36
1 Em ações e projetos, instituição reforça compromisso com seu território em foco Revista Ano 6 Nº 21 junho de 2015 www.feuc.br/revista FINCADA EM BOM SOLO Somos Zona Oeste!

Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

Embed Size (px)

DESCRIPTION

FINCADA EM BOM SOLO: Em ações e projetos, instituição reforça compromisso com seu território | Fundação Educacional Unificada Campograndense - FEUC, Rio de Janeiro - RJ http://www.feuc.br/revista

Citation preview

Page 1: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

1

Em ações e projetos, instituição reforça compromisso com seu território

em focoRe

vist

aAno 6 • Nº 21 • junho de 2015 • www.feuc.br/revista

FINCADA EM BOM SOLO

Somos Zona Oeste!

Page 2: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

2

Artigo

Jayme Ribeiro

Doutor em História pela UFF e professor das FIC

Durante boa parte do século XX, os livros di-dáticos assumiram lugar de destaque na relação ensino-aprendizagem. Em muitos momentos, em diversas realidades educacionais do país, ainda é o único instrumento de pesquisa e ensino para alunos e professores.

Objeto padronizado e condicionado por for-matos e linguagens, o livro didático não é neutro. Segundo Gimeno Sacristán, por trás do “texto”, há toda uma seleção cultural que apresenta o co-nhecimento oficial, colaborando de forma decisi-va na criação do saber que se considera legítimo e verdadeiro, consolidando os cânones do que é verda-de e do que é moralmente aceitável. Desse modo, os livros didáticos tornam-se veículos portadores de um sistema de valores, de ide-ologias e de uma cultura, visando servir de mediador entre a proposta oficial do poder, por intermédio dos programas curriculares, e o conhecimento escolar ensi-nado pelo professor.

Por outro lado, é possível pensar no livro di-dático como lugar de memória, na medida em que contribui para perpetuar uma determinada memória sobre agentes ou fatos históricos. Pode-se verificar também, através de sua análise, uma memória historiográfica, na qual a produção e o discurso historiográfico de uma época podem ser encontrados.

Os estudos acadêmicos produzidos atualmen-te têm contribuído bastante para relativizar o seu papel de “vilão da História”. Desde o século XIX,

ele tem sido utilizado de diversas formas e sob di-ferentes realidades. Contudo, possui uma função básica que atravessa os tempos: a transposição didática, isto é, a passagem do saber acadêmico ao saber ensinado. No entanto, não se pode pen-sar o livro didático apenas como mero reprodutor do saber produzido nas universidades. Ele atua na ressignificação do saber acadêmico criando um novo saber: o saber escolar. Além disso, pode au-xiliar o domínio da leitura e da escrita em todos os níveis de escolarização, serve para ampliar infor-mações, possui uma linguagem mais acessível, ar-

ticula outras linguagens que não a da escrita, fornecendo ao estudante maior autono-mia frente ao conhecimento e auxilia a aquisição de con-ceitos básicos do saber acu-mulado historicamente.

Assim, é possível perceber que o livro didático, mesmo possuindo uma série de limi-tações técnicas, econômicas e ideológicas, quando utili-zado de maneira crítica pelo

professor, torna-se um instrumento importante na relação ensino-aprendizagem. Não se pode esquecer jamais que o foco da educação é o edu-cando. Nesse sentido, educar é fazer pensar, pois o professor deve ter uma postura crítica frente aos materiais escolares e estimular a reflexão e o questionamento em suas aulas. Desse modo, não tornará o livro didático o único guia e mestre de suas práticas, principalmente por saber que quem atua no processo transformador da educação, incentivando, auxiliando e mediando os conheci-mentos é o professor, e não o livro didático. ■

Educar é fazer pensar!

“O professor deve ter

uma postura crítica

frente aos materiais

escolares e estimular

o questionamento

em suas aulas”

Page 3: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

3

Sempre que entrevistei persona-lidades ligadas à história da FEUC — o saudoso professor Wilson Choeri, as professoras Carmen Na-varro e Leda Noronha — ouvi delas uma frase quase idêntica, dando conta que a instituição sobreviveu em tempos difíceis e resiste ainda hoje graças a nunca ter abandona-do seus ideais de origem: servir à comunidade em que está inserida. De fato, essa é uma marca que a distingue. E que está presente, por exemplo, nos trabalhos de campo de alguns cursos feitos prioritaria-mente na região, para estimular nos alunos a reflexão sobre seu território; na abertura de espaço para eventos de utilidade pública; na concessão de um valor signifi-cativo de bolsas; nos projetos do PIBID, entre outras ações que você confere em nossa matéria de capa, na qual declaramos com orgulho que Somos Zona Oeste!

E esse orgulho não é somente por nossas ações, mas principal-mente pelos frutos que vemos brotar, como a participação firme e desenvolta de nossos discentes nas semanas acadêmicas de seus cursos, apresentando trabalhos de alto nível e participando de discus-sões enriquecedoras, como se vê a partir da página 24.

Numa dessas discussões, a estu-dante Meire Lucy, de Letras, sentiu-se desafiada a refletir sobre a réplica de um palestrante, questionado por ela acerca do modo como a mídia conduz o noticiário sobre maiorida-de penal. E Meire marca, assim, com um contundente texto na página 34, a estreia de alunos como articulistas aqui na revista. Que venham outros, o espaço está aberto! ■

FEUC em Foco é uma publicação impressa e online da Fundação Educacional Unificada Campograndense.

Presidente: Durval Neves da Silva; Diretor Administrativo: Hélio Rosa de Araujo; Diretora de Ensino:

Arlene da Fonseca Figueira; Diretora Superintendente: Mônica Cristina de Araújo Torres; Equipe: Tania

Neves (Edição e texto), Gian Cornachini (Texto, foto e diagramação), Pollyana Lopes (estagiária); Periodicidade:

trimestral; Tiragem: 5.000 exemplares; Site: www.feuc.br/revista; E-mail para contato: [email protected]

Considerações e opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade

de seus autores, não refletindo, necessariamente, a posição da FEUC.

CAPA: Professores e alunos de Ciências Sociais e Geografia posam junto com moradores do Rio da Prata durante

trabalho de campo na região. Foto: Gian Cornachini

Editorial

Tania NevesEditora

CapaJuntos e misturadoscom a Zona Oeste

Fazemos de tudo para‘ser bom’ para você

Grupo da UNATIL criabiblioteca informal

Mês teve quatro grandes eventos acadêmicos

Os estudantes africanosque escolheram a FEUC

Educação continuadaé a palavra de ordem

A estreia de um olhar discente nos artigos

Bem-vindos!

Vai um livro aí?

Maio Quente

Além-mar

Pós-Graduação

Maioridade e educação

Rogério Haesbaertfala a colegas das FIC

18

06

12

24

29

08

15

34

Entrevista

ÍndiceFoto: Gian CornachiniFoto: Gian Cornachini

Page 4: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

4

MUNDO

‘Excluídos da História’ será tema do XVII Encontro do cursoKhóra: revista já recebe

artigos para o número 3

Já começaram as audições para o Explosarte 2015 — o concurso de canto do projeto “Luz... Câmera... Educação”. Com direção musical do maestro David de Souza, da Orques-tra Sinfônica da FEUC e Coro Ecos Sonoros, e direção artística de Adria-no Marcelo, coordenador de Teatro, a primeira audição aconteceu no dia 19 de maio. Foram classificados em 1º, 2º e 3º lugares, respectivamente, Davi Ramos, funcionário da porta-ria; a dupla Nathy Santos e Duda Barcellos, alunas no CAEL; e Wesley Coelho, aluno das FIC. A próxima au-dição será no dia 27 de agosto, não perca! Os ingressos, a R$ 8, já estão disponíveis na Tesouraria. A Explo-sarte acontecerá em setembro. ■

Vai acontecer entre os dias 14 e 17 de setembro o XVII Encontro de His-tória das FIC. O evento terá como tema os “Excluídos da História”, e seu objetivo será o de fomentar o debate sobre sujeitos históricos à margem da sociedade e dos livros didáticos. O evento, como de costu-me, ocupará os turnos da manhã e

da noite. Também está confirmada na programação a apresentação do musical “Doces Lembranças”. O es-petáculo sobre a década de 40 mos-tra um pouco da participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial. A peça é dirigida por Ciro Gallo, es-tudante da pós-graduação em His-tória Social e Cultural do Brasil. ■

A Khóra, Revista Transdisciplinar dos cursos de Ciências Sociais, Ge-ografia, História e Pedagogia já está com seu segundo número disponí-vel no endereço www.feuc.br/khora, e convocando os interessados a enviar propostas de artigos para a terceira edição, a ser lançada ainda este ano. As normas para submissão de traba-lhos — que devem ser feitas somen-te online — podem ser consultadas no próprio site da revista. São acei-tos artigos, resenhas, capítulos de teses, dissertações e monografias, entre outras modalidades de textos acadêmicos. Leia a atual edição e participe das próximas! ■

Explosarte faz convite geral aos talentosos

O grupo de candidatos que participou da primeira audição

Foto: Tania Neves

Pedagogia oferecerá curso para atuação em prisões

Os professores do Núcleo Docente Estruturante de Pedagogia estão pre-parando, para o próximo semestre, um curso de Pedagogia Carcerária So-cioeducativa. Com aulas uma vez por semana, provavelmente aos sábados,

o curso é voltado para a pedagogia empresarial e tem como objetivo pre-parar os estudantes para a atuação em prisões e desconstruir preconcei-tos. Quem participar, vai receber 30 horas de atividade complementar. ■

Page 5: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

5

Bastou circular a notícia de que o radialista Francisco Barbosa já esta-va na instituição para a palestra que faria durante a Semana de Letras, na noite do dia 27 de maio, e um fã pron-tamente o abordou com uma folha de papel às mãos. Não, ele não que-ria autógrafo, mas sim entregar uma mensagem que correu a escrever para dar conta ao ídolo de toda a sua ad-miração. Tonhão, sem dúvida o sujei-to mais popular da FEUC, viveu assim o seu dia de tiete, com direito a foto para coluna social e tudo! E deixou Barbosa visivelmente emocionado, depois que leu a mensagem. Confira:

Tonhão e Francisco Barbosa: um verdadeiro duelo de celebridades

Os populares Barbosa e Tonhão: cenas de tietagem explícita

Francisco Barbosa,Te acompanho há muito tem-

po, te admiro e sinto uma emo-ção quando ouço sua voz no ar.Transmites paz, energia, amor,

notícias e entretenimento. O rádio é nosso companhei-

ro ao deitar, ao levantar e no dia inteiro faz a gente se ale-grar, refletir e pensar.Você tem o dom de se comu-

nicar, sua voz foi ungida por Deus para exercer esse ofício.Francisco Barbosa, por onde

passar, marcas irá deixar no coração e na alma de todos seus admiradores.Continue a embalar nossas

manhãs, para que nosso dia flua da melhor forma possível.Você não pode parar de se co-

municar, pois você nasceu para isso e nós temos o privilégio de crescer e aprender contigo.Do seu ouvinte,

Antonio Damasceno de Freitas (Tonhão)

Foto: Tania Neves

Page 6: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

6

Novos alunos: bem-vindos na prática e na teoriaPrimeiro período de todos os cursos oferece duas disciplinas em comum

para formar estudantes com escrita madura e mais capazes de ler o mundo

Mais do que levantar uma faixa no pátio da FEUC com os dizeres “Seja bem-vindo”, as FIC têm se empenhado para ir além do papel de anfitriã. O

primeiro período de cada curso é uma transição do Ensino Médio para o Ensino Superior, ou ainda a volta aos estudos depois de um tempo longe das salas de aula. A leitura dos textos acadêmicos já não é tão palatável quanto a dos livros didáticos escolares, e uma boa escrita para a entrega de tra-balhos monográficos é ainda mais necessária. Conhecimento sobre culturas diversas também é fundamental, tudo para se tornar um profissional preparado para trabalhar com pesso-as, sejam elas alunos, clientes ou companheiros de trabalho. “O estudante de graduação das FIC começa um curso com 14 créditos, depois passa para 16, depois 18 e, no 4º período, pas-sa a ter 20 créditos (com exceção de Pedagogia e Sistemas de Informação). O objetivo disso é que ele vá, aos poucos, tendo condições de acompanhar o ritmo”, explica Valdemar Silva, coordenador Acadêmico das FIC.

E, para preparar esse novo campo de estudos, há duas dis-ciplinas que são comuns para estudantes de todos os cursos: Oficina de Produção de Textos e Cultura e Sociedade — uma voltada para a prática da escrita e outra para a atualização de temas e discussões sociais. De acordo com Erivelto Reis, atual professor responsável por ministrar a disciplina de Oficina de Produção de Textos, muitos alunos chegam ao Ensino Supe-rior com práticas e conceitos equivocados que trazem de sua formação anterior: “Há a ideia de que ‘a Língua Portuguesa é difícil’, e que ‘produzir texto é só para quem tem dom’. Essas são as respostas mais comuns quando começo a interagir com os estudantes”, conta Erivelto. “E, aos poucos, eles vão perce-bendo que a prática mediada de leitura e escrita permite a to-dos os acadêmicos a produção de um texto coerente, coeso e compatível com suas pretensões de formação profissional”, destaca o professor. Ele ainda lembra a importância de a dis-ciplina ser oferecida a todos os cursos: “Qualquer que seja a sua área (licenciatura ou bacharelado) ou curso, a produção do texto acadêmico, a capacidade de diferenciar e produzir diferentes gêneros de texto e de identificar as situações em

que estes ocorrem é fundamental para o aluno ingressante. A disciplina aprofunda e dinamiza a experiência de leitura, esti-mula o senso crítico do discente, propõe que ele leia o mundo de forma mais amadurecida”, ressalta Erivelto.

A leitura de mundo também é completada com a discipli-na Cultura e Sociedade, atualmente sob a responsabilidade da professora Rosilaine Silva, coordenadora do curso de Ge-ografia. Criada com o objetivo de possibilitar aos alunos a discussão sobre os novos processos tecnológicos, formação cultural e entendimento de nossa cultura, a disciplina foi pen-sada, principalmente, na perspectiva de educação em Direi-tos Humanos, como explica Rosilaine: “Temos alunos jovens, mas outros que saíram há muito tempo da escola e que não participaram dos debates sobre as mudanças culturais. Jun-tos, a gente aprofunda discussões e tenta desconstruir olhares conservadores e cerceados por preconceitos, pensa questões de gênero, orientação sexual e diversidade cultural”, aponta a professora. Para completar a disciplina, uma das avaliações consiste em apresentar, de maneira lúdica, peças teatrais abordando os conceitos aprendidos em sala de aula, a fim de se empenhar e aprofundar nas discussões. “Para o aluno de licenciatura, esse movimento é fundamental no sentido de romper com pré-conceitos. Na sala, a gente vai trabalhar com o diverso, e o diverso tem que ser afirmado”, aponta Rosilaine. “Já no âmbito do bacharelado, promove uma discussão den-tro do que são os direitos humanos e direitos políticos, que independem da área que o aluno vai seguir, mas que vai se construir numa percepção de um mundo melhor”, completa.

De volta às boas-vindas, há um ponto que não passa desper-cebido por aqui, como bem lembrou a professora Maria Licia Torres, coordenadora do curso de Pedagogia — a graduação com maior número de alunos, hoje passando de 600. Diante de tantos estudantes, ela destaca a singularidade das FIC em relação a outras instituições de ensino: “As coordenações de curso aqui são bem presentes, acessíveis, e têm contato dire-to com os alunos. Eles comparam com outros lugares, princi-palmente os transferidos. E é importante que eles se sintam assim, porque queremos estar sempre próximos, acompa-nhando-os, amenizando problemas, estar ali sempre juntos e tirando dúvidas. Esse é o nosso papel”, ressalta a professora. ■

Por Gian Cornachini

Graduação

Page 7: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

7

Novos alunos: bem-vindos na prática e na teoria

Com bastante orgulho, a professora Rosilaine conta sobre as apresentações de trabalhos da disciplina Cultura e Sociedade. Sem fotos para mostrar, ela recorre rapidamente a alunos que compartilharam no Facebook dezenas de imagens das atividades desenvolvidas em sala de aula. Vestidos com roupas típicas e bastante animados, os estudantes mostram a empolgação com o trabalho sobre “Movimentos de resistência cultural”, o qual Rosilaine não mede esforços em elogiar: “As apresentações sempre dão frutos muito importantes na produção de conhecimentos. Elas contribuem com a perspectiva multicultural, de respeito e promoção do diálogo entre as diferentes culturas e movimentos de resistência, entendendo os processos de formação da nossa matriz cultural”

Fotos: Raquel Martins e André Siqueira

Page 8: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

8

Enio, Orquideo, Ivandra e Ndoy em foto tirada durante evento em

comemoração ao Dia da África

Intercâmbios

Da Guiné-Bissau para cá em busca de estudos

Vindos do pequeno país africano, estudantes escolhem a FEUC para se formar

Em 2006, alguns estrangeiros começaram a vir estudar nas Faculdades Integradas Campo-Grandenses (FIC). Naturais da Guiné-Bissau, país que passou a contar com

uma universidade pública apenas a partir dos anos 2000 (an-tes havia algumas escolas superiores em nível de graduação), eles vieram em busca de formação acadêmica. Até hoje, já passaram pela instituição pelo menos 15 estudantes guine-enses, que optaram principalmente pelos cursos de Ciências Sociais, Letras e Bacharelado em Sistema de Informação.

“É igual aos brasileiros, alguns foram para outros países estudar, adquirir cultura e conhecimento para voltar e apli-car o melhor que eles aprenderam lá. A mesma coisa está acontecendo conosco. A gente vai pegar o melhor daqui, levar e aplicar. Isso é o desenvolvimento”, comparou Ndoy Luís Ie da Silva, que concluiu o curso de Bacharelado em Sis-tema de Informação nas FIC no segundo semestre de 2012.

A vinda dos guineenses é possível graças ao acordo de Cooperação Cultural, Educacional e de Ciência e Tecnologia entre os governos do Brasil e uma série de países africanos, que permite e incentiva a vinda de moradores do continente

Por Pollyana Lopes

Foto: Pollyana Lopes

Page 9: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

9

para estudar aqui. A maior parte deles vem por meio do Pro-grama de Estudantes Convênio de Graduação (PEC-G), que oferece uma bolsa de R$ 622 por mês durante seis meses. No entanto, alguns escolhem as universidades particulares, e mantêm-se no país por conta própria.

A Guiné-Bissau é um dos países da África que mais envia-ram estudantes para o Brasil, apesar desse fluxo ter sido inter-rompido em 2012, quando um golpe de estado no país africa-no fez com que o Brasil rompesse relações diplomáticas com a Guiné-Bissau. O pacto já foi reestabe-lecido e, em abril de 2014, o país passou pelas primeiras eleições após o ocorrido.

Ivandra Nunes da Silva veio para o Brasil para estudar Computação na Universidade Federal de São Carlos, mas não se identificou com aquela área e resolveu cursar Ciências Sociais nas FIC. Ela, que concluiu a graduação em 2011, quer fazer mestrado em Re-lações Internacionais. Sobre os obstá-culos encontrados nessa trajetória, ela cita a comida. “Tive dificuldade de adaptação com a comida, eu não consigo comer feijão todos os dias, e na universidade a gente al-moçava no restaurante universitário. E também de relação pessoal mesmo. Aqui no Rio eu não tive essa dificuldade que tive em São Paulo. Aqui na FEUC, menos ainda, a gente se adaptou direitinho, teve bom relacionamento com todo mundo, com os colegas e professores”, contou Ivandra.

Apesar de sermos ambos países de língua oficial portuguesa, o idioma foi um dos obstáculos enfrentados pelos guineenses no Brasil, principalmente na academia. “Existem regionalismos, modos de pronúncia e vocabulários que são muito diferentes.

Lá é mais voltado para o português de Portugal. O que é pro-nunciado aqui, não é pronunciado lá. Lá tem um significado e aqui vale outra coisa. Mas a gente vai aprimorando, conhe-cendo o vocabulário brasileiro. A ciência é universal, então o que pega é a língua, é o mecanismo de informação. Essa é a principal barreira que a gente encontra na faculdade”, explicou Delcio Barbosa, que é graduado em arquitetura pela UFRRJ.

Delcio não estudou nas FIC, mas se juntou ao grupo para fazer parte da Associação dos Estudantes Guineenses do Rio

de Janeiro, criada para apoiar os guine-enses. “O objetivo da Associação é unir todos os guineenses do estado do Rio de Janeiro, não só estudantes, mas tam-bém os imigrantes que moram aqui. Para poder ter uma união e também tentar incentivar todo mundo nessa área acadêmica”, defendeu Ndoy. “Para criar uma unidade mais coesa, para a gente saber das dificuldades, das neces-sidades de cada um, para saber onde e

como ajudar nessas dificuldades”, complementou Delcio.Tratando-se do incentivo à formação acadêmica, apesar

de virem para cursar a graduação, é comum a busca por especializações e mestrados. Ivandra planeja o mestrado, Ndoy já está terminando o MBA em Gestão de Sistema de Informação pelas FIC e Delcio vai começar, no segundo se-mestre de 2015, a pós-graduação em Gestão de Projeto na Fundação Getúlio Vargas. Em comum, todos têm a satisfa-ção de conhecer uma cultura diferente, agregar conheci-mento e... a saudade! “Está sendo muito bom, e o que eu posso dizer que é ruim é a saudade da família. Isso sempre vai estar com a gente”, evidenciou Ndoy. ■

“Está sendo muito

bom, e o que eu

posso dizer que é

ruim é a saudade

da família”

Page 10: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

10

Zona Oeste

Profissionais de destaque

ganham perfisNa série de livros

Personalidades do Rio de

Janeiro, Nancilia Pereira

seleciona cariocas com

atuação relevante

Você conhece algum carioca que se destaca no que faz? Uma pessoa que superou as dificuldades e manteve o foco no trabalho? Ou quem sabe alguém que, com

uma reviravolta na vida, modificou sua área de atuação, mas, ainda assim, mantém a notoriedade de seu desempenho profissional? Eles não merecem ser personagens de livros?

Essa é a proposta de Nancilia Pereira, pedagoga e escritora moradora da Zona Oeste, com sua série de livros “Personalidades do Rio de Janeiro”. Ela seleciona moradores da cidade com notoriedade pública e escreve um perfil deles.

Sobre juntar as histórias para transformá-las em livro, a autora conta de onde surgiu a ideia: “Foi da vontade de resgatar a história do Rio de Janeiro, principalmente da Zona Oeste, que é onde eu moro, e mostrar às pessoas quantos talentos nós temos”, ressalta ela.

Nancilia também destaca que os livros contam com figuras de diferentes áreas: “Quando eu falo em talento, é talento na arte, na música, na religião, na política. Tudo isso, para mim, são personalidades, o que não quer dizer celebridade”, pondera a autora. “É aquela pessoa que faz, que produz e que ajuda no desenvolvimento do Rio de Janeiro. Pessoas que passam por anônimas, mas que a gente sabe que têm um bom trabalho”, explica.

Dentre os personagens da edição mais recente (volume IV) estão a Vovó DJ - a aposentada Ana Lúcia do Espírito Santo, que comanda a discotecagem de festas na cidade - o cantor nascido em Santa Cruz Weber Werneck, a advogada Viviane Tomazini e o cenografista Cléssio Regis.

“Já tive livro com pessoas tanto de centro espírita como padre. Então eu acho que o que importa é o trabalho que se desenvolve através do seu talento próprio, independentemente de credo, de religião, filosofia, doutrina espírita ou política”, declara a autora.

Com “Personalidades IV” publicado, Nancilia hesita em parar: “Eu fiz o primeiro, realmente foi um sucesso muito grande porque as pessoas compreenderam o objetivo do trabalho. Eu não pretendia ir tão longe, mas aí começaram ‘você não vai fazer o segundo?’. Então eu fiz o segundo, fiz o volume três, agora o quarto... estou cansada realmente, porque além disso eu tenho as minhas obras infantis”, diz Nancilia. Eu falei ‘esse ano vai ser o último que vou fazer’, mas já tem muita gente pedindo para não parar porque ainda tem muita coisa pra ser resgatada. E realmente tem”, revela.

O livro foi lançado na FEUC, no dia 11 de abril, em uma cerimônia com 200 pessoas. Além da presença de biografados, o evento contou com apresentações de música, dança e exposição de artes. A obra pode ser adquirida em Campo Grande, na Livraria Edital, na Yan Livros e na Casa Cruz. ■

Por Pollyana Lopes

Foto: Gian Cornachini

Nancilia exibe, com orgulho, o quarto volume do livro

Page 11: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

11

Capoeira como ferramenta pedagógica e transformadora

Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco desde 2014, a roda de capoeira também inte-gra as atividades semanais do maior patrimônio da

Educação Infantil do CAEL: as crianças que, num gingado aqui e num movimento ali, respondem disciplinarmente às instruções do mestre Anisio do Nascimento Neto — chama-do carinhosamente entre os pequeninos de “Tio Capoeira”.

“A capoeira, no tempo da escravidão, era considerada uma luta. Mas, para ela se manter viva durante todos esses anos, ela foi se tornando uma dança, que já não é lutada, mas jogada”, explica o mestre Anisio, que já de-dicou 40 de seus 54 anos de idade à capoeira. Formado em Pedagogia e, atualmente, pós-graduando em Edu-cação Especial nas FIC, mestre Anisio vem cada vez mais se apropriando de seu hobby e tornando-o um trabalho cultural, pedagógico e transformador para as crianças: “A gente desenvolve aqui no CAEL uma capoeira peda-gógica, uma ferramenta para socializar e integrar os alu-nos, e para contar uma história que não foi contada”, diz ele. “Nosso objetivo aqui é fazer exercícios, despertar a lateralidade, a coordenação motora, a flexibilidade. E, também, que as crianças vejam o berimbau e associem à cultura afro-brasileira, floresçam o conhecimento da nossa música e conheçam a história de nossos ante-passados”, completa o mestre, revelando a finalidade educadora das rodas de capoeira no Colégio: “Quere-mos que eles sejam adultos diferentes, sem preconceito, mais solidários e conhecedores de sua própria cultura”.

Quem ainda não viu uma aula de capoeira no CAEL fi-cará encantado ao notar a disciplina dos pequenos alunos e o respeito que eles têm aos comandos do mestre Anisio. Parados cada um em um ponto pré-determinado do pátio, basta o professor ditar os golpes que todos os colocam em prática simultaneamente. “Eles sabem o básico da capoei-ra: a ginga, cocorinha, negativa, queda de quatro e roleta. E ninguém se machuca, porque a finalidade não é acertar o adversário, mas de se alongar e ter disciplina”, lembra o mestre, que em seguida forma duplas para jogarem a ca-poeira ao som de um berimbau tocado ao vivo por Anisio, enquanto cada um espera ansiosamente a sua vez. ■

Ao som do berimbau e regada com

histórias da cultura afro-brasileira,

mestre Anisio aposta na capoeira

para exercitar e integrar seus alunos

Foto: Gian Cornachini

Mestre Anisio: “Eles sabem o básico e ninguém se machuca”

Educação Infantil

Por Gian Cornachini

Page 12: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

12

UNATIL

Leitura para agitar o cérebroBiblioteca montada pelos próprios integrantes disponibiliza diversos livros a quem participa da UNATIL

Na Universidade Aberta à Terceira Idade Leda Noronha (UNATIL), os idosos têm a oportunidade de manter o corpo dinâ-

mico em aulas de yoga, dança, canto etc. Para manter “mente sã em corpo são”, porém, é pre-ciso trabalhar também o cérebro, o raciocínio, o espírito. Nesse quesito, a leitura pode ser um grande aliado. Para quem já passou dos sessenta e está sujeito a uma série de agravos que podem levar embora até mesmo as lembranças, não há melhor remédio. Por isso a leitura é incentivada entre os integrantes do grupo da terceira idade, por meio de uma biblioteca própria.

Entre uma atividade e outra, nas tardes de ter-ça, quarta e quinta-feira, quem passa em frente à sala da coordenação da UNATIL, na FEUC, encon-tra uma banca cheia de livros.

A iniciativa de montar a biblioteca partiu de Maria José da Silva, que teve a intuição depois de uma das atividades culturais organizadas pela universidade. Em uma visita ao Castelo Mourisco, o prédio principal da Fundação Oswaldo Cruz, ela e os colegas conheceram o projeto de troca de li-

vros daquela instituição. Zezita, como carinhosa-mente é conhecida, acreditou que algo parecido poderia ser implementado na UNATIL. Então ela e as colegas, com apoio da FEUC, saíram em bus-ca de doações de livros — e prontamente foram atendidas. Hoje, a pequena biblioteca conta com mais de 150 publicações.

“Eu trouxe a ideia porque vi na Fiocruz uma coisa de troca de livros, nem era uma bibliote-ca. Lá eles levam um livro, pegam outro e levam pra casa. Eu gostei da ideia e trouxe pra cá, mas aqui nós modificamos. Eu falei com os outros componentes para trazerem livros e doarem para a gente formar uma pequena biblioteca. Assim, nós emprestamos: uns doam e outros levam em-prestados, ficam sete dias com o livro e, se não conseguirem ler, é só renovar”, explica Zezita.

Entre as mais empolgadas com a leitura e cati-vadas pelo projeto está Waldea Bernardo. Apesar de ter a possibilidade de adquirir livros por outros meios, seu nome aparece frequentemente na lis-ta de empréstimos. Ela, que prefere os romances clássicos de Eça de Queiroz, Machado de Assis, José de Alencar e Luis Fernando Veríssimo, desta-ca a importância da leitura e alerta que o hábito

Por Pollyana Lopes

Maria José, a Zezita, é amante da leitura desde criança

Page 13: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

13

Leitura para agitar o cérebroBiblioteca montada pelos próprios integrantes disponibiliza diversos livros a quem participa da UNATIL

deveria ter mais adeptos: “Ler é importantíssimo, leitura acrescenta tudo na nossa vida. De tudo o que a gente lê, a gente aprende um pouco. Eu acho que as pessoas deveriam ter mais interes-se. Quinze, vinte minutinhos que você tira para ler um capítulo, dois, três, não vão ocupar tanto o seu tempo, e só tem a acrescentar, ainda mais na nossa idade”, incentiva Waldea. “A gente tem que ler, procurar sempre atividades pra mente não parar, porque senão ela para e a gente fica só pensando em coisas que não deve. A leitura é o melhor caminho, qualquer tipo de leitura, até gibi eu leio. Eu gosto mesmo!”, enfatiza.

A professora Leda Noronha, fundadora e di-retora da UNATIL, ressalta o protagonismo do grupo que teve a iniciativa: “A ideia da bibliote-ca da UNATIL surgiu dos próprios integrantes. As doações foram feitas por diversas pessoas e não há nenhuma restrição”, esclarece a diretora. “A pessoa doa o que quiser, e o outro lê o que quiser. Livros religiosos, científicos, literatura, tem um pouquinho de tudo porque é um esforço coleti-vo, um esforço deles. Isso é incentivado por nós porque a gente sempre dá muita importância às atividades que brotam do próprio aluno”, diz.

Tímida, é preciso um pouco mais de conversa para que Zezita conte suas motivações mais ín-timas em propor a biblioteca. “Eu adoro ler, por isso eu tive essa ideia. Já li muito na minha vida”, revela. Pensando nos colegas, ela se solidariza: “Às vezes você gosta de ler, mas não tem como, até comprar, porque livro é caro”, pondera Zezita.

O projeto cumpre seu papel, como diz a pró-pria Zezita: “Foi um sucesso. Sempre tem alguém pegando livro”, alegra-se. ■

A banca impressiona pela variedade de livros em oferta

Fotos: Pollyana Lopes

Page 14: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

14

Sonho de professora

transformado em um curso

Ensino de Línguas

Nas aulas, estudantes de diferentes

idades aprendem Português e

Libras e ganham autonomia na

comunicação interpessoal e social

Desde o mês de março, acontece na FEUC, gratui-tamente, o curso de português para surdos, que é oferecido pela professora Maria José Brum. As

aulas são direcionadas a surdos e deficientes auditivos de qualquer idade e têm como objetivo levar o grupo a apri-morar seu domínio da língua portuguesa.

Maria José é docente da graduação de pedagogia das FIC e trouxe a iniciativa para instituição este ano. Antes disso, as aulas aconteciam em outros espaços, mas como a atividade não tem arrecadação, pagar por uma locação não era adequado. A professora então refletiu: “Eu tenho que encontrar outro espaço. E por que não a FEUC? Já que sou professora aqui há dois anos no ensino superior, há mais dez anos nos cursos livres, fui aluna, e isso con-tribuiu tanto para a minha trajetória... Eu vou tentar”.

A relação de Maria José com o tema vem do fato de ela ter uma irmã surda, e que se socializou pouco porque a família não sabia Libras. Após se graduar em Pedagogia nas FIC, ela se especializou na língua de sinais. “Já que eu não pude fazer com a minha irmã, por que não fazer com outros? Eu vou transformar esse meu sonho em ações: vou ensinar aos surdos que têm famílias que não sabem Libras, que não sabem se comunicar com eles”, disse.

Nas aulas do curso, uma professora de português apresenta o conteúdo enquanto Maria José interpreta o assunto em Língua Brasileira de Sinais. Ela também tra-duz para o português as falas de interação dos alunos di-recionadas à professora. Dessa maneira, o grupo estuda substantivos, adjetivos, verbos, sujeitos, predicados etc.

Encontrar professores é difícil, pois, como declarou Maria José, “o tempo do trabalho voluntário é diferen-te”. Já passaram quatro professoras, e a atual, Danielle Gomes Pedro, conheceu a língua ainda na graduação em Letras, cursada nas FIC. Hoje ela faz também aqui sua es-pecialização em Libras e conta como encara o trabalho: “A minha ideia de ajudar a Maria José é por saber que isso é muito importante para os surdos se comunicarem, se socializarem. E também porque eu queria fazer algo que fosse útil. É um curso de português para surdos, mas é também um trabalho social. Eles aprendem a se comuni-car, a lidar com outras pessoas”, contou Danielle.

Exemplo disso é Ronalt da Silva, deficiente auditivo que se destaca dos demais alunos por ter maior domínio tan-to do português, que veio do hábito da leitura, quanto da língua de sinais, aprendida apenas aos 17 anos. Nas aulas, ele é um importante elo para a sociabilidade dos demais.

O curso de português para surdos é inteiramente gra-tuito e não precisa de inscrição. Para participar é só apa-recer nas aulas, que acontecem às quintas-feiras, de 16h às 18h. Na recepção da FEUC você se informa sobre a sala em que o curso está sendo dado. ■

Por Pollyana Lopes

Ronalt da Silva se encantou pela leitura enquanto trabalhava

na biblioteca da escola

Fotos: Pollyana Lopes

Page 15: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

15

Se houve um tempo em que as pessoas diziam, com um misto de orgulho e alívio, “Já termi-nei os estudos”, referindo-se à conclusão de

ensino médio ou faculdade, hoje em dia uma frase assim soaria no mínimo como admissão de estag-nação. Com um mercado de trabalho que exige cada vez mais preparo e especialização por parte dos candidatos, passou a valer a ideia de Educação Continuada: o bom profissional segue estudando e se aperfeiçoando, pois o mundo muda o tempo todo, e quem não acompanha perde relevância. Cursar uma pós-graduação, portanto, tornou-se o caminho natural de quem sai da faculdade.

Coordenadora de Extensão, Pós-Graduação e Pesquisa das FIC, a professora Gabriela Barbosa res-salta que, para os recém-graduados, a pós lato sensu é um primeiro degrau nessa escalada. Especialmen-te aos que seguirão no Magistério, há bons atrati-vos: confere mais pontos ao candidato em concur-sos para o ensino público, garante salário maior em face do não especializado, enriquece o currículo dos que fazem processos seletivos na rede privada e dá a todos mais desenvoltura e segurança para assumir a sala de aula ou outro posto na escola.

Também os formados em outras áreas que não as licenciaturas se diferenciam no mercado de trabalho quando incluem um MBA no currí-culo, já que isso demonstra que seguem compro-metidos com seu aperfeiçoamento científico: “A pós atualiza seus participantes sobre as reflexões científicas mais recentes em sua área de atuação,

contribuindo também para a elaboração de pro-jetos de mestrado e propiciando novas coloca-ções no mercado de trabalho”, sustenta Gabriela.

Pensando em quem se graduou há mais tem-po e ainda não conseguiu entrar no mercado de trabalho, ou está estacionado numa função sem perspectivas de crescimento, “criando limo”, aí mesmo é que a pós-graduação tem o poder de renovar o horizonte, pois propicia ao profissional uma nova (e mais profunda) imersão nos temas e problemáticas atualizadas de seu ramo.

Pós-Graduação

Pedra que não rola... cria limo!O ditado popular cai como uma luva para ilustrar o poder de

renovação que a educação continuada tem sobre os profissionais

Por Tania Neves

Gabriela Barbosa, coordenadora da Pós das FIC: só vantagens

Foto: Gian Cornachini

Page 16: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

16

Pós-Graduação

Como 2 + 2 = 4, eles comprovaram matematicamente o valor da pós

Rodrigo Abreu e Bruna Mayara Ribeiro, am-bos graduados e pós-graduados em Matemática pelas FIC, chegaram a figurar nas campanhas de divulgação da Pós-Graduação, convidados devido ao rápido sucesso que obtiveram em suas carrei-ras. Rodrigo conta que ao longo da graduação e da pós ele se submeteu a vários concursos pú-blicos, passando em mais de um para o Estado e também para o Município do Rio. Por fim, optou por ficar com duas matrículas neste último, onde passou a atuar como Assessor Adjunto na 10ª CRE. Paralelamente, voltou às FIC como professor do próprio curso de pós-graduação que ajudou na abertura desses caminhos.

“O conhecimento que adquiri aqui, tanto na graduação quanto na pós, foi de altíssimo nível, porque os professores são realmente muito capa-citados. Esses conteúdos matemáticos e pedagógi-cos me deram base para tudo”, revela Rodrigo, ex-plicando por que, no ensino público, optou por um trabalho fora das salas de aula: “Percebi que nessa parte tenho condições de ajudar mais escolas ao

mesmo tempo, tentando facilitar o lado pedagó-gico para que os colegas em sala atuem melhor”.

Bruna Mayara também emendou a graduação na pós, em 2010, o que lhe garantiu não somente uma preparação melhor para a sala de aula como também pontos extras no concurso para o Muni-cípio do Rio, onde começou a lecionar em 2011. “Sempre amei matemática, desde os tempos do Ensino Fundamental, porque tive um professor fantástico. Sabia que meu caminho profissional seria nas exatas, mas não tinha ideia de lecionar. Foi depois de ver a atuação do professor Alzir e da professora Gabriela que a ficha caiu. Quis seguir o exemplo deles como pessoas que são capazes de mudar a vida do outro”, elogia Bruna, completan-do que as reflexões feitas na pós lhe deram mais segurança para encarar a sala de aula.

E também o desejo de seguir em frente: em 2013, Bruna passou para o mestrado profissional na PUC e conquistou o grau de mestre com lou-vor, o que não é para todo mundo. “Quando es-tava escrevendo minha monografia, vi que a se-

Foto: Gian Cornachini

Rodrigo se graduou e pós-graduou nas FIC e hoje leciona na

Pós, além de atuar na 10ª CRE

CONFIRA A LISTA DE ESPECIALIZAÇÕES

Atualmente são 17 os cursos oferecidos, com 20 turmas abertas, algumas nas terças e quintas e outras nas segundas e quartas à noite, além das que funcionam em horário integral no sábado.

2ª e 4ª, de 19h às 21h50m: Língua Portuguesa; Teoria e Prática do Ensino de Matemática; Matemática para Magistério Público;3ª e 5ª, de 19h às 21h50m: Coordenação Pedagógica e Su-pervisão Educacional; Educação Ambiental; Estudos Literários; Educação Especial/Fundamentos e Práticas; Educação Infantil/Gestão em Prática Pedagógica em Creche e Pré-Escola; História Social e Cultural do Brasil; Língua Inglesa; Língua Portuguesa; MBA em Gestão Educacional; MBA em Gestão de Negócios; MBA em Gestão de Sistemas de Informação; MBA em Gestão Estratégica de Pessoas; Pedagogia Empresarial; Psicopedagogia Institucional; Psicopedagogia Clínica;Sábado, de 8h às 17h: Coordenação Pedagógica e Supervi-são Educacional; Teoria e Prática do Ensino de Matemática.

Page 17: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

17

Educação Especial, um dos cursos mais procurados

gurança e a disciplina para fazê-lo tinham vindo principalmente da pós. Realmente é esse degrau-zinho que faz a gente querer seguir em frente”, atesta a jovem, hoje professora das FIC e colega de trabalho de seus professores-ídolos: “Posso dizer que tive bons professores antes e também na PUC, mas o estilo dos professores na FEUC é fantástico. Isso de cuidar dos alunos, a questão afetiva, do incentivo... É uma alegria estar aqui e ter agora a chance de retribuir o que recebi”.

Outro professor da pós entusiasta da educação continuada é Victor Ramos, que lecionou no curso de Libras e agora ministra disciplinas no de Língua

Inglesa, além de atuar também na graduação. Ele se formou em Letras nas FIC e fez mestrado em Estudos de Linguagem na UFF. Nas salas da pós, in-centiva seus alunos a buscarem a excelência, como em um recente workshop que organizou em Lin-guística Aplicada e Língua Inglesa, orientando cin-co alunos a desenvolverem pesquisas que culmina-ram na elaboração de artigos a serem publicados em revistas científicas de linguística e educação. “O curso amplia consideravelmente os conheci-mentos, tanto de professores atuantes quanto de recém-formados, levando ao aprofundamento e à criticidade em relação às teorias da língua”, afirma.

Diretora do Instituto Helena Antipoff — centro de referência em educação Especial da rede municipal do Rio — e docente da pós-graduação em Educação Especial das FIC, Kátia Nunes explica por que é fundamental hoje que os professores se especializem: “Na área da Educação Especial, a maior dificuldade da inclusão de todos os alunos está na qualidade da formação do professor. Por estes desconhecerem os estudos e reflexões da área, as escolas acabam não derrubando a principal barreira para a inclusão, que é a atitudinal”, diz ela, lembrando que os quatro preceitos da in-clusão — acesso, permanência, participação e aprendizagem — só se confirmam quando o docente tem formação que lhe permita contemplar todas as diferenças que encontrará entre seus alunos.

Kátia afirma que, após tomar contato com os conhecimentos produzidos nesta área — e que são o principal conteúdo do cur-rículo da especialização — os professores passam a refletir mais sobre suas práticas e se preocupar com a pesquisa e a aplicação em sala de aula das metodologias inclusivas. E é assim, segundo ela, que a educação será melhorada. Para todos os alunos, e não somente para aqueles com alguma deficiência. ■

Foto: Gian Cornachini

Foto: Gian Cornachini

Bruna Mayara: seguindo o exemplo dos professores Alzir e Gabriela, que fazem a diferença na vida dos alunos

Kátia: só o conhecimento quebra a barreira atitudinal

Page 18: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

18

Capa

Da raiz à alma,somos Zona Oeste!

Quando elege o espaço da região

e suas questões para pesquisas de

campo, ou abre portas para eventos

de grupos da sociedade civil, ou

apoia manifestações culturais, a FEUC

está nada mais do que confirmando

seus compromissos de origem Foto: Gian Cornachini

18

Page 19: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

19

Lá no final dos anos 50, quando foi sonhada como uma faculdade para formar os profes-sores de que a região tanto precisava — pois a

maioria dos que lecionavam nas escolas daqui vi-nha de longe, e devido ao sacrifício do deslocamen-to acabava não ficando por muito tempo — esta instituição já dizia a que vinha: ajudar a desenvolver com qualidade humana um território que rapida-mente perdia características rurais e transitava para o urbano. O tempo passou e as transformações fo-ram muitas, com a expansão do ensino da creche à pós-graduação e a ampliação da lista de cursos para além do Magistério. Só uma coisa não mudou: a vocação da FEUC de se vol-tar sempre para o seu entor-no e sua comunidade.

Quando dizemos que So-mos Zona Oeste, estamos falando não apenas dos pro-fessores que continuamos formando para as escolas dos bairros que nos cercam, mas também da preferência que nossos cursos dão por realizar na região suas pesquisas, trabalhos de campo e ati-vidades educacionais várias, a atuação cultural com o Prêmio FEUC de Literatura, a Orquestra e o coro Ecos Sonoros, entre tantas outras ações. E também o compromisso de facilitar à nossa comunidade mais pobre o acesso ao ensino: em 2014, a FEUC concedeu um pouco mais de R$ 3 milhões em bol-sas de estudos nas FIC e no CAEL, proporcionando a muitos estudantes comprovadamente sem con-dições financeiras a chance de realizar seus cursos.

Na foto da página ao lado, por exemplo, pode-mos ver Rita de Cássia Caseiro, presidente da Asso-ciação dos Agricultores Orgânicos da Pedra Branca (Agroprata), falando sobre a importância da produ-

ção de alimentos sem agrotóxicos no Rio da Prata, em Campo Grande, bem como a luta pela manu-tenção de comunidades tradicionais no local. Isso aconteceu no domingo 31 de maio, quando um gru-po de Ciências Sociais e Geografia visitou a Feira Or-gânica do Rio de Prata e a Associação, no contexto de uma atividade acadêmica. O objetivo era conhe-cer de perto o trabalho especial que a população de agricultores orgânicos desenvolve em meio às dúvidas sobre a permanência futura em uma área que se tornou protegida por leis ambientais após a demarcação do Parque Estadual da Pedra Branca — isso em 1974, quando a população tradicional já vi-nha de longas gerações. Os cursos também fizeram trabalhos de campo em Santa Cruz, Ilha da Madeira

e outras localidades da Zona Oeste e adjacências.

Outro marco do compro-misso da FEUC com o seu lu-gar é o projeto “Fontes para o estudo da História de Campo Grande”, orientado pela coor-denadora do curso de História, Vivian Zampa, e a professora Márcia Vasconcellos. Trata-se da identificação, transcrição

e análise dos manuscritos encontrados no Arquivo Nacional e no Arquivo do Conselho Ultramarino so-bre a história de Campo Grande no período colonial. O trabalho foi iniciado em 2012, com o então aluno José Américo, e hoje conta com as bolsistas de ini-ciação científica Elba Gaya e Sonia Maria Romano. Elas fazem o trabalho de identificação, limpeza dos documentos em editor de imagens e transcrição.

Segundo Vivian, a etapa seguinte consistirá em montar um banco de dados com este material e disponibilizá-lo no site da FEUC: “A intenção é fa-cilitar o acesso a dados sobre Campo Grande no período colonial e estimular que sejam feitos es-tudos a partir dessas fontes primárias”, diz.

Por Tania Neves

Um dos projetos

disponibilizará

banco de dados

com fontes sobre a

história da região

Sistematização de dados auxiliará estudos sobre a região

Foto: Pollyana Lopes

Page 20: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

20

PIBID: incentivo ao professor

Capa

As FIC iniciaram no ano passado uma série de projetos em escolas públicas de nossa região, no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), após concorrer e vencer um edital da CAPES, agência de fomento à pesquisa ligada ao Ministério da Educação. A ideia do programa federal é que os estudantes de licenciaturas desenvolvam, como bolsistas, pro-jetos em escolas públicas do ensino básico, para irem treinando suas habilidades como futuros professores. Além da PUC, as FIC são a única ou-tra instituição privada do Rio a ter o PIBID, o que significa uma conquista importante para a Zona Oeste. Com 170 alunos bolsistas, supervisão de professores das FIC e das escolas envolvidas, os projetos estão sendo realizados nas escolas mu-nicipais Baltazar Lisboa (Matemática), Euclides da Cunha (Letras), Collechio e Eusébio de Quei-roz (Pedagogia), e nas estaduais Sarah Kubitschek (Interdisciplinar e Inglês), Raja Gabaglia (Histó-ria), Miécimo da Silva (Geografia) e Irineu José Ferreira (Ciências Sociais).

No Raja Gabaglia, uma das professoras super-

visoras é Danielle Rocha, que se formou em His-tória nas FIC em 2002 e está eufórica com o proje-to: “É um gás para todos nós, tanto os professores que já estamos atuando em sala há muitos anos quanto os jovens que estudam para ingressar no magistério. E os alunos da escola ganham muito também, pois todos juntos estamos construindo novas linguagens e métodos para tornar o pro-cesso de ensino e aprendizagem cada vez mais interessante. Quem dera no meu tempo de facul-dade existisse isso”, disse Danielle.

Os graduandos de História Rodrigo Gonçalves e Fabrício Ferreira de Medeiros, que atuam no Raja com Danielle, já conquistaram o respeito da turma e, aos poucos, vão ganhando confiança e perdendo o medo de falar em público. No pro-jeto, eles propõem o uso de quadrinhos, vídeos e jogos eletrônicos, entre outros dispositivos, para aproximar mais o estudo da História do universo dos alunos. “É importante esse laço com escolas da região, pois é onde depois eles vão atuar”, diz Vivian Zampa, que coordena o subprojeto de His-tória com o professor Jayme Ribeiro.

Fabrício e Rodrigo discutem com Danielle as próximas ações a serem

desenvolvidas no projeto com a turma

Foto: Gian Cornachini

Page 21: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

21

Além de seus próprios projetos, a FEUC colabora com diversas ações realizadas por outras entidades, como o Dia da Responsabilidade Social, promovi-do anualmente pela Associação Brasileira de Man-tenedoras do Ensino Superior (Abmes). Nesta pro-gramação, já há vários anos a instituição leva um grupo de profissionais para se integrar ao Dia da Ação Social da Capela São José Retirante, organiza-do pela comunidade de Nova Cidade, em Inhoaíba. Estudantes de Enfermagem do CAEL comparecem para fazer aferição de pressão arterial e glicose dos moradores, e professores do colégio igualmente colaboram fazendo palestras sobre temas de saú-de. Nas últimas edições, nossa Orquestra Sinfônica e Coro também marcaram presença, fazendo apresenta-ções musicais ao ar livre para os moradores.

“É sempre uma alegria estar com nossos amigos de Nova Cidade e reforçar o compromisso da instituição de levar para fora de seus muros algumas das iniciati-vas que desenvolve ao longo do ano”, disse a professora Célia Neves, que coor-dena as ações do Dia da Responsabilidade Social.

Eventos como o Projeto Servir, do Rotary Club de Campo Grande, também costumam contar com o apoio de docentes e discentes das FIC. No último dia 24 de maio, a professora Janice Souza e um grupo de alunos de Pedagogia se juntaram às atividades dos voluntários, montando um can-tinho para contação de histórias e recreação com jogos pedagógicos, a maior parte deles confeccio-

nada pelos próprios estudantes da graduação em suas pesquisas acadêmicas. “Este ano, com alunos da disciplina Corpo e Movimento, realizamos um trabalho educativo lúdico, por meio de jogos e brincadeiras”, diz Janice, revelando ainda que a Brinquedoteca da FEUC — espaço voltado para as pesquisas de materiais pedagógicos e para aten-

der pais e mães que querem estudar e não têm onde dei-xar os filhos — está sendo reformada e em breve reto-mará as atividades.

Ainda no campo da conta-ção de histórias, temos o belo projeto dos alunos do 7º perí-odo de Letras Ramayana, Isa-dora, Raquel, Isabelle, Felipe, Gledison, Carlos e Michelle,

que levam um pouco de arte e aconchego ao Abri-go Doce Morada, em Sepetiba, onde leem, cantam e recitam poesias para os idosos. “A maioria não recebe visitas, então quando chegamos é uma ale-gria. Numa das últimas vezes, cantamos músicas da época deles e foi uma emoção só”, revela Ra-mayana, lembrando que o grupo também arreca-da donativos para o abrigo: “Em julho levaremos roupas de inverno. Quem quiser colaborar, haverá uma caixa no pátio para recolher as doações”.

Levando o que temos de melhor para fora dos muros

Foto: Tania NevesFoto: Acervo Pessoal do Grupo

Foto: Acervo Pessoal do Grupo

Gledison lê para duas idosas do Abrigo Doce Morada

Alunos do CAEL atuam no Dia da Responsabilidade Social

Professora Janice e alunos de Pedagogia em evento do Rotary

Contação de

histórias para

crianças e também

para idosos estão

entre as atividades

Page 22: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

22

Orquestra, Coro e Universidade Aberta à Terceira Idade – FEUC tem!

Capa

Outros projetos que a FEUC desenvolve es-pecialmente pensando em sua comunidade são a Orquestra Sinfônica, o Coro Ecos Sonoros e a Universidade Aberta à Terceira Idade Leda Noro-nha (UNATIL). E tem ainda o Prêmio FEUC de Li-teratura, concurso aberto à comunidade interna e participantes de todo o Brasil, e que anualmente chega a receber mais de 500 inscrições. Organizado pelos poetas Américo Mano e Rita Gemino, o concurso e premia com os valores de R$ 500, R$ 350 e R$ 250 respectivamente os três primeiros colocados das categorias Aluno da FEUC e Âmbito Nacional.

A Orquestra completou 20 anos, enquanto o Coro chegou aos 15. Ambos com a mesma filosofia, de integrar em suas fileiras professores, alunos, ex-alunos e pessoas da comunidade. Nesse percurso, Orquestra e Coro já fizeram incontáveis apresen-tações na própria instituição e fora dela, inclusive tendo registrado participações importantes em concursos no Brasil e no exterior — como Barilo-che e Córdoba, na Argentina, onde o Ecos Sono-

ros foi intensamente elogiado. No ano passado a Orquestra ficou entre as 10 melhores bandas civis do estado do Rio de Janeiro no concurso realizado pela Associação de Bandas de Música do RJ.

A UNATIL também está em sua segunda déca-da de existência, tendo ao longo desse tempo se firmado como uma importante contribuição para

a sociabilidade e o desenvol-vimento pessoal da popula-ção idosa de nosso bairro. Fundadora e ainda hoje sua diretora, a professora Leda Noronha explica que a UNA-TIL é uma modalidade de educação permanente, não formal, sem frequência obri-

gatória e voltada para pessoas de ambos os sexos, preferencialmente com mais de 60 anos. O grupo conta hoje com cerca de 100 integrantes.

A participação é gratuita, e são oferecidas ati-vidades como yoga, ginástica oriental, dança, in-formática e coral. Volta e meia os grupos de dan-ça e coral mostram suas coreografias e criações musicais nos próprios eventos acadêmicos da FEUC, assim como fazem apresentações externas

Para além do

ensino, cultura

e solidariedade

também estão aqui

A Orquestra e o Coro Ecos Sonoros se apresentam no pátio da FEUC na

programação de abertura do ano letivo

Foto: Gian Cornachini

Page 23: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

23

a convite. A própria Leda planeja cuidadosamente muitas das atividades, principalmente os passeios na Zona Oeste e outros pontos do Rio. “Há inte-grantes da UNATIL que sequer conhecem pontos turísticos do bairro e da cidade, e quando vamos a passeios por Guaratiba ou outras partes eu antes faço o levantamento da história dos locais para compartilhar com eles”, explica a professora.

Ainda dentro desse espírito de portas abertas, a instituição oferece espaço a diversos grupos da so-ciedade civil para a realização de eventos como se-minários, feiras e encontros. As artesãs da Rede de Socioeconomia Solidária da Zona Oeste, por exem-plo, mensalmente montam suas barraquinhas no pátio para expor e vender criações feitas a partir de materiais reciclados. São produtos como bolsas, carteiras, colares, pulseiras, porta-joias, todos fabri-cados com o reaproveitamento de retalhos de pa-nos, copos de vidro, latas de extrato de tomate, ro-los de papel toalha e papel higiênico, entre outros. A Rede foi fundada em 2003 e há mais de 10 anos tem uma parceria com o Núcleo de Estudos Urba-

nos Josué de Castro (NEURB). Sonia Miranda, uma das coordenadoras, explica que a maior parte das artesãs vive exclusivamente deste trabalho, e con-voca quem ainda não conhece a feirinha para fazer uma visita: “Estamos aqui sempre em dois dias por mês. Percebemos um interesse grande por parte de quem vem conhecer nosso trabalho, mas muitos não compram porque dizem estar ‘desprevenidos’ no dia. Então vamos passar a divulgar nossas datas com antecedência nos murais”, brinca a artesã.

Outro grupo que também passa a ter na FEUC seu ponto de encontro é a Associação dos Estu-dantes Guineenses do Rio de Janeiro, que ao lon-go de vários sábados de maio realizou aqui seu IV Encontro Sociocultural e Político a África em Questão, com minicursos, palestras e até mesmo um almoço típico. O grupo solicitou e a institui-ção cedeu gratuitamente uma sala para que eles passem a realizar aqui os encontros mensais da associação, que tem por objetivo congregar os estudantes de Guiné-Bissau que se espalham por várias universidades e faculdades do Rio. ■

Almoço típico em evento de estudantes guineenses em maio

Grupo da UNATIL faz visita guiada ao Castelo Mourisco, da

Fiocruz, durante passeio turístico

Foto: Gian Cornachini

Foto: Pollyana LopesFoto: Gian Cornachini

Feira de artesãs da Rede de Socioeconomia Solidária

Page 24: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

24

Maio Quente

Mês intenso e agitado nas FaculdadesUma sequência de quatro grandes eventos acadêmicos ao longo de maio, adentrando por junho, testemunha o vigor das licenciaturas e o entusiasmo dos graduandos

Ao longo do mês de maio e os primeiros dias de junho a FEUC esteve em ritmo de debates,

palestras, oficinas, apresentações de pesquisas, trabalhos de campo… A efervescência acadêmica pôde ser observada no Ciclo de História, En-contro de Ciências Sociais e Sema-nas de Pedagogia, Letras e Geografia, eventos que ao todo contaram com algo em torno de 70 diferentes ati-vidades, a maior parte delas presti-giada por grandes plateias de alunos da casa e visitantes. E o melhor: com participação ativa dos graduandos, seja apresentando trabalhos, fazendo monitoria ou questionando a fundo os palestrantes que trouxeram temas entre instigantes e polêmicos.

Já na abertura do Ciclo de História dava para pressentir que o mês seria

bom: com auditório cheio, a primeira palestrante cativou o público com a devoção empreendida no seu traba-lho de bibliotecária da Biblioteca Na-cional. A comunicação de Maria Ione Caser iniciou o ciclo falando sobre o básico do trabalho de um historiador, a relação com as fontes.

O evento, que teve como tema “His-toriador em Perspectiva: dos Arquivos à Sala de Aula”, seguiu abordando os diversos olhares e formas de atuação do profissional. A formação docente e as práticas escolares — tão caras à insti-tuição que é conhecida como a Casa do Professor — tiveram destaque na mesa que abordou a pesquisa sobre o Ensino de História e, também, no lançamen-to do livro “Ensino de História: usos do passado, memória e mídia”, organiza-do pelo professor Jayme Ribeiro.

A Semana de Pedagogia foi marcada pelas emoções. “O professor e as práti-cas pedagógicas” foi o tema do evento, que começou com uma homenagem à coordenadora e à vice-coordenadora do curso, professoras Maria Licia Tor-res e Luiza Alves de Oliveira. O profes-sor Marco Antonio Chaves de Almeida também foi homenageado pelos alu-nos. Nas diversas palestras e oficinas, as condutas docentes foram proble-matizadas, sempre no sentido de ins-tigar os futuros professores a estarem atentos aos alunos e à adequação de suas técnicas. As palestras trouxeram pesquisas sobre a realidade das escolas, sem perder de vista a responsabilidade

dos professores no processo de apren-dizagem dos alunos. Os exemplos dos docentes que atuam nas salas de aula em diversos segmentos da educação levaram os estudantes a reflexões e análises críticas, o que pôde ser obser-vado a partir das numerosas perguntas feitas ao final de cada palestra.

Para fechar o evento, uma apre-sentação dramática encenada pelo professor de teatro da FEUC, Adriano Marcelo, trouxe como personagem principal o arquétipo de um pedagogo. No desenrolar da peça, o personagem vai amadurecendo sua criatividade e senso crítico. A arte expressou o objeti-vo do evento como um todo.

Semana de Pedagogia buscou despertar criatividade e senso crítico

Maria Ione cativou público com histórias da Biblioteca Nacional

Maria Licia contou um pouco de sua trajetória na educação

Foto: Pollyana Lopes

Foto: Pollyana Lopes

Page 25: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

25

Mês intenso e agitado nas FaculdadesUma sequência de quatro grandes eventos acadêmicos ao longo de maio, adentrando por junho, testemunha o vigor das licenciaturas e o entusiasmo dos graduandos

Letras, como sempre, realizou a se-mana com o maior número de ativida-des: 33, fora as exposições de pôsteres, carrinho literário, apresentações cultu-rais e feirinha de livros. Enlouquecida em meio aos preparativos para a abertura, a professora Arlene Figueira, coordenado-ra do curso, brincava: “No ano que vem vamos ter uma única atividade e em um único local. Vou juntar todo mundo na quadra e mandar ver!”. Exageros à par-te, até que a programação estava enxuta este ano, uma vez que já houve edições com mais de 70 atividades.

Mais do que quantidade, porém, o que marcou foi a qualidade das palestras e das apresentações, assim como a intensa participação dos estudantes nos debates sobre o tema “Língua e Literatura: comu-nicação, mídia e redes sociais”. Dos clássi-cos da literatura ao universo das histórias em quadrinhos, os atos de linguagem no Facebook ou o uso do WhatsApp em grupos de estudo, os temas abordados

instigaram o interesse das plateias, levan-do a um clima de muita interação.

Especialmente a palestra do radialista Francisco Barbosa, na segunda noite do evento, lotou o auditório. Comunicador da Rádio Tupi, ele defendeu ao microfo-ne a tese de que comunicar é emocionar, e convocou os professores a emprega-rem isso em sala de aula. “Por falta de técnica melhor, sou muito verdadeiro

quando estou no ar, sou sempre eu mes-mo e não um ator representando. Nada dá mais liga do que sinceridade”, disse Barbosa, emendando numa mensagem para os licenciandos: “Vocês vão mudar a vida de quem cruzar com vocês, para melhor ou para pior. Serão um exemplo a ser seguido. Ou a ser evitado. Mas sem-pre uma referência. Então façam o me-lhor”, recomendou ele aos estudantes.

Maio estava acabando, mas sua efervescência ainda foi prolongada até o XVII Encontro de Ciências Sociais e a XVI Semana de Geografia e Meio Ambiente que, pelo segundo ano con-secutivo, aconteceram concomitante-mente, nesta edição sob o tema “Inter-venções e violações socioambientais no estado do Rio de Janeiro”. O último sábado do mês (dia 30) tirou os estu-dantes da cama logo cedo para ativi-

dades de campo no bairro Duarte da Silveira, em Petrópolis; no Distrito In-dustrial de Santa Cruz; e na Ilha da Ma-deira, em Itaguaí. O objetivo era detec-tar e analisar impactos nesses lugares decorrentes da apropriação do capital, como a implantação da Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA) e da Gerdau (no Distrito Industrial de San-ta Cruz) e da construção do Porto Su-deste e da base de submarinos da Ma-

rinha (na Ilha da Madeira). Segundo o professor Paulo Barata, do curso de Geografia e responsável pela atividade na Zona Oeste e em Itaguaí, a região próxima à FEUC tem uma grande po-tencialidade econômica, e é necessário que os estudantes consigam observar as contradições do capital: “Esse recor-te espacial de Campo Grande a Itaguaí é muito importante para a economia e indústria do Estado do Rio de Janeiro.

Ciências Sociais e Geografia discutem impactos socioambientais no RJ

Língua e literatura no contexto da mídia e redes sociais

Francisco Barbosa receitou o uso de emoção e sinceridade

Foto: Gian Cornachini

A cobertura completa das atividades realizadas em maio nas FIC pode ser encontrada no site da revista FEUC em FOCO. Confira em www.feuc.br/revista

Page 26: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

26

Precisamos quebrar esse paradigma de que a Zona Oeste é uma área apenas de carência e analisar nosso espaço de uma maneira crítica. E isso é essencial para que os estudantes deem atenção às problemáticas locais”, explica Paulo.

O percurso no Distrito Industrial incluiu paradas paralelas à margem direita do canal de São Francisco, em frente à Gerdau, à TKCSA e à Usina Ter-melétrica de Santa Cruz - todas com o objetivo de contar a história das em-presas e lembrar das violações socio-ambientais praticadas com liberação do Estado, como a restrição do acesso ao canal de São Francisco pela TKCSA, que antes era naturalmente aberto aos pescadores locais, agora impedidos de continuar suas atividades tradicionais.

Caso parecido acontece na Ilha da Madeira, em Itaguaí, onde empresas como a MMX, do empresário Eike Ba-tista, instalaram-se para dar início à construção do Porto Sudeste, com a fi-nalidade de melhorar o escoamento da produção mineral brasileira, mas invia-bilizando a atividade pesqueira, esbar-rando em comunidades tradicionais e impondo a desapropriação de diversas moradias. Sério Hiroshi, da Associação de Pescadores e Lavradores da Ilha da Madeira (Aplim), conversou com os estudantes e revelou suas frustrações: “Tentamos de tudo quanto é jeito re-sistir, mas o governo fala que esses em-preendimentos vão gerar mais de 10 mil empregos. O que eu faço? Ajudo os pequenos pescadores e deixo o resto de Itaguaí sem trabalhar? Eles querem nos colocar como vilões”, lamentou ele.

De volta às FIC, durante os dias 1, 2

e 3 de junho, os alunos relataram suas experiências nas atividades de cam-po durante cada palestra do evento, sempre fazendo conexão com o tema abordado e as cenas que viram. Emo-cionada, a estudante Rosangela Godi-nho, do 7º período de Ciências Sociais, externou sua esperança na educação como fator de transformação da socie-dade: “O capital quer nos amedrontar e dizer que a nossa luta não vai dar em nada, mas temos que nos unir. A gente vai estar em sala de aula, e é lá que vão começar os primeiros passos de uma modificação, que é possível sim”.

Para coroar este último evento e também fechar com chave de ouro a longa jornada de aprendizado e produ-ção coletiva de conhecimento — como definiu com muita propriedade a pro-fessora Célia — foi lançado o segundo número da Khóra, revista transdiscipli-nar dos cursos de Ciências Sociais, Ge-ografia, História e Pedagogia, que pode ser acessada no endereço www.feuc.br/khora. Está imperdível, com muitos artigos de professores da casa e convi-dados, e também repleta de contribui-ções de nossos graduandos. ■

Estudantes observam construção do Porto Sudeste e seus impactos

na Ilha da Madeira, em Itaguaí

Rosangela Godinho: “O capital quer nos amedrontar “

Foto: Gian Cornachini

Foto: Gian Cornachini

Maio Quente

Page 27: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

27

Amplo e aconchegante como coração de mãe

Recém-criado, Diretório

Central de Estudantes

das FIC empossa

na diretoria os 28

integrantes da chapa

eleita, com objetivo

de pulverizar ações e

estimular participação

de toda a galera

Flávio Santana é o presidente do recém-criado Diretório Central de Estudantes das FIC, e tem a auxili-

á-lo na diretoria um grupo com nada menos que 27 pessoas — menor que o ministério Dilma Rousseff, é verdade, mas por ele poderia até ser maior: “To-dos que se inscreveram na chapa estão na diretoria. Nosso objetivo é que todo mundo participe, e não aquela coisa de apenas alguns diretores decidindo. Então os cargos nas diretorias são múl-tiplos, com várias pessoas dividindo as atribuições”, esclarece o estudante.

Conversamos com seis integrantes do grupo no dia 3 de junho, quando alguns deles estavam de malas prontas para o 54º Congresso da UNE, que acon-teceria dias depois em Goiânia. Gracielle Vicente, de Pedagogia; Paulo Vítor Me-deiros, de Geografia; Flávio, Juan Pablo,

Marcella Gouveia e Alano Vieira, todos de História, contaram um pouco sobre a criação da entidade e seus objetivos.

A ideia surgiu a partir de uma vi-sita de Thiago José, aluno da UFF e então diretor de Comunicação da UNE, que veio convidar os estudan-tes a eleger um representante para ir em março ao 63º Conselho Nacional de Entidades Gerais (Coneg), fórum que reúne DCEs, Federações e Execu-tivas de Cursos de todo o Brasil. Eles se empolgaram com a participação e a pauta do movimento — luta contra a precarização do ensino e o contin-genciamento das verbas da Educação — e depois decidiram organizar uma eleição para o DCE. Fizeram propa-ganda de sala em sala, convocaram a participação dos colegas e conse-guiram atrair 247 eleitores para o pleito. A chapa única teve 246 votos, o outro foi nulo. “Somente uma cha-

pa se inscreveu, e consideramos que para uma primeira eleição era válido. Queremos primeiro nos unir, fazer o movimento, criar a cultura de DCE. As divergências, se surgirem depois, serão bem-vindas”, diz Flávio.

A pauta do grupo é promover o diálo-go coletivo entre os alunos e a instituição, e lutar em conjunto com outras entida-des estudantis por melhorias na Edu-cação, como explica o presidente: “Por exemplo, nossa faculdade tem Prouni e Fies, que estão ameaçados com o corte de verbas. Vamos brigar pela continui-dade desses programas. Reconhecemos que houve avanços na Educação nesses últimos governos, e não podemos per-der isso de uma hora para outra”.

Os representantes que foram ao Congresso da UNE planejam realizar uma assembleia na FEUC para compar-tilhar com os colegas o que foi discuti-do e decidido por lá. ■

Foto: Tania Neves

Por Tania Neves

DCE

Flávio, Juan, Marcella e Graciele: malas prontas para a UNE

Page 28: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

28

Aula Passeio

Letras no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo

Foto: Acervo Pessoal do Grupo

Professores e alunos realizam viagem de bate-e-volta à capital paulista

para cumprir roteiro mesclando aspectos acadêmicos, culturais e turísticos

Já ouviu dizer que todo sacrifício pelo conhecimento vale a pena? Esta his-tória aqui confirma: na noite de 22

de maio, cerca de 40 alunos de diversas disciplinas de Letras e os professores Vic-tor Ramos, Lia Martins e Taciana Pereira (esta do CAEL) encararam uma longa viagem de ônibus, madrugada adentro, para amanhecer em São Paulo e fazer uma aula passeio no Museu da Língua Portuguesa, numa programação cultu-ral que se estenderia pela Pinacoteca, a Estação da Luz e o Mercado Municipal.

Um dos organizadores, o professor Victor conta que a atividade foi inicial-mente pensada por ele e a professora Claudia Valentim como meio de inte-grar conteúdos das disciplinas Portu-guês Histórico e Tópicos em Literatu-ra Portuguesa. Para executar a tarefa, Victor recorreu a César Falcão, guia turístico que já organizara passeios para ele em outra escola: “Como César é professor de História, capta bem a questão do ensino e do passeio de for-ma integrada”, elogia Victor, revelando que o guia enriqueceu a jornada com apresentações sobre arquitetura e con-

textualização histórica da cidade.No museu, alunos de Português His-

tórico puderam verificar de forma in-terativa os conteúdos já estudados na disciplina, o que empolgou o professor: “Constatei o quanto nossa ementa está a contento em relação aos aspectos so-ciais e relevância”, disse. Na Pinacoteca, enquanto o funcionário apresentava as obras de arte e relacionava aos perío-dos literários, alunos de Literatura es-tabeleciam contrapontos, participando de forma ativa e crítica. Para Victor, tudo valeu: “A turma da disciplina Fo-nética e Fonologia estava de ouvidos atentos aos diversos falares, inclusive ao tão famoso sotaque paulista”.

No fim da tarde, de volta ao busão, mais seis horas de estrada. E quem se queixa? “Apesar de a viagem ter sido cansativa, foi gratificante observar que as informações expostas no museu já haviam sido ensinadas pelos professo-res. Isso nos mostra que o nosso curso tem compromisso com a qualidade. Decerto, a palavra especial pode resu-mir o dia que tivemos”, avalia Gledison Moret, do 7º período de Letras. ■

Foto: Acervo Pessoal do Grupo

No alto, o grupo posa diante da Estação da Luz, onde fica o Museu

da Língua Portuguesa; acima, exemplo do conteúdo a que tiveram

acesso: idiomas que formaram a LP e as formas que a linguagem

assume no cotidiano

Page 29: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

29

1) Ao longo da sua carreira de pesquisa o professor já explorou várias dimensões da discussão sobre o território. Qual a impor-tância da reelaboração dessa categoria para a geografia? E para um professor de geogra-fia na educação básica?

Na verdade iniciei priorizando o conceito de região, que trabalhei durante os anos 1980 pela força da pro-blemática da identidade regional (gaúcha) que eu vivenciava, e que foi objeto de minha dissertação de mestrado. A partir do final dos anos 1980, especial-mente após a publicação de um pequeno artigo inti-

tulado “Territórios Alternativos”, no Jornal do Brasil, passei a enfatizar a análise geográfica numa pers-pectiva crítica a partir do conceito de território. Sua enorme relevância no âmbito brasileiro (e também latino-americano) tem a ver com a grande questão da relação entre espaço e poder — questão agrária, urba-na, ambiental, dos povos tradicionais... todas envol-vendo a luta não só por terra mas por território, que é uma concepção mais ampla, pelo menos no meu entendimento, pois defendo uma concepção ampla de poder que envolve tanto os poderes hegemônicos (que incluem, hoje, a força do poder simbólico) quanto os poderes subalternos ou de resistência. A educação

Professor Entrevista

Em 6 de abril, as FIC foram brindadas com uma belíssima conferência do pesquisador e professor da UFF Rogério Haesbaert, que valeu como aula inaugural do curso de Geografia. Um dos principais intelectuais na área de Geografia no Brasil, além de leitura obrigatória na academia, Haesbaert discutiu, na palestra “Des-territorialização em tempos de in-segurança e contenção territorial”, os conceitos de território e controle da sociedade ao longo da História. E a empolgação do público foi tanta que a FEUC em Foco convidou o professor Isaac Gayer e as professoras Gisele Miranda e Rosilaine Silva a formularem perguntas para uma entrevista exclusiva com o pesquisador. Aqui você lê uma parte da conversa, e pode acessar o texto completo na nossa página na internet, em www.feuc.br/revista.

Território: espaço deluta e solidariedade

Foto: Gian Cornachini

Page 30: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

30

básica está cada vez mais comprometida com essas problemáticas, não há como o professor não tocar em temas territoriais com os alunos, pois nessa concep-ção política ampla de território ele está presente desde nossas relações cotidianas mais imediatas — como o próprio espaço da sala de aula ou do quarto em uma casa até as fronteiras de um Estado-nação. Mesmo se tomarmos o conceito mais simples — e operacional — de Robert Sack, do território como espaço cujo acesso é controlado, são inúmeros os exemplos vividos pelos próprios alunos em relação às diferentes formas de poder exercido através do controle do acesso e da mobi-lidade — tema cada vez mais evidente na nossa vida metropolitana frente à grande desigualdade entre as diferentes formas de circulação na teia da cidade.

2) O enclausuramento a partir do medo tem se tornado uma realidade espacial em toda a cidade, como a residência em condomínios fechados e a substituição do espaço público

pelos shopping centers. Como esse fenôme-no influencia a experiência urbana?

Embora eu não trabalhe diretamente com esses espa-ços, que são voltados sobretudo para as classes média e alta (vide os “rolezinhos” como uma forma dos grupos subalternos, jovens da periferia, tentarem se apropriar de espaços mais seletivos, ambíguos entre o público e o privado, como muitos shopping centers), sem dúvida nossas “sociedades de in-segurança” têm estimulado a segregação socioespacial e construído uma cidade desintegrada, parcelada, não propria-mente “dividida”, porque algumas relações socioeco-nômicas continuam ocorrendo (via emprego domésti-co, por exemplo), mas profundamente marcada pela seletividade espacial da mobilidade. Quando escuta-mos as falas de adolescentes como no recente docu-mentário póstumo de Eduardo Coutinho, “Últimas Conversas”, percebemos a distância que separa nossos espaços-mundos. Mas, ao mesmo tempo, percebemos

Professor Entrevista

“A educação básica

está cada vez mais

comprometida com essas

problemáticas, não há

como o professor não

tocar em temas territoriais

com os alunos”

Foto: Gian Cornachini

Page 31: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

31

também a proximidade — pois a “humanidade” nos reúne, nos congrega. Para os que prezam pelo senti-mento não só de “tolerância” ou “respeito” pelo outro, mas de efetiva identificação com seus anseios, com sua dimensão afetiva (no mais amplo sentido da pa-lavra), para esses ainda resta claramente a possibili-dade de reunir os “cacos” dessa cidade fragmentada. Talvez se mais estudantes de condomínios fechados fi-zessem “estágios” nas periferias e, ao contrário, mais estudantes das periferias frequentassem espaços co-muns das classes mais altas (como museus e centros de arte), talvez esse fosse um caminho. A escola, mais uma vez, poderia ter um papel fundamental.

3) A atenção deferida pelos jornais é desigual no espaço da cidade, tornando algumas áreas mais visíveis que outras. Qual é o papel da mídia na percepção da violência e a sensação de medo na cidade do Rio de Janeiro?

No debate promovido na Feuc apresentei um dos re-sultados de nossa pesquisa que foram dois mapas representando os conflitos violentos na cidade vei-culados pelos dois principais diários da cidade per-tencentes a grupos empresariais e dirigidos a públi-cos também distintos: O Globo e O Dia. Enquanto o primeiro mostra uma “cidade violenta” ligada muito mais às zonas de classe média e alta da cidade, o segundo retrata a violência nas periferias (a zona Oeste da cida-de aparece representada muito mais no segundo). Depreende-se daí que há espaços cujas questões são praticamente invi-sibilizadas pela grande mídia — e bem sabemos o poder que determinadas mídias têm sobre o direcionamento das políticas públicas — incluindo aqui, sobretudo, as políticas de segurança. Esse é apenas um exemplo do enorme papel exercido pelo discurso midiático hegemônico, por diferentes mecanismos (imprensa escrita, televi-sionada, internet...), e que repercute naquilo que de-nominamos uma “contenção midiático-territorial” do espaço urbano, na medida em que oculta (ou, por outro lado, ressalta) determinadas questões em deter-minadas áreas da cidade. Tal como a população pobre que, mesmo numérica e espacialmente majoritária, tem muito menor “peso simbólico” na construção da

imagem urbana, aqui também o que é considerado notícia — e “insegurança” — tem claramente seus es-paços privilegiados na teia da cidade.

4) O professor termina seu último livro “Vi-ver no limite” de uma maneira esperanço-sa. Qual seria a importância da educação geográfica escolar na produção de possíveis transformações na sociedade?

Como já comentei em alguns momentos, apesar de todo o quadro negativo que se apresenta, especialmen-te no que se refere às formas de encarar a questão da segurança no espaço urbano e a crescente fragmenta-ção socioeconômica de nossas cidades, não podemos de modo algum perder a nossa esperança de que mu-danças para melhor podem ser concretizadas. Mas elas nunca poderão ocorrer sem efetivo engajamento e participação popular. A internet pode ser uma grande aliada para essas mobilizações. Junho de 2013, total-mente imprevisto, demonstrou o potencial que temos de nos organizar e ocupar as ruas, “redesenhar a geogra-fia” da participação política, cada vez mais restrita ao ambiente asséptico e enclausurado dos palácios gover-namentais. Retrocedemos, é verdade, e as próprias mo-

bilizações parecem cada vez mais conservadoras. O próprio Estado, cujas iniciativas de redistribui-ção de renda ao longo da década de 2000 chegaram a nos incutir esperança, está sofrendo profundo retrocesso. Creio que, na condição de educadores, especialmente de nível bá-sico, mesmo desvaloriza-dos — especialmente em termos salariais — tem-se a enorme responsabili-

dade de esclarecer, de refletir e, quem sabe, também, de propor novos caminhos aos jovens. Incutir-lhes es-perança, pelo menos, mostrando não só a dureza dessa nossa realidade geográfica, mas também as iniciati-vas que, mesmo pontuais, representam iniciativas de efetiva transformação socioespacial, de territórios de resistência — como, de alguma forma, vários movi-mentos sociais em nossas favelas têm representado. Falar desses espaços-rede de luta e solidariedade, es-timulando a própria criatividade de nossos alunos pode, sem dúvida, “abrir nossos espaços” para que novas trajetórias geográficas, muitos mais justas e humanas, sejam redesenhadas no futuro. ■

“Na condição de

educadores, tem-se a

enorme responsabilidade

de esclarecer, de refletir e,

quem sabe, também, de

propor novos caminhos

aos jovens”

Page 32: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

32

De gari a escritor, uma trajetória feliz

Zona Oeste

Sabe aquelas pessoas sobre quem a gente diria “a vida de fulano rende um romance”? O campo-

grandense por opção Odir Ramos da Costa é uma dessas pessoas. E o melhor de tudo: talentoso escritor, ele mesmo tascou no livro “Buquê para Faceira”, lançado há alguns meses, pinceladas do muito que viu e viveu ao longo de seus

79 anos, embora não se trate explicita-mente de uma história autobiográfica. “O narrador fala na primeira pessoa, mas não se identifica. É um garoto que descobre o mundo num ambiente pe-sado que era a limpeza urbana na épo-ca ainda da tração animal”, revela Odir.

Esse garoto, fosse o autor, teria nascido em Rio Bonito e chegado em Campo Grande aos seis meses de ida-de, junto com a mãe, que se separa-

ra do pai. Odir foi criado pela mãe e o padrasto, que se tornou seu melhor amigo e exemplo de vida. E pelas mãos de quem foi parar na limpeza urbana (hoje Comlurb), aos 18 anos, depois de “sobrar” na seleção para o Exército e não ter como voltar para o trabalho que fazia desde os 14 numa agência de publicidade, de onde saíra para cum-prir o dever cívico. “Sem emprego, me restou ir trabalhar com meu padrasto,

Por Tania Neves

Odir e seu livro, à venda em www.livrariacultura.com.br

Foto: Tania Neves

Page 33: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

33

Campo-grandense por opção, Odir

Ramos da Costa é autor de várias peças

de teatro, dirigiu o Arthur Azevedo e teve

importante atuação no jornalismo e na

cultura em nossa região

que então varria ruas no Méier. Enca-rei por um ano e pouco essa função, depois passei para a parte administra-tiva, em Bangu, onde fiquei por mais uma década”, conta.

O padrasto de Odir, Atílio, fora por muitos anos um bem-sucedido ge-rente de um barracão de laranjas em Campo Grande, quando esta era prati-camente a única atividade econômica da região. Com esse trabalho, deu uma vida confortável à família. Mas a Se-gunda Guerra Mundial e a fumagina, que dizimou os laranjais, quebraram a atividade, e Atílio mudou-se com a fa-mília para a Ilha do Governador, onde se tornou padeiro. Foi assim que Odir se iniciou na vida do trabalho, aos 7 anos, ajudando o padrasto nas entre-gas: enquanto o homem conduzia a carroça, o menino deixava o pão e o leite nas portas, numa jornada que ia das 5h às 6h40m da manhã, e dali ele emendava na escola.

“Tempos depois voltamos para Campo Grande, e eu continuei meus estudos no Almirante Saldanha. Aos 14 anos comecei a trabalhar no Centro, numa agência de publicidade dos Diá-rios Associados, de Assis Chateaubriand. Eu vi nascer a TV no Brasil”, relembra. A primeira função de Odir era prati-camente de boy: ele levava os clichês com os anúncios publicitários para os jornais e depois levava as publicações para os anunciantes verem. Transferi-do para o setor de anúncios fúnebres, passou ele mesmo a redigir as notas, depois que descobriram que sabia da-

tilografar. “Eu adorava a palavra fére-tro. E fazia com a maior dedicação os comunicados fúnebres, que seriam li-dos na Rádio JB. Pensava assim: ‘graças a mim esse cara não cairá no esqueci-mento’. Considerava importante”.

Voltando à limpeza pública, foi ainda paralelamente ao trabalho como gari que Odir começou a colaborar em jor-nais da região — Tribuna Rural foi um deles — e a escrever suas peças de tea-tro, ramo em que conquistou reconhe-cimento público e acumulou prêmios, entre eles o 2º lugar no concurso do Ser-viço Nacional de Teatro, em 1975, com “Sonhos de uma noite de velório”. Ele então já era repórter do Jornal de Campo Grande, onde trabalhou por 17 anos.

No vasto currículo de Odir, além de 7 peças escritas e uma em andamento, consta ainda a direção do Teatro Ar-thur Azevedo, nos anos 80, e uma pas-sagem como editor pelo Jornal de Hoje, de Nova Iguaçu, nos anos 90. Uma vida dedicada ao jornalismo e ao teatro, e sempre envolvido com as questões cul-turais e sociais da Zona Oeste. Casado com Ana Maria, tem quatro filhos (dois do primeiro casamento), dois netos e um bisneto. Hoje aposentado, dedica-se somente à literatura e à dramatur-gia. Seu mais recente livro, “Buquê para Faceira”, foi lançado pela portuguesa Chiado Editora, e pode ser comprado no site da Livraria Cultura (www.livra-riacultura.com.br). “Se passar de mil exemplares vendidos, será revertido para o espanhol e o inglês, e ganhará o resto do mundo”, avisa, orgulhoso. ■

Page 34: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

34

Artigo

Meire Lucy Cunha AraujoGraduanda do 4º período de Letras/Literaturas

e bolsista PIBID/FIC

Vivemos uma era de discursos inflamados em favor da redução da maioridade penal. Nesta era falamos em dar um basta na “educação marxista”, convocamos panelaço, lamentamos a queda de um avião em São Paulo por três ou quatro dias, mas nos esquecemos dos incidentes do Morro da Ser-rinha ou do Complexo do Alemão no dia seguinte.

Não me parece absurdo afirmar que esta era revela uma obscuridade devastadora. Criamos estatísticas com a oferta crescente de vagas nas escolas públicas, agredimos os professores que atendem a essa demanda, nos empenhamos em man-ter baixíssimos os índices de reprovação escolar, transfor-mamos nossas escolas em fábricas com engrenagens enferrujadas e ineficientes, convivemos tranquilamente com o número alarmante de óbitos de jovens e adolescen-tes (em sua maioria, negros e pobres), desde que no fim do intervalo comercial volte-mos a assistir nossa novela ou episódio de reality show sem maiores incômodos. Falamos sobre qua-se tudo: corrupção, futebol, o reajuste da conta de energia elétrica, propaganda publicitária, olimpía-das, feriados prolongados, copa do mundo, menos no desamparo institucional de uma população que está à mercê da criminalidade ao mesmo tempo em que está sendo criminalizada.

Enquanto futura professora, não consigo ter

uma perspectiva que normaliza esse cenário social. Vejo com pessimismo uma postura pública que opta por punir ao invés de educar e uma estrutu-ra social com forte vínculo midiático que culpa as vítimas desse desamparo em suas vulnerabilida-des. Refletindo sobre a proposta de lei da redução da maioridade penal, uma indagação me foi feita: quantos de nós ainda precisaremos morrer esfa-queados para que se tome uma atitude rumo à redução dessa estrutura social violenta? Não tenho essa reposta. Não sei se um dia terei essa respos-

ta, e isso me incomoda. Mas é fato que muitos de nós já vêm morrendo nas periferias há muito tempo, e não é de facada. Os agressores de hoje foram as vítimas de ontem. Reduzir a maioridade penal no Brasil hoje é legitimar a negligência estatal, é punir o algoz que também é vítima.

Sou mulher negra, pobre e favelada. Conheço a rea-lidade cruel do desamparo.

Minha redenção? Educação. Educação crítica, de qualidade, e não essa de carteiras escolares em esteiras industriais. Fui impactada por professo-res que, assim como eu, acreditam na essência humanizante da educação. Questionei minha re-alidade. Questionei meu desempenho ante a mi-nha realidade e a transformei. Aprendi o caminho e estou convicta de que ele está aberto a todos nós. Daqui a pouco tempo, a guia serei eu. ■

A legitimação do desamparo

“Sou mulher negra,

pobre e favelada.

Conheço a realidade

cruel do desamparo.

Minha redenção?

Educação”

Page 35: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

35

Page 36: Revista FEUC em Foco - Edição 21 (junho/2015)

36