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EDUCAÇÃO PARA EMANCIPAÇÃO: análise e proposição a partir de uma perspectiva dusseliana
Autor: Dirceu Ferreira ¹
Orientador: Geraldo Balduíno Horn²
RESUMO
Pensar a educação básica e a realidade da escola em suas múltiplas faces, requer um esforço no sentido de ampliar a compreensão, levando-se em consideração principalmente, as formas pelas quais os seres humanos produzem sua existência historicamente, e o modo como são organizadas as formas de relações sociais no contexto de uma determinada cultura. Nos dias atuais vivenciamos e constatamos mudanças profundas e significativas em relação à produção tecnológica no que se refere às relações de ordem econômica, política, sociais e culturais, que de alguma forma, interfere na realidade da escola de maneira direta ou indiretamente. Desse modo, é possível constatar, a partir de algumas análises que dialogam com essa temática, de que o trabalho assalariado enquanto categoria histórica passa por uma situação de crise. Isto recoloca e traz para o debate, a questão relacionada ao problema da dualidade no que concerne aos processos de formação escolar. Assim sendo, torna-se relevante desenvolver uma analise na perspectiva dos autores que aprofundam o debate sobre essa temática, no intuito de compreender melhor a dimensão e a forma reducionista de trabalho, como está colocada e sua relação direta com os processos educativos na escola, bem como, a compreensão da realidade do trabalho e sua necessária relação de produção e reprodução da vida humana. Compreende-se nesta perspectiva da análise, que uma concepção de educação e de escola verdadeiramente emancipatória e libertadora, não pode estar presa às amarras da lógica de reprodução da teoria do capital humano, expressa nas formas de organização e reprodução capitalista exploratória. Contrariamente, a essa concepção de trabalho e educação, expressa a partir da lógica da polivalência, a discussão sobre os temas abordados, aponta para as possibilidades de emancipação e superação dos processos de internalização e dominação impostos pela razão instrumental da modernidade.
PALAVRA-CHAVE: Ética; Política; Educação; Ensino; Aprendizagem.
___¹Filosofia Política Moderna, Filosofia, Colégio Estadual Profº Julio Szymanski²Doutor em Educação, Filosofia, UFPR, Professor Titular
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1 INTRODUÇÃO
A realidade geopolítica da América Latina, desde o processo colonizatório, isto é, a
partir da chegada dos colonizadores da península ibérica (portugueses e espanhóis),
principalmente, apresenta de forma sistemática um aumento significativo da violência e
da exclusão social. Isto posto, vale destacar o que ocorreu no processo escravagista,
em relação aos negros e a população indígena, por exemplo, além da enorme exclusão
no que se refere às condições materiais, tanto no nível econômico, como político e
social. Com relação à população camponesa da América Latina, também possui suas
origens nas populações indígenas, negras e imigrantes europeus e da mesma maneira
são diretamente excluídos do acesso legítimo de cultivo a terra. Daí decorre a
manifestação real e histórica que explica e justifica a existência, por exemplo, da
necessidade de organização do movimento dos trabalhadores sem-terra e de tantos
outros movimentos sociais. Já havia aqui no território latino-americano, uma população
indígena em quantidade significativa, que acabaram sendo expulsa de suas terras
sendo dominada e massacrada através de um enorme genocídio cultural. O que
sucedeu também com a população negra trazida forçadamente de suas terras para
serem dominadas culturalmente e submetidas ao trabalho escravo. Em se tratando da
questão de gênero, fica bastante claro que no tocante à situação das mulheres, a
questão não é diferente, ou seja, tanto as mulheres de cor branca, quanto às negras e
índias, foram violentamente discriminadas ao longo do processo histórico no contexto
da América Latina. É claro que não podemos deixar de dizer, que as negras e as índias
sofreram e sofrem violência ainda em maior grau. Vale destacar, contudo, que este
processo exploratório ainda é vigente e muito visível em nossa sociedade.
Considerando este contexto de exploração historicamente construído das mulheres,
percebemos que esta situação ainda continua de maneira muito presente em nossos
dias.
Daí a relevância e a necessidade de pensar esta realidade latino-americana, a
partir de uma filosofia que esteja circunscrita neste contexto. Por isso, entende-se que a
filosofia de Henrique Dussel, e de outros autores que dialogam com essa temática,
3
poderão contribuir de forma significativa para a análise das singularidades deste
continente, principalmente, em relação às questões que serão abordadas.
Pensar a educação básica e a realidade da escola em suas múltiplas faces,
requer um esforço no sentido de ampliar a compreensão, levando-se em consideração
principalmente, as formas pelas quais os seres humanos produzem sua existência
historicamente, e o modo como são organizadas as formas de relações sociais no
contexto de uma determinada cultura.
Nos dias atuais vivenciamos e constatamos mudanças profundas e
significativas em relação à produção tecnológica no que se refere às relações de ordem
econômica, política, sociais e culturais, que de alguma forma, interfere na realidade da
escola de maneira direta ou indiretamente. Desse modo, é possível constatar, a partir
de algumas análises que dialogam com essa temática, de que o trabalho assalariado
enquanto categoria histórica passa por uma situação de crise. Isto recoloca e traz para
o debate, a questão relacionada ao problema da dualidade no que concerne aos
processos de formação escolar.
Analisando nessa perspectiva, é notória a ideia de que as crianças e os jovens
filhos da classe trabalhadora necessitam de se preparar já muito cedo para sua
inserção na realidade do trabalho assalariado. Haja vista, que não existem
possibilidades de emprego para atender todos os trabalhadores (as), reaparece com
muita persistência o ideário ideológico das competências e da empregabilidade. Isto
posto, manifesta-se como mecanismo obstaculizante à construção de uma nova e
autêntica concepção de escola. Destrói-se dessa forma, a concepção de escola básica
unitária, politécnica e desinteressada, como campo de formação humana numa
perspectiva integrada, e, por outro lado, descaracteriza a concepção de trabalho como
princípio educativo e emancipador, tomando-o na sua dimensão alienante, isto é, como
propriedade alheia ao indivíduo.
Assim sendo, torna-se relevante desenvolver uma analise na perspectiva dos
autores que aprofundam o debate sobre essa temática, no o intuito de compreender
melhor a dimensão e a forma reducionista de trabalho, como está colocado e sua
relação direta com os processos educativos na escola, bem como, a compreensão da
realidade do trabalho e sua necessária relação de produção e reprodução da vida
4
humana. Como afirma Frigotto, ao fazer referência a Gramsci, sobre a noção de
educação básica desinteressada: “A educação básica desinteressada pressupõe o
sentido (...) de trabalho como principio educativo para não formar, advertia, mamíferos
de luxo e, ao mesmo tempo, não vincular a escola ao trabalho/emprego ou trabalho
alienado” (2004, p.12). Esta forma burguesa de conceber o trabalho como mercadoria,
acaba por assumir uma dimensão de universalidade, em que a lógica de acumulação
de capital assume um caráter de legitimidade. Desse modo, para elucidar esta
afirmação descreve, Frigotto: “(...) no bojo das teorias neocapitalistas, que inclui as
perspectivas nos lucros vai-se reforçando a ideia de que a superação das
desigualdades entre as classes é possível, sem a supressão da mais-valia sem uma
quebra do valor”. ( 2004, p.16).
Vale destacar, também, que a concepção predominante na sociedade
capitalista, na qual se fundamenta a orientação no tocante as formas de apreensão das
relações de trabalho e educação, ainda que, em seguimentos menos conservadores, se
orienta por um viés moralizante, nos moldes da moral burguesa, como afirma Frigotto:
“(...) o trabalho manual e intelectual aparecem como igualmente dignos formadores do
caráter e da cidadania.” (2004, p.16) Também, por uma dimensão pedagógica, de
modo que o trabalho é concebido como uma forma de realização de experiências.
Em terceiro, um aspecto social e econômico em que se admite que os filhos
dos trabalhadores possam encontrar mecanismos apropriados visando custear a sua
educação, a exemplo das escolas de produção.
Isto posto, pode-se afirmar que esta visão burguesa representa na prática, uma
posição de fato, conservadora. Daí decorre, portanto, a compreensão de que para se
definir uma concepção de ensino, mais precisamente, no que concerne ao ensino
médio, implica em desenvolver uma análise, na perspectiva de pensar as relações de
poder dessa forma constituída. Haja vista que, o problema está colocado na esfera
política, traduzindo-se como um problema político. Nesse sentido, para elucidar esta
questão, assim descreve KUENZER:
(...) a definição da concepção é um problema político, porquanto o acesso a esse nível de ensino e a natureza da formação por ele oferecida-acadêmica ou
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profissionalizante – inscreve-se no âmbito das relações de poder típicas das sociedades divididas em classes sociais, às quais se atribui o exercício das funções intelectuais e dirigentes, ou o exercício das funções instrumentais. Ou seja, inscreve-se no âmbito da concepção da sociedade. (KUENZER, 2002, p.26)
Assim, é que se constrói uma concepção de ensino médio, especialmente em
nossa sociedade, isto é, a partir de uma forma de dualidade estrutural, de modo que a
educação principalmente, no nível de ensino médio, se manifesta pelo viés de duas
perspectivas, ou seja, uma objetivando a formação de intelectuais visando construir em
quadros dirigentes, e outra, com o caráter de formação instrumental para o mundo do
trabalho.
1.1 ÉTICA E POLÍTICA: uma análise do político como conceito e da política como
atividade
Em se tratando da abordagem relativa ao objeto em questão, ou seja, do ensino
de filosofia, interessa aqui, desenvolver uma análise sobre algumas das teses
produzidas pelo filósofo Enrique Dussel, que propõe de forma singular, uma visão
complexa do político como conceito e da política como atividade, de modo que a
questão do poder aparece nos movimentos da análise como questão central no
tratamento dispensado pelo autor.
Assim sendo, em um primeiro momento, o problema se coloca no horizonte de
se pensar em como devolver aos cidadãos o poder que lhe foi tirado em todos os
espaços. Em segundo, pode-se apontar também, para a necessidade de se repensar o
próprio poder como práxis humana. Nesse sentido, sobre a compreensão e o
significado do que de fato representa o político e apolítica, Dussel assim se expressa:
(…) para entender político (como conceito )e a política (como atividade) necessário deter-se na análise de seus momentos essenciais. Em geral, o cidadão e o político por profissão ou vocação não tiveram possibilidades de
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meditar pacientemente sobre o significado de sua função e responsabilidade política. (DUSSEL, 2007, p.13)
A partir dessa reflexão inicial, o autor chama a atenção para a necessidade de
pensar cuidadosamente sobre a essência da ação política, tanto em nível conceitual,
quanto na dimensão da política enquanto atividade inerente ao ser humano. Daí
decorre que muitas vezes o conceito é mal compreendido e a própria atividade política
acaba por sofrer profunda distorção, quando atravessada pela ação do sujeito, que se
manifesta como o ator em movimento, podendo transformar tal atividade em processos
de corrupção comprometendo assim, a legitimidade de tão valiosa atividade.
Em suas análises sobre esta temática, Dussel, debate em suas teses “os vários
momentos do político,” seus níveis e esferas, em especial, por se tratar de tanta
corrupção em nossos dias. De acordo com o autor, a questão dos princípios
normativos da política, se torna na atualidade uma exigência imprescindível. Nesta
perspectiva da análise, o autor aponta também para os níveis mais concretos da ação
político crítico no sentido de superação das amarras impostas pela modernidade,
propondo assim, uma práxis libertadora. Ao pensar sobre a práxis de libertação, o
mesmo autor em outra obra intitulada Ética da libertação na idade da globalização e da
exclusão, assim descreve:
A práxis de libertação é a ação possível que transforma a realidade (subjetiva e social) tendo como última referência sempre alguma vítima ou comunidades de vítima. A possibilidade de efetivamente libertar as vítimas é o critério sobre o qual se funda o princípio mais complexo desta ética que subsume todos os outros princípios num nível mais concreto, complexo, real e crítico. (DUSSEL, 2002, p. 558)
Nesse sentido, pode-se perceber a partir dessa citação que o princípio
fundante, que, aliás, envolve todos os outros, refere-se às possibilidades de efetivação
do processo de libertação das vítimas, que em última instância são os excluídos,
aqueles que foram negados pelos sistemas vigentes, como os pobres da periferia (fora
dos centros de tomada de decisão em relação à organização das instituições), as
mulheres, os negros, os indígenas, os homossexuais, enfim, todos aqueles que de
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alguma forma foram negados da condição de viver condignamente como seres
humanos.
Em se tratando da questão da corrupção e do campo político, e analisando a
relação entre o público e o privado, Dussel inicia este trabalho propondo um debate
sobre o conceito do político enquanto categoria teórica, apontando para o que ‘não é’
no intuito de conferir maior clareza conceitual. Afirmando por exemplo: “O político não
é exclusivamente nenhum de seus componentes, mas sim todos em conjunto.” (2007,
p.15). Nessa perspectiva da análise é preciso compreender a política no âmbito da
totalidade. Desse modo, mesmo na totalidade pode haver também coisas ruins.
Pensando por este viés, vale ressaltar ainda, que a corrupção no campo
político ocorre na esfera da totalidade quando a função fundamental é distorcida,
provocando uma destruição em sua origem. De acordo com Dussel, esta questão da
corrupção política atualmente expressiva nas instituições se traduz da maneira
seguinte:
A corrupção originária do político , que denominamos o fetichismo do poder, consiste em que o ator político (os membros da comunidade política, seja cidadãos ou representantes, acredita poder afirmar sua própria subjetividade para a instituição em que cumpre alguma função, daí poder ser denominado (funcionário) seja de presidente, deputados, juiz, governador, militar, policial [7-8] – como a sede ou a fonte do poder político. (DUSSEL, 2007, p. 16).
É, portanto, dessa forma, que o poder se desvirtua sofrendo nesse sentido
profunda distorção em sua originalidade, cedendo espaço para a manifestação do
fetichismo, que em outras palavras significa a corrupção do poder. Além disso, esta
corrupção tem dupla face, ou seja, quando o governante que se coloca como sendo a
sede do poder e da própria comunidade, que se deixa ludibriar em seu consentimento
compreendido papel de servidão, quando poderia ser ator no processo de construção
política, através de suas ações nas respectivas instituições, tendo como orientação os
princípios normativos de uma ética da libertação.
Esta atuação dos sujeitos sobre as instituições e os princípios normativos está
situada no que é chamado de campo político. Existem de fato diferentes campos, onde
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se processam as atividades humanas, como por exemplo: a familiar, econômica e
cultural, sendo que cada atividade possui seu campo próprio, onde se realizam as
ações os sistemas e instituições específicas de cada atividade. Estes campos fazem
parte e se situam no interior da totalidade do cotidiano da sociedade. Como afirma
Dussel:
O sujeito faz-se presente em tais campos situando-se em cada um deles funcionalmente e de diversas maneiras (…) Todo campo político é um âmbito atravessado por forças, por sujeitos singulares com vontade e com certo poder (…) O mundo de cada um, ou o mesmo, está composto por múltiplos campos. Cada campo, por sua vez, pode estar atravessado por outros; da mesma forma que o campo, por diversos sistemas. O sujeito sabe se comportar diante de todos eles; tem mapas cerebrais para cada um deles, o que lhe tem valido como um largo aprendizado do poder mover-se sem cometer enganos práticos. (DUSSEL, 2007, P. 17)
Sendo assim, o campo político se traduz neste espaço de cooperação de
relação e de conflitos. É sempre uma estrutura ativa e nunca de passividade. É um
espaço onde os sujeitos se interagem, convivem, estabelecem relações que não podem
ser analisadas sob a ótica do mecanicismo moderno, mas sim na perspectiva de uma
lógica dialética. Isto é, a partir das relações de contradição e de superação.
Importa ainda destacar, a relação de diferenciação entre o espaço privado e o
público. Assim, ambos constituem como formas ou modos em que se exercem a
intersubjetividade. Como afirma Dussel:
A intersubjetividade contém diante de seus olhos (a) trama de onde se desenvolve a objetividade das ações e das instituições (como o contexto da existência e do sentido), e é também (b) um apriori da subjetividade (uma vez que sempre é um momento constitutivo anterior, gênese positiva) (DUSSEL, 2007, p. 21).
Desse modo, a intersubjetividade constitui-se na esfera onde acontece a
objetivação das ações e das instituições. O casamento monogâmico, por exemplo, se
traduz nessa instituição objetiva na medida em que se coloca para a consciência como
objeto, sendo simultaneamente subjetiva, no sentido de ser anterior, como é o caso da
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mãe e do pai em relação ao filho ou a filha. A democracia também é outro exemplo da
relação objetividade e subjetividade. Assim, temos que (…) “toda subjetividade é
sempre intersubjetiva” (2007, p. 21).
Na primeira tese, para definir o espaço privado, o autor assim se expressa:
“Denominar-se-á privado o agir do sujeito em uma posição intersubjetiva tal que se
encontre protegido da presença, do olhar do ser agredido pelos outros membros dos
múltiplos sistemas intersubjetivos dos qual forma parte. Seria uma prática externa ao
campo político” (2007, p.21). Nesse tipo de relação sempre existem participantes, pelo
menos dois, não permitindo assim, que se perca a dimensão privada da relação. Seria
por exemplo, os que participam na esfera daqueles que estão por assim dizer
‘próximos’, ou seja, os “familiares”. Por outro lado, diferentemente do espaço privado
em que o cidadão está protegido do estranho, do que representa algum perigo, o
espaço político contrariamente, é o lugar em que o sujeito assume uma postura
intersubjetiva em um território comum com os outros. Assumindo desse modo, uma
posição que expressa visibilidade como ator que representa diante dos olhares de todo
o coletivo. Como afirma Dussel: “O público é o âmbito do visível e, por isso, o lugar
público mais imaginado possível é o da assembleia política dos representantes vistos e
observados responsavelmente pelos representados em seus interesses” (2007, p.22).
Sendo assim, tudo o que se manifesta fora do espaço público pelo político no
obscurantismo, se caracteriza como corrupção, uma vez que oculta ao representado
atos que não são “justificáveis à luz pública” (2007, p.22).
1.2 O PODER E SUA ORIGEM
Ao tratar do poder político em questão, Dussel denomina este poder coletivo
como ‘potentia’, isto é, o poder como potência. Isto significa afirmar em primeira
instância, que o ser humano diferentemente das demais espécies é um ser coletivo; em
segundo, que este poder enquanto potência originária da comunidade já é existente em
sua gênese. De modo que este poder se manifesta já na busca instintiva de garantir a
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própria sobrevivência na existência, ou seja, é a luta para perseverar na existência.
Esta deliberação espontânea para viver chama-se vontade, como afirma Dussel: “A
vontade de vida é a tendência originária de todos os seres humanos” (2007 p 25).
Vale dizer que a concepção de poder político desenvolvido na era moderna,
tendo a Europa como centro, traz no seu bojo uma definição profundamente
dominadora. Isto implica em afirmar, que os movimentos sociais da atualidade precisam
desenvolver de modo contrário a esta concepção, uma noção positiva do que significa
de fato o poder político. Assim, vontade de viver é a essência positiva, o conteúdo
como força, como potência que pode mover arrastar, impulsionar. Pode-se dizer então,
que a vontade é essa disposição do ser humano para lutar contra a morte, afirmando a
vida como primazia. Nesse sentido, os seres humanos precisam construir mecanismos
para sanar suas necessidades, que são, todavia, negação da condição de vida que tem
de ser também negada para assim poder conferir satisfação à sobrevivência humana.
Sobre esta questão, assim afirma Dussel: “Poder empunhar, usar, cumprir os meios
para a sobrevivência é já o poder. O que não pode faz falta a capacidade ou faculdade
de poder reproduzir aumentar sua vida pelo cumprimento de suas mediações”. (2007,
p.26). Sendo assim, a negação refere-se aquele que não detém o poder, isto é, em
razão de que não pode por sua própria vontade desenvolver algum tipo de ação ou
exercer alguma função institucional por si mesmo, em vista do seu próprio bem. Esta é,
portanto, a condição objetiva daqueles que são vítimas da negação.
Ao tratar sobre a materialidade, isto é, a condição de motivação do poder,
Dussel, na segunda tese sobre a política, assim descreve:
Neste sentido, quanto ao conteúdo e a motivação do poder, a “vontade de vida” dos membros da comunidade, ou do povo, já é a determinação material fundamental da definição de poder político. Isto é, a política é uma atividade que organiza e promove a produção, reprodução e aumento da vida de seus membros. (DUSSEL, 2007, p. 26)
Nesta perspectiva da análise, de acordo com a citação, estão postos os
fundamentos da materialidade em relação à política como expressão da atividade
humana, podendo assim, ser caracterizada como manifestação da “vontade geral” num
sentido mais amplo e abrangente.
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É preciso considerar então, a partir dessa orientação teórica, que há também a
implicação de um ‘consenso racional’ entre os membros da comunidade. Ou seja, que
juntando suas forças, unindo seus objetivos e intenções, terão maior possibilidade de
fortalecer a ‘Vontade de viver’ coletivamente e aumentar sua potência. Desse modo, ao
tratar dessa temática, Dussel, assim se expressa:
O consenso deve ser um acordo de todos os participantes, como sujeitos, livres, autônomos, racionais, com igual capacidade de intervenção retórica para que a solidez da união das vontades tenha consistência para resistir aos ataques e criar as instituições que lhe dêem permanência e governabilidade (DUSSEL, 2007, p. 27).
Isto significa dizer, que quanto maior for o poder de comunicação e participação
dos membros da comunidade de vida, tanto maiores serão as possibilidades de se
efetivarem as reivindicações dos membros coletivos. Isto permite, portanto, que o poder
soberano do povo fique protegido de qualquer agente externo e assim possa
proporcionar as condições objetivas de inovação.
Vale destacar ainda, outra dimensão também fundamental para concluir esta
descrição da faculdade do poder, ou seja, a que se refere às mediações denominadas
de técnicas estratégicas, que possam oferecer condições objetivas - científicas para o
exercício da vontade de viver no que tange ao consenso da comunidade ou do coletivo.
A isto, Dussel chama de “factibilidade estratégica”, assim descrevendo:
A possibilidade de realizar com a razão instrumental e empiricamente os propósitos da vida humana e seu aumento histórico, dentro do sistema de legitimação que se desenvolvem, e das instituições (micro sociais ou macro políticas), por sua vez, possíveis às outras duas esferas é então, a terceira determinação constitutiva do poder político. (DUSSEL, 2007, p. 28).
Assim, pode-se afirmar que o poder em quanto tal, é expressão da
comunidade, do povo. Sendo assim, não há como se tomar o poder, pois este pertence
sempre à comunidade política. Torna-se enfraquecida e debilitada, quando não se
manifesta como expressão da vontade coletiva. A manutenção desta prática de
intimidação e de violência é, por sua vez, ostentada pela força e o exercício que se
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tornam ao menos em sua aparência como algo legitimado. É, portanto, este fetiche do
poder que acaba por distorcer e causar destruição a política na sua essência como tal.
Como exemplo desse tipo de poder político, vale destacar os regimes totalitários. Estes
regimes se traduzem em modelos não políticos, uma vez que se apoderam da força e
da violência contra a vontade livre dos cidadãos.
Inversamente ao poder exercido pelo totalitarismo, assim denomina Dussel, o
poder como potentia: (…) “denominaremos, então, potentia ao poder que tem a
comunidade como uma faculdade ou capacidade que é inerente a um povo em quanto
última instância da soberania, da autoridade, da governabilidade, do poder político”.
(2007, p. 29). E prossegue descrevendo: “(...) Poderíamos dizer que o político é o
desenvolvimento do poder político em todos seus momentos.” (2007, p. 29). Nesse
sentido, se evidencia a dimensão conceitual do político enquanto poder em todos seus
momentos.
Pensando por este viés, é preciso considerar que somente a potentia como um
momento fundante do político não tem empiria, isto é, não possui existência real. Daí
segue que a concretização desse poder somente se efetivará como processo de
institucionalização, ou seja, no dado momento em que os sujeitos unidos pelo consenso
de suas vontades de vida, buscam criar as instituições atualizando assim, por meio da
ação política para poder dar concretude às funções do político. Sobre este momento da
transição da dimensão essencial para a constituição do poder organizado, assim
descreve Dussel.
O processo de um momento fundamental (potentia) a sua constituição como poder organizado (potestas) começa quando a comunidade política se afirma a si mesma como poder instituinte (…)Decide dar-se uma organização heterogênea de suas funções para alcançar fins diferenciados (DUSSEL, 2007, p. 32).
Denomina-se então, potesta, quando o poder que antes existia somente em
potência sem existência real e empírica para a organização do poder de forma
institucionalizada, como, por exemplo, o Estado.Este poder uma vez institucionalizado
poderá ser exercido de duas maneiras, isto é, quando se torna dominação despótica,
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pela força, pela violência de forma espúria, transformando-se em um poder fetichizado,
ou de forma obediencial, em que a soberania está como potência na comunidade
política, no povo. Desse modo, torna-se efetivo, quando institucionalizado por meio dos
instrumentos estratégicos e que também não se constitui no momento final. Sendo
assim, a política poderá ser exercida fazendo-se o uso devido ou de modo corrompido
das instituições (potestas).
É importante ressaltar ainda, que o poder político fundamental como potentia
poderá passar por um processo de objetivação ou de alienação na criação e
organização das instituições construídas historicamente com vistas ao exercício do
poder. Por outro lado, é possível também constatar que ao longo da história, desde seu
momento inicial, as instituições cumpriram com seu papel, ou seja, das reivindicações
populares. Porém, com o passar dos séculos, vão apresentando sinais de
enfraquecimento e já não respondem mais aos anseios e necessidades da comunidade
política. É preciso, então, dar novos rumos às instituições que vão se transformando em
poder fetichizado com a finalidade de preservação da burocracia. Como descreve
Dussel: “Quando isso acontece, a mediação inventada para a vida e para a democracia,
e seu aumento, começa a ser um caminho para a morte, a repressão, a dominação.”
(DUSSEL, 2007). Assim, a alienação se transforma na negatividade do poder
obediencial se manifestando como fetichização deste poder.
Ao tratar da categoria do poder como obediência, Dussel assim descreve:
O poder obediencial seria, assim, o exercício delegado do poder de toda autoridade que cumpre com a pretensão política de justiça; de outra maneira, do político reto que pode espirar ao exercício do poder por ter a posição subjetiva necessária para lutar em favor da felicidade empiricamente possível uma comunidade política, de um povo (DUSSEL, 2007 p. 40).
Desse modo, quem se propõe com sua subjetividade representar, precisa
representar obedecendo às decisões tomadas pela comunidade política, que detém a
soberania enquanto força fundamental, do contrário, se torna dominação do poder.
Sobre a necessidade da representação nas instituições (potestas), Dussel argumenta
fundamentando assim:
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Em seu sentido pleno, político, originário, a representação é uma delegação do poder para que seja exercido ou completo em 'serviço' dos representados que o escolheram como seu representante porque, sem diferenciação de funções heterogêneas, não é possível a reprodução e aumento da vida da comunidade, nem o exercício das instituições de legitimação, nem alcançar eficácia (Dussel, 2007, p. 41).
Sendo assim, embora a representação seja necessária é também ambígua, na
medida em que o próprio representante pode ser corrompido, ao governar em causa
própria ou de seu grupo. O que não elimina, entretanto, a necessidade da
representação. O que precisa de fato é ser definida, regulamentada, ter normatividade
para que seja justa e atenda aos interesses da comunidade.
1.3 O PODER FETICHIZADO
Em se tratando da questão relativa ao poder fetichizado é preciso começar pela
definição do conceito para esclarecer o que isto significa. Esta palavra tem sua origem
na língua portuguesa e significa feitiço, feito. Nesse caso, os feitos pelos humanos que
se transforma em ídolos; assim diz Dussel: “O caso de fetichismo e idolatria são
semelhantes. É um fazer “deuses” como produto da imaginação dominadora do ser
humano; desses “feitos” que depois são abordados como o divino, o absoluto, o que
origina o resto” (2007, p. 43).
Assim temos que, a relação representante-representado, sofre uma inversão,
uma vez que o poder da comunidade política torna-se o fundado, ao contrário, a
institucionalização do poder se transforma no elemento fundante nesta relação. O que
produz uma desconexão entre a representação da comunidade, do povo e o
representante, absolutizando assim, conferindo um caráter de poder autorreferente em
si mesmo.
Para ilustrar e fundamentar melhor esta questão referente à inversão do poder
pelo fetichismo destaca-se novamente um trecho das vinte teses de Dussel, que assim
se expressa:
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Fetichismo é esta inversão espectral: o fundado aparece como fundamento e
o fundamento como fundado. Esse é o “mistério fetichista do capital”, ou
seja, um modo de ocultação que distorce a interpretação, o conhecimento da
realidade, invertendo-a (DUSSEL, 2007, p. 45).
Do mesmo modo, na política o poder delegado originário da comunidade, do
povo, se transforma em centro como fundamento propriamente do poder político.
Assim, o poder se manifesta como poder do próprio governante.
Ainda, sobre o processo de fetichização do poder, vale destacar algumas
características derivadas desta relação invertida do poder. Inicialmente, importa dizer
que toda a forma de fetichização se constitui no que é chamada de vontade-de-poder
como mecanismo de dominação sobre o coletivo, o povo, que de fato, são realmente
excluídos pelo poder dominante. Assim sendo, toda e qualquer definição que não seja
esta, perde seu caráter qualitativo, ou seja, é encarada como coisa do idealismo que
não produz nenhuma eficácia. Nesse sentido, quando o poder é corrompido perde-se a
dimensão da comunidade como base de sustentação, obrigando-a desse modo, a
submeter às massas pela força quando se perdeu a hegemonia produzida pelo
consenso arbitrário sobre o coletivo.
Nessa mesma perspectiva da análise, é preciso dizer, que para exercer o poder
fetichizado se torna necessário sistematicamente enfraquecer o poder político fundante
da comunidade como potência. O poder político corrompido só obtém êxito, na medida
em que consegue destruir o poder originário que confere normatividade a toda política,
isto é, que se estabelece como fundamento do poder da comunidade política.
Além disso, o poder uma vez fetichizado, requer recompensa, ou seja, a
conseqüência decorrente daquele que exerce o poder político tendo-o como profissão,
quando o poder político se corrompeu, é a prática do enriquecimento. Ainda, no tocante
a prática do poder dominador, Dussel descreve o seguinte: “Trata-se de uma confusão
subjetiva inconsciente em que se entrecruzam a libido ou prazer do exercício despótico
do poder sobre o outro com a avareza na acumulação de seus bens, e no domínio
erótico de seus corpos” (2007, p. 48).
Nesse sentido, além da corrupção material na sua dimensão econômica, a
dominação se estende a outras instâncias, como por exemplo, no caso da mulher como
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dominação erótica, e também pedagógica, no tocante à educação. Sendo assim, não
mais representam como delegados do povo e se tornam agentes de dominação.
Vale dizer também, que os próprios partidos políticos se corrompem, na medida
em que seus membros desencadeiam um processo interno de competição entre si para
definir quem poderá ficar com a maior quota de poder no interior da instituição política,
visando assegurar seu interesse próprio. Disso decorre que a própria comunidade
acaba por desconfiar daqueles que possuem coerência ética em suas ações. Como
descreve Dussel: “Um partido moderno não é um mecanismo eleitoral, mas sim um
corpo de servidores públicos, com uma ideologia decantada, produzida, estudada,
efetivada em ações políticas sempre públicas” (2007, p. 49).
Pode-se afirmar, portanto, que é possível haver corrupção também, nos grupos
populares e até mesmo entre povos inteiros. Isto pode ocorrer quando uma população,
por exemplo, se mantêm em silêncio diante das atrocidades que massacram povos na
sua inocência, como o que já tem acontecido no caso do povo judeu no período entre
guerras, no Afeganistão, e tantos outros.
No tocante, ao que na perspectiva dusseliana, é chamado de princípios
normativos inerentes à política, tem a ver com o conteúdo da materialidade política, isto
é, diz respeito a tudo aquilo que perpassa o campo político. Desse modo, é preciso
levar em conta o fato de que a relação entre ética e política tem sido analisada de forma
inadequada. Assim, pode-se dizer que esta relação fica limitada, em razão do fato de
que a ética é entendida como dever singular e subjetivo e, por outro, a política sofre
uma determinação exteriorizada de maneira coativa, ou seja, ficando assim prejudicada
no âmbito normativo. Além disso, costuma-se também falar de uma ética política, o
que de certa maneira reforça a ambiguidade conceitual. É preciso entender que a ética
não depende de algo que esteja fora dela mesma, ou seja, os princípios éticos políticos
são éticos por si mesmos, não havendo, portanto, necessidade de princípios
extrínsecos para o exercício da política.
Pensando por esta orientação teórica, em relação aos princípios normativos,
Dussel propõe a seguinte análise:
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Em primeiro lugar, é necessário aceitar que a ética tem princípios normativos universais. Mas a ética não tem um campo prático próprio, já que nenhum ato pode ser puramente ético. Sempre é exercida em algum campo prático concreto (econômico, político, pedagógico, esportivo, familiar, cultural, etc). Por outro lado, a obrigação ética se exerce de maneira distinta em cada campo prático ( DUSSEL, 2007, p. 75).
Neste sentido, os princípios éticos são absorvidos pelos princípios políticos que
os transformam em processos normativos da própria política. Isto significa dizer, que
estes princípios são inerentes e pertencentes ao poder da comunidade e das
instituições produzidas por ela. Ainda sobre esta questão, Dussel assim descreve:
Os princípios políticos constituem, fortalecem e regeneram por dentro, obrigando os agentes a afirmar a vontade de vida no consenso factível de toda comunidade, em suas ações em vista da hegemonia (como poder obediencial) e respirando o cumprimento das tarefas de cada esfera institucional (...) (material formal de legitimidade e de factibilidade eficaz (DUSSEL, 2007, p. 75)).
Sendo assim, aqueles que não observam os princípios normativos da política
não só se tornam injustos, mas contribuem para enfraquecer e corromper o poder e as
próprias ações, provocando e desencadeando desse modo, um processo de
autodestruição, distanciando o poder das instituições de suas origens verdadeiras que é
a comunidade, o povo.
Assim sendo, ao referirem-se aos princípios normativos políticos podemos
apontar para três princípios fundamentais, quais sejam: o princípio material, o formal e
o de factibilidade. O primeiro refere-se ao conteúdo da política, isto é, concerne à vida
dos cidadãos; o segundo, diz respeito ao cumprimento em vista da legitimidade
democrática. Já o terceiro, aponta para o que é tão somente possível. Estes princípios
por sua vez não existem separadamente, atuam de forma mútua e dialeticamente.
18
1.4 A CRISE CAPITALISTA E A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
Como nos lembra Frigotto, em relação ao tema da crise do capitalismo a partir
dos anos 70, várias são as análises que revelam a impactação desta crise em âmbito
planetário; que os acontecimentos mais importantes ocorreram nos finais dos anos 80.
Como afirma Frigotto: “Nunca mudou tanta coisa em tão pouco tempo, exclamam uns;
nunca houve tanto fim sentenciam outros.” (1996, p.59).
Nesta perspectiva de compreensão, alguns admitem que a crise represente o
término do projeto de uma nova sociedade nos princípios do socialismo, também
seriam o cessamento das ideologias, das classes sociais das relações sociais do
trabalho, da planificação e até mesmo o fim da história, Sustenta-se por outro lado, a
reafirmação da supremacia dos caminhos considerados como “naturais do mercado”
como evidências da necessidade de retorno a estes princípios.
Analisando pelo viés de outra perspectiva, como acentua Hobsbawm, esta não
representa uma forma de apreensão para a atual crise de modo mais pertinente. Assim,
o que se manifesta é uma crise mais ampliada na estrutura do modo de produção
capitalista que por um lado, se materializa pela crise do socialismo real e por outro, pela
decadência de um longo período de acumulação do capitalismo. Como nos lembra
Frigotto, referindo-se ao problema de natureza político-econômica revelada pela crise
da década de 30, em que os desdobramentos manifestavam-se por um lado, no
desemprego em massa, e, por outro, através da enorme redução na taxa de
acumulação. O que resultará em grande impacto na reprodução da força de trabalho.
Esta mesma questão retorna a partir dos anos 70, porém, com outra configuração e
materialidades diferentes. Nesse sentido, salienta Frigotto:
Os longos 50 anos de sustentação, mediante o fundo público da acumulação capitalista, onde o financiamento da reprodução da força de trabalho é, entre outros, um aspecto importante, permitiu ao capital (associado ao Estado) um longo período de intensa reprodução ampliada e investimento pesado no avanço tecnológico. (FRIGOTO, 1996, p.60)
19
Isto representou como afirma o autor, em decorrência da acumulação elevada
de capitais, especialmente no coração do capitalismo central, em um enorme
desenvolvimento da base tecnológica no processo de produção, com influências boas e
ruins em relação ao trabalho. Esta nova realidade, portanto, traz em cena um conjunto
de novos fatores que conjugados, ou seja, modificado em seu conteúdo, coloca nova
discussão, como também, mudada em relação à quantidade e qualidade, com
exigências de novas demandas de qualificação do trabalhador. Desse modo, a forma
excludente na qual se funda as relações sociais de produção, acaba impondo a
necessidade de que o trabalhador neste contexto tenha que lutar para manter-se ou
para se transformar em mercadoria. Para elucidar essa questão, assim descreve
Frigotto:
O desemprego estrutural e o subemprego que atingem o coração do capitalismo desenvolvido e de forma mais perversa, com frágeis forças de resistência, o Terceiro Mundo e a degradação ecológica resultam de um movimento de reorganização e regionalização do capitalismo e da estruturação de um novo regime de acumulação capitalista, sob a égide, como bem explicita N. Chomsky, (1993: 6) dos “novos senhores do mundo” ou “do governo mundial de fato”: Fundo monetário Internacional, Banco mundial, grupo dos sete países mais industrializados e o seu Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT). Este novo governo mundial tem na privatização do conhecimento e nos processos de exclusão suas armas básicas. Por certo, esta forma de resposta não é nem a única, nem a humanamente desejável. (FRIGOTTO, 1996, p.61)
Vale destacar aqui, a relevância e a necessidade de se compreender a
natureza e a dimensão desta crise e seu preço para a enorme parcela da humanidade
brutalmente excluída, assim como, as alternativas de enfrentamentos. Portanto, é, no
contexto de compreensão deste fenômeno, que se revela por um lado, através de uma
base de compreensão teórica conhecida como neorracionalista que se pauta pelo
discurso do fim da sociedade do trabalho, bem como, da centralidade do trabalho na
vida humana, pelas defesas neoconservadoras fundadas na ideologia da primazia do
mercado como ente regulador das relações sociais, em detrimento do sistema político,
e por outro lado, pela relação do conjunto dessas questões, com as possibilidades de
caminhos que se apresentam sinalizando a educação e a formação dos sujeitos.
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Em se tratando dessa temática, em especial, no tocante a lógica do modo de
produção capitalista, Frigotto elucida a questão, assim descrevendo:
A exploração capitalista diferencia-se da exploração dos modos de produção precedentes por inscrever-se no próprio processo social de produção mediante a separação entre a esfera econômica e a política e pela unificação da produção e apropriação da mais-valia. (FRIGOTTO, 1996, p.63)
Assim sendo, o capitalismo forja na sua lógica, a falsa ideia de uma liberdade
absoluta, desenvolvendo nesse sentido uma compreensão de igualdade do ponto de
vista teórico na qual se assenta também, a ilusória concepção abstrata de cidadania.
Como lembra Frigotto:
Trata-se de uma ilusória liberdade na medida em que as relações de força e de poder entre capital e trabalho são estruturalmente desiguais. É sob esta ilusão e violência que a ideologia burguesa opera eficazmente na reprodução de seus interesses de classe (FRIGOTTO, 1996, p.64).
Contrariamente, ao que postulou teóricos fundamentalistas do projeto
neoliberal, de uma visão harmônica em relação ao processo histórico do capitalismo,
pode-se assegurar que as leis que regem a história são contraditórias e conflitantes.
Como argumenta Frigotto: “O caráter contraditório do capitalismo, que o leva as crises
periódicas e a ciclos abruptos e violentos, como o demonstra Marx ao analisar a
natureza do capitalismo e a sociedade capitalista nascente, não advém de algo externo,
mas deriva da dominação do capital e exploração do trabalho.” (1996, p.64) Ainda nesta
mesma perspectiva da análise, continua afirmando o autor:
O caráter contraditório (de crise, portanto) do modo de produção capitalista explicita-se, historicamente e em formações sociais específicas, de formas e conteúdos diversos, porém, inexoravelmente, pela sua própria virtude de potenciar as forças produtivas e por sua impossibilidade de romper com as relações sociais de exclusão e socializar o resultado do trabalho humano para satisfazer as necessidades sociais coletivas. Paradoxalmente, mesmo com mais de dois terços da humanidade passando fome ou morrendo de fome, a
21
crise do capital é, hoje, de superacumulação estatalmente regulado. (FRIGOTTO, 1996, p.65).
A crise como argumenta o autor, é inerente a natureza das relações sociais de
produção e à própria lógica do modelo de produção capitalista. Isto posto, pode-se
afirmar que não há como se admitir, a partir, ou com base neste modelo de organização
das relações sociais, alguma perspectiva de socialização coletiva da produção no
sentido de satisfazer os interesses da humanidade, haja vista que, o processo de
exclusão social é condição para que o capital possa auferir as desejáveis e altíssimas
taxas de lucros, objetivando, e alcançando, desse modo, apesar das crises cíclicas e
periódicas a realização de seu projeto. Isto é, a enorme contração da riqueza produzida
em detrimento da miséria de uma significativa parcela da humanidade. Assim, como
lembra Frigotto: “(...) Na busca de suplantar a crise o capitalismo vai estabelecendo
uma sociabilidade onde cada novo elemento que entra para enfrentá-la constitui, no
momento seguinte, um novo complicador” (1996, p.66).
É, portanto, necessário considerar que a crise mais recente do capitalismo a
partir dos anos 70, perpassando as décadas de 80 e 90, traz consigo um grau de
complexidade, que implica em considerar que os enfrentamentos de superação
poderão trazer consequências excludentes e destrutivas jamais vistas até então, ainda
que, possa haver possibilidades de um novo conjunto de conquistas dos trabalhadores.
Nesse sentido, o processo de reestruturação do capitalismo revela imediatamente uma
diferenciação em termos de perspectivas e de preço a ser pago pela humanidade.
Principalmente, em relação aos países do norte e da região sul do planeta, em especial,
no tocante a América latina.
Importa salientar, que de modo contraditório, a crise exposta pelas análises,
além de apresentar um caráter globalizante, constituem suas raízes nos processos e
estratégias de superação na própria crise do capitalismo dos anos 30. Assim sendo,
pode-se afirmar que o Estado de Bem-Estar não deu conta de frear um modelo de
desenvolvimento econômico e social concentrador e ao mesmo tempo excludente. Este
modelo de desenvolvimento baseado na brutal concentração de capital e na exclusão
22
social e, que ficou conhecido teoricamente como modelo keynesiano, é também,
caracterizado como modelo fordista e neo-fordista de produção.
Como já dissemos este modelo de produção, se insere no contexto mais amplo
de constituição e desenvolvimento do Estado de Bem-Estar, respaldado pelas teses
keynesianas, com a finalidade de intervenção no sistema econômico na intenção de
salvaguardar o colapso do capitalismo de maneira generalizada. Assim sendo, esta
concepção num primeiro momento, articula a ideia de Estado-nação, e, num segundo
momento, de Estado de Bem-Estar, seja na perspectiva da democracia ou dos regimes
totalitários. Nesse sentido, os regimes sociais-democratas se colocam como
alternativas para o capitalismo, assim como, as propostas socialistas e comunistas.
Assim, para elucidar estar questão, Frigotto descreve:
Nesse contexto como nos mostra Hobsbawm,(1992b) o sistema capitalista incorpora idéias da planificação socialista e principia quadro de recuperação e de estabilidade. O Estado de Bem-Estar vai desenvolver políticas sociais que visam à estabilidade no emprego, políticas de rendas com ganhos de produtividade e de previdência social, incluindo seguro desemprego, bem como as políticas dos Estados de Bem-estar social direto á educação, subsídio no transporte etc. (FRIGOTTO, 1996, p.70).
Neste sentido, pelo viés da mesma análise, continua o autor:
O fundo público, em suas diversas formas, passou a ser o pressuposto do financiamento da acumulação de capital de um lado, e, de outro, do financiamento da reprodução da força de trabalho, atingindo globalmente toda a população por meio dos gastos sociais. (FRIGOTTO, 1996, p. 70)
Vale ressaltar, que desta relação contraditória, no que se refere à dinâmica da
relação entre o financiamento do processo de acumulação privada do capital e ao
mesmo tempo a reprodução da força de trabalho, tendo como espinha dorsal o
financiamento público, advém vários desdobramentos, que até então, só seria
admissível numa economia de caráter socialista.
Assim sendo, o modelo capitalista produziu uma significativa proporção de bens
e serviços que possibilitou que grande parcela da população tivesse um padrão de vida
jamais visto há algumas décadas atrás. Nesse sentido argumenta Frigotto: “É, graças
23
ao Estado de Bem-estar social, que os pobres possuem um abrigo contra os ventos do
infortúnio. Por isso, indica Hobsbawm, o argumento de que só o socialismo elimina a
pobreza, o desemprego, neste contexto, enfraqueceu” (1996, p.72).
Desse modo, aquilo que durante muito tempo foi caracterizado como algo
exclusivamente inerente a economia socialista, acabam por se tornar objeto de
cooptação do modelo capitalista, especialmente, no tocante ao sistema de planificação
da economia e no que se refere à propriedade estatal do sistema produtivo. Nesta
perspectiva da abordagem, afirma Frigotto:
No âmbito do caráter contraditório da relação do fundo público com o financiamento do capital privado e a reprodução da força de trabalho, outras consequências fundamentais advêm tanto na perspectiva do capital quanto do trabalho e face à crise, engendram alternativas com custos sociais e humanos muito diversos. (FRIGOTTO, 1996, p.72-73)
Ainda, seguindo esta orientação teórica e, observando as contradições do
modelo keynesiano, de teorização política como característica de intervenção no
sistema econômico principalmente no período pós-2ªguerra, observa-se um processo
de aparecimento de imensa quantidade de bens e serviços públicos na forma de
antimercadorias sociais e simultaneamente uma desmercantilização profunda da
reprodução da força de trabalho. Como desdobramento necessário desta situação, tem-
se um enorme embate no campo dos direitos que agora se desloca da esfera privada
para o espaço público, como descreve Frigotto: “A consequências política, crucial,
deste processo é que o embate por estes direitos se deslocou da esfera privada para a
esfera pública.” (1996, p.73).
De acordo com as análises apresentadas, fica, portanto, evidente os limites do
modelo de desenvolvimento posto em questão, já nos finais dos anos 60, em razão de
um conjunto de fatores conjugados entre si. Nesse sentido, verifica-se a progressiva
saturação deste modelo de desenvolvimento econômico e social, e a consequência da
crise do Estado de Bem-Estar social, como afirma Frigotto: “se explicita pela crescente
incapacidade de o fundo público financiar a acumulação privada e manter as políticas
24
sociais de reprodução da força de trabalho,” (1996, p.73) em que fragilizam os próprios
regimes políticos balizados pelo viés da social democracia.
Vale salientar que, simultaneamente ao processo de crise do modelo que
desencadeia no final da década de 60, é também visível, o retorno ao que ficou
conhecido como as “leis naturais de mercado”, como mecanismo de regulação
econômica e social. Nota-se, todavia, a retomada dos princípios do clássico liberalismo,
agora reconfigurado no ideário das políticas neoliberais com profunda ênfase na defesa
do Estado mínimo. Assim, como afirma Frigotto, a questão fundamental não se refere
ao Estado mínimo ou Estado Máximo, mas qual Estado. Como argumenta F. De
Oliveira, na lógica dos conservadores não há interesse em diminuir o Estado em todas
as esferas de atuação, mas tão somente no que tange ao estreitamento de sua face
pública. Para elucidar essa questão, assim descreve Frigotto:
(...) seu objetivo é dissolver as arenas específicas de confronto e negociação, para deixar o espaço aberto a um Estado Mínimo, livre de todas as peias estabelecidas ao nível de cada arena específica da reprodução do capital. Trata-se de uma verdadeira regressão, pois o que é tentado é a manutenção do fundo público como pressuposto apenas do capital. (FRIGOTTO, 1996, p.81)
Nesta orientação da análise, observa-se que com o retorno às leis puras do
mercado, há também, uma retomada das principais teses conservadoras de F. Hayek
dos anos 40 e mais recentemente de M. Friedman, a partir dos anos 70, como artifícios
teóricos de enfrentamento e superação da crise. Em especial, as ideias postuladas por
M. Friedman no tocante ao financiamento público da educação são utilizadas
atualmente, como instrumentos de legitimação política da ausência do Estado neste
setor.
Desse modo, o processo de enfrentamento e superação da crise do Estado de
Bem-estar social, não implica a volta às leis de mercado e nem mesmo, ao regime
social democrata, uma vez que o financiamento público como estratégia constituía na
sua própria viabilidade é a razão de ser. O fato é que na lógica de uma economia
transnacionalizada, o fundo público se torna incapaz de atender e alavancar a
reprodução do capital, bem como, a força de trabalho.
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Do mesmo modo, outras estratégias alternativas, como os chamados “estilos de
vida alternativos” individuais ou de forma coletiva, assim como, outras formas ainda, de
regulação proposta pelos documentos oficiais da igreja, não representam formas de
solucionar os reais problemas enfrentados no momento atual. Sobre isto, descreve
Frigotto:
Os problemas do globo que hoje pode torna-se inabitável pelo mero crescimento exponencial em produção e poluição, sem mencionar a capacidade tecnológica de destruição demonstrada pela Guerra do Golfo, e os problemas de um mundo dividido em uma vasta maioria de povos famintos e Estados extraordinariamente ricos, não podem ser resolvidos desta maneira. Mais cedo ou mais tarde exigirão ação sistemática e planejada nacional e internacionalmente e uma investida contra as fortalezas centrais da economia de mercado de consumo. Exigirão não apenas uma sociedade melhor que a do passado, mas como sempre sustentaram os socialistas, um tipo diferente de sociedade. (FRIGOTTO, 1996, p.82)
De acordo com a abordagem de vários pensadores, os projetos de construção
de outro modelo de produção econômico social, a partir das crises, tanto do modelo
keynesiano, do Estado de Bem-Estar social, como do socialismo real, não comportam
fórmulas acabadas, mas implicam na construção de uma realidade que, por um lado,
possibilitem produzir as condições objetivas de construção de um novo projeto visando
romper com a essência do capitalismo em todas as formas e, por outro, viabilizar a
criação de sujeitos políticos que possam atuar no processo histórico com vistas à
concretude destes objetivos. Nesta perspectiva da análise, a passagem e superação
deste modelo impõem as exigências de radicalização do regime democrático.
Nesse sentido, como lembra Frigotto, não há outro caminho de superação a
não ser pela ampliação dos fundos públicos, que implica necessariamente num regime
de democracia representativa, tanto no que se refere ao método, quanto na forma e no
conteúdo. Isto seria, portanto, os caminhos a serem percorridos de dentro do próprio
modelo de produção econômico numa sociedade classista, com a finalidade de fazer
contraposição ao modelo de exclusão do mercado e do capital, no intuito de construção
de uma nova sociedade não excludente e igualitária”.
Em se tratando, das alternativas de reordenação e reorganização da estrutura
capitalista em nível mundial, na ótica da reestruturação neoconservadora, vale lembrar
26
os custos sociais e humanos em decorrência dos ajustes realizados para o enfreamento
da crise representa a busca de um novo modelo de acumulação de capital e regulação
social, o que implica necessariamente como desdobramento, uma brutal exclusão
social. Como chama atenção Frigotto, nesta análise, descrevendo o seguinte: “A ideia
de custos sociais e humanos materializa-se pelo aumento da miséria absoluta, da fome,
da violência, doenças endêmicas e pelo desemprego e subemprego estrutural que
atinge de modo diferenciado os países do cone Norte e Sul” (1996, p.84).
Assim sendo, no bojo da crise deste modelo de acumulação e de
regulamentação social, é perceptível o aprofundamento da desorganização no que
concerne ao mercado em nível mundial e a disputa entre os capitalistas, principalmente,
do sistema financeiro, simultaneamente se busca também, novas formas de
reordenamento e regionalização visando à divisão do planeta.
Como salienta o autor, diferentemente das formas tradicionais, em nossos dias
a forma de subjulgar encontra-se cada vez mais sob o controle das corporações
suplanacionais, bem como, as instituições financeiras que detém o poder de decisão e
controle em nível planetário.
Desse modo, os processos de dominação se manifestam de variadas formas,
Como por exemplo, através dos organismos que detém e impõe as leis de patentes aos
países do terceiro mundo por meio de um nefasto processo privatizante e
monopolizante do conhecimento. Como argumenta Frigotto, sobre as consequências
desse processo: “A privatização do conhecimento é, ao mesmo tempo, uma forma de
aumentar a polarização da riqueza social e do poder e uma ameaça à própria espécie
humana” (1996, p.85).
Assim, o capital por seu caráter excludente, ao invés de propiciar as condições
para melhorar a vida humana, através do desenvolvimento tecnológico pode se
transformar em mecanismo de alta destruição como revela a OIT, com a seguinte
observação: “A tecnologia empobrece o terceiro mundo.” (1996, p.87).
O que se pode notar, nesta perspectiva da análise, é que basicamente todos os
países da AL se fazem submissos aos ajustes dos grandes centros de decisão do
capitalismo. Nesse sentido, para elucidar esta situação Frigotto afirma o seguinte: “(...)
Os países industrializados reduzem as rendas nacionais do sul do planeta em cerca do
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dobro à ajuda financeira concedida à região. Isto constrói um quadro de profunda
perversidade da relação Norte/Sul” (1996, p.87).
Esta análise apresentada pelo autor citado contribui no sentido de nos ajudar a
compreender melhor a situação da realidade social, em especial na A.L, a partir das
fórmulas determinadas pelo receituário das políticas neoliberais de ajuste fiscal, de um
modelo de política monetária e de um perverso processo de privatização do fundo
público de investimento, desencadeando consequências, como já foram acentuadas
anteriormente, que se concretiza em situação de extrema miséria neste ponto, como
salienta vários autores, ao analisar a realidade de pobreza deste continente, a partir,
dos dados apresentados, como descreve Frigotto: “(...) que ao lado das ilhas de riqueza
e ostentação, aninham-se o abandono infantil, a fome, a miséria, as doenças
endêmicas e, consequentemente a morte prematura.” (1996, p.89).
Ainda, sob a mesma orientação teórica, o autor continua observando os
seguintes dados, que são, sobretudo, reveladores: “O número de crianças
abandonadas (meninos e meninas de rua) na América Latina é de aproximadamente 10
milhões. Trata-se de um contingente que tem crescido e que atinge, sobretudo, os
grandes e médios centros urbanos.” (1996, p.89).
Assim, ao analisar a realidade da América Latina na sua forma mais ampla, fica,
portanto, evidenciado que a lógica, sobre a qual se assenta os interesses
neoconservadores, impõe um custo altíssimo aos países latinos americanos. Com a
aplicação do receituário político neoliberal, representando desse modo, uma brutal
violência sobre as condições de vida da grande maioria da população deste continente.
1.5 ANÁLISE DA CONCEPÇÃO DE TRABALHO E O FIM DAS CLASSES SOCIAIS
NO CONTEXTO CONTEMPORÃNEO
Ao analisar e formular a crítica aos teóricos e defensores das ideias de não
centralidade do trabalho e o fim das classes sociais na era contemporânea, Frigotto,
nos evidencia com muita propriedade teórica, as fragilidades dessas análises pela
escassez de fundamentação epistemológica e, ao mesmo tempo, inúmeros equívocos
no tocante a análise sobre a concepção ontológica da categoria trabalho.
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A questão central, e ao mesmo tempo problemática, sobre as análises de
Schaff e de Kurz, argumenta o autor, refere-se à questão do que ele chama de
“determinismo tecnológico de autodestruição do capitalismo.” (1996, p.122) Isto se dá,
em razão do fato de que, estes autores propõem uma forma de definição do fim das
classes sociais, sem que a relação capital-trabalho que as produz tenha desaparecido.
Assim, sobre os riscos de um determinismo tecnológico posto em defesa pelos autores
citados, Frigotto descreve o seguinte:
A questão central que precisarmos aprofundar é que as análises que se fixam na apreensão das diferentes “revoluções tecnológicas” no plano descritivo, em seus efeitos positivos ou negativos, acabam por borrar a problemática central dos mecanismos, das forças sob as quais as mudanças ou “revoluções tecnológicas”, nascem se difundem e incidem sobre o trabalho, os valores, o tempo livre e a vida em seu conjunto. (FRIGOTTO, 1996, p.122)
A partir da mesma orientação teórica, o autor revela-nos o equívoco do
chamado “fetichismo tecnológico” que distorce e esconde a realidade daquilo que o
produziu. Ou seja, camuflando as relações sociais que as produzem. Desse modo, para
elucidar esta questão, o autor ao analisar a relação trabalho e qualificação, evidencia
que este fetichismo se desenvolve na perspectiva da seguinte lógica: “A ciência
determina a tecnologia, a tecnologia impõe o tipo de organização de trabalho, o tipo de
organização de trabalho determina as qualificações e, por extensão, as exigências de
ensino e da formação humana.” (1996 p123).
Ainda, analisando esta questão pelo mesmo viés, pode-se afirmar, em relação à
crítica na perspectiva do pensamento dos defensores de um determinismo tecnológico,
de que o progresso da tecnologia, portanto, dos processos automatizados, que viriam
acabar com os trabalhos desqualificados, sistemáticos e nocivos, não confere
existência desse tipo de trabalho por si mesmo. Assim, o que existem são formas
prejudiciais e desumanizadoras de um determinado tipo de trabalho. Isto nos mostra,
como sinaliza o autor: “que o problema esta na forma de organização e divisão do
trabalho, nas relações de trabalho sob as relações capitalistas e não na natureza em si
do trabalho, definida uma vez para sempre.” (1996 p125).
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Nesse sentido, o grande desafio é criar as condições objetivas de superação
visando o rompimento com os modelos pragmáticos de relações sociais capitalistas.
Sendo assim, para elucidar este processo de superação, sem, contudo, excluir a
categoria trabalho em sua perspectiva ontológica de humanização e de liberdade e
necessidade humana. Sem admitir, do mesmo modo, o fim das classes fundamentais,
Frigotto faz a seguinte afirmação:
Esta travessia não se dará quer pelo concurso, pura e simplesmente, da “revolução tecnológica”, “ação comunicativa”, “razão sensível” de um embate de forças cuja configuração cada vez mais opaca não elide sua existência, as classes e grupos sociais, mas os pressupõe. A radicalização da luta democrática e neste movimento o controle, “acesso e manejo” do fundo público na dilatação dos direitos e das conquistas das classes subalternas, como nos mostram Francisco de Oliveira, Hobsbawm e Anderson, entre outros, constituem-se no campo de definição da desmercantilização do conjunto das relações sociais e o terreno sobre o qual se desenham como nos assinala Oliveira, as “formas sociais do futuro. (FRIGOTTO, 1996, p.133)
É, portanto, no contexto dos resultados da profunda crise do modelo
Keynesiano do Estado de Bem-Estar Social, do regime da social democracia e da
retomada do receituário das políticas neoliberais de formatação de um mínimo, que
circunscreve na perspectiva teórico-histórico, os reais significados das teses da
formação do caráter polivalente e da educação geral abstrata, articulados
simultaneamente no bojo da ideologia do projeto neoliberal.
Ao desenvolver a análise no tocante as políticas de redução do espaço público
articulado às propostas de formação desenvolvida, principalmente, nas últimas décadas
por este receituário político, Frigotto, assim descreve:
O embate que se efetiva em torno dos processos educativos e de qualificação humana para responder aos interesses ou às necessidades de redefinição de um novo padrão de reprodução do capital ou do atendimento das necessidades e interesses da classe ou classes trabalhadoras, firma-se sobre uma mesma materialidade, em profunda transformação, onde o progresso técnico assume um papel crucial, ainda que não exclusivo. (FRIGOTTO, 1996, p.139)
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Fica claro, a partir dessa análise, que há uma realidade constituída de um
profundo antagonismo que se conflita por um lado, com as necessidades de reprodução
do capital, e, de outro, pelas várias necessidades humanas. Nesse sentido, coexiste no
âmbito da totalidade, uma realidade antagônica que tem sua definição produzida pelo
processo histórico, a partir da correlação de forças dos múltiplos e diferentes grupos e
classes sociais. Sendo assim, o auto grau de desenvolvimento da tecnologia, que por
sua vez dispõe da capacidade de satisfazer e realizar as necessidades humanas e
propiciar também a liberdade, tem se movido pela lógica do capital e pela sua voraz
obsessão em busca do lucro. O que não constitui em algo natural, mas, é inerente ao
processo de construção histórico.
1.6 A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL
POLIVALENTE, NA PERSPECTIVA DO RECEITUÁRIO POLÍTICO NEOLIBERAL .
Nesta perspectiva, para dar conta de atender as reivindicações das novas
formas de organização do capital, estabeleceu-se um novo “modelo ideal” de
trabalhador que apresente as características seguintes: que tenha iniciativas, equilíbrio,
acessibilidade, flexibilidade e disposição no trabalho em equipe, mais ainda,
responsabilidade no compromisso com a empresa, dentre outras.
Analisando por este viés, parece haver concordância entre os atores envolvidos
neste processo da análise, de que a realidade que se apresenta pela nova dinâmica do
capital, através do processo de transformação na área da microeletrônica, exige da
sociedade um modelo de formação, na perspectiva de produzir indivíduos que estejam
em conformidade e que tenham condições de responder às novas demandas de uma
realidade que se transforma com uma velocidade jamais vista até então. Assim sendo,
o novo modelo de educação profissional ideal para responder as necessidades do
capital, teria que se pautar pelas orientações impostas por esta mesma lógica, ou seja,
a corrida em busca da acumulação. Sobre esta questão, assim descreve Rodrigues:
“Todos parecem concordar que a formação profissional de novo tipo precisa alicerçar-
31
se na sólida educação geral, no conhecimento dos fundamentos técnico-científicas, que
sustentam as novas tecnologias”. (2010, p.112).
A partir dessas observações, vale ressaltar, que enquanto estiver orientando-se
pela tentativa de encontrar respostas no sentido de uma adequação dos processos
formativos a partir das constantes mudanças no tocante ao ideário empresarial, a
realidade educacional e escolar estará limitada e condenada aos planos pedagógicos
pautados pelos interesses do capital.
No que se refere à concepção de trabalho, como analisa Frigotto, é possível de
se observar também, uma crise de natureza teórica que se traduz em manifestações de
forma mais imediata, através de um processo que torna homogêneo o discurso crítico,
cuja postura prática acaba por interiorizar as filosofias, humanistas, positivistas e
funcionalistas. Assim sendo, a forma hegemônica que sustenta o conjunto das ações, é
sem sombra de dúvida, a concepção burguesa de trabalho e de educação, ou seja, é a
partir dessa lógica que se constitui e se faculta o trabalhador. Sobre esta concepção,
assim se expressa, Frigotto:
A concepção burguesa de trabalho vai-se construindo, historicamente, mediante a um processo que reduz a uma coisa, a um objeto, a uma mercadoria que aparece como trabalho abstrato em geral, força de trabalho. Essa interiorização vai estruturando uma percepção representação de trabalho que se iguala à ocupação, emprego, função, tarefa, dentro de um mercado (de trabalho). Dessa forma, perde-se a compreensão, de um lado, de que o trabalho é uma relação social e que esta relação, na sociedade capitalista, é uma relação de força, de poder e de violência; e de outro, de que o trabalho é a relação de força fundamental que define o modo humano de existência, e que, enquanto a reprodução físico-biológica (mundo da necessidade), mas envolve as dimensões sociais, estéticas, culturais, artísticas, de lazer etc. (mundo da liberdade). (FRIGOTTO, 2004, p.14)
Nesse sentido, nota-se uma construção de concepção de mundo e da realidade
do trabalho numa perspectiva moralizante, conservadora e utilitária, de modo a tomar
as relações de trabalho na estrutura capitalista como se fossem relações naturais e
necessárias. É, portanto, por este viés e a partir dessa concepção, que a classe
burguesa formata seu ideário e sua suposta educação para o trabalho em todos os
32
espaços da ordem capitalista, procurando ao longo da história, transformá-lo em senso
comum.
Assim sendo, nos relata Frigotto, nessa perspectiva da analise, que há uma
inversão no tocante à metodologia da forma de apreender a relação trabalho e
educação. Assim descrevendo:
Esta inversão metodológica, que reflete não apenas a representação invertida – educação – trabalho -, mas a própria condução prática se evidencia pela não apreensão das relações de trabalho, as relações de produção, como práticas fundamentais que definiu o modo humano-social da existência e se constituem na fonte primordial do conhecimento e da formação da consciência. (FRIGOTTO, 2004, p.17)
Nessa mesma perspectiva da análise crítica, em relação à inversão
metodológica e do modo precário de entendimento do modelo de educação para o
trabalho, e, respectivamente, suas formas de interiorização da consciência humano-
social, continua Frigotto afirmando: “Na prática, a inversão aqui referida se explicita pela
ênfase que se tem dado à educação para o trabalho, para a produção, para o mercado
de trabalho sem uma crítica radical à forma que assumem as relações de trabalho.”
( 2004, p.17). Daí decorre a importância de se aprofundar a análise sobre a dimensão
em que as relações de trabalho vão assumindo ao longo da história, no sentido de
compreender a gênese e a essência das contradições que aparecem como resultados
dessas relações.
Assim, observa-se que a compreensão da relação entre educação e trabalho,
passa necessariamente por este viés. Isto implica, em compreender as características
específicas da escola não a partir dela mesma, mas pelo prisma das determinações
que estão na base, ou seja, das relações sociais de trabalho e das relações sociais de
produção. É preciso ter claro, portanto, que a forma como se da à produção do
conhecimento e o desenvolvimento da consciência crítica, tem sua origem nessas
mesmas relações. É também necessário compreender, que este saber produzido
historicamente se produz dentro de relações sociais determinadas e se manifesta com
a expressão e as características dos interesses dos donos do capital, ou seja, daqueles
33
que detém a hegemonia sobre estas relações. Não se trata como afirma Giraux, de um
saber neutro, trata-se de um conjunto de formas ideologicamente muito bem
construídas pelos representantes dos interesses do grande capital. Para evidenciar
essa questão, assim se expressa, Frigotto:
Igualmente, esse caminho nos permite resgatar a visão de que o conhecimento, a superação do senso comum e a formação da consciência política crítica se dão na e pela práxis. Práxis que resulta da unidade dialética entre a teoria e a prática, pensar e agir. Esta unidade por sua vez, não é mecânica, harmônica, mas traz a marca dos conflitos, avanços e recuos, do processo histórico. (FRIGOTTO, 2004, p.19).
Esta análise nos permite compreender sobre maneira, que as contradições
presentes nas relações sociais de produção capitalistas e, por conseguinte, o
conhecimento daí decorrente, pressupõe no âmbito de sua apreensão, em uma
orientação epistemológica que se constitui a partir e pela relação dialética da realidade,
consubstanciando-se em uma práxis da libertação, como afirma Dussel, em suas
análises, sobre o que chama de uma Ética para a libertação no processo do pensar
teórico-prático das ações humanas.
Importa ressaltar, como já assinalamos no início deste trabalho, no que se
refere aos processos de fetichização do poder, que além da inversão e, portanto, das
formas de corrupção nas relações do poder político, se faz também presente nas
relações de produção econômica e da produção do próprio conhecimento, como
descreve Frigotto:
É preciso atentar para o fato de que, juntamente com o fetiche do valor, cuja essência é o escondimento da origem da exploração e do lucro, da extração da mais-valia, existe o fetiche do conhecimento, do saber, que reduz este saber e este conhecimento à “verdade da burguesia”. Ao afirmar-se que existe um saber intrínseco do trabalhador e sua classe, quer se dizer que nas relações socais de produção e de sua existência, individual e coletivamente, mesmo sobre as condições adversas da sociedade capitalista, o operário produz conhecimento, detém um saber, tem uma determinada consciência da realidade. (FRIGOTTO, 2004, p.20).
34
Assim sendo, torna-se relevante, desenvolver uma reflexão na perspectiva da
análise, objetivando contextualizar a estrutura das crises do modelo de produção
capitalista, a partir principalmente, da segunda metade de século XIX, no intuito de
localizar a retomada dos princípios do projeto político liberal na modernidade, sob o viés
de uma nova roupagem caracterizada pela ideologia denominada neoliberal.
Assim, vale destacar o cenário da crise do Estado keynesiano ou de Bem Estar
Social, conhecido também como previdencialista. Isto posto, torna-se necessário, para
que possamos compreender, com mais profundidade teórica, valendo-se das análises
dos autores que dialogam com esta questão, como apresentado por Frigotto, onde
estabelece um profundo e importante diálogo com alguns intelectuais que desenvolvem
suas análises tendo como base de orientação epistemológica a teoria clássica
marxiana. Nessa perspectiva, destacam-se as contribuições de E. Hobsbawm, F. De
Oliveira; Carlos N. Coutinho e P. Anderson, principalmente, conhecidos também como
neomarxistas. Como também, os intelectuais que propõe uma discussão, conduzindo
suas análises pelo viés das reflexões no tocante ao fim das classes sociais, das
modificações no âmbito das relações entre capital e trabalho. Apontando desse modo,
para o aparecimento de uma nova configuração no bojo da recomposição capitalista, a
partir, especialmente, dos anos 70/80, no contexto do processo de reestruturação
produtiva no interior da lógica capitalista. Assim como, a superação dos modelos
taylorista-fordista de produção.
Isto posto, faz-se necessário, recolocar a discussão da relação capital-trabalho
e, em decorrência desses desdobramentos, ou seja, da nova dimensão que a categoria
trabalho vem assumindo nas últimas décadas, no contexto do ideário neoliberal,
colocando assim, novas exigências para se pensar a relação educação-trabalho e os
processos formativos escolares no âmbito da nova ordem de reestruturação produtiva
capitalista, impondo a necessidade de formação de outro tipo de trabalhador para além
dos modelos taylorista-fordista. Isto é, um trabalhador que tenha condições de se inserir
na lógica do modelo de produção capitalista com outras habilidades e competências.
Sobre essa questão, descreve Wolf:
35
A nova abordagem de gestão da produção encerrada nos PQTs está para a mundialização do capital assim como o taylorismo-fordismo estava para a produção padronizada e massificada típica do fordismo-keynesianismo, isto é, como uma organização para a subsunção real do trabalho ao capital. Contudo, essa subsunção agora se dá, para além da expropriação do saber operário, pela expropriação e objetivação das suas capacidades cognitivas, de criação, de iniciativa, enfim, pela apropriação da dimensão intelectual da sua atividade criativa. Requisitos que demandam um controle mais sutil da força de trabalho já que, sob a lógica da informatização, longe do capital se independentizar do trabalho vivo, mais do que nunca a nova maquinaria necessita de todo o potencial criativo do trabalhador para funcionar. Por isso que, na nova empresa flexível, integrada e informatizada, o envolvimento e participação dos trabalhadores colocam-se como um fator imprescindível para a produtividade. (WOLF, 2004, p.363)
Isto significa afirmar de antemão, que o novo modelo de educação para o
trabalho, recoloca na ordem do debate as exigências de uma educação de natureza
polivalente, com o objetivo de atender as novas formas de produção econômico-social
na era da transnacionalização de uma economia globalizada; como salienta Navarro,
em que a exacerbação da exclusão social se coloca como sendo a questão mais
crucial, além é claro, da destruição da vida no planeta.
Orientando-se por esta perspectiva da análise, vale aqui ressaltar, a questão
expressa nas palavras de Frigotto, ao tratar dessa temática relativa aos avanços do
progresso técnico e os processos de formação educacional e qualificação, e, no que
concerne às formas de resistência, quando afirma o seguinte:
Nesse sentido, a questão não é de se negar o progresso técnico, o avanço do conhecimento, os processos e de qualificação ou simplesmente fixar-se no plano perspectivo da resistência, nem de se identificar nas demandas dos homens de negócio uma postura dominante maquiavélica ou, então, efetivamente uma preocupação humanitária, mas de disputar o controle hegemônico do progresso técnico, do conhecimento e da qualificação, arrancá-los da esfera privada e da lógica da exclusão e submetê-los ao controle democrático da esfera pública para potenciar a satisfação das necessidades humanas. (FRIGOTTO, 1996, p, 139)
Assim, o que se evidencia pelas proposições apresentadas pelo autor, é que a
questão fundamental não implica em destacar a competitividade, as condições de
usufruir da liberdade, de uma formação de qualidade que proporcione melhores
condições de atuação para uma minoria em detrimento da exclusão da grande maioria.
36
Trate-se, de possibilitar através do desenvolvimento técnico-científico, um cenário que
viabilize a construção para as condições de produção da solidariedade, igualdade e a
radicalização da democracia.
Todavia, é bom lembrar, que em se tratando de uma proposta de formação
educacional, de qualificação, na perspectiva abstrata e polivalente, em articulação com
os postulados do Estado mínimo, torna-se difícil escapar novamente à lógica e os
princípios da exclusão. Analisando por este viés, fica, portanto, evidenciado que a
defesa teórica de uma sociedade contemporânea isenta de classes sociais, sem
exclusão, em que a ênfase se dá na centralidade do conhecimento e que todos
indistintamente, teriam acesso no âmbito de uma economia mundializada, traz no seu
arcabouço, uma intencionalidade profundamente ideológica. Para elucidar essa
questão, assim descreve Frigotto:
Se as perspectivas filantrópicas persistem, de várias formas, e retomam forças no interior do ajuste neoliberal, como a tese da sociedade do conhecimento que transforma o proletariado em “cognitariado”, elas convivem com demandas que o inventário da literatura internacional e nacional identifica como uma nova “qualidade” da educação escolar e dos processos de ou qualificação da força de trabalho. (FRIGOTTO, 1996, p.140-141)
O que se pode afirmar com base nas proposições apresentada pelo autor, é
que o processo de reorganização produtiva, implicou também, numa forma de
reconvergência do desenvolvimento tecnológico e de gestão do trabalho. Isto posto,
nota-se que, há por esta via uma espécie de discurso homogêneo em relação aos
interesses da classe empresarial, principalmente, no tocante aos processos de
qualificação e formação geral do trabalhador. Assim, fica notório, que no interior desse
discurso existe um conjunto de interesses que resultam num processo de conformação
da classe trabalhadora no contexto dessa lógica da reestruturação produtiva do capital.
Consideramos de grande relevância, apresentar aqui, no contexto dessa nova
realidade produtiva, os novos conceitos desenvolvidos pelos representantes do capital,
como: qualidade total, flexibilidade, integração, formação polivalente, e apologia da
educação geral. O que de fato, se consubstanciam em novas formas de organização
37
social, objetivando atender e satisfazer o novo modelo de acumulação, bem como,
encontrar mecanismos de reordenamento no contexto da economia mundial, Como
salienta Frigotto: “A inovações tecnológicas (...) Longe de serem “variáveis
independentes”, um poder fetidizado autônomo, estão associados às relações de poder
político-econômico e, portanto, respondem a demandas destas relações.” (1996, p.144)
Importa ressaltar, que no contexto do projeto alavancado pelo ideário neoliberal,
se manifesta profundas implicações, no campo educativo, na qualificação e na
formação humana em sua forma mais ampla. Nesse sentido destacam-se os
organismos internacionais e nacionais como os principais responsáveis pela
disseminação dessa ideologia. Analisando por esta orientação teórica, Frigotto afirma o
seguinte:
(...) Por esta trilha, podemos perceber que tanto a integração econômica quanto a valorização da educação básica geral para formar trabalhadores com capacidade de abstração, polivalentes, flexíveis e criativos ficam subordinadas à lógica do mercado, co capital e, portanto, da diferenciação, segmentação e exclusão. (FRIGOTTO, 1996, p145).
O que fica claro, a partir dessa análise, é que a produção do conhecimento
técnico-científico se torna objeto de controle dos grandes conglomerados econômicos e
dos organismos financeiros internacionais, como o (FMI/BIRB), por exemplo, que lutam
para deter o controle privado deste conhecimento.
É, portanto, na análise e compreensão deste modelo de reestruturação da
produção do capital, com base num processo de reconversão tecnológica e de uma
nova forma de organização da produção e gestão do trabalho, que assim descreve
Antunes: “(...) A indigitada reestruturação capitalista não apenas rompeu com o
paradigma produtivo tecnológico anterior, como também com os mecanismos de gestão
e regulação do trabalho então consolidado” (SIQUEIRA NETO, 1996, p.332) (2004, p.
82)
Ainda na mesma perspectiva, fundamentando as formas de implementação
deste novo processo produtivo, ao referir-se ao modelo japonês de produção e gestão
do trabalho, continua descrevendo:
38
O modelo japonês de empresa e de organização social e gerencial do trabalho vem sendo referenciado como uma forma de organização da produção e do trabalho cuja finalidade seria a de combinar as exigências de qualidade e quantidade, contrapondo-se à especialização proposta pelo taylorismo através da polivalência, da rotação de tarefas e do trabalho em grupo. Outra importante característica desse modelo é a produção enxuta. Estão relacionados ao modelo japonês sistemas de organização da produção como o just-in-time, o kanbon, os CCQs (círculos de Controle de Qualidade) e as células de produção, por exemplo. (ANTUNES, 2004, p.83).
De acordo com as abordagens, a partir de múltiplas análises, pode-se
assegurar que dentro deste novo modelo, desenvolve-se antecipadamente um
processo de incorporação, por que não dizer de cooptação do trabalhador, na medida
em que a empresa estimula os trabalhadores ao desenvolvimento e apropriação das
habilidades e competências necessárias, com vistas à realização das tarefas, dispondo
agora, de novas ferramentas, como afirma WOLF (2004, p.363), para atender as novas
demandas dentro dessa nova lógica de reificação objetivando responder aos ditames
do capital. Assim, as novas técnicas de organização que dá conta dessa realidade
constituem-se naquilo que atualmente é conhecido como Programas de Qualidade
Total.
Importa salientar, no contexto em que se inserem as múltiplas análises
desenvolvidas sobre esta temática, ou seja, no tocante ao processo de reestruturação
produtiva capitalista, na perspectiva do empresariado em aumentar suas taxas de
lucros, o fato de que, estes por sua vez, já se preocupavam com a defesa da escola
básica, muito antes dos anos 80.
Esta preocupação, portanto, do empresariado em relação à defesa da escola
básica, bem como, das proposições apresentadas, nos mostra que os interesses da
classe dominante passam por múltiplas contradições e são assinalados pelos mesmos
problemas que esta classe sempre tem enfrentado no que se refere às propostas de
educação dos trabalhadores no âmbito mais geral. Como argumenta Frigotto, assim
descrevendo: “O movimento é, ao mesmo tempo de crítica ao Estado, à ineficiência da
escola pública, de cobrança do Estado na manutenção da escola e defesa da
privatização ou de mecanismos privatizantes” (1996, p. 151).
39
Sendo assim, o que se observa, é que por detrás do discurso e da intenção
ideológica presente nas formulações teóricas referente à “valorização humana do
trabalhador” e, portanto, da apologia ferrenha de um tipo de educação básica, voltado
para a formação do indivíduo, com caráter de cidadania, revelam-se as características
exigidas pelo novo modelo imposto pela reestruturação produtiva. O que se dá,
evidentemente, muito mais em decorrência de uma situação de vulnerabilidade, do que
em relação próprio sistema produtivo, que é enormemente integrado. Desse modo, o
progresso tecnológico ao mesmo tempo em que provoca uma situação de redução e
restrição do trabalho, do ponto de vista quantitativo, possivelmente, exija na mesma
proporção, o aumento da necessidade em termos qualitativos.
Assim sendo, vale destacar ainda, o fato de que o capital, contrariamente aos
que postulavam o fim do trabalho, continua numa relação de dependência do
trabalhador, neste novo contexto de reestruturação da produção. Nesse sentido,
descreve Frigotto: “O novo padrão tecnológico colocado em sistemas informáticos
projeta o processo de produção com modelos de representação do real e não com o
real.” (1996, p.154). Em decorrência dos desdobramentos em relação aos modelos e
processos operacionais que são, portanto, heterogêneos, podem implicar situações
problemas resultando no comprometimento do processo produtivo em sua totalidade.
Daí decorre a necessidade de um trabalhador com as respectivas características para
responder as exigências do novo padrão tecnológico de produção. Como lembra
Frigotto: “(...) A intervenção direta de um trabalhador com capacidade de análise torna-
se crucial para a gestão da variabilidade e dos imprevistos produtivos. (Salerno,
1992:7)” (1996, p. 154). Não é, todavia, suficiente para este novo padrão produtivo, que
o trabalhador apenas tenha condições de identificação e solução dos problemas, é
necessário que a solução ocorra de forma coletiva.
Fica, portanto, evidenciado que o capital necessita do saber e do conhecimento
inerente ao trabalhador e ao próprio trabalho. O que, de alguma forma impõe ao capital
a necessidade de que se tenha que investir na formação e capacitação do trabalhador,
exigindo, dessa forma, uma educação com um certo tempo de escolaridade. Todavia, é
de todo perceptível, que o capital apresenta esta dupla face, ou seja, se por um lado,
tende a manter a subordinação do trabalhador, por outro, necessita se preocupar com o
40
tipo de formação com vistas a atender suas demandas. Assim, para elucidar essa
questão, Frigotto faz a seguinte afirmação:
É também, neste processo que se evidencia os próprios limites e ambiguidades do ajuste neoconservador e, igualmente, o terreno sobre quais as forças que lutam por uma democracia substantiva ou por uma sociedade socialista democrática devem trabalhar. (FRIGOTTO, 1996, p. 154-155)
Nesta perspectiva, a produção de conhecimento técnico-científico, assim como,
a dimensão da produção técnica e política, tornam-se objeto de uma materialidade que
precisa estar em constante processo de disputa pela classe trabalhadora.
Em se tratando da esfera educacional e formativa, vale ressaltar que este
processo de subordinação se faz através de mecanismos que organizam os conteúdos
e das formas de gestão em que acontecem os processos educativos. Como afirma
Kuenzer, ao referir-se ao processo produtivo, assim descrevendo: “(...) O setor
produtivo continua usando a escola como agência de pré-seleção pretensamente de
“competências”, mas na realidade, de classe, uma vez que os que têm sucesso na
escola, não por coincidência, são desejado pelo setor produtivo.” (2002, p.79). Desse
modo, as exigências de mais conhecimento, mais qualificação para inserção no
mercado de trabalho, por sua vez, contrasta-se e se torna conflitante com a própria
lógica da produção do mercado e do lucro.
Olhando por este viés, a tese do Estado mínimo, representa de fato, como já foi
assinalado, o Estado maximizado para responder aos interesses do capital. Nesse
sentido, como lembra Frigotto, em suas análises ao discorrer sobre o caráter de
sutilidade e não democrático das relações educativas faz a seguinte afirmação: “Uma
forma sutil e antidemocrática de relações educativas é, sem dúvida, a reificação do
senso comum, do folclórico, da realidade dada dos desenraizados e excluídos.” (1996,
p. 179). Desse modo, entende o autor, que esta realidade colocada precisa passar por
um processo de elaboração, construída numa perspectiva mais universalizante.
41
1.7 OS PROBLEMAS DA DUALIDADE ESTRUTURAL NO ENSINO BÁSICO E
PROFISSIONAL
De acordo com Kuenzer, é a partir da categoria dualidade, que se tem
demonstrado explicação para o Ensino médio e profissional em nossa sociedade. Como
afirma KUENZER: “Desde o surgimento da primeira iniciativa estatal nessa área, até o
presente, sempre se construíram duas redes, uma profissional e outra de educação
geral, para atender as necessidades socialmente definidas pela divisão social e técnica
do trabalho” (2002, p.26).
Assim sendo, pode-se observar que historicamente o desenvolvimento das
redes de ensino pelo Estado, somente se verificará no limiar do século XX, e só
posteriormente por volta da década de 40, é que se cria o Ensino médio. Isto nos revela
que estas redes uma vez constituídas, sempre se manifestaram sem alguma
articulação, por conta dessa dualidade estrutural estar sempre respondendo as
demandas de inclusão e exclusão. Para elucidar essa questão, assim se expressa,
KUENZER: “O ensino médio inclui os socialmente incluídos; para os excluídos, alguma
modalidade de preparação para o trabalho, orgânica aos modos de produzir mercadoria
que historicamente foram se constituindo” (2002, p.26).
Desse modo, segundo a autora, não se pode ter compreensão da realidade do
Ensino Médio no Brasil, sem levar em consideração a sua estreita relação com o ensino
profissional, uma vez que, tanto o primeiro quanto o segundo, constituem-se em
realidade indissociável por tratar ou fazer parte da mesma proposta. A formação
intelectual destinada a formar para desempenhar funções dirigentes e operacionais em
cada momento no contexto de desenvolvimento das forças produtivas, visando atender
as necessidades de acumulação do capital. Como descreve KUENZER:
Esse modelo, que foi sendo afastada ao longo da história, para atender as demandas do mundo do trabalho e das relações sociais, foi orgânico às necessidades do taylorismo-fordismo e constituindo a sua própria pedagogia, que teve e continua tendo por finalidade, como já se afirmou anteriormente, atender as demandas da divisão social e técnica do trabalho marcada pela clara definição de fronteiras entre as ações intelectuais e instrumentais em decorrência de relações de classe bem definidas que determinavam as
42
funções a ser exercidas por trabalhadores e dirigentes no mundo da produção e das relações sociais. (KUENZER, 2002, p.30).
Vale ressalta, ainda, que a partir desta concepção, o desenvolvimento das
competências intelectuais superiores para a formação, bem como, o domínio do
conhecimento científico e tecnológico não é concebido como algo necessário aos
trabalhadores. Para estes, basta apenas à competência que compreenda certo grau de
escolaridade, treinamento, e, sobre tudo, experiência.
Como resultado, esta concepção enfatizou a importância dos modos de fazer e
o disciplinamento, entendendo ser necessário ao trabalhador, algum tipo de
conhecimento científico que pudesse lhe conferir algum domínio intelectual que se
refere às práticas sociais e produtivas e, por conseguinte, o desenvolvimento de sua
autonomia.
Em razão das modificações trazidas pelas mudanças que aconteceram com a
globalização da economia e pela reestruturação produtiva, as antigas formas de
organização cedem lugar a outros modelos que passam a ser dominantes. Como afirma
KUENZER:
A luz dos novos paradigmas, com base no modelo japonês de organização e gestão do trabalho, a linha de montagem vai sendo substituída pelas células de produção, o trabalho individual pelo trabalho em equipe, o supervisor desaparece e engenheiro desce ao chão da fábrica, e o antigo processo de qualidade dá lugar ao controle internalizado feito pelo próprio trabalhador. Na nova organização o universo passa a ser invadido pelos novos procedimentos de gerenciamento; as palavras de ordem são qualidade e competitividade. (KUENZER, 2002, p.32).
Nessa perspectiva, as ideias que orientam e sustentam o discurso da realidade
produtiva vigente, referem-se a um trabalhador com novas características. Dentre elas,
destacam-se, por exemplo, um modelo de trabalhador com capacidades intelectuais
que lhe dê condições de adaptação a uma forma de produção flexível. Assim, se as
novas formas fossem efetivamente implementadas, traria um cenário de mudanças
substancial, tanto na educação média básica, quanto profissional, o que de fato, na
prática não acontece. Segundo a autora, é precisamente o inverso o que tem se
43
revelado em relação à educação do trabalhador. Para elucidar essa questão assim
descreve KUENZER:
Ao contrário as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas nessa área mostram que a oferta de oportunidades de sólida educação científico tecnológica se dá para um número cada vez menor de trabalhadores incluídos, criando estratificação inclusive entre estes. Na verdade, cria-se uma nova carta de profissionais qualificados, a par de um grande contingente de trabalhadores precariamente educados, embora ainda incluídos por recresecentemente precarizados. Completamente fora das possibilidades da produção e do consumo, e em decorrência, direito à educação e a formação profissional de qualidade, uma grande massa de excluídos cresce a cada dia, como resultado do próprio caráter concentrador do capitalismo, acentuado por esse novo padrão de acumulação. (KUENZER, 2002, p.32)
Assim sendo, vale ressaltar, que o processo de democratização da educação
passa necessariamente também, pela democratização da sociedade, na perspectiva de
outro modo de produção, em que toda a produção dos bens materiais e culturais esteja
a serviço das pessoas.
O processo de democratização da educação, especialmente em relação ao
ensino médio, nos coloca diante de certos desafios, ou seja, a democratização implica
em repensar as orientações políticas do Estado, em todas as instâncias, no que se
refere à transparência dos fundos de investimentos públicos.
Além disso, é preciso também, pensar uma nova concepção que possibilite a
construção de modo articulado da formação de caráter científico e histórico social com
a formação tecnológica, objetivando dessa forma, a superação da ruptura produzida
historicamente entre o ensino para pensar teórica e metodologicamente o saber e o
conhecimento socialmente produzido e acumulado em um tipo de ensino voltado para
se fazer através de vários procedimentos. Como chama a atenção KUENZER, isto não
é uma questão de natureza pedagógica, mas, de ordem essencialmente política.
Nota-se que, não é de todo suficiente, elaborar a crítica aos modelos que
antecedem o processo de reestruturação produtiva, como afirma KUENZER:
Não basta afirmar que a nova educação média deverá ser tecnológica e, portanto, organizada para promover o acesso articulado aos conhecimentos
44
científicos, tecnológicos e sócio-históricos, e ao mesmo tempo extinguir os cursos profissionalizantes, estabelecendo por decreto que a dualidade estrutural foi superada com a constituição de uma única rede, não se colocando mais a discussão da equivalência (KUENZER, 2002, p.34-35).
Estas fórmulas encontradas na esfera pedagógica de maneira limitada e
reduzida, não trazem qualquer perspectiva de possibilidades reais de superação e
transformação de uma sociedade estratificada em classes, em que crescem
assustadoramente a exclusão, ao mesmo tempo em que diminuem as possibilidades de
investimentos através de fundos públicos que garantiriam a formulação de políticas
públicas visando atender os direitos mais elementares para uma condição de cidadania.
Como descreve KUENZER:
Os novos desafios a ser enfrentados pelo Ensino Médio, portanto, precisam ser compreendidos a partir da identificação das verdadeiras causas, para propor medidas que não sejam inadequadas populistas, demagógicas ou clientelistas (MT, 1997). (KUENZER, 2002, p35).
Assim sendo, o processo de democratização do Ensino médio, implica numa
exigência que vai para além do acesso dos jovens à escola. Há, portanto, que se
admitir a necessidade de melhores condições para o desenvolvimento do ensino e
aprendizagem, sem as quais, não tem o menor sentido discutir tão somente um novo
modelo.
Em se tratando de uma nova concepção de ensino, importa salientar, que só
existe possibilidade de efetivação, na perspectiva de uma sociedade que ofereça as
condições para que todos, indistintamente, possam ter acesso aos bens materiais e
culturais socialmente produzidos.
Como mostra KUENZER: “se por um lado, à crítica a dualidade estrutural
mostra seu caráter perverso, por outro simplesmente estabelecer um modelo único não
resolve a questão, posto que submeter os desiguais a igual tratamento só faz aumentar
a desigualdade” (2002, p.36).
Nesse sentido, vale ressaltar, que a própria legislação que regulamenta as
diretrizes de base da educação nacional, apresenta esta compreensão na medida em
45
que ressalta o caráter básico do Ensino Médio, bem como, a exigência de
universalização e o fato de permitir diferentes modalidades, inclusive, no que concerne
a formação profissionalizante, visando o tratamento diferente em relação aos diferentes,
em conformidade com seus interesses e necessidades, para que tenham oportunidades
de chegarem à igualdade.
Nessa perspectiva da análise, colocar como objetivo a oferta do Ensino Médio
com base em uma modalidade única no lugar dos diferentes ramos do ensino técnico,
seria tão impróprio, como manter a forma atual, ou seja, mantendo um ramo da
formação geral e outro da modalidade profissionalizante. Como descreve KUENZER:
“Essa concepção só ganha concretude quando tomada em relação às condições reais
de sua implantação.” (2002, p.37).
Desse modo, uma proposta que tenha por finalidade a garantia de oferta da
educação básica de nível médio e tecnológico de maneira ampliada, demandaria um
enorme aporte de recursos para o investimento em vários setores, desde o espaço
físico à contratação e capacitação do corpo docente. Ainda, nessa mesma orientação
da análise, para elucidar essa questão, assim se expressa, Kuenzer:
Nesse quadro, não há que se tomar de desânimo, mas buscar recursos disponíveis, da escola concreta com suas possibilidades e limitações, na contramaré da exclusão. Será necessário, portanto, formular diretrizes que priorize uma formação científico-tecnológica e sócio-histórica para todos, no sentido da construção de uma igualdade que não está dada no ponto de partida, e que, por esta mesma razão, exige mediações diferenciadas no próprio Ensino Médio, para atender as demandas de uma clientela diferenciada e desigual. (KUENZER, 2002, p.37)
Nesse sentido, torna-se relevante pensar pelo viés de uma realidade de
natureza mais objetiva. Isto é, em relação a grande maioria de a população jovem ter
acesso ao trabalho, é sem dúvida a possibilidade de continuar com seus estudos em
nível superior. Sendo assim, o Ensino Médio, tem como desafio dar respostas a esta
dupla demanda, ou seja, conferir viabilidade e condições objetivas para que o jovem
tenha acesso ao trabalho e simultaneamente a continuidade nos estudos, visando
desse modo, uma formação com competência e compromisso.
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1.8 ANÁLISE E PROPOSIÇÃO NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO UNILATERAL E/OU POLITÉCNICA DESINTERESSADA
Isto coloca, portanto, na esfera da relação social escolar, contrariamente, a
forma como se configura pela lógica da fragmentação curricular - sem nenhuma
orientação de caráter mais orgânico - a necessidade da busca incessante, no sentido
de localizar os fundamentos unitários que se fazem imprescindível ao conhecimento no
processo histórico de construção de novas relações sociais de produção. Portanto, da
construção de um novo homem. Um tipo de conhecimento, que uma vez apropriado de
forma orgânica, poderá oferecer ao sujeito as condições necessárias e possibilidades
de intervir e compreender as múltiplas questões e problemas da realidade que o cerca.
Como diz Gramsci, ao referir-se ao modelo de formação com base na lógica de um
currículo particularizado, em contraposição a proposta de escola socialista
desinteressada, fazendo a seguinte afirmação: “Por que a escola socialista, quando
surgir, surgirá necessariamente como uma escola completa, tenderá abraçar
imediatamente todos os ramos do saber humano. Esta será uma necessidade prática e
uma exigência ideal.” (2009, p.294). E, continua o autor, ao elucidar a questão
referente à realidade de um operário já emancipado pela luta de classes, assim
descrevendo:
Já existem agora operários, aos quais a luta de classes deu um significado novo de dignidade e de liberdade que, quando lêem os contos dos poetas ou ouvem dos artistas e dos pensadores, se perguntam com mágoa: “Por que a escola não ensinou essas coisas também a nós? (GRAMSCI, 2009, p.294).
Em se tratando, do modelo de educação para internalização, formulado e
desenvolvido pelas elites dominantes nos últimos tempos, temos que o tipo de escola
que se constitui como escola para o povo não consegue ao menos manter e conservar
a ilusão. Daí, a necessidade de se repensar a educação e os processos formativos
escolares, pelo viés de outra lógica, ou seja, na perspectiva da escola unilateral e
politécnica. Isto, por sua vez, traz algumas implicações no âmbito prático em relação
47
aos processos de mediação na identificação e organização dos conhecimentos. Uma
delas refere-se ao modelo dualista em que se organiza o conhecimento escolar, de
forma polarizada. Como, por exemplo: conhecimento geral e específico, técnico e
político, etc. Significa, portanto, que esta forma de organização precisa ser superada,
onde as múltiplas faces se constituem no âmbito de uma mesma totalidade concreta na
perspectiva de uma práxis educativa. Nesse sentido ao analisar o processo de
construção da escola unitária, Frigotto faz a seguinte observação:
Tanto a identificação do núcleo necessário de conteúdos, quanto os processos, os métodos, as técnicas não podem ser determinados nem pela unilateralidade da teoria (teorismo), nem pela unilateralidade da técnica e da prática (tecnicismo e atuísmo), mas na unidade dialética de ambas, ou seja, na e pela práxis. (FRIGOTTO, 1996, p.180)
Este processo de construção como descreve o autor, implica
imprescindivelmente, em relação às formas organizativas dos conhecimentos a serem
desenvolvidos, também, numa perspectiva de interdisciplinaridade; considerando-se
que a própria interdisciplinaridade se manifesta como elemento constitutivo da
realidade.
Assim, mesmo nas condições de materialidades da produção atualmente
existentes, observamos que ao pensar a questão da formação e qualificação, com
vistas ao desenvolvimento humano, considerando-se suas múltiplas faces, e, portanto,
necessidades, temos que a democratização da escola básica de caráter unitário e
tecnológico ou politécnico desinteressado, torna-se uma exigência inadiável. Nesse
sentido, se faz necessário o rompimento com o modelo fragmentado. Assim,
compreendida a partir dessa concepção, a escola poderá conferir de maneira mais
efetiva e dar conta de atender as exigências no tocante aos processos de qualificação
da força de trabalho, possibilitando dessa maneira, melhores condições de acesso em
todas as esferas e simultaneamente, tornando-se assim, pré-condição para
compreensão teórica e política na perspectiva da formação técnica e profissional.
A questão mais relevante, analisando por este viés, no âmbito das
possibilidades e limites de intervenção dos sujeitos sociais, ou seja, a construção das
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formas realmente democráticas implica e exige que estes sujeitos tenha a capacidade
de intervenção política no sentido de ampliar a esfera pública, e ao mesmo tempo, ter
condições de acessibilidade e manejo do fundo público. Isto implica, portanto, em tornar
público aquilo que é privado. Como nos lembra Frigotto, assim descrevendo: “Isto
significa dar transparência a ação política e tornar efetivamente público aquilo que
historicamente foi manejado pelo estreito interesse privado do capital.” (1996, p.186)
Sendo assim, pode-se inferir, portanto, que a partir da lógica imposta pelo capital,
mesmo onde possa haver algum tipo de condições materiais, o mercado não consegue
atender e garantir os direitos mais essenciais de cidadania, como educação por
exemplo. Isto evidencia que não basta apenas ampliar o Estado. É preciso ampliar e
conferir formas democráticas de acesso e gestão do fundo público, através da ação e
intervenção da sociedade cível de forma organizada.
Ao contrário, do que tem sido a postura e tratamento do Estado em relação à
educação, especialmente, e os processos formativos escolares, através das políticas de
descentralização dos investimentos - esmaecendo desse modo, a educação pública - ,
assim como, o modelo de operação através dos aparelhos de burocracia do MEC,
alinhados ao setor privado no tratamento do ensino técnico e formação profissional, se
faz necessário e urgente, a construção de formas democráticas, no sentido de barrar os
desmontes que tem ocorrido na educação técnica profissionalizante, como salienta
Frigotto: “A direção da luta democrática não está em desmantelar o ensino técnico, mas
em transformá-lo na perspectiva da educação tecnológica ou politécnica (de novo tipo),
e dentro do sistema unitário de ensino.” (1996, p.188).
Nessa perspectiva da análise, vale ainda destacar, a questão de que o
processo e os enfrentamentos no intuito de maximizar, e, portanto, ter acesso à gestão
pública e da formação dos sujeitos pelas vias da democratização, impõe à sociedade
cível, como já assinalamos, enormes desafios. No tocante ao ensino técnico
profissional, também não diferente, ou seja, a educação técnica profissional está
profundamente vinculada a uma concepção pragmática da classe trabalhadora,
gerando muitas vezes, uma compreensão ilusória da realidade no mundo do trabalho.
Assim sendo, a construção das condições objetivas, com vistas a possibilitar e
viabilizar os processos de superação e transformação humanas, precisam ter como
49
pressuposto, uma intervenção de forma mais efetiva e ampliada da sociedade em todas
as suas dimensões, em especial, no campo das relações políticas e econômicas.
Portanto, as necessidades de democratização da escola pública, politécnica e
unitária não podem ser transferidas para o futuro. É, uma exigência do momento
presente. Como descreve Frigotto: “Isto significa dizer que a direção das propostas e
práticas educativas deve germinar no interior dos movimentos e organizações da classe
trabalhadora e de suas lutas concretas” (1996, p.192).
Assim sendo, para que haja garantia de uma educação básica completa e de
qualidade, faz-se necessário como pressuposto, um modelo de distribuição da riqueza
produzida de forma mais justa e igualitária. Propiciando assim, as condições de acesso
e permanência dos educandos de modo integral na escola. Além disso, se faz
necessário também, que a educação básica pública, com todos os caracteres
imprescindíveis, na perspectiva da formação unitário-politécnica para ser de fato,
política de Estado, e não simplesmente políticas baseadas em programas
governamentais, passe por um processo radical de democratização dos fundos
públicos. Para elucidar essa questão, assim se expressa Frigotto: “Não se trata, pois de
universalizar qualquer educação básica, mas sim a educação unilateral e politécnica, a
formação integrada (nos termos do decreto 5.154/2004, incorporado à LDB que permita
vida, cultura, conhecimento e trabalho.” (2010, p. 13)
1.9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na perspectiva da reflexão desenvolvida, e, a guisa de conclusão, a discussão
apresentada em torno da presente temática, teve como propósito, trazer à tona a partir
das análises desenvolvidas por alguns autores que dialogam com essa questão, a
reflexão acerca do ensino da filosofia na perspectiva latino-americana para o curso
técnico profissionalizante. Assim sendo, a presente análise concentrou-se sobre alguns
pontos principais que se considera de grande relevância, como por exemplo: a relação
entre ética e política, o político na sua esfera conceitual e a política como atividade, a
50
relação entre o espaço privado e o público, a organização institucional como vontade-
de-vida da comunidade, a distorção do político como poder fetichizado, a ética como
princípio normativo em todas as esferas da atividade humana e o princípio material que
deve orientar as ações coletivas. Alem disso, procuramos desenvolver uma análise,
objetivando compreender melhor, a partir de algumas proposições teóricas, o modelo
de produção capitalista e suas formas de produção das relações sociais historicamente
constituídas, assim como, suas crises periódicas, no sentido de compreender também,
o processo de reestruturação produtiva e as principais mudanças ocorridas no mundo
do trabalho nas últimas décadas. Por fim, tratamos das concepções de educação
básica e profissional na perspectiva dos conceitos de polivalência e educação geral
abstrata, e, os conceitos de educação unitária, (unilateral e/ou politécnica),
desinteressada.
Compreende-se nesta perspectiva da análise, que uma concepção de
educação e de escola verdadeiramente emancipatória e libertadora não pode estar
presa às amarras da lógica de reprodução da teoria do capital humano, expressa nas
formas de organização e reprodução capitalista exploratória. Como descreve Frigotto:
“O trabalho e educação tem sido subordinados aos processos de exploração e
expropriação.” (2010 p11). Assim, na lógica do capitalismo o trabalho é tratado como
mercadoria, donde decorre a ideia de emprego, e como desdobramento dessa forma
alienante do trabalho, a educação assume a dimensão de condicionamento e
adestramento com vistas à produtividade capitalista. Sobre isto, assim se expressa
Pinto: “O desemprego estrutural e as inúmeras formas de precarização dos contratos e
das condições de trabalho, têm imposto à classe trabalhadora ocidental a necessidade
de buscar meios de adequar-se às novas exigências de qualificação profissional e
educacional colocadas por esse sistema” (Pinto, p95). Desse modo, continua o autor:
“(...) as instituições de ensino têm, assim, se pautado por um reforço em termo de uma
formação básica e generalista, buscando adequar os trabalhadores aos futuros postos
multifuncionais ou às muitas mudanças de emprego que deverão enfrentar ao longo da
vida” (Pinto, p95).
Contrariamente, a essa concepção de trabalho e educação, expressa a partir da
lógica da polivalência, afirma Frigotto:
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A educação, se afetivamente básica, ao seu término dará aos jovens os fundamentos científico-tecnológicos, sócio-históricos e culturais, na base de qualquer processo produtivo, e as relações sociais que os estruturam e condicionam. É a partir dessa base que o mundo da produção e da sociabilidade que ela engendra que se dará o desenvolvimento dos conhecimentos práticos e operacionais necessários à preparação para o trabalho específico e, ao mesmo tempo, a compreensão das relações sociais, políticas e culturais que constituem um “cidadão ativo” e não alienado. A educação profissional apresenta-se nessa compreensão, também como direito social e subjetivo permanente. Mas, sem a educação básica unilateral e politécnica a formação específica reduz-se a adestramento. (FRIGOTTO, 2010, P. 13)
Por fim, a discussão sobre os temas abordados, aponta para as possibilidades
de emancipação e superação dos processos de internalização e dominação impostos
pela razão instrumental da modernidade. Refletindo nessa perspectiva da análise, todo
o agir político e as próprias instituições poderão desenvolver ações de caráter
verdadeiramente práticas em todas as dimensões da vida humana. Isto é, no âmbito da
ecologia, no sentido de aumentar a possibilidade de vida no planeta terra, visando
atender as necessidades das próximas gerações; no tocante a economia, é preciso
pensar na permanência e desenvolvimento das condições de produção e distribuição
da riqueza produzida em nosso planeta, objetivando atender as necessidades materiais
da vida humana; e, por fim, no que concerne ao âmbito cultural, é preciso apontar para
a preservação da identidade e desenvolvimento da materialidade dos aspectos
constituintes da cultura, tanto no que se refere ao desenvolvimento da linguagem, como
no que diz respeito aos valores, estéticos, religiosos, teóricos e práticos da historicidade
humana. Sendo assim, a política como diz Dussel: “é acima de tudo uma ação em vista
do crescimento da vida humana da comunidade, do povo, da humanidade!” (2007 p78).
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