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8/6/2019 Encontro Fatal http://slidepdf.com/reader/full/encontro-fatal 1/115 Encontro fatal (Isle of the rainbows) Anne Hampson  Julia no. 192 Encontro fatal “Isle of the Rainbows” Anne Hampson (1970)  Penny olhou a ilha de Dominica e mais uma vez ficou perturbada. E pensar que tinha chegado ali cheia de esperança, imaginando que passaria uns dias maravilhosos naquele lugar encantado... Max Redfern havia estragado todos os seus planos. Bastou conhecê-lo para odiá-lo profundamente e depois passar, com a mesma rapidez, do ódio ao amor. Mais tarde, já perdidamente apaixonada, Penny experimentou a dor da rejeição, pois Max insistia em ignorá-la. Haviam lhe avisado que ele era um solteirão convicto, um homem proibido para as mulheres. Mas o coração dela não ouviu o aviso e insistia em bater, descompassado, cada vez que se lembrava dos beijos ardentes que Max lhe dera uma única vez!  Livros Florzinha - 1 - - 1 - - 1 -

Encontro Fatal

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Encontro fatal (Isle of the rainbows) AnneHampson Julia no. 192

Encontro fatal“Isle of the Rainbows”

Anne Hampson

(1970)

 Penny olhou a ilha de Dominica e mais uma vez ficou perturbada. Epensar que tinha chegado ali cheia de esperança, imaginando que

passaria uns dias maravilhosos naquele lugar encantado... MaxRedfern havia estragado todos os seus planos. Bastou conhecê-lo

para odiá-lo profundamente e depois passar, com a mesma rapidez,do ódio ao amor. Mais tarde, já perdidamente apaixonada, Pennyexperimentou a dor da rejeição, pois Max insistia em ignorá-la.Haviam lhe avisado que ele era um solteirão convicto, um homemproibido para as mulheres. Mas o coração dela não ouviu o aviso einsistia em bater, descompassado, cada vez que se lembrava dos

beijos ardentes que Max lhe dera uma única vez!

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  CAPÍTULO I

Os primeiros sinais da terra surgiram devagar, se destacando na névoa

levemente azulada. Penny se debruçou sobre a grade de ferro, observando operfil das montanhas mais altas, que começavam a ganhar forma. O navioavançava com suavidade sobre as águas calmas do mar do Caribe.

— Lá está ela! A ilha dos antigos vulcões, das altas cachoeiras... Ilha doscoqueiros e palmeiras, onde cresce a exótica flor-da-lua!

Penny se virou e sorriu para o bonito rapaz que falava, encantado com a ilhaque começava a se destacar no oceano, ao longe. Graham Price era um dospassageiros da pequena embarcação, misto de cargueiro e navio depassageiros, na qual Penny viajava junto de sua chefe. Graham era professorde matemática numa escola secundária em Dominica, e voltava para a ilhadepois de passar a Páscoa com os pais, na Inglaterra. Na ida tinha viajadode avião, mas preferiu voltar num navio, pois adorava navegar.

— É tão excitante — Penny comentou. Aquela excitação devia ser muito maispela proximidade do encontro com Max Redfern do que pela perspectiva depassar os próximos meses nas Índias Ocidentais, uma das regiões mais belasdo mundo.

Fazia pouco tempo que o pai de Penny e a mãe de Max, Norah Redfern,chefe de Penny e que viajava com ela, haviam anunciado sua intenção de secasarem. Assim. Max logo se tornaria um irmão para ela. Penny sempre quister um irmão, fazer parte de uma família depois de viver sozinha com o painos últimos doze anos. Ela tinha acabado de completar oito anos quando amãe faleceu.

Será que Max também ficaria entusiasmado por ganhar uma irmã?, elapensou. Ele também era filho único!

— Veja aquelas listras amarelas no céu — Graham estava dizendo. — É por

causa da umidade no ar!As grandes listras eram estranhas e lindas, cruzavam por cima dasmontanhas altas, e se refletiam no oceano. Dominica era, às vezes, chamadade "Ilha dos Arco-íris", pois não era raro que sol e chuva ocorressem aomesmo tempo, produzindo lindos espetáculos. Naquele momento, porém, oarco-íris só possuía uma cor, o amarelo, lá eram cinco da tarde e o sol seescondia quase completamente.

— É a umidade que produz essa névoa — Penny disse. — É sempre assim,

Graham?

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— Você está nos trópicos agora, não se esqueça disso! Nem sempre o tempofica com esta névoa, apesar de que as montanhas mais altas estão constantemente encobertas por nuvens. Mas não se preocupe, Penny. Tenho certezaque não ficará desapontada com a ilha. — Ele se aproximou e tocou o braço

dela. — Espero que também não se desaponte com seu novo irmão.Penny franziu a testa, pensando que nas raras ocasiões em que o nome deMax havia sido mencionado, Graham deu a impressão de não gostar dele.Entretanto, não desejava questioná-lo a respeito. Seria até uma certa faltade lealdade para com Max. E depois, é claro que ele devia ser uma boapessoa... Afinal, a mãe dele tinha um caráter maravilhoso e fascinante!

— Max ainda não é meu irmão. Nossos pais somente se casarão quando papaise aposentar, o que ainda leva alguns meses.

Parecia que Graham ia dizer mais alguma coisa, mas subitamente mudou deassunto, diante do comentário de Penny.

— Nós não vamos perder contato quando esta viagem terminar, não é? —Seu olhar era francamente ansioso e Penny apressou-se em tranqüilizá-lo.

— Claro que não, Graham!

— Eu só a conheço há nove dias mas... bem, gostaria que fossemos amigos,Penny, amigos de verdade.

— Sem dúvida seremos ótimos amigos — ela reafirmou com um sorriso, logocorrespondido por Graham.

— Quero levá-la para conhecer os lugares bonitos da ilha, o que terá que serfeito nos fins de semana, pois aqui anoitece muito cedo. De qualquermaneira, durante a semana podemos sair para dançar, às vezes, ou jantar emalgum restaurante agradável... Quem sabe você fica tão encarnada comDominica que nunca mais queira ir embora!

Penny sorria de tudo aquilo. Já fazia um ano que trabalhava para NorahRedfern e tivera tempo suficiente para descobrir a inutilidade de seplanejar as coisas, ao lado de uma mulher como ela!

— É difícil saber agora... — falou, enquanto voltava a fitar a ilha ao longe.Pesadas nuvens carregadas de água cobriam os picos mais altos, deslocando-se lentamente para o interior, onde as chuvas torrenciais alimentavam umaimpenetrável floresta tropical. — Estou aqui a trabalho, Graham, e quando aSra. Redfern decidir partir, eu naturalmente terei de acompanhá-la.

— Mas depois do casamento ela não poderá mais continuar o tempo todoindo de um lugar para o outro!

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— Suas pesquisas exigem as viagens e é por isso que os dois estãoesperando até que papai se aposente. Então, ele poderá vir conosco. — Pennymeneou a cabeça, enfaticamente. — Não, Graham, pode estar certo que nãoficarei em Dominica muito tempo!

— Suponho que não.... — ele suspirou. — Ei, você gosta mesmo destetrabalho? Não se importa de viajar tanto?

— Eu sabia que teria que ser assim, quando aceitei o cargo — Penny replicou,se lembrando do primeiro encontro com aquela que se tornaria sua chefe.Magra e de aparência frágil, cabelos brancos ressaltando os olhos azul-claros, a sra. Norah Redfern estava sentada na mesa de trabalho, umapedra numa das mãos e uma lente de aumento na outra. Algum tempo sepassou antes que percebesse a presença de Penny.

— Quem é você — ela perguntou com ar surpreso, quando finalmentelevantou os olhos e notou a garota.

— Sou a srta. Davidson. Tinha marcado hora com a senhora.

— Sim, claro... Que estupidez a minha! Você deseja trabalhar comigo, não é?Leu meu anúncio no jornal... Faz tempo que já está ai de pé? Devia tertossido ou algo assim, para que eu soubesse que estava aqui! Vamos, sente-se, querida!

— Bem, eu tentei lhe chamar a atenção — Penny começou a responderenquanto puxava uma cadeira para se sentar — ...mas a senhora estava tãoabsorvida no trabalho que não notou.

— Refere-se a este mineral? Sim, é uma pedra muito interessante. .. muitointeressante. — A distraída senhora fitava a pedra em suas mãos. Depois deum momento, colocou-a sobre a mesa e concentrou a atenção em Penny. — Eentão, a senhorita alguma vez já trabalhou como assistente de pesquisascientíficas?

— Não... mas tenho certeza que. . .

— Nunca? — A sra. Redfern franziu a testa. — Quais eram os outrosrequisitos que eu tinha pedido no anúncio do jornal...? Deixe-me ver. . . achoque tenho uma cópia por aqui... Não, não tenho! Devo tê-lo usado paraembrulhar algumas pedras!

— Bem, a senhora dizia que desejava alguém que se interessasse porgeologia... Eu fiz um curso de nível médio em geologia e leio bastante arespeito.

A senhora pareceu hesitar alguns instantes, um ar profundamente pensativono rosto. Contudo, sua reflexão não durou muito tempo.

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— Está bem, acho que você preenche todos os requisitos. . . É uma pena eunão ter o jornal aqui para comprovar! De qualquer maneira, parece umagarota esperta e tenho certeza que logo aprenderá tudo. Além do mais, éuma garota bonita também, e isso ajuda na inspiração para escrever, você

compreende?— Sim, compreendo — Penny mentiu, pois francamente não era capaz deimaginar que tipo de inspiração era necessária para escrever livros técnicos,de conteúdo científico.

— Acho que estamos acertadas, então! — Ela deu um suspiro de alívio efitou Penny com aqueles olhos azuis desligados, mas que sem dúvidapertenciam a uma pessoa muito inteligente. — Você pode começar napróxima segunda-feira?

Sem esperar a resposta, Norah continuou explicando que logo estariamviajando para a França e para a Iugoslávia, fazendo pesquisa de campo. Maistarde, iriam para as índias Ocidentais.

— Grande parte do meu livro trata de locais de formação vulcânica, como étípico daquela região. Em Dominica poderemos unir o trabalho com o lazer,pois tenho um filho, Max, que mora na ilha. Ele possui plantações de bananas.Faremos de Dominica o nosso quartel-general. Viveremos na casa dafazenda; tenho certeza que você vai adorar!

Um ano mais tarde, Penny tinha apresentado seu pai à sra. Redfern e, parasua surpresa, eles imediatamente sentiram-se atraídos um pelo outro. Pennynunca imaginou que o pai viesse a se casar de novo. Mesmo que isso tivessepassado por sua cabeça, a sra. Redfern seria a última mulher pela qual elaacreditava que ele pudesse se interessar. Ela era ótima, sempre gentil e debom humor. Contudo, era também a pessoa mais imprevisível e excêntricaque Penny conhecera na vida!

Também era surpreendente que a sra. Redfern tivesse escolhido seu pai. Elaera uma mulher muito rica, herdeira de grande fortuna do falecido marido.Além disso, tratava-se de uma autora famosa na área de geologia, seuslivros eram usados em inúmeras universidades de todo o mundo.

O pai de Penny não era exatamente uma pessoa pobre, mas dependia dosalário para viver. Em poucos meses se aposentaria e então passaria aganhar bem menos. Entretanto, o dinheiro não parecia ter importânciaalguma na relação dos dois e Penny estava maravilhada com a perspectiva deseu pai ter uma companheira dali por diante. Ao mesmo tempo, ficava muitocontente por saber que ganharia um irmão, coisa que nunca teve antes e

sempre desejou secretamente.

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— Quanto tempo vocês pretendem ficar na ilha? — Graham despertou-a daslembranças e Penny virou-se para ele, surpresa, pois tinha quase seesquecido dele.

— Bem, tudo depende da pesquisa. A sra. Redfern acredita que serão

necessários pelo menos uns quatro ou cinco meses.— E seu pai? Você disse que eles se casariam assim que ele se aposentasse...

— Sim, ele virá para cá assim que isto acontecer, e então eles se casarão.

— Quer dizer que talvez vocês fiquem mais tempo na ilha? — Grahamperguntava com certa ansiedade na voz. — Tenho certeza que a sra.Redfern não pretende separar a família logo depois de ela finalmente seconstituir, não é?

— Já estive pensando nisso... A pesquisa sobre vulcões é a última que restaa fazer e depois só fica faltando redigir o texto do livro, tarefa que podeser cumprida em qualquer lugar. Se a sra. Redfern decidir trabalhar na ilha,então ficaremos pelo menos mais um ano.

Penny falava com uma expressão de esperança nos olhos, pois na verdadeera o que desejaria que acontecesse. Sabia que depois do casamento eles setornariam uma família e, mesmo que vivessem distante, Max sempre lheescreveria. Era certo também que os visitaria na Inglaterra de vez emquando. Claro que nunca seria a mesma coisa como se morassem juntos. Porisso Penny pretendia convencer a sra. Redfern da necessidade depermanecer em Dominica até que o livro estivesse terminado.

— Por mais um ano? Isso seria maravilhoso! — O entusiasmo na voz deGraham a deixava preocupada. Penny não queria que ele esperasse algo maisdo que amizade da parte dela.

— Bem, ainda não tenho certeza de que a sra. Redfern concorda em ficar nailha — Penny murmurou, enquanto fitava o céu, que começava a se tingir delindas cores. — Não poderemos ver o pôr-do-sol... É uma pena!

— Estamos na face contrária da ilha — Graham explicou. — Nesse momentoele está se pondo do outro lado.

Enquanto conversavam, dois jovens recém-casados juntaram-se a eles, naamurada do navio. Felicity e Paul iam passar uns dias em Dominica,hospedados na casa do pai de Paul, que tinha negócios na ilha.

— Acho que vou encontrar a sra. Redfern e ver como ela está passando. —Penny desculpou-se e saiu deixando os três conhecidos no convés do navio.Depois de passar rapidamente por seu camarote, foi até o aposento da sra.Redfern.

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— Ah, aí está você, querida! — A sra. Redfern estava sentada numaconfortável poltrona e tinha nas mãos um mapa da ilha de Dominica. — János aproximamos do porto?

— Sim, daqui a pouquinho estaremos com os pés na terra novamente!

— Vamos aportar em Robeau — a senhora disse, ainda olhando o mapa. Emseguida, ela se voltou para Penny com um olhar profundamente pensativo. —Penny, querida...

— Sim...?

— Eu... quer dizer... — ela hesitava, parecendo não saber exatamente comofalar o que queria. — Bem. a respeito do meu casamento com seu pai. . .

— Sim...?

— Eu... eu gostaria que você não dissesse nada para Max, pelo menos porenquanto. . .

— Não falar nada? — Por alguma razão o coração de Penny começou a bateracelerado. — A senhora quer dizer então que ele ainda não sabe de nada? —Era muito estranho que a sra. Redfern não houvesse dito nada para o filho,

— Eu já devia ter contado, mas Max tem um jeito meio estranho às vezes!Você sabe como é, não? Em geral, os filhos não gostam muito da idéia de quea mãe se case de novo...

— Não compreendo! Eu fiquei muito contente quando soube que vocêspretendiam se casar e... sempre pensei que Max também ficaria! — Emnenhum momento tinha passado peia cabeça de Penny que ele fosse levantaralguma objeção ao casamento. Estava certa de que ele ficaria feliz pela suamãe, assim como ela havia ficado pelo pai. — Mas logo teremos que contar-lhe... não seria justo manter segredo de uma coisa que também lhe dizrespeito! Quando acha que poderemos fazer isso?

— Mais tarde, assim que uma boa oportunidade aparecer. — A sra. Redfern

estava visivelmente embaraçada, e por um momento Penny sentiu receio quetivesse mudado de idéia.

— Você ainda gosta de papai, não é?

— Claro que sim, Penny! — ela falava com sinceridade. — Eu o amo epretendo casar em breve. Mas só desejo que Max saiba disso na ocasiãoadequada.

Penny tinha que se contentar com aquilo, mas era difícil não se sentirfrustrada. Afinal de contas, como seria possível assumir uma postura de

irmã para irmão se Max não soubesse que aquele casamento iria se realizar?

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— Há algo mais que gostaria de pedir-lhe, Penny... É necessário que vocêvolte a me chamar de "sra. Redfern", caso contrário ele poderia suspeitarde alguma coisa. Peço que não se esqueça disso.

Penny concordou com a cabeça, sem entusiasmo. Já fazia algum tempo que

tratava a chefe peio primeiro nome, principalmente depois que a intenção docasamento fora anunciada. Aliás, tinha sido a própria sra. Redfern quem lhepedira que a chamasse de Norah.

— Não precisa se preocupar... Farei tudo para não me esquecer disso! —Penny murmurou em voz baixa, saindo em seguida.

O sol já brilhava imensamente, inundando o quarto de luz, quando elaacordou. Pela janela, Penny olhou o imenso jardim da casa de fazenda deMax. Haviam muitas árvores cheias de flores e frutos, que produziam

sombras fresquinhas e acolhedoras. Pássaros e borboletas voavam pelasplantas, numa profusão de cores e movimento. Toda a natureza pareciasaudar aquela manhã tropical, cheia de luz e calor. Nos grossos troncos dasárvores estavam orquídeas de várias cores e toda sorte de flores e plantasexóticas.

Além dos limites do jardim começavam as plantações de bananas, que seestendiam até as montanhas. A fazenda era circundada por montes altos eescarpados, nos quais se podia divisar, aqui e ali, algumas quedas d'água,

escondidas pelos coqueiros e bambus.Ela não ia se desapontar, Graham havia dito, e certamente tinha toda arazão! Ninguém em sã consciência poderia ficar desapontado frente esteparaíso tropical! Mas Graham também disse que ela não iria se desapontarcom Max. . .

Penny suspirou e se afastou da janela, indo se preparar para encontrar osoutros.

Meia hora depois já estava no jardim, onde o café da manhã foi servido

numa linda mesinha branca, sob a sombra de uma árvore centenária. Maxsurgiu dali a instantes e, depois de informar que a mãe tomaria o café nacama, convidou Penny para sentar-se.

Começaram a tomar o café em silêncio, pois ele tia uma carta. Como Max eradiferente da imagem que linha na cabeça!, Penny refletiu... Ela estava tãoexcitada pela perspectiva de conhecer o homem que dali por diante teria umpapel importante em sua vida, já que se tomaria seu irmão... Quando soubeda relutância da sra. Redfern em falar com Max a respeito do casamento,Penny achou que ela se preocupava sem necessidade, pois não seria possívelque ele fizesse alguma objeção a um fato que traria tanta felicidade para a

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própria mãe. Contudo, agora que já conhecia Max, não tinha tanta certezadisso!

Penny fitou-o de soslaio, observando-o enquanto lia a carta. Se o estivessevendo pela primeira vez, diria que estava recebendo uma notícia muito

desagradável, por causa da expressão de seu rosto. Contudo, ela já sabiaque não era a carta a responsável por aquele ar duro e ríspido; era esse o jeito de Max, como teve oportunidade de perceber no momento em que seconheceram, no dia anterior. Suas sobrancelhas grossas e escuras, como oscabelos, contribuíam para lhe dar aquele ar sério e até mesmo um poucocarrancudo. Certamente devia ter puxado ao pai, Penny pensou, pois a sra.Redfern era muito diferente. As linhas de seu rosto eram muito suaves edelicadas.

Max pôs de lado o papel e encarou Penny, com os olhos quase negros quedavam a impressão de serem capazes de olhar direta-mente na alma de umapessoa.

— Pelo que minha mãe me disse, vocês pretendem começar a trabalharimediatamente. — Ao contrário do rosto, sua voz era grave e tinha algumacoisa que a tornava especialmente atraente.

— Sim, Norah... — Ela parou bruscamente, ao perceber que referia-se à sra.Redfern pelo primeiro nome. Não era possível que se traísse assim tão cedo!

Penny esperou um pouco, com receio, desejando que por algum milagre elenão tivesse notado seu deslize. Era difícil saber, pois Max não pareciadisposto a fazer nenhum comentário. — Bem, a sra. Redfern não me deunenhuma instrução ainda, mas suponho que ela deseje começar a pesquisa omais breve possível.

— O escritório, saia de trabalho ou seja lá como for que prefiram chamá-lo,ficará pronto ainda hoje. Como disse ontem à noite, Teresa estava doente enão pôde arrumá-lo antes. Reservei um aposento do outro lado da casa, quedá vista para o mar.

Teresa era a simpática criada que Penny encontrou no dia anterior e que acumprimentou com um sorriso radiante, deixando à mostra dentes alvos eperfeitos. Era nativa da ilha e nada sabia a respeito dos gostos dos brancos,quando Max a contratou para tomar conta da casa. Mas agora, ele informaraà mãe, Teresa valia o próprio peso em ouro! Seu marido, Matthew, tambémera um dos empregados da fazenda, e era uma pessoa de eficiência elealdade admiráveis. Além de tomar conta do enorme jardim, aindaencontrava tempo para cultivar os vegetais e legumes que a casa precisava.

Cuidava também de algumas colméias de abelhas, das quais extraía um melexcelente.

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— Tenho certeza que será um ótimo lugar para trabalhar — Pennyfinalmente replicou, forçando-se a exibir um sorriso, Max a fitou emsilêncio por alguns momentos, antes de perguntar com curiosidade:

— O que você acha de trabalhar para minha mãe, srta. Davidson? Penny

espantou-se ao vê-lo chamá-la pelo sobrenome. Nunca pensou que teriamuma relação tão distante!

— Oh, eu gosto muito. O trabalho é bem interessante e a sra. Redfern éuma excelente chefe!

Mais uma vez ele nada disse de imediato. Parecia que tentava ler ospensamentos dela.

— Há quanto tempo trabalha para ela?

— Está fazendo um ano — Penny respondeu e, em seguida, desviou o olharpara um pequeno tufo de flores de uma parasita no tronco da árvore, ondeum lindo beija-flor fazia acrobacias aéreas para sugar o pólen das delicadasflores.

— Um ano. . . Contudo, a atitude de minha mãe é muito diferente da que emgeral se tem com uma secretária.

Deixando de lado o beija-flor, Penny voltou a olhar para ele. Dessa vez, eraela quem olhava com curiosidade.

— Não entendo o que quer dizer. . .— A maneira como ela a tratou na noite passada. É como se tivesse um afetomuito profundo por você.

O que é absolutamente natural, Penny pensou, desde que a sra. Redfern embreve se tornaria sua mãe adotiva. Mas, isso não podia ser dito para Max.

— Sim, suponho que ela goste bastante de mim.

Max parecia calmo mas muito curioso, como se suspeitasse de que havia algo

estranho no ar. Ele serviu-se de uma torrada, sem tirar os olhos de Penny.— E, apesar de tudo, você é somente a secretária dela... Acho um poucoestranha tamanha afeição por parte de minha mãe! — Ele começou a passarmanteiga na torrada, mas ainda não desviava os olhos de Penny. — Vocêdisse há pouco que a considerava uma excelente chefe. Bem, será que não aconsidera um pouco generosa demais?

Penny sentiu que corava fortemente, enquanto os olhos de Max continuavamfixos nela, esperando uma resposta. Como tinha sido tola a ponto deimaginar que haveria camaradagem e amizade entre os dois desde o início...

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Será que ele mudaria quando soubesse do casamento? Era difícil acreditarnisso!

— Nunca tive nenhum espécie de problema com relação a meu salário, sr.Redfern — Penny falou num tom quase ríspido, ao qual não estava habituada.

— Admito que é um ótimo salário, mas reconheço também que trabalhoarduamente e faço tudo para merecê-lo!

Max franziu a testa, espantado pelo tom em que Penny dissera aquilo. Elesabia que não havia sido muito amável, e nada mais natural que ela agorareagisse desta forma. Penny não conseguiu sustentar aquele olhar,subitamente frio e duro.

— Srta. Davidson, você me força a lembrá-la de que sua posição aqui é deempregada de minha mãe, nada mais que isso. Espero que tenha me

entendido bem. . .— Não estou compreendendo, sr. Redfern. Trabalho para sua mãe e não souobrigada a receber ordens do senhor!

— Não lhe dei nenhuma ordem, srta. Davidson!

— Disse que eu devia me lembrar do meu lugar aqui. Será que isto não é umaordem?

— Não, não é. Trata-se apenas de um pedido que lhe faço.

— Então, tenha a gentileza de me explicar a razão de pedir isso. Os olhos deMax tinham um brilho frio. Ele recostou-se na cadeira, aparentementedesinteressado da comida sobre o prato.

— Pelo que já descobri a seu respeito, acredito que não se oporá a que eufale claramente o que estou pensando.

— Pelo contrário, prefiro que diga o que tem na cabeça.

— Há poucos momentos atrás, você se referiu à minha mãe pelo primeironome, Norah, demonstrando uma intimidade que não devia existir entre

patrão e empregado. Infelizmente, ela é muito generosa e tem um coraçãomole demais o que permitiu que, no passado, tenha sido explorada por. . .

— Eu não seria capaz de explorar quem quer que fosse — Penny protestou,em voz alta. Já não era possível esconder o que sentia, reprimir a raiva quecrescia dentro dela contra aquele homem que a tratava de maneira tãoarrogante e agressiva. — E certamente, nunca me aproveitaria de umapessoa tão boa e generosa como a sra. Redfern! Como pode me acusardestas coisas?

— Controle-se — Max pediu, com calma. — Não fiz nenhuma acusaçãopessoal, só apontei um fato verídico. Minha mãe teve outras secretárias

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antes de você, e elas também costumavam adotar esse ar de familiaridade...Depois de algum tempo, acabavam se aproveitando da generosidade deminha mãe e era eu quem tinha que despedi-las. Sua antecessora, porexemplo, convenceu minha mãe a emprestar-lhe uma grande soma em

dinheiro. Foi por pura sorte que eu resolvi visitar minha mãe na Inglaterra,chegando a tempo de impedir essa tolice. Se ela tivesse emprestado odinheiro, é certo que nunca mais o veria de volta!

Max continuou falando, citando casos em que a mãe tinha sido enganada eludibriada por pessoas que se aproveitavam de sua generosidade. Pennysentia-se mal, aquelas palavras eram estranhas e sem sentido para ela. Deuum profundo suspiro, sentindo a brisa que vinha do mar e trazia um aromasalgado. As altas palmeiras-reais, não muito distantes de onde se sentavam,balançavam ao vento, produzindo um ruído calmo e confortador. O céu doCaribe era de um azul imaculado, sem nenhuma nuvem para tingir-lhe aclaridade. Toda aquela beleza excedia suas expectativas, mas Max... Láestava ele. contando mais um caso de como. graças à sua rápida intervenção,a mãe escapou de ser utilizada por outras pessoas. Penny não achava quetudo aquilo fosse mentira, mas Max ia longe demais!

Agora ele começava a dizer algo que colocou Penny em estado de alerta. Elaajeitou-se na cadeira, sentindo que as batidas do coração aceleravam deforma incontrolada. Pelo que Max dizia, muitos homens estavam ansiosos

para desposarem a sra. Redfern. interessados somente em sua fortuna.— Uma viúva rica como minha mãe é sempre um alvo atraente para essescaçadores de tesouros — ele falava, curvando os lábios num sorriso irônicoque enfatizava as palavras. — O interesse deles é somente pelo dinheirodela e nada mais. . .

— Não concordo com isso! — Penny protestou, antes que se desse conta doque eslava fazendo. Max olhou-a interrogativo e ela tentou consertar: —Eles não são todos iguais. Um homem poderia se interessar por ela, pela

pessoa dela, e não por seu dinheiro!— É possível, mas muito improvável.

— O senhor é muito cético, sr. Redfern.

— Com relação a este assunto, sou mesmo! Como já disse, uma viúva quepossui os bens que minha mãe possui, é sempre um ótimo alvo para essestubarões! Felizmente, ela sempre escuta meus conselhos e, até agora,consegui impedi-la de se deixar enganar!

— Mas... mas... — Penny estava quase a ponto de chorar e era difícilcontinuar falando. Será que a sra. Redfern se deixaria influenciar pela

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opinião de Max a ponto de desistir do casamento? Não havia dúvidas que elagostava do pai de Penny. Entretanto, seu receio de dar a notícia a Maxindicava que a opinião dele era de fato muito importante. Um pouco maiscalma, Penny continuou falando: — Suponha que um homem realmente a ame,

como pessoa, e não esteja em absoluto interessado em seu dinheiro. Nessecaso, você também se oporia ao casamento?

A ansiedade presente nas palavras de Penny não passou despercebida a Max.Ele ergueu as sobrancelhas, se interrogando talvez sobre o porquê daquelapergunta. Penny desviou o olhar, certa de que ele tinha conseguido ler seuspensamentos.

— Eu só estaria seguro de que ele a amava, se ele também fosse rico. Porqueaí seria impossível que estivesse interessado nos bens de minha mãe.. . Caso

contrário, eu concluiria que se trata de mais um desses caçadores de dotes.De qualquer maneira, minha mãe é pessoa sensata, apesar de tudo, e sabemuito bem que os homens que lhe propõem casamento se interessam por seudinheiro antes de mais nada. Além do mais, ela já me prometeu que nunca secasaria sem me... Bem, sem a minha aceitação, ela jamais se uniria a qualquerhomem!

Que arrogância tamanha a dele! Penny sentia o sangue ferver nas veias, masnão havia nada que pudesse fazer ou que valesse a pena dizer no momento.Pensou em seu pai, trabalhando feliz nos últimos meses antes de se

aposentar, na expectativa de juntar-se à noiva em breve.Ela fitou Max, que terminava de comer a torrada com manteiga, distraído.Ele havia retomado a leitura da carta e parecia desinteressado daquelaconversa.

Pouco tempo depois, Periny estava sozinha. Max pedira licença, retirando-seem seguida para uma pequena construção nos limites do jardim, que Pennysupôs ser seu escritório. Ela também já estava se preparando para entrar,quando viu uma linda garota que se aproximava com pressa e olhar aflito.

— Onde está Max? — A jovem não podia ter mais que dezessete anos ePenny observou-a com atenção, antes de responder à pergunta.

— E!e foi naquela direção. — Apontou o pequeno prédio, no qual Max tinhaentrado. A garota, entretanto, não fez menção de ir atrás dele e ficou aliparada, olhando para Penny. Era pequena e delicada, com olhos azuis e umlindo corpo de adolescente. Os lábios exibiam um sorriso adorável.

— Você é a srta. Davidson? Max falou que vocês chegariam. Como é a mãedele? — Ela sentou-se na cadeira que até há pouco tinha sido ocupada porMax. — Estou morrendo de medo de encontrá-la e foi por isso que fingi que

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estava doente e fui para a cama mais cedo, ontem à noite! Max mandouTeresa me chamar quando vocês chegaram, mas fingi que estava dormindo!Como é a sra. Redfern? — ela repetiu, esticando a mão e servindo-se detorradas.

— Você já sabe meu nome — Penny disse, ignorando a pergunta dela. —Gostaria de saber o seu!

— Shirley. — A garota parecia surpreendida. — Max toma conta de mim,estou sob sua tutela. Pensei que já soubesse disto!

— Ele é seu guardião, então!? — Max Redfern era a última pessoa que elapodia imaginar tomando conta legalmente de uma menina tão jovem comoaquela. — Não, eu não sabia disso. A sra. Redfern nunca me disse que o filhoera responsável por uma menina tão simpática.

— Ela é uma pessoa muito distraída, não é? Já me disseram isso. . Dequalquer maneira, é estranho que a sra. Redfern nunca tenha lhe contado ameu respeito. Já estou aqui há seis meses, desde que meu pai faleceu. Ele eMax eram muito amigos, e meu pai uma vez lhe fez um grande favor. Assim,quando papai faleceu, Max resolveu que eu ficaria sob seus cuidados. —Distraidamente, ela deu uma mordida na torrada, sorrindo para Penny. —Nós vamos nos casar — acrescentou, como se fosse a coisa mais natural domundo.

Casar.. Max ia casar? E justamente com uma garota tão jovem? É estranho,Penny pensou. Quando imaginava o próprio futuro, do qual fariam parte umamãe e um irmão adotivos, nunca tinha considerado a possibilidade de Max secasar. Era certo que não gostaria de perder tão cedo um irmão que acabavade ganhar mas, por outro lado, tudo estava acontecendo de uma forma tãodiferente de como havia imaginado...

— E quando será o casamento? — Penny perguntou, achando estranho o fatode que a sra. Redfern nunca tivesse dito nada a respeito daquilo.

— Oh! — Shirley começou a dizer com ar absorto — A data ainda não estámarcada, — Subitamente, seu rosto ganhou uma expressão de receio. — Nãodiga nada a Max, por favor.

— A respeito de quê?

— A respeito de nosso casamento! Ele ainda não sabe!

— Não sabe? — Penny repetiu as palavras da garota, os olhos arregaladospelo espanto.

Shirley meneou a cabeça, enquanto dava mais uma mordida na torrada.

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— Está tudo seguindo na direção certa, mas essas coisas levam um certotempo, não é mesmo?

— Sim, suponho que sim — Penny concordou, um olhar vago. Shirley estavaagora se servindo de suco de laranja, seus movimentos eram delicados e

infantis. Ela sabia que era observada, e parecia gostar disso!— Max está se revelando uma pessoa mais difícil do que eu imaginava... Mastodos eles são assim, não são?

Penny deu um profundo suspiro, sem saber o que ela queria dizer.

— Você tem que ser mais clara. Não tenho a menor idéia do que estáfalando!

— Ora, falo das histórias que leio nos livros... Os tutores são sempre sérios

e austeros, não são? E também sempre demoram um pouco até descobriremque estão apaixonados por aquela de quem tomam conta!

— Apaixonados? — Penny se perguntava como Max podia ter paciência paraconversar com aquela garota, tão infantil e avoada. Imaginá-lo apaixonadopor ela, era uma coisa praticamente impossível!

— Conheço bem essas histórias dos livros, são sempre iguais — a garotacontinuava falando, despreocupada. — Leva um pouco de tempo, mas no fimeles sempre descobrem que estão apaixonados.

— Bem, não posso garantir isso, pois não leio essas histórias.— Pois então eu lhe conto — enquanto falava, Shirley continuava servindo-sede mais torradas, mostrando um grande apetite. — Eles têm uma adorávelmenina sob sua guarda e por muito tempo não conseguem perceber como elaé charmosa e atraente. Mas, no fim de tudo. terminam reconhecendo queestão perdidamente apaixonados e  tudo que desejam é transformar suaantiga tutela num casamento!

— E você acredita, então, que Max vai se apaixonar por você? — Penny quis

saber, fazendo força para não dar risada daquela conversa absurda, e daingenuidade da menina.

— Ele já me ama! — ela garantiu com grande convicção, atestada pelamaneira calma e segura como falava. — Só que ainda não sabe disso! Mas eusei que é assim. As mulheres sempre sabem destas coisas, não sabem?

— Receio que mais uma vez eu não possa responder-lhe. Nunca tive umguardião para tomar conta de mim.

Shirley a fitou com um olhar meio incerto e curioso, enquanto tomava um

gole de café com leite.

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— Você nunca teve um namorado?

— Bem, um namorado realmente importante, nunca tive.

— Que pena! Eu já tive dúzias deles. Quando estudava na Inglaterra, todas

as meninas tinham vários namorados. — Ela deixou escapar um suspiro cheiode nostalgia e melancolia. — Mas de agora em diante nunca mais terei denovo. Max não vai deixar. Quando descobrir que está apaixonado, na certafará questão de ser o único homem da minha vida!

CAPÍTULO II

Nas primeiras semanas, Penny e a sra. Redfern fizeram diversas visitas àsmontanhas e ravinas não muito distantes da fazenda. Nessas ocasiões, Pennytomava notas sobre as características dos lugares que pesquisavam,enquanto a sra. Redfern recolhia amostras de rochas e solos, que seriamanalisadas mais tarde. Todo esse material era colocado num grande saco delona que as duas se revezavam para carregar.

A sra. Redfern tinha muita energia para sua idade, e com freqüência Pennyprecisava lembrá-la da hora de voltar para casa. A dedicada cientista se

deixava absorver completamente naquelas pesquisas de campo e não via otempo passar.

— Daqui a pouco já estará escuro — Penny dizia à sra. Redfern que, de joelhos, ia examinando as rochas que encontrava pelo caminho. — Nós nãoqueremos nos perder, não é mesmo?

Certo dia já era muito tarde e elas ainda estavam embrenhadas na densafloresta tropical, quando a escuridão da noite começou a se aproximarrapidamente.

— Acho que desta vez passamos da hora! — a sra. Redfern exclamou,olhando em volta como se por algum milagre pudesse aparecer um meio detransporte que as levasse para a sede da fazenda. — Não vai ser fácilvoltar! — ela continuou, curvada pelo peso do saco de lona que levava nascostas, cheio de pedaços de rocha. Vendo isso, Penny insistiu para carregaro saco um pouco.

— Vamos ter que andar bastante para achar a saída disto aqui, e é melhornos revezarmos no transporte do material — Penny falava, com certa

ansiedade na voz. — Acho que nos aprofundamos demais na floresta destavez!

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— Você devia ter me avisado, pois sabe como costumo me esquecer da hora!

— Mas eu a lembrei, sra. Redfern, e... — Penny ia continuar falando quandofoi interrompida pela sra. Redfern, que exibia um ar impaciente.

— Por favor, não me chame desta maneira, Penny. Por que não me chama de"Norah", como sempre fez antes de virmos para cá?

— Foi a senhora quem me pediu que a chamasse assim.

— Sim, mas só quando estivéssemos na frente de Max! Quando estamossozinhas, não há a menor necessidade. . . É um tratamento muito formal, enão me sinto bem, Penny.

— Será muito mais difícil para mim chamá-la de "sra. Redfern" quandoestivermos em casa, se eu a tratar simplesmente por "Norah" todo o tempo

em que estamos trabalhando!— Mas tenho certeza que você conseguirá. Terá que se acostumar com isso,pois não quero ser a "sra. Redfern" o tempo todo!

Penny preferiu não comentar mais nada e por algum tempo as duascaminharam em silêncio entre as árvores e arbustos. O chão era irregular eescorregadio, e o coração de Penny logo disparou quando sentiu algo liso efrio roçando em seu pé esquerdo.

— Uma cobra! — ela disse, paralisada, já esperando pela picada que

certamente viria a seguir.— Ora, querida, tenho certeza que não existem serpentes por aqui!... Oumelhor, espere um momento... Sim, existem as jibóias.

— Jibóias?! A senhora tem cer... certeza? — Agora Penny já não esperavauma picada no pé, mas sim o abraço potente e fatal da enorme cobra.Entretanto, logo acalmou-se quando lembrou que Max as tinha prevenidosobre todos os perigos que poderiam encontrar e nada havia dito sobrecobras. Apesar da antipatia que sentia por ele, precisava reconhecer que

Max conhecia muito bem aquelas florestas e se nada dissera a respeito decobras, era porque não havia nada a temer da parte delas.

— Sim, de fato existem jibóias — a sra. Redfern ainda estava preocupadaem tranqüilizá-la — ...mas tenho certeza que são inofensivas! Estou ficandopreocupada com o caminho de volta para casa. Tenho a impressão que nosaprofundamos cada vez mais na floresta, em vez de deixá-la para trás! Seráque estamos na direção errada?

— Não tenho a menor idéia, acho que perdi meu senso de direção... Será que

as cobras são mesmo inofensivas?

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— Elas não gostam dos homens e logo se afastam se alguém se aproximadelas. Não precisa ter medo de nenhuma picada ou abraço de jibóia!

Penny sorriu, meio sem jeito, pois era óbvio que a sra. Redfern não estavapreocupada com as cobras e sim com a localização. E de fato ela é quem

parecia ter razão, pois o tempo passava rápido e cada vez a floresta iaficando mais espessa e escura.

— Acho que estamos completamente perdidas! — Penny disse afinal, comgrande receio. O saco de lona em suas costas pesava demais e Norahparecia ter se esquecido dele. Contudo, Penny não tinha coragem de lembrá-la que já era hora de carregar um pouco aquele peso.

— Sabe, querida, começo a ficar inquieta! Estou acostumada com assituações mais estranhas, mas acho que teremos que passar a noite aqui, o

que não me agrada nem um pouco!— Oh, por favor, não diga isso! Temos que achar o caminho para sair daqui!— Penny rebateu com decisão. Entretanto, tudo que via eram os enormestufos de bambus, altas palmeiras e árvores centenárias, carregadas decipós. — O que vamos fazer? Não podemos ficar aqui até amanhã! — Pennyestava exausta, com as costas curvadas pelo saco com as pedras. — Vamosdescansar um pouco?

— Não, Penny, vamos continuar caminhando! Tenho certeza que este é o

caminho certo. De qualquer maneira, se seguirmos em frente acabaremossaindo em alguma estrada, mesmo que seja do outro lado da ilha.

— Eu tenho que parar um pouco... Não estou agüentando mais! — Pennydesabafou e estancou em seguida, jogando aos pés o grande saco repleto deamostras de rocha. Sua cabeça doía terrivelmente e o suor escorria pelatesta. — Há quanto tempo estamos caminhando?

— Acho que mais de três horas... Preferia que você tivesse me lembrado que já estava ficando tarde e era hora de ir embora, Penny. Isso nunca teria

acontecido se tivéssemos partido antes! — A convicção com que a sra.Redfern dizia aquilo, demonstrava que já esquecera que Penny havia lhe ditoque estava ficando tarde. Contudo, Penny preferiu não dizer mais nada, poissó serviria para aumentar ainda mais a tensão daquele momento. Além domais, não ganharia nada com isto. Elas estavam perdidas no meio da mata etudo indicava que teriam de esperar até a manhã seguinte para descobriruma maneira de sair dali.

— Posso jogar essas amostras fora? — ela pediu, quando reiniciaram acaminhada. — Nós poderemos coletar mais material numa outra hora.

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— Jogá-las fora! Por Deus, isso seria absurdo! Existem lindas amostras derocha aí dentro!

— Mas podemos coletá-las depois!

— Sim, querida, você acabou de dizer isso, mas não seria a mesma coisa; não,é melhor levarmos para casa e teremos material para um mês de pesquisa!Então, poderei ficar no laboratório enquanto você se dedica ao seu trabalhode datilografia.

Apesar daquela discussão, em nenhum momento Norah se lembrou de que jáera hora de ela se oferecer para carregar um pouco as amostras. Com umgrande suspiro, Penny recolocou o saco sobre as costas, e reiniciaram acaminhada. O contato das grossas correias de couro com seu ombro, aliadoao fato de que sua roupa estava molhada pelo suor e pela umidade,

terminaram deixando seu ombro arranhado. Ela podia sentir que o ferimentosangrava.

Afinal, depois de algum tempo, as duas decidiram que era inútil continuarcaminhando. Sentaram-se num grande tronco de árvore, que algumatempestade havia derrubado. Com um suspiro de alívio, Penny jogou o sacode lona no chão.

— Tente descansar um pouco, Penny... — Só faziam cinco minutos que haviamse sentado e Norah já estava quase dormindo. — Tente se aquecer pois a

gente não sente a friagem mas ela pode fazer um grande mal!— Acho que não conseguirei dormir... Será que Max, digo, o sr. Redfern, nãovai fazer uma expedição para sair à nossa busca? Ele sabe exatamente paraonde viemos, pois toda manhã faz questão de me perguntar ondepretendemos ir.

— É verdade? Não o chame de "sr. Redfern"... Não gosto que seja tãoformal com meu filho.

— Ora, ele é completamente formal comigo! — foi tudo que Penny replicou,

pois sua garganta estava seca e dolorida e falar era um grande esforço.— Sim, talvez ele mande alguém nos procurar. Você disse que toda manhã ele pergunta onde estaremos pesquisando, não é?

— Sim, ele nunca se esquece de fazer isso. Oh, gostaria que alguém viesseem nosso auxílio! — Penny parou de falar quando o ruído da respiração deNorah indicou que ela já estava praticamente adormecida. Incapaz desentir-se confortável naquela situação, Penny invejava Norah, que conseguiaadormecer apesar de tudo.

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Já devia ser por volta de duas horas da madrugada quando Penny ouviu osgritos. Respondeu rapidamente, e os chamados se repetiram. Norah dormia,mas o grito de Penny acordou-a e agora ela estava sentada no tronco daárvore, esfregando os olhos com as costas das mãos.

— Ora, que sorte! — disse, parecendo que gostava de toda aquela aventura.— Quem será que é, Penny?

— Era a voz de Jean Baptiste que gritava. Eu acho que tem outrosempregados da fazenda junto com ele... Sim, aí está, é a voz de Félix quechama agora! — Penny gritou de novo e, pouco tempo depois, já se podia vero brilho das tochas que os homens carregavam, surgindo entre as árvoresmais distantes.

— Graças a Deus! — ela disse assim que Max surgiu, saindo detrás de um

grande arbusto. — Estou tão contente que tenham nos encontrado!Contudo, ele só parecia preocupado com o estado de Norah, o que Pennyadmitiu ser compreensível. Max correu para ela, aflito, perguntando seestava bem.

— Estou ótima, Max, não há motivo para preocupação — ela virou-se paraPenny: — Acho que Penny é que não está muito bem. Você não conseguiudormir, não foi, querida?

Max também se virou e aproximou a tocha do rosto de Penny. Ela foiobrigada a fechar os olhos, ante a luz intensa do fogo, mas teve temposuficiente para ver o rosto de Max, furioso! Como é que ele poderia estarzangado? Preocupado e ansioso sim, mas zangado...? Não, devia serimaginação dela, era impossível que aquilo fosse verdade, Penny pensou.

— Você está bem? — Max perguntou, seco.

— Sim... sim... estou bem. — O que aconteceu?

— Bem, acho que já era muito tarde quando resolvemos voltar para casa —Penny começou a explicar, tremendo de frio pela ação do vento sobre suasroupas molhadas pela umidade da floresta. — Devíamos ter partido muitomais cedo.

— Foi essa exatamente uma das coisas que lhe recomendei! — ele disse comrispidez. — Acho que deixei bem claro que uma de suas tarefas maisimportantes era avisar minha mãe a respeito da hora. Conheço os métodosdela e sei muito bem que esquece tudo quando está absorvida no trabalho.Foi por isso que fiz questão de prevenir você. Por que não seguiu meuconselho?

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— Talvez tenha sido culpa minha — disse Norah, com seu jeito distraído eabsorto. — Você falou da hora, Penny? Não consigo me lembrar. . .

— Acho que isso não importa, agora.

— Claro que importa, querida. Não quero que Max a culpe se o erro foi meu.Contudo, francamente, não me recordo de você ter me avisado.

— É melhor deixar essa conversa para mais tarde — Max falou com voz friae determinada, tomando Norah pelo braço. — Jean, cuide da srta. Davidson.

— Pois não, senhor.

— Carregue o saco de lona. Jean, por favor. . . — Penny pediu,

— Claro, esse saco é pesado demais para a senhorita carregar. Só entãoMax percebeu o grande saco de lona, que certamente era Penny quem

carregava até então. Mas não comentou nada e fez menção de começar acaminhar.

A caminhada foi penosa e difícil e algum tempo se passou antes que afinalchegassem à estrada, onde uma caminhonete os esperava. Já era por voltade quatro horas da madrugada quando finalmente voltaram à fazenda.Teresa tinha preparado bebidas quentes para eles.

— Vou beber meu chocolate lá em cima. — Norah disse, bocejando. — Boanoite, Penny. Boa noite, Max.

— Teresa, pode ir dormir agora — Max falou assim que sua mãe sumiuescada acima. — Vamos, beba. — Ele virou-se para Penny. Suas palavrassoavam como ordem e Penny sentiu-se reconfortada pelo calor que ochocolate quente proporcionava. Estava cansada e o ferimento no ombrodoía muito. Sabia que se Max continuasse falando daquela maneira, elaterminaria chorando.

— Acho que também vou terminar meu chocolate no quarto — disse comprudência, levantando-se da cadeira. — Muito obrigada por ter ido à nossa

procura, sr. Redfern. Fiquei realmente muito grata.— Não há razão para gratidão. Era o mais natural a ser feito, em taiscircunstâncias. Espero que no futuro escute meus conselhos.

— Boa noite — foi tudo que ela respondeu, sentindo-se fraca demais paramostrar o quanto estava indignada com o jeito de Max. O saco de lonaestava sobre o chão, onde Jean o havia deixado, e Penny disse: — É melhoreu levar isto para o escritório.

Pôs a xícara sobre a mesa e abaixou-se para pegar o saco com as rochas,

mas Max adiantou-se e pegou-o primeiro.

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— Puxa, como está pesado! Por que não jogaram essas pedras fora, em vezde insistirem em carregá-las?

— A sra. Redfern não quis, pois são importantes para o trabalho que estádesenvolvendo.

Max deu de ombros e colocou novamente o saco no chão.

— Posso levar isso para o escritório mais tarde. Melhor você ir se deitaragora — ele falou, com seu jeito de quem dava mais uma ordem. Entretanto,quando Penny ia se virando em direção à escada, Max notou que o vestidodela estava manchado de sangue, à altura do ombro. — Você estámachucada? — perguntou, franzindo a testa e aproximando-se dela. — O queaconteceu?

— Foi o saco de lona. As correias de couro terminaram me machucando. Masestarei bem assim que tiver limpado o ferimento.

— É melhor você me deixar dar uma olhada nisso.

— Dar uma olhada? Você?

— Não há mais ninguém acordado e é preciso cuidar desse machucado.

— Mas... pode deixar que eu mesma faço isso, não é preciso se incomodar.Tenho gaze e esparadrapo no quarto.

— Ora, você insiste em me contrariar, não é? Vamos, desabotoe essa blusa edeixe-me dar uma olhada nisso! — Ele estava parado na frente dela, numaatitude ameaçadora. Deixava claro que se Penny não fizesse aquilo, elemesmo o faria.

— Eu já disse que não precisa se incomodar... — ela tentou insistir, masparou quando viu o brilho de ira que começava a surgir nos olhos de Max.

— Srta. Davidson, se há alguma coisa que não posso agüentar é umadiscussão desnecessária e sem sentido. Por que não faz o que estou lhedizendo, de uma vez por todas?

Depois de uma pequena hesitação, Penny viu que não havia mesmo outra coisaa fazer. Virou-se de costas para Max e começou a desabotoar a blusa, comdedos trêmulos. Ao tentar tirá-la do ombro, sentiu que o tecido haviagrudado no ferimento e agora seria doloroso desgrudá-lo.

— Por Deus, menina! Por que continuou carregando aquilo se estava lhefazendo tanto mal? Será que não tem um pouco de bom senso?

Sem a menor cerimônia, Max desgrudou a blusa num golpe rápido e brusco,que trouxe lágrimas aos olhos de Penny, e um grito abafado aos seus lábios.

— Você está me machucando!  Livros Florzinha

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— Você se machucaria muito mais se fizesse isso sozinha! Precisamosdesinfetar o ferimento. Sente-se enquanto vou buscar um anti-séptico —ele disse e saiu, deixando-a sentada numa cadeira ao lado da mesa. Omachucado tinha começado a sangrar mais uma vez, e Penny sentia o líquido

grosso escorrendo pelas costas. Estava tão cansada que podia ter sedebruçado sobre a mesa e adormecido ali mesmo, apesar da dor que sentiano ombro.

Max não tardou a voltar, trazendo uma pequena bacia de água quente e umcaixa de primeiros-socorros. Ele não escondia seu desagrado frente a tudoaquilo. Penny achou que estava zangado por ter tantos problemas causadospor elas.

Max lavou o ferimento e em seguida aplicou o antisséptico, sem se importar

com a dor que aquilo causava a Penny. Era claro que não tinha a menor penaou compaixão pelo estado dela.

— Amanhã esse curativo precisará ser trocado. Vou pedir a Teresa que façaisso, pois ela e melhor que eu para essas coisas. — Ele já havia colocado oprimeiro esparadrapo e agora ia colocar o segundo. Suas mãos firmestocavam o ombro e as costas de Penny. Inesperadamente, aquele toqueproduziu-lhe um arrepio. Para seu grande embaraço, Max notou o queacontecia, e retirou as mãos rapidamente, mandando, em seguida, que elaabotoasse a blusa.

— Obrigada — Penny disse, o rosto vermelho por causa daquela reaçãoinesperada e involuntária de seu corpo. Foi com relutância que virou-se parafitar Max. — Vou me deitar agora. Obrigada, sr. Redfern.

Algum tempo depois ela já estava na cama, embora o sono custasse a vir porcausa da dor no ombro, que continuava forte. Pensava naquela estranhasensação produzida pelo toque dos dedos de Max. Não havia nada defraternal naquele sentimento, Penny constatou, nada que pudesse existirentre dois irmãos...

Como a sra. Redfern disse, durante um bom tempo não foram necessáriasoutras expedições para coleta de material de estudo. O trabalho de Pennyera relativamente fácil, com muitos momentos em que nada tinha para fazer.Os fins de semana eram sempre livres e Penny aproveitava para conheceralguma praia distante, afastando-se da fazenda; outras vezes saía paraincursões nas densas matas da ilha onde sempre encontrava lindos recantoscom quedas d'água e lindas orquídeas que cresciam nas sombras dasárvores.

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— Aonde você vai hoje, querida? — Era sábado e todos tomavam juntos ocafé da manhã. — Acho que nessas alturas, já deve ter explorado a ilhainteira.

Penny sacudiu a cabeça, sorrindo.

— Ainda não... Estou pensando em visitar o lago de Águas Quentes. Tereique passar a noite fora, mas acho que a senhora não se importará, não é? —A pergunta era dirigida à sra. Redfern, mas Shirley antecipou-se a ela.

— Oh, posso ir junto com você? Dizem que é um lugar maravilhoso e eumorro de vontade de conhecer!

— Poderíamos ir todos juntos — Norah sugeriu, virando-se para o filho. —Poderíamos transformar isso num passeio coletivo, não acha Max?

— Neste fim de semana não será possível. Vocês não podem ir sem um guia,e não poderei arranjar um ainda para hoje. . . Não, é melhor deixar isso parauma outra ocasião e então prepararei tudo com antecedência. — Seu tom devoz era inflexível e Penny ergueu o queixo, enquanto uma fortedeterminação tomava conta dela. Estava decidida a não receber ordens deMax.

— Já li bastante a respeito daquele local, sr. Redfern, e também sei qual é ocaminho. Vou fazer as refeições e passar a noite em Laudat! — A firmeza davoz de Penny não deixava dúvidas: estava de fato decidida a seguir seusplanos. Os olhos de Max se estreitaram, e ele apenas olhou Penny por ummomento.

— Acredito que já tenha lido os estudos a respeito daquele local, srta.Davidson. Entretanto, acho impossível que conheça o caminho. Para chegar láé necessário atravessar a parte mais densa da floresta tropical, e muitasvezes é preciso ir cortando o mato para seguir em frente. Como não tenho amenor vontade de ir buscá-las quando se perderem, sou obrigado a adiar aviagem até que um guia de confiança possa acompanhá-las.

— Acho melhor seguir o conselho de Max — Norah replicou rapidamente,vendo o ar de desafio que começava a tomar conta de Penny.

— Não é uma questão de achar ou não, mamãe. Não vou permitir que corramriscos desnecessários.

— Oh, Max... — Shirley entrou na conversa, com um sorriso — ... tenhocerteza que estaremos bem. Além do mais, confio em Penny.

— De qualquer maneira, vocês não vão! — Max deu o assunto por encerrado,esticando a mão para servir-se de ovos com bacon.

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— Eu irei sozinha! — Penny disse, calma mas firmemente. Por um instante,Max pareceu surpreso e até divertido com o desafio, mas em seguida faloucom voz suave:

— Enquanto estiver em minha casa, srta. Davidson, terá que se submeter a

meus desejos. Não quero que faça essa viagem sem um guia, e acredito que já expliquei por quê! Agora, peço que mudemos de assunto.

Penny ficou louca da vida! Nunca tinha recebido uma afronta igual aquela.Norah estava visivelmente embaraçada, e como Penny não queria trazer-lhemais desconforto, preferiu permanecer quieta. Lembrou-se dasexpectativas que tinha a respeito de Max. Foi com grande entusiasmo queesperou para conhecê-lo. Contudo, em vez do irmão amigável e receptivo queesperava encontrar, surgiu um homem detestável, arrogante e autoritário,

que mostrava uma atitude sempre hostil para com ela.Shirley tinha uma expressão carrancuda, e todo o tempo tentava atrair aatenção de Max. Apesar de Penny suspeitar que ele percebia isso, Max nãodeu a menor atenção para a menina, e o café terminou em meio a um silêncioconstrangedor.

Assim que acabaram e Max saiu, Norah virou-se para Penny:

— Sinto muito querida, mas ele tem razão. Arranjaremos um guia e quemsabe no próximo fim de semana. . .

— Sim, está bem. — Penny replicou, ainda furiosa com Max mas escondendoos sentimentos.

— Posso ir também? — Shirley quis saber, com seu jeito infantil. — Oh, porfavor, levem-me com vocês!

— Claro que você virá — Norah concordou com um sorriso. — Quandotivermos um guia. Max não fará nenhuma objeção.

Mais tarde, naquele mesmo dia, Penny estava em seu quarto quando Shirleyentrou, em silêncio, e sentou-se na cama.

— Você vai sair? — perguntou, enquanto Penny penteava os cabelos.

— Vou andar um pouco — Penny respondeu, pensando que Shirley era, defato, uma garota adorável. Mesmo assim, jamais tinha notado um interesseespecial de Max por ela. Pelo menos o tipo de interesse que Shirley estavaesperando, A atitude dele era de guardião responsável e preocupado, suasordens e instruções frequentemente faziam Shirley ficar ressentida, masela nunca ousava desobedecê-las. Se Max fosse casar algum dia, na certaescolheria uma mulher como ela, dócil e passiva. Ao mesmo tempo, vinha à

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cabeça de Penny aquela estranha sensação do dia em que Max lhe tocara noombro.

— Por que você e Max não gostam um do outro?

Espantada com a pergunta, Penny virou-se, abaixando a mão que segurava opente,

— O que quer dizer com isso?

— Ora, é óbvio! Nunca conversam um com o outro e para mim já está claroque Max não se sente contente em tê-la aqui.

— Você tem uma língua muito grande — Penny replicou, encarando a meninacom ar de censura. — Sempre costuma falar as coisas dessa maneira, comtamanha falta de tato?

Shirley corou levemente.— Desculpe, acho que não devia ler dito isso. Mas é que fico espantada pelo jeito como Max trata você, pois ele é uma pessoa boa! Todos os empregadosda fazenda gostam muito dele e Max cuidou bem de mim quando papaimorreu. Acho que foi uma coisa maravilhosa da parte dele não foi?

— Sim, claro que foi... — Penny admitiu, colocando a escova sobre apenteadeira.

— Tenho pensado: por que ele não gosta de você? Talvez seja por causa darevolução nesta casa!— Revolução?

— Sim. Os comandantes nunca gostam de ser desafiados, não é?

— Suponho que não.

Shirley foi até o espelho.

— Você acha que sou bonita? — Ela virava a cabeça em várias direções,olhando-se de ângulos diferentes.

— Muito bonita. Mas acho que já sabe disso, também.

— Está me chamando de fútil?

— A maioria das pessoas se preocupa com a aparência física...

— Você... — Shirley parou por um momento. — Você se preocupa com suaaparência?

A pergunta desconcertou Penny, que logo se recuperou e sorriu.

— Sei que não sou exatamente uma mulher feia. Mas, por outro lado, seitambém que não há nada de muito especial em minha aparência.

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— Eu acho que você é linda. Quando chegou, fiquei aterrorizada!

— Aterrorizada por quê?

— Pensei que Max... Ora, nada, esqueça. — Virando-se para o espelho

novamente, olhou Penny em silêncio. — Gostaria que Max não fosse tãodevagar! — disse, afinal.

— Devagar? — Penny sorria e Shirley virou-se para ela, incerta.

— Você está rindo de mim — acusou, curvando os lábios em sinal deressentimento, — Deve me achar muito tola. . .

— Claro que não, Shirley. Diga, no que Max é tão devagar?

— Ora, é devagar para descobrir que me ama! Não vejo a hora de ele mepedir em casamento!

— E você tem certeza que ele vai fazer isso?

— Tenho, já não lhe disse que o tutor sempre casa com a protegida? Sim,tenho certeza que ele fará isso. Só não queria que demorasse tanto!

— E você quer casar assim tão jovem?

— Quero sim! A gente fica mais importante. As pessoas sempre nosrespeitam mais quando temos um marido.

— Mas esta não é a única razão pela qual deseja se casar, eu espero. . .

A garota deu de ombros.

— Eu amo Max, se é nisso que está pensando. . . — revelou com um ar tãodisplicente, que causava mais dúvidas que certeza. — É melhor eu meaprontar; tenho que ir a Roseau, fazer compras.

Shirley saiu deixando Penny entregue aos próprios pensamentos. Era difícilesquecer o que havia ouvido a respeito do seu relacionamento com Max. Oque aconteceria quando seu pai viesse para Dominica? Tomando uma decisão,ela foi até o quarto de Norah. Assim que bateu na porta, ouviu a voz delaconvidando-a para entrar. Norah estava deitada na cama, apoiada sobre ostravesseiros, lendo.

— Norah — Penny começou sem preâmbulos —, você não acha que seu filhodevia ser informado a respeito do casamento?

Os olhos azuis da distraída senhora se arregalaram de surpresa. Por fim eladisse:

— Ele saberá, Penny, no momento correio.

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— Mas papai chegará em menos de um mês... Eu nunca sei o que escrever nascartas. Fico falando sobre a ilha, sobre nosso trabalho. Porém, nuncaconsigo dizer nada a respeito de Max.

— As coisas não estão correndo bem entre vocês dois, não é? — Norah

colocou o livro de lado e sentou-se na cama. — Você não gosta dele?— Ele não gosta de mim! Até Shirley notou isso, e acabou de me dizer, hápouco.

— Shirley? Bem, eu acho que o antagonismo que existe entre vocês é coisasuperficial, Penny. Você parece fazer questão de contrariá-lo e Max gostaque as coisas sejam feitas a seu modo.

— Não sou empregada dele, portanto não sou obrigada a aceitar suasordens! — Penny disse antes de sua atenção ser atraída por algo que semovia no jardim, na árvore bem perto da janela. Um lindo papagaio de umverde brilhante tinha pousado no galho e olhava para Penny, com seusolhinhos curiosos. Ele sempre costumava pousar por ali, onde ficava váriashoras observando o movimento da casa e fugindo quando alguém seaproximava muito.

— Mas nós somos hóspedes nesta casa — Norah lembrou com gentileza. —Compreendo sua dificuldade mas, como disse, Max está habituado a ter ascoisas a seu modo. E, para dizer a verdade, realmente confio em seus

conselhos. A viagem para o lago das Águas Quentes, por exemplo, ele temtoda razão quando diz que precisamos de um guia!

Ignorando o que Norah havia dito, Penny trouxe de volta a questão docasamento, enfatizando mais uma vez o fato de que Max devia serinformado a respeito.

— Quanto mais tempo passar, mais difícil será. Na verdade, acho que mesmoque o informássemos hoje, ele ficaria sentido por não ter sido comunicadoantes.

— Concordo que talvez já devêssemos ter lhe dito, mas Max tem idéias tãonegativas a respeito de um possível segundo casamento...

— Acho que você tem todo o direito de fazer o que mais lhe convém, não é 

Norah?

— Claro que sou eu quem decide o que é melhor para mim, Penny, mas nãogostaria de romper com Max por causa deste casamento!

— Então, talvez fosse necessário chegar a esse ponto? — Penny nãoconseguia acreditar naquilo. Mais uma vez ela se perguntava como Max

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poderia fazer alguma objeção a um casamento que só traria felicidade àprópria mãe. — Você acha que ele chegaria a tanto?

— Não sei, talvez não devesse pensar isso. Mas ele sempre desconfiou quequalquer homem que desejasse se casar comigo, seria por causa de meu

dinheiro. Os filhos são assim, Penny, e como o pai de Max morreu quando eleainda era muito jovem, meu filho se considera meu protetor.

— E agora com certeza vai querer protegê-la contra meu pai! — O tomamargo de Penny não passou despercebido a Norah, que franziu a testa empreocupação.

— Tenho certeza que Max vai gostar muito de James, quando conhecê-lo.

— Então, por que não podemos contar-lhe tudo de uma vez? Quando é quevamos lhe falar?

— Em breve, Penny, eu lhe prometo. Estou atenta para quando surgir umaocasião adequada! — O olhar de Norah deixava claro que Penny não deviainsistir mais naquilo.

Depois daquela conversa, Penny ficou pensando que talvez ela mesmapoderia fazer alguma coisa no sentido de "suavizar" o espírito de Max,preparando-o para a notícia de que em breve teria um padrasto. Nos diasque se seguiram, ela fez tudo para se mostrar afável e sorridente com ele,ignorando a antipatia e o antagonismo que sentiam um pelo outro. Esperavaque, ao se comportar dessa maneira, pudesse fazer com que Max aaceitasse como irmã, mais tarde. Sabia que a súbita mudança de atitude oespantaria, mas nunca podia imaginar que ele achasse que estava flertandocom ele. Com toda inocência do mundo, tentava puxar conversa sobre temasamenos, ou então lhe sorria, desejando ardentemente ser correspondida.

Certo dia, decidiu juntar-se a ele, na varanda. Tinham acabado de tomar ochá da tarde, e Max estava lá fora, lendo um pouco. Penny também pegou umlivro e foi para a varanda, sentando numa cadeira confortável, não muito

distante.Max olhou-a com surpresa mas nada comentou, continuando entretido naleitura. Depois de algum tempo, Penny tentou puxar conversa, mas ele sórespondia em monossílabos ou balançando a cabeça, até que ela desistiu eresolveu ficar em silêncio.

O sol começava a se pôr e o horizonte se tingia de cores belíssimas, quedavam um ar mágico e irreal às montanhas ao longe. Não havia nenhumanuvem para macular a beleza daquele momento, e Penny sentia-se feliz por

poder observar um espetáculo tão grandioso, que não existia na Inglaterra,

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onde havia nascido e passado a vida. As cores do céu se refletiam sobre ooceano, que ia ganhando um tom verde de esmeralda, vivo e brilhante.

Penny deixou escapar um suspiro involuntário, absorvida por toda aquelabeleza, e virou-se para Max. Para sua surpresa, ele tinha parado de ler e

concentrava sua atenção para ela. Penny corou fortemente e desviou o olharmais uma vez. Contudo, havia agora uma tensão no ar, e ambos a sentiam.

O fim da tarde estava tão romântico com aquele pôr-do-sol, somado aoaroma doce das flores do jardim, que um grande embaraço tomou conta dePenny. Ela não sabia o que dizer, tinha um nó na garganta. Desejavaimensamente que nunca tivesse vindo para a varanda, sentar-se ao lado deMax. Apesar de todo o esforço, sua relação com Max não havia melhoradonada, entre eles continuava existindo a mesma distância e frieza.

— Acho que vou entrar — ela conseguiu finalmente dizer. Entretanto,quando ia dando o primeiro passo, sentiu uma dor aguda na sola do pé queparecia lhe queimar por dentro e subir pela perna. Voltou a sentarimediatamente. Max se assustou:

— Algo errado? Você se machucou?

— Não sei... estava sentindo uma dor estranha em meu pé esquerdo, háalgum tempo — enquanto dizia isso ela ia se levantando e tentando andar,cautelosamente. — Está um pouco inchado, mas não consigo imaginar o que

pode ter acontecido. — Aquele não era um tema muito delicado paraconversarem, ela pensou, e mais que nunca estava decidida a ir para dentroda casa o mais rápido possível.

— Está inchado? — Max perguntou enquanto se levantava para acender a luzda varanda. — Eu tinha lhe avisado para não andar descalça. Você ouviu meuconselho?

— Eu... bem, de fato andei descalça uma ou duas vezes.

— Só para me desafiar, não é? Faz questão disso, pois acha que assim deixa

claro que ninguém manda em você! — Max aproximou-se dela, que já estavaquase entrando pela porta da sala. — Espere um pouco, é melhor deixar daruma olhada nisso! Vamos, tire o sapato.

Penny não se sentia muito à vontade para fazer como ele mandava, porém,pelas experiências passadas, sabia que era inútil discutir com Max. Elavoltou para a cadeira onde estava sentada e tirou a sandália.

— Como eu pensei... — ele disse, meio contrariado. — Por que você não fazas coisas como lhe aconselham?

— Mas o que eu tenho? — Penny perguntou, meio amedrontada.

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— É sério?

— Terá que ser removido. . . Deixe-me ver... Baptista é excelente para fazerisso, mas está de folga hoje. Acho que eu mesmo terei de fazê-lo! — Maxsoltou o pé dela e já ia entrando na casa.

— Mas o que eu tenho? — ela perguntou mais uma vez, enquanto calçava asandália.

— Eu tinha lhe avisado para não andar descalça, pois podia pegar um olho-de-peixe!

— Você me disse para não andar descalça, mas não falou por quê! — Pennycorrigiu-o. De fato, se ele tivesse explicado, ela certamente teria seguido oconselho.

— Meu conselho devia ser suficiente. Não vejo razão para ficar explicandoas razões das coisas que digo. Você pegou um desses bichinhos que osnativos chamam de olho-de-peixe. Eles penetram embaixo da pele ecomeçam a se reproduzir, botando ovos. É por isso que fica inchado. Os ovosficam dentro do bichinho e não é tarefa fácil extrai-lo sem que se rompa esolte os ovinhos. Se isto acontecer, você vai lamentar muito não ter ouvido oque eu disse! — Max entrou na casa, deixando Penny apreensiva e temerosado que poderia acontecer se o pequeno bichinho se rompesse e seus ovos seespalhassem. Quando ele voltou, trazia uma pequena bacia com água quente,

desinfetante e uma agulha comprida.— Prepare-se, pois vai doer um pouco! É impossível fazer isso de outramaneirai

E de fato doeu, como ele havia dito. Penny estava pálida e o suor escorriapor sua testa quando Max finalmente terminou. Felizmente, tudo correrabem e o pequeno intruso pôde ser extraído junto com os ovos, intacto.

— Dar conselhos não é uma diversão para mim — ele disse, enquanto acabade desinfetar o pequeno machucado e fazia um curativo. — Espero que, no

futuro, preste mais atenção às coisas que digo!— Está certo! Obrigada por ter removido para mim. — Penny levantou etentou caminhar. Seu pé ainda doía bastante e, ao dar o primeiro passo, nãoagüentou o próprio peso. Para não cair no chão, seus braços instintivamenteprocuraram Max, para apoio.

No momento seguinte, ela se viu enlaçada num abraço quase selvagem. Antesque tivesse consciência do que acontecia, sentiu a pressão dos lábiosquentes de Max sobre os seus, beijando-a com calor, na boca, na face e no

pescoço. A princípio, ela não opôs resistência, pois nem se dava conta do queacontecia. Mas, um segundo depois, começou a lutar para se ver livreLivros Florzinha

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daqueles beijos e daquelas carícias. Não demorou para que Max a soltasse,encarando-a com expressão zombeteira.

— Você... Oh, você é detestável — Os olhos de Penny brilhavam de fúria. —Como se atreve a fazer isso?

— Ora, por que ficou tão indignada? Você vem pedindo isso há mais de umasemana! — Ele ria, sem a menor consideração.

— Pedindo isso? — Penny estava completamente aturdida. O que diria Norahse soubesse que o filho tinha agido com tal atrevimento?

Max deu de ombros, com certa impaciência. Parecia que também não gostavade falar com ela mas, não obstante, começou a apontar algumas ocasiões emque, pelo menos em seu entender, Penny tinha se oferecido. Aquilo provocouuma fúria violenta nela, deixando-a cega.

— Então você acha que era essa minha intenção? Seu... seu idiota!Arrogante! — Ela já tinha se esquecido da dor no pé. — Estava sendo cordialsó porque queria que me aceitasse como irmã, como irmã, ouviu bem? Assim,quando Norah casar com papai... — Só nesse momento, ela se deu conta daterrível tolice que acabava de dizer. A raiva morreu dentro dela, dandolugar a um enorme receio das conseqüências do que fizera. Max a olhava sempoder acreditar no que acabara de ouvir. Depois perguntou, com voz calma esuave, que prenunciava a tempestade que estava por vir:

— Seu pai pretende casar com minha mãe?Penny tremeu. O que Norah diria daquilo?

— Eu nunca devia ter dito isso. — Penny tinha a cabeça baixa e seus lábiosainda estavam vermelhos por causa dos violentos beijos de Max. — Porfavor, não diga nada a Nor... Não diga nada à sua mãe. Ela não pretendiacontar agora.

— Seu pai... — O rosto de Max estava contrariado, como se algo quisesseexplodir dentro dele. — Quando esse casamento pretende se realizar?

— Papai vai se aposentar daqui há três semanas e então virá para cá. . . coma intenção de se casar.

— Vai se aposentar? Quer dizer que ele não pretende continuar trabalhandopara manter minha mãe então?

— Ele já está na idade de se aposentar, sr... — Penny hesitou, pois eraimpossível chamar Max daquela maneira tão formal. — É claro que papai temalgum dinheiro e não pretende ser sustentando pela esposa.

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— Sim, isto é o que você diz! E no que ele trabalha? — Depois de  ouvir aresposta, Max parecia já ter chegado a uma conclusão definitiva. —Exatamente como pensei: mais um caçador de fortuna!

— Não é isso! Você não pode dizer tal coisa a respeito de meu pai! Ele ama

Norah e ela também o ama...— E como foi que se conheceram?

— Fui eu quem os apresentou.

— Compreendo... Bem, srta. Davidson, sinto muito estragar seus planos, maspode ficar certa que jamais haverá esse casamento entre minha mãe e seupai!

CAPÍTULO III

Como Penny já esperava, foi difícil dormir depois daquele incidente comMax. Teve um sono conturbado e às seis horas já estava acordada, ouvindo ogrande sino que ficava pendurado num mamoeiro e que servia para avisar osempregados da fazenda que já era hora de seguir para as plantações debanana. O sino era usado também para avisar que um furacão se aproximava,mas já fazia algum tempo que a ilha não era assolada por um deles. Penny selevantou e foi até a janela, de onde podia ver os lavradores que seguiampara as plantações, com seus pequenos bonés e os lenços amarrados nopescoço. Era uma bonita visão. Os raios do sol nascente iluminavam as coresvivas das roupas, enquanto eles andavam cantando canções folclóricas dailha.

O que faria nesta manhã? Max não tinha feito nenhuma objeção a que elatomasse banho de piscina, e ela resolveu que nadar um pouco lhe faria bem,

ainda que não bastasse para devolver-lhe a alegria de estar em Dominica, umlugar tão lindo. Max tinha se mostrado decidido quando disse que nãopermitiria que a mãe casasse, e depois de Penny se recuperar do choque eda surpresa de ser beijada, de nada adiantaram seus esforços para tentarfazê-lo mudar de idéia.

De certa maneira, podia compreender a atitude de Max, ainda que nãoconcordasse com ela. Acreditava que Norah de fato tivesse recebido muitaspropostas de casamento de homens interessados em seu dinheiro. Era umainfelicidade que isso tivesse acontecido, mas só por causa disso Max nãopodia generalizar e dizer que todos os homens eram iguais. Seu pai estava

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interessado em Norah e não em sua fortuna! Entretanto, parecia que nadaque ela dissesse mudaria a opinião de Max. Ela já sentia o sabor da derrota,quando se despediu dele na noite anterior, para recolher-se a seusaposentos.

A piscina ficava no meio de um jardim tropical, não muito distante da casa.Era rodeada de árvores enormes e floridas, além de muitas palmeiras, quebalançavam suas grandes folhas ao sabor da brisa que vinha do oceano. Avisão daquelas árvores contra o céu azul do Caribe, somada ao aromaadocicado desprendido pelas flores, tornava aquele lugar um pequenoparaíso, mágico e irreal.

Depois de dar um mergulho, Penny sentou num dos cantos da piscina parasecar-se ao sol. Não foi exatamente com prazer que percebeu que Max se

aproximava, trajando short e carregando uma toalha. Penny estava meioescondida pelos arbustos e ele não a viu quando se aproximou da borda dapiscina e mergulhou. Pouco depois, era Shirley quem chegava, adorável emseu biquíni colorido e provocante.

— Vim para a aula! — da gritou para Max, enquanto testava a temperaturada água. — Vamos começar?

— Você está adiantada hoje!

Obviamente, a aula de natação de Shirley era algo que ocorria todas as

manhãs mas, como Penny nunca vinha à piscina, ainda não sabia disso. Seráque ela devia se fazer notar? Antes que pudesse decidir, Shirley falou denovo:

— Estou só um pouquinho adiantada, Max. Vi você vindo para cã e pensei queficaria satisfeito em ter companhia. Devo entrar na água?

— Está bem! — Ele esticou o braço para recebê-la dentro da água e fez comque boiasse, segurando-a pelas costas. Max dava instruções que a garota ma!conseguia compreender, quanto mais realizar, Penny pensava que Max e

Shirley realmente não serviam um para o outro, como marido e mulher. Dequalquer maneira, a idéia de casamento parecia algo que só estava presentena cabeça da garota. As maneiras de Max não eram em absoluto aquelas quese esperariam de alguém apaixonado ou prestes a se apaixonar.

Como os dois estavam na outra borda da piscina, Penny começou a levantardevagarinho, esperando ir embora sem ser percebida. Porém, os dois jácomeçavam a voltar c ela sentou mais uma vez, encoberta pela luxuriantevegetação ao seu redor ela ouviu a voz juvenil de Shirley

— Como estou indo? perguntando.

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— Se dependesse disso para se salvar num naufrágio, não teria a menorchance!

— Oh, Max, eu pensei que tinha progredido tanto! Não estou mexendo aspernas do jeito que você mandou?

— Não, Shirley, está fazendo tudo ao contrário. Ensinei estas coisas aindaontem e você já esqueceu. . . Agora concentre-se, vamos tentar mais umavez.

— É difícil se concentrar quando fica assim tão impaciente, Max. Estoutentando tão arduamente!

— Então é melhor se esforçar ainda mais senão vou parar com essas aulas!

Penny não ficou nem um pouco surpresa quando, alguns minutos depois, Max

anunciou que já era o bastante. A garota saiu da piscina e, após se enxugarrapidamente com a toalha, seguiu na direção da casa. Foi nesse momentoque, para completo espanto de Penny, Max chamou, do meio da piscina.

— Você não vai entrar na água, srta. Davidson? Ou já nadou o suficiente porhoje?

Penny corou, sentindo-se ao mesmo tempo culpada por querer passardespercebida e envergonhada por ver que Max sabia que ela estava ali.Agora ele se aproximava, caminhando pela beira da piscina e seu rosto não

tinha nenhum sinal de zanga ou rancor.— Eu... eu já nadei! — ela disse, sentindo-se ainda muito mais desconfortávelquando Max sentou-se a seu lado. — Cheguei aqui bem cedo, pouco depoisdas seis horas.

— Por que tão cedo? Não conseguia dormir? — Seu tom de voz era calmo esuave, não lembrando em nada o homem que fizera e dissera tudo aquilo nanoite anterior.

— É, eu não consegui dormir muito bem.

— Sei que minha oposição ao casamento deve tê-la desagradado, mas tenhocerteza que logo se esquecerá disso. Em breve deve aparecer outra mulherpeia qual seu pai sinta o desejo de se unir.

— Já lhe disse ontem à noite que meu pai ama sua mãe! Há onze anos queestá viúvo e nesse tempo todo nunca se interessou por ninguém. Portanto, acoisa não é assim tão simples, mesmo que afirme o contrário!

— Puxa, a senhorita tem os nervos à flor da pele, não é?

— Eu não era assim até conhecer o senhor!

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— Então está me culpando por isso? — A calma de Max tinha o poder dedeixar Penny muito mais irritada. Se pelo menos ele lambem ficassenervoso, ela se sentiria mais igual, no mesmo nível.

Mas ele nunca perdia a cabeça, o que lhe dava um ar de superioridade que a

fazia sentir-se muito mal. Penny decidiu que também tentaria se controlardali por diante.

— Bem, desde o começo, sr. Redfern, a maneira como me tratou não deixouchances para que nos tornássemos grandes amigos. Inclusive, em muitasocasiões, o senhor foi bastante agressivo comigo.

Os olhos escuros de Max estavam bem abertos, e ele a observava atento:

— A senhorita tem uma imaginação bastante fértil!

— Pelo contrário — É o senhor que não consegue perceber a maneiraagressiva como me trata. — Já que tinham chegado a este ponto, Pennydecidiu que era hora de dizer tudo que sentia. — Logo de cara, não gostoude mim e não posso compreender por que, já que ainda não sabia docasamento de nossos pais. E, como se não bastasse, nunca fez o menoresforço para esconder a antipatia que nutria por mim. . . Foi difícil acreditarque a sra. Redfern tinha um filho assim!

— A senhorita está sendo bastante rude e, se eu quisesse reagir, a colocarianuma posição desconfortável. Entretanto, compreendo seu desapontamentocom o fato de não haver mais casamento, e por isso a desculpo por seusmodos grosseiros.

— Oh, você é detestável! — Penny Levantou abruptamente, os olhosfaiscando de ira, sem parar para medir suas palavras. — Como se sentiria sealguém o impedisse de se casar, separando-o da pessoa pela qual estivesseapaixonado?

Max sorriu com ironia.

— Sua pergunta não faz sentido, já que não há a menor possibilidade de eume envolver numa situação desse tipo.

Shirley certamente não gostaria de ouvir aquilo, Penny pensou... Entretanto,o problema agora não era Shirley. Penny lembrava-se muito bem da sensaçãoque sentiu naquele dia que Max fez o curativo em seu ombro, da sensaçãoque o toque daqueles dedos produziu nela. Ao mesmo tempo, não podia negarque na noite passada, apesar de toda a brutalidade de Max, um estranhosentimento tomou conta dela, ainda que por uma fração de segundo. Quandose deitou para dormir, foi impossível negar que aquele beijo estava gravado

em sua alma.

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Ele ainda a prendia com o olhar, e, mesmo que desejasse, era impossívelescapar. O sorriso irônico de Max permanecia, mas sua expressão agoratinha um ar bem-humorado, que Penny nunca tinha visto nele. Toda a antigaseveridade estava agora ausente. .. Como uma pessoa podia mudar tanto?

Max continuava com os olhos fixos nela, e um leve rubor começou a subirpela face de Penny, o que não passou despercebido para ele. Os olhos deMax se iluminaram como se ele se divertisse com tudo aquilo. Será que aindaacreditava que ela o tinha paquerado? Será que não havia se convencidoquando Penny explicou que tudo que desejava era um afeto de irmão parairmã?

— Acho que o café já deve estar servido — ela conseguiu dizer finalmente,depois de um grande esforço.

— Ora, você sabe que ainda é muito cedo... — Ele se levantou, ficando aolado dela.

Era claro que se divertia com o embaraço de Penny. E por mais que eladesejasse, não conseguia deixá-lo embaraçado também. Foi então que Max asurpreendeu, com um gesto inesperado.

— Que tal se ficássemos em paz... — ele propôs estendendo a mão — ...aindaque seja só para desfrutarmos desta manhã tão linda aqui ao lado dapiscina... — Max tinha um sorriso nos lábios e nunca esteve tão lindo. Sua

peie bronzeada pelo sol do Caribe dava-lhe um aspecto esportivo, somado aoar viril que exalava por todos os poros. Ele se encostou no tronco de umaalta palmeira, daquelas que só cresciam nos trópicos, a mão ainda estendida,aguardando uma decisão de Penny, aceitando ou não aquele convite. Sem umapalavra, ela deu um passo adiante e colocou a mão na dele, selando o pactoque Max propunha. — Você nada muito bem — ele comentou, depois datrégua. — Eu estava observando, mas você não notou.

— Obrigada — Penny murmurou, sentindo que aquele momento tinha algo deestranho e irreal.

Parecia ridículo que depois de toda uma semana de esforços que não levarama nada, aquela amizade surgisse inesperadamente naquele momento, frutode uma discussão acalorada. Agora estavam próximos, desfrutando juntosde uma linda manhã na piscina paradisíaca.

Max ainda segurava a mão dela quando caminhavam em direção à piscina.Mergulharam, sentindo o doce frescor da água. Conversavam como se nadade hostil tivesse jamais existido entre os dois. Quando afinal saíram daágua Max falou:

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— Vamos fazer disso um encontro regular! Não importa o quantodiscutamos, nos encontraremos aqui toda manhã, às seis horas! — Aquilo nãoera um convite nem uma sugestão. Pelo tom de voz, Max sabia que ela iriaconcordar com aqueles encontros.

— Mas não é justamente quando você dá as aulas de natação para Shirley?— Ela sempre chega atrasada... Esta manhã foi uma exceção. 40

— Ele a encarou com um ar preocupado. — Você trouxe seus sapatos?

— Minhas sandálias — ela corrigiu com um sorriso, apontando para o lugaronde estava sentada antes. — Não se preocupe, não quero me arriscar apegar outro daqueles bichinhos horríveis.

Max não disse nada, inclinando a cabeça em sinal de aprovação. Ele já estava

calçando as próprias sandálias e, pouco tempo depois, os dois se instalavamno jardim, sentados numa mesinha branca, embaixo de um grande eucalipto.

— Será que minha mãe vai tomar o café na cama? — Max perguntou,franzindo a testa e olhando para cima, na direção da janela do quarto deNorah. Shirley também ainda não havia chegado, mas ele nada comentousobre a ausência da garota. — Acho que é melhor a gente se servir. — Eleacenou para Teresa, que trouxe uma bandeja com vários pedaços de mamão.Como a maioria das frutas consumidas na casa, eles haviam sido cultivadosna fazenda. Certamente, deviam estar deliciosos, mas Penny nem tocou nasfrutas, talvez porque estivesse reunindo forças paca falar com Max.— Você... você vai contar à sua mãe o que eu lhe disse na noite passada?

— Dizer que já sei sobre o casamento? Claro que sim. . .

— Oh, por favor... Ela vai lhe contar logo, de qualquer maneira. Ficarázangada comigo por ter me antecipado... Sabe, eu queria falar desde o início,mas ela estava com tanto medo que.. .

— Está sugerindo que minha mãe tem medo de mim?

— Você mesmo disse que ela respeita seus conselhos — Penny respondeucom diplomacia. — Estava com receio de falar sobre o casamento, poisachava que você não concordaria.

— Ela sabia muito bem que eu não aprovaria. Não era necessário ternenhuma dúvida!

— Por favor, espere até que ela mesma lhe conte sobre o casamento.

— É minha intenção discutir esse assunto com minha mãe o mais rápidopossível. Mas você não tem nada a temer, pois vou deixar bem claro que sófalou por acaso.

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Parecia que Penny tinha que se dar por satisfeita com aquilo. De qualquermaneira, seria impossível insistir naquele assunto pois Norah já estavasaindo da casa, acompanhada de Shirley que, nos últimos dias, fazia questãode estar ao lado de Norah o tempo todo. Era óbvio que tentava deixar uma

boa impressão na mulher que esperava um dia ter como sogra.— Estamos atrasadas? — Norah perguntou com um sorriso, enquanto tomavalugar à mesa. — Desculpe, Max. Vocês deviam ter começado sem a gente.

— Foi o que fizemos — Max disse e em seguida virou-se para Shirley. —Onde você estava?

— Conversando com sua mãe. — Ela sorriu docemente, meio embaraçada pelotom severo de Max. Depois levantou a mão e chamou Teresa. — Não queronenhuma fruta. Me traga ovos com presunto, por favor.

— Também quero o mesmo, Teresa, mas bem pouco presunto.

— Pois não, sra. Redfern.

Assim que terminaram o café da manhã, Norah e Penny foram para oescritório, onde passaram a manhã inteira trabalhando. O sino já haviatocado, anunciando que o almoço estava pronto, quando Penny decidiurevelar tudo o que tinha contado, sem querer, a Max.

— Então ele já sabe? — a princípio Norah parecia preocupada, mas em

seguida deu de ombros e o costumeiro ar distraído voltou a seu rosto, paraalívio de Penny. — Bem, eu ia mesmo ter que lhe contar. Acho que me poupouuma tarefa desagradável!

— Como eu disse, tudo veio à tona por acidente. — Penny se desculpava. —Max está absolutamente contra o casamento!

— Eu tinha certeza que ia ser assim... Você sabe, existiram outros antes, etodos eram caçadores de dote!

— Mas. . . você queria casar com eles?

— Não, nunca cheguei a desejar isso de verdade. Porém, sabendo comotenho o coração mole, Max naturalmente ficou preocupado. É de se esperarque ele suspeite de James, mas tenho certeza que tudo vai se arranjarquando Max o conhecer.

— Quer dizer que... não vai deixar Max interferir em sua decisão?

— Pretendo casar com seu pai, Penny. . . quer Max concorde com isso ou não!

Penny suspirou, pensando em como havia sido tola em supor que a palavra deMax era lei e que bastaria sua objeção para que o casamento não mais serealizasse.

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— Verdade mesmo, Norah?

— Claro que sim. Amo James e tenho certeza que ele também me ama! E oque a fez pensar que eu seria tão fraca a ponto de deixar meu filho dar aúltima palavra sobre meu casamento?

— Foi por causa de sua relutância em contar-lhe a notícia... Não no princípio,eu admito, mas depois que chegamos aqui.

— Era minha intenção aproveitar a primeira oportunidade. Pretendia dizer-lhe imediatamente, mas para meu desapontamento percebi que vocês doisnão estavam se entendendo. Aliás, nunca cheguei a compreender direito porque isso aconteceu. . .

— Então era por causa da maneira como as coisas se passaram entre mim eMax que você estava adiando a notícia?

— Sim... Já sabia que não seria fácil fazê-lo aceitar o casamento e com todaessa antipatia mútua, as coisas ficariam ainda mais difíceis. De minha parte,essa formalidade de "srta. Davidson" e "sr. Redfern" já me deixou muitoirritada!

— Não é minha culpa... — Penny começou em tom indignado, mas Norahinterrompeu-a.

— A natureza de Max é exatamente como era a do pai... Algo que talvez se

pudesse chamar de... personalidade autoritária! Max sempre espera serobedecido em suas instruções ou conselhos a respeito de como as coisasdevem ser feitas. . .

A maneira como Norah a fitava, dizia tudo que as palavras não diziam. Pennymordeu o lábio e não respondeu. O problema com os "conselhos" de Max éque sempre soavam como ordens. Norah continuou falando:

— Aqui na fazenda ele é muito respeitado pelos empregados, pois é umótimo patrão. Entretanto, todos sabem que sua palavra é lei. Não se podemudar o caráter de uma pessoa como meu filho, Penny, e para conviver comele é necessário aceitar seu jeito de ser.

— Concordar em ser dominada, é isso que quer dizer. . .

— Essa é uma palavra muito forte, querida. Não há nenhuma situação ondeMax pudesse realmente dominá-la. Sinceramente, acho que você poderia serum pouco mais.. . bem, cooperativa, digamos. Se fizesse isso, tenho certezaque as coisas seriam muito mais tranqüilas.

— Mas. . . Não sou uma pessoa egoísta. Sei que tenho vontade própria, mas

Max realmente faz coisas capazes de esgotar a paciência de qualquer um! Édifícil não se desentender com ele!

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— Difícil Penny? — Norah ergueu as sobrancelhas. — Para você pareceimpossível! Sempre prefere discutir, como por exemplo a respeito daquelaviagem para o lago das Águas Quentes. Teria ido sozinha só para desafiarMax, não é, querida?

Penny mordeu o lábio de novo sabendo que Norah tinha razão. Ao mesmotempo, não era fácil reconhecer isso.

— Então você está dizendo que toda a culpa por nosso desentendimento éminha?

— Claro que não, Penny. Não poderia dizer isso, pois sei muito pouco arespeito do que se passa. Você é tão reticente e Max lambem não faz amínima força para me manter informada! É uma pena que não tenham sedado bem, já que cm pouco tempo vão se tornar parentes. . .

— Irmãos de verdade também não se dão bem, com freqüência — Pennyrespondeu secamente. — De qualquer maneira, a culpa não é minha, Norah.Você sabe muito bem como eu estava feliz com a idéia de ganhar um irmão.Estava entusiasmada e vim para cá achando que Max também teria prazerem me conhecer.

— Max não é uma pessoa capaz de se entusiasmar com esse tipo de coisa. Dequalquer maneira, vocês dois vão ter que aprender a se tolerar um poucomais, nem que seja para passarmos os próximos doze meses em relativa

harmonia.— Doze meses? Então vamos ficar aqui na ilha mais um ano?

— Sim, até que o livro esteja terminado. Como posso escrever em qualquerlugar, acho melhor ficarmos aqui. Tenho certeza que o sol e o mar vão fazerbem para todos nós. você não acha?

— Sim, eu concordo. — Aquilo era o que Penny queria quando ainda tinhaesperanças de que ela e Max se dessem bem. — Dominica é um lindo lugarpara se viver.

— Também acho. É o ideal para morar quando uma pessoa se aposenta. Masnão pretendo fazer isso se não daqui há alguns anos, a menos que Jamespense diferente.

— Quer dizer que fará aquilo que papai preferir? Se ele quiser seaposentar, você fará o mesmo?

— Uma mulher deve tentar agradar ao marido, sempre que possível — Norahreplicou com voz grave. — Sim, pararei de trabalhar se James me pedir isso!

Quando Penny chegou na piscina na manhã seguinte, Max já eslava lá.Enquanto tirava a sandália, ele sentou-se a seu lado.

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— Quer dizer que preferiu falar primeiro? — ele começou sem maispreâmbulos, com o tom ríspido de sempre.

— Sim, preferi eu mesma contar para Norah — ela notou que Max aindaestranhava ao vê-la chamar a mãe daquele jeito, mas ignorou isso e

continuou: — Fiquei com medo que você não explicasse com o cuidadonecessário, e me deixasse em maus lençóis.

— Estava se protegendo contra qualquer eventualidade, não é?

— Norah está decidida a se casar com papai — ela começou, mesmo sabendoque levar a conversa naquele sentido poderia ser perigoso. — Foi toliceminha temer tanto a sua interferência.

— Já lhe disse que minha mãe escuta o que eu digo. Além do mais, elaprometeu que nunca se casaria sem minha aprovação.

— "Permissão" foi a palavra que você usou.

Nesse momento, a atenção dos dois foi atraída por um pequeno lagarto deum verde brilhante, que saía de seu esconderijo no mato, caminhandolentamente para uma árvore perto de Penny. Numa fração de segundos eledeu o bote a agarrou uma linda borboleta azul que estava pousada no tronco.

— Oh... — Penny disse enquanto se levantava como se tentasse fazer algumacoisa para salvar a borboleta. — É uma pena que um bichinho tão lindo seja

agarrado e devorado!— O lagarto tem que viver.

— Você não fica chocado com isso?

— Ora, Penny, nós morreríamos de preocupação se fôssemos nos importarcom fatos como esse, que ocorrem o tempo todo.

— Um animal matando o outro para viver... — Penny olhava o lagarto deforma estranha. — Talvez algum outro animal o agarre também. Uma cobra,quem sabe. . .

— Agora você está com pena do lagarto? — Max tinha aquele seu olharzombeteiro. — Não se aflija. As cobras de Dominica não se alimentam deanimais de sangue frio. — Enquanto falava, ele mergulhou na piscina. Pennyseguiu-o.

Um sentimento de paz tomou conta dela, enquanto nadava na águarefrescante. O lagarto tinha interrompido a discussão que se iniciava entreela e Max e agora uma sensação de serenidade e amizade parecia invadi-los.Sempre que seus olhares se cruzavam, Max sorria para ela.

— Vamos apostar uma corrida até a outra borda da piscina?

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— Não seria justo — Penny protestou. — A não ser que você me dê algunsmetros de vantagem...

— Está certo. Saia antes, que eu vou depois.

— Está bem, vamos lá então!Depois de sair na frente, Penny acenou para que Max mergulhasse. Empoucos segundos ele já a alcançava, os dois nadando rapidamente. Logodepois atingiam a borda exatamente ao mesmo tempo.

— Terminamos empatados! — ele comentou, sorrindo. — Vamos descansarum pouco?

Aquela era uma situação muito estranha para Penny. Os dois na linda piscina,rodeados por uma luxuriante vegetação tropical, sob o céu claro do Caribe...

E Max cumprindo o pacto que haviam feito de manter a paz naquelesencontros todas as manhãs...

— Está gostando de sua estada na ilha? — Era a primeira vez que elemostrava aquele tipo de preocupação, e Penny ficou surpresa.

— Sem dúvida a ilha é um lugar muito bonito!

— E as pessoas, não são? Ainda não respondeu minha pergunta.

— Estou gostando muito. Max. — Havia algo em sua voz, que pareciacontradizer aquelas palavras.

— Mas não o suficiente para corresponder às suas expectativas, não é?

Penny balançou a cabeça, incapaz de responder. Como poderia dizer que eleé que não correspondia às suas expectativas?

— No outro dia fez um comentário a respeito. . . de como queria que eugostasse de você como uma irmã. Diga-me, Penny, qual a imagem que fazia demim?

— Você me chamou de Penny — ela disse, com surpresa. Uma mudança

parecia estar ocorrendo em Max. . . ou será que era apenas aquele lugarparadisíaco que o deixava mais humano?

— Foi uma distração. Desculpe.

— Oh, por favor, preferia que me chamasse assim o tempo iodo.

— Perguntei qual a imagem que tinha de mim. . . — Ele mudou de assunto,rindo. — Pode falar com franqueza, pois sei muito bem que ficoudesapontada quando me conheceu.

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— Quer mesmo que eu seja franca? — ela desafiou e Max acenou com acabeça, afirmativamente. — Sempre pensei que você fosse como Norah:gentil e. . . e. . .

— E de coração mole? É claro que tinha de ficar desapontada. Agradeço aos

céus por não ter herdado isso de minha mãe!— Ora, não sei por quê. Ela é tão boa e generosa e. . .

— E terrivelmente fácil de ser enganada!

— Será que tem sempre que dizer isso? — ela perguntou e, como Max nãorespondesse, continuou: — Meu pai a ama enquanto pessoa e Norah estáconvencida disso. Eles serão muito felizes quando estiverem juntos!

— Você tem mesmo certeza de que esse casamento será realizado?

— Você já conversou com Norah. portanto, nessas alturas já deve saber desua decisão.

— Minha mãe estava decidida...

— Norah me garantiu que eu não precisava me preocupar com nada... —Penny ia continuar falando, mas preferiu se calar para não quebrar atranqüilidade excepcional que existia entre os dois naquele momento.

— Então ficou desapontada por eu não ser. . . bondoso e gentil? E em quaisoutros aspectos eu não correspondi às suas expectativas? — O olhar deMax era francamente zombeteiro, mas havia algo em sua voz que pareciadizer que queria muito saber por que ela tinha se desapontado. Seriapossível tal interesse da parte dele?

— Eu esperava que me recebesse como irmã. Achava que ficaria feliz com ocasamento de nossos pais, feliz por sua mãe ter alguém que a amasse. Seique os homens vêem essas coisas de maneira diferente mas. . . Sabe, papai eeu estamos sozinhos há doze anos e eu esperava que... que nós formássemosuma família unida.

Era tão estranho dizer aquelas coisas para Max. . . Talvez fosse devido àágua fresca da piscina, às grandes árvores que os rodeavam, àquela brisaperfumada pelo aroma do oceano e das flores. . . Penny estava descobrindono olhar de Max uma doçura inédita, que fazia seu coração bater maisdepressa, e a deixava à vontade para revelar suas verdadeiras expectativas.

— Então, era isso que você desejava. Penny? Fazer parte de uma famíliafeliz e...

— Max! — Shirley vinha correndo entre as árvores, para perto deles,

vestida com um biquíni pequeno e de cores vivas. — Estou atrasada? — Você

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devia ter mandado alguém me chamar! — Ela sorriu. — Prometo que sereiuma ótima aluna hoje!

CAPÍTULO IV

Sábado era dia da feira de artesanato em Roseau. Penny e Shirley forampara a cidade, pois desejavam fazer algumas compras, Penny ia procurarpresentes para mandar a seus amigos na Inglaterra e acabou escolhendocestas de vime e pequenas peças feitas de conchas, confeccionadashabilmente pelos nativos da ilha. As mulheres da região, morenasdescendentes de antigos escravos, usavam grandes chapéus de panoscoloridos para se protegerem do sol.

— Você acha que eu ficaria bem com um desses chapéus?— Shirleyperguntou, enquanto remexia uma grande pilha numa banca.

— Se você sentir-se bem usando um deles. . . — Penny não eslava nem umpouco interessada naqueles chapéus. Eles tinham um propósito unicamenteutilitário, e não eram elegantes. Shirley já linha achado um que a agradava e,depois de se mirar no pequeno espelho que o mascate lhe ofereceu, pegava odinheiro para pagá-lo.

— Ora, afinal nos encontramos de novo! Pensei que isto nunca mais fosseacontecer!

— Graham! — Penny virou-se para dar com o olhar sorridente do bonitorapaz que conhecera na viagem de barco. — Que bom encontrá-lo! — eladisse e em seguida apresentou-o para Shirley, que tinha os olhosarregalados. O rapaz era de fato bonito e simpático, muito bem vestido,com uma roupa de cor clara que contrastava com seus cabelos escuros e apele bronzeada.

— Cheguei a telefonar mais de uma vez, mas você sempre estava fora -—Graham reclamou com Penny.

— Fora? É tão raro eu sair. Quem foi que atendeu?

— Um empregado da fazenda, acho que seu nome era Matthew. Ele não lhedisse que eu tinha ligado?

— Ah, Matthew é muito distraído. Deve ter se esquecido assim que colocouo telefone no gancho!

— O que está fazendo por aqui? — Graham perguntou, examinando os

pacotes que Penny carregava. — São para você?

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— Não, são presentes que vou mandar para casa.

— Que acha do meu chapéu? — Shirley não estava gostando de ser deixadafora da conversa e deu um passo adiante, colocando-se quase no meio deGraham e Penny.

Depois de olhá-la com surpresa, o rapaz fez um comentário educado sobre ochapéu e novamente voltou a atenção para Penny.

— Que tal tomarmos um lanche? Tenho um amigo que mora aqui perto noHotel Fort Young. que não se incomodaria de nos receber.

— Acho uma ótima idéia. Será que ele não vai mesmo se importar?

— Claro que não! Vai ficar muito contente pela companhia.

— E você, o que acha, Shirley?

— Oh, eu adoraria!

— Então está combinado. Já terminaram de fazer as compras?

— Eu já! — Shirley disse, apressada. — E você, Penny?

— Acho que sim, pelo menos por hoje. Ainda quero comprar outrospresentes, mas vou deixar para fazer isso no mercado de Portsmouth, nasemana que vem.

— É um lindo lugar para se conhecer — Graham falou, tomando o braço de

Penny e começando a andar. — Você devia aproveitar e ir de barco. É umpasseio muito bonito!

— Gostaria que houvessem mais lojas por aqui — Shirley reclamou. — Nuncaconsigo encontrar aquilo que quero e tenho tão poucas roupas.. .

— Poucas roupas! — Penny se admirou. — Seu guarda-roupa está estourando!

— Ora, Penny, estou habituada com muito mais do que aquilo!

— Shirley é tutelada de Max — Penny explicou ao ver o olhar interrogativo

de Graham.— Tutelada? Nunca soube que Max Redfern tomava conta de alguém.

— Papai era muito amigo de Max e quando ele morreu, há sete meses atrás,Max resolveu tomar conta de mim. Antes eu morava na Inglaterra. Por issosinto tanta falta das lojas. Adoro fazer compras.

— E você gosta de viver com o sr. Redfern? — Graham perguntou. Agora,eles já se afastavam do alarido da feira e tomavam uma ruazinha estreita,ladeada de amigos sobrados.

— Max. . . ? Sim, gosto muito.

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— Por que essa hesitação? Será que não tem muita certeza?

— Bem, ele é gentil. Pelo menos é muito mais gentil comigo do que com apobre Penny.

— Quer dizer então que de não é gentil com Penny?— Não! Ele não gosta dela nem um pouquinho, não é, Penny? Penny quasemorreu de vergonha diante do olhar curioso do rapaz.

Lembrava-se de quando conversavam no navio e da maneira como ele sempredava a impressão de não gostar muito de Max.

— Shirley está exagerando.

— Não estou, não! — A garota deu a volta para caminhar ao lado de Graham.— Ele não é nem um pouco gentil com Penny. Mas ela também não é gentil

com ele. Assim, é natural que não se suportem muito!— Qual é o problema, Penny? — ele quis saber. — Max não gostou da idéiade ver a mãe casada com seu pai? Nunca quis dizer nada para você, massempre pensei que isto pudesse acontecer. É esta a razão pela qual não sedão bem?

— Casar? — Shirley estava espantadíssima. — Penny, você nunca me falounada a respeito disso!

— Era um assunto particular, Shirley!

Ao perceber a tolice que havia cometido, Graham tentou se desculpar.

— Pensei que todos soubessem. Afinal, seu pai deve estar quase chegando,não é?

— Sim, em mais ou menos quinze dias.

— Seu pai vai chegar em quinze dias? E ninguém nunca me falou que ele iacasar com a mãe de Max! Quer dizer que vou ter um sogro também?

— Sogro!? Você está noiva de Max? — Graham falava como se não pudesseacreditar no que ouvia.— Ainda não, mas nós vamos nos casar, não é Penny?

— Bem, é o que você diz, pelo menos.

Era uma infelicidade que Graham tivesse tocado no assunto casamento, poisPenny já sabia que quanto menos se falasse nisso com Shirley, melhor era. Edepois, aquela conversa sempre acabaria chegando aos ouvidos de Max, oque contribuiria para deteriorar ainda mais a relação dos dois. Será queShirley poderia ser convencida a se manter calada?

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O Hotel Fort Young ficava próximo do porto de Roseau e os aposentos deTrevor davam vista para o mar. O rapaz estava encantado em recebê-los emcasa e pareceu imediatamente atraído por Shirley.

— Ele trabalha na mesma escola que eu — Graham explicou, depois de ter

feito as apresentações. — é professor de Física, muito respeitado!— Obrigado pelo exagero! — Trevor sorria, sem tirar os olhos de Shirley. —Vou preparar o lanche para nós.

— Posso ajudá-lo? — Shirley se ofereceu com voz levemente sensual. — Souótima na cozinha!

— Claro! Será um prazer. — Os dois desapareceram e Grahamimediatamente voltou-se para Penny, um ar constrangido no rosto:

— Então você se desapontou com Max Redfern? Sabia que isto ia mesmoacontecer... Não o conheço pessoalmente, mas todos sentem um certo medode Max. Os empregados da fazenda gostam dele, mas têm pavor decontrariá-lo... O que aconteceu? Foi a idéia da mãe se casar novamente queprovocou essa antipatia à qual Shirley se referia?

Penny não sabia o que dizer, Graham a olhava com um ar curioso e ela nãodescobria uma maneira de satisfazer sua curiosidade sem revelar a situaçãoem maiores detalhes.

— Bem, a princípio não se tratava do casamento — ela começou hesitante —,pois Max nem sabia a respeito dele.

— Sua mãe ainda não havia lhe contado?

— Não. Ela estava com receio de fazer isso, pois existiram outros homensque quiseram casar com ela pelo seu dinheiro. Norah é uma viúva muito rica,e atrai este tipo de gente.

— Se não foi por causa do casamento, o que estragou a relação de vocês?

— Bem, a questão é que tudo se passou de forma diferente do que eu

imaginava. Max não me recebeu da maneira como pensei que faria.— Mas se ele não sabia de nada, você não podia esperar ser recebida de umamaneira especial. Acredito que tenha sido cortês, pelo menos? Afinal, você éa secretária da mãe dele.

— Acho que a recepção não foi tão cortês assim... — Penny começou aexplicar, fazendo um relato das coisas que haviam se passado entre ela eMax, omitindo naturalmente a ocasião em que ele a tinha beijado.

— Suponho que você esperava que ele fosse como a mãe?

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— Sim, não posso negar isso. Agora reconheço que foi uma tolice esperarque um homem de negócios como Max, mais velho e mais maduro, fosse mereceber de braços abertos, feliz por ganhar uma irmã... Acho que não penseio suficiente sobre o assunto, pois estava muito entusiasmada com a idéia de

ganhar um irmão. — Penny fez uma pausa, enquanto seu olhar passeadasobre as águas calmas do oceano que. no horizonte, se confundiam com océu. — Ser filha única é uma coisa muito solitária e acho que acabei meentusiasmando demais quando soube que papai e Norah pretendiam casar.

— Pobre menina... — Eles estavam sentados à mesa e Graham tomou a mãode Penny. — Sinto-me um pouco culpado, pois acho que poderia ter alertadovocê sobre o gênio de Max.

— Ora, você não tem culpa de nada, Graham. Eu é que acabei vendo coisas

que não existiam.— Sim, infelizmente foi isso que aconteceu. — Ele parou quando ouviram osom de risadas altas que vinha da cozinha. Trevor e Shirley deviam estar sedivertindo com alguma piada. — E como vai ser agora? Você acredita que asra. Redfern casará com seu pai, mesmo contra a decisão de Max?

— Ela está decidida a casar, mas será horrível se tiver que romper com Maxpor causa disso.

— E esses encontros que você têm na piscina todas as manhas? Carece que

Max está mudando um pouco, não é?— Ele se torna uma pessoa completamente diferente nessas ocasiões, masisso não quer dizer que tenha mudado de opinião.

— É uma situação muito estranha. Acredito que ele não se tornaautomaticamente uma pessoa antipática assim que saem da piscina, não é?

— Bem, só temos nos encontrado há poucos dias, e no resto do tempo euquase não o vejo. Max está trabalhando bastante desde que comprou umasterras vizinhas à fazenda.

— Quer dizer então que só se encontram nas refeições?

— Sim, além dos encontros na piscina.

Mais uma vez se ouviu o som de risadas na cozinha e Graham soltou umapequena exclamação de impaciência.

— Quem é essa menina?

— Seu pai era amigo de Max, como ela contou. Não sei de muitos detalhes,pois Norah nunca falou sobre o assunto. Parece que o pai dela fez um grande

favor a Max, certa vez, e por isso ele decidiu tomar conta dela quando oamigo morreu.  Livros Florzinha

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— Ele é seu guardião lega!?

— Acho que não, apesar de dizer que sim.

— E eles vão casar? Não consigo imaginar Max Redfern casado com uma

garota tão avoada!— Sempre tenho a impressão que Shirley não é tão avoada como quer fazeracreditar. . . Quanto ao casamento, bem. . . isto é idéia dela! Não acreditoque Max tenha jamais pensado nisso.

— Por que ela tem tanta certeza?

— Porque acontece nos livros — Penny explicou, rindo. — O tutor sempreacaba casando com aquela que está sob seus cuidados. Shirley é muitoromântica, pelo que vi até agora.

— Sim, é o que parece. Será que ela realmente acredita que Max vaiterminar se apaixonando?

— Acho que ficaria muito desapontada, se não acontecesse isso.

— Ela não é o tipo dele, com certeza.

— Atém disso, Max me falou que nunca vai se apaixonar por ninguém.

— Ele disse isso? E que tipo de conversa vocês estavam tendo para umacoisa como essa vir à tona? — Graham parecia meio incomodado em saber

aquilo e Penny não conseguia entender por quê.— Perguntei o que ele acharia se estivesse apaixonado e outra pessoa fossecontra o casamento, e esta foi a sua resposta.

— Na ilha, Max já tem fama de solteirão. Não consigo imaginá-lo casado.Mulher nenhuma agüentaria suas maneiras autoritárias.

— Maneiras autoritárias de quem? — Era Shirley quem tinha se aproximadosilenciosamente, carregando uma bandeja. — Sobre quem estavam falando?

— Qual era a grande piada lá dentro? — Graham tentou desconversar.

— Foi uma coisa que Trevor disse. E então me beijou! Ele não é mesmo muitogozado?

— Trevor beijou você? O grande conquistador... É melhor tomar cuidado ouele a deixará de coração partido! — Graham virou-se para Trevor que agorasurgia pela porta da cozinha, uma grande travessa com biscoitos nas mãos.— Você devia se envergonhar de seu jeito, Trevor!

— E de quem vocês estavam falando? Quem é esse homem com maneirasautoritárias?

— Ninguém importante — Penny começou.  Livros Florzinha

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tinha levado a todos os tipos de terreno. E, já que Graham conhecia ocaminho, não havia razão para que não fossem.

— Suponho que algumas pessoas precisem de um guia, mas todas as vezesque fui até lá, não precisei de um.

— Bem.. . você tem certeza que não vamos acabar nos perdendo?

— Não é preciso ter medo disso! — Graham assegurou e, com isso, ficouentão arranjado que se encontrariam no sábado de manhã, para fazer aexcursão.

Penny e Shirley tomaram um táxi para voltar para casa. A estrada queconduzia à fazenda seguia ao lado do mar o tempo todo, encravada nasencostas das montanhas. Quando chegaram a Dominica, Penny sentia grandereceio ao passar por aquelas estradas, ladeadas por rochas e abismosperigosos. Entretanto, agora que já estava habituada, conseguia relaxar eapreciar a magnífica paisagem.

— Que tal se fizéssemos uma troca de vez em quando? — Shirley fitavaPenny com um olhar malicioso e divertido.

— Troca?

— Sim. . . Eu poderia sair com Graham e você sairia com Trevor. O que achadele?

Penny sorriu, divertida, e então meneou a cabeça.— Não, Shirley, nada de trocas! Estou feliz com Graham.

— Ora, você tem que ter espírito esportivo.

— Trevor parece atraído por você e ele é um rapaz muito bonito.

— Não tão bonito quanto Graham... Ei, o que vocês fizeram no navio?

— Como assim, Shirley?

— Vocês namoraram?

— Claro que não.

— Mas logo ficaram amigos, não é?

— Também ficamos conhecendo os outros passageiros. Só haviam novepessoas, fora a tripulação.

— Então, não quer mesmo fazer a troca? Você não gosta de Graham deverdade, não é?

Penny deu um suspiro de impaciência, embora no fundo estivesse se

divertindo com a infantilidade de Shirley?

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— Acredito que Graham e Trevor também gostariam de ser consultados,mas tenho certeza que você nem pensou nisso.

— Tenho certeza que não iam se incomodar! — Shirley afirmou, esperandoque Penny dissesse alguma coisa. Porém, como ela ficou calada, simplesmente

deu de ombros e mergulhou nos próprios pensamentos.O resto da viagem, Penny se questionou se devia ou não pedir a Shirley quenão contasse a Max que já sabia sobre o casamento de Norah. Entretanto,era difícil começar e já estavam bem próximas da fazenda quando afina!ganhou coragem para entrar no assunto.

— Mas, por quê? — Shirley quis saber. — Eu gostaria de conversar com Maxa respeito desse casamento, principalmente porque seu pai vai se tornarmeu sogro daqui a pouco. E depois, alguém devia ter me avisado e acho que o

mais natural é que tivesse sido você, Penny! Afinal, um dia nós duas seremosparentes.

— Será que não está pressupondo coisas demais e muito cedo. Shirley? —Penny perguntou sem pensar. De qualquer maneira, Shirley sofreria muito.mais tarde, ao ver que as coisas não se passariam exatamente comoimaginara. A garota deu a impressão de não entender a pergunta e Penny foiobrigada a continuar falando. — Você tem tanta certeza que Max vai casarcom você... Mas, e se isso não acontecer? Será que ainda não considerou

esta possibilidade?Um longo silêncio se seguiu às palavras de Penny. Mais uma vez ela tinha aimpressão de que Shirley não era tão ingênua e frívola como parecia ser.

— O que a faz pensar que Max não casará comigo? — A voz fria de Shirleycontrastava com o sorriso que ainda mostrava nos lábios. — Max e eu nosdamos muito bem, acho que já deve ter percebido isso.

— Sim, mas não é um tipo de amor conjugal, Shirley... Ora, não sei por quefico falando estas coisas, não são da minha conta. Esqueça o que eu disse,

está bem?— Mas você não acredita que ele vá casar comigo, não é? Não está achandoque ele vai se apaixonar por você, está?

— Shirley! — Penny ficou ainda mais consternada quando sentiu o própriorosto quente e vermelho. — Não seja ridícula! Foi você mesma quem disseque Max e eu não conseguimos nos dar bem, e que ele não gosta de mim, oque é verdade, você sabe muito bem!

— Ele não gosta de você, é verdade... Porém, esses encontros na piscina,

todas as manhãs. . . Parece que vocês dois os apreciam bastante!

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— É impossível discutir naquele lugar tão bonito! — Penny replicou,perturbada. As palavras de Shirley a deixaram sem graça e tambémserviram para avivar na memória aqueles momentos em que ela e Maxtinham, por Forca da necessidade, mantido um contato físico, quando ele

estava ocupado em tratar de seus ferimentos.— Quando você vai se encontrar com Graham? — Shirley perguntou,mudando subitamente de assunto. — Acredito que tenham marcado umencontro. . .

— Vamos fazer uma excursão para o lago das Águas Quentes, no próximofim de semana,

— Mas você ia com a sra. Redfern! E ela tinha dito que eu também poderia ir junto.

— Tenho certeza que poderemos ir todos juntos em breve, pois Norahprecisa fazer pesquisas naquela área. Essa viagem com Graham é mais pordiversão. Vamos aproveitar para conhecer, outros lugares pelo caminho. —Penny hesitou, e então continuou: — Se você quiser vir também, eu eGraham não faremos nenhuma objeção.

— Verdade mesmo? — Os olhos de Shirley brilharam e Penny lembrou-se damaneira como ela tinha olhado o rapaz quando se conheceram no mercado. —Eu adoraria ir com vocês, se não for atrapalhar.

— Claro que não vai atrapalhar. Mas terá que pedir autorização para Max.porque não voltaremos no sábado.

— Max disse que precisávamos levar um guia. Suponho que vocês tenhamcontratado um.

— Graham conhece o caminho, poderemos ir sem guia.

— Pretendem ir sem guia? E desobedecer o conselho de Max? — Shirleyfalava em tom preocupado.

— Como eu disse, Graham conhece o caminho.— Max não me deixará ir se não levarmos um guia.

— Sinto muito! — Penny parecia de fato sentida, mas sorriu em seguida. —Ora, não tem importância. Tenho certeza que voltaremos lá. junto com a sra,Redfern.

Já estavam quase defronte à casa e logo o carro estacionava. Gentilmente, omotorista desceu e abriu a porta para elas, com um sorriso.

— Obrigada — Penny disse, quando terminou de pagá-lo.

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— Não há de quê, senhorita — ele disse, cordial. — É muito gentil! — Emseguida, voltou para o carro e partiu.

No dia seguinte, domingo, Penny deixou a fazenda bem cedo e atravessou umpequeno bosque, de mata bastante densa e difícil de vencer, para chegar

numa prainha escondida, que tinha descoberto poucos dias depois de chegarà ilha. Era um lugar de acesso complicado, mas valia a pena devido à suabeleza. Era pequena e aconchegante, limitada dos dois lados por grandesrochas, no tope das quais cresciam exóticas plantas tropicais. A areia, deorigem vulcânica, era fina como talco, e seu contato nos pés era delicioso.No fim da praia, à direita, havia uma cabine de madeira que Penny sempreusava para se trocar. Sabia que estava invadindo alguma propriedadeparticular, porém, como nunca aparecia ninguém por peno, não via problema.

O sol já estava bastante quente, o céu de um azul vívido e radioso. Depoisde colocar o biquíni, Penny deixou-se ficar deitada na areia. Usava óculosescuros e um pequeno boné, que colocou sobre o rosto. Em pouco tempoestava quase cochilando, embalada pelo som das ondas calmas que vinhamarrebentar na areia, e pelo calor gostoso do sol matinal.

Foi despertada subitamente, ao notar que alguém tossia ali perto, com aintenção de fazer notar sua presença. Ergueu-se, meio temerosa, certa deque o proprietário da cabine de madeira é quem linha chegado.

— Max! — Tão grande era sua surpresa que o grito saiu sem pensar. Ao verque ele também estava vestido só com short, ela apontou a cabine. — Épropriedade sua?

Ele concordou com a cabeça e em seguida sentou na areia, perto dela.

— Parece que você vem aqui com freqüência. . .?

— Não sabia que a cabine era sua — Penny desculpou-se, lembrando quetinha deixado as roupas em desordem, jogadas sobre as costas de umacadeira.

— Você não teria usado se soubesse que era minha? — Seus olhos escuroseram frios e sua voz ríspida, características com as quais Penny já sehabituara. Max tinha uma figura poderosa e austera e ela pensou que nuncahavia conhecido uma pessoa como ele. Parecia não ter sentimentos, e nem seincomodar com os problemas dos outros. Era sólido como pedra, alguém emquem sempre se poderia confiar numa emergência qualquer. Porém, eratambém uma pessoa intolerante com os erros e as fraquezas dos outros.

— Eu teria lhe pedido permissão para usá-la — Penny disse, se perguntando

se Max sentia-se incomodado com a presença dela ali. — Descobri este lugar

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logo que cheguei na ilha, e venho aqui sempre que posso. Essa praia tambémpertence a você?

— Sim, está dentro dos limites da fazenda — Max falava, enquanto esticavaas pernas e se apoiava sobre os cotovelos. — Pelo que vejo, ainda não entrou

na água hoje.— É verdade. Queria tomar um pouco de sol, antes.

Max pareceu hesitar um momento, mas em seguida perguntou por que tinhacontado a Shirley a respeito do casamento.

— Então ela abriu a boca. . . — Penny tinha um ar culpado. — Foi tudo umacidente. Um amigo meu, um rapaz que conheci no navio, comentou arespeito do casamento e Shirley ouviu.

— Então não foi você quem lhe contou?— Eu nunca teria feito isso, sabendo como você se sente a respeito. Porém,como disse, foi Graham que inadvertidamente falou no casamento.

— Graham... Sim, Shirley me falou sobre ele. Como ficou sabendo a respeitodo casamento?

— Bem, eu contei a ele, quando estávamos viajando.

Pela expressão de Max, não era difícil saber o que pensava: Penny nãoconseguia guardar nada para si mesma, sempre acabava comando para osoutros. Mas de que importava a opinião dele? De repente, ela percebeu queultimamente sempre se preocupava com o que ele estava pensando.

— Você e Shirley estiveram com esse rapaz, Graham, ontem. Foi o que elame disse. Havia também uma outra garota, com a qual Shirley vai seencontrar amanhã à noite. Essa garota é amiga de Graham?

— Garota? — Penny estava surpresa, sem saber o que dizer, contudo, logopercebeu que Shirley tinha inventado aquilo. — Sim. . . a garota é amiga deGraham.

— Muriel Fairbanks... — ele disse, como se falasse para si mesmo. — Éestranho que nunca tenha ouvido esse nome antes.

— Você conhece todas as pessoas que moram na ilha? — Penny perguntou,sorrindo, para disfarçar seu constrangimento.

— Sim, todos os brancos, não os nativos. Ou pelo menos pensei que conhecia,de nome. Acho que esta garota não está aqui há muito tempo. Existemmuitos ingleses chegando e partindo o tempo todo. Você sabe alguma coisa arespeito dela?

— Não... não sei nada.  Livros Florzinha

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— E o que achou dela? Será que não há problema em Shirley sair com ela?

— Eu... bem... — Aquela era uma posição muito desagradável, sem dúvida.Penny sentia vontade de encontrar Shirley para dar-lhe uma boa sacudida.— Não, acho que não há problema algum no fato de Shirley encontrar-se

com ela.— Talvez eu deva conhecê-la antes — Max decidiu. — Shirley não é adulta osuficiente para saber quem devam ser seus amigos e amigas.

— Tenho certeza que não há problema, pode acreditar em mim, senhor. . . —Era difícil para Penny tratá-lo com a mesma formalidade.

— Já há alguns dias que venho chamando você de Penny. . . e suponho que é justo que me chame de Max. — Para completa surpresa dela, ele disse aquilosorrindo, e em seguida acrescentou: — Pode ser que se pararmos de ser tãoformais, consigamos nos relacionar melhor.

Será que era isso que Max desejava, que as coisas entre eles fossem maisfáceis e agradáveis? Será que depois da conversa com Norah, ele tinha seresignado com o casamento? Só isso poderia explicar que procurasse umaaproximação com Penny. Ela lembrou-se daquela manhã, alguns dias atrás,quando ele falava com tanta doçura mas fora impedido de acabar o quepretendia dizer pela chegada inesperada de Shirley.

— Acho que vou entrar na água — ela disse, tirando os óculos escuros.Ergueu-se e Max se levantou também, para entrarem juntos no mar.— Suponho que você já tenha descoberto o Jardim dos Corais. . .? — eleperguntou, enquanto nadava a seu lado.

— Não, ainda não conheço. É perto daqui?

— Sim, logo ali, quase na ponta da praia. Vamos nadar até lá, quero queconheça este lugar!

Até então, Penny tinha evitado aquele pedaço de praia, onde se formava uma

pequena península, pensando que talvez existisse fortes correntes marinhase fosse perigoso nadar por ali. Entretanto, Max garantiu que não havia nadaa temer.

O Jardim dos Corais era simplesmente de tirar a respiração. Parecia ummosaico das cores mais variadas e brilhantes. Quando subiram novamente àsuperfície, Max perguntou-lhe o que achava.

— É maravilhoso! — foi tudo que disse, antes de mergulhar novamente. Maxmergulhou atrás dela, naquele mundo de sonhos e beleza natural.

Os raios de sol refletiam sobre as pedras, criando ilusões de movimentosque davam uma aparência mágica àquele lugar. Inúmeros peixes das mais

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variadas formas ficavam ao longe, observando curiosos aqueles invasores emseu ambiente. Lindas algas moviam-se ao sabor das ondas que rolavam sobrea superfície, o silêncio imperando naquele mundo irreal.

Depois de algum tempo, Max saiu da água e sentou mima grande rocha

enterrada na areia, para se secar ao sol. Penny não conseguia sair, pesarosade abandonar aquele lugar encantador e ao mesmo tempo consciente de queuma súbita e inesperada timidez tomava conta dela. Foi Max quem afinalterminou por chamá-la, e, sem argumentar, Penny foi ter com ele. que lheoferecia a toalha para se secar.

— É gozado que você não tivesse descoberto esta maravilha — ele disse,enquanto observava os movimentos de Penny com a toalha. — Sabia queexistem muitos corais no mar do Caribe, não sabia?

— Sim, sabia, mas ainda não tinha explorado muito esta região. E não é fácilchegar nesta praia.

— Preciso mandar abrir uma trilha na mata — Max disse, antes de serecostar na pedra.

Penny fitava aqueles músculos poderosos e bronzeados e pensou que Maxera uma daquelas pessoas que, mesmo ao ficar velho, nunca perderia aimagem de força e vigor. Ela nunca tinha conhecido alguém tão formidável...e tão masculino! Desviou o olhar para o mar, que no horizonte se juntava ao

céu.— Obrigada por me mostrar os corais, Max. Foi uma experiênciamaravilhosa!

— Nós temos um bote com uma abertura de vidro no casco, apropriado paraobservar o fundo do mar. Qualquer dia desses vou pedir a um dos homensque o coloque na água para que você possa realmente apreciar toda a belezadeste lugar.

— Oh, eu adoraria! Você também vem...? — Penny parou, confusa e Max

ganhou um brilho no olhar. — O que quis dizer é se você estava habituado apassear com o bote aqui no jardim dos Corais.

— Eu costumava vir sempre, mas ultimamente não tenho tempo para isso.Entretanto, se desejar minha companhia, posso arranjar algum tempo livre— ele falou de uma forma tão natural, que Penny sentiu-se imediatamente àvontade. Ela também deitou sobre a pedra, imaginando que poderia sersempre assim entre os dois, o que a deixaria imensamente feliz. Max sorriae ela tomou forças para tocar no assunto que ainda continuava pendente.

— E o casamento, Max? Concordou com ele?

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Max sentou-se, uma expressão fria e hostil voltando ao rosto.

— Não, Penny, não concordei. Em minha opinião, Norah jamais deveria casaroutra vez.

— Mas... por quê? Se ela vai ser feliz, se encontrou alguém que gosta dela?— Amor? Você é muito insistente a respeito disso, não é? Acho que conheceminha mãe o suficiente para saber que ninguém poderia tomá-la pelo querealmente é.

— Como você pode dizer isso? — Ela estava indignada. — E ainda por cima, arespeito de sua própria mãe?!

— É justamente por ser minha mãe que estou tão preocupado. Sei que !emtantos traços desagradáveis na personalidade, que nenhum homem poderia

se interessar por ela. Por seu dinheiro, sim, mas não por elaverdadeiramente!

— E que traços são esses, tão desagradáveis? Não sei como pode talar assima respeito dela.

— Estou só constatando um fato e acho que você já devia saber ÍI que merefiro. Ela está nas nuvens a maior parte do tempo, é distraída e não tem omenor método para fazer as coisas. Além disso, sempre passa por longasfases onde nada lhe interessa a não ser o próprio trabalho. Acha possível

que algum homem se apaixone por uma mulher assim?— Sim, é claro que é possível. Quando se está apaixonado, nem se nota essascoisas!

— Minha querida menina, você não é nem um pouco conveniente e, se mepermite dizer, é uma péssima advogada do seu pai. Eu, por exemplo, nuncaconsideraria a possibilidade de me casar com uma mulher assim, e sei quequalquer outro homem faria o mesmo, a não ser que houvessem outrosinteresses.

— Meu pai não está absolutamente interessado no dinheiro de sua mãe!— É natural que diga isso, mas eu não posso acreditar. Não se esqueça que já existiram outros, muito antes de seu pai aparecer em cena. — Ele fezuma pausa e deu um suspiro de impaciência. — Penny. é melhor mudarmos deassunto, caso contrário vamos acabar discutindo mais uma vez.

— Isso porque você é tão irracional e convencido de que sempre está com arazão. Condenou meu pai antes mesmo de conhecê-lo! — Penny estavafrancamente indignada e agora já não media as palavras. Num instante,

lembrou que, afina! de contas, a opinião de Max não importava tanto. — Você

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tem todo o direito de pensar o que quiser, mas é bom saber que Norah estádisposta a casar com meu pai, com ou sem a sua aprovação!

Max corou, era visível que a ira crescia dentro dele.

— Desde o começo eu preveni você de que este casamento não ocorreria, Elhe digo agora: apesar do que a minha mãe possa ter dito, farei o possível eo impossível para impedir que isto aconteça!

— Você não conseguirá impedir!

— Veremos mais tarde.

— E o que poderia fazer? — Apesar de suas palavras decididas, por dentroPenny não possuía a mínima certeza. — Não há maneira de impedir ocasamento.

— Descobrirei alguma forma de conseguir isso — ele falava com voz calma.— é minha tarefa proteger minha mãe desses caçadores de fortuna e vocêpode ter certeza que eu a cumprirei até as últimas conseqüências.

CAPÍTULO V

Foi em absoluto silêncio que voltaram para casa. Enquanto caminhava ao ladode Max, Penny se surpreendia com o fato de que duas pessoas pudessemestar na mais completa harmonia num minuto e, no minuto seguinte, só haviadiscórdia entre elas. Se não tivesse tocado no assunto do casamento, aquilonão teria acontecido. Agora ela sabia que era a única culpada peia mudançade humor de Max.

Shirley e Norah estavam sentadas na varanda, quando Max e Penny seaproximaram da casa. Os olhos de Shirley pareciam vermelhos, e ela tinha

um lenço nas mãos.— O que aconteceu, menina? — A preocupação que Max demonstrava deixouPenny meio desconcertada, pois nunca antes ele tinha dado sinais de estarmuito interessado nos sentimentos da garota. — Você se machucou ou estádoente?

— Onde você esteve? Shirley ficou aqui sozinha a tarde toda e... — Nessemomento, Norah interrompeu o que estava dizendo, percebendo o queacontecia. Max e Penny carregavam as roupas de banho molhadas e astoalhas. — Vocês foram ã praia juntos? — ela perguntou, não podendoacreditar que aquilo tivesse realmente acontecido.

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— Nós nadamos no Jardim dos Corais, só isso, Shirley!

— É. . . é um lugar muito romântico.

— Suponho que sim! — Penny concordou, perguntando-se o que viria a seguir.

— Penny... você não o tomaria de mim, não é?— Tomá-lo de você? Do que está falando?

— Promete que me responde com sinceridade?

— Claro que sim.

— Você... gosta de Max? — Os olhos azuis de Shirley tinham um ar degrande expectativa. Penny virou-se para o espelho e recomeçou a pentear oscabelos.

— Não consigo entendê-la. Shirley. Você mesma disse que eu e Max não nosdamos bem!

— Você gosta dele. Penny. Eu sei disso!

— Tolice!

— Max é muito atraente e não seria difícil você se apaixonar. Eu sabia distodesde o princípio e estava morrendo de medo, pois você também é muitobonita.

— Shirley, por favor! Não sou bonita e Max não me notou, como estásugerindo. Portanto, não há motivo para tanta preocupação! — Penny sentia ocoração bater acelerado, pelas palavras de Shirley. Era impossível pensarem Max naqueles termos: tudo que ela queria era um irmão. . .

— Você é linda! — Shirley insistiu, fitando-a pelo espelho. — Tem olhosclaros e cabelos sedosos. . .

— Pare com isso, Shirley! — Penny falou de maneira mais ríspida do quepretendia. Porém, a verdade é que, a cada palavra de Shirley. ela se sentiamais e mais desconfortável.

— Sua pele, seu corpo, tudo em você é perfeito. Até mesmo Graham,preferiu você!

— Nós nos conhecemos no navio. Shirley. Ele nunca tinha visto você antes!

— Ele nem olhou para mim.

— Mas Trevor notou sua presença, e bastante! Aliás, ele não conseguia tiraros olhos de você.

— Trevor é do tipo que paquera qualquer garota!

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— Você tem respostas prontas para tudo! — Penny deu um grande suspiro,tentando pensar numa maneira de mudar de assunto.

— Estou com tanto medo! — A menina deu um soluço. — Eu quero Max, queromuito!

— Mas não se importa em ficar marcando encontro com outros rapazes, nãoé?

— É só para ter o que fazer. . . para ter certeza que também sou atraente.Mas é Max quem eu quero! — E para desalento de Penny, ela escondeu orosto entre as mãos e começou a chorar baixinho. Aquela cena emocionoumuito Penny, e a fez sentir uma grande pena da menina. Até ali, estavaachando que a demonstração na varanda tinha sido somente para atrair aatenção de Max e provocar sua simpatia.

Mas a tristeza era sincera, agora ela podia ver. Não havia para quem Shirleyse exibir. Num lampejo, Penny compreendeu tudo. Shirley ainda era umapequena menina, solitária, que sentia saudades do pai. Sua frivolidade erauma pose que assumia pois acreditava que assim podia chamar a atenção deMax. Porém, havia algo mais sério na natureza dela e Penny sentia-seculpada por não ter reparado antes nisso.

Ela chegou perto de Shirley. colocou a mão sobre seu braço, num gestoconfortador, oferecendo-lhe um lenço para enxugar as lágrimas.

— Não chore, Shirley, querida.— Você é minha amiga, não é? — Shirley soluçava, os olhos rasos de água. —Por favor, seja minha amiga!

— Claro que serei sua amiga! — Penny prometeu, sentindo um nó na garganta.Se pelo menos tivesse adivinhado que tudo não passava de uma maneira queShirley descobriu para fazer com que os outros notassem sua presença. . .Graham também tinha se enganado pelo jeito frívolo dela. Penny prometeumentalmente que dali em diante a trataria de forma diferente.

— Você não vai tentar fazer com que Max se apaixone por você, vai? —Shirley tinha enxugado os olhos e devolvia o lenço. — Promete?

— Não precisa ter medo de que ele venha a gostar de mim dessa maneira.Entretanto, se isso a tranqüiliza, eu prometo!

— Acha que ele vai casar comigo? — A esperança na voz da garota partia ocoração de Penny. Aquele momento talvez não fosse o mais apropriado paradizer o que realmente estava pensando,

— Já pensou seriamente a respeito do sentimento que a une a Max — elaperguntou, gentilmente. — Você ainda sente falta de seu pai, Shirley, e

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talvez esteja depositando sobre ele essa carência, como se quisesse queMax tomasse seu lugar.

— Não. . . eu amo Max, de verdade — Shirley respondeu com convicção ePenny sabia que ela não tinha nem considerado o que acabava de ouvir.

— Ele tem a reputação de ser um homem que não pretende jamais casar,você não deve se esquecer disso.

— Todos os homens querem casar — Shirley insistiu, ainda com aquele armeio desesperado e esperançoso!

— Nem todos, querida. Alguns não foram feitos para o casamento, assimcomo algumas mulheres. As pessoas não são todas iguais.

— Você está tão convencida que ele nunca casará comigo. . . — As lágrimas

novamente começaram a rolar pelo rosto de Shirley.— Você é muito jovem para ficar pensando em casamento. Existem outrascoisas a serem feitas antes disso.

— Mas como? O que há para fazer, aqui? Sou tão sozinha, Penny. Desde oprimeiro dia em que cheguei aqui tenho estado tão sozinha!

— Admito que este não seja o lugar ideal para se passar o tempo, Shirley,mas prometo que não se sentirá mais solitária enquanto eu estiver aqui.

— Oh, verdade? — Shirley respirou fundo, começando a esboçar um sorriso.— Vai me deixar acompanhá-la quando for a algum lugar?— Sim, você virá sempre comigo. Além disso, meu pai chegará em duassemanas, e eu tenho certeza que vai gostar dele. Enquanto eu estivertrabalhando, durante o dia, poderá levá-lo para conhecer as redondezas: elevai querer ver tudo. Fará isso para mim?

— Você realmente quer que eu faça isso? Talvez ele não goste de mim.

— Pare de se preocupar se as pessoas vão ou não gostar de você, Shirley.

Tenho certeza que papai ficará encantado se o levar para passear. — Eladeu um abraço na menina, que sorriu agradecida. — é melhor descermos ouMax e Norah ficarão bravos conosco por deixá-los esperando.

Como Shirley já adivinhava, Max não deu permissão para que acompanhasseGraham e Penny na excursão para o lago das Águas Quentes, no fim desemana. Ele tinha também uns comentários a fazer com relação a Penny, masela logo o convenceu que estava decidida a ir.

— Então é melhor não esperar que eu faça uma expedição de salvamento sevocês se perderem! Já que é maluca o suficiente para não seguir meuconselho, deve ser também auto-suficiente para tomar conta de si!

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— Sim eu sou — ela disse com determinação, e no minuto seguinte já estavade pé. — Eu vou com vocês e Max que fique bravo, se quiser.

— Ele não vai ficar bravo. . . Vai ficar furioso! E certamente virá ter comigo!— Penny sabia que no fim seria considerada culpada por tudo aquilo.

— Com você? — Shirley abaixou os olhos, parecendo que não queria encararPenny. — Por que ele ficaria bravo com você?

— Porque essa viagem é idéia minha e porque estamos indo sem um guia! —Ao ouvir aquilo. Shirley deu de ombros. Havia algo no jeito da menina queincomodava Penny. — Sinto muito, Shirley, mas não pode vir conosco. Como já disse, Max vai ficar furioso!

— Eu concordo com você, Penny. — Era Norah quem falava, apesar deparecer estar com a cabeça em outro lugar. Seu olhar contemplava o grandevulcão nos limites da ilha, cujo topo estava encoberto pelas nuvens de chuvaque provocavam a visão de um lindo arco-íris. — Estou pensando em ir até lána semana que vem, pois tenho muito a pesquisar nessas montanhas. Achoque na segunda ou terça-feira...

— Não se preocupe com seu trabalho agora, sra. Redfern — Shirleyinterrompeu-a com seu jeito infantil. — Eu vou com Penny e Graham e. . .

— Não, você não vai! — Penny falou tom firmeza, já pensando em propor aGraham o cancelamento da viagem.

— Você disse que sempre me levaria com você e já está quebrando apromessa!

— E por que ela não pode vir? — Graham se intrometeu. — Não vejo razãopara tantos problemas, já que Max não voltará antes de segunda-feira. Setodos concordarem, ele nem precisará saber disso.

— Ele vai terminar descobrindo — Penny meneava a cabeça comdeterminação. — Não, Shirley não pode vir conosco, Graham. Como disse asra. Redfern, nós todos iremos juntos na semana que vem. Acho que não étanto tempo assim e ela pode esperar.

— E o que ficarei fazendo aqui. sozinha, durante todo o fim de semana? — Otom triste da voz de Shirley afetou a todos e ela soube como tirar partidoda emoção dos outros. — Fico tão solitária quando não há ninguém paraconversar. A senhora vai trabalhar, não é? — Ela olhou para Norah.

— Sim, tenho muito que fazer. — Imediatamente, seu interesse retornou aovulcão ao longe. — Tenho tanto a pesquisar. . .

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Penny mordeu os lábios. Tinha se oferecido para ajudar a sra. Redfern,porém ela tinha recusado com firmeza. Dizia que Penny devia ter os fins desemana livres para gozar os encantos da ilha.

— Então, irei com Penny e Graham. Acho que tenho o direito de me divertir,

não é?— Claro, querida. . . — Estava evidente que Norah já não sabia mais o quedizia. — É melhor eu pegar meu caderno de anotações antes que as idéiasfujam! — Com ar distraído, ela levantou da cadeira. — Sim, a menos que euas escreva agora mesmo, vou terminar esquecendo! E ao dizer isso.desapareceu dentro da casa.

Quando Trevor chegou, alguns minutos depois, Shirley empregou iodo seupoder de persuasão sobre ele. Como o rapaz achava que ela também iria, não

houve nenhuma dificuldade em convencê-lo e foi ele mesmo quem sugeriuque colocassem a questão em votação, apesar dos protestos de Penny.

— Sinto muito, mas você perdeu! — Graham disse, sorrindo.

— Eu preferia adiar a viagem do que ter Shirley conosco sem a permissão deMax. Que acha de fazermos o passeio em alguma outra ocasião?

— E por que deveríamos fazer isso? Shirley já é grande o suficiente paratomar esse tipo de decisão!

Enquanto Shirley corria a se aprontar, Penny foi até o gabinete de estudo,onde Norah examinava um pedaço de rocha com a lente de aumento,mostrando impaciência ao ser interrompida.

— Norah, queria falar a respeito de Shirley, se você não estiver muitoocupada...

— Estou trabalhando, Penny.

— Ela conseguiu convencer Trevor e virá conosco, mesmo desafiando Max.

— Vai mesmo...? — Norah tinha voltado a examinar a pedra, mas virou-se

para Penny. — Pensei que o nome do rapaz fosse Graham . . . E cada dia quepassa, estou ficando mais distraída,

— Trevor é um outro rapaz, amigo de Graham. Ele também vem conosco.

— Outro rapaz? Então são dois? — Ela tinha voltado a fitar o pequenopedaço de rocha. — Mica. . . não, não é. Dois deles, você disse? Bem, nessecaso, acho que Max não faria objeção, já que estão acompanhadas de doisrapazes vigorosos, que podem muito bem proteger as duas. — Ela meneou acabeça. — Não acredito que Max se importe, Penny querida. Vá

despreocupada e divirta-se!

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Penny ficou ali um momento, numa atitude de indecisão. Contudo, Norah jáestava mais uma vez absorvida no trabalho e, com um suspiro de resignação,ela virou-se e deixou a sala.

Estava preocupada com a reação que Max teria ao saber que Shirley o

desafiara. Entretanto, era inútil ficar pensando naquilo e estragar o fim desemana. Era melhor deixar para se preocupar na segunda-feira de manhã,quando ele voltaria para a fazenda.

Tomaram uma estrada na direção sul da ilha, que atravessava lindaspaisagens. Resolveram passar a noite no lugarejo de Landat e, no domingo demanhã, seguiram para o lago. No domingo à noite, retornariam então paraLaudat e alugariam um jipe, que os traria de volta. Os rapazes seriamdeixados primeiro em Roseau e depois Penny e Shirley seguiriam para a

fazenda.Para se chegar de Laudat até o lago era necessário atravessar uma cadeiade montanhas, alguns vales, uma região pantanosa e uma pequena parte defloresta tropical. Todo esse trajeto tinha que ser feito a pé. Muitas vezes ochão era escorregadio e cheio de surpresas, e em alguns lugares, avegetação tampava completamente a passagem. Enquanto avançavam, àsvezes lentamente por causa da dificuldade do terreno, Penny começou aachar que as coisas não eram tão fáceis como Graham havia dito.

Entretanto, todos eram jovens, vigorosos e cheios de disposição. E afinaiacabaram atingindo o Vale da Desolação, dentro do qual o lago se situava.

— Certamente, é um nome bem apropriado para este lugar — Shirleycomentou com um arrepio. — Não há nem sinal de plantas verdes!

Era de fato um lugar desolado, com um mato ralo no chão, marrom-escuro e,aqui e ali, tufos de plantas com galhos secos e retorcidos, cheios deespinhos. Haviam pequenas correntes de água sulfúrica pelo chão, quesoltavam fumaça e um cheiro esquisito. A temperatura era tão alia que aágua quase fervia.

— Será que existem vulcões? — Trevor perguntou, meio receoso. Faziapouco tempo que chegara a Dominica, e nunca tinha visitado aquela região.

— Essas ilhas são todas vulcânicas — Penny explicou, observando aquelecenário árido. Ela imaginava o Caribe a um milhão de anos atrás, quando osvulcões explodiam com a diferença de apenas alguns dias entre uma erupçãoe outra, fazendo que as ilhas se erguessem e aparecessem no meio dooceano. — Este é um lugar maravilhoso! — ela exclamou, em tom deadmiração.

— Maravilhoso? — Shirley ecoou, incrédula.

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— Para alguém interessado em geologia, sim.

Continuaram avançando, tomando cuidado com as correntes de água quente,até que o lago finalmente apareceu, soltando fumaça e fazendo um ruído deágua fervente.

— E então, não valeu a pena todo o esforço? — Graham perguntou, orgulhosopor tê-los guiado até ali.

— Sem dúvida nenhuma! — Penny exclamou, parecendo sentir sob os pés ofogo que queimava quilômetros abaixo de onde estavam, e que produziamaquele calor nas águas que chegavam até a superfície.

— Parece pronto para explodir! — era Shirley quem falava. — Já pensou sede repente um desses vulcões entrasse em erupção?

— Acho que não seria nada agradável! — Graham fez uma careta.— Seríamos todos queimados sob a lava ardente, não é, Penny?

— É melhor não dizer isso. Shirley vai ficar morrendo de medo!

— De qualquer maneira, ela não ficará com medo sozinha — Trevorconfessou. — A vida nessas ilhas não é fácil, pois a qualquer momento umvulcão pode entrar em erupção!

— Ora, elas são muito raras — Penny contestou, imaginando que ela e Norahtinham muito trabalho a fazer naquela região.

— Sim. . . mas. e o que aconteceu em Martinica?

— Ora, antes de entrar em erupção, o vulcão anunciou durante vários mesesque ia explodir, soltando fumaça e cinzas o tempo todo. Contudo, oshabitantes da ilha não deram atenção a estes sinais e foi por isso que atragédia aconteceu. . . Todos poderiam ter sido salvos. Parece inacreditávelque só uma pequena quantidade de pessoas resolveu mudar antes que tudoacontecesse!

— Os funcionários do governo são os maiores culpados, pois não deramnenhum alerta para a população — Graham falava olhando Shirley e, aoperceber que a garota estava realmente com medo, aproximou-se dela etomou sua mão. — Não precisa ficar assim, Shirley, tudo isso aconteceu hámuito tempo atrás.

— Sim, mas poderia acontecer de novo! — Ela tinha a voz frágil.

— Vamos voltar?

— Acho que já está na hora — Penny concordou, sentindo que a respiração

começava a ficar difícil por causa do cheiro de enxofre no ar. Aquelafumaça podia ser mortal se respirada durante muito tempo.  Livros Florzinha

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Já tinham se passado umas duas horas, quando Penny notou certa dúvida emGraham, a respeito do caminho de volta.

— Será que estamos na trilha correta? Parece que não foi por aqui queviemos.

— É que pensei em voltar por um caminho diferente — ele explicou. — Esselugar está muito mudado, as plantas crescem depressa.

— Max tinha dito que às vezes é preciso cortar os galhos para continuarcaminhando.

— Em geral não há muito problema, só que não estou reconhecendo estelocal — Graham confessou.

— Não venha dizer que nos perdemos — Shirley estava temerosa. — Já

estou tão cansada!— É melhor deixar para ficar cansada mais tarde — Trevor tentou sorrir. —Ainda temos uma longa caminhada pela frente.

— E é melhor andarmos rápido, caso contrário não chegaremos a Laudatantes de escurecer.

— Estamos no caminho certo... tenho certeza! — Graham disse, mas sua voznão demonstrava tanta certeza assim. Penny começou a ficar alarmadaquando viu que iam se embrenhando cada vez mais na densa floresta, sem

que nenhum deles soubesse onde estava a trilha.— Estamos indo na direção certa, é tudo que posso dizer — Graham repetiucom relutância, olhando para o sol que já começava a baixar.

— Podemos descansar um pouco? — Shirley pediu. — Estou tão cansada.

— Me dê a sua mão. — Graham esperou até que ela se aproximasse. — Nãopodemos parar até termos certeza de estar no caminho certo, pois seanoitecer antes disso, estaremos em dificuldades!

Penny notou com curiosidade que ele vinha sendo bastante gentil comShirley, desde o início da viagem.

— Oh, nós não vamos conseguir chegar em Laudat até a noite. — Shirley játinha um ar choroso. — Seria melhor se eu não tivesse vindo!

Penny sentiu que havia algo de estranho no jeito da menina, suas palavrasnão pareciam verdadeiras. Era como se gostasse de estar ali, naquelasituação. Mas seu rosto mostrava que estava realmente cansada.

— Acho que não vamos conseguir nem descobrir onde está a trilha antes que

anoiteça!

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— Ora, não seja pessimista! — Penny repreendeu Trevor. Pensava nos avisosde Max e de como afirmara que não sairia à procura deles, caso seperdessem. Seria horrível se, mais uma vez, ele estivesse com a razão.Penny mordeu o lábio, lembrando de como tinha dito com tanta segurança

que não havia perigo naquela viagem. — Nós temos que chegar em Laudatantes que escureça, Graham, caso contrário não conseguiremos voltar para afazenda ainda hoje.

— Não quero nem pensar na reação de Max! — era Shirley quem falava. —Se ele já ia ficar bravo por saber que você me deixou vir, Penny, se nosperdermos ficará furioso, exatamente como você disse!

— Não sei por que diz que eu a deixei vir, Shirley. Se bem me lembro, eravocê quem estava decidida a fazer isso!

— Sim, está certo, eu mesmo disse que ela era adulta o suficiente paradecidir isso! — Graham replicou.

— Mas eu não poderia ter vindo se você tivesse dito que não, Penny. Temque admitir que a palavra final foi sua!

— Eu não admito isso! — Penny protestou prontamente. Agora percebia queShirley planejava alguma manobra para jogar toda a responsabilidade sobreos ombros dela. — Fiz tudo que pude para tentar demovê-la da idéia, masvocê já estava decidida a vir!

— É verdade — Trevor concordou. — Você não pode culpar Penny, aconteçao que acontecer.

— Aconteça o que acontecer? — Penny estava começando a ficar bastantepreocupada. — Parece que você não tem mais esperanças de que possamosatingir Laudat antes de anoitecer.

Não quero fingir que conheço o caminho, Penny, e nem que Graham temabsoluta certeza de para onde estamos indo. Sim, eu acho que nãoconseguiremos chegar em Laudat ainda hoje.

— É claro que conseguiremos isso! — Graham respondeu, tentando mostrarconvicção mas certamente muito embaraçado. Afinal, foi ele quem garantiuque conhecia o caminho e disse que não haveria problema. — Não estoudizendo que podemos chegar a Laudat antes de escurecer, mas chegaremoslá ainda hoje à noite. Tudo depende de acharmos o caminho certo.

Contudo, o mato crescido dificultava muito a tarefa de encontrar a trilha.Penny entendia agora por que Max insistiu na necessidade de um guia. Eramhomens que se sentiam em casa, andando na selva, e com extraordinário

senso de direção. Era terrível ter que admitir isso: Max tinha toda a razão!

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Felizmente, tinham trazido bastante comida e bebidas e. quando Grahamafinal admitiu a derrota todos se sentaram para fazer uma refeição.Tentavam mostrar-se animados, só Penny é quem estava calada. Depois deconversarem um pouco, o silêncio acabou imperando até que Graham virou-se

para Shirley.— Ainda está muito cansada? — Sua preocupação era sincera; tinha agorauma atitude muito diferente em relação à menina, depois do pedido dePenny. Ele de fato dava a ela bastante carinho. Penny pensou, ouvindo aconversa.

— Sinto-me melhor, agora que sentamos. — Shirley estava bem próximadele e Graham ofereceu um sanduíche. — Você prefere de queijo oupresunto?

— Prefiro presunto. — Shirley fez uma pausa e continuou: — será que vamosficar aqui a noite inteira, Graham?

— Receio que sim.

Penny sentia a boca muito seca, a ponto de não querer comer mais nada. Suagarganta também doía, era difícil engolir o café. Enquanto se perguntava porque sentia-se assim, teve uma certa raiva de si mesma.

Afinal, Max não possuía nenhuma autoridade sobre ela e se fosse ficarfurioso com alguém, deveria ser com Shirley que resolveu não cumprir suasordens. Ela, Penny, não tinha responsabilidade alguma sobre isso!Entretanto, por alguma razão, esses pensamentos não bastavam paraconvencê-la, e o medo persistia. Talvez fosse porque tudo aquilo sócontribuiria para Max opor-se ainda mais a idéia do casamento de Norah eJames. Contudo, essas razões não foram suficientes para acalmá-la e,

afinal, Penny teve que admitir a verdade. Ela não queria desagradar Max,porque isso a incomodava. Era um sentimento novo, que não tinha nada a vercom a atitude dele em relação ao casamento... e, mais certo ainda, não tinhanada a ver com seu desejo inicial de que Max gostasse dela como irmã.. .

CAPÍTULO VI

Apesar de Max ter afirmado que não sairia à procura deles, foram seushomens que acabaram achando o grupo, atravessando aquele mato fechado ehostil. Os quatro esperaram sentados até a lua aparecer e, então, porinsistência de Penny, puseram-se novamente a caminho, Contudo, como

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estavam perdidos, apenas ficaram ainda mais exaustos. Quando ouviram oprimeiro grito da expedição de socorro, Shirley teve um desmaio.

— Oh, meu Deus! — Penny sentia os nervos à flor da pele, já imaginando acena que Max faria, se aparecesse de repente, encontrando Shirley naquele

estado — Graham, Trevor, cuidem de Shirley, por favor.Mas Shirley estava inconsciente e tudo que eles puderam fazer foisustentá-la, até o primeiro homem aparecer.

— Jean! — Penny exclamou. — Como conseguiram chegar aqui tão depressa?

— O sr. Redfern ficou muito preocupado com esta viagem, quando voltoupara casa. hoje à tarde, então, mandou reunir os homens para quepudéssemos vir à procura de vocês... Ele está furioso porque a srta. Shirleyveio com vocês! — Com a tocha, ele iluminou a menina, que continuavadesmaiada. — Ela está machucada? O sr. Redfern vai ficar muito maisfurioso quando vir isto. . .

Max apareceu de repente, saindo da  escuridão.e carregando uma grandetocha nas mãos. Estava seguido de Félix, Moses e Wilson, todos empregadosda fazenda. Os dois últimos eram conhecidos por sua reputação deexcelentes guias na floresta.

— O que aconteceu? Que há de errado com Shirley? — Max foi diretamentepara a menina, ignorando Penny. Todas as tochas iluminavam a garota ePenny sentiu um frio na espinha ao ver que, quando Max se aproximou.Shirley abriu os olhos, deu um profundo suspiro e murmurou:

— Oh, Max, você veio me socorrer. . . Eu sabia que faria isso! — Ela ergueu amão, mostrando imensa fraqueza, e tocou o braço de Max. — Eu não deviater vindo, pois você avisou que era perigoso. . . Mas Penny disse que tudoestaria bem e... — Ela não pôde prosseguir porque Penny deu um passo àfrente e interrompeu-a.

— Eu nunca disse isso! Como pode mentir desta maneira, Shirley?

— Jean, Moses, cuidem de Shirley, com cuidado.

— Sim senhor.

— Acho que posso andar — Shirley murmurou debilmente. — Deixem-metentar. . . Oh.. .

— O que foi? — Max a amparava. — Está machucada?

— Sim. . . são minhas costas.

— Mas você não machucou as costas! — Trevor exclamou, espantado.

— Machuquei sim. Trevor. . . E agora está doendo tanto!  Livros Florzinha

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— Como machucou as costas? — Graham replicou, zangado. — E por que nãodisse antes? Só agora é que está dizendo!

— Acho que não importa como ou quando ela se machucou! — Max falou, seutom de voz mostrando que dentro dele havia enorme fúria, ainda sob

controle, — Jean e Moses, tomem conta dela.Com grande cuidado, Shirley foi amparada pelos dois homens, que partirampela floresta.

— Estão todos bem? — Max quis saber, Graham e Trevor responderam quenão havia problemas com eles, mas Penny permaneceu calada. — Perguntei seestavam bem! — Havia ira naquela voz e Penny imaginou como ele reagiria seela dissesse que estava machucada .. .

— Não há nada de errado comigo, obrigada.

— Então é melhor irmos. O jipe está na estrada,

— Estrada? — Graham repetiu, incrédulo. — A que distância estamos daestrada?

— Pouco menos de um quilômetro.

Já era dia claro quando finalmente chegaram à fazenda, depois de deixarGraham e Trevor. Max carregou Shirley para casa e Teresa assustou-se aover a menina desfalecida.

— Ela está bem — Max tranqüilizou a empregada. — Traga um pouco debrandy e uma bacia de água quente. — Ele colocou Shirley no sofá,gentilmente.

— Você é tão bom para mim, Max — ela disse, suspirando. — Já me sintobem melhor.

— Você não parece bem melhor! — Ele começou, mas Shirley interrompeu-o.

— Oh, por favor, não fique zangado comigo Foi tudo tão horrível! Ficamos

horas perdidos e pensei que fôssemos morrer. . .— É claro que não morreríamos! — Penny interveio com rispidez. — Assimque o dia amanhecesse, poderíamos achar o caminho para Laudat! — Maxfalou, pensou que o melhor a fazer era subir para o quarto e deixar paraenfrentar Max na manhã seguinte, quando estivesse descansada. — Boanoite... Espero que... suas costas Shirley, parem de doer! — Ela percebeu quea garota corava fortemente. Então, teve certeza que tudo aquilo erafingimento, apenas para ganhar a atenção de Max; uma armadilha planejadadesde o princípio. Mesmo que não tivessem se perdido. Shirley teria feito

alguma cena para conseguir o mesmo resultado, Max virou-se para ela e, comvoz glacial, disse-lhe para ficar mais um pouco, pois linha algo a lhe dizer.  Livros Florzinha

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— Se pudesse esperar até amanhã.

— Não, prefiro dizer agora. Peço que fique até terminarmos de cuidar deShirley.

— Estou muito cansada.— O que tenho a dizer não levará mais que um minuto! Penny foi obrigada asentar e se resignar a esperar. Shirley ainda evitava seu olhar, mas Pennysentia que ela estava satisfeita com a atitude de Max. Enquanto observavaTeresa, limpando a face da garota, Penny se perguntou como estaria aprópria aparência. Porém, agora não era hora de pensar nisso. Sentia-seincapaz de compreender por que Shirley agia daquela maneira, justamenteela que pedira a Penny que fosse sua amiga. E ela que chegou a ficarenvergonhada por não ter percebido antes a solidão da garota! No entanto,

apesar de tudo, algo dentro de Penny a impedia de condenar Shirley. . .Assim que Shirley saiu, amparada por Teresa, Max virou-se para ela, umolhar de aço. Penny sentia o coração bater disparado e começou a se acharridícula por ter tanto medo de um homem ao qual não devia nenhumaexplicação.

— Já sei o que vai dizer e agora admito que teria sido necessário contratarum guia. Contudo, sou dona de mim mesma e decido o que quero lazer. Assim,se for para criticar, não é preciso perder seu tempo.

— O que tinha a lhe falar ia além de uma simples crítica. Contudo, pelo queacaba de dizer, vejo que tenho que tomar outra atitude. Quando estaráterminado seu trabalho aqui?

— Meu...? — Penny empalideceu e percebeu que Mas gostou disso. — Nãocompreendo o que quer dizer. . .

— Acho que compreende muito bem as minhas intenções. — Sua voz eradeterminada e inflexível. — Como insiste em ignorar meus conselhos,colocando a própria vida e a dos outros em perigo, eu me recuso a tê-la em

minha casa. Quando terminará seu trabalho?— Está querendo dizer que não poderei mais ficar aqui? — Penny sentia ovento frio que entrava pela janela e que parecia penetrar-lhe até os ossos.— Sua mãe disse que ficaríamos por. . . por mais um ano com você.

— Então ela está muito enganada, pois não tolerarei mais que desrespeitemminhas ordens. Por duas vezes ofereci meus conselhos, para seu própriobem, e você preferiu não segui-los. Acha que é mais sabida e parece ter seesquecido do fato de que é hospede nesta casa e, portanto, me deve alguma

consideração. De minha parte, não estou mais interessado em ser envolvidoem problemas desnecessários. Assim, arrumarei outro lugar para você ficar.Livros Florzinha

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Penny nunca pensou que aquilo pudesse acontecer. Nunca tinha de fatopretendido desafiá-lo. Da primeira vez, disse a Norah que já era hora deirem e se ela não fosse tão distraída teria se lembrado disto. Nestasegunda vez, fez de tudo para que Shirley não os acompanhasse. Acontece

que desde o princípio as coisas saíram ao contrário. A calorosa recepção queesperava por parte de Máx nunca existiu; aquela discussão que tiveramquando tomaram o café da manhã juntos pela primeira vez tinha sidosuficiente para instalar a hostilidade entre eles.

— Norah. . . — ela fitou-o com um amargo remorso nos olhos — ... sua mãevai ter dificuldades no trabalho se eu morar em outro lugar.

— Na Inglaterra você não vivia junto dela, não é? Vinha para o trabalhotodos os dias, não?

— Sim. — Ela foi obrigada a concordar.— Então, não fará diferença nenhuma. Ficará instalada num hotel emRoseau.

— E papai. . . Ele poderá ficar aqui?

— Acho que ele mesmo vai preferir ficar no hotel, com você. Penny passou amão nos cabelos. O que havia de errado com ela? Sentia o corpo tremer eum horrível frio nos ossos.

— Bem, se é tudo que tem para me dizer, vou subir para o quarto. —Levantou-se e sentiu que as pernas mal conseguiam sustentá-la, obrigando-aa se apoiar numa cadeira. — Sinto muito a respeito de tudo. Tenho certezaque Shirley vai ficar boa.

— Sei que não há nada errado com Shirley. Mas se ela tivesse realmente semachucado, a culpa seria sua.

— Sabia que pensaria assim — ela disse, com amargura.

— Você é mais velha e devia ter o bom senso de não deixar que ela os

acompanhasse. O que a fez agir assim, sabendo que ia contra minhavontade? — Era visível que ele se controlava para não explodir.

— Talvez a própria Shirley possa lhe explicar quando acordar. — Penny olhoupela janela e viu que o sol começava a nascer, tingindo as montanhasdistantes de tons cor-de-rosa. Como sentiria saudades daquela fazenda,daquelas paisagens, quando estivesse morando num hotel na cidade!Lembrou-se da pequena praia com o jardim dos Corais, e do passeio com obote que não seria realizado. Para seu embaraço, sentiu que as lágrimascomeçavam a brotar em seus olhos. — Vou me deitar! — ela disse e começoua andar. Max, entretanto, interrompeu-a.

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— Não quero a explicação de Shirley, quero a sua. Você a encorajou a medesafiar. Foi só por ter achado que eu estava interferindo?

— Interferindo?

— Sim, com minha insistência para que tivessem um guia — Max aindaconseguia manter a própria ira sob controle. Penny tentou se mover, mas viuque era impossível dispensar o apoio da cadeira. Como faria para chegar atéo quarto?

— Sinto muito não ter seguido seu conselho, o guia era mesmo necessário. —Ela virou-se para Max, sem pensar que ele poderia ver as lágrimas em seusolhos. — Quanto a encorajar Shirley para desafiá-lo, isso não é verdade.Mas não espero que acredite em mim!

— Não acredito em você, pois sei que é exatamente o tipo de coisa que fariapara me. . . Ei, o que há de errado? — Não está se sentindo bem?

— Eu. . . eu. .. — Ela não foi capaz de suportar mais o próprio peso e só arápida intervenção de Max evitou que fosse ao chão. Ele carregou-a até oquarto, onde a colocou sobre a cama.

— Algum dia, Penny. quando casar, a primeira coisa que seu marido devefazer é colocar um pouco de bom senso nessa cabeça oca! Por que tem quefazer as coisas desta maneira? E seus amigos também não são nadamelhores. Pensei que havia dito que sabiam o caminho! — enquanto falava,ele começou a retirar as pesadas botas dos pés dela. — Se tivesse meescutado, não estaria desse jeito, agora. Como se sente? Está doente ou ésó o cansaço? — Uma leve suavidade aparecia em seus olhos, mas sua vozcontinuava áspera e fria. — Dói alguma coisa?

— Estou exausta — ela disse, respirando fundo. Agora era impossívelcontrolar as lágrimas, que corriam pela face.

— Tudo isso foi tão inútil! Qualquer dia desses vai acabar se metendo emproblemas sérios! Acho que é melhor eu não ser mesmo seu irmão, pois lhe

daria uma lição que você não ia esquecer nunca mais!— Será que podia chamar Teresa? — De repente, ela sentia grandenecessidade de se desfazer daquelas roupas úmidas e pegajosas.

— Teresa está dormindo! Ficou a noite inteira esperando!

Esperando? Certamente ele se referia a Shirley, era somente com ela quese preocupavam. Entretanto, Jean dissera que Max tinha voltado mais cedoda viagem porque estava preocupado. . . E até então, ele não sabia queShirley também tinha ido. Sim, claro que Max não se importaria com ela. Por

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acaso não havia deixado claro que não faria uma expedição de busca caso seperdessem?

— É melhor você se deitar de uma vez. Vou buscar um pouco de brandy. —Ele saiu, deixando Penny sozinha. Ela tentou se livrar das roupas mas, fraca

como estava, parecia uma tarefa impossível. Quando Max voltou, encontrou-a exatamente como tinha deixado.

— Por que ainda não se deitou? Não pode ficar aí a noite inteira! — Sua vozera mais fria que nunca e Penny se lembrou da preocupação e dos cuidadosque ele teve com Shirley. Ela, certamente, não era digna do mesmotratamento. A voz de Max era um pouco mais suave quando indagou mais umavez por que não havia se deitado.

— Eu. . . não consigo! — Estou cansada e não há ninguém para me ajudar. —

Ela já não se importava mais com o que dizia. — Você chamou Teresa paraajudar Shirley, mas eu tenho que me arrumar sozinha! — Penny notou queele parecia se divertir um pouco com aquilo, gozando um certo triunfo, masseus olhos ainda tinham a mesma expressão fria e carregada.

— Apóie-se nos travesseiros. Eu vou ajudá-la.

Ela fez um grande esforço e sentou-se na cama, surpresa pelas palavras deMax. Ele estendeu um lenço para que ela secasse as lágrimas.

— Acho que posso me arrumar sozinha — ela disse, mas ao tentar fazê-lo,caiu novamente sobre os travesseiros. — Não sei o que há de errado comigo.Deve ser o cansaço.

— Será que é só cansaço? — Sim, agora não havia dúvida que o jeito dele setornava mais suave e ele começava a mostrar verdadeira preocupação com oestado de Penny. — É claro que está cansada, mas a preocupação comShirley deve ter contribuído para desgastá-la. Vamos, eu a ajudo! — Elecomeçou a puxar a blusa de Penny, para tirá-la.

— Oh. . . você não pode me ajudar a tirar a roupa — ela protestou, quando

Max já desabotoava sua saia.— Minha querida Penny, você sempre quis que eu a tratasse como irmão.Será que faria alguma objeção a que seu irmão a ajudasse numa situaçãocomo esta?

— Claro que não, mais você não é. ..

— Muito bem, vamos deixar esta discussão de lado. Suas roupas estão muitoúmidas. Não sabe nem que tipo de roupa usar para uma expedição comoaquela! Vamos, temos que tirá-las! — Das palavras ele passou a ação e, nominuto seguinte, Penny já estava sob os cobertores, a bolsa de água quente

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que Max trouxera, esquentando seus pés gelados e doloridos, o pequenocopo com o brandy nos lábios.

— E então? — ele perguntou, enquanto colocava o copo vazio sobre amesinha-de-cabeceira. — Sente-se melhor agora?

— Sim, estou bem melhor. . . Obrigada Max. . e desculpe por causar tantosproblemas.

— Por hora deve descansar, e amanhã lambem ficará na cama, se eu acharnecessário. — Ele não conseguia deixar de falar como se estivesse dandoordens.

— Tenho certeza que estarei bem depois de dormir. — Além do mais,preciso trabalhar amanhã. Seria um grande transtorno para sua mãe se euficasse doente.

— Isso não importa. Decidirei amanhã se você já pode voltar a trabalhar.

— Mas. ..

— Mas...

— De uma vez por todas — ele explodiu —, você vai fazer exatamente comodigo e não se levantará desta cama até eu achar que pode fazer isso! Agoradurma e não se atreva a me contrariar!

— Dizendo aquilo, ele apagou a luz do quarto e saiu, fechando a porta. Eradifícil dormir com tantos pensamentos dando voltas em sua cabeça. Jeanhavia dito que Max voltou mais cedo porque estava preocupado e, noentanto, ele não sabia que Shirley também tinha ido. Certamente, sentia-seresponsável por Penny por ela ser hóspede naquela casa... Sim, teria agidoassim com qualquer pessoa, não havia nada de pessoal naquela preocupação!Penny estava exausta e com as idéias embaralhadas por causa do sono quese aproximava. A última coisa que pensou foi: será que Max realmente falousério a respeito de ter que se mudar para um hotel na cidade?

Quando acordou, Penny levou um grande susto. Seu corpo todo doíaterrivelmente e ela sentia que tinha febre. Com algum esforço, acendeu aluz do abajur e tocou a campainha, prontamente respondida por Teresa.

— A senhorita não está bem! — a empregada disse, depois de um rápidoolhar observador. — O sr. Redfern disse que talvez ficasse na cama algumtempo. Pediu lambem para eu avisar assim que você acordasse!

— Como está Shirley? — Penny perguntou, ansiosa.

— Ela está bem. Dormiu até tarde, mas agora já está no jardim. Vou avisar o

sr. Redfern que a senhorita acordou.

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Max não tardou a chegar, abrindo a cortina logo que entrou no quarto.

— Teresa disse que eu teria que ficar na cama por algum tempo?! — elaperguntou, surpresa.

— Sim! Estive aqui pouco antes do almoço e, por sua respiração, logo vi quedevia ter apanhado uma gripe forte. Terá que ficar de cama uma semana,mais ou menos.

— Mas papai vai chegar em uma semana! Tenho que estar de pé até lá!

— Enquanto estiver em minha casa, fará como eu mandar! — ele disse, comimpaciência. — Não há necessidade de chamar um médico, só precisadescansar e ficar sempre aquecida..

— Se eu pudesse ir para o hotel. . .

— Não diga tolices!Penny estava surpresa, mas não pôde deixar de dizer:

— Sei que isto é um incômodo para você. Foi você mesmo quem disse que eudevia ir embora.

Por um momento, ele nada falou. Ficou somente olhando para ela com um arde censura e desaprovação. Ele não tinha gostado de ouvir aquilo, maspreferiu não dizer nada.

— Como está se sentindo?— Meu corpo está doendo muito.

— Quer comer alguma coisa? — perguntou, enquanto tocava a testa delapara ver se tinha febre. Penny recusou com a cabeça. Não tinha o menorapetite.

— Prefiro beber alguma coisa, estou com muita sede — ela explicou, jáesperando que ele fosse reprová-la por não querer comer nada. Para suasurpresa, Max sorriu:

— Está bem, vou mandar Teresa preparar. O que prefere, suco de laranja oulimão?

— Limão, por favor.

Max saiu e, para seu espanto, foi ele mesmo quem voltou dali a pouco,trazendo o suco numa bandeja sobre a qual também estavam um copo d'águae dois comprimidos.

— É melhor tomar isto — ele avisou, enquanto a ajudava a sentar. — Sãopara tirar a dor e fazem efeito rapidamente.

— Será que posso ler? Odeio ficar deitada e não fazer nada.  Livros Florzinha

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— Ninguém gosta. Quem sabe daqui a dois dias você já esteja melhor eentão poderá sentar um pouco.

— Meu trabalho... — ela ia dizer, quando Max fez um gesto para que ficassequieta.

— Minha mãe está se arrumando bem, sozinha. Vou avisá-la que você jáacordou para que possa fazer uma visita.

— E Shirley também, se ela quiser me ver?

— Não, é melhor não receber mais visitas hoje. Veja se dorme um pouco atéo jantar. Espero que até lá tenha apetite para comer alguma coisa. . . Masnada de ficar lendo, está bem?

— Acho que não conseguiria mesmo, estou com muita dor de cabeça. Depois

que sua mãe tiver saído; vou tentar dormir um pouco.— Boa menina. . . Quer que ajeite os travesseiros para você? Era incrível amudança no humor de Max, parecia impossível acreditar que fosse a mesmapessoa que, há poucas horas atrás, tinha lhe dito que devia se mudar paraum hotel. Agora ele a tratava com cuidado e carinho, de uma maneira muitodiferente do que era habitualmente. Mas era uma pessoa que sempre tiveraempregados para satisfazer seus desejos e necessidades e, no entanto,preferia tomar conta dela pessoalmente, em vez de pedir a Teresa ouqualquer outra criada que fizesse isso. Era realmente surpreendente!

— Obrigada, mas prefiro deixar os travesseiros assim até sua mãe sair —ela disse afinal, sabendo que Max estava curioso para saber por quedemorava tanto para responder. — Obrigada, de qualquer maneira, pela suagentileza! — Ao ouvir o agradecimento, Max sorriu, divertido, e Pennysentiu-se extremamente pequena e frágil. Ele tinha um ar tão confiante,poderoso, que combinava tão bem com sua feição bonita e austera! Pennyficou envergonhada. Sem saber a razão veio á sua cabeça aquela ocasião emque Max a beijou, num gesto inesperado e surpreendente. Ele devia ter

adivinhado alguma coisa, pois logo quis saber no que ela estava pensando.— Nada. . . nada de importante.

— Deve ser importante, para fazê-la corar dessa forma!

— Oh. . . meu rosto está vermelho?

— Ora, não se faça de boba, Penny, você sabe muito bem que sim!

Penny sentiu-se muito cansada e desejou ficar sozinha, não ter que gastarenergia conversando. Max se aproximou e tomou sua mão, um toque

carinhoso e gentil.

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— Você está muito cansada — ele disse, enquanto tirava os travesseiros e aajudava a deitar. — Vou dizer a mamãe para esperar até a hora do jantarpara vir visitá-la. Tente dormir um pouco. Descanse, Penny. Mais tardeestarei de volta.

Ela o observou se afastando, a figura alta e forte desaparecendo efechando a porta. Max. com aquela personalidade fria e arrogante, já tinhao poder de perturbá-la. Agora esse Max novo, delicado, gentil, fazia seucoração bater loucamente, provocando grande confusão em seussentimentos.

  CAPÍTULO VII

Nos quatro dias seguintes, Penny não estava bem e ficou o tempo tododeitada. Max cuidava dela pessoalmente até que, afinal, ela apresentoualguma melhoria.

— Será que posso levantar um pouco? — Penny perguntou na manhã doquinto dia de repouso. — Já me sinto bem melhor.

— Acho melhor esperar até amanhã — ele aconselhou, cauteloso, temendouma recaída se ela se esforçasse.

Penny preferiu não discutir. Nos últimos dias, eles haviam se entendidomuito bem e Max talvez até tivesse mudado sua decisão de colocá-la numhotel. Ela gostaria de perguntar-lhe a respeito, mas achou melhor não fazerisso.

— Será que posso ler um pouco, então?

— Sim, acho que não há problemas. Você já está bem melhor! Por quatro diasfoi uma ótima paciente, sem nunca desobedecer as minhas ordens. . . Achoque ainda está muito fraca para querer discutir, não é?

— Não é isso, Max.— Há alguma outra razão?

— Digamos que não sinto vontade de discutir.

— Ainda vai chegar o dia, Penny, que você não terá nenhuma vontade dediscutir comigo. — Ele sorria, carinhoso.

— Você acredita mesmo que eu gosto de brigar com você o tempo todo? —Ela sentou-se na cama, apoiada sobre os travesseiros. Max tinha trazido o

remédio, e agora que ela já havia tomado, ele não parecia querer ir embora.

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— Pelo menos, é o que aparenta. Se não é assim, por que tanta insistência embrigar?

— Como pode colocar toda a culpa em mim? É sempre você quem começa.

— Acho que já melhorou — ele replicou, sentando na beirada da cama. — Jáestá recuperando seu jeito antigo... Continuando assim, amanhã poderálevantar um pouco.

Penny riu ao ouvir aquilo e Max também soltou uma de suas raras risadas.Em seguida ele tornou-lhe a mão. como fazia muitas vezes nos últimos dias,e fez um afago.

— Max — ela começou, hesitante — ... será que não poderia ser assim otempo todo?

— Assim como? Eu segurando sua mão enquanto está na cama?— Não, claro que não! Sabe o que quero dizer... Queria que nós fôssemoscomo. . . como. . .

— Como irmãos? — Ele linha um olhar francamente zombeteiro, que deixouPenny inibida. Será que teria adivinhado? Não, ele não poderia nuncaadivinhar. Ela tentou mudar de assunto.

— Papai... ele terá que ficar no hotel? — Penny sentia o coração seacelerando, enquanto Max não respondia.

— Acho que temos lugar para acomodá-lo aqui em casa — ele respondeufinalmente, e Penny apertou-lhe a mão.

— Obrigada. Max. Você tirou uma grande preocupação de minha cabeça.

Penny sabia que Max ainda não concordava com o casamento, mas o simplesfato de seu pai ficar na fazenda talvez permitisse que eles se conhecessem,e, quem sabe, Max viesse a gostar dele. Será que isso também significavaque ele tinha mudado de idéia com relação a ela, e permitiria quecontinuasse na fazenda? Penny não ousava perguntar, apesar de os olhos de

Max terem uma expressão receptiva. Por fim, ela armou-se de coragem:— A respeito de mim. . . Você continua decidido a me mandar para um hotel?— Parecia ridículo perguntar aquilo, agora que estavam de mãos dadas.

— Você pode ficar, Penny, mas tem que prometer que sempre seguirá meusconselhos, em qualquer circunstância. Promete?

Ela concordou com a cabeça, dando um suspiro de alívio.

— Eu prometo, Max... Você tinha razão quando disse que precisávamos de um

guia. Agora vejo que não leria recomendado isso, caso não fosse realmentenecessário. — Aquilo pareceu satisfazê-lo e o silêncio se instalou entre osLivros Florzinha

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dois. Max continuava relutante em partir; será que gostava de ficar juntodela? Penny já estava de cama há mais tempo do que 0 necessário e Maxnunca permitia que qualquer outra pessoa viesse trazer os remédios; erasempre ele quem fazia isso.

Norah apareceu quando Max já ia embora, porém ainda teve tempo de veraos mãos juntas. Ela sorriu satisfeita, e não fez nenhum comentário que osdeixasse embaraçados.

— Como está a inválida, hoje? — perguntou sorrindo, sentando na cadeiraque Max colocou ao lado da cama.

— Estou bem melhor! Tenho um médico excelente cuidando de mim! — Pennysorriu para Max.

— Max é sempre muito eficiente neste tipo de emergência — Norah disse.Max já ia saindo do quarto. — Meu filho, fique mais um pouco, por favor.Quero conversar com vocês.

O coração de Penny acelerou, e ela rapidamente lançou um olhar para Max,que também tinha um ar surpreso. Ambos presumiam que Norah ia tocar noassunto do casamento. Ela continuou:

— É verdade que Penny vai nos deixar...? Ou será que você mudou de idéia?— Ela olhou a mão de Penny, sobre a cama.

— Penny ficará como minha convidada. — Ele se refazia da surpresa. —Como você ficou sabendo?

— Vocês acertaram suas diferenças? Talvez, então, o que eu tenho paradizer já não seja tão importante. — Ela fitou Penny. — Querida, ontem euvim visitá-la, mas estava dormindo. Já ia saindo, para não incomodar, quandonotei que você falava, dizendo que Max a culpava por aquela vez que nosperdemos na mata. Bem, Max, queria que soubesse que isso não é verdade!Agora me lembro perfeitamente que por duas vezes Penny me avisou que jáera tarde. Eu estava tão absorvida no trabalho que não dei muita atenção.

Como vê a culpa não é dela e você a tratou muito mal por causa disso. ..— Max não me tratou mal. — Penny estava aflita pelas coisas que pudesseter dito enquanto dormia. — Espero não ter dado uma impressão errada.Qualquer coisa que tenha dito, não foi intencional.

— Bem, alguma verdade deve haver — Norah insistiu.

Um pesado silêncio caiu entre eles. Max tinha a expressão de sempre,severa e fria.

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— Por que não me disse que eu estava enganado? — Ele olhava para Penny,com um ar interrogativo. Era óbvio que não estava feliz por descobrir quetinha cometido um engano.

Penny balançou a cabeça. Era claro que Norah tinha a melhor intenção ao

dizer aquilo, mas falou de forma errada, dando a impressão que ela queria seaproveitar do engano de Max para poder acusá-lo pela injustiça. Percebendoa ansiedade dela, Norah apressou-se em explicar.

— Era natural que Penny não quisesse dizer que estava enganado, para nãoparecer que colocava a culpa nas minhas costas. Além do mais, você sabemuito bem que não acreditaria! — Max tinha um ar relaxado agora, masainda não admitia a própria falha. — De qualquer maneira, meu filho, mesmoque tenha desistido da idéia de mandar Penny para um hotel, achei

importante que ficasse sabendo o que acabei de contar.— Compreendo — ele disse, depois de um longo silêncio. Seu olhar era decensura, mas Penny tinha certeza que aquela zanga não duraria muito. —Ainda acho que uma das duas devia ter me avisado na hora em que tudo issoestava acontecendo.

— Sei que é ruim estar doente — Norah disse, assim que Max se despediu esaiu — ... mas, num certo sentido, sua gripe serviu para aproximar você emeu filho. Acha que ele já está resignado com o casamento?

— Receio que não. . . Max ainda acha que papai está interessado apenas noseu dinheiro.

— É por causa dos outros. . . — Norah admitiu, com um grande suspiro. — Sóespero que não sejamos obrigados a um rompimento por causa destecasamento!

— Talvez meu pai cause uma boa impressão e Max acabe gostando da idéiade ter um padrasto — Penny sugeriu, esperançosa.

— Bem, meus desejos não vão tão longe. . . Nenhum homem de trinta e dois

anos ficaria muito emocionado por ganhar um pai adotivo. Eu só espero queele acabe concordando. Pretendo me casar com James, aconteça o queacontecer.

Pouco depois, Norah saiu e Penny ficou pensando em qual seria sua posiçãose o casamento não se realizasse: seu pai de coração partido e ela sememprego! Claro que não continuaria trabalhando para Norah se eladesapontasse James, depois de ter feito tantas promessas. No fundo, Pennysentia que, pior que tudo isso, seria nunca mais ver Max... Mas não adiantava

ficar pensando tolices. Essas coisas jamais chegariam a acontecer...

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— Está se sentindo melhor? — Era Shirley quem vinha para uma visita, horasdepois. Desde "aquele" dia, ela exibia um ar de culpa, mas nunca tinhamchegado a tocar no assunto.

— Estou me sentindo bem melhor, obrigada. — Um silêncio desconfortável

se instalou entre elas, até que Penny resolveu continuar falando. — Acho quenossa aventura não causou muito mal a você. . .

— Machuquei as costas, mas Max não acreditou em mim — Penny notou queela fazia força para não chorar. — Ele ficou muito bravo por eu ter ido comvocês.

— Eu sabia que ele ia ficar, Shirley.

— Achei que ele ia ficar bravo com você, por ter permitido que eu fosse.

— Você queria muito que ele ficasse zangado comigo, não é, Shirley?— Era a única maneira de ele não continuar gostando de você! — A garotatinha um ar tão triste e ao mesmo tempo tão infantil, que Penny nãoconseguia recriminá-la. Será que Max também percebia que ela não passavade uma menina carente e solitária?

— Eu já lhe disse, Shirley, que não há possibilidade de Max vir a gostar demim dessa maneira. — Penny sentia-se estranha, pois falava com umaconvicção inesperada.

— Você vai me odiar agora. . . Sei que devia ter vergonha disto, Penny, masainda quero muito que Max não goste de você!

— E que satisfação pode lhe dar o fato de Max não gostar de mim?

— Ele é meu! Já lhe disse que os tutores sempre casam com suas protegidas.Eles nunca podem amar outra mulher!

— Tenho certeza que Max jamais vai casar, Shirley.

— Ele já está se interessando por você! Pensei que fosse odiá-la depois da

viagem para o lago, porque você me deixou ir, porque eu machuquei as costase...

— Você não machucou as costas de verdade, Shirley, nem desmaiou. Eratudo mentira para impressionar Max, não era?

— Sim, era! — ela admitiu, para surpresa de Penny. — Mas deu tudo errado.Max adivinhou que eu estava fingindo, embora não soubesse o motivo.

— E ele lhe perguntou o porquê?

— Acho que chegou à conclusão de que era para que me amasse! Os homens

sempre sabem quando as mulheres fazem isso, não é?

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— Não sei... De qualquer maneira, acho que não seria difícil para Max chegara esta conclusão. — Penny lembrou-se, de repente, dos beijos que ele lhedeu naquele dia, e como depois disse que "ela eslava pedindo aquilo há umasemana"...

— Você me odeia, Penny por eu não querer que Max goste de você?— Não, Shirley. . . eu não a odeio.

— Mas você tem que me odiar!

— Eu compreendo como você está se sentindo, essa fixação que tem porMax...

— Não é uma fixação! — A garota interrompeu-a, furiosa. — Eu o amo e. . . emorrerei se ele não casar comigo! — Nesse momento, ela não pôde mais

segurar as lágrimas, que inundaram seus olhos.— Mesmo que você negue, Shirley, continuo achando que o que sente porMax é uma espécie de fixação. Você se agarra a ele porque se sentesozinha; eu já lhe disse que enquanto eu estiver aqui, você não será maissolitária.

— Eu não mereço ser sua amiga — Shirley murmurou, amargurada. — Me fazsentir horrível por desejar que Max não goste de você... E agora ele jágosta, porque você está doente! Porque ele tem que tomar conta de você?

— Ele não toma conta de mim. Só me traz o remédio.— Ele faz muito mais do que o necessário! Até traz as refeições para você!

— Nem todas. Você mesma já me trouxe o jantar mais de uma vez!

— Você gosta que eu lhe traga as refeições?

— Claro que sim, Shirley.

— Gosta da minha companhia?

— Então já não disse que sou sua amiga?

— Quando é que você vai se levantar?

— Amanhã, eu espero.

— Posso sentar-me com você no jardim?

Penny concordou com a cabeça. Sentia compaixão pela menina, que sofriatanto por problemas que ela mesma criava. Se encontrasse uma rapaz que seinteressasse por ela, alguém mais jovem que Max. . . Penny lembrou-se decomo Graham tratou Shirley com tanta gentileza, depois de ela explicar a

situação da menina. Na viagem, várias vezes quando ela disse que estavacansada, ele se aproximou e tornou-lhe a mão... Talvez isso não quisesseLivros Florzinha

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dizer nada. Afinal, quando estava no navio, Graham também deu sinais de seinteressar por ela... De qualquer maneira, parecia haver algo mais nocomportamento dele, além de solidariedade para com Shirley.

— Você tem visto Graham e Trevor?

— Encontrei Graham na cidade, ontem, e nós passeamos juntos um pouco.Também saí com Trevor antes da viagem, como você sabe. Nós fomosdançar! Estava ótimo, mas eu fiquei exausta!

— Você disse para Max que ia sair com uma amiga, e ele veio me perguntar arespeito.

— Oh! E o que você disse?

— Sobre... Muriel? Bem., não havia muito a dizer. .. As duas riram, cúmplices.

— Você ficou numa situação difícil, não é?— Na hora, senti vontade de lhe dar um safanão! — Penny confessou,divertida. — Max queria conhecer esta amiga sua, para ter certeza que eraboa companhia, e eu tive que convencê-lo a desistir, dizendo que não haviaproblema em vocês saírem juntas.

— Puxa, realmente me fez um grande favor. — Shirley sorria, contente.Disse que tinha gostado muito de dançar com Trevor, mas preferia saircomo Graham. — Ele foi muito gentil comigo na viagem, você não achou?

— Sim, é claro que notei isso.— Talvez venha até aqui para visitar você. Eu contei a ele que estava decama e que talvez amanhã ou depois já poderia se levantar. Quer que eutelefone e diga para ele vir?

Penny hesitou, desconfiada.

— Está bem. Shirley, eu gostaria que ele viesse me visitar.

— Então, vou telefonar agora mesmo!

Shirley saiu correndo, e Penny ficou pensando que a menina precisava dealguém que gostasse dela. Claro que tinha Max, mas ele também percebia ossentimentos de Shirley e sabia que se mostrasse muito afeto por ela, iaacabar confundindo as coisas. Penny chegou a pensar que algum dia Maxpoderia se interessar por Shirley como mulher, mas agora sabia que eraimpossível. Max era o tipo de homem que nunca casaria; um homem denegócios, preocupado com sua fazenda, suas plantações. Ele não precisavade mais nada, uma esposa era plenamente dispensável em sua vida.

Seus pensamentos ainda ficaram em Max, por algum tempo. Lembrou-se daspalavras de Shirley: "ele é muito atraente e você vai acabar seLivros Florzinha

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apaixonando"'. Lembrou-se dos encontros na piscina, do passeio no Jardimdos Corais. Surpreendeu-se ao admitir que podiam ter momentos de grandeharmonia. No entanto, Max mudava completamente de humor assim que setocava no assunto do casamento de Norah e James. Não havia dúvida que ele

seria contra essa união até o fim!Seus pensamentos foram interrompidos quando Max entrou, carregando umabandeja com um termômetro e o remédio. Penny fez uma careta, pois olíquido tinha um sabor muito ruim.

— É para o seu próprio bem! Não quer estar na cama quando seu pai chegar,não é?

— Você alguma vez já teve que tomar isso?

— Não, nunca precisei — ele respondeu, segurando o termômetro. — Vamos,beba logo, não seja covarde!

Ela engoliu o remédio de uma vez e devolveu o copo.

— Se nunca tomou, então não pode imaginar como é ruim!

— Sim, acho que você já pode sair da cama amanhã! — ele disse, examinandoo termômetro. — Se não se cansar muito e não fizer nenhumaextravagância, tenho certeza que estará boa no fim da semana.

Penny hesitou, sentindo vontade de perguntar algo, mas sem coragem para

abrir a boca. Porém, Max parecia com um ótimo humor e foi ele mesmo quemfalou do pai dela. Então Penny se armou de coragem e perguntou se podia ircom Norah ao aeroporto, esperar James.

— Só depende de você. Penny. Se tomar cuidado e continuar fazendo o queeu disse, não terá nenhuma recaída e poderá ir conosco ao aeroporto.

— Com vocês? — Ela não podia acreditar no que ouvia. — Max, você vai... Eupensei que Norah fosse alugar um táxi e... — Oh, ela não devia tê-lachamado de Norah! Tinha prometido a si mesma que não faria mais isso

quando estivesse conversando com Max. Entretanto, ele não deu o menorsinal de se importar.

— Posso ter muitos defeitos, Penny, mas não sou mal-educado. Seu pai seráum hóspede nesta casa e, portanto, deve ser tratado com a cortesia devidaaos hóspedes!

— Oh, é muita gentileza sua! Papai ficará feliz.

— Ele ainda não sabe de minha objeção ao casamento?

— Não, a menos que sua mãe tenha contado. Eu preferi não interferir.

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— Na esperança de que eu mudasse de opinião? — Seu rosto ganhava um arzombeteiro. — Como não há a menor possibilidade de que isso aconteça,teria sido melhor avisá-lo, não acha?

— É uma pena que você não aprove — ela começou a dizer, escolhendo bem

as palavras — ...mas sua mãe pretende casar, apesar disso! — A conversacomeçava a enveredar por um caminho perigoso. Mesmo assim Pennycontinuou, dizendo que, como Max ainda não conhecia |ames, não era justoque tivesse algo contra ele.

— Não tenho nada de pessoal contra seu pai. — Max parecia entediado aoexplicar aquilo. — Acho que é melhor esquecermos este assunto. . . — Ele secalou e Penny entendeu aquilo como um sinal de que talvez já estivesse seacostumando com a idéia do casamento. Será que se voltaria contra ela, caso

tivesse que amargar essa derrota? — É melhor não conversarmos sobrecoisas que podem trazer hostilidade entre nós, Penny. Pelo menos, até queesteja curada.

Será que ele estava zombando dela? Era impossível dizer pela expressão deseu rosto. Penny gostaria de falar que nunca mais queria que brigassem, maslembrava muito bem de quando ele a acusou de estar se jogando em seusbraços.

— Não, Max, é melhor não conversarmos a respeito de nada que possa nos

fazer brigar. . . — foi tudo que ela disse.

CAPÍTULO VIII

No dia seguinte, logo depois do almoço. Teresa bateu na porta e entrou como costumeiro sorriso nos lábios.

— O sr. Redfern me disse que era para ajudar você a se levantar. — Elapesquisou o quarto de Penny com seus olhos grandes. — Quer que pegue umaroupa especial?

— Especial? Não, não é preciso. Pode pegar um daqueles vestidos de algodãosem mangas.

— O sr, Redfern disse que devia usar roupas bem quentes e que eu deviacolar um cobertor sobre seus joelhos. Deu as instruções antes de ir visitara plantação de manhã.

— Tolice, Teresa, deve estar enganada! Já estou com calor com tantasroupas, e quero sentir a brisa do mar.  Livros Florzinha

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Teresa ficou séria de repente.

— O sr. Redfern vai ficar zangado se não fizermos as coisas como elemandou!

— Foi você quem entendeu mal... Olhe só como está quente. É impossívelpegar outra gripe!

— Ele é o patrão e diz como as coisas devem ser feitas!

— Sim, Teresa, eu sei disso. Mas está enganada.

A contragosto, Teresa pegou o vestido e pouco depois foi fazer companhia aPenny, que já estava sentada no jardim.

— A brisa está muito fria!

— Ora, a brisa está ótima, Teresa. Pare de se preocupar!

— Se você diz assim. . . — A empregada se abaixou e pegou as sandálias dePenny. — Vou aproveitar para limpá-las enquanto estamos no jardim. Ponhaos pés sobre a toalha, senão pode pegar um olho-de-peixe. É uma dorhorrível!

— Não se preocupe, tomarei cuidado.

— Quer que fraga o chá, depois de limpar isto?

— Sim, obrigada. — Com um suspiro de satisfação, Penny se deixou ficar ali,

saboreando toda a beleza da natureza que resplandecia a seu redor.Pássaros multicores passeavam pelos galhos das árvores e pequenos beija-flores dançavam no ar com desembaraço. As flores enchiam a atmosferacom um perfume doce e delicado, e eram visitadas a todo momento porenormes borboletas azuis. Pouco tempo depois, Shirley chegou, num lindovestido claro, que combinava muito com sua beleza.

— Você está linda! — Penny disse quando ela sentou-se a seu lado.

— Obrigada, Penny! — Shirley parecia feliz e satisfeita naquela tarde, e

ficaram conversando algum tempo junto com Norah, que logo veio fazer-lhecompanhia. Mas a boa senhora logo voltou para casa, dizendo que precisavatrabalhar.

— Ela não consegue parar de trabalhar! — Shirley comentou, observandoNorah que sumia pela porta. — Acho que .eu nunca seria assim!

— Ora, claro que seria se tivesse uma profissão da qual gostasse muito.

— Mas ela fica sempre olhando pedras! O que há de interessante para sever em pequenos pedaços de rocha?

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— Você nem pode imaginar — Penny falou, sorrindo, apontando o anel dediamante que Shirley tinha no dedo. De onde acha que veio este brilhante?

— Papai comprou-o num joalheiro, quando completei dezesseis anos. Vocêgosta?

Penny deu um suspiro e mudou de assunto,

— Você disse que Graham viria até aqui, hoje à tarde?

— Sim. Eu lhe telefonei e ele prometeu que viria assim que saísse da escola.Ele parecia ansioso para vir. . . — Ela fez uma pausa antes de continuar: —Você se importa de ficar, sozinha um pouquinho? Está muito calor. Acho quevou tomar um banho e colocar um short.

— Não me importo, mas você está tão bonita assim!

— Acha que não devo trocar de roupa?— Acho que não.

— Está bem. Mas, de qualquer maneira, vou tomar um banho frio. O calorestá insuportável!

Penny franziu a sobrancelha ao ouvir aquilo e perguntou a Shirley. que já selevantava.

— Acha mesmo que está tão quente assim?

— Quente? Nossa, eu estou morrendo de calor!Aquelas palavras lhe deram a sensação de que havia algo de errado. Ela nãosentia o menor calor; pelo contrário, estava até com uns arrepios de frio, devez em quando. . . Chamou Shirley, que já entrava na casa, mas ela não ouviu.Onde estaria Teresa, com suas sandálias? Lembrou-se que dissera àempregada que não precisava ter pressa. Será que se atreveria a caminhardescalça até a casa, se arriscando a pegar um daqueles horríveis bichos depé? Não, era melhor não fazer isso. Max ficaria furioso... Contudo, e se ela

pegasse outra gripe, tivesse uma recaída? Penny mordeu os lábios,compreendendo agora que Teresa não estava enganada a respeito dasinstruções de Max. Consciente do risco, Max tinha dito o que eranecessário: roupas quentes e um cobertor sobre os joelhos.

— Oh, meu Deus! — ela exclamou, consternada. — O que ele vai dizer agora?

Enquanto o tempo passava, ela ia ficando cada vez mais perturbada. Estavaagora morrendo de frio; apesar do sol quente, os arrepios pareciam vir dosossos. Penny chamou em voz alta, mas ninguém apareceu. Estava muito longeda casa para ser ouvida. Sem poder fazer nada, o pânico começava a tomar

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conta dela, quando percebeu que um carro subia a pequenina estrada quetrazia até a casa. Era Graham.

— Olá! — ele disse com um grande sorriso, pondo uma caixa de bombonssobre o colo dela. — Trouxe para você! E pensar que estávamos preocupados

com Shirley... Como é? Está melhor? — Pela expressão de Penny, elepercebeu que havia algo errado. — O que há, Penny? Está tão branca. . .Será que não devia estar deitada?

— Você tem razão, Graham. Será que poderia pegar minhas sandálias e umcasaco? Estou gelada!

Pouco depois, Penny estava com Teresa em seu quarto, deitada, ouvindo aslamúrias dela, apavorada por ter desobedecido Max.

— Não foi culpa sua, Teresa. — Penny tentava tranqüilizá-la, apesar detambém estar morrendo de medo. — Não deixarei Max punir você por isso.

— Mas eu sei que ele vai me castigar — Teresa insistiu, apesar de Pennysentir-se fraca e cansada, deitada sobre o travesseiro e de olhos fechados.— Se ao menos ele não ficasse sabendo. . .

— Está bem. . . Não lhe diremos nada! — Penny disse, confusa, sentindo acabeça zonza.

— Diremos então que a senhorita estava agasalhada e com o cobertor?

— Sim, faremos isso! — O que ela estava dizendo? — Planejavam mentirpara Max?

Pouco depois, Granam chegava, com Shirley. Ao ver o estado de Penny amenina achou que era melhor chamar Norah e deixou-os a sós.

— Penny, não é melhor chamarmos um médico? — instintivamente, Grahamtomou a mão dela. — Está se sentindo muito mal?

— Chamar o médico? — Era Max quem perguntava, entrando no quarto. Suaexpressão era séria e austera, e Graham. imediatamente soltou a mão de

Penny e se afastou da cama. — O que aconteceu, Penny?Será que era imaginação ou ele falava mesmo com suavidade? Não haveriasuavidade nenhuma se Max soubesse o que tinha acontecido.

— Não é nada, Max — Penny falava com voz débil. — Me senti um poucofraca depois de ir sentar no jardim, mas já estou melhorando.

— Não posso compreender! — ele comentou, colocando a mão sobre a testade Penny. — Você se agasalhou bem para sair? Não é possível que tenha lhefeito mal sair um pouco, mas. . . mesmo assim, você não está nada bem.

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— Acho que já vou indo! — Graham adiantou-se. Até então, Max o tinhaignorado completamente. — Espero que sare logo, Penny.

— Obrigada, Graham. — Ela tentou sorrir. — Shirley pode acompanhar vocêaté a porta.

— Está bem, vou ver se a encontro. Amanhã telefono para saber como estápassando.

— Penny, tem certeza que se agasalhou bem? — A voz de Max era gentilcomo nunca fora antes, seus dedos ainda tocavam suavemente a testa dePenny. Ela estava assombrada pois Max nunca fora tão carinhoso antes,parecia outra pessoa. — Você colocou o cobertor sobre os joelhos, nãocolocou?

— Eu. . . eu... — era impossível mentir para Max. — O que foi que você disse?

— Não importa, Penny, é melhor não conversarmos para você não se cansar.Vou buscar um remédio. . . Não sei como isto pôde ter acontecido — elefalou consigo mesmo. — Eu linha certeza que não ia lhe fazer mal levantarum pouco, A culpa é toda minha!

Nesse momento, Teresa entrou no quarto, carregando um bandeja com umgrande copo de suco de limão.

— A srta. Shirley me mandou trazer esse suco. — Ela pós a bandeja sobre a

mesinha-de-cabeceira, evitando o olhar do patrão.— Teresa. Você não se esqueceu de dar minhas instruções para a srta. Pennynão é?

— Sim, senhor... Ela estava bem agasalhada e com o cobertor, como o senhormandou.

— Compreendo... — Ele tinha um ar pensativo. — Mostre-me os agasalhosque ela estava usando.

Um grande silêncio tomou conta do quarto. Penny desejaria explicar que era

tudo culpa sua, mas não tinha coragem. Nunca na vida sentiu um medo tãogrande.

— Os... os agasalhos, senhor?

— Foi exatamente o que eu disse, Teresa.

— Os agasalhos... — ela murmurou, embaraçada, sem saber o que fazer.Depois foi até o guarda-roupa, e abriu a porta, devagar.

— Feche esse guarda-roupa!

— Max... — Penny começou a explicar, fitando Teresa, que tremia dos pés àcabeça, mas Max a interrompeu.  Livros Florzinha

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— Teresa! Hoje, pela primeira vez você me mentiu! Não deu as minhasinstruções para Penny, fato que eu poderia relevar. Contudo, não possoadmitir que tenha mentido para mim. Vá para a sala e me espere.

— Sr. Redfern. . . — Teresa estava trêmula e olhava Penny ansiosamente.

— Está tudo bem, Teresa, não se preocupe! — Penny tentou tranqüilizá-la. —Explicarei tudo para o sr. Redfern.

— Oh, obrigada, senhorita — ela disse e saiu apressada.

— Se está pensando em ajudar Teresa, perde seu tempo — ele começou adizer quando a empregada partiu. Penny percebeu que Max ainda não haviaentendido o que realmente aconteceu. — Eu sabia que não estava erradoquando permiti que você fosse para o jardim. Mas ela se esqueceu de fazero que mandei. Agora, veja só como está!

— Max. . . — Penny disse quando conseguiu ganhar coragem. — Não se tratade proteger Teresa. . . Ela me deu suas instruções.. .

— Ela...? — Por um momento, ele se calou e seu rosto ficou vermelho. Apesarde já ter acontecido outras vezes, parecia não acreditar que Penny fossecapaz de mais uma vez desobedecer seus conselhos. — Você não seguiuminhas instruções?

Penny concordou com a cabeça, o coração batendo como louco. Pela primeira

vez sentia-se grata por estar doente pois, caso contrário, nem sabia o queMax seria capaz de fazer.

— Teresa disse que eu precisava me agasalhar, mas estava tão quente e...

— . . .E você achou que não era preciso? Quer dizer que, mais uma vez. achouque sabia mais do que eu? — A fúria brilhava em seus olhos e ele não estavamais sentado na cama, ao lado dela.

Penny adivinhou o que Max estava pensando. "É uma inconveniência tê-lacomo hóspede. . . agora vou ter que me desculpar com Teresa..."

— Não foi bem assim, Max. .. Estava um dia tão quente e. . . a idéia de eu teruma recaída me pareceu tão ridícula que. . .

— Ridícula? Será que ainda parece ridícula agora? Você acha que tudo queeu digo é ridículo! E agora está ai! Estava quase curada e teve uma recaída!Ora, se estivesse boa, eu lhe daria uma lição para ensiná-la de uma vez portodas! Sim, era isso que precisava! Mesmo que seu pai tenha virtudes paraser um bom marido, certamente não soube ensinar a filha a fazer as coisasdireito! — Max parecia furioso, a ponto de explodir de raiva. Ele se virou e

saiu, passando por Norah que, em silêncio, tinha se aproximado, mas não quisentrar no quarto.

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— Oh, Penny, eu ouvi o que aconteceu, querida — Norah disse, gentil comosempre.

— Max acredita que eu o desafiei deliberadamente!

— Você não pode culpá-lo por isso. . . Afinal, não seria a primeira vez. . .Penny fechou os olhos, sentindo-se muito mal, com a cabeça doendo. Lá forao sol começava a se pôr.

— Onde está Shirley? — ela perguntou.

— Na varanda, com Graham. Ele parece um ótimo rapaz. Não cheguei aconhecê-lo direito no navio, mas sem dúvida foi muito atencioso em vir fazeressa visita a você. . . é uma pena que esteja assim doente, James vai ficarchateado quando chegar e encontrá-la nesse estado.

— Logo vou estar melhor. . . Oh, acho que Max nunca mais vai me perdoar —disse, com um profundo suspiro.

— Ora, querida, tenho certeza que ele logo esquecerá isso! — Norah tentoutranqüilizá-la. Nesse momento, Max apareceu de novo, trazendo o remédiopara Penny.

— Sente-se! — ele ordenou, sem fazer um gesto para ajudá-la. Toda adoçura e carinho de sua voz haviam sumido. Com grande esforço, Pennysentou-se e tomou os comprimidos. — E, de agora em diante, vai fazer

exatamente como eu mandar! Sim, daqui para a frente pretendo lhe darordens e não mais conselhos!

— Mas, você não deve falar assim com Penny! — Norah interveio. — Sei queela agiu mal, mas afinal de contas, está doente!

— Sim. . . Mas não estaria se tivesse feito o que lhe disse — ele falava tãoseveramente, que Norah preferiu se calar.

— Eu... eu sinto muito por tudo isto! — Penny disse, com voz débil.

— Você sempre "sente muito por tudo"! Ora... Minha mãe já arranjousecretárias estranhas, mas você é a pior delas, capaz de levar qualquer umao desespero. Se seu pai for parecido com você, essa casa vai se tornar umverdadeiro caos quando ele chegar!

— Não se atreva a falar mal de meu pai! — Penny protestou, ganhando súbitacoragem. — Ele não é como eu... é gentil. . . Oh você é  tão cruel! Meu painunca me trataria assim!

— Então ele é mais generoso que eu, não é? — Max falava com os dentescrispados de raiva. — Bem, tudo que posso dizer é que deve ser uma pessoa

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completamente diferente diante dele. Do jeito que você age comigo, até umanjo seria levado à crueldade!

Alguns dias depois, o pai de Penny chegou e foi recebido por Norah e Maxno aeroporto. A primeira coisa que fez foi ir até o quarto de Penny, que

continuava na cama. Estava um pouco mais velho, Penny pensou quando o viu.os cabelos brancos começavam a surgir em sua cabeça.

— O que aconteceu com minha querida filhinha? — ele perguntou comcarinho.

— Era só uma gripe, papai, mas tive uma recaída. Tenho certeza que logoestarei boa.

— Sim, não há dúvida quanto a isso — era Max quem acabava de entrar noquarto, trazendo os comprimidos de sempre. — Ei, não lhe disse para usarum xale nas costa, quando se sentasse?

— Mas eu. . . Oh, é que escorregou. — Ela ia pegar o xale e Max adiantou-separa ajudá-la. Penny podia sentir o calor da respiração dele perto do rosto,quando Max falou:

— Cuide-se bem. Penny, faca como lhe dizem. . .

Foi maravilhoso para ela quando voltou a sair no jardim, mesmo bemagasalhada. Daí por diante, sua recuperação foi rápida e definitiva.

— Agora já vamos poder sair para passear um pouco! — era Norah quemfalava certa noite, quando estavam todos juntos, sentados na varandadepois do jantar. — É claro que não a deixaríamos sozinha aqui em casa!

Max eslava sentado um pouco distante, um certo tédio estampado no rosto.Entretanto, Penny sabia que ele prestava a máxima atenção em James e namaneira como ele tratava Norah.

— Estou encantado com esta garota! — James disse, referindo-se a Shirley.— Fico lisonjeado em estar sempre acompanhado de uma menina tão linda!

Então meu pai gosta de Shirley, Penny pensou com certo alívio. Certamente,isso a fazia sentir-se bem melhor.

— Vamos todos visitar uma aldeia de índios aqui da ilha — Shirley falou comentusiasmo. — Antes, porém, temos que arranjar um guia, pois Max disseque é necessário.

— Talvez pudéssemos ir todos juntos. Max nos levaria com a caminhonete.

— Sim, seria ótimo. — Era James quem falava. — Poderíamos ir como umagrande família!

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Penny prendeu a respiração, não sabendo como Max reagiria àquelecomentário. Felizmente, ele não pareceu ofendido.

— Sim, é uma boa idéia — concordou e Penny soltou um suspiro de alívio. —Mas tenho que preparar algumas coisas, antes.

— Não vejo a hora de fazer isso! — James também parecia entusiasmado. —Norah me disse que essa é a última aldeia de índios do Caribe que conseguiucontinuar de pé! E muito triste que uma raça tão poderosa tenhadesaparecido.

— Eles eram canibais! — Shirley comentou com um olhar assustado.

— Mas hoje em dia esses costumes foram abolidos, querida, você nãoprecisa ter medo!

Shirley deu um suspiro, aliviada, e todos sorriram. Pouco depois, Max foipara o escritório e James e Norah saíram para passear um pouco pelo jardim. Penny e Shirley ficaram sozinhas na varanda.

— Gostei muito de seu pai, Penny. . . E acho que ele gostou de mim também,você não acha?

— Você fica muito preocupada se as pessoas gostam ou não de você, Shirley.Claro que todos precisamos ser amados, mas fica muito ansiosa com isso.

— É por causa de Max — ela confessou. — Quando cheguei aqui. . . Bem,

tinha certeza que ele gostava de mim e ia querer casar comigo um dia.— É claro que Max gosta de você. Basta ver a maneira como ele a traía! —Coisa que não faz comigo, ela pensou. Max ainda continuava a levar seusremédios, mas nunca mais teve a mesma atenção e carinho de antes doepisódio do jardim. Penny sentia-se culpada, apesar de só uma vez o terdesafiado deliberadamente. Entretanto, estava cada vez mais distante apossibilidade de eles conversarem a respeito, pois Max já não pareciainteressado no assunto.

— Ele é gentil, mas só porque tem pena de mim, — A voz de Shirley traziaPenny de volta à realidade e outra vez ela percebeu a solidão imensa queafligia a menina. — Sei que nunca casará comigo!

— Nem sempre as coisas acontecem como nos livros, Shirley. Você não temparentes?

— Ninguém. . . Eu não tenho ninguém, Penny.

— Ora, você tem Max, e tem a mim também. . . para não falar de Graham.

Shirley corou e um novo brilho apareceu em seus olhos.

— Nós saímos juntos, uma ou duas vezes.  Livros Florzinha

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alguma coisa além da amizade entre ele e eu! Lá fora, o céu eslava claro,iluminado pela grande lua cheia que se refletia sobre o mar. A leve brisadava uma sensação de frescor. Como era lindo o Caribe. Penny pensou, masquanta tristeza já tinha vivido ali. O que será que a vida ainda lhe reservava,

nessa ilha tão maravilhosa!

  CAPÍTULO IX

A viagem para a reserva indígena do Caribe aconteceu no sábado seguinte.Max dirigia o carro, com James sentado ao lado. Atrás iam Norah, Penny eShirley. A estrada seguia pela encosta das montanhas, ladeada por abismosaltíssimos, e a paisagem era espetacular. O dia estava claro e límpido e omar tinha um tom de verde, inexistente em qualquer outra região doplaneta.

Os índios caribenses eram uma raça especial, diferente dos negros ebrancos que habitavam o resto da ilha. Viviam somente naquela colônia etinham vida independente, elegendo seu próprio chefe.

— Puxa, eles parecem mesmo índios! — Shirley exclamou, assim que seaproximaram da primeira vila.

— É claro que sim! — Max explicou. — O que você queria que elesparecessem?

— Eles ficam aqui todo o tempo? — James perguntou. — Parece que já vialguns deles lá em Roseau.

— Sim, eles costumam vender seu artesanato no mercado de Roseau — Maxexplicou, enquanto estacionava o carro bem no centro do pequeno vilarejo.

A vila era constituída de pequenas habitações, de madeira e palha decoqueiro. Os índios começavam a se aproximar com olhares curiosos,

esperando pelos presentes. Era costume que todos os visitantes lhetrouxessem alguma coisa, que eles retribuíam com cestas de vime, tecidosque fabricavam, e outras peças típicas. James ofereceu tabaco para umdeles e em troca recebeu uma grande rede de palha trançada.

Pouco depois seguiram para outra vila, ainda menor que a anterior, onde omesmo ritual se repetiu. Depois de vagar por algumas horas, resolveram que já era tempo de dizer adeus aos índios e começar a viagem de volta paracasa. Max seguia devagar, para que todos pudessem apreciar a paisagem. Elee James conversavam pouco, apesar de Max o tratar com toda a cortesiadevida a um hóspede.

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Acho que James percebe isso, Penny concluiu, pois, ao contrário de seu jeitohabitual, ele anda um pouco distante. Aquela era a primeira chance que elestinham de um contato mais social, e o simples fato de Max ter concordadoem vir também serviu para dar alguma esperança a ela. Vendo James e

Norah juntos, linha cada vez mais certeza que o casamento se realizaria,independente da opinião de Max. Mas ainda ficava triste ao pensar que issotalvez viesse provocar um rompimento entre Max e Norah.

A tarde começava a avançar e Norah sugeriu que parassem para comer oslanches que tinham trazido.

— Conheço um ótimo lugar — Max disse. — Vamos desviar por uma pequenaestrada secundária, que leva ao vate Layou. — Começaram a atravessar umextenso bosque muito bonito. — E então, gosta de nossa ilha, sr. Davidson?

— a pergunta súbita surpreendeu Norah e Penny, que se entreolharam.— É maravilhosa! — James respondeu com uma voz calma e plácida. — Vocêtem muita sorte de viver aqui.

— Que acharia de ficarmos morando aqui, James? — Norah perguntou,vendo-o através do espelho retrovisor.

— As propriedades na ilha são mais caras do que muita gente pode imaginar!— Max comentou, com seu jeito ríspido.

— Acho que poderíamos comprar alguma coisa — James replicou. — Afinal,sua mãe e eu não precisamos morar num lugar tão luxuoso como a fazenda.Podemos arranjar uma casinha pequena e barata!

Olhando Max pelas costas, Penny notou que ele não tinha gostado nada daidéia de ver a mãe morando numa casinha pequena e barata. Norahcertamente também notou, e foi logo dizendo:

— Ora, James, não precisamos nos preocupar com isso. Tenho dinheirosuficiente para comprar uma fazenda tão bonita quanto a de Max, se quiser!

— Sei disso, mas infelizmente, eu não tenho. Com minhas economias,poderemos comprar uma pequena casa e reformá-la. Certamente não ficarátão bonita como a casa da fazenda, mas acho que será o suficiente para nós.

— Ora, querido, quando casarmos o dinheiro será nosso, e não somente meu!Poderemos fazer o que quisermos com ele! — Norah se dirigia muito mais aofilho do que a James. Penny sabia que Max devia estar odiando aquelaconversa, mas não podia entender por quê. Afinai, seu pai deixou bem claroque não pretendia usar o dinheiro de Norah.

— Melhor esquecermos este assunto — Max disse secamente e Penny viu umestranho brilho de raiva nos olhos de Norah. Ela ia dizer alguma coisa, mas

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foi Max quem continuou: — Já chegamos! Vou estacionar para que possamosfazer o piquenique.

— Oh, Max, é um lugar maravilhoso! — Penny exclamou, realmente encantadacom a beleza do lugar. Estavam no meio de um lindo bosque, rodeados por

uma vegetação exuberante. Pouco mais adiante, havia uma suave quedad'água, que caía numa lagoa de águas límpidas e seguia seu curso, montanhaabaixo.

O sol começava a se pôr quando terminaram o piquenique e arrumaram ascoisas no carro. Ansiosa por aproveitar os últimos momentos que passariamali, Penny saiu para caminhar um pouco, seguindo uma trilha queacompanhava o riacho rio acima. Pouco depois, sentou sobre uma pedra, àbeira da água. Ficou surpresa ao ver que James veio logo atrás dela, sem se

fazer notar. Ele também sentou-se, ao seu lado, e ficaram em silêncio algumtempo. O único ruído era o murmúrio da água e o canto dos pássaros. Pennysabia que alguma coisa afligia seu pai, e resolveu perguntar:

— O que há, papai, algo errado? Ele engoliu seco antes de responder:

— Dificuldades, minha filha, muitas dificuldades. Eu já devia esperar porisso.

Penny aproximou-se, recostando a cabeça levemente no ombro de |ames.

— Que espécie de dificuldades, papai?

— Norah. . . Bem, eu devia ter esperado que seu filho se oporia a nossocasamento.

Ela deu um grande suspiro antes de responder:

— Mas tudo está bem entre vocês dois, não está?... Ouvi vocês conversandoa respeito da casa. . .

— Sim. — Ele olhava para a água do riacho, pensativo. — Mas eram sópalavras, querida. Minha cabeça estava em outro lugar.

— O senhor não precisa ter medo que Norah desista do casamento. Eladisse que não dará ouvidos às objeções dele!

Um longo tempo se passou antes que James respondesse. Ele tinha um artriste e, ao mesmo tempo, decidido.

— Sei que Norah nunca desmanchará nosso noivado. Mas é possível que eu ofaça.

— Você...!? Não, você não pode desistir assim, por causa de Max! é suafelicidade, papai, e a de Norah que está em jogo!

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— É o dinheiro, querida. Se Norah nada tivesse, então não haveria problema.Contudo, Max pode perder uma fortuna por causa desse casamento! Eledeve pensar que eu quero desfrutar de todo o dinheiro, antes que algoaconteça a um de nós dois.

Aquilo doía muito em Penny. Seu pai era o único amigo há muitos anos, e elaficava triste quando ele começava a falar daquele jeito, sobre a morte.

— Como é que ele pode pensar essas coisas? Elas não têm o menorfundamento.

— Outros homens já quiseram casar com Norah, querida, só por causa dodinheiro.

— Mas ela nunca quis nenhum deles! O senhor é a primeira pessoa pela qualela realmente se interessa!

— É verdade. . . Mas isso não afasta as suspeitas de Max.

— Ora, ele não tem motivo para suspeitar do senhor! — Penny falava dumamaneira tão indignada, que James estava surpreso.

— Você e Max já discutiram este assunto?

— Bem, já conservamos a respeito. . .

— Agora compreendo a razão da hostilidade que existe entre vocês e que eu já tinha percebido desde o primeiro momento em que os vi juntos. Aliás,muitas vezes não foi fácil para mim ficar calado, pois não gosto nem umpouco da maneira como este homem a trata!

— Eu contribuí para isso, papai. — Em poucas palavras, da relatou tudo quese passou entre ela e Max. James ia ficando cada vez mais surpreso ao ouviraquelas coisas. Depois de algum tempo, Penny voltou ao assunto docasamento: — Você não pode desistir de Norah, papai. Ela o ama de verdadee ficaria muito infeliz.

— Tenho meu orgulho próprio, Penny.

— Orgulho pode ser perigoso, papai. Se você e Norah se separarem, nenhumdos dois jamais será feliz novamente!

— Essas dores acontecem na vida da gente, querida, e só o tempo é capaz decurá-las.

— O tempo pode curar, pai, mas as cicatrizes permanecem. . .

— Da maneira como as coisas estão, Penny, eu sei que seria muito maisinfeliz se me casasse com ela.. .

Penny ainda ia discutir, mas compreendeu que ele tinha razão.

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Encontro fatal (Isle of the rainbows) AnneHampson Julia no. 192

— Sim. . . estávamos conversando,

— E ele a deixou sozinha?

— Fui eu quem pediu para ficar a sós um pouquinho.

— Ora, não diga tolices! Por que ele saiu sem você? E o que estava fazendo,agachada no riacho?

— Eu... — Será que ela devia contar-lhe toda a verdade? Dizer que ele tinhafeito seu pai desistir do casamento e decidir voltar para a Inglaterra? Não,ela não devia fazer isso, pois James gostaria que Norah fosse a primeira asaber. — Eu. . . deixei meu lenço cair na água e estava apanhando. Agora jápodemos ir — Ela deu um passo adiante e começou a caminhar depressa,quase correndo, querendo fugir daquilo tudo. Entretanto, o terreno eraacidentado, e no escuro, teria levado um tombo se Max não a tivessesustentado.

— Ora, sua idiota, o que está acontecendo com você? Por que estevechorando?

— Oh, não posso contar.

— Por que estava chorando? — Ele apertou seu braço com tanta força, que amachucou. — é por causa de Graham?

— Graham? — Ela estava completamente surpresa. — Não sei o que quer

dizer.— Graham a passou para trás?

— Do que ele estava falando? Será que Shirley tinha inventado maishistórias? Penny tentou libertar-se, mas ele a segurava com firmeza. Maxcontinuou:

— Sim, Penny, não precisa me esconder que vocês estavam juntos, eu nãotenho nada a ver com isso. Vi muito bem como ele segurava sua mão noquarto, aquele dia.

— Espere um momento. Max! Não admito que diga essas mentiras! — Láestavam eles, brigando mais uma vez, ela pensou. Talvez fosse a últimabriga, pois dentro em breve ela iria embora. — Para sua informação, eununca tive nada com Graham e não sei de onde tirou a conclusão de que eleme passou para trás!

— Ele tem se encontrado com Shirley, agora.

— Oh...! Como você ficou sabendo?

— Ela deixou escapar por acidente, então eu a obriguei a contar tudo. Porque você mentiu dizendo que Shirley se encontrava com unia amiga?  Livros Florzinha

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— Tive que fazer isso... Você me pegou de surpresa e... — Afinal, por que elese importava tanto com a relação dela com Graham? Sim, era natural queficasse zangado por ela ter mentido, mas parecia haver algo mais em seutom de voz.

— Se não existe nada entre você e Graham, por que estava chorando? Vaiter que me dizer nem que passemos a noite inteira aqui.

— Está bem: era por causa dele! — Penny preferiu mentir, pois era a únicamaneira de escapar daquela situação. — Estava triste porque. . . como vocêdisse, ele me passou para trás!

— Eu sabia! — Max falou, soltando seu braço num gesto tão brusco quequase a machucou. — Sabia disso o tempo todo, mesmo quando você negava!Shirley já tinha me dito que Graham era seu namorado, Penny!

— Compreendo... — Ela certamente teria contas a ajustar com Shirley. —Vamos para o carro, então?

— Então é mesmo verdade, não é?

— Por que me pergunta? Você não acredita em Shirley?

— Porque quero ouvir de você. E então, é verdade?

— Sim. Max — ela murmurou. — É verdade

CAPÍTULO X

Uma semana se passou antes que Penny pudesse conversar com Shirleysobre suas novas mentiras. Penny e Norah estavam trabalhando muito,empenhadas nas pesquisas para a redação dos últimos capítulos do livro.Fizeram a viagem para o lago das Águas Quentes, tendo Félix, um dos

empregados da fazenda, como guia. Norah andava muito interessada emconhecer e estudar aquela região, que comprovava a existência de atividadevulcânica no solo da ilha. Dominica possuía uma terra muito fértil, mas muitoporosa, o que tornava comum os deslizamentos de terra nas épocas de muitachuva.

Costumavam voltar à noitinha, mas iam direto para o escritório, a fim deorganizar o material coletado. O trabalho era árduo e os únicos momentosem que Penny descansava e relaxava era quando ia à piscina, de manhã. Nosprimeiros dias, Max não apareceu e Penny pensou que ele a estava evitando.As vezes, ele ia mais cedo e quando Penny chegava, já tinha ido embora. Por

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duas ou três vezes chegaram a nadar juntos e conversar um pouco, mas aamizade não existia mais.

Max era frio e distante, como se tivesse algum ressentimento contra Penny.Quanto a ela, agora só o via como um homem miserável, cuja única

preocupação era zelar pela conservação de sua fortuna.Na segunda-feira de manhã, Shirley também foi à piscina. Era a primeiravez que ela e Penny se encontravam a sós desde a viagem para a reservaindígena. Penny aproveitou para dizer o que pensava a respeito dela.

— Por que é que você disse aquilo? — Penny ainda estava ressentida, — Oque lucrou fazendo Max pensar que eu e Graham estávamos namorando?

Shirley estava sentada na beira da piscina, brincando com a água.

— Eu não pensei que Max fosse contar a você. . . Por que será que ele fezisso?

— E que importa? — Penny deu um suspiro de resignação. — Você nãorespondeu à minha pergunta, mas nem precisa. Acho que já sei a resposta!

— Verdade? — Shirley dizia aquilo com ar casual, como quem não quer semostrar muito interessada. — Então, me diga qual a resposta...

— Olhe, Shirley, você não precisa ter ciúme, porque Max não gosta de mim,nem nunca gostará. — E, de qualquer maneira, eu vou embora para a

Inglaterra. Penny quase disse, mas não falou nada porque James ainda nãohavia comunicado a Norah sua intenção de desmanchar o noivado.

— E o que a faz pensar que tenho ciúme de você?

— Ora, isso tem sido óbvio desde o princípio. Você me pediu que fosse suaamiga, mas a maneira como agiu comigo não foi absolutamente amigável!

— Se ele não casar comigo, quero que fique solteiro para sempre. Você seimporta que ele não goste de você?

— A opinião de Max a meu respeito é totalmente indiferente para mim! Nãome importa que ache que tenho uma dúzia de namorados! — Penny já estavabastante irritada. — Quanto a seu desejo, acho que é mesmo o melhor! Pelomenos, tenho certeza que nenhuma mulher será obrigada a casar com umhomem como ele!

— Oh. . . Nem parece você dizendo essas coisas tão ríspidas! Por que achaque uma mulher seria infeliz ao lado dele? Eu mesma queria ser sua esposa,lembra-se?

— Sorte sua que ele nunca quis casar com você! É um homem semsentimentos nem honra! — Penny pensava em como ele tinha sido capaz de

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impedir que a própria mãe fosse feliz, só por causa de dinheiro. — Ele seconsidera um super-homem. acima dos outros mortais, e por isso é tãoarrogante! Max não tem sensibilidade, nem coração, só pensa em dinheiro; éesse o seu Deus! — Penny se surpreendeu ao ver que lhe fazia um bem

enorme dizer tudo aquilo. Estava mesmo precisando desabafar. Já aliviada,ela se preparou para dar um mergulho na piscina.

— Obrigado pela parte que me toca!

Era Max quem falava, para surpresa das duas, saindo detrás de um arbusto.Ele estava de calção e sandálias, e carregava uma toalha multicolorida, quecolocou no chão, perto de Shirley.

— Max! — Shirley não sabia onde enfiar a cara. — Você estava escutando?

Max encarou Penny, que abaixou a cabeça pois não conseguiu suportar aqueleolhar arrogante e severo. Ele se virou para Shirley:

— Vamos! Está na hora da sua aula!

Penny foi imediatamente para casa, o rosto parecendo pegar fogo. Nuncapensou que Max pudesse estar ali, ouvindo tudo que ela dizia. Entretanto,talvez fosse melhor assim. Sabendo como realmente era, talvez ele fizessealgo para mudar!

|ames se encontrava no jardim, quando Penny desceu para o café da manhã,

depois de tomar uma rápida ducha fria. Ele estava sentado, contemplando aimensidão do oceano. Assim que viu Penny, sorriu e fez sinal para que viessesentar-se com ele.

— E então, nadou bastante? Vi quando você foi para a piscina.

— Mudei de idéia e preferi não entrar na água. . . Faz tanto tempo assim queo senhor já está de pé?

— Sim, levantei bem cedo. — Ele a tomou pelo braço e começaram a andarpelo jardim.

— O senhor. . . já decidiu mesmo? — Penny notou como ele tinha envelhecidonos últimos dias, e tudo por causa de Max. . . Cada vez ela sentir, mais raivadaquele homem! — Não vai reconsiderar a decisão, papai?

James balançou a cabeça.

— Tenho tentado falar com Norah, mas ela anda tão ocupada que nuncaconseguimos estar a sós. De qualquer maneira, estou decidido a lhe falarsobre minha decisão hoje à noite.

— Quando. . . quando partiremos de Dominica? — Penny sentia o frescor dabrisa que vinha do Oceano, trazendo o aroma adocicado das flores. Ir

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embora em breve. . . Como Norah ia se arrumar com o livro? De qualquermaneira, deviam existir muitas secretárias ansiosas para trabalhar numlugar maravilhoso como aquele.

— Logo que possamos arrumar tudo para a viagem. — Ele a fitou com um

olhar repentinamente sério. — Será melhor para nós dois que deixemos estelugar o mais rápido possível.

— O senhor tem razão — ela concordou, com um nó na garganta. Só longedali poderiam tentar esquecer todas as dores que seus corações sofreram.— Preciso avisar Norah, pois ela tem o direito legal de exigir que eu aindatrabalhe por um mês.

— Ela não vai exigir isso, pelo menos nessas circunstâncias!

— Como será que ela vai receber a notícia?

— Isso não importa muito, Penny. — James deu um suspiro profunda. —Assim como para mim, o tempo a fará superar essa dor.

Quando entrou no escritório, na manhã seguinte, Penny ficou completamentedesnorteada ao encontrar Norah furiosa, entregando-lhe a demissão.

— Quero me livrar de vocês dois! Pensar que estava perdendo meu tempocom um homem que não liga a mínima para mim! Oh, estou tão furiosa quenem consigo trabalhar! Imagine, uma pessoa como eu, incapaz de trabalhar!!!

Nunca conseguirei terminar meu livro, já nem consigo pensar nele!Penny eslava meio paralisada, sem saber o que fazer.

— Você tem que terminar seu livro, Norah.

— Meu livro. . .? É com isso que você se preocupa? Vá embora, saia daqui! Oquanto antes vocês partirem, melhor!

— Mas, Norah. . .

— Não se atreva a me chamar desse jeito! Sou sua patroa e exijo respeito!

Oh, o que estou dizendo? Você não é mais minha secretária, pois acabei dedespedi-la!

— Nor. . . Sra. Redfern, não sei o que meu pai falou, mas. . .

— Falou? Ele acabou com tudo entre nós, eu já disse!

— E quais foram as razões que ele lhe deu para fazer isso? — Penny ia seaproximar dela. mas parou quando viu o brilho de ódio nos olhos de Norah.

— Ele disse que não me amava! Oh, como pude ser tão tola; uma velha boba eromântica, é o que eu sou! Seu pai estava mesmo interessado no meu

dinheiro, mas quando viu que Max o vigiava atentamente, percebeu que nãopoderia levar o plano adiante!  Livros Florzinha

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— Norah, como pode dizer essas coisas de meu pai? Ele nunca esteveinteressado em seu dinheiro. . . Ele disse mesmo que não a amava?

Norah estava segurando uma caneta, que atirou raivosamente sobre a mesa.Penny fez um gesto para apanhá-la do chão, mas preferiu permanecer

quieta.— Quantas vezes quer que eu repita? Sim, ele disse que não me ama!

Desnorteada, Penny não sabia o que pensar. Por que James havia dito aquilo?

— Mas Norah, você acha mesmo que. . .

— Ora, quem você pensa que é para ficar me questionando? Vamos, já lhedisse para deixar esta sala!

— Espere, há algo errado. Papai ama você. . .

— Amor! Não diga esta palavra para mim! Seu pai é um caçador de fortunas!

Penny sentiu seu rosto quente, mas conseguiu manter o autocontrole.

— Não posso acreditar que meu pai tenha dito isso. — ela ia falar, masNorah a interrompeu.

— Está dizendo que sou mentirosa?

— Não, claro que não!

— Então, explique-se.

— Quero dizer. . . ele a ama de verdade e . .

— Srta. Davidson, se falar em amor mais uma vez, nem sei o que serei capazde fazer! — Ela agora falava com voz calma, mas era visível que escondia umvulcão dentro de si.

— Se meu pai lhe disse isso, ele estava mentindo, é certo que deve ter boasrazões, mas posso lhe garantir que é mentira! Ele realmente a ama, Norah.

Norah franziu a testa, desconcertada.

— Você já esteve com ele hoje?— Ainda não. Ele não apareceu para o café e eu vim direto para cá. — Masele sempre levanta tão cedo. . .

— Sim, há algo estranho em tudo isso — Penny disse, indo para a porta. —Vou descobrir o que está acontecendo!

Entretanto, James já tinha saído para Roseau, deixando recado que sóvoltaria a tarde. Penny voltou para o escritório e encontrou Norah sentada

com o rosto escondido entre as mãos, chorando.

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— Oh, Penny, querida, estou com tanto remorso! Você não tem culpanenhuma pelo que James me fez! Nunca devia ter agido como agi. Você vaicontinuar trabalhando para mim?

— Claro que sim! — Penny tinha uma grande afeição por Norah e se

entristecia por vê-la tão infeliz. Como seu pai podia ter feito aquilo? AgoraPenny já não tinha dúvidas: ele realmente havia dito que não a amava, mas. . .Não era possível! De repente, uma idéia lhe ocorreu.

— Norah, quando meu pai lhe disse que não queria mais casar, qual foi arazão que lhe deu?

— Como assim? — Norah a olhava sem saber onde Penny queria chegar. —Nós estávamos sozinhos, logo depois do jantar, e ele me disse que nãoqueria mais casar.

— Ele deve ter dado alguma razão. . .

— Disse que não me amava!

— Não, antes disso, ele não falou nenhuma outra coisa?

— Não! Ou melhor. . . Começou a dizer que era por causa do jeito de ser deMax. Disse que tinha seu orgulho próprio e não ia admitir ser consideradoum caçador de fortuna!

— E o que foi que você respondeu?

— Disse que não tinha importância. Sempre deixei claro que não ia meinfluenciar pelas opiniões de Max! Isso nunca seria motivo para nós não noscasarmos!

Penny se calou. Agora compreendia tudo. Apesar de todos os problemas comMax, isso nunca seria motivo suficiente para fazer Norah desistir docasamento. E, como James descobriu que Penny estava apaixonada por Max.sabia que ele teria uma vida miserável se fosse obrigada a conviver comaquele homem, o que seria inevitável com o casamento. Então, para livrá-la

disso e levá-la para longe de Dominica, James usou o único argumento contrao qual Norah não poderia fazer objeção: disse que não a amava!

Penny começou a chorar, descontrolada. Sim, ela falaria com James, massabia que ele nunca ia admitir a verdade. Seu pai era assim: quando tomavauma decisão, nada o fazia mudar de idéia! Sentiu um grande ódio no coração,por causa de Max, o culpado de tanta infelicidade!

— Penny querida. . . — A voz suave e gentil a tirou dos pensamentos. — Vocêestá chorando. . .

— Gostaria de poder resolver tudo isso! Norah balançou a cabeça, comtristeza.  Livros Florzinha

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— Foi uma decisão horrível, mas eu estava sozinho naquele momento. Oh,acho que Penny nunca vai me perdoar!

— Penny compreenderá! — De quem era aquela voz tão doce e suave? Seriade Max? — Foi uma grande sorte você estar por perto naquele momento.

Minha mãe nunca sobreviveria, pois estava muito mais soterrada que Penny!— Sim, foi a coincidência mais feliz de minha vida! Foi por mero acaso quetomei a mesma estrada onde elas pesquisavam.

— Não acha que devia descansar um pouco? Você parece esgotado! — Oh,Max, nunca mais desejo passar por uma situação dessas! Enquanto lutavadesesperadamente para desenterrar Norah, não podia deixar de pensar quePenny talvez estivesse morrendo!

— Não pense mais nisso, James! — Sim, agora Penny via que a voz suave egentil era de Max, — Vá descansar um pouco. Minha mãe deve acordar empouco tempo e certamente vai querer que você esteja com ela.

— Sim, vou fazer isso. . . Tem certeza que Penny está bem?

— Não se preocupe mais com sua filha. Estarei ao lado dela, cuidando paraque nada lhe falte.

Os ferimentos de Penny fariam com que ficasse de cama por mais um mês,de acordo com o médico. Entretanto, poucos dias depois, ela já estava

completamente lúcida, apesar de não poder se movimentar ou fazeresforços.

Numa noite quente, quando Max estava sentado na cama, a seu lado, ela tevea maior surpresa da sua vida. De repente, com voz suave, Max a pediu emcasamento.

— Isto é... — ele começou a dizer, sem graça — ... se você estiverinteressada em casar com um homem arrogante, insuportável, cujo únicoDeus é o dinheiro. ..

— Max... Oh, Max!Penny tinha os olhos fechados, como se vivesse um sonho. Ela os abriu,devagar, e olhou para ele, séria.

— Por que está dizendo isso? Está com pena de mim?

— Pena? Você acha que eu seria capaz de casar por pena? Eu a amo, Penny.Desde a primeira vez que a vi. Você foi a única pessoa que ousoudesobedecer às minhas ordens. Confesso que isso me deixou furioso, mastambém não pude resistir. . . E depois que Shirley me contou tudo sobre

Graham, dizendo que ela é quem estava apaixonada por ele. . .

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— Então ela contou tudo? Que bom! Oh, Max, como pôde pensar que euamava Graham, quando só tinha olhos para você?

— Eu estava cego, querida, cego de amor, foi preciso que acontecesse todaessa desgraça para eu ver que não podia viver sem você Meu amor... — Ele

não podia tomá-la nos braços, mas se inclinou e a beijou carinhosamente noslábios. — Nós nos casaremos assim que você estiver boa!

Ambos ergueram a cabeça quando viram que Shirley entrava no quarto. Elaassistiu a cena, em seu rosto, contudo, não havia sinal de tristeza ou rancor.Devagar aproximou-se da cama.

— Como está, Penny?

— Melhorando. — Penny sorriu, satisfeita por saber que Shirley finalmenteamava alguém de verdade. — Onde está Graham?

— Vai chegar daqui a pouco — ela disse, sorrindo. Ficou com eles por algumtempo, mas saiu em seguida, pois ia se arrumar para receber Graham.

— Eu estava muito preocupado com ela — Max admitiu.

— Shirley ficará bem daqui para a frente. Sei que está muito feliz.

— Ela tinha ciúme de você, por isso inventou aquela história a respeito deseu namoro com Graham.

— Shirley era uma garota muito solitária, Max, e perdida. Bom, isso já épassado.Pouco depois, Graham chegou. Veio visitar Penny, acompanhado de Shirley.Após algum tempo, os dois saíram para passear no jardim, sob o luar.

— Nós nunca passeamos sob a luz do luar — Penny reclamou para Max,invejando o jovem casal de namorados.

— Mas tenho certeza que ainda faremos isso muitas vezes! — Max sorriu ese levantou para abrir a janela. Em seguida, voltou para sentar, ao lado de

Penny. — Aqui em Dominica, é costume abrir a janela "para deixar a noiteentrar. . ."

Max tornou-lhe a mão com ternura. Acabava de anoitecer e não tinham aindaacendido a luz do quarto. Só o luar os iluminava. Lá fora, a noite estavarepleta de estrelas e vaga-lumes que piscavam no jardim. Uma leve brisatrazia para o quarto o aroma das flores de fora. Longe, lá nas altasmontanhas, podiam-se ouvir os sapos cantando suas intermináveis cançõespara a lua.

Penny suspirou, acariciando a mão de Max. que a segurava com carinho.

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— Feliz. — Aquela voz grossa era infinitamente suave e terna, e Pennysomente balançou a cabeça, feliz demais para dizer qualquer coisa. Maxesperava pela resposta, mas a percebeu nos olhos de Penny. Então ele seinclinou e a beijou mais uma vez, com suavidade.

— Max, e papai? — Ela quis saber. — E Norah?— Quem sabe eles casem até antes da gente.

— Oh, Max. você finalmente concordou?

— E você acha que, daqui para a frente, eu seria capaz de discordar de vocêem alguma coisa?

Um beijo longo e doce firmou aquele pacto de paz e muita, muita felicidade.

F I M