleabriu a porta do carro e ela entrou. Ele sentiu aque-le perfume de rosas invadindo o carro, ficou mui-to feliz ao vê-la ali, linda, conversando com ele.Ela disse que se chamava Angélica, que tinha saí-do para dar uma volta por causa do calor, que ado-rava o Horto e que tinha ido passear lá.

Meu pai falou que era perigoso passear por alinaquela hora e que a levaria para casa, mas eladisse que não devia. Ele insistiu de novo, ela dis-se que morava perto dali, no Tremembé. Pergun-tou se ele conhecia o Cemitério do Tremembé,pois ela morava ali pertinho, tinha se mudado paralá há pouco tempo. Ele disse que conhecia o lu-gar e que a deixaria em casa. Ela falou que ele eramuito gentil e que merecia um beijo, então, osdois se beijaram.

Ele ficou todo empolgado, mas ela avisou, erasó um beijo e ele respeitou a vontade dela. Jáestava na rua do cemitério, quando ela pediu pra

parar o carro, bem na frente do portão de entrada.Ele estranhou, mas parou. Ela olhou para ele e dis-se:

– Carlos, você é uma pessoa especial e mere-ce toda a sorte do mundo!

E disse que ia descer ali. Ele falou que a leva-ria para casa, mas ela disse que antes ia pagaruma promessa ali mesmo no cemitério.

Ele pediu para ela não fazer isso, que era peri-goso. Iria junto com ela, insistiu. Ela falou paraesperar então, só um minuto que ela já voltava.Ele não precisava se preocupar, pois ela tinha quefazer isso sozinha.

Quando a moça desceu do carro, ele sentiuuma ventania repentina, tão forte que a porta docarro bateu violentamente. Na porta do cemitérioela acenou e gritou:

– Até breve!!!Ele não entendeu direito, mas ficou esperan-

do. Já era meia-noite. Esperou meia hora e nada,quarenta minutos e nada. Começou a se preocu-par, não agüentou e foi atrás dela.

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FICHA 1CONTO

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Um pouco de conversaVocê gostou dessa história? Com certeza, você já ouviu histórias desse tipo. Algumasmetem medo na gente, outras são engraçadas, outras, ainda, nos ensinam coisas sobre avida. Não há nada mais gostoso do que ficar horas e horas contando e ouvindo histórias,não é?Então, que tal aproveitar esse clima de sentar-se “em torno da fogueira” e ir ouvindo econtando as histórias que vocês conhecem, de verdade ou inventadas?Se vocês quiserem, podem fazer isso várias vezes. Podem também ir registrando ashistórias e formar um livro, uma coletânea de contos de tradição oral – que é como sechamam essas histórias – e dar para os amigos, para a família, para a namorada ounamorado. Foi isso que o Henrique e os amigos da classe dele fizeram. O livro se chamouCausos de medo.Bom divertimento!Se você quiser saber a grafia correta de alguma palavra, procure no dicionário. Se quiserimitar na escrita o modo como a pessoa falou, coloque-a entre aspas. Por exemplo“adespois” em vez de “depois”.

� Registre aqui o nome da sua história ou daquela de que você mais gostou.___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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O cemitério estava totalmente escuro. Ele fi-cou com medo, mas tinha que ir atrás daquelagata e não podia demonstrar que estava apavora-do.

Olhou para um lado e nada, para o outro e nadatambém. Viu perto do muro, bem lá no fundo docemitério, uma luz. Resolveu ir até lá. Viu uma se-nhora muito distinta sentada ali perto e resolveuperguntar:

– Senhora, me desculpe, por acaso não viu umamoça de branco, bonita, perfumada, aparentan-do ter uns vinte anos?

A senhora respondeu:– Amigo, estou tão triste, que nem prestei aten-

ção.– Desculpe senhora, não quis incomodá-la, vou

continuar procurando.– Amigo, não incomodou, é que nestas horas

ficamos meio atrapalhados. Sabe, rapaz, minhafilha faleceu e estou aqui desde a manhã. Ela eraminha única filha.

E a senhora começou a chorar. Meu pai, emo-cionado com a situação, amparou a senhora e dis-se para ela:

– Não fique assim, sei que é triste, mas pensedesta forma: sua filha está melhor que todos nós,deve estar sorrindo, agora, no paraíso.

A senhora agradeceu as palavras e segurando

no braço do meu pai, pediu pra ele levá-la até asala onde estava o corpo de sua filha. Quando eleentrou, ficou meio sem graça, pois não conheciaas pessoas ali presentes e nem a garota, mas foigentil e levou a senhora até o caixão. Chegandoperto, olhou para dentro do caixão, arregalou osolhos e começou a falar:

– É ela!!! É ela!!! Não pode ser!!! É ela!!!Todos ficaram surpresos com a gritaria do meu

pai, e a senhora perguntou:– Amigo, você conhecia minha filha Angélica?Ele caiu duro, desmaiado, só acordou no ou-

tro dia.Até hoje, quando ele se lembra disso, se arre-

pia. Ficou amigo da família, mas nem ele nem osfamiliares dela sabem o que realmente aconte-ceu naquela noite quente de lua cheia.(Causos de medo. São Paulo: EMEF Máximo de MouraSantos, 1998)

A informação entreparênteses, após cadatexto, é a referência dolivro de onde ele foiextraído: o título dolivro, a cidade, editorae data de publicação.

FICHA 1 VERSOCONTO

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NOME DATA

NEGÓCIO DE MENINO COM MENINAIvan Ângelo

Oficina 2 Programa de rádioDepois de ler este conto, você e os colegas vão recontá-lo como se fosse“radioteatro”.

O menino, de uns dez anos, pés no chão, vi-nha andando pela estrada de terra da fazenda coma gaiola na mão. Sol forte de uma hora da tarde. Amenina, de uns nove anos, ia de carro com o pai,novo dono da fazenda. Gente de São Paulo. Elaviu o passarinho na gaiola e pediu ao pai:

– Olha que lindo! Compra pra mim?O homem parou o carro e chamou:– Ô menino.O menino voltou, chegou perto, carinha boa.

Parou do lado da janela da menina. O homem:– Esse passarinho é pra vender?– Não senhor.O pai olhou para a filha com cara de deixa pra

lá. A filha pediu suave como se o pai tudo pudes-se:

– Fala pra ele vender.O pai, mais para atendê-la, apenas interme-

diário:– Quanto você quer pelo passarinho?– Não tou vendendo não senhor.A menina ficou decepcionada e segredou:– Ah, pai, compra.A menina não considerava, ou não aprendera

ainda, que negócio só se faz quando existe umvendedor e um comprador. No caso, faltava o ven-dedor. Mas o pai era um homem de negócios,águia da Bolsa, acostumado a encorajar os maishesitantes ou a virar a cabeça dos mais recalci-trantes:

– Dou dez mil.– Não senhor.– Vinte mil.– Vendo não.O homem meteu a mão no bolso, tirou o di-

nheiro, mostrou três notas, irritado.– Trinta mil.– Não tou vendendo, não, senhor.O homem resmungou “que menino chato” e

falou pra filha:– Ele não quer vender. Paciência.

A filha, baixinho, indiferente às impossibilida-des de transação:

– Mas eu queria. Olha que bonitinho.O homem olhou a menina, a gaiola, a roupa

encardida do menino, com um rasgo na manga, orosto vermelho de sol.

– Deixa comigo.Levantou-se, deu a volta, foi até lá. A menina

procurava intimidade com o passarinho, dedinhonas gretas da gaiola. O homem, maneiro, estu-dando o adversário:

– Qual é o nome deste passarinho?– Ainda não botei nome nele, não. Peguei ele

agora.O homem, quase impaciente:– Não perguntei se ele é batizado não, meni-

no. É pintassilgo, é sabiá, é o quê?– Aaaah. É bico-de-lacre.A menina, pela primeira vez, falou com o me-

nino:– Ele vai crescer?O menino parou os olhos pretos nos olhos

azuis.– Cresce nada. Ele é assim mesmo, pequeni-

ninho.O homem:– E canta?– Canta nada. Só faz chiar assim.– Passarinho besta, hein?– É. Não presta pra nada, é só bonito– Você pegou ele dentro da fazenda?– É. Aí no mato.– Essa fazenda é minha. Tudo que tem nela é

meu.O menino segurou com mais força a alça da

gaiola, ajudou com a outra mão nas grades. Ohomem achou que estava na hora e falou já bo-tando a mão na gaiola, dinheiro na outra mão.

– Dou quarenta mil, pronto. Toma aqui.– Não senhor, muito obrigado.O homem, meio mandão:

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

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FICHA 2CONTO

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EDUCAÇÃOE CIDADANIA

FICHA 2 VERSOCONTO

28 – Vende isso logo, menino. Não tá vendo queé pra menina?

– Não, não tou vendendo não.– Cinqüenta mil! Toma! – e puxou a gaiola.Com cinqüenta mil se comprava um saco de

feijão, ou dois pares de sapatos, ou uma bicicle-ta velha.

O menino resistiu, segurando a gaiola, voz trê-mula.

– Quero não senhor. Tou vendendo não.– Não vende por quê, hein? Por quê?O menino acuado, tentando explicar:

– É que eu demorei a manhã todinha pra pe-gar ele e tou com fome e com sede, e queria terele mais um pouquinho. Mostrar pra mamãe.

O homem voltou para o carro, nervoso. Bateua porta, culpando a filha pelo aborrecimento.

– Viu no que dá mexer com essa gente? É tudoignorante, filha. Vam’bora.

O menino chegou pertinho da menina e faloubaixo, para só ela ouvir:

– Amanhã eu dou ele para você.Ela sorriu e compreendeu.

(O ladrão de sonhos e outras histórias. São Paulo: Ática,1997)

Um pouco de conversaO texto tem alguma palavra ou expressão que dificultou sua leitura? Primeiro, tenteentender o que ela significa pelo contexto. Anote o que você imagina que ela quer dizer.Depois, procure no dicionário e veja se você acertou.� Vamos fazer um programa de rádio?Junto com três colegas, ensaie a leitura do conto: um de vocês será o pai; outro, o meninoe outro, ainda, será a menina. O quarto elemento do grupo será o sonoplasta. Sonoplasta équem providencia os sons que dão mais vida à cena e substituem as falas do narrador. Porexemplo, o som da brecada do carro, quando o pai da menina pára, em vez de dizer “O paiparou o carro e chamou”. Provavelmente, vocês precisarão inventar algumas falas paraevitar ficar narrando a história, mas, onde não for possível, o sonoplasta pode fazer a vozdo narrador. Porém, o mais importante é que vocês sejam bastante expressivos, parapoder passar aos ouvintes os sentimentos dos personagens.Quando o “radioteatro” estiver bem ensaiado, vocês podem criar propagandas, com jingles(as músicas que acompanham as propagandas), alguns anúncios engraçados, paraapresentar no início ou no intervalo do programa.Se vocês tiverem um gravador, gravem a história dramatizada – enfeitando com sons depássaros, do vento –, as propagandas, músicas e anúncios e apresentem para os demaiscolegas. Finalmente, para dar mais realce, façam um rádio antigo, com uma caixa depapelão, parecido com este da ilustração, e coloquem o gravador dentro dele.Caso não seja possível conseguir o gravador, façam a apresentação atrás de um panoesticado (pode ser um lençol ou uma cortina).

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FICHA 3CONTO

NOME DATA

Oficina 3 Criar o final da históriaEsta história está incompleta. O final é com você!

QUE RUA É ESSA?Yone Quartim

Um pouco de conversaNós omitimos o final da história de propósito e queremos desafiar você a criar um finalsurpreendente para ela. Mas lembre-se, o final deve ser coerente com o restante dahistória, isto é: deve contar como o casal de brasileiros reagiu e o que o turista disse ou fezem seguida, bem como explicar a reação dos franceses.Se você não tem certeza da grafia correta de alguma palavra, procure no dicionário.Consulte a ficha com orientações para o uso do dicionário. Leia ou conte para os colegasseu final e registre-o abaixo. Peça para o professor ou a professora ler o final relatado pelaautora.

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Na turma, montem um mural contendo a história e os diferentes finais criados porvocês. O mural pode ficar na sala ou no corredor. E escolham a versão maisinteressante para compor a coletânea de contos da turma.

Minhas histórias são todas verídicas, mas estaeu confesso que me cheira a piada. Quem mecontou disse ter participado e é pessoa absoluta-mente digna de crédito. Trata-se de um casal emviagem de recreio a Paris.

Um certo amigo deles também estava conhe-cendo a capital francesa. A diferença é que elenão conhecia uma única palavra em francês. As-sim, chegou, foi para o hotel e, para não perdertempo, resolveu dar uma voltinha de reconheci-mento. Quando já estava na esquina, lembrou-sede tomar nota do nome da rua para poder voltarcom segurança. Parou diante da primeira tabule-ta da Prefeitura e copiou, cuidadosamente, letrapor letra, o que constava da placa.

Andou, respirou fundo o ar parisiense, admi-rou as vitrinas, observou os transeuntes e, satis-feito com essa primeira incursão, resolveu voltarpara o hotel. Como ele próprio previra, tinha per-

dido o rumo. Abordou, então, o primeiro francêscom quem cruzou na rua e, como não tinha capa-cidade para articular um só vocábulo no idiomalocal, sorrindo, apresentou ao cavalheiro o papel-zinho onde estava a cópia da placa indicadora. Ofrancês leu, riu, deu-lhe um tapinha no ombro efoi em frente. Surpreso, o brasileiro partiu paraoutro pedestre. Após ler, o sujeito deu uma boarisada, devolveu-lhe o papel e seguiu seu cami-nho. Já intrigado com essa atitude, ele apresen-tou o papel a uma terceira pessoa. Em lugar doesperado gesto característico de apontar a dire-ção, dizer alguma coisa, o fulano também conti-nuou sua caminhada rindo gostosamente. Foiquando apareceu o tal casal patrício. Enraivecidocom a falta de colaboração do povo francês, oturista contou a história aos amigos e mostrou opapelzinho.

(…)(Cócco e Hailer, 1994, p.85)

0 sinal (...) indica queum trecho foi saltado.

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0 sinal (...) indica queum trecho foi saltado.

Um pouco de conversaO texto tem alguma palavra ou expressão que dificultou sua leitura? Primeiro tenteentender o que ela significa pelo contexto. Anote o que você imagina que ela quer dizer.Depois, procure no dicionário e veja se você acertou.� Nós cortamos o meio dessa história: – O que será que o cão aprontou para provocar

tanto constrangimento entre os dois amigos? Isso nós deixamos para você inventar.Escreva essa parte do conto, procurando acompanhar o estilo leve do autor. Narre asaventuras do cão pelo interior da casa e, ao mesmo tempo, a conversa dos dois amigos.Você pode contar o que os amigos pensavam, o que o cachorro fazia em outro lugar, oque a expressão dos rostos mostrava. Mas atenção para não estragar o final da história.Observe também que as falas dos personagens estão indicadas por aspas, e nãomarcadas por parágrafo e travessão.� Escreva aqui seu “meio” da história.

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Depois de pronto, troque com um/a colega, para que vocês possam comentar esugerir alterações para aprimorar seus textos. Faça as correções necessárias,passe a limpo, para que ele possa fazer parte da coletânea da turma, e leia para osdemais colegas.

� Finalmente, ouça a leitura que o/a professor/a vai fazer do texto completo do Millôr.

Oficina 4 Criar o meio da históriaE, nesta história, o que está faltando é o meio.

CÃO! CÃO! CÃO!Millôr Fernandes

Abriu a porta e viu o amigo que há tanto nãovia. Estranhou apenas que ele, amigo, viesseacompanhado de um cão. Cão não muito grandemas bastante forte, de raça indefinida, saltitantee com um ar alegremente agressivo. Abriu a por-ta e cumprimentou o amigo, com toda efusão.“Quanto tempo!” O cão aproveitou as saudações,se embarafustou casa adentro e logo (...).

(…)

Os dois amigos, tensos, agora preferiam nãotomar conhecimento do dogue. E, por fim, o visi-tante se foi. Se despediu, efusivo como chegara,e se foi. Se foi. Mas ainda ia indo, quando o donoda casa perguntou: “Não vai levar o seu cão?”“Cão? Cão? Cão? Ah, não. Não é meu, não. Quan-do eu entrei, ele entrou naturalmente comigo eeu pensei que fosse seu. Não é seu, não?”(Literatura comentada. São Paulo: Abril Educação, 1980)

NOME DATA

EDUCAÇÃOE CIDADANIA FICHA 4

CONTO

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Um pouco de conversaGostou da historinha? É quase uma piada, não é? Você já esteve numa situação assim, emque a gente dá um fora e fica tão sem-graça e se sente tão ridículo que diz a primeira coisaque vem na cabeça para escapar da vergonha?Converse com os colegas sobre isso. Todo mundo já passou, pelo menos uma vez na vida,por uma situação constrangedora como essa e é muito gostoso rir da gente mesmo.O professor vai propor uma atividade para você aprender a usar a pontuação adequadapara o diálogo.

Agora, crie uma pequena história provocada por uma situação de engano, como aque aconteceu com o motorista dessa história (pode ser um fato que tenhaacontecido com você ou com algum conhecido) e conte para os colegas.Em seguida, escreva a história, como se o fato tivesse acontecido com você(narrador em primeira pessoa) e use a pontuação correta.Para evitar a repetição de palavras, procure sinônimos no dicionário. Consulte aficha com orientações para o uso do dicionário.

� Escreva aqui o título da sua história. E não se esqueça de guardá-la no portfólio juntocom esta ficha.__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Oficina 5 O diálogo na históriaEsta história é para você se divertir (e reparar como o autor indica o diálogo entreos personagens).

PNEU FURADOLuís Fernando Veríssimo

O carro estava encostado no meio-fio, com umpneu furado. De pé ao lado do carro, olhando des-consoladamente para o pneu, uma moça muitobonitinha. Tão bonitinha que atrás parou outrocarro e dele desceu um homem dizendo “Podedeixar”. Ele trocaria o pneu.

– Você tem macaco? – perguntou o homem.– Não – respondeu a moça.– Tudo bem, eu tenho – disse o homem. – Você

tem estepe?– Não – disse a moça.– Vamos usar o meu – disse o homem.

E pôs-se a trabalhar, trocando o pneu, sob oolhar da moça. Terminou no momento em quechegava o ônibus que a moça estava esperando.Ele ficou ali, suando, de boca aberta, vendo oônibus se afastar. Dali a pouco chegou o dono docarro.

– Puxa, você trocou o pneu pra mim. Muitoobrigado.

– É. Eu... Eu não posso ver pneu furado. Te-nho que trocar.

– Coisa estranha.– É uma compulsão. Sei lá.

(Pai não entende nada. Porto Alegre: L&PM, 1990)

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

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FICHA 5CONTO

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NOME DATA

Oficina 6O cenárioA proposta destaoficina é vocêsescreverem umconto a partir de umcenário. Por isso,apresentamos essareprodução doquadro de um pintorfamoso, para servirde inspiração.Observe bem e tentese imaginar nele.Embora você nãoseja visto, será quevocê não está atrásdos arbustos?

Um pouco de conversaNuma narrativa, o cenário (ou espaço) é o lugar onde se passa a ação. Ele se liga aos fatose aos personagens podendo influenciar seus sentimentos e atitudes. A descrição docenário em geral vem entremeada no enredo, bem detalhada ou diluída.Imagine que você está nesse lugar. Que lugar é esse? Descreva-o bem (lembre-se de queas pessoas que lerem o seu texto só vão poder conhecê-lo a partir da sua descrição).Quem é você? O que você está fazendo? Como você foi parar aí? Que época é esta? Háoutros personagens? Quem são? O que está acontecendo? Por quê? O que vai acontecerem seguida? E depois? Como as coisas vão se resolver? Como tudo termina?Quando terminar de escrever, troque o texto com um colega, para que ele possa sugerirmaneiras de você aperfeiçoá-lo (uma outra pessoa sempre percebe coisas que nós nãovemos). Arrume o texto e, antes de passá-lo a limpo, peça para o professor(a) fazer aúltima revisão. Ele precisa estar bem caprichado para a publicação.� Faça uma cópia dele para guardar em seu portfólio, indicando a data e o nome da

atividade.

Claude Monet, Mulheres no Jardim – detalhe. 1866. Museu de Louvre, França

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CONTO

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NOME

Oficina 7 Criação de cena movimentadaEsta história conta a paixão do brasileiro pelo futebol vivida em frente de uma lojade eletrodomésticos durante uma partida da Copa do Mundo.

Juvenal Ouriço aproximou-se de um vendedorparado à porta de uma loja de eletrodomésticos eperguntou:

– Qual desses oito televisores os senhores vãoligar na hora do jogo?

– Qualquer um – disse o vendedor desinteres-sado.

– Qualquer um não. Eu cheguei com duas ho-ras de antecedência e mereço uma certa consi-deração.

– Pra que o senhor quer saber?– Para já ir tomando posição diante dele.O vendedor apontou para um aparelho. Juve-

nal observou os ângulos, pegou a almofada que oacompanha no Maracanã e sentou-se no meio dacalçada.

– Ei, ei. Psssiu – chamou-o um mendigo re-costado na parede da loja – como é que é, meuirmão?

– Que foi? – perguntou Juvenal.– Quer me botar na miséria? Esse ponto é meu.– Eu não vou pedir esmola.– Então senta aqui ao meu lado.– Aí não vai dar para eu ver o jogo.– Na hora do jogo nós vamos lá pra casa.– Você tem TV a cores?– Claro. Você acha que eu fico me matando

aqui para quê?Juvenal agradeceu. Disse que preferia ficar na

loja onde tinha marcado encontro com uns ami-gos que não via desde o final da copa de 78. Omendigo entendeu. E como gostou de Juvenal lhedeu o chapéu onde recolhia esmolas. Juvenal, dis-traído, enfiou-o na cabeça.

– Não, não. Na cabeça, não.– Por que não?– Já viu mendigo usar chapéu na cabeça? Dei-

xe-o aí no chão. Sempre pinga qualquer coisa.Aos poucos o público foi aumentando, operá-

rios, vendedores, contínuos, vagabundos e às 15h

NO PAÍS DO FUTEBOLCarlos Eduardo Novaes

45m já não havia mais lugar diante das lojas deeletrodomésticos. Os retardatários corriam deuma para outra à procura de uma brecha. Algunsficavam pulando atrás da multidão tentando en-xergar a tela do aparelho:

– Quer que eu lhe ajude? – perguntou um ci-dadão já meio irritado com um contínuo pulandorente às suas costas.

– Quero.– Então me diz onde é o seu controle da verti-

cal.– Controle da vertical para quê?– Pra ver se você pára de pular aqui nas mi-

nhas costas.

DATA

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

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FICHA 7CONTO

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Um pouco de conversaEste conto é praticamente todo em diálogos e usa o sinal de pontuação que você já deveconhecer (travessão). Na história, tudo vai acontecendo no ritmo de uma partida defutebol, num crescendo. Nem o final dá conta de tudo, pois o próprio narrador sugere eavisa que muitas coisas devem ter acontecido depois.Aceite o desafio do narrador e use a sua imaginação para dar continuidade à história.Escreva sobre a atitude da “galera” que assistia envolvida ao jogo e viu o televisor serdesligado. Houve confusão? O funcionário vendeu ou não vendeu o aparelho? E o queaconteceu com o comprador?Se possível, conte tudo isso também num clima emocionante de final de copa de mundo,tudo bem rápido, os fatos contados aceleradamente, uma situação puxando a outra, comose fosse a irradiação de um final de partida. Não se esqueça de pontuar adequadamenteos diálogos: utilize o travessão para marcar a fala dos personagens.� Registre aqui seu final para a história. Se precisar de mais espaço, escreva em uma

folha e guarde-a junto com esta ficha em seu portfólio.

As lojas concentravam multidões. As calça-das da cidade, que já são poucas, desapareciamcompletamente. Em jogos da Seleção Brasileira,durante a semana, cresce bastante o número deatropelamentos porque o pedestre é obrigado acircular pelas ruas. Além disso, os motoristas fi-cam muito mais ligados no rádio do que no trân-sito.

Na porta da loja onde estava Juvenal haviaumas 200 pessoas do lado de fora e somenteuma do lado de dentro: o gerente. Até os vende-dores da loja já tinham se bandeado, afirmandoque assistir um jogo atrás da televisão não é amesma coisa que vê-lo atrás do gol. Quando a bolasaía entravam os comentários dos torcedores.

No início do segundo tempo um cidadão quenão se interessava por futebol (um dos 18 que acidade abriga) foi pedindo licença à galera e commuita dificuldade conseguiu entrar na loja. O ge-rente foi ao seu encontro: “O senhor deseja algo?”

– Um aparelho de televisão.– Por que o senhor não leva aquele?– Qual?– Aquele que está ligado ali na porta.– É bom? O senhor ainda pergunta? Acha que

haveria 200 pessoas diante dele se não tivesseuma boa imagem?

– Bem...– E não é só isso – completou o gerente apro-

veitando a euforia do público com um gol do Bra-sil – que outro aparelho transmite emoções tãofortes?

– Essa gritaria toda foi diante do aparelho?– Lógico. Esse é o novo televisor AP-007 dota-

do de controle de emoção. Só este televisor podelevá-lo do choro convulsivo à completa euforia.

– É mesmo? E se eu desejar vê-lo sentadoquietinho na poltrona?

– Também pode, mas é aconselhável desligaro botão emoção, senão o senhor não vai conse-guir ficar quietinho na poltrona.

O cidadão convenceu-se. Disse que ia levá-lo.O gerente, precavido, pediu-lhe para ir à porta daloja apanhá-lo. O cidadão não teve dúvidas. Igno-rando aquela massa toda diante do seu aparelho,foi lá tranqüilamente e cleck. Desligou-o.

O que aconteceu depois eu deixo por contada imaginação de vocês.(Juvenal Ouriço repórter. Rio de Janeiro: Nórdica, 1977)

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FICHA 7 VERSOCONTO

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Oficina 8 Criação de personagemNeste conto, você vai perceber a importância de criar bem um personagem.

UM HOMEM DE CONSCIÊNCIAMonteiro Lobato

Um pouco de conversaO texto tem alguma palavra ou expressão que dificultou sua leitura? Primeiro tente entendero que ela significa pelo contexto. Anote o que você imagina que ela quer dizer. Depois,procure no dicionário e veja se você acertou.Por que você acha que a cidade de Itaoca estava se acabando? O que provocava a ida daspessoas para outro lugar? Observe a descrição que o autor faz de João Teodoro, logo noprimeiro parágrafo. Você acha que essas características têm importância para a história?O personagem agiu de acordo com suas características? Por quê? Você concorda com aatitude dele? O que você faria no lugar de João Teodoro?

Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacatoe modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssi-mo, com um defeito apenas: não dar o mínimovalor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa demenos importância no mundo era João Teodoro.

Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipó-tese de vir a ser alguma coisa. E por muito temponão quis nem sequer o que todos ali queriam:mudar-se para terra melhor.

Mas João Teodoro acompanhava com apertode coração o deperecimento visível de sua Itaoca.

– Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teveseis advogados e hoje mal dá serviço para um rá-bula ordinário como o Tenório. Nem circo de cava-linhos bate mais por aqui. A gente que presta semuda. Fica o restolho. Decididamente, a minhaItaoca está se acabando...

João Teodoro entrou a incubar a idéia de tam-bém mudar-se, mas para isso necessitava dumfato qualquer que o convencesse de maneira ab-soluta de que Itaoca não tinha mesmo consertoou arranjo possível.

– É isso, deliberou lá de dentro. Quando eu ve-rificar que tudo está perdido, que Itaoca não valemais nada de nada, então arrumo a trouxa e boto-me fora daqui.

Um dia aconteceu a grande novidade: a no-

meação de João Teodoro para delegado. Nossohomem recebeu a notícia como se fosse uma por-retada no crânio. Delegado, ele! Ele que não eranada, nunca fora nada, não queria ser nada, nãose julgava capaz de nada...

Ser delegado numa cidadinha daquelas é coi-sa seríssima. Não há cargo mais importante. É ohomem que prende os outros, que solta, quemanda dar sovas, que vai à capital falar com ogoverno. Uma coisa colossal ser delegado – eestava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!...

João Teodoro caiu em meditação profunda.Passou a noite em claro, pensando e arrumandoas malas. Pela madrugada botou-as num burro,montou no seu cavalinho magro e partiu...

Antes de deixar a cidade foi visto por um ami-go madrugador.

– Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo,assim de armas e bagagens?

– Vou-me embora, respondeu o retirante. Veri-fiquei que Itaoca chegou mesmo ao fim.

– Mas, como? Agora que você está delegado?– Justamente por isso. Terra em que João Teo-

doro chega a delegado, eu não moro. Adeus.E sumiu.

(Cidades mortas. São Paulo: Brasiliense, 1965.)

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FICHA 8CONTO

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Depois de elaborada a ficha, apresente opersonagem criado por você para oscolegas. Em seguida, escolha um dospersonagens criados por outra pessoapara se corresponder com o que vocêcriou. A partir dessa troca decorrespondência – pode ser um simplesbilhete –, eles (os dois personagens)devem marcar um encontro.Agora, em dupla, imaginem como foi esseencontro: onde se encontraram, como sesentiram, sobre o que conversaram, se vãose encontrar novamente ou não, se houvealgum mal-entendido inicial, se viveramjuntos alguma aventura…

Narrem esse encontro, sem se esquecerde, ao longo da narrativa, ir dando pistas aoleitor de como são os personagens. Não épreciso dar todas as características, só asque forem essenciais para justificar o jeitocomo eles agem. Ao ler a narrativa para osdemais colegas, estes poderão darsugestões para aperfeiçoá-la, tornando-amais interessante.Depois de revisada, a história da duplapode ser publicada no jornal mural daUnidade ou guardada para a coletânea decontos. Não se esqueça de juntar umacópia dela a esta ficha, para fazer parte deseu portfólio.

Crie um personagem interessante e monte uma ficha com suas características.Para ficar bem completa, siga o roteiro abaixo e acrescente outros itens se quiser.

� Características físicas: nome e apelido (se tiver); idade e aparência: olhos, cabelos epele, boca, nariz, pernas etc.; condições de saúde.

� Características psicológicas: qualidades, habilidades, defeitos, dificuldades; o quegosta, adora, detesta em relação a comidas, divertimentos, estudo, trabalho,esportes, religião, política, roupas; o que deseja, de que tem medo; o que faz questãode mostrar, o que faz questão de esconder; hábitos, manias.

� Características sociais: família: como são e o que fazem seus integrantes, estado civil(solteiro, casado etc.); condições econômicas: vantagens e dificuldades; moradia:localização, como é a casa, como é a vizinhança; relações afetivas: namoros, quemsão seus amigos e inimigos, como são; trabalho e/ou estudo: o que faz, onde; lazer:como ocupa seu tempo livre, se diverte, lugares que freqüenta; acontecimentos quemarcaram sua vida.

Criar um personagemO sucesso de uma narrativa depende, emgrande parte, da construção dospersonagens. Há personagens muitosimples, chamados “tipos”, queapresentam muito poucas características,por exemplo o mocinho bom e justo ou obandido mau e corrupto. Essespersonagens aparecem nas históriasinfantis e nas de massa (novelas detelevisão, algumas histórias emquadrinhos), porque não exigem nenhumesforço intelectual para sercompreendidos, isto é, são bastanteprevisíveis, é fácil adivinhar como eles vãoagir em cada situação. Por outro lado, hápersonagens mais complexos, misteriosose imprevisíveis, mais ricos: são bandidos e

mocinhos ao mesmo tempo, são heróis ecovardes, são capazes do bem e do mal, dajustiça e da injustiça, resumindo, parecem-se mais com pessoas reais.Há duas maneiras de caracterizar umpersonagem, seja ele linear ou complexo:uma é pela qualificação, outra pelas ações.No primeiro caso, o personagem é descritopelo narrador ou por outros personagens:características físicas, psicológicas, sociais.No segundo caso, o personagem vai-sedefinindo pelo que faz, isto é, por suasações o leitor vai percebendo como ele é.Entretanto, essas duas possibilidades secompletam, pois os autores recorrem tantoà qualificação quanto à ação para mostrar opersonagem.

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FICHA 8 VERSOCONTO

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Oficina 9 Ponto de vistaGAETANINHO

Antônio de Alcântara Machado

– Xi, Gaetaninho, como é bom!Gaetaninho ficou banzando bem no meio da

rua. O Ford quase o derrubou e ele não viu o Ford.O carroceiro disse um palavrão e ele não ou-

viu o palavrão.– Eh! Gaetaninho! Vem pra dentro.Grito materno sim: até filho surdo escuta. Vi-

rou o rosto tão feio de sardento, e viu a mãe e viuo chinelo.

– Súbito!Foi-se chegando devagarinho, devagarinho.

Fazendo beicinho. Estudando o terreno. Diante damãe e do chinelo parou. Balançou o corpo. Recur-so de campeão de futebol. Fingiu tomar a direita.Mas deu meia-volta instantânea e varou pela es-querda porta adentro.

– Eta salame de mestre!Ali na Rua Oriente a ralé quando muito andava

de bonde. De automóvel ou carro só mesmo emdia de enterro. De enterro ou de casamento. Porisso mesmo o sonho de Gaetaninho era de reali-zação muito difícil. Um sonho.

O Beppino por exemplo. O Beppino naquelatarde atravessara de carro a cidade. Mas como?Atrás da Tia Peronetta que se mudava para o Ara-çá. Assim também não era vantagem.

Mas se era o único meio? Paciência.Gaetaninho enfiou a cabeça embaixo do tra-

vesseiro.Que beleza, rapaz! Na frente quatro cavalos

pretos empenachados levavam a Tia Filomenapara o cemitério. Depois o padre. Depois o Savé-rio cocheiro. Com a roupa marinheira e o gorrobranco onde se lia: ENCOURAÇADO SÃO PAU-LO. Não. Ficava mais bonito de roupa marinheiramas com a palhetinha nova que o irmão lhe trou-xera da fábrica. E ligas pretas segurando as mei-as. Que beleza, rapaz! Dentro do carro do pai, osdois irmãos mais velhos (um de gravata verme-lha, outro de gravata verde) e o padrinho Seu Sa-lomone. Muita gente nas calçadas, nas portas enas janelas dos palacetes, vendo o enterro. So-bretudo admirando o Gaetaninho.

Mas Gaetaninho ainda não estava satisfeito.Queria ir carregando o chicote. O desgraçado do

cocheiro não queria deixar. Nem por um instanti-nho só.

Gaetaninho ia berrar mas a Tia Filomena coma mania de cantar o “Ahi, Mari!” todas as manhãso acordou.

Primeiro ficou desapontado. Depois quasechorou de ódio.

Tia Filomena teve um ataque de nervos quan-do soube do sonho de Gaetaninho. Tão forte queele sentiu remorsos. E para sossego da família,alarmada com o agouro, tratou logo de substituira tia por outra pessoa numa nova versão de seusonho. Matutou, matutou, e escolheu o acende-dor da Companhia de Gás, Seu Rubino, que umavez lhe deu um cocre danado de doído.

Os irmãos (esses) quando souberam da histó-ria resolveram arriscar de sociedade quinhentãono elefante. Deu vaca. E eles ficaram loucos deraiva por não haverem logo adivinhado que nãopodia deixar de dar a vaca mesmo.

O jogo na calçada parecia de vida ou morte.Muito embora Gaetaninho não estava ligando.

Você conhecia o pai do Afonso, Beppino? Meupai deu uma vez na cara dele.

Então você não vai amanhã no enterro. Eu vou!O Vicente protestou indignado:– Assim não jogo mais! O Gaetaninho está atra-

palhando!Gaetaninho voltou para o seu posto de guar-

dião. Tão cheio de responsabilidades.O Nino veio correndo com a bolinha de meia.

Chegou bem perto. Com o tronco arqueado, aspernas dobradas, os braços estendidos, as mãosabertas, Gaetaninho ficou pronto para a defesa.

– Passa pro Beppino!Beppino deu dois passos e meteu o pé na bola.

Com todo o muque. Ela cobriu o guardião sarden-to e foi parar no meio da rua.

– Vá dar tiro no inferno!– Cala a boca, palestrino!– Traga a bola!Gaetaninho saiu correndo. Antes de alcançar

a bola um bonde o pegou. Pegou e matou.No bonde vinha o pai do Gaetaninho.

NOME DATA

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FICHA 9CONTO

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Um pouco de conversaEste conto, tão triste e tão expressivo, é famoso pela narrativa cinematográfica. Isto é,ele apresenta os fatos como se fossem cenas de cinema. Veja como ele se organiza:

� ENREDO – São seis cenas (ou blocos) curtas. O narrador passa rapidamente de uma paraoutra, como num filme: 1a cena – mostra Gaetaninho distraído, quase sendo atropeladopor um carro e a bronca da mãe; 2a cena – A inveja que ele sente de Beppino por este terandado de carro no enterro da tia; 3a cena – o sonho com a morte e o enterro de tiaFilomena; 4a cena – a reação da tia quando soube do sonho e o jogo do bicho feito pelosirmãos; 5a cena – o jogo de futebol e o atropelamento de Gaetaninho; 6a cena – o enterrode Gaetaninho, com Beppino, de novo, andando na boléia do carro.� TEMPO – Época: início do século XX (1920 ou 1930), como atestam o bonde, o carrofúnebre puxado por cavalos, os palacetes, o acendedor da companhia de gás, a roupa deGaetaninho. Duração: do início do conto (apresentação do personagem e sua distração)até seu enterro passam-se três dias.� PERSONAGENS: caracterizados principalmente pelas ações (quase não há adjetivos: háreferência apenas a Gaetaninho “feio de sardento”). Protagonista (personagem principal):Gaetaninho. Bom de bola, ágil, esperto (dribla a mãe que quer castigá-lo), mas distraído (osegundo parágrafo já antecipa essa característica, que resultaria em sua morte).Socialmente é pobre: seu sonho era andar de carro, mas a “ralé” só andava de carro emdia de enterro ou casamento. Secundário: Beppino. Bom jogador, trágico einvoluntariamente vitorioso — é ele quem vai na boléia de um dos carros do cortejofúnebre de Gaetaninho, exibindo um vistoso terno vermelho.� ESPAÇO – A história se passa em São Paulo, na rua Oriente, bairro do Brás, reduto de

imigrantes italianos no início do século.� NARRADOR – Em terceira pessoa, isto é, o narrador não participa da história, é como seele visse os fatos acontecerem a distância. O estilo é rápido: ao mesmo tempo que focalizaa tragédia do menino, em pinceladas ágeis, dá um panorama da vida e dos hábitos dosimigrantes italianos pobres: o jogo de bola de meia, as roupas domingueiras limpas combenzina, o jogo de bicho, o luxo dos enterros. Há também a irreverência do autor: ao citaro caso do jogo do bicho – “não podia deixar de dar a vaca mesmo” – e a referência à

morte, “amassou um bonde”.Uma propostaConverse com os colegas sobre a história. Depois, formem trios e imaginem esses fatos sendocontados, não por um narrador distanciado, mas por uma pessoa que tenha participado deles,por exemplo, pelo Beppino ou pelo próprio Gaetaninho, ao chegar no céu (quem sabe?). Agora,reescrevam a história desse novo ponto de vista e caprichem na descrição dos sentimentos(raiva, alegria, tristeza).Troquem o texto com outro grupo, para que possam fazer sugestões que tornem a históriamelhor. Depois revisem o texto e passem-no a limpo, para fazer parte do acervo da oficina.

A gurizada assustada espalhou a notícia nanoite.

– Sabe o Gaetaninho?– Que é que tem?– Amassou o bonde.A vizinhança limpou com benzina suas roupas

domingueiras.Às dezesseis horas do dia seguinte saiu um

enterro da Rua do Oriente e Gaetaninho não ia na

boléia de nenhum dos carros do acompanhamen-to. Ia no da frente dentro de um caixão fechadocom flores pobres por cima. Vestia a roupa mari-nheira, tinha as ligas, mas não levava a palhetinha.

Quem na boléia de um dos carros do cortejomirim exibia soberbo terno vermelho que feria avista da gente era o Beppino.(Brás, Bexiga e Barrafunda: notícias de São Paulo. SãoPaulo: Nova Alexandria, 1995.)

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Oficina 10Seleção de fatos e expansão de idéiasHá pessoas que, ao contar um fato, acrescentam tantos detalhes desnecessários que acabampor nos cansar; outras resumem tanto que transformam o episódio mais interessante num relatototalmente sem graça. Entretanto, há escritores que, ao narrar um acontecimento, por maisbanal que seja, cativam os ouvintes, levando-os a participar dos acontecimentos. Uma boahistória deve apresentar todas as informações que possam contribuir para o sentido do texto,para lhe dar vida – descartando, porém, os fatos irrelevantes.

Os trechos abaixo relatam o mesmo fato. Compare os dois.

Um pouco de conversaApesar de longo, sem dúvida o segundo relato é muito mais interessante, não é? Discuta comos colegas e com o/a professor/a os acréscimos do autor e o que provocam no leitor.Depois, tente transformar o relato abaixo numa narrativa interessante, descrevendo não só osfatos, mas também os sentimentos dos personagens. Esta história está sem um final: é vocêque vai inventá-lo.

Desde o início do ano, Anselmo, que é muito tímido, estava apaixonado por Celina, a menina maispopular da escola. Finalmente, cria coragem e convida-a para sair. Para sua surpresa, ela aceita. No diado encontro, ele vai buscá-la em casa e o pai dela lhe abre a porta, pedindo que a espere na sala, ondetoda a família está reunida, assistindo à televisão. Ao entrar, Anselmo sente uma fortíssima dor-de-barriga. Precisa ir ao banheiro com urgência, mas não tem coragem de pedir...

Ao terminar, releia o que escreveu e faça as alterações que achar necessárias. Troque comcolegas para que façam críticas e sugestões. Depois, reveja o texto e capriche: este poderá serum dos escolhidos para compor a coletânea de contos que vão organizar.

TRECHO 1Dick Peter chegou à casa de Mary, mas ela de-

morou para descer. Ele ouviu um grito e subiu paraver o que era, arrombou a porta do quarto e encon-trou Mary desmaiada.

TRECHO 2Jerônimo Monteiro

Dick Peter chegou à casa de Mary às oito horasda noite (...) e foi introduzido no luxuoso salão devisitas.

Seus olhos não se despregavam da escadaria demármore por onde Mary costumava descer com seugracioso passo e um luminoso sorriso nos lábios.Passaram-se cinco minutos, mas Dick não estranhoua demora... As mulheres, quando se trata de melho-rar sua beleza, não têm muita pressa... De súbito,um grande grito encheu a casa toda. Era um grito demulher, lancinante, terrível, que provocou no moçoum forte estremecimento e lhe deu a viva impressãode que alguma desgraça acabava de acontecer.

Dick Peter era um homem de ação, e não demo-rou mais de dois segundos para entrar em atividade.Aos pulos, galgou a escadaria de mármore e chegou

ao primeiro andar, onde eram situados os aposentosde Mary.

Lá em cima estava tudo em silêncio, mas, de bai-xo, vinha o ruído do tropel dos criados que corriampara ver o que teria acontecido na casa sempre tãocalma.

A porta do quarto de Mary estava fechada pordentro, e Dick descarregou sobre ela forte pancada.

Ninguém respondeu. Nesse momento, os cria-dos chegavam ao lado de Dick, falando todos aomesmo tempo, assustados, desorientados e cheiosde medo. […]

Dick não podia esperar. A sua impaciência eragrande demais. Fazendo recuar a criadagem, afas-tou-se alguns passos e atirou o corpo contra a porta.Houve um forte estalido. Mas a porta ainda não ce-dera. Dick afastou-se novamente e atirou-se com amaior força que possuía. Desta vez, a porta abriu-secom violência, arrancando lascas do batente. Os cria-dos iam precipitar-se para dentro, mas Dick fê-losparar com um gesto, e entrou sozinho. Dentro doquarto, Mary estava estendida no chão, pálida comoum cadáver e segurando ainda na mão crispada umarminho de pó-de-arroz. Nada mais.(trecho de O fantasma da Quinta Avenida, do livro Paragostar de ler v.12. São Paulo: Ática, 1992, p.58-9)

NOME DATA

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

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FICHA 10CONTO

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Oficina 11 FábulaNesta fábula as frases estão fora de ordem.

Oficina 12 Narrativa absurda

Um pouco de conversaFábula é uma pequena narrativa que transmite um ensinamento, expresso em uma moral,apresentada no final do texto. Seus personagens são quase sempre animais que falam. Emgeral, nas fábulas, os animais representam virtudes e defeitos dos seres humanos:o leão representa a força; o cordeiro, a inocência; a raposa, a esperteza; o lobo, a tirania; alebre, a rapidez; a coruja, a sabedoria etc.� A fábula acima está com as frases fora de ordem. Conversem e discutam qual a ordem

correta para a história ter sentido.� Além disso, ela está muito resumida. Com um colega, escolha um ou dois trechos e tente

ampliar a história, enriquecendo-a com detalhes e novos fatos. Se acharem interessante,vocês podem fazer isso com o texto inteiro – e, depois, comparar com os outros asdiferentes versões da fábula. Ofereça ajuda ao colega que não sabe e peça ajuda quandonão souber.

Não se esqueça de revisar o texto – com a ajuda do/a professor/a – e publicá-lo no mural ouincluí-lo na coletânea de contos da turma. Guarde uma cópia no seu portfólio.

O LEÃO E O RATINHOEsopo

Algum tempo depois, o leão ficou preso na redede uns caçadores.

Todos conseguiram fugir, menos um, que o leãoprendeu debaixo da pata.

Um leão, cansado de tanto caçar, dormia espi-chado debaixo da sombra boa de uma árvore.

Vieram os ratinhos passear em cima dele e ele

acordou.Nisso apareceu o ratinho e, com seus dentes afia-

dos, roeu as cordas e soltou o leão.Não conseguia se soltar e fazia a floresta inteira

tremer com seus urros de raiva.Tanto o ratinho pediu e implorou que o leão desis-

tiu de esmagá-lo e deixou que fosse embora.Moral: Uma boa ação ganha outra!(Fábulas de Esopo. São Paulo: Companhia das Letrinhas,1995)

DISPARATEO disparate é um jogo de inventar histórias.Junta-se um grupo de pessoas, uma tira compri-

da de papel e um lápis. Cada pessoa tem de respon-der a uma pergunta (veja lista abaixo). Dependendodo número de pessoas, podem ser feitas mais oumenos perguntas.

Quem começa o jogo responde, por escrito, àprimeira – Quem era ele?, por exemplo. Depois, do-bra a tira de papel e passa para o segundo, que res-ponde e passa para o próximo, e assim por dianteaté completar todas as perguntas.

Após cada resposta escrita, o papel deve serdobrado. Ninguém pode saber o que o outro escre-veu. No fim, alguém desdobra a tira inteira e lê em

voz alta a história maluca que se formou.Seqüência de perguntas para montar o jogo:

Agora, reúna os amigos e bom divertimento!

1. Imagine que (Fulano/a) está num lugar.2. Que lugar é esse? Descreva-o bem.3. Em que época/quando?4. Quem é (Fulano/a)? O que ele/a está fazendo?5. Como foi parar aí?6. Quem ele/a encontrou?7. O que (Fulano/a) disse?8. O que o/a outro/a respondeu?9. O que eles fizeram?

10. Por quê?11. O que aconteceu em seguida?12. E depois?13. Como as coisas se resolveram?14. Como tudo terminou?15. E como (Fulano/a) acabou ficando?(adaptado de Ricardo Azevedo, Armazém do folclore. SãoPaulo: Ática, 2000)

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NOME

Oficina 13 Contos maravilhososVocê vai ler agora uma história de amor.

RAPUNZELRecontada por América dos A. C. Marinho

Era uma vez um lenhador que vivia muito felizcom sua esposa, que estava esperando o primei-ro filho do casal.

Ao lado da casa do lenhador morava uma bru-xa. O quintal da vizinha tinha um pomar e umahorta cheios de frutas, verduras e legumes deaparência deliciosa. A mulher do lenhador pas-sava horas olhando pela janela um canteiro derapôncios que cresciam na horta da bruxa, cheiade vontade. Rapôncio é uma planta de folhas eraízes comestíveis, da família dos rabanetes.

De tanto desejar os rapôncios, a mulher ficoudoente. Não conseguia comer nada que seu ma-rido lhe preparava. Só pensava nos rapôncios...O lenhador ficou tão preocupado que resolveu irbuscá-los, mesmo correndo o risco de enfrentara ira da bruxa.

Esperou anoitecer, pulou a cerca do quintal epegou um punhado de rapôncios. Eles estavamtão apetitosos que a mulher quis comer mais. Ohomem teve de voltar para buscá-los várias noi-tes, pois com eles sua mulher melhorava.

Uma noite, quando o lenhador colhia a sabo-rosa planta, a bruxa surgiu ameaçadora diantedele.

— Como ousa roubar meus melhores rapôn-cios? — perguntou ela com uma voz de arrepiar.

O homem gaguejando tentou se explicar:— Ah, vizinha, desculpe, é que minha mulher

está doente e só consegue se alimentar de ra-pôncios! Eu não pedi à senhora, porque não que-ria incomodá-la.

— Ora, quanto atrevimento! Não queria meincomodar e rouba meus rapôncios!! A bruxa nãoquis ouvir mais nada e exigiu em pagamento acriança que ia nascer.

O lenhador disse que ela estava louca e sepropôs a trabalhar dia e noite para pagar o preju-ízo. Mas a bruxa fincou pé e ameaçou jogar umfeitiço que mataria a criança antes mesmo denascer. O futuro pai chorou, implorou, em vão.A bruxa não cedia. Por fim, apavorado, acabou

concordando, para que o filho tão desejado pu-desse viver.

Pouco tempo depois, nasceu uma linda me-nina. Como os dias iam passando e a bruxa nãoaparecia, o lenhador e a mulher acharam que elatalvez tivesse se esquecido da ameaça e ficaramfelizes, cuidando da criança com todo o carinho.

Mas, assim que a menina deixou de precisardo leite materno, a bruxa veio buscá-la. Os paisse jogaram a seus pés implorando que ela vol-tasse atrás, mas de nada adiantou. A malvadalevou a criança e deu-lhe o nome de Rapunzel,que em alemão significa rapôncio.

Passaram-se os anos. Rapunzel cresceu e fi-cou muito linda; a bruxa penteava seus longoscabelos em duas tranças e pensava: “Rapunzelestá cada vez mais bonita! Preciso tomar cuida-do, pois, assim como a tirei dos pais, alguémpode roubá-la de mim. Vou prendê-la numa torrena floresta, sem porta e só com uma janela bemalta, para ninguém alcançá-la, e usarei suas tran-ças como escada”.

E assim aconteceu. Rapunzel, presa na torre,passava os dias trançando os cabelos e cantan-do com os passarinhos. Quando a bruxa ia visi-tá-la, chegava ao pé da torre e gritava:

— Rapunzel! Jogue-me suas tranças! A menina jogava as tranças e a bruxa subia

por elas até o alto da torre.Um dia, passou pela floresta um príncipe que

ouviu a moça cantarolando e ficou muito curiosoem saber de quem era aquela maviosa voz. Ca-minhou ao redor da torre e percebeu que nãohavia entrada: a pessoa que cantava estava pre-sa. De repente, ouviu alguém se aproximando einstintivamente se escondeu, mas pôde ver eouvir a velha bruxa gritando sob a janela:

— Rapunzel! Jogue-me suas tranças!E assim ele descobriu o segredo. Na noite se-

guinte, foi até a torre e imitou a voz da bruxa:— Rapunzel! Jogue-me suas tranças!Rapunzel obedeceu, mas levou um susto

enorme ao ver o príncipe entrar pela janela.— Oh! Quem é você? — perguntou a moça.O príncipe explicou como se apaixonara por

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Um pouco de conversaRapunzel é uma linda história de amor, não é? Aliás, como muitas outras, ela é chamada deconto maravilhoso. Um estudioso desse tipo de narrativa (Wladimir Propp) disse quenormalmente elas seguem este esquema:� iniciam-se com a expressão “Era uma vez... “– para indicar que não se sabe bem

quando tudo aconteceu;� alguém comete um erro, uma falta;� o herói ou heroína:� se afasta do lar e vai viver numa floresta (às vezes, tem de atravessá-la, para

cumprir uma prova);� cai numa armadilha;� luta com o vilão ou é posto à prova – e aí há duas possibilidades:- vence o vilão ou a prova;- é derrotado pelo vilão ou pela prova, mas salvo por uma força extraordinária

(um protetor mágico ou um amor ou amigo);� regressa ao lar, casa-se e o vilão é punido.

Você acha que o conto se aproxima desse esquema? Discuta sobre isso com oscolegas – o professor vai orientar. Que outras histórias você conhece que separecem com esta?Depois, tente imaginar uma história que siga esse mesmo roteiro, mas ambientadanos dias de hoje (as novelas de televisão e muitos filmes fazem isso).

� Escreva aqui o título da sua história.___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

FICHA 12 VERSOCONTO

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sua voz, dizendo ainda que ver aquele lindo ros-to só fazia aumentar seu amor. A jovem logo seapaixonou também pelo rapaz e começaram ase encontrar todas as noites, escondidos da bru-xa. Só pensavam em fugir de lá e se casar. Umanoite Rapunzel teve uma idéia: tecer ela mesmauma escada. Pediu ao príncipe para trazer-lhecorda de seda, toda vez que viesse.

O príncipe assim fez e Rapunzel começou atecer a escada, escondida da bruxa. Como a tor-re era a alta, porém, a escada tinha de ser muitocomprida, e o trabalho da moça progredia lenta-mente. Certa vez, estando a bruxa na torre, Ra-punzel, distraída, comentou que estava tendomuita fome e engordando.

Foi assim que a megera descobriu que amoça estava grávida e obrigou-a a confessarseus encontros com o príncipe. Como castigo,cortou-lhe as tranças e chamou seus corvos,ordenando que levassem Rapunzel para o de-serto.

Naquela noite o príncipe, sem saber de nada,foi visitar Rapunzel. A bruxa segurou as trançasda menina e as jogou para baixo. Quando o ra-paz estava quase alcançando a janela, ela largouas tranças e ele despencou, caindo sobre umamoita de espinhos. O príncipe não morreu, masos espinhos furaram seus olhos e ele ficou cego.

Tateando e gritando por Rapunzel, o jovemandou por mais de um ano, até chegar ao deser-to. Rapunzel, que tinha dado à luz um casal degêmeos, ouviu o príncipe chamar por ela e cor-reu ao seu encontro.

Quando descobriu o que tinha acontecido aseu amado, começou a chorar. Duas lágrimas ca-íram dentro dos olhos do rapaz e ele voltou aenxergar! Assim, os dois jovens foram com osgêmeos para o palácio do rei, casaram-se e vive-ram felizes para sempre.

Os pais de Rapunzel foram morar com eles ea bruxa malvada ficou com tanta raiva que se tran-cou na torre e nunca mais saiu de lá.

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ISBN 85-85786-29-9

Autoria

SECRETARIA DEESTADO DA EDUCAÇÃO

Realização