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EMBALAGEM NOS PRODUTOS DE ENVASE: FATORES QUE INFLUENCIAM NO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO Maurílio José dos Santos (UFPE) [email protected] Iara Margolis Ribeiro (FBV) [email protected] Jose Claudino de Lira Junior (FBV) [email protected] Mediante a constatação da grande utilização das embalagens pela sociedade atual e, seu poder de persuasão frente ao consumidor, o trabalho visa à compreensão dos interesses de quatro peças importantes para o desenvolvimento da embalagem: oss consumidores, a indústria de envase, a indústria de produção de embalagem e o setor de marketing. Para levantamento dos dados, buscou-se entender as motivações e influências que norteiam as tomadas de decisão do consumidor, bem como os fatores que levam a indústria ao desenvolvimento do projeto do produto, de acordo com o papel que a embalagem está assumindo. Desta forma, foram identificados fatores que interferem na tomada de decisão nas visões das quatro categorias mencionadas. Para tal análise, utilizou-se um dos Métodos Multicritério de Apoio à Decisão, o AHP (analytic hierarchy processes), para aplicação no estudo de casos, na seleção de uma embalagem, de acordo com os fatores levantados. Ao final deste estudo, fica evidenciado que a embalagem assume um papel importante quanto ao desenvolvimento socioeconômico e comercial referente aos produtos de envase, merecendo uma análise especial quanto ao critério de desenvolvimento do design da embalagem, bem como seus custos. Palavras-chaves: embalagem, tomada de decisão, fatores, design XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

EMBALAGEM NOS PRODUTOS DE ENVASE: FATORES QUE …abepro.org.br/biblioteca/enegep2010_TN_STO_117_764_17567.pdf · O consumo de embalagens pela sociedade atual é crescente. Além de

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EMBALAGEM NOS PRODUTOS DE

ENVASE: FATORES QUE

INFLUENCIAM NO PROCESSO DE

TOMADA DE DECISÃO

Maurílio José dos Santos (UFPE)

[email protected]

Iara Margolis Ribeiro (FBV)

[email protected]

Jose Claudino de Lira Junior (FBV)

[email protected]

Mediante a constatação da grande utilização das embalagens pela

sociedade atual e, seu poder de persuasão frente ao consumidor, o

trabalho visa à compreensão dos interesses de quatro peças

importantes para o desenvolvimento da embalagem: oss consumidores,

a indústria de envase, a indústria de produção de embalagem e o setor

de marketing. Para levantamento dos dados, buscou-se entender as

motivações e influências que norteiam as tomadas de decisão do

consumidor, bem como os fatores que levam a indústria ao

desenvolvimento do projeto do produto, de acordo com o papel que a

embalagem está assumindo. Desta forma, foram identificados fatores

que interferem na tomada de decisão nas visões das quatro categorias

mencionadas. Para tal análise, utilizou-se um dos Métodos

Multicritério de Apoio à Decisão, o AHP (analytic hierarchy

processes), para aplicação no estudo de casos, na seleção de uma

embalagem, de acordo com os fatores levantados. Ao final deste

estudo, fica evidenciado que a embalagem assume um papel importante

quanto ao desenvolvimento socioeconômico e comercial referente aos

produtos de envase, merecendo uma análise especial quanto ao critério

de desenvolvimento do design da embalagem, bem como seus custos.

Palavras-chaves: embalagem, tomada de decisão, fatores, design

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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1. Introdução

O consumo de embalagens pela sociedade atual é crescente. Além de pertencerem a um

mercado de extrema importância econômica e social, elas têm grande poder de persuasão

perante o consumidor. Este trabalho tem a finalidade de compreender os fatores relevantes

que influenciam a tomada de decisão perante a cadeia de suplementos da embalagem. A

saber: os consumidores, a indústria de envase, a indústria de produção de embalagem e o setor

de marketing. Para levantamento dos dados, buscou-se entender as motivações e influências

que norteiam as tomadas de decisão do consumidor, bem como os fatores que levam a

indústria ao desenvolvimento do projeto do produto, de acordo com o papel que a embalagem

vem assumindo. Desta forma, foram identificados fatores que interferem na tomada de

decisão nas visões dos quatro atores mencionados. Para tal análise, foi utilizado o Método

Multicritério de Apoio à Decisão, AHP (Analytic Hierarchy Processes), em um estudo de

caso, visando selecionar uma embalagem, de acordo com os fatores levantados. Ao final desta

pesquisa, ficou evidenciado que a embalagem tem um papel importante, no desenvolvimento

socioeconômico dos produtos de envase, merecendo uma análise especial, quanto ao

desenvolvimento do seu design e dos seus custos. Entretanto, não subestimando a qualidade

do produto adquirido. Como também a forte influência e ligação entre a Produção e o

Mercado.

2. Embalagem primária nos produtos de envase

No início do século XX, Ford inovou com a produção em massa. Na Primeira Guerra

Mundial, para suprir as necessidades de logística de distribuição de alimentos, houve um

grande crescimento no uso de embalagens individuais. Na década de 1950, a Guerra Fria

provocou uma disputa pelas viagens espaciais e levou o mundo a ter uma obsessão pela

ficção científica e pelo consumismo. Ainda neste período, os Estados Unidos inventaram a

obsolescência planejada, a qual foi decisiva para o aumento das vendas na indústria

automobilística.

Focando nas embalagens, segundo a Associação Brasileira de Embalagem (ABRE), as

primeiras embalagens surgiram há mais de dez mil anos, com o objetivo de se beber ou de se

estocar. Eram materiais utilizados em seu estado natural, como as cascas de coco. Com o

tempo, passaram a ser produzidas artesanalmente, como as tigelas de madeira, de barro, de

fibras naturais e as bolsas de peles de animais.

Com a evolução, as funções da embalagem foram aperfeiçoadas e, consequentemente, se

tornaram mais complexas. Essas novas funções possibilitam a sociedade a manter o seu atual

estilo de vida, tornando-se indispensáveis, e gerando estudos específicos, como a Engenharia

da Embalagem.

Ainda segundo a ABRE, destaca-se a descoberta, no século I d.e.c. (depois da era comum),

pelos artesãos sírios/fenícios, do vidro fundido soprado, o qual passou a ser a primeira

matéria-prima usada para produção em grande escala. Essa técnica resultava em variadas

formas e tamanho de recipientes.

No século XVIII, os ingleses mudaram o comportamento e a tendência mundial com a

Revolução Industrial. Ela acelerou o avanço tecnológico e, por conseguinte, o

desenvolvimento e a complexidade das embalagens.

Já no Brasil, apenas em 1808, com a chegada da família real, foi permitido o funcionamento

3

de fábricas e manufaturas. Depois, com a abertura dos portos, as importações e exportações

tiveram tanta receptividade na “nova terra”, que em 1907, já existiam mais de três mil

estabelecimentos industriais nacionais (NEGRÃO; CAMARGO, 2008, p. 25).

Os metais (cobre, ferro e estanho) também tiveram sua importância neste tema. Apenas nos

tempos modernos, como no caso das latas de estanho utilizadas pela Marinha Inglesa (século

XIX), e dos enlatados, que surgiram aproximadamente na década de 30, do mesmo século.

Sua popularização, entretanto, se deu apenas com a Segunda Guerra Mundial.

Isto evidencia o ciclo da evolução da humanidade, com as necessidades de se investir na

busca por novas soluções, bem como em novos materiais e produtos. Um novo cenário é

formado, e, portanto, surgem novas tendências e necessidades.

Todos esses fatores históricos refletem na situação social atual, onde as embalagens vêm se

destacando e se tornando vitais para o desenvolvimento da sociedade moderna. Este produto

tem permitido ampliar a logística de distribuição do mercado e chegar à globalização que o

mundo vive atualmente.

Segundo pesquisas da POPAI Brasil (2004 apud Negrão ; Camargo, 2008, p. 60), 81% das

decisões de compra são tomadas pelo consumidor no ponto de venda. O Jornal do Acrílico

(2009, p. 5) realizou uma pesquisa e descobriu que o impulso da compra ocorre,

aproximadamente, em doze milésimos de segundos, e que 70% dos consumidores afirmam

conscientemente que os displays fazem a diferença. Diante destes fatos, a embalagem

necessita atrair a atenção do consumidor em apenas 20 décimos de segundos (NEGRÃO;

CAMARGO, 2008, p. 62).

A embalagem tem uma interferência direta na geração de empregos formais, participando com

um com faturamento em bilhões de reais, sendo um item importante na formação do Produto

Interno Bruto (PIB).

Uma particularidade dos produtos envasadosé a necessidade que eles têm de uma embalagem

para possibilitar sua comercialização. E, em muitos casos, a embalagem é principal, ou único

meio, de comunicação entre o consumidor e o produto (empresa).

Por sua ampla aplicação, a embalagem tem sido subdividida, de acordo com suas funções.

Neste trabalho, foram analisados produtos cujas embalagens permitem a comunicação direta

com os consumidores, ou clientes.

Os seguintes fatores contribuem para o fortalecimento das embalagens no mercado.

a) A embalagem está presente em todo o processo da cadeia logística. Desde a matéria

prima, à reutilização ou seu reuso. Isto faz com que haja uma ligação estreita com o

desenvolvimento do produto e da marca. Com a obtenção da matéria prima. Com a

fabricação. Com a comunicação com o cliente e com o posicionamento da marca e do

produto na mente dos consumidores;

b) A comunicação direta e intensa com o cliente ou consumidor. Ela atua facilitando a

venda, e tem um diferencial competitivo, em diversos momentos;

c) Facilita a identificação do produto e fornece as suas informações mais detalhadas;

d) Auxilia no uso do produto;

e) Cria e fortalece a imagem do produto;

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f) Permite o fracionamento desejado aos objetivos traçados;

g) Contribui para a popularização do produto;

h) Auxilia no posicionamento, e no reposicionamento, da marca e do produto;

i) Auxilio no ciclo de vida do produto;

j) Contribui para o estabelecimento de preço;

k) Valoriza o produto, podendo contribuir para aumentar as suas margens de lucro.

Diante dos fatores apresentados, parte-se do protótipo do projeto ao produto final, com a

finalidade de se ter o menor risco e alcançar a maior lucratividade possível. Isto possibilita

exemplificar, em termos de organizações ou pessoas envolvidas: a empresa de comunicação e

publicidade, responsável pela elaboração e decisão da idéia, a qual é alimentada pelos

consumidores. A empresa responsável pela produção da embalagem, e a de envase do

produto.

O questionamento é: quais fatores norteiam o processo de tomada de decisão?

Pode-se relacionar os seguintes:

a) A comunicação e as informações contidas nas embalagens. Este fator representa tanto

as informações legais quanto as necessárias para o consumidor sobre o produto ou

comunicação da empresa para o consumidor, através do produto, de acordo com sua

estratégia;

b) Os custos. Uma das representações da marca define o público e o quanto o consumidor

está disposto a pagar por toda a concepção do produto;

c) O design é a verdadeira razão da existência do produto de envase. Ele atribui as

características ao produto. O consumidor irá se referir ou procurar aquela

característica, na próxima compra.

d) A ergonomia da embalagem facilita a interação entre o consumidor e o produto. Ela

pode ser um diferencial importante para dar conforto e adaptação ao usuário;

e) A influência social se refere ao status, ao envolvimento psicológico (emocional e

cognitivo) e às influências sociais, sejam elas da família, da mídia, dos amigos, do

trabalho, da religião, etc.;

f) A marca é uma representação simbólica. Ela transmite valor ao produto.

g) A matéria-prima utilizada na embalagem pode agregar valor ao produto, de acordo

com os níveis do ciclo de Levitt, desde o central ao ampliado;

h) A proteção ao meio ambiente. A preocupação com a sustentabilidade, com a ecologia,

conscientizando à empresa e ao consumidor;

i) A qualidade, a segurança e a confiabilidade.

Para Barbosa (2009, p. 124), a embalagem tem interações com diversos canais de distribuição

e pessoas, até sua chegada ao consumidor final, servindo como indicador da dinâmica da

economia nacional. Segundo Negrão e Camargo (2008, p. 15), quase 70% dos produtos

comercializados atualmente utilizam embalagem. Outro dado ressaltado pelos autores, é o

auxílio do supermercado para alavancar a importância deste tema. Eles afirmam que no

Brasil, esse tipo de comércio corresponde a 82% do varejo. Graças à “embalagem

5

vendedora”, foi viabilizada a redução de 30% do custo da venda.

Outro aspecto importante a ser analisado, e enfatizado, é o alinhamento da sutil diferença

entre os conceitos de preço e valor. A primeira está mais relacionada ao custo da peça

unitária, o merecimento; a segunda, a algo mais subjetivo, a importância determinada pelo

usuário. Inserido neste contexto, é viável a compreensão da aquisição de um produto para as

mesmas funções com preços destoantes.

Para Eustachio (2001 apud Negrão; Camargo, 2008, p. 70-71), há uma tendência equivocada

em relação ao comportamento do consumidor cuja procura é por preços baixos. Equivocada,

devido ao simples fato de que, se fosse verdadeira, os produtos de marca, valor e que

fornecem status à estima, estariam no estágio de declínio. O autor prossegue afirmando que o

culpado é o revendedor, cujo interesse de produtos cada vez mais baratos é constante. Conclui

mostrando dois cenários: o criado pelo revendedor e o outro determinado pela relação do

consumidor com as marcas, em que o preço e o valor são aspectos diferentes.

Barbosa (2009, p. 79) informa que o conceito de valor pode ser econômico, político, social,

estético, religioso e jurídico. Quando analisado o valor econômico, deve ser ponderado desde

o momento de satisfação na aquisição, até no ato de se desfazer do bem adquirido.

Negrão e Camargo (2008, p. 35) auxiliam na análise informando que, quando se pensa em

economizar, não se deve pensar apenas em redução de custos na embalagem, sem levar em

conta a percepção do cliente, pois, muitas vezes ele está disposto a pagar pela beleza e pela

qualidade. O que significa que a percepção do cliente perante o produto ou a marca é um fator

determinante e, por este motivo, deve ser analisado.

Desta forma, é importante analisar quais são as relações entre cliente, valores e produtos.

Csillag (1995, p. 61 apud Barbosa, 2009, p. 80) compreende a situação ao dividir quatro

categorias de atribuição de monetarização:

• O valor de custo – referente ao total de recursos monetários;

• O valor de uso – referente à medida monetária das propriedades ou qualidade do

desempenho de uso;

• O valor de estima – que diz respeito à medida monetária das propriedades, características ou

atratividades que tornam desejável a sua posse;

• O valor de troca – cuja medida monetária das propriedades ou qualidades que desperte o

interesse de troca por outro bem.

Vale salientar que “[...] os materiais que mais chamam a atenção dos consumidores são

aqueles que apresentam o preço do produto.” (NEGRÃO; CAMARGO, 2008, p. 62).

Para finalizar, a importância em entender o mercado e os interesses, muitas vezes ocultos, dos

clientes para se chegar na tão importante e almejada tomada de decisão de como será o

produto final, é crucial para a diminuição dos riscos. Negrão e Camargo (2008, p.123)

concluem que o processo projetual tem dois grandes objetivos: evitar o comportamento

equivocado e fundamentar as decisões com fatos concretos.

Em relação ao procedimento adotado, Hillier e Liberman (2006, p. 662) afirmam que a análise

de decisão fornece uma estrutura e metodologia para a tomada de decisão mais racional.

No caso do presente trabalho, a embalagem está no contexto de várias variáveis e interesses

divergentes, entre os papéis assumidos por cada segmento da cadeia de valor, exigindo assim,

ferramentas que minimizem os riscos e auxiliem o desfecho desta situação.

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Segundo Gama et al (2008, p. 35), a teoria de decisão é composta por:

• Decisor – responsável pela tomada de decisão, podendo ser um indivíduo ou um grupo;

• Alternativa viável – estratégia que pode ser adotada pelo decisor;

• Critério – propriedade ou variável das alternativas avaliadas;

• Atributos – valor do desempenho das alternativas mediante os critérios;

• Tabela de retorno – valores a serem retornados pelas alternativas.

Com o envolvimento de toda a cadeia, cada detalhe do produto deve ser avaliado e analisado

onde encontrar uma vantagem competitiva. Entretanto, deve-se tomar cuidado para não

demandar mais do que o necessário. Segundo Barbosa (2009, p.56) “[...] o paradoxo da luta

entre o excesso de recursos, a criatividade e a real necessidade do usuário”, ou seja, a

adequação da tecnologia e da complexidade da solução. Mais adiante (2009, p.58), o autor

enfatiza que vivemos em um mundo de normas socioculturais, e para cada um a importância

da estética é definida a partir de conceitos subjetivos de valores estabelecidos no contexto que

ele vive.

Barbosa (2009, p. 72) conceitua o produto em quatro elementos básicos:

• A forma – as características físicas do produto;

• O propósito – define a necessidade ou aplicação cujo deve corresponder;

• Os benefícios – as vantagens em razão da expectativa;

• A função – a interface usuário-produto-usuário, ou seja, funcionamento do produto ou

interação das duas partes.

O mesmo conceito pode ser utilizado para a embalagem primária, uma vez que ela detém

desses quatro conceitos. Entretanto, a embalagem deve estar conectada ao „seu‟ produto e às

„suas‟ premissas.

A conclusão pode ser enfatizada segundo Negrão e Camargo, na qual afirmam:

Não podemos nos esquecer que não compramos a embalagem, mas o produto que

ela contém. Não ficamos satisfeitos ao adquirir um produto sem condições de

consumo, mesmo que ele esteja em uma embalagem maravilhosa. (NEGRÃO;

CAMARGO, 2008, p. 211)

Em outros termos, independente dos fatores, sejam eles internos ou externos, não se pode

esquecer o real propósito do produto. A embalagem é um incentivador, um facilitador e um

diferenciador, entretanto, não o produto.

3. Metodologia adotada

Diante destes nove critérios apresentados, foi formada uma comissão para pesquisar a

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importância deles. Ela foi constituída pela analise de quatro segmentos:

• Consumidor – por ser o foco principal de atração das empresas atualmente, visando a

demanda para as ofertas existentes. Pela sua importância, foi dado um peso maior a esta

categoria, pesquisando, assim, dois consumidores. Sendo eles da classe C e A/B, uma vez que

a primeira representa a movimentação econômica do mercado e a segunda, as suas exigências;

• Marketing – o setor, ou a empresa, que desperta o desejo e as necessidades, bem como

informa ao consumidor alvo a existência do produto. Participou da pesquisa uma das 3

maiores empresa de marketing e comunicação da cidade do Recife;

• Empresa de envase – a outra parte da negociação, cujo oferece o produto visando melhor

competitividade e fidelização dos clientes, para maiores lucros e permanência no mercado.

Neste caso, foi pesquisada uma indústria de envase pertencente a uma das 5 maiores

multinacionais do mundo, localizada no Estado de Pernambuco

• Empresa produtora da embalagem – fornecedora da empresa de envase. Sendo, uma das 5

maiores indústria de embalagens do Brasil, também localizada no Estado de Pernambuco;

Isto resultou em uma parcela significativa para as decisões analisadas. A pesquisa seguiu o

método Analytic Hierarchy Process (AHP).

Os quatro elementos se ligam no sistema, conforme a figura abaixo, onde a empresa de envase

compra a embalagem do fornecedor, processa, envasando o produto, aciona o marketing para

seguir suas estratégias e conquistar o consumidor. Como pode ser analisados nas figuras a

seguir:

Figura : Perspectiva Corporativa

(Fonte: DAVIS, 2001)

Bem como:

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Figura: A cadeia de valor e suas funções de apoio.

(Fonte: DAVIS, 2001)

Ambas demonstram a ligação e a interdependência entre a cadeia de valor. Nas quais devem

partir de um protótipo, passar por um projeto e chegar ao produto, como melhor ilustrada:

De acordo com esses quatro elementos, deverão ser definidas as características desejáveis.

Figura: Elementos formadores do conceito do produto

(Fonte: BARBOSA, 2009)

O método utilizado consiste na comparação das características, conforme está apresentado na

Tabela 1, a seguir:

Intensidade de

importância

Definição

Explicação

1 Mesma importância Duas atividades contribuem igualmente para o

objetivo

3 Importância pequena de uma

sobre a outra

A experiência e o julgamento favorecem levemente

uma atividade em relação à outra

5 Importância grande ou essencial A experiência e o julgamento favorecem

fortemente uma atividade em relação à outra

7 Importância muito grande ou

demonstrada

Uma atividade é fortemente favorecida, sua

dominação de importância é demonstrada na

prática

9

9 Importância absoluta A evidência favorece uma atividade em relação à

outra com o mais alto grau de certeza

2,4,6,8 Valores intermediários Quando se deseja maior compromisso

Tabela1 : Escala de intensidade, definida por Saaty (1991)

(Fonte: adaptado de GAMA et al, 2008)

O método consiste na montagem de uma matriz quadrada, cujos critérios se confrontam,

conforme a Tabela 2 abaixo.

Critério A1 Critério A2 ... Critério An

Critério A1 a11 a12 ... a1n

Critério A2 a21 a22 ... a2n

... ... ... ... ...

Critério An an1 an2 ... ann

Tabela2 : Modelo de matriz

(Fonte: adaptado de GAMA et al, 2008)

A aplicação do método está resumido na Figura 1, a seguir:

Figura 1 : Esquema hierárquico de decisão

(Fonte: adaptado de Gama et al, 2008)

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Para a escolha dos consumidores, foi utilizada a pesquisa da FGV:

Figura 2 : Representação do consumo por categoria

(Fonte: adaptado da pesquisa da FGV-SP, realizada por Marcos Pazzini em 2005).

Para os dados foi selecionado a categoria de higiene pessoal, com o produto desodorante, por

ser um produto de envase e, uma vez que o mesmo é utilizado por quase todas, se não todas,

as classes da sociedade. Bem como é um produto em comum das organizações pesquisadas.

Desta forma, foi retirado do auto-serviço Pão de Açúcar, acessado no dia 2 de dezembro de

2009, às 15:05 hrs, o valor de cinco produtos similares, os quais utilizam embalagem

primária.

Os produtos apresentados podem ser exemplificados na figura abaixo:

PRODUTO A PRODUTO B PRODUTO C PRODUTO D

Pro

du

to

Dados R$ 8,41 55 g R$ 6,25 55 g R$ 7,01 50 ml R$ 5,50 50 ml

Figura 3: Mostruário dos produtos para a pesquisa

Pode-se observar que estes produtos aparentemente pertencem à duas marcas diferentes,

entretanto pertencem à mesma empresa, funcionando, assim, como multimarca. A empresa

“chefe” compartilha as percepções entre suas submarcas, como a qualidade atribuída a todas

elas; entretanto, cada uma se destina a públicos diferentes.

De acordo com a tabela, pode-se analisar:

• De acordo com a marca “chefe”: há dois tipos de embalagens, com aproximadamente o

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mesmo volume, uma de cada marca. O valor atribuído ao desodorante;

• De acordo com as marcas, divergindo as embalagens:

○ Marca X : o produto C é 16,65% mais barato que o produto A;

○ Marca Y : o produto B é 12,00% mais caro que o produto D;

• De acordo com as embalagens, divergindo as marcas:

○ Embalagem 50 g : a embalagem B é 25,58% mais barata que a embalagem A;

○ Embalagem 55 ml : a embalagem D é 21,54% mais barata que a C.

Conclui-se, então, que o valor de troca é o valor de uso adicionado ao valor de estima. A

figura a seguir, demonstra as diferentes visões que as duas partes vitais de uma negociação

possuem. Pelo lado da empresa, ela visa à lucratividade e o custo, enquanto lado do

consumidor avalia o preço, a quantidade, as funções e a qualidade desempenhadas pelo

produto. De acordo com essas diferentes visões, se determina o valor, tendo em vista o

cuidado com a imagem da marca, como mencionado anteriormente.

Figura Erro! Nenhum texto com o estilo especificado foi encontrado no documento..1 : As diferentes

dimensões apreciadas na formação da percepção do valor pela empresa e pelos consumidores

(Fonte: BARBOSA, 2009)

Assim, quando analisados os cinco produtos, percebe-se que o valor estético resulta em

aumento do valor econômico, como é o caso dos produtos mais caros com a mesma

embalagem, A e B, em segundo plano o produto E, com embalagem diferenciada, e os outros

dois com embalagens mais simples, e preços mais accessíveis, nesta comparação. Como há

existência de públicos-alvos diferentes, as embalagens se adaptaram a cada um deles.

Devido à dificuldade dos pesquisados, os dados foram concatenados em uma matriz de acordo

com a hierarquia estabelecida por eles e enviado para validação, obtendo a matriz necessária

para aplicação do método AHP, conforme demonstra a Tabela 6.6. Como também a

montagem da matriz dos produtos, confrontado produto por produto de acordo com cada

critério, como demonstrado na Tabela 3.

Ressalta-se que, nos dois casos, foi analisado o percentual de inconsistência, que deve ser

menor que 10%. No exemplo mencionado, a matriz de critérios (Tabela 3) resultou no em

5,881% de inconsistência nos dados e a matriz dos produtos (Tabela 4) 1,98% de

inconsistência.

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INFLUENCIA

SOCIAL DESIGN MARCA

USABILIDADE

/

ERGONOMIA

COMUNICAÇÃO

E

INFORMAÇÕES

MATÉRIA

PRIMA

QUALIDADE

/

SEGURANÇA

MEIO

AMBIENTE CUSTOS

INFLUENCIA

SOCIAL 1 1/8 1/2 1/3 2 1/5 1/6 1/4 1/7

DESIGN 8 1 7 6 9 4 3 5 2

MARCA 2 1/7 1 1/2 3 ¼ 1/5 1/3 1/6

USABILIDADE

/

ERGONOMIA

3 1/6 2 1 4 1/3 1/4 1/2 1/5

Comuicação e

informações 1/2 1/9 1/3 1/4 1 1/6 1/7 1/5 1/8

Matéria-prima 5 1/4 4 3 6 1 1/2 2 1/3 QUALIDADE /

SEGURANÇA 6 1/3 5 4 7 2 1 3 ½

MEIO

AMBIENTE 4 1/5 3 2 5 ½ 1/3 1 ¼

Custos 7 1/2 6 5 8 3 2 4 1

Tabela 3 : Exemplo de matriz AHP referente aos critérios

PRODUTO A PRODUTO B PRODUTO C PRODUTO D

PRODUTO A 1 1/3 2 1/2

PRODUTO B 3 1 5 3

PRODUTO C 1/2 1/5 1 1/3

PRODUTO D 2 1/3 3 1

MARCA

1,98%

% DE

INCONSISTÊNCIA

Tabela 4 : Exemplo da matriz AHP referente aos produtos.

4. Análise dos dados

Atribuindo pesos iguais para cada direcionador, entretanto não as categorias, uma vez que há

dois consumidores. O critério qualidade teve a maior relevância, seguido do design da

embalagem, custo, marca, influência social, ergonomia, meio ambiente, matéria-prima e

comunicação e informação, como está apresentado na Tabela 6.10, a seguir .

GERAL

Qualidade 22,01%

Design 19,20%

Custos 13,50%

Marca 13,01%

Influência Social 10,85%

Usabilidade / Ergonomia 6,80%

Meio Ambiente 5,13%

Matéria Prima 4,78%

Comunicação e Informações 4,72%

Tabela.3 : Resultado da pesquisa, relacionada aos critérios.

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Em relação aos produtos, pode-se concluir que o Produto B foi o que obteve a melhor

avaliação, segundo a Apoio a Múlticritério de Decisão (AMD) realizada, seguido do produto

D, ambos das da mesma marca.

PRODUTOS GERAL

PRODUTO B 28,49%

PRODUTO D 25,70%

PRODUTO C 24,06%

PRODUTO A 21,75%

Tabela.4 : Resultado da pesquisa, relacionada aos produtos.

É importante frisar que os produtos A e B têm características e qualidades diferentes dos

produtos C e D. Os produtos A e C são de uma marca de status “superior” à dos produtos B e

D, entretanto, os dois primeiros colocados, foram, respectivamente, os produtos B e D, sendo

B, o de com maior valor agregado.

Quando se refere aos critérios, o design, ergonomia e comunicação estão ligados, apenas, às

embalagens, uma vez que os produtos estudados são os de envase.

5. Conclusões

O estudo de caso realizado obteve como segundo mais importante o item design da

embalagem para o produto de envase, apenas 2,81% a menos que a qualidade do produto.

Este dado demonstra a relevância do tema perante a cadeia de valor, com a ênfase que a

embalagem agrega valor na percepção dos segmentos analisados.

Como mencionado na conclusão da pesquisa, três itens estão diretamente ligados às

embalagens: o design, a ergonomia (usabilidade) e a comunicação e informação contida, uma

vez que o produto é de envase. Assim, a participação absoluta dos critérios da embalagem tem

a soma de 30,72% da visão do produto, pois nos demais critérios, a embalagem também tem

influência.

Desta forma, pode-se concluir que a embalagem tem um papel muito importante quanto ao

desenvolvimento socioeconômico, bem como no poder persuasão do cliente, e estratégias

adotadas pela empresa, merecendo uma atenção especial na elaboração, o design e o custo do

produto, para torná-lo mais competitivo.

Outra conclusão atribuída a pesquisa é o reforço da interdependência dos componentes de

toda a cadeia, uma vez que as decisões são baseadas nos consumidores e os consumidores se

baseiam nos produtos existentes no mercado para seus futuros desejos e expectativas. Nas

quais nortearão os próximos passos do mercado, criando um ciclo.

Neste ciclo, a embalagem é um grande facilitador, motivador e link entre todo o processo,

projeto e cadeia.

Referências

A ARTE DE SEDUZIR A 100 KM/H. Jornal do acrílico, São Paulo, n.44, jul/ago 2009, p.5. Disponível em:

<http://www.indac.org.br/jornais/jornal44.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2009.

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