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UNIVERSIDADE DE ÉVORA
Curso de Biologia
Efeito de Práticas Culturais Sobre o Potencial Micorrízico de um Solo
Trabalho de Fim de Curso realizado por:
Pedro Alcântara de Melo Madeira Antunes
Évora
1999
UNIVERSIDADE DE ÉVORA
Curso de Biologia
Efeito de Práticas Culturais Sobre o Potencial Micorrízico de um Solo
Trabalho de Fim de Curso realizado por:
Pedro Alcântara de Melo Madeira Antunes
Évora
1999
Este trabalho não inclui as observações e críticas feitas pelo júri.
AGRADECIMENTOS
À Eng. Isabel Brito, pela orientação e ajuda neste estágio, por ter sido sempre
incansável, disponível e também pelo apoio e conselhos sobre muitos aspectos
que transcendem o próprio trabalho em si, mas fazem o dia a dia durante um ano
nesta fase particular da vida.
Ao Professor Figueiredo Marques, pelo cuidado com que me encaminhou para
este estágio, pelos ensinamentos e entusiasmo que sempre teve pelo que eu
estava a fazer.
Ao Eng. Luís Alho, pela permissão em trabalhar no laboratório de que é
responsável, e pela enorme paciência que teve a refazer matrizes e “aturar” o
computador.
Aos meus pais, por serem tão meus amigos e aos meus tios por me terem
“suportado” 5 anos em Évora.
À “avó Tina” e Verediana que se preocuparam sempre comigo.
A todos os que trabalham no Laboratório de Microbiologia do Solo (ICAM).
Ao Eng. Casas Novas e Eng. Nuno Riscado, da Herdade da Revelheira, pela
ajuda que sempre disponibilizaram.
Ao Dr. Luís Dias, pela ajuda na estatística do MPN. À minha colega e amiga Catarina, pela ajuda e companhia.
Aos meus amigos, João, Miguel, Tarcísio, Roca e Rute que sempre me apoiaram
desde que vim para Évora.
À Joana.
E finalmente a todos aqueles que contribuíram para a realização deste estudo e
me esqueci de agradecer.
Na capa: adaptação de uma aguarela de António Eiras
A meus pais e a meus tios, Rogério e Elsa
1 – SUMÁRIO
Não existem entre nós até hoje dados relativos a experiências sobre a
forma como as práticas culturais no Alentejo influenciam os fungos micorrízicos
arbusculares (AMF). O estudo que se apresenta consiste numa primeira
abordagem na tentativa de avaliação desta influência. Inseriu-se num projecto
mais vasto que visa estudar sistemas alternativos à rotação de culturas e
mobilização tradicional alentejanas.
Neste sentido, realizou-se um ensaio de MPN (Most Probable Number),
quantificaram-se esporos e acompanhou-se a taxa de colonização das raízes
pelos referidos fungos nas diferentes culturas e para as diferentes mobilizações.
Verificou-se que, tanto o antecedente cultural como o tipo de mobilização e
a época do ano inerente às culturas, tiveram diferentes impactos na população de
esporos de AMF, assim como na micorrização. Uma curta interrupção entre a
sucessão de culturas na rotação, conjuntamente com uma mobilização
alternativa, menos intensa, parece favorecer a micorrização. Tal, foi mais
evidente nos cereais de Inverno do que na cultura de Primavera.
A informação que sobressai deste estudo será importante no delineamento e
interpretação em futuras abordagens sobre esta matéria.
1
2 - INTRODUÇÃO
A produção agrícola em Portugal, e em particular no Alentejo, região
onde teve lugar este trabalho, para além de acompanhar a crescente
necessidade mundial em alimentos, vê-se confrontada com medidas
económicas competitivas impostas pela União Europeia (Basch, 1991). Tais
factos, em conjunto com as dificuldades do clima Mediterrânico, que se
traduz num Inverno chuvoso e numa secura estival pronunciada (Rivas–
Martinez, 1990), e com as pobres características pedológicas, com uma
elevada percentagem de solos pouco profundos e férteis, contribuíram para o
desenvolvimento de sistemas agrícolas intensivos, onde muitas vezes se
utilizam práticas culturais desadequadas e quantidades significativas de
fertilizantes inorgânicos e pesticidas (Hooker e Black, 1995). Contudo, há
uma crescente preocupação com os custos ambientais infligidos por estes
sistemas intensivos, o que tem conduzido a uma tentativa de mudança que
consiste na sua substituição por sistemas agrícolas sustentáveis, que
maximizem o aproveitamento dos mecanismos naturais vantajosos existentes
no solo (Brito, 1997). Hooker e Black (1995), adiantaram que um sistema
agrícola sustentável, para além de ser aquele que continua sempre a
produzir, tem de ir ao encontro das necessidades da actual geração sem
comprometer as das gerações vindouras. Os mesmos autores, acreditam que
a rapidez desta mudança depende em parte da economia e da legislação,
mas também do esforço ao nível da investigação científica. É exactamente
neste último aspecto que se encontra a aplicabilidade deste trabalho.
Os fungos micorrízicos arbusculares (AMF-Arbuscular Mycorrhizal
Fungi) são microorganismos simbióticos benéficos, que se desenvolvem ao
2
nível da raiz e contribuem para o aumento da maioria das produções
agrícolas (Menge, 1983). Segundo Abbott et al. (1995), a eficaz utilização das
simbioses micorrízicas na agricultura Mediterrânica, depende do
desenvolvimento dos conhecimentos sobre várias relações chave, entre os
componentes da simbiose e as condições do solo.
A experiência aqui relatada, foi levada a cabo no Laboratório de
Microbiologia do Solo (ICAM), instalado na Universidade de Évora, e num
campo de ensaios da Herdade da Revelheira, pertencente à Direcção
Regional de Agricultura do Alentejo. Nesse campo de ensaios, desde
1995/96 que se aplica um sistema de rotação de culturas trienal, tradicional
nesta região, o qual consiste na utilização de 2 anos de cereal (trigo –
Triticum durum var. Centauro e triticale – X. triticosecale Wittmark e de uma
cultura de Primavera (o girassol – Helianthus annuus L.). Em cada um dos
campos do sistema de rotação aplicam-se, desde esse ano, diferentes
sistemas de mobilização do solo (e.g. lavoura, escarificação e sementeira
directa). O objectivo visa descobrir alternativas à mobilização tradicional, que
contribuam, ao mesmo tempo, para a preservação dos solos, melhoria nas
produções e redução nos custos. Foi neste contexto que se inseriu este
trabalho e se delinearam os seus objectivos para estudar os AMF. Estes,
foram tentar compreender por um lado, tendo em conta o sistema de rotação,
qual a influência que a cultura antecedente pode ter tido na cultura seguinte e
no solo, e, por outro, qual foi o tipo de mobilização do solo mais vantajosa
para o desenvolvimento da simbiose. Para se alcançarem estes objectivos
cumpriram-se várias etapas, que numa primeira fase consistiram em avaliar o
inóculo inicial de AMF. Para isso quantificaram-se os esporos de AMF e
realizou-se um ensaio de MPN (Most Probable Number). Numa segunda
3
fase, pretendeu-se detectar em que momento e com que taxa se estabeleceu
a colonização micorrízica e daí em diante, acompanhar as alterações nesta
taxa ao longo do desenvolvimento das culturas. Por fim, tentou-se averiguar
se houve alguma relação de causa-efeito entre os níveis de micorrização
observados e as produções obtidas. Durante o decorrer do trabalho, verificou-
se a necessidade de testar diferentes procedimentos experimentais de
coloração de raízes, para seleccionar aquele que melhor se adaptava às
raízes estudadas.
4
3 - MICORRIZAS
3.1 - Caracterização e tipos
As micorrizas representam uma das menos compreendidas, mais
ubíquas e mais importantes simbioses biológicas na Terra. O termo
“symbiotismus” foi usado pela primeira vez pelo Professor A. B. Frank em
1877. Simbiose (do gr. syn, juntamente, e bios, vida), é uma associação entre
dois ou mais organismos diferentes, os simbiontes. Este tipo de associação
pode ter diversos benefícios e custos para os simbiontes, o que faz com que
se reconheçam diferentes tipos de simbioses. Foi deBary, em 1887, que
formalizou estes diferentes tipos, utilizando os sinais + / 0 / - respectivamente
para os casos em que as interacções são benéficas, indiferentes ou
prejudiciais (Allen, 1996) (Quadro 1).
Quadro 1 – Tipos de simbiose entre organismos (deBary, 1887 in Allen, 1996).
Esp
écie
2
Espécie 1
+ 0 -
+ Mutualismo Comensalismo Parasitismo
0 Comensalismo Neutralismo Amensalismo
- Parasitismo Amensalismo Antagonismo
Daí para cá, o termo simbiose passou a ser usado para definir
associações benéficas e o parasitismo tornou-se quase sinónimo de
patogenecidade (Smith e Read, 1997).
Para Jean-Marie Pelt (1996), os fenómenos de simbiose, que têm
vindo a atrair cada vez mais a atenção dos biólogos, são eminentemente
construtores, e é pela sua acção contínua que se estruturam as organizações
complexas, as quais, ao atingirem um certo nível de complexidade, se tornam
o centro de propriedades novas e construtoras. Tais considerações vêm ao
5
encontro da teoria endosimbiótica, cuja base de sustentação passa por
admitir que os organelos dos eucariotas tiveram origem em procariotas
simbiontes que se modificaram (Margulis e Bermudes, 1985).
Foi também o Professor Frank que, no ano de 1885, utilizou pela
primeira vez o nome “mykorhiza” (do gr. mykes, fungo, e rhiza, raiz), para
descrever a união de dois seres diferentes com a finalidade de formar um
único órgão morfológico, no qual a planta alimenta o fungo e este a planta
(Sieverding, 1991). Hoje sabe-se que a micorriza, descrita como uma
associação mutualista altamente evoluída entre certos fungos existentes no
solo e raízes de plantas (Brundrett et al., 1996), é a simbiose mais comum no
mundo vivo.
Há registos fósseis de micorrizas a colonizar plantas primitivas como a
Rynia ou o Psilophyton, pelo que se pensa que o seu aparecimento terá
ocorrido há cerca de 353 a 462 milhões de anos. Assim, é provável que o
aparecimento das micorrizas tenha tido um papel fundamental na colonização
terrestre das plantas vasculares (Simon et al., 1993).
As micorrizas podem ser encontradas numa multiplicidade de habitats,
que vão desde os aquáticos (e.g. Sondergaard e Laegaard, 1979 in Allen,
1996), aos desérticos (e.g. Singh e Varma, 1991, in Allen, 1996), na floresta
tropical (e.g. Janos, 1987 in Allen, 1996), nas latitudes (e.g. Christie e
Nicolson, 1983 in Allen, 1996) e altitudes elevadas (e.g. Read e
Haselwandter, 1981 in Allen, 1996). Este facto, aliado à universalidade desta
simbiose, a qual se pode encontrar em praticamente todas as famílias do
reino Plantae (95% das espécies conhecidas), muitas vezes em taxas
elevadas, suporta ainda mais a sua importância e ancestralidade. Uma
6
estimativa sugere que existem entre 5000 a 6000 espécies de fungos
micorrízicos (Molina et al., 1992 in Brundrett et al., 1996).
A transferência bidireccional de nutrientes é a base desta simbiose
mutualista. O fungo envolvido, ou micobionte, promove a aquisição de
nutrientes e água para a planta e protege o sistema radicular de muitos
patógenos (Killham, 1995). A planta fornece carbono orgânico ao micobionte,
do qual este é completamente dependente (Smith e Read, 1997).
Existem pelo menos sete tipos diferentes de associações micorrízicas
(que se agrupam em ectomicorrizas e endomicorrizas), envolvendo diferentes
grupos taxonómicos de fungos e plantas e diferentes padrões de alterações
morfológicas, que ocorrem durante o estabelecimento da colonização pelo
fungo (Brundrett et al., 1996).
3.1.1 - Ectomicorrizas
A maioria dos fungos micorrízicos formam ectomicorrizas. São mais de
4000 espécies, que pertencem predominantemente às classes Ascomiceta e
Basidiomiceta (Brundrett et al., 1996).
Este tipo de associação caracteriza-se pela ocorrência de três
componentes estruturais. São eles a presença de um manto ou escudo de
tecido fúngico que envolve a raiz, uma rede micelial que se desenvolve
intercelularmente na zona cortical sem nunca penetrar nas células, a qual se
denomina por rede de Hartig e por um sistema externo de hifas que se ligam
ao solo e aos corpos frutíferos típicos destes fungos (Smith e Read, 1997).
As plantas assim colonizadas, apresentam normalmente alterações
morfológicas nas raízes, que se traduzem num crescimento mais lento e em
7
espessamentos terminais que aumentam a superfície de absorção. Uma vez
que os simbiontes plantas mais comuns deste tipo de micorriza são árvores e
as ectomicorrizas constituem uma importante componente da biomassa nos
mais variados ecossistemas florestais (das florestas de coníferas às savanas
e florestas húmidas), as ectomicorrizas contribuem fortemente para a nutrição
e reciclagem de nutrientes (Brundrett et al., 1996).
3.1.2 - Endomicorrizas
Neste tipo de micorrizas, os fungos desenvolvem-se inter e
intracelularmente, formando no interior das células corticais estruturas
específicas, a saber:
a) Micorrizas ericoides – este tipo envolve apenas plantas da ordem Ericales.
As células epiteliais das raízes destas plantas não produzem pêlos
radiculares. Em vez disso, muitas são colonizadas por fungos micorrízicos
chamados ericóides, os quais formam enrolamentos de hifas
intracelulares. Apesar de ainda haver alguma controvérsia sobre esta
matéria, é geralmente aceite que os fungos que formam este tipo de
micorriza são septados, sobretudo pertencentes à classe Ascomiceta.
Muitas ericaceas crescem em solos ácidos e pobres em matéria orgânica,
tendo vindo a tornar-se claro que o fungo tem um papel considerável na
mobilização de nutrientes com vista a torná-los disponíveis para a planta
(Allen, 1996).
8
b) Micorrizas orquideáceas – este tipo envolve apenas plantas da família
Orchidaceae. A diversidade e distribuição desta família é enorme. Estas
plantas têm sementes pequenas, com poucas reservas, e muitas, parcial
ou completamente, são aclorofiladas durante parte do seu ciclo de vida.
Assim, são colonizadas logo após a germinação e, as aclorofiladas,
dependem do fornecimento de carbohidratos e nutrientes minerais deste
tipo de fungos micorrízicos. Estes, pertencem à classe Basidiomiceta e
também formam enrolamentos de hifas no interior das células radiculares
(Smith e Read, 1997).
c) Micorrizas arbusculares – tipo de associação que constitui o objecto de
estudo central deste trabalho, e passa a analisar-se e descrever de forma
mais pormenorizada no capítulo seguinte.
d) Ectendomicorrizas, arbutóides e monotropóides – estes tipos possuem
características pertencentes às ectomicorrizas, como a rede de Hartig, e
às endomicorrizas, como designadamente a penetração e formação de
estruturas no interior das células. As micorrizas arbutóides e
monotropódes surgem respectivamente nas famílias Ericaceae e
Monotropaceae.
9
4 – MICORRIZAS ARBUSCULARES
4.1 – Biologia
As micorrizas arbusculares, são o tipo mais comum de endomicorrizas
existentes no solo. Apesar de colonizarem uma enorme variedade de plantas
(Gimnospérmicas, Angiospérmicas, Pteridófitas e até Briófitas), as herbáceas
são aquelas que lhes estão mais associadas. Apesar de não haver
especificidade fungo-planta, reconhece-se haver preferências (Mosse, 1975).
Ao contrário do que sucede com as ectomicorrizas, as micorrizas
arbusculares não produzem estruturas sexuadas e não podem desenvolver-
se em cultura axénica. Tal deve-se ao facto de serem simbiontes obrigatórios
(Peterson e Bonfante,1994 in Brito, 1997), pelo que o estudo destes
organismos tem necessariamente de ultrapassar algumas dificuldades (Brito,
1997).
Inicialmente, começou por usar-se a designação VAM (Vesicular
Arbuscular Mycorrhiza) para este tipo de endomicorriza, devido às estruturas
características que desenvolvem, as vesículas e os arbúsculos. Actualmente
utiliza-se a designação micorrizas arbusculares (AM – Arbuscular
Mycorrhiza), uma vez que se sabe não serem produzidas vesículas nas
espécies pertencentes à sub-ordem – Gigasporinae (Walker, 1995) (ver 4.2).
10
4.1.1 – Fontes de inóculo
A colonização das raízes pelos AMF pode ter início a partir de
diferentes fontes de inóculo. Estas podem ser os esporos, as hifas ou
quaisquer outros elementos que as tenham, como acontece com os
fragmentos de raízes colonizadas. Todas estas fontes têm colectivamente o
nome de propágulos.
Os AMF não conseguem decompor matéria orgânica e conforme já foi
referido, estão dependentes da simbiose para a manutenção do seu
crescimento vegetativo. Nestas circunstâncias, a eventual falta de um
simbionte planta torna-se um exercício de sobrevivência para o fungo,
normalmente alcançado através da formação de esporos (Killham, 1995). Os
esporos (fig. 1), que se pensou serem, durante muitos anos, a única fonte de
inóculo, são estruturas de resistência, que poderão permitir a sobrevivência
do fungo a longo prazo (anos), persistindo no solo em estado latente até
surgirem as condições adequadas para a sua germinação. O seu diâmetro,
que depende das espécies de AMF, pode variar entre os 10µm e os 1000µm.
Possuem substanciais capacidades de armazenamento energético, contendo
lípidos e carbohidratos. Albergam também uma elevada quantidade de
informação genética, possuindo milhares de núcleos (Giovannetti e
Gianinazzi-Pearson, 1994). Estas características supõe-se que lhes confiram
vantagens selectivas que ainda se encontram em discussão.
O recrescimento de hifas a partir de fragmentos de raízes colonizadas
foi observado por diversos autores (e.g. Magrou, 1946; Williams, 1990 in
Smith e Read, 1997). Os trabalhos de Tommerup e Abbot (1981), sugerem
11
que as hifas podem sobreviver em raízes mortas, pelo menos durante 6
meses em solos secos.
Após o estabelecimento da colonização micorrízica e durante a sua
evolução, forma-se uma rede micelial de hifas extraradicais, que crescem
através do solo a partir das raízes colonizadas. Esta rede, para além de
também constituir mais uma importantíssima fonte de inóculo, ou propágulo
(capaz de se manter no solo com capacidade de colonização, durante
períodos em que as condições não são favoráveis), é o elemento mais
importante na apreensão e transporte de nutrientes do solo para a planta. É
sobretudo na rede extraradical que se formam os esporos. A sua formação,
pode ocorrer logo passadas 3 a 4 semanas após a colonização, ou passados
mais de 6 meses, dependendo dos géneros de AMF.
É difícil, numa situação de campo, distinguir quais são as contribuições
relativas dos diferentes tipos de propágulos para a colonização de raízes.
Assim, se há situações em que são os esporos a principal fonte de inóculo,
havendo uma correlação entre o seu número e a extensão da colonização,
situações há em que tal não acontece (Smith e Read, 1997). É por esta razão
que, para se avaliar o potencial micorrízico de um solo, não basta apenas
quantificar o número de esporos, mas é necessário quantificar todos os
propágulos. Este facto é evidenciado por Porter (1979), num ensaio em que
Figura 1 - Esporos de micorrizas arbusculares. (Ampliação 400x)
12
quantifica o número de propágulos de dois solos, através do método do
número mais provável (MPN – Most Probable Number, ver 7.2.1), e compara
os resultados com a contagem de esporos, extraídos pelo método de
crivagem húmida e centrifugação em gradiente de sacarose (ver 7.2.2). Nos
dois solos, a contagem de esporos revelou 95 e 499 esporos em 50 g de solo
e respectivamente, o MPN, 230 e 752 propágulos em 50 g de solo. Também
An et al. (1990), no seu estudo sobre populações micorrízicas utilizaram os
dois métodos. Com o MPN detectaram 17 espécies, enquanto com a
contagem de esporos detectaram apenas 10 espécies. Estes resultados
explicam-se pelo facto de, para além de haver no solo outros propágulos
diferentes dos esporos conforme já foi referido, haver esporos que se formam
dentro das raízes, outros que já não estão viáveis e outros que são muito
pequenos. Há espécies que apenas se desenvolvem na presença de certas
plantas, dependendo da época de recolha de amostras de solo. Os esporos
podem apenas ser um indicador do passado e não do potencial actual. Por
estas razões, estes investigadores consideram que vale a pena o trabalho
extra de realizar um ensaio de MPN e que, para estudos de ecologia, como é
o caso, o uso dos dois métodos é recomendável.
4.1.2 – Como se inicia e evolui a colonização
Segundo Sieverding (1991), o processo pelo qual se gera a
colonização pode ser separado em três fases distintas: - a pré-colonização, a
penetração e a formação de arbúsculos e vesículas. Durante a pré-
colonização, estabelecem-se as trocas de sinais químicos entre os
simbiontes dependendo das condições favoráveis do solo, que, em conjunto,
13
contribuem para o despoletar da colonização micorrízica. Em termos de
trocas químicas, vários trabalhos indicam que são os compostos orgânicos
produzidos pelas plantas e exudados para a rizosfera que estimulam a
germinação dos propágulos (Koske e Gemma, 1992 in Brito, 1997). As
condições favoráveis presumivelmente são sobretudo determinadas pelo teor
em nutrientes e humidade do solo, a luz, a temperatura e o pH. Estes factores
ambientais continuarão a influenciar a colonização depois de ultrapassada
esta fase inicial do seu estabelecimento.
Dos nutrientes presentes no solo o fósforo (P) é aquele que tem maior
influência a este nível. É unanime que quando se verificam níveis elevados
de P disponível para as plantas há uma redução na colonização micorrízica
(Hayman, 1983). Por outro lado, se o solo for demasiado pobre em P, a
utilidade de AMF neste domínio deixa de ser necessária e também é reduzida
(Koide, 1993). A intensidade luminosa assim como o fotoperíodo têm uma
forte influência nas plantas e consequentemente nos AMF, conforme é
evidenciado por alguns estudos (e.g. Finlay e Söderström, 1992; Harley e
Smith, 1983; Hayman, 1983 in Brito, 1997), em que se verificou haver maior
intensidade da colonização micorrízica quando a luminosidade era mais
intensa e prolongada. Os efeitos da temperatura são complexos e as
respostas variam de acordo com as espécies de plantas e fungos envolvidos.
Ainda assim, é aceite que a temperatura óptima para o desenvolvimento da
colonização se situa pelos 30ºC (Smith e Read, 1997), e que naturalmente
com o aumento da temperatura até ao óptimo a rapidez com que esta ocorre
é superior. Segundo Graw (1979), os efeitos do pH nos AMF variam de
acordo com o tipo de solo e simbiontes em causa. No entanto, este autor
assim como outros por si referidos (e.g. Mosse, 1971; Strzemsk, 1973;
14
Hayman e Mosse, 1971), indicam que a micorrização ocorre perfeitamente
em solos com valores de pH entre 4 e 7.
A colonização primária, ocorre quando se dá a penetração da raiz por
parte do tubo germinativo ou hifa de germinação de um esporo ou de
qualquer outro propágulo. À colonização por uma hifa que já adquire energia
a partir da planta, chama-se colonização secundária. Normalmente, logo após
o contacto do fungo com a raiz, forma-se frequentemente um apressório
(estrutura espessa e rica em lípidos), cuja função consiste em provocar o
espessamento das paredes das células da epiderme para facilitar a
proliferação da hifa. Após a penetração, que ocorre entre as células da
epiderme, o fungo abandona a sua curta fase autosuficiente. As hifas
desenvolvem-se intercelularmente e em 2 a 5 dias inicia-se a penetração das
células corticais e a formação de arbúsculos no seu interior. Os arbúsculos
(fig. 2-A), são ramificações terminais das hifas que se dicotomizam
profusamente, produzindo uma estrutura sob a forma de árvore. A membrana
citoplasmática da célula da raiz molda-se em torno das ramificações, sem
nunca ser perfurada, constituindo-se um espaço apoplástico, com uma larga
superfície de contacto, onde, presumivelmente, se dão as trocas
bidireccionais de nutrientes. Os arbúsculos vivem apenas entre 4 a 15 dias,
findos os quais as células restabelecem o seu funcionamento normal uma vez
que a sua actividade metabólica se encontrava aumentada (Sieverding,
1991). Como o processo de formação e degeneração de arbúsculos está
permanentemente a ocorrer, é possível observar os diferentes estadios do
seu desenvolvimento sempre que se observa uma raiz. Ao mesmo tempo que
se formam os arbúsculos, ou um pouco depois, alguns AMF formam
vesículas (fig. 2-B). Estas são estruturas globosas formadas nas hifas,
15
Figura 3 - Representação da colonização por AMF e suas principais estruturas. (Adaptado de Brundrett et al., 1994)
ocorrem mais frequentemente intercelularmente, e têm como função
armazenar substâncias lipídicas para alimento de reserva do fungo em
situações de stress. Alguns autores defendem que as vesículas podem
também ser uma fonte de inóculo para o fungo (e. g. Strullu e Plenchette,
1991).
O aspecto da colonização micorrízica, e suas principais estruturas
pode observar-se na fig. 3.
A evolução da colonização por AMF no sistema radicular é um
processo dinâmico em que,
tanto os componentes do fungo
como os da raiz, se vão
desenvolvendo de forma
interrelacionavel. De acordo
com os trabalhos de vários
autores (e.g. Sanders et al,
1977 in Smith e Read, 1997;
Toro, 1986 in Sieverding, 1991),
a taxa de colonização ao longo do tempo representa-se por uma curva
sigmóide (fig. 4). Segundo Sieverding (1991), a fase inicial (fase de latência)
A B Figura 2 - A – Arbúsculo (ampliação 1000x); B – Vesícula (ampliação 1000x).
16
representa o momento em que está a decorrer a colonização primária e a
fase exponencial, o momento em que o fungo está em plena expansão, tanto
inter como intracelularmente, como ainda através da rede extraradical. Na
fase de estabilização (fase estacionária), o crescimento do fungo e da raiz
mantém uma taxa de crescimento paralelo. Smith e Read (1997), referem
investigações em que se observou uma fase de declínio por parte do fungo.
4.2 – Taxonomia
Segundo Morton e Bentivenga (1994), as características morfológicas
associadas com a formação dos esporos e com a sua estrutura, são
suficientemente estáveis e diversas para se reconhecerem pelo menos 150
espécies de micorrizas arbusculares. A sua taxonomia, segundo Morton e
Benny (1990), encontra-se organizada do seguinte modo:
Figura 4 - Fases da colonização por AMF do sistema radicular de Sorgo após inoculação com 2 esporos por grama de solo. A linha a tracejado corresponde aos esporos (nº/g de solo seco) e a linha contínua à percentagem de colonização da raíz. (Adaptado de Toro, com. pess., in Sieverding, 1991).
17
REINO - Fungi
DIVISÃO – Zygomycotina
ORDEM – Glomales
SUB-ORDEM – Glomineae
FAMÍLIA – Glomaceae
GÉNERO – Glomus
FAMÍLIA – Acaulosporaceae
GÉNERO – Acaulospora
GÉNERO – Entrophospora
SUB-ORDEM – Gigasporinae
FAMÍLIA – Gigasporaceae
GÉNERO – Gigaspora
GÉNERO - Scutellospora
A divisão da ordem Glomales em duas sub-ordens, baseia-se
principalmente na presença e ausência de vesículas, respectivamente em
Glomineae e Gigasporinae.
Na família Glomaceae os esporos formam-se nas extremidades das
hifas. Têm em geral uma organização interna simples, apresentando apenas
uma a duas paredes.
Na família Acaulosporaceae, observa-se um sáculo esporífero que
cresce terminalmente em hifas especializadas. Este coalesce à medida que o
esporo se vai desenvolvendo, deixando-lhe cicatrizes características. Os
esporos deste grupo, para além de também possuírem uma parede rígida
com três camadas, têm uma sequência de várias paredes internas flexíveis.
Nas espécies pertencentes ao género Acaulospora os esporos formam-se
lateralmente em relação à hifa que os origina, pelo que ficam com uma
18
cicatriz nessa região. As espécies do género Entrophospora são idênticas
aos de Acaulospora, mas com duas cicatrizes nos pólos opostos dos
esporos.
A família Gigasporaceae, caracteriza-se sobretudo pela existência de
uma estrutura globosa na zona em que a hifa de ligação sai do esporo. No
género Gigaspora (que nunca foi descrito na Europa), os esporos possuem
uma parede com duas camadas. Os esporos das espécies pertencentes ao
género Scutellospora, tal como acontece com as de Acaulospora, possuem
várias paredes internas, mas caracterizam-se sobretudo pela presença de um
escudo germinativo, que é uma estrutura formada pela intrusão de citoplasma
do esporo entre as camadas da parede membranosa interior.
4.3 – Benefícios decorrentes da micorrização
4.3.1 - Para a planta
Se, conforme já se referiu, as micorrizas tiveram um papel fundamental
na colonização do meio terrestre por parte das plantas, é porque lhes
trouxeram benefícios que permitiram ultrapassar os obstáculos impostos pelo
novo meio.
A rede extraradical de micélio, juntamente com a capacidade de
dispersão das hifas, por entre as partículas de solo, proporcionam à planta
micorrizada maior volume de solo explorado. Segundo Sieverding (1991) 1
cm de raiz não micorrizada pode explorar apenas 1 a 2 cm3 de solo, a
mesma, poderá usufruir de 12 a 15 cm3 caso esteja colonizada. De facto, o
micobionte proporciona não só maior acessibilidade como também maior
eficiência na aquisição de nutrientes, em particular dos que são menos
19
móveis no solo (P, Zn, Cu). Destes, o P é particularmente importante, porque
é um macronutriente principal, que na maioria dos solos se encontra
disponível em quantidades limitadas. A sua importância advém sobretudo do
facto de entrar na composição de um grupo importante de compostos
fundamentais para o metabolismo das plantas, ATP e NADPH. Estas,
absorvem este nutriente sobretudo na forma de ortofosfato primário, H2PO4-,
o qual é absorvido em torno da raiz mais rapidamente do que consegue ser
reposto por difusão (Santos, 1991). São as hifas de AMF, que crescem para
além desta zona, que o conseguem captar a partir de zonas inacessíveis à
raiz (Allen, 1996).
É unanimemente aceite que a presença do micobionte favorece a
planta nas suas necessidades de água, tornando-a mais resistente à seca
(Kothari et al., 1990). Este proporciona uma absorção de água facilitada, não
só porque as hifas extraradicais têm acesso a maior volume de solo do que a
raiz, como conseguem penetrar em poros de menores dimensões, uma vez
que o seu diâmetro (cerca de 5µm) é inferior ao dos pêlos radiculares mais
finos (cerca de 500µm). No entanto, há alguma controvérsia sobre este
assunto, havendo quem suporte que a absorção de água não é realizada
directamente pelas hifas, e que o seu papel benéfico nas relações água-
planta se deve às alterações induzidas na nutrição e outros efeitos
secundários (Faber et al., 1991).
Da interacção dos AMF com outros organismos do solo surgem
benefícios, umas vezes resultantes da modificação das interacções entre as
plantas e organismos patogénicos, como nemátodes, que se provou serem
fortemente inibidos pela presença de AMF (Ingham, 1988), ou fungos (e.g.
Fusarium spp.), outras vezes resultantes de efeitos sinérgicos com outros
20
agentes benéficos, como é o caso da simbiose mutualista em que a fixação
de azoto é realizada por bactérias do género Rhizobium (Fitter e Garbaye,
1994).
Todos estes efeitos, em conjunto, conduzem naturalmente ao
desenvolvimento de plantas mais robustas, o que resulta em melhores
hipóteses na obtenção de boas colheitas.
4.3.2 – Para o solo e ecossistema
O solo é um meio complexo tridimensional, que consiste em partículas
cujas dimensões podem variar entre diâmetros inferiores a 2µm (argila) até
vários centímetros (pedras). A chave da sua estabilidade e conservação é a
presença de agregados. Estes, são componentes resistentes do solo,
formados pela ligação das suas partículas. Segundo Harris et al. (1966),
solos bem agregados asseguram boa resistência à erosão, condições físicas
adequadas para a penetração, crescimento, e apoio das raízes. A
estabilização dos agregados é fundamental para que nos espaços entre
estes, os poros, possa haver capacidade de retenção de água, nutrientes,
trocas gasosas e actividade biológica equilibrada. Agregados e poros em
conjunto constituem o que se denomina por estrutura do solo.
A pesquisa desenvolvida nos últimos 15 a 20 anos, tem revelado que
os AMF têm um importante papel na formação, melhoria e manutenção da
estrutura do solo. Foi sugerido um modelo que suportava que a rede
extraradical de hifas, actuava como um agente de ligação, devido à
mucilagem de polissacáridos que as hifas exudam entre partículas (Tisdall e
Oades, 1982), e entre microagregados (diâmetro inferior a 250µm), os quais
21
são formados por bactérias e processos químicos, transformando-os em
macroagregados (diâmetro superior a 250µm) (Tisdall e Oades, 1991),
contribuindo assim para a sua estabilização. Agregados maiores originam
poros mais largos, os quais suportam condições imprescindíveis para os
diferentes processos que ocorrem no solo.
Os AMF desempenham um papel benéfico de relevo nos
ecossistemas, nomeadamente nos agroecossistemas, sobretudo ao nível da
reciclagem de nutrientes conforme se representa esquematicamente na fig. 5.
Para Hooker e Black (1995), este papel embora também seja importante num
sistema agrícola convencional de elevados “inputs” é-o ainda mais à medida
que esses “inputs” são reduzidos.
Estes fungos são vias por onde fluem para as plantas e entre estas
(Francis e Finlay, 1985 in Killham, 1995), os nutrientes disponíveis no solo,
que entre outras fontes são fruto da actividade biológica de outros
organismos (e.g. bactérias decompositoras, fungos saprófitas) ou do
transporte efectuado por agentes erosivos.
Figura 5 - Diagrama esquemático do papel dos AMF na reciclagem de nutrientes. (Adaptado de Hooker e Black, 1995)
AMF RAÍZES
Nutrientes disponíveis no solo
Decomposição Mineralização
Fixação de N2
Lexiviação Erosão
22
5 – PRÁTICAS CULTURAIS
5.1 - Rotação de culturas
Um sistema de rotação é uma sucessão ordenada de culturas num
afolhamento, ou seja, consiste em fazer as culturas da sucessão em
parcelas, ou folhas diferentes, ao mesmo tempo ou não, consoante as
características das culturas em rotação.
Esta prática começou a ser utilizada, a partir do momento em que o
Homem se tornou sedentário e começou a verificar que, repetindo várias
vezes uma cultura no mesmo terreno, a produção ia diminuindo. Até há
poucos anos, os agricultores atribuíam tal facto ao “cansaço da terra” e,
mesmo os técnicos, apenas tinham uma vaga ideia de que o solo perdia
“forças” para sustentar a cultura.
Quando, há relativamente poucos anos, se descobriu, que o “cansaço
da terra”, que se verificava ao praticar-se a monocultura antes de se recorrer
ao sistema de rotação, era provocado pelo consumo dos nutrientes do solo
por parte das culturas, tentou-se abandonar o sistema de rotação, voltando a
substituí-lo pela prática da monocultura intensiva, com o auxílio de
fertilizantes. Apesar das produções serem boas durante algum tempo,
voltavam a diminuir. As causas eram variadas (doenças, pragas, infestantes,
etc.), mas a sua razão de ser era apenas uma: o facto de todos os anos estes
flagelos encontrarem condições favoráveis à sua propagação. Isto obrigava a
operações dispendiosas, que também implicavam custos ambientais.
Assim, pode considerar-se que o papel da rotação é essencialmente
assegurar uma melhor nutrição, menor nível de infestantes, maior
23
probabilidade de ataques pouco intensos de pragas e impedimento da
acumulação de outros factores inibitórios das culturas, quando elas se
sucedem em prazos inferiores aos que conduzem a essa acumulação. A
pesquisa de melhores sequências culturais, que tirem maior vantagem dos
efeitos da rotação, é uma prioridade para se alcançar uma agricultura
sustentável.
A rotação tradicional no Alentejo constitui-se por uma alternância de
um a dois anos de cultivo cerealífero, com normalmente dois a quatro anos
de pousio. No primeiro ano de cereal cultiva-se geralmente o trigo e como
segunda cultura cerealífera segue-se muitas vezes a aveia, antes da terra
voltar a ficar em pousio. A aveia tem vindo a ser substituída por outro cereal
de maior interesse, o triticale. Em solos melhores a rotação altera-se, não é
considerado um período de pousio na rotação, mas é realizado o chamado
alqueive revestido, constituído de uma lavoura (ver 5.2.1) no fim do Verão
para a cultura seguinte de Primavera. Assim, encontra-se muito
frequentemente uma rotação de culturas trienal, a qual consiste em dois anos
de cereal e de uma cultura de Primavera, geralmente o girassol.
5.2 - Mobilização do solo
A necessidade de mobilizar os solos antes da sementeira, surgiu
também com a evolução da agricultura, nomeadamente com os sistemas de
rotação de culturas.
No meio natural, quando as plantas morrem permanecem sobre o solo,
onde são lentamente decompostas, permitindo a libertação gradual de
elementos orgânicos e minerais que contribuem para o seu equilíbrio
24
nutritivo. A colheita retira do solo esta possibilidade. Quanto à rotação, para
além das vantagens já descritas, também mostrou inconvenientes. Com o
seu decorrer, as infestantes iam acumulando as suas sementes e tornavam-
se cada vez mais competitivas face às plantas das culturas, retirando-lhes
nutrientes, água e luz.
O processo de fazer frente a estas dificuldades, consistia em arrancar
manualmente as plantas indesejáveis, processo que se tornava tanto mais
fácil quanto mais solto estivesse o solo. Por outro lado, enterrando as
infestantes antes que produzissem sementes, reduzia o seu número e
facilitava o arranque das que apareciam, pois a camada superficial de solo
estava mais solta. Outra função das mobilizações, pelo menos das mais
tradicionais, tem a ver com a preparação da chamada “cama da semente”.
Quanto mais solto estiver o solo, mais pontos de contacto há entre este e a
semente, que fica mais “aconchegada”, permitindo mais pontos de passagem
de água do solo para a semente, o que irá induzir a sua germinação.
Assim, criaram-se ao longo dos anos processos de mobilização dos
solos, destinados a garantir terrenos limpos, proporcionando-se mais luz,
água e minerais às culturas, que se tornam mais produtivas.
Naturalmente, as mobilizações também trouxeram inconvenientes,
sobretudo a lavoura (ver 5.2.1), que é utilizada na quase totalidade da área
agrícola alentejana, mas em que apenas cerca de 40 % dos solos mostram
características adequadas para a sua prática (Wienberg, 1982 in Basch,
1991). O problema essencial é que sucessivas mobilizações, ao longo dos
anos, destroem os solos mais finos, os quais ficam rapidamente saturados
com as chuvas. Isto dificulta o arejamento e impede a infiltração da água
pelos canalículos existentes entre as partículas. Como a forma de ultrapassar
25
Figura 6 - Charrua
estas dificuldades consiste em fazer mais mobilizações, implantou-se um
ciclo vicioso, cujos efeitos negativos são manifestos. Por essa razão há cada
vez mais quem condene quaisquer mobilizações.
5.2.1 – Lavoura
Define-se lavoura como a mobilização em que se procede ao
reviramento do solo, isto é, a parte que estava à superfície é voltada para
baixo, trazendo-se para a superfície a parte inferior do solo que estava à
profundidade atingida por esta mobilização. A finalidade principal, como já foi
referido, é enterrar as ervas infestantes para as destruir. Ao mesmo tempo, a
acção de romper e revolver o solo, desfaz a sua compactação, permitindo
melhor infiltração de água e fácil desenvolvimento das raízes na camada de
intervenção.
A lavoura consiste em duas fases de mobilização: uma primária, em
que a alfaia utilizada é a charrua, e outra
secundária, em que se procede à gradagem.
Existem diversos tipos de charruas, especializadas
nos mais diversos objectivos. A que foi utilizada nas
folhas de rotação da Herdade da Revelheira, onde
decorreu este estudo, é o tipo mais generalizado,
em que a tracção é mecânica e os órgãos activos
são constituídos por duas aivecas (fig. 6). Após a passagem com a charrua, é
necessário regularizar a superfície do terreno que ficou armada e com
torrões. Para isso procede-se à gradagem, que, no caso em estudo, foi feita
com uma grade de discos em V (fig. 7).
26
Figura 8 - Escarificador
Figura 7 – Grade de discos
A sucessiva utilização da charrua,
tem como consequência a repetida
passagem das aivecas à mesma
profundidade. Isto cria uma camada de
solo compactada, que se denomina “calo”
da lavoura. Este, que fica ainda mais pronunciado devido à compactação
exercida pelo peso do tractor, é praticamente impenetravel pelas raízes e
pela água. A capacidade de absorção é reduzida, assim como a espessura
efectiva do solo.
5.2.2 - Escarificação
Esta operação de mobilização pode servir para completar a lavoura,
substituindo a gradagem nos casos em que os torrões são grandes ou,
entretanto surgiram ervas. Pode também
substituir a lavoura em casos muito
favoráveis, servindo para enterrar
sementes e adubos. O escarificador (fig.
8), é uma alfaia agrícola que consiste
num quadro onde se fixam teirós, neste caso chamados dentes. Estes, são
compridos e estreitos e realizam o trabalho a uma profundidade de cerca de
10cm. O escarificador rasga o solo, mas quase não o revolve à superfície.
27
Figura 9 – Sistema de triplo disco. (Adaptado de Basch, 1991)
5.2.3 - Sementeira directa
Nesta prática cultural, a mobilização de solo efectuada previamente à
sementeira é nula. A semente é enterrada, se necessário juntamente com
fertilizantes, à profundidade desejada, por um semeador especial,
normalmente com um sistema de triplo disco (fig. 9), preparado para
ultrapassar as dificuldades de penetração das sementes. A sua cobrição, é
feita por rodas ou rolos compressores
apenas ao longo da estreita faixa que
constitui a linha, pelo que praticamente
não há perturbação do solo.
Segundo Carvalho e Basch
(1995), que compararam os efeitos
provocados no solo pela mobilização tradicional e sementeira directa, as
condições físicas, químicas e biológicas do solo, melhoravam após alguns
anos de sementeira directa. Estes investigadores, verificaram que apesar da
camada superficial de solo (primeiros 10cm) ficar mais compactada (devido a
não haver remeximento e à passagem do tractor), com menor
macroporosidade e maior densidade relativa, esse efeito era oposto para as
camadas inferiores. Assim, é natural que as plantas tenham inicialmente mais
dificuldades de desenvolvimento devido à resistência à penetração do solo.
No entanto, ultrapassadas as dificuldades, as plantas vão poder usufruir de
melhores condições relativamente às proporcionadas pela mobilização
tradicional. Estas condições, passam por uma maior capacidade de absorção
e retenção de água, uma vez que a interface solo atmosfera não foi
perturbada, os poros mais finos exercem maior retenção e há resíduos sobre
28
o solo que actuam como esponja, libertando depois a água lentamente.
Passam também por haver mais matéria orgânica, disponibilidade de P e
capacidade de troca catiónica, por se verificar menos lavagem de
fertilizantes, embora também seja mais difícil passarem para as camadas
inferiores onde se encontram as raízes, por existir uma menor probabilidade
de encharcamento em períodos chuvosos, por não se formar o “calo da
lavoura” e por uma maior homogeneidade ao longo do perfil.
O impacto dos agentes erosivos e em particular das gotas de chuva,
seguidas pelo transporte e perda de partículas finas do solo, é um processo
grave nos solos sujeitos a mobilizações profundas, em que a crosta natural
existente à superfície é substituída por agregados soltos. A sementeira
directa minimiza estas acções erosivas, uma vez que a crosta é mantida e os
resíduos atenuam a acção das gotas de chuva (Groβ, 1995).
Para concluir, pode dizer-se que as consequências em termos de
resposta das culturas à sementeira directa dependem da própria cultura e do
clima. No geral obtêm-se melhores resultados em culturas de Inverno do que
de Primavera, sobretudo devido a uma maior resistência à penetração do
solo. De qualquer forma, para além das referidas vantagens, em termos de
custos a sementeira directa também é mais vantajosa do que a mobilização
tradicional, permitindo uma maior economia de tempo, combustível, mão-de-
obra e equipamento.
29
6 – MICORRIZAS ARBUSCULARES E PRÁTICAS CULTURAIS
As várias práticas culturais que a preparação e o uso da terra
envolvem, têm impactos na maneira como as micorrizas arbusculares se
formam e funcionam.
Começando por abordar este assunto duma perspectiva geral
passando depois para aspectos mais específicos, pode dizer-se que um tipo
de agricultura intensiva provoca um decréscimo no potencial de AMF, ao
passo que um tipo mais sustentável faz com que ocorra o oposto. Neste
último, em vez de se recorrer à monocultura, típica num sistema intensivo,
opta-se pelo sistema de rotação de culturas. Para um dado sistema poder ser
sustentável, é muito importante compreender-se a dinâmica dos AMF nos
solos agrícolas quando influenciados pelas diferentes práticas culturais
utilizadas, nomeadamente, não só pela rotação em si mas também pelas,
mobilizações e fertilizações.
O passado dum sistema de rotação de culturas é determinante na
ocorrência de micorrizas de um ano para o outro (Abbot et al., 1995).
Conforme foi referido, há plantas mais micotróficas que outras e é natural que
determinada escolha de culturas tenha como resultado a reposição dos níveis
de AMF, no ano seguinte a uma cultura menos micotrófica. Harinikumar e
Bagyaraj (1988), estudaram os efeitos que uma rotação, com uma cultura
micotrófica (“feijão fradinho” – Vigna unquiculata L.), não micotrófica
(mostarda – Brassica juncea L.) e pousio (solo não cultivado), provocava no
número de propágulos de AMF. Chegaram à conclusão que, após a cultura
de feijão fradinho, houve um acréscimo de 12% no número de propágulos e
que, após a cultura de mostarda e o pousio, houve respectivamente uma
30
redução nesse número da ordem dos 13% e 40%. A drástica redução
verificada após o pousio poder-se-á explicar não só pela ausência da cultura,
mas também porque muitas das robustas plantas silvestres são
provavelmente pouco micotróficas.
Estes resultados, conduzem ao problema dos efeitos que o sistema de
rotação de culturas pode produzir a nível da agregação e manutenção da
estabilidade estrutural do solo. Segundo Tisdall e Oades (1980), a
macroagregação é controlada pelas práticas culturais (i.e. rotação de
culturas). Estes autores chegaram a esta conclusão, pois após 50 anos de
rotação de culturas, a estabilidade dos macroagregados decrescia
juntamente com a quantidade de hifas de AMF. Ao compararem um solo que
nunca havia sido cultivado, solos em rotação sem pousio e solos em rotação
com pousio, verificaram que, do primeiro para o último, o comprimento das
hifas era respectivamente de 19 m/g de solo, 13mg-1 e 5mg-1.
As perturbações provocadas pelas mobilizações, são outro factor
inerente às práticas culturais, com consequências nos AMF, nomeadamente
ao nível da quebra da rede extraradical de micélio. Os estudos sobre o
envolvimento da rede extraradical nos efeitos resultantes da perturbação do
solo, são muito recentes e começaram a ser elaborados com solos
artificialmente perturbados em laboratório. Só desde há cerca de 5 anos, se
tem vindo a publicar as poucas tentativas realizadas, para estudar aquele
envolvimento em condições de campo.
Evans e Miller (1990), foram dos primeiros a fazer a ligação entre as
reduções verificadas a nível da absorção de P e zinco em milho (Zea mays
L.), após a perturbação artificial de um solo e o decréscimo de colonização
micorrízica. O seu estudo levou-os a pensar que a causa mais provável para
31
essa redução estava na destruição da rede extraradical. No entanto, estes
investigadores admitiram que a importância das suas descobertas haveria de
ficar incerta, até que se determinasse até que ponto um solo tem de ser
perturbado, para que se façam sentir efeitos a este nível. Questionava-se
então: será que as mobilizações provocam alterações suficientes para que se
produzam efeitos nos AMF? Se sim, quais são essas alterações e quais são
os seus efeitos? Kabir et al. (1998a), estudaram em paralelo os efeitos que as
mobilizações exercem sobre a tomada de nutrientes pelas plantas, densidade
e distribuição espacial de hifas extraradicais no campo, para uma cultura de
milho (Zea mays L.). Para isso, acompanharam ao longo de 11 anos os
talhões da cultura, não mobilizados (NM-sementeira directa), os que tiveram
mobilização reduzida (MR-grade de discos) e os de mobilização convencional
(MC-lavoura). Observaram que a densidade de hifas era superior nos talhões
NM do que nos MC, enquanto que os talhões (MR) continham uma densidade
de hifas intermédia. As concentrações de P, Zn e Cu nas plantas, também
eram superiores em NM e MR do que em MC, ao passo que as
concentrações de K, Ca e Mg não variavam entre mobilizações, o que
indicava a influência dos AMF. Quanto à distribuição espacial, verificaram que
as maiores densidades de hifas se localizavam junto às raízes ao longo das
linhas de cultivo.
A abundância de hifas de AMF nos solos agrícolas varia com as
estações do ano, embora essa esteja dependente de vários factores (e.g.
edáficos, climáticos) entre os quais estão as mobilizações. Pouco se conhece
sobre as variações sazonais no desenvolvimento micorrízico nas culturas
agrícolas e na abundância de hifas extraradicais, quando influenciadas pelas
mobilizações. Kabir et al. (1997), também investigaram sobre as variações na
32
densidade de hifas e colonização das raízes ao longo do ano para os
mesmos campos de cultivo. A mais reduzida taxa de colonização por AMF foi
verificada no início da Primavera, sobretudo em lavoura, pelo que esta perda
de vigor de AMF poder-se-á atribuir, não só ao rompimento da rede
extramatricial, mas também à exposição dos propágulos ao ar, fruto do
revolvimento do solo, sofrendo as condições adversas do Inverno.
Douds et al. (1995), realizaram um estudo de dinâmica populacional e
de distribuição vertical de esporos em sistemas de altos (convencional) e
baixos “inputs”, cada um sujeito a três tipos de mobilização (lavoura, chisel e
sementeira directa). Verificaram que tanto o tipo de sistema como o tipo de
mobilização tinham influência na dinâmica populacional de AMF e chegaram
à conclusão, que em sistemas de baixos “inputs” o número de esporos era
superior relativamente ao sistema convencional, sobretudo nas camadas
superfíciais e em sementeira directa.
Mas nem todos os estudos são tão evidentemente conclusivos no que
respeita aos efeitos da lavoura e da sementeira directa nos AMF. Mozafar et
al. (1998), que também investigaram os efeitos provocados pelos mesmos
tipos mobilizações num sistema de rotação com trigo de Inverno, milho e
colza, não verificaram alterações significativas no número total de esporos
entre mobilizações, apesar de terem notado existir esporos mais pequenos
nos campos sujeitos a sementeira directa. Referiram também que nas raizes
de milho, cultivado em sementeira directa, a colonização micorrízica foi
detectada mais cedo e a sua taxa havia sido superior ao longo do tempo
relativamente às outras mobilizações.
A passagem sucessiva das máquinas agrícolas sobre o solo ao longo
dos anos, é um factor de compactação cuja influência nos AMF, foi
33
investigada conjuntamente com mobilizações (NM, RM e CM) por Entry et al.
(1996) em milho (Zea mays L.). Após 7 anos de tratamentos, combinados
entre compactação e mobilização, não se verificaram diferenças entre
tratamentos tanto ao nível de concentrações de nutrientes nas plantas, como
nas produções. No entanto, verificaram-se reduções na biomassa de raízes e
raízes micorrizadas nos solos sujeitos a maior compactação e mobilização.
Nadian et al, (1996), também realizaram um estudo parecido, aferindo sobre
os efeitos, nos AMF, da compactação e tomada de P em trevo (Trifolium
subterraneum). Observaram que a colonização micorrízica aumentava em
todos os níveis de compactação e tratamentos com P, mas que esse
aumento decrescia com a subida dos níveis de compactação e P. Estas
observações levara-os a concluir que o declínio no benefício da colonização
micorrízica em solos extremamente compactados poder-se-ia dever, em
parte, à inibição do crescimento da raiz, também observada por Entry et al.
(1996), e consequentemente à redução na superfície disponível para a
colonização. Kabir et al. (1998b), compararam os efeitos provocados na
distribuição vertical (0-25cm) de raízes de milho (Zea mays L.) colonizadas,
em sistemas sujeitos a lavoura e sementeira directa. Concluíram que a
mobilização não teve efeitos na colonização da raiz, e que, quanto aos
esporos e densidade de hifas, apenas houve diferenças significativas,
respectivamente menos 50 e 40% em lavoura, nos 5cm superficiais. É
exactamente nesta camada superficial que os agentes erosivos actuam mais
violentamente. É também aí que se localizam maioritariamente os propágulos
(Powel, 1980).
34
Da análise dos estudos descritos extraí-se que a sementeira directa
será porventura o melhor método de conservação, não só dos AMF mas
também de outros aspectos associados aos mecanismos do solo.
Apesar da literatura sobre os efeitos que os fertilizantes têm sobre os
AMF ser contraditória (Hooker e Black, 1995), é cada vez mais evidente que
há maior potencial de AMF em sistemas agrícolas de baixos “inputs”(Abbot et
al., 1995).
A agricultura moderna desenvolveu novas variedades de plantas, mais
robustas, resistentes e adaptadas para elevados desempenhos sob sistemas
convencionais de elevados “inputs”. É sugerido por alguns investigadores
(Azcón e Ocampo, 1981), que estes processos de melhoramento
seleccionaram genótipos menos micotróficos. Assim, a utilização destas
variedades em sistemas agrícolas sustentáveis, podem desfavorecer
algumas das potencialidades biológicas que o meio fornece, como é o caso
da simbiose por AMF.
35
7 - MATERIAL E MÉTODOS
7.1 - Caracterização do local de estudo
7.1.1 - Situação geográfica
A Herdade da Revelheira, localizada geograficamente a 38º 28’ N e 7º
28’ W, pertence, administrativamente, à freguesia de Corval, ao concelho de
Reguengos de Monsaraz e ao distrito de Évora, portanto no sul da região Alto
Alentejo. Segundo Rivas–Martinez (1990), em termos biogeográficos,
encontra-se na Região Mediterrânica, Província Luso – Extremadurence e no
Sector Marianico – Monchiquense. A fig. 10 representa parte da área
ocupada pela herdade, sendo possível distinguir os dois montes que dela
fazem parte (Revelheira e Barroqueira), bem como o local onde se encontra o
campo de ensaios de mobilização alvo deste trabalho.
7.1.2 - Clima
Segundo Rivas–Martinez (1990), trata-se duma região pertencente ao
piso bioclimático Mesomediterrânico, pois a temperatura média anual do ar
Figura 10 - Adaptado da Carta Militar de Portugal nº 473 (Reguengos de Monsaraz) – Serviço Cartográfico do Exército.
Localização do campo de ensaios de mobilização
36
(T) é de 15,4 ºC, a temperatura média das mínimas do mês mais frio (m) é de
3,8 ºC e em que a temperatura média das máximas do mês mais frio (M) é de
13,4 ºC. A estes valores corresponde um índice de termicidade (It), em que It
=(T+m+M)x10, de 326 o que significa que a região pertence ao horizonte
bioclimático Mesomediterrânico-inferior que se caracteriza por ter
possibilidades de geadas entre os meses de Outubro a Abril. O clima é
considerado seco pois a precipitação total anual é inferior a 600 mm.
Nos quadros seguintes são apresentadas as médias mensais de
temperatura e totais mensais de precipitação, para o local experimental,
durante o período do ensaio e os valores correspondentes de 30 anos*.
Quadro 2 - Precipitação (mm) no período do ensaio e média (∅) de 30 anos (totais mensais).
Mês N D J F M A M J J
∅ 30 anos 69,9 74,7 77,6 76,7 83,3 44,9 33,5 24,8 3,5
98/99 25,1 63,0 63,2 13,5 85,4 50,7 26,2 0,8 0,0
Quadro 3 - Temperatura média anual (ºC) no período do ensaio e média (∅) de 30 anos.
Mês N D J F M A M J J
∅ 30 anos 12,4 9,7 9,3 9,9 11,5 13,6 16,6 19,9 22,8
98/99 12,8 8,1 8,0 8,7 11,8 14,7 17,8 22,5 25,0
Verifica-se que este ano agrícola foi menos chuvoso e mais frio no
Inverno relativamente à média de 30 anos.
∗ Os valores climatológicos de temperatura, média de 30 anos (1951 a 1980), são da Estação Meteorológica de Évora (a mais próxima de Reguengos de Monsaraz), e todos os valores climatológicos de precipitação são da Estação Udométrica de Reguengos de Monsaraz. A fonte das médias de 30 anos foi do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (1991), e das médias de 98/99 da página da internet do Departamento de Física da Universidade de Évora.
37
7.1.3 – Caracterização do solo
Segundo a classificação portuguesa, o solo no local experimental é um
‘Solo Mediterrâneo Vermelho e Amarelo de dioritos ou quartzodioritos ou
rochas microfaneríticas afins’ (Vm) (Cardoso, 1965). Segundo este autor, é
um solo que, entre outras características, se desenvolve em relevo normal,
cuja textura é ligeira ou mediana nas camadas superficiais, entre os 15cm e
os 50cm a percentagem de argila aumenta muito, o pH nunca é inferior a 5,0,
o grau de saturação é elevado e a capacidade de troca catiónica é baixa ou
muito baixa.
No período entre as mobilizações e a sementeira, foi realizada uma
análise do pH do solo em todos os talhões, verificando-se que o seu valor
variou entre 5 e 6, pelo que, conforme foi referido, não são valores que
impeçam a micorrização.
7.1.4 - Organização das folhas do ensaio
Cada uma das três folhas (R1, R2 e R3), onde decorre o sistema de
rotação ocupa uma área de aproximadamente 8000 m2.
A folha R1 recebeu neste ano (98/99) a cultura de triticale, tendo no
ano anterior (97/98) permanecido em pousio porque, devido à pluviosidade
intensa que encharcou o solo, não foi possível realizar a sementeira de trigo.
Este efeito, não foi tão pronunciado nas folhas R2 e R3, que seguiram o plano
de rotação em 97/98. A folha R2, foi este ano semeada de girassol. Esta folha
tinha acolhido o trigo no ano anterior. Na folha R3 decorreu este ano a cultura
de trigo, após o girassol de 97/98.
38
Figura 12 - Semeador
Cada folha está dividida em 12 talhões (cada um com as dimensões
de 75m x 6m e uma distância entre talhões de 1m, 2 entre repetições),
agrupados em 3 grupos de 4, cada grupo constituindo uma repetição. Apenas
se considerou metade das dimensões dos talhões uma vez que na metade
não contemplada neste estudo, foi realizada uma calagem previamente às
mobilizações.
Assim, em cada repetição, existe um talhão em que foi aplicada a
lavoura, outro que foi passado com um chisel, que não foi objecto de estudo
deste trabalho, um terceiro que foi escarificado e um quarto em que foi
efectuada sementeira directa. O croquis do campo de ensaios de
mobilizações pode ser consultado na página seguinte (fig. 11).
7.1.5 – Operações culturais
As mobilizações foram efectuadas poucos dias antes da sementeira.
Para a lavoura utilizou-se a charrua e a grade de discos representadas nas
figs. 6 e 7 respectivamente. O escarificador utilizado está representado na fig.
8.
A sementeira de trigo e triticale foi feita no dia 24 de Novembro, e a do
girassol ocorreu no dia 3 de Março. O semeador JOHN DEERE, representado
na fig. 12, capaz de realizar sementeira
directa, foi a máquina agrícola que realizou
a sementeira para todas as culturas. Este
semeador tem 3m de largura efectiva e 16
órgãos semeadores pelo que o
espaçamento entre linhas é de 18 cm.
39
Campo R2 Campo R3 15
D1 C1 B1 A1
D2 C2 B2 A2
D3 C3 B3 A3
E2 E3
Campo R1
E1 E2
D1 C1 B1 A1
D2 C2 B2 A2
D3 C3 B3 A3
E3
Tc - Triticale Tg - Trigo G - Girassol Figura 11 – Croquis do campo de ensaios de mobilizações.
E1
1 2 3 4
5 6 7 8
9 10 11 12
13 14
1b 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1a E1 D3 C3 B3 A3 D2 C2 B2 A2 D1 C1 B1 A1 E1
14 E2
15 E3
3 4 5 6
7 8 9 10
11 12 13 14
1 2
15
A - Lavoura (sempre) B - Chisel (sempre) – n/estudado C - Escarificador (sempre) D - Sementeira directa E – n/estudados
R1 R2 R3 95/96 Tc G Tg 96/97 G Tg Tc 97/98 Tg Tc G 98/99 Tc G Tg
Estrada
40
A densidade de sementeira do triticale foi de 190 kg de sementes por ha, do
trigo 200 kg/ha e para o girassol realizou-se a sementeira com o objectivo de
se atingir uma densidade de 110 mil plantas por ha.
A adubação aplicada foi igual para o trigo e triticale. À sementeira,
foram aplicados 220 kg/ha de um adubo 18:46:0 e no início de Fevereiro
aplicaram-se 115 kg/ha de Nitrocalciamon. Este adubo tem 26% de azoto e
uma quantidade desconhecida de cálcio.
Para controlo de infestantes utilizou-se uma mistura de 2 herbicidas, o
Illoxan, 3l/ha (pós emergência – anti-gramínea mas específico para o trigo), e
o Granstar, 20 g/ha (dicotiledóneas).
A colheita do trigo realizou-se a 15 de Junho e a de triticale a 1 de
Julho. Não se chegou a colher o girassol devido não só à forte seca que se
fez sentir sobretudo nos meses de Junho e Julho, o que não permitiu o
normal desenvolvimento das plantas a partir de certo ponto, como também
devido ao rápido, contínuo e voraz “ataque” de aves às sementes motivado,
segundo os agricultores da região, pelo isolamento desta cultura neste local.
Os parâmetros de produção medidos foram o peso de 1000 grãos, a
produção de grão e de palha.
7.2 – Organização e execução dos ensaios
7.2.1 – MPN (Most Probable Number)
Este método, também chamado de diluição à extinção, permite estimar
a densidade de uma população sem ser necessário contar, um a um, os seus
indivíduos, tratando-se por isso de um método indirecto de contagem. A
técnica do MPN baseia-se na determinação da presença ou ausência de
41
microorganismos, neste caso de colonização micorrízica, em vários vasos
individuais, contendo uma certa quantidade de inóculo em séries de diluição.
É assim possível, calcular o número mais provável de propágulos naquela
quantidade de inóculo, com base na teoria da probabilidade. Através da
combinação de resultados das diferentes diluições, também é possível obter
apenas um único valor (propágulos/g de solo), para o número mais provável
de propágulos, existentes no solo do local onde foi recolhido o inóculo.
Basicamente, é necessário confrontar os resultados de raízes positivos (em
que se detectou colonização) e negativos (em que não foi detectada
colonização), com uma tabela estatística adaptada para o factor de diluição e
número de repetições por diluição (Alexander, 1965). Quanto menor fôr o
factor de diluição e maior o número de repetições, maior será a precisão do
teste. No entanto, por questões logísticas que requerem um compromisso
entre o grau de precisão e a exequibilidade do ensaio, é geralmente
adequado utilizarem-se 4 diluições, com 5 vasos ou repetições, por diluição.
O método tem como pré-requesitos, para além da necessidade de os
organismos, cuja população vai ser estimada, possuírem características que
permitam detectá-los fácil e rapidamente, os propágulos devem estar
distribuídos aleatoriamente por todo solo onde se recolhem os inóculos, os
que estão presentes no inóculo devem colonizar a planta durante o período
em que decorre o ensaio e as condições devem ser apropriadas, para que
não se desenvolvam outros organismos inibidores dos que se pretendem
estudar. Tendo em conta o que já se referiu em 4.1 sobre a existência de
preferências de plantas por parte das espécies de AMF, deve escolher-se
para hospedeiro uma planta, que à partida se saiba ser micotrófica e que
tenha um desenvolvimento radicular rápido (Porter, 1979).
42
Para Wilson e Trinick (1982), o sucesso método de MPN está muito
dependente das condições da experiência. Estes investigadores, consideram
que a temperatura e o momento do levantamento do ensaio influenciam
fortemente os seus resultados, porque interferem com o desenvolvimento dos
simbiontes. Em grande parte da bibliografia consultada, este tipo de ensaio,
tem a duração de aproximadamente seis semanas. Quando as condições
não são apropriadas, está a subestimar-se a verdadeira densidade da
população. É natural, sobretudo no caso dos AMF, que não se consiga reunir
em laboratório e em simultâneo as condições óptimas, nomeadamente
temperatura, intensidade luminosa, fotoperíodo e humidade, durante o
decorrer do ensaio. No entanto, mesmo havendo subestimação, esta
acontece para todo o ensaio por igual, o que significa que é possível tirar
conclusões em termos comparativos sobre o número mais provável de
propágulos existente em cada folha e em cada tipo de mobilização. Contudo,
o valor de MPN, pode ser utilizado apenas para comparações com outros
testes efectuados dentro da mesma experiência, uma vez que pessoas,
manipulações, condições ambientais e tipo de inóculo diferentes, conduzem
necessariamente a resultados que se enquadram apenas dentro do contexto
dessa própria experiência.
O ensaio de MPN, começou a ser preparado a 18 de Novembro, dias
antes das mobilizações e sementeira das folhas R1 e R3, as quais foram o
alvo do ensaio. Devido à logística que um ensaio desta dimensão envolveu,
começou por estabelecer-se qual a quantidade de vasos, solo e areia
necessários, entre outros materiais logísticos como sacos de plástico e
suportes para os vasos. Como se fizeram 4 diluições, cada uma com 5
43
repetições, para cada um dos 18 talhões entre a folhas R1 e R3, foram
necessários de um total de 360 vasos para este ensaio. Na realidade 370,
uma vez que se prepararam 10 vasos para controlo.
O procedimento seguido foi o seguinte:
Recolheram-se cerca de 100 Kg de solo, no campo R1, ainda antes de
serem efectuados os trabalhos de mobilização. Este solo foi passado por um
crivo com 4 mm de malha e foi depois distribuído por vários tabuleiros para
secar ao ar.
Logo após as mobilizações e antes da sementeira, recolheram-se as
amostras de solo que serviriam não só como inóculo para o ensaio de MPN,
como para a contagem de esporos destas duas folhas. Cada amostra era
constituída por cerca de 5 Kg de solo, recolhido em 4 locais diferentes na
zona central de cada um dos 18 talhões, sujeitos a este estudo, entre as
folhas R1 e R3. A amostragem incidiu sobre os 15 a 20 cm superficiais de
solo. Todas as amostras passaram também pelo crivo de 4 mm de malha.
Depois do solo, que se havia distribuído em tabuleiros, estar seco,
uma parte foi misturada com areia (1:1) e, tanto o restante como a mistura,
foram esterilizados. A esterilização consistiu em colocar separadamente o
solo e a mistura solo-areia dentro de fronhas e proceder a 2 ciclos de
esterilização espaçados de 24 horas, de maneira a eliminar qualquer
estrutura biológica de resistência que eventualmente ainda tivesse ficado
activa. No fundo de cada vaso, foram colocados 230g de mistura solo-areia
(1:1) e a esterilização foi aí feita, também com 2 ciclos de 24 horas. Cada
ciclo de esterilização, teve a duração de 25 minutos a 120 ºC e realizou-se
em autoclave (AJC, modelo Uniclave 88). O solo, serviria para misturar com o
44
inóculo nas diferentes diluições. A mistura, para além de ficar no fundo,
serviria também para cobrir o inóculo.
Seguidamente, o inóculo, de 30g de solo, foi introduzido no vaso.
Estes 30g, consistem nas diferentes diluições do solo estéril, com o solo das
amostras recolhidas nos talhões do campo de ensaios. As misturas foram
efectuadas em sacos de plástico, que se agitaram fortemente para assegurar
uma boa distribuição. Houve o cuidado de se começar a pôr o inóculo nos
vasos, da diluição maior para a menor, de modo a evitar eventuais
contaminações. Também para prevenir essa possibilidade, lavaram-se todos
os utensílios entre séries de diluição. Para cada amostra recolhida por talhão
fizeram-se 4 diluições (50, 5-1, 5-2, e 5-3 respectivamente, da diluição mais
baixa para a mais alta), conforme se demostra na fig.13. Os 10 vasos de
controlo foram inoculados apenas com solo estéril, para posteriormente se
garantir que todo o substracto estéril não continha propágulos viáveis.
Figura 13 – Esquema representativo de como foi distribuído o solo para fazer as diluições.
45
Em todos os vasos o inóculo foi coberto com 80g da mistura de solo–
areia (1:1) estéril. As quantidades de mistura que envolveram o inóculo,
foram escolhidas de maneira a que este não ficasse nem muito no fundo do
vaso, o levaria algum tempo até ser interceptado pelas raízes, nem
demasiado à superfície, não só para estar na zona de maior ramificação da
raiz como para prevenir contaminações.
A planta hospedeira utilizada foi o trigo (Triticum durum), da mesma
variedade daquele que foi semeado no campo R3, tendo sido colocadas 2
sementes, previamente esterilizadas e pré-germinadas, em cada um dos
vasos. A esterilização das sementes, teve por finalidade eliminar o máximo
de microrganismos que, sendo uma fonte de contaminação, poderiam
interferir no desenvolvimento da planta e no processo de micorrização.
Testaram-se diferentes concentrações de hipoclorito de cálcio, para saber
qual era a mais eficaz em termos da relação taxa de germinação e
contaminação das sementes. O protocolo de esterilização das sementes
testado foi o seguinte:
1. Preparou-se de 200ml de hipoclorito de cálcio a 7% e 14%;
2. Mergulharam-se 200 sementes de trigo na solução a 7% e outras 200, na
solução a 14%. Estas permaneceram nas respectivas soluções durante 45
minutos;
3. Lavaram-se as sementes em 5 passagens de água esterilizada, deixando-
as em embebição na última lavagem durante duas horas, numa estufa a
28 ºC;
46
Figura 14 – Aspecto do ensaio na estufa.
4. Distribuíram-se as sementes, com a ajuda de uma ansa esterilizada, num
tabuleiro com algodão embebido em água estéril;
5. Colocaram-se na estufa a 28 ºC e após dois dias, as plantulas estavam
suficientemente desenvolvidas para se tirarem conclusões.
Também se fizeram germinar 200 sementes sem as fazer passar por
hipoclorito de cálcio (passos 4 e 5), para se saber se valeria a pena
esterilizar. Estas sementes apesar de terem tido uma taxa de germinação de
quase 100% estavam muito contaminadas e passado pouco tempo muitas
plantulas morreram. A diferença verificada entre as sementes esterilizadas a
7% e 14% foi a nível da contaminação e da rapidez de desenvolvimento, ou
seja, ambas tiveram taxas de germinação de quase 100% mas as segundas,
apesar de terem inicialmente um desenvolvimento mais lento que as
primeiras, praticamente não apresentaram contaminações. Atendendo a que
se iriam colocar 2 sementes por vaso, era necessário ter disponíveis 780
sementes pré-germinadas. Assim, esterilizaram-se cerca de 1200 sementes
com hipoclorito de cálcio a 14%.
Com a ajuda de uma vareta, as sementes pré-germinadas foram
colocadas nos vasos, também da diluição maior para a menor e lavando a
vareta entre as séries de diluição.
Depois de preparado (o que
aconteceu a 24 de Dezembro), o
ensaio (fig. 14), foi levado para uma
estufa exterior onde permaneceu
durante 7 semanas. Os vasos foram
regados de acordo com as
necessidades, alternadamente com água destilada e uma solução nutritiva.
47
Esta solução nutritiva era composta por uma mistura de 4 soluções. A
descrição dos seus componentes e respectivas concentrações pode
consultar-se no quadro 4.
Após o corte da parte aérea das plantas, todo o ensaio foi colocado em
câmaras frigoríficas a 4 ºC com o objectivo de estagnar a proliferação
micorrízica, uma vez que o processo de obtenção, coloração e observação
das raízes para 370 amostras foi necessariamente moroso.
Quadro 4 - Soluções nutritivas utilizadas para regar o ensaio de MPN (Bronghton e Dilworth, 1970 in Somasegaran e Hoben, 1994)
Soluções Componentes Concentrações (g/L)*
1 CaCl2 2H2O 294,1
2
FeC6H5O7 3H2O
Mg SO4 7H2O
K2SO4
MnSO4 H2O
6,7
123,3
87,0
0,338
3
H3BO3
ZnSO4 7H2O
CuSO4 5H2O
CoSO4 7H2O
Na2MoO2 2H2O
0,247
0,288
0,100
0,056
0,048
4 KNO3 0,5
* - Na preparação da solução de rega misturaram-se 5 ml de cada solução em 5 litros de água destilada, juntando-se de seguida esta mistura a mais 5 litros de água destilada.
O procedimento de levantamento do ensaio foi o seguinte:
1. Tirou-se o conteúdo de cada vaso em bloco e separou-se o substracto
das raízes, com um jacto de água sob pressão;
2. Com uma tesoura, cortou-se uma porção raízes, ao longo do eixo vertical
de desenvolvimento;
48
3. As amostras de raízes foram posteriormente coradas (ver 7.2.3.3) e
observadas numa placa de Petri com glicerol 50% ao microscópio
estereoscópico (LEICA–MZ 12).
Começou a levantar-se o ensaio pelos vasos de controlo e seguindo-
se depois das menores para as maiores diluições.
7.2.2 – Esporos
7.2.2.1 - Amostragem
Foi a partir das amostras de solo, recolhidas após as mobilizações e
antes da sementeira, que se extraíram e contaram os esporos de AMF.
Conforme já foi descrito, essas recolhas foram realizadas na mesma altura
nas folhas R1 e R3, ao passo que na folha R2 o mesmo procedimento foi
efectuado mais tarde, pouco antes do estabelecimento da cultura de girassol.
7.2.2.2 – Extracção e contagem
Em todas as amostras, realizaram-se separadamente duas extracções
de esporos, a partir de duas sub-amostras de 100g de solo cada. O objectivo
foi obter um único valor (nº de esporos em 100 g de solo - média das duas
sub-amostras), por amostra, com um erro em princípio menor. As extracções
foram feitas, recorrendo-se ao método de crivagem húmida em gradiente de
sacarose, adaptado do método padrão de Tommerup (1992), que
seguidamente se descreve:
49
1. Pesou-se para um copo, 100 g de solo de uma das amostras;
2. Perfez-se o volume para 1 l de água da torneira;
3. Para suspender o solo, misturou-se a solução com uma colher e esperou-
se 1 minuto, para permitir que as partículas mais pesadas se
depositassem;
4. Seguiu-se a decantação do conteúdo do copo através de dois crivos, um
com uma malha de 1 mm, onde ficaram retidas as partículas de maiores
dimensões, e outro com uma malha de 45 µm, onde ficaram os esporos
de AMF;
5. Repetiram-se mais duas vezes os passos 2, 3 e 4, desta vez esperando-
se apenas 30 segundos, para que as partículas mais pesadas
assentassem;
6. Fez-se passar água sob pressão no crivo de 1mm, para que qualquer
esporo que aí pudesse ter ficado retido passasse para o crivo de malha
mais fina;
7. Com a ajuda de um esguicho de água, concentrou-se o conteúdo retido
no crivo de 45 µm e transferiu-se, em quantidades idênticas, para dois
tubos de centrífuga de 80 ml;
8. Perfez-se o volume do tubo até 40 ml com água da torneira;
Repetiram-se todos os passos executados até aqui para a segunda
sub-amostra.
9. Com a ajuda de uma seringa, na qual foi adaptado um tubo de borracha
que chega ao fundo dos tubos de centrífuga, foram adicionados em cada
50
um mais 40ml, desta vez de uma solução de sacarose a 70% (p/v)∗. Esta
solução, por ser mais densa que a água, permanece no fundo do tubo,
criando-se uma zona de interface com a água, que fica no topo. É nesta
zona que, depois da centrifugação, vão ficar os esporos. Isto acontece
porque a sua densidade é idêntica à da referida solução. Antes de se
injectar a solução de sacarose, com o auxílio do tubo adaptado à seringa,
agitou-se o conteúdo para os esporos se libertarem o mais possível das
partículas de solo. Depois de injectada a solução açucarada, houve o
cuidado de não introduzir bolhas e fazer movimentos bruscos ao remover
a seringa, para não perturbar a interface criada;
10. Recorrendo a uma balança (OHAUS–Portable Advanced) e a um
esguicho corrigiram-se, cuidadosamente com água contra as paredes dos
tubos mais leves, as diferenças de peso entre os tubos, de maneira a
evitar desequilíbrios durante a centrifugação;
11. A centrifugação decorreu durante 3 minutos a 2500 rpm (centrífuga -
SIGMA – 2-15). Foi usado uma velocidade de travagem intermédia (5),
mais uma vez com o objectivo de reduzir as perturbações na interface
criada;
12. Após a centrifugação, novamente com a ajuda da seringa, que se
introduziu até à zona de interface, sugaram-se os esporos que foram de
seguida transferidos para o crivo de 45 µm, onde foram imediatamente
passados por água corrente para remover a solução de sacarose e evitar
que esta os danificasse devido ao stress osmótico;
∗ Solução de sacarose: Sacarose (ou açúcar comercial) 700g Água 1 l
51
13. Com a ajuda do esguicho, passou-se o conteúdo do crivo para uma placa
de Petri com pistas concêntricas, onde os esporos foram contados
recorrendo-se ao microscópio estereoscópico.
Antes de se iniciarem as contagens das amostras cujos valores constam
dos resultados deste trabalho, realizaram-se algumas extracções de esporos
a partir do solo do campo, com o objectivo de haver uma maior familiarização
com a técnica e com o material em estudo. Esta acção é importante na
medida em que, no material do campo, aparecem muitas vezes elementos
que podem ser confundidos com os esporos de AMF (e.g. partículas de solo,
ovos de nemátodes ou de insectos, algas unicelulares).
7.2.2.3 - Preparações semi-definitivas
Fizeram-se preparações semi-definitivas dos tipos de esporos que
apareceram em maior quantidade. O procedimento utilizado foi o seguinte:
1. Colocaram-se duas gotas de água numa lâmina de microscópio, uma em
cada extremo;
2. À lupa, com uma pinça de pontas finas (VOMM GmbH), transferiram-se
cerca de 10 esporos do mesmo tipo, para cada uma das gotas de água
colocadas na lâmina;
3. Depois das gotas de água secarem, colocaram-se os meios de
montagem, PVLG (Polivinil álcool-lactoglicerol) e reagente de Melzer (os
seus componentes e concentrações podem consultar-se no quadro 5),
sobre os esporos. Para tal verteu-se uma gota de PVLG sobre os esporos
52
que estavam num dos lados da lâmina e uma lamela. Sobre os esporos
do outro extremo da lâmina colocou-se uma gota de reagente de Melzer e
uma lamela. O PVLG serve como conservante e o reagente de Melzer,
que é PVLG com corante, serve para criar contraste entre algumas
paredes dos esporos;
4. Com um objecto pontiagudo, pressionou-se ligeiramente as lamelas para
rebentar os esporos, de modo a evidenciar as suas paredes internas;
Quadro 5 – Meios de montagem utilizados nas preparações semi-definitivas dos esporos.
Meios de montagem Componentes Quantidades
Polivinil lacto glicerol (PVLG) (Koske e Tessier in Brundrett, 1996)
Polivinil álcool
Água destilada
Ácido láctico
Glicerol
8,33 g
50 ml
50 ml
5 ml
Reagente de Melzer* (Morton, 1992 in Brundrett, 1996)
Iodeto de potássio
Iodo
Água destilada
5 g
1,5 g
100 ml
*Mistura 1 : 1 (v/v) com PVLG
5. Observaram-se as lâminas num microscópio óptico (OLYMPUS-BX 50) e
tiraram-se fotografias (Máquina fotográfica OLYMPUS-DP10);
6. Através das características morfológicas observadas, procurou-se
identificar taxonomicamente os tipos observados.
53
7.2.3 - Raízes
7.2.3.1 – Amostragem
A amostragem de raízes fez-se com o auxílio de uma sonda, que
perfurou o solo até cerca de 20 cm. Recolheu-se dessa forma um “core” de
solo, com 4 cm de diâmetro, junto do caule da planta, cujas raízes que se
pretendia analisar.
Houve dois períodos distintos de amostragem nas folhas R1 e R3.
Estes realizaram-se primeiro semanalmente, desde o estabelecimento das
culturas, e posteriormente, a partir do momento em que foram detectadas
raízes micorrizadas, com uma periodicidade quinzenal. Durante o primeiro
período, era extraído um “core” em apenas seis talhões, um de cada
mobilização para as duas folhas. Durante o período de amostragem
quinzenal, extraiam-se três amostras (cada uma correspondente a um “core”),
aleatoriamente dentro de cada talhão, num total de 27 amostras por folha (9
talhões x 3 amostras). As recolhas quinzenais, realizaram-se entre 7 de Abril
e 2 de Junho.
A metodologia de amostragem para a cultura de girassol da folha R2,
consistiu na extracção de pelo menos três “cores” por talhão, que foram
misturados numa única amostra. Optou-se por esta forma de amostragem,
porque as raízes do girassol são espessas e dispersas, pelo que não se
extraía uma quantidade suficientemente representativa por “core”. A recolha
de amostras da folha de girassol também se realizou quinzenalmente, entre
os dias 19 de Maio e 14 de Julho.
54
7.2.3.2 - Preparação
Para limpar e separar as raízes do solo, colocaram-se as amostras
num crivo de 1 mm de malha, fazendo-se incidir sobre elas um jacto de água
sob pressão. Depois de desaparecer a maior parte de limo e argila, as raízes
ficam retidas e bem visíveis no crivo, juntamente com as partículas de solo
superiores a 1 mm, de onde são retiradas com uma pinça para recipientes
próprios de coloração. Evitou-se juntar demasiadas raízes de maneira que os
reagentes utilizados posteriormente, no processo de coloração, ficassem
uniformemente em contacto com a raiz.
7.2.3.3 - Coloração
Características como a rigidez, espessura, opacidade e pigmentação
dos tecidos das raízes, não permitem que as estruturas das AM possam ser
observadas directamente em raízes frescas num microscópio estereoscópico
(Brundrett, 1996), pelo que é necessário realizar-se um procedimento de
coloração que permita ultrapassar estes obstáculos. Segundo Koske e
Gemma, 1980, como as características referidas variam entre diferentes
espécies de plantas e os procedimentos de coloração são morosos, antes de
se iniciarem as colorações em massa, devem-se testar diferentes
procedimentos de coloração de raízes, de maneira a escolher aquele que
torna mais nítida a observação das estruturas micorrízicas. Este tipo de
testes foi efectuado e o protocolo dessa experiência pode ser consultado no
quadro 6.
55
Seja qual for o processo de coloração escolhido, este tem 3 etapas
fundamentais: - a remoção dos conteúdos celulares, a coloração e a
descoloração. A remoção dos conteúdos celulares serve para eliminar a
opacidade e a pigmentação, provocadas respectivamente pelos conteúdos e
pigmentos naturais das paredes das células. Faz-se, mergulhando as raízes
numa solução básica de KOH, que remove aqueles conteúdos das células. A
sensibilidade das raízes ao KOH depende da sua concentração, do tempo na
solução e da temperatura. É necessário estabelecer um equilíbrio entre estes
factores, caso contrário as raízes podem desfazer-se ou ficar mal lavadas, o
que levaria a que o corante viesse a ligar-se indiferentemente às estruturas
fúngicas e aos conteúdos celulares, inibindo um bom contraste.
Quadro 6 - Testes efectuados para determinar o método de coloração mais eficaz para as raízes em estudo.
Etapa Componentes Concentração Procedimento*
Remoção dos conteúdos celulares
KOH**
10%
10%
1 M
10%
Ciclo de autoclave (121 ºC durante 20 minutos). Temperatura ambiente pelo menos 24h. Breve fervura e deixar durante pelo menos 12 horas à temperatura ambiente. A 65 ºC durante 15 minutos.
HCl
-
2 N
1 %
Sem tratamento de HCl À temperatura ambiente durante 20 minutos. Seguidamente passar por água. À temperatura ambiente durante alguns segundos.
Coloração Tripano Azul
0,05 %
0,1 %
A 65 ºC durante cerca de 5 minutos. A 65 ºC durante cerca de 5 minutos.
Azul de Metileno 1% Temperatura ambiente durante 15
minutos.
Descoloração Lactoglicerol
Glicerol
(1 : 1 : 1)***
50 %
Deixar durante a noite. Deixar durante a noite.
* - Testaram-se todas as combinações possíveis dos diferentes procedimentos para cada etapa. Por essa razão foram necessárias 24 amostras de raízes. O procedimento a negro pronunciado, que foi sugerido por Walker (com. pess.), não entrou nas combinações pelo que só foi necessária mais uma amostra de raízes. ** - Após os tratamentos com KOH as raízes foram passadas por água corrente. *** - Lactoglicerol (1:1:1) – Ácido láctico : Glicerol : Água
56
Após o tratamento com KOH as raízes ficam bastante alcalinas e
devem ser acidificadas em HCl, para garantir que o corante se ligue às
estruturas fúngicas (Jensen, 1962). Considerou-se este tratamento
dispensável, uma vez que não se observaram diferenças nas raízes tratadas
com e sem HCl. Talvez o facto das raízes terem sido passadas por água
corrente após o tratamento com KOH, tenha tido alguma influência na sua
melhor remoção, reduzindo a necessidade de neutralização.
Seguidamente, passa-se ao processo de coloração, em que as
estruturas de AMF são ligadas a um corante. O corante mais utlizado é o
tripano azul em lactofenol (Phillips e Hayman, 1970). Uma vez que o fenol é
extremamente tóxico, foi substituído com sucesso por lactoglicerol (Kormanik
et al., 1980). O tripano azul, apenas se liga às estruturas quitinosas do fungo
e não aos tecidos da raiz, o que cria contraste. Podem usar-se diferentes
concentrações de tripano azul. No teste realizado, nas raízes coradas com
tripano azul em lactoglicerol a 0,05%, as estruturas fúngicas não ficaram tão
evidenciadas como aconteceu naquelas em que se utilizou a concentração
de 0,1%.
Por fim, a descoloração é o processo em que o corante que não se
ligou a quaisquer estruturas é removido dos tecidos da raiz, criando-se o
contraste entre as estruturas fúngicas e as células, necessário para a
observação. A descoloração faz-se mergulhando as raízes já lavadas e
coradas em lactoglicerol. No entanto, também há quem recomende glicerol
50% (Brundrett et al., 1996). Chegou-se à conclusão que ambas as soluções
foram igualmente eficiêntes. No entanto, como o ácido láctico é um reagente
dispendioso, optou-se pelo glicerol 50%.
57
De seguida descreve-se detalhadamente o método que foi considerado
mais eficaz para corar as raízes deste estudo:
1. O suporte, contendo os copos de coloração com as amostras de raízes
previamente limpas, foi colocado num pirex imerso em solução de KOH 10
%, que ficou a cobrir totalmente as amostras. Seguidamente, o pirex foi
colocado na autoclave e efectuou-se um ciclo de 20 minutos a 121 ºC;
2. O pirex foi retirado do autoclave e aberto na Hott (MACRISAN), para evitar
respirar os vapores da solução de KOH. O suporte, depois de bem
escorrido, foi retirado do pirex e passou-se água corrente pelos copos
para retirar o excesso de KOH;
3. Colocou-se o suporte noutro pirex, que continha solução de azul tripano
0,1% em lactoglicerol, em banho maria (KÖTTERMANN) a 65 ºC. O
tempo de coloração foi de cerca de 5 minutos. O banho maria foi posto na
Hott, para evitar a inalação dos vapores tóxicos do azul tripano;
4. Ao fim dos cerca de 5 minutos da coloração, transferiu-se directamente o
suporte das amostras para outro pirex com glicerol 50 %, onde as raízes
permaneceram a descorar, à temperatura ambiente, pelo menos de um
dia para o outro.
7.2.3.4 - Taxa de colonização
Depois das raízes estarem coradas, ficaram prontas para se poder
observar as estruturas dos AMF e estimar qual a taxa de colonização (%). O
método escolhido para o fazer, foi o método de intersecção de grelha, que é
geralmente o mais utilizado. Giovannetti e Mosse (1980), que avaliaram
58
diferentes métodos de quantificação da colonização micorrízica das raízes,
concluíram que este método é aquele cujo erro padrão cometido é menor.
Segundo estas investigadoras, o método, consiste em distribuir as amostras
de raízes coradas sobre uma placa de Petri com uma grelha no fundo e
contar qual o número de pontos de intersecção, entre as linhas da grelha e as
raízes, com estruturas de AMF e sem estruturas (fig. 15).
Giovannetti e Mosse (1980), referiram ser necessário contabilizar pelo
menos 100 intersecções para se obter um mínimo de fiabilidade do método.
Quando tal não é possivel aconselham a redistribuir as raízes. Para o trigo e
triticale não foi necessário fazer qualquer redistribuição, pois as raízes nestas
plantas são abundantes, pelo que se contabilizaram sempre pelo menos 200
intersecções. Houve o cuidado de não colocar demasiadas raízes na placa de
Petri, de maneira a não haver muitas sobreposições, o que dificulta a
observação. No caso do girassol, em que as raízes são grossas e pouco
Figura 15 – Método intersecção de grelha (Adaptado de Brundrett, 1994)
59
abundantes na camada de solo em que se procedeu à amostragem, por
vezes, embora poucas, houve necessidade de redistribuir as raízes.
Das contagens efectuadas para as três amostras de raízes obtidas em
cada talhão nas folhas R1 e R3 (onde se realizaram este ano as culturas de
triticale e trigo respectivamente), resultou um único valor de taxa de
colonização (média das três amostras) que necessariamente será mais fiel à
realidade.
60
8 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
8.1 – Tratamento estatístico
8.1.1 – Análise de variância - ANOVA
A análise de variância (ANOVA) foi o método utilizado para comparar
as médias do número de esporos, taxa de colonização e parâmetros de
produção. A ANOVA permite, num único teste, fazer comparações entre
qualquer número de médias amostrais (Fowler e Cohen, 1994). Considerou-
se p<0,05 (5%) como nível de significância. Os resultados obtidos nas folhas
R1 e R3 (antecedentes pousio e girassol e culturas de triticale e trigo
respectivamente), foram analisados separadamente dos resultados aferidos
em R2 (antecedente triticale e cultura de girassol), uma vez que as recolhas
de amostras ocorreram em momentos diferentes. O programa informático
utilizado foi o MSTAT–C versão 1.42 da Michigan State University.
Realizaram-se diferentes modelos experimentais, adaptados ao delineamento
da experiência, para as seguintes comparações:
Entre médias do número de esporos para averiguar as diferenças
entre mobilizações e antecedentes: Modelo para os antecedentes
pousio e girassol – Delineamento em blocos completamente aleatórios
para um factor (mobilizações) combinado sobre locais (antecedentes
culturais). Modelo para o antecedente triticale – ANOVA simples
agrupada sobre uma variável (mobilizações).
Entre médias da taxa de colonização para averiguar sobre as
diferenças entre mobilizações e culturas em cada uma das datas de
61
amostragem: Modelo para as culturas de triticale e trigo -
Delineamento em blocos completamente aleatórios para um factor
(mobilizações) combinado sobre locais (antecedentes culturais).
Modelo para a cultura de girassol - ANOVA simples agrupada sobre
uma variável (mobilizações).
Entre médias da taxa de colonização para averiguar sobre as
diferenças entre mobilizações e culturas ao longo do período em que
se realizaram as amostragens: Modelo para as culturas de triticale e
trigo – Delineamento em blocos completamente aleatórios para dois
factores (mobilizações e datas) em talhões subdivididos, combinados
sobre locais (culturas). Modelo para a cultura de girassol –
Delineamento em blocos para o factor A (mobilizações) com o factor B
(datas de amostragem) em talhões subdivididos em A.
Uma vez estabelecido que numa ANOVA as médias diferem
significativamente entre si, em regra o passo seguinte é investigar qual ou
quais as médias que diferem (Dias, 1996). Para tal efectuou-se o teste
múltiplo de amplitudes de Duncan (DMRT).
8.1.2 – Análise de regressão
Para que se possam realizar previsões sobre uma variável a partir de
outra é necessário que entre as duas se verifique uma relação funcional, de
causa efeito, em que a variação de uma se possa atribuír à variação de outra
(Sokal e Rohlf, 1997). Neste estudo, pretendeu-se verificar se existiu uma
correlação significativa entre o número de esporos e a taxa de colonização
62
micorrízica que se veio a quantificar mais tarde, e entre esta e a produção de
biomassa, ou seja, respectivamente, se a taxa de colonização aumenta
significativamente com o aumento do número de esporos e se a biomassa
aumenta significativamente com o aumento da taxa de colonização. Para tal
traçaram-se as rectas de regressão linear entre as variáveis dependente (y–
taxa de colonização1; biomassa2) e independente (x–número de esporos1;
taxa de colonização2), com o auxílio do programa informático EXEL versão de
97 da Microsoft Corporation. Para cada recta determinou-se o respectivo
Coeficiente de Correlação, r, que é uma medida da intensidade da
associação entre as duas variáveis, variando entre –1 e1.
A significância da análise de regressão foi realizada pelo teste de
significância de Pearson. H0:ρ=0 e HA: ρ>0; equação aplicada tr=(r√n-2/√1-r2).
A H0 é rejeitada se tr>t0,05(n-1).
8.2 – MPN
Ao fim das sete semanas em que se desenvolveu o trigo nos vasos do
ensaio, não se detectou colonização por AMF. Depois de se proceder
inicialmente à coloração de raízes e sua observação nas plantas de controlo,
as quais não foram colonizadas, começou a fazer-se o mesmo para a diluição
50, onde seria mais provável encontrar colonização micorrízica. No entanto,
não se visualizaram quaisquer estruturas de AMF nem nesta diluição, nem
nas raízes de qualquer outra planta do ensaio.
Apesar das razões que conduziram ao não despoletar da colonização
poderem ser variadas, será conveniente formular algumas hipóteses sobre
quais poderão ter sido as mais importantes, para que num ensaio futuro
63
aumentem um pouco mais as probabilidades de sucesso. Assim, poder-se-á
pôr a questão se sete semanas terá sido o tempo suficiente para que se
iniciasse a colonização. Nada o faria prever, pois de acordo com a bibliografia
consultada, previamente referida, verifica-se que o tempo médio deste tipo de
ensaios é de seis semanas. De qualquer forma, talvez seja pertinente no
futuro preparar vasos de controlo positivos, que sirvam como indicadores de
quando ocorre colonização. Mas, se noutros ensaios de MPN se obtiveram
resultados ao fim de seis semanas, porque é que isso não aconteceu neste?
As razões só poderiam ser encontradas seguindo o que foi sugerido por
Wilson e Trinick (1982), ou seja, nas condições em que decorreu a
experiência. De facto, a estufa utilizada não é climatizada artificialmente, pelo
que na época do ano em que decorreu o ensaio (Dezembro; Janeiro), para
além do fotoperíodo e intensidade luminosa serem baixos, as temperaturas,
apesar de durante o dia poderem alcançar os 25-30ºC, desciam
consideravelmente durante a noite. Esta poderá de facto ter sido a principal
causa do insucesso do ensaio, e consequentemente terá de ser tida em
conta numa abordagem futura.
8.3 - Esporos
Uma vez que a amostragem de esporos ocorreu antes das
sementeiras, analisam-se os resultados em termos de antecedentes culturais
e não de culturas.
64
Quadro 7 – Médias* das contagens de esporos (nº de esporos/100g de solo) recolhidos nas folhas R1 e R3 (antecedentes pousio e girassol respectivamente), em cada tipo de mobilização.
Lavoura Escarificação S. Directa Média
Pousio 128,3C 184,8B 144,2BC 152,4B
Girassol 167,8BC 188,0B 248,7A 201,5A
Médias 148,1B 186,4A 194,4A
* -Cada valor representa a média de 6 amostras (2 amostras por talhão x 3 repetições). Antecedentes f=47,8 p<0,002 Mobilizações f=5,1 p<0,04 Inter. f=5,1 p<0,04
O número de esporos contabilizados para os antecedentes são
significativamente diferentes entre si. O significativo menor valor verificado no
pousio, poder-se-á dever a factores que vêm na linha dos trabalhos de
Harinikumar e Bagyaraj (1988) e Tisdall e Oades (1980) (ver 6), acrescidos
possivelmente pelo encharcamento a que esta folha esteve sujeita, o que
pode ter contribuído como mais um factor de degradação e destruição dos
esporos. Esta análise é reforçada pelo facto do antecedente do pousio ter
sido girassol, ou seja, o único factor a variar entre folhas foi o pousio, pelo
que é improvável que as diferenças possam ser atribuídas a outros factores
(e.g. diferenças micotróficas entre culturas).
No que respeita a mobilizações, relativamente aos dois antecedentes
em conjunto, verifica-se que, em lavoura, o número de esporos quantificados
é significativamente inferior face à escarificação e sementeira directa, as
quais não diferem entre si. Tal indica mais uma eventual desvantagem
daquele tipo de mobilização, o que vem no seguimento dos estudos de Kabir
et al. (1997,1998a,b) (ver 6). O valor obtido no antecedente girassol para
sementeira directa é significativamente superior relativamente a todas as
outras mobilizações, o que poderá indiciar uma vantagem clara deste tipo de
65
mobilização a este nível e nestas circunstâncias. Este resultado não está de
acordo com o trabalho de Mozafar et al. (1998), os quais não detectaram
diferenças entre mobilizações para o número de esporos, mas está de acordo
com o de Douds et al. (1995), que também observaram mais esporos em
sementeira directa num caso particular do seu estudo (ver 6).
O valor obtido no antecedente pousio para escarificação é maior
relativamente à sementeira directa, e significativamente maior em relação à
lavoura. Tal poder-se-á dever a diferentes factores associados ao pousio (e.g.
erosão, ervas daninhas, encharcamento etc.), que talvez tenham actuado de
modo diferente sobre os talhões.
Quadro 8 – Médias* das contagens de esporos (nº de esporos/100g de solo) recolhidos na folha R2 (antecedente triticale).
Lavoura Escarificação S. Directa Média
Triticale 67,8A 26,0B 29,3B 41,1
* -Cada valor representa a média de 6 amostras (2 amostras por talhão x 3 repetições). Mobilizações f=4,7 p<0,05
Apesar de não se ter efectuado a análise dos três antecedentes em
conjunto, sobressai o facto de se terem contabilizado muito menos esporos
nesta folha do que em R1 e R3. Isto talvez possa ser explicado na linha do
que acontece para o pousio, ou seja, o antecedente triticale ter sido colhido
na Primavera de 1998 e desde essa época até à data desta amostragem não
ter havido qualquer cultura estabelecida. Mas como compreender que a folha
R1 (antecedente pousio), tenha maior número de esporos? Talvez porque,
conforme foi referido, antes do pousio a cultura antecedente foi girassol, a
qual parece ser muito micotrófica, como é admitido por Chandrashekara et al.
(1995), e também será sugerido pelos resultados da taxa de colonização.
66
Assim, possivelmente por esta razão e pela época quente, propícia à
micorrização, em que é cultivado o girassol, talvez este seja maior promotor
da esporulação de AMF que o triticale. Outro aspecto ainda, reside no facto
de o triticale ser um híbrido (trigo x centeio - Triticum sp. x Secale sp.),
sucessivamente melhorado e já de si resultante de plantas melhoradas
(Bellido, 1991), com as eventuais consequências ao nível da susceptibilidade
micotrófica preconizadas por Azcón e Ocampo (1981).
Também nestas circunstâncias não se verificaram diferenças
significativas entre escarificação e sementeira directa. No entanto, como
explicar que o número de esporos obtidos em lavoura tenha sido
significativamente superior relativamente às restantes mobilizações? Talvez
as camadas superiores de solo, de onde foram recolhidas as amostras,
tenham sido afectadas com a erosão ao longo de praticamente um ano em
que esta folha não foi cultivada, e o revolvimento do solo, fruto da lavoura,
tenha trazido mais à superfície esporos que se encontravam mais protegidos
em profundidade. Outra possível explicação que não deve ser posta de parte
encontra-se na eventualidade de as espécies de AMF, preferenciais para este
antecedente, façam a deposição de esporos mais em profundidade. Douds et
al. (1995), verificaram haver espécies de AMF cujos esporos se encontravam
a maior profundidade do que outras.
8.3.1 – Classificação taxonómica
Segundo a descrição feita em 4.2 e de acordo com as sugestões feitas
por Dodd (com. pess.), os esporos representados na fig. 16 pertencem ao
género Glomus.
67
A taxonomia não era, e não foi, um dos objectivos do presente
trabalho. Aliás, se o tivesse sido, seria necessário aprofundar bastante mais
esta questão, inundada de controvérsia e em que muito ainda está por definir.
Segundo Brito (1997), encontram-se frequentemente descrições de espécies
realizadas com material de campo, o qual está sujeito a factores ambientais
passíveis de induzir alterações morfológicas nos esporos (e.g. na forma,
esporos parasitados, sujos), que podem conduzir a interpretações erradas. A
solução para se ultrapassar estas dificuldades passa por se realizar culturas
armadilha, em que se faz crescer em vaso, com substracto estéril ao qual são
adicionados os esporos recolhidos do solo ou o próprio solo, uma planta que
se sabe ser micotrófica. A planta deve crescer sob condições óptimas durante
2 a 3 meses até que haja esporulação de AMF. Os esporos assim obtidos,
não deverão ter as alterações inerentes ao material de campo, e deverão ser
em número suficiente para que se possa aferir de todas as características
morfológicas a observar, para que se possa efectuar uma classificação
taxonómica dos AMF fiável. Este procedimento simples mas moroso
A B C
D E F Figura 16 – Esporos recolhidos nas folhas do ensaio. Nos esporos A, B, D e F utilizou-se reagente de Melzer como meio de montagem, nos esporos C e E PVLG. Ampliação - 400x.
68
começou a ser realizado durante este trabalho, esperando-se que no futuro
possam vir a tirar-se conclusões mais precisas sobre este assunto.
8.4 – Taxa de colonização
8.4.1 – Início da colonização
A colonização ocorreu no fim de Março nas culturas de trigo e triticale,
quando estas já se encontravam no final do período de encanamento, que
culmina com a floração, prestes a entrar no período de maturação, onde
ocorre a formação e enchimento do grão (Bellido, 1991).
Hetrick et al. (1984), referem que em estudos anteriores não se havia
detectado colonização por AMF em trigo de Inverno até ao fim de Abril
princípio de Maio. Uma vez, que até então, esta colonização tardia não havia
sido explicada, tentaram verificar se esta se poderia dever à resistência das
variedades à colonização, que havia sido sugerida por Azcón e Ocampo
(1981). Também observaram uma colonização tardia (em Maio) nas
experiências de campo, mesmo tendo inoculado o solo com diferentes
espécies de AMF, não observando benefícios directos nas produções ou
reduções nas doenças que afectam o trigo. No entanto, em todas as
variedades testadas em condições controladas, não foi detectada
colonização a 10ºC mas, a 25ºC, umas mais que outras, mas todas estavam
colonizadas ao fim de 10 semanas. Assim, atribuíram a colonização tardia
apenas às baixas temperaturas verificadas no Outono e no Inverno, as quais
poderiam ter inibido a germinação dos esporos e a colonização das raízes.
Dodd e Jeffries (1986), foram os primeiros a detectar picos de
desenvolvimento de micorrização em cereais de Inverno (e.g. trigo), tanto no
69
final do Outono como no início da Primavera, com uma quebra pronunciada
entretanto, durante os meses de Inverno. Também argumentam que os
estudos até aí realizados tinham sugerido ser pouco provável que a
micorrização pudesse influenciar significativamente o crescimento de cereais
de Inverno em climas temperados, pelo menos até ao período de floração e,
daí em diante, em virtude das baixas taxas de colonização sugeridas.
Contudo, contrapõem revelando que os seus estudos contradizem esta visão.
De facto os picos foram detectados em períodos cruciais do desenvolvimento
das plantas, e em épocas em que as temperaturas e a luminosidade ainda
não são demasiado baixas. O contrastante trabalho de Saif e Khan, (1975),
realizado no Paquistão, região muito mais quente, tendo também por base a
cultura de trigo de Inverno, em que foi detectada uma taxa de colonização
superior a 50% um mês após a sementeira, é mais uma contribuição para o
conceito de ser muito provável que os factores chave desta discussão sejam
a temperatura e a luminosidade.
Presumivelmente, como no presente estudo a sementeira foi tardia, o
que não aconteceu nos estudos de Dodd e Jeffries (1986), onde o trigo foi
semeado no início de Outubro, já não se verificaram as condições de
temperatura e luminosidade favoráveis para o estabelecimento da
colonização, o que só veio a acontecer no início da Primavera. Ainda assim,
relativamente à bibliografia consultada, a colonização foi detectada um pouco
mais cedo, pelo que, é provável que este aspecto se tenha devido ao facto
de, a esta latitude, as temperaturas não serem tão severas (mesmo tendo
sido um ano agrícola mais frio no Inverno) como acontece naquelas em que
foram realizados aqueles estudos. Por essa razão, as medidas a tomar para
70
Figura 17 – Aspecto do girassol quando teve início a colonização.
se tirar mais partido desta simbiose, talvez passem por se seleccionar
variedades mais micotróficas e semear o mais cedo possível.
Na cultura de girassol, a colonização foi detectada em meados de
Maio quando a cultura ainda se encontrava no primeiro período de
desenvolvimento fenológico, que, segundo Ripado (1997), vai desde a
sementeira até ao estadio de 5 ou 6 pares
de folhas (fig. 17). É nesta altura que a
planta coloca em acção todos os meios
que lhe permitem elaborar a produção do
sistema radicular, folhas e primórdios
florais. Esta colonização precoce vem na linha do que já foi referido
relativamente às temperaturas favoráveis à micorrização, que são próprias
desta época do ano, e ao micotrofismo do girassol que, talvez possa ser
explicado em termos evolutivos sobretudo devido às carências hídricas
próprias do clima estival.
Tanto no trigo como no triticale, assim como no girassol, não se
verificaram diferenças entre mobilizações relativamente ao despoletar da
colonização. Apesar de este facto não estar de acordo com as observações
de Mozafar et al. (1998), a realidade é que, nas circunstâncias deste estudo,
a terem ocorrido diferenças estas foram certamente de poucos dias.
8.4.2 – Evolução
A evolução das taxas de colonização ao longo do tempo em que
decorreram as amostragens, para cada uma das culturas de trigo e triticale
71
consoante o tipo de mobilização, encontram-se representadas nos gráficos e
quadros seguintes:
0
5
10
15
20
25
30
Tx.
Co
lon
izaç
ão (%
)
7/4/99 5/5/99 2/6/99
Data de amostragem
Triticale
Lavoura
Escarif icação
S. Directa
0
5
10
15
20
25
30
Tx.
Co
lon
izaç
ão (%
)7/4/99 5/5/99 2/6/99
Data de amostragem
Trigo
Lavoura
Escarif icação
S. Directa
Figura 18 - Evolução, ao longo do período de amostragem, da taxa de colonização das raízes para as culturas de triticale e trigo nos diferentes sistemas de mobilização. 3ª data (culturas f=4,6 p<0,1; Mobilizações f=5,6 p<0,03; Inter. f=7,1 p<0,02) 4ª data (culturas f=10,1 p<0,03; Mobilizações f=7,7 p<0,01; Inter. f=5,7 p<0,03). Quadro 9 - Médias* das taxas de colonização (%) para cada cultura (triticale e trigo) por datas de amostragem, independentemente das mobilizações.
7/4/99 21/4/99 5/5/99 19/5/99 2/6/99 Médias
Triticale 7,7AC 6,2AD 4,1CD 3,1D 5,0BD 5,2B
Trigo 6,2AD 8,9A 8,3AB 9,8A 9,1A 8,4A
Médias 6,9 7,5 6,2 6,4 7,1
* Cada valor representa a média de 27 amostras de raízes (3 cores por talhão x 3 mobilizações x 3 repetições). Culturas f=5,7 p<0,04 Datas f=0,4 n/s Inter. f=3,5 p<0,01
72
Quadro 10 – Médias* das taxas de colonização (%), para cada tipo de mobilização, das culturas de triticale e trigo conjuntamente e por datas de amostragem.
7/4/99 21/4/99 5/5/99 19/5/99 2/6/99 Médias
Lavoura 5,2CE 3,0E 2,7E 2,8E 4,4DE 3,6B
Escarificação 7,9AD 10,0AB 6,3AE 6,1AE 10,7A 8,2A
S. directa 7,6AD 9,7AC 9,6AC 10,3AB 6,1BE 8,6A
* Cada valor representa a média de 18 amostras de raízes (3 cores por talhão x 3 repetições x 2 folhas) Mobilizações f=5,6 p<0,03 Datas f=0,4 n/s Inter. f=2,1 p<0,05
Lavoura Escarificação S. Directa
Triticale 2,9C 8,9B 3,9C
Trigo 4,4C 7,5B 13,4A
O trigo teve uma taxa de colonização significativamente superior
relativamente ao triticale (quadro 9). Pode discutir-se este resultado segundo
três pontos de vista: por um lado talvez o trigo seja uma cultura mais
micotrófica que o triticale, por outro, o significativo maior número de esporos
quantificados na sua folha, em conjunto com outras fontes de inóculo não
quantificadas, poderão ter conduzido a este resultado, ou então ambos os
mecanismos actuam conjuntamente. O micotrofismo poderá ser um factor
importante, sobretudo depois de tudo o que já foi referido sobre este assunto,
nomeadamente pelo que foi observado para o número de esporos
relativamente aos antecedentes, em que se verificou haver menos esporos
para o antecedente triticale relativamente aos outros. No entanto, de modo
algum se poderá escamotear o factor número de esporos quantificados na
Quadro 11 - Médias das médias das taxas de colonização (%) ao longo do período de amostragem por mobilizações e culturas.
* Cada valor representa a média de 45 amostras (3 cores por talhão x 3 repetições x 5 datas). Culturas f=5,7 p<0,04 Mobilizações f=5,6 p<0,03 Inter. f=5,9 p<0,03
73
folha do trigo (antecedente girassol), sobretudo se se analisar o que se
verifica em relação às mobilizações (quadro 10). De facto, a
significativamente maior taxa de colonização verificada no trigo (quadro 9)
deve-se à superioridade observada em sementeira directa, que foi
significativa relativamente às outras mobilizações nas 3ª e 4ª datas de
amostragem (fig. 18). Ora, se se recordar que tinha sido observado um
significativo maior número de esporos nesta folha e mobilização (quadro 7), é
natural que a hipotese da relação entre o número de esporos e a taxa de
colonização seja reforçada. Por outro lado, é de realçar que, no trigo, cultura
que esteve instalada numa folha que havia recebido um antecedente há
relativamente pouco tempo (o girassol), e antes deste seguiu o plano normal
de rotação, a sementeira directa também foi claramente superior ao nível da
taxa de colonização. Talvez as vantagens descritas para a sementeira
directa, nomeadamente em que a rede extraradical de micélio é pouco
perturbada, bem como outras eventuais fontes de inóculo que a cultura de
girassol ajudou a desenvolver enquanto esteve estabelecida, tenham sido os
factores mais importantes para a referida superioridade da taxa de
colonização em sementeira directa verificada na cultura de trigo. No entanto,
pode ainda referir-se que a intensificação da diferença entre a sementeira
directa e as outras mobilizações a partir da 3ª data, coincidiu com o aumento
da temperatura (quadro 3), sugerindo mais uma vez que o aumento de
temperatura favorece a micorrização. Daí que, provavelmente, a resposta à
subida de temperatura seja maior e mais imediata quanto maior fôr o
potencial micorrízico de um solo, como parece ter acontecido nos talhões
sujeitos a sementeira directa.
74
Ao nível da taxa de colonização, a lavoura revelou-se como o tipo de
mobilização em que se verificaram valores de micorrização significativamente
inferiores relativamente às outras mobilizações (quadro 10). Tal, poder-se-á
dever ao significativamente menor número de esporos quantificados nas
folhas onde se estabeleceram estas culturas nos talhões sujeitos a lavoura
(quadro 7), sugerindo uma vez mais a existência de uma relação de causa-
efeito entre esporos e taxa de colonização, e também ao rompimento da rede
extraradical de micélio entre outros factores, conforme foi sugerido por Kabir
et al. (1997, 1998b).
Ainda relativamente às mobilizações, desde a 1ª até à 4ª data de
amostragem que não se verificam diferenças significativas entre escarificação
e sementeira directa quando se analisam as duas culturas em conjunto
(quadro 10), o que, para além das condições estruturais do solo serem mais
vantajosas para a proliferação de raízes e micorrização nestas mobilizações,
também vem no seguimento do que foi observado para os esporos (quadro
7).
No triticale apenas se verificou haver diferenças significativas entre
escarificação e as outras mobilizações (quadro 11), as quais foram iguais
entre si. Isto, mais uma vez, talvez possa ser atribuído à relação entre
número de esporos e taxa de colonização, pois na folha de triticale
(antecedente pousio), apesar da diferença entre o número de esporos
quantificados em escarificação e sementeira directa não ter sido significativa,
quantificaram-se mais esporos (quadro 7) em escarificação do que nas
restantes mobilizações. De qualquer forma, a ideia que mais transparece da
análise do quadro 11 é que, quando houve diferenças entre as duas culturas,
ela foi apenas patente na sementeira directa, indicando que, em situações de
75
igualdade de mobilização, o trigo tira melhor partido das condições
proporcionadas pela sementeira directa em termos de colonização
micorrízica.
Quanto à evolução da taxa de colonização ao longo do tempo e nos
períodos de amostragem, ao contrário de Dodd e Jeffries (1986), não se
observaram diferenças significativas, tanto em termos de culturas como de
mobilizações (quadros 9 e 10). No entanto, os picos de desenvolvimento de
micorrização detectados por aqueles investigadores, verificaram-se em fases
fenológicas distintas das plantas, ao passo que, neste estudo, o período de
amostragem apenas acompanhou a evolução da taxa de colonização a partir
do final do período de encanamento das culturas.
Na página seguinte representam-se os gráficos de análise de
regressão (fig. 19), elucidativos da existência, ou não, de uma relação de
causa-efeito entre as variáveis número de esporos e taxa de colonização.
Verifica-se que tanto no triticale como no trigo houve uma
correlação significativa entre o número de esporos e a taxa de colonização.
Essa correlação foi significativa desde a primeira data de amostragem na
cultura de triticale (fig. 19-A) o que não aconteceu na cultura de trigo, em que
tal só ocorreu à 3ª data de amostragem (fig. 19-C). Foi nesta data que a
correlação foi mais forte relativamente às datas de amostragem anteriores
para ambas as culturas.
76
0
5
10
15
20
25
30
0 50 100 150 200 250 300
nº de esporos
Tx.
col
oni
zaçã
o (%
) (7
/4/9
9)Triticale
Trigo
A Triticale y=0,1199x-10,614; r=0,62 Trigo y=0,0613x-6,1761; r=0,55
0
5
10
15
20
25
30
0 50 100 150 200 250 300nº de esporos
Tx.
col
oni
zaçã
o (%
) (2
1/4/
99)
Triticale
Trigo
B Triticale y=0,1151x-11,344; r=0,71 Trigo y=0,0766x-6,5504; r=0,39
0
5
10
15
20
25
30
0 50 100 150 200 250 300nº de esporos
Tx.
col
oni
zaçã
o (%
) (5
/5/9
9)
Triticale
Trigo
C Triticale y=0,0925x-9,9776; r=0,84 Trigo y=0,1139x-14,668; r=0,68
0
5
10
15
20
25
30
0 50 100 150 200 250 300nº de esporos
Tx.
col
oni
zaçã
o (%
) (1
9/5/
99)
Triticale
Trigo
D Triticale y=0,0889x-10,473; r=0,74 Trigo y=0,1022x-10,853; r=0,67
0
5
10
15
20
25
30
0 50 100 150 200 250 300nº de esporos
Tx.
de
col
oniz
ação
(%
) 2/
6/9
9
Triticale
Trigo
E Triticale y=0,1078x-11,379; r=0,84 Trigo y=0,0038x-8,339; r=0,03
Quadro 12 - Teste se significância de Pearson.
Triticale Trigo Gráficos tr P tr P
A 2,10 <0,05 1,76 N/S B 2,65 <0,02 1,12 N/S C 4,04 <0,01 2,46 <0,05 D 2,93 <0,02 2,39 <0,05 E 4,11 <0,01 0,08 N/S
Figura 19 - Gráficos com rectas de regressão linear e valores de correlação entre o número de esporos e a taxa de colonização, para as datas de amostragem – A - 7/4/99; B – 21/4/99;C – 5/5/99;D – 19/5/99; E – 2/6/99.
77
Talvez o facto de só à 3ª data se ter verificado correlação significativa
na cultura de trigo, indique que a colonização inicial tenha sido fruto,
sobretudo, de outros propágulos diferentes dos esporos. Como já foi
sugerido, o girassol foi o antecedente do trigo poucos meses antes deste ter
sido semeado. Assim, é natural que principalmente a rede extraradical de
micélio, mas também outras fontes de inóculo, estivessem ainda bem
estabelecidas no solo dos talhões sujeitos a sementeira directa, que foi onde
se verificou uma significativamente maior taxa de colonização, e que,
passado o Inverno, fossem inicialmente os responsáveis pela colonização.
No caso do triticale, talvez por este ter tido por antecedente pousio, as
fontes de inóculo diferentes dos esporos não estivessem já tão vigorosas.
Daí, os valores obtidos para sementeira directa não serem significativamente
superiores às outras mobilizações e desde o início se tenha verificado
correlação altamente significativa entre taxa de colonização e número de
esporos, os quais, ao contrário das outras fontes de inóculo, são estruturas
de resistência.
À 5ª data (fig. 19-E), a correlação no trigo já não foi significativa mas
continuou a sê-lo no triticale. Uma possível explicação para este resultado é o
facto de, nesta data, o trigo já estar praticamente seco, prestes a ser colhido,
enquanto o triticale ainda se encontrava atrasado cerca de 15 dias
relativamente à fase de desenvolvimento.
78
Seguidamente apresentam-se os resultados obtidos para a cultura de
girassol.
Média
Lavoura 20,8
Escarificação 20,2
S. directa 17,8
Quadro 14 – Médias* das taxas de colonização (%) da cultura de girassol por datas independentemente das mobilizações.
19/5/99 2/6/99 16/6/99 30/6/99 14/7/99 Média
Girassol 24,9 20,7 18,4 16,2 17,9 19,6
* Cada valor representa a média de 9 amostras (3 mobilizações x 3 repetições). Datas f=2,1 n/s
Os valores de taxa de colonização observados na cultura de girassol
confirmam o que já foi referido sobre o seu micotrofismo. É certo que as
condições climatéricas são mais favoráveis à micorrização na época em que
decorre esta cultura mas, apesar de não se estar a fazer comparações entre
o girassol e as culturas de trigo e triticale, não se pode deixar de notar que o
girassol foi estabelecido na folha (R2), cujo solo tinha menos esporos à
partida do que tinham os solos das folhas em que foram cultivados os
cereais, e que, desde cedo, se verificaram taxas de colonização
incomparavelmente superiores às observadas naquelas culturas.
0
5
10
15
20
25
30
Tx.
Co
lon
izaç
ão (
%)
19/5/99 2/6/99 16/6/99 30/6/99 14/7/99
Data de amostragem
GirassolLavoura
Escarif icação
S. Directa
Quadro 13 - Médias* das taxas de colonização (%) da cultura de girassol para todas as datas por mobilizações.
* Cada valor representa a média de 15 amostras (3 repetições x 5 datas). Mobilizações f=0,8 n/s
Figura 20 - Evolução, ao longo do período de amostragem, da taxa de colonização das raízes para a cultura de girassol nos diferentes sistemas de mobilização.
79
Não houve diferenças significativas entre mobilizações, quer em
termos globais (quadro 13), quer na análise que foi realizada data por data
(fig. 20). Também não se verificaram diferenças significativas entre datas
independentemente das mobilizações (quadro 14). Talvez isto signifique que,
quando as condições são favoráveis e a planta micotrófica, mesmo havendo
condições adversas para a micorrização provocadas pela mobilização do solo
(e.g. destruição de esporos, rompimento da rede extraradical de micélio),
estas sejam ultrapassadas. O mesmo é indicado pela análise de regressão
efectuada para verificar sobre a relação de causa-efeito entre esporos e taxa
de colonização. Efectivamente, não houve qualquer correlação nesta cultura,
ou seja, a taxa de colonização não aumentou significativamente com o
aumento do número de esporos, o que pode significar que, quando as
condições são favoráveis e a planta micotrófica, não é necessário que o solo
tenha um elevado potencial micorrízico para que a micorrização se
estabeleça fácil e fortemente. Ainda assim, na mobilização em que se
quantificaram mais esporos (lavoura) (quadro8), a taxa de colonização foi
ligeiramente superior a partir da 2ª data de amostragem (fig. 20) e em termos
globais (quadro 13).
80
8.5 - Produções
Nos gráficos da fig. 21 e no quadro 15, representam-se alguns
parâmetros de produção avaliados nas culturas de triticale e trigo. Não se
apresentam dados para a cultura de girassol uma vez que, pelas razões já
expostas, não se efectuou a colheita.
Figura 21 – Valores obtidos nos parâmetros de produção das culturas de triticale e trigo nos diferentes sistemas de mobilização.
Quadro 15 – Médias* da biomassa (g/m2) nas culturas de triticale e trigo.
Lavoura Escarificação S. Directa Média
Triticale 800,7A 729,0B 693,0B 740,9A
Trigo 496,0C 507,3C 498,0C 500,4B
Médias 648,3A 618,2AB 595,5B
* Cada valor representa a média de 3 amostras (3 repetições por mobilização). Culturas f=27,4 p<0,006 Mobilizações f=3,7 n/s Inter. f=4,4 p<0,05
A biomassa é um parâmetro de produção que resulta do somatório da
produção de grão e da produção de palha. O triticale alcançou uma biomassa
significativamente maior do que o trigo. Este resultado era de certo modo
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
g/m2
Produção degrão
Produção depalha
Biomassa
Triticale
Lavoura
Escarif icação
S. Directa
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
g/m2
Produção degrão
Produção depalha
Biomassa
Trigo
Lavoura
Escarif icação
S. Directa
81
esperado porque o triticale, como já foi referido, é um híbrido robusto e
melhorado com vista à obtenção de maiores produções.
Em relação às mobilizações, no triticale a lavoura mostrou-se como
aquela em que se obtiveram produções significativamente maiores
relativamente às outras mobilizações. O mesmo não se verificou na cultura
de trigo, em que não houve diferenças significativas entre mobilizações, pelo
que poder-se-á questionar se este facto não se terá devido às
significativamente maiores taxas de colonização verificadas em sementeira
directa nesta cultura. Da análise de regressão realizada para verificar se
houve uma relação de causa efeito entre as taxas de colonização e a
produção de biomassa, não se encontrou correlação significativa.
Efectivamente, sobretudo em condições de campo, há inúmeros factores para
além daqueles que se prendem com a micorrização a variar e a ter influência
sobre a produção de uma cultura. Deste ponto de vista, é natural que não se
tenha verificado haver correlação. Por outro lado, conforme já se descreveu e
está de acordo com o trabalho de Hetrick et al. (1984), supostamente a
micorrização ocorreu tardiamente, o que poderá também ser a causa de não
se ter verificado correlação.
82
9 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projecto de um dia se poder vir a produzir em condições controladas
quantidades suficientes de propágulos de AMF para se inocular os solos, e
daí se obterem benefícios quer nas produções quer na tentativa de
preservação dos mesmos no âmbito de uma agricultura mais sustentável, de
maneira a que se justifiquem os custos, ainda é técnica e economicamente
inviável. Daí que a única forma de, do ponto de vista agronómico, se tirar
partido desta simbiose é fazer um uso racional dos AMF que naturalmente
existem no solo. Para isso, será necessário tomar medidas adequadas à sua
maximização, o que só será possível se se compreenderem as influências
que as práticas culturais exercem sobre esta simbiose mutualista. As
conclusões que advém deste trabalho passam fortemente por este ponto de
vista.
Mesmo não se tendo obtido os resultados desejados no ensaio de
MPN, chegou-se à conclusão que a época do ano em que se faz a
sementeira, o tempo que medeia entre a sucessão de culturas numa folha, o
tipo de cultura e o tipo de mobilização, podem ser determinantes sobre os
AMF, e que estes factores não se podem dissociar quando se pretende tomar
medidas com vista aos objectivos referidos.
O facto de se ter verificado correlação entre o número de esporos e a
taxa de colonização, e de, devido ao pousio forçado do ano anterior numa
das folhas onde se semearam este ano os cereais, que fez com que este
tivesse sido o único factor a variar entre ambas as culturas (triticale e trigo),
minimizou o insucesso do MPN, pois poderam mesmo assim tecer-se
83
considerações estatisticamente suportadas sobre a influência dos
antecedentes culturais.
Ao contrário do que se verificou neste trabalho, verifica-se que, caso
se realize a sementeira dos cereais de Inverno mais cedo (e.g. início de
Outubro), a colonização talvez se possa iniciar logo nas primeiras etapas
fenológicas daquelas plantas, trazendo eventualmente consequências
benéficas nas produções. Ainda sobre os cereais de Inverno, o pousio
mostrou influenciar negativamente o potencial micorrízico do solo. Pelo
contrário, parece que, quando não se verificam interrupções prolongadas
entre culturas, se obtêm maiores níveis de colonização micorrízica. Tal não
se pode dissociar do factor mobilização pois estes maiores níveis de
micorrização ocorreram em sementeira directa, indicando que provavelmente
este é o tipo de mobilização mais aconselhável quando se pretende tirar o
máximo partido dos AMF, ao contrário da lavoura em que, relativamente às
restantes mobilizações, se verificaram níveis significativamente inferiores de
taxa de colonização. Isto indicou, conforme se prevera inicialmente, que, de
facto, uma mobilização intensa é passível de provocar danos na organização
estrutural de AMF no solo com consequências observáveis.
O micotrofismo foi mais um aspecto que parece ter tido algum peso
nos resultados obtidos. Presumivelmente foi este factor, aliado às favoráveis
condições climatéricas, que contribuiu para que na cultura de Primavera
(girassol) os eventuais problemas decorrentes das práticas culturais sobre os
AMF não se tenham verificado. Esta constatação poderá significar que,
provavelmente, deverá haver mais preocupação relativamente à acção das
práticas culturais nos AMF nas culturas de Inverno.
84
Este foi o primeiro ano em que se estudaram os AMF no campo de
ensaios de mobilizações da Herdade da Revelheira e, como tal, serviu para
se obter uma visão geral sobre este assunto. Inclusivamente, ajustaram-se
metodologias das quais se destaca o apuramento da técnica de coloração de
raízes. Daqui para a frente será mais fácil delinear novas estratégias de
abordagem para aprofundar melhor o conhecimento em pontos específicos
que ficaram por esclarecer. Apesar de ser impossível enumerar todos porque
ainda há muito por descobrir, podem deixar-se algumas perspectivas para um
futuro trabalho de continuação. A mobilização de escarificação, por não se ter
revelado em termos gerais significativamente diferente da sementeira directa,
talvez possa vir a deixar de ser alvo de estudo no futuro, concentrando-se o
tempo que se poupará sobretudo na montagem do MPN, o qual poderá
esclarecer mais claramente a importância dos propágulos diferentes dos
esporos sobretudo em sementeira directa, e noutras tarefas. Estas poderão
ser, por exemplo, o estudo da dinâmica populacional, seguindo-se a linha que
chegou a ser iniciada, ou até seguir-se o caminho da biologia molecular para
se tentar aferir quais as espécies envolvidas, quais as eventuais preferências
dos AMF para as culturas, e, caso de facto se verifiquem, como se
comportam as espécies nesta rotação e face a outras mobilizações. Outro
aspecto que ficou em aberto, reside em saber porque é que apareceram mais
esporos em lavoura relativamente às outras mobilizações na folha que
recebeu girassol. A tentativa de se esclarecer como se distribuem
verticalmente os esporos após a colheita de uma cultura, poderá ajudar na
interpretação deste facto. Apesar de ser logisticamente difícil, uma vez que
este ensaio se insere num projecto mais vasto, com o seu próprio
delineamento experimental, seria interessante poderem vir-se a realizar
85
alterações à época normal de sementeira, experimentar novas variedades
que se saiba não ser melhoradas e verificar qual o impacto destas medidas
na micorrização e nas produções.
Como os AMF não são os únicos agentes biológicos existentes no solo
e inclusivamente, conforme foi descrito, interagem fortemente com outros
organismos, seria importante que as abordagens futuras fossem
multidisciplinares, pois só assim se poderá, um dia, compreender o “todo”.
86
10 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBOTT, L. K., ROBSON, A. D. E SCHELTEMA, M. A. (1995). Managing Soils to Enhance Mycorrhizal Benefits in Mediterranean Agriculture. Critical Reviews in Biotechnology, 15(3/4), 213-228. ALEXANDER, M. (1965). Most-Probable-Number Method for Microbial Populations. Methods of Soil Analysis, Part 2, Chemical and Microbiological Properties, Ed., C.A. Black, Armer, Soc. Agronomy, Madison, Wisconsin, 1467-1472. ALLEN, M. F. (1996). The Ecology of Mycorrhizae. 3ª edição, Cambridge University Press, Cambridge, U.K. AN, Z.-Q., HENDRIX J. W., HERSHMAN, D. E. E HENSON G. T. (1990). Evaluation of the “Most Probable Number” (MPN) and Wet-Sieving Methods for Determining soil Bourne Populations of Endogonaceous Mycorrhizal Fungi. Mycologia, 82(5), 576-581. AZCÓN, R. E OCAMPO, J. A. (1981) Factors Affecting the Vesicular-Arbuscular Infection and Mycorrhizal Dependency of Thirteen Wheat Cultivars. New Phytol., 87, 677-685. BASCH, G. (1991). Alternativas para o Sistema Tradicional de Exploração da Terra, no Alentejo, tendo em Consideração Especial a Mobilização do Solo. Tese de Doutoramento, Universidade de Évora, Évora. BELLIDO, L. L. (1991). Cereales – Cultivos Herbaceos Vol. I. Ediciones Mundi-Prensa, Madrid, Espanha. BRITO, I. M. (1997). Micorrizas Arbusculares – Alguns Aspectos da sua Caracterização. Universidade de Évora. BRUNDRETT, M., MELVILLE, L. E PETERSON, L. (1994). Practical Methods in Mycorrhiza Research. Mycologue Publications Ltd., Waterloo. BRUNDRETT, M., BOUGHER, N., GROVE, T. E MALAJCZUK, N. (1996). Working with Mycorrhizas in Forestry and Agriculture. ACIAR (Australian Centre for International Agriculture Research) Monograph 32, Australia.
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