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Emma Wildes

Tentadora ao Cair da Noite

Inês CastroTradução

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Capítulo 1

– Estou a pensar em arranjar um amante.As palavras coincidiram com o bater repentino das horas no relógio

de parede do canto, por isso, mal as quatro acabaram de ser anunciadas, Sophie Meadows, Lady Tower, repetiu:

– Estou a pensar em arranjar um amante.A outra ocupante da sala, Deidre Fordham, fitou ‑a por cima da orla

da chávena de chá, antes de a baixar devagar no pires sobre a mesa bem‑‑posta à sua frente.

– Bem me parecia que tinha sido isso que disseras.Sophie fitou a morena delicada que era uma das suas amigas mais

antigas, a tentar interpretar ‑lhe a expressão.– Desaprovas.– Pelo contrário, parece ‑me que te ando a dizer há algum tempo que

devias escolher um desses cavalheiros apaixonados que te cortejam. Presumo que te refiras a Samuel.

Não, não referia. Escandalosamente, não se referia a ele.– Pensas que deveria voltar a casar, quando a verdade é que não sinto

qualquer desejo de ter outro marido. – Sophie remexeu ‑se um pouco no canapé. Estendeu a mão para um éclair e colocou ‑o no seu prato, lam‑bendo de forma pouco elegante uma mancha de chocolate dos dedos. – Dee, sei que já se passaram quatro anos, mas pondera no que sentirias se alguma coisa sucedesse a Robert. Não posso substituir Frederick e, com franqueza, estou a apreciar a minha independência. Samuel quer casar

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comigo, logo não é boa opção. Ambas sabemos que insistiria em seguir o caminho mais honrado para ter acesso à minha cama.

Deidre lançou ‑lhe um olhar de reprovação.– Sophie, querida, claro que não podes substituir Frederick e sei que

ficaste devastada com a sua morte, mas sempre tive esperança que encon‑trasses outro homem que te fizesse feliz. Pareces dar ‑te tão bem com Samuel. Ele adora ‑te.

– Claro que nos damos bem. Somos amigos. Concordo que ele é  espirituoso, educado e atencioso. Não estou a falar de amizade, mas de uma coisa muito diferente.

– Ele é um homem atraente – afirmou Deidre com denodo.É verdade, mas talvez, no geral, demasiado baixo, demasiado louro,

demasiado bom…– Pois, mas é demasiado tradicional para concordar em ter uma aven‑

tura tórrida, mesmo que eu estivesse interessada em pedir ‑lhe para se envolver numa coisa desse género comigo.

Dito de forma diplomata, pensou. Samuel Seacrest era um dos ami‑gos mais chegados do marido de Deidre, seu também, aliás, e tinha a sensatez suficiente para saber que perderia essa ligação especial se se envolvessem a nível físico.

Além disso, não se sentia atraída por ele dessa maneira.– Podes ter razão nesse ponto – admitiu a amiga. – Não creio que o

interesse de Samuel por ti seja de modo algum fortuito. Se não for ele, quem então?

Essa era a parte problemática, claro.Sophie mordeu o lábio inferior e alisou a saia de seda, adiando a res‑

posta durante um instante.– Na realidade, tenho um admirador secreto. Acho ‑o… intrigante.– Não podes estar a falar a sério. – Os olhos castanho ‑escuros arrega‑

laram ‑se. – Quero dizer, acredito na história do admirador, mas que estejas a levar a coisa a sério é inacreditável, Sophie.

E, contudo, estava. Mais do que gostaria de admitir.– Ele envia presentes, flores, perfume, pequenas peças de joalharia…

o que não é assim tão original, mas também bilhetes. São esses que me influenciam. Os curtos excertos de prosa que redige são…

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– Sim? – Deidre ergueu as sobrancelhas.– Interessantes.– De que forma?Corou enquanto tentava encontrar as palavras certas.– Os temas são muito românticos.Românticos? Era se calhar a palavra errada. Os bilhetes eram sexual‑

mente sugestivos. Eróticos mesmo. Sim, eróticos era uma descrição melhor, porque ele pormenorizava o que gostaria de lhe fazer. De fazer com ela. Até o que gostaria que ela lhe fizesse a ele. Nada demasiado chocante, mas vê ‑lo escrito causara ‑lhe no início um sentimento de indignação e, mais tarde, tinha de admitir, um crescente sentimento de curiosidade.

Era sem dúvida uma experiência nova, um homem enviar ‑lhe descri‑ções minuciosas das suas fantasias.

– Por favor, diz ‑me que tens uma ideia de quem é. – Deidre recostou‑‑se e contraiu os lábios numa censura. – Não vais com certeza aceitar um desconhecido.

De facto, Sophie tinha quase a certeza de que sabia quem era. Alto, de cabelo escuro, deliciosamente atraente, jovem…

Jovem de mais. O visconde Breton herdara o título há cerca de ano e meio, coincidindo o seu aparecimento na sociedade quase de forma precisa com o início das flores e dos presentes.

Podia ser ele.Podia ser outra pessoa.De qualquer modo, ele era quase dez anos mais novo do que ela e,

por alguma razão, mal considerara o jovem e atraente visconde, a ideia de um amante mais velho perdera todo o atractivo.

Ele era perfeito, de muitas maneiras. Era óbvio que nunca a pressio‑naria com intenção de algo mais do que um prazer passageiro. Ela era demasiado velha com os seus trinta e quatro anos e, estéril depois de um casamento sem filhos, e ele não tinha necessidade da fortuna que o marido lhe deixara.

Sim, o homem era perfeito para uma descontraída aventura amorosa.– Não, claro que não – concordou, estudando uma faixa oblíqua de

luz do Sol do fim da tarde no tapete oriental com motivos fortes. – Penso

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que conheço a sua identidade e insistirei em total discrição da sua parte, se decidir enveredar por esse caminho.

– Vais perdoar ‑me a observação, mas creio que é uma abordagem bastante fria de uma coisa que deveria ser uma questão de coração, Sophie.

– Eu penso que é mais uma questão de paixão, mas não estou inte‑ressada num escândalo. Além disso, sou uma mulher sozinha, por isso creio que a cautela deve ser a ordem do dia.

Deidre semicerrou os olhos, mas depois riu ‑se.– Vejo que estás resolvida a fazer segredo disso. Quando sentires que

me podes contar, contas?– Se contar a alguém, será a ti.Depois de a amiga partir, Sophie aproximou ‑se da janela. Estava

um lindo dia de Verão, o Sol brilhava, mas enfraquecia à medida que as sombras se alongavam, e os pássaros chilreavam nas árvores em contraste com o chocalhar ocasional de uma carruagem a passar.

– Minha senhora, isto acabou de chegar.Virou ‑se, sarcasticamente divertida consigo própria por ter estado tão

ansiosa, mas a pensar que talvez hoje ele fosse falhar. Mas não. A julgar pelo lindo ramo de flores perfumadas na jarra, dedicara algum tempo a pensar no presente daquele dia.

– Obrigada. Coloque em cima da mesa, Marchum.O seu jovem mordomo assentiu e pousou a jarra de cristal, enfiando

com discrição o bilhete por baixo da respectiva base.Ah, o poder das palavras. Dirigiu ‑se ao aparador e serviu ‑se de um

copo de xerez, atrasando o prazer de ler o bilhete. Era sempre uma expe‑riência excitante. Admirou as flores exóticas de um púrpura ‑escuro sobre‑postas a rosas brancas sumptuosas. Por fim, puxou o papel dobrado por baixo do ramo. Perguntou a si própria o que diria desta vez.

  Tenho a certeza que o seu perfume será ainda mais requintado do que o das flores à sua frente. Estou ansioso por aspirar a fragrância de todos os centímetros deleitáveis da sua pele. E sim, refiro ‑me a todos os centímetros. Acredite em mim, vai apreciar sobretudo o meu beijo atrevido num sítio onde lhe provocará o maior prazer. 

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Era sem dúvida o tipo de mensagem que começara a esperar do seu admirador. Alisou o elegante pedaço de papel velino, examinando a letra. Traços bem marcados, mas não apressados, afilados mas ainda assim legíveis, masculinos e muito sugestivos.

Ia ser necessária alguma coragem para trilhar este caminho, mas quanto mais pensava nisso mais parecia a coisa certa a fazer.

Excitante.Temerária.Arrojada.Talvez até mesmo imprudente. Embora estivesse satisfeita com a sua

vida, nos últimos tempos sentira falta de alguma coisa. O sentimento da sua identidade pessoal, talvez. Era uma amiga, uma filha, uma irmã, uma anfitriã, uma dama da sociedade, mas também uma mulher.

Não queria um marido.Queria era um amante. Não, não se achava na flor da juventude,

mas não era de forma alguma uma solteirona velha e murcha e, embora tivesse tido inúmeras oportunidades ao longo dos últimos anos desde a morte de Frederick para deitar a mão a outros homens, nenhum lhe despertara interesse.

Até agora.Se fosse o famoso visconde, seria uma escolha muito aventureira.E, por mais chocante que pudesse parecer, gostava da ideia.

Julius Valacourt, visconde Breton, ajustou a renda do punho quando entrou no salão de baile, o gesto casual destinado a minimizar o olhar com que varreu a multidão que se movia em círculos.

Ela deveria estar ali. Pagara para extrair essa informação sobre a lista de convidados. Embora possuísse a reputação de ser negligente com a sua herança, na verdade, geria ‑a com cuidado, aumentara ‑a até sob a sua vigilante atenção e dava sempre por bem empregue o seu dinheiro.

Sim, ela estaria presente.O olhar pousou numa mulher com cabelo louro ‑brilhante preso atrás

num rolo despretensioso na nuca. Tinha uma figura que a própria Vénus

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invejaria e, quando se virou e se riu, o seu perfil era ao mesmo tempo delicado e perfeito. Lady Tower. O objecto do seu desejo, tão deslumbrante como sempre, envergando seda cor de safira.

Quanto mais deslumbrante se não usasse nada?Fazia tenção de descobrir.– O teu amor está cá. Como vai a campanha?Julius virou a cabeça, viu o conde de Hannerberry encostado à coluna

mais próxima e sorriu. Felix era o seu amigo mais chegado. Mais ninguém sabia da sua perseguição discreta à linda Sophie, nem mesmo o irmão, Jonas.

– Não tenho a certeza de que amor seja a palavra pertinente. Aplica ‑se aqui algo mais terreno.

– Luxúria, então. Mas a questão mantém ‑se.– Poderei estar a fazer progressos. Ela está a usar as minhas rosas no

cabelo.– Ah, um sinal. – Felix endireitou ‑se num movimento preguiçoso.

– Com tantos cuidados que tens tido com a tua identidade, como estás a planear a tua abordagem?

– Com cautela. A dama é esquiva.– De facto. Diz isso aos homens que tentaram conquistá ‑la nos últi‑

mos anos. Ninguém conseguiu mais do que uma valsa ou duas e uma rejeição educada.

– Tenciono ter êxito. – Julius observou um baronete mais idoso a con‑duzi ‑la à pista de dança. – Com certeza que a persistência conta para alguma coisa. Tenho a sensação de que ela começou a suspeitar que sou eu. Nas últimas festas, e certifico ‑me que assisto a todas a que ela vai, apanhei ‑a a olhar para mim mais do que uma vez.

– Suponho que isso queira dizer alguma coisa, mas alguns olhares não significam triunfo.

Julius presenteou o amigo com um sorriso confiante. As rosas eram sem dúvida um sinal positivo.

– Estou perto, quase a conseguir. Por favor, dá ‑me licença.Abriu caminho através da multidão e manteve o olhar focado na sua

presa. Sophie já não dançava, mas bebia champanhe, o copo a erguer‑‑se languidamente para a boca macia e tentadora. De vez em quando,

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dizia alguma coisa ao pequeno círculo de amigos onde se encontrava, os comentários acompanhados por uma leve risada.

Era aqui que ele tinha de ter cuidado. Ela não queria nenhum con‑tacto público ou tê ‑lo ‑ia abordado de forma directa para lhe agradecer os presentes ou para pedir que parasse de os enviar. Isso já tinha percebido. Nada que os ligasse, nada de valsas, nenhuns passeios no jardim. Consti‑tuía um desafio, mas não era impossível. Em parte fora muito reservado porque sabia que ela zelava imenso pela sua reputação e perguntou a si mesmo se essa abordagem poderia funcionar.

Sim, era evidente que uma das rosas de cor creme que lhe enviara se achava aninhada no seu magnífico cabelo louro.

– Lady Tower. – Estacou como que surpreendido e depois fez uma pequena vénia educada. – Perdão, mas não tinha percebido que se achava presente. – Ela saberia que não era verdade, pois já tinham trocado vários olhares. – Como está encantadora esta noite, mas, por outro lado, não é necessário que o diga sequer, pois é sempre encantadora.

– Obrigada, Lorde Breton. – A voz era calma, mas o olhar especulativo. Estendeu a mão. – Creio que também não me tinha apercebido que aqui estava. Como vai a sua tia?

Uma lembrança simpática de que a linda Sophie e a irmã mais nova da sua mãe eram amigas.

– Vai bem. – Libertou ‑lhe os dedos. – Enviar ‑lhe ‑ia cumprimentos, tenho a certeza, se soubesse que os nossos caminhos se cruzariam esta noite.

Sophie soubera, contudo, que ele estaria lá, porque, pura e simples‑mente, se achava sempre onde ela se encontrava. O reconhecimento estava ali nos seus impressionantes olhos verde ‑azulados. Uma pequena centelha de satisfação percorreu ‑o.

– Diga ‑lhe que temos de tomar chá um dia destes.– Transmitir ‑lhe ‑ei os seus cumprimentos.– Agradeço ‑lhe.Podia passar sem a parte penosa das cortesias, mas cedeu ao luxo

de deixar o olhar demorar ‑se na rosa presa no seu cabelo brilhante.– É uma flor muito bonita.– Foi enviada por um admirador secreto. – Sorriu, serena, o rosto

inexpressivo. – Os homens têm gestos muito galantes.

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Ele estava muito consciente da atracção, o corpo tenso só por se encontrar tão perto, o perfume dela a chegar ‑lhe numa delicada mistura de essência de rosas.

– A tentar impressioná ‑la, sem dúvida. Escolheu bem. Combina com a sua beleza.

A quebra no timbre da voz não foi intencional, mas aconteceu na mesma.

– Obrigada. Foi muito delicado da parte dele. Gostaria de lhe agra‑decer pessoalmente, mas não assina o nome.

– Talvez seja tímido, minha senhora.– Não o creio – retorquiu ela em tom factual. – Penso que é o

oposto e também inteligente. Tenho de admitir que me despertou o interesse.

Era uma ocasião imprevista e os amigos dela estavam de momento virados para outro lado, a conversar uns com os outros ou muito afas‑ tados para conseguirem ouvir, por isso ele aproveitou a vantagem.

– Tenho a certeza de que era essa a sua intenção exacta. Talvez deva procurar encontrar ‑se com ele.

Ela baixou os olhos com recato.– Nalgum local neutro?O triunfo disparou por ele acima. Ela podia ser a viúva inatingível,

mas talvez não fosse assim tão inacessível.– Em qualquer lugar – retorquiu com franqueza numa voz calma.

– A qualquer hora, sob qualquer condição.– Tenha cuidado – respondeu ela, virando ‑se numa aparente indife‑

rença que ele admirou, abanando o leque com languidez como se o salão de baile abafado a incomodasse. – Eu poderia impor requisitos que não quereria cumprir.

– Não consigo imaginá ‑lo, minha senhora.– Sou mais velha.– É gloriosamente bela. O que são alguns anos? – Havia na sua voz

uma sinceridade mais veemente do que teria desejado revelar.Os olhos azul ‑esverdeados consideraram ‑no, as pestanas escuras

a adejarem.– Então encontre ‑se comigo aqui à hora indicada.

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Um pedaço de papel escorregou ‑lhe da mão para o chão e ela logo se virou e afastou num redemoinho de perfume de rosas e seda azul ‑viva, as ancas a menearem ‑se com suavidade.

Ele nunca sonhara que ela concordasse, não depois de meio ano de presentes e alusões subtis e não tão subtis, e a onda de euforia era quase enervante.

Não fazia a menor ideia se tinham sido as flores, o momento ou qualquer coisa que mudara, mas sabia que ela lançara um convite muito claro que não tinha a mínima intenção de ignorar.

A perseguição fora divertida, mas alcançar o seu objectivo seria ainda melhor. Desejava ‑a há demasiado tempo.

Em detrimento de cortejar as meninas ingénuas que considerava tão aborrecidas e rejeitar convites para qualquer entretenimento se ela não fosse estar presente.

Não tinha a certeza da razão precisa, mas Sophie Meadows prendera‑‑lhe a atenção e fascinara ‑o desde a primeira vez que a vira e parecia que naquela noite poderia transformar a fantasia em realidade.

Dobrou ‑se e apanhou o pedaço de papel num movimento despren‑dido, enfiou ‑o no bolso sem sequer olhar para ele e entrou numa das salas onde se jogava às cartas. Após algumas jogadas, ganhou, mesmo sem prestar muita atenção, por isso devia ser a sua noite de sorte, embolsou os ganhos e foi pedir que lhe trouxessem a carruagem.

Estava uma noite estrelada; puxou, descontraído, o papel do bolso e lançou ‑lhe uma vista de olhos.

Não havia cumprimentos, apenas um endereço numa rua que não era elegante, mas que se achava perto o suficiente de Mayfair para passar por isso. Por baixo, ela escrevera na sua caligrafia cursiva Meia ‑noite.

Tudo o que a senhora desejasse.

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