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Ano VI 21 Jornal-laboratório do curso de jornalismo das Faculdades Integradas Rio Branco. Nossa reportagem apurou de perto como vivem comunidades com infraestrutura pre- cária na região de Perus. Dentre as situações que as famílias enfrentam, estão esgotos a céu aberto, deslizamentos de terra e a falta de assistência médica. Perguntado sobre os planos para a comunidade, o supervisor de habitação da Subprefeitura Perus, detalha que ainda há algumas ações previstas para resolver os problemas dos imóveis e que o trabalho de reurbanização da favela já está em andamento. PÁGINA 4 GESTÃO DO LIXO Usuários do transporte público reclamam das filas nos terminais, atrasos, superlotação, demora no trajeto, e, sobretudo, o preço da tarifa: R$3,00. São Paulo gera centenas de toneladas de lixos todos os dias. Dos aterros sanitários que recebem os resíduos todos os dias, alguns estão perto da saturação. Será que não é hora de mudarmos nossa postura? Saneamento básico Moradores cobram metas da operação Água Branca, diante das dificul- dades que a região enfrenta, como as enchentes em dias de chuva intensa. Problemas urbanos Foto: Jorge Murata Moradias precárias e falta de saneamento Leis Urbanas Transporte PÁGINA 9 PÁGINA 3 PÁGINA 9

Em Foco 21 - 1° semestre de 2011

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O jornal Em Foco é uma publicação elaborada pelos alunos do curso de jornalismo das Faculdades Integradas Rio Branco. Nesta edição: reportagens especiais sobre os problemas urbanos da cidade de São Paulo.

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Ano VI21

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Nossa reportagem apurou de perto como

vivem comunidades com infraestrutura pre-

cária na região de Perus. Dentre as situações

que as famílias enfrentam, estão esgotos a

céu aberto, deslizamentos de terra e a falta

de assistência médica. Perguntado sobre os

planos para a comunidade, o supervisor de

habitação da Subprefeitura Perus, detalha que

ainda há algumas ações previstas para resolver

os problemas dos imóveis e que o trabalho de

reurbanização da favela já está em andamento.

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GESTÃO DO LIXO

Usuários do transporte público reclamam das filas nos terminais, atrasos, superlotação, demora no trajeto, e, sobretudo, o preço da tarifa: R$3,00.

São Paulo gera centenas de toneladas de lixos todos os dias. Dos aterros sanitários que recebem os resíduos todos os dias, alguns estão perto da saturação.Será que não é hora de mudarmos nossa postura?

Saneamento básico

Moradores cobram metas da operação Água Branca, diante das dificul-dades que a região enfrenta, como as enchentes em dias de chuva intensa.

Problemas urbanos

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Junho de 201102 Rio Branco EM FOCO

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uma solução”, diz Leila, mos-trando a demora da prefeitura em resolver um problema tec-nológico municipal.

Há o acesso gratuito den-tro de postos de atendimento espalhados pela cidade de São Paulo, porém há algumas res-trições: o cadastro é obrigató-rio. Menores de 11 anos devem utilizar o posto acompanhados pelo responsável, e menores de 16 anos devem se cadastrar na presença de um responsável,.Idosos, gestantes e deficientes físicos têm atendimento prefe-rencial. Os usuários têm direi-to a 30 minutos e é permitido o uso mais de uma vez por dia. Não é permitido alterar as configurações do computador; utilização de CDs ou disquetes somente com autorização de um monitor, impressão permi-tida somente para serviços de utilidade pública e currículos. Segundo um dos monitores, que não quis se identificar, há pessoas que utilizam o serviço mais de três vezes por dia. “Jo-vens são os que mais aparecem por aqui, principalmente os de baixa renda. Eles voltam de duas a três vezes por dia para conseguir acesso às redes so-ciais como Facebook e Orkut. Muitos deles reclamam do bai-xo tempo autorizado para sua utilização.”

As expectativas não são tão pessimistas, de acordo com David Bärg Filho, funcionário do CTI-USP. Quando a inter-net na cidade, durante os anos

90, estava totalmente sob do-mínio do poder público, não havia uma maneira efetiva que pudesse melhorar a velocida-de e a conectividade, devido à falta de experiência em investi-mentos em tecnologia de rede. Segundo ele, os avanços nesse setor tendem a melhorar a co-nectividade da população à in-ternet e a diminuição dos pre-ços desse serviço, assim como o aumento gradativo de sua velocidade, por mais que esse processo seja demorado. “Na realidade, a melhoria do aces-so se deu após a privatização da internet pelas companhias telefônicas. Quando estava nas mãos do setor público, apre-sentava diversas falhas.”

A prefeitura de Teresina, no Estado de Piauí (PI), apre-sentou um projeto de internet pública em praças da cidade, cercadas de antenas que dispo-nibilizam a qualquer um com um notebook ou um celular com acesso à internet, o uso do serviço sem custo adicio-nal. Isso não se limita a uma região do Brasil. A cidade de Auckland, na Nova Zelân-dia, permite acesso de todos os lugares. Algumas pequenas cidades européias, canadenses e americanas já possuem tam-bém esse serviço gratuito. Em algumas praças de Cabo Verde, país africano de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em determinados ho-rários, é possível obter acesso gratuito à Internet.

Editorial

ExpedienteFaculdades Integradas Rio BrancoEndereço: Av. José Maria de Faria, 111 – Lapa São Paulo - SP - Cep 05038-190www.riobrancofac.edu.brAgência de Jornalismo - Fone: (11) 3879 3100

Diretor Geral: Profº Dr. Edman AlthemanCoord. de Comunicação Social: Profª Suli de MouraOrientação: Profº Dario Luis Borelli,Profª Clara Correa e Prof° Paulo Durão

Estagiário: Égon Ferreira Rodrigues

Jornal Rio Branco Em Foco é uma publicação elaborada pelos alunos do curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, das Faculdades Integradas Rio Branco.

Em SP, acesso à internet de banda larga ainda é limitado e possui falhas

este momento em que os problemas urbanos começam a afetar de forma dramática a vida da maioria dos 11.244.369 moradores do muni-

cípio de São Paulo, a reportagem do jornal-laboratório Em Foco foi às ruas para conhecer de perto alguns aspectos da questão.

A abordagem feita pelos alunos da 5ª etapa da habilitação em Jornalismo, dos períodos matutino e noturno, durante o primeiro semestre de 2011, resultou em um conjunto de matérias que aponta para a necessidade urgente de rever o modelo urbano que vigora hoje em São Paulo e de implantar políticas públicas consentâneas com os desafios de uma grande metrópole.

Ana Carolina Rinaldi e Isabelle Vassalo comprovam que leis não são suficientes. Depois de ouvir lideranças, comerciantes e moradores da Pompéia, concluíram que as metas da Operação Urbana Água Branca não foram alcançadas, frustrando expectativas da comunidade em relação às melhorias no bairro.

Os reflexos da falta de investimentos na região foram detectados por Camila Miranda, Fernanda Falcão, Marcella Tollendal e Melissa Carmelo. Faltam linhas de ônibus para atender melhor às necessidades de locomoção de quem mora ou trabalha na Vila Leopoldina. Além de poucos e cheios, os ônibus costumam atrasar. O depoimento de um morador do bairro é emblemático: o aposentado Otavio Miranda espera até 40 minutos no ponto para tomar uma condução com destino à vizinha Lapa de Baixo.

O mesmo “sufoco” passam os pais que matriculam seus filhos portadores de necessidades especiais nas escolas da rede pública de ensino. Gabriela Martins e Amanda Belo mostram que faltam professores especializados nos níveis fundamental e médio, espaço físico e equipamentos adequados, e sobram problemas. O desrespeito à legislação federal (Lei da Inclusão nº 10.172, de 9 de janeiro de 2011) é quase uma regra.

Camila Teixeira e Jéssica Almassi revelam como a atuação de entidades da sociedade civil em regiões carentes da cidade cria novas oportunidades e transforma a vida de crianças e jovens. Elas foram recebidas no Capão Redondo pela coordenadora da Fundação Cafu, Flávia Alves, e, na Brasilândia, pelo coordenador do Espaço Criança Esperança, Nery Fernandes.

Sobre a segurança de nossos jovens, Guilherme Lima e Vinícius Pereira constataram a diminuição da taxa de homicídio nos últimos anos. Em 2006, segundo dados do Mapa da Violência, o número de jovens com idade de 15 a 29 anos vítimas de homicídio em São Paulo foi de 1.274. Já em 2010, o número caiu para 530.

Os leitores desta edição do Em Foco encontrarão ainda outras matérias de interesse. Vale a pena conferir. Desejamos boa leitura a todos.w

Dario Luis Borelli

a maior cidade do Brasil, os problemas de acesso à internet ainda

são evidentes quando se fala em velocidade, qualidade e acesso das pessoas de baixa renda. Ainda hoje, em São Paulo, a internet de livre acesso, mais conhecida como internet pública, não saiu do papel por falta de investimen-tos e projetos que visam a me-lhoria de sua infraestrutura.

Segundo Antonio Guedes, gerente de Tecnologia da In-formação da empresa Quint Group, o principal problema da internet no município de São Paulo é a falta de inte-resse dos órgãos públicos e privados na melhoria dos ca-beamentos e no barateamen-to dos serviços. “As empresas privadas têm hoje um serviço de internet pública, mas o cus-to para o consumidor ainda é muito alto. Empresas como a Telefônica possuem esse tipo de serviço, porém ainda é co-brado um valor muito alto para a pouca velocidade que é oferecida.”

Na opinião de Leila Lage Humes, que trabalha na Co-ordenadoria de Tecnologia da Informação (CTI), da Univer-sidade de São Paulo (USP), o preço é o grande empecilho para o acesso à internet. Os bairros mais carentes são to-talmente excluídos, “forman-do grandes buracos no ma-peamento de rede da cidade, inclusive em algumas partes do centro”. Ela também citou um problema que houve com a Faculdade de Direito da USP, em que a central de re-des da Universidade não con-seguia acesso para o Largo de São Francisco, onde está localizada a Faculdade. “Nós solucionamos o problema an-tes de a prefeitura apresentar

Falta de investimentos é apontada por especialistas como a principal causa do problema

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NBruno Di Giaimo Rosas e Cassio Santanelli Costa

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1° Semestre de 2011 03NÚMERO 21

ão Paulo, assim como todas as cidades do Brasil, contém leis mu-nicipais que visam a melhoria de

diversas áreas da cidade em benefício da população. É obrigação de nossos governantes proporcionar ao povo mo-radias dignas, ruas asfaltadas, educa-ção de qualidade etc.

A lei de Operações Urbanas, criada na década de 1980, entre os governos Jânio Quadros e Paulo Maluf, é um exemplo de como o dinheiro arrecada-do pela prefeitura pode se transformar em benefícios para a população da ci-dade. Essa lei visa promover melhorias em regiões pré-determinadas da cidade por meio de parcerias entre o poder público e a iniciativa privada. Em cada área atendida pela lei de Operações Urbanas, há metas específicas a serem cumpridas, assim como os mecanis-mos de incentivos e benefícios. Segun-do o site oficial da Prefeitura de São Paulo, “o perímetro de cada Operação Urbana é favorecido por leis que pre-vêem flexibilidade quanto aos limites estabelecidos pela Lei de Zoneamento, mediante o pagamento de uma contra-partida financeira. Esse dinheiro é pago à Prefeitura, e só pode ser usado em melhorias urbanas na própria região”.

Há quatro operações urbanas sen-do realizadas na cidade de São Paulo, sendo elas Água Branca, Centro, Faria Lima e Água Espraiada. Apesar de a lei parecer benéfica para a população dessas regiões, alguns moradores da ci-dade não estão muito satisfeitos com o trabalho que vem sendo realizado por

elas. Nesse quesito, cita-se a Operação Urbana Água Branca, que, apesar de a lei já ter arrecadado mais de 150 bi-lhões de reais desde o seu nascimento, seus benefícios não parecem tão satis-fatórios para a população.

Uma das regiões que devem ser be-neficiadas com a Operação Água Bran-ca é a região da Pompéia, bairro tradi-cional de São Paulo, que enfrenta um dos problemas mais trágicos da cidade há anos, as enchentes. Segundo a pre-sidente da Associação Amigos da Vila Pompéia, Maria Antonieta de Lima e Silva, 74 anos, todos os anos em épo-ca de verão, os moradores da Pompéia perdem casas, bens e às vezes até vidas em razão das enchentes. Maria Anto-nieta afirma que as principais necessi-dades da Pompéia hoje são a canaliza-ção do córrego Água Preta e a extensão da Avenida Auro Soares de Moura An-drade, ambas as metas da lei de Opera-ção Urbana Água Branca.

Para a presidente da Associação, ex-tender a avenida Auro Soares de Moura Andrade é importante para desafogar o trânsito da região. “Nós vamos ter uma arena do Palmeiras absurda, de 46 mil pessoas, em um bairro com ruas estrei-tas, tradicional de residências e sem o principal, que é a área de contenção da população. Essa arena vai levar a po-pulação até a avenida Francisco Ma-tarazzo, que vai causar o bloqueio da avenida e o trânsito na região, princi-palmente nos dias de jogos, sendo que a Matarazzo é a única via dos moradores para ter acesso à Lapa e ao centro da

cidade. Isso tudo vai cau-sar o bloqueio da avenida em ambos os lados. Há uma necessidade absoluta de uma avenida auxiliar compensatória”, diz ela.

Sobre as enchentes, Maria Antonieta critica a Secretaria Municipal de Infra-Estrutura Urbana e Obras (Siurb) e diz que os moradores da região estão cansados de perder seus bens em enchentes todos os anos. A Associação Amigos de Vila Pompéia vêm lutan-do há anos para ter a canalização do córrego da Água Preta, segundo a pre-sidente, mas sem conseguir nenhuma melhoria. Ela diz que todo o dinheiro arrecadado pela lei de Operações Ur-banas está parado em uma conta há 16 anos e critica as obras feitas no bairro com o dinheiro arrecadado pela lei. “Eu não acredito que o dinheiro arrecadado tenha sido roubado, mas sei que eles empregaram esse dinheiro em proje-tos errados e pequenos para o bairro, como a revitalização de algumas calça-das e plantio de árvores. São coisas que são necessárias, mas nem tanto quando comparadas a outras bem maiores.”

Os moradores da Vila Pompéia concordam com a presidente da Asso-ciação. O garçom do bar Alviverde, lo-calizado na rua Caraíbas, próximo ao estádio Palestra Itália, conta que sofre todos os anos com as enchentes e que já houve dias em que os clientes do bar tiveram que ficar em cima das mesas. Djalma Dias, 35 anos, diz que o bar já chegou a perder quase tudo nos dias que a água sobe muito, principalmente mantimentos.

A moradora da Vila Pompéia, Ana Paula, 28 anos, conta que sua rua sem-pre alaga, principalmente no começo do ano, no verão. Ela conta que desde que mudou para a Pompéia, há cinco anos, nunca viu uma melhoria no bair-ro para impedir o alagamento e que o problema só tende a piorar. “Nunca vi a Prefeitura vindo aqui para melhorar essa situação, o bairro está cheio de problemas, aqui mesmo na rua tem um bueiro que está entupido há anos. Pare-ce que isso nunca vai melhorar”, afirma ela.

O atendente da loja oficial do Pal-meiras, Márcio Bueno, 35 anos, conta

Ana Carolina Rinaldi e Isabelle Vassalo

Moradores cobram metas da Operação Urbana Água BrancaA lei municipal de Operações Urbanas rende muito dinheiro. Mas, o quanto é realmente revertido em benefício da população?

que toda vez que chove tem que fechar as portas do estabelecimento. Márcio trabalha há sete anos na loja, que fica localizada do lado de fora da arena Palestra Itália, e diz que já tiveram um prejuízo no valor de cinco mil reais. Ele diz ainda que a construção do shopping Bourbon na região só piorou a situação do bairro. “Mesmo com um degrau que a gente colocou na frente da loja, nós somos obrigados a fechar as portas to-das as vezes que chove forte, principal-mente no começo do ano. Nesses sete anos que eu estou aqui, nunca vi uma melhoria em relação às enchentes. Pelo contrário, depois da construção do shopping Bourbon a situação piorou muito”, diz.

A presidente da Associação Amigos de Vila Pompéia, que também é au-tora do livro Raízes da Pompéia, que retrata as belezas e as dificuldades do bairro, faz uma declaração em nome de todos os moradores da região. “Não é possível que um bairro como o nosso, tradicional, que paga tantos impostos, graças aos grandes shoppings, seja des-truído pelas enchentes todos os anos. É inacreditável ver as pessoas perderem tudo por causa de uma péssima admi-nistração da secretaria; é um absurdo”, desabafa.

O assessor de imprensa da SPO-bras/Siurb, Luthero Virgílio, afirma que o dinheiro arrecadado pela lei de Operações Urbanas é “transparente” e não pode ser utilizado de uma só vez, pois foi investido em caixa. Virgílio diz ainda que os problemas do bairro da Pompéia, principalmente as enchentes, não podem ser resolvidos em um úni-co ano, pois o bairro sempre foi muito ruim em relação a isso. E explica que não há como resolver tudo de uma hora para outra.

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Shopping Bourbon

Vendedor afirma que não são realizadas obras para solucionar as enchentes do bairro

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Os problemas de Infraestrutura sofridos pelos moradores de São Paulo

favela do Bamburral, em Pe-rus, é um dos lugares que recebe o Programa de Revitalização de

Favelas, da Prefeitura Municipal de São Paulo. Alguns barracos já foram des-truídos e seus ex-moradores já contam com o “Aluguel Social”, um plano de remoção dos moradores para um local seguro, no qual os moradores recebem R$ 350 por mês para arcar com as des-pesas de aluguel.

Embora o governo disponibilize al-guns programas, como o “Minha Casa, Minha Vida” (que está atrelado ao PAC – Programa de Aceleração do Cresci-mento), o Programa de Revitalização de Favelas ajuda muitas pessoas que não têm acesso e nem condições e que acabam indo, certas vezes, para locali-dades iguais à Favela do “Bamburral”.

Rejane Mendes, uma das morado-ras do local há nove anos, diz que as maiores dificuldades encontradas na fa-vela são a falta de saneamento básico, o mau atendimento do Posto de Saúde mais próximo e o lixo, muitas vezes jo-gado até em cima da sua casa. A mo-radora desabafa: “Tem gente que acha que, por morarmos aqui, somos todos porcos e cachorros! Nós não somos, não!”. E ela divide com a população a responsabilidade: “Que falta alguma ação do governo, falta! Mas também é pouca responsabilidade da população com o lixo”.

Ela também encontra dificuldades quando tenta alugar um local para se beneficiar do plano do governo: “Quando eu vou procurar uma casa e digo que tenho sete filhos, todos os locadores dizem não ser possível fazer o negócio”. Além dos sete filhos, ainda moram com ela uma sobrinha e a sua

mãe.Margarida Silva, uma das primeiras

moradoras da favela, já está na região de Perus há 23 anos e diz que um dos problemas apresentados desde o inicio são os deslizamentos decorrentes da chuva. Ela já viu muita gente perder to-dos os pertences, apesar de não haver vítimas fatais.

Em frente às casas, há um esgoto a céu aberto onde, quando chove, todos sofrem com alagamentos e infiltrações. “O único problema aqui é o esgoto, pois quando chove, alagam as casas e desabam os muros!” ressalta Margari-da.

Outra dificuldade é a falta de as-sistência médica. “Se uma pessoa tiver que morrer, morre” afirma Regiane, cri-ticando a dificuldade de se fazer até um exame de rotina para a prevenção de doenças.

A palavra oficialUlysses Silva, supervisor de habita-

ção da Subprefeitura Perus, detalha que ainda há algumas ações previstas para resolver os percalços dos imóveis, mas o trabalho de reurbanização da favela já está em andamento: “Algumas pesso-as já conseguiram se alocar em lugares seguros, mas temos muito o que fazer ainda”.

Estas pessoas chegam até estes locais, primordialmente, pela falta de condições financeiras. As taxas do setor do país são as maiores do mundo e isto influi no pre-ço das residências. Com a alta do setor, milhões de brasileiros ficam sem ter onde morar e acabam migrando para onde podem construir. Geralmente estas famí-

lias não têm dinheiro para fazer a terra-planagem (sistema para deixar o terreno plano para construção) e, simplesmente, constroem em cima do morro.

Como também não há condições para comprar o material de construção, as casas acabam ficando mal acabadas, sendo chamadas por muitos de barra-cos. Outra questão é a vinda de muitas pessoas, em sua maioria do nordeste, em busca de projeção em São Paulo, que é onde se concentram as indústrias e as oportunidades de empregos. No entan-to, devido à concentração de pessoas que já são do lugar, misturadas às que vão para o solo paulistano, ocorre uma saturação do mercado, e muitas pessoas sofrem com o desemprego.

O problema de saneamento da cida-de de São Paulo está longe de ser resol-vido, porém a Prefeitura de São Paulo, através do programa “Córrego Limpo” e em parceria com a SABESP, realiza a

Diego Rafael e Caio Bibiano

Moradias precárias e a falta de saneamento básico são os principais problemas sofridos pela população com a baixa Infraestrutura oferecida pela cidade

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manutenção e limpeza dos córregos da cidade. No total, são mais de 100 es-truturas contempladas pelo projeto e os resultados são positivos. Segundo o engenheiro da Unidade Sul da SABESP, Rodrigo Gibbin, o programa já realizou a manutenção e limpeza em 17 córregos da região e outros estão para serem im-plantados no programa.

Quando questionado sobre o sane-amento básico em áreas de habitação precária, como as favelas e algumas áre-as de habitação irregular, o engenheiro Rodrigo falou sobre a dificuldade da SABESP e da Prefeitura em sanar essa dificuldade que, a cada temporada de chuvas, causa problemas para a popula-ção carente: “O problema dessas áreas é que as habitações estão localizadas mui-to próximas aos córregos. Então, é ne-cessário que haja a remoção dessas casas para que, depois, seja implantada a rede de esgoto.”

Situação das famílias da favela do Bamburral é dramática

Entulhos estão por toda parte

Projeto de reurbanização da favela do Bamburral

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Saturação dos aterros sanitários levanta discussão sobre a gestão do lixo em São Paulo

ão Paulo enfrenta, como toda grande cidade, o desafio diário de coletar e equilibrar, por meio de

leis e das próprias atitudes das pesso-as, a quantidade de lixo que é gerada pela população e a quantidade que é descartada ou reaproveitada. A coleta é realizada exclusivamente por duas con-cessionárias: LOGA e EcoUrbis (cami-nhões compactadores e outros especí-ficos para o recolhimento dos resíduos de serviços de saúde). A região noroeste da cidade de São Paulo é atendida pela LOGA, que também administra o ater-ro Sanitário Bandeirantes, em Perus, e o transbordo Ponte Pequena. A EcoUrbis realiza a coleta da região sudeste e ad-ministra o aterro São João, na Avenida Sapopemba, e os transbordos Vergueiro e Santo Amaro.

Karin Heimeshoff, supervisora de limpeza pública da subprefeitura de Santana-Tucuruvi, atua na função há pouco tempo e é responsável por or-ganizar e gerenciar o trabalho dos fun-cionários de limpeza contratados pelas

empresas. Ela conta que há diversas equi-pes que são divididas de acordo com uma função es-pecífica.

“Há as cha-madas ‘equipes complementa-res’, que lavam

Prefeitura trabalha com empresas terceirizadas para organizar e melhorar a coleta na cidadeÉgon F. Rodrigues e Isabelle Stepanies

e varrem as ruas mais movimentadas, há as ‘equipes de roçagem’, compostas de nove pessoas, que realizam serviços como o corte de mato, ou alguns mais críticos como auxiliar na limpeza de córregos. Também há, por exemplo, o caminhão de coleta manual de lixo, que recolhe entulhos de acordo com ordens recebidas da prefeitura, além, também, dos caminhões da operação ‘cata-bagu-lho’, que recolhem de acordo com pedi-dos feitos à prefeitura pelos munícipes e em determinados horários” afirma.

Existem também os oficiais de lim-peza da operação “lambe-lambe”, devi-do à Lei “Cidade Limpa”, que cuidam da limpeza dos postes e muros, retiran-do os papéis de propagandas que os sujam.

ColaboraçãoAs subprefeituras de São Paulo

estão aumentando, a cada ano, o nú-mero de áreas para deposição dos re-síduos das construções e demolições, facilitando e incentivando a recicla-gem desses materiais por parte da po-pulação. Estas áreas são conhecidas como “Ecopontos” e são locais de en-trega voluntária de pequenos volumes de entulho, grandes objetos e resíduos recicláveis.

Karin ressalta a questão dos estabe-lecimentos considerados como “gran-des geradores”, ou seja, todos aqueles que produzem mais de 200 litros de lixo por dia, como estabelecimentos

comerciais, industriais, de prestação de serviços, públicos ou institucionais. Aqueles que se encaixam nessas con-dições precisam se cadastrar com os devidos documentos na prefeitura e realizar o cadastro para um serviço de coleta particular. Aqueles que não se cadastrarem estão sujeitos a multas e até ao fechamento do estabelecimento.

Os problemas gerados pelo lixo nas grandes cidades são, sem dúvida, de responsabilidade da população e dos órgãos públicos. Nos últimos anos, houve um crescente esforço para dar um tratamento adequado ao lixo das grandes cidades, tanto por parte das prefeituras, quanto de empresas

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Karin Heimeshoff, supervisora de limpeza pública da subprefeitura de Santana-Tucuruvi.

Projeto de reurbanização da favela do Bamburral

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Funcionários de limpeza cuidando de canteiro de plantas e calçada na Avenida Braz Leme, Zona Norte da capital.

Feiras e “Pontos Viciados”

Outro ponto que a supervisora des-taca é a limpeza das feiras: “De acordo com o bairro, há uma empresa especí-fica que fica responsável por auxiliar na limpeza das feiras. Os feirantes pre-cisam fechar as barracas em um deter-minado horário para que, quando os oficiais de limpeza cheguem, possam varrer e lavar as ruas. Porém, alguns feirantes ficam além do horário pré-estabelecido para o encerramento da feira, e acabam deixando muita sujei-ra quando os oficiais já passaram por aquela localidade, além da culpa, é cla-ro, nos ombros da prefeitura”.

Segundo Karin, ainda há o que a prefeitura chama de “Pontos Vicia-dos”. São pontos da cidade onde sem-

privadas que as auxiliam. No entanto, por parte da população, este esforço ainda deixa muito a desejar, principal-mente quando se observa a atitude das pessoas nas ruas e avenidas, que jogam inúmeros resíduos no chão, entupindo os bueiros com as chuvas e, conse-quentemente, provocando enchentes.

A gestão e a disposição inadequa-da do lix o provocam a degradação do solo, comprometimento dos rios e mananciais, intensificação das enchen-tes, contribuindo para a poluição do ar e para a proliferação de vetores de importância sanitária, nos centros ur-banos.

pre há uma grande quantidade de lixo sendo descartada. Muitas vezes, num período de poucos dias após a limpeza de um destes locais, ele já se encontra com sacos de lixo e materiais descarta-dos sem qualquer cuidado.

Somente na subprefeitura de San-tana-Tucuruvi, por exemplo, há uma lista de mais de 40 pontos como estes. “O grande problema são os carrocei-ros”, explica. “Eles são pagos por al-gumas pessoas para levarem materiais para reciclagem ou para o fim apro-priado, porém estes, satisfeitos com o pagamento antecipado, descartam o lixo em um lugar qualquer, ajudando a alimentar, ou até criar estes pontos viciados!”.

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Centros esportivos reduzem número de ocorrências policiais em bairros paulistanos

Camila Teixeira e Jéssica Almassi

Brasilândia, na zona norte, e o Capão Redondo, na zona sul, podem ser considerados hoje exemplos de superação e de como projetos

sociais mudam a realidade de uma região. Ambos os bairros de São Paulo diminuíram, consideravelmente, o número de ocorrências registrado nos últimos anos. No Capão Redondo, em apenas sete anos, o número de homicídios diminuiu 70%, indo de 278 para 81, entre 2003 e 2009. Na Brasilândia, no mesmo período, a queda foi de 55%, caindo de 194 casos para 89.

Autoridades e responsáveis pela segurança dos bairros são unânimes: apesar de não poder ser considerada isoladamente, a atuação de instituições sociais com foco em atividades esportivas e culturais têm sido uma das responsáveis pela queda na taxa de delitos, principalmente aqueles que envolvem menores de idade.

Capão RedondoSegundo o cabo Carlos Henrique, do 37° Batalhão

da Polícia Militar (BPM), desde 2001 atuando na região, o bairro é mais seguro hoje do que há dez anos atrás. “Sem dúvida, o número de ocorrências que atendemos hoje é bem menor”, comentou o policial. Dados divulgados pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), constatam a afirmação: entre 2008 e 2010, o número de mortes de jovens de 15 a 34 anos diminuiu em mais de 50% na região, pulando de 266 para 130 casos registrados anualmente.

Apesar de não creditar o fato apenas à Fundação Cafu, presente na região desde 2004, o cabo diz ser perceptível o envolvimento do projeto social com a atual realidade do bairro, visão que também é partilhada pela moradora Priscila Nogueira Ubrig, de 23 anos. “Antes podíamos ver crianças e adolescentes

se envolvendo em crimes ou simplesmente morrendo. Hoje o cenário é diferente, a fundação tem conseguido inserir conceitos de cidadania e oferecer novas oportunidades aos jovens”, analisa ela, que sempre morou no Capão Redondo.

Atualmente, a Fundação Cafu atende cerca de 750 pessoas, oferecendo atividades esportivas, culturais e cursos de formação profissional. O principal foco, entretanto, são as crianças e adolescentes que, em sua maioria, frequentam o espaço para a prática de atividades esportivas.

De acordo com a coordenadora do projeto, Flávia Alves, manter os jovens ocupados desenvolvendo atividades foi o modo encontrado para afastá-los de situações de risco. “Temos atividades durante todo o dia. À noite, é o tempo da criança e do adolescente ter contato com os pais e fazer suas atividades escolares”, explica.

BrasilândiaAtuando desde 2005 no bairro da zona norte da

capital, o Espaço Criança Esperança também é um dos atores no processo de inserção social de crianças e adolescentes da região.

Antes, apenas um espaço para recreação sem grandes aportes em infraestrutura ou qualquer apelo de inclusão, o projeto – uma parceria entre a ONG “Sou da Paz”, Rede Globo de Televisão, Unesco e Prefeitura de São Paulo –atende hoje mais de 250 pessoas entre crianças, adolescentes e adultos, para a prática de atividades esportivas e culturais.

Segundo o coordenador do projeto, Nery Fernandes, o intuito da iniciativa é oferecer à população local novas oportunidades e proporcionar a elas a prática de atividades e experiências diferentes, o que em outras situações dificilmente conseguiriam. É o caso

de Camila Stefani Souza, de 13 anos. No projeto, ela conheceu e se apaixonou pela capoeira. “Quando sair do ‘Criança Esperança’, quero continuar no esporte. Quero fazer dele a minha profissão”, revelou sorrindo e vislumbrando um futuro pela frente.

Levantamento divulgado pelo Sistema de Informação Criminal (Infocrim), da Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo, revela que entre 2003 e 2009, o número de assassinatos de jovens de 15 a 29 anos de idade apresentou queda de 64%. Em sete anos, o índice de 114 mortes anuais foi reduzido a 42 na região.

Apenas projetos sociais, no entanto, não são suficientes para resolver os altos índices de violência urbana na capital paulista. Para o Soldado Diego Prado, da 3º Companhia Comunitária de Segurança, o envolvimento conjunto de família e sociedade é fundamental para a formação do cidadão. “A população espera que tudo se resolva facilmente, mas esse processo começa dentro de casa, com os pais, passa pela escola e continua em instituições sociais. Nada funciona como num passe de mágica”, ponderou.

Atuação de entidades sociais em regiões carentes cria novas oportunidades e transforma a realidade de crianças e jovens

Depoimento de William Soares da Silva, 20 anos, que frequentou a Fundação Cafu

“Conheci a Fundação Cafu ainda adolescente. Na época, eu morava na favela, não tinha estudo e mal sabia falar direito. Meu vocabulário se resumia a gírias e palavrões. Além disso, andava com as piores companhias possíveis, convivia com pessoas ligadas ao mundo das drogas e do tráfico e, aos poucos, eu também estava entrando para aquela vida.

Foi então que conheci a Fundação Cafu e passei a me perceber melhor. Ali me ensinaram valores que levo comigo até hoje, referências que certamente foram fundamentais para o meu desenvolvimento. Voltei a levar os estudos a sério, me formei e hoje, graças ao projeto, tenho uma bolsa de estudos no curso de Enfermagem da Faculdade Anhanguera.

Não apenas isso, construí uma família. Conheci minha esposa dentro do projeto e temos um filho, a grande bênção da minha vida. Em poucos anos, a minha vida mudou completamente e sei muito bem a quem agradecer. Sem o apoio e incentivo da Fundação Cafu, talvez nem estivesse aqui contando esta história. Poderia estar jogado em qualquer beco de São Paulo por causa do consumo de drogas, preso em algum cubículo acusado de roubo ou tráfico, ou então simplesmente morto. A verdade é que naquela época eu já estava morto e não sabia. Voltei a viver.”

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Meninos jogando futsal com o criador do projeto, o jogador Cafu.

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1º Semestre de 2011 07NÚMERO 21

Combate à violência em São Paulo diminui a taxa de homicídio entre jovens Guilherme Lima e Vinícius Pereira

ão Paulo conseguiu diminuir, nos últimos cinco anos, a taxa de homicídios entre jovens com idade de 15 a 29 anos. Em 2006, segundo dados

do Mapa da Violência, o número de jovens vítimas de homicídio foi de 1.274. Já em 2007, o número caiu para 905. De 2008 a 2009, houve um pequeno aumento, passando de 567 para 630. Em 2010, nova queda, totalizando 530 homicídios.

“O Estado tem implantado políticas para diminuir a taxa de homicídios entre os jovens. Houve aumento do número de prisões e mais apreensão de armas”, declarou Alice Andrés Ribeiro, coordenadora de projetos de controle de armas do Instituto “Sou da Paz”. De acordo com ela, sete em cada dez homicídios acontecem por motivos banais, como brigas envolvendo bebida, torcidas de futebol e namoro. “A cada dez mortes, duas são provocadas por assaltos e envolvimento com drogas. Isso em todas as classes sociais”, informou.

Segundo o Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil do Estado de São Paulo, homens de baixa escolaridade, normalmente negros e pardos, com idade entre 18 e 30 anos, são os que mais matam e morrem. E 50% dos que cometem assassinatos e 70% das vítimas não possuem antecedentes criminais.

Um caso recente de assassinato de jovens em São Paulo foi o do estudante de Letras da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Eduardo de Souza Garcia, de 24 anos, quando entrava em sua casa por volta das 20h, no dia 8 de março, na terça-feira de Carnaval. “Foi um crime banal. Os assaltantes não precisavam matá-lo. Ele não reagiu”, lamentou o amigo da vítima, o estudante universitário Bruno Gaspar. Outros dois estudantes também foram mortos recentemente em São Paulo. Indagada sobre o andamento das investigações, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo não deu nenhuma declaração.

Apesar de a morte do estudante da USP ter ocorrido na zona leste da capital, o Mapa da Violência mostra que a zona norte é a região da cidade com maior índice de mortalidade entre jovens de 15 a 29 anos. Enquanto a taxa média de assassinatos por 100 mil habitantes na cidade é de 50,21, na zona norte varia de 86,9 a 91. Os bairros de Perus, Freguesia, Brasilândia, Casa Verde e Cachoerinha lideram o ranking de registros de homicídios.

Mesmo com a prevenção e campanhas contra o desarmamento, muitos homicídios ainda ocorrem por armas de fogo. “O problema é que, no Brasil, é preciso limitar o acesso da população às armas. Atualmente, a sociedade brasileira possui oito

milhões de armas, legais e ilegais, enquanto o Estado possui apenas dois milhões”, revelou o cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, pesquisador associado do Núcleo de Estudos da Violência (NEV), da USP, quando perguntado sobre os homicídios de crianças e adolescentes durante o programa “Roda Viva”, da TV Cultura, no último dia 11 de abril.

O Brasil lidera o ranking mundial de homicídios entre jovens. Segundo o último relatório do Fundo

das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 38% dos adolescentes brasileiros vivem em situação de pobreza e estão mais vulneráveis ao desemprego, à violência e a outros fatores sociais negativos. Ao contrário do que acontece em outros Estados, São Paulo tem se mostrado um exemplo na contenção da violência entre jovens, reduzindo a cada ano a taxa de mortalidade.

Algumas ONGs realizam programas sociais com o objetivo de diminuir o número de homicídios nas comunidades, nas quais muitos jovens carentes estão desamparados pelo poder público. O coordenador do projeto “Praças da Paz Sul América”, Ricardo Mello, atua na área desde 2003. “O objetivo é a revitalização de espaços públicos das periferias de São Paulo”, declarou. O projeto funciona durante três anos em cada local e procura conhecer os grupos e resolver os conflitos por meio de diálogos com a comunidade. “Realizamos reuniões abertas para todos os moradores e contamos com a ajuda de jovens no processo de revitalização”, disse Mello. Atualmente, o projeto está presente em Paraisópolis, Jaguaré, Jardim Irene, Jardim Olinda, Carrão e Vergueirinho.

Números do Mapa da Violência mostram que taxa de homicídio entre jovens diminuiu nos últimos quatro anos

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Posto de recolhimento de armas na estação de tratamento de água, zona oeste.

Número de estudantes vítimas de assassinato preocupa em São Paulo.

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Parque revitalizado no Jardim Humaitá, zona oeste da capital.

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Junho de 201108 Rio Branco EM FOCO

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O ciclista em constante perigo: São Paulo e a desordem nas cicloviasApesar de ser um hábito saudável, pedalar exige atenção dos ciclistas quando o assunto é trânsito

Alexandre Arcari e Felippe William

número de bicicletas que com-pete por um espaço no trânsito é cada vez maior em São Paulo.

Basta andar por uma avenida e já se notam dois ou mais ciclistas pedalando próximo ao meio-fio, correndo risco de atropelamento. Existe, inclusive, uma lei sancionada em 2007 que determi-na a obrigatoriedade de ciclovias em determinadas áreas, mas ainda não foi cumprida.

Na extensão da cidade de São Pau-lo, há aproximadamente 25 km de ci-clovias efetivamente apropriadas para o deslocamento urbano. No entanto, apenas 4,5 km delas se encontram fora de parques.

Há um projeto da prefeitura que propõe construir cerca de 275 Km de ciclovias em toda a cidade. Todavia, sequer dez dos primeiros 92 km que deveriam estar prontos até 2012 foram entregues. Somado a esse fato, em dez anos São Paulo registrou um aumento de 183% no número de viagens feitas de bicicleta.

Existe uma lei de ciclovias que via-biliza o uso de bicicletas em São Paulo, com a criação de um sistema cicloviá-rio eficiente, incentivando o uso de bi-cicletas como meio de transporte. Na teoria, o projeto é abrangente e gera expectativa.

Em 2006, foi criado o Pró-Ciclista, órgão responsável por fazer a lei sair do papel. Por estar ligado à Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente e não à dos Transportes, o Pró-Ciclista não pode empregar seu orçamento em obras do sistema viário. A secretaria à qual pertence não tem autonomia para licitar e construir ciclovias fora de par-ques.

Comparando São Paulo com as grandes cidades que já possuem ciclo-vias, observa-se como a cidade encon-tra-se atrasada. Segundo o Institute for Transportation and Development Policy (ITDP) – ONG norte-americana que pesquisa alternativas em transpor-tes em vários países, inclusive no Bra-sil –, atualmente 54% das residências possuem bicicletas e 66% de seu uso é para ir ao trabalho ou escola.

Enquanto as ciclovias não chegam, os ciclistas devem respeitar as leis de trânsito, andando pela margem direita no mesmo sentido de sua via.

O ciclista e blogueiro Victor Diguini registrou, em fevereiro de 2011, fotos e um breve relato de seu passeio de bi-cicleta pela nova ciclovia da Marginal Pinheiros. Além do cheiro forte do rio, ele conta que viu um corpo boiando

em meio aos dejetos na superfície da água. De acordo com Victor, a polícia chegou logo depois e não foi divulgado nada a respeito na mídia. Ele observa que aquela foi a segunda vez que viu alguém boiando enquanto pedalava na ciclovia.

Tal fato põe em dúvida a intenção da ciclovia para o lazer. Entre os arra-nha-céus do Brooklin e as construções tradicionais do Morumbi, o lugar teria motivos de sobra para um bom passeio de fim de semana.

Existem alguns dados relevantes so-bre a segurança dos ciclistas na cidade de Sâo Paulo, e um deles é o cuidado com a própria segurança.

Cerca de 95% dos acidentes envol-vendo ciclistas ocorrem em cruzamen-tos, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Além disso, mais da metade das mortes de ciclistas é re-sultado de colisão frontal e têm como responsável o próprio ciclista, resulta-do da inércia que o atrapalha em parar ou frear.

Entre 10 a 15% das mortes de ci-clistas no Brasil são causadas por fa-lha mecânica da bicicleta. Por isso, é fundamental uma revisão das peças e equipamentos antes de sair.

A ciclovia evita os problemas com o trânsito, pois isola o ciclista do contato com os automóveis. Seu uso representa um forte incremento para a segurança de todos, mas em São Paulo a realida-de é outra. A prefeitura, na tentativa de solucionar a ausência de ciclovias nos pontos de alta circulação de bicicletas, instalou “ciclofaixas” que só funcio-nam nos domingos, e de manhã. Sem contar as “calçadas” construídas no centro de avenidas que acabaram vi-rando pistas de “cooper”.

O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) estipula alguns artigos para a circulação de bicicletas, determina os equipamentos necessários e o lugar correto para trafegar. Dentre as nor-mas, estão: circular no mesmo sentido regulamentado para a via e nunca na contramão, usar equipamentos de se-gurança, como capacete, campainha, roupas e acessórios refletores de luz, luz noturna traseira e espelho retrovisor.

Os BicicletáriosIndo para o trabalho, para a fa

culdade ou mesmo a passeio, é possível observar em algumas estações de Me-trô da cidade de São Paulo, o aluguel de bicicletas. Estamos falando dos bi-

cicletários.Utilizar esse serviço é muito sim-

ples. Basta comparecer a um dos bici-cletários levando RG e CPF para rea-lizar o cadastro. Para o empréstimo, é necessário um cartão de crédito Visa, Mastercard ou Amex, com limite de R$350,00 para pré-autorização, junto com um comprovante de residência. O empréstimo é gratuito na primeira hora e para as demais é cobrada uma taxa de R$2,00.

É possível encontrar bicicletários nos metrôs: Liberdade, Armênia, San-tana, Vila Madalena, Brás, Palmeiras, Barra Funda, Santa Cecília, Paraíso, Anhangabaú, Marechal Deodoro, Sé, Guilhermina, Esperança, Corinthians Itaquera (desativado temporariamen-te) e Carrão.

Pedalar é importante

Além desses bicicletários, as esta-ções Tamanduateí, Vila-Prudente, Be-lém, Penha, Vila-Matilde, Artur Alvim, Capão Redondo, Campo Limpo e Vila das Belezas, possuem “paraciclos” (es-truturas para acorrentar bicicletas) doadas pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, oferecendo 16 vagas por unidade (144 lugares no total).

Na tentativa de combater o uso ex-cessivo do carro e promover o trans-porte ecológico, o grupo “Bicicletada” se reúne todas as sextas-feiras na Praça do Ciclista, na Avenida Paulista. O mo-vimento, presente no Brasil e em Por-tugal, é inspirado no “Massa Crítica”, que ocorre em inúmeras cidades do mundo. Trata-se de um encontro para divulgar a bicicleta como um meio de

transporte e, no caso de São Paulo, pro-testar por melhores condições para o ciclista na cidade.

Sem um líder ou um estatuto, a pos-tura e o comportamento dos partici-pantes variam de acordo com o local ou evento. O lema utilizado é “um car-ro a menos”, visando “obter um maior respeito dos veículos motorizados que trafegam nas ruas saturadas das gran-des cidades”.

Percorrendo os bairros próximos à avenida Paulista, os ciclistas da “Bici-cletada” aproveitam, mais do que um protesto, para passear pela cidade e fa-zer amizades.

A reportagem do Em Foco ouviu o estudante de Direito Gabriel Henrique Casaqui, 24 anos. Morador do bairro de Higienópolis. Ele é um dos que op-

taram por fazer o trajeto diário (tra-balho, faculdade e de volta para casa) de bicicleta. Ele relata os problemas e vantagens de pedalar para seguir sua rotina:

Quando se interessou em ir para o trabalho e para a faculdade de bicicleta?

Gabriel: Quando completei 19 anos, meu pai me deu um carro. No começo achava o máximo, mas com os altos custos dele, e como moro próximo ao trabalho e à faculdade, optei por ir de bicicleta mesmo.

Então sua opção foi feita por con-tenção de custos e não com um objetivo sustentável?

Gabriel: No começo sim, mas de-pois percebi a importância da redução do uso dos automóveis.

Acha que as autoridades poderiam investir mais em ciclovias na cidade?

Gabriel: Com certeza. Além de ofe-recer mais conforto, diminuiria o índice de acidentes.

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Paisagem vista da ciclovia da Marginal Pinheiros.

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1º Semestre de 2011 09NÚMERO 21

A cada dia, São Paulo bate novos recordes de lentidão no trânsitoTransporte público seria alternativa, caso os serviços fossem eficientes e de boa qualidade

Camila Miranda, Fernanda Falcão, Marcella Tollendal e Melissa Carmelo

ão Paulo, segunda-feira, 4 de abril de 2011: a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET)

registra, às 18h30, 157 km de vias con-gestionadas em toda a capital paulista. O número representa 18,1% dos 868 km monitorados na cidade. Fora a chuva que caiu sobre a capital naquele começo de noite, o motivo do conges-tionamento recorde é a quantidade de veículos nas ruas: sete milhões, segundo o Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran). Em um único dia do mês de fevereiro de 2011, o De-tran emplacou 1.184 novos veículos.

O transporte público, em particu-lar o deslocamento feito por ônibus na capital paulista, seria uma das soluções para o problema da lentidão, caso os serviços prestados fossem de boa qua-lidade. Apesar de sua magnitude – em março de 2011, segundo o Detran, a frota de ônibus era de 42.367, percor-ria 4.400 km de linhas e as catracas gi-ravam, assustadoramente, 9,6 milhões de vezes por dia – o nível de satisfação dos usuários do sistema ainda é baixo. As reclamações mais comuns são filas nas plataformas de embarque nos ter-minais, atrasos, superlotação, demora no trajeto, sobreposição de linhas entre micro-ônibus e ônibus e, sobretudo, o preço da tarifa: R$3,00.

O aposentado Otavio Miranda, 56 anos, morador da Vila Leopoldina, na zona oeste de São Paulo, diz que é um “sufoco” se locomover de ônibus até o bairro vizinho. “Faço um trabalho vo-luntário na Lapa de Baixo, e toda vez que vou para lá é um sufoco. Moro cer-ca de quatro quilômetros de distância e, se eu quiser ir direto, preciso esperar até 40 minutos para entrar no ônibus, porque apenas uma linha faz o trajeto. Se eu fosse de carro, certamente chega-ria em menos de 15 minutos.”

O bairro da Vila Leopoldina tem crescido muito de dois anos para cá, mas o número de linhas continua o mesmo dos últimos dez anos. “Envol-vo-me muito com o que acontece por aqui e vejo os órgãos públicos investi-rem nas ruas, mas os ônibus continuam os mesmos: poucos e cheios”, completa o aposentado.

Nessa mesma região, a estudante universitária Sâmia Gabriela Teixeira, 20 anos, reclama da espera de uma hora no ponto de ônibus. Quando o veículo chegou, a reportagem do Em Foco constatou que estava superlota-do. “É um absurdo pagar R$3,00 e não

conseguir chegar em casa com conforto depois de um dia cansativo de traba-lho”, desabafou a universitária.

Além da lotação, os paulistanos que utilizam o transporte coletivo enfren-tam o problema da demora em esperar o próximo ônibus, o que muitas vezes é feito debaixo de chuva ou sol – das 19 mil paradas, só sete mil possuem cober-tura, segundo a SPTrans, órgão respon-sável pela gestão do sistema de ônibus em São Paulo.

Procurado pela nossa reportagem, o supervisor da SPTrans, Danilo Manfre-dine Albacci, declarou que o aumento do número de linhas na região está pre-visto para este ano ainda. “O número de linhas que temos hoje em circulação na cidade é baseado nos dados popula-cionais passados por entidades respon-sáveis, como o IBGE. A necessidade de aumentar a linha da região da Vila Leopoldina foi prevista a partir desse pacote de dados, associado às mais de 600 reclamações que recebemos no primeiro trimestre de 2011. As recla-mações partiram de estabelecimentos da região, como o Serviço Social da Indústria (Sesi), colégios e comércio.”

Segundo o supervisor, a ampliação acontecerá até agosto de 2011, e a pre-

visão é de, no mínimo, duas novas li-nhas. “A SPtrans já começou a investir no recapeamento da principal via de acesso da região: a avenida Guaipá, e o processo todo, de outras vias, deverá terminar por volta de junho. É impor-tante ressaltar que a tarifa de ônibus cobrada aos passageiros inclui todas as obras de melhoria que a SPtrans reali-za.”, completou.

Com o aumento do valor da pas-sagem de R$ 2,70 para R$ 3,00 – um salto de 11% ante a inflação de 6,4% ao longo de 2010 (IPC-Fipe) – o pre-feito de São Paulo, Gilberto Kassab, tem enfrentado protestos de populares, estudantes e abaixo-assinados contra o aumento das tarifas. O Tribunal de Justiça de São Paulo solicitou esclare-cimentos das autoridades municipais sobre o aumento da passagem.

Quanto da verba arrecadada, que se aproxima de R$345 milhões por mês, vai para o Município e quanto vai para as empresas de ônibus? Segundo o diretor de operações da Viação San-ta Brígida, Danilo Junqueira, de cada tarifa de R$3,00, “R$1,30 são desti-nados às empresas, enquanto R$1,70 destinam-se à SPTrans.” O diretor de-clarou ainda que “todo aumento de

tarifa é coordenado pela SPTrans, de acordo com alguns quesitos, como au-mento do piso salarial dos motoristas, aumento da frota, aumento do com-bustível etc.”

“Para fornecer os nossos serviços dentro da cidade de São Paulo, a SP-Trans exige uma série de pormenores: temos o ISO 9001, de qualidade e exce-lência e o ISO 14001, de cuidados com o meio ambiente. A longo prazo, isso tem custo para a empresa, pois para adequarmos a frota tomamos uma sé-rie de medidas: os estofados estão em boa qualidade, a manutenção dos au-tomotores está em dia, e há também o controle na emissão de poluentes. É uma reação em cadeia: se a SPTrans aumentar as linhas e nos repassar mais verba, conseguiremos atender melhor à população, mantendo o mesmo preço em uma curva estável. Atender à po-pulação de São Paulo com excelência é tarefa difícil, mas cabe à SPTrans nos direcionar o caminho das melhorias.”

Entre as promessas da prefeitura para 2012 estão construir 13 novos terminais urbanos, implantar 66 quilô-metros de corredores de ônibus e reno-var 25% da frota de ônibus. É esperar para ver.

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A mobilidade urbana na cidade de São Paulo é caracterizada por um sistema de transportes complexo

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Junho de 201110 Rio Branco EM FOCO

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Ensino tecnológico, uma alternativa para o início da carreira profissional em São PauloJovens saem mais cedo com conhecimento especializado para disputar o mercado de trabalho

onhecimentos teóricos hoje já não bastam para entrar no mercado de trabalho. Cada vez mais seletivas, as empresas buscam diferenciais

em seus candidatos e um deles é a prática. Conhecer o dia-a-dia e saber lidar com os desafios de cada área é essencial. Mais rápidas e com conteúdo objetivo, as faculdades técnicas se tornaram a melhor opção para quem quer uma boa colocação no mercado.

Uma pesquisa realizada pelo Centro Paula Souza, órgão responsável pelas Fatecs e Etecs, aponta que 93,2% de seus alunos estão empregados. E desses, 60% estão em empresas de grande porte. Esses nú-meros levam a refletir sobre qual seria o segredo desse sucesso.

Os cursos tecnológicos oferecidos pelas Fatecs têm em média duração de três anos, tempo inferior aos cursos de bacharelado de outras faculdades. Ou seja, os alunos se profissionalizam com maior rapidez e en-tram para disputar uma vaga no mercado mais cedo. A diferença para um bacharelado é que o curso tecno-lógico é focado no mercado, com poucas disciplinas teóricas.

Charles Henrique Franco, 24 anos, aluno formado em Análise e desenvolvimento de sistemas pela Fatec de São Paulo, foi contratado antes de se formar e hoje ocupa um cargo importante. “Fui contratado no co-meço do segundo ano de faculdade, e não foi estágio, era um cargo efetivo onde eu já entrei conhecendo os procedimentos dos equipamentos que eu deveria ope-rar.” Bermat, importadora de máquinas industriais da Alemanha, é a empresa em que Charles, hoje, é co-ordenador de operações. O sócio-proprietário, João Batista Borges, contrata preferencialmente alunos das Fatecs, pois eles atendem os requisitos que um profis-sional da área precisa ter. “Eles conhecem as máquinas e sabem operar o sistema. Sabem melhor que eu, que já estou ultrapassado e não consigo mais entender as novas tecnologias. Hoje eu só administro os confli-tos”, diz João.

Maria Claudia Guaratto

A Bermat já tentou trabalhar com bacharéis em engenharia, mas a relação não foi boa e tampouco duradoura, como conta José Antônio Alves, outro sócio-proprietário da empresa. “Um engenheiro re-cém formado vem com o ego lá em cima, achando que conhece tudo, que é o ‘senhor da razão’. Aí o cara vai operar a máquina e não entende nada, porque ele só sabe a teoria, na faculdade ele nunca chegou perto de um equipamento parecido”. Depois dessa experiência, a Bermat nunca mais arriscou, profissionais hoje só da Fatec.

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Um outro exemplo da Fatec bem sucedido é Bru-no Pedro Santana, 25 anos. Formado em Automação Industrial pela Fatec de Osasco, Bruno é projetista na Trends. Diferente de Charles, Bruno estagiou em vá-rias empresas executando tarefas nem sempre relacio-nadas à sua área. “No começo eu achava que tinha es-colhido o curso errado. Sempre me contratavam para a área de elétrica, mas hoje estou feliz no meu cargo e na minha empresa. Acertei no curso e na instituição.”

Como muitos alunos, Bruno e Charles estudaram a vida toda em colégios públicos, e na hora de escolher a profissão e a faculdade a cursar, a situação financeira foi fator determinante. Ambos não tinham condições para ingressar em faculdades particulares, e as alterna-tivas de ensino público, como USP, Unesp e Unicamp, ficaram distantes, pois a disputa no vestibular é muito grande. A Fatec acabou sendo a única opção viável.

Hoje, 74% dos alunos são provenientes do ensino público. Para a superintendente do Centro Paula Sou-za, Laura Laganá, essa estatística se justifica pelo fato de que pais e alunos oriundos de classes mais altas desconhecem o valor do diploma universitário das Fa-tecs e o dos cursos tecnólogicos. “A validade do diplo-ma é a mesma, a diferença é que o curso de tecnólogo tem menor duração e ensino mais específico e prático, e não tão geral quanto um bacharelado.”

Ex-estudante do ensino médio particular, Thiago Mingorance, 27 anos, hoje aluno de Engenharia Ci-vil, da Uninove, confirma a afirmação de Laura. Para ele, um diploma de tecnólogo rebaixa a profissão. “Eu quero ser engenheiro, não técnico em edificações”, diz. A superintendente finaliza dizendo que, realmente, o grande desafio das Fatecs é atrair os alunos de escolas particulares: “Quem sabe, agora que ganhamos auto-nomia como universidade”. Idealiza ela.FATEC Jundiaí

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1º Semestre de 2011 11NÚMERO 21

A escola e os pais

O relacionamento da es-cola com os pais é, por vezes, muito complicado. De acordo com Monica Tollendal, alguns pais não sabem muito bem como lidar com os próprios fi-lhos. “Eles têm medo que seus filhos sejam machucados, que virem motivo de chacota dos outros.” Para ela, é necessário que haja palestras e conversas para que os pais adquiram mais confiança na integração de seus filhos nas escolas.

A professora Maria He-lena Bonfim informou que a escola arquiva todos os casos de cada um dos alunos, rela-tando seus problemas, suas necessidades e seu progresso durante a vida escolar, enca-minhando isso ao conheci-mento dos pais e também dos outros professores para que os mesmos saibam lidar com esses alunos.

Essa preocupação da es-cola em manter os pais infor-mados facilita o acompanha-mento do desenvolvimento e percepção de possíveis pro-blemas que possam ocorrer dentro da escola.

A lei da inclusão ainda não funciona em São PauloGabriela Martins e Amanda Belo

educação pública no Brasil possui, hoje, apro-ximadamente 85% de

crianças, adolescentes e adul-tos com necessidades especiais incluídas no ensino regular. No entanto, as pesquisas com-provam que a Lei da Inclusão nº 10.172, de 9 de janeiro de 2011, ainda não funciona na prática, principalmente em es-colas do Estado de São Paulo.

A inclusão é um assunto que vem sendo discutido desde a década de 1990 e se apresenta como um grande desafio para a educação brasileira. Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional assegurou que crianças deficientes físicas, mentais e sensoriais tivessem a oportunidade de estudar em classes regulares de ensino.

Em 2001, o então ministro da Educação, Paulo Renato Souza, regulamentou a Lei de Diretrizes para a Educação Es-pecial, assinando a resolução pela qual as escolas públicas deveriam receber as crianças com necessidades especiais.

Segundo a legislação bra-sileira, pessoas portadoras de deficiência são aquelas que apresentam, permanentemente, perdas ou anormalidades na sua estrutura ou função psico-lógica, fisiológica ou anatômi-ca, que gerem a incapacidade para o desempenho de ativi-dade no padrão considerado normal para o ser humano. O censo 2009, realizado pelo IBGE, comprovou que 14% da população brasileira possui alguma das quatro categorias estabelecidas para deficiência, sendo elas, física, auditiva, vi-sual e mental.

Formação de recursos

humanosUm dos principais desafios

encontrados pela educação especial na rede pública é a falta de profissionais capacita-dos para educar crianças com deficiência. Faltam professo-res especializados nos níveis fundamental e médio para esse tipo de atendimento, bem como professores do ensino regular que dêem auxílio para a integração desses educandos nas classes comuns. Fato que é exigido por lei.

A EE José Barbosa de Al-meida, na zona oeste de São Paulo, possui 30 alunos espe-ciais divididos em dois turnos e conta com duas professoras formadas em educação espe-cial. Uma delas, que não quis se identificar, disse que todos os professores deveriam adqui-rir algum tipo de capacitação. “Eles me perguntam: ‘o que eu faço com os alunos?’, ‘como vou proceder?’” Caso queira se capacitar, segundo ela, o pro-fessor precisa pagar do próprio bolso e “com o salário que re-cebe do governo estadual, isso se torna impossível”.

A ex-coordenadora de in-clusão escolar do Centro Isra-elita de Apoio Multidisciplinar (Ciam), Monica Tollendal dis-se que os professores da rede pública são mal preparados e, às vezes, “não querem ter uma especialização.” Além disso, segundo ela, “é vontade de al-guns educadores que esses alu-

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Professoras se dedicam para atender da melhor maneira possível diante da falta de infraestrutura.

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nos fiquem um período menor na escola, alegando que não aguentam o tempo todo.”

Já na escola da prefeitura EMEF Joaninha Grassi Fa-gundes, na zona norte de São Paulo, a professora Maria He-lena Bonfim, especializada em educação especial, além de dar auxílio aos alunos especiais, colabora por livre e espontânea vontade com a capacitação dos colegas professores. “Não há verba destinada para a forma-ção”, disse.

Espaço físico eequipamentos

As escolas da rede pública ainda continuam desprepa-radas e desaparelhadas para assumir a responsabilidade de educar as crianças. A legislação diz que é a escola que deve se adaptar ao deficiente, e não o contrário. No entanto, o go-verno não concede verbas para que isso se torne realidade.

Segundo a professora da EE José Barbosa de Almeida, que não quis se identificar, não há rampas de acesso, elevado-res e muito menos banheiros adaptados. Faltam também ofi-cinas e materiais pedagógicos para os alunos. O governo não

manda livros atualizados e por isso os próprios professores precisam produzir o material que utilizam em sala de aula. Prova disso é que o Centro Is-raelita de Apoio Multidiscipli-nar, segundo Monica Tollendal, produz materiais pedagógicos e os encaminham junto com a criança integrada para a escola que irá recebê-la.

A reportagem do Em Foco constatou que as escolas man-tidas pela prefeitura estão em melhores condições nos que-sitos espaço físico e equipa-mentos que as escolas man-tidas pelo governo estadual. A EMEF Joaninha Grassi Fa-gundes, por exemplo, está se adaptando arquitetonicamente com a construção de rampas e banheiros adaptados, além de sala multifuncional que fu-turamente receberá material apropriado para as crianças. A falta dessas adaptações fez com que uma professora da rede es-tadual, que também não quis se identificar, carregasse um de seus alunos, que era deficiente físico, até a sala de aula por uma escada, já que não havia acesso de outra maneira. Essa falta de acessibilidade pode causar problemas à criança e à própria professora caso ocorra algum acidente.

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Junho de 201112 Rio Branco EM FOCO

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censes, teatrais, musicais, entre outros, durante 24 horas seguidas, em diversos pontos da cidade, principalmente na região central. Acontece uma vez por ano e a população tem acesso gratuito à programação. Além disso, os meios de transporte são mobilizados para o evento, o que demonstra que os esfor-ços existem de alguma forma.

“Vejo e sinto a cultura brasileira como um grande caldeirão de manifes-tações das mais diversas. A arte no Bra-sil pulsa por todas as direções. Não falo

só de quantidade, que por si só já impressiona, mas de uma quali-dade absurda que brota da mais distante aldeia e periferia à que desponta vibrante numa grande metrópole do país”, declara Mai-ra Viana, produtora cultural da trupe “O Teatro Mágico” e autora dos livros “A menina do sapato caramelo” e “O Teatro Mágico em palavras”.

Mas não basta essa riqueza existir se não houver difusão. Os programas citados, de alguma maneira, levam os cantores, ato-res, circenses e outros a interagi-rem com a população, “Porém, qualquer iniciativa, além de trazer os artistas já consagra-dos ao grande público, deve também fomentar e incenti-var o surgimento de novos expoentes culturais”, ex-plica Maira.

Os critérios de se-leção para qualquer campanha relacio-nada ao assunto não buscam inovar a pro-gramação. “Os proje-tos incentivados pelo poder pú-blico, que pas-

sam pela aprovação dos mais variados grupos e artistas, são analisados de forma superfi-

Segundo artistas, programas de incentivo à cultura ainda não são suficientes

m São Paulo, artistas revelam seus trabalhos por toda parte, desde peças e musicais em gran-

des teatros a outras apresentações a céu aberto. Mas, mesmo assim, a política cultural deixa a desejar.

No plano estadual, São Paulo promo-ve programas como o “Vá ao Teatro”, que oferece ingressos de diversas peças teatrais e circenses a R$5,00, para que a população desprovida de recursos tenha acesso à cultura. A venda acon-tece em pontos preestabelecidos e cada

usuário tem direito a quatro ingressos em toda a campanha, mas a demanda é muito maior que a oferta.

Já a “Virada Cultural”, realizada pela prefeitura da cidade, disponibiliza apresentações artísticas de grupos cir-

cial, e, normalmente, os escolhidos são sempre os mesmos, porque as pessoas envolvidas conhecem pouco”, diz Leda Neiva, produtora da troupe “Guezá,” formada por artistas circenses, bailari-nos, músicos e atores.

“A Virada Cultural é cópia de um modelo europeu, que funciona como democratizador de cultura, mas lá o povo já é preparado culturalmente, di-ferente daqui”, analisa Leda. Segundo ela, o programa, detentor de grande verba, oferece, na capital paulista, me-lhores espaços e horários aos artistas famosos, e “reserva aos desconhecidos valores minúsculos e aviltantes, o que significa um menosprezo a talentos e habilidades culturais importantes.”

Para Mirela Lima, estudante de Pro-dução Cultural, artista circense e can-tora, esses programas não difundem o produto nacional, apenas dão a eles mais visibilidade. “Adianta, mas não resolve. São dias perdidos no calen-dário porque não é um trabalho que constrói familiarização com a cultura”, destaca.

Artistas confirmam que falta de acesso à cultura é causada por falhas do poder público em campanhas direcionadas à arte

Natália Lippo e Ligia Thomazi

E Embora esteja clara a falta de incenti-vo da política, existem órgãos e empre-sas que trabalham para a democratiza-ção cultural. Um exemplo vivo em São Paulo é o Serviço Social do Comércio (SESC), que leva ao seu público uma programação diversificada a preços baixos. A capital tem aproximadamen-te 20 unidades com exposições, shows, teatros, oficinas e até espaços reserva-dos à internet livre. Os comerciários são privilegiados com grandes descon-tos, mas todas as pessoas interessadas podem participar das atividades, que são mais baratas em geral.

Ainda que não haja uma ação go-vernamental efetiva, cabe aos cidadãos não se acomodarem com a situação. Existem diversos programas de ONGs e empresas privadas que são meios efi-cazes de suprir essa necessidade cultu-ral da sociedade. Afinal, na São Paulo metropolitana, mesmo que pouco di-vulgadas, as alternativas existem. Basta fugir da comodidade e buscar conhecê-las.

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Sesc Pompéia, uma das unidades que disponibiliza cultura a preço acessível

Troupe “O Teatro Mágico”, produzida por Maira Viana

Sesc Pinheiros