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Edvilson de Almeida DA PROIBIÇÃO DO USO DE AGROTÓXICOS Centro Universitário Toledo Araçatuba 2019

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Edvilson de Almeida

DA PROIBIÇÃO DO USO DE AGROTÓXICOS

Centro Universitário Toledo

Araçatuba

2019

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Edvilson de Almeida

DA PROIBIÇÃO DO USO DE AGROTÓXICOS

Monografia apresentada à coordenação do Curso de

Direito do Centro Universitário Toledo de Araçatuba,

como requisito parcial para obtenção de grau de bacharel

em direito sob orientação do professor Milton Pardo

Filho.

Centro Universitário Toledo

Araçatuba

2019

Page 3: Edvilson de Almeida - servicos.unitoledo.br

Banca examinadora

________________________________________

Prof. Dr.

________________________________________

Prof. Ms.

________________________________________

Prof. Ms.

Araçatuba,____de_________de 2019.

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Agradeço a todos que me auxiliaram e

me incentivaram a concluir mais uma

etapa significativa da minha vida.

Page 5: Edvilson de Almeida - servicos.unitoledo.br

RESUMO

A preservação ao meio ambiente no decorrer dos anos entrou nos centros de discussões por

todo o mundo, sobretudo nos anos seguintes as guerras mundiais. Com a criação da ONU –

Organização das Nações Unidas, essa entidade passou a defender o meio ambiente como um

direito humano e tornou-se defensora da produção de alimentos, utilização de recursos

naturais, e etc... de maneira harmônica com o meio ambiente, visando o bem estar da vida

humana e consequentemente garantindo a vida para as futuras gerações. Nesse prisma, surgi o

tema agrotóxico que tem sido largamente utilizado nas lavouras para produção de alimentos

pelo mundo, sobre tudo no Brasil, impactando o meio ambiente durante toda a cadeia de

produção dos mantimentos, inclusive tendo reflexos na saúde humana, uma vez que, não se

tem debates aprofundados de como está à alimentação do brasileiro. Importante destacar que

com o avanço das monoculturas, precárias condições de fiscalizações no uso dos agrotóxicos

e falta de políticas públicas que priorizem técnicas de produção de alimentos mais

sustentáveis, o Brasil tem se tornado um grande consumidor de agrotóxicos para produção de

alimentos com a adoção dos transgênicos, gerando desdobramentos ao meio ambiente, a

saúde humana e ao direito de propriedade.

Palavras-chave: Agrotóxicos – meio-ambiente – saúde

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ABSTRACT

The preservation of the environment over the years has entered the centers of discussions all

over the world, especially in the years following the world wars. With the creation of the

United Nations, this entity came to defend the environment as a human right and became an

advocate of food production, use of natural resources, and so on ... in a way that is

harmonious with the environment , aiming at the well being of human life and consequently

guaranteeing life for future generations. In this perspective, the agrotoxic theme has appeared

that has been widely used in crops for food production throughout the world, especially in

Brazil, impacting the environment throughout the food supply chain, including having a

negative impact on human health, there is no in-depth discussion of how the Brazilian is fed.

It is important to point out that with the advance of monocultures, poor conditions of

inspections in the use of agrochemicals and lack of public policies that prioritize more

sustainable food production techniques, Brazil has become a major consumer of

agrochemicals for food production with the adoption of transgenic, generating consequences

for the environment, human health and property rights.

Keywords: Agrochemicals - environment - health

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 09

I Do Direito Ambiental ............................................................................................................... 10

1.1 Conceito de Meio Ambiente ....................................................................................... 10

1.2 Revolução Verde ......................................................................................................... 10

1.3 Origem do Direito Ambiental ..................................................................................... 11

1.4 Direito Ambiental como direito Constitucional .......................................................... 12

1.5 Direito Ambiental como direito Fundamental ............................................................ 13

1.6 Direito Ambiental no sistema jurídico ........................................................................ 14

1.7 Tratados e Convenções Internacionais ........................................................................ 17

1.8 Constituição de 1988 ................................................................................................... 18

1.9 Princípios Fundamentais do Meio Ambiente .............................................................. 20

1.9.1 Princípio da Prevenção ............................................................................................. 21

1.9.2 Princípio do desenvolvimento sustentável ............................................................... 21

1.9.3 Princípio do poluidor-pagador ................................................................................. 22

1.9.4 Princípio da cooperação entre os povos ................................................................... 23

1.9.5 Princípio da solidariedade intergerencial ou equidade............................................. 23

1.9.6 Princípio da natureza pública da proteção ambiental ............................................... 25

1.9.7 Princípio da participação .......................................................................................... 25

1.9.8 Princípio da proibição ao retrocesso ........................................................................ 26

1.9.9 Princípio da função socioambiental da propriedade ................................................ 28

1.9.10 princípio da responsabilidade compartilhada ......................................................... 29

II Agrotóxicos ............................................................................................................................. 30

2.1 Definição pelo mundo ................................................................................................. 30

2.2 Definição no Brasil ..................................................................................................... 30

2.3 Lei dos Agrotóxicos .................................................................................................... 30

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2.3.1 Registro dos Agrotóxicos ......................................................................................... 31

2.3.2 Da importação .......................................................................................................... 35

2.3.3 Da receita agronômica ............................................................................................. 36

2.3.4 Do usuário de agrotóxico ......................................................................................... 38

2.3.5 Das embalagens de agrotóxico ................................................................................. 39

2.3.6 Da reavaliação de agrotóxicos ................................................................................. 39

2.4Transgênicos ................................................................................................................ 40

2.4.1Conceito de transgênicos........................................................................................... 40

2.4.2 Surgimentos de pragas mais resistentes mesmo com a transgenia .......................... 42

III Dos impactos causados pelo uso de agrotóxicos ................................................................... 44

3.1 Direito de propriedade................................................................................................. 44

3.2 Direito a saúde e a vida ............................................................................................... 46

3.3 Desaparecimentos de abelhas ...................................................................................... 47

3.4 Impactos na saúde humana ......................................................................................... 48

3.5 Resíduos de agrotóxicos nos alimentos....................................................................... 49

3.6 Capina Química nas cidades ....................................................................................... 51

CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 53

REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 55

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INTRODUÇÃO

Após as guerras mundiais surgi a ONU (Organização das Nações Unidas), fundada

com o objetivo de defender os direitos humanos, dentre eles o direito ambiental. Com a

expansão alcançada pelo tema ambiental pelo mundo o Brasil começou gradativamente a

implantar no ordenamento jurídico princípios e leis norteadoras para assegurar um meio

ambiente mais equilibrado, possibilitando uma vida mais sadia aos seus cidadãos.

Concomitantemente a essa tutela, uma parcela de desenvolvimento do Brasil se deu

através da agricultura, impulsionada pela utilização de agrotóxicos e afins, ainda mais com a

adoção do uso de transgênicos que culminaram em produções volumosas. Em contrapartida,

geram danos ambientais de difícil reparação, interferindo no direito de propriedade e,

sobretudo no direito a sadia qualidade vida, que se tornou um direito fundamental assegurado

pela Constituição Federal de 1988.

Embora tenhamos técnicas de produção sustentáveis o que garante uma qualidade de

vida adequada ao ser humano e ao meio ambiente, não possuímos políticas públicas que

busquem reduzir a utilização dos agrotóxicos no nosso país, ao contrário disso, como

apresentado nesse trabalho, o Brasil tem se tornado o País que mais consome agrotóxico no

mundo, sobre tudo após a adoção da transgenia na agricultura.

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I – DO DIREITO AMBIENTAL

1.1 Conceito de Meio Ambiente

Com a importância que o meio ambiente ganhou, evolui-se para idéia de que ele não

poderá mais ser visto como apenas algo exploratório, sem que se leve em consideração a sua

preservação frente às relações humanas que são exercidas sobre ele.

Embora haja vários conceitos disponíveis sobre o termo meio ambiente, ele foi

primariamente definido no Brasil, de maneira ampla, no artigo 3º, I da Lei 6.938/1981 com a

seguinte redação: “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,

química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”, donde se

observa a inclusão de vários tipos de meio ambiente, dentre os quais estão o natural, artificial,

cultural e do trabalho, conforme aponta Leite e Pilati (2011, p. 31).

No dicionário há distinção entre o termo “meio” de “ambiente”, porém no

ordenamento jurídico brasileiro, o termo utilizado tem sido meio ambiente conforme art. 225

da Constituição Federal de 1988.

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso

comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público

e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras

gerações.

A importância do tema é tamanha que Milaré (2015, p.253) aduz o seguinte, “a

questão ambiental veio para ficar, e o Direito do Ambiente surge como seu escudeiro

vitalício, ou seja, ad aeternum”.

1.2 Revolução Verde

Nos meados dos anos 50, com o foco em aumentar a quantidade de alimentos

produzidos no mundo, objetivando a diminuição da fome, observou-se a necessidade de fazer

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inovações nas lavouras, submetendo-as a novas tecnologias para alcance de uma produção de

larga escala.

Essas tecnologias trouxeram para as lavouras componentes químicos, mudanças

genéticas nas sementes no qual possibilitaram a elevação da produção de alimentos. Porém,

essa nova metodologia trouxe questionamentos sobre os impactos no meio ambiente.

Nessa nova forma de produção de alimentos fez com que as culturas se tornassem

refém desses produtos químicos que são fornecidos por grandes conglomerados empresarias

no ramo da indústria química, gerando um circulo vicioso, donde só se consegue produzir

aplicando esses agentes.

Cabe o destaque no ocorrido com sementes que para alcançar a produtividade esperada

deve ser submetida a grande quantidade de insumos químicos, como os fertilizantes, adubos e

agrotóxicos.

Demais disso, a Revolução Verde fortaleceu os latifundiários e a disseminação da

monocultura nas áreas produtoras de alimentos. Sendo assim, a monocultura possuiu uma

grande quantidade da mesma espécie de planta em um determinado local, possibilitando o

surgimento de pragas e que para o seu controle demandam o uso de produtos químicos.

Para sublinhar o impacto do meio ambiente através da monocultura, vale observar a

produção de arroz irrigado, onde se utiliza produtos químicos na lavoura e consequentemente

a água é utilizada pelos peixes como habitat, potencializando a extinção e contaminação dos

mesmos.

Houve, portanto, uma ruptura com o antigo modelo de produção em que existia uma

sintonia de produção e o meio ambiente, conforme elucida Caldart (2012, p. 688):

“o trabalho que era realizado em convivência com a natureza foi fragmentado em

partes – agricultura, pecuária, natureza, sociedade –, e cada esfera passou a ser

considerada em separado, quebrando-se a unidade existente entre ser humano e

natureza.”

Por tanto, a preocupação ao meio ambiente passou a ser irrelevante.

1.3 Origem do Direito Ambiental

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12

Trata-se de um novo bem jurídico cingido na ciência do Direito, que ganhou

visibilidade e atenção global com o fim da Segunda Guerra Mundial, nos meados dos anos

1960, onde se verificou a necessidade de garantir uma tutela ao meio ambiente, visto que

muitos dos recursos naturais sofreram diminuição e que determinados produtos ecológicos

tornaram-se economicamente caros.

A ONU (Organização das Nações Unidas) enfocada no tema reuniu na Suécia em

1972 durante a Conferência de Estocolmo, líderes de vários países e movimentos ambientais

para discutir o assunto, tendo ao final do encontro redigido e assinado pelos envolvidos, um

documento com princípios que precisavam ser observados para aliar o desenvolvimento em

paralelo com a preservação ambiental. Sendo assim, o direito ambiental, passou a ser

reconhecido como parte inerente dos direitos humanos.

Tal documento trouxe a seguinte redação no item 01, que corrobora com início da

idéia de desenvolvimento sustentável aliado a preservação ambiental pelos povos da Terra:

“1. O homem é ao mesmo tempo obra e construtor do meio ambiente que o cerca, o

qual lhe dá sustento material e lhe oferece oportunidade para desenvolver-se

intelectual, moral, social e espiritualmente. Em larga e tortuosa evolução da raça

humana neste planeta chegou-se a uma etapa em que, graças à rápida aceleração da

ciência e da tecnologia, o homem adquiriu o poder de transformar, de inúmeras

maneiras e em uma escala sem precedentes, tudo o que o cerca. Os dois aspectos do

meio ambiente humano, o natural e o artificial, são essenciais para o bem-estar do

homem e para o gozo dos direitos humanos fundamentais, inclusive o direito à vida

mesma”.

Vale resaltar o ensinamento do mestre de Viena Norberto Bobbio, (1996 apud

ANTUNES,2013, p.4) “o mais importante dos direitos sociais e humanos é o reinvidicado

pelos movimentos ecológicos: O direito de viver num ambiente não poluído.”.

1.4 Direito Ambiental como Direito Constitucional

A célere ascensão obtida pelo direito ambiental, mesmo sendo tema relativamente

novo no âmbito de proteção, foi conquistada pelos movimentos protecionistas realizados ao

redor do mundo no pós-guerra mundial, que as novas constituições incorporam no decorrer

dos anos, haja vista a brasileira em 1988.

Como indica Herman Benjamin, no livro de Canotilho e Leite (2008 p. 95, 96, 99 e

103), essa constitucionalização acarretou vários benefícios, que abordaremos sucintamente:

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a) dever constitucional genérico de não degradar, ou seja, consolida o princípio da

precaução, dando limites a exploração da propriedade

b) ecologização da propriedade e da função social, ou seja, faz com que a propriedade

deixa de ter direito pleno de explorar, garantido o direito de vizinhos. Logo, o

direito de explorar da propriedade deve ser observado em consonância com a

saúde humana e os processos e funções ecológicas essenciais.

c) proteção ambiental como direito fundamental, ou seja, ao adquirir essa posição de

direito fundamental, tem-se aplicação imediata, nos moldes do art. 5º, §1º da

Constituição Federal de 1988.

d) segurança normativa, ou seja, os direitos e garantias individuais são pétreos.

1.5 Direito Ambiental como Direito Fundamental

Assim define Herman Benjamin, no livro de Canotilho e Leite (2008, p. 96), o direito

fundamental ambiental: “Formalmente, direitos fundamentais são aqueles que, reconhecidos

na Constituição ou em tratados internacionais, atribuem ao indivíduo ou a grupos de

indivíduos uma garantia subjetiva ou pessoal”.

Deste modo, dada a sua importância e status dentro do ordenamento jurídico, os

direitos e garantias ambientais tendem a serem mais efetivos, por estarem no topo desta

hierarquia.

A estrutura desses direitos possui divisões que a doutrina os diferencia por critérios

definindo-os como de 1ª, 2ª, 3ª, 4ª e 5ª geração.

Os direitos de 1ª geração, como nos ensina Lenza (2014, p. 1056) dizem “respeito às

liberdades públicas e aos direitos políticos, ou seja, direitos civis e políticos a traduzir o valor

liberdade”, ou seja, não há necessidade de uma interferência estatal para que possam existir.

Sendo assim, o direito a vida é contemplado nessa modalidade.

Ao que se refere a direitos coletivos, são tidos como de 2ª geração, pois uma atividade

estatal se faz necessária para que eles sejam alcançados. Nesse sentido, Masson (2016, p. 192)

explica:

“São, usualmente, denominados "direitos do bem-estar", uma vez que pretendem

ofertar os meios materiais imprescindíveis para a efetivação dos direitos individuais.

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Para tanto, exigem do Estado uma atuação positiva, um fazer (daí a identificação

desses direitos enquanto liberdade positivas), o que significa que sua realização

depende da implementação de políticas públicas estatais, do cumprimento de cerras

prestações sociais por parte do Estado, tais como: saúde, educação, trabalho,

habitação, previdência e assistência social”

Com as novas mudanças que ocorram na sociedade no âmbito mundial, tanto na esfera

econômica e social, emergiu-se direitos “transindividuais” conforme explica Masson (2016, p.

192), no qual se destaca o direito ambiental, o direito de propriedade, o direito de

comunicação, sendo-os classificados como direitos de 3ª geração. Ou seja, o direito

ambiental, torna-se público (é de todos, não tem dono), consagrando o princípio da

solidariedade deixando-o de ser visto como singular e tornando-se coletivo, embasado

portando no espírito fraterno e solidário, conforme Mandado de Segurança 22.164, relator

Ministro Celso de Mello, Diário de Justiça da União de 17.11.1995.

Em síntese, Masson (2016, p. 192), nos orienta:

“são direitos que não se ocupam da proteção a interesses individuais, ao contrário,

são direitos atribuídos genericamente a rodas as formações sociais, pois buscam

tutelar interesses de titularidade coletiva ou difusa, que dizem respeito ao gênero

humano”.

Insta salientar as palavras de Herman Benjamin, no livro de Canotilho e Leite (2008 p.

98), sobre a constitucionalidade do direito ambiental com norma fundamental: “..., o direito

fundamental leva a formulação de um princípio da primariedade do ambiente, no sentido de

que a nenhum agente, público ou privado, é lícito trata-lo como valor subsidiário, acessório,

menor ou desprezível” .

1.6 Direito Ambiental no Sistema Jurídico Brasileiro

Os primeiros pontos da tutela do meio ambiente por legislação própria brasileira só

ocorreram com a implantação do Código Civil 1916.

Nesse caminho, Milaré, detalhou (2015, p. 239 e 240) um rol de regras que foram

implementadas em nosso ordenamento que tratam de matérias específicas e pontuais de

assuntos ambientais:

Decreto 16.300, de 31.12.1923 (Regulamento do Departamento de Saúde Pública);

Decreto 23.793, de 23.01.1934 (Código Florestal);

Decreto 24.114, de 12.04.1934 (Regulamento de Defesa Sanitária Vegetal);

Decreto 24.643, de 10.07.1934(Código de Águas);

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Decreto-Lei 2848, de 07.12.1940 (Código Penal);

Lei 5.197 de 03.01.1967 (Proteção à Fauna);

Decreto-Lei 303, de 28.02.1967 (Criação do Conselho Nacional de Controle de

Poluição Ambiental);

Lei 5.318, de 26.09.1967(Política Nacional de Saneamento), que revogou o

decreto-lei 303/67;

Decreto 73.030, de 30.10.1973 (Criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente);

Lei 6.151, de 04.12.1974 (Criação do II Plano Nacional de Desenvolvimento).

Vale ressaltar que, os textos de várias destas legislações já sofreram revogações ou

alterações significativas.

A grande prova de que o Brasil de fato incorporou o tema ambiental de maneira

jurídica e relevante, foi com a edição da lei 6.938 de 1981, regulada pelo Decreto

99.274/1990, que implantou a Política Nacional do Meio Ambiente, em que trouxe o primeiro

conceito legal de meio ambiente conforme seu artigo 3º, bem como criou responsabilidades ao

Estado a fim de efetivar a proteção ao meio ambiente benigno à vida, e, por conseguinte a

dignidade humana, com a redação dada no artigo 2º desta mesma lei:

A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e

recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País,

condições ao desenvolvimento sócioeconômico, aos interesses da segurança

nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes

princípios:

I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio

ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e

protegido, tendo em vista o uso coletivo;

II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;

III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;

IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;

V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;

VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional

e a proteção dos recursos ambientais;

VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

VIII - recuperação de áreas degradadas;

IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;

X - educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da

comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio

ambiente.

Um desses trunfos foi, por exemplo, a criação do SISNAMA (Sistema Nacional do

Meio Ambiente), e de órgãos hierarquicamente inferiores como o IBAMA (Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente), que através de vários instrumentos tiverem a possibilidade de

fomentar e efetivar tais garantias legais, conforme descrito no artigos 6º da lei 6.938/1981:

Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e

dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público,

responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o

Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado:

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16

I - órgão superior: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente

da República na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais

para o meio ambiente e os recursos ambientais;

II - órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente

(CONAMA), com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de

Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos

naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões

compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia

qualidade de vida;

III - órgão central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, com

a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a

política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente;

IV - órgãos executores: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis - IBAMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação da

Biodiversidade - Instituto Chico Mendes, com a finalidade de executar e fazer

executar a política e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente, de

acordo com as respectivas competências;

V - Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução

de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de

provocar a degradação ambiental;

VI - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e

fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições;

Para fomentar e efetivar tais garantias ao meio ambiente à lei no seu artigo 9º criou

vários instrumentos, conforme segue:

São Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:

I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

II - o zoneamento ambiental;

III - a avaliação de impactos ambientais;

IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;

V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção

de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;

VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público

federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante

interesse ecológico e reservas extrativistas; VII - o sistema nacional de informações

sobre o meio ambiente;

VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa

Ambiental;

IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das

medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental.

X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado

anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais

Renováveis - IBAMA;

XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-

se o Poder Público a produzí-las, quando inexistentes;

XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou

utilizadoras dos recursos ambientais.

XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental,

seguro ambiental e outros.

Por conseguinte, essa lei trouxe algo inovador até então no nosso ordenamento

jurídico brasileiro sobre a proteção e melhoria do meio ambiente, pois propiciou a Estados e

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Municípios, de maneira complementar, o auxílio à União para salvaguardar esse bem jurídico

tão importante, conforme redação dada nos §§1º 2º VI, do artigo 6º:

§ 1º - Os Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição,

elaborarão normas supletivas e complementares e padrões relacionados com o meio

ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo CONAMA.

§ 2º O s Municípios, observadas as normas e os padrões federais e estaduais,

também poderão elaborar as normas mencionadas no parágrafo anterior.

Destarte, logo tempo depois, é promulgada a Constituição Federal de 1988, que traz

em seu bojo um capítulo específico na tutela ambiental.

De arremate, a fim de cumprir uma das metas da Política Nacional do meio ambiente,

em 1989 entrou em vigor a Lei 7809/89 que dispõe sobre o uso dos agrotóxicos.

1.7 Tratados e Convenções Internacionais

Após o ponta pé inicial dado pela ONU na Convenção de Estocolmo em 1972, os

países com relativa frequência têm-se intensificado no debate das questões ambientais, e nesse

panorama o Brasil tem se solidarizado com o tema, e incorporado em nosso ordenamento

jurídico tratados e convenções internacionais cuja finalidade é as tratativas dadas aos produtos

perigosos, que abarcam este trabalho.

Em adição a isso, relacionamos os tratados e convenções relacionados na tutela do

meio ambiente em que o Brasil é signatário:

a) Convenção da Basiléia

Efetivada em 22 de março de 1989, na cidade da Basileia na Suíça e aprovada através do

decreto legislativo nº. 34 de 1992 e promulgada pelo Decreto 875 de 19/07/1993 aqui no

Brasil, essa Convenção trata da preocupação dos resíduos produtos perigosos que podem

ultrapassar os limites das dividas dos países.

b) Convenção de Roterdã

Efetivada em 10 de setembro de 1998, na cidade de Roterdã, na Holanda, e aprovada

através do decreto legislativo nº 197 de 2004 e promulgada pelo decreto 5360 de 31/01/2005

aqui no Brasil, essa Convenção objetiva a troca de informações para o uso adequado dos

produtos perigosos, para garantir a proteção da vida humana e do meio ambiente.

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c) Convenção de Estocolmo

Efetivada em 22 de maio de 2001, na cidade de Estocolmo da Suíça e aprovada através do

decreto legislativo nº. 204 de 2004 e promulgada pelo decreto 5472 de 20/06/2005 aqui no

Brasil, essa convenção busca reduzir ou eliminar gradualmente a poluição de produtos

orgânicos que demoram a se decompor no solo, potencializando a contaminação do meio

ambiente e trazendo prejuízos a saúde humana.

1.8 Constituição Federal de 1988

Como já analisado no tópico acima, antes da Constituição de 1988, nenhuma outra

Carta Magna, avalizou o tema ambiental em seu arcabouço, ou seja, só havia proteção por

força de leis infraconstitucionais. Porém, vale sublinhar que em um curto espaço de tempo, o

tema ambiental ganhou reconhecimento internacional e logo adquiriu uma tutela

constitucional.

Sendo assim, com o advento da Constituição Federal de 1988, tido por doutrinadores

como constituição verde, é que efetivamente se deu uma ampla tutela ao meio ambiente e, por

conseguinte fortalecendo e expandindo o lastro de alcance do Direito Ambiental a nível

nacional.

Vale observar que, a nossa carta Magna sofreu influências de constituições de outros

países que foram elaboradas após esse despertar ambiental consolidado durante a Conferência

de Estocolmo na Suécia em 1972, realizada pela ONU com maciça participação de lideres

governamentais mundiais, inclusive do Brasil.

Nesse sentido, as Constituições de Portugal no ano 1976 e da Espanha ano 1978,

acabaram por inspirar os constituintes originários Brasileiros, que anos mais tarde,

elaboraram, discutiram e aprovaram normas assecuratórias no âmbito ambiental.

Nossa Constituição vigente trouxe um capítulo exclusivo para os direitos fundamentais

que se encontram redigidos no seu art. 5º, mas o entendimento jurisprudencial é que esses

direitos estão irradiados por todo o texto constitucional, conforme Lenza (2014, p. 1055):

Iniciamos o estudo pelos direitos e deveres individuais e coletivos, lembrando, desde

já, como manifestou o STF, corroborando a doutrina mais atualizada, que os direitos

e deveres individuais e coletivos não se restringem ao art. 5º da CF/88, podendo ser

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encontrados ao longo do texto constitucional, 1 expressos ou decorrentes do regime

e dos princípios adotados pela Constituição, ou, ainda, decorrentes dos tratados e

convenções internacionais de que o Brasil seja parte.

À tutela do direito ambiental trazida pela Carta Magna está descrita no artigo 225 de

maneira ampla e bem clara. Prontamente, no caput do artigo 225, o legislador brasileiro

sabiamente, deixa elucidado que não é suficiente ter apenas um meio ambiente

ecologicamente equilibrado, mas que esse meio ambiente possa conferir a coletividade uma

sadia qualidade de vida para a atual e para as próximas gerações.

Logo, fica evidente, em nosso entendimento, que se trata de um direito individual de

primeira geração, em que não há a necessidade de uma mobilização estatal para possuí-lo,

uma vez que, ele é correlacionado a direitos inerentes do ser humano que é a vida e a saúde.

Na sequência, o poder constituinte delineia nos parágrafos do artigo 225 uma série de

obrigatoriedades estatais e da coletividade, a fim de se efetivar esse valioso direto, conforme

segue:

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo

ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e

fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus

componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão

permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a

integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente

causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto

ambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e

substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio

ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a

conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem

em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os

animais a crueldade.

§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio

ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público

competente, na forma da lei.

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os

infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,

independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal

Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á,

na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio

ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações

discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida

em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

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20

§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se

consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam

manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal,

registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural

brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar

dos animais envolvidos.

Vale trazer a baila, a interpretação feita por José Afonso da Silva (2013, apud Milaré,

2015, p. 175), que divide o referido artigo em três normas:

“O primeiro aparece no caput, onde se inscreve a norma-matriz, reveladora do

direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado; segundo encontra-se

no §1º, com seus incisos, que versa sobre os instrumentos de garantia da efetividade

do direito enunciado no caput do artigo; o terceiro compreende um conjunto de

determinações particulares, em relação a objetos e setores, referidos nos §§2º a 6º,

que, por tratarem de áreas e situações de elevado conteúdo ecológico, merecem

desde logo proteção constitucional”

Como é sabido pelos operadores do direito, em que há um entrelaçamento de

dispositivos, garantias e direitos em um ordenamento jurídico, logo o constituinte originário

de 1988 assegura no artigo 3º, II, a garantia ao desenvolvimento nacional em harmonia com o

caput do art. 170, que incentiva a ordem econômica, porém essa ordem econômica deve ser

aliada a defesa do meio ambiente, conforme descreve o inciso VI do próprio artigo 170:

“defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto

ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;”.

Por tudo isso, cumpre observar então que a Carta Magna é assecuratória do

desenvolvimento da ordem econômica, porém deve-se sempre ser pautado com o devido

respeito e sintonia ao meio ambiente, ou seja, que haja o desenvolvimento de forma

sustentável.

De arremate, é importante mencionar o ensinamento de Leite (2011, p. 12) sobre o

direito ao meio ambiente: “Trata-se de cláusula pétrea (art. 60, §4º, da CF de 88), qualidade

que distingue das outras normas constitucionais, conferindo-lhes imutabilidade e

intangibilidade, o que impede o retrocesso ecológico”.

1.9 Princípios Fundamentais do Meio Ambiente

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21

1.9.1 Princípio da Prevenção

A pauta deste princípio se dá pelos impactos já conhecidos pela ciência, ou seja, há

uma certeza científica de que determinada intervenção humana cause alguma alteração no

meio ambiente, especificamente um dano, na qual se invoca tal princípio com objetivo de

evitar o implemento desta ação, uma vez que, ao se tratar de meio ambiente a reparação do

mesmo pode não ser reestabelecida nas condições originais anteriores à degradação.

É consenso da maioria dos doutrinadores que a degradação ao meio ambiente é

irreparável, e a título demonstrativo podemos refletir: O que pode ser feito para limpar uma

fonte de água natural contaminada por agroquímico?

A alusão a este princípio é encontrada no plano internacional nas convenções

internacionais já mencionadas no item 1.6 deste trabalho bem como no artigo 225 da

Constituição Federal de 1988.

1.9.2 Princípio do Desenvolvimento Sustentável

Assim como o meio ambiente, o desenvolvimento econômico é salvaguardado pelo

manto constitucional. É importante que se frise, que toda atividade econômica sendo lícita, de

início é livre, porém, torna-se limitada quando analisada sob seu aspecto ambiental.

Na maioria esmagadora das atividades em que são realizadas em consórcio com o

meio ambiente, ela o transforma. Diante desse prisma, vale observar que o desenvolvimento é

necessário para a vida humana atual, contudo deve ser alicerçado por medidas que garanta a

sequência da vida para as próximas gerações.

Sendo assim, o desenvolvimento não poderá ocorrer a qualquer custo, mesmo ele

tendo papel essencial no mundo contemporâneo, mas deve ser pautado por técnicas de

produção aperfeiçoadas e não poluentes, garantindo que os recursos naturais não renováveis

sejam ofertados as futuras gerações de maneira mais conservada possível.

No Brasil, nosso ordenamento jurídico, já encontramos respaldo para o implemento do

desenvolvimento sustentável, nas leis infraconstitucionais 6.938/1981 no artigo 4º, I, que trata

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da Política Nacional do Meio Ambiente, na lei 12.305/2010 no artigo 6º, IV, que trata de

resíduos sólidos e nos artigos 225 e 170, VI da Carta Maior de 1988.

Neste tocante, ganha destaque a redação do artigo 3º, XIII da lei 12.305/2010, no qual

fica clara a necessidade de produzir adotando a sustentabilidade sobre tudo para as gerações

vindouras:

padrões sustentáveis de produção e consumo: produção e consumo de bens e

serviços de forma a atender as necessidades das atuais gerações e permitir melhores

condições de vida, sem comprometer a qualidade ambiental e o atendimento das

necessidades das gerações futuras.

De arremate, a doutrina ambiental busca cada vez mais avançar na conscientização da

população no intuito de termos cada vez mais um ambiente saudável, desta forma Rodrigues

(2016, p. 295) apresenta para tanto três necessidades básicas:

evitar a produção de bens supérfluos e agressivos ao meio ambiente;

convencer o consumidor da necessidade de evitar o consumo de bens “inimigos” do

meio ambiente;

estimular o uso de tecnologias limpas no exercício da atividade econômica.

1.9.3 Princípio do Poluidor-pagador

O objetivo deve princípio decorre da necessidade do pagamento por danos ambientais

causados para quem poluir o meio ambiente, mesmo que de maneira culposa. Vale ressaltar

que, esse princípio afasta a idéia de que o agente pagando pode poluir.

É bom o destaque, mais uma vez, que poluído o meio ambiente dificilmente retornará

as condições originais anteriores aos danos ocorridos.

Este princípio, no plano internacional, é referendado na Declaração do Rio 92, bem

como na farta legislação nacional no artigo 4º, VII da lei 6.938/1981, no artigo 33 §6º da lei

12.305/2010 e no artigo 6º, §5º da lei 7.802/1989 e na esfera constitucional no artigo 225, §3º

da Constituição Federal de 1988, que descreve uma possível tripla punição, ou seja, no âmbito

civil, penal e administrativa.

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23

1.9.4 Princípio da Cooperação entre os povos

Haja vista que, a degradação ambiental pode ultrapassar os limites territoriais de

qualquer país, e o meio ambiente é uno, criou-se na esfera internacional a necessidade dos

países protegerem o meio ambiente, pois uma agressão feita num determinado território

poderá ter seus efeitos sentidos em territórios vizinhos.

Nesse sentido, esse princípio é encontrado na Declaração de Estocolmo de 1972,

notadamente no princípio 22 com a seguinte redação:

Os Estados devem cooperar para continuar desenvolvendo o direito internacional no

que se refere à responsabilidade e à indenização às vítimas da poluição e de outros

danos ambientais que as atividades realizadas dentro da jurisdição ou sob o controle

de tais Estados causem à zonas fora de sua jurisdição.

Já no rol dos princípios da Declaração do Rio 92, ele está presente no princípio 27:

Os Estados e os povos irão cooperar de boa fé e imbuídos de um espírito de parceria

para a realização dos princípios consubstanciados nesta Declaração, e para o

desenvolvimento progressivo do direito internacional no campo do desenvolvimento

sustentável.

Não obstante, nacionalmente aludido no art. 4º, IX da CF/1988, da seguinte forma

“cooperação entre os povos para o progresso da humanidade”; e no art. 77, da lei 9605/1998:

Resguardados a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes, o Governo

brasileiro prestará, no que concerne ao meio ambiente, a necessária cooperação a

outro país, sem qualquer ônus, quando solicitado para:

I - produção de prova;

II - exame de objetos e lugares;

III - informações sobre pessoas e coisas;

IV - presença temporária da pessoa presa, cujas declarações tenham relevância para

a decisão de uma causa;

V - outras formas de assistência permitidas pela legislação em vigor ou pelos

tratados de que o Brasil seja parte.

1.9.5 Princípio da Solidariedade intergerencial ou equidade

Para sobreviver de maneira saudável, à espécie humana necessariamente utiliza-se do

meio ambiente extraindo-lhes seus recursos naturais, porém é sempre bom lembrar que muitos

desses recursos são finitos e que outros bens da natureza necessitam de alguns seres, tais

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como os polinizadores, cujo destaque são as abelhas para que o ambiente sempre esteja em

harmonia. Sendo assim, vale uma atenção do que são exatamente polinizadores segundo P.J.

Gullan e P. S. Cranston (2017, p. 233):

A reprodução sexuada nas plantas envolve a polinização: transferência de pólen

(gameta masculino dentro de uma cobertura protetora) das anteras de uma flor para o

estigma. Um tubo polínico cresce desde o estigma, através do estilete, até um óvulo

no ovário, onde ocorre a fecundação. O pólen em geral é transferido por um animal

polinizador ou pelo vento. A transferência pode ser das anteras para o estigma da

mesma planta (da mesma flor ou de uma flor diferente) (autopolinização) ou entre

flores em plantas diferentes (com genótipos diferentes) da mesma espécie

(polinização cruzada). Os animais, em especial os insetos, polinizam a maioria das

plantas com flores. Argumenta-se que o sucesso das angiospermas está relacionado

ao desenvolvimento dessas interações. Os benefícios da polinização por insetos

(entomofilia) sobre a polinização pelo vento (anemofilia) incluem:

Aumento na eficiência da polinização, incluindo a redução do desperdício de pólen

Polinização bem-sucedida sob condições não adequadas para a polinização pelo

vento

Maximização do número de espécies de plantas em uma dada área (já que mesmo

plantas raras podem receber polens da mesma espécie, carregados por insetos dentro

da área).

Por esta razão, a atual geração humana deve-se preocupar em retirar somente o

necessário do meio ambiente a fim de garantir a sua sobrevivência e necessita-se preservá-lo,

de maneira solidária, para que as futuras gerações possam acessa-los.

Encontramos esse princípio estampado no artigo 225, caput da Constituição Federal de

1988 e no plano internacional no princípio 2 da Declaração de Estocolmo de 1972, conforme

a redação:

“Os recursos naturais da terra incluídos o ar, a água, a terra, a flora e a fauna e

especialmente amostras representativas dos ecossistemas naturais devem ser

preservados em benefício das gerações presentes e futuras, mediante uma cuidadosa

planificação ou ordenamento.

Em seguida, esse princípio foi mais uma vez tutela no princípio 3 da Declaração do

Rio de 1992. “O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam

atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente das

gerações presentes e futuras”.

Nesse prisma, há de observar uma dose de ética da atual geração de seres humanos em

relação às gerações futuras, uma vez que, hoje não sabemos as reais necessidades das futuras

gerações.

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25

1.9.6 Princípio da Natureza Pública da Proteção Ambiental

Com base no artigo 225, caput da Constituição Federal de 1988, o Estado brasileiro

tem o dever de defender e de preservar o meio ambiente, porém o legislador constituinte não

conferiu exclusividade ao Poder Público nessa missão, visto que delegou também atribuições

a toda coletividade para que se busque a concretização desse preceito fundamental.

A Política de Nacional do Meio Ambiente, instituída pela lei 6938/81, trás no seu

artigo 9 (já descrito no item 1.5 deste trabalho), um rol de instrumentos para que o Estado

solidifique a defesa do meio ambiente.

1.9.7 Princípio da Participação

Este princípio é correlacionado com o princípio da informação, pois para que o

cidadão possua participar em defesa do meio ambiente, é necessário que ele tenha acesso às

informações do mesmo, cuja obrigatoriedade é do Poder Público em disponibilizá-las.

Como no dito popular brasileiro “uma andorinha sozinha não faz verão”, as

reivindicações dos cidadãos ligadas ao tema ambiental para que possa ter mais eficácia, o

ideal é que haja a união de várias pessoas que comungam da mesma causa através de ONGs

(Organizações não Governamentais), para que seus pleitos tenham mais chances de serem

ouvidas pelos órgãos estatais.

Sendo assim, a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente trouxe a consagração desse

princípio da participação no seu art. 13, que tem o seguinte texto:

O Poder Executivo incentivará as atividades voltadas ao meio ambiente, visando:

I - ao desenvolvimento, no País, de pesquisas e processos tecnológicos destinados a

reduzir a degradação da qualidade ambiental;

II - à fabricação de equipamentos antipoluidores;

III - a outras iniciativas que propiciem a racionalização do uso de recursos

ambientais.

Parágrafo único. Os órgãos, entidades e programas do Poder Público, destinados ao

incentivo das pesquisas científicas e tecnológicas, considerarão, entre as suas metas

prioritárias, o apoio aos projetos que visem a adquirir e desenvolver conhecimentos

básicos e aplicáveis na área ambiental e ecológica.

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26

Vale lembrar também que essa mesma lei nos respectivos artigos 9º, VII, sob a

redação, “o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente” e XI descrito da seguinte

forma: “a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o

Poder Público a produzi-las, quando inexistentes”, cria a possibilidade de qualquer um em ter

acesso aos dados ambientais, e posteriormente no Estatuto Supremo elevou tal princípio a

nível constitucional, com a redação do artigo 225, §1º, VI “promover a educação ambiental

em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio

ambiente;”.

Ainda na seara infraconstitucional, cabe o destaque da lei 7.802/1989 - Lei dos

Agrotóxicos, que abriu a possibilidade das associações e do consumidor em impugnar o

registro ou pedir cancelamento de agrotóxicos que venham causar prejuízos ao meio

ambiente, saúde humana ou de animais. Segue então a redação do artigo 5º caput e III:

Possuem legitimidade para requerer o cancelamento ou a impugnação, em nome

próprio, do registro de agrotóxicos e afins, argüindo prejuízos ao meio ambiente, à

saúde humana e dos animais:

III-entidades legalmente constituídas para defesa dos interesses difusos relacionados

à proteção do consumidor, do meio ambiente e dos recursos naturais.

Neste caminho, o devido reconhecimento internacional da participação comunitária, se

deu na Declaração do Rio em 1992, com a fixação do princípio 10:

A melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a participação, no

nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada

indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente de que

disponham as autoridades públicas, inclusive informações acerca de materiais e

atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar

dos processos decisórios. Os Estados irão facilitar e estimular a conscientização e a

participação popular, colocando as informações à disposição de todos. Será

proporcionado o acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive

no que se refere à compensação e reparação de danos.

1.9.8 Princípio da proibição do retrocesso ambiental

A importância dada pelo legislador constituinte ao tema ambiental ao elaborar a Carta

Magna de 1988 é tão veemente que tal norma é pétrea. Esse respaldo se encontra no artigo 5º,

§ 1º da CF/1988 – “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm

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27

aplicação imediata” em consórcio com o artigo 60, §4º, IV, do texto constitucional, “Não será

objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: IV – os direitos e garantias

individuais”. Sendo assim, há vedação de sugestões de mudanças constitucionais que tente

abolir ou diminuir direitos fundamentais, logo esses direitos até podem ser pauta de

apreciação, mas sempre com intuito de preservá-los ou aumentá-los.

Em adição, nossa Constituição Federal ao apresentar essa normatização que veda o

retrocesso de direitos fundamentais, baliza as normas infraconstitucionais que versarem sobre

o tema de direito ambiental, cujos referidos direitos devem ser mantidos, sob o risco de as

mesmas serem declaradas inconstitucionais. Sob esse aspecto, cabe trazer os ensinamentos de

Sarlet e Fensterseifer (2011, p. 199):

“é possível afirmar que a garantia da proibição de retrocesso tem por escorpo

preservar o bloco normativo – constitucional e infraconstitucional – já construído e

consolidado no ordenamento jurídico, especialmente naquilo em que objetiva

assegurar a fruição dos direitos fundamentas, impedindo ou assegurando o controle

de atos que venham a provocar a supressão ou restrição dos níveis de efetividade

vigentes dos direitos fundamentais.”

Releva observar que, a recente lei 12.651/12 que instituiu o Novo Código Florestal

traz em sua redação uma cláusula de progressividade, ou seja, o dever estatal de sempre estar

evoluindo em matéria ambiental, conforme descrição do artigo 41 desta lei:

É o Poder Executivo federal autorizado a instituir, sem prejuízo do cumprimento da

legislação ambiental, programa de apoio e incentivo à conservação do meio

ambiente, bem como para adoção de tecnologias e boas práticas que conciliem a

produtividade agropecuária e florestal, com redução dos impactos ambientais, como

forma de promoção do desenvolvimento ecologicamente sustentável, observados

sempre os critérios de progressividade, abrangendo as seguintes categorias e linhas

de ação:

I - pagamento ou incentivo a serviços ambientais como retribuição, monetária ou

não, às atividades de conservação e melhoria dos ecossistemas e que gerem serviços

ambientais, tais como, isolada ou cumulativamente:

a) o sequestro, a conservação, a manutenção e o aumento do estoque e a diminuição

do fluxo de carbono;

b) a conservação da beleza cênica natural;

c) a conservação da biodiversidade;

d) a conservação das águas e dos serviços hídricos;

e) a regulação do clima;

f) a valorização cultural e do conhecimento tradicional ecossistêmico;

g) a conservação e o melhoramento do solo;

h) a manutenção de Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso

restrito;

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28

1.9.9 Princípio da função socioambiental da propriedade

O Brasil mesmo vivendo uma época sombria quanto a incertezas políticas e jurídicas

em meados da metade do século XX, com o regime militar, foi-se introduzido no

ordenamento jurídico infraconstitucional o Estatuto da Terra que trouxe uma condicionante ao

direito de propriedade rural em sintonia com a conservação dos recursos naturais, conforme

redação do art. 2º,§1º, alínea C “A propriedade da terra desempenha integralmente a sua

função social quando, simultaneamente: c) assegura a conservação dos recursos naturais”.

Anos mais tarde, a Constituição de 1988, tutela a função social da propriedade

alinhada com a utilização adequada dos recursos naturais e a preservação do meio ambiente,

conforme artigo 186, incisos I e II:

A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,

segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

I - aproveitamento racional e adequado;

II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio

ambiente;

A legislação Brasileira mais novel, ao tratar do direito de propriedade impõe ao

possuidor ou proprietário, mais um ofício que é o dever de zelar pelo patrimônio ambiental,

conforme redação dada pelo artigo 1228 §1º do Código Civil de 2002, a saber:

O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades

econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o

estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio

ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e

das águas.

Esse artigo do código civil, doutrinariamente é chamado de ecologização da

propriedade, conforme nos ensina Amado (2015, p. 102):

Outrossim, a função social (ou socioambiental) não se configura como simples

limitação ao exercício do direito de propriedade, e sim tem caráter endógeno,

apresentando-se como quinto atributo ao lado do uso, gozo, disposição e

reivindicação. Na realidade, operou-se a ecologização da propriedade.

Outro exemplo é o artigo 2º, §1º da Lei 12.651/2012 (Novo Código Florestal) em que

determina como uso irregular da propriedade, ações divergentes as tutelada por essa lei.

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29

1.9.10 Princípio da responsabilidade compartilhada

Com as novas maneiras de consumo realizadas pelos seres humanos, vem se adotando

o emprego de técnicas de transformações de produtos, que gera um volume de resíduos

inadequados que afeta o meio ambiente. Nesse sentido, criou-se a necessidade de adotar novas

medidas que possam dar finalidades diversas das práticas feitas até então desses resíduos,

como a titulo de exemplo o descarte a céu aberto.

Acompanhando essa nova tendência, no Brasil, foi sancionada a lei 12.305/2010

instituindo a Política de Resíduos Sólidos, que dentre outras especificidades, adota o princípio

da responsabilidade compartilhada no seu artigo 6º, VII, no qual visa dar uma destinação

adequada os resíduos poluentes ao meio ambiente.

Em resumo, tem-se a idéia de que todo o resíduo sólido que possa prejudicar o meio

ambiente, desde o seu fabricante, passando pelo seu revendedor, até chegar ao usuário final,

deve voltar à origem, isto é, retornar para o fabricante do mesmo. Esse processo é chamado

pela lei como logística reversa, conforme o disposto no artigo 33 Política de Resíduos

Sólidos:

São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante

retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço

público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes,

importadores, distribuidores e comerciantes de:

E esse mesmo artigo, o legislador reservou um inciso específico, sendo ele o I, para as

embalagens de agrotóxicos, com a seguinte normatização:

agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja

embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de

gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas

estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do SNVS e do Suasa, ou em normas

técnicas;

Aqui foram apresentados vários princípios, que são basilares do direito ambiental e

que dão sustento a esse trabalho. Na doutrina, encontra-se vários outros princípios, que

igualmente a esses, visam aperfeiçoar a relações humanas junto ao meio ambiente, pois a

proteção do meio ambiente deve ser contínua e permanente, sendo os princípios de grande

valia para os estudos e para o aprimoramento de normas do sistema jurídico.

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30

II AGROTÓXICOS

2.1 Definição no mundo

A ONU (Organização das Nações Unidas) através do seu programa voltado para as

questões relacionadas à agricultura e alimentação – FAO (Food and Agriculture

Organization), assim definiu o que é agrotóxico, segundo o estudo feito por Peres (2003, p.

24):

qualquer substância, ou mistura de substâncias, usadas para prevenir, destruir ou

controlar qualquer praga – incluindo vetores de doenças humanas e animais,

espécies indesejadas de plantas ou animais, causadoras de danos durante (ou

interferindo na) a produção, processamento, estocagem, transporte ou distribuição de

alimentos, produtos agrícolas, madeira e derivados, ou que – ou que deva ser

administrada para o controle de insetos, aracnídeos e outras pestes que acometem os

corpos de animais de criação.

2.2 Definição no Brasil

O termo agrotóxico só foi adotado no sistema jurídico brasileiro com o advento da lei

7.802/1989, tida como a lei dos agrotóxicos.

2.3 Lei dos Agrotóxicos

Com o objetivo de verticalizar sobre uma das políticas nacionais de prevenção ao meio

ambiente trazida pela lei 6.938/1981, bem como de adequar as novas tratativas feitas pela

nossa Constituição, foi promulgada a lei nº. 7.802/1989 que dentre outros assuntos qualifica e

normatiza toda cadeia comercial do agrotóxico, seus componentes e afins.

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31

De início, a lei 7.802/1989 descreve no seu artigo 2º, I, apresenta o conceito de

agrotóxico da seguinte maneira:

I - agrotóxicos e afins:

a) os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados

ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos

agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de

outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja

finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da

ação danosa de seres vivos considerados nocivos;

b) substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes,

estimuladores e inibidores de crescimento;

Sirvinskas (2010, p. 476), aprofunda o estudo sobre o conceito de agrotóxicos com os

seguintes dizeres:

Esse conceito coloca em relevo a presença de produtos perigosos, assim como

defensivos agrícolas (fertizantes e agrotóxicos). Não há informações precisas sobre a

utilização errônea desses produtos pelos agricultores. Note-se, no entanto, que o uso

excessivo de fertilizantes pode causar acidificação dos solos, contaminação dos

reservatórios de água e eutrofização (execesso de nutrientes na água que provoca o

crescimento exagerado de organismos como algas). Mas também pode causar danos

ao meio ambiente e colocar em risco a saúde da população que consome produtos

com excesso de agrotóxicos.

O legislador ainda expõe nesse mesmo artigo só que no inciso II, o conceito de

componentes dos agrotóxicos, da seguinte forma: “componentes: os princípios ativos, os

produtos técnicos, suas matérias-primas, os ingredientes inertes e aditivos usados na

fabricação de agrotóxicos e afins”.

2.3.1 Registro dos Agrotóxicos

Como primeira medida administrativa a ser tomada pelo registrante, a fim de

conseguir o registro do agrotóxico, seus componentes e afins, é cumprir as normas assim

descritas do artigo 3º da lei 7.802/89:

Os agrotóxicos, seus componentes e afins, de acordo com definição do art. 2º desta

Lei, só poderão ser produzidos, exportados, importados, comercializados e

utilizados, se previamente registrados em órgão federal, de acordo com as diretrizes

e exigências dos órgãos federais responsáveis pelos setores da saúde, do meio

ambiente e da agricultura.

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Demais disso, o registrante deve se adequar as legalidades estabelecidas pelo Capítulo

III, seção I do decreto 4.074/2002, que disciplina toda a fase de registro desses produtos.

Nesse sentido, os três ministérios governamentais deve apreciar o pedido prévio do

registro, através de avaliações técnico-científica, isto é, especificações necessárias de acordo

com a competência atinente de cada Ministério, conforme é evidenciado no artigo 15 do

decreto 4.074/2002: “Os órgãos federais competentes deverão realizar a avaliação técnico-

científica, para fins de registro ou reavaliação de registro, no prazo de até cento e vinte

dias,contados a partir da data do respectivo protocolo”.

Logo na sequência, concluída a fase do protocolo de registro, por força do artigo 5º,

§3º da lei 7.802/89, deverá ser dada publicidade ao mesmo, através de publicação do seu

resumo no Diário Oficial da União.

Vale trazer a baila, a crítica apontada por Machado (2013, p. 732):

A publicidade previa prevista pela lei e pelo regulamento merece aplausos, mas isso

não impede de se propugnar pelo aperfeiçoamento da medida. O regulamento foi

incompleto ao não obrigar que outros dados devessem constar da publicação, tais

como: a classificação referente à toxicidade humana, resultados dos testes efetuados,

assim como das analises indicativas da persistência de resíduos (por exemplo),

dados relativos ao potencial mutagênico, embriofetotoxico e carcinogênico em

animais. Temos ciência de que essas informações irão constar dos relatórios técnicos

endereçados aos órgãos administrativos federais. Isso e insuficiente, pois as pessoas

e as associações de defesa do meio ambiente não terão possibilidade financeira e

tempo para se locomover até Brasília para verificar a documentação de cada pedido.

Cumpre destacar que, são assegurados os ministérios da agricultura, saúde e meio

ambiente que a qualquer tempo, o poder de requerer ao requisitante dados que reafirmam

essas análises de toxicidade apresentadas no registro, conforme o artigo 21 do decreto

4.074/2002: “O requerente ou titular de registro deve apresentar, quando solicitado, amostra e

padrões analíticos considerados necessários pelos órgãos responsáveis pelos setores de

agricultura, saúde e meio ambiente”.

Esse mesmo regramento explanado acima também deve ser atendido no caso de

pedido de cancelamento e de impugnação de registro de agrotóxicos, componentes e afins.

O legislador também teve o cuidado em aplicar uma normatização diferente entre o

registro novo e os produtos que já possuem o registro e que sofreram alterações na sua

composição.

Nesse caminho, o artigo 9º do decreto 4.074/2002 traz explícito em sua redação:

Os requerentes e titulares de registro fornecerão, obrigatoriamente, aos órgãos

federais responsáveis pelos setores de agricultura, saúde e meio ambiente, as

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33

inovações concernentes aos dados apresentados para registro e reavaliação de

registro dos seus produtos.

Sendo assim, se determinado agrotóxico detentor de registro, incidir algum tipo de

inovação, as informações referentes a essa mudança deverá ser comunicação aos Ministérios

competentes.

Por outro lado, o registro de um novo agrotóxico, componente e afins, deverá, segundo

o artigo 3º §5º da lei 7.802/1989, evidenciar que o nível de toxicidade ao ser humano e ao

meio ambiente seja igual ou menor do que os já apresentados pelos que possuem o registro.

Esse artigo acima citado passou por regulamentação através do art. 20 do decreto 4.074/2002,

donde fixou mais diretrizes a serem cumpridas.

Cumpre destacar, através de grifo nosso, que o referido artigo 3º, §5º da lei 7.802/89

ao descrever o termo “comprovadamente igual”, destoa da cláusula de progressividade

constante no princípio de não retrocesso ao meio ambiente, conforme explica Sarlet (2011, p.

203), em sua obra:

“Em outras palavras, a cláusula de progressividade veicula a necessidade de a tutela

legislativa dispensada a determinado direito fundamental ser permanentemente

aprimorada e fortificada... também se faz imperativo, especialmente relevante no

contexto da proteção do ambiente, uma obrigação de “melhorar”, ou seja, de

aprimorar tais condições normativas – e também fáticas – no sentido de assegurar

um contexto cada vez mais favorável ao desfrute de uma vida digna e saudável pelo

indivíduo e pela coletividade como um todo”.

Por conseguinte, cumpre observar sobre o cancelamento do registro dos agrotóxicos,

em inteligência ao artigo 22 caput do decreto 4074/89:

Será cancelado o registro de agrotóxicos, seus componentes e afins sempre que

constatada modificação não autorizada pelos órgãos federais dos setores de

agricultura, saúde e meio ambiente em fórmula, dose, condições de fabricação,

indicação de aplicação e especificações enunciadas em rótulo e bula, ou outras

modificações em desacordo com o registro concedido.

A proibição do registro de agrotóxicos está elencada na lei dos agrotóxicos em seu

artigo 3º § 6º, sendo este regulamentado pelo art. 31 do decreto 4.074/2002 da seguinte forma:

É proibido o registro de agrotóxicos, seus componentes e afins:

I - para os quais no Brasil não se disponha de métodos para desativação de seus

componentes, de modo a impedir que os seus resíduos remanescentes provoquem

riscos ao meio ambiente e à saúde pública;

II - para os quais não haja antídoto ou tratamento eficaz no Brasil;

III - considerados teratogênicos, que apresentem evidências suficientes nesse

sentido, a partir de observações na espécie humana ou de estudos em animais de

experimentação;

IV - considerados carcinogênicos, que apresentem evidências suficientes nesse

sentido, a partir de observações na espécie humana ou de estudos em animais de

experimentação;

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V - considerados mutagênicos, capazes de induzir mutações observadas em, no

mínimo, dois testes, um deles para detectar mutações gênicas, realizado, inclusive,

com uso de ativação metabólica, e o outro para detectar mutações cromossômicas;

VI - que provoquem distúrbios hormonais, danos ao aparelho reprodutor, de acordo

com procedimentos e experiências atualizadas na comunidade científica;

VII - que se revelem mais perigosos para o homem do que os testes de laboratório,

com animais, tenham podido demonstrar, segundo critérios técnicos e científicos

atualizados; e

VIII - cujas características causem danos ao meio ambiente.

§ 1º - Devem ser considerados como "desativação de seus componentes" os

processos de inativação dos ingredientes ativos que minimizem os riscos ao meio

ambiente e à saúde humana.

§ 2º - Os testes, as provas e os estudos sobre mutagênese, carcinogênese e

teratogênese, realizados no mínimo em duas espécies animais, devem ser efetuados

com a aplicação de critérios aceitos por instituições técnico-científicas nacionais ou

internacionais reconhecidas.

A lei 7.802/89 e o decreto 4.074/2002 tratam da regulamentação desses produtos e

abre a possibilidade de ter reavaliação se houver sinais de um dano, conforme aponta o artigo

13 do decreto 4.074/2002. Logo, em consequência disso há um favorecimento para que esses

produtos fiquem no mercado até que os consumidores de produtos ou associações não

governamentais consigam por forças próprias pressionar para que possam ser ouvidos e

obtenham a reavaliação dos mesmos. Sendo assim, não há uma avaliação periódica desses

produtos.

Mediante informações de organizações internacionais sobre possíveis danos ao meio

ambiente, saúde e a alimentação, de determinado agrotóxico, seus componentes ou afins, o

Brasil terá de agir de maneira rápida tomando as medidas cabíveis, com fulcro no artigo 3º,

§4º da lei 7.802/89. Nesse sentido, em caso de inércia do Poder Público será cabível a pena

tríplice de responsabilidade, ou seja, pena administrativa, civil e penal.

Na opinião de Antunes (2009, p. 661), mesmo o Brasil não sendo signatário de tais

organizações internacionais, é de grande valia uma atenção os documentos produzidos por

eles, a fim de comparar com as práticas que implementamos em nosso dia a dia. Sendo assim,

o doutrinador pontua: “Manda o bom senso que medidas preventivas sejam adotadas, com

vistas ao esclarecimento das questões suscitadas pelo documento do organismo

internacional”.

O artigo 6º da lei 7.802/89 traz todo um regramento de como dever ser as embalagens,

bem como as informações que elas devem conter. Com a regulamentação feita pelo decreto

4.074/2002, houve um incremento dessas regras pelos artigos 43 e 44, em que as embalagens

necessitam também se adequarem aos requisitos dos órgãos federais responsáveis pelo

registro dos agrotóxicos.

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35

A parte final do referido artigo 43 é muito clara ao penalizar com a suspensão do

registro do agrotóxico, caso haja a inobservância da lei.

Nas situações em que houver a necessidade de venda de agrotóxico em que ocorra

fracionamento ou reembalagem do produto, os artigos 6º § 1º da lei 7.802/89 e artigo 45 do

decreto 4.074/2002 só concede o aval para a empresa produtora do respectivo produto ou pelo

manipulador, em local devidamente apropriado.

Se houver algum tipo de prejuízo ao meio ambiente, a saúde humana ou aos animais,

as pessoas do artigo 5º da lei 7.802/89 poderão reivindicar a impugnação ou o cancelamento

dos agrotóxicos ao Poder Público.

Além de cumprir as exigências estabelecidas pela lei 7.802/89 e das normativas que a

regulamentam, outra finalidade de registrar os agrotóxicos, seus componentes e afins, é a

possibilidade de riscos do produto vier a causar insegurança ao consumidor, segundo os

ditames apresentados pelo art. 12 da lei 8078/90 conhecido como Código de Defesa do

Consumidor:

O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador

respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos

causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação,

construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento

de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua

utilização e riscos.

§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente

se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - sua apresentação;

II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - a época em que foi colocado em circulação.

Releva observar, a anotação feita por Peres (2003, p.26):

Além disso, a expectativa da sociedade é de que a aprovação do registro de um

agrotóxico signifique o reconhecimento e a garantia de que o produto, quando

utilizado da maneira recomendada, esteja dentro dos limites de segurança aceitos

para a saúde e o ambiente.

2.3.2 Da importação

De acordo com o artigo 3º da lei 7.802/89, só será aceito em território nacional a

importação de agrotóxico, seus componentes e afins se esses produtos estiverem devidamente

registrados nos órgãos federais Brasileiros titulares dessa competência.

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Alguns estados da federação optaram também em legislar de maneira complementar

sobre essa questão da importação de agrotóxico, como é o caso de Rondônia ao redigir o

artigo 231 de sua constituição local, com a seguinte redação: “Fica terminantemente proibido

o uso, o consumo e a venda de qualquer produto ou substancia cujo consumo ou fabricação

tenha sido proibido no País de origem, seja para utilização humana, seja para utilização

agrícola, pecuária ou silvícola”.

2.3.3 Da receita agronômica

A comercialização dos agrotóxicos, seus componentes e afins, só pode ser efetivada

perante a apresentação de receita agronômica, exceto quando o produto for de baixa

periculosidade, conforme o artigo 13 da lei 7.802/1989 “A venda de agrotóxicos e afins aos

usuários será feita através de receituário próprio, prescrito por profissionais legalmente

habilitados, salvo casos excepcionais que forem previstos na regulamentação desta Lei.”; e

em consonância com artigos 1º, XXXIX e 67 do Decreto 4.074/2002.

Cabe observar que, a lei deixou para o decreto especificar quais seriam as situações

que compete a dispensa, contudo o decreto limitou-se a descrever as hipóteses de baixa

periculosidade, não deixando clara as reais hipóteses.

Na posse dos agrotóxicos, seus componentes e afins, o usuário ou prestador de

serviços terá de manuseá-los de acordo com o receituário fornecido pelo profissional

habilitado e pelo fabricante do referido produto, sob pena de responsabilidade, de acordo com

o estabelecido no caput e no inciso b do artigo 14 da lei 7.802/89:

As responsabilidades administrativa, civil e penal pelos danos causados à saúde das

pessoas e ao meio ambiente, quando a produção, comercialização, utilização,

transporte e destinação de embalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e

afins, não cumprirem o disposto na legislação pertinente:

b - ao usuário ou ao prestador de serviços, quando proceder em desacordo com o

receituário ou as recomendações do fabricante e órgãos registrantes e sanitário-

ambientais;

Nesse sentido, a lei 9.605/1998 que é específica para tratar dessa tripla penalidade ao

infrator ambiental, acentua no artigo 56, § 3º: “Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis

meses a um ano, e multa”. Ou seja, no âmbito penal o mero descumprimento de uma norma

insurgirá uma punição, não necessitando de dolo na conduta.

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Ainda que haja a obrigatoriedade do uso do receituário, no dia a dia, existem

problemas nessa implementação, segundo Londres (2011, p. 104):

“São infinitos os relatos, entretanto, de que esta exigência não costuma representar

impedimento ao comercio de agrotóxicos: “emite-se o papel, desde que não se perca

a venda”. Em muitos casos, os comerciantes guardam blocos de receitas assinadas,

que são preenchidas pelo vendedor no momento da venda. E muito comum, ainda,

que a recomendação aos agricultores sobre produtos e quantidades a serem usados

nas lavouras seja feita pelos próprios vendedores das casas agropecuárias”.

Para que possa ser emitida a receita, a lei incumbe ao emitente um diagnóstico

conforme o art. 66 do decreto 4.074/2002, o que pressupõe a idéia de que o profissional se

dirija a área de onde se pretende efetuar a aplicação do agrotóxico, onde se analisa se há a

necessidade mesmo da aplicação de produto químico.

Esse artigo ainda menciona que na análise, o profissional também deve verificar que

tipo de cultura ou problema e qual modalidade de aplicação é adequada para a respectiva área.

Portanto, a visita “in loco”, permitirá que seja cumprido o disposto no art. 4º do Código

Florestal, que regulamenta as distâncias das áreas de proteção permanente, da seguinte forma:

Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os

efeitos desta Lei: I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e

intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em

largura mínima de:

a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;

b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50

(cinquenta) metros de largura;

c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200

(duzentos) metros de largura;

d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600

(seiscentos) metros de largura;

e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600

(seiscentos) metros;

II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:

a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte)

hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;

b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;

III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de

barramento ou represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na licença

ambiental do empreendimento;

IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja

sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros;

V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100%

(cem por cento) na linha de maior declive;

VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

VII - os manguezais, em toda a sua extensão;

VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em

faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;

IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100

(cem) metros e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da

curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação

sempre em relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por

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planície ou espelho d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto

de sela mais próximo da elevação;

X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja

a vegetação;

XI - em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de

50 (cinquenta) metros, a partir do espaço permanentemente brejoso e encharcado.

2.3.4 Usuário de Agrotóxico

A legislação Brasileira não obriga o registro de usuário de agrotóxicos, seus

componentes e afins nos órgãos competentes. A obrigatoriedade ocorrerá somente para o

prestador de serviços, seja ele pessoa física ou pessoa jurídica, conforme o descrito no artigo

4º da lei 7.802/1989.

De efeito, o prestador de serviços deve ficar atento à receita agronômica, no qual se

suspeitar de algo de errado deverá questionar o emitente da mesma, uma vez que, se houver

algum tipo de erro e for manuseado conforme a orientação da mesma será passível de

punição.

O manejo dos agrotóxicos, seus componentes e afins, requer alguns cuidados, haja

vista que podem gerar sequelas a quem manuseia, compreendendo assim a um grupo de maior

risco. Sendo assim, a lei incumbiu ao empregador o dever de fornecer os EPI (equipamento de

proteção individual), conforme redação dada pelo artigo 14 caput e alínea f, da lei 7.802/1989:

As responsabilidades administrativa, civil e penal pelos danos causados à saúde das

pessoas e ao meio ambiente, quando a produção, comercialização, utilização,

transporte e destinação de embalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e

afins, não cumprirem o disposto na legislação pertinente:

f - ao empregador, quando não fornecer e não fizer manutenção dos equipamentos

adequados à proteção da saúde dos trabalhadores ou dos equipamentos na produção,

distribuição e aplicação dos produtos.

Mesmo com essa regulamentação, há uma lacuna de falha na proteção, conforme

apontado por Londres (2011, p.26) tendo assim outro grupo de risco, porém de maneira

indireta:

Há os aplicadores, preparadores de caldas e responsáveis por depósitos, que tem

contato direto com os produtos, e há também os trabalhadores que tem contato

indireto com os venenos ao realizar capinas, roçadas, colheitas etc. Este segundo

grupo e, na verdade, o de maior risco, uma vez que o intervalo de reentrada nas

lavouras não costuma ser respeitado e estes trabalhadores não usam proteção.

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Vale trazer a baila, o apontamento feito por Peres (2003, p. 336), em que se verifica

um grande grupo de usuários que possuem um nível de ensino precário, em muitos casos

semianalfabetos, que ao terem contato com as receitas, a bulas e rótulos dos agrotóxicos

acabam não interpretando de maneira adequada as contidas informações contidas neles.

2.3.5 Das embalagens

As embalagens dos agrotóxicos, ainda que vazias e lavadas podem gerar

contaminações no solo e na água, conforme pontua Londres (2011, p. 105).

Sendo assim, a lei 7.802/89 em seu artigo 6º § 2º atribuiu responsabilidade ao usuário

de agrotóxicos para que faça a devolução das embalagens e da sobra de produto caso exista,

no local onde adquiriu o referido produto, num prazo máximo de 01 ano após a respectiva

compra.

A lei proporciona outra opção ao usuário, a de entregar as embalagens e a sobras em

postos licenciados pelo órgão federal.

Ainda de acordo com esse regramento, o artigo 6º § 5º da lei 7.802/89 determina que

na posse dessas embalagens, os fabricantes e os comerciantes dos agrotóxicos façam a

destinação adequada a elas, sendo possível a sua reutilização, a reciclagem ou a inutilização.

2.3.6 Reavaliação de agrotóxicos

Em ação civil pública movida pelo Ministério Público do Distrito federal diante da

inércia do Estado brasileiro em por em prática os regramentos encravados na lei 7.802/1989,

dentre eles a reavaliação toxicológica de agrotóxicos e afins, a juíza em 03/08/2018 ao

analisar a liminar do processo 0021371-49.2014.4.01.3400 ajuizada pelo Ministério Público

do Distrito Federal, determinou a reavaliação imediata de alguns agrotóxicos, cujo destaque é

o Glifosato produto mais utilizado na agricultura brasileira.

Tal decisão foi alicerçada com base nas seguintes situações:

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...Ocorre que, no Brasil, uma vez concedido o registro de determinado agrotóxico,

este possui prazo de validade indeterminado; no entanto, o conhecimento técnico

científico sobre os ingredientes ativos e, especialmente, sobre o surgimento de

perigos e riscos associados ao uso é dinâmico, podendo apresentar novos estudos

que imponham a reconsideração toxicológica e os efeitos do ingrediente ativo, razão

pela qual a Lei n.° 7.802/1989 e o Decreto n.° 4.074/2002 preveem o procedimento

de reavaliação toxicológica...

...Em relação aos aspectos toxicológicos, a reavaliação de agrotóxicos ocorre quando

há alguma indicação de perigo ou risco à saúde humana, em comparação a avaliação

feita para a concessão de registro, sendo que as novas evidências podem ser

apresentadas mediante novos estudos e pelo avanço dos conhecimentos científicos...

...Não se olvida que tais substâncias foram até o momento largamente utilizadas no

Brasil visando maior aumento e eficiência na produção agrícola. Todavia, apesar da

inarredável importância de tal setor para o país, não se pode permitir que se coloque

a vida e a saúde em risco para manter-se a produtividade, sendo necessário o

emprego de meios diversos para tal fim...

...A excessiva demora na ultimação do procedimento administrativo, além de notória

caracterização de abuso de direito, revela-se flagrantemente desproporcional em

relação ao direito à saúde e ao desenvolvimento sustentável, sobretudo sob o prisma

da proibição da proteção deficiente (untermassverbot), isto é, o Estado possui uma

obrigação de fazer ou dever de proteção e não adota as condutas mínimas

necessárias para salvaguardar o bem jurídico fundamental...

Cumpre destacar que tal decisão foram realçados o direito a saúde e ao

desenvolvimento sustentável.

2.4 TRANSGÊNICOS

2.4.1 Conceito de Transgênico

Após anos de evolução a agricultura mundial, que teve início com a chamada

Revolução Verde, nos anos 90, foi disponibilizado no mercado sementes de plantas

geneticamente modificadas, que tem como intuito produzir espécies de plantas com genes

resistentes a vários fatores tais como pragas e doenças com o objetivo de atingir níveis de

produção maiores e muitas vezes com possibilidade de torná-las mais nutritivas.

O Brasil por ter uma extensa área agricultável, portanto tendo aptidão ao agronegócio

teve que se organizar juridicamente nesse aspecto e em 2005 entrou em vigência a lei nº

11.105/05, que no seu artigo 3º, V, definiu o transgênico como: – “organismo geneticamente

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modificado - OGM: organismo cujo material genético tenha sido modificado por qualquer

técnica de engenharia genética”.

Após estudos científicos sobre os transgênicos, Jayaraj (2017, p. 59), doutora em

Saúde Pública, publicou um artigo no relatório do Greenpeace em 2017, que demonstra os

riscos dos transgênicos:

O que estudos científicos e relatos de comunidades camponesas vem mostrando e a

insustentabilidade do modelo químico dependente (Rigotto et al, 2012; Carneiro et

al, 2015), que inclui o uso de sementes transgênicas resistentes a insetos e herbicidas

que tanto estimulam diretamente o uso de agrotóxicos, como podem contribuir para

a indução de espécies resistentes (Almeida et al, 2017; Benbrook, 2012; Young,

2006; Peshin; Zhang, 2014). O uso de agroquímicos afeta a biodiversidade,

aniquilando os predadores naturais das espécies que incidem sobre as lavouras e

promove a resistência das espécies-alvo, retroalimentando a demanda pelo seu maior

uso.

Vale observar que com legalização dos transgênicos no território nacional, os

produtores rurais adotaram massiçamente o uso de sementes transgênicas em suas lavouras

em solo brasileiro, conforme aponta dados divulgados por Jayaraj (2017, p. 41).

Apenas entre 2007 e 2013 o uso de pesticidas dobrou, enquanto a área cultivada

cresceu somente 20%. Só o glifosato, ingrediente ativo dos herbicidas usados nas

sementes transgênicas, responde por mais da metade de todos os princípios ativos

aplicados nas lavouras brasileiras. Em 2010, a cultura da soja foi responsável pelo

consumo de 44% dos agrotóxicos vendidos no país.

Por conseguinte, vale observar os dados apresentados, pois ao utilizar as sementes

transgênicas na produção agrícola, fere o princípio da proibição do retrocesso ambiental, uma

vez que, as tecnologias que se vem adotando na evolução de sementes deveriam diminuir os

impactos na natureza, mas essa prática adotada aumenta-se significantemente a quantidade de

agrotóxicos lançados no meio ambiente, com impacto direito a saúde humana e na natureza.

Nesse sentido, pesquisadores Brasileiros, conforme reportagem do site da BBC

Brasil(10/01/2014), aponta que o uso de agrotóxicos em plantas transgênicos combinados

com outros agrotóxicos quando aplicados na mesma área podem aumentar seus efeitos, o que

eleva danos ao meio ambiente.

Revela observar que as empresas responsáveis por fornecerem essas sementes

transgênicas, são as mesmas empresas que detêm o monopólio de fabricação dos agrotóxicos

utilizados no cultivo dessas lavouras, conforme aponta Fernandes (2005, p. 31):

As sementes transgênicas representam a continuidade desse paradigma, promovendo

uma vinculação campo–indústria ainda mais forte. Hoje, as empresas de insumos

são as mesmas das de sementes (e de fármacos). Um grupo de não mais de meia

dúzia de multinacionais comprou praticamente todas as empresas nacionais de

insumos e controla o setor. Só a Monsanto, por exemplo, controla mais de 90% do

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mercado de transgênicos no mundo. Não é de se estranhar, portanto, que atualmente,

de cada quatro hectares cultivados com plantas transgênicas, três usam sementes

resistentes a herbicidas. A mesma empresa fatura duas vezes, vendendo sementes e

vendendo o herbicida, apesar de as empresas prometerem que o uso de sementes

transgênicas reduz o uso de agrotóxicos. Mesmo dez anos depois do início da

produção de transgênicos no mundo, a venda de agrotóxicos continua sendo a

principal fonte de receita dessas empresas.

2.4.2 Surgimento de pragas mais resistentes mesmo com a transgenia.

Como podemos observar, a produção agrícola Brasileira nos últimos anos tem

intensificado uso dos transgênicos e consequentemente o meio ambiente e a saúde humana

continuam sendo receptores do uso cada vez maior do uso de agrotóxicos e afins, afrontando

disposto no artigo 225 da Constituição Federal, uma vez que, mesmo com o uso dessa

tecnologia o controle de pragas e insetos tem sido insuficiente frente à evolução dos mesmos,

que avança e atinge a produção das lavouras, conforme aponta reportagem da Revista Globo

Rural (11/04/2013).

Diante desse fato, as autoridades brasileiras têm se omitido de certos trâmites legais

anteriormente exigidos pela lei 7.802/1989 - Lei dos Agrotóxicos - abrindo caminho para

utilização de agrotóxicos carentes de autorizações pelos órgãos competentes brasileiros.

De forma a aprofundar o estudo cabe suscitar a liberação do benzoato de emamectina,

um defensivo agrícola altamente tóxico, conforme reportagem da Revista Globo

Rural(15/01/2018), que teve seu pedido de registro negado em 2007, mas que teve sua

liberação concedida pelo Estado Brasileiro, primeiro por tempo determinado concedida

através da IN 13 do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) e depois de

forma definitiva pela lei 12.873/2013 e do decreto 8133/2013, fundamento na emergência

fitossanitária ou zoosanitária.

Está em tramitação no Congresso Nacional o projeto de lei nº 6.299 de 2002 que altera

significadamente a lei 7.802/1989 – Lei dos Agrotóxicos. As críticas sobre as alterações feitas

pelas entidades ligadas ao tema são várias, sendo que elas já emitiram nota se posicionando

contras essas mudanças. Dentre as possíveis mudanças vale destacar, as críticas realizadas

pelos órgãos especializados como INCA e a Fundação Osvaldo Cruz (FIOCRUZ).

Vale trazer à baila alguns apontamentos realçados por esses órgãos. Cumpre destacar

um trecho retirado da nota técnica da FIOCRUZ (p. 2) sobre esse projeto e a retirada da

palavra agrotóxico do texto legal:

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43

A nomenclatura a partir da emenda do referido PL propõe a substituição do termo

“agrotóxicos” pelas expressões “produtos fitossanitários” e produtos de controle

ambiental”. Para além da semântica, a alteração proposta representa um

reducionismo que limita e mesmo oculta a compreensão intrínseca de que os

agrotóxicos são em essência, tóxicos.

Esta “confusão conceitual” é na verdade uma estratégia que oculta as situações de

risco ao comunicar uma falsa segurança desses produtos químicos, induzindo uma

crença em sua inocuidade. Esse ocultamento pode levar à utilização indiscriminada

dos agrotóxicos e tem consequências diretas, como aumento da resistência das

espécies-alvo consideradas nocivas (animais e vegetais), com contaminação do

ambiente (ar, água, solo) e, consequentemente, aumento dos casos de intoxicações

agudas (imediatas) e crônicas (tardias) e morte por exposição direta ou indireta aos

agrotóxicos.

A mudança do termo “agrotóxicos” também contraria a compreensão amplamente

apreendida da literatura internacional, onde os agrotóxicos são conhecidos como

“pesticidas (do inglês pesticides) ou “praguicidas” ou mesmo “ agrotóxicos” (do

espanhol plaguicidas ou agrotóxicos, respectivamente), demonstrando que a

nomenclatura adotada destaca o potencial biocida/tóxico destes compostos.

Nesse mesmo sentido o INCA assim se manifestou (p. 2):

O Projeto de Lei nº 6.299/2002, conhecido como “Pacote do Veneno”, além de

outras propostas de mudanças igualmente negligentes com relação à comunicação

do perigo a população e a proteção à vida, como a mudança do nome “agrotóxicos”

para “defensivo fitossanitário” e a exclusão dos órgãos responsáveis por avaliar os

impactos sobre a saúde e o meio ambiente (ANVISA e IBAMA) da avaliação e do

processo de registro dos agrotóxicos no Brasil, sugere, no âmbito das doenças

crônicas não transmissíveis e do câncer, que seja feita a “análise de riscos” dos

agrotóxicos ao invés da “identificação do perigo”.

De arremate, fica o alerta sobre os desdobramentos que essa proposta de alteração da

lei dos agrotóxicos poderá ocasionar sobre a vida e saúde humana, bem como sobre o meio

ambiente.

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III DOS IMPACTOS CAUSADOS PELO USO DE AGROTÓXICOS

3.1 No Direito de Propriedade

A Constituição Federal no artigo 5º assegura como direito fundamental aos cidadãos

com a seguinte normatização dos incisos XXII: “é garantido o direito de propriedade” e XXIII

“a propriedade atenderá a sua função social”.

Nesse caminho, mais adiante o texto constitucional elucida que a função social

relacionada à propriedade rural deve dentre outros critérios ser usada de maneira racional e

preservar o meio ambiente, conforme aponta o artigo 186:

A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,

segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

I - aproveitamento racional e adequado;

II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio

ambiente;

III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

Insta salientar a redação do caput e § 1º do artigo 1228 do Código Civil:

O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-

la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.

§ 1º. O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas

finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade

com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio

ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e

das águas.

A letra da lei no âmbito civil garante, portanto, liberdade ao proprietário em utilizar a

propriedade, porém impõe limitações ao uso da mesma, cabendo destaque a vedação legal a

expressão “como evitada a poluição do ar e das águas”.

Por conseguinte, há mais uma norma que limita o uso da propriedade, conforme a

redação do artigo 1277 do Código Civil: “O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o

direito de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que

o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha”.

Nesse aspecto, é extremamente relevante mencionar uma das formas de aplicação de

agrotóxicos e afins em propriedades pelo meio aéreo. Já existe regulamentação por parte do

Estado delimitando a utilização de aeronaves na área rural, conforme o Decreto Lei 917/1969,

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que anos mais tarde foi regulamentado pelo Decreto 86.765/1981 e Instrução Normativa

nº2/2008 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Essa Instrução Normativa citada acima em seu artigo 10 estabelece as seguintes

medidas:

Para o efeito de segurança operacional, a aplicação aeroagrícola fica restrita à área a

ser tratada,observando as seguintes regras:

I - não é permitida a aplicação aérea de agrotóxicos em áreas situadas a uma

distância mínima de: a) quinhentos metros de povoações, cidades, vilas, bairros, de

mananciais de captação de água para abastecimento de população;b) duzentos e

cinquenta metros de mananciais de água, moradias isoladas e agrupamentos de

animais;

II - nas aplicações realizadas próximas às culturas susceptíveis, os danos serão de

inteira responsabilidade da empresa aplicadora;

III - no caso da aplicação aérea de fertilizantes e sementes, em áreas situadas à

distância inferior a quinhentos metros de moradias, o aplicador fica obrigado a

comunicar previamente aos moradores da área;

IV - não é permitida a aplicação aérea de fertilizantes e sementes, em mistura com

agrotóxicos, em áreas situadas nas distâncias previstas no inciso I, deste artigo;

V - as aeronaves agrícolas, que contenham produtos químicos, ficam proibidas de

sobrevoar as áreas povoadas, moradias e os agrupamentos humanos, ressalvados os

casos de controle de vetores, observadas as normas legais pertinentes;

VI - no local da operação aeroagrícola será mantido, de forma legível, o endereço e

os números de telefones de hospitais e centros de informações toxicológicas;

VII - no local da operação aeroagrícola, onde é feita a manipulação de produtos

químicos, deverá ser mantido fácil acesso a extintor de incêndio, sabão, água para

higiene pessoal e caixa contendo material de primeiros socorros;

VIII - é obrigatório ao piloto o uso de capacete, cinto de segurança e vestuário de

proteção; e

XI - a equipe de campo que trabalha em contato direto com agrotóxicos deverá

obrigatoriamente usar os

Equipamentos de Proteção Individual (EPI) necessários, fornecidos pelo

empregador.

É oportuno mencionar parte Nota de Repúdio à Pulverização Aérea feita pela Escola

Politécnica que em virtude de acidentes já ocorridos com utilização de aeronaves utilizadas

para aplicação dos agrotóxicos pelo Brasil, esclarece:

A utilização de agrotóxicos representa por si só um grave problema para a saúde dos

brasileiros e para o meio-ambiente. A aplicação de venenos através de aviões é ainda

mais perversa, pois segundo dados do relatório produzido pela subcomissão especial

que tratou do tema na câmara federal, 70% do agrotóxico aplicado por avião não

atinge o alvo. A chamada "deriva" contamina o solo, os rios, as plantações que não

utilizariam agrotóxicos (agroecológicas) e, como vimos agora, populações inteiras.

Dados do Censo Agropecuário de 2006, do IBGE, mostram que apenas 0,73% das

propriedades rurais que usam agrotóxicos o fazem através de aeronaves, mas dados

do setor indicam que 30% do uso de agrotóxicos no país se dá por meio da aplicação

aérea.

Interessa sublinhar que, em havendo um dano ambiental oriundo do uso/aplicação de

agrotóxicos e afins, o código civil em seu art. 187 através da redação “Também comete ato

ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos

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pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”, assegura reparação

do dano, porém sabe-se que o dano ambiental é de difícil reparação, conforme os

fundamentos do princípio do poluidor-pagador, já relatado nesse trabalho.

3.2 No Direito a Saúde e a Vida

A constituição brasileira de 1988 leva o título de constituição cidadã, por conter vários

direitos fundamentais a todos os cidadãos brasileiros indistintamente, fato esse inovador no

nosso ordenamento jurídico, com tamanha abrangência. Esses direitos estão por todo o texto

constitucional, porém são elucidados no artigo 6º da mesma, que traz um rol de direitos

sociais exemplificativos. “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,

a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e

à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.

O direito a saúde, é um direito fundamental de segunda geração, isto é, para serem

alcançados, necessita-se de uma atuação estatal, conforme artigos 196 e 197 da Constituição

Federal de 1988, que se origina através de políticas públicas (LIBERATTI, 2016, p. 2)

“... as políticas públicas estão ligadas a um tipo de Estado cuja finalidade é organizar

e promover a sociedade, de acordo com sua legislação específica, sendo o

governante o responsável em propor ações que atendam demandas e anseios de um

povo”.

Esse direito a saúde é intimamente ligado a um direito fundamental de primeira

geração, que é o direito a vida, que está descrito na constituição federal vigente, em seu artigo

5º caput: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se

aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à

liberdade, à igualdade...”.

Nesse sentido, é importante frisar a tutela dada a vida feita pelo Tratado Internacional

dos Direitos Humanos em seu Artigo III - “Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e

à segurança pessoal”, do qual o Brasil é signatário.

Ambos os direitos, saúde e vida, são doutrinariamente tidos como um direito

fundamental que tem aplicabilidade imediata. Sendo assim, o doutrinador Lenza (2014, p.

251) traz a seguinte elucidação:

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“Normas constitucionais de eficácia plena e aplicabilidade direta, imediata e integral

são aquelas normas da Constituição que, no momento que esta entra em vigor, estão

aptas a produzir todos os seus efeitos, independentemente de norma integrativa

infraconstitucional”.

Sendo assim, o Estado brasileiro deve proporcionar saúde à população, através de

políticas econômicas e sociais, garantindo assim o direito mais primoroso do ser humano que

é a vida.

3.3 Desaparecimento de abelhas

Para entendermos a importância das abelhas no meio ambiente é necessário a

compreensão de sua função que é a polinização e para isso apresentamos os dizeres de Maria

Cecília de Lima Rocha e Sá de Alencar – IBAMA (2012, p.15):

A polinização é um dos processos-chave oferecidos pela biogeocenose. É

por meio dela que se estabelece a produtividade das plantas e dos animais

em quase todos os ecossistemas terrestres (NABHAN; BUCHMANN,

1996). É um processo que envolve a transferência do grão de pólen da antera

para o estigma, no caso das angiospermas (BRIGS, 1997), ou diretamente

para o óvulo, no caso das gimnospermas, sendo considerada essencial para a

reprodução sexuada das plantas e, na sua ausência, a manutenção da

variabilidade genética entre os vegetais não ocorre.

Nos últimos anos, jornais e revistas de grande circulação nacional, vem apresentando

matérias feitas com pesquisadores, dentre elas as veiculadas na Revista Veja de 06/05/2016 e

da Revista Neomundo de 05/10/2017, que apontam grande preocupação com a mortandade

significativa de abelhas. Segundo eles, uma das causas centrais para esse fato é a utilização de

agrotóxicos nas lavouras, principalmente quando é feita a aplicação através de aeronaves.

No estado do Mato Grosso Sul, grande produtor de alimentos do Brasil, a Secretaria de

Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar, lançou uma

cartilha que orienta criadores de abelhas credenciados sobre os problemas causados pelos

agrotóxicos, e traz o alerta:

O uso indiscriminado de inseticidas neonicotinóides já foi admitido como uma das

causas prováveis da Desordem do Colapso das Colônias (CCD), fenômeno pelo qual

as abelhas não retornam para os enxames. Porém, novos estudos apontam que

herbicidas e fungicidas também podem contribuir para o desaparecimento das

abelhas porque esses agrotóxicos podem provocar desordem no comportamento

regular e, consequentemente, a morte delas. Mesmo em baixos níveis de

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concentração, os agrotóxicos podem resultar em efeitos letais, sendo crescente o

registro de morte de enxames após pulverização aéreas em áreas de monocultivos de

soja, cana-de-açúcar, laranja, algodão, dentre outros.

Dando ênfase aos trechos citados acima, em recente estudo publicado no Jornal da

USP (Universidade de São Paulo) publicado em 07/02/2019, ficou demonstrada a importância

de seres, dentre eles as abelhas, responsáveis pela fecundação de flores de plantas dando

origem a produção de frutos que são parte da dieta diária dos seres humanos e de outros seres,

conforme ilustração abaixo. Nessa pesquisa recentíssima, foi apontado que a quantidade de

abelhas no meio ambiente vem diminuindo por vários fatores e a exposição delas aos

agrotóxicos é um deles. Essa exposição aos agrotóxicos faz com que as abelhas não se

aproximem das plantas, causa diminuição na sua reprodução, desorientação (a abelha não

consegue voltar para seu ninho) e também ocasiona a sua morte.

Figura 1 - A maioria das plantas utilizadas para produção de alimentos no Brasil depende de animais

polinizadores para a produção de frutos, sementes e para a manutenção da variabilidade genética. As categorias

de dependência de polinizadores são definidas pelo quanto da produção de um determinado cultivo é

incrementada pela ação de polinizadores.

Fonte: 1º relatório temático sobre polinização, polinizadores e produção de alimentos no Brasil (p. 5)

3.4 Impactos na saúde humana

O Instituto Nacional do Câncer em 06/04/2015 publicou um documento em sua

plataforma digital, apontando os riscos causados a saúde humana em decorrência dos resíduos

de agrotóxicos encontrados em análises de alimentos tanto in natura como de alimentos

processados. Segundo tal publicação, as intoxicações ao ser humano podem trazer

consequências tidas como mais leves como, por exemplo, dor de cabeça, vômitos e coceira,

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porém outras intoxicações mais graves, tidas como crônicas, cuja evolução possibilita o

aumento da chance de ocorrer aborto de fetos, formação de câncer, e consequentemente a

morte.

Por conseguinte, em reportagem publicada em 16/08/2018 pela Revista Veja, no qual a

base da matéria é uma pesquisa realizada pela Universidade de Columbia do Estados Unidos,

veiculada através do periódico especializado American Journal of Psychiatry, os resultados

dos estudos revelaram que mulheres grávidas que tiveram contato com pesticida DDT, uma

espécie de agrotóxico, potencializou o aparecimento de autismo nos bebês. Essa patologia

leva o indivíduo a ter dificuldade em sua comunicação.

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) apresenta uma matéria em seu site no qual

relaciona alguns julgados em que trabalhadores no período laboral tiveram contato com

agrotóxicos e que adquiriram problemas de saúde, obtiveram êxito nas suas demandas, fato

pelo qual levou o Tribunal a ajudar na implementação do Programa Nacional de Prevenção de

Acidentes de Trabalho. Segue números dos respectivos processos: RR-22200-

28.2007.5.15.0126, RR-84200-89.2004.5.15.0087, RR-74100-48.2006.5.15.0138, AIRR-

143500-54.2007.5.15.0126, AIRR-170400-36.2005.5.18.0005.

A Organização Pan Americana da Saúde (OPAS) que é órgão internacional

especializado em saúde ligado a ONU, apresentou no dia 11/09/2018 em Brasília no debate

sobre a flexibilização do uso de agrotóxicos no Brasil, um número alarmante de

aproximadamente de 193 mil mortes anuais pelo mundo em virtude do contato com os

agrotóxicos. O representante da entidade acrescentou ainda durante o evento que a diminuição

do contato com os agrotóxicos ocasionaria uma queda de doenças cardíacas isquêmicas e

acidentes vasculares celebrais na população, motivo pelo qual defende o desenvolvimento

sustentável.

3.5 Resíduos de agrotóxicos nos alimentos

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) disponibiliza em sua

plataforma digital dados de pesquisas feitas com os resíduos encontrados nos alimentos,

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através do Programa de análise de resíduos de agrotóxicos em alimentos (PARA), veja os

números apresentados no relatório de 2012,:

Figura 2 - Quantidade de amostras analisadas e resultados insatisfatórios, por cultura e por Unidade Federativa

(PARA 2012, 2ª etapa)

Fonte: ANVISA – Relatório das análises de amostras monitoradas no período de 2013 a 2015, (p. 17)

Com base nessa tabela, o órgão fez a seguinte explanação:

Observou-se que 75% dos resultados das amostras monitoradas foram

considerados satisfatórios quanto aos ingredientes ativos pesquisados, sendo

que em 33% não foram detectados resíduos e 42% apresentaram resíduos

com concentrações iguais ou inferiores ao LMR. Das amostras monitoradas,

25% dos resultados foram considerados insatisfatórios por apresentarem

resíduos de produtos não autorizados, ou autorizados, mas em concentrações

acima do LMR.

Em sintonia com esses dados apresentados pela ANVISA, em matéria veiculada no

site UOL em 23/05/2015 a doutora em toxicologia Karen Friedrich, a analisou-os e ponderou

que essas informações veiculadas omite uma gama de agrotóxicos que são usados no Brasil

que faz mal saúde humana e que não faz parte da apreciação da pesquisa como, por exemplo o

glifosato.

A tabela abaixo demonstra nos alimentos encontram-se resíduos de agrotóxicos não

permitidos a determinado tipo de produto. Cabe o destaque para manga que alcança o

percentual de 89% de agrotóxico não autorizado para essa cultura.

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Figura 3 – Número de agrotóxicos detectados nas amostras monitoradas versus número de agrotóxicos

detectados como não autorizados para a cultura

Fonte: ANVISA - Relatório das análises de amostras monitoradas no período de 2013 a 2015 (p. 124)

3.6 Capina química nas cidades

O Estado de São Paulo se manifestou por intermédio da Nota Técnica do Centro de

Vigilância Sanitária/Toxicovigilância nº. 01 de 04.04.2017 “Eliminando a capina química das

cidades paulistas”, onde orienta todos os municípios paulista a não realizarem qualquer tipo

de capina utilizando agrotóxicos. Veja o embasamento dado pelo governo para a proibição (p.

2):

Segundo a legislação vigente no país e as competências do MAPA, os agrotóxicos

registrados/ autorizados para Uso Agrícola, o são para uso nos setores de produção,

armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas florestas plantadas e nas

pastagens. O Uso Agrícola é atrelado a venda com receituário agronômico e

diagnóstico prévio de necessidade técnica de uso em cultura definida, e em acordo

com a monografia do ingrediente ativo publicada pela ANVISA/MS, e da bula do

produto agrotóxico conforme o registro no MAPA.

De arremate, cumpre destacar o seguinte trecho dessa nota técnica (pág. 6):

Todos os agrotóxicos são substâncias biocidas, todos são tóxicos em diversos graus,

conforme a Classificação Toxicológica relativa ao risco de intoxicação aguda, que

os enquadra em 4 faixas de risco (extremamente tóxicos, altamente tóxicos,

medianamente tóxicos, pouco tóxicos), no entanto, esta classificação não inclui seu

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potencial de efeito nocivo crônico, isto é as diversas doenças e efeitos nocivos à

saúde em prazo mais longo ou tardio.

A capina química se feita em áreas urbanas e periurbanas expõe a população a

substâncias tóxicas, e a potencial intoxicação. É difícil avaliar a dose e o tempo de

exposição, uma vez que há espalhamento no ambiente, contaminando ar, solo e

água, além da fauna e flora local.

A manifestação feita pelo Estado de São Paulo elucida que a utilização dos

agrotóxicos causam diversos riscos para o meio ambiente e para a saúde da população, sobre

tudo nas cidades.

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CONCLUSÃO

Os impactos causados no nosso dia a dia pelo uso dos agrotóxicos são os mais

variados, conforme apontado neste trabalho. Esses produtos interferem diretamente nos

direitos fundamentais e pétreos garantidos pela Constituição Federal de 1988, que são: meio

ambiente sadio, ao da saúde e consequentemente a vida e do direito de propriedade.

Fica evidente que há no sistema jurídico brasileiro há uma normatização robusta que

envolve os agrotóxicos, porém o uso desses produtos entra em conflito com os direitos

constitucionais acima descritos, fato pelo qual medidas precisam ser tomadas a fim de estacar

essas lesões a direito.

Diante dessas constatações o Estado brasileiro deve cumprir os mandamentos da Carta

Magna, bem como os tratados internacionais que tutelam o meio ambiente e o ser humano e

também os princípios ambientais que balizam essa questão. Logo, necessita-se que haja a

implantação de políticas públicas de modo a assegurar tais direitos.

Paralelamente aos regramentos jurídicos sobre o meio ambiente, saúde e a vida

humana, a agricultura se modernizou ao longo dos anos e dentre essas novidades tecnológicas

e os agricultores adotaram o cultivo de plantas através de sementes transgênicas que em tese

seriam resistentes a pragas e diminuiria consequentemente o uso de agrotóxicos, porém ano

após ano o Brasil vem se consolidando como um dos maiores consumidor de agrotóxicos do

mundo, vez que, mesmo com a utilização dessas plantas transgênicas, elas estão sofrendo

ataques de pragas e consequentemente tem-se aumentado significativamente o uso desses

agrotóxicos com o intuito de combatê-las.

Outro ponto importante a ser resolvido, conforme constatado por especialistas e

pesquisadores na questão ambiental, é a proibição do uso de aeronaves para aplicação de

agrotóxicos, pois mesmo com toda a normatização infraconstitucional que disciplina a

atividade, não há nenhum tipo de fiscalização durante e a após aplicação e a deriva do produto

tende a ir além do esperado, atingindo, por exemplo, propriedades vizinhas, áreas de proteção

ambiente e rios.

Os dados divulgados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária através do

programa de análise de resíduos de agrotóxicos em alimentos ficaram constatados que muitos

produtores utilizam uma gama de agrotóxicos em cultivos que não são apropriados a eles,

gerando uma gigantesca insegurança alimentar para quem consome tais produtos e para o

meio ambiente, ainda que a legislação brasileira exige-se receita agronômica, que é dada por

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um profissional habilitado, para a compra e utilização de um agrotóxico específico para cada

tipo de cultura.

Há, portanto, a necessidade de incentivar pesquisas para o controle de pragas mais

sustentáveis e fomentar a produção de alimentos orgânicos, porque hoje eles são insuficientes

e caros, logo pouco acessíveis para a população.

Enquanto isso não ocorre, é primordial agilizar o processo de reavaliação toxicológica

dos agrotóxicos já autorizados e permitir somente o registro de novos produtos que

comprovadamente cause menos danos ao meio ambiente e sobre tudo a saúde dos seres

humanos.

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55

REFERÊNCIAS

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