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Organizadores: Leonardo Garcia e Roberval Rocha MAGISTRATURA ESTADUAL Juiz Estadual Substituto por carreira

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Organizadores: Leonardo Garcia e Roberval Rocha

MAGISTRATURA ESTADUALJuiz Estadual Substituto

por carreira

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DIREITO ADMINISTRATIVO

2. ATOS ADMINISTRATIVOS

(Vunesp/TJ/RJ/Juiz/2016) O ato administrativo discricionário deve ob-servar o princípio da proporcionalidade e desenvolver-se pela ótica denomi-nada pela doutrina como “tríplice manifestação do mandamento da propor-cionalidade”. Identifique e explique os três elementos que constituem o referido “mandamento”.

Direcionamento da resposta

Explicitar a posição confusa da doutrina na distinção dos princípios da ra-zoabilidade e proporcionalidade, mas a lei adota as duas expressões. Depois, fa-lar como se apresenta o “mandamento da proporcionalidade, no seu tríplice aspecto”.

Sugestão de resposta

O agente público deve atuar de forma coerente na extensão da necessi-dade para alcançar o fim público e para isso deve apegar-se à razoabilidade e proporcionalidade.

Na doutrina há controvérsias referentes à identidade ou diferenças entre esses princípios, mas a Lei 9.784/92 adota as duas proposições6.

A doutrina alemã elabora três controles judiciais sobre o poder discricio-nário do administrador, na aplicação do princípio da proporcionalidade: a medi-da administrava é adequada para alcançar o objetivo almejado; a medida é ne-cessária e não há nenhuma medida menos grave para aquela finalidade; se não há desproporcionalidade entre o meio empregado e o fim desejado (proporcio-nalidade em sentido estrito).

A “tríplice manifestação do mandamento da proporcionalidade”, portanto, calca-se em três elementos:

6. Lei 9.784/99, art. 2º: “A Administração Pública obedecerá, dentre outros, os princípios da le-galidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência”. Na doutrina, por exemplo, Maria Helena Diniz (in Dicionário Jurídico), ao dar significado ao princípio da razoabilidade, reme o leitor ao verbete “princípio da proporcionalidade”; Maria Sylvia Di Pietro (in Direito Adminis-trativo) escreve que “o princípio da razoabilidade exige proporcionalidade entre os meios de que se utiliza a Administração e os fins que ela tem que alcançar” e coloca a proporcionalidade como requisito da proposição razoabilidade. Odete Medauar (in Direito Administrativo) prefere usar a expressão “princípio da proporcionalidade”, nas pegas da Corte de Justiça Europeia.

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

a) Adequação – as medidas devem ser suficientes para atingir os objetivos;

b) Necessidade ou exigibilidade – precisa verificar se não existem outros meios menos gravosos para atingir os objetivos;

c) Proporcionalidade “stricto sensu” – deve-se buscar o equilíbrio entre os meios e os fins; consiste na proporção entre o ônus suportado e o benefício pro-duzido (vide Licínia Rossi, “Manual de Direito Administrativo”). O princípio da ra-zoabilidade e proporcionalidade é invocado para atos discricionários, onde fica a critério do agente público a escolha de seu motivo e objeto. Ele fixa o mérito do ato, mas sua conveniência, oportunidade e justiça são medidas pelos parâ-metros da adequação dos meios aos fins; pela relação custo-benefício.

(TJ/MS/Juiz/2010) Segundo o entendimento jurídico predominante, o con-trole judicial do ato administrativo (ainda que praticado em nome de alguma dis-cricionariedade) permite o exame dos motivos? Justifique.

Direcionamento da resposta

Há necessidade de salientar os requisitos do ato administrativo e diferen-ciar ato vinculado de ato discricionário.

Sugestão de resposta

O ato administrativo possui cinco requisitos: competência, finalidade, for-ma, objeto e motivo. Os três primeiros são sempre vinculados ou regrados, isto é, o agente público fica preso aos termos da lei, em todas suas especificações. O objeto e o motivo poderão vir definidos em lei, ou deixados a critério do ad-ministrador; neste caso, o ato será discricionário e se trata do mérito administra-tivo, que se consubstancia na valoração dos motivos e na fixação do objeto do ato, com a Administração vendo a conveniência, oportunidade ou justiça dele.

Mas o Poder Judiciário é o último árbitro da legalidade e para verificá--la poderá controlar todos os atos da Administração Pública, vinculados ou dis-cricionários, pois só assim, saberá se estes realmente estão revestidos dessa qualidade e, também, para verificar se a discrição não desbordou para o arbí-trio. O que não pode fazer é substituir a discricionariedade do administrador pela do juiz, o que vale para o cerne da questão: o Poder Judiciário não pode-rá entrar no mérito da valoração dos motivos do ato7, mas tem competência

7. Motivo ou causa – “É a situação de direito ou de fato que determina ou autoriza a realização do ato administrativo” (Hely Lopes Meirelles, “Direito Administrativo”, 30ª. Ed., SP: Malheiros, p.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

para verificar e decidir sobre sua ilegitimidade (contrariou princípios da Administração Pública) e legalidade (se está dentro dos limites traçados pela lei)8.

3. BENS PÚBLICOS

(TJ/RJ/Juiz/2012) A água é um bem comum do povo e um recurso natural limitado e mensurado economicamente, mediante retribuição financeira que po-de possibilitar, dentre outros, a recuperação dos investimentos necessários a sua captação, conservação, recuperação de suas qualidades básicas e distribuição. Com base nessas premissas fale sobre a captação de pouca quantidade de água por particulares, em áreas privadas, em poços artesianos e a possibilidade de co-brança diretamente pelo poder público ou por seus delegatários.

Direcionamento da resposta

Água, bem comum do povo e bem de domínio público. Salientar que tem valor econômico e como é utilizada.

Sugestão de resposta

A água é bem comum do povo e a Lei 9.433/97 a considera um bem de domínio público, recurso natural limitado e dotado de valor econômico, e exi-ge outorga onerosa pelo Poder Público (arts. 12 e 19), salvo para aproveita-mentos considerados insignificantes. Assim, a captação de pouca quantidade de água por particulares em áreas privadas, é gratuita. Quanto aos poços ar-tesianos, sabe-se que órgãos da Administração passaram a cobrar consideran-do sua água bem de uso especial, mas, só há esse direito de cobrança (que de-corre do valor econômico desse recurso natural) quando o poço artesiano é para uso comercial, pois a água que está no subsolo é do uso do proprietário do solo e poderá utilizá-la para seu uso pessoal, como tradicionalmente ocor-ria no passado com os poços abertos nos quintais das residências, antes da canalização urbana.

153). “Motivo é o pressuposto de fato que autoriza ou exige a prática do ato. É, pois, a situa-ção do mundo empírico que deve ser tomada em conta para a prática do ato” (Celso Antonio Bandeira de Mello, “Curso de Direito Administrativo”, 24ª. Ed., SP: Malheiros, p. 385).

8. “Ao Poder Judiciário é permitido perquirir todos os aspectos de legalidade e legitimidade para descobrir e pronunciar a nulidade do ato administrativo onde ela se encontre, e seja qual for o artifício que a encubra” (Hely Lopes Meirelles, ob. cit., p. 689).

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DIREITO AMBIENTAL

3. RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

(FCC/TJ/PE/Juiz/2013) Suponha a existência de uma determinada Área de Proteção Ambiental (APA), cujas regras exigem licenciamento ambiental em ca-ráter prévio à licença para edificar. De acordo com tal regulamentação, o Município apenas pode aprovar edificação se já houver sido demonstrada a ou-torga da licença ambiental. A Prefeitura, ignorando dolosamente as regras de-correntes do regime da APA e agindo em comprovado conluio com proprietário de lote urbano, aprova projeto de construção em favor deste, sem que houvesse licença ambiental. A obra, porém, não é executada. Posteriormente, o lote é alie-nado a terceiro de boa-fé que, presumindo estar amparado por todas as licenças cabíveis, aproveita o projeto de edificação já aprovado e executa a obra, causan-do danos ambientais irreparáveis. Dada esta situação, o MP move ação civil pú-blica contra o município e contra o proprietário executor da obra, exigindo sua responsabilização civil solidária pelos danos ambientais. (i) Discuta a responsa-bilidade civil do município e do proprietário executor da obra, sob os pontos de vistas (i.a) do caráter subjetivo de sua conduta (dolosa ou culposa); e (i.b) do ne-xo de causalidade (mediato ou imediato) entre sua conduta e o dano causado. Em ambos casos, indique o fundamento de direito positivo aplicável. (ii) A ação não foi proposta contra o ex-proprietário que agiu em conluio com o Município. Poderia, contudo, ser ele responsabilizado solidariamente com os outros dois réus? Em caso positivo, deveria ser formado litisconsórcio necessário?

Direcionamento da resposta

Na questão apresentada, é necessário o conhecimento a respeito da res-ponsabilidade ambiental, notadamente no que atine às obrigações “propter rem”, bem como quanto ao licenciamento ambiental e responsabilidade dos entes públicos.

Sugestão de resposta

Na ordem jurídica vigente, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado possui nível constitucional, nos termos do artigo 225 da Constituição da República. Consoante prevê mencionado dispositivo, impõe-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo.

No § 1º do mesmo preceptivo, há incumbências impostas aos poderes pú-blicos para assegurar a efetividade do direito contido no “caput”. Ademais, pelo § 3º, quem praticar atividades lesivas ao meio ambiente estará sujeito a san-ções penais e administrativas, sem prejuízo da obrigação de reparar os danos causados.

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

A Lei n. 6.938/1981, em seu artigo 14, § 1º, estipula que o poluidor é obri-gado a indenizar ou reparar os danos causados a terceiros, afetados por sua ati-vidade, independentemente da existência de culpa.

Desse modo, extrai-se dessas normas que a responsabilidade é objetiva quando se trata de atos praticados em prejuízo do meio ambiente. Vale dizer, para que esteja configurada a responsabilidade ambiental, é despicienda a de-monstração da culpa num caso concreto. Esse fator se justifica, outrossim, em virtude da importância do bem ambiental, porquanto, tratando-se de interesse difuso, pertence a uma titularidade indeterminada de pessoas, e, havendo lesão ao meio ambiente, todos são prejudicados. Adota-se, nessa sede, a teoria do ris-co integral, pela qual não há quebra do vínculo de causalidade pelo caso for-tuito, força maior ou até por fato de terceiro.

O Superior Tribunal de Justiça, na mesma linha, decidiu, embora não se-jam decisões uníssonas ao longo do tempo, que a omissão na fiscalização dos poderes públicos gera sua responsabilidade objetiva. A situação se agrava ain-da mais no caso posto no enunciando, já que se trata de descumprimento do-loso das regras decorrentes do regime de APA.

Seja a causa direta (construção da obra), seja a causa indireta (conluio do antigo proprietário e do Município para obtenção do licenciamento ambiental), todos podem ser responsabilizados, já que contribuíram para a degradação do meio ambiental e macularam as normas de Direito Ambiental. Vale dizer, ainda, que, de maneira excepcional, o Superior Tribunal de Justiça já admitiu a respon-sabilidade ambiental sem nexo causal.

Ademais, o possuidor do terreno, que já adquiriu a propriedade com o li-cenciamento ambiental não realizado de maneira escorreita, poderá, também, ser responsabilizado. É que se trata de obrigação “propter rem”.

Nessa perspectiva, em virtude da natureza transindividual do bem am-biental, isto é, a peculiar circunstância de tal direito pertencer a toda uma gama indeterminada de pessoas, incumbe ao adquirente de uma terra já desmatada, quando da realização do negócio jurídico, verificar a regularidade do empreen-dimento que foi realizada anteriormente.

E isto porque o proprietário aufere benefícios com a utilização da pro-priedade. Todavia, não se limita a esse ponto. Tendo em vista os bônus que re-cebe, também lhe são impostos ônus, no caso, que se certifique que a área é regular e que o alienante observou devidamente a legislação ambiental de to-das as entidades. E isso para que não haja prejuízo para o meio ambiente e, desse modo, malefício para todas as pessoas. Na mesma senda são as dispo-sições do novo Código Florestal (Lei n. 12.651/2012), nos artigos 2º, § 2º, 7º, § 2º, e 66, § 1º.

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DIREITO AMBIENTAL

solidariedade intergeracional que se refere à disposição da Declaração. Ele é voltado para toda a coletividade e para o Estado, podendo ser encontrado no artigo 225 da Constituição da República.

Sugestão de resposta

O Direito Ambiental, inserido na ciência jurídica, possui especificidades próprias, de maneira a fazer com que referido tema seja estudado como ramo autônomo. Entre os aspectos que caracterizam essa autonomia, encontram-se diretrizes e princípios próprios para a disciplina em tela.

Nesse sentido, é possível observar que o texto mencionado no enuncia-do, acerca do princípio n. 3 da Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, trata do princípio da solidariedade intergeracional, segundo o qual a presente geração não pode usufruir o bem ambiental de ma-neira completa e sem responsabilidade, a fim de que este também esteja dispo-nível para as futuras gerações. Sua utilização é indispensável, porém, e deve ser feita de maneira sustentável, com o escopo de que não se torne mais limitado e escasso com o passar do tempo.

De maneira direta, portanto, verifica-se que ele se destina aos atuais habitantes do planeta, vale dizer, a todos: sociedade e Estado. Não se pode perder de vista, ainda, que o meio ambiente está inserido nos direitos e in-teresses difusos, importando à toda a coletividade, e não apenas a uma ca-tegoria ou grupo de pessoas. Portanto, eventual degradação ou poluição que ocorre em algum lugar do planeta pode influenciar ecossistemas em outro lugar do globo. É visto, dessa maneira, como um direito fundamental de ter-ceira dimensão.

Em relação à Constituição da República de 1988, que alçou a tutela do meio ambiente para seu texto, o aludido princípio pode ser encontrado no “caput” do artigo 225, que reza todos “têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preser-vá-lo para as presentes e futuras gerações”. Assim, nesta parte final, verifica-se tratar-se de direito transgeracional, tal qual na citada Declaração.

(PUC-PR/TJ/MS/Juiz/2012) No âmbito do direito ambiental internacional, discorra sobre fontes formais e materiais, princípios gerais e o conflito entre a so-berania dos Estados e a proteção do meio ambiente nos danos ambientais transnacionais.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Direcionamento da resposta

O(a) candidato(a) deveria mensurar a quantidade de tempo e de espaço às respostas exigidas, pois cada um dos itens contempla uma verdadeira disser-tação sobre os temas neles propostos.

Sugestão de resposta

Retroatividade mínima, também conhecida como retroatividade mitiga-da ou temperada, refere-se à abrangência dos efeitos futuros de fatos passa-dos quando da superveniência de uma nova Constituição, é dizer, as normas constitucionais, como regra, independentemente de previsão explícita, apli-cam-se a fatos ocorridos a partir de sua vigência, ainda que pertinentes a ne-gócios passados. Fortalece-se, enfim, a proteção ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada, porquanto o novel conjunto de normas constitucionais não abrangerá os efeitos consumados ou pendentes desses fatos passados.

A título de exemplificação, temos: (i) a proibição da vinculação do sa-lário mínimo para qualquer fim no art. 7º, inciso IV, da Constituição Federal, a qual, em face da teoria da retroatividade mínima, incide somente para as prestações futuras ao advento da nova Constituição mesmo que relaciona-das a negócios firmados antes de sua vigência7; (ii) o comando do art. 17 do ADCT. Ao lado da retroatividade mínima (“efeitos futuros de fatos passados”), fala-se também em retroatividade máxima (contempla “fatos futuros consu-mados no passado”, como se infere nos arts. 231, § 6º da CF e 51 do ADCT) e em retroatividade média (absorve “prestações anteriormente vencidas e não pagas”). Quanto a estas duas últimas (retroatividades máxima e média), im-prescindível é a existência de disposição expressa na Constituição para a consequente aplicação.

A questão relativa ao “bloco de constitucionalidade” mereceu abordagem especial pelo Min. Celso de Mello no julgamento, pelo STF, da ADI nº 595. De tal julgado, extraem-se dois elementos essenciais ao controle de constituciona-lidade: (i) elemento conceitual; (ii) elemento temporal. Por este, a norma con-frontada e/ou o parâmetro constitucional utilizado devem estar em vigor por ocasião do mencionado controle. Por aquele, procura-se reconhecer o parâme-tro ao controle de constitucionalidade, daí decorrendo a relevância da acepção de “bloco de constitucionalidade”.

7. A respeito, vedando o pagamento de pensões pretéritas em salário mínimo com a superveni-ência da Constituição de 1988, confira-se: STF, RE 140499.

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

No que tange a citado “bloco de constitucionalidade”, o tema foi trabalha-do, originariamente, por Louis Favoreu, o qual indiciou que a norma constitucio-nal na França abrangeria não só o texto da Constituição de 1958, mas, da mes-ma forma, o preâmbulo da Constituição de 1946, a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) e as demais normas do ordenamento com conteúdo constitucional.

Duas são as principais teses relativas ao referido “bloco de constitucio-nalidade”: a) corrente ampliativa (“bloco de constitucionalidade em sentido amplo”), por meio da qual o parâmetro é formado não apenas pela Constituição escrita e positiva, mas igualmente pelas normas com valor constitucional for-mal (emendas à Constituição e os tratados e convenções internacionais so-bre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros – art. 5º, § 3º, da CF), pelo conjunto de preceitos e princípios decorrentes da Constituição, inclusive implícitos (não escritos) e, enfim, pelos princípios de “ordem constitucional global”, abrangendo valores suprapositivos destinados a concretizar a eficácia das normas da Lei Fundamental; b) corrente restriti-va (“bloco de constitucionalidade em sentido estrito”), que é a adotada pelo STF, da qual deriva a concepção de que são aptas a funcionar como parâme-tro (ou “norma de referência”) ao controle de constitucionalidade somente as normas formalmente constitucionais, é dizer, as normas previstas, ainda que não explicitamente, no texto constitucional, as emendas à Constituição e os tratados e convenções internacionais aprovados nos moldes do § 3º do art. 5º da Constituição de 1988.

Igualdade formal e igualdade material.

Igualdade formal, também nominada de igualdade jurídica ou civil, é a igualdade de aptidões, instituída pelo liberalismo clássico, qualificado pelo Estado absenteísta. Por meio dela, proíbem-se tratamentos configuradores de discrimi-nações abusivas, de privilégios odiosos.

De outro lado, igualdade material, chamada ainda de igualdade real ou fática, é a igualdade substancial, concreta, habitualmente adotada pelos Estados Sociais, tipificados como Estados prestacionais. Nesse contexto, exsurgem as ro-tuladas ações afirmativas, que se qualificam como programas, públicos ou pri-vados, em prol de minorias sociais, visando à redução e/ou à compensação das discriminações, presentes ou pretéritas, sofridas. Em nosso Texto Fundamental de 1988, a título de exemplificação, encontramos essa proteção especial, radi-cada na igualdade material, outorgada a mulheres (art. 7º, incisos XX e XXXI), idosos (art. 230), índios (art. 231), pessoas com deficiência (arts. 23, inciso II e X, 37, inciso VIII), negros (arts. 3º, inciso IV, 4º, VIII, 5º, inciso XLII).

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

A exigência relativa ao estágio de convivência e guarda provisória será enfrentada no tópico 4.

4) Apesar dos relatórios favoráveis elaborados pela equipe interprofissio-nal do juízo, o Estatuto da Criança e do Adolescente não autoriza dispensa de estágio probatório, tampouco a concessão de guarda provisória para que os pre-tendentes a exerçam no exterior.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, ao tratar da adoção internacio-nal, de plano já a restringe para situações excepcionalíssimas, somente quando esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança ou adolescente em família substituta brasileira, após consulta ao Cadastro Nacional de Adoção (art. 51, § 1º, II).

Não é prescindível, ainda, que se realize estágio de convivência, por pra-zo mínimo de 30 (trinta) dias, dada a necessidade de adaptação do adotando aos pretendentes, mormente em situações em que se vislumbra diferenças cul-turais significativas, não se olvidando, ainda, de eventual barreira linguística. O caráter da gradualidade, portanto, é inerente ao processo de adoção internacio-nal, exigindo maior cautela e prudência do magistrado da Infância e Juventude.

Por fim, a reforçar a impossibilidade de deferimento de guarda provisória para que o casal leve a adolescente ao exterior durante a tramitação do proces-so de adoção, o art. 52, § 8º, do ECA estabelece expressamente que “antes de transitada em julgado a decisão que concedeu a adoção internacional, não será per-mitida a saída do adotando do território nacional”. Assim, necessário o trânsito em julgado da decisão para que o Juízo da Infância possa expedir alvará com auto-rização de viagem, bem como para obtenção de passaporte, constando, obriga-toriamente, as características da adolescente adotada, idade, cor, sexo, eventuais traços peculiares, instruindo o documento com cópia autenticada da decisão e certidão de trânsito em julgado (art. 52, § 9º, ECA).

(TJ/RJ/Juiz/2013) O Ministério Público ajuizou ação de destituição de poder familiar em face dos genitores de João, criança que se encontra há meses em um abrigo, abandonado por eles. Recebida a inicial, o juiz de direito nomeou curador especial a João, na pessoa do Defensor Público que atua no juízo, para proteger seus interesses no curso do processo. Contudo, o Ministério Público a tanto se opôs, alegando a desnecessidade da nomeação. Como deve ser decidida a questão?

Direcionamento da resposta

Nesta questão, o candidato deve mencionar que o art. 201 do Estatuto da Criança e do Adolescente, em seus incisos III e VIII, confere ao Ministério Público

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

a competência para promover a ação de destituição familiar e para zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias assegurados às crianças e adolescentes. Deve mencionar, também, que há precedentes do Superior Tribunal de Justiça em que se aponta a desnecessidade de nomeação da Defensoria Pública como curador especial em ações de acolhimento institucional ou destituição do po-der familiar ajuizada pelo Ministério Público no interesse de criança ou adolescente.

Sugestão de resposta

No caso apresentado, comporta acolhimento a irresignação do represen-tante do Ministério Público. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é pacífica no sentido de que não é necessária a nomeação de curador especial da Defensoria Pública em ação de destituição do poder familiar formulada pelo Ministério Público no interesse do menor, porque tal intervenção, além de des-necessária, não é prevista no rito da ação de destituição do poder familiar cons-tante do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/1990).

A natureza jurídica do curador especial não é a de substituto processual, mas a de legitimado excepcional para atuar em defesa daqueles a quem é cha-mado a representar e, no caso, a criança ou adolescente já têm seus direitos individuais indisponíveis defendidos e suficientemente resguardados pelo Ministério Público, como substituto processual, autorizado expressamente a atuar, nos termos do art. 201, incisos III e VIII, do Estatuto da Criança e do Adolescente.

De fato, não há previsão legal para intervenção obrigatória da Defensoria Pública como curadora especial, sob invocação do disposto nos arts. 9º, I, do Código de Processo Civil, 142 e 148, parágrafo único, alínea “f”, ambos do ECA.

Ressalte-se, por fim, a possibilidade de retardamento do feito pela inter-venção da Defensoria como curadora especial, em prejuízo daqueles que pre-tende defender e, em última análise, em afronta ao princípio da intervenção mí-nima previsto no art. 100, inciso VII, do ECA, no sentido de que a intervenção deve ser exercida exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da criança e do adolescente.

*Precedentes do Superior Tribunal de Justiça sobre o tema: AgRg no AREsp 243.908/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, 3ª T., DJe 29.11.2013; AgRg no Ag 1369745/RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Saneverino, 3ª T., DJe 16.4.2012; AgRg no REsp 1356384/RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, 3ª T., DJe 5.9.2013; REsp 1176512/RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, 4ª T., DJe 5.9.2012; AgRg no Ag 1.404.261/RJ, Rel. Min. Massami Uyeda, 3ª T., DJe 3.10.2012.

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

Desta feita, somente poderá ser temporariamente juiz eleitoral integran-te de Tribunal Eleitoral do Estado da Federação e do Distrito Federal, o advoga-do regularmente inscrito na OAB, que seja sabedor do direito e que goze de boa reputação pública.

(Vunesp/TJ/MG/Juiz/2012) A executiva regional do “Partido das Flores” (PF) ingressou em juízo, na comarca de Santa Vitória, neste estado e onde o(a) senhor(a) está em exercício como juiz(a) de direito substituto(a), com uma ação de dissolução do diretório municipal. Ao receber o expediente, o(a) senhor(a), ciente de que a justiça eleitoral é federal, declinou da competência para o juízo da vara da justiça federal daquela circunscrição. Contra a decisão houve recurso. O tribunal de justiça estadual reformou a sentença, ao entendimento de que a com-petência é mesmo da justiça estadual. O(A) senhor(a) concorda? Por quê?

Direcionamento da resposta

Nesta questão o candidato tem que desenvolver sobre o tema da compe-tência em razão da pessoa, explorando os regramentos da Lei no. 9.096/95 e os princípios do Direito Civil

Sugestão de resposta

Sim, temos de concordar com a decisão do Tribunal de Justiça, segundo a qual a competência para julgar ato de dissolução de diretório de partido polí-tico é da Justiça Comum Estadual. Em primeiro lugar, é pertinente assentar que, por tratar-se de matéria “interna corporis”, não incide a competência da Justiça Eleitoral, como reiteradamente tem decido o Tribunal Superior Eleitoral (EAAG 3901/03, REspe 11971/94, REspe 9559/93).

Por outro lado, sendo os partidos políticos pessoas jurídicas de direito pri-vado, nos termos dos arts. 1º da Lei n. 9.096/95, e 44, V, do Código Civil, e ausen-te qualquer das hipóteses de competência da Justiça Federal, previstas em rol ta-xativo no art. 109 da Constituição Federal, remanesce a competência da Justiça Estadual para processar e julgar o feito. O Superior Tribunal de Justiça bem resu-me a questão: “Conflito negativo de competência. Justiça Comum estadual. Justiça Eleitoral. Partido político. Executiva regional. Dissolução de diretório municipal. 1. A matéria debatida nos autos refere-se à dissolução de diretório municipal de par-tido político determinada por comissão executiva regional. Trata-se, portanto, de questão concernente à validade de ato deliberativo, de natureza “interna corporis”, sendo competente para o julgamento o Juízo Comum estadual, na linha de prece-dentes da Corte” (CC 39.258/03, Rel. Min. Menezes Direito).

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DIREITO ELEITORAL

Direcionamento da resposta

Necessário transcorrer sobre a competência constitucional para o julga-mento das contas de Prefeito. Enfatizar sobre a rejeição de contas prestadas durante o exercício como ordenador de despesas, ressaltando a competência do TCU, com relação a sua competência para o julgamento das contas de Prefeitos relativas aos convênios, repasses ou outro instituto decorrente de verba federal

Sugestão de resposta

Em princípio, a competência para o julgamento de contas de Prefeito é da Câmara Municipal, nos termos do art. 31 da Constituição Federal (TSE: AgR-REspe 17106/13, AgR-REspe 9375/13, AgR-REspe 15085/13 etc.), de sorte que o pare-cer do Tribunal de Contas (Estadual ou Municipal, conforme o caso), é conside-rado meramente opinativo. E sendo assim, não implica, por si só, inelegibilida-de. A propósito: “Compete à Câmara Municipal o julgamento das contas de prefeito, consistindo o parecer prévio do Tribunal de Contas do Estado em parecer de ca-ráter meramente opinativo” (TSE, REspe 18772, Rel. Min. Fernando Neves).

No entanto, a partir das alterações promovidas na Lei Complementar nº 64/90, pela Lei Complementar nº 135/2010, o Tribunal Superior Eleitoral passou a entender que, cuidando-se de contas prestadas na função de ordenador de despesas, sua desaprovação em parecer do Tribunal de Contas já é causa sufi-ciente para o reconhecimento da inelegibilidade contida no art. 1º, I, g, da LC 64/90, desde que atendidos os demais requisitos, tendo em vista a ressalva cons-tante da parte final do dispositivo. Veja-se: “Conforme decidido no julgamento do Recurso Ordinário nº 401-35, referente a registro de candidatura para o plei-to de 2014, a inelegibilidade prevista na alínea g do inciso I do art. 1º da LC nº 64/90 pode ser examinada a partir de decisão irrecorrível dos tribunais de con-tas que rejeitam as contas do prefeito que age como ordenador de despesas, diante da ressalva final da alínea g do inciso I do art. 1º da LC nº 64/90” (TSE, AgR-RO 87945, j. em 18/09/2014, Rel. Min. Henrique Neves).

Já no tocante ao Tribunal de Contas da União, que, por força do art. 71, II, da Constituição Federal, tem a atribuição de julgar (e não apenas emitir pare-cer) contas de Prefeito nos casos de convênios, repasses ou outro instituto que envolva verbas federais, a rejeição das contas, de per si, pode gerar a inelegibi-lidade, desde que atendidos os demais pressupostos (configurar irregularidade insanável a ato dolos de improbidade, em decisão irrecorrível etc.).

Em desfecho, vale frisar que o Tribunal Superior Eleitoral passou a enten-der que, em se tratando de contas prestadas pelo Prefeito na condição de

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DIREITO PROCESSUAL CONSTITUCIONAL

uma lei já editada (controle repressivo). No Brasil, em regra, o controle de cons-titucionalidade repressivo é realizado pelo Poder Judiciário. Todavia, os demais poderes também podem exercê-lo.

A regra geral no ordenamento brasileiro é que, uma vez reconhecida a in-constitucionalidade, há a decretação da nulidade da lei ou ato normativo. Assim, os efeitos são “ex tunc”. Uma das exceções é a decorrente da suspensão da exe-cução, pelo Senado Federal, de uma lei declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal em sede de controle difuso, nos termos do artigo 52, inciso X, da Constituição República, possuindo, neste caso, eficácia “erga omnes” e “ex nunc”.

Assim, a maioria da doutrina brasileira acatou a teoria da nulidade, tra-tando-se a decisão, portanto, de ato declaratório, que reconhece uma situação pretérita.

Em oposição à referida teoria, há a teoria da anulabilidade da norma cons-titucional, cujo principal defensor é Kelsen. Para essa corrente, o reconhecimento da inconstitucionalidade geraria ineficácia da norma a partir da decisão judicial.

No Brasil, a teoria da nulidade da norma inconstitucional, que tem como espeque o princípio da supremacia da Constituição, cede espaço, em certos ca-sos, para outros valores também de alta relevância, como a segurança jurídica e a boa-fé.

Nessa senda, no controle concentrado, dispõe o artigo 27 da Lei n. 9.868/99: “Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efei-tos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trân-sito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.”

Portanto, pela possibilidade de modulação dos efeitos da decisão que re-conhece a inconstitucionalidade, é possível mitigar a regra da nulidade, desde que haja justificativa em razões de segurança jurídica ou excepcional interesse social, bem como haja votos de dois terços dos ministros do Supremo Tribunal Federal nesse sentido.

Não há uma disposição específica semelhante para o controle difuso. Todavia, em determinados casos, a Corte tem aplicado citado preceptivo para mencionada espécie de controle, diante das mesmas situações peculiares justificadas pela se-gurança jurídica ou excepcional interesse social (RE 197917, RE-AgR 434222).

Dessa maneira, em virtude dos princípios da segurança jurídica, confian-ça, boa-fé, também de hierarquia constitucional, há justificativa para a mitiga-ção da teoria da nulidade dos atos normativos e leis reconhecidos como in-constitucionais, seja no controle concentrado, seja no controle difuso de constitucionalidade.

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

2. AÇÕES CONSTITUCIONAIS

(Vunesp/TJ/RJ/Juiz/2016) O Ministério Público acionou a “Seguradora Finória”, que opera no ramo de DPVAT, visando defender os interesses dos segu-rados que receberam indenização em valores menores do que aqueles estatuídos pela Lei 6.194/74 e suas alterações. Justificava sua legitimação para a deman-da por primeiro com base no inciso III do art. 129 da CF/88. Por segundo, adu-zia a natureza evidentemente social do seguro DPVAT. Por terceiro, apontava co-mo justa causa para a demanda a identificação de situação em que a ofensa perpetrada pela Seguradora a direitos individuais homogêneos (dos segurados) comprometia evidentes interesses sociais, à conta de envolver o seguro DPVAT. Em sua defesa, a ré questionou a legitimidade do MP ao fundamento de inexis-tência de qualquer interesse social a justificar a aplicação do art. 127 da CF/88 e suas alterações; ao mais, sustentou que não haveria que se falar em qualquer defesa coletiva de interesses, à conta da disparidade das situações de cada se-gurado, considerado individualmente, o que implicaria em eventual existência de direitos individuais que e como tal, seriam capazes de serem prestigiados via de-mandas também individuais e não da forma coletiva, como proposto. Postulava consequentemente, a extinção do feito sem apreciação do mérito. Pergunta-se: Pelo viés dos direitos transindividuais e difusos e/ou dos direitos individuais ho-mogêneos, como o (a) candidato(a) resolveria esta questão preliminar? Justifique.

Direcionamento da resposta

A respeito da questão, é imprescindível que o candidato conheça as decisões dos Tribunais Superiores sobre o tema, mencionando, inicialmente, que o Superior Tribunal de Justiça entendia tratar-se de direitos individuais disponíveis, falecendo le-gitimidade ao “parquet”, e que, posteriormente, o Supremo Tribunal Federal se posicio-nou de maneira diversa (RE 631.111), porquanto se trataria de matéria de relevante interesse social envolvendo direitos individuais homogêneos.

Sugestão de resposta

Os direitos difusos e coletivos são tutelados, especialmente, pela Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública). O diploma estipula, em seu artigo 5º, os legi-timados para propor referida demanda, prevendo o Ministério Público no inciso I. Verifica-se, portanto, harmonia com a Constituição da República, uma vez que o artigo 129, inciso III, desta, também confere legitimidade ao aludido órgão para ajuizamento da citada ação para a defesa de interesses difusos e coletivos. O Código de Defesa do Consumidor, mormente em seu artigo 81, também possibili-ta a tutela coletiva em juízo.

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LEI ORGÂNICA DA MAGISTRATURA NACIONAL

qualificando como “a ética aplicada e restrita a um setor específico do compor-tamento humano, isto é, o comportamento típico e característico que apresenta o homem, quando exerce uma determinada profissão” (como alerta Álvaro Lazzarini, Magistratura: Deontologia, função e poderes do juiz. In NALINI, José Renato (Coordenador). Curso de deontologia da magistratura. São Paulo: Saraiva, 1992, p. 99).

Nesse contexto é que a Deontologia Forense fornece elementos sobre os ideais e normas que devem orientar a atividade do magistrado em sua vida pú-blica e particular, a ponto de se poder sustentar que em uma dimensão deon-tológica a função do juiz tem contornos de missão, porque não fica restrita aos aspectos técnicos, sendo-lhe atribuídos deveres éticos razoavelmente bem delineados.

A propósito desse delineamento é que o Código de Ética da Magistratura Nacional, editado pelo Conselho Nacional de Justiça, constitui verdadeiro regra-mento do que se espera do magistrado em uma dimensão deontológica, na me-dida em que parte do princípio que veda ao magistrado “procedimento incom-patível com a dignidade, a honra e o decoro de suas funções” e comete-lhe o dever de “manter conduta irrepreensível na vida pública e particular”, abordan-do de maneira minuciosa seus desdobramentos. Por isso, o Código de Ética da Magistratura serve como instrumento essencial para os juízes incrementarem a confiança da sociedade em sua autoridade moral, ficando ressaltada a sua con-gruência com a Deontologia Forense.

Assim, estão entre os deveres do magistrado manter conduta irrepreensí-vel na vida pública e particular, conforme os artigos 15 a 19 do Código de Ética da Magistratura Nacional, reforçado pelo artigo 35, VIII, da Lei Orgânica da Magistratura Nacional. Não há dúvidas de que ao juiz não é possível separar a conduta ética no exercício da atividade profissional daquela manifestada em sua vida particular, devendo em ambas agir de forma íntegra e digna, sempre pau-tado na transparência e na ética.

Os riscos à atividade jurisdicional pela não observância desses deveres decorrem da sua própria essência deontológica, pois a confiança da sociedade em sua autoridade moral é corolário básico da função jurisdicional. Em outras palavras, como confiar na excelência da prestação do serviço público de distri-buir Justiça se o magistrado responsável por esse mister incorre em ilícito éti-co, seja na vida pública ou privada.

Portanto, o fortalecimento da legitimidade do Poder Judiciário para o exer-cício de sua missão passa pelo necessário cultivo de princípios éticos por seus magistrados, sem perder de vista que o juiz tem, também, a função educativa e exemplar de cidadania em face dos demais grupos sociais.

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

to em cursos de aperfeiçoamento, oficiais ou reconhecidos; (iii) humildade ver-sus independência; (iv) eficácia do Código de Ética da Magistratura Nacional an-te a ausência de dispositivo sancionador.

Direcionamento da resposta

Nesta questão, o candidato deve abordar aspectos éticos da carreira da magistratura, com base na importância da função do juiz. Ao discorrer sobre a ética na magistratura, o candidato, necessariamente, analisará o dever de pres-teza, a preparação e o aperfeiçoamento constante do magistrado, assim como a independência, que não se confunde com falta de humildade, destacando-se que todas essas questões são tratadas no Código de Ética da Magistratura Nacional como deveres do magistrado, ainda que não haja um dispositivo sancionador da não observância desses preceitos.

Sugestão de resposta

Na magistratura é depositada a confiança da sociedade, justamente em fun-ção de sua autoridade moral, razão pela qual aos magistrados é conferido o dever de incrementar essa confiança, por meio de sua conduta profissional e pessoal.

Por isso, costuma-se dizer que a magistratura tem função docente e exem-plar diante dos demais grupos sociais, ou seja, o juiz ao prolatar decisões está, para muito além de resolver o litígio entre as partes, exercendo a docência, por-que servirá de exemplo para toda a sociedade, o mesmo ocorrendo com sua con-duta pessoal (como pondera José Renato Nalini, in Ética da Magistratura: Comentários ao Código e Ética da Magistratura Nacional – CNJ).

O Código de Ética da Magistratura Nacional traz o norte do qual o magis-trado não pode se furtar, traduzido em compromisso institucional com a exce-lência na prestação do serviço público de distribuir Justiça e, assim, mecanismo para fortalecer a legitimidade do Poder Judiciário.

Talvez por isso o discurso acima citado mencione a necessidade de voca-ção para o exercício da magistratura, porque as dificuldades da função vêm jus-tamente de suas inúmeras exigências, as quais, certamente, tornam-se mais le-ves para aquele que a exerce por vocação.

Nesse aspecto, a presteza no exercício da jurisdição é um dever imposto ao magistrado e, para atendê-lo, é importante diligência e dedicação, as quais, certamente, conduzem à eficiência da Justiça, sem prejuízo da previsão consti-tucional de celeridade e razoável duração do processo, constante do artigo 5º, inciso LXXVIII.

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LEI ORGÂNICA DA MAGISTRATURA NACIONAL

conforme artigos 15 a 19 do Código de Ética da Magistratura Nacional e artigo 35, VIII, da Lei Orgânica da Magistratura Nacional. Nesse aspecto, deve mencio-nar que a remoção compulsória pode constituir pena disciplinar pelo não cum-primento desses deveres, conforme artigo 42, III, da Lei Orgânica da Magistratura Nacional ou mesmo constituir impedimento para a promoção e para a vitalicie-dade do magistrado.

Sugestão de resposta

O magistrado tem o dever de manter conduta irrepreensível na vida pú-blica e particular, conforme artigo 35, VIII, da Lei Orgânica da Magistratura Nacional. Esse dever foi confirmado pelo disposto nos artigos 15 a 19 do Código de Ética da Magistratura Nacional, de modo que não pode restar dúvidas de que ao juiz não é possível separar a conduta ética no exercício da atividade profis-sional daquela manifestada em sua vida particular.

Como destaca José Renato Nalini, “em síntese, não existe a possibilidade de um ser juiz proficiente e um ser social aturdido por uma paralisante perple-xidade ante os desafios existenciais. A pretensão ética, talvez utópica, é conse-guir a edificação de uma personalidade inteiramente afinada com as exigências morais. O juiz brasileiro não tem o direito a ter espaços contaminados em qual-quer de suas personae. Se ele se repartir e tentar voos autônomos em cada ver-tente – social, sexual, profissional, familiar, cidadã, política etc. – ele poderá se perder.” (ob. cit.)

E não poderia ser diferente, dado que o magistrado exerce função educa-tiva e exemplar de cidadania em face dos demais grupos sociais, conforme cons-tou da justificativa para a edição do Código de Ética da Magistratura Nacional.

Além disso, a conduta pessoal do magistrado contribui para a confiança dos cidadãos na judicatura, conforme dispõe o artigo 15 do Código de Ética da Magistratura Nacional. Não se trata de considerar o magistrado um ser especial, mas reconhecer que seu comportamento na vida privada dignifica a função, e que as restrições e exigências para o exercício da função são mais severas que aquelas acometidas aos cidadãos em geral e impõe que paute sua conduta de forma irrepreensível.

Nesse aspecto, utilizando-se dos ensinamentos de José Renato Nalini (ob. cit.), inviável a compartimentalização de personalidades, razão pela qual os vá-rios papéis exercidos pelo magistrado na sociedade (juiz, pai, esposo, irmão, ami-go, etc.) não podem ser confundidos com a diversificação de éticas, o que é mes-mo impossível.

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NOÇÕES GERAIS DE DIREITO E FORMAÇÃO HUMANÍSTICA

existencia e em seu conteudo, por um acordo contingente entre individuos. Elas gozam de uma universalidade hipotetica, em contraste com a universalidade no-motetica, propria da antropologia politica classica. Trata-se da universalidade da lei e do Direito, cujo fundamento permanece oculto e requer uma explicacao a titulo de hipotese inicial nao verificada empiricamente e que deve ser confirma-da dedutivamente pelas suas consequencias.

Esta distincao e fundamental para a compreensao vaziana da concepcao moderna do Direito nas suas relacoes com a Etica: o Direito, representativo da legalidade, legitima a moralidade social por meio de uma normatividade posta a partir do imanentismo antropocentrico.

(Consulplan/TJ/MG/Juiz/2019) Discorra sobre o conceito habermasiano de equiprimordialidade ou cooriginalidade, e como se dá a relação entre Moral e Direito no pensamento de Habermas.

Direcionamento da resposta

O candidato deve abordar os vinculos orgânicos entre os direitos funda-mentais e os postulados da democracia procedimentalista, tidos como elemen-tos equiprimordiais ou cooriginarios numa sociedade e o efeito imediato dessa relacao biunivoca na relacao entre Moral e Direito, centrado num agir comuni-cativo, lastreado axiologicamente segundo uma mundividencia pessoal, com pre-tensoes de verdade no espaco publico, a moldar, a partir do discurso dos titula-res dos direitos fundamentais, a legitimidade da producao do Direito posto.

Sugestão de resposta

Habermas, autor de uma teoria focada no agir comunicativo a partir do entrechoque de propostas dialogicas com pretensoes de verdade na arena so-cial, deslocando o potencial emancipatorio da razao para o discurso, em suas principais obras, pretende trazer o direito posto à posicao de um bem acessivel ao regramento insito da racionalidade argumentativa, a qual asseguraria a legi-timidade social e politica ao sistema legal.

Para Habermas, as regras da democracia procedimentalista e os direitos fundamentais (tanto da esfera publica quanto a da privada) sao dados coorigi-narios ou equiprimordiais, a saber, formam esferas complementares e irrenun-ciaveis. A relacao entre a faticidade (orbita da realidade fatica) e a validade (or-bita dos valores) formam uma especie de cabeca de Jano do Direito, ambas dotadas de cooriginalidade, porque inseridas nos direitos fundamentais.

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NOÇÕES GERAIS DE DIREITO E FORMAÇÃO HUMANÍSTICA

Direcionamento da resposta

No item a, o candidato deve apresentar o conceito de ondas renovatorias de acesso à justica, com enfoque nas inovacoes do sistema jurisdicional deriva-das dessa ideia, alem da relacao do mesmo conceito com os diferentes meca-nismos de resoluçao de conflitos sociais.

No item b, deve discorrer sobre a origem, o conceito e a proposta de fun-cionamento do modelo “multi-door justice” relacionada aos diversos mecanis-mos de resoluçao de conflitos sociais.

No item c, deve indicar os orgaos incumbidos de realizar atividades refe-rentes aos diferentes mecanismos de resoluçao de conflitos dentro da estrutu-ra do Poder Judiciario.

Sugestão de resposta

Item a.O acesso à justica enfrenta barreiras, razao pela qual alguns teoricos pro-

poem localizar esses problemas e formular possiveis solucoes para supera-los. Nesse sentido, exemplificativamente, temos os autores Mauro Cappelletti e Bryant Garth, que, na obra Acesso à Justica, estabeleceram “tres ondas renovatorias” de acesso à justica, as quais visam atacar os obstaculos ao acesso à justica, como as barreiras econômicas, as sociais, as pessoais e as processuais.

Tendo inicio em 1965, tais ondas emergiram mais ou menos em sequen-cia cronologica. Podemos afirmar que a primeira onda foi a assistência judiciá-ria gratuita; a segunda dizia respeito às reformas tendentes a proporcionar re-presentacao juridica para os interesses difusos, especialmente nas areas de protecao ambiental e do consumidor; e a terceira — e mais recente — e chama-da de “enfoque de acesso à justica”, porque inclui os posicionamentos anterio-res, mas vai muito alem deles, representando, dessa forma, uma tentativa de ata-car as barreiras ao acesso de modo mais articulado e compreensivo.

No que toca à relacao com os diferentes mecanismos de resolucao de conflitos sociais, a terceira onda se entrelaça com o advento dos métodos al-ternativos de soluçao de conflitos e que visam vencer os obstáculos proces-suais de acesso à justica, ou seja, obstaculos decorrentes da inadequacao de tratamento de certos tipos de conflitos, sobretudo aqueles de natureza multi-tudinaria. Essa relacao se da no seio do conjunto geral de instituicoes e me-canismos, pessoas e procedimentos utilizados para processar e mesmo preve-nir disputas nas sociedades modernas, por meio de alteracoes nas formas de procedimento, mudancas na estrutura dos tribunais ou a criacao de novos tri-bunais, o uso de pessoas leigas ou paraprofissionais, tanto como juizes

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

quanto como defensores, modificações no direito substantivo destinadas a evi-tar litigios ou facilitar sua solucao e a utilizacao de mecanismos privados ou informais de solucao de litigios.

Item b.

A ideia de “justica multiportas” tem origem no sistema americano sugeri-do por Frank Sanders, em 1976, que propoe nao mais a primazia dos juizes e dos tribunais como instâncias de acesso à justiça. Cada disputa deve ser enca-minhada para a tecnica ou meio mais adequado para a sua solucao. No referi-do modelo proposto, “centros de triagem” fariam o diagnostico das disputas de cidadaos, encaminhando os disputantes para a “porta” mais apropriada para o conhecimento e decisao do caso.

Uma variedade de orgaos, entre eles a policia, os promotores, os tribunais, os servicos juridicos e as agencias de servicos sociais, receberiam as demandas de disputas e remeteriam os cidadaos ao “centro de portas multiplas”. As dispu-tas comecariam por meio de uma conciliacao informal e, se infrutifera, os cida-daos seriam encaminhados para o mecanismo de resolucao mais apropriado: ar-bitragem, mediacao, conciliacao e julgamento seriam institucionalizados no sistema de justica, estruturado para atender às necessidades individuais de cada tipo de disputa.

Assim, do acesso à justica forense se iria para o acesso aos direitos pela via adequada de composicao. Tanto os diferentes mecanismos de resolucao de conflitos sociais quanto o modelo multi-door justice tratam de propostas de re-novaçao do sistema de resoluçao de conflitos para além do tradicional sistema de porta unica (solucao adjudicada pela decisao judicial), com a aplicacao de meios autocompositivos denominados meios alternativos de resolucao de con-flitos — (ADR) alternative dispute resolution — ou métodos de soluçao consen-sual de conflitos, mais recentemente denominados pela literatura nacional como resoluçao adequada de disputas (RAD).

Ambos encorajam a exploracao de uma ampla variedade de reformas, in-cluindo alteracoes nas formas de procedimento, as mudancas na estrutura dos tribunais ou a criacao de novos tribunais, o uso de pessoas leigas ou parapro-fissionais, tanto como juizes quanto como defensores, modificações no direito substantivo destinadas a evitar litigios ou facilitar sua solucao e a utilizacao de mecanismos privados ou informais de solucao de litigios. Em outros termos, po-de-se dizer que a doutrina nacional e, por consequencia, o ordenamento brasi-leiro recebeu influxos de diferentes matizes doutrinárias — como as ondas re-novatorias de acesso à justica e o modelo multiportas, ou justica multiportas — que pregam ideias semelhantes ou, ao menos, conexas.