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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA STÉFANIE ALCÂNTARA DE ALMEIDA EDUCAÇÃO E GÊNERO: ABORDAGENS E CONCEITOS EM TRÊS ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL DA REDE PÚBLICA DE EDUCAÇÃO NA CIDADE DE NATAL Natal – RN 2016

EDUCAÇÃO E GÊNERO: ABORDAGENS E CONCEITOS EM … · bastante indefinidos e distorcidos ... de professores ou no compartilhamento de situações inesperadas em sala de aula

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTECENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

STÉFANIE ALCÂNTARA DE ALMEIDA

EDUCAÇÃO E GÊNERO: ABORDAGENS E CONCEITOS EM TRÊS ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL DA REDE

PÚBLICA DE EDUCAÇÃO NA CIDADE DE NATAL

Natal – RN2016

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STÉFANIE ALCÂNTARA DE ALMEIDA

EDUCAÇÃO E GÊNERO: ABORDAGENS E CONCEITOS EM TRÊS ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL DA REDE

PÚBLICA DE EDUCAÇÃO NA CIDADE DE NATAL

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para a obtenção de título de Licenciada em Pedagogia.

KILZA FERNANDA VIVEIROSOrientador

NATAL – RN2016

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Dedico este trabalho aos meus pais Joseni e Valentim por fazerem o possível e o impossível pela minha educação durante toda a vida, ao meu irmão Madson e tia Valdênia que mesmo distantes sempre me apoiaram e me impulsionaram, às amigas e irmãs de coração Aline, Lourena e Raiany que não me permitiram desistir nos momentos mais difíceis, Dr. Thiago e Dra. Danielle por me manterem sã e ao meu namorado, amigo e companheiro João, por tudo.

As concepções de feminino e masculino são produções históricas, consequentemente, variáveis no tempo e no espaço; a escola é um espaço importante de construção dos gêneros; a escola pode ser um espaço para a submissão ou para a transformação das relações de gênero, e para a superação de preconceitos.

Zucco, Luciana. 2008

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ALMEIDA, Stéfanie Alcântara de. Educação e gênero: abordagens e conceitos em três escolas de ensino fundamental da rede pública de educação na cidade de natal – Natal/RN. 21f. Artigo (licenciatura em Pedagogia) – Centro de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2016. Orientador: Prof. Dr. Kilza Fernanda Viveiros.

RESUMO

Neste artigo, destaco as relações de gênero na educação permeadas pela cultura sexista e tradicionalista com abordagem de padrões do feminino e masculino socialmente definidos. Considero que o tema tem a necessidade de uma maior ênfase e melhor abordagem nas práticas e rotinas escolares. Minha hipótese é de que as relações e o tema transversal de gênero na educação ainda têm conceitos bastante indefinidos e distorcidos pelos profissionais em educação; e ainda que seja uma discussão recente, mereça a devida atenção no ambiente acadêmico e na sociedade como um todo em busca do real exercício da democracia. A coleta de dados por meio de questionários se deu em três escolas públicas na cidade de Natal, sendo estas, determinadas pela proximidade com seus gestores e professores a fim de uma maior acessibilidade aos entrevistados. Os próprios conceitos de gênero tanto se aproximam como distanciam-se à medida que levantamos suas definições sociais, biológicas e de identidade e tornam-se mais claros diante do debate entre a comunidade escolar e a sociedade como um todo.

Palavras-chaves:

Relações de gênero. Educação. Cultura. Prática. Conceitos.

ABSTRACT

In this article, I highlight the gender relations in education permeated by the sexist and traditionalist culture with a socially defined feminine and masculine pattern approach. I believe that the theme needs a greater emphasis and a better approach in school routines and practices. My hypothesis is that relationships and the gender issue in education still have rather indefinite and distorted concepts by professionals in education; and even if it is a recent discussion, deserves due attention in the academic environment and society as a whole in search of the real exercise of democracy. Data collection through questionnaires was carried out in three public schools in the city of Natal, these being determined by proximity to their managers and teachers in order to increase accessibility to the interviewees. The very concepts of gender both approximate and distance themselves as we raise their social, biological, and identity definitions and become clearer in the face of the debate between the school community and society as a whole.

Keywords: Gender relations. Education. Culture. Practice. Concepts.

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO......................................................................................................06

1 GÊNERO, CULTURA E EDUCAÇÃO.....................................................................08

2 A PESQUISA...........................................................................................................14

2.1 O Campo e a Coleta de Dados...........................................................................14

2.2 Os Resultados.....................................................................................................18

REFERÊNCIAS...........................................................................................................20

ANEXO........................................................................................................................21

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APRESENTAÇÃO

Azul e rosa, carro e boneca, shorts e saias; é automático e eu diria ainda

inevitável a associação como antônimos para meninos e meninas, gêneros

masculino e feminino.

A questão de gênero que aqui proponho discutir ainda é bastante recente,

mas com o advento das redes sociais, a disseminação do fácil acesso à Internet e a

rapidez na transmissão e troca de informações no mundo em que vivemos a

velocidade com que toma corpo um tema tão divisor de opiniões é espantosa,

gerando a necessidade do amplo diálogo sobre o mesmo.

Um tema que envolve vertentes como sexualidade, preconceitos,

machismo/feminismo, igualdade de direitos e homossexualismo merece a devida

atenção na formação de uma sociedade que objetiva um crescimento positivo, mais

justa e igualitária. Como versa o artigo 6º da Constituição da República Federativa

do Brasil a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o

lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a

assistência aos desamparados são direitos sociais, ou seja para todos em igualdade

sem distinção de raça, gênero, cor, credo, faixa etária, opção sexual, entre outros.

Formação social está intimamente ligada à educação e a Educação de

Gênero já começa a ser discutida nas escolas. O seguinte Trabalho de Conclusão

de Curso se propõe a levantar diagnosticamente como e/ou se a Educação de

Gênero tem sido tratada nas escolas de Ensino Fundamental I das redes públicas

municipal e estadual de educação na cidade de Natal.

A discussão sobre gênero nas escolas não pode se manter apenas nas salas

de professores ou no compartilhamento de situações inesperadas em sala de aula

entre os educadores, o tema vai muito além dos muros escolares e deve ser tratada

com as famílias e com toda a comunidade, desvendando tabus e esclarecendo

posicionamentos e construções de conceitos equivocados.

Podemos dizer que não se trata de algo a ser imposto nem combatido e sim

dialogado, longe do tradicionalismo e de dogmas religiosos, não levantando

nenhuma bandeira, mas buscando a disseminação de informação clara e

construtiva.

Recentemente excluído do Plano Municipal de Educação do Município de

Natal por maioria de votos na Câmara de Vereadores, a discussão se tornou pública

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e com a grande circulação das imagens e disseminação das falas ali proferidas

deixou evidente a falta de esclarecimento e equivocados conceitos por parte dos

parlamentares, que ao discutirem pontos a serem incluídos e excluídos do Plano

Municipal De Educação trataram as questões de gênero com preconceito,

acreditando que se tratam de temas como homossexualismo e sua naturalização. A

câmara de vereadores na época da votação do Plano era composta por apenas

duas pedagogas, mulheres e professoras atuantes, que mesmo adequando suas

falas e linguagem ao entendimento mais amplo, não só dos vereadores votantes,

mas de toda a população que acompanha os trabalhos naquela casa, não foram

maioria em favor da causa.

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1 GÊNERO, CULTURA E EDUCAÇÃO

Desde o momento da concepção no ventre materno, dentre tantas

outras dúvidas, talvez a primeira a ser feita seja “É menino ou menina?” A definição

do gênero masculino ou feminino nas primeiras semanas de vida é socialmente

determinante, das cores do enxoval aos sonhos de uma futura profissão.

O conceito de gênero socialmente definido se dá na diferenciação entre

masculino e feminino, biologicamente segue-se o mesmo padrão, o gênero é

definido pela anatomia com que fomos concebidos. Gênero enquanto questão de

identidade se trata daquilo com o qual o indivíduo se sente enquadrado, com o que

mais se identifica e o faz sentir-se bem.

Em todos as culturas em geral há uma diferenciação de tratamento,

orientação, educação e comportamento imposto à meninas e meninos, fazendo,

assim, parte natural de seu desenvolvimento e formação “Pode-se constatar

facilmente que os comportamentos classificados como masculinos e femininos não

são determinados pela natureza, mas mudam no tempo e no espaço” (CARVALHO,

2000). A fim de focar numa realidade mais próxima e íntima, irei tratar aqui de cultura

e educação brasileiras, mais especificamente de Natal, Rio Grande do Norte.

As redes sociais, a expansão da rede mundial de computadores e o

acesso à internet móvel, as tecnologias de meios de comunicação e interação têm

feito parte da vida de jovens e crianças cada vez mais cedo, temas políticos sociais

e muitos tabus como as relações de gênero aqui tratadas alcançam as mais

variadas classes sociais, ambientes e públicos sendo responsáveis também pela

manutenção e deturpação dês concepções a respeito de gênero, o que é

preocupante pelo seu alcance.

Como a escola não foge à regra e é invadida de muitas maneiras por

discussões e temáticas que vão além do ensino e aprendizagem se torna um campo

fértil para a proliferação dessas concepções. O ambiente educacional deve ser

propício e ideal à formação de crianças, adolescentes e jovens não apenas para

exames seletivos ou para o mercado de trabalho, ao aluno é necessária uma

formação antes de tudo, como cidadão pleno de seus direitos e deveres, que saiba

conviver em sociedade no respeito ao outro como um igual. A educação de

igualdade e respeito para crianças reflete em adultos e em sociedades menos

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preconceituosas, menos violentas e hierárquicas. Meninos e meninas que são

ensinados a respeitar, tratar e conviver entre si sem distinção desde pequenos, em

seus primeiros anos escolares, tendem a aglutinarem isto à seus comportamentos e

conceitos naturalmente, assim como o contrário acontece historicamente.

De modo geral, podemos afirmar que há compreensões naturalistas e culturais que informam as posições teóricas sobre as questões relacionadas aos gêneros. Se na primeira os sentidos atribuídos ao feminino e masculino e suas relações estão ancorados nos processos biológicos e da natureza, na compreensão cultural estão centrados nos argumentos da construção social, do fazer-se na e pelas relações sociais que estão circunscritas a um tempo e espaço. (Zucco, 2000).

A diferenciação entre meninos e meninas vem desde a primeira

infância, roupas, acessórios, brinquedos azuis e rosas. Os primeiros brinquedos que

são comumente dados às meninas são bonecas em vestidos cor-de-rosa e laços

delicados de fitas enfeitando seus cabelos tipicamente loiros e lisos, conjuntinhos de

panelas, fogões e ferros de passar roupas, fraldinhas para trocar e banheiras para

dar banho, maquiagens coloridas e acessórios com temáticas de princesas, (ver

imagens 1 e 2) claramente definindo seus papéis a serem desempenhados e

habilidades a serem adquiridas, reproduções da realidade, donas de casa, mães

cuidadosas e zelosas, esposas bonitas e bem arrumadas.

A desigualdade de gênero claramente é uma questão de educação.

Meninos e meninas são educados sob padrões rígidos de comportamento definidos

socialmente: Menino não chora, brinca de bola e de carrinho; menina não pode

correr, subir em árvore e só brinca de boneca e de casinha (Carvalho, 2000).

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Imagem 1 – Vitrine frontal da loja

Uma das principais lojas de brinquedos da cidade de Natal (Imagem 1),

presente em shoppings e comércios de toda a cidade. A divisão de setor feminino e

masculino é clara, os brinquedos voltados para meninas estão limitados à bonecas,

em sua maioria princesas e bebês; os mais variados ambientes do lar, cozinha,

quarto, banheiro, todos em tons de rosa ou lilás e bastante brilho. Os brinquedos

para meninos, assim como o das meninas, acompanham as tendências do

momento, o filme em destaque no cinema, os personagens mais presentes nos

desenhos animados; porém, para eles (meninos) tratam-se de armas, objetos

futuristas, instrumentos musicais, entre outros.

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Imagem 2 – Brinquedos para meninas

No setor de brinquedos para meninas (Imagem 2), há ainda uma

subdivisão, um setor de “casinha”, onde encontramos tábuas de passar roupas,

máquinas de lavar, fogões e pias, comidinhas e utensílios para os seus preparos. Me

chamou a atenção nas duas imagens o que já parece uma tentativa inicial de tornar

alguns desses brinquedos “unissex”, onde as embalagens trazem meninos e

meninas brincando com panelinhas. Na imagem o conjunto à direita com fogão e

panelas que trás duas crianças, uma menina no primeiro plano e um menino ao

fundo como “little chef” (pequeno(a) chefe). Este é um dos dois brinquedos no setor

de “casinha” em um corredor com pelo menos trinta ou cinquenta opções que

apresentam cores e personagens em suas embalagens diferentes das habituais do

setor feminino, valendo ressaltar, que mesmo que a intenção do fabricante tenha

sido boa em desconstruir as tarefas do lar como femininas, esses brinquedos ainda

se encontram apenas no setor feminino.

Enquanto aos meninos são atribuídos os papéis de heróis detentores

de superpoderes, carros, máquinas de construção, kits de cientistas e engenheiros,

jogos de lógica e investigação, todas as ferramentas necessárias para a formação

do homem que a sociedade idealiza, forte, inteligente, ágil e poderoso.

A ligação entre os brinquedos a educação e as relações de gênero se

dá como componentes do universo infantil. O convívio familiar, os brinquedos e

brincadeiras e a escola são importantes agentes formadores da personalidade das

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crianças e seus reflexos são expostos na convivência em sociedade, o que muitas

vezes perdura para além da infância.

Os homens desde cedo ensinados a deter o poder em relação às

mulheres no mercado de trabalho, na vida pública e as mulheres educadas sobre a

submissão das tarefas do lar e dos cuidados maternos têm essa relação de gênero

hierárquica como algo natural, o que para muitos não desperta estranhamento e não

atenta para o problema.

O gênero faz parte da identidade pessoal, assim como o sexo, a cor da pele, a classe social, e as demais circunstâncias sociais e culturais. Por outro lado, a atribuição de gênero não se restringe apenas aos comportamentos dos sujeitos, mas se projeta também nas práticas e instituições sociais, que podem ser qualificadas de masculinas e femininas, conforme os valores que expressam.(CARVALHO, 2000).

Todos esses brinquedos e suas relações estão nas escolas, em suas

brinquedotecas, em seus “cantinhos do faz-de-conta”,no caso das escolas de

educação infantil, incutido nos próprios educadores ao separar meninos e meninas

nas brincadeiras, na hora do banho nas creches e escolas de tempo integral, na

organização das atividades com capas de cores diferentes (azul e rosa), acabam por

serem levadas para as séries seguintes, em termos de padrões e estereótipos. As

situações e exemplos são inúmeros e claramente visíveis nas práticas e rotinas

escolares alertando também para a formação e capacitação de professores para o

diálogo esclarecedor e instrutivo com famílias, alunos e toda a comunidade escolar.

A própria educação, o ambiente escolar é um espaço tipicamente

feminino, é extremamente raro encontrarmos homens atuando na Educação Infantil

ou no Ensino Fundamental, Carvalho (2000) trata sobre a necessidade de

empoderamento das educadoras em relação à promoção de novas práticas e novos

valores coletivamente junto à pais e mães na educação de seus filhos

desenvolverem as próprias habilidades de decisão, voz e ação, a autossuficiência e a visibilidade pública, condição para conquistarem a força coletiva. No caso das mulheres, a consciência da

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discriminação de gênero facilita a mudança na autoimagem e nos sentimentos de inferioridade e impotência, nas crenças sobre direitos e capacidades, promovendo a autonomia individual e a solidariedade. O aumento da autoconfiança, a abertura para as mudanças (a crença na sua possibilidade), e a ação para promovê-la são, assim, inseparáveis.(CARVALHO, 2000).

A abordagem das relações de gênero na educação implicam não só em

modificação de atitudes, conceitos e didática, mas também na necessidade de uma

maior ênfase nos documentos legais da educação brasileira. Educar é um

compromisso social e diante de desigualdade social de qualquer natureza a

educação não pode ficar inerte. Assim sendo, devemos nos posicionar em relação a

educarmos para que as pessoas apropriem-se de suas capacidades humanas, que

deixem de ser coisificadas e alienadas para se tornarem agentes transformadores e

sujeitos históricos e não mais para a submissão, reproduzindo as condições

necessárias para a perpetuação de normas e estereótipos (Bernardo, 1996).

Assegurada e embasada por lei a transversalidade do gênero é

garantida nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN dentro dos assuntos

pertinentes ao eixo de orientação sexual, o que não impede os professores de

abordarem o tema nas mais diversas disciplinas, em consonância com os Projetos

Político-Pedagógicos das escolas.

O trabalho com Orientação Sexual supõe refletir sobre se contrapor aos estereótipos de gênero, raça, nacionalidade, cultura e classe social ligados à sexualidade. Implica, portanto, colocar-se contra as descriminações associadas a expressões da sexualidade, como a atração homo ou bissexual, e aos profissionais do sexo (Brasil, 1998).

Os currículos e as práticas pedagógicas estão permeados por sexismo

e preconceitos, mesmo que quase imperceptíveis e muito sutis, não apenas nas

relações ligadas à gênero, mas de modo geral, com uma grande necessidade de

multiculturalismo. Neste aspecto, se faz necessário que sejam revistos desde a

produção de material e de conteúdo, por exemplo, ilustrações nos livros didáticos,

objetivando superar os estereótipos sexistas presentes no cotidiano escolar

(Bernardo, 2000).

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A equidade de gêneros é uma condição básica para a construção da

cidadania e da democracia dentro e para além dos muros da escola. A necessária

atenção às diferenças para a real garantia de igualdade de direitos, oportunidades e

acesso aos bens sociais, em todos os campos (MEC/SEF, 1998).

2 A PESQUISA

O questionário elaborado continha cinco questões objetivas com

perguntas curtas, simples e interligadas, de rápida leitura, interpretação e resposta,

pensado justamente na rotina escolar e pouca disponibilidade de tempo dos

educadores participantes da pesquisa.

A intenção principal do questionário era diagnosticar o nível de

conhecimento e reconhecimento das questões de gênero no ambiente escolar, a

abordagem na didática dos educadores, em coisas simples da rotina e costumes no

tratamento com as crianças.

A partir da aplicação dos questionários objetivei diagnosticar como se

davam as conceituações de gênero e suas abordagens na rotina e prática escolar.

2.1 O Campo e a Coleta de Dados

Foram aplicados trinta e seis questionários em três escolas públicas de

Ensino Fundamental I da cidade de Natal, a primeira da rede estadual na Zona Sul,

bairro Pitimbu, uma segunda também estadual na Zona Oeste, bairro das Quintas,

mais especificamente na Comunidade do Japão e a terceira na Zona Norte da

capital, no bairro Igapó, esta última sendo da rede municipal de ensino. Todos os

professores e gestores são licenciados no curso de Pedagogia e entrevistados entre

os meses de agosto e outubro de 2016.

As perguntas tinham como respostas apenas as alternativas sim ou

não, mas essa primeira havia a opção abaixo das alternativas: “Se sim, explique:”. A

opção de explicar a resposta positiva se tratava apenas de uma questão de registro

escrito dos diálogos informais anteriores à aplicação do questionário (Gráfico 1).

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SIM 78%

NÃO 22%

Gráfico 1 – Você sabe o que é Educação de Gênero?

Onde ficou explícito que na verdade, a maioria não sabe do que se

trata por Educação de Gênero. Poucos foram os que se aproximaram em suas

repostas falando sobre igualdade de direitos e oportunidades entre homens e

mulheres, porém a maioria das respostas dizia respeito à valorização e respeito à

opção sexual, saber diferenciar entre masculino e feminino, entre outras.

Evidenciou-se uma interpretação errônea do tema, onde educadores

acreditam que a questão de gênero tenha mais a ver com ser homem, mulher ou

homossexual de acordo com a opção sexual.

SIM 19%

NÃO 81%

Gráfico 2 – Na sua atuação em sala de aula e/ou na escola há diferenciação no tratamento com meninas e meninos?

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A segunda questão dizia respeito ao tratamento para com os alunos,

em relação à cuidados, por exemplo, se os educadores aplicavam uma disciplina

mais rígida às meninas, no falar, sentar, agir; ou se repreendiam meninos em

comportamentos “menos masculinos” conforme o imposto socialmente como padrão

de comportamento. Sete professoras (19%) dentre os entrevistados afirmaram que

sim, que fazem uso de expressões como “sente como uma mocinha”, “isso é coisa

que menino faça?!” (Gráfico 2).

SIM 22%

NÃO 78%

Gráfico 3 – Você concorda que devem existir “coisas de meninas” e “coisas de meninos”?

Dos professores que participaram da pesquisa oito (22%) disseram que

concordam na existência da diferenciação entre “coisas de meninas” e “coisas de

meninos”, como roupas, brinquedos e brincadeiras, objetos nas cores rosa e azul,

entre outros. Os demais 28 profissionais não concordam com a diferenciação de

gêneros (masculino e feminino) no mundo infantil (Gráfico 3).

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SIM 81%

NÃO 19%

Gráfico 4 – Em sala de aula e/ou na escola você aborda o tema Educação de Gênero (igualdade de direitos e deveres, oportunidades, possibilidades, capacidades e tratamento)?

A quarta questão a ser respondida, era uma espécie de confirmação da

segunda, porém, especificando melhor a questão da abordagem, para uma melhor

reflexão na resposta, o que se confirmou, o exato número de respostas entre as

questões, mesmo que perguntadas de formas diferentes. Vinte e nove educadores

(81 %) afirmaram explanar com os alunos em relação à igualdade, oportunidades,

possibilidades, capacidades e tratamento entre todos (Gráfico 4).

SIM 89%

NÃO 11%

Gráfico 5 – Concorda que o tema de Gênero seja trabalhado na escola como tema transversal?

A quinta e última pergunta do questionário, tinha um caráter conclusivo,

após uma pergunta introdutória (pergunta 1) e duas (perguntas 2 e 4) reflexivas em

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relação à prática docente, eram questionados quanto a introdução da Educação de

Gênero na escola. Em comparativo com a primeira pergunta, ao final do questionário

mais professores mostraram ter um melhor entendimento sobre o tema,

reconhecendo a necessidade de sua abordagem no ambiente escolar (Gráfico 5).

2.2 Os Resultados

Entre os entrevistados haviam dois homens, um coordenador e um

diretor e trinta e quatro mulheres, entre professoras, coordenadoras, diretoras e vice-

diretoras, durante a aplicação dos questionários estimulei os diálogos informais, em

torno do tema e exemplificações práticas para melhor compreensão das questões,

sendo imparcial e buscando captar o máximo de veracidade da atuação dos

profissionais no seu dia a dia e sala de aula e escola.

Observei por meio dos resultados dos questionários e diálogos

informais que os educadores ainda têm em sua maioria um conceito um tanto

distorcido e não muito bem definido sobre do que se trata a questão de gênero,

sendo bastante recorrente à associação do tema à opção sexual, homossexualismo

e afins. O que no decorrer das respostas aos questionários foi se tornando mais bem

definido (na questão 4 quando há exemplificação) e tem seu resultado comprovado

na porcentagem de respostas positivas à questão 5: Concorda que o tema de

Gênero seja trabalhado como tema transversal?

Em suas falas, os educadores reconhecem tratar-se de um tema novo

a ainda não tão presente nas discussões do meio escolar e que em sua formação

não houve/há disciplinas específicas ou esclarecedoras sobre a abordagem do

tema, o que influencia em suas didáticas pela insegurança no tratamento do tema,

principalmente com relação aos pais ou responsáveis, às famílias onde a cultura dos

brinquedos/brincadeiras de meninas ou de meninos, roupas, comportamentos e

hábitos tipificados como femininos ou masculinos ainda é culturalmente muito forte e

naturalizada.

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Claramente as questões de gênero na educação são uma “questão viva que diz respeito a todos nós, não apenas àquelas/ES envolvidos diretamente com educação. Contudo, devemos também lembrar que belas palavras e fartos dados não são substitutos para o tratamento destas questões na prática – e nisto as/os professoras/es têm especial responsabilidade.(Whitelaw, 2003).

Concluí, a partir dos resultados de minha pesquisa, que o conceito a cerca

das relações de gênero ainda é muito prematuro e indefinido entre os educadores

abordados. Evidenciou-se a necessidade de uma melhor formação acadêmica em

torno de novos conceitos e problemáticas na educação e a importância do papel do

educador como agente transformador e decisivo na construção e afirmação de uma

sociedade com equidade de gêneros em direitos, competências, capacidades,

possibilidades, respeito e dignidade.

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REFERÊNCIAS

BERNARDO, Ana Maria C. Implicações Pedagógicas das Relações de Gênero no Cotidiano Escolar. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2000.

BORTOLINI, Alexandre. Diversidade sexual e de gênero na escola: Educação, Cultura, Violência e Ética. Rio de Janeiro: Pró-Reitoria de Extensão/UFRJ, 2008.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: SenadoFederal, 2011.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: orientação sexual. Brasília: MECSEF, 1998.

CARVALHO, Maria E. P. Consciência de gênero na escola. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2000.

WHITELAW, Sarah A. Questões de Gênero e Educação. CIGS – Universidade de Leeds. In: CARVALHO, Maria Eulina Pessoa de; PEREIRA, Maria Zuleide da Costa (organizadoras). Gênero e educação: múltiplas faces. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2003.

ZUCCO, Luciana. Relações de gênero: um eixo norteador da educação sexual. Rio de Janeiro: Pró-Reitoria de Extensão/UFRJ, 2008.

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ANEXO

QUESTIONÁRIO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTECENTRO DE EDUCAÇÃO – LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

DOCENTE: KILZA FERNANDA. DISCENTE: STÉFANIE ALCÂNTARA DE ALMEIDA

DISCIPLINA: TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO IITEMA: EDUCAÇÃO E GÊNERO: ABORDAGENS NAS ESCOLAS DE

ENSINO FUNDAMENTAL DA REDE PÚBLICA DE EDUCAÇÃO NA CIDADE DE NATAL

O presente questionário tem o objetivo de compor um levantamento diagnóstico sobre a abordagem da Educação de Gênero nas escolas das redes públicas municipal e estadual da cidade de Natal a partir da atuação dos profissionais em educação (professores, gestores, coordenação e funcionários) nas escolas e turmas de Fundamental I.

1 – Você sabe o que é “Educação de Gênero”?( ) Sim ( ) NãoSe sim, explique:

2 – Na sua atuação em sala de aula e/ou na escola há diferenciação no tratamento com meninas e meninos?( ) Sim ( ) Não

3 – Você concorda que devem existir “coisas de meninas” e “coisas de meninos”?( ) Sim ( ) Não

4 – Em sala de aula e/ou na escola você aborda o tema Educação de Gênero (igualdade de direitos e deveres, oportunidades, possibilidades, capacidades e tratamento)?( ) Sim ( ) Não

5 – Concorda que o tema de Gênero seja trabalhado na escola como tema transversal?( ) Sim ( ) Não

João
Máquina de escrever
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