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1 ELISANDRA SCUSSEL UMA ABORDAGEM SOBRE OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DE FUNCIONAMENTO E APLICAÇÕES DA ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA A NÍVEL DE ENSINO MÉDIO E TÉCNICO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Licenciatura em Física do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Campus Bento Gonçalves como requisito parcial à obtenção do título de Licenciada em Física. Orientador: Prof. Dr. Alexandre José Bühler BENTO GONÇALVES, JANEIRO DE 2013.

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ELISANDRA SCUSSEL

UMA ABORDAGEM SOBRE OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DE

FUNCIONAMENTO E APLICAÇÕES DA ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA A

NÍVEL DE ENSINO MÉDIO E TÉCNICO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao curso de Licenciatura em Física do Instituto

Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio

Grande do Sul, Campus Bento Gonçalves como

requisito parcial à obtenção do título de Licenciada

em Física.

Orientador: Prof. Dr. Alexandre José Bühler

BENTO GONÇALVES, JANEIRO DE 2013.

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ELISANDRA SCUSSEL

UMA ABORDAGEM SOBRE OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DE

FUNCIONAMENTO E APLICAÇÕES DA ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA A

NÍVEL DE ENSINO MÉDIO E TÉCNICO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao curso de Licenciatura em Física do Instituto

Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio

Grande do Sul, Campus Bento Gonçalves como

parte dos requisitos à obtenção do título de

Licenciada em Física.

Aprovado em janeiro, 2013.

___________________________________________________________________

Prof. Dr. Alexandre José Bühler – Orientador.

___________________________________________________________________

Prof. Dr. José Luis Boldo – IFRS, Câmpus Bento Gonçalves.

___________________________________________________________________

Prof. Dr. Augusto Massashi Horiguti– IFRS, Câmpus Bento Gonçalves.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, irmãos e irmãs pela

dedicação e carinho que sempre recebi, ao meu noivo Rodrigo

pela compreensão de minha ausência e falta de tempo.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao professor orientador deste trabalho pelo

apoio recebido, bem como todos os professores desde o início

do Curso e as minhas colegas da turma 2009/1 pelo apoio e

companheirismo prestado nestes anos de graduação.

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"A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original"

(Albert Einstein)

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SUMÁRIO

A ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA NOS LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO

MÉDIO ...................................................................................................................... 12

1 CENÁRIO ATUAL DA ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA ................................ 16

1.1 Cenário atual mundial da energia solar fotovoltaica ............................................ 16

1.2 Cenário atual brasileiro da energia solar fotovoltaica .......................................... 22

2 A ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA ................................................................. 27

2.1 Histórico .............................................................................................................. 27

2.2 Conceitos teóricos ............................................................................................ 28

2.2.1 Efeito fotovoltaico ............................................................................................. 28

2.3 Como é possível gerar eletricidade a partir da luz? ....................................... 30

2.3.1 Curva característica I-V .................................................................................... 33

2.3.2 Variação da curva I-V com a temperatura e irradiância e a curva de potência 34

2.4 Sistemas de energia solar fotovoltaica ........................................................... 35

2.5 Componentes dos sistemas de energia solar fotovoltaica ........................... 37

2.6 Módulos solares fotovoltaicos ......................................................................... 38

2.6.1 Módulos de Células Monocristalinas ................................................................ 39

2.6.2 Módulos de Células Policristalinas ................................................................... 40

2.6.3 Tipos de células fotovoltaicas ........................................................................... 41

2.6.4 Módulos de Filmes Finos .................................................................................. 42

2.7 Sistemas isolados (Off-grid) ............................................................................. 42

2.8 Sistemas conectados (Grid-connected) .......................................................... 43

2.9 Aplicações da Energia Solar Fotovoltaica ...................................................... 44

3 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 46

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 47

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Países com maior capacidade instalada de energia solar fotovoltaica

conectada à rede.. ..................................................................................................... 19

Tabela 2: Capacidade global anual de energia solar fotovoltaica.. ........................... 19

Tabela 3: Países com maiores adições de energia solar fotovoltaica conectada à

rede.. ......................................................................................................................... 20

Tabela 4 – Potência instalada, localização e ano de entrada em operação das 10

maiores centrais fotovoltaicas do mundo. ................................................................. 20

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Central de energia solar fotovoltaica de Montalto di Castro na Itália......... 21

Figura 2: Central de energia solar fotovoltaica de Sarnia no Canadá. ..................... 21

Figura 3: Central de energia solar fotovoltaica de Neuhardenberg na Alemanha. ... 21

Figura 4: Potência fotovoltaica instalada acumulada no mundo entre os anos de

2000 a 2009. ............................................................................................................. 22

Figura 5: Irradiação média anual em plano horizontal (kWh/m2/dia) ....................... 23

Figura 6: Carta solar do Atlas Solarimétrico Brasileiro que mostra a média das horas

de Sol no território brasileiro ...................................................................................... 24

Figura 7: Célula fotovoltaica.. ................................................................................... 31

Figura 8: Efeito Fotovoltaico na junção PN.. ............................................................ 32

Figura 9: Curva característica (I-V) e curva de potência x tensão (P-V) de um

módulo (m-Si. 36 células) com 130 W de potência e 12 V de tensão nominal. ......... 33

Figura 10: Curvas I-V analíticas relativas a diferentes intensidades de irradiância

para um módulo de 36 células .................................................................................. 35

Figura 11: Curvas I-V de um módulo de 36 células relativas a diferentes

temperaturas e mesma irradiância ............................................................................ 35

Figura 12: Dois exemplos de sistemas fotovoltaicos: (a) instalação no telhado de

uma cervejaria na Suiça; (b) Fachada do parque Solarpark Gams – Suiça.. ............ 36

Figura 13: Célula de silício monocristalino ............................................................... 39

Figura 14: Célula de silício policristalino. ................................................................. 40

Figura 15: Módulo flexível de silício amorfo. ............................................................ 42

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RESUMO

A Energia Solar Fotovoltaica é a energia obtida através da conversão direta da

luz em eletricidade, através do efeito fotovoltaico. O efeito fotovoltaico, relatado por

Edmond Becquerel, em 1839, é o aparecimento de uma diferença de potencial na

junção de dois materiais semicondutores com características distintas, produzida

pela absorção da luz. A célula fotovoltaica é a unidade fundamental do processo de

conversão. Este trabalho visa a elaboração de um material didático básico sobre os

conceitos e aplicações da energia solar fotovoltaica a serem lecionados em nível de

ensino médio e técnico. Considerada uma fonte eterna de energia, o Sol fornece em

um único dia mais energia que a demanda de todos os habitantes do planeta por

aproximadamente um ano. É nessa perspectiva que é feita uma introdução teórica

dos conceitos envolvidos na conversão da energia solar em energia elétrica. Aborda-

se o funcionamento dos sistemas fotovoltaicos e seus componentes, os módulos e

as células fotovoltaicas, os sistemas isolados e os conectados à rede. O presente

trabalho baseia-se numa revisão bibliográfica referente ao tema da energia solar

fotovoltaica.

PALAVRAS-CHAVE: Efeito fotovoltaico, módulo fotovoltaico, energia

renovável.

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ABSTRACT

The Photovoltaic (PV) Solar Energy is the energy obtained through the direct

conversion of light into electricity by means of the photovoltaic effect. The

photovoltaic effect, reported by Edmond Becquerel in 1839, is the appearance of a

potential difference in the junction of two semiconductors with different properties,

produced by light absorption. The PV cell is the fundamental unit in the conversion

process. This work aims the development of a basic teaching material about the

concepts and applications of PV solar energy to be taught in the levels of secondary

and technical. Considered as an eternal source of energy, the sun provides in a

single day more energy than the demand of all inhabitants of the planet in about a

year. In this perspective it is performed an introduction of the theoretical concepts

concerging the conversion of solar energy into electricity. It also discussed operation

of photovoltaic systems and their components, modules and photovoltaic cells,

isolated and grid connected systems. This work is based on a literature review on the

topic of solar photovoltaics.

Keywords: photovoltaic effect, photovoltaic module, renewable energy.

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INTRODUÇÃO

Assim como a energia eólica e a proveniente das ondas ou das marés, a

energia solar se caracteriza como inesgotável, sendo considerada uma alternativa

energética muito promissora para enfrentar os desafios da expansão da demanda de

energia com menor impacto ambiental.

As aplicações práticas da energia solar podem ser divididas em dois grupos:

energia solar fotovoltaica, que é o processo de aproveitamento da energia solar para

conversão em energia elétrica, utilizando os módulos fotovoltaicos e a energia

térmica (coletores planos e concentradores) relacionada basicamente aos sistemas

de aquecimento de água. Existe ainda a possibilidade da utilização da energia solar

por meio químico, similar ao que ocorre na fotossíntese através das recentes células

orgânicas ou células de corante.

As vantagens da energia solar ficam evidentes, quando os custos ambientais de

extração, geração, transmissão, distribuição e uso final de fontes fósseis de energia

são comparadas à geração por fontes renováveis, como elas são classificadas. A

energia solar fotovoltaica vai desempenhar um papel cada vez mais relevante na

produção de energia elétrica nas próximas décadas.

Nenhuma outra fonte de energia renovável tem experimentado um crescimento

anual na potência instalada no mundo como a energia solar fotovoltaica. Para se ter

uma idéia, no ano de 2000 a potência instalada no mundo era cerca de 1,4 GW. Já

em 2011 foram instalados cerca de 30 GW no mundo inteiro praticamente

alcançando a marca dos 70 GW instalados. No entanto, a viabilidade de sua

penetração em larga escala no mercado da energia depende da evolução das

tecnologias no sentido da redução do seu custo, algo que vem acontecendo

gradualmente nos últimos anos. O momento atual é extremamente interessante,

porque ainda não se vislumbra sequer quais das numerosas tecnologias em

investigação poderão vir a impor-se e nem sequer o material de base está decidido.

No Brasil as principais centrais da ordem de MW começaram a ser instaladas

no ano de 2011. A realidade neste país ainda está muito longe dos patamares

europeus, mas é evidente que o futuro reserva uma fatia considerável da matriz

energética para esta fonte de energia.

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Levando em consideração os aspectos sucintamente abordados, fica clara a

importância desse tema no cenário mundial e brasileiro atual. Dessa forma surge o

interesse em introduzir alguns conceitos simples sobre a energia solar fotovoltaica

de forma que isto possa despertar o interesse dos alunos de ensino médio e técnico

pelo assunto. Temas atuais como este podem ser responsáveis por despertar no

aluno o interesse em cursos de graduação em áreas de engenharia e tecnologia.

Vale ressaltar que o Brasil se encontra carente de profissionais qualificados nessas

áreas. O objetivo deste trabalho é elaborar um material didático sobre a energia

solar fotovoltaica, aplicações e funcionamento desta tecnologia em um nível de

complexidade condizente com o qual um aluno de ensino médio e técnico possa

compreender.

Inicialmente é realizada uma revisão bibliográfica nos livros didáticos de ensino

médio e técnico referente à energia solar fotovoltaica, onde esta energia renovável

geralmente não é comentada. Em seguida é abordado o cenário atual mundial e

brasileiro da energia solar fotovoltaica, bem como o crescimento desta indústria ao

longo dos últimos anos. Relatam-se as áreas com maior irradiação solar, visto que o

Brasil possui índices de radiação solar altos, demonstrando um imenso potencial

para a energia solar fotovoltaica.

A seguir será apresentada uma análise da revisão bibliográfica realizada em

diversos livros didáticos utilizados no ensino médio.

A ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA NOS LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO

MÉDIO

Esta revisão está focada em conteúdos relacionados à energia solar

fotovoltaica e dos conceitos básicos envolvendo a conversão da energia solar em

energia elétrica por meio do efeito fotovoltaico.

Ao fazer uma análise do conteúdo encontrado em livros didáticos do Ensino Médio observa-se que no livro dos autores Aurélio Gonçalves Filho e Carlos Toscano (Gonçalves Filho e Toscano, 2011) no capítulo “Uma teoria para a temperatura e o calor”, na página 150, no final do capítulo encontra-se um texto e interpretação o qual aborda conteúdo sobre o coletor solar:

“A energia solar pode ser aproveitada para o aquecimento da água em residências, antes de seu consumo. (...) No funcionamento do coletor solar, verificam-se os três processos de transferência de energia por diferença de temperatura: irradiação, condução e convecção. Uma

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quantidade de energia que incide por radiação é absorvida pela chapa metálica, que transmite uma parcela desta energia absorvida para a água e uma pequena parte desta energia é refletida para o ar que envolve a chapa. A proporção dessas três parcelas de energia (absorvida, transmitida e refletida) em relação à quantidade total de energia incidente indica a eficiência do coletor. A cor preta na placa metálica facilita a absorção da radiação incidente, mas um bom absorvedor é também um bom emissor. Ou seja, se um objeto escuro absorve grande quantidade de energia, ele emitirá uma grande quantidade. É por essa razão que os radiadores são pintados de preto.”

Observa-se que não é comentado sobre a energia solar fotovoltaica, apenas da

energia térmica. Bem como, ao abordar sobre a cor empregada nas placas

metálicas afirmam que a cor preta facilita a absorção, porém ela maximiza a

absorção.

No livro dos autores Antonio Máximo e Beatriz Alvarenga (Alvarenga e Máximo,

1997 e 2007), no capítulo Trabalho e Energia, verifica-se um comentário onde

apresenta uma figura com a seguinte explicação: “Em um coletor solar, a energia

das radiações provenientes do Sol transforma-se em energia térmica para o

aquecimento da água”. Observa-se que nos dois livros pesquisados dos autores

citados o conteúdo abordado é exatamente o mesmo, não há mudança alguma em

10 anos referente a este tema.

Na Coleção Física em Contextos dos autores Maurício Pietrocola, Alexander

Pogibin, Renata de Andrade e Talita Raquel Romero (Pietrocola et al., 2010) no

capítulo “A energia e suas outras faces”, nas páginas 109 e 110, os autores fazem

uma tabela relacionando os tipos de energias renováveis com as respectivas formas

de obtenção, usos, as vantagens e desvantagens, bem como a ordem de grandeza

das formas de geração de energia. O conteúdo da energia solar é abordado como

energia renovável, sendo a obtenção explicada da seguinte forma:

“lâminas recobertas com material semicondutor, como o silício, são expostas ao sol; a luz excita os elétrons do silício, que formam uma corrente elétrica. A radiação solar também pode ser absorvida por coletores solares que aquecem a água das residências”.

Nota-se que esta explicação está bastante simplificada para alunos do ensino

médio ou técnico.

Ainda, neste livro didático é comentado sobre as vantagens e desvantagens da

utilização da energia solar fotovoltaica, onde consta que ela não é poluente, não

interfere no efeito estufa e não necessita de turbinas ou geradores para a produção

da energia elétrica. Cita como desvantagens a exigência de altos investimentos, dos

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coletores ocuparem espaços consideravelmente extensos em comparação com a

capacidade energética fornecida e a baixa eficiência.

Os autores Kazuhito e Fuke (Fuke e Kazuhito, 2010), na página 294 do capítulo

Energia Mecânica fazem uma breve explanação sobre a energia solar, onde estes

escrevem que:

“a oferta de energia solar é enorme, chegando à ordem de grandeza de 10

27J. Se essa quantidade toda fosse transformada em energia elétrica,

seria o suficiente para atender uma residência por dezenas de quatrilhões de anos! Em um dia claro a potência incidente do Sol é de 750W em cada metro quadrado. Em países de grande extensão e baixas latitudes como o Brasil, essa energia é facilmente aproveitada em coletores solares e placas fotovoltaicas, que são instalados em telhados ou áreas rurais”.

No texto descrito acima nota-se alguns equívocos por parte dos autores, visto

que em um dia claro a constante solar varia aproximadamente de 1000 W/m² a 1200

W/m² no território brasileiro. O valor citado pelos autores está muito mais de acordo

com a realidade dos países europeus de alta latitude, como a Alemanha, por

exemplo. Outro equívoco grave é em relação à oferta de energia solar que chega a

Terra na ordem de grandeza de 1017J e não na ordem de 1027J como escrito no livro

pelos autores. Ao fazerem a comparação do aproveitamento da quantidade de

energia solar transformada em energia elétrica, pode ser visto que não é um bom

exemplo a ser utilizado, uma vez que poderia ser feita esta comparação levando-se

em conta o consumo mundial, assim o aluno conseguiria visualizar melhor o quanto

de energia é fornecida pelo Sol. Para se ter uma ideia em 2008, o consumo mundial

de energia elétrica foi de 17.436,90 TWh, segundo dados da Energy Information

Administration (EIA, 2011). Tendo em conta esse valor, seriam necessários apenas

cerca de 6 minutos para que chegassem à Terra energia suficiente para suprir toda

a demanda de energia elétrica do mundo no ano de 2008. Este cálculo é

relativamente simples de ser feito bastando para tal que se leve em consideração

que em média chegam a Terra 1362 W/m² provindos do Sol e que a área atingida é

de cerca de 1,28 x 1014 m². Entretanto, cabe ressaltar que o cálculo leva em

consideração toda a radiação que atinge a Terra por unidade de tempo, não

considerando a parte que é refletida pelas nuvens e não atinge o solo ou que é

absorvida alterando o espectro solar.

No livro de Carron e Guimarães (Carron e Guimarães, 2005) observa-se no

tópico Ciência e Tecnologia, na página 268, uma explicação superficial das células

fotovoltaicas com uma breve introdução do funcionamento de uma célula

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fotovoltaica. Os autores comentam que na busca de alternativas os cientistas se

voltaram para uma fonte de energia que, além de não poluir, é inesgotável, sob

muitos aspectos: a energia solar.

“O aproveitamento da energia solar para a produção de energia elétrica pode ser feito por meio de células fotovoltaicas, que utilizam um material semicondutor, o silício. Basicamente, uma célula fotovoltaica é composta por uma fina camada de material semicondutor do tipo n, depositada sobre uma espessa camada de semicondutor do tipo p. A luz do sol, incidindo sobre a camada p, arranca elétrons que são acelerados por meio da junção pn. Ou seja, com a célula fotovoltaica, a energia solar é transformada em energia elétrica. Essa forma de obtenção de eletricidade ainda apresenta alguns inconvenientes, como as características especiais dos cristais de silício (o que torna o processo mais caro) e o baixo rendimento das células fotovoltaicas (hoje em torno de 15% a 20%). Atualmente, as células fotovoltaicas são muito usadas em satélites, veículos espaciais e em calculadoras de bolso”.

Verifica-se que os autores ao comentarem sobre a junção pn não fazem uma

descrição do que isto significa, deve-se levar em conta de que é necessária uma

breve introdução. Num semicondutor do tipo n existem níveis de energia para os

elétrons perto do topo do gap de energia, e estes elétrons podem ser facilmente

excitados para a banda de condução (átomos de impurezas: com 5 elétrons de

valência). Num semicondutor do tipo p: buracos no fundo do gap de energia

permitem que elétrons de valência sejam excitados para este nível, gerando buracos

extras na banda de valência (átomos de impurezas: com 3 elétrons de valência).

Uma junção pn é formada pela combinação de semicondutores do tipo n e

semicondutores do tipo p dispostos em contato muito próximo. As cargas livres são

originadas próximo a junção, onde existe um campo elétrico que, uma vez existindo

um circuito fechado, origina uma corrente elétrica. A região onde existe o campo é a

própria região de união entre o lado P e o lado N e é chamada de região de

depleção.

Observa-se, ainda, que os autores Carron e Guimarães deixam de exemplificar

as aplicações das células fotovoltaicas na transformação da energia solar

fotovoltaica em energia elétrica, sendo que a tendência mundial para esta energia é

a aplicação em grandes centrais, visto que esta prática passou a ser bastante

vantajosa. Citar como um exemplo e aplicação as calculadoras de bolso é, no

mínimo, uma irresponsabilidade por parte dos autores, pois induz o leitor a acreditar

que a utilização atual das células fotovoltaicas não tem vínculo algum com a

produção de energia. Qualquer curioso que faça uma busca rápida na bibliografia

verá que isto está longe de ser verdadeiro.

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Conforme a revisão bibliográfica realizada nos livros didáticos citados acima

pode-se verificar que estes possuem comentários superficiais referentes ao tema

estudado. Observa-se que o conteúdo de energia solar sempre é abordado como

curiosidade ou texto extra no final de um capítulo e a energia solar fotovoltaica

geralmente não é comentada. Ressalta-se que em alguns comentários os livros

acabam confundindo a energia solar térmica com a energia solar fotovoltaica.

Embora ambas sejam provenientes da luz solar, essas formas de extração de

energia são completamente diferentes.

1 CENÁRIO ATUAL DA ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA

Nesse capítulo será abordado o cenário atual mundial e brasileiro da energia

solar fotovoltaica.

1.1 Cenário atual mundial da energia solar fotovoltaica

O uso de fontes renováveis cresce substancialmente a cada ano, com a energia

solar despontando com os melhores números, sendo uma das indústrias com o mais

acelerado crescimento do mundo na última década. Esta é uma das principais

características do setor de energia solar fotovoltaica global, com o uso de sistemas

conectados a rede crescendo em cerca de 60% a cada ano desde 2005.

Nos últimos anos a energia solar fotovoltaica tem sido vista internacionalmente

como uma tecnologia bastante promissora. Experiências internacionais apresentam

importantes contribuições para análise sobre expansão do mercado, ganhos na

escala de produção e redução de custos para os investidores.

Segundo o relatório Estado Global das Renováveis 2012, produzido pela

REN21( Estado Global das Renováveis, 2012), perto de 30 GW foram adicionados à

capacidade instalada mundial em 2011 (comparado com apenas 17 GW em 2010),

aumentando o total global para 70 GW (98% do total para sistemas conectados à

rede).

A capacidade solar fotovoltaica em operação no fim do ano passado era 10

vezes a de 5 anos atrás, com uma taxa de crescimento anual ultrapassando 58%

para o período de 2006 a 2011. “Muito da nova capacidade instalada foi adicionada

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em uma onda no final do ano, impulsionada pelo acelerado decréscimo nas tarifas,

iminente fim de políticas e redução dramática dos preços”, afirma o relatório.

Com um total de 51 GW até o fim do ano passado, a Europa responde por

quase 75% da capacidade instalada total do mundo, segundo o estudo. Pela

primeira vez, a energia solar fotovoltaica responde por mais capacidade adicional

que qualquer outra tecnologia para geração elétrica: a energia solar fotovoltaica

representa quase 47% de toda a nova capacidade elétrica da União Européia

instalada em 2011.

Dados da European Photovoltaic Industry Association (EPIA, 2012) mostram

que, considerando os sistemas conectados à rede e os isolados, a produção de

eletricidade solar foi de cerca de 85 TWh ( terra watt hora) em 2011. Mais de 25% da

capacidade de energia solar fotovoltaica global está em usinas de larga escala

(aquelas maiores que 200 kW) que ultrapassaram 5.000 unidades em 2010. A

maioria delas está na Espanha, Alemanha e Estados Unidos.

A Europa ainda mantém a liderança com 80% do total global, sendo o maior

mercado tendo a Alemanha, Espanha e Itália em destaque. Em 2011, pela primeira

vez a Itália ultrapassou a Alemanha como mercado número 1, com 9,3 GW de novos

sistemas conectados a rede. A Alemanha ficou em segundo com 7,5 GW, porém

ainda se mantém como o país com maior capacidade instalada, tendo alternando

nos últimos oito anos entre o primeiro e segundo lugar como principal mercado.

Em 2010, a Alemanha foi a principal responsável pelo crescimento, adicionando

mais geração fotovoltaica que todo o mundo. Desde 2009, a Alemanha tem

praticamente dobrado o volume de novas instalações, fechando 2011 com 24,6 GW

de capacidade instalada. O sucesso alemão se deve a uma combinação de um

esquema de tarifas feed-in, boas oportunidades de financiamento, grande

disponibilidade de empresas de tecnologia fotovoltaica qualificadas e uma boa

compreensão pública sobre a tecnologia.

Líder do mercado em 2008 com 2.600 MW instalados, a Espanha viu mais uma

vez uma queda em 2011, com 372 MW adicionados no ano. Com isso, o país

totaliza 4,4 GW de capacidade instalada. Segundo o EPIA, o declínio desde 2009 se

deve a combinação de complexos procedimentos de registro, o que torna difícil

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prever quando o projeto será finalizado e aos baixos valores da tarifa prêmio, se

comparado com outros mercados europeus.

A França viu mais de 1,6 GW em novos sistemas conectados no ano passado,

principalmente por causa das instalações feitas em 2010. O novo esquema de apoio

entrou em vigor em março de 2011 e impõe um limite anual no mercado em 500

MW. Isso permite que sistemas com até 100 kW se beneficiem com as tarifas

prêmios, porém para sistemas maiores que isso, a tarifa é extremamente baixa.

Já a limitação do apoio à energia solar fotovoltaica na República Tcheca,

ficando restrita para sistemas de pequeno porte em telhados, fez com que o

mercado fosse visto como “moribundo” pelo EPIA em 2011. Apenas 6MW foram

conectados à rede, em comparação aos quase 1,5 GW adicionados em 2010, que

foram resultados de uma combinação de tarifa feed-in bastante generosa e redução

nos custos dos sistemas.

Apesar da conhecida dependência dos combustíveis fósseis, cresce a cada dia

o interesse dos Estados Unidos por fontes renováveis. Segundo dados da EPIA em

2011, 1,8 GW foram instalados, aumentado a capacidade instalada para 4,3 GW.

Contudo, em termos de políticas de apoio, o governo cancelou o Programa 1603,

tornando o acesso ao financiamento para novos projetos mais difícil. Isso explica em

partes a corrida nos últimos meses de 2011, que irão ser contabilizados em 2012. A

Califórnia ainda lidera o mercado nacional com 30% de participação.

O Canadá, apesar da radiação limitada em comparação com os Estados

Unidos, continuou aumentando as instalações em 2011, com 364 MW adicionados e

crescendo 340% em comparação com 2010 (105 MW). O país acumula 563 MW de

capacidade instalada, segundo a EPIA. Cabe ressaltar que para o tamanho do país

esse número é muito pequeno.

Na Ásia, com o apoio de autoridades locais e do setor privado a tecnologia faz o

Japão manter-se também como um importante mercado. Mesmo antes do acidente

na usina nuclear de Fukushima, em março de 2010, o mercado japonês já crescia

rapidamente, com 990 MW instalados em 2010 e perto de 1,3 GW em 2011, assim

elevado sua capacidade instalada para 4,9 GW.

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Devido também as metas de aumentar a produção de energia renovável, a

China começa a se estabelecer como um mercado promissor, já sendo o maior

fabricante de células fotovoltaicas no mundo. O Plano Nacional de Energia, lançado

em 2009, prevê que a energia acumulativa instalada no país chegue a 20GW em

2020. Em 2012, a China é oficialmente um mercado multi-gigawatt, diz a EPIA, em

função de diversos programas nacionais e regionais. O governo estabeleceu uma

meta de 5GW para a energia solar fotovoltaica em 2015, com metas de longo prazo

de 20 a 30 GW em 2020. “Mas a realidade já ultrapassou essas metas”, afirma a

EPIA. Em 2011, 2,2 GW foram instalados, com uma capacidade total do país

estando em 3,093 GW. A previsão é que até o final de 2012 o mercado chegue aos

5 GW com um potencial incrível para os próximos anos. A EPIA prevê que em 2016

a capacidade instalada do país seja de 35 GW,com um crescimento anual que pode

chegar a 10 GW.

A tabela 1 apresenta os países com maior capacidade instalada de energia

solar fotovoltaica conectada à rede nos anos de 2008 a 2011:

Tabela 1: Países com maior capacidade instalada de energia solar fotovoltaica conectada à rede.

2008 2009 2011

1 Alemanha Alemanha Alemanha

2 Espanha Espanha Itália

3 Japão Japão Japão

4 Estados Unidos Estados Unidos Espanha

5 Coréia do Sul Itália Estados Unidos

Fonte: REN 21. Renewables 2009 Global Status Report, 2012.

A tabela 2 apresenta a capacidade global anual de energia solar fotovoltaica,

onde a capacidade instalada em 2011 é dez vezes maior que a capacidade instalada

em 2006.

Os países que lideram com a maior adição de energia solar fotovoltaica

conectada à rede são os Europeus, como apresentado na tabela 3.

Tabela 2: Capacidade global anual de energia solar fotovoltaica.

2006 2007 2008 2009 2010 2011

7 GW 9,4 GW 15,7 GW 23,2 GW 40 GW 70GW

Fonte: REN 21. Renewables 2009 Global Status Report, 2012.

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Tabela 3: Países com maiores adições de energia solar fotovoltaica conectada à rede.

2008 2009 2011

1 Espanha Alemanha Itália

2 Alemanha Itália Alemanha

3 Estados Unidos, Coréia do Sul, Japão e Itália Japão China

4 Estados Unidos França

5 República Tcheca Japão

Fonte: REN 21. Renewables 2009 Global Status Report, 2012.

As dez maiores usinas geradoras de energia solar fotovoltaica até o momento

em que este trabalho é escrito são apresentadas na tabela 4:

Tabela 4: Potência instalada, localização e ano de entrada em operação das 10 maiores centrais fotovoltaicas do mundo.

Potência instalada País Localização Em operação

desde

250 MW Estados Unidos Condado de Yuma 2012

214 MW Índia Charanka 2012

145 MW Alemanha Neuhardenberg 2012

128 MW Alemanha Templin 2012

8115 MW França Toul Rosiéres 2012

105,56 MW Ucrânia Perovo 2011

97 MW Canadá Sarnia 2009 e 2010

91 MW Alemanha Briest 2010-2011

84,7 MW Alemanha Finowfurth 2010-2011

84,2 MW Itália Montalto di Castro 2009-2010

Fonte: Pvresources, 2012.

Apresentam-se abaixo nas figuras 1, 2 e 3 algumas das maiores centrais

geradoras de energia solar fotovoltaica.

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Figura 1: Central de energia solar fotovoltaica de Montalto di Castro na Itália. Fonte: Pvresources, 2012.

Figura 2: Central de energia solar fotovoltaica de Sarnia no Canadá. Fonte: Pvresources, 2012

Figura 3: Central de energia solar fotovoltaica de Neuhardenberg na Alemanha. Fonte: Pvresources, 2012.

Para ressaltar a importância que a energia solar fotovoltaica tem ganhado nos

últimos anos, a figura 4 apresenta a potência fotovoltaica instalada acumulada no

mundo nos anos de 2000 a 2009. Observa-se que os países europeus foram os que

mais investiram no setor.

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Figura 4: Potência fotovoltaica instalada acumulada no mundo entre os anos de 2000 a 2009. Fonte: EPIA, 2010.

1.2 Cenário atual brasileiro da energia solar fotovoltaica

O potencial de energia fotovoltaica no Brasil é imenso, visto que seus índices

de radiação solar são altos. Atualmente, os governos e as concessionárias de

serviços públicos são os principais investidores, utilizando módulos fotovoltaicos em

sinalização e fiscalização rodoviárias, iluminação pública, telecomunicações e

outros. O projeto federal Luz Para Todos, que visa levar energia elétrica para

comunidades isoladas e carentes, também faz amplo uso da energia fotovoltaica.

Um dos principais obstáculos tem sido o custo de compra e instalação dos

módulos fotovoltaicos, mas com o avanço da tecnologia reduziu-se este custo e

aumentou-se a eficiência. Estima-se que o Brasil possua atualmente cerca de 20MW

de capacidade de geração solar fotovoltaica instalada, em sua grande maioria (99%,

segundo a International Energy Agency (IEA, 2011) destinada ao atendimento de

sistemas isolados e remotos, principalmente em situações em que a extensão da

rede de distribuição não se mostra economicamente viável. Também se observa o

uso destes sistemas em aplicações como suporte a antenas de telefonia celular e

em radares de trânsito.

O Brasil possui características naturais favoráveis, como os altos níveis de

insolação e grandes reservas de quartzo de qualidade que podem gerar importante

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vantagem competitiva para a produção de silício com alto grau de pureza, células e

módulos solares, produtos estes de alto valor agregado. Tais fatores potencializam a

atração de investidores e o desenvolvimento de um mercado interno, permitindo que

se vislumbre um papel importante na matriz elétrica para este tipo de tecnologia.

Para a grande maioria da população brasileira, energia solar é entendimento de

aquecimento de água. Ainda é pouco conhecida a possibilidade de obter eletricidade

a partir do Sol e muito menos o significado do termo ‘fotovoltaica’. Atualmente a

PUCRS possui um centro de pesquisas para produção de módulos e tem como

objetivo desenvolver dispositivos fotovoltaicos que reduzem o custo da energia

elétrica obtida diretamente da conversão da energia solar e sistemas fotovoltaicos.

Segundo o Atlas de Irradiação Solar no Brasil, diariamente incidem entre 4500

Wh/m2 a 6300 Wh/m2 no país. Como base de comparação, o lugar mais ensolarado

da Alemanha recebe 40% menos radiação solar que o lugar menos ensolarado do

Brasil, que no caso é Florianópolis, Santa Catarina. Pode ser visto na figura 5, a

irradiação média anual mundial enquanto a figura 6 mostra a média das horas de Sol

no território brasileiro.

Figura 5: Irradiação média anual em plano horizontal (kWh/m2/dia). Fonte: NASA, http://eosweb.larc.nasa.gov/sse/.

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Figura 6: Carta solar do Atlas Solarimétrico Brasileiro que mostra a média das horas de Sol no território brasileiro. Fonte: Atlas Solarimétrico do Brasil 2010.

Um trabalho complementar (SWERA, 2008) apresenta um mapa do Brasil com

a irradiação direta anual, podendo-se destacar que os maiores valores são

observados no vale do rio São Francisco, na Bahia e na divisa entre os estados de

São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. De uma forma geral, a irradiação global é

relativamente bem distribuída pelas regiões do país. Sendo que todo o litoral leste,

do Rio Grande do Sul ao recôncavo baiano, área mais densamente povoada,

apresenta os menores índices de irradiação verificados no país.

A região Nordeste apresenta os maiores valores de irradiação solar global, com

a maior média e a menor variabilidade anual entre as regiões geográficas. Os

valores máximos de irradiação solar no país são observados na região central do

estado da Bahia (6,5 kWh/m²/dia), incluindo parcialmente o noroeste de Minas

Gerais. Há, durante todo o ano, condições climáticas que conferem um regime

estável de baixa nebulosidade e alta incidência de irradiação solar para essa região

semiárida.

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A região Sul é a que mostra os menores valores de irradiação global média no

Brasil, notadamente na costa norte do estado de Santa Catarina (4,25 kWh/m²/dia),

litoral do Paraná e litoral sul de São Paulo. Além disso, apresenta também a maior

variabilidade média anual. As características de clima temperado e a influência de

massas de ar polares contribuem para o aumento da nebulosidade nessa região,

principalmente durante os meses de inverno.

A irradiação média anual varia entre 1.200 e 2.400kWh/m²/ano, valores que são

significativamente superiores à maioria dos países europeus, cujas estatísticas

indicam intervalos entre 900 e 1.250kWh/m²/ano na Alemanha, entre 900 e

1.650kWh/m²/ano na França e entre 1.200 e 1.850kWh/m²/ano na Espanha. Como

ordem de grandeza do potencial energético solar pode-se estimar que o consumo do

sistema interligado verificado em 2011 seria totalmente atendido com o recobrimento

de uma área de 2.400 km², pouco mais que a metade da área do município de

Salvador, com módulos fotovoltaicos numa região com insolação média da ordem de

1.400 kWh/m²/ano (SWERA, 2008). Este dado não leva em conta a eficiência de

conversão do sistema fotovoltaico.

Apesar destas condições favoráveis, o uso de energia solar ainda não foi

considerado no Plano Nacional de Energia 2030 e apenas oito Centrais Geradoras

Solares Fotovoltaicas apareciam no banco de dados da Agência Nacional de

Energia Elétrica (ANEEL) até fevereiro de 2012. Como o país já possui uma das

matrizes energéticas mais limpas do mundo, a melhor integração da energia solar

fotovoltaica seria como uma fonte complementar, aproximando a geração do

consumo e reduzindo assim perdas com transmissão.

Se nas cidades há vastas áreas sobre as edificações para a instalação de

módulos fotovoltaicos, no meio rural esta fonte energética é a opção mais limpa e

segura para levar eletricidade a comunidades isoladas e de difícil acesso. Além

disso, o Brasil possui uma das maiores reservas de silício do mundo. Isto faz com

que o país seja um local privilegiado para desenvolver uma indústria local de

produção de células fotovoltaicas gerando empregos e retornos em impostos pagos.

Para isso, seria preciso investir em pesquisas para desenvolver um conhecimento

de purificação do silício até o chamado ‘grau solar’ (o valor do grau solar é

99,9999%), que é muito superior ao do silício empregado na siderurgia.

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O Atlas Brasileiro de Energia Solar apresentou em 2006 um levantamento da

disponibilidade de energia solar no território brasileiro, utilizando um modelo de

transferência radiativa alimentado por dados climatológicos e de 10 anos de

informações extraídas de imagens de satélite geoestacionário e validado por dados

coletados em estações de superfície. O mapeamento do potencial energético solar

apresentado neste documento foi um dos produtos gerados pelo Projeto SWERA

(Solar and Wind Energy Resource Assessment), financiado pelo Programa das

Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e co-financiado pelo Fundo Global

para o Meio Ambiente (GEF). O projeto, iniciado em 2001 sob a coordenação da

Divisão de Clima e Meio Ambiente do Centro de Previsão de Tempo e Estudos

Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (DMA/CPTEC/INPE), tem

como foco principal promover o levantamento de uma base de dados confiável e de

alta qualidade visando auxiliar no planejamento e desenvolvimento de políticas

públicas de incentivo a projetos nacionais de energia solar e eólica; e atrair o capital

de investimentos da iniciativa privada para a área de energias renováveis.

A base de dados levantada é compatível com sistemas de informação

geográfica (SIG) e, portanto, pode ser facilmente empregada em estudos de

viabilidade econômica no desenvolvimento de projetos. Os produtos voltados para a

energia solar aplicados ao Brasil foram desenvolvidos através de parceria entre a

DMA/CPTEC/INPE e o Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal de

Santa Catarina (LABSOLAR/UFSC), fazendo uso do modelo de transferência

radiativa BRASIL-SR e de uma base geo-referenciada de dados ambientais e sócio-

econômicos disponibilizados por diversos parceiros nacionais e internacionais e de

distribuição gratuita.

“O Brasil está particularmente bem situado para esse tipo de aplicação

(sistemas fotovoltaicos interligados a rede em áreas urbanas), por causa da

considerável disponibilidade de recurso energético solar, e o alto valor que pode ser

dado a sistemas fotovoltaicos em áreas comerciais de centros urbanos”, afirmam os

autores no Atlas Brasileiro de Energia Solar.

Algumas das principais conclusões do 2º Workshop Inovação para o

Estabelecimento do Setor de Energia Solar Fotovoltaica no Brasil (Inova FV), foram

que nos últimos doze meses houveram avanços significativos no Brasil no setor de

energia solar fotovoltaica, mas ainda há poucas instituições de pesquisa envolvidas,

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os recursos humanos qualificados são escassos e faltam definições do governo para

fomentar o mercado.

No âmbito governamental, deve-se também destacar o Plano Brasil Maior,

lançado pelo Governo Federal em agosto de 2011, visando orientar políticas de

desenvolvimento industrial que melhorem as condições competitivas do País. Nesse

Plano, a dimensão estruturante das diretrizes setoriais contempla a Cadeia de

Suprimentos em Energia, na qual se prevê o desenvolvimento de fontes renováveis,

abrangendo a energia eólica e solar.

2 A ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA

Este capítulo aborda a história, os conceitos teóricos, o funcionamento e as

aplicações da energia solar fotovoltaica. O texto a seguir é proposto para a inserção

nos livros didáticos de ensino médio e técnico, a fim de proporcionar aos alunos uma

abordagem sobre os princípios básicos de funcionamento e aplicações da energia

solar fotovoltaica.

2.1 Histórico

Descoberta ainda no século XIX pelo físico francês Edmund Bequerel, quando

experimentava o efeito fotovoltaico com dois eletrodos metálicos numa solução

condutora, percebendo o aumento na geração de energia elétrica com a luz, a

tecnologia fotovoltaica passou por vários estágios até chegar ao uso em grande

escala do silício.

Em 1873, Willoughby Smith descobriu o efeito fotovoltaico em sólidos com o

selênio. A produção da primeira célula fotovoltaica neste metal veio quatro anos

mais tarde, com W. G. Adams e R.E. Day.

A primeira célula de silício foi produzida em 1954 nos Laboratórios Bell, em

Murray Hill, Nova Jérsei, Estados Unidos. No ano seguinte começou no mesmo país

a produção de elementos solares fotovoltaicos para aplicação espacial. Daí por

diante esta indústria foi se aprimorando e as placas tornaram-se mais eficientes.

Em 1980 Israel foi o primeiro país a estabelecer uma política pública de energia

solar. Nesta década, a produção mundial ainda era pequena. Em 1983, por exemplo,

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não passava de 20 MW. Em 1994, aconteceu a primeira Conferência Mundial

Fotovoltaica, no Havaí e o Século XX terminou com pouco mais de 1000 MW em

sistemas instalados no mundo. No final do ano de 2011, entretanto, a capacidade

mundial instalada ficou muito próxima dos 70 GW.

2.2 Conceitos teóricos

Toda energia que recebemos diariamente vem do Sol. Considerada uma fonte

eterna de energia, amplamente disponível e gratuita, o Sol fornece em um único dia,

mais energia que a demanda de todos os habitantes do planeta durante um ano. A

luz solar, fonte de energia essencial para a sobrevivência do planeta, também pode

nos prover eletricidade de forma limpa e renovável.

Tendo em vista os problemas ambientais causados pelos combustíveis fósseis,

as crescentes dificuldades na obtenção de licenciamento ambiental de usinas

hidrelétricas, a redução nos custos de produção dos módulos fotovoltaicos e as

condições extremamente favoráveis de irradiação solar no Brasil, a energia solar se

apresenta como uma fonte bastante interessante a ser explorada, tal como já

acontece na Alemanha, Itália, EUA e Japão, líderes no desenvolvimento e utilização

desta tecnologia.

2.2.1 Efeito fotovoltaico

O termo fotovoltaico é o casamento de duas palavras: foto, que tem sua raiz na

língua grega e significa “luz” e voltaico, que vem de “volt” e é a unidade de medição

do potencial elétrico. Em outras palavras, produção de eletricidade a partir da luz.

Diferentemente do que muitos podem imaginar, os “módulos” vistos hoje em muitos

telhados brasileiros não produzem eletricidade. Eles são na verdade coletores

solares que captam a energia térmica do sol e a usam para aquecimento de água.

Os módulos fotovoltaicos, ao contrário dos coletores solares, utilizam a energia

dispensada pelos fótons (as partículas constituintes da luz) para “empurrar” os

elétrons de um lado para o outro. É essa movimentação de elétrons que gera

eletricidade.

Apesar de existirem meios para transformar a energia térmica solar em energia

elétrica, a utilização da energia fotovoltaica ainda é a forma mais direta para a

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conversão, além de ser a mais viável para pequenas unidades de geração. A

produção de energia fotovoltaica pode ser facilmente integrada às edificações, o que

viabiliza a aproximação entre geração e consumo de energia elétrica.

Esta forma de produzir eletricidade é ainda pouco comum no Brasil, sendo

aplicada na maioria dos casos em projetos experimentais ligados às Universidades

ou Centros de Pesquisa. Somente em 2011 começaram a ser instalados os projetos

de maior escala no país, o que coloca a ELETROSUL no seleto grupo de pioneiros

na aplicação do que muitos chamam da energia do futuro.

Para compreender melhor o funcionamento da célula fotovoltaica, devemos

entender o conceito de eficiência da conversão - quociente entre a irradiação solar

que incide na área da célula e a energia elétrica que é produzida. Melhorando a

eficiência da célula fotovoltaica, corresponde a afirmar que os sistemas fotovoltaicos

podem tornar-se cada vez mais competitivos relativamente à produção de energia

elétrica com combustíveis fósseis.

As células fotovoltaicas convertem a irradiação solar em eletricidade a partir de

processos que se desenvolvem ao nível atômico nos materiais de que são

constituídas. A verdadeira compreensão deste fenômeno demorou cerca de 100

anos para ser esclarecida, embora o processo de produzir corrente elétrica em meio

contínuo tenha sido relatado desde 1839.

Na natureza existem materiais classificados como semicondutores que se

caracterizam por possuírem bandas de energia denominadas de banda de valência

e banda de condução. Em temperaturas baixas, a primeira é completamente

preenchida por elétrons e a segunda se encontra totalmente "vazia".

A separação permitida entre as duas bandas de energia nos semicondutores é

denominada de "gap” de energia e é da ordem de 1 eV, o que os torna materiais

também condutores, diferentemente dos isolantes onde o “gap” é de vários eV. Isto

faz com que os semicondutores apresentem características interessantes, como o

aumento de sua condutividade com a temperatura devido à excitação de portadores

de carga da banda de valência para a banda de condução. Uma propriedade

fundamental para as células fotovoltaicas é a possibilidade de fótons (pacotes de

energia), na faixa do visível, com energia superior ao “gap” do material, excitarem

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elétrons à banda de condução. Este efeito, que pode ser observado em

semicondutores intrínsecos ou puros, não garante por si só o funcionamento de

células fotovoltaicas. Sendo assim, é necessária uma estrutura apropriada para que

os elétrons excitados possam ser coletados, gerando conseqüentemente uma

corrente elétrica útil.

Na atualidade, o silício é o semicondutor mais utilizado comercialmente. Seus

átomos se caracterizam por possuírem quatro elétrons de ligação, que se conectam

aos vizinhos formando uma rede cristalina. Ao adicionar átomos com cinco elétrons

de ligação como o fósforo(P), por exemplo, haverá um elétron em excesso que não

poderá ser emparelhado e que ficará "sobrando", pois está fracamente ligado a seu

átomo de origem. Isto faz que, com um mínimo de energia, este elétron se livre, indo

para a banda de condução. Pode-se dizer que o fósforo é um doador de elétrons o

qual é denominado de dopante n ou impureza n.

2.3 Como é possível gerar eletricidade a partir da luz?

A seguir é mostrada a teoria básica de funcionamento da geração de energia

elétrica a partir da energia solar fotovoltaica.

As células fotovoltaicas são fabricadas com material semicondutor, ou seja, um

material com características intermediárias entre um condutor e um isolante. A partir

de um processo conhecido como dopagem é possível obter um material com

elétrons livres ou com carga negativa, tipo N ou um material com características

inversas, ou seja, falta de elétrons ou carga positiva, tipo P.

A célula fotovoltaica é composta por uma camada de material tipo P justaposta

a uma camada de material tipo N que, ao serem unidas, forma-se um campo elétrico

próximo a junção. Quando ela é exposta à luz, a energia dos fótons da luz do sol

permite que elétrons presentes na camada P consigam passar para a camada N,

criando uma diferença de potencial nas extremidades do semicondutor. Se forem

conectados fios às extremidades e estes forem ligados a uma carga, haverá um

fluxo de corrente elétrica, fazendo os elétrons retornarem para a camada P,

reiniciando o processo.

O efeito fotovoltaico dá-se em materiais da natureza denominados

semicondutores que se caracterizam pela presença de bandas de energia onde é

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permitida a presença de elétrons (banda de valência) e de outra onde totalmente

“vazia” (banda de condução). O semicondutor mais usado é o silício. Seus átomos

se caracterizam por possuírem quatro elétrons que se ligam aos vizinhos, formando

uma rede cristalina. Ao adicionarem-se átomos com cinco elétrons de ligação, como

o fósforo, por exemplo, haverá um elétron em excesso que não poderá ser

emparelhado e que ficará "sobrando", fracamente ligado a seu átomo de origem. Isto

faz com que, com pouca energia térmica, este elétron se livre, indo para a banda de

condução. Diz-se assim, que o fósforo é um dopante doador de elétrons e

denomina-se dopante N ou impureza N.

Em resumo, a luz do Sol fornece energia para impulsionar os elétrons em um só

sentido, estabelecendo assim, a corrente elétrica. A figura 14 apresenta o corte

transversal de uma célula fotovoltaica e a figura 15 mostra como ocorre o efeito

fotovoltaico na junção positivo negativo:

Figura 7: Célula fotovoltaica. Fonte: CRESESB/CEPEL.

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Figura 8: Efeito Fotovoltaico na junção PN. Fonte: CRESESB/CEPEL.

Uma célula fotovoltaica normalmente possui níveis baixos de tensão e corrente,

da ordem de 0,7 V e 3 mA/cm2, respectivamente, dados válidos para uma célula de

silício cristalino. Neste caso, várias células são conectadas em série e/ou paralelo

conforme os níveis de tensão e corrente desejados. Estas células interligadas são

montadas numa estrutura apropriada e formam um módulo fotovoltaico.

Para obter o melhor aproveitamento dos módulos é muito importante conhecer

o quanto de irradiação solar incide no local onde se deseja instalá-lo, através de um

estudo dos níveis médios de irradiação solar. Além disso, é preciso verificar qual a

melhor orientação (norte, sul, leste ou oeste) e inclinação dos módulos em relação

ao Sol. Por exemplo, o sistema geraria menos se o módulo fosse instalado virado

para o Sul em uma região onde a maior irradiação seria captada com ele virado para

o Norte. Como regra geral, sistemas instalados no Hemisfério Sul obteriam maior

rendimento se orientados para o Norte a uma inclinação próxima a latitude do local.

Por fim, a energia elétrica gerada em corrente contínua é transformada em

corrente alternada (tipo de corrente que chega até as nossas casas) por um conjunto

de inversores de frequência, podendo ser, então, conectada à rede elétrica. Esses

inversores fornecem energia elétrica dentro de um nível de qualidade adequado e

são responsáveis por permitir que o módulo opere sempre em seu ponto de máxima

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potência. Além disso, eles garantem que o sistema seja desligado quando a rede

elétrica não estiver energizada, com o objetivo de evitar acidentes.

2.3.1 Curva característica I-V

As células e módulos fotovoltaicos possuem um comportamento elétrico

característico e a determinação da curva característica I-V (corrente versus tensão) é

essencial para a determinação da qualidade do dispositivo além de fornecer os

parâmetros para dimensionamento e estimativa de geração de eletricidade.

Para compor um módulo fotovoltaico são associadas várias células de forma a

se obter as tensões e as correntes desejadas. Os módulos fotovoltaicos podem ser

encontrados comercialmente com tensões que vão desde alguns volts até mais de

300 V. As correntes dependem do tamanho das células e se o módulo possui células

conectadas em paralelo (neste caso a corrente fornecida pelo módulo será igual ao

número de células ligadas em paralelo vezes a corrente de cada célula). Correntes

típica em módulos comerciais variam entre 3 A e 8 A. Potências típicas variam desde

poucos watts até centenas de watts. Se for necessário pode-se associar módulos

em série para se obter tensões maiores. Nesse caso, a tensão fornecida pelo

sistema será igual ao número de módulos ligados em série vezes a tensão de cada

módulo. A característica de saída de corrente x tensão de um módulo fotovoltaico

está representada na curva característica I-V na figura 7:

Figura 9: Curva característica (I-V) e curva de potência x tensão (P-V) de um módulo (36 células

conectadas em série) com 130 W de potência. Fonte: Bühler, 2011.

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A curva característica de um dispositivo fotovoltaico seja uma célula, um

módulo ou um arranjo (associação de módulos) consiste na representação

matemática do comportamento da corrente elétrica em função da tensão. A

determinação dessa curva é imprescindível na caracterização dos módulos

fotovoltaicos, pois é através dela que se obtêm informações sobre o desempenho

elétrico do gerador fotovoltaico, tais quais:

Corrente de curto-circuito (ISC): Corrente que o dispositivo fotovoltaico fornece

quando seus terminais são interligados por um conector com resistência elétrica

idealmente nula, ou seja, é a corrente equivalente a uma tensão igual a zero.

Tensão de circuito aberto (VOC): Tensão que surge nos terminais de um

dispositivo fotovoltaico quando entre estes terminais existe uma resistência elétrica

idealmente infinita, é a tensão equivalente a uma corrente elétrica igual a zero.

Ponto de máxima potência: É a máxima potência que o dispositivo fotovoltaico

é capaz de fornecer sob uma determinada condição de irradiância e temperatura.

Corrente de máxima potência (VM): É a tensão que surge nos terminais do

dispositivo no ponto de máxima potência.

Fator de forma (FF): É um indicativo importante da qualidade das

propriedades elétricas do módulo. Quanto maior o valor de fator de FF mais

retangular é a curva e, portanto, melhor serão as características elétricas do

dispositivo.

Esta curva é representada matematicamente por uma equação que segue um

modelo físico, mas não é conveniente abordá-la neste capítulo, visto a complexidade

da mesma e por se tratar de conteúdo que exigiria conceitos não abordados no

ensino médio ou técnico.

2.3.2 Variação da curva I-V com a temperatura e irradiância e a curva de

potência

A temperatura é um fator de importante influência na curva característica de

um dispositivo fotovoltaico. A corrente elétrica de curto-circuito, em geral, aumenta

ligeiramente com a temperatura segundo um coeficiente alfa que apresenta valores

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típicos para o silício. O aumento de corrente é devido a uma diminuição da energia

de gap do material.

Nas figuras 8 e 9 é apresentado o comportamento das curvas I-V analíticas

relativas a diferentes intensidades de irradiância para um módulo de 36 células e

curvas I-V de um módulo de 36 células relativas a diferentes temperaturas e mesma

irradiância, respectivamente.

Figura 10: Curvas I-V analíticas relativas a diferentes intensidades de irradiância para um módulo de 36 células. Fonte: Bühler, 2011.

Figura 11: Curvas I-V de um módulo de 36 células relativas a diferentes temperaturas e mesma irradiância. Fonte: Bühler, 2011.

2.4 Sistemas de energia solar fotovoltaica

Os sistemas fotovoltaicos são capazes de gerar energia elétrica através das

chamadas células fotovoltaicas. As células fotovoltaicas são feitas de materiais

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capazes de transformar a radiação solar diretamente em energia elétrica através do

chamado “efeito fotovoltaico”. Hoje, o material mais difundido para este uso é o

silício na forma cristalina e amorfa. Entretanto existem outros materiais que vem

ganhando um espaço muito grande nos últimos anos. Entre esses materiais se

destacam o CdTe (Telureto de cádmio) e o CIS (Disseleneto de cobre e índio).

As células fotovoltaicas podem ser dispostas de diversas formas, sendo a mais

utilizada a montagem de módulos fotovoltaicos. Além dos módulos fotovoltaicos,

também se utilizam filmes flexíveis, com as mesmas características, ou até mesmo a

incorporação das células em outros materiais, como o vidro. As diferentes formas

com que são montadas as células se prestam à adequação do uso, por um lado

maximizando a eficiência e por outro se adequando às possibilidades ou

necessidades arquitetônicas. A figura 10 apresenta dois exemplos de sistemas

fotovoltaicos.

(a) (b)

Figura 12: Dois exemplos de sistemas fotovoltaicos: (a) instalação no telhado de uma cervejaria na Suíça; (b) Fachada do parque Solarpark Gams – Suíça. Fonte: IEA, 2011.

Quanto aos sistemas fotovoltaicos, estes podem ser divididos em dois grandes

grupos: sistemas isolados (off-grid) e sistemas conectados à rede (grid-connected).

Os sistemas isolados são aqueles que não se integram à rede elétrica e geralmente

são utilizados em locais remotos ou onde o custo de acesso a rede é maior que o

custo do próprio sistema. Normalmente estes sistemas utilizam bateria para

armazenar a energia. Já os sistemas conectados à rede servem como qualquer

outra forma de geração de energia que utilizamos a partir da rede elétrica e são

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utilizados como substitutos destas outras fontes de energia. Neste caso não há

necessidade de armazenamento.

Os sistemas solares fotovoltaicos, principalmente aqueles integrados às

edificações urbanas e interligados ao sistema de distribuição, oferecem diversas

vantagens para o sistema elétricos, muitas das quais relacionadas aos custos

evitados e que ainda não são consideradas ou quantificadas. Abaixo algumas delas:

a) Redução de perdas por transmissão e distribuição de energia, já que a

eletricidade é consumida onde é produzida;

b) Redução de investimentos em linhas de transmissão e distribuição;

c) Edifícios com tecnologia fotovoltaica integrada não exigem área física

dedicada;

d) Edifícios solares fotovoltaicos fornecem os maiores volumes de eletricidade

nos momentos de maior demanda (Ex.: o uso de ar-condicionado é maior ao

meio-dia no Brasil, quando há uma maior incidência solar);

e) Quando distribuídos estrategicamente, os geradores fotovoltaicos oferecem

mínima capacidade ociosa de geração: por sua grande modularidade e curtos

prazos de instalação.

2.5 Componentes dos sistemas de energia solar fotovoltaica

Existem dois tipos básicos de sistemas fotovoltaicos: Sistemas Isolados (Off-

grid) e Sistemas Conectados à Rede (Grid-connected).

Os Sistemas Isolados são utilizados em locais remotos ou onde o custo de se

conectar a rede elétrica é elevado. São utilizados em casas de campo, refúgios,

iluminação, telecomunicações, bombeio de água, etc. Já os Sistemas Conectados à

rede, substituem ou complementam a energia elétrica convencional disponível na

rede elétrica.

Um sistema fotovoltaico possui quatro componentes básicos:

a) Módulos solares – fazem o papel de coração, “bombeando” a energia para o

sistema. Podem ser um ou mais painéis e são dimensionados de acordo com

a energia necessária. São responsáveis por transformar energia solar em

eletricidade;

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b) Controladores de carga – funcionam como válvulas para o sistema. Servem

para evitar sobrecargas ou descargas exageradas na bateria, aumentando

sua vida útil e desempenho. Só são utilizados em sistemas isolados;

c) Inversores – cérebro do sistema, são responsáveis por transformar a corrente

contínua (CC) fornecida pelo sistema fotovoltaico em corrente alternada (AC),

no valor de tensão desejado. Este dispositivo também pode ser utilizado em

sistemas isolados de forma que os aparelhos que funcionem com corrente

alternada possam ser normalmente utilizados. Os inversores modernos

possuem ainda um dispositivo acoplado chamado de seguidor de máxima

potência. Graças a esse dispositivo o inversos está sempre convertendo uma

quantidade de energia o mais próxima possível do máximo que está

disponível. Para entender melhor essa ideia basta lembrar que a curva de

potência de qualquer célula, módulo ou sistema fotovoltaico possui um ponto

de máximo.

d) Baterias – trabalham como pulmões dos sistemas isolados. Armazenam a

energia elétrica para que o sistema possa ser utilizado quando não há luz

solar.

Enquanto um sistema isolado necessita de baterias e controladores de carga,

sistemas conectados à rede funcionam somente com módulos e inversores, já que

não precisam armazenar energia.

2.6 Módulos solares fotovoltaicos

Os módulos solares geram energia elétrica a partir do sol e de forma muito

simples, sem mecanismos móveis, sem gerar resíduos e sem necessidade de

manutenção. O módulo solar é o principal componente de um sistema de energia

solar e é formado por um conjunto de células solares que geram energia através da

luz do sol.

Existem inúmeras variações de painéis. Há cerca de vinte anos atrás seria

possível dizer que um módulo típico teria aproximadamente 1 m2 e pesaria pouco

mais de 10 Kg. Teria 36 células solares capazes de produzir cerca de 17 volts em

corrente contínua e uma potência de até 135 W. Hoje em dia os modelos geralmente

variam de 5 até 280 W de potencia máxima, dependendo da intenção de uso e

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tecnologia empregada. Além disso, um sistema pode possuir muitos módulos e

montados de diferentes formas. Dessa maneira, pode-se trabalhar tanto com as

potências como as tensões de saída desejadas.

2.6.1 Módulos de Células Monocristalinas

São mais eficientes e feitos de células monocristalinas de silício. O silício

utilizado deve ter elevada pureza, o que envolve um processo complexo para

fabricar os cristais únicos de cada célula.

As células de silício monocristalino são historicamente as mais usadas e

comercializadas como conversor direto de energia solar em eletricidade e a

tecnologia para sua fabricação é um processo básico muito bem constituído. A

fabricação da célula de silício começa com a extração do cristal de dióxido de silício.

Este material é desoxidado em grandes fornos, purificado e solidificado. Este

processo atinge um grau de pureza em 98 e 99% o que é razoavelmente eficiente

sob o ponto de vista energético e custo. Este silício para funcionar como células

fotovoltaicas necessita de um grau de pureza maior devendo chegar na faixa de

99,9999%.

Dentre as células fotovoltaicas que utilizam o silício como material base, as

monocristalinas são, em geral, as que apresentam as maiores eficiências. As

fotocélulas comerciais obtidas com o processo descrito atingem uma eficiência de

até 15% podendo chegar em 18% em células feitas em laboratórios.

Figura 13: Célula de silício monocristalino. Fonte: CRESESB - CEPEL

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2.6.2 Módulos de Células Policristalinas

São um pouco menos eficientes que os monocristalinos. Nestes módulos as

células são formadas por diversos e não somente um cristal, dando uma aparência

de vidro quebrado à célula.

As células de silício policristalino são mais baratas que as de silício

monocristalino por exigirem um processo de preparação das células menos rigoroso.

A eficiência, no entanto, cai um pouco em comparação as células de silício

monocristalino. O processo de pureza do silício utilizada na produção das células de

silício policristalino é similar ao processo do silício monocristalino, o que permite

obtenção de níveis de eficiência compatíveis.

O processo de pureza do silício utilizada na produção das células de silício

policristalino é similar ao processo do silício monocristalino, o que permite obtenção

de níveis de eficiência compatíveis. Basicamente, as técnicas de fabricação de

células policristalinas são as mesmas na fabricação das células monocristalinas,

porém com menores rigores de controle. Podem ser preparadas pelo corte de um

lingote, de fitas ou depositando um filme num substrato, tanto por transporte de

vapor como por imersão. Nestes dois últimos casos só o silício policristalino pode ser

obtido. Cada técnica produz cristais com características específicas, incluindo

tamanho, morfologia e concentração de impurezas. Ao longo dos anos, o processo

de fabricação tem alcançado eficiência máxima de 12,5% em escalas industriais.

Figura 14: Célula de silício policristalino. Fonte: CRESESB – CEPEL

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2.6.3 Tipos de células fotovoltaicas

As células fotovoltaicas são fabricadas, na sua grande maioria, usando o silício

(Si) e podendo ser constituídas de cristais monocristalinos, policristalinos ou de

silício amorfo. No subcapítulo anterior constou uma breve explanação das células de

silício monocristalino e policristalino. Nesta sessão será comentado sobre a célula

de silício amorfo, bem como sua utilização, vantagens e desvantagens.

Uma célula de silício amorfo difere das demais estruturas cristalinas por

apresentar alto grau de desordem na estrutura dos átomos. A utilização de silício

amorfo para uso em fotocélulas tem mostrado grandes vantagens tanto nas

propriedades elétricas quanto no processo de fabricação. Por apresentar uma

absorção da radiação solar na faixa do visível e podendo ser fabricado mediante

deposição de diversos tipos de substratos, o silício amorfo vem se mostrando uma

forte tecnologia para sistemas fotovoltaicos de baixo custo.

Mesmo apresentando um custo reduzido na produção, o uso de silício amorfo

apresenta duas desvantagens: a primeira é a baixa eficiência de conversão

comparada às células mono e policristalinas de silício (normalmente na faixa de 7 a

9% de eficiência em módulos); em segundo, as células são afetadas por um

processo de degradação logo nos primeiros meses de operação, reduzindo assim a

eficiência ao longo da vida útil.

Por outro lado, o silício amorfo apresenta vantagens que compensam as

deficiências acima citados, são elas:

a) processo de fabricação relativamente simples e barato;

b) possibilidade de fabricação de células com grandes áreas;

c) baixo consumo de energia na produção.

A figura 13 apresenta um módulo flexível de silício amorfo.

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Figura 15: Módulo flexível de silício amorfo. Fonte: Unisolar, 2008.

2.6.4 Módulos de Filmes Finos

O material fotovoltaico é depositado diretamente sobre uma superfície, como

metal ou vidro para formar o painel. São mais baratos, porém menos eficientes. A

área disponível pode ser uma restrição, pois a baixa eficiência deve ser compensada

por uma área maior.

A escolha dos tipos e da quantidade de painéis depende das demandas de

uso da energia e do local da instalação do sistema de energia solar. Existem muitos

materiais que têm sido empregados na fabricação de módulos de filmes finos, tais

quais o telureto de cádmio, o disseleneto de cobre e índio ou cobre íngio e gálio e

silício amorfo e microcristalino.

2.7 Sistemas isolados (Off-grid)

Os sistemas isolados ou autônomos para geração de energia solar fotovoltaica

são caracterizados por não se conectar a rede elétrica. O sistema abastece

diretamente os aparelhos que utilizarão a energia e são geralmente construídos com

um propósito local e específico.

Esta solução é bastante utilizada em locais remotos já que muitas vezes é o

modo mais econômico e prático de se obter energia elétrica nestes lugares.

Exemplos de uso são sistemas de bombeamento de água, eletrificação de cercas,

geladeiras para armazenar vacinas, postes de luz, estações replicadoras de sinal,

etc. A energia produzida é armazenada em baterias que garantem o abastecimento

em períodos sem sol.

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Os sistemas isolados de geração de energia solar fotovoltaica, de maneira

simplificada, são compostos de quatro componentes:

a) Módulos solares: são o “coração” do sistema e geram a energia elétrica que

abastece as baterias. Tem a propriedade de transformar a radiação solar em

corrente elétrica contínua. Um sistema pode ter apenas um painel ou vários

painéis interligados entre si;

b) Controladores de carga: são a “válvula do coração” e garantem o correto

abastecimento das baterias evitando sobrecargas e descargas profundas,

aumentando sua vida útil;

c) Inversores: são o “cérebro” do sistema e tem a função de transformar corrente

continua (CC) em corrente alternada (AC), e levar a tensão, por exemplo, de

12V para 127V. Em alguns casos pode ser ligado a outro tipo de gerador ou à

própria rede elétrica para abastecer as baterias;

d) Baterias: são o “pulmão” do sistema e armazenam a energia elétrica para ser

utilizada nos momentos em que o sol não esteja presente e não haja outras

fontes de energia.

2.8 Sistemas conectados (Grid-connected)

Os sistemas fotovoltaicos de conexão à rede são caracterizados por estarem

integrados à rede elétrica que abastece a população. Diferente dos sistemas

isolados que atendem a um propósito específico e local, estes sistemas também são

capazes de abastecer a rede elétrica com energia que pode ser utilizada por

qualquer consumidor da rede.

Os sistemas conectados têm uma grande vantagem com relação aos sistemas

isolados por não utilizarem baterias e controladores de carga. Isso os torna cerca de

30% mais eficientes e também garante que toda a energia seja utilizada, ou

localmente ou em outro ponto da rede.

Sistemas de conexão à rede podem ser utilizados tanto para abastecer uma

residência, ou então simplesmente produzir e injetar a energia na rede elétrica,

assim como uma usina hidroelétrica ou térmica. Do ponto de vista dos componentes,

um sistema fotovoltaico grid-connected é composto por módulos solares e

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inversores. Os inversores grid-connected, além de transformarem a corrente

contínua em alternada, devem sincronizar o sistema com a rede pública na fase e

frequência adequada, que no caso do Brasil é 60 HZ. Pelo sistema estar conectado

à rede, a falta de energia é compensada pela mesma, o que elimina a necessidade

de baterias.

2.9 Aplicações da Energia Solar Fotovoltaica

As principais aplicações da energia solar fotovoltaica são:

a) Iluminação residencial;

b) Iluminação pública;

c) Balizador solar;

d) Telefones de emergência;

e) Telecomunicações;

f) Sistemas para televisão, vídeo, etc.;

g) Cerca eletrificada;

h) Refrigerador e freezer;

i) Sinalização marítima;

j) Sinalização de torres;

k) Sinalização de estradas;

l) Sistemas de emergência para 4 horas de energia ininterruptas;

m) Ferrovias;

n) Sistemas conectados à rede;

o) Geladeira de vacinas.

Pode-se citar como benefícios do sistema de energia solar fotovoltaica por esta

ser uma fonte de energia alternativa e renovável que emprega a luz solar, de energia

limpa, silenciosa e inesgotável. Possui um sistema não poluente, pois não interfere

diretamente no meio ambiente. Facilidade no atendimento a locais remotos e de

difícil acesso, em pequena escala, evitando investimentos em linhas de transmissão

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e distribuição de energia. Esta energia gerada pode ser acumulada em baterias.

Possui sistema autônomo, sustentável e independente, baixa manutenção e alta

durabilidade do sistema, pode ser conectado à rede elétrica e pode ser ampliado

conforme a necessidade (modularidade).

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3 CONCLUSÕES

Estamos em um momento em que a preocupação com o meio ambiente cresce

e define novos padrões. Nunca se ouviu falar tanto em sustentabilidade, energias

renováveis e meio ambiente como nestes últimos anos. Com o progresso

tecnológico a preocupação em aumentar as capacidades de geração de energia são

um desafio para os países que buscam o crescimento econômico. Em países

europeus como Alemanha, Inglaterra, Portugal e Espanha, o programa de apoio

para residências geradoras de energia por meio de módulos fotovoltaicos tem dado

frutos e o crescimento de casas com este sistema de geração de energia cresce a

cada ano.

Conclui-se que no Brasil, a utilização da energia solar é viável em praticamente

todo o território. Temos um dos maiores índices de insolação anual do mundo, o que

reflete em uma alta capacidade de geração de energia solar.

Justifica-se dessa forma, levando ainda em conta o grande avanço da

tecnologia e a busca cada vez maior por fontes de energias renováveis, a

necessidade de inserir o estudo referente a energia solar fotovoltaica abordando o

funcionamento e aplicações nos livros didáticos de ensino médio ou técnico. Como

proposta inclui-se esse tema nos livros didáticos do terceiro ano do Ensino Médio ou

Técnico, como capítulo extra no final do livro, visto que diversos conteúdos

abordados ao longo dos três anos de física são necessários para uma correta

compreensão do efeito fotovoltaico.

Por fim, cabe ressaltar que ao longo da revisão bibliográfica nos livros de

ensino médio de física, constatou-se que, atualmente dá-se pouca importância as

fontes de energias renováveis, e ainda menos no que diz respeito à energia solar

fotovoltaica.

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