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BOLETIM SNAS JUNHO’ 16 | Nº 4 Newsletter do Sindicato Nacional dos Assistentes Sociais EM FOCO Vale a pena lutar VOLTA-SE ÀS RUAS CONTRA A PRECARIEDADE 16-06 | 18h | Cais do Sodré-São Bento O SNAS e os Precários Inflexíveis Nesta edição: O SNAS vai integrar a manifestação contra a precariedade Existem Assistentes Sociais a trabalhar em condições precárias Professora Doutora Fernanda Rodrigues. Uma vida de muitas lutas pela erradicação da pobreza e por direitos "mais humanos".

EM FOCO - snas.pt · 3 Índice Resumo Editorial UGT, SNAS e o Sindicato dos Estivadores O SNAS e os Precários Iinflexíveis Testemunhos O Serviço Social e os Média

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BOLETIM SNAS JUNHO’ 16 | Nº 4

Newsletter do Sindicato Nacional dos Assistentes Sociais

EM FOCO Vale a pena lutar

VOLTA-SE ÀS RUAS CONTRA A PRECARIEDADE 16-06 | 18h | Cais do Sodré-São Bento

O SNAS e

os Precários Inflexíveis

Nesta edição:

O SNAS vai integrar a manifestação

contra a precariedade

Existem Assistentes Sociais a trabalhar em condições precárias

Professora Doutora Fernanda Rodrigues.

Uma vida de muitas lutas pela erradicação

da pobreza e por direitos "mais humanos".

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RESUMO:

JUNHO DE 2016

Pág. 4 e 5

Pág. 6 e 7

Pág. 8 a 14

SINDICALISMO

Trabalhadores terão de pagar à UGT por contratos coletivos de trabalho

A proposta da UGT é que todos os trabalhadores que não estejam sindicalizados, mas que beneficiem do contrato coletivo de trabalho negociado pela central sindical, paguem uma taxa.

O SNAS

TODOS POR TODOS

VOLTAMOS ÀS RUAS CONTRA A

PRECARIEDADE

16-06 | 18h | Cais do Sodré -São Bento

O SNAS demonstrou a sua solidariedade

com o sindicato dos estivadores,

trabalhadores do tráfego e conferentes

marítimos do centro e sul de Portugal e

uniu-se à luta.

O SNAS

OS PRECÁRIOS INFLEXÍVEIS

Uma colaboração conjunta

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Índice Resumo

Editorial

UGT, SNAS e o Sindicato

dos Estivadores

O SNAS e os Precários

Iinflexíveis

Testemunhos

O Serviço Social e os

Média

Entrevista FATENE

Espaço científico

Outras notícias

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Editorial

E se fosse contigo?

Sabe que o seu salário é manifestamente inferior ao praticado no Contrato Coletivo de

Trabalho (CCT) (sector privado) mas aceita trabalhar pelo salário oferecido porque precisa

de trabalhar.

Eis que quando regressa da licença de maternidade começa a ser vítima de assédio moral

porque o seu lugar está ocupado.

E se num belo dia a sua entidade patronal lhe dissesse que gostamos muito do seu

trabalho mas somos forçados a dispensar “assine aqui por favor a bem da comunidade”.

Ou quando percebe que o seu cargo de Direção Técnica está em risco em prol de outro

técnico “afeto” à/ao presidente da Direção da sua IPSS.

Entre muitos, outros, estes exemplos são bem reais e um dia podem acontecer-lhe a si no

seu local de trabalho. O SNAS existe para nestas situações defender os seus direitos.

SINDICALIZE-SE. JUNTOS SOMOS MAIS FORTES !

O SNAS vai estar presente na manifestação de 18 de junho ao lado dos estivadores com

um grande significado que foi transmitida, pela Direção, na reunião preparatória ocorrida na

sua sede:

a) O acordo a que chegaram com a administração do porto com o alto apoio da Ministra

do Mar fica na história do sindicalismo ao impedir a ameaça de um despedimento

coletivo;

b) A união e a resistência da classe foi fulcral para chegarem a bom porto, sinais

evidentes que o Sindicato dos Estivadores é um dos poderosos do País na questão da

sua união e solidariedade (o fundo de greve e solidariedade - 4% quota sindical -

permitiu atribuir verbas salariais a todos os sindicalizados que estão há meses sem

receber salários). Sem o pão na mesa não pode haver união e resistência;

c) Ser esta a primeira manifestação do SNAS é um sinal evidente do nosso

reconhecimento a esta classe e ao trabalho sindical desenvolvido por este sindicato

com 700 trabalhadores sindicalizados. Antes de conhecer o António Mariano,

presidente da Direção, já sabíamos da potência deste Sindicato e desejo eu que a

nossa classe siga este exemplo acreditando no nosso SNAS - sindicato de classe (com

estes ou outros dirigentes).

d) Além do Sindicato dos Estivadores outros sindicatos (Call Center) a Comissão

Trabalhadores da GroundForce do Aeroporto, Comissão Trabalhadores do Banco

Santander-Totta, os Precários Inflexíveis, organizações femininas e outras entidades

representativas de trabalhadores irão a esta manif. Certamente esta manif terá algum

eco televisivo, e nos órgãos de comunicação social, desejando que a nossa faixa

venha a ser contemplada (algo que nos vai escapando). Irão estar presentes também o

Movimento de Mulheres de Estivadores "Há Flores No Cais" contra a precariedade

(outra forma de escravatura) e sendo a nossa classe maioritariamente feminina por

todas estas razões temos de estar presentes.

BASTA! DIGA NÃO À PRECARIEDADE E AO DESEMPREGO!

Juntos somos mais fortes!

Aquele abraço.

Luís M. Matias

[email protected]

JUNTE-SE A NÓS.

JUNTOS SOMOS MAIS FORTES!

JUNTOS SOMOS

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Acordo pôs fim à greve dos estivadores no Porto de Lisboa

A UGT continua a discutir matérias relacionadas

com os mecanismos de adesão individual e

portarias de extensão, na ótica dos efeitos que

estes instrumentos possam produzir na

sindicalização e valorização do trabalho dos

sindicatos na Negociação Coletiva.

As Portarias de Extensão não fomentam a

sindicalização nem valorizam trabalho sindical,

mas contribuem para uniformizar as condições

de trabalho e combater a concorrência desleal

em cada setor de atividade.

São apenas os trabalhadores sindicalizados

que, através das suas quotas, continuam a

suportar os encargos sindicais afetos à

negociação coletiva.

O SNAS demonstrou a sua solidariedade

com o sindicato dos estivadores,

trabalhadores do tráfego e conferentes

marítimos do centro e sul de Portugal

Entre os pontos acordados

está a integração de 23

trabalhadores eventuais no

quadro, a criação de um

mecanismo de progressão

na carreira automático e por

mérito e a definição de uma

nova tabela salarial.

Trabalhadores terão de pagar à UGT por

contratos coletivos de trabalho

O secretário-geral da UGT afirmou em Coimbra

que há “consenso” dentro da central sindical

sobre a possibilidade de obrigar trabalhadores a

pagarem um contributo para poderem beneficiar

dos contratos coletivos de trabalho (CCT)

negociados pelos sindicatos.

O SNAS esteve presente na Conferência sobre os "Cenários Macroeconómicos de Portugal no Contexto da Globalização - Perspectivas de Futuro"

O acordo agora alcançado será traduzido, no

prazo de 15 dias, num novo contrato coletivo de

trabalho.

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O SNAS foi convidado a integrar a manifestação contra a precariedade que o Sindicato dos Estivadores irão promover no dia 16 junho às 18 H.

Dia 31 de Maio o SNAS esteve presente na reunião de preparação na sede do Sindicato dos Estivadores, com o movimento Há Flores no Cais, em conjunto com outras entidades representativas de trabalhadores.

Apela-se à participação das e dos Assistentes Sociais !

TODOS POR TODOS

VOLTAMOS ÀS RUAS CONTRA A

PRECARIEDADE

16-06 | 18h | Cais do Sodré -São Bento

Os Estivadores de Lisboa conquistaram um

acordo importante, mas não só ainda não saiu

do papel como ainda não abrange todos os

outros estivadores espalhados pelo país.

Querem para trabalho igual salário igual,

respeito pelos direitos de associação política e

sindical e que os trabalhadores portuários se

vejam definitivamente livres da precariedade e

da instabilidade laboral.

Na natureza deste conflito, as raízes são

comuns e as suas consequências tocam todos

os sectores do trabalho. Por isso e porque só

assim se pode continuar a vencer, querem que

a Manifestação Contra a Precariedade seja um

marco na luta contra as vidas a prazo, sem

segurança, com salários de miséria e sem

dignidade. Querem que as 35 horas de trabalho

por semana sejam definitivamente uma realida-

de e que o desemprego deixe de ser encarado

como uma inevitabilidade.

Precários, assistentes sociais e call

centers, juntam-se à manifestação dos

estivadores.

Manifestação convocada para 16 de Junho

recebeu adesão de representantes de empresas

de vários sectores, como bancários, assistentes

sociais, empresas de call centers ou empresas de

handling.

Reconhecimento à Professora

Doutora Fernanda Rodrigues.

Uma vida de muitas lutas pela

erradicação da pobreza e por direitos

"mais humanos".

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O A crise do sindicalismo

O recuo verificado no movimento sindical não sinaliza a sua decadência inabalável. Não chegámos ao fim da história, das ideologias, das classes ou do trabalho, nem ao fim do sindicalismo. Nos países capitalistas centrais assiste-se a uma mudança qualitativa; se declina o sindicalismo de antigos sectores operários, consolida-se um sindicalismo estabelecido no sector público, constituído por grupos sócio profissionais técnicos dotados de elevado capital escolar. O futuro do sindicalismo passa necessariamente pela existência de sócios, condição prévia para construção da organização sindical nos locais de trabalho, que permitirá reforçar a sindicalização. Aliada à “capacidade estratégica”, das organizações para elaboração, implementação e difusão de uma agenda própria expressiva do pensamento, interesses e objetivos dos seus membros, incluindo suas reivindicações, seus projetos e forma de encarar as relações sociais (HYMAN, 1997, 2007). A aliar ainda, o estímulo à “solidariedade interna”, em reforço à democracia sindical, fortalecendo a coesão entre os trabalhadores, e entre estes e a organização e aprofundamento das relações entre as várias organizações sindicais a nível nacional e internacional. E o incentivo à “solidariedade externa”, capacitando os sindicatos a trabalhar na e com as comunidades envolventes, aliados a outro tipo de associações, articulando coordenações horizontais e verticais e agrupando combates laborais e outros de carácter mais geral (LÉVESQUE e MURRAY, 2003). In: “O movimento sindical português no turbilhão da crise global do sindicalismo”. O sindicalismo tem um passado que é portador de futuro.

O SNAS e os Precários Inflexíveis O Sindicato Nacional dos Assistentes Sociais (SNAS), representado pelo seu presidente da Direção Luís Matias e a assessora Fátima Garcia, reuniu a 24 de maio de 2016, com a Associação de Combate á Precariedade - Precários Inflexíveis, por sua vez representado pelo presidente da direção Marco Marques e o presidente da mesa da assembleia geral, Hugo Evangelista, no Mob - espaço associativo, no Intendente. Visou-se a apresentação das duas organizações representativas de trabalhadores, debateram-se questões laborais e estratégias contra a precariedade, efetivando uma colaboração conjunta nestas matérias.

As entidades representativas de trabalhadores O Sindicato Nacional dos Assistentes Sociais (SNAS), foi fundado em 15 de maio de 2013 e nasceu pelo facto de não haver um sindicato representativo da classe profissional e visa contribuir para a dignificação da profissão dos Assistentes Sociais. O SNAS é uma organização a nível nacional que representa os assistentes sociais, luta pela melhoria das condições de trabalho, exercício da profissão e regulação da carreira profissional. Presta apoio jurídico exclusivo aos seus associados e intervém junto da Assembleia da República, do Governo e junto das instituições patronais de modo a melhorar o estatuto profissional dos associados. Os Precários Inflexíveis que defendem os direitos de todas as trabalhadoras e trabalhadores, em particular, de todas as pessoas sujeitas a qualquer forma de precariedade e em situação de desemprego e desenvolve ações com vista ao fim do trabalho precário e da exploração laboral, e outras pessoas que partilhem o desejo de pensar e construir coletivamente uma sociedade mais igualitária.

A Ordem dos Assistentes Sociais Inevitavelmente, foi abordado pelo SNAS, o processo de constituição de uma Ordem dos Assistentes Sociais e regulação da respetiva profissão iniciado em 1997, com diversas iniciativas ocorridas ao longo deste junto da Assembleia da República no sentido da sua criação, mas chumbadas. As dimensões de interesse público subjacentes à constituição de uma Ordem dos assistentes sociais decorrem da especificidade que marca a relação entre a sociedade, o Estado e os profissionais do serviço social. As suas diferentes áreas de intervenção partilham a forte vocação deste corpo profissional para a promoção da cidadania através da sua intervenção vocacionada para a resolução de problemas sociais de indivíduos, de famílias e de organizações, numa sociedade em crise a vários níveis.

Uma colaboração conjunta. Data: Lisboa, 25 de maio de 2016

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Assistentes Sociais trabalham em condições precárias Existem assistentes sociais que são mal pagos e trabalham em condições precárias, sem verem garantidos os seus direitos. Um colega que não se sente dignificado no seu trabalho corre o risco de não conseguir exercer bem a sua profissão e a barreira começa a ser ténue entre o técnico e a pessoa que atende. Muitas instituições de Serviço Social e IPSS aproveitam-se dos seus profissionais e mantêm-nos anos a fio através de falsos recibos verdes, contratos de emprego inserção (CEI), falso voluntariado e mesmo estágios profissionais.

A precariedade e o trabalho precário A precariedade remete para a instabilidade constante e um futuro incerto, condicionando expectativas, perspetivas, projetos e possibilidades. A condição precária, originária da degradação das relações no trabalho, afeta todas as dimensões da vida. O escândalo dos falsos recibos verdes que nega a centenas de milhares de pessoas o direito básico ao contrato de trabalho, a contratação a prazo e sem direitos, o negócio escandaloso das empresas de trabalho temporário que roubam mais de metade do salário ou a pura e simples inexistência de vinculação no trabalho informal: são cerca de 2 milhões de pessoas, que alternam diferentes formas de precariedade com situações frequentes de subemprego e desemprego. A precariedade acentua brutalmente a desigualdade na relação laboral, fragilizando os vínculos de trabalho, agravando a exploração. Contribui também para a acentuação de problemas já existentes como a segregação profissional e a desigualdade salarial entre homens e mulheres, para além de afetar ainda mais quem está em pior posição nas hierarquias do poder económico, político, social, cultural e simbólico. Da flexibilização de horários e ritmos de trabalho ao estabelecimento de salários muito baixos, são degradadas as condições de trabalho e retirados direitos que se tinham já estabelecido como básicos. Acima de tudo, a imposição da precariedade dificulta a organização através da individualização e da maior vulnerabilidade perante a chantagem do despedimento e de todas as arbitrariedades. Ficar sem trabalho e não ter acesso ao subsídio de desemprego porque a duração dos contratos, quando existem, não o permite; não ter direito a férias, nem à assistência na doença ou ao apoio na parentalidade porque os falsos recibos verdes são uma zona de exclusão da democracia; adiar eternamente a emancipação das redes familiares ou ter de regressar a elas; ter cada vez mais dificuldades em aceder a serviços básicos devido à desvalorização do trabalho e à privatização de serviços públicos; não conseguir aceder à habitação, porque o salário não chega e quem está em situação de precariedade não consegue aceder aos empréstimos; engravidar e ser despedida; não conseguir escapar ao trabalho informal, lugar por excelência de todas as arbitrariedades: estas são apenas algumas das consequências vulgares e brutais da precariedade na vida de muitos trabalhadores e trabalhadoras. A precariedade avança em todas as áreas profissionais e de forma intergeracional, minando também as relações familiares e pessoais e até a própria ideia de sociedade. É uma recomposição de enormes dimensões, um novo regime social baseado na sobre-exploração, no desemprego e na chantagem permanente. In: “Manifesto fundador da Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis”.

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O meu nome é Nádia Tatiana Sequeira de Almeida e conclui a Licenciatura em Serviço Social no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa (IUL) em 2015. Atualmente frequento o Mestrado em Serviço Social na mesma instituição. Considero que este

curso possibilita a aquisição de uma panóplia e diversidade de conhecimentos assim como uma articulação com outras áreas de formação de que são exemplo a Sociologia, a Psicologia e a Ciência Política. Esta articulação tem-se tornado cada vez mais importante, nomeadamente tendo em atenção a inserção dos assistentes sociais em equipas interdisciplinares, num contexto de mutações sociais, económicas,

políticas e culturais que exigem uma atuação refletida, coerente, eficaz, eficiente, complexa e pautada por conhecimentos técnicos, teóricos e operacionais. A preparação

para a gestão de todos estes processos encontra-se, em grande medida, no seio universitário onde os discentes têm acesso a uma experiência de formação em local de trabalho, possibilitada pelo estágio curricular e, ao mesmo tempo, através do contacto com um leque de docentes qualificados em diferentes

campos e domínios do Serviço Social.

Biografia: Nádia Almeida é licenciada e mestranda em Serviço Social no ISCTE-IUL. No ano letivo 2013/2014 recebeu um Prémio de Excelência Académica (melhores notas de frequência) pela nota de 16,40. No ano letivo seguinte recebeu também o Prémio

Melhor Aluno Finalista da Licenciatura em Serviço Social com média final de 16,30. Em 2015 participou na primeira edição da Academia GRACE inserido no projeto Uni.Network onde ficou, em conjunto com dois colegas de turma, em segundo lugar obtendo como prémio um estágio de verão na empresa de recrutamento e seleção Michael Page Portugal.

Car@s colegas Assistentes Sociais,

É essencial escrever algumas reflexões sobre a situação em que se encontra a nossa profissão.

1- O estabelecimento da ordem dos Assistentes Sociais é essencial. Quais os entraves que estão a suceder para a mesma não ser estabelecida?

2- Por que razão a maioria dos Assistentes Sociais após terminarem os seus estágios profissionais não são aceites nas instituições? Penso que há falta de recursos humanos, mas também de recursos financeiros o que impossibilita a contratação de técnicos então as medidas não deveriam ser alteradas?

3- Será que as medidas do IEFP se adequam à nossa área?

4- Julgo que todos os técnicos da nossa área gostariam de ter acesso á estatística de saber quantos técnicos da nossa área encontram-se abrangidos pelas medidas do IEFP (estágios profissionais, contratos emprego inserção, estímulo emprego, entre outras).

5- Nem para voluntários as instituições estão a aceitar. A maioria das pessoas da nossa área encontram-se a trabalhar como lojistas, ou em áreas que não tem nada a ver com a mesma. Então põe-se a questão tendo em conta a conjuntura atual o nosso curso tem saída profissional? De acordo com o que me tenho deparado não tem e aqui tenho de dizê-lo, o Ministério da Ciência e do Ensino Superior deveria limitar o número de vagas no curso de acordo com a realidade do mercado de trabalho. Será que o curso em vez de três anos (Bolonha) não deveria ter quatro anos (sendo o último ano só de estágio uma componente mais prática)?

6- Em alternativa, encontram-se a realizar formações do IEFP intituladas “Vida Ativa” que servem para “mascarar” a realidade dos números e para as pessoas estarem ocupadas.

7- Os técnicos da nossa área têm de se unir (quer os que estão no ativo quer os que estão desempregados). É urgente serem feitos workshops, debates para todos terem espaço para exporem os seus problemas.

8- Lembro todos os colegas que o Sindicato dos Assistentes Sociais pode ter um papel fulcral para combater os problemas com que se deparam no seu dia-a-dia e lutará sempre pela mudança.

9 – Façam valer os vossos direitos e no dia 16 de junho no Cais do Sodré vão protestar contra a precariedade e as más condições em que nos encontramos. Batemos no fundo, mas vamos erguer-nos.

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Venho também por este meio expor as se-

guintes situações:

-É essencial que seja realizado em parceria com

a APSS, com outras instituições e com as

pessoas desempregadas um seminário, um

workshop sobre os problemas da nossa área

(problemas laborais, problemas do desemprego

na nossa área, falta de oportunidades e

ineficácia por parte dos Centros de Emprego

para dar resposta ao flagelo do desemprego

existente na nossa área).

Vou relatar uma situação que sucedeu comigo

ontem, dia 2 de junho de 2016, no Centro de

Emprego da minha zona de residência em

Setúbal. Verifiquei que existia uma oferta na mi-

nha zona de residência que pede um técnico de

nível intermédio de apoio social com licenciatura.

Esta designação é para técnico superior ou para

ajudante familiar?

Desloquei-me de imediato ao Centro de

Emprego com o número da oferta e com o cartão

de cidadão.

Quando fui atendido a funcionária diz-me então

mas o Assistente Social também dá banhos a

idosos. Fiquei estupefato com esta observação e

expliquei-lhe o Assistente Social, faz atendimen-

tos, cálculo das mensalidades dos utentes,

visitas domiciliárias. A funcionária voltou a dizer

que hoje em dia o Assistente Social, faz tudo é

um multifunções, já não existe diferença entre o

Assistente Social e um ajudante.

A conversa continuou e mencionei então mas a

oferta não pede um Licenciado? Ao que a

funcionária respondeu pede sim. Então solicitei

que me inscreve-se na oferta, pois sou

Assistente Social andei na Faculdade. As

ajudantes (pelas quais tenho grande respeito)

têm formações para poderem prestar os

cuidados aos idosos e as habilitações literárias

que exigem são o 4ºano, o 6ºano e o 9ºano.

No final do atendimento a funcionária salientou

que tenho pouca experiência. Foi a experiência

que me foi possível ter desde que acabei a

minha Licenciatura em 2011 foi a realização de

um estágio profissional que terminou em Agosto

de 2015.

Não é a primeira funcionária a dizer então, mas

já tentou outras áreas?

Ao que lhe respondi tenho tentado imenso na

área social, na área administrativa, cal center. E

ela então, mas ainda é jovem tem 26 anos.

Praticamente todas as pessoas dizem-me isso

só que o tempo vai passando, repare que

terminei o meu curso com 21 anos, em 2011.

No IEFP, sugerem que devemos investir noutras

áreas para podermos ter hipóteses de inserção

no mercado de trabalho.

O IEFP nada faz por nós desempregados em 5

anos que estou inscrito no IEFP, só por duas

vezes é que me chamaram para duas entrevistas

para estágio profissional (o que é

manifestamente pouco). O estágio profissional

que arranjei foi por minha iniciativa própria sem a

intervenção do IEFP.

É essencial que relatemos estas situações para

que possam ser denunciadas estão a denegrir a

nossa profissão a cada dia que passa e, acima

de tudo, a nossa dignidade enquanto seres

humanos.

Agradeço a vossa atenção.

Os melhores cumprimentos

João Miguel Salgueiro

Biografia: João Miguel Salgueiro, tem 26 anos, é

licenciado em Serviço Social desde 2011 pela

Universidade Lusófona e mestre em Gerontologia

Social desde 2014 pela mesma universidade. É

membro do Conselho Fiscal e Disciplinar do

Sindicato Nacional dos Assistentes Sociais (SNAS).

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O Serviço Social e os Média: Um tema que

urge na reflexão da classe profissional dos

Assistentes Sociais, em Portugal!

A Invisibilidade dos Assistentes Sociais nos

Média. Irene Ferreira

O défice de visibilidade dos assistentes sociais no

espaço público (refiro-me concretamente aos

Média tradicionais) tem conduzido, de alguma

forma, ao esquecimento da classe profissional, nos

sistemas institucionais do nosso país.

Encontramo-nos num mundo em mutação veloz,

numa sociedade que é agora globalizada e mais

democratizada, situação à qual não são alheias as

novas redes de comunicação virtuais/online, com

implicações no nosso modo de pensar e agir na

realidade societal.

O Serviço Social é uma disciplina das ciências

sociais e humanas, confrontada, assim, com a

exigência de investigar/pesquisar métodos e

técnicas de intervenção ajustadas às novas e

complexas realidades sociais geradas, quer pela

globalização, quer pelas crises económicas e

financeiras internacionais. Exige-se, ainda,

alterações naqueles que são os paradigmas mais

tradicionais na acção dos seus profissionais -

assistentes sociais-, encontrando assim formas

mais adequadas e eficientes de responder às

novas situações-problema” vivenciadas pelos

indivíduos, famílias e comunidades.

Nas instituições em que se enquadram, são

requeridas aos Assistentes Sociais, práticas

profissionais diligentes e eficazes (“soluções

impetuosas”) para problemas multifacetados e de

complexa resolução. Nos grupos da população que

atendem inserem-se agora indivíduos e famílias

que outrora se situavam num grupo social tido

como “privilegiado” -classe média-, as quais se

conservavam fora do sistema de proteção social

(sem necessidade de a ele recorrer).

Paralelamente, os profissionais continuam a traba-

lhar com os grupos da população socialmente mais

vulneráveis, que subsistem (situação à qual não é

alheio o caráter multidimensional e geracional da

pobreza e da exclusão social). Estas novas

realidades enfatizam complexidades acrescidas na

intervenção, desafios que suscitam aos assistentes

sociais necessidades de formação/especialização

na(s) área(s) específica(s) na sua acção, com o

objectivo de desvendarem meios/estratégias de

superação/resolução dos problemas societais.

Numa sociedade plural e aberta aos vários

subsistemas, a actuação dos Assistentes Sociais

(bem como dos diversos profissionais em geral)

encontra-se agora mais exposta sendo o seu

trabalho regularmente alvo do “escrutínio” na

esfera pública, situação para a qual tem

contribuído os “Média”- denominados por alguns

autores de “quarto poder”-. Julgo que esta realida-

de não é necessariamente negativa, já que os

profissionais da comunicação social (jornalistas e

outros) têm como objectivo o “direito de informar”,

acção tão fundamental para o exercício da

cidadania. Pois, se a notícia for tratada com os

princípios exigidos aos seus profissionais - ética,

sigilo e confidencialidade-, ela constitui-se num

meio de “capitalização da cidadania”, numa

sociedade que tem o direito de ser informada.

Sabemos que as instituições sociais são

fundamentais para os indivíduos, mas, na sua

organização encerram dinâmicas complexas e

burocráticas, provocando, por vezes,

“disparidades, desvios e fragilidades” na vida dos

cidadãos-sobretudo daqueles que dela são alvo-

(nalguns destes contextos, os técnicos –

referimo-nos aqui aos assistentes sociais- são o

“rosto” mais directo e acessível, e sobre os quais

recai, muitas vezes, o ónus da responsabilidade).

Na minha opinião, a ausência dos Assistentes

Sociais nos meios de comunicação social,

sobretudo nos Média tradicionais tem sido pouco

positivo para a classe, não somente na sua

própria defesa (quando pessoal e

profissionalmente visados no espaço público, e

sem a oportunidade de defesa no mesmo espaço),

mas, também pela falta de divulgação daqueles

que são os valores e objetivos do Serviço Social,

ideias, opiniões, tão importantes para a afirmação

da estrutura profissional. Arriscar-me-ia até a dizer

que a "estagnação" e até “desvalorização” que

vimos assistindo no âmbito da profissão -do

serviço social- resulta do facto de não termos

ainda percecionado a importância de nos fazermos

representar nos “Média” (efectivando, tantas

vezes, projectos de mérito na comunidade, mas

“invisíveis”, e habitualmente instrumentalizados

nos diversos sistemas, inclusive nos meios

mediáticos).

Seria interessante perceber as principais razões

para o facto, algumas das quais se centram, do

meu ponto de vista no escasso debate crítico na

classe, quer ao nível interno, quer em contextos

externo à profissão (estando os Assistentes

Sociais ainda muito delimitados ao contacto entre

pares e com as estruturas representativas da

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classe, bem como aos contextos

socioinstitucionais e “privados” e informais, ou

seja, naqueles espaços que são as nossas

“zonas de conforto”). Outra razão poderá ser

aquela a que denomino de “receios da exposição

mediática e suas consequências”, evidenciado

ainda os profissionais da área significativas

dificuldades em sistematizar a sua ação num

discurso acessível a todos; há, naturalmente, um

forte sentimento de insegurança e receio por

eventuais represálias e prejuízos no contexto

profissional; e, a última (e/ou talvez a primeira

razão) prender-se-á com o facto dos assistentes

sociais ainda não merecem um adequado

reconhecimento da parte dos profissionais da

comunicação social (jornalistas e outros

profissionais da comunicação). Pois, a todos nós

vemos frequentemente nos Média outros

interlocutores/profissionais de áreas afins e ou-

tras, em diversos programas a abordar temas nos

quais os profissionais do Serviço Social têm um

domínio específico (da sua área científica,

analítica, e na sua intervenção quotidiana),

detendo, inclusive, nas instituições em quem

exercem a sua actividade, elevadas

responsabilidades (designadamente na área das

crianças e jovens, mulheres, idosos, em risco e

perigo, desemprego, pobreza e exclusão social,

isolamento, adopção, deficiência, imigração/

refugiados, entre as demais problemáticas nas

quais os assistentes intervêm na sua prática

regular), mas não são eles os convocados,

porquê?.

Poderemos afirmar que, os assistentes sociais

dispõem de competências técnico-científicas e

intervenções junto de indivíduos/famílias e

comunidades com as quais trabalha, geralmente

ajustadas. Nunca será demais lembrar, o impacto

significativo que o trabalho do colega, António

Pinto, (Assistente Social) usufruiu no espaço

público, no exercício da profissão, na Junta de

Freguesia de Campanhã, Porto (distinguido e

condecorado pelo parlamento português), com

elevada mediatização nos meios de

comunicação social (nomeadamente na televisão

e rádio...).

Portanto, o ponto é (em meu entender) que a

articulação entre o Serviço Social e os Média,

será um tema no qual a classe profissional dos

Assistentes Sociais terá de refletir e investir a

partir de agora, em Portugal.

Biografia: Irene Ferreira é licenciada em Serviço Social pelo Instituto Superior de Serviço Social do Porto (ISSSP) e frequentou

a licenciatura em Ciências da Educação da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, da Universidade do Porto.

É mestre em “Estudos Sobre as Mulheres”, pela Uab- Universidade Aberta, Lisboa, e frequenta o curso de doutoramento, na área das Ciências da Comunicação. Profissionalmente, é Técnica Superior de Reinserção Social, na Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP).

Anteriormente exerceu funções de Assistente Social na Administração Regional de Saúde do Norte (ARSN), na área da Acção Social em serviços da Segurança Social, também no Norte e de Coordenação no contexto do 3º sector, em IPSS(s) a nível nacional, com intervenção em valências da comunidade

na área da infância e juventude, idosos e deficiência. Foi docente no Curso Superior de Serviço Social, no IPV-Instituto Politécnico de Viseu- ESTG, lecionando as cadeiras de Políticas Sociais (1º Semestre) e de Políticas Sociais Comunitárias (2º semestre). Orientou ainda estágios da área

do Serviço Social, provenientes das instituições de ensino superior: ISSSP e UTAD.

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ENTREVISTA POR INTERMÉDIO DO SNAS

(PORTUGAL) AOS ALUNOS DO 1º ANO DE

SERVIÇO SOCIAL DA FACULDADE TERRA

NORDESTE- FATENE (BRASIL)

Após os testemunhos, é possível comparar

algumas características do Serviço Social nos 2

países

FG- Sou licenciada em Serviço Social e vivo em Lisboa. Estou aqui para falar da profissão no meu país e responder ás perguntas d@s alun@s de Serviço Social da FATENE do estado do Ceará, Caucaia, Brasil, a convite da aluna Erilandia Nascimento. EN- Sou estudante de Serviço Social no Brasil.

FATENE - Porque escolheu Serviço Social como

profissão?

FG-De início escolhi sociologia, no sentido de

apreender dinâmicas sociais, como funciona a

sociedade, ter um conhecimento mais abrangente,

portanto abrangente do funcionamento da sociedade a

todos os níveis. Mas, por motivos de vocações

matemáticas, mais concretamente estatísticas, decidi

mudar, e para Serviço Social porquê? Porque aparte

englobar conhecimentos acerca das dinâmicas

sociais, é uma profissão mais prática, pois proporciona

aplicar na prática os conhecimentos adquiridos,

ajudando pessoas e a transformação social.

EN- Aqui no Brasil fiz um semestre em Psicologia,

mas não me identifiquei com a profissão e acabei por

mudar para Serviço Social, que é trabalhar com a

sociedade e garantir seus direitos.

FATENE - Como se processa em Portugal o estágio

em Serviço Social?

FG- Apenas posso referir-me à minha experiência pessoal, pois desconheço outras realidades académicas, ou seja, como as outras faculdades regulam os estágios. Do que posso falar é da minha experiência no ISCTE-IUL, pois o sistema de ensino

em Serviço Social ainda não está regulado em Portugal, as instituições de ensino não funcionam todas da mesma forma, cada uma delas adequa à sua maneira as formas de agir. O meu estágio teve início logo no 1º ano da licenciatura, contudo este plano de

estudos também já foi alterado, a minha instituição. No 1º ano o estágio resumia-se a observação, para ter um primeiro contacto com uma instituição (ver como as coisas funcionam, observar atendimentos a utentes, etc.). Como funcionam os estágios? Temos

um supervisor de estágio, que normal e obrigatoriamente tem de ser um profissional de Serviço Social (Assistente Social) e depois aparte isso, somos orientados na nossa instituição de ensino pelo nosso professor da cadeira de estágio. No final

de cada ano de estágio temos de fazer o nosso

relatório final, para sermos avaliados academicamente.

Como referi, o primeiro ano foi de observação, o segundo ano consiste na elaboração de um projeto de intervenção, numa determinada problemática que

seja do nosso interesse e que queiramos lutar por essa causa e o terceiro ano consiste na implementação desse projeto. Normalmente é aconselhável que um estudante fique na mesma instituição de estágio, desde o primeiro até ao

terceiro ano, por acaso não foi o meu caso, o terceiro ano fiz noutra instituição diferente, assim que já tinha feito um projeto direcionado para a área da saúde no segundo ano, e no terceiro ano como mudei de instituição fiz outro projeto diferente e

implementei-o. É assim que funciona mais ou menos.

EN- Sobre o estágio em Serviço Social, ainda não comecei a fazer, mas ele é supervisionado e obrigatório para o curso. É supervisionado por um professor e por um profissional no campo. Aqui é proibido estágio sem supervisão, todo o estágio é

obrigatoriamente supervisionado, senão não é considerado estágio. Em média aqui são três alunos/estudantes, para um profissional de Serviço Social. A instituição que fiscaliza o estágio é o Conselho Federal de Serviço Social.

FATENE - Quais as áreas de atuação profissional

do Assistente Social em Portugal?

FG- As principais áreas de atuação…existem

muitas. Os profissionais podem atuar na área da

justiça, da saúde, da doença mental, da deficiência,

da reinserção social, da segurança social, intervir

nas situações de pobreza, na área dos idosos. Eu

penso que serão todas as áreas, pois o Serviço

Social engloba todas as áreas da sociedade da

sociedade que dizem respeito aos indivíduos, tal

como será aí no Brasil.

EN- As principais áreas de atuação aqui no Brasil

também são na saúde, educação e na assistência.

FATENE - Qual foi seu primeiro emprego após a

graduação?

FG- O meu primeiro emprego foi o estágio

profissional no Sindicato Nacional dos Assistentes Sociais. Não sei como está aí a situação laboral, por vezes vejo notícias de que não existe emprego, pois aqui está exatamente na mesma. É difícil ter acesso ao emprego, não só nesta área, mas em

muitas outras.

FATENE - Que desafios para o exercício

profissional?

FG- Os desafios…eu vou basear-me numa entrevista que uma professora de Serviço Social

deu ao sindicato recentemente, e os desafios que nós vemos é conseguirmos a regulação da profissão. Não existe regulação nem da profissão,

13

nem do sistema de ensino e assim muitos

profissionais licenciados em ciências sociais e

humanas podem atuar no âmbito do Serviço Social,

e estes profissionais englobam quem: enfermeiros,

psicólogos, licenciados em ciência política, etc. E

hoje, até profissionais técnicos que não são

licenciados, também trabalham muitas vezes em

instituições e atuam na área do Serviço Social, por

vezes como Assistentes Sociais. O desafio a meu

ver passaria por os Assistentes Sociais unirem-se,

conseguirem a regulação da profissão e do ensino e

também direcionarem a sua atuação para situações

mais interventivas, acompanhando as lutas pelos

direitos sociais.

EN- Os desafios aqui no Brasil passam por vários

problemas sociais: violência, pobreza, e

principalmente no sistema penitenciário que é um

desafio muito grande, população carenciada e

saúde que está a passar por uma situação muito

difícil aqui no Brasil.

FATENE - Como a profissão é vista pelas pessoas?

FG- Em termos gerais as pessoas reconhecem por-

que é uma ocupação profissional histórica, atua na

expansão das políticas sociais e públicas. No

entanto como é sustentado por algumas perspetivas

teóricas da sociologia das profissões, existem estas

disputas profissionais como referi antes, em que

existem muitos outros profissionais a atuar nesta

área. Como não existe um estatuto jurídico

estabelecido para regular a profissão e nalguns

casos nem há proteção de tipo profissional, existem

conflitos e disputas e muitas vezes a profissão do

Assistente Social só é catalogada como “os maus

que tiram as crianças às famílias”, que cortam os

subsídios, etc.

EN- A profissão aqui é conhecida e contrariamente

a Portugal, só o serviço social atua na sua área, a

psicologia e a sociologia não intervêm muito aqui no

Brasil. O Serviço Social trabalha na Previdência e

em todo o lado, sem intervenção de outros

profissionais. A maioria dos profissionais aqui são

mulheres (cerca de 90%) e a maioria trabalha nas

instituições públicas. Onde mais empregam é na

saúde, assistência e na previdência social.

FATENE - Quantos profissionais estão a exercer?

FG- Nesse sentido, em Portugal, o número de Assistentes Sociais não é fácil de aferir, uma vez que não existem séries estatísticas oficiais sobre este grupo profissional. Os dados que recolhem acerca das licenciaturas já feitas apontavam para 14

000 profissionais até 2009. Mas, dados mais recentes, indicam que existem 18000 Assistentes Sociais em Portugal. Quanto a exercerem ou não,

não temos esses dados, ainda recentemente o sindicato quis fazer um inquérito online para aferir efetivamente o número de profissionais a exercer,

mas nem toda a gente responde, então não temos números exatos.

EN- Aqui aproximadamente somos 125 000

profissionais a exercer, segundo uma pesquisa.

FATENE - Qual a tabela salarial?

FG- Existem discrepâncias a nível salarial, aqui em

Portugal costuma dizer-se que existem Assistentes

Sociais de primeira, de segunda e até de terceira. O

que quer isto dizer? Os Assistentes Sociais que

trabalham no setor público têm um piso salarial na

ordem dos 1100 euros, e depois conseguem

progredir na carreira. Se formos para instituições

privadas o piso salarial já é inferior, por exemplo 900

euros e encontram-se muitas situações de

precariedade, Assistentes Sociais sem contrato de

trabalho, isto acontece mais nas empresas de apoio

domiciliário, onde muitas vezes estes profissionais

trabalham a recibos verdes. Depois temos as IPSS

(Instituições Particulares de Solidariedade Social),

que normalmente têm poucos fundos económicos,

pagam mal e sabemos que por vezes existem

Assistentes Sociais a ganhar equiparado ao

ordenado mínimo. É esta a realidade, porque

efetivamente não existe regulação, é essa a

questão. Daí a importância de lutar, e tem

vindo a ser de há uns anos a esta parte, a luta dos

Assistentes Sociais em Portugal, conseguir a Ordem

dos Profissionais de Serviço Social, porque seria

esta ordem profissional que regularia as questões

profissionais de acesso à profissão e o ensino,

enquanto que o sindicato luta pelas condições de

trabalho dos profissionais.

EN- O piso salarial aqui são 2000 reais (498.70€) e chega até aos 4000 reais (997.40€), e atuação do Assistente Social, é em média de 30 horas semanais.

FATENE - Aspetos positivos e negativos (se houver)

da profissão?

FG- Não se pode dizer que sejam aspetos positivos

ou negativos, são as carências que nós analisamos.

Vê-se que os Assistentes Sociais são pouco unidos,

não lutam muito, não se unem para obter

determinado tipo de direitos relativos à profissão e

sobretudo à sua regulação. Os Assistentes Sociais

desde há muitos anos que não lutam pela profissão

como foi com a luta pela licenciatura dos anos 70,

em que se criaram movimentos sociais e

conseguiram uma regulação da profissão. As

carências que eu vejo são estas, a desunião dos

profissionais.

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EN- Aspetos positivos: a área da saúde está a crescer muito. As Unidade de Pronto Atendimento (UPA) têm sempre uma Assistente Social. Os

aspetos negativos: as pessoas têm de ter conhecimentos de sociologia, teoria política, teoria filosófica, tudo isso está no nosso currículo profissional.

FATENE- Que mensagem deixaria para os

estudantes de Serviço Social?

FG- Também aqui me vou basear nas respostas da

professora Aida Ferreira numa entrevista recente:

lutem pela profissão e sua afirmação e sobretudo

pela dignidade, não deixando outros profissionais

exercer as nossas funções, porque o nosso saber

deve ser reconhecido. Nós já produzimos

conhecimento a nível de Serviço Social, não sei

bem como funciona aí no Brasil, já começa a existir

em Portugal produção científica em Serviço Social,

mas é recente, anteriormente estava ligada à

Sociologia, mas agora já começa a haver em

Serviço Social, é isto que nós devemos fazer, firmar

e afirmar a nossa profissão. E os Assistentes

Sociais que não vão pela via profissional, que vão

pela via do conhecimento, quer sejam profissionais,

quer sejam académicos, ou até aqueles que vão por

mestrado ou doutoramento, devem ter noção do

valor do seu próprio trabalho e da sua intervenção, e

principalmente partilhar o seu conhecimento. Dar a

conhecer o próprio trabalho, ligarmo-nos à

comunicação social, expandir a imagem do Serviço

Social e mostrar à sociedade que ela precisa de

nós, porque é o Assistente Social que dá a cara

todos os dias a atender os utentes em situação

fragilizada ou não, mas é o Assistente Social que

está ali a dar a cara para atender ás necessidades

das populações, seja para as encaminhar para as

respostas públicas, institucionais, seja para lhe dar

qualquer tipo de apoio, seja para os aconselhar, etc.

Obrigadas!

Fátima Garcia, licenciada em Serviço Social pelo ISCTE-IUL e mestranda em Serviço Social na

mesma instituição

Erilandia Nascimento, aluna do 1º ano do Curso de Serviço Social da Faculdade Terra Nordeste - FATENE

no Brasil

O novo conselho diretivo do ISS-Instituto da Segurança Social, tem como vogal: Sofia Borges Pereira, Assistentes Social (quadro superior e agora com cargo de dirigente naquela instituição).

É com grande orgulho que os Assistentes Sociais recebem esta informação e felicitam a colega Assistente Social, Sofia Borges Pereira, por integrar um cargo de destaque no MSSS, a quem desejamos também desde já boa sorte para o novo desafio!

Intervenção de Natércia Mirão, assistente social, no Congresso do PS, em defesa das políticas públicas do Estado Providência e da Ordem dos Assistentes Sociais.

O SNAS vem convidar @s Assistentes Sociais que

tenham interesse em contribuir para a visibilidade

do Serviço Social, “engrossando” a equipa

editorial do boletim SNAS, por via de textos

temáticos, artigos, testemunhos, etc.

Contamos consigo!

[email protected]

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SERVIÇO SOCIAL CRÍTICO EM TEMPOS DE DITADURA

Alcina Maria de Castro Martins

O Sindicato de Assistentes Sociais, Educadoras Familiares e outras Profissionais de Serviço Social é

criado em 1950, como organismo corporativo, subordinado ao Ministério das Corporações e

Previdência Social. O Alvará de 23 de Julho de 1950 aprova os estatutos deste Sindicato Nacional,

que segundo o Art. 3º, "renuncia a toda e qualquer forma de actividade, interna ou externa, contrária

ao interesses da Nação Portuguesa" e o Art. 4º, "subordina os seus interesses ao interesse superior

da economia nacional" e "repudia a luta de classes" (INTP, 1950: 395). A acção do sindicato nos anos

50 tem por base a realização de retiros — indicador da forte influência da Igreja Católica, reforçada

em 1951 pela filiação do sindicato à União Católica Internacional de Serviço Social (UCISS), seguindo

as suas orientações — a organização de acções de aperfeiçoamento profissional e a publicação, de

1956 a 1962, de catorze números da primeira revista de Serviço Social Português, "Cadernos de

Serviço Social - Boletim Trimestral das Trabalhadoras Sociais Portuguesas" (SNPSS, 1956 a 1962).

Nestes anos não existe qualquer iniciativa em prol da melhoria das condições de trabalho e de

remuneração destas profissionais. Com a "abertura sindical" de 1969-70 passa a ter lugar a "abolição

do sancionamento governamental dos dirigentes eleitos e, no plano da contratação colectiva, a

consagração da obrigatoriedade de negociar e o consequente estabelecimento de mecanismos de

resolução dos conflitos colectivos de trabalho". (BARRETO, 1990: 58). Neste contexto, as direcções

do Sindicato dos Profissionais de Serviço Social, de 1970 a 74 integram ou são constituídas por

profissionais, que se apresentam como independentes do poder vigente, tornando-se a intervenção

sindical um campo de luta política das assistentes sociais. Vão conceber e afirmar o serviço social

como profissão, procurando obter melhores condições de trabalho, decorrente da condição de

trabalhadoras. Iniciam uma efectiva acção sindical, participando na contratação colectiva de trabalho

e na regulamentação da profissão, em prol de um estatuto sócio-profissional que levasse ao

reconhecimento do serviço social pela sociedade portuguesa, não pela "vocação", "missão" e origem

de classe das primeiras assistentes sociais, mas pelo exercício profissional, qualificado e socialmente

útil.. Na íntegra.

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DA CRIAÇÃO DE UMA ORDEM PROFISSIONAL: A PERSPETIVA DOS ASSISTENTES SOCIAIS

Sandrina Oliveira Morim

Como refere Inês Amaro (2012:272) “a criação da Ordem Profissional poderá contribuir para o aumento

de sensação de reconhecimento e fornecer um ponto de abrigo securitário para os profissionais. Esta

entidade reguladora poderá também objetivar parâmetros a partir dos quais uma intervenção em

Serviço Social pode ser desenvolvida, ajudando os Assistentes Sociais a posicionarem-se com maior

segurança”.

As razões apontadas para o atual insucesso em vista à criação de uma Ordem Profissional, foi para a

maioria dos entrevistados por motivos internos e externos à profissão. A questão interna está

relacionada com a falta de associativismo e união por parte dos Assistentes Sociais, em se mobilizarem

por uma causa comum. A maioria dos entrevistados realçaram a fragmentação da classe profissional e

a falta de coesão, mas não apontaram formas de alterar e ou modificar essa situação. A questão

política está bem saliente no estudo empírico, bem como a importância da ação coletiva, como fatores

que justificam a não criação da Ordem. Todos os entrevistados fazem a ligação da profissão com as

políticas sociais na defesa de uma ordem societária mais justa. Assim, a intervenção direta e reflexiva

dos Assistentes Sociais na conceção e implementação de políticas sociais permitiria uma maior

adequação das mesmas ao público que pretende servir, e uma maior capacidade e visibilidade na

denúncia de situações que colocam em risco os direitos e a justiça social. Na íntegra.

16

O

UT

RA

S

Contacte-nos para obter mais informações

Constituição obriga Estado a ter “rede pública de educação de cobertura universal”

“Incumbe ao Estado uma cobertura universal por parte da rede pública de educação de modo a assegurar o acesso à educação de toda a sua população, sem prejuízo, naturalmente, como

também diz a Constituição, de reconhecer e fiscalizar o ensino privado e o ensino cooperativo.”

Portugal mantém a 4ª maior taxa de desemprego na UE

Os 12% registados em abril não são suficientes para arrancar Portugal da lista dos piores, sendo apenas ultrapassado por Gré-cia, Espanha e Croácia.

O Sindicato Independente dos Médicos

(SIM) vai solicitar a intervenção do primeiro-

ministro e dos partidos para o Governo

repor o pagamento a 100% do valor das

horas extraordinárias, uma revindicação

que poderá resultar numa greve dos

clínicos.

"Ao lado de um

médico chefe de

equipa que recebe

cinco euros a mais por

cada hora extraordi-

nária que faça pode

estar um profissional

sem qualquer tipo de responsabilidade e a quem

é pago 50 euros por essa mesma hora”.

Perseguição precária

Vivemos um tempo de grande desigualdade entre gerações. O rendimento dos jovens está a cair há 20 anos, em relação aos mais velhos.

A crise veio agravar este cenário. Hoje são as pensões que garantem a subsistência de muitas famílias.

ESTADO SOCIAL,

ASSISTÊNCIA SOCIAL E

PRECARIEDADE

LABORAL EM

PORTUGAL (1974-2015)

Raquel Varela

“ Andarei por aí no escuro. Estarei em toda a parte. Para onde quer que olhem. Onde houver uma luta para que os famintos possam comer, estarei lá. Onde houver um policial a espancar uma pessoa, estarei lá. Estarei nos gritos das pessoas que enlouquecem. Estarei nos risos das crianças quando têm fome e as chamam para jantar. E quando as pessoas comerem aquilo que cultivam e viverem nas casas que constroem, também lá estarei.”

Sede:

Rua do Instituto Conde Agrolongo, 41 B

Bairro do Alto da Loba

2770 - 082 Oeiras

Morada para envio de correspondência:

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A/C Secretariado

Largo Alferes Francisco Duarte, 12 - C

1170 - 008 Lisboa

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Tm: 93 792 3920

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