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Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo André Pereira Alves Nunes Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Júri Presidente: Professor Doutor Jaime Alberto Santos Orientador: Professora Doutora Rafaela Pinheiro Cardoso Vogal: Professor Doutor Emanuel José Leandro Maranha das Neves Vogal: Professora Doutora Laura Maria Mello Saraiva Caldeira Setembro 2010

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Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de

margas compactadas tratadas com cal

Diogo André Pereira Alves Nunes

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Júri

Presidente: Professor Doutor Jaime Alberto Santos

Orientador: Professora Doutora Rafaela Pinheiro Cardoso

Vogal: Professor Doutor Emanuel José Leandro Maranha das Neves

Vogal: Professora Doutora Laura Maria Mello Saraiva Caldeira

Setembro 2010

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Agradecimentos

Gostaria de deixar neste espaço, o meu agradecimento sincero a todos aqueles que contribuíram para o

desenvolvimento deste trabalho e que o tornaram possível, e a todas as pessoas que contribuíram para

a minha educação e formação desde criança, em especial:

À Professora Rafaela, por todos os conhecimentos transmitidos e por toda a disponibilidade

demonstrada, mesmo quando se encontrava à distância. Sem o seu apoio não teria sido possível a

realização deste trabalho.

Ao Sr. José Alberto, pela grande ajuda e disponibilidade na realização de todos os trabalhos

laboratoriais, sempre intercalados com momentos de boa disposição e animados comentários

futebolísticos.

Ao Eng. Xavier, pela ajuda na resolução de problemas e dúvidas, que surgiram no sistema de aquisição

de dados dos ensaios.

Ao Sr. Leonel, pela ajuda dada na realização dos ensaios Brasileiros, e pela disponibilidade demonstrada.

A todos os meus colegas que, directa ou indirectamente, contribuíram para a realização deste trabalho e

para a minha formação académica.

À minha família, pelo apoio demonstrado ao longo do meu curso e por terem contribuído para a minha

formação e educação ao longo de toda a minha vida.

Aos meus pais, por todo o apoio e por me terem proporcionado uma educação e formação que serão

fundamentais para o meu sucesso futuro.

Por último, um agradecimento muito especial à Carolina, por ser a minha companheira nos bons e nos

maus momentos, por partilharmos um com o outro as nossas alegrias e as nossas angústias e por se ter

tornado uma parte fundamental da minha vida, que me faz olhar para o futuro com novas ambições.

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Resumo

Este trabalho teve como objectivo o estudo dos efeitos da adição de cal e tempo de cura nas margas

utilizadas na construção de alguns aterros da Auto-Estrada A10, sublanço Arruda dos Vinhos/Carregado.

As margas são um tipo de solo com potencial expansivo, ou seja, podem ocorrer fenómenos de

empolamento quando ocorre a molhagem. Como tal, optou-se por revestir a face exterior do aterro

(espaldas) por uma camada de margas tratadas com cal (solocal), sendo o núcleo constituído por margas

sem tratamento (solo). Desta forma, tentou-se evitar o acesso da água das chuvas ao interior do aterro,

uma vez que o solocal funciona como uma camada protectora do núcleo, evitando assim as

deformações que daí poderiam advir.

No entanto, colocou-se a hipótese da abertura de fendas nas espaldas, provocadas pelo aparecimento

de tensões de tracção devido à diferença de rigidez entre o núcleo e as espaldas.

Com este trabalho pretendeu-se determinar as características hidro-mecânicas, e, em particular, as de

resistência tanto ao corte como à tracção do solo e solocal e a sua evolução com o tempo de cura, uma

vez que o tratamento tem um efeito de melhoria, que aumenta ao longo do tempo. Estas características

foram analisadas considerando as alterações estruturais sofridas pelo solo com o tratamento e o tempo

de cura.

As principais conclusões da análise dos resultados são que o tratamento com cal permite melhorar as

propriedades do solo (expansibilidade, permeabilidade e compressibilidade) e aumentar a sua

resistência, tanto ao corte como à tracção, que vai depois aumentando também com o tempo de cura.

Os dados obtidos permitiram, noutros trabalhos, modelar o aterro de modo a analisar o seu

comportamento em fase de construção e exploração, bem como analisar o problema do aparecimento

de fendas, tendo-se concluído que as tensões de tracção obtidas na modelação do aterro eram

inferiores à resistência à tracção do solocal, determinada neste trabalho, e portanto não é expectável a

ocorrência de fendas prejudiciais ao bom funcionamento do aterro.

Palavras-chave: Margas, Tratamento com Cal, Resistência, Tempo de Cura, Evolução, Características

Hidro-mecânicas

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Abstract

The purpose of this work was to study the effects of lime addition and curing time, on marls used to

build some of the A10 highway embankments, subsection Arruda dos Vinhos/Carregado.

Marls are classified as an expansive soil, which means that there may occur swelling while wetting.

Because of that, the embankment was coated with a layer of marls treated with lime, while the core is

constituted by marls without treatment. Thus, the objective was to prevent water from the rain to

access the interior of the embankment, since the exterior layer works as a protection of the core,

thereby avoiding deformations that it could entail.

However, it was considered that cracking could occur in the external layer, caused by the appearance of

tensile stresses due to the stiffness differential between the core and the external layer of the

embankment.

With this work, it was intended to determine some of the main hydro-mechanical characteristics and, in

particular, the shear and tensile strength of the soil and soil treated with lime, and its evolution along

the curing time, since the treatment as an improvement effect on the soil, that increases over time.

These characteristics were analyzed considering the structural changes suffered by the soil after

treatment and curing time.

The main conclusions from the analysis of the results are that the lime treatment improves the

properties of the soil (expansibility, permeability and compressibility) and increases its shear and tensile

strength, which will also be enhanced with the curing time.

The information obtained allowed modeling the embankment in other works, in order to analyze its

behavior during the construction phase and after that, during its exploration, as well as analyze the

problem of the cracking appearance. It was found out that the tensile stresses acting in the modeled

embankment were lower than the resistance of the soil treated with lime, which was determined in this

work, and therefore, it is not expected the crack appearance that could compromise the behavior of the

embankment.

Keywords: Marls, Lime Treatment, Resistance, Curing Time, Evolution, Hydro-mechanical Characteristics

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Simbologia e Notações

A – Parâmetro A de Skempton

a0 – Ordenada na origem

ASTM – American Society for Testing and Materials

aV – Declive do troço de carregamento

B – Parâmetro B de Skempton

c' – Coesão

Ca2+ – Iões de cálcio

CaCO3 – Carbonato de cálcio

CaO – Óxido de cálcio (cal viva)

Ca(OH)2 – Hidróxido de cálcio (cal apagada)

CC – Índice de compressibilidade

CS – Índice de expansibilidade

CU – Consolidated Undrained

cV – Coeficiente de consolidação

D – Diâmetro

dh – Variação de altura

e – Índice de vazios

ef – Índice de vazios final

ei – Índice de vazios inicial

GS – Peso volúmico das partículas sólidas

h – Altura

h0 – Altura inicial

H2O – Água

IP – Índice de plasticidade

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k – Coeficiente de permeabilidade

kint – Coeficiente de permeabilidade intrínseco

L – Espessura

LCN – Linha de Compressão Normal

LVDT – Linear Voltage Displacement Transducer

m – Declive

mV – Compressibilidade volumétrica

MIP – Mercury Intrusion Porosimetry

(OH)- – Ião hidróxido

P – Sucção correspondente à entrada de ar

patm – Pressão atmosférica

p’0 – Tensão inicial

p’y – Tensão de cedência

qu – Resistência à compressão simples

s – Sucção

sf – Sucção final

si – sucção inicial

Sr – Grau de saturação

t90 – Tempo para o qual ocorreu 90% da consolidação

t – Tempo

TV – Factor tempo

u – Pressão intersticial

Ū – Consolidação

USCS – Unified Soil Classification System

V – Volume da amostra de solo

w – Teor em água

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W – Peso total da amostra de solo

wL – Limite de liquidez

wópt – Teor em água óptimo

wP – Limite de plasticidade

WP4 – Water Dewpoint Potentiometer

WS – Peso das partículas sólidas na amostra

WW – Peso da quantidade de água na amostra

δεhoriz – Deformação lateral

δεV, δεSV, δεvol – Deformação volumétrica

δεvert – Deformação vertical

γd – Peso volúmico aparente seco

γd, máx – Peso volúmico aparente seco máximo

γh – Peso volúmico aparente húmido

γw – Peso volúmico da água

Δe – Variação do índice de vazios

Δh – Variação de altura

Δu – Variação da pressão intersticial

Δσ1 – Variação da tensão vertical

Δσ3 – Variação da pressão radial

κS – Índice de compressibilidade para variações de sucção

λ – Constante

μw – Viscosidade da água

σ1-σ3 – Tensão deviatórica

σ1 – Tensão vertical

σ3 – Tensão radial

σ’1 – Tensão vertical efectiva

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σ’3 – Tensão radial efectiva

σ’ – Tensão efectiva

σconsolidação – Tensão de consolidação

σt – Tensão de resistência à tracção

σV, σy – Tensão vertical

σ’y – Tensão de cedência

φ’crítico – Ângulo de resistência ao corte no estado crítico

φ’pico – Ângulo de resistência ao corte no pico

φ’ – Ângulo de resistência ao corte

ψ – Dilatância

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Índice

1 – Introdução ............................................................................................................................... 1

1.1 – Enquadramento do trabalho ............................................................................................ 1

1.2 – Organização da dissertação .............................................................................................. 2

2 – Fundamentos Teóricos ............................................................................................................ 3

2.1 – Enquadramento ................................................................................................................ 3

2.2 – Curva de Compactação ..................................................................................................... 5

2.3 – Estrutura e Cura................................................................................................................ 8

2.4 – Curva de Retenção ......................................................................................................... 10

2.5 – Permeabilidade .............................................................................................................. 10

2.6 – Expansibilidade ............................................................................................................... 10

3 – Características do Material Utilizado na Construção dos Aterros da A10 ............................ 11

3.1 – Características das Margas ............................................................................................. 11

3.1.1 – Análise Mineralógica ............................................................................................... 11

3.1.2 – Análise Granulométrica ........................................................................................... 11

3.2 – Características das Margas Antes e Após Tratamento com Cal ..................................... 12

3.2.1 – Limites de Atterberg ................................................................................................ 12

3.2.2 – Curva de Compactação ............................................................................................ 14

4 – Alterações Estruturais Devidas à Adição da Cal e ao Tempo de Cura ................................... 17

4.1 – Medição Directa ............................................................................................................. 17

4.2 – Medição Indirecta .......................................................................................................... 21

4.2.1 – Curva de Retenção .................................................................................................. 21

4.2.2 – Deformações Devidas a Embebição nos Edómetros ............................................... 23

5 – Ensaios de Laboratório .......................................................................................................... 25

5.1 – Introdução ...................................................................................................................... 25

5.2 – Preparação das amostras de solocal .............................................................................. 25

5.3 - Ensaios Edométricos ....................................................................................................... 26

5.3.1 – Compressibilidade ................................................................................................... 26

5.3.2 – Expansibilidade e permeabilidade saturada ........................................................... 32

5.4 – Ensaios Triaxiais .............................................................................................................. 37

5.4.1 – Montagem dos Provetes ......................................................................................... 37

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5.4.2 – Solocal com 1 Mês de Cura ..................................................................................... 41

5.4.3 – Solocal com 7 Meses de Cura .................................................................................. 44

5.5 – Ensaios de Compressão Diametral ................................................................................. 47

6 – Efeito do Tempo de Cura nas Características Hidromecânicas das Margas Compactadas

Tratadas com Cal ......................................................................................................................... 59

6.1 – Expansibilidade, Permeabilidade Saturada e Compressibilidade .................................. 59

6.1.1 – Expansibilidade ........................................................................................................ 59

6.1.2 – Permeabilidade Saturada ........................................................................................ 61

6.1.3 – Compressibilidade ................................................................................................... 62

6.2 – Resistência ao Corte ....................................................................................................... 64

6.3 – Resistência à Tracção ..................................................................................................... 65

7 – Aplicação aos Aterros da A10, Conclusões e Desenvolvimentos Futuros ............................. 67

7.1 – Aplicação aos Aterros da A10 ......................................................................................... 67

7.2 – Conclusões ...................................................................................................................... 67

7.3 – Desenvolvimentos Futuros ............................................................................................. 68

8 – Referências Bibliográficas...................................................................................................... 69

Anexo .......................................................................................................................................... 71

Dados dos ensaios triaxiais ..................................................................................................... 71

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Índice de Figuras

Figura 2.1 – Perfil tipo do aterro da A10 ....................................................................................... 3

Figura 2.2 – Espalhador ................................................................................................................. 4

Figura 2.3 – Fresadora................................................................................................................... 4

Figura 2.4 – Rolo compressor ....................................................................................................... 4

Figura 2.5 – Curva de compactação e curva de saturação para solos finos argilosos (Santos

Pereira, 2005) ................................................................................................................................ 6

Figura 2.6 – Efeito da compactação no tipo de estrutura de solos argilosos (Santos Pereira,

2005) ............................................................................................................................................. 7

Figura 2.7 – Influência da energia de compactação na curva de compactação (Santos Pereira,

2005) ............................................................................................................................................. 7

Figura 2.8 – Efeito da compactação na resistência de solos argilosos (Santos Pereira, 2005) ..... 8

Figura 2.9 – Efeito da estrutura na compressibilidade (Leroueil e Vaughan, 1990) ..................... 9

Figura 2.10 – Efeito da estrutura na resistência ao corte ............................................................. 9

Figura 3.1 – Registo difratométrico das margas em estudo (Oliveira, 2006) ............................. 11

Figura 3.2 – Curva granulométrica do solo antes e após a compactação (Maranha das Neves &

Cardoso, 2006) ............................................................................................................................ 12

Figura 3.3 – Carta de plasticidade do solo e solocal (Godinho, 2007) ........................................ 13

Figura 3.4 – Curva de compactação para o solo (Maranha das Neves & Cardoso, 2006) .......... 14

Figura 3.5 – Curva de compactação para o solocal (Godinho, 2007) ......................................... 15

Figura 4.1 – Câmara do microscópio electrónico ....................................................................... 17

Figuras 4.2 – Aspecto do microscópio electrónico do Departamento de Materiais do IST ....... 17

Figura 4.3 – Aspecto do microscópio electrónico do Departamento de Materiais do IST, onde

são visíveis as amostras a observar ............................................................................................. 17

Figura 4.4 – Amostra de solo, observada na ampliação de 30 μm ............................................. 18

Figura 4.5 – Amostra de solo, observada na ampliação de 100 μm ........................................... 18

Figura 4.6 – Amostra de solocal logo após tratamento, observada na ampliação de 30 μm..... 18

Figura 4.7 – Amostra de solocal logo após tratamento, observada na ampliação de 100 μm... 18

Figura 4.8 – Amostra de solocal com 1 mês de cura, observada na ampliação de 30 μm ......... 19

Figura 4.9 – Amostra de solocal com 1 mês de cura, observada na ampliação de 100 μm ....... 19

Figura 4.10 – Amostra de solocal com 7 meses de cura, observada na ampliação de 30 μm.... 19

Figura 4.11 – Amostra de solocal com 7 meses de cura, observada na ampliação de 100 μm.. 19

Figura 4.12 – Distribuição do tamanho dos poros, obtida através da porosimetria por intrusão

de mercúrio ................................................................................................................................. 20

Figura 4.13 – Equipamento WP4 utilizado para medição da sucção .......................................... 21

Figura 4.14 – Curvas de retenção para os diferentes tipos de solo em estudo (adoptado de

Maranha das Neves & Cardoso, 2008) ........................................................................................ 22

Figura 5.1 – Colocação do solocal no anel .................................................................................. 27

Figura 5.2 – Aspecto dos dois anéis com os provetes de solocal ............................................... 27

Figura 5.3 – Montagem final antes da colocação no edómetro ................................................. 27

Figura 5.4 – Aspecto do edómetro utilizado ............................................................................... 27

Figura 5.5 – Edómetro pronto para ser iniciado o ensaio .......................................................... 27

Figura 5.6 – Pesagem do anel com o solocal para determinação de γh ...................................... 28

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xiv

Figura 5.7 – Diagrama σ’ – ef para o ensaio não saturado .......................................................... 30

Figura 5.8 – Diagrama σ’ - ef para o ensaio saturado ................................................................. 30

Figura 5.9 – Sobreposição dos dados dos dois ensaios edométricos ......................................... 31

Figura 5.10 – Esquema representativo do “Método de Taylor” ................................................. 33

Figura 5.11 – Coeficiente de permeabilidade de cada troço de carregamento em função do

respectivo índice de vazios.......................................................................................................... 35

Figura 5.12 – Coeficiente de permeabilidade intrínseco de cada troço de carregamento em

função do respectivo índice de vazios ........................................................................................ 36

Figura 5.13 – Montagem do ensaio triaxial ................................................................................ 38

Figura 5.14 – Provetes após o corte: a) com membrana; b) sem membrana ............................ 40

Figura 5.15 – Dados do ensaio 1M50 .......................................................................................... 41

Figura 5.16 – Dados do ensaio 1M50 .......................................................................................... 41

Figura 5.17 – Círculos de Mohr no estado de pico para o solocal com 1 mês de cura ............... 42

Figura 5.18 – Círculos de Mohr no estado crítico para o solocal com 1 mês de cura ................ 43

Figura 5.19 – Círculos de Mohr no estado de pico para o solocal com 7 meses de cura ........... 44

Figura 5.20 – Círculos de Mohr no estado crítico para o solocal com 7 meses de cura ............. 45

Figura 5.21 – Pormenor do corte dos provetes .......................................................................... 48

Figura 5.22 – Equipamento utilizado para a realização dos ensaios .......................................... 48

Figura 5.23 – Medição das dimensões dos provetes .................................................................. 48

Figura 5.24 – Provetes antes do ensaio (excepto provetes de solocal com 7 meses de cura,

ensaiados posteriormente) ......................................................................................................... 49

Figura 5.25 – Provetes de solo sem tratamento, imediatamente antes do ensaio .................... 53

Figura 5.26 – Provetes de solo sem tratamento, imediatamente após o ensaio ....................... 53

Figura 5.27 – Provetes de solocal, imediatamente antes do ensaio .......................................... 54

Figura 5.28 – Provetes de solocal, imediatamente após o ensaio .............................................. 54

Figura 5.29 – Provetes de solocal com 1 mês de cura, imediatamente antes do ensaio ........... 55

Figura 5.30 – Provetes de solocal com 1 mês de cura, imediatamente após o ensaio .............. 55

Figura 5.31 – Provetes de solocal com 7 meses de cura, imediatamente antes do ensaio ....... 56

Figura 5.32 – Provetes de solocal com 7 meses de cura, imediatamente após o ensaio ........... 56

Figura 5.33 – Evolução da resistência à tracção com o tratamento e tempo de cura ............... 57

Figura 6.1 – Comparação dos valores de permeabilidade em estudo ........................................ 61

Figura 6.2 – Sobreposição de todos os gráficos .......................................................................... 63

Figura A.1 – Dados do ensaio 1M100 ......................................................................................... 71

Figura A.2 – Dados do ensaio 1M100 ......................................................................................... 71

Figura A.3 – Dados do ensaio 1M150 ......................................................................................... 72

Figura A.4 – Dados do ensaio 1M150 ......................................................................................... 72

Figura A.5 – Dados do ensaio 7M100 ......................................................................................... 72

Figura A.6 – Dados do ensaio 7M100 ......................................................................................... 72

Figura A.7 – Dados do ensaio 7M150 ......................................................................................... 72

Figura A.8 – Dados do ensaio 7M150 ......................................................................................... 72

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xv

Índice de Quadros

Quadro 3.1 – Limites e classificação USCS do solo e solocal (Maranha das Neves & Cardoso,

2008) ........................................................................................................................................... 13

Quadro 3.2 – Valores de wópt e γd,máx para o solo e solocal ........................................................ 14

Quadro 4.1 – Parâmetros adoptados para a calibração das curvas de retenção (Maranha das

Neves & Cardoso, 2008) .............................................................................................................. 22

Quadro 5.1 – Características do solocal ensaiado ...................................................................... 29

Quadro 5.2 – Valores de σ’y, CC e CS para ambos os ensaios ...................................................... 31

Quadro 5.3 – Dados para o cálculo do coeficiente de permeabilidade ...................................... 34

Quadro 5.4 – Coeficiente de permeabilidade intrínseco ............................................................ 35

Quadro 5.5 – Valores obtidos para os ângulos de resistência ao corte no pico e estado crítico,

para os dois tipos de solocal ....................................................................................................... 40

Quadro 5.6 – Dados obtidos para o estado de pico do solocal com 1 mês de cura ................... 42

Quadro 5.7 – Dados obtidos para o estado crítico do solocal com 1 mês de cura ..................... 42

Quadro 5.8 – Dados obtidos para o estado de pico do solocal com 7 meses de cura ............... 44

Quadro 5.9 – Dados obtidos para o estado crítico do solocal com 7 meses de cura ................. 44

Quadro 5.10 – Solo sem tratamento .......................................................................................... 49

Quadro 5.11 – Solocal após tratamento ..................................................................................... 50

Quadro 5.12 – Solocal com 1 mês de cura ................................................................................. 51

Quadro 5.13 – Solocal com 7 meses de cura .............................................................................. 52

Quadro 6.1 – Expansibilidade do solo e solocal.......................................................................... 59

Quadro 6.2 – Expansibilidade do solo e solocal.......................................................................... 59

Quadro 6.3 – Critério para classificação da expansibilidade (Maranha das Neves &, 2006) ..... 60

Quadro 6.4 – Valores da permeabilidade e permeabilidade intrínseca ..................................... 61

Quadro 6.5 – Classificação de solos quanto à permeabilidade (Terzaghi & Peck, 1967) ........... 62

Quadro 6.6 – Valores de CC e CS para os diferentes tipos de solo e solocal em estudo ............. 62

Quadro 6.7 – Valores do ângulo de resistência ao corte críticos, φ’c, para o solo e diferentes

tempos de cura do solocal .......................................................................................................... 64

Quadro 6.8 – Valores da tensão de resistência à tracção para o solo e diferentes tipos de

solocal.......................................................................................................................................... 65

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1

1 – Introdução

1.1 – Enquadramento do trabalho

Este trabalho surge no seguimento do projecto de investigação levado a cabo pelo IST, referente aos

aterros construídos com margas da auto-estrada A10, sublanço Arruda dos Vinhos/Carregado.

Os aterros estudados são constituídos por um núcleo de margas, também designadas por solo, revestido

por uma camada de margas tratadas com cal, designadas por solocal. O tratamento tem como função

diminuir a expansibilidade das margas compactadas, para além de diminuir a permeabilidade da face

exterior do aterro, de modo a que esta sirva como uma camada protectora do núcleo, impedindo o

acesso das águas das chuvas, que em contacto com o solo provocariam deformações importantes.

Apesar de o tratamento ter efeitos benéficos, um aspecto negativo é introduzir um diferencial de rigidez

entre o núcleo e das espaldas (a face exterior), o que levanta a possibilidade de poderem aparecer

fendas na face exterior, provocadas por tensões de tracção.

De modo a que fosse possível modelar o aterro e analisar o problema da fendilhação, era necessário

conhecer alguns parâmetros de resistência e de comportamento do solo e do solocal. Como tal,

realizaram-se vários ensaios laboratoriais com amostras de solo e solocal. Foi necessário estudar as

características do solocal para diferentes tempos de cura uma vez que os efeitos do tratamento

possuem características evolutivas. Assim, neste trabalho deu-se especial atenção ao comportamento

do solocal para vários tempos de cura de modo a obter dados sobre a evolução da compressibilidade

com o teor em água natural e saturado, a resistência ao corte saturada e a resistência à tracção. Já

existia informação de trabalhos anteriores: Godinho (2007) analisou o material logo após o tratamento

(ensaios edométricos e ensaios triaxiais) e Martins (2009) realizou ensaios edométricos para 1 mês de

cura. Neste trabalho realizaram-se os ensaios para obter a informação em falta para os vários casos e a

totalidade dos ensaios mencionados abaixo para 7 meses de cura.

Realizaram-se ensaios edométricos em amostras de solocal com 7 meses de cura, de modo a analisar a

compressibilidade, permeabilidade e expansibilidade das amostras deste material.

Para determinar a resistência ao corte do material em estudo, realizaram-se ensaios triaxiais

consolidados não drenados em provetes de solocal com 1 mês de cura e 7 meses de cura.

Realizaram-se ensaios de compressão diametral em provetes de solo, solocal logo após tratamento e

solocal com 1 mês e 7 meses de cura, de modo a aferir o valor da resistência à tracção do material.

Finalmente, fez-se uma análise à evolução das características acima descritas, com o tratamento e ao

longo do tempo de cura, através da comparação dos dados obtidos neste trabalho e nos trabalhos

anteriores já referidos (Godinho 2007 e Martins 2009).

Concluiu-se que o tratamento e o tempo de cura aumentam significativamente a resistência do solo

(resistência ao corte e à tracção) e a sua rigidez. A expansibilidade também diminui com o tratamento e

em relação à permeabilidade, esta diminui ligeiramente, embora o solo já possua valores de

permeabilidade bastante baixos.

Para terminar, acrescenta-se que os dados obtidos neste trabalho foram utilizados para a modelação do

comportamento do aterro (Martins 2009 e Santos 2009) de modo a estudar a evolução dos

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assentamentos no tempo e a possibilidade de ocorrência de fendilhação. Estes dados fornecem a

informação necessária para o estudo dos aterros da A10 realizado no IST.

Verificou-se noutros trabalhos que os valores das tracções provocadas pelo diferencial de rigidez entre o

núcleo e as espaldas são inferiores aos valores da resistência à tracção determinados neste trabalho,

portanto não existe a ocorrência de fendas no aterro.

1.2 – Organização da dissertação

Optou-se por organizar esta dissertação em 8 capítulos, da seguinte forma:

No primeiro capítulo faz-se uma introdução ao tema em análise.

No segundo capítulo é feita uma introdução teórica, onde se explicam os conceitos utilizados ao longo

do trabalho.

No terceiro capítulo apresentam-se as características do material em estudo, antes e após o tratamento

com cal, nomeadamente análise mineralógica e granulométrica, bem como os limites de Atterberg e

curva de compactação.

No quarto capítulo analisam-se os efeitos provocados pelo tratamento ao nível da estrutura do material.

Os dados referentes aos ensaios laboratoriais efectuados são apresentados no quinto capítulo.

No sexto capítulo é feita a análise à evolução observada nas características hidromecânicas do material

após o tratamento e ao longo do tempo de cura, tendo para tal sido utilizados valores determinados

noutros trabalhos.

No sétimo capítulo são apresentadas as conclusões, as aplicações do trabalho realizado aos aterros que

estiveram na sua origem, bem como desenvolvimentos futuros.

No oitavo capítulo são apresentadas as referências bibliográficas, sendo ainda apresentados em anexo

alguns gráficos que se optou por não colocar no corpo principal do trabalho e remeter para esta secção.

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3

2 – Fundamentos Teóricos

2.1 – Enquadramento

Por vezes, as exigências de uma dada obra geotécnica, motivos económicos e condicionantes naturais,

levam a que seja necessário melhorar as características mecânicas do solo disponível no local

(resistência e deformabilidade). Para tal, é recorrente efectuar o tratamento do solo com cal, em vez da

sua substituição por outro material com melhores características, retirado de manchas de empréstimo

mais distantes. Em estruturas geotécnicas em que é importante considerar os assentamentos no seu

dimensionamento, como é o caso dos aterros, sempre que os solos utilizados na sua construção têm

potencial expansivo também se recorre ao seu tratamento para diminuir este potencial. Como exemplos

de solos com potencial expansivo tem-se alguns tipos de argilas e as margas, e outras rochas evolutivas.

Uma das consequências mais importantes de os materiais usados na construção terem potencial

expansivo é poderem sofrer deformações importantes (empolamento ou colapso) caso ocorra a

molhagem, que está associada às acções atmosféricas. Se, para além do potencial expansivo, os

materiais também são evolutivos, pode haver perda acentuada de rigidez e resistência dos blocos que

os constituem, afectando as características do material compactado.

Este trabalho vem na sequência do projecto de investigação do IST com a BRISA, onde foram estudados

os aterros da auto-estrada A10 construídos com margas e margas tratadas com cal. Permitiu obter

informação fundamental para a modelação do comportamento dos aterros a longo prazo, que foi

efectuada com o objectivo de estimar a evolução dos assentamentos dos aterros no tempo e analisar se

o diferencial de rigidez introduzido pelo tratamento teria consequências negativas no comportamento

do aterro em serviço, nomeadamente a ocorrência de fendilhação.

No caso do aterro em estudo, e uma vez que o material utilizado para a sua construção foram as

margas, recorreu-se ao tratamento das mesmas para prevenir os problemas resultantes da molhagem

do aterro com as águas das chuvas. A solução encontrada para este problema foi o tratamento apenas

da camada superficial do aterro, sendo o núcleo do mesmo constituído por margas sem tratamento, de

acordo com a figura 2.1:

Figura 2.1 – Perfil tipo do aterro da A10 (Cenorgeo, 2002)

Page 24: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

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Desta forma, a camada exterior do aterro funciona como uma protecção para o núcleo, uma vez que as

margas tratadas com cal possuem uma baixa permeabilidade, dificultando assim a penetração de água.

Para além disso, o tratamento actua sobre o potencial expansivo das margas, minimizando desta forma

os assentamentos ou empolamentos da face exterior do aterro quando sujeito às acções atmosféricas.

Para o tratamento das margas usadas na construção das espaldas foi utilizada cal em pó, que foi

espalhada com um espalhador (figura 2.2) sobre solo previamente hidratado, sendo a mistura da cal

com o solo assegurada pela passagem de uma fresadora (figura 2.3). Para finalizar o processo era

passado um rolo compressor (figura 2.4) sobre o solo tratado, de modo a assegurar a compactação do

mesmo. Para garantir a homogeneidade da mistura da cal com o solo, era necessário, para além do

controlo da mistura através da passagem da fresadora, controlar também a espessura das camadas.

Ao ser adicionada ao solo, a cal vai reagir com os silicatos e aluminatos presentes no mesmo, portanto,

este tipo de tratamento só se justifica em solos que contenham este tipo de minerais, como é o caso das

margas e argilas. A cal (viva - óxido de cálcio, CaO - ou apagada - hidróxido de cálcio, Ca(OH)2), reage

com os minerais formando uma espécie de gel que endurece com o tempo de cura e que agrega as

partículas do solo, alterando a sua granulometria e diminuindo o seu índice de plasticidade. O aumento

da resistência do solo é explicado pelo endurecimento do gel, que no entanto só ocorre a médio prazo.

No início do processo ocorre a hidratação da cal, de acordo com a seguinte equação química:

(2.1)

Os iões de cálcio resultantes da hidratação da cal (Ca2+

) envolvem os minerais da argila (floculação)

devido às forças de atracção iónica, resultando daí a formação do referido gel. É nesta fase que as

partículas finas do solo são agregadas e ocorre a alteração da granulometria. Com o decorrer do tempo

de cura, ocorre a cimentação ou formação de pozolanas (silicatos e aluminatos de cálcio), sendo que

depois, a longo prazo, dá-se o fenómeno da carbonatação, originando o carbonato de cálcio, CaCO3, que

confere uma resistência adicional ao solo. Todo este processo depende da quantidade de água existente

para a hidratação da cal, da temperatura, do teor em cal e eventualmente da natureza dos minerais

argilosos existentes no solo.

Figura 2.2 – Espalhador Figura 2.3 – Fresadora

Figura 2.4 – Rolo compressor

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2.2 – Curva de Compactação

A compactação é um processo através do qual se consegue diminuir o volume de um solo, e

consequentemente o seu índice de vazios, enquanto o peso volúmico aparente seco aumenta. Este

processo consiste na aplicação de uma dada energia, que conduz aos efeitos descritos por expulsão de

ar existente nos vazios do solo, mantendo-se constante a quantidade de água e o volume das partículas

sólidas (Santos Pereira, 2005). Quando comparado com o solo não compactado, o solo compactado

possui uma maior resistência ao corte, e menores compressibilidade, expansibilidade e permeabilidade.

Tal deve-se ao menor índice de vazios, o que pode ser entendido como a existência de um maior

contacto entre as partículas sólidas que constituem o solo e, portanto, uma maior agregação do mesmo.

Uma forma de avaliar o estado de compactação de um solo consiste na análise da sua curva de

compactação, que relaciona o teor em água (w, equação 2.1) com o peso volúmico aparente seco (γd,

equação 2.2). As curvas de compactação dos solos argilosos tomam a forma da figura 2.5, e os seus

parâmetros podem ser calculados através das seguintes expressões:

(2.1)

(2.2)

Onde:

W – Peso total da amostra de solo;

V – Volume da amostra de solo;

Ww – Peso da quantidade de água na amostra de solo;

WS – Peso das partículas sólidas na amostra de solo;

γh– Peso volúmico aparente húmido.

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Na figura 2.5 está também representada a curva de saturação, que corresponde ao grau de saturação de

100 %. Uma vez que não é possível que um solo tenha 100 % dos seus vazios preenchidos com água, a

curva de compactação tende para a curva de saturação quando aumenta o teor em água, sem, no

entanto, a igualar, pois há sempre bolhas de ar que ficam aprisionadas no solo.

Um solo compactado tem uma microestrutura que corresponde a um dado arranjo dos agregados de

partículas de argila e outros minerais. As fotografias tiradas com microscópio electrónico (capítulo 4)

permitem observar este arranjo. Pode-se obter informação sobre a estrutura dos solos compactados

através da análise de porosimetrias por intrusão de mercúrio (MIP) que é uma técnica através da qual é

possível medir as dimensões dos vazios do solo. Nos solos argilosos compactados verifica-se que existem

poros de grandes dimensões, os macroporos, e poros mais pequenos, os microporos.

A curva de compactação possui um troço ascendente e outro descendente, à medida que o teor em

água aumenta. O ponto máximo corresponde ao teor em água óptimo e ao peso volúmico aparente

seco máximo. O troço ascendente corresponde ao lado seco, uma vez que é onde se situa a gama de

teores em água inferiores ao óptimo, e o troço descendente corresponde ao lado húmido, onde se

encontram os teores em água superiores ao óptimo. As diferenças entre a compactação do lado seco e

húmido estão patentes na estrutura, que se relaciona com a forma como os vazios se distribuem. Assim,

os solos compactados do lado seco possuem características diferentes, ao nível da sua microestrutura,

dos solos compactados do lado húmido; enquanto os primeiros dão origem a uma microestrutura

aberta ou floculada com uma quantidade significativa de macroporos, os segundos conduzem a uma

microestrutura dispersa ou fechada em que os macroporos são praticamente inexistentes (Lambe,

1958). Estas características estão representadas na figura 2.6.

Figura 2.5 – Curva de compactação e curva de saturação para solos

finos argilosos (Santos Pereira, 2005)

Page 27: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

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Comparando solos compactados com o mesmo peso volúmico seco mas dos dois lados da curva de

compactação, estas diferenças também se reflectem ao nível do seu comportamento, uma vez que um

solo compactado do lado seco apresenta uma menor compressibilidade, pois tem maior número de

macroporos, uma vez que a estrutura é aberta. A expansibilidade na saturação é também menor do que

a observada se o solo for compactado do lado húmido. Neste último caso o solo apresenta uma maior

compressibilidade, mas é mais sensível à molhagem e portanto é mais expansível.

A curva de compactação pode ser obtida através de um ensaio que tem origem nos trabalhos

desenvolvido por Proctor (1933), e que possui duas variantes: com energia de compactação leve,

designada por Proctor Normal (ASTM D698), ou com energia de compactação pesada, designada por

Proctor Modificado (ASTM D1557). O aumento da energia de compactação conduz a uma diminuição do

teor em água óptimo e a um aumento do peso volúmico aparente seco máximo, o que corresponde a

uma translação na curva de compactação para a esquerda e no sentido ascendente, conforme se ilustra

na figura 2.7.

Figura 2.7 – Influência da energia de compactação na curva de

compactação (Santos Pereira, 2005)

Figura 2.6 – Efeito da compactação no tipo de estrutura de solos

argilosos (Santos Pereira, 2005)

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Os aterros da A10 foram compactados com energia equivalente à da compactação pesada e do lado

húmido de modo a fragmentar o mais possível os blocos de marga. No entanto este processo também

induziu uma estrutura fechada que poderá ter consequências do ponto de vista da expansibilidade

conforme se discutirá na secção seguinte.

2.3 – Estrutura e Cura

Já foi dito que o tipo de estrutura dos solos argilosos está relacionado com o ramo da curva de

compactação e com a energia de compactação a que o solo foi submetido (Lambe, 1958, citado por

Santos Pereira, 2005). Solos compactados do lado seco da curva de compactação têm uma estrutura

aberta ou floculada, sem uma orientação concreta das partículas. Já a compactação feita do lado

húmido dá origem a estruturas mais fechadas, onde se observa uma disposição mais regular das

partículas. Em relação à energia de compactação, o aumento da mesma favorece o paralelismo entre as

partículas.

Para o mesmo índice de vazios, e sabendo que um solo compactado é não saturado, o tipo de estrutura

aberta é mais resistente e estável do que a estrutura fechada. Tal deve-se à existência de forças de

capilaridade entre as partículas, ou sucção. A sucção instalada em solos compactados no lado seco é

maior do que se compactado no lado húmido pois o teor em água na compactação é menor. Quando o

solo é compactado do lado húmido ocorrem forças repulsivas entre os agregados de argila, induzidas

pela água. A estrutura é fechada nestes casos precisamente para minimizar as forças repulsivas entre os

agregados. Na figura 2.8 é visível a maior resistência do solo quando compactado do lado seco.

Para o caso dos solos argilosos com tratamento, a sua estrutura é ainda influenciada pela existência de

cimentação. O “gel” resultante das reacções químicas que ocorrem após a adição da cal funciona como

uma espécie de cimento que agrega as partículas do solo entre si, conferindo uma maior resistência ao

mesmo.

A resistência com a cura está associada à criação de ligações químicas entre os minerais resultantes da

hidratação da cal e os minerais argilosos. Pode-se pensar que estes minerais introduzem uma espécie de

reforço estrutural, que na bibliografia é descrito como “bonding” (cimentação) (Alonso, 1998, entre

outros).

Figura 2.8 – Efeito da compactação na resistência de solos argilosos (Santos Pereira, 2005)

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Em oposição a um solo estruturado e a um solo cimentado, tem-se um solo desestruturado, onde não

existe uma estrutura das partículas, e que, portanto, possuí uma resistência inferior. Na figura 2.9

representa-se o andamento típico de um ensaio edométrico de um solo estruturado e um solo

desestruturado (“destructured soil from loosest possible state”), onde é claramente visível a existência

de um espaço entre as duas curvas (“structure permitted space”), que representa a resistência adicional

conferida pela estrutura; para a mesma tensão vê-se que o solo estruturado possui um maior índice de

vazios do que o solo desestruturado.

No caso das margas em estudo, verifica-se que a cimentação conferida pelo “gel” aumenta ao longo do

tempo de cura, o que explica o aumento de resistência verificado ao longo deste tempo, como será

tratado mais adiante. A figura 2.10 (Cotecchia and Chandler, 1997) mostra a comparação da resistência

ao corte e respectiva curva de cedência no espaço (p’, q) obtida em ensaios triaxiais efectuados em

materiais com níveis de cimentação decrescentes. Considerando que se pode tratar a cimentação

natural das rochas brandas do mesmo modo que a cimentação artificial induzida pelo tratamento, pode-

se admitir que a resistência e consequente tamanho da superfície de cedência irão aumentar com o

tempo de cura (pois a cimentação é crescente com a cura). Assim, considerando esta figura espera-se

que a cura confira uma resistência crescente.

Figura 2.9 – Efeito da estrutura na compressibilidade (Leroueil e Vaughan, 1990)

Figura 2.10 – Efeito da estrutura na resistência ao corte

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2.4 – Curva de Retenção

A capacidade ou tendência que os solos possuem para a absorção de água está relacionada com a

dimensão dos vazios do solo, logo, com a sua estrutura. Está associada ao teor em água do solo, e pode

ser medida através da sucção. A curva de retenção permite estabelecer uma relação entre o teor em

água de um solo e a sucção nele instalada, e pode ser calculada através da equação de Van Genuchten

(1980). Esta equação bem como uma pequena descrição do que é a curva de retenção são apresentadas

no capítulo 4.

2.5 – Permeabilidade

Tal como a capacidade de retenção de água, a permeabilidade de um solo é uma propriedade que está

relacionada com os seus vazios (essencialmente com os macroporos). Como se pode compreender

facilmente, quanto maiores forem estes vazios maior será o valor do coeficiente de permeabilidade.

Para o solo estudado e vários tempos de cura, conforme se verá, os vazios têm dimensões muito

reduzidas, pelo que a permeabilidade é baixa.

A permeabilidade pode ser medida durante a realização dos ensaios triaxiais ou indirectamente através

dos dados obtidos nos ensaios edométricos. O solo estudado neste trabalho possui valores de

permeabilidade muito baixos e optou-se pela sua medição indirecta recorrendo aos dados fornecidos

pelo ensaio edométrico utilizando-se para tal o “Método de Taylor”. Uma descrição mais pormenorizada

deste método e das expressões utilizadas para o cálculo da permeabilidade são apresentadas no

capítulo 5, na parte referente aos ensaios edométricos.

2.6 – Expansibilidade

A expansibilidade é a propriedade que quantifica o aumento de volume sofrido por um solo devido à sua

molhagem sob tensão constante e é uma característica importante para os solos finos argilosos. Na

molhagem dos solos essa variação de volume pode traduzir-se num empolamento ou expansão

(aumento de volume) sob tensão vertical baixa, ou num colapso (diminuição de volume) sob tensão

vertical elevada. Depende essencialmente do tipo de minerais presentes no solo e do carregamento a

que o solo está sujeito, mas também está relacionada com o tipo de compactação, a estrutura do solo e

a sucção instalada antes da molhagem.

No caso dos aterros o estudo dos fenómenos expansivos reveste-se de especial importância uma vez

que a ocorrência de deformações excessivas pode ser bastante prejudicial para o fim a que se destina o

aterro. Se os aterros não tiverem um sistema de drenagem e protecção adequados, podem surgir os

problemas mencionados devido à subida dos níveis freáticos e à molhagem por água das chuvas.

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3 – Características do Material Utilizado na

Construção dos Aterros da A10

3.1 – Características das Margas

3.1.1 – Análise Mineralógica

A análise mineralógica feita no LNEC com recurso à difracção de raios X (figura 3.1), demonstrou que

existe nas margas em estudo uma predominância de quartzo (Q), mica (M) e calcite (C), bem como de

feldspatos (F), caulinite (K) e clorite (Cl). Uma vez que os minerais argilosos identificados não são

expansivos, é de esperar que este solo apresente um baixo potencial expansivo.

3.1.2 – Análise Granulométrica

Na análise granulométrica apresentada na figura 3.2, onde estão representadas as curvas

granulométricas das margas antes e depois da compactação em obra, é possível verificar que o processo

adoptado diminui significativamente a dimensão média das partículas do solo, uma vez que a

percentagem média de finos (percentagem de material que passa no peneiro ASTM #200 – D=0,074

mm) aumentou de cerca de 48% para 75% após a compactação. Foi também definido em obra que a

percentagem de material grosso (percentagem de material retido no peneiro ASTM #3/4 – D=19,0 mm)

não poderia ser superior a 20%, o que se veio a verificar uma vez que se obteve um valor de cerca de

15% de material grosso após a compactação.

Figura 3.1 – Registo difratométrico das margas em estudo (Oliveira, 2006)

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A elevada percentagem de material fino após a compactação permite antever que mesmo sem o

tratamento com cal é possível melhorar-se as características das margas. Mesmo que ocorram

fenómenos de expansibilidade nos fragmentos, como são menores, as suas variações volumétricas terão

efeito reduzido no comportamento global. Não se efectuou a análise granulométrica após o tratamento

com cal.

3.2 – Características das Margas Antes e Após Tratamento com Cal

3.2.1 – Limites de Atterberg

O comportamento dos solos com uma elevada fracção fina (argilas, mais concretamente) depende

maioritariamente da sua composição mineralógica, ao contrário do que sucede com os solos grossos,

como as areias, em que o seu comportamento é influenciado fundamentalmente pela sua

granulometria. Como tal, uma das vantagens do conhecimento dos limites de Atterberg de um solo

argiloso, é o facto de não ser necessário conhecer a sua composição mineralógica para se ter uma ideia

qualitativa relativamente às suas características mecânicas, de permeabilidade e de trabalhabilidade,

podendo para tal recorrer-se à Classificação Unificada de Solos (Unified Soil Classification System –

USCS).

Os limites de Atterberg são o limite de liquidez, wL, que corresponde ao teor em água acima do qual o

solo se comporta como um líquido, e o limite de plasticidade, wP, correspondente ao teor em água

abaixo do qual o solo se comporta como uma rocha muito branda e friável. O índice de plasticidade, IP

(equação 3.1), define a gama de teor em água para o qual o solo exibe um comportamento plástico, o

que se relaciona com a máxima variação de volume do solo, ou seja, com a sua compressibilidade

(Maranha das Neves, 2004).

Figura 3.2 – Curva granulométrica do solo antes e após a compactação

(Maranha das Neves & Cardoso, 2006)

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(3.1)

Os limites de Atterberg foram determinados para o solo e o solocal após o tratamento, de acordo com a

norma ASTM D4318 e apresentam-se no quadro 3.1, bem como a classificação USCS.

Solo Solocal

Limite de liquidez, wL 37% 36%

Limite de plasticidade, wP 22% 29%

Índice de plasticidade, IP 15% 7%

Classificação USCS CL ML

Na figura 3.3 apresenta-se a localização do solo e solocal na carta de plasticidade que permitiu a sua

classificação.

Conclui-se então, de acordo com os dados do quadro 3.1 e da figura 3.3, que o solo passou de CL, argila

magra (baixa plasticidade) para ML, silte de baixa plasticidade, com a adição da cal. Como seria de

esperar, o índice de plasticidade diminui, pois a cal reagiu com os minerais argilosos criando novos

minerais com menor sensibilidade à água.

Quadro 3.1 – Limites e classificação USCS do solo e solocal

(Maranha das Neves & Cardoso, 2008)

Figura 3.3 – Carta de plasticidade do solo e solocal (Godinho, 2007)

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3.2.2 – Curva de Compactação

Com o objectivo de se determinar o ponto de teor em água óptimo, wópt, e máximo peso volúmico

aparente seco, γd,máx, foram efectuados ensaios de compactação em provetes de solo (Maranha das

Neves & Cardoso, 2006) e de solocal (Godinho, 2007), utilizando energia de compactação pesada de

modo a reproduzir as condições existentes em obra. Os dados relevantes obtidos com o processo de

compactação são apresentados no quadro 3.2. As curvas obtidas encontram-se nas figuras 3.4 e 3.5,

onde também é visível o intervalo de compactação prescrito no caderno de encargos da obra.

Solo (Maranha das Neves & Cardoso, 2006) Solocal (Godinho, 2007)

wópt (%) 11,8 11,5

γd,máx (KN/m3) 19,3 20,3

Figura 3.4 – Curva de compactação para o solo (Maranha das Neves & Cardoso, 2006)

Quadro 3.2 – Valores de wópt e γd,máx para o solo e solocal

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Figura 3.5 – Curva de compactação para o solocal (Godinho, 2007)

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4 – Alterações Estruturais Devidas à Adição da Cal e

ao Tempo de Cura

4.1 – Medição Directa

A adição da cal e o efeito do tempo de cura produzem alterações na estrutura do solo, que podem ser

observadas directamente através do microscópio electrónico e da análise da distribuição do tamanho

dos poros, conseguida por meio da porosimetria por intrusão de mercúrio, MIP (Mercury Intrusion

Porosimetry). Foram observadas no microscópio electrónico do Departamento de Materiais do Instituto

Superior Técnico (figuras 4.1, 4.2 e 4.3), amostras de solo, solocal logo após a cura, solocal com 1 mês de

cura e solocal com 7 meses de cura, e nos mesmos tipos de solo e solocal fez-se a MIP no Laboratório de

Geotecnia da Universidade Politécnica de Catalunha.

Figuras 4.2 – Aspecto do microscópio electrónico do

Departamento de Materiais do IST

Figura 4.3 – Aspecto do microscópio

electrónico do Departamento de

Materiais do IST, onde são visíveis as

amostras a observar

Figura 4.1 – Câmara do

microscópio electrónico

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18

Nas figuras 4.4 a 4.11, estão representados vários aspectos observados no microscópio electrónico, do

solo e do solocal para diferentes tempos de cura.

Nas amostras de solo sem tratamento (figuras 4.4 e 4.5), verifica-se a existência de uma matriz irregular

devido à presença de alguns cristais de maiores dimensões em conjunto com os restantes agregados

argilosos.

No caso do solocal logo após tratamento (figuras 4.6 e 4.7), é possível constatar que houve uma

diminuição dos vazios e uma homogeneização dos materiais argilosos, em relação ao solo sem

tratamento. Este acontecimento é explicado pelos produtos da reacção da cal com os minerais argilosos

presentes no solo, que preenchem os vazios do mesmo. Em particular, é visível uma zona com textura

diferente que se julga ser um agregado de minerais de cal.

Figura 4.4 – Amostra de solo, observada na

ampliação de 30 μm

Figura 4.6 – Amostra de solocal logo após

tratamento, observada na ampliação de 30 μm

Figura 4.5 – Amostra de solo, observada na

ampliação de 100 μm

Figura 4.7 – Amostra de solocal logo após

tratamento, observada na ampliação de 100 μm

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Em relação às imagens obtidas nas amostras de solocal com 1 mês (figuras 4.8 e 4.9) e 7 meses de cura

(figuras 4.10 e 4.11), verifica-se a formação de agregados com maiores dimensões e a existência de

espaços entre esses agregados, que constituem os poros de maiores dimensões (macroporosidade). Por

outro lado, assiste-se à diminuição do tamanho dos poros dos próprios agregados (microporosidade).

Este aumento da macroporosidade, e diminuição do tamanho da microporosidade com o tempo de

cura, está também patente nos resultados obtidos através da MIP (figura 4.12), onde se nota

claramente, nas curvas do solocal com 1 mês e 7 meses de cura, o aumento do número de poros de

maiores dimensões (em torno dos 10000 - 30000 nm), uma vez que passou a existir um novo pico nesta

zona, e a diminuição do tamanho e concentração da microporosidade (passou de valores de pico na

ordem dos 100 - 180 nm para cerca de 40 nm), visível na translação para a esquerda, e diminuição, do

maior pico das curvas.

Figura 4.8 – Amostra de solocal com 1 mês de

cura, observada na ampliação de 30 μm

Figura 4.10 – Amostra de solocal com 7 meses de

cura, observada na ampliação de 30 μm

Figura 4.9 – Amostra de solocal com 1 mês de

cura, observada na ampliação de 100 μm

Figura 4.11 – Amostra de solocal com 7 meses

de cura, observada na ampliação de 100 μm

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20

De notar ainda que as curvas do solo e do solocal logo após tratamento são relativamente semelhantes,

assim como as do solocal com 1 mês e 7 meses de cura, o que confirma as observações feitas no

microscópio electrónico. Entre as duas primeiras curvas, a principal diferença é a translação para a

esquerda da curva do solocal, visível principalmente na zona do pico, e que traduz a ligeira diminuição

do tamanho dos vazios atrás referida (no caso do solo, o pico toma o valor de 180 nm, enquanto no

solocal tem o valor de 100 nm). No caso das curvas de 1 mês e 7 meses de cura, não existem grandes

diferenças aparentes, talvez apenas o facto de o pico na zona da microporosidade, se situar ligeiramente

mais à esquerda no caso da curva de 7 meses de cura, confirmando assim a hipótese de o tamanho dos

poros diminuir com o tempo de cura. Esta observação pode explicar o aumento de resistência do

material com o tempo de cura, o que será discutido no capítulo 6.

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

1 10 100 1000 10000 100000 1000000

Distribuição

Diâmetro dos poros (nm)

SOLO

SOLOCAL

SOLOCAL- 1 Mês de cura

SOLOCAL- 7 Meses de cura

Figura 4.12 – Distribuição do tamanho dos poros, obtida através da porosimetria por intrusão de mercúrio

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21

4.2 – Medição Indirecta

4.2.1 – Curva de Retenção

A curva de retenção de um solo representa a relação entre o seu teor em água e a sucção nele instalada

(Fredlund & Rahardjo, 1993). Está associada à dimensão dos vazios do solo (que depende da sua

estrutura) e à sua sensibilidade à água. As curvas foram obtidas através da submissão de uma amostra

de solo a um ciclo de secagem e molhagem e medição dos níveis de sucção instalados, utilizando para

tal o equipamento WP4 (Water Dewpoint Potentiometer, figura 4.13) existente na Universidade

Politécnica da Catalunha, Barcelona.

Utilizou-se a equação de Van Genuchten (1980, equação 4.1) para o ajuste dos pontos experimentais.

(4.1)

Onde:

Sr – Grau de saturação;

s – Sucção;

P – Sucção correspondente à entrada do ar (a calibrar com os resultados experimentais);

λ – Constante (a calibrar com os resultados experimentais).

Figura 4.13 – Equipamento WP4 utilizado

para medição da sucção

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22

Os parâmetros P e λ foram calibrados de modo a que as curvas passassem pelos pontos obtidos

experimentalmente. Na tabela 4.1 apresentam-se os valores adoptados.

Secagem Molhagem

P (MPa) λ P (MPa) λ

Solo 0,31 0,23 0,18 0,23

Solocal após tratamento 0,51 0,25 0,08 0,20

Solocal 1 mês cura 1,82 0,33 0,20 0,26

Solocal 7 meses cura 2,00 0,33 0,33 0,26

Na figura 4.14 estão representados os ramos de secagem e molhagem das curvas de retenção obtidas

para o solo e diferentes tipos de solocal em estudo.

Quadro 4.1 – Parâmetros adoptados para a calibração das curvas de

retenção (Maranha das Neves & Cardoso, 2008)

0,01

0,10

1,00

10,00

100,00

1000,00

0 5 10 15 20

Sucção (MPa)

Teor em água (%)

Solo - Secagem

Solocal - SecagemSolocal 1 mês - SecagemSolocal 7 meses - SecagemSolo - MolhagemSolocal - MolhagemSolocal 1 mês - MolhagemSolocal 7 meses - Molhagem

Secagem

Molhagem

Figura 4.14 – Curvas de retenção para os diferentes tipos de solo em estudo

(adoptado de Maranha das Neves & Cardoso, 2008)

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23

Ao observar as curvas obtidas conclui-se que os ramos de secagem e molhagem para cada tipo de solo

não coincidem, o que pode ser explicado por histerese. Verifica-se também que as curvas dos diferentes

tipos de solo diferem significativamente entre si, sendo que os ramos de secagem (D) do solo e do

solocal são bastante semelhantes, assim como os ramos de secagem do solocal com 1 mês de cura e do

solocal com 7 meses de cura, o que está de acordo com a distribuição de vazios obtida através da MIP.

4.2.2 – Deformações Devidas a Embebição nos Edómetros

Para além da curva de retenção, outras formas de medir indirectamente as alterações na estrutura do

solo provocadas pela adição da cal, são a permeabilidade saturada e a expansibilidade, medidas na

embebição dos ensaios edométricos. A compressibilidade pode ser outra alternativa mas só se

comparada com a curva correspondente à consolidação do material reconstituído tal como foi descrito

no capítulo 2. Assim sendo, só faz sentido analisar estes valores depois de tratados os dados relativos

aos ensaios edométricos, pelo que os mesmos estão incluídos no capítulo 6.

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24

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25

5 – Ensaios de Laboratório

5.1 – Introdução

Para o estudo das características hidro-mecânicas das margas, era necessário o conhecimento de um

conjunto de dados provenientes de ensaios laboratoriais. Já existiam alguns dados de trabalhos

anteriores, no entanto foi necessário completar a informação existente através da realização de um

conjunto de novos ensaios. Foram então efectuados ensaios triaxiais, edométricos e de compressão

diametral (Brasileiros).

Realizaram-se ensaios edométricos em provetes de solocal com 7 meses de cura, um com o teor em

água da compactação e outro saturado. No ensaio saturado foi também possível determinar a

expansibilidade e a permeabilidade saturada. Relativamente aos dados anteriores, Lynce de faria (2007),

Godinho (2007) e Martins (2009), realizaram ensaios edométricos em provetes de solo sem tratamento,

solocal logo após a cura e solocal com 1 mês de cura, respectivamente.

Em relação aos ensaios triaxiais, foram realizados em provetes com 1 mês e 7 meses de tempo de cura,

uma vez que Lynce de Faria (2007) e Godinho (2007) tinham realizado estes ensaios em provetes de solo

sem tratamento e solocal logo após o tratamento, respectivamente.

Finalmente realizaram-se ensaios Brasileiros em provetes de solo, solocal logo após tratamento, solocal

com 1 mês de cura e solocal com 7 meses de cura, uma vez que não existiam dados anteriores relativos

à resistência à tracção do material.

5.2 – Preparação das amostras de solocal

Para a preparação do solocal, começa por se juntar ao solo uma percentagem de 3,5% das partículas

sólidas do solo, em cal, homogeneizando-se a mistura. Em seguida junta-se a água necessária para que

se atinja o teor em água pretendido (wopt+2%, mas cálculos feitos para wopt+3%, ou seja, 14,5%); De

notar ainda que a percentagem de água para o cálculo do teor em água é relativa às partículas sólidas

presentes na mistura, ou seja, partículas de solo mais partículas de cal, apesar de a quantidade de água

presente na cal ser desprezável. Após a adição da água, a mistura é homogeneizada, sendo depois

necessário deixar o solocal a repousar durante uma hora entre o fim da sua preparação e o início da

preparação dos provetes. Durante este tempo tapa-se a mistura com um pano húmido para que não

perca água por secagem.

Para a preparação dos provetes no molde de Proctor, utilizou-se a compactação pesada, (cinco camadas

com 25 pancadas em cada camada).

Para os provetes preparados no molde triaxial (7 centímetros de diâmetro e 14 centímetros de altura),

utilizou-se também a compactação pesada e as cinco camadas, mas com 10 pancadas por camada.

A cura dos provetes compactados foi feita em câmara húmida, tendo-se o cuidado de não deixar que

houvesse trocas de água com o exterior de modo a manter o teor em água da compactação.

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26

5.3 - Ensaios Edométricos

5.3.1 – Compressibilidade

Para a realização dos ensaios edométricos foi seguida a norma ASTM D 2435-96.

Efectuaram-se dois ensaios, utilizando o solocal com 7 meses de cura, um numa amostra de solocal com

o teor em água da compactação, que se irá designar por ensaio não saturado, e outro sobre uma

amostra de solocal saturado, que se designará por ensaio saturado.

Os provetes de solocal, de forma cilíndrica com 70 mm de diâmetro e 19 mm de altura, foram colocados

dentro do anel edométrico (figuras 5.1 e 5.2) que tem como função impedir deformações laterais do

provete durante o ensaio. Estas dimensões estão de acordo com as dimensões especificadas na norma,

ou seja, um diâmetro mínimo de 50 mm, uma altura mínima de 12 mm, e uma relação

diâmetro/espessura superior a 2,5. Seguidamente colocou-se cada provete na respectiva célula

edométrica (figura 5.3), sendo de referir que existem duas pedras porosas, respectivamente nas faces

superior e inferior dos mesmos, cuja função é servir de fronteira permeável e assim assegurar que o

percurso de drenagem é metade da altura do provete, tendo-se colocado também papel de filtro entre

o provete e a pedra porosa, também em ambas as faces, para impedir a migração de finos do solocal

para a pedra porosa. Finalmente, a célula edométrica foi colocada nos edómetros (figuras 5.4 e 5.5),

tendo-se depois aumentado os carregamentos, em intervalos de 24 horas, de acordo com a seguinte

trajectória de carregamento (valores em KPa):

Ensaio não saturado: 12,5 – 25 – 50 – 100 – 200 – 400 – 800 – 1000 – 400 – 12,5;

Ensaio saturado: 12,5 – 25 – 25 (saturação) – 50 – 100 – 200 – 400 – 800 – 1000 – 400 – 12,5.

De referir que no caso do ensaio saturado, a saturação foi feita por embebição com água destilada, de

maneira a que o provete de solocal ficasse totalmente submerso. Ao longo do ensaio foi-se

acrescentando água destilada em pequenas quantidades, devido à evaporação da mesma.

Os provetes foram pesados antes e depois do ensaio de modo a determinar, no caso seco, se tinha

havido secagem significativa e, no caso saturado, se a molhagem tinha de facto saturado o solo. A

balança utilizada apresenta-se na figura 5.6.

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27

Figura 5.1 – Colocação do solocal no anel Figura 5.2 – Aspecto dos dois anéis com os provetes

de solocal

Figura 5.3 – Montagem final antes da colocação

no edómetro

Figura 5.4 – Aspecto do edómetro utilizado

Figura 5.5 – Edómetro pronto para ser iniciado o

ensaio

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28

Seguidamente apresentam-se as curvas de compressibilidade obtidas para cada ensaio (figuras 5.7 e

5.8), onde se representa o índice de vazios no final de cada etapa de carregamento, ef (equação 5.1), em

função da tensão vertical no provete, σv. Para o cálculo de ef, é necessário calcular também a

deformação volumétrica, dε (equação 5.2), correspondente à variação da altura do provete, Δh, para

cada etapa de carregamento. Os valores de Δh obtêm-se a partir dos dados output do programa GDS,

que fez a aquisição de dados do ensaio, e os restantes valores são obtidos de acordo com as seguintes

expressões:

(5.1)

(5.2)

onde h0 representa a altura inicial do provete, e, representa o índice de vazios no início do ensaio e ei

representa o índice de vazios no início da etapa de carregamento. O valor de e é calculado através da

seguinte expressão (equação 5.3):

(5.3)

onde Gs representa o peso volúmico das partículas sólidas, γw, representa o peso volúmico da água (γw =

10 KN/m3) e γd representa o peso volúmico seco da amostra de solo. Por sua vez, o valor de γd, é

calculado da seguinte forma (equação 5.4):

Figura 5.6 – Pesagem do anel com o solocal para determinação de γh

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29

(5.4)

onde γh representa o peso volúmico húmido da amostra de solo, determinado como é especificado na

norma, ou seja, pesando o anel de aço com a amostra de solo (figura 5.6) e subtraindo a esse valor o

peso do anel e w representa o teor em água presente no solo no início do ensaio. Este procedimento

serviu para verificar que o peso volúmico do solocal se manteve igual ao peso volúmico da compactação

que, tal como referido, corresponde ao ponto wópt+ 2% da curva de compactação pesada (Godinho,

2007).

Os dados para os cálculos anteriores são apresentados no quadro 5.1:

γh (KN/m3) w γd (KN/m

3) Gs γw (KN/m

3) e h0 (mm)

21,2 0,13 18,76 2,7 10 0,439 19

Quadro 5.1 – Características do solocal ensaiado

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30

0,390

0,400

0,410

0,420

0,430

0,440

0,450

0,460

0,470

0,480

1 10 100 1000

Índice de vazios (e)

σ' (Kpa)

Ensaio não saturado

σ'y

0,410

0,415

0,420

0,425

0,430

0,435

0,440

0,445

0,450

0,455

1 10 100 1000

Índice de vazios (e)

σ' (Kpa)

Ensaio saturado

σ'y

Figura 5.7 – Diagrama σ’ – ef para o ensaio não saturado

Figura 5.8 – Diagrama σ’ - ef para o ensaio saturado

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31

Nas figuras 5.7 e 5.8, as rectas a vermelho e a verde são rectas tangentes à curva e o seu declive indica,

respectivamente, no último troço antes da descarga, o índice de compressibilidade, CC, e na zona da

descarga, o índice de expansibilidade, CS. Uma recta paralela à recta a verde é colocada a passar no

ponto com maior índice de vazios para ser uma envolvente da curva. Esta recta mais a recta a vermelho,

vão ser usadas para a determinação de tensão de cedência, σ’y, que é igual à abcissa do ponto de

intersecção de ambas as rectas. A tensão de cedência calculada pelo “Método de Casagrande” ou da

“Bissectriz” foi muito semelhante ao valor obtido com este método simplificado (Lambe & Whitman,

1969). Os valores da tensão de cedência e dos índices de compressibilidade e expansibilidade são os

seguintes:

Ensaio não saturado Ensaio saturado

σ'y (KPa) 142 141

CC 0,040 0,020

CS 0,005 0,007

No gráfico seguinte estão representadas as curvas de ambos os ensaios edométricos:

Pela comparação dos dois ensaios é possível constatar que se obtiveram valores de CS semelhantes, ou

pelo menos da mesma ordem de grandeza (tabela 5.2). Este resultado é semelhante ao que se obtém

em ensaios de solos argilosos compactados (Alonso et al, 1990). O valor de CC foi superior no caso não

saturado. Tal resultado não era esperado, pois, como a sucção aumenta a rigidez dos solos, no ensaio

não saturado devia ter-se medido um menor valor de CC (mais rígido que o solocal saturado). Este facto

pode explicar-se pelas condições de ensaio, pois pode não se ter aplicado tensões verticais

suficientemente elevadas. Se a tensão vertical aplicada fosse maior, poderia ser que o último troço do

ensaio saturado antes da descarga ficasse mais inclinado, o que aumentaria o valor de CC deste ensaio.

Uma explicação alternativa é que o solo tratado pode ter rigidez de tal modo elevada após a cura que

0,390

0,395

0,400

0,405

0,410

0,415

0,420

0,425

0,430

0,435

0,440

1 10 100 1000

Índice de vazios (ef)

σ' (KPa)

Ensaio não saturado

Ensaio saturado

Quadro 5.2 – Valores de σ’y, CC e CS para ambos os ensaios

Figura 5.9 – Sobreposição dos dados dos dois ensaios edométricos

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32

não se consegue medir correctamente as suas características mecânicas aplicando níveis de

carregamento adoptados para ensaios tradicionalmente efectuados em provetes de solo.

A comparação dos valores da tensão de cedência dos dois ensaios, no entanto, já segue o resultado que

se esperava. O valor para o solocal não saturado foi ligeiramente superior ao ensaio saturado. Em solos

sem tratamento constata-se que a tensão de cedência aumenta com a sucção, o que se traduz no

aumento da dimensão do espaço elástico. Para solos com tratamento não há motivo para pensar que o

comportamento será diferente.

5.3.2 – Expansibilidade e permeabilidade saturada

A expansibilidade corresponde à deformação volumétrica exibida pelo solo devido à molhagem. Essa

variação, expressa através de δεvol, pode ser aumento de volume (empolamento) ou diminuição

(colapso). Como no ensaio edométrico o provete está confinado lateralmente (deformação lateral,

δεhoriz=0), e δεvol = δεvert + 2δεhoriz, a variação de volume é medida através da variação da sua altura, h

(deformação vertical, δεvert). A expansibilidade é expressa em percentagem e é calculada de acordo com

a seguinte expressão:

(5.5)

Onde:

δεV – Expansibilidade, expressa em percentagem;

dh – Variação da altura do provete devido à saturação;

h0 – Altura inicial do provete.

Neste trabalho considera-se que um valor positivo para a expansibilidade corresponde a um

empolamento e, portanto, um valor negativo equivale a um colapso.

No caso do ensaio saturado determinou-se também o índice de compressibilidade elástica para

variações de sucção, κS, medido na embebição do ensaio saturado sob tensão vertical constante de 25

KPa e calculado de acordo com a equação 5.6:

(5.6)

onde δεSV representa a deformação volumétrica do provete na saturação (equação 5.7), sf representa a

sucção no final da embebição, si representa a sucção antes da embebição e patm representa a pressão

atmosférica, de valor igual a 0,1 MPa. sf = 0 pois o provete está saturado no final, e si = 85 MPa tendo-se

chegado a este valor utilizando uma lei psicométrica e considerando um valor de humidade relativa do

ar do laboratório de 55%.

A equação 5.7, para o cálculo de δεSV, é a seguinte:

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33

(5.7)

onde Δe representa a variação do índice de vazios e toma o valor de 0,006, e ei representa o índice de

vazios no início do ensaio e toma o valor de 0,439.

Posto isto, chegou-se a um valor de κS de 0,0006.

Determinou-se também, para este ensaio, o coeficiente de permeabilidade, k, através do “Método de

Taylor”. Para tal, analisou-se cada etapa de carregamento, através do traçado dos respectivos gráficos

(√t; Δh), e determinou-se o instante de tempo no qual ocorreu 90% da consolidação dessa etapa

(Ū=90%), t90, da seguinte forma (“Método de Taylor”, figura 5.10):

1º - Traçado da recta R1 tangente ao troço mais inclinado do gráfico e identificação do seu declive, m, e

da ordenada na origem, a0;

2º - Traçado da recta R2 que tem ordenada na origem a0 e declive m/1,15;

3º - Identificação do ponto C, que é a intersecção da recta R2 com a curva;

4º - Identificação de t90, que é o tempo no ponto C.

Figura 5.10 – Esquema representativo do “Método de Taylor”

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34

Depois da determinação do valor de t90, calculou-se o coeficiente de consolidação, cV, através da

seguinte expressão (equação 5.8):

(5.8)

onde TV = 0,848 para Ū=90%, h é metade da altura do provete no início desse troço de carregamento e

t = t90.

Depois determinou-se a compressibilidade volumétrica, mV, para cada troço de carregamento, através

da seguinte expressão (equação 5.9):

(5.9)

onde ei representa o índice de vazios no início do troço de carregamento e aV representa o declive do

troço de carregamento no gráfico (σ; e) do ensaio.

Finalmente calculou-se o coeficiente de permeabilidade, k, para cada etapa de carregamento, através da

seguinte expressão (equação 5.10):

(5.10)

onde γw é o peso volúmico da água (γw = 10 KN/m3).

De referir que este procedimento só foi efectuado para os troços de carregamento após a saturação.

Todos os dados anteriores estão sintetizados na seguinte tabela:

Troço σV (KPa) t90 (s) h (m) cV (m2/s) ei aV (KPa

-1) mV (KPa

-1) k (m/s)

4 50 2,49 0,009469 3,05E-05 0,434 -6,36E-05 4,44E-05 1,36E-08

5 100 3,16 0,009458 2,40E-05 0,433 -5,76E-05 4,02E-05 9,64E-09

6 200 4,12 0,009439 1,84E-05 0,430 -4,39E-05 3,07E-05 5,64E-09

7 400 3,21 0,00941 2,34E-05 0,425 -2,46E-05 1,73E-05 4,04E-09

8 800 2,56 0,009378 2,91E-05 0,420 -1,51E-05 1,07E-05 3,10E-09

9 1000 2,49 0,009338 2,97E-05 0,414 -9,09E-06 6,43E-06 1,91E-09

Quadro 5.3 – Dados para o cálculo do coeficiente de permeabilidade

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35

0

2E-09

4E-09

6E-09

8E-09

1E-08

1,2E-08

1,4E-08

1,6E-08

0,41 0,415 0,42 0,425 0,43 0,435 0,44

k (m/s)

Índice de vazios (e)

Figura 5.11 – Coeficiente de permeabilidade de cada troço de carregamento em

função do respectivo índice de vazios

Seguidamente apresenta-se também um gráfico onde se representa o coeficiente de permeabilidade de

cada troço em função do respectivo índice de vazios (coluna ei do quadro 5.3, uma vez que se escolhe o

índice de vazios no início de cada troço como representativo do mesmo):

O coeficiente de permeabilidade intrínseco pode ser determinado a partir do coeficiente de

permeabilidade de Darcy saturado, através da equação 5.11, onde k representa o coeficiente de

permeabilidade saturado medido com água, μw representa a viscosidade da água e toma o valor de

1x10-6

KPa.s, e γw representa o peso volúmico da água e toma o valor de 10 KN/m3. Este parâmetro

refere-se a uma área equivalente por onde um dado fluido pode percolar num meio poroso. O seu uso

em alternativa ao coeficiente de permeabilidade de Darcy, tem a vantagem de não depender das

características desse fluido.

(5.11)

Os valores obtidos para kint são os seguintes:

Troço kint (m2)

4 13,6E-16

5 9,64E-16

6 5,64E-16

7 4,04E-16

8 3,10E-16

9 1,91E-16

Quadro 5.4 – Coeficiente de permeabilidade intrínseco

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36

0

0,41 0,415 0,42 0,425 0,43 0,435 0,44

kint (m2)

Índice de vazios (e)

Coeficiente de permeabilidade intrínseco

5E-16

10E-16

15E-16

Da comparação entre os gráficos anteriores referentes aos coeficientes de permeabilidade, constata-se,

tal como esperado, que esta diminui com a diminuição do índice de vazios. Os valores obtidos são da

ordem de grandeza dos valores medidos em solos argilosos (Lambe & Whitman, 1969).

Figura 5.12 – Coeficiente de permeabilidade intrínseco de cada troço de

carregamento em função do respectivo índice de vazios

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37

5.4 – Ensaios Triaxiais

5.4.1 – Montagem dos Provetes

O ângulo de resistência ao corte é um dos principais parâmetros de resistência dos solos, necessário

para caracterizar o seu comportamento drenado ou para cálculos de estabilidade em projecto de uma

estrutura geotécnica, como é o caso dos aterros. Como tal, efectuaram-se ensaios triaxiais consolidados

não drenados (CU) com o objectivo de se determinar o ângulo de resistência ao corte no pico e no

estado crítico do solocal em estudo, para os tempos de cura de 1 mês e 7 meses. Para cada tempo de

cura ensaiaram-se três provetes, com diferentes tensões de consolidação: 50 KPa, 100 KPa e 150 KPa.

Para a realização dos ensaios seguiu-se o procedimento descrito na norma ASTM D 4767-95. No

processo de montagem dos ensaios, envolveram-se os provetes - que estiveram na câmara húmida

durante o tempo de cura de modo a que o seu teor em água não fosse alterado - com uma membrana

de látex, em vácuo, e colocou-se uma pedra porosa no topo e na base dos provetes de modo a permitir

a drenagem. Entre a pedra porosa e o provete colocou-se papel de filtro de modo a impedir a intrusão

de finos de solocal na pedra porosa. Depois colocaram-se duas peças metálicas na base e no topo do

provete, que servem de suporte e possuem aberturas para a ligação de tubos que permitem a entrada e

saída de água do interior do provete, e selou-se a membrana de látex com dois O-rings de borracha na

base, e dois no topo. Colocou-se o provete na câmara triaxial e encheu-se a mesma com água, tendo-se

depois iniciado a primeira fase do ensaio, a saturação. As pressões na câmara, Radial Pressure, e no

interior do provete, Back Pressure, são controladas e impostas por dois controladores GDS, um ligado à

câmara e outro ao provete através de um tubo no topo e outro na base. Existe ainda uma outra saída na

base do provete que permite medir a pressão intersticial instalada. A razão pela qual o GDS que controla

a Back Pressure está ligado ao topo e à base do provete, e não só ao topo ou só à base, é porque desta

maneira os incrementos de pressão são transmitidos ao provete nos dois extremos permitindo assim a

sua saturação mais rápida e homogénea. De referir ainda que na base existe uma terceira saída que

permite a drenagem da água intersticial, e que está ligada a uma válvula que é aberta ou fechada

consoante o ensaio é drenado ou não drenado. Em relação à montagem resta ainda referir que a tensão

deviatórica é aplicada por uma prensa hidráulica, e o seu valor é medido por uma célula de carga

colocada no topo do provete. Existe ainda, também no topo da câmara, um LVDT que mede a

deformação longitudinal sofrida pelo provete quando se aplica a tensão deviatórica. A figura 5.13

representa a montagem do ensaio triaxial utilizada.

Page 58: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

38

Após finalizada a montagem do ensaio deu-se início, tal como referido, à saturação. As fases seguintes

são a consolidação e o corte.

A saturação do provete foi feita através da aplicação de uma Back Pressure que permitiu a entrada de

água no solocal, compensada pelo aumento da Radial Pressure de modo a que esta fosse sempre

superior à Back Pressure para que as tensões efectivas não se anulassem. Garantiu-se sempre uma

diferença entre a Radial Pressure e a Back Pressure inferior à tensão mínima de consolidação adoptada

para os provetes. O grau de saturação foi medido através da expressão de Skempton (equação 5.11),

que traduz a variação de pressão da água intersticial de um solo em função de um aumento da pressão

exterior:

(5.12)

Figura 5.13 – Montagem do ensaio triaxial

Entrada de água

na câmara

Entrada de água

na base do

provete

Entrada de

água no topo

do provete

Célula de carga

Page 59: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

39

Para pequenos acréscimos de tensão isotrópica, Δσ1=Δσ3, ou seja, o termo A(Δσ1-Δσ3) toma o valor nulo,

portanto, a equação 5.11 reduz-se à equação 5.12:

(5.13)

Nos casos em que o solo está saturado, o parâmetro B de Skempton tomará o valor unitário, uma vez

que todo o acréscimo de pressão isotópica exterior é absorvido pela água intersticial. Esta formulação,

no entanto, é válida apenas para os casos em que se considera que a rigidez da água é muito superior à

rigidez do esqueleto sólido do solo. No caso do solocal, para se determinar o valor do parâmetro B

fecharam-se as válvulas de entrada e saída de água no provete e aplicou-se um aumento de pressão na

câmara. Passado poucos minutos mediu-se o aumento de pressão intersticial provocado pela variação

da pressão na câmara, tendo-se verificado que o parâmetro B de Skempton tomava sempre valores

muito inferiores a 1. Uma possível explicação para este facto é que o tratamento com cal confere ao

solo uma rigidez de tal forma elevada, que a mesma se torna semelhante à rigidez da água. Assim,

torna-se inviável a utilização da expressão de Skempton para aferir o grau de saturação do solocal, uma

vez que os acréscimos de pressão exteriores são também absorvidos pelo esqueleto sólido. Como tal, a

saturação foi controlada através do volume de água que entrava no provete tendo-se considerado como

concluída esta fase quando o mesmo estabilizava.

Em relação à fase de consolidação, esta permite definir o ponto de partida da trajectória de tensões e

do estado da fase de corte, nomeadamente o estado de tensão e o índice de vazios. No caso em estudo

apenas se controlou o estado de tensão pois não se mediram as variações de volume dos provetes

(medido indirectamente através das variações de volume da câmara). Os três provetes de cada tempo

de cura foram consolidados isotropicamente para as tensões referidas no início: 50 KPa, 100 KPa e 150

KPa. Para tal, aplicou-se uma tensão na câmara de tal forma que a diferença entre a Radial Pressure e a

Back Pressure fosse igual à tensão de consolidação pretendida, tendo-se mantido a válvula de drenagem

aberta para que pudessem haver variações de volume por saída de água. A razão para se terem

adoptado três tensões de consolidação diferentes é que desta forma se obtêm três círculos de Mohr

distintos que permitem o traçado da envolvente de rotura de Mohr-Coulomb utilizando três pontos. As

diferentes tensões simulam uma situação real de material recolhido a diferentes profundidades. A fase

de consolidação durou 24 horas, tempo considerado suficiente para aplicação das tensões efectivas.

O corte dos provetes foi feito através da aplicação de uma tensão deviatórica, σ1 − σ3, tendo-se para tal

fechado as válvulas de drenagem e de entrada de água no provete. Uma vez que o ensaio é não

drenado, os valores de tensão obtidos são tensões totais. Como existe um medidor de pressão

intersticial, para se obterem as tensões efectivas basta subtrair o valor da pressão intersticial ao valor da

tensão total. Nas figuras 5.14 a) e b) podem observar-se dois aspectos de um dos provetes ensaiados,

logo após o corte, onde se identifica claramente a superfície de rotura. Na figura b) é possível observar

que o solo está saturado comprovando que o método adoptado para verificar o grau de saturação é

adequado. O valor do teor em água na desmontagem comprova igualmente a saturação completa.

Page 60: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

40

a) b)

Após os ensaios procedeu-se ao tratamento dos dados tendo-se determinado os ângulos de resistência

ao corte, φ’, no estado de pico e no estado crítico, para os dois tempos de cura. De realçar que no caso

do solocal com 7 meses de cura, ocorreu um erro de medição no ensaio com tensão de consolidação de

50 KPa, pelo que os valores deste ensaio não puderam ser contabilizados. Os resultados obtidos

apresentam-se sintetizados no quadro 5.5, sendo posteriormente desenvolvidos nos pontos 5.4.1 e

5.4.2.

Tempo de cura φ’pico φ'crítico

1 Mês 61,90 39,5

0

7 Meses 70,60 42,2

0

Ao analisar estes valores, verifica-se que os mesmos são extremamente elevados, principalmente

quando comparados com os do solo sem tratamento e solocal logo após tratamento (valores

apresentados no capítulo 6). Por outro lado, os ângulos de resistência aumentaram com o tempo de

cura, tal como era esperado.

Figura 5.14 – Provetes após o corte: a) com membrana; b) sem membrana

Quadro 5.5 – Valores obtidos para os ângulos de resistência ao corte no

pico e estado crítico, para os dois tipos de solocal

Page 61: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

41

0

400

800

1200

1600

0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12

P/A (KPa)

δεvert

-100

-80

-60

-40

-20

0

20

40

0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12

Δu (KPa)

δεvert

5.4.2 – Solocal com 1 Mês de Cura

Na figura 5.15 está representado o gráfico (δεvert; P/A) para o ensaio de solocal com 1 mês de cura com

uma tensão de consolidação de 50 KPa (1M50), onde se mostra a tensão de pico, enquanto na figura

5.16 tem-se o gráfico (δεvert; Δu) para o mesmo ensaio, onde se evidencia o comportamento dilatante

esperado por ter havido um pico bem marcado. A partir da análise destes gráficos determinou-se o pico

e o estado crítico, sendo que o pico é facilmente identificável (ponto correspondente a P/A máximo) e o

estado crítico considerou-se como sendo o último ponto do gráfico, desde que o mesmo corresponda a

uma deformação vertical superior a 10% (ASTM D4767), o que se veio a verificar em todos os ensaios.

Admitiu-se que se tinha atingido o estado crítico em todos os ensaios após a análise da estabilização das

pressões intersticiais para as mesmas deformações. Os mesmos gráficos para os restantes ensaios

apresentam-se em anexo.

Figura 5.15 – Dados do ensaio 1M50

Figura 5.16 – Dados do ensaio 1M50

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42

Nas tabelas 5.6 e 5.7 apresentam-se os dados obtidos para o estado de pico e estado crítico do solocal

com 1 mês de cura.

Estado de pico

σconsolidação (KPa) σ3 (KPa) σ1 (KPa) u (KPa) σ'3 (KPa) σ'1 (KPa)

50 52,1 1600,8 30,0 22,1 1570,8

100 100,1 1899,3 -21,9 122,0 1921,2

150 172,0 2134,3 -14,0 186,0 2148,3

Estado crítico

σconsolidação (KPa) σ3 (KPa) σ1 (KPa) u (KPa) σ'3 (KPa) σ'1 (KPa)

50 50,4 665,2 -96,6 147,0 761,8

100 101,6 812,8 -119,4 221,0 932,2

150 176,4 1346,5 -162,6 339,0 1509,1

Nas figuras 5.17 e 5.18 encontram-se as representações gráficas dos dados das tabelas 5.6 e 5.7, ou seja,

as circunferências de Mohr de cada ensaio, assim como o traçado da recta da envolvente de rotura

Mohr-Coulomb que se forçou passar na origem.

Quadro 5.6 – Dados obtidos para o estado de pico do solocal com 1 mês de cura

Quadro 5.7 – Dados obtidos para o estado crítico do solocal com 1 mês de cura

-1000

-500

0

500

1000

0 500 1000 1500 2000 2500

Ten

são

de

co

rte

(K

Pa)

Tensão efectiva (KPa)

Estado de pico

1M50

1M100

1M150

c'

φ'picoφ'

Figura 5.17 – Círculos de Mohr no estado de pico para o solocal com 1 mês de cura

Page 63: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

43

A recta da envolvente de rotura foi forçada a passar na origem do referencial, e tentou-se que fosse o

mais tangente possível aos três círculos de Mohr correspondentes a cada ensaio. Uma vez que se trata

de um solo com cimentação artificial seria de esperar que tivesse coesão, ou seja, c’≠0. A recta tangente

aos três círculos e com c’≠0 também se apresenta na figura 5.17. Os seus parâmetros são φ’=33,70 e

c’=406,3 KPa. O facto de c’ ser diferente de zero indica, para além de o solo ter coesão que poderá não

ser apenas aparente, que existe resistência à tracção não desprezável (dada por c’.cotgφ’=609,2KPa),

conforme se verá na apresentação dos resultados dos ensaios Brasileiros.

Tem que se impôr que a recta da envolvente passe na origem para se obter um valor de φ’pico superior a

φ’crítico. Tendo isto em conta, facilmente se observa que no caso do estado de pico, os dados obtidos não

permitiram uma aproximação tão correcta da envolvente de rotura de Mohr-Coulomb como no caso do

estado crítico; no estado de pico obteve-se um valor de R2 de 0,65, enquanto no estado crítico

conseguiu-se um valor de 0,99 para o mesmo parâmetro. Eventualmente poder-se-iam ter desprezado

os resultados de um dos ensaios de modo a conseguir uma melhor aproximação, no entanto, adoptando

esse método, a aproximação não sofreu melhorias significativas. O valor do ângulo de resistência ao

corte também não se alterou significativamente, tendo-se portanto optado por utilizar os resultados de

todos os ensaios. Posto isto, obteve-se um valor do ângulo de resistência ao corte de pico, φ’pico, de

61,90, e do ângulo de resistência ao corte no estado crítico, φ’crítico, de 39,5

0. Tal como esperado, o valor

do pico é muito superior ao estado crítico. Sendo a dilatância ψ = φ’pico - φ’crítico, obtém-se ψ = 22,40. Este

valor elevado está de acordo com o pico marcado observado nos três ensaios e com a formação de uma

superfície de rotura marcada claramente no provete.

-600

-400

-200

0

200

400

600

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600

Ten

são

de

co

rte

(K

Pa)

Tensão efectiva (KPa)

Estado crítico

1M50

1M100

1M150

Figura 5.18 – Círculos de Mohr no estado crítico para o solocal com 1 mês de cura

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44

5.4.3 – Solocal com 7 Meses de Cura

Os gráficos (δεvert; P/A) e (δεvert; Δu) para os ensaios de solocal com 7 meses de cura apresentam-se em

anexo, uma vez que já foi explicado anteriormente como se identificou o pico e o estado crítico.

Devido a um erro de medição não foi possível utilizar os dados do ensaio de solocal com 7 meses de

cura consolidado a 50 KPa, pelo que os dados dos restantes dois ensaios se apresentam nas tabelas 5.8

(pico) e 5.9 (estado crítico).

Estado de pico

σconsolidação (KPa) σ3 (KPa) σ1 (KPa) u (KPa) σ'3 (KPa) σ'1 (KPa)

100 99,9 2965,2 32 67,9 2933,2

150 151,5 3240,8 41,5 110 3199,3

Estado crítico

σconsolidação (KPa) σ3 (KPa) σ1 (KPa) u (KPa) σ'3 (KPa) σ'1 (KPa)

100 101,2 1421,5 -102,8 204 1524,3

150 163,5 1255,4 -103,5 267 1358,9

Os dados das tabelas 5.8 e 5.9 encontram-se representados graficamente nas figuras 5.19 e 5.20.

Quadro 5.8 – Dados obtidos para o estado de pico do solocal com 7 meses de cura

Quadro 5.9 – Dados obtidos para o estado crítico do solocal com 7 meses de cura

-1600

-800

0

800

1600

0 800 1600 2400 3200 4000

Ten

são

de

co

rte

(K

Pa)

Tensão efectiva (KPa)

Estado de pico

7M100

7M150

c'

φ'picoφ'

Figura 5.19 – Círculos de Mohr no estado de pico para o solocal com 7 meses de cura

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45

Da observação dos gráficos anteriores, facilmente se percebe que para o estado de pico se conseguiu

uma boa aproximação para a envolvente de rotura de Mohr-Coulomb (R2 = 0,91), tendo-se obtido um

valor de φ’pico de 70,60. Caso a recta envolvente não seja forçada a passar na origem obtém-se φ’=45,4

0

e c’=533,3 KPa. O valor de c’ para 7 meses de cura (533 KPa) é superior ao medido para 1 mês de cura

(406 KPa), tal como seria de esperar.

No entanto, no caso do estado crítico verifica-se que os resultados não são coerentes, uma vez que o

ensaio consolidado a 150 KPa deveria atingir um valor de σ’1 superior ao ensaio com uma tensão de

consolidação de 100 KPa, como acontece no pico (basicamente, os círculos não deveriam estar um

dentro do outro). Uma possível justificação para este acontecimento poderá estar na menor

heterogeneidade das amostras, uma vez que se existirem, por exemplo, grãos de maiores dimensões

com uma maior resistência no provete de 100 KPa, isso poderá interferir com a geometria da superfície

de cedência, criando resistência adicional ao deslizamento nesta superfície. Outra justificação plausível

é o facto de a superfície de cedência intersectar o topo ou a base do provete, interferindo com a

transmissão do carregamento axial à amostra, não permitindo um correcto deslizamento das metades

superior e inferior do provete entre si, durante a formação da superfície de rotura e ainda no momento

da cedência. Se se tivessem os dados do ensaio consolidado a 50 KPa, poder-se-iam desprezar os

resultados de um dos ensaios anteriores e ficar-se-iam ainda com dois círculos de Mohr para traçar a

envolvente de rotura. Neste caso, desprezando um dos ensaios, fica-se apenas com um círculo de Mohr,

no entanto, como se está a forçar a passagem da envolvente de rotura pela origem do referencial,

sobram ainda dois pontos para o traçado da recta: a origem do referencial e o ponto de tangencia ao

círculo de Mohr escolhido. Seguindo este método, para o ensaio de 100 KPa obteve-se um valor de

-800

-400

0

400

800

0 400 800 1200 1600

Ten

são

de

co

rte

(K

Pa)

Tensão efectiva (KPa)

Estado crítico

7M100

7M150

Figura 5.20 – Círculos de Mohr no estado crítico para o solocal com 7 meses de cura

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46

φ’crítico de 49,80, enquanto para o ensaio de 150 KPa, o valor obtido foi φ’crítico = 42,2

0. Optou-se então

por considerar o valor do ensaio de 150 KPa, por estar do lado da segurança, estando representada na

figura 5.20 a recta da envolvente de rotura escolhida. Para estes valores, ψ = φ’pico - φ’crítico = 28,40, que é

da mesma ordem de grandeza, mas ligeiramente superior ao valor obtido para 1 mês de cura.

De realçar a escala em causa nestes ensaios: atingiram-se tensões altíssimas, na ordem dos 3200 KPa,

que não são usuais para solos (para as tensões de consolidação adoptadas). Este nível de tensões é

explicado devido ao tratamento do solo com cal.

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47

5.5 – Ensaios de Compressão Diametral

Para a realização dos ensaios de compressão diametral (ensaios Brasileiros), foi seguida a norma ASTM

D3967.

Foi analisada a resistência à tracção de quatro casos diferentes: solo sem tratamento, solocal logo após

o tratamento, solocal com 1 mês de cura e solocal com 7 meses de cura, para estudar a evolução desta

propriedade com o tempo de cura. Estes ensaios foram efectuados em provetes não saturados, uma vez

que em obra, o solo se encontra nestas condições.

Para tal, compactaram-se quatro provetes, referentes a cada tipo de solo, em moldes triaxiais, que

posteriormente foram cortados em quatro discos cada um, com as dimensões especificadas na norma,

ou seja, discos circulares com uma relação espessura/diâmetro entre 0,2 e 0,75. Após o corte (figura

5.21), as superfícies dos discos foram regularizadas, tendo-se depois submetido cada um ao ensaio de

compressão diametral, com o equipamento existente no Laboratório de Construção (figura 5.22). O

corte dos discos foi também efectuado neste laboratório. De referir também que se mediram os

diâmetros e espessuras de cada amostra a ensaiar em quatro pontos diferentes, tendo-se depois

utilizado os valores médios para o cálculo da resistência à tracção, através da expressão que consta na

norma e que se apresenta também neste trabalho:

(5.14)

Sendo:

σt – valor da tensão de resistência à tracção;

P – valor da força indicada no aparelho do ensaio, para o qual ocorre a rotura do provete;

L – espessura do provete;

D – diâmetro do provete.

Determinaram-se também os teores em água de cada provete ensaiado, para se confirmar que as suas

características se mantiveram após a compactação, uma vez que a secagem dos provetes aumentaria a

sucção, o que por sua vez introduziria resistência à tracção. Nas figuras 5.23 e 5.24 encontram-se o

instrumento utilizado para a medição das dimensões dos provetes (craveira), e os provetes prontos para

serem ensaiados:

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48

Figura 5.21 – Pormenor do corte dos provetes

Figura 5.22 – Equipamento utilizado para a realização dos ensaios

Figura 5.23 – Medição das dimensões dos provetes

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49

Os resultados obtidos encontram-se sintetizados nas tabelas 5.10 a 5.13, onde φ representa o diâmetro

dos provetes, L representa a espessura dos provetes, P representa a força registada na máquina quando

o provete atinge a cedência, σt representa a tensão de resistência à tracção, e ω representa o teor em

água dos provetes:

Solo (sem tratamento)

Provete φ (mm) L (mm) P (KN) σt (KPa) ω (%)

1

70,05 34,72

0,35 90,53 12,48

70,10 34,62

70,10 34,60

69,90 34,62

média 70,04 média 34,64

2

70,10 33,90

0,31 83,06 12,59

70,10 33,88

70,10 33,90

70,10 33,90

média 70,10 média 33,90

3

70,05 33,92

0,33 88,28 12,53

70,05 34,10

70,10 33,92

70,10 33,90

média 70,08 média 33,96

4

70,10 30,80

0,30 88,57 12,37

70,30 31,05

70,50 30,75

70,45 30,85

média 70,34 média 30,86

Figura 5.24 – Provetes antes do ensaio (excepto provetes de solocal com 7

meses de cura, ensaiados posteriormente)

Quadro 5.10 – Solo sem tratamento

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50

Solocal (após tratamento)

Provete φ (mm) t (mm) F (KN) σt (KPa) ω (%)

1

70,38 34,40

0,39 103,21 11,86

70,28 34,20

70,30 34,30

70,30 34,30

média 70,32 média 34,30

2

70,20 28,60

0,34 106,90 12,14

70,20 28,40

70,20 28,50

70,20 28,86

média 70,20 média 28,59

3

70,20 31,60

0,36 101,84 12,29

70,16 32,00

70,16 31,80

70,20 31,80

média 70,18 média 31,80

4

70,20 27,70

0,28 93,07 11,88

70,18 27,60

70,20 27,80

70,20 27,60

média 70,20 média 27,68

Quadro 5.11 – Solocal após tratamento

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51

Solocal 1 mês cura

Provete φ (mm) t (mm) F (KN) σt (KPa) ω (%)

1

70,50 36,15

0,69 173,08 12,48

70,25 36,05

70,30 36,00

70,35 36,10

média 70,35 média 36,08

2

70,55 32,65

0,99 271,23 12,67

70,65 32,85

70,50 32,80

70,35 33,25

média 70,51 média 32,89

3

70,50 33,50

0,64 171,97 12,32

71,10 33,45

70,65 33,60

70,65 33,45

média 70,73 média 33,50

4

70,40 31,15

0,60 173,81 12,57

70,55 31,15

70,45 31,10

70,55 31,10

média 70,49 média 31,13

Quadro 5.12 – Solocal com 1 mês de cura

Page 72: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

52

Para melhor ilustrar os ensaios efectuados e o equipamento utilizado, apresentam-se de seguida as

imagens dos provetes imediatamente antes e após o ensaio:

Solocal 7 meses cura

Provete φ (mm) t (mm) F (KN) σt (KPa) ω (%)

1

70,44 34,76

1,30 337,04 11,98

70,35 34,84

70,48 34,94

70,45 35,24

média 70,43 média 34,95

2

70,48 33,76

1,10 292,99 12,19

70,22 33,76

70,58 33,75

70,50 33,83

média 70,45 média 33,78

3

70,40 34,13

0,95 252,07 12,19

70,35 34,28

70,22 34,31

70,44 33,98

média 70,35 média 34,18

4

70,60 31,20

1,12 321,34 12,23

70,60 31,30

70,40 31,65

70,50 31,25

média 70,53 média 31,35

Quadro 5.13 – Solocal com 7 meses de cura

Page 73: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

53

Figura 5.25 – Provetes de solo sem tratamento, imediatamente antes do ensaio

Figura 5.26 – Provetes de solo sem tratamento, imediatamente após o ensaio

Page 74: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

54

Figura 5.27 – Provetes de solocal, imediatamente antes do ensaio

Figura 5.28 – Provetes de solocal, imediatamente após o ensaio

Page 75: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

55

Figura 5.29 – Provetes de solocal com 1 mês de cura, imediatamente antes do ensaio

Figura 5.30 – Provetes de solocal com 1 mês de cura, imediatamente após o ensaio

Page 76: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

56

Figura 5.31 – Provetes de solocal com 7 meses de cura, imediatamente antes do ensaio

Figura 5.32 – Provetes de solocal com 7 meses de cura, imediatamente após o ensaio

Page 77: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

57

0,00

50,00

100,00

150,00

200,00

250,00

300,00

350,00

0 2 4 6 8

σt (KPa)

Tempo de cura (meses)

Solo

Solocal

Solocal 1M

Solocal 7M

Média

Um aspecto que pode ser constatado através da comparação das imagens dos provetes após os ensaios,

para os diferentes tipos de solo ensaiado, é o aumento da rigidez do solo com a junção da cal e com o

tempo de cura, tal como é descrito em Cardoso et al, (2008); os provetes têm uma fractura recta e a

mesma foi observada de uma forma mais brusca para os provetes de solocal e com maior tempo de

cura, em oposição à rotura mais suave dos provetes de solo sem tratamento, tal como se pode observar

nas figuras apresentadas. Tal indica rotura mais frágil para o solo tratado, o que está de acordo com os

picos pronunciados obtidos nos ensaios triaxiais.

Da análise dos valores obtidos para a resistência à tracção, conclui-se que o tratamento com cal

provoca, efectivamente, um aumento da mesma. Esse aumento ocorre logo após a adição da cal, uma

vez que os provetes de solocal logo após tratamento registaram um valor de resistência à tracção

superior aos provetes de solo sem tratamento. Analisando os dados referentes aos provetes de solocal

com 1 mês e 7 meses de cura, conclui-se que a resistência continua a aumentar com o tempo de cura,

sendo que o aumento da resistência é maior logo após a adição da cal e no primeiro mês de cura,

continuando depois a aumentar, mas mais gradualmente. O aumento da resistência do solo é explicado

pela cimentação de uma espécie de gel, que resulta da reacção da cal com os silicatos e aluminatos

presentes no solo, e que ocupa os vazios do mesmo. Para melhor ilustrar estes resultados apresenta-se

em seguida um gráfico onde estão representados os valores da resistência medida para cada provete,

bem como a linha que representa a evolução da resistência média dos provetes ao longo do tempo. De

referir ainda que para os provetes de solocal com 1 mês de cura, existe um valor que não se enquadra

com os restantes (271,23 KPa, na tabela 5.12); como tal, este valor não foi considerado para o cálculo da

resistência média.

Neste gráfico é visível o referido aumento de resistência no início do tratamento, e a sua progressão

mais gradual ao longo do tempo de cura. Tendo isto em conta, é expectável que a resistência apresente

tendência a estabilizar ao longo do tempo, como aliás parece acontecer com a linha da resistência

média representada no gráfico, pois o declive diminui com o tempo. De qualquer forma seria

importante realizar ensaios com mais tempo de cura para caracterizar melhor esta tendência.

Figura 5.33 – Evolução da resistência à tracção com o tratamento e tempo de cura

Page 78: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

58

Page 79: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

59

6 – Efeito do Tempo de Cura nas Características

Hidromecânicas das Margas Compactadas Tratadas

com Cal

6.1 – Expansibilidade, Permeabilidade Saturada e Compressibilidade

Como referido anteriormente no capítulo 4, a expansibilidade, a permeabilidade e a compressibilidade

dependem da estrutura do solo, pelo que a comparação dos seus valores devido à adição da cal e para

vários tempos de cura é uma forma de avaliar indirectamente as alterações estruturais sofridas devido

ao tratamento. Neste trabalho foram escolhidas estas propriedades pois são obtidas na embebição dos

provetes durante os ensaios edométricos, que são relativamente simples e económicos. Para além

disso, são também as propriedades mais usadas por diversos autores para investigar o comportamento

hidro-mecânico de materiais estruturados e cimentados. Neste capítulo analisam-se os valores obtidos

para o solocal com 7 meses de cura (capítulo 5) e comparam-se com os dados bibliográficos referentes

ao solo e solocal com diferentes tempos de cura, de modo a avaliar a sua evolução temporal.

6.1.1 – Expansibilidade

No quadro 6.1 apresentam-se os valores obtidos para o solocal com 7 meses de cura, bem como os

valores obtidos noutros trabalhos para o solo e restantes tempos de cura do solocal. No quadro também

se apresenta a tensão vertical para a qual foi efectuada a embebição. Relembra-se que se considera que

um valor positivo para a expansibilidade corresponde a um empolamento e portanto um valor negativo

equivale a um colapso.

Expansibilidade (%) Tensão vertical (KPa)

Solo (Lynce de Faria, 2007) 2,9 25

Solocal (Godinho, 2007) 0,54 25

Solocal 1 mês cura (Martins, 2009) 0,258 12

Solocal 7 meses cura 0,42 25

No quadro 6.1 apenas constam os valores de expansibilidade medidos para tensão vertical baixa. No

entanto, para o solo, solocal e solocal com 1 mês de cura também foi medida a expansibilidade para

tensões verticais mais elevadas, que constam da seguinte tabela:

Expansibilidade (%) Tensão vertical (KPa)

Solo (Lynce de Faria, 2007) 0,52 250

Solocal (Godinho, 2007) - 0,12 250

Solocal 1 mês cura (Martins, 2009) 0,121 1000

Quadro 6.2 – Expansibilidade do solo e solocal

Quadro 6.1 – Expansibilidade do solo e solocal

Page 80: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

60

Através da observação dos valores do quadro 6.1 é possível verificar que a expansibilidade do solocal

com 1 mês de cura encontra-se ligeiramente desenquadrada dos restantes valores, pois esperava-se que

o seu valor diminuísse com o tempo de cura e com o aumento da tensão vertical, mesmo tendo sido

medida para uma tensão vertical menor. Isto pode também ser reforçado através da análise do quadro

6.2, uma vez que se verifica que no caso do solocal se obteve colapso para uma tensão de 250 KPa, e

portanto seria de esperar que para o solocal com 1 mês de cura se obtivesse também colapso, em

especial porque a tensão vertical é 4 vezes superior. Tal não acontece uma vez que houve empolamento

para 1 mês de cura. Possivelmente, o colapso observado imediatamente após o tratamento pode ser

explicado por erro de laboratório, ou então por algum aspecto relacionado com as reacções químicas

entre os minerais do solo e a cal, cuja análise está fora do contexto desta tese.

Posto isto, e focando apenas os resultados do solo, solocal e solocal com 7 meses de cura, para uma

tensão vertical de 25 KPa (quadro 6.1), verifica-se que existe uma tendência para a diminuição da

expansibilidade após a adição da cal, e com o tempo de cura, uma vez que a diferença de

expansibilidade é bastante superior entre o solo e o solocal do que entre o solocal e o solocal com 7

meses de cura. Estes resultados eram esperados uma vez que os minerais resultantes das reacções

químicas entre a cal e os minerais argilosos após a adição da cal e o tempo de cura são responsáveis

pela diminuição da sensibilidade à água das argilas (é este um dos motivos pelos quais se prescreve

usualmente o tratamento com cal).

Para completar a análise efectuada, devia ter-se feito pelo menos mais um ensaio de expansibilidade

para o solocal com 7 meses de cura, para uma tensão vertical maior, por exemplo de 250 KPa. De

qualquer forma pensa-se que os resultados são coerentes mesmo sem este dado se forem analisados

considerando o que se espera após terem ocorrido as reacções químicas entre a cal, a água e os

minerais argilosos.

Finalmente, de acordo com o quadro 6.3, coluna “Expansão livre”, é possível classificar a expansibilidade

do solocal com 7 meses de cura como baixa. A expansibilidade do solo, solocal e solocal com 1 mês de

cura já tinha também anteriormente sido classificada de baixa (Lynce de Faria, 2007; Godinho, 2007 e

Martins, 2009, respectivamente). Conclui-se assim que o tratamento com cal não se justifica se o

objectivo for a obtenção de um material menos expansivo.

Quadro 6.3 – Critério para classificação da expansibilidade (Maranha das Neves &, 2006)

Page 81: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

61

0

1E-08

2E-08

3E-08

4E-08

5E-08

6E-08

7E-08

0,340 0,360 0,380 0,400 0,420 0,440

k (m/s)

Índice de vazios (e)

Solo

Solocal

Solocal 1 mês

Solocal 7 meses

6.1.2 – Permeabilidade Saturada

Como referido no capítulo 5, a permeabilidade foi calculada com recurso ao Método de Taylor. Os

valores obtidos para o solocal com 7 meses de cura, bem como os restantes valores retirados de

trabalhos anteriores apresentam-se no quadro 6.4. Os valores que se apresentam neste quadro foram

medidos para os índices de vazios na compactação e sob tensão vertical muito baixa.

k (m/s) kint (m2)

Solo (Lynce de Faria, 2007) 5,3E-8 5,3E-15

Solocal (Godinho, 2007) 4,6E-8 4,6E-15

Solocal 1 mês de cura (Martins, 2009) 1,7E-8 1,7E-15

Solocal 7 meses de cura 1,4E-8 1,4E-15

Verifica-se que os valores da permeabilidade diminuem ligeiramente com a adição da cal e com o tempo

de cura, embora essa variação seja pouco significativa uma vez que se mantém a ordem de magnitude

dos valores. Para uma melhor compreensão deste efeito apresenta-se de seguida um gráfico onde é

possível comparar a permeabilidade em função do índice de vazios, do solo e diferentes tipos de solocal

em estudo. Os valores da permeabilidade foram medidos em cada etapa de carregamento dos ensaios

edométricos após a saturação. O índice de vazios corresponde ao valor no início de cada etapa.

Na análise dos valores apresentados na figura anterior constata-se um andamento semelhante ao

observado para vários solos finos (Lambe & Whitman, 1969) e também a diminuição da permeabilidade

com a adição da cal e com o tempo de cura. Para um mesmo valor de índice de vazios é visível que

Quadro 6.4 – Valores da permeabilidade e permeabilidade intrínseca

Figura 6.1 – Comparação dos valores de permeabilidade em estudo

Page 82: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

62

quanto maior é o tempo de cura, menor a permeabilidade. Embora exista um ou outro valor que se

desloca um pouco do respectivo andamento, o que se pode explicar por eventual erro de

cálculo/ensaio, é visível a diminuição da permeabilidade com o índice de vazios de acordo com uma

curva de forma exponencial, principalmente no caso do solocal com 7 meses de cura. Verifica-se

também, e como esperado, que os materiais compressíveis exibem maior variação do índice de vazios.

A diminuição da permeabilidade era esperada uma vez que, como referido anteriormente, o tratamento

com cal conduz a reacções que produzem substâncias (uma espécie de gel, como referido no capítulo 2)

que colmatam os poros do material, diminuindo o seu tamanho (microporos), e, portanto, a capacidade

de passagem da água. No entanto, também existe um aumento da macroporosidade, visível na

porosimetria por intrusão de mercúrio do capítulo 4. É possível que, apesar de a macroporosidade

aumentar ligeiramente com o tempo de cura, parte da água não circule mas fique retida no solo após o

tratamento devido a fenómenos químicos. Na análise das curvas de retenção já se tinha verificado um

comportamento semelhante.

Conclui-se que o tratamento com cal não se justifica se o objectivo for a obtenção de um material com

baixa permeabilidade, uma vez que o solo sem tratamento já possui essas características, como se

comprova através do enquadramento dos valores obtidos na tabela 6.5. Tal conclusão já tinha sido

constatada quando a análise da expansibilidade foi efectuada.

Grau de permeabilidade k (m/s)

Alto > 10-3

Médio 10-3 a 10-5

Baixo 10-5 a 10-7

Muito baixo 10-7 a 10-9

Praticamente impermeável < 10-9

6.1.3 – Compressibilidade

Os valores dos parâmetros CC e CS obtidos para o solocal com 7 meses de cura, bem como os valores

obtidos em trabalhos anteriores para os restantes tipos de solo e solocal em estudo, apresentam-se no

quadro 6.6, nas colunas “valores experimentais”.

Valores experimentais Valores de cálculo

CC CS CC CS

Solo (Lynce de Faria, 2007) 0,096 0,020 0,090 0,020

Solocal (Godinho, 2007) 0,047 0,007 0,047 0,007

Solocal 1 mês de cura (Martins, 2009) 0,016 0,004 0,020 0,007

Solocal 7 meses de cura 0,020 0,007 0,020 0,007

Sabe-se à partida que o tratamento com cal e o tempo de cura aumentam a rigidez do solo, portanto

seria de esperar que os valores de CC e CS baixassem com a adição da cal e com o tempo de cura.

Quadro 6.5 – Classificação de solos quanto à permeabilidade (Terzaghi & Peck, 1967)

Quadro 6.6 – Valores de CC e CS para os diferentes tipos de solo e solocal em estudo

Page 83: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

63

0,32

0,42

0,52

0,62

0,72

0,82

0,92

1 10 100 1000

Índice de vazios (e)

σ' (KPa)

Sem tratamento

Após tratamento

1 Mês de cura

7 Meses de cura

Remoulded

Analisando o quadro 6.6, verifica-se que os valores experimentais de CC diminuem com a adição da cal e

também com o tempo de cura. Apesar de o CC do solocal com 7 meses de cura ser ligeiramente superior

ao do solocal com 1 mês de cura, esta diferença é insignificante e pode ficar a dever-se à variabilidade

entre os ensaios, podendo portanto considerar-se que o CC está a estabilizar. Assim, no caso de se

pretender usar os dados para modelação (foi o caso do aterro da A10, Santos, 2009 e Martins, 2009),

podem-se considerar os valores das colunas designadas “valores de cálculo”.

Em relação aos valores de CS, verifica-se que diminuem com a adição da cal. O valor para o solocal com 7

meses de cura é igual ao valor para o solocal, no entanto, o valor para o solocal com 1 mês de cura é

inferior a estes. Se se desprezar o valor do solocal com 1 mês de cura, pode-se considerar que houve

uma estabilização do CS após a adição da cal. Apesar das oscilações descritas observa-se que a adição da

cal provoca uma clara diminuição deste parâmetro.

O facto de os valores de CC e CS diminuírem com o tempo de cura confirma o aumento de rigidez que se

admitiu que era devido ao ganho de estrutura pelo material ao longo do tempo, descrita no capítulo 2.

Como já se viu anteriormente, o solocal é um material muito rígido, quase com um comportamento

observável em rochas brandas pouco resistentes, portanto é bastante plausível a hipótese de não se ter

atingido a cedência nos ensaios edométricos. Isto pode também explicar as ligeiras discrepâncias

encontradas nos valores, especialmente no caso do CC.

O efeito da estrutura na compressibilidade foi estudado comparando as curvas obtidas nos vários

ensaios edométricos descritos, com a curva de compressibilidade (ou curva de consolidação) de uma

amostra destruturada (“remoulded”, amostra preparada com teor em água w = 1,5wL sendo wL o limite

de liquidez, tal como descrito por Burland, (1990)). Esta análise foi explicada detalhadamente na

introdução teórica (secção 2.3). Assim, para além de incluir todas as curvas de compressibilidade

medidas nos ensaios edométricos, a figura 6.2 também inclui a curva correspondente à consolidação da

amostra destruturada.

Figura 6.2 – Sobreposição de todos os gráficos

Page 84: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

64

Na análise da figura verifica-se que a curva da amostra destruturada corresponde a índices de vazios

superiores aos das amostras compactadas. Tal explica-se pelo facto de as amostras terem sido

compactadas com elevado teor em água, energia elevada e com fragmentos de rocha, o que lhes

confere índices de vazios relativamente baixos. Tal como referido no capítulo 2, a curva do material

destruturado corresponde à situação limite das outras curvas onde o material possui estrutura conferida

pelo processo de compactação e pelo tempo de cura.

Quando comparados os valores do quadro 6.6 com os valores medidos na amostra destruturada, os

valores da amostra destruturada (CC = 0,229 e CS = 0,059) confirmam que esta curva é também uma

envolvente em termos de compressibilidade máxima que se pode obter para este material compactado,

no caso limite da sua completa destruturação. Admitindo que a cimentação conferida pelos produtos da

hidratação e cura da cal corresponde a um aumento de estrutura do material compactado, verifica-se

também este efeito indirectamente através da comparação da posição relativa das curvas para os vários

tempos de cura e sem o tratamento. Como esperado, as curvas dispõem-se consoante a

compressibilidade identificada no quadro 6.6 sendo a curva do material compactado sem tratamento (o

material com menos estrutura) a que tem o declive mais próximo do declive da amostra destruturada,

mas ainda assim bastante inferior.

6.2 – Resistência ao Corte

Como referido no capítulo 5, neste trabalho determinaram-se os valores do ângulo de resistência ao

corte do solocal com 1 mês e 7 meses de cura, através da realização de ensaios triaxiais. Lynce de Faria

(2007) e Godinho (2007) determinaram os mesmos valores para o solo e solocal logo após tratamento,

respectivamente. Esses valores (ângulo de resistência ao corte no estado crítico), bem como os obtidos

neste trabalho, apresentam-se no quadro 6.7 para vários tempos de cura.

φ’c

Solo (Lynce de Faria, 2007) 310

Solocal (Godinho, 2007) 370

Solocal 1 mês cura 400

Solocal 7 meses cura 420

Como esperado, o valor de φ’c aumenta com a adição da cal e com o tempo de cura. O maior aumento

ocorreu logo após a adição da cal. O tratamento com cal faz com que haja uma ligação mais forte entre

as partículas de solo, devido aos produtos da reacção da cal com os minerais argilosos presentes (ver

capítulo 2), o que aumenta a capacidade de resistência ao corte. Também se verifica que há um

aumento da resistência ao corte com o tempo de cura, o que pode ser explicado pelo facto de o

material ganhar estrutura ao longo deste tempo, tal como é descrito no capítulo 2.

Como curiosidade, estes valores foram comparados com o valor de φ’ medido num ensaio de corte

anelar numa amostra destruturada (Maranha das Neves & Cardoso, 2008). Este valor residual

corresponde à resistência mínima do material e é o limite inferior de resistência admitindo que toda a

Quadro 6.7 – Valores do ângulo de resistência ao corte críticos, φ’c, para o solo e

diferentes tempos de cura do solocal

Page 85: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

65

estrutura conferida pelo processo de compactação e tratamento foi completamente destruída. Obteve-

se φ’ residual = 180, um valor inferior a qualquer um dos valores do quadro 6.7. Esta observação está de

acordo com o discutido no capítulo 2 (figura 2.10). A figura 2.10 mostra a comparação das superfícies de

cedência no espaço (p, q’) para vários tempos de cura/cimentação. Tal como discutido no capítulo 2,

constata-se um aumento da sua dimensão com o tempo de cura.

6.3 – Resistência à Tracção

Neste trabalho foram efectuados ensaios brasileiros para o cálculo da resistência à tracção do solo,

solocal logo após tratamento, solocal com 1 mês de cura e solocal com 7 meses de cura, uma vez que

não existiam dados em trabalhos anteriores que permitissem quantificar esta propriedade. Como tal, a

análise dos resultados obtidos e da evolução da resistência à tracção ao longo do tempo de cura foi já

feita no capítulo referente ao tratamento dos dados laboratoriais (capítulo 5), apresentando-se neste

capítulo unicamente um quadro síntese dos valores obtidos.

σt (Kpa)

Solo 87,61

Solocal 101,25

Solocal 1 mês cura 172,95

Solocal 7 meses cura 300,86

Tal como dito antes, e como esperado, a resistência à tracção aumenta com o tratamento e com o

tempo de cura. Neste caso avaliou-se apenas a resistência não saturada, pelo que poderá haver alguma

contribuição da sucção para além das ligações que surgiram devido ao tratamento. De qualquer forma,

sendo a sucção aproximadamente igual em todos os provetes ensaiados (s=2MPa corresponde ao teor

em água na compactação, e s=85MPa após a secagem em ambiente de laboratório), as resistências

diferentes podem ser associadas às ligações químicas e estrutura resultantes do tratamento.

Resta acrescentar que estes dados são fundamentais para averiguar o aparecimento de fendas nos

aterros da A10.

Quadro 6.8 – Valores da tensão de resistência à tracção

para o solo e diferentes tipos de solocal

Page 86: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

66

Page 87: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

67

7 – Aplicação aos Aterros da A10, Conclusões e

Desenvolvimentos Futuros

7.1 – Aplicação aos Aterros da A10

Tal como descrito no capítulo 2, alguns aterros da A10 foram construídos com margas tendo-se

adoptado um perfil zonado constituído por um núcleo de margas compactadas sem tratamento,

revestido por espaldas de margas compactadas tratadas com cal. O tratamento da face exterior do

aterro tem como principal finalidade impedir o acesso da água das chuvas ao núcleo, de forma a evitar

fenómenos de empolamento, daí a utilidade de parâmetros como a permeabilidade e a expansibilidade

determinados neste e noutros trabalhos. Uma vez que o tratamento com cal torna o material um pouco

menos permeável e reduz consideravelmente a sua expansibilidade, o solocal torna-se mais indicado

para o revestimento do aterro. No entanto, surgiram dúvidas quanto à resistência à tracção deste

material, uma vez que se ocorressem fendas nas espaldas, isso poderia permitir o acesso da água ao

núcleo do aterro. O diferencial entre a rigidez das espaldas e do núcleo poderia originar tensões de

tracção importantes que levariam ao aparecimento de fendas.

A contribuição deste trabalho para o estudo do comportamento destes aterros prende-se com a

determinação das características hidro-mecânicas das margas compactadas tratadas com cal, para que

possam ser usadas na definição de um modelo numérico do aterro para análise do seu comportamento

durante a construção e em serviço. A modelação do comportamento do aterro foi objecto de estudo de

outros trabalhos: Santos (2009) estudou a evolução dos assentamentos no tempo durante a fase de

exploração e Martins (2009) estudou a influência do diferencial de rigidez devido à cura no

comportamento do aterro considerando a possibilidade de fendilhação das espaldas de solocal.

O estudo da compressibilidade do material (valores de CC e CS) permitiu calibrar a rigidez das várias

partes que compõem o aterro e a forma como evolui com o tempo de modo a tornar mais realista o

cálculo dos assentamentos sofridos pelo aterro e avaliar se há fendilhação. Veio também a verificar-se

que a resistência à tracção do material, determinada neste trabalho, é superior às tensões de tracção

instaladas nas espaldas, e portanto não existe o risco da ocorrência de fenómenos de empolamento do

aterro. Cardoso et al (2010) apresentam uma melhor descrição do trabalho realizado.

7.2 – Conclusões

As principais conclusões a retirar do trabalho efectuado são que, efectivamente, o tratamento com cal

melhora substancialmente as características das margas, bem como que essas características se alteram

com o tempo de cura como seria esperado e que se sintetiza em seguida:

Foram efectuados ensaios edométricos, triaxiais e brasileiros, de modo a analisar a evolução com o

tempo de cura da rigidez, resistência ao corte e resistência à tracção, bem como a expansibilidade e a

permeabilidade. Verificou-se que com o tratamento surgem novas ligações no material, que vão sendo

fortalecidas ao longo do tempo de cura, e que resultam num ganho de estrutura e consequente

aumento da rigidez (ou seja, diminuição da compressibilidade) e da resistência ao corte e à tracção.

Verificou-se também que a expansibilidade diminui, bem como a permeabilidade.

Page 88: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

68

As margas compactadas sem tratamento já são materiais mais resistentes e menos compressíveis do

que os solos argilosos compactados mais tradicionais. A sua expansibilidade pode ser classificada como

baixa, assim como a permeabilidade saturada. O tratamento contribuiu para aumentar ainda mais a sua

resistência e rigidez mas não se revela num benefício muito grande em termos de diminuição da

expansibilidade e da permeabilidade. Conclui-se que o tratamento com cal não se justifica se o objectivo

for a alteração significativa das características hidráulicas do material. No entanto ainda se coloca a

questão da eficiência do tratamento na diminuição dos assentamentos por fluência mas a sua análise

não foi efectuada neste estudo.

Um pequeno resumo das principais conclusões retiradas deste trabalho relativamente às características

do material em estudo é descrito de seguida, uma vez que se relacionam directamente com os

desenvolvimentos futuros a efectuar de modo a que se aumente o conhecimento deste material e das

propriedades do tratamento de solos com cal.

7.3 – Desenvolvimentos Futuros

Como se viu nos capítulos anteriores, as características do solocal alteram-se com o tempo de cura, até

estabilizarem. No trabalho efectuado começou-se a observar o início de uma fase de estabilização da

resistência à tracção. Seria, portanto, interessante dispor de dados referentes a solocal com tempo de

cura superior a 7 meses, de modo a confirmar este comportamento e a que se obtenha um valor

aproximado da máxima resistência à tracção do solocal.

O mesmo acontece relativamente aos ensaios edométricos, onde se verifica que a compressibilidade

aparenta tendência para estabilizar. A realização de ensaios em provetes com tempo de cura superior

permitiria confirmar esta tendência. Outro aspecto a ter em conta na realização de futuros ensaios

edométricos é a carga aplicada, uma vez que nos ensaios efectuados surgiram dúvidas relativamente a

ter-se atingido ou não a cedência do material. De modo a que estas dúvidas não voltem a ser suscitadas,

ensaios posteriores deverão, sempre que possível, ser realizados para níveis de tensão vertical

superiores.

Relativamente à resistência ao corte não se observa uma clara tendência para a sua estabilização, pelo

que a realização de ensaios triaxiais em provetes com tempo de cura superior permitiria conhecer um

pouco melhor o comportamento deste material relativamente a este parâmetro, embora já se tenham

obtido valores do ângulo de resistência ao corte extremamente elevados.

Page 89: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

69

8 – Referências Bibliográficas

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Page 91: Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de … · Efeitos do tempo de cura nas características hidro-mecânicas de margas compactadas tratadas com cal Diogo

71

0

400

800

1200

1600

2000

0 0,05 0,1 0,15 0,2

P/A (KPa)

δεvert

-140

-120

-100

-80

-60

-40

-20

0

20

0 0,05 0,1 0,15 0,2

Δu (KPa)

δεvert

Anexo

Dados dos ensaios triaxiais

Seguidamente apresentam-se os gráficos (δεvert; P/A) e (δεvert; Δu) para todos os ensaios triaxiais

efectuados, excepto para o ensaio de 1 mês de cura com tensão de consolidação de 50 KPa (1M50),

cujos gráficos já foram apresentados no capítulo 5. A notação adoptada para a sua identificação é XMY,

onde X é o nº de meses de cura e Y é a tensão de consolidação.

Figura A.1 – Dados do ensaio 1M100

Figura A.2 – Dados do ensaio 1M100

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72

0

400

800

1200

1600

2000

0 0,05 0,1 0,15 0,2

P/A (KPa)

δεvert

-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

0 0,05 0,1 0,15 0,2Δu (KPa)

δεvert

Figura A.4 – Dados do ensaio 1M150

Figura A.3 – Dados do ensaio 1M150

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73

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12 0,14

P/A (KPa)

δεvert

-120

-100

-80

-60

-40

-20

0

20

40

60

0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12 0,14

Δu (KPa)

δεvert

Figura A.5 – Dados do ensaio 7M100

Figura A.6 – Dados do ensaio 7M100

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74

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

0 0,05 0,1 0,15 0,2

P/A (KPa)

δεvert

-120

-100

-80

-60

-40

-20

0

20

40

60

0 0,05 0,1 0,15 0,2

Δu (KPa)

δεvert

Figura A.7 – Dados do ensaio 7M150

Figura A.8 – Dados do ensaio 7M150