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GERAIS 8 BELÉM, DOMINGO, 21 DE DEZEMBRO DE 2014 esde 1980, início da epide- mia de Aids no Brasil, até ju- nho de 2014, de acordo com o novo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde (MS), cer- ca de 734 mil pessoas vivem com HIV e Aids hoje no País. Deste total, 80% (589 mil) foram diag- nosticadas. Desde os anos 80 fo- ram notificados 757 mil casos da doença no Brasil. Segundo o MS, a epidemia no Brasil está estabi- lizada, com taxa de detecção em torno de 20,4 casos, a cada 100 mil habitantes. Isso representa cer- ca de 39 mil casos de Aids novos ao ano. O boletim foi divulgado no último dia 1º, Dia Mundial de Luta Contra a Aids. Nesse mesmo período fo- ram registrados no País 491.747 (65%) casos de aids em homens e 265.251(35%) em mulheres. De 1980 até 2008, observou-se au- mento na participação das mu- lheres nos casos de aids. “Com isso, a razão de sexo, expressa pela relação entre o número de casos de aids em homens e mu- lheres, apresentou redução de até 15 casos em homens para cada 10 casos em mulheres. No entanto, a partir de 2009, observa-se uma redução nos casos de aids em mu- lheres e aumento nos casos em homens, refletindo-se na razão de sexo, que passou a ser de 18 casos de aids em homens para cada 10 casos em mulheres em 2013”, traz o boletim. O relatório do Fundo de De- senvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU) para as Mulheres mostra que, na faixa etária entre 15 e 25 anos, 60% das infecções ocorrem no sexo fe- minino. No Pará, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde (Sespa), de 2010 até 12 de agosto deste ano, ocorreram um total de 4.231 casos de aids no Es- tado, dos quais 2.616 em homens e 1.615 em mulheres. Dos 2.616 casos masculinos em 2010 ocor- reram 633; 2011 (505); 2012 (550), 2013 (647), 2014 (281). Em relação às mulheres os dados oscilam: 2010 (415 casos); 2011 (318); 2012 (315); 2013 (407) e 2014 (160). “No Pará existe diminuição nos casos entre homens e mulhe- res, porém a aids é mais frequente nos homens e a proporção entre ambos tem reduzido, então, há di- minuição nas mulheres. No caso delas, a maioria das situações ocorrem por transmissão sexu- al e houve aumento na detecção da doença no pré-natal, quando as mulheres descobrem que são soropositivas. Muitas são jovens, entre 15 e 25 anos, e senhoras. No primeiro caso, é comum a preocu- pação delas mais com a gravidez, utilizam o método da tabelinha, e não há preocupação em se prote- ger da doença fazendo uso do pre- servativo”, afirma Débora Crespo, coordenadora do programa DST/ Pará, da Secretaria de Estado e Saúde Pública (Sespa). No caso da contaminação das doenças nas senhoras, Débora ex- plica que diversas mulheres rela- taram que não se achavam na con- dição de vulnerabilidade, porque se relacionavam somente com um parceiro. “Então, existe a confian- ça e afeto delas junto aos parceiros. Mas mesmo estando em uma rela- ção monogâmica e não se julgando em comportamento de risco, essas mulheres foram vítimas da doença. E para enfrentar o problema elas precisam ter suporte sob o ponto de vista familiar, porque é uma do- ença com estigma forte”, destaca Crespo. Além de fatores econômicos e culturais, ela alerta que as mu- lheres estão muito mais expostas à aids e possuem risco de contraí- la também por conta da anatomia feminina. “Por conta da mucosa da vagina, ao ter contato com o esperma de um homem soroposi- tivo, facilita que o vírus da aids se instale no corpo, e também quan- do elas já possuem outras doenças sexualmente transmissíveis”. Segundo Jair Santos, presi- dente do Grupo para Valorização, Integração e Dignificação do Do- ente de Aids (Paravidda), dos 1,5 mil pessoas que recebem aten- dimento na instituição a maioria são mulheres. “A maior parte das mulheres acompanhadas na entidade ad- quiriram o vírus nas relações se- MULHERES ESTÃO MAIS RELATÓRIOS DE SAÚDE REVELAM AVANÇO ENTRE JOVENS E CASADAS D O uso da camisinha é a melhor forma de prevenção contra as doenças sexualmente transmissíveis TARSO SARRAF/ARQUIVO AMAZÔNIA xuais e afirmam que confiavam nos maridos e namorados. Elas precisam ter a consciência em relação à doença com ela mesma para ser um agente multiplicador de informações junto à sociedade. A mulher precisa continuar lutan- do para sair da submissão econô- mica e negociar com o parceiro o uso do preservativo, pois, para mim, a fidelidade é um mito”, afir- ma o presidente do Paravidda. Para Santos, o principal pro- blema para conseguir evitar a aids no País e no Estado perpas- sa pela questão da educação da população sobre a importância e consciência de usar preservativo. “O poder público deve reforçar ações de políticas públicas com todos os grupos, sobretudo, junto aos jovens heterosexuais, porque aumentou a incidência de casos entre homens jovens de 15 a 24 anos no País”, destaca Santos. O Paravidda existe há 22 anos e visa dar apoio e assistência às pessoas que vivem com o vírus HIV (portadores) ou que já são consideradas doentes de Aids. CLEIDE MAGALHÃES Da Redação Jair Santos, do Paravidda, diz que fidelidade é mito; portanto, todos devem evitar sexo sem preservativo PAULA SAMPAIO/ARQUIVO AMAZÔNIA

Mulheres são mais vulneráveis à Aids (1)

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GERAIS8

BELÉM, DOMINGO, 21 DE DEZEMBRO DE 2014

esde 1980, início da epide-mia de Aids no Brasil, até ju-nho de 2014, de acordo com

o novo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde (MS), cer-ca de 734 mil pessoas vivem com HIV e Aids hoje no País. Deste total, 80% (589 mil) foram diag-nosticadas. Desde os anos 80 fo-ram noti� cados 757 mil casos da doença no Brasil. Segundo o MS, a epidemia no Brasil está estabi-lizada, com taxa de detecção em torno de 20,4 casos, a cada 100 mil habitantes. Isso representa cer-ca de 39 mil casos de Aids novos ao ano. O boletim foi divulgado no último dia 1º, Dia Mundial de Luta Contra a Aids.

Nesse mesmo período fo-ram registrados no País 491.747 (65%) casos de aids em homens e 265.251(35%) em mulheres. De 1980 até 2008, observou-se au-mento na participação das mu-lheres nos casos de aids. “Com isso, a razão de sexo, expressa pela relação entre o número de casos de aids em homens e mu-lheres, apresentou redução de até 15 casos em homens para cada 10 casos em mulheres. No entanto, a partir de 2009, observa-se uma redução nos casos de aids em mu-lheres e aumento nos casos em homens, re� etindo-se na razão de sexo, que passou a ser de 18 casos de aids em homens para cada 10 casos em mulheres em 2013”, traz o boletim.

O relatório do Fundo de De-senvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU) para as Mulheres mostra que, na faixa etária entre 15 e 25 anos, 60% das infecções ocorrem no sexo fe-minino. No Pará, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde (Sespa), de 2010 até 12 de agosto deste ano, ocorreram um total de 4.231 casos de aids no Es-tado, dos quais 2.616 em homens e 1.615 em mulheres. Dos 2.616 casos masculinos em 2010 ocor-reram 633; 2011 (505); 2012 (550), 2013 (647), 2014 (281). Em relação às mulheres os dados oscilam: 2010 (415 casos); 2011 (318); 2012 (315); 2013 (407) e 2014 (160).

“No Pará existe diminuição nos casos entre homens e mulhe-res, porém a aids é mais frequente nos homens e a proporção entre ambos tem reduzido, então, há di-minuição nas mulheres. No caso delas, a maioria das situações ocorrem por transmissão sexu-al e houve aumento na detecção da doença no pré-natal, quando as mulheres descobrem que são soropositivas. Muitas são jovens, entre 15 e 25 anos, e senhoras. No primeiro caso, é comum a preocu-pação delas mais com a gravidez, utilizam o método da tabelinha, e não há preocupação em se prote-ger da doença fazendo uso do pre-servativo”, a� rma Débora Crespo, coordenadora do programa DST/Pará, da Secretaria de Estado e Saúde Pública (Sespa).

No caso da contaminação das doenças nas senhoras, Débora ex-plica que diversas mulheres rela-taram que não se achavam na con-dição de vulnerabilidade, porque se relacionavam somente com um parceiro. “Então, existe a confian-ça e afeto delas junto aos parceiros. Mas mesmo estando em uma rela-ção monogâmica e não se julgando em comportamento de risco, essas mulheres foram vítimas da doença. E para enfrentar o problema elas precisam ter suporte sob o ponto de vista familiar, porque é uma do-ença com estigma forte”, destaca Crespo.

Além de fatores econômicos e culturais, ela alerta que as mu-lheres estão muito mais expostas à aids e possuem risco de contraí-la também por conta da anatomia feminina. “Por conta da mucosa da vagina, ao ter contato com o esperma de um homem soroposi-tivo, facilita que o vírus da aids se instale no corpo, e também quan-do elas já possuem outras doenças sexualmente transmissíveis”.

Segundo Jair Santos, presi-dente do Grupo para Valorização, Integração e Digni� cação do Do-ente de Aids (Paravidda), dos 1,5 mil pessoas que recebem aten-dimento na instituição a maioria são mulheres.

“A maior parte das mulheres acompanhadas na entidade ad-quiriram o vírus nas relações se-

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mim, a � delidade é um mito”, a� r-ma o presidente do Paravidda.

Para Santos, o principal pro-blema para conseguir evitar a aids no País e no Estado perpas-sa pela questão da educação da população sobre a importância e consciência de usar preservativo. “O poder público deve reforçar ações de políticas públicas com

todos os grupos, sobretudo, junto aos jovens heterosexuais, porque aumentou a incidência de casos entre homens jovens de 15 a 24 anos no País”, destaca Santos.

O Paravidda existe há 22 anos e visa dar apoio e assistência às pessoas que vivem com o vírus HIV (portadores) ou que já são consideradas doentes de Aids.

CLEIDE MAGALHÃESDa Redação

Jair Santos, do Paravidda, diz que fidelidade é mito; portanto, todos devem evitar sexo sem preservativo

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