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Emergência JULHO / 2006 - revistaemergencia.com.br · Muitos tentaram se matar duas ou três vezes em função disto. Então, mostro para eles a importân-cia da religiosidade, não

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A número 1 Revista trimestral sobre proteção e combate aincêndio, resgate e emergência, atendimento pré-hospitalar e emergências químicas

DIRETORAlexandre Gusmão

SedeRua Lucas de Oliveira, 49 - cj 401Fone (51)2131-0400 - Fax (51)2131-044593510-110 - Novo Hamburgo - RS

E-mail:[email protected]

Site: www.revistaemergencia.com.br

São PauloAv São Luís, 86 - cj 191Fone/fax (11)3129-458001046-000 - São Paulo - SP

REDAÇÃOFone: (51)2131-0422E-mail: [email protected]

Editora: Paula Barcellos

Textos: Cristiane Reimberg, Lia Nara Bau, PaulaBarcellos e Sabrina Auler

Foto de capa: Tenente Miguel Jodas/Assessoria deComunicação do Corpo de Bombeiros/SP

Ilustração: Gabriel Renner

Editoração Eletrônica: Karina L. Coelho de Brito eScheila Cristina Wagner

PUBLICIDADERio Grande do Sul:Fone/fax: (51)2131-0430E-mail: [email protected]: Rose Lanius

São Paulo:Fone/fax: (11)3129-4580E-mail: [email protected]: João Batista da Silveira

CIRCULAÇÃOFone/fax: (51)2131-0410E-mail: [email protected]: Cristina Juchem Martins

Assinatura1 ano (4 edições) R$48,002 anos (8 edições) R$82,00Assinatura exterior:1 ano (4 edições) US$30.00Exemplar avulso: R$15,00

ASSINATURAS NOS ESTADOS São Paulo (11)3129-4580 Minas Gerais (31)3081-0802 Goiás: (62)3945-5711 Rio de Janeiro(21)2580-8755 Rio Grande do Sul (51)2131-0440

Reprodução de artigos somente com aautorização do editor. Emergência não seresponsabiliza por opiniões emitidas em artigosassinados, sendo estes de responsabilidade de seusautores.

Tiragem de 10.000 exemplares auditada pelo IVC(Instituto Verificador de Circulação)

Emergência é filiada à ANATEC - AssociaçãoNacional das Editoras de Publicações

A revista Emergência é editada pela

Impressão:Sociedade Vicente Pallotti

O surgimento de uma nova revista é um momento sempreespecial. Gera ansiedade na equipe que a desenvolve eexpectativa junto ao mercado. Quando a MPF PublicaçõesLtda, em 2003, passou a desenvolver o projeto de implantaçãodesta revista, procurou, antes de tudo, identificar o perfilmais adequado ao Brasil. Inspirado em publicações interna-cionais, mas calcado na realidade brasileira, projetou-se umapublicação técnica que abordasse temas até hoje espalhadosem outros veículos, mas que têm ligação e é resumido pelapalavra emergência. Ficou claro que o nome da revista nãopoderia ser outro.

A proposta da Revista Emergência é reunir informações,reportagens, artigos sobre as áreas de incêndio, resgate e

emergência, atendimento pré-hospitalar e emergênciasquímicas.

Nos últimos meses, uma equipe trabalhou para pesquisarjunto a estes setores que, embora às vezes estejam sepa-rados, se reúnem quando uma emergência ocorre. Você temem mãos o resultado deste trabalho com o número 1 da novarevista. A equipe da Emergência acredita que este projetopossa dar sua parcela de contribuição para que as açõesnesta área sejam cada vez mais profissionais. Esperamosque você goste deste novo projeto. Tenha certeza de que hámuita dedicação por traz dele.

Boa leitura

OPINIÃO

SEÇÕES

ENTREVISTAProfissionais de urgência têm cotidiano estressante. O

tenente coronel e psicólogo, Ib Martins Ribeiro, fala sobrea necessidade de se gerenciar o estresse da atividade.

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LEIS E NORMASAs principais legislações recentes de interesse dos

profissionais de emergência estão nesta seção.

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ATUALIZANDOPresenças internacionais debateram as novidades sobre

as diretrizes de emergências médicas, num evento em SP.

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ESPECIALComo está a integração entre os órgãos de atendimento

às ocorrências no país? Profissionais dizem estarmoslonge de uma interação perfeita. Falta de estrutura e de umnúmero central para chamadas são alguns dos problemas.

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24 HORASEmergência acompanhou o dia inteiro de trabalho de uma

enfermeira do Samu, de Campinas, em São Paulo.

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INTERNACIONALO paramédico norte-americano Larry Newell fala de

evolução e das tendências mundiais nas ações de urgência.

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EVENTOSCursos nacionais e internacionais do setor oferecem

opções na busca de aperfeiçoamento profissional.

5656

EMERGÊNCIARESPONDEPerguntas dos leitores são respondidas pelos consultores.

5454

REPORTAGEMCorpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro completa

150 anos este mês. Sua história e conquistas sãoretratadas em reportagem especial.

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PRODUTOS& SERVIÇOS

Espaço para as tecnologias em equipamentos e serviços.

6060

DICAS DE EMERGÊNCIAÉ preciso atentar para detalhes no

uso do Desfibrilador Externo Automático.

5353

RESGATEA tragédia da Vila Socó, ocorrida há mais de 20 anos, éresgatada através de pesquisas e depoimentos de quem

vivenciou o acontecimento na época.

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SAÍDA DE EMERGÊNCIAUm noticiário sobre ocorrências que acontecem no país e

no mundo, curiosidades e história sobre a área.

6262Publicações Ltda

Emergência 3JULHO / 2006

ENFERMAGEMA organização de assistência num acidente

industrial ampliado e informações relevantes parao enfermeiro é tema de artigo.

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DEFESA CIVILArtigo fala da necessidade de uma estrutura

federal equilibrada e uma cultura prevencionista paraa Defesa Civil Brasileira.

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ENTREVISTA

Emergência JULHO / 20064

IB MARTINS RIBEIROTenente coronel da reserva da Polícia Militar do Esta-

do de São Paulo, psicólogo e consultor em psicologia deemergências, Ib Martins Ribeiro, desde 1977, vem aten-tando para os problemas emocionais dos profissionaisde emergência. Na época, era guarda de trânsito e sou-be que um colega havia morrido. “Mas o pessoal comen-tou que ele não estava bem e pensava em se matar”,recorda. Já em 1980, no Corpo de Bombeiros, presen-

ciou o desespero de outro colega ao retiraremuma criança que havia morrido em um poço.

“Foi quando decidi fazer psicologia”, re-vela. Formado em 1986, numa época

em que psicologia era incipiente paraestes profissionais, o coronel já atuouno Centro de Seleção, Alistamentoe Estudos de Pessoal da PM deSP durante nove anos, tendo sidochefe por três anos. Tambématuou na Secretaria da Saúde eno Centro de Assistência Social,Religiosa e Jurídica (CASRJ)também da PM de SP. De lápara cá, vem fazendo cursose treinamentos, teórico e prá-tico, envolvendo a questão doestresse, estresse pós-trau-mático e suicídio.

PERFIL

Estresse no trabalho◗ Importância do gerenciamento do estresse para os profissionaisque lutam contra o tempo e contra a morte em seu cotidiano

Por .......

P rofissionais de emergência têm que estar a postos para qualquerocorrência, não interessa onde, nem quando, nem como.Considerados heróis pela maioria das pessoas, este status ultra-

ENTREVISTA

passa os limites da compreensão quando torna-se um risco de vida ou umapressão psicológica, afetando a saúde mental e fazendo com que os mesmossigam, até mesmo, os passos do suicídio. “Mas quem lembra disto?”, questionao psicólogo e consultor em psicologia de emergência, Ib Martins Ribeiro.Responsável por fazer um trabalho junto aos profissionais de urgência, comopoliciais, bombeiros, resgate, Defesa Civil e saúde, em São Paulo, Ib procura

fazer com que eles deixem de lado as questões culturais que não os permitemdialogar e expressar sentimentos, abrindo espaço para os aspectos emo-cionais e psicológicos, muitas vezes, prejudicados pelas características dotrabalho de emergência. O intuito desta atividade é dar a compreensão de queeles são seres humanos com problemas físicos e psicológicos como qualqueroutra pessoa. Através desta nova visão, os profissionais vêm trabalhando aauto-estima, a segurança e a confiabilidade, o que reflete numa melhoria daqualidade de vida com a família e diretamente no trabalho.

PORQUE É IMPORTANTE OGERENCIAMENTO DO ESTRESSE PARA OPROFISSIONAL DE EMERGÊNCIA?

Certa vez, eu estava fazendo um patrulha-mento e, de repente, vejo um policial fardadoque estava sangrando por um problema de saúde

e tive que levá-lo para o hospital. Agora, imaginese está acontecendo um assalto naquele momen-to? O policial não pode nem se recusar a atender.Para as pessoas pouco importa se o policial estábem ou não. Elas querem ser socorridas e pronto.O profissional de emergência é aquele que socorreas pessoas em situações críticas, em catástrofese no risco de vida, pois se ele não tomar umamedida imediata, rápida, eficiente, as pessoas

morrem. É neste momento que ele entra naqueleprocesso de culpa: “O que eu fiz de errado?”.Acaba tendo uma pressão muito grande em cimadisto. Além disso, quando existe uma situaçãoem que envolve cadáver, sangue, o corpo reagede imediato e pensa: “Meu Deus, eu sou o pró-ximo a morrer!”. Então, gera todo aquele proces-so de estresse que é exatamente o que? Defen-der a sobrevivência do organismo.

ELE É IMPORTANTE PARA QUE OPROFISSIONAL CONSIGA ATUARCORRETAMENTE?

Sim, pois o estresse é um resquício, da épocadas cavernas, exatamente procurando manter ocorpo vivo. Quando o corpo percebe um sinal deperigo, seja ele verdadeiro ou não, ele se preparapara lutar ou para fugir. Qual é a resposta naturaldiante de um incêndio ou de um tiroteio? É fugir.Já o bombeiro e o policial vão para cima. Então, oprofissional de emergência, em primeiro lugar,ele já começa a agredir o próprio organismo,indo contra o instinto natural. É aí que começaum desgaste muito maior, além do desgaste natu-ral do corpo que se prepara para o estresse nu-ma situação crítica que exige a fuga. E ele precisaaprender a gerenciar tudo isto. Ele começa agastar uma energia absurda para manter istofuncionando, pois o coração bate mais forte, arespiração fica mais forte, o raciocínio mais rápido,e por aí afora.

DE QUE FORMA ELE TEM QUEGERENCIAR ISTO?

Ele tem que primeiro entender que isto é umacoisa natural. Quer dizer, são atendidas váriasocorrências no mesmo dia e corpo se preparoutodas as vezes para isto. Daí em um uma semana,

Paula Barcellos

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ENTREVISTA

Emergência JULHO / 20066

seja através de medicamentos, quer através deterapia, e, normalmente, a solução mais barataacaba caindo onde? Na atividade física. Quandoentramos em uma situação de estresse, temosuma descarga de adrenalina e outros hormôniosmuito forte que vão deixando o corpo cada vezmais tenso. Quando chega no final do dia, duranteo qual se enfrentou problemas sérios, o corpoestá dolorido, mas fazendo uma atividade físicaele relaxa. Se o profissional fizer um alongamentoe uma boa respiração toda essa musculatura sesolta e a energia começa a fluir mais facilmente.Com isto, consegue dormir melhor, se alimentarmelhor e pensar melhor. Essa é a importância daatividade física, além disto, ela vai aumentar aresistência dele em relação ao estresse.

E ESTA SERIA UMA DAS SOLUÇÕES?Sim, uma das soluções. Imagine um triângulo.

Do lado esquerdo o aspecto intelectual (cognitivo)que nada mais é do que treinamento técnico. Dolado direito, a parte física. Na base desse triânguloestá o aspecto emocional e em seu centro aespiritualidade. O aspecto emocional está na basedeste triângulo, pois, para você gerenciar o es-tresse, o que é preciso? Ferramentas. Uma delasé saber que aquelas coisas existem. Então, passopara o profissional ferramentas, mostrando queisso é uma coisa normal, natural, que não pre-cisa ter vergonha do que está acontecendo comele. Também falo sobre a espiritualidade doindivíduo. Por exemplo, uma criança foi violentada

ou morreu queimada no incêndio. Muitas vezes,bombeiros e policiais confessaram a mim quenão acreditavam em nada, pois se existisse um“Deus”, ele não deixaria acontecer isto a crianças.Muitos tentaram se matar duas ou três vezes emfunção disto. Então, mostro para eles a importân-cia da religiosidade, não importa qual, mas umaque ele se sinta bem e possa trabalhar bem.Trabalhando bem, ele sai mais rápido de umasituação de estresse pós-traumático e evitachegar ao suicídio.

O ÍNDICE DE SUICÍDIOS É MUITO GRANDEENTRE ESTES PROFISSIONAIS?

Temos que ensinar que em nossa vida, todostemos problemas, mas o que acontece? Quandoestamos bem, temos um grande leque desoluções para este problema. E dentro deste lequede opções a morte é uma delas. Nós temos ocontrole sobre algumas coisas, mas sobre asocorrências que iremos atender não, mesmo nãoestando bem para atendê-las. Às vezes a pessoaestá com vontade de se matar, mas tem quesalvar alguém. O que acontece? O suicídio nãosurge de uma hora para outra, ele vai se desen-volvendo na história de vida da pessoa, o lequevai diminuindo cada dia mais até que um dia apressão está tão grande que a idéia de se matarse torna extremamente atraente. Só que, muitasvezes, para se matar, você precisa encontrar umaforma de fazer isto. Então, em alguns casos, seacelera a viatura sem necessidade, por exemplo.Se ele morrer nesta situação o que acontece?Vira herói, a família recebe o seguro e ninguémfica sabendo que ele se matou. Por isto, é im-portante evitar que a pessoa passe por toda estafase, que entre no estresse, na depressão e noestresse pós-traumático.

E EXISTE UM LEVANTAMENTO DESTESSUICÍDIOS?

Segundo dados da PM de São Paulo, que en-volve tudo, bombeiros, polícia, profissional de trân-sito, no Estado, por exemplo, o número de sui-cídios dos profissionais de emergência, é de seisa oito vezes maior que da população geral. Mas énormal este índice ser maior entre os profissionaisde emergência. Nós perdemos muita gente. Pa-ra você ter uma idéia, de 1994 até 2005, foram290 profissionais da área de emergência que sesuicidaram.

O ALCOOLISMO E USO DE DROGAS ÉINTENSO ENTRE ESTES PROFISSIONAIS?

O álcool é um antidepressivo barato, então vocêbebe para ficar alegre, para relaxar. E quando setrabalha num grupo de emergência se vê quemuitos do grupo bebem para relaxar. Além doque, existe uma pressão indireta do próprio grupo

um mês ou um ano o profissional começa a ensi-nar para o seu organismo que existem algunscomportamentos que são normais, por exemplo,o coração bater mais forte, a pressão ficar maisalta. Então, com o tempo, irão surgir problemascardíacos, problemas respiratórios, problemas depele, problemas intestinais, problemas estoma-cais, entre outros. E estou só falando da partefísica. Na parte emocional, para lutar e se defen-der, o profissional tem que se tornar muito maisagressivo e incisivo, tanto verbal quanto fisica-mente. Desta forma, o profissional de emergênciavai se tornando mais agressivo e as outras pes-soas que estão em volta dele começam a ficarincomodadas. Para melhorar este comportamentoeu trabalho com um grupo de, no máximo, 25pessoas e vou mostrando para eles como o es-tresse vai acontecendo, como o corpo reage di-ante do perigo, como os profissionais de emer-gência contrariam este movimento natural do cor-po, os desgastes que se tem e as conseqüentesdoenças que vão surgindo. A partir daí, eles vãoidentificando estes problemas em si mesmos edentro do grupo. Começam a ficar mais à vontadee a falar de seus próprios problemas e dificulda-des emocionais porque percebem que os outrosprofissionais também sentem o mesmo. E ogrande problema que se tem com o profissionalda emergência é que ele tem sempre que manteraquela postura de força, pois problema emocionalé coisa de mulher.

A FIGURA DO HERÓI ENTRE ESTESPROFISSIONAIS DA ÁREA É MUITOFORTE. ATÉ ONDE ISTO PODEPREJUDICÁ-LOS?

É muito forte, mas a coisa ruim é você seconsiderar herói, porque começa a buscar isso aqualquer preço. O bombeiro costuma falar assim:“mas eu tenho que salvar nem que custe a minhavida!”. Mas se ele morrer, ele não salva mais nin-guém. Vemos isto, principalmente, em profissionaismuito jovens.

E TEM UMA FORMA DE MOSTRAR QUEEXISTEM LIMITES PARA ISTO?

Tem que treinar este homem, tanto no aspectocognitivo, como no físico, emocional e espiritual.O treinamento de rappel é muito bom para isso.É preciso mostrar para ele quais são seus errose trabalhar estes erros. Aprender a confiar noequipamento e nele, pois a partir daí ele podefazer muita coisa.

COMO É TRABALHAR A PARTE FÍSICA,EMOCIONAL E TÉCNICA DE UMPROFISSIONAL DE URGÊNCIA?

Hoje se gasta muito no mundo todo, tentandoencontrar maneiras de controlar o estresse, quer

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Emergência 7JULHO / 2006

para que todos bebam para relaxar após a ocor-rência. E o profissional vai bebendo. Bebe umgolinho hoje, mas quando está numa depressãoperde a conta.

TRABALHAR A PARTE EMOCIONAL NAEMERGÊNCIA NÃO É COMPLICADO EMVISTA DA POSTURA RÍGIDA DOSPROFISSIONAIS?

Trabalho muito em função de mostrar paraeles o que está acontecendo com o estresse eestimulando para que eles falem e aprendam aouvir também. Neste sentido, costumo fazer umtrabalho chamado roda da fogueira, onde colocoo grupo em torno de uma fogueira imaginária eeles falam sobre a infância, as coisas boas queaconteceram. É quando começam a aparecertambém as coisas ruins. No outro dia, falamtambém sobre as ocorrências boas e ruins. Comisto, o profissional sente que as pessoas têmproblemas tanto quanto ele e, às vezes, tão maisfortes que os dele. Você vai, desta forma, que-brando esta barreira e ele sente-se seguro,acolhido e amparado, pois o grupo entende tudoque ele fala e, com isto, ele evolui tanto na vidapessoal quanto na profissional.

É DIFERENTE TRABALHAR O LADOPSICOLÓGICO DE QUEM ATENDE UMCOMBATE A INCÊNDIO SEM VÍTIMAS DE

QUEM RESGATA FERIDOS E MORTOS?O problema não é apenas a ocorrência em si,

mas é como este profissional de emergência vaiperceber e interpretar essa ocorrência. O que vaidiferenciar uma ocorrência da outra? A maneiracomo ele interfere nela. Se ele estiver com aqueletriângulo bem equilibrado, intelectualmente bem,tecnicamente, muito bem treinado, fisicamente eemocionalmente bem, que problema ele vai ter?Ele conseguirá desenvolver o trabalho deleadequadamente, bem como os resquícios emo-cionais da ocorrência. Caso necessário, terá co-ragem de procurar socorro. O profissional deemergência que vai procurar ajuda se recuperamuito mais rápido.

O NÃO EQUILÍBRIO DE UM PROFISSIONALDE EMERGÊNCIA PODE RESULTAR EMATENDIMENTO MAL SUCEDIDO?

No caso de um acidente de carro, por exemplo,

a equipe fica por horas tentando tirar a pessoadas ferragens, segurando a mão e conversandopara mantê-la acordada. Mas ela acaba morren-do. Aí vem aquela sensação de impotência, deculpa. Porém, vamos supor agora que a vítimasobreviveu. Ela vai ser socorrida, fica com al-gumas seqüelas emocionais, só que a família levanum psicólogo para tratamento e, em poucotempo, ela estará boa. E com o profissional deemergência? As seqüelas emocionais não foramcuidadas, tratadas. Alguém vai tratar? Não. Elesegue atendendo outras ocorrências. Nestesentido, o profissional da emergência é hoje umaespécie de vítima que ninguém lembra. Se elenão possuir aquele triângulo equilibrado comoele vai trabalhar? Não vai conseguir raciocinardireito e o risco de tomar uma decisão errada émuito grande.

COMO O SENHOR PERCEBE A EVOLUÇÃODO ESTRESSE NOS DIAS DE HOJENESTES PROFISSIONAIS E O QUE SUGEREPARA AMENIZAR ESTE PROBLEMA?

Eu acho que não só a instituição tem que sepreocupar com a pessoa, mas o profissional temque sair daquela posição cômoda de achar que ainstituição é responsável por tudo. Ele tem queter uma postura profissional e assumir: eu tenhoque procurar ajuda. Eu acho que isto é impor-tante.

O profissional de emergênciaque vai procurar ajuda serecupera muito mais rápido“““

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ATUALIZANDO

Emergência JULHO / 20068

Profissionais trazem atualizações para o setor

Discussões internacionaiss novas diretrizes de RCP (Res-suscitação Cardiopulmonar) e ACE(Atendimento Cardiovascular deA

Emergência), publicadas em novem-bro de 2005 pela American Hearth Asso-ciation, foi um dos aspectos tratados noEncontro Internacional ECSI 2006 & Ins-tructor Orientation realizado em Bra-gança Paulista/SP, no mês de maio. Dentreos palestrantes internacionais convida-dos, esteve presente Larry Newell, para-médico e diretor executivo do ECSI (E-mergency Care and Safety Institute), nosEstados Unidos, – um sistema de treina-mento para atendimento às emergênciasdesenvolvido pela AAOS (American Aca-demy of Orthopaedic Surgeons) – e en-dossado pelo ACEP (American College ofEmergency Physicians) – ver entrevistaExperiência internacional, na página 38.Larry Newell expôs sobre as mudançasimportantes nas diretrizes 2005, entreelas, reiterou sobre a aplicação da RCPimediata e da aplicação de choques como DEA (Desfribilador Externo Automáti-co) em intervalos menores.

As diretrizes anteriores preconiza-vam aplicar uma seqüência de três cho-ques para então reavaliar a vítima e, senecessário, aplicar um minuto de RCP. “Se-gundo as novas diretrizes, competirá aosmédicos reguladores regionais des-crever protocolos que sejam realistas deacordo com as circunstâncias existentesem cada localidade ou instituição”, alertaRandal Fonseca, diretor executivo da RIT -Editora Randal Fonseca, responsável pelatradução e impressão do material didáticoECSI em português.

FORMAÇÃOSegundo o diretor, o objetivo do even-

to é formar novos instrutores para minis-trar cursos de atendimento às emergênci-as sob a égide do ECSI, “contando com umgrupo de instrutores que se desenvolveuao longo desses 12 anos de atividades doPrograma de Emergências que represen-tamos no Brasil”.

Outro ponto abordado no evento foi re-ferente à ampliação de programas de trei-namento oferecidos a partir de 2006 pelo

ENCONTRO

Por ano, oito milhões de pessoasleigas são treinadas em primeirossocorros nos Estados Unidos

FORA DOBRASIL

ECSI, que conta agora com mais de 50novos cursos on line relacionados à áreade atendimento às emergências. O mate-rial está em inglês, mas já vem sendo tra-duzido para o espanhol e português . Fu-turamente, o intuito é traduzí-lo para ou-

tros idiomas.Na oportunidade, também foi apre-

sentado como funciona o sistema deemergências médicas nos EUA e co-mo está organizado o processo detreinamento dos profissionais e leigosque integram esse sistema. Anual-mente, cerca de oito milhões depessoas leigas são treinadas em pri-meiros socorros nos EUA, formandoa base de uma pirâmide de respon-sabilidades. “Em um cenário de emer-gência, são pessoas comuns treina-das que farão a diferença ao ajudar”,explica Larry Newell.

Desde novembro de 2005, entraram emvigor as novas diretrizes de RCP (Reanima-ção Cardiorrespiratória) e ACE (Atendimen-to Cardiovascular de Emergência). As di-retrizes de 2005 baseiam-se na mais am-pla revisão da literatura já publicada sobreressuscitação.

Uma das principais mudanças, de acor-do com o novo consenso, é que o pacien-te com parada cardiorrespiratória deve sersubmetido, nos primeiros três minutosapós a parada, a 30 compressões (massa-

gem cardíaca) e duas ventilações (respira-ção boca a boca). Até agora, adotava-se15 compressões para duas ventilações. Anova diretriz vem comprovar também aimportância do Suporte Básico de Vidapré-hospitalar, que consiste em quatro pila-res: diagnóstico, acionamento da equipemédica, compressão e ventilação corretase uso do DEA (Desfibrilador Externo Au-tomático). Para o médico e presidente doGRE (Grupo de Resgate e Emergência),Paulo Guimarães, é importante entender,no entanto, que as diretrizes não são ver-dades absolutas. “Determinadas diretrizesque adotamos hoje, podem ser abandona-das no futuro, em virtude de estudos maisaprofundados e aparecimento de novastecnologias”, explica.

Segundo o instrutor de primeiros socor-ros e comissário de vôo, Roberto Cristianode Oliveira, as determinações locais tam-bém devem ser respeitadas. “Os protocoloslocais, pertinentes à determinada comuni-dade ou instituição, não contradizem asdiretrizes, mas as complementam”, afirma.

Os objetivos que nortearam as mudan-ças, além da evolução científica na abor-dagem da parada cardíaca súbita, tambémfoi o de simplificar o ensino da RCP paraas pessoas leigas, buscando atingir eficiên-cia e qualidade nas manobras, aumentandoo índice de sobrevivência. Informações nowww.americanheart.org.

Proposta é simplificar atendimentoDIRETRIZES

As principais modificaçõespara todos os socorristas

Ênfase para melhorar a aplicação de com-pressões torácicas eficazes.Uma única relação compressão-ventilaçãopara todas as vítimas (exceto recém-nascidos).Recomendação de que cada ventilação deresgate seja aplicada durante um segundo eproduza visível elevação do tórax.Nova recomendação de que a aplicação dechoques únicos, seguidos de RCP imediata, sejautilizada para tentar a desfibrilação em casos deparada cardíaca com FV (Fibrilação Ventricular).Aprovação da recomendação ILCOR 2003para o uso de DEAs em crianças de um a oitoanos e a utilização de um sistema de dosespediátricas.

Fonte: Currents

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ATUALIZANDO

Emergência JULHO / 200610

Congresso urgenteTransporte e resgate aeromédico foram

alguns temas de destaque do I Congressoda Rede Nacional do Samu 192, ocorridoem Brasília/DF. Isto porque a modalidadeestá sendo implantada nos Samus, atravésde convênio com a Polícia Rodoviária Fe-deral, onde serão disponibilizados doishelicópteros e mais 130 ambulâncias paraa Rede. Segundo a coordenadora geral deUrgência e Emergência do Ministério daSaúde e coordenadora da Rede NacionalSamu, Irani Ribeiro de Moura, a PolíciaRodoviária irá ceder os helicópteros epilotos, enquanto o Samu entrará com mé-dicos e enfermeiros. Os helicópteros se-rão destinados aos Estados de Pernambucoe Santa Catarina.

Realizado pela Coordenação Geral deUrgência e Emergência (CGUE) do Minis-tério da Saúde, o evento ocorrido emmarço contou com a participação de maisde 1.300 profissionais da Rede Samu, eos demais especialistas da área de emer-gências, gerentes e gestores de serviçose sistemas de atenção às urgências e àsaúde em geral.

Questões como organização regional,importância dos comitês gestores, ela-boração e pactuação de grades de refe-rência, regulação médica, organização dosserviços, capacitação e educação perma-nente dos trabalhadores foram debatidasno decorrer dos três dias de Congresso.

Segundo a coordenadora Irani Ribeiro

Evento da Rede Nacional oportuniza novas parcerias

AMBULANCHAS

SAMU

Na abertura do Congresso foi assinado o a-cordo de cooperação entre o Ministério daSaúde e da Defesa para a Marinha construirsete lanchas (ambulanchas) como reforço aoSamu. As unidades construídas pela Marinhaterão os mesmos equipamentos das UTIs epermitirão o atendimento em seis estados daRegião Norte e no Maranhão, garantindo a-tenção às urgências em localidades de difícilacesso, onde vivem comunidades ribeirinhas.As ambulanchas serão enviadas para o Samude Manaus/AM, Porto Velho/RO, Rio Branco/AC, Macapá/AP, São Luís/MA, Boa Vista/RR eSantarém/PA.

de Moura, o Congresso também trouxenovas perspectivas para o Samu. “Tivemosuma repercussão muito boa, pois firma-mos parcerias, como, por exemplo, com aSociedade Brasileira de Pediatria para oatendimento de urgências pediátricas”,assegura.

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Inaugurada unidade da Cruz VermelhaO Dia Internacional da Cruz Vermelha,

8 de maio, foi celebrado na sede doórgão central da Cruz Vermelha Brasileiracom uma solenidade que contou com apresença de diversas autoridades doEstado do Rio de Janeiro. Aproveitandoa data, foi realizada a inauguração daCruz Vermelha Brasileira – Filial do Es-tado do Rio de Janeiro.

Na oportunidade, o vice-presidenteEimar Delly de Araújo, apresentou umbreve histórico da criação do MovimentoInternacional de Cruz Vermelha e do Cres-cente Vermelho e ressaltou as principais

COMEMORAÇÃO

campanhas e realizações do Movimentonos últimos anos. “A situação da CruzVermelha Brasileira é bem mais modestae conta hoje com o apoio do Comitê In-ternacional de Cruz Vermelha, da Federa-ção e de Sociedades Nacionais da Espanha,Alemanha e Suécia no fortalecimento daimagem institucional.

A entidade também comemorou a datacom a tradicional atividade “Cruz Vermelhanas Praças”, com aferição de pressãoarterial, tipagem sangüínea, inscrição denovos voluntários e divulgação dostrabalhos da instituição.

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Emergência 11JULHO / 2006

É preciso atenção não sóaos danos materiais cau-sados por um desatre, mas

EMDEBATE

Psicologia das emergênciasEntre os dias 8 e 10 de junho ocorreu o

1º Seminário Nacional Psicologia das E-mergências e dos Desastres, em Brasília/DF. O evento foi promovido pelo Conse-lho Federal de Psicologia, em parceria como Ministério da Integração Nacional e De-fesa Civil, e contou com a participação decerca de 350 profissionais, entre psicólo-gos e técnicos de Defesa Civil.

A atuação da psicologia em situaçõesde emergência e desastres já é desenvol-vida em vários países da América Latina etem mostrado bons resultados. No Brasil,ainda existe uma cultura da “imprevidên-cia”, ou seja, as políticas baseadas na pre-venção deste tipo de evento são recentese frágeis. Segundo a psicóloga e gerentedo Departamento de Minimização de De-sastres da Secretaria Nacional de DefesaCivil, Daniela Lopes, o evento representaum avanço da Defesa Civil no Brasil. “Elereforça o processo de construção de umacultura prevencionista de administração dedesastres”, afirma.

No evento, profissionais de outros paí-ses discutiram a problemática dos desas-tres e a atuação da psicologia para ameni-zar o sofrimento das comunidades atingi-das. Participaram representantes do Chi-le, Espanha, México, Cuba, Estados Uni-dos, Costa Rica, Equador, Colômbia, entreoutros países. Todas as comunidades es-tão expostas a uma série de ameaças que

Seminário discute atuação dos psicólogos em desastres

DEFESA CIVIL

podem produzir um desastre, como inun-dações, temporais, epidemias e terremo-tos. A idéia foi discutir como os psicólo-gos podem contribuir para evitar estas si-tuações, seja atuando em parceria com ins-tituições governamentais, ou dentro daspróprias organizações comunitárias pormeio de uma educação ambiental maiseficiente. “É importante organizarmos aatenção aos danos não só materiais causa-dos por um desastre, como também aosdanos emocionais”, salienta Daniela. Apartir das discussões do Seminário seráproduzida uma publicação inédita que ser-virá de base para a formação dos futurosprofissionais.

Ação nos acidentesquímicos ampliados

O V Seminário sobre Prevenção de Aci-dentes Químicos Ampliados para o Siste-ma Nacional de Defesa Civil, ocorrido dias20 e 21 de junho, em Porto Alegre/RStrouxe um debate sobre os acidentes quí-micos ampliados, com abordagem na pre-venção, no planejamento e na resposta aemergências. Exemplos de acidentes fo-ram relatados por diversos profissionais. Ogerente do Setor de Operações de Emer-gência da Cetesb (Companhia de Tecno-logia de Saneamento Ambiental de SãoPaulo), Jorge Luiz Nobre Gouveia, abor-dou o rompimento de um duto e vaza-mento de GLP em Barueri/SP, em 2001,ressaltando as ações durante o sinistro. “Di-versas entidades atuaram, como Corpo deBombeiros, Cetesb, Defesa Civil e PolíciaRodoviária”, ressaltou.

O atendimento pré-hospitalar tambémganhou destaque no evento. O médico eresponsável pela implantação do SamuMetropolitano no RS, Cloer Vescia Alves,apresentou a estrutura do serviço, aindaem fase de implantação no país. FernandoVieira Sobrinho, da Fundacentro/SP, ava-liou o Seminário sob a perspectiva da inte-gração. “O evento foi excelente, auxilian-do na integração das entidades e divul-gando novas informações”, afirmou.

O evento foi promovido pela Fundacen-tro, Secretaria Nacional de Defesa Civil,Coordenadoria de Defesa Civil do RioGrande do Sul e DRT/RS.

SEMINÁRIO

AD

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ERTO

MA

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ES

também aos danos emocionais

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ATUALIZANDO

Emergência JULHO / 200612

Guia para emergências químicasOs principais aspectos que devem ser

considerados no atendimento a uma e-mergência com produtos perigosos estãono mais recente Guia Nacional de Aten-dimento a Emergências com ProdutosPerigosos da ABPCEA (Associação Brasi-leira de Prevenção e Controle de E-mergências Ambientais). Lançado no dia30 de maio, o Guia contempla a Resolu-ção n° 420 de 12/02/2004 da ANTT (A-gência Nacional Transportes Terrestres),além de trazer instruções básicas de aten-dimento emergencial a partir da experi-

ABPCEA lança publicação para atendimento a situações de risco

PRODUTOS PERIGOSOS

ência de profissionais renomados. Busca-se, assim, não apenas dar o dispositivo le-gal como proporcionar o seu entendimen-to. Ainda apresenta a relação de produtosperigosos, dando informações como graude risco, limites por veículo e embalagens.Outro fator positivo é que o Guia trabalhaa questão da responsabilidade social doempresário e a importância da realizaçãode programas preventivos para a diminui-ção dos acidentes ambientais e de suasconseqüências, apontando também res-ponsabilidades e a necessidade de comu-nicação do acidente. No lançamento, esti-veram presentes o presidente da entidade,José Guilherme Berardo, a diretora secre-tária da ABNT, Glória Benazzi, e tambémmembros do Corpo de Bombeiros, daPolícia Rodoviária Estadual e Federal,Cetesb, Samu, Abiquim (Associação Bra-sileira da Indústria Química), concessio-nária Ecovias, entre outras entidades. Maisinformações pelo telefone (11) 3177-6363ou através do e-mail abpcea@ terra.com.brGuia traz instruções básicas de atendimento

O II Seminário Empresarial de Preven-ção a Incêndio e Emergências do PAM(Plano de Auxílio Mútuo) de Santo Ama-ro, em São Paulo, contou com a partici-pação de profissionais da área, reunidospara troca de conhecimentos. Entre ospalestrantes, o capitão do Corpo de Bom-beiros e comandante do 2º Grupamentode Bombeiros da Zona Sul, Rogério Gui-dette, falou sobre o papel do Corpo deBombeiros na Região de Santo Amaro paraas empresas e comunidade. O capitão daDefesa Civil, Wagner Luís Cardoso Mora,ministrou a palestra ”Administração deEmergências”, e o engenheiro de Segu-rança do Trabalho, Cláudio César Abreude Oliveira, abordou o tema “Comunica-ção com a Mídia: Antes, Durante e ApósEmergências”.

O consultor e diretor técnico da empresaEcoSeg, Luiz Cláudio Santana, falou sobrea “Atuação do PAM nas empresas filiadas”.“A palestra abordou toda a trajetória doPAM Santo Amaro, desde sua fundação,

os documentos administrativos, o plano detrabalho, programa de treinamento anual,entre outros aspectos”, explica Santana.Para ele, a avaliação do evento foi total-mente positiva. “Os questionários defeedback demonstraram que 92% dospresentes aprovaram esta iniciativa doPAM”, garante. Oliveira compartilha damesma opinião: “Este evento pôde garantirao PAM ser conhecido por todas as institui-ções públicas e privadas da região e, comesta integração, pode atenuar perdasdecorrentes de eventuais emergências”,complementa. O evento, que ocorreu emabril, foi organizado pela Fare Fatto Ges-tões em Eventos e patrocinado pela Uni-versidade Anhembi Morumbi, Prot-Cap,Kidde e Dragersafety, com os apoios ins-titucionais da AAPSA (Associação Paulistade Gestores de Pessoas), ABSO (Associa-ção Brasileira dos Profissionais em Segu-rança Orgânica), Associação Comercial deSão Paulo - Distrital Santo Amaro, Corpode Bombeiros, Inpame e Sintesp.

Administrando emergênciasPAM

TASK

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Defesa Civil RSfiscaliza transporte

Fiscalizações de transporte de produtosperigosos fazem parte da agenda de ope-rações da Defesa Civil do Rio Grande doSul. Realizadas, em média, a cada doismeses, recentemente a operação foi feitaem Torres/RS, em abril.

A ação contou com 52 profissionais, emparceria com Ibama, Inmetro, Polícia Ro-doviária Federal, Fepam, Secretaria da Saú-de, Secretaria da Fazenda, Secretaria Mu-nicipal da Saúde de Torres, Brigada Militare Corpo de Bombeiros. “Ainda estão pre-vistas para este ano outras sete operaçõesno Estado, incluindo a participação eintegração de diversos órgãos, o que tor-na a fiscalização mais intensa, coerente edetalhada”, informou o coordenador daDefesa Civil/RS João Luiz Soares. A fisca-lização contabilizou 426 veículos fiscaliza-dos, sendo que 35 deles transportavamprodutos perigosos. Quatro veículos foramretidos e 46 foram autuados por irregulari-dades.

Em março, a fiscalização ocorreu no mu-nicípio de Erechim. A operação refletiu nafiscalização de 382 veículos de carga,emitindo 76 autuações e 16 retenções. En-tre os veículos vistoriados, 26 transportavamprodutos perigosos. As irregularidades maisfreqüentes são a falta ou defeito de equipa-mento obrigatório de segurança e o acon-dicionamento inadequado de carga como,por exemplo, o transporte na mesma car-roceria de produtos químicos e alimentíci-os. Segundo o coordenador desta opera-ção, major Jair Euclésio Ely, iniciativas comoesta fazem parte de um protocolo firma-do entre os Governos dos Estados do RioGrande do Sul, Santa Catarina, Paraná eMato Grosso do Sul e ocorrem, simulta-neamente, nos quatro estados.

FISCALIZAÇÃO

Operação de fiscalização já autuou 122 veículos

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Emergência 13JULHO / 2006

Salvamar revive sua trajetóriaO Memorial Salvamar, do ex-

tinto Serviço de SalvamentoMarítimo do Rio de Janei-ro, está aberto a visitações.Por iniciativa dos rema-nescentes do serviço, foiinaugurada a sede da As-sociação dos Remanes-centes do Salvamar, como objetivo de homenageartodos que participaram dogrupo e também proteger oacervo que conta a sua história. NaAssociação há uma mostra permanente empainéis com mais de mil fotos que repre-sentam o trabalho dos Guarda-Vidas emdiversas épocas.

João Ferreira da Costa, membro da As-sociação, conta sua trajetória em busca dematerial para o acervo. “Não sabíamos maisdo paradeiro dos companheiros ou se jáhaviam partido, então promovemos o 1ºEncontro dos Remanescentes do Salvamar,

Memorial apresenta acervo dos Guarda-Vidas do Rio

HISTÓRIA

em 2002”, diz. Então, no anoseguinte, surgiu a idéia de es-

tabelecer uma sede e umacervo histórico. “Com opassar dos anos, após aextinção do serviço desalvamento, a sensaçãoera de que nunca havía-mos existido, devido à

falta de comunicação e denotícias dos companheiros”,

fala Costa, relatando a necessi-dade da criação do acervo. “Não que-

ríamos que a história do nosso serviço ca-ísse no esquecimento, o que já estavaacontecendo”, conta.

O Salvamar foi o primeiro serviço desalvamento de praia na orla marítima bra-sileira, porém, foi extinto em 1984. OMemorial pode ser visitado todas as quin-tas-feiras, a partir das 14h, na Rua da Lapa,120. Informações pelo telefone (21)2232-2678.

Régis Bittencourtlidera acidentes

A Régis Bittencourt foi a rodovia queregistrou mais acidentes ambientais no anopassado em SP, com 24 ocorrências, segun-do dados divulgados pela Cetesb (Compa-nhia de Tecnologia de Saneamento Ambi-ental do Estado de São Paulo). Em seguida,aparecem as rodovias Washington Luiz,com 19 casos, e a Dutra, com 17. Segundodados do “Relatório de Emergências Quí-micas Atendidas pela Cetesb em 2005”,foram realizados, no total, 419 atendimen-tos emergenciais. O número é menor queos 475 atendimentos registrados em 2004.De acordo com o relatório, a maioria dasemergências químicas registradas no anopassado envolveu líquidos inflamáveis(35%). Porém, em muitos atendimentos,não foi possível identificar o produto ou asubstância não foi considerada perigosa,apesar de poder causar impacto ao meioambiente. A Cetesb afirma que em 56,5%dos casos registrados em 2005 houve con-taminação ou impacto no solo e em 30%os recursos hídricos foram atingidos.

RODOVIA

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ATUALIZANDO

Emergência JULHO / 200614

Informações sobresubstâncias tóxicas

A população e os profissionais de saúdecontam agora com um 0800 para tirardúvidas e fazer denúncias relacionadas aintoxicações. A Anvisa criou o Disque-In-toxicação, que atende pelo número 0800-722-6001. A ligação é gratuita e o usuárioé atendido por uma das 36 unidades daRenaciat (Rede Nacional de Centros deInformação e Assistência Toxicológica) es-palhadas pelo país. Gerando respostas rá-pidas, o 0800 presta esclarecimentos à po-pulação e auxilia os profissionais de saúdea prestarem os primeiros socorros e a pres-creverem o tratamento terapêutico ade-quado para cada tipo de substância tóxica.Em alguns casos, o atendimento pode serpresencial. Com uma rede de informaçãosistematizada é possível ainda delinear ummapa da situação do País no que diz res-peito à intoxicação.

SERVIÇO

Preparando para a açãoResgatistas, bombeiros, Defesa Civil, pro-

fissionais de emergências químicas e deSegurança do Trabalho do Brasil e exteriorestiveram presentes na 5ª edição do CursoInternacional de Emergência com ProdutosQuímicos realizado pela Copesul (Com-panhia Petroquímica do Sul), em Triunfo/RS, no final de maio. A participação deórgãos públicos como Defesa Civil, bombei-ros e profissionais da Cetesb neste treina-mento, junto aos profissionais da empresae seus fornecedores, vem atentar paraconscientização sobre o atendimento dasemergências químicas numa maior ampli-tude. “Podemos ter emergências químicasdentro de nossa planta ou fora. Além disto,não necessariamente elas estão voltadasa algo dentro do nosso segmento ou denossa responsabilidade. Então, com isto,estamos capacitando o nosso pessoal e acomunidade para prestar atendimento emqualquer emergência química que estejaacontecendo no âmbito em que estejamlocalizados. É isto que procuramos fazer acada ano, além de estarmos atualizadostecnologicamente em como atuar nestasemergências”, destaca o executivo da áreade Prevenção e Controle de Emergênciasda Copesul, Roger Kirst.

EXERCÍCIOSEmergências químicas que envolveram

vazamentos, incêndio e vítimas foramdesafios expostos aos participantes na

Emergências químicas foram tratadas de forma teórica e prática

forma de exercícios práticos. “O objetivo erajustamente que eles gerenciassem asdemandas que estavam surgindo na opor-tunidade, através de um sistema uniformede comando, onde cada um tem sua função,estabelecendo um planejamento tático”,revela o instrutor do curso, Rubens CésarPerez. “Tentamos mostrar para eles quaisseriam as ferramentas, o protocolo e etapasbásicas numa emergência. Uma delas éreconhecer o produto, na seqüência, o po-tencial de dano, e a forma de controlar”,cita. Mas o instrutor lembra que é importantedesenvolver a atividade de resposta comsegurança e sempre ajustar a informação.Roger Kirst diz que para reagir em eventoscomo este é necessário ter pessoal ca-pacitado para fazer os procedimentos dereação, reconhecer o equipamento dispo-nível e mais adequado para a situação. Massó isto não basta. “É preciso ter treinamentoprático, pois ele é quem vai condicionar aspessoas na hora da ação”, enfatiza.

Este treinamento foi bem vindo pelosprofissionais presentes. O exercício práticofeito pelo engenheiro elétrico e coor-denador de 54 brigadistas da CompanhiaBrasileira de Metalurgia e Mineração, deAraxá/MG, Lourenço de Moura, o fez sen-tir-se mais apto para atuar em emergênciasquímicas. “Tive um extremo conhecimentotécnico e prático. Nós fizemos um teste aquihoje, que se eu fosse fazer antes do curso,eu não faria tão corretamente”, destaca.

TREINAMENTO

PAU

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ARC

ELLO

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Defesa Civil reduzriscos em PE

Olinda e Recife, em Pernambuco, apre-sentaram, nos últimos cinco anos, redu-ção no índice de mortes nos morros noperíodo chuvoso e diminuição dos pontosde risco. Por estes motivos, as duas cida-des foram escolhidas para receber a visitade representantes da Defesa Civil deBrasília e das Ilhas do Caribe - Antigua eBarbuda -, no mês de maio.

Na cidade de Olinda, mais de 190.000pessoas moram em áreas de morro, sen-do que mais de 2.000 encontram-se a-meaçadas por ocuparem moradias em si-tuação de risco. Mas a Defesa Civil domunicípio vem ressaltando as ações reali-zadas, como o trabalho de Educação Am-biental nas escolas e nas comunidades, aconstrução de muros de contenção de en-costas, recuperação de escadarias, coloca-ção e reposição de lonas plásticas, identi-ficação de pontos de risco, vistorias emencostas, casas e edifícios. Esses serviçosvêm sendo intensificados ao longo dos úl-timos anos, a partir do mês de janeiro atéo final do período chuvoso, com a Opera-ção Inverno. A Defesa Civil de Olinda a-tende 24 horas no 0800-2812112.

EXPERIÊNCIA

ATUALIZANDO

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ESPECIAL

Emergência JULHO / 200616

Realidade desarticuInteração entre os órgãos brasileiros para o atendimento de situações de urgência depende de boa vonta

Reportagem de Lia Nara Bau

star preparado para uma situação deemergência significa muito mais doque possuir recursos humanos e ma-

ESPECIAL

Eteriais suficientes e eficazes. Significa in-tegração. Considerando que dos 5.800municípios brasileiros, 95% não dispõemde serviços de combate a incêndio, resga-te ou pronto-socorro, o termo integraçãosoa como algo impossível de ser concreti-zado. Ao longo dos anos, o país não de-senvolveu seus sistemas de atendimentoa emergências. Talvez porque não se consi-dere alvo de desastres, principalmente,naturais. Mas, segundo o relatório do ISDR(International Strategy for Disaster Reduc-tion) da ONU, o Brasil foi o 12º país emnúmero de pessoas atingidas por desas-tres entre os anos de 1994 e 2003. Hoje,a qualidade do serviço prestado depende,muitas vezes, da vontade e do empenhopessoal dos profissionais que têm a mis-são de zelar pelo bem estar da sociedade.

Os principais órgãos responsáveis por

este atendimento são hoje os Corpos deBombeiros, a Defesa Civil, os PAMs (Planode Auxílio Mútuo) e o Samu (Serviço Mó-vel de Urgência). Eles formam, juntamentecom outros setores como Polícia Rodoviáriae organismos que atendem emergênciasquímicas, uma rede de pronta respostadisponível 24 horas por dia para atenderqualquer espécie de urgência. Mas, naprática, este sistema possui deficiências,que se tornam graves na medida em quepodem comprometer a vida humana.

PREPAROEnquanto alguns estados atuam de forma

efetiva, outros se encontram ainda em de-senvolvimento ou até mesmo sem ne-nhum preparo para atender situações deemergências. No Sistema Nacional deDefesa Civil, os órgãos operacionais sãoas Coordenadorias Municipais de DefesaCivil (COMDECS). O engenheiro de In-cêndio e Pânico e diretor do Departamentode Minimização de Desastres da SEDEC(Secretaria Nacional de Defesa Civil), Sér-

gio Bezerra, explica a importância da a-tuação destes órgãos nos municípios. “A a-tuação do órgão municipal é extremamen-te importante, tendo em vista que os de-sastres ocorrem no município”, avalia ele.

O consultor e ex-secretário adjunto deSegurança Pública do Distrito Federal,

João Belém, explica que, como asações de Defesa Civil visam à pro-

teção coletiva de determinadogrupo, elas necessitam da par-

ticipação dos próprios beneficiários nabusca de sua segurança. “Nenhum Estado,por mais poderoso que seja, disporá,sozinho, de efetivos e equipamentoscapazes de enfrentar uma grande catás-trofe, até porque isto seria ilógico sob oponto de vista orçamentário da adminis-tração pública”, salienta. Belém lembra apassagem do furacão Katrina, nos EstadosUnidos, em 2005. “Este fato ilustra bem aparticipação de grupos voluntários, pois os

JULHO / 2006Emergência16

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Emergência 17JULHO / 2006

uladaade e empenho dos profissionais

efeitos devastadores foram minimizadosmuito mais pela atuação efetiva da CruzVermelha Americana e outras ONGs doque propriamente pelas unidades públicasde Defesa Civil, bombeiros e Guarda Na-cional”, diz. No entanto, o professor e ins-trutor do ESCI (Emergency Care and SafetyInstitute) e RTI (Rescue Training Interna-

tional), Randal Fonseca, explica que a par-ticipação de leigos no atendimento a e-mergências ainda é insignificante se con-siderarmos o universo brasileiro. “Os leigostreinados constituem uma porção ínfimada população. Mas mudanças estão emcurso neste sentido, com a implementaçãodos cursos obrigatórios de primeiros socor-ros por meio dos Centros de Formação deCondutores e Auto-Escolas”, afirma.

Segundo o paramédico e consultor es-pecialista em emergências, Jorge Alexan-dre Alves, na maioria dos municípios, oproblema é que a Defesa Civil, muitas ve-zes, não está estruturada, não possuindonem mesmo endereço. “Em muitos casos,são comandadas por funcionários comis-sionados, sem conhecimentos técnicos bá-sicos de administração de emergências”,fala. A precariedade do sistema faz comque, em algumas cidades onde não há apresença dos bombeiros, a Defesa Civilatenda as demandas do cotidiano. “Éum paradoxo no contexto nacional,

onde o município conta com uma DefesaCivil preparada para grandes emergências,mas não existem instituições para atenderas demandas mais rotineiras”, explica.

INTERFERÊNCIAA qualidade e eficácia no atendimento

a grandes desastres, mesmo integrado,segundo Belém, vai depender de fatores

como as circunstâncias do desastre, tem-po-resposta, equipamentos disponíveis eadestramento das equipes. O tempo-resposta, por exemplo, que é medido pelavelocidade com que o socorro chega aolocal do evento e começa a operar, inter-fere e pode ser definitivo no atendimento.O consenso mundial estabelece comomédia aceitável, em áreas urbanas, o tem-po de três a cinco minutos para a chegadados primeiros elementos ao local do de-sastre. Sérgio Bezerra, da SEDEC, fala queos principais passos em uma operação deemergência ocorrem de acordo com odesenvolvimento técnico e operacional decada sistema municipal e estadual. “Háaqueles mais desenvolvidos e há aquelesque ainda estão muito longe da capacidadetécnica adequada, no caso da Defesa Civil,principalmente, por falta de comprometi-mento de prefeitos, que são os principaisresponsáveis pelo órgão no município”,lamenta.

Jorge Alexandre Alves ressalta que al-guns procedimentos deveriam ser se-guidos. “Em acidentes de grandes pro-porções, por recomendações internacio-nais, devem ser estabelecidos os centrosde comando unificados, onde representan-tes técnicos de cada serviço envolvido de-vem trabalhar no gerenciamento daemergência”, diz.

Emergência 17JULHO / 2006

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SEN

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ESPECIAL

Emergência JULHO / 200618

DEFESA CIVILConjunto de ações preventivas,de socorro, assisten-ciais e reconstrutivas, destinadas a evitar ou mini-mizar os desastres, preservar o moral da populaçãoe restabelecer a normalidade social. O Sistema Na-cional de Defesa Civil, que tem como órgão centrala Secretaria Nacional de Defesa Civil, do Ministérioda Integração Nacional, é composto por vários ór-gãos federais, estaduais e municipais.

BOMBEIROS MILITARESMilitar especializado no combate a sinistros e ematividades de busca e salvamento.

BOMBEIRO INDUSTRIAL ( CIVIL )Funcionário civil que integra a brigada de incêndioou anti-sinistro no seu local de trabalho.

BOMBEIRO VOLUNTÁRIOMembro de uma comunidade treinado e capacitadoa executar trabalhos de combate a incêndios e buscae salvamento.

PAMO PAM (Plano de Auxilio Mútuo) estabelece a somade esforços de pessoal, equipamentos e materiais,envolvendo órgaos governamentais, não governa-mentais e a comunidade, para enfrentar, com suces-so, situações de emergência.

SAMUO Serviço de Atendimento Móvel de Urgência éuma organização pública, coordenada por umaCentral de Regulação Médica, destinada a prestaratendimento pré-hospitalar básico e avançado nasruas e em domicílios, em casos clinicos, traumáticose desastres.

País ainda temlongo caminho na

busca peloaperfeiçoamento

dos serviços deemergência

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ESTRUTURAOS ÓRGÃOS DE EMERGÊNCIA

Belém: participação

DIMENSÃOTodos concordam, contudo, que

a dimensão do incidente irá deter-minar o tipo de atendimento a seradotado. “De uma maneira geral,entende-se que em casos de aci-dentes de grandes proporções, orepresentante da Defesa Civil localteria o papel de coordenador geraldo atendimento ao evento, fican-do as demais instituições respon-sáveis pelo comando e desenvol-vimento de suas atividades espe-cíficas”, salienta Rodrigo Caselli, médicoe gerente do Núcleo de Educação emUrgência (NEU) do Samu de Brasília. Elecita o exemplo da queda de um avião den-tro dos limites do aeroporto, com incêndiodos destroços e vítimas na pista. “Nestecaso, estamos diante de uma situação cujorisco para a população ou meio ambienteé praticamente nulo. Tendo como maioresdesafios a extinção do incêndio e a recu-peração das vítimas, bombeiros e serviçosde APH - Atendimento Pré-Hospitalar -têm claramente definidas as suas áreas deatuação”, explica. Após o controle da cena,com combate aos focos de incêndio,

segurança do local e retiradadas vítimas, têm início asatividades das equipes deAPH. “As vítimas seriam enca-minhadas para um Posto Mé-dico Avançado, onde equipesmédicas realizariam a avaliaçãoe estabilização para que, poste-riormente, sejam evacuadaspara os hospitais de referênciapara o tratamento definitivo”,esclarece.

Na cena do acidente, inú-meras ações e comandos devem ser exe-cutados de forma ágil e precisa. “A partirdo acionamento, ocorre a codificação doevento e deslocamento das equipes aolocal, a triagem, regulação médica na cena,definição das referências hospitalares etransporte das vítimas”, fala o médico CloerVescia Alves, responsável pela implantaçãodo Samu Metropolitano no Rio Grande doSul. Há, no entanto, outras ações que sãodesencadeadas. “Diversos recursos podemser disponibilizados para o atendimento deum evento com grande número de víti-mas, como, por exemplo, o transporte ae-romédico”, complementa Alves.

Integração deficienteA articulação entre setores ainda engatinha no país

Se incendiasse a sua casa ou algum localpróximo, você pediria socorro a quem? AoCorpo de Bombeiros? E na queda de umavião? Que setores deveriam atuar nolocal? E em um acidente rodoviário? Naverdade, o que ocorre, muitas vezes, é quea primeira reação das pessoas é discar parao número 193 e pedir socorro ao Corpode Bombeiros, que atua na maioria dasemergências. Mas será que este é o pro-cedimento adequado? Como são atendidosos mais variados tipos de emergências? Ocenário ideal seria que todos os setoresatuassem de forma integrada e sincro-nizada. Isto, infelizmente, acontece menosdo que gostaríamos. Os especialistas sãopraticamente unânimes em afirmar que opaís ainda tem um longo caminho a per-correr na busca pelo aperfeiçoamento deseus serviços de emergências.

Para João Belém, a eficácia da integraçãodo atendimento a situações de emergên-cia tem início a partir da identificação deum número telefônico único para aciona-

mento, nos moldes do 911 americano, do000 australiano, do 118 francês ou do 112suíço. “Em tese, significa um planejamentooperacional abrangente e a possibilidadede uma execução descentralizada e des-burocratizada. Hoje, no Brasil, os diversosnúmeros utilizados, pelas várias organi-zações envolvidas, impedem que se obte-nha o grau de coordenação que seria de-sejável”, afirma. Jorge Alexandre Alves con-corda que não existe uma integração for-mal. “No Brasil, temos números diversospara cada setor, o que faz com que as pes-soas não memorizem todos os númerosou liguem para o serviço que possui menosconhecimento para aquela emergência”,desabafa. O coronel Antonio dos SantosAntonio, comandante geral do Corpo deBombeiros de São Paulo, contudo, lembraque as chamadas, em São Paulo, são dire-cionadas para os setores responsáveis.“Através do telefone de emergência 193,triamos todos os chamados, avaliando quaissão ocorrências de bombeiros e designandoFonte: Glossário de Defesa Civil

RON

ALD

BEL

ÉM

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ESPECIAL

Emergência JULHO / 200620

LUIS

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VEI

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MS

Em função da Rede Samu 192 ainda estar sendo implantada,estão abertas diversas discussões para integração do serviço aosoutros órgãos. Mesmo recente, o Samu já atende 82,3 milhõesde brasileiros, em 604 municípios de 24 estados e DF.

EMDEBATE

Coronel Antonio: triagem

viaturas adequadas paraatendimento das ocorrên-cias”, diz.

Para Cloer Vescia Alves,ainda não temos o amadu-recimento e a conscientiza-ção necessária por parte dasociedade brasileira no quediz respeito à integração.“Como um país que sequerconsegue aprovar leis ade-quadas, poderia ampararlegalmente a integração dosdiversos setores ligados àsurgências?”, questiona. As-sim, a integração passa a serum ato de boa vontade. “Nos locais ondehá um entrosamento, isso decorre muitomais da capacidade e espírito de equipede alguns chefes e subordinados, do queefetivamente de um procedimento padro-nizado pelo Estado”, ressalta Belém. Destaforma, os esforços individuais permane-cem. “O Corpo de Bombeiros atua com‘heroísmo’, onde muita dedicação e valo-res individuais promoverão o resultado. Éo melhor que se pode dizer em termosde organização”, lamenta Randal Fonseca.Isto, no entanto, somado ao fato das corpo-rações não estarem presentes na maioriadas localidades brasileiras, torna a inte-gração inviável. “Estamos muito longe doque seria razoável”, desabafa.

RESPEITOPara o chefe da Divisão de Convênios

da Defesa Civil do RioGrande do Sul, majorAroldo Medina, aarticulação entre os se-tores hoje é mais baseadanuma cultura de respeitomútuo, onde cada órgãoreconhece a sua função.“Os elos são criados naprática do dia-a-dia, nasocorrências, nos cursosde especialização, nas o-perações integradascomo, por exemplo, naexecução do trabalhopreventivo de fiscalização

de cargas perigosas”, salienta. Ele fala queexiste uma cooperação entre os órgãos norepasse das principais informaçõesrelacionadas ao desastre. “Quando ocorreum desastre de proporções significativas,por exemplo, todos os órgãos costumamacorrer para o local. Aí é preciso montarum posto de comando para coordenar aatuação dos órgãos envolvidos.Normalmente, a Defesa Civil assume estepapel, chamando para este posto asautoridades que têm comando sobre suasequipes e os técnicos que têmconhecimento para lidar com o desastre”,esclarece. Medina lembra também quealguns aspectos são importantes nestemomento. “O profissionalismo, o controleemocional e a solidariedade costumam serfatores importantes nestas ocasiões”, fala.

O Corpo de Bombeiros, normalmente,

é o primeiro órgão acionado numa ocor-rência. “No caso de uma enchente, porexemplo, a Defesa Civil inicia suas ações,posteriormente, ou até paralelamente.Também são mobilizadas viaturas parapontos críticos de onde os técnicos moni-toram e repassam as informações”, escla-rece o coordenador da Defesa Civil Mu-nicipal de São Paulo, coronel Jair Paca deLima. O médico e diretor do Centro deTreinamento de Emergências da Socesp(Sociedade de Cardiologia do Estado deSão Paulo), Agnaldo Pispico, concorda. “OCorpo de Bombeiros é responsável peloatendimento de um acidente de grandesproporções e, caso necessite, deve pedirapoio aos serviços regionais como Samu,Defesa Civil, entre outros”, explica.

SÃO PAULOSegundo o químico Edson Haddad, ge-

rente da Divisão de Gerenciamento deRiscos da Cetesb(Companhia de Tecnolo-gia de Saneamento Ambiental do Estadode São Paulo), a articulação entre os órgãosde atendimento a emergências foi seaperfeiçoando ao longo do tempo. “Hoje,em São Paulo, já é um procedimento derotina o Corpo de Bombeiros contatar aCetesb para emergências químicas”,afirma. Em acidentes rodoviários, porexemplo, normalmente, participam bom-beiros, prefeitura, Defesa Civil municipale policiais rodoviários. “O que ocorre, nor-malmente, em um acidente de caminhãocom produto perigoso é a Polícia Rodoviá-ria e a concessionária da rodovia serem asprimeiras a chegar ao local”, informa. Had-dad explica que as concessionárias pos-suem um plano de ação de emergência,que lhes permite acionar os órgãos públicoscompetentes, se necessário. Já a PolíciaRodoviária, no caso de São Paulo, normal-mente chama os bombeiros e a Cetesb.“Além disso, outros órgãos são acionadosconforme a necessidade. Se houver umproduto inflamável que possa contaminara água, por exemplo, será chamada acompanhia de água, e assim por diante”,esclarece.

O coronel Jair Paca de Lima, da DefesaCivil paulistana, fala que na cidade de SãoPaulo se busca cada vez mais a integraçãoentre os órgãos de emergência. “Temosum excelente relacionamento com o Cor-po de Bombeiros, com o Samu, com aGuarda Civil Metropolitana e com a Com-panhia de Engenharia de Tráfego, todosfundamentais e sempre presentes”,

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Emergência 21JULHO / 2006

assegura. O comandante geral do Corpode Bombeiros de São Paulo, coronel An-tonio dos Santos Antonio concorda, expli-cando que a integração com bombeiroscivis também acontece. “Existem algunspostos de bombeiros com bombeiros civisque integram o efetivo daquela localidadecom funções específicas para cadamunicípio”, garante. Outro diferencial dizrespeito ao Sistema de São Paulo quecongrega os setores. “Existe o Sistema deComando de Emergências, o Sicoe, ondetodos os setores são integrados no postode comando e as atuações são definidaspelos responsáveis”, salienta.

No município, o coronel Paca de Limaacredita que os setores estejam articulados.“Cada órgão envolvido com emergênciasé ciente de suas responsabilidades e com-petências dentro de um cenário de desas-tres”, garante. Ele explica que a DefesaCivil no Brasil ainda está em processo deevolução. “Há falta de pessoal especia-lizado e também uma grande carência deequipamentos e materiais”, lamenta. Noentanto, ele acredita que isto possa sersuperado. “Os governos e a populaçãopercebem a importância de termos umaDefesa Civil cada vez mais presente eatuante”, diz.

NACIONALMas para Agnaldo Pispico, da Socesp, a

integração ainda é precária na maior partedo território nacional. “Infelizmente, amaioria dos serviços ainda não se comu-nicam entre si, as ocorrências são dispu-tadas e atende quem chega na frente,usando recursos desnecessários e causan-do rivalidade entre as equipes”, salienta.Ele fala que o Samu de Araras/SP, ondetambém atua, funciona integrado aoCorpo de Bombeiros, através de umacentral telefônica única 192/193, quedistribui as ocorrências. “Esta integração émodelo e vem sendo utilizada por outrosSamus do país”, informa.

O técnico em química e vice-coorde-nador da Comissão de Preparação e A-tendimento a Emergências da Abiquim(Associação Brasileira da Indústria Quí-mica), João Carlos Hermenegildo, ressaltaque a integração é essencial. “Dada a com-plexidade das ações e face aos envolvidos– órgãos públicos, privados, população -,é emergente que os interlocutores tenhamum mínimo de conhecimento dos proces-sos e articulação entre si”, salienta. Os re-sultados, segundo ele, podem ser fatais.“Na passagem do furacão Katrina, porexemplo, a assistência e recuperação

sofreram de falta de articulação e coor-denação antes, durante e depois do even-to, custando milhões de dólares em danosmateriais e, se pudéssemos quantificar,bilhões em danos morais”, lamenta. Porém,a coordenação, para Hermenegildo, deveter outro significado. “O fato de coordenarnão significa comandar as ações, mas ter avisão estratégica de como as articulações

Pispico: integração entre Samu e Bombeiros

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ESPECIAL

Emergência JULHO / 200622

Na América do Sul, entre os serviços de urgência,destaca-se a estrutura dos bombeiros do Chile, total-mente voluntária, que dispõe dos mais modernos equipa-mentos e preparo técnico. Segundo Marco Aurélio Ro-cha, bombeiro profissional civil, a cultura em emergênciasdo Chile se dá devido aos constantes desastres naturais,pois o país está situado no chamado Círculo de Fogo dePacífico, que provoca sismos na Costa Ocidental daAmérica do Norte e Latina, ilhas do Pacífico Sul eJapão. Mas o Chile conta com o Sistema Nacional deEmergência, que também é denominado SistemaNacional de Defesa Civil, integrado pelos ministérios,serviços e instituições ligadas à área, tanto do setorpúblico quanto privado e entidades voluntárias. Cadaum destes serviços mantém sua própria estrutura. Acoordenação nacional fica a cargo da ONEMI (AgênciaNacional de Emergência), e, em nível regional e co-munitário, através dos intendentes regionais, governa-dores das províncias e prefeitos. “Cada uma das enti-dades elabora seu plano de ação e diretrizes paraatendimento a emergência, levando em conta sua áreade atuação”, fala Rocha.

QUÍMICASO atendimento das emergências químicas também é

referência no Chile. Segundo Marcel Borlenghi, coor-

denador de emergência da Suatrans e membro do ITF– HAZMAT International Task Force, quando a emer-gência ocorre em uma via pública, bombeiros, polícia eemergência médica atuam na primeira resposta. “Pos-teriormente, o embarcador, transportador ou proprietárioda carga se encarrega das atividades de controle,transferência, meio ambiente, entre outros”, explica.Ele fala que, na visão dos chilenos, o produto químicoe o meio de transporte são de responsabilidade exclusivade quem embarca, transporta e compra os produtos.Outras diferenças também são significativas entre Chilee Brasil. “A Defesa Civil não participa de emergênciasquímicas no Chile”, afirma Borlenghi.

Para Borlenghi, o Brasil deveria seguir normas nestesentido. “Deveria ser implantado o mesmo modeloamericano que já vem sendo introduzido em muitos

PanoramainternacionalComo os países referênciaestão articulados parao atendimento de emergência

Estrutura de atendimento a emergências químicas do Chile é referência

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países da América do Sul”, referindo-se às normasNFPA 472 e OHSA 29 CFR 1910.120, que normatizamatendimentos de emergências com produtos perigosos.Ele acredita que o Brasil esteja aperfeiçoando seu a-tendimento a emergências químicas, em função do vo-lume de cursos e treinamentos que estão sendo minis-trados em todo o país. “Definitivamente estamos nocaminho certo”, completa.

MÉDICASEm termos de APH, as referências são, principal-

mente, os Estados Unidos e a França. “O sistema deparamédicos americano e o Samu francês atingiram omais elevado grau de eficiência e uniformidade em termosde formação de recursos humanos e integração comoutros serviços”, explica o médico Rodrigo Caselli. O

dos poderes público e privado podem seauxiliar para maximizar os recursos escassos,emergenciais e urgentes das ações de de-

sastre”, complementa.

PÓLOSNo Pólo Industrial de Camaçari na Bahia,

o primeiro complexo petroquímico plane-jado do país, a integração entre todos ossetores se dá através de comunicação epadronização. “Existe um sistema de co-municação via rádio exclusivo para acio-namento em emergência, e o PAM - Planode Auxílio Mútuo - é formalizado pelo seuregimento”, explica o engenheiro de Se-gurança do Trabalho e superintendente deSaúde, Segurança e Meio Ambiente doCofic (Comitê de Fomento Industrial) doPólo, Aurinézio Calheira Barbosa. Ele sali-enta que o atendimento tem início dentroda empresa atingida pela emergência: “Aempresa sinistrada aciona a sua brigada,e, se houver necessidade, convoca as em-presas da sua área e todo o PAM.” Segundo

ele, as Polícias Militar e Rodoviária tam-bém atuam em simulados de evasão dostrabalhadores do Pólo que são realizadostodos os anos, pois a Defesa Civil está emprocesso de formação na cidade e não háCorpo de Bombeiros. “Nos simulados, maisde 16.000 trabalhadores saem de suas em-presas”, relata ele.

Em locais onde há a presença do PAM,algumas ações são desencadeadas maisfacilmente, como no município de RioGrande, no Rio Grande do Sul “O PAMde Rio Grande tem um plano de aciona-mento que é desencadeado pelo Corpode Bombeiros. Ou seja, qualquer pessoaque se depare com uma emergência podeligar para os bombeiros, que eles irãodesencadear o chamado. Cada unidadedos órgãos envolvidos, por sua vez, temum cabeça de chave que automaticamen-te acionará o subseqüente”, explica o

Coronel Paca de Lima: articulação em São Paulo

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Emergência 23JULHO / 2006

caminho percorrido, inclusive, não foi muito diferentedaquele que vemos no Brasil. “Eles passaram pelasmesmas dificuldades hoje encontradas aqui no Brasil:problemas de capacitação, de padronização de condutas,de aceitação pela sociedade e de integração com osserviços já existentes”, ressalta. O médico AgnaldoPispico, diretor do Centro de Treinamento de Emergên-cias da Socesp, lembra que o resgate americano, rea-lizado por paramédicos, diferencia-se desde a formaçãodos profissionais. “O paramédico passa por um ano deteoria e depois divide a sala de aula com estágios nointerior da viatura, que são verdadeiras máquinas deprotocolos”, afirma.

Outro ponto positivo, segundo ele, é a central deacionamento 911. “Ela é única e centralizada, despa-chando todos os recursos necessários para a viaturamais próxima, sendo polícia, bom-beiros e paramédicos acionadospor uma única central”, ressalta.No Samu francês, ele fala que háuma diferença essencial em re-lação ao Brasil. “Os atendimen-tos são, obrigatoriamente, com apresença do médico, tanto nascentrais de regulação quanto nasambulâncias”, afirma. Pispico sa-lienta, no entanto, que estes sis-temas devem ser utilizados comoreferência, mas a adequação doserviço deve ser regional. “Não po-demos comprar idéias prontas eengolir pacotes e portarias que nãopodemos cumprir aqui no país.Acredito que um misto do que existe nos Estados Unidose na França pode ser o futuro do APH no Brasil”,complementa.

APERFEIÇOAMENTONo panorama internacional, para Randal Fonseca,

há um universo de diferenças entre os países, principal-mente, os situados no Hemisfério Norte e os que estãono Sul. “Mesmo dentro de um país existe uma quantidadeimensa de diferenças no tocante aos processos adota-dos para sistematizar atendimento às emergências”,diz. Ele ressalta as diferenças entre Estados Unidos,referência em APH e resgate, e o Brasil. “Os EUA, porquestões históricas, dedicam grande atenção às e-mergências desde os primórdios do século XX. Elesinvestem pesadamente em prevenção e incluem nela apremissa da necessidade de estar preparado paraatender em emergência”, salienta.

Para ele, o pensamento se distancia do Brasil, poislá eles entendem que atendimento às emergências écoisa séria. “Nos Estados Unidos o cidadão faz parteda solução, já que ele é o problema. No Brasil, o Estado

assume a função paternalista. Adiferença está no valor atribuídoao povo”, resume. Mesmo assim,ele acredita que há esperança demelhorias. “As mudanças estãoocorrendo lentamente com a infor-mação passada por meio dos cur-sos de primeiros socorros e simi-lares oferecidos com reconheci-mento internacional. São poucos,contudo, já podemos perceber quehá um pequeno movimento nestesentido”, fala.

Para o consultor de intercomuni-cação de emergência, Leandro Pi-nheiro, um quadro geral dos si-nistros no mundo mostra uma

permanente busca de aperfeiçoamento, principalmentenos países desenvolvidos. “Vemos hoje especializaçãonão de recursos materiais, mas de recursos humanosvoltados para o gerenciamento de crises, o que deveser associado a uma forte integração do poder público einiciativa privada”, salienta.

Randal: universo de diferenças

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bombeiro profissional civil e membro destePAM gaúcho, Marco Aurélio Rocha.

COMUNICAÇÃOA comunicação é um dos pontos-chave

para a articulação dos setores. O consultorde intercomunicação de emergência,Leandro Pinheiro, desenvolveu um siste-ma de centrais de comunicação entrePAMs, Defesa Civil e Corpo de Bombeiros.Este sistema foi feito para os PAMs da Re-gião da Costa da Mata Atlântica, do qualfazem parte o PAM do Pólo Petroquímicode Cubatão, de Guarujá, Retroporto, doPIE (Plano Integrado de Emergência) – Ter-minais de Granéis Líquidos e do Porto deSantos. “O sistema foi desenvolvido a par-tir das necessidades de comunicação naemergência, antes, durante e após a ocor-rência”, afirma. Foi implantado em 1991 esofreu três up-grades até então. Pinheiro

explica o seu funcionamento. “Ele integraas empresas, Corpo de Bombeiros, policia-mento ostensivo, Defesa Civil e ForçasArmadas, articulando os PAMs da região.Opera com radiocomunicação bidirecional,ou seja, a comunicação é conduzida deequipamento para equipamento, utilizandoa freqüência de 360 a 390 MHz, o queassegura sigilo e segurança”, esclarece.

Segundo ele, ações integradas são fre-qüentemente simuladas entre os setores,pois o sistema ainda deverá ser aprimo-rado. Alguns itens pretendem melhorarainda mais a articulação dos setores nomomento da emergência. “O sistemacomporta medidas de integração dos PAMssob um único comando, além da padroni-zação da linguagem e de procedimentos,visando chegar ainda na classificação degrupos de atuação por especificidade deemergência”, ressalta. De acordo com

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ESPECIAL

Emergência JULHO / 200624

Para onde vamos?As dificuldades existem, mas os caminhos estão abertos

Sem dúvida, os caminhos que temos apercorrer ainda são longos até chegarmosa um nível satisfatório de qualidade e in-tegração em atendimento a emergências.Para o consultor João Belém, o quadro ge-ral do país em termos de prevenção e ca-pacitação para resposta a desastres é preo-cupante. “Entre as principais carências edificuldades, podemos destacar a ampli-tude territorial, a falta de cultura de preven-ção e a incapacidade dos estados em cum-prir suas obrigações constitucionais”, afir-ma. Ele acredita que o modelo estruturalbrasileiro em vigor precisa ser repensado:“Ao estabelecer organizações de segurançapública e de serviços essenciais em níveisestaduais, este modelo deixa os prefeitos,verdadeiros interessados nas condições devida de seus municípios, em posição demeros espectadores e pedintes desespe-rados por recursos quando uma catástrofeatinge suas cidades”. De acordo com

Belém, o modelo brasileiro é contrário aode todos os outros países. “No mundointeiro, todo planejamento, prevenção eexecução de ações de emergência se iniciacom os recursos locais, onde lado a lado,Governo e entidades comunitárias procu-ram superar as dificuldades, antes da inter-venção suplementar do Estado e da União,os quais só são acionados quando esgota-dos todos os esforços e disponibilidadesmunicipais”, afirma. Segundo ele, emboraseja isto o que determina o Decreto nº5.376/05 (Sistema Nacional de DefesaCivil), há uma distância muito grande entrea norma e a prática.

O engenheiro Sérgio Bezerra, da SEDEC,concorda que as carências e dificuldadesda Defesa Civil ainda são muitas no país.“As atividades de atendimento às emer-gências, desastres e calamidades públicas,no país, não tiveram, ao longo de sua his-tória, prioridade nem importância. Hámuito a caminhar”, desabafa o diretor. Mes-mo assim, Belém permanece otimista.“Ainda que não seja uma tarefa fácil, cer-tamente poderemos reverter essa situaçãose conseguirmos aliar competência ge-rencial, desprendimento político e vontadecomunitária no rumo da resolução dessesproblemas”, complementa. Carências e di-ficuldades, para Randal Fonseca, sãoinúmeras. “Há tudo para mudar, come-çando pela cultura de entender que asemergências não marcam hora nem lugarpara ocorrer”, ressalta.

FORMAÇÃOO médico Rodrigo Caselli também cita

A comunicação é uma das maiores dificuldades entre os órgãos de emergências

Pinheiro, eles possuem um procedimentonormatizado que determina todas as açõesdesde o acionamento até o encerramentoda ocorrência no que se refere à interco-municação de emergência. “Num primeiromomento atuam as brigadas de incêndioda empresa sinistrada, para depois recebera ação direta do Corpo de Bombeiros edo PAM, numa atuação integrada e si-nérgica”, afirma. Cada segmento do PAM,por sua vez, também tem seus procedi-mentos normatizados. “Cada qual tem suatarefa específica de organizar os recursosna zona fria, isolar a área para minimizaçãode riscos, entre outros”, cita.

Segundo João Carlos Hermenegildo, daAbiquim, a comunicação e o comando daoperação são as maiores dificuldades queos órgãos encontram numa emergência.“Temos notado que o maior problema é acomunicação em todos os níveis, quer dopoder público com as instituições, quer dasinstituições com a comunidade, etc.”, a-firma. “Com a demora da chegada dosrecursos a situação tende a se agravar,dificultando cada vez mais as ações”,completa.

ESFORÇOSA articulação entre todos estes setores

não é uma tarefa fácil. O médico RodrigoCaselli acredita que a integração entre osórgãos de atendimento às emergências,na prática, não existe. “O que vemos sãopessoas e instituições que trabalham den-tro de padrões próprios e que procuramimpor aos demais o seu modelo de tra-balho”, diz. No entanto, ele lembra quealguns esforços vêm sendo feitos parareunir os setores. “No caso específico deAPH, a portaria GM nº 2.048/02 (SistemasEstaduais de Urgência e Emergência) re-presentou, a nosso ver, uma grande con-quista e um avanço neste sentido”, afirma.O médico Cloer Vescia Alves ressalta que,embora ainda existam dificuldades, háuma rede de atendimento aos acidentesde grandes proporções que envolve o Cor-po de Bombeiros, a Defesa Civil e demaisinstituições públicas no país. “O comandona cena se dá, de forma operacional, emfunção do local. Por exemplo, no caso deacidente aeronáutico, o comando opera-cional estará a cargo da Infraero. Já no quediz respeito às ações de Atendimento Pré-Hospitalar, em qualquer local e situação,o comando estará a cargo do médico doSamu que assumir a coordenação na cena,e assim por diante”, salienta.

SED

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“As atividades deatendimento àsemergências nopaís não tiveram,ao longo de suahistória, prioridade.Há muito acaminhar.

Sérgio BezerraDiretor da SecretariaNacional de defesa Civil

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Emergência 25JULHO / 2006

a falta de pessoas qualificadas para o APHcomo uma das maiores dificuldades enfren-tadas hoje no setor de emergências, o quepode incidir também sobre a articulação.Como a Portaria GM 2048 que regulamen-ta o serviço é de 2002, até então, a faltade padronização imperava no mercado. “Oque ocorria era que os diversos serviçosexistentes se autodesenvolviam, a partirde protocolos importados. Felizmente, amaioria foi desenvolvido por profissionaissérios e competentes que, não tendo alter-nativa, diante da omissão dos órgãos públi-cos, foram obrigados a criar modelos e im-plantar seus próprios serviços”, diz. “Umdos grandes avanços no sentido de qua-lificar nossos recursos humanos está noempenho das universidades, principalmen-te, os cursos de Enfermagem e Medicina,em incluir nas suas grades curriculares dis-ciplinas específicas relacionadas a emer-gências”, revela. A necessidade de forma-ção é um agravante também para os bom-beiros. “Cada vez mais há uma demandade empresas, mesmo estatais, que buscamcertificações de qualidade que pedem porestes profissionais em suas plantas”, diz oparamédico Jorge Alexandre Alves. Paraele, a questão da formação, aliada à dis-

tribuição das corporações e a dificuldadedos estados em atender todos os municí-pios, promove conflitos entre militares,civis e voluntários. Segundo ele, o quadropoderá melhorar quando as instituições deensino se engajarem na formação de pro-fissionais dedicados para atendimentos aemergências. Um ponto positivo, segundoAlves, é que algumas empresas adquiremsistemas, métodos e capacitação de acor-do com referências internacionais, o quefaz com que padrões de prevenção e con-trole de emergências sejam difundidos noBrasil. “A má notícia, porém, é que os ser-viços públicos parecem resistir muito paraaceitar e praticar estas recomendações”,lamenta.

DIFERENÇASA integração de fato não ocorre no país,

segundo o médico Rodrigo Caselli: “Nãopodemos ainda considerar que exista umsistema real de enfrentamento às emer-gências, uma vez que este termo pressu-põe a coesão de vários grupos com atri-buições bem definidas, trabalhando emsintonia com um objetivo comum”, ressal-ta. No entanto, ele vê no futuro boas pers-pectivas. “Acredito que estamos indo numa

Alves: empresas adotam referência internacional

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direção promissora, uma vez que o paísse tornou ativo com a implantação daPolítica Nacional de Atenção às Urgênciase com o fato de que cada vez mais o temavem sendo motivo de discussões cien-tíficas, visando realmente a profissiona-lização e o desenvolvimento de um sis-tema real, cujo objetivo seja o de salvarvidas”, complementa.

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JULHO / 2006Emergência26

24 HORAS

“Sempre quis trabalhar com emergên-cia”, afirma Michele de Freitas Neves, de26 anos, que trabalha há oito meses noatendimento de emergência do Samu deCampinas/SP. Enfermeira formada pelaUnicamp há quase três anos, ela tambémtrabalha em um Pronto Socorro do Hos-pital da Universidade. No Samu, Michele

A vida por um fioAtendimento no Samu envolve a realização de procedimentos emlocais inadequados, como as ruas, exigindo trabalho em equipe e agilidade

6HIndo para o trabalho

Michele mora com os pais eacorda às 6h da manhã. Tomabanho, se arruma e deixa paratomar café da manhã no Samu,onde passa 12 horas trabalhan-do. Ela vai trabalhar de carro.Sai de casa entre 6h30 e 6h40,chegando no Samu por voltadas 6h50. São cerca de 8 kmpercorridos para chegar ao lo-cal de trabalho.

6H55A chegada

Após bater o ponto, a enfer-meira Mi-chele che-ca o quadrocom as es-calas do dia.Lá ela vaisaber emque viaturae com queequipe irá

atuar. Também verifica a ordemde saída das viaturas e vê setodos os enfermeiros estão nolocal.

trabalha 12h e folga 36h, atuando em via-turas de suporte avançado. Essas viaturasestão preparadas para as ocorrências quenecessitam de UTI e, além de diversosequipamentos, contam com uma equipecompleta: um médico, um enfermeiro, umtécnico em enfermagem e o motorista.

7H05Checagem

O próximo passo é checar setudo está em ordem na ambu-lância. Todos os equipamentossão verificados. Michele, porexemplo, observa se há oxigê-nio, checa o respirador, testa odesfibrilador, deixa os eletrodosprontos para monitorizar o pa-ciente. Esses procedimentossão importantes para que tudoocorra de forma rápida e práti-ca durante o atendimento.

7H35Reunião

Após a checagem, Michelecostuma tomar café da manhã.Mas isso nem sempre aconte-ce. Após checar os equipamen-tos, ela foi convocada para uma

reunião com o Conselho Ges-tor, na qual a coordenação dis-cute com os funcionários osproblemas enfrentados e ten-ta resolvê-los.

8H25Ocorrência

Michele sai da reunião e temseu café da manhã adiado maisuma vez. A sirene toca no Sa-mu, avisando que a primeira via-tura de suporte avançado daescala deve partir para atender

Reportagem Cristiane Reimberg/Emergência

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Emergência 27JULHO / 2006

8H59

uma ocorrência. A enfermeirarapidamente se posiciona naambulância e no caminho já seprepara para o atendimento,enquanto recebe mais detalhesda ocorrência: um homem demais de 60 anos é atropeladopor um ônibus.

8H35Local do acidente

O homem está debaixo doônibus, próximo às rodas trasei-ras. É possível ver seus braçose rosto. A Polícia Militar já estáno local. Também há curiososobservando a cena. Michele eo médico Eduardo olham se épossível retirá-lo do local. Atécnica em Enfermagem, Be-nê, entra embaixo do ônibuspara verificar se a vítima nãoestá presa. Dessa forma, ostrês, auxiliados pelo motoristada ambulância, Marcos Rober-to, colocam o homem na maca.A vítima agoniza de dor o tem-po todo e faz movimentos in-voluntários com os braços e aspernas, que estão quebrados.O membro inferior esquerdosofreu ainda amputação com oacidente. O sangue se espalhapela avenida. Michele tentatranqüilizá-lo, apesar de já per-ceber que a situação é grave.

8H39Agilidade

É preciso agilidade para aten-der a vítima. Dentro da viaturade emergência, é possível vera tensão no rosto dos profissio-nais, o que não impede que a

equipe trabalhe em conjunto,da melhor forma possível. Mi-chele procura a máscara paracolocar no homem. O soro émontado. Ele perdeu muitosangue. Michele pede ao mo-torista que dê a ela os equipa-mentos que necessita.

8H45Tensão

O momento ainda é tenso.A equipe do Samu continua nolocal do acidente e o pacienteestá sendo atendido na ambu-lância. Michele pede outro so-ro. O motorista acha uma con-ta de água no bolso da vítima,que é entregue aos policiais.

8H52Óbito

Às 8h50 a ambulância se pre-para para partir. No caminho, omédico verifica os sinais vitaisdo paciente. Às 8h52 é atesta-do o óbito e retirado o oxigê-nio do homem. A equipe, se-rena, observa a vítima com acerteza de que deram o máxi-mo de si para salvá-lo. Mas játinham a consciência de queera difícil que ele sobrevives-se. Michele comenta o aciden-te. As rodas dianteiras passarampor cima do homem de 64anos. Era possível ver as mar-cas. Além das fraturas dosmembros superiores e inferio-res e a amputação na perna es-querda, a vítima teve traumas

no crânio, no abdômen e notórax.

9H30Retorno

A equipe sai do hospital echega na unidade do Samu emcinco minutos. Michele contaaos colegas como foi o aciden-te, o trabalho realizado pelaequipe e a situação em que fi-cou o homem atropelado.

9H45Café da Manhã

Só agora Michele pode sen-tar e tomar seu café da manhã.Ela toma um copo de café comleite e come pão. Ainda fala do

acidente com uma amiga. “Deudó”, lamenta a enfermeira.

10H15Reposição

Alimentada, Michele vai re-por o material na ambulância,que já foi higienizada pela equi-pe responsável pela limpeza.São repostos vários equipamen-tos como abocath (agulha parapunção venosa), intracath (agu-lha para veia central), tubo,colares, soros e equipos (fiospara o soro).

Equipe chega ao hospitalO Samu chega ao hospital. A equipe do hospital observa a

vítima. Michele preenche a ficha com os dados do senhoratropelado, relatando o que ocorreu. Ela também entrega ospertences encontrados com a vítima: dinheiro e alguns docu-mentos.

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JULHO / 2006Emergência28

24 HORAS

10H45Higiene

Após arrumar os equipamen-tos, a enfermeira limpa algu-mas pequenas manchas de san-gue do seu uniforme com águaoxigenada.

11H30Bate-papo

Após terminar toda a reposi-ção de equipamentos e a lim-peza do uniforme, Micheleconversa com outros profissio-nais de emergência, enquantoaguarda alguma chamada deocorrência.

12HAlmoço

Sem uma nova chamada, Mi-chele vai almoçar no refeitóriodo Samu. O atendimento deUTI não tem hora específicapara almoço, se houver umachamada para sua viatura, oprofissional deve parar de co-mer imediatamente e ir aten-der a ocorrência. Como nãohouve nenhum chamado nes-se horário no dia em que a re-portagem esteve presente, Mi-chele pôde almoçar tranqüila-mente.

15H10Tranqüilidade

A tarde transcorre com tran-qüilidade. Há mais duas cha-madas de UTI, mas segundo aescala, outras equipes vão a-tender, já que a de Michele feza primeira ocorrência do dia. Aenfermeira aproveita para fazera escala de serviço, que desig-na quem vai ficar em cada via-tura durante o mês. Depois dis-so, passa a escala do dia seguin-te para o quadro.

17H30Nova ocorrência

No final da tarde, Michele sedepara com mais uma situaçãotriste. Um rapaz de 22 anos sesuicidou com um tiro na cabe-ça dentro de casa. Quando che-gou no local já não podia fazer

ADQUIRINDOEXPERIÊNCIA

COMO FOI O SEU PRIMEIRO CONTATO COMO SOCORRISMO?Foi aqui no Samu. Sempre gostei muito, mas aadaptação do Atendimento Pré-Hospitalar é umpouco difícil. Uma coisa é você atender o paci-ente no hospital, outra, na rua, onde tem conta-to direto com a população. Nós temos mais difi-culdades nas ruas, pois há mais variáveis quepodem estar influenciando no momento. A viapode ser escura e você tem que tirar o pacientedo local onde ele está. É preciso fazer os proce-dimentos em locais inadequados. Mas depoisque você aprende, é apaixonante, você não quersair mais.

QUAL EXPERIÊNCIA DE ATENDIMENTO DEEMERGÊNCIA QUE FOI MAIS MARCANTE?As mais marcantes são os atendimentos emque você tem um paciente com trauma, agoni-zando no local, em que consegue atender, mas

Michele deFreitas Nevesfala das

o paciente morre. Atendi uma vez vítimas de umcapotamento. Vi as pessoas agonizando. Vocêsempre quer fazer mais, mas há um limite. Ocor-rências com crianças também chocam muito.

QUAIS OCORRÊNCIAS VOCÊ MAIS GOSTADE ATENDER?Gosto de atender traumas e paradas, porquesão os atendimentos nos quais você pode fazermuito pelas vítimas. Em um trauma ou uma pa-rada, você tem que dar o máximo de si e quan-do o paciente sobrevive é muito gratificante.

QUAL SEU OBJETIVO NA PROFISSÃO?Quero continuar trabalhando com emergência.Quando tiver mais prática na área, pretendoatuar na educação voltada para a emergência.Para tanto, farei mestrado e doutorado. Masacho que ainda não é a hora. Quero ter maisexperiência.

diferenças entre atender em um hospital enas ruas, relatando os fatos que mais amarcam profissionalmente.

mais nada, a não ser consolar afamília.

19H15De volta para casa

Em cada 24h, ocorrem noSamu de Campinas, no míni-mo, 150 ocorrências. Dentreelas, 15 costumam ser de UTI.O máximo de atendimentosque Michele chegou a fazer emuma jornada de 12h foram seis.O dia de Michele acompanha-do pela reportagem não foi umdia de muitas ocorrências, noentanto, foram duas chamadasnas quais foi necessário o con-tato com a morte. Foram mo-mentos de tensão e muito tra-balho, mas a certeza do devercumprido, pois em um atendi-mento de emergência, nemsempre o final é feliz. Só restaa Michele voltar para casa.

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Emergência JULHO / 200630

REPORTAGEM

Reportagem de Sabrina Auler

J ulho é mês de comemorações noCBMERJ (Corpo de Bombeiros Mili-tar do Estado do Rio de Janeiro). No

Bombeiros, a extinção dos incêndios queocorriam no Rio de Janeiro era feita porpessoas dos Arsenais de Guerra e da Ma-rinha, das seções de obras públicas e daCasa de Detenção. Assim, algumas pes-soas eram preparadas para, caso houvesseincêndio, deixarem seus afazeres e dirigi-rem-se ao local para trabalhar na extinçãodo fogo. “Algumas casas, naquela época,eram de pau-a-pique, feitas com materiaisde fácil combustão. Além do mais, as se-ções de combate a incêndio realizavamações completamente separadas. Isso sig-nifica que não havia um acordo sobre asformas de extinguir o fogo, uma centrali-zação de serviços”, conta o historiador doCBMERJ, subtenente Antonio Mattos.

“A partir de 2 de julho de 1856, quandoo Decreto 1775 foi assinado, estes traba-lhos foram centralizados pelo o que naépoca foi chamado de Corpo Provisóriode Bombeiros da Corte”, diz. “A nova estru-tura foi caracterizada como provisória por-que, como nunca se tinha pensado nestacentralização, era preciso experimentar pri-meiro para ver se iria dar certo”, explica.Mas a tentativa dos bombeiros procedeu.“Tanto que em 1860, quatro anos depois,a estrutura ganhou caráter permanente,passando a chamar-se Corpo de Bombei-ros da Corte”, diz o subtenente Mattos.

AMPLIAÇÃOPosteriormente, em 1861, a atuação dos

bombeiros, que até então era focada ape-nas na extinção de fogo, foi ampliada. Na-quele ano, a Corporação recebeu autoriza-ção (Decreto 8337) para atuar junto a sol-dados em casos de guerra. Isso significaque, em situações de conflito, o Governo

Desde os temposDesde os temposdo ImperadorCorporação mais antiga do País completa 150 anos neste mês, recordandoatuações históricas dos bombeiros e destacando sua estrutura atual

poderia empregar bombeiros para constru-ção de sapas e pontões. Entre as lutas emque os bombeiros estiveram presentes,destaca-se a Guerra do Paraguai, em 1865,onde os profissionais compuseram o en-tão chamado grupo “Voluntários da Pátria”.

TRAGÉDIASMesmo assim, apesar da participação em

algumas batalhas, não foram elas as maio-res tragédias vividas pela Corporação. Con-forme o subtenente Mattos, dois grandesacidentes realmente marcaram a históriado CBMERJ. Um deles foi a explosão naIlha do Braço Forte, na década de 1950.“Tratava-se de uma ilha do Estado da Gua-nabara (na época). Lá, eram feitas as ar-mazenagens de materiais explosivos e infla-máveis. Na noite do dia 7 de maio de 1954,um ladrão tentou roubar alguns dos mate-riais do depósito para revender a uma fá-brica de fogos de artifício. Em contato coma umidade o material inflamou e começoua pegar fogo. Como havia toneladas deexplosivos no galpão, o foco de incêndiose estendeu rapidamente. Vinte e três dosnossos homens se deslocaram para tentarconter o incêndio, 17 deles morreram. Aexplosão foi tão grande que foi ouvida emtodos os bairros próximos à Baía da Gua-nabara e até em localidades mais afasta-das, como em Teresópolis”, descreve. “Estefoi um dos acontecimentos que mais nosmarcou, pois neste dia, tivemos nossomaior número de vítimas em um mesmoevento”, lamenta.

O historiador subtenente Mattos lembrade outro desastre, mas este ocorrido nadécada de 1970. “Foi no bairro de VilaIsabel, em 1975. Ao sair para atender a

ARQ

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“Como o Rio foiprecursor, muitascorporações foramcriadas por umbombeiro carioca.Então, esta é umacomemoração paratodas as corporaçõesdo país

Carlos Alberto de CarvalhoComandante Geral do Corpode Bombeiros Militar doEstado do Rio de Janeiro

dia 2, a Corporação festeja seus 150 anosde criação. Fundado antes mesmo da pro-clamação da República, o órgão foi esta-belecido por ninguém menos que DomPedro II. A instituição aconteceu por meiodo Decreto 1775, de julho de 1856. ACorporação é a mais antiga do País. Tal-vez por essa sua longa experiência é quea entidade carioca consiga dar conta dasfreqüentes chamadas de atendimento querecebe em todo o Estado hoje. Só no anopassado, para se ter uma idéia, a médiafoi de uma prestação de socorro a cadadois minutos e 36 segundos. Mesmo as-sim, mais interessante que os atuais regis-tros do CBMERJ, só mesmo a própria his-tória da Corporação - a começar por seuestabelecimento.

Antes de ser constituído o Corpo de

REPORTAGEM

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Emergência 31JULHO / 2006

um chamado, um de nossos carros AutoBomba se chocou com um veículo de tu-rismo. Cinco colegas nossos morreram”,menciona (ver Desastres Marcantes naHistória do CBMERJ, na página 32).

APRENDIZADOCom 40 anos de atuação na área, subte-

nente Mattos garante que todas estas his-tórias serviram de aprendizado à Corpo-ração. “Este tipo de acontecimento mar-ca muito. Se você reparar, nós, bombei-ros mais antigos, temos muitas marcas ecicatrizes pelo rosto. Eu, por exemplo, te-nho manchas escuras na pele por contade um recipiente com acetileno que es-tourou próximo de mim. Então, muita coi-sa que eu digo hoje não é porque eu ouvifalar, mas é porque eu passei, eu vivi, euaprendi. A visão mais antiga do bombei-ro era de que sua missão era extinguirincêndios. Agora,existe outra mentali-dade. Hoje se trabalhamuito com a preven-ção a fim de evitar queos incêndios aconte-çam. Isso traz econo-mia de material, depessoal e uma série deoutros benefícios àCorporação e à comu-nidade”, reflete.

Esta nova postura di-ante do trabalho dosbombeiros teve iníciojá no final da décadade 1970, mais precisamente em 1976. Éque foi neste ano que foi criado o Coscip(Código de Segurança Contra Incêndio ePânico). Elaborado por oficiais da Corpo-ração carioca, o Coscip tornou obrigatórioo cumprimento de algumas normas. Entreas regras, válidas até hoje, consta a necessi-dade das edificações e instalações de todoo Estado disporem de sistemas preventi-vos de incêndio e contra disseminação depânico.

De acordo com o subtenente Mattos, oestabelecimento das regras de precauçãode incêndios surtiu efeitos. “A prevençãorealmente tem dado um excelente resul-tado. Antigamente, a cada plantão, haviauma média de cinco ou seis saídas parasocorro. Hoje, temos dias em que não hánenhuma. E isso não é porque o bombei-ro deixou de ser útil, mas porque há re-gras incisivas focadas na necessidade deprecaução”, expõe.

Emergência 31

1789Esta cópia da pinturaoriginal de LeonardoJoaquim, de 1789,representa umincêndio ocorridono Recolhimento deN. Srª do Parto, uminternato de mulheresabandonadas. Apintura está expostano CBMERJ

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