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ÁGUA % DE PROBABILIDADE Virtualmente certo 99% Muito provável 90% a 99% Provável 66% a 90% Tão provável quanto improvável 33% a 66% Improvável 10% a 33% Muito improvável 1% a 10% Extremamente improvável menos de 1% Mais vulnerável Aumento na temperatura do globo, em relação à era pré-industrial, e seus impactos por setor +6˚C +5˚C +4˚C +3˚C +2˚C +1˚C Elevação no nível do mar Menos água e mais secas em latitudes intermediárias e em zonas semiáridas em baixas latitudes 1 a 2 bilhões de pessoas com escassez de água 1,1 a 3,2 bilhões de pessoas com escassez de água O MAPA DA VULNERABILIDADE 0,4 a 1,7 bilhões de pessoas com escassez de água Até um quinto da população mundial afetada por enchentes 6-9 cm 15-24 cm 29-45 cm Os países mais vulneráveis aos impactos da mudança do clima, em 2050, sem medidas de adaptação, no cenário A2 (pessimista) AMÉRICA Oceano Pacífico EUROPA AMÉRICA DO SUL ÁFRICA ÁSIA OCEANIA Oceano Atlântico Oceano Índico Oceano Pacífico Menos vulnerável Sem dados ABOMINÁVEL América doNorte >> RESSACAS e o aumento do nível do mar têm o potencial de prejudicar metrô, túneis, pontes e aeroportos de Nova York >> A intensidade dos FURACÕES no golfo do México provavelmente aumentará >> No Canadá pode haver aumento em centenas de quilômetros da faixa de terras apropriada à AGRICULTURA e à extração de madeira. O mesmo fenômeno deve ocorrer na Sibéria GELEIRAS EM EXTINÇÃO >> Nos próximos 15 anos, as geleiras dos ANDES tropicais muito provavelmente desaparecerão, reduzindo a água disponível para a geração hidrelétrica na Bolívia, no Peru, na Colômbia e no Equador Efeitos da mudança climática já serão sentidos antes do fim do século MUNDO NOVO Efeitos da mudança climática já serão sentidos antes do fim do século A18 ciência SÁBADO, 7 DE ABRIL DE 2007 ef Eliminar pobreza é melhor estratégia, diz vice do IPCC Para economista, país rico pode reduzir emissões sem perder qualidade de vida Tecnologia de redução de emissões pode ser criada rápido se governos derem o sinal certo às indústrias, afirma Mohan Munasinghe ................................................................................................ DO ENVIADO A BRUXELAS A melhor estratégia de adap- tação às mudanças globais no clima é a redução da pobreza, especialmente nos países afri- canos. Sem isso, afirma o eco- nomista cingalês Mohan Mu- nasinghe, vice-chefe do IPCC, “as pessoas não vão viver o sufi- ciente para sentirem os efeitos das mudanças climáticas”. Em entrevista à Folha, con- cedida na véspera do lança- mento do sumário executivo do Grupo de Trabalho 2 do pai- nel do clima, Munasinghe diz que o relatório não é catastro- fista e que os países ricos de- vem tomar a dianteira na redu- ção dos gases-estufa. Leia a entrevista.(MAC) FOLHA - Qual é a principal mensa- gem deste relatório para os países pobres? MOHAN MUNASINGHE - Ela é mui- to séria: o cinturão tropical, on- de estão os países em desenvol- vimento, será muito afetado, os países mais pobres sofrerão os piores efeitos e os grupos mais pobres são os mais vulneráveis. Na América Latina há três pro- blemas específicos: a escassez de água é o primeiro. Se a tem- peratura subir entre 1˚C e 2˚C, que é o que se prevê para o fim do século, devemos ter 50 mi- lhões de pessoas afetadas pela falta d’água. E isso também tem conseqüências na produção de comida. Outro é a redução da biodiversidade, principalmen- te na floresta amazônica. Com um aumento de até 2˚C, as ár- vores serão as principais afeta- das. A partir daí, muitos ani- mais serão afetados, porque não conseguem migrar no mes- mo ritmo das mudanças climá- ticas. O terceiro é a perda de ge- leiras, especialmente na região dos Andes. Esses efeitos têm uma chance alta de acontecer, e, como já há uma quantidade de gases do efeito estufa na at- mosfera, mesmo com a parada total das atividades humanas alguns vão acontecer. FOLHA - O que se deve fazer? MUNASINGHE - Para os países em desenvolvimento, que já têm problemas sérios de po- breza, a principal prioridade é aumentar a renda da população e a qualidade de vida. Afinal, se não resolvermos os problemas de desenvolvimento hoje —má nutrição, falta de saúde, de ha- bitação— as pessoas não vão vi- ver o suficiente para sentirem os efeitos das mudanças climá- ticas. E o modo de fazer isso é combinando melhorias de ren- da e erradicação da pobreza com redução de emissões. Combater as mudanças climá- ticas e criar estratégias de adaptação a elas não significa que precisamos abrir mão do desenvolvimento. FOLHA - Como devem ser divididas as responsabilidades sobre a redu- ção de emissões? É cada vez mais consensual que os países pobres de- verão também adotar metas. MUNASINGHE - Os países desen- volvidos têm de mostrar lide- rança na mitigação das mudan- ças climáticas. Os países em de- senvolvimento têm consciên- cia e querem contribuir, mas suas emissões per capita são muito pequenas se comparadas com as dos países ricos, e eles precisam aumentar seu uso de energia para crescer, então eles ainda têm um espaço para au- mentar suas emissões. Os paí- ses desenvolvidos é que preci- sam reduzir suas emissões, e podem fazer isso sem diminuir a qualidade de vida, há tecnolo- gia para isso. Os países euro- peus são muito mais sérios nis- so do que os EUA, que não acei- tam o protocolo de Kyoto. FOLHA - Qual é a sua opinião sobre o programa brasileiro do álcool? MUNASINGHE - O etanol não de- ve ser visto apenas sob a ótica das mudanças climáticas, já que as emissões de carbono são apenas uma pequena parte da equação. O mais importante do etanol é seu papel na segurança energética, já que a demanda por petróleo segue aumentan- do e as reservas começaram a declinar. Ele só não serve para países com pouca terra, desti- nada só à produção de comida. FOLHA - O resultado do relatório do Grupo de Trabalho 2 é motivo para pânico? MUNASINGHE - Não será uma apresentação catastrofista. As pessoas verão que as mudanças não vão acontecer da noite pa- ra o dia. Até 2030 veremos al- guns efeitos modestos, centra- dos principalmente nos ciclos hidrológicos e no derretimento das geleiras. Até 2050 os efei- tos serão maiores e crescem daí por diante, mas nossos poderes de previsão não são tão apura- dos a partir dessa data. A infor- mação mais dramática é que eventos extremos, como fura- cões, vão ficar mais comuns. FOLHA - Ainda há espaço para ceti- cismo em relação ao aquecimento? MUNASINGHE - Eu já achava há seis anos, no terceiro relatório, que havia pouco espaço para negação. Com os dois últimos relatórios, eliminamos a possi- bilidade de negar a influência da ação humana e a relação en- tre mudanças climáticas e mu- danças naturais. O único argu- mento a que os negadores ain- da podem se agarrar é o de que talvez precisemos de mais tem- po para a mitigação. Alguns di- zem que é muito caro começar esse trabalho agora, que daqui a 20 anos teremos novas tecno- logias e poderemos resolver is- so muito mais rapidamente. Se sinalizarmos hoje às empresas que estamos falando sério so- bre as ações para mitigar as mudanças climáticas, elas de- senvolveriam a tecnologia em poucos anos. Se ficarmos divi- didos, considerando começar a mitigação daqui a 20 anos, as empresas não farão nada. FOLHA - Quanto o público ainda agüenta ouvir sobre mudança cli- mática? A repetição excessiva da mensagem não pode acabar des- sensibilizando a população? MUNASINGHE - Como a mudan- ça climática é um fenômeno que se manifesta a longo prazo e os interesses das pessoas são mais imediatos, esse cansaço pode acontecer. Mas o aumen- to dos eventos climáticos ex- tremos pode mudar isso —um furacão Katrina desperta mui- ta atenção sobre o clima. Não quero dizer que todos os even- tos extremos são causados pe- las mudanças climáticas, mas esses eventos lembrarão as pessoas, de tempos em tempos, que o problema está lá. Ana Carolina Fernandes - 31.ago.2006/Folha Imagem FOTO 2.0 25.0 Mohan Munasinghe explica o quão dura é a realidade do clima PERGUNTAS E RESPOSTAS O que é o efeito estufa? O que é aquecimento global? >> O efeito estufa é o aprisionamento do calor na Terra por uma capa de gases É um fenômeno natural, mas ficou mais intenso por causa de atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento, que emitem gás carbônico (CO2). O agravamento do efeito estufa é a principal causa da mudança climática que o planeta sofre, caracterizada pelo aquecimento global e por conseqüências O que é o IPCC? >> O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) é um comitê de 2.500 cientistas criada pela ONU para avaliar o estado do conhecimento sobre o problema do clima, suas conseqüências e a melhor forma de lidar com ele. O IPCC não produz pesquisas próprias. Seu trabalho é analisar a literatura científica já existente para emitir um consenso O IPCC já não tinha divulgado um relatório em fevereiro? Por que outro agora? >> O relatório de fevereiro, do Grupo de Trabalho 1 do IPCC, se referia a estudos sobre a base física da mudança climática. O relatório publicado ontem, do Grupo de Trabalho 2, trata de impactos do fenômeno sobre o mundo, das formas de se adaptar a eles e dos pontos de vulnerabilidade. Um terceiro relatório, previsto para maio, tratará do problema da redução da emissão de gases-estufa. Ambos integram o Quarto Relatório de Avaliação (AR4) do painel Por que as estimativas do novo relatório são mais imprecisas? >> O relatório do grupo 2 lida com mais variáveis que o do grupo 1, que tratou sobretudo de fazer estimativas de aumento de temperatura e elevação do nível do oceano. Para conhecer com precisão o impacto futuro da mudança climática sobre a Amazônia, por exemplo, seria preciso saber quanto desmatamento a ocupação da região causará nas próximas décadas, o que é impossível prever com acurácia Para países em desenvolvimento, que já têm problemas sérios de pobreza, a prioridade é aumentar a renda da população e a qualidade de vida. Senão (...) as pessoas não vão viver o suficiente para sentir os efeitos das mudanças climáticas MOHAN MUNASINGHE economista, vice-chefe do IPCC Se sinalizarmos hoje às empresas que estamos falando sério sobre mitigar as mudanças climáticas, elas desenvolveriam a tecnologia em poucos anos. Se ficarmos divididos, considerando começar a mitigação daqui a 20 anos, elas não farão nada IDEM

Eliminarpobrezaémelhor estratégia,dizvicedoIPCC MUNDOmudancasclimaticas.cptec.inpe.br/~rmclima/pdfs/mohan_maio.pdf · Os países mais vulneráveis aos impactos da mudança do clima,

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CRONOLOGIA

ÁGUA

% DE PROBABILIDADE

Virtualmente certo 99%

Muito provável 90% a 99%

Provável 66% a 90%

Tão provável quanto improvável 33% a 66%

Improvável 10% a 33%

Muito improvável 1% a 10%

Extremamente improvável menos de 1%

Maisvulnerável

Aumento na temperaturado globo, em relação à erapré-industrial, e seusimpactos por setor

+6˚C

+5˚C

+4˚C

+3˚C

+2˚C

+1˚C

Elev

ação

no

níve

l do

mar

Menos água emais secas emlatitudesintermediárias eem zonassemiáridas embaixas latitudes

1 a 2 bilhõesde pessoascom escassezde água

1,1 a 3,2bilhões depessoas comescassez deágua

O MAPA DAVULNERABILIDADE

0,4 a 1,7bilhões depessoas comescassez deágua

Até um quintoda populaçãomundial afetadapor enchentes

6-9 cm

15-24 cm

29-45 cm

Os países maisvulneráveis aosimpactos da mudançado clima, em 2050,sem medidas deadaptação, no cenárioA2 (pessimista)

AMÉRICA

OceanoPacífico

EUROPA

AMÉRICADO SUL

ÁFRICA

ÁSIA

OCEANIA

OceanoAtlântico

OceanoÍndico

OceanoPacífico

Menosvulnerável

Sem dados

ABOMINÁVEL

AméricadoNorte>> RESSACAS e o aumento donível do mar têm o potencial deprejudicar metrô, túneis, pontes eaeroportos de Nova York

>> A intensidade dos FURACÕESno golfo do México provavelmenteaumentará

>> No Canadá pode haver aumentoem centenas de quilômetros dafaixa de terras apropriada àAGRICULTURA e à extração demadeira. O mesmo fenômeno deveocorrer na Sibéria

GELEIRAS EM EXTINÇÃO

>> Nos próximos 15 anos, as geleirasdos ANDES tropicais muitoprovavelmente desaparecerão,reduzindo a água disponível para ageração hidrelétrica na Bolívia, noPeru, na Colômbia e no Equador

Efeitos da mudança climática já serãosentidos antes do fim do século

MUNDONOVOEfeitos da mudança climática já serãosentidos antes do fim do século

A18 ciência SÁBADO, 7 DE ABRIL DE 2007 ef

Eliminarpobrezaémelhorestratégia,dizvicedoIPCCPara economista, país rico pode reduzir emissões sem perder qualidade de vida

Tecnologia de redução deemissões pode ser criadarápido se governos deremo sinal certo às indústrias,afirma Mohan Munasinghe................................................................................................DO ENVIADO A BRUXELAS

A melhor estratégia de adap-tação às mudanças globais noclima é a redução da pobreza,especialmente nos países afri-canos. Sem isso, afirma o eco-nomista cingalês Mohan Mu-nasinghe, vice-chefe do IPCC,“as pessoas não vão viver o sufi-ciente para sentirem os efeitosdas mudanças climáticas”.

Em entrevista à Folha, con-cedida na véspera do lança-mento do sumário executivodo Grupo de Trabalho 2 do pai-nel do clima, Munasinghe dizque o relatório não é catastro-fista e que os países ricos de-vem tomar a dianteira na redu-ção dos gases-estufa.

Leia a entrevista.(MAC)

FOLHA - Qual é a principal mensa-gem deste relatório para os paísespobres?

MOHAN MUNASINGHE - Ela é mui-to séria: o cinturão tropical, on-de estão os países em desenvol-vimento, será muito afetado, ospaíses mais pobres sofrerão ospiores efeitos e os grupos maispobres são os mais vulneráveis.Na América Latina há três pro-blemas específicos: a escassezde água é o primeiro. Se a tem-peratura subir entre 1˚C e 2˚C,que é o que se prevê para o fimdo século, devemos ter 50 mi-lhões de pessoas afetadas pelafalta d’água. E isso também temconseqüências na produção decomida. Outro é a redução dabiodiversidade, principalmen-te na floresta amazônica. Comum aumento de até 2˚C, as ár-vores serão as principais afeta-das. A partir daí, muitos ani-mais serão afetados, porquenão conseguem migrar no mes-mo ritmo das mudanças climá-ticas. O terceiro é a perda de ge-leiras, especialmente na regiãodos Andes. Esses efeitos têmuma chance alta de acontecer,e, como já há uma quantidadede gases do efeito estufa na at-mosfera, mesmo com a paradatotal das atividades humanasalguns vão acontecer.

FOLHA -Oquesedevefazer?MUNASINGHE - Para os países

em desenvolvimento, que játêm problemas sérios de po-breza, a principal prioridade éaumentar a renda da populaçãoe a qualidade de vida. Afinal, senão resolvermos os problemasde desenvolvimento hoje —mánutrição, falta de saúde, de ha-

bitação— as pessoas não vão vi-ver o suficiente para sentiremos efeitos das mudanças climá-ticas. E o modo de fazer isso écombinando melhorias de ren-da e erradicação da pobrezacom redução de emissões.Combater as mudanças climá-ticas e criar estratégias deadaptação a elas não significaque precisamos abrir mão dodesenvolvimento.

FOLHA - Como devem ser divididasas responsabilidades sobre a redu-ção de emissões? É cada vez maisconsensual que os países pobres de-verãotambémadotarmetas.

MUNASINGHE - Os países desen-volvidos têm de mostrar lide-rança na mitigação das mudan-ças climáticas. Os países em de-senvolvimento têm consciên-

cia e querem contribuir, massuas emissões per capita sãomuito pequenas se comparadascom as dos países ricos, e elesprecisam aumentar seu uso deenergia para crescer, então elesainda têm um espaço para au-mentar suas emissões. Os paí-ses desenvolvidos é que preci-sam reduzir suas emissões, epodem fazer isso sem diminuira qualidade de vida, há tecnolo-gia para isso. Os países euro-peus são muito mais sérios nis-so do que os EUA, que não acei-tam o protocolo de Kyoto.

FOLHA - Qual é a sua opinião sobreoprogramabrasileirodoálcool?

MUNASINGHE - O etanol não de-ve ser visto apenas sob a óticadas mudanças climáticas, jáque as emissões de carbono são

apenas uma pequena parte daequação. O mais importante doetanol é seu papel na segurançaenergética, já que a demandapor petróleo segue aumentan-do e as reservas começaram adeclinar. Ele só não serve parapaíses com pouca terra, desti-nada só à produção de comida.

FOLHA - O resultado do relatóriodo Grupo de Trabalho 2 é motivoparapânico?

MUNASINGHE - Não será umaapresentação catastrofista. Aspessoas verão que as mudançasnão vão acontecer da noite pa-ra o dia. Até 2030 veremos al-guns efeitos modestos, centra-dos principalmente nos cicloshidrológicos e no derretimentodas geleiras. Até 2050 os efei-tos serão maiores e crescem daípor diante, mas nossos poderesde previsão não são tão apura-dos a partir dessa data. A infor-mação mais dramática é queeventos extremos, como fura-cões, vão ficar mais comuns.

FOLHA - Ainda há espaço para ceti-cismoemrelaçãoaoaquecimento?

MUNASINGHE - Eu já achava háseis anos, no terceiro relatório,que havia pouco espaço paranegação. Com os dois últimosrelatórios, eliminamos a possi-bilidade de negar a influênciada ação humana e a relação en-tre mudanças climáticas e mu-danças naturais. O único argu-mento a que os negadores ain-da podem se agarrar é o de quetalvez precisemos de mais tem-po para a mitigação. Alguns di-zem que é muito caro começaresse trabalho agora, que daquia 20 anos teremos novas tecno-logias e poderemos resolver is-so muito mais rapidamente. Sesinalizarmos hoje às empresasque estamos falando sério so-bre as ações para mitigar asmudanças climáticas, elas de-senvolveriam a tecnologia empoucos anos. Se ficarmos divi-didos, considerando começar amitigação daqui a 20 anos, asempresas não farão nada.

FOLHA - Quanto o público aindaagüenta ouvir sobre mudança cli-mática? A repetição excessiva damensagem não pode acabar des-sensibilizandoa população?

MUNASINGHE - Como a mudan-ça climática é um fenômenoque se manifesta a longo prazoe os interesses das pessoas sãomais imediatos, esse cansaçopode acontecer. Mas o aumen-to dos eventos climáticos ex-tremos pode mudar isso —umfuracão Katrina desperta mui-ta atenção sobre o clima. Nãoquero dizer que todos os even-tos extremos são causados pe-las mudanças climáticas, masesses eventos lembrarão aspessoas, de tempos em tempos,que o problema está lá.

Ana Carolina Fernandes - 31.ago.2006/Folha Imagem

FOTO2.025.0

Mohan Munasinghe explica o quão dura é a realidade do clima

PERGUNTAS E RESPOSTASO que é o efeitoestufa? O que éaquecimentoglobal?

>> O efeito estufa é o aprisionamento docalor na Terra por uma capa de gases É umfenômeno natural, mas ficou mais intensopor causa de atividades humanas como aqueima de combustíveis fósseis e odesmatamento, que emitem gás carbônico(CO2). O agravamento do efeito estufa éa principal causa da mudança climáticaque o planeta sofre, caracterizada peloaquecimento global e por conseqüências

O que é o IPCC? >> O IPCC (Painel Intergovernamentalsobre Mudança Climática) é um comitê de2.500 cientistas criada pela ONU paraavaliar o estado do conhecimento sobre oproblema do clima, suas conseqüências ea melhor forma de lidar com ele. O IPCCnão produz pesquisas próprias. Seutrabalho é analisar a literatura científicajá existente para emitir um consenso

O IPCC já nãotinhadivulgado umrelatório emfevereiro? Porque outroagora?

>> O relatório de fevereiro, do Grupo deTrabalho 1 do IPCC, se referia a estudossobre a base física da mudança climática.O relatório publicado ontem, do Grupo deTrabalho 2, trata de impactos do fenômenosobre o mundo, das formas de se adaptara eles e dos pontos de vulnerabilidade. Umterceiro relatório, previsto para maio,tratará do problema da redução da emissãode gases-estufa. Ambos integram o QuartoRelatório de Avaliação (AR4) do painel

Por que asestimativas donovo relatóriosão maisimprecisas?

>> O relatório do grupo 2 lida com maisvariáveis que o do grupo 1, que tratousobretudo de fazer estimativas de aumentode temperatura e elevação do nível dooceano. Para conhecer com precisão oimpacto futuro da mudança climática sobrea Amazônia, por exemplo, seria precisosaber quanto desmatamento a ocupaçãoda região causará nas próximas décadas,o que é impossível prever com acurácia

Parapaísesemdesenvolvimento,quejátêmproblemassériosdepobreza,aprioridadeéaumentararendadapopulaçãoeaqualidadedevida.Senão(...)aspessoasnãovãoviverosuficienteparasentirosefeitosdasmudançasclimáticasMOHANMUNASINGHEeconomista,vice-chefedo IPCC

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