44
i UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo AUTOR: Pedro de Menezes Reis DIREITO PROCESSUAL CIVIL Orientador Prof. Dr. Jean Alves Pereira Rio de Janeiro 2007

Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

i

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Embargos de Declaração

Com

Efeito Modificativo

AUTOR: Pedro de Menezes Reis

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Orientador

Prof. Dr. Jean Alves Pereira

Rio de Janeiro

2007

Page 2: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

ii

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Embargos de Declaração com

Efeito Modificativo

por

Pedro de Menezes Reis

Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes, para a obtenção do título de Pós-Graduação em Direito Processual Civil.

Page 3: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

iii

DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia aos meus amados pais,

Regina Lúcia de Menezes Reis e Carlos Humberto

Reis Neto.

Page 4: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

iv

S U M Á R I O

Introdução ............................................................................ 05

1 – Surgimento dos embargos de declaração ............................... 07

2 – Aspectos gerais do instituto ................................................... 09

3 – Defeitos do julgado ................................................................ 12

4 – Cabimento ............................................................................ 15

5 – Juízo de admissibilidade e juízo de mérito ............................. 16

6 – Julgamento ........................................................................... 18

7 – Efeito interruptivo dos embargos de declaração .................... 22

8 – Embargos de declaração protelatórios ................................... 26

9 – Embargos de declaração em embargos de declaração ........... 28

10 – Prequestionamento .............................................................. 30

11 – Efeito modificativo ................................................................ 34

12 – Conclusão ............................................................................ 39

Bibliografia .................................................................................. 41

Page 5: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

5

INTRODUÇÃO

A Constituição Federal, para promover a paz e o bem-estar ao

maior número de cidadãos possível, confere ao Estado a função jurisdicional,

cabendo aos órgãos do Poder Judiciário aplicar a lei e dirimir os conflitos de

interesse. O processo civil será o instrumento que viabilizará o exercício da

jurisdição.

Muito embora o Estado exerça a jurisdição, os jurisdicionados não

estão livres da adoção de medidas arbitrárias pelo Poder Público, nem que

sentenças sejam proferidas sem a observância da ampla defesa e do devido

processo legal. Por isso, uma das formas de os jurisdicionados fiscalizarem a

atividade judicante será pela análise crítica da fundamentação das decisões

judiciais.

O princípio que impõe ao Judiciário o dever de fundamentar suas

decisões está consagrado no inciso IX, do art. 93 da Constituição Federal. Já o

Código de Processo Civil, no seu art. 458, impõe, como um dos requisito de

validade das sentenças, que elas contenham a motivação ou fundamento, onde

devem ser expostas as bases lógico-jurídicas do julgamento, bem como a

confrontação entre os fatos narrados pelas partes e os dispositivos legais

pertinentes ao caso.

A fundamentação das decisões tem grande importância porque os

cidadãos somente terão segurança, dentro da sociedade em que vivem, se

observarem que as decisões judiciais prestigiam os princípios e valores

enaltecidos pela coletividade, ou seja, a tranqüilidade social tem lugar quando

os pronunciamentos dos magistrados são exaustivamente fundamentados.

Page 6: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

6

A nossa Lei Adjetiva oferece aos jurisdicionados alguns recursos1

para corrigir as decisões defeituosas, injustas, imprecisas, contraditórias ou

omissas.

Um dos instrumentos existentes em nosso ordenamento

processual são os Embargos de declaração. O efeito modificativo, que tal

recurso pode oferecer à decisão judicial, será o objeto da presente monografia.

Quer pelo fim a que se destina, quer pelo resultado que dele pode

ser obtido pela parte recorrente, os embargos de declaração despertam grande

interesse dentre os processualistas, porque auxilia as partes a sanar qualquer

contradição, obscuridade ou omissão na decisão prolatada pelo órgão judicial,

possibilitando o esclarecimento ou a integração da decisão embargada.

Em determinadas situações, o juiz pode, além de suprimir a

omissão ou a contradição no julgado, ou havendo manifesto equívoco no

exame de pressupostos extrínsecos do recurso, modificar a decisão

embargada.

Será apresentado, primeiramente, o conceito, os objetivos e as

principais características, para, depois, ser feita um digressão sobre o efeito

modificativo. Além disso, ao longo de toda exposição, serão destacadas as

opiniões de consagrados juristas, bem como o posicionamento dos Tribunais

através da seleção de julgados.

1 Recurso é, na definição do BARBOSA MOREIRA, “o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna”. (Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, p.207)

Page 7: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

7

CAPÍTULO 1

SURGIMENTO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

Não é concebível que exista dúvida em qualquer decisão judicial.

Ao juiz não é lícito deixar de pronunciar-se, sob a justificativa de não ter

formado uma convicção segura, nem limitar-se, no pronunciamento, a dizer que

não conseguiu formá-la.

A dúvida que pode ocorrer estará em quem, ouvindo ou lendo o

teor da decisão, não logre apreender-lhe bem o sentido. Logo, a dúvida será

uma conseqüência da obscuridade ou da contradição existente no julgado, por

isso os embargos de declaração já eram previstos nas Ordenações Afonsinas

(1446), Manuelinas (1512) e Filipinas (1603). Havia, naquelas normas, a

possibilidade de o juiz reparar a sentença definitiva quando houvesse dúvida,

palavras “escuras ou intricadas”2.

O Regulamento 727 de 1850, já previa em nosso ordenamento

jurídico os embargos de declaração para sanar obscuridade, ambigüidade,

contradição ou omissão da sentença.

Alguns códigos de processo regionais também previam os

embargos de declaração, como os de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, em

função da Constituição de 1891 dar competência ao legislador estadual para

legislar sobre direito processual civil.

O Código de Processo Civil de 1939 admitia os embargos em

razão de obscuridade, omissão ou contradição da sentença, tanto em primeiro

grau, como em grau superior. O art. 862 do referido diploma legal exigia que a

petição do embargante indicasse “o ponto obscuro, omisso ou contraditório”3,

sob pena de ser indeferida.

2 Ordenação do L. III, Tít. LXVI, §6º. A “dúvida”seria corolário da obscuridade, inexistindo, portanto, razão para designá-la especificamente. 3 “Os embargos declaratórios serão opostos em petição dirigida ao relator, dentro de quarenta e oito (48) horas, contadas da Publicação do acórdão no órgão oficial. A petição indicará o ponto obscuro, omisso ou contraditório cuja declaração se imponha” (art. 862 do Decreto-Lei nº 1.608 de 18 de Setembro de 1939)

Page 8: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

8

O Código de 1973 bifurcou a disciplina do instituto, tratando os

embargos em primeiro grau nos arts. 464 e 465, e, em segundo grau, nos arts.

535 a 538. Todavia, a solução foi considerada infeliz pela doutrina, pois o

problema deveria merecer tratamento unitário. Ademais, pelo teor das normas

contidas nos arts. 464 e 465, algum operador do direito, apressado, poderia

supor que, no grau inferior de jurisdição, só coubessem embargos declaratórios

com relação à sentença proferida no processo de conhecimento.

Além disso, verificou-se um acréscimo aos três defeitos

tradicionalmente catalogados4, passando a falar-se também em “dúvida” que

houvesse no acórdão. A enumeração, por conseguinte, desdobrava-se em

quatro hipóteses de cabimento: obscuridade, dúvida, contradição e omissão.

Com a Lei nº 8.950, de 13.12.94, eliminou-se a distinção

procedimental entre embargos contra sentença e os manejados contra

acórdãos. Os arts. 464 e 465 foram revogados e a disciplina única do instituto

ficou concentrada nos arts. 535 a 538. Além disso, o prazo para sua oposição,

que na primeira instância era de 48 horas, passou a ser de 5 (cinco) dias, como

já acontecia na segunda instância.

Outra inovação desta lei foi suprimir a alusão constante do texto

primitivo do Código à “dúvida”, que jamais pode existir na decisão, mas apenas

ser gerada por ela em razão da obscuridade ou da contradição, sentida como

“um estado de espírito, que se traduz na hesitação entre afirmar e negar algo”5.

Por fim, outra relevante modificação oriunda da Lei nº 8.950 foi

em relação aos efeitos do oferecimento dos embargos, que passou a

interromper, e não mais suspender, o prazo para interposição de outros

recursos.

4 omissão, contradição e obscuridade. 5 BARBOSA MOREIRA, Comentários ao Código de Processo Civil, v. 5, nº 306, p. 617.

Page 9: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

9

CAPÍTULO 2

ASPECTOS GERAIS DO INSTITUTO

A doutrina é divergente em relação à natureza jurídica dos

Embargos de declaração.

Juristas do escol de Odilon de Andrade, João Monteiro, Manoel

de Almeida e Souza de Lobão e Sérgio Bermudes sustentam que os Embargos

de declaração não são propriamente recurso.

Todavia os notáveis Pontes de Miranda, Frederico Marques,

Moacyr Amaral Santos e Ivan Campos de Souza entendem ter os Embargos

Declaratórios caráter recursal.

À margem das valiosas consultas aos mestres processualistas

supramencionados verifica-se uma certa desordem.

Portanto, faz-se necessário distinguir alguns critérios que

demonstram a natureza de recurso dos Embargos de declaração.

Em primeiro lugar, deve-se levar em conta que a atribuição de

natureza recursal a determinado instituto é função do legislador, cabendo ao

intérprete, tão somente acatá-la. A norma jurídica processual assim os

considera.

Pelo Princípio da Taxatividade, são recursos aqueles remédios

designados como tal, em numerus clausus, pela lei federal. Os embargos estão

previstos no inciso IV do art. 496 do CPC, in verbis:

“São cabíveis os seguintes recursos:

...........................................................

IV – embargos de declaração;

..........................................................”

Em segundo lugar, os Embargos Declaratórios se dão na mesma

relação jurídica processual em que foi proferida a decisão embargada, sem que

se instaure um novo processo. Esta é uma característica comum a todos os

Page 10: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

10

recursos. Sua oposição não faz surgir novos autos. Portanto são recursos e

não ações autônomas de impugnação.

Outro critério passível de exame, em relação ao efeito da

interposição inerente a todos os recursos, é o fato de impedir a formação da

coisa julgada. Nesse sentido os Embargos de declaração impedem o trânsito

em julgado.

Por último, é de se considerar que os embargos declaratórios

integram-se com precisão ao conceito de recurso, pois trata-se de remédio

voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, o esclarecimento ou a

integração da decisão judicial impugnada.

Depois de longo tempo de controvérsia doutrinária, o Direito

Positivo Brasileiro finalmente consagrou a natureza recursal dos Embargos

Declaratórios com a Lei 8.950, de l3.l2.94, que uniformizou o procedimento dos

embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do

vigente Código de Processo Civil, que trata justamente dos recursos.

Desta forma, pelos critérios apontados, conclui-se inegável a

natureza recursal do instituto.

Impõe-se, portanto, conceituá-lo como recurso destinado a pedir

ao órgão prolator da decisão judicial que esclareça obscuridade, elimine a

contradição ou supra a omissão existente no pronunciamento.

Os Embargos Declaratórios são cabíveis contra qualquer decisão

judicial6, seja ela sentença, acórdão ou, apesar do silêncio da lei, interlocutória

que contiverem obscuridade, contradição ou seja omissa sobre matéria

pertinente e relevante, suscitada pelas partes ou Ministério Público, ou ponto

que deveria ser apreciável de ofício.

“Não tem a mínima relevância que se trate de decisão de

grau inferior ou superior, proferida em processo de

cognição (de procedimento comum ou especial), de

execução ou cautelar. Tampouco importa que a decisão 6 TERESA CELINA DE ARRUDA ALVIM WAMBIER conclui “inexistir razão para excluir os despachos do espectro de cabimento desse recurso.”

Page 11: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

11

seja definitiva ou não, final ou interlocutória. Ainda quando

o texto legal, expressis verbis, a qualifique de irrecorrível,

há de entender-se que o faz com ressalva implícita

concernente aos embargos de declaração.”7

7 BARBOSA MOREIRA, Comentários ao Código de Processo Civil, Lei nº 5.869 de 11 de Janeiro de 1973, vol. V arts. 476 a 565, p.535.

Page 12: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

12

CAPÍTULO 3

DEFEITOS DO JULGADO

O CPC, dispondo sobre esta matéria, refere-se a três defeitos do

pronunciamento judicial, denunciáveis mediante embargos de declaração:

obscuridade, contradição e omissão.

A obscuridade é a falta de clareza na redação do julgado. É aquilo

que se torna ininteligível. É a expressão confusa, impossível de ser

compreendida. Fixar a certeza jurídica a respeito da lide é função precípua do

pronunciamento judicial.

A obscuridade tanto pode situar-se na fundamentação do ato

decisório quanto no decisum propriamente dito.

Há, naturalmente, graus na obscuridade, desde a simples

ambigüidade, que pode resultar do emprego de palavras de acepção dupla ou

múltipla – sem que o contexto ressalte a verdadeira no caso - ou de

construções anfibológicas, até a completa ininteligibilidade da decisão. Em

qualquer hipótese cabem embargos declaratórios.

Ao qualificar uma decisão como obscura, o juiz pressupõe que o

Embargante lhe esteja atribuindo um conceito negativo, no que concerne à

técnica jurídica utilizada pelo respectivo prolator. Isso poderá gerar dificuldades

futuras no relacionamento com o magistrado que proferiu a decisão

embargada, que talvez se sinta ofendido com a crítica do recorrente.

Por essa razão, salvo se a obscuridade for latente e prejudicar o

entendimento da decisão ou dificultar a interposição do recurso natural, não é

aconselhável esta modalidade de embargos.

A contradição ocorre se existirem, na decisão judicial, proposições

inconciliáveis entre si: pode haver contradição entre (i) proposições da parte

decisória, por incompatibilidade entre capítulos da decisão, (ii) entre proposição

enunciada nas razões de decidir e o dispositivo e (iii) entre a ementa e o corpo

do acórdão, ou entre o teor deste e o verdadeiro resultado do julgamento,

Page 13: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

13

apurável pela ata, ou por outros elementos.8 Em alguns casos, o ponto

contraditório resulta de erro material, o qual pode ser sanado mediante uma

simples petição. (art. 463, I, CPC)

Não há que se cogitar de contradição entre o acórdão e outra

decisão porventura anteriormente proferida no mesmo processo, pelo tribunal

ou pelo órgão de grau inferior.

A omissão é a falta de pronunciamento judicial sobre alguma

matéria que deveria ter sido apreciada pelo órgão julgador. Assim, deverá

deliberar sobre o pedido e suas especificações, sobre os fatos e fundamentos

jurídicos do pedido, sobre as questões de fato e de direito suscitadas.

Cabe ressaltar que os Embargos de declaração constituem-se o

meio pelo qual a parte busca o prequestionamento de temas que serão objetos

do recurso naturalmente cabível contra decisão a que se atribui omissão,

obscuridade, contradição ou erro material.

O sucumbente somente estará habilitado a prosseguir na via

recursal disponível se os temas sobre os quais pleiteia novo julgamento forem

especificamente apreciados pela decisão recorrida, daí a relevância dos

Embargos de declaração para se obter o prequestionamento de determinada

matéria que foi omitida pelo julgado a ser recorrido.

Essa é uma exigência dos tribunais superiores, já cristalizada em

súmulas e enunciados.

Não se incluem nessa regra as matérias que originariamente

surgirem por ocasião do julgamento do acórdão a ser recorrido.

O prequestionamento será estudado posteriormente em capítulo

próprio.

Nas hipóteses de obscuridade e contradição, os Embargos de

declaração são destinados a permitir o esclarecimento da decisão judicial

enquanto na hipótese de omissão, têm como objetivo a integração do

provimento.

8 BARBOSA MOREIRA, O Novo Processo Civil Brasileiro, p.155.

Page 14: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

14

Deve-se ter habilidade para oferecer as razões dos

Embargos, tendo em vista que seu objetivo visa esclarecer a omissão,

obscuridade, contradição e até mesmo erro material contido na decisão, o que

implica concluir que o Juiz pode se sentir melindrado ou ofendido com a

interposição desse recurso que em última análise, aponta deficiências técnicas

no julgado por ele proferido.

Page 15: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

15

CAPÍTULO 4

CABIMENTO

O direito de recorrer torna-se precluso quando esgotado o prazo

estipulado pela lei. Trata-se de prazo peremptório, portanto insuscetível de

dilação convencional pelas partes.

Em primeiro grau, os embargos eram opostos em 48 horas

conforme a redação do antigo art. 465 do CPC. Em segundo grau, seria de 5

(cinco) dias na forma do art. 536 do mesmo diploma legal.

A lei nº 8.950/94 modificou este prazo, passando a ser de 5

(cinco) dias, tanto no primeiro como no segundo grau. Desaparece, por

conseguinte, o prazo de 48 horas para oposição dos embargos no primeiro

grau, passando o prazo a ser uniforme em qualquer instância, disciplinado

apenas pelo art. 536 do CPC.

A mesma norma determina que os Embargos não estão sujeitos a

preparo, que consiste no pagamento à época certa, das despesas processuais

correspondentes ao processamento do recurso interposto.

Em outros recursos, a sua falta geraria a deserção, importando no

trancamento do recurso, presumindo a lei que o recorrente tenha desistido do

respectivo julgamento. A insuficiência no valor do preparo implicará em

deserção, se o recorrente, intimado, não vier a supri-lo no prazo de 5(cinco)

dias conforme dispõe o art.511, §2º do CPC.

A petição será endereçada ao juiz ou ao relator, cabendo ao

embargante apontar qual obscuridade ou contradição contida no provimento

embargado, ou ainda qual ponto sobre o qual o pronunciamento judicial

permaneceu omisso.

Page 16: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

16

CAPÍTULO 5

JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE E JUÍZO DE MÉRITO

O julgamento dos recursos divide-se em duas fases: juízo de

admissibilidade e juízo de mérito. Antes de serem apreciadas as razões

referentes à impugnação, o recurso passa pelo exame de sua admissibilidade,

sendo este cada vez mais rigoroso, na medida em que o processo atinge os

patamares mais altos das instâncias julgadoras. Este exame consiste na

verificação dos pressupostos e condições impostas pela lei para o

conhecimento e/ou admissão do recurso. O juízo de admissibilidade é sempre

preliminar ao juízo de mérito.

Pode-se afirmar que o juízo de admissibilidade possui alguns

traços de identidade com o despacho saneador proferido na primeira instância.

Em ambos, a autoridade julgadora aprecia os aspectos formais. Enquanto na

primeira instância a parte tem chance de ajustar a petição inicial ou a

contestação às determinações contidas no despacho saneador, o efeito

negativo do juízo de admissibilidade é imediato, e, caso sejam verificadas

irregularidades processuais no contexto do recurso, a consequência será o seu

não-conhecimento, sem a possibilidade de sua adequação aos permissivos

legais. O mérito recursal não será objeto de apreciação.

Enfim, examina-se o recurso sob o ângulo formal, e se houver

qualquer contrariedade quanto às exigências processuais para sua

admissibilidade, não será sequer conhecido. Sendo positivo este juízo, isto é,

admitido o recurso, passa-se ao juízo de mérito, fase do julgamento em que se

vai examinar a procedência ou não da pretensão manifestada na postulação.

O julgamento dos Embargos de declaração comporta as mesmas

etapas do julgamento de qualquer recurso. O órgão judicial pode conhecer ou

não conhecer dos embargos e, deles conhecendo, dar-lhes ou negar-lhes

provimento.

Os Embargos de declaração são recursos de fundamentação

vinculada, pois existe uma verdadeira interpenetração entre seu mérito e seus

Page 17: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

17

requisitos de admissibilidade. Quando um juiz ou tribunal não conhece do

recurso de embargos de declaração, alegando inexistir omissão, contradição

ou obscuridade, está, na verdade, analisando o próprio mérito do recurso.

O mérito é delimitado pelo pedido. Sendo o pedido meramente

integrativo ou elucidativo, entendendo o juiz inexistente a omissão, contradição

ou obscuridade, estará declarando inexistente o direito alegado na pretensão

inicial, portanto estará proferindo uma decisão meritória.

A solução, à primeira vista inconcebível, seria a de conhecer dos

embargos declaratórios todas as vezes em que o embargante alegar um dos

seus pressupostos, indicando com fundamentação a parte do decisium violado.

Em outras palavras, o juízo de admissibilidade do magistrado limitar-se-ia a

observar essas alegações, sem, contudo, adentrar na existência ou não do

vício. Não se conhecerá dos Embargos somente quando intempestivos, ou

inadmissíveis por outra razão.

Não conhecer dos embargos de declaração sob o argumento de

inexistir omissão, contradição ou obscuridade significa adotar um

posicionamento equivocado contrário aos fundamentos e princípios que

norteiam a teoria geral dos recursos.

Este tema tem extrema relevância em relação aos efeitos

interruptivos inerentes aos Embargos como será abordado posteriormente.

Page 18: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

18

CAPÍTULO 6

JULGAMENTO

Os embargos de declaração são desprovidos de efeito devolutivo,

já que seu julgamento é da competência do próprio órgão prolator da decisão

embargada.

Não estão sujeitos ao Princípio do Duplo Grau de Jurisdição.

Consagrado na Revolução Francesa como uma das conquistas em prol da

segurança dos direitos fundamentais, determina que as lides ajuizadas devam

ser submetidas a exames sucessivos9, como garantia de boa solução. Significa

dizer que uma decisão pronunciada pelo juízo a quo, que proferiu a decisão

contra qual se recorre, poderá receber novo julgamento por um juízo ad quem,

que é aquele para o qual se recorre, desde que atendidos determinados

pressupostos específicos, previstos em lei.

Muito embora os Embargos de declaração não se sujeitem a este

princípio por serem julgados pelo próprio juízo que proferiu a decisão, sua

finalidade de propiciar o esclarecimento e/ou complementação da decisão

serve também para possibilitar o exercício do duplo grau de jurisdição, haja

vista a necessidade de clareza do julgado para um possível reexame futuro

desta decisão pelos tribunais competentes.

Dispõe o art. 537 do CPC que o juiz decidirá o recurso em 5

(cinco) dias. Trata-se de prazo impróprio, ou seja, de prazo cujo

descumprimento não acarreta qualquer conseqüência processual.

Há controvérsias sobre a vinculação do juiz que prolatou a

decisão embargada para o julgamento dos embargos, isto é, se teriam de ser

necessariamente apreciados pelo mesmo juiz que proferiu a decisão recorrida. 9 JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA lembra que “é dado da experiência comum que uma segunda relexão acerca de qualquer problema freqüentemente conduz a mais exata conclusão, já pela luz que projeta sobre ângulos até então ignorados, já pela oportunidade que abre para a reavaliação de argumentos a que no primeiro momento talvez não se tenha atribuído o justo peso. Acrescente-se a isso a circunstância de que, em regra, o julgamento do recurso compete a juízes mais experientes, em regime colegiado, diminuindo a possibilidade de passarem despercebidos aspectos relevantes para a correta apreciação da espécie.” (Comentários ao Código de Processo Civil, cit., p.235.)

Page 19: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

19

Não há dúvida de que o Princípio da Imediatidade Física do Juiz é inaplicável a

hipótese. A competência para julgamento dos embargos de declaração é do

mesmo órgão que proferiu a decisão embargada. A pessoa natural do juiz não

é sujeito do processo, mas mero agente público que, no exercício de suas

funções, atua em nome do Estado.

Quando interpostos no tribunal, caberá ao relator do acórdão

embargado pôr o recurso em mesa, na sessão seguinte, para julgamento.

A lei não prevê o contraditório nos embargos de declaração. No

entanto, a Jurisprudência construiu essa possibilidade, mormente nos casos de

embargos de declaração com efeito modificativo. Verifica-se que tal

modalidade recursal não se destina a um julgamento da causa, mas apenas ao

aperfeiçoamento do decisório já proferido.

Portanto, em princípio e desde que não se trate de embargos de

declaração com efeitos modificativos, não há necessidade de intimação da

parte contrária, pois a mesma não terá qualquer interesse em opor razões

contra os embargos, até porque, embargada é a decisão judicial e não a outra

parte litigante.

Compete ao Magistrado, única e exclusivamente, apreciar os

embargos declaratórios, não havendo razão para que a parte adversa se

manifeste, até mesmo porque, o acolhimento ou não dos embargos pode ser

objeto de outro recurso em caso de alguma ilegalidade verificada.

De acordo com o entendimento de ALEXANDRE FREITAS

CÂMARA10, há necessidade de participação da parte adversa através de

“contra-razões” nos casos de embargos de declaração visando esclarecer

omissão:

“Parece-nos, porém, que no caso dos embargos de

integração (ou seja, nos embargos de declaração

destinados a suprir omissão da decisão), em razão da

possibilidade de se produzir o efeito infringente do

10 Lições de Direito Processual Civil, v. II, p.95

Page 20: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

20

julgado, deve-se dar oportunidade ao embargado para se

manifestar ( devendo se considerar o prazo de cinco dias

para oferecimento das contra-razões, em respeito ao

princípio, genericamente observado, segundo o qual o

prazo das contra-razões é idêntico ao da interposição do

recurso, o que, aliás, é mero reflexo do princípio da

isonomia.”

Neste sentido entende também HUMBERTO THEODORO

JUNIOR11:

“A lei não prevê contraditório após interposição do recurso

e a justificativa para essa orientação está em que os

embargos não se destinam a um novo julgamento da

causa, mas apenas ao aperfeiçoamento do decisório já

proferido. Havendo, porém, casos de suprimento de

lacunas ou a eliminação de contraditório leve à anulação

do julgamento anterior para nova decisão da causa

(caráter infringente inevitável, em casos, por exemplo, e

competência ou condições de procedibilidade, erro

material ou de questão prejudicial) não deverá o órgão

julgador enfrentar a questão nova para proferir de plano, o

re-julgamento. Para manter-se o princípio do contraditório,

o caso será de anular-se apenas a decisão embargada e

ordenar que o novo julgamento seja retomado com plena

participação da outra parte, segundo as regras aplicáveis

ao recurso principal.”

Não obstante as razões aduzidas pelos Autores, não há motivo

algum para que a parte contrária seja intimada a manifestar-se em “contra-

razões”, tendo em vista que o recurso de embargos de declaração é dirigido

contra decisão judicial com a finalidade de que a mesma seja esclarecida e/ou

supridas as omissões.12

11 Curso de Direito Processual Civil, v. I, p.582. 12 Conforme ensinamento de JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA: “Não se abre oportunidade para resposta da outra parte.” (Comentários ao Código de Processo Civil, p. 420)

Page 21: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

21

Se não for assim, apenas para argumentar, o que poderá a parte

embargada sustentar em sua manifestação de contra-razões: “Não há

contradição no julgado”, “a decisão está clara”, ou, por exemplo, “todos os

pontos submetidos foram apreciados”.

É evidente que somente o prolator do decisum é que pode

apreciar tais questões, que serão objeto do julgamento dos embargos de

declaração interpostos.

Além disso, na hipótese de acolhimento do recurso e que o

mesmo gere efeitos infringentes, com a modificação do decidido anteriormente,

como por exemplo, no caso de omissão de apreciação de questão de

prescrição, que importe em alteração total do pronunciamento judicial, a parte

prejudicada terá os meios recursais para tentar reverter tal situação.

Page 22: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

22

CAPÍTULO 7

EFEITO INTERRUPTIVO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

Na redação originária do art. 538 do CPC, os embargos de

declaração suspendiam o prazo para interposição de outros recursos. Mas a

Lei 8.950/94 mudou referido efeito, estabelecendo que esta modalidade

recursal interrompe o prazo para interposição de outros recursos, por qualquer

das partes.

Significa dizer que o prazo que já havia corrido antes da oposição

dos embargos é desprezado, começando a correr novamente por inteiro a

partir da intimação da nova decisão para ambas as partes.

A interrupção do prazo recursal resultante da oposição dos

embargos de declaração não se esvazia, qualquer que seja o resultado do

recurso, salvo se forem opostos a destempo.

Embora, com alguma freqüência, tenha sido sustentado que a

interrupção do prazo recursal pressupõe o conhecimento dos embargos, não

será simplesmente por haver dito o juiz que “não conhecia” dos embargos

declaratórios, que o art. 538, caput, terá deixado de incidir.

Se o emprego da expressão “não conhecer” produzisse por si tal

efeito preclusivo, estaria criada gravíssima situação de perplexidade e

insegurança no tocante aos prazos recursais.

Ressalta-se que o motivo maior da alteração trazida pela Lei

anteriormente mencionada, com a substituição da “suspensão” pela

“interrupção” do curso dos prazos para outros recursos, foi exatamente o de

elidir as dificuldades ocorridas na determinação do dies a quo do curso de tal

prazo e na aferição do prazo sobejante, quando manifestados embargos de

declaração.

É evidente que, em princípio, um recurso não pode ser conhecido

na ausência de qualquer de seus requisitos de admissibilidade, como por

exemplo, sucumbência, tempestividade, adequação, regularidade formal,

Page 23: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

23

legitimação para recorrer, prequestionamento nos recursos especial e

extraordinário entre outros pressupostos.

Respeitados tais requisitos e, assim admitida a impugnação,

passa a Corte ao exame meritório do recurso, dando-lhe ou negando-lhe

provimento.

Em determinados recursos, todavia, o exame dos requisitos de

admissibilidade vem justapor-se à apreciação do mérito da impugnação.

Assim ocorre com o Recurso Especial, no art.105, III, a da Lei

Maior, in verbis:

“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

..............................................................

III – Julgar, em recurso especial, as causas decididas, em

única ou última instância, pelos Tribunais regionais

Federais ou pelos tribunais dos Estados, do distrito

Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:

a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhe vigência;

............................................................”

Verifica-se que o pressuposto específico de admissibilidade, ou

seja, a contrariedade à tratado ou lei federal , se positivo, condiciona o próprio

mérito do recurso: com efeito, se o tribunal considerar como contrariada lei

federal, o recurso necessariamente será conhecido e provido, a fim de

assegurar a exata aplicação da norma vulnerada.

Por outro lado, se ausente algum dos pressupostos genéricos de

admissibilidade, o recurso não será conhecido, como também não tem sido

conhecido quando não presentes o pressuposto específico da contrariedade à

norma federal previsto no permissivo da alínea “a”.

Sob esta ótica, a afirmação da ausência do pressuposto

constitucional específico importa numa apreciação do próprio mérito da causa.

Todavia o Superior Tribunal de Justiça persevera em “não conhecer” do

Page 24: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

24

recurso especial quando, embora realmente lhe esteja apreciando o “mérito”,

julgar não ofendida a norma federal.

Ou seja, quando confirmar o acórdão e, portanto, declarar correta

a aplicação da norma aos fatos.

Isto poderia trazer uma certa insegurança jurídica em relação ao

momento do trânsito em julgado da decisão impugnada. Portanto, certamente o

prazo de interposição de eventual recurso começará a fluir da data de

intimação do acórdão do STJ que “não conheceu” do recurso especial.

Se assim não fora, na dúvida sobre o conhecimento ou não do

recurso, o advogado estaria sempre obrigado, por dever de ofício e para evitar

a argüição de intempestividade, à interposição sucessiva de recursos

condicionais (e até de ações rescisórias condicionais), para valerem apenas no

caso de Não conhecimento da anterior irresignação.

Situação análoga ocorre com os Embargos de declaração. Estão

eles naturalmente sujeitos aos pressupostos genéricos de admissibilidade:

deve a parte interpô-los em tempo hábil, devem ser cabíveis, supõem o jurídico

interesse do embargante na declaração entre outros.

Quando intempestivos, inadequados ou inadmissíveis por outras

razões, por certo os embargos declaratórios ficam sujeitos ao seu não

conhecimento.

Ocorre que os embargos supõem, e nisso consiste o mérito deste

recurso tão peculiar, que a decisão judicial haja omitido questão relevente, ou

padeça de obscuridade capaz de comprometer-lhe a compreensão, ou de

contradição capaz de prejudicar-lhe o cumprimento ou a eficácia.

Se o juízo afirma a não ocorrência de alguns destes vícios em seu

decisório, em verdade rejeita os ditos embargos, mesmo quando haja feito

constar que deles não conhece. Tanto é que, se houvesse reconhecido a

ocorrência de omissão, obscuridade ou contradição no julgado, estaria o órgão

prolator da decisão embargada obrigado a suprir a omissão, esclarecer a

obscuridade ou a contradição, acolhendo-os, ou seja, dando provimento.

Page 25: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

25

Neste sentido BARBOSA MOREIRA13 esclarece que:

“Os embargos são apreciados no mérito assim quando o

órgão judicial diz que não existe a apontada obscuridade,

contradição ou omissão, como quando reconhece o

defeito e supre. Em qualquer dessas hipóteses, o tribunal

admitiu (ainda que implicitamente) os embargos,

provendo-os ou não”.

Adotando a tese oposta, os Embargos de declaração somente

teriam o condão de interromper o prazo previsto no art. 538 do CPC nos casos

de “acolhimento” dos ditos embargos.

Em contrapartida, não seria aplicável esta norma legal quando os

embargos fossem rejeitados, quer pela ausência dos pressupostos genéricos

previstos para todos os recursos, como porque inocorrentes aqueles

pressupostos específicos cuja afirmação ou negação consubstancia o próprio

mérito.

Em absoluto não é isso que dispõe o art. 538 do diploma

processual civil. Até mesmo nos casos de embargos declaratórios protelatórios,

como se verá adiante, opera-se efeito interruptivo do prazo.

A não interrupção do prazo quando verificada a inexistência,

ainda que manifesta, de omissão, obscuridade ou contradição, irá contrariar o

intuito legislativo e a organicidade processual, eis que a parte embargante,

sem poder contar com a certeza de acolhimento dos seus embargos, terá que

interpor o recurso futuro praticamente junto aos embargos.

13 Comentários ao código de Processo Civil, p. 345.

Page 26: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

26

CAPÍTULO 8

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO PROTELATÓRIOS

Os embargos de declaração devem sempre ser apreciados e

admitidos com a maior largueza possível. Até mesmo embargos de declaração

opostos contra anteriores embargos de declaração podem justificar-se, como

será analisado em momento oportuno.

Mas o parágrafo único do art. 538 do CPC, com a redação que lhe

foi ofertada pela Lei 8.950/94, dispõe que quando forem manifestadamente

protelatórios os embargos, o juiz ou tribunal, declarando que o são, condenará

o embargante a pagar ao embargado multa não excedente de um por cento

sobre o valor da causa.

Na reiteração, a multa é elevada até dez por cento, ficando

condicionada a interposição de qualquer outro recurso ao depósito do valor

respectivo.

É importante notar que, ao referir-se em reiteração14 dos

embargos de declaração protelatórios, está a lei punindo a conduta de má-fé

reiterada, a reincidência. Não é preciso que os novos embargos tenham o

mesmo conteúdo dos primeiros, já considerados manifestadamente

protelatórios, para que se possa agravar a sanção. Basta que o segundo

recurso tenha, assim como o primeiro tinha, este caráter.

Ocorrendo a reincidência de embargos protelatórios, e o

conseqüente aumento da multa, o depósito desta se torna requisito de

admissibilidade do recurso que a parte embargante pretenda, eventualmente ,

interpor contra a decisão embargada. A interposição de novo recurso sem que

tal depósito seja feito implicará o seu não conhecimento, por falta do

pressuposto recursal consistente na regularidade formal.

14 Neste sentido BARBOSA MOREIRA revela que “Com a palavra reiteração não sequer exigir que os novos embargos reproduzam ipsis verbis os anteriores: basta que aqueles, como estes, revelem de modo inequívoco intuito de protelação.” (O Novo Processo Civil Brasileiro, p. 156)

Page 27: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

27

Embora omisso, pressupõe competir ao juiz singular e ao tribunal

aplicar ex officio as aludidas multas, independentemente de provocação da

parte contrária ou do interessado. Não aplicando as multas, mas declarando

serem os embargos manifestadamente protelatórios, cabe a parte contrária

pedir, em novos embargos, seja suprida a omissão.

A oposição dos Embargos declaratórios protelatórios, desde que

tempestivos, não elimina seu efeito interruptivo como acontecia nas legislações

anteriores. Não consta expressamente do texto do aludido dispositivo

processual qualquer outra sanção, além da consistente em cominação de

multa.

O Código de Processo Civil atual abandonou a técnica de

exclusão do efeito interruptivo sobre o curso dos prazos quando protelatórios e

adotou a da cominação de multa.

Page 28: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

28

CAPÍTULO 9

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

O acórdão que julga embargos de declaração não está imune aos

defeitos previstos no art. 535 do CPC.

Os Embargos Declaratórios cabem contra qualquer decisão

judicial, independentemente do nível e tipo de jurisdição, ante o princípio

constitucional da inafastabilidade do Poder Judiciário.

Pode padecer de obscuridade, eventualmente tão grave, que não

permita saber ao certo o que o órgão julgador decidiu no concernente aos

embargos. Pode ser contraditório, como por exemplo se reconhece, na decisão

embargada, algum dos defeitos típicos, e apesar disso nega provimento aos

embargos, abstendo-se assim de proceder à correção cabível. Pode também

ser omisso, se deixa, por exemplo, de pronunciar-se a respeito de alguma das

omissões apontadas pelo embargante àquela decisão.

Seria absurdo negar a possibilidade de corrigir-se qualquer

desses defeitos. Aliás, a negação não encontraria base no texto legal, que ao

falar de acórdão no inciso I, não abre exceção para o que julgue embargos

declaratórios, nem a abre, no inciso II, para a hipótese de incorrer em omissão,

o tribunal no julgamento desse recurso. Constitui grave erro, por conseguinte,

dizer que não se pode interpor novos embargos de declaração contra acórdão

proferido em embargos de declaração

O que na verdade não se admite é a tentativa de reproduzir, nos

segundos embargos, crítica feita nos primeiros à decisão contra a qual haviam

estes sido interpostos. Se, por exemplo, o embargante alegara omissão, e o

órgão julgador, ferindo o ponto, negou que ela existisse, não há como

pretender, mediante novos embargos, insistir na mesma censura: trata-se de

matéria vencida.

Também não é admissível, em Embargos de Declaração contra

acórdão de embargos de declaração, argüir pela primeira vez a existência de

qualquer dos defeitos típicos na decisão antes embargada. A decisão

Page 29: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

29

supostamente defeituosa tem de ser a que constitui objeto dos embargos

presentes, jamais a outra, objetos dos embargos pretéritos.

O prazo para o oferecimento dos segundos embargos tem início

com a publicação da decisão sobre os primeiros.

Page 30: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

30

CAPÍTULO 10

PREQUESTIONAMENTO

Tarefa difícil é traçar uma precisa conceituação jurídica do

instituto do prequestionamento, tendo em vista as inúmeras discussões em

torno do tema, o que o torna uma das matérias mais agitadas na doutrina

processual atual.

Prequestionar, como a própria etimologia da expressão infere,

significa questionar previamente, antes, adrede.

O prequestionamento, portanto, nada mais é, do ponto de vista

jurídico, do que a suscitação prévia de uma tese jurídica defendida.

Nos recursos para as Altas Cortes, o sucumbente só estará

habilitado a prosseguir na via recursal disponível se os temas sobre os quais

busca novo julgamento forem especificamente apreciados pela decisão

recorrida.

O enunciado 297 do TST esclarece o que vem a ser

prequestionamento:

“Diz-se prequestionada a matéria quando na decisão

impugnada haja sido adotada, explicitamente, tese a

respeito. Incumbe a parte interessada interpor Embargos

Declaratórios objetivando o pronunciamento sobre o tema,

sob pena de preclusão”

Assim, por exemplo, se determinada matéria for omitida na

decisão contra qual se pretende recorrer, ela somente poderá ser reexaminada

pela Instância Superior se for prequestionada na decisão recorrida.

Como regra, pode-se dizer que o prequestionamento é necessário

nos recursos técnicos, que envolvem estritamente a violação de certo preceito

legal ou constitucional, não sendo exigível na apelação, por exemplo, pois este

recurso devolve ao tribunal o conhecimento de todas as questões nele

suscitadas e discutidas, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro

Page 31: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

31

conforme a norma do art. 515 do CPC. A ausência de prequestionamento na

instância ordinária não implica preclusão diante da regra supramencionada.

A exigência de prequestionamento originou-se no direito norte-

americano, sob o argumento de não se poder recorrer de matéria não tratada

originalmente.

No ordenamento jurídico pátrio deixou de ser tratada apenas

pelas constituições de 1824, 1967, e pala atual de 1988.

O instituto foi introduzido pelo art. 59, §1º, alínea a, da

Constituição de 1891. Deixou de constar expressamente da Constituição de

1967, passando a ser interpretado como condição lógica de recorribilidade para

os Tribunais Superiores, face à impossibilidade de exame de questões não

expressamente decididas pelos órgãos jurisdicionais locais.

Com o argumento de não mais constar expressamente na

Constituição, muitos juristas sustentaram a inconstitucionalidade da exigência

do prequestionamento, devido a ausência de previsão legal.

Na jurisprudência brasileira, os Tribunais Superiores,

notadamente a instância extraordinária do Supremo Tribunal Federal,

sufocados pelo número crescente de recursos a ele dirigidos, começaram a

exigir o prequestionamento do ponto de vista do Direito Federal violado, para

admissão e prosseguimento do recurso respectivo.

Note-se, portanto, que os recursos para os Tribunais Superiores,

que tem hipóteses de cabimento mais restritas do que os recursos ordinários

lato sensu, passaram a ter o prequestionamento como pré-requisito de

admissibilidade justamente para frear a "fúria recursal", fenômeno patológico

decorrente da louvável busca pela segurança jurídica e pelo devido processo

legal. Prevendo a sobrecarga dos tribunais superiores, diante da inexigibilidade

de prequestionar as matérias nos Tribunais locais, o Supremo Tribunal Federal

enunciou a súmula nº 282, entendendo que:

“É inadmissível o Recurso Extraordinário quando não

ventilada, na decisão recorrida, a questão federal

suscitada”

Page 32: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

32

Resolvida a questão da exigibilidade do prequestionamento, o

Supremo Tribunal Federal enunciou a Súmula nº 356, apresentando o meio

adequado a solucionar a questão quando ela não é debatida e decidida pelos

Tribunais mesmo quando devidamente chamados a se manifestarem.

“O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram

opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de

Recurso Extraordinário, por faltar o requisito do

prequestionamento.”

“Não ocorrendo a análise requerida em sede de embargos

declaratórios, e mantida a decisão pelo Tribunal, por seus

próprios e jurídicos fundamentos, deve ser interposto

recurso especial ao Superior Tribunal de Justiça por

ofensa a lei federal. (CPC art. 535, II), conforme

precedentes daquele tribunal.” (Resp. 74.137 – RS - 1ª T

– DJU 03.06.1996 e AgRg-AI 108.482 – RS – DJU

29.10.96).

No sentido de demonstrar a relevância quanto à necessidade de

ver a questão decidida nos tribunais locais, e dar proteção a esse instituto,

mesmo quando necessária a sua interposição, o Superior Tribunal de Justiça

enunciou a Súmula nº 98:

“Embargos de declaração manifestados com notório

propósito de prequestionamento não têm caráter

protelatório.”

“O pretório excelso tem como condição sine qua non para

apreciação do RE o debate e decisão prévios pelo órgão

colegiado, ou seja, emissão de juízo sobre o tema,

entendendo que a simples interposição de embargos

declaratórios, sem expressa decisão, não resulta em

prequestionamento, cabendo à parte suscitar a nulidade

do julgado, através do instrumento apropriado.” ( STF –

AgRg-AI 214.774-7 – DF – 2ª T – Rel. Min. Marco Aurélio

– DJU 16.04.1999)

Page 33: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

33

Enfim, o prequestionamento é essencial para o processamento

dos recursos para as altas cortes (especial e extraordinário). É uma exigência

dos Tribunais Superiores já cristalizada em súmulas e enunciados, e o meio

disponível para se conseguir o prequestionamento de uma questão omitida na

decisão recorrida é a oposição de Embargos de declaração, sob pena de não

ser conhecido.

Fogem a essa regra as matérias que originariamente surgirem por

ocasião do julgamento do acórdão a ser recorrido.

Page 34: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

34

CAPÍTULO 11

EFEITO MODIFICATIVO

Originariamente, os embargos de declaração tinham por

finalidade e tornar claro algum ponto obscuro, omisso ou contraditório.

Todavia, a construção jurisprudencial edificada a partir dos

reiterados julgamentos de embargos de declaração possibilitou ao

jurisdicionado alcançar a reforma do julgado quando ficar caracterizado, em

suas razões recursais, que o esclarecimento obtido através de seu julgamento

muda o sentido da decisão embargada. São casos mais freqüentes nos

embargos para elucidar pontos omissos e contraditórios.

Os embargos de declaração são considerados integrativos, pois

visam promover o suprimento de obscuridades, contradições e omissões no

julgado.

É justamente nestas duas últimas hipóteses que pode ocorrer um

desvirtuamento do objeto inicial deste recurso, ou seja, em certos casos de

eliminação das omissões e contradições na decisão podem acarretar a sua

reforma, conferindo, conseqüentemente, efeitos modificativos aos embargos de

declaração.

Ainda que o objetivo específico dos embargos seja suscitar novo

pronunciamento de sentido interpretativo e não-infringente, haverá casos em

que, diante da ausência de outros meios para corrigir flagrantes injustiças,

poderão ser modificadas substancialmente as decisões embargadas.

Sustenta o Prof. ANTÔNIO CARLOS DE ARAÚJO CINTRA que,

“na potencialidade própria dos embargos de declaração

está contida a força de alterar a decisão embargada, na

medida em que isto seja necessário para atender à sua

finalidade legal de esclarecer a obscuridade, resolvera

contradição ou suprir a omissão verificada naquela

decisão. Qualquer restrição que se oponha a essa força

Page 35: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

35

modificativa dos embargos de declaração nos estritos

limites necessários à consecução de sua finalidade

específica constituirá artificialismo injustificável, que

produzirá a mutilação do instituto”.15

E argumenta que os embargos declaratórios estão arrolados entre

os recursos e recusar-lhes o caráter infringente seria criar uma exceção única

na categoria dos recursos, que a lei não ampara; que o art. 463,II, do CPC

admite expressamente a alteração de sentença de mérito por meio de

embargos de declaração e que o Código atual não contém regra idêntica

àquela do §4º do antigo art. 862 do CPC de 1939, que dispunha que se os

embargos fossem providos, a nova decisão se limitaria a corrigir a obscuridade,

omissão ou a contradição.

Em se tratando de corrigir omissão ou contradição, os embargos

não são propriamente declaratórios mas modificativos.

Quando se corrige uma omissão, a decisão embargada é

complementada e acrescenta-lhe um novo elemento e, portanto ela é

modificada. Assim, se o órgão julgador deixa de resolver uma questão

preliminar e , apreciando tal omissão nos embargos de declaração, vem a

acolhê-la, necessariamente cai a decisão sobre a restante matéria que ficou

prejudicada.

Eis o entendimento de Alexandre Freitas Câmara16:

“Já no que se refere aos embargos de declaração contra

decisão omissa, em que se pretende a integração do

provimento, espera-se que o juízo reabra a atividade

decisória, examinando a questão sobre a qual

permanecera omisso. Isto pode levar, como visto

anteriormente à alteração do conteúdo do provimento

embargado (apenas se admite tal resultado nos embargos

de declaração fundados em omissão, não nos fundados

em obscuridade ou contradição). Verifica-se, pois, que os

15 Sobre os Embargos de declaração, RT, 595:16-7 16 Lições de Direito Processual Civil, v. II

Page 36: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

36

embargos de declaração, nesta hipótese, terão como

efeito a modificação do julgado. São os chamados

embargos de declaração com efeitos infringentes, os

quais devem ser admitidos no vigente Direito pátrio. É de

se notar, aliás, e com isso se tem mais um argumento em

favor da admissibilidade dos efeitos infringentes dos

embargos de declaração, que nos termos do artigo 463,

inciso II, do CPC, a sentença de mérito (e, a fortiori, todos

os demais provimentos judiciais) pode ser alterada (isto é,

modificada) quando forem interpostos embargos de

declaração”.

Para eliminar contradição entre o fundamento e o decisum da

sentença, não pode o magistrado, a toda evidencia, deixar de alterar a decisão,

sob pena de persistir o conflito entre asserções constantes da mesma.

Ainda persiste um relutância em se aceitar a modificação ou

inovação da decisão através de embargos. Tal relutância não se verifica em

relação ao “erro material”, pois o entendimento, quase unânime, inclusive do

STF, é no sentido de que a contradição que vicia a inteireza lógica do julgado

constitui verdadeiro erro material, suscetível de modificação pela via de

embargos declaratórios.

O entendimento dos tribunais é no sentido de considerar o erro

material como uma forma de grave contradição cometida pelo julgador, e, que,

abstraído o equívoco, o resultado do julgamento seria diverso.

Tem-se admitido também, o acolhimento de embargos

declaratórios, inclusive com efeito modificativo, mesmo que não seja em caso

de erro material, podendo, inclusive, ser na apreciação das provas constantes

nos autos do processo, quando ocorrer erro manifesto, a ponto de o resultado

da decisão ser outro, e não aquele constante na sentença, ou acórdão, que

sofre os embargos.

O STJ tem abraçado idêntico entendimento, ou seja, tem admitido

o uso de embargos declaratórios “quando manifesto equívoco”.

Page 37: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

37

Aliás, o art. 463, I do CPC permite ao magistrado, corrigir erros

materiais de ofício, isto é, não só a requerimento das partes.

HUMBERTO THEODORO JUNIOR, entende e sustenta que

pode haver a concessão dos efeitos modificativos em casos de contradição

também como ensina em sua obra17:

“No entanto, será inevitável alguma alteração no conteúdo

do julgado, principalmente quando se tiver de eliminar

omissão ou contradição. O que se impõe o julgamento

dos embargos é que não se proceda a um novo

julgamento da causa, pois a tanto não se destina esse

remédio. As eventuais novidades introduzidas no

decisório primitivo não podem ir além do estritamente

necessário à eliminação da obscuridade ou contradição,

ou ao suprimento da omissão.”

JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA possui o mesmo

entendimento, admitindo a possibilidade de embargos de declaração com

efeitos infringentes, conforme pode ser observado a seguir:

“a rigor o eventual provimento dos embargos de

declaração não poderá importar, no julgado, qualquer

outra alteração além da consistente no esclarecimento, na

eliminação da contradição ou no suprimento da omissão,

com as repercussões acaso necessárias na matéria

restante. Na prática judiciária, todavia, observa-se aqui

certa tendência a flexibilidade, transpondo-se não raro

esse limites.”18

LUIZ RODRIGUES WAMBIER admite a possibilidade da

existência reflexa de efeitos modificativos decorrente de decisão proferida em

embargos de declaração afirmando:

“Pode, todavia, ocorrer que, como efeito colateral e

secundário da interposição desse recurso, ocorra efeito 17 Curso de direito Processual Civil, v. I, p. 527. 18 O Novo Processo Civil Brasileiro, p. 157.

Page 38: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

38

modificativo, também chamado, pela doutrina, de efeito

infringente.”19

Nesse sentido é o entendimento de NELSON NERY JUNIOR E

ROSA MARIA ANDRADE NERY,20 sustentando os autores que este remédio

pode ter efeitos infringentes, excepcionalmente, quando utilizados para

correção de erro material manifesto, suprimento de omissão e extirpação de

contradição.

19 Curso avançado de Processo Civil, v. I, p. 697. 20 Código de Processo Civil Comentado, p. 780.

Page 39: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

39

CAPÍTULO 12

CONCLUSÃO

Após as explanações acima, observa-se que é unísono o

entendimento de que os embargos declaratórios podem, em determinadas

circunstâncias (de contradições e/ou omissões), contrariando sua finalidade

primordial, acarretar a modificação do julgado.

O exemplo clássico de omissão que, suprida, acarreta a alteração

da decisão é o caso de sentença que julga procedente a pretensão autoral, e

que, através de embargos de declaração opostos pela parte ré (inicialmente

vencida), para que seja apreciada a questão de prescrição que restou omissa,

o magistrado reconheça a mesma, pronunciando que trata-se de questão

realmente prescrita, alterando a decisão, pela improcedência do pedido.

A possibilidade de concessão de efeitos infringentes nos

embargos de declaração já é matéria pacífica no STJ, o que pode ser

verificado através de várias decisões no mesmo sentido, onde foram

produzidas modificações nos julgados.

As decisões abaixo, oriundas da referida Corte, versam sobre a

questão da possibilidade, em casos excepcionais, de concessão do efeito

modificativo nos embargos declaratórios.

“Os embargos de declaração só podem ter efeitos

infringentes quando estes resultarem diretamente de

omissão ou contradição do acórdão.” (STJ, E.Decl. em

AGMC 1.228/SP, Rel. Min. Ari Pargendler, ac. De

23.09.98, in DJU 16.11.98, p.3).

“Embargos de declaração acolhidos, dada a existência de

contradição no v. acórdão e embargado, com

excepcionais efeitos infringentes do julgado para, dando

aplicabilidade à súmula 45 desta Colenda Corte,

determinar que os juros moratórios, na hipótese, incidam

a partir do trânsito em julgado da decisão definitiva de

Page 40: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

40

mérito, restabelecendo, neste ponto, a sentença de

Primeiro Grau.” (STJ, EDResp. 147038/SP, Rel. Min.

Francisco Falcão, ac. de 03.10.00, in DJU 20.11.00,

p.268).

“Embargos declaratórios. Efeitos modificativos do julgado.

Admissibilidade da tese de que os embargos declaratórios

podem conferir efeito modificativo ao julgado.

Necessidade, entretanto, de examinar-se cada caso em

concreto, o que no particular, é inviável, em virtude da

súmula nº 07 do STJ” (STJ, 2ª Turma, Resp. 27061/SC,

Rel. Min. José de Jesus Filho, j. 04.11.92, não

conheceram, v.u., in DJU 30.11.92, p.22.604, 2ª col.,

em.).

“Os embargos de declaração só podem ter efeitos

modificativos se a alteração do acórdão é conseqüência

necessária do julgamento que supre a omissão ou

expurgue a contradição.” (STJ – 2ª Turma, Resp. 15.569

– DF – Edcla., rel Min. Ari Pergendler, j. 08.08.96, não

conheceram v.u, DJU 02.09.96, p. 31.051, 2ª col., em.)

Verifica-se, assim , que não resta dúvida quanto à possibilidade,

eventual, de concessão de efeitos modificativos aos embargos de declaração

em casos de suprimento de omissões, devendo ser ressalvado que há

entendimento majoritário, também, no que se refere à eliminação de

contradição.

Page 41: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

41

BIBLIOGRAFIA

ALVIM, José Eduardo Carreira. Elementos da Teoria Geral do Processo,

Forense, Rio de Janeiro, 1998.

BAPTISTA, Sônia Márcia Hase de Almeida. Dos Embargos de Declaração, 2a ed.

rev. amp., Editora dos Tribunais, São Paulo, 1993. – (Recursos no

Processo Civil; v. 4)

_______. Embargos de Declaração - Inovações da Reforma, Revista de

Processo, Ano 20, nº 80/27-29, Out-Dez 1995.

BARBOSA FILHO, Eurico. Embargos de Declaração e Prequestionamento,

Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil, Ano I, nº 5/57-60, Mai-

Jun 2000.

CAMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, v. II, 3a ed.,

Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2000.

CARNEIRO, Athos Gusmão. Dos Embargos de Declaração e seu Inerente Efeito

Interruptivo do prazo Recursal, Revista Síntese de Direito Civil e Processual

Civil, Ano II, nº10/5-9, Mar-Abr 2001.

CRETELLA JÚNIOR, José. Comentários à Constituição Brasileira de 1988, 2a ed.,

Editora Forense Universitária, 1993.

CORRÊA, Luiz Artur de Paiva. Embargos de Declaração e seus Efeitos, Revista

Síntese de Direito Civil e Processual Civil. Ano I, nº2/56-60, Nov-Dez 1999.

DALL’AGNOL JR., Antonio Janyr. Embargos de Declaração, Revista Jurídica, Ano

48, nº 275/75-89, Set. 2000.

Page 42: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

42

JÚDICE, Rodrigo M. de A. Embargos de Declaração de Embargos de

Declaração, Revista de Processo, Ano 22, nº86/350-361.Abr-Mai, 1997.

MARQUES, José Frederico. Manual de Direito Processual Civil, 1a ed., v. III,

Bookseller, Campinas, 1997.

MIRANDA, Pontes de. Comentários ao Código de Processo Civil. Tomo VII (arts.

496 a 538). 3a ed., Atualização Legislativa: Sergio Bermudes, Forense, Rio

de Janeiro, 1999.

MIRANDA, Vicente. Embargos de Declaração no Processo Civil Brasileiro,

Saraiva, São Paulo, 1990.

MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil, vol.

V, Forense, Rio de Janeiro, 1974.

_______. Comentários ao Código de Processo Civil, Lei nº 5.869 de 11 de

Janeiro de 1973, vol. V, arts. 476 a 565, Forense, Rio de Janeiro, 1999

_______. O Novo Processo Civil Brasileiro, 18a ed., Forense, Rio de Janeiro,

1996.

NEGRÃO, Theotônio. Código de Processo Civil e Legislação Processual em

vigor, 29a ed., Saraiva, São Paulo, 1998.

NERY JUNIOR, Nelson. Princípios Fundamentais: Teoria Geral dos Recursos, 2ª

ed. rev. e ampl., Revista dos Tribunais, São Paulo, 1993.- (Recursos no

Processo Civil; v. 1)

NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria Andrade. Código de Processo Civil

Comentado, 3a ed., Revista dos Tribunais, São Paulo, 1997.

Page 43: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

43

NOGUEIRA, Antonio de Pádua Ferraz. Princípios Fundamentais dos Embargos

de Declaração. (Com as Alterações da Lei 8.950/94). Revista de Processo,

Ano 20, nº77/7-19, Jan-Mar 1995.

PAULA, Alexandre de. Código de Processo Civil Anotado, v. II (arts.270 a 565),

5a ed. rev. e atual, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 1992.

_______. Processo Civil à Luz da Jurisprudência, v. IV (novo suplemento),

Forense, Rio de Janeiro, 1998.

REIS NETO, Carlos Humberto. Comece a Peticionar, Sugestões Literárias, São

Paulo, 2001.

SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 15a ed.,

v. III, Saraiva, São Paulo, 1995.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 6a ed. rev. e

ampl. de acordo com a nova Constituição, Editora Revista dos Tribunais,

São Paulo, 1990.

THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 31a ed., v. I,

Forense, Rio de Janeiro, 2000.

WAMBIER, Luiz Rodrigues. ALMEIDA, Flávio Renato Correia de. TALAMINI,

Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil, 3a ed., v. I, Revista dos

Tribunais, São Paulo, 2000.

Page 44: Embargos de Declaração Com Efeito Modificativo DE MENEZES REIS.pdf · embargos declaratórios, que passaram a ser regulados somente no título X do vigente Código de Processo Civil,

44

ANEXOS